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    A DANA CRIATIVA E O POTENCIAL CRIATIVO:DANANDO, CRIANDO E DESENVOLVENDO

    CARMEM ARCE1GABRIELA MAVIGNIER DCIO2

    RESUMO: Este artigo apresenta o embasamento terico e os resultados de uma pesquisa

    voltada para o desenvolvimento humano, utilizando os conceitos de desenvolvimento

    descritos por Vygotsky e Piaget, e aprimoramento do Potencial Criativo a partir da aplicao

    do conceito de Dana Criativa, reforando a idia de que a arte da Dana vai muito alm de

    festividades e complemento educacional.

    PALAVRAS-CHAVE: Dana, Desenvolvimento, Criatividade, Dana Criativa.

    ABSTRACT: This article presents the basement theoretical and the results from a research

    round about to the development human, by using the concepts of development description for

    Vygotsky and Piaget, and upgrading of the Potential Creative the part from application of the

    concept of Creative Dancing, reinforced the idea of what the art from Dance goes a good deal

    in addition to festivities and complement educational.

    KEY-WORDS: Dance, Development, Creativity, Creative Dancing.

    INTRODUO

    A partir do momento que se tem a dana como atividade contnua durante a vida,

    obtm-se inmeros benefcios fsicos e psicolgicos. Pode-se observar certa acomodao no

    ensino de dana, deixando a arte de lado e partindo para a recreao ou apenas preenchimento

    de horrios na grade escolar. necessrio propor reflexes sobre as possibilidades do ensino

    1 Carmem Arce. Graduada em Licenciatura Plena em Educao Fsica pela Universidade Federal do Amazonas,UFAM;Docente do curso de Dana da Escola Superior de Artes e Turismo-ESAT, da Universidade Estadual do Amazonas.

    Orientadora do Projeto. E-mail: [email protected] Universidade do Estado do Amazonas, Escola Superior de Artes e Turismo. Graduada em Dana. E-mail:[email protected].

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    de dana, novas formas de trabalho, de abordagem e a busca por diversas alternativas de

    atuao dos professores de dana.

    Uma das abordagens que possibilita novas metodologias de trabalho com a dana a

    dana criativa, sendo este, um conceito que visa interao professor/aluno, onde criam

    juntos sua prpria forma expressiva e a comunica com o mundo da dana. O professor deve

    ser alm de educador, um intermediador do processo dana/arte, onde o prazer pelo

    movimento e pela interao do corpo e da mente se torna evidente, numa tentativa de fazer de

    um aluno, um interprete do movimento.

    Assim, a presente pesquisa aplicou a Dana Criativa para aprimorar o potencial

    criativo em crianas de 9 a 12 anos (III ciclo municipal), descobrindo como a Dana Criativa

    pode influenciar no potencial criativo, impulsionando o ser criador do aluno, desenvolvendo

    as possibilidades do movimento como expresso criativa.

    Vigotski apud Bock, (1995), constata que todos somos portadores da energia criativa,

    que se concretiza atravs das nossas interaes com o meio scio-cultural, no sendo uma

    simples determinao biolgica, permite-nos tratar a criatividade como uma possibilidade a

    ser construda com/atravs das aulas de dana.

    Neste estudo identifica-se s repercusses do aprimoramento do potencial criativo nos

    nveis de desenvolvimento Humano descrito por Vygotsky e Piaget, por entender a

    importncia dos conceitos destes dois cientistas, grandes estudiosos no quesito de

    desenvolvimento humano.

    A importncia dessa pesquisa consiste em ampliar o referencial dos estudos na rea de

    dana como educao e participao no processo evolutivo das crianas. No apenas a

    pesquisa para a criao coreogrfica que carece de incentivos, mas tambm a pesquisa que

    produz reflexo, discusso, conhecimento e contedos tericos.

    A DANA E SEUS BENEFCIOS

    Sabemos que o exerccio fsico essencial para a sade, mas tambm necessrio

    trabalhar a sade mental, emocional e psicolgica. A dana proporciona essa integrao entre

    corpo e mente.

