Quintiliano Para Tablet

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    EDUCAO ORATRIA LIVRO DCIMO TRADUO

    Institutio Oratoria Liber decimus

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    INSTITVTIO ORATORIA

    LIBER DECIMVS

    Educao Oratria

    Livro dcimo

    INTRODUO

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    At onde nos dado ver, a trajetria para se chegar ao que poderamoschamar de conhecimento racional de uma realidade passa, entre outrasinstncias, pela intuio, que antecede a elaborao de frmulas e conceitos. Orefinamento de ideias, que tanto pode ser um meio de alcanar o conhecimento,quanto pode ser o prprio conhecimento, vai dando forma e autonomia aoselementos que constituem uma ideia inicial e, assim, costuma fazer com que

    esses novos elementos passem a se expandir em novas ideias.

    Quando se trata da cincia da linguagem, comum nos surpreendermoscom o grau de profundidade alcanado pelos gregos e romanos antigos. Defato, os conhecimentos j adquiridos ao longo do tempo, a respeito de teorialiterria, lingustica e gramtica, e os que atualmente esto sendo construdosnos levam a considerar que esses antigos no somente haviam intudodeterminados processos, mas, sua maneira, os elaboraram de forma bastantesofisticada. Assim, se rompermos a barreira da lngua e se compreendermos osmotivos que, na antiguidade, deram forma ao tratamento dos fatos, produtos e

    processamentos da lngua, constataremos o quanto se aproximam dos nossos,os conhecimentos anteriormente estabelecidos pelos antigos. Em outraspalavras, as diferenas no tempo, e tudo que com ele vem, costumam serdistncias menores do que sugerem as intuies, as teorias e terminologias.

    O Livro X da Institutio Oratriade Quintiliano pode ser um bom exemplodo que acabamos de dizer, especialmente se orientarmos nossa leitura para asreflexes, que ali se encontram, acerca das relaes dos homens com sualinguagem. Buscamos fazer isso em nosso estudo quando, de modo especial,priorizamos os aspectos tericos que nos pareceram mais significativos na

    relao orador-discurso. Neste momento, porm, ampliaremos nossas reflexes,tendo como propsito procurar, com base em elementos do texto, a reafirmaodas ideias que sustentam Quintiliano e subjazem formulao de algunsconceitos.

    De maneira geral, uma vez interpretados esses conceitos, o primeiroimpacto se d, quando nos defrontamos com a tarefa de os traduzir. Nemsempre possvel faz-lo; muitas vezes prefervel deix-los intraduzidos,sobretudo quando, no original, se resumem a uma s palavra, ou a umaperfrase curta.

    A construo do Livro X se apia em dois pilares maiores, que so asideias contidas nas frmulas facilitas (inicialmente determinada pelo adjetivo

    firma, como em X, 1, 1: firma facilitas ) ecopia uerborum. Nada nos desautorizaadizer que os equivalentes atuais para essas expresses sejam competncia edesempenho. No se trata aqui nem de levar a conceituao atual para umaobrada Antiguidade, nem de trazer para o nosso tempo as conceituaesformuladas pela Antiguidade, a respeito de aspectos concernentes aos estudosda linguagem. Trata-se, em verdade, de entender que, neste caso especfico, sedizem as mesmas coisas, muito alm da intuio, em duas lnguas e em

    contemporaneidades diferentes; com perspectivas e propsitos, muitas vezes,

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    tambm diferentes.

    Insistimos nessa identidade dos conceitos, tendo em conta que,exatamente como hoje, se faz, ao longo da obra de Quintiliano, clara distinoentre, de um lado, a linguagem enquanto fenmeno do psiquismo humano e,de outro lado, a lngua enquanto cdigo de expresso. Isso se pode perceber namaneira como Quintiliano desenvolve sua compreenso desses fatos. Para ele, o

    cdigo de expresso, o desempenho, isto , a copia uerborum, pode seradquirida, trabalhada, aperfeioada, dimensionada. competncia, ou seja, facilitas, embora no se permita acesso direto, possvel oferecer um ambienteem que ela se possa estimular, se orientar.

    Quintiliano elabora um manual de oratria, que, logicamente, sefundamenta em concepes pedaggicas e estratgias didticas compatveiscom as circunstncias de seu tempo. No entanto, se analisarmos essa obra luzdo conceito de defasagem, tal como formulado por BEARD e HENDERSON(1998)116, veremos o quanto prximos estamos de Quintiliano, muito mais do

    que imaginamos. Tomemos como exemplo os pargrafos 20 e 21, do captulo 2.Eles so exemplares de tudo isso que vimos falando acerca defacilitase de copiauerborum.

    Inicialmente Quintiliano prope que a tarefa de formao do orador sejaassumida sob as perspectivas das atuaes entre si complementares do

    praeceptor e do rector (deve-se ter ateno, pois o termo mesmo rector doverbo rego117: dirigir, comandar, guiar e no rhetor, professor de retrica).Obviamente, o grammaticus e o rhetor so formalmente os responsveis pelaadministrao dos contedosnoprocesso de formao do orador. No entanto,

    o que est na base dos termospraeceptore rectorno a tipificao de mais doisoutros profissionais, mas a nfase na dinmica de atuao que

    116A Antiguidade clssica um tema que existe na defasagem entre ns e o mundo dos gregos

    e romanos. As questes levantadas pelos clssicos so as questes levantadas pela distncia quenos separa do mundo delese,aomesmo tempo, pela proximidade e pela familiaridade dessemundo para ns. (20)

    117 Conforme Ernout (1951) descreve: Rego.... dirigir em linha reta. [ .... ] Sentido fsico e moral;

    em seguida, teradireo ou o comando de.

    Rego .... diriger em droite ligne [...] Sens physique et moral; par suiteavoirladirection ou lecommandemente de(1002).

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    precisa ser de ambos,grammaticuse rhetor. Em sntese, na condio depraeceptortrabalha-se a forma, atua-se no nvel do cdigo de expresso lingustica,circunstncia em que se permite preceituar, acrescentar, corrigir, mudar. Nacondio de rector, ao que forma compete a tarefa de guiar, orientar o talento, j

    que muito mais difcil moldar as prprias disposies naturais.

    (2, 20).

    Para dar a noo de unidade ao processo de formao do orador edemonstrar a necessidade de ao integrada dos profissionais que nele atuam,Quintiliano diz, em 6, 21, ille doctor. Na palavra doctorse encontram o radicaldoc-, o mesmo dedoceo118(fazer aprender), acrescido do sufixo-tor, formador

    de nomes de agente. Em sua ocorrncia, nesse contexto, oque faz aprender se aplicaigualmente apraeceptore a rector.

    Assim como avaliamos a correlaogrammaticus-rhetorepraeceptor-rector,podemos estabelecer certo paralelismo entre facilitas-copia uerborum e res-uerba(ideia-palavra). Parecem-nos sinnimos esse pares de conceitos, mas com aparticularidade de se enfatizarem nestes, res-uerba, o aspecto

    maisconcretoEntendemos. que a correlaofacilitas-respode ser explicada daseguinte maneira: no podemos ter acesso facilitas, mas podemos presumir

    sua existncia, uma vez que as ideias (res) tm existncia, isto , justamente aexistncia de ideias que permite presumir uma instncia que as produza, ouas abrigue. Uma vez considerados assim, esses conceitos res e uerba permitemque sobre a suamaiorconcretudesepossa maiseficientemente atuar.

    118Segundo Ernout (1951), doceo.... fazeraprender, ensinar;emparticular,fazrepetir uma pea (uma fala, um texto).Doceo ....faireapprendre,enseigner;emparticulierfairerpterunepice . (322).

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    Nessa relao metonmica, res a poro mais concreta da facilitas, e arepresenta. Verba, por sua vez, passa a ser a expresso material (fnica ouescrita) de uma ideia (res). Tudo isso fica ainda mais instigante, quando lemosem 1, 5 a expresso copia rerum ac uerborum (a mesma expresso com que, em

    1,61, se fala da grandeza de poetas lricos, entre os quais o poeta Horcio):nessas passagens, parece-nos fortemente evidenciada a identificao da facilitascom a copia rerum, ou seja, a competncia; copia uerborum , portanto, odesempenho.

    Com essa mesma estratgia, ou seja a de formar correlaes, setrabalham as modalidades de lngua escrita e falada. Em se tratando do orador,Quintiliano prope que escrita e fala precisam existir em perfeita interao,perfeito equilbrio (7, 29), sobretudo no que diz respeito s qualidadesfuncionais, que garantem um discurso eficiente.

    Ler e ouvir so caminhos que levam tambm facilitas. Assim, o apeloaos sentidos da viso e da audio nos induz a buscar as formas dematerialidade sobre as quais operam esses sentidos: para os ouvidos, asdeclamaes, as audincias no frum, os pronunciamentos dos oradoresmodelares; para a viso, a escrita.

    Quintiliano elege como a inteira e perfeita imagem do cdigo lingusticoescrito a palavra stilus, o que a coloca em um sentido muito distante do quehoje atribumos a estilo. Assim, stilus no metfora apenas como figura de

    linguagem, mas tambm metfora no sentido prprio que lhe atribui o gregomoderno119, pois o meio de transporte pelo qual se tira uma ideia do abstrato

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    119Quem viaja Grcia no se espante de que metfora seja o caminho-de-mudana ou da fluidez de sua sonoridade, e a conduz para ou a fixa em umsuporte material.

    Devemos considerar que ler e ouvir so vias de mo dupla, ida e volta de

    e para a reflexo, de e para a abstrao. Quintiliano procura demonstrar que, noprocesso de formao do orador essas duas modalidades de lngua tm pesoidntico, mesmo que se declare ciente de que a fala vem antes da escrita; de queo desempenho do orador no se faz de outra maneira que no atravs damodalidade falada. o que podemos constatar, de modo mais explcito, em 1,10.

    A correlao escrita e fala tambm leva a outras significativasimplicaes, que so as condies de presena e ausncia; quietude emovimento, isto , silncio e ruptura do silncio. O orador s se comprova

    existente no momento em que pronuncia seu discurso. Ele o faz rompendo osilncio e em presena dos destinatrios de seu discurso, criando-se, assim, umcenrio, em que se desenvolve uma ao performtica e onde tambm se dvida a emoes. Importa, no entanto, ressaltar que a tudo isso precede osilncio da leitura; a quietude que, no distanciamento, o ato de escrever exige.Podemos exemplificar todas as implicaes do processo de escrita atravs dapassagem 6, 3, onde Quintiliano sugere que se deva formar atravs do multusstilus uma representao at mesmo do ato de fazer reflexes.

    No se pode esquecer, ainda, de que tudo em Quintiliano est voltado

    para a construo do discurso, a ser pronunciado com as palavras que melhorconvenham a objetivos predeterminados e a circunstncias especficas. Trata-sede uma arte funcional fundada na identidade que, na oratria romana, precisaexistir entre orador e discurso.

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    A leitura do Livro X somente alcanar sua plenitude, se lidos porinteiro, no original, obviamente, os outros onze livros da Institutio. A traduoque apresentamos de apenas um livro amostra de um desafio e tambmsugesto, convite a uma degustao, nos termos em que no a aprova

    Quintiliano:

    Sejam lidos diligentemente e com o cuidado semelhante dasolicitude de quem escreve. No ser por partes que o todo haverde ser profundamente examinado: uma vez lido do princpio aofim, o livro h de ser retomado em sua inteireza. (1, 21)

    NOTAS:

    1. Os termos facilitas e copia uerborum, por abrigarem conceitos muitoabrangentes no sero traduzidos por s uma frmula genrica, maspelo sentido que mais se aproxime daquele que o contexto exija.

