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Que todos sejam um

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PASTORAL DOS BISPOS E BISPA METODISTAS

PARA QUE TODOS SEJAM UMA perspectiva metodista para a unidade cristã

Agosto - 2009

PARA QUE TODOS SEJAM UM

Colégio Episcopal da Igreja MetodistaAgosto 2009 - versão eletrônica

COLÉGIO EPISCOPAL

Bispo João Carlos Lopes - PresidenteBispo Luiz Vergilio Batista da Rosa - Vice-PresidenteBispo Adonias Pereira do Lago - SecretárioBispo Adolfo Evaristo de SouzaBispo Adriel de Souza MaiaBispa Marisa Freitas FerreiraBispo Paulo Tarso de Oliveira LockmannBispo Roberto Alves de SouzaBispo Geoval Jacinto da SilvaBispo João Alves de Oliveira FilhoBispo Josué Adam LazierBispo Nelson Luiz Campos LeiteBispo Paulo Ayres MattosBispo Richard dos Santos CanfieldBispo Rosalino DomingosBispo Stanley da Silva Moraes

GRUPO ASSESSOR PARA A ELABORAÇÃO DO DOCUMENTO

Bispo Roberto Alves de SouzaRevda. Amélia TavaresRev. José Carlos PeresDra. Magali do Nascimento CunhaRev. Marco Antonio dos SantosRev. Paulo Dias Nogueira

SECRETÁRIO EXECUTIVO DO COLÉGIO EPISCOPAL

Bispo Stanley da Silva Moraes

SECRETÁRIA EXECUTIVA PARA VIDA E MISSÃO

Revda. Joana D'Arc Meireles

ASSESSORIA NACIONAL DE COMUNICAÇÃO

Suzel Tunes

PROJETO GRÁFICO E TEXTO DE REFERÊNCIA

Hideíde Torres (MTb/SP 35.784)

SEDE NACIONAL DA IGREJA METODISTA

Av. Piassanguaba, 3031Planalto Paulista - 04060-004 - São Paulo - SPFone: (11) 2813.8600 Fax: (11) 2813.8632Site: www.metodista.org.brE-mail: [email protected]

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.........................................................................................5

INTRODUÇÃO............................................................................................7

POR QUE SE FALA EM "ECUMENISMO" AO TRATAR DE UNIDADE CRISTÃ?......................13

O QUE É O MOVIMENTO ECUMÊNICO?.............................................................17

A UNIDADE CRISTÃ É DESEJO DE DEUS?.............................................................23

O QUE ESTE ASSUNTO TEM A VER COM SER METODISTA?.........................................31

POR QUE HÁ TANTA DIFICULDADE COM ESTE ASSUNTO?............................................41

COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL DEVE TRATAR

O TEMA DA UNIDADE INTERNAMENTE?......................................................49

COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL DEVE TRATAR

O TEMA DA UNIDADE COM OUTRAS IGREJAS CRISTÃS?......................................53

COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL DEVE TRATAR

O TEMA DA UNIDADE COM ORGANISMOS ECUMÊNICOS?........................................57

COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL DEVE TRATAR

O TEMA DA UNIDADE COM ORGANIZAÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-CRISTÃS?.........61

COMO AS LIDERANÇAS METODISTAS NO BRASIL, CLÉRIGAS E LEIGAS,DEVEM SE POSICIONAR QUANDO FOREM CONVIDADAS/DESAFIADAS

A PARTICIPAR DE REUNIÕES, CULTOS E CELEBRAÇÕES PÚBLICAS?........................69

APÊNDICE: COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL

DEVE SE RELACIONAR ESPECIFICAMENTE COM A IGREJA CATÓLICA ROMANA?............71

GLOSSÁRIO............................................................................................81

APRESENTAÇÃO

"Estas coisas vos escrevo para que a nossa alegria seja completa." (1Jo 1.4)

Nosso compromisso com Deus é o de "espalhar a santidadebíblica por toda terra". Nessa perspectiva, afirmamos também nossocompromisso com a unidade cristã, para que o mundo creia. As-sim sendo, apresentamos a vocês esta orientação pastoral.

Quando tenho uma relação sadia comigo e com Deus, nãotenho problemas para dialogar com as outras comunidades re-ligiosas. A vida sadia, santa, é sempre uma vida aberta aos ou-tros seres humanos e é nela que alcançamos a "alegria comple-ta". O poder do Evangelho vem do Deus que é amor. Ele olhapara nós como pessoas a quem Ele ama.

Buscando tornar esta orientação de mais fácil utilização, es-tabelecemos nela algumas novidades. Assim, as inserções naslaterais das páginas são ora referência a frases destacadas dotexto, ora perguntas feitas para despertar a discussão nos gru-pos de estudos. Sugerimos que essas orientações sejam usadaspara transmitir as informações deste documento na Escola Do-minical, nos grupos societários, nos grupos de discipulados eoutros. Seu objetivo é funcionar como uma metodologia deapoio para o aprofundamento do tema.

Tenha um abençoado estudo deste documento e que o mes-mo produza frutos dignos do Reino de Deus.

BISPO JOÃO CARLOS LOPES

PRESIDENTE DO COLÉGIO EPISCOPAL

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Para que todos sejam um7

INTRODUÇÃO

Esta Pastoral, dirigida a todos os mem-bros clérigos e leigos da Igreja Metodista noBrasil e a todas as pessoas de alguma formarelacionadas com esta parte do Corpo de Cris-to, é uma versão revista e atualizada da pri-meira Carta Pastoral sobre este assunto,publicada em 1999. É a concretização do en-caminhamento aprovado pelo 18º ConcílioGeral da Igreja Metodista, realizado em 2006,resultante de intenso debate sobre o tema.Além de ter decidido pela retirada da IgrejaMetodista de organismos ecumênicos em quea Igreja Católica Apostólica Romana partici-pa como membro, assumindo uma crise norelacionamento formal com este ramo doCristianismo, o 18º Concílio Geral admitiu aimportância de um processo de reflexão eaprofundamento em torno do assunto.

Por isso, identificou a necessidade de umarevisão no documento de 1999 e optou pelaformação de um Grupo de Trabalho, com-posto por pessoas que refletissem a diversi-dade de pensamentos na Igreja Metodistano Brasil relacionados com o tema. Esse GTassessoraria o Colégio Episcopal quanto àsimplicações dessas decisões.

A primeira versão da Carta Pastoral foi arealização de uma demanda do 16º ConcílioGeral da Igreja Metodista (1997), para que a

Esta pastoral éuma versão revista

e atualizada daprimeira carta

sobre oecumenismo,

lançada em 1999.

O 18º ConcílioGeral assumiu

uma crise norelacionamento

formal com aIgreja Católica e

a importância deum processo de

reflexão eaprofundamento

em torno doassunto.

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teoria e a prática metodistas concernentes àquestão ecumênica fossem claramente expos-tas e fundamentadas. Essa pastoral foi pre-parada e disseminada. É fato, porém, que, adespeito das orientações desse documento,desconfortos manifestados por membros daIgreja Metodista, no que diz respeito à suapresença formal em organismos que tambémtêm participação oficial da Igreja CatólicaApostólica Romana, especialmente o Conse-lho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), le-varam à articulação de propostas para a reti-rada da filiação a este organismo. A primeirafoi apresentada no 17º Concílio Geral, emMaringá/PR, 2001, e, após ter sido a matériaamplamente discutida, o plenário votou fa-voravelmente pela permanência da IgrejaMetodista no CONIC. Uma segunda propos-ta foi apresentada, desta vez ao 18º ConcílioGeral, em Aracruz/ES, 2006, e a matéria foiaprovada, não sem muito debate e manifes-tações de divergências.

Isso reflete o fato de que, no Brasil, nãohá unanimidade quanto a esse assunto, nemdentro da Igreja Metodista e nem fora dela.Vários fatores podem explicar essa situaçãotanto na história passada quanto no tempopresente. Há muita confusão quanto à com-preensão do princípio bíblico da unidade,denominado em épocas recentes"ecumenismo", e a compreensão da existên-cia de formas diversificadas de tornar con-creto este princípio, denominadas "movimen-

No Brasil, não háunanimidade so-bre o assunto, nemdentro da IgrejaMetodista, nemfora dela.

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Para que todos sejam um9

to ecumênico". Critica-se o princípio combase em visões negativas de algumas formasde concretizá-lo. É fato que a caminhadaecumênica mostrou-se não isenta de equí-vocos. Diversos grupos e pessoas, no afã dealcançarem a tão desejada reconciliação, che-garam a comprometer sua própria identida-de confessional. Há, inclusive, quem penseque ecumenismo nada mais é do que a sim-ples integração de credos diferentes. Sabe-mos e não podemos ignorar o fato de queno presente momento o termo"ecumenismo" tem sido usado de maneiracontrovertida, suscitando sérias e gravesdistorções. Estamos firmemente convenci-dos de que nem tudo que é adjetivado deecumenismo, particularmente na mídia se-cular e religiosa, reflete a nossa interpreta-ção e prática ecumênicas. À vista disso, maisdo que nunca, se faz necessário o"discernimento de espíritos".

É sempre bom assinalar que, ao repensara sua compreensão e atuação em relação aesta temática, a Igreja Metodista não podesimplesmente deixar-se levar pelas pressõesdo momento, ignorando por completo oensino bíblico e a sua própria trajetória his-tórica. Se, de um lado, é impossível despre-zar a situação em que vivemos, tanto do pon-to de vista social quanto religioso, por outro,não podemos restringir a ação pastoral dacomunidade de fé àquilo que somente agra-de ao "mercado religioso", isto é, às exigên-

A caminhadaecumênicamostrou-se nãoisenta de equívo-cos. O termoecumenismo temsido usado demaneira contro-vertida.

PONDO EM PRÁTICA

Dialogue com seugrupo de estudos:De que maneira oecumenismo ouunidade cristã temsido usado demaneira contro-vertida? Existemexperiências dissoem sua comunida-de local? Queconsequênciashouve? Teria sidopossível realizar asmesmas ações deoutra forma?Quais acertosexistem? Queconsequências elestrazem? O queJesus faria emsituação simi-lar? Busqueconfirmação nasEscrituras.

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cias predominantes em nosso tempo do quese espera que uma igreja faça e realize. Aten-der a estas exigências pode trazer benefícios,mas o preço que se paga, muitas vezes, comessa postura, é o sacrifício de nossa identi-dade. Afinal, fidelidade à mensagem das Es-crituras e coerência com a herança metodistadevem ser aspectos inegociáveis!

Requer-se, na discussão sobre ecumenismo,disposição, mente e coração para discernir osdesafios enfrentados pelo compromisso coma unidade cristã quanto às suas possibilida-des, oportunidades, dificuldades e limites, àluz do mandato expresso pelo próprio SenhorJesus na oração sacerdotal, na qual interce-deu ao Pai não só por seus discípulos, maspor todos que viessem a crer nele, quandodisse: "A fim de que todos sejam um; ecomo és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, tam-bém sejam eles nós; para que o mundo creiaque tu me enviaste" (João 17.21).

Reconhecemos ainda que, como IgrejaMetodista, não fomos capazes de aprofundarem nossas igrejas locais nosso diálogo sobrea compreensão e prática em torno da unida-de do corpo de Cristo, apesar da Carta Pas-toral de 1999. Isto contribuiu para gerar erenovar inquietações e incompreensões noseio de nossa Igreja. A falta de estudo dotema e aprofundamento para a prática, acomeçar da igreja local, é um problema queprecisa ser superado no mais curto prazo.

Fidelidade àmensagem dasEscrituras ecoerência com aherança metodistasão aspectosinegociáveis!

PONDO EM PRÁTICA

Quais são os desa-fios enfrentadospelo compromissocom a unidade cris-tã em sua comuni-dade? Quais são asposs ib i l idades ?Quais são os limi-tes?

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O que importa, entretanto, é seguirmosadiante, tendo diante de nós as decisões to-madas. Seguir adiante significa traçar novoscaminhos com base na nossa realidade, masnão lançar fora as significativas experiênciasde crescimento - na fé, na esperança, no amor- que o nosso contato com cristãos e cristãsde outros grupos e de organismosintereclesiásticos nos proporciona. Significatambém não lançar fora nossas convicções te-ológicas, pois o compromisso pela unidade docorpo de Cristo somente pode ser levado à fren-te se por um lado, tivermos convicções forte-mente alicerçadas em nossa herança wesleyana,e, por outro, estivermos plenamente conscien-tes dos problemas, das dificuldades e dos limi-tes que o movimento ecumênico enfrenta naatualidade. O presente estado do ecumenismonão admite nem romantismos, nem levianda-des e, muito menos, irresponsabilidades, querdoutrinais, quer práticas.

Com base nesses princípios, convidamostodos os membros da Igreja Metodista, cléri-gos e leigos, em particular os que têm dificul-dades em compreender a sua preocupaçãoativa pela unidade dos cristãos, a refletir seria-mente sobre esse importante aspecto da nos-sa identidade cristã e confessional, por meioda leitura desta carta que ora apresentamos àIgreja. As bases firmadas na Carta Pastoral de1999 não foram desprezadas; elas foram revi-sadas à luz das necessidades que se apresen-tam pós-18º Concílio Geral, com um forma-

Traçar novoscaminhos de

acordo com anossa realidade,

sem lançar fora asexperiências de

crescimento.

As bases firmadasna carta de 1999

não foramdesprezadas, elas

foram revisadas àluz das novas

necessidades do18º Concílio Geral

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to pergunta-resposta e uma linguagem acessí-vel a toda a membresia de nossa Igreja.

