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LUCÉLIA SOFIA MARTINS FRADE QUALIDADE DE VIDA E ANSIEDADE NA PERTURBAÇÃO OBSESSIVO-COMPULSIVA Orientador: José de Almeida Brites Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Escola de Psicologia e Ciências da Vida Lisboa 2016

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LUCÉLIA SOFIA MARTINS FRADE

QUALIDADE DE VIDA E ANSIEDADE NA

PERTURBAÇÃO OBSESSIVO-COMPULSIVA

Orientador: José de Almeida Brites

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Escola de Psicologia e Ciências da Vida

Lisboa

2016

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LUCÉLIA SOFIA MARTINS FRADE

QUALIDADE DE VIDA E ANSIEDADE NA

PERTURBAÇÃO OBSESSIVO-COMPULSIVA

Dissertação defendida em provas públicas para a

obtenção do Grau de Mestre no Curso de Mestrado em

Psicologia Clínica e da Saúde, conferido pela

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

Despacho de Nomeação de Juri 196/2016, de 13 de

Julho de 2016.

Presidente da Mesa: Professor Doutor Américo Baptista

Arguente: Professora Doutora Ana Rita Goes

Orientador: Professor Doutor José de Almeida Brites

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Escola de Psicologia e Ciências da Vida

Lisboa

2016

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Lucélia Sofia Martins Frade, Qualidade de Vida e Ansiedade na Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 3

Agradecimentos

Ao Professor Doutor José de Almeida Brites, pela disponibilidade, incentivo,

transmissão de saberes, pelo apoio e compreensão.

À Associação Domus Mater e a todos os participantes deste estudo, pela

disponibilidade e tempo despendido e pela simpatia constante, sem eles este trabalho

não seria concretizável.

À minha família, por me terem ajudado nesta etapa da minha vida, aturaram o

meu cansaço, o meu mau feitio sem nunca hesitar em me dar uma palavra de conforto e

carinho, por me terem ajudado mesmo sem terem noção de que o estavam a fazer.

A todos os meus colegas e amigos de faculdade, à Romy Fernandes por ter sido

um pilar essencial nesta etapa, ao Ismael Cardoso por me ter desafiado a retomar o

curso inacabado, à Cristina Serra por partilharmos as nossas ansiedades e conseguirmos

rir das mesmas.

Aos amigos de sempre e em especial à Joana Falcão e Patrícia Osório por nunca

me terem deixado desistir, tendo sempre uma palavra de apoio e carinho para me dar.

A todos, obrigada por existirem e estarem presentes na minha vida!

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Lucélia Sofia Martins Frade, Qualidade de Vida e Ansiedade na Perturbação Obsessivo-Compulsiva

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Resumo

O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade de vida numa amostra de indivíduos

com Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC). Foi utilizada uma amostra de 60

indivíduos, 30 com POC e 30 que constituíram o grupo de controle. Os instrumentos

utilizados foram o Inventário Obsessivo-Compulsivo – Revisto (Rosa, Baptista, Santos

& Craveirinha, 2005), o Depression Anxiety Stress Scales (Lovibond & Lovibond,

1995), e o WHOQOL-BREF (Canavarro et al., 2007). Os resultados mostraram que o

grupo com POC apresentou índices médios de qualidade de vida inferiores aos do grupo

de controle, em todas as suas dimensões, e valores superiores de ansiedade, depressão e

stress. Ficou igualmente evidenciado o maior grau de ansiedade, depressão e stress nos

participantes que exibiam menor qualidade de vida. Após a discussão dos resultados

foram discutidas algumas implicações relativamente ao impacto desta perturbação na

qualidade de vida destes indivíduos.

Palavras-Chave: Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Qualidade de Vida, Ansiedade,

Depressão, Stress

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Lucélia Sofia Martins Frade, Qualidade de Vida e Ansiedade na Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 5

Abstract

The objective of this study was to evaluate the quality of life in a sample of individuals

with Obsessive-Compulsive Disorder (OCD). A sample of 60 individuals was used, 30

with OCD and 30 without OCD, as a control group. The instruments were the Inventory

Obsessive-Compulsive - Revised (Rosa, Baptista, Santos & Craveirinha, 2005), the

Depression Anxiety Stress Scales (Lovibond & Lovibond, 1995), and the WHOQOL-

BREF (Canavarro et al., 2007). The results showed that the group with OCD exhibited

average rates of quality of life lower than the control group, in all its dimensions, and

higher values of anxiety, depression and stress. It was also proven a greater degree of

anxiety, depression and stress in participants who exhibited a lower quality of life. After

the discussion of the results some implications of the impact of this disorder on quality of

life of these individuals are discussed.

Keywords: Obsessive-Compulsive Disorder, Quality of Life, Anxiety, Depression,

Stress

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Lucélia Sofia Martins Frade, Qualidade de Vida e Ansiedade na Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 6

Abreviaturas

APA…………………………………………………...American Psychiatric Association

DASS………….………………………………………Depression Anxiety Stress Scales

DSM…………………………………………………. Diagnostic and Statistical Manual

HADS…………………………………………...Hospital Anxiety and Depression Scale

IOC……………...……………………………………Inventário Obsessivo-Compulsivo

IOC – R …….………………………………Inventário Obsessivo-Compulsivo-Revisto

OMS ………………………………………………...…. Organização Mundial de Saúde

POC………………………………………………...Perturbação Obsessiva-Compulsiva

WHOQOL-BREF ……………………World Health Organization Quality of Life - Bref

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Lucélia Sofia Martins Frade, Qualidade de Vida e Ansiedade na Perturbação Obsessivo-Compulsiva

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

CAPÍTULO I – CONCEITOS TEÓRICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.1 Definição de Perturbação Obsessivo-Compulsiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1.2 Qualidade de Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . 15

1.3 Ansiedade Depressão e Stress . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

1.3.1 Ansiedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

1.3.2 Depressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

1.3.3 Stress . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1.4 A POC e a Qualidade de Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

CAPÍTULO II – MÉTODO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.1 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2.2 Hipóteses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2.3 Amostra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2.4 Instrumentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2.5 Procedimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

CAPÍTULO III – RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

3.1 Diferença de Médias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3.2 Correlações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Características Sociodemográficas da amostra . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Tabela 2 – Média de idades e da duração da relação nos dois grupos . . . . . . . . . 29

Tabela 3 – Diferença de médias entre os dois grupos nas variáveis estudadas . . 34

Tabela 4 – Intercorrelações entre as dimensões do IOC-R e da escala total para

os dois grupos em estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

36

Tabela 5 – Intercorrelações entre as dimensões do WHOQOL-Bref e da DASS

para os dois grupos em estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

37

Tabela 6 - Correlações entre o IOC-R e o WHOQOL-Bref e a DASS, para o

grupo de Controle. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

38

Tabela 7 - Correlações entre o IOC-R e o WHOQOL-Bref e a DASS, para o

grupo com POC. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . ..

39

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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 9

Introdução

O conceito de Qualidade de vida é relativamente recente, tendo adquirido maior

importância na área das perturbações mentais na última década. A maioria dos estudos

efetuados tem evidenciado sobretudo o grau de incapacidade, a disfunção e as

dificuldades que este tipo de doenças provocam na vida dos indivíduos e dos seus

familiares (Cramer, Torgersen, & Kringlen, 2005).

As perturbações de ansiedade estão entre as doenças mais prevalentes e os estudos

apontan que estas reduzem extensamente a qualidade de vida dos pacientes (Kessler et al.,

2005). Mais do que qualquer outro tipo de perturbação de ansiedade, a perturbação

obsessivo-compulsivo (POC), enquadra-se nesta descrição, sendo caracterizada por um

curso crónico, apresentando frequentes flutuações na intensidade dos sintomas, sendo a

possibilidade de remissão espontânea destes sintomas extremamente baixa (Masellis,

Rector, & Richter, 2003).

Em 1998, num levantamento levado a cabo pela Organização Mundial da Saúde

(OMS, 2007) a POC foi considerada a quarta perturbação psiquiátrica mais comum,

sendo precedida apenas pela depressão, pela fobia social e pelo abuso de substâncias.

Deste modo, encontra-se entre as 10 maiores causas de incapacidade, provocando um

forte impacto negativo na vida dos pacientes e no normal desempenho das suas

atividades.

Ainda segundo os dados da OMS (2007), a POC afeta uma percentagem que se

estima entre 1,6 a 3,1% da população geral em algum momento da vida, apresentando

assim uma prevalência superior à esquizofrenia e à perturbação de humor bipolar (Jenike,

2008) Trata-se de uma situação clínica que atinge de igual modo ambos os sexos,

podendo os sintomas iniciarem-se na infância, embora geralmente o seu aparecimeto se

situe entre a segunda e a terceira década de vida (Sasson et al., 1997).

Uma parte significativa dos portadores de POC é solteira, especialmente os

homens, sendo que apenas 35% já foram casados, comparativamente a taxas de 60 a 75%

entre as mulheres. Essa diferença pode ser explicada, em parte, devido ao início da POC

ser mais precoce entre os homens. Os individuos tendem a ser divorciados,

desempregados, de baixo nível sócio-económico, verificando-se que costumam recorrer

mais aos serviços de saúde do que a população geral. O tempo gasto na realização dos

rituais, o isolamento social e as desavenças familiares também parecem contribuir para o

aumento do sofrimento e dos prejuízos na qualidade de vida (Del-Porto, 2001).

