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163 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL COMENTADAS QUESTÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Comentários: Karine da Silva Cordeiro

QUESTÕES DE DIREITO CONSTITUCIONALB) O poder constituinte originário efetiva-mente dá início à ordem jurídica. No entan-to isso não significa que todos os diplomas infraconstitucionais

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

QUESTÕES DE

DIREITO CONSTITUCIONAL Comentários: Karine da Silva Cordeiro

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

TRF - 1ª Região

1) Acerca do poder constituinte, da CF e do ADCT, assinale a opção correta. A) As normas que versam sobre a interven-ção federal nos estados e no DF, bem como dos estados nos municípios, incluem-se entre os chamados elementos de estabili-zação constitucional. B) O poder constituinte originário dá início a nova ordem jurídica, e, nesse sentido, todos os diplomas infraconstitucionais perdem vigor com o advento da nova constituição. C) Consideram-se elementos socioideoló-gicos da CF as normas que disciplinam a organização dos poderes da República e o sistema de governo. D) O ADCT não tem natureza de norma cons-titucional, na medida em que dispõe sobre situações excepcionais e temporárias. E) Segundo disposição literal da CF, os estados e municípios dispõem do chamado poder constituinte derivado decorrente, que deve ser exercido de acordo com os princípios e regras dessa Carta.

COMENTÁRIO

A) Esta é a assertiva correta. De acordo com a classificação de José Afonso da Silva, é possível distinguir, na estrutura normativa das constituições contemporâneas, cinco categorias de elementos: (1) elementos or-gânicos, contidos nas normas que regulam a estrutura do poder; (2) elementos limitati-vos, que limitam a ação dos poderes estatais e dão a tônica do Estado de Direito, mani-festando-se nas normas que consubstan-ciam o elenco dos direitos e garantias fun-damentais; (3) elementos socioideológicos, consubstanciados nas normas que revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado Social, intervencionista; (4) elemen-tos de estabilização constitucional, consa-grados nas normas destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da constituição, do Estado e das instituições democráticas, premunindo os meios e técni-cas contra sua alteração e infringência, e são encontrados, entre outros, nos arts. 34 a 36,

que tratam da intervenção da União nos Es-tados e no Distrito Federal e da intervenção dos Estados em seus municípios e da União nos Municípios localizados em Território Federal; e (5) elementos formais de aplica-bilidade, são os que se acham consubstan-ciados nas normas que estatuem regras de aplicação das constituições1. B) O poder constituinte originário efetiva-mente dá início à ordem jurídica. No entan-to isso não significa que todos os diplomas infraconstitucionais deixem de vigorar com o advento da nova Constituição. Apenas as normas materialmente incompatíveis com o novo diploma constitucional é que o dei-xam. Discutiu-se se haveria revogação ou inconstitucionalidade superveniente, e o Su-premo Tribunal Federal decidiu pela tese da revogação na ADI 2, reafirmando, sob a égi-de da Constituição de 1988, orientação ju-risprudencial já consagrada no regime ante-rior: “CONSTITUIÇÃO. LEI ANTERIOR QUE A CONTRARIE. REVOGAÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE SUPER-VENIENTE. IMPOSSIBILIDADE. (…) O vício da inconstitucionalidade é congênito à lei e há de ser apurado em face da Constitui-ção vigente ao tempo de sua elaboração. Lei anterior não pode ser inconstitucional em relação à Constituição superveniente; nem o legislador poderia infringir Constituição futura. A Constituição sobrevinda não tor-na inconstitucionais leis anteriores com ela conflitantes: revoga-as.”2 As normas materialmente compatíveis com a nova Constituição são por ela recepcionadas e, assim, permanecem em vigor. Trata-se do fenômeno da re-cepção, desenvolvido por Hans Kelsen, pelo qual a “nova ordem recebe, i.e., adota normas da velha ordem; isso quer dizer que a nova ordem dá validade (co-loca em vigor) a normas que possuem o mesmo conteúdo que normas da velha

1 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 44-45. 2 ADI 2, Relator Ministro Paulo Brossard, Tribunal Pleno, julgado em 06/02/1992, DJ 21/11/1997.

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ordem. A ‘recepção’ é um procedimento abreviado de criação de Direito”3.Vale lembrar que a incompatibilidade me-ramente formal não interfere na recepção do ato normativo pela novel ordem consti-tucional. O Código Tributário Nacional, por exemplo, foi recepcionado pela Constituição de 1988, embora esta exija lei complementar para estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária (art. 146, inciso III), e aquele seja fruto de lei ordinária.

C) Como referido acima, seguindo a clas-sificação de José Afonso da Silva, os ele-mentos socioideológicos da Constituição são as normas que “revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado So-cial, intervencionista, como as do Capítulo II do Título II, sobre os Direitos Sociais, e as dos Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social)”4. As normas que disciplinam a organização dos poderes da República e o sistema de gover-no constituem os elementos orgânicos da Constituição.

D) Embora disponham sobre situações ex-cepcionais e temporárias, as normas do ADCT são normas constitucionais com mesmo status jurídico das normas do texto permanente da Constituição. Conforme de-cidiu o Supremo Tribunal Federal no RE 160.4865, o ADCT “qualifica-se, juridica-mente, como um estatuto de índole consti-tucional. A estrutura normativa que nele se acha consubstanciada ostenta, em conse-qüência, a rigidez peculiar às regras inscri-tas no texto básico da Lei Fundamental da República. Disso decorre o reconhecimento de que inexistem, entre as normas inscritas no ADCT e os preceitos constantes da Carta Política, quaisquer desníveis ou desigual-

3 KELSEN, Hans. Teoria geral do Direito e do Estado. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 172.4 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 44-45.5 RE 160.486, Relator Ministro Celso de Mello, Primeira Turma, julgado em 11/10/1994, DJ 09/06/1995.

dades quanto à intensidade de sua eficácia ou à prevalência de sua autoridade. Situam--se, ambos, no mais elevado grau de posi-tividade jurídica, impondo-se, no plano do ordenamento estatal, enquanto categorias normativas subordinantes, à observância compulsória de todos, especialmente dos órgãos que integram o aparelho de Estado”. Na ADI 8306, o Supremo Tribunal Federal explicitou que, “contendo as normas cons-titucionais transitórias exceções à parte per-manente da constituição, não tem sentido pretender-se que o ato que as contém seja independente desta, até porque é da natureza mesma das coisas que, para haver exceção, é necessário que haja regra, de cuja existên-cia aquela, como exceção, depende. A enu-meração autônoma, obviamente, não tem o condão de dar independência àquilo que, por sua natureza mesma, é dependente”.

E) Pela disposição literal do art. 25 da CF, o poder constituinte derivado decorrente de que dispõem os Estados deve ser exercido de acordo com os princípios daquela Car-ta, sem referir a expressão regras: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observa-dos os princípios desta Constituição”. Da mesma forma, o art. 11 do ADCT estabelece: “Art. 11. Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constitui-ção do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta”. A doutrina entende que os Municípios não detêm poder constituinte derivado decor-rente, na medida em o art. 11 do ADCT atri-buiu tal poder apenas aos Estados, porque os Municípios não são regidos por uma consti-tuição, mas por lei orgânica que não deriva de um poder constituinte, e porque a lei or-gânica está subordinada tanto à Constituição Federal como à Estadual. Situação mais controversa é a do Distrito Federal, haja vista a maior proximidade do

6 ADI 830, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 14/04/1993, DJ 16/09/1994.

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ente distrital aos Estados-membros do que aos Municípios e a subordinação de sua lei orgânica apenas à Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a Lei Orgânica do Distrito Federal apresenta a “natureza de verdadeira Constituição local”. A partir daí, parte da doutrina defende que o Distrito Federal, assim como os Estados--membros, detém poder constituinte deriva-do decorrente7.De qualquer forma, ainda que adotado en-tendimento diverso, a assertiva estaria erra-da, pois o art. 29 da CF, tal qual o art. 25, não menciona a expressão regras: “Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, vota-da em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a pro-mulgará, atendidos os princípios estabeleci-dos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos”.

RESPOSTA: A

2) Assinale a opção correta a respeito da inter-venção federal e da disciplina constitucional sobre os estados-membros e os municípios. A) A CF estabelece, de forma enumerada, os poderes dos estados e municípios, dispondo sobre áreas comuns de atuação administrativa paralela entre eles; nesse sentido, pode-se dizer que as competências desses entes estão taxativamente previstas no texto constitucional. B) Os municípios poderão, mediante leis aprovadas por suas respectivas câmaras municipais, instituir regiões metropolitanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, com o objetivo de oferecer soluções para problemas e carências de interesse comum. C) Uma das hipóteses que pode ensejar a intervenção estadual nos municípios é a falta de prestação de contas pelo prefeito municipal. D) A intervenção federal nos estados só pode ocorrer por iniciativa do Presiden-te da República e nas hipóteses taxativa-mente previstas no texto constitucional.

7 A exemplo de LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 180-181.

E) Visando uniformizar tema de interesse predominantemente regional, a CF confere aos estados a competência de promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupa-ção do solo urbano.

COMENTÁRIOA) Diversamente do que consta na asserti-va, os poderes dos Estados e dos Municípios não estão taxativamente previstos no texto constitucional. A Constituição enumera os poderes da União (arts. 21 e 22); reserva aos Estados poderes remanescentes, ou seja, as competências que não lhes sejam expressa-mente vedadas no texto constitucional (art. 25, § 1º); e atribui aos Municípios poderes definidos indicativamente (art. 30)8.

B) De acordo com o art. 25, § 3º, da CF, os Estados (e não os Municípios) poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e mi-crorregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a or-ganização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

C) A assertiva está correta, refletindo a pre-visão expressa do art. 35, inciso II, da CF: “Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: (…) II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;”.

D) A intervenção é medida excepcional, so-mente admitida nas hipóteses taxativamente previstas na Constituição. De outro lado, não é verdadeiro que a intervenção federal nos Estados só pode ocorrer por iniciativa do Presidente da República. Isso depende da hipótese que ensejou a decretação da medi-da, conforme discriminado no art. 36 da CF. No caso de intervenção para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas uni-

8 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 479

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dades da Federação, a medida pode ocorrer por solicitação do Poder Executivo ou do Poder Legislativo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judi-ciário. No caso de desobediência à ordem ou decisão judicial, a intervenção depende de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral. E nos casos de interven-ção para assegurar a observância dos princí-pios constitucionais sensíveis e de recusa à execução de lei federal, a medida depende de provimento, pelo Supremo Tribunal Fe-deral, de representação do Procurador-Geral da República.

E) Segundo expressa previsão do art. 30, inciso VIII, compete aos Municípios (e não aos Estados) promover, no que, couber, o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e c SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011.ontrole de uso, do parcelamento e da ocupa-ção do solo urbano. RESPOSTA: C

3) Com relação às cláusulas pétreas e às normas constitucionais que versam sobre o processo legislativo, assinale a opção correta. A) O processo legislativo envolve a elabo-ração de várias espécies normativas, entre as quais se incluem as leis delegadas, as medidas provisórias, os decretos e os regu-lamentos. B) A forma federativa de Estado e a forma republicana de governo constituem limites materiais explícitos ao poder de reforma constitucional, na medida em que o poder constituinte originário deixou assente, de modo expresso, a impossibilidade de su-pressão de tais matérias da normatividade constitucional. C) Compete ao STF a iniciativa de proposição de lei complementar que disponha sobre o Estatuto da Magistratura. D) São de competência da União as leis que disponham sobre a organização admi-

nistrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração do DF. E) Os limites materiais da CF impedem emendas que alterem o texto das cláusulas pétreas, visto que qualquer alteração nessas disposições descaracterizaria o núcleo es-sencial desenvolvido e explicitado pelo poder constituinte originário.

COMENTÁRIOA) Nos termos do art. 59 da CF, o proces-so legislativo compreende a elaboração de emendas à Constituição, leis complementa-res, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resolu-ções. Decretos e regulamentos não são ob-jeto do processo legislativo.

B) A forma federativa de Estado constitui li-mite material explícito ao poder de reforma constitucional, estando elencada expressa-mente entre as cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, inciso I, da CF) A forma republicana de governo não está prevista no rol do art. 60, § 4º, da CF e, assim, não é um dos limites ma-teriais explícitos ao poder de reforma consti-tucional. Oportuno lembrar que o constituin-te originário de 1988, no art. 2º do ADCT, previu a realização de um plebiscito para que o eleitorado definisse a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencia-lismo). A doutrina majoritária entende que, realizado o plebiscito e eleita a forma repu-blicana de governo, esta não pode ser alte-rada pelo poder reformador, tratando-se de autêntico limite material, porém implícito9. Além disso, do voto periódico – estabeleci-do como cláusula pétrea no inciso II do § 4º do art. 60 da CF – decorre a obrigatoriedade de os mandatos serem periódicos. Assim, adverte Gilmar Mendes, uma “emenda não está legitimada para transformar cargos po-

9 Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. Eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed., rev., atual. e amp. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 421.

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líticos que o constituinte originário previu como suscetíveis de eleição em cargos vitalícios ou hereditários. Isso, aliado também à decisão do poder constituinte originário colhida nas urnas do plebiscito de 1993 sobre a forma de governo, gera obstáculo a uma emenda monarquista”10. Soma-se ainda o fato de a forma republicana configurar princípio constitucional sensível (art. 34, inciso VII, alínea a).

C) De acordo com o art. 93 da CF, “Lei complementar de iniciativa do Supremo Tri-bunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura”. Correta, portanto, a assertiva.

D) A Constituição confere à União compe-tência privativa para legislar sobre a organi-zação judiciária e administrativa do Distrito Federal (art. 22, inciso XVII), mas atribui competência concorrente à União, aos Esta-dos e ao Distrito Federal para legislar sobre direito tributário e orçamento (art. 24, inci-sos I e II). Além disso, o Distrito Federal de-tém as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios (art. 32, § 1º), as quais naturalmente abrangem, em decorrên-cia do princípio federativo, a de dispor sobre os serviços públicos e pessoal da respectiva administração, afinal não existe autonomia federativa sem que seja garantida a capa-cidade normativa de auto-organização e de autoadministração. Importante registrar que a competência le-gislativa do Distrito Federal em matéria de pessoal restringe-se aos servidores sob regi-me estatutário, sendo-lhe vedado dispor so-bre as normas de Direito do Trabalho aplicá-veis aos empregados celetistas, cuja compe-tência é da União, conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal11.

E) O objetivo das cláusulas pétreas é prote-ger a essência do projeto do poder consti-

10 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 145 . . Correta, portanto, a assertiva.”emo Tribunal Federal, disporºa rno, gera obst notadamente porque uso, do parcelamento e da ocu11 V.g. AI 466131 AgR, Relator Min. Ayres Britto, Segunda Turma, julgado em 14/12/2010, DJe-052 PUBLIC 21/03/2011.

tuinte originário corporificado na Constitui-ção, e não o texto das normas constitucio-nais. Portanto os limites materiais ao poder de reforma não impedem meras alterações no enunciado das normas constitucionais protegidas pelas cláusulas pétreas, e sim as propostas de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto e universal, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. Nesse sentido, decidiu o Supremo Tribunal Fede-ral, na ADI 2024, que “as limitações mate-riais ao poder constituinte de reforma, que o art. 60, § 4º, da Lei Fundamental enumera, não significam a intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição ori-ginária, mas apenas a proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja preservação nelas se protege”12. Há quem defenda que tende a abolir um bem protegi-do pelas cláusulas pétreas apenas a emenda que atinja o núcleo essencial do princípio em questão, e não a que afete os seus elementos circunstanciais, de modo que não fica obsta-culizada a sua regulamentação, alteração e mesmo restrição13.

RESPOSTA: C

4) Acerca da desapropriação por necessida-de ou utilidade pública, da função social da propriedade e do regime das jazidas, assinale a opção correta. A) O bem particular desapropriado com base no interesse social destina-se à ad-ministração, devendo ser obrigatoriamente incorporado ao patrimônio público, vedada sua transferência a terceiros. B) As jazidas pertencem ao proprietário do solo, para efeito de exploração ou aproveita-mento, sendo-lhe garantida, ainda, a proprie-dade do produto da lavra. C) A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências funda-

12 ADI 2024, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2007, DJe-042 PUBLIC 22/06/2007.13 Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. Eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed., rev., atual. e amp. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 421.

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mentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. D) Diferentemente da desapropriação por inte-resse social, o pagamento da desapropriação por necessidade ou utilidade pública somente é possível mediante títulos da dívida pública. E) A política de desenvolvimento urbano é atribuição do poder público municipal; por isso, compete privativamente aos municípios legislar sobre direito urbanístico.

COMENTÁRIOA) Como decidiu o Supremo Tribunal Fe-deral na SS 2.21714, os bens desapropriados com base no interesse social “não se desti-nam à Administração ou a seus delegados, mas sim à coletividade ou, mesmo, a certos beneficiários que a lei credencia para rece-bê-los e utilizá-los convenientemente”15. Não há obrigatoriedade de incorporação desses bens ao patrimônio público e nem é vedada sua transferência a terceiros, desde que observado o prazo de dez anos. Com efeito, o art. 189 da CF estabelece que os be-neficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de do-mínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos. Vale lembrar que a Constituição consagra a possibilidade de desapropriação por necessi-dade ou utilidade pública, ou por interesse social (art. 5º, inciso XXIV). Nas palavras de Hely Lopes Meirelles: “Não pode ha-ver expropriação por interesse privado de pessoa física ou organização particular. O interesse há de ser do Poder Público ou da coletividade: quando o interesse for do Po-der Público, o fundamento da desapropria-ção será necessidade ou utilidade pública; quando for da coletividade, será interesse social. Daí resulta que os bens expropriados por utilidade ou necessidade pública são destinados à Administração expropriante ou a seus delegados, ao passo que os desapro-

14 Noticiada no Informativo n. 320.15 Decisão monocrática da lavra do Ministro Maurício Corrêa, proferida em 02/09/2003 e publicada no DJU de 09/09/2003. O Agravo Regimental interposto contra essa decisão foi julgado prejudicado em decisão publicada no DJE de 04/04/2011.

priados por interesse social normalmente se destinam a particulares que irão explorá-los segundo as exigências da coletividade, em-bora em atividade de iniciativa privada, ou usá-los na solução de problemas sociais de habitação, trabalho e outros mais”16.

B) Por expressa previsão do caput do art. 176 da CF, as jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União (e não ao proprietário do solo), garantida ao concessionário (e não ao proprietário do solo) a propriedade do produto da lavra. Ao proprietário do solo é assegurada a partici-pação nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei (art. 176, § 2º, da CF).

C) A assertiva repete a previsão do § 2º do art. 182 da CF: “A propriedade urbana cum-pre sua função social quando atende às exi-gências fundamentais de ordenação da cida-de expressas no plano diretor”.D) A regra geral é a de que a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, pressupõe justa e prévia in-denização em dinheiro (art. 5º, inciso, XXIV, e art. 182, § 3º, da CF). Constituem exceção à regra a desapropriação do imóvel urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado (art. 182, § 4º, inciso III) e a desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, de imóvel rural que não esteja cum-prindo sua função social (art. 184, caput, da CF), em que o pagamento da indenização se dá em títulos da dívida pública e em títulos da dívida agrária, respectivamente.

E) A política de desenvolvimento urbano é executada pelo Poder Público municipal, porém em conformidade com diretrizes gerais fixadas em lei (art. 182 da CF). E o poder de instituir diretrizes para o desenvol-

16 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 22. ed. atual. São Paulo: Editora Malheiros, 1997. p. 519-521.

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vimento urbano inscreve-se na competência constitucional da União (art. 21, inciso XX, da CF), havendo competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar sobre direito urbanístico (art. 24, inciso I, da CF).

RESPOSTA: C

5) Considerando a disciplina constitucional a respeito do controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos, assinale a opção correta. A) A ADI admite a intervenção de terceiros, mas a ADC, não. B) Uma vez proposta a ADI por omissão, todos os demais legitimados podem manifestar-se, por escrito, sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documentos reputados úteis para o exame da matéria, no prazo das informações, bem como apresentar memoriais. C) Sendo a ADPF espécie de controle con-centrado que visa evitar ou reparar lesão às normas que, materialmente constitucionais, fazem parte da Constituição formal, e não à Constituição em seu conjunto, não cabe reclamação para o STF no caso de descum-primento da decisão. D) O STF, seguindo a doutrina constitucional majoritária, entende que a ADPF é cabível contra ato do poder público de natureza administrativa ou normativa, mas não contra ato judicial. E) A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo pelo STF está sujeita à manifestação, em um ou em outro sentido, de, pelo menos, oito ministros, quer se trate de ADI, quer se trate de ADC.

COMENTÁRIOA) A Lei n. 9.898/99 veda a intervenção de terceiros tanto no processo de ADI (art. 7º) como no de ADC (art. 18). É importante re-gistrar que, para a ADI, há previsão expressa no art. 7º, § 2º sobre a possibilidade de o re-lator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, admitir a manifestação de outros órgãos ou entida-

des (cuida-se da figura do amicus curie). O mesmo era previsto para a ADC no § 2º do art. 18, mas o dispositivo foi vetado. A des-peito disso, a doutrina defende ser cabível a manifestação do amicus curiae, aplicando--se à ADC a regra do § 2º do art. 7º, haja vista a idêntica natureza das ações17.

B) Esta é a alternativa correta. Está inscrita no art. 12-E, § 1º, da Lei n. 9.868/99 a possi-bilidade de os legitimados para a propositu-ra da ADI por omissão se manifestarem, por escrito, sobre o objeto da ação e pedirem a juntada de documentos reputados úteis para o exame da matéria, no prazo das informa-ções, bem como apresentarem memoriais.

C) A Lei n. 9.882/99, que disciplina o pro-cesso e julgamento da ADPF, prescreve, em seu art. 13, que caberá reclamação contra o descumprimento da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, na forma do seu Regimento Interno. Nas palavras de Gilmar Ferreira Mendes: “Não há dúvida de que a decisão de mérito proferida em ADPF será dotada de efeito vinculante, dando azo, por isso, à reclamação para assegurar a autorida-de do Supremo Tribunal Federal”18.

D) O Supremo Tribunal Federal entende que a ADPF é cabível contra ato do Poder Público de natureza administrativa ou nor-mativa e, também, contra ato judicial. No julgamento da ADPF 10119, em que se dis-cutia se decisões judiciais que autorizam a importação de pneus usados violam os preceitos inscritos nos arts. 196 (direito à saúde) e 225 (direito ao meio ambiente) da CF, o Supremo Tribunal Federal rejeitou a preliminar de não cabimento da ação. Votou

17 Nesse sentido, ver MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 145 .18 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1418.19 ADPF 101, Relatora Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno. O julgamento teve início em 11/03/2009, encerrando-se em 24/06/2009. O acórdão está pendente de publicação, mas a decisão foi noticiada nos Informativos 538 e 552.

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vencido, no ponto, o Ministro Marco Au-rélio, entendendo que a jurisdição não está incluída na alusão a ato do Poder Público contida na parte final do art. 1º da Lei n. 9.882/99 e que a ADPF não é sucedâneo recursal contra decisões judi-ciais. Na ADPF 144, a Corte Constitu-cional decidiu pela “admissibilidade do ajuizamento de ADPF contra interpreta-ção judicial de que possa resultar lesão a preceito fundamental”.20

No âmbito doutrinário, Gilmar Ferrei-ra Mendes leciona: “Pode ocorrer le-são a preceito fundamental fundada em simples interpretação judicial do texto constitucional. Nesses casos a contro-vérsia não tem por base a legitimidade ou não de uma lei ou de um ato norma-tivo, mas se assenta simplesmente na legitimidade ou não de uma dada in-terpretação constitucional. (…) Assim, o ato judicial de intepretação direta de um preceito fundamental poderá conter uma violação da norma constitucional. Nessa hipótese, caberá a propositura da arguição de descumprimento de pre-ceito fundamental para afastar a lesão a preceito fundamental resultante des-se ato judicial do Poder Público, nos termos do art. 1º da Lei n. 9.882/99.”21

E) De acordo com o art. 23 da Lei n. 9.868/99, a decisão sobre a constitu-cionalidade de lei ou ato normativo pelo Supremo Tribunal Federal exige a manifestação de pelo menos seis (e não oito) Ministros, seja no sentido da constitucionalidade, seja no da incons-titucionalidade. É necessário, contudo, que estejam presentes pelo menos oito Ministros na sessão de julgamento (art. 22).

RESPOSTA: B

20 ADPF 144, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 06/08/2008, DJe-035 PUBLIC 26/02/2010.21 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1253-1254.

6) Com relação às atribuições e às respon-sabilidades do presidente da República, ao Conselho da República e ao Conselho de Defesa Nacional, assinale a opção correta. A) Na vigência de seu mandato, o presidente da República não poderá ser responsabiliza-do por atos estranhos ao exercício de suas funções, tanto na esfera penal quanto na civil, administrativa, fiscal e tributária. B) O presidente da República somente poderá ser processado por crime de responsabilidade após autorização do Senado Federal, pelo voto da maioria absoluta de seus membros. C) O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, sendo suas decisões vinculantes nos casos que envolvam declaração de guerra e cele-bração da paz. D) Compete ao presidente da República nomear dois membros do Conselho da Repú-blica, órgão superior de consulta convocado e presidido pelo chefe do Poder Executivo. E) O presidente da República possui compe-tência para dispor, mediante decreto, sobre a criação e extinção de órgãos despersonaliza-dos, mas não de órgãos e entidades dotados de personalidade jurídica e capacidade processual.

COMENTÁRIOA) A regra do art. 86, § 4º, da CF – que estabelece que o Presidente da Repúbli-ca, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções – não se aplica a situações jurídicas de responsabilidade civil, administrativa, fiscal e tributária, conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal no In-quérito 67222: “… A norma consubstanciada no art. 86, § 4º, da Constituição, reclama e impõe, em função de seu caráter excepcio-nal, exegese estrita, do que deriva a sua ina-plicabilidade a situações jurídicas de ordem

22 Inq 672 QO, Relator Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 16/09/1992, DJ 16/04/1993. No mesmo sentido, AP 305 QO, Relator Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 30/09/1992, DJ 18/12/1992.

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extrapenal. O Presidente da República não dispõe de imunidade, quer em face de ações judiciais que visem a definir-lhe a responsa-bilidade civil, quer em função de processos instaurados por suposta prática de infrações político-administrativas, quer, ainda, em vir-tude de procedimentos destinados a apurar, para efeitos estritamente fiscais, a sua res-ponsabilidade tributária”.

B) O art. 86 da CF estabelece que o Pre-sidente da República somente poderá ser processado por crime de responsabilidade depois de haver autorização pela Câmara dos Deputados (e não Senado Federal), pelo voto de 2/3 (e não maioria absoluta) de seus membros.

C) O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos relacionados com soberania nacio-nal e defesa do Estado democrático, caben-do-lhe, entre outras atribuições, opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de cele-bração da paz (art. 91, caput e § 1º, inciso I). A declaração de guerra e a celebração da paz são da competência privativa do Presidente da República (art. 84, incisos XIX e XX, da CF). Portanto é evidente que os pareceres do Conselho não são vinculantes, revestindo-se de caráter meramente opinativo.

D) A assertiva expressa o previsto no art. 89, caput e inciso VII, da CF: “Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam: (…) VII - seis cidadãos brasilei-ros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República …”. Além disso, o art. 84 da CF estabelece ser competência privativa do Presidente da República nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII (inciso XVII), e convocar e pre-sidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional (inciso XVIII).

E) A assertiva está em desacordo com a previsão do art. 84, inciso VI, alínea a, da

CF: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (…) VI - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públi-cos;”. Quanto às entidades dotadas de per-sonalidade jurídica, o art. 37, inciso XIX, da CF estabelece que somente lei específica pode criar autarquia e autorizar a instituição de empresa pública, de sociedade de econo-mia mista e de fundação. Releva destacar que, tecnicamente, os ór-gãos públicos não têm personalidade jurídi-ca. Conforme definido no art. 1º, § 1º, da Lei n. 9.784/99, órgão é “a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração in-direta”; e entidade é “a unidade de atuação dotada de personalidade jurídica”.