Repetimos que não pretendemos abrirmão de nossas convicções nem fechar osolhos para as crises que enfrentamos em tor-no deste assunto. Mas entendemos que oSenhor da história e da Igreja, nos chamapara um compromisso responsável com ainstauração do seu Reino. Nessa tarefa, nosjuntamos a outros irmãos e irmãs que, ape-sar de sustentarem opiniões diferentes danossa, demonstram idêntica motivação epaixão pelo Evangelho de Cristo. Trata-seda unidade na missão, através da qual esten-demos a mão a todos quantos "têm o cora-ção reto para conosco" (cf. 2 Reis 10.15).

PONDO EM PRÁTICA

A carta afirma:“Não pretendemosabrir mão denossas convicçõesnem fechar osolhos para ascrises que enfren-tamos em tornodeste assunto.” Deque formas suaIgreja local e você,pessoalmente,podem assumir ocompromissoresponsável com ainstauração doReino de Deus,sem ignorar estadificuldade ouquaisquer outrasque houver em seucaminho? Comodemonstrarmaturidade?

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POR QUE SE FALA EM

"ECUMENISMO" AO TRATAR DE

UNIDADE CRISTÃ?

Ecumenismo é o princípio da unidade cris-tã em torno dos elementos comuns da fé emJesus Cristo. Implica atitudes de diálogo, res-peito, convivência e colaboração na forma deatos de piedade (estudos bíblico, oração, je-jum, reflexão e visitação) e de misericórdia(ações solidárias e de cidadania). Deve carac-terizar-se como uma resposta à oração de Je-sus: "que todos sejam um para que o mundocreia" (Jo 17.21). Portanto, a comunhão doscristãos e das cristãs deve ter o sentido daparticipação na Missão de Deus, por meiodo evangelismo e do testemunho da presen-ça de Cristo como razão do ser igreja. Comoorienta o apóstolo Paulo: "esforçando-vosdiligentemente por preservar a unidade doEspírito no vínculo da paz; há somente umcorpo e um Espírito, como também fosteschamados numa só esperança da vossa voca-ção; há um só Senhor, uma só fé, um só ba-tismo; um só Deus e Pai de todos, o qual ésobre todos, age por meio de todos e está emtodos" (Ef 4.3-6).

Apesar de o princípio ter origem no pró-prio movimento dos seguidores/as de Jesus,a expressão "ecumenismo/ecumênico" para

Precisamosentender bem os

termos usados e oscontextos de suautilização, para

romper os precon-ceitos e adotar

posturas deintegralidade,

próprias daidentidae

metodista. O queEcumenismo temsignificado paranós? O que deve,

de fato, significar?

Guarde bem estadefinição, pois elaé orientadora para

a vida e a missãoda Igreja:

Ecumenismo é oprincípio da

unidade cristã emtorno dos elemen-tos comuns da féem Jesus Cristo.

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designá-lo é de utilização recente. Por isso nãovamos encontrar na Bíblia estas palavras nosentido da busca por unidade cristã. Vamosencontrar, sim, o termo que dá origem à ex-pressão, a palavra grega oikoumene, que querdizer "casa comum" ou "toda a terra habita-da". Ela foi criada pelos gregos, séculos antesde Jesus, para expressar tanto a extensão geo-gráfica da terra como lugar onde se vive, comoo jeito de se organizar para viver nessa terra.Esse termo aparece muitas vezes na Bíblia comeste sentido grego e está traduzido para oportuguês de diferentes formas (vale conferirem Mateus 24.12-14; Marcos 13.10; Lucas 2.1;Lucas 4.5; Lucas 21.26; Atos 11.28; Atos 19.27;Romanos 10.18; Hebreus 1.6; Hebreus 2.5;Apocalipse 12.9).

O termo oikoumene ou "ecumene", na tra-dução para o latim, ganhou este significadoreligioso, da busca da unidade cristã, muitotempo depois, já no final do século XVII.Naquela ocasião, as guerras religiosas entrecatólicos e evangélicos e entre evangélicosmesmo levaram cristãos sensíveis frente a esteescândalo a pregarem a paz na terra habitada,entre os próprios cristãos. Por isso o termo"ecumene" passou a ser usado para expressaro ideal da unidade cristã na "casa comum",no mundo criado por Deus e que habitamos.

Diante disso, vale afirmar que há com-preensões de ecumenismo que pregam a eli-minação das diferenças cristãs, a negação

Conheça, nestetrecho da carta, ocaminho percorri-do na construçãodo conceito de“Ecumenismo” esua origem nogrego e no latim.Recuperar ossentidos originaisé algo que podenos enriquecer nadiscussão parahoje!

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Para que todos sejam um15

da diversidade, e a necessidade de unifica-ção eclesial e doutrinária com a uniformi-zação do corpo de Cristo, ou dos ramosDele, a Videira Verdadeira. Afirmamos queisto não corresponde ao que a IgrejaMetodista no Brasil tem por convicção,acompanhando a história da concretizaçãodo princípio de unidade cristã no mundo eem nosso país. Há ainda grupos que fazemuso do termo "macroecumenismo". Estaexpressão foi criada pelo bispo católicoPedro Casaldáliga para afirmar a aproxima-ção cristã de outras religiões, porém é umtermo estranho ao metodismo e à tradiçãohistórica do movimento ecumênico, que, noque diz respeito a outras religiões, fazemuso da expressão "diálogo inter-religioso".

Acima de tudo, entendemos que o cami-nhar ecumênico deve aprofundar as oportu-nidades que beneficiam, perante o mundo, otestemunho da fé em Cristo e o serviço plenode amor ao próximo. Prossigamos a caminhar.Podemos admitir que o final desta jornada -uma vez que reconhecemos as limitações denossa pecadora humanidade - certamente sópoderá realizar-se por ocasião da plena e vi-toriosa manifestação da Graça de Deus, nosúltimos tempos, quando as Igrejas deixarãode existir, pois elas são históricas e temporais.Deus nos enxugará dos olhos todas as lágri-mas. Existirá o Reino de Deus em sua pleni-tude ecumênica, regido pela única e eterna "lei"do amor. Por isso, entendemos que o nosso

o caminharecumênico deve

aprofundar asoportunidades que

beneficiam,perante o mundo,o testemunho dafé em Cristo e oserviço pleno de

amor ao próximo.

PARA PENSAR

Uma antiga cançãoinspirada na

prática dosprimeiros

metodistas dizia:“Não importa a

Igreja que tu és, seatrás do Calváriotu estás, se o teu

coração é igual aomeu, dá-me a

mão”. O próprioWesley usou esta

frase. O que elasignifica em

termos de identi-dade metodista?Como articular

unidade e identi-dade sem promover

cisões no corpo?

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Para que todos sejam um16

compromisso ecumênico de buscar tornarvisível a unidade que nos está dada em JesusCristo, e somente nele, significa, antes de tudo,companheirismo na missão, no testemunhoe no serviço, e não formar uma só instituiçãoeclesiástica, uma superigreja.

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Para que todos sejam um17

O QUE É O MOVIMENTO

ECUMÊNICO?

Muito tempo antes da palavra"ecumenismo" ser utilizada para expressareste princípio que tem por base o diálogo, orespeito, a convivência e a colaboração, quedeve ser assumido pelos/as seguidores/as deJesus Cristo, várias coisas aconteceram e quetornaram concreto este ideal. Ao longo dosséculos, muita gente inspirada por Deus as-sumiu este princípio de fé e resolveu agir,concretizar ações, experiências, reuniões, en-contros, situações que marcaram a históriada Igreja e do mundo. Estas pessoas e estassituações deram forma ao que passou a serreconhecido como um movimento cristãopor unidade, denominado no século XXcomo movimento ecumênico. Movimentoecumênico é, portanto, a diversidade de ex-pressões que buscam tornar concreto o prin-cípio do ecumenismo.

E foi no século XIX que a necessidade deunidade entre cristãos e cristãs passou a fi-car mais evidente. Isto porque ganhava cadavez mais força o movimento missionário de-senvolvido pelas igrejas evangélicas da Eu-ropa e dos Estados Unidos, que desde o sé-culo XVIII se espalhou pelos continentesamericanos, asiático e africano para dissemi-nar o Evangelho. Com tantas sociedades

Este capítulo daPastoral pretende

mostrar a cons-trução histórica

do movimentopela unidade doscristãos e cristãs.O que você e suaigreja conhecem

desta história?

O movimentomissionário levou

as igrejas america-nas a pensar em

formas de respei-tar a missão quetodas as denomi-

nações realizavamno mundo.

Queriam evitar acompetiçãointerna que

prejudicaria asalvação dos

povos.

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Para que todos sejam um18

missionárias e juntas de missão das mais di-ferentes igrejas atuando nos países, os mis-sionários se defrontaram com a realidade davisibilidade da divisão: numa mesma cidadeeram centenas de diferentes pontos de mis-são que frequentemente confundiam os"missionados" que se perguntavam: a quemdevemos aderir? Qual desses grupos tem amensagem verdadeira? Se é o mesmo Deus,por que estão separados? Missionários sen-síveis a essas questões classificaram o que vi-viam como a evidência do "escândalo da di-visão entre os cristãos" e um grande obstá-culo para o testemunho. Inspirados peloEspírito Santo, muitos deles resolveram de-safiar as igrejas para que não deixassem deser elas mesmas e cumprir a missão de espa-lhar o Evangelho, mas que buscassem for-mas de diálogo e de cooperação, evitando acompetição, para que a ação dos cristãospassasse a ser vista no mundo como um si-nal do amor de Deus.

É fato que antes de os missionários senti-rem-se desafiados a esforços de diálogo emtorno da missão, outras situações demons-travam que a unidade e a comunhão cristãseram possíveis. Duas delas se destacaram jános primórdios do século XIX: (1) o movi-mento de juventude cristã, com as Associa-ções Cristãs de Moços e de Moças e os mo-vimentos estudantis cristãos (que se uniramna Federação Mundial dos Movimentos Es-tudantis Cristãos); (2) as Sociedades Bíblicas

Hoje tambémexiste o escândaloda divisão entre oscristãos e cristãsna sua cidade? Oué algo do passado?

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Para que todos sejam um19

- esforço comum das igrejas na tradução eimpressão de Bíblias para o trabalho missio-nário. No entanto, a grande marca do esfor-ço por diálogo e cooperação foi a realizaçãoda Conferência Missionária Internacional,realizada na cidade de Edimburgo (Escócia),em 1910, reunindo, pela primeira vez na his-tória, cerca de 1500 pessoas, com represen-tação oficial de igrejas e sociedadesmissionárias das principais igrejas da tradi-ção cristã, para refletirem sobre o tema damissão e as possibilidades de unidade emtorno dele. A base era a oração de Jesus re-gistrada em João 17.21: "que eles sejam um,para que o mundo creia".

Estudiosos consideram Edimburgo 1910o marco inicial da história do movimentochamado, mais tarde, ecumênico. Um dosresultados foi a criação do Conselho Missio-nário Internacional que consolidou a reali-zação de outras conferências missionáriaspara diálogo e busca de cooperação, que sãorealizadas até os nossos dias, com importan-tes contribuições para a teologia da missão esua prática. Em nossas terras latino-ameri-canas a Conferência Missionária do Panamá(1916) teve a mesma importância contribu-indo para a construção do movimentoecumênico no continente, que experimentouuma série de expressões e organizações e teveo Conselho Latino-Americano de Igrejas -CLAI, fundado em 1982.

Veja nesta parteda pastoral um

pequeno resumode eventos e

encontros entremissionários e

pessoas queamavam as

missões, em buscado respeito mútuo

e do avanço daobra

evangelística.

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Uma outra situação que é também consi-derada um marco da história do movimentopor unidade cristã aconteceu durante a Pri-meira Guerra Mundial (1914-1918) quandomuitas igrejas evangélicas da Europa e dosEstados Unidos, especialmente por meio depessoas leigas, com grande participação dajuventude, ficaram preocupadas com a res-ponsabilidade cristã pela promoção da paz eda justiça. Elas atuaram com movimentos emtorno da busca da paz entre as nações e nacura das feridas físicas e emocionais das pes-soas e povos que padeciam os efeitos da guer-ra. Como fruto deste processo foi criado, em1925, o "Movimento Vida e Ação" que re-forçava a ideia de um cristianismo prático,ou seja, a compreensão de que os cristãos ecristãs devem estar unidos em ações concre-tas de promoção da vida por meio de atosde misericórdia e de luta pela justiça e a paz.

Uma terceira expressão de unidade tam-bém vai marcar a história do movimento cha-mado ecumênico: líderes de igrejas evangéli-cas, principalmente aqueles que se dedicavamà reflexão teológica, começaram a se reunirno início do século XX para conversar so-bre as doutrinas de suas igrejas, para desco-brirem o que tinham em comum e delimita-rem as diferenças. Como resultado, em 1927,foi realizada uma conferência na Europa,chamada "Fé e Ordem" (ordem como sinô-nimo de doutrina) e reuniu representantesde 127 igrejas. Discutiram sobre batismo,

Depois da Primei-ra Guerra Mundi-al, os cristãos ecristãs de diversasigrejas se unirampara promover apaz e a cura dasferidas emocio-nais. Que iniciati-vas assim você esua comunidadelocal podemtomar, junto aoutras comunida-des? É possível,por exemplo,combater aviolência e asdrogas semassociar-se aoutros grupos quetambém lutampela vida? De queformas estatarefa, quetambém émissionária, podeser melhorrealizada?

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santa ceia, ministério ordenado, Bíblia. Des-cobriu-se que as diferenças são muitas, masque há muita coisa em comum. A partir dalicomeçaram a escrever vários documentospara expressar isto.

