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REVISTA E mais: . Playing for Change . Skate downhill . Marcha da liberdade CONECTADOS Isabeli Fontana Fala sobre moda, drogas, aborto e família NÃO TEM PREÇO #51 , JULHO , 11 , ANO 6 Entre Síria e Israel Pela web, jovem leva adiante a Revolução Árabe AD ETERNUM PERFIS EM REDES SOCIAIS MANTÉM VIVOS AQUELES QUE SE FORAM

Ragga #51 - Conectados

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Como está sua conexão com o mundo?

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REVISTA

E mais: .Playing for Change

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da liberdade

CONECTADOSIsabeli

FontanaFala sobre moda,

drogas, aborto e família

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Entre Síria e Israel

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Revolução Árabe

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6 de agostoBELVEDERE

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Page 5: Ragga #51 - Conectados

6 de agostoBELVEDERE

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Mal fomos gerados e já está feita nossa primeira conexão. Um cordão que nos liga a fontes de alimentação e oxigênio e que depois de nove meses é rompido, para que possamos, então, entrar em contato com outras milhares de fontes e formas de conexões diferentes.

Na realidade, tudo está conectado de al-guma forma, desde as células do nosso cor-po, das pontes entre duas cidades, até nossos computadores ligados em rede. Aliás, nunca se falou tanto no assunto. Basta ligar sua TV e os comerciais vão jorrar produtos que oferecem conexões mais rápidas, atraentes e divertidas. Está tudo ali, na palma da mão, na tela do ta-blet, no fone de ouvido, no microfone do com-putador. Fale com quem quiser, de onde quiser, para onde quiser e por quanto tempo quiser. Não tem limites, o mundo é plano.

E ficou tudo tão óbvio, tão simples, que isso parece realmente ser algo que sempre existiu. Nos adaptamos tão rápido que já fica difícil imaginar um mundo sem essas cone-xões globais e instantâneas. Afinal, como não pode ser possível enviar uma foto do filho recém-nascido para um parente distante em

Se liga...questão de segundos? Fazer uma transferência bancária sem sair da cadeira? Ou reunir, em 18 dias, 12 milhões de egípcios e derrubar um presidente no poder há 23 anos?

Por outro lado, sentimos necessidade de nos desconectar de tudo por alguns instantes. Se você também compartilha des-sa sensação, a coluna Eu quero pode lhe dar algumas dicas. Agora, se você quer sumir do mapa geral, sem deixar rastros, algumas empresas oferecem o serviço de evaporar com seu nome da web e garantem que ele não aparecerá nem nas bus-cas mais detalhadas do Google. Isso é, de certa forma, algo como morrer em vida, assim como um perfil de um amigo fa-lecido no Facebook também parece ser capaz de mantê-lo um pouco vivo. Essa contradição também acabou se transforman-do em matéria nesta edição.

Vivos ou mortos, estamos realmente mais conectados do que nunca. Inclusive, existe a “teoria dos seis graus”, que de-fende a ideia de que são necessárias, no máximo, seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer do planeta estejam ligadas. Essa é uma notícia boa, significa que você está mais próximo do que imaginava da nossa capa. Fala a verdade, só seis pessoas e você estará lado a lado com a Isabeli Fontana. Nada mal, hein?

Lucas Fonda — Diretor Geral [email protected]

34IMORTAISEles morreram. Não na internet

38PRÓXIMA CONEXÃOEnsaio fotográfico no Aeroporto de Guarulhos

26PLAYING FOR CHANGE Quando a música elimina fronteiras

74TOP!Isabeli Fontana sem meias palavras

46POR E-MAIL Jovem mantém viva a Primavera Árabe

20NAS LADEIRAS DE BHQuatro dias de rolé e alguns arranhões

Page 9: Ragga #51 - Conectados

MA

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DESTRINCHANDO 12ESTILO , Bruna Miranda 44QUEM É RAGGA 50

ON THE ROAD , Marcha da liberdade 54 RAGGA GIRL , Ritiele Dezete 58 EU QUERO! , Desconectar 64

já é dE casa

Page 10: Ragga #51 - Conectados

Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não expressam necessariamente a opinião da

Ragga, assim como o conteúdo e fotos publicitárias.

TIRAGEM: 10.000 EXEMPLARES

O CONTEÚDO DIGITAL DA RAGGA VOCÊ CONFERE NO PORTAL UAI:

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DIRETOR GERAL lucas fonda [[email protected]]DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING bruno dib [[email protected]]DIRETOR FINANCEIRO josé a. toledo [[email protected]]ASSISTENTE FINANCEIROnathalia wenchenck GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETINGrodrigo fonsecaPROMOÇÃO E EVENTOSludmilla douradoEDITORA sabrina abreu [[email protected]]SUBEDITOR bruno mateus REPÓRTERES bernardo biagioni. flávia denise de magalhães JORNALISTA RESPONSÁVEL sabrina abreu – mg09852jpNÚCLEO WEBguilherme avila [[email protected]]damiany coelho DESIGNERS anne pattrice [[email protected]]bruno teodoro. marina teixeira. marcelo andrade FOTOGRAFIA ana slika. bruno senna

carlos hauck. carol vargas romerson araújoILUSTRADOR CONVIDADO luís matuto [flickr.com/lf_matuto]ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO diego suriadakis izabella figueiredo ARTICULISTA lucas machado COLUNISTAS alex capella. cristiana guerra henrique portugal. kiko ferreira lucas buzzati. rafinha bastosCOLABORADORES alexandre mota. igor marotti. joão paulojoão renato faria. lígia paiva. marcelo naddeoRAGGA GIRL MODELO ritiele dezete FOTOS E PRODUÇÃO gisele sanfelice MAQUIAGEM hayge reis CAPA alexandre mota REVISÃO DE TEXTO vigilantes do textoIMPRESSÃO rona editoraREVISTA DIGITAL [www.revistaragga.com.br]REDAÇÃO rua do ouro, 136/ 7º andarserra. cep 30220-000. belo horizonte. mg 55 (31) 3225 4400

< Expediente > < Cartas > CAIXA DE ENTRADA

Serguei

Druanna Ferreira @iamDruannaF // Via TwitterEssa entrevista com o Serguei foi um negócio muito sutil e muito, muito lindo. As fotos ficaram um doce também.

Brenno Ferraz @Brennoferraz // Via TwitterA @revistaragga ousou geral na capa dessa edição!!! Uau!

Gustavo Lameira @gustavo_lameira // Via Twitter@revistaragga @sergueirock e eu que pensei que o cara era só um ex-jurado do Chacrinha.. . Boa a entrevista e o entrevistado.

Inspiração

Fernando UTh@FernandoUth // Via TwitterEssa semana eu e meus alunos estamos desenhando inspirados na @revistaragga

A Ragga e a galera do Queijo Elétrico iniciam, a partir desta edição, uma parceria que produzirá material para a Ragga TV. A ideia é abastecer o novo canal na web com matérias, entrevistas e coberturas de eventos, sempre sintonizando o conteúdo da revista com a edição dos programas. Nessa edição, eles foram responsáveis pelo vídeo da matéria da banda Playing for Change e uma matéria especial com o tema geral da edição. Vale a pena ficar ligado... raggatv.com.br

RAGGA ELÉTRICO

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por Lucas Machado ilustração Andrea Lacerda

J.C.manifestações:[email protected] | Twitter: @lucasmachado1 | Comunidade do Orkut: Destrinchando

ARTIGO

Marketing 3.0

O livro Marketing 3.0

é um soco na cara e veio para

revolucionar e romper de

certa forma os conceitos e

ferramentas antes vistos

É impressionante como atualmente todos nós fazemos um pouco de marketing, seja de maneira involuntária, de questão pessoal ou nas redes sociais, no seu comportamento, até mes-mo na sua forma de se vestir, na academia, na faculdade, no trabalho ou nas baladas. Foi pensando nisso que escrevi este artigo sobre o gênio do marketing: o americano Philip Kotler. Vai vendo. Ou melhor, vai lendo.

Philip Kotler tem um histórico acadêmico de impres-sionar. Além de professor e escritor, fez mestrado e PhD no

Massachusetts Institute of Te-chnology (MIT) — referência mundial em ciência e tecnologia —, ambos em economia, pós--doutorado em matemática, em Harvard; e ciências comporta-mentais na Universidade de Chi-cago. Em 2005, foi eleito o quar-to maior guru de negócios pelo Financial Times e considerado pelo Management Centre Euro-pe “o maior dos especialistas na prática do marketing”. Em 2008, o Wall Street Journal listou-o como a sexta pessoa mais in-fluente no mundo dos negócios.

Conhecido por todos os pro- fissionais de comunicação e es-tudantes de marketing mundo afora, Philip tem mais de 15 obras sobre diferentes áreas do marketing, como o político, o

esportivo, o estratégico, o marketing do século 21, entre ou-tros. Nos livros, ele mostra todas essas abordagens dentro do contexto de produtos e serviços para o consumidor. Recente-mente, Kotler lançou, juntamente com Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan, ambos executivos da empresa MarkPlus, o livro Marketing 3.0, que, com certeza, é um soco na cara e veio para revolucionar e romper de certa forma os conceitos e ferramen-tas antes vistos e pregados pelo autor e autoridades no assunto.

Mas será que existe algo de novo mesmo? Tivemos a era das sociedades agrícolas, depois a era industrial, seguida da era da informação e tecnologia. Agora vivemos o debate sobre o aquecimento global, que exige maior criatividade e cultura

ambiental voltada para a sustentabilidade. Aí que entra o que chamam no livro de “Quarta Onda”, que é voltada não para o consumidor, mas sim para o ser humano interconectado, po-deroso e ativo. Na verdade, a ideia do marketing 3.0 nasceu na Indonésia, “um país em que a centralidade do Homem e a espiritualidade superam os desafios da diversidade”. Inclusive, o prefácio do livro é escrito por Susilo Bambang Yudhoyono, presidente da República da Indonésia.

O marketing 1.0 é voltado para produtos, o 2.0 para o consumidor e o 3.0 deixa bem claro que, a partir de agora, as empresas devem focar nos valores e missão, as decisões de-vem ser tomadas em prol de tornar o mundo melhor e mais

colaborativo. Isso é o marketing 3.0. Entre os credos mais impor-tantes para se dar bem na nos-sa nova realidade, alguns deles são: ame seus clientes e respei-te seus concorrentes, proteja seu nome e deixe bem claro quem você é, esteja sempre disponível e ofereça sempre um bom paco-te com preço justo.

Já no ambiente da internet, os alertas são muitos. Segundo Philip, quem está conectado está na horizontal, ou seja, os peque-nos ganham mais autonomia e são mais reconhecidos do que antes. Apesar de o poder indivi-

dual parecer fraco, seu poder coletivo sempre será maior do que qualquer empresa. Na rede, o valor coletivo pode se desen-volver com relacionamentos e informações fortes e destruido-ras, dependendo da maneira como ela se alastra.

Cada vez mais, os consumidores não se importam com os produtos, e sim com sua imagem e com o que ela defende e tem como ideologia. Preocupando ou pelo menos demons-trando que se importam com a qualidade de vida das pessoas e com seus sonhos, como ícones mundiais, Philip cita alguns que fazem bem isso: Harley Davidson, Disney, Microsoft, Nike, Adidas. Depois, resume no livro: “Não importa em qual setor você atue. Será sempre no setor de serviço”. E como nós somos a nossa própria marca, fica o recado do pai do marketing, lem-brando que, na prática, a teoria é sempre diferente.

“Conta-me e eu me esquecerei, mostra-me e talvez eu me lembre; envolva-me e eu entenderei”, provérbio chinês

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Page 13: Ragga #51 - Conectados

Marketing 3.0 Frango

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Page 14: Ragga #51 - Conectados

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*A coluna Scrap S/A foi fechada no dia 20 de junho. Sugestões e informações para a edição de agosto, favor entre em contato pelo e-mail da coluna.

fale com ele:[email protected]

por Alex CapellaSCRAP

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/ VisTO CeRTO /

/ shOppinG nA LAGOA /

/ MeRCADO MAis /

/ ÁGUA De pAssARinhO /

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O fotógrafo Alexandre C. Mota trabalhou nos jornais Hoje em Dia e O Tempo, morou no Rio e no Canadá e, agora, remontou seu estúdio fotográfico. Com os sócios, produz catálogos de moda, projetos de designer, editoriais e retratos. Sempre flertando com as imagens e as estradas, assina também fotografia de cinema e atualmente trabalha em um documentário de sua autoria. As fotos da capa e do Perfil com a Isabeli Fontana são dele. aldeia.fot.br

João Renato Faria é jornalista, cuida do canal de música do Portal Uai há três anos e, recentemente, assumiu todo o site Divirta-se. Apesar de se declarar eclético, abomina vários estilos e bandas. Felizmente, não foi o caso do Playing for Change, que, ele confessa, conhecia pouco além do vídeo do YouTube antes de fazer a matéria desta ediçãowww.divirta-se.uai.com.br @joaorenatofaria

Tirador de foto desde os tempos de PUC, quando conheceu sua grande mestra e amiga Marta Carneiro, igor Marotti, desde então, vem se aventurando entre shows de rock , Inhotim e onde mais aparecer um bico. Integrante do Queijo Elétrico, não se restringe à fotografia, buscando sempre experimentar o universo das artes audiovisuais. queijoeletrico.com.br

Ela nasceu em São Bernardo do Campo, cidade que mal conhece, em outubro de 1988. Chamou Naiara a gestação inteira e, de última hora, tornou-se Lígia paiva . Aos 3 anos, mudou-se para Sorocaba, onde imergiu no mundo das artes. Apaixonou-se por cinema e, em 2007, mudou-se para São Paulo para estudar sua paixão, tendo se formado em 2010. Escreve desde que aprendeu a escrever e, nesta edição, assina o texto da Ragga Girl.semespaconomeutempo.blogspot.com

Sete Lagoas poderá contar, nos próximos meses, com mais um centro de compras, entretenimento e lazer. Trata-se do Lagoa Shopping, localizado em ponto privilegiado no centro comercial da cidade, em frente à tradicional Lagoa Paulino. O shopping terá 55 lojas, como Lojas Americanas, Vivo e Água de Cheiro, além da Enzo Pizza, Subway, Cia da Em-pada, Self Shop, Self Shop Presentes, Feliz da Vida, entre outras.

O Alfândega Bar, localizado no São Pe-dro, Zona Sul de Belo Horizonte, acaba de completar um ano. Além de uma série de shows exclusivos ao longo do mês de ju-lho, a casa renovou o cardápio, amplian-do as opções de pratos da culinária inter-nacional. Um dos exemplos é o Trip to Taj Mahal, exótico frango ao curry levemente picante, coberto com amendoim torrado e manga em cubos.

