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Pushin' the limits - Jazz e a década de 1960

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“Não somos homens com raiva. Fomos enfurecidos. Vocês não podem mais impedir o meu sonho. Eu vou cantá-lo.

Dançá-lo. Gritá-lo. E se for necessário, o roubarei da própria terra.”

Archie Shepp, 1966.

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Henrique Mendonça NakamuraHenrique Mendonça NakamuraHenrique Mendonça NakamuraHenrique Mendonça Nakamura

São Paulo | Novembro de 2009São Paulo | Novembro de 2009São Paulo | Novembro de 2009São Paulo | Novembro de 2009

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Pushin’ the Limits!Pushin’ the Limits!Pushin’ the Limits!Pushin’ the Limits!

e a década de 1960e a década de 1960e a década de 1960e a década de 1960

IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

O jazz é um campo de batalha. Não há uma linha evolutiva que possa descrever seu

"progresso" rumo a uma possível evolução musical. Em todos os seus momentos, desde o

início do século XX, não houve no jazz uma linha única que o conduzisse rumo ao

desenvolvimento. Pelo contrário, é ainda hoje um terreno no qual se interrelacionam as

mais variadas propostas, do saudosismo à experimentação, do tradicionalismo ao avant-

garde, da pureza à fusão. E esse terreno passou e ainda passa por incríveis mutações, tanto

de estilo, conteúdo ou público. O jazz reflete a história do século XX, pois seus metais,

madeiras, baquetas, cordas e teclas marcaram o ritmo da Era dos Extremos, penetrando nas

casas e clubes através das ondas do rádio ou através de 78, 45 e 33 rotações, gerando reações

de euforia ou comentários reprovadores de tal arte “vulgar”, dando base para o que se

tornaria a música popular, alterando a moda, a cultura e o comportamento e a relação entre

as gerações, os gêneros e as classes sociais, agregando identidade ou diferenciação.

O objetivo deste trabalho é realizar um debate de História Social da Arte a respeito

dos impasses, conflitos, ambições e frustrações que o jazz - enquanto uma forma de música

popular de raiz negra norte-americana - enfrentou durante a década de 1960. Os anos entre

1955 e 1961 foram um daqueles raros períodos em que o antigo e o novo coexistiram no

jazz e ambos prosperaram1. No final da década, entretanto, o antigo e o novo já não se

entendiam, ou não se relacionavam da mesma maneira. Além disso, o mercado fonográfico

havia se transformado radicalmente, e o público ouvinte já não era mais tão abrangente

quanto fora em 1959, ano de apogeu e prosperidade para o jazz. Mas quais foram os

motivos que trouxeram mudanças tão bruscas em um tipo de música que por décadas foi o 1 HOBSBAWM, Eric J. História Social do Jazz. São Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 11.

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principal símbolo da cultura norte-americana perante o mundo? Arriscando uma resposta

breve: o jazz foi levado ao limite. E os homens e mulheres que participaram dessa história o

acompanharam de forma apaixonada.

Bird Bird Bird Bird está vivoestá vivoestá vivoestá vivo! : Uma década de otimismo! : Uma década de otimismo! : Uma década de otimismo! : Uma década de otimismo

A relação do jazz com o seu público variou de forma surpreendente durante o século

XX, desde a primeira gravação disponível no mercado, quando a Original Dixieland 'Jass'

Band entrou em um estúdio de Nova Iorque para gravar um compacto de 78 rotações, que

continha "Dixie Jass Band One Step" e "Livery Stable Blues". Daí para frente, houveram

dois períodos no qual o gênero gozou de grande prestígio dentro de território norte-

americano, entre a crítica especializada e o público consumidor: o final da década de 1930,

com a explosão do fenômeno do Swing, que desencadeou a expansão massiva dos discos e

bandas por todo o mundo durante a Segunda Guerra Mundial; e a década de 1950, depois

da estruturação do fenômeno conhecido como jazz moderno, em uma época na qual se

assistia a popularização do Long-Play de 33 rotações, formato de reprodução analógica na

qual é possível registrar mais de 50 minutos de áudio. O impacto dessa nova tecnologia,

aliado ao intenso crescimento econômico da década, deu o impulso necessário à

popularização do jazz em escala global, entretanto, com notáveis diferenças entre o

movimento que havia sido desencadeado por Benny Goodman e Glenn Miller vinte anos

antes.

O jazz era originalmente uma música para ser apreciada pelos menos intelectuais ou

especialistas, pelos menos privilegiados, menos educados ou experientes, tanto quanto por

outras pessoas – embora os aficionados e esecialistas de jazz tenham relutado muito mais em

admitir isso do que os músicos2. Na década de 1950, o jazz adquiriu uma respeitabilidade até

então inédita para as formas de música popular norte-americana.

