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Qualquer Versar Iran Maia Rio de Janeiro/RJ 2010

Qualquer versar

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Iran Maia

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Qualquer

Versar

Iran Maia

Rio de Janeiro/RJ

2010

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Edição e diagramação: Iran Maia

Contato:

[email protected]

twitter.com/IranMaia

poeta-andarilho.blogspot.com

Iran Maia nasceu na Bahia em 19 de

setembro de 1991. Aos quatro anos

de idade sua mãe já havia o

ensinado a ler e escrever e lhe

comprava toda semana várias

revistas em quadrinhos. Um tio dele

amava levá-lo para passear porque o

achava muito inteligente e gostava

de exibi-lo para os amigos, por

algum motivo isso atraia as

mulheres. Cresceu passando manhãs

a fio entre leituras obrigatórias e

caligrafia antes da escola, muito

mais que matemática.

Foi nesse ambiente onde leitura e

escrita tinham tanta importância que

a obrigação se juntou ao amor e

muito cedo começou a escrever os

primeiros versinhos (de amor do

tipo: “Meu amor, você é uma flor” e

as primeiras historinhas que

geralmente tinham pessoas fortes

que voavam ou seres estranhos que

se transformavam e ficavam com

uma roupa com capacete,

geralmente oriundos de desenhos

japoneses.

Na 5ª série (atual 6º ano) se

apaixonou por uma linda garotinha,

sua colega de classe, o grande amor

de sua vida, para quem escreveu

seus poemas mais românticos.

Aluno muito aplicado passou em 3º

lugar no CEFET-BA uned Valença,

no curso de informática, na cidade

onde morou por cinco anos, graças

ao ótimo desempenho que teve com

as ciências não exatas. Atualmente

vive no Rio de Janeiro e tem

grandes planos para o futuro, planos

esses que a vida ainda não lhe deu

tempo de realizar.

Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você

pode copiar, exibir, distribuir, executar. Não pode criar

obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem

a devida permissão do autor. Clique aqui.

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Para o único e grande amor da minha vida,

grande amiga e sempre amada a quem dedico todo versar e viver.

Para minha mãe, sem seu apoio nada me seria possível.

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Sumário

09-Eu te amo 11-Desejo de amor 12-À amada 13-Na praia 14-A falta 16-Sofrer 17-Nau 18-O andarilho 19-Quem é ela? 20-Eu ladrão 21-Minha bela 22-Bons sentimentos 23-Olá tristeza 24-Querida 25-Grande desejo 26-Teu nome 27-Ao amor 28-Afrodite 29-O que me importa? 30-Maria 31-Felicidade em mim maior 32-Eu disse 33-Horas a fio 34-Momento 35-Tenho medo de te amar 36-Palavras à toa 37-Dia-a-dia 38-Poema da dor total 39-Todo amor que tive 40-Quero cantar a mulher

41-Definição de mim 42-Piedade! 43-Amores que amei 44-Desabafo 45-Soneto de amor 46-Tua imagem 47-Campos da vida 48-Vem minha amada 49-Cantarei 50-Ardente paixão 51-Brado 52-Jurema 53-Na tarde que quebra 54-Fim 55-Lucy 56-À bela 57-Meu sol 58-Turmas nebulosas 59-Serafins 61-Tua caligrafia 62-Júlia 64-A hélice 65-Marina 66-Bela amizade 67-Mãe negra 68-Eu sou 69-Não serei 71-O poeta 72-Espanto 73-Do povo 74-Verdadeiro hino nacional 77-Mentira!

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78-Histórias perdidas 79-A morte do poeta 80-Doces doidices 81-Vida 82-Desabafo do melro 83-Dor infantil 84-Eu fui à lua 85-Os fortes 86-O caminho 87-Jogo da vida 88-Confusão

89-Poema inexpressivo 90-Maldade 91-Por que choras? 92-Infância 93-Pião 94-Outono 95-Noite soturna 96-Eu que era o menino puro 97-Clara

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Eu te amo Quando me vierem as marcas, dos lábios teus, alegres a dizer-me que acabou, morrerei por dentro, chorarei o perdido intento de te amar, pois não serão nos meus. Correrei pro infinito e findarei lá, romperei em meus braços o mar em um nado insano no intuito de afogar lágrimas que teimarão em descer doidamente, atravessarei esse oceano de inutilidades pungentes e lamentarei esse amor da gente, que nunca existiu. Mas, ai, basta-me ouvir de teus lábios um ai para empenhar-me num nado sagaz em regresso a esse cais, essa marina onde aporta o amor. Em tua presença, outrora eu sozinho, quando teus olhos derem-me lágrimas por outro ser que te negou carinho, desgraçado que chamastes amorzinho, te direi agora baixinho, num terno abraço,

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teu ninho e regaço: – Não chora tanto que esse teu pranto é mais duro que as cadeias de aço que rompi pra te amar. Eu sofro, me desgraço, mas vem pros meus braços, pois eu te amo.

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Desejo de amor Te amei mais que o amor, te admirei a todo instante. Não cante... o verbo amar é sofrer. Disse que o amor é belo. Queria eu o amor.. o teu. Agora vejo que ele é cego. Brisa que acalma, dor que faz crescer. Cresci, e continuei amando a dor insana e admirando te ver, vivi. Não cante o instante, amante, olha agora, o passado se foi.

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À amada Amada, não se engane com meu jeito imaturo, pois sou porto seguro em rotas de escuro, iluminado pelo teu olhar. Verso teu sexo – mulher – minha dor. Entenda, aprenda a prenda que é meu amor. Linda, quando tua luz se acende meu ser entende que eternidade está por vir. Tua é minha glória e todo o universo compreenderá que meu verso está anexo a ti. Entenda, minha poesia tornar-te-á lenda, então alegria haverá como jamais houve. Mas ouve, meus versos trarão contenda e eterna comigo serás.

