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 MEDICINA TIBETANA 

UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA PARA 

UMA VIDA SAUDÁVEL

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 MEDICINA TIBETANA 

UMA ABORDAGEM HOLÍSTICAPARA UMA VIDA SAUDÁVEL

Dr. Lobsang Rapgay, M.D.

Traduzido porWilliams Ribeiro de FariasDra. Yeda Ribeiro de Farias

EDITORA CHAKPORI

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1985 Dr. Lobsang Rapgay

1996Direitos para edição em língua portuguesa e espanhola adquiridos por

EDITORA CHAKPORI

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ÍNDICE

1. MEDICINA TIBETANA: UMA ABORDAGEM HUMANÍSTICAÀ SAÚDE ................................................................................................... 6

2. SAÚDE MENTAL: UMA PERSPECTIVATIBETANA ............................................................................................... 18

3. A MENTE E AS DOENÇAS MENTAIS NAMEDICINA TIBETANA ............................................................................ 35

1. I NTRODUÇÃO .............................................................................................................. 35 2. S ISTEMAS DE P SICOLOGIA .......................................................................................... 38 

3. F UNDAMENTOS DA M EDICINA T IBETANA ...................................................................... 39 4. M ENTE , C ONSCIÊNCIA E R LUNG .................................................................................. 43 5. R LUNG NA M ORTE E NA M EDITAÇÃO ........................................................................... 46 6. D OENÇAS DE R LUNG .................................................................................................. 47 7. I NSANIDADE ................................................................................................................ 55 8. S UMÁRIO .................................................................................................................... 60 9. APÊNDICE ................................................................................................................... 61

4. UMA ABORDAGEM HUMANÍSTICA AOTRATAMENTO E CONTROLE DO CÂNCER ........................................ 63

5. YOGA DO RELAXAMENTO: UM MÉTODO TIBETANO PARAPROPORCIONAR UMA SAÚDE MELHOR ........................................... 83

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PREFÁCIO

Finalmente, fui capaz de realizar o segundo volume desta sérieque teve início há três anos. De algum modo, minhas própriaspreocupações com a medicina e as viagens impediram-me de fazê-lo

antes. Planejei inicialmente publicar os artigos sobre doenças de mKris- pa e Bad-kan , de acordo com o Terceiro Tantra, relacionado com aclínica médica. No entanto, meus amigos apresentaram-me uma idéiamelhor. Porque não reunir alguns de meus artigos e palestras sobre osvários aspectos da medicina tibetana, que seriam de maior interessepara os leitores? E foi precisamente o que fiz. O terceiro artigo foi escritocom o auxílio do Dr. Mark Epstein, um psiquiatra trabalhando atualmenteno Cornell Medical Center, em New York.

A tarefa de promover a medicina tibetana é de fato muito difícil,vai além dos esforços de uma única instituição, nas mãos de uma sópessoa. Minha esperança é que, iniciando esta série, pessoasinteressadas na saúde, como profissão, aceitem o desafio de trabalharem conjunto para realizar a publicação de mais trabalhos especializadossobre medicina tibetana nas línguas ocidentais e sustentar os esforçosdos médicos tibetanos em sua prática e seu trabalho.

Dr. Lobsang Rapgay31 de dezembro de 1985

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1. MEDICINA TIBETANA: UMA ABORDAGEM HUMANÍSTICA ÀSAÚDE

Bob veio ver-me em Brisbane, Austrália, onde permaneci, durante

uma semana, para participar do Congresso Sobre Saúde Mental, emTowoomba, em dezembro de 1982. Exceto pela jovialidade, não pareciaansioso ao falar-me sobre seu problema. Posteriormente, descobri quehavia vindo consultar-me somente porque seu amigo, que me consultououtro dia, insistira. Desde o início mostrou-me que não estava muitoentusiasmado com o encontro, pois havia visto mais de uma dúzia demédicos durante os últimos dois anos sem ter obtido qualquer alívioduradouro, nem uma explicação satisfatória para sua condição. Elequeria saber se eu possuía realmente uma explicação melhor, já quetinha vindo consultar-me, e também porque veio a saber que os médicostibetanos eram excelentes no diagnóstico, que poderiam revelar anatureza de uma doença com um mero exame do pulso. Nesse ínterim,fiz um exame físico superficial. Bob era um homem alto, magro,levemente curvado para sua idade e de compleição clara. Possuía umapele seca com traços de imperfeições. Seus movimentos eram lentos edesajeitados, e estava na defensiva.

O pulso da artéria radial estava ligeiramente tenso e irregular,

mas sem profundidade e colapsava sob pressão. Um exame maiscuidadoso revelou uma função hepática enfraquecida, um índicemetabólico mais lento e, obviamente, severa síndrome gástrica. Seupulso renal estava tenso e o cardíaco registrava batimentos fracos,irregulares e rápidos. Mas nenhum destes níveis de pulsos resistia àpressão – um fator significativo na determinação do diagnóstico geralporque excluía infecções e patologias orgânicas sérias. Apesar do pulso

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renal apresentar-se diferente dos demais, também colapsava sobpressão e, portanto, no caso de Bob, interpretei este sinal como umasíndrome dolorosa na região inferior dorsal, de conseqüências poucosérias, e nem tinha qualquer relação com o problema real do paciente.

Estava se tornando claro que o problema de Bob era basicamentepsicossocial, uma vez que não havia patologia orgânica e ainda,queixava-se de muitos sintomas inespecíficos. Hipoatividade hepática ebaixo índice metabólico – uma extensão de seu problema raiz, não acausa dos sintomas e sinais atuais.

Questionei Bob, cuidadosamente, para descobrir mais sobre suacondição atual. Interrompi-o raramente enquanto falava para dar umadireção quando se tornava necessário, pois eventualmente discorriasobre detalhes que eu sentia não ter qualquer relação com seu estado. Aprimeira coisa que tinha a fazer, portanto, era impressioná-lo, mostrandoque já conhecia algo sobre seu problema e até se era sintomático. Eleconfirmou todas as minhas questões de maneira afirmativa sobredistensão abdominal, constipação, cefaléia, fadiga e indisposiçãogeneralizada, que predominava durante as tardes, vertigem quandorealizava movimentos súbitos, palpitação após esforço e ansiedade, comperíodos de depressão. Um exame de sua urina confirmou grande partedo que já fora descoberto com a leitura do pulso. Geralmente, existemdiagnósticos diferenciais dos sinais e sintomas descritos por Bob. Masexclui a maioria deles após considerar os dados retirados dos examesdo pulso e da urina, a duração de seu problema e a ausência dequalquer história médica anterior.

Nem sempre é fácil interrogar um paciente e concluir que seu

problema possa ser emocional. Ao mesmo tempo, precisava adaptarminhas questões de maneira a assegurar a obtenção do tipo deinformação que estava procurando. A história médica de Bob nãorevelava qualquer distúrbio orgânico maior, mas salientavarepetidamente que a indisposição geral, a fadiga e um severo problemagástrico estavam tornando sua vida miserável. Concordou que seudesconforto nas costas era de origem recente e estava melhorando.

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Já estava mais confortável e menos agressivo e, com um poucode incentivo, começou a falar sobre sua vida e seu trabalho. Escutei-otão atentamente quanto possível. Quando atuamos como médicos frenteaos nossos pacientes, aprendemos a refletir este papel e em muitoscasos a nos tornar mais humanos nesta relação, particularmente comaqueles que sofrem de um problema de natureza psicossomática, oproblema fundamental da condição humana – algo como distúrbiospsicossociais, dificuldades para lidar com o pensamento, as emoções eo espírito humano – emerge clara e vigorosamente. Durante os últimos

poucos anos ele não foi capaz de manter-se em um emprego durantemuito tempo. Ou porque não se dava bem com os empregadores ouporque não conseguia suportar a pressão de seu trabalho. Gostava deescrever pequenas estórias e poemas, mas logo encontrava ospensamentos de rejeição que o tornavam desanimado e impediam deperseguir o que estava sendo, até então, uma atividade significativa. Aincapacidade para seu trabalho e para escrever começou a afetar suavida atual e suas relações sociais. Encontrava poucos amigos e embreve sua vida, que era normalmente ativa, uma parte da qual eralevantar cedo e exercitar-se em seu jardim, cessou. Seus hábitosdietéticos tornaram-se irregulares e começou a alimentar-se maisfrequentemente de lanches.

Estava se tornando mais claro agora que sua vida emocionaltinha uma forte influência sobre sua saúde. De fato, suas falhas haviamestabelecido um ciclo vicioso, inicialmente dentro de si mesmo, equando não pôde mais ser controlado, afetou seus hábitos e seu estilode vida. Estes por sua vez alteraram suas atitudes e sua condição física.

