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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Edição 14 www.damufes.com/raiox OS BASTIDORES DO HUCAM Cozinha, SAME, farmácia, lavanderia... Conheça os setores menos frequentados do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes EXÉRCITO BRASILEIRO: - A legislação por trás das convocações - Como funciona o estágio nas Forças Armadas - As primeiras semanas de um médico no Exército ANAMNESE RESIDÊNCIA RADIOLOGIA OREM 2014 Dr. Alex fala sobre a sua saída da universidade Um panorama completo sobre o tema no Brasil Teresópolis será a sede dos jogos nesse ano As novidades e os problemas do serviço no Hucam

Raio-X, nº 14

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 14: Jun/Jul/Ago 2014

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Edição 14

www.damufes.com/raiox

OS BASTIDORES DO

HUCAMCozinha, SAME, farmácia, lavanderia... Conheça os setores menos frequentados do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes

EXÉRCITO BRASILEIRO:

- A legislação por trás das convocações- Como funciona o estágio nas Forças Armadas- As primeiras semanas de um médico no Exército

ANAMNESE RESIDÊNCIA RADIOLOGIAOREM 2014Dr. Alex fala sobre a sua saída da universidade

Um panorama completo sobre o tema no Brasil

Teresópolis será a sede dos jogos nesse ano

As novidades e os problemas do serviço no Hucam

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Caro LeitorA palavra do editor

COLUNA VERTEBRALA opinião de quem escreve o jornal

Que existem professores bons e ruins, todos sabe-mos. Uns vivem pela profis-são, outros parecem entrar em sala de aula apenas para cumprir protocolo. Indepen-dente da qualidade do profis-sional, tenho observado que respeitamos (e também me incluo nessa afirmação) cada vez menos aqueles que, há pouco tempo, eram tão ad-mirados.Os casos de desrespeito aos professores de ensino fundamental e médio são antigos. Não é raro ouvir falar de agressões, sejam elas verbais ou físicas, nos noticiários. Para se ter uma ideia, segundo uma pesqui-sa realizada pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo em 2010, 40% do profissionais já haviam sido vítimas de algum tipo de violência por parte dos alu-nos. Além disso, é gritante a indiferença dos alunos com aqueles que passam horas a fio de pé, falando incan-savelmente para uma turma que facilmente tem mais que trinta pessoas. Na busca de relatos para embasar esse texto, encontrei o de um pro-fessor de química que disse o seguinte:

- É a única profissão que tem que gritar para exercer.

No ambiente de uma Univer-sidade Federal, a situação ainda não chegou a tal pon-to, mas já é possível obser-var uma mudança de com-portamento dos acadêmicos.

Durante as aulas, enquanto alguns alunos batem papo, outros usam seus celulares e tablets. Há também aque-les que diariamente chegam na metade da aula ou saem de sala a cada dez minutos, como se não houvesse nada de errado nisso. Em aulas ditas ruins, que não conseguem prender a atenção do acadêmico, fa-tos assim são frequentes. No entanto, a já citada indi-ferença pode ser observada inclusive em “aulas-primas”, ministradas por professores nos quais não podemos colo-car um defeito sequer. Per-demos o respeito e, ao não respeitar, perdemos também o direito de questionar os maus profissionais e de exi-gir aulas de qualidade. Sou a favor da ideia de que, à exceção dos casos extremos (que não são tão incomuns na nossa Universidade, é verdade), às vezes, até uma aula sofrível pode tornar-se mais interessante com a par-ticipação de turmas dedica-das, que ajudem o professor em vez de atrapalhá-lo.Convivemos diariamente com as deficiências de nossa Universidade. São salas de aula com infiltração, ambu-latórios que não comportam o número de acadêmicos, leitos de enfermaria desocu-pados, número insuficiente de profissionais, entre tantos outros obstáculos a uma for-mação médica de qualidade. No entanto, ainda assim, so-mos conhecidos Brasil afora pela qualidade do profissio-

nal egresso, tendo inclusive um dos mais altos índices de aprovação em provas de Residência e concursos. Isso se deve à qualidade do ma-terial humano da UFES: te-mos os melhores alunos e os melhores professores, e isso é capaz de superar todas as adversidades.Dessa forma, não podemos permitir que nosso curso perca exatamente o que lhe diferencia de todos os ou-tros: a admiração e o respei-to mútuos entre acadêmicos e professores. É hora de re-tomarmos a maturidade que se perdeu ao longo do cami-nho e de percebermos que cada um é responsável pelo médico que se graduará.Aos professores, portanto, cabe a tarefa de melhorar a didática, trazer aulas in-teressantes, instigar nosso interesse. Aos meus colegas acadêmicos, alvos principais desse texto, cabe colocar em prática o respeito que apren-demos com nossos pais. Te-mos professores excelentes falando conosco e sendo ignorados. São homens e mulheres que estiveram no lugar que por hora ocupa-mos, que lutaram pelo nos-so curso, que chegaram ao ápice de suas carreiras e que merecem mais consideração e respeito. Ao ouvi-los, só temos a ganhar. Talvez essa ficha ainda não tenha caído para muitos de nós. Talvez, para isso acontecer, seja pre-ciso apenas ser mais assíduo e desligar o celular.

Cadê o respeito?por Paulo Victor Ferreira Mai

EXPEDIENTE:RAIO-X é o Jornal dos estudantes do Diretório Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (DAMUFES).Edição: Paulo Victor Ferreira Mai / Equipe: Aryellen Lebarch, Eduardo Pandini, Érico Induzzi, Pâmela Mazzini, Raquel Monico e Thaísa Malbar / Revisão: Aline CastelanDiagramação: LF Diagramação / Impressão: Gráfica UFES / Tiragem: 400 exemplaresContato: [email protected] / Site: www.damufes.br/raiox

Edição 14 - Junho, Julho e Agosto de 2014

Perdas e ganhos

Sem dúvida, no semestre le-tivo 2014/2 o curso de Me-dicina da UFES sofreu uma grande perda. Tão adorado quanto temido por seus alu-nos, esse professor liderou o time da disciplina de Anato-mia Patológica durante vinte anos e marcou de forma úni-ca a vida acadêmica de mui-tos de nós. Nessa edição, o caro leitor tem acesso a uma entrevista que é também uma homenagem de nossa equipe ao Dr. Alex Assis de Carvalho, que nos recebeu de forma tão solícita e nos contou um pouco de sua trajetória, des-de os seus anos de aluno até a sua decisão de deixar suas atividades na universidade.Trazemos também uma re-portagem sobre a convoca-ção de médicos recém-for-mados ao Serviço Militar Obrigatório. Se até pouco tempo atrás apenas alguns eram chamados a servir, nas últimas turmas que recebe-ram o diploma praticamente todos os acadêmicos do sexo masculino tiveram que vestir a farda do Exército Brasileiro durante um ano. Aproveito para deixar nosso agradeci-mento ao ex-aluno da turma 82, Daniel Ribeiro da Rocha, que atualmente trabalha no Hospital Central do Exérci-to, no Rio de Janeiro, e que tanto contribuiu para a cons-trução do texto. Obrigado, “Esquilo”!Por fim, fica a dica de leitu-ra da nossa matéria de capa, os bastidores do Hucam. Cir-culamos por setores pouco conhecidos e reconhecidos do nosso hospital, sem os quais quase nada funciona-ria de fato. São profissionais que suam a camisa tentando, dentro dos limites, fornecer um atendimento de qualida-de aos nossos pacientes e merecem nosso reconheci-mento.

Boa leitura!

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ESTADO GERALUm giro de notícias diversas

No dia 15 de agosto, o mé-dico e professor Carlos Sandoval Gonçalves, do Departamento de Clínica Médica, recebeu o título ho-norífico de Professor Emé-rito, como reconhecimento pela sua contribuição ao en-sino e à pesquisa na área de saúde durante seus 47 anos de dedicação ao magisté-rio. Esse título é concedido a professores aposenta-dos que se distinguiram no exercício das suas ativida-des acadêmicas.A solenidade ocorreu no au-ditório do Elefante Branco e contou com a presença do reitor Reinaldo Centoducat-te, da vice-reitora Ethel Leo-nor Maciel e de autoridades e membros da comunidade acadêmica e científica do Estado.O professor Carlos Sandoval graduou-se em Medicina em 1965 e foi um dos fundado-res da Sociedade de Gastro-enterologia do Espírito San-to. Em 1967, iniciou como professor e médico na Ufes. Exerceu cargo de chefia no serviço de gastroenterologia do Hucam e contribuiu para implantação das residências médicas em Gastroentero-logia e em Hepatologia no

Hospital. Além disso, detém extensa lista de produção científica: um livro publica-do, 16 capítulos de livros e publicação de 40 artigos veiculados nas principais re-vistas científicas.Enquanto isso, a Dra. Lu-ciana Lofego Gonçalves, médica gastroenterologista e hepatologista do Hucam e filha do Dr. Carlos Sandoval, foi uma das participantes na tradução, revisão e adap-tação para o Brasil de uma das obras mais importantes na área de Clínica Médica. O livro Goldman: Cecil Medici-na está em sua 24ª edição e é considerado uma referên-cia mundial. Lançado pela Editora Elsevier, a edição conta com uma abordagem de todas as áreas da clíni-ca médica. A versão nacio-nal contempla estatísticas e demografia do Brasil e traz informações sobre sinais, sintomas e anormalidades laboratoriais a serem com-preendidas pelo médico ou graduando de medicina vi-sando a guiar o diagnóstico e a terapia do paciente. Dois marcos importantes para a medicina capixaba e um privilégio para os alunos de medicina da Ufes.

CAMPANHA CONTRA RE-TINOPATIA DIABÉTICANo dia 10 de agosto foi re-alizado mais um mutirão de atendimento oftalmológico do projeto Campanha contra Retinopatia Diabética. O pro-jeto é coordenado pela Dra. Diusete Maria Pavan Batista e tem como objetivo principal a prevenção da cegueira cau-sada pelo Diabetes mellitus. Esse ano o atendimento ini-ciou-se às 8 horas da manhã e contou com a colaboração de médicos oftalmologistas, médicos residentes e aca-dêmicos de medicina para atender quase 200 pessoas presentes. Os profissionais realizaram diversos exames em pacientes portadores de Diabetes, como acuidade vi-sual, biomicroscopia e fundo de olho; e indicaram o trata-mento adequado para cada caso.

DIRETORIA APRESENTA O PLANO DIRETOR ES-TRATÉGICO DO HUCAMNo dia 14 de agosto ocorreu a apresentação do Plano Dire-tor Estratégico da instituição para a Administração Central da UFES, deputados federais e estaduais e autoridades do Estado. O plano contempla os próximos dois anos e pre-vê a construção de um novo ambulatório e a ampliação do número de leitos do hospital. Com esse instrumento será possível administrar com me-tas e objetivos estabelecidos, e direcionar esforços e orga-nização para as conquistas, abrangendo, além da gestão, as áreas de ensino, pesqui-sa, extensão e assistência. O documento foi elaborado por representantes da EBSERH em conjunto com servidores e profissionais de instituições de renome, como o Hospital Sírio-Libanês. Houve também reuniões com as unidades administrativas e com a re-presentação acadêmica.