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Na praia A lua banha com sua sólida solidão, o vento acalenta dando alento, consolo. Ruge o mar um lamento, diz que profundos amores não morrem, tornam-se em profundos ódios e dores. Conto estrelas pra lembrar de esquecer que só falta você pra não me faltar mais nada, então falta-me tudo. Aluí com esse amor que é minha força e covardia e meu pesar cintila, sem alegria, na areia do cais, corro parado como se não fosse ser feliz jamais. A noite me impede de te ver numa distância desmedida. Quero que saibas, querida, que não és mais razão do meu viver, e sim toda minha vida.

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A falta Um anjo, o que és, que me caiu de algum lugar, alguma vez e desse lugar não me saiu, vez alguma. Eu quem parti para um destino incerto de te ver, e o que me resta... não sei. Fiquei com esse caminhar vago, essa imensa falta de afago, essa saudade, sentimento fosco e mau pago que só eu posso compreender. Fiquei com esse olhar no luar quando era teu olhar que eu queria ver. Esse respeito pela noite a me chamar, medo da imensidão ao cantar, medo de perder... de te perder. Fiquei com esse coração queimado, amargura sangrenta querendo me afogar nas vagas do mar, perdido e magoado na cidade cinzenta, essa cólera que me quer matar. Fiquei com essa impiedade de mim mesmo, essa vontade de chorar diante de tua beleza, esse som de passos que dou a esmo tendo como companhia a tristeza

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quando queria que fosse você. Fiquei com esse vagar solto, essa inércia incorrigível, essa resignação que me deixa envolto na consciência do meu ser desprezível, essa falta inconcebível de você. Fiquei com essa vontade do que foi tornar a ser, esse sonho irreprimível que não quer se perder, essa incoerência da vida, esse nunca poder. Quem vê diz que tenho tudo, na verdade, me falta você. Me falta ver teu sorriso, sentir teu abraço aqui comigo, ouvir tua voz me chamando amigo. Me falta sentir teus olhos nos meus e ser feliz. Me falta você.

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Sofrer

Só, Então.

Meu irmão, Por hoje só.

Diga que sofri, Que me acalmei, Que desandei,

Desesperei Porque amei, Eu me afoguei E se eu chorei Foi por amor, Pela tristeza E pela dor

De te perder, Mas eu lutei Por ti, enfim.

Por Deus, por mim, diga que ela regresse, Que ouça essa minha prece de amor.

Quero te ver, Quero te ter, Quero viver, Quero sorrir E te sentir

E se eu morrer É de amor

Por ti, Só.

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Nau

Nau errante

á deriva, sob vento forte, belo mar azul,

não foges porque sabes: não é um destino a morte,

é um tufão que vem do norte e ao sul a minha senhora chora,

sofre, luta

e ama. Nau, navegas uma vida heróica, depois essa aventura histórica

se afogará em triste mar. Vê, o vento que vem vaga,

cheio de choro o mar chega. Chega! Não, não chora!

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O andarilho Saudoso o andarilho anda sobre os trilhos por onde a cidade fumegante vai e vem. O trem que morre, a multidão que corre, mas é tudo vivo. Talvez os gris da vida sejam reflexos dum interior repleto de vazio. Acima o firmamento sopra ríspido vento em seus olhos quase a chorar. Não lamento, estranho a saudade que me consola, assola é a multidão mesquinha e vil, pois ninguém viu o talento com que o amor massacra. Saudoso o andarilho perde o brilho pois não gastou todas as infinitas palavras, nem expressou infinitamente o que sente no peito e agora, longe, nos longes, tanto quanto se pode chegar, deseja a amada, nem que seja um olhar. Um caloroso e amigo abraço o levaria à glória, mas seus lábios é que não saem da memória e o matariam de tanto amar.

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Quem é ela? Olho pela janela. Quem é ela, quem é ela que vem a sorrir e dançar? Ou seu andar que é a dança mais bela? Quem é ela que dança? Quem é ela que canta? Quem é ela que encanta? É a musa do amor. Quem é ela que sorri com graça? Sou sabiá e te dou o que posso dar de graça. Canto o canto de tua existência num canto da praça e convoco a grande massa a te admirar. Num canto da praça, canto a graça. Quem é ela, quem é ela? É luta espanhola, formosura brasileira, pedaço de Inglaterra, mais bela que a terra, és bandeira do mar. Vejo a beleza do sol, vejo a beleza no ar. Vejo que és a principal beleza. Não consigo os olhos fechar. Olho pela janela. Quem é ela? É a coisa mais bela de se olhar.

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Eu ladrão Por mais que eu diga que te amo não olharás para mim, sujeito simples como eu, porque és deusa, bela flor. Mesmo que eu cante a mais bela canção não olharás para mim, logo eu, um mero ladrão. Eu quem roubo as palavras da mais triste escuridão, revelo-as á luz pra enaltecer-te, meu amor. Mas perdão, perdão pelos deslizes, se meus versos soam tristes como eu, mas te dou de coração.

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Minha bela Aproxima- se a minha bela... diz-me , oh reis, inúteis e embasbacados, se há maior beleza que ela. O dia brilha, é lindo o sol. Feliz e saltitante te recebo, alimentas o sol e a vida deste bardo mancebo. Abre-te, depois dos idos em casulo vem, deveras, o brilho difuso de tuas asas doiradas. A ti idílios e odes, sonetos em moldes de elogios com amor. Sou prisioneiro sim, de tua beleza. Grades de ouro, prisão da nobreza. Sou igarapé a penetrar no verde do teu olhar. Já te abracei e estou dúctil, minha alegria imensa não é inútil. Sou Páris, amiga, deixo as outras e venho te versar.

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Bons sentimentos Se os bons sentimentos não marcassem tanto, não estaria aqui em meu canto escrevendo palavra sem encanto. Lamentado sentimentos que esqueci de sentir, talvez por medo da dor que poderia vir. Lamentando sentimentos que em meu peito se perderam, tendo medo de momentos que lembro como doeram. Se os bons sentimentos não doessem tanto, não teria tanto medo. Medo que mantenho em segredo. Das palavras não faria canto, do medo não faria um manto, se os bons sentimentos não marcassem tanto.

