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Quando eu me perdi de mim 15

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De uma forma romanceada, tendo um triângulo amoroso como pano de fundo, “Quando eu me perdi de mim” descreve os principais desafios de quem vê a sua vida e atitudes modificadas pelo medo de ter medo. A escrita do livro foi acompanhada por uma psicóloga que trabalha diretamente com Transtorno do Pânico, tornando todo processo pelo qual passa a personagem o mais verossímil possível.

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Quando eu me perdi

de mim

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Vanessa amado

para Gaya

Quando eu me perdi

de mim

São Paulo 2015

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa Marco Mansen ([email protected])

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________A494q

Amado, Vanessa Quando eu me perdi de mim / Vanessa Amado. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2014.

ISBN 978-85-437-0205-6

1. Romance brasileiro. I. Título.

14-17683 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________11/11/2014 11/11/2014

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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Agradecimentos

Antes de mais nada, gostaria de agradecer à Gaya, minha motivação para iniciar as primeiras linhas deste romance, e ao meu marido Leonardo Davi, por não me deixar desistir.

Agradeço à minha querida mãe Gil, e às minhas amigas Alice Boeira e Maria Helena Costa, pelas críticas sinceras e paciência ao lerem meu manuscrito.

Um agradecimento especial à pessoa e profissional Joice Gomes, que durante todo processo me ajudou com seus sempre infalíveis conselhos e constatações sobre o Transtorno do Pânico, me fazendo estudar profunda-mente o assunto, e pelas suas sábias correções. Aos ami-gos Arivan e Anaéli, que, embora longe, sabem da impor-tância de suas amizades na escrita desta obra.

Meus sinceros agradecimentos a toda equipe de fil-magem do Book Trailer, Fernando Araújo, Antenor Aze-

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vedo, Angel Marques, Marcos Barreto, Sonale Fonseca, Raissa Xavier e minha querida amiga Rita Martins.

Agradeço ainda ao querido designer Marco Man-cen, por conseguir traduzir toda emoção do livro em uma belíssima capa, e ao meu irmão Kleber Amado, pelos seus conselhos gráficos.

Nunca vou conseguir agradecer o bastante pela companhia de meus filhotes Tom e Brad, dormindo nas madrugadas ao lado do computador para não me deixa-rem sozinha, enquanto eu escrevia. A Cacá e ao Robinho, meus outros peludos, pelo simples fato de suas existên-cias me encherem de graça.

E, finalmente, o agradecimento mais importante, a Deus, força maior, causa primeira de todas as coisas, pelo qual eu espero ter feito um bom trabalho.

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Prólogo

Olhando para janela da sala de espera do consultó-rio, me dei conta de que fazia um ano que a minha vida tinha se transformado drasticamente, e que aquela pessoa que estava sentada na sala não se assemelhava em nada com a Emily antes desse vendaval.

Tudo começou em um sábado comum. Nenhum fato que merecesse uma atenção mais apurada. Nenhuma angústia parecia habitar minha mente naquele dia.

Acordei sobressaltada, achando que estava atrasada para a faculdade. Isso ocorria todo sábado, lembrando--me que meu relógio biológico nunca soube o que era fim de semana. Ou então, conclusão que hoje tiro, nunca consegui relaxar, sempre achando que havia algo para ser feito, inacabado. Sentimento que fazia do meu sono algo bem diferente de leve e satisfatório.

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Depois de acordar e constatar que não estava atrasa-da, tentei voltar a dormir, mas por mais que insistisse, só conseguia dar uns cochilos. Logo minha mente começou a repassar tudo o que deveria fazer naquele dia, fazendo me sentir culpada por ainda estar deitada.

Após algumas discussões internas, levantei-me e per-cebi que já eram onze e meia da manhã. André chegaria logo para almoçar comigo.

Após a chegada de André, almoçamos e combinamos que iríamos ao cinema no final da tarde, assim que termi-nasse a aula de teatro infantil que eu ministrava para as crianças da comunidade São Marcelo. Esse era um traba-lho voluntário que comecei precocemente aos doze anos, que me ocupava todas as tardes de sábado, mas que era mais gratificante do que qualquer saída com os amigos. Ao menos fazia com que me sentisse uma boa pessoa.

Chegamos ao shopping um pouco atrasados, falta-vam apenas vinte minutos para o início da sessão. Fui para a fila comprar as pipocas, enquanto André comprava os ingressos. Encontramo-nos na porta principal e entra-mos no cinema, para esperar o início do filme que muda-ria toda minha vida.