Mistura de moda, beleza, decoração, arte e artesanato. O Mercado Mais terá sua primeira edição em outubro, em Belo Horizonte. Durante quatro dias, o evento transformará a Serraria Souza Pinto em um grande centro de negócios. Além de oportunidades de compras, o público terá acesso à informação, diversão e cultura. Marcas consagradas dividirão espaço com novos e talentosos cria-dores de moda mineiros.

A Hidrobrás, fabricante da marca de água mineral Ingá, comemora resolução da Or-ganização Mundial de Saúde (OMS), que reduziu de 6g para 5g a quantidade má-xima de sal que podemos consumir diaria-mente. A comemoração se deve ao fato de a Ingá apresentar menor índice de sódio em sua composição (0,279) na compara-ção com as demais marcas comercializa-das em Minas Gerais. O estado, inclusive, vem ampliando o consumo de água mine-ral per capita.

14,

Page 15: Ragga #51 - Conectados

ILUSTRADOR CONVIDADO

O jovem artista mineiro Luís Matuto, natural de Alfenas e há três anos residindo em Belo Horizonte, busca trabalhar em diferentes suportes e técnicas, experimentar novos métodos para chegar em algum lugar ainda desconhecido. Com um trabalho rico em linhas e detalhes, busca dar sentido aos personagens oníricos que retrata.

Luís Matuto[flickr.com/lf_matuto/]

Quer rabiscar a Ragga? Mande seu portfólio para [email protected]

Page 16: Ragga #51 - Conectados

fale com ele: [email protected]

é jornalista, ator de comédia stand-up e apresentador do

programa CQC (Custe o Que Custar)

PRELIMINARES AO SOM

LUÍS

MAT

UTO

Há uma linHa tênue entre o óculos que me dá o look de

intelectual p/ aquele que me deixa c/ cara de psicopata.

< RAFINHA BASTOS >

COLUNA ,reflexões reflexivas do twitterRE

NAT

O S

TOCK

LER

torpedo que recebi da minHa mulHer: “Ñ se preocupe, Jesus te

ama. mentira... só eu mesmo”.

SACANAGEM é PRESENTEAR O Zé DO CAIXÃO COM UM IPHONE.

Pessoal, ñ sou o super-herói do

povo judeu. Se quiserem ajuda,

escrevam p/ o perfil @ListaDeSchindler

Tô OUVINDO AQUI UMAS MÚSICAS DA CARLA BRUNI. ATé QUE ELA é BEM GOSTOSA.

tô pelado no sHopping dançando a macarena. se o mundo

Ñ acabar HoJe, vai ficar cHato pra mim.

COMO JÁ DIZIA O POETA:

“PôRRAN”.

abrir um pastel pode ser uma experiência frustrante.

fui à casa do pão de queiJo e comi um pastel.

sou rebelde. vida loka mêmo.

POR QUE TODA REPORTAGEM QUE FALA DE “ENVELHECER BEM” MOSTRA IDOSOS EM

ATIVIDADES RIDíCULAS ATÉ P/ ADOLESCENTES?

Ñ ME INCOMODO C/ OS SONS DO MEU VIZINHO TRANSANDO. O QUE ME TIRA DO SéRIO SÃO AS PRELIMINARES

AO SOM DE FALAMANSA.

explosão de refrescância, incrível sabor, gosto de quero

mais. comercial de pasta de dente é uma lição de autoestima.

oi, meu nome é rafinHa bastos. eu sou comediante.

comediante faz piada. obrigado.

asHton kutcHer no lugar do cHarlie

sHeen é como a Hello kitty no papel do cHarles bronson.

e eu acHando que miley

cyrus era um refrigerante

de limão.

de Falamansa e outras histórias

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Page 17: Ragga #51 - Conectados

de Falamansa e outras histórias

O A K L E Y. C O M / B L A D E

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Page 18: Ragga #51 - Conectados

fale com ela: [email protected]

40 anos, é redatora

publicitária, ex-consumidora

compulsiva, ex-viúva, mãe (parafrancisco.

blogspot.com) e modelo do seu

próprio blogue de moda (hojevouassim.

blogspot.com)

ELIS

A M

END

ES

Acontece nas melhores famílias. O cara começa do nada, trabalha incessantemente, come alguns sacos de sal, até que dá certo na vida. Prospera. Constrói um nome. Muda de patamar e passa a morar na cobertura.

Palmas pro cara. Ele conseguiu o que, disfarçada ou assumidamente, a maioria de nós deseja.

Finalmente ele chegou àquele ponto na estrada em que uma paisagem bem bonita pode ser avistada. Ainda há muito a caminhar, mas ele alcançou uma vista privilegiada. Olha para baixo, vê o caminho percorrido e se orgu-lha do esforço. Valeu a pena.

E o que ele imagina ser sua hora de paz e equilíbrio é justamente o momento mais perigoso. é quando assombra o fantasma da superioridade.

Convencido de seu inesgotável talento, o pobre vencedor não consegue mais descer do salto. Acaba condenado aos calos — e pode sangrar os pés, mas dali não desce. Pessoas ou empresas nessa situação passam a ter uma visão idealizada de si mesmas. Influen-ciadas pelo que andam falando de suas figu-ras, passam a acreditar no mito.

Desprovido de insegurança, o mito não pisa mais no chão: flutua. Não precisa de nin-guém: os outros é que precisam dele. Não há mais o que conquistar — o mundo é que pas-

sa a sonhar em conquistá-lo. Você já deve ter convivido com um superiorizado

bem de perto. é a empresa que não valoriza o funcio-nário, porque acredita que é um privilégio trabalhar ali. O chefe que acredita ter ensinado tudo ao subor-dinado, e nem imagina o quanto com ele aprendeu. O empregador que usa a ameaça de demissão como método de gestão.

Não é preciso ir longe: é o homem certo de que nunca vai ser deixado pela namorada — até descobrir que ela tem um amante.

Complexo de superioridade é uma síndrome peri-gosa à qual todos nós estamos sujeitos. Uma espécie de miopia que nos impede de ver o mundo como é. Lá do alto, enxergamos mal o que ficou abaixo. Tudo fica pequeno e longe demais. Até o espelho.

Diferente do complexo de inferioridade, que nos mantém ligados demais ao medo e à insegurança, este outro, pelo contrário, nos faz acreditar que nada mais é preciso temer. E é aí que mora o perigo.

Cair de um metro ou dois de altura provoca, no má-ximo, uma fratura.

Cair do décimo andar é morte na certa. Do alto ao nada, em poucos segundos.

é bom não se perder nunca de sua humanidade falível, a mesma que o levou à conquista. Nada nos ajuda mais nessa caminhada do que uma parcela de dúvida sobre nós mesmos.

Duvide um pouco — e sempre — de si mesmo. é a forma mais bonita e humana de caminhar.

LUÍS

MAT

UTO

Desprovido de insegurança,

o mito não pisa mais no chão: flutua. Não precisa de ninguém:

os outros é que precisam dele

< CRIS GUERRA >

COLUNA ,provador

COMPLEXO DE SUPERIORIDADE

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Page 19: Ragga #51 - Conectados
Page 20: Ragga #51 - Conectados

PÉ NA TÁBUA

ESPORTE ,skate

20,

Page 21: Ragga #51 - Conectados

por Teca Lobato fotos Carlos hauck

Para explicar a importância da visita que recebi em maio, preciso voltar alguns anos. Mais precisamente dez, quando eu, ainda dando meus primeiros passos em um longboard (skate), acessei pela primeira vez o blog Bom Drop!. Lá eu tinha acesso a tudo o que rolava na cena do skate de ladeira e ainda desco-bria um pouco mais sobre as meninas que estavam quebrando tudo em sessões de vídeo e campeonatos. Foi por meio desse blog que a atleta Christie Aleixo deu o ponta pé inicial para, anos mais tarde, fazer história e se tornar a primeira brasileira a conquistar a profissionalização no downhill. E isso não foi fácil.

Christie Aleixo anda de skate há 15 anos, mora em São Paulo, mas tudo começou no Rio de Janeiro. Foi lá que Christie se interessou pelo downhill slide e quando se mudou para Bra-sília, em meados de 2002, mostrou para todo o Brasil as ladei-ras e atletas da capital federal, onde ela idealizou, junto com atletas locais, um dos maiores eventos de skate downhill do país, o Overmeeting. Atualmente, ela viaja para competir aqui

e lá fora, fazendo bonito em uma modalidade com pouquíssimas mulheres e, porque não di-zer, pouquíssimos corajosos: o speed.

Christie é hoje uma das poucas pessoas que conheço que vive para o skateboard. Tra-balha em uma empresa de skate, treina, se di-verte e ainda produz conteúdos variados para os patrocinadores. Esse é um dos motivos pe-los quais ela resolveu passar por Minas Gerais, que envolve também o imenso potencial da região quando se diz respeito às montanhas e ladeiras para descer de skate e à possibilida-de de treinar com os vários atletas locais que vêm se destacando nos últimos anos, como os Hava Hills Daniel Vasconcelos, Thiago Lessa, Hugo Haddad, Max Ballesteros e toda a galera da “crew”. Tirando a reunião for fun com os old

Uma visita da skatista Christie Aleixo, um rolé de quatro dias e algumas torções, roxos e ralados

slide para poucos! Christie mandando um knee slide

21,

Page 22: Ragga #51 - Conectados

school Leonardo Ferraz e Pedrão Thunder.Mas minha história se cruza com a de

Christie alguns anos antes. Foi no Campeona-to do Funil, em 2003, que a conheci, prática e sem conversinha fiada feminina. Quando não estava quebrando nos slides, estava foto-grafando. Não deu muita bola para as outras atletas que estavam fazendo uma “demo” de slide no campeonato de speed, mas longe de ser antipática. Tive a chance de conhecer uma pessoa realmente envolvida com o esporte e com o contexto. Ela passava, e ainda passa, credibilidade suficiente para reunir nos even-tos que organiza atletas de diversas regiões do Brasil.

Foi em uma das edições do Overmeeting, em 2004, que descobri quem era realmente a Christie Aleixo. De um ano para o outro, ela evoluiu de uma maneira impressionante. Com-petir com ela foi motivador. Mais importante que isso, descobri que mais que envolvimen-to, ela sabia o que estava fazendo, entendia do esporte que estava praticando e tinha as condições ideais para ser porta-voz do skate feminino. Dito e feito. Entre diversas ativida-des, é uma das responsáveis por criar o horário feminino na pista de São Bernardo do Campo, em São Paulo.

Por todos esses motivos, e pela pessoa que é, não passei um ano desde então sem convidar a Christie para uma trip a Belo Hori-zonte. E como são anos de tentativa, já estava desistindo. Até que no mês de maio recebi a notícia via Twitter. Foi mais ou menos assim: “@tecalobato Amiga, vai ficar por aí no final de semana?”. Sem acreditar, vi que o impossível estava prestes a acontecer.

,As sessõesTudo bem. Admito que tenho complexo

de onipresença. Mas montei um cronograma quase impossível para os quatro dias que Christie passaria aqui. Na skate bag, ela tra-zia dois skates, macacão, capacete de speed, quatro jogos de rodas, luvas, joelheiras. Na minha cabeça a ideia era misturar wakeboard, wakeskate, miniramp, banks, ladeira. Já posso adiantar que o Dorflex me manteve de pé no último dia.

saindo da água de cabeça feita depois do wake

Full de back estileira e abaixo

um bert slide

22,

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Eu não queria perder a oportunidade de estar com uma pessoa bitolada como eu com esportes de prancha e não praticar todos quase ao mesmo tempo. Começamos a odisseia logo cedo. A primeira modalidade? O skate de ladeira, é claro. Christie tratou de trocar as rodinhas e se preparar para rodopiar manobras que eu nunca tinha visto uma mulher fazer ao vivo. Quis acompanhar e, ao contrá-rio de acertar manobras novas, dei a maior carimbada de asfalto nas costas da minha vida. Sem desanimar, fomos para a água. Péssima ideia para quem tinha acabado de ralar o pneuzinho.

Comecei de wakeskate e a Christie foi para seu primei-ro rolé de wakeboard. Levantou, andou de um lado para o outro, ficou entediada e pegou o wakeskate. Como é que é? Além de ter quebrado no wake, ela levantou de primeira no wakeskate e ainda achou mais fácil andar de pé solto. Fe-chei o dia andando de slider (corrimão de água) e tomando a maior “vaca” de todas. Encerramos o dia na miniramp da Blunt, e terminei revezando o gelo no corpo inteiro.

Durante os três dias que se seguiram, mantivemos uma rotina parecida. Christie adicionou ao cronograma uma ses-são de speed, às 6h, com nosso amigo Pedrão Thunder, e rolés de slides com os amigos mineiros. Apesar do ritmo in-tenso, sei que para nós duas — mais acostumadas com a presença masculina nos esportes que praticamos — essa interação serviu para pilhar novos projetos e manobras, mas mais importante do que tudo isso, para reforçar nosso esti-lo de vida e motivo pelo qual começamos esses esportes: por diversão. Longe dos campeonatos, dos olhares do públi-co e da mídia, a ideia era estar com a prancha no pé até o corpo aguentar.

Algumas escoriações mais tarde, para não dizer torções, roxos e ralados, o fim da trip chegou. Apesar da melancolia de fim de festa, comemorávamos, mesmo que discretamente, o fato de existir um prazo de validade para essa semana de overdose de pranchas. Mesmo querendo mais, o corpo recla-mava qualquer movimento e isso justificou o fim de quatro dias pesados de “tábua”.

eu voltando o 180 de f/s bert slide de fakie

23,

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Christie viu com olhar de atleta, e por que não dizer “turista”, o potencial de Minas Ge-rais quando o assunto é esporte de prancha. Cigana por natureza, ela se sentiu à vontade para planejar novas vindas e, quem sabe, tem-poradas nos arredores de Nova Lima e Casa Branca. Palavra de quem entende do assunto e recado dado. Agora é hora de aproveitar nos-so potencial para treinar, divertir e estimular o crescimento dos nossos brinquedos — leia-se pranchas — preferidos, tanto no quesito visibi-lidade, quanto no sentido de estimular investi-mentos na área.

