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Outubro de 2006 Quem vai abrir os furos de água em África? Empresários no Subsector de Abastecimento de Água Rural Os perfuradores privados constituem um segmento importante do sector de perfuração em África. Há que conhecer melhor as suas aptidões e a contribuição que podem dar. Estudos de monografias de empresas de perfuração em quatro países africanos são usadas para ilustrar as estratégias do negócio bem como os constrangimentos comuns, e possíveis vias a seguir. Série sobre Abastecimento de Água Rural Apontamentos 46911 Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized

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Outubro de 2006

Quem vai abrir osfuros de água em África?Empresários no Subsector de Abastecimento de Água Rural

Os perfuradores privados constituem um segmento importante do sector de perfuração em África. Há que conhecer melhor as suas aptidões e a contribuição que podem dar. Estudos de monografias de empresas de perfuração em quatro países africanos são usadas para ilustrar as estratégias do negócio bem como os constrangimentos comuns, e possíveis vias a seguir.

Série sobre Abastecimento de Água Rural

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Resumo Analítico

Milhares de furos são necessários para o abastecimento de água em África. Esses novos furos vão ter um papel fundamental no aumento da cobertura de abastecimento de água em muitos países africanos, para tal um sector de perfuração eficaz é intimamente associado ao cumprimento dos seus objectivos de Desenvolvimento do Milénio (MDGs) até 2015, no que toca ao abastecimento de água. Este estudo confronta a questão importante levantada no seu título que é “quem vai abrir todos esses furos em África”.

As agências estrangeiras de apoio tentaram criar capacidade de perfuração em instituições governamentais e ONGs mas, a maior parte admite hoje em dia, que essa tentativa não resultou, e estão virando suas atenções para o sector privado em busca de soluções. Entretanto, não se conhece nem se compreende a vida do perfurador privado, pois maior parte decorre em cantos remotos e inóspitos do mundo, longe dos olhos dos doadores e dos reguladores governamentais.

Espera-se que as informações dos quatro estudos feitos de quatro empresas pioneiras e bem sucedidas descritas nesta brochura possam incentivar os intervenientes do sector a desenvolverem relações mais fortes com estes perfuradores e a prestarem-lhes apoio adequado.

Desta forma, o Governo, ONGs e agências privadas de perfuração poderão desenvolver um maior conhecimento e confiança entre si, e na aptidão e capacidade

governo. Embora governos e doadores reconheçam que o sector da perfuração está limitado pela falta de recursos em termos de competências, equipamento e capital de exploração, os esforços destinados à criação de capacidade ainda têm tendência a centrar-se nos perfuradores das ONGs e do estado.

A falta de capacidade de perfuração começa a destacar o papel vital do sector privado para se atender à procura crescente de serviços de perfuração. Neste momento, as empresas de perfuração comerciais recebem pouco ou nenhum apoio, e pouco se conhece das suas estratégias ou motivos comerciais. O que se sabe, contudo, é que um aumento da capacidade e das economias no custo ou da eficiência na produção de furos, seja no sector público, privado ou das

de cada um. Isto levará a mais parcerias saudáveis entre o sector público e privado e a um aumento da produção de furos e maior eficácia em função do custo. Seria um cenário vantajoso para todos. O aumento da carga de trabalho conduz a maiores lucros para os perfuradores e a mais reinvestimento em equipamento e capacidade. A implementação eficiente irá atrair mais financiamento e apoio para o sector, aliviando o encargo com a prestação de serviço decorrente dos limitados recursos públicos na área.

Introdução

Estimativas recentes sugerem que vão ser necessários cerca de um milhão de novos furos em África para se alcançar os objectivos de desenvolvimento do Milénio (MDG) até 2015, relativas ao abastecimento de água. Se se considerar que as taxas típicas de perfuração em África são apenas de 10-100 furos por sonda/ano, então vão ser precisas no mínimo mil brigadas de perfuração a funcionar em pleno durante os próximos dez anos. A escala e magnitude do desafio atraíram uma atenção crescente, estando a ser canalizada mais ajuda para o abastecimento de água. Por seu turno, isto significa que existe uma procura crescente de serviços de perfuração fiáveis e eficazes em função do custo, que são essenciais para se proporcionar acesso a um abastecimento sustentável de água.

As agências públicas ainda dominam o sector da perfuração em muitos países africanos, apesar de políticas que estimulam o abandono gradual da implementação directa pelo

Abertura de um furo na Etiópia

Quem vai abrir osfuros de água em África?

ONGs, terá um impacto significativo na consecução das metas da cobertura de abastecimento de água.

Esta brochura é o resultado do emblemático “Furos Eficazes em Função do Custo” (CEB) da Rede de Abastecimento de Água Rural (CEB) e da “Iniciativa de Apoio ao Empresário da Perfuração de Poços” (DESI) do Programa de Água e Saneamento. Fornece uma visão global das actividades e estratégias de quatro pequenas empresas de perfuração na Etiópia, Madagáscar, Nigéria e Sudão. Tenta apresentar as suas opiniões, percepções e comentários sobre a indústria de perfuração e o sector de abastecimento de água em que actuam. As empresas de perfuração descritas abrangem uma grande variedade, que vai desde a empresa social até à organização de alta tecnologia, envolvendo milhões de dólares. As estratégias diferentes e modelos económicos adoptados pelas empresas reflectem simultaneamente a diversidade de preparação dos empresários, as diferenças dos mercados de perfuração locais e o modo como é possível ultrapassar os demais desafios.

Estudos de Casos

Cada uma das quatro empresas privadas de perfuração efectua actividades semelhantes, embora o contexto local das suas operações seja diferente em cada um dos casos. Todas elas: • Competem pelo trabalho • Adquirem equipamento e

materiais • Recrutam e treinam pessoal • Executam projectos

(normalmente perfuração de furos e instalação de bombas)

• Operam e fazem a manutenção do equipamento

• Gerem os aspectos financeiros e de planeamento do negócio.

Etiópia Tana Water Well Drilling PLC

Etsegenet Berhe, nasceu e cresceu na Etiópia, fundou a Tana Water Well Drilling (TWWD) PLC em Março de 2004. Etsegenet é engenheiro de recursos hídricos com uma vasta experiência profissional, que inclui trabalhos com o UNICEF e as Nações Unidas na Etiópia e no estrangeiro.