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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 10

Atualmente ainda são poucos os estudos que abordam a qualidade de vida nos

indivíduos com POC, mas estes indicam que mais de 20% dos portadores apresentam

sintomas graves; as obsessões e compulsões ocupam a maior parte do dia desses

indivíduos, causando um impacto negativo no seu dia-a-dia, nas atividades sociais e

ocupacionais, bem como nas suas relações familiares (Del-Porto, 2001).

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CAPÍTULO I - CONCEITOS TEÓRICOS

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1.1 Definição de Perturbação Obsessivo-Compulsiva

A primeira descrição de um caso de Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC)

foi encontrada nos escritos de Esquirol em 1838, como sendo uma doença do medo de

contacto, ou, como o próprio Esquirol referia, “delire du toucher” (Burgy, 2005). Foi a

partir dos finais do século XVIII que os fenómenos obsessivos começaram a ser tidos em

conta e a obter reconhecimento médico, porque até então, estes fenómenos eram

explicados à luz do sobrenatural e da religião, sendo frequente afirmar-se que as pessoas

eram vítimas de possessão demoníaca.

Morel, em 1866 (Cit In Berrious, 1994), descreveu os estados obsessivos como

“delírios emotivos”, destacando que não eram “insanidade” mas sim “neuroses”. Desde

que Krafft- Ebing assinalou o termo “Zwangvorstellung” em 1867 para fazer referência

aos pensamentos irresistíveis, e que Karl Westphal, em 1877, descreveu que esses

pacientes apresentavam pensamentos irresistíveis e comportamentos incontroláveis

(Berrious, 1994), os sintomas nucleares da POC, tal como a entendemos hoje, quase não

se modificaram.

Após várias tentativas para caracterizar corretamente a POC, Rachman (1988),

definiu obsessão como sendo um pensamento, uma imagem ou um impulso, intrusivo e

repetitivo que origina resistência subjetiva. Os pensamentos obsessivos podem ser de

vários tipos: ideias, imagens, convicções, ruminações, impulsos e medos. As compulsões

são atos, ou mesmo fenómenos mentais, essencialmente repetidos de forma estereotipada,

que podem ser aceitáveis ou inaceitáveis, guiados por regras que o sujeito tem que aplicar

de forma rígida (Heyman, Mataix-Cols & Fineberg, 2006). Embora existam vários tipos

de compulsões, os mais frequentes são os rituais de lavagem (lavar frequentemente as

mãos ou o corpo) e os de verificação (por exemplo, verificar se a porta ficou trancada, se

o gás está desligado,…) como se pode confirmar no estudo realizado por Rasmussen e

Eisen (1992) com 250 doentes diagnosticados com POC, onde 63% apresentavam rituais

compulsivos de verificação, 50% de lavagem, 36% de contagem e 48% de compulsões

múltiplas. É de notar que os sujeitos podem apresentar mais do que um tipo de compulsão

simultaneamente. Atualmente, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das

Perturbações Mentais (DSM 5, American Psychiatric Association, 2013), a POC

caracteriza-se como sendo uma perturbação da ansiedade onde as obsessões são ideias,

pensamentos, impulsos e imagens persistentes que são experimentados como intrusivos e

inapropriados e que causam forte ansiedade ou mal-estar e as compulsões são

comportamentos repetitivos ou atos mentais, cujo objetivo é evitar ou reduzir a ansiedade

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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 13

ou mal-estar gerado pelas obsessões, e não criar prazer ou gratificação ao sujeito (APA,

2013).

Sendo a POC caracterizada pela existência de obsessões e/ou compulsões,

capazes de interferir com o funcionamento normal do indivíduo, essas obsessões e/ou

compulsões ocorrem no mínimo uma hora por dia, promovendo sofrimento ou

comprometimento social significativos para o indivíduo.

Num estudo com 431 doentes com POC (Foa et al., 1995) verificou-se que as

obsessões mais comuns nesta perturbação são: contaminação de germes, vírus, fluidos

do corpo, químicos ou materiais perigosos (38%); medo do perigo, como por

exemplo de portas mal fechadas (24%); preocupação excessiva com a ordem ou com a

simetria (10%); as obsessões com o corpo ou com sintomas físicos (7%); pensamentos

religiosos, sacrílegos ou blasfemos (6%); pensamentos de ordem sexual como por

exemplo de pedofilia ou homossexuais (6%); vontade de acumular bens inúteis ou

desgastados (5%); e, por fim, pensamentos de violência ou de agressão (4%). Já

relativamente às compulsões mais comuns e a sua frequência: verificações (29%);

limpeza e lavagens (27%); repetições (11%); compulsões mentais, como por exemplo

palavras especiais ou repetições de números (11%); ordem, simetria e exatidão (69%);

colecionismo (4%); e, por último a contagem (2%).

Para além das obsessões e compulsões, importa ainda definir o termo “ritual” e o

termo “ruminação”. O conceito de “ritual” é sinónimo de compulsão, no entanto,

geralmente, refere-se a comportamentos que as outras pessoas podem ver (Freeston,

Rhéaume & Ladoucer, 1996). Já o termo “ruminação” refere-se a algum pensamento

prolongado que é vivenciado como incontrolável e sobre um mesmo assunto. Este

inclui tanto os pensamentos intrusivos, muitas vezes na forma de dúvidas ou perguntas,

como também repetidas tentativas de encontrar uma resposta. Desta forma, abrange tanto

a obsessão (as dúvidas ou perguntas) como o acompanhamento do pensamento

compulsivo que tenta responder à pergunta (Freeston et al., 1996).

A gravidade da POC é variável, existindo casos com sintomas leves até casos

com sintomas extremamente graves e incapacitantes. É uma perturbação em geral

crónica e manifesta-se independentemente de sexo, raça, inteligência, estado civil, nível

socioeconómico, religião ou nacionalidade, com uma prevalência atual de 2% a

2,5% ao longo da vida (Torres & Lima, 2005). Normalmente, a perturbação começa

no início da idade adulta, mas pode ocorrer tão cedo como na infância, tendo sido

verificados casos cujo início ocorreu entre os 6 e os 15 anos, sendo contudo mais

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frequente a idade de aparecimento situar-se entre os 20 e os 29 anos (Young & Hawkins,

2011). O início desta doença é frequentemente gradual, mas pode ser aguda, mas o

seu curso tende a ser crónico com a diminuição dos sintomas. Cerca de 15% das

pessoas com sintomas de POC vivem um declínio progressivo no funcionamento social

e ocupacional.

Apesar de a POC ser definida pelo DSM 5 como uma perturbação única, a sua

apresentação clínica pode variar bastante, tanto entre pessoas diferentes como na

mesma pessoa ao longo do tempo.

Uma das evidências mais consistentes a partir de estudos psicopatológicos,

genéticos, de neuroimagem e de tratamento nas últimas décadas é a de que a POC é

uma perturbação heterogénea (Miguel et al., 2005). Perante isto, vários investigadores

têm-se dedicado à caracterização de subgrupos mais homogéneos de pessoas com

sintomas de POC que facilitem a interpretação e realização de estudos nesta área

(Khanna & Mukherjee, 1992; Leckman et al, 1995; Rosário-Campos et al., 2001).

Uma dessas caracterizações baseia-se na distinção de subgrupos mediante uma

abordagem dimensional, em que os sintomas obsessivo-compulsivos são analisados de

forma quantitativa e qualitativa, de modo a reduzir a variabilidade de sintomas a um

número menor de categorias que ocorrem juntas. Assim, foram caracterizados quatro

fatores ou dimensões de sintomas na POC: obsessões de agressão, sexuais, somáticas e

religiosas e compulsões relacionadas; obsessões de simetria e ordenação e compulsões

de contagem e ordenação/arranjo; obsessões de contaminação e compulsões de

limpeza e lavagem; e por fim, obsessões e compulsões de colecionismo.

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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 15

1.2 Qualidade de Vida

A Organização Mundial de Saúde [OMS] veio definir a qualidade de vida, do

seguinte modo, “trata-se da perceção, por parte de indivíduos ou grupos, da satisfação

das suas necessidades e daquilo que não lhes é recusado nas ocasiões propícias à sua

realização e à sua felicidade” (Couvreur, 2001, p.42). Acresce-se ainda que “a

perceção individual da sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de

valores nos quais se insere e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações” (Ascensão, 2011, p.4).

A partir dos anos 80, a noção de qualidade de vida abrange quatro perspetivas

distintas, nomeadamente, a biológica, a cultural, a psicológica e a económica, numa

perspetiva multidimensional (Farquhar, 1995). Na década seguinte conclui-se pela

multidimensionalidade e subjetividade desta ideia, visto que a qualidade de vida é

avaliada individualmente nas diversas perspetivas pelo próprio indivíduo. As quatro

perspetivas são assim explicadas por Leal (2008):

- Na perspetiva biológica, a qualidade de vida designa-se por ser a perceção

que o indivíduo possui da afeção física, isto é, a capacidade que o indivíduo acha que

ainda tem para realizar determinadas tarefas depois de surgir alterações no seu estado de

saúde;

- Na perspetiva cultural, a qualidade de vida diz respeito à educação,

principalmente, na infância, visto que é neste período de vida que os pais têm o dever

de transmitir aos seus filhos os hábitos e os valores intrínsecos ao meio cultural;

- Na perspetiva económica, a qualidade de vida refere-se ao suporte financeiro e

aos bens materiais que cada indivíduo possui. Alguns indivíduos consideram possuir

qualidade de vida a nível económico, apesar de não possuírem muitos recursos

financeiros, enquanto outros, pelo contrário, apesar de possuírem muitos recursos

financeiros não se consideram com qualidade de vida;

- Na perspetiva psicológica, a qualidade de vida designa-se pela autoestima e

pelo respeito, por exemplo, saber manter relações sociais, saber manter as dificuldades

da vida mantendo o equilíbrio mental, entre outras. A autora acrescenta ainda que a

qualidade de vida encontra-se dependente não só do indivíduo mas também da sua

interação com os outros e com a sociedade (Leal, 2008).