TESTE DE PROGRESSONo dia 10 de Setembro será realizado na UFES o Teste de Progresso. O teste está pre-conizado nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais [tema abordado na última edição do Jornal RAIO-X], tendo o ob-jetivo de avaliar se o ganho de conhecimento por parte dos alunos do curso de Me-dicina está sendo contínuo e progressivo e como o conhe-cimento está sendo elabora-do e consolidado nas áreas básicas e clínicas, importes para o aproveitamento do in-ternato e o desenvolvimento final do profissional. Outras nove faculdades também re-alizarão o teste: UFRJ, UERJ, Unigranrio, Petrópolis, UNI-Foa, UNIG, Multivix, UVV e UNESC. Apesar de voluntário, é fundamental a participa-ção de todos os acadêmicos no teste, uma vez que os resultados poderão ajudar no diagnóstico das deficiên-cias do currículo atual. Além disso, alguns programas de Residência Médica já estão acrescentando bônus na pon-tuação dos candidatos que tenham realizado a avaliação.

PROCESSO SELETIVO PARA VAGAS SURGIDASEm uma disputa acirrada, 514 candidatos concorreram pelas três vagas oferecidas para o curso de Medicina no processo seletivo para vagas surgidas (transferência, novo curso, remoção e reopção). A prova para Medicina foi com-posta por 50 questões, sendo 25 de anatomia humana e 25 de bioquímica. Com concor-rência de 171,3 candidatos por vaga, bem maior que o vestibular, o resultado final do concurso foi liberado no dia 07 de Agosto. Um dos aprovados entrou pela moda-lidade de transferência e os outros dois, por novo curso.

por Raquel Monico Cavedo e Paulo Victor Ferreira Mai

PAI E FILHA SÃO DESTAQUES NA COMUNIDADE ACADÊMICA

O reitor Reinaldo Centoducate entrega a placa em home-nagem ao professor Carlos Sandoval.

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ANAMNESEUm bate-papo com os mestres

Médico formado pela Uni-versidade Federal do Espí-rito Santo (UFES), iniciou o curso de Medicina em 1982 e graduou-se em 1987. No ano seguinte, seguiu para a residência em Patologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde conheceu grandes persona-lidades do cenário médico e formou-se patologista em 1991. Mais tarde, em 1992, retornou à UFMG para fazer seu mestrado, também em Patologia. Logo em seguida foi aprovado em um concur-so na UFES, entrando para o quadro de professores em outubro de 1994, no qual permaneceu até agosto de 2014.

“Não dá para levar só no talento; tem que ter esforço”.

Coordenador da disciplina de Anatomia e Fisiologia Patoló-gicas por quase duas déca-das, é frequentemente ho-menageado pelas turmas que se formam. Sua dedicação e seu empenho ao processo de ensino acadêmico nunca dei-xaram de ser reconhecidos pelos alunos. “O interesse do professor no desenvolvi-mento e na aprendizagem de vocês faz com que vocês re-conheçam e homenageiem.”O professor respondeu a to-das as perguntas e explicou como chegou ao seu famoso método de ensino teórico--prático e de avaliação oral. Deixou ainda uma mensagem para alunos e ex-alunos. Con-fira!

RAIO-X: Por que escolheu a Patologia?Dr. Alex: Comecei como monitor na patologia depois de ter feito o 3º período. Até próximo do internato eu ain-da cogitava fazer cirurgia, no entanto, por conta do tremor essencial eu fiquei dividido entre uma e outra. Além dis-so, a possibilidade de voltar para Vitória e, de certa for-ma, voltar para a docência pesou também em relação à Patologia. Então os motivos foram o contato precoce, a possibilidade de permanecer na Universidade, em Vitória - pois eu não queria me mu-dar para outra cidade - e a limitação em relação à outra opção, que seria a cirurgia.

RX: Durante sua forma-ção acadêmica, alguém se tornou um modelo de profissional em quem o Sr. se inspirou para se tornar um bom médico?A: Da cirurgia, por exemplo, eu tive um contato muito es-treito com o Dr. Olívio Louro Costa, que era cirurgião e professor de cirurgia do apa-relho digestivo, além de chefe da residência. Naquela épo-ca, existia um contato muito próximo da patologia com a residência de cirurgia, havia uma sessão semanal com os residentes da cirurgia, onde havia um contato muito gran-de do Dr. Olívio com a pato-logia e com os monitores. Depois do 5º e 6º períodos eu comecei a acompanhá--lo fora. Então, ficamos jun-tos até eu decidir, na época do internato, pela patologia. Como patologistas, talvez, as

duas maiores referências não sejam daqui. Foram dois pro-fessores que eu tive na resi-dência e na pós-graduação. Um foi o Prof. Dairton Miran-da, já falecido, e o outro, com quem ainda mantenho muito contato, é o Prof. Pittella, que é um dos autores do livro Bogliolo, na seção de neu-ropatologia. Na realidade eu fui para a UFMG por conta do professor Pittella, porque era ele que examinava os encé-falos lá, da mesma forma que eu fiz aqui durante 20 anos. Inclusive, eu ia para lá du-rante o internato, eu saía na terça à noite e acompanhava a clivagem de encéfalos na quarta de manhã, passava a tarde na biblioteca e tomava o ônibus de volta na quarta à noite e chegava aqui na quin-ta-feira de manhã.

RX: No geral, como o Sr. avalia o serviço de Pato-logia do HUCAM?A: Eu acho que já foi um serviço mais pujante [aquilo que tem grande força]. Já foi um serviço com um nú-mero grande de necrópsias, inclusive maior que de uni-versidades famosas e estru-turadas. Houve uma redução no número de necrópsias e isso compromete o serviço e, de uma forma muito espe-cial, a docência. Acho que é um problema do hospital, e não da patologia em si. Um conjunto. Nós perdemos, a meu ver, certa posição, certa influência que a gente tinha na medicina do nosso Estado com o surgimento e desen-volvimento de novos hospi-tais. Se nós compararmos o

Hospital Santa Rita, que fica ao lado do Hucam, de 30 anos atrás e o que ele é hoje com o Hospital das Clínicas, a gente vê que este último não progrediu como alguns outros hospitais do Estado. E nesse sentido, a patologia seguiu nesse ritmo lento.

RX: Dedicar-se ao magis-tério era uma meta desde o início da sua formação ou o desejo de ser profes-sor manifestou-se mais tarde? A: Desde o início da minha formação, ali mesmo na uni-versidade, e depois na UFMG também.

RX: Como escolheu o seu famoso método de ensino teórico-prático e avalia-ção oral?A: Durante o mestrado eu tive contato com vários mé-todos pedagógicos e não de-morou muito para eu enten-der que eu precisava, acima de tudo, de duas coisas para tentar ser um bom professor. Primeiro, prover alguns meios para vocês. Então era preciso ter as peças cirúrgicas e o material didático, conjugados com um pouco da minha ex-periência pessoal. Isso que eu chamo de prover meios. A outra era acreditar que era preciso cobrar de vocês para que estudassem. Porque eu acredito nesse binômio, uma estrutura que propicie o míni-mo necessário e uma cobran-ça. Sem a cobrança vocês não iriam se interessar; só a cobrança sem uma estru-tura razoável ficaria difícil de seguir. Foi pensando nessas

Dr. Alex, 20 anos de dedicação ao ensinoAlex Assis de Carvalho, 49 anos, casado, pai de dois filhos – uma de 19 anos e outro de 16 – médico e professor do curso de Medicina da UFES. Profissional de seriedade e organização ímpar, concedeu ao Jornal RAIO-X uma entrevista sobre sua vida além dos muros da Universidade e também sobre sua saída do quadro de docentes da instituição após 20 anos de dedicação e empenho na formação médica de qualidade.

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coisas, de conjugar uma com a outra, que foram surgindo essas ideias. Mas a ideia da prova oral e as provas diárias não foram imediatas. Na mi-nha primeira aula provavel-mente não devia de ter nada disso. Então eu pensei “Como eu vou fazer para esses alu-nos lerem?”. Outra coisa é a ideia de ler um texto sistema-tizado. A ideia era forçá-los a ler o livro e depois ter um ambiente onde se pudesse discutir isso, conjugando o que vocês leram com aquilo que estavam vendo. Quanto à prova oral, não foi aplicada desde o início. Surgiu com o tempo. Creio que foi uma boa ideia que se tornou uma mar-ca da disciplina.

RX: Como o Sr. faz para se lembrar dos nomes de to-dos os seus alunos? A: Ah, antes eu fazia isso, ti-nha uma memória boa. Hoje já não lembro mais. Não ha-via nenhuma fórmula mágica. Uma coisa que ajudava era o curso ser dividido em módu-los. Então, como eu ficava com vocês durante um mês, todos os dias de segunda a quinta, a tarde inteira con-versando, a gente acabava gravando. Mas quando ficou dividido por dia na semana piorou o meu desempenho (risos).

RX: O Sr. recentemen-te foi homenageado pela turma 82 de Medicina da

UFES. O que o Sr. consi-dera fundamental em um professor para tal reco-nhecimento e admiração por parte dos alunos?A: Acho que é o interesse nos alunos, no aprendizado dos alunos. É preciso ter um en-volvimento. Percebam que há um time ali, talvez uns 15 ou 20 professores, que frequen-temente está sendo avaliado e homenageado; e penso que uma coisa que eles têm em comum é esse envolvimento com o desempenho de vocês. E aí vocês reconhecem e ho-menageiam.

RX: O Sr. sempre incen-tivou e exigiu dedicação dos seus alunos. Quando aluno, o Sr. era disciplina-do? A: Quando aluno da univer-sidade sim. Antes, quando aluno de primeiro grau, não. Acho que eu conseguia le-var na flauta com uma ca-pacidade de memorização e aprendizagem que eu tinha. Mas na universidade, muito cedo eu percebi que era pre-ciso estudar. Nunca fui uma pessoa de virar a noite, eu sou muito regular nas coisas, mesmo nas minhas ativida-des do hospital; sempre tive hora marcada, organizada. Eu conseguia fazer isso razo-avelmente mesmo durante o curso. Então, claro, quando precisava ia até um pouco mais tarde, só nunca fui de virar a noite ou coisa assim,

pois eu achava que isso di-minuía o rendimento com o cansaço. Não dá para levar só no talento; tem que ter o esforço.

RX: O Sr. vê diferença em relação ao empenho dos acadêmicos de hoje em dia em relação a antiga-mente? A: Não sei se são os alunos ou se é a própria estrutura. A minha impressão não me-dida, apenas uma impressão, é que aumentou o número de alunos com mais dificuldade. Nesse grupo existem aqueles que têm dificuldade mesmo e aqueles com dificuldade por desinteresse. São coisas dis-tintas. Durante muito tempo a gente soube do desempe-nho dos nossos egressos com muito orgulho. Em novem-bro do ano passado, em um congresso de patologia em Florianópolis, um professor da Escola Paulista veio falar comigo: “Poxa, como vocês conseguem mandar alunos tão bons?” Eu respondi que são duas coisas: primeiro que uma universidade peque-na acaba selecionando bons alunos devido ao número pe-queno de vagas e segundo é o contato com o professor, que os alunos de fora muitas vezes não têm. Em uma uni-versidade grande, com vários alunos de pós-graduação e residentes, os alunos da gra-duação não têm contato di-reto com os professores mais

renomados. Fica muita gente entre o professor e o aluno. Aqui, os alunos veem a gen-te trabalhando no dia-a-dia e acabam então sendo mais bem influenciados.