    Julgamos ser esse o procedimento mais adequado, sobretudo se

    considerarmos que so termos de ocorrncia numerosa e variada, como, em especial, o caso defacilitas. Esse termo aparece trinta vezes na

    Institutio e sua significao vai desde o que entendemos porfacilidadeat o mais abstrato e especfico sentido de competlingusticacia.

    2. Quanto palavra stilus, mantemos os percursos que esboamos emREZENDE (2005)

    3. Em nosso estudo terico nos referimos linguagem do texto de

    Quintiliano como uma escrita elaborada. Caracterizam essa linguagem a

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    sua tendncia a construir perodos longos, o emprego de termos tcnicosem grego e o recurso ao sentido etimolgico de grande parte daspalavras com as quais elabora os conceitos mais importantes.Poderamos falar, ento de Quintiliano como um hbil arteso da

    palavra, autor de uma linguagem refinada que, na maioria das vezes criasrias dificuldades para o tradutor.

    Nos esforamos para que o texto em portugus espelhe algumas dascaractersticas da escrita de Quintiliano. H no autor um tom carregadode sobriedade, que se alterna, muitas vezes, com requintada ironia, mas

    sem perder o arprofessoraldequesesente autoridadenoassunto.

    Sempre que possvel, construmos nossas frases o mais perto do latim,

    no entanto, com a preocupao de que no ficasse comprometida alegibilidade do texto em portugus.

    Para assegurar nossa traduo, recorremos edies francesas Garnier(S.D). e Belles Lettes (Cousin, 1979); italiana de Calcante (1997); edio inglesa da Oxford (1970); verso inglesa, internet,http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Quintilian/Institutio_ Oratoria/home.html, acessada em 11/01/2007; versoespanhola,dhttp://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/2461614110103

    894 2754491/index.htm, acessada em 15.11.2007

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    EDUCAO ORATRIA

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    TRADUO

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    I - Da riqueza de palavras

    1. Mas estes preceitos de conduta relativos ao falar, tanto quanto sonecessrios para se obter o conhecimento terico da eloquncia, no sosuficientes para formar a competncia oratria, a no ser que a eles se venha

    ajuntar uma certa facilidade inabalvel, que entre os gregos se denomina ecij .

    A esta facilidade se tem acesso pelo exerccio do escrever, prioritariamente, doler e do prprio praticar da oratria: este o caminho pelo qual, eu sei, secostuma busc-la. Caso pudssemos restringir-nos a um s desses exerccios,haveria para ns a obrigatoriedade de examin-lo muito criteriosamente.

    2. Na verdade eles formam de tal maneira um todo conexo e indiscriminvelque, se algum tiver faltado, o haver trabalhado nos demais ter sido em vo. Defato, nem slida, nem mesmo vigorosa ter sido em qualquer momento aeloquncia, se ela no tiver tomado foras ao escrever continuamente. Sem oexemplo que a leitura fornece, todo o esforo de escrita, carente de um guia,

    vaguear: todo aquele que saiba o que dizer, e de que modo haja de ser dito, seno tiver a eloquncia, em prontido e preparada para todas as eventualidades,ser algum que permanecer deitado sobre tesouros fortemente trancados.

    3. Muito embora cada um desses exerccios seja sumamente necessrio, isto nosignifica que, para se formar um orador, eles venham a se constituir os itens demxima importncia. Com toda certeza, como resida no falar o ofcio do orador,o dizer vem antes de tudo. Est claro que este foi o ponto de partida desta arte,logo em seguida a imitao e, por ltimo, o zelo de refinamento do escrever.

    4. Mas como no possvel alcanar a excelncia, a no ser por comear doprincpio, assim, to logo um processo se inicie, comeam a se tornar mnimasas coisas que vieram em primeiro lugar. Em verdade, ns no estamos aquidizendo de que maneira um orador haja de ser formado; quanto a isso, damelhor forma, ou o quanto melhor podemos julgar, j o dissemos. Em outraspalavras, queremos dizer de que maneira um atleta, que j tenha aprendido deseu treinador todas as tticas, haja de ser preparado para um embate. Assim,com essa perspectiva, instruamos aquele que j saiba identificar e organizar asideias, que j tenha alcanado a racionalidade do selecionar e do colocar as

    palavras; a ele instruamos de que modo, em um discurso, possa o melhor, o

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    mais facilmente pr em prtica tudo aquilo que j tenha aprendido.

    5. Existe, por acaso, alguma dvida de que a ele devam ser fornecidos certosrecursos dos quais se possa utilizar, toda vez que necessrio? Esses constituem-se da abundncia de ideias e de palavras.

    6. As ideias, por sua vez, so especficas de uma causa determinada, ou

    comuns a umas poucas; as palavras, no entanto, ho de estar preparadas paratodas as causas. As palavras, se fossem nicas para causas especficas, haveriamde exigir menos cuidado: sem dvida todas se apresentariam de imediato, aomesmo tempo que as prprias ideias. Mas como umas so, em relao a outras,ou mais apropriadas, ou mais adornadas, ou mais eficientes, ou melhorsonantes, todas elas devem no somente ser conhecidas, mas tambm estar deprontido, por assim dizer, sob o olhar, para que, logo que se apresentem ao

    juzo de quem as vai dizer, seja fcil a escolha das melhores entre elas.

    7. Sabemos que h pessoas acostumadas a decorar palavras de significao

    idntica, para que pelo menos uma delas, mais prontamente, esteja disponvele tambm para que, tendo-se servido de uma delas, se, por fora da repetio,em curto espao de tempo, fosse ela outra vez requisitada, se tornasse possvelservir-se de uma outra, atravs da qual se pudesse significar a mesma coisa.Entretanto, isso pueril e, de certo modo, uma ao improdutiva, pouco til,enfim. Alm do mais, de fato, amontoa-se um turbilho de palavras de que,sem discernimento, apanha-se a primeira, qualquer que seja.

    8. A ns, no entanto, cabe-nos que seja elaborado um amplo vocabulrio,fundado no mais rigoroso senso crtico; ns que pretendemos o vigor oratrio,

    no volubilidade que gira em torno de si mesma. Conseguimos isso por meiodo ler e do ouvir o que h de melhor. Por assim agir, no apenas conheceremosas palavras mais adequadas para cada uma das coisas, mas tambm qual apalavra mais acertada para cada lugar e momento.

    9. Para quase todas as palavras existe um lugar no discurso, exceto umaspoucas que, de certo modo, ferem o pudor. Sem dvida escritores de jambos121,como tambm autores da comdia antiga, so frequentemente elogiados, atmesmo pelo uso daquelas palavras. Para ns, no entanto, bastante cuidar danossa prpria atividade. Todas as palavras, exceto aquelas de que acabo de

    dizer, so timas, cada qual para um emprego especfico. Em verdade, o uso determos simples e, muitas vezes, de palavras vulgares necessrio. At mesmocertas palavras que, num contexto sublimado, parecem srdidas se mostramapropriadas, quando o assunto as exige.

    10. Essas palavras, para que as conheamos e tenhamos detalhadamentecincia no apenas de seus significados, mas tambm de sua morfologia e deseus valores mtricos, de tal forma que sejam apropriadas aos contextos em quedevam ocorrer, de nenhum outro modo as podemos apreender, a no seratravs de intensa leitura e de as ouvir, j que atravs do ouvido que

    primeiramente aprendemos a lngua. por essa razo que os bebs, por ordem

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    de reis, no isolamento criados por amas de leite mudas, ainda que haja relatosde que tivessem balbuciado algumas palavras, mesmo assim careciam dafaculdade de falar.

    Existem outros tipos de palavras que apresentam a seguinte caracterstica: detal maneira denotam, embora com sons diferentes, a mesma coisa, que nada designificao existente entre elas possa levar a um uso preferencial, como, por

    exemplo, ensis122 e gladius. Outras, no entanto, ainda que sejam palavrasdesignativas de coisas especficas, utilizadas como tropos, conduzem significao de uma s e mesma coisa, como, por exemplo,ferrume mucro.

    122O termos latinos, na ordem em que ocorrem, tm a seguinte traduo:

    Ensisespada.

    Gladius

    espada.

    Ferrum ferro.

    MucroPonta, extremidadepontiaguda.

    et pressi copia lactisuma fartura de leite prensado (para significar queijo) -Virglio, cloga

    1,81.Scio eu sei (o verbo vem sempre enunciado na primeira pessoa do presente).

    non ignoro, non me fugit, non me praeteritno ignoro, no me escapa; no mepassa ao

    longe.

    Quis nescit quem desconhece.

    Nemini dubium esta ningum restadvida.

    Intellego eu escolho pelo esprito, compreendo, alcano o conhecimento.Sentio eu sinto, experimento uma sensao.

    Videoeuvejo.

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    12. assim que, por catacrese123, chamamos de sicrios todos aqueles queprovocaram a morte com no importa qual tipo de arma perfurante oucontundente. Algumas coisas representamos por um conjunto de vrias

    palavras, como ocaso de et pressi copia lactis. Diversas outras, pelasubstituio da expresso: sciopara equivaler a non ignoro, non me fugit, nonme praeterit equis nescit enemini dubium est.

    13. permitido, ainda, servir-se, como por emprstimo, de um termo prximo:em verdade, intellego, tanto quanto sentio e mesmo uideo frequentementevalem a mesma coisa que scio. A fecundidade e a riqueza dessas palavras nosser dada pela leitura, de tal modo que as possamos usar no somente no modocomo ocorrem, mas tambm no modo como convm.

    14.

    Nem sempre aquelas mesmas palavras produzem entre si idntico sentido:assim como eu diria corretamente uideopara significar o ato de perceber pelainteligncia, no do mesmo modo eu diria intellegopara o ato de captar umaimagem pelos olhos; mucrocoloca diante de ns um gladius, mas gladiusnose nos apresenta como mucro.

    15. Mas como a riqueza de palavras assim se adquire, no somente por causa depalavras se deve ler e ouvir. Em verdade os exemplos de todas as coisas,quaisquer que sejam as que ensinamos, so, neste aspecto, mais poderosos at

    mesmo do que aqueles transmitidos pelos prprios manuais em taiscircunstncias, aquele que aprende j foi levado a compreender as coisas, semalgum para o demonstrar, e j pode caminhar com as prprias foras: o queum doutor124preceituou, o orador j ter mostrado na prtica.

    123Ver VIII,2,5e 6,34. (Catacrese uma figuraqueconsiste em utilizar-se de umtermo em sentido figurado, por falta de uma palavra de sentido prprio).

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    16.Certos aspectos do ouvir ajudam de um determinado modo, os do ler, deoutro. Pelo prprio sopro, aquele que diz excita: no pela imagem, nem pelocontorno das coisas, mas pelas prprias coisas faz inflamar. So viventes todasaquelas coisas, se agitam e, com benevolncia e solicitude, as colhemos como

    novas, tal como se acabassem de nascer. No somente pela sorte de umjulgamento somos afetados, mas tambm pelo risco125 que correm aquelesprprios que discursam.