No princípio, Etsegenet utilizou os seus bens pessoais e ligações profissionais para comprar uma sonda Ingersoll Rand, completamente nova e da mais moderna tecnologia, que lhe custou perto de USD 1 milhão, incluindo acessórios e meios de apoio. Um banco

local concedeu-lhe um empréstimo de três anos no valor de USD 400 000 e ele teve que dar como garantia não só a sonda mas também a sua casa.

TWWD tomou uma decisão estratégica de investir numa sonda nova, de alta tecnologia, por duas razões principais: (a) custos de exploração e de

manutenção mais baixos (comparados com máquinas em segunda mão), especialmente no contexto etíope onde há escassez de técnicos qualificados e as peças de substituição são difíceis de encontrar localmente;

(b) a capacidade para perfurar a grande profundidade (até 500 metros) e furos com diâmetro largo (até 17 polegadas), adequados tanto para o abastecimento urbano de água como para poços de irrigação de grande dimensão.

Mapa da Etiópia

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Na Etiópia há uma maior procura de poços largos e fundos por causa das condições geológicas. As sondas, capazes de executar furos com um diâmetro grande, utilizando uma variedade de tecnologias (lama/rotativas/DTH), são cada vez mais valiosas.

O grande investimento inicial de Etsegenet provou a sua intenção no sector e ajudou-o a atrair técnicos de perfuração e gestores experientes para a sua empresa. Desde essa data a TWWD utilizou a nova tecnologia e capacidade para perfurar 50 poços profundos (profundidade média de 162 metros) em toda a Etiópia.

Esta abordagem parece que teve êxito. Apenas dois anos após o início, compraram uma segunda sonda de perfuração Ingersoll Rand nova. Presentemente, a companhia emprega 21 funcionários, incluindo uma equipa de gestão e de apoio em Adis Abeba e 2 equipas de perfuração no terreno.

Ambiente institucional

Antes de 1991 não existiam empresas privadas de perfuração na Etiópia. A maior parte dos trabalhos de perfuração e de abastecimento de água eram efectuados por empresas estatais ou por ONGs internacionais. Contudo, as reformas económicas introduzidas no início da década de 90 abriram o mercado e, actualmente, estima-se que existam 25-�0 empresas privadas de perfuração. Este número compreende cinco firmas chinesas e indianas.

O processo de descentralização em curso devolve para o nível distrital (Woreda) os serviços de abastecimento de água. Na prática, a maior parte dos distritos não dispõe de recursos nem de capacidade para prestar os serviços locais. Os Gabinetes Regionais de Água (RWB) e as Companhias Estatais continuam a dominar o sector de perfuração.

Apoio externo

A Etiópia tem alguns dos piores indicadores sociais do mundo, incluindo um fraco acesso ao abastecimento de água. Nos últimos anos, a seca acentuada em muitas áreas do país piorou a situação, enfatizando ainda mais a importância de um financiamento eficaz e sustentável dos serviços de abastecimento de água. As estimativas recentes apontam que vão ser necessários cerca de 80 000 novos furos para se cumprir com os ODM para o abastecimento de água na Etiópia, requerendo um investimento total de um bilião de dollares americanos (USD 1.00 bilião) ao longo dos próximos dez anos.

Apesar do recente desenvolvimento, as empresas privadas de perfuração

possuem pouco mais de 40% das 150 sondas de perfuração. O sector de ONGs é grande e activo na Etiópia, e há várias ONGs que operam as suas próprias sondas. Contudo, a maioria das sondas não privadas pertencem a seis Empresas Estatais ou a UNICEF operadas pelas RWBs. Muitas destas sondas são velhas e ineficientes. O Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento, União Europeia e outros prometeram aumentar significativamente os compromissos financeiros destinados ao subsector do abastecimento rural de água na Etiópia. Estes compromissos devem resultar numa duplicação do financiamento anual do sector (para mais de USD 1�0 milhões), em relação ao investimento de capital planeado para o desenvolvimento de água subterrânea. Esta rápida expansão da prestação de serviços deverá aumentar a procura de um sector de perfuração moderno e à altura.

Madagáscar BushProof

BushProof é uma empresa relativamente nova, fundada em 2004 por Adriaan Mol e Eric Fewster (ambos europeus). Os dois fundadores têm experiência de trabalho com ONGs, tendo anteriormente trabalhado mais de uma década para organizações internacionais de desenvolvimento e de ajuda, como por exemplo Medair, World Vision e Médicos Sem Fronteiras. Tendo, no entanto, assistido ao fracasso de uma série de projectos de ONGs quando se retirava o financiamento externo, chegaram à conclusão que era necessária uma abordagem mais moderna e sustentável.

Adriaan e Eric criaram a BushProof como uma empresa social, virada para objectivos humanitários e com o

A sonda Ingersoll da TWWD

Quem vai abrir osfuros de água em África?

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intuito de simultaneamente colherem dividendos financeiros e sociais dos seus esforços e investimentos. Partem da premissa que uma organização empresarial de base local, construída em torno de tecnologias e abordagens em prol dos pobres, terá maior probabilidade de conseguir resultados no domínio de inovações apropriadas e impactos sustentáveis do que uma organização sem fins lucrativos que depende do apoio externo.

BushProof é uma sociedade privada e limitada, registada tanto em Madagáscar como no Reino Unido, cujas principais actividades são:

• Perfuração de baixo custo e construção de poços (utilizando técnicas de lançamento de jactos de água e de perfuração manual)

• Fabrico de bombas de água e tecnologias de tratamento de água no ponto da utilização

• Consultorias no sector de água e saneamento.

BushProof promoveu e desenvolveu um número de produtos inovadores e eficazes em função do custo que estão bem adaptados ao contexto de Madagáscar. No entanto, depois do sucesso inicial do Development Marketplace Award, BushProof acha que é difícil convencer os grandes clientes a adoptar as suas novas tecnologias ainda pouco conhecidas.

Procura de serviços de perfuração

Há pouca procura da actividade de perfuração de poços por parte de privados em Madagáscar. Uma relativa abundância de água de superfície não tratada, e um limitado entendimento da ligação entre água contaminada e doenças, oferecem poucos incentivos para se investir na perfuração de poços privados. A maior parte dos

contratos de perfuração envolve poços profundos financiados pelo governo, por doadores multi-bilaterais ou por ONGs internacionais. Estes contratos são normalmente ganhos por um certo número de empresas privadas de perfuração e a única empresa estatal, que possuem sondas DTH capazes de fazer furos até 200 metros de profundidade. Como a BushProof é especializada em furos de pouca profundidade, actualmente a maior parte dos seus clientes são ONGs de média dimensão, atraídas pela sua habilidade de construir poços rápidos a preços baixos, mesmo em locais remotos. Entretanto, a procura e o interesse em técnicas de perfuração manual de baixo custo está a aumentar. Várias ONG e doadores estão agora a treinar e a contratar outras empresas locais para começarem a utilizar técnicas de perfuração apropriadas, como por exemplo rotativas com injecção de lama.