RX: Em quais trabalhos o Sr. está envolvido atual-mente?A: Hoje eu sou médico do Estado com dois vínculos, deixei a universidade para assumir um segundo vínculo no Serviço de Verificação de Óbitos (SVO). E no laborató-rio de iniciativa privada.

RX: Após tantos anos de-dicados à Universidade, como foi a decisão de se ausentar? A: É uma decisão difícil. Um aspecto, sinceramente, é a remuneração. E nem é tan-to a remuneração de hoje, mas sim a perspectiva de que essa remuneração continua-rá baixa, a progressão será muito pequena. Então a de-cisão foi difícil, mas foi uma decisão madura porque se eu continuasse na universidade, daqui a 15 anos, quando eu aposentasse, eu iria aposen-tar com um valor que mal pagaria meu plano de saúde. Outro aspecto que eu perce-bo hoje é que a universidade não é mais para amadores como eu. Ou seja, a minha relação com a universidade sempre foi voltada para a do-cência e para o ensino, tanto na graduação como na resi-

Dr. Alex no laboratório de iniciativa privada onde trabalha.

FOTO: RAIO-X

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dência. Mas também há um pouco de assistência mistu-rada com essa docência: en-quanto eu estou mostrando um caso para um residente, este caso então serve para um paciente que está inter-nado. Esse tipo de relação com a universidade hoje é pouco valorizado e isso está traduzido no próprio salário.

“Não se consegue formar um bom mé-dico só com conhe-cimento, mas ja-mais se formará um bom médico sem conhecimento”.

Acredito que, hoje, para a pessoa estar na universida-de e se integrar, ela precisa estar envolvida com outras coisas: pesquisas, que não eram meu foco, e ocupação de espaço político na estrutu-ra da universidade, que para um professor de 20 horas não está facultado. Então, o que acontece é que você aca-ba ficando mal remunerado, mal posicionado dentro da estrutura, porque o que você faz não é valorizado. Essa sensação também é ruim e também contribuiu para a decisão.

RX: Quais os seus planos a partir de agora? A: Eu espero contribuir posi-tivamente no SVO para que tenhamos um bom serviço de verificação de óbitos no Es-

tado. Já é considerado bom, estamos criando uma equipe de patologistas, que hoje já são 14, com perspectiva de fazer um excelente serviço de verificação de óbitos. Eu es-pero contribuir lá do mesmo jeito que contribui com a uni-versidade, inclusive abrindo as portas para a participação dos alunos não só da univer-sidade, mas também das ou-tras faculdades. Já está lá no nosso planejamento – eu não sou chefe, mas tenho partici-pado indiretamente das con-versas – a possibilidade de ser um ambiente de ensino também. Talvez a gente ve-nha suprir um pouco da defi-ciência de outras instituições no ensino da patologia. Esse é um desejo que eu tenho hoje.

RX: Qual conselho o Sr. deixaria para os seus ex--alunos? E para os próxi-mos alunos de medicina?A: Eu acho que devem insistir nesse binômio que eu vinha tentando usar com vocês. É preciso que se crie no hospi-tal um ambiente propício para a aprendizagem. Hoje, a gen-te sabe que o Estado controla a demanda, o pronto-socorro não é de portas abertas, de modo que o objetivo final não é atender a população e en-sinar, e sim atender a popu-lação e por acaso tem lá uns alunos. Então eu penso que essa é uma luta para quem está e para quem vai chegar, tanto alunos como professo-res.

Para os alunos, meu conselho é não se deixar iludir que é possível aprender medicina sem muito estudo. Por mais que o governo tente mudar as coisas do ponto de vista cur-ricular, isso é uma ilusão. Não se consegue formar um bom médico só com conhecimen-to, mas jamais se formará um bom médico sem conhe-cimento. Existem outras artes em que basta praticamente ter talento, como jogadores de futebol e música popular. Mas a medicina necessita que haja a conjugação do conhe-cimento com as habilidades pessoais, características de personalidade, capacidade de relacionamento, de ouvir, de percepção. O que nos fez progredir foi exatamente o conhecimento e não o talen-to: na Idade Média, o aman-sador de cavalos dos reis e os médicos estavam no mesmo patamar; hoje em dia não es-tão e isso se deve ao fato de o médico ter estudado.

RX: O que o Sr. faz nas horas vagas?A: Eu tenho um hobby que é a criação de vacas de lei-te (de novo as mamas, né? Risos). Então aos sábados eu normalmente estou envolvido com isso. Nos domingos eu vou à igreja, sou presbiteria-no. E nos outros dias à noite eu estou em casa.

RX: Qual a visão do Sr. sobre o futuro da medici-na levando-se em conta a conjuntura atual?

A: Depende. Se esse mo-delo bolivariano triunfar, eu acho que a tendência é uma compressão da nossa carrei-ra no sentido de nos tornar cada vez mais profissionais de saúde e menos médicos. Eu acho que o modelo boliva-riano/cubano é um desejo de implantação deles e é preju-dicial para nós médicos espe-cialmente no quesito que, a meu ver, mais os ofende, que é de fato a nossa liberdade. A medicina é uma profissão essencialmente liberal e de autonomia individual. O ato médico é um ato individual. Então a profissão que eles al-vejam é o médico. O médico é o judeu atual, exatamen-te porque veem no médico essa atitude de autonomia e aqueles que são socializantes querem uniformidade e não a liberdade individual; eles querem todo mundo falando e pensando a mesma coisa. E o médico é quem em primei-ro lugar reage a essa ideolo-gia. Então se eles triunfarem, eu acho sim que a perspec-tiva é ruim. Devagar começa a compressão dos salários, as limitações de recursos. Não tenho boas esperanças caso vençam.

RX: Qual a visão que o Sr. tem atualmente do Dire-tório Acadêmico de Medi-cina?A: Até onde eu conheço, muito melhor do que na mi-nha época. Parece-me bas-tante estruturado, com mui-ta gente envolvida, o jornal é bastante agradável de ler. Eu ouço o envolvimento de vocês. Não ouço muito con-flito e disputa política, então me parece que não há uma inserção político-partidária grande, o que cria grupos de disputa. Isso é ruim para os alunos. Uma ideia do que poderia ser feito é algum tipo de registro histórico. A gen-te já perdeu muito tempo de informação da história da es-cola, das turmas, dos profes-sores e até dos funcionários. Acho que valeria a pena.

por Raquel Monico Cavedo e Pâmela Mazzini Hombre

Longe do ambiente da universidade, Dr. Alex cria vacas em seu sítio.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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O serviço de radiologia e diagnóstico por imagem do HUCAM abrange atualmen-te os seguintes métodos de imagem: radiologia geral e contrastada, ultrassonogra-fia, mamografia, tomogra-fia computadorizada, res-sonância magnética (RM) e densitometria óssea (DO). É genericamente denominado setor de Radiologia e conta hoje com uma equipe de 22 médicos, dois professores para a disciplina no curso de Medicina e técnicos de radio-logia. Além disso, dispõe de 16 equipamentos assim dis-tribuídos: dois aparelhos de raios-X convencionais, um te-lecomando e quatro móveis; cinco aparelhos de ultrasso-nografia, um de mamografia, um de DO, um de RM de alto campo e um tomógrafo com-putadorizado multislice. Assim, o serviço encontra-se bem equipado com aparelhos modernos e é, atualmente, um dos melhores do Estado nesse quesito. Porém exis-tem ainda desafios referen-tes, principalmente, à manu-tenção dos equipamentos, ao prazo de entrega dos laudos e à estrutura física do setor. A manutenção dos equipa-mentos, uma etapa funda-mental para garantir a estabi-lidade de funcionamento dos

mesmos e não interromper o atendimento devido a máqui-nas paradas, é um problema crônico que o serviço vem enfrentando e a sua melho-ria nos últimos anos é res-ponsável, em grande parte, pelo expressivo aumento do número de exames realiza-dos em 2013 comparado aos anos de 2011 e 2012.Apesar desse progresso na quantidade de exames rea-lizados, o quadro de funcio-nários não foi reajustado a tempo de atender a nova de-manda. Conclusão: com uma equipe pequena frente à nova realidade, o serviço ficou su-focado e o prazo de entrega dos laudos se estendeu. A necessidade de ensinar aos residentes e o próprio perfil mais complexo dos exames realizados no HUCAM tam-bém contribuem para a de-mora na entrega. No concur-so público 4/2013 – EBSERH/ HUCAM-UFES, com edital aberto em outubro de 2013, foram disponibilizadas 13 va-gas para médicos do setor de diagnóstico por imagem e 10 vagas para técnicos em radiologia. A convocação dos aprovados ocorreu em maio e junho deste ano, de modo que a reposição da equipe está em andamento e o ser-viço está se reorganizando.

Segundo Dr. Ricardo Mello, radiologista e professor da UFES, o prazo de entrega de laudos de tomografias que era de até dois meses no ano passado, foi reduzido para uma semana, apesar de ain-da não ser o ideal.Em relação ao espaço físico, reformas vêm sendo reali-zadas desde 2009 com me-lhorias na parte elétrica e acomodação dos novos equi-pamentos. A última fase, com previsão de término neste se-mestre, é a reforma de uma sala de raios-X desativada. O objetivo é a criação de um espaço com mais estações de laudos para acompanhar a contratação de novos profis-sionais e com recursos audio-visuais para a realização de reuniões e sessões científicas do serviço de radiologia – que até então são realizadas em salas do Elefante Branco, sujeitas a disponibilidade. As sessões abrangem várias áreas da radiologia, como neurorradiologia, osteoarti-cular, tórax, cabeça e pesco-ço, com clubes de revistas e discussão de casos clínicos do hospital. Também exis-tem as sessões conjuntas com outras especialidades: reumatologia, pneumologia, infectologia, neurologia e ci-rurgia geral.

A confecção de um site com informações sobre o serviço e melhor divulgação dessas sessões está em desenvolvi-mento pelo Dr. Ricardo, cria-dor do Núcleo de Pesquisa em Radiologia (NPRad) exis-tente desde o final de 2013. O NPRad tem como objetivos incentivar, orientar e desen-volver pesquisas que envol-vam os diferentes métodos existentes na área de radio-logia e diagnóstico por ima-gem, bem como promover a interação multidisciplinar nos projetos. Atualmente as duas linhas de pesquisa principais são radiologia osteoarticular e neurorradiologia. O grupo de pesquisa será composto por professores, médicos, técnicos, residentes, especia-lizandos e alunos da gradua-ção. As portas estão abertas aos interessados em partici-par. Outras novidades são a apro-vação do Programa de Inter-nato Opcional em Radiologia com duas vagas já disponí-veis e do projeto de exten-são “Radiologia Caso a Caso”, uma coletânea de casos se-lecionados do HUCAM. A pri-meira edição do livro que deu nome ao projeto foi lançada no ano passado e a próxima já está sendo confeccionada.

por Pâmela Mazzini Hombre

RADIOLOGIA: problemas, avanços e novidades no serviço

FOTO: RAIO-X

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RECÉM-ARMADOSAs Forças Armadas Brasileiras convocam cada vez mais médicos recém-formados para cumprirem o Serviço Militar Obrigatório.