Estes três movimentos - missionário, cris-tianismo prático e doutrinário - passaram arealizar muitas reuniões e atividades, que maistarde levaram à fundação do Conselho Mun-dial de Igrejas (1948), que se tornou a expres-são mais destacada do movimento ecumênico,mas que não é sinônimo dele. Além do Con-selho Mundial de Igrejas, existem muitas ou-tras organizações, conselhos de igrejas, asso-ciações eclesiásticas e membros de igrejas quedão forma a este movimento que tem tantadiversidade, mas que tem em comum o fatode reunir cristãos e cristãs no diálogo e nasações concretas que tornam visível o ideal daunidade cristã. Todas estas fontes do movi-mento têm origem no protestantismo (igre-jas evangélicas).

No Brasil, estas três fontes estiveram pre-sentes também na formação da Confedera-ção Evangélica do Brasil - CEB, fundada em1934, maior expressão do movimentoecumênico brasileiro, mas que, lamentavel-mente, foi extinta por conta das açõesrepressoras da ditadura militar que o Brasilviveu entre 1964 a 1985. Apesar deste obstá-culo, os ideais ecumênicos sobreviveram noBrasil por meio de outras organizações que

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Para que todos sejam um22

trabalhavam a unidade por meio do serviço,do estudo da Bíblia, da educação popular eteológica. Foi em 1982, no final do períododa ditadura militar, que foi fundado o Conse-lho Nacional de Igrejas Cristãs, que tentou eainda tenta recuperar a história, aexpressividade e a vitalidade da CEB.

A Igreja Católica Romana esteve ausentede todo este processo e resistiu bastante aele, já que foi convidada para várias dessasreuniões históricas. Demorou para a IgrejaCatólica se integrar ao movimentoecumênico: foi apenas após o ConcílioVaticano II (que terminou em 1965), convo-cado pelo Papa João XXIII, que esta igrejareconheceu a existência e o valor do movi-mento ecumênico e incentivou a participa-ção dos seus líderes e membros. A hierar-quia católica optou por não aderir ao Con-selho Mundial de Igrejas, mas são muitas re-presentações nacionais católicas que sãomembros de conselhos nacionais de igrejas.

Importa ainda demarcar que o movimen-to ecumênico é dinâmico e não se restringe ainstituições e a igrejas. No meio do povo hámuitas experiências que acontecem porquepessoas cristãs acabam se juntando por umacausa comum ou por laços de boa vizinhançae amizade. É o chamado ecumenismo popu-lar ou de base. É o Espírito de Deus que so-pra e não está preso a laços institucionais efaz o ideal da unidade acontecer.

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Para que todos sejam um23

A UNIDADE CRISTÃ É DESEJO

DE DEUS?

Para nós, metodistas, a base para secompreender o sentido do ideal de unida-de são as Santas Escrituras, orientadorasda prática de fé de quem se chama cris-tão/cristã. Nelas há uma referência quepodemos interpretar como fundante: en-contra-se na oração sacerdotal de Jesus. Oevangelista João registrou que Jesus levan-tou os olhos para o céu e orou: "Não rogosomente por estes, mas também por aqueles quevierem a crer em mim, por intermédio da sua pala-vra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, óPai, em mim, e eu em ti, também sejam eles emnós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eulhes tenho transmitido a glória que me tens dado,para que sejam um, como nós os somos; eu neles e tuem mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unida-de, para que o mundo conheça que tu me enviaste eos amaste, como também amaste a mim. Pai, a mi-nha vontade é que onde eu estou, estejam tambémcomigo os que me deste, para que vejam a minhaglória que me conferiste, porque me amaste antes dafundação do mundo" (Jo 17. 20-24).

Esta é uma das passagens mais belas eprofundas do Novo Testamento e é conhe-cida como a oração sacerdotal ou oração pelaunidade. Jesus não está se dirigindo aos dis-cípulos, nem às pessoas que procuraram se-

Neste capítulo,vamos buscar as

bases bíblicas quedefinirão de que

forma devemosagir no mundo

em relação aoutros segmentos

cristãos.

O que vocêentende da oraçãode Jesus? Coloque

no papel suasimpressões, lendo

o texto bíblicoicom calma.

Depois, verifique aorientação de

nossos bispos ebispa. Como vocêpercebe o ensino?Como praticá-lo?

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Para que todos sejam um24

gui-lo, nem àquelas que se sentiam ameaçadaspelo seu ministério. Jesus está se dirigindoao Pai, àquele que o tinha enviado. Jesus orapor sua comunidade como um todo, nãosomente pelos discípulos que estavam comele, mas também por quem viesse a crer porintermédio deles. Portanto, Jesus estava tam-bém orando por nós que temos o privilégioe a responsabilidade de continuar a sua obra.

A oração de Jesus nos mostra que a uni-dade de sua Igreja não é fruto da vontadehumana nem o cumprimento de meros de-sejos humanos. É o cumprimento do desejode Jesus Cristo e condição essencial para queo mundo creia, ou seja, para o testemunhocristão no mundo. Isso quer dizer que a co-munidade cristã, para ser fiel à sua vocação,deve expressar, por intermédio de suas rela-ções fraternas e de amor, a mesma uniãoprofunda que existe na Trindade, ou seja,entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A unidade da comunidade cristã é uma an-tecipação da promessa de realização do Reinode Deus que está presente entre nós, mas quesomente experimentaremos de maneira plenana consumação dos tempos. É também umsinal da possibilidade de reconciliação entre osseres humanos e destes com Deus.

Há uma Ecclesia (igreja) não delimitadapelas tantas denominações existentes, que,na linguagem dos Pais da Igreja, é descrita

PONTOS PARA PENSAR

A oração de Jesusnos mostra que aunidade de suaIgreja não é frutoda vontadehumana nem ocumprimento demeros desejoshumanos.

A comunidadecristã, para ser fielà sua vocação,deve expressar, porintermédio de suasrelações fraternase de amor, amesma uniãoprofunda queexiste na Trindade,ou seja, entre oPai, o Filho e oEspírito Santo.

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Para que todos sejam um25

como igreja una, santa, católica (universal) eapostólica (Efésios 2.14-22). A participaçãona caminhada pela unidade segue um rumodiferente do divisionismo que tem permiti-do tantas igrejas que se inauguram e vivemcomo que sem compromisso com séculosde herança cristã, assim saltando das pági-nas bíblicas para o seu espaço hoje. Essebrotar dividido não oferece, perante o mun-do, testemunho em favor da fé que desejaproclamar "um só Senhor, um só Pai, uma só fé,um só batismo" (Efésios 4).

A busca da unidade não é a busca da uniãodas igrejas em uma única forma institucional.Ela é, acima de tudo, a afirmação e reconheci-mento da diversidade de dons e ministériosconcedidos por Deus ao seu povo. Portanto,pode-se dizer que a prática da unidade cristã éa busca e vivência da unidade na diversidade.Isto porque nenhuma igreja ou denominaçãopode reivindicar para si a representação plenae exclusiva do Corpo de Cristo. O máximoque elas podem reivindicar é que são parte,membros, do Corpo de Cristo e que, sob ainspiração e orientação do Espírito, estão emplena comunhão com Deus.

A imagem de "Corpo de Cristo" é, comcerteza, a mais linda e mais conhecida ima-gem da Igreja que Paulo nos ensina. E elatem vários elementos que são essenciais paranossas vidas, obras e relações tanto pessoaiscomo institucionais.

DISCUTA NO SEU

GRUPO DE ESTUDOS AAFIRMAÇÃO DA

PASTORAL DO

COLÉGIO EPISCOPAL:A busca da

unidade não é abusca da uniãodas igrejas em

uma única formainstitucional. Elaé, acima de tudo,

a afirmação ereconhecimento

da diversidade dedons e ministérios

concedidos porDeus ao seu povo.

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O que nos caracteriza como Corpo de Cris-to é o fato de termos sido batizados em Cris-to pelo Espírito Santo. Paulo diz: "Porque as-sim como o corpo é um e tem muitos mem-bros, e todos os membros, sendo muitos,constituem um só corpo, assim também comrespeito a Cristo. Pois, em um só Espírito,todos nós fomos batizados em um só corpo,quer judeus, quer gregos, quer escravos, querlivres. E a todos nós foi dado beber de um sóespírito" (1 Coríntios 12.12-13).

O batismo em Cristo é uma realidade in-clusiva. Somos "judeus e gregos, escravos elivres". Na Carta aos Gálatas, Paulo acres-centa "homem e mulher" (Gálatas 3. 27-28)e aos Colossenses, insere "(o) bárbaro e (o)cita" (Colossenses 3.11). É importante re-cordar que os gregos consideravam bárba-ros todos os que não eram gregos; os citaseram considerados um povo não civilizado,e os judeus, povo exclusivo de Deus. Todasas divisões humanas, sejam elas políticas,econômicas, sociais e culturais, são supera-das no Corpo de Cristo. Qualquer um queaceita o chamado e encontra sua identidadeem Cristo deve ser capaz de expressá-la emqualquer raça, gênero, classe ou identidadenacional como uma contribuição para o en-riquecimento de todos.

Paulo indica que nosso corpo é formadopor diferentes membros, cada um com suaidentidade e função específica e que essa di-

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Para que todos sejam um27

versidade precisa ser respeitada. Não há hie-rarquia de importância entre as diferentespartes do corpo. Todos têm seus papéis in-dispensáveis para o funcionamento pleno docorpo. Cada parte necessita da outra e é ne-cessitada pelas outras. Podemos dizer que éuma hierarquia circular na qual o centro éCristo. O papel dos apóstolos, profetas,evangelistas, pastores e mestres é o de servirpara o aperfeiçoamento da comunidade parao desempenho de seu serviço, para aedificação do corpo de Cristo (Efésios 4.11-16). Este é um processo que nos permitecrescer na plenitude de Cristo, tanto indivi-dualmente quanto institucionalmente.

Na carta aos Efésios (2.11-22), Paulo es-creve sobre a trágica divisão da família hu-mana simbolizada pela inimizade entre ju-deus e gentios. Paulo nos diz que, com suamorte, Cristo derrubou a barreira da separa-ção e criou uma nova humanidade, reconci-liando ambos em um só corpo. "Assim, jánão sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãosdos santos, e sois da família de Deus, edificados so-bre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo elemesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todoo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedi-cado ao Senhor, no qual também vós juntamenteestais sendo edificados para habitação de Deus noEspírito" (Efésios 2.19-22). No original gre-go, Paulo usa uma palavra derivada de oikos(casa) ao referir-se à família e habitação de

Em seu grupo deestudos, procure

estudar esta parteda Pastoral

discutindo com aspessoas acerca de

suas váriasexperiências com

a fé. Para algumas,a Igreja Metodistanão é a primeira

comunidade. Oque puderamaprender com

outros grupos? Oque é relevante

para cada um/a noMetodismo? Como

isso se relacionacom o sentido do

Corpo de Cristopara Paulo?

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Para que todos sejam um28

Deus. É a mesma raiz de oikoumene (ecumene),a terra habitada. É uma imagem poderosada Igreja como uma comunidade de pesso-as que compartilham a vida. Isso significaque nossa missão é propiciar as condiçõespara que a casa do mundo, em toda a suadiversidade, se torne um verdadeiro lar ondetodos possam coabitar em amor e justiça.

O apóstolo Pedro também usa a imagemde Casa (oikos) quando fala da Casa de Pe-dras Vivas para se referir à Igreja, em suaprimeira carta aos cristãos da Ásia Menor:"Achegai-vos a ele, pedra viva (Cristo), que os ho-mens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhosde Deus. E, como pedras vivas, também vós vostornastes casa espiritual e sacerdócio santo, paraoferecerdes sacrifícios espirituais aceitos por Deusatravés de Jesus Cristo" (1 Pedro 2.4-5). Estaimagem da Igreja como casa de pedras vivasse torna mais poderosa quando recordamosque os cristãos da Ásia Menor viviam nadiáspora e estavam dispersos por vários lu-gares, sem organização, e expostos a todasorte de perseguição. Pedro nos convida apensar que nós também, na atualidade, vive-mos em diáspora, pois estamos num mundodominado por forças hostis aos valores doReino de Deus do qual somos cidadãos. Cadacrente é uma pedra viva que está ligada e re-lacionada, em sua individualidade, com a es-trutura completa da casa do Espírito. Empalavras atuais, podemos dizer que, apesarde parecer algumas vezes que estamos sós,

PONTOS PARA PENSAR

Avaliem agora ocontexto de Pedro:em que a unidadeé relevante para osirmãos e irmãs aquem ele escreve?O que essa mensa-gem poderiasignificar hoje, porexemplo, para nósem relação aospaíses do mundonos quais oCristianismo sofreintensa persegui-ção?

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Para que todos sejam um29

na verdade estamos ligados uns aos outros,umas às outras, no Espírito, por laços desolidariedade.

Todas estas imagens nos ajudam a com-preender que a Igreja de Cristo não é algoestático, monolítico, nem uniforme. Ela émultiforme e todas as suas formas manifes-tam a Graça de Deus e seu amor infinito re-velado em Jesus Cristo. Independentementedesta diversidade de imagens, porém, há al-gumas características comuns e essenciaisentre elas. (1) Cristo é o Senhor da Igreja e aIgreja existe por obra do Espírito Santo paraservir a Deus na missão. Ela não é obra hu-mana e, portanto, não pode ser identificadaplenamente nas instituições que criamos; (2)A Igreja é um sinal da presença do Reino deDeus para mostrar ao mundo que, em Cris-to, todas as diferenças humanas são supera-das e a diversidade é valorizada e reconheci-da como dom de Deus. Nesse sentido, a Igre-ja aponta para o mundo a possibilidade dereconciliação da família humana.