Ainda nos anos 90, a OMS organizou o World Health Organization Quality Of

Life [WHOQOL] Group com vários peritos, com o objetivo de esclarecer a definição

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Lucélia Sofia Martins Frade, Qualidade de Vida e Ansiedade na Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 16

de qualidade de vida e elaborar um instrumento que a permitisse avaliar (Whoqol-

Group, 1994). Concluiu-se que o conceito de qualidade de vida é a perceção do

indivíduo sobre a sua posição na vida, dentro do contexto dos sistemas de cultura e

valores nos quais está inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações (Grelha, 2009).

O conceito de qualidade de vida passa assim a ser representado através de um

modelo que abrange três níveis distintos – superior, intermédio e inferior. O nível

superior refere-se à qualidade de vida ótima, o nível intermédio define as dimensões

que posteriormente serão analisadas para verificarmos se existe qualidade de vida, e

por fim, o nível inferior destaca as componentes de cada dimensão. Deste modo, o

modelo permite obter uma visão global acerca da qualidade de vida do indivíduo

(Pimentel, 2006).

Por sua vez, Amaro (2006), ao analisar o conceito de qualidade de vida refere que

pode haver várias dimensões, quer subjetivas, ou seja, a forma como a pessoa avalia a

sua qualidade de vida, quer objetivas, isto é, a saúde física e mental, as condições de

habitação, o tipo de alimentação, o acesso a bens de consumo essenciais, o acesso a bens

culturais, a integração familiar e comunitária, por fim, o acesso à participação cívica. O

autor acrescenta que qualquer das duas dimensões de qualidade de vida também incluem

dimensões do foro social, sendo a sua análise relevante para a vida familiar.

1.3 Ansiedade, Depressão e Stress

1.3.1 Ansiedade

A ansiedade pode ser descrita como um estado emocional que apresenta

componentes psicológicos e fisiológicos, os quais fazem parte do espectro normal da

existência humana, sendo por isso considerada como uma reação natural, e mais do que

isso, fundamental para a auto-preservação, sendo uma das suas funções a adaptação do

organismo face a situações de perigo. Por outro lado, a ansiedade também pode ter

efeitos e consequências negativas para o sujeito, sobretudo se for excessiva ou se

prolongar no tempo, pois neste caso, em vez de contribuir para ajudar a lidar com a

situação que causa ansiedade, vai diminuir a capacidade de resposta eficaz.

A fenomenologia da ansiedade é variável e pode variar ao longo do tempo ou de

acordo com as situações que a desencadeiam (Baptista, Carvalho & Lory, 2005), que

caracterizam a ansiedade como sendo um estado emocional aversivo, sem

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desencadeadores claros, que não podem ser evitados. É também uma emoção que se

baseia na avaliação pessoal de um indivíduo a determinada ameaça (Lazarus & Averill,

1972). Os principais sintomas podem incluir, por um lado, a tristeza, a vergonha, a

culpa e, por outro, a cólera, a curiosidade, o interesse ou a excitação (Baptista et. al.,

2005). Mas para lá destes aspectos bem definidos, a ansiedade é também uma

experiência de carácter subjetivo (May, 1980) na medida em que o indivíduo, perante

uma situação, não pode fazer face às suas exigências e sente uma ameaça à sua

existência ou aos valores que considera essenciais, desencadeando assim a experiência

de stress, a qual vai conduzir a mudanças fisiológicas e comportamentais, que resultam

da ativação do sistema nervoso autónomo, que incluem sintomas fisiológicos, como,

sudação excessiva, tremores, palpitações, falta de ar, tonturas, entre outros, bem como

sintomas comportamentais, como, tensão, apreensão e preocupação (Spielberger, 1979,

1985).

Os diferentes níveis e estados de ansiedade são vividos de maneira diferente, no

que diz respeito à sua intensidade e duração. Assim, quando a ansiedade não é

excessiva, ela caracteriza-se por sentimentos de tensão, apreensão e nervosismo,

enquanto níveis mais elevados de ansiedade estão associados com sentimentos que

podem ser muito intensos de medo ou pavor, podendo a pessoa apresentar um

comportamento que se aproxima ou atinge mesmo o pânico (Spielberger, 1979; 1985).

A intensidade e duração dos estados de ansiedade varia de pessoa para pessoa e

depende muito da percepção que esta tem relativamente ao agente causador dessa

mesma ansiedade.

Mas ainda que a situação não seja ameaçadora, basta que seja percepcionada

como tal para desencadear um estado de ansiedade intensa, porque o sujeito vai

interpretar a situação como uma ameaça à sua auto-estima e ao seu bem-estar (Gaudry

& Spielberger, 1971; Laux & Vossel, 1982). Daqui resulta que a mesma situação pode

ser percebida por umas pessoas como sendo ameaçadora e por outras, como não

ameaçadora. Nestes casos, é a avaliação pessoal da situação e a experiência passada da

pessoa que vão determinar o potencial grau de ameaça da situação (Gaudry &

Spielberger, 1971).

A ansiedade encontra-se classificada no DSM 5, agrupando um conjunto de

perturbações (APA, 2013). A perturbação generalizada da ansiedade apresenta duas

características essenciais, que são a ansiedade e a preocupação constante e exagerada

acerca de um conjunto de acontecimentos que perduram por, pelo menos, seis meses

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(APA, 2013). As preocupações são de difícil controlo e interferem no quotidiano do

sujeito (Baptista, Pereira, Carvalho, Lory & Santos, 2001). Segundo a APA (2013) o

sujeito deverá apresentar, além de preocupação e ansiedade, três ou mais dos seguintes

sintomas: agitação, nervosismo ou tensão interior; fadiga fácil; dificuldades de

concentração ou mente vazia; irritabilidade; tensão muscular; perturbações do sono,

manifestando dificuldades em adormecer ou manter o sono, ou sono agitado e pouco

satisfatório. Na perturbação generalizada da ansiedade os sujeitos nem sempre

classificam as suas preocupações como excessivas, embora possam descrever um mal-

estar subjetivo devido a um constante desassossego, assim como apresentam

dificuldade em controlar as suas inquietações e podem evidenciar deficiências no

funcionamento social, ocupacional ou noutras áreas importantes.

1.3.2 Depressão

A primeira concetualização clara do conceito de depressão, em termos

científicos, aparece em finais do século XIX, e foi elaborada por Kraeplin, ao

estabelecer a fronteira entre a psicose maníaco-depressiva e a demência precoce, com a

nosologia descrita por este autor a servir de base a muitos dos modelos atuais da

depressão. Mais tarde, Adolf Meyer propôs o termo depressão para substituir o que até

então era usado, a melancolia. Para este autor as perturbações depressivas

correspondiam a reações mal adaptativas ao stresse ambiental, introduzindo assim o

conceito de reatividade na depressão (Teles-Correia, 2009).

A depressão é um perturbação psiquiátrico que afeta cerca de 121 milhões de

pessoas no mundo inteiro, estima-se que uma em cada quatro pessoas do mundo sofre,

sofreu, ou vai sofrer de depressão (WHO, 2007). Os custos pessoais e sociais desta

doença são muito elevados, sendo uma das principais causas mundiais de incapacidade.

Pode ser diagnosticada e tratada em cuidados de saúde primários, contudo menos de

25% dos que padecem de depressão têm acesso a tratamentos eficazes (WHO, 2007).

A depressão é um perturbação multifatorial e, por isso, as variáveis que

desencadeiam ou mantêm a sintomatologia depressiva, variam de pessoa para pessoa,

bem como os fatores de risco que estão implicados, tais como o género, aspetos

neuroendocrinológicos, indicadores familiares e sociais e estratégias de coping, entre

outros (Baptista et al., 2001). A pessoa que sofre de depressão é afetada no seu todo,

com repercussões psicológicas, biológicas e sociais sobre o próprio (Serra, 2011).

De entre os principais sintomas emocionais manifestados no indivíduo com

depressão está a tristeza e o abatimento, que ocasionam um sentimento de desesperança

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em relação à vida futura, perdendo o interesse e a vontade em qualquer atividade que

antes dava prazer. Os sintomas podem ser subdivididos em quatro categorias:

emocionais, cognitivos, físicos e motivacionais. Os emocionais caraterizam-se pela

tristeza, abatimento e diminuição ou perda total de prazer nas atividades de vida que

antes eram executadas com satisfação; os cognitivos, são pensamentos negativos de si

próprio, que causam uma baixa auto-estima, desesperança sobre a vida futura,

diminuição da concentração e memória; os físicos, referem-se a um cansaço excessivo,

mudança no apetite e no sono e mal-estar geral causado por aumento de dores, e por

último, os motivacionais que têm como caraterística principal a falta de iniciativa e total

inércia perante a situação (Atkinson, 2002).

Segundo o DSM 5, a depressão é uma Perturbação do Humor e a sua

sintomatologia caracteriza-se por humor depressivo, diminuição do interesse ou

prazer em todas ou quase todas as atividades diárias; perda ou aumento de peso

significativos num curto espaço de tempo; insónia ou hipersónia; fadiga ou perda

de energia; sentimentos de desvalorização ou culpabilidade excessiva ou

inapropriada; diminuição das capacidades de pensamento, concentração ou

indecisão e, por último, pensamentos recorrentes acerca da morte, ideação suicida

recorrente, ou até mesmo, tentativa ou plano para cometer suicídio. Todas estas

características deverão estar presentes nos indivíduos, em todos ou quase todos os dias.

