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ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA VIDA ECONÓMICA Nº 1404, DE15 JULHO DE 2011, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE Bastonário da Ordem dos Economistas, Rui Leão Martinho, afirma “A actividade de economista exige formação continua” q ORÇAMENTO DE ESTADO Abel Fernandes João Loureiro q DRN/OE Plano de actividades 2011 q HOMENAGEM Prof. Amílcar Pina

q ORÇAMENTO DE ESTADO · Diagrama de Nolan tenta expressar esta realidade de uma forma simplificada. Diagrama de Nolan. Os conceitos de Direita e Esquerda têm origem no parlamento

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Page 1: q ORÇAMENTO DE ESTADO · Diagrama de Nolan tenta expressar esta realidade de uma forma simplificada. Diagrama de Nolan. Os conceitos de Direita e Esquerda têm origem no parlamento

ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA VIDA ECONÓMICA Nº 1404, DE15 JULHO DE 2011,

E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

Bastonário da Ordem dos Economistas, Rui Leão Martinho, afirma

“A actividade de economista exige formação continua”

q ORÇAMENTO DE ESTADO• Abel Fernandes • João Loureiro

q DRN/OE Plano de actividades 2011

q HOMENAGEM Prof. Amílcar Pina

Page 2: q ORÇAMENTO DE ESTADO · Diagrama de Nolan tenta expressar esta realidade de uma forma simplificada. Diagrama de Nolan. Os conceitos de Direita e Esquerda têm origem no parlamento

Agora que as eleições terminaram, podemos tecer algumas conside-rações sobre comentários proferidos durante a campanha eleitoral, que parecem ter interesse para efeitos de análise económica e de futura gover-nação política.

Leu-se que o PSD teria um programa mais à direita do que o CDS, ou ainda que o Bloco de Esquerda e o PCP estariam unidos. Observa-se aqui um mal-entendido: presume-se que o espectro político seja unidimen-sional (esquerda versus direita), quando na realidade hoje em dia é, pelo menos, bidimensional, sendo a segunda dimensão o nível de liberdade individual em termos sociais. O Diagrama de Nolan tenta expressar esta realidade de uma forma simplificada.

Economia e Política: mal entendidos ou mal intencionados?

Agora que as eleições terminaram, podemos tecer algumas considerações sobre comentários proferidos durante a campanha eleitoral, que parecem ter interesse paraefeitos de análise económica e de futura governação política.

Leu-se que o PSD teria um programamais à direita do que o CDS, ou ainda que o Bloco de Esquerda e o PCP estariam unidos. Observa-se aqui um mal entendido: presume-se que o espectro político seja unidimensional(esquerda versus direita), quando na realidade hoje em dia é, pelo menos,bidimensional, sendo a segunda dimensão o nível de liberdade individual em termos sociais. O Diagrama de Nolan tenta expressar esta realidade de uma forma simplificada.

Diagrama de Nolan.

Os conceitos de Direita e Esquerda têm origem no parlamento francês do Século XVIII, onde os detentores de propriedade privada (Nobres) sentavam-se à direita do Rei, e o Povo à esquerda (os que advogavam a Liberdade, Igualdade, Fraternidade). Nos SéculosXIX e XX criou-se a segunda dimensão do espectro político, com as RevoluçõesLiberais e o despontar das ideologias Anarquista, Comunista e Fascista. De um lado defende-se a liberdade individual em termos de sociedade, podendo o indivíduo escolher o seu próprio futuro, do outro defende-se a existência de um Estado forte (leia-se Autoritário ou Totalitário) que dirija a sociedade rumo a um futuro planeado.

Nestes termos, é fácil compreender porque é que se costuma dizer que os extremos tocam-se (Comunismo com Fascismo). De facto não se tocam em termos económicos,mas sim em termos de liberdade individual: ambos advogam um Estado Totalitário. Da mesma forma, os Liberais Radicais (que hoje apenas existem nos EUA, sob a forma do movimento Tea Party) partilham a mesma ideologia Libertária (Anárquica) de Leon Trotsky (o qual se opunha ao Comunismo Totalitário de Stalin).

Analisando o Diagrama de Nolan, e transpondo para o espectro político português, parece que o programa do PSD não está mais à direita do que o CDS, mas sim mais acima (mais Libertário/Liberal). Da mesma forma, nota-se que sendo o Bloco deEsquerda uma aglomeração de pequenos partidos de orientação Anarquista (ou inspirados em Trotsky), terá um programa mais Libertário/Liberal do que o PCP emtermos de liberdades individuais. A aproximação do Bloco ao PCP, partido estatizante,terá sido um erro de posicionamento.

Ouve-se agora referir que algumas empresas não deverão ser vendidas (Águas dePortugal, RTP, Caixa Geral de Depósitos) porque economicamente seria um erro fazê-lo, já que umas dão lucro, as outras prestam serviços de interesse público, etc. Até um

Os conceitos de Di-reita e Esquerda têm origem no parlamen-to francês do século XVIII, onde os deten-tores de propriedade privada (Nobres) sen-tavam-se à direita do Rei e o Povo à esquer-da (os que advogavam a Liberdade, Igualdade, Fraternidade). Nos séculos XIX e XX criou-se a segunda dimensão do espectro político, com as Revoluções Liberais e o despontar das ideologias Anarquista, Comunista e Fascista. De um lado defende-se a liberdade individual em termos de sociedade, poden-do o indivíduo escolher o seu próprio futuro, do outro defende-se a existência de um Estado forte (leia-se auto-ritário ou totalitário) que dirija a sociedade rumo a um futuro planeado.

Nestes termos, é fácil compreender porque é que se cos-tuma dizer que os extremos tocam-se (Comunismo com Fascismo). De facto não se tocam em termos económicos, mas sim em termos de liberdade individual: ambos advo-gam um Estado Totalitário. Da mesma forma, os Liberais Radicais (que hoje apenas existem nos EUA, sob a for-

ma do movimento “Tea Party”) partilham a mesma ideologia Libertária (Anárquica) de Leon Trotsky (o qual se opunha ao Comunismo Totali-tário de Estaline).