O problema básico não seria resolvido certamente com otratamento de seus sintomas atuais, porque não eram a causa de seuestado e nem seu desaparecimento significaria o fim de seus problemas.Eram simplesmente um sinal de alerta da angústia humana gritando porajuda, expressando-se através do corpo.

Todos aqueles que examinaram Bob antes, provavelmentedeterminaram as bases de seus sintomas, mas ninguém considerou

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seriamente a possibilidade da relação entre seus problemaspsicossociais e seu estado atual. Ninguém escutou-o com criatividadesuficiente para trazer à luz aquele fator crucial na compreensão daverdadeira natureza de sua condição. Cada médico estava ocupadoconduzindo uma bateria de testes – enemas com bário, radiografias,exames de sangue – que lhes permitiriam determinar as bases de seutratamento. Ninguém estava disposto a considerar a complexidade danatureza de uma pessoa chamada Bob. Conseqüentemente, qualquertentativa que Bob pudesse ter feito para explicar seu sofrimento e

compreender a origem de seu problema foi desencorajada.Nós seres humanos temos uma imensa capacidade para

supormos que sabemos tudo o que há para saber sobre a naturezahumana. Gostamos de imaginar que toda disposição, sofrimento edesejo humanos podem ser explicados por uma causa e, portanto,quando encontramos uma pessoa como Bob e as 45% das pessoas quechegam a uma clínica de atenção primária, tratamo-las de uma maneirasimilar aos pacientes que apresentam uma doença orgânica. O mesmomodelo de doença é aplicado.

Inicialmente, expliquei a Bob que o mais importante para ele erarealizar que não possuía nenhum problema orgânico maior. Nestesentido ele estava tão saudável quanto poderia estar. Seus problemas,tais como os sintomas de que se queixara, eram secundários aodistúrbio básico e para tentar resolver a causa raiz teria que assumir aresponsabilidade sobre sua própria saúde. Ele pareceu concordar comesta explicação, porque no passado, com frequência, quando estavasendo tratado, alguns de seus sintomas desapareciam para retornarem

novamente quando interrompia o tratamento.O primeiro passo, entretanto, seria aliviar alguns de seussintomas físicos, assim que possível, para que o processo de curaverdadeiro pudesse começar. Ocorre que, sem a eliminação dossintomas, ele nunca seria realmente capaz de alterar a situação pararecuperar-se no sentido real. Ao prescrever o tratamento, descrevi-lhebasicamente a composição de cada medicamento, o tipo de reação que

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poderia produzir e como tomá-lo. As três dosagens diárias eram demedicamentos diferentes, mas foram cuidadosamente escolhidos deforma a complementarem-se uns aos outros em suas ações.

Para o médico, é uma parte importante do exercício da medicinaexplicar aos seus pacientes o que está fazendo por eles e do que estásendo tratado. Na aplicação do modelo de doença, o médico geralmentenão explica ao paciente que os sintomas podem não estar relacionadoscom a patologia. Implica-se que estejam relacionados. Apesar do médiconem sempre concluir esta desconexão, na ausência de uma explicação

clara, o paciente é deixado, freqüentemente, com a conclusão de queestejam relacionados. Uma discussão franca e humana com o pacientecria a atmosfera para que o mesmo questione o médico sobre quaisquerdúvidas que tenha e, com frequência, ao expressar-se ele revela novasinformações que podem ser consideravelmente válidas na longa busca eno manejo da saúde do paciente. E também, oferece uma oportunidadeao paciente de pensar sobre o diagnóstico e o tratamento e se nãosatisfeito com o mesmo, buscar uma segunda opinião.

Alertei Bob que o fim de seus sintomas físicos não significariamque estava curado. Na verdade, a cura real começaria depois. Ele teriaque fazer muitas mudanças em seus hábitos, dieta e padrõescomportamentais. Deveria gerar iniciativa e um sentido de propósito esignificado na vida, como uma maneira de crescer e de mudar. Ele teriaque aprender que cada acontecimento, não importa quão doloroso, tinhaum propósito. E se sofremos, temos que aprender a enxergar osignificado que existe por detrás deste sofrimento e tolerá-lo apenas,como todos fazem de vez em quando. Porque deveríamos nos sentir

bem a todo instante? Não é isto o que significa a vida.Estas mudanças, salientei, deveriam ser feitas passo a passo – não era possível e não deveria tentar introduzi-los subitamente. Uma veztendo identificado suas metas e seus objetivos de vida e encontradosignificado no que estava prestes a fazer, ele seria capaz de superar osofrimento pelo qual tinha passado. Nenhuma quantidade de drogas ou

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terapias físicas poderia tornar isto possível. Apenas ele como indivíduoteria que escolher coisas para alcançar aquele tipo de maturidade.

Além de medicamentos, sugeri um modo de ação queconsiderava sua dieta e conduta. Comecei com coisas que ele poderiafazer por si mesmo, pois a tensão nervosa era responsável por muitasde suas queixas físicas e estava fazendo com que se afundasse emprolongados períodos de depressão. A primeira coisa era encorajar umrelaxamento natural tanto quanto possível. A luta ou a resposta à tensão,ou seja, as reações fisiológicas à esta situação, como no caso de Bob, é

caracterizada pela elevação da atividade do sistema nervoso simpático,com o aumento da secreção de epinefrina e norepinefrina.Conseqüentemente, Bob apresentava um aumento correspondente napressão sanguínea, na tendência a apresentar maior ansiedade ebatimentos cardíacos irregulares. Sugeri que a primeira coisa que elepoderia fazer era conseguir pelo menos 8 horas de sono bom e pesado.Se tivesse dificuldade, como estava tendo, deveria tentar resolver istocom uma série de atividades dietéticas e comportamentais que lhesugeri. Quando adquirisse um padrão de sono mais regular, sugeri quedeveria considerar a integração com algumas práticas meditativas juntocom a yoga. O relaxamento é a terapia mais importante neste estágio eagora provou-se que contra-ataca os efeitos do sistema de luta e daresposta à luta. Isto significaria uma redução dos sintomas causadospela tensão e ansiedade, cefaléias, náuseas, diarréia, insônia, palpitaçãoe fadiga.

Bob tornou-se consciente de uma série de fatos importantes quepudessem ter relação com sua condição e que determinassem a

disposição para a recuperação. Mente e corpo são interdependentes e asaúde de um afeta a do outro. Um corpo saudável proporciona umamente saudável e vice-versa. Nenhum deve ser negligenciado. Quandoqualquer componente da articulação se rompe, um dos dois, ou ambos,são afetados. Os sintomas manifestam-se como conseqüência daruptura, mas não são certamente a causa da doença. Portanto, tratando-

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os apenas, sem descobrir o fator fundamental e corrigi-lo, não serápossível uma cura real.

Bob disse-me que tentaria pensar sobre o que havia lhe dito e,então, tomaria os medicamentos. Ele não estava completamentedesajustado à técnica respiratória fisio-meditativa que lhe sugeri e sentique poderia se adaptar facilmente à mudança da dieta. Um mês maistarde, escreveu-me, na Índia, solicitando novos estoques demedicamentos e informando que a mudança na dieta e no estilo de vidaestavam ajudando. Apesar de seus problemas serem antigos, havia

adquirido confiança para conseguir um emprego estável e prosseguircom sua vida.

Este é um caso ideal onde a abordagem humanista conseguiu oresultado efetivo e rápido que o paciente estava buscando. O caso foiconsiderado conveniente para chamar a atenção sobre o fato de que45% dos pacientes que buscam consultar-se com um médico em umaclínica de cuidados primários não apresentam qualquer patologiaorgânica. Eles sofrem de problemas humanos parcial ou totalmente. Seudia a dia preocupante, a tensão em seu casamento e na vida familiarocasionam uma profunda alteração em seus pontos de vista e atitudes e,quando não é mais capaz de competir com a pressão, adquire sintomasfísicos que, por sua vez, agravam por completo seu padrão de saúde.Não é necessariamente verdade que todas as condições fisiológicaspossuem uma causa ou evento passado original. Não há utilidade emtentar redescobrir um incidente infantil como a causa provável quando opaciente está, na realidade, procurando por um significado e pormudanças em sua vida. A terapia deveria consistir em sugestões quanto

às necessidades da pessoa, ajudando-o a descer e atacar o problema.Não há complicação com relação a este aspecto. Muitos de nossosproblemas originam-se simplesmente de nossas necessidades humanasbásicas por atenção, mudanças, crescimento pessoal, um objetivo navida e uma tentativa de realizar a singularidade em cada um de nóscomo ser humano. Assim, quando uma pessoa vem ao médico com talangústia humana, tratá-los com analgésicos, tranquilizantes ou mesmo

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cirurgias, não é apenas inútil, mas frequentemente destrutivo. Deixam opaciente sem auxílio e amedrontados, além de imprimiremfreqüentemente uma última cicatriz em sua mente.