Para que seja diagnosticada uma depressão será necessária a presença de pelo

menos cinco destes sintomas durante duas semanas. O DSM 5 estabeleceu como

critérios de diagnóstico de Episódio Depressivo Major apenas os previamente

referidos. No entanto, importa perceber se se trata de um Episódio misto. Para se

diagnosticar um Episódio Depressivo Major importa o sujeito manifestar mal-estar

clinicamente significativo, ou deficiências no funcionamento social, ocupacional, ou

em qualquer outra área relevante. Os sintomas não podem ser causados por efeitos

fisiológicos diretos de uma substância de abuso ou de um estado físico geral, como

por exemplo o hipotiroidismo (APA, 2013). Em relação à prevalência na população,

observa-se que o sexo feminino apresenta maior risco, comparativamente ao

masculino, principalmente na Europa e Estados Unidos da América.

Em relação ao diagnóstico diferencial, o Episódio Depressivo Major deverá ser

distinguido de Perturbação do Humor Secundária a um estado físico geral,

considerado, neste caso, como consequência fisiológica direta de um estado físico

específico. A Perturbação do Humor induzida por substâncias tóxicas difere do

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Humor Depressivo, na medida em que o sujeito, neste caso, consome substâncias

ilícitas. Também se pode verificar, nos idosos, confusão entre a Perturbação do

Humor e um estado demencial, visto existir elevada co- morbilidade e semelhança

de sintomas (APA, 2013).

Relativamente à distratibilidade e baixa tolerância à frustração, que são

sintomas que ocorrem, simultaneamente, na Perturbação Hiperativa com défice de

atenção e no Episódio Depressivo Major, quando se preencherem critérios para as

duas perturbações, estas poderão ser diagnosticadas em conjunto. Um Episódio

Depressivo Major que ocorra em resposta a um acontecimento psicossocial,

distingue-se da Perturbação da Adaptação com Humor Depressivo. Em última

análise, o diagnóstico de Perturbação Depressiva, sem outra especificação, poderá

ser apropriado para os quadros clínicos com humor depressivo e deficiência

clinicamente significativa, que não preencham os critérios de duração ou intensidade

(APA, 2013).

1.3.3 Stress

O termo stress tem recebido, ao longo da história, diversas atribuições (Serra,

2011). A palavra stress provém do verbo latino, stringo, stringere, strinxi, strictum que

significa apertar, comprimir ou restringir, sendo utilizada desde o século XIV, para

exprimir pressão ou constrição de natureza física, passando mais tarde a referir-se,

também, a pressões que incidem sobre um órgão corporal ou sobre a mente humana

(Serra, 2011). No século XX, dá-se a transição da palavra stress, da física para a

medicina, por via dos estudos de Seyle, na década de 30.

A nível da psicologia o conceito de stress teve o seu grande desenvolvimento

com os trabalhos de Lazarus e Folkman (1984). O stress, sendo uma temática muito

debatida atualmente, não é um fenómeno novo, na medida em que estímulos que exigem

adaptações humanas são intrínsecos à própria vida e, desde sempre, o ser humano teve de

interagir com o seu ambiente (físico e social), encontrando-se, por isso, exposto às suas

pressões (Frasquilho, 2005, 2009).

Podemos definir o stress como um processo através do qual, eventos ambientais

ou psicológicos, que são assim considerados como as fontes de stress, vão funcionar

como potenciais ameaças à segurança e bem-estar do organismo (Baum, Grunberg &

Singer, 1982). Embora se verifique uma tendência para dar realce aos aspetos negativos

do stress, em determinadas situações, este pode considerar-se útil e adaptativo, na

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medida em que serve de fator que leva à tomada de decisões e à resolução de problemas,

ajudando à melhoria das funcionalidades e das aptidões do indivíduo, o que levou Serra

(2011) a considerar que as situações stressantes podem encarar-se como oportunidades

de aprendizagem e evolução.

O stresse é um conceito transacional, que congrega a situação, as respostas

humanas, a vivência da situação e integra a relação entre o biológico e o social. Trata-

se de uma construção mental, que representa a relação do sujeito com as

circunstâncias do seu quotidiano diário (Frasquilho, 2009). A resposta de stresse é

uma reação global do organismo a um agente stressor. É natural o sujeito possuir um

nível de stresse moderado, que esteja em equilíbrio com as exigências do seu dia-a-dia.

Denomina-se por ‘eustress’ o período de vitalidade, vigor físico, produtividade e

lucidez do sujeito, tratando-se de um stresse construtivo; num sentido oposto, o

‘distress’ consiste na fadiga, irritabilidade, pessimismo, pouca concentração e

incapacidade de decidir, culminando na exaustão, consistindo num stresse

destrutivo (Lazarus, 1999; Martins, 2004; Frasquilho, 2009). De um modo geral, é

possível verificar que o eustresse é positivo e pode ser um factor de protecção para a

saúde, enquanto o distresse é perigoso para o sujeito e nocivo ao organismo (Lazarus,

1999).

Ao adotar esta perspetiva do stress como sendo um processo interativo, ou

transacional, entre estímulos do ambiente e as respostas do indivíduo, emerge uma nova

variável, a existência de diferenças individuais, que vão refletir a especificidade dos

mecanismos psicológicos envolvidos, em particular os processos de avaliação cognitiva

de cada um, ao que corresponde o modo como cada sujeito irá lidar com a situação de

stress (Gomes, Cruz & Melo, 2000; Lazarus & Folkman, 1984; Serra, 2011). Assim,

quando se desenvolve a perceção de falta de controlo sobre uma ocorrência ou

circunstância, independentemente de esta poder ser real ou distorcida, surge o stress e,

face a isso, é desenvolvido um conjunto de ações e estratégias, tendo por finalidade

resolver ou, pelo menos, atenuar o problema. Deste modo, compreende-se que o stress

seja encarado como um conceito transacional, que agrupa em si a situação, a forma como

esta é vivida e as respostas do indivíduo, integrando a relação entre o biológico e o

social. Trata-se de uma construção mental, que representa a relação do sujeito com as

circunstâncias do seu quotidiano (Frasquilho, 2009).

Todos os fatores ou situações de stress desencadeiam no ser humano vários tipos

de resposta, as quais podem ser de natureza biológica, de comportamento observável,

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com uma correspondência cognitiva e emocional, e que ocorrem de forma simultânea,

influenciando-se mutuamente, sendo estas respostas tanto mais acentuadas quanto mais

intensa, frequente e prolongada for a exposição ao stress. A resposta ao stress é uma

reação global do organismo a um agente stressor (Frasquilho, 2005, 2009; Serra, 2011).

O processo de stress pode culminar em reações psicológicas como ansiedade,

depressão, alterações cognitivas e reações fisiológicas, podendo originar doenças e

alterações comportamentais indesejáveis (Frasquilho, 2005). Contudo, embora o stress

possa estar na origem de diversas patologias, por si só, não pode considerar-se como uma

doença (Serra, 2011).

Ansiedade, depressão e stress são três conceitos que como vimos, funcionam

entre si de maneira estreita. Na sequência deste facto, surgiu o designado modelo

tripartido para a depressão, ansiedade e stress (Clark & Watson, 1991; Clark,

Assenheimer, Weber, Strauss & McCormick, 1995; Watson et al., 1995), onde estes três

constructos estavam presentes e que poderia ser utilizado para classificar e compreender

os distúrbios afetivos. Segundo Pais-Ribeiro, Honrado e Leal (2004), o distress, ou

afecto negativo, inclui sintomas inespecíficos, relatados por sujeitos diagnosticados com

perturbações do humor, ansiedade e humor deprimido, e que habitualmente

apresentavam sintomas como insónia, desconforto, insatisfação, irritabilidade e

dificuldade de concentração.

Segundo o modelo tripartido, a ansiedade e a depressão apresentam caraterísticas,

tanto comuns, como específicas. A depressão seria então caracterizada pelo afeto

positivo baixo e anedonia, enquanto a ansiedade era caraterizada principalmente por

manifestações somáticas, ambas apresentando ambas um fator não específico,

denominado por distresse ou afeto negativo, sendo deste modo experimentados, tanto por

indivíduos deprimidos, como ansiosos.

1.4 A POC e a Qualidade de Vida

Os diferentes aspetos da qualidade de vida são na sua generalidade afetados por

esta perturbação, em graus que podem variar (Subramaniam, Soh, Vaingankar, Picco &

Chong, 2013). A qualidade de vida dos sujeitos com POC mostrou estar correlacionada

com múltiplos fatores, alguns de ordem geral e outros que eram mais específicos às

particularidades de cada indivíduo, sendo igualmente influenciada pelas interações com

o meio e com a qualidade do ambiente social no qual o indivíduo se encontra.

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A quase totalidade dos indivíduos com POC apresentam uma baixa qualidade de

vida, quer a nível emocional quer a nível social (Moritz et al, 2005). Contudo, os

autores chamam ainda a atenção para o facto de uma larga maioria também referenciar

uma baixa qualidade de vida ao nível físico. No seu trabalho, os autores verificaram que

valores mais baixos na dimensão física da qualidade de vida estavam principalmente

associados a alguns fatores específicos, nomeadamente a duração da doença, o número

de compulsões e o nível de sintomatologia depressiva.

