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Revista do Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens Universidade do Estado da Bahia – UNEB Departamento de Ciências Humanas – DCH I NÚMERO ESPECIAL ISSN: 2176-5782 Quarup: uma alegoria do Brasil. Mires Batista Bender 1 RESUMO: O romance Quarup, publicado no auge da ditadura militar, apresenta, através do ponto de vista das personagens, diversas teorias sobre o Brasil e os movimentos sociais ocorridos no País num período de aproximadamente dez anos, iniciando na década de 1950 e alcançando o ano de 1964. Discussões sobre o conturbado momento político brasileiro, a influência estrangeira, a questão indígena, o surgimento dos sindicatos de trabalhadores rurais no Brasil, o método de ensino criado por Paulo Freire, a implantação de um projeto das esquerdas que promoveria igualdade social e valorização do homem, e a derrubada deste projeto pelo do “milagre brasileiro”, revelando uma polarização entre esquerda e direita política, dão mostra da diversidade de temas abordados nesta obra. O romance, ora apresenta o “psicodelismo” das paisagens urbanas do Rio de Janeiro, ora debate o engajamento político em cenários de Pernambuco, ou transporta o leitor para a exuberância das terras do Xingu, na selva brasileira. Ficcionalizando fatos históricos enquanto discute a identidade nacional, Quarup constitui matéria importante ao estudo da formação da narrativa brasileira e das tensões entre a forma literária e a dinâmica social. Este ensaio pretende apreciar esses aspectos da narrativa de Antonio Callado buscando identificar a que Brasil ela alude. Palavras-chave: Literatura; Romance; Formação; Sociedade; História. Tanto para estudar um anfíbio como para descrever um som, o método adequado é aquele usado pelos praticantes da pesquisa biológica contemporânea: “exame cuidadoso e direto da matéria e contínua comparação de uma lâmina ou espécime com outra”. Essa afirmação de Ezra Pound remete à declaração dada por Antonio Candido na análise que faz sobre O cortiço, de Aloísio de Azevedo, onde diz que cada obra literária encerra um mundo em si, e, se quisermos pesquisar os motivos que a fazem ser como é, o “lugar” mais indicado é ela mesma. A obra guarda todas as respostas – ou indagações – que nos levarão a desvendá- la, e ao olharmos para o objeto, com a atenção do biologista, perceberemos o mundo a que ela alude. 1 Doutoranda em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e Mestre em Literaturas Brasileira, Portuguesa e Luso-Africanas pala Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. E-mail para contato: [email protected]

Quarup: uma alegoria do Brasil. - tabuleirodeletras.uneb.br · afirmação de Ezra Pound remete à declaração dada por Antonio Candido na análise que faz sobre O cortiço, de Aloísio

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NMERO ESPECIALISSN: 2176-5782

Quarup: uma alegoria do Brasil.

Mires Batista Bender1

RESUMO: O romance Quarup, publicado no auge da ditadura militar, apresenta, atravs do ponto de vista das personagens, diversas teorias sobre o Brasil e os movimentos sociais ocorridos no Pas num perodo de aproximadamente dez anos, iniciando na dcada de 1950 e alcanando o ano de 1964. Discusses sobre o conturbado momento poltico brasileiro, a influncia estrangeira, a questo indgena, o surgimento dos sindicatos de trabalhadores rurais no Brasil, o mtodo de ensino criado por Paulo Freire, a implantao de um projeto das esquerdas que promoveria igualdade social e valorizao do homem, e a derrubada deste projeto pelo do milagre brasileiro, revelando uma polarizao entre esquerda e direita poltica, do mostra da diversidade de temas abordados nesta obra. O romance, ora apresenta o psicodelismo das paisagens urbanas do Rio de Janeiro, ora debate o engajamento poltico em cenrios de Pernambuco, ou transporta o leitor para a exuberncia das terras do Xingu, na selva brasileira. Ficcionalizando fatos histricos enquanto discute a identidade nacional, Quarup constitui matria importante ao estudo da formao da narrativa brasileira e das tenses entre a forma literria e a dinmica social. Este ensaio pretende apreciar esses aspectos da narrativa de Antonio Callado buscando identificar a que Brasil ela alude.

Palavras-chave: Literatura; Romance; Formao; Sociedade; Histria.

Tanto para estudar um anfbio como para descrever um som, o mtodo adequado

aquele usado pelos praticantes da pesquisa biolgica contempornea: exame cuidadoso e

direto da matria e contnua comparao de uma lmina ou espcime com outra. Essa

afirmao de Ezra Pound remete declarao dada por Antonio Candido na anlise que faz

sobre O cortio, de Alosio de Azevedo, onde diz que cada obra literria encerra um mundo

em si, e, se quisermos pesquisar os motivos que a fazem ser como , o lugar mais indicado

ela mesma. A obra guarda todas as respostas ou indagaes que nos levaro a desvend-

la, e ao olharmos para o objeto, com a ateno do biologista, perceberemos o mundo a que ela

alude.

1 Doutoranda em Teoria Literria pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul PUCRS e Mestre em Literaturas Brasileira, Portuguesa e Luso-Africanas pala Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. E-mail para contato: [email protected]

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Pound ilustra sua assertiva com uma parbola na qual conta a histria de um professor

que incita um estudante de ps-graduao a descrever um peixe muito comum e o faz repetir

o trabalho at que ele tenha, forosamente, de apurar sua viso a ponto de decifrar mais sobre

o animal do que a princpio lhe revelara sua aparncia ou classificao cientfica. No fim de

trs semanas o peixe se encontrava em adiantado estado de decomposio, mas o estudante

sabia alguma coisa a seu respeito (POUND s/d, p. 23). Antonio Candido v a obra literria

como um processo em que a realidade reordenada, transformada, at fazer surgir um

mundo. Olhar criticamente rastrear dentro dela o material que a compe at o ponto de

captar o produto da criao daquele novo mundo (CANDIDO, 2004, p. 105-106). Na

Formao da literatura brasileira, Antonio Candido estuda as obras que compem o sistema

literrio nacional, inseridas no perodo em que manifestam a sua representao da alma de um

povo que tambm est se formando. Segundo Roberto Schwarz, uma dimenso forte do

processo formativo trazer para dentro da imaginao o conjunto das formas sociais que

organizam o territrio, tornando-as passveis de serem debatidas ou criticadas (SCHWARZ,

1999, p. 53).

