2
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1805 Riacho de Santana Outubro/2014 Quintal produtivo de Dalva, onde delicadeza e cuidado fazem florescer as riquezas da caatinga Para conter o ataque dos insetos nas goiabas, Dalva utiliza saquinhos de pano e papel para proteger as frutas. Antigo caminho utilizado pela agricultora para regar as hortas. Hoje cacimba é usada apenas como fonte de água para os animais. Em Barreiro Vermelho, comunidade distante seis quilômetros do município de Riacho de Santana, é surpreendente encontrar o pé de goiaba da agricultora Lucidalva Maria de Oliveira, pois ela guardou todas as frutas da árvore dentro de saquinhos de pano e de papel. Dalva comenta que os insetos estavam atacando as frutas, devido à época do ano. Como ainda não choveu, os alimentos na caatinga estão escassos e os animais buscam todas as fontes possíveis, inclusive as goiabas de Dalva, que viu a ideia num programa de televisão e resolveu por em prática na sua casa também. Depois da surpresa do “pé de goiaba embalado”, os olhos se encantam com o quintal produtivo da família. Na verdade, a história das hortas e do amor pela terra, vem muito antes da construção da cisterna- enxurrada feita no final do ano de 2013. Dalva sempre gostou muito de cuidar das hortas, mas a falta de água impedia o plantio. Apesar de ter uma cacimba próxima a sua casa, não podia utilizar essa água, que servia para quase todos os moradores de Barreiro Vermelho. Dalva conta que há mais de 15 anos sua família possuiu uma horta pequena, cercada por varas, que ficava próximo à cacimba, onde ela e a família cultivavam hortaliças. O lugar foi escolhido porque ficava próximo do único local da comunidade com água disponível. “Antigamente eu fazia a horta na beira da cacimba. Tinha um cercadinho de varas, a gente plantava lá, mas era coisa pouca, regrado, a cacimba era pra quase todo mundo da comunidade, não podia usar muita água”. Depois da vinda das cisternas, a antiga horta foi abandonada e ela começou a aumentar o quintal no fundo da casa que já possuía algumas frutíferas como goiaba, mamão e acerola. Hoje em dia a água da cacimba é reservada para os animais, nas hortas, apenas água da cisterna de produção. Atualmente um alfabeto de possibilidades pode ser encontrado nesse lugar. Do A de amor pela terra até o Z de zelo pela produção e pelos frutos que geram tantas riquezas, além disso, a agricultora cultiva flores, que garantem beleza e delicadeza ao quintal. “Horta você tem que estar de manhã cedinho, à tardezinha, é igual criança, tem que ter todo o cuidado. Eu adoro mexer com isso aqui. Chega num tempo desse, você não vê nada verde, mas quando você chega de manhã, tá tudo verde aqui, é bom demais. Você entra e não dá vontade de sair ”, comenta Dalva ao falar da alegria que é poder manter suas hortas através da cisterna.

Quintal produtivo de Dalva, onde delicadeza e cuidado fazem florescer as riquezas da caatinga

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A agricultora Lucidalva Maria de Oliveira mantém seu quintal produtivo na comunidade de Barreiro Vermelho, município de Riacho de Santana. Depois da construção da cisterna enxurrada, Dalva teve a possibilidade de praticar uma de suas atividades preferidas: cuidar da terra.

Citation preview

Page 1: Quintal produtivo de Dalva, onde delicadeza e cuidado fazem florescer as riquezas da caatinga

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1805

Riacho de Santana

Outubro/2014

Quintal produtivo de Dalva, onde delicadeza e cuidado fazem florescer as

riquezas da caatinga

Para conter o ataque dos insetos nas goiabas, Dalva utiliza saquinhos de pano e papel para

proteger as frutas.

Antigo caminho utilizado pela agricultora para regar as hortas. Hoje cacimba é usada apenas como fonte de

água para os animais.

Em Barreiro Vermelho, comunidade distante seis quilômetros do município de Riacho de Santana, é surpreendente encontrar o pé de goiaba da agricultora Lucidalva Maria de Oliveira, pois ela guardou todas as frutas da árvore dentro de saquinhos de pano e de papel. Dalva comenta que os insetos estavam atacando as frutas, devido à época do ano. Como ainda não choveu, os alimentos na caatinga estão escassos e os animais buscam todas as fontes possíveis, inclusive as goiabas de Dalva, que viu a ideia num programa de televisão e resolveu por em prática na sua casa também. Depois da surpresa do “pé de goiaba embalado”, os olhos se encantam com o quintal produtivo da família. Na verdade, a história das hortas e do amor pela terra, vem muito antes da construção da cisterna-enxurrada feita no final do ano de 2013. Dalva sempre gostou muito de cuidar das hortas, mas a falta de água impedia o plantio. Apesar de ter uma cacimba próxima a sua casa, não podia utilizar essa água, que servia para quase todos os moradores de Barreiro Vermelho. Dalva conta que há mais de 15 anos sua família possuiu uma horta pequena, cercada por varas, que ficava próximo à cacimba, onde ela e a família cultivavam hortaliças. O lugar foi escolhido porque ficava próximo do único local da comunidade com água disponível. “Antigamente eu fazia a horta na beira da cacimba. Tinha um cercadinho de varas, a gente plantava lá, mas era coisa pouca, regrado, a cacimba era pra quase todo mundo