RESPOSTA: D

7) Acerca da organização e atribuições do Poder Legislativo e da fiscalização financeira e orçamentária exercida pelo Congresso Nacional, assinale a opção correta. A) Ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade ocorrida no âmbito do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, os responsáveis pelo controle interno dela devem dar ciência à Controladoria Geral da União, sob pena de responsabilidade solidária. B) As normas da CF que versam sobre o TCU aplicam-se à organização e à fiscalização dos tribunais de contas dos estados e do DF, caben-do às respectivas casas legislativas estabelecer o número de conselheiros dessas cortes de contas e a sua forma de nomeação. C) O Poder Legislativo é composto por deputa-dos federais, eleitos pelo sistema proporcional, e por senadores, eleitos pela maioria absoluta do total de eleitores de cada unidade da Federação. D) Diferentemente das mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, a mesa do Con-gresso Nacional será presidida, alternadamente, pelo presidente do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, com mandato de dois anos. E) Compete privativamente ao Senado Federal processar e julgar os ministros do STF e os membros do CNJ nos crimes de responsabi-lidade.

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COMENTÁRIOA) Os responsáveis pelo controle interno que tomarem conhecimento de irregulari-dade ou ilegalidade ocorrida no âmbito do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário tem a obrigação de dela dar ciência ao Tribunal de Contas da União (e não à Controladoria Geral da União), sob pena de responsabilidade solidária (art. 74, § 1º, da CF).

B) A Constituição define expressamen-te o número de conselheiros dos Tribu-nais de Contas dos Estados e do Dis-trito Federal, qual seja, sete (art. 75, parágrafo único). Além disso, a disci-plina desses Tribunais de Contas deve estar prevista na respectiva Constitui-ção Estadual.

C) O Poder Legislativo é composto por de-putados federais e por senadores, aqueles eleitos pelo sistema proporcional (art. 45 da CF), e estes, segundo o princípio majoritá-rio (art. 46 da CF). Logo, elege-se senador o candidato que obtiver o maior número de votos em um único turno entre os eleitores do respectivo Estado ou do Distrito Federal, ou seja, maioria simples (e não maioria ab-soluta). Cada Estado e o Distrito Federal con-tam com três senadores.

Como explicita Manoel Gonçalves Ferreira Fi-lho23, há duas modalidades de sistema majo-ritário, uma quando a escolha se dá num só turno, e outra quando pode passar por vários turnos. Na primeira, elege-se o candidato que mais votos obtiver, representem estes a maioria absoluta do eleitorado ou não. É esse o sistema da eleição para o Senado Federal. Na segunda, elege-se quem obtiver maioria absoluta no primeiro ou nos primei-ros turnos, ou, se a maioria absoluta não for alcançada, aquele que receber mais votos no derradeiro turno. É o sistema adotado para a eleição de Presidente da República.

23 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 37. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 131-132.

D) A Mesa do Congresso Nacional será pre-sidida pelo Presidente do Senado Federal (art. 57, § 5º, da CF).

E) A alternativa reproduz o art. 52, inciso II, da CF: “Art. 52. Compete privativamente ao Sena-do Federal: (…) II processar e julgar os Minis-tros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador--Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;”.

RESPOSTA: E

8) Assinale a opção correta com referência ao Poder Judiciário. A) A permuta de juízes dos TRFs e a determi-nação de sua jurisdição e sede se darão por resolução do Conselho da Justiça Federal. B) Aos juízes federais compete processar e julgar as causas em que a União e as entida-des da administração indireta forem interessa-das na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, excetuando-se as de falência, de acidentes de trabalho e as sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho. C) A CF estabelece que as unidades federati-vas com elevado número de ações judiciais devem constituir seções judiciárias nas capi-tais, cabendo aos juízes da justiça local, nos estados em que não existirem varas federais, o exercício da jurisdição e das atribuições cometidas aos juízes federais. D) Afora a remoção de ofício, os magistrados podem ser removidos independentemente de sua vontade, em razão de interesse público, por decisão tomada pelo voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do CNJ, assegurada ampla defesa. E) Os membros da magistratura, incluídos os ministros do STF e os dos tribunais superio-res, somente perderão o cargo por decisão judicial transitada em julgado.

COMENTÁRIOA) A disciplina da remoção e da permuta de juízes dos Tribunais Regionais Federais e a determinação de sua jurisdição e sede cons-

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

tituem matéria reservada à lei (art. 107, § 1º, da CF). Portanto não se darão por resolução do Conselho da Justiça Federal.

B) Segundo dispõe o art. 109 da CF, com-pete aos juízes federais processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessa-das na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Depreende-se daí que as sociedades de eco-nomia mista (como o Banco do Brasil e a Petrobrás, por exemplo), embora integrem a administração indireta, não atraem a com-petência da Justiça Federal. Nesse sentido, oportuno citar a Súmula 556 do Supremo Tribunal Federal: “É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista”. Na mesma linha é a Súmula 508: “Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil”. Mas as fundações públicas se equiparam às autarquias e, assim, a sua presença na lide na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes acarreta a competência da Justiça Federal. Este é o entendimento do Supremo Tribunal Federal: “RECURSO EXTRA-ORDINÁRIO. UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO. EXPEDIÇÃO DE DIPLO-MA. CONDENAÇÃO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. NATUREZA JURÍDI-CA DAS FUNDAÇÕES INSTITUÍDAS PELO PODER PÚBLICO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. ART. 109, I DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A Fun-dação Universidade do Rio de Janeiro tem natureza de fundação pública, pois assume a gestão de serviço estatal, sendo entidade mantida por recursos orçamentários sob a direção do Poder Público, e, portanto, inte-grante da Administração Indireta. 2. Confli-to de competência entre a Justiça Comum e a Justiça Federal. Art. 109, I da Constituição Federal. Compete à Justiça Federal proces-sar e julgar ação em que figure como par-

te fundação instituída pelo Poder Público Federal, uma vez que o tratamento dado às fundações federais é o mesmo deferido às autarquias. 2.1. Embora o art. 109, I da Constituição Federal não se refira expressa-mente às fundações, o entendimento desta Corte é no sentido de que a finalidade, a ori-gem dos recursos e o regime administrativo de tutela absoluta a que, por lei, está sujeita a entidade, fazem dela espécie do gênero autarquia e, por isso, são jurisdicionadas à Justiça Federal, se instituídas pelo Governo Federal. Recurso extraordinário conhecido e provido”24.

C) O art. 110 da CF determina que cada Es-tado, bem como o Distrito Federal, constitua uma seção judiciária que terá por sede a res-pectiva Capital, e varas localizadas segundo o estabelecido em lei. Sobre a competência federal delegada à justiça estadual, dispõe o § 3º do art. 109 da CF: “Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo fede-ral, e, se verificada essa condição, a lei pode-rá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual”. Dessa forma, o exercício da jurisdição e das atribuições cometidas aos juízes federais pe-los juízes da justiça local somente é admitido quando não houver vara federal na comarca e, cumulativamente, tratar de causas em que sejam parte instituição de previdência social e segurado ou de outras causas previstas em lei. Ou seja, se a causa não for de natureza previdenciária, é necessário que lei autorize o exercício da jurisdição federal delegada. Nas palavras do Supremo Tribunal Federal no RE 228.955: “O dispositivo contido na parte final do § 3º do art. 109 da Constituição é dirigido ao legislador ordinário, autorizan-do-o a atribuir competência (rectius jurisdi-ção) ao Juízo Estadual do foro do domicílio

24 RE 127489, Relator Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, julgado em 25/11/1997, DJ 06/03/1998.

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da outra parte ou do lugar do ato ou fato que deu origem à demanda, desde que não seja sede de Varas da Justiça Federal, para causas específicas dentre as previstas no inciso I do referido artigo 109”25. A partir desse precedente da Corte Constitu-cional, o Superior Tribunal de Justiça cance-lou a Súmula 183 – que previa competir ao “juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo” –, haja vista a ausência de previsão expressa na Lei n. 7.437/85. É importante lembrar que o Superior Tribu-nal de Justiça fixou o entendimento de que “a competência federal delegada para processar a ação de execução fiscal (art. 15, inciso I, da Lei n. 5.010/66) se es-tende também para a oposição do execu-tado, seja ela promovida por embargos, seja por ação declaratória da inexistên-cia da obrigação ou desconstitutiva do título executivo”26.

D) A assertiva está correta. A Constitui-ção garante aos magistrados a prerroga-tiva de inamovibilidade (art. 95, inciso II). Os magistrados não podem removi-dos contra a sua vontade, a não ser em caso de interesse público, por decisão tomada pelo voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada a am-pla defesa, nos termos do art. 93, inciso VIII.

E) Uma das garantias de que gozam os juí-zes é a vitaliciedade, que, no primeiro grau, só é adquirida após dois anos de exercício. Essa garantia significa que os juízes somen-te perderão o cargo por sentença judicial

25 RE 228955, Relator Ministro Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 10/02/2000, DJ 24/03/2001.26 AgRg no CC 96.308/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Primeira Seção, julgado em 14/04/2010, DJe 20/04/2010. Precedentes citados: CC 98.090/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 4.5.2009; CC 95.840/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 6.10.2008; CC 89267/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJ 10.12.2007.

transitada em julgado (art. 95 da CF). Essa regra é excepcionada no caso dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que podem sofrer impeachment (por crime de responsa-bilidade) em processo julgado pelo Senado Federal (art. 52, inciso II, da CF).

RESPOSTA: D

9) Relativamente à disciplina constitucional sobre a administração pública, o MP e a AGU, assinale a opção correta. A) Segundo decisão liminar exarada pelo STF, permanece em vigor a redação original do dispositivo da CF que consagra o regime jurídico único no âmbito da administração direta, das autarquias e das fundações, tanto na esfera federal como estadual e municipal. B) Conforme a CF, o MPU compreende o MP Militar, o MP do Trabalho, o MP Militar e o MP Eleitoral, todos dotados de estrutura própria. C) Ao MP é assegurada autonomia funcional e administrativa, mas não financeira, pois a elaboração de sua proposta orçamentária é realizada pelo Poder Executivo. D) A AGU é instituição chefiada pelo advoga-do-geral da União, cargo de livre nomeação pelo presidente da República, entre os mem-bros da carreira da advocacia da União. E) As funções de confiança e os cargos em co-missão, no âmbito da administração pública direta, só podem ser exercidos por servidores ocupantes de cargo efetivo.

COMENTÁRIOA) Esta é a assertiva correta. De fato, a reda-ção originária do art. 39 da CF, que consagra o regime jurídico único dos servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas, permanece em vigor por força de decisão liminar proferi-da pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 2.135-427 suspendendo a eficácia do caput do dispositivo na redação dada pela Emenda Constitucional n. 19/98.

27 ADI 2135 MC, Relator Ministro Néri da Silveira, Relator p/ Acórdão Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 02/08/2007, DJe-041 PUBLIC 07/03/2008.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

Observe-se que a decisão tem efeitos ex nunc, de modo que subsiste a validade dos atos anteriormente praticados com base em legislações eventualmente editadas durante a vigência do dispositivo suspenso.

B) Conforme o art. 128 da CF, o Ministério Público da União compreende o Ministério Público Federal (não referido na assertiva), o Ministério Público do Trabalho, o Minis-tério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.

C) Além da autonomia funcional e adminis-trativa (art. 127, § 2º, da CF), é assegurada ao Ministério Público a autonomia financei-ra, competindo-lhe elaborar sua proposta or-çamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias (art. 127, § 3º, da CF).

D) Ser membro da carreira da advocacia da União não é um dos requisitos para ser nomeado ao cargo de Advogado-Geral da União. Nos termos do § 1º do art. 131 da CF: “A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nome-ação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada”.

E) As funções de confiança, e não os car-gos em comissão, é que são privativas dos servidores ocupantes de cargo efetivo. Os cargos em comissão podem ser exercidos por pessoas estranhas à Administração. Vale registrar que a investidura em cargo ou em-prego público depende de prévia aprovação em concurso público de provas e de provas e títulos, mas a Constituição ressalva as no-meações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração (art. 37, inciso II, da CF). E, conforme dicção do inciso V do art. 37 da CF, “as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condi-ções e percentuais mínimos previstos em lei,

destinam-se apenas às atribuições de dire-ção, chefia e assessoramento”.

RESPOSTA: A

10) Tendo em vista os direitos de nacionali-dade, os direitos políticos, o estado de defesa e o estado de sítio, assinale a opção correta. A) São requisitos para elegibilidade, entre outros, o alistamento eleitoral e o domicílio eleitoral na circunscrição em que o indivíduo pretenda candidatar-se. B) Os estrangeiros de qualquer nacionalidade somente poderão requerer a nacionalidade brasileira se residirem na República Federati-va do Brasil há mais de trinta anos ininterrup-tos e não tiverem condenação penal. C) O estado de sítio, medida excepcional, somente pode ser decretado nos casos de declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. D) O indivíduo que sofrer condenação penal transitada em julgado terá seus direitos políticos suspensos, mas apenas no caso de crimes dolosos, não no de crimes culposos e contravenções penais. E) O presidente da República pode decretar, com a finalidade de preservar a ordem pública ameaçada por grave instabilidade institucio-nal, estado de defesa em locais determinados, dependendo, para isso, de autorização do Congresso Nacional.

COMENTÁRIOA) Esta é a assertiva correta. Segundo o art. 14º, § 3º, da CF, são condições de elegibi-lidade, entre outras, o alistamento eleitoral (inciso III) e o domicílio eleitoral na circuns-crição em que o indivíduo pretenda se can-didatar (inciso IV). As outras condições são a nacionalidade brasileira (inciso I); o pleno exercício dos di-reitos políticos (inciso II); a filiação partidá-ria (inciso V); e a idade mínima de 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da Repú-blica e Senador, 30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,

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Vice-Prefeito e juiz de paz, e 18 anos para Vereador, lembrando que os inalistáveis e os analfabetos são inelegíveis (art. 14, § 4º, da CF).

B) Os requisitos para que os estrangeiros de qualquer nacionalidade requeiram a nacio-nalidade brasileira são residir no Brasil há mais de quinze (e não trinta) anos ininterrup-tos e não ter condenação criminal (art. 12, inciso II, alínea b, da CF).

C) Além das hipóteses de declaração de es-tado de guerra ou resposta à agressão arma-da estrangeira, o estado de sítio pode ser de-cretado em caso de comoção grave de reper-cussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa (art. 137 da CF).

D) A Constituição não faz distinção entre crime doloso ou culposo, estabelecendo que os direitos políticos serão suspensos, entre outros, “nos casos de condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos” (art. 15, inciso III, da CF). A jurisprudência do Tribunal Superior Eleito-ral é no sentido de que o art. 15, inciso III, da CF determina a suspensão dos direitos políticos pelo tempo que durar a pena, in-dependentemente da natureza do crime e da pena, abrangendo os crimes culposos28 e, inclusive, as contravenções penais29. E o Supremo Tribunal Federal tem precedente entendendo que “a suspensão dos direitos políticos se dá ainda quando, com referência ao condenado por sentença criminal transita-da em julgado, esteja em curso o período de suspensão condicional da pena”30. Impende lembrar o Supremo Tribunal Federal reco-

28 RMS 252/SP, Relator Ministro Luiz Carlos Lopes Madeira, DJ 16/05/2003; Respe 13027/SC, Relator Ministro Nilson Vital Naves, Publicado em Sessão, em 18/09/1996.29 Cf. REspe 13.293/MG, Relator Ministro Eduardo Andrade Ribeiro de Oliveira, Publicado em Sessão, em 07/11/1996; Agr-Respe 30218/MG, Relator Ministro Arnaldo Versiani Leite Soares, Publicado em Sessão, em 09/10/2008.30 RE 179502, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 31/05/1995, DJ 08/09/1995. No mesmo sentido, RE 577012 AgR, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, julgado em 09/11/2010, DJe-056 PUBLIC 25/03/2011.

nheceu a existência de repercussão geral no RE 601.182, em que se discute a suspensão dos direitos políticos de condenado à pena privativa de liberdade substituída por pena restritiva de direitos, mas a questão está pendente de julgamento. Diante disso, é re-comendável que o candidato acompanhe o andamento do processo.

E) A autorização do Congresso Nacional é requisito prévio para a decretação do estado de sítio pelo Presidente da República (art. 137 da CF), mas não o é para a decretação do estado de defesa (art. 136). Primeiro o Presidente da República decreta o estado de defesa, e, depois, dentro do prazo de vinte quatro horas, submete o ato ao Congresso Nacional, que, dentro do prazo de dez dias contados de seu recebimento, apreciará o decreto e decidirá por maioria absoluta (art. 136, §§ 4º e 6º, da CF). Se rejeitá-lo, o estado de defesa cessa imediatamente (art. 136, § 7º, da CF).

RESPOSTA: A

TRF - 2ª Região

1) De acordo com o disposto na CF sobre o Poder Judiciário, assinale a opção correta. A) Compete à justiça militar processar e julgar, singularmente, os militares das forças estaduais nos crimes militares definidos em lei, bem como julgar as ações judiciais contra atos disciplinares militares, sendo da compe-tência dos juízes federais processar e julgar os crimes militares cometidos contra civis. B) O STF é o órgão competente para proces-sar e julgar as causas fundadas nas relações internacionais e as relativas à tutela da nacionalidade. C) Compete aos tribunais regionais federais processar e julgar os juízes federais e os desembargadores dos tribunais de justiça es-taduais da área de sua jurisdição, nos crimes comuns e de responsabilidade. D) Em razão da chamada quarentena, os ex--ocupantes de cargos na magistratura estão impedidos de exercer atividade advocatícia perante qualquer juízo ou tribunal até que

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

decorram três anos do afastamento por apo-sentadoria ou exoneração. E) Causas que envolvam grave violação de direitos humanos podem ser transferidas para a justiça federal, mediante incidente de deslocamento de competência suscitado pelo procurador-geral da República, em qualquer fase do inquérito ou processo.

COMENTÁRIOA) A Constituição Federal distingue entre a Justiça Militar Federal (arts. 122 a 124) e a Justiça Militar Estadual (art. 125, §§ 3º, 4º e 5º). A assertiva se refere aos militares da forças armadas estaduais e, portanto, remete aos §§ 4º e 5º do art. 125 da CF: “Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, ob-servados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (…) § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os mili-tares dos Estados, nos crimes militares defi-nidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a compe-tência do júri quando a vítima for civil, ca-bendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares mi-litares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).Valendo-se do resumo de Pedro Lenza31 acerca da competência da Justiça Militar Estadual, pode-se dizer que: (a) a Justiça Mi-litar dos Estados não julga civil (ao contrário da Justiça Militar da União, que, além dos militares das Forças Armadas, também jul-ga civis em determinados casos); (b) crime militar definido em lei praticado por militar estadual contra militar é julgado Conselho de Justiça Especial ou Permanente; (c) crime

31 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 691.

militar definido em lei praticado por militar estadual contra civil é julgado por juiz de direito do juízo militar, singularmente (art. 125, § 5º, da CF), e não pelo Conselho, res-salvada a competência do júri popular; (d) crime doloso contra a vida praticado por mi-litar contra militar é julgado pelo Conselho de Justiça, presidido pelo juiz de direito do juízo militar; e (e) ações judiciais contra atos disciplinares militares são julgadas por juiz de direito do juízo militar, singularmente (a Justiça Militar da União não tem competên-cia para julgar matéria civil ou disciplinar).

B) As hipóteses definidoras da competência originária do Supremo Tribunal Federal es-tão previstas, taxativamente, no art. 102, in-ciso I, da CF, em cujo rol não se encontram as causas fundadas nas relações internacio-nais e nem as relativas à tutela da naciona-lidade. Este é o entendimento fixado pelo Supremo Tribunal Federal: “… A COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - CUJOS FUNDAMENTOS REPOUSAM NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - SUBMETE-SE A REGIME DE DIREITO ESTRITO. - A competência originária do Supremo Tribunal Federal, por qualificar-se como um complexo de atribuições jurisdi-cionais de extração essencialmente consti-tucional - e ante o regime de direito estrito a que se acha submetida - não comporta a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados, em nu-merus clausus, pelo rol exaustivo inscrito no art. 102, I, da Constituição da República”32.

C) Efetivamente compete aos Tribunais Regionais Federal processar julgar, origina-riamente, os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade (art. 108, inciso I, alínea a, da CF). No entanto compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar, originariamente,

32 Pet 1738 AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 01/09/1999, DJ 01/10/1999.

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os desembargadores dos Tribunais de Jus-tiça dos Estados e do Distrito Federal, nos crimes comuns e de responsabilidade (art. 105, inciso I, alínea a, da CF).

D) Aos juízes é vedado exercer a advoca-cia no juízo ou tribunal do qual se afastou (e não qualquer juízo ou tribunal), antes de decorridos três anos do afastamento do car-go por aposentadoria ou exoneração (art. 95, parágrafo único, inciso V, da CF).

E) A assertiva reflete o disposto no art. 109, § 5º, da CF: “Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá susci-tar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emen-da Constitucional nº 45, de 2004)”.

RESPOSTA: E

2) Assinale a opção correta acerca do pro-cesso legislativo, das competências e do funcionamento do Congresso Nacional. A) É competência exclusiva do Congresso Nacional aprovar previamente, por voto se-creto, a escolha de magistrados, nos casos estabelecidos no texto constitucional, bem como processar e julgar os ministros do STF e os membros do Conselho Nacional de Justiça nos crimes de responsabilidade. B) O presidente do STF tem competência para solicitar a convocação extraordinária do Congresso Nacional a fim de discutir ma-térias relativas à organização administrativa e judiciária dos órgãos do Poder Judiciário. C) É expressamente vedada a edição de medida provisória sobre matéria relativa à organização do Poder Judiciário e do MP, à carreira e à garantia de seus membros. D) O decreto legislativo é o instrumento nor-mativo por meio do qual são disciplinadas as matérias de competência privativa da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

E) O tratado sobre direitos humanos aprova-do, em cada Casa do Congresso Nacional, por dois terços dos votos de seus respectivos membros equivale a emenda constitucional e dispõe de força executória a partir da edição do decreto legislativo que promulgue o seu texto.

COMENTÁRIOA) Compete privativamente ao Senado Fe-deral (e não ao Congresso Nacional) apro-var previamente, por voto secreto, após ar-guição pública, a escolha de magistrados, nos casos estabelecidos na Constituição (art. 52, inciso III, alínea a, da CF), bem como processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os membros do Conselho Nacional de Justiça nos crimes de responsa-bilidade (art. 52, inciso II, da CF).

B) As hipóteses de convocação extraordi-nária do Congresso Nacional, que são bem restritas, estão previstas no § 6º do art. 57 da CF, cujo inciso II estabelece que o Pre-sidente da República tem competência para fazê-lo em caso de urgência ou interesse pú-blico relevante, sempre com a aprovação da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional. Além disso, uma das garantias institucionais do Poder Judiciário é a autonomia orgânico-administrativa, que compreende a independência na estrutura-ção e funcionamento de seus órgãos33 (art. 96 da CF).

C) O art. 62, § 1º, inciso I, alínea c, da CF veda, expressamente, a edição de medida provisória sobre matéria relativa à organi-zação do Poder Judiciário e do Ministério Público, à carreira e à garantia de seus mem-bros. Portanto esta é a alternativa correta.

D) O decreto legislativo é o instrumento nor-mativo por meio do qual são disciplinadas as matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional, enumeradas no art. 49

33 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 590-59144-45.

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da CF. É também por meio de decreto legis-lativo que o Congresso Nacional disciplina as relações jurídicas decorrentes de medidas provisórias não convertidas em lei (art. 62, § 3º, da CF).

E) Os tratados sobre direitos humanos equivalerão às emendas constitucionais se aprovados, em cada casa do Congresso Na-cional, em dois turnos, por três quintos (não dois terços) dos votos dos respectivos mem-bros (art. 5º, § 3º, da CF). Os tratados e con-venções internacionais somente adquirem força executória na ordem jurídica interna depois da promulgação de seu texto median-te decreto do Presidente da República (e não decreto legislativo, ato normativo de compe-tência do Congresso Nacional), seguido da publicação em português no Diário Oficial. O Congresso Nacional aprova os tratados internacionais por decreto legislativo (art. 49, inciso I, da CF), autorizando o Presiden-te da República a ratifica-los; e o Presidente da República promulga o texto por meio de decreto, incorporando o ato internacional ao direito positivo interno, dando-lhe publici-dade e lhe conferindo força executória.Na ADI 1.480 MC34, o Supremo Tribunal Federal examinou o processo de incorpo-ração dos tratados, acordos ou atos inter-nacionais. Da ementa, colhe-se o seguinte excerto: “O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados internacionais e a sua incorpo-ração à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um ato sub-jetivamente complexo, resultante da conju-gação de duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacional, que resolve, definiti-vamente, mediante decreto legislativo, so-bre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da Repú-blica, que, além de poder celebrar esses atos de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é - da competência para promulgá-los

34 ADI 1480 MC, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 04/09/1997, DJ 18/05/2001.

mediante decreto. O iter procedimental de incorporação dos tratados internacionais - superadas as fases prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação congressional e da ratificação pelo Chefe de Estado - conclui-se com a expedição, pelo Presidente da República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe são inerentes: (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a executoriedade do ato interna-cional, que passa, então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito po-sitivo interno”.

RESPOSTA: C

3) No que se refere ao controle incidental de constitucionalidade, à ação direta de inconsti-tucionalidade (genérica e por omissão), à ação declaratória de constitucionalidade e à arguição de descumprimento de preceito fundamental, assinale a opção correta. A) Uma vez admitida, pelo STF, a ação declarató-ria de constitucionalidade, a autoridade respon-sável pela criação da lei ou do ato normativo e o advogado-geral da União deverão ser citados para se pronunciarem sobre o objeto da ação. B) A ação direta de inconstitucionalidade por omissão tem como objeto omissão administra-tiva que afete a efetividade da CF ou omissão legislativa de órgãos legislativos federais, mas não estaduais, em face da CF. C) Cabe arguição de descumprimento de pre-ceito fundamental contra lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluindo-se os anteriores à CF; nesse sentido, pode-se dizer que tal arguição é cabível mesmo contra leis préconstitucionais. D) No controle incidental ou concreto, a ques-tão de constitucionalidade somente pode ser suscitada pelas partes da relação processual. E) Podem ser objeto de ação direta de inconsti-tucionalidade, além de leis de todas as formas e conteúdos, decretos legislativos, decretos autônomos e decretos editados com força de lei pelo Poder Executivo, resoluções do Tribunal Superior Eleitoral e medidas provisórias, mas não resoluções ou deliberações administrativas de tribunais, que não são consideradas atos normativos primários.

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COMENTÁRIOA) A Constituição determina que o Advo-gado-Geral da União seja citado quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a incons-titucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo (art. 103, § 3º). Pela dicção do dispositivo constitucional, o Advogado--Geral da União é citado para defender o ato normativo ou texto impugnado. Como na ação declaratória de constitucionalidade o que se afirma é a compatibilidade consti-tucional da norma legal ou ato normativo, não há por que citar o Advogado-Geral da União. Nas palavras do Ministro Moreira Alves no julgamento da ADC 1: “No pro-cesso da ação declaratória de constituciona-lidade, por visar à preservação da presunção de constitucionalidade do ato normativo que é seu objeto, não há razão para que o Ad-vogado-Geral da União atue como curador dessa mesma presunção”.Seguindo a mesma lógica, a Lei n. 9.868/99 estabelece que o relator da ação direta de in-constitucionalidade pedirá informações aos órgãos ou às autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado (art. 6º) e que, decorrido o prazo das informações, se-rão ouvidos, sucessivamente, o Advogado--Geral da União e o Procurador-Geral da República (art. 8º). Já na ação declaratória de constitucionalidade, a Lei n. 9.868/99 exige apenas o pronunciamento do Procura-dor-Geral da República (art. 19).No que toca à função do Advogado-Geral da União nas ações diretas de inconstitucionali-dade, é interessante atentar para a evolução da jurisprudência do Supremo Tribunal Fe-deral ao longo do tempo. Inicialmente, a Cor-te Constitucional decidiu que o Advogado--Geral da União deveria, obrigatoriamente, defender o ato normativo, não lhe cabendo “admitir a invalidez da norma impugnada”, pois atua como curador especial do princípio da presunção da constitucionalidade das leis e atos normativos (ADI 72 QO35). Na ADI 1.616, o Supremo Tribunal Federal passou a

35 ADI 72 QO, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 22/03/1990, DJ 25/05/1990.

considerar que o Advogado-Geral da União “não está obrigado a defender tese jurídica se sobre ela esta Corte já fixou entendimen-to pela sua inconstitucionalidade”36. Final-mente, na ADI 3.91637, o Supremo Tribu-nal Federal optou por “uma interpretação sistêmica, que concede ao Advogado-Geral da União um direito de manifestação”, sem “obrigatoriedade de fazer a defesa do ato im-pugnado” 38, até porque a Constituição não prevê qualquer tipo de sanção caso ele não o faça.