O romance Quarup, publicado por Antonio Callado em 1967, apresenta uma reflexo

sobre o Brasil daquele momento, conforme visto pelas diversas personagens que desfilam na

narrativa, e a sua idealizao em busca do pas que desejam formar. Dentro da proposta crtica

de Antonio Candido, que inclui escolher um dos momentos deste processo como plataforma

de observao, este ensaio pretende olhar para o romance de Callado procurando perceber

qual a alegoria de Brasil ali representada.

Tratando de temas como o surgimento dos sindicatos de trabalhadores rurais no Brasil,

a criao das Ligas Camponesas e a ecloso dos movimentos de cultura popular, a trama se

desenrola num perodo que compreende o segundo governo de Getlio Vargas, ento eleito

pelo voto direto, passando por Juscelino Kubitscheck e pela breve estada de Jnio Quadros na

presidncia, at o governo de Joo Goulart, abruptamente interrompido pelo golpe militar de

1964 e o estabelecimento da ditadura no Pas. As proposies de Callado a respeito da busca

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por uma identidade nacional, as discusses sobre a influncia estrangeira e a implantao de

um projeto das esquerdas que promoveria a igualdade social e a valorizao do homem, do o

tom da diversidade de temas abordados na obra que passeia pelas paisagens urbanas de

Pernambuco e do Rio de Janeiro, e tambm apresenta a variedade e exuberncia das terras do

Xingu, na selva brasileira. Nesse contexto as diversas interpretaes de Brasil que suas

personagens oferecem no contato com o protagonista vo evidenciar a sua percepo da

situao do Pas e da condio do ndio, abrindo caminhos para a reflexo sobre uma

organizao do territrio brasileiro, apresentada na forma do romance.

Quarup conta a histria do padre Nando e sua jornada em busca do centro geogrfico

do Brasil, onde tenciona fundar um novo comeo histrico para o Pas, baseado em princpios

morais em que o homem possa restabelecer seus vnculos com o divino. Seu modelo a

Repblica dos Guaranis, fundada pelos Jesutas no Rio Grande do Sul, uma repblica crist-

comunista que durou sculo e meio, a partir do sculo XVII. Nando entende que s a partir da

pureza do ndio ser possvel resgatar aquele tempo em que a igreja, segundo seu ponto de

vista, organizou as tribos indgenas tornando-as mais fortes, e os Jesutas aceleraram a

evoluo da espcie (CALLADO, 1984, p. 30). Vrias mudanas iro ocorrer nos projetos de

Nando durante a viagem, assim como em sua maneira de encarar os fatos da vida. Ele ir

abandonar o sacerdcio, conhecer o sexo e as drogas, at que, desenganado de seu sagrado

projeto original, voltar a Pernambuco, seu estado de origem, para se unir s guerrilhas para a

luta armada.

uma obra representativa da literatura engajada de meados da dcada de 1960 per-

odo denominado por Elio Gspari como ditadura envergonhada, em que a restrio imposta

pelo governo militar ps 64 ainda no alcanara os espaos da arte com a fora que assumiria

em 1969 Quarup estabelece constante comunicao entre a realidade dos fatos e a fico,

fazendo a reproduo de um momento histrico que, por conta da censura imposta aos docu-

mentos oficiais daquele perodo, s a literatura parecia poder salvar do esquecimento. Assim

como o romance de Callado, muitas obras lanadas neste perodo marcam a crtica ao regime.

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Entre os principais romances, Pessach: a travessia de Carlos Heitor Cony publicado em 1967,

onde conhecemos a trajetria de Paulo Simes, um escritor politicamente alienado at aos

quarenta anos de idade, quando ento conhece a guerrilheira Vera, por quem se apaixona, e

acaba sendo levado, ainda que contra sua vontade, a ajudar um grupo de guerrilheiros. A mor-

te de Vera, num choque com os militares, leva Paulo a juntar-se ao movimento de guerrilha,

mesmo caminho tomado por Nando. Tambm em 67, rico Verssimo lana Senhor embaixa-

dor, cuja ao se desenvolve paralelamente na capital americana e na pequena repblica de

Sacramento e conta a luta de Pablo Ortega, um intelectual revolucionrio, em meio s tendn-

cias extremadas tanto da esquerda como da ditadura de direita implantada em Sacramento.

Apesar de toda a ambigidade presente, Pablo faz opo por permanecer na luta. Diferente de

Callado e de Verssimo, Cony traz uma viso algo pessimista, que leva o leitor a profetizar

uma derrota nas aes caticas do grupo guerrilheiro. J em Quarup permanece ao final do

romance, com a adeso de Nando luta armada, uma idia de que, efetivamente ali, comeam

a ser encaminhadas as solues buscadas pelos revolucionrios.

O surgimento de Quarup marca um perodo frtil em produo cultural no Brasil que,

at a censura imposta pelo Ato Institucional nmero 5, protagonizada pelos intelectuais da

esquerda, sendo farta e de alta qualidade. Conforme sinaliza Roberto Schwarz no seu ensaio

Cultura e poltica, 1964-1969, para surpresa de todos, a presena cultural da esquerda no

foi liquidada naquela data (SCHWARZ, 1992, p. 89). No mesmo ano de 1967, estria o fil-

me de Glauber Rocha, Terra em transe, a pea de Oswald de Andrade, O rei da vela e a msi-

ca de Caetano Veloso, Alegria, alegria, que inaugura o Tropicalismo, no festival Record de

Msica. A esquerda intelectualizada estava a procura de um elo entre a arte e o povo, surgin-

do ento diversas manifestaes no campo das artes: o cinema novo, trazendo a idia da est-

tica da fome com desenvolvimento cultural e social unidos, mostra o presente real da vida dos

brasileiros, revisto e usado para alcanar a arte moderna. O Grupo Opinio apresenta a reao

ao golpe atravs da msica. Os shows promovidos pelo grupo do lugar aos primeiros movi-

mentos de protesto e promovem o congraamento entre palco e platia. Seu Projeto visa cha-

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mar o pblico a construir uma opinio prpria e independente. O Tropicalismo expe as con-

tradies do Brasil e exige uma viso nova, crtica e transformadora. uma imagem atempo-

ral que denuncia o atraso atravs do uso da tecnologia. Declara que toda pobreza igualmen-

te importante, mesmo a intelectual, e que o desenvolvimento cultural deve se dar unindo o

tecnolgico ao arcaizante. O Teatro de Arena inaugura a vanguarda no teatro, propondo a

transformao da forma e a alterao do lugar social no palco, conciliao de arte e vida como

apresentada pelo racionalismo crtico de Brecht. O teatro mostra interesse pela luta de clas-

ses e tem a simpatia do pblico. O Teatro Oficina de Z Celso Martinez Correa, seguindo a li-

nha do iracionalismo incandescente de Arthaud, atua atravs da agresso e do escndalo,

quer confrontar o pblico e faz-lo ver o que ele realmente , medocre, pequeno-burgus e

sem ao, para assim, lev-lo a se posicionar e compreender a necessidade da iniciativa indi-

vidual. Todos esses ingredientes so temperados pelas atividades do movimento estudantil no

auge de sua representatividade. Os militares pressionam por silncio e a esquerda pressiona

por luta armada. No meio, como o marisco entre a rocha e a onda, o intelectual assume a crise

e toma posicionamento. A forma literria, exercendo sua vocao de expresso da sociedade

traduz este comportamento, que apresentado no romance de Callado atravs do encaminha-

mento do destino guerrilheiro de Nando.

