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Psicologia e Educação 63 Vol. V, nº 1, Jun. 2006 Questionário de Estilos Educativos Parentais (QEEP)* Maria Adelina Barbosa Ducharne** Orlanda Cruz** Sylvie Marinho** Catarina Grande** Resumo: O Questionário dos Estilos Educativos Parentais (QEEP) constitui a tradução e adaptação de um questionário elaborado por Lamborn, Mounts, Steinberg e Dornbusch (1991), a partir das características das dimensões de responsividade e de exigência propostas por Baumrind (1971) e por Maccoby e Martin (1983). Este questionário é constituído por 19 itens organizados em duas sub-escalas: supervisão/exigência e responsividade/afecto/envolvimento parental. O questionário foi aplicado a uma amostra de 641 participantes com idades compreendidas entre os 12 e os 21 anos, frequentando os anos de escolaridade 7º a 12º e distribuídos homogeneamente por género. A análise factorial exploratória identificou dois factores que explicam 42.5% da variância total, revelando uma estrutura coincidente com a obtida para a escala original americana. A análise factorial confirmatória revelou um ajustamento moderado dos dados ao modelo proposto. Ambas as sub-escalas revelaram uma boa consistência interna. A classificação dos sujeitos pelos estilos educativos efectuou-se seguindo os procedimentos indicados pelos autores da escala, tendo-se tripartido a amostra em função da distribuição de cada uma das dimensões, responsividade e exigência. O cruzamento das distribuições destas duas dimensões permitiu a identificação dos sujeitos que percepcionam a prática educativa dos seus pais como características de um estilo autorizado, negligente, autoritário ou permissivo. Dos 641 participantes foram assim classificados 284;, os restantes 357, residuais, não evidenciaram características que permitissem incluí-los em qualquer um destes padrões. A distribuição percentual dos participantes segundo o estilo educativo parental é semelhante à da amostra americana do questionário original. Palavras-Chave: Estilos educativos parentais; Avaliação psicológica; Adolescência. The Parenting Styles Questionnaire (QEEP) Abstract: The Parenting Scales (Lamborn, Mounts, Sternberg & Dornbusch, 1991) is a 19 items questionnaire, aimed to evaluate the parenting practices, stemming from the two dimensions which are the acceptance/involvement and the strictness/supervision dimensions, derived from the responsiveness and the demandingness constructs proposed by Baumrind (1971) and Maccoby and Martin (1983). The aim of this study is to translate and to adapt the Parenting Scales to a Portuguese sample. In this context, the Questionário de Estilos Educativos Parentais (QEEP) is the resulting Portuguese version. Six hundred forty-one adolescents, aged 12 to 21 years old, enrolled in school _______________ * Esta investigação foi financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, através do Centro de Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Qualquer co- municação acerca deste estudo pode ser enviada para o endereço electrónico da primeira autora, junto de quem se pode obter a versão do questionário: [email protected] ** Universidade do Porto.

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Vol. V, nº 1, Jun. 2006

Questionário de Estilos Educativos Parentais (QEEP)*Maria Adelina Barbosa Ducharne**Orlanda Cruz**Sylvie Marinho**Catarina Grande**

Resumo: O Questionário dos Estilos Educativos Parentais (QEEP) constitui a traduçãoe adaptação de um questionário elaborado por Lamborn, Mounts, Steinberg e Dornbusch(1991), a partir das características das dimensões de responsividade e de exigênciapropostas por Baumrind (1971) e por Maccoby e Martin (1983). Este questionárioé constituído por 19 itens organizados em duas sub-escalas: supervisão/exigência eresponsividade/afecto/envolvimento parental. O questionário foi aplicado a uma amostrade 641 participantes com idades compreendidas entre os 12 e os 21 anos, frequentandoos anos de escolaridade 7º a 12º e distribuídos homogeneamente por género. A análisefactorial exploratória identificou dois factores que explicam 42.5% da variância total,revelando uma estrutura coincidente com a obtida para a escala original americana.A análise factorial confirmatória revelou um ajustamento moderado dos dados ao modeloproposto. Ambas as sub-escalas revelaram uma boa consistência interna. A classificaçãodos sujeitos pelos estilos educativos efectuou-se seguindo os procedimentos indicadospelos autores da escala, tendo-se tripartido a amostra em função da distribuição decada uma das dimensões, responsividade e exigência. O cruzamento das distribuiçõesdestas duas dimensões permitiu a identificação dos sujeitos que percepcionam a práticaeducativa dos seus pais como características de um estilo autorizado, negligente,autoritário ou permissivo. Dos 641 participantes foram assim classificados 284;, osrestantes 357, residuais, não evidenciaram características que permitissem incluí-losem qualquer um destes padrões. A distribuição percentual dos participantes segundoo estilo educativo parental é semelhante à da amostra americana do questionário original.Palavras-Chave: Estilos educativos parentais; Avaliação psicológica; Adolescência.

