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NOVO CURRÍCULO MÉDICO DA UFES O curso de medicina da Ufes está implantando um novo currículo. As modificações na grade curricular já começaram e o processo só deve acabar em 2012. Veja as alterações em cada um dos 12 períodos e fique por dentro da cronologia dessas mudanças. O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES - Agosto 2009 - Edição 2 - DAMUFES ANAMNESE Confira entrevista com o presidente do CRM-ES Quer viajar para fora do Brasil? Os intercâmbios internacionais são experiências incríveis. É a oportunidade perfeita para mesclar conhecimento, cultura, diversão e entretenimento. RAIO-X elaborou uma guia completo com muita informação, depoimentos de quem já fez estágio fora do país e dicas para você montar o seu planejamnto. ENSAIO CLÍNICO Os vírus continuam surpreendendo a ciência e a humanidade VERBORRAGIA Crispim fala sobre a Estratégia de Saúde da Família HEMOCULTURA Veja dicas de livros, filmes, músicas, sites e muito mais OBRA DO DESCASO Dúvidas, atraso e transtorno OBRA DE ARTE Banho de tinta nos calouros

Raio-X, nº 2

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 2: Ago 2009

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Page 1: Raio-X, nº 2

NOVO CURRÍCULO MÉDICO DA UFESO curso de medicina da Ufes está implantando um novo currículo. As modificações na grade curricular já começaram e o processo só deve acabar em 2012. Veja as alterações em cada um dos 12 períodos e fique por dentro da cronologia dessas mudanças.

O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES - Agosto 2009 - Edição 2 - DAMUFES

ANAMNESE

Confira entrevista com o presidente

do CRM-ES

Quer viajar para fora do Brasil?Os intercâmbios internacionais são experiências incríveis. É a oportunidade perfeita para mesclar

conhecimento, cultura, diversão e entretenimento. RAIO-X elaborou uma guia completo com muita informação, depoimentos de quem já fez estágio fora do país e dicas para você montar o seu planejamnto.

ENSAIO CLÍNICO

Os vírus continuam

surpreendendo a ciência e a humanidade

VERBORRAGIA

Crispim fala sobre a

Estratégia de Saúde da Família

HEMOCULTURA

Veja dicas de livros, filmes,

músicas, sites e muito mais

OBRA DO DESCASO Dúvidas, atraso e transtorno

OBRA DE ARTE Banho de tinta nos calouros

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EDITORIAL

EXPEDIENTE. Editor - Wagner Santos Knoblauch Colaboradores - Marcelo Corassa, Lorena Pinheiro Figueiredo e Gustavo Franklin Colunista nesta edição - Prof. Dr. Crispim Cerutti Júnior CONTATO. Email: [email protected] Tel.: (27) 8153-3178

Neste mês de agosto completamos um ano e meio de jornal RAIO-X. Ficou surpreso? Quem acompanha os bastidores do projeto de relançamento do jornal desde o início, sabe que as negociações e reuniões de pauta para a confecção da edição 1, lançada em março deste ano, começaram um ano antes, em março de 2008. A demora tem uma lista de explicações que vão da falta de interesse por parte da comunidade acadêmica à carência de verba. Não é fácil fazer um jornal. E tudo se torna ainda mais difícil e desafiador quando nos deparamos com a falta de tempo (afinal, todos aqui estudam medicina!), pequena força de trabalho, precária estrutura técnica e recursos financeiros pífios. Enfim, sobram motivos para o desânimo geral. Mas desistir, que fique claro, está fora de cogitação. Quando a edição 1 foi lançada, ouvimos muitos elogios e algumas críticas. Todavia, podemos contar nos dedos de uma só mão os alunos que se

propuseram a ajudar a equipe editorial na confecção dos números seguintes. Apesar dos apelos no email de grupo medufes e nas reuniões do DA, poucos interessados se candidataram a ´´repórteres``. É válido reforçar que este jornal nasceu com o intuito de difundir a informação no meio acadêmico, por meio da publicação de notícias, produção de reporta-gens especiais e entrevistas com profissionais da área médica. Ou seja, o jornal só tem a acrescentar. Esta edição é lançada 5 meses após nossa publicação de reinauguração do jornal. Hoje trabal-hamos com a meta de duas edições semestrais, ou 4 anuais. Vamos continuar com a cobertura jornalís-tica na internet, iniciada em março, com o envio de emails-reportagens por meio do medufes. E preten-demos expandir nossa atuação na web em breve. No papel ou na tela do computador, contudo, toda notícia precisa de um mediador para sua veiculação. E fazer a informação circular é a missão do RAIO-X.

Em prol da informação

INFORMESDAMUFESO Diretório Acadêmico de Medicina da Ufes (DAMUFES) - Gestão 2009 iniciou os trabalhos em março preocupado com a Representação Estudantil (RE) e a par-ticipação dos alunos nos assuntos acadêmicos. A articulação dos estu-dantes hoje é, de fato, vergonhosa, se com-parada com a mobiliza-ção intensa das décadas passadas. A Gestão 2009 apostou na RE para reavivar o espírito político dos acadêmicos. E tudo indica que o DA acertou em cheio. Para o semestre 2009/2 há uma lista enorme de alunos que desejam entrar na representação de algum departamento. Ótimo sinal. E as reuniões semanais tem servido como bom termômetro

dessa reestruturação es-tudantil. Não houve uma quarta-feira sequer que algum assunto interno não tenha sido debatido. Mas esses resultados ainda são tímidos e o DA não pretende cruzar os braços agora. Até o fim do ano, a RE continuará em evidência. Com maior ou menor grau de atenção e dedicação, as out-ras assessorias do DA também têm seu destaque. Foram muitas as realizações, algumas nem sempre tão vísiveis e aplaudidas, mas há ainda, é claro, muito trabalho pela frente. E é por isso que convida-mos todos os alunos da medicina a participar de nossas reuniões sema-nais. Toda quarta-feira, as 12h30, as portas do DA estão abertas. Aqui a tribuna é libre e todos os alunos têm direito a voz. Participe!

Acima, Emílio Mameri, diretor do Hucam, explica aos alunos, numa reunião do DA deste ano, a situação atual do hospital e ,abaixo, o último churrasco de encerramento da Visita dos Calouros 2009/2, em agosto.

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ENSAIO CLÍNICO

se modificar ao se replicar. Calcula-se que haja trilhões de vírus na natureza, dos quais apenas 30.000 já fo-ram identificados. Destes, pelo menos 800 provocam doenças em seres humanos. Um vírus tem um milésimo do tamanho de uma célula, porém é capaz de causar grandes impac-tos. Veja alguns exemplos. A varíola é uma enfermi-dade erradicada, mas o vírus causador matou milhões de pessoas ao longo dos sécu-los. O sarampo, por sua vez, ainda faz 30 milhões de víti-mas por ano, 200.000 delas fatais. Entre 1918 e 1919, a gripe espanhola, que sur-giu na Ásia e é considerada a pior epidemia de gripe da história, espalhou-se dev-astadoramente e matou seis vezes mais gente do que toda a primeira Guerra Mundial, isto é, aproximadamente 50 milhões de indivíduos. E 50 anos depois, também na Ásia, a gripe de Hong Kong fez cerca de 700 mil víti-mas. Em 1976, na África,

500 pessoas sucumbiram ao ataque do vírus que é con-siderado o mais violento de todos os tempos: o Ebola. De cada 10 contaminações, nove resultam em morte. Em 1997, novamente em Hong Kong, a gripe do fran-go forçou o extermínio de 1,5 milhão de aves em três dias; e seis indivíduos mor-rerão, das 18 infectadas. Em 2002, a China foi o palco da primeira identificação da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que se transformou em epidemia global no ano seguinte, cei-fando cerca de 800 vidas. O vírus da Aids mata 3,5 milhões de pessoas por ano no planeta. Desde que foi descoberto, em 1981, o HIV já infectou 65 milhões de seres humanos e matou algo em torno de 26 milhões. Hoje se estima em 593 mil o número de indivíduos que vivam com Aids no Brasil. Em 1998, ano em que foi registrada a maior taxa de incidência da doença, o país contabilizou 19 casos

para cada grupo de 100 mil habitantes. E o vírus da den-gue é outro grande vilão da atualidade. A enfermidade causa 22 mil mortes anuais e o número de infectados é infinitamente superior. A dengue, sobretudo no verão, contribui – e muito – para o colapso do sistema público de saúde em diversos pontos do país, até aqui em Vitória. A assustadora capacidade de sofrer mutações aleatórias é um desafio gigantesco aos virologistas, que hoje já se deparam com um quadro diferente do observado na década de 70. Naquela época, apenas 1% dos casos de câncer, por exemplo, es-tava relacionado de alguma forma aos vírus. No futuro próximo, estudos apontam que até 50% de vários tipos de câncer terão os vírus como importante fator etiológico. Seja Aids, dengue ou gripe suína, portanto, é funda-mental estar atento às mano-bras traiçoeiras dos vírus.

A gripe suína entrou para a história da humani-dade como a primeira pandemia do século XXI. Em dois meses, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o vírus da nova gripe, que recebeu o nome técnico oficial de A/Califórnia/4/2009(H1N1), chegou a todos os continen-tes. A expansão foi tão rápida, que a própria OMS decidiu parar de contar o número de infectados no começo de julho. Felizmente, o novo vírus mostrou-se pouco letal, mas o susto sanitário global foi inevitável e o assunto dominou os noticiários; e hoje muito se fala na vacina que combaterá uma pos-sível segunda onda de gripe suína no próximo inverno. O vírus da nova gripe é mais um que afeta o co-tidiano humano e intriga os especialistas. Até hoje a ciência não conseguiu desv-endar por completo o com-portamento dos vírus, prin-cipalmente porque eles têm uma notável capacidade de