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Olá Tristeza Olá Tristeza, aí está você... olha que sol, olha que céu... pensei que não viesse me ver, já estava por me entristecer. Sente-se, vamos beber. Embriaguemos-nos um pouco, eu sei que sou louco, mas em meu coração só há você. Por favor, não se engane, Tristeza, acho que ainda não te amo. Não, não fique triste, por favor. Chegue mais pra cá, deixa-me te falar das Tristezas que tenho conhecido. Bebe comigo desta amargura em meu copo, me dá teu ombro, me deixa chorar, mas não se vá que eu não tenho mais amor, não tenho mais nada. Só me resta você.

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Querida Acordei, hoje, feliz, querida, meu primeiro pensamento foi você. Fiquei com muita vontade de te ver. Confundo-te com minha própria vida. Pena que não posso te beijar, sentir em meus lábios os teus. Nós prontos para amar. Deixa-me sonhar. As vezes invejo teu namorado. Sem ti sou um desesperado. Só eu sei o quanto gostaria de por ti ser amado. Mas me diz teu sorriso igualando meu amor a neve gelada numa noite sem luz, mas caindo de leve. Mas me diz teu sorriso igualando meu amor a neve, sufocando relvosos pensamentos, deixando-os cada vez mais breves.

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Grande desejo Como desejo Sol, mas cai é chuva, então acendo o farol e ilumino as curvas. Ai que vontade de te dar eternos abraços, sentir tua face, teu calor, tocar teus traços. Que felicidade, que vontade de rir, de dizer que te amo. Tenho que falar, admitir. Tenho pressa no meu carrinho e vou correndo, sedento de carinho. Beije-me e vamos estudar. Concluamos nossa filosofia que diz pra gente se amar.

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Teu nome Cantarei teu nome pra natureza, anunciarei com prazer tua beleza. Cantarei teu nome até o horizonte, correrei o mundo, secarei a fonte de palavras pra te elogiar, escreverei mil versos, mil poemas sobre o teu belo olhar. Louvarei tal cúmulo de beleza que nem a natureza de ti pode ganhar.

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Ao amor Amor, em que corações te encontras? A quais dais preferência para que reines e faças constantemente felizes teus súditos? Quero tê-lo em meu coração vazio que não te afrontas. Confesso que ditei mal minha história, também que tracei errado meu caminho. Lamento não ter me entregado ao carinho. Se maravilhosamente de amor nascemos e por amor sofremos, porque sofro por não ter amado?

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Afrodite Esmero-te em verso e morro por dentro com teu desdém. Vê minha beleza, te peço! És Afrodite e não me gostas porém. Meu olhar te acompanha, danças solitária a amar o ítalo vadio. Acordei com medo após um pesadelo. Temendo que não me vejas, suei frio. O sonho me deixou pasmo, mudo e te versei apesar de tudo. Desculpe-me, estava por enlouquecer. Mas o que fazer se tua existência é meu viver? Eu só quero uma chance pra te mostrar que eu realmente te amo. Por favor, meu amor, não agüento mais esse lance de te amar e não te ter, olha, é o que clamo.

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O que me importa? O que me importa tua tristeza se eu sou mais triste? Não me importa perdoar-te. Já perdoei e não me ouvistes. O que me importa agora, se antes eu quis te amar? O que me importa teu carinho depois de tanto chorar. Como ter piedade do teu sofrer se eu também sofro. Não me interessa teus beijos, nem teu carinho ou amor. Não te entregues a mim. O que me importa tua beleza agora? Cansei de sofrer, fiquei até mais bela.

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Maria Quase amei Maria, quase até o fim, até que quase um dia quase me dei fim. Findei o amor. Quase fui feliz, quase sonhei, quase me fiz, quase desejei Maria. Ó Maria. Hoje eu quase sorriu, quase escrevo este quase poema que deixo quase incompleto, tentando lembrar Maria.

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Felicidade em mim maior Mas quem disse que eu sou triste? Engana-se, amigo, sou o homem mais feliz do mundo. Não sabes o que digo, mas carrego comigo todos os segredos sagrados que todos sabem e não sabem que sabem, mas a vida sussurrou só pra mim. Eu que, de olhar profundo, tenho a tarde a me banhar nos raios dos mais belos brilhos de olhar, nos braços de mulheres doidas para amar, no amor que teima em me esperar e eu amo aqui e acolá, um novo amor, em novos abraços todo dia. Sem lar certo impossível ser deserto, eu sou uma multidão que em mim existe. Mas quem disse que eu sou triste?

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Eu disse Eu disse a você Do meu jeito rude, Da minha atitude De quem não se ilude Com qualquer querer. Eu disse a você Do meu jeito errante, Desse ser cantante, Meu eu inconstante Que costumo ser. Eu disse a você, Sou filho da massa, Que a vida me caça, Mas essa fumaça Vem, é só viver. Eu disse a você, Olha, eu não presto, Eu e todo o resto. Amor, me detesto, Pra que me querer?

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Horas a fio Passei horas a fio tentando gritar sentimentos fustigantes, gritos tortos, desesperados e fatigantes. Sofri a explosão sórdida de desejos e frustrações. Cansei, mas não as emoções. Escrevi sobre um olhar, um jeito, um calor. Só Deus sabe o meu pesar, o de um sujeito em dissabor. Mas continuo a versar, que como efeito me trás dor. Queria mesmo era amar enquanto escrevia sobre amor. Gritei horas a fio e o meu grito falhou, cantei, então, um triste canto no frio até que o sol raiou.

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Momento Essas palavras que não digo, esse ser que não ligo, esse saber que não sigo, esse eu mendigo esperando amigo o toque teu. Mas a hora é triste, e toca o tempo tardo. Meu coração não resiste, dobra o bronze e eu ardo. Tum, Tum, Tum, faz o infeliz.