    Danar, sentindo e pensando, vivenciar uma maior conscincia do sentido e

    da toro dos ossos, do movimento das articulaes, das cinturas escapular e

    plvica e da relao entre ambas, do tnus e deslizamento muscular, da

    sensibilizao da pelve. Danar trabalhar com transferncia de apoios, com a

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    percepo do peso, da direo, com micro e macro movimentos, com alterao de

    planos, de intenes, de intensidade. (CALAZANS, et al (coord), 2003, P.34)

    A dana estimula a criatividade e a memorizao. Ao praticar a dana, somos

    induzidos a entrar em contato e nos interessarmos por essas outras artes. Atravs delas,conhecemos fatos, narraes, histrias e costumes da humanidade acerca da evoluo, de

    outras culturas.

    A dana trabalha a coordenao motora, agilidade, ritmo e percepo espacial;

    Desenvolve a musculatura corporal de forma integrada e natural; Permite uma melhora na

    auto-estima e quebra de diversos bloqueios psicolgicos; Possibilita convvio e aumento do

    rol de relaes sociais; Torna-se uma opo de lazer.

    Na vida da criana, atualmente, a dana deixou de ser somente uma formao artstica,e, passou a fazer parte do seu desenvolvimento como ser humano consigo mesmo, com o

    outro e com seu meio.

    Na fase de iniciao do aprendizado, seja qual for o estilo de dana escolhido, h

    necessidade que as aulas possuam um carter ldico e bem dinmico para que as aulas se

    tornem, antes de tudo, algo prazeroso. E ao mesmo tempo, sero trabalhados itens bsicos e

    necessrios para que, gradativamente, as exigncias tcnicas vo aumentando, pois a dana

    proporciona o conhecimento do corpo, noes de espao e lateralidade, a princpio.

    ENSINO APRENDIZAGEM EM ARTE-DANA-EDUCAO: NOVASABORDAGENS

    Embora a dana seja reconhecida pelo Ministrio da Educao como um curso

    superior com diretrizes prprias desde a dcada de 1970, sua fiscalizao feita por

    profissionais formados em sua maioria na rea de teatro e/ou educao. Na educao bsica,

    isto , nas escolas de ensino regular, ela costuma ser vista como contedo da Educao Fsica,fato claramente indicado nos Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) da rea dessa

    disciplina.

    [...] Embora em muitos pases ela j faa parte do currculo escolar

    obrigatrio h pelo menos dez anos, no Brasil, a sua presena oficial (curricular)

    nas escolas, na maioria dos Estados, apresenta-se como parte dos contedos de

    Educao Fsica (prioritariamente) e/ou Educao Artstica (quase sempre sob o

    ttulo de Artes Cnicas, juntamente com o Teatro). No entanto, a Dana aindapredominantemente contedo extracurricular, estabelecendo-se de formas diversas:

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    grupos de dana, festivais, campeonatos, centros comunitrios de arte. (BRASIL,

    1998, p.27)

    Embora as Diretrizes situem a dana como uma das linguagens do ensino de arte nas

    escolas, ela apresentada ora como complemento das aulas de msica, sobretudo quando se

    estudam as manifestaes populares, ora como contedo da Educao Fsica, quando aparece

    nas comemoraes cvicas do calendrio escolar. Quando a dana finalmente oferecida no

    ambiente escolar como uma atividade em si, aparece como disciplina optativa de carter

    extracurricular.

    A pesquisa da dana na educao, no somente como arte, recente, uma vez que

    somente agora os Parmetros Curriculares Nacionais observaram a importncia da Dana nos

    currculos educacionais.

    Havia citado anteriormente que as aulas de dana acontecem geralmente comoatividade extracurricular nas escolas de ensino bsico. As atividades costumam ser realizadas

    no horrio oposto ao perodo regular de aulas, Para os adolescentes dos cursos noturnos, as

    atividades so geralmente oferecidas aos sbados.

    Estudos realizados nos ltimos anos tm apontado que essas aulas so oferecidas como

    parte integrante de projetos apresentados s escolas, de onde advm seu carter

    extracurricular. Trata-se de projetos isolados, frutos de iniciativa pessoal, seja de um

    professor da escola, seja de um aluno (j danarino ou que estuda dana em cursos livres) quealmeja criar um grupo de dana no ambiente escolar.

    Analisando brevemente o teor desses projetos, pode-se perceber a amplitude de

    propostas. Havia objetivos que iam do simples criar um grupo de dana para se apresentar

    nas festas da escola e da comunidade ao complexo libertar o mundo com a dana.