Tem ocorrido sempre mais: a cada turma que completa o curso de Medicina, aumen-ta o número de médicos que são convocados a servirem as Forças Armadas durante um ano. Na turma 82, graduada no final de 2013, todos os ex-alunos do sexo masculino foram convocados ao serviço militar, apesar de alguns te-rem conseguido liberação de-vido a problemas de saúde. Na turma 83, que recebeu o

diploma em Julho deste ano, praticamente todos os aca-dêmicos também estão pré--convocados a se apresenta-rem ao serviço militar.

LEGISLAÇÃONas forças armadas, o médi-co recebe o título de Oficial, sendo sua formação denomi-nada Estágio de Adaptação e Serviço (EAS). O EAS pode ser realizado em caráter vo-luntário ou obrigatório, sendo

que a maioria dos médicos recém-formados enquadra-se nesse último. Além dos médi-cos, os concluintes dos cur-sos de Farmácia, Odontologia e Medicina Veterinária, “que não tenham prestado o ser-viço militar inicial obrigatório por adiamento ou dispensa de incorporação, deverão prestar o serviço militar no ano seguinte ao da conclusão do respectivo curso ou após a realização de programa de residência médica ou pós--graduação”, conforme dita a legislação.Há três leis que regulamen-tam o serviço militar: a Lei 4.375/1964, que dispõe so-bre o serviço militar em si; a Lei 5.292/1967, que dispõe sobre a prestação desse ser-viço pelos estudantes de Me-dicina, Farmácia, Odontologia e Veterinária e pelos médi-cos, farmacêuticos, dentistas e veterinários; e a Lei 12.336 de 26 de outubro de 2010, mais recente, que faz altera-ções nas duas primeiras. A legislação de 2010 permitiu

que, mesmo ocorrida a dis-pensa do Serviço Militar aos dezoito anos por excesso de contingente, o futuro médico seja convocado para servir. Esta última lei é irretroativa, ou seja, só vale a partir do momento em que passou a vigorar, não atingindo nada anterior a ela.

O ESTÁGIOO estágio nas Forças Arma-das tem duração de doze meses, podendo ser exten-dido por mais tempo se hou-ver interesse de ambas as partes, e é dividido em duas etapas. A primeira fase, de-nominada Instrução Técni-co-Militar, é realizada nos 45 primeiros dias e tem o objeti-vo de adaptar o aspirante às normas e aos procedimentos da vida militar (veja na pá-gina seguinte). Logo em se-guida tem início a segunda fase, destinada à aplicação propriamente dita dos co-nhecimentos médicos. Nessa etapa, os oficiais são enca-minhados para Organizações

Antigos acadêmicos das turmas 81 e 82 durante apresen-tação do Hospital Central do Exército.

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Ensaio dos aspirantes para a formatura oficial.

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Militares específicas, que po-dem ser tropas, policlínicas ou hospitais, onde atuarão.O Hospital Central do Exérci-to (HCE) é uma instituição de grande porte, com estrutura, equipamentos e medicamen-tos de primeira linha. Porém, segundo relatos, os recursos humanos podem deixar a desejar em alguns setores, principalmente devido à for-te presença da militarização dentro do serviço. A relação com os militares é frequente-mente semelhante à de um quartel: deve-se respeitar a hierarquia da patente, pres-tar continência, etc.A remuneração varia de acor-do com a patente. Os Aspi-rantes-a-Oficiais, primeiro posto de um médico no EB, por exemplo, recebem cerca de R$5200,00. Com a pro-moção a Segundo Tenente, o salário aumenta em cerca de quatrocentos reais.Um ponto positivo do está-gio é que aqueles que foram previamente aprovados em provas de Residência podem solicitar o trancamento des-sa vaga para o ano seguinte, após o término do serviço.

CRÍTICASApesar de uma parcela de estudantes ter interesse em servir às Forças Armadas, a obrigatoriedade é criticada pela maioria dos recém-for-mados. Alguns têm um curso de Residência em vista, ou-tros têm emprego garantido e outros, ainda, simplesmen-te não têm interesse na área. Para essas situações, existe a possibilidade de utilizar re-cursos como os Mandatos de Segurança, nos quais apon-tam-se os motivos para não precisar cumprir o Serviço Mi-litar Obrigatório. É importan-te salientar que o Mandato deve ser requerido logo após a convocação, uma vez que o não comparecimento do candidato é classificado como crime militar. Vários forman-dos tentam utilizar esses re-cursos, no entanto, segundo informações, praticamente todos são indeferidos.

por Paulo Victor Ferreira Mai e Daniel Ribeiro da Rocha

MANUAL DO EXÉRCITO BRASILEIROpor Daniel Ribeiro da Rocha (T82)

Contato: [email protected]

O objetivo do texto é deixar os colegas cientes do que irão enfrentar quando estiverem no serviço militar obrigatório, como um “bizu” para não serem surpreendidos. Os acontecimen-tos estão em ordem cronológica.

28/01/2014 – RJ: Palácio Duque de Caxias. Recebemos a notícia que deveríamos estar no dia 03/02/2014 no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), em Bonsuces-so, Rio de Janeiro. Somente nesse dia descobrimos, com certeza, para qual Força Armada iríamos de fato: Exército Brasileiro (EB).

1ª SEMANA (03/02/2014)É bom se preparar para as primeiras semanas no EB. São vários documentos necessários para o cadastro no sistema do Exército e é bom tê-los logo na primeira semana. O tempo para medidas administrativas durante o treinamento militar é muito escasso e para não ficar no “sanhaço” [gíria militar: passar dificuldade] é melhor estar preparado. É bom que se tenha todos os documentos originais e pelo menos 2 cópias dos mais importantes. Esses documentos são solicitados durante o treinamento e também quando o aspirante for envia-do para a sua Organização Militar (OM), onde trabalhará como médico.Outra informação importante é em relação aos gastos. A aquisição de fardas e demais materiais deve ser feita logo nas primeiras semanas. Alguns itens são extremamente caros, como a Espada de Oficial do Exército Brasileiro que, sozinha, custa mil reais. Em compen-sação, o salário não costuma atrasar, pelo menos no EB, e alguns auxílios são fornecidos. O EB oferece moradia no quartel durante o treinamento, mas é bom já ir sondando locais para alugar durante o restante do ano, porque essa será mais uma guerra a ser travada: é neces-sária toda a documentação, fiador e advogado para participar de todos os trâmites legais. Essa primeira semana também será de treinamento físico. Em algum dia dessa semana será feita o Teste de Aptidão Física (TAF) diagnóstico, no qual serão avaliadas as condições físi-cas de cada um e o que deve ser priorizado durante a fase de treinamento. O treinamento físico militar (TFM) é feito todas as manhãs e será assim até a última semana. É exaustivo porque os médicos, em sua maioria, são sedentários.

2ª SEMANAA segunda semana é exaustiva, com Ordem Unida (treinamento do sincronismo de marcha, continência, sentido, etc.) e instruções teóricas.

3ª SEMANANa terceira semana tivemos instrução de tiro e palestras sobre as OM’s para os médicos, incluindo visita ao Hospital Central do Exército (HCE), com uma grande recepção.

4ª SEMANAResume-se ao Campo. São dois dias intensos de esforço físico e instruções na mata.

5ª SEMANAInstrução de espadas. No dia da formatura a espada será entregue ao aspirante, como sím-bolo de que é um Oficial do Exército Brasileiro. Dessa forma, as instruções sobre o manejo da espada e os movimentos em sua posse também são exaustivas.

6ª SEMANATAF definitivo, essencial para a promoção de Aspirante-a-Oficial para 2º Tenente. Após in-tenso treinamento a maioria consegue índice mínimo para a promoção.Nessa semana será definido para qual OM cada médico irá trabalhar. Há basicamente três locais diferentes: Tropas (vários quartéis espalhados por todo RJ), Policlínicas (duas no Rio de Janeiro e uma em Niterói) e Hospitais (HCE e HGE). Alguns colegas não ficaram onde queriam, mesmo com trocas sendo autorizadas. Formatura. O grande dia em que o treinamento militar termina. A cerimônia para se tornar um oficial do EB foi um alívio, finalmente começaríamos a trabalhar como médicos.

7ª SEMANAA partir daqui cada um tem uma experiência individual que se prolongará até o dia 31 de janeiro de 2015 e que, por serem histórias ímpares, não posso generalizar. São divergentes as opiniões sobre o serviço militar obrigatório, mas, se isso for inevitável, essas dicas serão de grande valia para os leitores convocados. Boa sorte!

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OS BASTIDORES DO

HUCAMSetores pouco conhecidos e quase nada frequentados do Hospital Universitário são fundamentais para o seu funcionamento.

O Hospital Universitário Cas-siano Antônio Moraes (Hu-cam) recebe centenas de pacientes diariamente. São pessoas que chegam aos ambulatórios, internadas nas enfermarias, que nascem na maternidade ou que são tra-zidas às pressas ao Pronto Socorro. No entanto, poucas conhecem o dia-a-dia dos funcionários que trabalham nos bastidores do hospital, fazendo tudo isso funcionar da maneira correta. O Jornal RAIO-X teve acesso a esses setores para entender melhor como funcionam, qual sua importância e quais as maio-res dificuldades enfrentadas em cada um deles.

SETOR DE NUTRIÇÃOResponsável pela alimenta-ção de pacientes, residentes, médicos do serviço, internos e outros funcionários, o Se-tor de Nutrição do Hucam trabalha em três vertentes: a clínica, a produtiva e a admi-nistrativa. A área clínica, sob a responsabilidade de nutri-cionistas clínicos, é aquela que elabora as dietas de cada paciente, leito a leito, confor-me suas especificidades. A área produtiva tem o papel de executar as demandas es-tabelecidas pela clínica, en-quanto a administração fica responsável pela compra dos

alimentos, pela logística com os fornecedores e pela fisca-lização e controle das com-pras. Dessa forma, o Setor de Nutrição do Hospital das Clí-nicas é responsável por toda a trajetória das refeições que os pacientes recebem, desde a sua compra até a sua dis-tribuição pelas copeiras que circulam nos corredores.Para isso, a nutrição do Hu-cam conta com quase 70 fun-cionários, contratados pela UFES e terceirizados. Apesar desse número, ainda há se-tores do hospital que não são contemplados pela presen-ça de nutricionistas, como a maternidade, a urologia e a UTIN, por exemplo. Nesses locais, os pacientes recebem a chamada “dieta-padrão”, que é elaborada de acordo com grupos nos quais eles são enquadrados (dieta com pouco sal, dieta laxante, die-ta para diabéticos, entre ou-tras), ou seja, a alimentação desses pacientes não é indivi-dualizada.Atualmente, a cozinha do hospital encontra-se parcial-mente desativada para refor-ma. Segundo a nutricionis-ta Carmen Rosa da Cunha, administradora do Setor de Nutrição, foi realizada uma licitação para garantir a en-trega diária de almoço e jantar. Apenas as refeições

menores, como café da ma-nhã e lanche da tarde, con-tinuam sendo preparadas na cozinha própria do hospital. Apesar dos contratempos, a maior dificuldade encontra-da pelo setor está na compra

dos alimentos. A negociação com os fornecedores é mui-to difícil e burocrática, o que muitas vezes leva à escassez de alguns produtos. Nes-sas situações, o setor conta com a parceria criada com os

Antiga cozinha do hospital agora faz apenas as refeições menores, como café da manhã e lache da tarde.

