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QUINTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2010 PRESIDÊNCIA: Miguel Angel MARTÍNEZ MARTÍNEZ Vice-Presidente 1. Abertura do período de sessões ( A sessão tem início às 9H00 ) Mario Pirillo (S&D). (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, durante a noite de 18 de Outubro, a cidade de Paola, local de nascimento de São Francisco, foi atingida por uma violenta tempestade que afectou toda a região da Calábria e que causou enormes danos em edifícios públicos, residências particulares e nas redes de água, de esgotos, de electricidade e de telefone, para não falar dos desabamentos e deslizamentos de terra. Muitas famílias tiveram que abandonar as suas casas e as escolas foram encerradas. Há vários anos que episódios como este se repetem na região, possivelmente devido aos efeitos das alterações climáticas. Em breve será declarado estado de emergência e esperamos que o Fundo de Solidariedade da União Europeia possa ser accionado. Gostaria de manifestar a minha solidariedade – sentimento que espero seja partilhado por esta Assembleia – para com toda a população, incluindo para com os habitantes das localidades vizinhas que também foram atingidas. Presidente. − Tomamos, naturalmente, boa nota da informação que nos transmitiu. Gostaríamos de expressar a nossa solidariedade para com a população da região e de manifestar a nossa preocupação face ao desastre que atingiu a Calábria; naturalmente, todos os membros desta Assembleia declaram o seu apoio às vítimas da calamidade ocorrida nessa bonita região de Itália e da Europa. 2. Entrega de documentos: ver Acta 3. Reformas implementadas e desenvolvimentos na República da Moldávia (debate) Presidente. − Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre reformas implementadas e desenvolvimentos na República da Moldávia. Štefan Füle, Membro da Comissão. (EN) Senhor Presidente, considerando as relações entre a UE e a República da Moldávia, penso que não há dúvidas de que alcançámos progressos significativos em tempo recorde, mas, a nível interno, o país ainda enfrenta muitos desafios. O referendo de 5 de Setembro visava resolver o impasse político através da alteração da legislação em matéria de eleição presidencial. Não teve êxito. É pena. No entanto, a sua realização segundo as regras democráticas era uma questão igualmente determinante. E isso foi confirmado pelos observadores internacionais. É um sinal encorajador. As eleições de 28 de Novembro são igualmente importantes para a consolidação da democracia naquele país. Continuaremos a transmitir mensagens firmes nesse sentido às partes interessadas. Após as eleições, as diferentes forças políticas terão de trabalhar em conjunto para eleger um presidente e escolher um governo capaz de implementar reformas críticas no país. 1 Debates do Parlamento Europeu PT 21-10-2010

QUINTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2010 - europarl.europa.eu fileesgotos, de electricidade e de telefone, para não falar dos desabamentos e deslizamentos de terra. Muitas famílias tiveram

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QUINTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2010

PRESIDÊNCIA: Miguel Angel MARTÍNEZ MARTÍNEZVice-Presidente

1. Abertura do período de sessões

( A sessão tem início às 9H00 )

Mario Pirillo (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, durantea noite de 18 de Outubro, a cidade de Paola, local de nascimento de São Francisco, foiatingida por uma violenta tempestade que afectou toda a região da Calábria e que causouenormes danos em edifícios públicos, residências particulares e nas redes de água, deesgotos, de electricidade e de telefone, para não falar dos desabamentos e deslizamentosde terra. Muitas famílias tiveram que abandonar as suas casas e as escolas foram encerradas.

Há vários anos que episódios como este se repetem na região, possivelmente devido aosefeitos das alterações climáticas. Em breve será declarado estado de emergência e esperamosque o Fundo de Solidariedade da União Europeia possa ser accionado. Gostaria de manifestara minha solidariedade – sentimento que espero seja partilhado por esta Assembleia – paracom toda a população, incluindo para com os habitantes das localidades vizinhas quetambém foram atingidas.

Presidente. − Tomamos, naturalmente, boa nota da informação que nos transmitiu.Gostaríamos de expressar a nossa solidariedade para com a população da região e demanifestar a nossa preocupação face ao desastre que atingiu a Calábria; naturalmente,todos os membros desta Assembleia declaram o seu apoio às vítimas da calamidade ocorridanessa bonita região de Itália e da Europa.

2. Entrega de documentos: ver Acta

3. Reformas implementadas e desenvolvimentos na República da Moldávia (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre reformasimplementadas e desenvolvimentos na República da Moldávia.

Štefan Füle, Membro da Comissão. − (EN) Senhor Presidente, considerando as relaçõesentre a UE e a República da Moldávia, penso que não há dúvidas de que alcançámosprogressos significativos em tempo recorde, mas, a nível interno, o país ainda enfrentamuitos desafios.

O referendo de 5 de Setembro visava resolver o impasse político através da alteração dalegislação em matéria de eleição presidencial. Não teve êxito. É pena. No entanto, a suarealização segundo as regras democráticas era uma questão igualmente determinante. Eisso foi confirmado pelos observadores internacionais. É um sinal encorajador.

As eleições de 28 de Novembro são igualmente importantes para a consolidação dademocracia naquele país. Continuaremos a transmitir mensagens firmes nesse sentido àspartes interessadas. Após as eleições, as diferentes forças políticas terão de trabalhar emconjunto para eleger um presidente e escolher um governo capaz de implementar reformascríticas no país.

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Ao mesmo tempo, continuaremos a apoiar firmemente as reformas estruturais levadas acabo pelo Governo moldavo. Gostaria de salientar alguns aspectos importantes.

A União Europeia é não só o maior doador de ajuda à Moldávia, como também conseguiu,em Março, mobilizar mais de quarenta doadores para apoiar as reformas nesse país. Essesdoadores comprometeram-se ao financiamento da impressionante soma de 1 900 milhõesde euros entre 2010 e 2013, para além da assistência financeira assumida pela UniãoEuropeia no montante de 550 mil milhões de euros.

Nos últimos meses, temos atendido oportunamente a um conjunto de necessidadesespecíficas do Governo moldavo: prestando um aconselhamento de alto nível em matériade políticas a ministros; apoiando os esforços de democratização em matérias relacionadascom o Estado de direito; ajudando na organização das consultas eleitorais; fazendo face anecessidades urgentes na sequência das inundações do último Verão; e melhorando aspossibilidades de exportação dos vinhos moldavos.

Para além da cooperação ao nível governamental, temos procurado activamente desenvolverrelações com a população da região da Transnístria mediante a realização projectos depequena escala, sobretudo na área social. No próximo ano, daremos início à implementaçãodo programa global de reforço institucional no âmbito da Parceria Oriental.

Esse programa irá ajudar a Moldávia a preparar-se para a assinatura e a implementação doAcordo de Associação actualmente em negociação. A última ronda de discussões, que tevelugar nos dias 13 e 14 de Outubro em Quisinau, confirmou uma vez mais o bom ritmodas negociações.

A assistência da UE tem também assumido a forma de transferências directas para oorçamento moldavo. Desde o último trimestre de 2009, foram transferidos 37 milhõesde euros a título de apoio orçamental sectorial, estando previsto um financiamento demais 15 milhões de euros para breve. Dessa verba, cerca de 8,5 milhões de euros destinam-seespecificamente a auxiliar as camadas mais pobres da população. Agora que o PresidenteBuzek assinou a decisão legislativa relevante, esperamos desembolsar em breve os 40milhões de euros da primeira parcela de assistência macrofinanceira.

No mesmo espírito, prosseguiremos o nosso intenso calendário de contactos políticos ede intercâmbios técnicos. Dentro de alguns dias, encontrar-me-ei com o primeiro-ministroFilat no Luxemburgo. Em Novembro, a subcomissão do comércio UE-Moldávia irá analisara resposta da Moldávia às recomendações-chave da Comissão com vista à preparação dasnegociações sobre um acordo de zona de comércio livre aprofundado e abrangente.

Além disso, iniciámos um diálogo sobre direitos humanos e outro sobre questões energéticascom a Moldávia e estamos a negociar um acordo no domínio dos serviços de aviação.Temos dado seguimento ao diálogo em matéria de vistos iniciado em Junho. Está previstoque, na próxima segunda-feira, com base nos resultados das missões de informaçãorealizadas por peritos independentes em Setembro, o Conselho dos Ministros dos NegóciosEstrangeiros apresente conclusões que deverão focar essa questão.

Monica Luisa Macovei, em nome do Grupo PPE. – (RO) O objectivo deste debate édiscutirmos as reformas levadas a cabo pela República da Moldávia durante o ano passadoe os progressos realizados no caminho da integração europeia.

Este país está há um ano na agenda da União Europeia porque tem respeitado os seuscompromissos. Gostaria de mencionar alguns. Foi elaborado um plano que estabelece a

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execução de medidas prioritárias em áreas de reforma essenciais, bem como um plano dereformas para o domínio da justiça. A implementação de ambos os programas já começou.Foi iniciado o diálogo sobre direitos humanos. Além disso, em Setembro, o Parlamentoda República da Moldávia ratificou o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.As negociações sobre o acordo de associação estão a decorrer a ritmo acelerado e comexcelentes resultados. Só passou um ano, mas todos os envolvidos no arranque do processogarantem que ele irá continuar.

A República da Moldávia é o Estado que mais progressos tem feito no âmbito da ParceriaOriental da UE. Por essa razão peço ao Conselho que avalie este Estado individualmente,pelos seus méritos próprios. O progresso alcançado representa vontade política, trabalhoárduo e dedicação, que é importante recompensar. Recompensámos os Estados dos BalcãsOcidentais pelas medidas que têm tomado. Apelo a que dêmos mais um passo em frentee a que façamos o mesmo no caso da Republica da Moldávia.

No diálogo em matéria de vistos, a Moldávia tem feito progressos notáveis ao nível dasquatro áreas. Por conseguinte, peço ao Conselho que na próxima sessão, em 25 de Outubro,convide a Comissão a elaborar um plano de acção para que futuramente os cidadãos daRepública da Moldávia possam viajar sem necessidade de visto. O contacto directo entreas pessoas vale mais do que qualquer declaração.

Quanto à questão da Transnístria, a resolução do conflito é vital para a estabilidade políticae económica da República da Moldávia e da região. A UE deve assumir um papel mais fortea nível político e promover o seu envolvimento na região através de projectos conjuntosque produzam mudanças visíveis na vida das pessoas.

Por último, o processo de integração europeia tem contribuído para a consolidação dademocracia e da liberdade a um ritmo sem precedentes na história europeia. A evoluçãoda situação na Europa Central e Oriental nos últimos 20 anos é prova disso. A paz reinaagora também nos Balcãs Ocidentais onde estão em curso reformas. Façamos tudo o quefor necessário para que no futuro se verifique a mesma situação na República da Moldávia.

Adrian Severin, em nome do Grupo S&D. – (EN) Senhor Presidente, a República daMoldávia só tem uma opção – escolher entre a “transnistriazação” e a europeização. Poroutras palavras, entre um passado oligárquico de estilo soviético e um futuro de segurança,de prosperidade e de justiça social.

O desenvolvimento da Moldávia tem sido afectado pela instabilidade política interna dopaís. O problema fundamental da República da Moldávia não são os desafios que enfrentado ponto de vista externo mas a divisão entre as forças políticas no plano interno. Essainstabilidade política interna ainda não deu tempo à coligação no poder para implementaras suas opções pró-europeias. A Moldávia encontra-se num ponto de viragem. Esperemosque os resultados destas eleições antecipadas confirmem a orientação do país para umfuturo de modernização europeia.

Por conseguinte, apelamos a todas as forças políticas da Moldávia que propõem um futurode modernização europeia para o país que evitem um protagonismo ou confrontosdesnecessários e que se concentrem no desenvolvimento de uma visão política ampla paraconduzirem o país à consecução dos seus objectivos europeus.

Graham Watson, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhor Presidente, há 18 meses abrutalidade dos incidentes em Chisinau chocou esta Assembleia. Algumas semanas maistarde, tivemos a enorme satisfação de receber aqui na nossa galeria os líderes dos partidos

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políticos democráticos da Moldávia, que tomava um novo rumo político. Partilhámosentão o entusiasmo da população face às perspectivas de um novo futuro.

Desde então, temos constatado com satisfação a evolução do país. Ainda há muitosprogressos a fazer – nomeadamente levar a julgamento os autores desses violentosincidentes – mas, se os moldavos reelegerem a actual coligação nas eleições do próximomês, existem boas possibilidades de que o país, apesar das dificuldades da recessãoeconómica, possa completar a sua transformação.

O escritor inglês Francis Bacon observou que a esperança proporciona um óptimopequeno-almoço mas um jantar bastante fraco. Os partidos no poder na Moldávia nãodeverão ter dúvidas quanto à necessidade da implementação das reformas logo após aexecução dos actos jurídicos necessários. O tempo não joga a nosso favor. Há muito a fazere rapidamente.

O meu grupo felicita o senhor Comissário Füle e os seus serviços pelo seu trabalho deassistência à Moldávia. Congratulamo-nos com a iniciativa “Amigos da Moldávia” e coma extraordinária reunião de países europeus realizada com o intuito de apoiar odesenvolvimento da Moldávia. A União Europeia está a fazer todos os esforços para ajudareste país desesperadamente pobre a evoluir para os níveis europeus. Espero que a reuniãodo Conselho da próxima semana na qual será analisada a questão da liberalização do regimede vistos contribua para um avanço definitivo nessa matéria.

Como afirmou um dos pais fundadores da União Europeia, a vocação europeia de um paísnão é determinada pela União Europeia mas pelo espírito europeu do seu povo. Exortamoso povo da Moldávia a dar prova desse espírito europeu nas eleições do próximo mês.

Tatjana Ždanoka, em nome do Grupo Verts/ALE. – (EN) Senhor Presidente,congratulamo-nos com os progressos alcançados pela República da Moldávia e esperamosque o próximo processo eleitoral contribua para consolidar as instituições democráticase para garantir o respeito do Estado de direito e dos direitos humanos na Moldávia.

Sabemos que existe no seio da sociedade moldava um largo apoio à adesão à UE, emdetrimento de uma possível adesão à NATO. Apesar das suas diferenças em termos deprogramas eleitorais, todos os partidos representados no Parlamento moldavo declaramser a favor da cooperação com a UE e também da integração europeia. No entanto,apoiando-me na experiência que tenho da adesão do meu país, da Letónia, à UE, tenhotentado explicar nos encontros que tenho tido com políticos moldavos que a adesão àUnião não pode ser um fim em si mesma. É muito importante que intensifiquem esforçospara a concretização de reformas sólidas e profundas nos domínios da economia e dajustiça, sobretudo através do combate à corrupção.

A sociedade moldava é multiétnica e multilingue; além disso, existem diferenças deapreciação dos factos históricos fundamentais. Por essa razão, é bastante perigoso criarmais divisões no seio dessa sociedade. Na minha opinião, o decreto recentemente publicadoque estabelece o dia 28 de Junho como o Dia da Ocupação Soviética, e que desencadeouuma reacção negativa por parte de um grande número de residentes moldavos, nãocontribuiu para unir a sociedade, mas teve exactamente o efeito oposto.

Além disso, existem diferenças ao nível da sociedade conforme a nacionalidade dosresidentes. O facto de parte da população, a grande maioria dos residentes, ter duplacidadania, o que significa também mais direitos, agrava as desigualdades e, portanto, temos

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de envidar todos os esforços para eliminar essas diferenças e conceder isenção de visto atodos os moldavos.

Charles Tannock, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhor Presidente, ninguém contestao facto de a Moldávia ter um longo caminho a percorrer antes de atingir o seu objectivoúltimo de adesão à União Europeia, objectivo esse que tem o apoio do meu grupo, doGrupo ECR. Continua a ser um dos países mais pobres da Europa, apesar de estarrepresentado na OMC, e, como tal, vulnerável à criminalidade organizada, ao tráfico deseres humanos e à corrupção. A Moldávia continua refém do “conflito congelado” com aregião separatista da Transnístria, de língua russa e politicamente dominada pelos russos.

No entanto, desde que os comunistas saíram do poder há quinze meses, a Moldávia começoua fazer progressos significativos. Os partidos da Aliança para a Integração Europeia, acoligação actualmente em exercício, têm demonstrado uma capacidade de colaboraçãoimpressionante com vista à aceleração da integração da Moldávia na União Europeia. Porseu lado, a União Europeia deve continuar a pressionar o Governo moldavo para que esteavance nas reformas económicas e, em particular, em matéria de Estado de direito e de boagovernação.

Ao mesmo tempo, devemos recompensar Chisinau e desenvolver relações mais estreitascom o Governo moldavo. Para além da questão dos vistos já mencionada, gostaria dechamar a vossa atenção para a questão da Euronest, que proporciona aos políticos da UEe da Moldávia oportunidades de discussão de interesses comuns. Infelizmente, a Euronest– e no relatório que elaborei na anterior legislatura abordei este problema – continuaparalisada devido à controvérsia em torno da representação da Bielorrússia, dado o PE nãoreconhecer o respectivo Parlamento, que não foi democraticamente eleito.

Espero que um dia todos os países claramente europeus da Parceria Oriental, nomeadamentea Moldávia, a Ucrânia e uma futura Bielorrússia democrática se tornem candidatos à adesão.

Bastiaan Belder, em nome do Grupo EFD. – (NL) Senhor Presidente, este debate demonstrao compromisso da Europa para com a dividida República da Moldávia, o que me deixaextremamente satisfeito. No meu país, os Países Baixos, desde há vários anos que nasociedade civil se vêm a desenvolver iniciativas sociais inspiradoras que proporcionamgenuínas perspectivas de futuro aos jovens da Moldávia. Neste contexto, gostaria de referircom orgulho a Fundação Orhei em Bunschoten-Spakenburg, uma aldeia que aborda essasquestões com grande vigor. Posso olhar as pessoas dessa Fundação nos olhos porquetambém estamos a debater o problema aqui, demonstrando o nosso empenhamento. Alémdisso, a Moldávia pretende concluir um acordo de comércio aprofundado, abrangente,com a UE. O senhor Comissário Füle também mencionou esse aspecto. Senhor Comissário,qual é o ponto de situação relativamente a esse acordo? Já houve progressos genuínos?

É vital que alarguemos as oportunidades de venda dos produtos moldavos, em particulardos produtos agrícolas e vinícolas de Quisinau, dado que o mercado de exportaçãotradicional da Moldávia, a Rússia, por norma fecha as fronteiras e impõe restrições àpassagem desses produtos por razões políticas. Senhor Comissário, já abordou este assunto,mas existe alguma forma de a União Europeia compensar esta necessidade da Moldávia?

Por último, gostaria de fazer uma pergunta relativamente à “iniciativa de Meseberg” dachanceler alemã Angela Merkel. Senhor Comissário, considera que neste momento a Rússiaestá verdadeiramente empenhada em encontrar uma solução para o problema daTransnístria em troca do reforço do diálogo político entre a UE e a Rússia? Tenho ouvido

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rumores de que o Kremlin não está, por enquanto, a tomar quaisquer medidas. SenhorComissário, gostaria, acima de tudo, de lhe desejar muito sucesso e perseverança nosesforços de aproximação da Moldávia à Europa.

Traian Ungureanu (PPE). - (EN) Senhor Presidente, ninguém tem dúvida de que ocompromisso da Moldávia para com os valores e os padrões europeus é genuíno e efectivo.

De entre os nossos vizinhos orientais, a Moldávia é, de facto, o melhor exemplo em matériade implementação de políticas pró-europeias Com efeito, as credenciais europeias daMoldávia colocam-na ao mesmo nível dos Estados dos Balcãs Ocidentais.

O precedente positivo estabelecido pela Moldávia deve ser reconhecido e encorajado. Coma deterioração das instituições democráticas na vizinha Ucrânia, a Moldávia assume umaimportância ainda maior para as políticas da UE no flanco oriental. Neste contexto, é crucialque as eleições gerais de 28 de Novembro confirmem o rumo do país na direcção daintegração europeia.

Com efeito, chegou o momento de a UE enviar um sinal positivo à Moldávia e ao seu povo.Há milhares de famílias moldavas divididas pela barreira do visto. O diálogo sobre aliberalização do regime de vistos entre a UE e a Moldávia proporciona-nos uma excelenteoportunidade. Esse diálogo deveria entrar numa fase operacional. Esperemos que, em 25de Outubro, o Conselho dos Ministros dos Negócios Estrangeiros convide a Comissão aelaborar um plano de acção para a liberalização do regime de vistos. Uma Moldáviapró-europeia, integrada, seria uma boa influência na fronteira oriental da UE, onde a mágovernação e conflitos não resolvidos constituem uma ameaça constante à estabilidadeeuropeia.

Iliana Malinova Iotova (S&D). – (BG) Os desafios que se colocam actualmente à Moldávia,e que fazem parte, também, do nosso objectivo global, incluem o reforço do Estadomultiétnico, da sua identidade, a resolução política do problema da Transnístria e a adesãoda Moldávia à União Europeia como Estado autónomo e independente.

O processo de liberalização do regime de vistos é particularmente importante. Como setem verificado nos casos, semelhantes, dos países da antiga Jugoslávia, essa medida produzbons resultados. A tendência de utilização de um procedimento acelerado para a emissãoem simultâneo de passaportes búlgaros e romenos aos cidadãos moldavos não é soluçãopara o problema e implica certos riscos. Por outro lado, as autoridades de Quisinau devemassegurar que os benefícios da ajuda macrofinanceira no montante de 90 milhões de eurosque a União Europeia está a prestar sejam sentidos por todos os cidadãos moldavos,independentemente da sua origem étnica. Isso é particularmente importante para a minoriabúlgara da Moldávia, que vive numa das regiões mais pobres do país a nível económico.

Cristian Silviu Buşoi (ALDE) . – (RO) Enquanto membro da delegação à Comissão deCooperação Parlamentar UE-Moldávia, tenho acompanhado com satisfação a evoluçãopositiva da Moldávia e posso confirmar que o compromisso da República da Moldáviapara com a via europeia tem sido demonstrado de forma inequívoca ao longo do ano quetermina. Gostaria, neste ponto, de salientar as reformas realizadas nos domínios daeconomia, do sistema judicial e da administração pública. Ao mesmo tempo, temos de serrealistas e de reconhecer que o processo de transição em curso na Moldávia não é fácil eque há ainda muitas reformas a fazer.

Congratulo-me com o facto de se estarem a fazer progressos no diálogo com vista àliberalização do regime de vistos. No entanto, penso que é necessário que a Comissão

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estabeleça um roteiro claro para a consecução desse objectivo e, porque não, para asupressão total dos vistos no futuro. As eleições legislativas de 28 de Novembro serão umteste crucial para a República da Moldávia e espero que o compromisso assumido paracom a via europeia seja confirmado pela população e que a Moldávia continue nessecaminho.

A assistência macrofinanceira e política concedida pelas instituições europeias e por algunsEstados-Membros tem sido extremamente importante. Face aos resultados positivos dapolítica que temos seguido, peço às instituições europeias – ao Parlamento, ao Conselhoe à Comissão Europeia – que prossigam com as suas acções de apoio à Moldávia de modoa reforçar a confiança dos moldavos e de os encorajar a continuar no caminho da reformae da aproximação à União Europeia para que possam a prazo integrar a União comomembros de pleno direito.

Adam Bielan (ECR). – (PL) Há dez dias, enquanto membro de uma delegação especialda Comissão dos Assuntos Externos, tive a oportunidade de, juntamente com os senhoresdeputados Monica Macovei e Graham Watson, entre outros, visitar a Moldávia. Estivemosali num momento extremamente importante para o país – várias semanas após o referendoconstitucional frustrado de 5 de Setembro e várias semanas antes das importantes eleiçõeslegislativas que, como sabem, se realizarão em 28 de Novembro. Acima de tudo, pudemosobservar o apoio alargado do país e da sociedade moldava ao processo de integraçãoeuropeia. Este processo tem o apoio de quase três quartos da população.

Comprovámos também os extraordinários progressos que têm sido realizados pelo Governodo primeiro-ministro Filat no caminho da integração europeia, e as várias reformasimplementadas, incluindo progressos significativos no combate à corrupção que até aquivinha a minar progressivamente o país. É evidente que existem problemas: problemasresultantes da crise económica e da situação ainda não resolvida da Transnístria. Contudo,para que o processo de reformas prossiga após as eleições de 28 de Novembro, é necessárioum sinal claro da União Europeia e, por conseguinte, espero que o próximo Conselho“Negócios Estrangeiros” possa fazer avançar o processo de liberalização do regime de vistos.

Elena Băsescu (PPE). – (RO) Gostaria, também, de agradecer a todos quantos tornarampossível este debate. É nosso dever encarar a Republica da Moldávia com grande sentidode responsabilidade, especialmente agora que as eleições se aproximam. O Governo daAliança para a Integração Europeia tem demonstrado através dos esforços extraordináriosque tem feito que está disposto a lançar um vasto processo de reformas nos domíniospolítico, económico e institucional, assumindo, no quadro da Parceria Oriental, a liderançanesta matéria. Isto acontece após oito anos de governo comunista durante o qual direitosfundamentais, como o direito à liberdade de expressão e a um tratamento justo pelasautoridades judiciais, foram gravemente violados.

O processo de reforma na República da Moldávia deve continuar sobretudo no domínioda justiça e dos assuntos internos. O país deverá travar um combate efectivo à corrupçãoe garantir a liberdade do seu sistema judicial. Simultaneamente, deverá assegurar que adetenção de prisioneiros passe a realizar-se em condições humanas e de segurança,respeitando os direitos humanos fundamentais. Há mais de dezoito meses que a Repúblicada Moldávia atravessa uma crise política, com o fracasso das eleições presidenciais e davalidação do referendo.

Considero que as próximas eleições de 28 de Novembro são um sério risco para oprosseguimento da política de aproximação à Europa. A democracia enfrenta de novo

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uma prova difícil. Gostaria de afirmar, assumindo plena responsabilidade, que um fracassoda democracia na Republica da Moldávia nas próximas eleições marcará também, em certamedida, um fracasso da política da UE nesse país. Necessitamos de ter na vizinhançaimediata da UE um parceiro que assuma os valores que partilhamos.

Gostaria de terminar sublinhando que a língua falada pelos cidadãos da República daMoldávia é agora uma das línguas oficiais da União Europeia. Esta é mais uma razão paraque o país receba o nosso apoio.

Kristian Vigenin (S&D). – (BG) Congratulo-me por o Parlamento Europeu estar a dedicaro seu tempo ao debate da situação na Moldávia, um país essencialmente europeu. A esterespeito, há que referir que a Coligação para a Integração Europeia no poder deu, de facto,um enorme contributo para o processo de aproximação da Moldávia à União Europeia edeve ser reconhecida por isso.

Ao mesmo tempo, os cidadãos da Moldávia esperam mais resultados em termos dedesenvolvimento económico e social. Não é por acaso que esse aspecto se está a tornartambém um tema-chave da actual campanha. O estabelecimento de relações com a UniãoEuropeia não é uma iniciativa temporária. É um processo a longo prazo e a política moldavade aproximação à UE deverá tornar-se irreversível.

O fracasso do referendo sobre a revisão constitucional conduziu à presente situação deinstabilidade política, que corre o risco de se repetir após as eleições. É por essa razão queapelo às principais forças políticas para que, independentemente das suas diferenças e dosresultados das eleições, façam tudo o que for necessário para garantir a estabilidade políticada Moldávia, a qual lhes permitirá actuar no interesse dos cidadãos moldavos e do futuroeuropeu do país.

Cristian Dan Preda (PPE). – (RO) Imperialismo romeno é como os comunistas daMoldávia descrevem o interesse que tem sido demonstrado e os discursos que tem sidoproferidos por deputados do Parlamento romeno sobre a situação em Quisinau, quer serefiram ao Presidente Băsescu ou aos deputados ao Parlamento Europeu. Por outras palavras,os comunistas de Quisinau gostariam que Bucareste se calasse. Devo dizer que não creioque possam esperar isso de nós. Pelo contrário, é nosso dever que nos manifestemos.

Isso justifica-se sobretudo pelo facto de um grande número de cidadãos primariamenteeuropeus, romenos e búlgaros, e outros, viverem na República da Moldávia. Penso que,como quaisquer outros cidadãos europeus, os cidadãos europeus que vivem na Moldáviadeveriam usufruir dos direitos decorrentes do seu estatuto político.

Além disso, temos de acompanhar de perto a situação em Quisinau, onde há mais de umano um governo de coligação exerce o poder em nome da integração europeia. Não setrata apenas do nome que a coligação tem. Obviamente que se se chamasse Aliança paraa Rússia não teríamos mostrado tanto interesse. Denomina-se Aliança para a IntegraçãoEuropeia, mas mais do que o nome, importa reconhecer a sua actuação corajosa. A senhoradeputada Macovei e o senhor Comissário Füle explicaram as implicações dessa governaçãocorajosa.

Estive em Quisinau e em Tiraspol na semana passada e constatei que a questão da integraçãodo país na União Europeia será também um tema decisivo da campanha eleitoral para aseleições de Novembro que está prestes a começar. Com efeito, os cidadãos moldavos irãonão só fazer uma escolha entre diferentes forças políticas, mas também decidir se a Moldáviacontinua na via da integração europeia ou se abandona esse caminho.

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Não nos iludamos. Verifiquei que até o chefe da delegação da UE em Quisinau começa ater demasiadas ilusões. Os comunistas não querem a integração. Os comunistasdemonstraram há um ano e alguns meses o que pretendem. As manifestações de Abrilmostraram claramente quais são os interesses dos comunistas de Quisinau. É por essemotivo que espero que os cidadãos compreendam a mensagem e as atitudes dos partidos,e que os próprios políticos compreendam também os desejos do povo expressos nas urnas.

Marek Siwiec (S&D). – (PL) Interroguemo-nos sobre a razão por que estamos a dedicartanta atenção a um país tão pequeno, situado na proximidade do Mar Negro, mas semacesso a ele. Talvez estejamos a discutir a situação da Moldávia por se tratar de um pequenopaís onde dois mundos se encontram. Um desses mundos, que em tempos simbolizou aUnião Soviética, está, com grandes dificuldades, a passar à história. A Moldávia é um paísdividido. Parte da nação está sob ocupação e é apoiada por forças externas. Penso que aMoldávia merece o nosso apoio. É um pequeno país onde pessoas muito valentes estão alutar para se aproximar da União Europeia e construir um Estado democrático.

Senhor Comissário, a situação na Moldávia pode ser comparada ao conceito da física quedetermina que não é a força em si mesma que é importante mas o ponto onde é aplicada.Os milhões de euros de que falou não são uma quantia extraordinária. É um valor pequeno,mas que aplicado no ponto certo e no momento certo pode produzir o efeito positivo quepretendemos. Desejo sucesso a todos quantos pretendem construir a democracia naMoldávia. Não me interessam as filiações partidárias; gostaria, sim, que os moldavosconsolidassem, construíssem um melhor futuro para eles, e que, num futuro próximo, setornassem nossos parceiros.

Eduard Kukan (PPE). - (SK) Os progressos que a Moldávia tem feito até aqui indiciamque aquele país poderia vir a tornar-se um exemplo de uma história de sucesso, da integraçãode uma nação da Parceria Oriental na União Europeia.

O actual governo pró-europeu liderado pela Aliança para a Integração Europeia apresentouaos cidadãos moldavos uma visão política clara e importante para o futuro desenvolvimentodemocrático do país. No entanto, há que ter também em conta que a situação políticainterna tem sido afectada pelo prolongado desentendimento em relação à reformaconstitucional. Após o fracassado referendo sobre a revisão constitucional, os resultadosdas próximas eleições deverão pôr fim ao impasse das negociações políticas entre as partes.Penso que a União Europeia deve reconhecer explicitamente os importantes progressosalcançados pelo actual governo no domínio do reforço das relações entre a Moldávia e aUE.

Na segunda-feira, dia 25 de Outubro, o Conselho “Negócios Estrangeiros” deverá emitiras suas conclusões sobre a Moldávia. Elas deverão expressar apoio aos passos deaproximação à UE que até aqui têm sido dados pelo actual governo e, sobretudo, poderãoincluir um pedido à Comissão para que elabore um plano de acção com vista à liberalizaçãodo regime de vistos. Esta questão é muito importante para os cidadãos da Moldávia. Éevidente que o desfecho final dependerá essencialmente dos resultados das eleições. Noque respeita ao Parlamento Europeu, penso que a nossa atitude face à Moldávia deveria sermais positiva. Deveríamos ser mais explícitos no nosso apoio às forças pró-europeias dopaís e mostrar-lhes que é muito importante para nós que a Moldávia se torne um futuromembro de uma família europeia unida. Deveríamos convencê-los de que esse futurotambém é do seu interesse.

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Laima Liucija Andrikienė (PPE). - (EN) Senhor Presidente, a Moldávia percorreu umlongo caminho desde que o Pacto Molotov-Ribbentrop dividiu a Europa por esferas deinfluência e a Moldávia se tornou parte da URSS.

Actualmente a Moldávia é um Estado independente. É verdade que tem muitos problemas.No entanto, é, ao mesmo tempo, um país democrático no caminho da integração europeiae, portanto, gostaria aqui hoje de encorajar todas as classes políticas do país, todas as forçaspolíticas democráticas e todas as comunidades étnicas a evitarem confrontos desnecessáriose a concentrarem-se no desenvolvimento de uma visão política ampla para a Republica daMoldávia com o objectivo de conduzir o país à consecução dos seus objectivos europeus.

Por último, mas não menos importante, há a questão da Transnístria. A Transnístria deveriaser uma das prioridades da agenda europeia e congratulo-me com a iniciativa tomada pelachanceler alemã Angela Merkel e pelos líderes de outros países para resolver esse “conflitocongelado”.

Ioan Mircea Paşcu (S&D). - (EN) Senhor Presidente, a Moldávia é o último elemento delatinidade continental fora da UE. A história desempenhou aqui um papel importante. Noentanto, no quadro da política europeia de vizinhança e da Parceria Oriental, as perspectivasda Moldávia de, numa primeira fase, se aproximar da União e de posteriormente ser admitidano seu seio, depois de cumpridas as condições necessárias, estão a melhorar.

A coligação no poder, embora enfrentando eleições proximamente, tem acelerado o ritmodas reformas, ao que a UE tem respondido adequadamente. Os responsáveis de ambos oslados devem ser felicitados. O bom ritmo das reformas internas na Moldávia bem como aresposta da UE deverão manter-se a fim de se atingir, o mais brevemente possível, umponto de não retorno.

O êxito da Moldávia depende, obviamente, da solução do conflito da Transnístria. A esserespeito, as discussões em curso sobre esse tema, anunciadas em Potsdam na cimeiraAlemanha-Rússia, e que terão sido evocadas na cimeira trilateral de Deauville, aproveitandoa aparente vontade da Rússia de encontrar uma solução, são encorajadoras. Mantenhamosa fé e continuemos a trabalhar em conjunto para integrar este último marco de latinidadena UE.

Andreas Mölzer (NI). – (DE) Senhor Presidente, nos nossos debates sobre os Balcãs,quando, por exemplo, nos temos debruçado sobre os problemas do Kosovo ou da Bósnia,temos tido tendência a negligenciar a Moldávia. Há muito que a UE deveria ter assumidoo papel de mediador nos conflitos que envolvem a Moldávia e os países vizinhos. Élamentável que a Moldávia tenha rejeitado a oferta da UE de desempenhar o papel demediador no conflito da Transnístria.

Não é por acaso que a Moldávia é o parente pobre da família europeia. Isso deve-se à políticaeconómica caótica, pós-socialista do país. Como sabemos, a principal região industrial noleste da Moldávia declarou independência do resto do país com o apoio da Rússia e, aofaze-lo, selou o declínio económico do país, dado que a sua economia se baseia unicamentena agricultura.

Quando os cidadãos da Moldávia forem às urnas no final de Novembro para elegerem umnovo governo, é importante assegurar uma consulta eleitoral ordeira, evitando a ocorrênciade mais confrontos e uma intensificação do conflito com a Roménia, por exemplo.

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT10

Andrzej Grzyb (PPE). – (PL) Senhor Comissário, tive a oportunidade de observar asreeleições na Moldávia. Nos contactos que tivemos na ocasião com representantes dosentão partidos da oposição, verificámos que havia um grande desejo de mudança. Essamudança concretizou-se. O actual primeiro-ministro, o senhor Vlad Filat, nos discursosentão proferidos na qualidade de representante da oposição, manifestava claramenteaspirações europeias. Quando esteve aqui no Parlamento Europeu como convidadoelogiámos os resultados do seu trabalho. Isso foi confirmado também pela delegação daComissão dos Assuntos Externos que visitou a Moldávia recentemente.

Os problemas internos, em particular em torno do conflito da Transnístria, e a divisão e ainstabilidade interna do país, símbolos do passado e de divisão, são questões muitocomplicadas. É muito importante que apoiemos o processo que irá permitir a incorporaçãoda Transnístria na Moldávia. Há vários problemas, incluindo o da migração. SenhorComissário, todas as manifestações de apoio à Moldávia e, neste ponto, estou de acordocom o senhor deputado ...

(O Presidente retira a palavra ao orador)

Mario Pirillo (S&D). – (IT) Senhor Presidente, no último fim-de-semana estive emQuisinau, na Moldávia. Assisti a uma convenção, organizada pelo ministério da Cultura,sobre a integração da Moldávia na Europa, nomeadamente numa perspectiva cultural. Foicom muita satisfação que constatei o grande desejo de crescimento do país, patente numasérie de iniciativas, desde a construção de infra-estruturas e de redes rodoviárias, deelectricidade e de vários outros tipos, à formação profissional em todas as áreas e aos cursosde reciclagem para outras profissões.

Os moldavos estão muito interessados na adesão à Europa. O Governo moldavo pretende,de facto, a integração a breve prazo da Moldávia na União Europeia e está a trabalhar nessesentido. É positivo que neste momento a Europa se concentre …

(O Presidente retira a palavra ao orador)

Andrew Henry William Brons (NI). - (EN) Senhor Presidente, o número de beneficiáriosnaturais de fundos europeus é actualmente pouco menos de metade do dosEstados-Membros. Ao alargarmos a União a um número cada vez maior de países do leste,e mais pobres, a proporção de beneficiários líquidos aumentará talvez para dois terços.Isso prejudicará não só, como é evidente, os actuais contribuintes líquidos, mas tambémos Estados-Membros que actualmente são beneficiários líquidos.

Ouvimos repetidamente dizer que a liberalização do regime de vistos não tem quaisquerimplicações ao nível da migração, entenda-se, é claro, migração legal. No entanto, terásérias consequências do ponto de vista da migração ilegal: o tráfico de pessoas paratrabalharem por menos do salário mínimo e em condições de trabalho inaceitáveis. Aliberalização do regime de vistos contribuirá também para que o país perca grande parteda sua população em idade activa, que poderia fazer sair o país da pobreza.

Por último, gostaria de chamar a atenção para o facto de que a Moldávia declarou aindependência da União Soviética em 1991. Estará mesmo disposta a abdicar da suaindependência a favor da UE, por muito grande que seja a contrapartida financeira?

Štefan Füle, Membro da Comissão. − (EN) Senhor Presidente, fiquei muito satisfeito comeste debate. Fiquei satisfeito com a oportunidade e fiquei satisfeito sobretudo com ainequívoca unidade global e com o apoio manifestado por esta prestigiada Assembleia.

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A República da Moldávia está a assistir a um ponto de viragem na sua história. No últimoano, a Comissão tem ajudado activamente o Governo moldavo a concretizar, tanto quantopossível, o seu ambicioso programa de reforma.

As reformas que apoiamos reflectem, sem qualquer excepção, o vasto leque de objectivosdo Plano de Acção UE-Moldávia. O êxito dessas reformas é fundamental para o futuro daRepública da Moldávia.

Manifestámos o nosso apoio à ideia de uma Moldávia moderna e próspera, com umasociedade reconciliada, e à sua integridade territorial restaurada em diversas ocasiões, enão apenas em 30 de Setembro quando o denominado Grupo dos Amigos da Moldávia,referido pelo senhor deputado Watson, visitou Chisinau. Não há dúvida de que a históriada Europa pode proporcionar alguns ensinamentos nesta matéria.

A República da Moldávia está no bom caminho. Estou confiante de que o país irá conseguiralcançar o compromisso político necessário à concretização das reformas. No que nos dizrespeito, continuaremos, tanto quanto possível, a apoiar os cidadãos moldavos e aproporcionar o apoio externo necessário à implementação das reformas. Continuaremosa apoiá-los para que passem com êxito os testes de sustentabilidade nas próximas eleiçõesparlamentares. Espero também sinceramente que após essas eleições assistamos àimplementação de um processo político inclusivo na Moldávia, centrado numa agendapró-europeia que dê continuidade ao processo de transformação em prol dos cidadãosmoldavos e também dos cidadãos europeus.

Presidente. − Para concluir este debate (1) , recebi seis propostas de resolução nos termosdo n.º 2 do artigo 110.º do Regimento.

Está encerrado o debate.

A votação terá lugar hoje, quinta-feira, 21 de Outubro de 2010, às 12H00.

Declarações escritas (Artigo 149.º)

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Também eu me congratulo com os progressosrealizados no ano passado pela União Europeia relativamente à República da Moldávia.Permitam-me felicitar os meus colegas deputados que apresentaram esta proposta deresolução.

A Roménia tem, desde o momento da sua adesão, demonstrado empenho na defesa dacausa da Moldávia na UE. Considero que o número de deputados romenos ao ParlamentoEuropeu, de vários grupos políticos, que assinaram a resolução, constitui uma provaconcreta desse compromisso inicial.

Os 90 milhões de euros concedidos a esse país em assistência macrofinanceira foram econtinuam a ser a salvação de que a Moldávia e os seus cidadãos necessitavam para avançare, em especial, para cumprir os compromissos assumidos no domínio das reformas, doEstado de direito e da luta contra a corrupção.

A República da Moldávia tem dois grandes problemas a necessitar de resolução. O primeiroé a Transnístria, relativamente à qual os Governos europeus têm de contribuir de formamais específica e firme e de retomar as negociações. O segundo problema, que estáobviamente dependente das forças políticas democráticas na República da Moldávia que

(1) Ver Acta.

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT12

temos de incentivar, é o modo como as eleições irão ser conduzidas em 28 de Novembro.Temos de garantir aos cidadãos que se encontram dentro e fora do país o acesso efectivoao direito de voto no seu Governo central. Obrigado.

4. Contentores perdidos no mar e ressarcimento (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia a pergunta oral (O-0115/2010) apresentada pelodeputado Brian Simpson, em nome da Comissão dos Transportes e do Turismo, à Comissão,sobre contentores perdidos no mar e ressarcimento (B7-0469/2010).

Brian Simpson, autor. − (EN) Senhor Presidente, tal como afirmou, intervenho estamanhã em nome da Comissão dos Transportes e do Turismo relativamente a uma questãoque já é ignorada há muito tempo, nomeadamente a dos contentores que caem dos naviosno mar.

Espanta-me que, na era moderna, desapareçam milhares de contentores todos os anos, agrande maioria dos quais em quedas dos navios para os nossos oceanos. Segundo asestimativas, perde-se todos os anos no mar um total alarmante de 10 000 contentores.Parece-nos que as companhias de transportes marítimos e as seguradoras não estão muitopreocupadas com este número e não estão a tomar quaisquer medidas. Todos os anos seperdem 2 000 contentores nas águas europeias, e este número parece estar a aumentar deano para ano. Estes contentores constituem uma ameaça para a navegação, podem poluiros mares com materiais tóxicos e não tóxicos e obrigam as autoridades locais a suportaros custos elevados das operações de limpeza.

A Comissão dos Transportes está a exigir a adopção de medidas que visem a redução destenúmero e está a enviar um sinal ao sector marítimo de que não estamos dispostos a toleraresta situação durante muito mais tempo. O Instituto MARIN, dos Países Baixos, concluiuque as principais razões para a queda ao mar de pilhas de contentores são a amarraçãoincorrecta, o excesso de peso e uma arrumação inadequada dos contentores. Além disso,as tripulações dos navios porta-contentores de maiores dimensões têm dificuldade emavaliar a deslocação à popa e/ou à proa de grandes cargas provocada pelas condiçõesmeteorológicas, o que pode ampliar uma aceleração vertical nestas zonas que ultrapasseos limites previstos nas especificações de projecto definidas para o navio.

Por outro lado, a inexistência de uma convenção sobre a responsabilidade objectiva deressarcimento para as substâncias não tóxicas faz com que os governos locais tenham desuportar os custos das operações de limpeza. O Parlamento vem agora exigir que ascompanhias marítimas assumam as suas responsabilidades neste domínio. Gostaríamosque a Comissão adoptasse uma posição mais pró-activa na resolução desta situaçãoinaceitável. Venho hoje pedir à Comissão para analisar os resultados obtidos pelo projectoLashing@Sea e apresentar propostas que visem a melhoria dos procedimentos e doequipamento de amarração dos contentores.

Em segundo lugar, gostaríamos que fossem adoptadas medidas para que todos oscontentores fossem devidamente pesados no porto e correctamente arrumados antes deo navio zarpar para o mar, e que fossem utilizadas balizas de activação automática, quepermitam localizar mais facilmente os contentores em questão.

Em terceiro lugar, instamos a Comissão a analisar o regime de ressarcimento para que asautoridades locais e regionais não saiam prejudicadas.

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Para concluir, gostaria de retomar a questão de as obrigações do sector marítimo maisalargado serem assumidas em conjunto. Entendo a perda de contentores durante astempestades mais severas. O que não posso aceitar é que se percam contentores devido adescuidos ou à sobrecarga ou incorrecto empilhamento dos contentores resultantes dasatitudes de laissez-faire adoptadas relativamente a este problema pelo sector em geral.

Os contentores que caem dos navios são perigosos. Perder 20 000 contentores por ano éinaceitável. Há vidas que são postas em risco, e é por isso que exigimos a adopção demedidas. O sector marítimo não parece muito disposto a agir. Talvez devamos ser nós afazê-lo.

Máire Geoghegan-Quinn, Membro da Comissão. – (GA) Senhor Presidente, agradeço aosenhor deputado Simpson por ter levantado esta questão crucial que é do interesse demuitos deputados a este Parlamento e também da Comissão.

(EN) A Comissão congratula-se com os resultados do projecto Lashing@Sea. Aresponsabilidade pela questão dos contentores perdidos no mar cabe principalmente àOrganização Marítima Internacional, uma vez que se trata de uma matéria que éregulamentada a nível internacional. Não obstante, a Comissão irá trabalhar em conjuntocom os Estados-Membros na promoção de acções que visem a adopção a nível internacionalde procedimentos acordados no âmbito das estruturas da Organização MarítimaInternacional.

Relativamente à segunda questão do excesso de peso e arrumação incorrecta doscontentores, não existem normas comunitárias aplicáveis à pesagem dos contentores antesdo respectivo carregamento nos navios ou procedimentos que incluam a arrumação ou aamarração. Esta questão é regulamentada a nível nacional ou através de acordosinternacionais.

A Comissão não tenciona, nesta fase, tomar uma iniciativa legislativa relativamente a estaquestão. No entanto, isso poderá mudar se as conversações a nível internacional nãoproduzirem resultados e se aumentarem os problemas com a estabilidade ou com aresistência dos navios ou as perdas de contentores.

Antes de apresentar uma nova proposta, a Comissão terá de avaliar devidamente o impactoda medida em causa nos operadores de transportes marítimos. Hoje a Comissão não dispõede informações suficientes relativamente a esta questão específica.

No que respeita à terceira questão dos sistemas de localização dos contentores no mar,essa possibilidade poderia ser mais explorada. No entanto, equipar milhões de contentorescom dispositivos de localização será dispendioso, e deverá realizar-se uma avaliaçãoadequada das vantagens antes da adopção de uma decisão final quanto à obrigatoriedadeda instalação de tal sistema de localização.

A Comissão poderia também avaliar a viabilidade da clarificação das disposições da Directiva2002/59/CE, que instituiu o sistema comunitário de acompanhamento do tráfego de naviose que obriga os Estados-Membros a velar por que os comandantes dos navios comuniquemao centro costeiro competente qualquer avistamento de contentores à deriva.

Caso seja ponderada a possibilidade da rastreabilidade dos contentores, os custos da adopçãodessas medidas deverão ser levados em conta. No entanto, essa possibilidade poderia serconsiderada no âmbito do potencial desenvolvimento da rastreabilidade dos contentorespara fins logísticos e de segurança.

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Por fim, no que respeita ao ressarcimento dos danos causados pelos contentores perdidos,esta questão pode ser tratada nos termos da Directiva 2009/20/CE relativa ao seguro dosproprietários de navios em matéria de créditos marítimos e da Directiva 2005/35/CErelativa à poluição por navios e à introdução de sanções em caso de infracções quandoocorre a descarga no mar de hidrocarbonetos.

A Directiva 2004/35/CE relativa à responsabilidade ambiental também estabelece aresponsabilidade objectiva dos operadores que provocam danos ambientais através dotransporte marítimo de mercadorias perigosas ou poluentes. Esses operadores são obrigadosa reparar os danos causados às espécies e habitats naturais protegidos.

Será necessário avaliar cuidadosamente a adopção de medidas complementares destinadasa pôr em prática um regime de compensação pelos danos causados por contentores perdidosface ao princípio da proporcionalidade que justifica a acção a nível da UE. A Comissãoconsidera que, nesta fase, o trabalho desenvolvido pela OMI para melhorar as normasdeveria constituir uma prioridade.

Dominique Riquet, em nome do Grupo PPE. – (FR) Senhor Presidente, Senhora Comissária,tal como o senhor deputado Simpson referiu, todos os anos se perdem em águas europeiasvários milhares de contentores que colocam um risco muito significativo a dois títulos:em termos de poluição, que já foi largamente discutida, mas também porque alguns delesnão afundam, mas flutuam frequentemente entre duas massas de água em que se tornamdifíceis de detectar, representando um enorme risco para a segurança da navegação,independentemente de se tratar de navios de carga ou, e sobretudo, de pequenasembarcações de pesca ou de lazer. O resultado é, tal como sabemos, a ocorrência deacidentes graves que põem em risco vidas humanas.

Trata-se, portanto, de um problema extremamente grave e a Comissão parece estar aafirmar que não dispõe das informações necessárias para actuar ou que considera que, faceàs disposições existentes, é necessário aplicar determinadas medidas. Na realidade, não éisso que se passa: não estão a ser tomadas quaisquer medidas relativamente a esta situação.

Pretendemos, por isso, que sejam propostas medidas efectivas. Necessitamos de medidaspreventivas, ou seja, medidas relativas aos métodos de carregamento e arrumação doscontentores e à possibilidade de incorporar nesses contentores – e é possível fazê-lo emcondições económicas satisfatórias – uma baliza que permita que os contentores perdidossejam localizados e, por conseguinte, evitados pelas outras embarcações, poupando assimvidas humanas, ou que sejam recuperados, caso contenham substâncias tóxicas. Naeventualidade de existirem substâncias tóxicas ou altamente tóxicas, essa baliza devetambém ter capacidade para emitir um sinal convencionado que permita antecipar e contero risco ambiental.

Por fim, essa baliza deve identificar os proprietários dos contentores, uma vez que existeum problema real de responsabilidade que foi suscitado na pergunta oral. Com efeito, ofacto de não se saber quem são os proprietários e de não ser possível identificar e localizarefectivamente os contentores impede a adopção de medidas relativamente à recuperaçãoe ressarcimento dos danos.

Exortamos a Comissão a não se limitar a concluir que não dispomos dos recursos ou queos recursos existentes são suficientes, porque não é esse o caso: trata-se de uma questãode segurança ambiental, mas também há vidas em jogo e não podemos esquecer-nos disso.

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Saïd El Khadraoui, em nome do Grupo S&D. – (NL) Senhor Presidente, Senhora Comissária,Senhoras e Senhores Deputados, gostaria, em nome do meu grupo, de reiterar asobservações e as questões colocadas pelo presidente da Comissão dos Transportes e doTurismo, senhor deputado Brian Simpson. A perda de contentores e, obviamente, dorespectivo conteúdo, dado que não podemos esquecer que é também isso que estamos adiscutir, é, sem margem para dúvida, um problema que tem sido subestimado e descurado.Tal como foi dito, estamos a falar de 2 000 contentores por ano só em águas europeias,com consequências para o meio ambiente, possivelmente para as tripulações, para osoutros navios e para as zonas costeiras que ficam frequentemente a braços com a tarefada limpeza dos resíduos. É, portanto, uma questão que temos de resolver.

Existem várias razões para a ocorrência deste problema: condições meteorológicas adversas,velocidade, deficiente amarração e empilhamento dos contentores, excesso de peso, etc.O meu grupo considera que este problema assume uma dimensão europeia, o que justificaa intervenção da Comissão. Não devemos adoptar uma atitude de passividade e ficar àespera das medidas da Organização Marítima Internacional (OMI). Poderiam ser tomadasiniciativas que visassem, em particular, o registo desses incidentes e a sensibilização paraesta questão nos portos europeus. No contexto do diálogo social – o diálogo social europeuno sector portuário – a Comissão deveria também abordar este tema e propor soluçõescomo novos procedimentos relativamente ao carregamento dos contentores ou formaçãoadaptada.

O senhor deputado Riquet sublinhou, e partilho da sua opinião, que seria muito útil garantira rastreabilidade dos contentores: não apenas neste contexto, mas também no âmbito docontrolo de toda a cadeia logística. Por isso, Senhora Comissária, fico a aguardar iniciativasum pouco mais concretas nos próximos meses e anos.

Gesine Meissner, em nome do Grupo ALDE. – (DE) Senhor Presidente, Senhora ComissáriaGeoghegan-Quinn, a chegada a uma ilha algures de um contentor carregado de sapatosdesportivos, que foi recebido com entusiasmo pelos seus habitantes, chegou a fazermanchetes nos jornais. Numa outra ocasião, deu à costa uma quantidade considerável depatos de borracha. Estes casos constituem exemplos, como é natural agradáveis, de cargasde navios que desaparecem, mas a verdade é que em muitos outros casos os contentorespodem causar prejuízos graves. Tornou-se evidente que temos de fazer alguma coisa a esterespeito.

O Governo neerlandês manifestou-se preocupado com este problema e levou a cabo umainvestigação para apurar os motivos pelos quais isso estava a acontecer. A investigaçãoidentificou uma série de causas. Não obstante a existência de regulamentos comunitáriosque especificam o modo como as cargas devem ser fixadas, e apesar de todos os naviosdisporem a bordo do manual que contém os regulamentos, apenas 46% desses naviosamarram devidamente as suas cargas. Isso significa que não necessitamos de novas regras.A Senhora Comissária tinha razão quanto a isso. Em muitos casos, o peso da carga não foidevidamente equilibrado. Outra razão prende-se com o facto de muitas tripulações dosector do transporte marítimo de curta distância desamarrarem as cargas antes da chegadaao destino a fim de acelerar o processo de descarga. O empilhamento desadequado podetambém ser uma das causas do problema, aliado a equipamento velho e danificado. Todaesta situação pode, como é óbvio, ter consequências significativas no meio ambiente. Cercade 70% dos artigos perdidos no mar pelos navios ficam depositados no fundo do mar, oque suscita a questão dos danos que estarão a causar no leito marinho. Cerca de 15% dosartigos chegam a terra. Os restantes 15% ficam à deriva no oceano e representam,

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obviamente, um perigo importante para os outros navios, para as plataformas e para omeio ambiente.

Isso significa que quando acontecem acidentes no mar, temos de investigar o eventualenvolvimento de contentores. Em seguida, temos de insistir junto das companhias detransportes marítimos e dos operadores portuários para que cumpram os regulamentos.Além disso, há que proceder regularmente a inspecções. Dois mil contentores éefectivamente um número demasiado elevado e parece-me que a realização de estudos deviabilidade iria ser muito morosa. Temos de adoptar medidas imediatamente, porque asituação não pode continuar como está.