Padre Nando surge, no incio da narrativa, profundamente ligado aos dogmas da igreja

catlica, como uma referncia ao nascimento da prpria nao brasileira, numa caracterizao

barroca do incio da formao do novo Pas. Emblemtica da situao do Pas, a trajetria de

Nando reflete as transformaes vividas pela nao durante sua caminhada histrica e todas as

mudanas que Nando vai absorvendo podem ser lidas como o processo de amadurecimento

por que passa a conscincia nacional. No momento em que o protagonista est engajado na

conquista do novo Brasil revela-se um pas otimista, idealista, que v sadas para a sua

evoluo como povo, assim como o gesto de superar a inao e empreender a jornada em

busca de novos rumos reproduz a disposio para a luta que caracterizava o Brasil no perodo

da deflagrao das reformas de base, dos movimentos culturais e da luta de classes. O ttulo

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do romance tomado do ritual ancestral dos ndios do alto Xingu, que retoma o tempo da

criao da vida atravs da homenagem aos mortos em um rito de ressurreio e sintetiza o

eterno recomeo tornando-se uma celebrao vida. Neste sentido, a festa do quarup, de que

participa, funciona como uma metfora do rito de passagem na vida de Nando, pois ele

mesmo ir renascer por meio da sua viagem de busca ao comeo da nao que deseja

construir.

A abertura do romance mostra Nando mergulhado em suas meditaes no ossurio do

mosteiro diante dos restos mortais dos padres franciscanos. Sua atitude alienante no momento

em que acontecem as perseguies aos trabalhadores organizados em Pernambuco e o seu

despreparo para lidar com o lado pragmtico dessas questes, sero contrapostos postura de

Levindo, jovem revolucionrio que Nando surpreender dentro do ossurio, escondendo-se

aps ser baleado por um usineiro. O padre fica chocado com a presena de Levindo em local

sagrado, enquanto olha desalentado a mancha de sangue no marfim ilustre da caveira

franciscana. Uma profanao, o episdio de loucura e violncia vindo desaguar no ossurio

(CALLADO, 1984, p. 11-12). Para Levindo, a violncia faz parte do seu cotidiano de

trabalhador explorado e sem proteo. Os ideais de luta por transformaes sociais que

Levindo carrega iro acabar influenciando o padre Nando ao ponto de determinarem a sua

movimentao e transformao ao longo do romance.

Os ingleses Leslie e Winifred, com quem Nando vem a travar um estreito

relacionamento, so pesquisadores que pretendem descobrir nas razes do Brasil uma

qualidade que una brasileiros e holandeses e assim explique a disposio dos primeiros para a

luta. Winifred est interessada tambm na atitude do brasileiro em relao mulher. Sua

personagem trar para a discusso a inexpressividade do espao ocupado pelas figuras

femininas, as quais esto fora das atividades revolucionrias, numa crtica recorrentemente

feita ao modelo de revoluo das esquerdas brasileiras. A viso que Nando tem das mulheres

idealizada e se projeta na figura de Francisca, jovem burguesa, noiva de Levindo, por quem

se apaixona. A presena da jovem artista no ossurio, trabalhando na reproduo das pinturas

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com cenas do claustro de santa Tereza de Jesus, mstica espanhola do sculo XVI, faz com

que Nando associe sua imagem da santa carmelita. Para evitar que Francisca acompanhe

Levindo em suas lutas pelos camponeses ela mandada para a Europa por seus pais. O

afastamento dela pe em suspenso um profundo sentimento, at ali, apenas manifesto em

Nando. Depois da morte de Levindo (pela polcia durante uma manifestao), o

relacionamento entre Nando e Francisca deixar de ser platnico.

O Brasil que est alm dos muros do mosteiro, Nando conhecer ao visitar os

engenhos, conduzido pelo casal de ingleses. L tomar contato com as lutas dirias dos

trabalhadores sem qualquer amparo social, que contam apenas com a explorao do usineiro e

a total absteno da igreja. Nando , ele mesmo, smbolo desta omisso, pois, fechado no

mosteiro, desconhece a vida dos cidados de sua comunidade. Os camponeses esto

representados na figura de Maria do Egito que foi estuprada pelo capataz e jurada de morte

pelo pai, caso estivesse grvida. A esses, marginalizados pelo estado e esquecidos pela igreja,

resta o brao das Ligas Camponesas e dos sindicatos. Janurio, companheiro de Levindo,

quem orienta e organiza os trabalhadores. Essa gente a quem nem o estado nem a igreja

jamais deram alguma coisa, est sendo trabalhada pela Sociedade Agrcola e Pecuria dos

Plantadores, que em grande parte obra de Janurio. (CALLADO, 1984, p. 37). As

iniciativas do ento prefeito Miguel Arraes (personagem histrica, preservada no romance),

que comea a olhar para os camponeses, so comentadas por Leslie: A sociedade se

arregimentou para apoiarem com um desfile a candidatura de um prefeito que promete

socorrer os camponeses. Pois os camponeses desceram e foram dispersos aos trancos e

coronhadas pela polcia [...] Os jornais deram linhas ao caso (sic.) (CALLADO, 1984, p. 37).

Nando est afastado dos problemas dos trabalhadores, sua fixao criar o programa

das misses Guaranis e levar o cristianismo aos ndios do Xingu, mas a inatividade o atinge

tambm neste ponto, pois receia quebrar o celibato uma vez em contato com a espontaneidade

das jovens indgenas. Ser salvo da imobilidade por Winifred, que o desvirginar, libertando-

o do medo das mulheres. Agora ele est pronto para partir em busca de seu projeto de Brasil.

