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Queremos ver Jesus 1
DEZ RETRATOS DE JESUS FEITOS PELOS AMIGOS E PELAS AMIGAS
QUE O CONHECERAM DE PERTO
frei Carlos Mesters, Carmelita
"Queremos ver Jesus!"
“Entre os que tinham vindo à festa para adorar a Deus, havia
alguns gregos. Eles se aproximaram de Filipe, que era de
Betsaida da Galiléia, e disseram: “Queremos ver Jesus!” Filipe
foi falar com André; e os dois juntos foram falar com Jesus”
(João 12,20-22).
Como os gregos, nós também queremos ver Jesus. Os gregos tiveram a ajuda de Filipe e de
André. O nosso Filipe ou André será a partilha que faremos nestes dez Círculos Bíblicos. Queremos
aprofundar o significado de Jesus para a nossa vida. Jesus disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida” (João 14,6). Sem caminho não ando, sem verdade me perco, sem vida estou morto.
Uma pessoa tão importante como Jesus pode ser vista e apreciada de muitas maneiras. Já no
tempo dele era assim. Certa vez, Jesus fez um levantamento das opiniões do povo e perguntou: “Quem
dizem que eu sou?” Os discípulos deram várias respostas: “Elias, Jeremias, algum dos profetas” (Mc
8,28; Mt 16,14). Aí Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o
messias!” Resposta certa! Jesus elogiou Pedro: “Feliz você, Pedro!” (Mt 16,17) Mas quando comunicou a
Pedro que o Messias devia passar pela cruz, Pedro recuou e não quis saber (Mt 16,22-23). Para Pedro,
ser “Messias” era um título de honra. Para Jesus, era uma prática, um modo de ser e de agir. Pedro
imaginava um messias vencedor glorioso, e se enganou redondamente. Como Pedro, muita gente queria
um Messias glorioso: Doutor, Juiz, Sumo Sacerdote, Rei ou General.
Hoje acontece a mesma coisa. Nem todos olhamos para Jesus do mesmo jeito. Depende muito da
igreja a que pertencemos. E mesmo sendo da mesma igreja nem todos pensamos do mesmo jeito. Uns
usam mais a Bíblia, outros se orientam pelo catecismo, outros, pelas imagens ou pinturas que encontram
nas igrejas, outros ainda, pelo que lêem nas revistas ou pelo que vêem e ouvem nos filmes ou na TV.
Muitas pessoas de religiões não cristãs aceitam a Jesus como um profeta ou como alguém que
veio da parte de Deus. Por exemplo, os espíritas, os muçulmanos, os da religião afro-brasileira ou os
judeus que pertencem à mesma raça de Jesus. Quase todos eles reconhecem em Jesus um enviado de
Deus. Hoje em dia, a maioria das pessoas do mundo inteiro já ouviu falar de Jesus. Mesmo não sendo
cristãos, muitos usam frases de Jesus para defender os valores em que acreditam.
Por isso, se houvesse entre as religiões um diálogo sincero sem preconceito, poderíamos aprender
muito, uns dos outros, para conhecer e praticar melhor a mensagem que Jesus nos trouxe. Jesus até
poderia ser um traço de união entre todas estas religiões e uma fonte de ecumenismo em defesa da
vida.
Como olhar para Jesus
Da mesma pessoa você pode fazer várias fotografias. A fotografia fixa o rosto de uma pessoa e,
uma vez fixado, o rosto não muda mais. Mas a pessoa fotografada vai mudando ao longo dos anos.
Muitas famílias colecionam as fotografias dos filhos e das filhas e fazem um álbum. Nele você percebe
o traçado da história de cada um, desde o berço até à idade adulta.
Os quatro evangelhos são como quatro coleções de fotografias do mesmo Jesus. Marcos
descreve Jesus de um jeito, Lucas o faz de outro jeito. Mateus o apresenta como o Mestre que ensina.
Para João, Jesus é a revelação do Pai. O Novo Testamento é o primeiro álbum de fotografias que
conserva a imagem com que os amigos e as amigas de Jesus olhavam para ele.
Queremos ver Jesus 2
Dizemos “primeiro álbum”, porque, depois, vieram muitos outros álbuns: o álbum do catecismo, o
álbum do dogma, o álbum da arte e das pinturas, o álbum da música, o álbum dos filmes. Por exemplo, a
música da ópera Jesus Cristo Super Star, ou Jesus Alegria dos homens de Bach, Jesus Cristo, eu estou aqui, de Roberto Carlos, Jesus Cristo me deixou inquieto do Padre Zezinho. Ou os filmes sobre
Jesus: Gibson, Zefirelli, Pasolini, e outros. Alguns destes álbuns são bonitos, outros são fruto de
fantasia; alguns são muito olhados e admirados; outros, quase desconhecidos; alguns contêm fotografias
reais e verdadeiras, outros apresentam fotografias falsificadas ou mistificadas.
Nestes dez círculos vamos olhar dez fotografias do primeiro álbum, feitas pelos amigos e amigas
de Jesus que comeram e beberam com ele (At 10,41). Não dá para olhar todas as fotos que eles
juntaram no Novo Testamento. São muitas! Mais de cem! Selecionamos apenas dez, uma para cada
círculo deste livrinho.
As dez fotografias mais antigas de Jesus
A convivência de três anos com Jesus e a experiência da sua morte e ressurreição foram algo tão
extraordinário e tão fora de todos os esquemas tradicionais, que os primeiros cristãos não tinham
palavras para expressá-lo. Por isso, a primeira coisa que fizeram foi ler a Bíblia, o Antigo Testamento, à
procura de imagens, títulos e símbolos que, de alguma maneira, pudessem expressar e comunicar sua
nova experiência de Deus em Jesus pois para eles, todo o Antigo Testamento era uma lenta preparação
para a vinda do Messias. Qualquer um dos seus textos que pudesse ser aplicado a Jesus, era usado para
mostrar que Jesus veio realizar as promessas.
Uma outra coisa que fizeram foi aquilo que todos nós fazemos quando as palavras não bastam
para comunicar o que vivemos, a saber, recorreram à poesia e ao canto. Esses cânticos e poesias, até
hoje, estão espalhados pelas páginas do Novo Testamento.
É desta experiência tão profunda e tão bonita dos primeiros cristãos, que tiramos as seguintes
dez fotografias de Jesus:
Cinco Títulos tirados do Antigo Testamento Os cinco nomes ou títulos mais antigos para expressar o que Jesus significava para os primeiros
cristãos foram tirados do Antigo Testamento. O próprio Jesus usou três deles numa única frase quando
disse: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate para
muitos” (Mc 10,45). Os três Títulos são: (1) Filho do Homem, (2) Servo de Javé e (3) Redentor (resgatador) ou Irmão mais velho. Os outros dois são Messias e Senhor, também do Antigo Testamento.
Alguns destes cinco nomes vêm do próprio Jesus, outros refletem mais o pensamento e a gratidão das
comunidades.
Três cânticos ou poesias das primeiras comunidades cristãs Lucas teve o cuidado de inserir no seu evangelho a letra de vários cânticos das comunidades da
Palestina e da Grécia. Eles mostram como os primeiros cristãos olhavam para Jesus e o que esperavam
dele. Um destes cânticos, o mais conhecido de todos, é o Cântico de Maria, a mãe de Jesus (Lucas 1,46-
56). O apóstolo Paulo, nas suas cartas, também conservou várias poesias que eram usadas pelas
catequistas das primeiras comunidades cristãs da Grécia. Uma delas descreve como faziam para ter em
si os mesmos sentimentos de Jesus (Fil 2,5-11). Uma outra descreve em que consiste o amor maior que
Jesus pede dos seus seguidores e seguidoras (1Cor 13,1-13).
Uma característica descoberta à luz da fé na ressurreição A fé na ressurreição de Jesus abriu os olhos dos primeiros cristãos para entender melhor o
plano de Deus, anunciado no Antigo Testamento e realizado no Novo Testamento. Por exemplo, o
profeta Isaías dizia: “Neste mundo tudo passa, só a Palavra de Deus permanece eternamente!” (Is 40,8)
e o Livro de Sabedoria dizia que esta Palavra desceu do alto do céu para a terra (Sab 18,14-15) Os
cristãos, iluminados pela fé na ressurreição, diziam: “Esta Palavra de Deus é Jesus. Ela se fez carne e
começou a viver no meio de nós” (Jo 1,14).
Um resumo de todos os títulos e nomes Todos estes e muitos outros títulos, nomes e imagens são como pedrinhas de cores e tamanhos
diferentes que, aos poucos, foram se agrupando, formando um bonito mosaico que resume tudo o que
eles viviam, sentiam e acreditavam a respeito do Jesus e que, até hoje, é a afirmação central da nossa
fé: “Jesus é o Filho de Deus”.
Queremos ver Jesus 3
Temos assim os seguintes dez retratos de Jesus:
01. Jesus, o Filho do homem
02. Jesus, o Servo de Deus
03. Jesus, nosso Irmão mais velho
04. Jesus, o Messias
05. Jesus, nosso Senhor
06. Jesus, no cântico de Maria, sua mãe
07. Jesus, força na fraqueza
08. Jesus, revelação do amor maior
09. Jesus, a Palavra de Deus
10. Jesus, o Filho de Deus
A seqüência dos doze Encontros: Doze Retratos de Jesus”
1º Retrato: Filho do Homem
Jesus se apresenta como Filho do Homem
“Tão humano como só Deus pode ser humano!”