“Jazz sobe o rio”, declarava o título de um artigo do New York Times Magazine em

24 de agosto de 1958. “A longa jornada dos bares de Nova Orleans até a respeitabilidade

pública termina em triunfo”. O autor do artigo, Gilbert Millstein, não estava sozinho em

reconhecer o apoteótico desfecho da trajetória da música. Leonard Feather declarava em

1955 na revista Downbeat que “O Jazz alcança prestígio social”. Na revista Esquire, falava-se

2 HOBSBAWM, 2004. p. 275.

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que o Jazz havia se tornado a “maior forma artística original norte-americana”, dando-lhe o

status de arte, título sustentado por um público que havia se transformado rapidamente.3

O grafite “Bird Lives” (Bird está vivo) ainda podia ser visto em alguns muros isolados

de Nova Iorque.4 Bird era a alcunha dedicada ao saxofonista Charlie Parker, falecido em

1955, líder da geração de músicos negros que havia reestruturado o jazz na década de 1940,

transformando o que havia sido uma forma de música popular e dançante em uma forma

complexa de sons que aos poucos transformaram o repertório norte-americano. O bebop

havia sido uma forma musical liderada pelos negros, mas com uma audiência entusiasta

formada em sua maioria por brancos. Essa forma de música havia se tornado o símbolo da

modernidade urbana, cada vez menos associada às audiências jovens em busca de diversão

dançante, agora estava associada à mais variada sorte de poetas, beatniks, artistas plásticos e

pessoas influentes do circuito musical de Nova Iorque. Tornou-se célebre a declaração do

poeta beat Allen Ginsberg:

O jazz nos dá um modo de expressar os movimentos espontâneos do coração. É como uma fonte de inspiração instantânea disponível a todo o mundo. Tudo o que você precisa é sintonizar a sua rádio ou colocar o seu disco ou buscar um machado e golpear.5

O ano de 1959 foi especialmente importante para o Jazz, pois presenciou o

lançamento de dois álbuns que se tornariam dois dos dez mais vendidos na década de 1950

nos EUA. Como já descrito aqui, a criação do Long-Play permitiu uma maior complexidade

na produção musical, uma vez que os lançamentos não estavam mais condicionados às

restrições técnicas dos discos de goma-laca de 78 rotações. Esses pequenos discos, que

haviam sido a base para o mercado fonográfico desde o início do século, comportavam

apenas três minutos de cada lado, aproximadamente. O surgimento do LP, em 1949,

possibilitou uma nova abordagem do registro musical: o conceito de álbum, formado não

apenas por músicas de curta duração, mas por músicas de longa duração contidas em uma

obra extensa, na qual cada música estabelecia conexões com a música seguinte. E esse dois

álbuns foram “Kind Of Blue”, do quinteto liderado pelo trompetista Miles Davis e “Time

3 ANDERSON, Iain. This is our music: free jazz, the Sixties, and American culture.

The arts and intellectual life in modern America. Philadelphia: University of Pensylvania Press, 2007. p.

10. 4 HOBSBAWM, 2004. p. 13. 5 YAFFE, David. Fascinating rhythm: reading jazz in American writing. Princeton: Princeton University

Press, 2006. p. 46.

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Out”, do quarteto liderado pelo pianista Dave Brubeck. Segundo recente publicação6 sobre

o mercado fonográfico norte-americano da década de 1950, “Time Out” foi o terceiro

álbum mais vendido do período, enquanto “Time Out” ocupa a décima posição. “Love is

the thing”, de Nat King Cole, ocupa a oitava posição. Já a primeira posição revelava um

novo ídolo norte-americano: Elvis Presley com “Elvis Christmas Album”.

Nosso ponto de virada é o início da década de 1960, a partir do testemunho de Eric

J. Hobsbawm perante a cena de jazz na Inglaterra e nos Estados Unidos. No mesmo

período em que preparava a célebre obra “A Era das Revoluções”, dando impulso à sua

carreira acadêmica, Hobsbawm também atuava como crítico de Jazz na revista “New

Statesman”, sob o pseudônimo de Francis Newton. Em 1959, publicou a obra “História

Social do Jazz” (The Jazz Scene), traçando um extenso quadro sobre os primórdios do jazz,

a sua importância social, o seu público e as relações raciais explicitadas pela música

americana. Sobre a obra, escreve Hobsbawm em 1989:

Logo após a publicação da História Social Do Jazz, a idade de ouro teve um fim abrupto, fazendo com que o jazz se retraísse em um isolamento rancoroso e pobre que durou uns vinte anos. O que fez essa geração de solidão tão melancólica e paradoxal foi que a música que quase matou o jazz tinha a mesma origem e as mesmas raízes do jazz: o rock and roll era e é, muito claramente, uma derivação do blues negro americano. Os jovens, sem os quais o jazz não pode existir, - dificilmente se fazem novos fãs de jazz com mais de vinte anos-, o abandonaram com uma rapidez espetacular. Três anos depois, quando a idade de ouro estava em seu auge, no ano de triunfo dos Beatles em todo o mundo, o jazz tinha sido virtualmente jogado para fora do ringue.7

Por enquanto, nos detivemos sobre os impactos do gênero na indústria fonográfica e

na cultura norte-americana. Para muitos dos músicos da época, o sucesso comercial era

parte indispensável da carreira musical, como Miles Davis, que direcionou sua trajetória para

a Columbia Records em 1959. Entretanto, nesse período, ganharam força alguns grupos de

músicos que começaram a andar na contra-mão do grande mercado fonográfico. Esse

movimento foi denominado Avant-garde. Era baseado em pequenos clubes de Nova Iorque

e em selos independentes, que apostavam no novo jazz de maneira aventureira, como a

Impulse! Records, ESP-Disk, Candid Records e Prestige.