Estes resultados vieram a ser confirmados pouco tempo depois, por Stengler-

Wenzke, Kroll, Matschinger, e Angermeyer, (2006), num estudo com 75 pacientes que

sofriam de POC, e que em todas as dimensões do WHOQOL-BREF tiveram pontuações

significativamente inferiores a um grupo de controlo da população geral.

Mais recentemente, (Macy et al, 2013) mostraram que a qualidade de vida nos

pacientes com POC se encontra significativamente diminuída quando comparada, não

só com a população geral mas também com vários grupos de outros pacientes, com

perturbações do foro médico e também do foro psiquiátrico. Da mesma forma, o grau

no qual a qualidade de vida nos pacientes com POC era afetado mostrou uma elevada

relação com a presença de fatores de comorbilidade (Besiroglu, Uguz, Saglam, Agargun

& Cilli, 2007). Estes resultados vieram confirmar os de Hou, Yen, Huang, Wang, e Yeh

(2010), onde novamente os participantes com POC apresentaram níveis

significativamente inferiores de qualidade de vida nas dimensões Físico, Psicológico e

Social, apenas não se verificando diferenças significativas na dimensão Ambiental.

Diversos fatores foram associados aos níveis mais baixos de qualidade de vida, e entre

eles podemos destacar a existência de comorbilidade, a presença de depressão,

sintomatologia obsessiva grave, acentuados efeitos secundários da medicação, uso de

estabilizadores do humor, baixo suporte social percebido e baixo estatuto social (Hou et

al., 2010).

Fazendo uma revisão destes e de outros trabalhos nesta área, Vasudev, Yallappa

e Saya (2015) concluíram que na generalidade os pacientes com esta perturbação

apresentavam na sua generalidade níveis significativamente inferiores de qualidade de

vida e de bem estar. Contudo, um dado para o qual estes autores chamaram a atenção

tem a ver com o facto de este comprometimento não se restringir, como era esperado,

aos aspetos sociais e emocionais da qualidade de vida, mas frequentemente apresentar

também uma associação com aspetos de ordem somática, os quais, concluíram, devem

ser abordados cuidadosamente pelos técnicos de saúde, por exemplo, para pesquisar se

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existe depressão ou algumas dificuldades a nível físico, já que a correta abordagem

destas situações pode ser um fator poderoso no que concerne ao êxito das intervenções

nestes casos (Vasudev et al., 2015).

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CAPÍTULO II - MÉTODO

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2.1 Objetivos

Com o presente estudo pretendemos contribuir para uma melhor compreensão da

qualidade de vida em indivíduos com perturbação obsessiva-compulsiva. Mais

concretamente, perceber a diferença que existe na qualidade de vida entre um grupo de

participantes com POC e outro grupo, de controle, recolhido da população geral. Como

objetivos mais específicos propomo-nos igualmente compreender a relação entre as

diferentes dimensões da qualidade de vida e ansiedade, depressão e stress nos

indivíduos com POC.

2.2 Hipóteses

Assim, e tendo em conta os objetivos acima referidos, consideramos as seguintes

hipóteses para o nosso estudo:

Hipótese 1: É esperado que o grupo de participantes com POC apresente uma

menor qualidade de vida em todas as suas dimensões, relativamente ao grupo de

controle.

Hipótese 2: É esperado que o grupo de participantes com POC apresenta índices

mais elevados de ansiedade, depressão e stress, relativamente ao grupo de controle.

Hipótese 3: É esperado que as pessoas com melhor qualidade de vida revelem

menos ansiedade, menos depressão e menos stress.

Hipótese 4: É esperado que as pessoas com sintomas de POC revelem um grau

de associação maior com a ansiedade, depressão e stress.

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2.3 Amostra

Participaram neste estudo 60 indivíduos de ambos os sexos, (31 do sexo

masculino e 29 do sexo feminino), que foram agrupados em dois grupos, de 30

participantes cada, um com Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) e outro que não

apresentava essa perturbação – grupo de Controle. Todos participantes eram de

nacionalidade portuguesa e de etnia Branca/Caucasiana.

Relativamente às suas habilitações, o número de anos de escolaridade variou

entre os 9 e os 18 em ambos os grupos. Quanto à sua situação profissional, a quase

totalidade dos participantes do grupo de controle trabalha, enquanto no grupo com POC

existe uma percentagem significativa, 2(1) = 6.667, p < .001de indivíduos que não

trabalham (ver Tabela 1). A nível da sua filiação religiosa, a maioria dos participantes

referiu ser católica.

Tabela 1 – Características Sociodemográficas da amostra

Grupo

POC (n=30) Controlo (n=30)

N % N % 2 p

Sexo .067 .796

Masculino 16 26.7 15 25.0

Feminino 14 23.3 15 25.0

Anos de Escolaridade 9.206 .418

9 3 5.0 1 1.7

10 0 0.0 1 1.7

11 1 1.7 1 1.7

12 11 18.3 15 25.0

13 1 1.7 0 0.0

14 2 3.3 0 0.0

15 5 8.3 3 5.0

16 0 0.0 3 5.0

17 6 10.0 5 8.3

18 1 1.7 1 1.7

(continua)

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Tabela 1 - (continuação)

POC (n=30) Controlo (n=30)

N % N % 2 p

Estado Civil 10.527 .062

Solteiro 16 26.7 8 13.3

Casado 3 5.0 10 16.7

Separado 2 3.3 0 0.0

Divorciado 1 1.7 1 1.7

União de Facto 2 3.3 6 10.0

Numa relação 6 10.0 5 8.3

Trabalha 6.667 .010

Não 10 16.7 2 3.3

Sim 20 33.3 28 46.7

Filiação Religiosa 0.277 .871

Catolica 21 35.0 21 35.0

Nenhuma 6 10.0 7 11.7

Outras 3 5.0 2 3.3

Nota: ** p < .01

No estado civil, verifica-se que a maior parte dos participantes do grupo POC

são solteiros (26,7%) enquanto no grupo de Controle a classe com maior frequência era

a dos casados (16,7%) embora essa diferença não fosse significativa.

Relativamente aos participantes com uma relação, verificou-se que no grupo de

Controle, a duração média desse relacionamento (M=6.53, DP=6.55) era

significativamente superior t(31) = -2.778, p =.007, à que se verificou no grupo com

POC (M=2.03, DP=5.99).

Por fim, em termos etários, o grupo de Controle apresentou uma média de idades

de 34.63 anos (DP=8.84), ligeiramente superior à do grupo com POC, que foi de 32.50

anos (DP=10.08), não sendo essa diferença, contudo, significativa, t(58) = -.872, p =

.387, como está representado na Tabela 2.

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Tabela 2 – Média de idades e da duração da relação nos dois grupos

Grupo

POC (N=30) Controlo (N=30)

M DP M DP t(58) p

Idade 32.50 10.08 34.63 8.84 -.872 .387

POC (N=11) Controlo (N=22)

M DP M DP t(31) p

Duração da Relação 2.03 5.99 6.53 6.55 -2.778 .007

2.4 Instrumentos

Sintomas Obsessivo-Compulsivos. Os Sintomas Obsessivo-Compulsivos foram

avaliados pelo Inventário Obsessivo-Compulsivo – Revisto (IOC-R; Rosa, Baptista,

Santos & Craveirinha, 2005). Este instrumento avalia o grau de sintomatologia

obsessivo-compulsiva através de nove dimensões: verificação, ordenação,

contaminação, pensamentos obsessivos, impulsos obsessivos, lentidão, armazenamento,

neutralização e dúvida patológica, presentes nos 105 itens que constituem a IOC-R. O

formato de resposta é tipo Likert de 5 pontos (0=Nada até 4=Extremamente) sendo que

os valores mais elevados indicam a presença de sintomatologia. O valor total da escala

varia entre zero e 420.

No que respeita às qualidades psicométricas, o IOC~R apresenta fidelidade e

validade adequadas (Rosa et al., 2005). A escala total apresenta um grau de

homogeneidade e um nível de confiança elevados, com um valor total de alpha de

Cronbach de .98 e uma correlação média total inter-itens de r =.32, com uma amplitude

de correlação item-total entre .24 e .74.

Depressão, Ansiedade e Stress. Foi utilizada a versão traduzida (Baptista,

Santos, Silva & Baptista, 1999) da Depression Anxiety Stress Scales (DASS; Lovibond

& Lovibond, 1995), a qual é composta por 42 itens que medem sintomas emocionais

negativos. O formato de resposta é composto por uma escala de 4 pontos que varia de 0

(“Não se aplicou nada a mim”) a 3 (“Aplicou-se a mim a maior parte do tempo”).

Os itens da DASS agrupam-se em 3 dimensões: stress, ansiedade e depressão,

sendo o resultado de cada subescala dado pela soma dos resultados para os 14 itens

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relevantes para cada uma delas. Na população portuguesa a DASS mostrou possuir

propriedades psicométricas satisfatórias, tendo a estrutura fatorial sido consubstanciada

tanto pela análise fatorial exploratória como pela análise fatorial confirmatória (Alves,

Carvalho & Baptista, 1999). Os índices de consistência interna da DASS foram

calculados através do coeficiente Alpha de Cronbach, tendo sido obtidos valores de 0.77

para a escala de ansiedade, 0.94 para a escala de stress e 0.96 para a escala de

depressão. A análise das correlações médias inter-itens apresentou valores de 0.40 para

os itens da subescala de ansiedade, 0.50 para os itens da subescala de stress e 0.57 para

os itens da subescala de depressão. As correlações item-total apresentaram valores que

variam de 0.38 a 0.67 para os itens da subescala de ansiedade, de 0.53 a 0.81 para os

itens da subescala de stress e de 0.63 a 0.85 para os itens da subescala de depressão. A

análise dos coeficientes de correlação de Pearson entre as escalas da DASS mostrou

valores de 0.64 (ansiedade e depressão), 0.65 (stress e ansiedade) e 0.77 (stress e

depressão), sendo estas correlações significativas para p < .01. O estudo da validade

concorrente da DASS mostrou valores de correlação positivos e significativos entre

todas as dimensões da DASS e as dimensões depressão e ansiedade da HADS, que

variaram entre .13 (DASS – ansiedade e HADS – depressão; p =.023) e .57 (DASS –

stress e HADS – ansiedade; p < .001). No que diz respeito às diferenças entre os sexos,

foram encontradas diferenças estatisticamente significativas relativamente à depressão e

ao stress apresentando as mulheres valores médios mais elevados.