    Outros projetos utilizavam termos cientficos para justificar de forma mais

    convincente a importncia da dana na escola, como proporcionar o desenvolvimento

    afetivo, cognitivo, social e psicomotor das crianas, objetivo este sendo utpico quando noh tempo adequado para a pesquisa, ou ento aumentar sua auto-estima e suas capacidades

    expressivas e criativas. Havia ainda os projetos que objetivavam reforar pela dana os

    contedos de outras disciplinas, como matemtica (estudos das formas geomtricas com o

    corpo), portugus (estudo das letras do alfabeto, fruio do movimento), entre outros.

    Evidenciam-se nesses objetivos dois extremos. De um lado, a concepo romntica da

    dana, isto , a dana como salvadora dos males do mundo, e, na outra ponta, uma

    concepo concreta e utilitria de dana a dana como ferramenta para os desenvolvimentos

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    motor, psicolgico, social e afetivo, ou para a apreenso direta de conceitos de outras

    disciplinas.

    Existem em algumas escolas projetos mais bem estruturados e conduzidos por pessoas

    mais esclarecidas, com uma preocupao educativa que foge do assistencialismo. So projetos

    com objetivos claros e organizados a partir de um dilogo entre escola, comunidade e

    coordenao.

    Tm-se projetos de bal clssico, de dana contempornea, de capoeira, de danas

    brasileiras, de dana - criativa, servindo a diferentes expectativas e atingindo diferentes

    pblicos. O sucesso desse tipo de iniciativa se apia justamente no dilogo, em que o

    proponente ouve a comunidade e adapta os anseios do grupo proposta almejada de ensino de

    dana.

    Com os contedos especficos da Dana (habilidades de movimento,

    elementos do movimento, princpios estticos, histria, processos da dana), os

    alunos jovens podero articular, relacionar e criar significados prprios sobre seus

    corpos em suas danas no mundo contemporneo, exercendo, assim, plena e

    responsavelmente sua cidadania. (BRASIL, 1998, p.71)

    CRIATIVIDADE E SUAS MANIFESTAES

    Em nossas palavras, Criatividade a expresso de um potencial humano de realizao,

    que se manifesta atravs das atividades humanas e gera produtos na ocorrncia de seu

    processo. Devemos acrescentar que atravs da atividade criativa, os seres humanos alcanam

    uma conscincia sobre suas potencialidades, desvendam a condio genuna de sua liberdade

    pessoal e edificam sua autonomia, uma vez que atravs da criatividade, o homem existe e

    evolui, se expressa e, modela parcelas de realidade do universo das infinitas possibilidades

    humanas.Miel (1972) acredita que a criatividade qualidade que todo ser humano pode

    demonstrar em sua maneira de viver, e que possvel aumentar a criatividade na maioria dos

    indivduos, aumentando assim na sociedade em geral, se for posto em prtica na educao o

    que sabemos a respeito de condies que incentivam a criatividade, sendo uma desta, a arte.

    A arte e a capacidade criadora sempre estiveram intimamente ligadas. Durante anos, o

    programa artstico, nas escolas publicas, tem sido o baluarte da criatividade e, com freqncia,

    as experincias de arte e a atividade criadora significam a mesma coisa. Entretanto, com o

    interesse crescente na criatividade e o grande numero de pesquisas, nessa rea, tornou-se

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    muito claro que possvel ter um programa artstico nas escolas, o qual no seja,

    automaticamente, de natureza criadora.

    Baseando-se em Lowenfeld, V; Brittain, L. (1970), acredita-se que o potencial criativo

    humano tenha incio na infncia. Quando as crianas tm suas iniciativas criativas elogiadas e

    incentivadas pelos pais, tendem a ser adultos ousados, propensos a agir de forma inovadora. O

    inverso tambm parece ser verdadeiro.

    Segundo Ostrower (1995), o potencial criador no outra coisa seno uma

    disponibilidade interior, a plena entrega de si e a presena total naquilo que se faz. A

    criatividade e sua realizao correspondem a um caminho de desenvolvimento da

    personalidade. A pessoa poder crescer ao longo de sua vida, crescer para nveis sempre mais

    elevados e complexos, assim como j foi visto com os autores pesquisados.