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Tenho medo de te amar Tenho medo de te amar. Mesmo desesperado meu desiderato sei ser tolo o ato de esconder esse amor enquanto sabes. Conheces, sabes da conflagração que tomou meu peito, mas não agis enquanto sem jeito, resigno-me ao efeito do quanto te amo. Enlevo-me com tua beleza que tanto me conquista, mas com toda franqueza, minha nobreza é amar-te e te ver feliz. Sou teu amigo e amante. Roubou-me a vida teu olhar hipnotizante, és escultura fascinante, por favor, só te peço que me ames.

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Palavras à toa Quantas palavras desperdiçadas com um amor inútil e inexistente! Quantas expressões gastas com um tolo e amargo sofrer! Quantas lágrimas noturnas derramadas sem mais nem menos. Este rio que corre é por ti, nem mais nem menos. Quantos desejos versados, resignados, desertados, coitados, nesse estúpido amor. Também não é culpa do amor se não te ter me causa dor, eu é quem choro demais, sofro demais, não escondo mais, vai, que vou chorar.

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Dia-a-dia O sol invade janela adentro. Fora, pássaros cantam, liberam profusos lamentos. O vento promulga a vida, e a vida o talento que há em viver. Prolongo a prolixa história, e risos. Proponho confuso a confusão, propicio a prosódica canção, induzo à poética superior e piso, sapateio a tristeza porque sorrir é viver. Sob o azul do céu voam, livres, pássaros libertinos e, apressados, aviões levam destinos traçando estradas nubladas num vôo fino e a demente púrpura é nada com as manobras ao léu. Todo toque se prolonga. Quão profundo e verde olhar. Teu toque se difunde. Teu olhar confunde e não sofro... não sofro.

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Poema da dor total Melhor te ver vencida em meus ais e tua morte, morte de amor veraz, que te ver iludida, lançada em indiferença, inebriada em teu vazio fulgor fugaz. Teu outono será penalizante e num inútil suicídio errante não vês, querida, que morro de amor, que sofro de amor, que vivi essa dor, não nego mas. Na escuridão da existência eu vago, vago como o teu olhar. Sem poética para me encher a vida. Trago comigo o prazer de viver por ti, querida. Carrego, por ti, esse amor etéreo, sublime e vão, esperando que vejas a beleza em meus atos então. Até que não seja em vão que eu sofra a excelsa e total dor de amar.

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Todo amor que tive Todo amor que tive foi apenas ilusão. Toda alegria, se tive, não mais que forçosa emoção. Mas amor agora sinto e amar sei que é viver. Se me perguntas minto, a primeira em minha vida é você. Sou grato e me espanto. Jogastes-me em amor abissal. Se me der um clavicórdio até canto a canção que tirei do soneto vital. Te amo, envolve-me e me ama. Digamos o inefável às emoções do teu corpo afável. Que seja grande nosso amor.

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Quero cantar a mulher Quero cantar a mulher que é minha vida e ilusão. Quero poetizar seus caminhos, versar seus carinhos, de tudo ser mais atenção. Quero cantar a mulher, decodificá-la em versos com as mais belas linhas. Quero amar porque ela merece e fazer sempre a prece: – Vem, não me deixes, não me deixes.

Quero cantar a existência e esquecer que o mundo existe. Quero afagar aquela que é amor. Quero beijar quem me acende amor. Quero me afogar em amor. Mulher é tudo, é amor e amor.

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Definição de mim Eu, carbono, filho das estrelas, perco o sono, sem brilho ou centelhas. Nem sou dono desse meu olhar. Eu, só poeira, não passo de tal. Mais que eu queira, os lábios de Kau, vida inteira, não pude beijar. Eu, só eu, sem bastar ser nada, quis ser meu o sorrir da amada e o amor seu que fico a esperar.

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Piedade! Sorris enquanto choro. Te amar é meu defeito, mas por favor, te imploro, respeita o que trago no peito. Não estou a tua altura. Nem vem que não vou chorar. Por favor, piedade desse ser que atura a sina e delírio de te amar.

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Amores que amei De principio amei. Amei amores inalcançáveis, tão cansáveis que quando alcançáveis cansei de amar. Amei amores insensatos e vagos, inconscientes. Tão sem senso de atos que quando dei por mim desisti de amar.

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Desabafo De tudo fica apenas arrependimento, porque a boba mágoa que eu tinha era pura tolice minha, bobo momento. Queria, na verdade, te abraçar e beijar, fazer o que minha burrice não deixou. Cresci, tudo mudou. Antes eu era o bardo que nunca amou. (Agora te amo). Te desejo intensamente. Quero te possuir, amar-te, que arte querer-te. O importante é ter você. (Mesmo que só um pouco). Mesmo que por um instante queria enlouquecer com tua doçura. Quero ceder ao teu encanto e que saibas que te gosto tanto. Me perdoa.

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Soneto de amor Amor, sabes porquê te amo tanto? Me explica por favor, causa esse espanto que ignoro esse sorriso e doce pranto visto que é puro canto tonto amar. Não me importa mais nada se me és tudo e quando estás por perto fico mudo e me é curta distância forte escudo mesmo que eu louco, já, por te beijar. Mas vê, todo universo que aí existe fala comigo às noites que ele é triste por não ver, em teus braços, me queimar. E eu nem sei se essa vida é, sim, tão bela, se finjo e falo a ti de ti como ela. Se o coração apela e chora mar.

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Tua imagem Eu deleitava-me perante tua face que resplandecia como o sol de verão em fogo, abrasando toda areia da praia. Que seque o mar, não me importo, pois a mais bela paisagem que torna estonteante o lugar é a tua imagem. Estou ressequido como a relva em sol ardente, mas não faço caso, pois nem na selva estaria tão contente.

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Campos da vida Aceito meias verdades, tuas mentiras sinceras, conheço todas as cidades, vivi todas as eras. Já me afoguei no mar dos teus segredos, me arrepiei com teus medos. Eu quero você! Te amar pra vida inteira. O que falam de nós é besteira, vem passear, correr, viajar por campos verdejantes, róseos céus brilhantes, novas terras, correr o mundo, correr a vida. Querida, que linda é você. E esses pássaros azuis, Celeste, vão me dizer belas canções, ventos me trarão do leste todas as razões pra eu cantar pra você.