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O primeiro movimento que Nando faz em busca desse novo pas, que pretende

inaugurar a partir do trabalho com os ndios, viajar para o Rio de Janeiro, onde estabelecer

contato, no Servio de Proteo ao ndio, com seu diretor, Ramiro Castanho, que o iniciar

nas drogas e tambm lhe oferecer novas teorizaes sobre o Brasil.

O mundo da burguesia a que Nando apresentado logo que chega ao Rio de Janeiro

composto de altos funcionrios do governo, jornalistas e algumas beldades que, tomados pelo

tdio das facilidades e privilgios a eles concedidos, afundam-se cada vez mais num terreno

de bem-estar artificial e apatia, que os desliga dos problemas da realidade nacional. Seus dias

e noites sero envolvidos em uma bruma de entorpecimento, basicamente trazido pelo

consumo de ter e lcool, que comandam as suas festas e reunies sociais. Ao mergulhar

naquele estado de alucinaes, Nando d a impresso de que ser levado numa corrente

alienante e abandonar seu objetivo primeiro. Porm, entre o grupo que circula nestas festas,

Nando conhece Otvio Cisneiros, ex-comunista que foi da Coluna Prestes e que andou

at metido na intentona de 1935 (CALLADO, 1984, p. 104), e que surge como representante

da austeridade atribuda aos integrantes do partido comunista brasileiro daquele perodo.

Otvio quem, irrompendo circunspecto e grave no apartamento de Ramiro durante uma

dessas festas, ir interromper os delrios de ter de Nando e retir-lo daquele ambiente,

acompanhando-o at a sada do prdio e, conduzindo-o pelo elevador at a rua, que o plano

da realidade. No estudo que desenvolve sobre a narrativa de Quarup, dison Jos da Costa

(1988, p. 67-70) interpreta este gesto de Otvio como o restabelecimento do senso de

responsabilidade e engajamento do protagonista, pois interrompendo a sua viagem alucinante

e trazendo-o, assim como a todo o grupo, de volta realidade, Otvio resgatar Nando destas

guas reintroduzindo-o no tempo descolorido da violncia e da represso.

figura sbria de Otvio contrape-se a atitude dndi de Ramiro Castanho. Porm,

Ramiro quem tem trnsito com a elite dirigente do Pas e pode ajudar a viabilizar o projeto de

Nando ir trabalhar com indgenas. Desligado ideologicamente da viso que Nando tem dos

ndios, Ramiro quer instalar uma rede de farmcias no Xingu, pois para ele esta a forma de

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ajudar os ndios: curar-lhes as doenas. Formado em farmacologia e filho de mdico, Ramiro

v todo o Brasil como um grande hospital e, numa viso paternalista, quer resolver o Pas

usando seus remdios que ele coleciona aos milhares, conhecedor que de drogas lcitas ou

no. Marcadamente paradigmtica da forma de pensamento da burguesia brasileira deste

perodo a fixao de Ramiro pela cultura europia. francfilo convicto, ao contrrio dos

grupos que pretendiam libertar o Pas de toda a influncia internacional para que se institusse

uma cultura nacional genuna, Ramiro era partidrio do afrancesamento do Brasil. Num

rompante de defesa de suas teses, diz a Nando: Voc sabe [...] por que que esta joa

brasileira, ainda que mergulhe o nariz num oceano de ter, jamais se desjoar? Nando

retruca, afirmando que, para ele, o Brasil ainda desjoa, mas diga l. Porque ns

deixamos de seguir a Frana responde Ramiro. Para a raa latina, foi a Frana que resolveu

a parada. Sua nica restrio ao domnio americano: Buscar outro caminho que foi a

loucura. [...] Pegamos andando o bonde do American way of life. Viramos uma civilizao

pingente (CALLADO, 1984, p. 132-133). Ramiro faz oposio ao ideal de Nando de recriar

a nao brasileira partindo da cultura indgena, preservada em suas origens e princpios.

Nando traduz o pensamento dos intelectuais brasileiros anteriores a 64, os quais, conforme

pontua Roberto Schwarz em Nacional por subtrao, estavam engajados na busca de uma

cultura de fundo genuinamente nacional, que passava por uma economia nacional sem

misturas: Reinava um estado de esprito combativo, segundo o qual o progresso resultaria de uma espcie de reconquista, ou melhor, da expulso dos invasores. Rechaado o imperialismo, neutralizadas as formas mercantis e industriais de cultura que lhe correspondiam, e afastada a parte antinacional da burguesia, aliada do primeiro, estaria tudo pronto para que desabrochasse a cultura nacional verdadeira (SCHWARZ, 1987, p. 96).

Nesse ponto instala-se uma perspectiva de anlise do quadro social brasileiro que diz

da eterna oscilao dos brasileiros entre culturas importadas, na dialtica entre o local e o

cosmopolita de que falou Antonio Candido, e que pe mostra a alma de um povo cuja

formao ainda no atingiu o ponto da independncia e da integrao. Representante da elite

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urbana que vive entre duas realidades e oscila entre dois nveis de cultura (civilizao e

primitivismo), Ramiro o intelectual brasileiro que procura identificar suas origens na

tradio europia, mas que se encontra todavia ante particularidades de meio, raa e histria,

nem sempre correspondentes aos padres europeus que a educao lhe prope,

configurando-se um quadro de grandes divergncias e dualidades (CANDIDO, 2000, p.101-

102).

O tema da procura pela identidade nacional realado na figura do folclorista Lauro,

que v na essencializao do conceito de raa a idia fundamental para encontrar os rumos da

nao brasileira. Ele rejeita a prerrogativa naturalista da existncia de uma sub-raa, de

natureza mais dbil e fadada ao fracasso, e chega a extrapolar o avano modernista desta

teoria, que em Macunama, de Mrio de Andrade, preconiza que o brasileiro, por no

apresentar um carter definitivo, est em constante transformao e evoluo. Para Lauro, a

superioridade da raa brasileira um fato, pois v no mulato o detentor da sabedoria de todas

as raas que o formam e no ndio a poro de bravura que conduzir o mulato ao seu destino

de lder mundial. Quando Nando declara perceber concordncia entre as idias de Lauro e

Ramiro, no sentido de rejeitarem as influncias norte-americanas, Lauro protesta dizendo no

haver a menor semelhana entre as duas posies:Ramiro queria um Brasil afrancesado, engalicado. Eu quero um Brasil brasileiro de verdade, liderando o mundo, um Brasil nosso, mulato. Nossa existncia ocorre fora de ns mesmos. Somos alienados, como dizem os comunas. De Pedro II a Marta Rocha vivemos embebidos na contemplao de caras estrangeiras. Precisamos de mulatas em nossos selos, nos monumentos pblicos, nas notas de dinheiro. [...] Iremos do centro para a periferia [...] limpando o pas de gringos em crculos concntricos (CALLADO, 1984, p. 305-307).