A unidade cristã faz parte da essência daIgreja e é uma condição para a credibilidadedo testemunho, da missão e do serviço. Elaé um dom de Deus. Portanto, não somosnós que a construímos, mas somos chama-dos a preservá-la com amor, humildade emansidão como reconhecimento de que háum só corpo e um só Espírito, um só Se-nhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus

A unidade cristãfaz parte da

essência da Igrejae é uma condição

para acredibilidade dotestemunho, da

missão e doserviço. Ela é um

dom de Deus.

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Para que todos sejam um30

e Pai de todos, o qual é sobre todos, age pormeio de todos e está em todos. O reconhe-cimento da diversidade e a preservação daunidade são essenciais para a edificação docorpo de Cristo e sinal da nossa maturidadeespiritual (Gálatas 4.1-16).

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Para que todos sejam um31

O QUE ESTE ASSUNTO TEM AVER COM SER METODISTA?

O metodismo, fruto da experiênciamarcante e do compromisso missionário docristão inglês John Wesley, no século XVIII,nasceu por conta da abertura deste pastor daIgreja Anglicana à diversidade cristã: ele se ali-mentou da herança da Reforma Protestante,não desprezou expressões doutrinárias da suaigreja, abraçou as possibilidades de renova-ção da fé pela espiritualidade da experiênciapietista dos irmãos morávios alemães.

Iniciar uma nova igreja, entretanto, não erao projeto de John Wesley. Ele criou mesmofoi um movimento de avivamento dentro dasua Igreja Anglicana. Mas circunstâncias his-tóricas levaram à criação da Igreja Metodista.Nesta igreja, da qual fazemos parte como umdos seus ramos aqui no Brasil, ficaram mar-cas da pregação do seu inspirador como a afir-mação "Não criar uma nova seita, mas reformar anação, especialmente a Igreja, e espalhar a santidadebíblica sobre toda a terra". Não criar uma novaseita no sentido de não se isolar, se separar,acreditando que somos os exclusivos porta-dores de uma verdade cristã. Neste contexto,repetimos John Wesley que afirmou, referin-do-se aos metodistas: "Nós somos um novo fenô-meno na terra; um corpo de pessoas que, não sendo de

Este capítulotratará dasmarcas daidentidade

metodista emrelação ao tema

da Unidade Cristã.

A história da IgrejaMetodista não era,

primitivamente,calcada em

separações oudivisões. John

Wesley sentia-separte da Igreja

Anglicana ebuscava sua

renovação. O queestamos buscandopara a Igreja hoje?

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Para que todos sejam um32

nenhuma seita ou partido, são amigas de todos ospartidos e se esforçam em incentivar todos na reli-gião do coração, no conhecimento e no amor de Deuse do ser humano" (Sermão 121, Profetas e Sa-cerdotes). Por isso, desestimulando quais-quer intentos separatistas, Wesley apelavacom veemência: "Não joguem fora a glória pe-culiar que Deus tem colocado sobre vocês, e frus-trem o desígnio da Providência, o verdadeiro fimpara o qual Deus os levantou" (Sermão 121).

Nessas origens do metodismo não va-mos encontrar a palavra "ecumenismo" ouo apelo para um engajamento ecumênico,tal como estes termos se apresentam hoje.Estas palavras não estavam em uso naquelaépoca. O que era mais usado era o termo"católico", como significado de "universal"(por isso John Wesley tem um sermão mui-to famoso denominado "O Espírito Cató-lico", Sermão 39) justamente para pregar aunidade com base na compreensão e o res-peito para a superação das divisões entreos cristãos. Wesley reconhecia o direito queas pessoas têm de se apegarem a uma pro-posta religiosa diferente da dele, dizendo:"É uma consequência inevitável da presente fra-queza e limitação do entendimento humano, que asdiversas pessoas sejam de espírito diverso no tocan-te à religião, assim como nas coisas da vida co-mum" (Sermão 39).

Ele entendia também que não é necessá-rio pensar de forma igual e que não se deve

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Para que todos sejam um33

impor o modo de entender a fé cristã a ou-tros que têm o seu próprio modo de com-preensão. Ele escreveu: "Embora todo o segui-dor de Cristo seja, pois, obrigado, pela própria na-tureza da instituição cristã, a tornar-se membro deuma ou outra congregação particular, de algumaigreja, (...), todavia, ninguém pode ser obrigado,por nenhum poder da terra, a não ser pelo de suaprópria consciência, a preferir esta ou aquela con-gregação a outra, a preferir esta ou aquela formapeculiar de culto. (...) Não cuido, pois de acalentara presunção de impor meu sistema de culto a quemquer que seja" (Sermão 39).

A superação disto, para Wesley, estava embuscar o que há de semelhança, a despeitodas diferenças, e, para ele, isto é coisa parao coração dizer. Por isso, a base da prega-ção do Sermão 39 é o texto de 2 Reis 10.15para ele questionar: "Embora não possamospensar do mesmo modo, não podemos amar demaneira igual? Não podemos ter um só coração,ainda que não tenhamos uma opinião só?" A suaresposta é muito direta: "Sem dúvida algumaque o podemos. Nisto todos os filhos de Deus po-dem unir-se, não obstante aquelas diferenças se-cundárias. Permaneçam estas como estão, e aindaos crentes podem-se acompanhar uns aos outros noamor e nas boas obras" (Sermão 39). A pro-posta é "Dá-me a tua mão", e não "Sê deminha opinião" ou "Abraça minhas fórmu-las de culto". Para John Wesley, as diferen-ças que não prejudiquem a essência da fé,como por exemplo, a forma de cultuar ou

Como você lidacom pessoas desua Igreja que

pensam diferente-mente de você? É

capaz de respeitarefetivamente a

diferença ouanseia por impor

seu modo depensar? É possível,

realmente, amarquem pensa

diferente?

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Para que todos sejam um34

as formas de governar a igreja, não podemser reforçadas para servirem como obstá-culos à comunhão.

Interessante que ele pregava o diálogo e orespeito, apesar de ter sofrido perseguiçãode sua própria igreja, reações agressivas doscatólicos romanos irlandeses e vivido desen-tendimentos dentro do próprio movimentometodista. Mas ele não deixa de orientar osmetodistas de que ter um "espírito católico(universal)" não significa aceitar tudo semcrítica, aceitar quaisquer princípios ou pro-cedimentos, o que acontece, na maioria dasvezes, por insegurança a respeito do que ospróprios metodistas creem.

Também não significa indiferença em re-lação a todas as igrejas. Ele mesmo fez críti-cas sobre as questões que ele entendia seremincompatíveis com a fé que o movimentometodista pregava e escreveu textos comoos Vinte e Cinco Artigos de Religião (1784),Uma Defesa contra Noções não Definidasem Religião (1758), entre outros. É por issoque, no mesmo Sermão 39, Wesley faz umaadvertência para os metodistas terem segu-rança com suas afirmações de fé: "... isto ésementeira do inferno e não colheita do céu. Essainconstância de pensamento, esse ser 'levado de umpara outro lado e ser tangido por todo vento de dou-trina', é uma grande maldição e não uma bênção;um inimigo irreconciliável e não um amigo do verda-deiro catolicismo [= universalidade]. O homem de

PONTOS PARA PENSAR

Wesley pregava odiálogo e orespeito, apesar deter sofrido perse-guição de suaprópria igreja,reações agressivasdos católicosromanos irlande-ses e vividodesentendimentosdentro do própriomovimentometodista.

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Para que todos sejam um35

espírito verdadeiramente católico [= universal] nãotem de estar à procura de sua religião. Está fixocomo sol em seu conceito acerca dos aspectos princi-pais da doutrina cristã" (Sermão 39). Wesley,então, quer dizer que o perigo não está emrelacionar-se com quem tem posições dife-rentes, mas relacionar-se sem ter segurançada sua própria doutrina.

"Não joguem fora...": essa voz de JohnWesley continuou ecoando nos ouvidos ecorações dos metodistas espalhados pela ter-ra, por isso é que este espírito universal/ecumênico, de diálogo e respeito, é uma dasmarcas do modo de ser Igreja, confessado epraticado pelo povo chamado metodista, emtodo mundo. Por isso existe um ConcílioMundial Metodista, fundado no século XIX,para ser a expressão visível do compromissometodista com a unidade da Igreja. Vale des-tacar que foram os metodistas, que no perí-odo moderno, ao organizarem a primeirareunião do seu Concílio Mundial, utilizarampela primeira vez o termo "ecumênico" nosentido de unidade cristã, convocando a"Conferência Ecumênica Metodista".

É por isso também que muitas pessoasmetodistas têm se destacado como ativosagentes no movimento ecumênico em seuspaíses e em todo o mundo. Um exemploforte é que a importante e marcante Confe-rência Missionária de Edimburgo, 1910, te-nha sido presidida por um líder jovem leigo

Wesley quer dizerque o perigo nãoestá em relacio-

nar-se com quemtem posições

diferentes, masrelacionar-se semter segurança da

sua própriadoutrina.

O que significa ter“segurança da

doutrina”?

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Para que todos sejam um36

metodista dos Estados Unidos chamadoJohn Mott, que já era destacado por ser ofundador da Federação Mundial dos Movi-mentos Estudantis Cristãos. Juntamentecom o bispo metodista também dos Esta-dos Unidos G. Bromley Oxnam, Mott de-sempenhou um papel chave na fundação doConselho Mundial de Igrejas (1948).

A presença missionária da IgrejaMetodista se dá nos diversos organismos domovimento por unidade cristã no mundo esinaliza o desejo do povo metodista de unirforças para que tenhamos uma Igreja profé-tica, pastoral e missionária. Temos alegria emcompartilhar do movimento de unidade doCorpo de Cristo ao estarmos presentes nosdiversos órgãos, ministérios e instituiçõescomprometidas com a unidade do evange-lho em termos de missão e evangelismo, tes-temunho e serviço, tendo como maior obje-tivo testemunhar ao mundo o amor de Deusrevelado em Jesus Cristo.

É de se ressaltar o fato de que as maio-res organizações ecumênicas tenham tido etenham hoje à sua frente líderes metodistas.Portanto, envolvidos nesse espírito de par-ticipação na videira e Corpo de Cristo, te-mos sido enriquecidos pelas experiênciasdas diversidades ministeriais presentes emoutras expressões eclesiais do Povo de Deusque manifestam a diversidade que gozamosem Jesus Cristo.

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Para que todos sejam um37

Os metodistas brasileiros mantiveram estamesma trajetória na sua história: desde osprimórdios da Confederação Evangélica doBrasil, da qual a Igreja Metodista foi mem-bro-fundador, ainda na passagem do séculoXIX para o XX, lá estavam os missionáriosmetodistas dialogando e unindo-se aos pro-pósitos de cooperação cristã. Metodistas par-ticiparam dos movimentos estudantis cristãosno Brasil, com a União Cristã de Estudantesdo Brasil (anos 40), depois a União Brasileirade Juventude Cristã (anos 60).

Em 1942, a Igreja Metodista no Brasil, quejá era filiada ao Concílio Mundial Metodista,se torna a primeira Igreja da América Latinaa se filiar ao Conselho Mundial de Igrejas, eparticipa da assembleia de fundação em 1948.Em décadas recentes, a Igreja fundou e sefiliou a diferentes organizações ecumênicasbrasileiras, entre elas a CoordenadoriaEcumênica de Serviços (CESE) e o Conse-lho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC),únicas das quais se retirou, em 2006, porconta da crise no relacionamento formal coma Igreja Católica Romana, também membrodestas organizações.

Membros da Igreja Metodista, fiéis aosprincípios da unidade cristã, também funda-ram e se vincularam a instituições e associa-ções para a comunhão e a cooperação entrecristãos e cristãs. Na América Latina, a Igre-ja Metodista no Brasil é membro-fundador

Nestas páginas,você está conhe-cendo, de forma

bem abrangente,como se dá a

participação daIgreja Metodistaem organismos

que militam pelaunidade cristã e

como ocorreu suainserção neles.

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Para que todos sejam um38

do Conselho Latino-Americano de Igrejas eparticipa de diálogos e articulações por uni-dade no continente intermediados tambémpelo Conselho de Igrejas EvangélicasMetodistas da América Latina e do Caribe(CIEMAL), da qual é membro.

Por último, é preciso assinalar que a posi-ção da Igreja Metodista no Brasil, relativa àbusca da unidade cristã, tem sido igualmen-te expressa em diversos documentos epis-copais e conciliares. Desde a sua primeiraConstituição, em 1930, incluindo outros do-cumentos canônicos como o Credo Social eo Plano para a Vida e a Missão da IgrejaMetodista (1982), constata-se a continuida-de e a coerência de seus princípios e práti-cas, para os quais se reivindica fidelidade tan-to ao ensino bíblico quanto à herançawesleyana. Estando na caminhada pela uni-dade, reforçamos a nossa identidade.

Quando nos referimos à unidade da Igre-ja, isso não significa submissão de uma Igre-ja em relação a outra, nem abrir mão de umaconvicção de doutrina prática de culto, ser-viço, evangelização, ações missionárias embenefício do povo. Participar na caminha-da pela unidade cristã requer que nos aper-feiçoemos no conhecimento e vivência denossa identidade, que declara "a consciênciade que somos parte da igreja de Jesus Cristo nomundo. Temos a consciência da unidade com todoo povo cristão, estendendo a mão a todas as pessoas

PONTOS PARA PENSAR

Destaque em seugrupo de estudosque aspectos destaparte da Pastoralmais lhe chama-ram a atenção;informações quevocê não tinhaanteriormente oucuriosidades queainda tenha. Senecessário,pesquisem umpouco mais! Épossível descobriruma granderiqueza nahistória de homense mulheresdedicados àunidade do Corpode Cristo...