Analisando o Diagrama de Nolan, e transpondo para o espectro po-lítico português, parece que o programa do PSD não está mais à direita do que o CDS, mas sim mais acima (mais Libertário/Liberal). Da mes-ma forma, nota-se que, sendo o Bloco de Esquerda uma aglomeração de pequenos partidos de orientação Anarquista (ou inspirados em Trotsky), terá um programa mais Libertário/Liberal do que o PCP em termos de liberdades individuais. A aproximação do Bloco ao PCP, partido estati-zante, terá sido um erro de posicionamento.

Ouve-se agora referir que algumas empresas não deverão ser vendidas (Águas de Portugal, RTP, Caixa Geral de Depósitos) porque economi-camente seria um erro fazê-lo, já que umas dão lucro, as outras prestam serviços de interesse público, etc. Até um comentador económico de um jornal de referência referiu que com a venda destas empresas Portugal perderia a qualidade das instituições, vital para uma boa Economia.

Nada mais errado. Privatizar não se trata de uma decisão económica, mas sim ideológica, ou de necessidade. Veja-se o caso da Grécia, que, mesmo necessitando de fundos, não cumpriu com o plano de privati-zações imposto pela equipa de ajuda externa porque ideologicamente o povo é contra uma sociedade liberal (está no seu direito democrático).

Por outro lado, as instituições cuja qualidade é vital para a Economia são a Justiça (incluindo a Justiça Social) e a regulação em geral. É inte-ressante notar que num estudo de 2002 (“What determines the quality of institutions?” Roumeen Islam, Claudio E. Montenegro) verificou-se que a independência dos “media” do poder político é um dos factores determinantes da qualidade das instituições de um país, pelo que parece estranho utilizar este argumento para evitar a privatização da RTP.

Como já referimos noutro editorial, em termos económicos não há boas ou más ideologias. Demos os bons exemplos da Suécia, onde o Esta-do controla várias empresas e presta directamente os serviços de interesse público, e da Suíça, onde esses serviços são concessionados a privados, sem que daí ocorra qualquer degradação na qualidade dos serviços presta-dos. Há sim boas ou más práticas económicas, como por exemplo não co-brar impostos suficientes para as despesas do Estado, ou endividar-se para além do que a economia do país consegue suportar. A título de exemplo, nos EUA, Reagan foi um Presidente de Direita ligeiramente Libertário que deixou as finanças públicas num caos. Obama, um Presidente de Esquerda ligeiramente Populista, vai pelo mesmo caminho.

Independentemente da nossa ideologia, como Economistas, temos de assumir que não há almoços grátis, tudo tem de ser pago. A Política é a forma de decidir qual dos grupos da sociedade pagará a maior parte da conta.

sexta-feira, 15 Julho de 2011II

ANTÓNIO CUNHAOrdem dos EconomistasVogal da Delegação Regional NorteCédula nº 3594

Economia e Política: mal-entendidos ou mal-intencionados?

O fenómeno das redes sociais mudou a forma como usamos a internet, como comunicamos e como vivemos. De for-ma muito rápida, redes sociais como o Twitter, o Facebook e o Myspace en-traram no nosso dia-a-dia e permitiram satisfazer aquela necessidade que todos temos de partilhar algo com o mundo. Pode ser uma crítica social, um alerta ou um simples desabafo, a verdade é que, numa sociedade cada vez mais indivi-dualizada, as pessoas têm vontade de partilhar as suas opiniões, experiências, aspirações e motivações pessoais. O aparecimento das redes sociais veio alterar por completo o paradigma do Marketing Digital. Outrora, os utili-zadores da Internet utilizavam a rede maioritariamente para procurar infor-mação. Agora, estes mesmos utilizadores não se limitam a pesquisar, eles criam e partilham informação, influenciando a opinião pública através da capacidade de multiplicação que estas redes conseguem gerar. O mundo está, definitivamente, interligado, e o poder da comunicação não pára de aumentar. Hoje em dia não há segredos e as redes sociais vieram dar o derradeiro contributo para que a in-formação circule livremente, sem cen-suras nem intermediários. Em termos de marketing, o que muitos anteviam é

agora uma certeza: o poder está definiti-vamente do lado do consumidor. As plataformas criadas pelas redes so-ciais possibilitam novas oportunidades de marketing. Com custos muito redu-zidos, as empresas e as instituições têm agora a possibilidade de chegar mais fa-cilmente ao seu público-alvo, criar uma relação mais íntima com o consumidor e reforçar a notoriedade da marca. Numa época em que o ruído publicitário é en-surdecedor, as plataformas digitais dão todas as condições para que as organi-zações possam diferenciar-se através da criatividade que estas redes potenciam. Aliás, a interactividade com o público-alvo parece ser a chave do sucesso para que uma empresa se faça ouvir no mun-do das redes sociais. A grande luta do marketing digital passa por envolver os potenciais clientes no produto/serviço, merecendo a sua atenção e, quem sabe, a sua escolha. Dado o inegável alcance global da In-ternet, as redes sociais revelam-se uma excelente forma de apresentar produtos, divulgar preços, ganhar notoriedade, comunicar com os clientes e, acima de tudo, estabelecer contacto directo com o público. Sabendo as opiniões e os pro-blemas dos consumidores, as marcas de-vem adoptar uma atitude pró-activa no

sentido de ajudar os clientes. As redes sociais apresentam-se como um canal de excelência no apoio ao consumidor, per-mitindo uma interactividade que, bem aplicada, reforçará certamente o valor e a notoriedade da marca. A força das redes sociais está na capacida-de que uma opinião tem de percorrer o mundo. O marketing boca a boca é o ac-tor principal no cenário das oportunida-de e ameaças que este tipo de plataformas pode acarretar para uma organização. Se é verdade que um aproveitamento óptimo das redes sociais pode criar sinergias po-sitivas, não é menos verdade que, a partir de agora, clientes insatisfeitos vão passar a ter um poder marcante na imagem das marcas. Uma falha no tratamento de um cliente pode originar um efeito viral de contestação à marca, podendo mesmo, em casos extremos, resultar na sua des-truição. Mais do que como uma ameaça, é importante que as empresas vejam este poder crescente do consumidor como um incentivo à qualidade e à satisfação máxi-ma dos clientes. Outro dos problemas que podem levar a um subaproveitamento das redes so-ciais é a facilidade com que se consegue criar uma página institucional nestas plataformas. Torna-se importante refe-rir que, para se estar realmente “onli-