A traiçoeira história dos vírus

Tenho ficado bastante enciumado ultimamente com a ´´festa`` mundial feita injustificadamente em torno de um bicho, que, por ser novidade, tem me deixado de lado. Parece que tenho menos importância que o tal influenza A H1N1. Por que? Faço minhas considerações: Há cerca de 12 anos, sistematicamente, ano após ano, venho me esforçando bastante e causando epidemias por este grande país, em toda sua extensão. Já atingi todos os estados, de norte a sul, e até cheguei a ´´los hermanos`` na Argentina. Num esforço competente, persistente e malévolo, sai da sombra, água fresca e limpa dos velhos pneus e me adaptei à urbanidade das caixas d’água, dos plásticos e outros recipientes em lixões que a sociedade não sabe como destinar. Cheguei às bromélias – aliás, sou muito grato às prefeituras que as planta-ram abundantemente. Há muitos anos vivo confortavelmente nos veículos sucateados de todos os Detrans e Ciretrans das cidades, e até mesmo em carrocerias de camionetes sucateadas de um tal de Funasa, onde sou encontrado em grande quantidade frequen-temente. Na falta de saber para que servem aquelas latas velhas viradas nos pátios, venho aproveitando tranquilamente; ninguém me incomoda ali. Num esforço atual e enorme competência, estou me adaptan-do aos encanamentos de drenagem da água pluvial de todos os centros urbanos. É um lugar bastante seguro; garantia de que todo ano estarei presente nas cidades. No início, eu transmitia um tipo de vírus, mas ao me darem sobra e água fresca, comecei a variar e ampliar o negócio: atualmente já transmito 3 tipos e logo vou transmitir todos os 4 tipos, num exemplo de máxima dedicação à causa. Causava poucas mortes, mas como me deram pouca importância fui ficando bravo e agora já mato muito mais. Depois de assistir ao show de incompetência político-adminitrativa (vide somente o belíssimo exemplo proporcionado por César Maia no Rio de Janeiro), fui perdendo até a piedade e agora mato também

crianças, cada vez mais... e continuam me dando menos importân-cia que o tal vírus suíno (suíno?). Enquanto as ´´otoriadade`` e a população não se conscientizarem pra valer, vou levando meu destino adiante e atormentando cada vez mais. Tenho nítida impressão que quando uma desgraça é muito duradoura e persistente, vai perdendo importência. Sem resistência ao meu trabalho, passei da Dengue Clássica para a Febre Hemorrágica Dengue e, atualmente, faço descaradamente o Choque Hemor-rágico. Nem quero lembrar que também posso transmitir a Febre Amarela, bastando para isso me aborrecer mais e aumentar a concentração de criadouros. Será que este espalhafato todo com a tal ´´gripe do porco`` é porque ela também dá em rico e eu adoeço mais os pobres? Será que se eu aparecesse nos aeroportos, no Canadá, em Nova York, no Japão e outros lugares chiques eu teria mais importância? Não será necessário cada cidadão do mundo andar com um ´´mos-queteiro`` cobrindo todo o corpo, ao invés daquela máscara? Por que meus doentes ´´dengosos`` não tem um ´´scanner térmico`` daqueles dos aeroportos? Nem gorro, máscara e aquele aparato todo? Por que eu posso voar em aviões, andar de navio e trem, entrando e saindo livremente nos países e estados? Meu pas-saporte deve ser melhor do que o do vírus, porque até hoje minha liberdade é total. E seu tivesse um ´´Tamiflu`` e uma ´´Roche`` só pra mim, este país, a população e as autoridades, os governos e o mundo me dariam mais atenção? Sem maldade.Por que até hoje não investiram pesado para fabricar uma vacina eficiente contra meu vírus?São minhas considerações, Aedes aegypti

Texto do médico pediatra Ronaldo Ewald Martins

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ANAMNESE

O médico Aloizio Faria de Souza assumiu a presidência do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) em outubro do ano passado e permanece no cargo até 2013. Dr. Aloizio formou-se na Emescam em 1973 e trabalha hoje nas áreas de medicina estética e nutrologia. É o atual dire-tor presidente da So-ciedade Brasileira de Me-dicina Estética e também professor e coordenador geral do curso de pós-graduação em medicina estética da Fundação Técnico Educacional Souza Marques (RJ). Dr. Aloizio recebeu RAIO-X na sede do CRM-ES e nesta entrevista fala sobre a atuação da enti-dade, o serviço público de saúde, greve dos médicos, novas escolas médicas, prova de egres-sos e outros assuntos. Confira!

Quais são as principais frentes de atuação do CRM-ES hoje? Existem várias entidades médi-cas, em nível nacional e estadual, cada uma com suas atribuições específi-cas. Os leigos, e até alguns médicos, confundem essas atribuições. O CRM é uma autarquia federal que tem funções específicas para fis-calizar o exercício ético da medicina. Tudo o que está contido no Código de Ética Médica é função do CRM: observar, fiscalizar e tomar iniciativas, se necessário, quando houver desvio de conduta ética do profis-sional. É o que manda a lei. Entendemos também, no momento em que o Código afirma que o médico precisa ter condições dignas de trabalho e não pode exercer suas atividades por remu-

neração vil, que compete, então, ao CRM participar das lutas reivindicatórias da classe em prol de melhorias. O Sindicato dos Médicos (aqui no ES, o Simes), por sua vez, existe para defender a catego-ria e não está tão preso à legislação como o CRM. Greves e outros proces-sos reivindicatórios são atribuições mais específicas do Sindicato. O CRM pode ajudar, mas isso já foge de seu escopo constitucional. E há ainda a Associação dos Médicos (AMES, aqui no Estado), que está voltada às especialidades médicas. A pergunta é interessante porque permite um esclare-cimento geral. Há médicos que confundem as entidades e cobram do CRM atitudes de que não lhe cabe. Mas o CRM faz aquilo que é sua competência. E nós temos a autoridade e responsabi-lidade de julgar o médico

e, por isso, não são todas as situações em que podemos interferir.

O sistema público de saúde do Estado atravessa uma profunda crise. Na sua visão, por que chega-mos a tal ponto? Muito simples: falta de inves-timento em saúde e falta de respeito. O Brasil é o país que menos investe em saúde pública na América do Sul. Investimos cerca de 3,5% do PIB, a Argen-tina, 8%, e o Chile, 7,5%. A saúde pública não é uma prioridade de nossos gov-ernantes, principalmente em nível federal. Hoje, aqui no Estado, vemos que a Secretaria de Saúde (Sesa) tem um planejamento. Há obras no Dório Silva, no Hospital Central, no São Lucas e temos ainda as Farmácias Populares, ou seja, existe hoje um planejamento. Mas fi-

camos 20 anos sem a construção de um novo hospital público na Grande Vitória. A grande questão é: as Prefeituras não estão levando a sério sua respon-sabilidade, que é a atenção primária. O atendimento ambulatorial no sistema SUS é muito carente e deficitário. Por tudo isso, vemos um afunilamento na média e alta complexidade. Uma criança gripada, por exemplo, que vai ao posto e deveria receber medi-camento e instrução para tratamento domiciliar, o que nem sempre acontece, pode complicar com uma pneumonia, que vai exigir leito em hospital e cuida-dos mais específicos. E o governo continua achando que está fazendo econo-mia, mas não. Falta, então, planejamento estratégico para a saúde.

Hoje o governo estadual oferece condições míni-mas de trabalho para o médico? A remuneração do médico que trabalho no serviço público é vergonho-sa. São seis de gradução, mais dois de residência, no mínimo, sem contar a constante reciclagem profissional, já que a me-dicina evolui rapidamente, incluindo aí os avanços tecnológicos. E se o médico não se recicla, fica defasa-do, e isso repercuti negati-vamente em seu trabalho, sobretudo no atendimento à população carente, que depende do SUS. Com o baixo salário atual da rede pública, e até mesmo nos planos de saúde, o médico não consegue ter con-dições mínimas e dignas de existência. E sem recursos, o profissional não consegue acompanhar a evolução da medicina. A nossa remu-neração, portanto, está hoje abaixo da crítica.

Com a palavra, o CRM-ES

O médico Aloizio Faria de Souza é o presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES)

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A questão salarial é uma das principais reivin-dicações da categoria e foi um dos motivos que deflagrou a greve dos médicos servidores de Vitória. Para 40 horas de trabalho, os profissionais recebem R$ 2,1 mil, e a exigência é a adoção do piso nacional, ou seja, R$ 7,5 mil para 20 horas... Aqui no CRM-ES nós da-mos o exemplo. O médico fiscal teve aumento salarial de R$ 2,6 mil para R$ 8,2 mil, com base em cálculos da FGV. Para cobrarmos lá fora é preciso dar o exem-plo dentro de casa.

A greve dos médicos, liderada pelo Simes, contou, então, com o total apoio do CRM-ES? Somos totalmente a favor da greve e da luta empreendida pelo sindicato. E é uma pena que a paralisação tenha acabado sem uma solução definitiva. As reivindicações são justas e honestas, mas, por conta das limitações legais, o CRM-ES não pode estar a frente dessa manifestação. Estamos totalmente solidários à classe médica nessas reivindicações.

A crise da saúde pública capixaba é ainda mais visível nos pronto-atendi-mentos (PAs). E o CRM-ES tem ganhado destaque na imprensa à medida que fiscaliza e interdita as uni-dades inadequadas, como aconteceu, por exemplo, no PA de Itacibá. Como reverter essa situação? O CRM-ES tem um depar-tamento responsável pela fiscalização dos serviços de atendimento de saúde e, quando há a constatação de irregularidades, nós notificamos e damos um prazo. No PA de Itacibá, até confesso que já fornecemos prazo demais. Por que o CRM não fechou o PA imediatamente? Aí vem outra pergunta: o ideal é fechar ou melhorar? Esta-mos, portanto, no limite.

Em reunião com a pre-feitura de Cariacica e com o Ministério Público, ficou decidido que dilataríamos o prazo. Para o CRM é mais interessante consertar a interditar o PA. Vivemos em um momento onde há falta de leitos e, se optásse-mos pela interdição sempre, ao invés de ajudar, prejudi-caríamos a população. E de-fender a população é nosso objetivo e responsabilidade. E, é claro, visamos também à defesa do médico, porque se ele tem boas condições de trabalho, o povo também é beneficiado. No entanto, se as exigências não forem cumpridas, fechamos o local.

O CRM fiscaliza apenas os PAs? E isso ocorre só quando há denúncia? Todo o sistema de saúde é fiscalizado. Nossas visitas ocorrem de forma regular, mas também esporadica-mente, quando há uma denúncia.

As agressões a médicos figuram como outro sério problema e já se tornaram rotina na rede pública... Nossa gestão criou a Comissão de Prerrogati-vas do Médico. Quando o médico é intimidado ou ameaçado de alguma maneira no exercício de sua função, ele pode acionar o CRM e daremos toda as-sistência, inclusive judicial.

Mas por que as agressões acontecem? Estamos vi-venciando o caos da saúde pública. Quem é a ponta? Quem está em contato direto com o paciente? É o prefeito ou o secretário de saúde? Não, é o médico! A população já está abor-recida porque enfrenta enormes filas e não tem um

bom atendimento, além da péssima infra-estrutura. En-tão, o desespero é evidente. Se o paciente encontrasse o secretário, ele o agrediria, mas quem é penalizado por toda a culpa é o médico, já que ele está mais próximo.

O nosso estado conta hoje com cinco escolas médicas. Em algumas localidades, o número de médicos ultrapassa o pre-conizado pela OMS. No contexto dessa discussão, o CRM-ES é contra ou a favor a abertura de novos cursos de medicina? Radicalmente contra. Não se pode abrir uma es-cola médica sem um estudo prévio e hoje os novos cur-sos surgem para priorizar questões políticas. O governo federal tem valorizado o apadrinhamen-to político em detrimento à nossa nobre profissão. Antes tínhamos apenas duas faculdades. Esses outros três cursos eram necessári-os? É óbvio que não. O governo parece não se im-portar com a real demanda de médicos e prefere fazer favores políticos. E a ética fica em segundo plano. Quem manda abrir ou fechar uma escola médica é o MEC, não o CFM. E quem nomeia o ministro da educação é o presidente.