PRESIDÊNCIA: Rainer WIELANDVice-Presidente

Jaroslav Paška, em nome do grupo EFD. – (SK) A meu ver, a solução para o problema doressarcimento por danos causados pelos contentores perdidos no mar reside noestabelecimento de relações estruturadas entre três partes: o proprietário das mercadoriastransportadas, a companhia de transportes marítimos e a companhia de seguros.

O operador, a companhia de transportes marítimos e a tripulação, em particular, sãoresponsáveis pela segurança das mercadorias. A tripulação é ainda responsável por evitara queda ou deslizamento dos contentores para o mar, ou seja, pelo cumprimento dosregulamentos internacionais em vigor, e por velar pela navegação segura das mercadoriasnos transportes marítimos internacionais.

A meu ver, a primeira medida a considerar ao tratar deste problema deveria ser asseguraro cumprimento dos regulamentos relativos à segurança das mercadorias antes de o naviose fazer ao mar. Penso que esta é a questão central neste domínio. Só então devemos tentarencontrar novos regulamentos suplementares para o transporte de mercadorias. Só depoisde conhecermos o ponto de partida efectivo e a situação relativamente ao cumprimentodos regulamentos é que devemos procurar introduzir alterações aos regulamentos que jáestão estabelecidos para o transporte marítimo internacional e, se for caso disso, tambémpara o da União Europeia.

Jim Higgins (PPE). – (GA) Senhor Presidente, o meu colega Brian Simpson levantouquestões muito importantes e tenho a dizer que não estou nada satisfeito com as respostasdadas pela senhora Comissária. Estará a senhora Comissária disposta ou preparada paratomar algumas medidas relativamente à introdução de uma lei?

(EN) Trata-se de uma questão importantíssima e felicito o meu colega, senhor deputadoBrian Simpson, por a ter levantado, porque se analisarmos os dados estatísticos, a situaçãoestá efectivamente a agravar-se.

Aproximadamente 50% da arqueação da frota marítima mundial transporta substânciasnão tóxicas como mercadorias a granel. Registou-se um rápido crescimento a nível mundialda frota de porta-contentores – que aumentou 140%, de 32,6 milhões para 78,3 milhõesdesde 1984 – e existe a necessidade de regulamentar esta questão.

Verifica-se ainda a existência de um problema relativamente ao aumento da velocidade,uma vez que estes porta-contentores viajam a velocidades muito superiores às dos naviosgraneleiros. Viajam agora a 27 nós, o que constitui uma velocidade enorme no que respeita

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aos riscos de acidentes, impactos, colisões, etc. Por isso, estamos perante outro grandeproblema.

Além disso, temos também a questão da idade efectiva das próprias frotas. Quandoanalisamos a idade das frotas de porta-contentores, a idade da grande maioria destes naviossitua-se entre os 19 e os 24 anos, o que significa que existe um grande problema do pontode vista das deficiências estruturais. O que necessitamos é de uma iniciativa legislativa. Nãopodemos permitir uma atitude de “deixa-andar”. Necessitamos também de uma convençãoem sede de responsabilidade objectiva para que os navios que cruzem águas europeiastenham de assumir automaticamente os custos da libertação não intencional no oceanode substâncias tóxicas devido à perda de contentores.

O que estou a dizer é, essencialmente, que é preciso agir porque a situação está a agravar-seprogressivamente e, tal como o senhor deputado Simpson afirmou, a maioria dos acidentesdeve-se a erro humano quanto ao modo como os contentores são amarrados,acondicionados, etc., pelo que temos realmente de contar com o envolvimento dascompanhias de navegação.

Inés Ayala Sender (S&D). – (ES) Senhor Presidente, faz no próximo mês de Novembroexactamente oito anos que o Prestige, um petroleiro com 70 000 toneladas de crude abordo, sofreu um acidente ao largo da costa da Galiza, que deu origem a uma fuga de20 000 toneladas do combustível que transportava. Esta fuga inicial, associada às decisõesimponderadas do então Ministro das Obras Públicas, Álvarez-Cascos, provocou umacatástrofe e a maior tragédia ecológica, social e económica que alguma vez atingiu a costagalega.

Uma das possíveis causas utilizadas para explicar a fuga terá sido precisamente a presençade contentores perdidos à deriva à superfície, à mercê da ondulação e das tempestades.Esses contentores podem funcionar como potenciais projécteis que se lançam contra oscascos de todo o tipo de navios, nomeadamente petroleiros como o Prestige, mas tambémnavios de passageiros, ferries ou navios de cruzeiro.

Os resultados do projecto Lashing@Sea revelaram graves deficiências e negligências emdiferentes áreas, como a falta de formação e preparação entre o pessoal de carga e osestivadores nos portos e também entre as tripulações dos navios, que é sempre insuficientee insuficientemente formada, apesar de os navios em que trabalham serem verdadeirosmonstros dos mares.

Além disso, na maior parte dos casos não são devidamente utilizadas as melhores técnicaspara amarrar e localizar os contentores, frequentemente com excesso de peso. Por fim, háque realizar uma avaliação dos custos e riscos dos novos efeitos físicos gerados por estesmonstros dos mares. Esses efeitos incluem, por exemplo, o denominado "efeito deressonância paramétrica”, que pode acelerar a queda dos contentores à ré.

É por isso que exigimos à Comissão a adopção imediata de medidas preventivas, maiscursos de formação, preparação e actualização para os estivadores e tripulações. Exigimostambém a aplicação de medidas tecnológicas de segurança: controlos do peso nos portos,melhoria dos equipamentos de amarração e dos métodos de empilhamento e balizaçãoadequada para localizar os contentores em caso de perda, uma vez que a rastreabilidadepoderia ser um dos serviços proporcionados pelo projecto Galileo.

Jörg Leichtfried (S&D). – (DE) Senhor Presidente, ainda bem que a Comissão Europeianão existia no século XV. Se existisse, Cristóvão Colombo e os seus companheiros teriam

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provavelmente viajado num qualquer contentor, que se teria afundado imediatamente enão teriam nunca chegado ao continente americano.

Sabemos qual é a causa do problema. Sabemos que é necessário fazer algo quanto a essacausa. O que diz a Comissão? Diz que não é possível fazer nada. Ora, isso é simplesmenteinaceitável. Sabemos que a causa é a arrumação inadequada, que os contentores têmamarrações deficientes, que têm excesso de peso, que caem à água mesmo sem ocorrênciade tempestades e que os países, a título individual, não conseguem fazer nada com osregulamentos de que dispõem para alterar a situação. Quem mais poderia promover amudança, se não a Comissão, que é responsável por velar por que coisas deste tipo nãoaconteçam nas águas europeias?

Não são apenas os danos ambientais que nos preocupam. Há também vidas humanas emrisco. O que aconteceria se uma pequena embarcação com um casco de plástico colidissecom um desses contentores em pleno Oceano Atlântico? Afundaria. E não seria apenas obarco a afundar, mas também as pessoas a bordo. Não é muito agradável passar um longoperíodo dentro da água no Atlântico Norte com um colete salva-vidas. Esse é um aspectoque temos de levar em consideração. Por conseguinte, parece-me errado não se estar atomar medidas. Considero que a Comissão Europeia tem de introduzir regulamentos coma maior brevidade possível para pôr cobro a esta situação. É um perigo, está errado, e háque fazer algo. Insto a Comissão a tomar medidas urgentes, porque tem responsabilidadesnesta matéria.

Mario Pirillo (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, consideroo problema dos contentores perdidos no mar, que estamos hoje a debater, muito relevante,uma vez que levanta uma questão de extrema importância, sobretudo para a economiadas regiões costeiras da UE. Por conseguinte, considero que a Comissão Europeia tem delutar pela criação de um fundo de seguro que possibilite o ressarcimento dos danos causadospela fuga de substâncias, por vezes perigosas, dos contentores perdidos no mar.

Além disso, seria aconselhável aumentar o nível da segurança marítima através da criaçãode legislação mais rigorosa em matéria de controlo das operações de arrumação dasmercadorias e de prevenção do acondicionamento ilegal de mercadorias tóxicas perigosasa bordo dos navios. Já solicitei, noutras ocasiões semelhantes, a criação desse fundo deseguro.

Brian Simpson, autor. − (EN) Senhor Presidente, resumindo, estou decepcionado coma resposta da Comissão à nossa pergunta oral.

Concordo que o ideal seria a celebração de um acordo a nível mundial e concordo quetemos de envolver a Organização Marítima Internacional, mas a OMI deve ser uma dasorganizações internacionais mais lentas do mundo. Funciona a passo de caracol, e nestemomento necessitamos de acção.

Senhora Comissária, se eu despejasse deliberadamente 2 000 enormes caixas de metal nomar, carregadas com materiais diversos, seria processado. No entanto, permitimos queisso aconteça todos os anos nas águas europeias.

Lanço portanto um apelo: não podem fazer como Pôncio Pilatos e lavar as mãosrelativamente a este problema. Trata-se de um problema que se está a agravar. É umproblema sério, que têm de resolver. Não é um problema que possa ser deixado para trás,com afirmações como “bom, temos de avaliar este aspecto” e “temos de avaliar aqueleaspecto”, ou algo semelhante.

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Já ouviram o que os deputados afirmaram. Agora, tentem resolver a questão.

Máire Geoghegan-Quinn, Membro da Comissão. – (GA) Senhor Presidente, agradeço atodos os deputados que participaram neste debate e gostaria de sublinhar que entendoperfeitamente a pertinência do tema que estamos a debater e como é importante, na opiniãodos deputados, que a Comissão avance com uma política que solucione esta questão emparticular. Considero que o debate e as contribuições de todos para o mesmo são reveladoresda importância desta matéria.

(EN) Considero também que o debate mostrou a importância a atribuir à protecção domeio ambiente. É interessante verificar que o debate passou dos patos de borracha e dossapatos referidos pela senhora deputada Meissner para Cristóvão Colombo que, segundose conta, terá passado pela minha terra natal, um porto na costa ocidental da Irlanda. Ficomuito feliz por ele ter realizado essa viagem famosa!

No entanto, gostaria de chamar a atenção de todos os deputados, mas sobretudo do senhordeputado Simpson, que manifestou tanto interesse e se empenhou tanto nesta questão,que levamos muito a sério este problema em particular. Estamos cientes do enorme aumentodo número de contentores que se perdem e, tal como já afirmei antes, o senhor ComissárioKallas está a analisar este problema. Considera que a perda dos contentores não estárelacionada apenas com a respectiva amarração, mas também com o excesso de peso dessescontentores. Deve-se por vezes também à robustez dos navios, uma questão que já foilevantada, e à idade das embarcações, referida pelo senhor deputado Higgins.

A segurança e a protecção do meio marinho são, tal como já afirmei, prioridades muitoimportantes para a Comissão. Não podemos transigir no que toca a estas questões, e aComissão, e particularmente o senhor Comissário Kallas, irá seguramente considerar anecessidade da aplicação de novas medidas. Estou certa de que o senhor Comissário teriatodo o gosto em trabalhar com o senhor deputado Simpson e com a sua comissão, parase chegar a uma conclusão quanto a esta matéria.

Já dispomos de uma série de instrumentos que visam garantir a segurança, assim como aprevenção da poluição, nomeadamente a provocada pelos contentores perdidos no mar.No que respeita à adopção de medidas concretas a este respeito, parece-me que, nesta fase,não será necessária uma acção a nível da UE. Todavia, registo a vossa observação quantoà lentidão do funcionamento da OMI enquanto organização e quanto à necessidade de aComissão insistir na adopção de soluções mais céleres.

Penso ainda, e sei que o senhor Comissário Kallas faz muita questão que assim seja, que ainstância adequada para o debate destes problemas continua a ser a Organização MarítimaInternacional e parece-me que seria de incentivar na OMI uma análise dos recentesresultados do projecto Lashing@Sea.

Esse projecto também confirma a importância da adopção de uma abordagem global noque respeita ao desenvolvimento de procedimentos e normas para a criação de condiçõesde concorrência equitativas, de que aliás já falámos, entre os operadores dosEstados-Membros e de outros Estados.

Gostaria de concluir frisando que estas questões devem ser discutidas em primeiro lugarna OMI. A Comissão participa na OMI enquanto observadora e prepara as suas posiçõesem conjunto com os Estados-Membros.

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Posso garantir-vos que irei transmitir os resultados deste debate de hoje ao ComissárioKallas que, estou segura, irá analisar e promover a questão nesse contexto.

Presidente. – Está encerrado o debate.

Declarações escritas (Artigo 149.º)

Artur Zasada (PPE), por escrito. – (PL) Congratulo-me com a decisão de retomar o temados contentores perdidos no mar. Em 8 de Fevereiro do corrente ano, os ferries que fazema travessia da Polónia para a Suécia estiveram em perigo iminente. O cargueiro finlandêsLinda, que partiu de Roterdão para São Petersburgo, perdeu, ao longo da rota dos naviospolacos e suecos, três contentores carregados com 8,3 toneladas de substâncias classificadascomo perigosas para o meio ambiente, das quais 7 toneladas são nocivas para a vidamarinha e 5,5 toneladas são substâncias inflamáveis. Felizmente, desta vez conseguiuevitar-se uma tragédia.

Concordo que todos os contentores devem ser pesados no porto e correctamenteacondicionados antes de as embarcações se fazerem ao mar. No entanto, este é um planoa longo prazo. O que é necessário hoje é a introdução pela Comissão de um regulamentoque preveja um controlo específico dos contentores com substâncias classificadas comoperigosas. Gostaria, por conseguinte, de fazer uma pergunta à Comissão: para quandopoderemos contar com a aplicação das primeiras medidas quanto a esta matéria?

5. Política marítima integrada (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia, o relatório (A7-0266/2010) da deputada GesineMeissner, em nome da Comissão dos Transportes e do Turismo, sobre a Política MarítimaIntegrada (PMI) – Avaliação dos progressos registados e novos desafios (COM(2009)0540- 2010/2020(INI)).

Gesine Meissner, relatora. – (DE) Senhor Presidente, Senhora DeputadaGeoghegan-Quinn, Senhoras e Senhores Deputados, gostaria que a Câmara estivessesobrelotada, não por causa de mim ou por este ser o meu primeiro relatório, mas pelo seutema, que é desconhecido de muitos, mas ainda assim extremamente importante.

Quase ninguém ouviu falar na política marítima integrada, apesar de se tratar de umaquestão decisiva para todos nós, uma vez que podemos efectivamente afirmar que é nomar que está o nosso futuro. Setenta por cento da superfície da Terra é composta por água.Os níveis demográficos estão a aumentar, não na Europa, mas no resto do mundo, e em2050 já teremos atingido os 9 mil milhões de habitantes. A Terra está a tornar-se pequenademais, e muitos especialistas já descobriram as potencialidades significativas dos oceanos.Agora, o nosso objectivo deve ser a preservação dos recursos marinhos para as geraçõesvindouras através da aplicação da política marítima integrada.

Por enquanto, ainda só foram explorados 10% dos oceanos e dos seus recursos, mas jádispomos de 50 000 produtos provenientes do mar. Actualmente, estão a ser desenvolvidosesforços no domínio da produção de energia a partir do mar e da extracção dematérias-primas para medicamentos, cosméticos e para a indústria. Numa altura em queestamos a desenvolver a nossa política marítima global, importa velar por que o mar nãocontra-ataque, tal como aconteceu no sensacional romance do conhecido escritorFrank Schätzing. Na verdade, temos a oportunidade de transformar a economia marítimano domínio em que se regista um maior crescimento na globalidade da nossa economia.

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É por esse motivo que se fala actualmente não apenas em postos de trabalho “verdes”, mastambém em postos de trabalho “azuis” e em “crescimento azul”. A faixa costeira da UE tem23 000 quilómetros de extensão e um terço da população vive no litoral. A navegaçãoecológica e a energia offshore são áreas em que a Europa tem uma vasta experiência econhecimentos que podem ser mais amplamente desenvolvidos. Por essa razão,necessitamos de uma abordagem integrada para podermos alcançar todos estes objectivoscom o maior rigor.

Que áreas específicas se encontram abrangidas pela política marítima integrada? A primeiradestas áreas é a dos transportes. Os transportes marítimos podem ser descritos como aforça motriz dos transportes europeus, uma vez que 95% do comércio mundial e 40% docomércio interno europeu se efectua por mar, através de portos com logística e ligaçõescom o interior. As previsões apontam para o aumento do crescimento, pelo que temos detrabalhar para reduzir as emissões através do desenvolvimento de navios mais ecológicos.Outra área é a da construção naval. Dispomos, conforme já referi, de uma vasta experiêncianeste domínio. Temos de fazer uso dessa experiência de forma produtiva para garantir ospostos de trabalho existentes e para criar novos postos.

Como é óbvio, a política marítima também inclui a pesca e a aquicultura. O peixe nãoconstitui apenas uma fonte de alimentos. Além disso, a aquicultura é o domínio daagricultura e das pescas que está a revelar maiores índices de crescimento. É importanteque estejamos cientes disso.

No domínio da energia existe uma grande actividade em redor do mar. Temos oleodutose gasodutos, plataformas petrolíferas e parques eólicos offshore, e já existem planos paraequipar petroleiros com velas, para que possam reduzir o seu consumo energético em 20%através da utilização da energia eólica. A energia das ondas é uma área com potencialidadesfuturas, e as microalgas, que podem ser utilizadas como biomassa, representam tambémuma fonte de energia quase ilimitada.

No domínio da investigação, a atenção está a centrar-se na utilização da biotecnologia azulpara o desenvolvimento de medicamentos. Já dispomos de analgésicos e de medicamentosde combate à malária, e estão a ser desenvolvidos medicamentos contra o cancro.

A protecção das nossas costas é uma questão importante que também se encontra abrangidapela política marítima integrada. As nossas costas estão ameaçadas por maremotos, etemos de as proteger, não apenas da subida do nível do mar, mas também dos derramesde crude, da pirataria e do contrabando. Além disso, temos de resolver o problema dosrequerentes de asilo em Itália.

Por fim, as nossas costas são também, como é sabido, destinos turísticos muito popularese estamos a trabalhar no desenvolvimento de um conceito de turismo sustentável para afaixa costeira.

Podemos constatar aqui a existência de várias áreas, todas relacionadas com a água. Oobjectivo da política marítima integrada é o desenvolvimento meticuloso e harmoniosodestas áreas através de um trabalho realizado em conjunto. Muitas pessoas não estão cientesdisso, mas trata-se de um aspecto extremamente importante.

A União Europeia já realizou grandes avanços nesta matéria, mas tem de avançar aindamais. Foi por isso que centrei o presente relatório não tanto nas áreas específicas, massobretudo no que tem sido feito nos últimos anos desde a publicação do Livro Azul de

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2007, no que ainda tem de ser feito e no trabalho que há que continuar. São estas as áreasque irei referir de forma breve na minha conclusão.

Máire Geoghegan-Quinn, Membro da Comissão. – (GA) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, gostaria em primeiro lugar de dizer que a Comissária Damanakiparticipa hoje em Portugal, em nome do Presidente Barroso, numa importante conferênciasobre assuntos marítimos e política marítima e que lamenta não poder estar aqui presente.

(EN) No entanto, gostaria de afirmar que este debate constitui prova da importância dapolítica marítima. Quero felicitar a relatora, senhora deputada Meissner, pelo seu excelenterelatório.

A Comissão congratula-se muito com este magnífico relatório e com o seu parecer favorávelrelativamente à nossa política marítima integrada. Este relatório constitui muito mais doque um simples exercício de avaliação. Apresenta também uma perspectiva ambiciosa,inclusiva e pormenorizada do futuro da política marítima. Apesar de não ser a primeiravez que discute as políticas marítimas integradas, o Parlamento está a dar o exemplo. Orelatório é o resultado de uma cooperação admirável de várias comissões que reforça alegitimidade democrática da nossa política. Além disso, abre novos horizontes,nomeadamente com a participação dos parlamentos e autoridades nacionais e regionais,para ajudar a tornar a nossa política marítima integrada uma política relevanteverdadeiramente operacional que permita a criação de mais postos de trabalho e de empregode melhor qualidade.

A Comissão está confiante em que as exigências de política constantes deste relatório terãoum impacto positivo na futura política marítima por três motivos importantes.

Em primeiro lugar, por adoptarem uma abordagem prospectiva da dimensão marítima daestratégia “Europa 2020” e garantirem o crescimento sustentável nos sectores marítimose nas regiões costeiras.

Em segundo lugar, por indicarem o caminho para os objectivos políticos emergentes emque a Comissão e o Parlamento devem trabalhar em conjunto. Entre estes contam-se aabordagem da Europa da atenuação das alterações climáticas nas regiões costeiras e doturismo costeiro integrado, o apoio ao desenvolvimento de transportes marítimos maisecológicos, mais seguros e mais competitivos através do espaço marítimo comum semfronteiras e a adopção de mais medidas em matéria de segurança marítima e de prevençãode acidentes.

Em terceiro lugar, este relatório apresenta um conjunto de propostas coerentes econstrutivas para acções futuras.

Fico a aguardar com expectativa as opiniões manifestadas durante este debate.

Werner Kuhn, relator de parecer da Comissão das Pescas. – (DE) Senhor Presidente, SenhoraComissária Geoghegan-Quinn, gostaria, em primeiro lugar, de agradecer à senhora deputadaMeissner pelo que é, na verdadeira acepção da palavra, um trabalho integrado, não apenasporque diz respeito à política marítima integrada, mas também porque abrange todas asáreas de especialidade. No que se refere à pesca, gostaria de dizer uma vez mais que a pescae a aquicultura representam, como é natural, uma parte substancial da política marítimaintegrada. Considero importante voltar a referir que produzimos, na União Europeia, cercade 2 milhões de toneladas de produtos de pesca, de peixe e de produtos de aquicultura,mas que consumimos 8 milhões de toneladas.

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Somos uma das maiores regiões exportadoras de produtos de pesca de todo o mundo. Porconseguinte, colocam-se-nos desafios específicos no que toca à protecção dos nossosrecursos. Um aspecto decisivo quanto a esta questão que já foi referido é o ordenamentodo espaço marítimo. É importante identificarmos as prioridades. As zonas de pesca e aszonas protegidas têm decididamente uma elevada prioridade. Há que ter especial cuidadoem rotas de navegação muito transitadas.

Temos falado muito sobre as fontes de energia renováveis. Os parques eólicos offshore, queestão a ser construídos em grande número para a produção de energia, devem também serincluídos, tanto do ponto de vista da pesca como da segurança marítima. Este aspectorepresenta um importante desafio. Existe uma outra questão que gostaria de referir nestecontexto. Temos de promover a investigação e desenvolvimento relativamente aos métodosde pesca. Os 50 milhões de euros disponibilizados pela Comissão não serão suficientes.Gostaria que levasse consigo esta mensagem, Senhora Comissária Geoghegan-Quinn.

A vigência da política marítima integrada não terminará, como é óbvio, nas fronteiraseuropeias. Temos de trabalhar em conjunto com os nossos vizinhos. Temos de recordaros casos da Islândia e das Ilhas Faroe e o que aí aconteceu nos últimos anos, e a região doMediterrâneo, a Líbia e o Egipto, que representam um desafio importante.

Georgios Stavrakakis, relator de parecer da Comissão do Desenvolvimento Regional. − (EL)Senhor Presidente, Senhora Comissária, a utilização sustentável do ambiente marinho éfundamental para a sustentabilidade e crescimento de toda a Europa, especialmente dospaíses cujas economias estão directamente associadas ao mar.

O crescimento equilibrado em sectores básicos, como a pesca e a aquicultura, a energia,os transportes e o turismo, conseguem garantir o rendimento e o futuro profissional doscidadãos. Na perspectiva do desenvolvimento regional, a utilização da coesão territorialcomo uma nova base para uma maior integração do mercado interno assume umaimportância decisiva. Para o sector marítimo, isso significa o aumento da promoção dostransportes marítimos de curta distância e a criação de melhores ligações entre as regiõesmarítimas periféricas e as ilhas e entre estas e o território continental e os centroseconómicos. Esta medida é fundamental para alcançarmos a coesão social, económica eterritorial.

A abordagem inovadora adoptada no âmbito da política marítima integrada é tambémimportante e substituiu a abordagem fragmentada das políticas marítimas. O facto detirarmos partido das sinergias proporciona uma dupla vantagem aos cidadãos da UniãoEuropeia: melhora os resultados obtidos e permite poupar dinheiro.

Georgios Koumoutsakos, em nome do Grupo PPE. – (EL) Senhor Presidente, a políticamarítima integrada é crucial para a União Europeia. Necessitamos dela para tirar o máximopartido da vantagem básica da Europa: a sua forte tradição marítima. O objectivo estratégicode uma política marítima integrada é reforçar a posição de liderança da Europa no domínioda investigação marinha e do desenvolvimento tecnológico em sectores como a construçãonaval, a exploração dos recursos marinhos e o desenvolvimento das fontes energéticasoffshore, através de uma melhor coordenação das políticas relacionadas com o mar.

A política marítima integrada tem de apoiar os transportes marítimos europeus, que nãopossuem rival em parte alguma do mundo, para que estes possam desempenhar um papelde liderança a nível internacional. É por esse motivo que temos de salvaguardar acompetitividade dos nossos transportes marítimos enquanto um activo precioso que

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assume a maior importância para a Europa. As soluções internacionais adoptadas pelaOrganização Marítima Internacional, que tem de desempenhar um papel soberano, têmpois, de ser aplicadas a nível global.

O relatório da senhora deputada Meissner sublinha e analisa justamente a importância dagovernação marítima, da vigilância marítima e do ordenamento do espaço marítimo. Noentanto, existe uma condição sine qua non para tudo isto: o respeito da Convenção dasNações Unidas sobre o Direito do Mar. Assim, o n.º 25 do relatório, em que o ParlamentoEuropeu exorta os Estados costeiros de todas as bacias marítimas, nomeadamente doMediterrâneo, a resolverem os problemas de delimitação com base na CNUDM, é da maiorimportância. O relatório destaca a enorme relevância para a Europa das zonas económicasexclusivas. Quero felicitar a senhora deputada Meissner pelo seu excelente trabalho e pelacooperação entre nós e de agradecer a todos os relatores-sombra pelos seus esforços. Aomesmo tempo, porém, tenho, enquanto fervoroso defensor da competitividade dostransportes marítimos europeus, sérias reservas e profundas preocupações quanto àalteração apresentada há alguns dias pela senhora deputada Meissner.

Knut Fleckenstein, em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, quero, em primeiro lugar, agradecer à senhora deputada Meissner pelo seurelatório e por todo o árduo trabalho que levou a cabo. Partilhamos a abordagem adoptadapor este relatório que coloca a ênfase não na estrutura sectorial da política marítima emcada um dos Estados-Membros, mas que realça, pelo contrário, a importância dacoordenação da política marítima de cada um e de todos os Estados-Membros.

Se olharmos para o futuro, constataremos que o espaço disponível nos nossos mares eoceanos está a tornar-se cada vez mais restrito. Os oceanos são vias de transporte, fontesde matérias-primas e energia, fornecedores de bens alimentares e reservatórios de água. Aexploração económica dos oceanos é cada vez maior e faz-se acompanhar de um aumentodo impacto ambiental sobre os mesmos. Os conflitos de interesses aumentam, e vamoster de os resolver através de uma coordenação eficaz dentro e entre os Estados.

Não é possível comentar todos os tópicos, mas gostaria de referir de forma breve as zonasde controlo das emissões de enxofre. Não foi minha intenção tornar os limites menosestritos. Quando a Comissão apresentar o seu estudo, poderemos afirmar em que medidao estabelecimento dos limites irá resultar numa transição dos transportes marítimos paraos transportes rodoviários, especialmente no Mar do Norte e no Báltico. Só então poderemosdiscutir mais aprofundadamente esta questão. No entanto, as condições básicas para aconcorrência na União Europeia entre o Norte e o Sul devem manter-se ao mesmo nível.Este deve também ser um dos objectivos da Comissão.

Existe um aspecto com o qual não estou inteiramente satisfeito. Já há muito que nosreferimos à importância estratégica da indústria da construção naval na Europa. Afirmámostambém que a inovação é extremamente importante neste sector, pois só assim poderásobreviver. Necessitamos de uma estratégia coordenada para a nossa política no que respeitaà indústria da construção naval. Considero que o apelo lançado pelos Estados-Membrosno sentido da reserva de fundos para a construção naval foi muito importante, apesar denão ter contado com o apoio dos liberais e dos conservadores. Senhoras e SenhoresDeputados, de que forma poderemos apoiar a indústria da construção naval na Europa?Para os trabalhadores dos estaleiros europeus que estão preocupados com os seus postosde trabalho, não basta a apresentação de propostas que se limitem a lugares-comuns e

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manifestações de boas intenções. Nós, os sociais-democratas, esperamos melhores medidase melhores propostas neste campo.

Izaskun Bilbao Barandica, em nome do Grupo ALDE. – (ES) Senhor Presidente, um terçodos cidadãos europeus vive em regiões costeiras. A UE é a maior potência marítima mundial.Uma política integrada consentânea com os objectivos da estratégia “Europa 2020” iráajudar-nos a reforçar a nossa liderança.

Porém, é necessária uma política global e transsectorial que leve em conta todos os agentesda sociedade civil, assim como as estratégias e responsabilidades das autoridades locais eregionais das zonas costeiras. Temos de continuar a encarar as nossas costas e os nossosmares como uma oportunidade.

Por essa razão, temos de reforçar a nossa política de pescas sustentável, levando emconsideração as dificuldades das pessoas que tiram do mar o seu sustento que constitui,aliás, um sector altamente responsável. Há que reforçar a política de segurança para queas embarcações de pesca que operam ao abrigo de acordos europeus possam ser protegidas.Isso significa combater a pirataria e, por conseguinte, reforçar a Operação Atalanta.

Temos de colocar todo o nosso empenho na indústria da construção naval, que tem umaimportância estratégica e está a atravessar uma fase difícil devido à concorrência do SudesteAsiático e que espera um apoio firme por parte da Europa, que está actualmente em falta.

Temos de criar “auto-estradas marítimas” para reduzir as emissões de CO2 e desenvolverainda mais as energias renováveis.

A inovação, a coordenação interinstitucional, os instrumentos financeiros adequados euma definição clara da estratégia da Europa em cada um dos sectores envolvidos, irãopermitir-nos atingir o desenvolvimento económico e técnico, e sustentável, assim comoa investigação a um nível que permita a criação de postos de trabalho de elevado nível e aprotecção de algo que nos é muito caro e que queremos manter vivo: o mar.

Keith Taylor, em nome do Grupo Verts/ALE. – (EN) Senhor Presidente, gostaria, em nomedo Grupo Verts/ALE, de agradecer à relatora, senhora deputada Meissner, por ter elaboradoeste relatório e por o ter desenvolvido em conjunto com os outros grupos políticos.

Uma vez que 71% da superfície da Terra está coberta de água, faz realmente sentido tentardesenvolver uma política marítima integrada. A Europa possui 305 000 quilómetros defaixa costeira.

Foi essa a intenção da Comissão já em 2009 quando anunciou a adopção de uma abordagempolítica mais horizontal de áreas como os transportes marítimos, o ambiente marinho eas políticas regionais e das pescas.

Hoje estamos a assistir à resposta da Comissão dos Transportes e do Turismo numa novadirecção, sob a forma do relatório da senhora deputada Meissner. Iremos apoiar esterelatório. Constitui um passo importante no rumo certo para cuidar e utilizar de formasustentável os nossos recursos marítimos.

Não obstante, acreditamos que ainda há muito trabalho a fazer. Congratulamo-nos comas sugestões apresentadas no relatório em matéria de governação marítima, de iniciativase estratégias respeitantes às bacias marítimas, de ordenamento e vigilância do espaçomarítimo, da criação de um programa-quadro de investigação e de uma rede de dados ede um fundo para as infra-estruturas marítimas.

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Estou particularmente satisfeito pelo facto de o relatório incluir agora a integração dosobjectivos de redução das emissões de CO2 e apoiar a utilização da energia solar e da energiaeólica a bordo das embarcações.

Quanto à votação que terá lugar mais logo, gostaria particularmente de pedir aos senhoresdeputados para apoiarem a alteração da relatora que visa incluir a possibilidade da integraçãodo regime de comércio de emissões nas normas da UE e da OMI.

Foi uma questão que dividiu a Comissão dos Transportes, com 20 votos de cada lado, peloque é perfeitamente correcto a senhora deputada Meissner trazê-la hoje até aqui para sersubmetida à votação pelo plenário.

Peço aos senhores deputados que levem em conta o empate na votação anterior e votema favor da alteração da relatora, que reconhece que estas medidas estão em linha com osnossos objectivos estratégicos globais em matéria de redução das emissões de CO2 e como projecto Europa 2020.

Struan Stevenson, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhor Presidente, congratulo-mecom o desenvolvimento de uma política marítima integrada que consagre e reforce osprincípios da subsidiariedade, da concorrência e da utilização sustentável dos recursosmarinhos. No entanto, não apoio o ressurgimento do conceito de uma guarda costeiraeuropeia. Essa ideia já foi rejeitada uma vez. Não me parece que seja necessária. Considero-ademasiado dispendiosa num momento de escassez financeira.

Considero também que a directiva relativa ao ordenamento do espaço marítimo constituiriaum luxo desnecessário que não iria, a meu ver, representar uma mais-valia para o actualprocesso de cooperação entre os Estados-Membros.

Ser-me-á também permitido referir neste contexto o impacto dos projectos de energiaeólica, das ondas e das marés, juntamente com a designação de zonas marinhas protegidas(ZMP), na pesca costeira e artesanal? Não podemos limitar-nos a traçar linhas em mapasdesignando vastas áreas de águas costeiras como ZMP ou destinadas à energia de fontesrenováveis. Os pescadores que exercem a pesca artesanal não podem ser deslocados deforma arbitrária sem a realização de uma consulta exaustiva. A designação dessas áreasdeve ser efectuada com base num processo ascendente e não descendente e deve pressuporuma consulta das partes interessadas.

Jaromír Kohlíček, em nome do Grupo GUE/NGL . – (CS) A política marítima integradanão está a ser debatida pela primeira vez no âmbito da União Europeia, mas continua a serextremamente difícil conciliar a protecção do ambiente, as pescas, os transportes, a energia,a indústria, a ciência e a investigação e incorporar os diversos aspectos do desenvolvimentonum único plano. O relatório da Comissão responde à questão sobre o modo como oplano de acção incluído no Livro Azul de 2007 irá ser aplicado. Segundo o relatório, 56das 65 medidas propostas foram iniciadas ou concluídas, de um modo geral, enquantoactos jurídicos da Comissão ou do Conselho.

Todavia, no que toca às regiões do interior, a prioridade é associar a política marítima auma política de utilização mais eficaz e racional das principais vias navegáveis europeias;veja-se, a propósito, o n.º 40 do relatório. Neste ponto, a atenção centra-se tradicionalmenteno Reno, no Mosa e no sistema de vias navegáveis associado em França, na Bélgica, nosPaíses Baixos e na Alemanha, nomeadamente na ligação Reno-Meno-Danúbio. Infelizmente,a secção central do Danúbio a jusante de Viena e os afluentes do Elba a montante deMagdeburgo foram esquecidos por estes esforços. A utilização de vias navegáveis para o

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tráfego é discutida muito menos frequentemente, e os investimentos na melhoria danavegabilidade têm um interesse marginal para a Comissão Europeia e para o Conselho.É, sem dúvida, uma pena, porque o enorme potencial energético destas vias continua porutilizar, apesar de se estar a colocar uma pressão desnecessária na expansão de terminaisem cidades portuárias, onde se transferem carregamentos de navios para os transportesferroviários e rodoviários, enquanto os portos fluviais dispõem de capacidades que nãosão utilizadas.

Como é natural, para além do estabelecimento das ligações entre o tráfego marítimo,ferroviário e rodoviário, há fundamentalmente que tratar as questões da conservação danatureza e da utilização da energia nas regiões costeiras. Neste caso, é razoável colocarquestões adicionais às que a senhora deputada Meissner apresentou no seu relatório,relativamente a dois outros problemas: a relação entre os transportes marítimos e fluviaise a respectiva ligação entre ambos.

Acolho com agrado as dezenas de medidas incluídas no relatório. Destacaria a necessidadede uma aplicação coerente do terceiro pacote marítimo. No n.º 21, considero o trabalhorelativo às soluções ecológicas para a limpeza dos petroleiros e para a eliminação de naviosantigos uma iniciativa fundamental para evitar a poluição. O estado actual desta questãoé patético. Concordo com o relatório do Grupo Confederal da Esquerda UnitáriaEuropeia/Esquerda Nórdica Verde.

Anna Rosbach, em nome do Grupo EFD . – (DA) Senhor Presidente, gostaria de agradecerà senhora deputada Meissner pelo seu relatório bem elaborado e exaustivo, ao qual muitopouco haverá a acrescentar. Sou, tal como a senhora deputada Meissner, uma acérrimadefensora da coerência entre as áreas de acção política, dos programas de investigaçãointerdisciplinares e dos novos desafios, mas o que mais me preocupa são os problemasrelacionados com a poluição dos nossos mares.

Aprovamos tantos relatórios nesta Assembleia que, infelizmente, caem no esquecimentopouco tempo depois da respectiva aprovação. Gostaria, portanto, de recordar a Comissãode um protocolo adicional que o Parlamento aprovou em 26 de Janeiro deste ano, ou seja,há quase nove meses. Diz respeito ao estabelecimento de relações de cooperação entre osEstados-Membros da UE para o combate às catástrofes no Atlântico Nordeste. Trata-se deum tema que a senhora deputada Meissner também refere no n.º 4 do seu relatório. Até àdata, não obtive qualquer reacção da Comissão relativamente a esta questão, quer quantoà eventual adopção de algumas medidas para o estabelecimento dessa cooperação ou àpreparação dos Estados-Membros, quer quanto ao facto de a Comissão tencionar estabelecerum estado de preparação para a UE. Isto apesar da catástrofe do derrame de petróleo noGolfo do México que acabámos há pouco de resolver e da ameaça colocada pelos velhose ferrugentos poços de petróleo no Mar do Norte. Por isso, gostaria, uma vez mais deperguntar agora à Comissão: o que aconteceu com a preparação para catástrofes nos nossosmares? Teremos de ficar à espera que se dê um incidente grave para a Europa acordar?

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhor Presidente, o tempo está a esgotar-se no que tocaaos nossos oceanos. Se continuarmos a destruí-los ao ritmo actual, acabaremos por nosdestruir a nós próprios, porque 70% do oxigénio mundial é produzido pela flora marinha.Não basta promover a protecção do ambiente no espaço da UE, tal como nos empenhamostanto em fazer, porque como se sabe, o vento e as ondas não respeitam as fronteiras.

Por conseguinte, tenho dificuldade em entender o motivo pelo qual não estamos a adoptarregras claras, quando as nações industriais ricas têm a possibilidade de transferir os seus

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problemas ambientais para os países em desenvolvimento. Considero que necessitamosde regulamentos específicos para o desmantelamento de navios. Os navios compostos portoneladas de desperdício poluído com amianto são enviados da Europa para a Índia,Bangladeche e Paquistão, onde contaminam vastas extensões da faixa costeira. Todavia,toda essa poluição é-nos devolvida sob a forma de pescado contaminado, que vai pararaos nossos pratos através da cadeia alimentar. Nem sequer nos referimos aos trabalhadoresnesses países que arriscam a vida em resultado da adopção de medidas de segurançainadequadas. Um dia, um navio, uma morte. É assim que os trabalhadores das empresasde desmantelamento de navios da cidade indiana de Alang descrevem o seu trabalhoperigoso.

Também não dispomos de regulamentos claros para a perfuração a grande profundidade.Neste contexto, gostaria de destacar o passo muito positivo do senhor deputado Öttinger,que está a envidar esforços no sentido da adopção de regulamentos relativos à segurançadas plataformas petrolíferas.

Não existem regras relativamente às rotas de navegação muito transitadas, como no Bósforo,onde ainda não foi introduzida a pilotagem obrigatória. Esses estreitos são cruzadosdiariamente por enormes petroleiros.

Outro aspecto positivo que gostaria de referir é o facto de as companhias de navegaçãoestarem a desempenhar um papel activo na protecção ambiental e dos animais marinhos.Por exemplo, uma companhia de navegação italiana instalou um sistema que evita a colisãodos seus navios com baleias. Seria uma boa ideia a UE apoiar a adopção de medidas positivasdeste género já aplicadas por companhias privadas.

Ville Itälä (PPE). - (FI) Senhor Presidente, quero agradecer à relatora pelo seu excelenterelatório e especialmente pela firmeza que demonstrou quanto à decisão da OrganizaçãoMarítima Internacional relativa às emissões de enxofre. Espero que a Comissão leve essadecisão em conta, uma vez que a mesma está prestes a ser aprovada com unanimidadepelo Parlamento.

A decisão da OMI foi tomada de forma apressada, sem uma avaliação do impacto ambientale sem estimativas dos custos. A UE não deve repetir o erro da OMI. Se forem definidosdiferentes limites de emissões para o norte e para o sul, haverá distorção da concorrênciaassim como das regras aplicáveis na UE. Os limites das emissões devem ser os mesmos.Tenho a certeza de que a decisão, a ser aprovada, será contrária à lei da concorrência daUE.

O que significará isso, por exemplo, para o meu país? Significará que o sector irá ter defazer face a um encargo adicional de aproximadamente mil milhões de euros por ano.Estão em risco os postos de trabalho dos finlandeses, apesar de estarmos aqui a fazer tudoo que está ao nosso alcance para aumentar o número de postos de trabalho na UE. Estamosa falar da estratégia “Europa 2020”, mas estamos a tomar outras decisões que permitem aeliminação desses postos de trabalho.

Os carregamentos destinados à Finlândia são transferidos para navios russos e sãoposteriormente transportados para a Finlândia em camiões, porque a Rússia não vai ratificaresta decisão da OMI. Não deve ser isso que a UE pretende. Os suecos afirmaram que irãocomeçar a transportar em camiões as cargas que actualmente são transportadas em navios.Iríamos, portanto, tomar uma má decisão para o ambiente e uma má decisão para o futuro

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dos postos de trabalho europeus. Espero que a Comissão entenda efectivamente essadecisão, que vai hoje ser aprovada por unanimidade neste Parlamento.

Guido Milana (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, gostariade agradecer à relatora. Quando se trata da política marítima integrada, temos de ir alémda manifestação de boas intenções e dar um novo impulso a uma estratégia que representeuma via para o crescimento e o desenvolvimento na União Europeia, que compense todoo tempo perdido na prevenção de catástrofes ambientais e na luta contra as alteraçõesclimáticas e a poluição.

Ainda esta manhã o senhor deputado Pirillo recordou ao Parlamento uma outra catástrofeque aconteceu há dias na cidade de Paola, na Calábria. A Comissão tem de provar que estáa envidar esforços reais e que não está simplesmente a utilizar os instrumentos degovernação de que dispõe, mas que está efectivamente a aplicar medidas legislativasespecíficas e a retirar os devidos ensinamentos dos erros do passado causados por umaabordagem por vezes demasiado sectorial na sua essência.

Estamos perfeitamente cientes de que estamos perante um processo complexo, masencontramo-nos numa conjuntura difícil e exigente em que não serão toleradas desatençõese em que são necessários investimentos adequados e mecanismos de governação partilhada,tanto a nível interinstitucional como na cooperação internacional para as bacias regionais,entre as quais se conta o Mediterrâneo devido à complexidade da sua jurisdição.

É por isso que será fundamental encarar a gestão da bacia do Mediterrâneo como um bemcomum partilhado por todos os Estados costeiros, com base no princípio de res communisomnium ou património comum. Caso contrário, a prática cada vez mais generalizada dedeclarar unilateralmente zonas económicas exclusivas ou semelhantes no Mar Mediterrâneo,assim como de proceder de forma contrária ao estipulado na Convenção das Nações Unidassobre o Direito do Mar, irá comprometer o conceito de uma governação partilhada e eficaz.

Neste contexto, gostaria de referir que há apenas um mês esta interpretação por parte daLíbia teve como resultado a realização de um ataque armado a uma embarcação de pescaeuropeia e seria errado assumirmos que se trata apenas de uma questão entre a Itália e aLíbia.

Corinne Lepage (ALDE). – (FR) Senhor Presidente, permita-me começar por agradecerà senhora deputada Meissner, nossa relatora, pelo seu excelente relatório e, sobretudo, pelasua magnífica cooperação com o Intergrupo “Mares e Zonas Costeiras" a que presido eque, através dos bons ofícios nossa relatora, conseguiu a aprovação das alterações relativasa questões de grande importância para os seus membros. Este relatório proporciona-nosa possibilidade de nos projectarmos para o futuro, o que, dada a situação presente, é damáxima importância.

Estamos absolutamente determinados quanto à integração de dois aspectos na políticamarítima integrada (PMI). Em primeiro lugar, que seja concedida prioridade à preservaçãodo ambiente marinho e costeiro. Já dispomos de uma directiva-quadro, mas existem outrosinstrumentos que têm de ser reforçados, especialmente em matéria de gestão integradadas zonas costeiras e de ordenamento do espaço marítimo.

Temos de aproveitar os próximos três anos para criar uma verdadeira política comunitárianeste domínio que nos permita colmatar esta separação artificial dos instrumentos para aterra e os instrumentos para o mar, caso contrário os nossos concidadãos não entenderão.

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Portanto, as nossas expectativas relativamente à Senhora Comissária Damanaki quanto aeste assunto são grandes.

O segundo ponto é o “crescimento azul”. Estamos todos muito empenhados nesta questãoe esperamos que o estudo lançado pela Direcção-Geral dos Assuntos Marítimos e das Pescasesclareça as fontes de actividade e de emprego com que poderemos contar.

Chamo a vossa atenção para o projecto denominado “Vasco da Gama” lançado pelas regiõesmarítimas e agradeço à senhora deputada Meissner por o ter tido em consideração.

Isabella Lövin (Verts/ALE). – (SV) A política marítima integrada constitui uma estratégiaque merece todo o apreço, dado que os nossos mares estão interligados e porque todos ossectores que exploram os recursos marinhos exercem um efeito combinado no ambientemarinho. Isso significa que seria devastador e irresponsável continuar a tomar decisõesrelacionadas com o ambiente marinho sem levar em conta o efeito cumulativo nos maresdas actividades de pesca, das dragagens, da navegação, da energia eólica e das ondas, doturismo e de outras actividades.

A Directiva-Quadro "Estratégia Marinha" constitui o pilar ambiental da política marítimaintegrada e refere que todos os Estados-Membros terão alcançado um bom estado ambientalno meio marinho até 2020. Para que isso seja possível, os Estados-Membros devem, tãodepressa quanto possível, aplicar uma forma de governação marítima que seja integradana prática, com um centro único de decisões.

Dou-vos um exemplo de como as coisas podem correr mal quando os diversos utilizadoresdos mares são governados por autoridades e legislações diferentes. No Sul do Kattegatt,na Suécia, a Suécia e a Dinamarca chegaram a um acordo relativamente à protecção dazona de desova do bacalhau numa tentativa desesperada de proteger as últimas unidadespopulacionais deste peixe. Recentemente, uma outra autoridade sueca decidiu que omunicípio de Falkenberg seria autorizado a despejar no mar enormes quantidades deresíduos de dragagens efectuadas nos portos, precisamente na zona de desova do bacalhau.

Os Estados-Membros têm a obrigação de obter um bom estado ambiental do meio marinhoaté 2020. Isso só será possível congregando as decisões que afectam os mares e procedendoao ordenamento do espaço marítimo.

O ordenamento do espaço marítimo irá ainda permitir-nos ver de forma mais exacta quemtem interesses nos mares, quem pretende explorar os seus recursos e deixar claro que estãotodos sujeitos às mesmas regras. Os operadores do sector da pesca devem também realizaravaliações de impacto ambiental e têm de seguir o princípio das boas práticas. Têm derespeitar o princípio da precaução, exactamente como sucede com os gasodutos instaladosno fundo do mar ou os parques eólicos.

Essa medida constituiria um enorme passo no rumo certo.

Marek Józef Gróbarczyk (ECR). – (PL) O relatório sobre a política marítima integradafaz-nos reflectir e exige toda a nossa atenção. A breve apresentação do relatório nos termosdo artigo 48.º do Regimento, as poucas possibilidades de apresentar alterações, o que écontrário às regras, e a rejeição da maior parte das alterações propostas pela ComissãoEuropeia não nos deixam muito optimistas nem confiantes de que a Comissão dosTransportes e do Turismo irá tratar a questão da política marítima integrada de uma formaplenamente responsável.

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Não esqueçamos que o sector marítimo europeu se encontra a atravessar uma enormecrise. O sector está a ser destruído pelo dumping e pela concorrência do Extremo Orientee pela aquisição das companhias de navegação por operadores de baixo custo. Isso está aacontecer em resultado da ausência de uma política marítima integrada europeia. Estamosa enfrentar uma crise no sector da construção naval. Posso acrescentar que no meu país,os dois maiores estaleiros foram recentemente encerrados e que tal aconteceu sob influênciadas pressões exercidas pela Comissão Europeia e face à acção ineficaz do Governo polaco.Esta medida causou uma enorme migração económica e aumentou o desemprego. Portanto,apelo a que dediquemos a devida atenção à política marítima integrada e a que adoptemosuma abordagem plenamente responsável deste tema.

João Ferreira (GUE/NGL). - Senhor Presidente, a incidência de um grande número deactividades e de políticas sectoriais sobre o meio marinho, desde a pesca ao transportemarítimo, passando pelo turismo, a energia, a ciência e tecnologia e outras, exige umapolítica integrada que promova uma inter-relação benéfica de todas estas áreas num quadrode sustentabilidade do meio marinho e de preservação dos respectivos ecossistemas, porquenesta inter-relação têm um peso determinante as especificidades locais e regionais e porqueé também a este nível que terão expressão os efeitos desta política integrada. É tambémpor este nível que deve passar a sua definição, mais do que a sua mera implementação,envolvendo as comunidades costeiras que interagem com o meio marinho, que o animame que dele dependem, sem esquecer a necessária visão de conjunto e a imprescindívelarticulação e cooperação que decorre do facto de os oceanos e mares estarem interligadose serem interdependentes.

Qualquer iniciativa comunitária nesta área deverá salvaguardar a soberania e ascompetências dos Estados-Membros relativamente às suas águas territoriais e zonaseconómicas exclusivas e, ao mesmo tempo, contribuir para a valorização dos recursos aípresentes como parte do seu potencial endógeno e das suas vantagens comparativas.

Uma visão compreensiva de uma política marítima integrada deve abarcar, entre outrosaspectos – como a promoção da investigação marinha e do desenvolvimento e da tecnologiae engenharia marítima nas suas várias vertentes, incluindo a construção naval –, a promoçãodo transporte marítimo, ambientalmente mais sustentável, e das infra-estruturas portuáriasno quadro da sua gestão pública, uma valorização da pesca, assegurando a modernizaçãodo sector e a sua sustentabilidade ambiental e a sua viabilidade socioeconómica, umfinanciamento adequado e autónomo que não retire recursos ao Fundo Europeu das Pescase, por fim, o papel e as características especiais das regiões ultraperiféricas.

Nick Griffin (NI). – (EN) Senhor Presidente, antes de solicitarmos o parecer de qualquerespecialista, é conveniente analisarmos as suas credenciais para avaliar da sua competência.O relatório sobre a política marítima integrada é em parte um trabalho da Comissão dasPescas, pelo que, antes de aderirmos aos seus esquemas grandiosos, convém analisar deforma criteriosa os resultados da União Europeia em matéria de gestão dos mares. Issosignifica, inevitavelmente, analisar a situação nas antigas águas soberanas do Reino Unido,secretamente traídas em nome do controlo da burocracia europeia em 1973, dado queaproximadamente 70% dos denominados “recursos piscatórios da UE” são, na realidade,recursos piscatórios do Reino Unido.

De que forma se ressentiram as nossas unidades populacionais de pescado e os nossospescadores no âmbito da política comum das pescas? Os números dizem-nos muito maisdo que as bonitas palavras deste relatório. Oitenta e oito por cento das unidades

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populacionais da UE estão sobreexploradas, comparativamente com a média mundial decerca de 27%. Trinta por cento das nossas espécies haliêuticas estão agora oficialmentefora dos limites biológicos de segurança, porque existem muito poucos espécimes de peixesadultos para a reprodução normal. No âmbito do obsceno sistema de quotas da PCP, cercade um milhão de toneladas de peixes é todos os anos devolvido morto ao mar, só no Mardo Norte. Entretanto, a captura industrial desmedida de espécies como a galeota levou àdiminuição abrupta de populações de várias espécies de aves como o papagaio-do-mar.

A sul da Europa o quadro é igualmente grave. Os pescadores da África Ocidental, cujomodo de vida se mantém inalterado há várias gerações, estão a ser forçados a dedicar-seao tráfico de seres humanos porque os navios de registo europeu contribuíram para esgotaras suas águas dos recursos piscícolas.

Chegou a altura de a UE reconhecer que os seus resultados em matéria de gestão marítimasão os piores em todo o mundo, e que constituem um exemplo típico do que é conhecidopela designação de tragédia do bem público – o fenómeno pelo qual os recursos comunssão explorados de forma impiedosa, porque aqueles que dão provas de contenção ficamem desvantagem face ao menos escrupulosos.

Chegou a altura de devolver o controlo dos mares e das zonas de pesca aos Estadossoberanos, cujos antecedentes comprovam da sua idoneidade para exercer essa gestão.Relativamente aos dois terços das águas europeias que a UE delapidou até à extinção dasespécies, o mesmo se aplica à nação e os pescadores britânicos.

Luis de Grandes Pascual (PPE). – (ES) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhorase Senhores Deputados, penso que a senhora deputada Meissner merece as nossas felicitações.Já ouvimos posições divergentes e até mesmo conflituosas, mas a senhora relatora conseguiuencontrar soluções de compromisso que nos permitem hoje estar unidos em torno desteassunto importante.

Senhoras e Senhores Deputados, a Comissão dos Transportes e do Turismo decidiu quetodos os mares devem ser protegidos de igual forma, defendendo que qualquer outrasolução daria origem a situações de concorrência desleal.

Aceitamos a posição da maioria, a favor de uma situação jurídica com regras uniformespara toda a União, apesar de eu não poupar aos senhores deputados o facto de tal soluçãotambém criar uma certa falta de equidade.

É evidente que o Mar Báltico, o Mar do Norte e o Canal da Mancha estão mais poluídos e,a meu ver, o controlo das emissões de enxofre terá de ser mais rigoroso.

As medidas relativas à redução do tempo de transporte e dos custos de manuseamentoconstituem seguramente iniciativas positivas. Contudo, não me cansarei de repetir: aindatemos trabalho a fazer quanto a esta questão. Se não liberalizarmos de forma decidida osnossos portos, estes não poderão ampliar o papel fundamental que terão de desempenharno contexto da co-modalidade.

A promoção de uma estratégia de redução das emissões de CO2 que visa alterar asrepercussões específicas das alterações climáticas é também de saudar.

Considero que estamos perante um bom relatório, que deve ser aprovado. Mas não podemosesquecer que ele surge no contexto de uma catástrofe grave, a que está a afectar o Golfodo México.

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A este propósito, instamos a Comissão a analisar a eventual necessidade, no âmbito darevisão do Regulamento da Agência Europeia da Segurança Marítima, de reforçar o papelda Agência na realização de inspecções de prevenção e de trabalhos de limpeza após oderrame de hidrocarbonetos. Senhora Comissária, considero que esta é uma reformafundamental e que deve utilizar-se o mandato necessário para apoiar estes trabalhos.

Saïd El Khadraoui (S&D). – (NL) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhoras eSenhores Deputados, gostaria de começar por agradecer à senhora deputada Meissner peloseu excelente trabalho e pela forma como conseguiu criar um amplo consenso com o seurelatório. Gostaria, na qualidade de coordenador do meu grupo, de aproveitar estaoportunidade para prestar homenagem ao nosso antigo colega, senhor deputado Piecyk,que infelizmente faleceu há dois dias e que desenvolveu um trabalho inovador nesteParlamento no sentido de dar corpo a uma política marítima integrada europeia – algo emque nos podemos basear hoje.