ne”, é crucial ter uma atitude dinâmica e dinamizadora. A grande vantagem das plataformas sociais está na interactivi-dade e na possibilidade de se estar em contacto com os consumidores. Ter uma rede social desactualizada e pouco activa é a mesma coisa que não estar presente neste mundo global, correndo mesmo o risco de se provocar um feedback nega-tivo nos potenciais clientes. Um investi-mento neste tipo de marketing tem de ser planeado e estruturado, sob pena de obter um retorno contrário ao esperado. Conhecer bem o público-alvo, apostar na personalização e contextualizar o in-vestimento na rede com a estratégia da empresa são tópicos fundamentais na hora de avançar. Em suma, as redes sociais vieram mudar por completo o relacionamento entre as empresas e os consumidores. O período em que as marcas manipulavam a infor-mação acabou. Hoje em dia, os consu-midores ajudam a criar, opinam, comu-nicam entre si e decidem com base nos seus próprios critérios. Tendo em conta a volatilidade dos nossos tempos, torna-se difícil adivinhar o que vai acontecer a seguir, contudo, uma coisa é certa, as re-des sociais vieram para ficar e quem não respeitar os consumidores será definiti-vamente afastado do mercado.

O marketing e as redes sociais

BRUNO MIGUEL MACHADO DE OLIVEIRA Finalista do Curso de Economia Faculdade de Economia da Universidade do Porto

7º Ciclo de Temas de Economia

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As dificuldades que se levantam ao êxito deste Governo são equiparáveis à qua-

dratura do círculo. Apesar de haver um guião de partida, a produção

dos efeitos almejados está con-dicionada por factores in-

ternos e externos. Entre o martelo e a bigorna, entre cortes de despesa, mesmo da indispensável, e subi-das de impostos que se re-petem “ad nauseam”, não se vê como se possa sair deste imbróglio no pou-co espaço de tempo ainda disponível no quadro da zona euro. A única solu-

ção é o crescimento econó-mico alicerçado na raciona-

lização da despesa do Estado, na moderação da carga fiscal e na coordenação de políticas econó-

micas entre países. Se al-guma coisa se

deveria

ter aprendido com a Grécia é o círculo vicio-so depressivo em que somos projectados por espirais tributárias e de cortes sem critério na despesa. E, deste ponto de vista, o início de funções do Governo não foi auspicioso, re-petindo receitas antigas fáceis de aplicar, mas de efeitos perversos garantidos.

No meio de tanta confusão, os grupos de pressão são das maiores ameaças ao sanea-mento das contas públicas e à recuperação económica. É aqui que se inscreve a redução da TSU, que eles pretendem substancial. Trata-se de uma armadilha que ameaça abrir uma caixa de Pandora. Como explico no meu livro “A Economia das Finanças Públi-cas”, a TSU é um imposto indirecto sobre o trabalho que tem a sua incidência legal nos empregadores mas que, pelo menos parcial-mente, é repercutido sobre os trabalhadores. Este é até um dos poucos casos em que pode haver sobre-repercussão do imposto. A TSU cobrada sobre os empregadores é efectiva-mente um encargo suportado pelo trabalho e não é, pelo menos na sua totalidade, um custo para aqueles. Além disso, por for-ça dos mecanismos de mercado relativos à repercussão tributária, a diminuição na co-brança sobre os patrões deve ser inferior à redução da TSU.

Não podendo ser acusado de adepto do anterior (des)governo, reconheço-lhe razão quando argumentava que a me-dida não teria impacto sobre a compe-titividade devido à estrutura de custos. Ademais, acrescento eu, as empresas portuguesas de bens transaccionáveis são “price takers”. Assim, os principais efeitos dessa medida serão o aumento dos lucros das empresas abrangidas, no-meadamente das exportadoras, e uma

quebra importante das receitas da seguran-ça social que terá que ser compensada por aumento de impostos. Tudo conjugado, no final o que teremos é uma redistribuição do rendimento dos consumidores e do sector produtivo não exportador, especialmente o de capital intensivo, para o sector exporta-dor, que, sendo-o, já é competitivo. Contu-do, o que se não tem dito é que, por força das medidas previstas no memorando, o mercado de trabalho vai entrar num proces-so de ajustamento que demorará tempo até se concluir. E até lá assistiremos com toda a probabilidade ao aumento do desemprego e até mesmo à redução dos salários nominais no sector privado, com consequente quebra das contribuições para a segurança social num período em que as respectivas despe-sas vão aumentar. Em jeito de conclusão, a medida proposta não tem fundamentos económicos, fere o princípio da equidade tributária, e ameaça acentuar uma espiral tributária altamente lesiva da consecução dos objectivos nacionais que se nos impõem nesta hora.

Num trabalho recente que realizei com Paulo Mota conclui-se que, sob determina-dos aspectos, a situação portuguesa é pior que a grega. E o novo ciclo de subidas nas taxas de juro é um forte obstáculo adicional.

Cada vez mais o abandono do euro sur-ge como a solução para desatar este nó; a implosão dos sistemas monetários interna-cionais é, desde sempre, o desfecho habitual e a crise actual apresenta a sintomatologia típica desses eventos. Mas, neste momento, o nosso dever patriótico é conceder a este Governo o benefício da dúvida. ABEL COSTA FERNANDESProfessor Catedrático da FEP e NIFIP

PERSPECTIVAS PARA A ECONOMIA PORTUGUESA

Como é sabido, Portugal apresenta graves desequilíbrios macroeconómicos. Aquele que é mais referenciado são os cró-nicos e elevados (e, por vezes, subavaliados) défices orçamentais, os quais concorrem para o peso crescente que a dívida pública representa no PIB, aproximando-se o rácio rapidamente dos 100%. Outro grave pro-blema é o desequilíbrio externo, reflectido em défices crónicos da Balança Corrente, os quais têm concorrido para o avolumar da nossa dívida externa. Problema profun-do é também o facto de a economia portu-guesa se apresentar praticamente estagnada há vários anos, com problemas de produ-tividade e de competitividade, o que aliás está reflectido no já referido défice externo.