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Vem minha amada Ergue-te, minha amada, não abstenha-te em falar na profunda calada da noite sombria, sim, escura e fria, quando não penso em nada. Agora finda o inverno e se derrete a neve sobre a terra de tempo eterno que aos poucos floresce, sim, é terno esse tempo. Ergue-te amada minha, minha bela e vem. É chegada a primavera. Vem, ao amor caminha enquanto apaixonado observo, aprisionado, a vida em nossa esfera, sim, estou a tua espera.

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Cantarei Queria poder cantar uma canção de rei. Queria poder sonhar, mas te amar é mais que ilusão. Consigo fintar a morte só pra te ver. Me transformo no mais forte no prazer de ter você. Cantarei, então, a mais bela canção, os deuses me raptarão e ficarei mais perto de você.

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Ardente paixão Minha amada tem um jeito bom, sua voz tem um som que até quando reclama faz uma bela canção. Gosto do seu belo caminhar, seu jeito de dançar que conquista meu coração quando combinado com a batida do meu violão. Derreto com o seu belo olhar e o seu jeito de amar mistura-se com uma ardente paixão.

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Brado Bradava o espírito de um morto, agitado em um porto com um pensamento e um amor torto. Morreu sentado o pobre defunto, a expressão triste em sua face falava como se entendesse do assunto. Talvez seu coração tivesse dito o que sentia, tão aflito, talvez pro amor tivesse dado um grito. Talvez tivesse falado com a paixão, Revelado sua solidão. Só sei que parou o pobre coração. Pra que gritar se nem vivo me ouviam? Meu destino é vagar. Bradava o espírito de um morto agitado em um porto com um pensamento e um amor roto. Roto e sem esperança. Roto e sem saída. Roto e sem vida.

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Jurema Minha amada Jurema, te escrevo um poema pra falar do dilema, pequeno problema, que trancou-se em meu ser. É um amor que teima, ai como queima pra teu corpo eu poder aquecer. Subi em montanhas alturas, sofri penas duras pra te encontrar, agora, Jurema querida, serei tua guarida, não posso mais agüentar.

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Na tarde que quebra Na tarde que quebra as ondas ondulam, meninas doces, meninos pulam, no horizonte a imagem desse sol, refratado fingindo estar lá, em mim não há nada, no céu nada há. O amor é esse vazio entre céu e terra, essa paz sem motivo, pós guerra, esse pesar calado ao subir a serra, essa esperança que em mim se encerra. Já vai tarde, basta-me ficar e só. Ah! como cansa o amor que não posso. Deleto todo discurso que esboço vendo-os inúteis no quanto me esforço. Tantos jeitos que existem, tantas formas de dizer o quanto amo, e não digo. É que eu já sei a resposta negativa, tenho muito medo.

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Fim Ai! Estou tão triste e tremo todo, o tempo tarda e à toa temo. Sofri sorrindo e saí sem soldo, sem séquito, nem sentença ou remo. Varei em ver verdes vastidões, vaguei com ventos e vistas vãs, vi nas vagas, vagas emoções, vi na vida vazios afãs. Sim, cheguei, chamei, chamei, chorei. Chequei, xinguei, não senti teu cheiro. Chega! Que charada essa que achei! Ai, chama que chama-me inteiro!

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Lucy Já disse a Lucy: – Querida, guarde pra si esse avexamento, sorri um momento que teu riso conforta. Abre teus braços, firma nossos laços, vem, vamos dançar que as flores te invejam. Vê como te fita o pai das cores, são tantos os fervores, tantos os amores que podem te amar.

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À bela Por que mentias bela e doce indomável, se assim fazias meus sonhos cada vez mais desejáveis? Por que dizias que não me amava refletindo palavras no mais cativante olhar? Dissimulavas em tua face, em teu corpo, em teu ser, o ser em sentimento que em ausência me quebrantava. Em ti palavras tornam-se nas mais doces, e sentimento, elementos tais o mais nobre se de amor fosses. E és! Agora guardo lânguido sentimento, Cheio de dúvidas, me atormento, Mas em latente amor que deseja me aparecer, quero amar-te.

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Meu sol Ilumina-me um sorriso e o sol é nada, e me queima um abraço e o sol faz nada. As flores se voltam à beleza e o sol se esconde em tristeza por sua inutilidade (coitado). Mas pra que o bailar das flores se andas pra mim? Mas pra que o combinar das cores se teus olhos me encantam? Mas pra que o mundo e todos os fatores se só me importa você? Nem eu me importo mais. O dia é vago e eu vago sem destino se não te vejo. E se me atrevo a te perder (ou um beijo) é que é imenso meu desatino, sim estou louco (coitado).

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Turmas nebulosas Turmas nebulosas. O sol me esconde, em seu núcleo cruel, coisas anelosas, rosas frondosas negras como a noite, como a preta formosa que disse não me querer ver. Por isso me escondo em trovas e prosas, chorando fragrâncias cheirosas que o sol me esconde cruel. Mas são essas nuvens pomposas, essas manchas lácteas no céu, nebulosas, essas águas nebulosas, suas atitudes nebulosas mesmo com minhas olhadelas teimosas que me impedem de a ver. E eu chovo sem consolo. E eu morro feito um tolo. E eu corro, corro e corro nessas noites de sofrer.

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Serafins Quando os serafins me raptaram e, assim, me mostraram o fim, criei asas e voei a fim de mostrar que pra mim só importa o começo e eternidade do amor de verdade que sinto por ti. E se tropecei em teu caminho, não foi por maldade mas te peço perdão. O que eu tento dizer, e cansei, é que não sei o que dizer e se tinha o que fazer, cessei. E se não fiz por entender é que passei e o ponto esperado estava em me calar. O que existir sem desistir se já me existes? Quem conseguirá amar já que no ar não existe amor, posto que te amo com todo amor do mundo?