Trata-se claramente de um sector complexo, com múltiplos aspectos, pelo que teremosque trabalhar muito para alcançar o nosso objectivo. Para começar, temos de impor umnovo dinamismo ao sector através da criação de estruturas eficazes e medidas adequadas;afinal, este sector proporciona um grande número de postos de trabalho em toda a Europa,tanto directa, como indirectamente e, em particular, é fundamental para o desenvolvimentodas nossas zonas costeiras e portuárias.

A estrutura já foi referida e inclui também as estruturas europeias. A Agência Europeia daSegurança Marítima (EMSA) deve ser efectivamente reforçada e deve ser-lhe atribuído umpapel mais relevante, assim como competências e recursos adequados. Colocou-se a questãoda catástrofe do derrame e da extracção de petróleo. Quanto a este aspecto, parece-me quedeveria ser claro que qualquer alteração subsequente às competências deveria reforçar aposição da EMSA. A EMSA deveria também estar a desempenhar um papel importante napromoção da cooperação entre os serviços de inspecção nacionais, os serviços de controlodas zonas costeiras e outros nos Estados-Membros.

Além disso, colocam-se, como é natural, alguns desafios ambientais importantes. Anavegação polui mais do que seria necessário. Existem, portanto, muitos aspectos amelhorar. Estamos a falar das normas relativas às emissões de enxofre, que devem ser iguaisem todo o lado, e de um regime de comércio de emissões – e exorto a Comissão a continuara exercer pressão na Organização Marítima Internacional (OMI) relativamente a estaquestão. Além disso, necessitamos de um ordenamento do espaço marítimo eficaz, comoé óbvio.

Um último ponto: penso que também é importante tomar medidas a nível social paravalorizar a imagem da profissão entre os jovens.

Britta Reimers (ALDE). – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, apolítica marítima integrada é uma área orientada para o futuro. Os oceanos estão cada vezmais a ser utilizados de forma intensiva para o transporte, para as actividades económicasmarítimas, para a energia offshore e para a pesca, e há que coordenar o desenvolvimentodessas áreas. O espaço disponível é limitado e, por conseguinte, os diversos sectoresmarítimos devem adoptar uma abordagem responsável e reflectida da realização do trabalhoem conjunto. A utilização e protecção dos mares não podem entrar em conflito entre si.Estas duas áreas são interdependentes, porque os oceanos só podem apoiar-nos se estiveramsaudáveis. Gostaria de destacar a cooperação positiva entre os países limítrofes do Báltico,que estão a trabalhar em conjunto na promoção do desenvolvimento dinâmico das pescas,

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do ambiente, das infra-estruturas e do turismo nas regiões costeiras. Temos de continuara centrar as nossas atenções no sector da pesca, que está numa situação precária e éfrequentemente considerado de baixa prioridade, mas que, porque nos fornece produtosalimentares, representa um elo vital na economia costeira.

Quero congratular a senhora deputada Meissner pelo seu relatório tão positivo.

Elie Hoarau (GUE/NGL). – (FR) Senhor Presidente, creio que o relatório demonstra bemos desafios colocados pelo ambiente marinho em termos de pescas, aquicultura, transportes,turismo, energia, recursos mineiros e biológicos e investigação no domínio das alteraçõesclimáticas. Existe um potencial de desenvolvimento considerável que deve ser salvaguardado,protegido e valorizado de forma duradoura, porque o futuro da humanidade dele depende.O relatório refere também, e com razão, que a União Europeia é a primeira potênciamarítima mundial e que as suas regiões ultraperiféricas garantem à UE a maior zonaeconómica exclusiva do mundo.

Portanto, à luz de tal constatação, cabe à União Europeia aplicar uma política ambiciosa,uma política marítima importante. Se a primeira potência marítima mundial não o fizer,quem o fará? Há que dizer, no entanto, que a resolução não vai muito longe nesse sentido.Não podemos afirmar que somos o principal decisor político mundial com apenas 50milhões de euros.

Por fim, apesar de as regiões ultraperiféricas deterem uma posição estratégica reconhecidadevido à sua presença em todos os oceanos, teria sido sensato atribuir-lhes um papel derelevo numa estratégia importante para os oceanos. Infelizmente, esse aspecto não foiconsiderado pela relatora e lamento que tal não tenha acontecido.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE). - Senhor Presidente, Senhora Comissária, os oceanose mares representam 70 % da superfície do planeta, foram berço da vida e, ao longo dahistória da Humanidade, têm sido fonte de alimento através da pesca e via de comunicaçãode povos e culturas através do comércio marítimo. Encontramos aqui a génese do conceitode actividades marítimas tradicionais, pesca e transportes.

Actualmente, o mar vai ganhando um novo papel no contexto do mundo global comopalco geoestratégico e geopolítico que confere centralidade à Europa. Além disso, hojevivemos o designado período dos novos usos para os oceanos, com a exploração dos seusrecursos energéticos, minerais, genéticos, que, a par com a pesca e transportes marítimos,exigem uma perspectiva holística e uma acção concertada, de que, aliás, a Sra. Meissnerprocurou dar uma imagem, pelo que a felicito vivamente.

O planeamento do espaço marítimo europeu e dos seus usos é fundamental para a UniãoEuropeia, sobretudo para as regiões costeiras e ainda mais para as regiões ultraperiféricas.Para que a PMI seja um todo maior do que a soma das partes, e valorizando aqui o sectordas pescas, é imperioso que esta actividade se faça representar nos clusters das actividadesmarítimas para que, de uma forma sinergética, se aglutinem vontades e ultrapassemdificuldades decorrentes da sobreposição de interesses no uso do espaço marítimo.

Neste âmbito, a protecção das regiões biogeográficas marinhas mais sensíveis sob o pontode vista ecológico e o fomento de uma pesca sustentável, com o recurso a artes de pescacada vez mais selectivas, é um imperativo para que se cumpra o estabelecido em 2002 naCimeira de Joanesburgo. Importa, pois, garantir a criação de instrumentos políticostransectoriais que enquadrem os diferentes sectores das diversas actividades marítimas,

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defendendo as suas exigências e especificidades respectivas em matéria de utilização dodomínio marítimo.

A protecção dos oceanos é uma obrigação moral que temos para connosco e para com asgerações futuras.

Spyros Danellis (S&D) . – (EL) Senhora Comissária, quase todas as civilizações na históriada Europa se basearam no mar. Hoje, o Tratado de Lisboa impõe a adopção de novaspolíticas e instrumentos que visam a minimização dos conflitos, a promoção de sinergiasdinâmicas e a eliminação da concorrência desleal tendo em vista a protecção do ambientee a criação de postos de trabalho. A política marítima integrada exige uma estratégiatranssectorial e global para o desenvolvimento sustentável das regiões costeiras e insularese dos mares.

Um instrumento básico para a delimitação racional das utilizações dos mares é oordenamento do espaço marítimo transfronteiriço. Temos de incentivar a adopção deestruturas únicas de governação marítima integrada a nível regional e o desenvolvimentode estratégias dirigidas para as macro-regiões marítimas da União. Temos de analisar apossibilidade da criação de uma guarda costeira europeia para uma vigilância marítimaintegrada eficiente.

Por fim, ninguém pode discordar de que o sector dos transportes marítimos tem decontribuir para a redução das emissões de dióxido de carbono. Temos de exercer umapressão coordenada no sentido da aplicação dos regulamentos da OMI, uma vez que umadecisão unilateral da Europa de criação de um RCLE para os transportes marítimos teria,receio bem, consequências desastrosas para as companhias europeias, ao adiar a adopçãode uma solução adequada, nomeadamente dos regulamentos internacionais, não esquecendoque os transportes marítimos constituem uma actividade internacional por excelência.

Debora Serracchiani (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,agradeço à senhora deputada Meissner pelo seu relatório sobre a política marítima integradae concordo com a senhora relatora quanto à necessidade de reforçar os transportesmarítimos e o sector da construção naval para salvaguardar as regiões costeiras e promovera inovação e as actividades de investigação.

Actualmente, os transportes marítimos desempenham um papel fundamental no comércio.Por isso, temos de incentivar a cooperação entre os pequenos e os grandes portos que seencontram face-a-face na mesma bacia marítima e que pode facilitar a fluidez das trocascomerciais. Além disso, para assegurar a intermodalidade, temos de investir nasinfra-estruturas dos portos e dos portos secos, especialmente em portos que podem serligados através dos corredores europeus.

Para concluir, parece-me importante não descurar outro aspecto, nomeadamente o dasegurança nos portos. Todas as medidas relacionadas com a segurança nos portos europeustêm de ser harmonizadas para proporcionar uma melhor protecção dos transportesmarítimos e evitar que a concorrência desleal prejudique esses portos que têm,efectivamente, de suportar custos superiores para velar por um nível de segurança maiselevado.

Marian-Jean Marinescu (PPE). – (RO) O desenvolvimento de uma política marítimaintegrada é absolutamente necessário, dado que a abordagem fragmentada adoptada nopassado conduziu à ineficiência e a conflitos neste domínio. O relatório da senhora deputadaMeissner reitera a opinião do Parlamento relativamente à criação de um processo decisório

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integrado, coerente e comum no que toca aos oceanos, aos mares, às zonas costeiras e aossectores marítimos. A política marítima integrada facilita a adopção de uma abordagemtranssectorial da governação marítima, ajudando a identificar e utilizar áreas de sinergiaentre as políticas da União Europeia que se inserem neste contexto.

A proposta de um regulamento prevê um programa que proporcione um quadro estávelpara a manutenção da assistência concedida às iniciativas neste domínio e permitirá umautilização mais coerente dos fundos destinados ao desenvolvimento dos mares e das zonasmarítimas. Infelizmente, a única solução de financiamento viável e possível na actualconjuntura económica foi a modesta contribuição financeira da UE. Não obstante, esperoque este método de financiamento permita alcançar os objectivos da política marítimaintegrada tanto a curto como a médio prazo.

Luís Paulo Alves (S&D). - Senhor Presidente, o crescimento inteligente, como épreconizado na Estratégia 2020, só pode ser conseguido se mobilizarmos de uma formainteligente as diferentes potencialidades contidas na diversidade europeia.

Vinte e cinco milhões de quilómetros quadrados de zona exclusiva conferem à UniãoEuropeia a maior ZE do mundo. Trezentos e vinte mil quilómetros de litoral, onde viveum terço da nossa população, gerando 40 % do nosso produto interno bruto, e 95 % docomércio externo são números que devem alertar a Comissão e o Conselho para agir, nosentido de que não podem dispensar uma política marítima europeia integrada na obtençãodo crescimento inteligente essencial ao sucesso da Estratégia 2020.

Chamo a atenção, em particular, para o potencial da riqueza biogenética e mineral que onosso mar profundo e os nossos fundos marítimos encerram e que são hoje ainda malconhecidos e para a necessidade de aumentarmos o nosso esforço de investigação edesenvolvimento nessas áreas.

Michael Theurer (ALDE). – (DE) Senhor Presidente, Senhora ComissáriaGeoghegan-Quinn, Senhoras e Senhores Deputados, temos de preservar os oceanos doplaneta enquanto ecossistema. No entanto, os oceanos e o conceito de globalização nãose excluem mutuamente. As rotas marítimas são essenciais para a nossa prosperidade,porque constituem as artérias do comércio mundial. Há muito a fazer neste contexto paragarantirmos a protecção do ambiente e a segurança das nossas rotas de transporte.

Futuramente, teremos também de assegurar o nosso aprovisionamento de matérias-primas.Segundo as previsões dos cientistas, o fundo do mar e o próprio mar dispõem dematérias-primas valiosas. O que importa considerar é o modo de as extrair respeitando oambiente.

O terceiro aspecto que gostaria de referir é a ligação entre os oceanos e as vias navegáveisinteriores. Considero que é importante estabelecer uma ligação com o transporte por viasnavegáveis interiores. O desenvolvimento do Danúbio desempenha um papel de relevorelativamente a este aspecto. Sendo o maior rio da UE, possibilita, em conjunto com ocanal Reno-Meno-Danúbio, a ligação entre o Mar Negro e o Mar do Norte. Deveríamoscriar uma ligação entre a política marítima integrada e as vias navegáveis interiores.

Gerard Batten (EFD). - (EN) Senhor Presidente, não deveria constituir surpresa paraninguém o facto de a UE querer integrar a política marítima, tal como quer integrar tudoo mais da Europa em todos os aspectos da vida e da política pública.

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Perguntei à Agência dos Assuntos Marinhos e das Pescas do Reino Unido que quantidadede peixe estava a ser capturada em águas britânicas. Responderam-me que “não é possívelidentificar as águas do Reino Unido. Agora são identificadas como fazendo parte das águasda CE”. Por isso, o Reino Unido já não possui águas territoriais.

Talvez seja relevante discutir hoje esta questão porque, tal como todos deverão saber, seassinala hoje o 205.º aniversário da Batalha de Trafalgar, que aconteceu em 21 de Outubrode 1805, quando o Almirante Lord Nelson e muito outros homens de coragem sacrificarama vida e morreram para que a Grã-Bretanha pudesse continuar a ser um país livre eindependente. As últimas palavras que proferiu antes de morrer foram "Graças a Deus,cumpri o meu dever". Os deputados do UKIP irão cumprir o seu dever esta tarde e votarcontra este relatório.

Andreas Mölzer (NI). – (DE) Senhor Presidente, continuamos a saber muito pouco sobreos ecossistemas marinhos e muitas zonas, em especial do mar profundo, são apenasmanchas brancas nos nossos mapas. Contudo, os mares e os oceanos representam um dosmaiores desafios deste século e não apenas porque nos fornecem alimento e proteínas. Oseu papel no nosso sistema climático e, por conseguinte, a sua contribuição para o bem-estarda humanidade não deve ser subestimado.

O exemplo do Grande Barreira de Coral demonstra que os ecossistemas marinhosconseguem regenerar-se, caso sejam adoptadas as medidas de protecção ambientalnecessárias. Nas zonas protegidas do recife, as unidades populacionais de peixesaumentaram entre 30% e 75% em apenas dois anos. Dado que mais de 40% da populaçãomundial vive a menos de 100 quilómetros de distância do mar e que pode, portanto, seratingida por um maremoto, congratulo-me muito com o plano de execução de umaestratégia europeia conjunta de prevenção de catástrofes para as nossas zonas costeiras.Contudo, a definição de diferentes limites de emissões no espaço das águas da UE é contráriaà política marítima integrada, que visa levar todos os factores em consideração. Temos deser coerentes quanto a este aspecto.

Petru Constantin Luhan (PPE). – (RO) A importância da política marítima integrada éincontestável, tendo em conta que a União Europeia é a primeira potência marítima mundiale que 40% do PIB da UE é produzido em redor dos mares e das zonas costeiras. Ao aplicaros objectivos dessas políticas, há que prestar especial atenção às especificidades regionaisdos mares que circundam a Europa. Cada zona marítima é única e exige uma atençãoparticular para se alcançar um equilíbrio sustentável com os seus utilizadores.

Simultaneamente, temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que esta políticabeneficie de um financiamento adequado tendo em perspectiva o próximo período deprogramação, criando assim uma nova abordagem que vise incentivar o desenvolvimentoideal sustentável de todas as actividades marítimas e que abranja todas as bacias marítimas.Essa medida permitir-nos-á desfrutar de benefícios muito maiores, atenuandosimultaneamente o impacto ambiental.

Kriton Arsenis (S&D). – (EL) Senhor Presidente, Senhora Comissária, os relatores e osrestantes colegas falaram aprofundadamente sobre o conteúdo da política marítimaintegrada. Gostaria de me concentrar na questão das emissões dos navios. Não será, defacto, tarefa fácil, mas temos de incluir as emissões dos navios nos planos para reduzir asemissões globais. Para ser eficaz, essa inclusão tem de ser concretizada a título prioritárioao abrigo de um acordo internacional da OMI. Se não for possível alcançar esse acordo, éevidente que teremos de ponderar seriamente a adopção de medidas regionais a nível da

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UE. Como referiu o senhor deputado Danellis, esta não será uma tarefa fácil e, para termosalguma possibilidade de sucesso, precisamos de seguir o exemplo do sector da aviação.

Estas medidas têm de ser aplicadas com base no porto de escala dos navios mercantes etemos de decidir como tributar as emissões. O RCE revelou-se bastante complicado e poucoeficiente; precisamos de encontrar uma solução simples mas eficaz; talvez uma taxa sobreo carbono ou outros métodos híbridos que sejam simples e eficazes.

Werner Kuhn (PPE). – (DE) Senhor Presidente, gostaria de sublinhar mais uma vez aestratégia da União Europeia em matéria de transportes. O nosso objectivo é transferir asmercadorias das estradas para o mar e disponibilizar meios de transporte eficientes eecológicos. Contudo, em certas zonas de transporte marítimo, não podemos definirobjectivos ambientais tão elevados como nas zonas de controlo das emissões de enxofredo Mar Báltico e do Mar do Norte, caso contrário o custo dos transportes aumentarádrasticamente. Os senhores deputados Itälä e Fleckenstein já referiram este aspecto. Querosolicitar à senhora Comissária Geoghegan-Quinn que avalie muito atentamente o estudoque está a ser elaborado. Não queremos deslocar de novo os transportes do mar para asestradas e pretendemos uma concorrência leal no Norte da Europa, na União Europeia ena região mediterrânica. Esse é um dos requisitos fundamentais.

Quanto à segurança marítima, gostaria também de dizer que deve desempenhar um papelmaior na política marítima integrada no que respeita às linhas e estreitos de navegaçãomuito utilizados. Por exemplo, no Canal de Kadet e no Bósforo, como referiu um dos meuscolegas, deve existir no futuro pilotagem obrigatória. Nos locais onde passam grandespetroleiros e cargas extremamente complexas, a pilotagem obrigatória aumentaria os níveisde segurança marítima.

Silvia-Adriana Ţicău (S&D). – (RO) O sector do transporte marítimo e da construçãonaval contribui significativamente para a prosperidade económica dos países da UE e prestavaliosos serviços à indústria europeia e global, bem como aos consumidores.

Felicito a senhora deputada Meissner pelo seu relatório. Quero salientar a importância deum espaço marítimo sem obstáculos. Ao mesmo tempo, instamos a Comissão e aosEstados-Membros a avaliarem e preservarem os pequenos portos marítimos, a alargarema rede de transportes marítimos de curta distância para minimizar as distâncias do transporteterrestre, a apoiarem a investigação e a inovação de modos de transporte de carga, demanuseamento de carga e de soluções logísticas com o objectivo de encontrar soluçõesque reduzam o tempo de transporte e os custos de manuseamento e a apoiarem odesenvolvimento de infra-estruturas portuárias e assegurarem a intermodalidade.

Colocando a tónica na importância geoestratégia do Mar Negro, o Conselho Europeu devesolicitar à comissão Europeia que elabore uma estratégia da União Europeia para o MarNegro. Infelizmente, até ao momento, tem sido dedicada muito pouca atenção ao MarNegro, que tem um significado geoestratégico para a União Europeia.

Pat the Cope Gallagher (ALDE). - (EN) Senhor Presidente, o desenvolvimento de umapolítica marítima integrada assume uma importância vital para os irlandeses, para oseuropeus e, na verdade, para a economia global. Sendo a Irlanda uma economia insular, otransporte marítimo é a pedra angular da indústria irlandesa.

Mais de 99%, repito, 99%, do volume de todo o comércio irlandês tem lugar por viamarítima. Estima-se que a base industrial marítima da Irlanda seja responsável pelo emprego

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de aproximadamente 8 000 pessoas, gerando anualmente mais de 1,5 mil milhões de eurosna economia.

O sector liga a economia irlandesa ao resto da Europa e ao resto do mundo. É tambémvital, do ponto de vista estratégico, para o meu país e para a recuperação da economiairlandesa. A rápida evolução do sector marítimo exige uma abordagem unificada a níveleuropeu, e o crescimento das actividades no mar, como o transporte marítimo, odesenvolvimento, a aquicultura e o turismo – combinadas com novas utilizações do mar,como as tecnologias submarinas, as energias renováveis offshore e a biotecnologia azul –aumentam a pressão sobre um espaço marítimo já de si limitado.

Josefa Andrés Barea (S&D). – (ES) Senhor Presidente, a política marítima integrada éuma política transversal, regional e sectorial em que é necessário incluir a estratégia emmatéria de pescas e de aquicultura, de uma forma que não a subordine a outras políticas.Temos todos de abordar os problemas ambientais e económicos que afectam a sociedadeem geral e o sector da pesca em particular: novas tecnologias, equipamento de pesca,desenvolvimento de espécies, um programa de economia marítima para criar mais emelhores empregos, abastecimentos de qualidade, relações internacionais que evitem apirataria e favoreçam a governação do mar, que não tem obstáculos, e ausência de problemasde sustentabilidade, como é o caso da Islândia.

É isto que temos de fazer se pretendemos alcançar uma política marítima integrada e setencionamos trabalhar em nome do ambiente e da sustentabilidade.

Mario Pirillo (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhora Comissária, caros Colegas, apolítica marítima integrada tem um papel horizontal: incorpora vários aspectos, desde oambiente à investigação marinha e marítima.

A política marítima integrada não prevê a supervisão dos limites das águas territoriaisinternacionais para detectar a pesca ilegal ou as violações desses limites. Espero que esteaspecto seja seriamente tomado em consideração no contexto dos fundos reservados paraa aplicação desta política e que esses fundos ajudem a reforçar os controlos graças amodernos sistemas de vigilância como os serviços de Monitorização Global do Ambientee da Segurança.

O aspecto horizontal que caracteriza o transporte marítimo integrado será assegurado –espero que no próximo pacote de financiamento – pelo orçamento da UE e não pelosrecursos destinados à pesca, que são utilizados para acções específicas. Estou muito gratoà relatora por este texto importante e espero que a Comissão e o Conselho acedamintegralmente às nossas solicitações.

Presidente. – Muito obrigado, Senhor Deputado Pirillo. Não incluí as observações iniciaisno seu tempo de uso da palavra, porque o que o senhor disse é importante. Contudo, possoassegurar-lhe que todos os Vice-Presidentes fazem um grande esforço a este respeito.Gostaria de o convidar a participar num concurso comigo. Retiraremos os nomes dosdeputados a esta Assembleia de um chapéu e veremos quem os pronuncia melhor. Aindaassim, por vezes os erros acontecem em momentos de pressão, pelo que peço a suatolerância.

Inés Ayala Sender (S&D). – (ES) Senhor Presidente, obrigada pela sua generosidade.Gostaria de felicitar muito calorosamente a senhora deputada Meissner pelo seu excelentetrabalho e também pela sua capacidade de integrar os pedidos e as alterações dos nossoscolegas.

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Estou particularmente grata por duas alterações específicas. A primeira é aquela em quese solicita à Comissão que melhore as condições de trabalho no mar e transponha finalmentepara a legislação da UE a Convenção do Trabalho Marítimo da Organização Internacionaldo Trabalho (OIT). A alteração inclui igualmente uma proposta para um programa dequalificação e formação de marítimos, que irá prever especificamente o recrutamento dejovens e a inclusão de países terceiros.

Agradeço também a alteração em que instamos a Comissão a ajudar os Estados-Membrosa executar um programa de localização e levantamento cartográfico de destroços de naviose relíquias submarinos, que fazem parte do património histórico e cultural da Europa –sou oriunda de Espanha, um país com uma grande quantidade de relíquias ao largo dasduas costas. Este programa facilitará a compreensão e o estudo deste património submarinoe ajudará a prevenir pilhagens, permitindo assim uma conservação adequada.

Penso que estes dois aspectos, além das excelentes propostas da senhora deputada Meissner,irão desempenhar um papel importante na criação da nova consciência marinha de que aEuropa necessita.

Máire Geoghegan-Quinn, Membro da Comissão. − (EN) Senhor Presidente, sei que, noinício do debate, a senhora deputada Meissner expressou a sua desilusão com a presençade tão poucos deputados nesta Câmara. Penso que a senhora deputada se deve congratularcom o facto de 37 oradores terem contribuído para o debate.

De facto, tivemos um debate vivo que lançou ideias novas para nos incentivar a ter objectivoscada vez mais ambiciosos em termos das políticas marítimas que seguimos. Precisamosde gerir as finanças da UE, no que se refere às questões marítimas, no contexto da propostade regulamento da Comissão destinada a financiar a política marítima integrada em 2011,2012 e 2013. A finalidade do financiamento proposto, nomeadamente 50 milhões deeuros, é prosseguir o trabalho realizado desde 2007 para suprimir obstáculos e libertarsinergias aproximando todas as políticas com impacto sobre o mar, como o transporte, apesca, as alfândegas e a protecção do ambiente marinho.

A Comissão aguarda com expectativa o trabalho com o Parlamento para a entrada emvigor oportuna deste regulamento a fim de podermos aplicar as nossas futuras medidasintegradas em matéria de política marítima. Além disso, a vigilância marítima é uma novae importante iniciativa, que se propõe promover uma enorme mudança em todas as acçõesfuturas das autoridades marítimas no mar e visa instituir um ambiente comum de partilhade informações para o domínio marítimo da UE.

A comunicação da Comissão sobre esta iniciativa foi publicada apenas ontem. É o culminarde um trabalho intenso que produziu um roteiro em seis etapas com que se pretendealcançar, num período curto, a integração da vigilância marítima que parecia extremamentedifícil de conseguir há apenas alguns meses.

Passo agora a um conjunto de questões que foram colocadas. No que respeita às emissõesde enxofre, a Comissão está plenamente ciente das preocupações manifestadas por gruposindustriais sobre os impactos que podem ocorrer devido às novas normas de qualidadedos combustíveis navais adoptadas pela OMI em 2008. Foi por isso que a Comissão solicitou– e posteriormente saudou – o acordo da OMI que, segundo as estimativas actuais, devereduzir as emissões de dióxido de enxofre até 90% e, mais importante ainda, as emissõesde partículas secundárias até 80%.

41Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

A Comissão apresentará uma proposta para alinhar a legislação da UE com a decisão daOMI durante os próximos meses. A proposta será acompanhada por um relatóriopormenorizado que irá incluir também o resultado da nossa avaliação de impacto ex postrelativa à decisão da OMI, bem como possíveis medidas que a Comissão pode tomar paramitigar efeitos indesejados no sector.

O senhor deputado de Grandes Pascual levantou a questão das bacias marítimas. A UE temconhecimento de diferentes situações em bacias marítimas e está a desenvolver estratégiasadequadas para cada uma, adaptadas a necessidades específicas.

Finalmente, a senhora deputada Rosbach e outros oradores mencionaram o tema de umprograma anticatástrofes. A Agência Europeia de Segurança Marítima está encarregue desupervisionar a segurança do transporte marítimo. Actualmente, não possui competênciajurídica para exercer regulação no domínio das catástrofes ambientais, mas estão em cursodiscussões – no contexto da decisão da Comissão de alargar ou renovar o presente mandatoda Agência Europeia de Segurança Marítima – sobre se devem ser atribuídos poderes àagência nos próximos anos. Naturalmente, o Parlamento terá um papel central nestaquestão.

Finalmente, na minha qualidade de Comissária europeia com responsabilidade pelainvestigação, inovação e ciência, congratulei-me por ouvir vários deputados desta Câmarasuscitar a questão da relação entre a política marítima em geral e, especificamente, ainvestigação sobre políticas marinhas e marítimas. Na semana passada, a Presidência belgaorganizou uma conferência muito importante em Ostend, que tratou especificamente esteaspecto e reuniu cientistas envolvidos neste domínio. Trata-se de um pilar muito importantedas nossas políticas marítimas integradas.

Gostaria de agradecer novamente à senhora deputada Meissner pelo seu relatório completoe abrangente. Entendo que podemos agora concretizar a execução de todas as futurasiniciativas marítimas com maior vigor e confiança.

Obrigada e peço desculpa aos intérpretes se tiver falado demasiado depressa.

Gesine Meissner, relatora. – (DE) Senhor Presidente, considero positivo que a senhoraComissária Geoghegan-Quinn tenha contado os oradores. Não sabia quantas intervençõestinha havido, mas 37 é, de facto, um número considerável. Quero agradecer a todos osque participaram no debate de hoje. Logo no início, também me esqueci de agradecer aosrelatores-sombra pelo seu trabalho. Trabalhámos realmente de forma muito construtivae eu gostei bastante desse trabalho. Abordámos um grande conjunto de assuntos norelatório, porque é muito importante para mim obter uma maioria convincente nestedomínio crucial.

Muitas das intervenções sobre diferentes temas realçaram o facto de necessitarmos de umaacção conjunta em matéria de investigação, ordenamento, aplicação e controlo dasactividades marítimas através de governação conjunta, ordenamento do espaço marítimoe controlo. É isto que está em causa no relatório. Contudo, trata-se de um assunto muitodiverso.

Gostaria agora de discutir algumas das intervenções. O senhor deputado Fleckensteinlevantou o problema das emissões de enxofre. Incluímo-lo no relatório porque é importantepara nós que não haja distorções da concorrência, mas também temos de assegurar que otransporte marítimo seja mais ecológico. Todavia, o que o senhor afirmou sobre aconstrução naval, Senhor Deputado Fleckenstein, não é bem verdade. Não é exacto afirmar

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que os Liberais e os Conservadores não queriam incluir este aspecto. A questão consistiasimplesmente em saber como o devemos aplicar, nomeadamente se devemos criar umnovo fundo a nível europeu para reparar navios antigos ou pôr em prática uma estratégia.Essa é a redacção actual.

Também foi levantada a questão da minha alteração, que introduzi a fim de incluir ocomércio de licenças de emissão no relatório. Na comissão, foi rejeitada por uma margemmuito pequena mas, na minha opinião, estamos todos convencidos de que temos decontinuar a seguir este caminho. Por este motivo, espero obter apoio nestes domínios.

Senhor Deputado Kohlíček, o senhor afirmou que era difícil unir todos os domínios, maseu sei que isso é possível. Existe um grupo de intervenientes e empresários de todos ossectores marítimos que se encontra duas vezes por ano para partilhar ideias. São actoresde relevo a nível europeu e todos valorizam bastante a oportunidade de se reunirem.

O último ponto que quero mencionar tem a ver com a referência ao facto de existiremtantas regiões diferentes. Incluí a posição das ilhas no relatório e não é verdade que esteaspecto tenha sido omitido. A única região que não é abrangida pelas estratégias é o Mardo Norte. Vivo mais perto do Mar do Norte e, por conseguinte, quero dizer que, quandofalamos sobre o Mar Negro, o Mediterrâneo e o Danúbio, não podemos esquecer o Mardo Norte.

Finalmente, gostaria de expressar o meu agradecimento, em particular pela observação deque devemos assumir a responsabilidade moral pelo mar e pelas gerações futuras. Foi porisso que escolhi o título “Necessitamos de uma nova ‘consciência marítima’”. Secontinuarmos a trabalhar nesta matéria, alcançaremos grandes resultados.

Paul Rübig (PPE). – (DE) Senhor Presidente, gostaria de pedir um ponto de ordem. Queroagradecer à presidência por encerrar hoje o debate um quarto de hora antes da votação,porque é uma forma digna de concluir o debate, que nos permite acabar de falar com calmae proporciona aos deputados tempo suficiente para entrarem. Ontem, os trabalhos nãofuncionaram bem e o planeamento não foi o ideal. Hoje, tudo está a correr bem e eu esperoque a presidência tenha em conta este facto no futuro e preveja tempo livre suficiente entreo final do debate e o início da votação.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar hoje, às 12H00.

Declarações escritas (Artigo 149.º)

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito . – É importante que a UE assegure a protecçãodas suas costas. É ainda necessário que a legislação em vigor reforce a segurança ao nívelda exploração e extracção de petróleo.

A Agência Europeia de Segurança Marítima, situada em Lisboa, presta apoio e assistênciatécnica no desenvolvimento e na aplicação da legislação comunitária em matéria desegurança e de protecção marítima, bem como na área da poluição causada por navios.

Em Junho deste ano, apresentei, por escrito, aos Comissários Oettinger, Kallas e Georgieva,a sugestão de alargar as competências da Agência Marítima Europeia para criar mecanismosde supervisão da segurança das plataformas petrolíferas europeias, localizadas no Mar doNorte, no Mar Negro e no Mediterrâneo, e para que ficasse responsável pela prevenção de

43Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

desastres ambientais relacionados com a exploração petrolífera. Esta sugestão permiteuma economia de escala ao nível de recursos financeiros, humanos e técnicos.

Congratulo-me com a resposta dos Comissários, que demonstrou abertura no sentido derever o regulamento da Agência Marítima Europeia, alargando as suas competências emmatéria de intervenção em incidentes de poluição marítima. Apelo, novamente, a que aComissão Europeia alargue as competências da Agência Europeia de Segurança Marítima,de modo a garantir a protecção das nossas costas.

Vilja Savisaar-Toomast (ALDE), por escrito. – (ET) Senhor Presidente, caros Colegas,como é sabido, a Organização Marítima Internacional impôs, ao abrigo do Anexo VI daconvenção MARPOL, vários requisitos no que toca à quantidade de enxofre em diferentesregiões. O Mar Báltico, o Mar do Norte e o Canal da Mancha foram declarados zonas decontrolo das emissões de enxofre, tendo sido definidas obrigações mais rigorosas nestasregiões para reduzir significativamente a poluição. Nestas zonas, a partir de 2015, só podemser utilizados combustíveis navais cujo teor de enxofre não exceda 0,1%, enquanto noutrasregiões o teor de enxofre não pode ultrapassar 0,5% a partir de 2020. Esta questão tambémfoi tratada na Conferência Marítima Internacional, que teve lugar no dia 24 de Setembro,em Tallinn, no meu país. Acredito que esta medida não será uma solução se a UniãoEuropeia apresentar requisitos próprios que não se apliquem a países terceiros; ou seja,sujeitar-nos-emos a uma concorrência desigual no sector marítimo. A situação tem de serresolvida no plano internacional, para que os requisitos impostos sejam reais e se apliquema todas as embarcações que navegam no Mar Báltico, e não apenas aos navios dosEstados-Membros da UE. Além disso, a imposição de normas irracionais implica uma novadeslocação do transporte de mercadorias do mar para as estradas, o que é muito maisperigoso e hostil ao ambiente. Por conseguinte, nesta questão, apoio as posições dosGovernos estónio e finlandês, bem como a Associação de Armadores da ComunidadeEuropeia – a decisão da Organização Marítima Internacional deve ser revista e deve imporregras iguais a todas as regiões da UE e a todos os navios que as atravessam.

Traian Ungureanu (PPE), por escrito. – (EN) Na minha qualidade de relator para umaestratégia da UE para o Mar Negro, registei com preocupação que as questões relacionadascom o Mar Negro são quase ignoradas na política marítima integrada (PMI) da União.Apesar de o Mar Negro ter sido incluído no conceito da PMI em 2007, as medidas concretasda UE nesta dimensão parecem ficar para trás. Insto firmemente a Comissão Europeia aredobrar esforços para desenvolver a abordagem desta política no Mar Negro. A PMIconstitui um instrumento importante para encarar oportunidades e desafios nas baciasmarítimas da UE de uma forma coerente, tendo por objectivo um desenvolvimentoabrangente das zonas costeiras. Estou profundamente convencido de que o Mar Negro,parcialmente situado na UE, e os seus Estados litorais necessitam urgentemente de umaaplicação adequada deste instrumento. A dimensão internacional da PMI é um aspectocrucial para o sucesso desta medida na região do Mar Negro, que também inclui sete paísesterceiros. O Parlamento Europeu está neste momento a preparar um relatório sobre acriação de uma estratégia para o Mar Negro. Espero que a Comissão acompanhe estainiciativa e encare a estratégia futura como uma base importante para uma execuçãoreforçada da PMI na zona do Mar Negro.

(A sessão, suspensa às 11H40, é reiniciada às 12H05)

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT44

PRESIDÊNCIA: BUZEKPresidente

6. Prémio Sakharov 2010 (comunicação do laureado)

Presidente. − Caros Colegas, acabo de chegar da Conferência dos Presidentes. É para mimum grande privilégio e uma honra informar-vos sobre os resultados, que são muitoimportantes para todos nós. No nosso Parlamento, lutamos pelos direitos humanos emnome de 500 milhões de cidadãos.

Após um debate importante no dia de hoje, que incluiu discussões muito abrangentes eprofundas, a Conferência dos Presidentes decidiu atribuir o Prémio Sakharov para aLiberdade de Pensamento 2010 ao senhor Guillermo Fariñas.

(Aplausos)

Guillermo Fariñas é um jornalista independente e dissidente político. Dispôs-se a sacrificare a arriscar a sua saúde e a sua vida para exercer pressão a fim de obter mudanças em Cuba.Utilizou as greves de fome para protestar e desafiar a ausência de liberdade de expressãoem Cuba, transportando a esperança de todos os que se preocupam com a liberdade, osdireitos humanos e a democracia.

Espero entregar-lhe o prémio pessoalmente aqui em Estrasburgo, em Dezembro, no queseria um momento extraordinário para o Parlamento Europeu e para todos os prisioneirosde consciência cubanos.

Faço votos sinceros de que, em conjunto com Guillermo Fariñas, outras cidadãs cubanaslaureadas em 2005, as Mulheres de Branco – Las Damas de Blanco – também possam receberpessoalmente o Prémio Sakharov.

Permitam-me que acrescente que todos os candidatos eram excelentes do ponto de vistadas nossas convicções sobre os direitos humanos e o combate por estes direitos em todoo mundo. Podemos felicitá-los a todos, mas tivemos de fazer uma escolha e não havia outrapossibilidade. Gostaria de sublinhar que temos muitos vencedores em todo o mundo eque os apoiamos a todos. Devemos afirmar isto uma vez mais.

(Aplausos)

PRESIDÊNCIA: WALLISVice-Presidente

Marie-Christine Vergiat (GUE/NGL). – (FR) Senhora Presidente, gostaria de pedir umponto de ordem. Entendo que as condições em que o Prémio Sakharov foi decidido esteano são escandalosas. Na minha opinião, as escolhas políticas sobrepõem-se à verdadeiradefesa dos direitos humanos.

(Aplausos)

Esta vai ser a terceira vez na história do Prémio Sakharov que o laureado será um cidadãocubano. Sou a primeira a denunciar a forma como os direitos humanos estão ameaçadosem Cuba. Não tenho hesitações nessa matéria. Sempre lutei pela protecção dos direitoshumanos, sem distinções. Contudo, penso que é excessivo atribuir três vezes o PrémioSakharov, que existe há cerca de 20 anos, a cidadãos cubanos, e estamos a enviar um sinal

45Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

que desvaloriza a distinção. É por isso que apelo a que a decisão sobre o destinatário doPrémio Sakharov não seja tomada na Conferência dos Presidentes mas pelo Parlamentono seu conjunto.

(Aplausos)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia o período de votação.

(Resultados pormenorizados das votações: ver Acta)

7. Período de votação

7.1. Instrumento de Estabilidade (A7-0066/2009, Franziska Katharina Brantner)(votação)

7.2. Instrumento de financiamento da cooperação para o desenvolvimento(A7-0078/2009, Gay Mitchell) (votação)

7.3. Instrumento financeiro para a promoção da democracia e dos direitos humanosa nível mundial (A7-0188/2010, Kinga Gál) (votação)

7.4. Instrumento de financiamento para a cooperação com os países industrializados(A7-0052/2010, Helmut Scholz) (votação)

7.5. Instrumento de financiamento da cooperação para o desenvolvimento(A7-0285/2010, Charles Goerens) (votação)

7.6. Indicação do país de origem em determinados produtos importados de paísesterceiros (A7-0273/2010, Cristiana Muscardini) (votação)

Cristiana Muscardini, relatora. − (IT) Senhora Presidente, o Parlamento já expressou,em várias ocasiões, o seu apoio aos objectivos do regulamento.

Com um voto favorável no dia de hoje, a população europeia terá o direito de conhecer aorigem dos produtos que compra. Todavia, se rejeitarmos o regulamento, como nos ésolicitado na alteração 45.º, estaremos a negar aos europeus direitos de que já beneficiamas populações da China, da Índia e dos Estados Unidos.

Estou grata aos relatores-sombra, senhores deputados Susta e Rinaldi, e a todas as pessoasque trabalharam para alcançar um compromisso, e espero que o défice democrático queos consumidores europeus têm suportado até ao momento deixe finalmente de existir.

Presidente. − A alteração é claramente rejeitada. Foi bem evidente, caros Colegas.

– Antes da votação da alteração 19:

Cristiana Muscardini, relatora. − (IT) Senhora Presidente, solicitamos que as palavras“ou comerciais” no segundo parágrafo da alteração 19 sejam suprimidas a fim de tornar otexto mais claro e mais aplicável.

(O Parlamento aprova a alteração oral)

– Após a votação da alteração 43:

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT46

Licia Ronzulli (PPE). – (IT) Senhora Presidente, peço uma verificação das partes 2 e 3do n.º 43.

Presidente. − Não, a rejeição foi clara e não vou regressar a esse ponto.

7.7. Futuro da normalização europeia (A7-0276/2010, Edvard Kožušník) (votação)

7.8. Ucrânia (B7-0571/2010) (votação)

Hannes Swoboda (S&D). - (EN) Senhora Presidente, se não conseguirmos obter umamaioria, quero solicitar à Assembleia que adie a votação para a próxima reunião emEstrasburgo.

Tivemos ontem uma discussão muito aberta e muitos de nós manifestaram a suapreocupação com alguns dos acontecimentos na Ucrânia.

Teremos um debate com o Ministro dos Negócios Estrangeiros na próxima semana. Vamoster uma missão de observação das eleições. Teremos a reunião da Comissão de Queixascontra a Imprensa em Kiev e em Odessa no início do próximo mês. Seria justo, portanto,que votássemos a resolução imediatamente após essa visita, na sessão plenária em Bruxelas.

Espero que os senhores deputados possam concordar com esta ideia e apoiá-la.

Presidente. − Obrigada, Senhor Deputado Swoboda. Darei a palavra a outro oradorfavorável a este pedido, caso exista.

Michał Tomasz Kamiński (ECR). – (PL) Senhora Presidente, gostaria de apoiar a propostado senhor deputado Swoboda. Penso que será, da nossa parte – da parte do Parlamento –sensato adiar a avaliação da situação na Ucrânia, que discutimos ontem, para a próximasessão plenária do Parlamento. A sessão decorrerá depois de acontecimentos importantesna Ucrânia e a nossa perspectiva será significativamente mais ampla. Teremos à nossadisposição o relatório dos nossos colegas que irão acompanhar as eleições na Ucrânia, eparece-me que o Parlamento seria sensato se adiasse a votação.

Presidente. − Obrigada, Senhor Deputado Kamiński. Penso que temos um orador contraeste pedido, o senhor deputado Gahler. É assim?

Michael Gahler (PPE). - (EN) Senhora Presidente, peço aos meus colegas que votemcontra o adiamento. Temos de nos manifestar antes das eleições, e por isso precisamos deo fazer agora.

Trata-se de uma questão sobre eleições justas num país europeu e esse não pode ser umtema partidário. No último acto eleitoral, apenas nos pudemos expressar depois das eleiçõesfalseadas e estivemos unidos.

Desta vez, existem antecipadamente indicações claras de interferência dos serviços desegurança e de uma prática maciça de rejeição ou de falsas listas partidárias locais paraconfundir os eleitores.

Devemos, pois, estar unidos a bem da democracia. Penso que a enorme pressão dasembaixadas ucranianas em toda a Europa contra esta resolução é a prova de que temosrazão em manifestar-nos agora.

47Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

Presidente. − Submeto agora à votação a proposta do senhor deputado Swoboda paraque a votação seja adiada.

Francesco Enrico Speroni (EFD). – (IT) Senhora Presidente, pode por favor clarificar seo pedido se refere a Bruxelas ou a Estrasburgo, tendo em conta que ouvi as duas versões?

Presidente. − Parece ser Bruxelas: todos os senhores deputados sabem que a proposta serefere a Bruxelas? Assim sendo, submeto a proposta a votação.

(O Parlamento aprova o pedido de adiamento da votação)

7.9. Reformas implementadas e desenvolvimentos na República da Moldávia(B7-0572/2010) (votação)

Monica Luisa Macovei (PPE). - (EN) Senhora Presidente, a alteração oral diz respeito àalteração 1 ao n.º 3. Propõe a substituição de “roteiro” por “plano de acção”, pois esta é aformulação correcta. Assim, esta alteração passa a ter a redacção “Solicita ao Conselho queconvide a Comissão a proceder à elaboração rápida do plano de acção”, etc.

(O Parlamento aprova a alteração oral)

– Antes da votação do n.º 11:

Vytautas Landsbergis (PPE). - (EN) Senhora Presidente, quero apresentar uma alteraçãooral que é simplesmente uma melhoria estilística do n.º 11. Pretende assegurar a dignidadeda nossa Assembleia, que não deve “solicitar” nem “pedir” a uma autoridade de facto ilegítimaque tenha um comportamento melhor.

Recordando o direito dos cidadãos moldavos a votar, “convida” deve ser substituído por“declara que” e, a seguir a “Transnístria”, deve ser introduzida a expressão “não têm o direitode impedir...”.

Peço-vos que apoiem esta alteração oral. Não devemos convidar as autoridades, mas insistirjunto delas.

(O Parlamento aprova a alteração oral)

7.10. Política marítima integrada (A7-0266/2010, Gesine Meissner) (votação)

Saïd El Khadraoui (S&D). – (NL) Senhora Presidente, caros Colegas, concordo com arelatora e com os relatores-sombra quando afirmam que, para sublinhar a necessidade deacordo mundial sobre medidas ambientais no quadro da Organização MarítimaInternacional (OMI), é necessária uma pequena alteração ao texto. Em concreto, é referidoo resultado da 61.ª Sessão do Comité para a Protecção do Meio Marinho da OMI há algumassemanas. A seguinte expressão, que citarei em inglês, deve ser acrescentada imediatamentea seguir: “e mantendo o seu pedido de progressos significativos futuros no âmbito da OMI”.

Presidente. − Existem objecções? Parece que não, e por isso procederemos à votaçãonominal da alteração 1.

7.11. Relações comerciais da UE com a América Latina (A7-0277/2010, HelmutScholz) (votação)

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8. Declarações de voto

Declarações de voto orais

Relatório: Franziska Katharina Brantner (A7-0066/2009)

Jarosław Kalinowski (PPE). – (PL) Muito obrigado, Senhora Presidente. Nesse caso,começarei novamente. Nos últimos anos a economia da União Europeia encontrou muitasvezes problemas devido às crises e à instabilidade financeira aos níveis local e global. A fimde prevenir situações de risco idênticas no futuro, têm de existir planos de apoio previamentepreparados e deve haver uma reacção adequada antes e depois do problema. O Instrumentode Estabilidade cumpre muito bem este papel.

O apoio financeiro e técnico deve também incluir a promoção do desenvolvimento humanoe económico, bem como consultas em caso de violações dos direitos humanos, dademocracia e das liberdades fundamentais. Apoio igualmente a posição da relatora sobrea melhoria do sector do planeamento estratégico. Isto é particularmente importante naprevenção de conflitos sociais e na criação do Serviço de Acção Externa.

PRESIDÊNCIA: TŐKÉSVice-Presidente

Tunne Kelam (PPE). – (EN) Senhor Presidente, tendo votado a favor do relatório Brantner,gostaria de aproveitar esta oportunidade para chamar a atenção da Comissão e do Conselhopara a necessidade de alcançar o mais rapidamente possível um acordo tripartido sobre amodificação do Instrumento de Estabilidade.

A questão controversa diz respeito aos actos delegados e às opções do Parlamento paraexercer o seu legítimo escrutínio da utilização dos instrumentos financeiros. Do queprecisamos é de uma rápida solução política baseada num equilíbrio entre as três instituiçõesda UE.

Eu incentivaria a Comissão a melhorar a elaboração de relatórios ao Parlamento Europeuem questões como a concepção dos projectos e a sua aplicação e revisão.

Embora o Parlamento Europeu receba informação da Comissão sobre as medidas deassistência excepcional, a elaboração de relatórios da Comissão num sentido estratégicoe analítico mais amplo ainda fica aquém das expectativas do Parlamento.

Relatório: Gay Mitchell (A7-0078/2009)

Jarosław Kalinowski (PPE). – (PL) O instrumento de financiamento da cooperaçãocontribui directamente para a disseminação da democracia, do Estado de direito e dorespeito dos direitos humanos em países e regiões parceiros. Presta apoio não apenas a umdesenvolvimento social, económico e político duradouro, mas também a uma integraçãogradual desses países na economia mundial. Enquanto membro da Comissão da Agriculturae do Desenvolvimento Rural e da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da SegurançaAlimentar, gostaria de assinalar um outro benefício decorrente desta cooperação,nomeadamente a cooperação internacional na gestão dos recursos naturais, na protecçãodo ambiente e na preservação da biodiversidade. Apoio, em particular, a alteração 5, quechama a atenção para a importância do sector do açúcar para a economia. Não devemosesquecer que a segurança alimentar assume uma enorme importância para os países emdesenvolvimento.

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Seán Kelly (PPE). – (EN) Senhor Presidente, foi com todo o gosto que votei a favor desterelatório. Gostaria de dizer que o meu colega relator, senhor deputado Gay Mitchell, nãopôde estar presente hoje visto que, ontem à noite, estava na Irlanda a lançar um livro queescreveu. Naturalmente, foi reconhecido como deputado europeu do ano pelo seu trabalhono domínio do desenvolvimento no seu conjunto.

Um ponto que, na minha opinião, temos de realçar mais é a educação. Um pedagogoirlandês disse um dia “educa para poderes ser livre”, e penso que temos de seguir um poucomais esta ideia em todo o domínio do desenvolvimento e dos países terceiros.

Finalmente, quero dizer apenas em tom jocoso que, ontem à noite, o meu fato foi roubadodo meu gabinete; assim sendo, sou candidato à ajuda ao desenvolvimento?

Relatório: Edvard Kožušník (A7-0276/2010)

Alajos Mészáros (PPE). - (HU) Saúdo a proposta de Comissão para rever o sistema denormalização europeia a fim de corrigir as suas lacunas e de criar um equilíbrio adequadoentre as dimensões europeia, nacional e internacional. Precisamos de um sistema quecontribua para a inovação europeia e o desenvolvimento sustentável, aumente acompetitividade da União Europeia e reforce a sua posição no comércio internacional. Euacrescentaria que, apesar de as PME serem partes fundamentais do mercado europeu, ameu ver não participam suficientemente no sistema de normalização, não conseguindo,portanto, tirar pleno partido dos respectivos benefícios. A melhoria da sua representaçãoe participação no sistema de normalização pode assumir uma importância fundamentalno futuro. A natureza unificadora da normalização europeia melhora a eficiência domercado interno e, ao mesmo tempo, realça o papel da União Europeia como parceiroeconómico e político no mercado mundial.

Relatório: Cristiana Muscardini (A7-0273/2010)

Siiri Oviir (ALDE). – (ET) Gostaria de abordar o relatório da senhora deputada Muscardini.Não o apoiei, depois de ponderar cuidadosamente todas as questões nele contidas. Porquê?Porque o resto do mundo interpretaria a imposição dessa medida, neste momento, pelaUnião Europeia como uma atitude proteccionista. O controlo desta medida exigir muitomais tempo, e eventualmente mais pessoal, a abertura embalagens de mercadorias e outrosprocedimentos.

O requisito de marcação obrigatória será um incentivo à contrafacção de mercadoriasanónimas. Assim, em vez de uma rotulagem real do país específico, poderemos encontrarrótulos falsos com as palavras “fabricado em Itália” ou “fabricado em França”, e nãoqueremos que isso aconteça.

Proposta de resolução: Reformas implementadas e desenvolvimentos na Repúblicada Moldávia (B7-0572/2010)

Laima Liucija Andrikienė (PPE). - (LT) Votei a favor da proposta de resolução sobre aMoldávia. O país evoluiu muito desde que o Pacto Molotov-Ribbentrop dividiu a Europaem zonas de influência e a Moldávia permaneceu na esfera de influência soviética. Hoje, aMoldávia é um Estado independente que tem, sem dúvida, muitos problemas, mas segueo caminho da integração europeia. Hoje, mais uma vez, eu apelaria a toda classe políticamoldava, à sua elite política, a todas as suas forças democráticas e minorias nacionais paraque rejeitem confrontos prejudiciais e desenvolvam uma cultura de consenso e decompromisso político. Penso que devem proporcionar à sociedade uma visão inclusiva

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT50

da República da Moldávia, cujo objectivo é a adesão do país à União Europeia. Na resolução,falamos também sobre a Transnístria, o conflito por resolver. A Transnístria deve ocuparum lugar cimeiro na agenda da UE, e todos os países, incluindo a Rússia, têm de respeitara integridade territorial da Moldávia. A Transnístria tem de fazer parte da República daMoldávia.

Relatório: Gesine Meissner (A7-0266/2010)

Laima Liucija Andrikienė (PPE). - (LT) Votei a favor da resolução sobre a políticamarítima integrada, porque o sector marítimo desempenha um papel vital e eu quero legaràs gerações futuras mares limpos e seguros. A importância geoestratégica dos maresaumentou significativamente. Temos de adaptar os mares e os seus recursos e coordenarmedidas, pelo que a política marítima integrada é importante na medida em que todosdomínios da política marítima serão associados: o transporte marítimo, a pesca, aaquicultura, a energia, a segurança no mar, a protecção do ambiente marinho e ainvestigação científica, bem como o turismo. Em particular, gostaria de chamar a atençãopara a importância económica e social do mar simplesmente porque a União Europeiatem 320 000 km de costa marítima e um terço dos nossos cidadãos – com tendência paraaumentar – vive na costa. Entendo que os mares continuam a ser a força motriz docrescimento económico.

Relatório: Helmut Scholz (A7-0277/2010)

Miroslav Mikolášik (PPE). - (SK) A União Europeia representa a maior fonte deinvestimento internacional directo na América Latina. Apesar de o comércio entre estasduas regiões se ter intensificado, o comércio recíproco entre a UE e a América Latina émenos dinâmico comparativamente com as relações comerciais com outras regiões domundo.

O acordo recentemente celebrado com a Coreia a propósito da zona de comércio livre éum bom exemplo de boa vontade, enquanto no caso do grupo comercial latino-americanoMercosul, as negociações decorrem já desde 1999, tendo mesmo sido interrompidasdurante cinco anos. Pessoalmente, apoio o processo de reforço e diversificação das relaçõescomerciais com a América Latina, incluindo a criação de um quadro jurídico mais firme.Este processo abre as portas de um mercado de quase 600 de consumidores aos empresáriosda União Europeia. O facto de a América Latina partilhar com a Europa valores, línguas euma história e uma cultura comuns também assume algum significado para os empresáriosda União Europeia.

Laima Liucija Andrikienė (PPE). - (EN) Senhor Presidente, gostaria de enaltecer o relatorpara o comércio com a América Latina por este relatório, que acaba por ser equilibrado eoportuno.

O aprofundamento das relações comerciais com países da América Latina já está em curso,pois a União Europeia celebrou recentemente um Acordo de Comércio Livre com doispaíses andinos, a Colômbia e o Peru.

Recentemente, pusemos termo à mais antiga disputa no quadro da OMC com a AméricaLatina, relativa ao comércio de bananas. Começaremos em breve a negociar um acordode comércio livre histórico com todos os países do Mercosul com que realizámos comérciode mercadorias no valor de 62 mil milhões de euros. O investimento acumulado na regiãodo Mercosul ascende a 167 mil milhões de euros por ano.

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Estes números vão mesmo aumentar nos próximos anos. A celebração desse acordo, a pardas futuras negociações sobre comércio livre com o Japão e a Índia, constituiráindiscutivelmente um dos passos mais significativos para a concretização da estratégia daUE para se tornar o mais importante actor comercial do mundo.

Ontem o nosso tempo esgotou-se. Seguem-se algumas declarações de voto relativas àsvotações de ontem.