Como consequência de todos os proble-mas enunciados, o Estado português dei-xou há alguns meses de ter acesso aos mer-cados financeiros, ao mesmo tempo que a sua situação acabou por contagiar o siste-ma bancário nacional, deixando este de ter acesso às principais fontes de financiamen-to internacional. O Estado e o sistema ban-cário passaram assim a enfrentar uma grave situação de liquidez. Foi justamente a falta de acesso a crédito que forçou as autori-dades portuguesas a solicitarem assistência financeira a emprestadores de última ins-tância, o que veio a ser conseguido. Como sempre acontece quando existe concessão de crédito, os credores emprestam mas im-põem condições, nomeadamente aquelas

que eles entendem ser as mais apropriadas para que os devedores venham a ter condi-ções para, ao longo do tempo, honrarem o serviço da dívida. No caso do financia-mento de 78 mil milhões de euros a Portu-gal, concedidos conjuntamente pelo Fun-do Monetário Internacional e pela União Europeia, as contrapartidas impostas são aquelas que fazem parte do Memorando de Entendimento (MdE) estabelecido entre a “troika” e as autoridades portuguesas.

Tendo o MdE sido assumido pelo con-junto de partidos do qual haveria de sair o governo nas eleições do passado dia 5 de Junho, naturalmente que o programa do Governo PSD/CDS reflecte o acordo esta-belecido por Portugal com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia. Teria que ser assim e, felizmente, que assim é. Desde que o actu-al Governo entrou em funções, tornou-se obrigatório que o referido programa (pode ler-se MdE) seja executado ao milímetro e, quando possível, que se vá além do pro-grama, de maneira a ganhar-se folgas que podem servir de almofadas a derrapagens em aspectos pontuais, ao mesmo tempo que tal ambição pode ser um contributo para que quem nos pode vir a emprestar nos mercados comece a ter razões para atri-buir maior credibilidade ao país.

Conforme referi, o cumprimento do MdE/programa do Governo é um ca-minho de que não nos podemos desviar. Mas é também fundamental que durante o

processo tenhamos a sorte de não ocorrerem choques exógenos ad-versos, de que é um exemplo o recente downgrade da Moody’s relativamente ao Estado português. Estou convicto que, na ausência de choques incontroláveis, o Go-verno vai conseguir cumprir os objectivos acordados para o dé-fice orçamental para os próximos três anos. Mas isso só não chega. É absolutamente fun-damental que o Governo crie condições para que o país cresça. Só assim pode-mos ambicionar sair de um ciclo vicioso em que a políti-ca orçamental restritiva afecta negativamente o PIB, exigindo tal evolução esforços orçamentais adicionais que cavam ainda mais a quebra na produção. Isso exige que sejam postas em prática políticas es-truturais capazes de aumentar a produ-tividade e a competitividade do país. JOÃO LOUREIROProfessor da Faculdade de Economia do Porto

“Cumprir ao milímetro”

Um amanhã com esperança?

sexta-feira, 15 Julho de 2011 III

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ções internacionais a propósito deste tema.

VE – Qual o papel que a Or-dem dos Economistas pode assumir no domínio da inte-racção com segmentos chave da sociedade, como por exem-plo a Universidade, a classe empresarial, a Administração Publica e outros organismos de representação profissional?

RLM - A Ordem tem, entre as suas muitas actividades, o pro-pósito de interagir com outras Ordens profissionais, com as Universidades, com outras Asso-ciações ligadas ao meio empresa-rial e à área económica levando a cabo iniciativas que os nossos membros achem de interesse. Desde Janeiro deste ano, a Di-

recção a que presido tem refor-çado a sua colaboração no seio do CNOP, tem vindo a preparar acções e publicações conjuntas com outras organizações, como é o caso da Ordem dos Enge-nheiros, o Fórum de Adminis-tradores de Empresas, o Projecto Farol, o Instituto Português de Corporate Governance, a APAF, a Acege, etc. Também desenvol-vemos acções com Universida-des, quer privadas quer públicas. Importa realçar o papel da Or-dem na promoção e divulgação de conhecimentos e no incenti-vo à formação ao longo da vida.

VE – A Ordem dos Econo-mistas assumiu alguma posi-ção sobre o conteúdo do pro-grama do novo Governo, e em

particular sobre as perspecti-vas de recuperação económi-ca num contexto tão delicado?

RLM - Atenta a tudo o que se passa,a Ordem analisou quer o memorandum assinado com o FMI, BCE e UE, quer o pro-grama de Governo e algumas das suas próprias actividades vão no sentido de discutir esse temas. Assim, já em 13 de Setembro, na nossa sede, teremos uma análise do que foram as intervenções anteriores do FMI e tentaremos

já fazer um balanço da aplicação das medidas do memorandum durante os primeiros meses. Contaremos com a presença da Dra. Teresa Ter-Minassian, do Prof. Jacinto Nunes, do Dr. Silva Lopes,do Prof. Miguel Beleza,do Dr. Amaral Tomás e, por con-firmar, do Sr. Secretário de Es-tado Adjunto da Presidência do Conselho de Ministros. Em Outubro, o Congresso Nacio-nal de Economistas,a ter lugar em 19,20 e 21, discutirá, com a

presença de grandes especialistas portugueses e estrangeiros, como deve trabalhar Portugal para numa década voltar a crescer acima da média da UE. Igual-mente contamos com outras das Instituições e Organizações atrás mencionadas para apresentar até final de Outubro um livro sobre esta mesma temática do cres-cimento e competitividade em Portugal, abarcando o horizonte dos próximos dez anos. Será uma contribuição para uma discussão que nos deve mobilizar a todos, pois a sociedade civil e as elites têm de se envolver nesta bata-lha no sentido de repor Portugal na senda de desenvolvimento e progresso a que todos aspiram. Há uma fresta de oportunidade à nossa frente e devemos saber aproveitá-la, com trabalho, de-terminação e resiliência.

