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166 ISSN 1678-1953 Dezembro, 2011 Qualidade e segurança da produção de leite

Qualidade e segurança da produção de leite · Centro de Pesquisa Agropecuária dos Tabuleiros Costeiros ... A implantação da BPA na produção de leite deve abordar, ... distribuição

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166ISSN 1678-1953Dezembro, 2011

Qualidade e segurança da produção de leite

Amaury Apolonio de Oliveira

Embrapa Tabuleiros CosteirosAracaju, SE2011

ISSN 1678-1953

Dezembro, 2011Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaCentro de Pesquisa Agropecuária dos Tabuleiros CosteirosMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Qualidade e segurança da produção de leite

Documentos 166

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

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Presidente: Ronaldo Souza ResendeSecretária-executiva: Raquel Fernandes de Araújo Rodrigues

Membros: Edson Patto Pacheco, Élio César Guzzo, Hymerson Costa Azevedo, Ivênio Rubens de Oliveira, Joézio Luiz dos Anjos, Josué Francisco da Silva Junior, Luciana Marques de Carvalho, Semíramis Rabelo Ramalho Ramos, Viviane Talamini

Supervisão editorial: Raquel Fernandes de Araújo Rodrigues Normalização bibliográfica: Josete Melo CunhaFotos da capa: Amaury Apolonio de OliveiraPadronização de originais: Yann Dias da Silva Maia

1a Edição (2010)

1a impressão (2011): 150 exemplares

Todos os direitos reservados.A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Embrapa Tabuleiros Costeiros

Oliveira, Amaury AplonioQualidade e segurança da produção de leite / Amaury Apolonio de Oliveira. – Aracaju :

Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2011.17 p. (Documentos / Embrapa Tabuleiros Costeiros, ISSN 1678-1953; 166).Disponível em http://www.cpatc.embrapa.br/publicacoes_2011/doc_166.pdf

1. Leite. 2. Boas práticas. 3. Produção de leite. I. Título. II. Série.

CDD 637.1

©Embrapa 2010

Autor

Amaury Apolonio de OliveiraMédico-veterinário, mestre em Medicina Veterinária, pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Aracaju, SE, [email protected].

As exportações de produtos agropecuários representam aproximadamente 28% das divisas brasileiras, fato que coloca o setor como parcela significativa do superávit comercial do país. Embora o leite e seus derivados não participem de forma marcante desse processo, a posição histórica de país importador já foi revertida e o seu potencial produtivo oferece uma expectativa de grande desenvolvimento para o setor. Sabe-se, no entanto, que o comércio do leite no Brasil e no exterior é marcado por fundamentais exigências de qualidade e segurança tendo em vista as suas características físico-químicas e biológicas. O sucesso para produção de leite de qualidade começa a partir do sistema produtivo onde todas as medidas adotadas no sentido de se preservar o produto in natura vão influenciar nos derivados lácteos ao longo de toda a cadeia produtiva e no consumidor.

A aplicação das Boas Práticas Agropecuárias (BPA), mesmo que num futuro próximo não venha a se constituir numa medida regulamentar para o produtor, é essencial para o atendimento da IN 62 e para competir por mercados que apresentem um maior padrão de exigência. A implantação da BPA na produção de leite deve abordar, entre outros, o bem-estar animal, a alimentação e água, a saúde do rebanho, o meio ambiente e a higiene da ordenha. O caminho para a aplicação das BPA nos procedimentos de ordenha deve ser orientado a partir de um esforço de conscientização de todo pessoal a ser envolvido, sem a qual o sucesso estará seriamente comprometido.

O propósito do presente artigo é o de chamar à atenção para a importância do uso das BPA nos procedimentos que envolvem a ordenha dos diversos extratos produtivos do Nordeste, especialmente de Sergipe. A melhoria da segurança e qualidade vai contribuir no aumento de produtividade dos rebanhos e na competitividade tecnológica, composicional e nutricional do leite e derivados lácteos.

Edson Diogo TavaresChefe-geral da Embrapa Tabuleiros Costeiros

Apresentação

Sumário

Produção de leite no Brasil.......................................................................06

Produção de leite em Sergipe....................................................................07

Boas Práticas Agropecuárias e sua aplicação..............................................08

Produção de leite com boas práticas..........................................................11

Referências............................................................................................16

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Amaury Apolonio de Oliveira

Produção de leite no Brasil

A agricultura e a pecuária vêm experimentando um grande avanço, especialmente em produtividade, ultrapassando a barreira dos 150 milhões de toneladas de grãos, por exemplo. No entanto, a produção primária tem apresentado limitações quanto ao controle de perigos físicos, químicos e biológicos, principalmente por necessitar de maiores cuidados nos processos de pré e pós-colheita, o que pode resultar em doenças transmitidas por alimentos.