B) O art. 103, § 2º, da CF estabelece que, declarada a inconstitucionalidade por omis-são de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão ad-ministrativo, para fazê-lo em trinta dias. O art. 12-B da Lei n. 9.868/99 (incluído pela Lei n. 12.063/09), por sua vez, dispõe que a petição inicial deve indicar a omissão total ou parcial quanto ao cumprimento de dever constitucional de legislar ou quanto à ado-ção de providência de índole administrativa. Já o art. 102, inciso I, alínea a, da CF confere ao Supremo Tribunal Federal a competência para processar e julgar, originariamente, a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ano normativo federal ou estadual. Depreende-se daí que a ação direta de in-constitucionalidade por omissão tem como objeto tanto a omissão administrativa como a omissão legislativa, seja esta de órgãos legislativos federais, seja de órgãos legisla-tivos estaduais. Defendendo a competência do Supremo Tribunal Federal para apreciar inconstitu-cionalidade por omissão de órgão estaduais, Gilmar Ferreira Mendes leciona: “O texto constitucional outorgou ao Supremo Tribu-nal Federal a competência para julgar a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato

36 ADI 1616, Relator Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 24/05/2001, DJ 24/08/2001.37 ADI 3916, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2010, DJe-086 PUBLIC 14/05/2010.38 Trecho do voto do Ministro Gilmar Mendes.

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normativo federal ou estadual (art. 102, I, a). A função de guardião da Constituição que lhe foi deferida e a ideia subjacente a inúme-ros institutos de controle, viando concentrar a competência das questões constitucionais na Excelsa Corte, parecem favorecer enten-dimento que estende ao Supremo Tribunal Federal a competência para conhecer de eventuais omissões de órgãos legislativos estaduais em face da Constituição Federal no âmbito dessa peculiar ação direta”39.Essa questão ainda não foi examinada pelo Supremo Tribunal Federal, mas a ADO 740 – cujo objeto era a suposta inconstituciona-lidade por omissão da Lei n. 3.045/06, do Estado do Amazonas, de autoria do Presi-dente do Tribunal de Justiça e aprovada pela Assembleia Legislativa do referido Estado – foi extinta por decisão monocrática da Re-latora, Ministra Cármen Lúcia, em virtude da perda do superveniente do objeto oca-sionada pela edição de norma que supriu a alegada inconstitucionalidade por omissão, e não por eventual incompetência da Corte ou porque não cabível a ação.

C) A arguição de descumprimento de pre-ceito fundamental tem por objeto “evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resul-tante de ato do Poder Público” (art. 1º da Lei n. 9.882/99), e é cabível, também, “quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição” (art. 1º, parágrafo único, inciso II, da Lei n. 9.882/99). Há pre-visão legal expressa, portanto, do cabimento da arguição de descumprimento de preceito fundamental contra leis pré-constitucionais. Assim, a assertiva está correta.

D) No controle incidental ou concreto, a questão da constitucionalidade pode ser sus-citada pelas partes ou pelo Ministério Públi-

39 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1292.40 ADO 7, Relatora Ministra Cármen Lúcia, julgado em 29/06/2010, publicado em DJe-141 PUBLIC 02/08/2010.

co e deve ser conhecida de ofício pelo juiz ou tribunal, este observando a cláusula de reserva de plenário para o caso de declara-ção de inconstitucionalidade (art. 97 da CF).

E) De acordo com o art. 102, inciso I, alínea a, da CF, são objeto da ação direta de in-constitucionalidade lei ou ato normativo fe-deral ou estadual, o que abrange as espécies normativas enumeradas no art. 59 da CF (emendas à Constituição, leis complemen-tares, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções) e todos os atos de conteúdo normativo, ou seja, os revestidos de abstração, generalidade, au-tonomia jurídica, impessoalidade e eficácia vinculante41. Assim, o conceito de ato nor-mativo engloba, entre outros, decretos autô-nomos42 e decretos editados com força de lei pelo Poder Executivo, extravasando o poder regulamentar43, resoluções do Tribunal Su-perior Eleitoral44 e, também, resoluções45 ou deliberações administrativas de tribunais46, desde que presentes aquelas características. É importante lembrar que o Supremo Tribu-nal Federal, na ADI 4.048 MC47, reviu sua jurisprudência quanto ao não cabimento de ação direita de inconstitucionalidade contra atos estatais de efeitos concretos, passando admitir o controle abstrato da constitucio-nalidade de leis de todas as formas e con-teúdos, independentemente do caráter geral ou específico, concreto ou abstrato de seu objeto: “… CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE DE NOR-

41 ADI 2321 MC, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/2000, DJ 10/06/2005.42 ADI 1969 MC, Relator Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/1999, DJ 05/03/2004.43 ADI 1553, Relator Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 13/05/2004, DJ 17/09/2004.44 ADI 3345, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 25/08/2005, DJe-154 PUBLIC 20/08/2010.45 ADI 1787 MC, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 26/02/1998, DJ 03/04/1998; ADI 662, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 22/06/2006, DJ 10/11/2006.46 ADI 1352 MC, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 05/10/1995, DJ 18/05/2001; ADI 4108 MC-REF, Relatora Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 02/02/2009, DJe-043 PUBLIC 06/03/2009.47 ADI 4048 MC, Relator Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2008, DJe-157 PUBLIC 22/08/2008.

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MAS ORÇAMENTÁRIAS. REVISÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O Supremo Tribunal Federal deve exercer sua função precípua de fiscalização da constitucionalidade das leis e dos atos normativos quando houver um tema ou uma controvérsia constitucional susci-tada em abstrato, independente do caráter geral ou específico, concreto ou abstrato de seu objeto. Possibilidade de submissão das normas orçamentárias ao controle abstrato de constitucionalidade”. No mesmo senti-do, decidiu o Supremo Tribunal Federal na ADI 4.049 MC48: “… 1. A lei não precisa de densidade normativa para se expor ao con-trole abstrato de constitucionalidade, devido a que se trata de ato de aplicação primária da Constituição. Para esse tipo de controle, exige-se densidade normativa apenas para o ato de natureza infralegal”. Nas duas ações, o objeto é constituído por medida provisória que abre crédito extraordinário. Em suma, entende o Supremo Tribunal Fe-deral que, se editado sob a forma de lei em sentido formal (ato normativo primário, as-sim considerados os enumerados no art. 59 da CF), o ato estatal de efeito concreto pode ser objeto da ação direta de inconstituciona-lidade.

RESPOSTA: E

4) A respeito do que dispõe a CF sobre o instituto da intervenção e sobre o DF e os territórios, assinale a opção correta. A) Ao DF são atribuídas as competências materiais dos estados e dos municípios, assim como as competências legislativas re-servadas aos estados, mas não as destinadas aos municípios. B) A intervenção federal somente pode ocor-rer por iniciativa do presidente da República e por solicitação dos poderes estaduais, nas hipóteses expressamente previstas no texto constitucional. C) Antes da edição do decreto interventivo, o presidente da República deve ouvir o Con-selho da República e o Conselho de Defesa

48 ADI 4049 MC, Relator Ministro Carlos Britto, Tribunal Pleno, julgado em 05/11/2008, DJe-084, PUBLIC 08/05/2009.

Nacional, cujos pareceres vincularão o chefe do Poder Executivo apenas no que diz res-peito à amplitude, ao prazo e às condições de execução do processo de intervenção. D) A decretação e a execução da intervenção estadual nos municípios são da competência privativa da assembleia legislativa, mediante decreto legislativo, devendo o governador do estado, na sequência, editar o ato de nomea-ção do interventor. E) Embora não existam atualmente territórios federais, a CF admite que eles possam ser criados por lei complementar federal. Como descentralizações administrativo-territoriais da União, os territórios carecem de autonomia e não são considerados entes federativos.

COMENTÁRIO A) O art. 32, § 1º, da CF é expresso: “Ao Distrito Federal são atribuídas as competên-cias legislativas reservadas aos Estados e Municípios”.

B) Conforme já referido nos comentários à questão 2 da prova do concurso da 1ª Re-gião, a intervenção é medida excepcional, somente admitida nas hipóteses taxativa-mente previstas na Constituição. Mas não é verdadeiro que a intervenção federal somen-te pode ocorrer por iniciativa do Presidente da República e por solicitação dos Poderes Legislativo e Executivo estaduais. O art. 36 da CF disciplina quem poderá deflagrar o procedimento interventivo de acordo com as hipóteses do art. 34. No caso de intervenção para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação, a medida pode ocorrer por solicitação do Poder Executivo ou do Poder Legislativo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário. No caso de desobediência a ordem ou decisão judi-cial, a intervenção depende de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral. E nos casos de intervenção para assegurar a observância dos seguintes cons-titucionais sensíveis e de recusa à execução

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de lei federal, a medida depende de provi-mento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da Re-pública.

C) Nas hipóteses de intervenção espontâ-nea, o Presidente da República deve ouvir tanto o Conselho da República (art. 90, inci-so I) como o Conselho de Defesa Nacional (art. 91, § 1º, inciso II). Todavia, conforme já mencionado nos comentários à questão 6 da prova do concurso da 1ª Região, os pa-receres dos Conselhos não vinculam o che-fe do Poder Executivo. Além disso, Paulo Gustavo Gonet Branco afirma que, em caso de urgência, não há por que se exigir que a consulta a esses Conselhos seja prévia, afi-nal “as opiniões não são vinculantes e não perdem objeto nas intervenções que se pro-longam no tempo, podendo mesmo surgir rumos diversos dos que inicialmente adota-dos no ato de intervenção”49.

D) Pelo princípio da simetria, compete privativamente ao Governador do Estado decretar e executar a intervenção estadual nos municípios (art. 84, inciso X, da CF). O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de exe-cução e, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quadro horas (art. 36, § 1º, da CF). Se não estiver funcionando, a Assembleia Legisla-tiva será convocada extraordinariamente, no mesmo prazo (art. 36, § 2º, da CF). A apre-ciação do decreto pela Assembleis Legislati-va é dispensada na hipótese do art. 35, inciso IV, da CF.

E) Esta é a assertiva correta. Com a pro-mulgação da Constituição de 1988, os Ter-ritórios Federais de Roraima e do Amapá foram transformados em Estados Federados (art. 14 do ADCT), e o Território Federal de Fernando de Noronha foi extinto, sendo sua

49 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 837.

área reincorporada ao Estado de Pernambu-co (art. 15 do ADCT). Atualmente não exis-tem Territórios Federais, mas a Constituição permite que eles sejam criados, transforma-dos em Estados ou reintegrados ao Estado de origem por lei complementar federal (art. 18, § 2º). Os Territórios Federais integram a União (art. 18, § 2º, da CF), logo carecem de autonomia e não são considerados entes federativos, e sim meras descentralizações administrativo-territoriais da União50.

RESPOSTA: E

5) Assinale a opção correta com base nas normas constitucionais relativas aos princípios gerais do sistema tributário, às limitações do poder de tributar e à repartição das receitas tributárias. A) As contribuições de melhoria, de com-petência exclusiva dos municípios, são tributos cujo fato gerador é a valorização de imóveis urbanos em razão de obras realizadas pelo poder público local. B) Pertencem aos municípios 50% do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, mas apenas na hipótese de os próprios municípios realizarem a cobrança e a fiscalização do imposto. C) A instituição do imposto sobre trans-missão causa mortis e do de doação cabe ao município onde se situe o bem imóvel. D) Diferentemente dos impostos, as ta-xas têm como característica essencial a existência de atividade estatal específica e divisível, ou seja, há a necessidade de o serviço realizado trazer, em tese, benefício potencial e determinado ao contribuinte, que deve pagá-lo ainda que não o utilize. E) Pelo princípio da anterioridade tri-butária, nenhum tributo, seja da União, dos estados, do DF ou dos municípios, pode ser cobrado no mesmo exercício financeiro em que tenha sido aprovada a lei que o instituiu.

50 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 473.

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COMENTÁRIOA) Insere-se no âmbito da competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (e não na compe-tência exclusi8va dos Municípios) instituir contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas (art. 145, inciso III, da CF). De acordo com o art. 81 do CTN, a “con-tribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valo-rização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado”.

B) Pertencem aos Municípios 50% do pro-duto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativa-mente aos imóveis neles situados, ainda que o imposto não seja fiscalizado e cobrado por eles. Na hipótese de os Municípios fiscali-zarem e cobrarem o imposto, caber-lhes-á a totalidade do produto da arrecadação, desde que isso não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal (art. 158, inciso II, c/c art. 153, § 4º, inciso III, da CF).

C) Compete aos Estados e ao Distrito Federal (e não aos Municípios) instituir impostos sobre a transmissão causa mortis e doação, de quais-quer bens ou direitos (art. 155, inciso I, da CF).

D) Esta é a assertiva correta. Com efeito, im-posto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qual-quer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte (art. 16 do CTN). As taxas, em contrapartida, têm como fato gerador o exer-cício do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público es-pecífico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição, sendo vedada a sua instituição com base de cálculo própria de impostos (art. 145, inciso II e § 2º, da CF e art. 77 do CTN).

E) O princípio da anterioridade tributária de exercício financeiro, pelo qual é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos no mesmo exer-cício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou (art. 150, inciso III, alínea b, da CF), não se aplica aos tributos indicados no § 1º do art. 150 da CF, quais sejam: empréstimo compulsório para atender a despesas extraordinárias decorren-tes de calamidade pública, guerra externa ou sua iminência (art. 148, inciso I, da CF); imposto de importação (art. 153, inciso I, da CF); imposto de exportação (art. 153, inciso II, da CF); imposto sobre produtos industrializados (art. 153, inciso IV, da CF); imposto sobre operações de crédito, câmbio ou seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários (art. 153, inciso V, da CF); im-posto extraordinário para o caso de guerra externa ou sua iminência (art. 154, inciso II, da CF). Também constituem exceção a esse princípio: o restabelecimento (e a redução) das alíquotas da contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE) relativa às atividades de importação ou comercializa-ção de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível (art. 177, § 4º, inciso I, alínea b); e o restabeleci-mento (e a redução) das alíquotas de ICMS incidentes sobre combustíveis e lubrifican-tes (art. 155, § 4º, inciso IV, alínea c, da CF).

RESPOSTA: D

6) Assinale a opção correta com relação às normas da CF sobre as finanças públicas, os orçamentos e os princípios gerais da atividade econômica. A) Cabe à lei orçamentária anual estabelecer, de forma regionalizada, as diretrizes, os ob-jetivos e as metas da administração pública federal para as despesas de capital e para os custos relacionados aos programas de duração continuada. B) As disponibilidades de caixa da União devem ser depositadas no Banco do Brasil S.A.; as dos estados, do DF, dos municípios e dos órgãos ou entidades do poder público

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

e das empresas por ele controladas, nas ins-tituições financeiras oficiais que a legislação indicar. C) É vedado ao BACEN conceder, direta ou indiretamente, empréstimos a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição finan-ceira, bem como comprar e vender títulos de emissão do Tesouro Nacional. D) Pertence ao Poder Executivo a iniciativa das leis que estabeleçam o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais. E) O Estado é o agente normativo e regula-dor da atividade econômica, cabendo-lhe exercer, de forma determinante, as funções de incentivo e planejamento para os setores público e privado.

COMENTÁRIOA) Cabe à lei que instituir o plano pluria-nual (e não à lei orçamentária anual) estabe-lecer, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos pro-gramas de duração continuada (art. 165, § 1º, da CF).

B) As disponibilidades de caixa da União devem ser depositadas no Banco Central (e não no Banco do Brasil); as dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e das empresas por ele controladas, em institui-ções financeiras oficiais, ressalvados os ca-sos previstos em lei (art. 164, § 3º, da CF).

C) Efetivamente é vedado ao Banco Cen-tral conceder, direta ou indiretamente, em-préstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira (art. 164, § 1º, da CF). Porém a Constituição permite que o Banco Central compre e venda títulos de emissão do Te-souro Nacional, com o objetivo de regular a oferta de moeda ou a taxa de juros (art. 164, § 2º, da CF).

D) Conforme previsto no art. 165, incisos

I, II e III, da CF, são de iniciativa do Poder Executivo as leis que estabeleçam o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais. Portanto está correta a assertiva.E) Na condição agente normativo e regula-dor da atividade econômica, cabe ao Estado exercer as funções de fiscalização, incenti-vo e planejamento, sendo este determinante para o setor público, mas meramente indi-cativo para o setor privado (art. 174, caput, da CF).

RESPOSTA: D

7) A respeito da fiscalização contábil, fi-nanceira e orçamentária da administração pública federal e das competências do TCU, assinale a opção correta. A) Quando o TCU detectar irregularidades ou abusos na execução de contratos fir-mados pela administração pública federal, o Senado Federal poderá determinar-lhes a imediata sustação, além de poder im-putar débito ou multa aos responsáveis. B) A fiscalização exercida pelo Congresso Nacional sobre a administração pública federal, no que diz respeito aos aspectos financeiros, não alcança as empresas públicas e as sociedades de economia mista, que se sujeitam ao regime jurídico próprio das empresas privadas. C) Compete ao TCU aplicar aos responsá-veis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário. D) É competência exclusiva do Congresso Nacional julgar as contas prestadas pelos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo poder público federal. E) Cabe à comissão mista de deputa-dos e senadores, com exclusividade, emitir parecer prévio sobre as contas prestadas anualmente pelo presidente da República.

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COMENTÁRIOA) No caso de o Tribunal de Contas da União detectar irregularidades ou abusos na execução de contratos firmados pela admi-nistração pública federal, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional (e não pelo Senado Federal), que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis (art. 71, § 1º, da CF). No MS 23.55051, decidiu o Supremo Tri-bunal Federal: “…O Tribunal de Contas da União - embora não tenha poder para anu-lar ou sustar contratos administrativos - tem competência, conforme o art. 71, IX, para determinar à autoridade administrativa que promova a anulação do contrato e, se for o caso, da licitação de que se originou.” Quanto à imputação de débito ou multa aos responsáveis, insere-se na competência do Tribunal de Contas da União “aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as san-ções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário” (art. 71, inciso VIII, da CF).

B) A fiscalização contábil, financeira, orça-mentária, operacional e patrimonial exercida pelo Congresso Nacional sobre a administra-ção pública federal alcança as entidades da administração indireta, sem distinção (art. 70 da CF), sendo que deverão prestar contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, geren-cie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária (parágrafo único do art. 70 da CF). Já o art. 71, inciso II, da CF estabelece que o controle externo, a cargo do Congresso Nacional, é exercido com o auxílio do Tribunal de Contas, a quem com-pete “julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e

51 MS 23550, Relator Ministro Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 04/04/2001, DJ 31/10/2001.

valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público fe-deral, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público”.No MS 25.09252, o Supremo Tribunal Fede-ral decidiu que as “empresas públicas e as sociedades de economia mista, integrantes da administração indireta, estão sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas, não obs-tante os seus servidores estarem sujeitos ao regime celetista”. E, no MS 25.181, que ao “Tribunal de Contas da União incumbe atu-ar relativamente à gestão de sociedades de economia mista. Nova inteligência conferi-da ao inciso II do artigo 71 da Constituição Federal, ficando superada a jurisprudência que veio a ser firmada com o julgamento dos Mandados de Segurança nºs 23.627-2/DF e 23.875-5/DF.”53.

C) A assertiva está correta, repetindo os ter-mos do já citado art. 71, inciso VIII, da CF, que atribui ao Tribunal de Contas da União a competência para “aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irre-gularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras comi-nações, multa proporcional ao dano causado ao erário”.

D) Compete ao Tribunal de Contas da União, conforme referido, “julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e manti-das pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte preju-ízo ao erário público” (art. 71, inciso II, da CF). Atente-se para o fato de que, quanto às contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, a competência do Tribunal de

52 MS 25092, Relator Ministro Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 10/11/2005, DJ 17/03/2006.53 MS 25181, Relator Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 10/11/2005, DJ 16/06/2006.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

Contas da União limita-se a apreciar, me-diante parecer prévio (art. 71, inciso I, da CF); a competência para julgá-las é exclu-siva do Congresso Nacional (art. 49, inciso IX, da CF).Na ADI 3.715 MC54, o Supremo Tribunal Federal decidiu: “No âmbito das competên-cias institucionais do Tribunal de Contas, o Supremo Tribunal Federal tem reconheci-do a clara distinção entre: 1) a competência para apreciar e emitir parecer prévio sobre as contas prestadas anualmente pelo Chefe do Poder Executivo, especificada no art. 71, inciso I, CF/88; 2) e a competência para jul-gar as contas dos demais administradores e responsáveis, definida no art. 71, inciso II, CF/88. Precedentes. 5. Na segunda hipótese, o exercício da competência de julgamento pelo Tribunal de Contas não fica subordina-do ao crivo posterior do Poder Legislativo”.

E) O art. 166, § 1º, inciso I, da CF confere a uma Comissão mista permanente de Sena-dores e Deputados a atribuição de examinar e emitir parecer sobre as contas apresenta-das anualmente pelo Presidente da Repúbli-ca. No entanto não há exclusividade, pois, como visto, também compete ao Tribunal de Contas da União fazê-lo (art. 71, inciso I, da CF).

RESPOSTA: C

8) No que se refere aos direitos sociais, aos direitos de nacionalidade e aos direitos polí-ticos, assinale a opção correta. A) O presidente da República, os governado-res de estado, os prefeitos e quem os suceda ou substitua no curso do mandato podem ser reeleitos para um único período subsequente, mas, para concorrerem a outros cargos, devem renunciar ao respectivo mandato até seis meses antes do pleito. B) Por ser a licença-paternidade direito constitucional fundamental, o prazo de cinco dias previsto para o benefício não pode ser

54 ADI 3715 MC, Relator Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 24/05/2006, DJ 25/08/2006.

objeto de alteração pela legislação infracons-titucional. C) Diferentemente do previsto para os traba-lhadores urbanos, prescreve em dois anos o prazo para os trabalhadores rurais ajuizarem ação para o pagamento de créditos resultan-tes das relações de trabalho. D) Aos portugueses com idoneidade moral que comprovem residência no Brasil durante, pelo menos, um ano ininterrupto devem ser atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro nato. E o brasileiro nato adquire plena capa-cidade eleitoral passiva aos trinta anos, idade mínima exigida de candidato a presidente e a vice-presidente da República. E) O brasileiro nato adquire plena capacidade eleitoral passiva aos trinta anos, idade mínima exigida de candidato a presidente e a vice--presidente da República.

COMENTÁRIOA) Esta é a alternativa correta. O art. 14, § 5º, da CF dispõe: “O Presidente da Repúbli-ca, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver suce-dido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente”. A necessidade de renúncia ao mandato no caso de concorrem a outros cargos vem prevista no art. 14, § 6º, da CF: “Para concorrerem a outros cargos, o Pre-sidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito”.

B) De acordo com o art. 7º, inciso XIX, da CF, um dos direitos fundamentais dos trabalhadores urbanos e rurais é a “licença--paternidade, nos termos fixados em lei”. Por força do art. 10, § 1º, do ADCT, até que a lei venha a disciplinar este dispositi-vo, o prazo do benefício é de cinco dias. Vê-se daí que a própria Constituição re-mete ao legislador ordinário a disciplina da licença-paternidade, não havendo dú-vidas, portanto, de que o prazo de cinco dias pode ser alterado no plano infra-constitucional.

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C) Pela redação atual do art. 7º, inciso XXIX, da CF, é direito dos trabalhadores urbanos e rurais: “ação, quanto aos crédi-tos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho”. Antes da Emenda Constitucional n. 28/00, os prazos prescricionais para a ação, quanto a créditos resultantes das rela-ções de trabalho, eram de cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato, e de até dois anos após a extinção do contrato de trabalho para o trabalhador rural.

D) A idoneidade moral e a residência por um ano ininterrupto no Brasil são requisitos para a naturalização de estrangeiros originá-rios de países de língua portuguesa (art. 12, inciso II, alínea a, da CF). A Constituição permite que, em havendo re-ciprocidade em favor dos brasileiros, sejam atribuídos aos portugueses com residência permanente no Brasil os direitos inerentes ao brasileiro (e não brasileiro nato), salvo os casos previstos no texto constitucional (art. 12, § 1º, da CF). Trata-se de figura diversa da naturalização. A norma do art. 12, § 1º, da CF, nas palavras do Supremo Tribunal Fe-deral, contempla “hipótese excepcional de quase- nacionalidade”55. Os portugueses não adquirem a nacionalidade brasileira. Ao re-vés, eles mantêm a condição de estrangeiros, mas podem exercer os direitos conferidos aos brasileiros, exceto aqueles que a Cons-tituição reserva aos brasileiros natos. No texto originário da Constituição, constava que seriam atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro nato, mas a expressão nato foi excluída na redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão n. 3/94. O Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, que trata do Estatuto de Igualdade entre brasileiros e portugueses, foi promulgado pelo Decreto n. 3.927/01

55 Ext 890, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 05/08/2004, DJ 28/10/2004.

E) O brasileiro nato adquire plena capacida-de eleitoral passiva aos trinta e cinco anos (e não trinta), já que esta é a idade mínima exigida de candidato a Presidente e a Vice--Presidente da República (art. 14, § 3º, inci-so VI, alínea a, da CF), cargos privativos de brasileiros natos (art. 12, § 3º, da CF). RESPOSTA: A

9) Assinale a opção correta acerca do tra-tamento constitucional sobre os direitos e deveres individuais e coletivos, o mandado de injunção e o habeas data. A) A liberdade de locomoção em tempo de paz, que engloba, em relação ao território nacional, as situações de acesso e ingresso, saída e permanência, assim como a possi-bilidade de deslocamento, constitui direito absoluto, que não comporta limitações. B) É plena a liberdade de associação para fins lícitos; as associações só podem ser compul-soriamente dissolvidas por sentença judicial transitada em julgado, e a suspensão de suas atividades depende de decisão judicial ou de ato normativo do Poder Executivo. C) Além das pessoas físicas, as pessoas jurídicas, os sindicatos e as associações, assim como o MP, dispõem de legitimidade para impetrar mandado de injunção. D) O habeas data pode ser impetrado contra qualquer órgão do Estado, seja ele do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do Poder Judiciário, mas não contra pessoas jurídicas de direito privado. E) A CF garante a livre escolha da profissão ou ofício e veda condicionamento de qualquer espécie pela legislação infraconstitucional.

COMENTÁRIOA) O art. 5º, inciso XV, da CF estabelece que “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. Contudo esse direito, tal quais os demais direitos funda-mentais, não é absoluto, de modo que pode sofrer limitações, a exemplo do que ocorre nas hipóteses de prisão. Conforme já deci-diu o Supremo Tribunal Federal: “… não há direitos absolutos, ilimitados e ilimitáveis”56.

56 ADI 2566 MC, Relator Ministro Sydnei Sanches, Tribunal Pleno,

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

Assim: “… Não há direito absoluto à liber-dade de ir e vir (CF, art. 5°, XV) e, portanto, existem situações em que se faz necessária a ponderação dos interesses em conflito na apreciação do caso concreto”57.