Numa tentativa de resgatar valores primordiais da cultura popular, Lauro recorre s

lendas e fbulas nativas para, com sua aplicao prtica, remar contra a mar

internacionalizante (para emprestar a expresso de Paulo Arantes, 1992, p. 32), que, segundo

ele, a desgraa do Brasil. Mais um ingrediente da dualidade que compe a sociedade

brasileira, a qual carrega o contedo arcaizante para criar o moderno, o novo Pas, pois o

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autntico est no antigo, na raiz popular. Na viso de Lauro, basta copiar a fbula

(CALLADO, 1984, p. 294). Na interpretao de Paulo Arantes, uma conjuno esdrxula,

mais um caso de dualidade crnica, ou de duplo critrio: Num momento conta unicamente o

metro internacional que nos diminui e rebaixa, noutro vale o apego sentimental

profundidade histrica do trao localista que desacredita a pretensa superioridade do padro

cosmopolita (ARANTES, 1992, p. 33).

Apesar de inconformista, a posio de Lauro diante dos desgnios de seu Pas

carregada de otimismo. Ele julga claro que aplicando as lies tomadas dos heris das lendas,

que possuem a astcia dos mais fracos, ser possvel nos superarmos e derrotarmos os

fortes (CALLADO, 1984, p. 293). Em oposio a esta viso est a de Fontoura, o indianista

que coaduna com as idias de Nando sobre a pureza e inocncia dos povos indgenas, porm

no acredita em recomeo para a nao brasileira mesmo atravs deles. Seu nico interesse,

pelo qual aceitou o trabalho no Xingu, proteger e preservar o ndio. Sua soluo para o

Brasil passa por mrtires e mortes. Fontoura encarna a desiluso de parte dos intelectuais

brasileiros para quem no mais possvel superar sua revolta contra os rumos da poltica

nacional. Principalmente no que concerne ao abandono e desrespeito das autoridades com

relao aos povos indgenas, sua viso marcada pelo pessimismo. Sua morte, deitado sobre

o enorme formigueiro que sinaliza o centro geogrfico do Pas, emblemtica da

desesperana neste novo comeo do Brasil, tomado pelas savas2.

Ramiro, Lauro e Fontoura fazem parte do grupo que empreende a viagem com Nando

para o Xingu. Mais tarde viro ainda Falua, o jornalista e Gouveia, ministro de estado. Com

eles renem-se tambm Ldia, sobrinha de Ramiro, e logo depois Vanda, duas amigas com

quem Nando vive novas e reveladoras experincias sexuais. O aprendizado que essas

descobertas lhe proporcionam, juntamente com a emoo do contato com as terras do Xingu e

dos ndios ameaados de extino pelo avano dos brancos e de suas doenas, levam Nando a 2 Tambm em Macunama,de Mrio de Andrade, j aparecera a imagem das formigas representando um problema para a nao: nos demos ao trabalho de metrificarmos um dstico, em que se encerram os segredos de tanta desgraa: POUCA SADE E MUITA SAVA, OS MALES DO BRASIL SO (ANDRADE, 1981, p. 65).

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se definir pelas mudanas que deseja proceder em sua vida, comeando por abandonar a

batina. O contato com a natureza selvagem ser frtil em oportunizar descobertas ao grupo

que visita o Xingu. Snia Dimitrovna, a namorada de Falua que est sendo cobiada por

Gouveia, e por quem Ramiro obcecado, ir protagonizar um acontecimento marcante na

vida de todo o grupo ali reunido ao resolver unir-se ao ndio Anta, partindo com ele para

viverem sua pureza e nudez na floresta. Sua opo por abandonar todas as comodidades e

presses da vida urbana e se integrar definitivamente natureza pe em xeque a auto estima e

as convices daqueles homens que praticavam um jogo particular de poder, disputando sua

posse. Ao mesmo tempo, sua atitude reala a opo de integrao entre o homem e a natureza,

como a soluo natural aos impasses de uma sociedade decadente e conflitada. o nico

momento do romance em que o narrador onisciente abandona a trajetria do protagonista para

contar a histria de Snia e sua evaso pela floresta. A fuga de Snia acontece durante o ritual

sagrado do quarup, realizado pelos ndios, e no mesmo trgico instante em que o grupo, em

choque, recebe a notcia do suicdio do presidente Getlio Vargas. Os acontecimentos so

narrados no estilo de Eisenstein3, com tomadas das impresses e emoes que dominavam

cada um dos integrantes do grupo enquanto desenrolavam-se as lutas e danas dos ndios, e

Snia placidamente tomava pela mo o rumo da prpria histria ignorando os avisos e os

chamados e entrava no mato com o seu ndio. Snia encontra no amor de Anta sua verdadeira

identificao com a terra, natural e primitiva, que a libertar das relaes de dominao a que

estava atrelada, apesar dos protestos de Falua e Gouveia e do total desatino de Ramiro que ir

procurar por ela at o final da narrativa.

Sete anos depois do incio de sua histria, Nando reencontrar Francisca seu ideal de

amor , que se junta ao grupo no Xingu para seguirem sua busca pelo centro geogrfico,

espcie de plo emblemtico onde se refugia o esprito da nacionalidade almejada por eles. A 3 Sergei Eisenstein (1898-1949). Considerado o mais importante cineasta sovitico, relacionado ao movimento de arte de vanguarda russa, participou ativamente da revoluo de 1917 e da consolidao do cinema como meio de expresso artstica. Criou uma tcnica de montagem chamada Intelectual ou Dialtica a qual propunha o conflito-justaposio de planos significativos paralelos. Utilizava montagens ideogrmicas em suas tomadas de cena, as quais estabeleciam um jogo de inter-relaes entre as imagens enquanto permitia que todas mantivessem seu valor original. Haroldo de Campos (org.), 1994, p.158-160.