Em tempos de economia e mercados globalizados e também no âmbito interno é patente a maior exigência dos consumidores por alimentos seguros e sustentabilidade ambiental, o que proporcionou diversos eventos já ocorridos no Brasil quanto à imposição de barreiras não tarifárias.

A produção de leite no Brasil vem rapidamente incorporando algumas transformações que coloca o país num patamar de exportador, embora numa etapa ainda inicial, mas que representa grande avanço haja vista que até a década passada importava-se em até 18% do seu consumo. No período de 2008 as exportações totalizaram 148,6 mil toneladas, 43,5% a mais em relação à quantidade exportada em 2007, e as importações totalizaram 78,3 mil toneladas, 22% a mais em relação ao acumulado importado em 2007. As exportações compreenderam US$ 540,8 milhões, 80,9% a mais em relação a 2007. As importações somaram o montante de US$ 213,1 milhões, 41% de aumento em relação a 2007 (PROGRAMA... 2008).

Dados compilados por Carvalho e Carneiro (2011) demonstram que a produção brasileira vem experimentando anualmente um crescimento substancial na produção de leite, passando de 18,6 bilhões de litros em 1997 para 29,1 bilhões de litros em 2009. O Nordeste tem acompanhado esse desempenho. As informações mais recentes dão conta que a região participou com 2.159

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bilhões de litros, em 2000 e 3.8 bilhões, em 2009. Esse contexto tem favorecido a atração de investidores, que enxergam na região um potencial de crescimento da indústria de lácteos.

Conforme Dolores (2008) se tem projetado um crescimento do setor lácteo na região. O Nordeste está se tornando um atrativo para produção de leite que tem crescido, junto com o consumo, não obstante ainda, a região produzir em torno dos 10% do que consome (GOMES, 2008). A produção de leite no Brasil cresceu 42,74%, sendo que, no Nordeste, esse aumento foi de 49,02%. Já no Sudeste, a porcentagem foi de 21,65%, no mesmo período. A região Sudeste, que era detentora de 47,11% da distribuição de leite no Brasil, em 1993, perdeu espaço, em dez anos, para as demais regiões, ficando com 40,14%. No Nordeste, a participação na distribuição subiu de 10,79%, em 1993, para 11,27%, em 2003.

Produção de leite em Sergipe

Sergipe também tem experimentado índices elevados de aumento e cuja produção está distribuída por todas as regiões, principalmente na região semi-árida. No final do século passado a produção era inferior a 100 milhões de litros anuais. Em 2009 a sua produção ultrapassou 286 mil litros, superando estados tradicionais como Alagoas (CARVALHO; CARNEIRO, 2011). O agronegócio de leite sergipano representa uma fonte de divisas por meio da comercialização de produtos lácteos diferenciados e com forte demanda de mercado a exemplo do queijo de coalho e do requeijão. É necessário, portanto, dotá-lo de mecanismos que possam incorporar os novos procedimentos legais, treinamentos e maior conscientização sobre as demandas do mercado. De uma maneira geral a indústria vem se modernizando, mas o leite recebido por parte dos produtores continua com sérios problemas de qualidade. A melhoria dos processos de coleta, armazenamento e transporte do leite constitui-se em grande desafio para todos os segmentos envolvidos com os padrões de qualidade e produtividade do negócio rural. No entanto, os ganhos de produtividade dos rebanhos devem ser acompanhados pela melhoria da qualidade do produto, atendendo às exigências dos padrões internacionais, além de oferecer ao mercado nacional um produto de melhor qualidade.

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Boas Práticas Agropecuárias e sua aplicação

No sentido de conduzir a fase atual para uma situação mais confortável e competitiva existe a grande necessidade de instruir produtores rurais para a mudança de hábito, costume, postura e atitude no trato dos produtos alimentícios, que será de grande valia, inclusive para o seu próprio benefício.

