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28-02-2012 1 LINGUÍSTICA PORTUGUESA I 2011/2012 – S2 – LC & LLC Fonética Articulatória 1. Introdução

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LINGUÍSTICA PORTUGUESA I 2011/2012 – S2 – LC & LLC

Fonética Articulatória

1. Introdução

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1.1. Fonética vs. Fonologia: o estudo do material fónico dalíngua

2010/2011

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LP1 - Fonética

Fonética estuda a forma como os

humanos produzem, transmitem e recebem os sons da fala.

(parole)

Fonologiaestuda os sistemas sonoros das línguas e das características

gerais que estes revelam. (langue)

Unidade mínima: fone• Unidade mínima percetível• Unidade discreta• Realização física do fonema

Unidade mínima: fonema• Entidade abstrata• Unidade mínima distintiva do sistema

fonológico de uma língua• Nome alternativo: segmento fonológico

Transcrição [ ] Transcrição / /

1.2 O processo de transmissão da mensagem oral (produção,

transmissão, perceção) e a constituição dos diferentes ramos daFonética (articulatória, acústica e percetiva)

A transmissão de uma mensagem de um locutor para um ouvinte, num ato

de comunicação oral, passa por três estádios sucessivos:

� produção

� transmissão

� perceção

Em cada um destes estádios, estão envolvidos mecanismos de natureza

distinta. Assim:

� os mecanismos de produção dos sons (i.e. produção)

� as ondas sonoras (i.e. transmissão)

� os mecanismos de perceção dos sons (i.e. perceção)

Assim, a fonéticafonética pode definir-se como a disciplina linguística que estuda a

forma como os humanos produzem, transmitem e percecionam os sons da

fala enquanto fenómeno físico.

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� Fonética ArticulatóriaRamo da fonética que estuda o modo como os sons da fala são

produzidos (articulados) pelos órgãos do aparelho fonador. Centra-se

no estudo dos:

� órgãos da fala

� processos e relações em que se envolvem para a respetiva

produção

� sons da fala e suas caraterísticas de produção

� Fonética AcústicaRamo da fonética que estuda as propriedades físicas dos sons, ou seja,

estuda o fenómeno físico de emissão e transmissão do som. Este

processa-se em dois momentos:

� produção do movimento do corpo sonoro

� transmissão, propagação e perceção desse movimento

Recorre a técnicas instrumentais de investigação de forma a medir e

analisar as ondas sonoras.

� Fonética Percetiva ou AuditivaRamo da fonética que estuda “o mecanismo de captação do som por

parte do aparelho auditivo, de transmissão da informação auditiva ao

cérebro e os aspetos envolvidos na identificação e interpretação, por

parte do cérebro, da informação recebida” (Barbeiro 2000: 15).

Intervêm na captação do som: o ouvido, o nervo auditivo e o cérebro.

Figura 1: Ouvido humanoFonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bd/Anatomia_do_Ouvido_Humano.svg/2000px-

Anatomia_do_Ouvido_Humano.svg.png

Rego de Sylvius

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2. Fonética articulatória

2.1. Condições para a produção de som

� coluna de ar em movimento – pulmões, brônquios e

traqueia

� um obstáculo à passagem dessa corrente de ar – laringe

(cordas vocais)

� uma caixa de ressonância (cavidades supraglóticas)

Estas condições são criadas pelos Órgãos da Fala,

denominados, no seu conjunto, Aparelho Fonador.

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2.2. Anatomia e fisiologia do aparelho fonador

� Aparelho pulmonar (pulmões, brônquios, traqueia)

respiração - fonte de energia – sopro fónico.

� Laringe – fonação – cordas vocais, ao vibrarem, aproximando-

se e afastando-se uma da outra, produzem a energia sonora

usada na fala. Ao espaço entre as cordas vocais chama-se

glote. Quando a glote está aberta, não há vibração das cordas

vocais, dando origem a sons surdos; quando a glote está

fechada, há vibração das cordas vocais e produzem-se sons

sonoros.

