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PURITANOS OU VENDILHÕES? EIS A GRAVE … · puritanos do que de vendilhões das coisas santas! O Cristianismo primitivo, pela simplicidade dos primeiros núcleos cristãos, foi conquistando

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PURITANOS OU VENDILHÕES? EIS AGRAVE QUESTÃO!

APONTAMENTOS PALPITANTESSOB A PERSPECTIVA ESPÍRITA

Jorge Hessen

2014

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Data da publicação: 03 de junho de 2013

CAPA: Irmãos W.REVISÃO: Irmãos W.PUBLICAÇÃO: www.autoresespiritasclassicos.comSão Paulo/CapitalBrasil

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Dedicatórias

Conhecem-se os legítimos idealistas pelas coesas opiniõesque enunciam e Jorge Hessen representa um aguerrido escritorespírita da atualidade. Através dos seus estudos e pesquisastem o contribuído para a divulgação dos mandamentos doCristo sob a perspectiva espírita, confortando os homens queignoram a verdadeira finalidade da presente reencarnação.

(Irmãos W.)

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Explicação preliminar

Jorge Hessen, escritor espírita, analisa temas da atualidadetendo como objetivo a difusão da Doutrina Espírita, destacandona medida do possível os ditames da reencarnação e daimortalidade da alma.

Seus artigos sugerem melhor entendimento da vida imortale devem ser apreciados por pessoas que não se contentam comsuperficialidade da vida regida pela tirania do materialismo.

*

“De Deus nós sabemos que existe, que é causa detodos os seres e que é infinitamente superior atudo. Isto é a conclusão e o ponto culminante donosso saber nesta vida terrena...”

(Tomás de Aquino)

*

Fontes da consultaA Luz na Mente » Revista on line de Artigos Espíritas

http://jorgehessen.net/

E.mail de contacto do [email protected]

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Índice

Apresentação do autor

Jorge Luiz Hessen nasceu no antigo Estado da Guanabara,atual Rio Janeiro, no dia 18 de agosto de 1951. Vive a vidainerente àqueles que vieram ao mundo a fim de despertar paraum projeto mais alto, acima dos prazeres da Terra. Teve umainfância pobre, de pais separados, com mais dois irmãos. Najuventude teve seu primeiro contato com fatos da mediunidadeatravés de uma incorporação de seu irmão mais novo. Ficouimpressionado, pois sabia que o irmão seria incapaz dedissimular um fenômeno de tal magnitude. Aquele episódio olevaria, mais tarde, a chegar às portas dos princípioscodificados por Allan Kardec.

Aos 20 anos de idade ingressou, por concurso, no serviçopúblico, onde até hoje permanece. Foi durante 5 anos diretordo INMETRO no Estado de Mato Grosso. Executou serviços

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profissionais junto à Universidade de Brasília, durante 4 anos,na condição de coordenador de provas práticas de concursospúblicos realizados pelo CESP.

Consorciou-se com Maria Eleusa aos 26 anos de idade. É paide quatro filhos, sendo uma das filhas (a mais velha) portadorade lesão cerebral. Na maturidade da vida teve oportunidade defazer cursos superiores. Possui a Licenciatura de História eGeografia pelo UniCEUB (Centro Universitário de Brasília).

Sua vida espírita nesses mais de 30 anos de Doutrina perfezconteúdos de muitas faculdades. Participou da fundação dealguns centros espíritas em Brasília e Cuiabá-MT, onde tevepublicado, em 1991, o livro "Praeiro - Peregrino da Terra doPantanal". Começou seu trabalho de divulgação ainda jovemem todo DF. Engajou como articulista espírita, tornando-sesólido esse fato em Cuiabá, quando publicava "Luz na Mente",um periódico que veio satisfazer o seu ideal na DivulgaçãoEspírita.

Foi redator e diretor do Jornal "União da Federação Espírita"do DF. Vinculado a vários órgãos divulgadores da DoutrinaEspírita, a exemplo de "Reformador" da FEB, "O Espírita" doDF, "O Médium" de Juiz de Fora/MG e palestrante nos maisdiferentes lugares de DF, tem a oportunidade de levar amensagem espírita às cidades próximas de Brasília, comoAnápolis, Cidade Ocidental e outras.

Sua diretriz inabalável continua sendo o compromisso defidelidade a Jesus e a Kardec.

Maria Eleusa de Castro (esposa de Jorge Hessen)

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Prefácio

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Puritanos ou vendilhões? Eis a grave questão!

Assistimos pelo youtube uma entrevista de um médiumespírita e ficamos estupidificados com as suas declarações.Primeiro, pela maneira presunçosa de como foram tratados osconfrades que se posicionam contra a INDUSTRIALIZAÇÃO DEEVENTOS “ESPÍRITAS”; depois, pela forma desdenhosa decomo se referiu aos espíritas de baixo salários e osdesempregados (pobres), dizendo que na instituição que dirigesão realizadas semanal e “gratuitamente” 4 (quatro) reuniõespúblicas doutrinárias, 8 (oito) reuniões mediúnicas, 8 (oito)módulos de estudos espíritas, além de outros trabalhos degrande relevância doutrinária. Todavia, muitos espíritassimplesinho (pobres) não participam, porque não querem.Contudo, referindo-se ao evento que será realizado no hotelluxuoso sob sua coordenação, afirmou que quem não podepagar também não pode frequentar. Sabe por quê? Porque oseventos são negociados através de “pacotes fechados” entre ainstituição que dirige e os hotéis promotores. O médiumesqueceu-se de que a lídima divulgação não exclui pessoas,não impõe condições, não faz peditórios, justamente parafugirmos dos equívocos cometidos por outras religiões e credos.

Martinho Lutero dizia que “não são as boas obras quetornam o homem bom, o homem bom é que faz as boasobras.”(1) O sistema elitista e o assistencialismo cegoassememelham-se à dança em torno do bezerro dourado a quese entregou o povo hebreu, quando a caminho do paraísoprometido.

Durante a entrevista, o médium procurou relativizar a

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advertência de Jesus – “dai de graça o que de graçarecebeste”. Para ele, o que importa é dar um ar degrandiosidade à divulgação espírita, como se a importância damensagem espírita estivesse atrelada às exterioridades, atítulos, aos locais elegantes onde ela é pronunciada.

A mediunidade com Jesus não se relativiza. O "dai de graçaao que de graça recebemos" não pode ser deformado. OEspiritismo é a disseminação da palavra de consolo tal comoJesus nos ensinou, tal como Ele pregava, tal como Kardecesperava, tal como Chico Xavier exemplificou, para todos e aoalcance de todos. O entrevistado enfatizou a palavra“colaboração” para justificar o pagamento das taxas deingresso, alegando que, se o interessado declarar que é pobre,não é restringido o seu acesso por causa do fator financeiro.Sabemos que isso não é verdade! Ou pelo menos é meiaverdade. (Ora! Será que um espírita desempregado precisaráapresentar atestado de pobreza?).

E, para justificar seus arrazoados na entrevista, sempre emintransigente defesa do comércio dos eventos “espíritas”,classificou de puritanos(?!...) os que discordam da cobrança detaxas para os eventos destinados à divulgação do Espiritismo.Mas, os “puritanos”, não podemos nos intimidar com ossofismas das sombras. Devemos caminhar de olhos voltadospara as coisas do firmamento, e mãos operosas na Terra,lembrando que menos pesa na consciência o epíteto depuritanos do que de vendilhões das coisas santas!

O Cristianismo primitivo, pela simplicidade dos primeirosnúcleos cristãos, foi conquistando integralmente a sociedade desua época, mas, com o passar dos séculos, desgastou-sedoutrinariamente. Conspurcou-se por imposição dos interessespolíticos, institucionais e principalmente financeiros(industrialização da cruz).

É bastante preocupante e gravíssimo o ideal dos festivais deofertas de pacotes para tour doutrinários. Para quem

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desconhece o fato, informamos (de graça) que há encontros“espíritas” realizados em instalações de luxuosos hotéis 5estrelas ao “irrisório” preço de R$. 1.600,00 (em média). Secolocarmos na ponta do lápis a arrecadação final, considerandoa participação de 300 pessoas (por baixo), chegaremos aomontante de quase meio milhão de reais. Isso apenas para umevento de três dias.

Fomos instados a procurar pela Internet outros eventos“espíritas” para 2011. Encontramos congressos, seminários,fóruns, cursos espíritas, simpósios de profissionais “espíritas”etc, todos eles com fichas de inscrição caracterizadas porENTRADAS NÃO GRATUITAS.

É evidente que essas práticas, em nome de Kardec, têmfragilizado as bases da Doutrina dos Espíritos, provocandorachaduras no edifício doutrinário. Há desmesurada distânciaentre aqueles simples bancos e cadeiras de madeira do GrupoEspírita da Prece de Uberaba e os soberbos hotéis que servemde tablado para espetáculos de oradores que, absortos em suasinsânias dinásticas, veiculam temas decorados apoiados nassuas memórias privilegiadas.

Na imprudência, disfarçada por envernizada práticaassistencialista, pregam "Espiritismo" com rebuscadíssimosverbos e palavras, e ainda contam as moedas douradasarrecadadas, de mãos unidas com "Mamon". As extravagantestaxas cobradas nesses eventos evidenciam uma gravemetástase doutrinária, com fulminantes consequências para ofuturo do Espiritismo na Pátria do Evangelho.

Nem é necessário fazermos um esforço descomunal paraidentificar o abismo existente entre o "Espiritismo" e o"movimento espírita". É lamentável que o movimentodoutrinário atual esteja navegando nas mesmas águas quetransferiram o cristianismo primitivo das casas de simplespescadores, lavadeiras, operários, para a suntuosidade doshotéis, centros de convenções e outros grandes edifícios

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religiosos.Os defensores da não gratuidade dos eventos espíritas

escudam-se na alegação de que há confrades que frequentamo centro espírita anos a fio e nem perguntam como contribuircom a conta de luz ou com os gastos com o papel higiênico eficam esperando receber sem nada retribuir. Proclamam oargumento de que a comunidade espírita é o segundo maiorPIB entre os religiosos (de acordo com o IBGE), perdendoapenas para os judeus, e os espíritas não gostam de colocar amão no próprio bolso para a obra espírita. Será esse o realmotivo para a cobrança dos eventos doutrinários?

Infelizmente, o Espiritismo das origens, tal como Chicopregava, parece não mais fazer sentido, mormente para osmais afamados representantes do movimento. Assistimos aosepultamento da simplicidade da Terceira Revelação no jazigodourado da espetacularização da oratória, dos aplausosprovindos da massa entusiasta e inconsciente, das ovaçõesdelirantes, dos elogios soberbos e extravagantes. Por essas eoutras razões disse o Mestre: “ouça quem tem ouvidos de ouvire veja quem tem olhos de ver”.(2)

Chico Xavier advertia há 30 anos "é preciso fugir datendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (...) oEspiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemosjunto com as massas mais humildes, social e intelectualmentefalando, e delas nos aproximemos (...). Se não nosprecavermos, daqui a pouco estaremos em nossas CasasEspíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo àspessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais(...).”(3)

Quando escrevemos o artigo “INDUSTRIALIZAÇÃO DEEVENTOS ESPÍRITAS "GRANDIOSOS", o ex-reitor daUniversidade Federal de Juiz de Fora, e escritor espírita, JoséPassini, afirmou: “Seu artigo, Jorge Hessen, deveria sereternizado em placa de bronze e distribuído às instituições

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espíritas. Você acertou em cheio no monstro quedesgraçadamente cresce em nosso meio.”(4) Talvez aespiritualidade, consciente dos despropósitos dos eventospagos esteja de alguma forma nos alertando para um tempo deprofundas mudanças. Que seja assim!

Referências bibliográficas:

(1) http://pensador.uol.com.br/frase/NTg0MzY0/.acesso em11/05/2011.

(2) Lucas 8:8.(3) Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e

publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 demarço de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro noTempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.

(4)http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/.../jose-passini-apoia-nossos-argumentos.html, acesso em 11-05-2011.

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Cobrança de taxas e elitização do espiritismo

Industrialização de eventos espíritas "grandiosos”

Allan Kardec escreveu na RE de novembro de 1858, que"jamais devemos dar satisfação aos amantes de escândalos.Entretanto, há polêmica e polêmica. Há uma ante a qual jamaisrecuaremos — é a discussão séria dos princípios queprofessamos. " É isto o que chamamos polêmica útil, pois oserá sempre que ocorrer entre gente séria, que se respeitabastante para não perder as conveniências. Podemos pensar demodo diverso sem diminuirmos a estima recíproca.

Que os dirigentes espíritas, sobretudo os comprometidoscom órgãos “unificadores”, compreendam e sintam que oEspiritismo veio para o povo e com ele dialogar, conformelembrava Chico Xavier. Devemos primar pela simplicidadedoutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas,discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis,imunidades, prioridades, industrialização dos eventosdoutrinários.

Os eventos devem ser realizados, gratuitamente, para quetodos, sem exceção, tenham acesso a eles. Os Congressos,Encontros, Simpósios, etc., precisam ser estruturados comvistas a uma programação aberta a todos e de interesse doEspiritismo, e não para servirem de ribalta aos intelectuais comtitulação acadêmica, como um "passaporte" para traduzirem"melhor" os conceitos kardecianos. Não há como “compreendero Espiritismo sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos eao alcance de todos, a fim de que o projeto da TerceiraRevelação alcance os fins a que se propõe.” (1)

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"A presença do elitismo nas atividades doutrinárias (...) vaiexpondo-nos a dogmatização dos conceitos espíritas na formado Espiritismo para pobres, para ricos, para intelectuais, paraincultos.” (2) Infelizmente, alguns se perdem nos labirintos daspromoções de shows de elitismo nos chamados “Congressos”.Patrocinam eventos para espíritas endinheirados, e, semqualquer inquietação espiritual, sem quaisquer escrúpulos,cobram altas taxas dos interessados, momento em que a ideiatão almejada de “unificação” se perde no tempo. ConhecemosFederativa que chega a desembolsar R$. 90.000,00 (noventamil reais); isso mesmo! 90 mil, para promover evento destinadoa 3, 4, 5.000 (cinco mil) pessoas. A pergunta que não quercalar é: será que o Espiritismo necessita desses eventos"grandiosos"? Cobrar taxa em eventos espíritas é incorrer nosmesmíssimos e seculares erros da Igreja, que, ainda, hoje,cobra todo tipo de serviço que presta à sociedade. É aelitização da cultura doutrinária.

Sobre isso, Divaldo Franco elucida na Revista O Espírita,edição de 1992, o seguinte: “é lentamente que os víciospenetram nos organismos individuais e coletivos da sociedade.A cobrança desta e daquela natureza, repetindo velhos errosdas religiões ortodoxas do passado, caracteriza-se ambiçãoinjustificável, induzindo-nos a erros que se podem agravar e dedifícil erradicação futura. Temos responsabilidade com a CasaEspírita, deveres para com ela, para com o próximo e, entreesses deveres, o da divulgação ressalta como uma das maisbelas expressões da caridade que podemos fazer aoEspiritismo, conforme conceitua Emmanuel, através damediunidade abençoada de Chico Xavier. Nos eventosessencialmente espíritas, deveremos nós, os militantes nadoutrina, assumir as responsabilidades, evitando criarconstrangimentos naqueles que, de uma ou de outra maneira,necessitem de beneficiar-se para, em assimilando a doutrina,libertarem-se do jogo das paixões, encontrando a verdade. O

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dar de graça, conforme de graça nos chega, é determinaçãoevangélica que não pode ser esquecida, e qualquer tentativa deelitização da cultura doutrinária, a detrimento da generalizaçãodo ensino a todas as criaturas, é um desvio intolerável emnosso comportamento espírita.” (3)

As Federativas Espíritas devem envidar todos os esforçospara que não haja a necessidade de qualquer cobrança de taxade inscrição dos participantes de Congressos, exceto em casosextremos (o que não é desejável obviamente), procurandofazer frente aos custos do evento. Para esse mister devembuscar viabilizar, previamente, os recursos financeiros atravésde cotização espontânea de confrades bem aquinhoados.Realizar promoções, doutrinariamente, recomendáveis paraangariar fundos. Os dirigentes devem preservar o Espiritismocontra os programas marginais, atraentes e, aparentemente,fraternistas, que nos desviam da rota legítima para as falsasveredas em que fulguram nomes pomposos e siglas variadas.

A Doutrina Espírita é o convite à liberdade de pensamento,tem movimento próprio, por isso, urge deixar fluirnaturalmente, seguindo-lhe a direção que repousa,invariavelmente, nas mãos do Cristo. Chico Xavier já advertia,em 1977, que "É preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seiodo movimento espírita (...) o Espiritismo veio para o povo. Éindispensável que o estudemos junto com as massas maishumildes, social e intelectualmente falando, e deles nosaproximarmos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco,estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando eexplicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas portítulos acadêmicos ou intelectuais (...).” (4)

Não reprovamos os Congressos, Simpósios, Seminários,encontros necessários à divulgação e à troca de experiências,mas, a Doutrina Espírita não pode se trancar nas salas deconvenções luxuosas, não se enclausurar nos anfiteatrosacadêmicos e nem se escravizar a grupos fechados. À

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semelhança do Cristianismo, dos tempos apostólicos, oEspiritismo é dos Centros Espíritas simples, localizados nosmorros, nas favelas, nos subúrbios, nas periferias e cidadessatélites de Brasília; e não nos venham com a retórica vazia deque estamos propondo, neste artigo, alguma coisa que lembreum tipo de “elitismo às avessas”. Graças a Deus (!), há muitosCentros Espíritas bem dirigidos em vários municípios do País.Por causa desses Núcleos Espíritas e médiuns humildes, oEspiritismo haverá de se manter simples e coerente, no Brasil e,quiçá, no Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor oentregaram a Allan Kardec. Assim, esperamos!

Referências bibliográficas:

(1) Cf. Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda epublicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 demarço de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro noTempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979

(2) Editorial da Revista O Espírita, ano 11 numero 57 -jan/mar/90.

(3) Revista O Espírita/DF, ano 1992- Página “TribunaEspírita” – Divaldo Responde pág. 16

(4) Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda epublicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 demarço de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro noTempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.

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Taxas em eventos espíritas ou alfândega da fé"raciocinada"(!?)

Considerações sobre cobrança de taxas em eventosespíritas (*)

No mês de fevereiro de 1994, o Conselho FederativoEstadual da Federação Espírita do Paraná esteve reunido emCuritiba. Na ocasião, dentre os variados assuntos tratados, veioà baila a questão da cobrança de taxa de inscrição em eventosespíritas, prática que vai se tornando comum no Brasil. OConselho paranaense, então, após catalogar os tipos depromoções doutrinárias mais comuns no Estado, quais sejam,segundo seu entendimento: conferências, seminários eencontros de estudo, considerou que há situações em quedeterminada promoção pede uma infra-estrutura diferenciadapara acolher os participantes, como, por exemplo, estadia,alimentação, apostilas, aluguéis de recintos, o que, porconseguinte, amplia as exigências, inclusive financeiras.

Diante disso, entendeu por bem o colegiado em delinear aseguinte normativa, que deverá funcionar como regra aosórgãos integrantes do sistema federativo (FEP, seusdepartamentos e as Uniões Regionais Espíritas), e comosugestão de procedimentos aos Centros Espíritas:

1. Patrocinar, apoiar ou promover eventosfundamentalmente espíritas.

2. Os órgãos ou entidades promotoras do evento devemenvidar todos os esforços para que não haja a necessidade deeventual cobrança de taxa de inscrição dos participantes,procurando fazer frente aos custos do evento, notadamente

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para com aqueles que digam respeito diretamente com a partedoutrinária, propriamente dita. Para tanto, planejar a suarealização na data e no intervalo de tempo certo, dentro dasreais necessidades do Movimento Espírita local,desconsiderando as pretensões de realizações sem objetivosbem definidos de difusão ou intempestivas. Estruturar oprograma primando pela simplicidade, minimizando os custos,sem perder de vista a sua qualidade, dando-lhe local (cidade eauditório), carga horária e infra-estrutura adequada, porém,somente de acordo com o essencial. Buscar viabilizarpreviamente os recursos financeiros através de cotizaçãoespontânea de confrades. Em não sendo suficiente, e para nãoonerar demasiadamente alguns poucos, realizar promoçõesdoutrinariamente recomendáveis para angariar fundos, com aparticipação, preliminarmente, da comunidade espírita, edepois, em ainda persistindo a necessidade, da comunidadenão-espírita.

3. Quando o evento pretendido efetivamente exija umainfra-estrutura, sem a qual esse fique impraticável, e, porconseguinte, as disponibilidades para cobertura do seu custoessencial ainda apresentem-se insuficientes, mesmo apóspraticado todo disposto no item anterior, somente aí, então,lançar mão da fixação de valor a ser cobrado a título deinscrição, tendo como parâmetro máximo a verba faltante, tão-somente, e dando a possibilidade de opção por parte daquelesque desejem ou não usufruir de determinados itens da infra-estrutura, como refeição e alojamento, por exemplo, e jamaisfazer dela um instrumento impeditivo de, quem quer que seja,participar do evento doutrinário, propriamente entendido (apalestra, o seminário, etc.).

4. Trabalhar o entendimento dos confrades anfitriões deque, em nome da fraternidade cristã, devem propiciar ahospedagem domiciliar dos participantes do evento, dentro dassuas possibilidades, especialmente dos que exijam atendimento

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diferenciado, tais como acompanhados com filhos pequenos;aqueles em idade mais avançada e/ou com dificuldades desaúde, sob dietas alimentares ou medicamentosas especiais; assenhoras grávidas; os que se pressupõem passarem pordificuldades financeiras, etc.

5. Em se tratando de órgão federativo, não promoverevento doutrinário com renda em favor de uma determinadainstituição social, primeiro porque tal tipo de evento não devese prestar a isto e, segundo, lembrar que todas as demaisorganizações também fazem parte do Movimento Espírita e aFederação não pode agir discricionariamente, já que são todasmerecedoras por igual. Promover, se assim entendido por bem,eventos próprios para tal fim, de iniciativa e responsabilidadeda Instituição, desde que doutrinariamente embasados.Considerar que os fins não justificam os meios.

Clareando ainda mais o documento, deve-se entender, paraos fins que ele se propõe:

* Patrocínio: Custeio de um evento para fins de divulgaçãodoutrinária.

* Apoio: Auxílio financeiro e/ou de outra natureza paradeterminado evento doutrinário.

* Promoção: Propaganda direta ou indireta de eventosdoutrinários.

Com tais medidas, sem a pretensão de se ter esgotado oassunto, a Federação Espírita do Paraná espera que adivulgação doutrinária se dê cada vez em maior profusão,sempre em lídimas bases, das quais, as ações administrativastambém fazem parte.

Anexo 03

Os fins não justificam os meios

Existe o conceito equivocado de que os fins justificam os meios,

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principalmente no que diz respeito à captação de recursosfinanceiros para manterem-se as várias atividades dasInstituições Espíritas.

Com base nesse ponto de vista, centros, grupos ou órgãosespíritas têm lançado mão dos mais variados expedientes paraconseguir uma receita financeira que atenda suas necessidades.

Enquanto muitos procedem com bom senso e equilíbrio,estruturando tarefas de acordo com as possibilidades do CentroEspírita, sabendo que os vizinhos e o público em geral não têmcompromisso assumido com as nossas tarefas debenemerência, razão pela qual entendem que a manutençãodestas diz respeito à própria Instituição, outros, no entanto,extrapolam todo e qualquer limite de senso crítico, contrariandoaté preceitos legais, como o caso de rifas, bingos, tômbolas esimilares; ou, vencido algum empecilho legal, resta odesaconselhamento moral dessas práticas.

Também há aqueles que acabam transformando os recintosdas Instituições num verdadeiro mercado, com ininterruptoapelo de comercialização de variados produtos.

Outros, ainda, mais "criativos", não titubeiam em apelar aopúblico em geral, promovendo, não a sã alegria, mas: Semanada Cerveja, Carnaval da Fraternidade, etc. Tudo em nome doEspiritismo e em "prol" do Movimento Espírita.

Torna-se imperioso insistir no mesmo ponto: a finalidade doMovimento Espírita. Movimento Espírita é o resultado do labordos homens e Espiritismo é a Doutrina dos Espíritos dirigida aoshomens. Logo, o Movimento Espírita deve estar para adivulgação da Doutrina Espírita, como a Codificação está paraAllan Kardec. Ou seja, a finalidade precípua é difundir amensagem espírita, laborando com base na Codificação esegundo os seus princípios.

Tanto é assim que, em nossas organizações,estatutariamente está disciplinado que o objetivo da Instituiçãoé "estudo e prática da Doutrina Espírita, organizada por Allan

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Kardec."Sem estudo não haverá prática condizente. Para que o

adepto do Espiritismo se integre realmente no espírito daDoutrina, exige-se-lhe aprofundamento intelectual ecomportamento moral e social adequados.

Urge estudar a Codificação Espírita, comentá-la, difundi-la evivenciá-la.

Assim, é necessário critério, zelo e vigilância, para não seproceder equivocadamente.

Djalma Montenegro de Farias, Espírito, bem sintetiza aquestão: "O dinheiro que tanto faz falta para a materializaçãoda Caridade, em nosso meio, representa algo, mas não é tudo,porque, se verdadeiramente fosse essencial, as Instituições queguardam importâncias vultosas nas Casas Bancárias dosprincipais países do mundo, estariam realizando práticaabençoada do Evangelho pregado pelo Itinerante Galileu.Cuidemos zelosamente da propaganda do Espiritismo, vivendoos postulados da fé, honrando o Templo Espírita e iluminandoas almas que o buscam esfaimadas de pão espiritual, para nãoincidirmos no velho erro de que os objetivos nobres de socorrojustificam os meios pouco elevados que têm sido utilizados".

Por isso, honrar o Espiritismo, consoante o mesmo autorespiritual "é preservá-lo contra os programas marginais,atraentes e aparentemente fraternistas, mas que nos desviamda rota legítima para as falsas veredas em que fulguram nomespomposos e siglas variadas".

(*)ANEXOS 02 E 03 CONTIDO NAS DIRETRIZESDOUTRINÁRIAS DA FEDERAÇÃO ESPIRITA DO PARANÁ,Publicado na íntegra no item 48/2009 do sitehttp://jorgehessen.net

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Um diálogo aberto sobre cobrança de taxas de eventos"espíritas"

Jonas:

Prezado irmão JorgeGostaria de parabenizá-lo pelo tema industrialização de

eventos. Ressaltar as oportuníssimas orientações promovidaspela Federação Espírita do Paraná é apenas dignificar o nossomovimento, isento dos apelos falaciosos do momento. Lembrarque neste ano em que se comemora o centenário do queridoChico Xavier há um movimento frenético de muitas casasespíritas para estarem presentes nessa homenagem aoinesquecível médium. Como se o querido Chico aprovassesemelhante fato. Esquecendo-se de seu exemplo que nuncacansou de nos conclamar a todos para um espiritismo simples,com Jesus. Por isso nunca deixou de estar debaixo de umabacateiro, lado a lado com os desprovidos dos bens materiaisnos deixando a lição inolvidável de que sem abraçarmos acausa simples e os simples da sociedade não chegaremos alugar algum. Portanto escrever sobre cobranças de taxas empleno frisson do nosso movimento é de fato estimular a ira demuitos espíritas que estão na cúpula de casas de nossadoutrina julgando-se benfeitores da humanidade por suas falasmansas e sorrisos largos, cheio de chavões de conteúdoscaridosos. Se o Espiritismo é para todos que de fato em seucaminho não encontre nenhuma cobrança imposta e legitimadade taxas. E se Vinde a mim todos de corações simples é precisoaparar arestas e revolver o caminho de tal maneira que o solode nossas edificações doutrinárias sejam sedimentados em um

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crescimento capaz de sobrepor a qualquer vendaval mesmoque este tenha o poder de sedução capaz de envolver os bensintencionados cujo objetivo seja discutir de forma pomposa asorientações maiores de nossa Causa e nisso Jesus sabia dasdissimulações humanas registrando que o comportamento docoração deveria estar destituído de qualquer natureza humanapara melhor vivenciar a comunhão com o alto. Não podemosapoiar essas determinações em que os meios justificam os fins,porque por trás dos bastidores há a presença dos espetáculos,dos currículos acadêmicos envernizados pela vaidadeperniciosa, enfim há presença da erva daninha espiritual emque nada acrescenta. Querido amigo que o Senhor da Vidapossa continuar fortalecer sua vida, seu trabalho para queproporcione sempre as inspirações que incomodam, mas quenão passam em vão. Abraços profundo do amigo e irmão deideal

Jonas

Jorge Hessen:

Prezado Jonas

Sua afabilidade para conosco e seu apoio ao nosso trabalhocristão, servem-nos de grande estímulo.

Embora não o conheça pessoalmente, identifico-o como umvanguardeiro discípulo de Jesus, nosso Mestre maior.

Muito embora eu tenha total certeza de que nossa propostade reflexão sobre o tema nada servirá de obstáculo a que sepromovam cada vez mais tais eventos pagos, os quais são (naminha concepção doutrinária) um insulto à fraternidade, à leido amor e da caridade, nenhuma ofensa, dirigida a mim, diretaou indiretamente por parte dos que têm opinião diferente daminha, ser-nos-á motivo de desequilíbrio interior, pois temosconsciência plena de que estamos (eu e as diretrizes da

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Federação Espírita do Paraná) no caminho seguro e, mesmoporque, se tais confrades conseguem convencer as mentes deespíritas incautos, pelas aparências, não podem enganar aDeus. Ao ensinamento de Jesus que diz: “Quando fizerdes umfestim, convidai para ele os pobres, os estropiados, os coxos eos cegos; e estareis felizes, porque não terão meios para vo-loretribuir; porque isso vos será retribuído na ressurreição(reencarnação) dos justos”, respeitosamente, concluímos:convidai, principalmente, os espíritas CRISTÃOS assalariadosque sobrevivem às custas de parcos recursos financeiros paramanterem uma casinha popular alugada, os espíritas CRISTÃOSiletrados, os espíritas CRISTÃOS desempregados, os espíritasCRISTÃOS que passam por todas os tipos de provaçõesmateriais.

Quantos há, ainda no mundo e, até mesmo, no movimentoespírita (o que é uma lástima) que, ao rejeitar as nossasobservações justas, faz repelir, raivosamente, as mais sensatasadvertências? Se, nos momentos de surtos de ódio manifesto,tais irmãos pudessem, por um instante sequer, olhar-se aoespelho, veriam refletida a imagem da pobre vítima que lhescompromete a vida por um longo curso de anos. Devemosapiedar-nos deles! Lastimamos, muito!

Enfim, meu amigo, sigamos confiantes, apoiados nosensinamentos do Nosso Senhor Jesus Cristo, dandogratuitamente o que Dele recebemos gratuitamente, ou seja,Amor.

Não nos importemos com os que se fazem quais "escribas efariseus" em nossa Era, pois, que, um dia, forçosamente,deixarão de ser quais são e seguirão os trajetos de Jesus, comomuitos estamos nos esforçando para fazê-lo.

Mais uma vez, obrigado pelo apoio de sempre. Em você,Jonas, identificamos uma certeza cristalina: Não estamossozinhos nesse afã de um Espiritismo mais simples, consoanteChico Xavier vivenciou.

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Aviso-lhe que estou enviando, por cópia, este nossodiálogo para os mesmos que, como eu mesmo, receberam ascontundentes e pouco fraternais críticas aos argumentos quepublicamos sobre os festivais de eventos ESPÍRITASindustrializados para a elite.

Atenciosamente,

Jorge Hessen

Violação do direito autoral??? Empréstimo de livro pelocentro espírita é violação do “direito autoral”?

Em época de Internet é natural o emprego dos recursos

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virtuais para pesquisas e estudos. Em face disso, a divulgaçãodas ideias espíritas através dos livros para download não podeficar condicionada à questão dos “direitos autorais”. Àsemelhança das bibliotecas dos centros espíritas queemprestam livros doutrinários, há sites espíritas com função debibliotecas virtuais, sem finalidade de lucro financeiro,disponibilizando para download os livros espíritas gratuitos.

Infelizmente esses portais têm esbarrado com a avareza dosnegociantes de livros, que sob o jargão da suposta destinaçãodos lucros financeiros para obras filantrópicas, elevam abandeira do famoso “direito autoral”, promovendo ameaçasridículas e antidoutrinárias através de intimidaçõesextrajudiciais. (Pasmem!)

O movimento espírita transformou-se num negóciolucrativo, em que o comércio de livros doutrinários, CDs, DVDs(de palestras) reflete a cobiça de vendilhões compulsivos.Existem até atacadistas e distribuidores dos livros espíritas, quepassam por vários atravessadores até chegarem às mãos dequem verdadeiramente procura o conhecimento, e por motivodo elevado preço muitas vezes não os pode adquirir. Será quetal sovinice alcançará os Centros Espíritas? Será que algum dia,em nome dos “direitos autorais”, as editoras impetrarãomandados extrajudiciais proibindo os empréstimos de livros dosAutores espirituais, contidos nas bibliotecas dos CentrosEspíritas?