    Ao entendermos a arte como uma necessidade existencial das pessoas e no como um

    luxo qualquer dispensvel, implica tambm a noo de qualidade, a capacidade de discernir e

    avaliar. No fundo, somente a partir da realizao das prprias potencialidades criativas, que

    algum h de adquirir o respeito e a necessria objetividade perante o trabalho de outros

    artistas, perante a autonomia e validez de suas formas expressivas. Poder avaliar melhor o

    trabalho dos outros e o seu prprio.

    De acordo com Lowenfeld, V; Brittain, L. (1970), para a criana, o valor de uma

    experincia artstica est no processo. Um exame do produto artstico deve estar,

    primordialmente, mais interessado na experincia que o motivou do que no prprio trabalho

    realizado.

    POTENCIAL CRIATIVO

    Uma obra de arte no a representao de um objeto em si, , tambm, a

    representao da experincia que temos desse objeto. Uma simples imitao fotogrfica doseu meio no expressa as relaes individuais da criana com o que ela percebe.

    Para a criana, a arte algo muito diferente e constitui, primordialmente, um

    meio de expresso. [...] A criana um ser dinmico; para ela, a arte uma

    comunicao do pensamento. (LOWENFELD, V; BRITTAIN, L., 1970, p.19)

    Para trabalhar com crianas na rea da arte, necessrio compreender as vrias fases

    da evoluo e possuir um completo conhecimento das possibilidades de crescimento. Tal

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    conscincia necessria para que o professor determine at que ponto a criana pode

    compreender e utilizar a experincia artstica.

    Na arte, no existe um tema externo que precise ser apresentado em pequenas doses.

    Na atividade criadora, o tema possui um significado distinto do dos demais campos de

    ensino. Tomemos como exemplo os desenhos das crianas, as rvores, as flores, e os

    bonecos que permeiam suas folhas de desenho. O tema no realmente importante nos

    desenhos das crianas, que desenha de acordo com sua percepo e com seu conhecimento e

    entendimento, mas sim, o modo como esse tema retratado.

    indispensvel expressar ainda, quando se trata do estudo da atividade criadora, que

    este tema nos coloca em contato com interessantes compreenses sobre a natureza humana,

    uma vez que, atravs da criatividade, o ser humano realiza a construo de seu destino e do

    prprio mundo.

    VYGOTSKY E O DESENVOLVIMENTO

    Ao falar de desenvolvimento humano, hoje, no se pode deixar de citar o autor

    sovitico Vygotsky. Estuda-se a construo do conhecimento pela criana, uma vez que seu

    desenvolvimento no acontece, segundo Vygotsky, somente de dentro para fora, mas

    influenciada, tambm, pela reestruturao do organismo, em conseqncia do seu

    desenvolvimento.

    Conforme se pode perceber, Vygotsky vai traando um perfil da criana de acordo

    com seu desenvolvimento intelectual e orgnico, pesquisando como ela concebe o mundo e o

    que nele h. Os seres humanos, no inicio da idade, agem por reaes inatas. Em outras

    palavras, nascem trazendo aes e ou reaes hereditrias.

    Para Vygotsky o fator relevante a relao cultural que a criana vivencia em seu

    cotidiano. Ele determina dois nveis de desenvolvimento: Nvel de Desenvolvimento Real eNvel de desenvolvimento Potencial. Segundo Vygotsky apud Delgado (2003), no momento

    em que estamos conversando com a criana ou observando o que ela est fazendo que

    podemos determinar seu nvel de desenvolvimento.

    Para Vygotsky, o que uma criana consegue realizar sozinha, sem a interferncia de

    uma outra pessoa, denominado de nvel de desenvolvimento real, o nvel de

    desenvolvimento das funes mentais da criana que se estabelecera como resultado de certos

    ciclos de desenvolvimento j completados. Representam as habilidades intelectuais e asfunes j amadurecidas.

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    O desenvolvimento real aquele que j foi consolidado pelo indivduo, de forma a

    torn-lo capaz de resolver situaes utilizando seu conhecimento de forma autnoma. O nvel

    de desenvolvimento real dinmico, aumenta dialticamente com os movimentos do processo

    de aprendizagem. Na vida diria o desenvolvimento real de uma criana pode ser determinado

    pelas atividades que ela faz sem auxlio de seus pais ou de quaisquer outras pessoas.