The Parenting Styles Questionnaire (QEEP)

Abstract: The Parenting Scales (Lamborn, Mounts, Sternberg & Dornbusch, 1991)is a 19 items questionnaire, aimed to evaluate the parenting practices, stemming fromthe two dimensions which are the acceptance/involvement and the strictness/supervisiondimensions, derived from the responsiveness and the demandingness constructs proposedby Baumrind (1971) and Maccoby and Martin (1983). The aim of this study is totranslate and to adapt the Parenting Scales to a Portuguese sample. In this context,the Questionário de Estilos Educativos Parentais (QEEP) is the resulting Portugueseversion. Six hundred forty-one adolescents, aged 12 to 21 years old, enrolled in school

_______________* Esta investigação foi financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, através do Centro de

Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Qualquer co-municação acerca deste estudo pode ser enviada para o endereço electrónico da primeira autora, junto dequem se pode obter a versão do questionário: [email protected]

** Universidade do Porto.

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(7th to 12th grade) and homogeneously distributed according to gender, participatedin this study. An exploratory factorial analysis revealed two factors, explaining 42.5%of the total variance and showing a structure which complies with the original Americanone. Nevertheless a confirmatory factor analysis indicated poor fit to the data. Bothacceptance/involvement and strictness/supervision scales showed high internalconsistence.Four parenting categories were defined by trichtomizing the sample on each dimensionand examining the two variables simultaneously. From the 641 participants, 284 wereso classified as living in authoritative families (upper tertiles on both dimensions),or in neglectful families (lower tertiles on both dimensions), or in authoritarian families(higher tertile on strictness and lower tertile on acceptance), or in indulgent families(higher tertile on acceptance and lower tertile on strictness). The remaining familiesdidn’t fall into any of these four groups and were therefore excluded from furtheranalysis. The final distribution of the families according to the parenting style is quitesimilar to the original American distribution.Key-words: Parenting styles; Psychological evaluation; Adolescence.

Introdução

Uma das abordagens mais utilizadas noestudo da influência das interacções pais-filhos no desenvolvimento e socializaçãodestes últimos, é a abordagem tipológica,segundo a qual os pais diferem em deter-minadas dimensões comportamentaisinteractivas que, quando combinadas entresi, permitem definir o estilo educativoparental (Parke & Buriel, 1998). Os es-tilos educativos e as dimensões do com-portamento parental têm aparecido deforma consistente, como importantesdeterminantes do desenvolvimento e adap-tação tanto da criança como do adolescen-te (e.g. Cruz, 2005; Hart, Newell & Olsen,2003; Parke & Buriel, 1998).No domínio do estudo das dimensões docomportamento parental, salienta-se deforma notável, não só pelo seu carácterpioneiro mas sobretudo pela riqueza dosconstructos propostos, a tipologiaidentificada nos anos 60 a 80 por DianaBaumrind. Com base num estudo longi-tudinal em que acompanhou crianças efamílias desde a idade pré-escolar até àadolescência, esta investigadora identificou

os quatro principais, e hoje bem conhe-cidos, estilos educativos – autorizado,autoritário, permissivo e negligente – osquais podem eventualmente surgir nome-ados na literatura de formas algo diferen-tes (Baumrind, 1971, 1973, 1989, 1991).Estes estilos baseiam-se em dimensõesdiversas, sendo que as mais consistente-mente referenciadas são a exigência e aresponsividade (Maccoby & Martin, 1983).A dimensão exigência refere-se ao contro-lo exercido pelos pais no sentido de colocare fazer cumprir os limites ditados pelasregras sociais e pelas normas morais. Adimensão responsividade insere-se dentrodo amplo domínio afectivo-emocional,referindo-se à sensibilidade dos pais faceaos interesses e às necessidades dos filhos.As duas dimensões são entendidas comoortogonais no sentido em que são inde-pendentes, não se correlacionando. É apartir do cruzamento dos extremos maiselevados e mais baixos de cada dimensãoque são definidos os estilos educativos.Os trabalhos desenvolvidos por Baumrindapresentam um enorme valor heurístico, jáque estimularam fortemente a investiga-ção nesta área. A tipologia e as dimensões