AvantAvantAvantAvant----Garde: o sumoGarde: o sumoGarde: o sumoGarde: o sumo----sacerdote e o visionáriosacerdote e o visionáriosacerdote e o visionáriosacerdote e o visionário

6 GREIG, Charlotte. Os 100 álbuns mais vendidos dos anos 50. Lisboa: Estampa, 2005. p. 14

7 HOBSBAWM, 2004. p. 13.

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Entre a cena de jazz, dois saxofonistas negros que desenvolveram suas carreiras no

fim da década de 50 vão se provar extremamente importantes na década posterior: John

Coltrane e Ornette Coleman. Coltrane iniciou sua carreira tocando na banda de Dizzy

Gillespie, e em pouco tempo se revelou um jovem talentoso. No fim dos anos 50,

entretanto, sua carreira teve um brusco corte devido ao vício pelo álcool e heroína. Em

1957, presenciou o que chamou de “despertar religioso”, se livrou dos vícios, passou a se

interessar por religiões orientais e sua carreira assumiu outro caráter. Nas palavras do

ensaísta Gerald Early:

O que aconteceu foi que o movimento avant-garde teve em John Coltrane seu sumo-sacerdote. E Coltrane surgiu e realmente pensava que sua música possuía um caráter religioso.8

Em suma, a trajetória de John Coltrane e sua guinada espiritualista podem ser

compreendidas como um fenômeno de rebeldia e busca por identidade de alguns negros

norte-americanos do período, da mesma forma que o baterista Art Blakey se converteu ao

Islã nos anos 40 e adotou o nome de Abdullah Ibn Buhaina, ou ainda o boxeador Cassius

Clay ou o militante Malcolm X, em busca de uma identidade que a América branca não

poderia proporcionar. Em 1961, gravou o álbum “My favorite things”, obtendo grande

reconhecimento ao transformar uma faixa do musical “The Sound of Music”, de Rodgers e

Hammerstein, em uma obra que une interpretação primorosa à qualidade técnica dos

músicos. Nessa faixa, Coltrane desenvolve sua técnica de “folhas de som”, na qual

descontrói a harmonia tradicional, sobrepondo melodias polifônicas à melodia principal.

Coltrane também foi o principal músico por trás da gravadora Impulse! Records, que se

dedicava à produção dos novos músicos, privilegiando em seu catálogo obras que não

possuíam apelo comercial. Nessa década, Coltrane foi uma das maiores fontes de inspiração

de novos músicos, como Pharoah Sanders e Alice Coltrane, sua esposa. Um ano antes de

seu falecimento, em 1967, o músico foi questionado sobre quais seriam os seus planos para

a década seguinte, respondendo que tentaria se tornar um santo. Até os dias de hoje existe

uma igreja baseada na cidade de São Francisco dedicada ao seu legado artístico e espiritual,

chamada St. John Coltrane African Orthodox Church9.

8 EARLY, Gerald. Entrevista a Ken Burns, 1996 Disponível no website:

www.pbs.org/jazz/about/pdfs/Early.pdf. Acessado em 05/11/2009.

9 Sua história e seus princípios podem ser acessados através de seu website: www.coltranechurch.org.

Acessado em 11/11/2009.

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Ornette Coleman seguiu um caminho paralelo. Oriundo do estado do Texas,

deslocou-se para Los Angeles em busca de reconhecimento musical durante o início dos

anos 50. Enquanto trabalhava como ascensorista, Coleman desenvolvia sua técnica

característica para o saxofone alto. O trompetista Bobby Bradford, que havia tocado com

Coleman durante os anos 50, afirmou:

Os músicos do bebop possuíam o hábito de tocar depois do momento correto durante uma frase, para adicionar calor à música, mas Ornette se deslocava e se mantinha lá – ele não voltaria depois de uma frase, e isso testava a capacidade do ouvinte de aceitar a dissonância10.

Ornette Coleman reverteu uma das mais aceitas práticas musicais do jazz moderno,

na qual a sequência de acordes – cada vez mais complexa desde o bebop – determinaria os

parâmetros da exploração musical. O padrão convencionado no jazz moderno se baseava,

em grande parte dos casos, em um tema inicial, de doze ou catorze compassos (herança do

Blues), uma fase de solos, nos quais convencionava-se qual instrumento criaria variações

desse mesmo tema, sobre uma progressão de acordes bem definidos, e por fim um retorno

ao tema inicial. Com Ornette Coleman, quando um instrumento solava, os outros não

tinham a necessidade de manter a progressão. Enfrentando as convenções musicais que

ainda mantinham o jazz dentro de suas formas musicais específicas, o músico foi responsável

por guiar a música popular em outra direção, aproximando-a da música erudita

contemporânea, explorando sonoridades ocasionais ou aleatórias, declarando a total

liberdade de condução após a explanação de um tema principal. Afirmava Ornette

Coleman: “O tema que você toca no início de um número é o território, e o que vem a

seguir, que pode ter pouco a ver com aquilo, é a aventura.”