A.M.

Vida Económica (VE) – A sua já longa carreira profis-sional permite certamente ti-pificar as diversas valências da actividade de economista. Pode identificá-las?

Rui Leão Martinho (RLM) -A designação de economista, que vulgarmente se dá a quem concluiu uma licenciatura na área das ciências económicas, é muito abrangente e inclui não só os profissionais que se dedicam à macroeconomia, mas também aqueles que trabalham na área das empresas, seja ao nível de administração, seja ao nível de direcção ou como técnicos de várias especialidades, como é o caso das áreas financeira, comer-cial ou outras. Quem, como eu, tem uma longa carreira de tra-balho sabe que a base que nos é proporcionada por um sólido ensino secundário e por uma exigente Universidade é essen-cial não só para adquirir cultura e conhecimentos gerais de bom nível, mas o domínio das prin-cipais matérias específicas de um curso da área das ciências eco-nómicas. No entanto, à medida que se vai avançando na carreira, é fundamental manter a actuali-zação do que se estudou e desco-brir novas teorias e métodos de trabalho, através de uma forma-ção permanente dada pela enti-dade patronal ou pelos próprios, não descurando as iniciativas que neste domínio universida-des e instituições especializadas apresentam. Quando comecei a trabalhar como economista, ainda estávamos no final do Es-tado Novo e fiz a travessia para o novo regime do 25 de Abril de 1974 como funcionário do Mi-nistério das Finanças, mais con-cretamente como economista da então Direcção-Geral das Con-tribuições e Impostos.Na altura da admissão ainda se entrava por concurso público e com grande peso na decisão final da nota que se tinha obtido na licenciatura. Para essa função eram-me pe-didos conhecimentos de índole financeira, contabilística e do domínio do direito fiscal. A Uni-versidade tinha-me apetrechado com eles, mas foi necessário es-tudar muito e aprofundar firme-mente os conceitos apreendidos anteriormente. No princípio dos anos oitenta do século passado, transitei para o sector financeiro privado e aí estive até hoje, onde pude trabalhar em distintas áreas e funções. Estive na banca de re-talho, na banca de investimento,

no “leasing”, exercendo funções técnicas, funções directivas e de administração. O que isto sig-nifica é que as funções que um economista pode desempenhar ao longo da vida podem ser di-versas, mas para todas é indis-pensável ter presente que a for-mação contínua é determinante para prosseguir um percurso profissional.

VE – Qual o posicionamento da Ordem face ao reconheci-mento e definição rigorosa do que é um “acto económico” e seus reflexos na actividade profissional específica?

RLM - A Ordem dos Econo-mistas é relativamente recente e enfrentou, na altura, algumas dificuldades em ser aprovada. Os

seus estatutos reflectem o perío-do em que foram aprovados e, naturalmente,poderão ser objec-to de revisão nos próximos anos, de forma a adequar alguns as-pectos ao momento presente. É exemplo disso o voto electróni-co, ainda não contemplado nos actuais estatutos e que faria sen-tido atendendo à dispersão de membros por todo o território e à dificuldade de muitos deles em exercer o voto, seja presencial, no própria dia das eleições, seja por correio, onde o facto de ter ficado consagrado o registo obri-gatório das cartas ainda agrava mais essa dificuldade. Entre as-pectos de que se tem falado a propósito da revisão estatutária está o reconhecimento do cha-mado acto económico. Não se

trata de uma matéria pacifica, mas que divide os nossos mem-bros, pois se há quem considere que será uma exigência acrescida mas justificável, outros acham que devemos continuar a ser Or-dem com o perfil anglo-saxónico que hoje temos, mais certifi-cadora de qualidade e livre de adesão do que imperativa para a realização de certos actos e, con-sequentemente, obrigatória.

Neste momento, quer a re-visão dos estatutos quer o re-conhecimento ou não do acto económico são assuntos ainda a debater profundamente, inter-namente, entre os membros e que devem aguardar as possíveis alterações que podem advir do que está incluído no Memoran-dum assinado com as institui-

BASTONÁRIO DA ORDEM DOS ECONOMISTAS, RUI LEÃO MARTINHO, AFIRMA RELATIVAMENTE À ECONOMIA PORTUGUESA

“Há uma fresta de oportunidade que temos de saber aproveitar”

Rui Leão Martinho, Bastonário da Ordem dos Economistas e Presidente dos Conselhos de Administração das companhias de seguros Tranquilidade e BES-Vida, é um exemplo do exercício de diversas valências da actividade dum economista.Refere que a Ordem a que preside tem que debater internamente a revisão dos seus estatutos, e em particular tomar posição sobre o carácter obrigatório ou não da adesão dos licenciados para efeitos do exercício de actividades profissionais específicas.Rui Leão Martinho valoriza o papel da Ordem na promoção e divulgação do conhecimento e no incentivo à formação contínua e anuncia que a partir de Setembro próximo serão organizadas iniciativas, com a participação de reputados especialistas, visando um primeiro balanço da aplicação das medidas do acordo com a “troika” e, no âmbito do próximo Congresso Nacional dos Economistas, a perspectivação de como Portugal pode retomar o crescimento económico.

sexta-feira, 15 Julho de 2011 Vsexta-feira, 15 Julho de 2011IV

O reconhecimento do acto económico, em sede de revisão estatutária não é matéria pacífica

A actividade de economista exige formação contínua, afirma o Bastonário, Rui Leão martinho.