Lucas 19,1-10
2º Retrato: Servo
Jesus se apresenta como servidor do povo
Lavando os pés dos amigos deu-lhes a extrema prova do seu amor
João 13,1-17
3º Retrato: Irmão mais velho
Jesus se apresenta como o irmão mais velho
O irmão mais velho representa e defende os irmãos e as irmãs menores
Lucas 4,14-21
4º Retrato: Messias Jesus é o Messias esperado que realiza as esperanças do povo
A aclamação solene de Jesus em Jerusalém
Mateus 21,1-11
5º Retrato: Nosso Senhor Jesus é Nosso Senhor
O Pai lhe deu um nome que está acima de todo nome
Atos 2,32-36 e Filipenses 2,9-11
6º Retrato: Transmitido pela Mãe
Em Jesus, Deus se mostrou fiel às promessas feitas aos pobres
No Cântico da Mãe de Jesus, os pobres se alegram e agradecem
Lucas 1,46-56
7º Retrato: Força dos fracos Jesus é a força de Deus que se revela na fraqueza dos pequenos
A poesia sobre Jesus na carta aos Filipenses
Filipenses 2,6-11
8º Retrato: Revelação do amor maior Jesus é a revelação do amor maior
A poesia sobre o Amor na Carta aos Coríntos
1Coríntios 13,1-13
09º Retrato: Palavra de Deus Jesus é a Palavra de Deus
Deus criou o mundo pela sua Palavra e o recria em Jesus
João 1,1-18
10º Retrato: Filho de Deus Jesus é reconhecido como Filho de Deus
Tão humano que foi reconhecido como Filho de Deus
Marcos 1,1 e 15,33-39
Queremos ver Jesus 4
Primeiro Retrato de Jesus
Jesus se apresenta como Filho do Homem “Tão humano como só Deus pode ser humano!”
Ser humano, humanizar a vida
Marcos 8,27-38
1.
Abrir os olhos para ver Jesus
Jesus recebeu muitos nomes e títulos, tanto da parte dos amigos como dos inimigos. Cada um colocava no
nome aquilo que enxergava em Jesus. Os inimigos, por exemplo, o chamavam de “louco”, “samaritano”, “ateu”,
“possesso” e outros nomes feios. É que Jesus os incomodava, e eles, para se vingarem, procuravam
desacreditá-lo junto do povo. Os amigos e as amigas de Jesus, ao contrário, souberam encontrar ou lembrar
nomes que diziam o contrário. Um destes títulos é Filho do Homem. Vinha do Antigo Testamento. Era o nome
que Jesus gostava de usar para si e que os primeiros cristãos conservaram com muito carinho, pois este
nome acentuava a sua missão de anunciar o Reino de Deus como um Reino humano que promove a vida e
humaniza as pessoas. As autoridades religiosas, fariseus, escribas e sacerdotes, ao contrário, impunham
normas ao povo que não eram humanas. Por isso, uma das coisas que os primeiros discípulos mais apreciavam
em Jesus é que ele era bem humano. Eles diziam: “Ele foi provado como nós em todas as coisas, menos no
pecado” (Hb 4,15). Vamos conversar sobre isto:
1. Qual a imagem de Jesus que você carrega no seu coração e de onde vem esta imagem?
2. Por que será que é tão difícil a gente imaginar Jesus bem humano, igual a nós em tudo?
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
“Filho do Homem” era o título que Jesus usava para si e que mais ficou gravado na memória dos primeiros
cristãos. Vamos escutar um dos muitos episódios, em que Jesus se apresenta como Filho do Homem. É
quando Jesus, numa atitude acolhedora, aceita o convite de jantar na casa do velho Zaqueu e é criticado
pelos fariseus por ter tido esta atitude tão humana. Durante a leitura, vamos ficar com a seguinte pergunta
na cabeça: “De que maneira, neste texto transparece a atitude bem humana de Jesus”?
Leitura do texto: Lucas 19,1-10
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o sentido do nome “Filho do Homem”:
1. O que mais chamou a sua atenção no texto ou de que você mais gostou? Por quê?
2. A partir desta atitude de Jesus, como entender o título Filho do Homem?
3. Se você tivesse que lembrar uma atitude bem humana de Jesus, qual seria?
4. De que maneira este texto me convida a mudar o meu modo de pensar sobre Jesus?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar o salmo 34: A experiência da bondade de Deus levou o salmista a mais ser humano
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus, o “Filho do Homem”
Às vezes, a gente escuta o povo dizer: “Jesus era Deus! Nós não podemos comparar-nos com ele!”
Eles colocam Jesus tão alto no céu e tão longe de nós, que já nem parece o Jesus de que os primeiros
cristãos diziam: “Ele foi provado como nós em todas as coisas, menos no pecado” (Hb 4,15). Como será
que Jesus quer ser visto por nós? Vamos ver se conseguimos encontrar uma resposta.
O nome que Jesus mais gostava de usar para si mesmo era “Filho do Homem”. Este nome aparece
com grande freqüência nos evangelhos. Só no evangelho de Marcos quinze vezes (Mc 2,10.28; 8,31.38;
9,9.12.31; 10,33.45; 13,26; 14,21.21.41.62).
Queremos ver Jesus 5
O título “Filho do Homem” vem do AT. No livro de Ezequiel, ele indica a condição bem humana do
profeta (Ez 3,1.4.10.17; 4,1 etc. inúmeras vezes). A Bíblia Pastoral o traduz por “criatura humana”.
No livro de Daniel, o título “Filho do Homem” aparece numa grandiosa visão, que descreve os
impérios mundiais dos Babilônios, dos Medos, dos Persas e dos Gregos (Dn 7,1-28). Na visão do profeta,
estes quatro impérios têm a aparência de “animais monstruosos” (cf. Dn 7,3-8), pois são reinos
animalescos, brutais, desumanos, que perseguem, desumanizam e matam (Dn 7,21.25). Na mesma visão,
depois dos quatro reinos anti-humanos, aparece o Reino de Deus que é descrito da seguinte maneira:
“Entre as nuvens do céu vinha alguém como um Filho de homem. Foi lhe dado Poder, Glória e Reino, e
todos os povos, nações e línguas o serviram” (Dn 7,13.14). O Reino de Deus tem a aparência, não de um
animal, mas sim de um “Filho de Homem”, isto é, de uma figura humana. O Reino de Deus é um reino com
aparência de gente. Não é animalesco, mas sim humano. Promove a vida. Humaniza as pessoas.
Na visão do profeta Daniel, esta figura do Filho do Homem representa, não um indivíduo, mas
sim, como ele mesmo diz, o “povo dos Santos do Altíssimo” (Dn 7,27; cf Dn 7,18). É o povo de Deus que
não se deixa desumanizar nem enganar ou manipular pelo jeito de pensar dos impérios animalescos. A
missão do Filho do Homem, isto é, do povo de Deus, consiste em realizar o Reino de Deus como um reino
humano. Reino que não persegue a vida, mas sim a promove! Um Reino que humaniza as pessoas.
Apresentando-se aos discípulos como Filho do Homem, Jesus assume como sua esta missão
humanizadora do Povo de Deus. É como se dissesse a eles e a todos nós: “Venham comigo! Esta missão
não é só minha, mas é de todos! É do Povo de Deus! Vamos juntos realizar esse Reino humano que Deus
Pai sonhou para todos! Esta é a nossa missão”. Foi o que Jesus fez e viveu durante toda a sua vida,
sobretudo, nos últimos três anos. Dizia o Papa Leão Magno: “Jesus foi tão humano, mas tão humano,
como só Deus pode ser humano”. Quanto mais humano, tanto mais divino. Quanto mais “filho do homem”
e tanto mais “filho de Deus!” Tudo que desumaniza afasta de Deus. Tudo que humaniza aproxima de
Deus. Jesus colocou o bem da pessoa humana como prioridade acima das leis, acima do sábado (Mc
2,27). Só há uma única maneira de a pessoa se divinizar: sendo profundamente humana!
Veja na vida de Jesus alguns episódios em que ele se mostrou profundamente humana e nos
ensina como ser humano e humana:
* A moça do perfume
* Ele come e bebe
* Acolhe o velho Zaqueu
* Acolhe as mães e as crianças
* É severo com aqueles que machucam os pobres
Na hora de ser condenado pelo tribunal religioso, Jesus assumiu este título. O Sumo Sacerdote
perguntou: “És tu o Messias, o Filho do Deus bendito?” Jesus respondeu: “Eu sou. E vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu” (Mc 14,62). Perguntado
se era o “filho do Deus” (Mc 14,61), ele responde que é o “filho do Homem”. Por causa desta sua
afirmação ele foi declarado réu de morte pelas autoridades. Jesus sabia disso pois tinha dito: “O Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate para muitos” (Mc
10,45).
Queremos ver Jesus 6
Segundo Retrato de Jesus
Jesus se apresenta como servidor do povo Lavando os pés das pessoas deu-lhes a extrema prova do seu amor
Veio para servir e não para ser servido
João 13,1-17
1.
Abrir os olhos para ver Jesus
O povo repete até hoje: “Quem não vive para servir, não serve para viver!” Este era também o lema de
Jesus. Ele dizia: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). Quando os discípulos brigavam pelo
primeiro lugar ou quando alguns deles queriam ser mais importantes que os outros, ele chamava a atenção e
dizia: “Quem quiser ser o primeiro deve ser o servidor de todos” (Mc 9,35). Não é fácil servir! Judas ia trair
Jesus. Mesmo assim, Jesus lavou os pés de Judas. Ele mesmo, quando o povo queria fazer dele um rei, fugiu
para a montanha e não quis saber (Jo 6,14). Foi o que São Paulo lembrou quando dizia que Jesus podia
gloriar-se do seu título de filho de Deus, mas em vez disso se fez servidor de todos (Fil 2,6-7). Nós temos a
festa de Cristo Rei, mas não temos a festa de Cristo servidor. É pena! Vamos refletir sobre isto:
1. Por que é tão difícil servir aos outros? Conta algo da sua experiência.
2. Temos uma festa de Cristo Rei e não temos uma festa de Jesus Servidor. Como entender isso?
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
No tempo de Jesus, as autoridades religiosas ensinavam ao povo que o Messias devia ser glorioso e
vencedor. Elas não se lembravam da profecia de Isaías que falava de um Messias Servidor (Is 42,1-9).
Vamos ouvir um texto em que Jesus se apresenta não como glorioso vencedor mas como o servidor de
todos. Durante a leitura, vamos ficar com esta pergunta na cabeça: “Em que consiste exatamente o
serviço que Jesus quer prestar ao povo?”