A partir da revisão de Junho de 2005 das normas governamentais para o abastecimento de água, passou a ser mais provável que se adoptassem e aceitassem as inovações da BushProof em Madagáscar. Na sequência de uma intensa actividade de sensibilização empreendida por Adriaan durante discussões sectoriais, o “manual de procedimentos” oficial (para o fornecimento de furos de baixo custo, de pequeno diâmetro e até uma profundidade de 20 metros) inclui agora uma técnica de perfuração aprovada, que consiste no lançamento de jactos de água. A bomba Canzee é uma das cinco bombas manuais aprovadas.

Ambiente institucional

A partir de 2001, o governo empenhou-se seriamente em criar um ambiente propício aos negócios em Madagáscar. BushProof foi assistida por um funcionário do Centro de

Apoio às Actividades Económicas e foi registada em apenas poucos meses, o que constitui um feito notável em muitos países africanos.

A partir de meados da década de 80, as ONGs implementaram a maior parte dos projectos de abastecimento de água nas áreas rurais de Madagáscar. Em consequência, a diferenciação entre ONGs e empresas privadas era pouco clara, Onde se nota uma competição pelo trabalho entre as ONGs e empresas locais. As empresas privadas que trabalhavam em sectores das ONGs ficam muitas vezes em nítida desvantagem. Por exemplo, a BushProof está legalmente obrigada a cobrar 18% de IVA nos seus produtos, para além de direitos de importação adicionais de 20% sobre todos os materiais ou equipamento importados. As ONGs têm uma vantagem competitiva, uma vez que alguns dos seus custos de funcionamento são frequentemente cobertos por financiamento dos

Mapa de Madagáscar

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doadores externos. Tal significa que os custos, tais como salários e funcionamento, não precisam de ser recuperados nas propostas de preços apresentadas.

O Governo de Madagáscar está a tentar resolver esta desigualdade, impedindo as ONGs de apresentarem propostas em concursos para a construção de infra-estruturas, pedindo-lhes antes que se centrem nos mandatos de carácter social. Isto pode forçar as ONGs locais a reestruturarem-se em empresas sociais, tal como a BushProof, ou tornando-se especialistas em

actividades viradas às comunidades, como por exemplo intermediação social e promoção de higiene.

Apoio Externo

Estimativas recentes indicam que para se alcançar as metas de água e saneamento das MDG em Madagáscar vai ser necessário um investimento de USD 117 milhões por ano ao longo dos próximos dez anos. O actual orçamento do governo é de USD �2 000 milhões, mas os gastos reais anuais são apenas USD 20 milhões. Para se cumprir as metas MDG para o sector da água até 2015, vai ser preciso elevar consideravelmente a produção de água.

Nigéria Fatigen Drilling (Nig) Ltd.

Sunday Arafan, um cidadão nigeriano, fundou Fatigen Drilling (Nig) Ltd em 2001. Fatigen recorria a equipamento de perfuração alugado mas a boa administração das suas operações e o uso de equipas de perfuração qualificadas, muito rapidamente, tornou-se numa empresa com uma sólida reputação na Nigéria. Em particular, Fatigen é uma das poucas empresas privadas de perfuração que dispõe de um hidrogeólogo a tempo inteiro, que faz a supervisão das suas equipas de perfuração. Por este motivo, no final de 2004, foi seleccionada como a firma de perfuração local que reunia melhores condições, quando o Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID) e a WaterAid decidiram emprestar uma sonda Dando Geotec a uma empresa privada de perfuração.

Segundo os termos do acordo de empréstimo com o DFID, Fatigen comprometeu-se a utilizar a sonda para

Em 2005, a BushProof recebeu um prestigioso Development Marketplace Award do Banco Mundial, no valor de USD 150 000. Marketplace Development (DM) é um concurso global que premeia as inovações de desenvolvimento que possam ser reproduzidas e incrementadas. A proposta ganhadora de BushProof envolvia o uso de uma técnica de baixo custo de lançamento de jactos de água para a construção de furos de pouca profundidade, equipados com bombas manuais Canzee, aumentando assim o acesso à água potável de uma forma rápida, eficaz em função do custo e sustentável. O prémio financiou um workshop para construção de bombas manuais Canzee em Madagáscar, com vista a reduzir os custos de produção e permitir a disponibilização imediata dessas bombas localmente. Permitiu também a realizção de um estudo sobre o potencial de lançamento de jactos para abertura de poços a nível nacional, que concluiu que o lançamento de jactos de água para abertura de poços era viável em 20% do território de Madagáscar e aproximadamente 2 milhões de pessoas podiam beneficiar esta tecnologia de baixo custo.

As instalações de fabrico de bombas manuais Canzee foram estabelecidas em Novembro de 2005, e esta oficina permite agora à BushProof produzir outras tecnologias apropriadas, tais como bombas de pedal e tubos filtrantes para furos. Em Janeiro e Fevereiro de 2006, BushProof utilizou o Prémio DM para construir 150 poços numa área remota e vulnerável a ciclones na costa oriental de Madagáscar, colaborando com uma grande ONG local para completar o trabalho de desenvolvimento comunitário. Normalmente, os poços escavados manualmente construídos nesta parte do país podem levar até 4 semanas para serem construídos. Os 150 furos perfurados pelo método de jactos de água ficaram completos em apenas três semanas. Os poços escavados manualmente e equipados com bombas manuais custam, normalmente, USD 1500 a 2000 em Madagáscar. Os comentários de algumas ONGs concorrentes que referiam que a metodologia da BushProof era cara não têm cabimento, pois os furos feitos com jactos de água e as bombas Canzee construídas no âmbito deste programa provaram ser 50% mais baratas do que as instalações convencionais. Uma avaliação feita alguns meses depois da construção revelou que apenas seis poços tinham problemas (bombas estragadas ou baixa qualidade da água), o que é uma taxa de insucesso muito abaixo da das intervenções anteriores à técnica dos jactos de água. BushProof reaplicou de novo os jactos de água e reparou os poços com problemas, como parte da garantia, e ofereceu à aldeia um curso de capacidade em matérias de manutenção dos furos.