Nos últimos anos se tem observado um crescimento no padrão de exigências por parte do mercado consumidor na busca por alimentos seguros e de qualidade. Tais exigências aumentam todos os níveis de responsabilidade do produtor em geral, especialmente do produtor de leite e dos demais componentes desta cadeia de produção. A responsabilidade de produzir leite seguro e de qualidade começa na fazenda e as ações tomadas no sistema produtivo determinam o sucesso também dos seus derivados. É possível que, inicialmente, as Boas Práticas Agropecuárias (BPA) aplicadas à produção de leite se tornem uma exigência para os produtores que atendem mercados mais exigentes, mas que deverá alcançar todos os mercados num período de tempo mais longo.

A real concepção e adoção do Programa de Alimentos Seguros (PAS), tendo como base as BPA e foco nos princípios da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), para ascender à Produção Integrada (PI), é constituir uma medida para a segurança dos alimentos, com a função futura de preenchimento de lacunas na cadeia produtiva (MANUAL... 2004). A expectativa do PAS Campo é buscar uma reprodução fiel da realidade da propriedade e que deverá ser atualizado sempre que forem realizadas alterações em sua estrutura física ou operacional.

Com isso, será possível garantir a segurança e a qualidade dos produtos, aumentando a produção, a produtividade e a competitividade, além de atender à legislação brasileira e às exigências dos mercados internacionais.

A segurança e a qualidade dos alimentos produzidos dependem diretamente do comprometimento do produtor rural. Dependendo dos cuidados na produção de alimentos, haverá maior ou menor possibilidade de riscos à saúde do consumidor. Para que o produtor possa crescer na sua atividade, com garantia de sucesso, é importante seguir essa nova tendência.

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Com o objetivo de produzir leite seguro até ao consumidor são necessários diversos cuidados durante a produção. Conforme já informado, esses cuidados são conhecidos como BPA e são divididas em dois grupos: BPA Fundamentais e BPA Complementares (BOAS... 2005).

As BPA Fundamentais são consideradas as mais importantes para a produção de leite seguro. São necessários diversos cuidados durante a produção para oferecer a garantia na produção de alimentos seguros à saúde, além de satisfação aos consumidores. Esses cuidados devem ser implantados para o sucesso da agricultura e pecuária do campo à mesa, visando fortalecer a agregação de valores no processo da geração de empregos, serviços, renda e outras oportunidades em benefícios da sociedade. Um programa dessa envergadura deve ser constituído pelos setores da indústria, transporte, distribuição e campo, em projetos articulados.

As BPA Complementares são práticas que também devem ser adotadas para garantir um leite seguro na mesa do consumidor, como o controle de fornecedores e transporte de leite para a indústria. Devem estar ligadas ao conhecimento e ao atendimento de regras e de exigências legais (BRASIL... 2002), aspectos de bem estar para o animal, legislação trabalhista, facilidades para processo de higienização de áreas e dos equipamentos entre outros.

Para implantar as BPA é importante organizar a propriedade, desde a informação de todas as instalações existentes, passando pela formação da equipe responsável pelas tarefas, até o registro de todas as ações efetuadas para garantir a produção de um leite seguro, saudável e saboroso para o consumidor.

Após a implantação das BPA, a propriedade deve atender aos requisitos orientados pela legislação e os Procedimentos Operacionais (PO) relacionados. O referido documento deve ser preparado detalhando a responsabilidade de cada membro da equipe e algumas ações muito importantes para o controle dos perigos: monitoramento e o registro dos pontos de controle.

Os PO orientam como aplicar as boas práticas e os princípios do sistema de análise da produção de alimentos para toda a população, começando pela propriedade rural. Para que a indústria possa produzir um alimento saudável ou seguro, é necessário que receba uma matéria-prima com o mínimo de

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contaminação possível. O alimento deve ser preparado pelo produtor rural através de um conjunto de operações ou ”passo a passo”, das tarefas do dia-a-dia da propriedade leiteira. Este conjunto de materiais serve, portanto, como instrumento para auxiliar a todos os produtores sobre os cuidados com a segurança do leite produzido, sem deixar de lado a manutenção e o sucesso nos seus negócios.

Porém, existem várias limitações visando à implantação de BPA. A capacitação e a mudança de mentalidade de produtores, técnicos e trabalhadores são provavelmente as maiores limitações impostas ao sistema produtivo. Outro aspecto é a necessidade de elaboração de material como manuais, cartilhas, planilhas e procedimentos operacionais, em um formato simples e de fácil entendimento, assim como o registro de dados e a manutenção do mesmo. A adoção de procedimentos padrões consistentes é também uma dificuldade a ser vencida.