Em 1959, parte com o seu quarteto, formado por Charlie Haden, Don Cherry e

Billy Higgins para Nova Iorque, para uma série de apresentações no clube Five Spot, ponto

de reunião da vanguarda artística de então, incluindo Jackson Pollock e pintores do

expressionismo abstrato. Ornette Coleman chamou a atenção do mundo do jazz. Surgiu

tocando um saxofone de plástico branco, com uma sonoridade estranha e uma linguagem

musical desconcertante, baseada em um suporte temático aparentemente simples. Com o

impacto que costuma marcar as revoluções artísticas, Ornette fazia história. O seu estilo não

possuía precedentes, e tanto o público como a crítica não sabiam muito bem como reagir. A

sua música era inclassificável. As opiniões sobre esta música oscilavam entre dois extremos:

10 ANDERSON, 2007. p. 61.

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Leonard Bernstein e John Coltrane consideraram-na genial, Roy Eldridge e Miles Davis,

uma fraude.

Era o início do Free Jazz. O que outrora foi caracterizado como uma

experimentação das formas anteriores, já não dava mais crédito à forma. Uma peça-chave

para o Free é o álbum This is Our Music, do quarteto de Ornette Coleman. A primeira

faixa, Blues Connotation, baseia-se no blues, forma de música americana da qual se

originaram diversos outros gêneros. Entretanto, no meio da obra, as estruturas harmônicas

vão desaparecendo, causando uma sensação de deslocamento em relação ao tema principal.

Outra música na qual podemos perceber essas características é a obra Ghosts de Albert

Ayler. Essa sensação foi comentada pelo escritor Albert Murray:

A arte... é um movimento contra a entropia. Os seus fins são a sanidade e o prazer. Quando você perde isto – quando você adquire uma visão niilista da vida – então você está enrascado. Sem a disciplina que vem das artes, a civilização pode explodir a qualquer dia. 11 A arte tem a ver com a segurança contra o caos. O que queremos são formas duráveis, coisas que permaneçam.Ornette Coleman chegou e disse, isto é Free Jazz, mas o que é mais livre do que o jazz? Quando você fala em jazz, você está falando sobre a liberdade da improvisação. Tudo isso é sobre a liberdade, sobre a liberdade americana. Então, por que alguém iria querer libertá-lo das suas formas? A idéia da arte deve criar uma forma que seja um bastião contra a entropia ou o caos. Jazz não significa se ausentar da forma ou se tornar absolutamente auto-indulgente. É como abraçar as ondas do mar. Você não pode abraçar a entropia. Você não pode abraçar o Caos.12

Durante a década, a situação da nova vanguarda era paradoxal. O afrouxamento da

estrutura tradicional do jazz e o seu impulso de ligação com a música erudita avant-garde o

expuseram a todos os tipos de influência não-jazzística vindos da Europa, América Latina e,

principalmente, Índia. Em outras palavras, o Jazz se tornou menos americano do que antes.13

Havia sido aberto o espaço para novas formas de música, vindas de outros lugares do

mundo. O Brasil era um deles.

So danco samba: João nos Estados UnidosSo danco samba: João nos Estados UnidosSo danco samba: João nos Estados UnidosSo danco samba: João nos Estados Unidos

11 MURRAY, Albert. IN: MAGUIRE, Roberta. Conversations with Albert Murray. p. 114. Jackson:

University of Mississippi Press, 1997.

12 MURRAY, Albert. IN: BURNS, Ken & WARD, Geoffrey C. Jazz: A History of America's Music. Nova

Iorque: Alfred A. Knopf, 2000. p. 343. 13 HOBSBAWM, 2004. p. 18.

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A inserção de elementos musicais latino-americanos no Jazz não era novidade na

década de 1960, pois já na década de 1940 músicos como Dizzy Gillespie e Stan Kenton

haviam inserido marcantes influências da música cubana, no que convencionou-se

denominar Afro-Cuban Jazz, com a inserção em suas bandas de músicos provenientes de

Cuba. O violonista Laurindo Almeida também já tocava com Stan Kenton em 1953,

inserindo a abordagem musical brasileira no jazz desde então.

A Bossa Nova foi um gênero desenvolvido na década de 1950 no Rio de Janeiro,

tendo como principais mentores João Gilberto, Luís Bonfá e Antônio Carlos Jobim. Esses

três músicos, de uma forma ou de outra, receberam influência direta do Jazz e o fundiram

com a síncope do samba, criando uma forma musical que transformou a música popular

brasileira radicalmente. O primeiro contato entre o público norte americano com o

repertório desse novo gênero foi durante o lançamento do filme Orfeu Negro, co-produção

franco-brasileira vencedora do Oscar de melhor filme em língua estrangeira de 1959,

baseado no musical de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Orfeu da Conceição.