    17.Alm de tudo isso, a voz, o desempenho elegante, comedido da pronncia,tal que sempre exige cada passagem , por assim dizer, o fator mais poderosoem se proferindo um discurso. Tudo isso igualmente, numa s palavra, ensina.Na leitura, o juzo mais acertado do que aquele que frequentemente a boa f,ou o clamor dos que louvam, arranca a cada um dos ouvintes.

    18.

    No auditrio, chega mesmo a causar constrangimento discordar e, comoque tomados de uma certa discrio, nos reprimimos de acreditar mais em nsmesmos. Muitas vezes, no somente o que vicioso agrada maioria, mastambm so elogiadas pela claque at aquelas coisas que no agradam.

    Mas, ao contrrio do que deveria ser, tambm acontece que esses juzosdepravados no sejam capazes de dar o devido valor a coisas excelentementeditas. A leitura livre, nem mesmo transcorre como o mpeto de um discursoproferido: permitido ir e voltar muitas vezes, seja porque ainda restamdvidas, seja porque tudo se queira fixar no mais profundo da memria. Seja-

    nos permitido ir e voltar, montar e remontar e, tal como os alimentos que,mastigados e liquefeitos para que sejam mais facilmente digeridos, engolimos,assim tambm a leitura no crua, mas moda repetidas vezes, e como quedissolvida, pode ser entregue memria e imitao.19.

    124O termo doutor(doc-)est aqui em sentido etimolgico: oque faz

    aprenderCf.nota3.

    125O termo latinopericulum(perigo) , nesse contexto, utilizado para significar a

    condio do orador no tribunal. O risco, o perigo se referem possibilidade deuma ao fracassada. Cf. 36.

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    20. Alm do mais, durante prolongado tempo, devem ser lidos somenteaqueles que sejam os melhores e que, de modo quase nenhum, possam enganara quem neles confia. Sejam lidos diligentemente e com o cuidado semelhante da

    solicitude de quem escreve. No ser por partes que o todo haver de serprofundamente examinado: uma vez lido do princpio ao fim, o livro h de serretomado em sua inteireza. Isto se faa sobretudo quando se trate de umdiscurso, pois suas qualidades essenciais tambm se podem ocultardeliberadamente.

    21. Com frequncia um orador prepara, dissimula, cria armadilhas: h coisasque ele diz numa primeira parte do discurso, mas que somente no final haverode ter seu proveito. Assim, agradam pouco no lugar onde se encontram, poisnos so ditas a ns que ainda no sabemos porque esto sendo ditas. Por esta

    razo que a elas se deve sempre retornar, uma vez conhecidos todos os fatosem seu conjunto.

    , com efeito, utilssimo conhecer os fatos processuais de que tratam osdiscursos que venhamos a ter em mos e, todas as vezes que for possvel, ler osdiscursos proferidos pelas partes conflitantes, por exemplo, os discursos entre sicontrrios de Demstenes e de Aeschines; os de Srvio Sulpcio, os de Messala:um discursou a favor de Aufdia, o outro, contra; de Polio e de Cssio126, sendoru Asprenate127, enfim, muitos outros mais.

    23.

    Como no levar em considerao tambm muitos discursos, ainda que semostrem dspares, mas que so corretamente requisitados para que sejamcompreendidas questes de certos processos. Assim, temos contra Ccero, deum lado, os discursos de Tubero a favor de Ligrio, de outro, os de Hortnsioa favor de Verres128. Alm do mais, seria til saber como cada um tenha, a seumodo, tratado causas idnticas: com efeito, Caldio129discursou a respeito daCasa de Ccero e Bruto, como exerccio, escreveu um discurso a favor de Milo,ainda que Cornlio Celso130, equivocadamente, pense esse discurso ter sido, defato, proferido.

    Tanto Pollio, quanto Messala defenderam os mesmos rus131 e, quandoainda ramos meninos, eram referidos como notveis os discursos deDomcio Afro, de Crisipo Passieno132, de Dcimo Llio133 em favor deVoluseno Ctulo. No convm ao leitor de pronto persuadir-se de que tenhasido perfeito tudo aquilo que os melhores autores hajam dito. Com certezaeles cometem lapsos, ocasionalmente, tambm cedem ao peso, at mesmoso indulgentes para com a volpia de seus prprios talentos; nem sempreesto de esprito atento, s vezes se mostram fatigados. Assim que aCcero134 parea Demstenes cochilar, algumas vezes; para Horcio atmesmo o prprio Homero pareceu dar seus cochilos135.

    24.

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    126 Ver IV, 2, 106e VI 1, 20(Aufidia); 113 (Polio); 116 (Cssio).

    127C. Nnio Asprenate, um amigo de Augusto, acusado por Cssio e defendido

    por Polio da suspeita de envenenamento dos prprios convidados a umbanquete.

    128Ccero defendeu Ligrio da acusao de desobedincia civil (este havia sido

    exilado por Caio Csar); o mesmo Ccero atuou contra Verres, acusado deabuso de poder e malversao

    do errio pblico, durante o perodo em que foi propretor da Siclia.

    129Provavelmente diante de algum outro tribunal. De Domo Suade Ccero foi

    pronunciado diante dos pontfices.130

    Cornlio Celso era um escritor enciclopedista. Viveu no comeo do imprio,e dele resta um tratado sobre medicina.

    131Librnia. ver IX, 2,3 4.

    132 Padrasto de Nero.

    133Provavelmente o Llio Balbo que referido em Tcito:Anais,VI, 47, 48.

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    25. Supremos, sem dvida, eles so, contudo so homens. No entanto, quelesque pensam ser lei da oratria tudo aquilo que nesses ilustres tenhamencontrado ocorre que se tornem imitadores das coisas piores - isso,inquestionavelmente, muito fcil; mais ainda, se julguem semelhantes aosgrandiosos, se lhes imitam os defeitos.

    26. Contudo, a um juzo moderado e circunspecto compete o pronunciar-se arespeito de to grandes homens, a fim de que no - isso acontece a muitaspessoas - se condene o que no se entende. Alm do mais, se necessariamenteacontece de haver enganos em um ou outro dos dois sentidos136,particularmente eu preferiria que tudo deles agradasse aos leitores, ao invs deque muitas coisas desagradassem.

    Muitssimas coisas a leitura dos poetas confere ao orador, diz Teofrasto137, enumerosas pessoas concordam com seu ponto de vista, no sem razo.

    Verdadeiramente dos poetas se busca o sopro, que vida nas ideias; a sublimidade,que se eleva nas palavras; todos os movimentos que se agitam nos afetos; acaracterizao que existe nas personagens; principalmente porque a mente,desgastada no agir dirio do frum, como que se restaura, no seu melhor, por meiodesta liberdade de tudo. Exatamente por isto Ccero138 entende que se devadescansar nesse tipo de leitura.27.

    134Deve ter constado de uma carta, hoje, perdida: cf. Plutarco Cic. 24. Quanto

    imperfe de Demstenes, ver Orator,104135

    quandoquebonusdormitat Homerus; (Ars, 359)E quando o bom Homero cochila.136

    Isto , no agradar e desagradar.

    137 Em um dos seus tratados sobre

    retrica (j perdido).

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    28. Estejamos sempre lembrados, porm, de que no em tudo os poetas devemser seguidos pelos oradores: nem na liberdade em relao s palavras, nem na

    licena das figuras. Aquela, a poesia, um gnero feito e destinado para aapresentao performtica, alm do fato de que busca apenas a deleitao. Aodeleite ela persegue pelo inventar no apenas fantasias, mas at mesmo oinacreditvel e, nessa forma de existir, ela conta ser ajudada por umassentimento favorvel.

    29. Pelo fato de estar atrelada a exigncias de preciso da mtrica, nem sempreela pode utilizar-se de palavras apropriadas: repelida do caminho direto,necessariamente percorre determinados desvios para se expressar e obrigadatanto a mudar as palavras, quanto a along-las, ou abrevi-las, desloc-las ou as

    desmembrar. Ns, por fora de uma verdade, nos obrigamos

    a estar armados, em linha de combate, e a lutar por causas supremas e a nosfirmar em uma vitria139.

    30. No meu entendimento, eu gostaria que as armas no se deteriorassem numcanto qualquer e pela ferrugem, mas que nelas fulgurasse o brilho queaterroriza, como o de uma espada140, pelo qual mente e olhar, s de ver, sedilaceram. Nelas o brilho no fosse como o do ouro e da prata, que intilnuma luta de guerra e, mais ainda, perigoso ao que os possui.

    138 Cc. Pro Arch.,12.

    139Como a ateno est voltada para a oratria forense, Quintiliano associa, com

    frequncia, os embates no tribunal com as imagens do soldado, do combate ede estratgias de guerra, das armas (neste caso as palavras). Cf. 33.

    140

    O termo latino ferrum. Cf. 11.

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    31. A histria141, por sua vez, pode tambm alimentar o orador, como se fossepor uma qualidade de seiva ricamente nutritiva e saborosa. No entanto,tambm ela precisa ser lida de tal modo que saibamos que muitas de suasespecificidades devem ser evitadas pelo orador. , seguramente, prxima aos

    poetas e, em certa medida, um poema em prosa; escrita para narrar, no paraprovar; um tipo de obra que, na sua totalidade, se compe no para oconcretizar de um fato e para um combate imediato, mas para a memria daposteridade e para a fama de uma genialidade. Sendo assim, tanto pelaspalavras pouco usuais quanto por figuras mais livres, a histria evita o tdio donarrar.32. Assim, como eu disse142, nem o famoso estilo sinttico de Salstio143paraos ouvidos abertos e eruditos nada pode ser mais perfeito h de ser percebidopor ns em um juiz ocupado de variadas reflexes e, muito frequentemente,nada erudito; nem aquela exuberncia, farta como leite, de Tito Lvio ensinar

    muito quele que no est buscando a qualidade formal de uma exposio, masbusca a credibilidade144.]33. Acrescente-se que Marco Tlio145 julga que nem mesmo Tucdides ouXenofonte sejam teis ao orador, ainda que considere aquele um cantorguerreiropelaboca deste asmusas terem faladoNoentanto,. -nos, algumasvezes, permitido servir, em nossas digresses, do brilho que h no escritohistrico, conquanto nas coisas de que aqui se vai tratar, estejamos semprelembrados de que se vai necessitar no de msculos de atletas, mas de braosde soldados. Da mesma forma, aquele traje multicolorido, que se diziaDemtrio Falreo146vestir, nunca h de cair bem para a poeira do frum.

    141A palavra historiaequivale, na Institutio, a historiografia.

    142IV, 2, 45.

    143Gaio Salstio Crispo (86-36 a.C.) Escreveu Bellum Catilinaee Bellum Iugurtinum.

    144Sobre Tito Lvio 101; A credibilidade, ou confiabilidade, deve ser um dos

    requisitos essenciais no orador.

    145As citaes de Quintiliano so Orator39 e 62. Outras referncias so: Orator.

    32 e seg.; Deorat., II, 58.

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    37. Eu creio serem muitos os que havero de exigir, j que julgamos havertanto de utilidade na leitura, que ajuntemos ao nosso tratado isto: quais sejamos autores que devem ser lidos e qual, em cada um, a virtude principal. Masanalisar todos eles, um por um, seria uma tarefa infinita.

    38. Analisemos o seguinte fato: como M. Tlio, no Brutus, tenha, em tantosmilhares de linhas, falado apenas dos oradores romanos e, no entanto, tenha-sesilenciado, excetuados Csar e Marcelo149, a respeito de todos os mais de seutempo, os quais ainda eram vivos, como haveria de ter limite, se eu meatrevesse a falar de todos aqueles que existiram depois de Ccero e, ainda, nosomente todos os oradores gregos, mas tambm os filsofos?