Leitura do texto: João 13,1-17
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o sentido do nome “Servo”:
1. O que mais chamou a sua atenção no texto ou de que você mais gostou? Por quê?
2. Conforme as palavras do texto, em que consiste exatamente o serviço que Jesus quer prestar ao povo?
3. Como entender a reação de Pedro e a resposta dura de Jesus?
4. O que deve mudar no meu modo de pensar sobre Jesus?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar o canto do Servo de Deus: Isaías 49,1-9
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus, o Servo de Javé
Naquele tempo, havia entre os judeus uma grande variedade de expectativas messiânicas. De
acordo com as diferentes interpretações das profecias, havia gente que esperava um Messias Rei (Mc
15,9.32), um Messias Santo ou Sumo Sacerdote (Mc 1,24), um Messias Guerrilheiro subversivo (Lc 23,5;
Mc 15,6; 13,6-8), um Messias Doutor (Jo 4,25; Mc 1,22.27), um Messias Juiz (Lc 3,5-9; Mc 1,8) ou um
Messias Profeta (Mc 6,4; 14,65). Cada um, conforme os seus próprios interesses ou classe social,
encaixava o messias nos seus próprios desejos e expectativas. Mas por mais diferentes que fossem
aquelas expectativas, todas elas concordavam numa coisa: o messias seria forte, glorioso e vencedor.
Queremos ver Jesus 7
Ao que tudo indica, ninguém se lembrava do Messias Servidor tal como tinha sido anunciado pelo
profeta Isaías. Somente os pobres souberam valorizar a esperança messiânica como um serviço do povo
de Deus à humanidade. Maria, a pobre de Javé, disse ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor!” Foi de
Maria, sua mãe, que Jesus aprendeu o caminho do serviço. Nas três vezes em que ele anunciou sua
paixão, morte e ressurreição, Jesus se orientou pela profecia do Servo de Javé, tal como transparece
nos quatro cânticos do livro de Isaías, e a aplicou a si mesmo (Mc 8,31; 9,31; 10,33).
A origem daqueles quatro cânticos do Servo de Javé (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13 a 53,12)
remonta ao grupo dos discípulos e discípulas de Isaías que viviam no cativeiro da Babilônia em torno de
550 antes de Cristo. No livro de Isaías, a figura do Servo de Javé indica não um indivíduo, mas sim o
povo do cativeiro (Is 41,8-9; 42,18-20; 43,10; 44,1-2; 44,21; 45,4; 48,20; 54,17), descrito pelo profeta
como um povo “oprimido, sofredor, desfigurado, sem aparência de gente e sem um mínimo de condição
humana, povo explorado, maltratado e silenciado, sem graça nem beleza, cheio de sofrimento, evitado
pelos outros como se fosse um leproso, condenado como um criminoso, sem julgamento nem defesa” (cf.
Is 53,2-8). Retrato perfeito de uma grande parte da humanidade, até hoje!
Deste povo-servo se dizia: “Ele não grita, nem levanta a voz, não solta berros pelas ruas, não
quebra a planta machucada, nem apaga o pavio de vela que ainda solta fumaça” (Is 42,2). Ou seja,
perseguido, não perseguia; oprimido, não oprimia; machucado, não machucava. Nele o vírus da violência
opressora do império da Babilônia não conseguiu penetrar. Pelo contrário, ele promovia o direito e a
justiça (Is 42,3.6). Esta atitude resistente do povo-servo é a semente da justiça que Deus quer ver
implantada no mundo todo. Por isso, Deus chama esse povo para ser o seu Servo com a missão de
irradiar a justiça de Deus e ser a “Luz do Mundo” (Is 42,2.6; 49,6).
Os quatro cânticos do Servo são uma espécie de cartilha para ajudar o povo oprimido, tanto de
ontem como de hoje, a descobrir e assumir sua missão. Jesus conhecia estes cânticos e por eles se
orientou. O primeiro cântico (Is 42,1-9) descreve como Deus chama o povo a ser o seu Servo e realizar
a justiça no mundo inteiro. O segundo cântico (Is 49,1-6) descreve como foi difícil para aquele povo
exilado e marginalizado acreditar na sua vocação de Servo. No terceiro cântico (Is 50,4-9), o Servo
conta como ele, apesar do sofrimento, está realizando a sua missão. O quarto cântico (Is 52,13 a 53,12)
descreve o futuro deste Servo: fiel a sua missão, ele vai entregar sua vida pelos outros e Deus vai
confirma-lo como seu servo. Morte e ressurreição!
Jesus percorreu o caminho dos quatro passos do serviço, indicados por Isaías. Na hora do
batismo no rio Jordão, o Pai o apresentou como o seu servo e o enviou para a missão (Mc 1,11). Na
sinagoga de Nazaré, ao expor seu programa ao povo da sua terra, Jesus assumiu esta missão
publicamente (Lc 4,16-21). A partir daquele momento, ele começou a andar pela Galiléia para ajudar o
povo a descobrir e assumir, junto com ele, a missão de Servo de Deus. No fim da sua vida, durante a
última ceia, Jesus lavou os pés dos seus discípulos. Até o fim, perseverou na atitude de Servo de Deus.
Eis alguns episódios em que transparece mais forte esta atitude de serviço em Jesus:
* Lava-pés
* Cura dos doentes
* Alimenta o povo faminto
* Conversa com o povo e consola os tristes
* Acolhe os excluídos e dá um lugar para eles
* Ensina o povo as coisas do Reino de Deus
* Defende os pequenos quando são criticados
* Faz o povo participar
Através desta sua atitude de serviço, Jesus nos revela a face de Deus que nos atrai e nos indica
o caminho de volta para a casa do Pai. A sua vida é o melhor comentário dos quatro cânticos de Isaías.
Queremos ver Jesus 8
Terceiro Retrato de Jesus
Jesus se apresenta como o irmão mais velho O irmão mais velho defende e protege os irmãos e as irmãs menores
1.
Abrir os olhos para ver Jesus
No tempo de Jesus, por causa da situação política-social e por causa da visão errada de Deus que a
religião comunicava ao povo, a vida em comunidade tinha muitas falhas. Não havia mais aquela fraternidade
que Deus deseja para todos. Havia muita gente que, em nome de Deus, era proibida de participar plenamente
da comunidade: os doentes, os deficientes físicos, os estrangeiros, as mulheres, as crianças, os publicanos.
Por isso, aquilo que o povo mais esperava do futuro Messias era ele resgatar os excluídos e reintegra-los,
novamente, na comunidade ou, como diziam naquele tempo, “reconduzir o coração dos pais para os filhos e o
coração dos filhos para os pais” (Mal 3,23; Eclo 48,10). Na língua deles diziam: “O messias vai ser o nosso
Goêl!” A Bíblia costuma traduzir esta palavra por Resgatador, Redentor, Salvador, Parente próximo ou irmão
mais velho. Foi o que Jesus fez. Em nome da sua fé em Deus como Pai, procurava acolher e resgatar as
pessoas excluídas, ser o irmão de todos. A sua pregação e o seu testemunho fizeram com que, nos povoados
da Galiléia, as pessoas excluídas fossem novamente acolhidas e incluídas nas comunidades. Por isso,
chamaram Jesus de “primogênito” (Col 1,18; Apc 1,5), nosso irmão mais velho, nosso redentor, libertador,
defensor.
1. Vivemos numa sociedade violenta e excludente. Onde as pessoas encontram segurança? Como você faz
para se defender?
2. Quem são hoje as pessoas mais indefesas e mais inseguras? Quem as protege?
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
Vamos ouvir o texto em que Jesus se apresenta à comunidade como o Redentor, cuja missão consiste
em anunciar a Boa Nova de Deus aos pobres, acolher os excluídos e, assim, restaurar a vida em
comunidade. Durante a leitura, vamos ficar com esta pergunta na cabeça: “Em que consiste exatamente
a missão que Jesus se propõe a realizar?”
Leitura do texto: Lucas 4,14-21
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o sentido do nome “Redentor” ou “Irmão mais velho”:
1. O que mais chamou a sua atenção no texto ou de que você mais gostou? Por quê?
2. Conforme as palavras de Lucas, em que consiste a missão de Jesus?
3. Você consegue imaginar Jesus como um irmão mais velho que intervém para melhorar a vida em família?
4. O que deve mudar no meu modo de pensar sobre Jesus?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar um salmo (147)
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus, nosso irmão mais velho
No Antigo Testamento, caso alguém, por motivo de pobreza ou de dívidas, perdesse sua terra ou
fosse vendido como escravo, o parente mais próximo ou o irmão mais velho, chamado goêl na língua
deles, devia entregar tudo de si para resgatar o irmão mais novo (Lev 25 e Dt 15). Assim, ele evitava
que a convivência comunitária fosse quebrada. Era isto que o povo esperava do retorno do profeta Elias:
“reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais” (Ml 3,23-24; Eclo
48,10), ou seja, restaurar a vida em família, em comunidade. Era este um dos títulos mais antigos, que
Queremos ver Jesus 9
os primeiros cristãos tiraram do Antigo Testamento para expressar o significado de Jesus para as suas
vidas: Jesus é o Goêl, o redentor, o salvador, o “primogênito” o irmão mais velho (Col 1,18; Apc 1,5), o
paráclito ou consolador.
O termo hebraico goêl é tão rico que não tem tradução perfeita na nossa língua. No Novo
Testamento ocorrem os termos como libertador, redentor, salvador, consolador, advogado, paráclito,
defensor, parente próximo, irmão mais velho, primogênito. Todos estes termos, quando usados para
designar Jesus, referem-se, de uma ou de outra maneira, a este costume antigo de Goêl, aplicado a
Jesus, nosso irmão mais velho.
Para os primeiros cristãos, Jesus era o parente próximo, o goêl, o irmão mais velho, que entregou
tudo de si para resgatar seus irmãos e suas irmãs, vítimas da escravidão da lei, do racismo, da ideologia
do império e da religião opressora, para que, novamente, pudessem viver em fraternidade. Foi assim que
Jesus entendeu a sua missão como messias.