É evidente que a divulgação da Doutrina Espírita deve serfeita em total acatamento às leis do País. Contudo, urgeponderar que a Lei sobre os “Direitos Autorais” foi promulgadaem 1998, ou seja, está desatualizada.(1) Destaque-se tambémque na época da publicação da Lei, a amplitude do mundocibernético não era satisfatoriamente conhecida.

É urgente reconhecer que o mundo virtual tem sidoadmirável veículo de disseminação dos conteúdos reveladospelo mundo espiritual. Além disso, tem facilitado a

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democratização da apropriação do conhecimento espírita e ainserção social dos espíritas assalariados. Portanto é inaceitávela proibição das reproduções de livros espíritas pela Internetpara fins específicos de pesquisa. A Terceira Revelação nãopode demorar-se à mercê dos avarentos e nem dos truanescosinteresses do mundo material.

Sem ferir os princípios da ética e do respeito aos “direitos”das editoras, cremos que tais comerciantes de livros deveriamestimular e apoiar os divulgadores dos portais (bibliotecasespíritas virtuais) para o exercício do pleno direito dadivulgação gratuita dos princípios doutrinários. Até porque,inevitavelmente diversas obras já foram e continuarão sendodigitalizadas e publicadas pelas redes sociais, e se encontramatualmente dispersas e disponíveis através da rede mundial decomputadores, sendo inexecutável o controle jurídico dessecenário.

Em que pese existirem muitos espíritas excluídos doambiente virtual, sobretudo aqueles mais pobres, que nãopossuem computador / internet, e os menos afeitos àstecnologias novas, a Doutrina dos Espíritos tem um colossalpapel social e em tempo de Internet é um absurdo a exclusãodas leituras virtuais gratuitas para um enorme número deespíritas que não podem comprar livros psicografados caros.

Chico Xavier teria se locupletado se se atrevesse a venderos direitos autorais dos mais de 400 livros que psicografou.Porém, cônscio de que os livros não lhe pertenciam, já queprocediam de autores espirituais, cedeu de boa fé todos osdireitos autorais para algumas privilegiadas editoras queatualmente vendem e (re)vendem, editam e (re)editam asobras psicografadas. O médium de Uberaba doou os direitosautorais convicto de que suas psicografias jamais seriam minasde dinheiro. Em boa lógica! As obras cedidas não podem serconvertidas em lavras de ouro para garimpeiros cobiçosos.

Os Espíritos e o médium de Uberaba ansiavam que todas as

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pessoas indistintamente pudessem ter acesso aos livroscedidos; porém, a voracidade pelo lucro através damonopolização editorial e a majoração de preço das obraspsicografadas tem excluído os menos favorecidos da comprados livros. É inconcebível e inaceitável surgirem no amanhãeditoras espíritas cujos donos venham locupletar-se através docomércio das obras psicografadas (presenteadas de mãosbeijadas pelo cândido Chico), visando supostamente adivulgação doutrinária e os “serviços de filantropia”.A publicação da literatura espírita, mormente as psicografadas,dispensa as incubações de pré-edições com “provocantes”capas luxuosas e conteúdos velhos, com categoria gráficarequintada, impressão “esplendorosa”, forjando-se aspectosvisuais de material inédito, como se fosse uma mensagem saídado forno, mirando com essa estratégia majorar o preço. Ondeestá o limite dessa exploração comercial? E tem mais: cremosque os legítimos livros espíritas, se comercializados, devem terpreços populares, e sempre que possível, distribuídosgratuitamente aos centros espíritas pobres, ou pelo menoscedidos a preços iguais ao custo de sua confecção. Isso édivulgação espírita para todos, com todos e ao alcance detodos, tão desejada por Chico Xavier.

Cremos que o Espiritismo não assenta com interessescomerciais, e a publicação das mensagens do mundo espiritualnão pode ser objeto de lucro financeiro, apenas moral. Isso nãofaz o menor sentido, já que na espiritualidade não precisamosdesse artifício do mundo material, que tanto corrompe ohomem encarnado. Entendemos que é uma improbidade falarem direitos autorais quando se trata de uma obra espíritapsicografada. O seu autor dispensa este recurso, pois nãoprecisa dele. Seu objetivo são a elevação e a educação, fatoresessenciais à nossa evolução, e não há como colocar preçonisso.

Uma instituição espírita, por mais briosa que seja, por mais

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filantrópica consistam as suas atividades, seu interesse nãopode sobrepor aos objetivos doutrinários da divulgação corretae honesta do Espiritismo, sobretudo através da Internet, quepode proporcionar consolação aos corações e mentesatormentados. Entendemos que a Associação de EditorasEspíritas deveria apoiar a divulgação do Livro Espírita por todasas bibliotecas espíritas virtuais idôneas da Internet, até porquese o Apóstolo de Uberaba fosse encarnado atualmente, criariaum site para divulgar e disponibilizar seus livros a todos osleitores, sem necessitar de qualquer editora para desfrutar delucros financeiros com o produto da sua psicografia.

Referência:Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998

Dilúvio de livros “espíritas” delirantes

Como (re)agir diante dos livros antidoutrinários,supostamente “mediúnicos”, que invadem as instituições

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espíritas, colonizando turbas de ingênuos adeptos? Hápseudomédiuns, sem qualquer compromisso com o Espiritismo,que agem quais livres atiradores, e paradoxalmente “suas obrassão vendidas nos Centros Espíritas, porque vendem muito, maso tempo que se consome lendo seus livros é um desvio dotempo de aprendizagem da Doutrina Espírita.” (1)

Possivelmente seja perda de tempo acercar-nos dessecansativo tema. Todavia, acreditamos que sob o pálio do velhoadágio “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”,a questão pode ser abordada de forma menos complicada.Antes, porém, reafirmamos tudo o que já registramos muitasvezes na imprensa: os livros insalubres não devem sercomercializados nas livrarias de uma instituição espírita! Nemmesmo em nome da surrada cantilena “liberdade deexpressão”. “Não faz nenhum sentido as instituiçõescontinuarem comprando essa literatura [infausta]. Deveriamfazer a barreira de obstrução mesmo sem brigar com ninguém,até porque somos espíritas e é urgente saber o que é um livrogenuinamente espírita.” (2)

Raul Teixeira explana o seguinte: “quanto maisdescomprometido com a Doutrina Espírita é o ‘livrinho’ ou o‘romancinho’, mais o povo gosta. Somos responsáveis por essachuva de lodo sobre a nossa literatura espírita que dá lucrosexorbitantes. Muitos clubes do livro [com honrosas ressalvas]não respeitam a Doutrina Espírita e normalmente colocammensalmente um livrinho “baratinho” para cobrar mais caro eterem altos lucros sobre os seus assinantes.” (3)Atualmente são vendidos a rodo esses destroços literários. “Épreciso frear a entrada dessas obras nas instituições. Que oseditores vendam onde quiserem, menos no centro espírita. Émuito importante os espíritas assumirem posição. Nunca seráfalta de caridade denunciar o mal. Falta de caridade é nossaomissão ante a disseminação do mal através dos livros. Nãopodemos entrar na falácia de que o mal é querer o bem.” (4).

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Há obstinados gênios das trevas divulgando “pérolas azuis” dotipo “o mundo espiritual é uma cópia do mundo físico e não ocontrário”; “a mulher desencarnada sofre fluxos menstruais”;“os Espíritos vão ao banheiro e dão descarga”, “instrutorespiritual conta piadas pornográficas”, “mentor descreve comminúcias as curvas sensuais de jovem desencarnada”, “mentorendossa o aborto de anencéfalos”. É chocante! Nessa invasão“mediúnica” enunciam “que existem relacionamentos sexuaispara promoção de ‘reencarnação’ no Além”. Ah!, por falar emreencarnação, tais livros revelam as várias “reencarnações” deAllan Kardec, culminando por encontrar o mestre de Lyonimerso num corpo (re)nascido em Pedro Leopoldo. Seriapatético se não fosse burlesco, ou o avesso?! Seria cômico senão fosse trágico.

Garante tal literatura que “as pretas e pretos velhos,caboclos e correlatos, são entronizados como mentores deinstituições espíritas.” Óbvio que as tradições das práticasmediúnicas africanas e ameríndias não padecem dediscriminação entre os espíritas estudiosos, nem avaliamos osEspíritos de índios e negros, de todo, involuídos, todavia,ignorantes. Sim! Porque se fossem mais conscientes ou se nãofossem ignorantes, não algemariam a mente em atavismos depersonagens do pretérito. Estamos diante de delírio e deextrema fascinação no movimento espírita doutrinário.Os dirigentes não utilizam de forma criteriosa as barreiras paraseleção doutrinária dos livros expostos ao público! AfirmaDivaldo Franco que “o pudor em torno do Índex Expurgatoriusda Igreja Romana tem levado muitos líderes a uma tolerânciaconivente [contemporização].”(5) As instituições espíritas[inclusive algumas federativas], “por interesse puramentecomercial, vendem quaisquer livros “psicografados”, deautoajuda, de esoterismo, de outras doutrinas, quandodeveriam preocupar-se em divulgar as obras do Espiritismo,tendo um critério de lógica.”(6)

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Temos observado que sob o lábaro da “liberdade cultural”há os que pugnam pelo não expurgo dos livros antidoutrináriosnas prateleiras das nossas bibliotecas espíritas, desde que hajana página inicial dessas obras (avaliadas como lesivas aoprograma da Codificação), sumários de análise e sugestão paraa leitura de obras com contextos adversos. Interessante essemétodo, sem dúvida, mas cremos que o ingresso dos espíritas(menos precavidos), deve ser irrestrito tão somente nasbibliotecas que se balizem exclusivamente nas obrasdoutrinariamente irrefutáveis.

Logicamente, sem obrigação de pelejar com osdesfavoráveis a restrições, podemos aceitar a catalogação dosatuais “entulhos-literários” e destiná-los a espaços de leituraapenas frequentados por espíritas conscienciosos epesquisadores honestos, capazes de analisar com lucidez osconteúdos das obras. Somos partidários do ideário de “que asinstituições espíritas deveriam ter uma comissão para analisar eavaliar a qualidade do livro e divulgá-los ou não, porquanto aspessoas incautas ou desconhecedoras do Espiritismo fascinam-se com ideias verdadeiramente absurdas. (7) Destarte, éimportantíssimo “montar a barreira natural do exame [doslivros] consoante recomenda Kardec, até porque não se tratade reconstrução do arrepiante Índex Librorum Prohibitorum..”(8)

Se a biblioteca for acessível a qualquer pessoa, é urgentetoda precaução, pois quanto maior nível de ignorância do ledor,importância máxima dará a “segurança” oferecida pelainstituição ao livro a que ele tem livre acesso para leitura.Infelizmente, para os calouros e/ou incautos, o que é oferecidopelo centro espírita é interpretado como válido, fidedigno edoutrinariamente correto. Eis aí o “deus-nos-acuda” instalado!Cremos que “mesmo sem atracar com ninguém é imperiosodefender o território [instituição espírita], porque quem compra[ou toma emprestada] uma obra de má qualidade no centro,

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sai declarando que aquela obra é espírita, pois foi adquirida nocentro. Se um centro espírita comercializa uma obra de máqualidade é porque esse centro também é de má qualidade.”(9)

Sobre as bibliotecas espíritas, concordamos que as mesmasdevem ser locais “intocáveis”. Porém, não há como comparar aliberalidade de uma biblioteca mundana (descompromissadacom a Terceira Revelação) com uma biblioteca espírita. Nadamais desigual! Os desígnios são completamente diferentes. Aprimeira prima por arquivar, conservar e oferecer informaçõespara desenvolvimento da cultura ordinária. A biblioteca espírita,entretanto, deve ser ambiente intocável, e muito mais do queisso, deve ser um templo abençoado para abrigar as obrasajuizadas e consagradas universalmente pelos BenfeitoresEspirituais. A primeira propõe aclarar o intelecto, mas asegunda necessita alumiar a mente e potencializar o coração dohomem.

Não podemos permitir que as instituições espíritas sejamtransformadas em picadeiros, inobstante seja a “comédia oinverso da tragédia”(10), porém, na retaguarda do malfeitorcampeia o bufão (protagonista do circo), e “os falsos devotostêm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: àmaneira dos espelhos, refletem a fisionomia de seus vizinhos.Tomam-se a sério, enganam-se a si próprios; a timidez os fazzombar daquilo em que não acreditam, exaltam o que duvidam,comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenasvelas, às quais atribuem muito mais virtude do que atransformação moral.”(11)

Os espíritas desleais são os verdadeiros descrentes daequidade, da esperança, da Natureza e de Deus; recusam obom senso e afiançam o fanatismo. A desencarnação, porém,os arrastará encharcados de águas de cheiro e cobertos deouropéis, que hoje os disfarçam entre os homens.Pelo exposto, é inadmissível ficarmos temerosos de sermos

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classificados de anacrônicos, conservadores ou até mesmoclericais. Depende de todos nós melhorar a qualidade daspráticas doutrinárias e cada qual deve fazer a sua parte. Éimportante sermos inexoráveis para blindar ininterruptamente aDoutrina Espírita contra os títeres das trevas (conhecidos comofalsos profetas da atualidade), que tapeiam quaisconcessionários das Trevas. Contra eles devemos nos insurgir,a fim de expor o Espiritismo como Doutrina ajuizada, sublime eincorruptível.

Referências bibliográficas:

(1) Divaldo Francohttp://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2013/02/opiniao-do-divaldo-franco-sobre.html , acessado em 24/02/2013(2) Raul Teixeirahttp://tanialeimigespiritismo.blogspot.com.br/search?updated-min=2013-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2014-01-01T00:00:00-08:00&max-results=4 , acessado em 23/02/2013(3) idem(4) idem(5) Divaldo P. Francohttp://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2013/02/opiniao-do-divaldo-franco-sobre.html , acessado em 24/02/2013(6) idem(7) idem(8) Raul Teixeirahttp://tanialeimig-espiritismo.blogspot.com.br/search?updated-min=2013-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2014-01-01T00:00:00-08:00&max-results=4 , acessado em 23/02/2013(9) idem(10) Kardec, Allan. Revista Espírita/outubro de 1863,mensagem ditada pelo Espírito Delphine de Girardin, disponívelem http://www.sistemas.febnet.org.br/site/indiceGeralDeRevist

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as/verArtigo.php?CodArtigo=575&Palavra=B%EDblia acessadoem 25/02/2013(11) idem

Algumas explicações espíritas para uma leitora do blog

Sem uma religião definida, embora crente em Deus, umaleitora dos artigos do nosso blog pediu-nos alguns

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esclarecimentos. Ela mesma considera inaceitável a fé ceganos mitos da Gênese Mosaica e do Novo Testamento, citandoos seis dias da Criação, a arca de Noé, Adão e Eva, a serpentee a maçã, o Paraíso perdido, a virgem Maria de Nazaré, aestrela guia, etc. Porém, o que mais a intriga é: Por quedeificaram somente Jesus, se tantos outros cristos que,certamente, passaram pela humanidade e que, também,deveriam operar os tais “milagres”, permaneceram anônimosna História? Segundo ela, como admitir que Jesus tenha vindoao mundo para sofrer pelos nossos “pecados”? Por que Deusnão impediu a crucificação do Mestre, consentindo que Omatassem?

Percebemos que o raciocínio da nossa leitora é aguçado,sem dúvida; mas, faz-se mister considerar que o raciocíniohumano vem sendo trabalhado, de muitos séculos no planeta,pelos vícios de toda sorte. “Temos plena confirmação desteasserto no ultra-racionalismo europeu, cuja avançada posiçãoevolutiva, ainda agora, não tem vacilado entre a paz e aguerra, entre o direito e a força, entre a ordem e aagressão.”(1) Sobre suas questões, vamos por partes. Oshábitos mentais dos espíritas, também, tendem a serconduzidos pela fé raciocinada.

Sobre os mitos mosaicos que cita, lembramos que se Moisésse utilizou de muitas metáforas, e se não transmitiu ao mundoa lei definitiva, ele deu, à Terra, as bases da Lei divina eimutável. Aqui devemos considerar que os homens receberão,sempre, as revelações divinas de conformidade com a suaposição evolutiva. Para nós, a Humanidade da Era Cristãrecebeu a grande Revelação em três aspectos essenciais:Moisés trouxe a missão da Justiça; o Evangelho, a revelaçãoinsuperável do Amor, e o Espiritismo, em sua feição deCristianismo redivivo, traz, por sua vez, a sublime tarefa daVerdade.

Sem querer esbarrar na deificação do Cristo, sabemos que

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no centro das três revelações encontra-se Jesus-Cristo, comoo fundamento de toda a luz e de toda a sabedoria. Portanto,não há outros Cristos na Terra. Ele, o Mestre, está conosco hámais de 4,5 bilhões de anos. Jesus foi o divino escultor da obrageológica do planeta. Junto de seus prepostos, iluminou asombra dos princípios com os eflúvios sublimados do seu amor,que saturaram todas as substâncias do mundo em formação. Emais ainda, “Todas as entidades espirituais encarnadas no orbeterrestre são Espíritos que se resgatam ou aprendem nasexperiências humanas, após as quedas do passado, comexceção de Jesus-Cristo, fundamento de toda a verdade nestemundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, eem cujas mãos angélicas repousa o governo espiritual doplaneta, desde os seus primórdios.”(2)

Sobre a supremacia do Cristo, lembremos do “Meu Pai e eusomos Um”. Essa afirmativa evidenciava a sua perfeitaidentidade com Deus, na direção de todos os processosatinentes à marcha evolutiva do planeta terrestre. (3) Porvárias razões, qualquer comentário sobre o Cristo não julgamosacertado fazer, para não condicionar a figura Dele aos meioshumanos, num paralelismo injustificável, porquanto, em Jesus,temos de observar a finalidade sagrada dos gloriosos destinosdo espírito. “N’Ele, cessaram os processos tacanhos dejulgamentos humanos, sendo indispensável reconhecer, na sualuz, as realizações que nos compete atingir. Representando,para nós outros, a síntese do amor divino, somos compelidos aconsiderar que, de sua culminância espiritual, enlaçou, no seucoração magnânimo, com a mesma dedicação, a Humanidadeinteira, depois de realizar o amor supremo.”(4) É que Jesus,com Amor, manifestou-se na Terra no seu esplendor máximo;Com Jesus, a Justiça e a Verdade nada mais são que osinstrumentos divinos de exemplificação, Ele que é o Cordeiro deDeus, alma da redenção de toda a Humanidade.

Portanto, o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem

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para lhe servir de guia e modelo foi o Cristo. Para AllanKardec “Jesus é para o homem o exemplo da perfeição moral aque pode pretender a humanidade na Terra. Deus nos ofereceJesus como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou éa mais pura expressão de sua lei, porque era o próprio EspíritoDivino e foi o ser mais puro que apareceu na Terra. Se algunsdaqueles que pretenderam instruir o homem na lei de Deusalgumas vezes o desviaram, ensinando-lhe falsos princípios, foipor se deixarem dominar por sentimentos muito materiais e porter confundido as leis que regem as condições da vida da almacom as do corpo. Muitos anunciaram como leis divinas o queeram apenas leis humanas criadas para servir às paixões edominar os homens.”(5)

A respeito dos mitos e crendices do Novo Testamento,sabemos que foram impostos por seres sem escrúpulos. Acomeçar com Constantino, que permitiu o famigerado Concíliode Nicéia. Posteriormente, com Teodósio, oficializando oCristianismo no Estado Romano. Em 384, São Jerônimo teve amissão de redigir uma tradução latina do Antigo e do NovoTestamento. Essa tradução tornar-se-ia a norma das doutrinasda Igreja: foi o que se denominou a “Vulgata”. Essa traduçãooficial, que deveria ser definitiva, segundo a cúpula da Igreja,foi, entretanto, alterada em diferentes épocas, por ordem dosulteriores pontífices. Portanto, os chamados livros canônicos,foram submetidos a diversas e trágicas interpolações parasatisfazer os mesquinhos interesses da Igreja. “Sufocaram,antes de desabrochar, os fortalecedores princípios que teriamconduzido os povos à verdadeira crença, à que eles hoje em diainda procuram. Tudo para assegurar, fortalecer, tornarinabalável a autoridade da Igreja.” (6)

Sobre a crucificação do Messias, permitida por Deus, deveser apreciado, tão-somente, pela dolorosa expressão doCalvário? Cremos que não, pois o Gólgota representou ocoroamento da obra do Senhor, mas, o sacrifício na sua

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exemplificação, verificou-se em todos os dias da sua passagempelo planeta. E o cristão deve buscar, antes de tudo, o modelonos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com amor ehumildade o segredo da felicidade espiritual, sendoimprescindível que todos os discípulos edifiquem, no íntimo,essas virtudes, com as quais saberão demonstrar ao calvário desuas dores, no momento oportuno. (7)

Os mistérios das Leis divinas são insondáveis. Óbvio quenão cai um fio de cabelo de nossas cabeças sem que Deus osaiba e permita. A crucificação estava nos ditames da Vontadesuprema e não havia como ser modificada. E, mais ainda, acrucificação teve efeito simbólico, uma vez que, após acondenação, o Mestre ressurge para nós. Desde então, a mortedeixou de ser o lúgubre ingresso para o Nada; porquanto, naverdade, é a esplendorosa revelação de que a vida é eterna,como perenes serão as realizações do bem, na terra e noespaço. Quando o Celeste Amigo revelou o Túmulo Vazio, Elevenceu a morte. É verdade! Todos os evangelistas narram asaparições de Jesus, após sua crucificação, com circunstanciadospormenores, que não permitem se duvide da realidade do fato.Pois bem, minha irmã, eis o motivo pelo qual Deus não impediua crucificação de Jesus.

Em outro assunto, a leitora lembra o aborto provocado,questionando se essa decisão não deveria ser da mãe, uma vezque o livre-arbítrio nos dá, a todos, a liberdade de escolha?Explicamos que o aborto provocado, para quem estuda aDoutrina Espírita e segue os conselhos dos Espíritos, constituicrime. Se você diz: Eu não praticaria, mas que outras mulherestenham o direito de escolha é nada mais, nada menos quepresenciar alguém prestes a cometer suicídio e fechar os olhos,não tentando, de forma alguma, impedi-lo e pensar,intimamente: - Nada posso fazer. A escolha é dele.

Portanto, tentar impedir, o quanto nos seja possível, quemulheres cometam o aborto, nada mais é que valorizar a vida

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dessas futuras mães e reconhecer a importância daencarnação dos Espíritos que se ligam a elas, desde o momentoda fecundação. Que a leis humanas e as religiões continuemfirmes no propósito da não descriminalização do aborto.

Referências bibliográficas:

(1) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado peloespírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001

(2) idem pergunta 243(3) idem pergunta 288(4) idem pergunta 327(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed.

Feb, 2001, pergunta 625(6) Denis. Léon. Cristianismo e Espiritismo, Rio de Janeiro:

Editora FEB, 2001(7) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo

espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, pergunta286.

Fora da gratuidade não há absolvição

Analisemos o princípio contido no capítulo XXVI do

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Evangelho Segundo o Espiritismo e concluiremos que a regra“Dai de graça o que de graça recebestes” não se circunscreveapenas ao que se produz mediunicamente, todavia igualmentedesaprova a mercantilagem, a usura, a agiotagem de qualquerprocedência em nome da Codificação Espírita. Por justa razãoJesus recomendou que os intermediários (médiuns) entre o céu(mundo espiritual) e a Terra não poderiam receber dinheiro poressa tarefa.

O Criador não vende os benefícios que concede. Amediunidade é conferida gratuitamente por Deus para alíviodos que sofrem e (especificamente nas hostes espíritas) paradifusão da Terceira Revelação, não podendo pois serempregada comercialmente. Essa reprovação de Jesus docomércio das coisas abençoadas recaiu sobre as permutas demuambas religiosas praticadas pelos vendilhões do Templo deJerusalém. Ao expulsá-los, o Mestre deu enérgicademonstração de que não se deve comerciar com as coisasespirituais, nem torná-las objeto de especulação ou meio decobiças.

Os intérpretes dos Espíritos (médiuns), para instruírem oshomens, mostrar-lhes o caminho do bem e conduzi-los à fé nãopodem apelar para o lucro material. Não devem, pois, vender-lhes as mensagens que não lhes pertencem, pois não sãoproduto da sua lavra nem de suas pesquisas nem de seutrabalho pessoal. É diferente do trabalho, por exemplo, domédico, do advogado, do engenheiro, do professor, queoferecem o fruto dos seus estudos, dos seus esforços e até dosseus sacrifícios nos bancos acadêmicos e daí poderemauferirem lucros das suas aptidões, bem longe das hostesespíritas. Já o médium, sobretudo o “curador”, (re)transmite ofluido dos Espíritos e assim não pode vendê-lo sob qualquercontexto, seja onde for, fora ou dentro do ambientekardeciano.

O ancestral sacerdote druída da velha Gália anota que o

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Espiritismo compreendeu o lado sério da mediunidade,lançando o descrédito sobre a exploração e elevando a práticamediúnica à categoria de mandato sublime. Essa questão nãose relativiza. O "dai de graça ao que de graça recebemos" nãopode ser deformado. A única moeda que o Criador acolhe comocâmbio é o amor ao próximo. O Espiritismo deve ser adisseminação da palavra de consolo tal como Jesus nosensinou, tal como Ele pregava, tal como Kardec esperava, talcomo Chico Xavier exemplificou, para todos e ao alcance detodos sempre gratuitamente.

Ficamos estarrecidos ao assistir ao sepultamento dasimplicidade da Terceira Revelação no jazigo dourado daespeculação mercantil das palestras, dos seminários sob osaplausos provindos da população desprovida de raciocínio, dasaclamações extravagantes, dos galanteios esplêndidos edelirantes. O Cristianismo primitivo, pela simplicidade dosprimeiros núcleos cristãos, foi conquistando integralmente asociedade de sua época, porém, lamentavelmente, com oesvair dos séculos, desgastou-se ideologicamente. O Evangelhoconspurcou-se tragicamente por imposição dos interessespolíticos, institucionais e principalmente financeiros, eultimamente existem os que contam as moedas douradasarrecadadas em nome do Cristo, de mãos unidas com"Mamon".

Jesus assegurou que "digno é o trabalhador do seu salário".Ora, o médium que exerce sua faculdade segundo o Cristorecomenda, sem interesses materiais ou egoístas, não deixaráde receber uma correspondente recompensa espiritual.Todavia, inevitavelmente o médium mercenário atrairá para sios espíritos levianos, pseudossábios, malévolos.

O Espiritismo não assenta com interesses comerciais, e adivulgação das mensagens do mundo espiritual não pode serobjeto de lucro financeiro; apenas moral. Notamos combastante inquietação que setores influentes do movimento

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espírita vêm transformando-se em censurável balcão denegócio. Ressalvando-se as preciosas exceções e semgeneralizar, percebe-se decidida argúcia, especificamente notrato comercial de livros espíritas de autores encarnados edesencarnados, de CDs e DVDs, refletindo em boa dose apretensão da compulsiva ganância, mormente quando sãoencarecidos os preços dos livros doutrinários.

Do exposto indagamos: será justo transformar um temploespírita em uma espécie de agência mercantil? Em uma espéciede núcleo financeiro lucrativo? Será que os BenfeitoresEspirituais consentem tal procedimento? Foi isso o que nosensinou Kardec? Óbvio que não!

Viver o Evangelho, sim! Ganhar dinheiro à custa damensagem espírita, nunca!

A Terceira Revelação veio para todas as pessoas. É forçosoque a exercitemos democraticamente junto aos deserdadosmaterial e intelectualmente. Caso contrário, no futuro oscentros espíritas serão transformados em estabelecimentosmercantis (visando lucros materiais), ou em espaço restrito aosnotáveis abastados, sublevando-se o Evangelho do Cristo quesomente será pregado para os que possuam saborosos cartõesde crédito e obviamente laureadas por títulos acadêmicos.Entre os moldes atuais para a melhor difusão espírita, cremosque é importante uma revisão das estratégias e costumesmercantilistas, a fim de que a mensagem do Espiritismo alcancetodas as faixas sociais. Destarte, o acolhimento dos simples[espíritas desempregados, iletrados, pobres] no ambiente dasreuniões espíritas é tarefa de primordial importância nostempos em que vivemos. A divulgação doutrinária deve tercomo parâmetros o que é simples e viável para todas oscentros espíritas, mormente os de periferia. Lembremos que “asraposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas Jesus nãoteve onde reclinar a cabeça.”, segundo narra Mateus no oitavocapítulo, versículo vinte.

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Não vão nossos lembretes destinados àqueles querevertem a mensagem espírita em prol das comprovadas obrasfilantrópicas (creches, asilos, hospitais etc), contudo para osespeculadores, os vendilhões ambiciosos.

Será que foi um pueril devaneio?...

Em face da publicação do artigo o “Mundo do Faz de

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Conta”, leitores residentes na Europa enviaram-me mensagensinquietantes; vejamos: “Estou plenamente de acordo com tudoquanto afirma e acho até que ficou aquém, pois muito maishaveria para você dizer (...).” “O movimento Espírita europeu“adoeceu” já algum tempo. Diversos e distintos diagnósticospoderíamos fazer. Há competição entre os médiuns, ausênciade conhecimento do Evangelho e o pior de todos: o nefastoideário do “EU SOU O MAIOR” (síndrome de grandeza). Nosúltimos 5 anos, instalou-se uma desordem, pois não sabemosdiferenciar o JOIO do TRIGO. Recebemos aqui com frequenciaespantosa alguns palestrantes que mais fazem turismo nasterras EUROPÉIAS do que difundir Espiritismo. O pior é queesses “oradores” vêm, usufruem da hospedagem e boa vontadee da simplicidade, mas abusam da ingenuidade de algunsconfrades anfitriões.”

“Desculpe é um desabafo! Aqui temos o culto aos “deusesmédiuns” aquele que é o maior. Vendem milhares de livros poraqui, e o que é mais trágico as obras da Codificação sãosubstituídas pelos livros dos “deuses da oratória”, queobjetivam muito mais a vendagem de livros da sua lavra. É um“salve-se quem puder”. Uma hora de palestra e 30 minutos depublicidade e vendagem de livros, CDS, DVDs, revistas. São osmascates estrangeiros que encontram aqui um paraíso deFÉRIAS (de graça) e vendas dos seus produtos.”

Fui dormir preocupado com tudo isso e tive mau sonho.Sonhei que estava imerso em um mundo estranho ondetestemunhei fatos que anseio jamais aconteçam no mundo devigília.

No cenário “onírico” identifiquei esforços para “unir”espíritas, entretanto algo distante de uma programaçãokardeciana sensata. As representações das trevas empregavamastúcias e encaminhavam seus emissários para cargos dedireção dos órgãos federativos.

Os obsessores, como sempre, mostravam-se perspicazes,

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influentes, instrumentalizados e impetravam desinteligênciasno movimento doutrinário. Ao oposto de perseguirem articulistainexpressivo tal qual sou, que nenhuma influência exerce nomovimento espírita, assestavam, óbvio! Suas armas contra asinstituições coordenadoras do movimento doutrinário, e aítransformavam suas vítimas em prestigiosos “diretores”. Destemodo, seus representantes adquiriam mais poder de comandoperante os espíritas ignorantes e cometiam irreparáveisestragos ao programa doutrinário.

Só para se ter uma pálida ideia, tais “diretores” ofereciamcartelas de bingo, a R$ 25,00; defendiam Ramatís, comoespírito superior; afirmavam que tudo é parte de Deus,inclusive a matéria; Kardec era desconhecido, mas divulgavampesquisas da ciência como hologramas, Stephen Hawking etc.,menos, é claro, o próprio codificador.

Lamentavelmente, as obras espíritas arruinavam-se aoacolher a enxertia dos conceitos e práticas anômalos àsingeleza que lhes vigoravam no alicerce. Percebi que adulavamlíderes megalomaníacos, encharcados de arrogâncias, que searvoravam como benfeitores da construção e difusãodoutrinárias. No letargo do sonho, ainda consegui perceber que“somente os viajores irresponsáveis escolhiam perlustraratalhos perigosos e desfiladeiros obscuros, espinheiros echarcos, no labirinto de aventuras marginais, ao longo daestrada justa.” (1)

O panorama dos sonhos estava totalmente contaminado depráticas doutrinárias irregulares e não havia nenhumaperspectiva de melhora; ao contrário, modelos estavam sendoconsolidados e havia uma epidemia de expositores afetadossurgindo em cada centro espírita, dispostos a copiar ocomportamento do endeusado líder-chefe. Foi extenuantetestemunhar as sempre passivas idolatrias a esse guia, cheio deautoridade moral, um condutor completamente intocável, cujassentenças tornavam-se regra definitiva para os dirigentes

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incautos.A proeminente e tenaz tática do chefe-famoso era a

injunção de um legado espetaculoso de palestras ostentosas,motivo pelo qual os outros copistas permaneciam rasos deconteúdos, hipnotizados sob os grilhões da vaidade. Mas,graças a Deus!, Havia espíritas prevenidos que inquiriam apóscada palestra espetacularizada: Falaram de quê? Abordaramque conteúdo?