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EU NÃO QUERIA PERDER A OPORTUNIDADE DE ESTAR COM UMA PESSOA BITOLADA COMO EU COM ESPORTES DE PRANCHA E NÃO PRATICAR TODOS QUASE AO MESMO TEMPO

Uma das sessões de speed da Christie com os Hava Hills

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CONECTADOS

CONECTADOS PELA CANÇÃO

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por João Renato Faria fotos igor Marotti

Tudo começou em 2004, quando o produtor musical Mark Johnson estava dando uma volta em uma rua perto da praia de Santa Monica, na Califórnia, e ouviu uma música conhecida. Ele logo reconheceu Stand by me, que ficou famosa nas vozes de nomes como John Lennon e Jimi Hendrix, mas é do relativamente desconhecido Ben E. King.

Quem tocava era Roger Ridley, figurinha fácil entre os músicos de rua da grande Los Angeles e que, apesar de ser de Las Vegas, a mais ou menos 380 quilômetros, batia ponto todo sábado na Third Street Promenade, um misto de polo cultural e centro comercial de Santa Monica, que reúne lojas, teatros, cinemas e vários artistas. Embora seja uma música famosa, alguma coisa na interpretação de Ridley mexeu com Mark Johnson. “Ele toca com tanta paixão e entrega”, pensou o produtor, que logo concluiu: “Preciso levar isso para o mundo inteiro”.

Foi assim que surgiu o projeto Playing for Change. Mark e o amigo Enzo Buono registraram a performance de Roger Ridley e viajaram pelo mundo, fazendo contato com outros músicos de rua e personalidades locais de países como Holanda, África do Sul, Congo, Rússia, Venezuela, Itália e Brasil. Sem nunca terem se encontrado antes, mas ouvindo a gravação original, cada um dos artistas deu um toque pessoal para Stand by me. O resultado virou um documentário chamado Playing for change: peace through music, que tinha o propósito de “inspirar, conectar e trazer paz ao mundo por meio da música”. Um vídeo no YouTube, que mostra o resultado final da música, teve mais de 30 milhões de acessos e acabou sendo o principal cartão de visitas do Playing For Change pelo mundo.

A coisa toda, lógico, cresceu. Primeiro, ga-nhou o apoio de músicos famosos que adoram uma causa social, como Bono e Manu Chao. Na sequência, criou uma fundação, que ensina músi-ca para crianças carentes da África do Sul, Nepal, Gana, Mali e Ruanda. Depois, um CD e DVD foram gravados, com mais de 100 artistas diferentes in-terpretando músicas como Dont’ worry, One love e, claro, Stand by me.

,Ao vivoHá cerca de dois anos, para gravar as cenas

finais do documentário que deu origem ao proje-to e divulgar o álbum e o trabalho da fundação, uma banda de 10 integrantes de diversos países foi formada. Mas assim como ninguém se conhe-cia antes da gravação do vídeo, no primeiro show do grupo, em Austin, nos Estados Unidos, nenhum dos músicos se encontrou antes, a não ser faltan-do instantes para subirem no palco.

De diferentes países, artistas do projeto

Playing for Change mostram como a música pode diminuir diferenças

e aproximar pessoas

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“Nós não sabíamos se todo mundo ia conseguir visto, todo mundo vindo de tão longe”, confessa o pro-dutor Mark Johnson. “Aconteceram vários atrasos, mas o show estava programado mesmo assim. Cinco horas antes, ninguém estava lá ainda. Duas horas antes do show, nada. Quando faltavam cerca de 20 minutos para o show começar, todo mundo chegou e eles se encontraram pela primeira vez”, detalha o idealizador do Playing for Change, que se apresentou em Belo Ho-rizonte, no mês passado, no Jazz Festival Brasil.

O baterista Peter Bunetta, dos Estados Unidos, destacou que só conheceu dois dos músicos, que foram diretamente do Congo para a apresentação, cerca de 10 minutos antes de subirem juntos ao pal-co pela primeira vez. “Pouco antes de tocarmos, Mer-mans Kenkosenki e Jason Tamba apareceram. Está-vamos todos muito tristes porque não imaginávamos que eles iriam conseguir chegar, e quando estávamos fazendo um lanche para poder tocar, eles aparecem na janela, dizendo: ‘Chegamos!’. Todos nós nos abra-

estados Unidos, África do sul, Congo:

bandeiras nos pedestais mostram a pluralidade de origens dos músicos

28,

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çamos, rimos e fomos direto para o palco. Nos conhecemos muito rapidamente, e funcionou”, recorda o baterista. “Não ti-nha ideia se mais alguém da banda sabia alguma música que eu sei, e mesmo assim começamos a tocar diante de cinco mil pessoas. A mágica disso aconteceu no palco.”

,ConexãoMas o que faz com que músicos que nunca se viram, não

falam a língua um do outro e mal sabem qual canção tocarão juntos se deem tão bem quando estão no palco? Para o cantor Mermans Kenkosenki, a resposta parece ser simples. “Quan-do estamos no palco, você sente o poder da música, percebe como ela é uma linguagem universal”, explica. “Você pode cantar uma música e ser compreendido, mesmo se você não falar a língua do lugar. Nós todos somos de lugares diferentes, mas quando um de nós canta uma música triste, eu percebo a tristeza. Sinto isso através da música”, revela o vocalista.

A opinião do artista do Congo é a mesma do baterista Peter Bunetta. Para ele, quando existe música, a comunicação entre as pessoas passa a funcionar em um plano diferente. “é

no coração que tudo funciona. Você não pre-cisa pensar, e é uma benção não precisar pen-sar. É uma bênção só sentir e poder se abrir quando estamos todos juntos”, exalta o músi-co. Para ele, o público percebe quando existe essa abertura no palco. “Quando você se abre, a plateia também se abre, mesmo sem saber o idioma que estamos cantando. é uma con-versa de coração para coração e é essa cone-xão que todo artista tenta.” Para o vocalista Clarence Bekker, o grupo acabou se tornando mais do que uma banda. “Quando estamos no palco, somos uma família e, em todos lugares que vamos, a audiência se torna parte da nossa família”, avalia o músico surinamês. A transformação entre um encontro virtual em real mexeu com os sentimentos de Gran-dpa Elliott. Vestido caracterizado como um agricultor do interior dos Estados Unidos, de blusa vermelha, macacão azul e chapéu, o

Grandpa elliott e Clarence Bekker não se conheciam pessoalmente, mas hoje se consideram parte de uma família

29,

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músico de 62 anos, que fez carreira tocan-do gaita no famoso Frech Quarter, de Nova Orleans, destacou também a possibilidade de mudança na vida das pessoas que eles ofe-recem. “Existem grupos lá fora, que não estão construindo nada”, aponta o vovô do Playing For Change. “E nós fizemos escolas, estamos fazendo as pessoas felizes, seja pela nossa música, seja ensinando outras pessoas a fa-zer música.”

E pensar que toda essa mobilização, todo esse sentimento, todo esse projeto e ideal de vida surgiram com aquela prosaica gravação em Santa Monica. Parecendo genuinamen-te emocionado e ainda um pouco incrédulo com o resultado que o Playing For Change já alcançou e com as perspectivas, o produ-tor Mark Johnson tenta resumir a conversa. “Parece que a música é o momento em que todas as nossas diferenças desaparecem”, pondera. “Talvez, quando exista a música não exista essa coisa de meu time, meu país, mi-nha cor, meu dinheiro. Talvez, esse seja o único momento em que isso não importa. Talvez a música seja o momento de pôr todas as di-ferenças de lado e estar juntos”, considera. E rindo, olha para os lados, para o inusita-do grupo de músicos que conseguiu juntar. “Quando você os vê no palco, pensa: ‘o que mais uniria pessoas tão diferentes assim?’. Tem que ser a música”, conclui. E não dá para deixar de concordar.

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PARA O CANTOR MERMANS KENKOSENKI, “A PLATEIA SE ABRE, MESMO SEM SABER O IDIOMA QUE ESTAMOS CANTANDO. É UMA CONVERSA DE CORAÇÃO PARA CORAÇÃO E É ESSA CONEXÃO QUE TODO ARTISTA TENTA”

Olha isto Veja o vídeo

da matéria noraggatv.com.br

Músicos de vários locais do mundo, como estes indianos, foram convocados para se juntar ao projeto

30,

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Atitude Comportamento Estilo 24hs na sua TV por assinatura

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NOITE ADENTRO

fotos Carol Vargas

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O Mambo Drinkeria, um dos únicos estabelecimentos em Belo Horizonte

a adotar o conceito de pub latino, oferece mais de 100 opções de

drinks e coquetéis. O cardápio é uma fusão das culinárias latina, clássica

e asiática, com toques típicos da comida de boteco mineira. Os pratos

são servidos ao estilo finger food, o que convida os frequentadores

a comerem os petiscos com as mãos. O design do interior do bar foi inspirado na Art Nouveau, da década

de 1930. A ideia é que a decoração revele um lugar que foi acumulando

experiências ao longo do tempo e que flerte com todas as tendências.

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CONECTADOS

por Alex Capella ilustração Luís Matuto

A TERRA DOS MORTOS-VIVOS

Redes sociais mantêm como vivos virtuais quem já morreu na vida real A vida eterna deixou de ser apenas um so-

nho para a humanidade e a ciência não foi res-ponsável por isso. A afirmação parece absurda. Mas a expansão da internet trouxe à tona um paradoxo. Para chegar à imortalidade, basta morrer. é isso mesmo. Pelo menos no mundo digital. Diante do crescimento do número de mortos reais que se tornaram vivos virtuais, diversos sites passaram a oferecer, mediante mensalidades, manutenção de perfis nas re-des sociais ou até o envio de mensagem por e-mail para amigos e familiares durante anos. Porém, também é possível manter-se ativo na rede sem gastar um tostão sequer.

Prova disso, é a ex-modelo eliza samudio. Desaparecida há pouco mais de um ano, a ex--amante de Bruno, ex-goleiro do Flamengo, é dada como morta pela família e pela polícia. No entanto, no site de relacionamento Orkut, Eliza está vivíssima. Quem acessa seu perfil mais popular encontra 981 amigos cadastra-

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A TERRA DOS MORTOS-VIVOS

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Dada como morta pela polícia, Eliza Samudio continua “viva” no Orkut

O site americano Legacy Locker oferece proteção de e-mails e dados relevantes do falecido

dos e centenas de mensagens. Da lista de ami-gos, não figuram os nomes de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, nem de Marcos Apareci-do dos Santos, o Bola. Não por acaso, os dois são apontados pelo Ministério Público como os principais suspeitos de participarem do se-questro e morte da ex-modelo na vida real.

Selvageria à parte, muitos adeptos das redes sociais estão ali pelo interesse comum em torno do tema morbidez. Uma pesquisa simples no Orkut, por exemplo, com a palavra “morte”, aponta milhares de comunidades relacionadas ao tema. A mais popular em português supera os 23 mil associados. O objetivo da tal comunidade é abrigar perfis de pessoas que gostam de ver e discutir temas ligados à morte. No Orkut, parentes dos mortos também podem requisitar a senha dos falecidos e atualizar a página ou então deletá-la.

Hoje, o maior dos sites de relacionamen-to social, o Facebook, estima que 3% de seus usuários já morreram. No fim de 2009, a em-presa anunciou serviços para manter o perfil dos mortos, mesmo que por anos. “Quando alguém parte, não fica apenas em nossas me-mórias, mas também fica em nossas redes so-ciais”, diz o site em sua página de blogs. “Para refletir essa realidade, criamos um memorial de perfis, um lugar onde as pessoas podem salvar e compartilhar suas memórias sobre pessoas que morreram”, continua o texto.

Há duas opções para ter seu perfil nessa galeria. O usuário pode pedir ao Facebook ou família e amigos podem tomar a iniciativa. Para isso, pede-se uma prova de relaciona-mento com o morto ou mesmo um certificado de óbito. O site afirma que informações consi-deradas sensíveis são retiradas, como telefone e endereço. O perfil é congelado, para que nin-guém possa modificá-lo. O Facebook bloqueia novos amigos que queiram adicionar o morto, mas permite que os relacionamentos estabe-lecidos continuem a mandar recados.

é esse nicho de mercado que alguns sites, principalmente nos Estados Unidos, querem explorar. O MyLastemail.com possibilita ao usuário com a morte encomendada planejar um e-mail de despedida para depois do fim da vida. Um amigo próximo daria o sinal verde para o envio. O pagamento anual varia entre 50 e 100 dólares. Há ainda a possibilidade de programar para uma data futura o envio de um e-mail por parte do falecido. O serviço chega ao ponto de oferecer o envio de e-mails na data de aniversário de um familiar, anos depois da morte do dono da conta. Claro, quanto mais serviços encomendados e mais anos de duração, mais cara é a cobrança em vida.

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Com o lema “Superando a morte”, o Deathswitch.com promete, por exemplo, ajudar o falecido a não levar segredos para a túmulo. “Não morra e leve consigo segredos”, diz o site. A ideia é a de que, diante da morte do dono de uma conta de e-mail, a empresa envie uma mensagem em nome do morto revelando segredos guardados por anos. Outro serviço é o do site GreatGoodbye.com, que oferece enviar a familiares e pessoas designadas de antemão, a informação de como o falecido gostaria que fosse seu funeral. A gestão da vida digital de uma pessoa ainda é oferecida pela LegacyLocker.com, que promete bloquear todas as contas e e-mails do usuário morto, protegendo dados relevantes e evitando a atuação de hackers ou de organizações criminosas.

Para a psicóloga Júlia Ramalho Pinto, em meio a tantas incertezas, a morte é a única certeza na vida. Daí, segundo ela, o grande interesse pelo assunto nas redes sociais. “[a morte] é uma certeza absurda. é absurda porque, por mais que tentemos, não encontramos explicação para ela”, afirma Júlia, lembrando que, antes das redes sociais, o homem pre-cisava plantar uma árvore, escrever um livro ou ter um filho para se tornar imortal.

Uma das poucas estudiosas do luto no Brasil, a professo-ra da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Helena Franco, diz que o chamado “diário post mortem” é uma possibilidade aberta para que parentes e amigos en-contrem uma forma de lidar com a perda. Segundo ela, o uso da rede para “falar” com pessoas mortas pode ser encarado como uma substituição de antigas práticas. “Orações e home-nagens aos mortos eram comuns e estão se perdendo. Agora, o problema é que a internet rompe os limites da privacidade, e a morte, que era de domínio privado, se torna pública”, diz.