1 A bomba Canzee deriva de uma bomba manual de acção directa, originalmente desenvolvida na Nova Zelândia e posteriormente aperfeiçoada e refinada por Richard Cansdale de SWS Filtration (UK).

Caixa 1: Inovação recompensada: Development Marketplace Award do Banco Mundial

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perfurar poços para as comunidades vulneráveis do Estado de Benue, conforme instruções de BERWASSA (Benue State Water Authority) e de WaterAid. Em troca, Fatigen podia utilizar a sonda para fins comerciais, sempre que não fosse necessária para a abertura de furos da BERWASSA/WaterAid. Foram acordadas condições rigorosas para assegurar que a sonda fosse bem utilizada e bem mantida, incluindo uma entrega de USD 8000 a título de depósito para a escritura de propriedade e pagamentos regulares num fundo de manutenção. Fatigen é responsável pela operação e manutenção de rotina da sonda e tem de pagar taxas fixas (USD 400 por furo da BERWASSA/WaterAid e USD 800 por cada furo comercial) que deposita numa conta especial administrada pela WaterAid, sempre que executar um furo utilizando a sonda emprestada. Os fundos acumulados eram usados no desenvolvimento comunitário e treinamento dos beneficiários em

nacionais. Apesar de existirem fórmulas de partilha de custos para o abastecimento de água rural, que exigem investimentos de todos os níveis do governo, a coordenação e cooperação entre os governos federal, estadual e local ainda são deficientes. Consequentemente, têm sido implementados programas de abastecimento de água mal planeados e contraditórios, levando à duplicação, pouca sustentabilidade e investimentos desperdiçados.

Apoio externo

A maior parte das grandes agências externas de apoio (ESA) estão activas na Nigéria. No entanto, a Nigéria é o país da África Subsariana que obtém a menor assistência dos doadores, uma média anual de apenas USD 2 per capita. Um estudo recente do Banco Africano de Desenvolvimento estima

matérias de uso e conservação do feito. Tal treino inclui a promoção de higiene e saneamento do meio e manutenção não rotineira da sonda.

Nos 14 meses que se seguiram à obtenção da sonda do DFID, Fatigen perfurou 68 furos e depositou USD �� 000 na conta especial. De notar que o trabalho e as receitas regulares, que este acordo proporcionou, permitiu que a Sunday Arafan investisse num novo equipamento e expandir as suas operações. Fatigen emprega actualmente, 12 funcionários permanentes, explora duas sondas (incluindo a sonda do DFID) e está em vias de adquirir uma terceira sonda.

Ambiente institucional

A estrutura federal da Nigéria dificulta a aplicação das políticas e regulamentos Perfuração em profundidade na Nigéria

Mapa da Nigéria

Fonte: CIA Factbook 2006

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que os doadores irão fornecer cerca de USD 140 milhões para o financiamento do sector nos próximos 10 anos. Vão ser necessários USD 2 biliões a USD � biliões para cumprir as MDG da Nigéria na área de água e saneamento até 2015.

No passado, vários doadores tentaram fortalecer a capacidade local de perfuração, com a doação de sondas às instituições governamentais ou LGAs. Infelizmente, parece que não existiram incentivos suficientes para que as agências públicas explorassem eficientemente as sondas ou fizessem a sua manutenção adequada. A maior parte destas sondas ficaram rapidamente avariadas. Foi por esta razão que o DFID decidiu tentar uma abordagem alternativa e emprestou uma sonda importada a uma empresa privada de perfuração.

Sudão JB Drilling/MEDIC

JB Drilling (Sudão) é, sem dúvida, a maior e mais antiga das empresas de

perfuração estudadas. Tom Belknapp, um ex engenheiro do UNICEF dos EUA, começou a empresa original em 1981. Nos 10 anos que se seguiram, JB Drilling executou cerca de 800 furos no Sul do Sudão, sobretudo para grandes programas de desenvolvimento e de ajuda. Hoje em dia, JB Drilling (Sudão) emprega �0 funcionários permanentes e opera 8 sondas (com outras duas ainda a serem reconstruídas). Possui 20 camiões e 8 veículos de apoio. O seu envolvimento de longa data no Sudão, através dos períodos de guerra civil e de insegurança, exigiram um bom relacionamento de trabalho com o Movimento Popular de Libertação do Sudão (MPLS) e está agora a tratar de se registar, outra vez, com o novo Governo do Sudão do Sul.

Vinte e cinco anos após a sua fundação, JB Drilling (Sudão) faz agora parte de um conjunto de empresas e ONGs geridas por Tom Armstrong, incluindo:• Uma outra empresa privada de

perfuração, JB Drilling (Quénia)• Uma empresa sem fins lucrativos,

registada no Quénia, MEDIC Ltd (o departamento executivo da MEDIC, uma ONG internacional registada em Paris).

Este complicado arranjo de empresas comerciais e de organizações sem fins lucrativos foi especificamente estruturado para reagir ao mercado e permitir que o trabalho seja concluído quer na qualidade de parceiro privado ou de ONG, dependendo das exigências do cliente e da tarefa.

Ambiente institucional

O Sudão do Sul emergiu recentemente de uma guerra civil de quase �0 anos, mas o processo de paz e reconciliação continua frágil. O novo governo do Sudão do Sul está de estabelecendo,

mas ainda não está a funcionar na plenitude, faltando-lhe capacidade e recursos em muitas áreas. A infra-estrutura rodoviária é deficiente, com movimento profundamente limitado entre �-6 meses, na estação chuvosa. Muito recentemente, as estradas estavam repletas de minas e a segurança continua muito incerta em várias regiões.

Apoio externo

A assinatura do acordo de paz do Sudão do Sul, em Janeiro de 2005, permitiu que a ajuda humanitária alcançasse uma área mais vasta e aumentou a vontade dos doadores de contribuírem. Centenas de milhares de pessoas previamente deslocadas e de refugiados começaram a regressar às suas casas no Sudão do Sul. A actividade económica está a crescer mas a infra-estrutura, fustigada por décadas de guerra, não é adequada para acolher tanta gente e a maior parte das áreas encontram sérias dificuldades para absorver a população crescente.

Como parte de uma resposta coordenada com o Governo do Sudão do Sul, os doadores estão a oferecer abrigo, assistência médica e alimentar, saneamento e água segura. O UNICEF está a financiar campanhas de perfuração, ora contratação de empresas privadas ou usando sondas do UNICEF.