B) É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (art. 5º, inciso XVII, da CF). As associações somente poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no caso de dissolução, o trânsito em julgado (art. 5º, inciso XIX, da CF). Portanto não é cabível a suspensão das ati-vidades por ato normativo do Poder Executivo.

C) Esta é a resposta correta. O art. 5º, in-ciso LXXI, da CF garante a concessão de mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades cons-titucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Assim, qualquer pessoa, física ou jurídica, que esteja impedida de exercer esses direi-tos, liberdades e prerrogativas diretamente outorgados pela Constituição em virtude da omissão legislativa do Poder Público dispõe de legitimidade para a impetração. O Supre-mo Tribunal Federal admite a impetração de mandado de injunção coletivo, e, com isso, a legitimidade ativa dos organismos sindicais e entidades de classe em favor de seus mem-bros ou associados, aplicando, por analogia, o art. 5º, inciso LXX, da CF, que trata do man-dado de segurança coletivo58. O Supremo Tri-bunal Federal ainda não se manifestou sobre a legitimidade do Ministério Público, porém a Lei Complementar n. 75/93, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União, estabelece, em seu art. 6º, inciso VIII, que compete ao Mi-nistério Público da União, “promover outras ações, nelas incluído o mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamenta-dora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à ci-dadania, quado difusos os interesses a serem protegidos”.

julgado em 22/05/2002, DJ 27/02/2004.57 HC 94147, Relatora Ministra Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 27/05/2008, DJe-107 PUBLIC 13/06/2008.58 MI 20, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 19/05/1994, DJ 22/11/1996.

D) O habeas data visa a assegurar o co-nhecimento de informações ou a retifica-ção de dados relativos à pessoa do impe-trante constantes de registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público (art. 5º, inciso LXXII, da CF). Logo, pode ser impetrado contra pessoas jurídicas de direito privado que contenham registros ou banco de dados de caráter público. A Lei n. 9.507/97, que regula o direito de acesso a informações e disciplina o rito processual do habeas data, define como de caráter público “todo registro ou banco de dados contendo in-formações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade pro-dutora ou depositárias das informações” (parágrafo único do art. 1º).

E) O art. 5º, inciso XIII, da CF garante o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou pro-fissão, mas, ao mesmo tempo, condiciona o direito ao atendimento das qualificações pro-fissionais que a lei estabelecer.

RESPOSTA: C

10) Com referência ao MP, à advocacia e à defensoria pública, assinale a opção correta. A) O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desa-cato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele. B) Ao MP é assegurada autonomia funcional e administrativa, cabendo ao Poder Executivo apenas propor ao Congresso Nacional a criação e a extinção dos cargos e serviços auxiliares do MP. C) A destituição do procurador-geral da Re-pública ocorre por iniciativa do presidente da República, precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal. D) A Advocacia-Geral da União é chefiada pelo advogado-geral da União, cargo de nomeação pelo presidente da República, entre integrantes do órgão, com mais de trinta anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. E) As defensorias públicas estaduais dispõem de autonomia funcional e administrativa, mas, sendo órgãos do Poder Executivo, cabe ao go-vernador de estado a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.

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COMENTÁRIOA) A Constituição garante aos ad-vogados a inviolabilidade “por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei” (art. 133 da CF). O Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/94) prevê, no § 3º do art. 1º, que o advogado, no exercício da pro-fissão, “é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei”; e, no § 2º do art. 7º, que o “advogado tem imunidade profissional, não cons-tituindo injúria, difamação ou desaca-to [a expressão desacato foi declarada inconstitucional] puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercí-cio de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disci-plinares perante a OAB, pelos exces-sos que cometer”. A imunidade profissional dos advogados, contudo, não é absoluta59, mas relativa60. E, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, não abrange a calú-nia61 e nem compreende “o desacato, pois conflita com a autoridade do magistrado na condução da atividade jurisdicional”, daí por que a expressão ou desacato con-tida no art. 7º, § 2º, do Estatuto da OAB, foi declarada inconstitucional na ADI 1.12762. Além disso, a “invocação da imunidade constitucional pressupõe, necessariamente, o exercício regular e legítimo da Advocacia. Essa prerroga-tiva jurídico-constitucional, no entan-to, revela-se incompatível com práti-cas abusivas ou atentatórias à dignida-de da profissão ou às normas ético-ju-rídicas que lhe regem o exercício”63.

59 HC 94398, Relator Ministro Eros Grau, Segunda Turma, julgado em 04/05/2010, DJe-096 PUBLIC 28/05/2010.60 HC 86044, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, julgado em 07/11/2006, DJ 02/03/2007.61 HC 84446, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 23/11/2004, DJ 25/02/2005.62 ADI 1127, Relator Ministro Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 17/05/2006, DJe-105 PUBLIC 11//06/2010.63 RHC 81750, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, julgado em 12/11/2002, DJ 10/08/2007.

B) O art. 127, § 2º, da CF dispõe: “Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrati-va, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de pro-vas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamen-to”. Portanto cabe ao próprio Minis-tério Público (e não ao Poder Execu-tivo), propor ao Congresso Nacional a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares.

C) A assertiva está correta, repetindo os termos do § 2º do art. 128 da CF: “A destituição do Procurador-Geral da República, por iniciativa do Presiden-te da República, deverá ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal”.

D) Esta assertiva é praticamente igual à alternativa D da questão 9 da prova do concurso da 1ª Região. Conforme mencionado nos comentários àquela questão, ser integrante do órgão não é um dos requisitos para ser nomeado Advogado-Geral da União. Nos ter-mos do § 1º do art. 131 da CF: “A Ad-vocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da Repúbli-ca dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada”.

E) A Constituição assegura às Defen-sorias Públicas Estaduais autonomia funcional e administrativa, bem como a iniciativa de sua proposta orçamen-tária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes (art. 134, § 2º, da CF).

RESPOSTA: C

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

TRF - 3ª Região

1.No que se refere a direitos e garantias funda-mentais, instrumentos de tutela desses direitos e inafastabilidade do controle judicial, assinale a opção correta.A) O MP deve acompanhar a ação popular, cabendo-lhe apressar a produção de provas e promover a responsabilidade civil ou criminal dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado.B) O texto constitucional determina que a lei não pode excluir da apreciação do Poder Ju-diciário lesão ou ameaça a direito, seja ela pro-veniente de ação ou omissão de organizações públicas, seja originada de conflitos privados.Como corolário do princípio da inafastabilidade do controle judicial, a CF garante, de modo expresso, o direito ao duplo grau de jurisdição em todos os feitos e instâncias.C) O direito de petição é direito fundamental de caráter universal, assegurado à generalidade das pessoas físicas, brasileiras ou estrangei-ras, de modo individual ou coletivo, mas não às pessoas jurídicas, que não dispõem de legitimidade para valer-se desse instrumento de defesa de interesses próprios ou de ter-ceiros contra atos ilegais ou praticados com abuso de poder.D) A jurisprudência do STF considera que o princípio do direito adquirido se impõe a leis de direito privado, mas não a leis de ordem pública, pois estas se aplicam de imediato, alcançando os efeitos futuros do ato jurídico perfeito ou da coisa julgada.E) O brasileiro nato, o brasileiro naturalizado e o estrangeiro não podem ser extraditados por crime político ou de opinião, mas, no que tange à prática de crime comum, a CF veda por inteiro apenas a extradição de brasileiro nato ou naturalizado, admitindo-a para o cidadão estrangeiro.

COMENTÁRIOA) Esta é a assertiva correta, a qual repete os termos do § 4º do art. 6º da Lei n. 4.717/65 (que regula a ação popular): “§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores”.

B) A Constituição não garante o direito ao duplo grau de jurisdição em todos os feitos e instâncias. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que somente há direito ao duplo grau de jurisdição naqueles casos em que a Constituição expressamente prevê a possibilidade de interposição de recurso ordinário ou apelação à instância superior. Acontrario sensu, nas hipóteses em que a Constituição estabelece a competência originária de algum Tribunal, mas não prevê a possibilidade de interposição de recurso ordinário contra a decisão proferida, não há direito ao duplo grau de jurisdição, ainda que haja previsão em lei ou em tratado ou convenção internacional (como ocorre, por exemplo, com a Convenção Americana de Direitos Humanos). O principal precedente do Supremo Tribunal Federal é o RHC 79.78519, cuja ementa tem o seguinte teor: “I. Duplo grau de jurisdição no Direito brasileiro, à luz da Constituição e da Convenção Americana de Direitos Humanos. 1. Para corresponder à eficácia instrumental que lhe costuma ser atribuída, o duplo grau de jurisdição há de ser concebido, à moda clássica, com seus dois caracteres específicos: a possibilidade de um reexame integral da sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confiado à órgão diverso do que a proferiu e de hierarquia superior na ordem judiciária. 2. Com esse sentido próprio – sem concessões que o desnaturem –não é possível, sob as sucessivas Constituições da República, erigir o duplo grau em princípio e garantia constitucional, tantas são as previsões, na própria Lei Fundamental, do julgamento de única instância ordinária, já na área cível, já, particularmente, na área penal. 3. A situação não se alterou, com a incorporação ao Direito brasileiro da Convenção Americana de

19 RHC 79785, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 29/03/2000, DJ 22/11/2002.

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Direitos Humanos (Pacto de São José), na qual, efetivamente, o art. 8º, 2, h, consagrou, como garantia, ao menos na esfera processual penal, o duplo grau de jurisdição, em sua acepção mais própria: ‘o direito de toda pessoa acusada de delito’, durante o processo, ‘de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior’. 4. Prevalência da Constituição, no Direito brasileiro, sobre quaisquer convenções internacionais, incluídas as de proteção aos direitos humanos, que impede, no caso, a pretendida aplicação da norma do Pacto de São José: motivação. II. A Constituição do Brasil e as convenções internacionais de proteção aos direitos humanos: prevalência da Constituição que afasta a aplicabilidade das cláusulas convencionais antinômicas.

1. Quando a questão – no estágio ainda primitivo de centralização e efetividade da ordem jurídica internacional – é de ser resolvida sob a perspectiva do juiz nacional – que, órgão do Estado, deriva da Constituição sua própria autoridade jurisdicional – não pode ele buscar, senão nessa Constituição mesma, o critério da solução de eventuais antinomias entre normas internas e normas internacionais; o que é bastante a firmar a supremacia sobre as últimas da Constituição, ainda quando esta eventualmente atribua aos tratados a prevalência no conflito: mesmo nessa hipótese, a primazia derivará da Constituição e não de uma apriorística força intrínseca da convenção internacional. 2. Assim como não o afirma em relação às leis, a Constituição não precisou dizer-se sobreposta aos tratados: a hierarquia está ínsita em preceitos inequívocos seus, como os que submetem a aprovação e a promulgação das convenções ao processo legislativo ditado pela Constituição e menos exigente que o das emendas a ela e aquele que, em consequência, explicitamente admite o controle da constitucionalidade dos tratados (CF, art.

102, III, b). 3. Alinhar-se ao consenso em torno da estatura infraconstitucional, na ordem positiva brasileira, dos tratados a ela incorporados, não implica assumir compromisso de logo com o entendimento – majoritário em recente decisão do STF (ADInMC 1.480) – que, mesmo em relação às convenções internacionais de proteção de direitos fundamentais, preserva a jurisprudência que a todos equipara hierarquicamente às leis ordinárias. 4. Em relação ao ordenamento pátrio, de qualquer sorte, para dar a eficácia pretendida à cláusula do Pacto de São José, de garantia do duplo grau de jurisdição, não bastaria sequer lhe conceder o poder de aditar a Constituição, acrescentando-lhe limitação oponível à lei como é a tendência do relator: mais que isso, seria necessário emprestar à norma convencional força ab-rogante da Constituição mesma, quando não dinamitadoras do seu sistema, o que não é de admitir. III. Competência originária dos Tribunais e duplo grau de jurisdição.

1. Toda vez que a Constituição prescreveu para determinada causa a competência originária de um Tribunal, de duas uma: ou também previu recurso ordinário de sua decisão (CF, arts. 102, II, a; 105, II, a e b; 121, § 4º, III, IV e V) ou, não o tendo estabelecido, é que o proibiu. 2. Em tais hipóteses, o recurso ordinário contra decisões de Tribunal, que ela mesma não criou, a Constituição não admite que o institua o direito infraconstitucional, seja lei ordinária seja convenção internacional: é que, afora os casos da Justiça do Trabalho – que não estão em causa – e da Justiça Militar – na qual o STM não se superpõe a outros Tribunais –, assim como as do Supremo Tribunal, com relação a todos os demais Tribunais e Juízos do País, também as competências recursais dos outros Tribunais Superiores – o STJ e o TSE – estão enumeradas taxativamente na Constituição, e só a emenda constitucional poderia ampliar.

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3. À falta de órgãos jurisdicionais ad quo, no sistema constitucional, indispensáveis a viabilizar a aplicação do princípio do duplo grau de jurisdição aos processos de competência originária dos Tribunais, segue-se a incompatibilidade com a Constituição da aplicação no caso da norma internacional de outorga da garantia invocada”.

C) O direito fundamental de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder, previsto no art. 5º, inciso XXXIV, alínea a, da CF, é assegurado a todos, pessoas físicas, brasileiras ou estrangeiras, e, inclusive, pessoas jurídicas, prestando-se à defesa de direitos individuais ou coletivos. Nas palavras de Gilmar Mendes20: “O direito de petição é um típico direito fundamental de caráter geral ou universal (direito da pessoa humana), assegurado a todos, pessoas físicas ou jurídicas, brasileiros ou estrangeiros, ou até mesmo a entes não dotados de personalidade jurídica. Pode ser exercido individual ou coletivamente”.

É importante lembrar que, na esteira da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o direito de petição “não assegura, por si só, a possibilidade de o interessado – que não dispõe de capacidade postulatória – ingressar em juízo para, independentemente de Advogado, litigar em nome próprio ou como representante de terceiros”21.

D) Conforme já referido nos comentários à questão 6 da prova do concurso da 4ª Região, a jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que, no nosso ordenamento jurídico, por força do art. 5º, inciso XXXVI, da CF, a legislação infraconstitucional,

20 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.520.21 MI 772 AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 24/10/2007, DJe-053 PUBLIC 20/03/2009.

ainda quando de ordem pública, não pode retroagir para alcançar o ato jurídico perfeito, nem mesmo no que toca aos seus efeitos futuros (retroatividade mínima). O mesmo se aplica ao direito adquirido. Eis o teor do dispositivo constitucional: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.A título exemplificativo, cita-se, novamente, a ADI 49322, na qual o Supremo Tribunal Federal decidiu que o “disposto no artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do S.T.F.. - Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido”.

E) Segundo o art. 5º, inciso LI, da CF, “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”. Já o inciso LII do mesmo artigo, dispõe que “não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião”. Portanto, o brasileiro nato, o brasileiro naturalizado e o estrangeiro não podem ser extraditados por crime político ou de opinião. No que tange à prática de crime comum, a Constituição veda por inteiro apenas a extradição do brasileiro nato, admitindo-a para o naturalizado se o crime for praticado antes da naturalização ou se comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e para o estrangeiro.

RESPOSTA: A

22 ADI 493, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 25/06/1992, DJ 04/09/1992.

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2. Com relação a poder constituinte originário, tipologia das constituições, hermenêutica e mutação constitucional, assinale a opção correta.A) Quanto ao conteúdo, considera-se constitui-ção formal aquela dotada de supremacia, que, como norma fundamental e superior, regula o modo de produção das demais normas do ordenamento jurídico. B) As normas constitucionais são espécies de normas jurídicas, e, como tal, sua interpretação baseia-se em conceitos e elementos clássicos da interpretação em geral, não sendo possível afirmar, portanto, que, no campo hermenêutico, as normas constitucionais apresentam especifi-cidades que as diferenciam das demais normas. C) A mutação constitucional ocorre por inter-pretação judicial ou por via de costume, mas não pela atuação do legislador, pois este age apenas editando normas de desenvolvimento ou complementação do texto constitucional, dentro dos limites por este imposto. D) Conforme determinação expressa do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, cabe aos estados, ao DF e aos municípios exercer o poder constituinte decorrente, entendido como a capacidade desses entes federativos de se auto-organizarem de acordo com suas próprias constituições, respeitados os princípios impostos, de forma explícita ou implícita, pela CF. E) O poder constituinte originário é a expressão das decisões soberanas da maioria de um povo, em dado momento histórico; esse poder se manifesta em uma assembleia constituinte soberana, responsável por inaugurar uma nova ordem jurídica.

COMENTÁRIOA) Para José Afonso da Silva23, constituição formal “é o peculiar modo de existir do Estado, reduzido, sob forma escrita, a um documento solenemente estabelecido pelo poder constituinte e somente modificável por processos e formalidades especiais nela própria estabelecidos”. Considerando a posição de superioridade hierárquica no ordenamento jurídico, não está errado referir que a Constituição regula o modo de produção das demais normas do ordenamento jurídico. Esta, aliás, é a definição de Luís

23 SILVA, José Afonso da.Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 41.

Roberto Barroso24, para quem a Constituição, em sentido formal, “é a norma fundamental e superior, que regula o modo de produção das demais normas do ordenamento jurídico e limita o seu conteúdo”. Segundo gabarito oficial, esta é a assertiva correta.

B) Ao contrário do que dispõe a assertiva, há, sim, certas especificidades que, no campo hermenêutico, diferenciam as normas constitucionais das demais normas jurídicas, dada a supremacia daquelas no ordenamento jurídico. Canotilho25, por exemplo, aponta os seguintes princípios de interpretação constitucional: princípio da unidade da constituição, princípio do efeito integrador, princípio da máxima efetividade, princípio da “justeza” ou da conformidade funcional, princípio da concordância prática ou da harmonização e princípio da força normativa da constituição. Assertiva errada.

C) A mutação constitucional (alteração informal da Constituição sem modificação do texto constitucional, ou seja, mudança do significado, sentido, conteúdo, alcance da norma constitucional, mantendo-se o texto inalterado) efetivamente ocorre por interpretação judicial ou por via de costume. Como o Poder Legislativo, no exercício de sua função típica, também interpreta a Constituição, a mutação constitucional também pode ser resultado da atuação do legislador ordinário26. Assim, a assertiva está errada.D) Conforme já mencionado nos comentários à questão 1 da prova do concurso da 1ª Região, o art. 11 do ADCT confere aos Estados (e não aos Municípios e ao Distrito Federal) o poder constituinte derivado decorrente: “Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado

24 BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.25 CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. ed., 2. reimp. Coimbra: Almedina, 2006.p. 1223-1226.26 BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 145 e ss.

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da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta”. Alternativa incorreta.

E) A doutrina constitucional costuma qualificar o poder constituinte originário como inicial, autônomo (ou ilimitado) e incondicionado. Em sendo ilimitado e incondicionado, não há forma preestabelecida para que esse poder se manifeste. Logo nem sempre o ato constituinte se expressa por meio de assembleia constituinte, podendo ocorrer sem a intervenção de um órgão de representação popular, como no caso das Constituições outorgadas. Incorreta, portanto.

RESPOSTA: A

3. Acerca da organização e das competências da justiça federal, assinale a opção correta. A) A remoção ou permuta de juízes dos TRFs, bem como a determinação de sua jurisdição e sede, será disciplinada por resolução do Conselho da Justiça Federal. B) Aos juízes federais compete processar e julgar os crimes praticados por índios, tanto em caso de crimes comuns quanto de crimes que envolvam disputa sobre direitos indígenas. C) No âmbito da justiça federal comum, cada unidade da Federação deve constituir uma seção judiciária com sede na respectiva capi-tal; a localização das varas federais deve ser estabelecida em lei ordinária. D) Cabe ao Conselho da Justiça Federal, ainda que suas decisões não tenham caráter vincu-lante, exercer a supervisão administrativa da justiça federal de primeiro e segundo graus, com poderes correcionais. E) Conforme o disposto na CF, as competências da justiça federal de primeira instância são fixadas apenas em razão da matéria.

COMENTÁRIOA) A mesma assertiva consta na questão 1 da prova do concurso da 1ª Região. Como lá já foi referido, o art. 107, § 1º, da CF estabelece que lei (e não resolução do Conselho da Justiça Federal) disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos Tribunais

Regionais Federais, bem como determinará sua jurisdição e sede.

B) Aos juízes federais compete processar e julgar os crimes praticados por índios apenas em caso de crimes que envolvam disputa sobre direitos indígenas (art. 109, inciso XI, da CF). Os crimes comuns praticados por ou contra índios são da competência da Justiça Estadual. Nesse sentido a Súmula 140 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete à justiça comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vitima”. Confirmando o teor dessa Súmula, assim decidiu o Supremo Tribunal Federal no RE 351.4827: “COMPETÊNCIA CRIMINAL. Conflito. Crime praticado por silvícolas, contra outro índio, no interior de reserva indígena. Disputa sobre direitos indígenas como motivação do delito. Inexistência. Feito da competência da Justiça Comum. Recurso improvido. Votos vencidos. Precedentes. Exame. Inteligência do art. 109, incs. IV e XI, da CF. A competência penal da Justiça Federal, objeto do alcance do disposto no art. 109, XI, da Constituição da República, só se desata quando a acusação seja de genocídio, ou quando, na ocasião ou motivação de outro delito de que seja índio o agente ou a vítima, tenha havido disputa sobre direitos indígenas, não bastando seja aquele imputado a silvícola, nem que este lhe seja vítima e, tampouco, que haja sido praticado dentro de reserva indígena”.

C) Esta é a assertiva correta, conforme o art. 110, caput, da CF: “Art. 110. Cada Estado, bem como o Distrito Federal, constituirá uma seção judiciária que terá por sede a respectiva Capital, e varas localizadas segundo o estabelecido em lei”.

D) Cabe ao Conselho da Justiça Federal

27 RE 419528, Relator Ministro Marco Aurélio. Relator p/ Acórdão Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julgado em 03/08/2006, DJ 09/03/2007.

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exercer, na forma da lei, a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correcionais, sendo que suas decisões têm caráter vinculante (art. 105, parágrafo único, inciso II, da CF).

E) Conforme o disposto na Constituição, além de ser fixada em razão da matéria, a competência da Justiça Federal de primeira instância também é fixada em razão da pessoa (art. 109, incisos I e II).

RESPOSTA: C

4. Considerando as disposições constitucio-nais sobre indenização por dano moral, direito à imagem, direito de invenção e sigilo de fonte e de dados, assinale a opção correta.A) Não se reconhece a reparabilidade do dano à imagem social de pessoa jurídica, pois so-mente as pessoas físicas detêm os atributos exteriores com base nos quais se apresentam na vida em sociedade. B) Cumpre à lei assegurar aos autores de inventos industriais privilégio permanente para a sua utilização, bem como proteção com prazo indeterminado às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico e econômico do país. C) A proteção constitucional do sigilo da fonte impede que um jornalista seja submetido a sanções penais, civis ou administrativas por se negar a revelar o nome do informante ou o local onde conseguiu a notícia, mesmo que esta se caracterize como informação maledicente e unilateral. D) A jurisprudência do STF é pacífica em admitir que os sigilos bancário, fiscal e de registros telefônicos possam ser quebrados por comissões parlamentares de inquérito. E) A indenização por danos morais cabe tanto em relação à pessoa física como em relação à pessoa jurídica, mas não em relação às coletividades, já que os interesses difusos ou coletivos não são passíveis de ser indenizados.

COMENTÁRIOA) A jurisprudência do Superior Tribunal

de Justiça é pacífica quanto à possibilidade de a pessoa jurídica sofrer danos morais (Súmula 227), não em decorrência de violação à honra subjetiva, já que a pessoa jurídica não pode ser ofendida subjetivamente, mas em virtude da honra objetiva, por prejuízos causados à sua imagem, ou seja, à sua reputação, ao seu bom nome (ver REsp 60.03328). O Supremo Tribunal Federal, por seu turno, entende que não viola o inciso X do art. 5º da CF (são invioláveis a intimidade, a vida privada, e honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação) “o reconhecimento, à pessoa jurídica, do direito à indenização por danos morais, em razão de fato considerado ofensivo à sua honra”, sendo que o “texto constitucional não distingue a pessoa física da jurídica quando cuida da proteção da inviolabilidade da imagem”29.

B) Nos termos do art. 5º, inciso XXIX, da CF, “a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário [e não permanente] para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País”.

C) A assertiva está correta. O inciso XIV do art. 5º da CF consagra o direito à informação e o direito ao resguardo do sigilo da fonte de informação, quando necessário ao exercício profissional.Assim, o direito ao sigilo da fonte se trata de garantia constitucional cujo exercício não pode implicar qualquer sanção ao jornalista, independentemente da natureza da informação. Como ressaltou o Ministro Celso de Mello no Inquérito 87030,

28 REsp 60033/MG, Relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Quarta Turma, julgado em 09/08/1995, DJ 27/11/1995.29 AI 244072 AgR, Relator Ministro Néri da Silveira, Segunda Turma, julgado em 02/04/2002, DJ 17/05/2002, noticiado no Informativo 262.30 Inq 870/RJ, Relator Ministro Celso de Mello, julgado em

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“a proteção constitucional que confere ao jornalista o direito de não proceder à disclosure da fonte de informação ou de não revelar a pessoa de seu informante desautoriza qualquer medida tendente a pressionar ou a constranger o profissional da Imprensa a indicar a origem das informações a que teve acesso, eis que – não custa insistir – os jornalistas, em tema de sigilo da fonte, não se expõem ao poder de indagação do Estado ou de seus agentes e não podem sofrer, por isso mesmo, em função do exercício dessa legítima prerrogativa constitucional, a imposição de qualquer sanção penal, civil ou administrativa”.

D) Conforme comentários à questão 2 da prova do concurso da 4ª Região, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica em admitir que as Comissões Parlamentares de Inquérito decretem a quebra de sigilo inerentes aos registros bancários, fiscais e telefônicos, porém desde que o façam com base em fundamentação idônea31. A assertiva está correta.

E) Conforme visto acima, a indenização por danos morais cabe tanto em relação à pessoa física como em relação à pessoa jurídica. Quanto às coletividades, a jurisprudência majoritária do Superior Tribunal de Justiça admite a indenização por danos morais coletivos. Nesse sentido decidem a Segunda e a Terceira Turma. A Segunda Turma, no REsp 1057274, decidiu32: “O dano moral coletivo, assim entendido o que é transindividual e atinge uma classe específica ou não de pessoas, é passível de comprovação pela presença de prejuízo à

08/04/1996, DJ15/04/1996.31 V. g. MS 24817, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2005, DJe-208 PUBLIC 06/11/2009; MS 24029, Relator Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 03/11/2002, DJ 22/03/2002; MS 23868, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 30/08/2001, DJ 21/06/2002.32 REsp 1057274/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 01/12/2009, DJe 26/02/2010.

imagem e à moral coletiva dos indivíduos enquanto síntese das individualidades percebidas como segmento, derivado de uma mesma relação jurídica-base”. E a Terceira Turma, no REsp 122175633, considerou ser cabível a reparação do dano moral coletivo quando o fato transgressor é “grave o suficiente para produzir verdadeiros sofrimentos, intranquilidade social e alterações relevantes na ordem extrapatrimonial coletiva”.No entanto, há precedentes da Primeira Turma da Corte Superior em sentido contrário, ao argumento de que “não parece ser compatível com o dano moral a ideia da ‘transindividualidade’ (= da indeterminabilidade do sujeito passivo e da indivisibilidade da ofensa e da reparação) da lesão” (REsp 971844)34. No voto condutor do acórdão do REsp 598.28135, o Relator, Ministro Teori Albino Zavascki, consignou: “2. O dano ambiental ou ecológico pode, em tese, acarretar também dano moral – como, por exemplo, na hipótese de destruição de árvore plantada por antepassado de determinado indivíduo, para quem a planta teria, por essa razão, grande valor afetivo. Todavia, a vitima do dano moral é, necessariamente, uma pessoa. Não parece ser compatível com o dano moral a ideia da ‘transindividualidade’ (= da indeterminabilidade do sujeito passivo e da indivisibilidade da ofensa e da reparação) da lesão. (...) Nesse sentido é a lição de Rui Stoco, em seu Tratado deResponsabilidade Civil, 6a ed., São Paulo: RT, que refuta a assertiva segundo a qual ‘sempre que houver um prejuízo ambiental objeto de comoção popular, com ofensa ao sentimento coletivo, estará́ presente o dano moral ambiental’ (José Rubens Morato Leite, Dano Ambiental: do

33 REsp 1221756/RJ, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 02/02/2012, DJe 10/02/2012.34 REsp 971.844/RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 03/12/2009, DJe 12/02/2010.35 REsp 598.281/MG, Rel. Ministro Luiz Fux, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 02/05/2006, DJ 01/06/2006.