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Para que todos sejam um39

cujo coração é como o nosso, procurando preservara unidade do Espírito no vínculo da paz, a fim desinalizar, de forma visível ao mundo, a unidade doCorpo de Cristo" (As Marcas Básicas da Iden-tidade Metodista, p.19).

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Para que todos sejam um41

POR QUE HÁ TANTA DIFICULDADE

COM ESTE ASSUNTO?

Há dois escândalos cruciais no cristianis-mo. Um é o escândalo da cruz de Cristo:escândalo para os judeus e loucura para osgentios (1 Co 1.23). Um escândalo positivo,pois sem ele, a vida cristã não teria sentido.O outro é o escândalo da divisão entre osmembros do Corpo de Cristo.

Aqui é preciso distinguir divisão de diver-sidade. As diferenças de compreensão da Pa-lavra de Deus, as formas distintas com quesentimos e expressamos a presença de Deusem nossas vidas, as maneiras diferentes comooramos e louvamos a Deus, as formas comotestemunhamos o amor redentor de JesusCristo no mundo, tudo isso deveria ser vistocomo natural e enriquecedor para a vida daIgreja, pois Deus criou o ser humano e o co-locou em contextos culturais e históricos di-versos. O que é negativo é transformar istoem fonte de divisão e sectarismo (separação,fechamento a esta diversidade) pois esta ati-tude impede que o mundo reconheça na co-munidade cristã os sinais e os valores do Rei-no de Deus.

Podemos aprender dos relatos bíblicos deque divisão e sectarismo não são novidadeno corpo de Cristo. Este espírito de divisão

Neste capítulos, osbispos e bispa

procuram pontu-ar as dificuldadesda convivência e

unidade comoutras igrejas, bem

como realinharnosso entendi-mento sobre otema, visando

superá-las.

As diferenças decompreensão daPalavra de Deus,

as formas distintascom que sentimos

e expressamos apresença de Deusem nossas vidas,

as maneirasdiferentes comooramos e louva-

mos (...), tudo issodeveria ser vistocomo natural e

enriquecedor paraa vida da Igreja. Oque tem impedido

que seja assim?

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Para que todos sejam um42

já se fazia presente desde o tempo de Jesus,quando os discípulos ficaram preocupadoscom aqueles que não faziam parte do grupomas também expulsavam demônios e cura-vam enfermos em nome de Jesus. A respos-ta Dele foi para que os discípulos deixassemestas pessoas em suas práticas porque "quemnão era contra ele, era a favor" (Mc 9.40). Maistarde, no início da formação das comunida-des cristãs, houve divergências com respeitoà dinâmica da vida em comunidade (Atos 6)e também tensões teológicas que provoca-ram a realização do primeiro concílio (reu-nião para conciliação) da Igreja na busca deencontrar o caminho da unidade, como nar-ra Atos 15. Havia tanto conflito e divergên-cia que levavam cristãos e cristãs para longedo sentido para o qual foram chamados, quefoi necessária a redação do Evangelho deJoão, que passou a ser conhecido como oEvangelho da Unidade.

O fato é que muitos outros concílios tive-ram que acontecer como tentativas de supe-ração das divisões teológicas e condenação dasposições consideradas heréticas. Além do deJerusalém (ano 15), a Igreja realizou outrosconcílios, na busca da sua unidade: Niceia(325); Constantinopla (381); Éfeso (431);Calcedônia (451); Constantinopla (553);Constantinopla (680-681); Niceia (787). Por-tanto, a busca da unidade sempre foi um es-forço desde os primórdios do cristianismo.

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Para que todos sejam um43

Vimos em um item acima que a buscaconcreta da unidade no período mais recen-te da História surge a partir de umaconstatação da distância entre os cristãos, quese caracterizava num escândalo para o "mun-do", especialmente no momento em que asigrejas evangélicas abraçaram a causamissionária. Assim, nos séculos XIX e XX,membros do corpo de Cristo iniciaram umacaminhada de busca da unidade, chamada"movimento ecumênico". Acontece que oespírito divisionista, separatista, nunca dei-xou de se manifestar neste corpo e construirobstáculos para a realização plena dos esfor-ços de unidade entre cristãos e cristãs.

Na verdade, um dos maiores obstáculos nemsão as posições contrárias à propostaecumênica. Um dos maiores empecilhos à causada unidade é a indiferença, quando trabalha-mos isoladamente, cada um no seu espaço eentendemos a divisão e a separação como algonatural. Convivemos tranquila e pacificamentecom as divisões no corpo de Cristo, alguns atéacreditam que ela seja necessária para expan-são do evangelho. Trata-se da lógica do dividirpara crescer, quando, na verdade, a lógica de-veria ser unir para crescer e avançar. O grandedesafio da Igreja é vencer este espírito de indi-ferença e sectarismo.

Por conta do exclusivismo e do sectaris-mo, características presentes em todas as re-ligiões, que são instituições humanas e lidam

Nestas páginas,você irá descobrir

os embates edificuldades naIgreja Primitivapara estabelecer

os pontos funda-mentais da fé na

perspectiva daunidade, bem

como os desafiosenfrentados frente

ao espírito dedivisão e separa-

ção contra o qualtemos constante-mente de lutar aolongo da história!

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Para que todos sejam um44

com o desejo de poder, domínio, superiori-dade e superação das limitações, a históriaregistra muitas experiências de fechamentoe até conflitos físicos.

Além disso, há muitas divergências teoló-gicas e doutrinárias que reforçam divisão efalta de diálogo. Dos evangélicos em relaçãoaos católicos-romanos, há divergências quan-to à veneração dos santos, à figura de Mariae o papel do papado; dos católicos em rela-ção aos evangélicos, há a compreensão dife-rente sobre a unidade (que deve passar porRoma), eucaristia, a mariologia, a hierarquia,o ministério feminino; dos evangélicos emrelação aos próprios evangélicos, há tensõesquanto ao rebatismo, ao segundo batismo,ao ministério feminino, ao ministério leigo;entre outras posições distintas.

Ademais, há características muito huma-nas que reforçam a negação da unidade cris-tã como o medo do diferente e da influêncianegativa que um contato com o outro podepromover, o que na verdade passa por umacrise de identidade, do desconhecimento efirmeza quanto aos próprios princípios econvicções. Há ainda atitudes humanas comoo cultivo de rancor e o revanchismo: cris-tãos que tiveram experiências dolorosas oudesagradáveis no convívio com outros cris-tãos ou mesmo ouviram contar histórias dopassado vividas por suas famílias, e que nãoconseguem perdoar e superar, num espírito

Há característicasmuito humanasque reforçam anegação daunidade cristãcomo o medo dodiferente e dainfluência negati-va que um contatocom o outro podepromover.

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Para que todos sejam um45

de reconciliação, mas guardam a mágoa e orancor do que foi vivenciado, fechando-se anovos contatos.

Atitudes de pessoas que se identificamcomo ecumênicas muitas vezes também pro-movem a negação da unidade cristã. Há difi-culdades da parte de algumas lideranças delidarem com a pluralidade, com a diversida-de cristã, e baseiam opiniões e ações em pre-conceito em relação a experiências de fé quenão sejam como as suas. Além disso, hámuitas vezes falta de pedagogia de comuni-cação da parte de lideranças ecumênicas com"as bases", o que reforça bloqueios e geramais preconceito.

Vale insistir que o fato de existirem váriasigrejas cristãs não é, em si, um fato necessa-riamente negativo. As diferenças entre elas,no entanto, podem se tornar negativas quan-do as relações são caracterizadas por atitu-des de competição, acusações mútuas, faltade diálogo e até conflitos. Nesse caso, emvez de serem um testemunho do amor deDeus, distorcem a imagem de Cristo.

Nesse histórico de sentimentos, posturase atitudes que bloqueiam os esforços porunidade cristã, houve reações, por exemplo,nos anos 40, à criação do Conselho Mundialde Igrejas, que o acusavam de representar: aformação de uma superigreja, uma estraté-gia para uma volta ao Catolicismo Romano,uma unificação de concepção de fé, de práti-

Há dificuldadesda parte de

algumas lideran-ças de lidarem

com apluralidade, com

a diversidadecristã, e baseiamopiniões e açõesem preconceito

em relação aexperiências de fé

que não sejamcomo as suas.

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Para que todos sejam um46

cas e costumes, uma fonte de disseminaçãodo liberalismo, um risco de dominação co-munista (por conta da presença das Igrejasdo Leste Europeu). A própria existência eprática do CMI provaram que estas indica-ções eram irreais e o organismo completou60 anos em 2008 com um histórico de im-portantes contribuições para a caminhada dasigrejas em todo o mundo. Porém, até hojeainda há pessoas e grupos que repetem omesmo tipo de acusação ao organismo, que,em boa parte das vezes, pouco conhecem.

Tudo isto reforça o espírito de negaçãoda unidade cristã que é semeado em muitosespaços, e que leva a afirmações como:"Ecumenismo é algo contra os cristãos: ten-tativa de juntar trevas com luz"; "O Movi-mento Ecumênico é um movimentoanticristão. O ecumenismo atual não se pre-ocupa com missões, em alcançar pessoascom a mensagem do Evangelho para quesejam salvas, mas busca o diálogo, segundoo lema: 'Creia no que eu creio e crerei na suafé'; "É uma armadilha de Satanás para enga-nar a Igreja"; "Ecumênicos não têm com-promisso com a Igreja"; "Ecumênicos sãointelectuais. O povo das igrejas não quer sa-ber de ecumenismo"; "O ecumenismo estáafastando membros das igrejas e impede aigreja de crescer".

Estas palavras - que generalizam o assuntoa partir da experiência de uns, e que são repe-

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Para que todos sejam um47

tidas por outros que não tiveram vivências -se contrapõem à história rica de esforços deunidade que descrevemos acima, aos princí-pios bíblicos que pregam a urgência da co-munhão e da reconciliação e ao princípiometodista de unidade de coração a despeitodas diferenças, sem relativismos. Só reforçammais preconceito, divisão e sectarismo.

O diálogo sobre as divergências entre osmembros do Corpo de Cristo fortalece aIgreja. Isto porque o diálogo, desde que de-senvolvido em espírito de oração e comu-nhão com Deus, leva a descobertas que acegueira, produzida pela arrogância polêmi-ca, sectária, autoritária e auto-suficiente nãopermite enxergar. No concílio de Jerusalém,a descoberta da diversidade dos ministériosfortaleceu a comunhão dos discípulos, con-forme as palavras de Paulo: "e, quando conhe-ceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João,que eram reputados colunas, me estenderam, a mime a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de quenós fôssemos para os gentios, e eles para a circunci-são; lembrando-nos somente que nos lembrássemosdos pobres, o que também me esforcei por fazer"(Gálatas 2.9-10). A partir desse momento,tanto os que evangelizavam entre os judeusquanto os que levavam as boas novas aosgentios puderam continuar sua missão, apoi-ando-se e respeitando-se mutuamente.

O diálogo, desdeque desenvolvido

em espírito deoração e comu-nhão com Deus,

leva a descobertasque a cegueira,produzida pela

arrogânciapolêmica, sectá-ria, autoritária e

auto-suficientenão permite

enxergar.Como estabelecer

um diálogocoerente com a

mensagem deCristo? Que lições

podemos tirar daexperiência de

Barnabé e Paulo,citada na Carta

aos Gálatas?

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Para que todos sejam um49

COMO A IGREJA METODISTA NO

BRASIL DEVE TRATAR O TEMA DA

UNIDADE INTERNAMENTE?

A Igreja é constituída de pessoas que tra-zem consigo seus diferentes modos de viver,de pensar. Há muita diversidade que acaba serefletindo na forma de ser e de viver das igre-jas. Por isso, ao longo dos anos de existênciada Igreja Metodista, algumas correntes ou gru-pos com compreensões teológicas diversasnasceram no meio da Igreja. Para exemplificar,conforme os rótulos que foram criados nahistória, surgiram os conservadores, os libe-rais, os progressistas, os carismáticos, osneoconservadores, entre outros.

São irmãos e irmãs que amam a IgrejaMetodista, que querem estar inseridos nela,que entendem a tradição wesleyana. Entre-tanto, lêem os Sermões de Wesley, os Vintee Cinco artigos de Religião, as Notas sobre oNovo Testamento e outros escritos, que dãobase a nossa teologia, de acordo com o seuponto de vista teológico e sua visão de mun-do. A partir dessa leitura, formulam consi-derações de acordo com sua perspectiva,surgindo pontos de tensões, por considera-rem seu pensamento o que mais se aproxi-ma da proposta do metodismo primitivo. Hátambém situações em que pessoas de nossas

Neste Capítulo,está a orientaçãodos nossos bispose bispa acerca daunidade interna

da IgrejaMetodista.

Às vezes, focamosnossa atenção nas

dificuldadesexternas, mas hámuitos desafios

internos a vencer.Em sua experiên-

cia local, quaisseriam eles? Que

histórias de amor esuperação podem

nos ajudar hoje?Traga à memória...

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Para que todos sejam um50

igrejas vivem experiências, leem livros, ou-vem e assistem a programas religiosos derádio e TV e assimilam conteúdos de outrasconfissões evangélicas que entendem quedeveriam estar inseridos na vida da IgrejaMetodista. O problema é que esses conteú-dos muitas vezes são conflitantes com osprincípios doutrinários wesleyanos.