São Paulo e Espírito Santo foram os primei-ros a aplicar prova para os egressos na medicina. O CRM-ES sinaliza ser favorável à implantação definitiva desta avaliação, inclusive para validar o diploma? A prova nos permite analisar o nível de formação do profissional, mas não podemos negar o registro do médico recém-formado. A lei diz que todo

médico deve registrar títu-los e diploma no CRM, mas não nos reserva o direito de classificar um diploma como bom ou ruim. Isso é função do MEC. Mesmo que aluno se forme em uma instituição sabidamente ruim, não podemos negar o registro no CRM. É a lei. A falta de controle de qualidade nos cursos de me-dicina não é culpa do CRM. Quem dera se pudéssemos negar o diploma tal como ocorre na OAB.

Mas há quem defenda a aplicação na medicina da mesma dinâmica e legislação observados no direito. Existe, sim. Mas eu tenho uma visão diferente. Deveríamos usar toda nossa força e poder político na proibição da abertura indiscriminada de novos cursos. E também zelar pela qualidade das escolas que já atuam. Porque a prova de egressos não resolve prob-lema algum. Continuamos a formar mais profissionais do que o mercado pede. Sou a favor da prova como instrumento de avaliação e análise, mas a melhor medida é coibir a criação de mais e mais cursos médi-cos.

Os aspectos negativos da atividade médica e o caos do sistema de saúde ainda não ofuscaram por completo a nobreza da profissão. Como, então, resgatar a medicina? Nossa profissão ainda é uma das mais respeitadas, apesar de tudo. O médico precisa se valorizar mais. O médico é muito técnico e pouco político. A OAB obtém muito mais conquis-tas do que o CFM porque goza de uma enorme articu-lação política. Os médicos precisam aprender a utilizar o poder que possuem. E, além disso, o resgate passa também pela solidificação da formação e a valorização da relação médico-paciente.

ANAMNESE

´´O governo parece não se importar com a real demanda de médicos e prefere

fazer favores políticos. E a ética fica em segundo plano``

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Reforma curricularDo Básico ao Internato, veja agora as mudanças prevista

em cada período para a implatação do novo currículoWAGNER KNOBLAUCH

Muito já se falou de modificações na grade de disciplinas para a adoção de um novo currículo médi-co na Ufes. Mas sobram especulações e faltam expli-cações concretas. Os alunos estão simplesmente perdidos e muitas dúvidas ainda pre-cisam ser sanadas. RAIO-X foi atrás das respostas e apresenta nesta e na próxi-ma página as informações, do primeiro ao 12º período, sobre a reforma curricular. Todos os alunos de me-dicina da Ufes com data de ingresso no curso a partir do semestre letivo 2007/2, isto é, da turma 81 em diante, irão se deparar com alterações na grade de dis-ciplinas. Os acadêmicos do Básico, aliás, já atravessam a 1ª etapa da sequência de mudanças previstas para a implantação do currículo novo desde o semestre 2008/2, quando houve o re-manejamento das epidemios. As modificações mais profundas acontecem, no entano, no ciclo clínico, entre o 5º e o 9º período. Algumas disciplinas serão extintas e outras, criadas. E um terceiro grupo de matéri-as passarão por um simples remanejamento de período, tal como ocorreu no Básico, onde a epidemio II desceu do 3º para o 2º período, e

mudou de nome; agora se chama sistema de saúde. A alteração mais aguarda-da, e também a mais polêmi-ca, é a fusão das semios I e II. O quinto período, que já tem fama de super difícil e hoje oferta apenas a semio I, vai concentrar todo o conteúdo de semiologia do curso. A mu-dança está prevista para o ano que vem e a nova matéria vai se chamar Semiologia Geral e Radiológica. Sexto, sétimo, oitavo e nono períodos tam-bém passarão por alterações. O Colegiado afirma que

Confira as alterações na grade curricular

2008/1 – Remanejamento da disciplina Epidemio II do 3º para o 2º período; a matéria agora se chama Sistema de Saúde. Por consequêcia, as epidemios II e III mudam a numeração para epidemios I e II, respectivamente 2010/1 – Criação da Semio Geral e Radiológica no 5º período (255 horas) a partir da fusão das semiologias I e II. Não haverá semio no 6º período. 2010/2 – Remanejamento da matéria Medicina Legal do 7º para o 6º período 2010/2 – Extinção da disciplina Prática Hospitalar e criação da matéria Clínica Médica I a ser ministrada no 6º período, com carga horária de 240 horas2011/1 – Extinção da disciplina Clínica Médica I do 7º período e criação da Clínica Médica II, com 240 horas2011/1 – Inserção da discplina Ginecologia e Obstetrícia I no 7º período, com carga horária de 120 horas2001/2 – Extinção das disciplinas Clínica Médica II e Gi-necologia e Obstetrícia I do 8º período e criação da Clínica Médica III (180 horas) e Ginecologia e Obstetrícia II (120 horas) 2012/1 – Com todas as mudanças acima, o 9º período terá somente os estágios Obrigatórios em Medicina Social e Medicina de Urgência e Emergência

Site da Ufes confunde alunos

Garantir a matrícula de um período no sistema eletrônico da Ufes é um verdadeiro desafio. O serviço tem melhorado, é fato, mas ainda há irregularidades que exigem do aluno muita atenção e paciência redo-brada. A grade curricular do curso de medicina disponível no site é con-fusa e traz informações e ofertas de matérias fora da realidade. Para o semestre 2009/2, por exemplo, o 3º período se deparou com as epidemi-os I e II. Os dados do velho e novo currículos foram parcialmente in-tegradas e apresentadas na web. Departamentos, Colegiado e Prograd têm responsabilidades na confecção e divul-gação da grade curricu-lar. Difícil, no entanto, é saber quem é o culpado pelos erros. Enquanto isso, os alunos sofrem com a desinformação.

um dos objetivos finais des-sas modificações é deixar livre o 9º período, momento em que o internato começa. Hoje os alunos cursam está-gio de trauma no São Lucas e no PSF junto com outras disciplinas de ambulatório. O novo currículo também pretende reestruturar o ciclo clínico, para que não haja excesso ou deficiência de carga horária em nen-hum momento dessa fase do curso. A partir de 2012, portanto, o internato será, efetivamente, de dois anos.

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ESPECIAL

Nova grade divide opiniõesA nova grade de disci-plinas já motivou mui-tas reuniões e promete gerar polêmicas nos próximos períodos. Para se ter uma ideia, a dinâmica de implan-tação do novo currícu-lo, além de ser um po-tencial multiplicador de dúvidas para os alunos, ainda não é consenso entre os docentes. O Colegiado é o carro-

chefe das modificações curriculares, mas os departamentos, onde os professores atuam de forma mais direta, são peças fundamentais nesse processo. E nem entre tais instâncias há sintonia. O ponta pé inicial para a reestru-turação do currículo médico nasceu da ne-cessidade de se ampliar a carga horária do inter-

nato. O objetivo final é estabelecer dois anos desse ciclo. Os primei-ros dois anos do curso permanecem por conta do Básico e os 4 perío-dos intermediários, do 5º ao 8º, devem con-centrar a fase clínica da graduação. E é justa-mente nesse ciclo clíni-co que se concentram as maiores discussões e divergências, e por

consequência, muitas interrogações. RAIO-X apresenta abaixo um quadro comparativo en-tre o velho e o novo cur-rículo. As informações são oficias, obtidas jun-to ao Colegiado, mas não necessariamente definitivas. A implan-tação da nova grade tem se revelado altamente dinâmica e é preciso es-tar atento às alterações.

GRADE DE DISCIPLINASCICLO BÁSICO

1º período 2º período 3º período 4º períodoVELHO / NOVOAnatomia Humana IEcosistemaBiologia Celular e dos TecidosEmbriologia

VELHOBioquímica e Biofísica BAnatomia Humana IIHistologia BEpidemiologia I

NOVOBioquímica e Biofísica BAnatomia Humana IIHistologia BSistema de Saúde

VELHOGenética HumanaFisiologia BEpidemiologia IIPatologia Geral BImunologia

NOVOGenética HumanaFisiologia BEpidemiologia IPatologia Geral BImunologia

VELHOFarmacologia IEpidemiologia IIIMicrobiologia BParasitologia

NOVOFarmacologia IEpidemiologia IIMicrobiologia BParasitologia

CICLO CLÍNICOVELHOSemiologia IRelação Médico-PacienteAnatomia e Fisiologia Patológicas

NOVOSemiologia Geral e RadiológicaRelação Médico-PacienteAnatomia e Fisiologia Patológicas

5º período 6º período 7º período 8º períodoVELHOClínica Cirúrgica IIClínica Médica IMedicina LegalPediatria I

NOVOClínica Cirúrgica IIClínica Médica IIPediatria IGinecologia e Obstetrícia I

VELHOClínica Cirúrgica IIIGinecologia e Obstetrícia IClínica Médica IIPediatria II

NOVOClínica Cirúrgica IIIGinecologia e Obstetrícia IIClínica Médica IIIPediatria II

VELHOSemiologia IIClínica Cirúrgica IFarmacologia IIPrática Hospitalar

NOVOClínica Cirúrgica IFarmacologia IIClínica Médica IMedicina Legal

INTERNATO9º período 10º período 11º período 12º período

VELHOClínica Cirúrgica IIIGinecologia e Obstetrícia IIClínica Médica IIIMedicina do TrabalhoPediatria III

NOVOINTERNATO- Medicina de Urgência/Emergência - Medicina Social

VELHO / NOVOINTERNATO

Rodízio em 2 das 4 grandes áreas: - clínica médica - clínica cirúrgica- pediatria- ginecologia e obstetrícia

VELHO / NOVOINTERNATO

Rodízio em 2 das 4 grandes áreas: - clínica médica - clínica cirúrgica- pediatria- ginecologia e obstetrícia

VELHO / NOVOINTERNATO OPCIONAL

O aluno escolhe um ou mais área para realizar seu estágio. O estudante também pode optar por realizar 6 meses de internato em outro hospital.