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individual ao extrapatrimonial , 1a ed., São Paulo: RT, 2000, p. 300, apud Rui Stoco, op. cit., p. 854): ‘No que pertine ao tema central o estudo, o primeiro reparo que se impõe é no sentido de que não existe ‘dano moral ao meio ambiente’. Muito menos ofensa moral aos mares, rios, à Mata Atlântica ou mesmo agressão moral a uma coletividade ou a um grupo de pessoas não identificadas”.

RESPOSTA: C OU D

5. A respeito das disposições constitucio-nais sobre a ordem social, assinale a opção correta.A) O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano, nos casos expressos em lei, ou comprovada a separação de fato por mais de dois anos. B) O dever do Estado com a educação efetiva-se mediante o cumprimento de várias garantias, como a garantia à educação básica obrigatória e gratuita às crianças de zero a seis anos de idade. C) A CF veda toda e qualquer censura de natureza política e ideológica, mas prevê a regulação estatal de diversões e espetáculos públicos, dispondo que cabe ao poder públi-co, entre outras atribuições, informar sobre a inadequação de que esses eventos ocorram em determinados locais e horários. D) Como a justiça desportiva é órgão de natureza administrativa e não integra o Poder Judiciário, a ela compete julgar, com exclusi-vidade e em caráter terminativo, a disciplina e as competições desportivas, de maneira a esgotar, na própria instância administrati-va, a apreciação das lides relacionadas ao desporto. E)É admitida a participação de pessoa jurídica no capital social de empresa jornalística ou de radiodifusão apenas no caso de o capital da sociedade pertencer exclusiva e nominalmen-te a brasileiros, não podendo a participação exceder a trinta por cento do capital social.

COMENTÁRIOA) Os termos da redação original do § 6º do art. 226 da CF eram idênticos aos da assertiva. No entanto tal dispositivo foi alterado pela Emenda Constitucional nº 66, de 13/07/2010, e sua redação passou a ser a seguinte: “O

casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”. Logo, não existem mais, no texto constitucional, as condicionantes da separação judicial por mais de um ano ou comprovada separação de fato por mais de dois anos, como previsto anteriormente.

B) O dever do Estado com a educação realmente se efetiva mediante o cumprimento de várias garantias, entre elas a “educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” e a “educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade” (art. 208, incisos I e IV, da CF). A educação básica, portanto, é fornecida aos alunos a partir dos quatro anos de idade.

C) Esta é a assertiva correta. O § 2º do art. 220 da CF dispõe que é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística; e o § 3º, inciso I, do mesmo artigo estabelece que compete à lei federal regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.

D) A justiça desportiva é, de fato, órgão de natureza administrativa que não integra o Poder Judiciário, competindo-lhe julgar a disciplina e as competições desportivas. No entanto, para além do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, inciso XXXV, da CF), o §1º do art. 217 da CF dispõe: “O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei”.

E) O art. 222 da CF, na redação original, vedava a participação de pessoa jurídica no capital social de empresa jornalística ou de radiodifusão, exceto a de partido político e de sociedade cujo capital pertencesse exclusiva e nominalmente a brasileiros, e limitava

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esta participação a 30% do capital social. O dispositivo, contudo, foi alterado pela Emenda Constitucional nº 36/02 e passou a admitir a propriedade de empresa jornalística ou de radiodifusão por pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e com sede no País (caput), inclusive com a participação de capital estrangeiro (a ser disciplinada por lei, conforme o § 4º), desde que pelo menos 70% do capital total e do capital votante pertença, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos (§ 1º).

RESPOSTA: C

6. Acerca da nacionalidade, da iniciativa popular de lei, do plebiscito e da disciplina constitucional sobre os partidos políticos, assinale a opção correta. A) A perda de nacionalidade, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional, é pro-cedimento administrativo cujo trâmite ocorre no Ministério da Justiça. B) A CF regulamenta a iniciativa popular de lei tanto no âmbito federal quanto nos âmbitos estadual e municipal, fixando as regras e os procedimentos relativos à apresentação do projeto de lei. C)Nas questões de relevância nacional, com-pete ao Congresso Nacional, mediante decreto legislativo, convocar plebiscito; no caso da incorporação, subdivisão ou desmembramento de estados, a competência pertence às assem-bleias legislativas dos estados envolvidos. D) Os partidos políticos com registro no TSE têm direito a acesso gratuito ao rádio e à televisão, mas apenas os partidos com representação no Congresso Nacional podem receber recursos do fundo partidário. E) A nacionalidade secundária é adquirida por meio da naturalização, que pode ser requerida tanto pelo apátrida como pelo estrangeiro. Mesmo que eles satisfaçam os requisitos para a obtenção da naturalização, o Poder Executivo dispõe de competência discricionária para concedê-la ou não.

COMENTÁRIOA) O art. 12, § 4º, inciso I, da CF estabelece que será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que tiver

cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional. Exige a Constituição, portanto, a via jurisdicional para a perda da nacionalidade em virtude de atividade nociva ao interesse nacional.

B) No âmbito federal, a Constituição estabelece que a “iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles” (art. 61, § 2º). No âmbito estadual, entretanto, a Constituição remete à lei a atribuição de dispor sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual (art. 27,§ 4º). Quanto ao âmbito municipal, a Constituição determina que a lei orgânica dos Municípios deverá assegurar a “iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado” (art. 29, inciso XIII).

C) De acordo com o art. 49, inciso XV, é da competência exclusiva do Congresso Nacional convocar plebiscito. A Lei n. 9.709/98 – que regulamenta a execução do plebiscito, do referendo e a iniciativa popular – dispõe, em seu art. 3º, que, nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3º do art. 18 da CF (ou seja, no caso da incorporação, subdivisão ou desmembramento de Estados), o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional.

D) Depois de adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, os partidos políticos registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral (art. 17, § 2º, da CF), sendo-lhes assegurado direito a

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recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei (art. 17, § 3º, da CF), mesmo que não contem com representação no Congresso Nacional, já que a Constituição não traz essa limitação. Vale lembrar que o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucionais dispositivos da Lei n. 9.096/95 que restringiam demasiadamente o acesso gratuito pelos partidos políticos (notadamente aqueles sem representação parlamentar) ao rádio e à televisão, bem como aos recursos do fundo partidário. Trata-se da ADI 1.351e da ADI 1.35436, assim ementadas: “PARTIDO POLÍTICO - FUNCIONAMENTO PARLAMENTAR - PROPAGANDA PARTIDÁRIA GRATUITA - FUNDO PARTIDÁRIO. Surge conflitante com a Constituição Federal lei que, em face da gradação de votos obtidos por partido político, afasta o funcionamento parlamentar e reduz, substancialmente, o tempo de propaganda partidária gratuita e a participação no rateio do Fundo Partidário. NORMATIZAÇÃO - I N C O N S T I T U C I O N A L I D A D E - VÁCUO. Ante a declaração de inconstitucionalidade de leis, incumbe atentar para a inconveniência do vácuo normativo, projetando-se, no tempo, a vigência de preceito transitório, isso visando a aguardar nova atuação das Casas do Congresso Nacional”.

E) A nacionalidade secundária (também, e em geral) é adquirida por meio da naturalização, que pode ser requerida tanto pelo apátrida (heimatlos) como pelo estrangeiro. Segundo dispõe o art. 111 da Lei n. 6.815/80 (Estatuto dos Estrangeiros), a concessão da naturalização é faculdadeexclusiva do Poder Executivo, exercida mediante portaria do Ministro da Justiça; ao passo que o art. 121 estabelece que a “satisfação

36 ADI 1351 e ADI 1354, Relator Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 07/12/2006, DJ 30/03/2007, Republicação DJ 29/06/2007.

das condições previstas nesta Lei não assegura ao estrangeiro direito à naturalização”. Por ser ato de soberania estatal, a doutrina tradicional considera que a concessão da naturalização se insere na competência discricionária do Poder Executivo. Nesse sentido, Alexandre de Moraes37 afirma que “não existe direito público subjetivo à obtenção da naturalização, que se configura ato de soberania estatal, sendo, portanto, ato discricionário do Chefe do Poder Executivo”.Por outro lado, e especialmente para a prova dissertativa ou oral, é importante lembrar que há quem defenda que a naturalização extraordinária (a requerida pelos estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, art. 12, inciso II, alínea b, da CF) é ato vinculado e, portanto, direito subjetivo do naturalizando que preenche os requisitos. De acordo com José Afonso da Silva38, por exemplo, a naturalização extraordinária é “uma prerrogativa à qual o interessado tem direito subjetivo, preenchidos os pressupostos: quinze anos de residência ininterrupta e não condenação criminal”. Mesmo Alexandre de Moraes39 parece reconhecer que, neste caso, haveria, excepcionalmente, ato administrativo vinculado ao referir que “a expressa previsão constitucional afirmando a aquisição, presentes todos os requisitos, ‘…desde que requeiram …’, parece não deixar dúvidas sobre a existência de direito subjetivo daquele que cumprir com as exigências constitucionais, mesmo porque, diferentemente da hipótese de naturalização ordinária, não há referência alguma à lei”. Portanto, esta é a assertiva correta.

RESPOSTA: E

37 MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 227.38 SILVA, José Afonso da.Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 333.39 MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 231.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

7. Tendo em vista os dispositivos constitucionais que versam sobre o direito ao trabalho, à saúde, à previdência social e à segurança, assinale a opção correta.A) A filiação ao RGPS é obrigatória para todos os que estão inseridos no mercado de trabalho, razão pela qual a CF veda por completo a adoção de quaisquer requisitos diferenciados para a concessão de aposentadoria a seus beneficiários. B) Conforme a CF, a segurança pública visa à preservação da ordem pública e da incolumida-de das pessoas e do patrimônio, sendo órgãos por ela responsáveis a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, as polícias civis, as polícias militares, os corpos de bombeiros militares e as guardas municipais. C) A garantia ao salário mínimo nacionalmente unificado, sem diferenciação entre trabalhadores urbanos e rurais, de uma ou de outra região, não se aplica aos trabalhadores que, pela natureza da atividade que exercem, recebem remuneração variável. D) A assistência à saúde é livre à iniciativa privada, mas as instituições privadas, com exceção das entidades filantrópicas e sem fins lucrativos, não podem participar do Sistema Único de Saúde. E) O seguro-desemprego é direito garantido ao trabalhador que foi demitido sem justa causa, mas não ao que voluntariamente pediu demissão.

COMENTÁRIOA) Não é completamente vedada a adoção de requisitos diferenciados para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, embora esta seja a regra. O § 1º do art. 201 da CF, na redação dada pela EC nº 47/05, dispõe expressamente: “É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar”.

B) Conforme estabelece o art. 144 da CF, a segurança pública visa à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: polícia federal (inciso

I); polícia rodoviária federal (inciso II); polícia ferroviária federal (inciso III, não referida na assertiva); polícias civis (inciso IV); e polícias militares e corpos de bombeiros militares (inciso V). As guardas municipaisnão estão elencadas entre os órgãos responsáveis pela segurança pública no rol taxativo do art. 144. Na ADI 23640, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o rol do art. 144 é taxativo e, no RE 60858841, que “o disposto no art. 144, § 8º, da CB/88, é claro no sentido de que as Guardas municipais, constituídas pelos Municípios, serão destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei, atribuições diversas das atividades típicas de segurança pública exercidas pelos órgãos supracitados”.

C) A garantia ao salário mínimo nacionalmente unificado, sem diferenciação entre trabalhadores urbanos e rurais, de uma ou outra região (art. 7º caput e inciso IV) também se aplica aos trabalhadores que, pela natureza da atividade que exercem, recebem remuneração variável, conforme expressa previsão do art. 7º, inciso VII, da CF.

D) O art. 199 da CF prevê que a assistência à saúde é livre à iniciativa privada (caput) e que as instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferênciaas entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos (§ 1º).

E) Esta é a assertiva correta. A Constituição garante o direito ao seguro-desemprego, porém apenas no caso de desemprego involuntário (art. 7º, inciso II).

RESPOSTA: E

40 ADI 236, Relator Octavio Gallotti, Tribunal Pleno, julgado em 07/05/1992, DJ 01/06/2001.41 RE 608588, Relator Ministro Luiz Fux, Decisão proferida pelo Ministro Eros Grau, julgado em 05/04/2011, DJe 69 PUBLIC 20/04/2010 REPUBLICAÇÃO: DJe-104 PUBLIC 01/06/2011.

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8. Em relação à organização e às atribuições do Poder Legislativo, ao estatuto dos congressistas e à perda de mandato parlamentar, assinale a opção correta.A) É atribuição privativa do Congresso Nacional autorizar operações externas de natureza finan-ceira, de interesse da União, dos estados, do DF e dos municípios. B) As matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional são disciplinadas por meio de decreto legislativo e dispensam a manifes-tação, mediante sanção ou veto, do presidente da República. C) O membro do Congresso Nacional perderá o mandato se deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão autorizada. A perda é decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta. D) A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes dos estados e do DF, eleitos em número proporcional à população, de forma que nenhuma unidade da Federação tenha menos de oito ou mais de sessenta deputados. E)Os deputados e senadores, desde a posse, somente poderão ser processados e julgados pelo STF, prerrogativa de foro que vale apenas para as infrações penais, não se estendendo, portanto, aos crimes eleitorais e às contraven-ções penais.

COMENTÁRIOA) Compete privativamente ao Senado Federal (e não ao Congresso Nacional) autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios (art. 52, inciso V, da CF).

B) Esta é a assertiva correta. Conforme comentários à questão 2 da prova do concurso da 2ª Região, o decreto legislativo é o instrumento normativo por meio do qual são disciplinadas as matérias de competênciaexclusivado Congresso Nacional, enumeradas no art. 49 da CF, bem como são disciplinadas as relações jurídicas decorrentes de medidas provisórias não convertidas em lei (art. 62, § 3º, da CF). O decreto legislativo não é submetido à apreciação (sanção/promulgação ou veto) do Presidente da República, conforme

dicção do art. 48, caput, da CF. A sanção e o veto dizem respeito aos projetos de lei (art. 84, incisos IV e V, da CF).

C) De acordo com o art. 55, inciso III, da CF, o Deputado ou Senador perderá o mandato se deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada. Neste caso, segundo o § 3º do mesmo dispositivo, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada a ampla defesa. A perda do mandato por decisão da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta se dá nos casos dos incisos I, II e VI do art. 55 da CF (art. 55, § 2º, da CF).

D) A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo (e não dos Estados e do Distrito Federal), eleitos pelo sistema proporcional em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal (art. 45, caput, da CF). Nenhuma unidade da Federação terá menos de oito e mais de setenta (e não sessenta) deputados (art. 45, § 1º, da CF). Os Territórios elegerão quatro deputados (art. 45, § 3º, da CF).

E) Segundo a dicção do art. 53, § 1º, da CF, os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma (e não da posse), serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. Já o art. 102, inciso I, alínea b, da CF estabelece que compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar originariamente os membros do Congresso Nacional nas infrações penais comuns. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento

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de que a expressão crimes comuns abrange todas as modalidades de infração penal, inclusive os crimes eleitorais e as contravenções penais42.

RESPOSTA: B

9. No que concerne à organização político--administrativa do Estado brasileiro, à interven-ção federal e ao processo legislativo, assinale a opção correta. A)A matéria constante de projeto de lei rejeitado poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional. B) Somente por emenda constitucional admite--se a alteração da forma federativa de Estado, para que o Brasil venha, eventualmente, a assumir a condição de Estado unitário. C) Os denominados princípios constitucionais sensíveis, que, uma vez descumpridos, podem dar ensejo à intervenção federal, incluem os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político e a prevalência dos direitos humanos. D) Para efeitos administrativos, a União pode instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões em um mesmo com-plexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais. E) O presidente da República pode solicitar ur-gência para apreciação de todos os projetos de lei que julgar relevantes ao bom funcionamento da administração pública, com exceção dos projetos de iniciativa privativa dos órgãos do Poder Judiciário.

COMENTÁRIOA) Esta é a assertiva correta, conforme art. 67 da CF: “A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional”.

B) A forma federativa de Estado é cláusula

42 Ver Inq. 1391 QO, Relator Ministro Néri da Silveira, Tribunal Pleno, julgado em 23/06/1999, DJ 06/08/1999; Pet 1649, Relator Ministro Celso de Mello, julgado em 27/01/1999, DJ 05/02/1999.

pétrea, portanto a proposta de emenda constitucional tendente a aboli-la sequer pode ser objeto de deliberação (art. 60, § 4º, inciso I, da CF).

C) Os denominados princípios constitucionais sensíveis, que, uma vez descumpridos, podem dar ensejo à intervenção federal, são aqueles elencados no art. 34, inciso VII, da CF: forma republicana, sistema representativo e regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal; prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político não se incluem entre os referidos princípios.

D) Por força do art. 25, § 3º, da CF, os Estados (e não a União) poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. O art. 43 da CF estabelece que a União, para efeitos administrativos, “poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais”, sendo que compete à lei complementar dispor sobre as condições para integração de regiões em desenvolvimento.

E) O Presidente da República somente pode solicitar urgência para apreciação dos projetos de lei de sua iniciativa (art. 64, § 1º, da CF).

RESPOSTA: A

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TRF - 4ª Região

1. Assinale a alternativa correta. A) A exploração de portos fluviais e lacustres compete aos Estados. B) A Federação Brasileira é composta pela União, Estados e um Distrito Federal, ao passo que os municípios somente têm autonomia em temas de seu particular interesse, nos termos da respectiva lei orgânica. C) Como Federação, o Brasil conta com autonomia legislativa dos Estados sem que existam limites a essa autonomia. D) Como República, o Brasil conta com o exercício do poder político em caráter eletivo, transitório e com responsabilidade. E) É de competência privativa estadual a legislação sobre desapropriação no âmbito de cada Estado.

COMENTÁRIOA) Compete à União (e não aos Estados) explorar, diretamente ou mediante autori-zação, concessão ou permissão, os portos marítimos, fluviais e lacustres (art. 21, inciso XII, alínea f, da CF).

B) O art. 1º da CF estabelece que a Repú-blica Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal; e o art. 18 da CF, que a organização político-administrativa da Re-pública Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos. Não há dúvidas, portanto, de que os Municí-pios integram a Federação Brasileira, gozando de autonomia legislativa, po-lítica e administrativa, nos limites fixa-dos pela Constituição.

C) O Constituinte distribuiu as compe-tências entre os entes federados e, as-sim, a autonomia legislativa dos Esta-dos é limitada pela Constituição (art. 25 da CF), de acordo com essa distribuição de competências. O princípio “básico que norteia a repartição de competên-cia entre as entidades componentes do

Estado Federal é o da predominância do interesse. (...). Assim, pelo princípio da predominância do interesse, à União caberá aquelas matérias e questões de predominância do interesse geral, ao passo que aos Estados referem-se as matérias de predominante interesse regional e aos municípios concernem os assuntos de interesse local. Em re-lação ao Distrito Federal, por expressa disposição constitucional (CF, art. 32, § 1º), acumulam-se, em regra, as com-petências estaduais e municipais, com a exceção prevista no art. 22, XVII, da Constituição.64”

D) Esta é a assertiva correta. Com efei-to, a República, em oposição à Monar-quia, pressupõe o exercício do poder pelo povo, caracterizando-se pela tem-porariedade (o Chefe de Governo rece-be um mandato com prazo de duração determinado e sem a possibilidade de reeleições sucessivas), eletividade (o Chefe de Governo é eleito pelo povo) e responsabilidade (o Chefe de Governo é politicamente responsável, devendo prestar contas ao povo)65. E o Brasil, como República, efetivamente conta com o exercício do poder político em caráter eletivo, transitório (especial-mente art. 1º, parágrafo único, art. 14 e art. 60, § 4º, inciso II, da CF) e com responsabilidade (em particular, art. 30, inciso III, art. 31, art. 34, inciso VII, alínea d, art. 35, inciso II e art. 70 a art. 75)66.

E) Nos termos do art. 22, inciso II, da CF, compete privativamente à União (e não aos Estados) legislar sobre desapropriação.

RESPOSTA: D

64 MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 314.65 DALARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 2. ed. atul. São Paulo: Saraiva, 1998.66 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 103-104.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

2. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta. I. Em face de sua natureza política, as Co-missões Parlamentares de Inquérito podem decretar imotivadamente a quebra de sigilo bancário e telefônico. II. Os escritórios e consultórios profissionais estão abrangidos no conceito de “casa” para fins da garantia constitucional da inviolabi-lidade. III. Em razão de sua índole programática, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais dependem, para que adquiram cogência e eficácia, de normas regulamen-tadoras. IV. A União poderá intervir nos Estados, em caso de recusa à execução de lei federal, somente após provimento, pelo Superior Tribunal de Justiça, de representação do Procurador-Geral da República nesse sentido. (a) Está correta apenas a assertiva II. (b) Está correta apenas a assertiva IV. (c) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III. (d) Estão corretas apenas as assertivas II, III e IV. (e) Estão corretas todas as assertivas.

COMENTÁRIO I. Incorreta. A partir da interpretação do art. 58, § 3º, da CF, que confere às Comissões Parlamentares de Inquérito poderes de inves-tigação próprios das autoridades judiciais, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica em admitir que essas Comissões podem decretar a quebra de sigilo inerentes aos registros bancários, fiscais e telefônicos. Nesses casos, entretanto, exige-se que a re-ferida decretação apresente fundamentação idônea, ainda que sucinta, nos termos do art. 93, inciso IX, da CF67.

II. Correta. O Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento de que, “para os fins

67 V. g. MS 24817, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2005, DJe-208 PUBLIC 06/11/2009; MS 24029, Relator Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 03/11/2002, DJ 22/03/2002; MS 23868, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 30/08/2001, DJ 21/06/2002.

da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da Constituição da República, o conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa es-pecífica limitação espacial (área interna não acessível ao público), os escritórios profis-sionais, inclusive os de contabilidade, ‘em-bora sem conexão com a casa de moradia propriamente dita’.”68

III. Incorreta. De acordo com o § 1º do art. 5º da CF, as normas definidoras dos direi-tos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Ademais, não existem normas constitucionais destituídas de qualquer efi-cácia jurídica. Mesmo as com enunciado de baixa densidade normativa ou as normas que a doutrina costuma identificar como de índole programática são aptas a desencadear algum efeito jurídico independentemente de qualquer ato concretizador. No RE 482.61169, o Supremo Tribuna Fe-deral decidiu: “… a interpretação da norma programática não pode transformá-la em promessa constitucional inconseqüente. O caráter programático da regra inscrita no art. 227 da Carta Política – que tem por destina-tários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização federa-tiva do Estado brasileiro – impõe o reconhe-cimento de que as normas constitucionais veiculadoras de um programa de ação reves-tem-se de eficácia jurídica e dispõem de ca-ráter cogente. (…) as normas programáticas vinculam e obrigam os seus destinatários, sob pena de o Poder Público, fraudando jus-tas expectativas nele depositadas pela cole-tividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado”.

68 HC 82788, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, julgado em 12/04/2005, DJ 02/06/2006.69 RE 482611, Relator Ministro Celso de Mello, julgado em 23/03/2010, publicado em DJe-060 PUBLIC 07/04/2010.

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Sobre os âmbitos eficaciais dessas normas, Paulo Gustavo Gonet Branco leciona: “As normas programáticas impõem um dever político ao órgão com competência para satisfazer o seu comando, condicionam a atividade discricionária dos aplicadores do direito, servindo de norte teleológico para a atividade de interpretação e aplicação do di-reito. Impedem comportamentos contrários às normas, podendo gerar pretensões e abs-tenção. Revogam normas anteriores incom-patíveis com o programa que promovem e, se atritam com normas infraconstitucionais posteriores, levam à caracterização de in-constitucionalidade” 70.

IV. Incorreta. No caso de recusa à execu-ção de lei federal, a intervenção da União nos Estados depende de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal (e não Superior Tribunal de Justiça), de representação do Procurador-Geral da República (art. 36, in-ciso III, da CF, na redação dada pela EC n. 45/04). O texto originário da Constituição atribuía essa competência ao Superior Tribu-nal de Justiça, mas a EC n. 45/04 a transferiu para o Supremo Tribunal Federal.

Conclusão: Está correta apenas a assertiva II.

RESPOSTA: A

3. Assinale a alternativa correta. A) A inconstitucionalidade por omissão verifica-se nos casos em que não sejam pra-ticados atos legislativos ou administrativos requeridos para tornar plenamente aplicáveis normas constitucionais. B) Estabelecido pelo artigo 97 da Constituição Federal que “somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei”, não poderá o juiz singular considerar lei inconstitucional em suas decisões.

70 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 81.

C) As decisões definitivas de mérito nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei produzirão eficácia contra todos, mas não terão efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Judiciário, que manterão sua independência. D) A inconstitucionalidade por ação somente se configura quando há normas formadas por autoridades incompetentes ou em desacordo com formalidades ou procedimentos estabe-lecidos pela Constituição Federal. E) Sempre que julgada procedente a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo federal ou estadual, o Supremo Tribunal Federal deverá comunicar ao Senado para suspensão da lei ou do ato normativo.

COMENTÁRIO A) Esta é a resposta correta. A inconstitu-cionalidade por omissão efetivamente se verifica quando não sejam praticados atos legislativos ou administrativos necessários para tornar efetivas normas constitucio-nais, ou seja, quando a Constituição impõe um dever ao Poder Público e este se omi-te. Relembrando os comentários à questão 3 da prova do concurso da 2ª Região, a in-constitucionalidade por omissão tem como objeto tanto a omissão administrativa como a omissão legislativa na adoção de medidas necessárias para tornar exequíveis os precei-tos constitucionais.

B) A chamada cláusula de reserva de ple-nário, inscrita no art. 97 da CF, aplica-se somente aos tribunais. Em sede de controle difuso, qualquer juiz ou tribunal (se tribunal observado o quorum especial) não apenas pode, como deve examinar, inclusive de ofí-cio, a constitucionalidade das lei e atos nor-mativos, e, se for o caso, declarar inciden-talmente a inconstitucionalidade, afastando a sua incidência no caso concreto.

C) Assim dispõe o art. 102, § 2º, da CF: “As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produ-zirão eficácia contra todos e efeito vincu-

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lante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal”.

D) A inconstitucionalidade pode ser formal ou material. A assertiva se refere à inconsti-tucionalidade formal, que se verifica quando o vício do ato normativo decorre da “inob-servância de princípio de ordem técnica ou procedimental ou pela violação das regras de competência”71, independentemente do seu conteúdo. A inconstitucionalidade mate-rial se configura quando o vício diz respeito ao conteúdo do ato, derivando do conflito entre os princípios incorporados no ato e as normas da Constituição72.