O adorado líder tinha a empáfia de batizar com o título“PURITANOS” todos defensores da gratuidade dos eventosespíritas , ou seja dos que defendiam um Espiritismo para todose ao alcance de todos. Tal líder ignorava que na sua ética,Paulo de Tarso não permitiu o mercantilismo do Cristianismo.Pregou o Evangelho gratuitamente (2) e justificou tal atitude:“Pregamos o Evangelho a vocês, trabalhando de dia e de noite,a fim de não sermos peso para ninguém”.(3)

Na contramão da advertência do Convertido de Damasco, ospretensos expositores, em seguida aos shows das palestras(cantadas, recitadas, declamadas, gritadas etc... etc... etc.) ,quais ambulantes de feira livre, punham à venda seus DVDs,CDs, livros etc., enfim, com toda a tralha para acomercialização, gastavam tempo precioso promovendo suasquinquilharias “doutrinárias”, muitas vezes em centros espíritaspobres, simples, escassos de recursos. Entretanto,curiosamente, os dirigentes de tais centrinhos sentiam-seorgulhosos porque trouxeram um nome “famoso” para ainstituição que dirigem.

Nos imagos oníricos, portanto, lidava-se com os egos dedirigentes e palestrantes, e pouquíssimas exceções estavamsintonizados com os Benfeitores. Infelizmente os oradoresmodestos, despretensiosos, sinceros, importantíssimos para oengrandecimento do Espiritismo eram desprezados. Quasetodos os pregadores encontravam-se instilados pelaspresunções, pelas ribaltas e holofotes da glória, sobretudo

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pelos aplausos inférteis. Sem nenhum pudor os mais famososexigiam reverências e bajulações desenfreadas.

Não era assegurada a simplicidade e a pureza dos princípiosespíritas nos núcleos e associações doutrinários, por isso suasatividades não atingiam a meta da libertação espiritual dosfrequentadores. Estes contemporizavam com todo tipo deprofissionalismo religioso e nem se atreviam a arguir porque, seinterrogassem o líder-venerado, estariam questionando os queo apoiam, sabiam que perderiam amigos e, por isso,silenciavam. Ou ainda porque lhes interessava algum lucrodivulgando os “produtos” do líder-mor, seja lucro financeiro oumesmo o que vem da pura vaidade, da notoriedade, pois quemadentrasse o meio espírita, se não citasse o líder-chefe, se nãodivulgasse os eventos de que ele fazia parte, se não apoiassequem o apoiava, transformar-se-ia em proscrito, deixado delado por todos os idólatras.

Presenciei um palestrante implorando junto ao público umacolaboraçãozinha de recursos financeiros a fim de "ajudá-lo"nos projetos “assistenciais”, visando adquirir microfones, tripésde luz, computadores e quejandos. Tal palestrante fazia umshowzinho particular com direito a jogos de imagens e músicas,para “agradar” a todos, passando a ideia de apurado bomgosto, mas na realidade estava querendo “encher linguiça”(como se diz na gíria popular), com várias cantorias eapresentações.

Lá não se tinha o alcance moral para entender que zelo pelapureza e simplicidade doutrinária não é intolerância, fanatismoe nem rigorismo de espécie alguma, porquanto, agir de outromodo é o mesmo que “devolver um mapa luminoso ao labirintodas sombras, após séculos de esforço e sacrifício para obtê-lo,como se também, a pretexto de fraternidade, fôssemosobrigados a desertar do lar para residir nas penitenciárias; adeixar o caminho certo para seguir pelo cipoal; a largar o pratosaudável para ingerir a refeição deteriorada e desprezar a água

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potável por líquidos de salubridade suspeita.” (4)Havia uma neurastenia generalizada em torno das

temáticas: “terra em transição”, “final dos tempos”, cujosenredos catastrofistas atrofiavam mentes fanatizadas. Algunsneuróticos esquadrinhavam respaldo (acreditem!) no célebreclichê: “Chico Xavier me contou” para corroborar as afirmações(supostamente“reveladas” pelo médium de Uberaba noscolóquios íntimos), sobre bizarras profecias espalhafatosas, comdatações e outras pérolas sobre o trági(cômico) amanhã daHumanidade.

De manhãzinha, ao despertar do sono, identifiquei que aexperiência onírica evidenciava muitas práticas indesejáveis queé urgente se evitem na Terra. E se tais práticas ocorrerem,alguém precisa denunciar, para não ser apenado por omissão.“Todos os espíritas que, de coração, vigiam para que aDoutrina não seja comprometida, devem, sem hesitação,denunciá-las [práticas estranhas], tanto mais porque, sealgumas delas são produtos da boa-fé, outras constituemtrabalho dos próprios inimigos do Espiritismo, que visamdesacreditá-lo e poder motivar acusações contra ele. Eis porqueé necessário que saibamos distinguir aquilo que a DoutrinaEspírita aceita daquilo que ela repudia”. (5)

Somos daqueles que preferem a análise construtiva paraquaisquer tarefas doutrinárias, e não cultivamos paternalismoou mimos impróprios, não aveludamos consciências junto airmãos de nosso convívio, “em vista de reconhecermos quenenhum bem se fará sem trabalho disciplinado; entretanto, nãopodemos esquecer que muitos companheiros se marginalizamnos compromissos por não conseguirem suportar o malho dainjúria, o frio da desconsideração e do abandono, a supressãode meios justos para o exercício das funções a que foramchamados e as lutas enormes, decorrentes das armadilhas desombra, de que muitos não conseguem escapar, hipnotizadospelos empreiteiros da obsessão. (6)

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Referências bibliográficas:

(1) Xavier, Francisco Cândido e Vieira Waldo. OpiniãoEspírita, ditados pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, SãoPaulo, Editora: Boa Nova - 1ª edição agosto/2009, Item 25 -PRÁTICAS ESTRANHAS

(2) 1Cor 9,18(3) 4 1Ts 2,9(4) idem(5) (Allan Kardec, Viagem Espírita em 1862. Instruções

Particulares. VI.)(6) Xavier, Francisco Cândido. Companheiros, ditado pelo

Espírito Emmanuel, São Paulo: IDE 1977, cap. MÉDIUNS NATERRA

Práticas estranhas no Espiritismo

Sabemos, de sobejo, que devemos respeitar crenças,

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preconceitos, pontos de vista e normas de quaisquer pessoasque não lêem pela nossa cartilha doutrinária. Porém, temosdeveres intransferíveis para com a Doutrina Espírita. É misterque lhe preservemos os princípios doutrinários comsimplicidade e dedicação, sem intolerância, sem radicalismos,mas sem concessões indesejáveis. A orientação, a experiência ea prática dos médiuns mais amadurecidos, como FranciscoCândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, entre outros, têm nosdemonstrado, sempre, a necessidade da vigilância com relaçãoà preservação da pureza dos preceitos básicos da DoutrinaEspírita.

Observamos, atônitos, as muitas discussões estéreis emtorno de temas como: crianças índigo; se Chico é Kardec(?);ubaldismos, ramatisismos, cromoterapias, e tantos outrosenfadonhos "ismos" e "pias", infiltrados no meio espírita.Aceita-se o poder curador de cristais, sem a menor reflexãoconsciente. Confiam, cegamente, nos efeitos das pomadas"mediunizadas", como se essa prática enganosa lhes fossetrazer algum benefício. Promovem-se, nas tribunas, verdadeirosshows da própria imagem, shows esses protagonizados pelosilustres oradores, que não abrem mão da vaidosa distinção doDr. antes dos próprios nomes. Criam-se associações comnotáveis profissionais de pretensos "espíritas". Muitos outros seprojetam nos trabalhos assistenciais, para galgarem espaços naribalta da política partidária. Não é de hoje o fenômeno daspráticas exóticas nas hostes doutrinárias, fato esse que faz,realmente, a diferença.

Segundo algumas conveniências, propiciam as famosas"churrascadas espíritas", disfarçadas de almoço fraterno, emnome do Cristo(!?), pasmem! Confeccionam rifas"beneficentes"; agendam desfiles de moda, "de caráterfilantrópico", e, o que é pior, cobram taxas para o ingresso noseventos espíritas, quais sejam: congressos, simpósios,seminários, e, por aí vai...

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Há um impulso incontrolável para o universo místico demuitos idólatras, que, talvez, leram alguma "coisinha" aqui, eoutra ali, sobre a doutrina espírita e se dizem seguidoresconvictos, quando, na realidade, nada mais são do que"espíritas de fachada". Os Benfeitores nos advertem que cabe,a nós, a obrigação intransferível de defender os ensinamentosde Allan Kardec, seja pelo exemplo diário do amor fraterno,seja pela coragem do debate elevado.

Muitas pessoas têm escrito para o meu email, insistindo notema - apometria. Informo-lhes, frequentemente, que a teoria ea prática da técnica apométrica (e suas leis) estão em plenodesacordo com os princípios doutrinários codificados por AllanKardec. Jamais aconselharíamos incluir a apometria no corpodo Departamento Doutrinário e Mediúnico das Casas Espíritas.

Sobre essa estranhíssima prática, lamentavelmente,encruada por estas bandas do Centro-Oeste, indagamos aosexperts, por que os Espíritos não nos revelaram tal proposta"terapêutica"(!), quando tiveram, à sua disposição, excelentescolaboradores médiuns, ao longo do século XX? Não basta seafirmar "espírita", nem, tampouco, se dizer "médium dequalidade", se essa prática não for exercida conforme preceituaa Codificação Espírita. Respaldados nos estudos sistemáticosque fazemos da Doutrina Espírita e não dispensamos, de formaalguma, esse hábito- esclarecemos, sempre, que a apometrianão é Espiritismo, porquanto as suas práticas estão em totaldesacordo com as recomendações de "O Livro dos Médiuns".Com essas bizarras práticas, abrem-se precedentes graves paraa implantação de rituais e maneirismos, totalmente, inaceitáveisna prática espírita, que é, fundamentalmente, a doutrina da féraciocinada.

Se a apometria é (como afirmam os cansativos discursosdos líderes dessa prática), mais eficiente que a reunião dedesobsessão, por que a omissão dos Espíritos Superiores? Porque eles se calaram sobre o assunto? Curioso isso, não? No

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mínimo, é esquisito. O silêncio dos Espíritos Superiores é, semdúvida, um presságio de que tal prática é de mal agouro, e, porisso mesmo, ela é circunscrita a poucos grupos. Não conquistoua aceitação universal dos espíritos, razão pela qual não contacom a anuência das nossas Casas Espíritas sérias. Percebemosque essas mistificações coletivas superlotam alguns CentrosEspíritas, em que seus dirigentes vendem a ilusão da "terapiaapométrica", como mestres da hipnose, fazendo com que essescentros se tornem um reduto de fanáticos e curadores de coisanenhuma, o que é lastimável...

Por subidas razões, devemos estar atentos àsimpertinências desses ideólogos quixotescos, dos propagadoresdessas terapias inócuas, que pensam revolucionar o mundo da"cura espiritual". Até porque, a cura das obsessões não seconsegue por um simples toque de mágica, de uma hora paraoutra, mas é, quase sempre, a longo prazo, não tão rápidacomo se imagina, dependendo de vários fatores,principalmente, da renovação íntima do paciente.

Como se não bastasse, ainda, entra em cena, no rol dasbizarrices doutrinárias, uma tal "desobsessão por correntemagnética". Isso mesmo! Desobsessão(!?)

O uso de energia para afastar obsessores, sem a necessáriatransformação moral (Reforma Íntima), indispensável àlibertação real dos envolvidos nos dramas obsessivos, contradizos princípios básicos do Espiritismo, pois, o simplesafastamento das entidades perseguidoras não resolve aobsessão. O confrade Cauci de Sá Roriz lembra, na Revista OEspírita/DF, no artigo "Desobsessão por corrente magnética. Épossível?" que "a proposta da corrente magnética parte de umabase falsa, qual seja, a de que o Espiritismo exista para"atender, na prática desobsessiva, a um grande número depessoas." Por essas razões, preocupa-nos a introdução, naprática espírita, de mais esse enxerto estranho - a chamadadesobsessão por corrente magnética - assunto que ainda

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mantém sob hipnose muitos espíritas incautos. Repetimos que,sobre o tema, os "Espíritos ainda não enviaram orientação arespeito, por isso, sejamos prudentes!"

O Cristianismo, com a pureza doutrinária do Evangelho ecom a simplicidade de organização funcional dos primeirosnúcleos cristãos, foi conquistando lenta e seguramente asociedade de sua época. Porém, com o tempo, sofreu umsignificativo desgaste ideológico. Corrompeu-se, por força daspráticas estranhas ao projeto de Jesus. Atualmente, apesar dasadvertências dos Espíritos e do próprio Allan Kardec, quantoaos períodos históricos e tendências do movimento, os espíritasinsistem em cometer os mesmos erros do passado. Confradesnossos, não conseguindo se adaptar ao Espiritismo, e,consequentemente, não compreendendo e não vivenciandosuas verdades, vão, aos poucos, adaptando a doutrina às suasfantasias, aos seus limites morais, corrompendo os textos daCodificação, trazendo, para os centros espíritas, práticasdogmáticas de suas preferências místicas. Falta-lhes, nomínimo, o estudo das obras básicas da Codificação Rivailina.Das duas, uma: ou Kardec está sendo colocado em segundoplano, preterido por outras obras não recomendáveis, ou está,totalmente, esquecido - o que é pior.

Mas como evitar esse processo? Como agir, ante os centrosmal orientados, com dirigentes perturbados, com médiunsobsidiados, com oradores-estrelas? Enfim, como agir, diantedos espíritas perturbados e perturbadores? Seria interessante aprática do "lavo as mãos" ou a retórica filosófica do "laissezfaire", "laissez aller", "laissez passer"? Devemos deixar que ospróprios grupos espíritas usem e abusem do livre arbítrio para,por fim, aprenderem a fazer escolhas corretas e adequadas àssuas necessidades? Não nos esqueçamos de que os inimigos,em potencial, do Espiritismo estão mascarados entre ospróprios espíritas. Para encerrar nossas reflexões, atentemospara algumas admoestações de Vianna de Carvalho, através de

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Divaldo Franco, contidas no livro "Aos Espíritas": "OEspiritismo é a grande resposta para as questões perturbadorasdo momento. A sua correta prática é exigência destes diasturbulentos, pois os fantasmas do porvir ameaçam-no edistúrbios de comportamento apresentam-se com muitainsistência, parecendo vencer as suas elevadas aquisições. Pormotivos óbvios, "o Espiritismo deve ser divulgado conforme foiapresentado por Allan Kardec, sem adaptações nemacomodações de conveniência em vãs tentativas de conseguir-se adeptos". É a Doutrina que se fundamenta na razão, e, porisso mesmo, não se compadece com as extravagânciasdaqueles que, por meio sub-reptício, em tentando fazerprosélitos, acabam por macular a pureza originária da nossaDoutrina Espírita.

Não faltam tentativas de enxertos de ideias e convenções,de práticas inconvenientes e de comportamentos que nãoencontram guarida na sua rígida contextura doutrinal que, seaceitos, conduzir-nos-iam a sérios problemas existenciais, nãofosse a nossa convicção de que o Espiritismo veio para ficar, eque de nada valem essas investidas do mal. Criar desviosdoutrinários, atraindo incautos e ignorantes, causa, sem dúvida,perturbações que poderiam, indiscutivelmente, ser evitadas, sehouvesse, por parte dos dirigentes, maior rigor na conduçãodos trabalhos de algumas Casas Espíritas. Repetimos comDivaldo: "Qualquer enxerto, por mais delicado se apresentepara ser aceito, fere-lhe a integridade porque ele [o Espiritsmo]é um bloco monolítico, que não dispõe de espaço paraadaptações, nem acréscimos que difiram da sua estruturabásica."

Caríssimos irmãos de ideal, cremos ser indispensável avigilância de cada espírita sincero, para que o escalrachoseitista e sutil da invasão de teses estranhas não predomine noseu campo de ação, terminando por asfixiar a planta boa que é,e cuja mensagem dispensa as propostas reformadoras,

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caracterizadas pela precipitação e pelo desconhecimento dosseus ensinamentos"- como adverte Vianna de Carvalho.

Muitos grupos espíritas são "ilhas" porque suas práticasexóticas não se adaptam ao continente Kardeciano

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Sabemos que a Doutrina Espírita é pura e incorruptível.Porém, o movimento espírita, ou seja, a organização doshomens para praticá-la e divulgá-la é suscetível dos mesmosgraves prejuízos que dificultaram a ação do cristianismotradicional, hoje bastante fracionado. Observamos com tristezamuitas diretorias das casas espíritas que se mantêm sob umaincômoda e rígida hierarquia (aquela do aqui mando e queroser obedecido!). São dirigentes contaminados pela prepotênciano exercício do cargo e totalmente vazios de consciência sobreos seus encargos. Destarte, permanecem bastante longe daprática evangélica, inventando um "Espiritismo" estranho aoprojeto da Terceira Revelação.

Como não se pode imaginar o espírita com duas condutasdivergentes, a conduta do homem e a conduta do espírita,também não se pode imaginar o movimento espírita, oraacontecendo segundo os preceitos espíritas, ora segundooutros preceitos duvidosos, aceitos equivocadamente no seucontexto em nome da tolerância piegas.

Kardec é único. Espiritismo também, por conseguinte. Omestre lionês sempre preconizou a unidade doutrinária. Não háo menor espaço para compor com outras ideias que não sejam,ou convergentes e em uníssono com as suas, ou reflexosresplandecente destas. Unidade doutrinária foi a única ederradeira divisa de Allan Kardec, por ser a fortalezainexpugnável do Espiritismo. Por isso, necessita ser o nossolema, o nosso norte, a nossa bandeira.

Muitas vezes os Centros Espíritas transformam-se em ilhasde isolamento, por falta de estudo sério, aprofundado emetodizado da Doutrina, donde surgem inúmerasinterpretações equivocadas sobre os seus postulados, emprejuízo da verdade doutrinária. Se abraçamos o Espiritismo,por rota de crescimento espiritual, não podemos negar-lhefidelidade. Porém, é a lamentável falta de fidelidade aosconceitos e princípios do Espiritismo, que são difundidos de

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forma truculenta por dirigentes ignorantes, que têm isolado ascasas espíritas, tornando-as ilhadas e desérticas deconsolação!...

O compromisso do Centro Espírita e dos dirigentes é com aDoutrina Espírita. A adoção de teorias e práticas exóticas, ounão afinadas com a simplicidade e pureza dos trabalhosespíritas, comprometem o objetivo da Casa Espírita edesorientam seus frequentadores e assistidos. Quando citamosa palavra pureza, os "vanguardistas de plantão" arregalam osolhos o coçam as orelhas, exclamando: AH! Lá vem essepurista!! Cabe salientar, porém, que André Luiz, em "CondutaEspírita", não deixa margem para dúvidas sobre isso, senãovejamos: "A PUREZA DA PRÁTICA DA DOUTRINA ESPÍRITADEVE SER PRESERVADA A TODO CUSTO".(1)

Infelizmente, o despreparo e os atavismos de muitosindivíduos, que colaboram de boa vontade nas fileiras espíritas,fazem com que certas práticas, pouco condizentes com apureza doutrinária, se implantem em diversas instituições eacabem mesmo divulgadas em palestras, livros e periódicosditos espíritas. Quem compreende essa situação deve trabalharpara modificá-la. A via mais segura, para isso, é a doesclarecimento, do estudo, do convencimento pela razão e peloamor, jamais pelos anátemas, óbvio!...

Para os mais apressados, a pureza doutrinária é a defesaintransigente dos postulados espíritas, sem maior observânciadas normas evangélicas; para os não menos afoitos, é a rígidaigualdade de tipos de comportamento, sem a devidaconsideração aos níveis diferenciados de evolução em queestagiam as pessoas. Sabemos que o excesso de rigor nadefesa doutrinária pode levar a graves erros, se enredarmospelas trilhas do fundamentalismo injustificável, posto queredundará em divisão inaceitável em face dos impositivos dafraternidade. Se tivermos que nos equivocar, que seja comatitudes e jamais por omissão. Nesse tópico, veio-me à mente

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(como estranha moral!), porém, sublime advertência cristã:"NÃO PENSEIS QUE VIM TRAZER A PAZ À TERRA; NÃO VIMTRAZER PAZ, MAS ESPADA."(2)

Os espíritas não são proibidos de coisa alguma, massabendo que devem arcar com a responsabilidade de todos osatos, conscientes do desequilíbrio que possam praticar. Queterão que reconstruir o que destruírem e responderão pelo malpraticado e harmonizarão o que desarmonizarem, etc. Nãopodemos fingir que tudo está em ordem e harmônico às milmaravilhas ou que somos sublimes cristãos. Em verdade,existem inúmeras práticas não compatíveis com o projetodoutrinário que, por isso, urge sejam combatidas à exaustão,porque nas pequenas concessões é que vamos desestruturandoo edifício kardeciano e descaracterizando o projeto da TerceiraRevelação. Por isso, é óbvio que estejamos atentos contraideologias estranhas aos objetivos espíritas, em nome da maislegítima fraternidade, até porque: QUEM AVISA AMIGO É!!!

O Espiritismo não aceita "donos da verdade", até porque aespiritualidade e Kardec ensinam que a Revelação Espírita éprogressiva, não estando completa em parte alguma e nemprecisamos fazer um esforço descomunal para noscientificarmos de que são raros os centros espíritas que podemse dar ao luxo de praticar a mediunidade na sua mais puraacepção. Muito melhor, e mais prudente, seria que os núcleos egrupos espíritas despreparados intensificassem as reuniões deleitura, meditação e comentários racionais para as conclusõesseguras, fugindo de um inoportuno e prematuro intercâmbiocom as forças do além. Até porque, prática mediúnica sem umarobusta base cultural e moral será, inevitavelmente, umaincursão permanente no mundo das sombras.

Por isso, insistimos - e temos publicado no "meu site" - otema sobre centros espíritas que propõem aplicações de luzescoloridas (cromoterapias) para higienizar auras humanas ecurar (acreditem!!!): azia, cálculo renal, coceiras, dores de

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dente, gripes, soluços em crianças, verminose, frieiras. Se nãobastasse, recomenda-se até carvãoterapia (?!) para neutralizar"maus-olhados". Nesse sentido, segundo creem, é só colocarum pedaço de tora de carvão debaixo da cama e estaremosimunes do grande flagelo da humanidade - o "olho comprido".Não satisfeitos, ainda têm aqueles que "engarrafam"literalmente os obsessores.

Difunde-se, por aqui, (DF), a coqueluche da moda: uma talde desobsessão por corrente mento-eletromagnética (sic), comas mais extravagantes proposições. Há as inusitadaspiramideterapias, gatoterapia(???) (conheço pessoa que possuicinco gatos em casa para "atrair" as energias negativas),cristalterapias, apometrias e mais uma dezena de terapiasbizarras, isso sem esquecermos que, na mística Brasília,aplicam-se, até, passes magnéticos nas paredes dos centrospara "descontaminá-las". Há casa espírita, por aqui, que evoca"ET" para um contato imediato(!?)

Conhecemos outras práticas estranhíssimas ao projetoespírita, a saber: dirigentes promovendo casamentos, crismas,batizados, velórios (tudo no salão de palestras), além dassempre "justificadas" rifas e tômbolas nos centros, festival dacaridade, tribuna para a propaganda político-partidária, precescantadas. Isso, para não aprofundar nos inoportunos trabalhosde passes com bocejos, toques, ofegações, choques anímicos(?), estalação dos dedos, palmas, diagnósticos pela "vidência":sobre doenças e obsessões, etc... Dias atrás, entrei numa certaFederação Espírita (fora de Brasília) e observei vários cartazes,convidando para cursos e palestras sobre a "kundaline", a forçada "mandala", etc... Ufa!!!

Para entendermos a mediunidade, em seus conceitosbásicos, temos que separar o fenômeno, em si mesmo, daDoutrina Espírita e definirmos o aspecto fenomênico, apenaspor matéria de observação e Espiritismo como a luz queesclarece os fatos. Em todos os cantos da Terra existem

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manifestações medianímicas, pois elas não ocorrem somentenos núcleos espíritas. Por isso, na sua real interpretação,podemos assegurar que, no atual estágio do projeto espírita, osfenômenos não são prioritários, mas secundários. A questãofenomênica não mais constitui ponto de partida para o atualobjetivo do Espiritismo na Terra.

Destarte, para evitarmos determinadas práticasperfeitamente dispensáveis em nome da pureza doutrinária,entendamos que prática de fidelidade aos preceitos kardecianosé processo de aprendizagem, com responsabilidade nas basesda dignidade cristã, sem quaisquer laivos de fanatismo,tendente a impossibilitar discussão sadia em torno de questõescontroversas. Porém, não olvidemos que espírita-cristão deveser o nosso caráter, ainda mesmo que nos sintamos emreajuste, depois da queda. Espírita-cristã deve ser a nossaconduta, ainda mesmo que estejamos em duras experiências.Espírita-cristão deve ser o nome do nosso nome, ainda mesmoque respiremos em aflitivos combates íntimos. Espírita-cristãodeve ser o claro objetivo de nossa instituição, ainda mesmoque, por isso, nos faltem as passageiras subvenções e honrariasterrestres.

Referências bibliográficas:

(1) Xavier, Francisco Cândido. Conduta Espírita, ditada peloespírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2005

(2) Bíblia Sagrada - (Mateus, 10;34 a 36)

As peripécias doutrinárias são fontes de ilusão

Devemos respeitar todas as crenças, obviamente. Acatar

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preconceitos, pontos de vista e normas de quaisquer pessoasque não lêem pela nossa cartilha doutrinária, é sensato, masisso não significa aprová-los, adotá-los, divulgá-los ourecomendá-los. Não! Isso, não! Temos obrigaçõesintransferíveis para com a Doutrina Espírita. É, absolutamente,necessário que defendamos os princípios doutrinários comsimplicidade e dedicação, sem intolerância, sem radicalismos,mas sem concessões indesejáveis e sem contemporizaçõespiegas. A determinação, a experiência e a prática dos médiunsmais amadurecidos, dos quilates de um Francisco CândidoXavier e de um Divaldo Pereira Franco, entre outros, têm nosdemonstrado, sempre, a necessidade da vigilância com relaçãoà necessidade da preservação da pureza dos preceitos básicosda Doutrina Espírita.

Observamos, incomodados, as muitas discussões estéreisem torno de temas como: crianças índigo; Chico é a“reencarnação” de Kardec(!?); ubaldismos, ramatisismos,cromoterapias, desobsessão por corrente magnética e tantosoutros esquisitos "ismos" e "pias", enxertados nas hostesdoutrinárias. Aceita-se, e pior ainda, difunde-se o poder“curador” de cristais sem a menor reflexão consciente (se atese fosse legítima, a lógica sussurraria que os residentes deCristalina e Cristalândia NUNCA ficariam doentes). Confiam,cegamente, nos efeitos das pomadas "mediunizadas", como seessa prática enganosa lhes fosse trazer algum benefício.Promovem-se, nas tribunas, verdadeiros shows da própriaimagem e do próprio nome, shows esses protagonizados pelosilustres oradores, que não abrem mão da vaidosa distinção do“Dr.” antes dos próprios nomes. Há os que imitam, semnenhum escrúpulo, o orador Divaldo Franco, com direito areceber o Bezerra e tudo o que tem direito no final da palestra.Criam-se associações com notáveis profissionais de pretensos"espíritas". Muitos outros se projetam nos trabalhosassistenciais, para galgarem espaços na ribalta da política

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partidária. Não é de hoje o fenômeno das práticas exóticas nashostes doutrinárias, fato esse que faz, realmente, a diferençaentre Espiritismo como Doutrina dos Espíritos e espiritismocomo doutrina dos espíritas.

Segundo algumas conveniências de arrecadação, propiciamas famosas "churrascadas espíritas", disfarçadas de almoçofraterno, em nome do Cristo (!?), pasmem! Confeccionam rifas"beneficentes"; agendam desfiles de moda, "de caráterfilantrópico", e, o que é pior, cobram taxas para o ingresso noseventos espíritas, quais sejam: congressos, simpósios,seminários, e, por aí vai a charanga. Até quando?

Há um insustentável pendor para a dimensão do misticismode confrades idólatras, que, quiçá, leram alguma "coisinha"aqui, e outra ali, sobre a doutrina espírita e se dizemseguidores convictos, quando, na realidade, nada mais são doque "espíritas de superfície". Somos sempre advertidos sobre aobrigação intransferível de preservarmos os ensinamentos deAllan Kardec, seja pelo exemplo diário do amor fraterno (ISSOÉ ÓBVIO!), seja pela coragem do debate elevado.

Muitas pessoas me têm escrito, insistindo no tema -apometria. Informo-lhes, frequentemente, que a teoria e aprática da técnica apométrica (e suas “leis” e conceitos) estãoem pleno desacordo com os princípios doutrinários codificadospor Allan Kardec. Não aconselharíamos incluir essa práticaestranha na estrutura do Departamento Doutrinário eMediúnico das Casas Espíritas, por uma simples questão deBOM-SENSO. Sobre essa esquisita prática, lamentavelmente,encruada por estas bandas do Centro-Oeste, indagamos aosexperts, por que os Espíritos não nos revelaram tal proposta"terapêutica" (!), quando tiveram, à sua disposição, excelentesmédiuns colaboradores, ao longo do século XX?

Não basta se afirmar "espírita", nem, tampouco, se dizer"médium de qualidade", se essa prática não for exercidaconforme preceitua a Codificação Espírita. Respaldados nos

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estudos sistemáticos que fazemos da Doutrina Espírita -e nãodispensamos, de forma alguma, esse hábito- esclarecemos,sempre, que a apometria não é Espiritismo, porquanto as suaspráticas estão em total desacordo com as recomendações de "OLivro dos Médiuns". Com essas inoportunas práticas, abrem-seprecedentes graves para a implantação de rituais emaneirismos, totalmente, inaceitáveis na prática espírita, que é,fundamentalmente, a doutrina da fé raciocinada.

Se a apometria é (como afirmam os superficiais eenfadonhos discursos dos líderes dessa prática), mais eficienteque a reunião de desobsessão, REPITO: - Por que a omissãodos Espíritos Superiores? Por que eles se calaram sobre oassunto? Curioso isso, não? No mínimo, é sintomático. Osilêncio dos Espíritos Superiores é, sem dúvida, um presságiode que tal prática é de mau agouro, e, por isso mesmo, ela écircunscrita a poucos e RADICAIS grupos que a mantêm. Nãoconquistou a aceitação universal dos espíritos, razão pela qualnão conta com a anuência das Casas Espíritas equilibradas.Percebemos que esses arroubos lúdicos coletivos superlotamalguns Centros Espíritas, em que seus dirigentes vendem ailusão da "terapia apométrica", como mestres da hipnose,fazendo com que esses centros se tornem um reduto deandróides e curadores de coisa nenhuma, o que é lastimável...

Por relevantes razões, devemos estar atentos àsimpertinências desses ideólogos quixotescos, dos propagadoresdessas terapias inócuas, que pensam revolucionar o mundo da"cura espiritual". Até porque, a cura das obsessões não seconsegue por um simples toque de mágica (com a varinha decondão da apometria), de uma hora para outra, mas é, quasesempre, a longo prazo, não tão rápida como se imagina,dependendo de múltiplos fatores, principalmente, da renovaçãoíntima do paciente.

Como se não bastasse, ainda, entra em cena, no rol dasbizarrices doutrinárias, uma tal "desobsessão por corrente

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magnética". Isso mesmo! Desobsessão (!?)O uso de energia para afastar obsessores, sem a necessária

transformação moral (Reforma Íntima), indispensável àlibertação real dos envolvidos nos dramas obsessivos, contradizos princípios básicos do Espiritismo, pois, o simplesafastamento das entidades perseguidoras não resolve aobsessão.

O Cristianismo, com a pureza doutrinária do Evangelho ecom a simplicidade de organização funcional dos primeirosnúcleos cristãos, foi conquistando, lenta e seguramente, asociedade de sua época. Porém, com o tempo, sofreu umsignificativo desgaste ideológico. Corrompeu-se, por força daspráticas estranhas ao projeto de Jesus. Atualmente, apesar dasadvertências dos Espíritos e do próprio Allan Kardec, quantoaos períodos históricos e tendências do movimento, os espíritasinsistem em cometer os mesmos erros do passado. Confradesnossos, não conseguindo se adaptar ao Espiritismo, e,consequentemente, não compreendendo e não vivenciandosuas verdades, vão, aos poucos, adaptando a doutrina às suasfantasias, aos seus limites morais, corrompendo os textos daCodificação, trazendo, para os centros espíritas, práticasdogmáticas de suas preferências místicas. Falta-lhes, nomínimo, o estudo das obras básicas da Codificação Rivailina.

Das duas, uma: ou Kardec está sendo colocado em segundoplano, preterido por outras obras não recomendáveis, ou está,totalmente, esquecido - o que é pior.