Com a redução da privacidade, parte da vida dos in-ternautas mortos permanece vagando pela rede. Continuar recebendo mensagens na página do Orkut ou do Facebook depois de morto ou ter seus e-mails lidos por pais, mulheres ou maridos são apenas duas das situações destes novíssimos tempos. Por isso, é preciso pensar também em enterrar ou não sua vida na internet. A ordem natural é que o número de pessoas mortas e os rastros deixados por elas na rede au-mentem progressivamente, criando uma geração de mortos reais/vivos virtuais. Com isso, bem antes da ciência, a internet já possibilita, pelo menos virtualmente, a sensação da imor-talidade. Alguém se habilita?

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O FACEBOOK BLOQUEIA NOVOS AMIGOS QUE

QUEIRAM ADICIONAR O MORTO, MAS PERMITE QUE

OS RELACIONAMENTOS ESTABELECIDOS CONTINUEM

A MANDAR RECADOS

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NOterminal

Despedidas, reencontros, correria e conexões. Um dia no Aeroporto de Guarulhos, o maior da América do Sul, seus personagens e suas histórias

fotos Marcelo naddeo

CONECTADOS

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por Lucas Machado fotos Carlos hauck

< kit sobrevivência >

brunamiranda

ESTILO

J.C.

Calça Jeans Amapô – Goodmood StoreSapato Goodmood StoreCamiseta EllusCasaco ZaraPulseira Presente de uma amiga

< Bruna veste >

Desde pequena, a mineira Bruna Miran-da adora ler e escrever. Isso fez com que ela abandonasse o sonho de ser nutricionista para se tornar jornalista de formação. Empre-endedora de primeira, além de sócia-proprie-tária de uma das casas noturnas mais bada-ladas da cidade, a Velvet Club, Bruna acaba de lançar a Mambo Drinkeria, primeira casa com o conceito de drinqueria e gastronomia de Belo Horizonte.

“Comecei a sair muito cedo, tocava em algumas festas, aí surgiu a ideia, junto com meu sócio Luciano, de montar uma boate. A Velvet é um esquema underground, que mis-tura música e arte em geral, a concepção foi baseada em pop arte com temáticas contem-porâneas. Já na Mambo, o design é voltado para a cultura latina, tipo Camem Miranda com literatura”, comenta.

Bruna curte fazer spinning, é fã de Strokes, gosta de tudo relacionado aos anos 1960 e cultura vintage, além de adorar BH. Prefere trabalhar de dia, é supermoderna e gosta de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Tem ainda um blog de moda, o Ameixa Japonesa. “Acho que a moda deve ser democrática, não pode ser uma regra, é mais uma inspiração e diversão. Acho que ter estilo é quando se con-segue transparecer através de suas roupas o que você realmente é”, define.

computador MacBook Pro

flyers diversos

pincel Dior Backstage Make-up

estojo de maquiagem Victoria’s Secret

agenda Checklist

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Inscrições abertasunibh.br/pos31 3319 9500

PÓS-GRADUAÇÃOEvolução através do conhecimento.

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CONECTADOS

texto e fotos sabrina Abreu

PODE ME CHAMAR DE “SENHORITA WIRELESS”

Na fronteira entre Israel e Síria, o ativismo social de uma jovem mantém o florescimento da Primavera Árabe

“No século 18, houve a Revolução Francesa. No 19, a Industrial. O século 20 assistiu a Revolução Bolchevi-que e o 21 vai ver que é a vez dos árabes. Nossa hora chegou e não temos mais medo”, afirma Xeque Hussan, líder de Buk’ata, uma das quatro comunidades drusas situadas nas Colinas de Golan, Norte de Israel, divisa com a Síria.

Em Majdal Shams, outra comunidade drusa da re-gião, Shefaa Abu Jabal, de 25 anos, é parte do movi-mento que tem tentado — e conseguido — derrubar governos ditatoriais em diferentes países do mundo árabe. Os pioneiros da chamada Primavera Árabe, Tu-nísia e Egito, depuseram, respectivamente, Zine el-Abi-dine Ben Ali e Hosni Mubarak, nos dias 25 de janeiro e 11 de fevereiro deste ano. As duas deposições serviram de inspiração para insurreições na Jordânia, na Líbia, na Síria. E é para este último país que a atenção da jovem de olhos verdes, cabelos pretos e mãos inquietas está voltada. Shefaa faz parte da oposição à presidência do sírio Bashar al Assad, “um líder dos mais cruéis, que tortura os manifestantes, mata, depois viola seus cor-pos”, ela aponta.

O xeque Hussan e a ativista social Shefaa têm em comum o fato de se considerarem sírios. Eles também são drusos, povo que não tem pátria e, regra geral, ado-ta a nacionalidade bem como os costumes do país no qual nasce ou vive. Mas o caso daqueles que moram em Golan é especial: o território foi anexado por Israel, depois que seu exército venceu o da Síria na Guerra

dos Seis Dias, em 1967. As famílias drusas baseadas no local continuaram a viver ali, mas sob a bandeira israelense (para a ONU, trata-se de um território sob ocupação). A alteração no mapa não modificou a iden-tificação dos membros desse grupo com a pátria onde nasceram e eles continuam se identificando como sírios — embora, no passaporte (israelense) que têm, o cam-po correspondente a nacionalidade esteja preenchido com a palavra “indefinida”.

Se as semelhanças entre Hussan e Shefaa se refe-rem à nacionalidade, as diferenças vão além. Isso ficou claro numa conversa no restaurante Undefined, nome-ado com bom humor para lembrar o status nacional escrito no passaporte dos moradores da vila. Ele, entre-vistado antes, em sua própria casa, declarou ser contra a mobilização anti-Assad levada à frente pelos jovens sírios dos dois lados da fronteira. “Entre os drusos, não é a maioria que decide o que é certo; são os mais velhos”, explicou Hussan, fazendo movimentos amplos com os braços. Entre um gole e outro de chá, Shefaa parecia segura do poder dos jovens e quis deixar claro que não se importa com as regras religiosas, entre outras ra-zões, por uma simples: ela é ateia.

Ateia, mulher, jovem, drusa, árabe que admite a existência do Estado de Israel — “Estamos em 2011, é hora de o mundo árabe perceber que os israelenses têm direito a ter uma pátria” — e que aprecia a liberda-de de expressão a qual tem direito no país – “Se moras-se do outro lado da cerca (na Síria), não poderia expres-

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sar meu repúdio a tudo o que tem ocorrido lá”. Formada em comunicação social pela

Universidade de Haifa, na terceira maior cida-de israelense, foi ainda na pré-adolescência que Shefaa começou a se questionar sobre a importância do direito às liberdades individu-ais. “Deixava de sair com os amigos para ficar em casa com meus livros. Comecei lendo (o escritor e poeta libanês) Jubran Khalil Gibran, depois passei para o socialismo, globalização, sem um critério definido, tentando aprender um pouco mais sobre o mundo.”

O acesso à internet potencializou suas leituras e uniu, virtualmente, Shefaa a outros jovens, principalmente árabes, que se debru-

çavam sobre a mesma busca. Com o tempo, tornou-se amiga de nomes como Wael Abbas, do Egito, e Assaad Thebian, do Líbano, impor-tantes blogueiros envolvidos na Revolução Árabe. Convidada por uma ONG sueca para participar de uma programação especial para lideres árabes, em 2010, ela lembra que, du-rante a viagem de um mês pela Escandinávia, seus jovens colegas costumavam perguntar uns aos outros e a si mesmos quando haveria alguma mudança. “Mal sabíamos que ela es-tava prestes a começar.”

O movimento do qual Shefaa faz parte e é uma das líderes tem algumas particularida-des. é mais silencioso, visando proteger outros

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mentos e velórios, sendo, inclusive, privados de receber uma bênção especial no dia da morte (rito semelhante à extrema unção para os católicos).

Num dia comum, Shefaa trabalha numa empresa de pes-quisa e coleta de notícias em Herzlia. No resto do tempo, se conecta com os outros envolvidos na revolução. Recebe o link de matérias bloqueadas na Síria (como as manchetes apare-cem na busca do Google, por meio do link, ela os lê, em Israel, traduz para o árabe e envia para o outro lado da fronteira, por e-mail). Recebe imagens e vídeos das manifestações reprimidas brutalmente. “A dificuldade é checar as fontes, já que ninguém quer se identificar. Quando tenho informações suficientes, divulgo para a imprensa internacional e também coloco na página secreta do Facebook, para que mais pesso-as vejam quem Assad realmente é.”

Entre uma atividade e outra, há um ano, Shefaa con-seguiu tempo para começar a namorar. Pela internet, claro. “Pode me chamar de ‘miss wireless’, tudo o que faço começa assim.” O escolhido, um rapaz druso palestino que mora na Suíça, foi conhecido por causa de um amigo da época da fa-culdade. Ele costumava dizer: “Nenhum druso jamais aceitará casar com você, que é cheia de opiniões. Apenas meu primo poderia fazer isso”. Um dia, o primo escreveu para ela, deu certo e, desde então, ele viaja a cada dois meses para os dois se encontrarem.

A vila onde Shefaa nasceu e mora (por opção, “porque não é tempo de deixar este lugar”) é onde está o Shouting

envolvidos entre os drusos em Israel, na Síria, ou outros rebeldes membros de minorias (os cristãos, os alauitas). Assad, ao contrário dos ditadores tunisiano e egípcio, não apresenta sinais de que cairá tão cedo. Caso as manifes-tações das ruas sejam esmagadas e ele con-tinue no poder, as retaliações para nomes que pudessem ser ligados ao de Shefaa seriam as mais terríveis. O mesmo ocorreria caso Israel devolvesse o território ocupado de Golan para a Síria e os drusos daquele local, hoje prote-gidos pela fronteira, fossem colocados sob o regime de Assad. “O medo de vingança é uma realidade todos os dias”, resume ela.

Entretanto, em seu blog, nas entrevistas constantes para a mídia estrangeira, em uma página fechada e secreta no Facebook, ela leva adiante a esperança de que a ditadura e o medo darão lugar à democracia e à liberdade. “Algumas das pessoas que participam desta página são meus vizinhos de vila, que nunca falam comigo por causa de minha má fama, mas que olham para mim com muda admi-ração. Sei que estão começando a pensar em questões importantes”, acredita.

A tal má fama diz respeito às declarações públicas anti-Assad — postura rara, por causa da truculência do governo sírio aliada à aprovação do mesmo, que é apoiado por setores-chave do país e conta com a fidelidade do exército contra os manifestantes. Por conta de seu posicionamento político, Shefaa é ameaçada pelos líderes religiosos de cair no ostracismo em sua comunidade, o que significa que tanto ela quanto sua família — pai, mãe e irmãos — seriam proibidos de frequentar ocasiões sociais, como casa-

NUM DIA COMUM, SHEFAA TRABALHA

NUMA EMPRESA DE PESQUISA E COLETA DE NOTÍCIAS EM HERZLIA.

NO RESTO DO TEMPO, SE CONECTA COM OS

OUTROS ENVOLVIDOS NA REVOLUÇÃO

48,

Page 49: Ragga #51 - Conectados

nas Colinas de Golan: ponto de observação israelense na fronteira com a Síria

Bom humor: o nome do restaurante

lembra da condição dos drusos da região,

que tem nacionalidade indefinida no passaporte

Mount (Monte do Grito), um lugar na fronteira no qual, depois de as famílias sírias, especialmente as drusas assentadas em Golan, terem sido separadas no pós-guerra de 1967, tradicionalmente, famílias de ambos os lados se reúnem para saudar uns aos outros, com megafones em punho. “Coisa da era pré-celular”, explica ela. Entretanto, a tradição persistiu, especialmente no aniversário da separação, 5 de junho, como um simbolismo. Neste ano, a data foi marcada pela tentativa de mani-festantes do lado sírio de invadir a área israelense, e foram recebidos com tiros. O governo de Assad afirmou que 20 pessoas morreram, mas a ONU não teve meios de averiguar o número.

Israel afirma que essa foi uma estratégia do ditador para desviar a atenção da opinião pública para o que ocorre no território sírio. Semanas mais tarde, ficou provada a ligação entre o grupo que tentou invadir Israel (gritando palavras pró-Assad) e membros do governo, que teriam pagado mil dólares para cada um (o valor e o pagamento não foram confirmados, apenas o fato de eles terem sido transportados num ôni-bus pago pelo governo).

Shefaa foi contra a ação do exército israelense, que atirou em pes-soas desarmadas (embora de acordo com o direito internacional de proteger as próprias fronteiras, inclusive, fazendo uso da força). Feita essa ressalva, ela é prática em relação a esse conflito: “Muitos dos que estavam ali no dia 5 nem eram drusos, não queriam ver suas famílias do lado de cá. Eram palestinos com o intuito de se manifestarem contra Israel. Pode ser uma luta legítima, mas o caminho de volta para a casa deles não passa por aqui”.

Com a memória impactada por anos e anos ouvindo as saudações vindas dos megafones dos dois lados da cerca que separa sua vila do país que ela chama de seu, nascida na década de 1980, quando o terri-tório já havia sido perdido pela Síria há duas décadas, Shefaa tem uma relação poética com o Monte do Grito, mas encontrou outra forma de al-çar sua voz. E sua mensagem tem ganhado eco e sido traduzida mundo afora, em lugares como Austrália e Inglaterra. E o Brasil.

49,

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QUEM éfotos Carlos hauck

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fotos Carlos hauck

51,

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CONECTADOS

Page 53: Ragga #51 - Conectados

Sem rastrospor Flávia Denise de Magalhãesilustração Luís Matuto

Você cresceu com a internet. Aos 15 anos tinha Orkut, em seguida abriu um fo-tolog para a turma, seguido de um blog no qual você falava das dificuldades de sua vida. Porém, o tempo passou e você já se esqueceu da avalanche de fotos, textos e conversas que postou na rede. Isso, até que um amigo das antigas posta no Facebook, fazendo questão de lhe marcar, aquela foto da galera tomando todas, aos 16, no quintal da sua casa, e coloca na legenda: “Achei no fotolog!”.

Só por curiosidade, você faz uma rápi-da visita ao fotolog em questão e descobre que a foto que o amigo postou é uma das menos constrangedoras. Depois de salvar as fotos no computador, você apaga a con-ta e respira aliviado, mas acaba digitando seu nome no Google para ver o que mais existe sobre você on-line. E aí leva um cho-que. Cada comentário que já fez em blogs alheios, todas as fotos do Orkut, Facebook, Myspace e qualquer outra rede social que você utilizou, mesmo que somente por al-guns minutos, estão lá.

“Postar suas coisas é muita falta de privacidade”, conta Daniela Mineiro, de 23. Há quatro anos, ela e seu namorado apagaram todos os seus perfis em redes sociais. “Eu sentava no computador para estudar, mas acabava entrando no Orkut, Facebook e quando via já tinha passado a tarde inteira olhando o perfil de todo mun-do, conferindo o que está rolando. Era mui-to vício”, confessa.