A longo prazo, existe um enorme mercado para os serviços de perfuração. Vão ser necessárias várias dezenas de milhares de furos para abastecer a crescente população do Sudão do Sul. No entanto, os recursos e capacidade de perfuração dentro do país são limitados.

Durante o período entre 200�-04, foram abertos cerca de 400 furos no Sudão Abertura de um poço na Nigéria

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do Sul, com uma produtividade média de apenas 10-15 furos por sonda ao ano. Estes valores baixos ilustram os desafios associados com a actividade de perfuração em áreas remotas, com elevados custos de mobilização e de implementação, bem como profundas restrições de tempo impostas pelas estradas intransitáveis durante o longo período das chuvas.

Para os dois próximos anos, o Fundo Fiduciário de Dadores Múltiplos (MDTF) prevê a aplicação de USD 76 milhões no sector da água rural, o que provavelmente vai elevar a produção anual de furos no Sudão do Sul para 1 200 a 1 600.

Constrangimentos Fundamentais Identificados

Cinco constrangimentos comuns identificados pelos perfuradores foram:• Falta de capital de produção• Redes de abastecimento

inadequadas

Mapa do Sudão • Burocracia sufocante• Corrupção• Resistência à participação do sector

privado.

Um outro problema comum é o excesso de investimento na capacidade de perfuração. As empresas de perfuração tendem a investir em sondas com uma capacidade de perfuração excessiva e, muitos deles, conservam mais pessoal do que o necessário para uma base regular. As sondas de alta capacidade são caras mas permitem que as empresas concorram para muitos trabalhos e reduzir o risco de chamar uma máquina mais potente, quando se encontrarem circunstâncias muito mais difíceis. Da mesma forma, é necessário ter um número mínimo de pessoal para realizar projectos de perfuração de maior envergadura, mas muita desta capacidade fica depois parada durante períodos de pouca procura.

Também nenhum deles foi capaz de produzir materiais profissionais promocionais ou investir em campanhas de marketing da empresa. Este é um problema particular para a BushProof uma vez que a tecnologia é nova e relativamente desconhecida.

Falta de capital de produção

A falta de investimento e de capital de trabalho era a queixa mais séria. As sondas, especialmente as DTH, são extremamente caras para se comprar e têm custos significativos de manutenção e de funcionamento. Adicionalmente, os contratos de perfuração baseiam-se, muitas vezes, no pagamento depois de concluído o trabalho, pelo que os empreiteiros precisam de reservas em dinheiro consideráveis (ou crédito) para comprar materiais, deslocar o equipamento, operar as sondas e pagar os ordenados.

Estes constrangimentos de capital tornam difícil e cara a entrada dos operadores privados no mercado de perfuração. Mesmo os que têm esse dinheiro têm uma certa relutância em investir numa indústria que funciona em áreas rurais isoladas, onde tanto os riscos como os custos são elevados. Os poucos que estão dispostos a correr o risco consideram que é difícil conseguir crédito, sem primeiro ter de dar as suas casas como garantia. O equipamento de perfuração tem que ser importado frequentemente, incorrendo assim em direitos aduaneiros, encargos bancários e atrasos adicionais.

Redes de abastecimento inadequadas

A falta de equipamento de perfuração e de peças sobressalentes no mercado local, representa um outro desafio. Na Etiópia, uma rigorosa regulamentação estatal obriga ao uso de transportadores nacionais e de cartas de crédito oficiais para a importação de todo o equipamento, peças sobressalentes e acessórios. As cartas de crédito obrigam a despesas bancárias estabelecidas em �,5% do valor do “custo e frete” dos bens importados. Isto acontece em muitos países africanos o que força as empresas de perfuração, muitas vezes, a empregar uma gama de técnicos qualificados e engenheiros para manter em funcionamento as velhas sondas, compressores e camiões.

Este facto requer pessoal bem preparado e experiente, o que é difícil de encontrar. O licenciamento e o registo na Etiópia são processos morosos para os empreiteiros e técnicos de perfuração. Pior ainda pelo facto de haver um único centro de formação formal no país, que está aberto apenas para os funcionários

Fonte: CIA Factbook 2006

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do governo. Em consequência, os empreiteiros privados, tais como TWWD, desviam os funcionários governamentais experientes, oferecendo-lhes salários altos que os pagos no sector público.

Várias empresas de perfuração sobrevivem, recorrendo às suas ligações externas com o objectivo de contornarem as restrições da rede de abastecimento local. Sunday Arafan tem excelentes contactos na Grã-Bretanha, o que permite a Fatigen ter as suas encomendas despachadas para a Nigéria, com pagamento no acto da entrega. Assim, evita os atrasos causados pela lenta indústria bancária local e pela pesada burocracia. Melhor ainda, é o facto do pai de Tom Belknapp dirigir uma empresa de perfuração há muito estabelecida nos Estados Unidos, o que proporciona a JB Drilling (Sudão) contactos excepcionais e um acesso invulgar a compras vantajosas no mercado de equipamento em segunda mão.

Burocracia sufocante

As empresas de perfuração são normalmente práticas, apegadas as pessoas e com pouca paciência para os processos burocráticos e administrativos do que a maioria dos pequenos empresários. Esta situação é agravada pelo facto de a maior parte dos países considerar que a indústria de perfuração de poços de água é um empreendimento privado de alto valor e um agente importante no desenvolvimento dos recursos hídricos. Em consequência, é um sector que está sujeito a uma auditoria e tributação meticulosa, a par de licenciamento e regulação rigorosas.

Continua a ser um desafio fazer negócios em Madagáscar, especialmente quando são necessárias

operações internacionais. As restrições bancárias dificultam o processamento dos pagamentos internacionais, provocando atrasos de várias semanas. Os regulamentos aduaneiros são complexos e a importação de equipamento pode levar mais de seis meses.

Na Etiópia, as regras e regulamentos permanecem concebidos em torno das operações do sector público. As sondas montadas em camiões precisam de ser registadas na Autoridade de Transportes Rodoviários (RTA). A RTA cobra 2% do valor dos veículos privados, como taxa normal de registo. Como uma sonda moderna, montada num camião, pode custar até um milhão de dólares, esta taxa é astronómica para uma empresa recente ou de pequena dimensão.