Quando o filme começou, lembro-me de ter pen-sando como minha vida era boa. Eu tinha um namorado, fazia faculdade, ministrava e tinha aulas de teatro, mas especialmente confiava em Deus. Como era bom sentir a sua presença e a certeza de que tudo na vida tinha um propósito. Então me peguei pensando nas pessoas que não tinham isso, e como deveria ser difícil viver sem con-fiar na vida e no seu propósito. Confortando-me, abracei André e dei um beijo no seu rosto.

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Estava assistindo ao filme quando uma cena em que um personagem morria, ação que ocorre na maioria dos filmes, fez com que sentisse um intenso arrepio. No enre-do, após sua morte, ele estava fadado a sofrer na solidão para sempre, numa espécie de inferno eterno. Um pensa-mento invadiu a minha mente. Por mais que tenhamos amigos, parentes, namorado, na hora da morte você está extremamente sozinho. Não há nada além de você. Isso me assustou, e pensei que Deus estaria lá comigo, o que momentaneamente pareceu ter me consolado.

Estava ficando inquieta. Senti um leve incômodo na lateral do abdômen. Digo incômodo porque nada se as-semelhava a uma dor. Normalmente, me daria conta e es-queceria, mas dessa vez não esqueci. Comecei a dar muita atenção a ele. Foi então que meu coração acelerou. Sentia falta de ar e suava frio. Olhei em volta, ninguém parecia perceber o que estava acontecendo. Eu sempre tive vergo-nha de passar mal em público. Falei para André que pre-cisava ir ao banheiro. Corri até lá. Uma sensação horrível me acompanhava. Tranquei-me em uma das cabines. Po-dia escutar as batidas do meu coração, e, apesar de estar suando frio, uma quentura atingiu todo o meu corpo. Foi quando conheci a pior sensação da minha vida. Um medo terrível, incontrolável, algo me fazia apertar uma mão contra a outra e balançar o corpo sentada no vaso. Eu estava transtornada.

Após alguns minutos com essa sensação, que me pa-receram uma eternidade, meu coração desacelerou e caí em prantos. Chorava compulsivamente como uma crian-ça. A essas alturas, André já havia saído do cinema para

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me procurar, e deve ter ouvido o meu choro, pois entrou no banheiro feminino chamando o meu nome. Eu abri a porta, corri em sua direção ainda chorando e implorei que me levasse dali. Sem pedir nenhuma explicação, fo-mos embora, sem suspeitar o vendaval que estaria por vir.

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Capítulo I

Quando chegamos em casa, minha mãe atendeu à porta e perguntou o que havia acontecido. Respondi que não era nada, apenas uma dor no lado esquerdo do abdô-men. Minha mãe pediu que entrássemos e prontamente ofereceu um café para André. Ela o admirava ao extremo.

Namorávamos desde os dezessete anos. Naquele dia, ambos com vinte e um anos, não conseguia me lembrar de fato por que começamos a namorar. Sei que foi ele que deu o primeiro passo. Talvez pela atração que insistia em dizer ter pelos meus cabelos pretos e longos, levemente ondulados, responsáveis por várias brigas quando descobria que eu os havia cortado. Apesar da minha pele ser mais clara do que qualquer índia que nunca tomasse sol, ele insistia em dizer que eu era sua Iracema. Mas ao invés dos lábios de mel, os meus olhos é que levavam essa coloração.

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André era irmão da minha amiga mais próxima na época do colégio, Adriana. Possuía os cabelos castanho--claros e olhos que dificilmente sabíamos dizer se eram verdes com tons de mel, ou de tons mel-esverdeado. Eu preferia dizer que eram verdes. Era magro, mas atlético.

Ele tinha o sonho de ser médico cardiologista. Acho que era isso que mais me atraía nele, e penso que também era o que fazia minha mãe julgá-lo tão promissor.

Eu acreditava que o fato de alguém querer ser médi-co estava diretamente relacionado com o fato de querer ajudar as pessoas. Por isso essa também foi minha pri-meira opção de graduação. Depois de seis meses de fa-culdade, percebi que o sofrimento de outras pessoas me afetava mais do que o normal, e eu não conseguiria ser feliz convivendo com tanta tristeza diariamente.

Decidi fazer Engenharia Civil, pois, além de ser a profissão do meu pai, imaginava as pessoas que faziam Engenharia com mentes privilegiadas. Se você conseguis-se se formar com boas notas em Engenharia, poderia se formar em qualquer coisa. Pelo menos eu pensava assim.