Mas como evitar esse sistema? Como agir, ante os centrosmal orientados, com dirigentes perturbados, com médiunsobsidiados, com oradores-estrelas? Enfim, como agir, diantedos espíritas perturbados e perturbadores? Seria interessante aprática do "lavo as mãos" ou a retórica filosófica do "laissezfaire", "laissez aller", "laissez passer"? Devemos deixar que ospróprios grupos espíritas usem e abusem do livre arbítrio para,por fim, aprenderem a fazer escolhas corretas e adequadas às

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suas necessidades?Não nos esqueçamos de que os inimigos, em potencial, do

Espiritismo estão mascarados entre os próprios espíritas. Paraencerrar nossas reflexões, atentemos para algumasadmoestações de Vianna de Carvalho, através de DivaldoFranco, contidas no livro "Aos Espíritas": "O Espiritismo é agrande resposta para as questões perturbadoras do momento.A sua correta prática é exigência destes dias turbulentos, poisos fantasmas do porvir o ameaçam, e distúrbios decomportamento se apresentam com muita insistência,parecendo vencer as suas elevadas aquisições. Por motivosóbvios, "o Espiritismo deve ser divulgado conforme foiapresentado por Allan Kardec, sem adaptações nemacomodações de conveniência em vãs tentativas de seconseguir adeptos". É a Doutrina que se fundamenta na razão,e, por isso mesmo, não se compadece com as extravagânciasdaqueles que, por meio sub-reptício, em tentando fazerprosélitos, acabam por macular a pureza originária da nossaDoutrina Espírita.

Não faltam tentativas de enxertos de ideias e convenções,de práticas inconvenientes e de comportamentos que nãoencontram guarida na sua rígida contextura doutrinal que, seaceitos, conduzir-nos-iam a sérios problemas existenciais, nãofosse a nossa convicção de que o Espiritismo veio para ficar, eque de nada valem essas investidas do mal. Criar desviosdoutrinários, atraindo incautos e ignorantes, causa, sem dúvida,perturbações que poderiam, indiscutivelmente, ser evitadas, sehouvesse, por parte dos dirigentes, maior rigor na conduçãodos trabalhos de algumas Casas Espíritas. Repetimos comDivaldo: "Qualquer enxerto, por mais delicado se apresentepara ser aceito, fere-lhe a integridade porque ele [o Espiritsmo]é um bloco monolítico, que não dispõe de espaço paraadaptações, nem acréscimos que difiram da sua estruturabásica.”

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Caríssimos irmãos de ideal, cremos ser indispensável avigilância de cada espírita sincero, para que o escalrachoseitista e sutil da invasão de teses estranhas não predomine noseu campo de ação, terminando por asfixiar a planta boa que é,e cuja mensagem dispensa as propostas reformadoras,caracterizadas pela precipitação e pelo desconhecimento dosseus ensinamentos” - como adverte Vianna de Carvalho.

“Espiritismo” sem kardec é academia de bonifratesdeslumbrados

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O crescimento do movimento espírita tem geradocircunstâncias deprimentes para a concepção espírita. É umasituação “compreensível”, considerando nossos diferentesestágios de entendimento, mas isso não significa que devemoscontemporizar e deixar as rédeas soltas das fanfarrasdoutrinárias. Pelo menos, cremos ser importante incomodarbastante os arautos do antiespiritismo através da contestaçãocorajosa, distantes da tediosa falsa humildade.

Quando não identificamos nas práticas espíritas a lucidez ea coerência kardeciana, não podemos considerar que isso sejapositivo sob a ilusão de que todos somos aprendizes e que essafase é necessária para o nosso amadurecimento. Para taisespíritas mornos, o debate por um espiritismo mais simplesressoa de forma subjetiva. Tais líderes omissos (ficam em cimado muro) se retraem baseados na contemporizadora atitude deque tudo é natural porque os estágios de entendimento eamadurecimento igualmente o são desiguais e que todos osdesvios doutrinários oferecem oportunidades de aprendizado eamadurecimento. Isso é risível!

O Espiritismo nos traz uma nova ordem religiosa que precisaser preservada. A Terceira Revelação é a resposta sábia dosCéus às interrogações da criatura aflita na Terra, conduzindo-aao encontro de Deus. Cremos que preservá-la da presunçãodos reformadores obsedados e das propostas ligeiras dos que aignoram, e apenas fazem parte dos grupos onde é apresentada,constitui dever de todos lídimos estudiosos de Kardec.

Defender e propor debate sobre a coerência doutrináriaevidentemente não pode ser a defesa acirrada dos postuladosespíritas, sem maior observância das normas evangélicas; nemé exigir a rígida igualdade de comportamentos sem a devidaconsideração aos níveis diferenciados de evolução em queestagiamos. Todo excesso de rigor na defesa doutrinária podelevar a sérios erros, se enredarmos pelas veredas daintolerância, pois que redundarão em dissensão inadmissível,

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em face dos impositivos da fraternidade. Todavia, o espólio datolerância não é fazer-nos omissos ante as enxertias conceituaise práticas anômalas que intentam impor no seio do MovimentoEspírita.

Nessa luta, não estaremos sós, embora saibamos que “odiscípulo da verdade e do amor, no mundo, é alguma coisa deJesus e de Deus, e a massa vulgar não lhe perdoa tal condição,sobrecarregando-o de pesados amargores, porque seussentimentos não são análogos àqueles que a conduzem aincoerências e desatinos.(grifei) Todos os que seguiram Jesusforam obrigados a identificar o destino com o sinal do martírio.Os que se não desprendem da Terra, crucificados nas dorespúblicas, retiram-se ao desamparo, esmagados pelos opróbrioshumanos, caluniados, humilhados, encarcerados, feridos. Rarostriunfaram conservando a serenidade e o amor imaculado, atéao fim!(1)...

Recordemos que se abraçamos a Doutrina dos Espíritos, porideal, não podemos fugir-lhe à fidelidade. Não hesitemos pois,quando a situação se impõe, e estejamos alertas sobre alealdade que devemos a Kardec e a Jesus. É importante nãoesquecermos que nos imperceptíveis consentimentos estaremosdescaracterizando o projeto da Terceira Revelação. É imperiosoresguardar o Espiritismo consoante o herdamos de Kardec,mantendo-lhe a lucidez dos postulados, a transparência dosseus conteúdos, não admitindo que se lhe aloje acréscimonocivo, que apenas irá confundir os invigilantes e os neófitos.

Existem inúmeras práticas não ajustadas com o cernedoutrinário que é imperioso sejam condenadas à exaustão, nasbases da decência cristã, sem quaisquer nódoas deintransigências. Casa Espírita equilibrada não comporta imagensde Santos ou personalidades do movimento espírita, amuletosde sorte, objetos que afastam ou atraem maus Espíritos,incensos, preces cantadas, velas e outros assemelhadosalienantes. Uma coisa é certa: os Centros Espíritas refletem a

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índole e consciência doutrinária dos seus dirigentes.Infelizmente, as Casas Espíritas estão repletas de modismos epráticas carentes de bom senso, oriundos da falta deconhecimento das recomendações básicas do Espiritismo.

Muitas Instituições Espíritas mantêm práticas e/oudiscussões estéreis em torno de nauseantes temas tais como“crianças índigo”, “Chico é a reencarnação de Kardec”,“ubaldismo”, “ramatisismo”, “apometria”, “cromoterapia”,“cristalterapia” e tantos outros indigestos "ismos" e "pias",infligidos no corpo doutrinário. Confrades utilizam a tribunapara angariar votos para cargos políticos, ou para imitaremilustres tribunos, ou fazer shows de oratória (muitas vezes paravender seus CD’s, DVD’s ou livros ao final da “fala”). Como senão bastasse, há, ainda palestrantes que promovem, dastribunas, peculiares espetáculos da própria imagem, mise-en-scène protagonizada pelos briosos expositores, que não abremmão da burlesca imposição do título “Dr.” antes do nome. HáInstituições Espíritas que cobram taxas para o ingresso noscongressos, simpósios, seminários, tendo, como meta ofomento de querelas doutrinárias ou espetaculosas palestras.

O Centro Espírita tem que funcionar como se fosse umaescola ou fidedigno hospital espiritual, tal qual refrigério emfavor das almas em desalinho, e jamais um reduto decompetições, de terapias ilusórias ou de passarela de vaidades.Tem que estar preparado para receber um contingente cadavez maior de pessoas perdidas no atoleiro de suas própriasimperfeições, e que estão nos vales sombrios da ignorância.Deve ser uma universidade do espírito e pronto-socorro para osnecessitados de amparo e esclarecimento, seja através daevangelização, das orações ou dos tratamentos espirituais; ouseja, pelas orientações morais e materiais.

A questão é: como evitar esses disparates? Como agir comtolerância cristã? Como agir, diante dos espíritas cegos, quequerem guiar outros cegos?

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Para os líderes “mornos bonzinhos”, é interessante aprática do "lavo as mãos" para não se incomodarem. OsCódigos Evangélicos nos impõem a obrigatória fraternidadepara com os adeptos equivocados, o que não equivale a dizerque devamos nos omitir quanto à oportuna admoestação, paraque a Casa Espírita não se transforme em academia debonifrates dos distúrbios psíquicos.

Em verdade, da abrangência dos preceitos espíritas e dobom emprego dos princípios doutrinários no equacionamentodos enigmas existenciais do ser, do destino, da dor e dosofrimento, o espírita cristão desenvolve uma fé equilibrada,apoiada na razão clarificada pelo conhecimento, modificando aíndole humana de adoração, tornando-se livre de quaisqueracondicionamentos místicos, fetichistas, idólatras esupersticiosos, assinalando para o autoconhecimento, asimplicidade, a sensatez e a plenitude do ser.

Referência bibliográfica:

(1) Xavier, Francisco Cândido. Renúncia, ditado pelo espíritoEmmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB 1997, Cap. 1.

Fidelidade espírita, uma questão de racionalidade cristã

É evidente que "Fidelidade Doutrinária" não é o que alguns

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incautos alcunham como sendo algo subjetivo. Consiste nasimplicidade dos conceitos escritos e praticados, desde que,invariavelmente, alicerçados na Codificação, cujasrecomendações foram escoradas pelos "Espíritos do Senhor,que são as "Virtudes dos Céus", no dizer do Espírito deVerdade, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

A nossa irmã Wanda Simões escreveu que "estamos vivendodias de dificuldades em todo o planeta, mas, configura-se demuita gravidade a situação encontrada nas casas espíritas.Afinal, não é onde deveria estar centrada a cátedra do Espíritode Verdade? Não é onde deveria se encontrar a luz doconhecimento que liberta? Não é onde se deve aprender aconstruir um novo homem, liberto das amarras da ignorância?No entanto, não é o que se vê. Senão, vejamos: As casasespíritas, inspiradas pelo espírito de sistema, optaram pornavegar nas águas rasas do conhecimento, na superficialidadedos ensinos exarados nas obras psicografadas de qualidadeduvidosa.

É comum, muito comum, os espíritas saberem, de cor, ashistórias romanceadas das vidas de personagens habitantes dascolônias transitórias, mas não sabem sequer de onde surgiu adoutrina que professam. Espalhou-se, no meio, a ideia de que aleitura das Obras básicas é muito difícil, e que, portanto, émelhor que se comece lendo romances e livrinhos de históriasfantasiosas sobre a vida espiritual, que só convencem mentesimaturas e sem senso de racionalidade.

O resultado disso é que quando a pessoa se interessa, defato, pelo estudo da Doutrina, já se embrenhou num mundoirreal, já poluiu sua mente com leituras inadequadas eatrapalhadas, tornando-se muito difícil a incursão noconhecimento real do Espiritismo, atrasando, sobremaneira, oavanço da criatura na estrada da compreensão. Os conceitos,que já se formaram em sua mente, são de complicadareestruturação e haja tempo para se formar outra mentalidade.

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São pessoas com um nível de fantasia muito grande acerca davida terrena e espiritual, pois misturam conceitos espíritas comdoutrinas esotéricas, com neurolinguística, terapias alternativas,auto-ajuda e tudo o que pode fazer uma grande confusão nasideias." (1) Certa ocasião, ao término de uma palestra sobre otema FIDELIDADE DOUTRINÁRIA, aproximou de mim umconfrade e nos contou que estava procurando se harmonizarcom uma casa espírita, mas, no grupo que frequentava, ostrabalhadores promoviam sessões de "desobsessão" pelaapometria e por corrente magnética (?!...).

Utilizavam cristais e pirâmides nos chamados trabalhos de"cura". Indicavam sal grosso aos assistidos, ervas, pomadas"cura-tudo" e outros quejandos estranhos. Lembramos quemuitos centros acenam com movimentos e ideias hipnotizantes,tentando embutir, na espinha dorsal da Doutrina Espírita,práticas inoportunas, sutis, criando neologismos de impactopara supostos "tratamentos espirituais". Indagou-nos, se eramcorretas essas práticas, pois, segundo acreditava, consoante aslições das Obras Básicas, essas práticas não condizem com oprojeto final do Espiritismo.

Disse-nos, ainda, que foi convidado pela Direção do talCentro, a trabalhar em serviços de atendimento aos irmãos queestavam necessitados de ajuda material naquela região.Contudo, estava receoso de iniciar um trabalho com essespontos conflitantes na mente. Esclarecemos que o CentroEspírita tem que funcionar como se fosse um autêntico Pronto-Socorro Espiritual; tal qual refrigério em favor das almas emdesalinho. Os grupos espíritas têm que estar preparados parareceber um contingente, cada vez maior, de pessoas perdidasno lodaçal de suas próprias imperfeições, e que estão nos valessombrios da ignorância. Aqueles que lêem literaturas ditasavançadas, de autores pseudosábios, duvidosos, sem anteslerem e estudarem, com seriedade, as obras do PentateucoKardeciano, correm, invariavelmente, o grande risco de

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enveredarem por caminhos escorregadios e trilhas sinuosas dedifícil acesso esclarecedor.

Os Centros Espíritas refletem a índole e a consciênciadoutrinária dos seus dirigentes (mandões). As práticas que nosnarrou o irmão chocam, de frente, com as receitas de AllanKardec. Logo, no centro citado, não se praticam asrecomendações doutrinárias, logo não se pratica o Espiritismo-Kardecista. (2) Todavia, são estágios de entendimentoinsipientes, quiçá, necessários para esses irmãos neófitos(nunca se esquecendo de que A CADA UM SEGUNDO SEUSMERECIMENTOS).

Ressaltamos que, no grupo em referência, certamente,existem confrades que ajudam os necessitados, o que lhesconcede apreciáveis méritos, obviamente. Contudo, ainda, nãose desligaram de práticas bizarras, perfeitamente dispensáveispara seus compromissos cristãos. Lembramos ao nossointerlocutor, que já possuía um critério doutrinário formado,que ele deveria procurar outro núcleo espírita, ondepropusessem práticas, genuinamente, espíritas. Se optasse porcontinuar, que transmitisse, aos poucos, as noções claras daDoutrina Espírita, promovendo, no Centro, leituras de obrasconsagradas, e que sugerisse oradores experientes, quandoagendassem nomes para palestras públicas, etc. Alertamossobre as dificuldades que iria encontrar, mas que nãoesmorecesse diante desse nobre propósito, pois a firmevontade de ajustar aquelas mentes doentias ao projeto dosEspíritos Superiores superaria qualquer adversidade que tivesseque enfrentar.

O mais importante é servir em nome do Cristo, mesmo queconvivendo, estóica e heroicamente, ao lado de práticas vaziasde lógica. Se conseguisse conviver com isso, nós oestimulamos. Contudo, lembramos ao confrade que ninguémera obrigado a conviver sob as amarras dos constrangimentos,por isso, que usasse e abusasse do bom senso. A verdadeira

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prática espírita é a expressão da moral cristã, consubstanciadano Evangelho.

O grupo espírita que se basear nos ensinos de Jesus terámaior pureza doutrinária em qualquer tipo de continente(desobsessão, desenvolvimento da mediunidade, palestras,livros, mensagens, assistência social, evangelização da infânciae juventude, divulgação, etc.).Recordemos que Allan Kardeclegou à humanidade a melhor de todas as embalagens(FIDELIDADE DOUTRINÁRIA) ao divino presente que é aDOUTRINA ESPÍRITA, e aqueles que têm como base o alicercedo Evangelho podem, até, conviver com qualquer obra oufilosofia, que estarão IMUNIZADOS contra o vírus dasinfluenciações obsidentes.

Referências bibliográficas:

(1) Trecho extraído de Artigo de Wanda Simões em 25-07-09

(2) Há muitos confrades que têm identificado o gravíssimodesgaste da palavra "espiritismo" e sugerem a sua modificaçãopara "Doutrina dos Espíritos", ou "Doutrina Espírita", ou atémesmo "Kardecismo" (e seus derivados), que são termos quevêm sendo popularizados no Brasil devido, justamente, aomístico sincretismo religioso, que remete as pessoas aconfundirem espiritismo com ocultismo, esoterismo,exoterismo, teosofia, orientalismo, umbandismo, xamanismo,exorcismo e outros similares. Por isso, é comum ouvirmos dealguns adeptos: "Sou Kardecista".

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Guris azulíneos... Índigos sem misticismo

Nestas linhas a seguir refletiremos sucintamente sobre o

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tema "crianças índigos", agindo a priori com o métodoproposto pelo Espírito Erasto (1), porque sem muito esforço deinvestigação identificamos no tema um certo ar místico que tem"oxigenado" alguns defensores de conceitos bastantediscutíveis ante a prudência espírita.

Não é novidade que crianças mais inteligentes e espertinhastêm renascido atualmente em nosso Orbe. O embaraçoso,porém, é o clima de misticismo infiltrado nas notícias em tornodo tema. Em verdade, estudos e pesquisas se multiplicam nosdomínios da psicologia quanto às complexidades do mundo dacriança. Cada uma delas é um campo de tendências inatas,com tamanha riqueza de material para a observação e, noterritório de criações da mente infantil, ser-nos-á fácil identificara direção dos potenciais da criança, uma vez que ospequeninos, recém-vindos da amnésia natural que areencarnação lhes impõe não conseguem esconder as própriasdisposições no campo das tendências.

No livro Momentos de Harmonia (2), o Espírito Joanna deAngelis refere-se a novas gerações: "(...) dá-se neste momentoa renovação do planeta, graças à qualidade dos espíritos quecomeçam a habitá-lo, enriquecidos de títulos de enobrecimentoe de interesse fraternal". (Não se refere aqui a crianças"azuis").

Apesar de ouvir palestra do ínclito orador de Feira deSantana que aborda o tema com muita coerência, cremos quemuitos confrades ungidos de fantasias e ilusões estãodistorcendo as palavras do tribuno baiano . Creem taisconfrades que os mágicos "guris azulados" irão "salvar omundo(!?...) talvez confundindo guris com gurus!...

Na condição de espíritas acreditamos que estejamos nolimiar de uma nova era, a qual chamamos de regeneração. Paraque ocorra este processo é necessário que a evolução dosespíritos aqui encarnados aconteça e que outros, maispreparados, reencarnem na Terra. Nesta premissa se encaixam

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os espíritos que estão reencarnando e sendodesnecessariamente identificados como índigos.

Os que escrevem sobre o tema entronizam o fato de queem Maio/99, Lee Carroll e Jan Tober, ambos escritores norte-americanos e palestrantes sobre auto-ajuda, publicaram o livro"The Indigo Children" (As Crianças Índigo), nele narrando suasobservações sobre as crianças que estão chegando ao mundo.Porém na década de 80, Nancy Ann Tape, parapsicóloga, norte-americana, foi quem primeiro cunhou a expressão "criançasíndigo" (3) com base na cor por ela observada na aura decrianças que de alguma forma se destacavam das demais.

Nancy escreveu um livro narrando suas observações:Understandig Your Life Through Color - Entendendo sua vidaatravés da cor. A partir daí, tais crianças também passaram aser denominadas de "Crianças da Luz", "Crianças do Milênio","Crianças Estrela". Tudo isso soa estranhíssimo como estudantede Kardec. Embora considerando instigante o tema "criançasíndigo", não o concebemos nem como comprovado oucomprovável, nem como reprovado ou reprovável muitoembora o método adotado para tais afirmações ser bastanteheterodoxo. Visualização de auras nos trabalhos acadêmicosatuais é problemático.

Nancy seria uma espécie de câmera de Kirlian, ou seja, ela"veria" campos eletromagnéticos, as cores e as frequências.Destarte percebeu que existia uma cor da aura associada comalguns recém-nascidos. À época ela estava trabalhando no seudoutorado. Para ela cerca de 80% das crianças nascidas após adécada de 80 são índigos.(!)

Creem alguns que uma criança de "aura azulada" é aquelaque apresenta um novo e incomum conjunto de atributospsicológicos e mostra um padrão de comportamentogeralmente não documentado ainda, pois não existe no Brasilrelatório conclusivo sobre o assunto e há pouco estudo sobretais crianças por aqui, não conhecemos nenhuma pesquisa que

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constate essa incidência no País.Afirma-se que tais crianças têm um sentimento de "desejar

estar aqui", porém não se auto-valorizam(?)parecem anti-sociais,sentindo-se bem com outras do mesmo tipo. Por estarazão a escola é frequentemente difícil para elas do ponto devista social. Porque segundo sustentam os "indigólogos", omodelo de ensino é sempre imposto sem muita interação, ummodelo feito para o hemisfério esquerdo do cérebro, o racional,o lógico, incompatível com os azulíneos que naturalmente têmo hemisfério direito mais desenvolvido o que lhes dá o grandepoder intuitivo, a grande capacidade de percepção extra-sensorial.

Crê-se que existem quatro tipos diferentes de "gurisazulados" e cada um tem uma proposta: Os prováveishumanista que poderão trabalhar junto às massas humanas, Osconceituais que detêm um perfil mais técnico, os artistas queserão dotados de criatividade e os chamados interdimensionaisque supostamente trarão novas filosofias e espiritualidade parao mundo.

A identificação das crianças cor de anil assinala seresdotados de bom potencial intelectual, porém destituídos demaior maturidade emotiva, visto que preferem a solidão,traumatizam-se quando erram ou se frustram quando suasideias não são aceitas. Guris com auras da cor do céu podemser criação do mercado de auto-ajuda norte-americano queconfunde espíritas e professores mesclando sobrenatural eeducação! Em verdade, tais crianças pós-80 não passam deespíritos endividados com a missão de superar seu exaltadoorgulho, aproveitando as últimas chances nesse planeta paramudar de rumo.

Conforme consigna Rita Foelker "Não sabemos se ou atéque ponto as chamadas Crianças índigo participam destedespertar para valores mais elevados de vida. Agora, se essasCrianças podem contribuir conosco? Claro. Se elas têm algo a

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nos ensinar? Muito provavelmente. Mas daí a dizer que são"filhos da luz" e "crianças da Nova Era" vai uma boa distância,criando expectativas que muito possivelmente recairão sobreelas mesmas, no presente ou no futuro." (4)

Cremos ser fundamental as áreas do saber permuteminformações que se completem para uma melhor compreensãodo espírito encarnado e possam cooperar, em conjunto, na suaevolução, mas afastado do incontrolável pendor místico quepaira na Pátria do Evangelho.

A Terceira Revelação não inventa a renovação social; "amadureza da Humanidade é que fará dessa renovação umanecessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendênciasprogressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidadedas questões que abrange o Espiritismo é mais apto do quequalquer outra doutrina, a secundar o movimento eregeneração; por isso, é ele contemporâneo desse movimento".(5)

Em face disso, os centros espíritas precisam proporcionar,prioritariamente, esclarecimento. O Espiritismo por seu aspectoreligioso, filosófico e científico, tem por premissa esclareceratravés da fé raciocinada, ou seja, através do bom-sensokardeciano. Desta forma, consideramos de subida relevânciaque os dirigentes e colaboradores dos centros espíritas estejammais bem informados sobre o tema índigos, a fim de quepossam orientar os frequentadores e assistidos de formacoerente e objetiva, cumprindo a inexpugnável integraçãoproposta pela Doutrina Espírita na sua base lógica.

Finalizamos por aqui nossas brevíssimas argumentaçõescom a singeleza das letras da articulista Foelker: "Dizem, osque apóiam a tese dos índigos, que eles vieram para nos ajudara evoluir. Então, eu encerro perguntando: qual é a criança queNÃO nos ajuda a evoluir?" (6) Eu também indago - qual?

Referências bibliográficas:

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(1) Do Espírito Erasto encontramos em O livro dos médiuns,item 230 do cap. XX, a célebre frase: "Melhor é repelir dezverdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoriaerrônea"

(2) Franco, Divaldo Pereira. Momentos de Harmonia, Ditadopelo Espírito Joanna de Angelis, Salvador: Editora Leal, 1991.

(3) "Crianças índigos" é teoria que surgiu da observação deauras azul brilhante, isso significando diferença (para "melhor")entre os que a possuem e os que a têm de outra cor.

(4) Rita Foelker in Crianças índigo: uma simples opinião13/02/2006 Artigo publicado no site da Fundação Espírita AndréLuiz (www.feal.com.br) http://www.feal.com.br/colunistas

(5) Kardec Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 2004, Sinais dosTempos - 4ª parte. (itens 21 a 26) (Estudo 131 e 132)

(6) Foelker in Crianças índigo: uma simples opinião13/02/2006 Artigo publicado no site da Fundação Espírita AndréLuiz

Ingerências históricas nas bases cristãs

Em plena Quinta Avenida de Nova York, na esplendorosa

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catedral de Saint Patrick aconteceu um Seminário de 08 a 11de abril de l996, para discutir-se sobre a Ressurreição do Cristo.Duas das mais influentes revistas americanas - Newsweek eTime - dedicaram 17 páginas de reportagem à rediscussão dofenômeno de dois milênios atrás. Existem mais de quatro milpapiros que documentam os fenômenos dos tempos apostólicose a existência do Cristo, porém, para o "erudito" GerardLudemann a ascensão de Jesus não passa de uma visãosubjetiva de Pedro, isso porque estava acabrunhado por ternegado o Mestre e deprimido pelo horror da crucificação.

E, ainda, segundo o jornalista Keneth Woodward oaparecimento de Jesus para 500 seguidores não passaria de umestado de arrebatamento coletivo. A moderna psicologia reduzo episódio a uma série de experiências psíquicas queproduziram nos discípulos um certo senso de zelo missionário,conforme explica Woodward. Lamentavelmente ainda hoje asreligiões desconhecem os naturais fenômenos mediúnicos deectoplasmia, de materializações luminosas, levitação etc.

Ainda ignoram os naturais processos da reencarnação e dacomunicabilidade dos desencarnados. Essa insipiência dosfenômenos espirituais é, em parte, decorrente das deliberaçõesdo Concílio de Nicéia em 325, quando o imperador Constantinoarrostou e combateu Ário de Alexandria, bispo que discutia anatureza divina do Cristo, que não aceitava o mito dogmáticoda santíssima trindade. Contexto histórico em que Basílio deCesaréia e Gregório de Nazienzeno impuseram o culto aossantos, culminando as decisões do evento na fatídica proibiçãoda prática da mediunidade, elemento básico dos cristãosligados à igreja de Antioquia. O Cristianismo se afastou muitodas propostas do Cristo, perdeu demais com isso, e como senão fosse o bastante, em 381, o Imperador Teodósio oficializao culto cristão, para posteriormente, em 554, o imperadorJustiniano convocar o II Concílio de Constantinopla sepultandoos estudos da reencarnação, a partir do qual o Cristianismo

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ficou à deriva. Dois mil anos em que muitos heróis dosbastidores cristãos tiveram que ofertar a vida para a busca daliberdade de pensamento. Desde a Renascença, passando pelaEnciclopédia, e chegando a Kardec o mundo sofreu por umsopro renovador para uma concepção mais próxima darealidade transcendental de nossa destinação. Atualmente,graças aos Espiritismo visualizamos um Cristo maisconsentâneo com Sua realidade, menos mitológico. Longe deatos sacramentais, liturgias, bulas e dos editos de perseguiçõesinquisitoriais; distante das controvérsias a respeito damaterialização de Jesus após a Sua crucificação; uma vez queMateus registra que Ele apareceu primeiro para MariaMadalena, Lucas, no entanto, afirma que foi Pedro quem O viuprimeiro, enquanto Marcos não toca no assunto.

A despeito das contradições históricas eivadas deinformações tendenciosas, o adepto do Espiritismo, conscientesde sua contribuição ao cristianismo, tem buscado umainterpretação mais contemporânea e racional para lidar com osfatos contidos, sobretudo no Novo Testamento. A DoutrinaEspírita não estimula a crença no milagre, no sobrenatural, masnas potencialidades da própria natureza humana, em cujospilares a mediunidade tem função preponderante.

Manifestações de fundo umbandista no meio espírita

Para um bom entendimento, é FUNDAMENTAL a leitura

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atenta e a reflexão profunda sobre cada linha aqui escrita,antes de manifestação precipitada e formação de juízo de valor,a respeito do título deste artigo... lembrando que existe umainteligência primária causadora de todas as coisas e que nadaacontece por acaso..., pois como espíritas precisamos emprimeiro lugar de sermos fiéis à Doutrina dos Espíritos,codificada por Allan Kardec, pois nos baseamos na féraciocinada e por isso mesmo respeitamos profundamentetodas as religiões.

O Espiritismo e a Umbanda não se confundem comodoutrinas, apesar de ambas encontrarem consequências edireção filosófica e religiosa oriundas de mensagensmediúnicas, porém, ambas, são doutrinas absolutamentedistintas e individualizadas, segundo seus fundamentos epráticas. Muitos teimam em nominar a Doutrina Espírita de"mesa branca", contudo, qualquer adjetivação é inadequadaquando se quer fazer referência à Terceira Revelação. Nãoexiste Espiritismo de mesa branca, azul, amarela ou verde. OEspiritismo dispensa qualquer expressão que se aproxime maisdos sentidos materiais que dos apelos do espírito, como:identificá-lo por gradações de cor, destacar títulos de progressoterrestre nas manifestações mediúnicas, expressões dogmáticase, acima de tudo, entender que a Doutrina Espírita não sedivide, posto que são os homens que se dividem em numerosasreligiões.

Não é nossa intenção difundir conceitos radicalizados,desconsiderando outras práticas mediúnicas. Porém, sim,esclarecer o aspecto inexpugnável da Revelação Espírita. Nãovamos nos precipitar em definições apriorísticas e, muitomenos, expressarmos a malícia para disseminar as cogitaçõesaqui consignadas. Contudo, colimamos a busca da luzsublimada da fé raciocinada, como um impositivo da boaprática espírita. Portanto, muito longe de posições policialescas,não transigiremos com os legítimos princípios doutrinários e

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evangélicos e, se muitos confrades incautos perseverarem naincompreensão, que cada médium cuide da sua decisão, atéporque, Jesus afirmou que o trigo cresceria ao lado do joio emsua seara. Considerando que são raros, ainda, os CentrosEspíritas que se podem entregar à prática mediúnica com plenaconsciência da tarefa que têm em mãos, destarte, éaconselhável e prudente, segundo Emmanuel, "a intensificaçãodas reuniões de estudos, a fim de que os centros não venham acair no desânimo ou na incompreensão, por causa de umprematuro comércio com as energias do plano invisível."

As teses emmanuelinas explicam que nas Casas Espíritas osmédiuns são úteis, mas não indispensáveis. Por falta de basemoral, são muitos os que se afastam das reuniões, quando elasnão apresentam fenômenos. É óbvio que assim procedem porplena inabilitação para o legítimo trabalho do Espiritismo, razãopela qual, é melhor que se afastem, temporariamente, dostrabalhos mediúnicos, antes de assumirem qualquercompromisso.

O tema que apresentamos tem como alvo os médiunscontumazes que se deixam influenciar por entidades que semanifestam com trejeitos e linguagens extemporâneos (depretos-velhos, de caboclos, de índios, de germânicos, etc.). Éóbvio que esse hábito não é conveniente, e é de se estranharque estudiosos sinceros, continuem com esse comportamento.

Em face dessa teimosia, cabe-nos defender a fidelidade aKardec, sem transigir um milímetro com os princípios espíritas.A prática mediúnica não se constitui tão-somente damovimentação das energias psíquicas em suas expressõesfenomênicas e mecânicas, porque exige o trabalho da vigilânciae o sacrifício do coração, onde a luz da comprovação e dareferência é a que nasce da consciência, do entendimento e daaplicação do Evangelho. Segundo Emmanuel que acrescenta:"O primeiro inimigo do médium reside dentro dele mesmo, é opersonalismo, é a ambição, a ignorância ou a rebeldia no

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voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz doEvangelho. O segundo inimigo encontra-se no próprio seio dasorganizações espiritistas, constituindo-se daquele que seconvenceu quanto aos fenômenos, sem se converter aoEvangelho pelo coração, trazendo para as fileiras do Consoladoros seus caprichos pessoais, opiniões cristalizadas noendurecimento do coração, sem reconhecer a realidade de suasdeficiências e a exiguidade dos seus cabedais íntimos."

Um confrade nos indagou sobre qual opinião nutríamos arespeito da "incorporação" de pretos-velhos e caboclos nascasas de orientações espíritas. Dissemos que Espíritos que seapresentam como caboclos e pretos-velhos nos terreirospossuem muito pouco ou quase nada de si mesmos paraensinar, em termos de moral espírita. A rigor, duas são asformas pelas quais Espíritos de caboclos ou pretos-velhospodem entrar numa Casa Espírita: ou para receber ajuda, seainda estiverem necessitados; ou para aprender coisas novas.Obviamente, devemos ter respeito, atenção, carinho, amor,sincero desejo de ajudar, porém essa não é uma recomendaçãoisolada para Espíritos de caboclos e pretos-velhos. Isso valepara toda comunicação mediúnica.