Desde então, ela vive uma vida desconectada. “Os amigos ficaram cha-teados na época, mas falo: ‘Não tenho Facebook, mas tenho celular’”, diz Danie-

Será que você conseguiria apagar sua pegada digital e desaparecer por completo?

la, que já perdeu convites para festas e reuniões de turma por não ter uma conta. No entanto, apesar dos desencontros, ela promete que não tem vontade de voltar. “Se eu fosse fazer um blog profissional, poderia criar uma conta, mas para coisas pes-soais, não”, decreta.

,Na hora de se apagarComo você ainda tem todas as suas senhas — você guar-

dou todas elas, certo? —, entra nos serviços, salva as fotos e textos no computador e deleta sua conta. Porém, quando volta ao Google alguns dias depois, ainda está tudo lá. Isso acontece porque os serviços na internet não armazenam suas informações somente na sua conta, mas na dos seus amigos, nos grupos dos quais participou e os comentários que você fez. Está tudo on-line.

Para ajudar quem está na batalha para apagar sua pega-da digital, foram criados alguns serviços de “suicídio on-line”. Um dos mais conhecidos é o suicideMachine.org. O serviço é grátis e basta você colocar seu nome de usuário e senha para que eles percorram o Facebook, Flickr e LinkedIn inteiro, apa-gando contatos, fotos e comentários, um por um. Pouco menos de uma hora depois, você entra no site em qual só existe o seu login e deleta a conta.

,Como se manter invisível

Existem casos em que o conteúdo que você deseja apagar não está em uma conta que pertence a você. “A primeira coisa a se fazer é preservar a prova. Em seguida, deve-se notificar o responsável pela página pedindo a retirada. Se não for cumpri-do, pode entrar com um processo”, explica o advogado especia-lizado em internet, Alexandre Atheniense.

Apesar das dicas, Alexandre completa que o ideal não é retirar tudo da web, mas “criar uma presença on-line que não afete a sua esfera privada”. Para encontrar o equilíbrio, ele su-gere usar o Google Alerts e o eu na Web, outro serviço do gigante. Com o primeiro, você pode monitorar tudo que é dito sobre você, usando o seu nome como palavra-chave. Com o eu na Web é possível remover dos resultados de busca con-teúdos que você julga inapropriados.

53,

Page 54: Ragga #51 - Conectados

ON THE ROAD ,marcha da liberdade

por Bernardo Biagioni

#marchadaliberdade

RICA

RDO

VIL

LELA

Agora falta só você sair mais de casa. E dizer para todo mundo que também

está participando de Uma Revolução

Faltam letras neste cartaz. Faltam palavras no seu jornal

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BERN

ARD

O B

IAG

ION

I

Dezoito de junho de dois mil e onze e estamos enfim todos juntos na Praça da Estação, mil e setecentas almas em desas-sossego profundo, em angústia contínua, um filete da socieda-de que não se rendeu aos sacrilégios de uma vida de segurança e de conforto, de estagnação e mediocridade, de alienação e pouca vontade em se despertar entre os ventos que o Tempo anda soprando, um zumbido de amor, um zumbido de medo.

Estamos todos de pé no centro da Praça da Estação, Belo Horizonte, coloridos e com tambores, antecipando em conver-sas desencontradas e nos cantos de ouvido que a revolução está mesmo acontecendo, que os ares estão mudando, que talvez esteja para nascer em breve Um Sentimento, qualquer que seja O Sentimento, que talvez conforte essa nossa geração das perguntas existenciais que andam roubando todas essas últimas noites sem sono.

é como se por cima da estação central estivesse agora rodopiando uma onda perto de seu cume, naqueles instantes decisivos quando nos perguntamos como é que ela vai rolar para baixo, quando não existem respostas, mas sim uma fúria e uma vontade animalesca de finalmente nos explodirmos em

chamas, mostrando enfim quem somos, o que queremos e para onde vamos.

E vamos até o palácio do governador, pode crer que sim. Avenidas Amazonas e João Pi-nheiro acima cantando e acalentando a nossa garganta; gritando pelo respeito e pela igual-dade, por direitos e por necessidades, pela na-tureza e por uma consciência mais aberta, es-cancarada, apaixonadamente preparada para enxergar além das percepções sãs que hoje acometem o mundo de razões ultrapassadas.

Queremos não mais que a nossa liberda-de, a de ir e a de vir, de ficar e de viajar, de ser- mos respeitados nesta juventude que é a ta-refa de viver, arriscando e lutando, podendo cantar com os pulmões os sermões do Nosso Tempo, desta década, na qual residem todas as nossas lástimas, todas as nossas buscas, todas as nossas ambições e idealizações para um país que seja justo e sincero.

praça da estação. De onde saímos para tomar a liberdade

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RICA

RDO

VIL

LELA

RICA

RDO

VIL

LELA

BERN

ARD

O B

IAG

ION

I

ON THE ROAD ,marcha da liberdade

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Tomamos então a prefeitura, Avenida Afonso Pena, número 1.212, e “ocupa, ocupa, ocupa a prefeitura”, gritam, e queremos colo-car todos os preceitos para baixo, a organiza-ção falha e o descaso público; um chute bem certeiro na tradicional família mineira que não enxerga além da sala de jantar, alimentada por uma mídia alienadora e maqueada, uma realidade forjada em imagens compiladas pela TV que acha que o povo ainda é bobo.

Mas não somos e estamos aumentan-do de número — e nem adianta os guardas municipais virem tentar nos abater — porque somos agora partes de uma teia, uma cone-xão latente, um emaranhado de crenças e credos que se misturam no meio desta Gente Maravilhosa que está finalmente ganhando as ruas; estamos todos prontos para batermos de frente, rosto a rosto, corpo a corpo, contra tudo aquilo que nos é imposto impiedosamente.

Praça da Liberdade vem chegando, e já se torna visível a cúpula dos coqueiros imperiais que oscilam no vento, o cheiro e as sombras confortam e abrigam as nossas palavras infla-madas e contaminadas por um desejo iminen-

SOMOS AGORA PARTES DE UMA

TEIA, UMA CONEXÃO LATENTE, UM

EMARANHADO DE CRENÇAS E CREDOS QUE SE MISTURAM

NO MEIO DESTA GENTE MARAVILHOSA QUE ESTÁ GANHANDO

AS RUAS

e o sujeito exibe uma caveira. Porque a parada é treta

Garota exibe algumas das reivindicações das “vadias” que marcharam

Page 57: Ragga #51 - Conectados

BERN

ARD

O B

IAG

ION

I

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te de mudança. Agora somos muito mais do que ontem, um pouco menos do que amanhã, e não adianta mais fechar a porta na nossa cara, atravessar a rua enquanto a gente pas-sa, porque a juventude está tomando o con-trole de volta.

é que estamos conectados, “bixo”, e ne-nhuma ortodoxia do mundo vai impedir toda a poesia que dança entre as nossas conversas conspiratórias no Facebook, as discussões que travamos no Twitter, as transmissões marginais que acompanhamos, via twitcam e todos os ví-deos, blogs, bandas, coletivos, tumblrs e even-tos que estão fazendo a nossa cabeça, expan-dindo a nossa visão sobre o mundo, nos abrindo a porta para um infinito terno, pleno e sereno.

Hoje marchamos, e pouco importa quan-do é que chegaremos a algum lugar além do palácio do governador; nosso prazer está na busca e no desafio, nas conquistas pontuais e nos sorrisos, e tudo que nos motiva é um bom e velho desejo antigo: que finalmente sejamos livres, leves e loucos. E que amanhã amanheça-mos ainda mais juntos e conectados uns com os outros.polícia faz a escolta

dos manifestantes. Acompanham de perto o nosso direito de protestar

Page 58: Ragga #51 - Conectados

À florda pele

por Lígia paiva

Ragga

modelo Ritiele Dezetefotos Gisele sanfelice

Ritiele, gaúcha de 22 anos e curvas har-moniosas, diz ter como melhor qualidade seu pior defeito: a passionalidade. Tudo que faz, faz com paixão, com entrega. Segundo a garota, é assim que colhe os frutos e as consequências de sua personalidade. E foi exatamente com toda essa intensidade que a estudante de artes cênicas se despiu de personagens para ser cli-cada em toda a sua doçura.

58,

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59,

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MODeLO ritiele dezetepRODUÇÃO e FOTOs gisele sanfelice FiLMAGeM e eDiÇÃO lucas aokiMAKe-Up hayge reisApOiO hurley e loja amoresObjetiva, otimista e determinada, Ritiele é o tipo de mulher

que sabe muito bem o que quer. Ao ser indagada sobre seus sonhos, ela responde com simplicidade cativante: “Quero ter o privilégio de trabalhar com o que amo e ser reconhecida por isso”. E o que ela ama? “O ser humano. Acima de tudo, acredito na índole, na alma. Atuar é uma forma de resgatar o que há de mais humano no mundo, é a base do meu trabalho.” Sua ou-tra paixão é viajar. A garota já se aventurou pela Europa, tendo morado e estudado na Espanha por um tempo. Hoje, morando em São Paulo, Ritiele diz gostar dos dias de sol na capital, mas revela que ainda pretende voltar para o velho continente.

O ensaio completo você confere em ehgata.com.br

Page 63: Ragga #51 - Conectados

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Page 64: Ragga #51 - Conectados

CONSUMO

por izabella Figueiredo

Smartphones e laptops revolucionaram a for-ma como as pessoas vivem. Você sempre pode ser alcançado, verificar seus e-mails ou navegar na web. Fica impossível relaxar quando é tão di-fícil parar de trabalhar. A dica é estabelecer limites com a tecnologia. Nem que seja por um momento, desligue o celular, feche a tampa do laptop, ponha o telefone fora do gancho. Não tenha medo se, de repente, a vida ficar tranquila demais. Em 20 minu-tos, você se adapta ao novo ritmo.desconectar

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3FO

TOS:

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ULG

AÇÃO

ANA

SLIK

A

ANA

SLIK

A

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1. < Tá pra jogo >Esqueça cartuchos e CDs porque os jogos da vez são feitos de madeira e vidro. Divirta-se com um tabuleiro de xadrez decorativo ou com o Capitão Cook, jogo de origem inglesa em que o objetivo é colocar quatro esferas em sequência, na horizontal, vertical ou diagonal. Chame um parceiro e se jogue!R$ 140 e R$ 242 (xadrez)origem.com.br

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Page 66: Ragga #51 - Conectados

fale com ele:[email protected]

DICAS DE CDS QUAL É A DA MÚSICA

CECÍ

LIA

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COLUNA ,frente digital: o programa dos artistas independentes

#FALANAFRENTEW

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produtor e tecladista

da banda Skanktwitter.com/

programafrente

< HENRIQUE PORTUAL >

DICA DE LIVRO

JOÃO

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AÇÃO

MÚSICA

Falando com o Frente, Bruno souto, da pernambucana Volver, hoje radicada em São Paulo — banda que está pres-tes a lançar o terceiro disco de sua carreira, Próxima estação.

Às vésperas de lançar o terceiro disco, conte o que mudou do primeiro álbum ao atual.

No primeiro CD [Canções perdidas num canto qualquer], não nos conhecíamos como banda. Ganhamos um concurso que nos deu o direito de gravar um disco. Fomos lá e grava-mos. Foi rápido. O segundo [Acima da chuva] foi mais tra-balhado, com outra formação. E nesse terceiro disco mudou também a formação. Nele, estamos mais preocupados em trabalhar a música, num formato mais simples. Estamos mais preocupados com a canção.

Os discos anteriores foram lançados de forma independente ou através de algum selo?

Ambos foram lançados pela Senhor F Discos, de Brasília. A gravadora foi parceira desde o início, quando lançamos a pri-meira demo e eles se interessaram pelo trabalho.

Vocês já tocaram em grandes festivais do país. Como foi a entrada nesses eventos?

No primeiro trabalho, mal tínhamos feito shows e por meio de contatos do selo e de resenhas elogiosas do disco, come-çamos a rodar os festivais Brasil afora. Houve ocasiões que pagamos para tocar. Foi válido e importante para nos divulgar-mos, trocarmos experiências, conhecer-mos outras bandas. Hoje estamos numa “vibe” diferente.

Como foi mudar de Recife para São Paulo? Houve uma mudança significativa?

Totalmente. Já havia o interesse des-de o início da banda [em mudar], mas era uma ideia imatura. Depois de dois discos lançados e de termos formado um público fiel e numeroso em Recife, vimos que era hora de trilharmos outros caminhos. Viemos para São Paulo com o intuito de recomeçar, tocar para pouca gente, formar um novo público. E estar em SP nos abriu novos ares. Quer queira quer não, é a principal cida-de do país. O centro da mídia está ali. Há muitos caminhos para serem traçados na capital paulista.

Esta letra surgiu para preencher a linha melódica inicial que o Anzol tinha criado. Na cabeça dele, era uma vibe pós-punk, mas quando cantei ficou mais para Raul. E foi o João quem fez o começo todo da letra. Tem a ver com as pessoas que viviam dizendo que fizemos a escolha errada ao sair do Acre, que tínhamos perdido o timing ou mesmo que a banda não duraria. Tem muito da oposição que se cria nas relações de amor, quando ninguém acha que se machuca, mas no final sai todo mundo ferido. Para curar essas coisas, só o tempo e uma boa dose de silêncio.

Você fala tanto Mas não sabe nada Esse nosso filme Nunca terminou Ninguém viu o final

Você sabe tudo Eu me desespero E o que eu não tolero Você inventou Insistiu, esqueceu, desligou

Quem nunca fez o mal Não vai pedir perdão

O amor só não me satisfaz Quando muito é muito pouco Quantos discos você vai ouvir? E quanto sua cabeça ainda aguenta no fi nal?

Silêncio na estrada é quase tudo Silêncio na estrada e nada mais

Música: Silêncio Composição: Diogo Soares/ João Eduardo/Anzol/MagrãoBanda: Los PorongasDisco: O segundo depois do silêncio

Artista: Los PorongasDisco: O segundo após o silêncio Selo: Barítone Records

Artista: Leo CavalcantiDisco: ReligarSelo: Dele Dela

Elvis & Madona (Uma novela lilás)Autor: Luiz BiajoniEditora: Língua Geral216 páginas

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Page 67: Ragga #51 - Conectados

Bob Dylan, que, por sua vez, ajudou a moldar o canto quase falado de Zé Ramalho. Ramalho, que veio ao Sul como integrante da banda de Alceu Valença, viu o amigo e parceiro plantar seu misto de rock e música nordestina nos cérebros de caranguejo de Chico Science e do movimento Manguebit (beat).