O início da década será marcado pela explosão da Bossa Nova nos Estados

Unidos: em 1962 foi organizada uma lendária apresentação de músicos brasileiros no

Carnegie Hall, sucesso já precedido pelo lançamento do álbum Brazil’s Brilliant João

Gilberto, em 1961. Mas diferentemente do que muitos acreditam, a Bossa Nova não se

limitava a exaltar o estilo de vida da elite da zona sul carioca ou receber a influência da

cultura norte-americana de braços abertos. Um dos músicos que se apresentaram no

Carnegie Hall foi Carlos Lyra, um dos primeiros músicos da Bossa Nova a estabelecer uma

dimensão explicitamente crítica em suas músicas. Aqui analisaremos uma delas, chamada

Influência do Jazz, apresentada em Nova Iorque em 1962:

Pobre samba meu Foi se misturando se modernizando, e se perdeu E o rebolado cadê, não tem mais Cadê o tal gingado que mexe com a gente Coitado do meu samba mudou de repente Influência do jazz

Quase que morreu E acaba morrendo, está quase morrendo, não percebeu Que o samba balança de um lado pro outro O jazz é diferente, pra frente pra trás

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E o samba meio morto ficou meio torto Influência do jazz

No afro-cubano, vai complicando Vai pelo cano, vai Vai entortando, vai sem descanso Vai, sai, cai... no balanço!

Pobre samba meu Volta lá pro morro e pede socorro onde nasceu Pra não ser um samba com notas demais Não ser um samba torto pra frente pra trás Vai ter que se virar pra poder se livrar Da influência do jazz

A esquerda nacionalista brasileira, muito influente nos meios artísticos e culturais

e, sobretudo, nos meios universitários, se dividiu em torno da Bossa Nova. Alguns jovens

militantes reconheciam que cantar a Garota de Ipanema, o Amor, o Sorriso e a Flor, o

Barquinho e outras mumunhas era o mais bestial sinal de alienação.14 Em reação ao

conteúdo “intimista” da maioria das letras da Bossa Nova, trazendo novos elementos

interpretativos da música popular brasileira, compositores como Carlos Lyra e Sérgio

Ricardo passaram a desenvolver canções que atentassem para as questões de temática

social. Esses dois compositores foram os que mais influenciaram a formação de uma música

engajada no Brasil, que no final dos anos 60 será conhecida como MPB, celebrada na Era

dos Festivais.

Entretanto, entre a bossa e o fuzil, o mercado fonográfico norte-americano preferiu

a bossa. Alguns dos músicos que se apresentaram no Carnegie Hall conquistaram um

enorme público e por lá se estabeleceram, como Sérgio Mendes. Em 1963, João Gilberto,

Astrud e Tom Jobim viajaram novamente aos Estados Unidos para a gravação do álbum

Getz / Gilberto, disco de grande impacto no mercado fonográfico americano. Em 1967,

como mais uma prova do êxito alcançado pela música brasileira naquele país, Tom Jobim

grava uma série de músicas com o mais importante Crooner de então, Frank Sinatra. Mais

de quarenta anos depois da expansão da Bossa Nova nos Estados Unidos, Europa e Japão, a

conclusão que podemos chegar é muito diferente daquela que a esquerda nacionalista

mantinha até então. A Bossa Nova não foi somente um receptor passivo da influência do

jazz, mas também alterou a música norte-americana de maneira significativa. Sua

14 NAPOLITANO, Marcos Francisco. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo:

Contexto, 2001. p. 33.

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permanência provou ser muito mais do que um modismo, pois até os dias de hoje algumas

músicas brasileiras fazem parte do repertório jazzístico principal. A imagem da música e dos

músicos brasileiros se alterou substancialmente devido à expansão da Bossa Nova. Ela foi

responsável por modernizar a forma e a linguagem musicais, alterando a imagem da cultura

brasileira perante o mundo. O que outrora havia sido uma música exótica, festiva, sob o

estereótipo de Walt Disney e Carmen Miranda, havia se transformado em uma produção

original e criativa. Afirma Caetano Veloso15:

A bossa nova nos arrebatou. O que eu acompanhei como uma sucessão de delícias para minha inteligência foi o desenvolvimento de um processo radical de mudança de estágio cultural que nos levou a rever o nosso gosto, o nosso acervo e - o que é mais importante – as nossas possibilidades. João Gilberto, com sua interpretação muito pessoal e muito penetrante do espírito do samba, a qual se manifestava numa batida de violão mecanicamente simples mas musicalmente difícil por sugerir uma infinidade de maneiras sutis de fazer as frases melódico-poéticas gingarem sobre a harmonia de vozes que caminhavam com fluência e equilíbrio, catalisou os elementos deflagradores de uma revolução que não só tornou possível o pleno desenvolvimento do trabalho de Antônio Carlos Jobim, Carlos Lyra, Newton Mendonça, João Donato, Ronaldo Bôscoli, Sérgio Ricardo - seus companheiros de geração - e abriu um caminho para os mais novos que vinham chegando - Roberto Menescal, Sérgio Mendes, Nara Leão, Baden Powell, Leny Andrade -, como deu sentido ás buscas de músicos talentosos que, desde os anos 40, vinham tentando uma modernização através da imitação da música americana - Dick Farney, Lúcio Alves, Johnny Alf, o conjunto vocal Os Cariocas -, revalorizando a qualidade de suas criações e a legitimidade de suas pretensões (mas também driblando-os a todos com uma demonstração de domínio dos procedimentos do cool jazz, então a ponta-de-lança da invenção nos Estados Unidos, dos quais ele fazia um uso que lhe permitiu melhor religar-se ao que sabia ser grande na tradição brasileira: o canto de Orlando Silva e Ciro Monteiro, a composição de Ary Barroso e Dorival Caymmi, de Wilson Batista e Geraldo Pereira, as iluminações de Assis Valente, em suma, todo um mundo de que aqueles modernizadores se queriam desmembrar em seu apego a estilos americanos já meio envelhecidos); marcou, assim, uma posição em face da feitura e fruição de música popular no Brasil que sugeria programas para o futuro e punha o passado em nova perspectiva - o que chamou a atenção de músicos eruditos, poetas de vanguarda e mestres de bateria de escolas de samba.