    39. Existiu, verdadeiramente, a famosa, acertadssima e sumria afirmao,que se encontra escrita numa carta de Lvio a seu filho150, segundo a qual

    devemserlidos Demstenes e Ccero e somente ento cada um que fossemuitssimo semelhante a Demstenes e Ccero.

    40. No h, igualmente, de ser dissimulada a essncia da nossa opinio:poucos, ou antes, um s, talvez, dentre aqueles que perpetuaram a antiguidade,eu penso poderem ser relacionados na condio de quem haja de serconsiderado de alguma utilidade para os que se dediquem reflexo. O prprioCcero confessa-se ter sido ajudado por alguns autores muito antigos, queforam engenhosos, embora carecessem de escolarizao formal.151

    Nem muito outra coisa o que sinto em relao aos novos autores. Que nmeroto pequeno de escritores pode, em verdade, ser encontrado e to demente queno tenha esperado pertencer memria da posteridade, ainda que na plidaconfiana em alguma parte de sua obra? Esse autor, se que existe algum, logonos primeiros versos ser descoberto e nos despachar antes de se constatarque o fato de t-lo experimentado aconteceu como se fosse um desperdcio detempo.

    149

    Caio Jlio Csar (100-44 a.C.), o grande general romano. Escreveu De bellogallico. Marco Cludio Marcelo, Cnsul em 51 a.C.. A respeito dele Cceropronunciou o discurso ProMarcello.

    150Essa carta se perdeu.

    151Ccero Brutus, 61-66; Orator,169.

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    42. Mas no qualquer coisa que pertena a alguma parte do conhecimentocientfico est imediatamente adequada para se elaborarem os padres e asestruturas de frase sobre as quais vimos falando. Antes que eu fale a respeito de

    cada um dos autores em particular, umas poucas coisas no geral precisam serditas quanto diversidade de opinies.

    43. Alguns, de fato, pensam que somente os autores antigos ho de ser lidos.Mais ainda, julgam que em nenhuns outros autores a eloquncia natural existe,nem vigor digno dos homens. A outros agradam esta lascvia atual, as fruiese tudo quanto se compe para a volpia da massa ignara.

    44. At mesmo dentre aqueles que querem seguir o padro do falarnaturalmente, alguns pensam sria e indubitavelmente que se deva agir

    maneira tica, isto , de forma resumida, ligeira, minimamente se afastando douso quotidiano. A outros aprisiona a sublime fora de um talento, essa foramais arrebatadora e plena de esprito. Existem ainda no poucos amantes dopadro suave, brilhante e harmonioso. A respeito destas diferenas dissertareimais diligentemente no momento em que tiver de ser investigada a natureza dodiscurso152. Neste momento tocarei resumidamente naquilo e atravs de queleitura o possam buscar aqueles que querem fortalecer sua capacidade dediscursar.

    152XII, 10, 58 e

    seg.

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    45. Tenho em mente tomar parte uns poucos - estes so, de fato, os maiseminentes. fcil, no entanto, para os que se dedicam aos estudos, decidirquais sejam os mais semelhantes a si. Nestas circunstncias, que ningum sequeixe terem sido, por acaso, omitidos aqueles que cada um, em particular,

    aprecie intensamente. Confesso serem muito mais numerosos os que devam serlidos, alm desses que sero relacionados. Neste momento, porm, persigo osprprios gneros das leituras que eu julgue especialmente convenientes quelesque se pretendem tornar oradores.

    46. Sendo assim, tal como Arato153pensa dever-se comear por Jpiter, tenhopor mim que, exatamente como um rito, havemos de comear por Homero.

    Este diz que, de certo modo, a corrente de todos os rios e de todas as fontes temseu comeo no Oceano154. Assim, ele prprio como que deu origem e serviu de

    exemplo a todas as partes da eloquncia. A este ningum superou, seja pelasublimidade nas coisas grandiosas, seja pela propriedade nas coisas simples.Ele tanto fecundo, quanto conciso, prazeroso e grave, admirvel naabundncia como na parcimnia, o mais elevado no somente por seu vigorpotico, mas tambm pela fora oratria.

    47. Sem que seja preciso eu falar, neste momento, a respeito dos panegricos,exortaes e consolaes, mas em relao ao nono livro155, em que est contida aembaixada enviada a Aquiles, ou a famosa contenda entre os chefes, no livroprimeiro, ou as sentenas proferidas no segundo, no verdade que tudo isto

    explica o conhecimento tcnico de todos os tipos de processos jurdicos e detodas as formas de aes deliberativas?

    153Arato (fim do sc. IV incio sc. III a.C.). Escreveu um poema didtico sobreastronomia, de grande divulgao, Fenmenos. A expresso

    comearporjpiterestanoincio dessa

    obra, que foi traduzida por Ccero.154

    Ilada, 21, 196.155

    Ilada, 9, 255; 1, 121-303; 2, 53-394.

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    48. Quanto ao que move a alma, seja o que h de mais doce, seja o que h deexasperador, ningum haver que se confesse ignorante de que este autor o

    tenha possudo em seu completo poder. Eia, pois, no verdade que na portade entrada de ambas as obras, em pouqussimos versos ele, no digo queobedeceu, mas constituiu a lei dos promios? Sem dvida ele torna benevolenteo ouvinte pela invocao das deusas, as quais, se acredita, presidiram aospoetas; ele o torna atento pela grandeza proposta dos temas; o torna receptivopelo essencial que, em forma de sumrio, ele condensa.

    49. Quem capaz de fazer mais sucintamente uma narrativa do que aquele queanuncia a morte de Ptroclo156? Quem capaz de fazer mais significativamenteuma exposio do que aquele que relata o combate dos Curetes e dos Etlios157?

    Sejam comparaes, amplificaes, exemplos, episdios, comprovaes de fatose de argumentos e tudo o mais de que se pode utilizar para provar ou refutar,assim, tantas so essas coisas que at mesmo aqueles que escreveram sobreessas tcnicas tenham buscado neste poeta a maior parte dos exemplos parasuas abonaes.

    Tome-se, por exemplo, uma genuna perorao: que autor ter podido igualar-se s clebres preces de Pramo, que suplica a Aquiles158? Ainda mais? Naspalavras, nas sentenas, nas figuras, na organizao da obra como um todo, no verdade que excedeu a medida do talento humano? Em consequncia disto,

    h que haver nos homens que se queiram grandes a competncia para seguir asqualidades dele, no pela emulao, pois que isso no se pode fazer, mas pelacompreenso intelectual apenas.50.

    156Ilada, 18, 18.157Ilada, 9, 529.

    158Ilada, 24, 486 eseg.

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    51. Com certeza ele deixou todos para trs, indubitavelmente longe de si emtodo gnero de eloquncia, principalmente os poetas picos, j que s dureza

    a comparao, considerando-se que trataram de matria semelhante.

    52. Ocasionalmente aparece Hesodo, e grande parte de sua obra est ocupadapor uma relao de nomes159. No entanto so teis suas sentenas que tratamde preceitos morais. digna de apreo a leveza das palavras e da composio ese lhe pode conferir a palma naquele gnero intermedirio de discurso, sobre oqual j falei.

    53. De modo contrrio, em Antmaco160 merece elogio a fora, a gravidade eseu gnero minimamente vulgar de discurso. No entanto, ainda que o quase

    consenso dos gramticos lhe atribua uma segunda colocao, seja em relaoaos movimentos da alma, ao que d prazer, organizao, enfim, arte comoum todo, ele, de tal maneira, mais fraco que se torne claramente visvel queuma coisa seja estar perto, outra, seja ser o segundo.

    Paniasis161, em matria de linguagem, pensa-se, no supera as qualidades denenhum dos dois ltimos. No entanto, julga-se que um deles, Hesodo, superado no que diz respeito temtica, o outro, Antmaco, no que se refere racionalidade de sua organizao. Apolnio162 no vem relacionado emnenhuma categoria formulada pelos gramticos, mesmo porque Aristarco e

    Aristfanes163, juzes dos poetas, no haviam includo no elenco de autoresconsagrados quem quer que, de seu tempo, ainda vivesse. Produziu uma obraque, no entanto, no desprezvel, caracterizada por um certo nivelamentomediano.54.

    159 Em especial a Teogonia.

    160

    Antmacho de Colofon (nasceu aprox. em405 a.C.), autor de uma Tebaida.

    161 Tio de Herdoto, autor de uma Heracleia.

    162Apollnio de Rhodes, autor da Argonutica. A lista a que se faz referncia

    consistiu de quatro poetas, j mencionados, acrescida de Pisandro. Ver 56.

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    55. A temtica de Arato carece de movimento, quando este significa vitalidade,de uma tal forma que nela nenhuma variedade exista, nenhum sentimento,nenhuma personagem caracterizada, nenhum discurso do que quer que seja.

    No entanto, o poeta se basta sua obra, da qual se julga altura. Admirvel emseu gnero Tecrito164, mas aquela sua musa, rstica e pastoral, fogeatemorizada no somente do frum, mas at mesmo da prpria cidade.

    56. Parece que, de todos os lados, ouo pessoas sugerirem nomes de poetas, osmais diversos. Como assim? Os feitos de Hrcules no os poetizou to bemPisandro165? Como no? A Nicandro166, foi em vo que o imitaram Macro eVirglio? Como ainda? Passaremos ao largo de Euforio167? Deste igualmente,se Virglio no tivesse provado, com certeza nunca teria feito, nas Buclicas,meno aos poemas compostos em metro calcdico. Ainda mais? sem critrio

    que Horcio subscreve Tirteu168logo abaixo de Homero?

    Alm de tudo isso, ningum, em s conscincia, se encontra to afastado doconhecimento deles que no possa transcrever nos seus prprios livros arelao dos nomes desses poetas, obtida em qualquer biblioteca. De minhaparte, nem ignoro aqueles ao largo de que passo, nem, muito menos, lhes causoqualquer dano, pois, j tenho dito169, em todos existe algo de utilidade.57.

    163 Aristfanes de Bizncio.

    164Nasceu em Siracusa (aprox. 300 a.C.). Escreveu poesia de carter buclico,mimos, hinos,

    etc.165

    Um poeta Rdio do sculo stimo a.C.

    166Nicandro de Colofon (segundo sculo a.C), autor de poemas didticos,

    Theriacae Alexipharmaca eMetamorphoses. Virglio o imitou nasGergicas; EmlioMacro, o amigo de

    Ovdio, o imitou em sua Theriaca.

    167Euforio de Chalcis (220 a.C) escreveu de modo elaborado curtos poemaspicos. Ver Ecl.10. No verso 50, atravs das palavras de Galo, Virglio fazreferncia a suas prprias imitaes

    de Euforio.

    168Ver Hor.Ars,401. Tirteu, escritor de cantos de guerra. (stimo sculo a.C).

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    58. Mas voltaremos queles, uma vez completamente desenvolvidas econstitudas as foras. Exatamente assim fazemos, com frequncia, nos grandesbanquetes: at mesmo quando j estamos saciados pelas melhores iguarias, a

    variedade dos pratos inferiores nos agradvel. Sendo assim, h tempo paratomar nas mos a elegia: dela Calmaco170 tido como prncipe; Philetas171ocupou o segundo lugar, de acordo com o reconhecimento da maior parte.

