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Quando o Mundo estava nessas mãos

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Um papo com Wlamir Marques, Rosa Branca e Mosquito

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omETE Um GraNDE ENGaNo QUEm PENSa QUE amaior glória do nosso basquete masculino é a (espetacu-lar) vitória sobre os EUa, na final do Pan-americano de1987, em Indianápolis. Claro que ninguém deve se es-quecer desse triunfo histórico (afinal, foi a primeira der-rota dos americanos em casa). mas muito, muito antes

disso, nas décadas de 1950 e 1960, houve uma geração dejogadores que colocou o Brasil entre as potências do esporte.

Entre 1954 e 1970, dos cinco Campeonatos mundiais disputados, opaís ficou entre as três equipes mais bem colocadas. Foram dois títulos(1959 e 1963), dois vices (1954 e 1970) e um terceiro lugar (1967). Dequebra, nossos jogadores ainda conquistaram duas medalhas de bronzeem Jogos olímpicos – roma, em 1960, e Tóquio, em 1964.

Para lembrar e prestar uma homenagem à melhor safra da história donosso basquete, moNET reuniu três jogadores fundamentais para as con-quistas: Wlamir marques, rosa Branca e mosquito. De cara, uma curiosi-dade: ainda que não percebam, os três amigos mantêm as mesmas carac-terísticas que tinham quando jogavam. mosquito é o mais introvertido,mas, no momento que fala, mostra a mesma precisão que tinha quandodava um passe perfeito e a garra que o destacava em quadra. Já rosa Bran-ca sempre fala com um tom bem-humorado e irreverente, que lembra osmalabarismos e as jogadas inesperadas que realizava. Por seu lado, Wlamirmarques tem a capacidade de expor de maneira clara o que realmente pen-sa, do mesmo jeito que o capitão transformava os lances mais complicadosem cestas aparentemente fáceis para quem estava nas arquibancadas. aseguir, viaje para o tempo em que o basquete brasileiro era grande.

monet reúne os heróis do basquete brasileiroWlamir,rosa Branca emosquito para contar

as histórias de glórias olímpicas e falar de umtempo no esporte que não voltamais

por humberto peron ([email protected]) • fotos eugênio vieira

44aNosdepoisda últimamedalha,nasOlimpíadas deTóquio, três dos principaisjogadores daquele time se encontraramemumrestaurante deSãoPaulo: “Naquela época não tinhaesse negócio de receber salário para jogar”

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0 BASQUETE POPULAR > No final dadécada de 1950, a modalidade era o se-gundo esporte do país. os campeonatoschamavam a atenção do público e tinhamgrande cobertura dos meios de comunica-ção, principalmente pelo rádio.

AMADORISMO > “Na nossa época, nãotinha essa de jogador perguntar quanto vaireceber para jogar na seleção brasileira”,começa rosa Branca. “Não ganhávamosnada”, diz mosquito. “Nós éramos todos ga-rotos, de 18, 19, 20 anos. Somos daquela ge-ração em que, se o estudo atrapa-lhasse o esporte, a gente largavaa escola. Bem diferente de hoje”,completa Wlamir. mesmo rece-bendo uma ajuda de custo dosclubes, os atletas precisavam teroutra profissão para sobreviver.o problema é que, por causa dasviagens, os jogadores se ausen-tavam muito de seus trabalhos.rosa Branca, por exemplo, per-deu seu emprego no Banco doBrasil após os Jogos olímpicosde roma.

SENTIMENTO OLÍMPICO > “São neces-sárias duas coisas para um atleta se sentirolímpico: participar do desfile de aberturae a convivência na Vila olímpica”, afirmaWlamir marques. o ex-capitão da seleçãoalerta para o perigo dos jogadores que seexcedem durante as refeições e perdem aforma física. outro perigo (citado em pe-quenas passagens) seria o entrosamentomais, digamos, “intenso” com atletas deoutras delegações.