O esforço de produzir alimentos seguros é responsabilidade de todos os segmentos da cadeia, indo desde a produção primária até o consumidor. Quando se consideram os produtos de origem animal a produção de alimentos demanda o controle do estado sanitário do rebanho, que deve ser monitorado quanto aos agentes infecciosos e, em especial, quanto aos agentes de zoonoses.

Os agentes quando presentes no animal ou em seus produtos são definidos como perigos biológicos, químicos e físicos (MANUAL... 2004a) e podem estar presentes nos alimentos em níveis inaceitáveis em termos de saúde pública. O controle da segurança dos alimentos de origem animal na produção primária envolve todas as medidas implantadas na propriedade e em cada unidade de produção, necessárias para assegurar que os perigos biológicos, químicos e físicos não estejam presentes no produto final. Aqueles agentes que a legislação permite a presença não devem exceder os níveis máximos, especialmente os limites de resíduos químicos e microbiológicos.

Em revisão feita por Brito (2008) são relatadas medidas de controle que se aplicam para prevenir a presença de resíduos químicos, micotoxinas, pesticidas, metais pesados e antibióticos no leite, resultantes da ingestão de alimentos contaminados ou de tratamentos aplicados aos animais. Além disso, cuidados

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devem existir com relação à prevenção de quaisquer agentes denominados de físicos, a exemplo de agulhas, pedaços de arame ou de madeira, demais corpos estranhos etc.

Produção de leite com boas práticas

É possível avaliar o impacto da adoção de boas práticas pelos resultados esperados ou mesmo por aqueles já obtidos, onde elas foram ou estão sendo implantadas. Os princípios aplicáveis à produção, processamento e manuseio do leite e seus derivados são comentados a seguir.

Todos os produtos lácteos, desde a produção primária até o ponto de consumo, devem ser submetidos a uma combinação de medidas de controle. Juntas, essas medidas - BPA e BPF - devem ser suficientes para garantir a proteção da saúde pública.

A produção de leite é um dos componentes do Programa Alimentos Seguros (PAS), segmento Campo. A aplicação das BPA na produção de leite é um dos possíveis e, provavelmente, o mais indicado instrumento de gestão para se produzir leite seguro e de qualidade. Esse deve ser o objetivo norteador do PAS Campo / Leite.

Entre os princípios aplicados na produção de leite em conformidade com as BPA podem-se destacar vários pontos preponderantes: o leite não deve conter qualquer contaminante ou perigo em quantidade que ameace a saúde pública. Com dito anteriormente, por contaminante se entende qualquer agente ou substância de natureza biológica, física, ou química, adicionada ao alimento, que pode comprometer a sua segurança ou qualidade. Outro princípio definido é que o leite deve ser produzido por animais sadios, em condições aceitáveis. Considera-se ainda que as boas práticas higiênicas devam ser aplicadas ao longo de toda a cadeia de alimentos de modo que o leite e seus derivados sejam seguros e apropriados para o uso a que se destinam.

Neste sentido, Brito (S/D) recomenda ainda que os procedimentos higiênicos na produção do leite e seus derivados devam ser implantados sempre que apropriados e de acordo com os princípios do sistema APPCC. Entretanto, há

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limitações para aplicação irrestrita dos princípios deste sistema na produção primária. Quando as limitações impedem a implantação do APPCC nas fazendas leiteiras, as boas práticas higiênicas, boas práticas agropecuárias e boas práticas veterinárias devem ser seguidas pelos produtores. Esses procedimentos devem ser adaptados para as diferentes regiões, atendendo as especificidades culturais, regulamentares, climáticas, de manejo geral da propriedade, e em acordo com a indústria processadora.

A adoção de boas práticas na produção leiteira auxiliará na comercialização do leite e derivados com a qualidade assegurada, tendo como foco a relação entre a segurança do consumidor e as boas práticas na fazenda. As orientações sobre procedimentos específicos usadas no Brasil foram elaboradas a partir da experiência existente em vários países, mas não devem ser consideradas como normas estritas a serem seguidas por todos. As boas práticas devem ser usadas para dar a oportunidade para cada país desenvolver seu produto, de modo que seja específico para atender suas necessidades sociais, ambientais, de bem-estar e econômicas. Todas essas orientações, citadas a seguir, são discutidas por Brito (S/D); CANADA... 2003; Laing, 2003 e devem ser consideradas sobre os seguintes pontos: viabilidade econômica, sustentabilidade ambiental, adequabilidade social, segurança e qualidade dos alimentos. Esses pilares são incluídos na maioria dos padrões de produção de alimentos dos setores públicos e privados, mas a abrangência de sua cobertura varia amplamente. O conceito de BPA pode servir como instrumento de referência para se decidir cada passo do processo de produção, quais os procedimentos e ou produtos que são ambientalmente sustentáveis e socialmente aceitáveis.