    59. Enquanto seguimos no encalo daquela, como eu disse172, facilidadeinabalvel, preciso nos acostumarmos aos melhores: no s h de ser formadoo esprito, de modo mais eficiente, por uma leitura em profundidade do quepela leitura de muitos; tambm assim h de ser externado o colorido da forma.Consequentemente, dentre os trs escritores de Jambos173, acolhidos segundo o

    juzo de Aristarco, Arquloco o nico que se pode dizer pertinente para,

    atravs dele, se alcanar aquela facilidade.

    60. Neste suprema a fora da elocuo, de tal modo que so vigorosas,algumas vezes breves, mas sempre vibrantes as suas sentenas; so dotadas demuito sangue e de nervos, a tal ponto que parea a alguns ser por defeito doassunto, no do talento, o fato de ele eventualmente se apresentar inferior a umoutro poeta qualquer.

    169 45.

    170Calmaco (sc. III a.C.) viveu em Alexandria. Escreveu, entre outras coisas,jambos e

    epigramas.171

    Filetas de Cs (290 a.C).172

    X, 1, 1.

    173Os outros dois escritores so Simnides de Amorgos e Hiponax de feso.

    Archilochus (nasceu aprox.686 a.C). Escreveu jambos e elegias.

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    61. Dentre os nove lricos174, verdadeiramente, Pndaro175 , de longe, oprimeiro na inspirao, na magnificncia, nas sentenas, nas figuras, nafelicssima riqueza de temas e de palavras, enfim, como que fosse ele umacorrenteza de eloquncia. Diante destas qualidades, Horcio176acredita que ele,

    por seus mritos, no pode ser imitado por nenhum humano.

    62. Stesicoro177, o quanto ele seja vigoroso em talento, mostram-no at mesmoas suas temticas: ele que canta as guerras mais significativas e os generais maisilustres; ele que, com sua lira, sustenta o peso da poesia pica. Ele devolve ssuas personagens a devida dignidade no agir, bem como no falar. Alm disso,se tivesse contido as medidas, ele, muito de perto, parece-me, teria podidorivalizar-se com Homero, mas redundante e difuso. Isto algo que se devarepreender, uma vez que se constitui em vcio de excesso.

    63.

    Alceu merecidamente condecorvel com Plecto ureo178, tendo em vistauma parte de sua obra, aquela atravs da qual, tendo invectivado os tiranos, atmesmo traz sua contribuio para os bons costumes. No falar, igualmentebreve e magnfico, muitas vezes semelhante, na fora de seu discursar, a umorador. No entanto, ele brincou e tambm desceu aos amores 179, ainda assimsuas aptides so compatveis com as dos maiores.

    Simnides180, por sua vez, pode ser recomendado por sua linguagem prpria epor um certo encanto prazeroso. To notvel, contudo, sua fora no que dizrespeito aos movimentos do pattico, que muitos, quanto a este aspecto, o

    coloquem frente de todos os outros de semelhantes composies.64.

    174 Os cinco no mencionados aqui so: Alcmane, Safo, bico, Anacreonte eBachlides.

    175Pndaro (518-438 a.C). Era de famlia aristocrtica. So notveis seusepigramas.

    176

    Od., IV, 2, 1.

    177Stesicoro de Himera, na Siclia, (aprox.600 a.C.), escreveu em versos lricos

    sobre diversas lendas, especialmente sobre temas ligados guerra de Tria.

    178 Hor. Od.,II, 13, 26. Alceu de Mitilene (aproxim.600 a.C).

    179Escreveu poesia amorosa de carter ertico.

    180Simnides de Cos (556-468 a.C), famoso por todas as formas de poesia

    lrica, especialmente odes funerais. Certamente Quintiliano o recomenda, tendoem vista o forma

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    como esse poeta elabora asemoes.

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    65. A comdia antiga, quase como nica, retm aquela graa pura daconversao tica, quando ento ela gozava da liberdade de falarabertissimamente; mais ainda, se ela tem como poder principal perseguir os

    vcios, mesmo assim ela guarda muitssimo de foras em outros aspectosigualmente. Ela , de fato, grandiosa, elegante e sedutora: no sei se qualqueroutra forma de literatura, depois de Homero este, assim como Aquiles, deveser tomado parte - igual ou muito semelhante aos oradores ou maisadequada para se formarem os oradores.

    66. Numerosos so seus autores, mas Aristfanes, Eupolis e Cratino181 so osprincipais. Quanto s tragdias, Sfocles foi o primeiro a traz-las ao brilho daluz. Sublime, grave e grandiloquente, muitas vezes, porm, ao excesso, masrude em muitas passagens e at mesmo desconcertado. Por esta razo os

    atenienses permitiram colocar em concurso suas peas corrigidas por poetasposteriores. Dessa maneira, muitos alcanaram a coroao.

    67. Mas, sem igual, fizeram brilhar mais claramente este gnero Sfocles eEurpides. Discute-se entre muitas pessoas qual seja melhor poeta, cada um dosdois em seu modo prprio e to dspar de dizer. Mas isto eu, em s conscincia,deixo sem julgamento, j que nada tem de pertinente com a presente matria.Existe, no entanto, um fato que ningum nega desnecessrio queles que sepreparam para a atuao forense: Eurpides, de longe, h de ser mais til.

    181Contemporneos: Cratino (519-422), Aristfanes (448-380),upolis (446-410).

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    68. O fato que, na sua linguagem, (pois a esta prpria repreendem aquelespara os quais parecem ser mais sublimes a gravidade, o coturno e a sonoridadede Sfocles) ele muito se aproxima do gnero oratrio. Ele denso em suassentenas; quase igual a filsofos sbios, naquelas sentenas que por eles nos

    foram legadas. No discursar e no replicar h de ser comparado a qualquer umdaqueles que no frum eram peritos eloquentes. No que se refere aosmovimentos da alma, em tudo admirvel; especialmente naquelesmovimentos que consistem de sentimentos de compaixo ele indubitavelmente o primeiro.

    69. A este admirou muitssimo, como sempre o testemunhou, Menandro182, e oseguiu, ainda que numa obra de natureza diferente. Menandro, segundo minhaopinio, ainda que fosse o nico a se ler diligentemente, bastaria para quefossem retratadas todas aquelas qualidades que vimos ensinando. To

    fielmente expressou toda uma imagem da vida; to copiosas eram nele ariqueza da inveno e a capacidade de falar; to perfeitamente equilibrado eleera em todas as situaes, personagens e emoes.

    Acertadamente compreenderam, segundo penso, aqueles que julgam teremsido escritos por Menandro os discursos que vieram luz sob o nome deCarsio183. Parece-me, entretanto, que ele se prova de longe melhor oradoratravs da prpria obra, se, por acaso, no se considerem as questes judiciaisque esto contidas em Epitrpontes184, Epicleros e Locroe; as reflexes que emPsophodee, Nomothete, Hypobolimaeose fazem, embora no estritamente sob todos

    os requisitos da oratria.70.

    182Menandro (342-291 a.C.), principal representante da comdia nova, juntocom Dfilo e Filmon

    183Um contemporneo de Demstenes; seus discursos no permaneceram, maseram considerados semelhantes aos de Lsias.

    184A maior parte de Epitrpontesfoi recuperada de um papiro. As outras peasse perderam. Os nomes podem ser traduzidos por: "Os rbitros," "A Herdeira,""Os Lcrios," "O Tmido," "O

    Legislador," "O Desafiante"

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    71. De minha parte, no entanto, penso que ele h de levar algo mais decontribuio aos declamadores, j que a estes necessrio, segundo a natureza

    das controvrsias, se comportarem como os mais diferentes personagens, ouseja, como pais, filhos, , maridos, soldados, camponeses, ricos,pobres, mal-humorados, suplicantes, amveis, rspidos. Em todos estes retratosa perfeita imagem admiravelmente guardada por esse poeta.

    72. Mais do que tudo isso, ele, de fato, deixou longe o nome de todos osautores de idntico gnero e, com certo fulgor de sua claridade, os lanou strevas. Alguns outros cmicos, se lidos condescendentemente, tm coisas que sepossam colher com proveito, como especialmente Filmon185. Este, de acordocom juzos tortos de seu tempo, muitas vezes foi posto frente de Menandro186,

    mas no consenso de todos os demais mereceu ser creditado como o segundo.

    A histria, muitos187a escreveram de forma admirvel, mas ningum duvida deque, de longe, h dois que ho de ser colocados frente dos demais. Suasqualidades, ainda que diferentes entre si, alcanam glria quase idntica.Denso, preciso e exigente de si mesmo, assim Tucdides188; doce, lcido eprofuso, assim Herdoto189. Aquele melhor quanto aos sentimentosarrebatadores, este quanto aos sentimentos tranquilizadores; aquele, nosembates acalorados, este, nas conversaes pacficas; aquele, o primeiro,melhor no vigor da fora, o outro, no encantamento.

    73.

    185 Filmon nasceu em Siracusa, mas obteve cidadania ateniense, (360-262);

    186 Menandro de Athenas (342-290).

    187Cc. De orat., 2, 55 e seg.

    188Tucdides (460-395 a.c.) autor de uma obra sobre a guerra do Peloponeso.

    189

    Herdoto (490-424 a.C.) escreveu sobre a guerra dos persas.

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    74. Teopompo190 o que vem logo a seguir a estes. Ele, ainda que inferior aos jreferidos, em se tratando de histria, , no entanto, muito semelhante a umorador: em verdade, ele, antes de ter-se seduzido pela atividade de historiador,

    foi, durante bom tempo, orador. Filisto191 igualmente merece ser tomado parte dos que so considerados bons, dentre a multido de autores que segueaps estes de que j falei. Foi imitador de Tucdides, mas, ainda que bastantemais fraco, de certa forma, brilhou um pouco mais pela clareza. Eforo192,segundo a viso de Iscrates, carece de umas boas esporas193. O talento deClitarco194 aprecivel, a sua credibilidade, porm, suspeita.

    75. Aps longa passagem de tempo, nasceu Timagenes195. Ele digno deaprovao pelo que se segue: restaurou como nova glorificao aengenhosidade do escrever histrias, nesse meio tempo interrompida.

    Xenofonte no me cai no esquecimento, mas h de ser considerado entre osfilsofos.

    O que se segue uma grande mo cheia de oradores. Para Atenas uma nicagerao produziu, de uma s vez, cerca de dez oradores196. Deles, de longe,Demstenes197foi o prncipe e quase a prpria lei da oratria. To grande fora,to densas nele existem todas as coisas, como que tensionadas por nervosprprios. Nada afrouxado e a justa medida do dizer tal que nele se no podeencontrar nem o que falte, nem o que redunde.76.

    190Theopompo de Chios, nascido cerca de 378 a.C, escreveu uma histria da Grcia (Helnicas)aproximadamente da guerra do Peloponeso at 394 a.C, e uma histria relativa ao

    reino de Filipe da Macednia (Filpicas). Seu mestre, Iscrates, incentivou-o a escrever histria.

    191Filistus de Siracusa, nascido cerca de 430 a.C, escreveu uma histria de Siclia. Cf. Cic. De

    orat., II, 57.

    192 Eforo de Cumas, cerca de. 340 a.C, escreveu uma histria universal. Ele era aluno de

    Iscrates.193

    Isto , de esporadas, para que se torne mais gil, mais veloz.