Um montante significativo do financiamento sectorial para o desenvolvimento do abastecimento de água em África é prestado sob a forma de donativos de caridade, doações ou prémios. Para uma sociedade limitada, isto pode criar complicações, pois o “rendimento” pode ser considerado como matéria tributável. JB Drilling responde a este constrangimento através da sua parceria com MEDIC, utilizando em seu favor a falta de clareza na distinção entre ONG e empresas privadas de perfuração.

Corrupção

A corrupção levanta desafios substanciais à maioria dos negócios em África. Na indústria da perfuração, a corrupção pode assumir a forma de processos fraudulentos no acto

Estado das estradas no Sudão

Quem vai abrir osfuros de água em África?

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de lançamento de concursos, adjudicação de contratos, transacções e em forma de suborno. Também existe fraude na construção, como por exemplo furos mal construídos, protegidos por inspecções inadequadas ou então inexistentes.

Na Nigéria, bem como noutros países, a transparência dos processos de concurso e de adjudicações de contratos de abertura de furos continua a ser um problema grave. As autoridades dos governos locais (LGA) asseguram o lançamento dos concursos públicos, mas as verdadeiras empresas de perfuração raramente ganham estes contratos. Os contratos de perfuração são frequentemente adjudicados aos homens de negócios locais com boas ligações políticas. E estes fazem a subcontratação do trabalho a firmas de perfuração baratas que não têm capacidade, equipamento ou experiência. Consequentemente, muitos destes furos ou ficam mal construídos ou incompletos. São comuns as violações de contratos.

Esta situação ajudou a Fatigen, sob o ponto de vista estratégico, a encontrar um bom ambiente de trabalho e mercado lucrativo. Uma grande parte do trabalho da Fatigen é feito mediante subcontratação pelos “empreiteiros” a quem os contratos foram adjudicados mas que não possuem o equipamento adequado para o trabalho. Por outro lado, a Fatigen é regularmente contratada para terminar o trabalho que outras empresas, menos competentes, não conseguiram concluir. Numa altura destas, em que o empreiteiro principal está sob pressão para entregar a obra num curto espaço de tempo, podem ser negociados preços realistas, o que assegura um bom retorno do trabalho da Fatigen.

Resistência à participação do sector privado

Segundo dizem as empresas de perfuração, a resistência à participação do sector privado no desenvolvimento de recursos hídricos assume duas formas principais. Trata-se de uma resistência ideológica por parte das ONGs e de uma resistência económica pelas instituições de perfuração estatais.

Em Madagáscar, várias ONGs frequentemente passam por empresas com fins lucrativos. Embora a abordagem de BushProof para pontos de água de superfície apresente custos inferiores a 50% dos praticados pelas empresas com sondas convencionais, as ONG continuam a considerar que BushProof é demasiada cara. Por outro lado, os doadores sugeriram que não tinham possibilidade de financiar uma organização que não fosse meramente sem fins lucrativos ou ´comercial .́

As ONGs têm um papel importante a desempenhar no desenvolvimento de serviços de baixo custo e de ajuda aos pobres e comunidades vulneráveis, sendo os motivos pelos quais recebem donativos de caridade e isenções de impostos. A única maneira de se criar capacidade local e serviços sustentáveis é através do estímulo e

apoio às empresas locais no sentido de adquirirem ‘qualificações para os negócios .́

Apesar das reformas sectoriais em curso, a implementação descentralizada e a participação do sector privado continuam, em grande medida, a ser teóricas, em muitos países africanos. As autoridades governamentais da água e os organismos de perfuração têm relutância em abandonar o controlo e implementação de projectos de infra-estruturas lucrativos. Por exemplo, Tana Water Well Drilling ganhou, recentemente, um concurso público na região de Tigray da Etiópia. Enquanto esperava a celebração do contrato, o Gabinete Regional da Água informou que contrato já tinha sido adjudicado à Empresa Estatal, apesar de esta não ter participado no concurso público.

No passado, os doadores concediam sondas de perfuração às instituições governamentais e ONGs, ou até mesmo exploravam as suas próprias sondas de perfuração (como o UNICEF). Enquanto novas, as sondas doadas permitiam a estes beneficiários conseguir trabalhos comerciais com mais facilidade. Mas contribuíram bastante para limitar a entrada no sector das pequenas empresas de perfuração privadas. A maior parte das sondas de perfuração doadas desta forma ficaram,

Fatigen estava a utilizar uma sonda DTH num local de perfuração perto de Oju mas não conseguia fazer progressos. Quando se retiraram os tubos de perfuração e examinado o estado dos orifícios da broca, observou-se que havia fugas de ar.

Sunday Arafan tinha comprado a broca “nova” a um negociante de Kano por USD 900. Depois de examinar a broca, concluiu-se que era recondicionadae pintada com spray para parecer nova. Felizmente que Sunday tinha uma broca sobressalente o que lhe permitiu continuar a perfuração. Sem aquela broca sobressalente a equipe de perfuração teria perdido dois dias de trabalho, enquanto esperava que a nova peça chegasse de Jos. Além do mais, é pouco provável que Sunday consiga recuperar algum dinheiro pelo negociante de equipamento pouco escrupuloso.

Caixa 2: Problemas na rede de abastecimento na Nigéria

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medidas (tais como incentivos ou sanções) que assegurem um alto nível de desempenho dos funcionários.

Estratégias de Negócios

Cada uma das quatro firmas de perfuração enfrenta os constrangimentos sectoriais com uma estratégia negocial diferente. Dão-se abaixo exemplos de como é possível obter rendimentos reais com estratégias bem concebidas. Enquanto os contextos são complicados, as tipologias são deliberadamente super simplistas.

1. A estratégia de não se recorrer ao crédito

As elevadas taxas de juro nos empréstimos comerciais tornam desfavoráveis os grandes investimentos

baseados em créditos. A estratégia de não ao crédito, utilizando as receitas provenientes das operações de perfuração, para comprar equipamento em segunda mão e constituir uma frota de perfuração, é uma forma de se ter um negócio bem sucedido.

Esta abordagem envolve custos de operação e de manutenção substanciais. O equipamento mais velho precisa de mais cuidados e exige conhecimentos mecânicos consideráveis para ser mantido a funcionar. Sob o ponto de vista estratégico, adapta-se à JB Drilling (Sudão) pois criou uma forte capacidade técnica durante os 25 anos de experiência profissional em áreas perigosas e inóspitas. A empresa também tem um acesso preferencial a equipamento de boa qualidade em segunda mão, através dos seus contactos com a indústria de perfuração na América e um conhecimento compreensivo do mercado internacional.