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propostas por esta autora foram estudadasespecificamente com o objectivo de de-monstrar a sua validade, quando aplicadasa populações de diferentes nacionalidades(Chao, 2001) e etnias (Steinberg, Lamborn,Dornbusch & Darling, 1992). Da mesmamaneira, e recorrendo a diferentes proce-dimentos metodológicos, a validade datipologia foi também estudada em sujeitosde vários níveis etários, desde os três anosaté à idade adulta (Chao, 1994, 2001;Lamborn, Mounts, Steinberg & Dornbusch,1991; Lau, Lew, Hau, Cheung & Berndt,1990; Pratt, Kerig, Cowan & Cowan, 1988,Weiss & Schwarz, 1996).De uma forma geral, a identificação dasdimensões e dos estilos educativos é feitarecorrendo a entrevistas e questionáriosdirigidos aos pais. Quando se trata de filhosadolescentes ou mesmo já adultos, osinvestigadores utilizam preferencialmenteos filhos como fonte de informação. Nestecaso será porém mais correcto analisar asrespostas obtidas como resultantes dapercepção que os filhos construíram acer-ca das práticas educativas dos pais.Ao longo deste trabalho procede-se àapresentação do Questionário de EstilosEducativos Parentais (QEEP, em anexo),traduzido e adaptado a partir das ParentingScales originalmente publicadas porLamborn, et al. (1991). Este questionáriopretende avaliar as percepções que osadolescentes têm dos estilos educativos dosseus pais, inclui duas subescalas –Responsividade e Exigência – e permiteidentificar os quatro estilos educativosdefinidos por Baumrind.Apesar de não ter sido essa a versão usadaneste estudo, as Parenting Scales foramjá utilizadas em língua portuguesa porinvestigadores brasileiros. Estes autorescomprovaram as boas qualidadespsicométricas destas escalas quando aplica-

das a adolescentes (Costa, Teixeira &Gomes, 2000) e a pré-adolescentes com9 a 12 anos (Weber, Prado, Viezzer &Brandenburg, 2004). Contudo, sendo arealidade cultural brasileira tão diversa danossa, impunha-se dispor de um instrumen-to adaptado ao contexto português, abrin-do aliás a possibilidade de, mais tarde,realizar estudos comparativos.

Método

ParticipantesNeste estudo participaram 641 adolescen-tes escolarizados, provenientes do Nortee Centro de Portugal, mais especificamen-te dos distritos do Porto (56.2%), Aveiro(17.5%), Coimbra (13.4%) e Braga(12.9%). Estes adolescentes, distribuídosde forma razoavelmente homogénea porgénero (54.6% do sexo feminino e 45.4%do sexo masculino), frequentam o 3ºciclodo ensino básico (65.9%) e o ensinosecundário (34.1%) e têm idades compre-endidas entre os 12 e os 21 anos (Média= 14.89, Desvio-Padrão = 1.45).Tendo em consideração que o questionáriose reporta à percepção que os filhos detêmdo estilo educativo parental, foi recolhidainformação de caracterização do agregadofamiliar. Cerca de metade dos adolescen-tes da amostra vive com os pais e irmãos(53.6%) ou só com os pais (25%), per-tencendo os restantes participantes (21,4%)a famílias com outra composição(monoparentais, com avós e com outrosfamiliares). A maioria tem um ou doisirmãos (55.5% e 19.5%, respectivamente)e apenas 19.6% são filhos únicos.As mães são em média mais novas do queos pais, com idades compreendidas entre30 e 63 anos (Média = 42.48, Desvio-Padrão = 5.36). Nos pais, as idades variam

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entre 30 e 70 anos (Média = 45.13,Desvio-Padrão = 6.09). Na distribuiçãodos pais pelos níveis de ensino habitu-almente considerados, observa-se que65.3% das mães e 70.3% dos pais pos-suem o ensino básico, 20.1% das mãese 16.3% dos pais possuem o ensinosecundário e 14.7% das mães e 13.3%dos pais possuem formação superior.

InstrumentoAs Parenting Scales (Lamborn et al.,1991) são constituídas por 19 itens, quese agrupam em duas subescalas:Responsividade/Afecto/Envolvimento(10 itens) e Supervisão/Exigência (9itens). A tradução desta escala para alíngua portuguesa implicou algumasadaptações, como por exemplo, as op-ções de resposta dos itens relativos aoshorários para regressar a casa após saídasnocturnas, foram ajustadas aos hábitosportugueses. Verificou-se também aexistência de dois itens idênticos, rela-tivos ao conhecimento que os pais têmdo paradeiro dos filhos quando estes nãoestão na escola, nos quais apenas diferiaa escala de resposta apresentada(dicotómica versus de três pontos). Por essemotivo um destes itens foi eliminado.No instrumento original, os itens apre-sentam várias escalas de resposta (esca-las dicotómicas, de três, quatro e setepontos). Dados os inconvenientes queadvêm desta situação, previamente àanálise dos dados era requerida a con-versão das diferentes cotações, de modoa que cada item tivesse a mesma pon-tuação, permitindo assim uma contribui-ção equivalente de todos os itens, nocálculo das dimensões responsividade/afecto/envolvimento parental e supervi-são/exigência.Esta primeira versão traduzida e adap-tada foi submetida a um estudo-piloto