    194 Clitarco de Megara escreveu uma histria da Prsia e de Alexandre, de que ele era

    contemporneo.

    195Timagenes, um Srio do tempo de Augusto (fim do sc I a.C incio do sc. I d.C.), escreveu

    uma histria de Alexandre e de seus sucessores.196

    So eles: Antifone, Ecides, Lsias (aprox.403-380), a ele Ccero se refere em Brut., 35;110- Iscrates (435-338), Iseu, Demsthenes, Eschines, Licurgo, Hyprides e Dinarco.

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    77. Esquines198 muito cheio e muito profuso; tem aparncias degrandiosidade pelo fato de que menos conciso: ele tem mais de carne do quede musculatura. Doce, sobretudo, e perspicaz Hiprides. No entanto est

    melhor aparelhado para as causas menores, para no dizer, causas maisinsignificantes.

    78. Lsias, que anterior em gerao a estes, sutil e elegante: nada maisperfeitamente do que ele fez se busque fazer, se o bastante seja fazer aprender aum orador. Nada nele vo, nada rebuscado: assemelha-se mais a uma fontepura do que a um rio caudaloso.

    79. Iscrates199 brilhante e bem preparado numa forma diferente de oratria:mais adequado para a sala de exerccios do que para o combate, propriamente.

    Perseguiu, no sem razo, todas as graas sedutoras do dizer. Ele se havia, defato, preparado para as salas de audio, no para as aes do tribunal: hbil nainveno, cuidadoso do que honesto, a tal ponto diligente em sua composioque chegue a ser repreensvel no seu excesso de zelo.

    Eu, em se tratando dos autores, a respeito dos quais acabo de falar, nemconsidero aquelas as suas nicas qualidades, conquanto me paream asprincipais, nem julgo que os demais tenham sido de pouca relevncia.Como no haveria de confessar que o tambm famoso Demtrio Falreo200,ainda que tenham dito que ele primeiramente se inclinara para a

    eloquncia, foi, por sua vez, de muito talento e de notvel dom da palavra?Diante disso, pois, digno de memria, j que quase o ltimo dentre osticos201 que pode ser considerado um orador. justamente este autoraquele a quem Ccero prefere a todos os outros202, quando se trata daqueletom comedido de linguagem a que j me referi.

    80.

    197 Demstenes (384-322 a.C.). Princeps(prncipe) significa aquelequem cabe o direito de tomar

    a palavra em primeiro lugarInspirado. em suas Filpicas, Ccero comps os discursos contraMarco Antnio, tambm denominados Filpicas.

    198 Esquines (389-314). Adversrio poltico de Demstenes.

    199 Iscrates (436-338 a.C.) o orador que melhor caracteriza o estilo artificioso da oratria

    epidctica.

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    81. Dos filsofos, dos quais Ccero203 confessa haver buscado muitssimo desua eloquncia, quem duvida de que Plato foi o mais importante, seja pela suaagudez de raciocnio, seja por sua capacidade de eloquncia, que divina equase homrica? Ele se eleva muito acima da conversao linear a que os

    gregos chamaram de linguagpedestre,mtalmaneira que a mim pareainspirado no pelo talento de um ser humano, mas por um orculo dlfico.

    82. De que maneira eu poderia falar daquele charme no afetado deXenofonte204, mas que afetao nenhuma pode alcanar? As prprias Graasparecem ter-lhe modelado a linguagem e permitido, com toda justia, aplicar-se a ele o comentrio que um autor de comdia antiga205 fez a respeito dePricles: noslbios dele como que fez morada a deusa da persuaso.

    83.

    O que dizer da elegncia dos demais Socrticos? O que dizer deAristteles206, a respeito de quem fico em dvida se o considero mais brilhanteem sua cincia das coisas, na imensa quantidade de seus escritos, na suavidadede sua fala, na aguda perspiccia de suas descobertas ou na variedade de seustrabalhos207? Em Teofrasto208, o brilho do falar verdadeiramente to divinoque se diz ter ele derivado da o prprio nome!

    200 Governou Atenas como auxiliar de Cassandro 317-307: fugiu depois para o Egito, ondemorreu em 283.201de Oratore, 2, 95;Orator, 92.202Trata-se propriamente do estilo mdio. Ver Orator,92.203

    Cf. Orator,12.

    204 Xenofonte (430-355 a.C.) escreveu sobre filosofia e histria.

    205 Eupolis, Fragmento 94 K.

    206"Doce" o ltimo epteto a se aplicar aos trabalhos que sobreviveram de Arsitteles. Mas

    Dioniso de Halicarnasso e Ccero no os elogiam menos calorosamente, referindo-se,

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    84. Os velhos esticos209 trataram com menor indulgncia a eloquncia, mascomo pregaram as coisas honestas, foram de mximo valor, seja na forma deraciocinar sobre, seja na maneira de provar tudo aquilo que haviam institudo.

    No entanto, eles foram de muito mais acuidade em suas reflexes do quemagnficos em seus discursos, mesmo porque, em plena conscincia, no seafizeram a isto.

    85. Cabe-nos a tarefa de tratar dos autores romanos, estabelecendo-se idnticaordenao. E assim, tal como entre eles Homero, entre ns Virglio ter dado ocomeo, o mais auspicioso. Sem sombra de dvida, dentre todos os poetasgregos e romanos que escreveram este gnero de poesia, ele o mais prximode Homero.

    Usarei das mesmas palavras que eu, ainda jovem, ouvi de Domcio Afro210. Amim, que o interrogava a respeito de quem mais de aproximasse de Homero,ele disse: oimediatamente seguinte Virglio, no entanto, ele est muito maisperto do primeiro do que do terceiroPorHrcules,. conquanto tenhamos deceder a passagem quela Natureza Celestial e Imortal, Homero, no entanto,muito de dedicao cuidadosa e diligncia existiu em Virglio pelo fato de que oesforo de elaborao lhe foi muito mais exigido. O quanto, porm, somosinferiores em relao aos momentos em que Homero se destaca, em idntica,mas inversa, proporo somos compensados por nossa harmoniosaregularidade.

    86.

    indubitavelmente, a trabalhos que se perderam. (Este o comentrio feito na verso inglesaveiculada pela internet, citada na bibliografia).207

    Cf. Cc. Orator,172.

    208Teofrasto, sucessor de Aristteles como lder de sua escola, (322-287). Digenes Larcio

    (v.38) diz que seu nome verdadeiro era Tirtamo, mas que Aristteles o chamou de Teofrastopor causa das " qualidades divinas de seu estilo" ( ).209

    Zeno, Cleanto, Crisipo. (Sc III-II a.C.).

    210

    Domcio Afro (morreu em.59 d.C., sob Nero). Foi o orador principal do imprio de Tibrio ede seus sucessores.

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    87. Todos os demais poetas o seguem, mas de longe. , pois, assim que Macroe Lucrcio211devem inquestionavelmente ser lidos, mas no propriamente paraque se adquira a expressividade da frase, ou seja, o corpo da eloquncia. Em

    verdade, so seletivos, cada um em sua temtica, mas enquanto um maissimples, o outro nada fcil. Varro de Atax212alcanou renome justamente nacondio de intrprete213de obra alheia. Ele no deve ser desprezado, mas, naverdade, para se desenvolver a capacidade oratria ele oferece poucos recursos.

    A nio214 adoremos, tal como aos bosques que, pela sua idade, se fizeramsagrados: neles os robustos e antigos carvalhos no mais ostentam tamanhabeleza, quanta revelam em sua dimenso de religiosidade. Existem ainda outrosautores muito perto disto de que falamos e tambm muito mais teis. Lascivode verdade em seus versos hericos, Ovdio tambm excessivo

    amante do prprio talento. Mesmo assim, porm, h de ser elogiado emalgumas partes especficas215.88.

    211Macro, 56. Lucrcio (94-55 a.C.) Escreveu poesia didtica De rerum natura, obra editada

    por Ccero.

    212 Varro de Atax, um gauls, (82-37 a.C) era especialmente famoso por causa da sua traduo

    daArgonuticade Apolnio de Rodes. Ele escreveu tambm poesia didtica e pica

    histrica.

    213Significa, propriamente, tradudor. A obra traduzida a que se faz referncia Fenmenos, de

    Arato.

    214nio (239-169 a.C.) escreveu Annales, um poema pico, de que restam fragmentos. Sua obra

    inclui tragdias, stiras e poesia didtica.

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    89. Cornlio Severo216, por sua vez, mesmo que melhor versificador do quepoeta, se tivesse o seu Bellum Siculum escrito inteiramente com a mesmaqualidade do primeiro livro, poderia reivindicar para si, com justa razo, osegundo lugar. A morte prematura impediu Serrano217 de alcanar sua

    perfeio. No entanto, suas obras de juventude revelam como admirveis, paraa idade que tinha, uma ndole elevadssima e uma predisposio para otrabalho refinado de escrita.

    90. H pouco perdemos muito com a morte de Valrio Flaco218. Foi veemente epotico o talento de Saleu Basso219, mas ele no pde amadurecer, pela velhice,esse talento. Rabirio220e Pedo221no so indignos de serem reconhecidos, se sedispuser de tempo. Lucano222 ardente, arrebatado e notvel em suas reflexese, para dizer o que sinto, mais pelos oradores do que pelos poetas h de serimitado.

    215 Segundo interpreta Calcante (1977), o termo lascivo(lasciuus), neste contexto significa que

    Ovdio se utiliza de elementos elegacos na sua obraMetamorfoses, aqui indicada pela expressoversoshericos(pg.1689).

    216

    Amigo e contemporneo de Ovdio (Pont. 4, 2). Um fragmento considervel foi preservadopor Sneca Suas.vi.26. A guerra da Siclia foi a guerra com Sexto Pompeu (38-36 a.C.) e

    formou, provavelmente, uma grande parte da obra sobre a guerra civil ( Bellum Siculum). Osfragmentos sobreviventes tratam da morte de Ccero. O primus liber acima referido pode tersido o primeiro livro dessa extensa obra.

    217Nada, a no ser o nome desse poeta, conhecido. H referncia a um Serranoem Juvenal 7,80,mas no se pode afirmar que seja o mesmo de quem est falando Quintiliano.218

    Valrio Flaco (sc 1 dC.) autor de umaArgonutica, obra incompleta.

    219Nada desse poeta conhecido, a no ser que ele altamente elogiado por Tcito em seu

    Dialogus; era patrocinado por Vespasiano.

    220Um contemporneo de Ovdio. Acredita-se que o autor de um fragmento sobre a batalha

    de Actium, encontrado em Herculano.

    221Caio Albinovano Pedo escreveu um poema sobre uma viagem de Germnico ao norte da

    Germnia. Um fragmento foi preservado por Sneca: Suas., 1,14.

    222Lucano (39-65 dC.), espanhol de origem, neto de Sneca. Escreveu a Farslia(sobre a guerraentre Csar e Pompeu).

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    91. Nomeadamente relacionamos estes autores porque o cuidado das coisas domundo desviou Germnico Augusto223 das atividades literrias e porque aosdeuses pareceu ser pouco ele ser o maior dos poetas. No entanto, o que maissublime, mais sbio, o que, enfim, mais avanado alm de todas as medidas,

    do que as obras prprias, s quais, ainda jovem, se havia entregado, depois deabrir mo do poder imperial? Quem poderia cantar melhor as guerras do queexatamente aquele que as fez? A quem as deusas que presidem a estes estudosouviriam mais de perto? A quem Minerva, sua divindade familiar, revelaria,abertamente todas as suas artes?