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HEMOCULTURA

O termo correto é Síndrome do Encarceramento. É sobre essa raríssima condição que se baseia o filme O Escafandro e a Borboleta, previsto para o proximo mês nas locadoras. Na verdade o filme é bem mais que isso. É uma belíssima produção baseada no best-seller de mesmo nome, que relata a história verdadeira de um homem vítima de um acidente vascular cerebral, que de uma hora pra outra se vê todo paralisado, tendo apenas o olho esquerdo para se relacionar com o mundo. O filme se passa na década de 90 na França, onde Jean-Dominique Bauby, então editor-chefe da revista Elle, é vitima de um derrame cerebral e perde o movimento de todo corpo, exceto o de um olho, no que é chamado pelos especialistas de síndrome do encarceiramento (locked-in syndrome). Tendo ainda uma mente rica e ávida por viver, Bauby passa a expressar as emoções e sensações vivi-das na nova condição através do piscar de seu olho esquerdo, que culminam no ditado de todo o livro. A produção é quase toda filmada em primeira pessoa e o telespectador tem exatamente a percepção de Jean, que a medida que o filme passa, recria sua maneira de compreender o mundo, através de suas memórias e sua imaginação. Muito longe de ser tornar uma história lacrimejante ou voltada para captar a comiseração dos espectadores, O Escafandro e a Borboleta retrata de uma maneira completamente nova, os desafios vividos por uma pessoa quase impossibilitada de viver. E é talvez, o mais impressionante da história. Aquela auto-piedade que envolve a maioria dos que sofrem com problemas

assim, é rapidamente substituída em Jean-Dominique por uma busca incessante de se expressar. Você é levado a acreditar nos milagres que o próprio autor insiste em debochar em seus pensamentos íntimos, muito distante de clássicos do cinema como Menina de Ouro e Mar Adentro, que mostram a luta dos protagonista para poder morrer. Para nós, futuros médicos e profissionais da saúde, o filme tem importância adicional para entendermos todo o universo por trás de uma doença. Ele nos leva a sentir as reais dificuldades que tanto pretendemos extinguir, nos colocando sob a forma de uma mente livre aprisionada em um corpo sem vida. (por Gustavo Franklin)

O Escafandro e a Borboleta

Nunca escondi de nin-guém que sou fã do Los Hermanos (já até briguei com várias pessoas por isso). Nunca escondi, também, que mais do que fã do Los Hermanos, sou fã de Rod-rigo Amarante, guitarrista e vocalista da finada banda. De Los Hermanos, porém, todo mundo sabe um pouco, então resolvi falar dum al-guém novo, mas que não será estranho aos ouvidos de ninguém: Devendra Banhart. Devendra, de 28 anos, é filho de pai americano e mãe ven-ezuelana. Nasceu em Hou-ston, no Texas, porém, com o divórcio de seus pais, foi morar na Venezuela, quando

Valadão, Roger e Nanato. Todos da turma 79 de medicina. Esse trio forma a banda Simpatomiméti-cos. Pega o meu plantão, Garota da Enfermagem, Hemilto Demais, Dia de RU, Calouro Burro, Pelve e Períneo, Biblioteca, Meu Jaleco Grudou em Mim, Quinto Período, Liga pra Mim, Penicilina, Eu, você e Anatomia e Eu vou tomar morfina são alguns dos sucessos. O grupo já agita as festas universitárias desde o ano passado, ganhou o festival Prato da Casa 2009 e gravou CD. Curta o som dos Simpato na web: www.purevolume.com/simpato-mimeticos. E não deixe de con-ferir o videoclip da canção Dia de RU: http://www.youtube.com/watch?v=jzxVYXKqXvI

SOM DO CAMPUSEstudantes de medicina de Cuibá também formaram um grupo musi-cal com muito estilo e som bastante original. Confira: http://www.youtube.com/watch?v=TqT0r_n8VZk

tinha apenas 2 anos. Criado em Caracas, retornou aos EUA quando adolescente para estudar, mas logo largou a faculdade para se dedicar a música. Em 2002 lançou seus dois primeiros álbums: “The Charles C Leary” e “Oh Me Oh My”, após um rápido sucesso em apresentações na Europa e na América Latina. A música de Devendra não é facilmente definida. Alguns o colocaram em um grupo especialmente criado para músicos cujas características musicais são difíceis de definir (“New Weird Americans”, em português, Novos Ameri-canos Estranhos). Devido a miscigenação cultural, presente até mesmo em seu DNA, a música de Deven-dra mistura desde elementos nativos do folk sulista dos EUA, até sons tribais, e o ritmo latino por que foi contagiado durante sua criação na Venezuela. Devendra é amigo de Rodrigo Amarante, havendo, inclusive, colaborações mútuas em seus trabalhos. Mais recentemente, no disco de 2007 intitulado “Smokey Rolls Down Thunder Canion”, repleto de participações especiais (inclusive de Nick Valensi, guitarrista do The Strokes, e do ator Gael Garcia Bernal), pode-se ouvir a voz de Rodrigo Amarante na faixa “Rosa”. A parceria entre Amarante e Devendra está se acentuando. Está previsto para 2009 o lançamento do novo trabalho do último, intitulado “What Will We Be”, com participação ativa de Rodrigo Amarante na produção de várias faixas. Vale muito a pena conferir o trabalho de Devendra, não só das colaborações, mas principalmente o trabalho prévio do cantor. Embore as músicas soem totalmente diferente de praticamente tudo que se tenha ouvido, com o tempo, tudo aquilo que se tenha ouvido é que se torna diferente do trabalho de Devendra Banhart. As-sim que for lançado o disco novo envio as primeiras impressões no boletim online. (por Marcelo Corassa)

Devendra Banhart: dos EUA, à Venezuela, ao Rio de Janeiro, aos EUA

Cansado da pesada rotina acadêmica do curso de medicina? As aulas, provas e plantões são potenciais fontes de estresse. E ser médico, de fato, não é nada fácil. A inter-net pode ser uma aliada muito

poderosa quando o objetivo é fugir (temporariamente!) do universo médico. E é exata-mente essa a proposta do site Além da Medicina (www.alemdamedicina.com.br), página que reúne os médicos

hobbistas. Esportes, liter-atura, música, aventura, artes, culinária e vinho são alguns dos temas em destaque. Em um formato prático e de fácil navegação, a webpage permite um passeio por áreas diversas

e propicia aos doutores fer-ramentas para livre trabalho da imaginação e criatividade. Acesse o endereço e confira os assuntos que não estão em nenhum livro de medicina, mas que atraem muitos médicos.

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HEMOCULTURAO gênio por trás d’O Curioso Caso de Benjamin Button Acredito que bastante gente deva ter visto a considerada “melhor atuação da história de Brad Pitt” no longa-metragem “O Cu-rioso Caso de Benjamin Button”, de 2008, dirigido por David Fincher (e de outros filmassos, como “7even – Sete Crimes Capitais” e “Clube da Luta”). De antemão, já recomendo o filme; isso por três motivos: primeiro porque, embora longo, é um filme diver-tido e envolvente; segundo porque, independentemente de qualquer coisa, a maquiagem e os efeitos especiais são completamente impressionantes; terceiro porque se trata de uma história bastante interessante, sobre o drama da vida de um homem que em vez de envelhecer, rejuvenesce. E é aproveitando o gancho da história que venho a falar sobre o homem por trás da história: F. Scott Fitzgerald. Não, não se trata de um roteirista famoso de Hollywood, e sim, de um dos escritores mais famosos da chamada “Ger-ação Perdida” norte-americana, que vivenciou o fim da primeira guerra, a prosperidade norte-americana do pós-guerra, e a drástica mudança da temática literária com a crise de 1929 e a grande depressão dos EUA. Fitzgerald nasceu Francis Scott Key Fitzgerald, em 1896, e escreveu predominantemente sobre temas de sua época, como a emergência da era do Jazz, em 1920, e acompanhou em sua temática os acontecimentos que se sucediam nos EUA, escrevendo sobre a prosperidade financeira do pós-guerra, e, também, sobre os dilemas sociais advindos com a depressão e como esta impactou na vida dos cidadãos norte-americanos. Morreu jovem, com 44 anos, em 1940, em decorrência de um ataque cardíaco (o segundo em 6 meses), após uma vida de excessos de álcool, e uso inegável de drogas ilícitas. Dentre suas principais obras temos romances, artigos, e, principalmente, contos, como o que deu origem ao filme homônimo supracitado. Dos romances, talvez o mais famoso seja “O Grande Gatsby” (que também deu origem a um filme, ganhador de 2 Oscars), passado durante os tempos de prosperidade do pós-guerra. Não vou aqui, e nem me atrevo, a indicar um ou dois livros de F. Scott Fitzgerald. Indico todos que se acharem nas livrarias, sendo a leitura de todos fantástica, embora não tenha lido nem a metade de seus trabalhos (se alguém comprar algum livro que não li, pedirei emprestado, com certe-za). Embora escrita há mais de 70 anos, a obra de Fitzgerald permanece completamente atual, principalmente porque, guardadas as diferenças, os tempos entremeados entre as décadas de 20 e 30 ameaçam constantemente se repetir. (por Marcelo Corassa)

Fitzgerald em 1937

No último dia 15, o Festival de Woodstock completou 4 décadas. E para quem não teve a oportu-nidade de conhecer, vai a dica do DVD “O diário de Woodstock”, que mostra os shows e a grandi-osidade do evento, através dos relatos de quem realmente viveu o dia. O maior símbolo do rock mundial, reuniu entre os dias 15 e 17 de agosto de 1969, na cidade de Bethel nos EUA, mil-hares de jovens alucinados que, em clima de radical contestação, amor livre e muita droga, acom-

panharam performances memoráveis de artistas como Jimmy Hen-drix, Janis Joplin, The Who, Santana, entre outros. E não precisa ser hippie ou adepto do cigarrinho do demônio para curtir o espe-táculo. O DVD é parada obrigatória para todo aquele que curte um bom som. A maioria desses artistas influenciaram tudo o que temos hoje na música, e 40 anos depois ainda vive os ideais de paz e amor dessa geração que marcou a história. (por Gustavo Franklin)

“Eu estava chapado de mescalina e me disseram que só iria tocar às 2h ou algo parecido. Mentiram para a gente. Assim que tomei o lance e comecei a pirar, subimos - eram 14h. Foi a primeira vez que repeti um mantra: ‘Deus, por favor me ajude a ficar no tempo

e no tom certos``Carlos Santana tendo que adiantar o seu show

O Diário de WoodstockDocumentário resume os três dias mais loucos que o rock já viu, e mostra os shows, o público e tudo que rolou nos bastidores do festival

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DIA A DIA

SEM FRONTEIRASEscolha o país, acumule pontos, junte dinheiro, organize-se e viaje. Conheça a história de quem já fez intercâmbio fora do Brasil e saiba o passo-a-passo para conseguir um estágio no exteriorr

LORENA PINHEIROWAGNER KNOBLAUCH

Conhecer uma cultura diferente, aprender um novo idioma, fazer amizades, par-tilhar estilos de vida, trocar experiências profissionais, vivenciar realidade social, política e econômica dis-tinta da habitual, adquirir muito conhecimento prático, tornar-se cidadão do mundo. Não faltam motivos para o estudante embarcar na inesquecível experiência de morar temporariamente

em um outro país. Os es-tágios internacionais são, sem dúvida, oportunidades únicas que permitem uma agregação de valores ímpar e um incrível crescimento pessoal, em todos os campos da vida, não só na carreira. Aqui na Ufes, a iniciativa de enviar acadêmicos para fora do Brasil é recente. Para se ter uma ideia, a Coordenação Local de Estágios e Vivências (CLEV), uma assessoria do DAMUFES que cuida dos in-tercâmbios nacionais e inter-nacionais, nasceu em 2005 e,

no início, atuava apenas den-tro das fronteiras brasileiras. Hoje já se contabilizam 6 viagens internacionais por meio da CLEV. Outros sete alunos devem entrar nessa lista até o início de 2010. E esse número vai crescer. Qua-tro estrangeiros já vieram ao Espírito Santo, uma aluna de Portugal em 2007, um estu-dante italiano no ano passado e duas alemãs, em agosto deste ano. No momento, in-felizmente, as viagens na-cionais estão paralisadas por conta da nova Lei de Estágios.