com o objectivo de apreciar a formula-ção dos itens e analisar a sua estruturafactorial. Foi utilizada uma amostra de424 participantes com idades compreen-didas entre os 12 e os 21 anos, (Média= 15,06 e Desvio-Padrão = 1,83), dis-tribuídos por género de forma razoavel-mente homogénea (57,1% raparigas e42,9% rapazes).A exploração da estrutura factorial doinstrumento permitiu confirmar a estru-tura em dois factores proposta pelosautores e que retomaremos mais à fren-te. Revelou ainda que o item relativo aohorário de regresso a casa após uma saídanocturna ao fim-de-semana, apresentavaum nível de saturação, na dimensãosupervisão/exigência, inferior a 0.40, oque poderia justificar a sua exclusão.Todavia, considerou-se pertinente a suamanutenção uma vez que foi introduzidauma mudança na escala de resposta, istoé, este item passou a ser avaliado denuma escala de quatro pontos (quandoanteriormente a escala era de sete pon-tos).A análise do item 8 da versão original,(Até que ponto os teus pais sabem quemsão os teus amigos) mostrou que seriarelevante, tal como os autores haviamrealizado para outros itens da mesmaversão (14, 15, 16, 17, 18 e 19),diferenciá-lo da seguinte forma: o queos pais tentam saber e o que os paisrealmente sabem, tendo dado origem adois itens.No âmbito da dimensão exigência/super-visão, considerou-se pertinente conhecera percepção que os filhos têm do con-trole que os pais exercem sobre a suagestão do dinheiro. De facto, se por umlado os pais são o principal recursofinanceiro do adolescente, através damesada ou semanada, estimulando adependência dos filhos, por outro, a

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gestão do mesmo é promotora da auto-nomia do adolescente. Deste modo,optou-se pela introdução de dois itensnovos relativos a este tópico e queincidiam, respectivamente, no que os paistentam saber e no que os pais realmentesabem acerca da forma como os filhosgastam o dinheiro.Em suma, o instrumento foi traduzido ereformulado, optando-se pela eliminaçãode um item repetido (item 13), pelareestruturação de um outro (item 8), pelainclusão de dois novos itens, e pela uni-formização das escalas de resposta emquatro pontos que assegurasse a igual-dade da contribuição de cada item parao cálculo da nota final. Este instrumen-to, constituído por 21 itens, foi desig-nado Questionário de Estilos EducativosParentais (QEEP).Nos cinco primeiros itens o adolescenteavalia o pai e a mãe separadamente,enquanto os restantes se referem aos doisprogenitores em simultâneo. Na ausên-cia de pai e/ou mãe, os adolescentes res-pondem em função das figuras que de-sempenham o papel de pais ou respon-sáveis pela sua educação (padrastos,madrastas, avós, tios, etc.). As respostasdadas a cada item são cotadas numaescala tipo Likert entre 1 e 4. Para oscinco primeiros itens é calculada a médiaaritmética entre as respostas dadas re-lativamente ao pai e à mãe (no caso dasfamílias monoparentais, a média aritmé-tica é substituída pela cotação atribuídaao progenitor presente). A nota atribuídaa cada dimensão (responsividade e exi-gência) é obtida pela soma das cotaçõesdos itens que a constituem.

ProcedimentoO QEEP foi aplicado colectivamente emgrupo/turma a 531 adolescentes por co-laboradores desta investigação, no decur-

so de uma aula. Foi ainda criada umaversão do QEPP on-line que permitiu,após a sua publicação na Internet, opreenchimento por mais 110 adolescen-tes (17.2%), perfazendo um total de 641participantes. De uma maneira geral osjovens reagiram de forma colaborativaà administração do questionário que nãoultrapassou os 15 minutos. Os dadosassim obtidos foram analisados recorren-do ao programa SPSS, versão 14.0 paraWindows.

Resultados

Apresentam-se de seguida as análisesconducentes à apreciação das qualidadespsicométricas do instrumento, nomeada-mente a sensibilidade dos itens, a suaestrutura factorial e a fidelidade, atravésdo índice de consistência interna alfa deCronbach. Na continuação, serão apre-sentadas as medidas descritivas relativasàs duas dimensões identificadas –Responsividade e Supervisão – e o pro-cesso de classificação dos adolescentesnos estilos educativos. Finalmente, pro-ceder-se-á à apreciação da distribuiçãodos quatro estilos educativos identifica-dos.A exploração da sensibilidade dos itenspermite apreciar a normalidade da dis-tribuição dos resultados, evocando a ca-pacidade destes diferenciarem os sujei-tos entre si (Almeida & Freire, 2000).Por conseguinte, os resultados do QEEPforam analisados em relação aos limitesde variação, à média e desvio-padrão,assim como aos coeficientes de curtosee de assimetria. O Quadro 1 apresentaa variação, a média, o desvio-padrão, acurtose e a assimetria dos itens queconstituem o QEEP.