E) A comunicação ao Senado Federal para suspender a lei ou ato normativo declara-do inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal somente ocorre no controle difuso de constitucionalidade. Como o Brasil não segue a regra do stare decisis, aquela foi a forma encontrada pelo constituinte para evitar que a ausência de uniformidade na jurisprudência sobre a questão da constitu-cionalidade pudesse comprometer a autori-dade da Constituição. Em termos práticos, a suspensão da execução da lei pelo Senado (art. 52, inciso X, da CF) confere eficácia erga omnes à decisão judicial do Supremo Tribunal Federal que declarou a inconstitu-cionalidade pela via incidental. No controle concentrado de constitucionalidade, hipóte-se versada na assertiva, as decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal já são dota-das de eficácia erga omnes (art. 102, § 2º, da CF), de modo que a intervenção do Senado Federal é desnecessária. Vale registrar que o Ministro Gilmar Men-des vem propondo a revisão do papel do Senado Federal no controle de constitu-

71 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1070.72 CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. ed., 2. reimp. Coimbra: Almedina, 2006. p. 959.

cionalidade, superando-se o entendimento da doutrina tradicional, que estaria calcado numa ideia de separação de poderes ultra-passada, de que o ato de suspensão da lei declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal seria eminentemente polí-tico. Segundo o Ministro, é legítimo consi-derar que atualmente “a fórmula relativa à suspensão de execução de lei pelo Senado há de ter simples efeito de publicidade, ou seja, se o STF, em sede de controle inci-dental, declarar, definitivamente, que a lei é inconstitucional, essa decisão terá efeitos ge-rais, fazendo-se a comunicação àquela Casa legislativa para que publique a decisão no Diário do Congresso”73. Essa questão ainda está pendente de julgamento no Supremo Tribunal Federal. Recomenda-se que o can-didato acompanhe o julgamento da Recla-mação n. 4.335, especialmente para provas dissertativas e oral.

RESPOSTA: A

4. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alter-nativa correta. I. A administração pública, em virtude do princí-pio da legalidade, pode alterar as condições de concurso público constantes do respectivo edital para adaptá-las à nova legislação enquanto não concluído e homologado o certame. II. Se a lei exige exame psicotécnico para investi-dura em cargo público, a sua dispensa configura violação ao princípio constitucional da legalidade. III. O limite de idade para cargos públicos não se legitima na ordem constitucional brasileira em razão do princípio da isonomia. IV. Aplica-se o Regime Geral de Previdência Social aos servidores ocupantes, exclusivamente, de cargo em comissão. (a) Estão corretas apenas as assertivas I e II. (b) Estão corretas apenas as assertivas I e IV. (c) Estão corretas apenas as assertivas I, II e IV. (d) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV. (e) Estão corretas todas as assertivas.

73 Reclamação nº 4.335/AC, Relator Ministro Gilmar Mendes. Informativos 454 e 463 do STF. O julgamento está suspenso em virtude de pedido de vista do Ministro Ricardo Lewandowski.

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COMENTÁRIO I. A assertiva reproduz a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. A título ilus-trativo, cita-se a ementa do RE 290.346: “CONSTITUCIONAL. CONCURSO PÚBLICO. CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS DA POLÍCIA MILI-TAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 50/98, QUE, APÓS A CONCLUSÃO DA PRIMEIRA ETAPA, PASSOU A EXIGIR ESCOLARIDADE DE NÍVEL SECUN-DÁRIO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º, INCISO XXXVI. DIREITO AD-QUIRIDO INEXISTENTE. Em face do princípio da legalidade, pode a Adminis-tração Pública, enquanto não concluído e homologado o concurso público, alterar as condições do certame constantes do respec-tivo edital, para adaptá-las à nova legisla-ção aplicável à espécie, visto que, antes do provimento do cargo, o candidato tem mera expectativa de direito à nomeação ou, se for o caso, à participação na segunda etapa do processo seletivo”74.

II. A assertiva está de acordo com a juris-prudência do Supremo Tribunal Federal, conforme decidido, por exemplo, no RE 205.500: “CONSTITUCIONAL. ADMI-NISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSI-COTÉCNICO. Lei 4.878/65, art. 9º, VII. C.F., art. 37, I. I. - Exame psicotécnico como condição para ingresso no serviço público: se é a lei que o exige, não pode ser dispen-sado, sob pena de ofensa à Constituição, art. 37, I. II. - R.E. conhecido e provido.”75

III. Desde que justificado pela natureza das atribuições do cargo, é constitucional a imposição de limite de idade para a investi-

74 RE 290346, Relator Ministro Ilmar Galvão, Primeira Turma, julgado em 29/06/2001, DJ 29/06/2001. Na Segunda Turma, ver RE 318106, Relatora Ministra Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 18/10/2005, DJ 18/11/2005.75 RE 205500, Relator Ministro Carlos Velloso, Segunda Turma, julgado em 26/11/1996, DJ 07/03/1997. Na Primeira Turma, ver RE 275.159, Relator Ministro Celso de Mello, Primeira Turma, julgado em 11/09/2001, DJ 11/10/2001.

dura em cargos públicos. Nesse sentido é a Súmula 683 do Supremo Tribunal Federal: “O limite de idade para a inscrição em con-curso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”.

IV. Conforme previsão expressa do art. 40, § 13º, da CF: “Ao servidor ocupante, exclu-sivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração bem como de outro cargo temporário ou de em-prego público, aplica-se o regime geral de previdência social”.

Conclusão: Estão corretas apenas as asser-tivas I, II e IV.

RESPOSTA: C

5. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alter-nativa correta. I. O juiz pode ser removido, aposentado, coloca-do em disponibilidade ou demitido por decisão da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa. II. Não pode ser promovido o juiz que, injusti-ficadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal. III. A promoção dos juízes por merecimento obedece, dentre outros, aos parâmetros obje-tivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição. IV. O Conselho da Justiça Federal tem pode-res correicionais, e suas decisões, caráter vinculante. (a) Estão corretas apenas as assertivas I e II. (b) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III. (c) Estão corretas apenas as assertivas I, II e IV. (d) Estão corretas apenas as assertivas II, III e IV. (e) Estão corretas todas as assertivas.

COMENTÁRIO I. O ato de remoção, disponibilidade e apo-sentadoria de magistrado, por interesse pú-blico, depende de decisão da maioria absoluta

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do respectivo tribunal ou do Conselho Nacio-nal de Justiça, assegurada a ampla defesa (art. 93, inciso VIII, da CF). Por outro lado, confor-me já mencionado nos comentários à questão 8 da prova do concurso da 1ª Região, uma das prerrogativas dos juízes é a vitaliciedade. Ad-quirida a vitaliciedade, o juiz somente pode perder o cargo por sentença judicial transitada em julgado.

II. O art. 93, inciso II, alínea e, da CF dispõe que: “não será promovido o juiz que, injusti-ficadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão”.

III. Segundo o art. 93, inciso II, alínea c, da CF, o merecimento, para fins de promoção, é afe-rido conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exer-cício da jurisdição e pela frequência e aprovei-tamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento.

IV. De acordo com o art. 105, parágrafo único, inciso II, da CF, cabe ao Conselho da Justiça Federal “exercer, na forma da lei, a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Fede-ral de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correicio-nais, cujas decisões terão caráter vinculante”.

Conclusão: Estão corretas apenas as asser-tivas II, III e IV.

RESPOSTA: D

6. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta. Segundo o entendimento majoritário da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: I. A norma de direito público incide ime-diatamente sobre ato jurídico já praticado, regulando os seus efeitos futuros (retroa-tividade mínima) e preservando os efeitos anteriormente produzidos. II. A irretroatividade da lei aplica-se tanto às leis de ordem pública (jus cogens) quanto às leis dispositivas (jus dispositivum).

III. O direito adquirido a regime jurídico somente pode ser afastado por norma cons-titucional superveniente. IV. Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido no passado. (a) Estão corretas apenas as assertivas I e IV. (b) Estão corretas apenas as assertivas II e III. (c) Estão corretas apenas as assertivas II e IV. (d) Estão corretas apenas as assertivas III e IV. (e) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV.

COMENTÁRIO I. A jurisprudência consolidada do Supre-mo Tribunal Federal é no sentido de que, no nosso ordenamento jurídico, por força do art. 5º, inciso XXXVI, da CF, a legislação infraconstitucional, ainda quando de ordem pública, não pode retroagir para alcançar o ato jurídico perfeito, nem mesmo no que toca aos seus efeitos futuros (retroatividade mínima). Confira-se, por exemplo, a ADI 493, cujo acórdão restou assim ementado: “Ação dire-ta de inconstitucionalidade. - Se a lei alcan-çar os efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado. - O disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qual-quer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de or-dem pública e lei dispositiva. Precedente do S.T.F.. - Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido. (…) Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos impug-nados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratos já celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada pro-cedente, para declarar a inconstitucionalida-

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de dos artigos 18, “caput” e parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de maio de 1991”76.A ementa do RE 205.193 também é eluci-dativa: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO - CADERNETA DE POUPANÇA - CON-TRATO DE DEPÓSITO VALIDAMENTE CELEBRADO - ATO JURÍDICO PERFEI-TO - INTANGIBILIDADE CONSTITU-CIONAL - CF/88, ART. 5º, XXXVI - INA-PLICABILIDADE DE LEI SUPERVE-NIENTE À DATA DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE DEPÓSITO, MESMO QUANTO AOS EFEITOS FUTUROS DE-CORRENTES DO AJUSTE NEGOCIAL - RE NÃO CONHECIDO. CONTRATOS VALIDAMENTE CELEBRADOS - ATO JURÍDICO PERFEITO - ESTATUTO DE REGÊNCIA - LEI CONTEMPORÂNEA AO MOMENTO DA CELEBRAÇÃO. - Os contratos submetem-se, quanto ao seu estatuto de regência, ao ordenamento nor-mativo vigente à época de sua celebração. Mesmo os efeitos futuros oriundos de con-tratos anteriormente celebrados não se ex-põem ao domínio normativo de leis super-venientes. As conseqüências jurídicas que emergem de um ajuste negocial válido são regidas pela legislação em vigor no momen-to de sua pactuação. Os contratos - que se qualificam como atos jurídicos perfeitos (RT 547/215) - acham-se protegidos, em sua in-tegralidade, inclusive quanto aos efeitos fu-turos, pela norma de salvaguarda constante do art. 5º, XXXVI, da Constituição da Repú-blica. Doutrina e precedentes. INAPLICA-BILIDADE DE LEI NOVA AOS EFEITOS FUTUROS DE CONTRATO ANTERIOR-MENTE CELEBRADO - HIPÓTESE DE RETROATIVIDADE MÍNIMA - OFEN-SA AO PATRIMÔNIO JURÍDICO DE UM DOS CONTRATANTES - INADMISSI-BILIDADE. - A incidência imediata da lei nova sobre os efeitos futuros de um contrato preexistente, precisamente por afetar a pró-

76 ADI 493, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 25/06/1992, DJ 04/09/1992.

pria causa geradora do ajuste negocial, re-veste-se de caráter retroativo (retroatividade injusta de grau mínimo), achando-se desau-torizada pela cláusula constitucional que tu-tela a intangibilidade das situações jurídicas definitivamente consolidadas. Precedentes. LEIS DE ORDEM PÚBLICA - RAZÕES DE ESTADO - MOTIVOS QUE NÃO JUSTIFICAM O DESRESPEITO ESTA-TAL À CONSTITUIÇÃO - PREVALÊN-CIA DA NORMA INSCRITA NO ART. 5º, XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO. - A possi-bilidade de intervenção do Estado no domí-nio econômico não exonera o Poder Público do dever jurídico de respeitar os postulados que emergem do ordenamento constitucio-nal brasileiro. Razões de Estado - que mui-tas vezes configuram fundamentos políticos destinados a justificar, pragmaticamente, ex parte principis, a inaceitável adoção de me-didas de caráter normativo - não podem ser invocadas para viabilizar o descumprimen-to da própria Constituição. As normas de ordem pública - que também se sujeitam à cláusula inscrita no art. 5º, XXXVI, da Carta Política (RTJ 143/724) - não podem frustrar a plena eficácia da ordem constitucional, comprometendo-a em sua integridade e des-respeitando-a em sua autoridade”77.

II. Nos termos do que fora decidido na ADI 493, “o disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qual-quer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem públi-ca e lei dispositiva”.

III. O Supremo Tribunal Federal é firme no entendimento de que não há direito adquiri-do a regime jurídico. Nesse sentido, confira--se: AO 482, Relatora Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 14/04/2011, DJe-098 25/05/2011; e AI 410946 AgR, Relatora Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2010, DJe-81 PUBLIC 07/05/2010.

77 RE 205193, Relator Ministro Celso de Mello, Primeira Turma, julgado em 25/02/1997, DJ 06/06/1997.

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IV. Como constou na ementa da ADI 493: “Se a lei alcançar os efeitos futuros de con-tratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado”

Conclusão: Estão corretas apenas as asser-tivas II e IV.

RESPOSTA: C

7. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta. I. O vício de inconstitucionalidade pode de-correr tanto de um ato de execução material como de um ato normativo do Poder Público. II. A inconstitucionalidade pode decorrer de omissão total ou parcial por parte do Poder Público. III. A cláusula de “reserva do possível” não pode ser invocada pelo Poder Público com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de obrigações constitucionais quando essa conduta implicar a nulificação de direitos fundamentais. IV. Compete ao Judiciário não apenas determi-nar à Administração a execução de políticas públicas garantidoras de direitos fundamen-tais, como também indicar quais políticas seriam aconselháveis, diante da gama de opções com que se depara o administrador. V. A execução ou não de políticas públicas constitui prerrogativa exclusiva da Adminis-tração, não competindo ao Judiciário imiscuir--se em tal matéria, sob pena de ferimento do princípio da separação dos Poderes. (a) Estão corretas apenas as assertivas I e IV. (b) Estão corretas apenas as assertivas II e III. (c) Estão corretas apenas as assertivas II e IV. (d) Estão corretas apenas as assertivas IV e V. (e) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III.

COMENTÁRIO I. O reconhecimento da supremacia da Constituição e de sua força vinculante im-plica que todos os atos do Poder Público (e

não apenas os atos normativos) encontram--se subordinados ao princípio da constitu-cionalidade, ou seja, sua validade depende da conformidade com a Lei Fundamental. Será inconstitucional qualquer ato do Poder Público, normativo ou não, incompatível com a Constituição.A assertiva poderia, de certa forma, confun-dir os candidatos em virtude da controvérsia sobre o cabimento ou não de ação direta de inconstitucionalidade contra atos estatais de efeitos concretos, em face da dicção do art. 102, inciso I, alínea a, da CF, tema já abor-dado nos comentários à questão 3 da prova do concurso da 2ª Região. No entanto, isso é irrelevante. Conforme magistério de Canoti-lho, a não inclusão dos atos administrativos de aplicação do direito no “leque dos can-didatos positivos enquadráveis na categoria jurídico-constitucional de norma ou de acto normativo não significa a impossibilidade de tais actos violarem directamente a cons-tituição. Pelo contrário, são frequentes os casos de inconstitucionalidade provocados por actos individuais e concretos da admi-nistração e, embora menos vulgares, po-dem também ocorrer infracções de normas constitucionais produzidas directamente por actos jurisdicionais”78. Além disso, a ação direta de inconstitucionalidade não é o único meio de controle da constitucionalidade. No sistema brasileiro, além de se sujeitarem ao controle de constitucionalidade pelo sistema difuso, os atos do Poder Público, normativos ou não, que violarem preceito fundamental podem ser objeto da arguição de descumpri-mento de preceito fundamental. Nesse senti-do, faz-se oportuno citar o seguinte excerto da ementa da ADPF 1 QO: “6. O objeto da argüição de descumprimento de preceito fundamental há de ser ‘ato do Poder Públi-co’ federal, estadual, distrital ou municipal, normativo ou não, sendo, também, cabível a medida judicial ‘quando for relevante o fundamento da controvérsia sobre lei ou ato

78 CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. ed., 2. reimp. Coimbra: Almedina, 2006. p. p39-940.

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normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição’.”79

II. A assertiva está correta. A omissão in-constitucional tanto pode se referir a uma omissão total quanto a uma omissão parcial. Nesse sentido, decidiu o Supremo Tribunal Federal, por exemplo, no MI 542: “… O desrespeito à Constituição tanto pode ocor-rer mediante ação estatal quanto mediante inércia governamental. A situação de incons-titucionalidade pode derivar de um compor-tamento ativo do Poder Público, seja quando este vem a fazer o que o estatuto constitucio-nal não lhe permite, seja, ainda, quando vem a editar normas em desacordo, formal ou material, com o que dispõe a Constituição. Essa conduta estatal, que importa em um fa-cere (atuação positiva), gera a inconstitucio-nalidade por ação. Se o Estado, no entanto, deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Cons-tituição, abstendo-se, em conseqüência, de cumprir o dever de prestação que a própria Carta Política lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultará a inconsti-tucionalidade por omissão, que pode ser total (quando é nenhuma a providência adotada) ou parcial (quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público). Entendimento prevalecente na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: RTJ 162/877-879, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno). - A omis-são do Estado - que deixa de cumprir, em maior ou em menor extensão, a imposição ditada pelo texto constitucional - qualifica--se como comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis que, mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a Constituição, também ofende direitos que nela se fundam e também impede, por ausên-cia (ou insuficiência) de medidas concretiza-doras, a própria aplicabilidade dos postulados e princípios da Lei Fundamental.”80

79 ADPF 1 QO, Relator Ministro Néri da Silveira, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2000, DJ 07/11/2003.80 MI 542, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 29/08/2001, DJ 28/06/2002.

III. A assertiva está em consonância com a jurisprudência do Supremo Tribunal Fede-ral, reproduzindo, em particular, o pronun-ciamento do Ministro Celso de Mello em decisões monocráticas e votos de diversos julgados. Na ADPF-MC 45, por exemplo, assim decidiu o Ministro: “a cláusula da ‘re-serva do possível’ – ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com a fina-lidade de exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamen-te quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucio-nais impregnados de um sentido de essen-cial fundamentalidade”81.

IV. A questão da legitimidade constitucio-nal do controle e da intervenção do Poder Judiciário em tema de implementação de políticas públicas foi examinada na referida ADPF-MC 45. Embora a ação tenha sido julgada prejudicada pela perda supervenien-te do objeto, a decisão monocrática da lavra do Ministro Celso de Mello passou a ser ci-tada com frequência pelo Supremo Tribunal Federal como precedente sobre o tema. E lá ficou consignado que o Poder Judiciário, em princípio, “não deve intervir em esfera reser-vada a outro Poder para substituí-lo em juí-zos de conveniência e oportunidade, queren-do controlar as opções legislativas de orga-nização e prestação, a não ser, excepcional-mente, quando haja uma violação evidente e arbitrária, pelo legislador, da incumbência constitucional”. Vê-se daí que a atuação do Poder Judiciário, nesta seara, é excepcio-nal. Os direitos fundamentais, notadamente os prestacionais, sujeitam-se à realização gradual e diferida no tempo e, do ponto de vista substancial, podem ser concretizados por vários meios. E a Constituição assegura o que Jorge Reis Novais82 chama de reserva

81 ADPF 45 MC, Relator Ministro Celso de Mello, julgado em 29/04/2004, publicado em DJ 04/05/2004. 82 NOVAIS, Jorge Reis. Direitos Sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora, 2010. p. 193.

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do politicamente adequado, que diz respeito àquela zona de discricionariedade em que cabe ao Poder Público decidir, por crité-rios de conveniência e adequação, a forma de realizar o direito fundamental, optando por uma entre as várias alternativas, priori-dades e ritmos diferenciados e graduais de realização possível, de acordo com o quadro de possibilidades do Estado e da sociedade. Desse modo, em havendo mais de uma al-ternativa igualmente legítima, compete à Administração optar entre uma delas, não sendo dado ao juiz impor a eleição de ou-tra, mesmo que acredite ser esta a ideal. Em outras palavras, o Judiciário só pode contro-lar a verificação e a valoração do Executivo com relação a sua adequação jurídica, mas não pode colocar a sua própria valoração em lugar da outra.

V. A liberdade de conformação e de atuação conferida à Administração em matéria de concretização de políticas públicas não é absoluta. Ao revés, a execução de políti-cas públicas definidas no texto constitu-cional constitui dever jurídico cujo cum-primento se impõe ao Poder Público. Daí a legitimidade constitucional da interven-ção concretizadora do Poder Judiciário em caso de omissão do Estado, total ou parcial, sem que isso configure violação ao princípio da separação dos Poderes. Trata-se da dimensão política da jurisdi-ção constitucional. Nessa linha, decidiu o Supremo Tribunal Federal, entre outros, no ARE 639.337 AgR: “… Embora in-questionável que resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar polí-ticas públicas, revela-se possível, no en-tanto, ao Poder Judiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar, especial-mente nas hipóteses de políticas públi-cas definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os órgãos estatais competentes, por des-cumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter impo-sitivo, vierem a comprometer, com a sua

omissão, a eficácia e a integridade de di-reitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional”83.

Conclusão: Estão corretas apenas as asser-tivas I, II e III. RESPOSTA: E

8. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta. I. Havendo colisão entre o princípio da liber-dade de imprensa e o direito à privacidade, prevalecerá aquela, porque informada pelo interesse público. II. A colisão entre dois princípios constitu-cionais, calcados em direitos fundamentais, resolve-se pela supressão de um em favor de outro. III. Relativamente ao direito que possui a imprensa de informar, deve-se conferir maior proteção à privacidade e à imagem de pessoas públicas do que às pessoas privadas. IV. O conflito aparente de princípios constitu-cionais se resolve pelas regras da ponderação e da razoabilidade. (a) Está correta apenas a assertiva I. (b) Está correta apenas a assertiva IV. (c) Estão corretas apenas as assertivas I e II. (d) Estão corretas apenas as assertivas III e IV. (e) Estão corretas apenas as assertivas I, II e III.

COMENTÁRIOA questão tem por base a teoria dos princí-pios. Em linhas gerais, a doutrina constitu-cional contemporânea, na esteira de Robert Alexy84 e Ronald Dworkin85, vem classifi-cando as normas jurídicas em dois grandes grupos: o dos princípios e o das regras. Ambos implicam comandos de dever ser e ambos contêm os modais deônticos de man-damento, permissão e proibição. A diferença

83 ARE 639337 AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, julgado em 23/08/2011, DJe-177 PUBLIC 15/09/2011.84 Especialmente em ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução: Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008.85 DWORKIN, Ronald. Taking Rights Seriously. Cambridge: Harvard University Press, 1999. p. 22 e ss.

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entre regras e princípios, segundo essa teo-ria, nada mais é senão uma distinção entre dois tipos de normas. Enquanto as regras garantem direitos (ou impõem deveres) de-finitivos, os princípios garantem direitos (ou impõem deveres) prima facie86.Melhor explicitando, as regras correspon-dem às normas que prescrevem imperativa-mente uma exigência, impondo, proibindo ou permitindo algo em termos categóricos, sem qualquer exceção (direito definitivo)87. Não há como estabelecer uma forma gradu-al de cumprimento do que a regra estabele-ce. Havendo um conflito entre regras, o pro-blema se resolverá em termos de validade, uma será válida, e assim deve ser cumprida na exata medida das suas prescrições; e a outra, inválida, devendo ser excluída, pois as duas regras contraditórias não podem conviver simultaneamente no ordenamento jurídico88.Já os princípios “são normas jurídicas im-positivas de uma optimização, compatíveis com vários graus de concretização, consoan-te os condicionamentos fácticos e jurídicos”. Em outras palavras, os princípios consubs-tanciam determinações de que certos bens jurídicos sejam satisfeitos e protegidos na maior medida que as circunstâncias permi-tirem, daí se dizer que são mandamentos de otimização, já que “permitem o balan-ceamento de valores e interesses (não obe-decem, como as regras, à ‘lógica do tudo ou nada’), consoantes o seu peso e a pon-deração de outros princípios eventualmente conflituantes”89. Para a solução dos inevitáveis conflitos é

86 SILVA, Virgílio Afonso. O conteúdo essencial dos direitos fundamentais e a eficácia das normas constitucionais. Revista de Direito do Estado, Rio de Janeiro, ano 1, n. 4, p. 23-51, out./dez. 2006.87 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. ed., 2. reimp. Coimbra: Almedina, 2006. p. 1161 e 1255.88 Para prova dissertativa e oral, atentar para o fato de que, atualmente, questiona-se a noção de que as regras se aplicam na lógica do tudo ou nada. Por todos, ver ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.89 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. ed., 2. reimp. Coimbra: Almedina, 2006. p. 1161 1255.

de todo pertinente o emprego daquilo que a doutrina define como uma relação de pre-cedência condicionada entre os princípios concorrentes. Isso significa que, sob deter-minadas condições, um dos princípios as-sumirá precedência sobre outro, mas, se as condições forem diversas, a questão poderá ser resolvida de forma oposta90. Essa decisão somente pode ser tomada no caso concreto. Abstratamente, os princípios se encontram no mesmo nível e, portanto, têm igual peso. É no caso concreto, diante das peculiarida-des em jogo, que se torna possível optar pela precedência de um deles, exatamente o prin-cípio que, naquela situação específica, tem maior peso. A partir dessas considerações preliminares, fica mais fácil resolver a questão.

I. Pela teoria principiológica, como visto acima, não é possível estabelecer, a priori, uma precedência absoluta entre direitos fun-damentais através de uma hierarquia axio-lógica em abstrato. Assim, a colisão entre o princípio da liberdade de imprensa (projeção da liberdade de manifestação do pensamen-to, de informação e de expressão) e o direito à privacidade somente pode ser solucionada no caso concreto, mediante um processo de ponderação, não havendo primazia absoluta de um ou outro direito ou princípio. Como bem pontuou o Ministro Celso de Mello da AC 2695 MC91, “a própria Carta Política, depois de garantir o exercício da liberdade de informação jornalística, impõe-lhe pa-râmetros - dentre os quais avulta, por sua inquestionável importância, o necessário respeito aos direitos da personalidade (CF, art. 5º, V e X) – cuja observância não pode ser desconsiderada pelos órgãos de comu-nicação social, tal como expressamente de-termina o texto constitucional (art. 220, § 1º), cabendo, ao Poder Judiciário, mediante ponderada avaliação das prerrogativas cons-

90 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 93-103.91 AC 2695 MC, Relator Ministro Celso de Mello, julgado em 25/11/2010, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-231 PUBLIC 01/12/2010.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

titucionais em conflito (direito de informar, de um lado, e direitos da personalidade, de outro), definir, em cada situação ocorrente, uma vez configurado esse contexto de ten-são dialética, a liberdade que deve prevale-cer no caso concreto”.

II. Havendo colisão entre dois princípios constitucionais, calcados em direitos fun-damentais, a solução deve ser encontrada mediante conciliação entre eles, conforme a relevância de cada um no caso concreto, sem a exclusão de nenhum deles do or-denamento jurídico, e, sim, elegendo-se aquele que assume maior peso diante das peculiaridades da situação específica, sem-pre primando pela concordância prática dos direitos em confronto e resguardando-se os respectivos núcleos essenciais. Assim, não há supressão de um princípio em favor de outro. Do voto proferido pela Ministra El-len Gracie no julgamento do RE 208.68592, em que se alegava aparente colisão entre o direito à informação e a inviolabilidade da intimidade, colhe-se o seguinte excerto: “… não se resolve a suposta colisão entre dois princípios suprimindo um em favor outro. A colisão será solucionada levando-se em con-ta o peso ou a importância relativa de cada um. A solução, portanto não pode deixar de lado os conhecidos princípios da razoabili-dade e ponderação dos bens envolvidos”.

III. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite que se estabeleçam diferen-ciações entre a proteção à privacidade e à imagem em razão da maior ou menor ex-posição pública das pessoas, porém, ao con-trário do que consta na assertiva, confere-se maior proteção às pessoas privadas do que às pessoas públicas. Assim decidiu a Cor-te Constitucional no HC 78.42693: “Crime contra a honra e a vida política. É certo que, ao decidir-se pela militância política, o ho-mem público aceita a inevitável ampliação

92 RE 208685, Relatora Ministra Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 24/06/2003, DJ 22/08/2003.93 HC 78426, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 16/03/1999, DJ 07/05/1999.

do que a doutrina italiana costuma chamar a zona di iluminabilitá, resignando-se a uma maior exposição de sua vida e de sua perso-nalidade aos comentários e à valoração do público, em particular, dos seus adversários; mas a tolerância com a liberdade da crítica ao homem público há de ser menor, quando, ainda que situado no campo da vida pública do militante político, o libelo do adversário ultrapasse a linha dos juízos desprimorosos para a imputação de fatos mais ou menos concretos, sobretudo se invadem ou tangen-ciam a esfera da criminalidade: por isso, em tese, pode caracterizar delito contra a honra a assertiva de haver o ofendido, ex-Prefeito, deixado o Município “com dívidas causadas por suas falcatruas”. Esse entendimento foi reiterado recente-mente na AO 1.39094: “… Liberdade de expressão limitada pelos direitos à honra, à intimidade e à imagem, cuja violação gera dano moral. Pessoas públicas. Sujeição a críticas no desempenho das funções. Limi-tes. Fixação do dano moral. Grau de repro-vabilidade da conduta. (…) 2. Embora seja livre a manifestação do pensamento, tal di-reito não é absoluto. Ao contrário, encontra limites em outros direitos também essenciais para a concretização da dignidade da pessoa humana: a honra, a intimidade, a privacida-de e o direito à imagem. 3. As pessoas públi-cas estão sujeitas a críticas no desempenho de suas funções. Todavia, essas não podem ser infundadas e devem observar determina-dos limites. Se as acusações destinadas são graves e não são apresentadas provas de sua veracidade, configurado está o dano moral. 4. A fixação do quantum indenizatório deve observar o grau de reprovabilidade da con-duta. 5. A conduta do réu, embora reprová-vel, destinou-se a pessoa pública, que está sujeita a críticas relacionadas com a sua fun-ção, o que atenua o grau de reprovabilidade da conduta. 6. A extensão do dano é média, pois apesar de haver publicações das acusa-ções feitas pelo réu, foi igualmente publica-

94 AO 1390, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 12/05/2011, DJe-166 PUBLIC 30/08/2011.

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da, e com destaque (capa do jornal), matéria que inocenta o autor, o que minimizou o im-pacto das ofensas perante a sociedade. …”IV. A assertiva está correta. Conforme refe-rido nas considerações supra, o conflito de princípios constitucionais se resolve por juí-zos de ponderação e de razoabilidade. Opor-tuno citar o seguinte trecho da decisão do Supremo Tribunal Federal, da lavra do Mi-nistro Celso de Mello, no MS 24.369 MC: “Entendo que a superação dos antagonismos existentes entre princípios constitucionais há de resultar da utilização, pelo Supremo Tri-bunal Federal, de critérios que lhe permitam ponderar e avaliar, hic et nunc, em função de determinado contexto e sob uma perspectiva axiológica concreta, qual deva ser o direito a preponderar no caso, considerada a situação de conflito ocorrente, desde que, no entanto, a utilização do método da ponderação de bens e interesses não importe em esvaziamento do conteúdo essencial dos direitos fundamentais, tal como adverte o magistério da doutrina”95.

Conclusão: Está correta apenas a assertiva IV. RESPOSTA: B

9. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta. Ao declarar a inconstitu-cionalidade de lei ou ato normativo, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros: I. Restringir os efeitos da declaração, tendo em vista razões de segurança jurídica. II. Decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado, em razão de excepcio-nal interesse social. III. Decidir que ela só tenha eficácia a partir de determinado momento pela Corte fixado. (a) Estão corretas apenas as assertivas I e II. (b) Estão corretas apenas as assertivas I e III. (c) Estão corretas apenas as assertivas II e III. (d) Estão corretas todas as assertivas. (e) Nenhuma assertiva está correta.

95 MS 24369 MC, Relator Ministro Celso de Mello, julgado em 10/10/2002, publicado em DJ 16/10/2002.

COMENTÁRIOO art. 27 da Lei n. 9.868/99 dispõe: “Ao de-clarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segu-rança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momen-to que venha a ser fixado”.

Conclusão: (d) Estão corretas todas as as-sertivas.

RESPOSTA: D

10. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alter-nativa correta. I. A tese de que há hierarquia entre normas cons-titucionais originárias, dando azo à declaração de inconstitucionalidade de umas em frente às outras, é incompatível com o sistema de cons-tituição rígida. II. As cláusulas pétreas podem ser invocadas para sustentar a inconstitucionalidade de normas constitucionais originárias que lhe são inferiores. III. Não havendo hierarquia entre as normas constitucionais, é inadmissível a declaração de inconstitucionalidade de norma introduzida na Constituição Federal por emenda. IV. Tanto as normas materialmente constitucio-nais como as normas formalmente constitucio-nais possuem a mesma eficácia, não havendo hierarquia entre elas. (a) Estão corretas apenas as assertivas I e III. (b) Estão corretas apenas as assertivas I e IV. (c) Estão corretas apenas as assertivas II e III. (d) Estão corretas todas as assertivas. (e) Nenhuma assertiva está correta.

COMENTÁRIOI. Na ADI 81596, o Supremo Tribunal Fede-ral afirmou que a tese de que há hierarquia

96 ADI 815, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJ 10/05/1996. No mesmo sentido, ADI-AgR 4097, Relator Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno, DJe Public. 07/11/2008.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

abstrata entre normas constitucionais origi-nárias dando azo à declaração de inconsti-tucionalidade de umas em face de outras é incompatível com o sistema de Constituição rígida.

II. Na mesma ADI 815, decidiu o Supre-mo Tribunal Federal que “as cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentação da tese da inconstitucionali-dade de normas constitucionais inferiores em face de normas constitucionais supe-riores, porquanto a Constituição as prevê apenas como limites ao Poder Consti-tuinte derivado ao rever ou ao emendar a Constituição elaborada pelo Poder Constituinte originário, e não como abar-cando normas cuja observância se impôs ao próprio Poder Constituinte originário com relação as outras que não sejam con-sideradas como cláusulas pétreas, e, por-tanto, possam ser emendadas”.

III. As emendas constitucionais são mani-festação poder constituinte derivado e, assim, devem observar os limites for-mais e materiais impostos pelo poder constituinte originário, sujeitando-se ao controle de constitucionalidade. Daí se falar em “inconstitucionalidade de normas constitucionais, seja em razão de afronta ao processo de reforma da Constituição, seja em razão de afronta às chamadas cláusulas pétreas”97. Como decidiu o Supremo Tribunal Federal na ADI 93998: “…Uma Emenda Constitu-cional, emanada, portanto, de Consti-tuinte derivada, incidindo em violação a Constituição originaria, pode ser de-clarada inconstitucional, pelo Supremo Tribunal Federal, cuja função precípua é de guarda da Constituição”.

IV. Uma vez reconhecido o status consti-

97 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1088.98 ADI 939, Relator Ministro Sydney Sanches, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/1993, DJ 18/03/1994.

tucional de uma norma, seja pelo critério material seja pelo critério formal, inexiste qualquer subordinação entre elas, logo, não há diferença quanto à eficácia e nem se pode falar em hierarquia.

Conclusão: (b) Estão corretas apenas as as-sertivas I e IV.

RESPOSTA: B

TRF - 5ª Região

1) Com base na doutrina e na jurispru-dência do STF, assinale a opção correta a respeito da repartição de competências entre os entes da Federação brasileira. A) É inconstitucional lei estadual que fixe índices de correção monetária de créditos fiscais, ainda que o fator de correção ado-tado seja igual ou inferior ao utilizado pela União, visto que, em matéria financeira, não há competência legislativa concorren-te entre o ente federal e o estadual. B) É constitucional norma estadual que estabeleça como competência do tribunal de contas do estado o exame prévio de va-lidade de contratos firmados com o poder público, por força do princípio da simetria. C) Lei estadual que institua a obrigatorie-dade de instalação de cinto de segurança em veículo de transporte coletivo será constitucional, visto que tratará de ma-téria constante do rol das competências remanescentes dos estados. D) Caso se edite lei estadual proibindo as empresas de telecomunicações de cobra-rem taxas para a instalação de segundo ponto de acesso à Internet, tal lei deverá ser considerada inconstitucional, visto que invadirá a competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações. E) Se for editada lei distrital de iniciativa parlamentar instituindo gratificação espe-cífica para os policiais militares e o Corpo de Bombeiros Militar do DF, essa lei será constitucional, porquanto a competência da União para organizar e manter a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar do DF não exclui a competência do ente distrital.

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COMENTÁRIOA) O art. 24, inciso I, da CF atribui compe-tência concorrente à União, aos Estados e ao Distrito Federal para legislar sobre direito fi-nanceiro. E a jurisprudência pacífica do Su-premo Tribunal Federal é no sentido de que os Estados têm competência legislativa para fixar índices de correção monetária de cré-ditos desde que o fator de correção adotado seja igual ou inferior ao utilizado pela União. Nesse sentido, confira-se a ADI 44299: “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIO-NALIDADE. ARTIGO 113 DA LEI N. 6.374, DE 1º DE MARÇO DE 1.989, DO ESTADO DE SÃO PAULO. CRIAÇÃO DA UNIDADE FISCAL DO ESTADO DE SÃO PAULO - UFESP. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA PELO ÍNDICE DE PRE-ÇO AO CONSUMIDOR - IPC. UNIDADE FISCAL DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO FATOR DE ATUZALIZAÇÃO DOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS. ARTI-GO 24, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INCONSTITUCIONALI-DADE PARCIAL. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO. 1. Esta Corte, em oportunidades anteriores, firmou o entendimento de que, embora os Estados--membros sejam incompetentes para fixar índices de correção monetária superiores aos fixados pela União para o mesmo fim, podem defini-los em patamares inferiores --- incentivo fiscal. Precedentes. 2. A com-petência dos Estados-membros para fixar índices de correção monetária de créditos fiscais é tema que também foi examinado por este Tribunal. A União e Estados-mem-bros detêm competência legislativa concor-rente para dispor sobre matéria financeira, nos termos do disposto no artigo 24, inciso I, da CB/88. 3. A legislação paulista é com-patível com a Constituição de 1988, desde que o fator de correção adotado pelo Estado--membro seja igual ou inferior ao utilizado pela União. 4. Pedido julgado parcialmente

99 ADI 442, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 14/04/2010, DJe-096 PUBLIC 28/05/2010. O precedente do Plenário citado no acórdão é o RE 183907, Relator Ministro Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 29/03/2000, DJ 16/04/2004.

procedente para conferir interpretação con-forme ao artigo 113 da Lei n. 6.374/89 do Estado de São Paulo, de modo que o valor da UFESP não exceda o valor do índice de correção dos tributos federais”.

B) De acordo com o art. 75 da CF, a or-ganização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Dis-trito Federal devem seguir os parâmetros do Tribunal de Contas da União, e o art. 71 da CF não confere ao Tribunal de Contas da União a atribuição examinar, previamente, a validade de contratos firmados com o Poder Público. Assim, ao contrário do que prevê a assertiva, o Supremo Tribunal Federal en-tende que “é inconstitucional norma local que estabeleça a competência do tribunal de contas para realizar o exame prévio de vali-dade dos contratos de validade de contratos firmados com o Poder Público”100.

C) O art. 22, inciso XI, da CF atribui à União competência privativa para legis-lar sobre trânsito em transporte. Na ADI 874, o Supremo Tribunal Federal decidiu: “Ação direta de inconstitucionalidade. Lei n. 6.457/1993, do Estado da Bahia. 2. Obrigatoriedade de instalação de cinto de segurança em veículos de transporte coletivo. Matéria relacionada a trânsito e transporte. Competência exclusiva da União (CF, art. 22, XI). 3. Inexistência de lei complementar para autorizar os Es-tados a legislar sobre questão específica, nos termos do art. 22, parágrafo único, da Constituição Federal. 4. Ação direta julga-da procedente”101.

D) Esta é a assertiva correta. A Constituição atribui à União a competência para explo-rar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações (art. 21, inciso XI), bem como a competência privativa para legislar

100 ADI 916, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, julgado em 02/02/2009, DJe-043 PUBLIC 06/03/2009.101 ADI 874, Relator Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2011, DJe-039 PUBLIC 28/02/2011.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

sobre telecomunicações (art. 22, inciso IV). A partir daí, o Supremo Tribunal Federal, na ADI 4.083102, declarou a inconstitucio-nalidade de lei distrital que proibia as em-presas de telecomunicações de cobrarem taxas para a instalação do segundo ponto de acesso à internet.

E) Compete à União organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal (art. 20, inciso XIV, da CF). Em virtude espe-cialmente da competência da União para manter os referidos órgãos, o Supremo Tri-bunal Federal fixou o entendimento de que não poderia lei distrital prescrever o custo do pagamento do quadro de servidores, e, nessa linha, editou a Súmula 647: “Compete priva-tivamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar do Distrito Federal”. Além disso, pelo princípio da simetria, são de iniciativa privativa do Chefe do Poder Exe-cutivo (r não de iniciativa parlamentar) as leis que disponham sobre “a criação de cargos, funções ou empregos públicos na adminis-tração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração” (art. 61, § 1º, inciso II, alínea a, da CF). A situação versada na assertiva foi examinada pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 3.791: “CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DISTRITAL 935, DE 11 DE OUTUBRO DE 1995, QUE AUTORIZA O GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL A CONCEDER AOS POLICIAIS MILITARES E BOMBEI-ROS MILITARES A GRATIFICAÇÃO DE RISCO DE VIDA. 1. Ao instituir a chamada “gratificação por risco de vida” dos policiais e bombeiros militares do Distrito Federal, o Po-der Legislativo distrital usurpou a competência material da União para “organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bom-beiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Fede-

102 ADI 4083, Relator Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 25/11/2010, DJe-243 PUBLIC 14/12/2010.

ral para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio” (inciso XIV do art. 21 da Constituição Federal). Incidência da Súmu-la 647 do STF. 2. A Lei distrital 935/95 padece também de vício de iniciativa. Dispondo so-bre a remuneração de pessoal da Administra-ção Pública direta, teve a deflagrá-la proposta parlamentar. O que se contrapõe à alínea “a” do inciso II do § 1º do art. 61 da Constituição Federal, que prevê, no caso, a iniciativa priva-tiva do Chefe do Poder Executivo. 3. Tendo em conta a natureza alimentar da gratificação e a presunção de boa-fé, a operar em favor dos militares do Distrito Federal, atribui-se à de-claração de inconstitucionalidade efeitos pros-pectivos (ex nunc). 4. Ação direta que se julga procedente.”103

RESPOSTA: D

2) No que se refere ao Poder Legislativo, assinale a opção correta. A) Apesar de não admitir o veto presidencial tácito, a CF admite o denominado veto sem motivação, resguardando ao presidente da República a prerrogativa de simplesmente vetar, sem explicar os motivos de seu ato. B) A partir da promulgação da CF, as medidas provisórias passaram a ser apreciadas pelo Congresso Nacional no prazo de sessenta dias, prorrogável pelo mesmo período, não se admi-tindo, portanto, possibilidade de vigência de medida provisória por mais de cento e vinte dias. C) Segundo entendimento do STF, as cortes de contas gozam de autonomia, autogoverno e iniciativa reservada para a instauração de processo legislativo que pretenda alterar a sua organização e funcionamento, razão por que é inconstitucional lei estadual de iniciativa parla-mentar que altere ou revogue dispositivos da lei orgânica do tribunal de contas do estado, que estabelece preceitos concernentes à forma de atuação, competências e organização do órgão. D) Uma vez obtida resolução delegatória, o presidente da República fica obrigado a editar a lei objeto do pedido de delegação ao Congresso Nacional. E) O Poder Legislativo não detém competência para emendar projeto de lei de iniciativa reser-vada ao chefe do Poder Executivo.

103 ADI 3791, Relator Ministro Ayres Britto, Tribunal Pleno, julgado em 16/06/2010, DJe-159 PUBLIC 27-08-2010.

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COMENTÁRIOA) Depreende dos §§ 1º e 3º do art. 66 da CF que não se admite veto imotivado e nem o veto tácito. Ao revés, se discordar do projeto de lei, o Presidente da República terá de ex-plicitar os motivos do veto, comunicando-os ao Presidente do Senado Federal, sendo que o seu silêncio importará sanção. Eis o teor do dispositivo: “§ 1º - Se o Presidente da Re-pública considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao inte-resse público, vetá-lo-á total ou parcialmen-te, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. (…) § 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República impor-tará sanção.” No MS 24.660104, o Supremo Tribunal Federal afirmou que “não há veto implícito ou tácito no direito constitucional brasileiro”.

B) No texto original da Constituição, o art. 62 dispunha que as medidas provisórias perderiam a eficácia, desde a edição, se não fossem convertidas em lei no prazo de trinta dias, a partir de sua publicação. Permitia-se, contudo, que as medidas provisórias fossem sucessivamente reeditadas. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 651: “A medida provisória não apreciada pelo Congresso Nacional podia, até a emen-da constitucional 32/2001, ser reeditada dentro do seu prazo de eficácia de trinta dias, mantidos os efeitos de lei desde a primeira edição”. As normas que fixaram o prazo de sessenta dias de vigência das medidas provisórias, prorrogável uma única vez pelo mesmo período, foram introduzidas pela Emenda Constitucional n. 32/2001. Todavia, ao contrário do que pode pare-cer, o tempo máximo de vigência das me-didas provisórias não é de 120 dias, pois o prazo fica suspenso durante os períodos

104 MS 24660, Relatora Ministra Ellen Gracie, Relatora p/ Acórdão Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2011, DJe-183 PUBLIC 23/09/2011.

de recesso do Congresso Nacional (art. 60, § 4º, da CF) e, se lei de conversão alterar o texto original da medida provi-sória, esta continuará em vigor até que sancionado ou vetado o projeto (art. 60, § 12, da CF).

C) A assertiva efetivamente reflete o enten-dimento do Supremo Tribunal Federal, con-forme decidido, entre outros, na ADI 4.421 MC: “Ação direta de inconstitucionalidade. Conselho Federal da Ordem dos Advoga-dos do Brasil (CFOAB). Lei estadual (TO) nº 2.351, de 11 de maio de 2010. Inconsti-tucionalidade formal. Vício de iniciativa. Violação às prerrogativas da autonomia e do autogoverno dos Tribunais de Contas. 1. In-constitucionalidade formal da Lei estadual, de origem parlamentar, que altera e revoga diversos dispositivos da Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins. A Lei estadual nº 2.351/ 2010 dispôs sobre forma de atuação, competências, garantias, deveres e organização do Tribunal de Contas estadual. 2. Conforme reconhe-cido pela Constituição de 1988 e por esta Suprema Corte, gozam as Cortes de Contas do país das prerrogativas da autonomia e do autogoverno, o que in-clui, essencialmente, a iniciativa reser-vada para instaurar processo legislativo que pretenda alterar sua organização e seu funcionamento, como resulta da in-terpretação sistemática dos artigos 73, 75 e 96, II, “d”, da Constituição Federal (cf. ADI 1.994/ES, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 8/9/06; ADI nº 789/DF, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 19/12/94). 3. Deferido o pedido de medida cautelar, para suspender a eficácia da Lei nº 2.351, de 11 de maio de 2010, do Estado do Tocantins, com efeitos ex tunc”105.

105 ADI 4421 MC, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 06/10/2010, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-036 PUBLIC 23/02/2011 REPUBLICAÇÃO: DJe-111 PUBLIC 10/06/2011. No mesmo sentido, ADI 4418 MC, Relator Ministro Dias Toffoli, julgado em 06/10/2010, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-035 PUBLIC 22/02/2011 REPUBLICAÇÃO: DJe-114 PUBLIC

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

D) De acordo com a doutrina, o Presidente da República não fica obrigado a editar a lei objeto do pedido de delegação do Con-gresso Nacional. A resolução delegató-ria “o habilita a legislar – não o obriga a tanto”106.

E) O Supremo Tribunal Federal entende que o Poder Legislativo pode emendar projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo desde que haja pertinência temática com o projeto origi-nal e que não acarrete aumento de despesa, ressalvado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 166 da CF (art. 63 da CF). A título ilustra-tivo, cita-se a ementa da ADI 3.288 naqui-lo que interessa: “… 3. O Poder Legislati-vo detém a competência de emendar todo e qualquer projeto de lei, ainda que fruto da iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo (art. 48 da CF). Tal competên-cia do Poder Legislativo conhece, porém, duas limitações: a) a impossibilidade de o Parlamento veicular matéria estranha à versada no projeto de lei (requisito de per-tinência temática); b) a impossibilidade de as emendas parlamentares aos projetos de lei de iniciativa do Executivo, ressalvado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 166, impli-carem aumento de despesa pública (inciso I do art. 63 da CF). …”107

RESPOSTA: C

3) Considerando a organização político--administrativa brasileira, assinale a opção correta a respeito dos entes federativos. A) A intervenção da União nos estados para prover a execução de lei federal depende de provimento, pelo STJ, de representação for-mulada pelo procurador-geral da República. B) É cabível intervenção estadual em municí-pio nos casos em que o tribunal de justiça der

15/06/2011.106 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Sarai0va, 2011. p. 909.107 ADI 3288, Relator Ministro Ayres Britto, Tribunal Pleno, julgado em 13/10/2010, DJe-037 PUBLIC 24/02/2011.

provimento a representação para assegurar a observância de princípios expressos na constituição estadual, admitindo-se a inter-posição de recurso extraordinário em face do acórdão que deferir o pedido de intervenção. C) Nem o DF nem os territórios podem ser divididos em municípios. D) Segundo entendimento do STF, os muni-cípios gozam de autonomia tributária, razão pela qual detêm competência legislativa plena para a instituição e a desoneração de tributos de sua competência, observados os limites constitucionais. E) Os estados federados podem instituir regiões metropolitanas, aglomerações urba-nas e microrregiões, observada autorização prevista em lei complementar federal.

COMENTÁRIOA) A questão n. 2 do prova do concurso da 4ª Região contém a mesma assertiva, em-bora com termos diversos. A intervenção da União nos Estados para prover a execução de lei federal depende de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal (e não pelo Su-perior Tribunal de Justiça), de representa-ção do Procurador-Geral da República (art. 36, inciso III, da CF). O texto originário da Constituição atribuía essa competência ao Superior Tribunal de Justiça, mas a EC n. 45/04 a transferiu para o Supremo Tribunal Federal.

B) De fato é cabível a intervenção dos Esta-dos em seus Municípios quando “o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de de-cisão judicial” (art. 35, inciso IV, da CF). En-tretanto o Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência no sentido de que não cabe recurso extraordinário em face do acórdão que deferiu o pedido de intervenção nas hi-póteses de intervenção por descumprimento de ordem ou de sentenças judiciais (art. 34, VI e art. 35, IV), por se revestir o procedi-mento de caráter político-administrativo. Nessa linha, o AI 343.461 AgR: “AGRAVO

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DE INSTRUMENTO - INTERVENÇÃO ESTADUAL EM MUNICÍPIO - INEXE-CUÇÃO DE ORDEM JUDICIAL (CF, ART. 35, IV) - REQUISIÇÃO, AO GO-VERNADOR DO ESTADO, DA EFE-TIVAÇÃO DO ATO INTERVENTIVO - NATUREZA MATERIALMENTE AD-MINISTRATIVA DO PROCEDIMENTO DE INTERVENÇÃO - INVIABILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO - DIRETRIZ JURISPRUDENCIAL FIR-MADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - RECURSO IMPROVIDO. - O procedimento destinado a viabilizar, nas hipóteses de descumprimento de ordem ou de sentença judiciais (CF, art. 34, VI e art. 35, IV), a efetivação do ato de intervenção - trate-se de intervenção federal nos Estados--membros, cuide-se de intervenção estadual nos Municípios - reveste-se de caráter políti-co-administrativo, muito embora instaurado perante órgão competente do Poder Judici-ário (CF, art. 36, II e art. 35, IV), circuns-tância que inviabiliza, ante a ausência de causa, a utilização do recurso extraordinário. Precedentes.”108

C) É vedada a divisão do Distrito Federal em Municípios (art. 32 da CF). No entanto os Territórios poderão ser divididos em Mu-nicípios (art. 33, § 1º, da CF).

D) Esta é a assertiva correta. No RE 591.033, julgado sob a sistemática a repercussão ge-ral, o Supremo Tribunal Federal decidiu: “TRIBUTÁRIO. PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. MUNICÍPIO. VA-LOR DIMINUTO. INTERESSE DE AGIR. SENTENÇA DE EXTINÇÃO ANULA-DA. APLICAÇÃO DA ORIENTAÇÃO AOS DEMAIS RECURSOS FUNDADOS EM IDÊNTICA CONTROVÉRSIA. 1. O Município é ente federado detentor de autonomia tributária, com competência le-gislativa plena tanto para a instituição do

108 AI 343461 AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, julgado em 18/06/2002, DJ 29/11/2002. No âmbito da Primeira Turma, AI 230228 AgR, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 03/08/1999, DJ 03/09/1999.

tributo, observado o art. 150, I, da Consti-tuição, como para eventuais desonerações, nos termos do art. 150, § 6º, da Constitui-ção. 2. As normas comuns a todas as esferas restringem-se aos princípios constitucionais tributários, às limitações ao poder de tributar e às normas gerais de direito tributário es-tabelecidas por lei complementar. 3. A Lei nº 4.468/84 do Estado de São Paulo - que autoriza a não-inscrição em dívida ativa e o não-ajuizamento de débitos de pequeno va-lor - não pode ser aplicada a Município, não servindo de fundamento para a extinção das execuções fiscais que promova, sob pena de violação à sua competência tributária. 4. Não é dado aos entes políticos valerem-se de sanções políticas contra os contribuintes inadimplentes, cabendo-lhes, isto sim, pro-ceder ao lançamento, inscrição e cobrança judicial de seus créditos, de modo que o interesse processual para o ajuizamento de execução está presente. 5. Negar ao Muni-cípio a possibilidade de executar seus crédi-tos de pequeno valor sob o fundamento da falta de interesse econômico viola o direito de acesso à justiça. 6. Sentença de extinção anulada. 7. Orientação a ser aplicada aos re-cursos idênticos, conforme o disposto no art. 543-B, § 3º, do CPC”109.

E) Segundo dispõe o art. 25, § 3º, da CF, “os Estados poderão, mediante lei complemen-tar, instituir regiões metropolitanas, aglome-rações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamen-to e a execução de funções públicas de in-teresse comum”. Como se vê, não se exige autorização em lei complementar federal. A lei complementar referida no dispositivo é estadual. Outro não foi o entendimento do Supremo Tribunal Federal na ADI 1.841: “CONSTITUCIONAL. REGIÕES ME-TROPOLITANAS, AGLOMERAÇÕES URBANAS, MICROREGIÃO. C.F., art.

109 RE 591033, Relator Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 17/11/2010, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-038 PUBLIC 25/02/2011.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

25, §3º. Constituição do Estado do Rio de Janeiro, art. 357, parágrafo único. I. - A ins-tituição de regiões metropolitanas, aglomera-ções urbanas e microregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, de-pende, apenas, de lei complementar estadual. II. - Inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 357 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. III. - ADIn julgada procedente”110.

RESPOSTA: D

4) A respeito do Poder Executivo, assinale a opção correta. A) Nos crimes comuns, o presidente da Re-pública será processado e julgado pelo STF somente após ser declarada procedente a acusação por parte da Câmara dos Deputados, circunstância que não impede a instauração de inquérito policial e o oferecimento da denúncia. B) Em caso de urgência ou de interesse público relevante, o presidente da República pode convocar extraordinariamente o Congresso Nacional, devendo ser efetuado o pagamento da parcela indenizatória devida em razão do caráter excepcional da convocação. C) O presidente da República detém compe-tência privativa tanto para decretar o estado de defesa e o estado de sítio quanto para suspender essas medidas. D) A composição do Conselho da República, órgão de consulta do presidente da República, está taxativamente prevista na CF, razão por que é vedada a participação, nas reuniões desse conselho, de outras autoridades além das indicadas na CF. E) Nos crimes de responsabilidade, o Senado Federal, na condição de órgão judicial, exer-cendo jurisdição recebida da CF, julga o pre-sidente da República, razão por que é cabível a interposição de recurso ao STF contra decisão proferida em processo de impeachment.

COMENTÁRIOA) Esta é a assertiva correta. O art. 102, inci-so I, alínea b, da CF estabelece que compete

110 ADI 1841, Relator Ministro Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 01/08/2002, DJ 20/09/2002.

ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, o Presidente da Re-pública nas infrações penais comuns. O art. 86 dispõe que, admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns. A pré-via licença da Câmara dos Deputados não impede a instauração de inquérito policial e nem o oferecimento da denúncia, mas ape-nas o recebimento da denúncia111.