    Quando a criana no consegue realizar uma atividade sozinha, mas realiza com o

    auxlio de uma outra pessoa, Vygotsky denomina este nvel de desenvolvimento potencial,

    afirmando ele que a criana se desenvolve e aprende por meio da realizao de atividades,

    mas tambm aprende atravs da observao. O professor no deve fazer todas as atividades

    pelo aluno, ao contrrio, ele deve conhecer o que a criana j faz sozinha, o que ela no

    consegue realizar, para planejar onde deve atuar e de que maneia vai agir para contribuir com

    o desenvolvimento e com a aprendizagem da criana.

    O desenvolvimento potencial determinado pelas habilidades que o indivduo j

    construiu, porm encontram-se em proceso. Isto significa que a dialtica da aprendizagem que

    gerou o desenvolvimento real, gerou tambm habilidades que se encontram em um nvel

    menos elaborado que o j consolidado. Desta forma, o desenvolvimento potencial aquele

    que o sujeito poder construir.

    As obras de Vygotsky incluem alguns conceitos que se tornaram incontornveis na

    rea do desenvolvimento da aprendizagem. Um dos conceitos mais importantes o de Zona

    de desenvolvimento proximal, que se relaciona com a diferena entre o que a criana

    consegue aprender sozinha e aquilo que consegue aprender com a ajuda de um adulto. A Zona

    de desenvolvimento proximal , portanto, tudo o que a criana pode adquirir em termos

    intelectuais quando lhe dado o suporte educacional devido, define a distncia entre o nvel

    de desenvolvimento real e o nvel de desenvolvimento potencial.

    Quer dizer, a srie de informaes que a pessoa tem a potencialidade de aprender

    mas ainda no completou o processo, conhecimentos fora de seu alcance atual, maspotencialmente atingveis.

    PIAGET: OPERATRIO CONCRETO

    De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo um processo de sucessivas

    mudanas qualitativas e quantitativas das estruturas cognitivas derivando cada estrutura de

    estruturas precedentes. Ou seja, o indivduo constri e reconstri continuamente as estruturasque o tornam cada vez mais apto ao equilbrio.

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    Essas construes seguem um padro denominado por Piaget de estgios, que

    seguem idades mais ou menos determinadas. Todavia, o importante a ordem dos estgios e

    no a idade de apario destes.

    Aproximadamente a partir dos sete anos de idade, observa-se uma mudana

    significativa no desenvolvimento mental da criana e aparecem as formas mais organizadas

    dos aspectos que vinham sendo anunciados em estgios anteriores. O inicio deste estgio

    coincide tambm com o ingresso da criana no processo de escolarizao propriamente dito,

    facilitando o desenvolvimento da sua vida psquica, envolvendo a inteligncia, a afetividade,

    as relaes sociais e a individualidade, o que faz com que apresentem um salto qualitativo e

    quantitativo surpreendente.

    Cada estgio caracterizado pela apario de estruturas originais, cuja

    construo o distingue dos estgios anteriores. O essencial dessas construes

    sucessivas permanece no decorrer dos estgios ulteriores, como subestruturas, sobre

    as quais se edificam as novas caractersticas. (PIAGET apud DELGADO, 2003,

    p.29)

    No estgio Operatrio-Concreto (7 a 12 anos), A criana desenvolve noes de tempo,

    espao, velocidade, ordem, casualidade, j sendo capaz de relacionar diferentes aspectos eabstrair dados da realidade. No se limita a uma representao imediata, mas ainda depende

    do mundo concreto para chegar abstrao. Desenvolve a capacidade de representar uma

    ao no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformao observada

    (reversibilidade).

    Nesse estgio as crianas so capazes de trabalhar em grupo e em harmonia com a

    divergncia de pontos de vista, havendo a capacidade da troca solidria de experincias.

    Assim, as crianas perdem o alto grau de egocentrismo no se confundindo mais com o ponto

    de vista do outro, conseguindo coordenar suas aes com a dos outros. Quanto s regras,

    nesse estgio, as crianas cuidam por se policiarem no cumprimento rigoroso dessas regras,

    no permitindo que elas sejam desrespeitadas, por ter um cunho divino, garantindo a

    igualdade diante de uma mesma lei. Ganhar assume um sentido coletivo e significa ser bem

    sucedido. As regras no podem ser violadas nem modificadas.