Depósito de mantimentos, no local do antigo refeitório.

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fornecedores e com outros hospitais. “Fazemos de tudo para conseguir o produto e não deixar o paciente passar necessidade. Damos nossos pulos”, conta Carmen.

FARMÁCIANa farmácia do Hucam, a si-tuação não é diferente. Ape-sar de o abastecimento de medicamentos chegar a 90% do necessário, esse é um va-lor que depende de diversos fatores, inclusive de âmbito internacional. A farmacêutica Dávila Fernandes Pimentel, responsável pela farmácia do hospital, conta que, durante as Olimpíadas de Pequim em 2008, houve escassez de al-gumas drogas, uma vez que o governo chinês fechou vá-rias indústrias de matéria pri-ma para reduzir a emissão de poluentes da cidade. Como todos os medicamentos são comprados via licitação, o abastecimento da farmácia também depende da cotação dos produtos no pregão, o que nem sempre acontece. Tiabendazol, por exemplo, não é cotado há tempos. Além disso, também é co-mum ocorrerem problemas com os fornecedores, como atrasos na entrega. Nessas situações, entra em ação a cobrança dos farmacêuticos do Hucam, assim como as famosas “caronas”, que per-

mitem que a farmácia filie-se de forma legal ao pregão de outro hospital para conseguir os medicamentos que estão em falta.Apesar de todos esses obs-táculos, o maior problema da farmácia é a falta de estrutu-ra física e de equipamentos. Há apenas um computador que é utilizado por quatro profissionais. Para piorar, o espaço físico da farmácia não comporta mais a quantidade de material e vazamentos de esgoto já danificaram o re-vestimento do teto do almo-xarifado.Local de estágio dos acadê-micos do curso de Farmácia e funcionando no segundo subsolo do hospital, o setor é dividido em duas seções: a farmácia/dispensação, onde chegam as prescrições e de onde são enviados os medi-camentos; e o almoxarifado, responsável pelo controle de estoque e pelas compras. Há um projeto de reforma da far-mácia, que deve duplicar sua área. No entanto, a empresa vencedora da licitação faliu e o processo teve que ser reini-ciado. Essa mesma empresa seria responsável pela refor-ma do setor de nutrição e do centro cirúrgico, motivo pelo qual essas obras também fo-ram paralisadas. Para se ter uma noção da importância da farmácia den-

tro do Hospital Universitário, cerca de 40% da verba do Hucam é destinada ao se-tor. Já existem mais de 500 medicamentos cadastrados e disponíveis aos pacientes internados. Apesar das esta-tísticas favoráveis, o serviço apresenta deficiências, como a falta de informatização, ain-da que exista um projeto da direção do hospital para in-terligar todos os setores em

rede.A farmácia do Hucam traba-lha também com os progra-mas de terapêutica do HIV e das Hepatites B e C. Há um farmacêutico e três técnicos em farmácia que trabalham especificamente no forne-cimento de medicamentos para os pacientes inscritos nesses programas. Somente no programa de HIV, já são mais de três mil cadastrados.

Na dispensação da farmácia, os medicamentos ficam or-ganizados em prateleiras e devidamente identificados.

UNIDADE DE PROCESSA-MENTO DE MATERIAIS ESTERELIZADOSA Central de Material e Es-terilização ou CME, é o se-tor onde os instrumentos reutilizáveis do hospital são recolhidos, esterelizados, re-parados, empacotados e re-enviados para os setores que deles necessitam, e, dentre todos os materiais processa-dos, os instrumentos cirúr-gicos representam o maior volume de esterelizações. De acordo com a enfermeira Risa Maria Guedes da Silva, responsável pelo setor, uma das maiores dificuldades encontradas é a demora na realização e finalização dos pregões para a compra de

materiais de esterelização. Além disso, outra dificul-dade marcante é a falta de planejamento. “Pela manhã, há uma lista com as cirur-gias que serão realizadas durante o dia, o que serviria para prepararmos o volume de instrumentos que serão esterelizados e reenviados às salas de cirurgia. Infeliz-mente, muitas outras ope-rações são marcadas em cima da hora, então temos que correr contra o tempo para processar todos os ins-trumentos solicitados. Mui-tos chegam aqui exigindo o material esterelizado em um intervalo de tempo inviável”, acrescenta Risa.Imprescindível para o funcio-

namento de alguns setores, o serviço funciona 24 horas por

dia e conta, atualmente, com 41 funcionários.

Materiais embalados separadamente após procedimento de esterilização em autoclave.

FOTOS: RAIO-X

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SAMEO Serviço de Arquivo Médico Estatístico, mas conhecido como SAME, é outro setor de extrema importância den-tro do Hospital Universitário. Com a função de armazenar, organizar e disponibilizar os prontuários dos pacientes, o SAME atende tanto os am-bulatórios quanto as enfer-marias do Hucam. No serviço prestado aos ambulatórios, é realizada a organização dos arquivos, o levantamento das agendas de cada “casa” - com antecedência de 72 ho-ras - e a separação e envio diários dos prontuários dos pacientes com consulta mar-cada. Quando um paciente é internado nas enfermarias, o médico responsável solicita o prontuário ao SAME, que o prepara e envia ao respectivo serviço. Após a alta hospitalar, os prontuários dos pacientes são encaminhados ao setor de faturamento, localizado no primeiro subsolo do hospital, e retornam ao SAME para se-rem novamente arquivados. Uma atividade menos conhe-cida do SAME é a estatística. Toda a pesquisa nosológica realizada com os dados dos atendimentos do Hucam, como o período de interna-ção dos pacientes, por exem-plo, é originalmente função do setor, mas encontra-se paralisada por falta de pro-fissionais. De acordo com o administrador do SAME, Luiz Eduardo da Silva, a proposta da direção do hospital é re-organizar todo o serviço de arquivo médico, tanto com relação ao contingente de profissionais, quanto à orga-nização dos prontuários em si, principalmente devido ao frequente desaparecimento de documentos. Há um proje-to em discussão para instituir o prontuário digital, mas isso ainda depende de um longo processo, que inclui desde a instalação de cabeamento no Hucam até a própria cons-cientização de alguns profis-sionais mais resistentes. Hoje o SAME possui cerca de 300 mil prontuários ar-

quivados. O espaço físico para armazenar toda essa documentação é pequeno, sendo necessário realizar a chamada guarda externa: pacientes que não utilizaram os serviços do hospital nos últimos seis anos têm seus prontuários encaminhados para armazenamento numa empresa de tratamento de documentação. Ainda assim, são emitidos aproximada-mente dois mil novos prontu-ários por mês, e a tendência é que o espaço torne-se cada vez mais escasso. Luiz Eduar-do, que trabalha no SAME há quatro anos, conta, porém, que o serviço tem melhorado bastante: “Ainda está longe do ideal, tanto para quem trabalha aqui, quanto para quem utiliza o nosso servi-ço, mas aos poucos estamos conseguindo avançar”.

LAVANDERIALocalizado atrás do prédio principal do Hucam, o Setor de Lavanderia é responsável pela lavagem dos enxovais utilizados por pacientes e das roupas cedidas a eles e aos médicos, além de realizar pe-quenos consertos. Contando com 42 funcioná-rios, o serviço inicia-se com a coleta, para a qual há horá-rios determinados, de modo que não coincida com a dis-tribuição das refeições nos corredores. As roupas são se-paradas em pesadas (aquelas com secreções, vômito, san-gue, urina e fezes) e leves. São, então, distribuídas em duas lavadoras, de 240 e 100 kg. As máquinas são “de bar-reira”: para não haver conta-minação entre roupas sujas e limpas, a roupa suja é intro-duzida num lado da máquina que fica voltado para um gal-pão. Após lavada, é retirada no lado voltado para outro espaço físico pela equipe que dará sequência aos demais processos, como a secagem. De acordo com Bianca Silva Oliveira Munaldi, responsável pelo setor, o objetivo da la-vagem não é a esterelização, mas a máxima diminuição possível de microorganismos

Uma das muitas seções de prontuários arquivados no SAME.

FOTO: RAIO-X

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e contaminação. Aproxima-damente 1500kg a 2000kg de roupa passam por esse processo diariamente.Infelizmente, um enorme problema da lavanderia é a retenção de peças envia-das aos setores do hospital. Lençóis são usados como cortinas, como pano para secar o chão ou mesmo são levados de recordação por pacientes. Mas este não é o único problema: o extravio de peças realmente gritante é o de roupas privativas da hemodinâmica e da cirurgia: aquelas peças verdes e azuis utilizadas por nós, acadêmi-cos e médicos, e por outros funcionários. “O extravio é tão grande, que se nós li-berarmos 300 peças para o hospital, ao fim do mês po-demos reaver apenas 100. Muitos levam de recordação, se esquecem de devolver ou guardam como peça extra caso haja falta, mas só há falta devido a esse mesmo extravio! Além disso, vemos pessoas chegando de casa ou circulando pelo hospital com essas vestes, sendo que elas não poderiam sair dos locais em que são usadas.”, afirma Bianca. Às vezes, há embates com outros setores do hospital devido à falta de conjuntos, porém, essa falta é motivada por comporta-mentos desse tipo e não pela ineficiência da lavanderia.Outro grande problema é o sucateamento da infraestru-tura (há máquinas com até 30 anos de utilização). Além disso, os processos de com-pra são morosos. A última compra, por exemplo, foi so-licitada em setembro de 2013 e a solicitação só foi atendida em junho de 2014. Em bre-ve, de acordo com Bianca, a lavanderia será terceirizada, o que poderá reduzir essa demora.