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Uma importante face que jamais deve ser deixada de lado ao se falar sobre o Jazz

na década de 1960 é o seu papel político. Até 1965, alguns estados do Sul mantinham leis

de segregação racial de negros, e a violência racial nesses locais foi explicitado pelo Jazz

desde seu início. Um dos mais importantes momentos dessa conduta durante a primeira

fase do jazz foi a gravação, em 1939, da música Strange Fruit, por Billie Holiday:

Southern trees bear strange fruit, Blood on the leaves and blood at the root,

15 VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 21

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Black bodies swinging in the southern breeze, Strange fruit hanging from the poplar trees. Pastoral scene of the gallant south, The bulging eyes and the twisted mouth, Scent of magnolias, sweet and fresh, Then the sudden smell of burning flesh. Here is fruit for the crows to pluck, For the rain to gather, for the wind to suck, For the sun to rot, for the trees to drop, Here is a strange and bitter crop.

O autor da letra foi Abel Meeropol, um professor de Nova Iorque e ativista sindical

que escreveu o poema como forma de demonstração de horror pelas fotos do linchamento

de dois homens negros, Thomas Shipp e Abram Smith em Marion, Indiana, no ano de

1930. Strange Fruit foi apresentada pela primeira vez em uma reunião do sindicato de

professores de Nova Iorque e foi assistida pelo gerente de uma casa noturna, que apresentou

a cantora ao autor. A gravadora de Billie Holiday primeiramente recusou a gravação, o que

levou a cantora a gravar em um selo de menor proporção. A música foi rapidamente

adotada como lema de militantes contra a violência dos brancos racistas.

O jazz, durante todo o seu percurso, assumiu as contradições de um país

segregacionista. Ao mesmo tempo em que a sua audiência era formada por numerosos

brancos e era exportado para diversas partes do mundo como um produto da

espontaneidade norte-americana, os músicos de Jazz tiveram que suportar a segregação em

inúmeros locais em que tocavam, especialmente nos estados do Sul. Os contratos assinados

por Duke Ellington estipulavam que não tocaria com sua banda em locais que mantivessem

a segregação entre negros e brancos na platéia. Entretanto, à primeira vista, o

posicionamento dos artistas negros da primeira geração de jazzistas, da qual Duke Ellington

fazia parte, era de maneira geral velada ou pontual.

No final da década de 1950, os músicos negros e os especialistas de jazz encaravam a

situação de outra maneira. Em 1959, Hobsbawm afirmava:

O jazz é uma música de protesto, pois era originalmente a música dos povos e classes oprimidas: mais das últimas do que dos primeiros, talvez, embora, as duas categorias não possam ser rigidamente separadas. O seu apelo mais forte aos aficionados da classe média e alta pode ter acontecido, sem dúvida, por causa dessas origens sociais.16 (...) Paradoxalmente o

16 HOBSBAWM, 2004. p. 275.

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protesto musical do negro contra o seu destino foi um dos elementos menos importantes no apelo do jazz, e um dos últimos a se tornar influente.17

O movimento que Hobsbawm chama de protesto musical foi aos poucos se

tornando explícito, na figura de alguns artistas de vanguarda dos quais iremos aqui tratar. As

primeiras manifestações radicais e explícitas de denúncia da situação social do negro no país

se deram por parte do contra-baixista Charles Mingus e do baterista Max Roach. Ambos

gravaram pela gravadora Candid Records dois álbuns de enorme relevância para a

compreensão do fenômeno social do jazz como protesto político. Em 1959, Mingus compôs

a letra e a música de Original Faubus Fables. Pretendia incluir em seu álbum Mingus Ah

Um, que acabou se tornando seu maior sucesso comercial, pela Columbia. Entretanto, os

produtores da gravadora acharam melhor não gravar a sua letra. Mingus, então, dono de

uma forte personalidade, se dirigiu para uma gravadora independente, a Candid Records. Lá

gravou Charles Mingus presents Charles Mingus, incluindo a letra da sua canção barrada

pela Columbia:

Oh, Lord, don’t let ‘em shoot us! Oh, Lord, don’t let ‘em stab us! Oh, Lord, don’t let ‘em tar and feather us! Oh, Lord, no more swastikas! Oh, Lord, no more Ku Klux Klan! Name me someone who’s ridiculous, Dannie. Governor Faubus! Why is he so sick and ridiculous? He won’t permit us in the school. Then he’s a fool! Boo! Boo! Nazi Fascist supremists! Boo! Ku Klux Klan (with your Jim Crow plan) Name me a handful that’s ridiculous, Dannie Richmond. Faubus, Rockefeller, Eisenhower Why are they so sick and ridiculous? Two, four, six, eight: They brainwash and teach you hate. H-E-L-L-O, Hello.