Na organização para a implantação das BPA na produção de leite, atenção deve ser dada especialmente para as áreas de saúde animal, higiene da ordenha, alimentação, água para beber, bem-estar animal e meio ambiente.

Outro aspecto a ser levado em consideração é que a implantação de BPA implica na necessidade de registro e manutenção de diversos dados da propriedade e da produção, especialmente os que habilitam a rastreabilidade adequada quanto ao uso de produtos químicos, agronômicos e veterinários, compra e uso de alimentos e ingredientes alimentares, identificação individual dos animais, temperatura de refrigeração do leite, medicamentos ou outros tratamentos e procedimentos, a exemplo de vacinas, inseminações, banhos

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carrapaticidas, entre outros, dispensados aos animais.

O produtor deve também assegurar a capacitação do pessoal envolvido ou que supervisionam atividades, especialmente aquelas relacionadas com o manejo dos animais, ordenha e armazenamento do leite, administração de medicamentos, atividades relacionadas à segurança e higiene dos alimentos e adoção de procedimentos seguros.

Com relação à saúde animal, os animais devem ser sadios e a propriedade deve dispor de um programa efetivo de saúde do rebanho. Deve-se evitar a entrada de doenças no rebanho, por meio da compra de animais com histórico sanitário conhecido e controle da entrada dos mesmos na propriedade; o transporte de animais que entram ou saem da propriedade deve ser realizado de modo a não permitir a entrada de agentes de doenças; manutenção de cercas e limites seguros para evitar o contato com animais de propriedades vizinhas; limitações, dentro do possível, ao contato do rebanho com pessoas estranhas e animais silvestres e ter programa de controle de pragas.

Deve ser adotado também o emprego de sistema de identificação que permita que todos os animais sejam identificados desde o nascimento até o descarte ou morte, programa baseado em prevenção de doenças que atenda tanto às necessidades do sistema produtivo, quanto às exigências sanitárias regionais e nacionais, monitoramento regular dos animais para sinais de doenças, atendimento rápido e adequado aos animais doentes, isolamento dos animais doentes e separação do leite dos animais doentes e em tratamento, manutenção de registros escritos de todos os tratamentos realizados, com identificação apropriada dos animais medicados e adoção de medidas específicas relativas às doenças que afetam a saúde pública.

O uso correto de medicamentos veterinários e de outros produtos pode ser realizado considerando-se a orientação de profissional habilitado, cálculo cuidadoso de dosagens e observação apropriada dos respectivos períodos de carência, armazenamento adequado e em local seguro mantendo-se longe de químicos, além de descarte de acordo com as normas oficiais.

A capacitação de pessoal deve ser realizada considerando-se a disponibilidade dos procedimentos em local adequado para detecção de problemas, manejo de animais doentes e de substâncias químicas e medicamentos; garantia de que

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as pessoas encarregadas de manejar animais sejam suficientemente treinadas e competentes para realização de intervenções e assistência técnica.

Na higiene da ordenha, o leite deve ser obtido e armazenado sob condições higiênicas. Os equipamentos usados para ordenhar e armazenar o leite devem ser apropriados e mantidos de maneira correta e regular.

Para a garantia de que a rotina de ordenha não cause injúrias aos animais e que não sejam introduzidas contaminações no leite se deve considerar os seguintes aspectos:

1. Identificação individual das vacas.

2. Preparação adequada do úbere para a ordenha.

3. Adoção de técnica apropriada de ordenha.

4. Separação do leite de animais doentes ou medicados.

5. Instalação e manutenção adequadas dos equipamentos.

6. Garantia de suprimento suficiente de água limpa para os procedimentos de ordenha e armazenamento do leite.

7. Realização de ordenha em condições higiênicas, por meio da manutenção do ambiente limpo para permanência dos animais e para ordenha que deve estar limpa e seca.

8. Garantia de que os ordenhadores sigam regras básicas de higiene.

Na estocagem e manuseio adequados do leite devem ser consideradas as seguintes questões: resfriamento do leite em conformidade com a legislação; manutenção da área limpa e organizada de estocagem do leite e garantia de que o equipamento de estocagem do leite seja adequado para manter o mesmo na temperatura especificada.