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sexta-feira, 15 Julho de 2011VI

Em 2010, um conjunto de reformas deno-minado Basileia 3 foi proposto com o ob-jectivo de tornar a Banca mais resiliente, isto é, aumentar a capacidade do sector bancário para resistir à adversidade e acomodar cho-ques. A nova regulação global, que sucede a Basileia 2, tem em conta as lições da crise financeira e implica alterações contabilísticas importantes. Em primeiro lugar, Basileia 3 procura dotar os bancos de mais e melhor capital. A pró-pria definição de capital é alterada: há uma maior exigência quanto aos activos elegíveis para o cálculo dos capitais próprios, são re-forçadas as deduções de participações em outras instituições financeiras e de activos referentes a fundos de pensões e impostos diferidos, e abolida a categoria de capital Tier 3. O requisito mínimo de Core Tier 1, capital mais puro constituído predomi-nantemente por acções ordinárias e lucros retidos, aumenta de 2 para 4,5% dos activos ponderados pelo risco (APR), enquanto o de capital Tier 1, que engloba também as acções preferenciais, passa de 4 para 6%. Uma novi-dade é o estabelecimento de “amortecedores” para além do requisito mínimo de Core Tier 1. O amortecedor de conservação de capital deve equivaler no mínimo a 2,5% dos APR

e, caso não seja cumprido, implica restrições quanto à distribuição de dividendos e bónus, relevando a importância da retenção de re-sultados em tempo de crise. Por sua vez, o amortecedor contracíclico deve variar entre 0 e 2,5% dos APR e reveste-se de uma na-tureza macroprudencial, pois, ao procurar proteger a Banca de períodos de excessivo crescimento do crédito, zela pela estabilidade do sistema financeiro como um todo. Con-trariamente ao carácter global das restantes regras, o valor preciso deste amortecedor de-verá ser fixado pelos reguladores nacionais. Em segundo lugar, Basileia 3 propõe novos rácios para gestão da liquidez e controlo da alavancagem. O rácio de cobertura de liqui-dez irá exigir dos bancos um montante mí-nimo de activos líquidos para absorver um choque de liquidez num horizonte de 30 dias. Outro rácio de natureza mais estrutu-ral, dito de fundos líquidos estáveis, procura-rá incentivar os bancos a assegurar fontes de financiamento com prazos mais longos. O objectivo é penalizar a utilização excessiva de fundos de curto prazo no financiamento de activos de longo prazo. Por sua vez, o rácio de alavancagem, definido como Tier 1, em percentagem de activos não ponderados pelo risco, não poderá ser superior a 3%.

Em terceiro lugar, Basileia 3 promove uma prática de constituição de provisões mais exigente, baseada na perda esperada e não na perda incorrida, e uma melhor cobertura do risco dentro e fora do balanço. Especial ênfase é colocada no risco de crédito de con-traparte: há um reforço de requerimentos de capital para o caso de incumprimento nas transacções com derivados (instrumentos financeiros que, mediante contrapartidas, transferem para outra entidade determinado risco associado a um activo) e nas operações com repos (venda de activos com acordo de recompra). Uma inovação em relação a Basileia 2 é a exigência de requisitos de ca-pital para perdas de mercado esperadas nos derivados decorrentes de uma deterioração da qualidade creditícia da contraparte (os chamados ajustamentos ao valor do crédito). Para determinar estes requisitos de capital, os bancos deverão utilizar uma calibração das funções de risco que contemple cenários de stress durante horizontes temporais longos. É ainda incentivada a transferência de con-tratos de derivados do mercado ao balcão, não regulamentado, para contrapartes cen-tralizadas, a fim de os supervisores poderem controlar melhor o risco sistémico. De acordo com o Comité de Basileia, estas

alterações serão implementadas de forma faseada entre 2013 e 2019, para não com-prometer o importante papel da Banca e o bom funcionamento do mercado de crédito, sendo que um período de observação come-ça já em 2011. Apesar do calendário gene-roso, a adaptação a Basileia 3 não deixa de ser um desafio importante para a Banca por-tuguesa a juntar aos dois principais desafios do momento: a excessiva dependência do fi-nanciamento do BCE e a exposição ao risco da dívida soberana. O resultado esperado é o aumento da transparência, nível e qualidade do capital dos bancos e a redução da proci-clicidade, isto é, a diminuição de excessos e pânicos no decorrer da actividade bancária, por forma a evitar o eclodir de novas crises financeiras.* *Para saber mais sobre as reformas de Basi-leia 3, deverão ser consultados os seguintes documentos, divulgados pelo Comité de Ba-sileia em Dezembro de 2010 e disponíveis em www.bis.org: -Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and banking systems -Basel III: International framework for liqui-dity risk measurement, standards and moni-toring

A premissa de Álvaro de Campos centra-da na perda do sentimento de “ser inteiro” perante um mar de possibilidades e um oceano de incertezas, poderá relativizar o orgulho da identidade histórica lusitana ao tradicional nacionalismo dos povos euro-peus. Somos Portugueses. Seremos euro-peus? Não creio ser racional pensar uma integra-ção económica de estados soberanos, isenta de um movimento semelhante a nível políti-co e social. O caminho do Federalismo Eu-ropeu (União Política) já foi “aflorado”, com pouco sucesso. A Europa quer estar unida desde que seja regionalmente independente. Torna-se necessário contextualizar a integra-ção económica portuguesa, que se inicia ver-dadeiramente no início dos anos 60, através do desenvolvimento do comércio externo, da entrada de capital estrangeiro e interna-cionalização da força de trabalho lusa num período de duas décadas de avanços, recuos e arrepsias. A teoria tradicional do comércio defende o aumento de eficiência na afectação de recur-sos (pela eliminação de discriminações e de restrições ao livre movimento de mercadoria e factores produtivos) como principal objec-tivo da integração económica. A Teoria da Integração Económica Internacional com-preende esta perspectiva e estende-a e outros objectivos económicos. Certamente a Europa não sobreviverá di-vidida frente à maturação das economias