B) O Presidente da República pode con-vocar extraordinariamente o Congresso Nacional em caso de urgência ou interesse público (art. 57, § 6º, inciso II, da CF), po-rém é vedado o pagamento de parcela inde-nizatória em razão da convocação (art. 57, § 7º, da CF).

C) Compete privativamente ao Presidente da República decretar o estado de defesa e o estado de sítio (art. 84, inciso IX, da CF), mas compete exclusivamente ao Congresso Nacional (e não ao Presidente da República) suspender essas medidas (art. 49, inciso IV, da CF).

D) O § 1º do art. 90 prevê, expressamente, a possibilidade de o Presidente da República convocar Ministro de Estado para participar da reunião do Conselho da República, quan-do constar da pauta questão relacionada com o respectivo Ministério.

E) Compete privativamente ao Senado Federal processar e julgar o Presidente da República nos crimes de responsabilidade (art. 52, inciso I, da CF). Nesse mister, o Senado Federal atua como tribunal políti-co, sob a presidência do Presidente do Su-premo Tribunal Federal (art. 52, parágrafo único, da CF). Assim, o mérito da decisão é insuscetível de controle judicial. Por outro lado, vale lembrar que é cabível o controle

111 MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 514.

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judicial sobre a regularidade do processo im-peachment, sempre que, no seu desenvolvi-mento, haja alegação de violação ou ameaça ao direito das partes. Nesse sentido é a ju-risprudência do Supremo Tribunal Federal, conforme decidido no MS 20.941112, no MS 21.564 MC-QO113 e no MS 21.689114

RESPOSTA: A

5) Considerando a doutrina e a jurisprudência do STF, assinale a opção correta acerca do controle de constitucionalidade no sistema jurídico brasileiro. A) Não se admite a concessão de medida cautelar em ação direta de inconstitucionali-dade por omissão, em razão da natureza e da finalidade desse tipo de ação. B) A arguição de descumprimento de preceito fundamental constitui instrumento adequado a viabilizar revisão ou cancelamento de sú-mula vinculante. C) O controle prévio ou preventivo de cons-titucionalidade não pode ocorrer pela via jurisdicional, uma vez que ao Poder Judiciário foi reservado o controle posterior ou repres-sivo, realizado tanto de forma difusa quanto de forma concentrada. D) Nenhum órgão fracionário de tribunal dis-põe de competência para declarar a incons-titucionalidade de leis ou atos normativos emanados do poder público, visto tratar-se de prerrogativa jurisdicional atribuída, exclu-sivamente, ao plenário dos tribunais ou ao órgão especial, onde houver. E) A revogação de lei ou ato normativo objeto de ação direta de inconstitucionalidade não implica perda de objeto da ação.

COMENTÁRIOA) O art. 12-F da Lei n. 9.868/99 (incluído pela Lei n. 12.063/09) prevê, expressamen-te, o cabimento de medica cautelar em ação

112 MS 20941, Relator Ministro Aldir Passarinho, Relator p/ Acórdão Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/1990, DJ 31/08/1992.113 MS 21564 MC-QO, Relator Ministro Octavio Gallotti, Tribunal Pleno, julgado em 10/09/1992, DJ 27/08/1993.114 MS 21.689, Relator Ministro Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 16/12/1993, DJ 07/04/1995.

direta de inconstitucionalidade por omissão nos seguintes termos: “Art. 12-F. Em caso de excepcional urgência e relevância da maté-ria, o Tribunal, por decisão da maioria abso-luta de seus membros, observado o disposto no art. 22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias. § 1º A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos ad-ministrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal. …”Resta superada, portanto, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que entende incabível a medida liminar nos casos de ação direta de inconstitucionalidade por omissão, ao argumento de que não se pode pretender que mero provimento cautelar antecipe efei-tos positivos inalcançáveis pela própria deci-são final emanada do Tribunal, notadamente porque, de acordo com esse entendimento, a procedência da ação direta de inconstitu-cionalidade por omissão confere ao Supre-mo Tribunal Federal, unicamente, o poder de cientificar o legislador inadimplente para que este adote as medidas necessárias à con-cretização do texto constitucional115.

B) Na ADPF 80 AgR116, o Supremo Tri-bunal Federal decidiu que o enunciado de Súmula “não consubstancia ato do Poder Público, porém tão somente a expressão de entendimentos reiterados seus” e que a arguição de descumprimento de preceito fundamental não é adequada para revisá-lo. É importante destacar que o Ministro Sepúl-veda Pertence, em seu voto, consignou que

115 Entendimento adotado, entre outros, no seguintes julgados: ADI 267 MC, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/1990, DJ 19/05/1995; ADI 1387 MC, Relator Ministro Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 06/03/1996, DJ 29/03/1996; ADI 1439 MC, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 22/05/1996, DJ 30/05/2003; ADI 1458 MC, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 23/05/1996, DJ 20/09/1996;116 ADPF 80 AgR, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 12/06/2006, DJ 10/08/2006.

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QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS

o tema teria de “sofrer uma nova reflexão, não só em função da chamada ‘súmula vin-culante’, mas também dos chamados ‘efei-tos normativos’ de qualquer súmula sobre a admissão, o processamento e o julgamento individual de recursos, a reserva de Plenário na declaração de inconstitucionalidade e de outras tantas inovações legislativas”, com o que aparentemente concordou o Ministro Gilmar Mendes. Não obstante, o Supremo Tribunal Federal, na ADPF 147 AgR117, mantendo o entendimento manifestado na ADPF 80 AgR, decidiu que a “arguição de descumprimento de preceito fundamental não é a via adequada para se obter a inter-pretação, a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante”. Observe-se que a Lei n. 11.417/06 disciplina a edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal.

C) O Supremo Tribunal Federal admite o controle preventivo de constitucionalidade pela via jurisdicional na hipótese de des-cumprimento das normas constitucionais relativas ao processo legislativo (arts. 59 a 69 da CF). Nesse caso, entende o Supremo Tribunal Federal que os membros do Poder Legislativo (e somente eles) têm o direito lí-quido e certo de não participar de processo legislativo inquinado do vício de inconsti-tucionalidade, e, assim, detêm legitimidade para impetrar mandado de segurança para defesa da garantia do devido processo le-gislativo. Trata-se, portanto, de hipótese de controle difuso de constitucionalidade.Ainda sob a égide da Constituição anterior, no MS 20.257118, o Supremo Tribunal Fe-deral considerou que a deliberação de pro-posta de emenda constitucional tendente à abolição da República viola a Constituição, de modo que a “inconstitucionalidade, se ocorrente, já existe antes de o projeto ou de a proposta se transformar em lei ou em emenda constitucional, porque o próprio

117 ADPF 147 AgR, Relator Ministro Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011, DJe-067 PUBLIC 08/04/2011.118 MS 20257, Relator Ministro Décio Miranda, Tribunal Pleno, julgado em 08/10/1980, DJ 27/02/1981.

processamento já desrespeita, frontalmente, a Constituição”.Essa orientação vem sendo mantida pelo Su-premo Tribunal Federal, conforme se depre-ende, a título ilustrativo, do MS 24.642119: “CONSTITUCIONAL. PROCESSO LE-GISLATIVO: CONTROLE JUDICIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. I. - O parlamentar tem legitimidade ativa para im-petrar mandado de segurança com a finali-dade de coibir atos praticados no processo de aprovação de leis e emendas constitucionais que não se compatibilizam com o processo legislativo constitucional. Legitimidade ati-va do parlamentar, apenas. II. - Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Ministro Morei-ra Alves (leading case), RTJ 99/1031; MS 21.642/DF, Ministro Celso de Mello, RDA 191/200; MS 21.303-AgR/DF, Ministro Oc-tavio Gallotti, RTJ 139/783; MS 24.356/DF, Ministro Carlos Velloso, DJ de 12.09.2003. III. - Inocorrência, no caso, de ofensa ao processo legislativo, C.F., art. 60, § 2º, por isso que, no texto aprovado em 1º turno, houve, simplesmente, pela Comissão Espe-cial, correção da redação aprovada, com a supressão da expressão ‘se inferior’, expres-são dispensável, dada a impossibilidade de a remuneração dos Prefeitos ser superior à dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. IV. - Mandado de Segurança indeferido”.

D) Esta é a assertiva correta. O art. 97 da CF é claro ao determinar que somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitu-cionalidade de lei ou ato normativo do Po-der Público. Por conseguinte não é dado aos Tribunais, por órgãos fracionários ou mono-cráticos, afastar a incidência de norma jurí-dica em virtude de sua inconstitucionalidade sem que a matéria tenha sido conhecida pelo pleno ou órgão especial, através de maioria absoluta, ainda que não haja declaração for-mal de inconstitucionalidade. Neste sentido

119 MS 24642, Relator Ministro Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 18/02/2004, DJ 18/06/2004.

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é o enunciado da Súmula Vinculante n. 10: “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressa-mente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua inci-dência, no todo ou em parte”. É oportuno lembrar que o Supremo Tribu-nal Federal considera desnecessário obser-var a regra do art. 97 da CF se o pleno ou o órgão especial do respectivo Tribunal ou se o plenário do Supremo Tribunal Federal (inclusive em sede de controle difuso) já se pronunciou sobre a controvérsia constitucio-nal120. Essa orientação foi acolhida pela Lei n. 9.576/98, que incluiu o parágrafo único ao art. 481 do CPC, com a seguinte redação: “Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão espe-cial, a argüição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão”.

E) Ao contrário do que consta na assertiva, a superveniente revogação de lei ou ato nor-mativo atacado em ação direta de inconsti-tucionalidade, em princípio, implica a perda do objeto da ação, independentemente de a norma ter, ou não, produzido efeitos concre-tos. Assim decidiu o Supremo Tribunal Fe-deral, por exemplo, na ADI 709121: “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDA-DE. OBJETO DA AÇÃO. REVOGAÇÃO SUPERVENIENTE DA LEI ARGUIDA DE INCONSTITUCIONAL. PREJUDI-CIALIDADE DA AÇÃO. CONTROVER-SIA. OBJETO DA AÇÃO DIRETA pre-vista no art. 102, I, a e 103 da Constituição Federal, e a declaração de inconstitucionali-

120 V.g. RE 190.725, Relator Ministro Celso de Mello, Relator p/ Acórdão Ministro Ilmar Galvão, Segunda Turma, julgado em 27/06/1995, DJ 13/12/1996; AI 168149 AgR, Relator Ministro Marco Aurélio, Segunda Turma, julgado em 26/06/1995, DJ 04/08/1995; AI 167444 AgR, Relator Ministro Carlos Velloso, Segunda Turma, julgado em 30/05/1995, DJ 15/09/1995; RE 433806 AgR, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 08/03/2005, DJ 01/04/2005.121 ADI 709, Relator Ministro Paulo Brossard, Tribunal Pleno, julgado em 07/10/1992, DJ 20/05/1994.

dade de lei ou ato normativo em tese, logo o interesse de agir só existe se a lei estiver em vigor. REVOGAÇÃO DA LEI ARGUIDA DE INCONSTITUCIONAL. Prejudiciali-dade da ação por perda do objeto. A revoga-ção ulterior da lei questionada realiza, em si, a função jurídica constitucional reser-vada a ação direta de expungir do sistema jurídico a norma inquinada de inconsti-tucionalidade. EFEITOS concretos da lei revogada, durante sua vigência. Matéria que, por não constituir objeto da ação di-reta, deve ser remetida as vias ordinárias. A declaração em tese de lei que não mais existe transformaria a ação direta, em ins-trumento processual de proteção de situa-ções jurídicas pessoais e concretas. Ação direta que, tendo por objeto a Lei 9.048/89 do Estado do Paraná, revogada no curso da ação, se julga prejudicada”.De outro lado, é importante lembrar que, na ADI 3.232122, o Supremo Tribunal Fe-deral afastou a prejudicialidade da ação, ao fundamento de que a revogação da lei impugnada quando já em pauta a ação direta “não subtrai à Corte a competên-cia para examinar a constitucionalida-de da norma até então vigente e as suas conseqüências”123.Além disso, sugere-se ao candidato que acompanhe o julgamento da ADI (QO--QO) 1.244124 (atualmente suspensa em virtude de pedido de vista formu-lado pela Ministra Ellen Gracie), na qual o Ministro Gilmar Mendes propôs a “revisão da jurisprudência do STF - segundo a qual a ação direta perde seu objeto quando há a revogação superve-niente da norma impugnada ou, em se tratando de lei temporária, quando sua eficácia já teria se exaurido -, para o fim de admitir o prosseguimento do contro-

122 ADI 3.232, Relator Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julgado em 14/08/2008, DJe-187 PUBLIC 03/10/2008. A ADI 3.232 foi julgada juntamente com as ADIs 3.983 e 3.990.123 Conforme publicado no Informativo 515 do STF.124 ADI 1.244, Relator Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno. O voto do Ministro Gilmar Mendes foi noticiado no Informativo n. 305 do STF.

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le abstrato nas hipóteses em que a nor-ma atacada tenha perdido a vigência após o ajuizamento da ação, seja pela revogação, seja em razão do seu cará-ter temporário, restringindo o alcance dessa revisão às ações diretas penden-tes de julgamento e às que vierem a ser ajuizadas. O Min. Gilmar Mendes, considerando que a remessa de con-trovérsia constitucional já instaurada perante o STF para as vias ordinárias é incompatível com os princípios da máxima efetividade e da força normati-va da Constituição, salientou não estar demonstrada nenhuma razão de base constitucional a evidenciar que somen-te no âmbito do controle difuso seria possível a aferição da constitucionali-dade dos efeitos concretos de uma lei”. RESPOSTA: D

6) A respeito da administração pública e das funções essenciais à justiça, assinale a opção correta. A) Conforme entendimento do STF, compete ao STJ dirimir conflito negativo de competên-cia entre o Ministério Público Federal e o MP de determinado estado. B) A CF submeteu os empregados das empre-sas públicas e das sociedades de economia mista ao teto remuneratório da administração pública, limitando expressamente a aplicação de tal determinação aos casos em que tais em-presas recebam recursos da fazenda pública para custeio em geral ou gasto com pessoal. C) Segundo entendimento do STF, membro do MP pode exercer cargo ou função pública em órgão externo à organização do MP, ainda que tenha ingressado na instituição após a promulgação da CF. D) Assim como as cortes de contas, as defensorias públicas estão organizadas nas esferas federal, estadual e municipal, com autonomia funcional e administrativa asse-gurada pela CF. E) A garantia da inamovibilidade é conferida, pela CF, aos membros do MP, da advocacia pública e da defensoria pública.

COMENTÁRIOA) Alterando a sua jurisprudência acerca da matéria125, o Supremo Tribunal Federal, a partir da Pet 3.528, passou a reconhecer, com fundamento no art. 102, inciso I, alínea f, da CF, que é do Supremo Tribunal Fede-ral (e não do Superior Tribunal de Justiça) a competência para dirimir conflito negativo de atribuições entre Ministério Público Fe-deral e Ministério Público Estadual ou entre Ministérios Públicos de Estados diferentes.

B) Esta é a assertiva correta. O § 9º do art. 37 da CF estabelece que o disposto no in-ciso XI do mesmo artigo, que trata do teto remuneratório da administração pública, aplica-se às empresas públicas e às socieda-des de economia mista, e suas subsidiárias, que recebam recursos da União, dos Esta-dos, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral.

C) A Constituição estabelece que é veda-do aos membros do Ministério Público “exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério” (art. 128, § 5º, inciso II, alí-nea d). E o Supremo Tribunal Federal tem diversos precedentes afirmando a “impos-sibilidade de membro do Ministério Públi-co que ingressou na instituição após a pro-mulgação da Constituição de 1988 exercer cargo ou função pública em órgão diverso da organização do Ministério Público”126.

125 Na Pet. 1.503, Relator Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2010, DJ 14/11/2002, o Supremo Tribunal Federal não conheceu do conflito de atribuição por considerar que não haveria comprometimento do pacto federativo. A competência, segundo esse entendimento, era do Superior Tribunal de Justiça, por interpretação analógica do art. 105, inciso I, alínea d, da CF. No mesmo sentido o CC 7.117, Relator Ministro Sidney Sanches, Tribunal Pleno, julgado em 08/08/2002, DJ 21/02/2003.126 MS 26595, Relatora Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 07/04/2010, DJe-105 PUBLIC 11/06/2010. Ver, também: ADI 2084, Relator Ministro Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 02/08/2001, DJ 14/09/2001; ADI 2534 MC, Relator Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2002, DJ 13/06/2003; ADI 2084, Relator Ministro Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 02/08/2001, DJ 14/09/-2001; ADI 3298, Relator Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2007, DJe-047 PUBLIC 29/06/2007.

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Importante observar que, na ADI 2.836127, o Supremo Tribunal Federal decidiu que aos “integrantes do Parquet admitidos an-tes da CF/88 aplicam-se as vedações do texto constitucional”. Conforme esclare-ceu o Relator, Ministro Eros Grau, em seu voto, “o § 3º do art. 29 do ADCT estatui que, quanto às vedações, observar-se-á a situação jurídica na data da promulgação da Constituição – ‘data desta’. Assim, mesmo aos integrantes do Parquet ad-mitidos antes de 05 de outubro de 1988 aplicam-se as vedações inseridas no novo texto constitucional, ou seja, o texto da or-dem constitucional vigente”.

D) A Defensoria Pública abrange a Defen-soria Pública da União, a Defensoria Pú-blica do Distrito Federal e dos Territó-rios (organizada e mantida pela União) e as Defensorias Públicas dos Estados, sendo que a Constituição assegura às Defensorias Públicas Estaduais auto-nomia funcional e administrativa (art. 134, § 2º, da CF). Não há Defensorias Públicas dos Municípios, tal como não há Ministério Público e Justiça na esfera municipal.

E) A Constituição confere a garantida da inamovibilidade aos membros do Ministério Público (art. 128, § 5º, inciso I, alínea b) e aos da Defensoria Pública (art. 134, § 1º), mas não a confere aos membros da Advocacia Pública. RESPOSTA: B

7) Com relação à defesa do Estado e das insti-tuições democráticas e aos direitos políticos, assinale a opção correta. A) As hipóteses de inelegibilidade, por configurarem circunstâncias que impedem o cidadão de exercer total ou parcialmente a capacidade eleitoral passiva, constam de rol taxativo previsto na CF.

127 ADI 2836, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 17/11/2005, DJ 09/12/2005.

B) A reaquisição de direitos políticos suspen-sos só se faz possível mediante decisão judi-cial proferida em ação ajuizada para tal fim. C) Os casos que ensejam a decretação do estado de sítio estão previstos na CF de forma taxativa, diferentemente dos relativos ao estado de defesa. D) O controle político exercido sobre a decretação do estado de defesa é prévio, concomitante ou sucessivo. E) Apesar de a prestação de serviço militar ser obrigatória, a recusa em cumpri-la é ad-mitida sob a alegação do direito de escusa de consciência, cabendo, nesse caso, às forças armadas atribuir àquele que exercer esse direito serviço alternativo em tempo de paz, cuja recusa enseja como sanção a declaração da perda dos direitos políticos.

COMENTÁRIOA) O rol de hipóteses de inelegibilidades previsto na Constituição não é taxativo. Ao revés, o § 9º do art. 14 da CF dispõe que lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrati-va, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

B) A suspensão dos direitos políticos ca-racteriza-se pela temporariedade. Cessada a causa da suspensão, a recuperação dos direitos políticos é automática. Nas pala-vras e Manoel Gonçalves Ferreira Filho: “As pessoas privadas dos direitos políticos podem recuperá-los. Se essa privação for a dita defi-nitiva, ou perda, dependerá do cumprimento de exigências legais. Se for a privação dita temporária, ou ‘suspensão’, a recuperação se fará automaticamente, pelo desapareci-mento de seu fundamento ou pelo decurso do prazo”.

C) Por representarem situações de anorma-lidade constitucional e implicarem sérias restrições aos direitos fundamentais, com a suspensão temporária de certas garantias constitucionais, tanto o estado de defesa

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quanto o estado de sítio somente podem ser decretados nos casos taxativamente previs-tos na Constituição.

D) Ao contrário do estado de sítio, cuja de-cretação depende de autorização do Con-gresso Nacional (art. 137 da CF), a decre-tação do estado de defesa não se submete a controle político prévio, pois, consoante previsto no art. 136, § 4º, da CF, primeiro o Presidente da República decreta o estado de defesa e, depois, submete o ato com a res-pectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta. Nesse ínterim, contudo, o estado de defesa já está em vigor. Logo, o controle político sobre a decretação do estado de defesa é posterior.Além do controle sobre o ato que instaura ou prorroga o estado de defesa (art. 136, §§ 4º ao 7º), chamado, por alguns, de controle político imediato128, a Constituição contem-pla um controle político concomitante sobre as medidas adotadas, ao estabelecer, no art. 140, que a Mesa do Congresso Nacional designará Comissão composta de cinco membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa (e ao estado de sítio), e um con-trole político sucessivo, também sobre as medidas, ao dispor, no art. 141, parágrafo único, que, cessado o estado de defesa (ou o estado de sítio), incumbirá ao Congresso Nacional examinar as medidas aplicadas em sua vigência, conforme relatado pelo Presi-dente da República em mensagem, na qual deverão ser especificadas e justificadas as providências adotadas, com relação nomi-nal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas.

E) Esta é a assertiva correta. Segundo o art. 5º, inciso VIII, da CF, ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação le-gal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. Já o art. 143, § 1º, da CF estabelece que o serviço mi-litar é obrigatório e que compete às Forças Armadas, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após

128 V.g. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 829.

alistados, alegarem imperativo de consciên-cia, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. Por fim, o art. 15, inciso IV, dispõe a recusa de cum-prir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, inciso VIII, acarretará a perda dos direitos políticos. Registre-se que há controvérsia na doutrina sobre se a hipótese do inciso IV do art. 15 da CF é de suspensão ou perda dos direitos políticos, especialmente diante dos termos do art. 4º, § 2º, da Lei n. 8.239/91 (no qual consta a expressão suspensão). A banca examinadora seguiu a posição majoritária da doutrina constitucional, defendida, entre outros, por José Afonso da Silva129, Manoel Gonçalves Ferreira Filho130, Gilmar Ferreira Mendes131 e Alexandre de Moraes132. José Afonso da Silva justifica a posição nestes termos: “Incluímos esse caso como de perda dos direitos políticos e não como hipótese de suspensão, porque esta se dá quando a situa-ção causal indica temporariedade ou é previ-sível a cessação da privação dos direitos po-líticos. As constituições anteriores também a incluíram como causa de perda e não de sus-pensão dos direitos políticos. Contudo, a Lei 8.239/91 prevê, para a hipótese, a suspensão dos direitos políticos do inadimplente, que poderá, a qualquer tempo, regularizar sua situação mediante o cumprimento das obri-gações devidas. Talvez, porque o dispositivo preveja a possibilidade de recuperação dos direitos políticos é que se falou em suspen-são. No entanto, essa recuperação, a nosso ver, é simplesmente a possibilidade de rea-quisição dos direitos perdidos. No caso de suspensão, a recuperação é automática, em virtude da cessação da causa de privação”133.

RESPOSTA: E

129 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 384.130 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 37. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 143.131 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 777.132 MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 271.133 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 384-385, nota de rodapé n. 2.

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8) Com relação à ordem econômica, ao direito de propriedade e à comunicação social, assinale a opção correta. A) A CF admite a incidência de contribuição de intervenção no domínio econômico sobre a importação de petróleo e seus derivados, de gás natural e seus derivados e de álcool combustí-vel, podendo a alíquota dessa contribuição ser diferenciada por produto ou uso, ou reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, sem a observância do princípio da anterioridade. B) A União pode contratar com empresas estatais ou privadas a realização de pesquisa, o enriqueci-mento e o processamento de minérios e minerais nucleares e seus derivados. C) As operações de transferência de imóveis rurais desapropriados por interesse social para fins de reforma agrária são isentas apenas dos impostos federais. D) É vedada a participação de capital estrangeiro em empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens. E) A CF atribui exclusivamente à União a com-petência para dispensar tratamento jurídico diferenciado às microempresas e às empresas de pequeno porte, de modo a incentivá-las mediante a simplificação de suas obrigações administra-tivas, previdenciárias, tributárias e creditícias.

COMENTÁRIOA) Esta é a assertiva correta. O art. 177, § 4º, inciso I, da CF autoriza que a União, por meio de lei, institua contribuição de in-tervenção no domínio econômico (CIDE) relativa às atividades de importação ou co-mercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool com-bustível, cuja alíquota poderá ser diferencia-da por produto ou uso (alínea a), bem como ser reduzia ou restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art. 150, inciso III, alínea b, da CF, que trata do princípio da anterioridade tributária.

B) Segundo o art. 21, inciso XXIII, da CF, compete à União explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer o monopólio estatal sobre a pes-quisa, a lavra, o enriquecimento e reproces-samento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, salvo a produção, comercialização e utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médi-cos, agrícolas e industriais e de radioisóto-pos de meia-vida igual ou inferior a duas horas, que admitem o regime de permissão.

Já o art. 177, inciso V, da CF estabelece constituir monopólio da União a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercializa-ção e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 da CF. A Constituição não permite que essas atividades sejam exercidas por empresas estatais ou privadas. Note-se que o § 1º do art. 177 da CF autoriza que a União contrate com empresas estatais ou privadas a reali-zação das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo, excluindo-se, portanto, as atividades previstas no inciso V.

C) Por expressa previsão do art. 184, § 5º, da CF, as operações de transferência de imó-veis rurais desapropriados para fins de refor-ma agrária são isentas de impostos federais, estaduais e municipais.

D) O § 4º do art. 222 da CF remete à lei a disciplina da participação de capital estran-geiro nas empresas jornalísticas e de radio-difusão sonora de sons e imagens, sendo que, por força do art. 222, caput e § 1º, a propriedade dessas empresas é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas cons-tituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País e, em qualquer caso, pelo me-nos 70% do capital total e do capital votante deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamen-te a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação. Portanto não é vedada a participação de capital estrangeiro. Lembre-se que a redação original do art. 222 foi alterada pela Emenda Constitucional n. 36/02.

E) O art. 179 da CF estabelece que União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-cípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, vi-sando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela elimi-nação ou redução destas por meio de lei

RESPOSTA: A

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ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE!

Caros Alunos,

Recentemente, foi promulgada a Lei 12.683/12, que trouxe importantes alterações na Lei 9.613/98, que trata dos delitos de lavagem de dinheiro.

Assim, é importante, ao analisar as questões que tratam desta matéria (como a questão n.º 5 do TRF da 3ª Região), levar em consideração a vigência da nova norma, bem como suas alterações mais relevantes. Da análise das alterações, percebe-se, de plano, que a nova Lei eliminou o rol de crimes antecedentes. Isto é, a partir de seu advento, incide nesta norma aquele que ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de qualquer infração penal, e não mais apenas dos crimes elencados nos incisos do caput, cujo rol era consi-derado taxativo.

A partir da nova norma, pois, o Brasil passa a possuir uma legislação considerada como de terceira geração, na qual inexiste rol de crimes antecedentes, ao contrário da segunda geração, em que apenas alguns crimes podiam ser considerados antecedentes de lava-gem (como ocorria na redação anterior da norma), ou da primeira geração, na qual o trá-fico de entorpecentes era o único crime antecedente (BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes Federais. 6ª ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 601).

Outro fato relevante é que o tipo em debate fala em infração penal, e não em crime. Ou seja, ocultar ou dissimular a origem de bens oriundos de contravenção, como o jogo do bicho, por exemplo, passa a se enquadrar no tipo em debate.

De ser salientado, de pronto, que se trata de norma penal mais grave, a qual não poderá retroagir em malefício dos acusados. Ou seja, sua aplicação será prospectiva.

Quer saber mais sobre as alterações?

Consulte www.blogdireitoeprocessopenal.blogspot.com.br e leia os post publicados a partir de 10 de julho de 2012.