Relatórios: László Surján (A7-0281/2010), Sidonia Elżbieta Jędrzejewska, HelgaTrüpel (A7-0284/2010)

Daniel Hannan (ECR). - (EN) Senhor Presidente, se algum dos nossos eleitores tiversentido um “calafrio” ontem à tarde, isso deveu-se à extraordinária coincidência de, nopreciso momento em que o Chanceler do Tesouro britânico se levantava na Câmara dosComuns para anunciar as mais severas reduções de despesas que o meu país sofreu desdea década de 1920, nós, nesta Assembleia, estarmos a aprovar aumentos no orçamentoeuropeu que irão custar ao contribuinte do Reino Unido 880 milhões de libras. E essa nãoé a nossa percentagem do orçamento. É a nossa percentagem do aumento. Tendo em contaque anunciámos ontem a perda de 490 000 postos de trabalho no sector público, talvezvalha a pena quantificar esse montante em termos de nomeações para o sector público.Esse valor pagaria 15 000 médicos do Serviço Nacional de Saúde, 30 000 enfermeiras,35 000 agentes de segurança ou 50 000 soldados do exército.

Não é apenas a Grã-Bretanha. Todos os nossos Estados-Membros procuram fazer reduçõesnos seus orçamentos nacionais, mas o orçamento da União Europeia continua a aumentar,consumindo as suas poupanças. Seria positivo que a avidez desta Câmara por novos poderesfosse equiparada pelo seu interesse em exercer correctamente os poderes que já possui –sobretudo responsabilizar o poder executivo e manter as despesas sob controlo. Os nossoseleitores merecem mais de nós.

Martin Kastler (PPE). – (DE) Senhor Presidente, gostaria de responder sucintamente aoque o senhor deputado Hannan acabou de dizer. É essencial, evidentemente, que esteParlamento tenha uma sede, mas os nossos Tratados determinam que a sede é aqui emEstrasburgo. O senhor tem razão quando afirma que temos de poupar o dinheiro doscontribuintes e que temos de trabalhar para nos fixarmos num local. Contudo, o refúgiodo parlamentarismo, Senhor Deputado Hannan, é aqui em Estrasburgo. É aqui que nós,enquanto deputados ao Parlamento e representantes da população, podemos trabalharem conjunto.

Presidente. − Peço desculpa, isto não pode continuar. Isto não é uma declaração de voto.Peço agora contributos sobre o próximo documento, o relatório Estrela.

Relatório: Edite Estrela (A7-0032/2010)

Joanna Katarzyna Skrzydlewska (PPE). – (PL) Durante a votação de ontem do relatórioEstrela, apoiei a licença de maternidade de 20 semanas integralmente remunerada, porquenecessitamos de uma norma mínima justa e adequada no que respeita à duração e àremuneração da licença de maternidade em toda a Europa. Abstive-me de votar a questãoda licença de paternidade e da licença de adopção, porque a Comissão Europeia anunciouque existirá uma directiva separada nesta matéria, e eu, em nome da transparência dalegislação da União, não quero que a directiva relativa à protecção das trabalhadoras grávidasinclua questões relacionadas com a licença de paternidade.

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Espero que a Comissão Europeia termine em breve as suas consultas aos parceiros sociaise apresente propostas satisfatórias sobre a licença de paternidade e a licença de adopção,bem como sobre as trabalhadoras independentes, para que todas as jovens mães da Europapassem a ter os mesmos direitos.

Radvilė Morkūnaitė-Mikulėnienė (PPE). - (LT) Não creio que alguém conteste que aligação entre uma criança e os seus pais nos primeiros meses de vida é especialmenteimportante e, por esse motivo, a nova directiva da União Europeia assegurará às mães odireito e a oportunidade de tratar dos seus filhos durante mais tempo sem recear perderrendimentos ou o seu emprego. A situação varia entre os diferentes Estados-Membros. Porexemplo, no meu país, a Lituânia, a licença de maternidade e a licença de paternidade duramaté dois anos, mas outros Estados-Membros têm um período mínimo de licença dematernidade, e por isso acredito que o limite que definimos ontem é uma conquista muitoimportante. Saúdo também a inclusão da licença de paternidade e da licença relativa àadopção. Como foi referido, os Estados-Membros são competentes nas políticas familiares,mas aqui estamos a falar mais de protecção dos trabalhadores e de determinados incentivosque permitam aos pais conciliar a actividade profissional com a vida familiar.

Ville Itälä (PPE). - (FI) Senhor Presidente, ontem votámos, de facto, o importante relatórioda senhora deputada Estrela sobre a licença de maternidade, a sua duração e a remuneraçãopaga durante esse período. Após esta votação, os meios de comunicação socialcontactaram-me para me perguntar se tinha votado a favor ou contra. Afirmei que tinhavotado a favor das mulheres. Votei a favor de uma licença de maternidade de 18 semanase do pagamento de 75% do salário às mulheres.

Penso que temos um bom sistema no meu país, a Finlândia. Se adoptássemos o que foiaqui acordado ontem, a posição das mulheres no mercado de trabalho seriasubstancialmente mais frágil, porque os empregadores continuariam sem saber se poderiamcontratar jovens mulheres, pois os custos da licença de maternidade iriam aumentarsignificativamente. Por conseguinte, as oportunidades de emprego para as mulheresdiminuiriam. Por isso quis fazer esta declaração.

Mitro Repo (S&D). - (FI) Senhor Presidente, também sou oriundo da Finlândia e sei quetemos um excelente sistema de licenças de maternidade. Contudo, votei a favor de umalicença de maternidade de 20 semanas. Ponderei a questão na perspectiva dos outrosEstados-Membros da União Europeia. Entendo que períodos de licença de maternidademais longos são importantes para o desenvolvimento das crianças.

Os recém-nascidos são o verdadeiro capital da Europa. As mães, os filhos e as famíliasconstituem a trindade sobre a qual se construirá o futuro. Naturalmente, as mães tambémnão devem sofrer prejuízos financeiros se quiserem ter filhos, tal como os sectores em queas mulheres são preponderantes. As mulheres também devem ter direitos no que toca àremuneração. Devemos, todavia, ser idealistas. Devemos ter esperança. Esta foi uma decisãomoral a favor das mulheres, a favor de uma nova vida e a favor de uma nova Europa.

Martin Kastler (PPE). – (DE) Senhor Presidente, o relatório Estrela apresentado ontemabordou um tema muito importante. Gostaria de dizer neste momento que me foi bastantedifícil votar a favor do documento. Como jovem pai, estive presente no nascimento dosmeus dois filhos e tenho de dizer que não sei por que precisaria de umas férias nesse período,porque não fui eu que dei à luz, foi a minha mulher. Está em causa apenas a licença dematernidade, e nós incluímos os pais. É um ponto difícil. Todavia, é importante que asjovens mulheres tenham um filho e depois regressem à sua vida profissional. Acredito que

53Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

isto será possível ao abrigo do novo sistema. Apesar de, pessoalmente, preferir 18 semanas,acabei por votar a favor das 20 semanas na votação final.

Temos de nos questionar se este processo conduzirá a mais justiça e mais crianças naEuropa. A política familiar é uma questão de futuro. Espero que estejamos a transmitir umsinal de que tomámos medidas neste domínio. Agora temos apenas de acreditar que osEstados-Membros tomarão medidas correspondentes.

Declarações de voto escritas

Relatório: Franziska Katharina Brantner (A7-0066/2009)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o presente relatório quealtera o Regulamento que institui um Instrumento de Estabilidade, porque consideroessencial uma revisão mais ampla da assistência financeira externa da UE. A implementaçãodo Instrumento de Estabilidade reforçou o potencial da UE para responder a situações decrise ou de crise emergente e nesse sentido considero que a Comissão – respeitando oscompromissos assumidos, nomeadamente quanto à promoção de condições estáveis parao desenvolvimento humano e económico e à promoção dos direitos humanos, dademocracia e das liberdades fundamentais enquanto objectivos principais da acção externada União Europeia – deverá, por um lado, melhorar o seu planeamento estratégico eaumentar o pagamento dos fundos disponíveis para a Parceria para a Consolidação da Paz,e, por outro lado, deverá apresentar um plano para a mobilização de recursos financeirosem favor de quaisquer facilidades de assistência externa de emergência ou mecanismosque sejam criados fora do Instrumento de Estabilidade, de forma a evitar recorrer aos fundosprevistos para este Instrumento. Assim e neste sentido considero que a Comissão deveaumentar os reduzidos níveis de execução do orçamento no futuro, com base numa visãoestratégica para uma melhor utilização dos seus instrumentos.

Mara Bizzotto (EFD), por escrito. − (IT) Votei a favor do relatório da senhora deputadaBrantner, porque se trata de um texto que propõe, em primeiro lugar, o alinhamento dalegislação europeia com um importante acórdão do Tribunal de Justiça sobre armas ligeiras.O texto apela à UE para que dedique mais atenção à sociedade civil no contexto dofinanciamento da estabilidade em situações de crise fora da UE, embora eu considere queas instituições europeias, especialmente a Comissão, devem estar atentas para asseguraralgo que nem sempre acontece, nomeadamente uma declaração dos beneficiários em queestes se afirmem politicamente “fiáveis”. Além disso, com este relatório, o Parlamentosolicita à Comissão que o envolva mais do que no passado em questões relacionadas coma utilização dos instrumentos de estabilidade financeira. O nosso Parlamento, que representaas nações e os cidadãos europeus, precisa de desempenhar um papel mais activo nestasquestões, e as outras instituições europeias têm de se habituar à ideia de que um parlamentotem de ser informado das decisões tomadas por um executivo em matéria de despesas: estáem causa a eficácia não apenas de acções isoladas, mas também da natureza democráticade todo o sistema político europeu.

Lara Comi (PPE), por escrito. − (IT) O continente europeu foi moldado por conflitoslongos e sangrentos, que foram finalmente estancados, em parte, pelas instituições em quetrabalhamos. Devemos, pois, ser desde logo os primeiros a demonstrar o maior sentidode responsabilidade no que respeita ao uso da força em conflitos internacionais. Alémdisso, ainda que a força se revele necessária, o estado actual da nossa civilização exigemétodos cirúrgicos e não indiscriminados. Acreditando, como é nosso caso, neste modelocultural, temos de dar o exemplo a todos os outros e demonstrar que não deve ser o maior

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poderio económico a desempenhar o papel principal na resolução dos conflitos, mas umconjunto de instrumentos que sempre colocou a vida humana em primeiro lugar e permiteo uso da violência apenas em casos extremos, sobretudo para proteger as vidas e osinteresses estratégicos do público europeu. Não se trata de tomar posição a priori, mas deadoptar uma abordagem coerente e rigorosa em que a capacidade militar é apenas umelemento dissuasor e nunca se transformará num veículo de mudança radical da naturezada União Europeia ou de promoção de um sistema de valores diferente do que defendemos.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − A UE é o maior doador de ajuda externa do mundo, sendoresponsável por mais de metade da ajuda pública ao desenvolvimento. Em conjunto, ospaíses membros concederam 49 mil milhões de euros de ajuda aos países mais pobres domundo, o que equivale a cerca de 0,4 % do total do seu rendimento bruto. Estes númerosdemonstram bem a importância que tem a ajuda europeia ao desenvolvimento e,naturalmente, a relevância do Instrumento de Estabilidade.

Por esta razão, vejo como positivo o reforço deste instrumento e o maior empenhamentoda União na cooperação para o desenvolvimento. Contudo, não posso deixar de salientarque, muito embora considere fundamental que a UE continue empenhada nas suas missõesexternas de cooperação para o desenvolvimento e ajuda humanitária, não compreendocomo é possível que a ajuda para países terceiros possa ser desbloqueada mais depressado que a ajuda a Estados-Membros vítimas de catástrofes, como foi, infelizmente, o casoda Madeira, que, vários meses após a tragédia, ainda não recebeu qualquer ajuda do Fundode Solidariedade.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O instrumento de estabilidade é muito importante parao reforço do potencial da UE, na resposta a situações de crise ou de crise emergente. Sendoa UE o principal doador de ajuda externa do mundo e responsável por mais de metade daajuda pública ao desenvolvimento, necessita de instrumentos que lhe permitam abordaras situações de crise, tendo em consideração os objectivos e as prioridades de carácterhorizontal e geográfico da UE, tornando, ao mesmo tempo, essas acções complementarescom as políticas geográficas comunitárias e com os objectivos e instrumentos. Quandoestá em causa o desenvolvimento, os objectivos da UE devem ser os da luta contra a pobrezae as suas causas.

Willy Meyer (GUE/NGL), por escrito − (ES) O meu voto contra esta resolução legislativabaseia-se na minha rejeição categórica do Instrumento de Estabilidade criado há váriosanos sem o apoio do meu grupo parlamentar. Do meu ponto de vista, este é mais um dosmecanismos da Comissão concebidos para interferir livremente nos assuntos internos depaíses terceiros a pretexto de promover a estabilidade financeira dos países que sãoconsiderados instáveis, de forma discricionária, pela Comissão. Pretende que sejam asinstituições europeias a decidir como, quando e porque utilizar estes instrumentos,livremente e sem a necessidade de coordenação com as autoridades do país a estabilizar;isto transforma-o efectivamente num mecanismo concebido para defender de modoencapotado os interesses europeus. Votei, por isso, contra o relatório.

Justas Vincas Paleckis (S&D), por escrito. − (EN) Os conflitos no Haiti, no Kosovo, noIraque e, mais recentemente, no Afeganistão, evidenciaram o papel crucial que as armasligeiras e de pequeno calibre (ALPC) desempenham no terrorismo e na criminalidadeorganizada, e no deflagrar de novos derramamentos de sangue após um cessar-fogo formal.É importante que a União adopte uma abordagem verdadeiramente exaustiva do problemada proliferação de ALPC visando todos os níveis da cadeia comercial das ALPC ilícitas.

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Tendo em conta que 70% das unidades de ALPC a nível global se encontram em mãos civis,a UE deve reconhecer e apoiar os esforços indispensáveis da sociedade civil no controlodo comércio e da produção de ALPC a nível local e na sensibilização do público. Alémdisso, a questão das ALPC revela a natureza multidimensional dos conflitos do século XXIem geral e, consequentemente, a necessidade de colocar uma tónica mais forte no reforçode capacidades anteriores e posteriores à crise. Votei a favor deste relatório porque entendoque a UE deve empenhar-se em aperfeiçoar a sua aptidão para gerir as crises da forma maisinovadora, eficiente e económica possível. Só então a UE poderá liderar o mundo comouma das principais potências civis no plano global.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) Com esta votação, o Parlamentoseguiu a posição da Comissão dos Assuntos Externos, que acolheu favoravelmente aproposta da Comissão de um regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho quealtera o Regulamento (CE) n.º 1717/2006 que institui um Instrumento de Estabilidade(COM(2009)0195), como parte de uma revisão mais ampla da assistência financeira externada UE. Entre outros aspectos, a Comissão dos Assuntos Externos, e agora o Parlamento noseu conjunto, concordam que é necessário rever a alínea i) do n.º 2 do artigo 3.º e a alíneaa) do n.º 1 do artigo 4.º do regulamento original para as tornar conformes ao acórdão doTribunal de Justiça Europeu de 20 de Maio de 2008, o qual estabeleceu que as medidas decombate à proliferação de armas ligeiras e de pequeno calibre podem ser aplicadas pelaComunidade no âmbito da sua política de desenvolvimento.

A Presidência é convidada, em nome do Conselho, a desenvolver com a Comissão e oParlamento uma “Declaração de consenso europeu em apoio à acção da UE relativa àsarmas ligeiras e de pequeno calibre” que tenha em conta as atribuições respectivas de todasas instituições.

Relatório: Gay Michel (A7-0078/2009)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório sobre oinstrumento de financiamento da cooperação para o desenvolvimento (ICD) porqueconsidero que o Parlamento tem supervisionado estritamente a forma como as disposiçõesdo ICD são aplicadas desde a sua entrada em vigor em 2007. A Comissão propõe na suaproposta legislativa relativa à revisão intercalar do instrumento de cooperação para odesenvolvimento (ICD) apenas uma alteração técnica para permitir que os custos relativosa taxas, direitos e outros encargos relacionados com o financiamento de acções abrangidaspelo ICD dos países beneficiários sejam financiados a cargo do orçamento do ICD. Consideroque esta alteração viabilizará o financiamento destes custos em circunstâncias excepcionais,criando assim uma maior flexibilidade na aplicação de programas e projectos.

Nikolaos Chountis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) Abstive-me de votar este relatório emconcreto, apesar de concordar com as alterações propostas e de as apoiar, especialmenteas que recuperam o papel de controlo do Parlamento Europeu. Abstive-me da votaçãofinal do instrumento de financiamento da cooperação para o desenvolvimento, porque osfundos foram utilizados, directa ou indirectamente, para armar e treinar a polícia em váriaszonas de África. Na minha opinião, o financiamento destinado ao desenvolvimento nãodeve, em circunstância alguma, ser utilizado para fins militares ou político-militares.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D), por escrito. – (RO) Todos sabemos que o instrumentode cooperação para o desenvolvimento (ICD) não prevê qualquer excepção ao princípioda não elegibilidade para financiamento da União. Este facto permite, pois, um certo graude flexibilidade numa base casuística. O ordenador pode, se necessário, decidir financiar

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estes custos para assegurar o bom funcionamento dos programas e projectos. Contudo,esta flexibilidade é essencial para determinadas situações recorrentes em que se verificaum impasse porque os mecanismos de isenção fiscal são inexistentes ou pouco práticos.Nestas situações, a formulação rígida dos elementos do ICD podem tornar as acçõesfinanciadas pela ajuda externa extremamente difíceis. É por isso que apoio a proposta deenviar um pedido à Comissão para que apresente propostas legislativas destinadas a alinharo procedimento de regulamentação e a assegurar que este instrumento se paute pelos novosrequisitos em matéria de comitologia.

Mário David (PPE), por escrito. − Voto globalmente a favor da proposta apresentada nesterelatório. O instrumento de financiamento da cooperação para o desenvolvimento (ICD)melhora o anterior quadro da cooperação para o desenvolvimento, da União Europeia, aoreunir os vários instrumentos geográficos e temáticos num único instrumento. A par dasalterações técnicas relacionadas com o financiamento das acções abrangidas pelo ICD quevisam uma maior flexibilidade na aplicação dos seus projectos e programas, a revisãointercalar deste instrumento proporciona uma ocasião ideal para adaptar o procedimentode comitologia do ICD aos novos requisitos em matéria de comitologia.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − A alteração em questão é meramente técnica e destina-sea possibilitar que, em circunstâncias excepcionais, os custos relativos a taxas, direitos eoutros encargos possam ser suportados pela ajuda comunitária. Esta circunstânciaexcepcional pode justificar-se em casos pontuais e permitirá um aumento da flexibilidadeno modo como são implementados projectos e programas. O apoio unânime de que foiobjecto em sede da comissão parlamentar competente demonstra o consenso que a propostareúne.

Sabine Lösing (GUE/NGL), por escrito. − (EN) Subscrevo inteiramente e apoio as alteraçõespropostas, sobretudo as que dizem respeito aos actos delegados e à recuperação do direitode escrutínio do Parlamento Europeu. Contudo, abstive-me da votação final do Instrumento(ICD) em si, pois, directa ou indirectamente, o Fundo de Apoio à Paz em África foi financiadoatravés deste instrumento, tendo esse financiamento sido utilizado, entre outras aplicações,para missões de treino da política e do exército. Considero que os fundos de apoio aodesenvolvimento não podem ser utilizados para quaisquer fins militares ou civis-militares.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O instrumento de financiamento da cooperação para odesenvolvimento é mais um argumento muito importante para o reforço do potencial daUE, na resposta a situações de crise ou de crise emergente. Sendo a UE o principal doadorde ajuda externa do mundo e responsável por mais de metade da ajuda pública aodesenvolvimento, necessita de instrumentos que lhe permitam abordar as situações decrise, tendo em consideração os objectivos e as prioridades de carácter horizontal egeográfico da UE, tornando, ao mesmo tempo, essas acções complementares com aspolíticas geográficas comunitárias e com os objectivos e instrumentos. Quando está emcausa o desenvolvimento, os objectivos da UE devem ser os da luta contra a pobreza e assuas causas.

Louis Michel (ALDE), por escrito. – (FR) Era necessário assegurar que os custos relativosaos impostos, direitos ou outros encargos associados ao financiamento de acções ao abrigodo instrumento de cooperação para o desenvolvimento (ICD) pudessem ser financiadospelo respectivo orçamento em circunstâncias excepcionais.

O objectivo geral do ICD é erradicar a pobreza no contexto de um desenvolvimentosustentável, nomeadamente através de esforços para concretizar os Objectivos de

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Desenvolvimento do Milénio (ODM). Esta alteração criará maior flexibilidade na aplicaçãode programas geográficos e temáticos. Ajudará também os países parceiros a realizar osODM e a integrar-se melhor na economia global.

Alexander Mirsky (S&D), por escrito. – (LV) No seu conjunto, os cinco relatórios doParlamento Europeu sobre os instrumentos de financiamento abordam a necessidade deassegurar um maior controlo dos instrumentos referentes à cooperação para odesenvolvimento, à promoção da democracia e dos direitos humanos e à cooperação comnações industrializadas. Face à excessiva burocracia e à utilização nem sempre racionaldas oportunidades que se abrem à UE, este tipo de resolução pode funcionar comocatalisador e acelerar o processo descrito nos relatórios. Na situação em análise, osdeputados ao Parlamento Europeu tornam-se intervenientes do processo de estabilizaçãoe aperfeiçoamento, beneficiando da possibilidade de observar e controlar os processos deatribuição de fundos.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) O Parlamento tem supervisionadoestreitamente a forma como as disposições do ICD são aplicadas desde a sua entrada emvigor em 2007. No quadro do exercício do seu direito de controlo nos termos do processode comitologia, o Parlamento tem suscitado uma série de problemas e de objecçõesrelativamente à forma como a Comissão procedeu à aplicação do instrumento e àinterpretação que deu a algumas das suas disposições fundamentais. Todavia, o Parlamentonão detectou quaisquer insuficiências de vulto nas disposições do instrumento.

Uma das principais preocupações do Parlamento, nomeadamente a tendência da Comissãopara financiar, nos termos dos programas geográficos, medidas não elegíveis, emconformidade com os critérios aceites a nível internacional emanados da OCDE/CAD,enquanto ajuda oficial ao desenvolvimento (AOD), foi recentemente solucionada pelaComissão ao propor, a pedido do Parlamento, a criação de uma nova base jurídica aplicávela essas medidas nos termos do instrumento de cooperação com países industrializados.

Iva Zanicchi (PPE), por escrito. − (IT) Votei a favor do relatório do senhor deputadoMitchell sobre a criação de um instrumento de financiamento da cooperação para odesenvolvimento. De facto, a adopção do relatório Mitchell permitirá que as organizaçõesnão governamentais que trabalham nos países em desenvolvimento beneficiem deconcessões fiscais.

Ao adoptar estes procedimentos, o Parlamento Europeu assumirá um papel mais importanteno que respeita a decisões estratégias de financiamento que a Comissão Europeia terá detomar, e as regras de execução da política de desenvolvimento da UE serão definidas deforma mais clara.

Relatório: Kinga Gál, Barbara Lochbihler (A7-0188/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente no relatório sobre oinstrumento financeiro para a promoção da democracia e dos direitos humanos a nívelmundial enquadrado na proposta legislativa relativa à revisão intercalar do Instrumentode Cooperação para o Desenvolvimento (ICD) e do Instrumento Europeu para a Democraciae os Direitos Humanos (IEDDH), para os quais a Comissão propõe apenas uma alteraçãotécnica para permitir que os custos relativos a taxas, direitos e outros encargos relacionadoscom o financiamento de acções abrangidas pelo ICD e pelo IEDDH nos países beneficiáriossejam financiados pelos orçamentos dos instrumentos. Considerando que o ICD e o IEDDHforam os únicos instrumentos financeiros a não prever uma excepção ao princípio da não

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elegibilidade de tais custos, no caso dos projectos do IEDDH tal facto tem particularimportância dadas as condições especiais em que são executados. Assim considero que aproposta legislativa da Comissão para a revisão intercalar do IEDDH proporciona a ocasiãoideal para assegurar que este instrumento cumpra os novos requisitos previstos no Tratadosobre o Funcionamento da União Europeia.

Mário David (PPE), por escrito. − Voto favoravelmente o conjunto de propostasapresentadas neste relatório. O IEDDH, enquanto instrumento financeiro que visa promovero desenvolvimento e consolidação da democracia e do Estado de direito, bem comocontribuir para o respeito pelos direitos humanos e as liberdades fundamentais nos paísesterceiros, é um importante veículo de ajuda da União em matéria de direitos, liberdades egarantias. A proposta legislativa de revisão intercalar do IEDDH desencadeada pela Comissãopropicia uma oportunidade adequada para rever a base jurídica deste instrumento,assegurando que doravante cumpre os novos requisitos previstos no Tratado sobre oFuncionamento da UE. Em particular, o procedimento dos actos delegados, previsto noartigo 290.º do TFUE, que reforça significativamente as competências do Parlamento,atribuindo-lhe direito de veto, o que obriga a Comissão, para actos adoptados em co-decisão,a apresentar uma proposta alterada.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − Tal como a alteração ao Regulamento (CE) n.º 1905/2006que institui um instrumento de financiamento da cooperação para o desenvolvimento eao Regulamento (CE) n.º 1889/2006 que institui um instrumento financeiro para apromoção da democracia e dos direitos humanos a nível mundial, constante da resoluçãodecorrente do relatório elaborado pelo colega Gay Mitchell, também a presente resoluçãoassume a necessidade de levar a cabo uma alteração legislativa eminentemente técnica edo mesmo teor.

Creio que a União Europeia deveria continuar a assumir a centralidade da defesa e promoçãoda democracia e dos direitos humanos, não só no seu discurso, mas, sobretudo, na suaprática política e, para este efeito, haveria toda a necessidade e até urgência de o fazer demodo coordenado com os Estados Unidos da América.

Giovanni La Via (PPE), por escrito. − (IT) Com a votação de hoje, demos passos no sentidode alinhar dois importantes instrumentos legislativos com o Tratado de Lisboa. Refiro-meespecificamente à proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho quealtera o Regulamento que institui um instrumento de financiamento da cooperação parao desenvolvimento (ICD) e ao Regulamento que institui um instrumento financeiro paraa promoção da democracia e dos direitos humanos a nível mundial (IEDDH). Foramapresentadas alterações técnicas a fim de permitir que os custos das taxas e dos encargosrelacionados com o financiamento de acções abrangidas por estes domínios sejamfinanciados pelos orçamentos dos dois instrumentos. Na verdade, até ao momento, nãohouve excepções ao princípio da não elegibilidade desses custos. Para concluir, querosalientar que estas alterações têm um grande impacto real, na medida em que permitirãoque os projectos relativos ao ICD e ao IEDDH sejam concretizados com maior flexibilidadedo que actualmente.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O instrumento financeiro para a promoção da democraciae dos direitos humanos a nível mundial é mais um argumento muito importante para oreforço do potencial da UE, na resposta a situações de crise ou de crise emergente. Sendoa UE o principal doador de ajuda externa do mundo e responsável por mais de metade daajuda pública ao desenvolvimento, necessita de instrumentos que lhe permitam abordar

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as situações de crise, tendo em consideração os objectivos e as prioridades de carácterhorizontal e geográfico da UE, tornando, ao mesmo tempo, essas acções complementarescom as políticas geográficas comunitárias e com os objectivos e instrumentos. Quandoestá em causa o desenvolvimento, os objectivos da UE devem ser os da luta contra a pobrezae as suas causas. No caso em concreto deste instrumento, esta proposta legislativa visaapenas uma alteração técnica que permitirá tornar este instrumento mais flexível naexecução de programas e projectos.

Willy Meyer (GUE/NGL), por escrito. − (ES) Votei contra este relatório porque, emborao documento procure proporcionar ao parlamento maior controlo democrático sobre o“instrumento para a promoção da democracia e dos direitos humanos a nível mundial”, oinstrumento em si, sendo ou não controlado pelo Parlamento, é um meio de a UE interferirnos assuntos internos de países terceiros. Utilizando este instrumento, a Comissão,aplicando os seus critérios para decidir o que significa promover a democracia e os direitoshumanos e o que constitui o risco, abuso ou repressão desses direitos, pode financiar eapoiar associações, partidos políticos, fundações e mesmo indivíduos específicos de paísesterceiros sem comunicação nem coordenação com o Governo do país em questão. O meuvoto contra baseia-se na minha rejeição categórica deste instrumento, que, quatro anosapós a sua adopção, e como então previmos, se transformou num mecanismo de defesadissimulada dos interesses da UE em países terceiros, ocultada sob a capa discricionáriados direitos humanos e da democracia.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) Na sua proposta legislativa relativaà revisão intercalar do Instrumento de Cooperação para o Desenvolvimento (ICD) e doInstrumento Europeu para a Democracia e os Direitos Humanos, a Comissão propõeapenas uma alteração técnica para permitir que os custos relativos a taxas, direitos e outrosencargos relacionados com o financiamento de acções abrangidas pelo ICD e o IEDDHnos países beneficiários sejam financiados pelos orçamentos dos instrumentos.

Até agora, o ICD e o IEDDH foram os únicos instrumentos financeiros a não prever umaexcepção ao princípio da não elegibilidade de tais custos. A alteração permitirá ofinanciamento destes custos em circunstâncias excepcionais, criando assim uma maiorflexibilidade na execução de programas e projectos. Para os projectos do IEDDH tal factoreveste-se de particular importância dadas as condições especiais em que são executados.Os governos podem efectivamente mostrar-se relutantes em autorizar excepções paraprojectos que não apoiam. Esta a razão pela qual é de saudar a proposta de alteração daComissão.

Relatório: Helmut Scholz (A7-0052/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório referente aoinstrumento de financiamento para a cooperação com os países e territórios industrializadose outros de elevado rendimento (Regulamento ICI) que tem como objectivo apoiar acooperação económica, financeira e técnica, assim como o intercâmbio ao nível académicoe da investigação nas esferas de competência da Comunidade, porque considero que asalterações propostas pela Comissão são substanciais, uma vez que todas as actuaisreferências a países parceiros (que, até ao momento, somente abrangiam os países eterritórios industrializados e de elevado rendimento), incluindo a sua avaliação qualitativa,deverão passar a incluir também os países em desenvolvimento enumerados. Estealargamento da cobertura geográfica constitui uma oportunidade, uma vez que osprogramas actualmente financiados através do Regulamento ICI poderão agora ser alargados

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a outros países. Porém, este é também um desafio maior. Considero por isso importantedeixar bastante claro a quem é que este financiamento pode ser concedido, para quê e emque condições.

Elena Băsescu (PPE), por escrito. – (RO) Votei a favor do relatório do senhor deputadoScholz porque entendo que a política comercial desempenha um papel crucial na criaçãode riqueza e na consolidação de laços políticos. O instrumento de financiamento para acooperação com os países e territórios industrializados e outros de elevado rendimentoincentiva laços políticos e económicos a longo prazo, tendo por objectivo consolidar operfil e a influência da UE no palco internacional.

Quero felicitar o senhor deputado Scholz pela sua excelente cooperação com os outrosgrupos políticos durante a negociação do conteúdo deste relatório. A este respeito, apoioas alterações que foram apresentadas pois explicam as finalidades para que este instrumentode financiamento pode ser utilizado. Neste ponto, a redacção foi simplificada e foramdefinidas algumas restrições no quadro das acções que podem ser financiadas. Existemtambém algumas alterações destinadas a criar uma ligação mais estreita entre as questõestratadas na fase de programação e execução.

Finalmente, salientaria a importância da consolidação do papel do Parlamento em termosda sua participação nas actividades de programação, avaliação e exigência de informação.O Parlamento deve estar mais envolvido na elaboração e revisão dos programas plurianuaisde cooperação e ser capaz de apresentar objecções a propostas deste tipo.

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu por considerar que é do interesse da União continuar a aprofundaras suas relações com os países em desenvolvimento, nomeadamente no que diz respeitoaos intercâmbios económicos, comerciais, académicos, empresariais e científicos. Assim,a Comunidade precisa de um instrumento financeiro que permita financiar essas medidas.Por outro lado, com o alargamento da cobertura geográfica do Regulamento (CE) n.º1934/2006, os países em desenvolvimento abrangidos passam a ser objecto de doisinstrumentos financeiros de política externa distintos e importa assegurar que estes doisinstrumentos financeiros se mantenham rigorosamente separados.

Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) O Parlamento defendeu o alargamentodo âmbito geográfico do instrumento de financiamento para a cooperação com os paísese territórios industrializados e outros de elevado rendimento. Este instrumento permite-noscriar relações económicas, comerciais, académicas, científicas e diplomáticas com parceirosimportantes na economia mundial, como a Índia, a China e o Brasil. Decidimos conferira este instrumento um âmbito geográfico mais amplo a fim de permitir que novos paíseso aproveitem, nomeadamente nações que se estão a desenvolver de forma ainda maisrápida e que serão em breve parceiros comerciais significativos para a economia europeia,como é o caso de países da Ásia, Ásia Central, América Latina e África do Sul.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − Considero fundamental que a Europa estabeleça relaçõesfortes com certos actores regionais e globais, apoiando-os e estabelecendo laços políticose económicos fortes. Relembro, muito em especial, dois países com os quais Portugal temfortes laços históricos e afectivos, o Brasil e Angola, dois importantes actores globais, naAmérica do Sul e em África, respectivamente, que a UE deve, cada vez mais, olhar comoparceiros.

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Sabendo que o Regulamento (CE) n.º 1905/2006 tem por principal objectivo geral erradicara pobreza através da realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, acooperação limita-se, essencialmente, ao financiamento de medidas concebidas de formaa satisfazer os critérios aplicáveis à ajuda pública ao desenvolvimento (APD) tal comoestabelecidos. Isso, muitas vezes, exclui outro tipo de acções que não se inscrevem noâmbito da APD, mas que são, ainda assim, essenciais no âmbito da política externa daUnião.

É exactamente para regulamentar tais práticas – que passam por acordos e intercâmbioseconómicos, comerciais, académicos, empresariais e científicos com países emdesenvolvimento – que se propõe a aprovação do presente regulamento.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O instrumento de financiamento para a cooperação comos países e territórios industrializados é um instrumento de financiamento para acooperação com os países e territórios industrializados e outros de elevado rendimento.Visa apoiar a cooperação económica, financeira e técnica, assim como o intercâmbio aonível académico e da investigação. O objectivo deste regulamento é o de alargarsubstancialmente o âmbito deste instrumento, de forma a nele estar incluída a cooperaçãocom os países em desenvolvimento, devendo para isso o quadro financeiro global seraumentado. O alargamento geográfico aqui proposto é uma oportunidade para levar osprogramas a novos países, representando ao mesmo tempo um grande desafio, pelo queé muito importante deixar bastante claro a quem é que este financiamento pode serconcedido, para quê e em que condições.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. − (DE) As relações bilaterais entre as naçõesindustrializadas e outros países e territórios de elevado rendimento, em particular naAmérica do Norte, Ásia Central, Sudeste Asiático e a região do Golfo, foram desenvolvidaspela UE nos últimos anos. O principal objectivo deste processo é melhorar a reforçar opapel da UE em todo o mundo. Agora, a lista de países que se incluem na esfera decompetência do regulamento IPI, que institui um instrumento de financiamento para acooperação com os países e territórios industrializados e outros de elevado rendimento,será significativamente ampliado. Este facto resultará num aumento considerável de custospara os Estados-Membros da UE. Votei contra o relatório porque é provável que façadisparar os custos.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu por considerar que é do interesse da União continuar a aprofundaras suas relações com os países em desenvolvimento, nomeadamente no que diz respeitoaos intercâmbios económicos, comerciais, académicos, empresariais e científicos. AComunidade precisa de um instrumento financeiro que permita financiar essas medidas.Por outro lado, com o alargamento da cobertura geográfica do Regulamento (CE) n.º1934/2006, os países em desenvolvimento abrangidos passam a ser objecto de doisinstrumentos financeiros de política externa distintos, importando assegurar que estes doisinstrumentos financeiros se mantenham rigorosamente separados.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) O objectivo do financiamentocomunitário a título do Regulamento (CE) n.º 1934/2006 do Conselho que institui uminstrumento de financiamento para a cooperação com os países e territórios industrializadose outros de elevado rendimento (seguidamente designado “Regulamento ICI”) é apoiar acooperação económica, financeira e técnica, assim como o intercâmbio ao nível académicoe da investigação das esferas de competência da Comunidade. Enquanto comissão

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competente em matéria de “relações económicas externas” incluindo as “relações financeiras,económicas e comerciais com os países terceiros” (ou seja, tanto com os países emdesenvolvimento, como com outros países), a Comissão do Comércio Internacional (INTA)era a comissão competente quanto à matéria de fundo também na altura da aprovação doRegulamento ICI, permitindo a esta comissão, não só analisar a presente proposta daComissão em pormenor, mas também colocá-la num contexto histórico e institucionalmais amplo.

A proposta da Comissão que altera o Regulamento ICI (COM(2009)0197/2) é apresentadapara alargar substancialmente o âmbito desse Regulamento, de forma a incluir também acooperação com os países em desenvolvimento (enumerados no Anexo da proposta),devendo o quadro financeiro global correspondente ser significativamente alargado. Emborapareçam poucas em termos formais, as alterações propostas pela Comissão são substanciais,visto que todas as actuais referências a países parceiros (que, até agora, abrangiam apenasos países e territórios industrializados e de elevado rendimento), incluindo a sua avaliaçãoqualitativa, deverão passar a incluir também os países em desenvolvimento enumerados.

Relatório: Charles Goerens (A7-0285/2010)

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu, mas considero que a proposta de regulamento do Parlamento Europeue do Conselho, ao reduzir drasticamente a margem da rubrica 4 do Quadro FinanceiroPlurianual 2007-2013 (QFP), não deixa margem de manobra suficiente para enfrentar ereagir adequadamente a uma potencial crise vindoura.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) Exercendo o seu direito de controlo no quadrodo processo de comitologia, o Parlamento sublinhou um conjunto de problemas e levantouuma série de objecções. Dizem respeito normalmente à forma como a Comissão aplicouo instrumento e interpretou algumas das suas disposições essenciais. Estas objecçõesconstituem a base das alterações propostas pelas comissões especializadas do ParlamentoEuropeu, que foram registadas pela Comissão. As alterações resolvem o problema suscitadopela proposta da Comissão de introduzir uma alteração idêntica no Regulamento (CE)n.º 1905/2006 (ICD) e no Regulamento (CE) n.º 1889/2006 (IEDDH), que são dacompetência de duas comissões diferentes do Parlamento – a Comissão do Desenvolvimentono caso do ICD e a Comissão dos Assuntos Externos no que respeita ao IEDDH – dividindoa proposta em duas propostas legislativas distintas que deverão ser aprovadas hoje.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D), por escrito. – (RO) Concordo com as medidas propostas,que podem ser integradas numa fase mais adiantada do quadro financeiro plurianual, vistoque o problema relacionado com o comércio de bananas ainda subsiste.

Mário David (PPE), por escrito. − Voto a favor da generalidade das propostas contidasneste relatório. Considero que o papel do Parlamento Europeu é eminentemente políticoface à proposta da Comissão de criar um programa de acompanhamento dos países ACPprodutores de bananas. Considero ainda que este programa só se legitima com umamudança de paradigma da óptica puramente comercial para uma visão mais abrangentee integrada como é a do desenvolvimento e da luta contra a pobreza (meta número umdos ODM). Sendo incompatível, ao abrigo dos acordos firmados entre a UE e a OMC, acelebração de acordos de preferência UE-ACP e comprovados os resultados positivos nospaíses ACP produtores de bananas de anteriores acordos de preferência, importa apoiar aadaptação, reorganização e competitividade do sector exportador de bananas nestes países.Em sentido lato, estas medidas de acompanhamento para o sector das bananas deverão

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ter um impacto positivo não só para os produtores, primeiro elo na cadeia de produção,como também em relação aos critérios de luta contra a pobreza. Deste modo, toda a cadeiapoderá beneficiar de condições de vida aceitáveis e dignas de um acesso mais facilitado aosmercados.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − A cooperação económica, financeira e técnica, bem comoo intercâmbio ao nível académico e da investigação entre a União e países terceiros, constituiuma das prioridades da política externa europeia, devendo ser apoiados os esforçosdesenvolvidos nesse sentido.

A alteração regulamentar proposta pela Comissão alarga o âmbito da sua aplicação a umnúmero elevado de países em desenvolvimento. Tal como é bem explicitado pelo relatorna sua exposição de motivos, esta mudança constitui uma oportunidade, mas também éum desafio maior à boa utilização deste instrumento que poderá perder em coerênciaaquilo que ganhou em abrangência. Este alargamento requer financiamento adicional e,simultaneamente, uma disposição de recursos ainda mais criteriosa e rigorosa, sob penade dispersar meios que poderiam ser mobilizados para projectos de cooperaçãoconsequentes e frutíferos.

João Ferreira (GUE/NGL), por escrito. − As razões que justificam a nossa abstenção nesterelatório são as mesmas que a justificaram na votação do relatório sobre a revisãoorçamental para estabelecer assistência financeira aos países ACP, que irão ser afectadospela liberalização do comércio de bananas entre a UE e onze países da América Latina. Estaliberalização beneficiará fundamentalmente as multinacionais norte-americanas quedominam o mercado mundial do sector. Quanto aos países ACP, como vários representantesseus já afirmaram, incluindo alguns produtores locais, o montante de 200 milhões de eurosque a UE propõe atribuir-lhes não é susceptível de compensar todos os impactos decorrentesdestas medidas.

Impõe-se pois questionar: quais os fundamentos da análise de impacto efectuada pelaComissão, na sequência da assinatura do acordo de Genebra? Mais uma vez, os proclamadosobjectivos da política da UE no domínio do desenvolvimento, nomeadamente ao nível daredução da pobreza, são subordinados aos interesses comerciais dos seus gruposeconómicos. Infelizmente, pouco significado prático tem, assim, a afirmação de que sevisa a melhoria do nível e das condições de vida das populações nas áreas de cultivo e nas cadeias devalorização da banana, nomeadamente pequenos agricultores e pequenas entidades.

Elie Hoarau (GUE/NGL), por escrito. – (FR) Abstive-me de votar no relatório que instituium instrumento de financiamento para a reestruturação do sector das bananas nos Estadosde África, das Caraíbas e do Pacífico (ACP). Em primeiro lugar, lamento que este instrumentode financiamento tenha um orçamento de 190 milhões de euros, quando os países ACPestimaram necessitar de um mínimo de 500 milhões de euros para poderem reestruturaro sector e tornar-se competitivos. Em segundo lugar, deploro que este relatório tente, apretexto da diversificação agrícola (um objectivo que, no entanto, recebe pouco apoio daUE nos Acordos de Parceria Económica em negociação com os países ACP), utilizar uminstrumento de financiamento para gerir o rápido desaparecimento (no espaço de trêsanos) do sector das bananas nos países ACP, em benefício dos produtores da AméricaLatina, que já são líderes do mercado global, com uma quota de mais de 70% do mercadode exportação.

Também não queria votar contra este relatório porque os países ACP e as regiões europeiasque produzem bananas precisam urgentemente de assistência para enfrentar as

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consequências que já se fizeram sentir após os Acordos de Genebra e outros acordosbilaterais que conduziram à diminuição dos direitos aduaneiros das bananas da AméricaLatina de 185 euros para 74 euros por tonelada.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O instrumento de financiamento da cooperação para odesenvolvimento é mais um argumento muito importante para o reforço do potencial daUE, na resposta a situações de crise ou de crise emergente. Sendo a UE o principal doadorde ajuda externa do mundo e responsável por mais de metade da ajuda pública aodesenvolvimento, necessita de instrumentos que lhe permitam abordar as situações decrise, tendo em consideração os objectivos e as prioridades de carácter horizontal egeográfico da UE, tornando, ao mesmo tempo, essas acções complementares com aspolíticas geográficas comunitárias e com os objectivos e instrumentos. Quando está emcausa o desenvolvimento, os objectivos da UE devem ser os da luta contra a pobreza e assuas causas.

Franz Obermayr (NI), por escrito. − (DE) É importante e correcto apoiar os países maispobres concedendo-lhes uma ajuda ao desenvolvimento orientada e sustentável. Temosde ajudar as pessoas locais a ajudarem-se a si próprias a fim de reduzir o fluxo de migrantesdos países em desenvolvimento para a UE. Votei, portanto, a favor deste relatório.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu, não obstante considerar que a proposta de regulamento do ParlamentoEuropeu e do Conselho, ao reduzir drasticamente a margem da rubrica 4 do QuadroFinanceiro Plurianual 2007-2013 (QFP), não deixa margem de manobra suficiente paraenfrentar e reagir adequadamente a uma potencial crise vindoura.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) A proposta da Comissão Europeiatem como objectivo apoiar os principais países exportadores de bananas de África, dasCaraíbas e do Pacífico (ACP), através das medidas de acompanhamento para o sector dasbananas (MAB), com uma duração prevista de quatro anos (2010-2013). Embora as medidasfinanciadas no passado (quadro especial de assistência, QEA) tenham sido previstas paraajudar os países ACP a adaptar-se à evolução da concorrência internacional, estes vêem-seainda actualmente confrontados com problemas similares, e “a sustentabilidade dasexportações de bananas dos ACP continua a ser frágil”.

Devemos, pois, abordar a questão pelo prisma da ajuda ao desenvolvimento e da luta contraa pobreza. O objectivo do nosso trabalho no PE consiste em verificar que as medidaspropostas visam alcançar o objectivo principal da política da União no domínio dodesenvolvimento, isto é, a redução e, a mais longo prazo, a erradicação da pobreza.

Relatório: Cristiana Muscardini (A7-0273/2010)

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Votei a favor deste relatório porque os consumidoreseuropeus têm o direito de conhecer a proveniência dos produtos que compram. Por outraspalavras, beneficiam dos mesmos direitos que os cidadãos e os consumidores de outrosgrandes países. Este regulamento assegura que, finalmente, os consumidores da UniãoEuropeia tenham os mesmos direitos que milhões de outros consumidores no mundo,embora para um número limitado de categorias de produtos. Nos casos em que existamdiferentes interesses, temos o dever de proteger os nossos consumidores,independentemente dos interesses da grande distribuição ou de grupos de pressão isolados.

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Malika Benarab-Attou (Verts/ALE), por escrito. – (FR) Os nossos concidadãos têm deestar mais bem informados sobre a marcação do país de origem e devem poder fazercompras com pleno conhecimento dos factos. Os europeus ainda não sabem, de facto, seestão a adquirir produtos que foram realmente produzidos em Israel ou se são provenientesde colónias israelitas em territórios palestinianos. A normalização das práticas de marcaçãode origem na União, particularmente no que se refere a produtos agrícolas provenientesde Israel e dos territórios palestinianos, tem esta finalidade.

Lara Comi (PPE), por escrito. − (IT) Apoio este relatório porque acredito firmemente quea marcação de origem baseada num método claro e eficaz constitui uma informaçãonecessária para os consumidores europeus, que devem poder optar por adquirir um produtosabendo de onde o mesmo é proveniente. A marcação de origem é, na verdade, indicativode muitos outros factores igualmente fundamentais relacionados com o país ou os paísesonde têm lugar as etapas de produção. Entendo que a União Europeia deve dar um passoem frente na garantia de uma maior protecção para os consumidores europeus.

Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) Ao votar favoravelmente o relatório sobrea marcação do país de origem em determinados produtos originários de países terceiros,o Parlamento responde às expectativas dos consumidores por uma melhor transparênciados produtos. O consumidor europeu gozará, portanto, tal como os consumidores chinesese norte-americanos, do direito de conhecer a proveniência dos produtos. Esta proposta deregulamento permitirá que as empresas europeias promovam os seus conhecimentosespecializados, os seus métodos tradicionais de produção e a elevada qualidade do seutrabalho. Finalmente, proporcionará condições de concorrência equitativas entre asempresas europeias e os parceiros comerciais da União Europeia que já possuem este tipode legislação. As empresas europeias que produzem bens de excelência e de elevadaqualidade passarão a beneficiar de um instrumento destinado a protegê-las e a promovê-lasa fim de as apoiar face à forte concorrência de países de fora da União Europeia emdeterminados sectores.

Edite Estrela (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório sobre a indicação dopaís de origem em determinados produtos importados de países terceiros, por considerarimportante facultar aos consumidores uma informação correcta, mediante a qual possamexercer a sua liberdade de escolha. Os consumidores europeus têm o direito de conhecera proveniência dos produtos que compram, de modo a poderem fazer escolhas informadas.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − Se há área na qual a UE tem tido uma intervenção profícua,é a da protecção dos direitos dos consumidores, impondo regras que defendem os seusdireitos e lhes garantem informação suficiente para exercer a sua liberdade de escolha emconsciência. Este foi um dos padrões a que o consumidor europeu se habituou e ao qualos produtores europeus se adaptaram.

Assim, por uma questão de transparência, de protecção dos consumidores, mas tambémde protecção dos produtores europeus, é fundamental que os bens importados de paísesterceiros sejam correctamente identificados como tal, dando conta da sua origem.

Vou, inclusivamente, mais longe: se a Europa é tão restritiva nas regras que impõe aos seusprodutores – veja-se o exemplo das regras para criação de animais –, deveria apenas permitira importação de produtos que cumprissem essas mesmas regras, sob pena de estar a permitirque entrem no mercado produtos de baixo custo, feitos em desrespeito de todo o normativocomunitário, e que, como tal, entram em concorrência desleal com o produto europeu,cuja produção e/ou fabrico é bem mais dispendioso.

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João Ferreira (GUE/NGL), por escrito. − O nosso voto favorável à indicação do país deorigem em determinados produtos importados de países terceiros prende-se com anecessidade de tornar mais claro o percurso pelo qual passam os produtos até entraremnos países da UE. É necessário ir mais longe, tendo em conta que esta indicação, isolada,sem o acompanhamento de outras medidas, terá um impacto muito reduzido. Mas éprioritária uma ruptura com as actuais orientações da OMC para permitir aos países daremprioridade ao desenvolvimento da sua produção e do seu mercado, com a fiscalização dasmercadorias importadas, impondo critérios mínimos de qualidade e técnicos iguais aosque são exigidos às empresas dentro da UE, o combate ao dumping, a regulação eficaz dosmercados de capitais, penalizando as deslocalizações de empresas, tributando as transacçõesfinanceiras e pondo fim aos paraísos fiscais.

É necessário o estabelecimento de relações económicas mais equitativas e mais justas, aoserviço dos povos e dos países, apoiando o desenvolvimento e a cooperação assente naigualdade entre Estados e na construção de alianças e acordos com países de todos oscontinentes, para combater as profundas injustiças e desigualdades sociais, a fome, asdoenças e a pobreza.

Sylvie Guillaume (S&D), por escrito. – (FR) Saúdo a aprovação pelo Parlamento Europeu,por uma maioria esmagadora, da introdução de um sistema de marcação europeu paraprodutos importados de países terceiros. O sistema foi voluntário até agora e passará a serobrigatório a partir deste momento na União. Recordemos, a este respeito, que a Uniãonão é inovadora neste domínio. Os Estados Unidos, por exemplo, introduziram um requisitodeste tipo em 1930. Actualmente é, de facto, essencial que os consumidores em toda aEuropa estejam mais bem informados sobre a origem dos produtos que pretendem adquirir.Apenas um sistema com regras claras lhes pode dar a conhecer as condições sociais eambientais do fabrico, protegendo-os de riscos para a saúde e, finalmente, ajudando-os atomar decisões informadas. É uma vitória não apenas para os consumidores, como tambémpara as empresas exportadoras europeias que já estão sujeitas a requisitos severos. Comesta votação, o Parlamento Europeu assinalou a derrota de um sistema de concorrênciadesleal e, consequentemente, assegurou que as empresas europeias que optaram pelaelevada qualidade e pelo emprego não fossem injustamente penalizadas por regulamentosmais tolerantes para com os seus concorrentes em todo o mundo.

Elisabeth Köstinger (PPE), por escrito. − (DE) Não há dúvida de que os consumidoreseuropeus têm o direito de estar informados sobre produtos importados de países terceirospara a UE. Importa promover o nível de transparência mais elevado possível e direitosmáximos para que se torne possível tomar decisões de aquisição objectivas. Sou favorável,em geral, a um projecto que vise informar os cidadãos da UE sobre a origem dasmatérias-primas utilizadas, as etapas de produção, mas também sobre as condiçõesprodutivas, sociais e laborais predominantes no país em questão. Infelizmente, a propostada Comissão nada faz a esse respeito. A regra obrigatória relativa à indicação “fabricadoem” contida na actual versão nada diz sobre a verdadeira origem de um produto nem sobreas condições em que o mesmo foi produzido e transformado. Nem importantes empresastêxteis europeias, apesar de uma auto-regulação voluntária, são capazes de garantir que asmatérias-primas obtidas em empresas de países terceiros e utilizadas na sua produçãotenham sido extraídas sem o recurso ao trabalho infantil. Atribuo à transparência dosprodutos para o consumidor um significado diferente. Esta proposta não é suficientementeambiciosa e não cumpre os requisitos dos utilizadores finais interessados. Por estes motivos,não pude apoiar a proposta da Comissão.

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Toine Manders e Jan Mulder (ALDE), por escrito. − (NL) Os representantes do PartidoPopular para a Liberdade e Democracia neerlandês no Parlamento Europeu apoiaram hojea linha seguida pelo Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa sobre amarcação de origem, com excepção da alteração 37, relativa aos produtos farmacêuticos.Votámos a favor da rotulagem obrigatória dos produtos farmacêuticos porque acreditamosque os consumidores têm o direito de saber de onde são provenientes os seus medicamentose produtos semelhantes. Além disso, a rotulagem é importante pois permite detectar maiseficazmente os medicamentos contrafeitos. Os medicamentos falsificados são os maiscomuns de todos os produtos contrafeitos encontrados na UE.

Clemente Mastella (PPE), por escrito. − (IT) O Parlamento Europeu, que sempre apoioua diversidade, em defesa das culturas e tradições de cada país, encara o regulamento sobreos rótulos de origem obrigatórios como um instrumento necessário para aumentar aclareza, colocando os consumidores europeus em pé de igualdade com os consumidoresdos nossos parceiros comerciais. Trata-se igualmente de um meio de desenvolver as relaçõescomerciais e as economias tradicionais de forma mais satisfatória.

Estou convencido de que esta proposta cumpre o objectivo de informar correctamente osconsumidores para que possam exercer a liberdade de escolha nas suas aquisições. Durantemuitos anos, expressámos claramente o nosso desejo de colocar os consumidores, e osdireitos dos consumidores, no centro do processo decisório político e comercial, convictosde que as regras são necessárias para que o mercado global desempenhe de forma maiseficaz a sua função, que consiste em impulsionar o desenvolvimento no mundo e emtorná-lo mais homogéneo.

Lamentamos que o Conselho ainda não tenha alcançado uma posição comum. Por outrolado, referimos a necessidade de possuir legislação clara com regras definidas que possamfinalmente proteger os nossos produtores e os nossos consumidores, como acontece noresto do mundo.

Mario Mauro (PPE), por escrito. − (IT) Graças à pressão que o Governo italiano vemexercendo, e bem, há vários anos, chegou por fim uma proposta extremamente importanteao Parlamento que será muito útil para os consumidores em particular: estarão mais beminformados sobre a origem geográfica de determinadas categorias de produtos. Ao mesmotempo, a Europa está a alinhar a sua legislação com a dos seus mais influentes parceiroscomerciais. O objectivo é criar condições de igualdade entre os produtores europeus e osprodutores de países terceiros (Estados Unidos, Japão e Canadá), que, além disso, comoacaba de ser referido, são líderes no que respeita a estas medidas. Será agora muito maisdifícil que os produtos importados contenham indicações de origem enganosa ou totalmentefalsas. Votei a favor do relatório.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − A votação expressa vem no sentido de que a designaçãofabricado em é essencial para a transparência dos mercados e para o devido esclarecimentodos consumidores sobre a origem dos produtos que consomem. É necessário fortalecer aeconomia comunitária, com a melhoria da competitividade da Indústria da UE na economiamundial. Só conseguiremos ter uma concorrência justa se esta funcionar com regras claraspara os produtores, para os exportadores e importadores, tendo também em atenção aspremissas sociais e ambientais comuns. Assim sendo, o presente regulamento é um passoimportante para que os consumidores da UE tenham finalmente os mesmos direitos quemilhões de consumidores em todo o mundo. Embora esta regra ainda não seja passível deser aplicada a todos os produtos importados pela UE, temos, no entanto, de continuar a

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evoluir no sentido de que todos os produtos importados devam ter a sua indicação deorigem.