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presena de Francisca vai reavivar no corao de Nando sua admirao pelo trabalho de

Levindo e inspir-lo para encontrar seu prprio caminho, principalmente porque a ida dela ao

centro geogrfico materializa o sonho de Levindo e a realizao de compromisso assumido

com ele. Esta viagem pode ser vista como o prprio quarup de Nando, pois como numa

cerimnia do ritual indgena, ele ir viver a sua iniciao, que inclui a morte daquele padre

inativo e desligado dos problemas da sua comunidade para o surgimento do ativista que

pegar em armas para defender seu projeto de revolucionar seu pas. Pensando no carter

errtico do nosso heri, no simbolismo que essa viagem carrega e na profunda mudana que

desencadeia nos destinos do padre Nando, seria possvel estabelecer um paralelo entre o

protagonista e o heri de Vladimir Propp terico fundador dos conceitos da narrativa

moderna na medida em que Nando supera sua interdio inicial e desloca-se entre dois

espaos geogrficos em busca do objeto da sua redeno, sendo seu regresso ao primeiro

reino, marcado por perseguio e dor, onde ele ser compelido a reiniciar sua busca. Porm

o mundo que Propp desenha ordenado e harmonioso demais para os padres deste heri

brasileiro. Para o caso de Nando torna-se precrio seguir o padro estabelecido na Morfologia

do Conto de Propp, porque o retorno do heri ao espao do doador no trar o

restabelecimento da ordem pelo que lutou e seu sonho no se configurar. No haver o

reconhecimento do heri como salvador, o malfeitor no ser castigado e no lhe ser

concedida a posse do trono e a mo da princesa4. No mundo desencantado das aventuras de

4 Respeitadas as propores na forma do romance, mas considerando a trajetria de Nando como uma histria a ser contada, vamos analisar o que segue: as funes do conto maravilhoso somam trinta e uma. Algumas delas: os contos principiam por uma exposio de uma situao inicial, que no se caracteriza como uma funo, mas constitui um elemento morfolgico importante (as reflexes de pe. Nando no Ossurio). Em seguida, principiam as funes: II) Ao heri impe-se uma interdio. III) A interdio transgredida. (Nando no deve ceder ten-tao da carne e o faz). X) O heri-que-demanda aceita ou decide agir. (Nando decide viajar e embarca para o Rio). XI) O heri deixa a casa. XII) O heri passa por uma prova, que o prepara para o recebimento de um obje-to ou de um auxiliar mgico (a experincia com as drogas). XV) O heri transportado, conduzido para perto do local onde se encontra o objetivo de sua demanda (viagem para o Xingu). XVIII) O agressor vencido. XIX) A malfeitoria inicial ou a falta so reparados. XX) O heri volta. XXI) O heri perseguido. XXII) O heri so-corrido (Nando perseguido e agredido por policiais, seus amigos o socorrem). XXVII) O heri reconhecido. XXVIII) O mau desmascarado. XXX) O falso heri ou o agressor punido. XXXI) O heri casa-se e sobe ao trono (Propp, 1984, p. 32-60).

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Nando, essa experincia resulta inviabilizada. Conforme explica Franco Moretti, ao heri

moderno no mais concedido viver o trajeto do conto maravilhoso, pois naquela forma

axiolgica havia dois mundos muito bem definidos e territrios polarizados onde se conhecia

a morada do bem e do mal, ao passo que nos nossos dias o conhecimento transformou o

mundo de um sistema de territrios morais bem demarcados em uma geografia complicada

(MORETTI, 2003, p. 83). Na geografia de Quarup, o heri ainda se desloca de seu lugar,

Pernambuco, buscando realizar o feito que lhe proporcionar a harmonia ao encontrar o

centro idealizado do pas para promover o recomeo de sua histria. No entanto, naquele novo

reino nada lhe assegurado e ao alcanar seu destino pode se deparar apenas com a

constatao de que a resposta est em outro lugar. Chegando ao centro geogrfico, tudo o que

Nando e seus companheiros de viagem encontram um imenso formigueiro, onde nem

mesmo a bandeira do Brasil pde ser hasteada, mas se o terreno oferecesse sustentao para

haste-la, ainda no se realizaria este objetivo, pois ela fora esquecida. Os integrantes da

expedio que buscavam um novo comeo para o Brasil estavam muito ligados aos seus

projetos pessoais para lembrarem de transportar o seu smbolo, ou, talvez, sinalizavam com

este ato, que o seu verdadeiro lugar no era ali. Como o de Nando, o lugar da bandeira

brasileira deveria ser aquele entre os trabalhadores das Ligas.

De volta a Pernambuco, Nando vai encontrar Francisca na sua nova misso, o trabalho

a que se dedicou, de alfabetizao dos camponeses. O quinto captulo do romance de Callado

abre com uma aula em que os alunos, todos adultos, aprendem a lngua atravs do

revolucionrio mtodo de Paulo Freire. Essa iniciativa de educao da populao faz parte de

um conjunto de atividades do MPC, Movimento Cultural Popular, fundado em maio de 1960,

pelo ento prefeito do Recife, Miguel Arraes. Agregando diversos projetos que visavam trazer

incluso populao privada do acesso aos meios de comunicao e educao, este projeto

se constituiu uma iniciativa pioneira, diferente de tudo o que havia sido tentado no Brasil. O

movimento atuou por meio do teatro, do cinema, das artes plsticas, do artesanato, do canto,

da dana e da msica populares, porm, talvez a sua mais efetiva revoluo tivesse lugar na

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educao, atravs da alfabetizao dos camponeses. O mtodo de ensino criado por Paulo

Freire visava no s ensinar o homem a identificar as palavras de sua lngua, mas tambm a

reconhecer seu mundo atravs delas, passando da a perceber a prpria realidade e a ser parte

ativa da sua histria. S assim poderia passar de sujeito a objeto de sua transformao,

estabelecendo uma postura crtica em relao sua realidade social e ampliando o debate

sobre a problemtica nacional. Numa aula dada pelo sistema Paulo Freire um lavrador juntou

pela primeira vez duas slabas, ti e to, e bradou: Tito nome de gente e o papel que a gente

vota! (ttulo). Este relato trazido por Antonio Callado no livro que rene uma srie de

reportagens jornalsticas realizadas por ele em Pernambuco entre dezembro de 1963 e janeiro

de 1964, intitulado Tempo de Arraes: a revoluo sem violncia. Callado ressalta que, antes

de simplesmente transformar o cidado analfabeto em algum capaz de votar, o governo de

Miguel Arraes pretendia, com essa iniciativa, habilit-lo para conquistar seu poder de voto.

Aquele lavrador tinha pescado ao mesmo tempo, do meio do letrume, um ser humano e sua

carta de alforria na mo. Um retrato do Brasil possvel e futuro (CALLADO, 1979, p. 150).