No tempo de Jesus, em nome de uma interpretação errada da Lei de Deus, muita gente era
excluída da vida em comunidade. Jesus, a partir da sua experiência de Deus como Pai, denunciava esta
situação que escondia o rosto de Deus para os pequenos (Mt 23,13-36). Como “parente próximo” ou
“irmão mais velho” (goêl), ele oferecia um lugar aos que não tinham lugar na convivência humana. Acolhia
os que não eram acolhidos e, na sua nova família (Mc 3,34), recebia como irmão e irmã aqueles que a
religião e o governo desprezavam e excluíam:
os imorais: prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11);
os hereges: pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42);
os impuros: leprosos e possessos (Mt 8,2-4; Lc 11,14-22; 17,12-14; Mc 1,25-26);
os marginalizados: mulheres, crianças e doentes(Mc 1,32; Mt 8,17;19,13-15; Lc 8,2s);
os colaboradores: publicanos e soldados (Lc 18,9-14;19,1-10);
os pobres: o povo da terra e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,20.24; Mt 11,25-26).
Todas estas pessoas tiveram a experiência concreta de terem sido resgatados por Jesus, o
irmão mais velho, que cumpriu o seu dever de goêl para com elas. Paulo chegou a dizer: “Ele me amou e
se entregou por mim” (Gl 2,20). Jesus se fez escravo, esvaziou-se, para nos enriquecer com a sua
pobreza (2Cor 8,9), para que nós pudéssemos recuperar a liberdade e retomar a vida em comunidade.
Apresentando-se como o goêl dos irmãos e irmãs excluídas da convivência comunitária, Jesus nos
revela a face de Deus como Pai, como Mãe, que acolhe a todos e vai atrás dos abandonados e excluídos.
Queremos ver Jesus 10
Quarto Retrato de Jesus
Jesus é o Messias esperado A entrada solene em Jerusalém
Jesus fala ao coração do povo e realiza a sua esperança
Mateus 21,1-11
1.
Abrir os olhos para ver Jesus “João, por que você deixou de ir à missa nos domingos? Antigamente, você ia e até obrigava os
filhos. O que é que houve com você?” E João respondia: “Sei lá, mulher. Do jeito que vai nossa igreja não é
o que eu desejo. Acho que Deus quer outra coisa”. –“Como é que você pode falar assim? Você nunca falou
com Deus para saber o que Ele quer!” E João calava, ficava sem resposta. Um dia, na rua, encontrou um
rapaz carregando um menino gravemente ferido. Ele se aproximou e disse: “Posso ajudar?” –“Pode, sim!
Ajuda-me a levar esse menino ao posto de saúde”. –“Pois não!” Enquanto os dois iam carregando o menino
ferido, o rapaz foi explicando: “É que faço parte de um grupo de ajuda aos meninos de rua. Fazendo
reunião de Bíblia, lendo o evangelho, nós descobrimos que Deus quer isto de nós!” João ficou calado. No
dia seguinte, procurou o rapaz e disse: “Quero ser membro do grupo de vocês. Era isto que eu esperava. É
o que Deus quer mesmo de mim. Já falei com a mulher e ela concordou comigo!”
1. Alguma vez aconteceu com você um fato que te ajudou a descobrir o que Deus quer de você? Conte
como foi.
2. O que será que o povo espera mesmo da Igreja ou da comunidade?
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
O texto deste círculo descreve a entrada solene de Jesus na cidade de Jerusalém. Ele é
aclamado pelo povo como Messias. Durante a leitura vamos prestar atenção no seguinte: “Quais
as pessoas que aparecem no texto? O que elas pensam a respeito de Jesus e o que esperam
dele?”
Leitura do texto: Mateus 21,1-11
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o sentido do título Messias:
1. O que mais chamou a sua atenção no texto ou de que você mais gostou? Por quê?
2. Quais as pessoas ou grupos que aparecem neste texto? O que elas pensam de Jesus?
3. Por que será que Jesus faz questão de entrar em Jerusalém sentado num jumentinho?
4. O que devo mudar no meu jeito de pensar sobre Jesus?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar um salmo: Salmo 72
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus, o Messias esperado pelo povo
Messias é uma palavra hebraica que significa “ungido”. Cristo é uma palavra grega e também
significa “ungido”. Naquele tempo, quando alguém recebia uma função importante, ele era ungido com
óleo passado na cabeça. Reis e sacerdotes eram “ungidos”, (cristos, messias). Às vezes, chegavam a
designar todo o povo como o ungido (cristo) de Deus (Sl 105,15). Para dizer que a unção era muito boa
diziam que o óleo usado para ungir derramava pela barba até na roupa da pessoa (Sl 133,2).
As pessoas “ungidas”, reis e sacerdotes, nem sempre eram fiéis à missão para a qual foram
ungidas. Esta frustração com os falsos “ungidos” fez com que o povo começasse a esperar por um
verdadeiro “ungido”, um verdadeiro “messias” ou “cristo”, que fosse fiel a Deus e ao povo. Assim nasceu
a esperança messiânica do povo de Deus. O salmo 72(71) é um exemplo daquilo que esperavam do futuro
Queremos ver Jesus 11
messias ou rei: “Que ele governe teu povo com justiça e teus pobres conforme o direito. Que os montes
tragam a paz e as colinas a justiça. Que ele defenda os pobres do povo e salve os filhos do indigente e
esmague os seus opressores. Que ele dure como o sol e a lua, de geração em geração! (Sl 72,1-4). O
texto que descreve a entrada solene de Jesus em Jerusalém mostra como Jesus era o messias
esperado pelo povo. Vejamos:
1. Mateus 21,1-3: A chegada em Jerusalém.
Romeiro entre os romeiros, Jesus vem caminhando! O ponto final da caminhada é o Templo, onde
mora Deus! Bétfage era um povoado pobre fora da cidade, do outro lado do Monte das Oliveiras. De
lá, Jesus organiza a sua entrada na cidade. Manda os discípulos buscar um jumentinho, um jegue,
animal de carga, para poder realizar um gesto simbólico.
2. Mateus 21,4-5: A realização das promessas e profecias em Jesus.
O Evangelho de Mateus tem a preocupação de mostrar que em Jesus se realizam as profecias.
Zacarias anunciava a vinda do messias dizendo: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria,
cidade de Jerusalém, pois o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num
jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta. Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os
cavalos de Jerusalém; quebrará o arco de guerra. Anunciará a paz a todas as nações” (Zac 9,9-10). O
messias vem montado num jumentinho e não num cavalo. Cavalo, animal majestoso, era símbolo do rei
que manda. Jumento, animal de carga, era símbolo do empregado que quer servir. Era símbolo
também dos antigos Juizes que todos eles montavam em jumentos ou jegues ( ).
3. Mateus 21,6-7: A ajuda dos discípulos e das discípulas.
Os discípulos fizeram como Jesus tinha mandado, e tudo acontece conforme o previsto. Eles
encontram o jumentinho e o levam até Jesus. Colocam mantos em cima do animal e Jesus monta para
iniciar a entrada solene na cidade.
4. Mateus 21,8-9: A procissão se põe em marcha. Jesus entra na cidade, aclamado pelos discípulos e peregrinos: "Hosana ao Filho de Davi. Bendito
aquele que vem em nome do Senhor”. Na imaginação deles está a idéia do messias glorioso, filho de
Davi. Jesus aceita a homenagem, mas com reserva. Aceita ser o messias, mas não o messias glorioso
que os discípulos imaginavam. Montado no jumentinho, ele evoca a profecia de Zacarias que dizia:
“Teu rei vem a ti, pobre, montado num jumento” (Zc 9,9). Jesus se mantém no caminho do serviço,
simbolizado no jumentinho, animal de carga. Jesus ensina agindo. Os discípulos e as discípulas que
aclamam Jesus como rei glorioso, devem entender o gesto de Jesus. Devem mudar de idéia e se
converter (cf. Mc 1,15)!
4. Mateus 21,10-11: A . entrada solene na Cidade Santa.
Jesus entra em Jerusalém, capital do seu povo. A cidade fica agitada e se pergunta: “Quem é ele?”
Os discípulos, as discípulas e o povo romeiro, vindos da Galiléia, respondem: “É o profeta Jesus, de
Nazaré da Galiléia!” Para o povo, Jesus é um profeta, alguém que fala em nome de Deus. Durante
toda a manifestação nenhuma autoridade apareceu, nem para acolher, nem para criticar. Ausência
que faz prever sombras e tempestades!
Queremos ver Jesus 12
Quinto Retrato de Jesus
Jesus é Nosso Senhor “Ele recebe um nome que está acima de todo nome!”
Atos 2,32-36 e Filipenses 2,9-11
1.
Abrir os olhos para ver Jesus Para nós, o título mais conhecido de Jesus é “Nosso Senhor”. Quando alguém diz “Nosso Senhor”, todo
mundo já sabe que ele está falando de Jesus. Virou nome próprio. A gente usa tanto esse nome que nem
pensa mais no seu significado. É como a imagem da cruz. Ela aparece em todo canto, até no Parlamento e na
sala do Juiz. Aparece tanto, que a gente nem se lembra mais de que se trata de um homem torturado,
condenado à morte por uma sentença injusta e criminosa.
1. Brasil é o país mais católico do mundo e é também o país com a maior injustiça social. Será que
Jesus é realmente o Nosso Senhor?
2. O que vem na sua cabeça quando você escuta, ou canta o nome de Nosso Senhor?
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
Vamos ouvir dois pequenos trechos da Bíblia, em que se diz que Jesus recebeu de Deus o nome de
Senhor! Os dois foram escritos numa época em que o Imperador de Roma era apresentado pela
propaganda oficial como o SENHOR do mundo. O texto dos Atos dos Apóstolos traz a conclusão
final do primeiro discurso de Pedro no dia de Pentecostes, logo depois da descida do Espírito Santo
(At 2,32-36). O outro texto é o final do cântico das comunidades, conservado por Paulo na sua carta
à comunidade de Filipos (Filp 2,9-11). Durante a leitura, vamos prestar atenção no que há de comum
nos dois textos a respeito de Jesus.