Portanto, as diversas correntes ou gruposassumem posturas messiânicas endurecendoos corações e dificultando os relacionamen-tos internos. Assim, a prática da unidade cris-tã no dia-a-dia da Igreja Metodista nos mos-tra que, por vezes, encontramos maior tole-rância para com as comunidades e liderançasnão-metodistas do que com os irmãos e ir-mãs e lideranças da própria denominação.

Entendemos ser urgente desenvolver aunidade interna, resolvendo os nossos pro-blemas de relacionamento, caso contrário,não seremos capazes, como Igreja, de nosrelacionarmos com qualquer outra denomi-nação cristã, sem que vozes contrárias se le-vantem evocando a tradição wesleyana.

É necessário que, em todos os momen-tos da caminhada da Igreja, algumas atitu-des sejam observadas:

1. Centralizar na Palavra qualquer relaci-onamento de unidade;

2. Trabalhar a dinâmica do respeito mú-tuo (leigos/as-leigos/as; pastores/as-pasto-

A prática daunidade cristã nodia-a-dia da IgrejaMetodista nosmostra que, porvezes, encontra-mos maiortolerância paracom as comunida-des e liderançasnão-metodistas doque com os irmãose irmãs e lideran-ças da própriadenominação.Como superarisso? Que pecadosde intolerância efalta de amorinternos devemosconfessar hoje?

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Para que todos sejam um51

res/as; leigos/as-pastores/as; pastores/as-leigos/as; bispos/as-pastores/as; pastores/as-bispos;as; bispos/as-bispos/as) de manei-ra a guardar a unidade da Igreja Metodista,ao invés de gastarmos boa parte do nossotempo "destruindo" o ministério de pessoascom quem não concordamos;

3. Reafirmar a soberania das decisõesconciliares tanto no nível nacional, quantono regional, no distrital e no local, para quesejam aceitas, respeitadas e desenvolvidas,evitando-se abusos de poder de liderançasem qualquer nível. Da mesma forma, reafir-mar o governo episcopal e suas orientaçõespastorais, doutrinárias, eclesiásticas, que de-vem ser cumpridas, implementadas e respei-tadas, à luz dos votos assumidos na recep-ção como membros da Igreja Metodista, e,no caso dos clérigos, no momento decredenciamento e ordenação;

4. Possibilitar um relacionamento inter-no com respeito ao tema da unidade cristã,demonstrando claramente os valoresmetodistas em que cremos e até onde pode-mos caminhar pela unidade cristã;

5. Criar ambientes para o diálogo, res-peitando a diversidade da nossa igreja, po-rém, sem radicalizações que fragilizem osrelacionamentos;

6. Tornar claro que o fato de sermos pelaunidade cristã não exclui nossa vocaçãomissionária e os desafios evangelísticos;

Verifiquem essasatitudes sugeridas

pelos bispos ebispa em sua

comunidade local.Quais delas

encontram-se emprática? Quaisnecessitam ser

implementadas?Que barreiras eque facilidades

existem para isso?Como vencer as

barreiras? Comofomentar as

facilidades? Orema Deus pela

ministração dodiscernimento, do

perdão e daacolhida mútua.

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Para que todos sejam um52

7. Trabalhar a partir daquilo que nos unee não valorizar o que nos separa;

8. Estabelecer ações que visem a criar la-ços de afeto fraterno entre os irmãos e ir-mãs e os pastores e as pastoras;

9. Valorizar, de modo leal, tudo de bomque as diversas correntes ou grupos de pen-samento tenham e realizem.

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Para que todos sejam um53

COMO A IGREJA METODISTA NO

BRASIL DEVE TRATAR O TEMA DA

UNIDADE COM OUTRAS IGREJAS

CRISTÃS?

Em nossas relações com as demais IgrejasCristãs, é imperativo compreender que se tra-ta de Igrejas e de movimentos caracterizadospor grande diversidade teológica, doutrinária,nas práticas de culto, nos usos e costumes(comportamentos). Portanto, temos queestudá-los profundamente, baseados em nossadoutrina e documentos, a fim de identificaraquelas igrejas e movimentos, cujas práticasse fundamentam verdadeiramente no Evan-gelho e não em seus próprios interessesdenominacionais, visando alcançar poder eprestígio, sejam pessoais ou institucionais.

Devemos manter-nos abertos ao diálogocom as igrejas e movimentos que mantenhamcoerência com o Cristianismo, buscando for-mas de cooperação e de testemunhos cris-tãos comuns, nos aspectos social, religioso eem ações de cidadania.

Importa reconhecermos que as IgrejasCristãs "históricas" e "neo" se inseriram demodo significativo na população brasileira ecresceram e crescem em todo o país, propor-cionando à Igreja Metodista oportunidades de

Neste capítulo, osbispos e a bispa

orientam a Igrejaacerca do relacio-

namento cristãocom outras

comunidades defé, numa perspec-

tiva de diálogo ede identidade.

Nosso diálogo deveser aberto às

Igrejas e movi-mentos quemantenham

coerência com oCristianismo...

Como reconhecera fidelidade à

Bíblia na diversi-dade de movimen-tos existentes hoje?

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Para que todos sejam um54

desenvolver formas de cooperação e presta-ção de serviços à comunidade em ações soci-ais, de cidadania e também, no testemunhoda unidade cristã para a promoção da paz eda justiça, onde elas se fizerem necessárias.

No que diz respeito às igrejas de reconheci-da tradição wesleyana, que cultivam e mantêmsuas raízes históricas e doutrinárias, estaremossempre abertos a estreitar as relações de ami-zade por meio de intercâmbio e ações comuns.

Algumas atitudes a serem observadas nes-ses relacionamentos:

1. Respeitar as individualidades e particu-laridades de cada Igreja, sabendo que nin-guém precisa pensar ou agir de forma igualpara ser respeitado e sim, agir de forma cris-tã, dando bom testemunho da Palavra;

2. Negociar para que elementos doutri-nários próprios de cada Igreja não sejambases de qualquer programa de Culto. Tam-bém temos nossos elementos próprios e elesnão devem ser impostos nesses programas;

3. Trabalhar os relacionamentos a partirdos elementos que nos unem e não a partirdaqueles que nos separam;

4. Revisar liturgias de Cultos que ocorramem templos e outros espaços metodistas, ve-rificando se os temas e o desenvolvimento doprograma não ferem a nossa doutrina, osnossos documentos e os nossos costumes;

PONTOS PARA PENSAR

Reflitam, no grupode estudos, acercade cada atitudeproposta nestapastoral... Comocolocar emprática? O que jáfizemos que deucerto? O que nãopode acontecernovamente,porque não foiuma boa experiên-cia? O que isso nosensina sobre amaturidade cristãno trato comoutras igrejas, noâmbito da socieda-de em geral?

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Para que todos sejam um55

5. Participar, quando convidados, emeventos ou cultos de acordo com a realidadeda Área Nacional, Regional, Distrital e Lo-cal, evitando ao máximo ferir desnecessaria-mente irmãos/ãs da localidade onde o even-to ou culto ocorrer;

6. Orientar os irmãos/ãs, da Área Naci-onal, Regional, Distrital e Local, para se con-duzirem de acordo com nosso credo e fé,testemunhando-os de modo salutar à comu-nhão interna da Igreja Metodista. Orienta-ção que deve ser dada pelo Colégio Episco-pal na Área Nacional, pelo/a Bispo/a naRegional, pelo/a Superintendente Distrital nadistrital e pelo Pastor/a na local;

7. Evitar, quando se participar em even-tos ou cultos pela Unidade Cristã, promoverapelos proselitistas. Entendemos não sermomento propício para essa prática e nemmesmo tratar-se de testemunho cristão.

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Para que todos sejam um57

COMO A IGREJA METODISTA NO

BRASIL DEVE TRATAR O TEMA DA

UNIDADE COM ORGANISMOS

ECUMÊNICOS?

A participação oficial da Igreja Metodistaem organismos ecumênicos, observados oslimites e possibilidades estabelecidos pelo 18ºConcílio Geral, deve ser mantida, incentivadae ampliada. Nossa igreja participa ativamen-te do Conselho Mundial de Igrejas, do Con-selho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), eda Diaconia (Brasil), além de estar presentena ASTE (Associação de Seminários Teoló-gicos Evangélicos), por meio das suas Facul-dades de Teologia que são membros. Essaparticipação tem nos proporcionado a opor-tunidade de contribuir, a partir da nossaespecificidade, para o serviço e testemunhocristãos comuns não só no Brasil mas tam-bém na América Latina e no âmbito mundial.

Nossa igreja tem sido também beneficia-da pelo contato com irmãos e irmãs de ou-tras igrejas e de outros países que têm nosdado exemplos inspiradores de dedicação,testemunho, e serviço ao Evangelho. Nessesentido, ao contribuirmos para o enriqueci-mento espiritual de outras igrejas, comparti-lhando com elas nossos dons e nossa tradi-

Neste capítulo,orientações paratratar o tema da

unidade naperspectiva deorganizações e

entidadesecumênicas.

Existem organiza-ções assim em sua

cidade?

Conheça aqui asmais importantes

instituições nasquais a Igreja

Metodista émembro ou

contribui dealguma forma. Seutrabalho é bastante

amplo e sério eatinge diversos

segmentos dasociedade.

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Para que todos sejam um58

ção metodista, temos sido também enrique-cidos pelas experiências delas.

Ao mesmo tempo, por serem organiza-ções oficialmente fundadas pelas igrejas, te-mos grande responsabilidade pelas suas di-retrizes e condução de seus programas. Nos-sa Igreja tem exercido essa responsabilidadeno espírito da nossa liberdade em Cristo, ouseja, além de exercer nosso dever de apre-sentar propostas e contribuir para o fortale-cimento dessas organizações, temos tambémexercido nosso direito de criticar e de dis-cordar daquelas propostas que, no nossoentender, possam ferir princípios fundamen-tais do metodismo.

Devido à diversidade e carátermultidisciplinar do conjunto dessas organi-zações, elas estão em condições de oferecer,às igrejas, relevantes serviços de assessoria aprojetos sociais e também treinamento e for-mação em diversas áreas de conhecimento.Nossa igreja tem se beneficiado, em muitasocasiões, dos serviços dessas organizações etemos também contribuído para o seu de-senvolvimento por meio dos metodistas ne-las envolvidos. A experiência metodista naprática da unidade nos indica que nossa rela-ção com as diversas organizações que pro-movem a unidade cristã, sejam elas oficiaisou autônomas, deve ser pautada pela reci-procidade. Em outras palavras, isso significaque, ao mesmo tempo em que levamos para

PONTOS PARA PENSAR

Se sua Igrejaparticipa de umaAssociação dePastores e Pastorasde sua cidade, quala responsabilidadeque possui acercada forma comoesta Associação secomporta, porexemplo, emperíodos eleito-rais? Como manteras propostas dessasentidades emconformidade como Evangelho deCristo?

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Para que todos sejam um59

essas organizações questões e valores que sãopreciosos para o metodismo, também deve-mos estar abertos a discutir e dialogar sobreos desafios que a prática da unidade colocapara a nossa igreja. Desta forma contribuí-mos para enriquecer o movimento pela uni-dade e também nos enriquecemos com ele.

Algumas atitudes a serem observadas nes-ses relacionamentos:

1. Respeitar as diversidades encontradasentre as Igrejas membros e de pessoas queparticipam nesses órgãos;

2. Entender que nossa participação se dápor meio do diálogo e participação em pro-gramas que atendam à demanda cristã nasáreas sociais, de cidadania e da defesa dosdireitos humanos. Principalmente naquelasque promovam a paz, a justiça e a equidade,enfim, que promovam o Reino de Deus;

3. Trazer para discussão interna assuntosque necessitam de acordo e participação daIgreja em todos os seus níveis, para, depoisde debatidos e acordados internamente, se-rem firmados junto aos órgãos nos quaisestamos filiados;

4. Estabelecer posicionamento em reuni-ões e eventos desses órgãos, em acordo comnossas doutrinas, nossos documentos, nossatradição e costumes, e não conforme visão einteresse pessoal de quem estiver representan-do a Igreja nos fóruns desses organismos;

Observe asatitudes recomen-dadas pelos nossos

bispos e bispaquanto à partici-

pação em organis-mos ecumênicos.

O que vocês, comogrupo de estudo,

pensam sobreelas? São viáveis?De que formas? Oque a experiência

de vocês podesomar na hora de

colocar emprática essasorientações?

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Para que todos sejam um60

5. Aceitar desenvolver projetos e ações pelaIgreja somente naqueles casos em que o ór-gão não interfira e nem imponha condiçõesque firam a soberania decisória dos Concíliose do Governo Episcopal, inclusive da partede órgãos metodistas internacionais.

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Para que todos sejam um61

COMO A IGREJA METODISTA NO

BRASIL DEVE TRATAR O TEMA DA

UNIDADE COM ORGANIZAÇÕES

GOVERNAMENTAIS E NÃO-CRISTÃS?

Como a Igreja Metodista no Brasil devese relacionar com organizações governamen-tais, da sociedade civil e com religiões não-cristãs que trabalham pela vida e pela pazcom justiça?

Como portadora da herança wesleyana, aIgreja Metodista, em todo o mundo, tem umaintensa prática diaconal. No Brasil, isto nãoé e nem deve ser diferente. Afinal, como oCredo Social da Igreja Metodista expressa:

A Igreja Metodista afirma sua responsa-bilidade cristã pelo bem-estar integral do serhumano como decorrente de sua fidelidadeà Palavra de Deus expressa nas Escriturasdo Antigo e do Novo Testamentos. Estaconsciência de responsabilidade social cons-titui parte da preciosa herança confiada aopovo metodista pelo testemunho históricode John Wesley.