Afirma-se que a indumentária de "preto-velho" é,unicamente, o morfismo com que o espírito por trás daquele,utiliza-se naquele instante para que possa alcançar a seuobjetivo. Será mesmo?... Que objetivo?... Dizem que por trásdesses estereótipos (preto-velho, caboclo) podem estar"médicos", "filósofos", "poetas", etc., que apenas se utilizam detais "vestes" para ensinarem melhor (!...). Nada mais estranhodo que se dar crédito a essas crenças. Até porque, opensamento é a linguagem, por excelência, no mundo espirituale a forma e trejeitos no falar e agir são acessóriosdesnecessários. E o pior da história é que muitos confrades,que não estudam Kardec, creem que é sintoma de boamediunidade ser instrumento de "preto-velho". Ora, não há

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pretos-velhos, nem brancos-velhos, uma vez que todos sãoEspíritos. Por isso, devemos ter toda cautela com essesatavismos.

Ressaltamos que as tradições das práticas mediúnicasafricanas e ameríndias não sofrem discriminação entre osespíritas estudiosos, nem consideramos os Espíritos de índios enegros como involuídos, porém, ignorantes. Não há preconceitonas sessões espíritas. Procura-se manter o respeito àsentidades, à mediunidade e à Doutrina Espírita, buscando acoerência com a verdade que já identificamos nos preceitoskardecianos. Em verdade, Espíritos que se mostram no Além,como antigos escravos africanos, ou como indígenas, podemfalar normalmente, sem trejeitos. Por que não verbalizar emportuguês, uma vez que o médium capta o pensamento daentidade e reveste-o com palavras?

Antropólogos se referem a certo "abrasileiramento" doEspiritismo, pelo fato de que, aqui, a população desfruta deuma "intimidade" em lidar com entidades de terreiros. Nãopodemos aceitar a ideia de um Espiritismo à brasileira. Issoseria um pensamento extremamente sincrético, encharcado devárias práticas do catolicismo popular e das religiões afro-brasileiras. Apesar de o Espiritismo ter sido difundido no Brasil,confrontando-se com uma cultura religiosa já consolidada,hegemônica e, portanto, conformadora do ethos nacional, nãosofreu e nem poderia ter sofrido as interferências docatolicismo popular e das religiões de possessão de matriz afro-brasileiras.

Segundo pesquisadores, alguns adeptos do Espiritismo seposicionaram contra a pureza doutrinária e se aproximaram domediunismo popular, fundando uma nova religião ao longo doséculo XX, ou seja: a Umbanda. É demonstrar ignorânciasuprema afirmar que crenças como o Candomblé, aQuimbanda, a Umbanda sejam "ramificações" da DoutrinaEspírita.

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O Espiritismo não possui ramificações ou subdivisões. Seucorpo doutrinário está contido nas Obras Básicas codificadaspor Allan Kardec. Essas crenças, às quais nos referimos,possuem origens bastante distintas do Espiritismo, emboracompartilhem alguns conceitos que são comuns não só aoEspiritismo, mas às várias correntes espiritualistas.

Não podemos nos acomodar com um Espiritismo "à modada casa" que vários centros adotam, fugindo das lições de AllanKardec. A base teórica com que analisamos uma práticaeminentemente Espírita tem, como pilotis, o material daCodificação, com o qual podemos separar as práticasespiritualistas estranhas das práticas eminentemente espíritas.Nestas reflexões, não é nossa intenção nos posicionarmos quais"policiais ou fiscais" do Espiritismo, por não aceitarmos uma ououtra prática mediúnica nas Casas Espíritas, fora do projetokardeciano. Destacamos, apenas, que qualquer análise críticaconstrutiva é uma necessidade para a sã divulgação espírita epara um legítimo comportamento na manutenção dosfundamentos da Terceira Revelação.

Milagreiros do além, pomadismos e curandeirismos

A revista Veja de 14/06/2000, pág. 68, traz longa

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reportagem intitulada "Não ajuda em nada", demonstrandoque pesquisas confirmam uma realidade preocupante, quetratamentos alternativos (místicos) comprovadamente sãoineficazes no restabelecimento da saúde de pacientes,especialmente com câncer.É lastimável acompanharmos aImprensa comum dando notícias sobre "Espíritos" que têmfornecido dietas para regime de emagrecimento ou, ainda,divulgam que cirurgiões do "além" que vão retalhando corposem nome de operações "espirituais", outros que prescrevemreceitas com medicamentos alopáticos, fitoterápicos (ervas"milagrosas") e chás de "coisa nenhuma".

O Espírito André Luiz adverte: "Aceitar o auxílio dosmissionários e obreiros da medicina terrena, não exigindoproteção e responsabilidade exclusivos dos médicosdesencarnados" (1)É atitude equivocada a tendência desubestimar a contribuição da medicina humana, entregandoenfermidades aos Espíritos milagreiros do além (de preferênciacirurgião com nome germânico ou hindu) para que "curem"complexos processos de metástases, por exemplo. Os conceitosespíritas nos remetem à certeza que a matriz das doenças estáfincada no estado mental do enfermo, portanto, a rigor, nãoserão agentes externos que determinarão curas para os queteimam permanecer entorpecido na condição de revolta edubiedades ante os códigos de justiça vigentes nos EstatutosDivinos, ou naqueles que só se refarão sob o guante doslegítimos processos de enfermidades em face dos dispositivosde causa e efeito, até porque "A doença pertinaz leva àpurificação mais profunda" (2)Os Espíritos não estão adisposição para promoverem curas de patologias que não rarorepresentam providências corretivas para nosso crescimentoespiritual no buril expiatório.

Nesse sentido, os dirigentes de núcleos espíritas deveriampromover bases de estudos e reflexões sobre as propostasfilosóficas, científicas e religiosas do Espiritismo ao invés de

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encetarem trabalhos espirituais para os inócuos"curanderismos".Os preceitos doutrinários esclarecem-nos quedevemos "Aproveitar a moléstia como período de lições,sobretudo como tempo de aplicação de valores alusivos àconvicção religiosa. A enfermidade pode ser considerada portermômetro da fé".(3) São inoportunas certas manifestações depromessas de "curas" de obsessões com sessões da famosacorrente magnética brasiliense (prática "inventada" em Brasília,por grupos que seduzem empolgados "filantropômanos" atravésdo apelo assistencialista, inoculando estranhas práticasdoutrinárias) como a magnetização "desobsessiva" para afastarEspíritos aos moldes de como se espanta moscas das feridasexpostas. Para consubstanciar esse objetivo recorrem ao auxílioda varinha de condão do chamado "choque anímico" com oqual os enfermos se "libertam" dos obsessores, conformepromete livro(4) publicado pelos seguidores desse movimentoequivocado. Há, ainda outros núcleos que propõem aplicaçõesde luzes coloridas (cromoterapias) para higienizar aurashumanas e curar (pasmem): azia, cálculo renal, coceiras, doresde dente, gripes, soluços em crianças, verminose, frieiras,conforme propaga literatura específica. (5) Acreditem!! Se nãobastasse recomenda-se até carvãoterapia (?!) para neutralizar"maus-olhados" nesse sentido, segundo creem é só colocar umpedaço de tora de carvão debaixo da cama e estaremos imunesdo grande flagelo da humanidade - o "olho comprido" !! Muitasinstituições espíritas do DF têm distribuído o remédio (cura tudodo momento) uma tal pomada do "vovô fulano".

O que se nota, a bem da verdade, é que ainda não há rigorsuficiente das instituições espíritas para com a purezadoutrinária tão-necessária, pois não se viu bater em retirada detodos os rincões do meio espírita os sistemas divergentes, queteimam em se alojar aqui e ali, na tentativa de, pelo decurso dotempo, serem confundidos e aceitos como Espiritismo de fato:ramatisismo, roustainguismo, ubaldismo, armondismo,

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umbandismo etc, e mais os apometristas, cromoterapistas,pomadistas, cepistas etc. O que se quer é a transparênciadoutrinária no movimento espírita ou a confusão doutrinária?Se for transparência doutrinária, então, maior rigor para com osdivergentes, a fim de que desanimem e se afastem de vez portodas. A vida moderna, globalizada ou não, está a pedir, issosim, posicionamentos e comportamentos firmes e consentâneoscom a proposta espírita. Como bem recomenda o ínclitoCodificador, em Viagem Espírita 1862, pág. 33: "O excesso emtudo é prejudicial, mas, em semelhante caso, vale mais pecarpor excesso de prudência do que por excesso de confiança".

Sabemos que os que lêem estas linhas podem pensar queestamos revestidos de ideias ficcionais, mas podemos assegurarque não teríamos materiais tão imaginativos. Em recenteentrevista ao jornal Alavanca - abril/maio-2000 - Divaldo Francoadverte sobre as "terapias alternativas", "curandeirismos" e afascinação na prática mediúnica, apontando-as como fatoresque têm desestabilizado o projeto da unidade doutrinária". Épor essas e outras que a revista Veja, abril de 1999, registraque os médicos da ala conservadora da psiquiatria consideramos médiuns como dotados de neuroses, psicoses, desvios depersonalidade, esquizofrenias.

Se pararmos para refletir daremos uma certa razão paraesses profissionais, até porque muitos adeptos do Espiritismonão conhecem os livros de Allan Kardec, Emmanuel, André Luiz,Joanna de Ângellis, Bezerra de Menezes, Vianna de Carvalho eoutros consagrados expoentes da difusão doutrinária elastimavelmente estão aguilhoados nas práticas quecomprometem todo projeto doutrinário. O exercício dos CódigosEvangélicos nos impõe a obrigatória fraternidade ecompreensão aos adeptos dessas esquisitas práticas, o que nãoequivale dizer que devemos nos omitir quanto à oportunaadmoestação para que a Casa Espírita não se transforme emacademia de andróides hipnotizados pela fantasia e ilusão.

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Referências bibliográficas:

(1) Luiz, André, Conduta Espírita Cap.35. Editora FEB:RJ/1977-5ª edição

(2) Idem(3) Idem(4) Colegiado dos Vínculos Fraternais, Desobsessão por

Corrente Magnética, 1ª edição Sociedade de Divulgação Espírita"Auta de Souza"-1996. DF

(5) Nunes, René. Cromoterapia. A Cura Através da Cor.Editora Asa Sul./Brasília 1ª edição.

Misticismos que despencam a credibilidade do projetoespírita no Brasil

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Toda convicção religiosa é respeitável, entretanto, sebuscamos a Doutrina Espírita, não podemos negar-lhefidelidade. Por elevadas razões, é urgente preservar aincolumidade da Terceira Revelação. Até porque, ante asfunções educativas das religiões, em geral, somente oEspiritismo nos auxilia o livre exame, com o sentimento livre deimposições dogmáticas, para que a fé encare a razão de frente.

Tendo como fonte de consulta o You Tube, na Internet,encontra-se uma pergunta endereçada a Divaldo Franco: "Osespíritos de "pretos velhos" ou de "pretas velhas", que vêmorientar numa casa espírita, podem ser levados a sério? Aexplicação do tribuno baiano é simples e direta: - Não pode!Explica Divaldo: "Esse espírito pode ser muito bom, mas émuito ignorante. E a nossa tarefa é retirar a ignorância. Por queele tem que ser um preto velho? O Bezerra de Menezes é velho,mas não é "branco velho". Notem, aí, uma discriminação. E sechegar um índio velho? Ah! - Eu sou um vermelho velho! Ouum japonês velho? - Eu sou um amarelo velho! "Portanto, háum atavismo." (1)

"O espírito pode chegar e "incorporar", porque na Terra elefoi, esteve no corpo de um preto velho. Aí, ele se identifica: ‘eusou um preto velho’. O doutrinador tem a obrigação de orientaresse espírito dizendo-lhe: - "Não meu irmão! Você foi um pretovelho, mas não é mais, pois você agora não tem cor, vocêsuperou isso. Embora essa encarnação tenha sido muito útilpara você, que pôde desenvolver a humildade, agora você é umespírito e espírito não tem cor. Você pode reassumir outrasreencarnações. "Então, tire da sua mente essa condição deescravo." (2)

"É que nós gostaríamos de continuar tendo escravos noalém. Para os trabalhos não muito dignos. Dizemos: - Chamemo preto velho que ele resolve. Ah! Na Umbanda eles trabalhamcom as coisas "fortes", ou seja, as coisas que os mentores nãofazem, eles, nos terreiros, fazem. Quer dizer que deixamos para

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eles a tarefa do lixo? Existe lixo no mundo espiritual, ou são asnossas paixões? Ele será sempre bem recebido, mas essacolocação de que é um preto velho, de escravo, e nós somossenhores, não tem lógica alguma. Não somos senhores nemdos nossos atos." (3)

O irmão (preta ou preto velho) que venha, e dê o nome quetinha quando encarnado: Paulo, Joaquim, Inácio, Sebastião ouqualquer outro, Maria, Fátima etc. Esse atavismo é pieguismoe, se não o ajudarmos, o espírito vai continuar com aquelaimantação de ex-escravo e não progride. "Acha que paraprogredir tem que nos fazer favores, porque somosbranquelas." (4)

Alguns confrades imaturos tentam comparar o fenômeno depsicofonia de Divaldo, quando "incorpora" o Espírito Bezerra deMenezes, às "incorporações" de um Preto Velho quando semanifesta, concluindo serem semelhantes. Nada mais risível! Acomparação entre a psicofonia das entidades de ex-escravos,que ocorrem comumente, é ABSOLUTAMENTE diferente, tantona forma quanto no conteúdo, da transcendente ligaçãopsicofônica do venerando Bezerra através do médium DivaldoFranco.

É bastante evidente que muitos ineptos defensores demanifestações continuadas de pretos velhos, nos Centros deorientação espírita, estão querendo forçar uma situaçãodemasiadamente despropositada, sem senso lógico. Comparara essência das irrepreensíveis mensagens advindas de Divaldoa de um médium comum, que anda, a torto e a direito, dando"passagens psicofônicas" a ex-escravos, velhinhos eivados deconteúdos pobres e, quase sempre, aparentemente úteis, é, nomínimo, compactuar com a ignorância. Aparentemente úteis,sim, pois esses grupos espíritas estão mantendo, sagazmente,os irmãos ex-negros em condições de humilhação (de infelizesescravos). Tais espíritos (pretos velhos, pretas velhas, caboclose outros...) são idolatrados por tais confrades, supostamente

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espíritas, porque são submissos às suas paixões, etc., etc., efazem sempre as suas vontades pueris.

Esses defensores da umbandização do Espiritismo nãopodem forçar uma situação que não há como se estabelecercomparações. O extraordinário "branco-velho", Bezerra deMenezes, dispensa comparações estapafúrdias sobre suasmensagens, que são verdadeiros tesouros de sublimação, poisele, o Kardec brasileiro é, na essência, o maior BALUARTE DOESPIRITISMO NO BRASIL.

É urgente romper a malha dessa teia do misticismoinoportuno que arranha a imagem do Projeto Espírita no Brasil.O Centro Espírita não é reduto de escravos (senzala) em queespíritos ataviados utilizam os "cavalos" (5) e indicam, aoschoraminguentos e eternos pedintes, o caminho das facilidadesmateriais na volúpia de suas próprias conveniências pessoais. Ocarimbo da umbandização tem marcado fundo a misticidadedos cegos da razão. Mais do que a ignorância dos iletrados,com seu cortejo trágico de endemias morais devastadoras, omediunismo inoperante e improdutivo depauperou ainteligência popular, com seu cortejo de exacerbadasmistificações.

Portanto, por falta de base doutrinária, observamos, comapreensão, nosso ambiente espírita repleto de idolatriamediúnica, misticismo inócuo e, o que é pior, aparecimento deuma classe defensora da retórica vazia do "não-me-toques", do"nem tanto o mar, nem tanto a terra", de supostos missionáriose estufados de vaidade e arrogância, que esbravejam contra osdefensores da pulcritude doutrinária em nome de suas vaidadestravestidas de falsa humildade.

Essa tendência mística popular, carregada de superstiçõesseculares, favorece a proliferação de defensores da enxertiamediúnica e do ecletismo, com argumentos de expoentesarautos da liberdade, em cuja filosofia do "tudo é permitido emnome do bom senso", caricaturam a mansuetude, se se

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deparam com os seus contraditores.Toda essa carga morta de defensores da "liberdade", do

"tudo pode", esmaga o movimento doutrinário e abre as suasportas para a infestação do sincretismo religioso afro-brasileiro,em que os deuses, ignorantes e ingênuos da selva africana, edas nossas selvas, superam e absorvem os antigos e cansadosdeuses cristãos dos altares mundanos das igrejas de pedra,obstando o desenvolvimento da legítima e sensata CulturaEspírita.

A domesticação idolátrica e persistente das entidades dosterreiros nos Centros Espíritas mal conduzidos, ameaçadescaracterizar todo o conteúdo doutrinário, legado por AllanKardec, sobretudo, se se transformar em prática que não temosexemplares no trajeto mediúnico do mais famoso médium daHistória Espírita, o mestre Chico Xavier.

Temos que evitar esse incontrolável pendor às formaçõesmistificadoras, tendente a um tipo de alienação, quase quepsicopatológica, que o Espiritismo sempre combateu, desde apromulgação da fé racional, contra a fé cega, fanática eincoerente, por ser submissa ao misticismo danoso à féraciocinada.

Em suma, ou busquemos um comportamento doutrinárioem bases firmes, sem misticismos, e crendices outras, ou oEspiritismo acaba de vez no Brasil. Tem mais, se nãopreservarmos as estruturas básicas das propostas Espíritas, nãoconseguiremos vislumbrar a continuação do projeto da TerceiraRevelação nestas terras das aventuras mediúnicas, pois cremosque a espiritualidade esteja atenta para, no momento exato,transferir o projeto (a nível coletivo) para um país onde apopulação seja menos mística, tenha uma fé mais inteligente emoral mais elevada.

Das duas, uma: Ou a Doutrina Espírita alcança sua metacomo princípio transformador e formador de nova consciênciacristã, ou perderá, totalmente, o sentido essencial de uma Nova

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Revelação.

Movimento espírita no “mundo do faz de conta”

Este artigo advém do imaginário do autor, razão pela qual

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qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sidomera coincidência. Concebamos um panorama confuso domovimento espírita do “mundo DO FAZ DE CONTA”.

Aí notamos exercício doutrinário mesclado de ideologiascognominadas “neo-esotéricas” (ufologia, astrologia, tarô,cristais, orientalização, cromoterapias, apometrias). É óbvio quetoda essa carga morta esmaga o movimento doutrinário e abreas suas portas para a infestação de exorcismos inócuos(desobsessões que mais parecem os inocentes exorcismos,“choques anímicos” por correntes magnéticas(!), festivalcaricato de mensagens psicografadas dos parentesdesencarnados.Nos imagos “DO FAZ DE CONTA”, pasmem! Estão imitando ostrabalhos que Chico realizava com sobriedade. Substituem asimplicidade e a espontaneidade dos fenômenos mediúnicospor promessas de supostas consolações advindas do “além”.Para denunciar tal fantasia uma pessoa informou ter pedido acomunicação de um inventado avô “falecido”, e “conseguiu” amensagem do tal avô. Há instituições que criaram trabalhos depasses para todos os gostos e interesses, ou seja, passe normal(para os inconvenientes “papa-passes”), passe forte (comdireito a incorporações na presença do obsedado), passesuperforte (para doentes, obsedados e “papa-passes”), passe"virtual"(!?...).

No “FAZ DE CONTA” há o extravagante Espiritismo da“prosperidade”, do “cure o seu corpo” e da “paz mental eemocional”. Inventaram cursos, palestras e workshops aR$.1.600,00 per capta sobre os temas da auto-ajuda realizadosem hotéis de luxo. Nesse mistifório tramaram o movimento da“nova era” (neoespiritismo!?), das sugestões das surradasquerelas sobre a coqueluche da moda “planeta em transição”,da paracientífica psicologização, pedagogização,espiritização(!?), filosofização, academização, idolatria deoradores, endeusamento de médiuns, palestrantes cover que

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querem ser famosos a qualquer cotação, para esse escopofazem shows teatrais de oratória com direito a burlescas eafetadíssimas declamações poéticas e posteriores incorporaçõesde ilustres velhinhos falecidos, cujas vozes arrastadas maisparecem personagens criadas pelo Chico, não o Xavier deUberaba, mas o Anísio da “Escolinha do Professor Raimundo”.

Nessa tendência mística popular, carregada de superstiçõesseculares, no “FAZ DE CONTA” observamos a proliferação depregadores santificados, tribunos de voz empostada egesticulação ensaiada. Lá os órgãos “unificadores” pretendem a“união”, aplaudindo oradores empavonados, personalistas,visivelmente obsedados que encontram espaços nas diretoriasdas federativas para manipularem e ditarem aespetacularização e a comercialização de congressos ditos“espíritas”. Além disso, os congressos são marcados pelaerudição acanhada, oratória plagiada e retórica de auto-ajuda einfelizmente ausência de trabalhos mais urgentes e debatescoerentes, pois renunciam aos critérios da lógica e da razãopropostos por Kardec.

No país “DO FAZ DE CONTA” os idólatras desprevenidosaplaudem a presença de palestrantes estrelinhas quecomercializam caridosamente os DVDs da palestra filmada,cantada, recitada etc, perturbando a credibilidade da Doutrina.Lembremos que aqui ou no “FAZ DE CONTA” comercializar umapalestra, além de deplorável, é uma estultícia moral.

No “país DO FAZ DE CONTA” percebemos impulsosincontidos do culto à personalidade de tal ou qual médium. Sãoos notáveis adoradores das gloríolas mundanas, médiuns quese ufanam com os galanteios do “reconhecimento social”, depreferência com vassalagens e construções de museusdestinados a preservar sua memória enquanto estão“encarnados”.

Que escárnio! Tais idolatrados no país do “FAZ DE CONTA”têm consciência da fatalidade biológica (morte física). Sabem

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que ao receberem a visitinha inevitável da “damadesencarnação” haverão de prestar contas na contabilidade doCriador, porém têm ciência que o seu cofre estará vazio dehumildade, motivo pelo qual assumirão colossal dívida porterem encenados na ribalta das ilusões, das luzes dos holofotesda fama estéril, enquanto estão fazendo turismo no corpofísico.

No mundo “DO FAZ DE CONTA” há pessoas que idolatramtais espíritas famosos, pois são seus amigos pessoais. Contudo,escudados nessa “amizade” não têm a dignidade de adverti-losquando cometem erros. Tais amigos, que são mais “amigos daonça” do que do idolatrado, sabem dos seus lapsosdoutrinários, mas silenciam, cruzam os braços, colocam vendasnos ouvidos, na boca e nos olhos para não se comprometereme muitas vezes se agastam com os que têm a altivez deadmoestar direta ou indiretamente tais médiuns purpurinados.

Graças a Deus esse elenco de disparates só acontece nouniverso do “FAZ DE CONTAS”. Todos os fatos do FAZ DECONTA” nos mostram que a Doutrina Espírita aqui na vida realtambém ainda não chegou a ser conhecida pelos seus própriosadeptos. Herculano Pires asseverou que “expor os temasfundamentais da Doutrina não é falar bonito, com tropos [tons]pretensamente literários, que só servem para estufar vaidade, àmaneira da oratória bacharelesca do século passado. É incrívela leviandade com que oradores e articulistas espíritas tratam decertos temas, com uma falsa suficiência de arrepiar, lançandoconfusões ridículas no meio doutrinário. Temos de compreenderque isso não pode continuar. Chega de arengas melífluas nosCentros, de oratória descabelada, de auditórios parvos, batendopalmas e com palavreado pomposo. Nada disso é Espiritismo.Os conferencistas espíritas precisam ensinar Espiritismo - queninguém conhece - mas para isso precisam primeiro aprendê-lo.”(1)

Se abraçamos o Espiritismo por ideal cristão, não podemos

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negar-lhe fidelidade. É inegável que na vida real existeminúmeras práticas não compatíveis com o projeto doutrinárioque urge sejam combatidas à exaustão, nas bases da dignidadecristã, sem quaisquer pecha de intolerância, tendente aimpossibilitar discussão sadia em torno de questõescontroversas. “Jesus ensinou a orar e vigiar; recomendou oamor e a bondade, pregou a humildade, mas jamais aconselhoua viver de orações e lamúrias, santidade dissimulada, disfarçadaem vãs aparências de humildade, que são sempre desmentidaspelas ambições e a arrogância incontroláveis do homemterreno.”(2)

A verdadeira prática Espírita é a expressão da moral cristã,consubstanciada no Evangelho do Mestre Jesus. No Espiritismo,o Cristo desponta como excelso e generoso condutor decorações e o Evangelho brilha como o Sol, na sua grandezamágica.

Referências bibliográficas:

(1) Pires, José Herculano. O Centro Espírita, São Paulo,Editora Pandeia, 1970

(2) idem

O centro espírita não é manicômio de iludidos

O Centro Espírita precisa ser, definitivamente, compreendido

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como um local de esperança na densa noite das angústias edores humanas, por ser o ponto focal da mensagem doConsolador Prometido. Porém, é, exatamente, nas casasespíritas, onde o Movimento Espírita deve se consolidar, queacontecem as mais equivocadas práticas "doutrinárias".

Um gravíssimo problema desse processo decorre daquelesque assumem responsabilidades com a direção dos trabalhos,sem os obrigatórios recursos morais, culturais e doutrinários.Confrades que introduzem práticas inoportunas nos núcleosespíritas, tais como: preces cantadas, paramentos especiais(terno e gravata, roupas brancas, etc.), debates de políticapartidária, jogos de azar (bingos, rifas, tômbolas, etc.), e, até,desfiles de moda, são irmãos que sedimentam a confusãodoutrinária nos solos, impondo ideias absurdas como se fossemprincípios espíritas, e sempre aceitando "novidades" e"revelações" não comprovadas. Isso, sem citarmos a publicaçãode livros anti-doutrinários, por meio dos quais se promove aexaltação da fantasia mediúnica.

O Espiritismo não comporta "terapêuticas" nas CasasEspíritas, como: piramideterapia, cristalterapia, cromoterapia,musicoterapia, hidroterapia, desobsessão por correntemagnética, apometria, choques anímicos, etc. Enxertá-las nasIinstituições Espíritas, como se prática Espírita fossem, é atitudeirresponsável de pessoas autoritárias.

Sabemos que a Doutrina Espírita é princípio máximo daliberdade de pensamento. Inexistem proibições no bojo dosconceitos doutrinários, e, por isso, sentimo-nos mais livres, atéporque, não devemos explicações de conduta oucomportamento, pois a consciência individual é nosso guia.Todavia, sabemos que as consequências de nossas atitudes,inevitavelmente, advirão, tanto no bem como no mal proceder.Porém, do fato de cada um cuidar da própria conduta, será queninguém tem o direito de cobrar uma mudança decomportamento mental dos que insistem no erro na Casa

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Espírita? É redundante dizer que numa Instituição deorientação Espírita devemos aprender a conviver nadiversidade, na pluralidade, respeitando peculiaridades,diferenças e necessidades das mais diferentes áreas detrabalho, considerando, principalmente, as individualidades.Todavia, creio ser imperioso colocar a causa acima doindomável pendor místico, do personalismo e do autoritarismo.

A ausência de comprometimento e fidelidade à DoutrinaEspírita é visível neste momento crucial. Como disse acima, aprática doutrinária vem sendo substituída por práticas exóticase, necessariamente, malsãs, ocasião em que sobressaemmuitos interesses escusos e pessoais, perturbando o dia-a-dia ea demanda do serviço da Casa Espírita.

Urge colocar a necessidade de estudo, juntamente, comanálise e avaliação dos trabalhos executados, no Centro, emnome de Jesus e Kardec. A Terceira Revelação deve serestudada incansavelmente; deve ser analisada e praticada emtoda a sua extensão, em todos os aspectos fundamentais davida, tais como: científico, filosófico, religioso, ético, moral,educacional e social.

No trabalho em grupo, o individualismo prejudica,inequivocamente, o trabalho de equipe e não se logra sucessonas atividades em desenvolvimento. Destarte, é imprescindívelque medidas sejam, antecipadamente, estabelecidas para que opersonalismo exacerbado não prejudique o conjunto, que deveprimar, a cada dia, pelo aprimoramento de todos e dasatividades do Centro.

O Centro Espírita será o que dele fizermos. A propósito dotema mediunidade, importa esclarecer que o seu exercício nãoadmite atitudes levianas, nem comporta insensatez nas suasexpressões. Exige, sim, um estudo contínuo dos seusmecanismos. Infelizmente, o projeto socorrista dos médiunsestá sendo preterido pelo "vedetismo", fruto da falta deconhecimento, da ignorância e, até, da irresponsabilidade de

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dirigentes e cúmplices desatentos. Não custa lembrar que aprática Espírita sem a devida base moral será, inevitavelmente,uma incursão permanente no mundo do erro e,consequentemente, das sombras.

O Centro deve ser uma escola no sentido absoluto dapalavra, isto é: destinado a formar e edificar almas, educandotodos os seus trabalhadores e frequentadores, pois todos sãoaprendizes, enquanto o Mestre é Jesus. Por isso, quem está,moralmente, mais preparado para ensinar, não pode ser aqueleque passa o conhecimento de modo autômato e semcompromisso sério, que instrui quem está menos adiantado,caracterizando a Doutrina Espírita como sendo uma simplesinformação a transmitir.

O Centro Espírita não pode ser tomado como simples localonde se atendem Espíritos desencarnados, administra-se acaridade dativa, toma-se água fluidificada e aplicam-se passes.Tudo isso faz parte e é, altamente, relevante. Todas essasatividades devem ser associadas a uma programação educativae com processos pedagógicos e didáticos adequados a cadatipo de ação. Desse modo, os Centros Espíritas se elevam aonível das agências clássicas do lar, do templo e da escolaconvencional, para alcançarem a extensão transcendental deverdadeiras academias de formação espiritual e não manicômiode iludidos.

O controle universal dos ensinos dos espíritos e afastidiosa arenga Antifebiana

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Escutávamos, certa vez, algumas salas de “estudos” (bate-papo!!!) espíritas no Paltalk, via Internet, e os verbos quepenetravam nos canais acústicos dos nossos ouvidos, atravésdo headphone, feriam os tímpanos de nossa indulgência cristã.Evidentemente, não generalizando, há as raríssimas salas-exceções, que criteriosamente, promovem um estudo sério dadoutrina à luz da razão e do bom senso. O tema? Divulgava-sea coqueluche do momento: o CUEE - Controle Universal dosEnsinos dos Espíritos. Nessa conversa melosa, questionava-se avalidade dos temas trazidos por André Luiz, Joana de Angelis,etc., advindos de um único médium. E esses “precavidos”confrades, regurgitavam frases do tipo, “não aceitamos nadafora da Codificação”. Enfim, portavam-se com toda eloquênciade lídimos “doutores” em kardec, ou seja: kardequeólogos deplantão e de carteirinha!

De fato, CUEE foi um método científico empregado peloCodificador na consolidação da estrutura da doutrina nascentee na implementação de seus pilotis. O mestre lionês, sabendoque a morte não tornava mais sábio ou mais ignorante oespírito desencarnado, precisava de um critério seguro parapoder compilar as diversas informações trazidas pelaespiritualidade. Sabendo que havia espíritos mistificadores,brincalhões e pseudo-sábios, Kardec fez com que todo oconteúdo doutrinário passasse pela filtragem do CUEE, ou seja,toda mensagem ditada pelos espíritos tinha que ser confirmadapor diversos médiuns, preferencialmente, sem que tivessemqualquer contato entre si, e que ocorressem quase quesimultaneamente.

Kardec explica, na Revista Espírita, em abril de 1864, queum homem pode ser enganado, ou mesmo enganar-se.Contudo, tal fato não se dá, quando milhões de homens vêem eouvem a mesma coisa: é uma garantia para cada um e paratodos. Sabemos que essa universalidade do ensino dos Espíritosconstitui o baluarte do Espiritismo.

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O primeiro controle das mensagens é o da razão, à qual épreciso submeter, sem exceção, tudo quanto vem dos Espíritos.Segue-se, ao supremo controle da razão, a opinião da maioria.Compreende-se que, aqui, não se trata de comunicaçõesrelativas a interesses secundários. O controle universal é umagarantia para a futura unidade do Espiritismo e tende a anulartodas as teorias contraditórias. Destarte, o que torna o EspíritoAndré Luiz crido é que, por toda parte, observamos aconfirmação das suas mensagens, através do testemunho delíderes consagrados no mundo inteiro.

Que influências poderiam exercer André Luiz ou Emmanuel,com suas mensagens, se elas fossem desmentidas, tanto pelosEspíritos, quanto pela liderança espírita mundial? Se um Espíritoafirma uma coisa de um lado, enquanto milhões de pessoasdizem o contrário alhures, a presunção da verdade não podeestar com aquele, cuja opinião é única, contrariando as demais.

Ora, pretender ser o único a ter razão, contra todos, seriatão ilógico da parte de um Espírito, quanto da parte de umhomem, o que não é o caso em discussão. Todas as pretensõesisoladas cairão pela força das coisas, ante o grande e poderosocriterium de controle universal. Porém, as mensagens de AndréLuiz não caíram e jamais cairão.

Há confrades, no auge do delírio, recriando o ControleUniversal dos Espíritos e, para tais indivíduos, essa é a únicaforma de se aceitar, com boa margem de segurança, osensinamentos provenientes, sobretudo, das obras de ChicoXavier. (!!??) Por que essa prevenção contra o médium deUberaba?