Antônio Alfim, Beatriz Leão, Toni Caus, Paula Per-im, Carla Fanchiotti e Lil-iana Prata estão entre os seis felizardos que arrumaram as malas e cruzaram as frontei-ras. Paula fez intercâmbio no começo do ano e Liliana che-gou em agosto. Os demais vi-ajaram em 2008. A pedido de RAIO-X, cada aluno escreveu um depoimento contando de-talhes da experiência de pas-sar algumas semanas bem longe de casa. Leia os relatos nas próximas duas páginas.

Toni Caus fez estágio em dermato na

Espanha em 2008. Ficou com inveja?

Quer viajar? Então leia nas próximas

páginas um roteiro completo para fazer

intecâmbio internacional

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DIA A DIA

Antônio Alfim, turma 74, fez estágio em Anatomia Patológica na The Sheba Medical Center at Tel Ashomer, Tel Aviv, Israel.Escolher Israel não foi uma tarefa fácil, já que a imagem do país é reportada em nossa mídia como sendo o caos em meio a guerra. Mas tudo tem um começo e o meu se deu em razão da curiosidade de conhecer algo de primeiro mundo e da escassez de pontos para ser admitido para o estágio. Partindo desses dois pontos, passei a procurar o local que iria atender minhas expectativas e caber dentro da minha pontuação. Com um pouco de paciência e pesquisa, o estado israelense surgiu. O processo burocrático foi simples. A organização do DAMUFES sempre prestou grande ajuda, e fora os meus próprios atrasos, não tive nenhum problema para que toda a papelada necessária ficasse em ordem com as exigências do estágio. Daí em diante começaram os preparativos. O primeiro era preparar a família, afinal a notícia ´´mãe vou pra Israel!`` não foi muita bem recebida. Mas conversas e explicações contornaram o problema. Em seguida, o orçamento. Contas e cálculos para que o dinheiro não fosse escasso e nem que a viagem parecesse um sonho tão caro que não coubesse no orçamento da família. Vacinas obrigatórias, passaporte/visto e leituras sobre o país eram atividades em paralelo. O período em que es-tive por lá foi uma experiência impagável. A primeira diferença notada foi o atendimento médico. Tudo muito organizado e as pessoas realmente sabem onde devem estar e o que devem fazer, diferente daqui, onde todos sabem o que o outro deve fazer e nunca estão onde devem estar. A estrutura é muito impressionante, pois um hospital com 1200 leitos é algo que paralisa qualquer um. Porém, nem tudo é trabalho. Israel também é turismo, diversão e uma lição de organização pública. Nas minhas pequenas viagens e passeios pelo país e suas cidades, vivenciei muita tranqüilidade, com um vai e vem intenso de pessoas das mais diversas partes. As praias ficam lotadas sempre, a vida noturna é intensa toda semana e nem sombra daquele terror que vemos na mídia brasileira. Aliás, andei em horários que nunca andaria aqui e tive companhia de famílias inteiras pas-seando ou sentadas em bancos públicos conversando. Dessa interação com o Israel, um local particular que marcou muito foi Jerusalém. A cidade antiga com muralhas por onde passaram reis e imperadores, as marcas dos conflitos anteriores nas construções e a diversidade de religiões em um mesmo local são coisas que deram uma nova razão para o estágio. Andei por bairros judeus, mulçumanos e cristãos. Uma tranqüilidade só... o único problema era o assédio dos vendedores árabes, isso sim, um terrorismo ao bolso. Concluindo, a minha experiência pelo estágio foi excelente. Conheci um pouco do mundo, das diferenças em lidar com o trabalho, fiz novos amigos e abri o olhos para um mundo além-mar que simplesmente não existia. E uma coisa realmente aprensi: pelo menos em patologia, não sou tão ´´índio`` assim. Graças à formação da nossa facul-dade, pude conversar sem dificuldade com os médicos de lá e tive a prova de viver em uma época em que a informação é de fácil acesso em todo lugar, mesmo em Maruípe.

Tipos de EstágiosSão três os principais programas de Estágio oferecidos pela DENEM: 1) Estágios Nacionais (EN), 2) SCOPE (Estágio Internacional em Prática Médica) e 3) SCORE (Estágio Internacional em Pesquisa) – os dois últimos, em parceria com a IFMSA – International Federation of Medical Stu-dent’s Association.

Pré-requisitosO aluno da UFES está apto a participar de todos os progra-mas de estágio. Para tanto, é necessário cumprir os pré req-uisitos exigidos pela Universidade que o receberá. Normal-mente, para o EN pede-se que o aluno já tenha estudado a disciplina. Para SCOPE e SCORE, exige-se somente que o aluno esteja no ciclo clínico. Os estágios são realizados durante todo o ano, com duração de 3 ou 4 semanas.

Fora do BrasilO custo inicial de um intercâmbio internacional é de 120 euros. O estudante tem direito à acomodação, duas refeições diárias e ao estágio. E sempre há um padrinho, que é um aluno na cidade de destino que atua como guia acadêmico e turístico.

Carla Fanchiotti Costa, turma 75, fez estágio em Cardiologia no Århus Universitetshospital Skejby, Århus, Dinamarca. Realizar estágio internacional dentro da medicina é um sonho de todos. Conhecer outros sistemas de saúde, outras formas de ensino e de prática da medicina é uma curiosidade de todos os acadêmicos da medicina. Não foi diferente comigo. A escolha do país foi baseada em dois aspectos importantes: a pontuação e a curiosidade sobre a cultura. O primeiro claro é muito importante pois é preciso ter consciência que existem aqueles países que demandam muitos pontos e são de alta concorrência enquanto outros que possibilitam e fa-cilitam a alocação pela baixa pontuação e pouca procura. Além disso, a Dinamarca me encantava pelas belas paisagens, ser um dos países com maior índice de desenvolvimento humano, a longa história que remontava ao tempo dos vikings. Não muito tempo depois da organização da papelada da pontuação, o resultado saiu e descobri que havia sido alo-cada em Århus, segunda maior cidade. Então iniciou-se o processo para organização da papelada (vacinas, o surpreendente teste para MRSA e seguro de viagem e, graças a deus, não era necessário visto) e passagem para a maior viagem, e, de fato, a maior que haveria de fazer até na minha curta vida de 22 anos (cerca de 24 horas no total, entre aviões e aeroportos). Com relação a parte burocrática, o CLEV sempre se mostrou disponível para esclarecimento de dúvidas e quando necessário sempre fazia contato com a organiza-ção dos estágios na universidade de lá. Foram muitas aventuras e desaventuras durante a viagem incluindo quase perder o vôo para Copenhague, ter minha bagagem perdida pela companhia aérea, chegar no aeroporto meia noite, que ficava a cerca de 40 km da cidade. Mas não se assustem, tudo valeu a pena. O hospital que fique fazia parte de um complexo de hospitais espalhados pela cidade, sendo que o meu era o mais novo e em plena expansão. Na Dinamarca praticamente não há serviço privado, os médicos na sua maioria tra-balham no serviço público. E este funciona muito bem, todos obtêm o tratamento que necessitam da melhor qualidade, com os melhores equipamentos e tudo integrado com rede de informática, mas sem esquecer dos famosos prontuários. As pessoas não são tão frias como imaginamos e ouvimos falar, são muitos calorosas e receptivas no jeito próprio da cultura deles. Consegui me comunicar com todos de forma muito clara através do inglês e em raras ocasiões com português, já que fique em contato com uma médica brasileira que estava fazendo residência naquele hospital e meu contato já havia morado no Brasil. Todos se mostravam interessados em ensinar algo a mim, em ajudar na minha formação. Em relação a moradia, fiquei na casa de duas estudantes que me receberam muito bem. No hospital, disponibilizaram duas refeições durante o dia. Além de aprender muito, pude aproveitar bastante para me divertir e conhecer uma cultura bem diferente da nossa, além de interagir com os outros intercambistas (um italiano e uma egípcia). O país me sur-preendeu, é muito mais bonito do que imaginava e muito cheio de vida e história em todas as suas esquinas. Enfim, é uma experiência que não tem preço. Algo que você leva pela vida inteira porque você cresce de uma forma indescritível, tanto profissional quanto pessoalmente. E acima de tudo, percebe que todo aquele estudo e dedicação valem a pena pois você consegue conversar sobre medicina em um nível que você não se imaginaria capaz de fazer. Portanto, para aqueles indecisos ou relutantes, meu conselho: FAÇAM.

Critérios de Pontuação- participação na recepção de outros estagiários - como anfitrião ou como padrinho - participação em atividades extracurriculares (monitoria, extensão, iniciação científica, ligas, jornadas, congressos) - publicação de trabalhos - participação no DA e na Representação Estudantil - semestre avançado no curso médico - estudantes recebidos pela UFES em qualquer um dos programas - participação da CLEV em eventos da DENEM

InscriçõesInscreva-se no próximo processo seletivo dos Internacion-ais previsto para setembro de 2009 e dispute as vagas de abril de 2010 a março de 2011.

Dúvidas?Se interessou no assunto? Quer viajar? Envie email para [email protected] e tire todas as suas dúvidas. Ou vá ao DA. Toda quarta-feira, as 12h30, tem reunião!

RAIO-X reúne nesta e na próxima página uma série de informações sobre estágios fora do Brasil e cinco depoimentos de alunos da Ufes que já cruzaram a fronteira. Informe-se e...

Boa viagem!