Leitura do texto: Atos 2,32-36 e Filipenses 2,9-11
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o sentido do nome “Nosso Senhor”:
1. O que mais chamou a sua atenção nos dois textos ou de que você mais gostou? Por quê?
2. Qual o ponto em comum que os dois textos afirmam a respeito de Jesus?
3. Qual a experiência das Comunidades daquele tempo que está por de trás do título SENHOR dado a
Jesus?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar salmo 146: O verdadeiro retrato de Deus, confirmado por Jesus
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: “Nosso Senhor” é o novo Nome de Jesus
Jesus vivia muito unido a Deus. Em tudo que ele fazia procurava fazer a vontade do Pai. Ele
chegou a dizer: Eu a cada momento faço aquilo que meu Pai me mostra o que é para fazer. E dizia: Todos
aqueles que como eu fazem a vontade do Pai são meus irmãos e minhas irmãs. Deus é o centro da vida de
Jesus. Um Deus acolhedor, amante dos pobres e excluídos. Por isso, o povo gostava de estar perto de
Jesus e de escuta-lo. Ele fala de Deus e do Reino. Jesus era a revelação do rosto de Deus. Quem me vê,
vê o Pai. Em Jesus, Deus aparece em forma humana, bem perto de nós. Se quiser conhecer a Deus, olhe
para Jesus, Jesus de Nazaré. Por isso, os primeiros cristãos deram a Jesus o nome mais querido de
Deus que era SENHOR, que era outra maneira de chamar o nome próprio de Deus JAVÉ. Vejamos:
O nome próprio de Deus é Javé ou JHWH. O significado deste nome é descrito no livro de
Êxodo (Ex 3,7-15). Deus diz a Moisés: “Vai libertar o meu povo!” (Ex 3,10) Moisés tem medo, finge
humildade e diz: “Quem sou eu!” (Gn 3,11). Deus o ajuda a vencer o medo e responde: “Vai! Estou com
você! (Ex 3,12). Mas Moisés continua com medo e arruma outro pretexto: ”O povo vai perguntar pelo teu
Queremos ver Jesus 13
nome. O que é que eu vou responder?” Deus responde repetindo com força o que tinha dito antes:
“Estou que Estou!” É como se dissesse a Moisés: “Certissimamente estou com você, disto você não pode
duvidar!” Este é o significado que o Nome Javé que comunicar: Deus está conosco! E Deus termina
dizendo: “Este é meu nome para sempre e assim quero ser invocado de geração em geração” (Ex 3,14-
15). Ao assumir este Nome, Deus afirma que Ele quer ser presença amiga e libertadora no meio do seu
povo para sempre.
Aqui se exprime a convicção mais profunda da fé: Deus está no meio de nós. Ele é Emanuel. Deus
conosco! Tudo isto se resume nas quatro letras JHWH do Nome que nós pronunciamos como Javé. A
Bíblia permite ter dúvida de tudo, menos de uma coisa: do Nome de Deus, isto é, da certeza absoluta
da presença de Deus no nosso meio! Ele está no meio de nós! Só no Antigo Testamento o Nome Javé
aparece mais de 7000 vezes!
O trágico aconteceu depois do cativeiro da Babilônia. Nos últimos séculos antes de Cristo, o
fundamentalismo nascido do medo foi criando uma distância entre Deus e o povo. O nome Javé já não
podia ser pronunciado. Em vez disso, diziam Adonai, o que significa Nosso Senhor. Por isso, até hoje,
algumas Bíblias traduzem Javé por Senhor. Estes dois nomes, tanto Javé, como Senhor, são, por assim
dizer, uma janela aberta, através da qual Deus nos revela o seu rosto e nos atrai para si. O
fundamentalismo fechou a janela com uma cortina, impedindo o povo de sentir mais de perto a presença
amiga, libertadora e consoladora de Deus. Mas na hora da morte de Jesus, rasgou-se a cortina que
separava o Santos dos Santos do resto do templo (Mc 15,38). Jesus abriu de novo a janela e nos revelou
o rosto de Deus que nos atrai para si.
Em Jesus Deus nos faz saber que ele é e continua sendo Javé, Nosso Senhor, presença amiga e
libertadora no meio do seu povo. No dia de Pentecostes, Pedro revelou a grande descoberta: “Que todo
o povo o saiba: Deus fez de Jesus Cristo o Senhor!” O Evangelho de Mateus o diz claramente: Jesus é
Emanuel, Deus-conosco! (Mt 1,23) E o cântico citado por Paulo o repete: “Jesus recebeu o Nome que
está acima de qualquer outro nome, para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e
sob a terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor!” (Fl 2,9-11). Jesus é a prova concreta
de que Deus é e continua sendo Javé, presença amiga no meio de nós. Ele é nosso Senhor.
Na segunda metade do primeiro século, os imperadores romanos queriam que todos os
adorassem como “Deus e Senhor” (Deus et Dominus). Os primeiros cristãos denunciavam a pretensão
imperial e diziam: “O Nosso Senhor é Jesus!” Muitos pagaram com a vida.
Queremos ver Jesus 14
Sexto Retrato de Jesus
O Cântico de Maria, a Mãe de Jesus Em Jesus Deus se mostra fiel às suas promessas aos pobres
Os pobres se alegram e agradecem
Lucas 1,46-56
1.
Abrir os olhos para ver Jesus
Alguém disse uma vez: “Os cânticos são o termômetro das comunidades. Pelos cânticos que as
comunidades cantam espontaneamente, você avalia quem elas são e qual a visão que elas têm da igreja, de
Deus, de Jesus e da sua missão na sociedade”. Isto vale tanto para as nossas comunidades de hoje como para
as comunidades dos primeiros cristãos. Um dos cânticos das primeiras Comunidades é o cântico de Maria, a
Mãe de Jesus. Cântico muito antigo, cantado até hoje. Muita gente o conhece de memória. Ele é o
termômetro do ambiente de vida das primeiras comunidades cristãs lá da Galiléia, a terra de Maria, e revela
qual a visão que elas tinham de Deus, de Jesus e da sua missão. Hoje também surgem muitos cânticos novos
que revelam nossa maneira de ser e nossa maneira de conceber nossa missão como cristãos no mundo de
hoje. Vamos ver isto mais de perto.
1. Na sua comunidade, quais os cânticos que vocês mais gostam de cantar?
2. Qual a imagem de Jesus que se reflete nos nossos cânticos de hoje? Dê alguns exemplos.
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
No Evangelho de Lucas, o Cântico de Maria aparece por ocasião da visita que ela fêz à sua prima Isabel.
Depois que as duas mães se saudaram, tiveram uma experiência muito viva das maravilhas que Deus
estava realizando em suas vidas. Espontaneamente, Maria canta: “O Senhor fez em mim maravilhas”. O
cântico de Maria tornou-se conhecido e era cantado nas Comunidades para ensinar ao povo o benefício
que Jesus lhes trouxe. Durante a leitura, vamos prestar atenção no seguinte: “O que este cântico de
Maria nos informa sobre Jesus?”
Leitura do texto: Lucas 1,46-55
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o que o Cântico de Maria nos revela sobre o seu filho Jesus:
1. O que mais chamou a sua atenção no cântico de Maria ou de que mais gostou? Por quê?
2. O que este cântico informa sobre Jesus, o filho de Maria?
3. O canto é o termômetro da consciência da comunidade: qual o nível de consciência que
transparece neste cântico de Maria?
4. Qual a mensagem que este cântico traz para você sobre Jesus?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar o Cântico de Ana (1Samuel 2,1-10)
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus, o filho, no cântico de Maria, sua mãe
O Evangelho de Lucas gosta de imitar o jeito do Antigo Testamento. O Cântico de Maria é uma
retomada do cântico de Ana, mãe do profeta Samuel (1Sm 2,1-10). Maria, a mãe de Jesus, representa o
povo do Antigo Testamento que reconhece em Jesus a chegada do Novo e, por isso, canta a sua
gratidão. Jesus é o Novo que chega; ele realiza a promessa do Antigo que se despede.
Queremos ver Jesus 15
Lucas 1,46-47: Minha alma proclama a grandeza do Senhor
Para entender bem todo o significado do Cântico de Maria, é importante lembrar que Lucas, quando
fala de Maria, ele pensa nas comunidades. No Antigo Testamento, o povo de Deus era simbolizado como
sendo a Filha de Sião. Maria é a nova Filha de Sião. Ela representa o novo povo de Deus que nasce ao
redor e a partir de Jesus. Quando Maria começa a cantar, não é só ela que canta, mas nela e com ela
cantam as pequenas comunidades cristãs, cantamos todos nós. Como Maria, as comunidades proclamam a
grandeza do Senhor e se alegram em Deus, pois em Jesus e por Jesus, Deus veio realizar as promessas
de salvação que animaram a esperança do povo durante séculos. Jesus é o “sim” de Deus a todas
promessas do passado (2Cor 1,19-20).
Lucas 1,48: Todas as gerações me proclamam bem-aventurada
Maria proclama a mudança que aconteceu na sua própria vida, “porque Deus olhou para a humilhação
da sua serva”. Ela e, depois dela, as comunidades têm consciência das coisas grandes que Deus operou
nelas em favor de toda a humanidade: “todas as nações vão proclamar-me bem-aventurada”. Isto
acontece assim, não por mérito de Maria nem dos pobres, mas por iniciativa da misericórdia de Deus.
Lucas 1,49-50: O todo poderoso fez grandes coisas em mim
Deus realizou maravilhas em Maria e nas Comunidades. Para vir ao mundo, Deus não pediu licença ao
imperador romano, o dono do mundo, mas foi falar com uma moça pobre e humilde, lá em Nazaré, para
ela dar o seu consentimento. Ela deu o seu consentimento e, por isso, a Palavra de Deus se fez carne e
começou a viver no meio de nós. Os pobres deram o seu consentimento e, por isso, Deus pôde chegar
perto e encarnar-se na vida deles, para que eles se tornassem, como diz a profecia de Isaías, a “Luz das
Nações” (Is 42,6; 49,6). É esta experiência tão bonita do amor de Deus, que é celebrada no cântico de
Maria e das Comunidades.