Não há dúvidas de que um tratamento como a cirurgia éabsolutamente necessário na abordagem às doenças orgânicas comoapendicite ou peritonite, pois retirando-se cirurgicamente o apêndice, porexemplo, a causa da doença é tratada. Mas quando não há doençaorgânica e apenas sinais e sintomas que causam distúrbios físicos, acirurgia ou outros procedimentos terapêuticos modernos não são a

resposta. A avaliação da saúde normal, as complexidades da doença e,na verdade, a vida em si são tão variáveis que o médico deve estardisposto a "considerar mais que uma doença orgânica, mais que ohomem por inteiro – ele deve ver o homem em seu mundo" (HarveyCushing).

Compreendendo as limitações do modelo de doença o médicopode aprender a dividir a responsabilidade sobre a saúde do pacientecom o próprio. Enquanto sua habilidade e treinamento na clínica médicaem tratar dependendo da doença orientada seja crucial, ele deve estarpreparado para ouvir o paciente com criatividade e olhar além do modelode doença, "generalizando a patologia e individualizando o paciente".

Se o médico não se dispõe a considerar o aspecto emocional dadoença, podendo obter uma orientação sobre sua condição, deve serdada ao paciente uma oportunidade de questionar alguém que assimconsidere.

A medicina tibetana fornece um modo instrutivo de pensar sobrea doença e a cura dentro de uma estrutura humanística. Quando

comparamos o sistema e a estrutura que compõem a medicina tibetanacom os primórdios da medicina moderna, descobrimos que os médicostibetanos conhecem muitos aspectos das disciplinas médicascontemporâneas, além daqueles que são semelhantes a organizaçãocientífica. Diferente do sistema indiano de medicina, que enumera aspatologias clínicas em oito divisões, o tibetano descreve quinze divisões.São elas: três processos fisiopatológicos (três “humores”), doenças

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internas, febres, doenças da cabeça e pescoço, doenças dos órgãossólidos e ocos, venereologia, urologia, doenças diversas, doençashereditárias, pediatria, ginecologia, toxicologia e sexologia.

A doença é vista fundamentalmente como um estado dedependência sobre a multiplicidade de fatores que incluem dieta,comportamento, influências periódicas, fatores sociais e psicológicos.Não existe patologia independente, e se o médico vai curar o paciente,ele deve considerar todos estes fatores em seu diagnóstico emodalidade de tratamento. Deve referir-se à patologia orgânica sempre

que houver uma conexão com os hábitos dietéticos e conduta dopaciente, com relação às suas atitudes quanto ao trabalho erelacionamento conjugal. Nestes casos, é instruído a fazer umdiagnóstico positivo, a explicar todo o processo para o paciente, a insistirsobre a importância dos fatores responsáveis pelo seu estado e,finalmente, integrar um programa de reabilitação física e social. Omedico é treinado para falar abertamente e quando diagnostica umainfecção ou inflamação que requeira procedimentos terapêuticos maissofisticados do que ele pode oferecer, sugere terapias alternativas. Sesuspeita de uma pneumonia ou tuberculose, recomenda uma radiografiae sugere terapias com drogas modernas. Mas acima de tudo, ele ésensível às necessidades do paciente como uma pessoa. Como esteaspecto da medicina está frequentemente ausente nas clínicasmodernas, a maioria dos pacientes hoje estão dispostos a ouvir e tentaroutros sistemas de medicina. É definitivamente mais fácil convencer,atualmente, pacientes a estabelecerem mudanças necessárias em seushábitos alimentares e comportamentais. O paciente está procurando não

apenas por alívio sintomático, mas também por conselhos sobre umavariedade de aspectos relacionadas a ele – uma filosofia para guiar suavida. Isto é compreensível porque a saúde não está confinada aostraumas e infecções bacterianas, mas envolve tudo o que a pessoa faz,seus relacionamentos com pessoas no trabalho e em casa, suasatitudes, valores, esperanças e aspirações.

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A ênfase sobre este aspecto da medicina não deveria, entretanto,abalar a razão básica pela qual um paciente vem a um médico. Eleespera que o médico saiba o que está errado com ele e que o trate deforma a curá-lo para que possa voltar ao trabalho. O corpo humano éconsiderado como um conjunto de estruturas complexas que consistemde traçados fisiológicos e psicológicos os quais, enquanto existemcompondo um todo, possuem funções e características distintas,próprias deles mesmos. A mente não é vista como um produtoespontâneo e resultante de certa complexidade da estrutura e dos

impulsos elétricos do cérebro. Antes, é um produto de sua sequênciaanterior e portanto, não é possível que tenha uma origem física direta.U'a mente deve ser basicamente produzida por uma espécie semelhantea ela mesma e deve ter um continuum direto, pois um fenômeno externoou físico não pode tornar-se mente e a mente não pode tornar-sefenômeno externo. Porém, se a mente e o corpo são entidadescompletamente diferentes, então um não dependeria do outro. Todas asexperiências de uma pessoa, sejam prazeirosas ou dolorosas, grandesou pequenas, não surgem de fatores externos superficiais isolados.Estão presentes também causas internas. A nível subconsciente,existem predisposições latentes que ativam uma experiência quandotodos os fatores externos estão presentes. Estas predisposições sãonegativas ou positivas e se estiverem ausentes, não importa quantosfatores externos estejam presentes, não haverá maneira para que surjamou desapareçam prazeres ou dores.

Portanto, a interação entre mente e corpo é um componenteessencial para a compreensão da causa, evolução e duração de,

virtualmente, todas as grandes doenças. O tratamento dos distúrbios nãosão baseados apenas na compreensão da causa, mas também nacuidadosa explicação da conexão entre conduta, emoções e funçõesneuro-fisiológicas autônomas do paciente. Uma vez que o paciente écapaz de reconhecer quando está sob tensão e como seus hábitosafetam seu corpo, torna-se mais sensível com relação aos seus efeitos

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sobre as funções corporais sutis e tornando-se com isso capaz dedesenvolver métodos para contra-atacar e reduzir a tensão.

Apesar da mente não poder produzir forma física, asnegatividades, como a inveja, o ódio e o medo, quando tornam-sehabituais, são capazes de iniciar alterações orgânicas. A maioria de nósnão realiza como nossas mentes trabalham, e tendem normalmente aaceitar simplesmente as formas de pensar com pouca consideração. Amente procura idéias constantemente e tende a selecionar aquelas que ainteressam. Interesses determinam o gostar ou não gostar. O que não

pode ser bem feito é evitado, e a mente muda rapidamente de uma idéiapara outra sem concentrar-se ou focalizar em uma única que seja.

A fim de obter certo grau de controle sobre sua mente, ospsicólogos budistas projetaram uma área completa de modalidadesterapêuticas tanto meditativas quanto yóguicas. Esta disciplina éconhecida como Yantra Yoga, que significa, exercícios meditativos e éuma parte da medicina tibetana. Espera-se que em um futuro próximo osaspectos desta terapia sejam disponíveis em outras línguas, além datibetana.

A essência da medicina é realmente aliviar o sofrimento e aangústia humana e tratar o paciente com dignidade – como um serhumano. O mero tratamento de uma região alterada do corpo, através demedicamentos ou cirurgia, constitui apenas uma fração do tratamentoreal pelo qual procura a maioria dos pacientes que chegam às clínicasde cuidados primários. Sendo sensível à condição humana, edemonstrando confiança na capacidade do paciente de superar suadoença, o médico abre caminho para estabelecer a cura real. Nenhuma

quantidade de medicamento ou cirurgia pode ser muito benéfica para asaúde completa do paciente se estas abordagens forem negligenciadas.A abordagem humanística é o meio através do qual pode-se obter

melhores cuidados com a saúde, além de encorajar a consciência entreas pessoas de que saúde não significa simplesmente ausência dedoenças. Não há uma tentativa de implicar que terapias tradicionais,como a medicina tibetana, sejam superiores às técnicas modernas, nem

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tampouco a crítica aqui feita é dirigida apenas àqueles que praticam amedicina moderna. Aplica-se a todos aqueles que praticam a medicina,porque está claro que no tratamento das doenças psicossomáticas, oimportante não é o tipo de terapia externa, mas o interesse nahumanidade, "pois o segredo do cuidado ao paciente é o cuidado aopaciente" (Francis Weld Peabody).