Fig. 1 – Cordas vocais e glote

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ATIVIDADE PRÁTICA 1 – perceção da vibração das cordasvocais por meio do tato

Coloque os dedos sobre a laringe e prolongue a realização

da consoante [s], passando depois a realizar a consoante

[z].

Sssssssssssssssssszzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

� Trato vocal ou Aparelho vocal supralaríngeo/supraglótico(faringe, boca, fossas nasais) – articulação e ressonância.

Articuladores ativos - partes móveis do trato vocal envolvidas na

produção de um som de fala (i.e. lábios, língua, véu palatino,

úvula, maxilar inferior)

Articuladores passivos - partes não móveis do trato vocal que

constituem pontos de referência em relação aos quais se dirige o

movimento dos articuladores ativos (i.e. dentes, alvéolos e

palato)

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Fig. 2 - Órgãos do aparelho fonador

2.3. Funcionamento do aparelho fonador

Fonte: http://cantoravaleriarodrigues.blogspot.com/2009/11/workshop-aula-4-ressonancia-vocal.html

cf. YoutubeFonação

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Pulmões ebrônquios

(fonte de energia – ar)

Traqueia Laringe Cordas vocais/glote(1º obstáctulo)

Glote fechada(vibração = sons

sonoros)

Glote aberta(sem vibração = sons surdos)

Faringe

Véu palatino

Levantado Baixo

(trato vocal) (trato nasal)Sons orais Sons nasais

Articuladores

Em suma:

Os sons da fala são produzidos a partir de uma modificaçãolocal da pressão do ar (fazendo aumentar – ou, em algunscasos, diminuir – a pressão de uma massa de ar no interior doorganismo em relação ao ar circundante).

Na maior parte dos casos, os sons da fala são produzidosfazendo aumentar a pressão do ar que sai dos pulmõesatravés da contração do diafragma e da ação de outrasestruturas que envolvem os pulmões.

Ao ser expelido, o ar passa através de vários ressoadores.Os ressoadores alteram as características da onda sonoraproduzida pela fonte. Desta forma, uma mesma onda sonorainicial pode dar origem a diferentes sons.

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2.4. Classificação dos sons da fala: macrocategorias

� Vogais

• foneticamente: são sempre produzidas com vibração das cordas vocais (são

sempre sonoras), mas sem obstrução significativa à passagem do sopro

fónico nas cavidades supraglóticas.

• fonologicamente: só elas podem constituir núcleo de sílaba

� Consoantes

• foneticamente: produzidas com (sonoras) ou sem vibração (surdas) das

cordas vocais, mas necessariamente com obstrução à passagem do sopro

fónico ou no trato vocal (orais) ou no trato nasal (nasais).

• fonologicamente: não podem constituir núcleo de sílaba.

� Semivogais (ou glides)

• foneticamente: produzidas com um estreitamento do trato vocal efetuado

pela língua, que se aproxima do palato ou do véu palatino, mas sem que

haja um obstáculo total à passagem do sopro fónico.

• fonologicamente: não podem receber acento de palavra nem constituir

núcleo de sílaba.

2.5. Critérios para a classificação articulatória das vogais do português europeu

� Movimentos horizontais da língua (localização mais

avançada ou mais recuada relativamente ao véu palatino) :

� vogais anteriores [i] [e] [Ɛ]

� vogais centrais [a] [ɐ] [ɨ]

� vogais posteriores [u] [o] [ɔ]

� Movimentos verticais da língua (proximidade/afastamento

em relação ao palato):

� vogais altas [i] [ɨ] [u]

� vogais médias [e] [ɐ] [o]

� vogais baixas [Ɛ] [a] [ɔ]

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� Posição dos lábios:

� vogais arredondadas [ɔ] [o] [u]

� não-arredondadas [i] [e] [Ɛ] [ɨ] [ɐ] [a]

� Posição do véu palatino:

• Vogais orais (véu palatino levantado)

[i] [Ɛ] [e] [ɨ] [a] [ɐ] [ɔ] [o] [u]

• Vogais nasais (véu palatino abaixado)