Orval E . Faubus foi o governador do estado de Arkansas de 1955 a 1967, pilar de

uma crise de dimensões nacionais, quando tentou impedir a entrada de alunos negros na

17 HOBSBAWM, 2004. p. 278.

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escola de Little Rock, sob a proteção da Guarda Nacional em 1957. A posição de Charles

Mingus quanto ao episódio é clara. A partir de 1960, os músicos de jazz que se engajaram na

luta por direitos civis vão assumir um radicalismo explícito, utilizando de sua arte como

forma de protesto. A segunda obra analisada é a suíte We Insist! Freedom Now, do grupo

liderado pelo baterista Max Roach. A primeira referência ao momento político de 1960 é a

capa do disco, uma referência aos Sit-ins, ocupações forçadas de lanchonetes segregadas. O

disco tem início com a canção Driva’ Man, cantado por Abbey Lincoln, fazendo referência

ao passado de escravidão, referenciado na figura de um capataz18.

Imagem 1 – Capa do disco We Insist! Max Roach’s Freedon Now Suíte, 1960

Driva’ man he made a life But the Mamie ain’t his wife Choppin’ cotton don’t be slow Better finish out your row

18 MONSON, Ingrid Tolia. Freedom sounds: civil rights call out to jazz and AfricaFreedom sounds: civil rights call out to jazz and AfricaFreedom sounds: civil rights call out to jazz and AfricaFreedom sounds: civil rights call out to jazz and Africa. Nova Iorque:

Oxford University Press US, 2007. p. 176.

Page 17: Pushin' the limits - Jazz e a década de 1960

Keep a movin’ with that plow Driva’ man’ll show ya how Git to work and root that stump Driva’ man’ll make ya jump

Better make your hammer ring Driva’ man’ll start to swing Ain’t but two things on my mind Driva’ man quittin’ time

Driva’ man de kind of boss Ride a man and lead a horse When his cat ‘o nine tail fly You’d be happy just to die

Runaway and you’ll be found By his big old red bone hound Pater oller bring ya back Make ya sorry you is black

Driva’ man he made a life But the Mamie ain’t his wife Ain’t but two things on my mind Driva’ man quittin’ time

Já John Coltrane não foi um ativista declarado, mas entrou para a história da luta por

direitos civis em 1963. Durante esse ano ocorreu um dos mais importantes episódios

políticos dessa trajetória, a “Marcha por empregos e liberdade”, em Washington, no qual o

pastor batista Martin Luther King proferiu seu mais famoso discurso. No mesmo ano,

segregacionistas brancos colocaram uma bomba em uma igreja de Birmingham, Alabama,

levando à morte de 4 garotas. No ano seguinte, Coltrane tocou em um série de oito

concertos em apoio a King e o movimento por direitos civis. Escreveu uma série de músicas

dedicadas à causa, das quais se destaca Alabama, obra instrumental, mas que capta seu

sentimento em relação à tragédia ocorrida recentemente.

O movimento por direitos civis adotou uma série de temas musicais em suas

manifestações, entretanto nenhum possuiu a mesma importância de “We shall overcome”,

um spiritual adaptado por Guy e Carawan a uma manifestação em 1959. Foi regravada por

diversos artistas na década de 60, inluindo Pete Seeger e Charlie Haden, que adaptou-a ao

Jazz em 1968, no seu álbum Liberation Music Orchestra. Haden havia feito parte do grupo

de Ornette Coleman, portanto, é um artista que circulou em diversas esferas do Jazz nos

anos 1960. Seu álbum de 1968 está permeado por radicalismo político: continha quatro

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músicas da Guerra Civil Espanhola, “Song of the united Front”, de Hanns Eisler e Bertolt

Brecht, e uma homenagem a Che Guevara19. Archie Shepp, uma das maiores figuras do

avant-garde, criou um Attica Blues inspirado no famoso levante da prisão negra e em 1965

registrou sua inconformidade com o recente assassinato de Malcolm X:

A song is not what it seems. A tune perhaps - burned - whistled while even America listened. We play. But we aren't always down. We are murdered in amphitheatres, on the podium of the autobahn... Philadelphia 1945! Malcolm! My people! Dear God! Malcolm!

Uma cantora que também construiu uma carreira com fortes vínculos com o

movimento foi Nina Simone. Em 1964 deu início a seus protestos abertos contra a situação

política do país, gravando Mississippi Goddam em seu álbum Nina Simone In Concert:

The name of this tune is Mississippi Goddam And I mean every word of it Alabama’s gotten me so upset Tennessee made me lose my rest And everybody knows about Mississippi Goddam Alabama’s gotten me so upset Tennessee made me lose my rest And everybody knows about Mississippi Goddam Can’t you see it Can’t you feel it It’s all in the air I can’t stand the pressure much longer Somebody say a prayer Alabama’s gotten me so upset Tennessee made me lose my rest And everybody knows about Mississippi Goddam This is a show tune But the show hasn’t been written for it, yet Hound dogs on my trail School children sitting in jail Black cat cross my path I think every day’s gonna be my last Lord have mercy on this land of mine We all gonna get it in due time