Na categoria “curiosidades”, uma boa lem-brança é a possibilidade do Kiss, uma das mais longevas bandas de rock de todos os tempos, ter resolvido pintar o rosto depois de conferir o visual de Ney Matogrosso e seus Secos & Molhados. Pode não ser verdade, mas é uma boa história.

Pesando mais à mão, é interessante ver como a literatura, a filosofia e o ocultismo inspiraram o rock. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, com seu polêmico niilismo, foi fon-te de várias bandas, como o grupo de black metal Gorgoroth, que tem discos dedicados a Nietzsche, como Antichrist e Will to power. Aleister Crowley, mestre do ocultismo e da ma-gia negra, foi guru do pioneiro do metal, Jimmy Page, do Led Zeppelin, que chegou a comprar a casa do mago e editar alguns de seus livros. Crowley também foi fundamental para a par-ceria de Paulo Coelho e Raul Seixas, defenso-res do lema da sociedade alternativa: “Faz o que tu queres, pois é tudo da lei”. E o Marillion, grupo progressivo de Fish e cia., tirou seu nome do romance Silmarillion, de J.R. Tolkien, autor do Hobbit e do O Senhor dos Anéis.

Na bossa nova, o estilo suave de cantar do americano Chet Baker foi ouvido com atenção por João Gilberto que, por sua vez, influenciou Roberto Carlos. Ainda sob influência do jazz, o grupo vocal mais famoso da bossa, Os Cario-cas, usou como matriz os Hi-Lo’s, enquanto a guitarra do papa Roberto Menescal muito deve ao estilo elegante de Mr. Barney Kessel.

Parando e pensando, ou pensando sem parar, a lista tende ao infinito. Qualquer tarde no Google ou uma folheada em livros de músi-ca vai abrindo árvores de coincidência, plágios e inspirações e outras conexões. Um bom exer-cício da série “na natureza nada se cria, tudo se copia”, para ficar em mais uma frase anto-lógica que, por sua vez, já deriva de outra. Mas, deixa para lá, senão vai faltar espaço.

Humorista, tradutor, cronista, cartunista e dono de mais uma lista de talentos, o frasista Millôr Fernandes tem um lema histórico: “Livre pensar.. . é só pensar”. O tema “conectados”, que rege a pauta deste número da Ragga, estimula o livre pensar, por provocar asso-ciações de artistas com músicas, livros, ima-gens, histórias e, claro, outros artistas.

Para começar por agora, vale citar as se-melhanças entre Lady Gaga e Madonna. Me- lhor em atitude do que em música, Gaga, a loura performática, soa como uma Mrs. Ciccone diluída, mas útil em tempos de memó-ria curta e informação fragmentada. Na mesma seara, Janet Jackson serve de inspiração para Rihanna, Aaliyah e Beyoncé, que cita Lauryn Hill, Jackson Five e Prince como bases de seu estilo. E Adele segue caminho semelhante.

Retrocedendo algumas décadas, é sempre bom lembrar dos Monkees, espécie de genéri-co dos Beatles, que fizeram sucesso em disco e série de TV. Os Fab Four, que merecem ter uma enciclopédia só de artistas que tiveram sua música e seu visual como base, foram fundamentais para a nossa Jovem Guarda, cujo estilo musical, o “iê-iê-iê”, saiu dos ver-sos “she loves you, yeah, yeah, yeah”. Criado por publicitários paulistas, o programa de TV que revelou Roberto, Erasmo, Wanderléa e ou-tros integrantes da festa de arromba teve seu nome tirado de um discurso de Lênin, que di-zia: “O futuro pertence à jovem guarda, porque a velha está ultrapassada”. Ou algo por aí. E, claro, não podemos deixar de lembrar do Oa-sis, dos irmãos Gallagher, talvez a mais com-pleta tradução de Lennon e McCartney para os tempos mais recentes.

A fonte de tanta inspiração também tem fonte. Paul McCartney sempre quis ser Buddy Holly ou Ritchie Valens. John Lennon tinha uma queda pelo passo de pato e pela guitar-ra de Chuck Berry. E George Harrison venerava Roy Orbison, com quem chegou a gravar nos Traveling Wilburys. E é bom lembrar que Keith Richards, dos rivais Rolling Stones, também tem Chuck Berry na primeira linha da lista de influências.

Woody Guthrie, o cantador político e anda-rilho americano, foi a principal fonte da arte de

COLUNA

por Kiko Ferreira

MÚSICA E O TEMA

A

INCLINAÇÕES MUSICAIS

FOTO

S: A

P PH

OTO

se tivessem se inspirado para além da estética, pode ser que os Monkees (abaixo) não fossem apenas uma cópia dos Beatles

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Page 68: Ragga #51 - Conectados

Maravilha da engenharia

moderna, Canal do

Panamá, rota comercial entre

dois oceanos, também

funciona como ponto turístico

CONECTADOS

por Diego suriadakis

Ponte das Américas

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Encontrar a menor distância entre dois pontos, dois extremos, dois portos, dois mundos: quando venceram o medo dos monstros marinhos e se lançaram ao mar em busca de uma rota mais curta para o maravilhoso e comerciável mundo oriental, os europeus se perderam várias vezes. Algumas dessas atrapalhadas viagens acabavam rendendo outros desafios que só viriam a ser superados muito tempo depois.

Fernão de Magalhães já tinha encontrado, em 1520, uma maneira de contornar a América do Sul e chegar no Japão. Tinham que sair da Europa na direção oeste, passar pelo que seria hoje Rio de Janeiro, Florianópolis e Punta del Este, no Uruguai, e atravessar um estreito, situado entre a Terra do Fogo, no extremo sul da América, e a Antártida, que tem uma das piores condições meteorológicas de navegação do mundo. Conexão dificílima.

Encontrar uma maneira mais fácil de ligar oceanos e negócios fez muito rei sonhar durante séculos. Em 1878, o Canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, já era um sucesso. Uma companhia montada por franceses para fazer a ligação direta entre Atlântico e Pacífico passou 10 anos dinamitando a costa panamenha, mas faliu em 1889. A topografia era diferente da de Suez e, aqui nas Américas, a malária e a febre amarela, que eram incuráveis na época, mataram 20 mil trabalhadores. A obra ficou um tempo parada. Os franceses tentaram de novo, porém dessa vez faltou verba.

Os americanos compraram, em 1904, o direito da construção do Canal do Panamá. Descobriram que as doenças eram transmitidas por mosquitos, deram um jeito de controlá-los e optaram pelas eclusas, um tipo de elevador aquático que eleva e rebaixa o nível da água,

para fazer os navios subirem e depois descerem as montanhas. Assim, contornariam também o problema da topografia do lugar. O Canal ficou pronto em 1914, com seus 81 quilômetros de extensão, custou 400 milhões de dólares e empregou 75 mil homens e mulheres.

Para quem vem do Atlântico e quer chegar no Pacífico, o navio, guiado por composições ferroviárias e rebocadores, entra numa comporta (da eclusa de Gatún) com a água no mesmo nível do oceano. Portões são fechados e válvulas de enchimento são abertas. A água entra através de poços do piso, elevando o navio 26m até o nível do Lago de Gatún. Fecham-se as válvulas e abrem-se os portões. O navio sai da comporta para o lago e segue para as outras comportas — São Miguel e Miraflores —, onde acontece o processo inverso de descida até o nível do Oceano Pacífico.

Atualmente, uma média de 14 mil embarcações/ano passa por ali. O país que mais transporta cargas é os Estados Unidos, seguido por China, Chile, Japão e Coreia. O Brasil aparece em 14° lugar, com um total de 5 milhões de toneladas transportadas no ano passado. As tarifas vão de acordo com a tonelagem dos barcos e são proporcionais ao peso da embarcação ou à dimensão e à quantidade de seus contêineres. Pode-se assistir à passagem dos gigantes passeando em pequenos barcos ou confortavelmente sentado em uma lanchonete com vista panorâmica. Agora, em tempos de mundo interligado, melhor é dar uma de Fernão de Magalhães, embarcar num cargueiro e fazer essa conexão ao vivo.

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Page 69: Ragga #51 - Conectados

Ferrarinos trilhos

Com uma velocidade que

pode chegar a 350km/h, o

trem-bala ligará Rio de Janeiro

a São Paulopor Bruno Mateus

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Sinônimo de tecnologia avançada, o trem de alta velocidade, ou trem-bala, está, desde 2007, nos planos do Governo Federal, que pretende colocar o Brasil num seleto grupo de países — Alemanha, França, China, Itália e Turquia são alguns deles — que têm esse tipo de transporte rápido. O Brasil seria o primeiro país da América do Sul a contar com um trem-bala — os vizinhos argentinos tinham projeto semelhante, mas, após a crise de 2008, parece ter sido esquecido no fundo de alguma gaveta empoeirada. Por aqui, o leilão da licitação será realizado neste mês e, caso haja sucesso, parte-se para as próximas etapas, como assinatura e implementação do projeto. A previsão máxima é que a obra seja concluída em 2018.

O primeiro trem-bala da história foi construído no Japão, nos anos pós-guerra, quando o país deu iní-cio à sua reestruturação depois da derrota em 1945. Em 1959, o Shinkansen série zero, como o trem ficou conhecido, começou a ser construído para atender o trecho entre Tóquio e Osaka. Em 1° de abril de 1964, o Shinkansen foi inaugurado a tempo dos Jogos Olím-picos de Tóquio. Sem nunca ter sofrido um acidente, o trem foi aposentado em 2008, quando fez a última viagem para 400 passageiros.

O chamado Trem de Alta Velocidade Rio-São Pau-lo (TAV RJ-SP), ou TAV Brasil, que ligará Rio de Janei-ro e Campinas passando por São Paulo, numa linha de extensão de 518 quilômetros, tem custo previsto de 34 bilhões de reais, sendo que 2/3 dos recursos serão financiados pelo Governo Federal. O valor total do trem-bala pode aumentar, mas, de acordo com o

diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Ter-restres (ANTT), Bernardo Figueiredo, a participação estatal será a mesma. O restante será viabilizado por investidores nacionais ou estrangeiros.

Estima-se que o valor cobrado pela viagem do Rio à capital paulista será entre 150 e 325 reais, depen-dendo da classe e do horário. O trecho seria feito em 90 minutos. O projeto prevê três estações no Rio – no centro, no Aeroporto do Galeão e na região fluminense do Vale do Paraíba; e outras seis em São Paulo, onde o trem passará pelo lado paulista do Vale do Paraí-ba, seguindo por Aparecida, Guarulhos, centro de São Paulo, Aeroporto de Viracopos até a ultima parada, no centro de Campinas. Segundo Bernardo Figueiredo, já consta a construção de uma linha que ligaria as cida-des de Belo Horizonte e Curitiba, e outra entre Campi-nas e Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

O assunto causa polêmica e há quem considere que o Governo não deveria dispensar 23 bilhões para a construção do trem-bala, tendo em vista, por exem-plo, a situação do metrô de muitas capitais, como Belo Horizonte. “Acho uma discussão equivocada. O TAV não está sendo feito em detrimento de outras priori-dades”, afirma Bernardo. O diretor-geral da ANTT ain-da esclarece que todo o desenho do projeto foi pen-sado e orientado por setores ambientais do Governo.

Com a realização da Copa do Mundo, dos Jogos Olímpicos e o projeto de construção do trem-bala, o Brasil parece entrar numa nova fase de desenvol-vimento. Resta saber se o discurso será seguido na prática ou se vamos, mais uma vez, perder o trem da história. Isso, só o tempo dirá.

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por Bruno Mateus

Olha isto: zimun.conexaovivo.com.brmyspace.com/zimun

Os versos dos MCs Castilho e Matéria Prima constatam o óbvio: o rap invadiu BH. O Zimun é, hoje, a prova viva da qualidade do gênero de produção local. A banda une as benfeitas rimas de BH — fato catalisado pelo Duelo de MCs — à competência técnica dos músicos. Uma versão brazuca do The Roots. “Tinham os que curtiam o rap no formato clássico e os que têm formação musical mais elaborada, que se juntaram”, conta Matéria Prima, ex-membro do Quinto Andar, célebre coletivo interestadual

J.D. Salinger é um enigma da literatura. Alguns anos depois do sucesso estrondoso do clássico O apanhador no campo de centeio, subitamente parou de publicar e preferiu a reclusão à vaidade e espetáculo do meio literário. Lançado no mês passado, Salinger: Uma vida evidencia os tormentos desse autor, que chegou a dizer, nos raríssimos contatos com a mídia, que adorava escrever, mas odiava publicar — seu último texto publicado data de 1965, na revista New Yorker. Considerada a mais valiosa biografia de Salinger, morto em janeiro do ano passado aos 91 anos, o livro remonta a história do escritor, desde a infância e juventude abastada, passando pelo primeiro amor, pelos encontros com escritores do calibre de Ernest Hemingway e Elia Kazan até o isolamento completo nas montanhas de Cornish, no estado americano de New Hampshire.

O único romance de J.D. Salinger, publicado em 1951, narra as desventuras de um fim de semana do adolescente Holden Caulfield, irônico e desiludido frente a um mundo hipócrita e pessoas farsantes, questionando tudo e todos no momento de transição para a vida adulta. Mark Chapman, assassino de John Lennon, estava com o livro no momento do crime e disse ter usado a obra como argumento para matar Lennon.

Holden Caulfield é um senhor de 76 anos que foge do lar de idosos e começa uma viagem pelos Estados Unidos até se encontrar com o próprio J.D. Salinger. Escrito pelo sueco Fredrik Colting, o livro, lançado por aqui em dezembro do ano passado pela editora Verus, rendeu uma boa polêmica e desagradou Salinger a ponto de seus advogados entrarem com pedido para a retirada dos livros das prateleiras.

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que foi um dos embriões do grupo. Os dois MCs se unem à guitarra de Edgar Dedig, ao baixo de Ravel Veiga, à bateria de Gabriel Bruce e à percussão de Rafael Nunes. Coyote fica por conta dos beats e sintetizadores e Rafael Bizzoto no trompete, teclado e vibrafone. Em 2010, veio o EP Alcançando o céu com os pés no chão, e um novo disco já está sendo gravado. Para Matéria, “romper barreiras e inovar” são as palavras de ordem da nova bandeira do rap mineiro.