[ã] [e] [ĩ] [õ] [ũ]

� Timbre ou grau de abertura:

• Vogais fechadas [i] [ɨ] [u]

• Vogais semi-fechadas [e] [o] [ɐ]

• Vogais semi-abertas [Ɛ] [ɔ]

• Vogais abertas [a]

Fig. 3 - Classificação articulatória das vogais orais do português

i

e

Ɛ

a

ɐ o

u

vogaisaltas

vogaismédias

vogaisbaixas

ɨ

vogaisanteriores

vogaiscentrais

vogaisposteriores

vogaisfechadas

vogaissemi-fechadas

vogais semi-abertas

vogal aberta

Em suma, podemos resumir esquematicamente a classificação

articulatória das vogais orais em português da seguinte forma:

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As vogais nasais obedecem aos mesmos critérios de classificação

que as vogais orais, mas são em menor número:

Fig. 4 - Classificação articulatória das vogais nasais do português

~i

~e

~o

~u

vogaisaltas

vogaismédias

vogaisbaixas

vogaisanteriores

vogaiscentrais

vogaisposteriores

vogaisfechadas

vogaissemi-fechadas

vogais semi-abertas

vogal aberta

Tal como o nome completo das pessoas segue uma ordem pré-

definida, também a classificação articulatória das vogais é feita

por uma ordem específica:

• 1º altura da língua

• 2º anterioridade / posterioridade da língua

• 3º nasalidade

• 4º arredondamento dos lábios

Ex.: [o] vogal média posterior oral arredondada

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2.6. Critérios para a classificação articulatória das semivogais do português europeu

� Movimentos horizontais do corpo da língua (localização

mais avançada ou mais recuada relativamente ao véu

palatino) :

� não-recuada [j] pai

� recuada [w] mau

� Posição dos lábios:

� não-arredondada [j] vai

� arredondada [w] pau

� Nasalidade

� oral [j] [w]

� nasal [j] [w]

2.7. Ditongos no português europeu

Ditongos Decrescentes

(i.e. vogal + semivogal)

Orais Nasais

<ai> [aj] pai, caixa <eu> [ew] teu, deu <ãe>

<em>

<en>

[ɐj] mãe

capitães

cem

bens

<au> [aw] mau, cacau <oi> [oj] loiro <ão>

<am>

[ɐw] sótão

calam

<éi> [ɛj] anéis, farnéis <ou>* [ow] passou <õe> [õj] Camões

Põe

<éu> [ɛw] véu, céu <ui> [uj] uivar <ui> [ũj] muito

<ói> [ᴐj] Herói, lençóis <iu> [iw] mediu

<ei> [ɐj] leite

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Ditongos crescentes(i.e. semivogal + vogal)

<ea>

<ia>

[jɐ] área

calúnia

<oa>

<ua>

[wɐ] mágoa

mágoa

<eo>

<io>

[ju] áureo

prémio

<eu> [wɨ] ténue

<ie> [jɨ] espécie <uo> [wu] ingénuo

<uã> [wɐ ] atenuando

<ue> [we] poente

2.8. Critérios para a classificação articulatória das consoantes do português europeu

Modo de articulação

Fechamento total

Fechamento intermitente - vibrantes [ɾ, ʀ]

Fechamento parcial - laterais [l, ʎ]

Estreitamento - fricativas [f, v, s, z, ʃ, ʒ]

� oclusivas [b, d, g, p, t, k]� nasais [m, n, ɲ]� africadas [tʃ, dʒ]

Ponto de articulação

� Bilabiais [p, b, m]

� Labiodentais [f, v]

� Dentais [t, d]

� Alveolares [n, l, ɾ, s, z]

� Palatais [ʃ, ʒ, ɲ, ʎ]

� Velares [k, g, ʀ]

Ressonância nasal

� orais� nasais

Vibração das cordas vocais

� surdas� sonoras

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bilabiais Labio

dentais

dentais alveolares palatais velares uvulares

sd sn sd sn sd sn sd sn sd sn sd sn sd sn

Oclusivas [p] [b] [t] [d] [k] [g]