O Veda ayurvédico, o acupunturista ou mesmo o médico tibetanonão ficam isentos à crítica tão facilmente. Se o acupunturista acredita emsuas agulhas ou o médico tibetano, em suas pílulas mais do que na

humanidade, o elemento crucial da cura é desprezado. Infelizmente,quanto mais pacientes consultam o médico, mais este tende a acreditarque é apenas seu tratamento o responsável pela cura. Os pacientes vêmporque buscam compreensão e orientação. Talvez nada possa resumirmais maravilhosamente a importância destas qualidades do que aspalavras que uma enfermeira em estado terminal disse ao seu médico. Aenfermeira estava consciente da dificuldade emocional de seu médicopara enfrentar sua morte próxima. Disse-lhe ela: "Eu sei que você sesente inseguro, não sei o que dizer, não sei o que fazer. Mas por favoracredite em mim, se você cuidar não pode errar. Apenas admita quevocê se importa. Isto é na realidade o que estamos procurando".

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2. SAÚDE MENTAL: UMA PERSPECTIVA TIBETANA

A tradição médica budista tibetana é provavelmente o menosconhecido de todos os sistemas de medicina. Contudo, talvez seja o

único sistema que mantém uma continuidade por mais de 2500 anos.Enquanto a abordagem atual à saúde seja basicamente mecanicista eapenas recentemente tenha sido destinada certa atenção ao aspectopsicossomático das doenças, os médicos tibetanos refletem sobre ainteração corpo-mente há séculos. Seus pontos de vista não são merasconjeturas e não se baseiam simplesmente no que foi transmitido porBuda. Baseia-se, na verdade, em princípios profundamente lógicos, emobservações fundamentadas e em séculos de experiência clinica.Quando comparamos o sistema e os componentes estruturais damedicina tibetana com os mesmos aspectos da medicina moderna,descobrimos que os médicos tibetanos sempre conheceram muitosaspectos das disciplinas médico-científicas, relacionadas com o estudode microorganismos. Diferente do sistema de medicina tradicionalindiano, conhecido como Ayurveda – a Ciência da Vida – que enumera apatologia clínica em oito seções, o sistema tibetano menciona quinzedivisões clínicas. Estão relacionadas a seguir, demonstrando quãoconhedores são os tibetanos e seu sistema de clínica médica altamenteestruturado.1. Os três fatores fisiopatológicos ou “nyes-pas ” 2. Doenças internas3. Fisiopatologia inflamatória ou febres4. Doenças da cabeça e pescoço5. Doenças dos órgãos sólidos e ocos6. Venereologia e urologia

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7. Doenças diversas8. Doenças hereditárias, particularmente lesões congênitas9. Pediatria10.Ginecologia11.Neurologia e Psiquiatria, incluindo doenças causadas por forças

externas12.Traumatologia13.Toxicologia14.Geriatria e gerontologia

15.Sexologia e sexopatologiaVivemos em uma época na qual a maioria de nós começa a

questionar algumas das coisas que temos feito em nossas vidas. Muitofreqüentemente, nossos melhores esforços para nos tornarmos maissaudáveis e confortáveis não tornam a vida mais fácil. E também, muitofreqüentemente, estes aspectos criam mais problemas do que os quepodemos agüentar.

Faz parte da natureza humana o desejo por conforto e felicidade.Além disso, a cada momento a maioria de nós enfrenta mais e maissituações que provocam stress físico e mental, os quais por sua vezgeram distúrbios relacionados, completamente desconhecidos emsociedades onde a vida é mais simples e onde a ansiedade é menosconstante. Na maioria das vezes, como conseqüência de um constantesenso de ambição, de direcionamento para o sucesso financeiro e decompetição, tanto na vida familiar como no trabalho, dificilmente nosconscientizamos do pesado tributo que nosso estilo de vida estácobrando. Estamos desamparados no manejo com problemas maiores e

convenientemente deixamos que nossos líderes tentem resolvê-los.Estamos preocupados principalmente com nossas dificuldades diárias.Tornamo-nos facilmente frustrados porque, em geral, não conseguimosresolver mesmo nossos problemas rotineiros, tal como chegar aotrabalho na hora certa. E além do mais não nos ajudamos quanto ao tipode dieta, comportamento, emoções e ambiente no qual vivemos e aoqual nos expomos. Ante tal situação temos a impressão de que não

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possuímos as fontes biológicas para manter uma constanteequanimidade fisiológica.

Todos nós temos basicamente o mesmo organismo humano erespondemos ao stress com um padrão similar, apesar de haverdiferenças entre as pessoas sobre o que é exaustivo, dependendo devalores culturais e sociais. Os filósofos e médicos tibetanos enfatizamque até que a mente esteja controlada e treinada para funcionar de ummodo equilibrado com o corpo, é impossível lutar contra o desgastenatural do último. Esta é a razão pela qual mesmo que a maioria de nós

considere positivo ou aprazível coisas como uma promoção, conseguiruma projeção pessoal ou qualquer forma de relaxamento físico, isto nãonecessariamente nos trará alívio físico e mental. Todos os problemasque enfrentamos atualmente, seja com relação à saúde, ao sustento, àeconomia, tecnologia e política deve-se fundamentalmente àincapacidade de relacioná-los em uma perspectiva adequada – emresumo, uma crise de percepção. Ao tentarmos aplicar os conceitos domecanicismo para todos os aspectos da vida, distanciamo-nos doprincípio fundamental da vida. Recusamo-nos a aceitar que asmudanças são fundamentais para a existência. Nosso relacionamentocom os outros, incluindo o ambiente, nossas experiências sensoriais,intelectuais e conceituais determinam a interação entre corpo e mente. Afilosofia médica budista é um destes sistemas antigos que lidam comestes relacionamentos e conceitos com muitos detalhes. Mas emprimeiro lugar é importante conhecer o ponto de vista geral sobre amente, sua origem e natureza.

A suposição ocidental sobre a mente é mecanicista e limitada.

Basicamente, a mente é pensamento que parte de um sistema separado,à parte do corpo, e é popularmente identificado como a faculdade depensar. Além disso, o conceito de mente distinta dos sistemas corporaisnão é facilmente comprendido ou explicado na filosofia ocidental. Sendoa mente multidimensional, os filósofos tibetanos definiram-na de umamaneira tal que pode parecer simples demais. Mas, freqüentemente,esta é a coisa mais difícil de fazer e uma vez que o indivíduo seja capaz

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de observar as várias facetas da mente durante as funções formais eanalíticas torna-se mais fácil nos referirmos àquela definição. Mente ouconsciência é "aquela que reconhece objetos, tem claridade própria pornatureza e não possui forma". Ilumina os objetos no sentido metafóricode que, da mesma forma que as coisas não podem ser vistas em umquarto escuro sem a presença de uma luz, os objetos não podem servistos ou experimentados sem a presença da consciência. A mente podeapresentar-se basicamente como dois tipos, quanto aos fatoresprimários e secundários. A mente primária consiste na apreensão geral

de um objeto, enquanto um fator mental secundário realiza funções maisespecíficas com relação a estes objetos. Segundo sua própria natureza amente primária é limpa e pura. Entretanto, fatores mentais secundáriosnegativos, que operam conseqüentemente à ativação de açõeshomólogas passadas, influenciam a mente primária e submetem-na auma variedade de experiências negativas. O objetivo de qualquer práticabudista é a princípio eliminar do continuum da mente estes fatoresmentais negativos secundários e suas origens. As negatividades e suasorigens persistem enquanto os pensamentos conceituais não sãoeliminados. Em geral, experimentamos pensamentos conceituais nadependência de nossas experiências sensoriais. Um objeto tal como umalimento delicioso ou uma forma muito bonita é percebido por um denossos órgãos sensoriais. Esta percepção é transmitida à nossaconsciência mental que apreende uma imagem do objeto percebido. Emseres humanos comuns, a maioria das experiências mentais sãodestituídas de percepção, ou seja, são conceituais. Nossa concepção doalimento ou da bela forma, por sua vez, ativa predisposições ou origens

latentes dentro do nível sub-consciente para que reajam à experiência,sobrepondo certas qualidades e condições ou rejeitando ascaracterísticas reais do objeto. Conseqüentemente, formamos umaopinião como gostar ou não gostar, como ódio ou afeição pelo objeto.