Saia da garagem! Convença-nos de que vale a pena gastar papel e tinta com sua banda. Envie um e-mail para [email protected] com fotos, músicas em MP3 e a sua história.

PRATACASAda

Autor: Kenneth SlawenskiEditora: LeYa Brasil

salinger: Uma vida

O apanhador no campode centeio

60 anos depois – do outro lado do campo de centeio

ZIMUN

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Aqueça 150ml de água (equivalente a uma xícara de chá).

Em outro recipiente, misture três colheres de sopa de farinha de trigoe água fria.

Derrame a água quente sobre a massa de farinha. Misture até engrossar e deixe esfriar.

Para ficar mais resistente, adicione uma colher de sopa de açúcar depois que a cola já tiver engrossado.

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O tema desta edição é “conectados”. Recorte a marca da Ragga e cole em algum

ponto da sua cidade, onde quer que você esteja — Belo Horizonte, Nova York ou Jerusalém.

No revistaragga.com.br, você também pode imprimir e participar dessa brincadeira. Para ficar mais bacana, tire a foto e mande para a gente no

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Page 73: Ragga #51 - Conectados

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Quem a chamava de Olívia Palito nos tempos de colégio não poderia imaginar que hoje ela seria uma das modelos mais requisitadas e bem pagas do mundo. Sem nunca ter sonhado com glamour e passarelas, Isabeli Fontana completa 15 anos de carreira na elite das top models. Foi também com 15 anos, naqueles tempos em Nova York, que as coisas começaram a dar certo para essa garota de Curitiba. Cansada de tantas po-ses, ela até pensou em desistir e jogar tudo para o alto, mas a mãe, que a acompanhou em parte da temporada nos Estados Unidos, incentivou-a a continuar. Dizem que é bom ouvir con-selho de mãe. Desde então, Isabeli já desfilou para estilistas do nível de Versace e Valentino, estrelou campanhas publicitárias das principais grifes e marcas do mundo e foi capa das mais importantes revistas de moda.

Enquanto este texto é escrito ao som dos tangos de Pia-zzolla numa noite de segunda-feira, Isabeli completa 28 anos. E gosta dessa idade, se sente mais leve, aprendeu que a vida não pode ser mais tão corrida. Hoje mora em São Paulo com a avó, a mãe e os dois filhos — Zion, de 8, do casamento com o modelo Álvaro Jacomossi, e Lucas, de 4, da união com o ator Henri Casteli. Os filhos são a prioridade da modelo, que mantém o profissionalismo no lugar do deslumbramento e acha graça do jogo de aparências no mundo da moda. Durante nossa con-versa por telefone, entre risos fáceis, deixou claro que, apesar de encarar o trabalho com seriedade, se divertir é fundamental.

Isabeli planeja um futuro mais tranquilo com a família. Ela ainda sonha em estudar nutrição e artes plásticas. Romântica, confessa que, quando o assunto é relacionamento, já foi com muita sede ao pote, achou que tudo era para sempre. Decep-cionou-se com algumas pessoas no caminho, mas hoje parece saber bem o que quer.

COMO FOI SUA INFÂNCIA EM CURITIBA?FOI BOA, apesar das dificuldades dos meus pais, sempre foi muito boa, tenho boas lembranças. A gente morava em um condomínio grande, era bom. [Isabeli cumprimenta a amiga Paola e começa a procurar a câmera para “mandar as fotos para vocês”]

NA ÉPOCA DO COLÉGIO, VOCÊ JÁ SE DESTACAVA PELA BELEZA OU ERA ALVO DE BRINCADEIRAS POR SER ALTA E MAGRA?SEMPRE FUI MUITO MAGRA, então meu apelido era “Olívia Pa-lito”. Eu não gostava muito não, mas era verdade, era a reali-dade, né? [risos]

SE NÃO FOSSE MODELO, O QUE VOCÊ SERIA? NAQUELA éPOCA, queria ser veterinária, uma coisa nada a ver comigo. Quando se é novinha, a gente quer fazer alguma coisa que os amigos querem, quer seguir uma direção dos amigos. Nunca na minha vida imaginei que seria modelo. Não era uma coisa que eu queria, aconteceu naturalmente. Aí vi que conseguia ganhar meu pão de cada dia sendo modelo, foi tudo acontecendo.

VOCÊ TEM UMA LINHA DE ESMALTES E, NO ANO PASSADO, COMENTOU SOBRE O DESEJO DE ABRIR UMA PIZZARIA VEGETARIANA. ESSE SEU LADO EMPREENDEDOR É MUITO FORTE?AINDA GOSTARIA de fazer alguma coisa assim [como a pizza-ria], mas quando tiver um tempo hábil para isso. Atualmente,

MAIS QUE UMA LINDA MULHER

PERFIL

Depois de 15 anos de carreira, Isabeli Fontana aprendeu a ver a moda e a vida por outro ângulo. Mais madura, ela quer ir além da vaidade das passarelas

por Bruno Mateus e Lucas Machado fotos Alexandre Mota

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não tenho tempo para nada. Minha vida passa tão rápido e da-qui a pouco estou fazendo 30 anos. Quando tiver tempo, com certeza quero investir, ajudar a família.

SEU RITMO É ESSE MESMO, DE CIDADE GRANDE E AGITADA, OU VOCÊ SE VÊ MORANDO NUMA CIDADE PACATA DO INTERIOR?GOSTO DOS DOIS, quero muito ter uma casa onde tenha muito verde, natureza. Estou procurando uma casa para me mudar do apartamento, gosto muito de estar na paz. Se quero loucura, vou até o lugar.

O QUE DE MELHOR ACONTECEU NESSES 15 ANOS DE CARREIRA?CONHECI MUITAS CULTURAS, pessoas muito diferentes de mim. Uma vida que foi muito proveitosa.

PENSOU EM DESISTIR EM ALGUM MOMENTO?MUITAS VEZES. Teve um momento, quando eu tinha 15 anos, que ficou difícil e falei para minha mãe: “Não aguento mais ficar tentando esse negócio, fazer pose”. A gente conversou, ela disse: “Tenta mais um ano, se não der a gente para, volta a Curitiba”. Por incrível que pareça, me dei bem. Aí fui para Nova York, onde tudo aconteceu na minha vida.

SUA MÃE FOI COM VOCÊ, FICOU UM TEMPO POR LÁ?MINHA MÃE sempre foi muito minha amiga. Ela disse: “Esse mundo é perigoso, vou dei-xar minha filhinha do coração sozinha nesse mundo afora?”. Ela ficou do meu lado, dando o apoio que eu precisava. Aí comecei a me dar bem na moda, com 15 anos, e ganhar bastan-te dinheiro. Já achava que era dona do meu nariz, que sabia tudo. Quem me colocou no chão foi a minha família.

NO INÍCIO DE CARREIRA, COMO ERA A RELAÇÃO DOS FAMILIARES COM O SEU TRABALHO?MEU PAI E MINHA MÃE sempre me apoiaram, desde lá atrás tive apoio deles. Naquela épo-ca era bem complicado, achavam que mo-delo era prostituta. Minhas amigas falavam: “Nossa, como o pai dessa menina deixa ela ser modelo?”.

O QUE MAIS TE INCOMODA NO MUNDO DA MODA?AS PESSOAS GOSTAM muito de julgar, para mim o que importa numa pessoa não é nada relacionado à aparência. é engraçado, trabalho com isso, mas não vivo isso. Vivo feliz, me di-virto com os meus filhos, vivo uma verdade tão absurdamente grande que esse meio de apa-rências, para mim, é muito pequeno. Encaro simplesmente como meu trabalho. Engraçado você perguntar isso, é uma coisa que não tem a ver comigo.

A GISELE BÜNDCHEN É A MODELO PERFEITA?SIM, porque ela tem o melhor corpo, o melhor perfil. Ela entende uma pose, sabe mostrar em um simples olhar esse sentimento tão impor-tante de uma fotografia.

VOCÊ TEM DOIS FILHOS E UMA VIDA PROFISSIONAL MUITO AGITADA. COMO CONCILIA ISSO?TENHO AJUDA da minha avó, da minha mãe, senão... [risos]. Preciso do apoio da família. Sempre vivi muito de coração, tudo na minha vida foi muito intenso, vivi muito rápido. Hoje

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estou aprendendo como é a vida, não pode ser rápida, tem que viver com calma. Devagar e sempre é melhor. Com o trabalho, sempre tive a cabeça muito no lugar, já com minha vida amorosa não consegui, sabe? [risos].

POR QUÊ?FUI COM MUITA SEDE AO POTE. Me apaixonei e achei que ia ser aquilo para sempre, ia viver aquela paixão eterna e pronto. Vi que as pes-soas não eram como eu esperava que fosse. Fui muito ingênua.

VOCÊ É MUITO ROMÂNTICA?SOU, sou uma pessoa que gosta de amar, de fazer as coisas pelo outro, pensar nas ou- tras pessoas.

JÁ SE SENTIU CULPADA POR TER QUE FICAR LONGE DOS SEUS FILHOS, VIAJANDO TANTO?MUITO, muito. Faço terapia para ver se começo a encarar isso de uma forma mais natural. Hoje em dia, aprendi a viver, aceito a vida que tive. Sempre fui fazendo as coisas de olhos fecha-dos, sem pensar muito, sendo inconsequente. [Isabeli para a entrevista, conversa com sua amiga e procura alguma coisa. “Tenho uma caixinha com algumas coisas em Nova York. Tá vendo o problema de se ter duas casas?”]

VOCÊ FICA MUITO NESSA PONTE AÉREA SÃO PAULO-NOVA YORK?ATé ANO PASSADO, sim. Hoje estou indo muito para a Europa.

COM ESSA ROTINA DE VIAGENS, USA MUITO A INTERNET PARA SE COMUNICAR COM A FAMÍLIA?TIVE QUE APRENDER NA MARRA, não gosto muito dessas coisas, essa vida social digital. Aprendi a gostar, senão o mundo te engole. Agora tenho Skype, resisti muito e só agora tenho. [risos]

VOCÊ PARTICIPOU DE DUAS NOVELAS E DUAS MINISSÉRIES NA REDE GLOBO. COMO FOI ESSA EXPERIÊNCIA?FOI MAIS UMA BRINCADEIRA para mim, foi in-teressante, curti. Resolvi aceitar para ver se é legal. Para mim tem que ser divertido, senão não tem graça. Gostei muito de trabalhar com o [Miguel] Falabella, foi bacana.

O QUE VOCÊ DIRIA PARA QUEM ESTÁ COMEÇANDO NA PROFISSÃO DE MODELO E FAZ DE TUDO NA BUSCA PELA PERFEIÇÃO, FICA COM AQUELA PARANOIA DE COMER POUCO E ACABA SE ESQUECENDO DA SAÚDE?

é COMPLICADO, quando você trabalha com estética as pessoas não querem saber como você está, se você está bem. Querem te ver bonita na foto. Isso é muito banal, muito pe-queno. Ninguém pode te forçar a ser o que não é, encaro como uma brincadeira, como uma coisa legal. Ao mesmo tempo, sou muito re-grada e profissional. Se me sinto gorda ou que não estou legal, nem de cabeça nem de corpo, começo a fazer alguma coisa para melhorar, começo a malhar. Tenho essa responsabilida-de de estar bem. Primeiro lugar é estar bem de saúde, de cabeça. Tem muitas meninas que vejo por aí se matando para estarem magras, ficam se forçando para ficarem magras, mas não é por aí. Temos outras opções na vida. Escolhi ser feliz, me faria muito mais feliz ser outra coisa, não depender da minha imagem. Não é o sonho, nunca tive esse sonho de ser modelo. Tinha sonho de conquistar minhas coisas, de comprar minha casa. Ser modelo eu nunca sonhei, é engraçado isso.

EXISTE MUITA PRESSÃO?ONDE ESTOU, onde consegui chegar, não. Te-nho que ser profissional o bastante para estar na medida certa, comer bem. O meu meta-bolismo ajuda muito, sempre fui magra. Meu porte é magro. Foi uma coisa que Deus quis que eu fosse modelo. Claro que fiz bastan-te para estar onde estou, mas encarei como uma coisa profissional.

PERGUNTO PORQUE LI NUMA ENTREVISTA VOCÊ DIZENDO QUE ALGUNS AGENTES TE INCENTIVARAM A FAZER ABORTO DURANTE A SUA PRIMEIRA GESTAÇÃO.EU TINHA 20 ANOS, estava no auge, lá [nos Estados Unidos] é legalizado. Queriam ganhar dinheiro em cima de mim, uma coisa normal. Falei “claro que não”, a coisa que mais queria era ser mãe.

VOCÊ É A FAVOR DA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO?SIM, claro que sou a favor. Botar um filho no mundo e fazer mal para a criança? Ou quando não quer, quando for um acidente, um estupro, sei lá... Vai saber a vida dessa pessoa. Para ho-mem é muito fácil, né? Homem não se cuida, não engravida. Imagina uma menina muito nova, preocupada, aconteceu na primeira vez, às vezes nem tem penetração e a menina en-gravida. Sou a favor, sim. Se a mãe não quer, por que ela vai ser obrigada a ter? Para não cuidar bem, para maltratar?

O ASSÉDIO DA IMPRENSA TE INCOMODA?NÃO deixo de viver menos ou mais por isso.

SEMPRE VIVI MUITO DE CORAÇÃO, TUDO NA MINHA VIDA FOI MUITO INTENSO, VIVI MUITO RÁPIDO. HOJE ESTOU APRENDENDO COMO É A VIDA, NÃO PODE SER RÁPIDA, TEM QUE VIVER COM CALMA. DEVAGAR E SEMPRE É MELHOR

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NUNCA PASSARAM DOS LIMITES?Não, ACHO QUE ELES VÃO COM A MINHA CARA. [risos]

O QUE TOCA NO SEU SOM?GOSTO DE REGGAE, ROCK, HIP HOP, gosto de um monte de coisa. Adoro Beatles, The Doors, rock clássico.

JÁ LEVOU ALGUM CANO NA CARREIRA?JÁ. [risos] Confiei em um cabeleireiro, que era meu amigo, e ele não apareceu no trabalho. Fiquei na mão, sem maquiagem. Tive que cha-mar outra pessoa em cima da hora. Pega mal, é muito chato. Fiquei tão sentida que nunca mais trabalhei com ele. Sou muito sentimental.

E PROPOSTA INDECENTE?[Para um pouco e pensa] QUE EU ME LEM-BRE, não.

SENTIU ALGUM PRECONCEITO POR TER NAMORADO UM CARA NEGRO [FALCÃO, VOCALISTA D’O RAPPA]?NÃO NO QUESITO DE RACISMO. Mas no que-sito de “ah, ele não combina com você”, muito.