    92. Estas coisas mais completamente os tempos futuros diro, pois nestemomento a sua glria literria est levemente obscurecida pelo brilho de suasoutras virtudes. A ns que cultuamos os ritos das letras, nos permitirs, Csar, que no passemos em silncio e que o testemunhemos atravs de um

    verso, o mais acertado, de Virglio: entreoslouros da vitria, a t i a heraserpenteante enredar.

    93. Na elegia desafiamos at mesmo os gregos. Deste gnero, a mim me pareceTibulo o autor mais enxuto e maximamente elegante. H os que preferemProprcio. Ovdio mais lascivo que os dois, da mesma forma que Galo 225 mais severo. A stira, sem dvida, inteiramente nossa. Nela, como o primeiro,Luclio226alcanou insigne glria. Ele tem at hoje admiradores to devotadosque no hesitam em coloc-lo frente no s dos autores do gnero, mas de

    todos os outros poetas.

    223 Germnico Augusto Domiciano, imperador entre 81-96 d,C. Ele se declarava filho deMinerva. Duvida-se se ele, de fato, tenha escrito qualquer poema, embora, segundo ValrioFlaco (1,12), ele teria escrito um poema sobre a guerra dos judeus. A expresso em latim donatoimperio significaria o seu gesto de entregar o imprio ao pai e ao irmo. A referncia deQuintiliano pode ser uma homenagem, uma vez que ele se incumbia da educao dos netosdesse imperador. Outras referncias em TcitoHist.,4,86, Suetnio. Dom.,2e 20224

    Ecl., 8,13.225

    Tibulo (55-19 a.C.), Propcio (49-16 a.C.), Ovdio (43 a.C. 18 d.C.), Cornlio Galo (69-26

    a.C.), o amigo de Virglio, e, em seu tempo, o mais destacado escritor de elegias em Roma. Cf. 56.

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    94. Eu mesmo discordo tanto destes quanto de Horcio227, que consideraLuclio um lodoafluir lentodeleexistiremcoisasquese podem suprimir.De verdade, nele admirvel a erudio, a liberdade e, em consequncia, a

    aspereza de linguagem e a mordacidade abundante. Muito mais enxuto e maispuro, e se no me deslizo em razo do amor que tenho por ele, Horcio oprimeiro. Prsio228, ainda que por um nico livro, foi de grande mrito e deglria verdadeira. Existem ainda hoje autores, que so notveis e que, um dia,sero renomados.

    95. Existiu ainda, bem antes, um outro gnero de stira, mas que secaracterizava por ser mais do que um misto de metros variados. TerncioVarro229, o homem mais erudito dos romanos, foi quem o fundou. Ele compsdiversos livros, sapientssimos. Ele foi o mais versado na lngua latina e o maior

    conhecedor de toda a antiguidade no s em relao s coisas gregas, mastambm no que diz respeito s nossas coisas. Entretanto, ele h de ser melhorrelacionado com a cincia em geral do que especificamente com a eloquncia.96. O jambo no foi, para dizer a verdade, praticado pelos romanos como umaforma de composio com identidade prpria, mas foi posto como parte, nomeio de outras medidas de verso230. O seu azedume pode ser encontrado emCatulo, Bibculo231 e Horcio, mesmo que neste ltimo o epodo232 tenha sidointercalado aos jambos. Mas, dos lricos, o mesmo Horcio praticamente onico digno de ser lido. Sem dvida alguma ele se sobreleva, em determinadosmomentos, cheio de encantamento e graa, variado nas figuras, fecundamente

    ousado nas palavras. Se se queira acrescentar mais algum, este Csio Basso233,que, no faz muito tempo, nossos olhos ainda viam, no entanto, o talento dosque hoje vivem, de longe, o precede.97.

    226Luclio (morto em 102 a.C.) escreveu cerca de 30 livros de stiras em metros variados; restam1300 versos.227

    Sat., I, 4, 11.228

    Aulo Persio Flaco (34-62 d.C.). Escreveu seis stiras, publicadas postumamente por Csio

    Basso. Cf. 96.

    229 Terncio Varro (116-27 a.C.). A referncia s suas Stiras Menipeias, de que somentesobrevivem alguns fragmentos. So, no entanto, imitaes do trabalho do grego Menipo deGadara.

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    99. Na comdia ns claudicamos, de todo jeito, ainda que Varro diga,segundo sentena de lio Estilo237, que as Musas haveriam de ter usado a

    linguagem plautina238, se quisessem falar latim; ainda que os antigos tenhamexaltado Ceclio239 com todos os elogios; ainda que escritos de Terncio sejamatribudos a Cipio Africano esses escritos so os mais elegantes no gnero eat mesmo haveriam de ter muito mais de encantamento, se tivessempermanecido nos limites dos versos trmetros.

    100. Mal conseguimos lanar tnue sombra ,mesmo porque a prpria lngua romana no me parea receber aquela graa dosol concedida aos ticos. Em verdade, nem mesmo os gregos a puderam ter emqualquer outra variante da lngua. Afrnio foi excelente na togata240: oxal, ru

    confesso dos prprios costumes, ele no tivesse conspurcado as intrigas de suaspeas com pederastias abjetas.

    Mas a histria no ter feito concesses apenas aos gregos. Muito certamentenem eu teria qualquer receio de contrapor Salstio a Tucdides, nem mesmoTucdides se indignaria pelo fato de a si ser igualado Tito Lvio241. Este, em suaexpresso narrativa, de admirvel encanto, de brilho fulgurante; em seudesempenho nas assembleias pblicas eloquente, muito alm do que se podedescrever. Assim, tudo que dito vem na medida certa dos fatos e daspersonagens. Quanto aos afetos, sobretudo aqueles que so os mais doces,

    ningum, para dizer com sobriedade, dentre os historiadores melhor ossublimou.101.

    237O primeiro filollgo romano (144-70 a.C). Foi professor de Ccero e Varro. Dedicou-se s

    obras de Plauto e comentou o Carmen Saliare.

    238Tito Macio Plauto (250-184), o mais produtivo e consagrado autor latino de comdias. Dele

    restam 21 peas consideradas autnticas.

    239

    Ceclio Estcio (219-166 a.C.); Lcio Afrnio (nasceu aprox. 150 a.C.). De Ceclio e Afrniorestam apenas fragmentos. Afrnio escreveu comdias de temtica romana, mas tendo pormodelo o grego Menandro. PblioTerncio Afro (185-159 a.C.), comedigrafo de refinado sensoesttico, de quem restam 6 peas.240

    Gnero de comdia latina, que pretendia substituir a comdia imitada dos gregos.

    241 Tito Lvio (59 a.C. 17 d.C.) escreveuAb Vrbe Condita.

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    102. Por estas razes, ele alcanou, ainda que por virtudes diferentes, aquelaveloz agilidade da escrita de Salstio, a qual nunca h de morrer. Em verdade,me parece que Servlio Noniano242disse, de maneira muito pertinente, que eles

    so pares, so muito mais do que semelhantes. J pudemos ouvir, em pessoa,este mesmo Servlio, homem brilhante no talento e substancioso em suasreflexes, menos conciso, no entanto, do que exige a autoridade da histria.

    103. Aufdio Basso243, que pouco o precedia na idade, superou, de mododestacado no gnero, essa autoridade, sobretudo em seus livros sobre a guerrada Germnia. Digno de aprovao em tudo, ele foi, no entanto, menor,consideradas, em determinadas passagens, as suas potencialidades.

    Ainda vive e honra a glria do nosso tempo um homem digno de ficar na

    memria244. Este ter, um dia, seu renome, assim agora se entende. Tem seusadmiradores, no imerecidamente, a independncia de Cremcio245, emboratenham sido suprimidas todas as partes que, diz-se, o haviam prejudicado. Noentanto, pode-se depreender, mesmo no que dele resta, um esprito sumamenteelevado e reflexes ousadas. Existem ainda outros bons escritores, masestamos fazendo um diagnstico de gnero, no espremendo bibliotecas.104.

    242

    Amigo de Prsio e famoso como orador, recitador e historiador; morreu em 60 d.C.243

    Ele escreveu uma histria do imprio, que comearia a partir da poca de Csar. O trabalhosobre a guerra da Germnia era, provavelmente, uma obra parte.

    244Provavelmente, Fbio Rstico, citado em Tc. Agr., 10. Certamente esta passagem no se

    refere aTcito, pois ele seria ainda muito jovem a esse tempo, para ser mencionado com taispalavras.

    245Cremcio Cordo escreveu uma histria sobre as guerras civis e sobre reinado de Augusto.Ele foi acusado por causa do seu elogio a Bruto e Cssio; cometeu suicdio em 25. d.C. Foi elequem chamou Cssio "o ltimo de todos os romanos."

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    105. Os oradores nossos podem especialmente fazer a eloquncia latina emparmetros de igualdade com a grega. Sem nenhuma hesitao eu oporia

    Ccero a qualquer um dos oradores deles. No ignoro a tamanha reao que eususcite contra mim, sobretudo porque no esteja em questo isto: que, nestemomento246, eu o compare a Demstentes. Em verdade, nem julgo isso serpertinente, pois considero que Demstenes, antes de todos, h de ser lido ou, depreferncia, guardado de cor.

    106. Particularmente avalio que as virtudes deles, em sua grande maioria, sosemelhantes, ou seja, a prudncia247, a organizao, os mtodos de diviso, depreparao e de comprovao, enfim, todos aqueles elementos que dizemrespeito inveno. No desenrolar da fala existe alguma diferena: aquele,

    Demstenes, mais denso, este, Ccero, mais copioso; aquele tece suasconcluses de maneira mais estrita, este com mais amplido; aquele combatesempre com o aguilho, este, reiteradamente, a toda carga; quele nada se podesuprimir, a este nada se pode acrescentar. Naquele h um zelo maisracionalizado, neste sobressaem-se os dotes naturais.

    Ns superamos tanto na mordaz perspiccia quanto no provocar acomiserao, estas so as duas qualidades que mais tm valia, quando se tratados movimentos da alma. Muito provavelmente o costume especfico de suacomunidade privou248 Demstenes das peroraes, mas tambm a ns a

    prpria natureza interna da lngua latina249nos permitiu muito menos aquelasqualidades que os ticos tanto admiram. No que diz respeito a cartas - que emverdade existem escritas deles dois - ou a dilogos - aquele no escreveu umsequer - nenhuma rivalizao existe.107.

    246Ver XII, 1, 14 eseg.; tambm XII, 10, 12 eseg.

    247 O termo latino consilium, que, no orador, indica a capacidade de definir as estratgias dedefesa.

    248Quintiliano se refere a uma suposta lei, em Atenas, que proibia apelos emoo.

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    108 H que ceder, com toda certeza, nisto: Demstenes existiu primeiro e emgrande parte tornou Ccero da grandeza que este . A mim seguramente pareceque Marco Tlio, tendo-se entregue de todo imitao dos gregos, conseguiu

    externar a fora de Demstenes, a copiosidade de Plato, o encantamento deIscrates.

    109. No apenas alcanou, pelo estudo, o que houve de melhor em cada umdestes autores, mas ele, a fecundidade sagrada de um gnio que no h demorrer, tirou de si mesmo quase todas, ou melhor, todas as excelncias. Nopropriamente aschuvas do cu,como diz Pndaro250, elerecolhe, mastransborda em vivo turbilho,pois,nascido como dom da providncia, nele aprpria eloquncia experimentaria todas as suas foras.