A princípio, é importante esclarecer que os filósofos budistas nãoaceitam a idéia geral de que a mente é um produto espontâneo adquiridopor uma certa complexidade da estrutura cerebral. Os budistas alegam

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que, se isto fosse verdade, a matéria deveria ser capaz de tornar-seconsciente. Além disso, se verdadeira esta idéia, a mente deveria serfísica dentro de dimensões próprias e deveria possuir qualidades físicascomo tangibilidade, forma e outras, uma vez que seu fator causal diretopossui estas qualidades.

U'a mente deve ser produzida essencialmente por uma espéciesemelhante a si mesma e deve ter um continuum precedente direto,porque fenômenos externos não podem transformar-se em mente e estanão pode tornar-se fenômeno externo. E ainda, se a mente e o corpo são

entidades totalmente diferentes então um não depende do outro. Assim,se meu corpo está doente, significa que estou doente. Entretanto, não éassim. Meu corpo estar doente significa que eu estou doente e quesurgem em minha mente sofrimento e aborrecimento. Além disso, nãohá, segundo os budistas, outra maneira concebível na qual a mente e ocorpo possam existir. Como resultado, toda experiência de um ser, querseja dolorosa ou prazeirosa, grande ou pequena, não surge a partir defatores superficiais externos isolados; causas internas também estãopresentes. Há potenciais ou latências de ações virtuosas e não-virtuosasna mente. Estes potenciais estão em estado inativo, e são ativadosquando encontra causas externas, podendo ocorrer então sentimentosde dor ou prazer. Se estes potenciais estão ausentes, não importaquantos fatores externos estejam presentes, não há como surgirem oudesaparecerem prazeres ou dores. Mente e corpo formam uma unidadeintegrada; a saúde existe quando estão em harmonia, enquanto que adoença surge quando stress e conflitos rompem o processo. Para ummédico tibetano a interação da mente com o corpo é um componente

essencial na compreensão da causa, da agravação e da duração detodas as grandes doenças, virtualmente. O tratamento da patologia nãose baseia unicamente na compreensão da causa, mas também em umacuidadosa explicação para o paciente sobre a conexão entrecomportamento, emoções e funções neuro-fisiológicas. Uma vez que oindivíduo seja capaz de reconhecer quando está sob stress esensibilizar-se quanto aos seus efeitos sobre as funções sutis de seu

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corpo, ele pode desenvolver métodos efetivos para contra-atacar ereduzir o stress. Apesar da medicina e psicologia tradicionais estarem atanto tempo separadas por suas diferentes metodologias de pesquisa,tendências atuais indicam que os distúrbios induzidos por stress têmsubstituído há muito tempo as epidemias por doenças infecciosas comoo maior problema médico em países desenvolvidos, apesar das últimasestarem ainda em primeiro lugar como patologias ameaçadoras à vidaem países sub-desenvolvidos.

O conceito tibetano de personalidade deriva de dois ramos

principais dos textos budistas: os ensinamentos tântricos,particularmente aqueles conhecidos como Tantra Yoga mais elevado e osistema Sutra envolvendo principalmente os textos do Abhidharma. Oensinamento tântrico enfatiza o aspecto espiritual e emocional da menteem correlação com as várias energias psíquicas no corpo. OAbhidharma é um sistema de teoria psicológica derivada de um estudodetalhado sobre as observações dos trabalhos da mente humana.Descreve a natureza da mente como uma combinação de fatoresmentais saudáveis, aflitivos e neutros que possuem qualidadesperceptivas, cognitivas e afetivas. Em termos de psicopatologia, aclassificação das doenças neurológicas e mentais é estudada nos textosmédicos principais.

De acordo com a teoria psicológica budista, cada “momento deconsciência” depende do surgimento simultâneo de um objeto

proveniente de um dos cinco sentidos ou da mente, e da faculdadesensorial ou mental precedida por uma consciência dirigida para um doscinco sentidos ou para a mente que têm a função de reconhecer a

percepção. Por exemplo, um momento de consciência visual depende doobjeto visual, a faculdade sensorial da visão, e da consciência dasensação.

A consciência requer a princípio uma base física para sefundamentar. rLung ( literalmente, vento; Vayu em sânscrito), que é umdos três fatores fisiológicos do corpo, é esta base. Significa, de modogeral, corrente de energia que serve como o cavalo sobre o qual cavalga

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a mente. A mente possui não apenas a natureza luminosa e flutuante derLung , mas a própria consciência depende de rLung , que age comointermediário para a avaliação satisfatória de seu objeto da percepção. Aconsciência é transportada pelas correntes de rLung, pois muda seusobjetos de momento a momento. Sem o intermédio de rLung  estasmudanças de objetos não poderiam ocorrer.

Os seres humanos são compostos de seis constituintes principais–  denominados “terra”, “água”, “fogo”, “ar”, “canais” e estruturasessenciais. Cada um destes elementos, que são unidades compostas de

átomos e moléculas implicam respectivamente em peso, coesão,eletricidade, movimento e relações espaciais. Quanto às relaçõesfisiológicas, o termo “terra” refere-se aos componentes físicos do corpo,tais como ossos, pele, unhas e cabelos, enquanto “água” refere-se aosistema fluido, tal como o sistema urinário. “Fogo” refere-se ao calorproduzido pelo metabolismo e “ar” ou “vento” é a corrente ou agente

estimulante responsável pelas funções voluntárias e involuntárias docorpo. “Canais” incluem todos os diferentes tipos de trajetórias, taiscomo veias, artérias, dutos, nervos e outros. As estruturas essenciaissão nutrientes regenerativos, tal como o sangue, que flui através doscanais.

Na medicina materialista, o médico tibetano preocupa-seprincipalmente com quatro destes elementos, com os tipos maisgrosseiros de canais e estruturas essenciais, enquanto na medicinatântrica ou espiritual o médico concentra-se nos tipos de canais sutis quesão meridianos imaginários e nas estruturas essenciais sutis. Os canaisgrosseiros são anatomicamente de dois tipos, brancos e negros; o canal

branco é o sistema nervoso central e secundário, enquanto o canalnegro refere-se primariamente ao sistema circulatório, incluindo olinfático. Estruturas essenciais grosseiras são os sete constituintesorgânicos essenciais denominados nutriente essencial, tecidossangüíneo, muscular, adiposo e ósseo, medula espinhal e fluidoregenerativo.

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Fisiologicamente, os quatro elementos são conhecidos como ostrês fatores fisiopatológicos ou "falhas" (doshas, em sânscrito; nyes-pas ,em tibetano). São eles rLung, mKris -pa e Bad-kan  (respectivamente,vayu, pitta e kapha em sânscrito). rLung , como mencionadoanteriormente, está associado ao sistema nervoso, mKris-pa refere-seaos sistemas secretório e endócrino e Bad-kan , às massas orgânicas einorgânicas do corpo.

A um nível primordial, estes três processos fisopatológicos sãopropelidos pelas três negatividades mentais aflitivas denominadas

desejo, aversão e obscurecimento mental. Desejo é o apego ou cobiçapor objetos ou experiências. Alguns têm interpretado erroneamente estaexplicação, como se todas as doenças físicas, desde o resfriado comumaté uma doença terminal, fossem o produto final de falhas psicológicas eque tudo é predeterminado. Não é esta a interpretação. Os estadospatológicos da mente são fatores secundários ou colaboradores e,mesmo que determinem um estado de saúde, não produzemdiretamente uma doença somática. O corpo humano é essencialmenteum processo de nutrição. Envolve a constante interação de fatoresopostos ou polaridades, representadas por mKris-pa (quente) e Bad-kan  (frio), cuja simbiose é mantida por rLung . Quando os sete constituintes eos órgãos estão funcionando normalmente, os três fatoresfisiopatológicos trabalham em simbiose para assegurar a saúde, mas nomomento em que as funções normais do corpo são rompidas, os trêstambém são afetados e tornam-se capazes de produzir distúrbiosorgânicos maiores. Os médicos tibetanos identificam as negatividadesmentais como a inveja, o ódio e o medo, quando se tornam habituais,

capazes de iniciar mudanças orgânicas suscetíveis à doença. Asemoções afetam a dilatação ou a contração das artérias, através denervos vasomotores. São, portanto, acompanhadas por alterações nacirculação sanguínea. O prazer faz com que a pele torne-se rubra. Omedo torna-a pálida. Os estados afetivos inibem ou estimulam assecreções glandulares ou modificam sua constituição química. A forma eas linhas da face e da boca são determinadas pela condição habitual dos

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músculos. O estado destes músculos, pele e cabelos depende danutrição dos tecidos, que por sua vez é regulada pela composição doplasma sangüíneo, através dos sistemas glandular e digestivo. Asuperfície da pele reflete, em mais de uma maneira, as condições dasglândulas endócrinas, do estômago, do intestino e do sistema nervoso.Estas mudanças no corpo são monitoradas pelas artérias, que controlamas mudanças e atividades orgânicas.