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Da leitura deste quadro pode verificar-seque, à excepção do item 2 – Pais incitama dar o melhor –, todos os outros apre-sentam uma variação entre o mínimo e omáximo possíveis (1-4), indicando que ositens do QEEP diferenciam adequadamen-te os sujeitos. Relativamente aos valoresda média e do desvio-padrão, verifica-seque o item 2 é igualmente aquele em quea média é mais elevada, sendo também oque apresenta menor desvio-padrão, en-

quanto o item 11 – hora de chegada acasa à noite ao fim-de-semana – é o queapresenta média mais baixa e maior des-vio-padrão. No que diz respeito aos va-lores de curtose e assimetria, pode apre-ciar-se da leitura do Quadro 1 que todosos itens apresentam valores que se inclu-em no intervalo -1 a +1, sendo indicadoresde uma distribuição normal simétrica. Aúnica excepção, não significativa, é o item11 – hora de chegada a casa à noite ao

)146=n(PEEQodsnetisonsodatluseR–1ordauQ

snetI oãçairaV aidéM P-D esotruC airtemissA

madujasiaPeuqratnocedoP.1 4-1 54.3 35.0 53.0 27.0-

rohlemoradamaticnisiaP.2 4-2 35.3 15.0 24.0- 07.0-

açebacrasuamaticnisiaP.3 4-1 53.3 55.0 71.0 05.0-

CPTsonmadujasiaP.4 4-1 48.2 97.0 21.0- 75.0-

seõzarmacilpxesiaP.5 4-1 11.3 26.0 07.0 43.0-

ámrarohlemamajarocnesiaP.6aton

4-1 63.3 48.0 51.0- 00.1-

atonaobmaigolesiaP.7 4-1 20.3 19.0 80.1- 53.0-

rasrevnocaopmetmassapsiaP.8ohlifmoc

4-1 02.3 49.0 50.0- 79.0-

otnujnocmees-etrevidailímaF.9 4-1 66.2 49.0 57.0- 53.0-

etionàasacaadagehcedaroH.01saluaedaidme

4-1 50.3 79.0 76.0- 56.0-

etionàasacaadagehcedaroH.11anames-ed-mifoa

4-1 41.2 60.1 61.1- 83.0

sogimarecehnocmatnetsiaP.21 4-1 99.2 87.0 52.0- 14.0-

àiavednorebasmatnetsiaP.31etion

4-1 62.3 18.0 54.0- 79.0-

sopmetrecehnocmatnetsiaP.41servil

4-1 57.2 67.0 83.0- 41.0-

edátseednorebasmatnetsiaP.51edrat

4-1 48.2 78.0 75.0- 53.0-

atsagomocrebasmatnetsiaP.61oriehnid

4-1 38.2 19.0 18.0- 82.0-

mecehnocetnemlaersiaP.71sogima

4–1 89.2 57.0 26.0- 12.0-

etionàiavednomebas/laersiaP.81 4–1 80.3 68.0 95.0- 55.0-

sopmetmecehnoc/laersiaP.91servil

4–1 77.2 48.0 46.0- 51.0-

edátseednomebas/laersiaP.02edrat

4–1 68.2 98.0 27.0- 03.0-

atsagomocmebas/laersiaP.12oriehnid

4-1 27.2 78.0 76.0- 91.0-

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fim-de-semana – cujo valor de curtoseultrapassa o limite -1, sendo indicador deuma distribuição com tendência aplaticúrtica. Em suma, do ponto de vistada dispersão e da forma da distribuição,os itens que constituem o QEEP revela-ram-se muito satisfatórios.Após verificação da adequação da amostraatravés do método de Kaiser-Meyer-Olkin(para o qual se obteve um valor de 0.82)e da adequação da matriz (recorrendo aoBartlett’s Test of Sphericity, X2 (210) =4857.39, p= .000), prosseguiu-se com aanálise da estrutura factorial. A estrutura

factorial do QEEP foi explorada atravésda realização de uma análise de compo-nentes principais, forçando uma solução dedois factores, com rotação oblíqua (méto-do oblimin). A distribuição dos itens pelosfactores mostrou-se coincidente com aobtida pelos autores da escala original.Estes dois factores explicam na sua tota-lidade 39.1% da variância. O quadro 2apresenta os dois factores, os respectivosvalores próprios (eigenvalues) e percenta-gem de variância explicada, as saturaçõesfactoriais dos 21 itens, bem como a suacomunalidade.