emergentes. Em 2010, a China confirmou o seu novo estatuto como segunda maior eco-nomia mundial e em 10 anos prevê-se que o dragão asiático passe a liderar a economia mundial. Esta nova reorganização das elites econó-micas revela também novos riscos: o Velho Continente já não compete apenas pela pri-mazia económica, pela liderança cultural ou pela referência histórica. Os novos valores são as necessidades energéticas, a flexibilida-de da força de trabalho, e o puro domínio de recursos… A nova ordem mundial é verda-deiramente “profissional”. As próprias crises económicas foram tam-bém profissionalizadas. Senão vejamos: estados membros muito debilitados pela crise económico-financeira de 2009, como Portugal, Irlanda e Espanha, já participaram no resgate e apoio a uma economia europeia enferma, a grega. Pode um maior nível de integração econó-mica solucionar a necessidade de maior dis-ciplina orçamental na Zona Euro? Tal é deveras interessante se soubermos “à priori” que os países mais abastados e pode-rosos da Europa a 27, nomeadamente Ale-manha, França e Inglaterra, detêm, através do sector bancário, participações na dívida externa a curto e médio prazo (em torno dos 30% do seu PIB), sobre os acima referidos económico-deprimidos. No caso grego e apesar de ter uma dívida to-tal em percentagem do PIB inferior a outros

parceiros europeus (inclusive a Portugal), instalou-se subitamente uma grave crise eco-nómica e financeira, em virtude da perda de confiança nas estatísticas oficiais (patro-cinadas pela especulação das “traiçoeiras” agências de rating e consultoras financeiras norte-americanas), que haviam maquilhado a dívida externa (que teria diminuído 70% entre 2007 e 2008) e o défice público. O espelho português mostra o desemprego e consequente ameaça de incumprimento do serviço da dívida para um número significa-tivo de famílias. É incontornável a referência histórica à “Grande Depressão de 1929” e à suspeita de alguns historiadores que apontam a descrita crise como tendo sido preparada por investi-dores londrinos para através da especulação nos mercados financeiros realizarem mais valias muito elevadas.2 Será razoável pensar que os sectores finan-ceiros da União (e do mundo) serão bene-ficiários do problema económico? Estará “morto” o propósito de uma crescente in-terdependência das economias dos estados membros e a criação do gigante económico europeu? “Sê plural como o universo!”3 Álvaro de Campos não é um poeta de “car-ne e osso”; é um heterónimo, um outro “eu” poético de Fernando Pessoa, um dos gran-des poetas portugueses do século XX e reco-nhecido interessado pela questão europeia. Atrevo-me a sugerir que a Europa naciona-

lista (ou egoísta) será também um heteróni-mo da União Europeia integrada (unida e competitiva). A actual liderança conservado-ra da União é uma expressão minoritária no contexto interno, que continua a permitir esforços especuladores sobre as economias periféricas. A integração económica deverá produzir efeitos (de natureza estática e dinâmica), sobre os recursos, o crescimento económico e a consequente integração social. Já não é apenas um objectivo perseguido, mas estri-tamente necessário. Este processo afecta os estados membros mas sobretudo atribui à Europa um reforça-do poder de afectar o mundo. É imperioso aceitar que Portugal já não é mais, um esta-do soberano “de motus próprio”4. Está ultra-passado o esforço da união aduaneira. En-contra-se enfraquecido o esforço da união monetária. A Europa precisa de ser unitária para o exterior; uma União, uma voz, uma vontade, um propósito. A vontade de Por-tugal; a nossa vontade enquanto Europeus.

* Aluno finalista da licenciatura de Gestão de Empresas no Instituto Superior de Administra-ção e Gestão1 – Álvaro de Campos, “Lisbon Revisited”.2 - Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, “This Time is Different”.3 - Fernando Pessoa, “Fernando Pessoa e a Euro-pa do século XX” – pág. 191.4 - “de vontade própria”

As alterações contabilísticas impostas por Basileia 3

PODE UM MAIOR NÍVEL DE INTEGRAÇÃO ECONÓMICA SOLUCIONAR A NECESSIDADE DE MAIOR DISCIPLINA ORÇAMENTAL NA ZONA EURO?

“Vão para o diabo sem mim, Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! Para que havermos de ir juntos?”1

INÊS MARIA AVELINO BAÇÃO Aluna de Doutoramento em Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Licenciada e Mestre em Economia pela mesma Faculdade

DAVID MAHAMADFinalista em Gestão de empresasInstituto Superior de Administração e Gestão

7º Ciclo de Temas de Economia

7º Ciclo de Temas de Economia

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INSCRIÇÃOPara o efeito torna-se necessário:• Fotocópia do diploma de curso ou certificado de habilitações ou, em alternativa, autorização à Ordem para confirmação de habili-

tações junto da Escola de licenciatura.• Uma fotografia tipo passe• Fotocópia do Bilhete de Identidade• Fotocópia do Número de identificações fiscal

Deverá também ser enviada a importância correspondente à jóia de inscrição e ao primeiro pagamento da quota (caso a candidatura seja rejeitada, proceder-se-á à restituição das importância pagas).

JÓIA PRIMEIRA TOTALSemestral

Membro Estagiários 12,50 20,00 32,50

Membro Efectivos 25,00 40,00 65,00

Membros Reformados 25,00 20,00 45,00

O membro estagiário tem direito a uma redução de 50% no valor da quota da jóia no seu primeiro ano de inscrição. O membro reformado terá direito a uma redução de 50% relativamente à quota.

LISBOA - SEDE DA ORDEMRua da Estrela, 8 - 1200-699 LISBOATel. 213 929 470/9 • Fax 213 961 428E-mail: [email protected]

PORTO - DELEGAÇÃO REGIONAL DO NORTERua Dr. Ricardo Jorge, 55, 3ª Dtº - 4050-514 PORTOTel. 222 055 670 • Fax. 222 083 008E-mail: [email protected]

MADEIRA - DELEGAÇÃO REGIONAL DA MADEIRARua da Carreira, 63, 3ª, Fracção 0 - 9000-042 FunchalE-mail: [email protected]

AÇORES - DELEGAÇÃO REGINONAL DOS AÇORESUniversidade dos Açores- Dep. Economia e Gestãorua da Mãe de Deus, Apt. 1422 - 9501-801 Ponta Delgada

sexta-feira, 15 Julho de 2011 VII

HENRIQUE FERNANDES TOMÁS VEIGA

Não, Não podeis levar tudo / Depois do corpo, / E da alma, / E do nome, / E da terra da própria sepultura/Fica a memória de uma criatura /[… ]

Poema “Ficam as sombras”, Miguel Torga

Com a morte do Professor Amílcar Pina, ocorrida no passa-do dia 25 Maio, desapareceu um dos mais notáveis economistas portugueses da sua geração.