Louis Michel (ALDE), por escrito. – (FR) A introdução de um sistema europeu de marcaçãopara produtos manufacturados importados de países terceiros tem de permitir que osconsumidores saibam exactamente qual é o país de origem dos bens que adquirem. Destemodo, serão capazes de identificar esses produtos pelas normas sociais, ambientais e desegurança geralmente associadas a esse país. Os consumidores europeus têm, na verdade,o direito de conhecer a origem dos produtos que compram e, consequentemente, debeneficiar dos mesmos direitos que os cidadãos de outros países. Este regulamento ajudarátambém a criar condições de igualdade com muitos dos nossos parceiros comerciais quejá impõem a marcação obrigatória da origem nos produtos importados. É essencial, defacto, garantir condições justas para a concorrência com os produtores dos principaisparceiros da UE. Acredito que estas regras podem igualmente ajudar a aumentar o volumedas exportações dos países em desenvolvimento, pois muitos consumidores europeusestão preocupados em proteger as empresas artesanais e as pequenas empresas destespaíses face às multinacionais. Finalmente, devido à natureza específica dos produtosfarmacêuticos, partilho a opinião de que eles não devem ser incluídos na lista.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. − (DE) A indicação de origem destina-se a prestar aosconsumidores informação que lhes permita tomar decisões esclarecidas nas suas compras.Muitos países rotulam correctamente os seus produtos. Contudo, no passado, produtosque eram publicitados como sendo oriundos de um país provinham frequentemente deoutro local bem diferente. A rotulagem constitui um domínio em que é fácil enganar oconsumidor. Em princípio, uma rotulagem mais precisa é positiva, mas este relatório nãoestá, ao que parece, em posição de assegurar que as fraudes nos rótulos possam sertotalmente evitadas. Os procedimentos não são suficientemente precisos e permitem váriasinterpretações. Não posso, portanto, votar a favor do relatório.

Radvilė Morkūnaitė-Mikulėnienė (PPE), por escrito. − (LT) Concordei com estedocumento, porque entendo que os consumidores têm de conhecer o fabricante dosprodutos que escolhem. Como afirma o documento adoptado, a informação garantesegurança, e a segurança dos consumidores e o seu esclarecimento têm de ser princípiosessenciais. Muitas vezes, os Estados-Membros da União Europeia são apenas um elo deuma cadeia – um produto pode ser fabricado aqui a partir de matérias-primas obtidasnoutro país, tornando-se difícil dizer quem é o verdadeiro fabricante. A indicação do paísde origem é também necessária para possibilitar a protecção dos pequenos fabricantes,que são frequentemente esmagados por grandes empresas que imitam os artigos originais.É igualmente necessário assegurar a entrada em vigor de regras comuns para a marcaçãodas normas de protecção do ambiente que regem a produção dos bens.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. − (IT) Votei a favor com convicção e com entusiasmo.O relatório da senhora deputada Muscardini é fundamental para a economia europeia epara os consumidores europeus e constitui uma medida que todo o sector da produção edo fabrico aguarda há muito tempo – demasiado tempo, aliás. Não se trata de medidasproteccionistas mas, em vez disso, de disposições para salvaguardar a saúde e a liberdadedos nossos consumidores, bem como os sectores de produção estratégicos da UE. Oregulamento alinha a nossa legislação com a de importantes parceiros comerciais, comoos Estados Unidos, o Canadá, a China e a Austrália. Os cidadãos europeus têm o direito deconhecer a origem dos produtos que compram da mesma forma que outros consumidoresem todo o mundo. Com este regulamento, temos uma oportunidade de atribuir aos

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consumidores este direito, embora o âmbito de aplicação do regulamento se limite adeterminadas categorias de produtos.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente o projecto deresolução legislativa do Parlamento Europeu sobre a proposta de regulamento doParlamento Europeu e do Conselho sobre a indicação do país de origem em determinadosprodutos importados de países terceiros por considerar que os consumidores têm direitoa conhecer a proveniência dos produtos que adquirem para poderem optar de formaesclarecida. Esta medida é tanto mais necessária quanto sabemos que, num mundo hojeglobalizado, o comércio externo está cada vez mais destituído de fronteiras, pelo queimporta assegurar a clara identificação da proveniência, e não só, dos produtos que circulamna UE. Este pode ser também um passo importante para avançar com a rotulagem maispormenorizada de produtos diversos de forma a não só garantir mais plenamente os direitosdos consumidores, mas também uma reciprocidade nas exigências de produção impostasa produtores comunitários e extracomunitários.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) A resolução legislativa foiaprovada por uma maioria surpreendentemente ampla de 525 votos a favor, 49 contra e44 abstenções. Isto deveu-se sobretudo ao facto de, à última hora, o relator ter introduzidouma alteração que limita a validade do regulamento a cinco anos, procedendo-se depoisa nova aprovação. Esta atitude foi principalmente uma resposta à pressão exercida noConselho contra todo o processo. Uma vez que a alteração foi aprovada com 393 votos afavor e 216 contra, os Verdes/ALE abstiveram-se de votar a resolução final alterada.

Contudo, os Verdes/ALE votaram a favor da resolução legislativa. Para nossa grandesurpresa, uma alteração do EFD que solicitava a introdução de produtos semiacabados naobrigação de marcação de origem foi aprovada com 328 votos a favor e 219 contra. Pelanegativa, alguns grupos de produtos foram retirados da obrigação de marcação,especialmente os óculos e as lentes.

Oreste Rossi (EFD), por escrito. − (IT) Somos favoráveis a este relatório porque nãoconseguimos admitir que não se salvaguardem os empresários europeus que optaram porcontinuar a produzir na UE, garantindo assim empregos e bem-estar. As regras queestipulam que a origem de um produto tem de ser indicada são totalmente conformes aoque os Estados Unidos, o Canadá, o Japão e a Índia já põem em prática e com a plenaaplicação das regras em matéria de transparência e de protecção dos consumidores, quesão citadas em muitas directivas já aprovadas.

Por exemplo, para efeitos da decisão que estamos prestes a tomar, eu mencionaria o casodiferente mas interessante da concorrência desleal dos produtos de ouro que chegam doJapão: é-lhes aplicado um direito aduaneiro de 3,5% e, quando chegam à Europa, sãosimplesmente acabados e depois vendidos com uma marca registada europeia.

Todavia, aos produtos de ouro exportados da UE para a China é cobrada uma taxa de 30%.O problema deste texto é que apenas estão previstas algumas categorias de produtos naactual proposta de regulamento. O nosso grupo apresentou uma série de alterações comvista a incluir imediatamente outras categorias. Nós, deputados italianos, estamos a trabalharnum texto que permitira dar passos significativos para tornar obrigatória a marcação deorigem.

Debora Serracchiani (S&D), por escrito. − (IT) Votei a favor da indicação do país deorigem de determinados produtos importados de países terceiros. Com este voto, quis

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salientar o compromisso do Parlamento Europeu com a promoção da indústria europeia,cuja competitividade tem de ser hoje salvaguardada e apoiada.

Além disso, o direito dos cidadãos europeus a conhecerem a origem dos produtos quecompram será garantido. No entanto, não acredito que a exclusão de sectores de produçãocom uma longa história e tradição, como a indústria óptica, seja coerente com a políticada UE.

Czesław Adam Siekierski (PPE), por escrito. – (PL) Temos legislação pormenorizadasobre a marcação de bens produzidos na União Europeia. Prestamos aos nossosconsumidores, dentro e fora da UE, informação sobre o local de origem destes produtos.Penso que precisamos de introduzir o mais rapidamente possível legislação que incluauma obrigação incondicional de que as mesmas informações sejam prestadas pelos paísesterceiros que comercializam os seus produtos na UE. Esta prática já é seguida em muitosdos países terceiros de grandes dimensões que são os nossos maiores parceiros comerciais.Em muitos países grandes, como os Estados Unidos, o Canadá, o Japão e a Arábia Saudita,é garantida protecção aos consumidores através de uma obrigação jurídica de marcaçãodos produtos que são transportados para o seu território. É importante que os consumidorese os produtores dos nossos principais parceiros comerciais estejam sujeitos à mesmalegislação que os nossos consumidores e produtores. Só então será possível falar em regrasde jogo justas.

A política comercial pode harmonizar-se estreitamente com a política de desenvolvimento.A marcação de produtos pode contribuir para um crescimento das exportações dos paísesem desenvolvimento. Os consumidores europeus são sensíveis à necessidade de ajudar ospaíses menos industrializados, e o seu conhecimento da origem de um produto emparticular podem permitir-lhes contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres.A marcação facilita a escolha dos consumidores, que muitas vezes associam a origemgeográfica de um determinado produto ao seu valor de mercado. As normas europeias sãouma garantia de respeito do ambiente e da saúde e da segurança dos consumidores, e esteaspecto influencia a competitividade dos nossos produtos.

Relatório: Edvard Kožušník (A7-0276/2010)

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Votei a favor deste relatório porque, apesar de osorganismos nacionais de normalização constituírem a coluna vertebral do Sistema Europeude Normalização, existem diferenças significativas entre eles em termos de recursos,conhecimentos técnicos e de empenhamento das partes interessadas no processo denormalização. Estas desigualdades criam um desequilíbrio significativo na sua participaçãono Sistema Europeu de Normalização. Este relatório apresenta um conjunto de propostaspara melhorar o sistema dentro das suas restrições actuais, baseando-se nos seus pontosfortes.

Lara Comi (PPE), por escrito. − (IT) O relatório de iniciativa que votámos hoje é umexcelente resumo das várias perspectivas políticas e contém um conjunto de propostaspara melhorar o sistema de normalização. Esta é uma questão muito técnica e complexa,mas as normas desempenham um papel na nossa vida quotidiana. A maior parte dosobjectos que utilizamos diariamente respeitam normas muito precisas. De um ponto devista económico e político, a associação entre a legislação e a normalização europeiasrevelou-se decisiva para a livre circulação de mercadorias e ajudou a eliminar obstáculosao comércio livre no mercado único europeu, através da harmonização das normas técnicas.O actual sistema funciona bastante bem, mas necessita de alguns aperfeiçoamentos, em

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especial no que respeita à governação. Refiro-me, em particular, às PME, que devem poderassumir um papel activo na criação de normas sem incorrerem em custos excessivos nemserem prejudicadas por falta de representação. Durante o primeiro semestre do próximoano, a Comissão Europeia irá apresentar a proposta de revisão do sistema. Continuaremoso nosso trabalho para melhorar o processo de normalização técnica a nível europeu, emnome dos nossos mercados, das nossas empresas e dos consumidores europeus.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D), por escrito. – (RO) Penso que é necessário desenvolveruma abordagem estratégica da normalização europeia e levar a cabo uma revisão do actualsistema para manter o seu êxito e satisfazer as necessidades da próxima década, permitindoassim que a Europa mantenha um papel de liderança no sistema global de normalização.

Mário David (PPE), por escrito. − O potencial do mercado único não pode ser exploradoem plenitude sem o suporte de um sistema de normalização moderno. Neste sentido, aconcretização do Sistema Europeu de Normalização (SEN), que importa emancipar, temsido fundamental para a concretização do mercado único, nomeadamente através dacapacidade de resposta à necessidade crescente de normas capazes de garantir a segurançados produtos junto dos consumidores, a facilidade de acesso, a protecção do ambiente oua inovação. Considero que a normalização europeia é um meio importante para promovera inovação e a I&D, contribuindo assim para a competitividade da União. Neste particular,os programas-quadro europeus em favor da inovação e I&D podem ser um válido inputno processo de normalização. Considero ainda que a normalização europeia contribuipara criar igualdade de condições de concorrência para todos os agentes de mercado,especialmente para as PME e microempresas tão importantes na dinâmica da economiaeuropeia. Todavia, julgo que a União e os Estados-Membros deveriam ter em maiorconsideração os interesses das PME na elaboração das normas, pois a sua participação noprocesso de normalização difere não raras vezes do seu peso e importância na economiaeuropeia. Assim, voto globalmente a favor das propostas deste relatório.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − Quando a Comissão manifesta a sua vontade de rever osistema europeu de normalização, é fundamental reconhecer o contributo que este temtido para a protecção dos consumidores europeus e para o mercado interno.

Tal como o relator, considero que a revisão do Sistema Europeu de Normalização deve assentarnos pontos fortes do sistema existente, que constituem uma base sólida para a melhoria, abstendo-sede mudanças radicais que possam prejudicar os valores fundamentais do sistema. Na mesma linhade pensamento, o relator apresenta uma série de propostas, com vista a melhorar o sistema dentrode seus limites actuais, e espera outras sugestões.

Esta será uma discussão a acompanhar com interesse.

Giovanni La Via (PPE), por escrito. − (IT) Manifestei o meu total apoio ao relatório sobreo futuro da normalização europeia pois tenho consciência da sua importância para a criaçãode condições de igualdade para todos os operadores do mercado. O relatório do senhordeputado Kožušník pretende, na verdade, dar um contributo decisivo para o debate emcurso sobre a próxima revisão do Sistema Europeu de Normalização. Sabemos hoje queo pleno potencial do mercado único não pode ser aproveitado sem o apoio de um processode normalização moderno. É precisamente por este motivo que hoje enviamos umamensagem à Comissão que não pretende a reformulação completa do sistema – não exigealterações radicais – mas demonstra a nossa intenção de preservar os seus numerososelementos, a par de novos aspectos, a fim de obter o justo equilíbrio entre as dimensõeseuropeia, nacional e internacional. O relatório também defende que todas as partes

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interessadas, e em particular os representantes das PME e todos aqueles que representamo interesse público, incluindo os consumidores, participem efectivamente no processo denormalização. Para concluir, acredito que foi dado hoje um primeiro passo importantepara evidenciar a necessidade de uma acção específica que permita que a normalizaçãoeuropeia responda às necessidades económicas dos cidadãos da UE.

Mairead McGuinness (PPE), por escrito. − (EN) Saúdo este relatório e a intenção daComissão de rever o Sistema Europeu de Normalização; espero que assim se abra caminhoa uma política de normalização moderna e integrada. O sistema em vigor possui elementosbem-sucedidos mas ainda contém falhas: não pode certamente ser adequado que adesactualizada Norma Europeia EN1384 (Capacetes de protecção para desportos hípicos),já com 13 anos, ainda seja utilizada hoje apesar das preocupações existentes antes da suapublicação e de dois mandatos de actualização posteriores da Comissão. Com a adopçãodeste relatório, talvez possamos finalmente apresentar um resultado ao signatário de duaspetições, o cidadão do meu círculo eleitoral Sr. Peter Downes, cujo filho sofreu umtraumatismo craniano fatal em resultado de um acidente equestre e que tem desde entãodefendido incansavelmente uma melhoria das normas de segurança.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O sistema europeu de normalização tem sido fundamentalna consecução do mercado único. Tem tido um papel fundamental na resposta à necessidadecrescente, na política e na legislação europeias, de normas capazes de garantir a segurançados produtos, a facilidade de acesso, a inovação, a interoperabilidade e a protecção doambiente. No entanto, a normalização europeia – para enfrentar as futuras necessidadesdas empresas e dos consumidores e para concretizar todos os seus potenciais benefíciosem prol dos objectivos públicos e sociais – tem de se adaptar aos desafios decorrentes daglobalização, das alterações climáticas, da emergência de novas potências económicas eda evolução tecnológica. É assim necessário desenvolver uma abordagem estratégica ànormalização europeia e rever o actual sistema, a fim de que possa continuar a ser bemsucedido e responder às necessidades da próxima década, permitindo à Europa manter asua liderança no sistema de normalização mundial.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. − (DE) É verdade que as organizações nacionaisresponsáveis pelas normas constituem a base do Sistema Europeu de Normalização, masexistem diferenças significativas entre elas em termos de recursos, conhecimentos técnicose de empenhamento das partes interessadas, o que reflecte as discrepâncias entre os Estados.Por conseguinte, o objectivo era harmonizar e simplificar o sistema. Apesar de as pequenase médias empresas serem frequentemente referidas no papel como a coluna vertebral daUE, elas são sobrecarregadas com burocracia. Os processos descritos no presente documentonão tomam em conta as desigualdades. Mais uma vez, favorecem as grandes empresas emultinacionais que podem suportar procedimentos de aprovação burocrática dispendiosose demorados. Por este motivo, votei contra o relatório.

Franz Obermayr (NI), por escrito. − (DE) A finalidade do relatório é a plena harmonizaçãodo mercado interno. Embora se reconheça que as pequenas e médias empresas são a colunavertebral da economia europeia, as medidas previstas no relatório irão criar condiçõesdifíceis precisamente para estas empresas. Votei, portanto, contra o relatório.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. − (IT) Votei a favor do relatório Kožušník. O documentocontém muitas propostas e orientações positivas para a Comissão Europeia e proporcionaum excelente resumo das várias opiniões. Não é necessário alterar radicalmente o actualsistema, que funciona bem, mas é possível promover algumas melhorias, em especial no

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que respeita à “governação”. Entendo que o sistema de normalização deve continuar a serprivado e voluntário e basear-se no princípio da gestão a nível nacional, mas tambémconsidero que o interesse público tem de desempenhar um papel mais activo no processo,através de uma participação real e eficaz. Além disso, é essencial garantir uma representaçãoadequada das PME, principalmente em comissões técnicas nacionais, onde não enfrentambarreiras linguísticas nem obstáculos relativos aos custos.

Georgios Papanikolaou (PPE), por escrito. – (EL) Votei a favor do relatório sobre anormalização europeia, porque aumenta as válvulas de segurança ambiental do sistemaem vigor. Todavia, partilho das preocupações com o facto de, no seu texto, a Comissãoter atribuído pouca importância à inovação como catalisadora de melhorias nas regras denormalização europeias. É paradoxal que a investigação e a inovação, que tantas vezescitamos como forças motrizes do nosso crescimento económico e da nossa competitividade,tenham apenas um papel menor num sector que é vital para a promoção do comércioeuropeu.

Miguel Portas (GUE/NGL), por escrito. − O processo de normalização tem um papelrelevante por assegurar a qualidade dos produtos e serviços públicos ou privados, assimcomo o respeito pelas normas de segurança, ambientais e de responsabilidade social. Esterelatório procura implicar as PME e os diversos actores sociais no processo de normalização.

Promove a partilha de informação sobre as novas regulações e incita ainda à difusão destesprocessos em sites de informação claros, simples e fáceis de usar, disponíveis em todas aslínguas oficiais da União Europeia. Mantenho, contudo, algumas reservas relativas àverdadeira representação de todos os actores sociais nos processos de normalização e aindasobre o processo de financiamento do Sistema Europeu de Normalização.

Voto a favor.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) O presente relatório visa contribuirpara o debate em curso sobre a revisão do Sistema Europeu de Normalização. A ComissãoEuropeia está actualmente a trabalhar num pacote “Normalização”, que incluirá umaproposta legislativa destinada a rever o quadro jurídico existente em matéria denormalização europeia, bem como uma comunicação-quadro que irá definir a política denormalização para a próxima década. Na preparação do seu pacote “Normalização”, aComissão solicitou o contributo de peritos, tendo em vista a apresentação de recomendaçõesestratégicas.

Os citados peritos reuniram-se num Grupo de Peritos para a Revisão do Sistema Europeude Normalização (EXPRESS), que apresentou a suas recomendações em Fevereiro de 2010num relatório intitulado “Normalização para uma Europa Competitiva e Inovadora: umavisão para 2020”. A Comissão levou igualmente a cabo uma consulta pública sobre aRevisão do Sistema Europeu de Normalização, que decorreu de 23 de Março a 21 de Maiode 2010, tendo encomendado também um estudo de avaliação do impacto (9 de Marçode 2010). O pacote iminente “Normalização” terá também como base o Livro Branco, de3 de Julho de 2009, intitulado “Modernização da Normalização das TIC na UE – O Caminhoa Seguir”.

Oreste Rossi (EFD), por escrito. − (IT) Sou a favor do relatório porque ele pretende revero Sistema Europeu de Normalização a fim de obter um equilíbrio adequado entre asdimensões europeia e nacional. O texto contém orientações importantes para ocumprimento de um sistema de normalização que apoie a inovação, estimule a

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competitividade das empresas e a interoperabilidade, garanta a segurança dos produtos ea protecção do ambiente e elimine os obstáculos ao comércio.

Além disso, é importante reconhecer a função desempenhada pelos organismos nacionaisresponsáveis pelas normas no sistema de normalização no seu conjunto, a fim de asseguraruma maior harmonização das questões regulamentares com os parceiros comerciais daUE.

Proposta de resolução B7-0571/2010

Sandra Kalniete (PPE) , por escrito. – (LV) A União Europeia tem de prosseguir um diálogoactivo com a Ucrânia a respeito da sua adesão à nossa União, apesar de reconhecermosque o país não será Estado-Membro nos próximos anos. Interessa-nos claramente ver aUcrânia como um Estado desenvolvido e politicamente estável, cujos principais parceirosse encontram no Ocidente. Compreendemos que não será fácil realizar este objectivo, vistoque o país tem de estabilizar a sua situação financeira e levar a cabo numerosas reformas.Contudo, é necessário que assim aconteça e a UE deve prestar o seu apoio a este esforços.O trabalho construtivo no Acordo de Associação UE-Ucrânia tem de continuar e o trabalhorelativo ao acordo de comércio livre deve ser impulsionado. Geograficamente, a Ucrâniasitua-se num local muito importante, que é também relevante para o fornecimento de gásà UE. Por isso, é necessário apoiar a modernização do sistema de circulação de gás daUcrânia, a fim de reduzir o risco de interrupções dos aprovisionamentos de gás aos paísesda UE, como aconteceu recentemente. Ao mesmo tempo, não podemos fazer vista grossaàs violações da democracia, que se agravaram desde que Viktor Yanukovych tomou possecomo Presidente. É nosso dever denunciar estas violações e assumir uma posição forte afavor do respeito dos valores ocidentais na Ucrânia, pois a nossa União assenta nessesvalores.

Proposta de resolução B7-0572/2010

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Votei a favor desta proposta de resolução porquesaúdo os progressos que a União Europeia realizou durante o último ano no que respeitaà República da Moldávia. A Roménia tem-se empenhado, desde o momento da sua adesão,na defesa da causa da República da Moldávia no seio da UE. Creio que existem provasconcretas deste compromisso inicial, patentes no número de deputados romenos aoParlamento Europeu, dos vários grupos, que assinaram a resolução. Os 90 milhões deeuros atribuídos a este país em assistência macrofinanceira foram, e continuam a ser, atábua de salvação de que a Moldávia e os seus cidadãos necessitam para conseguir progressose, em particular, para respeitar os compromissos que assumiu no domínio das reformas,do Estado de direito e da luta contra a corrupção.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) A proposta de resolução sobre as reformas e aevolução da República da Moldávia constitui um incentivo no momento certo à classepolítica e aos habitantes da outra margem do rio Prut, quando se aproxima o escrutíniode 28 de Novembro. O Parlamento Europeu insta as forças democráticas e as comunidadesétnicas e culturais do país a evitarem confrontos desnecessários e a cooperarem para criarum futuro europeu para este Estado, cuja economia foi duramente atingida pela recessãoe que enfrenta um grande desafio, politicamente e em termos de reformas democráticas.Cabe à UE ajudar a assegurar que as eleições parlamentares sejam conduzidas de formaadequada e tomar medidas mais firmes para que as autoridades separatistas de Tiraspolnão consigam impedir os cidadãos moldavos que vivem na região de Transnístria exerçam

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o seu direito de voto. De facto, o problema da Transnístria assume importância primordialpara a estabilidade da República da Moldávia e para a toda a região, tendo a UE um papelsignificativo a desempenhar numa solução negociada e duradoura. Aumentar a assistênciamacrofinanceira à República da Moldávia, incentivar reformas estruturais e o combate àcorrupção, impulsionar o ambiente favorável ao investimento, bem como passar o maisrapidamente possível para a fase operacional do diálogo sobre a liberalização do regimede vistos para os cidadãos moldavos são os elementos fundamentais do apoio prestadopela Europa a um Estado cujo lugar é na União Europeia.

Ioan Enciu (S&D), por escrito. – (RO) Durante o ano passado, a República da Moldáviademonstrou verdadeira vontade política no quadro do processo de aproximação à UniãoEuropeia. Todavia, os esforços para modernizar este país têm de continuar. Na verdade, aUnião Europeia tem de desempenhar um papel activo no apoio a este desenvolvimentodinâmico. Neste contexto, votei a favor da proposta de resolução pois acredito que éimportante que o Parlamento Europeu e a União Europeia em geral enviem uma mensagemde confiança à República da Moldávia antes das eleições parlamentares.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − A Moldávia tem empreendido uma convergência positivacom os padrões europeus de liberdade, democracia e boa governação e aparenta vontadede prosseguir esse esforço, circunstância que não posso deixar de saudar.

O período eleitoral que se avizinha constituirá um importante teste à solidez das suasinstituições e da sua cultura democrática. Não obstante as indicações positivas, é forçosorecordar que muitas questões estão ainda por resolver, entre as quais avulta a da Transnístria,que ameaçam a sua estabilidade e progresso.

Espero que a União possa contribuir de modo empenhado para uma solução duradourapara este problema.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − Tendo em conta o balanço da PolíticaEuropeia de Vizinhança (PEV) e a Parceria Oriental lançada em Maio de 2009 quereconhecem as aspirações europeias da República da Moldávia e a importância da Moldáviacomo país com laços históricos, culturais e económicos profundos com os Estados-Membrosda União Europeia, congratulo-me com os progressos realizados no ano passado pelaRepública da Moldávia e confio que o processo eleitoral possa consolidar ainda mais asinstituições democráticas e o respeito pelo Estado de direito e pelos direitos humanos naMoldávia. Espero que, para isso, as autoridades moldavas levem a cabo as reformasnecessárias e cumpram os seus compromissos de manter a República da Moldávia no rumode uma integração europeia firme. Destaco ainda o início das negociações sobre o acordode associação entre a União Europeia e a República da Moldávia, em 12 de Janeiro de 2010,e sublinho os bons resultados que a Comissão está a obter da República da Moldávia nesteprocesso.

João Ferreira (GUE/NGL), por escrito. − Mais uma vez, a maioria do Parlamento tentainterferir nos assuntos internos de um país, tomando partido abertamente pelas forças quena Moldávia dão guarida aos interesses dos grupos económicos da UE, atentando contraa independência e a soberania deste país e a vontade expressa pelo seu povo. A afrontacomeça logo quando assinala que vê com agrado os progressos realizados no ano passado pelaRepública da Moldávia, pedindo às suas autoridades que levem a cabo as reformas necessáriase cumpram os compromissos assumidos para manter o país no rumo de uma integração europeia.

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O que não é dito é que o poder na Moldávia resulta de uma coligação formada na sequênciade um autêntico golpe constitucional, que se serviu de um conjunto de manobrasprovocatórias e desestabilizadoras, para apear do poder o Partido Comunista, que venceraas eleições. E que essa mesma coligação, uma vez no poder, iniciou uma inquietante escaladaanticomunista e antidemocrática, numa clara manobra para desacreditar o PartidoComunista.

A posição da maioria do PE coloca em evidência o seu carácter profundamenteanticomunista e a sua hipocrisia quando refere a defesa da democracia, do Estado de direitoe dos direitos humanos.

Marisa Matias e Miguel Portas (GUE/NGL), por escrito. − Votei a favor desta resoluçãocomum porque, em face das eleições marcadas para 28 de Novembro de 2010, e tendoem conta as tentativas sectárias das forças da direita de promover a proibição de nomes esímbolos dos seus principais adversários de esquerda, é importante sublinhar a necessidadede que as eleições se realizem no estrito cumprimento das normas internacionais, dandoiguais oportunidades a todas as forças políticas. Considero também importante reiterar oapoio à integridade territorial da República da Moldávia e sublinhar o papel que a UE podee deve ter na ajuda da construção de uma solução para o problema da Transnístria.

Mario Mauro (PPE), por escrito. − (IT) O voto favorável à proposta de resoluçãoapresentada pelos meus colegas do Grupo do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos) deve-se essencialmente ao apelo explícito a que a questão daTransnístria seja resolvida, uma vez que se trata de um factor crucial para a promoção daestabilidade política e da prosperidade da República da Moldávia e da região. O ParlamentoEuropeu apoia firmemente, como é seu dever, a integridade territorial da República daMoldávia e recorda que é necessário um papel mais robusto da UE na procura de umasolução para o problema da Transnístria. Em geral, a resolução analisa correctamente ospassos que a República da Moldávia tem de dar para se aproximar de um cumprimentomais decidido e credível dos objectivos exigidos a qualquer potencial Estado-Membro daUE.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − A Moldávia tem vindo ao longo dos últimos anos aempreender esforços no sentido de cada vez mais convergir com as referências europeiasde liberdade, democracia e boa governação. Os esforços aqui apontados têm sidoconsistentes e têm demonstrado que a Moldávia se preocupa em continuar o seu caminhoem direcção a um possível alargamento. A Moldávia vai enfrentar em breve um períodoeleitoral que será um bom teste para aferir o grau de consolidação da sua culturademocrática, bem como das suas instituições. Apesar de todos os aspectos positivos járeferidos, há, no entanto, ainda algumas questões que têm que ter uma evolução positiva,nomeadamente a questão da Transnístria, que pode de alguma forma provocar algumainstabilidade. A UE tem que continuar a fazer todos os esforços para que as reformas quetêm vindo a ser implementadas na Moldávia continuem no bom caminho.

Alexander Mirsky (S&D), por escrito. – (LV) Concordo inteiramente com a proposta deresolução sobre a Moldávia. Contudo, o único elemento que me parece faltar na resoluçãoé uma opinião muito clara sobre o problema da Transnístria. A Moldávia não conseguirátornar-se membro de pleno direito da UE se não conseguir resolver pacificamente o conflitoda Transnístria. A divisão do país em duas partes é inaceitável. Se o Governo moldavopretende integrar a União Europeia, tem de iniciar um diálogo com o Governo da

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Transnístria, a fim de provar à comunidade internacional que tem legitimidade sobre todoo território da Moldávia.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. − (DE) A proposta de resolução sobre as reformas e aevolução da República da Moldávia faz uma referência importante ao acordo de associaçãoactualmente a ser negociado entre a UE e a Moldávia. O documento destina-se a promoveruma melhoria significativa no quadro institucional comum entre a UE e a República daMoldávia, para permitir o desenvolvimento de relações mais próximas em todos osdomínios e reforçar a associação política e a integração económica, introduzindo, emsimultâneo, direitos e deveres mútuos. A par de algumas das outras reformas mencionadasno texto, é dedicada grande atenção à liberalização do regime de vistos. Temos de pôr emprática um sistema o mais rapidamente possível. Se analisarmos os problemas que o paísainda tenta ultrapassar, é razoável presumir que eles resultarão numa imigração maciçapara a UE, e foi por isso que votei contra a proposta de resolução.

Franz Obermayr (NI), por escrito. − (DE) A finalidade da proposta de resolução é aliberalização do regime de vistos para a República da Moldávia. As consequências destamedida para a União Europeia seriam um aumento da migração e da criminalidadetransfronteiras. Essas simplificações deixam o caminho totalmente aberto a abusos, e aum visto de curta duração segue-se demasiadas vezes a residência permanente. Votei, pois,contra este relatório.

Justas Vincas Paleckis (S&D), por escrito . − (LT) A Moldávia é um dos países vizinhosque consegue aproximar-se da União Europeia. Os domínios da justiça e da administraçãopública estão a ser reformados e o combate à corrupção tem sido reforçado. A questão daliberalização do regime de vistos com a UE está a evoluir. Contudo, subsistem muitosproblemas por resolver, entre eles a questão da Transnístria. O país debate-se com a criseeconómica. Os cidadãos da Moldávia esperam reformas específicas que possam melhoraras suas vidas.

Votei a favor desta proposta de resolução porque ela exorta a Comissão Europeia a mantercomo objectivo a plena liberalização do regimes de vistos com este país a fim de incentivarcontactos entre as populações e de continuar a apoiar a Moldávia e ajudar este país a lutarpelos objectivos da integração europeia. As eleições parlamentares de 28 de Novembroconstituirão um grande teste para a Moldávia. É uma oportunidade para mostrar que osseus cidadãos têm os mesmos valores que os residentes na UE. Apelo a todas as forçaspolíticas do país para que assegurem a ordem e a estabilidade política.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) Com esta resolução, o PE saúdaos progressos realizados no ano passado pela República da Moldávia e espera que o processoeleitoral possa consolidar ainda mais as instituições democráticas e o respeito pelo Estadode direito e pelos direitos humanos na Moldávia; espera que as autoridades moldavas leveme cabo as reformas necessárias e cumpram os seus compromissos de manter a Repúblicada Moldávia no rumo de uma integração europeia firme; congratula-se com o início dasnegociações sobre o acordo de associação entre a União Europeia e a República da Moldáviaem 12 de Janeiro de 2010 e regista com agrado os resultados muito bons que a Comissãoestá a obter da República da Moldávia neste processo; e insta a Comissão a apresentar umaavaliação do acordo de facilitação de vistos em vigor, a avançar para um acordo céleresobre um roteiro formal de liberalização do regime de vistos e a disponibilizar apoio eassistência orientados às autoridades moldavas para cumprir os requisitos necessários paraque existam viagens totalmente isentas de vistos; solicita ao Conselho que convide a

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Comissão a proceder à elaboração do roteiro para a liberalização do regime de vistos,entrando, pois, na fase inteiramente operacional do diálogo sobre vistos com base nosprogressos da República da Moldávia na sequência das negociações exploratórias sobre osquatro blocos do diálogo sobre vistos.

Relatório: Gesine Meissner (A7-0266/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório sobre a PolíticaMarítima Integrada (PMI) no que toca à avaliação dos progressos realizados e aos novosdesafios porque considero que a UE necessita de medidas concretas que mobilizem aeconomia do mar, incentivando e promovendo o potencial económico dos clustersmarítimos, em particular nos Estados-Membros e nas regiões com grande extensão deZona Económica Exclusiva, como é o caso de Portugal e dos Açores. Considero que umcrescimento inteligente, como é preconizado na Estratégia 2020, só pode ser conseguidose forem mobilizadas de uma forma inteligente as diferentes potencialidades contidas nadiversidade europeia. Desta forma, considero o reforço da política marítima integradamuito importante para promover o crescimento económico e a criação de novos postosde trabalho sustentáveis nas regiões marítimas, proteger os ecossistemas marinhos, e,especialmente, incentivar o intercâmbio das melhores práticas.

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − É importante que a UE assegure a protecçãodas suas costas. É ainda necessário que a legislação em vigor reforce a segurança ao nívelda exploração e extracção de petróleo. A Agência Europeia de Segurança Marítima, situadaem Lisboa, presta apoio e assistência técnica no desenvolvimento e na aplicação da legislaçãocomunitária em matéria de segurança e de protecção marítima, bem como na área dapoluição causada por navios. Em Junho deste ano, apresentei, por escrito, aos comissáriosOettinger, Kallas e Georgieva, a sugestão de alargar as competências da Agência MarítimaEuropeia para criar mecanismos de supervisão da segurança das plataformas petrolíferaseuropeias, localizadas no Mar do Norte, no Mar Negro e no Mediterrâneo, e para que ficasseresponsável pela prevenção de desastres ambientais relacionados com a exploraçãopetrolífera. Esta sugestão permite uma economia de escala ao nível de recursos financeiros,humanos e técnicos. Congratulo-me com a resposta dos Comissários, que demonstrouabertura em rever o regulamento da Agência Marítima Europeia, alargando as suascompetências em matéria de intervenção em incidentes de poluição marítima. Apelo,novamente, a que a Comissão Europeia alargue as competências da Agência Europeia deSegurança Marítima, de modo a garantir a protecção das nossas costas.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) Num período em que um terço dos cidadãos daUE vive em regiões costeiras, assinalando uma tendência que está a aumentar, entendo queos desafios colocados pelas alterações climáticas devem ser uma grande preocupação dapolítica marítima europeia. Além disso, a prevenção e a luta contra as consequências dascatástrofes naturais têm de ser apoiadas pelo empenho em proteger o mar e as zonascontíguas de possíveis acidentes industriais, como o recente derrame de petróleo no Golfodo México. Consequentemente, penso que necessitamos de abordar a gestão do potencialdos mares numa perspectiva ecológica e economicamente sustentável.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D), por escrito. – (RO) Contando com as sete regiõesultraperiféricas que possui no Oceanos Atlântico e Índico, além dos territórios ultramarinos,a União Europeia ocupa a maior zona marítima do mundo. Além disso, a UE tem um outroactivo – a sua tradição marítima instituída, que exige a elaboração de uma estratégia de“crescimento azul” em estreita coordenação com a Estratégia da UE para 2020. Essa

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estratégia económica pode continuar a desenvolver o potencial dos vários sectoresmarítimos. De facto, as autoridades locais e regionais, as comunidades das zonas costeiras,etc., podem e devem desempenhar um papel importante nesta estratégia.

À semelhança de outras políticas europeias, a política marítima integrada pode ajudar aalcançar um objectivo importante – a criação de uma União Europeia competitiva, sociale sustentável com um elevado nível de emprego, que possa tornar o sector marítimo aindamais atractivo para os jovens ou para outros candidatos a emprego. Ao mesmo tempo, aEuropa tem de gizar medidas que apoiem a intervenção em caso de catástrofe, como a quesucedeu no Golfo do México, e necessita de apresentar um plano de acção europeucoordenado para evitar situações de emergência e fazer face a catástrofes provocadas porplataformas de perfuração, a nível global, especialmente quando ocorre poluiçãotransfronteiras.

Edite Estrela (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório sobre uma políticamarítima integrada, porque acredito que esta deve preconizar uma maior coerência entreos vários sectores políticos, que permita utilizar as potencialidades dos mares e do sectormarítimo de modo ecológico, economicamente sustentável e eficaz.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − A UE possui 320 000 km de litoral, vivendo um terço dosseus cidadãos – tendência em alta – na orla costeira. As nossas actividades económicas no mar e nolitoral produzem 40 % do PIB da UE, observando-se ainda, de acordo com todos os prognósticos,um grande potencial de desenvolvimento por explorar. Com efeito, 40 % do comércio intra-europeue 95 % das exportações extra-europeias tem lugar por via marítima.

Com apenas uma frase, o relator sintetiza a importância do mar para a Europa. Comoportuguês sei-o bem. É também como português, povo que sempre se voltou para o mare nele encontrou prosperidade e riqueza, que considero fundamental que a Europa tenhauma política marítima que lhe permita aproveitar todas as potencialidades que o mar tem,como recurso económico, energético, como criador de emprego e de riqueza e como motorde competitividade e inovação.

Realço com particular agrado as preocupações com desastres ambientais ocorridos no mar– relembro o caso Prestige ocorrido bem perto da costa norte de Portugal – e a necessidadede regras mais firmes que os evitem nos mares europeus.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − O mar oferece rotas comerciais importantes,funciona como um regulador do clima e representa uma fonte de alimento, de energia ede recursos. Em pleno século XXI, o mar assume uma nova identidade e chama a si umaimportância geoestratégica e geopolítica ímpar na história da humanidade e é hoje, maisdo que nunca, um factor de centralidade para a Europa. A Europa tem de tirar partido destacentralidade. Estados-Membros como Portugal têm de aproveitar a sua relação com o mare a dimensão da sua zona económica exclusiva, sendo, no caso português, das maiores domundo.

A União Europeia concentra nas regiões marítimas cerca de 40 % do seu PIB e 40 % da suapopulação. Estima-se que o volume de negócios directo do sector do turismo marítimo naEuropa tenha sido de 72 mil milhões de euros em 2004. Cerca de 90 % do comércio externoda Europa e quase 40 % do seu comércio interno passam pelos seus portos.

Assim, defendo uma estratégia ambiciosa de crescimento azul, devendo, para tal, a Comissãoapresentar uma estratégia global e intersectorial, que se fundamente numa vasta investigação

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das potencialidades e opções políticas e numa ampla consulta das partes interessadas, emprol do crescimento sustentável nas regiões costeiras e nos sectores marítimos até 2012.

João Ferreira (GUE/NGL), por escrito. − O relatório apresenta uma visão geral da PMIligada aos objectivos da política externa da UE. Discordamos desta abordagem e, bem assim,de vários outros aspectos do relatório, como é o caso da insistência na criação de umaGuarda Costeira Europeia, numa linha federalista, desrespeitadora da soberania e dascompetências dos Estados-Membros relativamente às suas águas territoriais e zonaseconómicas exclusivas.

Rejeitamos a proposta de introdução de instrumentos baseados na economia de mercado, comoos regimes de comércio de emissões, no sector marítimo – mecanismos que, mesmo sem seaplicarem ao sector marítimo, já demonstraram a sua ineficácia na consecução dosobjectivos ambientais que afirmam prosseguir.

Mas reconhecemos os aspectos positivos que contém, como sejam: a proposta de inclusãoem foros e acordos internacionais da melhoria das condições de trabalho no mar, da segurançae do desempenho ambiental dos navios; a proposta de implementação da Convenção do TrabalhoMarítimo da OIT no direito comunitário; a valorização do transporte marítimo de mercadorias;a preservação de portos pequenos e secundários; o alargamento da rede de transportesmarítimos de curta distância; a importância atribuída à melhoria das ligações às regiõesultraperiféricas.

Propõe também a atribuição de uma importância acrescida às ciências do mar no âmbitodo 8.° Programa-Quadro de Investigação.

Estelle Grelier (S&D), por escrito. – (FR) Enquanto deputada eleita por uma cidadeportuária da Normandia, e na qualidade de membro do Intergrupo para os Mares e asRegiões Costeiras, acompanhei de perto o relatório sobre a política marítima integrada(PMI). Em várias ocasiões, realcei a necessidade de assegurar uma coabitação harmoniosaentre as diferentes utilizações do mar (como a pesca, que pedi que fosse colocada no topoda lista de actividades marítimas incluídas no relatório, como gesto simbólico) que tambémfacilite o desenvolvimento de novas actividades. Assim, recordei que o sector das energiasrenováveis, incluindo a energia eólica off-shore, deve ser particularmente apoiado, porqueé coerente com os objectivos europeus relativos à diversificação das fontes deaprovisionamento energético e pode, daqui até 2020, significar um aumento de 410 000empregos na Europa, de acordo com um estudo da Comissão. Finalmente, com a relatora,alterei o relatório de modo a alertar a Comissão para a necessidade de financiar a PMI. Astrocas de opiniões iniciais sobre “desafios políticos e recursos orçamentais para depois de2013” na comissão, da qual faço parte, suscitaram, de facto, dúvidas sobre o financiamentoa longo prazo da política de coesão regional, que inclui alguns programas relacionadoscom a PMI.

Nathalie Griesbeck (ALDE), por escrito. – (FR) A política marítima integrada é um grandedesafio para a União Europeia. A concretização desta política tem de permitir a melhoriadas actividades económicas no mar e ao longo das regiões costeiras, uma maior valorizaçãodo emprego e também mais protecção do ambiente, bem como o desenvolvimento deinvestigação e inovação no sector marítimo. A este respeito, votei a favor do relatório, queconstitui um avanço significativo, na medida em que salienta todos estes elementosadoptando uma abordagem intersectorial e não fragmentada, como poderia ter acontecidoanteriormente.

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Jarosław Kalinowski (PPE), por escrito. – (PL) A política marítima integrada éextremamente importante para a economia da União Europeia, porque pode melhorarsignificativamente a sua competitividade. Ao criar uma base para este efeito, é necessárioincluir um reforço do desenvolvimento económico, o aumento do nível de emprego nosector e também a protecção do ambiente. Um elemento importante da estratégia deve sertambém uma abordagem consolidada da questão do reforço do papel dos Estados europeusno domínio da investigação sobre a economia marítima e o desenvolvimento de tecnologiae de engenharia marítima, bem como o crescimento dos recursos marinhos.

Devemos também ter em mente o combate pela eliminação de perigos como a pirataria,a pesca ilegal e a poluição do ambiente. A política marítima integrada deve, pois, incluirnão apenas a consolidação de vários domínios da actividade marítima e da economiamarítima estratégica, além da máxima utilização do potencial marítimo, mas tambémchamar a atenção para a melhoria das condições de trabalho no mar.

Bogusław Liberadzki (S&D), por escrito. – (PL) A União Europeia promoveu e adoptouo “pacote marítimo” na anterior legislatura. Trata-se de um pacote que abrange todos osdomínios fundamentais da economia marítima. A Comissão dos Transportes e do Turismoestá ciente de que cerca de 90% das exportações e importações da União se realizam porvia marítima. É importante ter uma política marítima integrada que inclua os transportes,a administração, a protecção do ambiente, a gestão dos recursos marítimos e também oturismo costeiro. Estes são motivos importantes que justificam o apoio a este relatório.

Clemente Mastella (PPE), por escrito. − (IT) Com este relatório, expressamos o nossoapoio ao pacote relativo à política marítima integrada proposto em 2009 pela ComissãoEuropeia, porque entendemos que representa uma ambiciosa estratégia intersectorial parao desenvolvimento económico, um elevado nível de emprego e protecção do ambientenas regiões costeiras e nos sectores marítimos. Convidamos, portanto, os Estados-Membrosa alargar o mandato da Agência Europeia de Segurança Marítima (AESM) em matéria deinspecções de segurança e a regulamentar a extracção de petróleo off-shore na Europa, noseguimento da recente catástrofe natural nas águas do Golfo do México. Apoiamos aabordagem que consiste na coordenação e cooperação com países terceiros em questõesde vigilância marítima, tendo por objectivo criar um ambiente comum de partilha deinformações e integrar os vários serviços de guarda costeira nacionais.

Além disso, o Parlamento Europeu tenciona intensificar esforços na investigação edesenvolvimento da utilização e aplicação de fontes de energia renováveis; melhorar ascondições de trabalho dos marítimos (o programa “Erasmus Marítimo”); e finalmente,assegurar melhores ligações entre as regiões marítimas periféricas. Saudamos, pois, a criaçãodo Atlas dos Mares e do Fórum Marítimo e propomos a criação de um Instituto Europeude Investigação Marinha, para tornar operacional a Rede Europeia de Observação de Dadosdo Meio Marinho (EMODNET).

Nuno Melo (PPE), por escrito. − Uma política marítima integrada é essencial para aproveitarda melhor forma a imensa riqueza que o mar nos proporciona, bem como todo o potencialeconómico aí existente. Não nos podemos esquecer de que as nossas actividades económicasno mar e no litoral produzem 40 % do PIB da UE, observando-se ainda e mesmo assim, deacordo com vários estudos, um grande potencial de desenvolvimento por explorar. Comefeito, 40 % do comércio intra-europeu e 95 % das exportações extra-europeias têm lugarpor via marítima. Apesar destes números e do enorme potencial que ainda existe porexplorar, não existe uma política marítima europeia integrada, que permitiria deixar de

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tratar separadamente as políticas prosseguidas nos domínios do transporte marítimo, daeconomia marítima, das novas tecnologias, das regiões costeiras, da energia off-shore, dapesca, da vigilância e manutenção da legalidade e da ordem no mar, do turismo, da protecçãodo ambiente marinho e da investigação marinha. Esta proposta de resolução vem contribuirpara que a situação actual venha a ser alterada.

Alexander Mirsky (S&D), por escrito. – (LV) A política marítima tem não apenas deincluir regulamentos obrigatórios no âmbito da exploração e do transporte de petróleo,mas também de disponibilizar uma dupla compensação por perdas resultantes de acidentes.Precisamos igualmente de elaborar regulamentos de segurança adicionais, regulamentosde reacção eficientes e medidas de prevenção de catástrofes. A fim de alcançar este objectivo,é necessário constituir um fundo para que todos os operadores activos no ambiente marinhodevem contribuir. Se todos os elementos forem tidos em conta, conseguiremos proibir astecnologias perigosas aplicadas na exploração e extracção de petróleo. Esta medidafuncionará também como um incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias segurase eficientes.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. − (DE) Se introduzirmos diferentes limites de emissõesnas águas da UE, estaremos a contrariar a política marítima integrada, que, como foianunciado, pretende tomar em conta todos os factores. Não podemos esquecer, a esterespeito, os testes nucleares subaquáticos. Sobretudo nas regiões ambientalmente sensíveis,além de quotas de pesca, zonas de pesca proibida e regulamentos relativos à aquicultura,será importante analisar soluções para o turismo costeiro sensível, exercícios militares,transporte marítimo, extracção de petróleo e gás e extracção de areia e gravilha, bem comomedidas para prevenir catástrofes ambientais, como a recente torrente de resíduos tóxicos.Se uma autoridade de segurança costeira a nível europeu tivesse precedência sobre asautoridades costeiras ou marinhas nacionais, isso não seria compatível com os direitos desoberania nacional e aumentaria as tendências existentes para a centralização. Globalmente,esta estratégia não parece ter sido muito bem ponderada e, por conseguinte, votei contrao relatório.

Radvilė Morkūnaitė-Mikulėnienė (PPE), por escrito. − (LT) Votei a favor destedocumento porque acredito que precisamos de uma política marítima integrada paraassegurar um nível adequado de protecção do ambiente. Um dos princípios maisimportantes é a coordenação de várias políticas e a necessidade de aplicar a abordagemecossistémica, prevista na Directiva-Quadro “Estratégia Marinha” da UE. Em particular,concordo com os instrumentos mencionados no documento para a coordenação davigilância e do policiamento dos mares, a protecção do ambiente marinho e a investigaçãocientífica. Como representante da Lituânia, um país da região do Mar Báltico, saúdo o factode este documento chamar a atenção para uma investigação mais ampla destinada adeterminar o estado actual dos mares. O Mar Báltico é um dos mares mais danificados pelaactividade económica e um dos mares mais poluídos do mundo. Como demonstrou acatástrofe do derrame de petróleo no Golfo do México, os ecossistemas marinhos sensíveispodem ser danificados muito rapidamente. Por conseguinte, apoio particularmente o apeloaos Estados-Membros, incluído no relatório, para que tomem mais medidas para planearuma estratégia abrangente a fim de proteger o ambiente marinho.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. − (IT) O relatório Meissner é um texto equilibrado queincorpora uma série de factores e pedidos pertinentes. As actividades marítimas constituemuma das mais importantes fontes de rendimento da Europa. Citando apenas alguns números,estas actividades geram 40% do PIB da UE e, ao mesmo tempo, representam 40% do

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comércio de mercadorias na Europa e 95% das exportações para fora da Europa. O relatórioconcentra-se em alguns pontos fundamentais: a criação de estruturas integradas degovernação marítima a nível nacional e regional; um ordenamento do espaço marítimocoordenado, racionalizado e transfronteiriço; vigilância marítima para proteger osEstados-Membros e a UE; a protecção do ambiente marinho; a criação de uma estratégiapara um turismo costeiro e insular sustentável; e a promoção da indústria da construçãonaval, que é já um sector emblemático, e do transporte marítimo, a fim de concretizar oobjectivo ambicioso de uma “navegação ecológica”. Pelos motivos acima indicados, entendique devia votar a favor. Temos impreterivelmente de assegurar que a comunicação e aintegração entre os vários sectores abrangidos pela política marítima sejam um sucessopor todo um conjunto de motivos associados à eficiência, à competitividade e ao respeitoe protecção do ambiente marinho.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) O PE concorda com a opiniãoda Comissão segundo a qual a nossa “forte tradição marítima” constitui um dos pontosfortes da Europa. Insta, pois, a Comissão Europeia e os Estados-Membros a reforçarem odesenvolvimento do potencial oferecido pelos diferentes sectores marítimos elaborandouma estratégia ambiciosa de “crescimento azul”. Considera ainda que a política marítimaintegrada (PMI) deve contribuir para realizar uma União competitiva, social e sustentável.Entende, a este respeito, que o desenvolvimento da PMI deve integrar, de forma harmoniosa,os esforços tendentes a obter o desenvolvimento económico, um elevado nível de emprego– tornando, nomeadamente, o sector mais atraente para os jovens através de acções deformação e do lançamento de um “Erasmus Marítimo” – e a protecção do ambiente.Considera, portanto, que a PMI deve ser articulada com os objectivos e as iniciativas daEstratégia da UE para 2020. Além disso, o PE solicita, neste contexto, à Comissão queapresente uma estratégia global e inter-sectorial em prol do crescimento sustentável nasregiões costeiras e nos sectores marítimos até 2013, que se fundamente numa vastainvestigação das potencialidades e opções políticas e numa ampla consulta das partesinteressadas.

Oreste Rossi (EFD), por escrito. − (IT) Embora, por um lado, seja claramente necessáriointegrar a política marítima na União Europeia, uma vez que as actividades que lhe estãoassociadas produzem 40% do PIB da UE, por outro lado, é justo regulamentar essasactividades tomando em conta os concorrentes de fora da UE. Muitas vezes, a pesca, oturismo, os transportes e a protecção ambiental do sector foram desenvolvidosseparadamente e sem ter em consideração os riscos inerentes à concorrência desleal dospaíses terceiros. Por exemplo, o alargamento de limites de emissões demasiado severos atodas as regiões costeiras pode criar distorções da concorrência.

Outros textos sobre os problemas em causa foram debatidos e aprovados pelo Parlamentoe terão indiscutivelmente de ser coordenados de uma forma integrada. Uma dessas questõesé a vigilância marítima, crucial para o controlo das actividades ilegais que são muitas vezeslevadas a cabo nas regiões costeiras da Europa e que variam entre o contrabando de produtoscontrafeitos, o transporte de substâncias proibidas e a pesca ilegal.

Czesław Adam Siekierski (PPE), por escrito. – (PL) A actividade económica marítima ecosteira da União Europeia gera actualmente 40% do PIB da União, e as previsões indicamuma elevada probabilidade de crescimento no futuro. Por este motivo, a actividade marítimaé, sem dúvida, um factor muito importante e um dos pontos fortes da Europa. Penso queum maior desenvolvimento da economia marítima é essencial.

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A política marítima existente na União foi criada separadamente em domínios como otransporte marítimo, economia marítima, novas tecnologias, zonas costeiras, energiamarítima, pesca, vigilância e policiamento dos mares, turismo, protecção do ambientemarinho e investigação marinha. Muitas vezes, estas actividades isoladas são levadas a cabode formas incompatíveis e produzem um efeito prejudicial à política marítima no seuconjunto. É evidente que uma política marítima integrada contribuirá para umdesenvolvimento económico mais sustentável da União Europeia. Permitirá, entre outrosaspectos, assegurar uma maior coesão entre diferentes domínios políticos, criar melhoresregulamentos e instrumentos intersectoriais e aproveitar o potencial marítimo e o potencialdo sector de uma forma económica e ecológica.

Mais ainda, na minha opinião, é essencial tornar este sector mais atractivo para os jovensorganizando formação e actividades destinadas a incentivar os jovens a trabalhar nestedomínio.

Salvatore Tatarella (PPE), por escrito. – (IT) O relatório sobre a política marítima integradadiz respeito a um sector importante da economia europeia. As actividade marítimasrepresentam, de facto, uma fonte de rendimento significativa para a UE, tanto em termosdo PIB como do comércio de mercadorias dentro e fora da Europa. Entendo que devemser salientadas algumas questões. Em primeiro lugar, o relatório afirma que as estratégiasfuturas neste sector serão adaptadas às especificidades das bacias marítimas, mas euconsidero muito importante tomar também em conta as circunstâncias regionais específicas.A nova política marítima centrar-se-á igualmente no desenvolvimento de embarcaçõesseguras e proporcionará excelentes oportunidades para o futuro da construção navaleuropeia. Os nossos mares devem continuar a ser uma força motriz do crescimento e, porconseguinte, acredito que é essencial para o desenvolvimento da política marítima integradaassegurar uma maior coerência entre as normas que regem os vários sectores marítimose, em simultâneo, salvaguardar o ambiente marinho.