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Paula Campos Perim, turma 76, fez estágio em Medicina Interna no Centre Hospitalier Universitaire Vaudois, Lausanne, Suíça.Desde que entrei na medicina tive interesse em participar de algum intercambio que a universidade oferecesse. Na maioria das vezes é muito difícil descobrir que essas coisas existem, e na época os estágios da Denem não eram tão difundidos entre os alunos. Então o interesse foi imediato quando os descobri! Conhecer a medicina em um outro país, convivendo internamente em um hospital, morando com um estudante, é uma experiência de valor inestimável, e de certa forma incomparável. Escolher o país foi de início uma decisão difícil, pois vários me interessavam mas alguns itens têm que ser considerados como a língua, as áreas oferecidas, os meses oferecidos. Sem contar a necessidade de contrapor o número de vagas e a procura pelo país com o número de pontos que se tem. Optei pela Suíça por ser o país que mais sempre quis conhecer. Sempre me fascinou a diversidade de culturas e línguas em um país tão pequeno, e o fato de ser um país de primeiro mundo por excelência, contrapõe perfeitamente a nossa realidade. E a minha idéia era exatamente essa: entender como funciona a medicina num lugar onde se tem acesso a tudo facilmente. O processo foi um pouco difícil, mas meus pais e a organização do Clev me ajudaram muito! Na primeira chamada fiquei em 5º lugar, e eram 4 vagas. Foi muito frustrante! Mas em compensação, a alegria veio em forma de surpresa quando fui chamada na suplência! A organização da Suíça foi impecável! Fui exatamente para onde queria e no mês que gostaria. A parte com-plicada foi conseguir o visto de trabalho, pois eles exigem para os que vão realizar estágio. No estágio tudo me surpreendeu. O tamanho do hospital (enorme, só o prédio principal tem 20 andares), a qualidade, a infra-estrutura, os recursos e a facilidade com que eram obtidos, e os profissionais, que me acolheram como um deles e que são extremamente capazes! Mas não se enganem! Somos capazes no mínimo tanto quanto! Surpreendi-me também com o fato de que a nossa medicina não deixa nada a desejar: sabemos como eles, estamos tão atualizados quanto eles, e inclusive estudamos pelos mesmos livros. Única crítica ao sistema suíço: muita burocracia! Os médicos acabam passando mais tempo ao telefone resolvendo burocracia do que com os pacientes... Viver na casa de um estudante foi extremamente positivo, pois aprendi sobre a cultura, culinária, hábitos e tive a oportunidade de conhecer muito a Suíça. Por ser um país pequeno, viajei muito, e tive muito apoio da família que me hospedou lá. Em especial lembro com carinho de um domingo em que pagando 30 francos suíços (aproximadamente 50 reais) viajei mais de 16 horas de trem, cruzando o país de norte a sul e de leste a oeste, vendo paisagens de tirar o fôlego. Voltei renovada e encantada com a experiência. E sem dúvidas muito orgulhosa da nossa universidade e da nossa medicina, que apesar de todas as imperfeições, e também pelo nosso esforço, nos permite adquirir conhecimento suficiente para ser páreo para qualquer um, no Brasil e fora dele.

Beatriz Dalcolmo de Almeida Leão, turma 73, fez estágio em Medicina Interna no Hospital Santo António, Porto, Portugal.Desde que soube dos programas de estágio do CLEV me interessei, isso muito antes de eu decidi fazer. Como sempre achei que fosse uma real possibilidade, quis saber quais eram os critérios de pontuação, e comecei a garimpar alguns pontos, que no fim foram preciosos. Antes mesmo do período de inscrição, já tinha tudo pronto: certificados, declarações, e o que ma is eu achasse que talvez fosse necessário, e isso facilitou bastante. Quando fiz minha inscrição, decidi que gostaria de ir para a Europa, porém queria um país em que eu entendesse a língua local, e pudesse aproveitar o máximo da experiência, portanto escolhi Portugal, Espanha e Inglaterra. Confesso que quando fui escol-hida para Portugal fiquei feliz, porém um pouco decepcionada, pois eu realmente gostaria de ir para a Inglaterra, mas hoje percebo que não poderia ter me acontecido nada melhor. Fiz estagio no departamento de Medicina Interna, no Hospital Santo António, que faz parte da Universidade do Porto. Lá eu fiquei maravilhada desde o primeiro dia com a infra-estrutura do hospital. Tudo é muito moderno, novo, e as pessoas são muito receptivas e prestativas. Em termos de medicina os conhecimentos são os mesmos, a diferença é que lá é possível colocar em prática as diretrizes internacionais de qualquer doença, seja na parte diagnóstica ou terapêutica. Só que na verdade o aluno de me-dicina lá não tem muita oportunidade de ter contato direto com o paciente, fica na maior parte das vezes acompanhando e apenas observando as evoluções e consultas, sem poder participar ativamente do processo. Lá o curso também dura seis anos, porém após a graduação a pessoa ainda não é capacitada e nem autorizada a trabalhar, dando plantões, por exemplo. Primeiro ela deve fazer o “ano comum”, que funciona como nosso internato, em que eles rodam pelas quatro grandes cadeiras durante um ano, e nesse tempo aplicam para a prova de residência. A diferença é que o ano comum é remunerado, cerca de 900 euros por mês. Para a residência o processo de seleção também é diferente, já que é uma prova única para o país inteiro, e ai o aluno escolhe sua especialização baseado na colocação final que obteve. A Cidade do Porto é maravilhosa, o alojamento é muito bom, e as refeições oferecidas no refeitório eram bem fartas, incluíam sopa, prato principal, sobremesa e suco, além de quatro opções diárias de cardápio. Os responsáveis pelo “CLEV” de lá também foram muito atenciosos e prestativos, programaram várias atividades culturais, viagens e festas para a melhor integração dos estagiários (que na época eram em torno de 60, dos mais variados países) e para que conhecêssemos também a cultura local. Enfim, a experiência foi maravilhosa e aconselho a todos que tem vontade de participar que se programem desde já, conheçam os critérios de pontuação, pesquisem a respeito dos países, e principalmente se programem quanto à questão financeira, pois uma viagem internacional inclui vários outros aspectos além da passagem e estadia, então é bom começar a economia o quanto antes.

Antônio Luiz Caus, turma 74, fez estágio em Dermatologia na Universidad Autónoma de Madrid, Espanha.Viajar para a Europa, ficar alojado dentro da casa de um europeu e mergulhar em toda a cultura e rotina de um país milenar é uma experiência, definitivamente, imperdível. Assim que soube da possibilidade de viajar ao exterior pelo CLEV a fim de realizar um estágio internacional, comecei a vasculhar gavetas e armários em busca de certificados e declarações perdidas, ainda que não estivessem abertas as inscrições. O esforço antecipado valeu a pena pois, à época da abertura do edital, já tinha tudo em mãos e não tive que passar pelo desespero da única semana de entrega da papelada. Demorou um bom tempo para sair o resultado, mas logo que soube da aprovação, já entrei contato com o CLEV da Espanha para saber meu destino e comprei as passagens. Fui alocado para o serviço da Universidad Autónoma de Madrid, onde uma acadêmica de Medicina do 5º ano me recebeu como madrinha e anfitriã. Ao contrário da visão prévia que tinha dos europeus, todos da casa me acolheram calorosamente, como se fosse realmente um membro da família. E isso contava com pratos típicos e muito fartos diariamente, sesta após almoço, conversas de horas sobre a rotina e cultura de ambos os países, passeios pela capital e por cidades ao redor com as explicações e conselhos de quem mora lá, festas em casas de amigos e na rua, dentre outras inúmeras atividades. Nos finais de semana e feriados, os alunos do mundo todo que faziam o mesmo estágio se reuniam em festas de integração, pontos turísticos locais ou mesmo para viajar para países próximos. Importante, também, foi conhecer um hospital de grande porte de um país desenvolvido. Lá, tudo funciona e segue as diretrizes internacionais. As atividades começam às 9h da manhã e terminam por volta de 15h, quando é servido o almoço - aliás, o restaurante universitário concede 3 pratos por refeição e ainda há várias opções para se escolher. Os pacientes têm horário marcado e o respeitam, de modo que não há filas de mais de meia hora para serem atendidos. O hospital conta, ainda, com aparelhos da mais alta tecnologia, todo o sistema é informatizado e todos têm acesso a todos os tipos de atendimentos e exames. Há de se ressaltar, contudo, que, como o índice sócio-cultural é elevado, a maioria das pessoas se recusa a ser atendido por acadêmicos. Daí, o estudante de medicina apenas estuda e assiste os residentes e médicos trabalhando, sem realizar um atendimento sequer, uma sutura, um procedimento, nada. E, por isso, quando vai chegando o final da faculdade, todos ficam loucos para fazer este estágio em países como Brasil e México, a fim de incrementar um pouco mais a prática médica. Sem dúvida, trata-se de uma experiência ímpar, uma oportunidade de crescimento não somente no âmbito acadêmico, como também cultural e pessoal. Um programa único que deveria ser mais explorado pelos estudantes da nossa Universidade, para uma maior visão de mundo e, até mesmo, da própria Medicina.

Conheça a CLEV UFESA Coordenação Local de Estágios e Vivências (CLEV) da UFES é uma Assessoria do DAMUFES integrada à Coordenação Nacional de Estágios e Vivências (CEV), órgão da DENEM (Direção Nacional Executiva dos Estudantes de Medicina). Por meio da CLEV, os estudantes de medicina da UFES podem fazer estágios em outras universidades do país e do exterior. Desde quando foi criada pela acadêmica Andressa Costa (turma 71), em 2005, a CLEV UFES vem trabalhando para estruturar e di-vulgar os estágios. Hoje a CLEV é constituída pelos alunos Lorena Pinheiro, Évelyn, Luize, Adeílson Moreira e Marília Pessali. “ A idéia de reativação da Assessoria de Relações Internacionais surgiu em 2005, ano em que o DAMUFES estava sob a coordenação de Sylvia Renata Lannes Magalhães (turma 71). Na verdade, sempre achei que a UFES tinha potencial para receber alunos inter-cambistas para estágios, bem como enviar acadêmicos para realizá-los em outras faculdades. A única dificuldade era saber como iniciar, já que a idéia era que fosse tudo bem regularizado, de forma a fornecer garantias e certificação aos alunos. Dessa manei-ra, entrei em contato com a DENEM e participei de um encontro da CNEV (Coordenação Nacional de Estágios e Vivências), que ocorreu em BH, onde conheci o programa de estágios nacionais e internacionais e me cadastrei como CLEV. De volta a Vitória, o desafio foi justamente na montagem de estágios, já que o prazo era curto. Inicialmente, entrei em contato com o Dr.Delio Del-maestro, então chefe do serviço de Dermatologia, que aceitou oferecer o estágio. Em seguida, procurei o Dr.Sérgio Emery, que tam-bém abriu as portas do Serviço de Gastroentereologia aos intercambistas. Tudo isso, claro, com o apoio do Colegiado e do CCS, primeiros aos quias pedi autorização para a realização dos intercâmbios e de quem obtive garantias de que seriam reconhecidos. O mais importante é que, embora eu tenha começado todo esse trabalho, obtive ajuda de várias pessoas, sem as quais seria impos-sível prosseguir, desde a Coordenação do Diretório até os acadêmicos que estavam iniciando na faculdade e se interessaram pelo trabalho, não só disponibilizando-se como anfitriões e padrinhos, mas também dispostos a prosseguir com o que eu apenas iniciei.”