Em Cultura e poltica, Roberto Schwarz faz a sntese do que representou esta experincia: Este mtodo, muito bem sucedido na prtica, no concebe a leitura como uma tcnica indiferente, mas como fora no jogo da dominao social. Em conseqncia procura acoplar o acesso do campons palavra escrita com a conscincia de sua situao poltica. Os professores, que eram estudantes, iam s comunidades rurais, e a partir da experincia viva dos moradores alinhavam assuntos e palavras-chave palavras geradoras, na terminologia de P. Freire que serviriam simultaneamente para discusso e alfabetizao. Em lugar de aprender humilhado, aos trinta anos de idade, que o vov v a uva, o trabalhador rural entrava, de um mesmo passo, no mundo das letras e no dos sindicatos, da constituio, da reforma agrria, em suma dos seus interesses histricos (SCHWARZ, 1992, p. 68-69).

com profunda emoo que Nando assiste aula de Francisca e presencia a fora

transformadora da palavra ampliando a percepo daqueles homens e preparando-os para a

sua efetiva participao na histria nacional. O contato direto com aquela gente simples, sem

assistncia governamental e sem informao suficiente para sequer escrever o prprio nome,

despertar em Nando, um homem com conhecimento e condies filosficas para pensar o

seu Pas, a disposio para uma atitude que objetivamente leve transformao daquela

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situao. De acordo com Antonio Candido (2006, p. 186), quanto mais o homem livre que

pensa se imbui da realidade trgica do subdesenvolvimento, mais ele se imbui da aspirao

revolucionria. As palavras agora fazem parte do mundo que aqueles camponeses conhecem

e todas as coisas comeam a fazer mais sentido no momento em que eles so capazes de

nome-las. Em voz unssona, durante as lies de Francisca, iro elaborar construes como

cla, que se transformar em: classe clamor remo, clamo, reclamo, at chegar a

declarao, constituio (CALLADO, 1984, p. 383-384). So estas armas, as palavras, que

iro usar para defender o governador Miguel Arraes em primeiro de abril, enquanto os

militares irrompem nas ruas, em seus tanques. Portando suas canetas-tinteiro e seus rdios

transmissores, s as palavras serviram de escudo superioridade blica dos oponentes que

impunham sua vontade. Lembrando as aulas de Francisca, lio 74, um dos camponeses

grita: isso no democracia, governo do povo? O soldado, furioso, interpela: Que que tu

est falando a? Ao que o campons d o resto da lio: cra, cr, cri, cro, cru. Escravo. Os

outros acompanharam diante dos soldados bestificados: credo, criana, crnica, crua. O

tenente grita que parem com o barulho e ordena que ponham a todos no carro para serem

levados priso. Os soldados, por desconhecerem a lio 74, pensavam loucos aqueles

homens que eram levados aos berros: DECRETO, CRISE, LUCRO! O BRASIL CRESCE

COM CRISES, MAS CRESCE DEMOCRACIA. CRA, CR, CRI, CRO, CRU!

(CALLADO, 1984, p. 445).

Efetiva-se o golpe militar implantando a ditadura e decretando a derrota das esquerdas

e o fracasso da revoluo social. Nando, assim como seus companheiros, vai amargar dias de

interrogatrio e tortura nas prises federais, onde ser levado presena do Coronel

Ibiratinga, representante da corrente mais conservadora do exrcito brasileiro. A

personalidade do seu inquiridor ser conhecida em farta exposio que far durante as

conversaes com Nando e onde o Coronel se define como um justiceiro telogo da nova

espcie e alega que o grande herdeiro do sagrado da igreja o exrcito (CALLADO, 1984,

p. 472). Para ele, o nico defeito do Brasil no ter levado a termo seus processos de

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inquisio. Prega que nunca queimamos hereges e infiis, nunca matamos aqueles que

insultam as coisas sagradas e que, por isso falta a cinza da virtude em nossos campos.

Entende o instrumento de tortura como uma maneira legtima de subjugar aqueles que

queriam subverter a ordem no Brasil e assim impedi-lo de ser um pas grande, poderoso e

austero (CALLADO, 1984, p. 449). Do ponto de vista do coronel, Nando, uma pessoa sem

profisso definida, ou um agitador profissional, como ele o define, algum que no tem

direo na vida, a quem faltam objetivos bem delineados, portanto, algum fora de ordem,

suspeito. Durante o interrogatrio feito pelo tenente Vidigal, ao ser informado pelo

protagonista de que no tem profisso, o investigador declara: Sua profisso a de agitador.

O coronel concluiu que o senhor se preparou a vida inteira para golpear as instituies.

Porque primeira vista sua vida no tem uma diretriz, uma linha reta (CALLADO, 1984, p.

454). O perfil de trabalhador sem profisso, de intelectual sem anel, que o interrogatrio

militar expe, uma analogia ao do Pas sem nenhum carter sem uma estrutura

linearmente identificvel. E a trajetria de Nando na busca por sua definio ideolgica, na

qual se apia toda a narrativa do romance de Callado, anloga a do Brasil que procura por

sua identidade.

Conforme elucida Antonio Candido, a formao da literatura brasileira sempre

compreendeu um empenho que levou os seus escritores a considerarem a atividade literria

como parte do esforo de construo do pas livre (CANDIDO, 1975, v.1, p. 26), da a

presena do tema da identidade nacional ser quase uma obsesso. Macunama, de Mrio de

Andrade, um dos textos mais representativos da nossa literatura que persegue a definio de

um carter para o Pas, citado por uma personagem de Quarup, quando se refere s figuras

que nosso povo reconhece como heris. NO triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto

traz a figura do nacionalista que quer alcanar o puramente nacional atravs da eliminao de

toda e qualquer influncia estrangeira, pois v uma estrutura genuna, apenas no passado pr-

colonial. J em Memrias sentimentais de Joo Miramar5, no espelho de uma burguesia

5 Em Brigada ligeira, publicado em meados de 1945, Antonio Candido diz que Mrio de Andrade, em Macunama e Oswald de Andrade, em Memrias Sentimentais de Joo Miramar, do a contribuio do

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decadente e ociosa, Oswald de Andrade faz a crtica dos grandes senhores de terras que agora

habitam as cidades e sua defesa do padro: famlia, tradio e propriedade. O crtico Roberto

Schwarz pontua que em Quarup, o romance ideologicamente mais representativo para a

intelectualidade de esquerda do seu tempo, o itinerrio o oposto, pois o intelectual abdica

de conforto e posio social e vai ao encontro do povo (SCHWARZ, 1992, p. 92).