    110.

    E assim, pois, quem pode fazer aprender mais diligentemente, mover commais veemncia? Para quem, um dia, existiu tamanha capacidade deencantamento? At mesmo as coisas que ele faz sair com violncia do aimpresso de que as obtm pela splica; quando, por acaso, pela suacompetncia ele arraste um juiz para uma deciso contrria, este parece no serlevado fora, mas parece secund-lo.

    249Quintiliano j havia, no 100, manifestado essa preocupao com a diferena entre as duas

    lnguas, o que ser retomado em X, 5, 3 e XII, 10, 27250Pndaro, Olmpicas, 11, 1 e seg.

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    111. Em tudo o que ele diz h to grande autoridade, que no concordar constrangedor. Essa autoridade carrega no o empenho de um advogado251,mas a credibilidade de um testemunho ou de um juiz. certo que todas essasqualidades, das quais uma nica s pode ser alcanada por um outro qualquer

    com intensssima dedicao, fluem naturalmente para ele, enquanto que umdiscurso, do que nada se ouviu de mais belo, leva a facilidade mais fecunda.

    112. Diante de tudo isso, merecidamente, por todos os homens de seu tempo,se disse que ele reinou nos tribunais. Junto dos que vieram depois dele,aconteceu que CICERO no mais seja considerado o nome de um homem, maso da eloquncia. Que o tenhamos diante dos olhos; nele nos seja proposto oexemplo; que tenha a certeza de haver feito progressos aquele a quem Ccerotiver agradado.

    113.

    Em Asnio Polio252 digna de nota a inveno, supremo o cuidado deelaborao, a tal ponto que a alguns parea excessivo; nele h bastantecapacidade de elaborar um julgamento, como tambm bastante de vivacidadede esprito. Mas anda longe do brilho e do encantamento de Ccero, a tanto quepossa parecer anterior a este em uma gerao. sua vez, Messala253 brilhantee claro e, de certa maneira, naquilo que diz destaca-se a sua nobreza; noentanto, menos vigoroso.

    Nenhum outro dentre os romanos, a no ser Caio Csar254, se ele tivesse podidodedicar-se unicamente ao frum, poderia ser relacionado como rival de Ccero.

    Nele h to grande vigor, to refinada sutileza, to gil arrebatamento queparea ter ele escrito os seus relatos com disposio idntica quela com que fezas suas guerras. Enfeita estas maravilhas todas a elegncia de uma linguagem, qual se dedicou ardorosamente.114.

    251No perodo republicano, aduocatusera um amigo que dava assistncia na formulao deacordos no decorrer de um processo; no imprio se equipara a umpatronus.

    252Asnio Polio (75 a.C.- 4 d.C.), o amigo de Virglio, distinguido como poeta, historiador e

    orador.

    253 Marco Valrio Messala Corvino (64 a.C- 8 d.C.), o amigo de Tibulo e distinguido como

    orador. Foi cnsul em 51 a.C.254

    Sobre a eloquncia de Csar: Cc. Brut., 251-262; Suetnio. Caes., 55.

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    115. H em Clio255 um talento grandioso e, sobretudo quando atua naacusao, um notvel esprito de urbanidade. Foi um homem merecedor de quelhe tivessem tocado uma mente amadurecida e uma vida mais longa. Encontrei

    quem antepusesse Calvo256a todos os outros; encontrei quem fosse da mesmaopinio que Ccero quanto ao fato de Calvo haver perdido a sua verdadeiraidentidade ao estabelecer contra si prprio um excessivo rigor crtico. Mas o seudiscurso sagrado e grave, sofridamente elaborado e, com frequncia,veemente tambm. imitador dos ticos e sua morte repentina foi-lhe comouma injria, se consideramos que ele viveu como quem haveria de acrescentara si, e no como quem haveria de ser detrator de si mesmo.

    116.Tambm Srvio Sulpcio257mereceu, com toda justia, insigne fama pelosseus trs discursos. Muitas coisas dignas de imitao poder oferecer Cssio

    Severo258, se lido com senso crtico. Ele haveria de ser colocado entre osprincipais, se tivesse acrescentado s demais qualidades o colorido e agravidade do discurso.

    Nele h muitssimo de talento e, alm disso, uma admirvel agudez, senso deurbanidade e linguagem de conversao, mas cedeu mais invectiva malhumorada do que deliberao judiciosa. Alm de tudo isso, a tal ponto soamargos os seus ditos mordazes, que, muito frequentemente, essa amargura setorna motivo de riso.117.

    255M. Clio Rufo (88-48 a.C.), defendido por Ccero e citado em Brut.,273. Assassinado em 48

    a.C, cf.IV, 2, 123; VIII, 6, 53.

    256Gaio Licnio Calvo (82-47 a.C.) fez parte do movimento poetae noui. Aparece referido em Cc.

    Brut., 283.

    257Srvio Sulpcio Rufo, o maior jurista da poca de Ccero, cf: De orat., I, 132 e III, 46,; Brut.,

    106, 203, 306.

    258 Cssio Severo (morreu em34 d.C.) havia sido banido por Augusto por conta de seus escritos

    insultuosos.

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    118. Existem ainda muitos outros de grande capacidade expressiva, mas umlongo percurso descrev-los todos. Dentre os que tenho conhecido DomcioAfro e Jlio Africano259, de longe, so os primeirssimos. Aquele h de ser

    colocado frente na arte da palavra e na oratria como um todo. Pode-se, semtemor, relacion-lo no nmero dos antigos. Este mais arrebatador, masexagerado no cuidado das palavras; quase sempre muito delongado nas suasestruturas de frase e pouco comedido nas correlaes metafricas.

    119. Continuaram a existir talentos notveis at h pouco tempo. assim quese pode considerar Tracalo260, que foi em quase tudo sublime e bastante claro.Acreditar-se-ia ele pretender a perfeio, no entanto, foi maior quando eraouvido. Na verdade a plenitude de sua voz era tamanha que nenhuma igual euconheci; a sua dico at mesmo poderia resistir a encenaes teatrais e sua

    elegncia, enfim, tudo que diz respeito a qualidades exteriores lhe veio emprofuso. Vbio Crispo261foi harmonioso e agradvel; poder-se-ia dizer nascidopara a deleitao, no entanto, foi melhor nas causas particulares do que nosassuntos pblicos.

    Jlio Segundo262, se uma idade mais longa lhe tivesse sido concedida, haveriade ter junto aos psteros um nome de orador seguramente clarssimo. Ele teriaacrescentado, de fato j vinha acrescentado, s suas outras qualidades tudoaquilo a que se pode aspirar, ou seja, que ele fosse muito mais combativo; que

    volvesse o seu olhar, com mais frequncia, da elocuo para o refinamento dasideias.120.

    259Jlio Africano, um gauls que se tornou famoso no reinado de Nero. Cf. Tc. Dial., 15.

    260M. Galrio Tracalo (cnsul em 68 d.C.). Cf.XII, 5, 5.

    261Vbio Crispo, um delator no reinado de Nero, morreu aproximadamente em 90 d.C., depois

    de ter conquistado uma grande fortuna. Cf.Tc.Hist., 2, 10; Dial. 8.

    262Jlio Segundo (morreu em 88 d.C.), um orador distinguido no reinado de Vespasiano. Um

    dos interlocutores no Dialogusde Tcito, de quem havia sido mestre.

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    121. Interceptado na vida, quando ainda era produtivo, mesmo assim ele podereivindicar uma posio significativa, tal sua capacidade de falar, to grande agraa em desenvolver o que ele queira dizer, to lmpida, leve e encantadora a

    natureza de seu discurso, to perfeita a adequao daquelas palavras que eleemprega por metforas, to pertinente a significncia naquelas que ele busca demodo ousado.

    122. Tero aqueles que ho de escrever depois de ns acerca dos oradores,verdadeiramente um grande motivo de elogiar os que neste momento seencontram em atividade: h, com certeza, nestes em que hoje o Frum seilustra, os mais elevados talentos. De fato, como advogados j consumados elesno somente podem rivalizar-se com os antigos, mas tambm a intelignciacriativa dos jovens que tendem para as coisas superiores os imita e os segue.

    123. H que se dizer ainda a respeito dos que escreveram sobre filosofia. Nestegnero so pouqussimos os que at aqui as letras romanas produziram comoeloquentes. O mesmo Marco Tlio, que se sobressaiu em todos os campos deatuao, tambm neste gnero pode ser considerado um rival de Plato.Verdadeiramente destacado e muito mais avanado que em seus discursos,Bruto263 pde dar sustentao ao peso de suas ideias. Pode-se perceber que elesente o que diz.

    124. Cornlio Celso264, um seguidor dos Sxtios265, escreveu, no do modo

    resumido, muitas coisas. Estas no sem os devidos trato e brilho. Plauto266,dentre os esticos, til para o conhecimento das ideias. Dentre os epicuristas,Ccio267 leve, pelo menos, mas um autor no desagradvel.

    125. Deliberadamente deixei Sneca parte de todo gnero de expressolingustica, em decorrncia da opinio falsamente divulgada, segundo a qual seacredita que eu o queira condenar e at mesmo t-lo por detestado. Isto acabouacontecendo a mim, na circunstncia em que me lanava, com toda fora, achamar para um julgamento mais severo um gnero de discurso corrompido eaviltado por todos os tipos de defeitos. Naquele momento quase que

    exclusivamente Sneca esteve nas mos dos adolescentes.

    Eu no me esforava completamente para lan-lo de todo fora, mas noconsentia que ele fosse colocado frente de outros mais vigorosos, aos quais eleno desistia de atacar. Ele tinha conscincia de que a forma de eles escreveremera diferente da sua. Sendo assim, ele no confiava que pudesse, pela prpriamaneira de dizer, agradar aos leitores a quem esses outros autores agradavam.Os adolescentes, porm, amavam-no mais do que o imitavam; dele andavammais abaixo, na mesma proporo que ele descia dos antigos.126.

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    263Bruto, omitido da lista de oradores de Quintiliano, era um seguidor das escolas Estica e

    Acadmica. Ele conhecido por haver escrito trabalhos sobre a Virtude, a Moral e sobre aPacincia. Cf. Tc. Dial.,21

    264Um escritor enciclopedista, viveu sob Augusto e Tibrio. Seu tratado sobre medicina ainda

    existe. Ele escreveu tambm sobre oratria, e, no raramente, citado por Quintiliano.

    265

    Os Sxtios, pai e filho, foram filsofos pitagricos, do tempo de Augusto; tinham tambmcerta tendncia para o estoicismo.

    266Nada se sabe a respeito desse escritor, que aparece referido por Quintiliano tambm em II,

    14, 2, eIII, 6, 23.

    267Um contemporneo de Ccero, que fala sobre este com certo tom de desprezo. Ele escreveu

    um De rerum naturae um De summo bono.

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    127. Haveria de ser desejvel que os jovens se tornassem iguais, ou pelo menosprximos daquele homem. Mas ele agradava por causa unicamente de seus

    vcios e somente a estes cada um se voltava para modelar aquilo de que fossecapaz. Em consequncia disso, como contassem vantagem de dizer do mesmomodo, difamavam Sneca.

    128. Dele existiram, por outro lado, muitas e gr