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Não me importa se, cego, aproveito e pego em tuas mãos e não nego o quanto te amo.

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Tua caligrafia Olho, toco, amo tua caligrafia perfeita que desenha as cartas que já me escrevestes. Há cheiro de mofo onde havia teu cheiro certa feita. Mas ainda lembro do teu aroma, maravilhoso idioma que me faz sonhar. Ah, te amo tanto...

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Júlia O mundo está se acabando E a vida se isola sem medo. Sem medo de temer o tirano, Sicrano, fulano, beltrano, Bonzinho como todos nós. A vida se enrola em seu próprio enredo E os pássaros passando passados com tanto, Que passam cantando nesse passaredo, Sou eu e você preenchidos de espanto, Somos nós, na noite, marchando pra vida e fim. Ó Júlia, Bem vês que a patrulha Que chega e passa Apesar de ser pulha É de gente da massa. Quando chega me amassa, Amarrota a camisa E eu sigo a rota da brisa, Sem destino marcado, Só e desesperado, Eu arrasto a humanidade, Adentro a eternidade e fim. Idéias se batem, Homens se matam,

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Homens se humilham, Se beijam, torturam E a vida faz fagulha, Mas, Júlia, A vida não é assim.

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A hélice

Tá, já sei!

Tá, tá, tá! Coração tomba,

bate tanta bomba que parece até samba,

mas não tem graça, caramba. Esta guerra, esta guerra, estes pássaros de aço!

Céus! Nem sei mais o que faço. Me cansei desse cansaço,

de já não ter abraço, já não ter regaço...

Tá, tá, tá, tá! Tá, tá, tá!

Tá, tá! O

problema é só meu!

Esse não ser que há dias sou

é só mais um ninguém, e se fui alguém, irmão,

perdi toda a razão. Perdi todos os meus sonhos

e meus amigos risonhos, ai! com aquele avião!

E se eu choro é em vão, e viver, sei não!

Até então... Tá, tá, tá!

Tá, tá! Tá!

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Marina Estamos em mundo pleno, pleno espaço. Doido no vácuo, douto vago, vago sereno. Brinca o tempo – águia de aço. Dias, saudades, não sei o que faço! Por um laço abraço me deixo levar. Vida, me leva? Estamos em mundo pleno. Acima o firmamento, em ti o pensamento, a turba é, da vida, o elemento. Teus cabelos são ouro que em abundância reluz em saudade fenecida. E a amizade é maior que o vácuo e todo lamento. E a saudade, fria como o vento, um dia acaba, querida. Donde venho? Pra onde vou? Não sei meu rumo se é infinito o espaço. Mar em alto. Amor é laço! Ri-se amiga! Igual aos homens é a vida. Nau errante perdida. Abram-se as asas que homens não findam, voam!

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Bela amizade Teus louros cabelos abrasam e encantam. Tais raios de luz me espantam. Tão serena luz para tão pequeno ser que és, magnífica entre as belas. Teu olhar é o amor do poeta, qual castanhos aos versos conduz. Diz-me, bela, se és apenas minha musa ou já a flor do bardo andaluz. Meiga, meiga... que sorriso encantador! Teu jeito suave me afaga. Que essa amizade ainda traga, frio para amenizar verão e, por vez do inverno, todo calor.

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Mãe negra Clama aos prantos a mãe negra. Chafurdada em lama, completamente sem esperança, aos prantos a mãe negra clama. Clama aos prantos a mãe negra. Seu caráter desfigurado, seu destino está traçado, é morrer ou morrer. Clama aos prantos a mãe negra. Reclama da má sorte. Sua tristeza é forte, mais frágil apenas que a morte. Clama aos prantos a mãe negra. Numa intensa desesperança. Da vida só fica a lembrança e do perdão... a vontade de perdoar.

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Eu sou Eu sou aquele menino feio de tuas ruas estreitas, que vive às espreitas, com medo de te admirar. Eu sou aquele menino feio de tua ponte desengonçada, que corria na chuva com a vida ameaçada. Eu sou aquele menino pobre. De barriga vazia, mas coração nobre, a quem a tristeza angustia e encobre. Eu sou teu filho, minha cidade. A quem, de reconhecer, tens receio. Eu sou aquele menino pobre. Eu sou aquele menino feio.

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Não serei Não serei a diva de um mundo cego, não serei o cantor de um mundo surdo, tampouco serei poeta de um mundo caduco. Olho para os meus amigos e percebo que estão taciturnos, subalternos do mais lúgubre recinto de seus soturnos pensamentos de grandeza. Não serei cantor da mulher, da beleza, da força escondida atrás da ilusória fragilidade, pela qual me apaixono e um dia, manso, me envolvo em seus braços suaves. Não serei poeta de um sonho, de uma ilusão efêmera, de uma límpida paixão maluca, de uma patente orgia de sabedorias vitais, de um erro, de uma vida, nem mesmo, do homem que me faço valer. Olho para mim mesmo e percebo

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que estou manietado à vida, à ilusão, à mulher. E a morte é o destino que não posso evitar, porém, a única prova de que vivi, a única que serei capaz de deixar.

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O poeta Oh! terrível esse ser sofrível, desprezível, reprimível, dor incrível que me olha do espelho. Mar vermelho que é a hemorragia do teu ser. Quase não ser, coitado de ti, infeliz, me diz: pra quê? Esse versar, esse versar, esse versar. Vai, transborda tanto, até que eu te seque o pranto. Inunda teus versos livres. Afunda, prisioneiro, afunda.

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Espanto Espantei meus medos, meus temores, meus tremores, estou feliz com minha dores. Só me dói a saudade. A alegria me invadiu, sou vadio, cachorro no cio. Nunca mais senti frio. O que me aquece é o amor. Abri sorriso pra esperança, poesia será a herança que minha doce bonança me fará deixar.