Ao mesmo tempo, o Metodismo brasilei-ro reconhece que as ações concretas de pro-moção do bem-estar das pessoas não são pra-ticadas exclusivamente pelas igrejas, mas tam-

Neste capítulo,orientações para

lidar com organi-zações sociais não

-religiosas,governamentais

ou de religiõesnão-cristãs.

O Metodismo écomprometido

com o bem-estarintegral do ser

humano e reco-nhece que o

governo e outrasentidades tambémprestam importan-

tes serviços nestadireção. Não é

uma exclusividadedas igrejas.

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Para que todos sejam um62

bém por outros grupos e organizações sen-síveis e solidários com as lutas e causas po-pulares, que merecem ser identificados e va-lorizados. Por isso, o Plano para Vida e Mis-são da Igreja Metodista recomenda o apoioa "todas as iniciativas que preservem e valorizem avida humana". Essa orientação é reafirmadana definição do que é trabalhar na missão deDeus: "é somar esforços com outras pessoas e gru-pos que também trabalham na promoção da vida",fazendo uso da mesma citação bíblica do 38ºSermão de Wesley, Advertência contra o sec-tarismo: "quem não é contra nós, é por nós" (cf.Mc 9.38-39). Esta mesma ênfase retorna naparte denominada "Como participar na missãode Deus?", quando o documento reconheceque a Igreja não só participa na missão mastambém cresce quando educa-se "a partir docompartilhamento com outras pessoas e grupos quepreservam e valorizam a vida".

Hoje são diversos os grupos em nossopaís que trabalham pela paz, pela justiça, porrelações mais humanas frente às estruturastão desumanizantes da nossa sociedade. Avontade de participar comunitária e politica-mente, em nosso país, na busca de caminhospara vencer o individualismo pregado pelosistema neoliberal, passou a se expressar, nosúltimos tempos, por meio de diferentes açõessolidárias e reivindicatórias.

Grupos os mais diferentes têm buscadoalternativas para enfrentar a injustiça e a fal-

PONTOS PARA PENSAR

Que grupos em suacidade são impor-tantes para o bem-estar comum,mesmo sem umapelo religioso?

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Para que todos sejam um63

ta de paz, tais como, grupos de mulheres,meninos e meninas de rua, associações demoradores, população de rua, escolas comu-nitárias de informática, cooperativas decatadores de papel e latas, cooperativas decostureiras, de plantadores, hortas comuni-tárias, agentes comunitários de saúde. Alémdestas expressões há outras de alcance maisamplo como os movimentos por terra emoradia, os movimentos solidários às cau-sas indígenas, os movimentos e entidadesecológicos, os conselhos comunitários desaúde e de educação, as organizações deapoio aos portadores de deficiência física ede doenças infecto-contagiosas como aAIDS, comissões e comitês de direitos hu-manos, os grupos de combate ao racismo ea toda forma de discriminação, os organis-mos oficiais como os Conselhos Tutelaresque buscam fazer valer o Estatuto da Crian-ça e do Adolescente.

Além destas, há muitas outras experiências,no Brasil, que poderiam ser citadas e ser en-quadradas no conceito estabelecido peloPlano para Vida e Missão como iniciativasque buscam valorizar e preservar a vida. Porisso, muitos membros da Igreja Metodistatêm sido vocacionados a participar e inte-grar estes grupos, movimentos, conselhos eorganizações. A Igreja Metodista tambémtem apoiado as campanhas e manifestaçõessociais em prol da justiça, expressando a so-lidariedade cristã a essas causas. Um exem-

Façam uma listadas entidades

existentes em suacidade, similares

aos exemplosdados. Há

metodistas quecontribuem nelas?Partilhem experi-ências. A Igreja jáfez trabalhos em

parceria com elas?Como foi?

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Para que todos sejam um64

plo foi a Campanha contra a Fome e a Misé-ria, deflagrada no início dos anos de 1990,que permanece viva, em que muitos comitêsaté funcionaram e ainda funcionam em de-pendências de igrejas locais. Outros exem-plos são a presença solidária da Igreja e desuas lideranças em manifestaçõesreivindicatórias como as das famílias de tra-balhadores que sofrem com as demissões emmassa, os grupos de sem-terra e trabalhado-res rurais que sofrem violência no campo;os moradores de favelas nas grandes cidadesque sofrem com o domínio da máfia das dro-gas e com a violência policial e muitas outrassituações que demandam uma presença daIgreja como aquela que sofre junto com opovo e deposita sua esperança na misericór-dia de Deus para com o ser humano.

Assim fazendo a Igreja Metodista afirmacrer que o mundo é de Deus e é cenário daSua ação salvífica e redentora. Isto significaque Deus não age somente na Igreja ou sópor meio dela, mas age no mundo inteiro,de diferentes maneiras, e que a Igreja temque estar atenta a perceber as ações e gruposque existem em prol da justiça e da promo-ção da unidade da família humana, pois aliDeus está presente.

Entretanto, ao unirmos nossos esforçoscom essas pessoas e grupos na busca do bemcomum, não podemos ignorar nossas dife-renças nem os fatores que nos dividem. Ao

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Para que todos sejam um65

contrário, devemos afirmar que nossoenvolvimento na luta pela justiça é decor-rência natural da nossa fé e que nosso amorao próximo é fruto do nosso amor a Deus.Devemos explicitar, também, que esseenvolvimento é pautado pelos valores doReino de Deus, o qual não se identifica ple-namente com nenhum projeto humano.Desta forma, estaremos afirmando nossa li-berdade em Cristo para exercer nossa críti-ca, não somente às estruturasdesumanizantes da nossa sociedade, mastambém a métodos de participação social oupolítica que, no nosso entender, são incom-patíveis com os valores do Reino. Só assimestaremos compartilhando com eles os donsque recebemos de Deus e dando uma con-tribuição verdadeiramente cristã para a cons-trução da unidade da família humana.

É neste sentido que dialogamos com ou-tras expressões de fé: encontrando-nos comelas no que diz respeito aos grandes desafi-os da luta pela justiça, paz e integridade dacriação seja em reuniões comunitárias, mu-nicipais ou em atos públicos. No que estáalém disso, nossa vocação cristã nos leva ater uma atitude de respeito para com as ou-tras tradições religiosas, entendendo que istonão implica participação em cultos e rituaisinter-religiosos. Cremos que este é o melhortestemunho que podemos oferecer da pre-sença de Cristo em nós.

Como é possíveldar testemuhocristão mesmo

trabalhando emlocais e entidadesnas quais a fé nãoestá em foco ou édistinta da nossa?

Como agir demodo respeitoso,

sem abrir mão,porém, de nossos

princípiosfundamentais?

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Para que todos sejam um66

Algumas atitudes a serem observadas nes-ses relacionamentos:

1. Entender que a nossa participaçãocom esses organismos tem o caráter de par-ticipação cidadã. Portanto, todo cuidado emrelação à religião é bem-vindo, pois algunsorganismos dessa natureza não têm funda-mento religioso;

2. Entender que a nossa participação emeventos de caráter social e cidadão que en-volvem religiões não-cristãs não deve incluirparticipação em cultos e rituais religiosos,somente nos projetos e em atos públicos depromoção da vida;

3. Participar em eventos ou ações nessesórgãos requer que os/as irmãos/ãs partici-pantes tenham segurança da sua identidademetodista, para que não se deixem levar pordoutrinas e comportamentos estranhos aonosso credo e fé (conforme Sermão 30, deJohn Wesley, já citado na página XX);

4. Envolver-se somente em eventos eações que não deponham contra a fé cristã enem contra a linha de conduta dosmetodistas;

5. Ceder espaços metodistas, em qualquerárea de administração, implica que o eventonão contrarie a nossa tradição, decisões con-ciliares, documentos e orientação do Colé-gio Episcopal. A comunidade cedente deveser favorável à realização do evento;

PONTOS PARA PENSAR

Estejam atentos/asàs sugestões eorientações aquiapresentadas noseu relacionamen-to com entidadessociais diversas.Assim, podemosatuar com segu-rança e de modoequilibrado ecoerente com anossa fé.

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Para que todos sejam um67

6. Buscar orientação com a autoridadeeclesiástica superior (Pastor/a, Superinten-dente Distrital, Bispo/a) sempre que se tiverdúvidas nos parâmetros doutrinários e do-cumentais que prejudiquem o julgamento doevento ou ação em que se pensar envolver.

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Para que todos sejam um69

COMO AS LIDERANÇAS METODISTAS

NO BRASIL, CLÉRIGAS E LEIGAS,DEVEM SE POSICIONAR QUANDO

FOREM CONVIDADAS/DESAFIADAS APARTICIPAR DE REUNIÕES, CULTOS

E CELEBRAÇÕES PÚBLICAS?

O ser humano é essencialmente social.Onde existe o ajuntamento de pessoas, exis-tem também algumas regras que devem serobedecidas para que o evento seja realizado.Como membros de Igreja vivemos tambémem outros espaços, de forma social, em fes-tas, formaturas, aniversários de cidades, datascívicas etc. Não é porque participamos destesmomentos oferecidos pela vida relacional quedeixamos de ser cristãos, que deixamos de dartestemunho da fé que abraçamos. Aproveita-mos esses momentos para dizer/testemunharquem somos, de modo que o nome do Se-nhor Jesus Cristo seja glorificado.

Como Igreja, ou individualmente, recebe-mos convites para participação em ativida-des comunitárias extraigreja como reuniões,atos públicos, cultos, celebrações, bem comopara sua organização e promoção. Como nosposicionarmos quando formos convidados?

Este capítulo querorientar asliderançasmetodistas

quanto à partici-pação em eventos

públicos.

Sua igreja járecebeu convites

para participar deeventos, festas,

desfiles, celebra-ções públicas, atos

na CâmaraMunicipal ou na

Prefeitura,passeatas e

caminhadas?Como foi? Em que

isso é relevantepara o testemunho

cristão?

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Para que todos sejam um70

A Igreja Metodista, como fruto de suaherança wesleyana, entende e exercita, con-forme ensinam o Antigo e o Novo Testa-mentos, a responsabilidade com o bem-es-tar integral do ser humano. Tanto que emseu Plano para a Vida e Missão são apresen-tados meios pelos quais podemos trabalharpara a promoção da vida, bastando somenteobservá-los e aplicá-los nos relacionamen-tos diversos da Igreja Metodista.

Logo, ao sermos convidados para parti-cipar, organizar ou promover eventos forade nossos arraiais devemos proceder de acor-do com a nossa crença, dando um bom tes-temunho. Como já mencionado no capítuloanterior, quando se tratar de cultos ou cele-brações religiosas, nos envolvemos somentenaquelas de cunho cristão. Já nas demaisações de cidadania e naquelas de cunho deação social para promoção da vida e da pazestaremos sempre prontos a nos engajarmos.

Nos capítulos anteriores, fizemos mençãode atitudes que devem ser observadas quan-do do relacionamento ou participação comoutras igrejas cristãs, órgãos que trabalhampela unidade cristã, e também com aquelesgovernamentais e da sociedade civil. Enten-demos que se devidamente observadas ca-minharemos bem, sem conflitos internos.

Ao sermos convi-dados paraparticipar, organi-zar ou promovereventos fora denossos arraiaisdevemos procederde acordo com anossa crença,dando um bomtestemunho.

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Para que todos sejam um71

APÊNDICE: COMO A IGREJA

METODISTA NO BRASIL DEVE SE

RELACIONAR ESPECIFICAMENTE

COM A IGREJA CATÓLICA

ROMANA?

É fato na história do Metodismo, que oseu inspirador, John Wesley, manifestava pu-blicamente crítica e oposição ao Catolicis-mo Romano com base em sua compreensãoteológica. Uma exposição clara de sua posi-ção pode ser observada na obra Um Cate-cismo Romano, fielmente extraído dos es-critos aprovados pela Igreja de Roma: comuma resposta, publicado em 1756. Empre-gando o método de perguntas e respostas,Wesley faz a compilação de várias doutrinase práticas católicas, expondo a visão evangé-lica em oposição - com base na Bíblia, nosPais da Igreja e na razão Temas como Escri-tura e tradição, culto aos santos, devoção àVirgem Maria, salvação pelas obras, indul-gências, purgatório, sacramentos, doutrinaeucarística da transubstanciação, ministériose sujeição ao papa, são tratados cuidadosa-mente por Wesley nesses escritos.

Esse caráter polêmico também é eviden-te nos Vinte e Cinco Artigos de Religião, pre-parados por Wesley, em 1784, a partir dos

Este apêndiceprocura resgatarhistoricamente ocontexto em que

John Wesley seposicionava em

relação aoCatolicismo,criticando as

questões doutri-nárias divergen-tes, mas respei-

tando as pessoasem espírito de

amor. É possívelagir assim hoje?

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Para que todos sejam um72

Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglater-ra, para contribuir com as bases da organi-zação do Metodismo nos Estados Unidos.Basta olharmos alguns títulos para confir-mar essa constatação, por exemplo: Dasobras de superrogação; Do purgatório; Dofalar na congregação em língua desconheci-da; Da oblação única de Cristo sobre a cruz;Do casamento dos ministros; etc. O conteú-do material de outros artigos rejeitam, expli-citamente, a posição tradicional do Catoli-cismo Romano, tais como: Dos sacramen-tos; Da Ceia do Senhor; De ambas as espé-cies. Este conteúdo é bem conhecido dosmetodistas brasileiros pois está publicado nosCânones da Igreja Metodista (2007, p. 35-45). Por sinal, este tom duro em relação àdoutrina católica-romana, às vezes mais mi-litante ainda, é mantido em diversas outrostratados, cartas e sermões, como também emdiversos comentários constantes nas NotasExplicativas sobre o Novo Testamento.