2. A estratégia de tudo menos governo

É frequente que os contratos de perfuração do sector público não ofereçam muita transparência nos processos de concurso e ajudicação de contratos,, assim como atrasos nos pagamentos, desencorajando o empreiteiro de apresentar proposta para trabalhos para o estado. Isto leva com que o empreiteiro concentre a sua atenção em concursos lançados pelas ONGs e doadores internacionais.

Esta modalidade é válida quando o empreiteiro é conhecido pelos doadores e o seu nível de competição. No caso de Fatigen Drilling (Nig) Ltd, trabalhos anteriores feitos para as ONGs, tais como WaterAid, assegurou que se encontrasse no lugar certo quando o

Um dos únicos aspectos das operações de JB Drilling é a Unidade de Gestão de Programas (PMU). Inicialmente estabelecida pela ONG MEDIC para prestar apoio profissional aos seus projectos de abastecimento de água do Sudão do Sul, a PMU actualmente oferece serviços de apoio à gestão e logística a JB Drilling (Sudão), duas pequenas empresas privadas de perfuração e a uma ONG local.

A PMU é financeiramente auto-suficiente. Cada um dos organismos de perfuração membros contribui com 8% dos custos da perfuração como pagamento pelos serviços de apoio prestados e pelo acesso a qualquer trabalho que a PMU possa gerar. A PMU utiliza os seus vastos contactos, boa reputação e capacidade multidisciplinar para obter amplos pacotes de trabalho, encorajando os seus membros a competirem pelos contratos individuais de acordo com a produtividade, capacidade e disponibilidade. Para 2006, a PMU tem em vista a conclusão de �00 furos no Sudão do Sul, estando também a desenvolver pequenos sistemas de distribuição de água (SWDSs) nos centros rurais em crescimento. Tipicamente, estes pequenos sistemas compreendem um furo em que a água é tirada por uma bomba a energia solar e uma torre com tanque de água que abastece cerca de vinte fontanários através de uma conduta que pode ir até 2 km de comprimento. A PMU achou que estes sistemas eram mais eficazes em função do custo do que os múltiplos furos anteriormente utilizados para servir uma população com dimensão e distribuição semelhantes.

Caixa 3. Unidade de Gestão de Programas para as empresas de perfuração do Sudão

rapidamente, avariadas, o que fez com que os doadores, como é o caso de DFID, procurassem abordagens alternativas, como o apoio actual às empresas privadas seleccionadas.

Os perfuradores sugerem que as sondas doadas às instituições não privadas têm pouca probabilidade de êxito porque as operações sustentáveis de perfuração exigem uma experiência suada e pessoal dedicado, bem como incentivos para trabalhar longas horas em condições difíceis. Leva tempo a edificar a capacidade técnica necessária e requer uma abordagem empenhada de longo prazo. É, muitas vezes, difícil para organismos governamentais ou ONGs oferecerem estes requisitos, pois têm pouco controlo sobre os seus orçamentos ou programas de trabalho. No caso do governo, é também muito difícil tomar

Quem vai abrir osfuros de água em África?

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DFID decidiu experimentar emprestar a sua sonda de perfuração a uma empresa privada. A gestão da sonda e o fluxo de trabalho garantido permitira a Fatigen criar o seu próprio negócio e aumentar a sua reputação. Em consequência, Fatigen está a ser procurada por clientes que pretendem uma empresa de perfuração fiável e competente, que termine o seu trabalho dentro de um determinado prazo e orçamento.

3. A estratégia de um investimento inicial elevado e de alto risco

Antes de uma empresa de perfuração poder competir por contratos, ela precisa de ter uma capacidade e experiência mínimas para tal. Investimentos para o arranque das actividades em equipamento velho e pouco fiável atrasam, ou até mesmo reduzem, a aptidão para se conseguir trabalho com regularidade. É melhor arriscar na falência. Fazer todos os empréstimos possíveis. Investir tudo o que se tem para comprar, equipamento moderno e de alta qualidade, e fazer uma exploração sem problemas (e relativamente de baixo custo) durante vários anos. Esta estratégia vai permitir com que a empresa se estabeleça no ponto mais alto do mercado.

Até à data, esta estratégia de alto risco funcionou bem para Tana Water Well Drilling (TWWD) na Etiópia. A capacidade para arranjar USD 400 000, destinados à compra de equipamento moderno, atraiu gestores e técnicos muito respeitados e convenceu os clientes que TWWD era uma concorrente séria. No entanto, não há muitos empresários que tenham os recursos, contactos e confiança exigidos para o alto investimento inicial implícito nesta estratégia.

4. A estratégia da inovação

Produtos e abordagens inovadores, adequados e eficazes em função do custo produzirão impactos de desenvolvimento positivos e sustentáveis. Por seu turno, tal facto convencerá os governos, doadores e indivíduos a utilizarem e investirem nestas novas tecnologias.

Em Madagáscar, a estratégia de BushProof é tentar comercializar inovações modernas e desconhecidas num sector que gosta de soluções experimentadas e testadas. A BushProof já está a ganhar o reconhecimento de grandes financiadores, como o Banco Mundial, mas ainda não conseguiu utilizar o seu elevado perfil para garantir um fluxo

BushProof – Bomba manual Canzee

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de trabalho constante. Para isso, terá que dar mais atenção à promoção, comercialização e negociação para convencer os clientes anónimos de que os seus serviços representam uma alternativa eficaz e de baixo custo e socialmente responsável em relação à perfuração tradicional ou às abordagens das ONGs.

Recomendações

1.Criar uma unidade de gestão combinada

O modelo mais útil, que emerge dos casos estudados, é a Unidade

de Gestão de Programas (PMU) operada por MEDIC no Sudão. Por uma pequena taxa, esta unidade oferece serviços administrativos e de gestão e encarrega-se da supervisão de pequenos negócios de perfuração. Proporciona ainda uma melhor coordenação e eficiência da implementação e uma redução de custos, através de compras centralizadas. Também promove e representa no mercado as empresas de perfuração que fazem parte da sua associação. Isto ajuda as empresas de perfuração a unirem-se para concursos de grande dimensão e grandes pacotes de trabalho.