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Do povo Quando olhares pro teu céu anil e a púrpura demente da tua terra, quero que te lembres de mim, quero que te lembres o que eu amo e o que eu odeio. Eu sou o povo. Quero que sintas em teus lábios que derrama sangue com palavras, o sabor do meu sangue envenenado contra mim mesmo. Eu sou fruto das tuas mentiras. Eu sou a mutação que aprendeu a sobreviver aos golpes cruéis do teu podre sistema. Quero que sintas culpa pela minha miséria quando comeres esse saboroso pão posto em tua mesa farta do meu suor. Quero que te lembres que a minha raça negra, branca, amarela e vermelha te dá poder. Eu sou a África, Europa, Ásia e América. Quero que morras de remorsos sempre que me matares, sabendo que és como eu.

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Verdadeiro hino nacional Ouviu-se no Ipiranga às margens plácidas, De um povo heróico, o brado flácido, E o sol da liberdade, em raios cálidos Queima um povo que chora até esse instante. Se o penhor dessa igualdade, conseguíssemos conquistar com braço forte, Em teu seio, oh! Liberdade, Nutriríamos nossas crianças as livrando da morte! Oh! Pátria amada, Idolatrada, Salve-me! Salve-me! Brasil, eu sonho imerso em pena de quem tem vivido, Meu amor e minha esperança apenas descem, Se o teu formoso céu, risonho e límpido Um dia servir pra comer o povo agradece. Os ricos são donos de tua natureza, Às custas da minha miséria eles enchem os bolsos, E o teu futuro é essa tristeza. Terra adorada, Entre tiros de fuzil, És tu, Brasil,

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Oh! pátria amada! Pés no solo, eu sigo, oh! Mãe Gentil, Pátria amada, Brasil! Deixado abertamente ao chão estendido, Ao som de metralhadoras e confuso, Figura de um Brasil furão da América, Morre mais um cidadão no novo mundo. Nessa terra mais garrida Teu risonho, lindo povo tem mais dores; Nossas florestas têm mais vida Sendo destruída por lenhadores. Oh! Pátria amada, Idolatrada, Salve-me! Salve-me! Brasil, de dor, eterno sejas, símbolo, Por enquanto estou no meio de um fogo cruzado. Digo em poesia – minha flâmula: Educação, saúde e liberdade, tenho buscado. Mas te ergues na injustiça e me oprimes forte, Mesmo assim eu vou à luta, Nem que provoques a minha morte. Terra adorada, Entre tiros de fuzil,

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És tu, Brasil, Oh! Pátria amada! Pés no solo, eu sigo, oh! Mãe Gentil, Pátria amada, Brasil!

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Mentira! Arranquem-me as mentiras agora porque se faço nesta hora imito a todos os exemplos de outrora que me enganaram dizendo que a vida é bela. Porque se faço não é como os homens nela que me arrancam o suor até a última gota. E meu cansaço é por saber de cor o fim da minha novela, iludir meu filho que sua roupa rota é previsão livre e solta de um futuro melhor. E se eu amo é mentira. E se eu choro é mentira. E se eu morro é mentira. E meu sofrimento é conversa fiada, me ensinaram que bondade existe e eu vejo que é tudo piada, me forçaram a um destino triste e eu achei melhor que nada.

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Histórias perdidas Gostaria de expressar meus pensamentos, Falar meus sentimentos, Descobrir onde o infinito acaba, Quando o fim desaba. Poderia mostrar meus sentimentos, Mirar meus tormentos E com olhos mortais, Mostrar minha superioridade, mais e mais. Poderia gravar minha vida sofrida E dizer que a morte é melhor. Poderia cantar, Mas discos arranham e quebram. Poderia escrever, Mas as palavras Não sabem gritar, nem falar, Esperam que as leiam. Mas o homem não sabe se interessar. Mais uma forma de me descartar Até que eu suma na história. Nem a música, nem a escrita Podem gritar O que o meu coração grita. Apenas somem ou quebram.

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A morte do poeta Vês?! Morre minha inspiração, e quando tento dar vazão aos meus planos de ação calam-se meus sentimentos, junto aos lamentos de um poeta que jaz zumbi, que sonha acordado ao dormir, que fantasia a obra perfeita e a joga no lixo depois de feita, indignado com sua imaginação estreita. Olha! Quem me respeita? Padeço, vou em busca da receita. Luto, corro,corro, subo o morro. Vês como eu morro? O que mais me dói é a indiferença. Tratam-me de louco, idiota em inteira presença, mas não passam de inebriados em tola crença que os fazem mendigar a vida. E ainda o que me deixa mais irritado é que eu quero ser amado, desejado, subtraído por essa esfera fétida e sem sentido. Vês como eu morro?

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Doces doidices Sarar será fins, serenos serafins saem serenatam. Correm léguas, dormem éguas, morrem águas nos leitos de Iara, nos peitos de Sara será sorrir pra sempre. Marchar. Não serve manchar a breve dança, leve vida.

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Vida Que te fazes assim, estúpida entre as damas? Que te fazes assim, complexa entre os gênios? Medíocre, que te fazes assim? Insana e desleal, por que me fazes assim? Vida, por que és assim? Que te fiz? Por que me bates, maltratas? Por que me humilhas? Por que me tratas assim?

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Desabafo do melro Eu sou um mero, um mero pensador em desespero sem saber o que quero. Odeio à Nero. Talvez por inveja ou desprezo. Ou apenas por ser mero. Acho que porque ele teve o que quero. Eu sou um mero, um mero melro que o que sente vai melrando e o mais mero ser vai alegrando. Mas não quero ser melro. Talvez queira ser imperador como Nero, importante como Lutero e até poeta como Homero, mas só sou um mero melro.

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Dor infantil Tomo as dores de um pequeno ser que chances não teve de ser um perito da vida. Para onde me leva a Morte em suas trevas: triste, mal amada. Eis os reclames da alma da pobre criança que grita pra esperança. Não deixe que a morte me resvale a vida, não deixe que a fome me entorpeça e do meu corpo ainda reste résquia, não um breve sonho. Não me deixe ser triste animal doentio. Grite não à morte, me resvale do vazio, me leve onde encontro novo berço e me embalo em novo ser, onde eu possa crescer.