PEEQodlairotcafaruturtsE-2ordauQ

snetI h2 1F 2F

edratedátseednomebasetnemlaersiaP.02 75.0 57.0

edratedátseednorebasmatnetsiaP.51 15.0 17.0

servilsopmetmecehnocetnemlaersiaP.91 25.0 17.0

servilsopmetrecehnocmatnetsiaP.41 94.0 07.0

oriehnidatsagomocmebasetnemlaersiaP.12 64.0 86.0

sogimarecehnocmatnetsiaP.21 14.0 36.0

sogimamecehnocetnemlaersiaP.71 24.0 16.0

oriehnidatsagomocrebasmatnetsiaP.61 63.0 85.0

etionàiavednomebasetnemlaersiaP.81 33.0 25.0

etionàiavednorebasmatnetsiaP.31 42.0 64.0

aluaedaidmeetionàasacaadagehcedaroH.01 41.0 73.0

anames-ed-mifoaetionàasacaadagehcedaroH.11 90.0 92.0

madujasiaPeuqratnocedoP.1 16.0 87.0-

rohlemoradamaticnisiaP.2 06.0 87.0-

seõzarmacilpxesiaP.5 25.0 27.0-

açebacrasuamaticnisiaP.3 94.0 07.0-

CPTsonmadujasiaP.4 04.0 36.0-

atonámrarohlemamajarocnesiaP.6 03.0 55.0-

atonaobmaigolesiaP.7 62.0 15.0-

ohlifmocrasrevnocaopmetmassapsiaP.8 52.0 94.0-

otnujnocmees-etrevidailímaF.9 22.0 74.0-

soirpórpserolaV 28.5 93.2

aicnâiraV% %7.72 %4.11

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O factor 1 explica 27.7% da variânciacomum e a análise do conteúdo dos itensque o integram remete para acções demonitorização, controlo e supervisãoexercidas pelos pais, correspondendo àdimensão Supervisão. O factor 2 explica11.4% da variância e integra itens cujoconteúdo remete para o apoio emocional,comunicação e promoção da autonomia,sendo portanto designado Responsividade.A análise das saturações conduziu à eli-minação de dois itens (10 e 11), relativosao controlo de horário de saídas noctur-nas, por apresentarem um nível de satu-ração no factor 1 inferior a 0.40. A eli-minação destes itens fez aumentar a per-centagem da variância explicada pelaestrutura encontrada de 39.1% para 42.5%,dos quais 30.4 % são explicados peloprimeiro factor e 12.1% pelo segundo. Emsuma, a escala, na sua versão final, éconstituída por 19 itens, 10 na dimensãoSupervisão e 9 na dimensãoResponsividade.Finalmente foi conduzida uma análisefactorial confirmatória, através do progra-ma EQS V6.1 (Bentler & Wu, 1995), afim de verificar o ajustamento dos dadosa um modelo em dois factores. Os resul-tados apontam para um ajustamento razo-ável, mas fraco: χ2 (162, N= 641)=1497.30p<0,0001; Comparative Fit Index (CFI)=0,70; Root Mean-Square Error ofApproximation (RMSEA)= 0,11. Refira-seque estes indicadores, na medida em quesão sensíveis à dimensão da amostra, sendoconfirmatórios do modelo proposto, pode-rão contudo apresentar valores mais ani-madores, perante um alargamento donúmero de participantes.Tendo em vista a análise da consistênciainterna, o Quadro 3 apresenta os valoresdo coeficiente alfa de Cronbach para cadauma das sub-escalas, quando cada um dositens é retirado. Os coeficientes alfa de

Cronbach das duas sub-escalas apresentamvalores considerados muito razoáveis, com0.78 para a Responsividade e 0.85 paraa Supervisão. As duas sub-escalas apre-sentam uma correlação positiva moderada(r =0.43, p < 0.001). A exploração doscoeficientes alfa para cada uma das sub-escalas revelou que a retirada de qualqueritem não altera de forma significativa oscoeficientes de consistência interna.Os resultados da aplicação do QEEPpermitem extrair medidas relativas a cadauma das dimensões que, por sua vez,contribuem para a identificação dos estiloseducativos parentais. O cálculo de cadadimensão obtém-se através do somatórioda pontuação obtida nos itens que cons-tituem cada subescala. O Quadro 4 apre-senta as medidas descritivas (média edesvio-padrão), quer para a totalidade dosparticipantes, quer para cada grupo defi-nido em função do género.Na amostra total (n=641) constata-se quea média da Responsividade parental perce-bida é de 28.53 com um desvio-padrão de4.10, considerando os limites mínimo emáximo possíveis de 9 e 36, respectiva-mente. Quanto à dimensão Supervisãoapresenta uma média de 29.08 com des-vio-padrão de 5.43, num intervalo possí-vel de 10 a 40. A comparação das médias(teste t de Student para amostras indepen-dentes) permite verificar que existemdiferenças significativas entre os sexos nasdimensões Responsividade, (t (639) = -3.01, p< 0.005) e Supervisão, (t (639) =-5.21, p<0.001) sendo que as raparigaspercepcionam os pais como maisresponsivos e controladores do que osrapazes. A percepção da Responsividadee da Supervisão parental varia em funçãoda idade cronológica, verificando-se cor-relações negativas fracas com esta vari-ável, (r = -0.17, p = 0.000 e r = -0.13,p = 0.001, respectivamente). Há assim