Lucas 1,51-53: Derruba os poderosos e eleva os humildes
Em seguida, Maria canta a fidelidade de Deus para com seu povo e proclama a salvação que Ele
estava realizando. A expressão "braço de Deus" evoca a libertação do Êxodo e indica a força salvadora
de Deus. Finalmente, depois de tantos séculos de espera ansiosa, a esperança dos pobres se realizou.
Com a vinda de Jesus aconteceu a mudança que tanto esperavam: “dispersou os soberbos de coração,
derrubou os poderosos dos seus tronos, elevou os humildes, encheu de bens os famintos e despediu os
ricos de mãos vazias”. Isto não significa que a mudança fosse apenas uma virada da mesa: os de cima
para baixo e os de baixo para cima. Não! Nas comunidades dos pobres as causas das desigualdades e das
injustiças começam a ser eliminadas e agora todos e todas poderão conviver na fraternidade, na justiça
e na paz.
Lucas 1,54-55: Em favor de Abraão e sua descendência para sempre
No fim, Maria lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e da
sua fidelidade. Em Jesus se realiza a esperança, suscitada nos pobres pela promessa feita por Deus a
Abraão e a seus filhos para sempre. A Boa Nova de Deus veio, não como recompensa pela observância da
Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às suas promessas.
Queremos ver Jesus 16
Sétimo Retrato de Jesus
A poesia sobre Jesus da carta aos Filipenses Jesus é a força de Deus que se revela na fraqueza dos pequenos
Ter os mesmos sentimentos que animaram Jesus
Filipenses 2,5-11
1.
Abrir os olhos para ver Jesus Tem momentos na vida que a gente se sente sem forças. Tudo parece sem sentido. São as
horas do desânimo que acontecem na vida de todos nós. São horas meio perigosas, porque a gente
corre perigo de, em poucas horas, estragar uma coisa que custou muitos anos de luta e de esforço.
Numa hora assim, o que salva a gente é a presença amiga de alguém que nos ajuda a atravessar a
noite escura do desânimo. Sobretudo, quando o amigo ou a amiga já passou pelo mesmo problema e
soube vence-lo. É o que o apóstolo Paulo fez com o pessoal da comunidade de Filipos, na Grécia. Ele
mesmo já tinha passado por muito sofrimento e noites escuras e venceu. Mas desta vez, para animar
a comunidade baseou-se não na sua própria experiência, mas no testemunho de Jesus, tal como
estava descrito num dos cânticos da comunidade que ele relata na sua carta e que vamos meditar
neste encontro. Jesus passou pela noite da morte e venceu. Vamos conversar sobre isto:
1. Você já teve momentos assim de desânimo na sua vida? Como conseguiu sair e vencer? Quem
te ajudou?
2. Jesus é para você uma força que te ajuda nos momentos de desânimo? Conte.
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
Vamos ouvir um dos cânticos mais antigos das primeiras comunidades cristãs. Para ajudar seus
leitores e leitoras a captar todo o significado do cântico, Paulo lhes oferece uma chave de leitura.
Ele diz: “Procurem ter em vocês os mesmos sentimentos que animavam a Jesus!” Vamos ouvir a
leitura do cântico e durante a leitura prestemos atenção no seguinte: “Qual o sentimento mais
forte de Jesus que se expressa neste cântico?”
Leitura do texto: Filipenses 2,5-11
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o sentido do nome “Filho do Homem”:
1. O que mais chamou a sua atenção na letra deste cântico? Por quê?
2. Qual o ponto central deste cântico? Qual o sentimento mais forte de Jesus que nele se
expressa?
3. O que significa “obediente até à morte”?
4. O que este cântico nos informa sobre o significado de Jesus para a vida das comunidades?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar um salmo
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus, força na fraqueza
Na carta dirigida à comunidade de Filipos Paulo transcreveu a letra de um cântico que todos
conheciam de memória (Fl 2,6-11). Ele fez isso para orientar os cristãos como deviam fazer para ter em
si os mesmos sentimentos de Jesus (Fl 2,5) e, assim, vencer o desânimo e ser um testemunho vivo de
fraternidade.
Queremos ver Jesus 17
Quando hoje uma pessoa estudada, um doutor ou doutora, convive com os pobres e se faz igual a
eles, o povo comenta: “Ela podia ter uma vida mais distinta, melhor do que esta nossa vida de pobre, mas
ela chegou aqui e ficou com a gente o tempo todo. Chegou a entrar na cozinha para lavar a louça!” Certa
vez, num encontro sobre saúde, uma senhora comentou: “Aquele doutor chegou a limpar a privada, coisa
que até a gente tem dificuldade de fazer para os outros!”
Os primeiros cristãos tiveram uma reação semelhante frente a Jesus. Jesus tinha ressuscitado e
estava agora com Deus. Voltou para a casa do Pai, de onde tinha vindo para poder conviver conosco
durante 33 anos. A partir desta experiência de Jesus ressuscitado os primeiros cristãos começavam a
recordar a vida que ele tinha vivido no meio deles durante aqueles poucos anos lá na Palestina. Jesus era
de condição divina. Podia ter levado uma vida diferente. Mas não quis. Ele se fez igual a nós, assumiu a
condição de empregado como todos nós. Viveu conosco e, como dizia Pedro, nós pudemos comer e beber
com ele. E não só! Ele foi obediente ao Pai em tudo até à morte, e morte de Cruz! Morte de Cruz era
morte de marginal, a morte mais desprezada que se podia imaginar. Muito mais do que limpar o banheiro!
Por isso, Deus o exaltou e lhe deu o nome que está acima de todo nome!
Alguém conseguiu transformar esta experiência a respeito de Jesus em forma de um cântico que
Paulo transcreveu na sua carta à comunidade de Filipos. Nesse cântico há alguns pontos que merecem um
breve comentário:
Filipenses 2,6: Condição divina, igualdade com Deus
Jesus, igual a nós em tudo, menos no pecado, deixou Deus entrar na sua vida e foi obediente ao Pai, a
ponto de poder dizer: “Quem vê a mim, vê o Pai”. Graças à sua obediência tornou-se uma coisa só com
Deus.
Filipenses 2,7: Esvaziou-se, tornou-s escravo
Mesmo sendo igual a Deus, Jesus não se prevaleceu disso. Nunca se impôs nem foi prepotente, mas se
manteve igual a nós em tudo. Ou melhor, se fez servidor de todos nós. Chegou a dizer: “Não vim para ser
servido, mas para servir!”
Filipenses 2,8: Obediente até à morte e morte de cruz
Alguns explicam dizendo que Jesus foi obediente ao Pai que queria a morte do filho como pagamento
pela ofensa dos nossos peados. Esta interpretação não é boa. O Pai não quer a morte do Filho. O que o
Pai quer é que a gente seja fiel a ele amando os outros filhos dele como nossos irmãos. E isto Jesus fez.
E quando os líderes religiosos ficaram incomodados com esta atitude fraterna de Jesus e o perseguiram.
Jesus continuo obediente e pagou o preço. Foi morto.
Filipenses 2,9ª : Deus o exaltou grandemente O melhor comentário desta frase do cântico está na carta aos Hebreus (Hb 5,7-9) onde se diz:
“Durante a sua vida terrena, Cristo fez orações e súplicas a Deus, em alta voz e com lágrimas, ao Deus
que podia salva-lo da morte. E Deus o escutou, porque ele foi submisso. Embora sendo filho de Deus,
aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos. E depois de perfeito, tornou-se fonte de
salvação eterna para todos aqueles que lhe obedecem”.
Filipenses 2,9b-11: Deus deu-lhe um Nome acima de todo Nome: Jesus é o Senhor
É nesta frase final que se expressa o centro da fé: em Jesus e através de Jesus, Deus chegou
novamente perto de nós, revelou a sua vontade de estar no meio de nós. E diz: “Para que ao Nome de
Jesus todo o joelho se dobre no céu e na terra e todos confessem que Jesus é o Senhor”. Num círculo
anterior já vimos todo o alcance da expressão Senhor. O domínio de Jesus não é dominação a modo dos
grandes deste mundo que oprimem e obrigam os outros à submissão. O domínio de Jesus se realiza
através do testemunho do amor.
A comunidade fez uma letra e botou música. Até hoje só temos a letra. Pena que não pudemos
conservar a música, pois às vezes a música é o melhor comentário da letra. Esta letra, Paulo a usou para
orientar a comunidade de Filipos como deviam fazer para ter em si os sentimentos que animaram a
Jesus e como ser fraternidade, ser revelação de Deus.
Queremos ver Jesus 18
Oitavo Retrato de Jesus
A poesia sobre o Amor na Carta aos Coríntos Jesus, revelação do amor maior
Prova de amor maior não há...
1Coríntios 13,1-13
1.
Abrir os olhos para ver Jesus A Música Popular Brasileira (MPB) tem cânticos muito bonitos com letras de significado profundo
que cantam os problemas e as grandezas da vida do povo. Por exemplo, a letra dos cânticos de
Gonzaguinha: “É bonita!”, ou de Chico Buarque “A Banda”, ou de Geraldo Vandré: “Disparada” ou “Para não
dizer que falei de flores”, e tanto outros. A música popular canta tudo que acontece na vida, mas
sobretudo, canta o amor, de mil maneiras! De tato ouvir e cantar , os jovens conhecem a letra de cor e
salteado! As primeiras comunidades no tempo do apóstolo Paulo também faziam cânticos que todos
cantavam e sabiam de memória. A letra de um deles sobre o amor, cantado nas reuniões, foi conservado
na carta de Paulo aos Coríntios. Vamos conversar sobre isto.