Qualidade de Vida. A qualidade de Vida foi avaliada através da versão

portuguesa do WHOQOL-BREF (Canavarro et al., 2007) que é composto por 26

questões, que se dividem em vários domínios. Assim, o primeiro domínio aborda a

qualidade de vida em termos gerais e apresenta dois itens, um sobre a qualidade de vida

e outro sobre a satisfação com a própria saúde. As restantes 24 questões dividem-se por

quatro domínios, nomeadamente o físico, que compreende sete questões, o psicológico,

com seis questões, o social com três itens e o domínio relativo ao meio ambiente com 8

questões. As respostas dos inquiridos indicam o grau de concordância ou discordância

com o conteúdo das questões e são avaliadas numa escala de Likert de cinco pontos,

que varia entre 1 e 5.

Segundo um estudo realizado no Brasil por Fleck et al. (1998), este instrumento

apresentou um bom desempenho psicométrico com características satisfatórias de

consistência interna, validade discriminante, validade de critério, validade concorrente e

fidedignidade teste-reteste (alfa de cronbach de 0.76 para os 4 domínios e 0.90 para as

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26 questões). Estudos posteriores realizados em Portugal (Vaz Serra et al., 2006)

confirmaram as boas qualidades psicométricas deste instrumento

2.5 Procedimento

A recolha da amostra experimental para este estudo, foi efetuada na Associação

Domus Mater e a amostra do grupo de controle, foi recolhida na Universidade Lusófona

de Humanidades e Tecnologias. O protocolo de avaliação era composto por duas partes,

a primeira parte consistia no preenchimento dos dados sociodemográficos como o sexo,

a idade, as habilitações literárias, situação socioprofissional, a nacionalidade, etnia,

filiação religiosa, estado civil. Na segunda parte, consistia no preenchimento de 3

instrumentos de avaliação a IOC – Inventário Obsessivo-Compulsivo; WHOQOL-

BREF - World Health Organizations Quality of Life ; DASS – Depression Anxiety

Stress Scales. Foram feitos todos os esclarecimentos necessários sobre o objetivo do

estudo. Após tiradas todas as dúvidas existentes, foi aplicado o protocolo, que decorreu

em contexto de sala de aula (tanto no grupo experimental, como no grupo de controle),

durante os meses de Novembro de 2014 e Julho de 2015. Todos os participantes foram

respetivamente informados que as questões eram totalmente anónimas, não existindo

respostas certas ou erradas, e que a qualquer momento poderiam interromper o

preenchimento do mesmo. À medida que finalizavam o preenchimento do protocolo de

avaliação, os participantes efetuaram a entrega do mesmo em mão à investigadora.

O tempo de realização foi de aproximadamente de 15 minutos.

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CAPÍTULO III - RESULTADOS

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3.1 Diferença de Médias

Em primeiro lugar, fomos comparar os valores médios obtidos pelos dois grupos

nos instrumentos por nós utilizados.

Assim, verificou-se que o grupo com POC obteve valores significativamente

superiores em quatro das dimensões do IOC. Essas diferenças ocorreram na

Verificação, onde o grupo com POC (M=12.20, DP=8.83) obteve valores

significativamente superiores, t(58) = 2.871, p = .006, aos do grupo de Controle

(M=6.53, DP=6.24), na Neutralização, com o grupo POC a obter uma média de 6.20

(DP=6.01), enquanto a média do grupo de Controle foi de 2.67 (DP=2.70), com um

valor de t(58) = 2.937, p = .005, nos Pensamentos, t(58) = 2.927, p = .005, com o grupo

POC (M=11.17, DP=8.23) a exibir valores superiores aos do grupo de Controle

(M=5.83, DP=5.65) e de forma mais acentuada na dimensão Dúvida e Indecisão, com a

média do grupo POC (M=21.50, DP=12.79) a ser significativamente superior t(58) =

3.606, p = .001, à do grupo de Controle (M=11.83, DP=7.22), como está representado

na Tabela 3.

Este facto refletiu-se no valor da escala total do IOC, tendo o grupo com POC

(M=99.70, DP=60.30) apresentado valores significativamente superiores t(58) = 3.057,

p = .003, aos do grupo de Controle (M=59.70, DP=38.75).

Quando foram comparados os valores obtidos pelos dois grupos na WHOQOL-

Bref, verificou-se que o grupo de Controle apresentou valores mais elevados em todas

as dimensões, quando comparado com o grupo com POC. Essas diferenças foram

estatisticamente significativas em todas as dimensões da escala, com exceção da

dimensão Ambiente.

Assim, nas dimensões relativas à qualidade de vida a nível Fisico e Psicológico,

o grupo de Controle apresentou médias superiores (M=27.50, DP=3.95 e M=20.23,

DP=2.58, respectivamente) quando comparado com o grupo com POC (M=25.43,

DP=4.00 e M=18.13, DP=3.50), sendo essas diferenças significativas, como se pode ver

na tabela 3.

No fator Geral, a média do grupo com POC foi significativamente inferior, t(58)

= -2.195, p = .032, à do grupo de Controle Quanto ao valor da escala total do

WHOQOL-Bref, verificou-se uma vez mais uma diferença significativa, t(58) = -2.944,

p = .005, com o grupo de Controle (M=95.97, DP=11.30) a obter valores mais elevados

que o grupo com POC (M=87.07, DP=12.11).

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Quanto aos valores obtidos no DASS, nas três dimensões da escala o grupo POC

obteve valores mais elevados, embora a diferença não fosse estatisticamente

significativa nas dimensões Ansiedade e Stress.

Já na Depressão essa diferença revelou ser significativa, t(58) = 2.871, p = .005,

com o grupo com POC a evidenciar níveis de Depressão superiores (M=10.80,

DP=8.05) aos do grupo de Controle (M=3.83, DP=3.91).

Tabela 3 – Diferença de médias entre os dois grupos nas variáveis estudadas

Grupo POC

(n=30)

Grupo de Controlo

(n=30)

M DP M DP t p

IOC

Verificação 12.20 8.83 6.53 6.24 2.871 .006

Contaminação 12.73 13.31 7.70 6.49 1.861 .068

Lent_Obssess. 4.43 3.66 3.30 2.63 1.377 .174

Ordem Simetria 16.80 13.12 11.73 7.75 1.821 .074

Armazenamento 13.10 11.50 10.03 10.26 1.090 .280

Neutralização 6.20 6.01 2.67 2.70 2.937 .005

Duvida Indec. 21.50 12.79 11.83 7.22 3.606 .001

Impulsos 2.60 2.82 1.20 2.63 1.987 .052

Pensamentos 11.17 8.23 5.83 5.65 2.927 .005

IOC_Total 99.70 60.30 59.70 38.75 3.057 .003

WHOQOL-Bref

Físico 25.43 4.00 27.50 3.95 -2.015 .049

Psicológico 18.13 3.50 20.23 2.58 -2.644 .011

Social 9.23 2.74 11.77 1.99 -4.096 .000

Ambiental 27.47 3.92 28.90 4.21 -1.364 .178

Geral 6.80 1.54 7.57 1.14 -2.195 .032

QV_Total 87.07 12.11 95.97 11.30 -2.944 .005

DASS

Depressão 10.80 8.05 3.83 3.91 2.871 .006

Ansiedade 10.33 7.56 4.37 3.87 1.861 .068

Stress 12.37 8.96 5.00 4.52 1.377 .174

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3.2 Correlações

Em seguida foi efetuada uma análise correlacional entre os resultados obtidos

pelos dois grupos, nos instrumentos por nós utilizados, nomeadamente a IOC-R, a

WHOQOL-Bref e a DASS, considerando não só os valores das escalas na sua

totalidade, mas igualmente os resultados obtidos em cada uma das dimensões que as

constituem, independentemente de se terem revelado estatisticamente significativas,

como foi estudado no ponto anterior.

Dado o elevado número de dimensões que os três instrumentos apresentam no

seu conjunto, utilizámos a estratégia de análise que seguidamente se descreve.

Em primeiro lugar fomos calcular as matrizes de intercorrelações entre as

dimensões de cada instrumento. Assim, em primeiro lugar será apresentados os

resultados correspondentes ao IOC-R, que contém nove dimensões e um resultado

global, e em seguida será feito o mesmo procedimento para a WHOQOL_Bref e para o

DASS, que no seu conjunto apresentam sete dimensões e dois resultados globais.

Seguidamente, foram analisadas as correlações entre o IOC-R, por um lado, e a

WHOQOL-Bref e o DASS, por outro. Em todas estas análises, os grupos foram

tomados separadamente, de forma a podermos analisar não só o perfil das correlações

obtidas, mas igualmente para comparar os perfis obtidos por cada grupo.