19 HOBSBAWM, 2004. p. 19.

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I don’t belong here I don’t belong there I’ve even stopped believing in prayer Don’t tell me I tell you Me and my people just about due I’ve been there so I know They keep on saying “Go slow!” But that’s just the trouble ”do it slow” Washing the windows ”do it slow” Picking the cotton ”do it slow” You’re just plain rotten ”do it slow” You’re too damn lazy ”do it slow” The thinking’s crazy ”do it slow” Where am I going What am I doing I don’t know I don’t know Just try to do your very best Stand up be counted with all the rest For everybody knows about Mississippi Goddam I made you thought I was kiddin’ didn’t we Picket lines School boycotts They try to say it’s a communist plot All I want is equality for my sister my brother my people and me Yes you lied to me all these years You told me to wash and clean my ears And talk real fine just like a lady And you’d stop calling me Sister Sadie Oh but this whole country is full of lies You’re all gonna die and die like flies I don’t trust you any more You keep on saying “Go slow!” ”Go slow!”

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But that’s just the trouble ”do it slow” Desegregation ”do it slow” Mass participation ”do it slow” Reunification ”do it slow” Do things gradually ”do it slow” But bring more tragedy ”do it slow” Why don’t you see it Why don’t you feel it I don’t know I don’t know You don’t have to live next to me Just give me my equality Everybody knows about Mississippi Everybody knows about Alabama Everybody knows about Mississippi Goddam

Jazz levado ao limite: seu impacto e suas Jazz levado ao limite: seu impacto e suas Jazz levado ao limite: seu impacto e suas Jazz levado ao limite: seu impacto e suas conseqüênciasconseqüênciasconseqüênciasconseqüências

O final da década de 1960 presenciou um novo recomeço para o jazz. Na década de 1960,

nenhum dos vinte discos mais vendidos se aparentava ao que havia sido o Jazz em 195920.

Entretanto, o seu destino não se esgotou, apenas se voltou a públicos diferentes, tanto por

questões de gosto musical quanto em termos geográficos. Nos Estados Unidos e Inglaterra,

o rock se estabeleceu como principal produto do mercado fonográfico, além de encabeçar

uma revolução comportamental sem precedentes. Para o Jazz os anos 70 menos produtivos,

mas não eliminaram seu brilho. Um exemplo é disso é o Art Ensemble of Chicago, que no

início da década estabeleceu uma carreira de grande relevância, unindo elementos da World

Music e do Funk ao Jazz. O outro destino seguido pelo jazz foi geográfico. Vanguardas se

desenvolveram de maneira representativa em lugares tão distantes como Alemanha e Japão.

Um exemplo é a produção de Peter Brötzmann e Kaoru Abe, que instituíram novas

abordagens para o saxofone. Como no nosso objeto de estudo, aqui voltamos, depois da

execução dos solos, ao tema inicial: o jazz é um campo de batalha. Não há uma linha

evolutiva que possa descrever seu "progresso" rumo a uma possível evolução musical.

20 SCULATTI, Gene. Os 100 álbuns mais vendidos dos anos 60. Lisboa: Estampa, 2005. p. 14.

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Lista de músicas incluídas na coletânea:

1. My Favorite Things – John Coltrane – My Favorite Things – 1961 – Atlantic Records 2. Blues Connotation - Ornette Coleman – This Is Our Music - 1960 - Atlantic Records 3. Albert Ayler – Ghosts – Spiritual Unity – 1964 – ESP-DISK 4. Influência do Jazz – Carlos Lyra e Oscar Castro Neves – Bossa Nova Live At Carnegie

Hall – 1962 – Áudio Fidelity 5. Só Danço Samba - João Gilberto e Stan Getz - Getz / Gilberto - 1964 - Verve Records 6. Soul Bossa Nova - Quincy Jones - Big Band Bossa Nova - 1962 - Mercury Records 7. Strange Fruit – Bilie Holiday – 78 RPM – 1939 – Comodore Records 8. Original Faubus Fables - Charles Mingus - Charles Mingus Presents Charles Mingus -

1960 - Candid Records 9. Driva' Man – Max Roach - We Insist! Max Roach's Freedom Now Suite - 1960 - Candid

Records 10. Alabama - John Coltrane - Coltrane Live at Birdland – 1963 – Impulse! Records 11. Malcolm, Malcolm Semper Malcolm – Archie Shepp – Fire Music – 1965 – Impulse!

Records 12. We Shall Overcome - Charlie Haden – Liberation Music Orchestra - 1969 - Impulse!

Records 13. Mississippi Goddam – Nina Simone – Nina Simone In Concert – 1964 - Philips 14. Theme de Yo-Yo - Art Ensemble Of Chicago - Les Stances A Sophie - 1970 - Soul Jazz

Records 15. Einheitsfrontlied – Peter Brötzmann, Fred Van Hove e Han Bennink – 1973 – Free

Music Productions

Notas: Os trechos que não se encontravam disponíveis em português foram traduzidos pelo

próprio autor.

Page 22: Pushin' the limits - Jazz e a década de 1960

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