MAS ESTE “NÃO COMBINA COM VOCÊ” PODE SER PELO LADO DO RACISMO, NÃO?ACHO QUE NÃO, porque as pessoas pensam “ah, ela é uma princesa, precisa namorar um príncipe”, o tal príncipe dos olhos azuis, e nun-ca gostei do cara perfeitinho. Gosto de homem mais estiloso, diferente, acho lindo homem exótico. Gosto do cara mais macho. O que mais importa é como a pessoa é.

O QUE VOCÊ PENSA SOBRE COTAS PARA NEGROS EM UNIVERSIDADES?ACHO que todo mundo é igual, não tem essa coisa de ficar dividindo nada. O ser humano é igual, independente da cor, da raça. é estra-nho isso. Alguém sabe se tem mais negros ou brancos no Brasil? Ficar falando “precisa de ter tantos negros, precisa de ter tantos brancos”, acho que isso é discriminação. Tem que saber quem é mais inteligente e dar preferência aos mais inteligentes.

TEMOS UMA MULHER COMO PRESIDENTE DO PAÍS. O QUE ISSO SIGNIFICA PARA VOCÊ?SIGNIFICA MUITO. Mulher tem um sentimento diferente do homem, é muito sentimentalista, vê de um outro ângulo, é mais cuidadosa, de-talhista. Boto muita fé [no governo Dilma].

VOCÊ, QUE JÁ MOROU NA ITÁLIA, NOS ESTADOS UNIDOS E JÁ RODOU O

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TEM-SE DISCUTIDO SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA MACONHA, O EX-PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ENTROU NESSE DEBATE, PARTICIPOU DE UM DOCUMENTÁRIO SOBRE O ASSUNTO. O QUE VOCÊ PENSA A RESPEITO?ACHO QUE TEM QUE CONVERSAR COM QUEM ENTENDE, com os médicos. Se for uma coisa que vá fazer bem para o ser humano, acho que deveria [regulamentar], por que não? Mas como não sou médica, não estudo sobre neurônios, tem que conversar com uma pessoa que entenda.

FALA-SE MUITO SOBRE O FATO DE A DROGA ROLAR SOLTA NO MUNDO DA MODA. TEVE AQUELA IMAGEM DA KATE MOSS CHEIRANDO COCAÍNA, A NAOMI CAMPBELL JÁ ESTEVE EM CENTRO DE REABILITAÇÃO, JÁ FEZ SERVIÇO COMUNITÁRIO POR PORTAR E USAR.A NAOMI mais porque ela batia nas pessoas [risos]. Como em todos os mundos, a droga rola solta por aí. No mundo do meu irmão, no mundo da adolescência, na escola, na moda, no mun-do dos atores. O ser humano tem duas direções: seguir o certo ou o errado. Ele tem esse livre-arbítrio na mão. Sempre segui o caminho da felicidade, do futuro e da minha família.

VOCÊ JÁ USOU?TUDO PODE SER UMA DROGA quando é usado demais. Tive curiosidade de experimentar algumas coisas na minha vida, mas como curiosidade mesmo, o ser humano é curioso. Tive curiosidade, sim, e vi o que é bom para mim e o que não é. Adoro tomar champanhe, por exemplo, mas se você beber três garrafas vai ficar, entre aspas, drogado. E não é bacana, alcoo-lizado para mim é drogado, a mesma coisa. Não gosto de ficar inconsciente, gosto de saber o que estou fazendo. Me divirto tomando água com gás, que adoro.

O QUE VOCÊ LÊ?ULTIMAMENTE ESTOU LENDO sobre o comportamento hu-mano. Passei por muitas e boas na minha vida por confiar nas pessoas.

COMO REAGIRIA SE UM FILHO SEU FOR HOMOSSEXUAL?APOIARIA, mesmo não querendo que ele fosse. Apoiaria porque, em primeiro lugar, sou a mãe deles, nunca daria as costas para meus filhos, mesmo se eles fossem drogados ou presos. Mãe é para sempre.

VOCÊ TEM MEDO DE ENVELHECER?OLHA QUE ESTOU GOSTANDO de envelhecer, estou com quase 30 anos, faço 28 daqui três dias [em 4 de julho] e estou muito feliz com a minha idade, mesmo. Estou gostando de amadure-cer, de ver a vida por outro ângulo. Estou me divertindo mais, me sentindo mais leve, mais paciente. é engraçado o que a idade faz com a gente. Mas, por outro lado, não gosto das so-brinhas da barriga, da celulite que aparece, das linhas de ex-pressão. [risos] Por isso, fui à minha dermatologista e colhi a célula tronco. Não vejo a hora dela injetar. [risos] Mas tenho tempo ainda.

FARIA CIRURGIA PLÁSTICA, COLOCARIA BOTOX?TOTAL, acho que a mulher quer ficar bonita. Tem que se preo-

MUNDO, ACHA QUE O BRASIL DARÁ CONTA DE REALIZAR A COPA DO MUNDO E AS OLIMPÍADAS OU VAMOS PASSAR VERGONHA?ACHO QUE O BRASIL precisa ter mais estrutu-ra, como aeroportos, hotéis. No Rio de Janeiro, para um simples Fashion Week, a gente fica sem lugar, sempre tinha problema para achar hotel. O Brasil deixa a desejar nesse sentido. Os aeroportos deviam ser maiores, mais agi-lizados, deveria ter mais metrô. Fazer o que? Tudo demora tanto.

O NOME DO SEU PRIMEIRO FILHO É ZION, QUE É DE ORIGEM HEBRAICA.É UM NOME BíBLICO, significa o paraíso, é também o Monte Zion, que é um lugar precioso da reza, onde não existe dor.

VOCÊ TEM RELIGIÃO? SE LIGA EM ASSUNTOS ESOTÉRICOS?SOU CATÓLICA, mas tenho a minha religião, que é acreditar em Deus e na energia positi-va do ser humano, acreditar no bem. Aprecio estar num momento de reza. Gosto de umas imagens, tipo Buda, acho muito legal. Tudo que bato o olho e sinto uma coisa positiva, gostaria de ter na minha casa. Adoro cristais, coisas que acendem a luz para acalmar, tem tudo isso na minha casa. Hoje é tudo tão ele-trônico, isso causa uma energia tão pesada, que gosto de ter uns cristais em casa, umas coisas que atraem energias positivas. Sou esotérica nesse sentido.

ME FARIA MUITO MAIS FELIZ SER

OUTRA COISA, NÃO DEPENDER DA

MINHA IMAGEM. NÃO É O SONHO,

NUNCA TIVE ESSE SONHO DE

SER MODELO

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cupar com a aparência, homem já é mais tranquilo. Só que ho-mem com barriga ninguém merece, né? é legal ter uma saúde bacana, fazer um exercício físico. Não consigo fazer todos os dias, mas gostaria. O ser humano tem que se sentir bem. Se eu tivesse um narigão enorme, faria uma cirurgia, com certeza. Não ia gostar de me olhar no espelho com aquele nariz horro-roso. Deus foi tão bom que me deu uma cara boa e não precisei fazer nada disso. O ser humano tem que ser feliz, a nossa única obrigação é ser feliz.

E VOCÊ É?SOU, sempre fui.

NO SEU CASO É UM POUCO DIFÍCIL, ATÉ PELO MEIO QUE FREQUENTA, MAS VOCÊ NAMORARIA UM ANÔNIMO, UM CARA QUE NÃO ESTÁ NESSA RODA DOS FAMOSOS?PODE SER. O problema de me namorar é o seguinte: preciso que a pessoa tenha filho, então não pode ser qualquer um. [risos] Gostaria muito que meu próximo namorado já tivesse filhos, porque não quero fazer tudo de novo. Um dia poderia acontecer, mas não quero a pressão de ter que ter um filho se o cara não tem. E tem que ser bem-sucedido no trabalho dele, para algu-ma coisa a gente conversar em casa. Estou mais velha e muito chata. A pessoa já tem que ter filho, ser bem-sucedida. Fica cada vez mais difícil arrumar um cara perfeito [risos].

MESMO MAIS CHATA COM A IDADE, COMO VOCÊ DISSE, ALGUMA CANTADA COLA EM VOCÊ?O CARA TEM QUE SABER dar a cantada certa, senão é broxante.

O QUE SERIA A CANTADA CERTA?FICAR FALANDO “ah, você é bonita, isso e aquilo” é meio chato, é passado. é muito chato, cantada errada. Tchau! [risos]. Primei-ro tem que ser legal, mostrar o que a pessoa tem e ser amigo, as coisas vão acontecendo. “Ah, mas o seu corpo é bonito”, isso, para mim, não é cantada, é tão over! [risos].

VOCÊ É CIUMENTA?TENHO CIÚME NORMAL, não é doentio. Sempre fui uma pessoa muito liberal. Ninguém é dono de ninguém. Se a pessoa quiser trair, vai trair de qualquer maneira. Ficar preocupando com isso é besteira.

PENSA EM SER MÃE NOVAMENTE?EU SERIA, adoro criança, tenho que esperar meus filhos crescerem, tiverem uns 15 anos.

VOCÊ SE DÁ BEM COM OS PAIS DELES?HOJE A GENTE SE DÁ SUPERBEM, mas já nos demos mui-to mal. [risos] Os anos passaram,amadurecemos, só que-remos paz. Procuramos a mesma coisa: o bem estar da criança e paz entre a gente. Meus dois ex-maridos adoram ser pais, querem ser presentes. Quantos pais não querem assumir a paternidade, né?

VOCÊ DISSE EM UMA ENTREVISTA QUE QUER TRABALHAR MAIS CINCO ANOS NA PAULEIRA E DEPOIS DESCANSAR. O QUE PENSA EM FAZER DEPOIS DISSO?DAQUI A POUCO estou com 30 anos. Quero pagar as mi-nhas contas, em primeiro lugar, depois fazer artes plásti-cas e tirar um diploma de nutrição. Aí já posso fazer uma pizza light “da hora”. [risos]

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Da infância em Curitiba às capas da Vogue: Isabeli nunca sonhou em ser modelo, mas chegou ao topo do mundo da moda

Momento família: A mãe, Maribel, e os filhos

Lucas e Zion. Acima, na praia com os meninos,

prioridade na vida da modelo

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Page 81: Ragga #51 - Conectados

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Page 82: Ragga #51 - Conectados

KALAKUTA OU Neverland?

O nigeriano Fela Kuti e o americano Mi-chael Jackson são, talvez, os dois mais impor-tantes nomes da música negra do século 20. Marcaram a cultura, se tornaram artistas de sucesso, realizaram obras de altíssimo nível estético, se tornaram modelos, deram nova dimensão à questão racial e morreram rela-tivamente cedo. Tão iguais e tão diferentes. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre eles pode contar com dois livros que acabam de ser lançados no Brasil, Thriller – A vida e a música de Michael Jackson, de Nelson George (Editora Jorge Zahar) e Fela – Esta puta vida, de Carlos Moore (Editora Nandyala).

O livro sobre Michael Jackson, do crítico Nelson George, tem como ponto de partida o álbum de maior sucesso da história do dis-co, Thriller, que vendeu algo em torno de 100 milhões de cópias. A vida e morte de Michael Jackson ganham uma chave interpretativa a partir de canções como Beat it, Thriller, Billie Jean e Human nature, que são analisadas em sua força artística e verdade humana.

Jackson, em 1982, levou ao extremo sua capacidade de recriação da cultura pop, com elementos que vinham do rock e do gestual das ruas. Em cada uma das nove canções do disco estão os instrumentos que fizeram do mortal um rei. E, o que é humanamente mais significativo, de um rei um pobre mortal.

O caso do nigeriano Fela Anikulapo-Kuti vai em outra direção. Quanto mais o criador se realizava, mais o homem crescia. Sua arte foi a confirmação de um projeto existencial maduro e poderoso, que atingiu grandeza política continen-tal. A “biografia autorizada” escrita pelo pesquisador cubano Carlos Moore não traduz aquele “autorizado” em rascunho de herói: ele mostra Fela em toda sua dimensão, inclusive nas contradições e defeitos.

Fela fez o que pouca gente faz na vida: criou algo novo. O Afrobeat é obra de gênio, um estilo que parte do funk de James Brown e incorpora elementos africanos de várias origens, com uma sensualidade que enfeitiça e uma musicalidade que deixou assombrados nomes como Miles Davis, Gilberto Gil, Stevie Wonder e Bob Marley. é música que leva ao êxtase, que se revela ainda na gramática dos corpos (Fela estava quase sempre seminu), nos gemidos lascivos e na cenografia que remetia a rituais religiosos. Se em música Fela era uma fera, em poesia era um vulcão de revolta.

Suas canções não se preocupavam em agradar a indús-tria, levavam dezenas de minutos para expor sua rebeldia social, sua crítica ao consumismo e sua convocação pan-afri-canista. Fela fazia política com a melhor música do Planeta. Logo se tornou um ícone da transgressão. Lutou em sua trin-cheira contra os ditadores de seu país e contra a vergonha do preconceito em todas as nações. Fez tudo com raiva e amor, embalado em arte, sexo e maconha. Ele antevia um futuro para a humanidade e, por isso, precisava denunciar o que fa-ziam com a África e defender a participação da cultura do continente no novo estágio de civilização. Sem a África, nada de futuro.

No auge do reconhecimento, Fela largou tudo e foi morar numa favela de Lagos. Fundou uma experiência comunal, a República Kalakuta. Assumiu postura dinástica, tinha 27 mu-lheres (e muitos problemas, é claro), um orgulho provocador e postura muitas vezes machista e irascível. Foi preso e per-seguido, mas não se abateu. Não cantava a redenção, mas o gozo da liberdade.

Michael e Fela foram grandes, os maiores. Mas entre Beat it e o Afrobeat vai uma diferença que precisa ser refletida. Já temos a trilha sonora de um mundo ideal. Falta o mundo.

João Paulo João Paulo é jornalista, editor do caderno Cultura do Estado de Minas e comunista. Para ele, o mundo é dividido em classes em luta, Marx é um gênio e Freud acertou em quase tudo. Usa o mesmo tipo roupa (calça Lee, camiseta branca e Bamba) desde os 15 anos. Melhor que o silêncio, só João Gilberto.

FELA LUTOU CONTRA OS DITADORES DE SEU PAÍS E CONTRA A VERGONHA DO PRECONCEITO. FEZ TUDO COM

RAIVA E AMOR, EMBALADO EM ARTE, SEXO E MACONHA

CRôNICO

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