Conforme fundamenta Auerbach, falando sobre a representao da realidade na

literatura ocidental, o romance de Callado promove o tratamento srio da realidade cotidiana,

a ascenso de camadas humanas mais largas e socialmente inferiores posio de objetos de

representao problemtico-existencial, bem como, apresenta o engaramento de

personagens e acontecimentos cotidianos quaisquer no decurso geral da histria

contempornea, do pano de fundo historicamente agitado, que , de acordo com o que

pontua o terico, a forma de representao da realidade moderna atravs do romance

(AUERBACH, 2004, p. 440).

Ao contrrio de diversos autores que fizeram restries ao contedo, extenso e

aparente fragmentao de Quarup6, Antonio Candido (2006, p. 253) preferiu uma apreciao

do carter inovador da obra e de sua importncia no cenrio da literatura brasileira:Na fico, o decnio de 1960 teve algumas manifestaes fortes na linha mais ou menos tradicional, de fatura, como os romances de Antonio Callado, que renovou a literatura participante com destemor e percia, tornando-se o primeiro cronista de qualidade do golpe militar em Quarup (1967).

Em O Narrador: consideraes sobre a obra de Nikolai Leskov Walter Benjamin

declara que a verdadeira narrativa aquela que conserva a fora de causar espanto e reflexo

aps muitos anos, ao contrrio da informao que s tem valor no momento em que nova

(BENJAMIN, 1994, p. 204). Callado une a fora da narrativa ao fato histrico e o torna um

registro permanente, e capaz de conservar o poder de provocar a reflexo sobre a experincia

social brasileira. O narrador de Quarup, que ora usa do recurso da terceira pessoa, que uma

pensamento e fazem da fico uma forma de conhecimento do mundo e das idias. (2004, p. 87-88).6 Um exemplo o de Nelson Werneck Sodr, que fala da dificuldade em analisar o romance de Callado por se tratar de um livro gordo, abundante, que se multiplica em aspectos menores e perde em unidade (1967).

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forma de representar as distncias sociais, ora insere o discurso indireto livre, onde o narrador

se aproxima efetivamente do fluxo de pensamento da personagem de acordo com a

informao a ser transmitida, vale-se da forma de narrar para reforar o discurso do

autoritarismo ou do contrato social, conforme a teoria de Franco Moretti apresentada em O

sculo srio (2003, p. 29). Tanto ensina, transmite uma mensagem tica explcita e assim,

demonstra a superioridade do narrador sobre a personagem como, no discurso indireto

livre, abre mo desta superioridade para se igualar personagem e passar uma mensagem

quase subliminar. Durante o interrogatrio, nos pores da ditadura, o tenente Vidigal pergunta

a Nando se Francisca teria ido ao Xingu apenas para catequiz-lo, causando-lhe grande

perturbao, que Nando tenta, custa de muito esforo, disfarar: pensando rpido, enquanto

o datilgrafo batia a ltima pergunta do tenente, Nando se disse a si mesmo que era natural

que o nome de Francisca fosse mencionado ali. Mas estaria ela presa? No, no devia

perguntar (CALLADO, 1984, p. 456). Segundo Moretti, A racionalizao das relaes

sociais exige o nivelamento, a impessoalidade e a abstrao. H um compromisso firmado

atravs da tcnica narrativa no sentido de capturar uma parcela da realidade. Nando est

vivendo uma situao de tenso procedente da sua condio incerta, nesta medida o discurso

indireto livre a tcnica ideal para dar forma a esse compromisso: deixa um espao livre

voz individual, mas ao mesmo tempo mistura e subordina a expresso individual ao tom

abstrato e suprapessoal do narrador (MORETTI, 2003, p. 26-29). Valendo-se desse recurso

retrico, Callado refora em seu texto o poder de expressar e causar a reflexo sobre aquele

momento brasileiro.

Estudar a forma literria pesquisar as maneiras como os seres humanos vivenciaram

e representaram o seu tempo e a sua experincia social. No momento em que se apropria da

realidade, ela ordena o universo entre o real e o imaginrio, tornando-se o princpio capaz de

mediar o entendimento sobre a matria social que a constitui. Quarup trabalha com vrias

teorizaes sobre o Brasil e prope uma reflexo baseada nas diversas matrizes ideolgicas

presentes no romance. A alegoria que se apresenta a de um pas que procurou construir uma

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nao ao mesmo tempo dinmica e moderna, mas com espao para homens livres que

pudessem se expressar e realizar a sua cidadania. Este ideal s teria sentido se viabilizasse a

dignificao de valores e mandamentos morais verdadeiros. Porm, o modelo para este novo

pas e para este homem novo era buscado no passado, no que se considerava uma cultura

popular autntica. Pensava-se possvel estruturar o futuro na justaposio de elementos

prprios do Brasil-colnia e do Brasil burgus (SCHWARZ, 1987, p. 12). Vivia-se, afinal,

uma cultura dividida entre suas razes no interior, tradicional, rural e patriarcal, e sua outra

faceta moderna, urbana e burguesa. Esta a transcrio de uma lgica especfica do processo

brasileiro, o movimento binrio que Paulo Arantes chama de dialtico e que traduz o que a

realidade articula no caso da configurao da dualidade nacional: ao mesmo tempo um anseio

pela modernizao e a independncia do capital estrangeiro, ligada ao resgate dos mitos e do

sentimento de nacionalidade. a busca pela alma genuna, autntica, que seria proveniente

das lendas e da cultura indgena. Em Quarup, o Brasil transposto para o romance como a

unio entre o arcaico e o moderno. Esta a forma que d unidade e organiza a transposio

esttica. De acordo com Paulo Arantes essa dualidade est ligada formao

colonialista/capitalista, que delineia o passado e se reflete na conduta atual deste Pas. uma

caracterstica presente na base da formao do Brasil e o fator determinante da linha de

pensamento que conduz a mentalidade social brasileira desde o sculo XVIII, estando

presente na literatura desde o Arcadismo (ARANTES, 1992, p. 44-45). No livro de Callado

temos um debate dessa ordem, o mundo civilizado sendo repensado atravs da experincia do

mundo primitivo e buscando ali o seu recomeo, numa representao do nosso intento de nos

enraizarmos em um passado social coerente e estvel e nosso vido desejo por crescimento.

Na forma da expresso literria empenhada temos a narrativa oferecendo a dimenso histrica

e formativa e assumindo a conscincia poltica da sociedade.

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