    Surge a reversibilidade do pensamento, o que permite a criana entender uma ao do

    seu inicio ao final, sem exatamente estar agindo. A criana pensa antes de agir. A

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    honestidade, o sentido de justia, a reciprocidade constituem sistema racional de valores

    pessoais, fazendo emergir o respeito mtuo, em contraposio ao respeito unilateral.

    Compreender como as crianas constroem as noes de espao, tempo, velocidade e

    casualidade de grande importncia (assim como entender as diversas manifestaes da

    criana) para aqueles professores que esto preocupados com a aprendizagem eficaz de seus

    alunos.

    INTERACIONISMO: PIAGET E VYGOTSKY EM CENA

    A criana para os dois autores um ser biolgico que carrega traos genticos que

    influenciam no seu desenvolvimento e na sua aprendizagem, sendo a primeira manifestao

    com o mundo exterior possibilitada pelas aes reflexas ou instintivas.

    A diferena comea quando Piaget afirma que a aprendizagem ocorre na relao da

    criana com o objeto a ser conhecido. Para Vygotsky a criana tambm um ser social e

    histrico, e a sua aprendizagem fruto das relaes que ela estabelece com outros membros

    de sua espcie, atravs desse contato com outros que a criana reformula seus conceitos.

    Vygotsky afirma que a criana se desenvolve primeiro no nvel social para depois se

    desenvolve no nvel individual. Piaget postula o contrrio: primeiro a criana um ser

    individual e depois um ser social, com maior interao com os que esto ao seu redor.

    Para Piaget o conhecimento propriedade intrnseca ao objeto, depende da

    manipulao deste para que haja aprendizagem da criana. Vygotsky prefere alertar que o

    conhecimento tem sua gnese nas relaes sociais, sendo produzido na intersubjetividade e

    marcado por condies culturais, sociais e histricas.

    O que os dois autores concordam entre si que o conhecimento uma elaborao

    prpria do sujeito que aprende e por isso no h como algum transferir conhecimentos a uma

    outra pessoa.Vygotsky e Piaget so unnimes ao afirmarem que o conhecimento elaborado por

    meio do questionamento que um outro ser da espcie faz criana. Segundo os autores, o

    dialogo com as crianas a fora motriz para a elaborao do conhecimento.

    DANA CRIATIVA

    A incluso da dana, como modalidade artstica a ser trabalhada dentro do currculoescolar, representa uma valiosa conquista. A estruturao de uma proposta para o ensino de

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    dana representa o reconhecimento de sua importncia como linguagem culturalmente

    construda e como atividade essencial no desenvolvimento integral do ser humano,

    ratificando, desta forma, as relaes entre dana e educao.

    O papel da arte no contexto educacional assegura todas as crianas, jovens e adultos,

    em processo de formao, um acesso ao meio de construo de formas de expresso e

    comunicao, atravs de manifestaes estticas e artsticas, a Arte para a formao global do

    indivduo. Na Arte, devemos lembrar que o corpo nos permite mil e uma possibilidades de

    entendimentos e interpretaes, abrindo um leque de oportunidades para quem se utiliza dela.

    No apenas arte pela arte, e sim a decodificao de informao mais intimas, por ns

    mesmos.

    A percepo do seu corpo, sua capacidade de comunicao e expresso de emoes e

    sentimentos descoberta pela criana atravs de seus movimentos. O movimento constitui

    uma atividade essencial e dinmica na vida da criana. A dana na vida das crianas

    fundamental, tanto para sua formao artstica quanto para sua integrao social.

    Valoriza-se o aprendizado da dana, o danar como experincia de vida e a prpria

    vivncia da dana na relao da criana e adolescente, consigo mesmo, com o outro e com seu

    meio. A dana dever aparecer como elemento contribuinte para um desenvolvimento

    saudvel, biopsico-social da criana.

    Apesar das especificidades de cada tcnica de dana necessrio lembrar que existem

    elementos e princpios comuns, alm de estratgias de ensino, que podem ser usados

    independentemente da esttica enfocada (Clssico, moderno, entre outras). O conceito de

    Dana Criativa chega para apresentar uma nova didtica e metodologia no ensino da dana

    para crianas.