Na medicina tântrica ou espiritual, enfatiza-se primariamente oselementos, os canais e as estruturas essenciais sutis. Os canais

psíquicos consistem de três tipos principais conhecidos como: central,direito e esquerdo, com 72000 ramos ou canais secundários em todo ocorpo. O canal central ascende do coração ao topo da cabeça e desceaté o ponto entre as sobrancelhas. Descende do coração até o meio dacabeça do pênis ou até a vagina. À direita e à esquerda do canal decontrole estão localizados outros dois que o contraem, não apenascomprimindo-o entre eles, mas também circundando-o em cada um doscentros de canais, três vezes no coração e menos nos outros centros.Há cinco centros de canais principais no corpo: topo da cabeça,garganta, coração, umbigo e genitália. Em conseqüência desta firmeconstricção, durante a vida comum, as correntes de rLung  não semovimentam para cima e para baixo dentro deste canal central. Nomomento, rLung  flui no corpo de um ser comum através da maioria doscanais, exceto do central. Por rLung  ser impuro, os vários estadosmentais que sustenta também são impuros. O propósito das práticastântricas é basicamente possibilitar que rLung seja coletado nos canaisdireito e esquerdo de todo o corpo e depois que se dissolva no canal

central. Quando isto acontece, a constricção sobre o canal central éremovida e surge um estado de consciência puro, capaz decompreender a verdadeira natureza das coisas. Deste modo, as causasgrosseiras de negatividades físicas e mentais são separadas docontinuum da mente.

O leitor deve ter observado que, dentre os três fatoresfisiopatológicos, rLung  está relacionado principalmente com nosso

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estado de saúde mental e físico. Tanto os textos médicos comofilosóficos dão forte ênfase sobre rLung  ou às correntes psíquicas deenergia e muito da psiquiatria tibetana está relacionada com asmanifestações e tratamentos das rupturas e bloqueios no fluxo de rLung .Este atua como base para a normalidade da atividade nervosa, muscularlisa e estriada, vascular e do transporte de membrana. A um nível sutil,rLung  serve como base para a consciência sensorial mental e destaforma ele abrange a mente, mas não está limitado pela mesma. A menteestá inseparavelmente unida ao corpo, através da intermediação de

rLung . Portanto, o distúrbio mental reflete-se em uma alteração de seufluxo, particularmente do rLung sustentador da vida, que é um dos cincotipos de rLung .

As doenças mentais são descritas dentro de duas seçõesprincipais dos textos médicos tibetanos: a categoria geral das doençasde rLung  e a categoria das psicoses. São numerosas patologias,variando em grau de severidade, com etiologias, patogêneses, sintomase sinais distintos. Os distúrbios iniciais surgem das perturbações no fluxode rLung através de seus canais ou trajetórias naturais. A repetição dodistúrbio, entretanto, conduz a uma elevação de rLung  além de seuslimites normais, mas ainda confinado a seus canais naturais. Estes doisprocessos iniciais de distúrbio e agravamento por elevação sãogeralmente inseparáveis; juntos, resultam em alterações funcionaisdaqueles sistemas orgânicos que são predominantemente rLung  pornatureza. Com perturbação e agravamento continuados, rLung eleva-sealém do ponto crítico, em conseqüência do que transborda de seuscanais naturais, perturbando os outros dois fatores fisiopatológicos,

assim como os processos fisiológicos dependentes deles. De formasimilar, se um dos outros dois fatores é perturbado e agravado, tambémtransbordará e afetará a circulação de rLung , levando à manifestação desintomas de redução deste fator. São incluídos como causas gerais dedesequilíbrio de rLung  os padrões comportamentais e dietasinadequadas, fatores sazonais, medicamentos impróprios, substânciastóxicas, forças externas e a realização de ações negativas (karma).

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Algumas destas causas são avaliadas através de questionamento ouraciocínio, outras, como a influência de forças externas, são deduzíveisatravés do exame e outras ainda, como a realização de ações negativas,são avaliadas por suposição, quando todas as outras causas estãoausentes.

Certos fatores comportamentais podem servir como agentespatológicos na formação, elevação e destruição de rLung . Representamextremos de comportamento físico e mental que influenciam diretamentesua circulação no corpo, tanto com ramificações físicas como mentais.

Como mencionei anteriormente, muitos de nossos problemas desaúde podem ser consideravelmente reduzidos se aprendermos aidentificar o stress em um estágio precoce. A chave está freqüentementena observação dos sinais e sintomas que são freqüentes e conhecidoscomo queixas não específicas para profissionais de saúde ocidentais. Oindivíduo que sofre de um ou mais destes sintomas sente que algo estáerrado, mas o médico geralmente é incapaz de fazer um diagnósticodefinitivo. Estas queixas não-específicas na medicina tibetana estãoassociadas com a ruptura de rLung . Estes sintomas e sinais merecemmais atenção quando aparecem freqüentemente de tal forma que oindivíduo pode perceber a anormalidade de sua condição. Há dois tiposde sintomas e sinais principais: fisiológicos e psicológicos. Quando estãopresentes mais que três sintomas comuns na categoria psicológica, istopoderia significar que você está predisposto ao stress e às doençasassociadas ao mesmo.

Os sintomas e sinais psicológicos comuns são os seguintes:-impaciência, descontentamento

-mente dispersa e instável-depressão-acessos de raiva-esquecimento

Os sintomas e sinais fisiológicos comuns são os seguintes:-zumbido nos ouvidos-suspiros e lamentações

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-vertigem-língua vermelha, seca e áspera, com sabor adstringente mesmo quandonão ingeriu nenhum alimento-dores difusas e irregulares-frio e calafrios-preguiça-sente como se os ossos estivessem quebrados e arrepios-insônia-náuseas sem vômitos

-distensão gástrica e ruídos abdominaisA maioria ou muitos destes sintomas e sinais mencionados,

entretanto, podem estar associados com distúrbios no padrão normal dealimentação, respiração, hábitos sexuais e de relaxamento. Por exemplo,quando uma pessoa não respira adequadamente, o suprimento deoxigênio que o sangue obtém nos pulmões está reduzido. Poucaspessoas aproveitam seu tempo para melhorar seus hábitos respiratóriospraticando respiração profunda de uma maneira sistemática. Se arespiração adequada é praticada regularmente, torna-se eventualmentenatural e auxilia no relaxamento. Aprender, na prática, novos hábitosfuncionais é um modo excelente de começar a estabelecer um modelosobre os cuidados preventivos à saúde.

A maneira de diagnosticar o stress ou distúrbios relacionadosatravés da leitura do pulso pode tornar-se efetivo, com a prática. Sintasua artéria distal do pulso (artéria radial) no punho esquerdo e direito.Examine primeiro o pulso superficial com a pontas dos dedos indicador,médio e anelar. Quando você sente um batimento superficial intenso,

elevado, permaneça sobre ele por um instante e então aplique maispressão para ver se o pulso colaba. Se isto ocorrer estará indicando queexistem condições orientadas ao stress ou rLung , particularmente se istoocorre sob todos os dedos. Você pode confirmar a severidade dacondição aplicando pressão sobre os seguintes pontos na colunavertebral. Estas são zonas relacionadas com rLung  ou condições destress:

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-6ª vértebra cervical-5ª vértebra torácica-6ª vértebra torácica-manúbrio esternal

Os métodos mais importantes de controle do stress ou de rLung  são certas técnicas meditativas. Tanto os textos médicos comofilosóficos descrevem práticas, partindo das gerais até as específicas.Entretanto, há muitos conceitos errôneos sobre meditação. Atualmente,está se tornando evidente que um indivíduo experimenta estados

mentais diferentes daqueles que experimenta comumente no seu dia adia; isto tem sido identificado como estados alterados da consciência. Ameditação em um sentido real é um estado alterado de consciência queutiliza um objeto específico de inquirição para obter discernimentos maisprofundos da natureza da mente e de seu objeto. Neste sentido, mesmoa leitura de um livro com certo grau de concentração é uma forma demeditar, conhecida como meditação analítica. Entretanto, quandofalamos de meditação em geral, estamos invariavelmente pensando emoutro tipo conhecido como meditação formal.