1. Você conhece algum canto de hoje que descreve e canto o amor?
2. Estes nossos cânticos te ajudam a aprofundar o amor, a vida e a fé? De que maneira?
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
Durante a leitura deste texto, feche os olhos, desligue de tudo e pense em você, na sua comunidade, na
sua vida, na sua família e no amor que está em você para com Deus, para com as pessoas da sua família,
para com os membros da sua comunidade, para com os pobres. Durante a leitura, deixe que a letra, lida
bem devagar, penetre em você, te ilumine e te ajude a fazer um exame de consciência a respeito do amor
que te anime por dentro. Se necessário, repita a leitura mais uma vez:
Leitura do texto: a Coríntios 13,1-13
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o que a poesia sobre o amor revela sobre Jesus:
1. O que mais chamou a sua atenção no texto ou de que você mais gostou? Por quê?
2. Qual o ponto do texto que te bateu e te fez descobrir alguma falha em você?
3. Qual destes pontos está realizado perfeitamente em Jesus?
4. O que deve mudar no meu modo de pensar sobre Jesus?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar um salmo
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus, a revelação do Amor Maior
O testemunho de fraternidade dos primeiros cristãos era o ponto que mais chamava a atenção do
povo que chegava a dizer: “Veja como eles se amam!” Os primeiros cristãos viviam em comunidade,
tinham tudo em comum, não havia necessitado entre eles. Havia pessoas que se desfaziam de suas
coisas para ajudar os outros. Chegaram a fazer uma coleta na Grécia para ajudar os irmãos pobres da
Palestina, uma espécie de Campanha de Fraternidade.
A origem desta vivência do amor era fruto da nova experiência do amor de Deus que se
esparramou nos corações de cada um. “Se Deus é por nós, quem será contra nós!” Até hoje, esta frase
de Paulo impressiona e aparece nos pára-choques de caminhão. Deus se revelou como Pai como Mãe.
Portanto, se somos filhos e filhas, temos que viver como irmãos e irmãs. Assim nasce a comunidade, a
Queremos ver Jesus 19
fraternidade. Para Paulo a experiência do amor de Deus era o poço mais profundo, de onde ele tirava a
água para animar sua luta e matar sua sede de amor ao próximo.
Esta experiência de amor é descrita e cantada de muitas maneiras nas cartas de Paulo. Um dos
cânticos mais bonitos é aquele conservado na primeira carta aos Coríntios. O que é o amor para Paulo?
Aqui, a cabeça não consegue expressar o que o coração sente e vive! Paulo tenta dize-lo com a ajuda da
letra daquele cântico da seguinte maneira:
1. 1Coríntios 13,1-3: Se eu na tiver o amor nada sou
* "Posso falar todas as línguas" (1 Cor 13,1), isto é, posso ter grande poder de comunicação e
fazer o anúncio correto da Boa Nova; mas sem o amor, nada sou!
* "Posso ter o dom da profecia" (1 Cor 13,2), isto é, posso fazer grandes denúncias e animar o
povo; mas sem o amor, nada sou!
* "Posso ter o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência" (1 Cor 13,2), i. é, ser
um grande teólogo e ter muita consciência; mas sem o amor, nada sou!
* "Posso ter toda a fé a ponto de transportar montanhas" (1 Cor 13,2), isto é, posso ter a
doutrina certa e uma fé milagrosa; mas sem o amor, nada sou!
* "Posso distribuir os meus bens aos famintos" (1 Cor 13,3), isto é, posso fazer op-ção pelos
pobres e dar tudo a eles; mas sem o amor, nada sou!
* "Posso até entregar o meu corpo às chamas"(1 Cor 13,3), isto é, posso ser preso e torturado;
mas sem o amor, "isto nada me adiantaria"(1 Cor 13,3).
Todas estas coisas, tão importantes para a vida de uma pessoa ou de uma comunidade, expressam
e revelam o amor, mas não o esgotam nem conseguem defini-lo. O amor é um dom que está na raiz de
tudo isto mas o ultrapassa! Então, o que é o amor? Paulo não responde, mas continua citando a letra do
cântico da comunidade que descreve a ação do amor no quotidiano da vida. Nesta letra ele oferece uma
chave para cada um avaliar se na sua vida existe ou não este amor. Eis a letra, cuja luz ajuda a andar no
escuro, e cuja melodia torna sonoro o silêncio de Deus:
2. 1Coríntios 13,1-3: O amor é um poço sem fundo que não se define
O amor é paciente
o amor é prestativo
não é invejoso
não se ostenta
não se incha de orgulho
não faz nada faz de inconveniente
não procura seu próprio interesse
não se irrita
não guarda rancor
não se alegra com a injustiça
mas se regozija com a verdade
tudo desculpa
tudo crê
tudo espera
tudo suporta
o amor jamais passará”. (1 Cor 13,4-8)
Foi a redescoberta deste amor gratuito de Deus que revolucionou a vida de Paulo. Antes, ele
procurava aproximar-se de Deus e sentir a sua presença, apoiando-se no esforço que ele mesmo fazia
para observar a Lei de Moisés. Mas teve que confessar sua incapacidade (Rm 7,14-23). Angustiado, ele
se perguntava: “Infeliz de mim! Quem me libertará deste corpo de morte?” (Rm 7,24). Foi a experiência
do amor de Deus que o libertou: “Graças sejam dadas a Deus por Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 7,24).
Libertado da angústia, ele pôde aproximar-se de Deus e experimentar a sua presença, não por ter
observado a lei, mas sim porque Deus, na sua bondade, se aproximou de Paulo e o atraiu. “O amor de
Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). Paulo experimentou o
que Oséias anunciava: “Eu te atraí com laços de bondade, com cordas de amor” (Os 11,4). Esta
experiência invadiu a vida de Paulo em todos os níveis: cabeça, coração, vontade, espírito, mente, mãos,
pés. Invadiu tudo! E ele começou a olhar tudo a partir desta nova experiência: a vida, a história, a Lei, as
pessoas, o trabalho, a grande luta, o dia-a-dia da caminhada, a missão, o próprio Deus. A experiência do
amor de Deus está na raiz de tudo. “Se Deus é por nós quem será contra nós?”(Rm 8,31)
Queremos ver Jesus 20
Nono Retrato de Jesus
Jesus é a Palavra de Deus Deus criou o mundo pela sua Palavra
Recria o mundo em Cristo e por Cristo
João 1,1-18
1.
Abrir os olhos para ver Jesus Tem gente que fala tanto e fala sem pensar: palavras, palavras e mais palavras, sem sentido, sem
profundidade, palavras vazias, como folhas secas levadas pelo vento. A Bíblia ensina que Deus criou o mundo
falando, dizendo uma palavra. Ele gritou LUZ e a luz começou a existir. Assim, tudo que existe: a natureza, a
vida, as pessoas, os acontecimentos, tudo é a expressão de uma Palavra de Deus. A palavra de Deus não é
uma palavra vazia! Cada um de nós é uma palavra ambulante de Deus. Deus nos fala através da vida. Mas pelo
pecado, a letras do livro da vida se atrapalharam e a gente não consegue mais descobrir a mensagem que
Deus nos fala pela vida. Aí, para nós ajudar a entender de novo a vida e os fatos como manifestação de Deus,
a Palavra de Deus chegou mais perto em Jesus e se fez gente, igual a nós em tudo, menos no pecado. A
Palavra se fez carne e habitou entre nós. Literalmente, se diz: :A Palavra de fez carne e montou seu barraco
entre nós”. Vamos conversar sobre isto:
1. Você já se deu conta de que você é uma palavra de Deus para você e para os outros?
2. Você já se deu conta de que os outros (teus filhos, tua esposa, teu esposo, teus amigos e
parentes) são todos e todas uma palavra de Deus para você? Já escutou alguma vez essa
Palavra? Como foi?
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
O Evangelho de João é diferente dos outros três evangelhos. Mateus, Marcos e Lucas tiram fotografia.
João tira raio-X. Ele ajuda a gente a ler nas entrelinhas e a descobrir coisas que a olho nu não se vêem, mas
que só a fé enxerga. E o instrumento que ele nos dá para poder fazer essa leitura da vida de Jesus está no
prólogo que vamos ler e escutar. Durante a leitura, fiquemos atentos ao seguinte: Qual a ligação entre a
Palavra de Deus que criou o Mundo e a Palavra que se fez carne em Jesus.
Leitura do texto: João 1,1-18
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o sentido de Jesus como Palavra de Deus:
1. O que mais chamou a sua atenção no texto ou de que você mais gostou? Por quê?
2. Como a Palavra de Deus está presente em todas as coisas criadas?
3. O que significa dizer que Jesus é a Palavra de Deus que se fé carne e morou entre nós?
4. O que deve mudar no meu modo de pensar sobre Jesus?
3.
Rezar a Deus em nome de Jesus * Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar um salmo
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus é a Palavra de Deus
De todos os livros da Bíblia, os capítulos 40 a 66 do livro de Isaías são os que mais falam da ação
criadora de Deus. O verbo criar, bará, aparece mais de vinte vezes! Isto revela uma nova compreensão
da ação criadora de Deus. O verbo BARÁ (criar) indica uma ação poderosa, que não depende de
condições prévias, nem pode ser impedida ou frustrada por qualquer outra força deste mundo, mas age
a partir do poder do próprio Deus. O verbo é usado não só para indicar a criação do universo, mas
Queremos ver Jesus 21
também para indicar a qualidade da ação com que Deus acompanha e cuida do seu povo. Deus cria o
universo e a terra; cria também o povo e o Êxodo (Is 43,15). Tudo que existe é fruto da ação criadora
através da Palavra de Deus. Por que faziam isto?
No século VI antes de Cristo, o povo de Deus foi levado para o cativeiro e perdeu todos os apoios
da sua fé: o templo, o rei, os profetas, o culto, os sacrifícios, os sacerdotes, a posse da terra, tudo.
Muita gente dizia: Deus nos abandonou! Não adianta mais crer nele. Perderam a esperança. Mas o grupo
pequeno dos discípulos e discípulas de Isaías continuou fiel. Eles reuniam o povo e o ajudavam a
redescobrir a presença da palavra de Deus nos fatos da vida no meio daquele caos do cativeiro.
Eles apontavam a natureza e diziam que tudo é fruto da ação da Palavra. Tudo que existe é uma
palavra de Deus. Diziam: “Deus fala e as coisas acontecem!” Foi o que o cego disse a Jesus: “Basta o
senhor dizer e eu fico curado”. E o que disse o centurião: “Diga só uma palavra e meu filho estará
curado!”