Amílcar dos Anjos Gil Go-mes de Pina nasceu em 11 de Dezembro de 1934. Depois de ter frequentado a Escola Comer-cial Oliveira Martins e o Institu-to Comercial, no Porto, cursou na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, tendo concluído a licenciatura no ano lectivo de 1957 / 1958, com a classificação de 17 valores.

Da sua vida como homem, consideramos que o julgamento mais autêntico se deverá fazer recolhendo o testemunho de al-

gumas pessoas que directamente conviveram com a profundidade do seu saber e lhaneza do seu carácter. Neste sentido, apresen-tamos, por ordem alfabética de nomes, os depoimentos do Dr. Alcides Costa, do Eng º António Ferreira de Castro, do Dr. José Albino Silva Peneda e do Dr. Miguel Cadilhe.

O Dr. Alcides Costa refere-se ao Professor Amílcar Pina nos seguintes termos:

Enquanto aluno da Faculdade de Economia do Porto, não tive o privilégio de beneficiar dos en-sinamentos do Prof. Dr. Amílcar Pina. Foi mais tarde, na sequên-cia do seu ingresso na Direcção de Estudos do BPA, que tive a opor-tunidade de conhecer e conviver com o Prof. Pina e apreciar as suas qualidades humanas, o profundo rigor e profundidade que marcava tudo quanto fazia, o seu invejável saber em diversas áreas científicas e culturais, Com frequência, prosse-guia, ali no Banco, o seu papel de professor.

O Engº António Ferreira de Castro, lembra o amigo :

Conheci o Senhor Dr. Amílcar Pina no início dos anos oitenta quando ingressei na Direcção de Estudos Económicos do Banco Por-tuguês do Atlântico.

Durante cerca de dezena e meia de anos de contactos diários pude aperceber-me de dois traços iniludíveis do seu carácter:

- Amor extremo à família, con-siderando-a como núcleo estrutu-rante da sociedade que ele gostava de integrar;

- Paixão por transmitir co-nhecimento, que extravasava a sua formação académica de base, tornando-se, assim, num comuni-cador ecléctico mas extremamente rigoroso em todos os assuntos que abordava.

O Dr. José Albino Silva Pe-neda faz a seguinte evocação do Professor Amílcar Pina:

O Dr. Amílcar Pina foi meu professor na Faculdade de Econo-mia da Universidade do Porto. Na mesma escola colaborei como

seu assistente e fui seu colega de trabalho na então designada Co-missão de Planeamento da Região Norte. O Dr. Amílcar Pina era um profundo conhecedor das ci-ências económicas e nunca estava satisfeito com as respostas que ia encontrando para as suas dúvidas e inquietações, Era um homem íntegro sob todos os pontos de vis-ta.

De um texto intitulado “Pala-vras para Amílcar Pina”, apresen-tado em Junho de 2011 pelo Dr. Miguel Cadilhe na Newsletter da Associação dos Antigos Alu-nos da Faculdade de Economia, retirámos o seguinte excerto:

Cruzámo-nos nos anos sessen-ta pelos corredores da velha e da nova Faculdade de Economia do Porto. Senti sempre o respeito que havia pelo economista e professor e, na altura da licenciatura, tive pena de não ter sido directamente seu aluno, mas estudei interessa-damente o seu livro TEORIA DO MULTIPLICADOR, primorosa-mente escrito em tempos que não

propiciavam autorias nem publi-cações.

Convidei-o mais tarde, nos anos oitenta, para integrar os Es-tudos Económicos do Banco Por-tuguês do Atlântico, um gabinete que no Porto dispunha de uma das mais apetrechadas e componentes equipas do País, eram uns setenta técnicos de diversas qualificações, Amílcar Pina foi então uma espé-cie de conselheiro-mor.

A Humanidade deve a Amílcar Pina um enriquecimento enquan-to homem e enquanto professor. No presente trabalho procurámos con-tribuir para proceder à avaliação na primeira vertente. Para a fazer na segunda vertente, considera-mos que as publicações dispersas e aquelas existentes na Biblioteca da Faculdade de Economia me-receriam ser objecto de estudos académicos a reunir num livro de homenagem, a organizar pela ins-tituição que o formou e à qual deu o melhor do seu saber e dedicação, particularmente num dos períodos mais críticos da vida institucional: após o 25 de Abril de 1974.

Em memória do Professor

Amílcar Pina 1934- 2011

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Actividades 2011 da DRN/OE

sexta-feira, 15 Julho de 2011VIII

Autores dos artigos premiados.Promenor da audiência.

15 DE MARÇO� Conferência “Crise Financeira Internacional e a Contabilidade/Auditoria” Prof. Dr. Eurico de Lima Basto

12 DE ABRIL

� Fnac, no Porto e 13 de Abril

� Biblioteca do ISCA-UA, em Aveiro Apresentação do livro da Prof. Dra. Virgínia Sousa, “Sistema Europeu de

Contas”

12 DE MAIO� Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos para o FORNOP

Conferência “A Inteligência Competitiva – uma solução estratégica” Dr. Jaime Quesado

13 DE MAIO � Viana do Castelo - Conferência “O cancro nos dias de hoje – a que se deve e

como se tratam as doenças cancerosas” Prof. Doutor Manuel Sobrinho Simões

24 DE MAIO� Semana Novos Economistas na FEP

7 DE JULHO� Rio Douro - Cerimónia de entrega de prémios do 7º Ciclo de Temas de Economia

� Conferência “Felicidade nas Organizações”Eng. Sérgio de Almeida

SETEMBRO/OUTUBRO 22/09 - 2/10 - 3ª Mostra Fotográfi ca

4/10 - Semana Novos Economistas na Universidade Católica Portuguesa

19/10-22/10 - 4º Congresso Nacional do Economistas Passeio Histórico