Há confrades afirmando que Kardec, o Codificador, era ocoordenador do Controle Universal. Depois de suadesencarnação, não houve quem desse seguimento à condiçãode controlador. Em verdade, esses confrades se apresentameivados de despeito contra a FEB, informando, com desdém,que os grupos de pessoas, que deram origem à Federação

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Espírita Brasileira - FEB, criaram um sistema espírita muitodiferente daquele idealizado por Allan Kardec e nele nuncaesteve presente o Controle Universal dos Espíritos, o que seconstituiu numa grave falha Febiana. (sic)

Atestam, esses novidadeiros, que apesar de o Espiritismoter sido introduzido no país por membros da “aristocraciadominante”, no século XIX, houve, desde o início, forte junçãoda Doutrina com as religiões, principalmente, a umbanda e ocatolicismo.(sic)

Para esses vorazes detratores da FEB, (lembramos que o“calo” deles é o “Cristo católico”, pasmem!) tanto os livros deChico, quanto os do Divaldo apresentam mensagens que nadaacrescentam e, até, contrariam a Doutrina . Acreditem, sequiserem..(!?)

Encharcados de fértil imaginação e gripados de raciocínio,espirram que o jovem católico, Chico Xavier, quando teve avisão mediúnica daquele que teria sido o Padre Manoel daNóbrega, em pretérita encarnação, e que passou a seridentificado como Emmanuel, certificou-se de que este seria oseu Mentor Espiritual. Com isso, todo o processo mediúnico doextraordinário médium mineiro foi plasmado por um“misticismo” católico, que, imediatamente, os diretores daFederação Espírita Brasileira (FEB) aproveitaram. Com talmisticismo, vislumbraram um meio de divulgar um Espiritismoque fosse aceito pela sociedade brasileira que, então, eracatólica em sua esmagadora maioria. Meu Deus!!! Nunca vimostão grande parvoíce!!

Para tais difamadores, muitos livros de mensagenspsicografadas por Chico Xavier, nada possuem de “específico”,no que se refere à Codificação. São opiniões de Espíritos quetêm seu valor, como opinião pessoal (sic), mas não podem serincorporadas como parte da doutrina básica, pois não sesubmeteram à chancela da paixão do momento, - o ControleUniversal dos Espíritos.

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Portanto, as teses abordadas pelo Espírito André Luiz nãoreceberam a chancela do filão da discórdia (Controle Universaldos Espíritos) e, por isso, as mensagens de André Luiz, deEmmanuel e outros só devem ser admitidas como hipóteses deestudos, até que possam ser submetidas ao Controle Universaldos Espíritos, através do aval supremo dessa facção histérica.

A rigor o que está escamoteado, sob essa psicóticadiscussão, é, nada mais, nada menos, o aspecto religioso daDoutrina Espírita entronizado no Brasil pela FEB e abrilhantadopor Chico Xavier na prática mediúnica. Isso que estamoschamando de “questão religiosa“ refere-se, obviamente, àdiscussão que já tem se tornado psicopatológica: saber se oEspiritismo é ou não é religião. A frequência com que taldiscussão tem acontecido, no âmbito do Espiritismo, é tãogrande que já se tornou, há muito, cansativa, estéril eobsessiva. Para tais hermanos, a postura religiosa, Xavieriana,tem um caráter cerceador sobre o crescimento do Espiritismo,enquanto filosofia.(!?) Quanta histeria!!!

Esses nossos confrades, longe do uso do bom senso,insistem em divulgar a “progressista” tese de que se é precisofugir do “Cristo Católico”, do religiosismo, do igrejismo noEspiritismo e transformá-lo numa academia de expoentes do“saber”.

Sob o império dessa compulsiva tendência filosófica, vãopara as salas do paltalk, redigem livrescos, artiguelhos,promovem palestras inócuas, aguilhoados às diretivastelepáticas dos "sabichões das sombras".

Queiram ou não, o Cristo é o modelo de virtudes para todosos homens. É incomparável a dedicação e a santidade que Eledispensa à Humanidade. Nós, que ainda estamos mergulhadosnos pântanos das questiúnculas teológicas, não temosparâmetros para avaliarmos a Sua magna importância para oEspiritismo, isto porque a Sua perfeição se perde na escurabruma indevassável dos milênios.

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O Espiritismo sem Evangelho pode alcançar as brilhantesexpressões acadêmicas, mas não passará de atividade fadada amodificar-se ou desintegrar-se, como todas as conquistasperfunctórias da Terra. E o espírita cristão, que não cogitou dasua iluminação com o Evangelho do Mestre, pode ser virtuoseda inteligência, Phd de qualquer coisa e filósofo, com as maissubidas aquisições científicas, mas estará sem bússola e semnorte no momento do “furacão” inevitável da dor moral.

Praticar o evangelho, sim! Ganhar dinheiro à custa damensagem do cristo, nunca!

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É justo transformar um templo religioso em uma AgênciaMercantil? Em uma espécie de núcleo financeiro lucrativo? Seráque Deus consente tal procedimento? Foi isso o que nosensinou Jesus?

Viver o Evangelho, Sim! Ganhar dinheiro à custa damensagem do Cristo, Nunca! Até porque nada é tão ilegítimopara um cristão que o exercício da mercantilagem doEvangelho. É deprimente identificarmos “religiosos”(ressalvando-se as exceções) que se postam quais“missionários” do Cristo, com evidente desprezo ao códigosublime do amor ao próximo. Tais líderes distinguem-se peloverbalismo descomedido, comentam tediosos os mais variadosassuntos, inobstante não chegarem a qualquer arremate deraciocínio. Exaltam as emoções infelizes da arrogância entre osseus seguidores, cumulando-os de alusões faustosas emboravazias de sentido.

O Cristo advertiu em vários segmentos do Evangelho sobreos “evangelizadores” oportunistas, comparando-os a "lobos empele de cordeiros". A lógica humana é dilacerada diante daexploração da fé. Não há como emudecer perante os que sevalem das redes de televisão, jornais, livros, internet e rádiospara pregar o Evangelho em “nome de Deus”, deslumbrando osseguidores afirmando que a clemência do Pai somente pode serobtida através da doação de dinheiro.

O que assistimos presentemente são reedições das ardilosasvendas de indulgências, matriz da Reforma Protestante. Mas, sealguém surge dizendo-se “apóstolo” do Cristo, desconfiemos dasua sanidade mental, pois na realidade o que tem surgido são“mercenários” e não missionários do Mestre. Tais pregadoresexaltam a ignorância com altas doses de soberba e sealardeiam guias e evangelistas. Há muitos falsos cristos e falsosprofetas representados por filosofias, doutrinas, seitas ereligiões mercantilistas que escravizam os homens e exploram aboa fé das pessoas que sofrem.

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Jesus, há dois mil anos repreendeu: "Está escrito: A minhacasa será chamada casa de oração. Porém, vós a tendestransformado em covil de ladrões".(1) Hoje, discorrem sobre asescrituras numa maníaca exaltação do Cristo, atrelam suasprédicas à moeda de troca, onde quem for mais generoso (mãoaberta) e destinar maior quantia em dinheiro terá maiorbenefício “celestial”. Os desprevenidos seguidores nutrem-se da"fé cega" que lhes é infligida por meio de discursos abrasados eencenações de pseudo-exorcismos, onde o que de fato ocorresão catarses anímicas e/ou “incorporações” de obsessores quese deleitam diante dos patéticos e deprimentes espetáculos.E como se não bastasse, comercializam-se os mais singularesamuletos quais “potes com água do Rio Jordão”; “frascos deperfumes e óleos com cheiro de Jesus”; “pedras do temploonde Jesus pregou”; “caixinha contendo porção de areia pisadapor Jesus”; “fragmentos de madeiras da cruz do Calvário”;“lotes, casas e mansões no céu”. É evidente que um santuárioreligioso não pode ser análogo à loja comercial onde senegociam mercadorias com Deus. Será que desconhecem que otemplo cristão é local para meditações e cogitações sobre osdesacertos e diligências para melhoria de comportamento decada um de nós?

O que dizer dos “evangelistas” de grandes plateias quecobram fortunas para pregar, que alimentam através daeloquência verbal a idolatria da sua personalidade? Sãovendilhões modernos e profissionais do Evangelho que execramtrabalhar, abominam o argumento de que o Cristo convidou-nosa carregar nossas “cruzes”, granjear "o pão" com o “suor” denosso trabalho, e que só granjearemos o “Reino dos Céus”, istoé, a paz de espírito, se fizermos ao semelhante o quedesejamos a nós mesmos. Sim! "Ai de vós, condutores decegos, pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, nada é;mas o que jurar pelo ouro do templo, ou pela oferta, este fazcerto. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, o ouro,

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ou o templo de Deus?”. (2)A única moeda que o Criador acolhe como câmbio é o amor

ao próximo. Todavia, infelizmente boa parte do legado religiosoque se transfere para as atuais gerações tange à cobiça, aoencanto dos sentidos físicos, à conquista de poder a todo custo,cedendo cancha à brutalidade e à confusão. O fanatismo quevem sendo desenvolvido em torno do misticismo decrépito,investido para amealhar recursos monetários, visandopatrocinar a “saúde” daqueles que mais prontamente a possamcomprar a peso de ouro, tem oferecido ambiente aomaterialismo e ao utilitarismo em que as pessoas deleitam-se,afastadas da misericórdia, da solidariedade, da fraternidade,ante o desafio da autêntica experiência do amor ao próximo,conforme vivido por Jesus.

Paulo escreveu: “De fato, grande fonte de lucro é a piedadecom o contentamento. Porque nada temos trazido para omundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustentoe com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que queremficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitasconcupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam oshomens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raizde todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fée a si mesmos se atormentaram com muitas dores. Tu, porém,ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, apiedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão.”.(3) Por essasmuitas razões é fácil perceber que presentemente os autênticosadeptos do Evangelho ainda formam pequenino grupo muitosemelhante ao período das dolorosas experiências dos trêsprimeiros séculos de disseminação da mensagem do Cristo nosdomínios de César.

Referências bibliográficas:

(1) (Mateus, XXI; 12 e 13)

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(2) (Mateus, XXIII; 16)(3) (1 Timóteo 6:6-11)

O projeto espírita em face das terapias inócuas

Allan Kardec ressalta que “a característica essencial de

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qualquer revelação tem que ser a verdade.”(1) As revelaçõesespirituais surgem gradualmente, consoante nossa capacidadede compreendê-las, sobretudo pelas credenciais doamadurecimento moral e intelectual. A Codificação não surgiucomo conteúdo pétreo gravado em monolítico. Ademais, nemtudo pôde ser revelado à época da Codificação, todavia, essefato não nos autoriza interpretar o atual movimento espíritabrasileiro sem as diretrizes reveladas pelos Espíritos.

Com a evolução do pensamento filosófico da Doutrina nostornamos mais capazes nas análises críticas do movimentoespírita, sem comprometer a pedra angular do edifíciokardeciano, representada pelas Obras Básicas, mas poucoslêem o Pentateuco.

O assunto é recorrente. Infelizmente, como sói ocorrer aquino Brasil, alguns espíritas insistem em transformar a CasaEspírita num hospitalzão a fim de remediar efeitos (as doenças)ao invés de transformarem a Instituição numa universidade daalma para tratar as causas (os doentes). Com isso, muitoscentros espíritas brasileiros abrem brechas para enxertiasindesejáveis, incorporando em suas programações terapiasalternativas inócuas, metodologias de desobsessão suspeitas ereuniões de conteúdos duvidosos advindos de livros semvínculo com o bom senso.

Os ensinamentos sérios que complementam a Doutrina sãoquais pepitas de ouro sob as diretrizes dos Benfeitores do Além;misturado, no entanto, a elas há o “ouro de tolo” e outrosmetais sem valor intrínseco que apenas brilham. Por isso,temos tendências de todos os gostos. Há dirigentes cominsofreáveis pendores místicos que se devotam à crença nosobrenatural e impõem rituais dissimulados aos seusseguidores. Comumente as suas práticas “doutrinárias” sãoatribuídas às orientações dos “guias”.

Os guiistas têm inserido práticas extravagantes nos centros,a saber: radiestesia, cromoterapia, fitoterapia, cristalterapia,

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apometria, entre outras superstições que são impostas comoalternativas de tratamento físico e espiritual. Existem atémesmo os que aplicam passes nas paredes dos centros (para“descontaminá-las”(!!!!???)), inventam expulsão de “obsessoresatravés de correntes mento-magnéticas, psico-telérgicas, enfimseria cômico se não fosse tão trágico. Não podemos cristalizarnosso raciocínio sob a luz de um purismo ideológicoextemporâneo, nem mergulharmos no entusiasmo irracionalpor novidades cujo cenário ensombra a metodologia espírita.

Nunca haverá radicalismos quando se utiliza a razão e aponderação, nem quando somos capazes de olhar não só asvirtudes da fé que seguimos, mas também os possíveis eindesejáveis desvios (estes não contidos no projetodoutrinário), mas nas mãos de dirigentes autoritários queabusam inadvertidamente do Espiritismo.

Ante a lei da fraternidade os que se fazem impostoresnecessitam das nossas preces, mas não podemos nos omitirdiante do que fazem (ou desfazem?) nos centros espíritas.Podemos até respeitar e compreender as “terapias”alternativas, mas jamais adotá-las. A Casa Espírita não é arenade fanfarras e muito menos clínica de PLACEBOS alternativos. Emais, uma legítima instituição espírita não pode ser picadeiropara exibições de inócuos exorcismos.

Afirmamos que esses “tratamentos espirituais” não sãoúteis. Não queremos discutir a sinceridade de seus praticantes(por inocência nalguns), mas é urgente e obrigatória umareciclagem doutrinárias dos mesmos. É mister ser deixado forado Centro Espírita as ramificações de terapias alternativas de“cura e desobsessivas”que surgem e se mesclam ao Espiritismopor serem correntes de ideias que deixam brechas, ou melhor,crateras! Usemos e abusemos do raciocínio. Não sejamos nemomissos e nem contemporizadores com os que tentam imporseus “espiritismos” de curas fantásticas.

Todos sabemos que o radicalismo não é uma boa

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conselheira, contudo devemos estar atentos com o fanatismode tais “adeptos”. Muitos deles têm conquistado espaço nomovimento espírita e nas casas espíritas, disfarçam-se detrabalhadores e “orientadores”, fazem crer em novas terapias eortodoxias, incitam desuniões aos que pensam diferentes deles,provocam exacerbado interesse pelo poder e assumemdiretorias (inclusive de algumas federativas), alimentamvaidades e melindres, insuflam a confusão.

Em suma, ou nos comportemos doutrinariamente apoiadosna razão, sem misticismos, e crendices outras, ou o Espiritismoficará sem rumo em nosso País. E se não preservarmos asestruturas básicas das propostas kardecianas, nãoconseguiremos vislumbrar a continuação do projeto Espíritanestas plagas brasileiras.

Cremos que a espiritualidade deve estar alerta, para nomomento exato (se for o caso) transferir o projeto espírita paraoutro país, onde a população seja menos mística, tenha fé maisracional e moral mais elevada.

Referência:

(1) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro, Ed. FEB, 2000,Cap 1 item 3.

(2) idem.

Resguardemos Kardec

Para alguns confrades de índole "light ou clean" (!?),a

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pureza doutrinária ecoa como algo obscuro, subjetivo. Nãocompartilhamos dessa tese. Cremos que consiste naobservância da simplicidade dos conceitos escritos, praticados ealicerçados na Codificação, cujas recomendações básicas foramapoiadas pelos "Espíritos do Senhor, que são as virtudes dosCéus", (1) no dizer do Espírito de Verdade, na introdução de "OEvangelho Segundo o Espiritismo".

Aconteceu conosco recentemente: ao término de umapalestra, cujo tema enfatizava a questão das práticas estranhasàs normas de conduta que a Doutrina Espírita preceitua,aproximou-se de nós um confrade, deixando transparecer umasérie de dúvidas quanto a instituição espírita, onde frequentava,próxima à sua residência. Confessou-nos que estava tentandose harmonizar com aquele grupo, mas a forma comoconduziam os trabalhos conflitava com os esclarecimentoscontidos nos Livros da Codificação.

Esclareceu-nos, também, que, naquele centro, ostrabalhadores adotavam a prática da "apometria" parapromoverem sessões de "desobsessão" e que o tratamento pela"corrente magnética" era a coqueluche do centro-oestebrasileiro. (sic) (!?) Disse-nos, ainda, que, enquanto unsutilizavam cristais para energizarem os assistidos, outrosrecomendavam o hábito da meditação sob pirâmides para onecessário equilíbrio espiritual. Havia, também, aqueles queincentivavam o famoso "banho de sal grosso", juntamente comervas "medicinais" e outros quejandos.

Convidado para trabalhar naquele centro, em serviços deatendimento aos necessitados da região, mostrou-se-nosextremamente receoso em assumir tal responsabilidade, já quetais práticas não eram condizentes com os ensinamentos daDoutrina Espírita.

Ao nos questionar se deveria ou não aceitar tal tarefa,esclarecemos-lhe da seguinte maneira: já que ele possuíaalgum conhecimento sobre as normas da Codificação, e

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demonstrava bom senso crítico e critério doutrinário, das duasuma: ou ele se afastaria do grupo em que se associara,procurando se identificar com outra instituição, na qualestivessem estabelecidas reuniões nos moldes da TerceiraRevelação, ou permaneceria qual missionário, transmitindo, aospoucos, as claras noções da Doutrina Espírita. Lembramos aonosso irmão que muitos centros sustentam movimentos e ideiashipnotizantes, na tentativa de embutir, na espinha dorsal daDoutrina Espírita, algumas práticas estranhas, sob os auspíciosdos apelos assistencialistas de inócuos resultados, e propagamneologismos de impacto para "tratamentos espirituais",supostamente eficazes. Explicamos que o trágico da questão éque esses grupos são dominadores e, por consequência, detêmpoder hegemônico no movimento espírita em certaslocalidades.

Esclarecemos-lhe que o Centro Espírita tem que funcionarcomo se fosse um autêntico pronto-socorro espiritual, tal qualrefrigério em favor das almas em desalinho, e não um redutode ilusões. A Casa Espírita tem que estar preparada parareceber um contingente cada vez maior de pessoas perdidas nolodaçal de suas próprias imperfeições, e que estão nos valessombrios da ignorância.

Aqueles que lêem livros tidos como de literatura avançada,mas de autores um tanto quanto duvidosos, sem antes lerem eestudarem com seriedade Allan Kardec, correm o grande riscode enveredarem por caminhos estreitos e trilhas confusas, dedifícil acesso esclarecedor. Os núcleos espíritas refletem aíndole e consciência doutrinária dos seus dirigentes. As práticasque nos narrou o irmão chocam, nitidamente, com ospostulados Kardecianos. Logo, aí não se pratica Espiritismo.Contudo, são estágios de entendimento insipientes, talveznecessários para pessoas neófitas (lembrando aqui: a cadasegundo o merecimento). Foi preciso lembrá-lo, porém, de que,mesmo nos grupos mal orientados por seus dirigentes, existem

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pessoas que se dispõem a ajudar irmãos necessitados,independentemente de regras preestabelecidas, o que lhesconfere algum mérito, obviamente.

Alertamos-lhe, todavia, sobre as dificuldades que,certamente, iria encontrar, pois não seria fácil o acesso àsmentes cristalizadas em bases de "verdades indiscutíveis", masnada obstando que aceitasse o desafio, se a vontade de servirfosse maior que as práticas não alinhadas com o projetoEspírita. O importante é servir em nome do Cristo, mesmoconvivendo, heroicamente, com práticas vazias de sentidológico. Por outro lado, serenando-lhe o espírito hesitante,lembramos-lhe de que ninguém é obrigado a conviver sob asamarras dos constrangimentos.

O Espiritismo traz-nos uma nova ordem religiosa que precisaser preservada. A Terceira Revelação é a resposta sábia dosCéus às interrogações da criatura aflita na Terra, conduzindo-aao encontro de Deus. Cremos que preservá-la da presunçãodos reformadores e das propostas ligeiras dos que a ignoram, eapenas fazem parte dos grupos onde é apresentada, constituidever de todos nós. "Neste momento, contabilizamos glórias daCiência, da Tecnologia, do pensamento, da arte, da beleza, masnão podemos ignorar as devastadoras estatísticas daperversidade que se deriva dos transtornoscomportamentais"(...) as criaturas humanas ainda nãoencontraram o ponto de realização plenificadora. Isto porqueJesus tem sido motivo de excogitações imediatistas nocampeonato das projeções pessoais, na religião, na política enos interesses mesquinhos.(...)"(1)

Se abraçamos o Espiritismo, por ideal cristão, não podemosnegar-lhe fidelidade. O legado da tolerância não seconsubstancia na omissão da advertência verbal diante àsenxertias conceituais e práticas anômalas que algunscompanheiros intentam impor no seio do Movimento Espírita.

Para os mais afoitos, a pureza doutrinária é a defesa

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intransigente dos postulados espíritas, sem maior observânciadas normas evangélicas; para outros, não menos afobados, é arígida igualdade de tipos de comportamentos, sem a devidaconsideração aos níveis diferenciados de evolução em queestagiam as pessoas. Sabemos que o excesso de rigor nadefesa doutrinária pode nos levar a graves erros, seenredarmos pelas trilhas de extremismos injustificáveis, postoque redundarão em divisão inaceitável, em face dos impositivosda fraternidade.

É óbvio que não podemos converter defesa de purezakardeciana em cristalizada padronização de práticas que podemobstar a criatividade espontânea, diante da liberdade de ação.Inobstante repelir atitudes extremas, não podemos abrir mãoda vigilância exigida pela pureza dos postulados espíritas. Nãohesitemos, pois, quando a situação se impõe, e estejamosalerta sobre a fidelidade que devemos a Kardec e a Jesus. Éimportante não esquecermos de que nas pequeninasconcessões vamos descaracterizando o projeto da TerceiraRevelação.

"É necessário preservar o Espiritismo conforme o herdamosdo eminente Codificador, mantendo-lhe a claridade dospostulados, a limpidez dos seus conteúdos, não permitindo quese lhe instale adenda perniciosa, que somente irá confundir osincautos e os menos conhecedores das suas diretrizes"(1) Éinegável que existem inúmeras práticas não compatíveis com oprojeto doutrinário que urge sejam combatidas à exaustão,. nasbases da dignidade cristã, sem quaisquer laivos de fanatismo,tendente a impossibilitar discussão sadia em torno de questõescontroversas.

Apresentando certa apreensão quanto ao MovimentoEspírita nosso 'Kardec Brasileiro' recorda: "a Boa Nova (...)produz júbilo interno e não algazarra exterior (...) Não é lícitoque nos transformemos em pessoas insensatas no trato com asquestões espirituais. Preservar, portanto, a pulcritude e a

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seriedade da Doutrina no Movimento Espírita é dever que noscompete a todos e particularmente ao Conselho FederativoNacional através das Entidades Federadas"(1)

Sobre os que ainda se fixam demasiadamente nas questõesfenomênicas, Bezerra lembra: "(...) a mediunidade deve serexercida santamente, cristãmente, com responsabilidade ecritérios de elevação para não se transformar em instrumentode perturbação e desídia"(1). O exercício da mediunidade deveser reservada às pessoas que conheçam Espiritismo, posto serextremamente perigosa a participação de pessoas ignorantesem trabalhos de aguçamentos mediúnicos, e, por desatençãodesse tópico, após mais de um século de mediunidade à luz daDoutrina Espírita, temo-la, ainda, atualmente, ridicularizadapelos intelectuais, materialistas e ateístas, que insistem emdesprezá-la até hoje.

Lamentavelmente, em nome do Espiritismo, muitospropõem apometrias, desobsessão por corrente mento-eletromagnética(2), aplicações de luzes coloridas parahigienizar auras humanas e curar (pasmem!) azia, cálculo renal,coceiras, dores de dente, gripes, soluços em crianças,verminoses, frieiras, etc.. Se não bastasse, recomenda-se, até,carvãoterapia (?!) para neutralizar "maus-olhados". É só colocarum pedaço de tora de carvão debaixo da cama e estaremosimunes ao grande flagelo da humanidade - o "olho comprido"-e, nessa tragicomédia, o Espiritismo vai capengando em certoscentros espíritas.

A verdadeira prática Espírita é a expressão da moral cristã,consubstanciada no Evangelho do Mestre Jesus. Assim, o grupoespírita só terá maior credibilidade se houver pureza doutrináriae se a prática estiver conforme os ensinamentos de Jesus, sobqualquer tipo de continente (desobsessão, educação mediúnica,palestras, livros, mensagens, Assistência Social etc.)

No Espiritismo, o Cristo desponta como excelso e generosocondutor de corações e o Evangelho brilha como o Sol, na sua

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grandeza mágica. Uma doutrina que cresceuassustadoramente nos últimos lustros, em suas hostes surgirambons líderes, ao tempo em que também apareceramimprudentes inovadores, com a presunção de "atualizar"Kardec.

Recordemos que Kardec legou à humanidade a melhor detodas as embalagens (pureza doutrinária) ao divino presenteque é a Doutrina dos Espíritos, e aqueles que têm como base oalicerce do Evangelho podem, até, conviver com qualquer obraou filosofia, que estarão imunizados contra o vírus dasinfluenciações obsidente.

Referências bibliográficas:

(1) Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica recebidapelo médium Divaldo Pereira Franco, em 9 de novembro de2003, no encerramento da Reunião do Conselho FederativoNacional, na sede da Federação Espírita Brasileira, em Brasília.

(2) Jornal Alavanca - abril/maio-2000

Palestrantes, imitações, momices e coisas mais...

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Certa vez, conversando com uma líder espírita, de Brasília,a referida irmã comentava sobre as momices (1) de certoorador que fora convidado para falar no Centro em que eladirige. Dizia que o palestrante convidado imitava,grotescamente, com gestos, modos de expressão verbal edecorando trechos de conferências do tribuno Divaldo Franco,inclusive "incorporando" Bezerra (!) após a palestra (!?).Referiu-se, também, a outro palestrante que faz questão deexpor e vender seus livros e CDs de palestras gravadas, cujarenda, supostamente, é para a "causa maior", e exige,vaidosamente, os aplausos do público. Meu Deus, que ridículo!Esses companheiros, com certeza, imaginam-se quais atores detelevisão, quais personagens hollywoodianos, só faltandooferecer autógrafos para os seus fãs idólatras, que, também,existem, lamentavelmente! Nada mais triste!

Um orador imitador não tem o menor senso de ridículo,pois, apodera-se da identidade alheia, sem o menorconstrangimento, e essa é uma atitude obsessiva e/oupsicopatológica, porque lhe é autoplasmada. Ao imitar alguém,esquecem-se de que tal atitude não passa de uma farsa, e que,dessa forma, perdem a liberdade de pensar e de agir,buscando, sempre, a fonte de ligação para prosseguir nodesempenho do papel assumido. Existem oradores que ficamhoras e horas em frente ao espelho para treinarem os gestosou entoação de voz do imitado, que é sempre Divaldo Franco.Como se não bastassem as momices e os bizarros fatos, não éraro observarmos oradores vaidosos, oferecendo-se paraproferir palestras. Entram em contato com os que coordenamas escalas e se dispõem, "gentilmente", a serem designadospara falar no Centro Espírita, quase sempre em uma data já,previamente, programada para outro orador. É uma desfaçatezda parte deles, quando em viagem, em trânsito pela cidade,apoderam-se do lugar de outro orador já escalado paracomparecer ao Centro. Coordenadores que assim procedem

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demonstram indisciplina, falta de planejamento e, sobretudo,desrespeito àquele que já estava agendado, e os dirigentes,que acatam essa movimentação desordenada, provam que nãotêm competência para estarem à frente de tamanharesponsabilidade, ou seja, a de manter o equilíbrio de umCentro Espírita. Tal fato só se justificaria se fosse um oradorconsagrado, de renome nacional.

Aos palestrantes, candidatos ao estrelismo no movimentoespírita, urge que não memorizem quaisquer textos de livrosespíritas para, simplesmente, recitá-los, quais tagarelas oupapagaios, pois a expressão maquinal não agrada a quem ouvee, sobretudo, a Deus. É mister construir um mapa mentaldaquilo que pretendemos comunicar ao público. A nossaresponsabilidade é para com o conteúdo doutrinário, para como movimento espírita, para com a divulgação dos princípiosespíritas, porém, para esse desiderato, cabe-nos a tarefa deconstruirmos um discurso próprio e original do Espiritismo, afim de que aqueles que nos ouvem possam captar o verdadeirosentido da Terceira Revelação.

Não podemos ser meros divulgadores do Espiritismo.Precisamos, acima de tudo, ter a mensagem espírita como umdos instrumentos que podem ajudar o ser humano a ser maisfraterno e viver mais feliz.

A comunicação da palestra espírita não está noscompêndios humanos. É algo pessoal. Destarte, temos aobrigação de jamais imitar quem quer que seja, sobretudo, osoradores que dão "Ibope", que superlotam o Centro.Precisamos imitar a nós mesmos, ou seja, a nossa organizaçãomental, a nossa limitação, a nossa compreensão do tema, ouseja, ser quem somos, verdadeiramente, sem as máscaras devirtudes inexistentes, sem atitudes dissimuladas de docilidade,mas, coerentes e sensatos com o ideal Cristão. Por isso, creioque todo dirigente tem o dever de advertir os palestrantesimitadores, até porque é um despropósito a imitação.

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Isso mesmo! Imitar é horroroso, pois a imitação nãoconsegue reproduzir o verdadeiro talento. Pode-se, até mesmo,imitar o estilo de um orador consagrado, mas nunca recriar aprofundidade ou a beleza que caracterizam suas produções eque reaparecem de forma, perfeitamente, reconhecíveis atravésda legítima oratória. O expositor espírita não é um profissionalda fé, que precisa teatralizar, ou usar recursos outros, paraangariar fiéis. Sua tarefa é informar sobre este universo denovos conhecimentos que é o Espiritismo.

É importante criarmos estilo próprio, simples, sem exageros,lembrando que uma palestra num Centro Espírita é mais umaconversa do que uma conferência. Recorrermos a linguagemsimples e de bom gosto, lembrando que estamos, ali, a serviçodo Cristo para explicar e fazer o público entender a mensagemdo Espiritismo, não para exibir cultura. Sempre é possívelexplicar assuntos, mesmo complexos e profundos, emlinguagem acessível a uma platéia heterogênea.

O orador deve acolher, com respeito e humildade, todacrítica, procurando avaliar, cuidadosamente, o seu trabalho e,assim, melhorar, cada vez mais, a tarefa que lhe cabe. Devereagir, com todas as suas energias, contra os elogiosdescabidos, para que a vaidade não lhe venha toldar o própriocampo de ação, e mais, ainda, nunca deve julgar-seimprescindível ou privilegiado, criando exigências ou solicitandoconsiderações especiais. Sobre isso, qualquer semelhança, paraquem já viu esse filme em Brasília, será mera coincidência?

Existe orador que abusa em contar casos engraçados parafazer público rir durante toda a palestra. Usa a tribuna como sefosse um palco de teatro para humoristas. Ora, se o orador temo dom da hilaridade que vá para o teatro e exerça a profissãode ator. É muito mais digno.

Eis alguns pecados capitais de uma palestra espírita: aartificialidade; o não ordenamento do raciocínio, com começomeio e fim do tema proposto; a desconsideração das

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características da platéia e falar como se todos os ouvintesfossem iguais; a falta de conteúdo e preparo; a defesa deideias que vão "de encontro" ao interesse do ouvinte e,PRINCIPALMENTE, IMITAR OUTROS ORADORES. Cremos que,por pior que seja o orador, em sendo ele mesmo, terá chancesde sucesso. Se imitar alguém, por melhor que seja a imitação,não terá credibilidade, ou vira circo.

"Os expositores da boa palavra podem ser comparados atécnicos eletricistas, desligando tomadas mentais, através dosprincípios libertadores que distribuem na esfera dopensamento". (1) Sendo o Espiritismo a revivescência doCristianismo, em sua essência e pureza, aqueles que sedispõem a divulgá-lo, pela palavra edificante, à semelhança dosdiscípulos do Cristo, devem equipar-se de todos os recursosque puderem dispor na atualidade, para bem representaremessa Doutrina Consoladora, junto aos que anseiam pororientação, para a necessária iluminação interior. O orador deveTer Conduta Respeitável, lembrando que "Reconhece-se overdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelosesforços que faz para dominar suas más inclinações". (2)

Assim, o expositor espírita não pretenderá ser "santo", mas,alguém, sinceramente, empenhado em edificar-se moralmente,a cada dia mais, lembrando, sempre, que, para o públicoouvinte, ele representa o Espiritismo e o Movimento Espírita.

Há, sem dúvida, nas tribunas espíritas, alguns acertos.Porém, ficamos muito preocupados com os desacertos e asdistorções detectadas nas palestras que, também, tivemos aoportunidade de assistir, ou dos fatos que nos foram contados.Há, realmente, em torno desse tema, um quadro preocupante.