Desde a nossa adolescência eu e André moramos no mesmo bairro. É um local de classe média perto das praias mais frequentadas de Salvador. Situadas em uma cidade turística do nordeste do Brasil, ficam lotadas na maior parte do tempo.

Depois da terceira xícara de café, não aguentei mais ficar na sala. Despedi-me de André — não era permitido que ele entrasse no meu quarto — e fui para minha cama.

Minutos depois, minha mãe apareceu no meu quar-to dizendo que deveríamos ir ao médico, já que isso pode-

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ria ser algum cálculo renal. Eu tinha sido internada duas vezes no ano anterior por conta deles. Então contei tudo que se passou a ela, o que a deixou mais preocupada. O motivo era que meu pai tomava remédio diariamente e já tinha tido um enfarto e, segundo ela, teve as mesmas características do que havia acabado de relatar.

Combinamos que na segunda-feira pela manhã irí-amos procurar um clínico. Minha mãe saiu do quarto e me deixou sozinha. Eu me apegava ao incômodo do abdômen para dizer a mim mesma que não tinha nada a ver com problemas cardíacos. Iria ao médico, e prova-velmente ele me mandaria beber mais água. Então, tudo estaria resolvido.

Mas um pensamento tomou conta da minha mente. E se não fosse isso? E se de fato eu estivesse com pro-blemas no coração? Seria mais uma das que morreriam jovem. Esses questionamentos me trouxeram novamente a sensação de medo, me fazendo chorar até adormecer.

No outro dia pela manhã, acordei com uma tristeza imensa. Uma sensação de que alguém próximo havia morri-do. Era muito ruim sentir aquilo. Não tinha vontade de me levantar, nem de comer nada, e muito menos de tomar um banho. Dessa vez não estava me sentindo culpada por estar na cama, ou por não ir à praia em pleno domingo.

Olhei para o céu que estava lindo, azul, e sem nenhu-ma nuvem, então pensei o quanto estava triste. Não sabia por quê, só sabia que estava. Pela primeira vez dormi até as dezoitos horas. Foi quando me levantei e tomei uma sopa. Minha mãe disse que André havia ligado seis vezes e que estava preocupado, mas eu não sentia a mínima vontade

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de dar qualquer explicação, nem a ele, nem à minha mãe, nem a ninguém. A verdade é que eu não tinha uma.

Havia uma atmosfera estranha. Via tudo como se tivesse assistindo a um filme. Não tinha intenção alguma de reagir. Eu imaginava que se ficasse ali quietinha, sem falar nada, a sessão ia acabar e voltaria à minha vida real.

Quando deixei a mesa, me lembrei da dor, o que me fez voltar a senti-la. Depois de trinta minutos tentando dormir novamente, comecei a ficar ansiosa e a pensar que isso poderia ter ocorrido em qualquer lugar. Na faculda-de, na frente dos meus amigos, dentro do elevador com os vizinhos, enquanto dava aula de teatro, no meio de um espetáculo, enquanto dirigia. E aquela sensação apareceu novamente. Meu coração acelerou, a respiração ficou rá-pida. Eu tentava chamar alguém, mas me sentia sufocada. Minhas mãos apertando uma a outra, o suor frio, a quen-tura e finalmente o choro compulsivo. Minha mãe entrou no quarto correndo, e eu só fazia chorar. Dessa vez o filme que protagonizava me fez sentir pena de mim.

Minha mãe fez um chá de camomila, e eu estava exausta de tanto chorar. Mais uma vez adormeci com a promessa de que tudo ficaria bem, pois no dia seguinte iríamos ao médico, então ele descobriria o problema e poderia ser feliz de novo. Ser a mesma novamente. Pelo menos era isso que imaginava.

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Capítulo II

Acordei às seis da manhã, rezando para que fosse nove. Minha mãe tinha conseguido uma consulta extra com doutor Damião.

Ele era médico da família desde que eu tinha uns cinco anos, e havia começado a faculdade de Engenharia junto com meu pai. Ambos vieram de uma cidadezinha chamada Tobias Barreto, que fica no estado de Sergipe. Essa coincidência fez com que os dois logo estreitassem os laços de amizade, e acabaram resolvendo dividir o alu-guel. Mas no final do primeiro ano de faculdade, Damião decidiu que queria ser médico.

Seu avô materno havia sido sem dúvida um dos maiores especialistas em realização de partos de alto risco no Nordeste, porém acabou sofrendo de uma doença no rim e falecendo com apenas cinquenta e dois anos.