BANCO DE LEITEO banco de leite do Hospital das Clínicas é o centro de re-ferência estadual, realizando tanto atividades assistenciais quanto atividades de ensino à comunidade. São atendidas

puérperas e gestantes que estejam apresentando difi-culdade no processo de ama-mentação ou que busquem informação para amamentar seus filhos, sendo fornecida assistência individual ou cole-tiva. Além disso, o banco de leite realiza o processamen-to do leite humano, atuando desde sua captação até sua distribuição, com forneci-mento para a UTI neonatal do Hucam. A enfermeira Mônica de Bar-ros Pontes conta que a rede brasileira de bancos de leite humano (Rede BLH) é re-ferência internacional em qualidade. Como referência estadual, o BLH do Hucam oferece cursos de manejo da lactação e de processamento do leite humano para a rede de saúde capixaba. Mesmo com tantas facilida-des para a doação, o siste-ma de saúde ainda enfrenta uma grande escassez de leite humano. O Hucam sofre de forma particular com essa carência por apresentar uma UTIN grande, que necessita de uma média de 3,5 litros de leite diariamente, enquan-to a arrecadação é de apenas um litro. Frequentemente são realizadas campanhas com futuras mães e possíveis doadoras, como aconteceu no último dia 09 de agosto, no Parque Moscoso, o “ama-mentaço”, marcando o encer-ramento da Semana Mundial da Amamentação. Até Julho deste ano, o banco de leite distribuiu 464 litros de leite e realizou 1574 atendimentos individuais.O banco de leite conta com uma equipe de onze profis-sionais e realiza projetos de extensão com alunos dos cur-sos de Nutrição, Enfermagem e Medicina. Ainda assim, o maior problema está na área de recursos humanos, já que a maioria dos profissionais está próxima da aposenta-doria e os novos contratados ainda estão em período de treinamento, que dura apro-ximadamente dois anos.

por Paulo Victor Ferreira Mai e Thaísa Malbar Rodrigues

Equipe da lavanderia. Da esquerda para a direita: Patrício, Priscilla, José, Bianca, Glória, Vera, Lílian e Adriana.

Relação dos Bancos de Leite Humano (BLH) do ES:

BLH Edson Rebelo Moreira - Hospital Evangélico Cachoeiro de Itapemirim

BLH Madre Gertrudes de São José - Colatina

BLH do Hospital Dr. Dório Silva

BLH do Hospital Infantil de Vila Velha

BLH do Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo

BLH da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

BLH do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Central)

Mães recebem instruções da equipe do banco de leite so-bre os cuidados durante a amamentação.

FOTOS: RAIO-X

Frascos de leite pasteurizado são conservados em diver-sos freezeres sob temperatura adequada.

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O curso de Medicina no Brasil tem por objetivo capacitar o profissional médico com for-mação generalista, instituiu o Conselho Nacional de Edu-cação. Dessa forma, o termo “generalista” é aplicado para médicos sem especialidade, embora não haja consenso entre as entidades médicas sobre o seu significado. Mes-mo na literatura internacional há divergências na sua defini-ção, que sofre variações con-forme a concepção das esco-las, dos sistemas de saúde e da prática profissional. Em alguns países, generalista é o especialista em áreas básicas como Pediatria e Ginecologia e Obstetrícia; em outros, ge-neralista é sinônimo de Médi-co da Família.Há dois caminhos para ob-ter o título de especialista no Brasil. Um deles é por meio de concurso de título na res-pectiva sociedade da especia-lidade. O outro é a conclusão de um programa de Residên-cia Médica reconhecido pelo MEC. Dentre diversas espe-

cificações, o curso deve ser ministrado em instituição de saúde por profissionais mé-dicos e ter duração de pelo menos dois anos, sendo que, ao final, o participante deve apresentar monografia.

PANORAMADos 388 mil médicos em ati-vidade no Brasil, em 2013, 54% possui ao menos uma especialidade, o que soma cerca de 208 mil profissio-nais. Desses, 60 mil possuem duas ou mais. Na prática, um médico com dois ou três tí-tulos está apto a atuar em especialidades distintas, po-dendo haver mobilidade en-tre uma e outra ao longo da carreira, a partir de interesses pessoais ou oportunidades de trabalho. De acordo com normas da Comissão Mista de Especialidades (CME), não há limite para realização de es-pecializações, entretanto, é vetado ao médico fazer anún-cio ou divulgação de mais de duas delas.A CME é um órgão formado

por representantes do Con-selho Federal de Medicina, da Associação Médica Brasileira e da Comissão Nacional de Residência Médica, que visa estabelecer critérios para o reconhecimento e denomina-ção de especialidades e áreas de atuação na Medicina, bem como a forma de concessão e registros de títulos de es-pecialista.Erroneamente, no linguajar popular, o médico recém for-mado é chamado clínico ge-ral, ou simplesmente clínico. De maneira correta, essas denominações se referem ao especialista em Clínica Médi-ca – área reconhecida pela CME.No Brasil, são 53 as especia-lidades médicas reconheci-das. A Pediatria é a área mais numerosa, reunindo mais de 30 mil titulados, ou cerca de 11% do total de especialis-tas. Apesar de estar no topo da lista, trata-se de uma car-reira que aos poucos perde optantes – hoje, apenas 8% dos recém formados esco-

lhem a Pediatria. Sua maior desvantagem é a desvalori-zação e a má remuneração em virtude de a consulta ser essencialmente clínica. Desse modo, o médico pediatra não recebe acréscimos de proce-dimentos e limita sua receita. O Espírito Santo possui cerca de 500 pediatras atuando na rede pública e privada.Se somada à Ginecologia e Obstetrícia, que vem em se-gundo lugar, com pouco mais de 9%, tem-se um quinto de todos os profissionais com registro. As quatro áreas bá-sicas da Medicina - Pediatria, GO, Clínica Médica e Cirur-gia Geral - estão no topo do ranking e, em conjunto com Anestesiologia (5°), Medicina do Trabalho (6°) e Cardio-logia (7°), correspondem a pouco mais da metade dos especialistas.Mostrado o cenário das es-pecialidades, o objetivo não é desencorajar o candidato a concorrer em certas áreas, almejando um futuro com menos concorrência de tra-

RESIDÊNCIA MÉDICAEntenda o funcionamento do “segundo vestibular” do estudante de Medicina, o cenário brasileiro atual e as opiniões de quem vivencia o momento.

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balho, porque mesmo com os maiores contingentes a bus-ca por esses profissionais não cessa. O real problema que o médico pode enfrentar é ge-ográfico – de concentração em um único local. Torna-se mais difícil ser médico nos grandes centros, ao passo que condições ruins de traba-lho os afastam da periferia. A Cardiologia é uma área em crescimento de demanda, e figuram como causas fatores tanto positivos quanto nega-tivos, visto que as terapias para o coração evoluem com as prevalências de obesida-de, de hipertensão e de in-farto do miocárdio. A última posição no ranking de especialidades é ocupada pela Genética Médica, com apenas 200 profissionais em todo o país. É uma carreira em ascenção e o mercado de trabalho no Brasil é favorável, mesmo que os investimentos na área pública e a filiação a planos de saúde ainda não sejam consideravelmente altos. A maior vantagem da especialidade são os avanços em mapeamento genético e pesquisas com células tronco observados nos últimos anos, que tornam a genética uma área inovadora e atrativa.As regiões que possuem o maior e menor número de es-pecialistas são as regiões Sul, com 65% e Norte com 45%. O Espírito Santo, com 65% de médicos especialistas é o terceiro estado no ranking, perdendo apenas para o Dis-trito Federal e o Rio Grande do Sul, que apresentam valo-res muito próximos de 66%. A mulher tem ganhado cada dia mais espaço no merca-do de trabalho e na área da saúde não é diferente. Des-de 1879, após decreto de Dom Pedro II, foi permitido o ingresso de mulheres na Faculdade de Medicina. Ob-servou-se, a partir de então, aumento discreto no contin-gente feminino, que se acen-tuou nas últimas décadas e atualmente cerca de 40% dos profissionais são mulhe-res. Dos novos registros do CFM, elas já são maioria des-

de 2009 e estima-se que em 2028 haverá mais médicas que médicos no Brasil.

Clichês do tipo “ci-rurgião plástico vai ficar rico” de ma-neira geral são in-verídicos e só atra-palham.

A respeito da porcentagem de especialistas em cada gê-nero, há praticamente um empate em 46% de espe-cialistas. No entanto, essa distribuição é bastante desi-gual ao se considerar as áre-as de atuação. As mulheres são maioria nas quatro áreas básicas e em Dermatologia, com a maior participação, na qual o valor chega próximo de 73%. Em contrapartida, a participação masculina passa de 90% em diversas áreas ci-rúrgicas e em Urologia chega a 98%. A maior opção das mulheres por áreas básicas é uma tendência mundial, e é concomitante à preferência dos homens por especialida-des cirúrgicas e por aque-las que atendem urgência e emergência, como a Ortope-dia (95%).A ideia de que há necessida-de de maior força e resistên-cia física é o principal motivo que afasta as mulheres de determinadas carreiras. Ou-tros fatores como a forma-ção mais demorada, exigên-cia de maior disponibilidade de tempo e a dificuldade de coordenar a profissão com a atenção à família também são muito considerados na escolha da especialidade.O número de especialistas tende a aumentar, seguin-do as previsões de que em 2050, a relação de médicos por mil habitantes passará de 4. Entretanto, é válida uma observação a respeito dos médicos sem título no país, especialmente os cerca de 90

QUEM OPTOU PELA RESIDÊNCIA...

Giulia Cerutti Dalvi, turma 78“Ginecologia e Obstetrícia é uma espe-cialidade que oferece uma ampla gama de atuações, desde consultório a pro-cedimentos ambulatoriais e cirurgias de grande porte. Assim, o médico deve ter boas noções de clínica médica e ci-rúrgica. Sou residente R2 no Hospital Pérola Byington – Centro de Referência da Saúde da Mulher, no centro de São Paulo”.

Luiz Felipe Nardoto, turma 79 “Não sei explicar por que escolhi Neu-rologia. Às vezes acho que não tenho o perfil para a especialidade, mas nada me encanta mais do que o raciocínio neurológico. É uma especialidade difí-cil, de muita base teórica. Mesmo com avanços em diagnóstico por imagem, anamnese e exame físico são essen-ciais. Estou na UNESP, Botucatu, inte-rior de São Paulo”.

José Roberto Pereira, turma 78“Terminei a residência de Clínica Mé-dica na UNESP, em Botucatu. É um centro muito forte, principalmente em atendimento hospitalar e emergência, incluindo tratamento intensivo. A Clíni-ca Médica é pré-requisito para outras especialidades. Pretendo fazer uma se-gunda especialização, e estou estudan-do para Cardiologia.”

E QUEM OPTOU POR NÃO FAZER.

Luana Gaburro Alves, turma 79“Atualmente trabalho como plantonis-ta no PA da Praia do Suá, pela Prefei-tura de Vitória, faço remoção médica entre hospitais e acabei de ingressar no SAMU como médica socorrista. Não creio que seja absolutamente necessá-rio realizar a residência, e não alme-jo fazê-la porque já trabalho onde me satisfaz. Vejo a residência mais como

uma satisfação pessoal pela busca do título de especialista do que uma necessidade profissional.Aconselho que os acadêmicos reflitam sobre o que eles querem fazer, de verdade, dentro da Medicina, em vez de pensar em qual residência concorrer, como muitos fazem, vendo isso como uma necessidade. Assim, podem evitar tomar decisões erradas, arrepender-se depois, sentirem-se perdidos dentro da carreira e até infelizes. Minha opinião sobre quem não decidiu como quer trabalhar: não faça a residência ainda. Quanto à remuneração, muitos pensam que o médico especialista ganha mais, mas praticamente não existe diferença de remuneração entre especialistas e generalistas, considerando a média.”