A palavra de Deus tem duas dimensões. Ela acende uma Luz, comunica uma idéia. Ela gera uma
Força, anima as pessoas. A Luz contribui para clarear nossas idéias, desmascarar os ídolos e quebrar o
encanto das falsas ideologias, dando-nos uma visão mais crítica da realidade e uma consciência maior da
nossa missão. A Força da Palavra de Deus estimula e anima a criar fraternidade. Sentindo-se acolhidas
por Deus, as pessoas acolhem-se mutuamente. É uma experiência que acontece gratuitamente, quase
por acréscimo, como o cheiro gostoso que acompanha o perfume quando se abre o frasco.
Quando um artista tem uma inspiração, ele procura expressá-la numa obra de arte. A poesia ou a
imagem que daí resulta carrega dentro de si essa inspiração. A inspiração é uma força invisível que
corre pelas letras da poesia ou pelas formas da imagem para acender em nós uma luz igual àquela que
brilhou dentro do artista. Por isso, as obras de arte atraem e mexem tanto com as pessoas. O mesmo
acontece quando lemos e meditamos a Bíblia. O mesmo Espírito ou Inspiração divina que conduziu o povo
a escrever o texto, continua presente dentro do fio das letras da Bíblia. Através da leitura atenta da
letra, esse Espírito entra em ação e começa a atuar em nós para revelar ou acender em nós a mesma
imagem de Deus expressa no texto. Por isso, na descrição da Criação se diz que o espírito de Deus
pairava sobre as águas. Deus fala a palavra LUZ, o espírito entra na Palavra e faz a luz acontecer.
O mundo, as coisas, cada pessoa é uma palavra de Deus. Jesus é a Palavra que Deus pronuncia.
Nele Deus nos fala e nele voltamos para Deus. Por isso, Moisés e Elias, os dois representantes do
Antigo Testamento resumem tudo dizendo aos discípulos: “Ouvi-o!” E Maria como representante do
Antigo Testamento, diz: “Fazei tudo o que ele vos disser!”
Esta palavra de Deus, expressa no mundo e em todas as coisas, finalmente chegou mais perto de
nós e se encarnou tomando forma de gente e montou o seu barraco entre nós na pessoa de Jesus.
Queremos ver Jesus 22
Décimo Retrato de Jesus
Jesus é reconhecido como Filho de Deus Tão humano que foi reconhecido como Filho de Deus
Ser humano, acolher e divinizar
Marcos 1,1 e 15,33-39
1.
Abrir os olhos para ver Jesus No tempo de Jesus, chamar alguém de “Filho de Deus” era muito comum. Certa vez, os judeus acusaram
Jesus por ele se declarar Filho de Deus. Jesus respondeu: “E o que é que tem? A Bíblia não chama todo
mundo de Filho de Deus?” De fato, todo ser humano é filho ou filha de Deus. Fomos criados à imagem e
semelhança de Deus. Somos o retrato dele no mundo. Muitas vezes, porém, nossa vida não deixa
transparecer que a nossa origem está em Deus. E foi exatamente isto que chamou a atenção dos primeiros
cristãos em Jesus. Jesus vivia totalmente de acordo com a sua condição de criatura e filho de Deus. Pela sua
fidelidade e obediência, Jesus, tornou-se transparente e deixou Deus transparecer na sua vida. “Quem vê a
mim, vê o Pai!” Ele deixou Deus reinar em sua vida. Ele era a manifestação plena de Deus. Era isto que os
primeiros cristãos queriam indicar quando chamavam Jesus de Filho de Deus.
1. Quando você vê alguém abraçar uma criança e chamá-la “Filha de Deus”, o que vem na sua cabeça?
Alguém já te chamou alguma vez “filho de Deus”?
2. Quando você ouve dizer: “Jesus, Filho de Deus”, os olhos da gente espontaneamente vão para cima ou
para baixo? Olham para a terra ou para o céu?
2.
Escutar o testemunho dos amigos de Jesus
Chave de leitura.
O Evangelho de Marcos chama Jesus de Filho de Deus duas vezes: uma, bem no começo, na abertura
(Mc 1,1) e outra bem no fim, logo depois da morte na cruz (Mc 15,33-39). Vamos ouvir estes dois
textos. Durante a leitura, fiquemos com esta pergunta na cabeça: O que o evangelho de Marcos nos
quer dizer quando apresenta Jesus como Filho de Deus?
Leitura do texto: Marcos 1,1 e 15,33-39
Momento de silêncio
Perguntas para descobrir o sentido do nome filho de Deus:
1. O que mais chamou a sua atenção no texto ou de que você mais gostou? Por quê?
2. Quem, nas duas vezes, chama Jesus de Filho de Deus? Qual dos dois tinha ais condições de conhecer
Jesus?
3. Qual o significado da exclamação do Centurião que era um pagão?
4. O que deve mudar no meu modo de pensar sobre Jesus?
3.
Rezar a Deus em Nome de Jesus
* Preces: O que o texto nos faz dizer a Deus?.
* Rezar ou cantar um salmo
* Terminar com um Pai-nosso e um hino apropriado
Subsídio: Jesus é Filho de Deus
Estamos no última Círculo Bíblico para meditar sobre o título Jesus, Filho de Deus. Até agora
meditamos os seguintes nomes e títulos: Filho do homem, Servo de Deus, Irmão mais velho, Messias,
Nosso Senhor, Sabedoria de Deus, Palavra de Deus, Caminho, Verdade e Vida.
Foi através da janela de todos estes nomes, títulos, poemas e imagens, que os primeiros cristãos
olhavam para Jesus e que transmitiam para os outros o significado de Jesus para as suas vidas: o nome Filho do Homem se caracteriza pela humanidade;
o título Servo de Deus, pelo serviço;
Queremos ver Jesus 23
o apelido Irmão mais velho, pela acolhida aos excluídos.
o título Messias afirma que Jesus é o sim do Pai a tudo que foi vivido no AT
o nome Senhor revela o Reino presente em Jesus e a presença certa e absoluta de Deus
o Cântico de Maria afirma a realização das promessas em Jesus.
a Poesia dos Filipenses acentua a total entrega de Jesus no serviço aos irmãos
a Poesia dos Coríntios mostra a força transformadora do amor revelado em Jesus
a expressão Sabedoria de Deus afirma que Jesus está presente em tudo desde a criação
a afirmação Palavra de Deus expressa a certeza de que em Jesus Deus nos fala.
Estes nomes, títulos, imagens e qualificações são os traços principais por onde Deus nos revela o
seu rosto em Jesus e nos atrai para si. Eles indicam o caminho mais antigo para nós voltarmos para Deus
e vivermos o essencial da Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. Todos juntos, eles nos ajudam a
entender que Jesus é o Filho de Deus.
Marcos começa e termina o seu evangelho dizendo que Jesus é o Filho de Deus! Ao ouvir este
título no início do evangelho (Mc 1,1), o leitor, instintivamente, olha para o alto, para o céu, onde mora
Deus. Mas durante a leitura do evangelho de Marcos, acompanhando Jesus, desde a beleza do lago na
Galiléia até à tristeza do Calvário em Jerusalém, o leitor, a leitora, pouco a pouco, vai baixando a
cabeça para olhar o chão. E no fim, na hora da morte, morrem as idéias e os critérios com que tentava
entender e enquadrar a imagem do Filho de Deus.
No Calvário, estamos diante de um ser humano torturado, excluído da sociedade, condenado
como herético e subversivo por três tribunais: religioso, civil e militar. Ao pé da cruz, pela última vez,
as autoridades religiosas confirmam a sentença: trata-se realmente de um rebelde fracassado, e o
renegam publicamente (Mc 15,31-32). Pendurado na cruz, privado de tudo, Jesus grita “Eli, Eli!”. O
soldado pensava: “Ele está chamando por Elias!” (Mc 15,35) Os soldados eram todos estrangeiros,
mercenários. Não entendiam a língua dos judeus. O homem pensava que Eli fosse o mesmo que Elias.
Assim, pendurado na cruz, Jesus está num isolamento total. Mesmo que quisesse falar com alguém, não
teria sido possível. Ninguém o entenderia. Seria o mesmo que falar português para quem só entende
inglês. Ele ficou totalmente só: Judas o traiu, Pedro o negou, os discípulos fugiram, as autoridades
zombam dele, os transeuntes caçoam, e nem a língua que ele fala serve mais para se comunicar. As
mulheres amigas tinham que ficar de longe, observando, sem poder fazer nada (Mc 15,40). Isolado, sem
qualquer possibilidade de comunicação humana, Jesus se sente abandonado até pelo Pai: “Meu Deus!
Meus Deus! Por que me abandonaste?” (Mc 15, 34). E soltando um grito, ele morre!
É assim que morre o Messias Servo! Foi este o preço que Jesus pagou pela sua fidelidade à opção
de seguir sempre pelo caminho do serviço para resgatar seus irmãos e suas irmãs, para que, de novo,
pudessem recuperar o contato com Deus e viver na fraternidade. Mas foi exatamente nesta hora da
morte, a hora em que tudo desmoronava, que um novo sentido renasceu das cinzas. A morte de Jesus
foi uma vitória! Aquela sua obediência radical até à morte, a morte de cruz, no total abandono de uma
Noite Escura sem igual, fez explodir as amarras que escondiam a sua identidade. A cortina do templo,
símbolo do poder que condenou Jesus, rasgou de alto a baixo. O sistema que isolava Deus no Templo,
longe da vida do povo, estava encerrado. O centurião, um pagão, que fazia a guarda, faz uma solene
profissão de fé: “Verdadeiramente, este homem era filho de Deus!” (Mc 15,39) Ele descobre e aceita o
que os discípulos não foram capazes de descobrir e de aceitar, a saber, reconhecer a presença do Filho de Deus num ser humano crucificado
Quem quer encontrar, verdadeiramente, o Filho de Deus, não deve procurá-lo no alto, num céu
distante, mas deve olhar ao seu lado, para o ser humano excluído, torturado, desfigurado, sem beleza, e
para aqueles e aquelas que, como Jesus, doam sua vida pelos irmãos. É lá que o Deus de Jesus se
esconde, se revela e nos atrai, e é lá que ele pode ser encontrado. É lá que está a imagem desfigurada
do Filho de Deus, dos filhos e filhas de Deus. “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão!”