Assim, para as nove dimensões do IOC-R, verificamos que na sua generalidade

as matrizes obtidas são semelhantes, com a maioria das dimensões a apresentar uma

correlação positiva, moderada a forte e significativa e entre si (ver Tabela 4). Quanto

aos valores, verificamos que no grupo de Controle eles variaram entre r =.41

(Contaminação e Pensamentos) e r =.87 (Neutralização e Pensamentos).

As diferenças mais evidentes entre os dois grupos ocorrem entre a dimensão

Impulsos e as dimensões Verificação e Contaminação, que no grupo com POC são

significativas (r =.54 e r =.63, respetivamente), e no grupo de Controle não são, o

mesmo sucedendo nas correlações entre a Contaminação e a Neutralização (r =.58) e a

Ordem e Simetria e o Armazenamento (r =.55). Nas associações entre o

Armazenamento e a Verificação (r =.32) e a Neutralização (r =.31) verifica-se o

inverso, ou seja, é o grupo de Controle que apresenta agora correlações que são

significativas (r =.59 e r =.44, respetivamente).

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Tabela 4 – Intercorrelações entre as dimensões do IOC-R e da escala total para os dois

grupos em estudo

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1 - Verificação 1.00 .60** .78** .73** .44* .86** .82** .36 .80** .92**

2 - Contaminação .60** 1.00 .41* .57** .10 .36 .33 -.05 .41* .57**

3 - Lent_Obssess. .63** .40* 1.00 .59** .49** .80** .72** .61** .85** .85**

4 – Ordem Simetria .58** .33 .63** 1.00 .28 .61** .55** .23 .61** .77**

5 - Armazenamento .32 .07 .47** .55** 1.00 .59** .52** .30 .59** .66**

6 - Neutralização .75** .58** .63** .61** .31 1.00 .77** .51** .87** .89**

7 - Duv_Indecisão .71** .28 .52** .54** .60** .59** 1.00 .38* .74** .85**

8 - Impulsos .54** .63** .43* .32 .34 .39* .45* 1.00 .68** .49**

9 - Pensamentos .79** .50** .65** .53** .43* .78** .82** .60** 1.00 .91**

10 - IOC_Total .86** .63** .75** .78** .62** .82** .83** .64** .88** 1.00

Nota: O grupo com POC na diagonal inferior.

* p < .05 ; ** p < .01

As correlações de cada uma das dimensões do IOC-R com o valor total, em

qualquer dos grupos, foram todas significativas, positivas, sendo sempre fortes no grupo

com POC, variando entre r =.62 (Armazenamento) e r =.88 (Pensamentos), enquanto no

grupo de Controle foram moderadas (r =.49 para a dimensão Impulsos) a fortes (r =.92

para a Verificação).

A análise das intercorrelações entre as dimensões do WHOQOL-Bref e do

DASS mostra um perfil muito semelhante entre os dois grupos, como se pode observar

na Tabela 5.

Apenas em três casos se verificaram diferenças dignas de realce, e que foram

entre a dimensão Geral do WHOQOL-Bref e as dimensões Social e Ambiente, e

Ansiedade, tendo os valores obtidos pelo grupo de Controle sido significativos, ao

contrário do que se verificou no grupo com POC.

Em seguida fomos analisar as associações entre as dimensões do IOC-R e as

dimensões do WHOQOL-Bref e da DASS, em ambos os grupos, tendo essas análises

sido feitas em separado para cada grupo, estando os seus valores representados nas

Tabelas 6 e 7. Embora os valores obtidos por ambos os grupos, na sua generalidade,

sejam também semelhantes, verificam-se algumas diferenças entre eles que

consideramos pertinente analisar. Deste modo, serão salientados os casos em que num

dos grupos se verifica uma associação significativa e no outro não.

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Tabela 5 – Intercorrelações entre as dimensões do WHOQOL-Bref e da DASS para os

dois grupos em estudo

1 2 3 4 5 6 7 8 9

1 - Fisico 1.00 .55** .64** .42* .59** .80** -.57** -.61** -.51**

2 - Psicologico .61** 1.00 .61** .62** .64** .83** -.38* -.48** -.41*

3 - Social .63** .54** 1.00 .57** .53** .81** -.70** -.68** -.58**

4 - Ambiental .52** .40* .44* 1.00 .67** .83** -.42* -.41* -.41*

5 - Geral .43* .50** .19 .23 1.00 .79** -.35 -.42* -.33

6 - QVTotal .87** .80** .76** .74** .53** 1.00 -.60** -.64** -.56**

7 - Depressão -.56** -.62** -.58** -.42* -.27 -.67** 1.00 .84** .88**

8 - Ansiedade -.47** -.53** -.47** -.40* -.12 -.56** .91** 1.00 .81**

9 - Stress -.49** -.50** -.43* -.39* -.21 -.56** .95** .89** 1.00

Nota: O grupo com POC na diagonal inferior.

* p < .05 ; ** p < .01

Assim, nas relações entre as dimensões do IOC-R e as da qualidade de vida, o

aspeto mais relevante é o que se verifica a nível das dimensões Psicológico e Social da

Qualidade de Vida, onde cerca de metade das dimensões do IOC-R apresenta

correlações significativas no grupo de POC, o que não acontece no grupo de Controle.

As dimensões Verificação, Neutralização e Impulsos, apresentam correlações

negativas, moderadas e significativas com a qualidade de vida, nas dimensões

Psicológico e Social, com valores que oscilaram entre r =-.37 (Neutralização e

Psicológico) e r =-.43 (Impulsos e Social), sendo também de referir o valor de r =-.55

obtido entre as dimensões Pensamento e Psicológico. A dimensão Física da Qualidade

de Vida apenas se diferenciou nos dois grupos na sua associação com a Contaminação,

tendo sido significativa no grupo com POC r =-.38, enquanto no grupo de Controle esse

valor foi apenas de r =-.12. De resto, é de salientar que a nível da dimensão Física da

Qualidade de Vida, houve dois casos em que as associações significativas se

verificaram no grupo de Controle (Armazenamento, r =-.38 e Impulsos, r =-.53), ao

contrário do que sucedeu no grupo com POC, em que esses valores, não significativos,

foram de r =-.35 e r =-.27, respetivamente.

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Tabela 6 - Correlações entre o IOC-R e o WHOQOL-Bref e a DASS, para o grupo de Controle

Fisico Psicologico Social Ambiental Geral QVTotal Depressao Ansiedade Stress

Verificação -.49** -.24 -.34 -.29 -.25 -.42* .63** .63** .62**

Contaminação -.12 .02 .07 -.10 -.02 -.07 .23 .16 .34

Lent_Obssess. -.53** -.15 -.28 -.06 -.14 -.31 .45* .55** .55**

Ordem e Simetria -.53** -.23 -.43* -.39* -.33 -.49** .71** .57** .71**

Armazenamento -.38* -.50** -.34 -.16 -.21 -.39* .39* .42* .36

Neutralização -.47** -.31 -.30 -.26 -.18 -.40* .62** .66** .64**

Duvida e Indecisão -.60** -.53** -.51** -.39* -.38* -.60** .58** .67** .64**

Impulsos -.53** -.21 -.33 -.08 -.20 -.34 .35 .57** .39*

Pensamentos -.54** -.29 -.40* -.24 -.26 -.44* .64** .68** .64**

IOC_Total -.59** -.39* -.43* -.32 -.30 -.52** .67** .69** .71**

* p < .05 ; ** p < .01

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Tabela 7 - Correlações entre o IOC-R e o WHOQOL-Bref e a DASS, para o grupo com POC

Fisico Psicologico Social Ambiental Geral QVTotal Depressao Ansiedade Stress

Verificação -.63** -.42* -.41* -.34 -.34 -.58** .67** .59** .65**

Contaminação -.38* -.21 -.32 -.19 .01 -.32 .53** .45* .48**

Lent_Obssess. -.60** -.29 -.50** -.38* -.38* -.56** .41* .41* .36*

Ordem e Simetria -.70** -.34 -.48** -.41* -.35 -.62** .29 .27 .21

Armazenamento -.35 -.40* -.43* -.36 -.30 -.48** .38* .39* .29

Neutralização -.63** -.37* -.38* -.14 -.20 -.47** .38* .31 .33

Duvida e Indecisão -.55** -.51** -.50** -.38* -.17 -.59** .52** .48** .45*

Impulsos -.27 -.42* -.43* -.22 .00 -.37* .69** .69** .58**

Pensamentos -.65** -.55** -.52** -.36 -.23 -.64** .64** .58** .60**

IOC_Total -.71** -.52** -.58** -.43* -.29 -.69** .64** .58** .56**

* p < .05 ; ** p < .01

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Prosseguindo a nossa análise, agora entre o IOC-R e a DASS, verifica-se que as

diferenças, a nível da Depressão, se situam nas dimensões Contaminação e Impulsos,

onde os valores no grupo com POC (r =.53 e r =.69) são significativamente superiores

aos que se verificaram no grupo de Controle (r =.23 e r =.35, respetivamente), enquanto

a nível da Ordem e Simetria se verificou o oposto, com o grupo de Controle a revelar

uma associação forte e significativa (r =.71) ao contrário do que se passou no grupo

com POC, onde esse valor foi apenas de (r =.29).

A nível da Ansiedade, verifica-se que no grupo com POC a associação com a

Contaminação é significativa (r =.45) ao contrário do que sucede no grupo de Controle

(r =.16). O inverso verificou-se nas dimensões Ordem e Simetria e Neutralização, que

no grupo com POC não foram significativas (r =.27 e r =.31, respetivamente), enquanto

no grupo de Controle essa associação foi significativa, com valores de r =.57 para a

Ordem e Simetria e de r =.66 para a Neutralização.