da comunidade, não podia usar muita água”. Depois da vinda das cisternas, a antiga horta foi abandonada e ela começou a aumentar o quintal no

fundo da casa que já possuía algumas frutíferas como goiaba, mamão e acerola. Hoje em dia a água da cacimba é reservada para os animais, nas hortas, apenas água da cisterna de produção. Atualmente um alfabeto de possibilidades pode ser encontrado nesse lugar. Do A de

amor pela terra até o Z de zelo pela produção e pelos frutos que geram tantas riquezas, além disso, a agricultora cultiva flores, que

garantem beleza e delicadeza ao quintal. “Horta você tem que estar de manhã cedinho, à tardezinha, é igual criança, tem que ter todo o cuidado. Eu adoro mexer com isso aqui. Chega num tempo desse, você não vê nada verde,

mas quando você chega de manhã, tá tudo verde aqui, é bom demais. Você entra e não dá vontade de sair ”, comenta Dalva ao falar da alegria que é poder manter suas hortas através da cisterna.

Page 2: Quintal produtivo de Dalva, onde delicadeza e cuidado fazem florescer as riquezas da caatinga

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Realização Apoio

A produção dos canteiros é destinado para consumo da família. O silo é feito todos os anos como reserva de

alimentos para os animais.

Com carinho e zelo Dalva cuida sozinha de todo quintal produtivo.

Os frutos do Quintal se desenvolvem mesmo durante os períodos mais secos.

Além da habilidade natural para cultivar as plantas, a agricultora teve novos aprendizados ao fazer os cursos de GAPA (Gestão de Água para Produção de

Alimentos) e SSMA (Sistema Simplificado de Manejo de Água). “Às vezes usava veneno, que a gente não tinha conhecimento de nada. Aí agora depois que a gente foi conhecendo, não usa mais. A gente passa detergente, sabão em pó, tenho a receita de fumo. Antigamente passava, o povo fala se não passar veneno não produz, se não queimar o cisco, a roça não produz. E hoje sei que o cisco é adubo”.

Dalva aproveita as sementes de alface e coentro dos canteiros ao invés de ter que comprá-las. Também guarda as sementes de feijão roxo, que tem uma ótima produção. Já está na segunda safra e agora sempre guarda as sementes para o próximo ano, afinal, o feijão não pode faltar. A produção de mamão também é grande, já que ela possui 22 pés da fruta. Ela

aproveitou até mesmo a sobra de terra que ficou no quintal depois que a máquina escavou o buraco da cisterna, nesse lugar Dalva plantou batatas. “Eu deixei a terra aí e aproveitei pra plantar as batatas. Vou limpar agora e plantar melancia. Deu bastante batata. Também tenho muito mamão ainda. O quintal não era desse tamanho, mas como eu já tinha um, aproveitei a tela, agora eu acrescentei”. Além de hortaliças e frutíferas, a família cria gado, porcos e galinhas, e todo ano faz o silo para os animais. “Todo ano a gente faz o silo, só não dá pra fazer no ano que não chove. É igual a água, se você não guardar, não vai ter. Tem que reservar, tem que guardar”. Ainda sobre os cursos e as novas técnicas que vem aprendendo, Dalva fala sobre os benefícios do canteiro econômico, que utiliza uma lona para manter a terra úmida e da cobertura seca, feita através de palhada, que pode ser usada para manter a umidade na terra. “Antigamente a gente plantava e não tinha aquele negócio de jogar cisco no pé da plantação, aquilo segura muita a molha, aprendi isso e foi muito bom, e a lona também, que eu nunca tinha plantado com a lona. Aí depois dela eu achei que ficou melhor, que conserva a água, rende mais, você molha e a água fica, economiza mais água. Se não fosse com a lona, essa caixa já tinha secado, a hortaliça resseca um pouco por cima por causa do sol, aí você molha à tarde, chega no outro dia, a terra tá umedecida, bem molhadinha”.

A alegria de fazer o que gosta e ter condições de fazer isso

depois da construção da cisterna, é percebida na maior parte das falas de Dalva, que sozinha é responsável por todos os cuidados das plantas que cultiva. “Se não fosse essa caixa, eu não teria condições de ter tudo o que eu tô tendo

agora. Porque a água que a gente tinha lá não dava. Onde que eu ia ter maracujá? Onde eu ia ter isso daqui? Nunca. Se eu não tivesse essa

caixa, a água vinha e ia embora. E tenho tudo sem veneno, eu mesmo produzo, eu mesmo que colho, eu mesmo que faço minhas sacolinhas no pé de goiaba”, conta feliz. Ao finalizar a visita até os canteiros produtivos da agricultora, Dalva faz a seguinte afirmação: “O conselho que eu dou pra

quem não tem sua caixa ainda, é ver se consegue o mais rápido possível, porque isso aqui que é bom demais, vale a pena”.