    Percebe-se que a criatividade na arte da dana tem sido normalmente abordada apenas

    no processo de criao do produto artstico. Assim, deixa-se de lado a compreenso que a

    criatividade pode, e deve, ser utilizada em outras esferas da dana, principalmente em seuensino.

    O que a Dana Criativa pretende mostrar que sua prtica fornece os subsdios

    necessrios para o desenvolvimento espontneo e criativo da linguagem do movimento; tem o

    objetivo de desenvolver uma ao pedaggica coerente, estimulando a criatividade, baseando-

    se em anlises de tcnicas da dana adequada s sries, com enfoque na educao

    psicomotora.

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    Cunha apud Rangel (2002, p.64) divulga que a Dana Criativa deveria estar presente

    nos currculos escolares, da pr-escola at a universidade, pois seus contedos podem ser

    adaptados e aplicveis a qualquer nvel de ensino.

    Apresenta os aspectos gerais da dana criativa como a identificao da estrutura

    corporal, atravs dos mecanismos senso-psicomotrizes, utilizao de formas e contedos que

    se relacionem com as qualidades de movimento (grande-pequeno, forte-fraco, entre outros);

    ampliao do vocabulrio expressivo atravs de vrias exploraes sensomotrizes; entre

    outros. A fundamentao visa adequar a aplicao da dana de acordo com o estgio de

    desenvolvimento psicomotor do indivduo.

    A dana criativa funciona como agente de aprimoramento da

    coordenao motora, do equilbrio dinmico, da flexibilidade e

    amplitude articulares, da resistncia localizada, da agilidade e da

    elasticidade musculares. Se seus valores se assentam em bases que

    permitem desenvolver o potencial criativo, atravs da descoberta e

    explorao de novas formas de movimentao corporal; possibilita-se a

    educao rtmica pela diversificao na dinmica das aes

    psicomotoras; condiciona-se para uma presteza para o movimento

    porque favorece os aspectos relativos concentrao; canaliza-se a

    expressividade porque reflete, sentimentos, pensamentos e emoes;

    possui-se valor cumulativo porque amplia o vocabulrio senso-

    perceptivo e se fundamentalmente socializante e recreativa porque

    unifica o trabalho grupal,...

    (CUNHA apud RANGEL, 2002, p.65)

    um mtodo de trabalho que foge de determinadas regras estereotipadas e que

    valoriza o processo criativo, estimulando o aluno novas exploraes e o professor a renovar

    sempre.

    AO E RESULTADOS

    O plano de ao est dividido em 3 fases: 1 fase: Sensibilizao: Apresenta-se o

    elemento a ser explorado, como textos, poemas, objetos, figuras, entre outros; 2 Fase:

    Experimentao: D-se aos alunos a oportunidade de experimentar os elementos; 3 Fase:

    Criao: Solicita-se que os alunos utilizem os elementos em composies pessoais, onde

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    sero observadas as utilizaes de elementos como a qualidade dos movimentos, o repertrio

    corporal e a utilizao do espao.

    O grupo era formado por um total de 12 (doze) alunos, sendo 7 (sete) meninas e 5

    (cinco) meninos. Para fazer a anlise dos resultados foi separado em: Grupo A que era

    composto pelas 7 meninas; Grupo B - que era composto pelos 5 meninos

    Quanto temporalidade, ou seja, o que se tinha no incio do processo e o que se

    obteve ao seu fim, foi dividido em: Serie 1 Inicio do processo; Seria 2 Fim do Processo.

    Para uma melhor compreenso da anlise dos resultados, dividiu-se em trs itens:

    Assiduidade, Interesse e Criatividade. fato que a mensurao desses itens foi baseada no

    pequeno intervalo que se deu o processo, de 6 meses, e levando em considerao a latncia de

    tais itens nas crianas.

    No item Assiduidade, foi analisada a freqncia dos alunos nas aulas, j que a

    freqncia possibilita que os alunos tomem conhecimento dos contedos passados nas aulas,

    uma vez que a cada aula um elemento diferente era explorado. Ressalta-se ainda que a

    importncia dada a assiduidade diz respeito a presena no apenas pela participao no PBF,

    mas sim pela diligncia dos alunos para com o projeto.