Por fim, a nível do Stress a situação é praticamente igual à que se verificou com

a Ansiedade. Podemos confirmar que as diferenças ocorreram igualmente a nível da

Contaminação (r =.34 para o grupo de Controle e r =.48 para o grupo com POC), e

também da Ordem e Simetria e Neutralização, onde uma vez mais as associações

significativas ocorreram no grupo de Controle (r =.57 e r =.66), ao contrário do que se

verificou no grupo com POC, onde esses valores foram de r =.21 e r =.33,

respetivamente.

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CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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O objetivo deste trabalho consistiu em avaliar a diferença que existe na

qualidade de vida entre um grupo de participantes com POC e outro grupo, de controle,

recolhido da população geral. Além disso, e baseados nos resultados de vários trabalhos

recentes (Stengler-Wenzke et al., 2006; Subramaniam et al., 2103; Vasudev et al.,

2015), foi igualmente investigada a relação entre a qualidade de vida e a depressão, a

ansiedade e o stress.

Nesse sentido, foram colocadas as seguintes hipóteses de investigação:

Hipótese 1: É esperado que o grupo de participantes com POC apresente uma

menor qualidade de vida em todas as suas dimensões, relativamente ao grupo de

controle.

Hipótese 2: É esperado que o grupo de participantes com POC apresenta índices

mais elevados de ansiedade, depressão e stress, relativamente ao grupo de controle.

Hipótese 3: É esperado que as pessoas com melhor qualidade de vida revelem

menos ansiedade, menos depressão e menos stress.

Hipótese 4: É esperado que as pessoas com sintomas de POC revelem um grau

de associação maior com a ansiedade, depressão e stress.

A primeira hipótese, que afirmava que os participantes com POC apresentavam

menor qualidade de vida quando comparados com a população geral foi confirmada. Os

resultados mostraram que nas dimensões Física, Social e Psicológica os participantes

com POC apresentavam valores médios significativamente inferiores aos que foram

obtidos pelo grupo de Controle, sendo todas as diferenças significativas para um p <

.01, o que vem ao encontro dos resultados obtidos por vários autores (Hou et al., 2010;

Macy et al., 2013; Stengler-Wenzke et al., 2006a, 2006b; Srivastava & Bhatia, 2007,

2008, Subramaniam et al., 2103; Vasudev et al., 2015), os quais evidenciaram a menor

qualidade de vida destes pacientes nas dimensões acima citadas. Na dimensão

Ambiental, não se registaram diferenças entre a qualidade de vida dos dois grupos, à

semelhança de resto do que já se tinha verificado noutros estudos (Hou et al., 2010;

Moritz et al., 2005), o que vem chamar a atenção para os domínios de carácter mais

pessoal, como são os de nível Físico e Psicológico, e o de relação, como é o caso do

Social, como sendo os mais afetados por esta perturbação, sendo estas igualmente,

como salientam (Stengler-Wenzke et al, 2006b) as dimensões que mais afetam de forma

negativa o bem-estar do sujeito com perturbação obsessivo-compulsiva.

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A segunda hipótese, que afirmava que os participantes com POC apresentavam

valores mais elevados de ansiedade, depressão e stress foi parcialmente confirmada.

Verificaram-se diferenças significativas a nível da depressão, mas não a nível da

ansiedade e do stress, embora seja de referir que no caso da ansiedade, as diferenças

possam ser consideradas marginalmente significativas. Esta diferença encontrada nos

níveis de depressão entre estes dois grupos, apresentando o grupo com POC um valor

significativamente superior quando comparado com o grupo de Controle, vem

confirmar os dados de (Moritz et al, 2005), os quais salientaram a importância de

fatores de comorbilidade na baixa qualidade de vida dos pacientes com POC, em

particular a depressão, o que veio a ser confirmado posteriormente (Besiroglu et al.,

2007; Hou et al., 2010; Macy et al., 2013).

A terceira hipótese, que afirmava que a qualidade de vida estava inversamente

correlacionada com a depressão, ansiedade e stress foi confirmada. Efetivamente, todos

os domínios da qualidade de vida apresentaram correlações significativas, negativas e

moderadas com a depressão, a ansiedade e o stress, sendo mais elevadas para a

depressão e em seguida para a ansiedade, o que corrobora os resultados de Moritz e

colaboradores (2005) por um lado, e de Srivastava e Bhatia (2007, 2008) por outro. O

facto de a depressão enquanto factor de comorbilidade bem conhecido como agravante

da situação dos pacientes com POC, aliado à toma de medicações muitas vezes com

efeitos secundários desfavoráveis pode ser a razão pela qual os seus resultados são mais

elevados (Hou et al, 2010).

A quarta hipótese, que afirmava a existência de uma relação positiva entre a

ansiedade, a depressão e o stress e a POC foi igualmente confirmada, uma vez que a

maioria das dimensões do IOC-R apresentou correlações significativas, positivas e

moderadas a fortes com a depressão, a ansiedade e o stress. Um factor que merece ser

destacado aqui é que em quatro das nove dimensões avaliadas pelo IOC-R –

Verificação, Dúvida e Indecisão, Neutralização e Pensamentos, o grupo com POC

apresentou resultados significativamente superiores ao grupo de Controle, o que a nosso

ver, pode significar que foi nestas dimensões que se verificaram as maiores diferenças

na presença de traços ou de sintomatologia obsessivo-compulsiva entre os participantes

com POC e os do grupo de controle. Ora, estas quatro dimensões estão todas entre as

que apresentaram correlações mais forte com a ansiedade, o stress e a depressão, o que

vem reforçar a nossa hipótese de que estes pacientes, pelas suas características, tendem

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a ser mais vulneráveis aos fatores de stress, desenvolvendo respostas de menor

qualidade adaptativa, o que pode gerar maiores níveis de ansiedade e consequentemente

causar ou agravar um quadro depressivo.

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CONCLUSÃO

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Neste trabalho procurámos avaliar a qualidade de vida de uma amostra de

indivíduos diagnosticados com POC, tomando como termo de comparação um grupo de

participantes onde esse quadro estava ausente. Os resultados mostraram que no grupo de

participantes com POC a qualidade de vida era mais baixa, o que está de acordo com a

generalidade dos estudos que avaliaram o impacto da POC na qualidade de vida dos

indivíduos, e cujos resultados apontaram para prejuízos significativos em vários

aspectos, com especial incidência nas relações sociais, familiares e no seu desempenho

ocupacional (Bobes et al., 2001).

Dentro das diferentes perturbações de ansiedade, apesar de algumas

semelhanças, os individuos com POC diferenciam-se a nível do comprometimento das

atividades diárias e na sua qualidade de vida em geral, com particular relevo para os

casos em que as obsessões e os sintomas depressivos comórbidos aparecem associados

a prejuízos mais significativos na qualidade de vida do que as compulsões (rituais),

enquanto estas parecem ser mais prejudiciais a nível do funcionamento familiar e dos

relacionamentos com os amigos (Calvocoressi et al., 1995).

Como ficou demonstrado, o comprometimento da qualidade de vida de

indivíduos com POC é evidente, tendo inclusivamente sido comparado ao de pacientes

com esquizofrenia, considerada a doença mental mais incapacitante. Os indivíduos com

POC têm muitos medos, são supersticiosos, perfeccionistas, lentificados e

frequentemente envolvem-se em situações complicadas ao realizar os seus rituais,

dando origem a conflitos, o que pode favorecer o seu isolamento, enquanto que os

portadores de esquizofrenia apresentam embotamento afetivo, falta de empatia e

desconfiança, o que vai implicar dificuldades de relacionamento e isolamento social

(Eisen et al., 2013).

No nosso entender, as pesquisas futuras deverão ter em atenção não só o alívio

dos sintomas desta doença, mas também procurar uma melhoria da funcionalidade dos

indivíduos, uma vez que estudos clínicos têm mostrado que as incapacidades e a má

qualidade de vida se mantêm, mesmo após a melhoria dos sintomas.

Isto não quer dizer que a melhoria dos sintomas deva ser o único objetivo, uma

vez que outros fatores têm bastante relevância e devem igualmente ser levados em

conta, nomeadamente os de ordem familiar, como satisfação conjugal e comunicação

familiar, os quais são importantes ao nível da qualidade de vida.

Apesar do número relativamente pequeno de estudos sobre a POC e a qualidade

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de vida, hoje não restam dúvidas que o custo social desta doença é elevado,

particularmente a nível do desemprego, da dependência financeira da família e do

recurso aos serviços de saúde, particularmente no caso de jovens adultos, os quais se

encontram numa fase de vida de grande capacidade produtiva. Por outro lado, estas

pessoas muitas vezes têm tendência a esconder o seu problema e, consequentemente,

não procuram ajuda. Daqui resulta que os indivíduos com POC, muitas vezes só

recebem ajuda profissional bastante tempo após o início da doença.

Na nossa opinião, torna-se importante melhorar a consciencialização da

população em geral sobre este problema, bem como criar condições que permitam o

rápido acesso aos tratamentos adequados, no sentido de minimizar o seu sofrimento e

consequente impacto negativo na sua qualidade de vida, bem como daqueles que o

rodeiam, em particular familiares e amigos.

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Lucélia Sofia Martins Frade, Qualidade de Vida e Ansiedade na Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Escola de Psicologia e Ciências da Vida I

ANEXOS – Protocolo de Investigação