"Todos os espíritas sinceros, estudiosos e afeiçoados aobem, encontram-se convocados para o ministério do auxílio,através da difusão dos postulados espíritas, que, propiciandoperfeito entendimento das lições evangélicas, representam amedicação oportuna e urgente para a massa desesperada, o

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homem aturdido..." (3) Em verdade, na palestra espírita podeestar a entrada, ampla e promissora, para o entendimento daDoutrina Espírita, ou a saída, extremamente lamentável, paracaminhos distantes desse conhecimento que liberta. O oradorespírita é uma peça importante na propaganda e na Difusão doEspiritismo, devendo ser encarada com extremaresponsabilidade e praticada com esmerada bagagem moral ecultural, sem prejuízo da indispensável experiência.

Quando alguém se propõe a ouvir um orador Espírita, o fazno pressuposto de que ele sabe o que está falando e lheoferece, silenciosamente, um voto de credibilidade, capaz demudar, metodicamente, ideias ou conceitos errôneos que neleestavam arraigados, podendo transformar, até mesmo, todauma vida! Portanto, não é um compromisso qualquer, semmaiores consequências, até porque, quem assume essa tarefadeixa de ser, apenas, um orador para, transmudar-se emautêntico preceptor da matéria Doutrinária, falando de temasEvangélicos e Sociais profundos e com extremaresponsabilidade.

Lembra André Luiz que "devemos palestrar comnaturalidade, governando as próprias emoções, sem azedume,sem nervosismo e sem momices, posto que a palavra revela oequilíbrio. Devemos, portanto calar qualquer propósito dedestaque, silenciando exibições de conhecimentos. O orador éresponsável pelas imagens mentais que plasme nas mentes queo ouvem."(5)

Referências bibliográficas:

(1) momices significa: Caretas, trejeitos; gesticulaçãogrotesca ou ridícula.

(2) Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios daMediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro:

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Ed. Feb, 2003.(3) Kardec, Allan. "O Evangelho Segundo o Espiritismo", Rio

de Janeiro: Ed. FEB, 2001, cap. XVII - item 4.(4) Franco, Divaldo Pereira, Reflexões Espíritas, ditada pelo

Espírito Vianna de Carvalho, Salvador: Ed. Leal, 1992.(5) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espírito

André Luiz, RJ: Ed. FEB, 1998, Cap. 14.

Uma viagem inesquecível

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Fomos ao Triângulo Mineiro a fim de conhecer o museuChico Xavier em Uberaba, proferir palestra em Sacramento evisitar José Tadeu Silva, da cidade de Araxá. Em seguidapartimos para o interior de São Paulo, a fim de realizarpalestras em Ituverava e Batatais. Em Araxá, conversamos como iluminado José Tadeu Silva, um espírita simples, de famíliahumilde, que desde criança pratica a caridade, visitando osdoentes acamados nas periferias, banhando-os e fazendocurativos, dedicando-se aos necessitados em tempo integral.

Eleusa Hessen, Tadeu e Erika Hessen

Tadeu fundou a Casa do Caminho (1) e um hospital quepresta relevantes serviços de saúde, atendendo a demandapopulacional de Araxá e região.(2) Construiu a Casa de Oraçõescom capacidade para acomodar em média 1000 pessoas. Trata-se de um salão de palestras públicas, com piso de terra batida(isso mesmo, TERRA BATIDA!) que permite uma atmosfera deigualdade entre os ricos, pobres, cultos, analfabetos etc.

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Eleusa Hessen, Tadeu e Jorge Hessen.

O Missionário de Araxá, com sabedoria e serenidade,transmite sempre uma mensagem de esperança e alento aoscorações que o procuram. A todos abraça PESSOALMENTE(aliás, um abraço que é um verdadeiro passe magnético).(3)Após a palestra, a instituição conta com uma farmácia dirigidapor voluntários para distribuição gratuita de remédiosfitoterápicos. E, para o auxílio no tratamento das doençasespirituais, conta com uma biblioteca pública com mais de 5000livros.

Jorge Hessen e Heigorina Cunha.

Em Sacramento, onde fizemos uma palestra, conhecemos opresidente do “Batuira”, Marcos Aurélio, um espíritaextraordinário, que há muitos anos vem aliviando as dores demuitos irmãos.

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"Quarto de Eurípides" (Rinaldo e Jorge Hessen)

Fomos à Chácara Triângulo, onde estão construídas a CasaAssistencial Meimei, Centro Espírita Casa do Caminho, QUARTODE EURÍPEDES (onde Eurípedes Barsanulfo cuidava dosenfermos).

Heigorina Cunha e Jorge Hessen

Conversamos com Heigorina Cunha, sobrinha do apóstolode Sacramento, conhecida como “Sinhazinha” – uma mulherextremamente simples, bondosa, inteligente e humilde. Ela éautora dos desenhos que descrevem como são algumas cidadesespirituais, inclusive a cidade espiritual “Nosso Lar”.

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Centro Espírita Casa do Caminho/Chácara Triângulo

Seus desenhos foram feitos segundo suas observaçõesrealizadas durante suas saídas do corpo (desdobramento), emmarço de 1979, conduzidas e orientadas pelo espírito Lucius.(4)

Seus desenhos foram esclarecidos e legitimados por ChicoXavier, confirmando que realmente se tratava da cidade “NossoLar”. No ano 2010, os desenhos serviram de inspiração para acriação da cidade retratada no filme “Nosso Lar”.

Palestra em Ituverava - Eurípides e Jorge Hessen.

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Palestra em Batatais (Eleusa, Beth, Jorge e Ademar)

Em Ituverava e Batatais percebemos muita harmonia, eapós sete dias de viagem o resultado superou as expectativas erobusteceu as nossas convicções sobre o Movimento Espírita.

Palestra em Sacramento - Rinaldo, Marcos Aurélio, Jorge, AndréLuiz

Deparamos nessas localidades (interior de Minas e SãoPaulo) com um Espiritismo verdadeiramente cristão, umEspiritismo incorruptível, um Espiritismo iluminado peloexemplo de confrades e confreiras humildes, fraternos etrabalhadores.

Testemunhamos uma prática doutrinária, aliás, bastantedesigual do movimento espírita de algumas grandes cidades,onde são planificados eventos “espíritas” (congressos,seminários, encontros fraternos, simpósios) não gratuitos, não

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raro transformados em espetáculos de oratórias, em que sedestacam mercadores ambulantes (mascates), que vendemsuas palestras a preços “modestos” e as suas publicaçõesliterárias para supostas obras sociais, ou ainda, palestrasmusicais cujos artistas vendem CD’s e DVD’s ao final daapresentação.

Espiritismo não gratuito.

Tudo isso nos faz refletir sobre os milhares de espíritas semmuita cultura, humildes, desempregados e pobres; quandoconcebemos que o edifício doutrinário se mantém firme emface do amor desses lídimos e pouco conhecidos baluartes doEvangelho, impossível não nos entristecermos quando secomercializa Espiritismo e se trombeteia os excessos deconsagração das elites culturais.

A compleição elitista nas atividades doutrinárias temexposto a dogmatização dos conceitos espíritas na forma doEspiritismo para pobres, para ricos, para intelectuais e paraincultos. Todavia, não se pode esquecer que devemos estudara Doutrina junto com as pessoas mais humildes, social eintelectualmente falando, e deles nos aproximarmos comsimplicidade, sem cobrar nada.

Sinceramente, não conseguimos compreender a Doutrinados Espíritos sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos eao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira

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Revelação alcance os fins a que se propõe. Não se podedistanciar do povo. É preciso fugir da elitização nas hostesespíritas.

Devemos esquadrinhar a prática espírita pela simplicidadedoutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas,discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis,imunidades e prioridades. É necessário que os líderes espíritascompreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo; porisso mesmo é importante estudar a Doutrina Espírita junto comas massas. Ou será que nossas casas espíritas só devemexplicar o Evangelho aos intelectuais, endinheirados e famosos?

Referências bibliográficas:

(1) A Casa do Caminho era o nome do lugar onde osapóstolos de Jesus, liderados por Pedro, cuidavam de diversosnecessitados. O livro Paulo e Estevão, de Emmanuel/ChicoXavier, faz várias referências a esta Casa. Foi o primeiro emelhor modelo para conduzirmos nossas Instituições Espíritashoje.

(2) Visite o portal do Hospitalhttp://www.casacaminho.com.br/index.htm(3) As palestras na Casa de Oração são frequentadas por

caravanas de todo Brasil(4) Os desenhos poderão ser encontrados nos livros “Cidade

no Além” e “Imagens do Além”, todos de autoria de HeigorinaCunha.

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O abortamento numa expectativa de tétrica cronologiana pátria do evangelho.

Evidenciaremos algumas históricas táticas (arapucasabortistas) arquitetadas sob macabra cronologia (anos apósanos) na Pátria do Evangelho. Não será difícil identificarmos asofensivas das fundações abortistas internacionais, damanipulada ONU, dos mal-intencionados governo brasileiro edas ONGs (criadas no Brasil como estratégias abortistas,patrocinadas por instituições estrangeiras), mirando, desde1988, a implementação de uma agenda externa efinanciamento milionário, no intuito de simplificar o “assassinatode bebês” no útero materno.

Na “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo”, o trabalhosistemático para hasteamento da flâmula abortista iniciou-se nofinal dos anos 80, como disse acima, sempre patrocinado porcapital estrangeiro para criação de redes de ONGs pró-abortono Brasil. Uma das aberturas para a prática do extermínio debebês no útero foi levada a cabo há mais de 20 anos, naimplantação do primeiro serviço de abortos (em casos deestupro) em São Paulo.

Em 1990, através da abjeta Fundação MacArthur, dos(EUA), assessorada por incautos professores da UNICAMP(alguns, membros do Population Council, das organizaçõesRockefeller), iniciou-se o cronograma de trabalho alvitrando aexclusão do Código Penal de todos os dispositivos quepenalizam o abortamento no Brasil.

Na década de 1990, a Fundação Ford instituiu oemblemático conceito de “direitos sexuais e reprodutivos”, epassou a organizar várias ONGs feministas e promotoras do

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ideário do assassinato de bebês no ventre materno, inclusiveinfligindo a nova ideologia da morte na Organização das NaçõesUnidas, que por sua vez deliberou reconhecer, na Conferenciado Cairo, os “direitos sexuais e reprodutivos”, e em 1995aceitou, na Conferência de Pequim, os conceitos fundamentaisda “ideologia de gênero”, passando a pressionar todos ospaíses (que ainda não haviam legalizado o aborto) a liberalizara pena do morte do bebê no ventre materno, denunciando-osde violarem o direito das mulheres sobre seus corpos.

Em 1998, o governo brasileiro sancionou a norma técnicasobre os serviços de assassinato de bebês no útero. Oregulamento, em vez de ser denominado Norma técnica sobreprocedimentos de aborto em casos de estupro, recebeu o“romântico” epíteto de Norma técnica sobre o tratamento dosagravos à violência contra a mulher. A nova regra permitiu eestendeu a prática do aborto (em casos de estupro) do terceiroaté o quinto mês da gravidez. A famigerada norma estabeleceuque para a realização do homicídio do indefeso bebê no úterobasta a apresentação de um “B.O.” (boletim de ocorrênciapolicial) da suposta vítima de “estupro”.

Na ocasião, com o apoio financeiro da execranda FundaçãoMacArthur, foram inaugurados os "Fóruns anuaisinterprofissionais para implementação do atendimento aoaborto previsto na norma técnica", congregando todos osprofissionais envolvidos nos serviços de assassinatos de bebêsno ventre (em casos de abuso sexual).

Em 2005, o governo encaminhou projeto que propunhamatar o neném na barriga materna, por qualquer motivo,durante todos os nove meses da gravidez. Contudo oabominável projeto foi reprovado em 2008, consideradoinconstitucional pela Comissão de Constitucionalidade daCâmara dos Deputados.

Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pelalegalização da interrupção da gravidez nos casos de fetos

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anencefálicos. Obviamente os magistrados da suprema cortedesconhecem que um feto, ainda que "anencéfalo", não podeperder a dignidade nem o direito de (re)nascer.Os causídicos abortistas do "anencéfalo" alegam que nele nãohá um ser humano. Porém, esse juízo jamais poderia seraplicado ao "anencéfalo", "que se compõe em um organismohumano vivo, e por isso a única atitude ajustada com o Direitoà vida é a da compaixão, da indulgência, para com o feto demá formação encefálica.

Ainda que o feto seja portador de outras lesões graves eirreversíveis, físicas ou mentais, o corpo é o instrumento de queo Espírito necessita para sua evolução, pois que somente naexperiência reencarnatória terá condições de reorganizar a suaestrutura, desequilibrada por ações que praticou em desacordocom a Lei Divina. Dá-se, também, que ele se programe em umlar cujos pais, na grande maioria das vezes, estãocomprometidos com o drama e precisam igualmente passar poressa experiência reeducativa.

Em março de 2013, o governo apresentou, para votaçãourgente e imediata, como uma “homenagem” ao DiaInternacional da Mulher, um projeto de lei sobre o "Tratamentodos agravos à violência contra a mulher". No dia 1º de agostode 2013, o governo sancionou a Lei 12.845/2013, conhecidacomo “Lei Cavalo de Tróia”, tornando a prática do abortoobrigatória, em todos os hospitais da rede do SUS.Retomando a discussão sobre a legitimidade ou não do aborto,quando a gravidez é consequente a um ato de violência sexual,compreendemos que quando a mulher não se sinta comestrutura psicológica para gestar e criar o filho, a lei deveriafacilitar e estimular a adoção da criança após nascida, em vezde promover covardemente o seu extermínio no útero.

O Espiritismo, considerando o lado transcendente dassituações humanas, estimula a mãe a levar adiante a gravidez eaté mesmo a criação daquele filho, superando o trauma do

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estupro, porque aquele Espírito reencarnante terápossivelmente um compromisso passado com a genitora.Seria de boa lembrança o governo ter departamentosespecializados de amparo material e psicológico a todas asgestantes, em especial àquelas que ostentam a sobrecarregadaprova do estupro. Portanto, é perfeitamente lógico que o abortoem decorrência de estupro não deva ser autorizado, porque obebê não pode ser punido por fatos não almejados quedeterminaram sua gênese.

Outra questão defendida pelos homicidas de bebês é oaborto “terapêutico”. Se o aborto, em tempos remotos, eracometido a pretexto de “terapia”, obviamente devia-se àignorância médica. O aborto, ainda que supostamente“terapêutico”, é crime. Ademais, por que obstruir o métodoreparador que as Leis do Criador infligem ao espírito que sereencarna com deficiência? Será lícito tolher-lhe a caminhadaevolutiva em razão da insensatez dos exterminadores de bebêsno útero?

O que expõe o Espiritismo sobre as consequências para oEspírito abortado? Explicam-nos os Benfeitores do além, que éuma existência nulificada, e que ele (o abortado) terá querecomeçar o processo reencarnatório. Destarte, a provocaçãodo aborto, em qualquer período da gestação, é delitogravíssimo, é uma transgressão à lei de Deus.

Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempreque tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, porqueque impede uma alma de passar pelas provas a que serviria deinstrumento o corpo que se estava formando. A exclusiva epeculiar ressalva seria quando a gravidez pusesse em risco avida da mãe; nesse caso não haverá dolo em sacrificar-se obebê para salvar a mãe, pois preferível é se sacrifique o ser queainda não existe a sacrificar-se o que já existe.(1)Não nos enganemos, se no Brasil for legalizada a prática doaborto, a “Pátria do Evangelho” sofrerá os ressaibos amargosos

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ante a Lei de Ação e Reação, e todas as demais consequênciasfunestas sobrevindas de tal flagelo moral.

Referência bibliográfica:

(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questões 357 , 358 e359, RJ: Ed. FEB, 2001

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Talismãs, fitinhas do “Senhor do Bonfim” e outrosamuletos num conciso comentário espírita

Para o enredo místico os “talismãs são objetos de proteção,imantados de força magnética, aos quais se atribui um podersobrenatural de realização dos desejos do usuário. Os amuletossão os objetos consagrados através da magia que devem serusados junto ao corpo (anéis, correntes, medalhas). Segundocreem, um objeto sagrado tem uma função (proteger, vincular,aproximar) determinada pela sua forma no plano material(gravura, anel, estátua, medalha, porta-incenso). Por outrolado, a natureza da energia que pode ser canalizada pelo objetovaria de acordo com o símbolo ou divindade que este objetorepresente.” (1)

Acatamos fraternalmente o nível moral de quem usa e crêna eficácia dos talismãs e amuletos; entretanto, quem utilizacristaliza a fé, razão pela qual não recomendamos o uso deimplementos místicos, até porque são inúteis e completamentedispensáveis. Na compreensão espírita, “a virtude dos [talismãse amuletos] de qualquer natureza que seja, não existe senãona imaginação das pessoas crédulas [ingênuas] em suaeficácia.” (2)

O Espiritismo e o magnetismo elucidam uma vastidão defenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-númerode fantasias mitológicas, em que os eventos se oferecemexcedidos pela imaginação. “O conhecimento lúcido dessasduas ciências [Espiritismo e magnetismo] constitui o melhorpreservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela oque é possível e o que é impossível, o que está nas leis daNatureza e o que não passa de ridícula crendice.” (3)

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Os Espíritos Superiores esclarecem que os crédulos naforça do talismã podem atrair seres espirituais de qualquernatureza, posto ser o pensamento a energia induzidora,enquanto o apetrecho é tão somente uma referência queconduz o pensamento. A rigor, “a virtude dos talismãs, dequalquer natureza que sejam, jamais existiu, senão naimaginação das pessoas crédulas.". (4) Deste modo, não hánenhuma palavra sacramental, nenhum sinal cabalístico,nenhum talismã que tenha qualquer ação sobre os Espíritos,porque eles são atraídos somente pelo pensamento e não pelascoisas materiais.

A realidade é que “a natureza do Espírito atraído teráafinidade com a pureza da intenção e da elevação dossentimentos; porém, obviamente, quem assenta fé na virtudede um talismã tem um intento mais material do que moral; issodenota em muitos casos uma inferioridade e fraqueza de ideiasque o expõem aos Espíritos imperfeitos e zombeteiros.”. (5) OsInstrutores espirituais, em todos os tempos, esclareceram sobreo equívoco do emprego de sinais e das formas cabalísticas.Portanto, todo aquele [encarnado ou desencarnado] que lhesatribui uma virtude qualquer ou pretenda valorizar talismãs quetangem para a magia, revela com isso sua inferioridade, estejaagindo de boa fé ou por ignorância.

Não negamos a relativa influência oculta de certos objetosde uso pessoal (jóias, por exemplo) que parecem funestosmagneticamente. Emmanuel explana que os objetos,principalmente de uso pessoal, “têm a sua história viva, e porvezes podem constituir o ponto de atenção das entidadesperturbadas, de seus antigos possuidores no mundo; razãoporque parecem tocados, por vezes, de singulares influênciasocultas, porém, nosso esforço deve ser o da libertaçãoespiritual, sendo indispensável lutarmos contra os fetiches, paraconsiderar tão somente os valores morais do homem na suajornada para o Perfeito.”. (6)

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Os Espíritos que aconselham sinais, palavras extravagantesou receitam determinadas fórmulas secretas são seresprimários que caçoam e brincam com a ingênua credulidadedos incautos. Há pessoas que atribuem poderes às defumaçõesdomésticas a fim de afastar os “maus” espíritos do lar. Será issoeficaz? Obviamente, não! Quando muito, a fumaça poluirá aatmosfera e, quem sabe, espante algumas muriçocas ecarapanãs! Mas quanto aos obsessores, não haverá qualquerefeito. A fuligem defumatória tão somente sinalizará aosespíritos zombeteiros que em tal moradia residem crendices esuperstições, que se traduz em ambiente fértil e facilmenteinfluenciável por eles. Portanto, não exercendo qualquercontrole sobre os Espíritos [bons ou maus], a defumação écompletamente ineficaz para suposta proteção da influência dosEspíritos.

Kardec adverte que “não há [qualquer força sobrenatural],para alcançar esse [ou aquele] objetivo, nem palavrassacramentais, nem fórmulas, nem talismãs, nem quaisquersinais materiais [riscados, cantados, defumados, fitas do Senhordo Bonfim etc.]. Os maus Espíritos disso se riem e se alegramfrequentemente em indicarem [tais apetrechos]. [Tais sereszombeteiros] sempre têm o cuidado de se dizer infalíveis, paramelhor captar a confiança daqueles que querem enganar,porque então esses confiantes na virtude do procedimento, seentregam sem medo.". (7)

Por razões lógicas, o Espiritismo não adota e nem usa emsuas reuniões e em suas práticas: altares, imagens, andores,velas, procissões, sacramentos, concessões de indulgência,paramentos, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso, fumo,talismãs, amuletos, horóscopos, cartomancia, pirâmides,cristais, búzios ou quaisquer outros objetos, rituais ou formasde culto exterior. Até porque os Espíritos são atraídos somentepelo pensamento. Portanto, nenhum talismã, amuleto, palavrasacramental, sinal cabalístico ou qualquer tipo de fórmula

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exterior poderá exercer qualquer influência sobre eles.Respeitamos os que creem na influência dos talismãs dafelicidade pessoal, porém somos convidados a informar que otalismã para a felicidade pessoal, definitiva, se constitui de umbom coração sempre afeito à harmonia, à humildade e aoamor; no integral cumprimento dos desígnios de Deus.

Referência bibliográfica:

(1) Disponível em http://mistico.com/p/talisma/ acesso em23/08/13

(2) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XXV,item 282-17ª, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991

(3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 555, Rio deJaneiro: Ed. FEB, 1994

(4) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XXV,item 282-17ª, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991

(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 553 e 554, Riode Janeiro: Ed. FEB, 1994

(6) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado peloEspírito Emmanuel, perg. 143, Rio de janeiro: Ed. FEB, 1997

(7) Kardec, Allan. Revista Espírita, dezembro de 1862,Brasília: Ed. Edicel, 2002

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Pena de morte, algumas palavras espíritas

Em 399 a.C., o filósofo Sócrates, acusado de “desrespeitaros deuses da cidade” e de “corromper a juventude”, foicondenado pelos atenienses a beber cicuta. O Código deHamurabi, na Babilônia, estabelecia que o arquiteto queconstruísse uma casa sem solidez e viesse a desabar,provocando a morte do proprietário, deveria morrer. Na Romaantiga, pré-Julio César, além de outros suplícios, a pena capitalera executada por decapitação ou enforcamento. Os Hebreuspreferiam a decapitação – para eles, na cabeça estava a culpade delito.

A partir de 1231, a Inquisição vaticanista começa adisseminar terrível sistema repressivo de condenação. O “SantoOfício” foi instituído para assegurar a integridade dos dogmasda Igreja Católica e para vigorar em seu interior. Sua base deinfluência foi ampliada e espalhou-se pelos reinos europeus. Nocaso de heresia, o réu era condenado à morte pela Igreja eexecutado pelo Aparelho do Estado. Dessa forma, a Igreja não“sujava as mãos” de sangue e as autoridades do Governocumpriam um dever religioso.

Em um mundo convulsionado pela violência urbana e deatos terroristas cada vez mais cruéis e impiedosos, o debatesobre a pena de morte acaba sempre surgindo. Esse debateremete à questão de saber se é moral e/ou juridicamente lícito,por parte do Estado, matar para punir nas formas de umprocesso legal.

O primeiro pensador a escrever contra a ideia da pena demorte foi o jurista italiano Cesare Bonesana, marquês deBeccaria (1738-94). Seus precursores só questionavam os

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excessos, não a legitimidade da penalidade. Essa foi a grandeinovação de seu pequeno livro intitulado “Dos delitos e dasPenas”, que sistematizou as críticas aos antigos regimes depunição, estabelecendo premissas que serviriam de base para aedição dos códigos da época moderna.

A maioria dos legisladores, antes do movimento Iluminista,seguia a linha de Drácon, que preconizava: “a pena de morteera justa para os pequenos ladrões e para os outros crimesmais graves, ainda não encontrara, infelizmente, uma penamaior”.

A pena de morte – ou assassinato legalizado - é uma daspossíveis penalidades de que o Estado dispõe como detentor domonopólio da força e das várias maneiras do exercício da lei.Porém, o Estado dispõe de penas alternativas e, portanto, nãoé obrigado a matar para aplicar a lei. Analisar se a pena demorte deve ser imposta, porque é mais intimidatória do queoutro corretivo, é falácia, basta constatarmos os altos índicesde crimes nos Estados norte-americanos que adotam essaprática. A debilidade desse argumento reside no fato de quenão foi obtida nenhuma comprovação segura da forçadissuasória da pena capital. Pensar que a pena de morte iráinibir o criminoso é ledo engano. O criminoso não cogita sobreseu insucesso! Por isso mesmo, sem seus enlouquecidosplanos, nunca são consideradas as consequências jurídicas paraseus atos. Na verdade, o delinquente nunca admite o seupossível fracasso! O êxito, segundo pensa, será dele e nunca dalei!...

Reflitamos que a execução da pena de morte tornairremediável o erro judiciário. Não há tratado sobre a penacapital que não cite casos exemplares da prova da inocência dosuposto culpado, descoberta após a execução do réu. Por isso,muitos afirmam que é melhor que se salve um criminoso doque deixar morrer um inocente. Nos EUA, já foram registradascentenas de condenações errôneas e várias pessoas foram

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executadas e outras apodreceram na prisão. Em 1989, umTribunal de Tóquio declarou a inocência de Masao Akabori,condenado à morte pelo assassinato de uma criança e presodesde 1954. A confissão, que sustentou a sentença, foi obtidaem face das torturas sofridas nas mãos dos policiais. Depois de12.600 dias (34 anos), à espera do enforcamento, Masao foisolto, com a expectativa de receber uma indenização, de quase1 milhão de dólares, do governo japonês.

Por precauções éticas, no Ocidente, debate-se para que apena máxima seja cada vez mais rápida, higiênica e indolor.Comparemos os métodos: a guilhotina é de 1792, a cadeiraelétrica (1889), a Câmara de gás (1923) e, mais recente, ainjeção letal é de 1977; nesse sentido, pode-se afirmar que, emmatéria de execuções “suaves”, entramos na “era da injeçãoletal”, hoje adotada por diversos estados americanos. A RevistaIsto É, de 03 de março de 1999, registra que, no Texas-EUA,em fevereiro de 1999, um júri condenou o racista John WilliamKing à pena de morte por injeção letal. King foi condenado porter matado, com requintes de extrema perversidade, o negroJames Byrd Jr., arrastando-o pelo asfalto, preso à suacamionete.

Da constatação de que “violência gera violência”, éinaceitável qualquer arrazoado mais forte a favor da penamáxima, ainda mesmo diante de crimes horrendos. Hoje, maisdo que nunca, a paz social também se atrela à interrupçãodesse sistema. A abolição da pena máxima é, apenas, umpequeno começo. Mas, é grande o abalo que ela produzirá naprática e na própria concepção dos códigos de justiça do poder(de vida e morte) do Estado.

Lembremos que Deus sempre reserva um lugar para amisericórdia; não tem lógica matarmos um ser humano,mediante pena máxima a ele atribuída, se estaremos agindo,exatamente, conforme fizeram para merecer extremacondenação.

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Segundo o Relatório da Anistia Internacional, das mais de5.000 execuções realizadas em 1996, entre os 94 países queadotam a pena capital, 93% das punições ocorreram em,apenas, 4 países: China, Ucrânia, Rússia e Irã. A China é, delonge, a recordista. Mandou executar, por fuzilamento, 4.400pessoas (85% do total mundial).

Em fevereiro de 1993, o Instituto de Pesquisa Datafolhaverificou, em 122 municípios brasileiros, que 55 % dapopulação era favorável à pena extrema e 38% contra. Porém,essa pesquisa estava sob o impacto de dois crimes de granderepercussão: o assassinato da atriz Daniela Perez, no Rio deJaneiro e o da menina Míriam Brandão, em Belo Horizonte. Osdois crimes espremeram o País para uma situação-limite, atéporque, o levantamento de 17 meses antes, realizado pelomesmo instituto de pesquisa, o número era outro: 46% a favore 43% contra a pena capital. A Constituição protege o cidadãoda vontade da maioria, muitas vezes marcada pelairracionalidade passional. Isso porque, quando ocorrem essescrimes mais violentos, os arsenais da mídia são acionados napolemização do tema. No contexto dessas circunstâncias, apena de morte aparece, sempre, como solução miraculosa.

Pinta-se essa tese com cores tão fortes a ponto de se levarparte da população a acreditar na validade desse flagelo moral,que, a rigor, deveria ter ficado nos tempos dos hominídios.Destarte, devemos ponderar que propor a extinção do crimemarginalizado pelo crime legalizado é demonstrar umaprofunda irracionalidade, poder-se-ia implantar no Brasil umasegregação mais longa (Quem sabe, a prisão perpétua paradeterminados crimes?). Lamentavelmente, dos 58 Estadosnorte-americanos, 38 praticam a pena máxima e cerca de 70%dos americanos se declaram favoráveis à pena de morte.

Os Benfeitores afirmam, em O Livro dos Espíritos, naquestão 760, que “a pena de morte desaparecerá e suasupressão assinalará um progresso da humanidade. Quando os

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homens estiverem mais esclarecidos, a pena de morte serácompletamente abolida na Terra. Não mais precisarão oshomens de ter que ser julgados pelos homens. Refiro-me auma época ainda muito distante de vós”.

O Universo é movido pelo Amor de Deus e, na Sua Criação,o Pai Celeste estabeleceu Leis que nos regem os destinos. Paranós, o modelo de vida é Jesus Cristo! Ele nos ensinou o Perdãoe o Amor ao próximo, como roteiros de paz e justiça para todosos homens.

Referências bibliográficas:

Revista “Isto É” Número 1535, edição de 03/03/1999Jornal Correio Braziliense, Edição de 12/08/1998Jornal de Brasília, Edição de 23/09/1998Jornal Folha de São Paulo, Edição de 26/05/1998Revista O ESPÍRITA/DF Edição de jul/set de 1997Kardec Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. Feb 1997,

questão 760Carvalho Filho Luiz Francisco. O que é a Pena de Morte, São

Paulo: Ed Brasiliense, 1995

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O que pensar dos dizem que "Jesus é somente o emergirde um arquétipo plasmado no inconsciente coletivo"?

Stephen Sawyer, desenhista que vive em Kentucky, EUA,autor das imagens do Cristo com peitoral tatuado, braçosmusculosos, recentemente publicadas na capa do jornal TheNew York Times, inventou o projeto Art4God para tentaraproximar os jovens do “cristianismo”. Sawyer acredita-se umlegítimo pregador (!?...) do Messias de Nazaré. Através delivros, revistas e blogs, Stephen tem viajado os Estados Unidosdivulgando a sua bizarra ideologia, retratando a figura másculade Jesus igualando-O a um super-herói.

Embora os desenhos sejam absolutamente grotescos echocantes, é muito difícil em uma sociedade aberta,democrática e plural como a nossa, evitar expressões comoessas, ou opiniões e teses, tenham elas ou não caráterhistórico, científico, religioso ou moral, público ou privado.Todavia, o Espiritismo preconiza e defende a liberdade deexpressão responsável, ou seja, quando exercida de formajusta e respeitosa, de modo que não venha a agredir oudesmerecer o direito de crença do seu semelhante.

A partir do momento que Deus dotou de razão o homem elhe conferiu o livre-arbítrio, permitiu dessa forma que o mesmoabrace o caminho que espera ser o mais acertado para ele,tornando-o responsável pelas suas preferências. Quem somosnós para impor a quem quer que seja a nossa vontade, ouaquilo que acreditamos ser o melhor? Todavia, quando lemos amatéria relativa à veiculação da imagem de Jesus, igualando-Oaos chamados homens “sarados”, ficamos extremamenteindignados, pois guardamos a certeza de que a memória e

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imagem do Mestre devem ser respeitadas e veneradas noalcance máximo da liberdade humana.

É bem verdade que os espíritas não idolatram nenhummensageiro em pinturas, fotos, esculturas, etc., Mas, essecomportamento de Sawyer cremos ser uma violentaçãogratuita e inteiramente desnecessária como tantos outrosdesrespeitos já praticados sob a “proteção” da vilipendiadaliberdade de expressão, que culmina atingindo o sentimento detodos aqueles que têm Jesus como exemplo de moral, caráter,bondade, amor, humildade.

No que tange à aparência de Jesus, sabe-se que atualmentenão existe uma unanimidade de como ele era realmente. Mas,Públio Lentulos dizia que “Ele era belo de figura e atraia osolhares. Seu rosto inspirava amor e temor ao mesmo tempo.Seus cabelos eram compridos e louros, lisos até as orelhas, edas orelhas para baixo cresciam crespos anelados. Dividia-os aomeio uma risca e chegavam-lhes aos ombros segundo ocostume da gente de Nazareth. As faces cobriam de leve rubor.O nariz era bem contornado, e a barba crescia, um pouco maisescura do que os cabelos, dividida em duas pontas. Seu olharrevelava sabedoria e candura. Tinha olhos azuis com reflexosde várias cores. Este homem amável ao conversar, tornava-seterrível ao fazer qualquer repreensão. Mas mesmo assim sentia-se Nele um sentimento de segurança e serenidade. Ninguémnunca o via rir.” (1)

“Muitos, no entanto, O tinham visto chorar. Era de estaturanormal, corpo ereto, mãos e braços tão belos que era umprazer contemplá-los. Sua Voz era grave. Falava pouco. Eramodesto. Era belo quanto um homem podia ser belo." (2)Como se observa há dois mil anos havia um Homem incomum,entre os milhões de habitantes terrestres... E Esse Homemsingular veio tornar-se o centro da história da humanidade.Muito mais do que isso: Ele se tornou um marco para a históriada humanidade, de tal modo que até o tempo histórico é

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contado tendo-O como referência.Como se não bastasse, em meio à crescente proliferação de

ideias esdrúxulas sobre o Cristo, há infelizmente no seio domovimento espírita os que desejam ver Jesus banido dashostes doutrinárias. São arautos caolhos que têm deturpado alegítima concepção espírita sobre o Meigo Rabi da Galiléia.São bonifrates das trevas que espalham as extravagantes ideiasdo tipo: "Jesus é somente o emergir de um arquétipo plasmadono inconsciente coletivo".