Nuno Teixeira (PPE), por escrito. − Até à data, as políticas nos domínios dos transportesmarítimos, da economia marítima, das novas tecnologias, das regiões costeiras, da energiaoff-shore, da pesca, da vigilância marítima, do turismo, da protecção do ambiente marinhoe da investigação marinha têm evoluído separadamente. Uma abordagem individual conduzmuitas vezes a medidas contraditórias e a situações de conflito e de desajustes. É, por isso,desejável uma abordagem integrada que, por um lado, inclua um quadro de governaçãocom todos os níveis de decisão e, por outro, todos os sectores e instrumentos transectoriais.

No contexto de um planeamento coordenado das actividades, apoio a solicitação à Comissãoda elaboração de estratégias para as bacias marítimas capazes de ter em conta asespecificidades das regiões e de tirar partido dos seus trunfos.

Tal seria uma boa proposta para o caso das Regiões Ultraperiféricas, como é o caso daMadeira, pois permitiria tirar partido das actividades desta Região ligadas ao mar e criarsinergias com as actividades das outras Regiões da bacia marítima em que se integra. AsRegiões Ultraperiféricas conferem, aliás, à União Europeia, através do seu territóriomarítimo, a maior Zona Económica Exclusiva do mundo, o que põe desde logo em destaquea importância nestas regiões das actividades marítimas e relacionadas com o mar.

Artur Zasada (PPE), por escrito. – (PL) Congratulei-me com o resultado da votação dehoje. O combate por uma exploração sustentável e por uma abordagem integrada da gestãodos oceanos, dos mares e das zonas costeiras deve ser uma prioridade para a União Europeia.Estou convencido de que uma política marítima integrada tratará efeitos benéficos a curto

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e a longo prazo. A supressão de obstáculos políticos e a criação de sinergias entre diferentesactividades com efeito directo no espaço marítimo europeu são objectivos que não podemosesquecer.

Penso que o Parlamento Europeu deve solicitar a introdução de uma série de medidassectoriais, particularmente no contexto das consequências sociais e económicas prejudiciaisque muitas vezes atingem os pescadores quando são tomadas medidas de recuperação daspopulações piscícolas ou de protecção dos ecossistemas.

Relatório: Helmut Scholz (A7-0277/2010)

Liam Aylward, Brian Crowley e Pat the Cope Gallagher (ALDE), por escrito. – (GA)Apoio o que este relatório afirma sobre o pedido à Comissão para que cancele asconversações com o Mercosul até ser acordado um novo mandato que tome em conta osinteresses de todos os Estados-Membros. O sector agrícola é a maior indústriatransformadora característica da Irlanda e reveste-se de importância crítica no que respeitaà recuperação económica do país. Essa recuperação não pode ser comprometida. Tendoem conta que o sector agrícola é crucial para a economia europeia, o Parlamento Europeutem de estar profundamente envolvido nas negociações pertinentes em todas as etapas doprocesso. Além disso, apoio a alteração ao relatório relativa à aplicação de medidas queassegurem que todas as importações agrícola que entrem na UE cumpram as mesmasnormas que as mercadorias europeias no que toca à protecção dos consumidores europeus,ao bem-estar dos animais, à protecção do ambiente e às normas sociais. Os agricultoresirlandeses realizam um excelente trabalho de promoção da elevada qualidade dos seusbens e dos processos de produção que utiliza, sendo necessárias normas equivalentes paraassegurar condições equitativas, uma concorrência adequada e a sustentabilidade do sectoragrícola europeu.

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Votei a favor deste relatório porque a UniãoEuropeia reforçou as suas relações económicas e comerciais com a América Latina,tornando-se o seu segundo parceiro comercial mais importante e o maior parceiro comercialdo Mercosul e do Chile. O objectivo de uma integração mais estreita entre as esferaseconómicas da Europa e da América Latina é criar uma situação duplamente vantajosapara as duas partes. É necessária uma maior cooperação entre os países europeus elatino-americanos a fim de exercer pressão conjunta para a celebração tão célere quantopossível de um acordo de Doha da OMC que seja justo, ambicioso e exaustivo, emconformidade com os compromissos assumidos na Declaração de Madrid.

Nikolaos Chountis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) Votei contra o relatório do meu colega,apesar de pertenceremos ao mesmo grupo e de o autor ter conseguido incluir vários aspectospositivos no seu relatório. Contudo, infelizmente, as forças da direita europeia lograram,através das alterações que apresentaram, alterar o conteúdo e o espírito que o autor tentavaconferir ao seu relatório. Não pude votar a favor do relatório porque, além do mais, o textolamenta as medidas, que considera proteccionistas, adoptadas pela Argentina para fazerface à crise financeira e, nessa base, solicita indirectamente à Comissão que imponhasanções, instando-a a “a abordar regularmente a questão do acesso ao mercado com ospaíses da América Latina”. Eu não podia ignorar a supremacia das “regras do mercado” edo intervencionismo europeu nos assuntos internos dos outros países, sobretudo emdetrimento de medidas que apoiem a coesão e protejam os cidadãos desses países. Ocomércio e as relações entre a UE e os países da América Latina têm de basear-se em

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igualdade, solidariedade e respeito pelos direitos dos trabalhadores e pelo ambiente e nãopode permitir que prevaleçam os interesses dos Estados e empresas mais fortes.

Lara Comi (PPE), por escrito. − (IT) A União Europeia assenta num sistema de valores emque os países da América Latina alcançaram progressos nos últimos anos. Essa evoluçãodeve decididamente ser recompensada por mais incentivos da política comercial da UE.Se a isto acrescentarmos as ligações linguísticas e culturais forjadas ao longo da história,temos uma oportunidade para contribuir, na medida do possível, para o desenvolvimentoeconómico e social destes países, por muito variadas que sejam as suas situações. Éigualmente útil para ambas as partes entender quais os elementos nucleares que estão naorigem da evolução política desses países e intervir de modo a prevenir abusos que possamser prejudiciais aos países e a nós próprios. Apenas podemos saudar o reforço das relaçõescomerciais, desde que as políticas de desenvolvimento sejam acompanhadas paracontinuarem a funcionar como incentivo a melhorias.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) Apesar dos progressos sociais realizados nosúltimos anos, sendo o Brasil o exemplo mais notável, 1 em cada 3 habitantes da AméricaLatina é vítima da pobreza. As crianças e os jovens são mais afectados por este flagelo, poismais de metade encontra-se privada de recursos materiais suficientes. É provável que asituação afecte o seu percurso educativo e profissional, o que terá um impacto a longoprazo nas sociedades em que vivem. Num período em que as políticas comerciais da UEtêm de assumir um papel significativo no cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimentodo Milénio, entendo que nos devemos centrar no apoio aos países da América Central edo Sul na sua luta contra a pobreza, no aumento do poder de compra e na promoção deum desenvolvimento sustentável.

Michel Dantin (PPE), por escrito. – (FR) A alteração que apresentei com o senhor deputadoDess e 77 outros deputados ao Parlamento Europeu exige o pleno cumprimento das normaseuropeias de saúde, sociais, de protecção do consumidor, ambientais e de protecção animalno que se refere às importações agrícolas. Afinal, é incrível impormos aos agricultoreseuropeus o respeito das normas de produção mais exigentes do mundo, enquantosimultaneamente aumentamos a quantidade de produtos agrícolas que podem entrar naEuropa sem respeitar essas mesmas normas.

Os consumidores têm de poder beneficiar de um nível único de protecção,independentemente do produto adquirido, e os agricultores têm de ser recompensadospelos seus enormes esforços, e não sujeitos a uma concorrência verdadeiramente deslealpor parte de países terceiros. É esta, de qualquer forma, a minha ideia de uma políticaagrícola e alimentar equilibrada. Esta resolução transmite uma mensagem clara à Comissãoe a países terceiros, pelo que a apoio.

Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) O relatório do Parlamento sobre as relaçõescomerciais da UE com a América Latina pode muito bem vir a constituir jurisprudência.Os acordos comerciais com a América Latina contêm uma secção extremamente sensívelsobre agricultura. Por isso o Parlamento solicitou que “as importações de produtos agrícolaspara a União Europeia só sejam autorizadas se respeitarem as normas europeias em matériade protecção dos consumidores, bem-estar dos animais e protecção do ambiente, bemcomo as normas sociais mínimas”. Doravante competirá à Comissão contemplar esterequisito político do Parlamento em negociações futuras. No âmbito destas negociações,o Parlamento procurou que fosse prestada particular atenção às regiões ultraperiféricas,devido à concorrência da América Latina em certos produtos, especialmente no sector das

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bananas. Foi por esse motivo que o Parlamento solicitou que os sectores estratégicos etradicionais das regiões ultraperiféricas fossem protegidos e recebessem compensaçãoadequada em conformidade com os compromissos que a UE assumiu em relação a essasregiões em 2009.

Edite Estrela (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório sobre as relaçõescomerciais da UE com a América Latina, porque estas devem ser uma prioridade para aUE. A UE é actualmente o segundo parceiro comercial mais importante da América Latinae o principal parceiro comercial do MERCOSUL e do Chile. A política comercial europeiadeve desempenhar igualmente um papel importante na realização dos Objectivos deDesenvolvimento do Milénio, bem como dos compromissos internacionais ligados aosdireitos humanos, à segurança alimentar e à sustentabilidade ambiental.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − O Tratado de Lisboa define a políticacomercial da UE como parte integrante da acção externa geral da União. Nos últimostempos, tem havido um declínio do comércio UE-ALC em virtude da crescente participaçãodos países asiáticos no comércio externo ALC, pese embora o facto de que a UE continuea ser o segundo parceiro comercial da América Latina. Embora os acordos de associaçãoentre a União Europeia, por um lado, e o México e o Chile, por outro, tenham originadoum aumento substancial do volume das trocas comerciais, as trocas que o México registacom a Europa continuam a ser modestas, se comparadas com as que mantém com os EUA.Defendo por isso a necessidade de ambas as partes desenvolverem um leque mais vasto deactividades económicas nas trocas comerciais. O grosso das importações ALC provenientesda UE são, hoje, produtos industriais (mais de 85 %). Por sua vez, mais de 40 % dasexportações da região destinadas à UE são produtos básicos. É por isso necessário mobilizarrecursos e assistência técnica para identificar e financiar programas que concedamoportunidades de produção a nível local e regional e acesso sustentável aos mercadosglobais para as comunidades excluídas e para as pequenas e médias empresas.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. − Não votámos favoravelmente este relatóriodevido às suas contradições. Mesmo sendo certo que tem alguns aspectos positivos relativosàs novas realidades da América Latina, vários dos seus parágrafos são inaceitáveis.

Por exemplo, destacamos, nos aspectos positivos, o reconhecimento de que todos os paísestêm o direito de criar os mecanismos necessários para defender a sua segurança alimentare assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento dos pequenos e médios produtores.

Mas, entretanto, noutro ponto afirma exactamente o contrário quando Lamenta as medidasproteccionistas adoptadas durante a crise financeira por alguns países da América Latina,especialmente a Argentina; exorta a Comissão a abordar regularmente a questão do acesso ao mercadocom os países da América Latina. Ou ainda quando se diz Profundamente preocupado com asmedidas restritivas recentemente adoptadas pelas autoridades argentinas relativamente aos produtosalimentares importados de países terceiros, incluindo a União Europeia.

De igual modo, não é aceitável o apoio à liberalização do comércio internacional queressalta de algumas das suas propostas, embora haja, depois, posições diferentes noutrospontos.

Elisabeth Köstinger (PPE), por escrito. − (DE) A União Europeia mantém boas relaçõeseconómicas com os países da América Latina ao nível da OMC, mas também aos níveisbilateral e multilateral. Estas relações comerciais e económicas têm de continuar adesenvolver-se à luz dos sectores económicos sensíveis da UE. Manifesto, por isso, o meu

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apoio à alteração apresentada ao número 30, que solicita que "as importações de produtosagrícolas para a União Europeia só sejam autorizadas se respeitarem as normas europeiasem matéria de protecção dos consumidores, bem-estar dos animais e protecção do ambiente,bem como as normas sociais mínimas”. Os nossos cidadãos europeus têm de respeitarnormas exigentes de produção e não devem ser prejudicados devido a uma concorrênciadesleal. A fim de garantir que os custos são cobertos, é necessário planeamento e segurançade rendimentos. Estes aspectos necessitam igualmente de ser contemplados no âmbito dosacordos de comércio livre.

Mario Mauro (PPE), por escrito. − (IT) À excepção da alteração 32, que o Grupo do PartidoPopular Europeu (Democratas-Cristãos) solicitou que fosse votada separadamente – e quevotaremos contra – o relatório deve ser aprovado como um todo porque constitui umavisão geral útil da situação das nossas relações com a América Latina. A Cimeira UniãoEuropeia–América Latina, que decorreu em 18 de Maio em Madrid, deu um forte estímuloao desenvolvimento das relações entre ambas as partes: relações que são reforçadas a cadaano que passa. Nenhuma das partes pode excluir uma relação comercial com a outra, apesarde, é claro, essa relação ter de produzir resultados concretos e de conduzir a uma melhoriadas condições de vida das nossas populações.

Mairead McGuinness (PPE), por escrito. − (EN) Apesar de concordar com muitoselementos deste relatório, votei contra na votação final. O relatório apoia explicitamentea reabertura das conversações comerciais com os países do Mercosul. Apesar de apoiar asexortações para que as importações de países terceiros sejam efectuadas de uma forma querespeite as normas da UE, um Acordo de Associação UE–Mercosul terá consequênciasnegativas para a agricultura da Europa, especialmente para o sector pecuário. A Comissãoainda não efectuou uma avaliação de impacto de um acordo no domínio da agriculturapara a UE desde que retomou conversações com o bloco comercial no início deste ano.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − Sendo a UE o principal investidor e segundo parceirocomercial da América Latina, fornecendo também a maior ajuda ao desenvolvimento,pensamos que tais dados são suficientes para que haja uma estratégia clara e bem definidarelativamente às relações comerciais entre a UE e a América Latina. Defendemos a definiçãode directrizes claras sobre a melhor forma de colaborar para promover a estabilidadepolítica, combater as alterações climáticas, gerir os fluxos migratórios e prevenir catástrofesnaturais. Uma boa forma de conseguir concretizar as ajudas de que a América Latinanecessita é através da dinamização das relações comerciais entre os dois blocos, que, aconcretizar-se, será um dos principais em todo o mundo. É, no entanto, necessário nãoesquecer as regiões ultraperiféricas da Europa que podem vir a ser afectadas com aimportação de determinados produtos agrícolas, nomeadamente a região portuguesa daMadeira no que respeita à importação de bananas. Teremos que encontrar um acordoequilibrado que possibilite o desenvolvimento dos países da América Latina, mas que, aomesmo tempo, não seja prejudicial para os vários sectores económicos de algunsEstados-Membros, principalmente no sector agro-pecuário.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. − (DE) Nos últimos anos, a América Latina tornou-seuma zona económica emergente. Os acordos comerciais com os Estados da América doSul representam algo de muito positivo. Como a União Europeia já efectuou um trabalhode desenvolvimento muito importante, deveria agora, à semelhança da Rússia, reforçar asua posição de segundo maior parceiro comercial da região. No entanto, a UE deve tambémponderar cuidadosamente quais os Estados com que mantém comércio, pois a exploraçãodos trabalhadores ainda é a norma em muitos países da América do Sul. Votei contra o

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relatório porque dedica pouca atenção às condições por vezes muito pobres na AméricaLatina e apresenta poucas propostas para as melhorar.

Franz Obermayr (NI), por escrito. − (DE) O relator defende a abertura completa dosmercados comerciais entre a UE e a América Latina. Além disso, os problemas relacionadoscom o Acordo de Associação UE–Mercosul não são devidamente resolvidos no relatório.Votei, por isso, contra o relatório.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. − (IT) Votei a favor deste relatório pois consideroimportante transmitir uma mensagem à Comissão de que este Parlamento está determinadoa estabelecer relações ainda mais estreitas com a América Latina. A América do Sul, portodo um conjunto de motivos históricos, sociais e económicos, tem muitos aspectos emcomum com a Europa. As nossas relações comerciais sempre foram excelentes, mas têmde ser reforçadas e apoiadas, incluindo à luz dos novos requisitos de ambos os continentes.De facto, não podemos esquecer a importância de alguns países que no passado podemter sido considerados países em desenvolvimento, mas que são agora verdadeiras potênciaseconómicas mundiais. Face a todos estes argumentos, considero que a Europa tem decontinuar a desempenhar o seu papel de parceiro comercial preferencial, de guia e de pontode referência especial para todos os países da região.

Georgios Papanikolaou (PPE), por escrito. – (EL) Votei a favor do relatório Scholz, porqueo maior apoio às relações comerciais entre a União Europeia e os países da América Latinaresulta de grandes reformas democráticas ocorridas nesta região específica e de melhoriasno quadro da protecção dos direitos humanos. No entanto, temos de garantir que as relaçõescomerciais futuras entre as duas regiões não prejudicarão este progresso e que os produtosimportados para a UE cumprem as normas europeias em matéria de qualidade, de segurançados consumidores e de protecção ambiental. Partilho igualmente a opinião de que aComissão deveria demonstrar maior preocupação quando efectua ou prolonga acordoscomerciais com países que continuam a violar direitos humanos fundamentais.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu, de 21 de Outubro de 2010, sobre as relações comerciais da UE coma América Latina por considerar que o mercado livre estimula a economia mundial e poderáser um importante factor de desenvolvimento para os países da América Latina. Considero,porém, que o mandato que a Comissão Europeia recebeu para conduzir o processo denegociações deveria ser reapreciado por ser já demasiado antigo e desadequado àscircunstâncias presentes em que as negociações decorrerão. Nesta reapreciação haveriacertamente oportunidade para insistir na necessidade de proceder a estudos prévios àcelebração dos acordos acerca do seu impacto no tecido produtivo europeu e, em particular,na agricultura, devendo ainda tomar-se uma posição forte no sentido de não continuar apermitir que os produtos agrícolas continuem a servir de moeda de troca para vantagenscomerciais a outros níveis.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. − (EN) O motivo de termos votadofinalmente contra o texto foi o facto de as propostas mais específicas para proteger aAmérica Latina de ataques especulativos e de fenómenos de alterações climáticas, paradesencorajar uma orientação agressiva de exportações, evitar o dumping ambiental e paracobrir os riscos da liberalização dos serviços financeiros, terem acabado por se diluir noprocesso de obtenção de compromissos, como moedas de troca, para evitar formulaçõesespanholas ainda mais grotescas. O apelo para esquecer a infeliz Agenda deDesenvolvimento de Doha (ADD) na OMC e para concentrar o trabalho futuro na

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regulamentação comercial dos novos desafios foi invertido e transformado numa exortação,repetida à exaustão, a que se conclua rapidamente uma ADD justa, ambiciosa e ampla.

Também o conceito de soberania alimentar se perdeu. Em vez de chamar as coisas pelosnomes, o relatório apenas “acentua a importância de...”, após a rejeição de quaisquer valoresconcretos, de parâmetros de referência ou de prazos. O relatório perde assim qualquervalor acrescentado, quando comparado com documentos existentes. No que diz respeitoa exigências específicas, é inferior a esses documentos.

Oreste Rossi (EFD), por escrito. − (IT) Este relatório tem o nosso apoio porque destacao fortalecimento das relações entre a UE e os países da América Latina e das Caraíbas. Atarefa específica da União Europeia é a de ser um interveniente económico e comercial nocenário internacional, superando a concorrência dos seus parceiros, os Estados Unidos ea China, que já asseguraram a sua presença no mercado da América Latina.

Actualmente, poucos sectores beneficiam destas relações comerciais. 85% das importaçõespara os países da América Latina e das Caraíbas (ALC) são produtos industriais, enquanto40% das exportações para a UE são produtos de base. A médio e longo prazo, as relaçõescomerciais devem intensificar-se de acordo com normas claras e transparentes.

Daciana Octavia Sârbu (S&D), por escrito. – (RO) A União Europeia é, acima de tudo,defensora do respeito dos direitos humanos. Por isso considero que devemos concentrar-nosmuito atentamente no respeito dos direitos humanos na Colômbia antes de liberalizar ocomércio com este país. Por outro lado, quanto às importações de alimentos da AméricaLatina, temos de garantir que esses países cumprem as mesmas normas em termos dequalidade e de protecção dos animais a que estão sujeitos os nossos próprios produtores.

Nuno Teixeira (PPE), por escrito. − A política comercial comum europeia é uma parteintegrante e relevante da acção externa geral da União e que pode ter um papel muitopositivo nos objectivos de criação de riqueza e nas relações económicas e políticas entrepovos e países dos espaços europeu e latino-americano. Não duvido de que uma integraçãoaprofundada nas áreas económicas possa trazer vantagens para ambas as partes,nomeadamente em termos de criação de mais e de melhor emprego. Porém, conheço osefeitos que os acordos comerciais bilaterais que têm sido celebrados entre a União Europeiae os países da América Latina podem ter para as economias das Regiões Ultraperiféricas.

Na Região de onde provenho, a Madeira, as consequências são particularmente visíveis noque respeita à produção de banana. Defendo, por isso, que este sector de produção e osdemais sectores estratégicos e tradicionais da Ultraperiferia sejam preservados.

Para o efeito, e de acordo com o compromisso assumido pela União Europeia para comas suas regiões da Ultraperiferia, estas devem ser objecto de uma compensação adequadae de uma particular atenção concedida às suas vulneráveis economias. Tal salvaguardadestas Regiões é contemplada pelo presente documento e, neste sentido, o mesmo contacom o meu voto favorável.

Presidente. − Deus abençoe os vossos filhos. Com esta bênção, interrompo a sessão.

9. Correcções e intenções de voto: ver Acta

(A sessão, suspensa às 13h05, é retomada às 15 horas)

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PRESIDÊNCIA: Libor ROUČEKVice-Presidente

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE). – (FR) Gostaria apenas de comunicar ao Parlamentoalgumas informações que recebi há momentos.

Há algumas semanas, tem vindo a ocorrer um fenómeno novo sem precedentes ao redorde certas grandes cidades ocupadas do Sara Ocidental, ou seja, mais de 12 000 homens,mulheres e crianças sarauís estão, neste preciso momento, a abandonar as suas cidades ea dirigir-se para tendas nos arredores de El Aaiun, Smara e Boujdour.

Estas movimentações, que estão a aumentar progressivamente, parecem constituir umanova forma de protesto contra a situação política e socioeconómica insustentável doshabitantes indígenas destes territórios.

Refiro-o hoje e agora porque o problema provocado pelas múltiplas intervenções violentasdo regime marroquino pode piorar de forma preocupante neste fim-de-semana. É por issoque insto o Parlamento a estar pronto a reagir consoante o desenrolar desta situação.

Presidente. − Tomarei nota do que disse. Tratou-se, é claro, de um ponto de ordem, assituações no Sara Ocidental e em Marrocos não fazem parte dos nossos temas desta tarde.Tomarei, no entanto, nota do que referiu.

(A acta da sessão anterior é aprovada)

10. Aprovação da acta da sessão anterior

11. Debate sobre casos de violação dos direitos humanos, da democracia e do Estadode direito

11.1. Expulsões forçadas no Zimbabué

Anneli Jäätteenmäki, autora. − (EN) Senhor Presidente, discutimos uma vez mais asituação difícil no Zimbabué.

Actualmente, a elevada inflação ascende a centenas de milhões por cento e existe uma taxade desemprego que privou mais de 90 milhões de pessoas desse país de um meio desubsistência. Ocorrem igualmente muitas violações de direitos humanos.

O Parlamento pergunta o que deve ser feito. Já referimos muitas vezes que não aceitamosviolações dos direitos humanos. Temos dado essas indicações aos países africanos, masnada aconteceu.

Penso que quando concedermos ajuda humanitária a países africanos no futuro teremosde a condicionar ao respeito dos direitos humanos. Não fomos suficientemente firmes emalguns casos, e noutros estipulámos apenas o que deveria ser feito.

Talvez devêssemos manter uma cooperação mais próxima com todos os países africanose com a União Africana para tentar que percebam a situação, a fim de que a União Europeianão continue a dar o seu financiamento se as violações dos direitos humanos persistirem.

Judith Sargentini, autora . − (EN) Senhor Presidente, o primeiro travessão da nossaresolução diz tudo: “Tendo em conta as suas numerosas resoluções anteriores sobre oZimbabué, a mais recente das quais data de 8 de Julho de 2010”. Referíamo-nos então às

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violações de direitos humanos nas jazidas de diamantes do Zimbabué, e agora referimo-nosàs expulsões nos arredores de Harare.

Estão a ser expulsas pessoas que já tinham sido expulsas em 2005 na OperaçãoMurambatsvina, que, a título de curiosidade, significa “deitar fora o lixo”. As mesmaspessoas que foram deitadas fora como lixo da última vez estão a ser expulsas agora. Daúltima vez foi o Governo de Mugabe a travar o seu combate contra o partido MDC. Destafeita, é o Governo de Unidade Nacional de Zanu e o MDC. Devo dizer que estouprofundamente desiludida por, com este Governo de Unidade, este tipo de violações dosdireitos humanos persistir.

Não creio que esta seja a nossa última resolução sobre o Zimbabué. Cá estarei da próximavez e apresentarei novamente este ponto.

Véronique De Keyser, autora. − (FR) Senhor Presidente, esta resolução humanitáriaurgente tem de ser considerada no cenário de discórdia política entre Robert Mugabe eMorgan Tsvangirai, e essa discórdia é o tema do pedido para que a União Europeia nãoaceite os novos embaixadores nomeados unilateralmente pelo senhor Mugabe. Contudo,esta resolução humanitária urgente pode associar-se às eleições e aos ganhos políticos quepodem advir de se expulsar populações das cidades em que vivem.

Recordemos o mês de Junho de 2005 e a Operação Murambatsvina, há pouco referida:uma cidade foi sujeita à intervenção violenta e de motivação puramente política dosbulldozers de Robert Mugabe, e 700 000 pessoas foram desalojadas. O mesmo sucede hoje:20 000 das pessoas mais pobres do Zimbabué, que vivem em “Hatcliffe Extension”, pertode Harare, sofrem a ameaça de despejo por não poderem pagar as rendas exorbitantes quelhes estão a ser pedidas; trata-se de uma operação bastante ampla.

Recordemos igualmente que a situação humanitária e económica está a piorar para milhõesde habitantes do Zimbabué, que a incidência de SIDA no Zimbabué é a quarta maior domundo e que morrem permanentemente crianças nesse país.

Existem tantos motivos neste momento para esta resolução urgente e para lançarmos umforte apelo a toda a comunidade internacional a fim de garantirmos que esta reconciliação– não direi esta pseudo-reconciliação no seio do governo de coligação do Zimbabué, masesta reconciliação – não seja destruída presentemente com os preparativos agressivos emvésperas de eleições.

Marie-Christine Vergiat, autora. − (FR) Senhor Presidente, tenho tendência a pensar quea situação de direitos humanos no Zimbabué infelizmente não é o que costumamosconsiderar uma emergência neste Parlamento.

Os direitos humanos são de facto violados repetidamente nesse país, como demonstramas inúmeras resoluções aprovadas neste Parlamento. Na mais recente, como já foi referido,denunciámos a detenção, em 22 de Julho, do senhor Farai Maguwu, fundador e directordo Centro de Investigação e Desenvolvimento, cujo crime foi relatar as atrocidadescometidas nas jazidas de diamantes por, entre outros, autoridades militares.

Hoje, discutimos a questão das expulsões forçadas. Não se trata de uma questão nova. Comefeito, como referiu a senhora deputada De Keyser, já tinha sido lançada uma operaçãodeste tipo pelas autoridades do Zimbabué em 2005. Chamava-se Operação“Murambatsvina”, que significa restaurar a ordem. Estou certa de que concordarão que setratava de um programa e tanto, e que demonstra claramente o que as autoridades do

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Zimbabué entendem pela palavra ordem. Nessa ocasião foram afectadas setecentas milpessoas.

A comunidade internacional denunciou unanimemente os métodos utilizados. Qual é asituação presentemente? A maioria das pessoas afectadas ainda vive em tendas. Pior ainda,em Agosto, agentes de polícia armados – disse, de facto, agentes de polícia – incendiaramos abrigos de cerca de 250 desalojados que se tinham estabelecido nos arredores de Harare.Vinte mil pessoas – este elemento já foi igualmente referido – enfrentam hoje a ameaça domesmo destino porque não pagaram o seu imposto de residência, que está para além dassuas possibilidades.

Estes homens, mulheres e crianças são, na realidade, algumas das pessoas mais pobres dopaís. Vamos permitir que esta situação se mantenha sem dizermos nada? Vamos recordarmais uma vez às autoridades do Zimbabué os seus compromissos internacionais, comofez a senhora Baronesa Ashton na recente cimeira UE-Zimbabué em Julho?

Todos estamos cientes de que existem atritos entre o Presidente Mugabe e oPrimeiro-Ministro desde a assinatura do acordo político global de 15 de Setembro de 2008e da nomeação, em 13 de Fevereiro, do governo de unidade nacional.

Recentemente, o Presidente Mugabe ameaçou repetidamente dissolver o governo quasede imediato por lhe ter recordado as suas obrigações constitucionais.

É altura de tomar medidas no Zimbabué e em muitos outros países do mundo para pôrfim ao diálogo com ditadores que se mantêm no poder através do recurso à força e à fraude,com o único objectivo de desviar os recursos do seu país para proveito próprio.

Alain Cadec , autor. − (FR) Senhor Presidente, tentarei limitar-me ao minuto que me foiconcedido.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, o Zimbabué vive dias negros. Maisuma vez, temos de aprovar uma resolução urgente sobre este país africano. Esta resoluçãocondena as violações de direitos humanos cometidas durante a Operação Murambatsvina,que acabámos de referir. Executada em 2005, esta operação não se limitou a desalojar700 000 pessoas – destruiu-lhes igualmente as casas e os meios de subsistência. Vinte mildessas pessoas desalojadas estão a ser forçadas a viver em abrigos improvisados, emcondições extremas de pobreza, de insegurança e de promiscuidade.

Estamos preocupados com esta situação intolerável. Temos de instar o Governo de UnidadeNacional do Zimbabué – como já foi referido, não se trata verdadeiramente de um governode unidade nacional – a conceder-lhes o mínimo de que necessitam para sobreviver e aabolir impostos de residência, como os que estão a ser exigidos na zona de Hatcliffe, nosarredores de Harare, que podem quase ser considerados extorsão. Esta situação tem de serdenunciada durante a votação.

Exorto a África do Sul, que desempenha actualmente um papel essencial no África Austral,e a União Europeia a encetarem juntas um diálogo com as autoridades do Zimbabué sobreas condições socioeconómicas em que esse país se encontra actualmente. A nossa reuniãocom os colegas sul-africanos constituirá também, espero, uma oportunidade para discutiresta tragédia.

Nirj Deva, autor. − (EN) Senhor Presidente, este Parlamento já aprovou, vezes sem conta,resoluções que condenam a tragédia do Zimbabué. O senhor Mugabe ignorou-nos, vezes

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sem conta, e prosseguiu como se não existíssemos e as nossas opiniões não tivessemimportância.

Há algo que podemos fazer imediatamente para mostrar ao senhor Mugabe que as nossasopiniões de facto têm importância. Ou seja, não devemos aceitar as credenciais da senhoraMargaret Muchada, que foi nomeada unilateralmente pelo senhor Mugabe, numa violaçãodirecta da Constituição do Zimbabué, para o posto de Embaixadora do Zimbabué juntoda UE.

O meu colega, senhor deputado Geoffrey Van Orden, escreveu ao senhor Presidente Barrosoe ao senhor Presidente Van Rompuy a este respeito. Se temos algum poder, devemosmostrar ao senhor Mugabe, que nos ignorou completamente, a nossa verdadeiraimportância e exigir que esta senhora, a sua embaixadora, seja substituída.

Filip Kaczmarek, em nome do Grupo PPE. – (PL) As expulsões no Zimbabué representamuma enorme falta de consideração pelos direitos humanos reconhecidos internacionalmente.As expulsões forçadas, sem concessão de indemnizações ou de alojamento alternativo,são totalmente contrárias ao Direito internacional. O Governo do Zimbabué está a cometerviolações gritantes dos direitos cívicos, políticos, económicos e sociais consagrados naCarta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos. A continuação das expulsões está asujeitar números crescentes de cidadãos a perda de dignidade e de alojamento.

Instamos o Governo do Zimbabué a cancelar essas práticas e a deter as expulsões forçadas.As pessoas que já foram despejadas, assim como a sua propriedade, devem receber protecçãojurídica, as vítimas devem ser indemnizadas e, acima de tudo, todos os cidadãos devem terdireito a abrigo e acesso a alimentos e a água.

Lidia Joanna Geringer de Oedenberg, em nome do Grupo S&D. – (PL) Basta-nos elaboraruma lista de parangonas sobre o Zimbabué dos últimos cinco anos para ter uma imagemdas condições de um país governado pelo Presidente Robert Mugabe nas últimas trêsdécadas. Títulos como: “Zimbabué – polícia espanca oposição” ou “Mugabe destruiu África”estão entre as expressões mais ligeiras, e as autoridades deste regime africano encontram-sesobre constante pressão da opinião pública internacional. A pobreza extrema e a falta deacesso a serviços médicos de base, os níveis gigantescos de desemprego que atingem 90%e a baixa esperança média de vida, actualmente de apenas 44 anos, constituem o verdadeirorosto do Zimbabué.

Nestas circunstâncias, é difícil entender o motivo para o governo considerar prioritária aexpulsão de 20 000 cidadãos dos subúrbios da capital Harare, forçando-os a abandonaros seus humildes pertences. Alio-me ao apelo de organizações internacionais como aAmnistia Internacional para que o Governo do Zimbabué ponha fim à repressão dos seuspróprios cidadãos e se concentre em conceder-lhes um verdadeiro apoio nas escolas, noshospitais e no mercado de trabalho. O Zimbabué, um país pobre, não pode perder tempoe dinheiro com investimentos noutros domínios.

Marietje Schaake, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhor Presidente, na CimeiraUE-África que terá lugar na Líbia em Novembro deveriam ocorrer conversações sobre aforma como Mugabe e os seus apoiantes mais próximos continuam a constituir umobstáculo ao processo de reconstrução política e económica e de reconciliação noZimbabué. Estão a pilhar os seus recursos económicos para benefício próprio e não estãoa garantir direitos fundamentais aos cidadãos.

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Cerca de 20 000 pessoas que vivem nos arredores de Harare foram ameaçadas comexpulsões forçadas. O governo exige uma taxa de arrendamento de até 140 dólares, mas,num país onde o rendimento per capita é de menos de 100 dólares, esta exigência é de factoimpossível de cumprir e constitui uma verdadeira licença para cometer abusos. Em 2005,foram despejadas 70 000 pessoas, que ainda vivem em situação difícil.

Em geral, a situação humanitária, política e económica do Zimbabué continua a deteriorar-see milhões de pessoas continuam a correr o risco de morrer de fome. O país tem a quartamaior taxa de VIH do mundo e uma taxa de mortalidade infantil elevada. Os cidadãos nãotêm muitas hipóteses de crescer com saúde e prosperidade, e se o conseguirem, continuarãoa não desfrutar de liberdades fundamentais como a de expressão.

O Zimbabué ocupa o 123.º lugar em termos de liberdade de imprensa. O regresso dosjornais diários independentes constitui uma medida positiva no sentido do acesso públicoà informação, mas a situação ainda é muito frágil. Gostaria de chamar a atenção para asituação específica dos cidadãos LGBTI do Zimbabué. Os cidadãos necessitam de acessoilimitado para receberem apoio e acesso a ajuda humanitária, para que as tentativas de oZimbabué atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio possam ter início. Trata-sede algo extremamente necessário.

Timo Soini, em nome do Grupo EFD. – (FI) Senhor Presidente, a situação lamentável doZimbabué, a ditadura que lá se mantém há mais de 30 anos, é uma vergonha para acomunidade internacional e para o próprio Zimbabué.

Uma ditadura do tipo que oprime o seu próprio povo é totalmente inaceitável. Oscompanheiros de Mugabe não se privam de nada, vivem uma vida de luxo e não lhes faltadinheiro, enquanto outros vivem nas ruas ou em bairros de lata, de que estão agora a serexpulsos.

É necessário afirmar que existe algures um limite para o que a comunidade internacionale a União Europeia podem tolerar. Trata-se de uma situação extremamente vergonhosa ea comunidade internacional deveria apoiar um boicote total ao país. Não lhe deveria serconcedido mais dinheiro. É o momento de expulsar o seu ditador, que oprime o própriopovo, de uma vez por todas. Porque cada dia que este gangue permanece no poder é umreflexo da nossa impotência e do facto de a comunidade internacional não ter podersuficiente para controlar este opressor.

Além de tudo mais, Mugabe persegue ainda sistematicamente várias minorias: minoriasraciais, minorias sexuais e todas as outras minorias, no seu próprio país. É simplesmenteintolerável e dou o meu apoio total à ideia de que este ditador deveria ser deposto. Porconseguinte, tal como pretendemos agora justificadamente, temos de adoptar a posiçãoinflexível da UE.

Cristian Dan Preda (PPE). – (RO) Reitero o que foi dito pelos meus colegas deputadosque se pronunciaram até agora – estamos perante uma situação muito difícil devido aos20 000 habitantes de Hatcliffe Extension que estão sob a ameaça de expulsão. Comosaberão, esses cidadãos pertencem ao grupo mais vulnerável da população do Zimbabué,um país que enfrenta graves problemas políticos, para além de uma situação económicaextremamente difícil.

Desde a sua criação em Fevereiro de 2009, o Governo de Unidade do Zimbabué pouco fezpara melhorar a situação dos cidadãos, especialmente dos que foram vítimas de despejoem 2005. Considero que a nossa resposta ou reacção a esta situação é muito clara. O

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Governo do Zimbabué tem de tomar medidas para respeitar as suas obrigaçõesinternacionais. Isso significa cancelar e/ou impedir expulsões forçadas. Por outro lado,desejamos, sem dúvida, que a democracia seja reinstituída no Zimbabué. A situação actualnesse país não poderia afastar-se mais desse ideal.

Corina Creţu (S&D). – (RO) Como já foi referido neste Parlamento, o Zimbabué é umdos países onde a fome está a atingir proporções catastróficas, segundo o relatório doInstituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares publicado na semanapassada. O índice de subnutrição da população, a prevalência de crianças com peso abaixodo normal e a taxa de mortalidade infantil são três indicadores que salientamdramaticamente a situação crónica em termos de escassez de alimentos, que afecta milhõesde pessoas.

Simultaneamente, centenas de milhares dos cidadãos mais pobres do Zimbabué foramexpulsos de suas casas no âmbito de uma operação bárbara de despejo com um nomehorrível que, traduzido, significa: “Expulsar o Lixo”. Estes cidadãos perderam as casas, assimcomo os empregos, aumentando deste modo a taxa de desemprego para 90% da populaçãodo país. Tudo isto sucedeu enquanto o ditador Mugabe declarava que o povo estavaextremamente feliz. Era esta a opinião manifestada cinicamente pelo homem que ficarápara a História como o criador da ditadura de longa duração mais cruel do mundo.

Considero absolutamente imperativo solicitarmos ao regime do Zimbabué que detenhaurgentemente as expulsões forçadas, ponha termo às violações graves dos direitos humanose à perseguição de activistas da sociedade civil, e se abstenha de mais actos de violência,que têm aumentado a um ritmo alarmante.

Jaroslav Paška (EFD). - (SK) O Zimbabué é um país com líderes poderosos que há muitonão têm respeito pelo seu povo e que estão a demonstrá-lo abertamente.

É claro que podemos protestar, argumentando que os cidadãos indefesos não podem sertratados como gado, que não podem ser expulsos de casa sem motivo aparente eabandonados sem ajuda. As expulsões forçadas dos pobres em Harare constituem apenasum pequeno exemplo do regime de Robert Mugabe e dos seus cúmplices, que monopolizamos recursos minerais do país, explorando-os e enriquecendo enquanto permitem que osseus cidadãos morram de fome. Considero que pode ser ingénuo esperarmos obter umamudança através da persuasão e de críticas. As nossas medidas deveriam ser mais vigorosas;pessoas como Mugabe só prestam atenção a consequências financeiras ou à força bruta.Penso que temos algumas medidas financeiras à nossa disposição. Necessitamos dereconsiderar o fornecimento de ajuda financeira e material a regimes que se comportemcomo o de Mugabe e de procurar alternativas, incluindo sanções, que possam forçar estesditadores a respeitar os direitos humanos fundamentais – e sublinho – fundamentais.

Eija-Riitta Korhola (PPE). - (FI) Senhor Presidente, não admira que os nossos colegasdeputados deste Parlamento estejam tão furiosos com Mugabe. Foi ele quem transformouo seu país, o celeiro de África, numa sucessão de más notícias.

O alojamento de substituição fornecido pelo governo demonstrou ser totalmentedesadequado e levou a um agravamento das condições de vida, que já eram péssimas. Umadas justificações oficiais para toda esta operação foi uma tentativa de impedir o alastramentode doenças, mas o facto de não existir qualquer tratamento disponível após as expulsõeslevanta dúvidas quanto aos motivos do governo.

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A situação do Zimbabué é de conhecimento geral. A natureza corrupta do governo e aconfusão geral da economia e da sociedade estão a gerar colectivamente uma situaçãoonde não existe o mínimo para a sobrevivência. Por tudo isto, temos de esperar que oZimbabué dê indicações claras da sua capacidade e disposição para salvaguardar os padrõesde vida dos seus cidadãos.

Apesar de existirem bons motivos para uma grande percentagem da população desejarabrir caminho para novos projectos, o bem-estar da população desalojada tem de sersempre um ponto de partida essencial. Trata-se de algo que o Zimbabué sem dúvidanegligenciou, independentemente de os motivos apresentados serem ou não aceites.

Monica Luisa Macovei (PPE). - (EN) Senhor Presidente, a actual situação no Zimbabuéé chocante e inaceitável. Quase 700 pessoas foram vítimas da Operação Murambatsvinade expulsões forçadas em 2005. Agora, 20 000 cidadãos enfrentam expulsões forçadasde Hatcliffe Extension, nos arredores de Harare.

O governo impôs taxas de renovação do arrendamento exorbitantes às pessoas que tinhamsido desalojadas, sem consultar os cidadãos nem os informar das normas que estava prestesa instituir. A Operação Garikai, destinada a auxiliar os cidadãos afectados pelas expulsõesde 2005, é apenas uma continuação das mesmas violações de direitos humanos.

Também eu insisto para que o Zimbabué ponha termo a estas expulsões de cidadãos naregião de Harare. Insto o Governo do Zimbabué a alterar imediatamente a operação Garikaia fim de respeitar todas as suas obrigações ao abrigo do Direito internacional e dos direitoshumanos.

Solicito à Comissão que discuta urgentemente esta questão com o Governo do Zimbabué.

Charles Tannock (ECR). - (EN) Senhor Presidente, não tencionava pronunciar-me, masinfelizmente o meu colega deputado, Geoffrey Van Orden, não pôde estar aqui presenteesta semana. Este colega tem um longo historial de críticas ao regime desprezível e violentodo Presidente Robert Mugabe. Lamentavelmente, creio que a única forma detestemunharmos o fim da ditadura Zanu-PF de Mugabe será quando este sair num caixão.

Tinha esperança de que houvesse uma hipótese de reconciliação, de paz e de transição parauma verdadeira democracia há alguns anos, quando Morgan Tsvangirai se tornouPrimeiro-Ministro através de negociações de partilha de poder, mas aparentemente Mugabeconseguiu reafirmar o seu controlo total do poder e retomar o tipo de comportamentopor que é conhecido – nomeadamente, violência, expulsões e repressão. No fim, são ospobres cidadãos do Zimbabué quem sofre numa economia que se encontra actualmentequase destruída. Se não fosse o apoio concedido ao Zimbabué por governos como aRepública Popular da China através de esmolas, e de dinheiro proveniente da Líbia e deoutros países, este país não sobreviveria.

Devo dizer que fiquei desiludido, recentemente, com a visita do Presidente Zuma a esteParlamento. Dirigiu-se a esta Câmara para pedir à União Europeia que suspendesse as suassanções contra o Zimbabué devido ao fluxo de refugiados para a África do Sul. Receio quetenhamos de informar o senhor Zuma de que isso não é possível. Temos de transmitir umsinal forte de descontentamento com a forma como Mugabe trata o seu próprio povo.Gostaria de apoiar os comentários proferidos, antes de mim, pelo meu colega deputado,Nirj Deva, de que uma das medidas possíveis seria a recusa da acreditação da recém-nomeadaEmbaixadora do Zimbabué junto da União Europeia.

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Máire Geoghegan-Quinn, Membro da Comissão. – (GA) Senhor Presidente e SenhoresDeputados, o meu sincero agradecimento aos deputados que participaram neste debate.

(EN) A União Europeia está a seguir muito atentamente esta questão, especialmente devidoà "Operação de Limpeza" de 2005 que teve efeitos devastadores para as condições de vidade 700 000 habitantes do Zimbabué.

Em 2005, o Serviço Europeu de Ajuda Humanitária (ECHO) concedeu 3,25 milhões deeuros de apoio a actividades de segurança alimentar e agrícola e à distribuição de alimentosa pessoas vulneráveis.

A situação actual não é uma repetição dos acontecimentos que tiveram lugar no Zimbabuéem 2005. A Comissão toma nota da resolução deste Parlamento e das suas recomendações.Até à data, não recebemos uma indicação clara dos nossos parceiros que confirme umarepetição dos acontecimentos de 2005.

Estamos a acompanhar de perto a situação através da nossa delegação UE e do nossogabinete local ECHO. Estamos permanentemente em contacto com a OrganizaçãoInternacional para as Migrações e com as organizações locais de direitos humanosenvolvidas nesta questão.

Neste caso, foi enviado à população um aviso de renovação de arrendamento válido porcinco anos. Foi pedido aos inquilinos incapazes de reunir os fundos necessários queapresentassem a sua situação ao Ministro do Governo Local e receberam apoio de umaONG local que trabalha com os sem-abrigo.

Graças ao apoio de uma ONG local de direitos humanos, nomeadamente a Associação deAdvogados para os Direitos Humanos do Zimbabué, os seus casos serão ouvidos emtribunal esta semana.

A UE já está a prestar apoio ao trabalho desta ONG de direitos humanos que representaos interesses dos cidadãos mais pobres incapazes de pagar as taxas exigidas que podem,por isso, perder as suas terras.

No entanto, posso assegurar-lhes que a UE continuará a acompanhar atentamente estasituação e a mobilizar apoio quando e se necessário.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar no final do debate.

11.2. Camboja: Caso de Sam Rainsy

Presidente. − Segue-se na ordem do dia a proposta de resolução comum sobre o Camboja,em particular, o caso do Sr. Sam Rainsy.

Marietje Schaake, autora . − (EN) Senhor Presidente, Sam Rainsy é nosso colega, deputadoao Parlamento do Camboja. Esse simples facto levou a tentativas de assassínio e a váriosataques políticos e jurídicos por parte do partido no poder, incluindo uma pena de prisãode 12 anos. O partido no poder aparentemente não gosta do facto de Sam Rainsy denunciarcasos de corrupção e violações de direitos humanos.

Gostaria de recordar a este partido no poder que a UE é a maior instituição doadora aoCamboja e que esta ajuda depende do respeito dos direitos humanos e das liberdadesfundamentais.

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Em 2006, Sam Rainsy recebeu o Prémio da Liberdade da Internacional Liberal. Recebeueste prémio pela defesa de liberdades que apoiamos neste Parlamento. Instamos, por isso,as autoridades cambojanas a executarem as recomendações do Relator Especial das NaçõesUnidas sobre a situação dos Direitos do Homem no Camboja.

Raül Romeva i Rueda, autor. − (EN) Senhor Presidente, como já foi referido, a UniãoEuropeia é a maior instituição doadora ao Camboja e não há dúvida de que é legítimoinstarmos as autoridades desse país a levar a cabo reformas políticas e institucionais paraforjar um Estado democrático regido pelo Estado de Direito e alicerçado no respeito pelasliberdades e pelos direitos fundamentais, assim como a manifestar a sua vontade decombater eficazmente os flagelos endémicos da corrupção, da desflorestação em grandeescala que leva à deslocação de pessoas, da usurpação de terras e do turismo sexual, derejeitar a actual cultura de impunidade e de levar a julgamento todos quantos estejamenvolvidos nessas actividades.

A garantia da livre e justa expressão política sem intimidação e pressões é igualmente umanecessidade. Mais concretamente, devemos manifestar a nossa apreensão face à perseguiçãoe condenação a 12 anos de prisão de Sam Rainsy, líder da oposição, com base num gestoque consideramos ser de natureza simbólica e claramente política. Estamos particularmenteapreensivos com o facto de este veredicto, a ser mantido, impedir Sam Rainsy de seapresentar às eleições legislativas de 2013 e de ter consequências que ultrapassam o seucaso, na medida em que é susceptível de afectar a oposição enquanto tal.

Véronique De Keyser, autora. − (FR) Senhor Presidente, estamos a debater uma resoluçãode urgência dominada por Sam Rainsy, que é uma figura por vezes controversa, mas issonão nos pode fazer esquecer a questão do défice democrático que está por trás deste caso.

Sam Rainsy, tal como foi dito, é uma figura liberal e um opositor do Primeiro-MinistroHun Sen. O senhor Rainsy já tinha sido condenado a 18 meses de prisão, mas recebeu umperdão em 2006. Efectivamente, tinha acusado Hun Sen de estar na origem do ataque àgranada de 1997.

Hoje, foi condenado pelo crime – um crime simbólico, como já foi referido – de remoçãode seis postos provisórios na fronteira entre o Vietname e o Camboja, que constitui objectode litígio entre os dois países, e de distribuição dos chamados mapas falsos. Uma condenaçãoà revelia de 12 anos é muito, mas é evidente o que está em causa. O único objectivo éimpedir Sam Rainsy de concorrer às próximas eleições, em 2013, e ele é o líder do segundomaior partido da oposição.

Portanto, o clima político no Camboja é tenso, aproximam-se as eleições, há manobraseleitoralistas, mas há também uma deriva autoritária e, para além do caso de Rainsy, gostariade referir o da perseguição a representantes das ONG, o da deputada Mu Sochua, condenadapor difamação contra o Primeiro-Ministro, o do jornalista Hang Chakra, detido por terdenunciado a corrupção entre os colaboradores do Vice-Primeiro-Ministro Sok Na, etc.

Gostaria, portanto, de recordar, como outros oradores fizeram, que somos doadores e quetemos um acordo de cooperação que determina que as liberdades fundamentais devemser respeitadas. Apelo também à execução de um plano humanitário de urgência para aspessoas, as populações afectadas pelas crises da construção e dos têxteis. Também isso éimportante.

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Charles Tannock, autor. − (EN) Senhor Presidente, embora, no papel, o Camboja sejauma democracia pluralista, a respeitada ONG Human Rights Watch relata que os políticose os jornalistas que tecem críticas ao Governo são alvo de violência e intimidação.

O sistema judicial permanece fraco e sujeito à influência política. Além disso, o Governocontinua a fechar os olhos à expropriação fraudulenta de terras de agricultores, à exploraçãomadeireira ilegal e ao saque generalizado dos recursos naturais do país.

Sam Rainsy, o líder da oposição actualmente exilado em França, foi condenado à reveliaa dez anos de prisão. O seu suposto crime foi a tentativa de alertar para a expropriação dasterras dos camponeses pelo Governo na sequência de negociações sobre a fronteira como vizinho Vietname, tendo sido acusado de remover marcos de fronteira.

A resolução de hoje é uma chamada de atenção oportuna ao Governo cambojano de que,se pretende estreitar os laços com a UE, deve garantir e respeitar liberdades básicas e direitosfundamentais. Se não o fizer, o Camboja arrisca-se a fazer companhia ao Estado pária daBirmânia aos olhos da comunidade internacional.

Monica Luisa Macovei, autora. − (EN) Senhor Presidente, Sam Rainsy, um líder daoposição, foi condenado à revelia a 12 anos de prisão. O seu julgamento não satisfez asnormas internacionais para um sistema judicial imparcial, e a sua condenação tevemotivações políticas. Condenações similares de membros de partidos da oposição sãobastante comuns e demonstram que não existe um sistema judicial imparcial no Camboja.Essas decisões dos tribunais violam direitos humanos fundamentais, como a liberdade deexpressão e o direito a um julgamento justo.

Oponho-me com veemência à condenação de Sam Rainsy, bem como à daqueles que, talcomo ele, exercem a sua liberdade de expressão, e apelo ao Governo cambojano para queabandone o caminho da tirania que actualmente trilha. A nível internacional, devemosexortar o Camboja a procurar a via democrática e a abster-se de aplicar a lei de formaselectiva contra os direitos individuais. Insto, em particular, a Comissão a persuadir oCamboja a não utilizar os novos regulamentos relativos às ONG para limitar a acção daoposição e da sociedade civil.

Sari Essayah, em nome do Grupo PPE. – (FI) Senhor Presidente, o tratamento devotadoa Sam Rainsy é apenas a ponta do icebergue do controlo autoritário que o partido no poderno Camboja exerce sobre os tribunais para silenciar as críticas ao Governo. Este Governo,é claro, tem como principal objectivo a repressão da sociedade civil e a promoção dosistema de partido único. Isso está espelhado na sentença de Rainsy, que é uma tentativade o impedir de concorrer às eleições em 2013.

Como já foi aqui referido, a UE é o maior doador individual ao Camboja e, por esse motivo,é importante que na resolução em apreço não nos limitemos a condenar as numerosasviolações dos direitos humanos verificadas naquele país, a ausência de um sistema judicialviável e a politização das forças armadas. Devemos lembrar ao Governo que o acordo decooperação entre a UE e o Camboja refere no seu artigo 1.º o respeito dos direitos humanos.Terá de haver consequências se as liberdades cívicas continuarem a ser desprezadas e a UEdeve impor como condição da continuação da ajuda uma melhoria clara da situação emmatéria de direitos humanos.

Corina Creţu, em nome do Grupo S&D. – (RO) A condenação do líder da oposiçãocambojana, Sam Rainsy, a 12 anos de prisão é uma grave violação dos direitos humanose um sinal evidente do autoritarismo que domina a vida política no Camboja. Depois da

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sua expulsão da Assembleia Nacional e do levantamento da imunidade parlamentar portrês vezes, bem como de várias tentativas de homicídio e do assassínio de dezenas dos seusapoiantes, Sam Rainsy foi agora condenado à revelia pelos protestos de forte cariz políticoque levou a cabo.

No fundo, o verdadeiro objectivo da sentença proferida em Setembro é impedir o líder daoposição de se candidatar às eleições que terão lugar daqui a mais de dois anos, o quecompromete, de uma vez por todas, as hipóteses de o Camboja consolidar a democracia.Para além dos apelos feitos na presente resolução para que o Governo cambojano ponhatermo às perseguições políticas, gostaria de solicitar à Alta Representante da União Europeiapara os Negócios Estrangeiros que exerça a necessária pressão sobre as autoridadescambojanas para que retomem as reformas políticas e institucionais indispensáveis àinstituição de uma verdadeira democracia.

Gerald Häfner, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, o Camboja é umpaís muito bonito, com uma grandiosa história, mas tanto o país como a sua história têmaspectos negros. Os problemas mais recentes incluem o desaparecimento de pessoas, aprisão de pessoas sem julgamento, elevados graus de corrupção, expropriação ilegal deterrenos e exploração madeireira ilegal. O que nos deve causar maior preocupação enquantodeputados ao Parlamento Europeu é o facto de as pessoas que criticam e denunciam aspráticas referidas serem detidas, sujeitas a simulacros de julgamentos e metidas na prisão.