NossaprimeiramedalhaAbolaao ladoéumarelíquiadonossoesporte.FicanumaredomaespecialnoClubeEsperia,

emSãoPaulo,e foiutilizadanapartidaemqueoBrasilvenceuoMéxico,por52a47,nosJogosOlímpicosde1948,emLondres.Comesseresultado,opaísconquistousuaprimeiramedalhaolímpicaemesportescoletivos.“Aconquistade1948deugrande impulsoaobasquetebrasileiro.Eumetornei jogadordebasquete influenciadopelaconquista”,comentaWlamir.Atletadotimede1948,ZennydeAzevedo,oAlgodão,voltariaaganharoutramedalhaolímpica, 12anosdepois,emRoma,atuandoao ladodeWlamir,RosaBrancaeMosquito.

A DERROTA QUE VIROU MEDALHA > a estréia do Brasil nasolimpíadas de 1964 foi desastrosa. a equipe perdeu para o inex-pressivo time do Peru, por 50 a 58. Depois do revés, os jogadores sereuniram com o treinador renato Brito Cunha para pedir mudançasno sistema defensivo. mesmo o técnico afirmando até hoje que amudança foi idéia dele, o esquema proposto pelos jogadores deu re-sultado e a seleção chegou ao terceiro lugar.

OSBRONZESQUEVALEMOURO> “os títulos mundiais são impor-tantes, mas as medalhas olímpicas têm mais valor”, diz Wlamir. ape-sar das críticas que os jogadores receberam quando voltaram “apenas”com a medalha de bronze, em 1964, não se pode deixar de valorizaressas conquistas. Nos dois Jogos olímpicos em que o Brasil ficou com o

bronze, o time foi eliminado nas semifinais pela antiga União Soviética.além disso, os EUa eram representados por times que contavam comastros como oscar robinson e Jerry West, duas lendas do basquete.

SEGUNDA ÉPOCA > os três campeões se formaram na faculdade deEducação Física. o mais curioso é que tanto rosa Branca quanto mos-quito tiveram problemas na disciplina... basquete! mosquito ficou desegunda época e rosa teria de fazer dependência da matéria. o absurdofoi consertado e ambos acabaram sendo aprovados.

DUELODEGERAÇÕES>É famoso o atrito entre a geração bicampeã domundo com a safra que conquistou o Pan em Indianápolis. Um dos mo-

“Nós éramos todos garotos, tínhamos 18, 19, 20 anos.somos daquela geração emque, se o estudo atrapalhasse

o esporte, a gente largava a escola. Bemdiferente de hoje”

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momeNToolÍmpiCo, sábados, 21h30,sporTV2, 38 eaCamiNhodepeQUim, sextas, 21h, espNBrasil, 70

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almoçoproloNgado>Durantemaisdeduashoras, osatletascontaramhistóriasdequandoanossaseleçãodebasquete faziabonito lá fora.Pelobate-papo,pelasbrincadeiraseporestas fotos fica claroqueelesaindaformamumaequipe,mesmonãoatuandojuntos hámais de 30anos

leNdasViVas>Wlamir (à esq.)foi capitão e líderdo time;Mosquito(centro) armavaas jogadas comopoucos; RosaBrancase destacava pelahabilidade comabolae pelos arremessoscerteiros

tivos foi uma resposta de Wlamir dizendo que oscar não jogaria no timebicampeão mundial. Parece que o maior cestinha da história das olimpía-das não ouviu o complemento.Wlamir explicou que o “mão Santa” teriade mudar suas funções, inclusive a posição, para jogar naquele time.

SELEÇÃODE2008>E o que esses medalhistas pensam sobre as chancesde o Brasil conseguir uma vaga para Pequim? “Vai demorar para a seleçãovoltar a ganhar títulos importantes, acredita mosquito. “Não!”, vaticinaWlamir, e “Só por um milagre!”, completa rosa Branca. n

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