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Eu fui à lua Eu fui à lua, inacreditável, mas eu fui pra lua. Quem disse que ela é nua? Ela é coberta de prata e composta de queijo. Comi, comi o quanto pude até matar meu desejo. Eu fui pra lua! Não acreditam em mim? É verdade sim. De lá a terra é mais bonita. Não vemos guerra, nem fome, tudo some. Fiquei sem oxigênio e voltei. Sou um gênio, eu sei.

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Os fortes Os fortes também sentem dor, também pensam, também amam e são seres que de tanto ser, são fortes. Os fortes também caem em dores, também caem em ciladas, também vivem horrores e de tanto viver são seres que de tanto ser, são fortes.

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O caminho Menininho, no que você se transformou? Num passarinho que teve vontade e não voou? Tua hora há de chegar, tira toda tristeza do viver, do pensar. Não penses no caminho que não fostes trilhar. Esquece aquele caminho, aquele que não tomastes. Ouve-me, menininho. Esquece também aquele carinho. Sei que lembras. O que não ganhaste. Pra que amar o passado? Toma... toma o amor, aquele que sonhastes.

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Jogo da vida Mas mal mar cola, cala fala rala, rola. Caro faro, paro mola. Miro tiro, firo bola. Casa casa, coca-cola.

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Confusão Sou inculpável das tramas alheias que me deixam inerte perante situações algozes dos dramas que escrevem com a minha vida. Não, eu não morri, mas sou feliz. Sou? Se felicidade é ter um amor ao lado e poder ouvir seus suspiros ao anoitecer e quedo ao ofegante momento de amor permanecer. Não, não sou feliz, acho que estou morto. Estou? Mentira da retrograda imaginação humana. Estou mais vivo que nunca e tudo que pensei, vivi, senti passou. Agora são fúteis lembranças por ter passado.

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Poema inexpressivo Pensei durante horas num poema inefável que eu não soube expressar. Pensei pensamentos singelos, versos belos, mas só me expressei com essas palavras inexpressivas.

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Maldade Hoje caminhei pela minha cidade E presenciei muita maldade. Pensei: “Deus, essa é a humanidade...”. Olha quanta injustiça. Envergonho-me dessa alegria postiça. Porque depois... Não sei, pois. Pergunto-me: “Por que sou humano?” Egocêntrico que sou Procuro respostas no lugar errado... eu.

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Por que choras? Por que choras? Logo tu, que tens tanta beleza? Pra que tanta tristeza? Se soubesses criar Não haveria motivos para chorar. A não ser de felicidade. Mas olha, É a tristeza quem te invade. Lembra-te do Marquinho? Aquele menino, coitado, tão sozinho Que só queria um carrinho e um carinho. Hoje é engenheiro E só pensa em dinheiro. Uma carência se transformou em malícia. Por que o colocaste no mundo Se foi para sofrer? Ele queria pouco pra viver. És dona de tanta beleza. Por que choras, natureza? Por que tanto tormento? De que vale o arrependimento?

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Infância Pula corda a Aninha, se mistura com a molecada a Paulinha, enquanto a Carlinha olha a bola que rola. Troca figuras Pedrinho que chama Antônio sozinho pra brincar com os outros no parquinho bobos com a bola que rola.

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Pião

Olha o pião, roda, roda,

pião roda.

Quando eu vejo o pião que roda, junto com outros piões na roda,

me ponho contente a rodar, rodo com o mundo que roda

e não ligo, crio moda e depois dou mais corda

pra ele girar. Olha o pião, roda, roda,

pião, roda.

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Outono Não acredito que eu seja esse rosto pálido. E essas tremulas e rugosas mãos. E essa paz inerte que me toma. E essa tristeza que me soma. (Não, subtrai). E esse canto de melancolia. E esse ser que não sou eu. Seria a imagem de meu pai? Eu não tinha essa voz outrora. Fraca e esforçada. Muito menos essa ausência de devassidão. A única coisa que me resta dos meus idos. Que se soma e que me toma. (Até mesmo me subtrai). É o medo de perder o minuto que me trai. E é o mesmo medo que me retrai. Maldito é o espelho que me fita. Saudosa é a onda que se agita. (E logo se vai). Triste é a solidão porque amei. Adeus lembranças na minha decrepitude. Eu não tinha esse olhar raso e vago. Disso eu sei.

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Noite soturna Noite soturna. O tempo passa arrastado. Afora a multidão encarna o silêncio, aqui dentro ele senta ao meu lado. Os pássaros na madrugada acovardam seu canto. O azul que há pouco era manto, agora é negro sem luar. Noite soturna. A moça feia sai pra janela para ouvir alguém cantar uma canção tão bela como se fosse só pra ela o cantar. Longe, nos longes, um gramofone toca uma valsa antiga, prostitutas cantam uma velha cantiga e eu morro, como as velas, nessa noite soturna.

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Eu que era o menino puro E eu que era o menino puro das ruas valencianas fui cair nos braços da morena que nem morena era, era ruiva. Dizia que era donzela, mas não era, era uma moça que dava e era difícil resistir aos seus encantos. E eu que era o menino triste que costumava ler na Triana, pus o rosto naqueles seios macios, deitei naquele colo frio, beijei aquele solo de amor. Senti calafrios e gemi sem dor. Aquelas pernas abertas eram o auge da glória e não me saem da memória aqueles suspiros sem querer. Tremi inteiro naquela cama, Chamei-a de ama porque me dominaria e me dominou. Era a ama dos meus sentidos, foi a dama dos meus idos, idos que não voltam jamais.

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Clara

Clara, minha preta, é claro que no escuro a alegria vence a tristeza, a luz vence as trevas, a vida vence a morte e é uma sorte viver. Nas coisas mais claras, minha cara, minha cara não vê verdade, mas tu, minha Clara, é claro que podes ver.

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