John Wesley já havia tido a oportunidadede colocar em prática a sua peculiar inter-pretação do Evangelho, quando em visita àcidade de Cork, na Irlanda, enfrentou a fúriada população local contra os metodistas -majoritariamente católica romana (vale afir-mar que os irlandeses tinham boas razõespara não apreciar os cidadãos ingleses, entreas quais, destaca-se a opressão política e reli-giosa exercida pela Inglaterra). No entanto,o episódio não despertou, em Wesley, a ira

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Para que todos sejam um73

incontida contra a violenta perseguição,como se poderia esperar. Antes, a ocasiãoincentivou-lhe a redigir a conhecida Carta aum Católico Romano, um genuíno manifes-to em favor da paz e do amor mútuo, bas-tante incomum naqueles tempos. De acordocom alguns intérpretes, trata-se de uma car-ta circular, aberta; dirigida, portanto, a todosos leitores católicos romanos. Além da pri-meira edição, em 1749, esse texto foi aindareimpresso três vezes durante a vida deWesley - no ano de 1750, em Dublin; no anode 1755, em Londres; e na coleção, organi-zada em 1773, de suas Obras.

É interessante notar que, enquanto as dis-cussões teológicas, tanto ontem quanto hoje,tendem a se concentrar nos pontos em queexistem divergências, Wesley procura fixar asua atenção naquelas áreas fundamentaisonde a concordância inspira o testemunhocristão. Nessa perspectiva, o último parágra-fo da Carta a um Católico Romano estabele-ce as exigências que o caminho do amorirrefutavelmente requer. Com a ajuda deDeus, protestantes e católicos devem tomara firme resolução de:

1. não ferir-se mutuamente, guardando aregra áurea;

2. não falar de forma áspera e inamistosaum do outro, empregando sempre a lingua-gem do amor;

Enquanto asdiscussões

teológicas, tantoontem quanto

hoje, tendem a seconcentrar nospontos em que

existem divergên-cias, Wesley

procura fixar asua atenção

naquelas áreasfundamentais

onde a concor-dância inspira o

testemunhocristão.

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Para que todos sejam um74

3. não cultivar pensamentos descaridososou manter um espírito armado contra o ou-tro, rejeitando qualquer atitude oposta aoterno afeto;

4. empenhar-se, ao máximo, para auxiliaro outro a prosseguir na vida de santidade.

Antes de assinar "Vosso servo amistoso, peloamor de Cristo", Wesley combina, ainda, seisbreves citações de cartas paulinas que refor-çam o tom geral desta carta circular (§ 17).Infelizmente, nenhuma resposta categórica dolado católico romano foi formulada, pelomenos, não há registro de que isso tenha ocor-rido. Porém, o mais importante a ser destaca-do é que a atitude de Wesley tornou-se decisi-va para estimular, entre os metodistas, umaabertura teológica - aliada, é verdade, à inten-sa convicção com respeito à própria identida-de - que, raramente, encontramos. Essa con-vicção foi que levou o líder metodista a redi-gir outros textos também bastantes críticosem relação aos católicos romanos.

São estas bases wesleyanas que têm tor-nado possível que metodistas e católicos emmuitos lugares do mundo estejam em diálo-go e em unidade em torno de causas comuns.Tornou possível também que o ConcílioMundial Metodista, em sessão plena em Lon-dres, em 1966, aceitasse o convite doVaticano para iniciar um diálogo formal emtorno das questões doutrinárias e teológicasdas duas tradições. Foi criada então a Co-

PONTOS PARA PENSAR

Wesley pregava odiálogo e orespeito, apesar deter sofrido perse-guição de suaprópria igreja,reações agressivasdos católicosromanos irlande-ses e vividodesentendimentosdentro do própriomovimentometodista.

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Para que todos sejam um75

missão Conjunta de Diálogo Católico Ro-mano-Metodista, cuja primeira reunião acon-teceu em 1967.

Já no Brasil, esta história tem "altos e bai-xos", pois o relacionamento entre a IgrejaMetodista, as demais Igrejas Evangélicas, e aIgreja Católica Romana é marcado por con-trovérsias e sérios impedimentos, especial-mente por conta de doutrinas como a devo-ção a Maria, aos santos, a primazia de Romae a infalibilidade Papal. Entendemos, porém,que grande parte das dificuldades enfrenta-das é devida às mútuas barreiras e precon-ceitos levantados entre os dois grupos des-de o início da presença evangélica no Brasil.

Reconhecemos que o catolicismo nãoconstitui uma realidade monolítica, homogêna.Ao contrário, a Igreja de Roma abriga, na atu-alidade, tendências, comportamentos e con-cepções as mais diversas. Não obstante a istoposturas, documentos, orientações e posiçõesteológicas de Pontífices Católicos têm deixa-do clara uma atitude exclusivista como a afir-mação: "Existe portanto uma única Igreja de Cris-to, que subsiste na Igreja Católica, governada peloSucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão comele" (Declaração Dominus Iesus sobre aUnicidade e a Universalidade Salvífica de Je-sus Cristo e da Igreja, par.57).

É fato que o Concílio Vaticano II (1961-1965) - que impôs séria revisão da teoria eprática católicas, adequando-as ao chamado

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Para que todos sejam um76

mundo moderno, incluindo aí a sua posturacom relação às outras igrejas cristãs - exer-ceu uma função significativa nesse processode relacionamento. A partir daquele Concí-lio, algumas pessoas e Igrejas, entre elas aMetodista, aproximaram-se dos católicosromanos na esperança de desenvolver canaisde diálogo e caminhos para o testemunhoconjunto. As opções pastorais da Igreja Ca-tólica Romana na América Latina, sobretu-do o seu interesse renovado pela leitura daBíblia bem como a sua ênfase prioritária notrabalho ao lado povo empobrecido, facili-taram a comunicação com os evangélicos. Acooperação entre ambos os grupos, em di-versos campos de atuação, foi, então, acen-tuada, resultando na criação de diversos or-ganismos, tais como a CESE (CoordenadoriaEcumênica de Serviços, 1973) e o CONIC(Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, 1982).

Nessas organizações, metodistas e católi-cos romanos, unidos a outros cristãos, pro-curaram vivenciar a sua fé comum no Evan-gelho. Convém também lembrar que, mes-mo na fase anterior ao Vaticano II, ainda emtempos de acirrada contraposição, membrosde Igrejas evangélicas e católicos romanoschegaram a viver experiências de amizade ecomunhão que deram fundamento e direçãoàs novas práticas.

Porém, na história do nosso país e suacultura e a presença hegemônica do catoli-

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Para que todos sejam um77

cismo por mais de três séculos deixarammarcas que ainda dificultam a compreensãoe o relacionamento em unidade cristã. Emalgumas partes do Brasil, isso é visivelmentepresente, não só para os evangélicos, mastambém para muitos católicos. Outro ele-mento importante que não podemosdesconsiderar são os processos históricosonde os conflitos entre protestantes e cató-licos se tornaram inevitáveis caracterizandointolerância, polêmica e, até mesmo, violên-cia física. Episódios de hostilidade, com ca-sas e templos evangélicos sendo apedrejadosalém de variadas formas de constrangimen-tos e preconceito, ocorreram com frequênciaindesejável e deixaram marcas e mágoas, asquais muitos metodistas não conseguiramsuperar e outros herdaram, tendo cultivadopor vezes sentimento de rancor erevanchismo resultante deste processo.

Até os dias de hoje, em certas regiões, nãohá qualquer disposição por unidade da parteda hierarquia católica, que tende a tratar osmetodistas de forma sectária ediscriminatória. Não podemos ignorar oscontextos em que nossas igrejas estão locali-zadas: há núcleos de maior ou menor con-fronto, de resistência e de assimilação. Nomapa do Brasil há uma área geográfica quecompreende o "miolo" que passa pelo Piauíaté o Rio Grande do Norte e desce em linhareta terminando no sul de Minas e no Nortede São Paulo, chamada "área de resistência

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católica". Essa área engloba ainda a Zona daMata Mineira e grande parte do norte do Riode Janeiro e o norte do Espírito Santo. Nes-sa faixa se localizam somente bolsões deevangélicos - 91% de população é católico-romana e várias não têm presença de igrejasevangélicas (conforme JACOB, CésarRomero, et al. Atlas da filiação religiosa e indica-dores sociais no Brasil. Rio de Janeiro/São Pau-lo/Brasília: PUC-Rio/Loyola/CNBB, 2003).

Reconhecemos que nossa associação aorganismos ecumênicos, aos quais a Igrejade Roma também se associa, causouquestionamentos por parte de um númeroconsiderável de metodistas, por conta destecontexto social e histórico, particularmenteentre membros de nosso corpo pastoral.

Percebemos também que estesquestionamentos resultaram também demuitos equívocos foram ocorrendo, ao lon-go do tempo, como a aprovação (com divi-são) da entrada da Igreja Metodista nos or-ganismos em que a Igreja Católica integrava;a ênfase de lideranças metodistas em prati-car unidade com a Igreja Católica comdesconsideração de processos históricos e docontexto de igrejas locais; a falta de orienta-ção da liderança sobre a unidade cristã; a fal-ta de posicionamento de lideranças eclesiás-ticas diante da aproximação de algumas or-ganizações ecumênicas com outras expres-sões religiosas, fato que gerou incômodoentre muitos membros da Igreja.

Reconhecemos quenossa associação aorganismosecumênicos, aosquais a Igreja deRoma também seassocia, causouquestionamentospor parte de umnúmero conside-rável demetodistas, porconta destecontexto social ehistórico, particu-larmente entremembros de nossocorpo pastoral.

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Nestes processos não houveaprofundamento, orientação, esclarecimen-to e diálogo sobre o tema com nossas igre-jas locais, apesar da Carta Pastoral sobreEcumenismo elaborada em 1999. Tudo isto,somado ao contexto acima descrito, culmi-nou na decisão do 18º Concílio Geral, rea-lizado em Aracruz, 2006, de a IgrejaMetodista "se retirar do CONIC e demais ór-gãos ecumênicos com a presença da Igreja CatólicaApostólica Romana e grupos não-cristãos". Adecisão demonstrou que há uma crise norelacionamento e na prática institucionalcom a Igreja Católica.

Verifica-se que precisamos amadurecer,aprofundar e aprender, com humildade, ver-dade, amor e comunhão, o nosso relacio-namento com a Igreja Católica, fundamen-tados em nossa compreensão das Escritu-ras e em nossa herança wesleyana.

Portanto, estamos deixando de partici-par de organismos ecumênicos aos quais aIgreja Católica está vinculada oficialmen-te, por entendermos que ainda não foi pos-sível um acordo. Nosso relacionamento sedará no dia a dia de modo interpessoal eno atendimento às demandas comunitári-as, respeitando-se as orientações quanto àsatitudes a serem observadas no relaciona-mento com outras igrejas cristãs (confor-me os capítulos específicos desta cartaquanto ao tema).

Verifica-se queprecisamos

amadurecer,aprofundar e

aprender, comhumildade,

verdade, amor ecomunhão, o

nosso relaciona-mento com a

Igreja Católica,fundamentados

em nossa compre-ensão das Escritu-

ras e em nossaherança

wesleyana.

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Como metodistas, caminharemos fazen-do o que Jesus fez, amando todas as pessoasindependentes do seu credo religioso, pre-gando o evangelho, respeitando as diferen-ças e no que depender de nós viver em pazcom todos, e acordando que caminharemosde modo diferente buscando em tudo glori-ficar "ao único Deus sábio, por meio de Jesus Cris-to, pelos séculos dos séculos" (Romanos 16.27).

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Para que todos sejam um81

GLOSSÁRIO

DIÁLOGO - "troca ou discussão de ideias, deopiniões, de conceitos, com vistas à solução deproblemas comuns, ao entendimento ou à har-monia; comunicação" (Dicionário Aurélio),portanto, no que diz respeito à dimensãoecumênica, é o meio pelo qual nos relaciona-mos com outras igrejas cristãs e com segmen-tos que promovam a vida, a paz e a justiça.

RESPEITO E TOLERÂNCIA - considerar aexistência de modos de pensar, sentir e agirque são diferentes dos nossos e tolerar ooutro em suas particularidades, amando-oapesar das diferenças.

UNIDADE - "aquilo que, num conjunto,numa espécie, forma um todo completo"(Dicionário Aurélio), neste sentido, quandonos referimos à fé falamos de unidade entrecristãos/ãs porque a unidade cristã "proce-de do Senhor Jesus e é realizada por meio doEspírito Santo, pela rica diversidade de dons,ministérios, serviços e estruturas que possi-bilitam aos cristãos trabalhar em amor".(Plano para Vida e Missão).

CULTO - é o serviço que a igreja reunidaem nome do Senhor Jesus Cristo presta aDeus, em resposta ao seu amor, na forma deadoração, confissão, louvor e ação de graças,edificação e dedicação. Representa o enviode todos/as para o cumprimento na missãona forma de ações compromissadas com avida e a dignidade humana.

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Para que todos sejam um82

CELEBRAÇÃO - é um evento ou solenida-de de caráter festivo, religioso (casamento,batismo, ação de graças, bodas, aniversários)ou não (cerimônias públicas, inaugurações,formaturas, comemorações em geral).

ATO PÚBLICO - é um evento promovidopelo poder público, pela iniciativa privada oupor instituições sociais e educacionais paradivulgar assuntos de natureza política e soci-al, no qual a igreja se faz representar volun-tariamente ou mediante convite.

CONCÍLIO MUNDIAL METODISTA - é umaassociação de igrejas de tradição metodistaespalhadas pelo mundo para promover aunidade: http://worldmethodistcouncil.org .