Sam Rainsy, o líder da oposição no Camboja, tem sido muitíssimo perseguido. Já foi eleito,mas foi expulso do Parlamento em 1995. Contudo, conseguiu voltar. Sofreu váriosatentados durante comícios eleitorais, um dos quais deixou 80 dos seus apoiantes semvida. Tive o privilégio de o visitar no Camboja. Pareceu-me um homem muito pacífico eempenhado na defesa da democracia e dos direitos humanos. Agora foi condenado a 12anos de prisão por um acto simbólico com base em argumentos pouco sólidos.

Um Governo que aprisiona o líder do partido da oposição aprisiona também os cidadãospor ele representados. Um Governo que aprisiona o líder do partido da oposição e o impedede participar em futuras eleições bloqueia o processo democrático e viola direitos cívicose direitos humanos. Considero que não devemos aceitá-lo e exorto a Comissão a exigir queas disposições, em particular do artigo 1.º, do acordo de cooperação com o Camboja, sejamcumpridas. O artigo refere o respeito dos direitos humanos no Camboja como uma condiçãoessencial para o fornecimento de ajuda pela União Europeia.

Adam Bielan, em nome do Grupo ECR. – (PL) Já tive a oportunidade de visitar o Cambojaduas vezes. A primeira foi há dois anos, com a delegação de observação do ParlamentoEuropeu, durante as eleições legislativas, e a segunda foi há seis meses. Devo dizer que oCamboja é um país que se desenvolveu rapidamente nos últimos anos – refiro-me aodesenvolvimento económico –, tal como outros países daquela parte do mundo.Infelizmente, o rápido crescimento económico no Camboja não foi acompanhado por umprocesso de democratização. Porque não há verdadeira democracia sem uma comunicaçãosocial forte que fiscalize o partido no Governo, sem uma oposição forte e sem organizaçõesnão-governamentais fortes.

A sentença imposta a Sam Rainsy, que está longe de ser a primeira, é mais um rude golpepara a oposição. Se a sentença for confirmada, Sam Rainsy não poderá concorrer àspróximas eleições legislativas, não obstante a razoável popularidade de que goza no país.A condenação é paradoxal, dado que, mais de 30 anos após a queda do regime do KhmerVermelho, muitos dos líderes desse regime ainda não foram julgados. Pôr em causa a

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fronteira entre o Vietname e o Camboja não contribui certamente para estabilizar a região;no entanto, a questão deve ser resolvida por meios políticos e não através de uma decisãojudicial.

Elena Băsescu (PPE). – (RO) É deplorável que os tribunais cambojanos continuem arecorrer às detenções para intimidar os opositores e os dissidentes. Os alvos mais comunsdeste tipo de acção são os jornalistas, os activistas dos direitos humanos e outras vozescríticas que defendem a liberdade de expressão.

As acusações movidas contra Sam Rainsy têm obviamente um teor mais político do quecriminal. Foi condenado a 12 anos de prisão na sequência de um gesto simbólico de protestocontra a forma como a fronteira com o Vietname fora demarcada. Contudo, a verdadeirarazão da sentença parece ser o afastamento da oposição das legislativas de 2013.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para apelar ao Governo cambojano para querespeite os compromissos que assumiu em matéria de consolidação da democracia.Sam Rainsy, enquanto principal líder da oposição, deve ser autorizado a retomar as suasfunções no Parlamento do Camboja o mais rapidamente possível. Esse acto contribuiriapara travar a deriva para o sistema de partido único, que constitui uma ameaça ao respeitodos direitos humanos.

Eija-Riitta Korhola (PPE). - (FI) Senhor Presidente, a decisão de um tribunal cambojanode condenar o líder da oposição Sam Rainsy a dez anos de prisão, acusado de desinformaçãoe falsificação de documentos públicos, bem como outros casos similares, suscitarampreocupações justificadas no Ocidente relativamente à imparcialidade e independência dosistema judicial do Camboja.

Tem-se verificado uma tentativa sistemática de interpretar as disposições da lei sobredivulgação de informação falsa e sobre calúnia e difamação de modo a impedir o trabalhoda oposição e das ONG. As disposições em causa foram mesmo utilizadas para limitar aliberdade de opinião e de expressão.

Embora reconheça a evolução significativa que o Camboja conheceu desde o regime dePol Pot, consideraria muito preocupante que o Governo cambojano decidisse abandonara meio o processo de construção de um sistema democrático, o que, infelizmente, se temverificado num grande número de países. O Camboja assinou vários acordos internacionais,nomeadamente, um acordo de cooperação com a União Europeia, nos quais secomprometeu a salvaguardar os direitos fundamentais do seu povo e a aplicar princípiosdemocráticos no seu território. A União Europeia deve, de modo muito claro, exortar oGoverno cambojano a respeitar os seus compromissos.

Cristian Dan Preda (PPE). – (RO) Tal como já foi referido, Sam Rainsy recebeu duaspenas de prisão. A uma condenação anterior, a dois anos de prisão, juntou-se agora umasentença de dez anos por, alegadamente, ser culpado de desinformação e falsificação dedocumentos públicos. Tal como os meus colegas já afirmaram, trata-se de uma tentativaevidente de impedir a sua participação em futuras eleições. Há um problema com os trâmitesde todo este caso, porque Sam Rainsy foi condenado à revelia num julgamento à portafechada que, de acordo com as notícias divulgadas, ficou marcado por numerosasirregularidades.

Não se trata, aliás, de um caso isolado. Muitos outros críticos do Governo cambojanoforam sujeitos a procedimentos criminais semelhantes. Tal como outros oradores, consideroque, com base no acordo de cooperação assinado com a União Europeia, as autoridades

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cambojanas devem respeitar os compromissos claros que assumiram em matéria de direitoshumanos.

Jaroslav Paška (EFD). - (SK) No Camboja, como em muitos outros países, a luta pelopoder político perdeu o sentido figurativo e está a transformar-se numa verdadeira luta devida ou de morte. Nestas situações, as estruturas do poder anulam, perseguem e aprisionama oposição política.

É o que, aparentemente, se verifica no caso de Sam Rainsy, que os actuais governantesquerem, naturalmente, afastar do caminho, porque ele significa concorrência e encarna orisco de uma futura mudança política. Tal como aconteceu noutros casos, podemoscertamente intervir e instar o Governo cambojano a cessar de perseguir o seu opositorpolítico e a dar-lhe espaço para se bater de igual para igual na arena política.

Penso que, em função da melhoria das relações com o Camboja, podemos ter mais êxitono caso em apreço do que na questão de Harare. Portanto, considero que será produtivopressionar politicamente o Governo cambojano para o levar a reconsiderar os seusprocedimentos e o tratamento que devota aos opositores políticos, bem como a criarcondições para um confronto político livre e legítimo.

Máire Geoghegan-Quinn, Membro da Comissão. – (GA) Senhor Presidente, gostaria decomeçar por agradecer aos senhores deputados que participaram no debate.

(EN) Quero agradecer aos deputados do Parlamento Europeu que apresentaram propostasde resolução sobre o Camboja para este debate de urgência. A situação naquele país é defacto preocupante.

Temos tido trocas de ideias francas com os nossos interlocutores cambojanos, a maisrecente das quais na Comissão Mista, em 8 de Outubro, sobre o estado das instituiçõesdemocráticas naquele país e, em particular, sobre o tratamento que é dado à oposição noParlamento. O facto de o líder da oposição, Sam Rainsy, ter procurado refúgio em Françaé sintomático da deterioração que se tem verificado.

O mesmo se pode dizer da intromissão do sistema judicial na política e da perseguição demembros da oposição, incluindo aqueles que deveriam beneficiar de imunidade parlamentar.Existe o perigo de a Assembleia Nacional deixar de funcionar como um fórum para a livretroca de opiniões. E também a comunicação social está sob pressão.

Há alguns sinais positivos. O Camboja aceitou todas as recomendações do Conselho dosDireitos do Homem das Nações Unidas no exame periódico universal. Registámos tambéma aprovação de um novo código penal e de uma nova lei contra a corrupção. Evidentemente,teremos de acompanhar a sua aplicação prática. Vamos continuar a recordar ao Cambojaas recomendações feitas no passado pelas nossas missões de observação eleitoral. Aconstituição de uma Comissão dos Direitos Humanos eficaz é um objectivo importante.Congratulamo-nos com a intenção do Governo de levar por diante esse objectivo, bemcomo a iniciativa de criar um fórum misto com as organizações da sociedade civil.

O Camboja continua a ser um país muito pobre. Muito pode ser feito para manter o ímpetodo recente crescimento económico sem, contudo, aprofundar as desigualdades na sociedade.Entre as medidas desejáveis está a reforma do regime da propriedade fundiária e o fim depráticas insustentáveis na gestão da terra e da floresta, nomeadamente no que se refere àexploração dos recursos naturais.

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Sancionar o Governo ou reduzir o nível dos nossos contactos nada faria pelos sectoresmais pobres e vulneráveis da população e apenas encorajaria aqueles que hipocritamenteelogiam a democracia. Portanto, não posso subscrever a ideia de que suspender o acordobilateral terá efeitos positivos.

Não há substituto para o diálogo paciente. Se a UE não for considerada um actorfundamental no desenvolvimento do país, perde uma oportunidade de influenciar osacontecimentos. Porém, podemos intervir de muitas formas no Camboja, a todos os níveis,desde o gabinete do Primeiro-Ministro à sociedade civil. Vamos continuar a encorajar asiniciativas positivas que o Camboja está tomar a favor dos direitos humanos, dodesenvolvimento e da igualdade entre os sexos e, por outro lado, continuaremos a defenderuma democracia parlamentar verdadeiramente pluralista, bem como mais liberdade paraa comunicação social e um sistema judicial mais independente.

Presidente. − Está encerrado o debate.

A votação terá lugar dentro de instantes.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Jarosław Leszek Wałęsa (PPE), por escrito. – (EN) A situação dos direitos humanos noCamboja é cada vez mais preocupante. Confrontamo-nos com um problema de gritanteviolação dos direitos humanos por um Governo autoritário que está a corroer o tecido dademocracia. Enquanto maior doador ao Camboja, a UE deve agir com prontidão a fim deproteger os cidadãos cambojanos e assegurá-los de que o processo democrático não vacilará.Gostaria de aproveitar esta oportunidade para me dirigir ao Governo do Camboja e apelarpara que, quanto antes, actue em conformidade com o relatório do Relator Especial daONU. O caso de Sam Rainsy põe em primeiro plano as injustiças que têm lugar no Camboja,onde o senhor Rainsy, enquanto líder do partido da oposição e deputado à AssembleiaNacional, se deparou com o que só pode ser visto como um esforço deliberado para anularqualquer oposição ao Governo autoritário que ocupa o poder. A prática de acusar e deterqualquer pessoa considerada uma ameaça para o regime tem de ser abandonada. Alémdisso, o sistema judicial continua a não oferecer aos cidadãos garantia de independência eimparcialidade. São problemas que devem ser enfrentados e resolvidos imediatamente poreste Parlamento, para assegurar aos cidadãos do Camboja que esta Assembleia continua aapoiar e a defender o seu direito à democracia.

11.3. Cáucaso Setentrional: Caso de Oleg Orlov

Presidente. − Seguem-se na ordem do dia seis propostas de resolução sobre o Norte doCáucaso, em particular o caso de Oleg Orlov (2) .

Heidi Hautala, autora. − (EN) Senhor Presidente, gostaria de dizer que esta resoluçãosobre a situação no Cáucaso do Norte e, em particular, o caso de Oleg Orlov, é uma dasresoluções mais meritórias que esta Casa aprovou desde há muito tempo.

A tragédia que se vive no Cáucaso do Norte aprofundou-se ainda mais nos últimos anos,e as violações generalizadas dos direitos humanos continuam a afectar o quotidiano dascomunidades na Chechénia, na Ossétia, no Daguestão, na Ossétia do Norte e naCabardino-Balcária.

(2) Ver Acta.

105Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

O fim da violência não está para breve. Ainda na passada terça-feira pelo menos seis pessoasmorreram num ataque ao edifício do Parlamento checheno, em Grozny. Pelo menos 17pessoas ficaram feridas, na sua maioria civis. Em 9 de Setembro, 17 pessoas morreram emuitas outras ficaram feridas num atentado à bomba em Vladikavkaz, a capital da Ossétiado Norte.

As tragédias do passado também não estão resolvidas. As famílias das vítimas de Beslancontinuam sem saber o que aconteceu exactamente aos seus filhos e entes queridos, comomorreram ou onde estão os seus corpos.

Não só o círculo vicioso da violência e da impunidade deixou estas comunidadesdesamparadas e paralisadas, como a incapacidade para enfrentar a situação resultou napropagação da violência para lá das fronteiras das Repúblicas do Cáucaso do Norte.

Enquanto os moscovitas sentiram o drama do terrorismo, os refugiados chechenos naEuropa receiam as perseguições e até os assassínios. Há casos de desaparecimento de pessoasaté mesmo na capital, Moscovo, ou em São Petersburgo, como se verificou no último ano.

Chegará um momento em que este processo terá de parar. A acusação criminal de OlegOrlov, vencedor do Prémio Sakharov de 2009, pode ser o momento em que a Europa dizfinalmente “basta”.

A UE deve procurar cooperar com o Conselho da Europa no excelente relatório elaboradopor Dick Marty sobre recursos judiciais para violações de direitos humanos no Cáucasodo Norte.

Marietje Schaake, autora. − (EN) Senhor Presidente, hoje, o senhor Presidente Buzekanunciou o vencedor do Prémio Sakharov deste ano. O prémio representa a liberdade depensamento, uma liberdade e um direito essenciais para os europeus, que defendemos emnome dos nossos cidadãos e do resto do mundo.

Numa reacção ao Prémio Nobel da Paz, o Presidente Buzek exortou firmemente a Chinaa libertar Liu Xiao Bo e afirmou: “A liberdade não é uma ameaça, mas as ameaças à liberdadepodem ser numerosas”. Isto também se aplica às pessoas que defendem os direitos humanosno Cáucaso do Norte.

Os contemplados com o Prémio Sakharov do ano passado, Oleg Orlov, Sergei Kovalev eLudmila Alexeyeva, da organização “Memorial”, não puderam receber o prémiopessoalmente porque a sua liberdade está ameaçada. A UE investe muitíssimo nas relaçõescom a Rússia, e as duas partes também mantêm laços no Conselho da Europa e na OSCE.

Nesse âmbito, a Rússia comprometeu-se a proteger e a promover os direitos humanos eo primado do direito, mas ainda estamos muito longe desse objectivo. Prevalece aintimidação de jornalistas e de activistas da sociedade civil, há desaparecimentos sistemáticosde defensores dos direitos humanos e não existe liberdade de expressão, inclusivamentena Internet. A ausência do Estado de Direito resultou na existência de 20 000 processospendentes no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem procedentes da Federação daRússia.

A Rússia tem o direito de combater o terrorismo no Cáucaso do Norte mas se não vigoraro primado do direito, veremos um efeito contraproducente na estabilidade. A Rússia nãotem qualquer justificação para não actuar em conformidade com os compromissos queassumiu em matéria de direitos humanos.

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT106

Faremos o que estiver ao nosso alcance para que os representantes da “Memorial” tenhama liberdade de vir a este Parlamento, simbolizando dessa forma as liberdades e direitos deque gozam todos os cidadãos do Cáucaso do Norte.

Mitro Repo, autor. − (FI) Senhor Presidente, estou muito preocupado com o crescenteclima de medo em torno dos defensores dos direitos humanos na Rússia. Devemos o nossoapoio a Oleg Orlov, que laureámos com o Prémio Sakharov no ano passado. O seu únicocrime foi falar de direitos humanos na Rússia.

Os direitos fundamentais também são violados na UE, mas o que aconteceu na Rússia éalgo totalmente diferente. Devemos lutar contra todas as formas de terrorismo e deextremismo radical utilizando todos os meios jurídicos existentes, mas também os recursosdisponibilizados pela sociedade civil. Já chega de opressão no Cáucaso do Norte; é horado diálogo. Os crimes devem acabar, e é necessário mais respeito pela lei e pelos direitoshumanos.

A justiça é sempre aplicada com objectividade e subjectividade. No Cáucaso do Norte, issosignifica que os criminosos devem ser condenados e as necessidades das vítimas dos crimesdevem ser tidas em conta. Subscrever esta afirmação é uma demonstração sólida e evidentede apoio a Orlov, bem como a todos aqueles que lutam em nome dos direitos humanos.Devemos ter este caso bem presente quando debatermos as novas relações entre a UE e aRússia. A Federação da Rússia deve respeitar os direitos humanos se quer desempenharum papel real na Europa, e deve aceitar o espírito europeu: a Europa está ao lado das pessoas,não contra elas.

Ryszard Czarnecki, autor. – (PL) Na época do comunismo, quando o movimento doSolidariedade, na Polónia, lutava pelos direitos humanos e pela democracia, havia umapalavra de ordem muito utilizada: “Não há liberdade sem Solidariedade”. Hoje, no contextodos acontecimentos do Cáucaso do Norte, mas também de muitas outras partes da FederaçãoRussa, pode dizer-se que não há estabilização sem primado do direito.

É muito importante associarmos estes dois fenómenos. Não podemos falar de relaçõeseconómicas e políticas com a Rússia e ignorar os direitos humanos naquele país. É, defacto, um sistema de vasos comunicantes; não se trata de duas questões independentes. Ahonestidade mais elementar requer que não falemos apenas em melhorar as relações coma Rússia – esse grande país –, mas também que exijamos a Moscovo que respeite os direitoshumanos, nomeadamente, no caso de uma pessoa galardoada com o Prémio Sakharov.Trata-se de uma bofetada singular na cara do Parlamento Europeu e da União Europeia.

Marie-Christine Vergiat, autora. − (FR) Senhor Presidente, gostaria de aproveitar estaintervenção para pedir que reflictamos juntos na razão de ser do Prémio Sakharov.

Começo por agradecer aos meus colegas, e à senhora deputada Hautala em particular, porterem respondido ao meu pedido relativo à situação do senhor Orlov. Oleg Orlov é umdos três dirigentes da “Memorial”, a organização à qual atribuímos o Prémio Sakharov noano passado.

Ao atribuirmos o prémio, recompensámos o empenho daqueles que ainda se atrevem adenunciar a situação que se vive na Chechénia. Teve um carácter simbólico porqueaconteceu alguns meses depois do assassínio de Natalia Estemirova, um homicídio que oOleg Orlov condenou com veemência. Sabíamos que, movido pelo ódio, o Presidentechecheno tinha apresentado uma queixa contra o senhor Orlov. Em Janeiro de 2010,

107Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

Oleg Orlov e a “Memorial” foram declarados culpados, e nós nada dissemos. Em 6 de Julho,o senhor Orlov foi de novo acusado e agora enfrenta uma sentença de três anos de prisão.

Ao atribuirmos o Prémio Sakharov, procuramos valorizar o trabalho de homens e mulheresque lutam pela democracia e pelos direitos humanos e, ao fazê-lo, colocamo-los sob anossa protecção.

No entanto, que fizemos nós por Oleg Orlov e por todos aqueles que defendem os direitoshumanos na Rússia e na Chechénia? Como fizemos evoluir o diálogo da UE para que osdireitos humanos sejam finalmente respeitados no Cáucaso do Norte? Podemos tolerarem silêncio que, mais de um ano após o assassínio de Natalia Estemirova, a justiça aindanão tenha funcionado? Podemos tolerar que os defensores dos direitos humanos sejamraptados e agredidos, e que desapareçam, sem qualquer reacção judicial?

Tenho vontade de dizer: de que servimos se, depois de denunciarmos repetidamente, emsucessivos plenários, determinadas violações dos direitos humanos, a Comissão prossegueos seus diálogos supostamente construtivos e diz-nos que se estão a conseguir progressos,mas não no domínio dos direitos humanos e da justiça? Quando deixaremos de renunciaraos valores ditos fundamentais em benefício dos interesses económicos e políticos dedeterminados Estados-Membros? Talvez fôssemos mais credíveis, caros Colegas, se asnossas sessões não fossem adiadas para o final da tarde de quinta-feira e se houvesse umapresença mais numerosa de deputados a acompanhar estes debates.

Bernd Posselt, autor. – (DE) Senhor Presidente, o Cáucaso do Norte foi vítima da políticacolonial dos czares e de tentativas de genocídio do regime estalinista. Infelizmente, porém,também se viu envolvido em duas guerras brutais após a desagregação da União Soviética,que chegaram ao ponto do genocídio de grupos étnicos de pequena dimensão, como oschechenos. Actualmente, ainda é uma região onde pequenos regimes satélitesmal-intencionados, como o do senhor Kadyrov, cometem terríveis violações dos direitoshumanos. Condenamos todas as formas de terrorismo de todos os quadrantes, mas esteregime nada tem a ver com a democracia e o primado do direito.

A resolução desta situação necessita de uma abordagem tridimensional que inclua umacolaboração estreita entre o Conselho da Europa, o Tribunal Europeu dos Direitos doHomem, o Parlamento Europeu enquanto força motriz da União Europeia e as organizaçõesde defesa dos direitos humanos da região, que tentam protegê-la do poderio da Rússia. Aorganização de defesa dos direitos humanos “Memorial” tem protagonismo neste domínio.Portanto, apelamos para que cesse a perseguição a Oleg Orlov, mas também que lhe sejadado apoio no seu louvável trabalho em prol dos direitos humanos. Temos essa dívidapara com ele e os seus companheiros de luta, para com o povo do Cáucaso do Norte e anossa amiga e camarada Natalia Estemirova, que muitos de nós conhecemos pessoalmentee cujo homicídio deve finalmente ser resolvido. Devemos-lhe a ela a luta por que os direitoshumanos e o Estado de direito sejam uma realidade no Cáucaso do Norte.

Jarosław Leszek Wałęsa, em nome do Grupo PPE. – (PL) Há já algum tempo, Oleg Orlovafirmou que o maior problema do Cáucaso do Norte era a rejeição por parte daqueles queestão no poder da questão mais importante – a dos direitos humanos. As violações dosdireitos humanos estão a desestabilizar a situação no Cáucaso do Norte, estão a prolongaro conflito, estão a reduzir as hipóteses da sua resolução e estão, efectivamente, a fomentaro apoio à actividade clandestina terrorista.

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT108

As organizações de defesa dos direitos humanos como a “Memorial” devem ser apoiadas,porque são fundamentais para a criação de uma sociedade estável e livre, tal como sãonecessárias para o desenvolvimento de uma estabilidade que seja real e duradoura. Essasorganizações devem, portanto, ser apoiadas e é necessário condenar os actos hediondosque estão a ser cometidos no Cáucaso do Norte, bem como falar em nome do crescentenúmero de pessoas desaparecidas e lembrar o sofrimento dos deslocados.

Alexander Mirsky em nome do Grupo S&D. – (LV) Obrigado, Senhor Presidente. Dou omeu apoio total à parte da resolução que aborda a necessidade de os direitos humanosserem respeitados no Cáucaso do Norte. Estou familiarizado com a situação do Cáucasoporque já fui lá mais do que uma vez. Simultaneamente, gostaria de salientar que adesignação “defensor dos direitos humanos” não dá ao senhor Orlov o direito de acusar oPresidente da República da Chechénia de homicídio. Se o senhor Orlov considera que oPrémio Sakharov é um mandato para fazer afirmações pouco judiciosas, está enganado.O Parlamento Europeu não tem de agir como advogado de Oleg Orlov. Deixemo-lo provara sua inocência em tribunal. Se não for num tribunal russo, que seja no Tribunal Europeu.Não temos o direito de tomar partido nesta disputa. Devemos dar aos tribunais aoportunidade de efectuarem o seu trabalho. Contudo, gostaria de dar um conselho a OlegOrlov – pense antes de falar. A difamação é um crime. Obrigado.

Adam Bielan, em nome do Grupo ECR. – (PL) É paradoxal que no dia em que anunciámosa decisão de atribuir o Prémio Sakharov de 2010 estejamos a falar da perseguição a umdos agraciados do ano passado. Como sabem, Oleg Orlov, juntamente com outros membrosda organização “Memorial”, recebeu o Prémio Sakharov no ano passado pela lutaintransigente e corajosa que travou pela verdade sobre os crimes russos na RepúblicaChechena.

Hoje, estamos a debater a perseguição continuada a que Oleg Orlov tem sido sujeito por,corajosamente, exigir explicações sobre todas as circunstâncias da morte de NataliaEstemirova, que era a directora da “Memorial” na Chechénia. Vale a pena lembrar que ospassos dados pelo “Presidente” Ramzan Kadyrov contra Oleg Orlov não teriam sido possíveissem o apoio do Kremlin. Portanto, exorto todas as autoridades da União Europeia, incluindoa Comissão e o Conselho, a exercerem pressão sobre o Presidente Medvedev para que traveeste tipo de perseguição na Chechénia.

Elena Băsescu (PPE). – (RO) Actos de violência ou terrorismo são uma ocorrência quasequotidiana nas repúblicas do Cáucaso do Norte. O atentado cometido na semana passadano Parlamento checheno vem lembrar que a sublevação islamista está a ameaçar aestabilidade de toda a região. Quinze anos depois da eclosão das guerras na Chechénia, háainda 80 000 pessoas deslocadas na região. A situação dos activistas dos direitos humanostambém é alarmante, com relatos de um grande número de condenações e raptosindiscriminados. O caso de Oleg Orlov é representativo de uma série de julgamentosiniciados sem base jurídica sólida. Orlov pode estar sujeito a cumprir três anos de prisãodepois de ter acusado o Presidente da Chechénia de estar implicado no assassínio deNatalia Estemirova, em 2009.

Quero salientar que as investigações iniciadas após a morte da activista não conheceramquaisquer progressos até ao momento. Pelos motivos que expus, considero que asautoridades federais devem tomar medidas adicionais para que as investigações sejamconduzidas com eficácia, inclusivamente quando estão em causa membros da organização“Memorial”.

109Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

Eija-Riitta Korhola (PPE). - (FI) Senhor Presidente, o conflito mais conhecido e maisviolento na região do Cáucaso do Norte foi o que começou com a primeira guerra daChechénia. O conflito subsiste, embora se tenha alastrado, em particular, ao Daguestão eà Inguchétia. Quer se trate de uma guerra de libertação, uma guerra contra o terrorismoou outra coisa, não podemos negar o facto de que há quase 100 000 refugiados internosna região e uma situação trágica em matéria de direitos humanos.

Os activistas dos direitos humanos a quem atribuímos o Prémio Sakharov no ano passadoconstituem uma força temível na organização “Memorial”, que desempenha um papelsignificativo no Cáucaso do Norte. Quando recebeu o prémio, em Dezembro do anopassado, Oleg Orlov respondeu a uma pergunta sobre os perigos do seu trabalho afirmandoque o maior problema era o facto de a ameaça provir de representantes do Estado. Poucosduvidarão destas palavras.

Anna Politkovskaya era sobretudo conhecida por defender os direitos humanos doschechenos. O agente russo Alexander Litvinenko, que foi envenenado em Londres, tinhacriticado as acções da Rússia na Chechénia. Natalia Estemirova, que foi assassinada no anopassado, revelou que os serviços de segurança estavam implicados em actos de violênciae em execuções, também na Chechénia. A lista de homicídios similares é extensa. É porisso que é vital que a União Europeia continue a chamar a atenção para estas questões.

Bogusław Sonik (PPE). – (PL) Gostaria de começar por corrigir algo que foi dito poruma colega deputada. Informou-nos de que os representantes da “Memorial” não puderamvir ao Parlamento receber o Prémio Sakharov no ano passado. Na realidade, eles vieramcá. São, de facto, as “Mulheres de Branco” que não podem receber o prémio por não asdeixarem sair de Havana.

O relatório elaborado em Junho de 2010 pela Assembleia Parlamentar do Conselho daEuropa publica informação sobre outros casos de violação dos direitos humanos no Cáucasodo Norte. As autoridades russas afirmam que estão a envidar esforços para estabilizar aregião, mas a impunidade associada às violações dos direitos humanos e a ausência doprimado do direito continuam a ser os principais obstáculos a uma estabilidade real eduradoura na região. A população civil continua a viver sob a ameaça de violência. Atortura e os maus tratos são comuns, tal como os desaparecimentos forçados e as detençõese homicídios arbitrários. Os inquéritos sobre as violações dos direitos humanos sãodeficientes e ineficazes. O seu único resultado é geralmente a impunidade dos autores doscrimes, o que faz aumentar a desconfiança em relação às instituições governamentais e atodo o sistema judicial.

É nosso dever dar todos os passos viáveis, não só com vista a possibilitar umacompanhamento permanente da situação no Cáucaso do Norte, mas também paratomarmos medidas tendentes a garantir o primado do direito e a apoiar as iniciativas cívicase democráticas e pôr termo à ausência de lei na região.

Miroslav Mikolášik (PPE). - (SK) Estou convicto de que o principal problema no Cáucasodo Norte é o desrespeito pelo que há de mais importante – os direitos humanos individuais.As violações dos direitos humanos desestabilizam a situação na região, prolongam eaprofundam o conflito, diminuem as hipóteses da sua resolução e contribuem para gerara base dos grupos terroristas reaccionários.

Ramzan Kadyrov, que assumiu o poder na Chechénia, não contribui para a estabilidade.Tornou-se o senhor absoluto desta República, desafiando a lei ou desvirtuando-a para

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT110

poder actuar em oposição aos direitos humanos fundamentais. Além disso, os abusoscometidos contra determinados indivíduos não podem ser noticiados nem debatidos. OlegOrlov, membro da organização “Memorial”, é um exemplo lamentável da perseguiçãomovida aos que defendem os direitos humanos. Tragicamente, não há solução à vista paraa situação, e é por isso que o Parlamento Europeu tem o dever moral de acompanharminuciosamente os acontecimentos na região e de instar regularmente ao respeito dedireitos que os cidadãos e as organizações de defesa dos direitos humanos na FederaçãoRussa ainda não podem exercer quotidianamente, não obstante a retórica oficial.

Corina Creţu (S&D). – (RO) Também sinto o dever de expressar solidariedade para comOleg Orlov e o Centro dos Direitos do Homem “Memorial”, que dirige. No ano passado,foram galardoados pelo Parlamento Europeu com o Prémio Sakharov para a Liberdade dePensamento.

A condenação por difamação do Presidente checheno e o processo agora intentado contraOleg Orlov, que pode estar sujeito a cumprir vários anos de reclusão, são o culminar deuma série negra de actos de perseguição contra activistas dos direitos humanos, o maislamentável dos quais envolveu o rapto e o assassínio de Natalia Estemirova, coordenadorada “Memorial” na Chechénia. Sinto o dever de protestar contra as violações brutais erepetidas dos direitos humanos, justificadas com a necessidade de combater o terrorismo,contra a impunidade dos autores de crimes e abusos graves, bem como contra o facto deas autoridades russas tolerarem a situação, que afecta a credibilidade do seu compromissocom a democracia.

Jaromír Kohlíček (GUE/NGL). - (CS) Gostaria de reflectir sobre como é possível quecontinuemos a debater os direitos humanos de um grupo relativamente pequeno de pessoase ignoremos por completo a principal questão. O problema fundamental no Cáucaso doNorte é a forte interferência externa de Wahhabis que estão treinados, que estão armadose que se estão a infiltrar com objectivos claros.

Se não sabem de onde provêm os Wahhabis e quem os financia – pois bem, são as mesmasfontes associadas a outras organizações terroristas. Infelizmente, nesta resolução, a questãoprincipal – a razão das violações flagrantes dos direitos humanos em várias partes doCáucaso do Norte – passa ao lado do fundamental. É claro que é necessário respeitar osdireitos humanos, mas também é necessário criar as condições para actuar em conformidadecom esses direitos. Se há organizações terroristas que recebem financiamento do estrangeiro– e é certamente isso que se verifica –, é difícil podermos oferecer essas condições.Infelizmente, a resolução não tem isso em conta.

Ana Gomes (S&D). - (EN) Senhor Presidente, apoio totalmente esta resolução, que éapoiada pelo meu grupo político e que exorta a uma acção em prol de Oleg Orlov, laureadocom o Prémio Sakharov, e aquilo que ele representa – nomeadamente, a oposição àsviolações dos direitos humanos que têm lugar no Cáucaso do Norte.

Devo dizer a este respeito que não me revejo – tal como o meu grupo não se revê – naspalavras do senhor deputado Mirsky, que interveio há pouco e criticou Oleg Orlov,afirmando que não devia usar a sua posição de defensor dos direitos humanos para falarcontra o senhor Kadyrov. Qualquer democrata que se preze sabe que não é necessário umtítulo, que não tem de ser defensor dos direitos humanos, que não tem de ser membro do“Memorial” ou laureado com o Prémio Sakharov para ter o direito democrático de criticarqualquer chefe de Estado ou de Governo.

111Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

Também gostaria de aproveitar esta oportunidade para subscrever o que o nosso colegaRaül Romeva i Rueda afirmou há pouco. Alertou este Parlamento – bem como a Comissão,o Conselho e, em particular, a senhora Ashton – para a situação perigosa que está a germinarno Sara Ocidental. Gostaria de pedir à senhora Alta Representante que intervenha a fimde que as autoridades marroquinas não aprisionem o povo do Sara Ocidental que está alutar contra uma ocupação ilegal.

(O Presidente retira a palavra à oradora.)

Máire Geoghegan-Quinn, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, queroagradecer-lhe por levantar a questão dos direitos humanos no Cáucaso do Norte.

Embora o fim da operação anti-terrorista na Chechénia tenha sido oficialmente declaradono ano passado, a violência e o clima de impunidade perduram, ainda com mais intensidadeno vizinho Daguestão e também na Inguchétia.

O ataque armado de terça-feira no Parlamento, em Grozny, foi o mais recente alerta deque a situação permanece volátil e perigosa.

A Alta Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política deSegurança/Vice-Presidente Ashton repudiou o referido ataque e declarou que nenhumacircunstância pode justificar o uso de violência terrorista e de atentados suicidas.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para expressar os meus mais profundos pêsamesàs famílias das vítimas. Neste caso, as vítimas foram um civil e dois polícias que cumpriamas suas funções. No Cáucaso do Norte continuam os atentados terroristas, e o mesmoacontece com os frequentes ataques aos defensores dos direitos humanos e aos jornalistas,mas os autores desses ataques raramente são levados à justiça.

Homenageamos todos aqueles que perderam a vida e aqueles que prosseguem o seu trabalhoem semelhante ambiente. Muitos activistas, advogados e jornalistas independentes de todaa Federação Russa enfrentam a violência, a perseguição e a intimidação.

Os processos por difamação contra Oleg Orlov, director do Centro dos Direitos do Homem“Memorial”, e contra a presidente do Grupo de Helsínquia em Moscovo, Ludmila Alexeyeva,devem ser vistos no contexto dessa intimidação. As declarações do senhor Orlov,contestadas pelo Presidente Kadyrov, diziam respeito ao facto de o assassino da activistado “Memorial” Natalia Estemirova ter sido identificado mas não ter sido levado à justiça.

A Comissão Europeia está a acompanhar com muita atenção o segundo julgamento deOleg Orlov. A UE exorta a Rússia a respeitar os compromissos que assumiu enquantomembro das Nações Unidas, da OSCE e do Conselho da Europa. O Presidente Medvedevfez uma declaração contra aquilo a que chamou o “niilismo jurídico” que impera na Rússia.A UE está pronta para apoiar a reforma do sistema judicial russo.

Foram preparadas actividades concretas em estreita cooperação com a Presidência e oConselho da Europa.

A UE valoriza muito a oportunidade que tem de debater as suas preocupações em matériade direitos humanos com as autoridades russas. Congratulamo-nos com a aberturademonstrada pelo Presidente Medvedev nas discussões que manteve com a UE a propósitodestas questões. As consultas regulares UE-Rússia em matéria de direitos humanos a nívelde peritos são uma oportunidade para ampliarmos o âmbito das discussões.

Presidente. − Está encerrado o debate.

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT112

Segue-se na ordem do dia o período de votação.

(Resultados pormenorizados das votações: ver Acta)

Declarações escritas (artigo 149.º)

Monica Luisa Macovei (PPE), por escrito. – (EN) Quero expressar os meus mais profundospêsames e a minha preocupação pelo número crescente de cidadãos assassinados edesaparecidos na região do Cáucaso, particularmente, pelo caso de Natalia Estemirova. Oaumento da violência e dos desaparecimentos de activistas dos direitos humanos e deopositores políticos no Cáucaso do Norte desde 2009 é alarmante. Os conflitos e asviolações dos direitos humanos desestabilizam a região e são um obstáculo à paz e àprosperidade. Insto as autoridades russas a reforçarem a protecção dos defensores dosdireitos humanos, nomeadamente os que trabalham para a “Memorial”. O Governo devefazer tudo o que estiver ao seu alcance para condenar os autores dos raptos e dos assassínios,em vez de silenciar aqueles que, como Oleg Orlov, trazem estas questões para a luz do dia.Condeno as medidas tomadas pelas autoridades para investigar as organizações de defesados direitos humanos, bem como as acusações criminais que pesam actualmente sobreOleg Orlov por denunciar a situação. Exorto a Comissão a destacar esta matéria no seudiálogo com a Rússia.

Zbigniew Ziobro (ECR), por escrito. – (PL) Recentemente, tem-se falado muito nacomunicação social de um novo começo nas relações entre a União Europeia e a FederaçãoRussa. O fruto dessas acções é o projecto germano-russo de gasoduto Nord Stream e aoferta de inclusão da Rússia no sistema de segurança europeu, proposta por Nicolas Sarkozy.

Aparentemente, na euforia de novos acordos económicos, os decisores da UE esqueceramrapidamente os casos de Anna Politkovskaya e Natalia Estemirova. Durante anos,alicerçámos a União na convicção de que, se é possível dizer que as pessoas são iguais,então essa igualdade estende-se a todas as pessoas em todos os domínios. Portanto, devemoster como prioridade lutar incessantemente pelo respeito pelos princípios da lei e ordem,das liberdades cívicas e da dignidade humana. É fundamental que a União Europeia emitauma reacção firme face aos repetidos casos de violações dos direitos humanos na Rússia,bem como à tragédia vivida pela oposição democrática.

A comunicação social tem noticiado que no dia 31 de cada mês, se têm realizado nascidades russas manifestações organizadas pelo movimento “Estratégia-31”. Os seusmembros manifestam-se em defesa da liberdade de reunião, consagrada no artigo 31.º daConstituição da Federação Russa. Desde o início das suas actividades que o movimentotem enfrentado a oposição das autoridades. Todas as manifestações são dispersadas pelaOMON, uma unidade especial da polícia, e os manifestantes são perseguidos e espancados,são levados para zonas rurais e abandonados em locais ermos nas florestas ou são detidose até mantidos em reclusão sem culpa formada. É dever da União investigar estas actividadespormenorizadamente e expressar claramente a sua oposição. É o que esperam de nós, nãosó os cidadãos da Rússia, mas toda a sociedade europeia.

12. Período de votação

12.1. Expulsões forçadas no Zimbabué (B7-0583/2010) (votação)

12.2. Camboja: Caso de Sam Rainsy (B7-0550/2010) (votação)

113Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

12.3. Cáucaso Setentrional: Caso de Oleg Orlov (B7-0549/2010) (votação)

Bernd Posselt, autor. – (DE) Senhor Presidente, o senhor deputado Landsbergis, queconhece o Cáucaso do Norte melhor do que qualquer um de nós, deixou umas brevesalterações orais que conferem mais rigor ao texto e que vos peço que apoiem. Apresento-asem seu nome.

No n.º 3, devemos incluir a palavra “verdadeiro” depois de “reconhece o direito da Rússiaa combater o” e antes de “terrorismo” a fim de clarificar a frase, porque o terrorismo éfrequentemente usado como pretexto. No n.º 5, gostaríamos de incluir a palavra“continuada”, para que se leia “salienta que a impunidade continuada na Chechénia”. Non.º 15, queremos acrescentar a palavra “intimidatórias”, de forma que se leia “expressa asua rejeição das rusgas intimidatórias às organizações de direitos humanos”.

Estas alterações visam simplesmente tornar a linguagem do relatório mais precisa e apeloa esta Casa que as aprove.

(O Parlamento aprova as alterações orais)

13. Verificação de poderes: ver Acta

14. Decisões sobre determinados documentos: ver acta

15. Transmissão dos textos aprovados na presente sessão

16. Calendário das próximas sessões: ver Acta

17. Interrupção da Sessão

Presidente. − Dou por interrompida a sessão do Parlamento Europeu.

(A sessão é suspensa às 16H25)

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT114

ANEXO (Respostas escritas)

PERGUNTAS AO CONSELHO (Estas respostas são da exclusivaresponsabilidade da Presidência em exercício do Conselho da UniãoEuropeia)

Pergunta nº 10 de Rodi Kratsa-Tsagaropoulou ( H-0488/10 )

Assunto: Critérios de Basileia III e PME

Em 12 de Setembro de 2010, o Comité de Basileia anunciou o estabelecimento de novoscritérios no âmbito do reforço da estabilidade do sistema financeiro (3) . No entanto, essefacto poderá conduzir a uma possível absorção, pelos grandes grupos bancários, dos bancosmais pequenos que tradicionalmente apoiam o financiamento de pequenas e médiasempresas (PME), as quais representam 99% das empresas europeias (4) . Quais são asprevisões do Conselho sobre a evolução do mercado financeiro e as suas implicações parao financiamento das actividades produtivas? Dada a situação da economia europeia, estáprevisto um plano para ajudar a financiar as PME susceptível de compensar eventuaisefeitos negativos da introdução de critérios de Basileia III em termos de liquidez e deconcessão de créditos? Qual o grau de preparação dos bancos para a observância dessescritérios?

Resposta

A presente resposta, que foi elaborada pela Presidência e que não vincula o Conselho nemos seus membros enquanto tais, não foi apresentada oralmente durante o período deperguntas dirigidas ao Conselho no período de sessões do Parlamento Europeu de Outubrode 2010, em Estrasburgo.

(FR) As PME na União Europeia dependem especialmente do financiamento através dosbancos, o que foi afectado pela crise económica. Na realidade, na Europa a percentagemdo financiamento de PME e de outras entidades através dos bancos, por oposição aosmercados de capitais, é muito superior ao que acontece nos Estados Unidos. Segundoalgumas estimativas, essa percentagem eleva-se a 80% de todo o financiamento da economia.

Diversas instituições, incluindo o BCE e a Comissão, continuam a acompanhar ofinanciamento concedido à economia em geral e às PME em particular, e informamregularmente o Conselho sobre o assunto. O Banco Central Europeu tem recomendado,entre outras coisas, que o sistema financeiro transfira o financiamento obtido a partir dosEstados-Membros para contribuir para que o mesmo responda à crise que afecta a economiareal e as PME em particular. Esta recomendação foi feita tendo como pano de fundo o factode os bancos também necessitarem de limpar e reforçar os seus balanços a fim de poderemresponder ao requisito mais exigente de fundos próprios do novo Acordo de Basileiaanunciado em 12 de Setembro de 2010.

A missão do Comité de Basileia, constituído por representantes dos bancos centrais e dasautoridades reguladoras financeiras de 27 países do mundo, é aumentar a estabilidade e afiabilidade do sistema financeiro. O Comité deverá submeter para aprovação uma série de

(3) http://www.bis.org/press/p100912.pdf(4) http://europa.eu/legislation_summaries/enterprise/business_environment/index_el.htm

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medidas aos Chefes de Estado ou de Governo do G20 em Seoul, nos dias 11 e 12 deNovembro, e anunciou para o fim do ano uma avaliação do impacto. Nestas circunstâncias,ainda é muito cedo para se chegar a um juízo válido sobre o impacto a longo prazo queos requisitos mais exigentes de fundos próprios exercerão sobre o desenvolvimento dosmercados financeiros e as suas repercussões no financiamento de actividades de produçãoe de PME em particular.

Em termos políticos, o Acordo de Basileia é crucial, mas não é juridicamente vinculativo.Cada membro do Comité de Basileia necessita, portanto, de o implementar tendosimultaneamente em consideração as suas próprias limitações e situação. Na União Europeia,as novas normas aplicar-se-ão a todas as instituições de crédito e não apenas aos grandesbancos internacionais, como acontece nos Estados Unidos; daí resulta a necessidade deum estudo pormenorizado antes de serem fixados os números exactos. A ComissãoEuropeia anunciou que a sua proposta legislativa para a implementação do novo Acordode Basileia, "DRC 4" (Directiva "Requisitos de Capital 4"), será por sua vez acompanhadapor avaliações do impacto, que se debruçarão sobre dois aspectos. O primeiro será umaavaliação do impacto sobre o sector bancário como indústria e o segundo uma avaliaçãoque determine o impacto geral previsto sobre a economia.

O Conselho analisará a proposta DRC 4 da Comissão, que está prevista até ao fim doprimeiro trimestre de 2011, logo que a mesma seja apresentada e faz votos de que hajauma colaboração frutuosa com o Parlamento Europeu com vista a uma rápida aprovação.Isso proporcionará às instituições de crédito da UE as melhores condições possíveis parase prepararem para o momento em que as novas regras entrem em vigor.

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Pergunta nº 11 de Bernd Posselt ( H-0492/10 )

Assunto: UE - Conselho da Europa

Que diligências tem o Conselho efectuado para acelerar a planeada adesão da UE àConvenção dos Direitos do Homem do Conselho da Europa? Considera o Conselhoexequível uma adesão da Comunidade à Convenção-Quadro para a Protecção das MinoriasNacionais, assim como à Carta Europeia para as Línguas Minoritárias e Regionais?

Resposta

A presente resposta, que foi elaborada pela Presidência e que não vincula o Conselho nemos seus membros enquanto tais, não foi apresentada oralmente durante o período deperguntas dirigidas ao Conselho no período de sessões do Parlamento Europeu de Outubrode 2010, em Estrasburgo.

(FR) No dia 17 de Março de 2010 iniciaram-se os trabalhos relativos à adesão da UniãoEuropeia à Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos do Homem e das LiberdadesFundamentais (CEDH) com a apresentação da recomendação da Comissão para a aberturadas negociações de adesão. O Parlamento declarou a sua posição numa resolução de 19de Maio de 2010, que, entre outras coisas, solicitava às Presidências belga e húngara quefaçam tudo o que estiver ao seu alcance para ultimar a adesão na primeira oportunidadeque se apresentar conveniente e insistia em que o Parlamento fosse chamado a participardirectamente nas discussões preliminares e também nas condução das negociações sobreesse texto, nos termos do disposto no artigo 218.º do Tratado sobre o Funcionamento da

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União Europeia. O mandato de negociação e as directivas de negociação foram adoptadaspor uma decisão do Conselho de 4 de Junho de 2010.

Pela mesma decisão, o Conselho nomeou a Comissão como negociadora. Nos termos dadecisão, a Comissão conduzirá as negociações consultando o Grupo dos DireitosFundamentais, dos Direitos dos Cidadãos e da Livre Circulação de Pessoas (FREMP), comocomité especial nomeado nos termos do n.º 4 do artigo 218.º do TFUE. Através do relatóriosdo negociador, o Conselho acompanha os progressos das negociações, que se realizamem Estrasburgo.

A primeira reunião de trabalho do grupo de trabalho informal do Comité Director paraos Direitos do Homem (CDDH) do Conselho da Europa sobre a adesão da União Europeiaao CEDH realizou-se em Estrasburgo em 6 e 7 de Julho de 2010. De 20 a 22 de Setembrode 2010, realizou-se em Estrasburgo uma segunda reunião, na sequência da qual o grupode trabalho redigiu um projecto de lista das questões a discutir relativamente à adesão daUE. O comité especial (FREMP) foi mantido informado de ambas as reuniões.

No que respeita à questão da adesão da União Europeia à Convenção-Quadro para aProtecção das Minorias Nacionais e à Carta Europeia para as Línguas Minoritárias eRegionais, o Conselho não recebeu quaisquer recomendações da Comissão sobre esseassunto.

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Pergunta nº 12 de Brian Crowley ( H-0494/10 )

Assunto: Desenvolvimento de uma patente europeia

Que acções concretas está o Conselho a empreender para garantir o desenvolvimento deuma patente europeia?

Resposta

A presente resposta, que foi elaborada pela Presidência e que não vincula o Conselho nemos seus membros enquanto tais, não foi apresentada oralmente durante o período deperguntas dirigidas ao Conselho no período de sessões do Parlamento Europeu de Outubrode 2010, em Estrasburgo.

(FR) O Conselho considera que reforçar o sistema de patentes na Europa é um pré-requisitonecessário para aumentar o crescimento através da inovação e para ajudar as empresaseuropeias, nomeadamente as PME, a fazer face à crise económica e à concorrênciainternacional.

Um sistema de patentes assim reforçado é um elemento vital do mercado interno e deveassentar em dois pilares: a criação de uma patente da União Europeia (a seguir designada"patente da UE") e a instituição de um órgão jurisdicional especializado e unificado paratratar de litígios relacionados com patentes, melhorando dessa forma a protecção judiciáriadas patentes e reforçando a segurança jurídica.

Em Dezembro de 2009, o Conselho chegou a acordo sobre a sua posição geral no que serefere à regulamentação futura da patente da UE. No que respeita ao regime linguísticopara a patente da UE, o Conselho aguarda o parecer do Parlamento Europeu sobre a propostada Comissão e entretanto trabalha aturadamente a fim de chegar a um acordo o mais

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rapidamente possível. O assunto foi debatido recentemente na sessão do Conselho de 11de Outubro, e em breve voltaremos a ele.

No que se refere ao segundo pilar, o Conselho apresentou ao Tribunal de Justiça Europeuum projecto de tratado que institui um Tribunal de Patentes Europeu e da UE, para recebero seu parecer sobre a compatibilidade do texto com os Tratados. O parecer do Tribunal éaguardado nos próximos meses.

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Pergunta nº 13 de Pat the Cope Gallagher ( H-0496/10 )

Subject: Assunto: Promoção do turismo

Poderá o Conselho dar a conhecer as acções que a UE tem vindo a desenvolver parapromover a Europa como um destino de eleição para os turistas a nível internacional?

Resposta

A presente resposta, que foi elaborada pela Presidência e que não vincula o Conselho nemos seus membros enquanto tais, não foi apresentada oralmente durante o período deperguntas dirigidas ao Conselho no período de sessões do Parlamento Europeu de Outubrode 2010, em Estrasburgo.

(FR) Visto não ter sido atribuída à União Europeia nenhuma competência expressa nodomínio do turismo, a sua competência tem sido muito limitada nesta área, o que explicao âmbito bastante limitado das acções desenvolvidas no passado pela Comissão e peloConselho para promover a Europa como um destino de eleição para os turistas a nívelinternacional.

Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, o novo artigo 195.º do TFUE estipula quea União Europeia poderá completar a acção dos Estados-Membros no sector do turismo,nomeadamente através da promoção da competitividade das empresas da União nestesector e em especial incentivando a criação de um clima propício ao desenvolvimentodessas empresas e fomentando a cooperação entre os Estados-Membros, nomeadamenteatravés do intercâmbio de boas práticas. No entanto, esta disposição exclui qualquerharmonização das leis e regulamentos dos Estados-Membros. Para além disso, quaisquermedidas tomadas nesta área devem obedecer aos princípios da subsidiariedade e daproporcionalidade, tal como definido no Tratado.

Com base na disposição supra, a Comissão publicou no dia 6 de Julho de 2010 umacomunicação intitulada "Europa, primeiro destino turístico do mundo - novo quadropolítico para o turismo europeu".

Em resposta a este documento da Comissão, o Conselho decidiu que as acções destinadasa apoiar o turismo poderiam ser reunidas em torno dos quatro eixos definidos nacomunicação da Comissão, que são respectivamente:

a) estimular a competitividade do sector turístico na Europa;

b) promover o desenvolvimento de um turismo sustentável, responsável e de qualidade;

c) consolidar a imagem e a visibilidade da Europa como um conjunto de destinossustentáveis e de qualidade;

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d) maximizar o potencial das políticas e dos instrumentos financeiros da UE para odesenvolvimento do turismo.

O Conselho solicitou também à Comissão que reunisse mais provas, fizesse amplas consultase examinasse o valor acrescentado, em termos europeus e plurinacionais, das acções einiciativas que tratassem das questões-chave acima referidas.

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Pergunta nº 14 de Liam Aylward ( H-0498/10 )

Assunto: Jovens na UE

Desde o início da crise económica, os jovens são o grupo mais vulnerável na sociedadeactual. A taxa de desemprego entre os jovens registou um forte aumento e é provável quemuitos não consigam obter um emprego permanente. A estratégia da UE para os jovensreconhece que é prioritário criar novas e melhores oportunidades no sector da educaçãoe no mercado de trabalho. Como pensa o Conselho atingir esse objectivo? Que sabe oConselho sobre os progressos realizados no diálogo estrutural sobre juventude e emprego(youth@work)?

Resposta

A presente resposta, que foi elaborada pela Presidência e que não vincula o Conselho nemos seus membros enquanto tais, não foi apresentada oralmente durante o período deperguntas dirigidas ao Conselho no período de sessões do Parlamento Europeu de Outubrode 2010, em Estrasburgo.

(FR) O emprego dos jovens é um dos principais temas transversais para a cooperaçãoeuropeia sobre a juventude durante os 18 meses do trio de Presidências.

A Presidência belga visa inspirar-se na iniciativa da Presidência espanhola, que levou àadopção, pelo Conselho, de uma resolução sobre a inclusão activa dos jovens, estabelecendoprincípios comuns nesta área e declarando que a exclusão económica e social e todas asformas de discriminação são obstáculos ao bem-estar dos jovens e podem eventualmenteimpedir a sua participação activa na sociedade e no mercado de trabalho. Essa resoluçãotambém integrava a perspectiva da "juventude" noutros domínios de política como aeducação e o emprego, e a Presidência belga visa continuar a avançar ao longo destas linhasapresentando uma proposta de resolução sobre actividades socioeducativas e apelando aoConselho para que adopte esta resolução na sua sessão de Novembro.

A resolução proposta reconhecerá nomeadamente o papel que as actividadessocioeducativas podem desempenhar, proporcionando oportunidades aos jovens paradesenvolverem uma grande diversidade de aptidões pessoais e profissionais que contribuirãopara as suas perspectivas de emprego.

Em 21 de Outubro de 2010, serão igualmente apresentadas ao Conselho para fins deadopção as orientações em matéria de emprego. Essas orientações, que constituirão umdos principais instrumentos para a execução da estratégia Europa 2020, sublinham aimportância de fazer dos jovens o principal alvo das políticas de emprego e das políticaseducativas dos Estados-Membros. A orientação n.º 8, em particular, diz que a fim de apoiaros jovens e, nomeadamente os jovens sem emprego e que não frequentem estabelecimentosde ensino ou de formação, os Estados Membros, em cooperação com os parceiros sociais,

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devem criar mecanismos destinados a ajudá-los a encontrar um primeiro emprego, aadquirirem experiência profissional ou a terem novas oportunidades em matéria de ensinoe formação, incluindo estágios profissionais, intervindo rapidamente quando os jovensperdem o emprego.

Para além disso, a Presidência deseja chamar a atenção para o facto de que, dandocontinuidade à Comunicação sobre a Juventude em Movimento, recentemente publicadapela Comissão, a qual propõe diversas medidas que visam atingir os objectivos da EstratégiaEuropa 2020 (incluindo o objectivo de melhorar o emprego para os jovens), apelar-se-áao Conselho para que, na sua sessão de Novembro, adopte uma abordagem integrada (emmatéria de educação, juventude e emprego) que responda aos diversos desafiossocioeconómicos que os jovens actualmente enfrentam.