O relaxamento através da meditação não ocorreespontaneamente e precisa ser aprendida. O principal propósito destastécnicas na área da saúde é ensinar as pessoas a exercerem controlesobre suas funções fisiológicas involuntárias ou autônomas. Estabelecera regulação voluntária de uma função biológica envolve o uso de estadospsicológicos internos. Com frequência, a regulação voluntária dosestados internos permite que os pacientes tenham um alívio dossintomas provenientes do distúrbio psíquico, através de seus próprios

esforços.Pesquisas recentes conduzidas por um grupo de médicos ecientistas, em Harvard, revelaram que uma simples técnica meditativapode auxiliar na redução de todos os principais sintomas e até mesmodiminuir as contrações cardíacas irregulares, insônia, tensão, cefaléia,enxaqueca e hipertensão. De acordo com pesquisadores, as técnicasmeditativas são um complemento natural na luta e na resposta à luta.

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Considerando que a resposta à luta é instintiva e nos prepara paraenfrentar os perigos, com mudanças fisiológicas como a elevação dosritmos cardíaco e respiratório, da pressão sanguínea e do fluxo desangue para os músculos, as técnicas meditativas contra-atacam oaumento do metabolismo e normalizam estas funções.

Os experimentos com biofeedback  começaram com efeitosmusculares esqueléticos evidentes e estenderam-se posteriormente parao sistema nervoso autônomo, por meio do qual não apenas ocomportamento muscular voluntário mas também involuntário de uma

pessoa pode ser alterado em certas condições. Apesar do homem estarconsciente há muito tempo de que os músculos esqueléticos sãocomandados pelos nervos voluntários agindo através do cérebro, apenasrecentemente ele aprendeu que pode controlar suas respostasvoluntárias. A cultura tibetana pode indiscutivelmente afirmar sua imensahabilidade na teoria e prática da meditação. Enquanto as meditaçõesorientadas para a mente são, principalmente, espirituais e auxiliares naremoção das negatividades mentais, as quais evitam que a menteperceba a verdadeira natureza da existência, as meditações orientadaspara a saúde asseguram principalmente o funcionamento adequado dostrês processos fisiopatológicos de tal modo que, mesmo que tenhamcapacidade de produzir doenças, seus potenciais sejam utilizados paramanter a saúde. A teoria que apóia a eficácia da meditação acredita quea parte central do cérebro – o hipotálamo, que exerce algum controlesobre o sistema imune e é governado pelos nervos – esteja envolvida.Provavelmente, alguma espécie de alteração energético-fisiológica,causada por vários tipos de estados mentais positivos gerados pela

meditação, é percebida pelo hipotálamo que por sua vez efetuaestímulos aos sistemas imune e outros. Conseqüentemente, ocorre umaredução no ritmo respiratório, na atividade do sistema nervoso simpático,no metabolismo corporal, no fluxo de sangue para os músculos, no ritmocardíaco e na pressão arterial. As técnicas meditativas adotadas emHarvard, as quais gostaria de discutir brevemente, são essencialmente

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uma prática simples que consiste de quatro requisitos principais. Sãoeles:-um ambiente tranquilo-um objeto sobre o qual discorrer, um som, uma palavra, uma breveoração ou um objeto para fitar-uma atitude passiva, na qual pensamentos ao acaso entrem na mente,mas não permaneçam, e sejam deixados para que passem adiante-uma posição confortável

O sucesso desta técnica tem fundamentado pesquisas

posteriores utilizando-se a meditação para propósitos terapêuticos.Na tradição budista, a característica essencial mais importante é

a profunda alteração necessária no sistema de convicções do indivíduoque não necessitam estar associadas estritamente com a religião. Emtodas as formas de sistemas meditativos, a consciência é consideradaprimária e a mente é reconhecida como portadora da habilidade deamplificar um pensamento ou uma emoção a tal extensão de modo arealizar certas funções corporais. Por isso, todas as práticas meditativas,sejam de orientação espiritual ou terapêutica, devem ser precedidas poruma sessão geradora de motivação. Aqueles que estão familiarizadoscom a prática da meditação realizarão a motivação ou identificação deque a prática é fundamental para seu sucesso em qualquer condição.Entretanto, tal sessão pode e deve ser incorporada apenas quando seobteve um certo grau de familiaridade com o assunto, com os váriosaspectos e com o processo da meditação.

Motivação é basicamente definir o propósito de se empenhar nageração de um estado modificado de consciência. Uma vez que nosso

interesse aqui é identificar o papel de tal prática nos processosterapêuticos, a motivação deve ser gerada sobre padrões depensamento semelhantes. Isto pode ser feito de modo simples e eficazpela meditação em sua respiração. Inale o ar pela sua narina direita,enquanto bloqueia a esquerda com os dedos. Visualize o ar curativo decoloração branca fluindo através de todo seu corpo, a partir da narinadireita para a cabeça e daí para toda a região inferior do corpo. O ar

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branco e curativo deve ser originado de seu médico, de seu deuspessoal ou de uma divindade. Em sua trajetória por todas a regiões docorpo, ele deve recolher todas as condições e os agentes patológicos esoltá-los pela narina esquerda. Repita esta prática, ao contrário. Aduração deve ser menor que dez minutos. Se a mente pode controlarcertas funções autônomas do corpo, há razões para crer que tal práticapossa auxiliar de alguma maneira para proporcionar um bem estar geralao indivíduo e condicionar sua reação à doença de uma maneira maispositiva.

A questão de manter um estado passivo da mente durante ameditação é discutível e deve ser esclarecido. Enquanto, no início, talestado mental, onde pensamentos ao acaso surgem e nenhuma luta éencorajada para evitá-los, auxilia a mente a se estabelecer, após umcerto período de tempo, quando o indivíduo adquire certa habilidade, amente deve ser ativada pois, de outro modo, ela se tornará letárgica. Aatividade mental é possível apenas com exercício mental. A inteligênciaprecisa ser moldada pelo hábito do pensamento lógico. Todo serhumano nasce com diferentes capacidades intelectuais. Mas estaspotencialidades grandes ou pequenas requerem exercícios constantes.Este poder é aumentado pelo hábito do raciocínio preciso, o estudo dalógica, disciplina mental e profunda observação. Ao contrário,observações superficiais, uma rápida sucessão de impressões e a faltade disciplina mental impedirão o desenvolvimento da mente. Assimcomo todas as atividades fisiológicas melhoram com o trabalho, damesma forma ocorre com as funções mentais. Um órgão atrofia quandonão utilizado; e assim é a mente. Quando ativada e produzida para

interagir em harmonia com os processos fisiopatológicos do corpo,ocorre um desenvolvimento ótimo do indivíduo.Outra área de interesse refere-se à yoga e às maneiras como

está indicada para propósitos terapêuticos no sistema médico tibetano.Este tipo especial é conhecido como meditação com exercícios ouYantra Yoga em sânscrito.

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O princípio da Yantra Yoga baseia-se na teoria de que a mentepode ser desenvolvida a níveis mais elevados apenas se as energiasfísicas e psíquicas do corpo estiverem funcionando em simbiose. Paraque isto ocorra, médicos e mestres tântricos antigos aconselhavam oYantra Yoga. A característica principal da prática envolve várias formasde meditação com exercícios físicos. Entretanto, quando tais práticassão empregadas para propósitos terapêuticos, são necessáriasmoderação na dieta e no comportamento social.

O alcance da Yantra Yoga integrada como método terapêutico

auxiliar pode e deve ser examinado. É uma disciplina completa em simesma e pode ser possível, até mesmo, utilizar técnicas simplificadasem nossa vida diária. Por exemplo, uma vez que sejamos capazes demeditar com habilidade deve ser possível estender a prática mesmodurante a prática de  jogging  ou natação. A concentração sobre acadência das passadas ou da respiração pode produzir respostassemelhantes àquelas das técnicas tradicionais de Yantra Yoga.

É necessária hoje uma nova visão da realidade: certas mudançasem nossos pensamentos, percepções e valores. Os sinais encorajadoressurgem no horizonte e a substituição do mecanicismo por um conceitoholístico da realidade estão começando a emergir.

A mudança é inevitável, pois é uma lei da natureza, que todas ascoisas realizem transformações e isto é verdadeiro para a totalidade dosaspectos da existência. E ainda, na medicina, seria desejável que algumsistema possa complementar o sistema ortodoxo de medicina ocidental,o qual apesar de tudo é o único universalmente reconhecido. Nesteestágio, o objetivo de sistemas como o tibetano é identificar áreas como

a psiquiatria, as relações médico-paciente, os cuidados com umpaciente, o tratamento medicamentoso, as formas de lidar com pacientesterminais e outros, e observar como seus próprios métodos tradicionaispodem ser modificados para servir possivelmente como método adjuntode terapia na prática da medicina ocidental.