    No item Interesse, foi analisado a vontade e o empenho do aluno durante as atividades

    propostas. Um resultado mais consistente foi obtido a partir da disposio dos alunos a

    absorver o que estava sendo passado, no apenas como obrigao, mas como satisfao

    pessoal.

    No item Criatividade, foi observado o desempenho dos alunos, a capacidade de criar,

    produzir suas obras e seus experimentos, a partir de elementos que lhe foram apresentados,

    chegando a resultados e formas que transmitam sua assinatura.

    ITEMSERIE 1

    A

    SERIE 2

    A

    SERIE 1

    B

    SERIE 2

    B

    Assiduidade 85% 97% 85% 90%

    Interesse 80% 95% 70% 85%

    Criatividade 50% 92% 60% 95%

    Quadro 1. Quadro de demonstrao de Percentual

    Quanto a Assiduidade, o crescimento maior foi no grupo A, numa variao de 12%

    para mais, contra 5% do grupo B. No item Interesse, o crescimento foi igual em ambos os

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    grupos, como uma variao de 15% para mais. Na Criatividade, a variao maior foi no

    Grupo A, com uma variao de 42% para mais, contra 35% do Grupo B. Todavia, no pode-

    se esquecer que o Grupo B iniciou o projeto com um nvel de criatividade maior do que o

    grupo A.

    CONCLUSO

    O desenvolvimento do potencial criativo est relacionado com diversos elementos aqui

    pesquisados. Os benefcios trazidos pela dana vo desde aprimoramento fsico at a

    desenvoltura da criatividade subjetiva, passando pelo desenvolvimento humano. O

    Desenvolvimento Humano nesta pesquisa refere-se aos nveis descritos por Vygotsky e os

    estgios descrito por Piaget.Diretores de escola, coordenadores e professores devem estar preparados para

    entender a arte como ramo do conhecimento em mesmo p de igualdade que as outras

    disciplinas dos currculos escolares. Reconhecendo no s a necessidade da arte, mas a sua

    capacidade transformadora, os educadores estaro contribuindo para que o acesso a ela seja

    um direito do homem. Aceitar que o fazer artstico contribui para o desenvolvimento de

    crianas e de jovens ter a certeza da capacidade que eles tem de ampliar o seu potencial

    cognitivo e assim conceber e olhar o mundo de modos diferentes.

    Entre as tantas formas de expresso artstica tem-se que estimular a Dana como

    disciplina, respaldada nas suas teorias, contribuies de melhoria e no crescimento e

    amadurecimento pessoal, cognitivo e afetivo de crianas e adolescentes.

    Na Dana Criativa h uma preocupao com a correta utilizao dos elementos

    bsicos na composio do mtodo de ensino, ou seja, como os elementos da dana devem ser

    explorados dentro de uma estrutura clara, sempre com a proposta de ser alegre, envolvente e

    estimulante para o verdadeiro crescimento artstico e pessoal dos participantes.

    Baseada nos resultados obtidos, pode-se perceber que a Dana Criativa vai

    alm de um estilo, considero como um estilo de viver, de bem viver. Atravs da Dana, ento,

    o aluno poder recobrar a confiana no ser humano que pleno e capaz, devolver-se-lhe- a

    capacidade de se movimentar-se criativamente, pois a Dana uma das expresses que

    suscita o sentido de ser pleno. A Dana Criativa nos mostra exatamente o diferencial no

    movimento humano entre o fazer e o danar.

    A liberdade da criao, a disponibilizao de elementos, fez com que o que estava

    talvez adormecido, ou at mesmo nunca antes percebido dentro de cada um, florescesse. O

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    potencial criativo est em cada ser humano pronto para ser estimulado, movimentado,

    liberado, libertado. Desta maneira qualquer um pode lanar mo de alternativas criativas que

    lhe permitiro engrandecer a vida individual, em grupos ou comunidades a travs de um

    pensar, sentir, agir mais consciente, aprendido e reaprendido por meio de tcnicas ativadoras

    deste potencial inato que cada um tem.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    psicologia. So Paulo: Saraiva, 1995.

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    RANGEL, Nilda Barbosa Cavalcante. Dana, Educao, Educao Fsica: Proposta de

    ensino da dana e o universo da Educao Fsica. Jundia, SP: Fontoura, 2002.