Nasais [m] [n] [ɲ]

laterais [l] [ʎ]

vibrantes [ɾ] [ʀ]

fricativas [f] [v] [s] [z] [ʃ] [Ʒ]

Quadro síntese da classificação articulatória das consoantes em português europeu

A classificação articulatória das consoantes é feita pela seguinte ordem:

• 1º Modo de articulação

• 2º Lugar de articulação

• 3º Vozeamento

• 4º Nasalidade/Oralidade

Exemplo: [p] consoante oclusiva bilabial surda

� Fricatização das consoantes oclusivas sonoras;

� Realização das sibilantes em final de sílaba ou palavra

� velarização da lateral [l] � [ɫ]

Alguns fenómenos de co-articulação

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2.9. O processo de fricatização das oclusivas sonoras

Em determinados contextos, as oclusivas sonoras (orais) podem sofrer

um fenómeno de fricatização, vendo o seu modo de articulação

alterado. O que acontece é que na sua articulação ocorre um

afrouxamento de tensão articulatória que deixa incompleto o contacto

entre os articuladores. Produzem-se, assim, sons já não de tipo oclusivo

(i.e. produzidos com obstrução total à passagem do sopro fónico), mas

fricativo (produzidas com estreitamento da cavidade bocal à passagem

do sopro fónico). As oclusivas sonoras passam a ser oclusivasimperfeitas (i.e. podem ser prolongadas) ou fricativas não-estridentese representam-se foneticamente da seguinte forma:

[β] ou [ᵬ][δ] ou [đ][�] ou [ǥ]

Contextos de fricatização das consoantes oclusivas sonoras (orais):

� posição intervocálicatubo [tuββββu]

dedo [deđu]

logo [lɔɣu]

� grupo consonântico com vibrante (i.e. quando a oclusiva sonora está

associada a vibrante na mesma sílaba).

abrir [ɐ.'ββββɾiɾ]

adro [a'đɾu]agreste [ɐ.’����ɾɛʃ.tɨ]

� após vibrante simplesarbusto [ɐɾ.'ββββuʃ.tu]

arder [ɐɾ'đđđđeɾ]argola [iɐɾ'����ɔ.lɐ]

� após lateral alveolar velarizada [ɫ]Albufeira [aɫ.ββββu'fɐj.ɾɐ]

Algarve [aɫ'ɣɐɾ.vɨ]

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2.10. Distribuição contextual das sibilantes em final de sílaba ou palavra

As consoantes fricativas palatais (i.e. sibilantes) surgem em início e

em final de sílaba. Quando surgem em final de sílaba ou palavra,

devido a um processo de assimilação dos traços fonéticos dos sons

precedentes ou seguintes, podem ser realizadas como:

� [z] (alveolar) quando seguida de uma vogal Ex.: asas amarelas [azɐzɐmɐɾɛlɐʃ]

� [ʃ] (palatal) quando é seguida de pausa ou consoante surda Ex. asas largas [azɐʃsoɫtɐʃ]

� [ʒ] (palatal) quando é seguida de uma consoante sonora Ex. asas verdes [azɐʒveɾdʃ])

2.11. Velarização da lateral [l] ���� [ɫ]

Em final de sílaba/palavra ou quando faz parte de grupos

consonânticos, a consoante lateral alveolar (também chamada

ápico-alveolar) velariza-se, dando origem a um som distinto [ɫ].

O dorso da língua assume uma posição côncava (o pós-dorso

recua e eleva-se em direção ao véu palatino) semelhante àquela

com que se pronuncia a vogal [u].

� mel [mɛɫ] (final de palavra)

� faltar [faɫ'taɾ] (final de sílaba)

� biblioteca [bi.bɫiw'tɛ.kɐ] (grupo consonântico com oclusiva)

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Bibliografia

� MIRA MATEUS, Maria Helena; Isabel Falé e Maria João Freitas.

2005. Fonética e fonologia do português, pp. 25-91. Lisboa:

Universidade Aberta.