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latotalacseaaraphcabnorCedaflasetneicifeoC-3ordauQmetioodariteréodnauq,alacsebusrope

snetI edadivisnopseR oãsivrepuS

hcabnorCedaflA 87.0 58.0

madujasiaPeuqratnocedoP 57.0

rohlemoradamaticnisiaP 57.0

açebacrasuamaticnisiaP 67.0

CPTsonmadujasiaP 57.0

seõzarmacilpxesiaP 57.0

atonámrarohlemamajarocnesiaP 77.0

atonaobmaigolesiaP 77.0

ohlifmocrasrevnocaopmetmassapsiaP 77.0

otnujnocmees-etrevidailímaF 87.0

sogimarecehnocmatnetsiaP 38.0

etionàiavednorebasmatnetsiaP 48.0

servilsopmetrecehnocmatnetsiaP 38.0

edratedátseednorebasmatnetsiaP 38.0

oriehnidatsagomocrebasmatnetsiaP 58.0

sogimamecehnocetnemlaersiaP 38.0

etionàiavednomebas/laersiaP 48.0

servilsopmetmecehnoc/laersiaP 38.0

edratedátseednomebas/laersiaP 28.0

oriehnidatsagomocmebas/laersiaP 38.0

edadivisnopseReaicnêgixEseõsnemidsansodatluseR–4ordauQ

seõsnemiDsagirapaR sezapaR latoT

M P-D M P-D M P-D

edadivisnopseR 79.82 11.4 99.72 40.4 35.82 01.4

oãsivrepuS 80.03 54.5 88.72 81.5 80.92 34.5

alguma (pouca) tendência para os adoles-centes mais velhos percepcionarem os paiscomo menos responsivos e menoscontroladores.Tendo em vista a definição dos estiloseducativos parentais, a amostra foitripartida em cada uma das duas dimen-sões, de modo a definir-se um terçosuperior, um terço intermédio e um terçoinferior. Assim, adoptando este critério, os

pontos de corte usados foram 26.5 e 30.5na Responsividade, e 26 e 31 na Super-visão.Após definir a baixa Responsividade e abaixa Supervisão (correspondente ao 1/3inferior da amostra) e a alta Responsividadee alta Supervisão (correspondente ao 1/3superior da amostra), analisaram-se as duasdimensões em simultâneo e identificaram-se os quatro estilos educativos: Autoriza-

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dos (alta Responsividade e alta Supervi-são), Autoritários (baixa Responsividade ealta Supervisão), Negligentes (baixaResponsividade e baixa Supervisão) ePermissivos (alta Responsividade e baixaSupervisão). A adopção do critério 1/3como ponto de corte favorece a criaçãode grupos típicos de cada estilo educativoparental, constatando-se que 357 sujeitosnão se enquadram em qualquer um destesestilos, sendo considerados residuais.O Quadro 5 indica a distribuição dos 284participantes em função do padrão de estiloeducativo, tendo-se procedido à exclusãodos sujeitos cujo estilo educativo foi con-siderado residual.

Assim, da amostra inicial de 641 sujeitos,apenas 284 se mostraram enquadráveisnum estilo educativo. Como se podeobservar no quadro 5, o estilo mais fre-quente é o Autorizado (45.4%), seguidodo Negligente (33.1%), tendo-se obtidopercentagens próximas para os estilosAutoritário e Permissivo (10.6% e 10.9%,respectivamente). Através do teste Qui-quadrado observaram-se diferenças estatis-ticamente significativas entre os sexosquanto aos quatro estilos educativos, (X2

(3) = 17.4, p = 0.001), sendo possívelconcluir que as raparigas têm tendência apercepcionar os pais como autorizados,

enquanto os rapazes os consideram comoessencialmente permissivos e negligentes.

Discussão

O estudo de adaptação de um questionáriosobre estilos educativos parentais à rea-lidade cultural portuguesa, conduzido sobreuma amostra de 641 adolescentesescolarizados do norte e centro de Portu-gal, tornou evidente que a introdução dealgumas alterações, resultantes de umestudo prévio, viabilizou a construção deum instrumento com manifestas qualida-des psicométricas.

De facto, verificou-se que, não só os itensque constituem o QEEP apresentam umbom grau de sensibilidade permitindo adiscriminação entre os sujeitos, comopatenteiam uma estrutura factorial nítidaem dois factores, coincidentes com aestrutura da escala original americana eexibindo níveis de consistência interna(avaliados através do coeficiente alfa deCronbach) muito satisfatórios e superioresaos obtidos na versão original. Por con-seguinte, considera-se que o QEEP é uminstrumento que permite avaliar a percep-ção que os filhos, adolescentes ou pré-adolescentes, têm da responsividade e da