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mil na faixa etária de 30 a 60 anos. Considerando-se a fal-ta de Residência Médica para todos que saem das faculda-des, trata-se de um número que merece atenção. Os mé-dicos sem título, muitos com larga experiência profissio-nal, ao terem acesso ao apri-moramento de habilidades ou atualização, poderiam suprir carências localizadas do sis-tema de saúde, inclusive na atenção primária.

A ESCOLHAApós os elogios, a primeira pergunta de familiares e ami-gos quando um estudante é aprovado em um curso de Medicina é sobre a especia-lidade. Nessa escolha, devem ser levadas em conta a per-sonalidade e aptidões, como capacidade de lidar com pes-soas e trabalhar em equipe. Trata-se de uma decisão que é mais facilmente tomada no

seguimento do curso, após contato com as disciplinas e prática médica, o que nor-malmente ocorre a partir do terceiro ano de faculdade. Nessa época, a apresentação do cotidiano de cada espe-cialista pode ajudar na es-colha, e o médico professor pode ter papel decisivo – ao ser um profissional ao qual o aluno se identifique, ou seja, sirva de espelho. Clichês do tipo “cirurgião geral tem que ter habilidade manual”, “ci-rurgião plástico vai ficar rico” de maneira geral são inverídi-cos e só atrapalham.Nos últimos períodos da fa-culdade, é aconselhável que o aluno tente fazer contato com os profissionais de sua área, converse sobre suas opções e tente ouvir sua ex-periência profissional. Mas não é só escolher a área de atuação. O local de especia-lização pode ser o maior de-

terminante do sucesso. Ser uma instituição reconhecida na área escolhida é a quali-dade que os candidatos mais buscam. Não menos impor-tante, o curso da instituição deve ser reconhecido pelo MEC, a fim de garantir os di-reitos e a segurança do pro-fissional enquanto médico e estudante ao mesmo tempo. O CONCURSOO segundo vestibular do es-tudante de Medicina. Assim é conhecida a Residência Mé-dica, cujas vagas são muitas vezes mais concorridas que as da graduação. Por esse moti-vo, é comum a realização de cursos preparatórios que têm início no ciclo do internato. O processo seletivo é composto de três etapas: teórica, práti-ca e curricular. As avaliações teórica e prática abordam conhecimentos adquiridos na graduação relacionados à es-pecialidade de escolha além de conteúdos gerais. A prova curricular possui variação de acordo com a instituição e o curso escolhido, mas geral-mente analisa desempenho acadêmico, conhecimentos em línguas estrangeiras e atividades extracurriculares desenvolvidas pelo aluno no tempo de graduação como publicações, estágios, moni-torias, iniciação científica e participação em congressos.No Espírito Santo atualmente

há oferta de vagas em diver-sas instituições, sendo elas a UFES, a EMESCAM, os hos-pitais Evangélicos de Cacho-eiro do Itapemirim e de Vila Velha, Meridional, Hospital Infantil, Santa Rita, Vitória Apart e Jayme dos Santos Neves. As mais concorridas são as da UFES/HUCAM. Em seu último concurso, com edital aberto em agosto de 2013, foram disponibilizadas 68 vagas distribuidas em 24 especialidades. O resultado foi divulgado em novembro.

por Érico Induzzi Borges

A residência médica é um pe-ríodo essencial à complemen-tação da formação médica.Entre as vantagens está a possibilidade de aprender a “ser médico” sob a super-visão de profissionais mais experientes. Sempre é pos-sível solicitar uma segunda opinião quando não se sabe exatamente como exercer a prática clínica ideal. Além dis-so, no caso de especialidades básicas como a clínica médica e a cirurgia geral, por exem-plo, tem-se um período de dois anos para que o recém-

-formado passe por diversos estágios até certificar-se da especialidade que deseja de fato seguir. Com o certifica-do de Residência, o médico é respeitado nos mais diversos ambientes onde exerce sua profissão. Em algumas instituições, como é o caso da UFES, o residente pode se candidatar ao Mestrado Profissional du-rante a sua formação e, as-sim, obter também um título de Mestre ao realizar um pro-jeto de pesquisa relacionado à sua prática na Residência.

Como desvantagens, a vida do residente é bastante can-sativa. São 60 horas sema-nais de dedicação. Certas es-calas, especialmente as do R1 (primeiro ano da Residência), reduzem muito a possibilida-de de viajar ou de fazer plan-tões particulares em horários fixos. Manter-se por conta própria apenas com a bolsa fornecida pelo MEC pode ser difícil em algumas cidades. Um problema comum é que, em Programas de Residência que ainda não estão total-mente estruturados segundo

as regulamentações do Minis-tério da Educação, é comum que residentes sejam explo-rados, sendo frequentemente utilizados apenas como “mão de obra barata”.No entanto, os anos de Re-sidência compõem uma fase de grande crescimento pro-fissional. Independente da instituição, se o aluno se de-dicar, com certeza sairá de lá com uma boa formação. Por esse motivo vale tanto à pena passar pelo sacrifício.

[Stephanie é R2 de Cardiologia no Hucam]

OPINIÃO: as duas faces da Residênciapor Stephanie Moulin

FIQUE POR DENTRO:

- A carga horária do resi-dente é de 60 horas de dedicação semanais, en-quanto o regime de traba-lho comercial não passa de 44 horas.

- Em junho de 2011, a Co-missão Nacional de Resi-dência Médica estabeleceu o descanso obrigatório de seis horas ao residente que tenha cumprido plan-tão noturno. Essa medida leva em consideração o desgaste físico e psíquico do médico em treinamen-to.

- A bolsa de auxílio conce-dida pelo MEC hoje é de R$ 2.976,26.

Residência Médica – UFES 2014

ESPECIALIDADE VAGAS CONCORRÊNCIADermatologia 2 32,5

Oftalmologia 3 27

Pediatria 4 27

Anestesiologia 3 20,67

Radiologia e dx Imagem 4 15,75

Clínica Médica 11 15,27

Cirurgia Geral 8 13,5

Ginecologia e Obstetrícia 5 10 Fonte: UFES

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O programa P.A.R.T.Y. (da si-gla em inglês, Prevenção do Trauma Relacionado ao Álco-ol na Juventude) surgiu no Centro de Ciências da Saúde da cidade de Sunnybrook, no Canadá, em 1986. O objetivo dos criadores era alertar os jovens sobre os riscos de as-sociar álcool e direção, antes que eles adquirissem suas carteiras de habilitação. Com o tempo, o programa tornou--se conhecido, espalhou-se pelo resto do Canadá, foi le-vado a outros países (Austrá-lia, Brasil, Japão, Alemanha e Estados Unidos) e hoje já alcançou mais de 1 milhão de jovens mundo afora.No Brasil, São Paulo foi o primeiro estado a receber o P.A.R.T.Y., que tem sedes em Ribeirão Preto, Campinas e Sorocaba. O quarto e mais recente programa em fun-cionamento no Brasil é o da Grande Vitória, iniciado em 2012 pelos integrantes da

Liga de Atendimento Integra-do ao Trauma e à Emergência (LAITE) e sob a direção do Dr. Cláudio Borges. Segundo Dr. Cláudio, a grande importân-cia desse tipo de evento está na conscientização desses jovens. Existe comprovação estatística de que um menor índice de acidentes de trânsi-to é observado entre aqueles que participam do programa. No Espírito Santo, o P.A.R.T.Y. acontece no Hospital Estadu-al Dr. Jayme Santos Neves, referência no atendimento ao trauma no estado. Convida-do pela organização, o Jor-nal RAIO-X acompanhou um dia do programa. No evento, inicialmente, foram ministra-das palestras pelo Delegado Fabiano Contarato, da Dele-gacia de Delitos de Trânsito da Polícia Civil, pelo Solda-do Eduardo, do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo, e pelo voluntário Lu-cas Meireles dos Santos. Nas

apresentações, foram expos-tos dados sobre o número de acidentes de trânsito asso-ciados à ingestão de bebidas alcoólicas, e exibidos vídeos de impacto. Em seguida, os jovens puderam visitar e con-versar com pacientes inter-nados no hospital devido a algum acidente automobilísti-co e tiveram contato com as experiências dessas pessoas, sempre ressaltando a combi-nação explosiva entre álcool e direção. Joilton Tavares, um dos jo-vens que participou do pro-grama, declarou que a expe-riência mostrou de perto a realidade das vítimas de mo-toristas alcoolizados, assim como o esforço médico que existe por trás dos acidenta-dos. “Vimos o sofrimento das vítimas se transformando em apelo por responsabilidade no trânsito”, conta.O programa P.A.R.T.Y. é rea-lizado com alunos proceden-

tes de escolas da rede públi-ca ou privada e que estejam prestes a adquirir a Carteira Nacional de Habilitação. As escolas interessadas devem se inscrever no site do pro-grama (veja abaixo). Segun-do Hudson Andrade, presi-dente da LAITE e um dos coordenadores do P.A.R.T.Y., o ano de 2014 deverá marcar a ampliação do programa, com maior divulgação e no-vas parcerias, inclusive com o Governo do Estado. “Temos também planos para fazer si-mulações dentro do hospital, com os alunos utilizando ca-deiras de rodas e sentindo na pele as dificuldades de quem sofre sequelas após um aci-dente de trânsito”, conta ele.

por Paulo Victor Ferreira Mai

Programa P.A.R.T.Y. cons-cientiza jovens sobre álcool e acidentes de trânsitoIniciado no Canadá, o programa foi implantado no Brasil inicial-mente em São Paulo e trazido para a Grande Vitória em 2012.

Turma 94 ao final do programa, no auditório do Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves.

SAIBA MAIS:www.partyprogram.comwww.programaparty.com

Acadêmicos visitam paciente vítima de acidente de trânsi-to na enfermaria do hospital.