Depoimento de Andressa CostaEstudou Medicina na Ufes na turma 71

DIA A DIA

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...e a turma que sai

Senhoras e senhores, boa noite! Gostaríamos de agradecer a presença de nossos convidados, em especial: Nossos mes-tres e homenageados - nossos exemplos; Nossos pais e familiares - sem vocês nada disso seria possível; Nossos colegas de tur-ma e testemunhas dessa caminhada - obrigado pela oportunidade de falarmos em nome da turma; Nossos amados, amantes, cônjug-es e afins (rs) - com vocês dividimos um pouco de cada sentimento; Nossos amigos - “os amores vem e vão...” mas vocês foram fiéis.Com certeza cada um aqui presente foi convidado porque foi e é importante e, direta ou indiretamente, contribuíram para que hoje “essa noite” ocorresse. Passamos por um processo seletivo, o qual juntou num mesmo espaço, por 6 anos (e seis anos não são seis meses), pessoas de raças, credos, condutas e costumes diferentes. Muitas vezes passávamos mais tempo com nossos colegas do que com nossa família. Aprendemos a falar uma linguagem própria, a fazer brincadeiras que só nós entendemos. Também tivemos que aprender a nos respeitar e vimos que os grupos se formam por seleção natural, como o bom capixaba faz: “as panelinhas”. Enfrentamos períodos conflitantes, mas chegamos ao final juntos! Entre churrascadas, grupos de estudo e discussões, fomos sobreviventes e levaremos conosco cada rosto, cada recordação mas infelizmente, o tempo não volta e gostaria de ter aproveitado mais ainda com vocês. Estamos levando para a vida mais do que conhecimento, mais do que um diploma. Levamos nossas amizades que certamente irão permanecer in-definidamente enquanto durar nossa existência. Alguns quando iniciaram a faculdade não tinham barba, nunca haviam experimentado um gole de álcool. Outros, eram “encalhados” nunca haviam namorado e alguns, que já tinham namorados, permaneceram com esses até ao final, e hoje já temos alguns casamentos. Mas no meio dessa caminhada deixamos muitos corações partidos e também tivemos o nosso partido, mas os 20 e poucos anos são assim, revolucionários! E continuamos nossa caminhada, pois também nos casamos com a medicina e ela é exigente demais. Fazer medicina vai além de se dedicar aos estudos. Por exemplo, que outro estudante perde noites, feriados e domingos em plantões sem remuneração. A grande carga-horária deste que é o mais prolongado curso superior que existe, exige também um grande esforço financeiro e muita compreensão da família. Tem gente que faz medicina para ter saúde, tem gente que perde a saúde para fazer medicina. Tem gente que faz medicina para ter dinheiro, tem gente que perde o dinheiro para fazer medicina. Tem gente que faz medicina para ter uma voz, tem gente que perde a voz para poder fazer. Tem gente que faz medicina para realizar seus sonhos, tem gente que perde os sonhos para fazer medicina. Tem gente que faz medicina para agradar a família e outros que precisam agradar a família para fazer medicina. Certos conceitos e compromissos, entretanto, independem das particularidades da vida de cada um e, portanto, deverão ser assumidos por todos, indistintamente. Como médicos, firmamos aqui o compromisso de não repetir as atitudes de alguns poucos profissionais que, fazendo uso inapropriado de seu diploma, poluem a imagem da classe perante a sociedade e transformam a medicina num verdadeiro gerador de audiência para os meios de comu-nicação. Também queremos rechaçar veementemente a conduta abominável de certos outros que se tornam professores de Universidade e, sem nunca comparecerem para dar uma aula sequer durante o ano, colhem frutos sem plantar e colaboram decisivamente para a falência do Ensino Público Superior. Ficamos felizes de sermos privilegiados a cursar numa Universidade Federal, mesmo com todas as mazelas do ensino e saúde pública. E mais felizes ainda, de sabermos que a UFES sempre obtém aprovações nas melhores residências do país, onde já temos colegas fazendo o nosso nome e abrindo portas para os capixabas. Mesmo reconhecemos nossas limitações de espaço, de atraso de conhecimento quando comparados aos grandes centros, agradecemos aos nossos mestres, que nos incentivaram a transpor essas barreiras e chegar ao mesmo lugar que o japonês da grande São Paulo. Como cidadãos, temos o dever de lutar por uma educação superior de qualidade, não permitindo que os governantes e políticos continuem inertes diante do processo acelerado de destruição por que passam as Universidades Federais e os Hospitais Universitários neste país. Ademais, registro nosso sincero agradecimento a Deus, que nos presenteou com o título de doutor que nos irá acompanhar na frente do nome durante a travessia que fazemos nessas margens tão estreitas da vida. Com efeito, sendo gratos a este Deus, temos o compromisso de trabalhar, como for possível, para a vitória da caridade e do amor e pelo bem-estar de todos os homens na sua totalidade, considerando corpo, mente e alma. Pois, de que vale salvar o corpo se alma estiver perdida? E, mais ainda, de que adianta prolongar a vida se ela não for eterna? De que vale ter o bem-estar na Terra e não ter o bem-estar nos céus? De que vale aliviar os sofrimentos nesta vida e deixar a alma no sofrimento eterno? Sem querer ser ortodoxo demais, desejo profundamente que a gente mantenha nosso compromisso fundamental com a defesa da vida, lutando contra qualquer forma de morte provocada, abdicando das vantagens aparentes do mundo contemporâneo que oferece formas de assassinato maldosamente disfarçadas de benevolência, nomeadamente o aborto e a eutanásia, cujos defensores se apóiam sobre um conceito fútil e enganoso de caridade separada da Verdade (com V maiúsculo). Sem Verdade, a caridade cai no puro sentimentalismo. O amor torna-se apenas um invólu-cro vazio que qualquer um pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade. Por fim, em nossa vida e nossa profissão, procuremos sempre mais consolar do que ser consolado, compreender do que ser compreendido e amar do que ser amado. Muito obrigado a todos.

A turma 73 acabou de con-cluir o curso. A formatura aconteceu em agosto. Os alu-nos enfrentaram seis anos de muito estudo e pouquíssimas horas de sono e descanso. Fazer medicina realmente

não é nada fácil. O curioso é que alguns colegas da 73 chegaram no 12º período sem a menor idéia do que faria depois de formado. Como a maratona de provas de residência só começa no

fim de outubro, os acadêmi-cos que terminam o curso no meio do ano geralmente buscam emprego em PA, PS e até PSF, ou concentram-se nas apostilas dos cursinhos preparatórios. E as vezes, os

dois! Mas o que de fato mar-cou a turma 73 foi o discurso de formatura. Abaixo segue a íntegra do texto, gentilmente cedido pelos oradores da turma, Ricardo Passamani e Samy Libera.

A turma 85 já está na Ufes. Os calouros foram recepcionados pelo DA dois dias antes do início das aulas, com a tradicional Visita. Já no primeiro contato, deu para notar que a turma

é atípica. Primeiro: a relação homem/mulher chega a 1:2. E o que tam-bém chama a atenção é a naturalidade dos alunos. Tem gente de toda parte do Brasil e até de fora do país. Sem contar aqueles

que moram no interior do Estado, que somam mais de 10 estudantes. Há pelo menos um representante de cada um dos seguintes estados: MG, BA, TO, RO e RJ. A turma 84 iniciou a recepção aos

calouros antes do semes-tre letivo começar. E o tão aguardado trote, com direito a muita tinta, ac-onteceu logo na primeira semana de aula. Tudo em clima de tranquilidade.

Turma que entra...

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DIA A DIA

Há pelo menos sete construções em andamento no campus de Maruípe. São 42 obras em execução nos quatro campi da Ufes, fora as edificações já aprovadas e que aguardam liberação de verba e licitação para construção. Em Maruípe, a ampliação do pavilhão de aulas teóricas Elefante Branco (foto) é, sem dúvida, a obra que mais chama a atenção, não só pela gran-deza do projeto, mas também pelo atraso e transtorno. Os trabalhos começaram em agosto do ano pas-sado e a conclusão estava prevista para fevereiro deste ano. Contudo, mais de um ano se passou e ainda há muito serviço pela frente. A construção é financiada pela Prefeitura de Vitória (PMV) e o orçamento

já chega a R$ 1,2 milhão. O governo só liberou o projeto final em março, mas desde novembro de 2008 sete das 11 salas estão bloqueadas. E os banheiros também foram in-terditados. Segundo o projeto, a capacidade do prédio será mais do que duplicada, com novas salas e mini-auditórios. Como medida paliativa, a PMV bancou a construção de quatro salas provisórias no subsolo do prédio da Saúde Coletiva.

No Básico, há duas grandes obras: construção do prédio de aulas teóricas em frente ao Anatômico e reforma do edifício de pós-graduação em ciências fisiológicas. Ainda no Básico: o 2º andar do prédio da Farmácia está em construção, a ampliação do edifício principal para erguer o Bloco C deve começar neste ano e a construção do novo RU já conta com um projeto recém-elaborado, que inclui até uma cantina.

Maruípe vira canteiro de obrasA saúde em números

R$ 5,4 bilhõesÉ o valor que a União deixou de gastar em saúde de 2000 a 2008. A quantia equivale a 10% do orçamento do Ministério da Saúde deste ano.

17É o número de mortes causadas pela gripe comum em SP por dia em 2008. No Brasil, 70.142 pes-soas morreram.

30 anosFoi o tempo necessário para que a população de homens adultos com obesidade no Brasil triplicasse, saltando de 3,1% a 8,9%.

234 milÉ o número de ligações indevidas (trotes e pedidos de informação) recebidas pelo SAMU-192 no 1° semestre de 2009 aqui no ES. Isso representa 87% das chamadas.

79% para 84,5% É o crescimento, de 2004 a 2008, do número de cesarianas cobertas por planos de saúde no Brasil. No SUS, em 2008, a taxa foi de 31%. A OMS recomenda máximo de 15%.

28,3É a taxa de doação de órgãos, por milhão de habitantes, na cidade de SP, de janeiro a junho. Trata-se de um recorde histórico. Em 2008, no mesmo período, o número foi 18,7. Nos EUA, o índice médio é de 27.

132 a 234É o aumento do número de trans-plantes no ES, de 2007 a 2008. E no 1° semestre deste ano já foram realizados 115.

R$ 40 milhões É quanto o governo do ES gasta por ano, somente no Hospital São Lucas, com os acidentados. Isso representa 70% das despesas da unidade.

3.070É o número de vítimas de trânsito atendidas no São Lucas no 1º semestre de 2009. Em 2008, no mesmo período, foram 1.515 pa-cientes. Por dia, na Grande Vitória, 50 acidentes são registrados.

80 dias É o tempo médio de internação de uma vítima de acidente grave de trânsito.

702%É o crescimento recorde do núme-ro de apreensões de remédios falsi-ficados no país, na comparação do 1° semestre deste ano com todo o ano de 2008.

MED NEWSTelemedicinaO Hucam já está integrado à Rede Universitária de Tele-medicina (RUTE). UFES, UFF e UFRJ inauguraram seus Núcleos de Telemedicina em agosto. O setor de radiologia do Hucam já usa a tecnologia há algum tempo e agora outras áreas, até mesmo a odontologia, podem se inserir na RUTE. A estrutura está montada no auditório do Centro de Estu-dos, 3º andar do hospital. A RUTE é uma iniciativa de apoio ao aprimoramento da infraestrutura para telemedicina já existente em hospitais universitários, bem como promover a integração de projetos entre as mais de 130 instituições participantes. Por meio de teleconferências programadas, os especialistas também podem discutir diagnósticos a dis-tânica e pedir uma segunda opinião sobre casos clínicos com colegas de outros hospitais do país e até do exterior.