,latnerapovitacudeolitseadacmesotiejusedaicnêuqerF-5ordauQoãsivrepuSeedadivisnopseRseõsnemidsanoãrdap-soivsedesaidém

latoT odazirotuA oirátirotuA etnegilgeN ovissimreP

aicnêuqerF 482 921 03 49 13

megatnecreP 001 4.54 6.01 1.33 9.01

latotartsomaad% 3.44 1.02 7.4 7.41 8.4

:edadivisnopseR

aidéM 28.82 00.33 31.42 92,32 67.23

P-D 51.5 54.1 69.1 49,2 73.1

:oãsivrepuS

aidéM 55.92 93.53 70.43 81.22 62.32

P-D 59.6 35.2 00.2 25.3 47.2

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supervisão exercida pelos pais, no contex-to das suas práticas educativas.A utilização deste questionário junto daamostra referida conduziu à identificaçãodo padrão de distribuição dos estiloseducativos parentais na realidade culturaldo norte e centro de Portugal. Verificou-se que cerca de metade dos participantesclassificados num dos quatro estilos(45.4%), percepciona os pais como tendomanifestações de níveis elevados deresponsividade e supervisão, incluindo-senum estilo educativo autorizado, enquantoque na amostra original americana apenas32.3% dos adolescentes têm uma percep-ção semelhante. Quando é considerada atotalidade dos participantes do estudo, ataxa de incidência do estilo autorizadobaixa para 20.1%, permanecendo, noentanto, como o estilo educativo maisrepresentado. Considerando que a in-vestigação aponta que os filhos de paisautorizados apresentam em geral um nívelsuperior de confiança e autonomia, umnível superior de desenvolvimento sócio-cognitivo e um nível superior de identifi-cação com os pais, quando comparadoscom adolescentes educados noutros ambi-entes (cf. Cruz, 2005), podemos atribuiruma conotação positiva a este resultado.Impõe-se no entanto referir que no âmbitodo presente estudo não se procedeu àavaliação destas variáveis de naturezadesenvolvimental junto dos adolescentes.Seria importante que estudos posteriorespudessem verificar esta associação empopulações semelhantes.No que diz respeito à prevalência dosestilos educativos parentais de tipo auto-ritário e permissivo, os resultados encon-trados na população portuguesa classifica-da num dos quatro estilos, convergem paraos relativos à população americana. Defacto, estes dois tipos apresentam ambos,baixa expressão (10.6% e 10.9% em

Portugal e 15.4% e 15.0% nos EstadosUnidos). Quando é considerada a totali-dade dos participantes no estudo portugu-ês, estes dois estilos permanecem os menosrepresentativos (4.7% e 4.8%, respectiva-mente).O estilo educativo negligente é evocadopor cerca de um terço dos participantesdo estudo português classificados num dosquatro estilos (33.1%), resultado aliás maisuma vez convergente com a distribuiçãoamericana dos estilos parentais (37.3%).Embora a taxa de incidência deste estilobaixe para 14.7% quando é consideradaa totalidade dos participantes, tendo emconta que este estilo educativo é frequen-temente associado a situações de risco ede maus-tratos, não deixa de ser, nomínimo, preocupante. Urge reflectir acer-ca de factores possivelmente associados aeste resultado. Por um lado, em grandeparte das famílias portuguesas, quer o paiquer a mãe têm uma actividade laboral forade casa que os obriga a longas ausênciasdiárias, contribuindo para explicar não sóo pouco controlo exercido sobre as rotinasdos filhos, como também a pouca dispo-nibilidade percebida por estes, para res-ponder adequadamente aos seus interessese necessidades emocionais. Por outro lado,é igualmente possível que este grupo deadolescentes apresente um nível superiorde autonomia relativamente aos pais e,como tal, desvalorize as iniciativasparentais de manifestação deresponsividade e supervisão.Na exploração das associações existentesentre a distribuição dos estilos educativosparentais e outras variáveis de caracteri-zação da amostra, destacou-se o sexo doadolescente, verificando-se que as rapari-gas têm maior tendência para percepcionaros pais como autorizados, enquanto osrapazes os percepcionam essencialmentecomo negligentes e permissivos. Podemos

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explicar este resultado pelo menos de duasmaneiras. Por um lado, na sequência dosestereótipos sexuais ainda em vigor, seconsiderarmos que aos rapazes é permitidoassumir mais comportamentos de autono-mia do que às raparigas, aqueles tenderãoa percepcionar-se como pouco supervisio-nados pelos seus pais. Por outro lado, ainvestigação tem vindo a assumir que nãosão apenas os pais que influenciam os filhos,mas também essa forma de influência é,por sua vez, determinada pelas caracterís-ticas dos próprios filhos. Assim, não só osexo, mas também a idade e outras carac-terísticas como o temperamento, marcam adiferença no que toca às formas de os paiseducarem e interagirem com os filhos(Kuczynski, Marshall & Schell, 1997, p. 29).A título de conclusão podemos afirmar queo QEEP se revelou um instrumento quepreenche os requisitos necessários à suautilização na investigação no grande domí-nio da parentalidade de adolescentes.

Agradecimentos

As autoras agradecem aos alunos da dis-ciplina de Psicologia do Desenvolvimentodos Adolescentes dos ramos educacionaisdas licenciaturas em Biologia, Ciências dosComputadores, Física, Geologia e Mate-mática e da Licenciatura em Ensino daBiologia e Geologia, da Faculdade deCiências da Universidade do Porto, do anolectivo 2005/2006, que colaboraram narecolha de dados deste estudo e aos ado-lescentes que participaram no mesmo.

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