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Pergunta nº 15 de Richard Howitt ( H-0503/10 )

Assunto: Direitos Humanos na revisão das Orientações da OCDE para as empresasmultinacionais

Na sequência das conclusões do Conselho de Dezembro de 2009, que adoptam asrecomendações do Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para asEmpresas e os Direitos Humanos, o Conselho tenciona apoiar plenamente a proposta deintegração de um novo capítulo sobre os direitos humanos na actualização das Orientaçõesda OCDE para as empresas multinacionais, capítulo esse baseado nas recomendações doRepresentante Especial John Ruggie?

O Presidente em exercício faz tenção de consultar outros Estados-Membros tendo em vistaapoiar o documento apresentado à OCDE em 30 de Junho de 2010 pelo RepresentanteEspecial John Ruggie, em que se afirma que a responsabilidade das empresas em matériade direitos humanos ultrapassa os fornecedores de primeira e segunda linha englobandoos domínios nos quais as nossas empresas "têm um impacto" sobre o mundo?

Resposta

A presente resposta, que foi elaborada pela Presidência e que não vincula o Conselho nemos seus membros enquanto tais, não foi apresentada oralmente durante o período deperguntas dirigidas ao Conselho no período de sessões do Parlamento Europeu de Outubrode 2010, em Estrasburgo.

(FR) Em Dezembro passado, no contexto das suas conclusões sobre direitos humanos edemocratização em países terceiros, o Conselho sublinhou o papel importante das empresasna consecução do pleno respeito pelos direitos humanos. Neste contexto, o Conselhoexpressou o seu apoio ao trabalho do professor John Ruggie, Representante Especial daONU para os Direitos do Homem, Empresas Transnacionais e Outras Empresas.

A União Europeia reafirmou recentemente o seu apoio ao trabalho do RepresentanteEspecial quando apresentou o seu mais recente relatório ao Conselho dos Direitos doHomem, em Genebra, em Junho de 2010. A UE congratulou-se também com os planosdo Representante Especial de apresentar um conjunto de orientações em 2011 para aimplementação do seu quadro conceptual "Protecção, Respeito e Remediação" e de analisara possibilidade de criar um instrumento no seio das Nações Unidas para a promoção destequadro. Este quadro conceptual assenta em três princípios fundamentais: o dever do Estado

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de proteger contra violações dos direitos humanos por terceiros, incluindo empresas; aresponsabilidade das empresas de respeitar os direitos humanos; e a necessidade de ummaior acesso ao direito a acção, tanto judicial como não judicial. Estes três princípiosconstituem um conjunto de aspectos complementares que actuam em conjunto paraproduzir progressos duradouros.

Enquanto membros da OCDE, alguns dos Estados-Membros da UE participam no trabalhodessa organização para actualizar as suas orientações e torná-las mais eficazes, e, de umamaneira geral, congratularam-se com as propostas do Professor Ruggie, incluindo a deaditar uma secção específica sobre direitos humanos e o princípio da diligência. Emconformidade com este princípio, para evitar infringir os direitos de outros, as empresasdevem exercer diligência na área dos direitos humanos, o que conjuga práticas estabelecidasde gestão do risco por parte das empresas e consideração por aspectos relativos aos direitoshumanos, em sintonia com os critérios fundamentais estabelecidos pelas Nações Unidas.

No que se refere aos Estados-Membros da UE, a posição a adoptar no contexto do trabalhoda OCDE não é coordenada entre os grupos de trabalho do Conselho. No entanto, asdelegações no seio do Conselho são informadas dos progressos desse trabalho, em especialno que respeita a aspectos comerciais e aspectos relacionados com o investimento.

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Pergunta nº 16 de Laima Liucija Andrikienė ( H-0506/10 )

Assunto: Representação da UE nas Nações Unidas e em outros organismosinternacionais

Qual é a estratégia que o Conselho tem prevista para garantir que os altos funcionáriosrecentemente nomeados da União Europeia, como o Presidente do Conselho Europeu,Herman Van Rompuy, e a Vice-Presidente da Comissão/Alta Representante da União paraos Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Catherine Ashton, possam intervir emnome da União na Assembleia-Geral das Nações Unidas? Após a entrada em vigor doTratado de Lisboa, o Presidente do Conselho Europeu - e não o representante do país queestá a exercer a presidência rotativa do Conselho da UE - deve representarinternacionalmente a UE a nível de chefes de Estado. Que medidas devem ser tomadastendo em vista a aplicação destas disposições do Tratado de Lisboa em organismosinternacionais como, por exemplo, as Nações Unidas?

Resposta

A presente resposta, que foi elaborada pela Presidência e que não vincula o Conselho nemos seus membros enquanto tais, não foi apresentada oralmente durante o período deperguntas dirigidas ao Conselho no período de sessões do Parlamento Europeu de Outubrode 2010, em Estrasburgo.

(FR) Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a União Europeia (UE) substituiu esucedeu à Comunidade Europeia (CE). Portanto, a UE herdou o estatuto de observador naAssembleia Geral das Nações Unidas.

O estatuto de observador na Assembleia Geral das Nações Unidas herdado pela UE trazconsigo direitos relativamente limitados, como sejam um grau limitado de acesso à listade oradores e certos direitos processuais. Destes direitos limitados resultou uma reduçãosignificativa da acção e do perfil da UE em comparação com a situação anterior à entrada

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em vigor do Tratado de Lisboa, na qual era o Estado-Membro que detinha a Presidência doConselho que representava a UE. Temos de reconhecer que actualmente a UE não consegueexercer plenamente no seio da Assembleia Geral das Nações Unidas o papel que o Tratadosobre o Funcionamento da União Europeia lhe confere, nem pode promover os interessesda UE com a mesma eficácia com que o conseguia fazer antes da entrada em vigor doTratado de Lisboa.

Visto o debate sobre a proposta de resolução relativa à participação da UE no trabalho daONU ter sido adiado na reunião de Setembro da Assembleia Geral da ONU, a AltaRepresentante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança decidiu, a 4de Outubro, formar um grupo de trabalho sobre a resolução, com vista a consolidar,coordenar e apoiar o trabalho da delegação da UE às Nações Unidas, o trabalho de outrosrepresentantes da UE em países terceiros e o dos serviços da Comissão e do Secretariadodo Conselho em Bruxelas, de modo a criar as condições necessárias à obtenção dos direitosadicionais de que necessitamos para que a UE tenha uma participação eficaz no trabalhoda Assembleia Geral da ONU. Esse grupo de trabalho é constituído por funcionários daComissão e do Secretariado do Conselho.

O Conselho "Assuntos Externos" vai discutir uma estratégia relativa a este assunto em 25de Outubro.

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PERGUNTAS À COMISSÃO

Pergunta nº 25 de Silvia-Adriana Ţicău ( H-0467/10 )

Assunto: Fase em que se encontra a instauração do céu único europeu

O Regulamento (CE) n.º 1070/2009 (5) , que tem por objectivo melhorar o desempenho ea sustentabilidade do sistema de aviação europeu, obriga os Estados-Membros a adoptaremtodas as medidas necessárias para assegurar a implementação de blocos funcionais deespaço aéreo (FAB) até 4 de Dezembro de 2012, no intuito de alcançar a capacidade e aeficácia que são necessárias para a rede de gestão do tráfego aéreo no céu único europeu,manter um nível elevado de segurança e contribuir para o desempenho global do sistemade transportes aéreos e a atenuação do impacto ambiental.

O Regulamento (UE) n.º 691/2010 (6) da Comissão, de 29 de Julho de 2010, estabeleceum sistema de desempenho para os serviços de navegação aérea e as funções de rede. Tendoem conta que o primeiro período de referência terá início em 1 de Janeiro de 2012, que,em 12 de Agosto de 2010, a Comissão nomeou um coordenador para o sistema de blocosfuncionais de espaço aéreo e que, desde há alguns anos, tem vindo a outorgar dotaçõessignificativas, ao abrigo do orçamento RTE-T, para a definição dos FAB, poderá a Comissãoindicar em que estádio se encontra a definição destes últimos e se será observado ocalendário previsto para a criação do céu único europeu?

(5) JO L 300 de 14.11.2009, p. 34.(6) JO L 201 de 3.8.2010, p. 1.

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT122

Resposta

(EN) Com a implementação de Blocos Funcionais de Espaço Aéreo (FAB), cadaEstado-Membro olha para além das fronteiras nacionais e presta serviços de navegaçãoaérea conjuntamente com outros Estados-Membros. Os FAB são mecanismos fundamentaisdo Céu Único Europeu (SES) para a concretização dos benefícios operacionais da cooperaçãoreforçada entre prestadores de serviços de navegação aérea e, quando tal se justifique,através de um prestador integrado. No entanto, esta continua a ser apenas uma medidaintermédia para um verdadeiro céu único europeu.

Nos termos da legislação do SES II, os Estados-Membros são obrigados a estabelecer FABantes de 4 de Dezembro de 2012. Foram já notificados dois FAB – na Suécia e Dinamarca,e no Reino Unido e Irlanda. Nos próximos meses a Comissão prevê a assinatura do acordosobre o FABEC, que abrange a Bélgica, a França, a Alemanha, o Luxemburgo, os PaísesBaixos e a Suíça. A fim de facilitar as negociações entre Estados-Membros que colaboremno mesmo FAB, Georg Jarzembowski foi nomeado coordenador em Agosto de 2010.

No entanto, é necessário mais trabalho para acelerar o Céu Único Europeu e cumprir osprazos fixados.

A fim de ajudar os Estados-Membros, a Comissão estabeleceu um rigoroso programa detrabalho e apresentou diversas medidas regulamentares. Por exemplo, em 29 de Julho de2010 foi adoptado o Regulamento da Comissão que estabelece o sistema de desempenho.Este sistema de desempenho será o veículo que leva os Estados-Membros a procuraremuma integração mais estreita no domínio da prestação de serviços de navegação aéreamelhorando simultaneamente o desempenho.

Além disso, a Comissão está neste momento a ultimar a sua proposta de um regulamentode execução sobre requisitos de informação para a criação de FAB. O material de apoioserá igualmente ultimado até 4 de Dezembro de 2010.

Para concluir, diremos que o prazo de Dezembro de 2012 confere à Comissão e aocoordenador dos FAB uma forte influência nas discussões com os Estados-Membros. AComissão terá de dar resposta a possíveis questões se o prazo de Dezembro de 2012 nãofor cumprido. No entanto, nesta fase a Comissão está optimista quanto ao cumprimentodo prazo, já que os preparativos estão bem encaminhados.

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Pergunta nº 26 de Bernd Posselt ( H-0493/10 )

Assunto: Rede ferroviária transeuropeia

Como encara a Comissão os prazos para a construção de troços isolados da linha decomboio de alta velocidade "Magistrale para a Europa" entre Estrasburgo e Salzburgo? Quepapel desempenha, neste contexto, o trajecto Munique-Mühldorf-Freilassing? Está, alémdisso, prevista a nomeação de um coordenador RTE especificamente para o ramal de ligaçãoRTE-22?

Resposta

(EN) O Projecto Prioritário 17 "Paris-Estrasburgo-Estugarda-Viena-Bratislava" é um eixoferroviário de orientação leste-oeste que atravessa regiões com uma grande densidade

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populacional no centro da Europa. Estende-se ao longo de mais de 1 382 km e atravessaquatro Estados-Membros: França, Alemanha, Áustria e Eslováquia.

A Comissão considera que com a nomeação do Coordenador da UE Péter Balázs e depoisda assinatura de uma declaração de intenções pelos Ministros dos Transportes dos quatroEstados-Membros, em 9 de Junho de 2006, seguida de vários tratados bilaterais sobre ostroços transfronteiras, a implementação avançou bastante na maior parte dos segmentos.O último troço de alta velocidade francês deverá ficar operacional em 2016; a nova estaçãode Viena abrirá em 2013; todos os troços para transporte de passageiros na Áustria,concebidos para velocidades de 200 quilómetros por hora (km/h), devem estar emfuncionamento até 2015, o mais tardar.

A Comissão congratula-se com a conclusão dos trabalhos no troço transfronteiras entrea França e a Alemanha. A Ponte de Kehl abrirá em 10 de Dezembro de 2010 e os trabalhosem curso no troço Augsburg-Munique têm a sua conclusão marcada para Dezembro de2011.

Mas a Comissão tem também algumas preocupações:

– os trabalhos no troço Stuttgart-Ulm começaram em 2010. Este troço deveria estar empleno funcionamento em Dezembro de 2019, concebido para uma velocidade máximade 250 km/h, embora, como é do conhecimento do senhor deputado, o troço em Stuttgartesteja também no centro de um debate político;

– a ligação com o Aeroporto de Munique ainda não recebeu financiamento, embora oGoverno da Baviera e o parlamento (Landtag) tenham chegado recentemente a acordosobre um conceito de desenvolvimento para Munique ("Bahnkonzept München") paraligar a linha férrea com o aeroporto;

– embora em Julho de 2007 os Ministérios dos Transportes alemão e austríacoconcordassem em desenvolver conjuntamente o troço transfronteiras deFreilassing-Salzburgo para melhorar a capacidade do mesmo, não foi ainda confirmadapelas autoridades alemãs uma data definitiva para o início dos trabalhos do lado alemão;

– no que respeita ao troço Munique-Freilassing, prevê-se que uma abordagem abrangentepara todo o troço constitua uma prioridade na versão revista do quadro de planeamentoque o Ministério dos Transportes alemão deverá apresentar mais para o fim do Outono de2010.

A Comissão entende que os investimentos em infra-estruturas têm de ter em consideraçãoos recursos nacionais disponíveis, mas também o investimento em projectos da RedeTranseuropeia de Transportes (RTE-T) constitui um compromisso colectivo por parte detodos os Estados-Membros interessados: se um deles não executar a sua parte de umaligação, os investimentos dos outros são susceptíveis de sofrer uma desvalorização. Assimsendo, a Comissão recordará ao Governo alemão os seus compromissos políticos.

A Comissão tem o prazer de informar o senhor deputado de que em Junho de 2010 nomeouGilles Savary, um antigo e distinto deputado do Parlamento Europeu, novo coordenadoreuropeu do Projecto Prioritário 22 (Atenas-Nuremberga/Dresden). Gilles Savary apresentaráo seu primeiro relatório sobre este trabalho à comissão TRAN em 27 de Outubro de 2010.

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21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT124

Pergunta nº 27 de Brian Crowley ( H-0495/10 )

Assunto: Financiamento da obrigação de serviço público (OSP) dos aeroportosregionais

Poderá a Comissão produzir uma declaração que faça referência aos benefícios dofinanciamento da obrigação de serviço público (OSP) dos aeroportos regionais na UniãoEuropeia?

Resposta

(EN) O Regulamento (CE) n.º 1008/2008 (7) autoriza a imposição de obrigações de serviçopúblico (OSP) por razões de desenvolvimento económico ou de ligação territorial. As OSPsão instrumentos para garantir o acesso a regiões isoladas ou para apoiar objectivos depolítica de desenvolvimento regional quando o Estado-Membro considera que os seusobjectivos não serão adequadamente atingidos pelo livre jogo das leis do mercado.

Essas obrigações são de natureza geral (obrigações em termos de frequências, de capacidades,de preços máximos, etc. …). Se nenhum operador se encarregar da prestação dos serviços,os Estados-Membros podem recorrer a uma concessão exclusiva para um único operadorescolhido depois de um concurso europeu. Essa concessão exclusiva pode ter ou não tercompensação e o seu objectivo principal é assegurar efectivamente que sejam atingidosos objectivos do desenvolvimento regional. Quando há compensação, o beneficiário é acompanhia aérea que obteve a adjudicação e não os aeroportos envolvidos.

Actualmente são impostas OSP em 200 rotas no território da UE. Assegurando a operaçãode um número mínimo de frequências nessas rotas, as OSP estimulam o tráfego aéreo dee para aeroportos regionais. A Comissão não fez uma análise quantitativa do impactoeconómico das OSP nos aeroportos regionais, mas as OSP, pela sua natureza, incentivamo tráfego aéreo nesses aeroportos; sem elas, estes aeroportos seriam servidos por menosserviços aéreos regulares.

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Pergunta nº 28 de Dominique Baudis ( H-0500/10 )

Assunto: Aeronáutica e Livro Branco sobre os Transportes

A aeronáutica é um dos poucos êxitos da construção europeia. Esta actividade, que dáemprego a centenas de milhares de trabalhadores qualificados em todo o Continente,estrutura a nossa economia e os nossos territórios. É um verdadeiro vector de progressotecnológico e um elemento essencial para a mobilidade dos cidadãos.

Que lugar tenciona a Comissão reservar a este sector industrial no seu próximo LivroBranco sobre os Transportes?

Resposta

(EN) A aeronáutica emprega directamente meio milhão de pessoas e o seu volume denegócios anual anda próximo dos 100 mil milhões de euros. A Europa tem uma quota demercado de mais de 38%. Portanto, esta indústria de alta tecnologia é fundamental para aUE.

(7) JO L 293 de 31.10.2008

125Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

O Livro Branco sobre o futuro dos transportes ainda não está concluído e seria por issoprematuro dizer o que contém. De uma maneira geral, o sector da aviação, as indústriasdos equipamentos de transporte e a aeronáutica beneficiarão com ele.

Em primeiro lugar, a implantação das tecnologias desenvolvida pela SESAR (Investigaçãosobre a Gestão do Tráfego Aéreo no Céu Único Europeu), em que participam muitosfabricantes do sector da aeronáutica, implicará produção e melhorias contínuas em termosde eficiência, beneficiando por isso a indústria da aeronáutica. A concretização do CéuÚnico Europeu contribuirá para aumentar a capacidade aérea, estando previstasoportunidades positivas para as transportadoras aéreas e também para fabricantes europeusdo sector da aeronáutica.

Uma melhor integração dos modos de transporte, que ligue transportes aéreos, ferroviáriose públicos, contribuirá para reduzir as emissões associadas a voos de pequeno curso e aligações com as cidades na ponta final das viagens.

O 7.º Programa-Quadro, com 2,1 mil milhões de euros, que inclui a iniciativa Céu Limpo(800 milhões de euros), apoia já as necessidades tecnológicas da indústria europeiadesenvolvendo uma nova geração de aeronaves, motores aeronáuticos e equipamento,bem como transportes aéreos, mais ecológicos, mais eficientes, menos dispendiosos, maisseguros e mais fiáveis. Também a estratégia de combustíveis limpos em desenvolvimentoajudará os fabricantes europeus numa transição rápida e sem sobressaltos para umtransporte aéreo mais sustentável.

Por último, mas não menos importante, um estabelecimento de preços justo para ostransportes é um importante domínio político no Livro Branco. A inclusão da aviação noComércio Europeu de Licenças de Emissão a partir de 2012 oferecerá mais incentivos àinovação, à renovação acelerada de frotas e à utilização de combustíveis alternativos – nãoapenas para as linhas aéreas europeias, mas também para as principais não europeias –com manifestos benefícios para a indústria da aeronáutica.

Na generalidade, a Comissão compromete-se a continuar a aumentar as oportunidadesdeste sector estratégico, que cria postos de trabalho para trabalhadores altamenteespecializados e gera transmissões de tecnologias a outros sectores.

Neste contexto, e seguindo o bom exemplo da Visão 2020 para a investigação no domínioda aeronáutica, a Comissão criará um grupo de alto nível com a participação de dirigentesda indústria da aeronáutica para desenvolver uma nova visão para a investigação no domínioda aeronáutica e dos transportes aéreos na Europa para além de 2020.

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Pergunta nº 29 de Richard Howitt ( H-0504/10 )

Assunto: Possível transferência do aeroporto de Heathrow para o estuário do Tamisa

Quais as considerações preliminares da Comissão no que se refere ao relatos, segundo osquais estão a ser realizados estudos de viabilidade para transferir o aeroporto de Heathrowpara uma ilha artificial que se deverá situar no estuário do Tamisa, com o consequenteimpacto em termos ambientais, de congestionamento e perturbação que daí advirá paraos meus eleitores no sul de Essex? Que outros estudos e consultas irá a Comissão realizarsobre este assunto?

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT126

Resposta

(EN) Não há nada nos documentos oficiais publicados pelo Ministério dos Transportes(Department for Transport) do Reino Unido que sugira que esteja a ser actualmenteconsiderada como opção a transferência do aeroporto de Heathrow para o estuário doTamisa. A Comissão não tem informações sobre estudos de viabilidade mais recentesrelativos à transferência do aeroporto de Heathrow.

É importante recordar que, com base no princípio da subsidiariedade, a escolha dalocalização de aeroportos e, de facto, de qualquer infra-estrutura, é uma questão inteiramentenacional, desde que esteja garantida a observância da legislação comunitária aplicável, porexemplo, no que se refere a aspectos ambientais.

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Pergunta nº 30 de Sarah Ludford ( H-0505/10 )

Assunto: Scanners corporais nos aeroportos

Qualquer proposta legislativa da Comissão sobre a utilização de scanners corporais teriade avaliar em profundidade a eficácia, necessidade e proporcionalidade dos scannerscorporais na melhoria da segurança nos aeroportos. Quando irá a Comissão decidir se vaipropor um quadro jurídico à escala da UE? Em que critérios objectivos baseará as suasavaliação de impacto e decisão? Que normas obrigatórias de privacidade e saúde poderiamser incluídas? Uma lei deste tipo incluirá medidas claras sobre a retenção de imagens enormas equivalentes às dos EUA, garantindo o direito de optar pela não realização dosscanners corporais?

Resposta

(EN) A Comissão adoptou, em 15 de Junho de 2010, uma Comunicação sobre a utilizaçãode scanners de segurança em aeroportos da UE. Essa comunicação concluía que a Comissãodecidirá se propõe ou não um quadro jurídico à escala da UE sobre a utilização de scannersde segurança em aeroportos da União e sobre as condições que serão associadas à suautilização, após uma nova análise do impacto, incluindo as questões dos direitosfundamentais e da saúde.

A Comissão está neste momento a trabalhar nessa avaliação do impacto em conformidadecom as regras e a metodologia da Comissão estabelecidas. Uma análise desse tipo implicaque a Comissão define o problema que poderia necessitar de uma acção reguladora da UEe elabora várias opções possíveis que ofereçam diferentes soluções, com vista a atingir osobjectivos e a resolver o problema identificado.

Cada opção é cuidadosamente analisada em termos do impacto económico, social, emmatéria de saúde, de segurança e ambiental, com base nas informações disponíveis: estudos,partes consultadas, resultados de ensaios, etc.

Em particular, no âmbito de cada um destes cenários, far-se-á uma nova avaliação dedireitos fundamentais, saúde e capacidades de detecção. Também será considerada a opçãode conceder aos passageiros a possibilidade de optar pela não participação, bem comoopções sobre retenção de imagens.

Esta avaliação do impacto deverá estar concluída no início de 2011. A Comissão decidiránessa altura se é necessária ou não uma acção legislativa.

127Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

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Pergunta nº 38 de James Nicholson ( H-0491/10 )

Assunto: Futuro apoio à produção agrícola à base de forragem

Numa recente entrevista publicada na imprensa irlandesa ("Irish Independent" de terça-feira,21 de Setembro de 2010), o Comissário Ciolos sugeriu que estava disposto a considerar apossibilidade de um apoio continuado aos sistemas de produção agrícola à base de forragem,como o da Irlanda. Nesta fase, que mecanismo(s) prevê a Comissão que possa ser utilizadopara prestar este apoio adicional aos agricultores?

Resposta

(FR) As modificações que têm de ser efectuadas no sistema de pagamento directo e, maisespecificamente, na maneira como os pagamentos são distribuídos, a fim de disseminar oapoio de uma forma mais justa entre Estados-Membros, regiões e categorias de produçãoagrícola, estão no cerne do debate sobre o futuro da política agrícola comum (PAC). Umaspecto da questão é saber qual a melhor maneira de orientar os pagamentos directos paratipos de produção agrícola que contribuam especificamente para o fornecimento de benspúblicos ambientais.

Ainda assim, continua a haver pontos de interrogação acerca dos procedimentos e doscritérios para a transição para um apoio mais justo, orientado para fins mais específicos,evitando simultaneamente qualquer perturbação de vulto nos pagamentos directos, a qualpoderia ter consequências económicas consideráveis em algumas regiões ou sistemas deprodução.

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Pergunta nº 39 de Laima Liucija Andrikienė ( H-0507/10 )

Assunto: Programa POSEI

Como avalia a Comissão a eficácia do programa POSEI para os produtores de banana nasregiões ultraperiféricas da UE? Este programa melhorou consideravelmente a posição dosprodutores no mercado de banana da UE? Existem planos para modificar a dotação inscritano POSEI para o sector da banana, à luz da próxima revisão intercalar das perspectivasfinanceiras da UE?

Resposta

(FR) O relatório sobre o impacto da reforma do POSEI de 2006 apresentado pela Comissãoao Parlamento Europeu e ao Conselho em 24 de Setembro de 2010 (8) sublinha que asmedidas do POSEI foram muito eficazes para vários sectores da produção agrícola nasregiões ultraperiféricas, incluindo o sector da exportação de banana.

As medidas do POSEI, que, para o sector da banana, significaram um nível de ajudaconsiderável, deram efectivamente resultados positivos em termos da manutenção dosníveis de produção e de rendimento.

(8) COM(2010)0501 final, Relatório da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho: Primeiro relatório sobre oimpacto da reforma do POSEI de 2006.

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT128

O sector registou progressos significativos, nomeadamente em termos de aumento darentabilidade, de resultados a nível da produtividade, da qualidade e das condiçõesambientais de produção.

Estas conclusões baseiam-se em parte num estudo recente realizado por consultoresindependentes em nome da Comissão, que avaliou as medidas aplicadas ao abrigo dosistema do POSEI desde 2001.

A Comissão pode, por isso, afirmar que o sistema do POSEI deu um contributo substancialpara a manutenção da produção europeia de banana e para a melhoria das condições deprodução.

A actual dotação financeira afectada aos produtores de banana da UE foi fixada em 279milhões de euros para as quatro regiões produtoras das Ilhas Canárias, Martinica, Guadalupee Madeira quando as subvenções foram transferidas para o sistema do POSEI em 2007.Esta soma considerável foi calculada em parte de forma a reflectir uma certa variabilidadedo mercado da banana num cenário de continuação da liberalização.

A Comissão considera, portanto, que o orçamento actualmente afectado a subvençõespara o sector da banana continua a ser suficiente para proteger os produtores comunitáriosno actual clima de mercado mais aberto.

Ainda assim, a Comissão acompanha de perto o impacto dos acordos de comérciomultilaterais que visam reduzir os direitos de importação para as bananas e adoptará asmedidas adequadas se for necessário atenuá-lo.

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Pergunta nº 42 de Struan Stevenson ( H-0475/10 )

Assunto: Deficiências estruturais da actual Política Comum da Pesca

Uma das deficiências estruturais da actual Política Comum da Pesca identificada no recenteLivro Verde é a falta de cumprimento das normas vigentes. Esta deficiência contribui parauma forte sobre-exploração e danos causados ao ambiente marinho, e a situação é muitasvezes agravada por projectos de desenvolvimento apoiados por fundos da UE. Assim sendo,pondera a Comissão a hipótese de introduzir um mecanismo de condicionalidade –sujeitando a certas condições o acesso aos fundos da UE e aos recursos haliêuticos –semelhante ao mecanismo de ecocondicionalidade da Política Agrícola Comum?

Resposta

(EN) Em resposta ao relatório do Tribunal de Contas da UE de Novembro de 2007 (relatórioespecial 7/2007), a Comissão procedeu a uma reforma aprofundada do regime de controloe execução. O novo regulamento de controlo (Regulamento 1224/2009 (9) ) contribuiráde forma significativa para melhorar o controlo, a execução e o cumprimento das normasnas pescas europeias.

No que respeita à introdução da condicionalidade no acesso a fundos comunitários erecursos haliêuticos, a Comissão gostaria de assinalar disposições já existentes, como o

(9) JO L 343 de 22.12.2009

129Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

artigo 16.º do Regulamento (CE) n.º 2371/2002 do Conselho (10) (Regulamento de baserelativo à conservação e à exploração sustentável dos recursos haliêuticos no âmbito daPolítica Comum das Pescas), o artigo 90.º do Regulamento (CE) n.º 1224/2009 do Conselho(Regulamento de Controlo) e o artigo 40.º do Regulamento (CE) n.º 1005/2008 doConselho (11) (Regulamento que estabelece um regime comunitário para prevenir, impedire eliminar a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada). Além disso, o Fundo Europeudas Pescas e o Quadro para a Recolha de Dados incluem possibilidades de suspender aassistência financeira ou aplicar correcções financeiras em casos em que um Estado-Membronão satisfaça determinadas condições administrativas ou de programação e fornecimento.

A Comissão vê a próxima reforma da Política Comum das Pescas como um ensejo paraexplorar a necessidade e as oportunidades da introdução de novos mecanismos decondicionalidade.

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Pergunta nº 43 de Pat the Cope Gallagher ( H-0497/10 )

Assunto: Total admissível de capturas (TAC) de cavala para 2011

Que medidas tenciona a Comissão pôr em prática para garantir que os pescadorescomunitários da pesca pelágica beneficiem de um aumento do TAC de cavala, emconformidade com o parecer do Conselho Internacional para o Estudo do Mar (CIEM) para2011?

Resposta

(EN) A Comissão está muito preocupada com a situação actual, em que tanto a Islândiacomo as Ilhas Faroe estabeleceram quotas unilaterais e, em consequência, os recursos estãoa ser sobre-explorados.

O estabelecimento unilateral de quotas pela Islândia e pelas Ilhas Faroe para si próprias éabsolutamente inaceitável. É inaceitável porque nós, União Europeia, e a Noruega levámosanos a aumentar esta unidade populacional lucrativa no Atlântico Nordeste até atingir umnível satisfatório e sustentável. As quantidades de cavala que as embarcações islandesas edas Ilhas Faroe retiraram este ano do mar ultrapassam em muito aquilo que alguma vezpescaram em anos anteriores. Estas acções constituem também um desafio a todos osgrandes esforços da nossa indústria da pesca para tentar proteger este recurso haliêutico.

Assegurar a sustentabilidade da unidade populacional e permitir com isso que os pescadoresbeneficiem plenamente da maior disponibilidade possível de cavala tanto em 2011 comoa mais longo prazo constitui uma prioridade para a Comissão. Com este objectivo, aComissão assumiu a liderança do restabelecimento de uma gestão levada à prática emcolaboração com todos os Estados costeiros para cujas águas a cavala migra. Para esteefeito, a Comissão solicitou que esta questão fosse discutida na reunião do Conselho dosMinistros das Pescas de 27 de Setembro de 2010, na qual os Estados-Membros apoiarama Comissão neste objectivo.

A União encontra-se num momento crítico no que se refere à gestão da cavala no AtlânticoNordeste, face à ausência de um acordo relativo à repartição de quotas entre os Estados

(10) JO L 358 de 31.12.2002(11) JO L 286 de 29.10.2008

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT130

costeiros. Os níveis de pesca actuais estão muito acima do que foi aconselhado peloscientistas para 2010. A Comissão está empenhada em encontrar uma solução para osproblemas que surgiram, a fim de que esta unidade populacional possa voltar a ser objectode uma boa gestão para 2011, e tem como base para a sua posição nestas negociações oConselho Internacional para o Estudo do Mar (CIEM) para 2011, que permite um aumentodo total admissível de capturas (TAC).

Na ausência de colaboração, há um sério risco de que os recursos diminuam. Para o evitar,a Comissão está decidida a defender os interesses da União chegando a um acordo a longoprazo. As negociações deste Outono serão cruciais e para se chegar a uma solução serãonecessárias flexibilidade e boa vontade por parte de todos os interessados.

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Pergunta nº 44 de Marek Józef Gróbarczyk ( H-0501/10 )

Assunto: Desenvolvimento da pesca costeira no contexto da Política Comum daPesca

No contexto da reforma em curso da Política Comum da Pesca, tal como é definida noLivro Verde que a ela diz respeito, a protecção da pesca costeira reveste-se de importânciaprimordial.

O conceito de venda de quotas individuais transferíveis (QIT) lançado pela Comissão suscitapreocupações no sector da pesca e não é compatível com a preservação da pesca empequena escala, tal como demonstra a experiência adquirida neste domínio pelos pescadoresislandeses.

Poderá a Comissão descrever a sua concepção global da reforma da Política Comum daPesca com base nas QIT? Será que nela é contemplada a possibilidade da existência de ummétodo alternativo de financiamento da Política Comum da Pesca que seja menos arriscado?Qual é o ponto da situação dos debates realizados com os Estados-Membros sobre estaproblemática?

Resposta

(EN) O senhor deputado refere-se à importância da pesca costeira e à relação das frotas depesca costeira com a possível introdução de quotas individuais transferíveis nos termosda reforma da Política Comum da Pesca (PCP).

A Comissão está agora a analisar esta questão e estamos cientes do possível impactonegativo da introdução desse tipo de direitos sobre as frotas de pesca em pequena escalae de pesca costeira. A Comissão concorda com o senhor deputado em que há que evitarem todas as circunstâncias os efeitos negativos de tais medidas. É necessário que salientemos,porém, que não foi tomada nenhuma decisão e que a Comissão terá o devido cuidado deter em conta os interesses do sector da pesca em pequena escala e da pesca costeira a fimde as proteger de quaisquer consequências negativas em relação a direitos negociáveis.

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131Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

Pergunta nº 45 de Carl Schlyter ( H-0469/10 )

Assunto: Ómega 3 e ataques cardíacos

Recentemente, foram publicados no England Journal of Medicine (12) os resultados de umprojecto de investigação holandês que contou com a participação de 4 800 homens emulheres, os quais mostram que a ingestão de pequenas doses de ómega 3 como, porexemplo, na margarina de mesa não reduz o risco de ataques cardíacos. É importante queesses resultados tragam consequências para as empresas que realizam campanhaspublicitárias onde alegam o contrário: que o consumo de margarina reduz o risco de ataquecardíaco.

Entende a Comissão que as persistentes alegações sobre a eficácia da margarina sãocompatíveis com a legislação da UE? Que medidas tenciona adoptar para que essascampanhas publicitárias/alegações sejam suspensas/abolidas?

Resposta

(EN) O Regulamento (CE) n.º 1924/2006 (13) relativo às alegações nutricionais e de saúdefoi adoptado para garantir que todas as alegações nutricionais e de saúde sobre os alimentosna UE são verdadeiras, claras, fiáveis e úteis para o consumidor. Para esse fim, os legisladoresdecidiram que a fundamentação científica devia ser o principal aspecto a ter em conta paraa utilização das alegações. Essa avaliação científica independente da veracidade das alegaçõesé efectuada pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA).

O Regulamento exige que todas as alegações de saúde sejam autorizadas a nível da UE combase no conselho da EFSA.

Quando se autoriza uma alegação, estabelecem-se condições adequadas de utilização paragarantir que o consumo do produto relativamente ao qual é feita a alegação produz o efeitoalegado. Por exemplo, as condições de utilização poderão, consoante o conselho científico,limitar a utilização da alegação apenas no que se refere aos alimentos que demonstramesse efeito ou fixar as quantidades mínimas do constituinte activo necessárias para atingiro efeito referido.

No que se refere à pergunta, foram autorizadas alegações relativas a determinadassubstâncias que poderão estar incluídas numa série de produtos, incluindo produtos gordospara barrar de cor amarela (margarina) e o respectivo efeito de redução do colesterol. Essasalegações podem indicar que o colesterol elevado é um factor de risco no desenvolvimentode doenças coronárias. As autoridades nacionais competentes são, nesse caso, responsáveispela aplicação da legislação respeitante a tais alegações.

No que respeita às alegações relativas aos ácidos gordos ómega-3 e à saúde cardiovascular,há quem aguarde uma avaliação da EFSA; mas para outras alegações que já foram avaliadas,a Comissão está a discutir com os Estados-Membros, a fim de chegar a uma decisão sobrea sua autorização. As alegações apresentadas para autorização podem permanecer nomercado até ser tomada uma decisão sobre elas.

Em conclusão, o senhor deputado pode ficar tranquilo que, assim que o Regulamento fortotalmente executado, só poderão ser utilizadas na UE alegações de saúde de base científica.

(12) (http://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMoa1003603).(13) Regulamento (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro de 2006, relativo às

alegações nutricionais e de saúde sobre os alimentos, JO L 404 de 30.12.2006, p. 925

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT132

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Pergunta nº 46 de Mairead McGuinness ( H-0472/10 )

Assunto: Alterações à directiva da UE relativa à livre circulação e prevenção decasamentos simulados

Como consequência do acórdão do Tribunal de Justiça Europeu, de 25 de Julho de 2008,no processo Metock, alguns Estados-Membros – incluindo a Irlanda – tiveram de abandonara sua pretensão de ver alterada a Directiva 2004/38/CE (14) relativa à livre circulação depessoas na União Europeia no sentido de impedir que os imigrantes organizem casamentosde conveniência a fim de permanecerem na UE. Um dos principais conservadores de registocivil da Irlanda advertiu recentemente que 10 a 15% das cerimónias civis realizadas naIrlanda podem ser casamentos simulados visando apenas contornar a regulamentação nodomínio da imigração.

A Comissão partilha das preocupações dos Estados-Membros quanto às possibilidades deexploração da referida directiva à luz do acórdão Metock? A Comissão recebeu informaçõesde qualquer Estado-Membro acerca de abusos e violações da Directiva 2004/38 e, em casoafirmativo, quais são os mecanismos existentes para partilhar essas informações comoutros Estados-Membros? A Comissão considera que os Estados-Membros podem erradicaros casamentos de conveniência sem alterações à Directiva 2004/38 e, em caso afirmativo,exactamente como?

Resposta

(EN) Como se sublinhou no relatório (15) da Comissão sobre a aplicação da Directiva2004/38/CE (16) , o Tribunal de Justiça da União Europeia no seu acórdão no processoMetock (17) recordou que a Directiva não impede que os Estados-Membros lutem contrao abuso dos direitos da UE, incluindo casamentos de conveniência, tal como estipuladono artigo 35.º da Directiva.

A fim de identificar dificuldades e esclarecer questões de interpretação da Directiva e ajudaros Estados-Membros a aplicá-la correctamente, a Comissão criou, em Setembro de 2008,um grupo de peritos dos Estados-Membros. Para lutar contra os abusos, o grupo, que reúneregularmente, tem na sua agenda o intercâmbio de boas práticas, estatísticas e informaçõessobre padrões de abuso que vão surgindo. É utilizada uma rede de TI que permite aosEstados-Membros partilhar dados estatísticos e novas informações sobre abusos e fraudes.No âmbito do grupo, a Comissão apoia actividades a nível técnico com a participação deEstados-Membros, a fim de melhorar a capacidade destes para combater os abusos.

Nas orientações da Comissão (18) sobre uma aplicação mais adequada da Directiva, deJulho de 2009, foi prestada mais assistência. No que diz respeito a abuso e fraude, as

(14) JO L 158 de 30.4.2004, p. 77.(15) COM(2008)840 final(16) Directiva 2004/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Abril de 2004, relativa ao direito de livre

circulação e residência dos cidadãos da União e dos membros das suas famílias no território dos Estados-Membros,JO L 158 de 30 de Abril de 2004, p.77

(17) Acórdão do Tribunal de 25 de Julho de 2008 no processo C-127/08 Metock e outros (Col. 2008, p. I-6241)(18) COM(2009)313 final

133Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

orientações puseram em destaque que a Directiva autoriza os Estados-Membros a adoptaremmedidas efectivas e necessárias para lutar contra o abuso e a fraude nos domínios abrangidospelo âmbito de aplicação material do direito comunitário em matéria de livre circulaçãode pessoas, recusando, fazendo cessar ou retirando qualquer direito conferido pela directivaem caso de abuso de direito ou de fraude, como os casamentos de conveniência. Essasmedidas devem ser proporcionadas e sujeitas às garantias processuais previstas na Directiva.

Notícias recentes provenientes do Reino Unido, relativas a condenações penais de membrosdo clero envolvidos na realização de casamentos de conveniência e a rusgas policiaiscoroadas de êxito, realizadas após investigações da polícia, contra redes da criminalidadeorganizada ligadas a casamentos de conveniência confirmam o parecer da Comissão deque não é necessário modificar o quadro legislativo comunitário existente para permitirque os Estados-Membros tomem medidas eficazes contra abusos.

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Pergunta nº 47 de Bendt Bendtsen ( H-0474/10 )

Assunto: Contratos públicos ecológicos

Os dispositivos médicos não fazem parte dos dez sectores identificados pela Comissãocomo prioritários do ponto de vista da contratação pública ecológica. A elaboração decritérios harmonizados para este sector revelou-se problemática, pois o conceito geral de"dispositivos médicos" cobre uma grande variedade de produtos. A ausência de orientaçõespara a aquisição de dispositivos médicos pode ter a consequência indesejada de privar osector de incentivos essenciais para o desenvolvimento contínuo de produtos melhores emais sustentáveis.

Considerou a Comissão a possibilidade de retomar a formulação das orientações, com oobjectivo de definir categorias mais específicas para os diversos tipos de produtos cobertospelo termo "dispositivos médicos"? Considerou, neste contexto, a possibilidade de colaborarcom a indústria e com as organizações interprofissionais de modo a associar o sector àclassificação de diferentes tipos de produtos? Considerou, além disso, a possibilidade deestabelecer categorias especiais de inovação, que tenham especificamente em conta anatureza e os domínios de aplicação dos produtos?

Resposta

(EN) A Comissão está presentemente a reavaliar a exequibilidade de estabelecer critériosem matéria de contratos públicos ecológicos para determinadas categorias de produtosutilizados no sector da saúde. Estão a ser tomados em consideração o impacto ambientale o potencial de melhoramento gerais deste grupo de produtos em comparação com outrosgrupos de produtos e também a disposição dos Estados-Membros e da indústria paraparticiparem neste processo. A questão será discutida com o grupo consultivo para osContratos Públicos Ecológicos e as decisões serão tomadas antes do fim de 2010.

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21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT134

Pergunta nº 48 de Vilija Blinkevičiūtė ( H-0477/10 )

Assunto: A igualdade entre sexos e as pensões das mulheres

Este Verão, a Comissão publicou um Livro Verde intitulado "Regimes europeus de pensõesadequados, sustentáveis e seguros" no qual aborda diversas questões ligadas ao regime desolvabilidade dos fundos de pensões, ao aumento da idade da reforma e à mobilidade dasreformas. No entanto, não menciona o princípio de igualdade dos sexos e não fala domontante das pensões das mulheres. Ao longo da vida, as mulheres são objecto dediscriminações no mercado de trabalho, porque há ainda diferenças muito importantesentre os salários dos homens e das mulheres para o mesmo trabalho. Além disso, o montantedas pensões das mulheres é menor porque elas trabalham em sectores onde os salários sãobaixos ou porque têm de parar a sua actividade profissional para se ocuparem da sua família,o que aumenta outra vez a pobreza das mulheres idosas.

A Comissão não considera que conviria tratar separadamente a questão do montante daspensões das mulheres, já que a discriminação no mercado de trabalho influencia asprestações de reforma das mulheres? Que medidas concretas tenciona adoptar a Comissãopara reduzir a diferença entre os montantes das pensões das mulheres e dos homens?

Resposta

(EN) O Livro Verde da Comissão intitulado "Regimes europeus de pensões adequados,sustentáveis e seguros" (19) abrange a dimensão do género e chama a atenção para aspectosrelativos às questões com que as mulheres são confrontadas que são semelhantes aosapontados pela senhora deputada (20) .

O Livro Verde reúne os diferentes elementos do quadro das pensões a nível comunitárioe esta abordagem holística foi amplamente saudada pelas partes interessadas. Aquestão-chave da adequação das pensões será, por isso, tratada neste enquadramento, ondea dimensão do género (adequação das pensões para as mulheres) continuará a marcar umaforte presença. Esta questão implica que se coloque uma ênfase considerável em medidasrelativas ao mercado de trabalho, onde a abordagem holística paga dividendos, por exemploatravés de ligações com a Estratégia Europa 2020. Quaisquer medidas específicas que aComissão tencione adoptar com base no Livro Verde dependerão do resultado das consultasque estão em curso. Logo que as partes interessadas tenham dado as suas opiniões, aComissão estudará quais as medidas que é adequado tomar a seguir.

A Comissão já tomou várias iniciativas para promover a igualdade entre homens e mulheresno mercado de trabalho, que é onde tem origem o fosso entre géneros no domínio daspensões. Essas iniciativas prendem-se, nomeadamente, com a promoção da integração dadimensão do género na Estratégia Europeia para o Emprego e com uma campanha específicaque a Comissão lançou em 2009 para combater o fosso salarial. As desigualdades noemprego entre homens e mulheres e as consequências que têm para a reforma são objectode atenção considerável na declaração da Comissão de Março de 2010 sobre uma Cartadas Mulheres (21) e na recente comunicação sobre uma "Estratégia para a igualdade entrehomens e mulheres 2010-2015" (22) .

(19) COM(2010) 365 final(20) Ver, por exemplo, a página 5(21) COM(2010) 78 final(22) COM(2010) 491 final

135Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

Para além disso, como parte do seu trabalho para promover a igualdade entre mulheres ehomens no âmbito do Método Aberto de Coordenação na área da protecção social e dainclusão social, que tem como um dos seus objectivos gerais a igualdade entre os géneros,a Comissão acompanha a dimensão do género nos Relatórios Nacionais de Estratégia dosEstados-Membros e publicou a sua mais recente avaliação a este respeito no RelatórioConjunto sobre a Inclusão Social e a Protecção Social 2009 (23) . Este trabalho contribuiupara informar o Livro Verde sobre as pensões e as medidas de acompanhamento a esteassentarão sobre as iniciativas em curso.

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Pergunta nº 49 de Andrew Henry William Brons ( H-0478/10 )

Assunto: Presidente da República do Mali

Gostaria de saber como reage a Comissão ao discurso proferido na semana transacta peloPresidente da República do Mali perante o Parlamento Europeu. Recorde-se que, segundoafirmou, o Mali sofre uma fuga de cérebros para os países desenvolvidos. Afirmou aindaque cerca de 35 % dos malianos com formação superior trabalham no estrangeiro e queuma percentagem elevada, mas não especificada, de profissionais dos serviços de saúdetrabalha noutros países. Será moralmente aceitável, no entender da Comissão, que os paísesdesenvolvidos se apropriem do pessoal médico de países do Terceiro Mundo, formado aexpensas desses países com recursos muito limitados?

Resposta

(EN) A Comissão está particularmente preocupada com a grave escassez de trabalhadoresqualificados no sector da saúde em muitos países africanos. Calcula-se que são necessáriosno mínimo 2,3 profissionais do sector da saúde por 1 000 habitantes, para prestaremcuidados básicos de saúde. A África tem, em média, 0,8 profissionais dos serviços de saúdepor 1 000 habitantes e o Mali ainda menos, em comparação com os 10,3 por 1 000habitantes na Europa. Consciente deste desafio e do benefício que a Europa retira enquantodestino de muitos desses profissionais dos serviços de saúde que são migrantes, a UEadoptou uma Estratégia de Acção relativa à crise de recursos humanos no sector da saúdenos países em desenvolvimento, seguida de um Programa de Acção Europeu. Em 51 países,incluindo o Mali, a UE apoia programas de saúde que tratam de recursos humanos nosector da saúde (RHSS). A nível global, a UE está a começar a explorar oportunidades paraestimular a migração circular e para a introdução de outros mecanismos que tornem amigração de profissionais dos serviços de saúde benéfica para o desenvolvimento.

Um sub-tema do programa temático "Investir nas Pessoas" é dedicado à melhoria dossistemas de saúde e ao tratamento do problema da crise de recursos humanos. Ao abrigodesta componente está a ser financiado um projecto da UE em parceria com a OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS), como forma de reforçar o desenvolvimento da força de trabalhono domínio da saúde e combater a grave escassez de profissionais da saúde em 57 países,incluindo 36 países africanos, entre os quais o Mali.

A legislação da UE já existente e a que está em fase de preparação já contêm diversassalvaguardas que visam impedir a "fuga de cérebros". Por exemplo, a Directiva

(23) Ver em particular o ponto 4.2.3 do documento de apoio em:http://ec.europa.eu/social/BlobServlet?docId=2588&langId=en

21-10-2010Debates do Parlamento EuropeuPT136

2009/50 (24) relativa ao "Cartão Azul" da UE prevê que os Estados-Membros podem indeferirum pedido de Cartão Azul com vista a assegurar o recrutamento ético. Além disso, aDirectiva não prejudica quaisquer acordos celebrados com países terceiros que estabeleçamlistas de profissões que registam falta de pessoal e que estão portanto sujeitas a recrutamentoético. Os nacionais de países terceiros que tenham o estatuto de residentes de longa duraçãona União Europeia são autorizados a ausentar-se do território da UE durante um ano, nomáximo, sem perderem esse estatuto, sendo este período alargado para dois anos paramigrantes altamente qualificados titulares de Cartão Azul. Estas disposições incentivam amigração "circular" entre os Estados-Membros e o país de origem do migrante, com atransferência simultânea de competências e dinheiro.

O Conselho Europeu sublinha igualmente a necessidade de tomar outras medidas paramaximizar os efeito positivos e minimizar os efeitos negativos da migração sobre odesenvolvimento em sintonia com a Abordagem Global em matéria de Migrações.

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Pergunta nº 50 de Ivo Belet ( H-0489/10 )

Assunto: Subsídio de cessação de funções dos Comissários europeus

Nos termos do Regulamento n.º 422/67/CEE (25) , de 25 de Julho de 1967, os antigosmembros da Comissão Europeia recebem, durante um período de três anos após a cessaçãodas suas funções, um subsídio cujo montante varia entre 40 e 65% do seu vencimento eque pode ser combinado com outras remunerações auferidas pelo exercício de novasfunções. Este regime principesco suscita grandes críticas na opinião pública.

Está a Comissão disposta a tomar a iniciativa de rever este regime, nomeadamente no quese refere à combinação do subsídio de cessação de funções com outras remunerações (n.º3 do artigo 7.º do regulamento)?

Resposta

(EN) Esta é uma matéria da responsabilidade do Conselho, nos termos do artigo 243.º doTFUE (ex-artigo 210.º TCE).

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Pergunta nº 51 de Liam Aylward ( H-0499/10 )

Assunto: Política comercial do Mercosul e seus efeitos na agricultura europeia

A segunda ronda de negociações com o bloco do Mercosul terá lugar em 11 de Outubro.Na opinião da Comissão, que efeitos terão os resultados das negociações na agriculturaeuropeia? No início de 2011 será publicado um estudo económico sobre os efeitospotenciais da política referida. A Comissão pode dar algumas informações acerca da situaçãoactual desse estudo? Este irá focar os efeitos significativos que a política referida terá naagricultura europeia?

(24) Directiva 2009/50/CE do Conselho de 25 de Maio de 2009 relativa às condições de entrada e de residência denacionais de países terceiros para efeitos de emprego altamente qualificado, JO L 155 de 18.6.2009.

(25) JO 187 de 8.8.1967, pág. 1.

137Debates do Parlamento EuropeuPT21-10-2010

Resposta

(EN) A última ronda de negociações para o pilar do comércio do Acordo de AssociaçãoUE-Mercosul realizou-se entre 11 e 15 de Outubro de 2010 em Bruxelas.

A Comissão continuará a informar regularmente o Parlamento Europeu sobre os progressosdesta negociação. Está previsto, em especial, o envio de um relatório escrito tanto ao Comitéda Política Comercial do Conselho como à Comissão INTA do Parlamento Europeu logoa seguir a cada ronda.

Registe-se que já se realizou uma Avaliação cabal do Impacto na Sustentabilidade doComércio (SIA) que investigou os potenciais impactos económicos, sociais e ambientaisde um Acordo de Comércio Livre UE-Mercosul e que os seus relatórios finais se encontramà d i s p o s i ç ã o d o p ú b l i c o d e s d e M a r ç o d e 2 0 0 9 ( v e rhttp://ec.europa.eu/trade/analysis/sustainability-impact-assessments/assessments).

A resposta da Comissão às conclusões e recomendações do estudo está explicitada nodocumento de posição sobre o SIA publicado em Julho de 2010.

Para além disso, a Comissão decidiu complementar este trabalho por meio de estudoseconómicos direccionados para objectivos mais específicos que se espera que fiquemconcluídos no início de 2011. Esses estudos fornecerão uma análise actualizada einformações sobre o impacto económico geral da eliminação de pautas aduaneiras eentraves não pautais relativos ao comércio de mercadorias, serviços e investimento, bemcomo uma avaliação mais pormenorizada dos impactos agrícolas.

Nesta base, a Comissão terá em conta a sensibilidade da agricultura da UE como um todoe, nomeadamente, de sectores agrícolas relevantes que poderão ser muitíssimo afectadospor futuras concessões. Para essas áreas específicas, a Comissão elaborará uma ofertaagrícola que será não só limitada a concessões que tenham em conta as sensibilidades dosmercados e sectores de produção relevantes da UE, mas também, como é óbvio, compatívelcom a Política Agrícola Comum na globalidade.

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Pergunta nº 53 de Charalampos Angourakis ( H-0511/10 )

Assunto: O Memorando destrói as famílias populares e a educação

Na Grécia, milhares de crianças de famílias populares não encontram lugar nos infantáriosmunicipais porque muitas câmaras os encerram por falta de recursos e de pessoal. A títulode exemplo, só no Concelho de Atenas, de 8.816 pedidos apenas 5.465 foram satisfeitos.Simultaneamente, 60 a 70% do pessoal dos infantários está ameaçada de despedimentopor não renovação dos seus contratos. Este ano foi igualmente reduzida de 50% acontratação de professores no ensino público e as passagens à reforma multiplicam-sepelo que se estima que faltem mais de 20.000 professores! Estes problemas, em conjugaçãocom o desemprego em massa e a drástica redução dos salários e das prestações sociais,efectuada com base no Memorando acordado conjuntamente entre o Governo do PASOK,a UE, o BCE e o FMI, agravam todos os problemas da família trabalhadora popular.

Reconhece a Comissão as consequências insuportáveis das medidas contidas no Memorandopara as famílias populares, e em particular para as mulheres, devido ao agravamento

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dramático da falta de infantários públicos, do funcionamento das escolas públicas e dogolpe desferido ao direito à educação das crianças das famílias dos trabalhadores?

Resposta

(EN) O Memorando de Acordo (MA) foi assinado pela Grécia e a Comissão (em nome dosEstados-Membros da zona do euro) de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)e o Banco Central Europeu (BCE). As medidas orçamentais, financeiras e estruturais contidasno MA e o financiamento de 110 mil milhões de euros fornecido pelos Estados-Membrosda zona do euro e pelo FMI são indispensáveis para fazer sair a Grécia da crise. Sem estefinanciamento e sem as medidas contidas no MA, as perturbações na economia gregaseriam muito mais drásticas e abruptas, com custos económicos e sociais imensos para opovo grego. As medidas contidas no MA foram elaboradas em estreita colaboração entreo Governo grego e a Comissão, tendo em conta a situação macroeconómica, mas semperder de vista preocupações de carácter social. A Comissão reconhece que a crise gregateve custos sociais consideráveis para vários estratos da população grega. Esses custos são,no entanto, sobretudo o resultado dos desequilíbrios orçamentais, de questões decompetitividade e de dificuldades financeiras que o MA tenta resolver.

No que se refere ao impacto que as dificuldades em matéria de pessoal e de financiamentoem instalações de acolhimento de crianças e escolas públicas têm para as mulheres, aComissão chama a atenção do senhor deputado para o facto de que o Fundo Social Europeuco-financia apoios, a fim de permitir que as mulheres ponham os filhos em instalações deacolhimento, através do programa operacional Desenvolvimento de Recursos Humanos,e co-financia também melhorias na qualidade da educação em geral e acções para apoiaras mulheres, como sejam as "escolas de dia inteiro", através do programa operacionalEducação e Aprendizagem ao Longo da Vida. No entanto, até agora a implementação deambos os programas operacionais tem sido lenta, facto que poderá explicar em parte oimpacto sobre as mulheres a que o senhor deputado se refere. Segundo as autoridadesgregas, prevê-se que os progressos na implementação dos programas em questão melhoremnos próximos meses.

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