Os animais devem ser alimentados e receber água em quantidade suficiente. Tanto na alimentação, quanto no fornecimento de água devem ser observados

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os aspectos de qualidade, além do controle das condições de armazenagem e garantia de rastreabilidade. Deve ser observado o provimento das necessidades nutricionais, a garantia de suprimento, o uso de equipamentos diferentes na preparação dos alimentos e manuseio de produtos químicos, bem como o uso adequado destes produtos na formulação dos alimentos e o uso de aditivos permitidos pela legislação. Com relação à armazenagem se deve considerar a separação dos alimentos usados por diferentes espécies, estocagem em condições adequadas e rejeição dos insumos mofados. A garantia de rastreabilidade do alimento deve ser realizada pela adoção de programa de qualidade por parte do fornecedor e manutenção de registros de todos os alimentos completos e produtos adquiridos para a formulação dos mesmos.

Os animais devem ser mantidos em condição permanente de bem estar. Desta forma, alguns procedimentos devem ser implantados:

1. Não devem sentir fome e sede, garantir fornecimento diário e em quantidade suficiente e adequada de alimentos e de água de boa qualidade, além de proteção contra plantas tóxicas e substâncias que possam provocar danos orgânicos.

2. O conforto deve ser levado aos animais por meio de construções sem perigos de acidentes e que permitam o acesso sem limitações, espaços adequados e limpos, proteção contra as intempéries e adequada à circulação de ventos e à incidência de raios solares.

3. Os animais devem ser mantidos num hígido estado de saúde pela execução de programa sanitário e combate permanente às doenças mais comuns ao gado leiteiro, manejo reprodutivo e adoção de manejo sanitário adequado, principalmente nos procedimentos de ordenha.

4. A questão de manter o animal leiteiro sem submissão ao medo e ao estresse desnecessários deve ser constantemente observada e orientada. Os animais devem ser submetidos a procedimentos dentro do padrão comportamental e que não comprometam a sua atividade social, preservando o aspecto gregário, condições de satisfação para dormir e alimentar-se. Neste caso, é fundamental que existam adequados treinamento e seleção do corpo de empregados.

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Com relação ao meio ambiente, a atividade leiteira deve estar em perfeito equilíbrio com os fatores ambientais e submetida às exigências oficiais a exemplo do uso de produtos agronômicos e veterinários. Usualmente as questões ambientais estão ligadas aos fatores legais onde se incluem manutenção de reservas florestais, áreas de preservação, tratamento de efluentes, destinação de lixos e recipientes, proteção de nascentes, entre outros.

Referências

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BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº. 51/2002. Anexos, de 18/09/2002. Diário Oficial da União, 20/09/2002.

BRITO, J. R. F. Boas Práticas Agropecuárias na Produção de Leite. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUALIDADE DO LEITE. 3., 2008, Recife. Anais... Recife: RBQL, 2008. p 129 -143.

CANADA Quality Milk on Farm Food Safety Program. Workbook. Implementing the Canadian Milk Program. Self Evaluation Questionnaire Mandatory Records. Canada: Dairy Farmers of Canada, 2003. 40 p.

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CARVALHO, G. R.; CARNEIRO, A. V. Principais indicadores leite e derivados. Boletim Eletrônico Mensal, Juiz de Fora, a. 4, n. 31, 8 de jun. 2011.

DOLORES, A. C. Cresce indústria laticínia no Nordeste. Folha de Pernambuco Digital, [Recife], 28 abr. 2008. Disponível em: <http://www.folhape.com.br>. Acesso em: 28 abr. 2008.

GOMES, S. T. Cuidado com o leite do cerrado. Disponível em: http://www.ufv.br/der/docentes/stg/stg_artigos.pdf. Acesso em 08/10/2008.

LAING, B. Implementing on-farm food safety program: the Canadian Milk Quality Program. In: INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR FOOD PROTECTION, Annual Meeting, 93rd, Calgary, 2006. Program and Abstract Book… Des Moines: IAFP, 2006. p. 62.

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Apud Brito, J. R. F. O PAS Campo e a interrelação com outros programas de gestão da propriedade leiteira. Juiz de Fora – MG. (Impresso) (nesta referência o que deve ser indicado é Brito..., mas preciso de informações mais completas do documento, ele não foi encontrado em nosso acervo nem nas bases que possuo).

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