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Quando as via, tão jovens e já tristes, Olhar a mãe chorando, Eu cismava, e o infortúnio pressentia, Vago ainda, os meus dias ameaçando. E o infortúnio chegou. Era uma noite, E eu ainda infante Despertei aos gemidos dolorosos Das órfãs junto à mãe agonizante! Transportaram-me ao leito aonde a triste Lutara na agonia, Era tarde! A primeira vez na vida, Ao beijá-la, as suas bênçãos não colhia! E as lágrimas, tão fluentes na infância Os meus olhos não banhavam! Então senti que os dias de ventura Com ela para sempre me deixavam. Depois os mesmos anjos, que na infância No berço me sorriam, Em vez das vestes cândidas de outrora, Agora negras túnicas cingiam. Nunca mais como a flor na Primavera Eu as vi radiantes; Mas sim como no Outono ela se ostenta, Pendendo as alvas pétalas fragrantes. Pobres flores! tão cedo sem abrigo, Dia a dia enlanguescem

Quando as Via

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Quando as via, tão jovens e já tristes,

Olhar a mãe chorando, Eu cismava, e o infortúnio pressentia, Vago ainda, os meus dias ameaçando.

E o infortúnio chegou. Era uma noite,

E eu ainda infante Despertei aos gemidos dolorosos

Das órfãs junto à mãe agonizante!

Transportaram-me ao leito aonde a triste

Lutara na agonia, Era tarde! A primeira vez na vida,

Ao beijá-la, as suas bênçãos não colhia!

E as lágrimas, tão fluentes na infância

Os meus olhos não banhavam!

Então senti que os dias de ventura

Com ela para sempre me deixavam.

Depois os mesmos anjos, que na infância

No berço me sorriam, Em vez das vestes cândidas de outrora, Agora negras túnicas cingiam.

Nunca mais como a flor na Primavera

Eu as vi radiantes;

Mas sim como no Outono ela se ostenta, Pendendo as alvas pétalas fragrantes.

Pobres flores! tão cedo sem abrigo,

Dia a dia enlanguescem

Como as que adornam virginais capelas, E ao fim de um baile pelo chão fenecem.

Como cândidas pombas surpreendidas

Por furiosa tormenta,

Voam amedrontadas a acolher-se

Junto à mãe que no seio as acalenta,