Nos seus devaneios, tais títeres atestam que, de “tudoquanto a civilização cristã reteve de Jesus, nesses dois milênios,muito mais há de mito.” Enxovalham nossas mentes comafirmativa: -"Nosso Jesus não é o mítico Governador doPlaneta, aquele que vive, entre Anjos e Tronos, na bela ficçãoliterária de Humberto de Campos" e, ainda, regurgitam outraspérolas frasais como: -"Nosso Jesus, inteiramente homem, nãoevoluiu em linha reta" e, mais ainda, vociferam: -"Jesus nãocriou nenhuma nova moral. Apenas interpretou,adequadamente, aquela que sempre esteve no coração dohomem por todos os tempos e lugares.”! Que talento! Tratam,o mais supremo dos seres da criação como um "João ninguém".

Na Terra, onde se multiplicam as conquistas da inteligência(algumas resvalam e se enterram nas valas profundas dasretóricas vazias) e fazem-se mais complexos os quadros dosentimento amarfanhado no materialismo, saibamos que Ele(Jesus) no campo da Humanidade [foi o único] orientadorcompleto, irrepreensível e inquestionável, que renunciou àcompanhia dos anjos para viver e conviver com os homens.

Nos tempos áureos do Evangelho o apóstolo Pedro,mediunizado, definiu a transcendência de Jesus, revelando queEle era "o Cristo, o Filho de Deus vivo" (3). No século XIX oEspírito de Verdade atesta ser Ele "o Condutor e Modelo doHomem" (4). Para o célebre pedagogo e gênio de Lyon, oCristo foi "Espírito superior da ordem mais elevada, Messias,

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Espírito Puro, Enviado de Deus e, finalmente, Médium deDeus."(5) Não há dúvidas que Jesus foi o Doutrinador Divino(6) e por excelência o "Médico Divino", segundo André Luiz.(7) Por sua vez, Emmanuel o denomina de "Diretor angélico doorbe e Síntese do amor divino". (8)

Para a maioria dos teólogos, Jesus é objeto de estudo, nasletras do Velho e do Novo Testamento, imprimindo novo rumoàs interpretações de fé. Para os filósofos, Ele é o centro depolêmicas e cogitações infindáveis. Para nós espíritas, Jesus foi,é e será sempre a síntese da Ciência, da Filosofia e da Religião."Tudo tem passado nestes dois mil anos, na Terra- mas a [Sua]Palavra brilha como um Sol sem ocaso, guiando as ovelhastresmalhadas, os cordeiros perdidos do Rebanho de Israel àporta do aprisco, para restituí-los ao Bom Pastor". (9)

O Espiritismo vem colocar a Mensagem do Cristo nalinguagem da razão, com explicações racionais, filosóficas ecientíficas, mas, vejamos bem, sem abandonar, sem deixar delado o aspecto emocional que é colocado na sua expressãomais alta, tal como o pretendeu Jesus, ou seja o sentimentosublimado, demonstrando assim que o sentimento e a razãopodem e devem caminhar pela mesma via, pois constituem asduas asas de libertação definitiva do ser humano.

Inobstante não ser a experiência humana uma estação deprazer, por isso, continuemos trabalhando no ministério doCristo, recordando que, por servir aos outros, com humildade,sem violências e presunções, Ele foi tido por imprudente erebelde, transgressor da lei e inimigo da população, sendoescolhido por essa mesma multidão para receber com a cruz agloriosa coroa de espinhos, mas sob o influxo do bom ânimoEle venceu o mundo!

O Cristo é o modelo de virtudes para todos os homens . Emais ainda. Jesus Cristo é incomparável em face da dedicação ea santidade que Ele dispensa à Humanidade. Nós, que aindaestamos mergulhados nos pântanos das questiúnculas

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teológicas, não temos parâmetros para avaliar a Sua magnaimportância para o Espiritismo, isto porque a Sua excelsitude seperde na escura bruma indevassável dos milênios. Dizemosmais: O Espiritismo sem Jesus pode alcançar as brilhantesexpressões acadêmicas, mas não passará de atividade fadada amodificar-se ou desintegrar-se, como todas as conquistassuperficiais da Terra. E o espírita cristão, que não cogitou dasua iluminação com o Evangelho do Mestre, pode ser virtuoseda inteligência, Phd de qualquer coisa e filósofo, com as maissubidas aquisições científicas, mas estará sem bússola e semnorte no momento do “furacão” inevitável da dor moral.

Temos dito!Jorge Hessen

Referências bibliográficas:

(1) Descrição tradicional feita pelo pró-consul PúbliosLentulos

(2) idem(3) Mt 13, 16-17.(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001,

pergunta 625(5) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 1998, XV, item 2(6) Xavier, Francisco Cândido. (Os Mensageiros, Ditado pelo

Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 2000, cap. 27)(7) Xavier, Francisco Cândido. Missionário da Luz, Ditado

pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB 2003, cap. 18(8) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo

Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB 2001, 283 e 327.(9) SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e ensinos de Jesus, SP: ed.

O Clarim-Matão, 1993, p. s/n

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O suicídio é a negação absoluta da lei do amor

Em Taiwan, a fabricante de eletrônicos Foxconn “anunciouque vai contratar dois mil profissionais de saúde mental paratentar conter uma onda de suicídios em suas fábricas naChina”(1). A empresa conta com 700 mil funcionários - cerca de300 mil deles na China -, fabrica vários produtos paramultinacionais, como o celular iPhone, da Apple, os consoles degames PlayStation, da Sony, Wii, da Nintendo, e Xbox, daMicrosoft, e o leitor eletrônico Kindle, da Amazon.

Na França, como se não bastasse o preocupante “Dianacional de prevenção ao suicídio”, a Justiça francesa estáinvestigando a onda de suicídios na operadora de telefoniaFrance Telecom. Nos últimos dois anos, 46 funcionários dacompanhia se mataram - 11 deles apenas em 2010, segundodados da direção da empresa e dos sindicatos.

Nos EUA a Universidade de Cornell, no estado americano deNova York, lançou recentemente uma campanha de prevençãoao suicídio. A Universidade já carrega há muito tempo a famanegativa de ser uma escola marcada por suicídios. Entre 2000 e2005, houve 10 casos de suicídio confirmados na Cornell.

O número de suicídios na Terra estarrece, senão vejamos:há dez anos foram “815.000 pessoas que cometeram suicídio.Países do Leste Europeu são os recordistas em média desuicídio por 100.000 habitantes. A Lituânia (41,9), Estônia(40,1), Rússia (37,6) (a taxa de suicídio na Rússia é a segundano mundo, abaixo somente da Lituânia e leste europeu),Letônia (33,9) e Hungria (32,9). Guatemala, Filipinas, e Albâniaestão no lado oposto, com a menor taxa, variando entre 0,5 e2. Os demais estão na faixa de 10 a 16. Em números absolutos,

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porém, a República Popular da China lidera as estatísticas.Foram 195 mil suicídios no ano de 2000, seguido pela Índiacom 87 mil, os Estados Unidos com 31 mil, o Japão com 20 mil(em 2008 o suicídio entre jovens bateu novo recorde noJapão)e a Alemanha com 12,5 mil” (2).

O suicídio é um ato exclusivamente humano e está presenteem todas as culturas. Suas matrizes causais são numerosas ecomplexas. Alguns veem o suicídio como um assunto legítimode escolha pessoal e um direito humano (absurdamenteconhecido como o "direito de morrer"), e alegam que ninguémdeveria ser obrigado a sofrer contra a sua vontade, sobretudode condições como doenças incuráveis, doenças mentais eidade avançada que não têm nenhuma possibilidade demelhoria.

Nenhuma religião admite o suicídio. Essa unanimidadeevidencia tratar-se de algo contrário às leis divinas. Mas,algumas seitas paranóicas fazem cultos ao suicídio, como aOrdem do Templo Solar, a Heaven’s gate, a Peoples Temples eoutras. Entre os adeptos “notáveis” dessa escola depensamento estão incluídos o filósofo pessimista ArthurSchopenhauer, Friedrich Nietzsche, e o empirista escocês DavidHume.

Sob o ponto de vista sociológico, o suicídio é um ato que seproduz no marco de situações anômicas(3), em que osindivíduos se veem forçados a tirar a própria vida para evitarconflitos ou tensões inter-humanas, para eles insuportáveis. Emverdade para os espíritas o "suicídio é o ato sumamentecovarde de quem opta por fugir, despertando em realidademais vigorosa, sem outra alternativa de escapar"(4).

O suicida não quer matar a si próprio, mas alguma coisaque carrega dentro de si e que, sinteticamente, pode sernominado de sentimento de culpa e vontade de querer mataralguém com quem se identifica. Como as restrições morais oimpedem, ele acaba se autodestruindo. Assim, o suicida mata

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uma outra pessoa que vive dentro dele e que o incomoda,profundamente. O pensador Émile Durkheim teoriza que a"causa do suicídio, quase sempre, é de raiz social, ou seja, oser individual é abatido pelo ser social. Absorvido pelos valores[sem valor], como o consumismo, a busca do prazer imediato,a competitividade, a necessidade de não ser um perdedor, deser o melhor, de não falhar, a pessoa se afasta de si mesmo ede sua natureza. Sobrevive de ‘aparências’, para representarum ‘papel social’ como protagonista do meio. Nessa vivêncianeurotizante, ele deixa de desenvolver suas potencialidades,não se abre, nem expõe suas emoções e se esmaga na suaintimidade solitária"(5).

Curiosamente, há casos e casos. Em incêndios de edifícios,algumas pessoas presas em andares superiores, têm puladopara a morte, ante a proximidade das chamas. Não podemosconsiderar essa situação como um ato suicida. Há apenas umgesto instintivo de fuga. O calor, nessa situação, é tão intensoque, literalmente, pode levar a pessoa ao estado de absolutainconsciência.

Situação grave que merece ser analisada é a obsessão quepode ser definida como um constrangimento que um indivíduo,suicida em potencial ou não, sente, pela presença perturbadorade um obsessor (encarnado ou desencarnado). Há suicídios quese afiguram como verdadeiros assassinatos, cometidos porperseguidores desencarnados (e encarnados também). Essesseres envolvem de tal forma a vítima que a induzem a matar-se. Obviamente que o suicida nesse caso não estará isento deresponsabilidade. Até porque um obsessor não obriga ninguémao suicídio. Ele sugere telepaticamente ao ato, porém a decisãoserá sempre do autocida.

A simples ideia, repetida várias vezes, leva o indivíduo àfascinação, à subjugação, e, por fim, ao suicídio. Emmanueladverte que o suicídio é como alguém que “pula no escurosobre um precipício de brasas. Após o ato, sobrevêm ao infeliz

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a sede, a fome, o frio, o cansaço, a insônia, os irresistíveisdesejos carnais, a promiscuidade e as tempestades comconstantes inundações de lamas fétidas”(6). Em verdade, "detodos os desvios da vida humana o suicídio é, talvez, o maiordeles pela sua característica de falso heroísmo, de negaçãoabsoluta da lei do amor e de suprema rebeldia à vontade deDeus, cuja justiça nunca se fez sentir, junto dos homens, sem aluz da misericórdia"(7)

Refletindo sobre a questão 945 de "O Livro dos Espíritos",que pensar do suicídio que tem por causa o desgosto da vida?Os Espíritos responderam: "Insensatos! Por que nãotrabalhavam? A existência não lhes seria uma carga!"(8) Osuicídio é a mais desastrada maneira de fugir das provas ouexpiações pelas quais devemos passar. É uma porta falsa emque o indivíduo, julgando libertar-se de seus males, precipita-seem situação muito pior. Arrojado violentamente para o além-túmulo, em plena vitalidade física, revive, intermitentemente,por muito tempo, as chicotadas de consciência e sensações dosderradeiros instantes, além de ficar submerso em regiões depenumbras, onde seus tormentos serão importantes para osacrossanto aprendizado, flexibilizando-o e credenciando-o arespeitar a vida com mais empenho.

Na literatura espírita encontramos livros que comentam oassunto. Temos como exemplo: "O Martírio dos Suicidas", deAlmerindo Martins de Castro, e "Memórias de um Suicida",ditado pelo Espírito Camilo e psicografado por Yvonne A.Pereira. O mestre de Lyon, em o livro "O Céu e o Inferno" deixaenorme contribuição em exame comparado das doutrinas sobrea passagem da vida corporal à vida espiritual e,especificamente, no capítulo V, da Segunda parte, onde abordaa questão dos suicidas.

Quando um indivíduo perde a capacidade de se amar,quando a autoestima está debilitada, passa a ter dificuldade demanter a saúde física, psíquica e somática. André Luiz explica

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que "os estados da mente são projetados sobre o corpoatravés dos bióforos que são unidades de forçapsicossomáticas, que se localizam nas mitocôndrias. A mentetransmite seus estados felizes ou infelizes a todas as células donosso organismo, através dos bióforos. Ela funciona ora comoum sol irradiando calor e luz, equilibrando e harmonizandotodas as células do nosso organismo, e ora como tempestades,gerando raios e faíscas destruidoras que desequilibram o ser,principalmente em atingindo as células nervosas"(9).

O mais grave é que o suicida acarreta danos ao seuperispírito. Quando reencarnar, além de enfrentar os velhosproblemas ainda não solucionados, verá acrescida anecessidade de reajustar a sua lesão perispiritual. Portanto,adiar dívida significa reencontrá-la mais tarde, com juroscuidadosamente calculados e cobrados, sem moratória. Aquestão 920, de O Livro dos Espíritos, registra que a vida naTerra foi dada como prova e expiação, e depende do própriohomem lutar, com todas as forças, para ser feliz o quantopuder, amenizando as suas dores(10).

Ante o impositivo da Lei da fraternidade, devemos orarpelos nossos irmãos que deram fim às suas vidas,compadecendo-nos de suas angústias, sem condená-los. Atéporque, todos os suicidas, sem exceção, lamentam o atopraticado e são acordes na informação de que somente aoração em seu favor alivia as atrozes dores conscienciais emque se encontram e que lhes parecem eternas.

Referências bibliográficas:

(1) Cf. informa a edição online do jornal de Hong KongSouth China Morning Post.

(2) Disponível emhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Suic%C3%ADdio.(3) Anomia é um estado de falta de objetivos e perda de

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identidade, provocado pelas intensas transformaçõesocorrentes no mundo social moderno.

(4) Franco, Divaldo, Momentos de Iluminação, Ditado peloEspírito Joanna de Angelis, RJ: ed. FEB.

5) Durkheim, Emile. Título: El SUICÍDIO. P.imprenta:Tlahuapan, Puebla. Premiá. 1987. 343 p. Edición; 2a ed.Descriptores: SUICÍDIO. Sociología. Aspectos psicológicos.

(6) Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Leis Do Amor,ditado pelo espírito Emmanuel, Ed. FEESP, 1970.

(7) Xavier, Francisco Cândido, O Consolador, Ditado peloEspírito Emmanuel RJ: Ed. FEB - 13ª edição pergunta 154.

(8) Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 2001,perg. 945.

(9) Xavier, Francisco Cândido, Missionário da Luz, Ditadopelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB 2003.

(10) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 2002,pergunta 920.

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No reino de momo a carne nada vale

Sem querer ditar regras de falsos purismos e cansativossermões encharcados de ladainhas, não nos furtamos decomentar sobre mais um período momesco que se aproxima.Tradicionalmente, são três dias que antecedem à Quaresma[período de quarenta dias, que vai da Quarta-Feira de "Cinzas"até o Domingo de Páscoa, consoante preceito catolicista] queinstalou-se com vigor descomunal em todo o País. Muitoscreem que as "cinzas" são o que sobra do "enterro da tristeza",em face dos três dias de "alegria", ou, ainda, tudo que sobroudo tal espetáculo. Em verdade, a única cinza que o cristãodeveria encontrar seria aquela que representa a cremação doseu passado de erros, pulverizado por um presente de acertose esforços no sentido do progresso real.

Carnaval é um termo oriundo de uma festa romana eegípcia em homenagem ao Deus Saturno, quando carrosalegóricos (a cavalo) desfilavam com homens e mulheres. Eramos carrum navalis, daí a origem da palavra "carnaval". Há queminterprete a palavra conforme as primeiras sílabas das palavrasda frase: carne nada vale. Como festa popular, poderia ser umacontecimento cultural plausível, não fossem os excessoscometidos em nome da alegria. Quando se pretende alcançaressa alegria, através do prazer desregrado e dos excessos detoda ordem, o resultado é a insatisfação íntima, o vazio interiorprovocado pelo desequilíbrio moral e espiritual. Portanto, nãofossem os exageros, o Carnaval, como festa de integraçãosócio-racial, poderia tornar um acontecimento relativamenteaceitável, até porque, não admitir isso é incorrer em erro deintolerância. Porém, merece reflexão a advertência de André

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Luiz: "Afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas queassinalam a passagem do CARNAVAL, inclusive as que sedestaquem pelos excessos de gula, desregramento oumanifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegrianão foge da temperança." (1) (destacamos)

É o momento em que o espírito humano pode exteriorizar oque há de mais profundo, de mais primitivo em si mesmo. Aebulição momesca é evento que carrega, em si, a carga dabarbárie e do primitivismo que ainda reina entre nós, osencarnados, marcados pelas paixões do prazer violento.Costuma ser chamado de folia que vem do francês folle quesignifica loucura ou extravagância.

Já "foi um dia a comemoração dos povos guerreiros,festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, naGrécia clássica, quando a festa se chamava bacanalia; na velhaRoma dos césares, fortemente marcada pelo aspecto pagão,chamou-se saturnalia e, nessas ocasiões, imolava-se umavítima humana." (2) Nos dias conturbados de hoje, sabe-se que"(...) de cada dez casais que caem juntos na folia, seteterminam a noite brigados (cenas de ciúme, etc.); que, dessesmesmos dez casais, posteriormente, seis se transformam emadultério, cabendo uma média de três para os homens e trêspara as mulheres (por exemplo); que, de cada dez pessoas(homens e mulheres, no caso) no carnaval, pelo menos sete sesubmetem espontaneamente a coisas que normalmenteabominam no seu dia a dia, como álcool, entorpecente, etc.Dizem, ainda, que tudo isso decorre do êxtase atingido naGrande Festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade,mas, também, da orgia e depravação, somadas ao abuso doálcool, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal(...)" (3) O Espírito Emmanuel adverte: "Ao lado dosmascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos,as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (...)Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios

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de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuiçõespara que os salões se enfeitem."(4)

Quando nos damos aos exageros de toda sorte, asinfluências perniciosas se intensificam e, muitas vezes,deixamo-nos dominar por espíritos maléficos, ocasionando osinfelizes fatos de todos os tipos de violências. Nesse cenário, osobsessores "influenciam, durante o Carnaval, os incautos quese deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os aexcessos lamentáveis, comuns por essa época do ano, eatravés dos quais eles próprios, os Espíritos, se locupletam detodos os gozas e desmandos materiais, valendo-se, para tanto,das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dosmesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram." (5)

Portanto, além da companhia de encarnados, vincula-se anós uma inumerável legião de seres invisíveis, recebendo delesboas e más influências a depender da faixa de sintonia em quenos encontremos. As tendências ao transtorno comportamentalde cada um, e a correspondente impotência ou apatia emvencê-las, são qual imã que atrai os espíritos desequilibrados efomentadores do descaso à dignidade humana, que, em suma,não existiriam se vivêssemos no firme propósito de educar aspaixões instintivas que nos animalizam. Diante disso, Emmanuelratifica a admoestação: "É lamentável que na época atual,quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidadehumana, fornecendo-lhes a chave maravilhosa dos seuselevados destinos, descerrando-lhes as belezas e os objetivossagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza[CARNAVAL] entre as sociedades que se pavoneiam com ostítulos da civilização." (6) (destaque nosso)

Será válido fechar as portas dos centros espíritas nos diasde Carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões? Existemalguns centros que fecham suas portas nos feriados do carnavalpor vários motivos não razoáveis. Repensemos: uma pessoacom necessidades imediatas de atendimento fraterno, ou dos

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recursos espirituais urgentes em caso de obsessão, seriafraterno fazê-la esperar para ser atendida após as "cinzas",uma vez ocorrendo essa infelicidade em dia de feriadomomesco? Convém lembrar que Jesus curava aos sábados,mesmo que o costume da época não permitisse. Por issomesmo, Ele disse: "Por que não posso curar aos sábados semeu Pai trabalha sempre?". (7)

Os foliões inveterados alegam que o carnaval é umextravasador de tensões, liberando as energias... Todavia, noperíodo carnavalesco, não encontramos diminuídas as taxas deagressividade e as neuroses. O que se vê é um verdadeirosomatório da violência urbana e de infelicidade familiar. Asestatísticas registram como consequências do "reinado deMomo", por exemplo, gravidezes indesejadas e a consequenteproliferação de abortos provocados, acidentes automobilísticos,aumento da criminalidade, estupros, suicídios, incremento douso de diversas substâncias estupefacientes e de alcoólicos,assim como o surgimento de novos viciados, disseminação dasdoenças sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e asulcerações morais, marcando, profundamente, certas almasdesavisadas e imprevidentes.

Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em trêsséculos de penosas reparações. É bom pensarmos um pouconisto: o que o carnaval traz ao nosso Espírito? Alegria?Divertimento? Cultura? Será que o apelo de Momo faz de nóshomens ou mulheres melhores? Edifica o nosso Espírito? Muitosespíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festasde Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum malacarreta à nossa integridade fisiopsicoespiritual. No entanto,por detrás da aparente alegria e transitória felicidade, revela-seo verdadeiro atraso espiritual em que ainda vivemos, pelaexplosão de animalidade que ainda impera em nosso ser. Éimportante lembrá-los de que há muitas outras formas dediversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem

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contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria salutar eaprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha.

Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da"abstinência sincera dos folguedos", do controle das sensaçõese dos instintos, da canalização das energias, empregando otempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo, oentrosamento com os familiares, o aprendizado através delivros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniõesespíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo odescanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vezmais, preparo e estrutura físico-psicológica para os embatespela sobrevivência.

Em síntese, se o Carnaval é uma ameaça ao bem-estarsocial, nós espíritas temos muito a ver com ele, porque umadas tarefas primordiais de nossa Doutrina é a de lutar pordispositivos de preservação dos valores mais dignos daSociedade, sem que se violente, obviamente, o direito soberanodo livre-arbítrio de cada um, mas não nos esquecendo que nocarnaval sempre ocorre obsessão (espiritual) como resultado dainvigilância e dos desvios morais. Somente poderemos garantira vitória do Espírito sobre a matéria, se fortalecermos a nossafé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldesdos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo, e nãoesquecendo os divinos conselhos do Mestre: "Vigiai e orai, paraque não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto,mas a carne é fraca''(8)

Referências bibliográficas:

(1) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo EspíritoAndré Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 "Perante AsFórmulas Sociais"

(2) Artigo publicado na Revista Visão Espírita - Março de2000

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(3) São José Carlos Augusto. Carnaval: Grande Festa...Deenganos!, Artigo publicado na Revista Reformador/FEB-Fev1983

(4) Xavier, Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagemditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador,Publicação da FEB fevereiro/1987

(5) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro:cap. V, edição da FEB, 1998

(6) idem(7) João 5:17(8) Mt 26:41

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SOB O IMPÉRIO DE MOMO A “CARNIS” COBIÇA"VALLES" - É CARNAVAL!

A cada ano pessoas mergulham numa falsa felicidade de 3dias de “folia” (1) seguida de 362 dias de novas e reconstruídasaflições. Será lícito confundir “diversão” passageira com alegriareal? O carnaval é um desses delírios coletivos que costumamser classificados como “extravasadores de energias reprimidas”– será mesmo? Em verdade o entrudo (2) representa omomento em que pessoas projetam o que há de mais irracionale de mais incivilizado em si mesmas.

Há quem afirme ser o período do carnaval marcado pelo"adeus à carne", ou do latim "carne vale", dando origem àpalavra. Embora não haja unanimidade entre os estudiosos, aterminologia pode estar associada à ideia de encanto dosprazeres do corpo (carnal) marcado pela expressão "carnisvalles", sendo que "carnis" em latim significa carne e "valles"significa prazeres.

Já foi no passado a comemoração dos povos guerreiros,festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, naGrécia clássica (bacanália); na velha Roma imolava-se nessasocasiões uma vítima humana (saturnália); na Idade Média erauma comemoração adotada pela Igreja romana, no século VI.Isso nos remete ao início do período da quaresma, uma pausade 40 dias nos excessos cometidos durante o ano (mormentealimentação). (3) Assim, em sua origem não era apenas umperíodo de reflexão espiritual, como também uma época deprivação de certos alimentos como a carne.

Em Roma, em homenagem ao Deus Saturno, carros

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alegóricos (a cavalo) desfilavam com homens e mulheres.Eram os carrum navalis. O termo carnaval pode derivar dasiniciais da frase: “carne nada vale”. Outra interpretação para aetimologia da palavra é a de que esta derive de currus navalis,expressão anterior ao Cristianismo e que significa carro naval.(4)

Há muitos séculos o carnaval era marcado por grandesfestas, em que se comia, bebia e participava de frenéticascelebrações e busca incessante dos prazeres. (5) Prolongava-sepor sete dias (de dezembro) nas ruas, praças e casas da antigaRoma. Todas as atividades e negócios eram suspensos nesseperíodo; os escravos ganhavam liberdade temporária para fazero que quisessem e as restrições morais eram relaxadas. Um reiera eleito por brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas(saturnalicius princeps).

O carnaval atual é modelado na sociedade da corte(vitoriana) do século XIX. A cidade de Paris foi o principalmodelo exportador da homenagem a Momo para o mundo.Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro seinspirariam no carnaval parisiense para implantar suas novasfestas carnavalescas.

Um fato é incontestável: a cultura do carnaval estabelecetudo o que aguça o primarismo humano, volúpia, sensualidadee prazer. Não propomos quaisquer normas proibitivas ourestrição de anseios pessoais. Até porque temos o livre arbítrio,e viver na Terra é fazer as escolhas pessoais. Sem medo decorrer o risco de ser taxado de moralista, lembro que a Lei deCausa e Efeito preconiza a obrigatoriedade da colheita em tudoo que foi semeado livremente.

Para todas as situações da vida, lembremos sempre darecomendação de Paulo de Tarso: “Todas as coisas me sãolícitas”. (6) Há os que julgam que a participação nas festas deMomo nenhum mal acarreta à integridade fisiopsicoespiritual.Divergimos desse ponto de vista.

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A Doutrina Espírita nada proíbe, nem nada obriga, nemcensura o carnaval; mas igualmente, não endossa suarealização. Sabe-se que durante a folia de Momo sãoperpetrados abusos de todos os tipos e, mormente,desregramentos da carga erótica de adolescentes, jovens,adultos e até velhos (mal resolvidos); há consumo exageradode álcool e outras drogas, instalação da bestialidadegeneralizada, excessos esses que atraem espíritos vinculadosao deletério parasitismo magnético, semelhantes às hienasdiante de carcaças deterioradas (carniças).

É verdade! A Doutrina Espírita nem apoia nem condena ocarnaval; todavia clarifica muitos aspectos ligados ao evento.Inobstante não dite regras coercitivas, cremos que o espíritadeve ter completa ciência das implicações infelizes advindasdesses festejos alucinantes. Logicamente não precisa secondenar o carnaval, nem temer por acreditá-lo uma festa“diabólica”; não precisa evadir-se por receio de atração dosseus “encantos”, porém vigiar à distância da agitação. Se seaprecia o folguedo de Momo, deve-se ser um observador atentoe equilibrado.

Não fossem os exageros, o carnaval, como festa deintegração sociocultural, poderia se tornar um acontecimentocompreensível, até porque não admitir isso é incorrer em errode intolerância. Há muita gente que busca fazer do carnaval ummomento de esperança, oportunizando empregos, abrigandomenores, e isso é muito valioso. Entretanto, o grande saldo dafesta se resume em três palavras: violência, ilusão esensualidade.

Particularmente, não vejo outro caminho que não seja o da“abstinência sincera das folias”. O ideal seria o emprego doferiadão para a descoberta de si mesmo, entrosamento com osfamiliares, leitura de livros instrutivos, frequência a reuniõesespíritas, participação em eventos educacionais, culturais oumesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige,

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cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para osembates pela sobrevivência.

Não há como “tapar o sol com a peneira” e ignorar quenesses períodos os foliões fascinados surgem de todos osantros para busca da perversão. A efervescência momesca éepisódio que satura em si a carga da barbárie e doprimitivismo. Há os que aniquilam as finanças familiares paraexperimentar o momento efêmero de “desfrutar” dias de totalparanóia. Adolescentes, adultos e decrépitos se abandonam nasarapucas pegajosas das estéreis fanfarras. Não percebem quebandos de malfeitores do além (obsessores) igualmentecolonizam as “avenidas e ruas” num lúgubre show de bizarrices.Malfeitores das penumbras espirituais se acoplam aos histriõesfantasiados pelos fios invisíveis do pensamento por causa dosentulhos lascivos que trazem na intimidade.

Todos estamos sob influências das entidades do além-túmulo. Muitas fantasias de expressões ridículas são inspiradaspelos espíritos que vivem em regiões penumbrosas do além. Osespíritos excitam “nossos pensamentos e ações e essainfluência é maior do que imaginamos porque, frequentemente,são eles [os espíritos] que nos conduzem”. (7) Pode parecerassustador tal afirmativa, ainda mais que se tem tais espíritos àconta de “demônios”.

Os três dias de Momo, portanto, poderão se transformar emtrês séculos de penosas reparações. Será que vale a penapagar preço tão elevado? Os foliões incuráveis declaram que ocarnaval é um extravasador de tensões, “liberando asenergias”… Entretanto, no carnaval não são abrandadas astaxas de agressividade e nem as neuroses. O que se observa éum somatório da bestialidade urbana e de desventuradoméstica. Após os festejos surgem as gravidezes indesejadase a consequente proliferação de abortos, incidem gravesacidentes de trânsito, acréscimo da criminalidade, estupros,suicídios, ampliação do consumo de várias substâncias

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estupefacientes, alcoólicos, assim como o surgimento denovos drogados, disseminação das enfermidades sexualmentetransmissíveis (inclusive a AIDS).

Existem muitas outras formas de diversão, recreação ouentretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, algumasverdadeiros meios de alegria salutar e aprimoramento(individual e coletivo), para nossa escolha. Para os espíritas,merece reflexão a advertência de André Luiz: “Afastar-se defestas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagemdo CARNAVAL, inclusive as que se destaquem pelos excessosde gula, desregramento ou manifestações exterioresespetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança.”.(8) [grifamos]

Existem alguns centros espíritas que fecham suas portasnos feriados do carnaval por diversos pretextos inaceitáveis.Repensemos o seguinte: uma pessoa com necessidadesimediatas de atendimento fraterno ou dos recursos espirituaisurgentes em caso de obsessão – seria lógico fazê-la esperarpara ser atendida após as "cinzas", uma vez ocorrendo essainfelicidade em dia de feriado momesco?

Como nosso imperativo maior é a Lei de Evolução, um diatudo isso, todas essas manifestações ruidosas que marcamnosso estágio de inferioridade desaparecerão da Terra. Em seulugar então predominarão a alegria pura, a jovialidade, asatisfação, o júbilo real, com o homem despertando para abeleza e a arte, sem agressão nem promiscuidade.

Referências bibliográficas:

(1) Do francês folle, que significa loucura ou extravagânciasem que tenha existido perda da razão

(2) O entrudo chegou ao Brasil por volta do século XVII efoi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam naEuropa. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em

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formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavammáscaras e fantasias.

(3) Excessos esses que incluem, segundo a crença da igrejaromana, a alimentação

(4) Esta interpretação baseia-se nas diversões próprias docomeço da Primavera, com cortejos marítimos ou carrosalegóricos em forma de barco, tanto na Grécia como em Romae, posteriormente, entre os teutões (povos germânicos queviveram no centro e norte da Europa).

(5) A Festa do deus Líber em Roma; a Festa dos Asnos queacontecia na igreja de Ruan no dia de Natal e na cidade deBeauvais no dia 14 de janeiro, entre outras inúmeras festaspopulares em todo o mundo e em todos tempos, têm estamesma função.

(6) I Coríntios 10:23(7) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 460, RJ: Ed

FEB, 1990(8) Xavier, Francisco Cândido e Vieira Waldo. Conduta

Espírita, ditado pelo espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 1999