EREMA nova gripe adiou o 14º Encontro Regional dos Estudantes de Medicina (EREM), que aconteceria nos dias 14, 15 e 16 de agosto, em Petrópolis (RJ). O evento é uma realização da DENEM (Direção Nacional Executiva dos Estudantes de Medicina), coordenação Re-gional Sudeste 1, que agrega os alunos capixabas e cariocas. A organização deste EREM está sob a responsabilidade do Diretório Acadêmico Sá Earp, da Faculdade de Medicina de Petrópolis. O encontro tem como tema central ´´O Trabalho e Formação Médica e as Necessidades Sociais em Saúde`` e conta com debates, painéis, rodas de conversa, oficinas e mostra de trabalhos científicos em sua programação Com o aumento de casos de gripe A, as escolas do RJ adiaram a volta às aulas e o cancelamento de muitos eventos foi inevitável.

Mobilidade AcadêmicaO programa Mobilidade Acadêmica Brasil já está com inscrições abertas. Os alunos que tem o interesse de cursar um período em outra Instituição de Ensino Supe-rior, e com direito a ajuda de custo de 300 reais mensais, devem preencher a ficha de requerimento, disponível no site da Ufes, e entregá-la na Prograd. As vagas são para o semestre letivo 2010/1. O prazo termina em outubro.

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DIA A DIA

A medicina em números

177É quantidade de escolas

médicas que atuam hoje no país. Cinco delas estão aqui no

ES, sendo 3 em Vitória. São Paulo concentra a maioria: 31.

Três estados (SE, AC e RR) oferecem 1 curso apenas.

76É o número de cursos de

medicina criados a partir do ano 2000. Ao todo, as novas

escolas oferecem 6.164 vagas. E 58 delas são privadas;

apenas 8 federais. E também 58 aguardam o reconhecimento

do MEC, entre elas: Univix, Unesc e UVV.

17.305É o total de vagas oferecidas

por ano pelas escolas médicas no Brasil.

57,63%É o percentual de faculdades

de medicina privadas, em todo o país. Federais, Estaduais e

Municipais seguem a seguinte distribuição: 25,42%, 14,12%

e 2,82%.

R$ 5.280,00 É o valor da mensalidade mais

cara do país, sem descontos e abatimentos, na Universi-

dade de Marília. A de menor custo mensal fica na Bahia: R$

1.782,80.

43É o número estimado de

escolas médicas que atuam no método PBL. O restante utiliza

a metodologia tradicional ou mescla métodos didáticos.

Aqui no ES, UFES, Emescam e Univix atuam no método tradicional. Unesc e UVV

usam PBL.

509.591É o número total de médicos

no Brasil, estimado pelo CFM.

9.750É a estimativa do total de

médico no Espírito Santo. Destes, 6.549 estão na ativa,

segundo o CFM.

Maruípe não é o único can-teiro de obras da Ufes. O Hospital das Clínicas tam-bém é palco de reformas. Em todos os andares, há pelo menos uma construção em andamento. E os trabalhos prometem agilizar os atendi-mentos, melhorar infraestru-tura e aumentar número de leitos. O 4º andar já passa por uma profunda reforma, e deve abrigar 30 leitos quando os serviços forem

concluídos. E nesse mesmo andar foi construída uma área de isolamento de con-tato com 11 leitos. A medida visa conter o surto de VRE. O 2º pavimento também vai sofrer alterações, tanto na clínica médica, quanto na cirúrgica. Em etapas, todo o andar será reestruturado e revitalizado. No térreo, o novo centro cirúrgico deve sair ainda este ano. E os lei-tos de CTI Coronariana, no

mesmo andar, já estão ga-rantidos. Há, ainda, outros pontos de reforma dentro do Hucam, na GO, por exem-plo, e na estrutura externa, como na pediatria. E a obra que já saiu do papel do lado de fora do hospital é a do Instituto de Oftalmo. A di-reção contabiliza outros pro-jetos de ampliação e refor-ma do Hucam, que serão postos em prática conforme a disponibilidade de verba.

MED NEWSOREMAs Olimpíadas Regionais dos Estudantes de Medicina (OREM) deste ano ocorre em Vassouras-RJ, nos dias 9, 10, 11 e 12 de outubro, e será organizado pelos diretóri-os acadêmicos da UERJ e UFRJ. Além das tradicionais disputas esportivas, o evento conta também com diversas atrações musicais, entre elas Mc Marcinho, Gaiola das Popozudas, Mc Robinho da Prata, Monobloco,Trio Po-tiguá, Jorge Ben Jor, Bateria da Escola de Samba do RJ e outros. As inscrições já es-tão abertas, os lotes já estão sendo vendidos e é preciso fazer cadastro no site http://orem2009.blogspot.com para efetuar pagamento. Não perca esta festa: acom-panhe os dias de inscrição, garanta sua vaga e divirta-se

Esportes Após a frustrada iniciativa de campeonato esportivo entre as cinco escolas médi-cas capixabas no primeiro semestre deste ano, o re-torno do Intermed Ufes rea-cende o espírito esportivo dos acadêmicos. O anúncio da volta das atividades ani-mou os alunos e o torneio entre as turmas promete ser muito acirrado. Serão cinco domingos de jogos e o futsal

TransferênciaEm maio último, a Ufes disponibilizou 1.114 vagas em 65 cursos, sendo que 758 para transferência e 356 para novo curso. Segundo informações da Prograd, 242 alunos se inscreveram para concorrer às duas vagas disponíveis no curso de medicina. Ou seja, a relação candidato/vaga foi de 121, muito superior à concorrência do vestibular. Filipe Lugon Moulin Lima, 19 anos, e Kaique Meneghel de Britto, 24, conquistaram as vagas. Ambos eram alu-nos da Emescam e já haviam tentado VestUfes. Filipe entrou no último ano do Básico e Kaique, no 8° período.

masculino é a grande aposta do Intermed deste semes-tre. No entanto, a prática de exercícios físicos regulares entre os estudantes de me-dicina não é regra, e a Uni-versidade insiste em dificul-tar ainda mais os esportes, na medida em que investe pouco em campeonatos in-ternos e não patrocina os torneios. Assista aos jogos e torça pelo seu time. Quem será a turma campeã?

Hucam: obras em todos os andares

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VERBORRAGIA

por Prof. Dr. Crispim Cerutti Júnior

Iniciada em 1994, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), inicialmente denominada Programa de Saúde da Família, procura imprimir, ao âmbito da atenção primária, as características fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS) de universalidade, integrali-dade e equidade, em um contexto de descentraliza-ção e controle social. O precursor da ESF foi o Pro-grama de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), implantado em 1991. Por meio de atuação transdis-ciplinar e interdisciplinar, a Estratégia se desenvolve com base na estruturação de equipes de saúde. Cada equipe é constituída por, no mínimo, um médico de família, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde. Quando am-pliada, conta ainda com um dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene dental. Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de três mil a quatro mil e quinhentas pessoas, ou cerca de mil famílias, de uma determinada área. A Estratégia de Saúde da Família impõe, para o médico, a quebra de três paradigmas. O primei-ro é o de que o médico é um profissional que trata doenças. Na Estratégia, ele passa a ser um profis-sional que promove a saúde. O segundo paradigma é o de que a relação médico-paciente deve ocorrer no nível individual. O médico, agora, não tem mais um indivíduo sob sua responsabilidade. A unidade sob atenção passa a ser a família, estando a mesma rep-resentada cada vez que o profissional atende um de seus membros. O terceiro paradigma quebrado é de que o médico é único e suficiente no cuidado à saúde das pessoas. Agora, o médico é um elemento de uma equipe que atua de forma sincronizada e plane-jada na atenção primária, com cada membro em-prestando à mesma a sua especificidade profissional. A ESF é única no mundo, mas foi construída tendo por base a Medicina de Família, cujas bases conceit-uais foram estabelecidas pela Universidade McGill, do Canadá. Essas bases conceituais estão relacionadas à aplicação de determinados instrumentos de avaliação e intervenção no nível individual e coletivo, como o “Fundamental Interpersonal Relations Orientation – Behaviour” (FIRO-B), o processo de abordagem PRACTICE, o conceito de Ciclo de Vida das Famílias, o Genograma e diversas estratégias de abordagem es-pecífica, como a Assistência Integral às Doenças Preva-lentes da Infância (AIDPI). Assim, a saúde da família é

uma especialidade médica, com programas de residên-cia e pós-graduação bem estabelecidos, e organizada na Sociedade Brasileira de Família e Comunidade (SBMFC), cujo sítio na internet é o www.sbmfc.org.br. Há diversos obstáculos ao desenvolvimento da ESF. Em primeiro lugar, faltam profissionais com formação específica, o que leva à constituição de muitas equipes por médicos advindos de outras especialidades, adapta-dos às novas funções. Em segundo lugar, há problemas estruturais, como escassez de área física, sobrecarga da equipe por excesso de demanda e baixos salários dos profissionais. Ainda, a ambiguidade do Estado bra-sileiro, que planeja e organiza para o nível primário, mas não constrói bons sistemas de fluxo e acesso para os demais níveis do Sistema, diminui a capacidade de resolução das equipes e a credibilidade na Estratégia. Para resolver a dissonância entre, por um lado, a ne-cessidade de profissionais generalistas, que atuem den-tro das especificidades da ESF e, por outro, a formação acadêmica de características voltadas para a formação especialista e para a inserção em níveis mais avançados do sistema, o Ministério da Educação, mediante as Di-retrizes Curriculares para o Curso de Medicina, passou a exigir a inserção do estudante na rede pública, atu-ando sob os princípios do SUS. Nesse contexto, já nos últimos cinco anos, temos estabelecido parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Vitória, inserindo estudantes do nono período nas diversas Unidades de Saúde do município, sempre sob o acompanhamento e supervisão dos médicos facilitadores das equipes. O resgate da experiência dos estudantes que estagiam nas Unidades de Saúde, tem nos mostrado que, mais do que oferecer competência técnica, o está-gio tem permitido uma mudança na visão do processo profissional, mostrando uma vertente mais humana do mesmo. Os estudantes entram em contato com as pessoas no seu contexto familiar e social, o que não é possível dentro dos muros do hospital-escola. As-sim, mais do que tudo, a vivência do estágio na rede pública tem contribuído para formar médico melhores porque lhes apresenta o lado humano da profissão. Isto corrobora a afirmação da Dra. Katharine Tread-way, Professora da Harvard School of Medicine, em seu editorial para o New England Journal of Medi-cine, de que, “na medicina, a pessoa que você é se faz tão importante quanto aquilo que você sabe”.

Estratégia de Saúde da Família