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143 CAPÍTULO 8 O Espiritismo e a Psicanálise PERGUNTA: — Temos ouvido de alguns médicos que os fenômenos mediúnicos sob a égide do Espiritismo não pas- sam de fatos exclusivos da esfera da “psicanálise” de Freud. Que dizeis? RAMATIS: — Não há dúvida de que a maioria dos fenô- menos mediúnicos se enquadram, em sua aparência, na psicologia individual e profunda do inconsciente, investiga- do por Sigmund Freud e generalizada sob o termo “Psica- nálise”. Mas é óbvio que as comunicações de espíritos desen- carnados, embora guardem certas semelhanças com as manifestações assinaladas por Freud, não pertencem ao médium. Este é apenas um transmissor do psiquismo do espírito desencarnado. Em conseqüência, o espírito comu- nicante é que deveria ser psicanalisado e não o médium, simples intérprete da vontade alheia. PERGUNTA: — Quais os espíritos desencarnados que seriam passíveis de uma investigação ou pesquisa freudia- na? RAMATIS: — Sem dúvida, os espíritos sofredores, pri- mários, desajustados ou perseguidores, que se comunicam nas sessões espíritas de tratamento espiritual, pois consti- tuem farto material de identificação de recalques e demais tendências mórbidas freudianas.

Ramatis - 08 - Espiritismo e Psicanalise

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CAPÍTULO 8

O Espiritismo e a Psicanálise

PERGUNTA: — Temos ouvido de alguns médicos que osfenômenos mediúnicos sob a égide do Espiritismo não pas-sam de fatos exclusivos da esfera da “psicanálise” de Freud.Que dizeis?

RAMATIS: — Não há dúvida de que a maioria dos fenô-menos mediúnicos se enquadram, em sua aparência, napsicologia individual e profunda do inconsciente, investiga-do por Sigmund Freud e generalizada sob o termo “Psica-nálise”.

Mas é óbvio que as comunicações de espíritos desen-carnados, embora guardem certas semelhanças com asmanifestações assinaladas por Freud, não pertencem aomédium. Este é apenas um transmissor do psiquismo doespírito desencarnado. Em conseqüência, o espírito comu-nicante é que deveria ser psicanalisado e não o médium,simples intérprete da vontade alheia.

PERGUNTA: — Quais os espíritos desencarnados queseriam passíveis de uma investigação ou pesquisa freudia-na?

RAMATIS: — Sem dúvida, os espíritos sofredores, pri-mários, desajustados ou perseguidores, que se comunicamnas sessões espíritas de tratamento espiritual, pois consti-tuem farto material de identificação de recalques e demaistendências mórbidas freudianas.

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Ramatís

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PERGUNTA: — Conforme preceitua a Psicanálise,quando esses complexos, tendências ou recalques mórbidosdo inconsciente emergem à luz da consciência em vigília,através do método de Freud, o paciente livra-se da pertur-bação ou conflito psíquico. Não é assim?

RAMATIS: — Sim; pelo menos é assim que Freud pro-pôs o seu método e lograva suas curas.

PERGUNTA: — Desde que os espíritas aplicassem omesmo método de investigação e terapêutica freudiana nosespíritos sofredores e enfermiços, que se comunicam pelosmédiuns, isso não seria mais fácil para curá-los ou livrá-losdas perturbações que ocorrem após a morte corporal?

RAMATIS: — O problema do espírito desencarnado émuitíssimo mais complexo e difícil de solução, se o com-pararmos com o mesmo método psicanalítico aplicado aosencarnados. Os homens enfermos da mente e passíveis deêxito na terapêutica freudiana são criaturas desajustadas oucomplexadas com o “meio” ou existência em que vivem.Após a correção mental e identificada a libido, a causa mór-bida, a frustração enfermiça da infância ou juventude queos atormenta, os pacientes liberam-se de suas algemas ouestímulos inconscientes e perturbadores.

Depois de extinta no inconsciente a atividade da causadeterminante de uma conduta indisciplinada, neurótica oucontraditória, a mente do enfermo passa a funcionar livrede impulsos incontroláveis ou direções indesejáveis. Issomelhora o seu contato com o ambiente e harmoniza suasrelações com as pessoas do mundo, integrando-o numaexistência normal livre de inibições ocultas, tornando maisafetivo e conciliador entre a família, amigos e estranhos.

Mas não adianta aplicar o método de investigação freu-diana no espírito desencarnado e enfermo, que se manifes-ta através do médium, nem perquirir-lhe o inconsciente,exumando as raízes mórbidas de complexos e recalquesculposos. Em verdade, as causas mórbidas não podem ser

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removidas do espírito desencarnado, porque elas estãoligadas ao mundo material na forma de crimes, calúnias,traições, rapinagens, perversidades, avarezas, luxúrias outirania! São dívidas ou “pecados” que praticou contra o pró-ximo, e não produto de choques, conflitos ou desajustes dainfância ou juventude, que depois passaram a ferir-lhe amente desgovernada!

Não se trata de causas desconhecidas na vivênciasecreta do inconsciente, mas de acontecimentos positivos edegradantes, que foram estigmatizados na consciência soba forma de remorsos, temores ou desesperos.

Em tal caso, o espírito sofredor não vive através dosmédiuns uma condição contraditória e forjada por causasignoradas no seu consciente; mas ele sofre os efeitos dasmazelas praticadas com conhecimento de causa! O psicana-lista poderia apenas identificar-lhe os quadros mórbidos,mas não poderia devolver o paciente para a vida físicaonde praticou os seus delitos! Ninguém poderá libertá-lo dalembrança dos atos censuráveis e conscientes que praticouno mundo material. Só através de novas existências se apa-garão de sua memória esses efeitos daninhos. Aliás, tam-bém não seria possível livrá-lo da região do astral inferior,onde se aloja todo delinqüente espiritual, por força do seumagnetismo muito denso.

O espírito enfermo pode amenizar suas angústias e afli-ções pelo tratamento “evangélico” preceituado pelo MestreJesus, o médico das almas, enquanto será inócuo à curapelo método freudiano.

PERGUNTA: — Considerando que os espíritos, tantoencarnados como desencarnados, são entidades imortaisque já viveram “outras vidas”, isso não justifica o fato detambém possuírem recalques, complexos ou tendênciasenfermiças passíveis do tratamento freudiano?

RAMATIS: — Atualmente os próprios psicanalistas ediversos psicólogos atenuaram bastante a cobertura da ter-

A Missão do Espiritismo

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