FOTOS: LAITE

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MEDICINA SOCIALA coluna social do Jornal RAIO-X

Está confirmado: as Olimpí-adas Regionais dos Estudan-tes de Medicina (OREM) 2014 terão como sede a cidade de Teresópolis, na região serra-na do Rio de Janeiro, e ocor-rerão entre os dias 10 e 15 de Outubro.Sempre uma ótima oportu-nidade para conhecer novos estudantes de Medicina, in-clusive de outros Estados, e garantir momentos de lazer e de incentivo ao esporte, o evento desse ano trará atra-ções musicais de peso. En-tre os shows já confirmados estão Chiclete com Banana, Raimundos, Molejo e Carros-sel de Emoções. Uma novidade que a Coor-denação da Regional SUDES-TE-1 da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (DENEM) trouxe para o “OREM Terê” é a pos-sibilidade de hospedagem em hoteis, além dos alojamentos

habituais. O Pacote Hotel dis-ponível para a UFES corres-ponde a um hotel econômico com café da manhã simples, quartos de duas a quatro pessoas e banheiro no corre-dor. O valor da hospedagem é de R$260,00.A Assessoria de Desportos e Lazer abriu as inscrições para o OREM 2014 no dia 01 de Agosto, através do site do DAMUFES. Atualmente no segundo lote, cujo valor é de R$260,00 para alunos não atletas, o depósito deve ser realizado na conta bancária do DAMUFES. Os interessa-dos também devem acessar o site do diretório e preencher a ficha cadastral disponível.

por Paulo Victor Ferreira Mai

OREM 2014 acontecerá em Teresópolis

MAIS INFORMAÇÕES:Assessoria de Desportos e Lazer - DAMUFES

TURMA 95 CHEGA À UFESNos dias 14 e 15 de Agosto aconteceu a Visita dos Ca-louros da turma 95. Como de costume, no primeiro dia houve palestras de apresen-tação do curso e uma cami-nhada pelos pricipais prédios do Básico. No segundo dia,

os calouros visitaram o Hos-pital Universitário durante a tarde e assistiram à palestra do Dr. Paulo Merçon. Em se-guida, houve um churrasco de integração com os vetera-nos na churrasqueira anexa ao DAMUFES. Seja bem vin-da, turma 95!

CALOURADA MEDUFESOrganizada pela primeira vez pelo DAMUFES, a calourada 2014/2 acontecerá no dia 06 de Setembro, a partir das 14 horas, no Recreio dos Olhos. Considerada por muitos como a melhor oportunidade de in-teração entre calouros e ve-

teranos, as atrações musicais serão: DJ Lucas Rodrigues, CurtiSamba e Michel Macha-do. O open bar trará Bhrama, Gummy, Canelinha e Refrige-rantes e os ingressos estão à venda com alunos Medufes e no Café Bamboo, no valor de 40 reais (primeiro lote).

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HEMOCULTURA

UMA JANELA ANTIRRUÍ-DO NA INTERNET“Uma janela antirruído na internet” – essa é uma das expressões que os criadores do Oene usam para definir este projeto. Afinal, já per-cebeu a avalanche informa-ção recebemos via internet, sendo a maior parte dela carente de análise profunda e de fontes confiáveis? Pois bem, o Oene surgiu para filtrar boas publicações na rede, por meio de uma equi-pe que manda um e-mail semanal para o usuário com uma compilação de alguns dos melhores achados (na-

cionais e internacionais) da semana. Os assuntos são os mais diversos, como políti-ca, economia, ciência, arte e cultura, sendo sempre de ótima qualidade. Vale muito a pena conferir!Para se inscrever, basta ir ao site http://www.oene.com.br e cadastrar seu e-mail. Lá você também pode con-ferir quais as publicações recomendadas pelo projeto, mesmo sem se cadastrar. Se quiser deixar de receber as mensagens semanais, tam-bém basta um clique.

por Thaísa Malbar Rodrigues

PRESCRIÇÃO MUSICAL

CANTOR DO SUPER-TRAMP EM VITÓRIARoger Hodgson, ex-vocalista da banda Supertramp apre-sentará a turnê “Breakfast in America” em Vitória no dia 21 de outubro, uma terça-feira. O show contará com clássi-cos da banda (como “Give a Little Bit”, “Dreamer” e “The

Logical Song”) que marcaram a década de 70 e são aprecia-dos até hoje, sobretudo pela voz marcante e inconfundível de Roger, capaz de alcançar grandes agudos.Para aqueles que pensam não conhecer Supertramp, basta ouvir as músicas já citadas e, principalmente, a música

que dá nome a um album e à própria turnê – “Breakfast in America” –, a qual ganhou versão mais recente com a banda Gym Class Heroes. O show será na Arena Vi-tória e os ingressos podem ser comprados no site www.blueticket.com.br. Os pre-ços variam de acordo com a

localização e com o lote do ingresso. Durante o fecha-mento de nossa edição, o primeiro lote já estava esgo-tado, então não deixe para comprar em cima da hora. E, é claro, não se esqueça de avisar seus pais e tios sobre o show!

por Thaísa Malbar Rodrigues

O 11 MANDAMENTOEscrito pelo médico Abraham Verghese, o livro traz a histó-ria do médico inglês Thomas Stone e da freira carmelita Mary Joseph Praise. Os per-

sonagens se conhecem em um navio e sua união proi-bida se desenrola em um hospital na capital da Etiópia, onde Mary dá à luz gêmeos siameses unidos pela cabeça.A trama é complexa e traz questões médicas e de enfer-magem, problemas assisten-ciais e de recursos, além de desafios éticos, mostrando como a medicina pode ser exercida dignamente mesmo sem a disponibilidade da tec-nologia mais moderna.Apesar da temática médi-ca constante, a linguagem é acessível também aos leigos nos assuntos abordados.

por Paulo Victor Ferreira Mai

PRESCRIÇÃO LITERÁRIA

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VERBORRAGIA

A seção Verborragia publica artigos escritos por alunos e ex-alunos de Medicina da UFES.As opiniões aqui divulgadas não necessariamente condizem com a opinião do Jornal.

Não havia vivenciado, até então, sensação semelhante a estar no 12º período de Medicina da UFES. É um momento em que olhamos para trás, refletimos e julgamos tudo que fizemos de correto, de incorreto e, sobretudo, o que deixamos de fazer e de contribuir para a Faculdade.Porém, esse também é um momento de fornecer um pouco de nossa experiência em erros e acertos. Do que podemos, enquanto MedUFES, fazer para termos um curso cada vez melhor, um hospital mais qualificado, professores mais moti-vados e um orgulho cada vez maior de pertencermos a uma Faculdade com mais de 50 anos de história.Começo nossa reflexão antes mesmo da faculdade, quando a MedUFES ainda era um sonho, uma meta a ser alcançada. Quando a medicina para nós se restringia à vivência com fa-miliares médicos, às idas rotineiras ao pediatra, ou até mes-mos aos episódios televisivos de programas médicos como House e Grey´s Anatomy. Tínhamos em nossas mentes a ex-pectativa de passar no vestibular e em breve já ser quase um “Dr House”. Mas vimos que não foi bem assim. Tínhamos en-tre nós e a vivência plena da medicina um período de 2 anos chamado de ciclo básico, em que talvez o momento de maior alegria seja uma festa denominada “Adeus Básico” realizada ao final do 4º período. Motivos para essa vontade de que esses dois anos passem logo não faltam, afinal, há uma forte dissociação entre o que é focado em certas disciplinas e aquilo que o um médico em formação deve saber. No entanto, não podemos jamais negli-genciá-lo. Como dizia meu grande professor de embriologia, Dr. Alcary Simões: “o Ciclo Básico é a base para o Ciclo Clínico, sem ele você terá dificuldades lá na frente.” E ele tinha razão!Quantas vezes durante uma cirurgia de gastrectomia parcial, por exemplo, o professor pergunta a origem da irrigação ar-terial da grande curvatura do estômago e às vezes não lem-bramos. Ou então, em pleno ambulatório de Neurologia, a professora pergunta as regiões encefálicas acometidas por um AVE isquêmico da artéria basilar, ou mesmo na visita à enfermaria de infectologia um médico pergunta as caracte-rísticas da bactéria Staphylococcus aureus coagulase positiva e todos ouvem o silencio como resposta. Essas situações são exemplos práticos de como matérias vistas no ciclo básico, como anatomia, neuroanatomia e microbiologia, são requisi-tadas mais à frente no curso.Nesse ponto fica uma missão para toda a MedUFES: vamos, juntamente com o Colegiado de Medicina, o Núcleo Docente Estruturante e o DAMUFES, melhorar as ementas das disci-plinas do ciclo básico e o foco dessas disciplinas. O básico é extremamente importante. Porém, tão importante quanto, é o aluno sentir-se motivado a estudar aquilo que ele vai precisar saber como médico em formação. Chegamos ao Ciclo Clínico! Alguns colegas passam até a se vestir melhor. Hora de comprar o estetoscópio, trocar o jale-co por um mais novinho, fazer o crachá do HUCAM e estu-

dar, mas estudar muito para passar em Anatomia e Fisiologia Patológicas e Semiologia. Duas disciplinas muito importantes para a formação médica, contudo, de forma infeliz e incom-preensível, condensadas em um único período, o 5º período. A Semiologia ensina o aluno a compreender que conversar com o paciente é tudo! Que uma boa anamnese pode muitas vezes revelar a causa de uma doença. Que um bom exame físico frequentemente já é capaz de indicar um diagnóstico e que exames laboratoriais e radiológicos são complementares e não o foco de uma boa medicina. Estudem semiologia não só no 5º período, mas sim durante todo o curso. Façam por vocês mesmos um bom aprendizado de semiologia!Dediquem-se e aprendam as disciplinas do 6°, 7° e 8° perío-dos. Exijam ambulatórios e enfermarias de todas as discipli-nas, porém façam também a parte de vocês, no mínimo fre-quentando-os de forma assídua. Aproveitem os ambulatórios e as enfermarias ao máximo possível nesta fase de aprendiza-do. É na prática que se aprende medicina. Com disse o Médico Canadense Willian Osler (1849-1919) “Viva nas enfermarias”!Por fim, vem o Internato, o momento de solidificação do co-nhecimento e da prática médica. Façam-no intensamente. Monitorias, iniciação científica, estágios extracurriculares, Me-dCurso, tudo pode ser feito neste período, mas o Internato deve ser o centro de toda dedicação. Vivam o seu hospital dia a dia. Aproveitem o centro cirúrgico, o centro obstétrico, a UTI, o PS, a maternidade, a radiologia, enfim, sejam de fato “ratos de hospital”.Chegamos ao ponto auge de nossa reflexão. O nosso Hospi-tal Universitário. Orgulhem-se dele, critiquem o que tiver de melhorar, porém, acima de tudo, façam sua parte para que melhore. Junto com o DA, participem das discussões sobre o Hospital, exijam que em todas as reuniões administrativas do hospital haja pelo menos um de nós lá representado. Tomem o hospital como parte de vocês, como a sua casa. Conversem com os médicos, preceptores e staffs sobre o po-tencial do HUCAM, o que ele já foi, o que ele é hoje e como fazer para que tenhamos a plenitude deste potencial no futu-ro. É este hospital que vai te formar. Orgulhem-se de um local que realiza cerca de 10 mil internações, 6 mil cirurgias, 1,5 mil partos, 200 mil consultas ambulatoriais por ano, mesmo com condições muitas vezes adversas, como falta de materiais e de mão de obra. Eu, juntamente com a turma 84 de Medicina da UFES, estamos nos despedindo como graduandos da UFES e do HUCAM dentro de alguns meses. O que fica é o orgulho de uma excelente formação que nos foi dada, mesmo com alguns percalços pelo caminho. Encerro este texto com muita confiança de que os que ficam lutarão para tornar este lugar cada vez melhor, para manter o curso no patamar da excelência e o nosso Hospital como local de destaque no ensino médico. Que ao olhar para trás em um futuro não tão distante possamos reforçar nosso orgulho em sermos MedUFES!

Olhando para trás... E para o futuro!por Ivan Nogueira