Em quase todos os casos seria útil alguma forma de unidade de gestão central. O problema está em encontrar alguém competente para assumir este papel. MEDIC desenvolveu a metodologia PMU depois de anos de experiência com a gestão dos seus projectos no Sudão e, eventualmente, deu-se conta que se poderia constituir como um serviço comercial para as pequenas empresas de perfuração. MEDIC já era bem conhecida e respeitada no Sudão do Sul e tida como prestando um serviço eficaz em função do custo as empresas de perfuração locais. Qualquer outra nova unidade teria que em primeiro lugar, mostrar a sua credibilidade para que as empresas de perfuração privadas pudessem pagar pelos seus serviços.

2. Conceber contratos de perfuração agregados

Na perspectiva dos empresários de perfuração, os governos e doadores deveriam tentar agrupar os furos em pacotes maiores de 10-50 poços, para que os empreiteiros possam trabalhar mais eficazmente e oferecer preços mais baixos. Face às dificuldades dos governos locais descentralizados, que tentam trabalhar em conjunto para organizar pacotes de contratos de perfuração, os governos e ESAEs deveriam optar pelo uso de grandes unidades de planeamento para os programas de perfuração. Uma possibilidade é o uso de represas, que podem gerar benefícios em virtude das semelhanças hidrogeológicas (ao longo da represa) e tirar partido de economias de escala.

3. Prestar apoio financeiro às empresas privadas

Tom Armstrong (JB Drilling/MEDIC) é de opinião que os empréstimos para compra de equipamento seriam a Sonda DTH no Sudão

Quem vai abrir osfuros de água em África?

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forma mais prática de os doadores ajudarem as empresas privadas com capital insuficiente. Associando os empréstimos a contratos de perfuração, a empresa poderia conceder descontos adequados por cada furo. Assim se garantiria que o empréstimo seria pago até ao fim do contrato. Uma outra opção, caso seja bem implementada, é um fundo renovável que podia ser utilizado para oferecer uma solução sustentável aos problemas de crédito, identificados pelos perfuradores, e assim ajudar a criar a capacidade de longo prazo que é urgentemente necessária no sector da perfuração de poços.

Conclusões

Como em todas os pequenos negócios, seria altamente benéfica a introdução de medidas para aliviar os estrangulamentos burocráticos, melhorar o acesso a crédito barato e aumentar a transparência nos processos de concursos. Há que envidar esforços com vista a ajudar o público, ONGs e organizações privadas de perfuração a se conhecerem um do outro, compreender os diferentes problemas e prioridades de cada um e a encorajá-los a trabalhar em conjunto para o bem comum. Neste sector, os benefícios destas pequenas mudanças irão provavelmente resultar numa abertura de poços mais

eficiente e eficaz em função do custo, por todo o continente. O resultado tem de ser um impacto positivo e significativo num vasto processo de melhoria da saúde pública e de redução da pobreza.

Espera-se que esta brochura permita uma nova apreciação do pensamento e motivações das empresas de perfuração privadas e que o leitor passe a considerar as

empresas como um aliado e parceiro na consecução dos objectivos de desenvolvimento do milénio (ODM) nas áreas rurais, e não um adversário explorador ou de um simples mercenário do sector. Os temas e questões discutidos precisam de ser melhor compreendidos e explorados antes de se conseguir a implantação de uma indústria de perfuração africana, sólida e fiável, com a confiança dos governos africanos.

Outubro de 2006

The Rural Water Supply Network RWSN é uma rede de conhecimento global

destinada a promover práticas sonantes no

abastecimento de água rural. RWSN surgiu

da necessidade de se prestar mais atenção

aos desafios de abastecimento de água rural

e de se encorajar a troca de experiência e

de conhecimento sobre aquilo que funciona

entre os muitos organismos públicos, ONGs

e agências privadas que participam no

desenvolvimento da água rural.

Secretariado RWSN SKAT Foundation, Vadianstrasse 42

CH-9000 St. Gallen

Suíça

Telefone: +41 71 288 5454

Fax: +41 71 288 5455

Email: [email protected]

Sítio na WEB : www.rwsn.ch

Autor: Andy Robinson

Autores associados: Erich Baumann,

Etsegenet Berhe, Adriaan Mol, Sunday Arafan,

Jeremy Armstrong e Jonathan Naugle.

Colegas Revisores: Kerstin Danert,

Sylvain Adokpo Migan

Preparado sob a orientação de Joseph

Narkevice Piers Cross (WSP-África)

Direcção da tradução para o Português

de Luís Macário (WSP-África)

Editor: Melanie Lowe Créditos fotográficos: Andy Robinson Contacto: Andy Robinson [email protected]

Referências

Baumann, E (2006) Case Studies of Operating conditions for Local Drilling Entrepreneurs in Rural Water Supply in Africa: Identifying Key Factors for Private Sector Success Rural Water Supply Network Cost-Effective Borehole Case Studies, Final Draft, Processed.

Mol, A, Fewster, E and Osborn, K (2005) Ultra-rapid Well Construction : Sustainability of a Semi-household Level, Post-emergency Intervention Loughborough: �1st WEDC International Conference, Kampala, Uganda 2005.

Naugle, J and Mol, A (2006) Drilling Entrepreneur Case Study – Madagascar: BushProof – Visionaries, Fools or Profiteers? RWSN Cost-Effective Borehole Case Study, Processed.

UNICEF (2006) UNICEF Southern Sudan: Quarterly Report January-March 2006UNICEF website: http://www.unicef.org

WaterAid (2005) Madagascar: National Water Sector Assessment WaterAid website: http://www.wateraid.org

WaterAid (2006) Nigeria: National Water Sector Assessment WaterAid website: http://www.wateraid.org

Andy Robinson é um especialista independente em água e saneamento com um interesse especial por soluções em prol dos pobres no domínio de água, saneamento e higiene. Trabalha intensamente em África e Ásia, onde conquistou 20 anos de experiência em análise, concepção e implementação de políticas e programas para a prestação sustentável de serviços eficazes de água e saneamento.

Este documento é produto de trabalho no terreno e de estudos de casos concluídos pelos seguintes autores associados: Erich Baumann, Etsegenet Berhe, Adriaan Mol, Sunday Arafan, Jeremy Armstrong e Jonathan Naugle.

Este documento também deve muito aos comentários detalhados e incisivos feitos pelos colegas revisores e à edição pela Melanie Low.

Sobre o Autor

O Programa de Água e Saneamento é uma parceria internacional para o melhoramento de políticas, práticas e capacidades do sector de água e saneamento ao serviço das pessoas pobres

A Rede de Abastecimento de Água Rural (RWSN) é uma rede global de conhecimento para promoção de práticas sonantes no abastecimento de água rural.