O princípio básico da medicina e da própria realidade da vida, emresumo, está baseado na compaixão e na sabedoria de acordo com os

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antigos sábios e médicos. Todo indivíduo tem direito à saúde e àfelicidade e o papel dos médicos e daqueles que trabalham na área desaúde é ajudar no que for possível. Mas um médico pode ser genuíno eeficiente somente quando capaz de se relacionar com o paciente. Esterelacionamento deve ser mútuo e o será apenas se o primeiro forcompassivo e compreensivo, uma vez que o paciente vem até ele comum grau de total dependência. A própria compaixão pode servir comoum intermediário entre as pessoas, mas isoladamente o relacionamentonão pode ser significativo e objetivo, pois não está acompanhado pela

sabedoria para canalizá-lo através dos caminhos e da perspectivaadequados.

3. A MENTE E AS DOENÇAS MENTAIS NA MEDICINATIBETANA

1. IntroduçãoO sistema médico-religioso-filosófico tradicional asiático do

pensamento compartilha uma crença fundamental na existência de umaforça vital ou energia que permeia o organismo humano. Denominada

Prana, em sânscrito, e Ch'i , em chinês, esta força vital move-se noscanais de todo o corpo, fundamentando o processo psico-fisiológico.Esta energia é dissolvida na morte, bloqueada ou rompida na doença ecanalizada ou controlada na prática da meditação. Uma energia similartambém foi postulada pelos praticantes ocidentais de teorias como abioenergética.

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Prana e ch'i  têm sido comparados com fenômenos como arespiração, o ar, o vento ou a força vital criativa. Em um sentido maispreciso, estes são apenas aspectos de uma energia mais universal."Todas as forças do universo, como aquelas da mente humana,provenientes da mais elevada consciência, das profundidades dosubconsciente, são modificações de prana. Este conceito, portanto, nãopode ser comparado à respiração física, apesar de "respiração" (prana,no sentido mais restrito) ser uma das muitas funções nas quais estaforça universal e primordial se manifesta". (Govinda, 1960, pág. 137). A

respiração serve como meio de extração desta energia do ambiente(Evans-Wentz, 1958, pág. 126) e, portanto, o controle do processorespiratório durante a meditação é um dos meios de alterar o movimentode prana.

Os chineses consideram este conceito de forma similar. "Outroconceito fundamental e essencial da teoria psiquiátrica e médica chinesaé a teoria holística e dinâmica que considera tanto a saúde como a doen-ça de acordo com formulações tradicionais que as descrevem em termosde fluxo e impedimento de fluxo de energia vital através do corpo. Estaenergia vital denominada ch'i pode ter qualquer ou todas as conotaçõescomo vento, ar, respiração ou energia. Evidentemente, como ar, éindispensável para a manutenção da vida. O caractere chinês para ch'i ,que literalmente significa "gás" ou "ar", também contém umainterpretação modificada de "grão" ou "arroz". Portanto, ar e alimento juntos no corpo, como simbolizado no ideograma, sugerem o processode combustão ou metabolismo que produz energia" (Kao, 1977, pág. 13).

Tradicionalmente, prana é descrito de acordo com três aspectos -

a própria energia fundamental, os canais nos quais se movimenta e osmovimentos ou correntes dentro destes canais. A energia fundamental éconceitualizada como a fonte da vida, freqüentemente simbolizada pelosêmen, "que é a semente de todas as formas adquiridas pelo ser" (Rao,1979, pág. 53). Permeia todas as coisas e por si só já é indefinível. "Masem sua própria essência e natureza inalienável é 'nada', 'zero'. Faltam-

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lhe as dimensões da existência e, portanto, não é compreendido" (Rao,1979, pág. 13)

Os canais através dos quais esta energia se movimenta sãodenominados nadis , em sânscrito, e tsas , em tibetano. Estes caminhoscriam uma espécie de sistema nervoso psíquico cuja anatomia é bemconhecida por todos os praticantes de medicina tântrica. Os chinesestambém postulam a existência dos canais de energia no corpo atravésdos quais ch'i se movimenta (estes canais geralmente são referidoscomo "meridianos").

O movimento desta energia no interior dos canais do organismohumano é denominado vayu , em sânscrito, e rLung , em tibetano. Vayu éderivada da palavra raiz va, que significa "respirar, "fluir", referindo-se àforça motora de prana. Estes "vayu ... controlam as funções corporais e,portanto, cada um têm seu sítio e função. A saúde, essencial para oiogue, depende da conservação de cada ar vital dentro de sua normali-dade, ou em seu próprio canal de operação" (Evans-Wentz, 1958, pág.132).

A tradição tibetana tem provado, explorado e descrito, tãoprofundamente como nenhuma outra, os complexos padrões destaenergia. Ambos os textos médicos e filosóficos enfatizam fortementeestas correntes de energia psíquica e grande parte da medicina e dapsiquiatria tibetanas está relacionada com as manifestações etratamento das falhas ou bloqueios no fluxo de prana. Portanto, quando atradição tibetana refere-se à rLung , está considerando o movimento ou ofluxo desta energia dentro de caminhos existentes no ser humano.

De fato, quando a medicina tibetana é examinada com uma visão

dirigida às descrições das doenças mentais a discussão evidentementeenfoca como estas correntes de prana funcionam na saúde e na doença.Os textos médicos tibetanos estão repletos com descrições dasmanifestações da disfunção do fluxo prânico e os textos religiososTântricos elucidam extensivamente a reorganização destas correntesque ocorrem na meditação ou na morte. Uma compreensão da

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abordagem à mente não é possível sem uma apreensão do caráterdestas correntes prânicas.

2. Sistemas de PsicologiaOs conceitos tibetanos de personalidade derivam de dois ramos

maiores dos textos budistas: Os ensinamentos tântricos sobre anatureza da mente (particularmente naqueles denominados "mais eleva-dos") e o sistema sutra de Abhidharma. Os ensinamentos tântricosenfatizam os aspectos espirituais e emocionais da mente com referência

particular aos estados sutis da consciência que se manifestam durante amorte, o estado intermediário e o nascimento, e aqueles que sãoespecificamente cultivados em práticas meditativas avançadas (Lati eHopkins, 1979).

O Abhidharma é um sistema de teoria psicológica derivada daobservação passo a passo das ações da mente humana na meditação.Descreve a composição da mente como uma constelação desalubridade, aflição e fatores mentais neutros de qualidades perceptivase afetivas e prossegue analisando a restruturação radical dos conteúdosmentais que ocorrem através da prática da meditação. Dos três tipos defatores mentais, os aflitivos (tais como a ganância, o ódio, o orgulho, ainveja, a perda de discernimento etc.) são vistos como as causasbásicas, fundamentais das doenças físicas e mentais e somente atravésda prática da meditação é que estes fatores aflitivos podem serarrancados e destruídos (Goleman e Epstein, 1981). Três destes fatoresmentais aflitivos em particular são isolados como as raízes de todos osestados doentios da mente: o desejo, ou apego (agarrar-se a objetos ouexperiências agradáveis), o ódio, a raiva ou a agressão (repelir ou evitarobjetos ou experiências desagradáveis) e a ignorância ou confusão (nãocompreender claramente a natureza de um objeto ou experiência).

A saúde mental é definida como uma mente livre das influênciasdos fatores mentais aflitivos e este é o objetivo do processo demeditação. Para aqueles que não realizaram este objetivo, uma certaquantidade de desarmonia mental é inevitável. Considerando-se a

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questão dos distúrbios mentais, a medicina tibetana reconhece aimperfeição da mente não-iluminada e não pretende realizar oimpossível. Portanto, certos estados mentais "menos iluminados" e osdistúrbios são descritos e tratados pela medicina tibetana e asinfluências mentais são prontamente aceitas como fatores contribuintesna etiologia da doença.

Em termos de psicopatologia a classificação de doenças mentaise nervosas ocorrem dentro dos textos médicos principais. A psiquiatria,sob o ponto de vista tibetano, é um aspecto do sistema médico como um

todo. Conceitos de etiologia, métodos diagnósticos e modos detratamento são aplicados da mesma forma tanto para doenças mentaiscomo físicas. Os médicos são treinados para reconhecer e tratardoenças mentais assim como físicas, não há distinção quanto ao tipo deespecialista que fará o tratamento da psicopatologia dentro da profissãomédica.

3. Fundamentos da Medicina TibetanaA. História:

De acordo com fontes históricas, o Tibete abriu suas portas paraas influências religiosas e culturais dos países vizinhos por volta doséculo 7 D.C. O alfabeto tibetano foi adaptado do sânscrito durante oreinado de Srong-btsan sGam-po (627-649) e as primeiras traduções detextos budistas indianos e chineses começaram. Os processos deinvestigação, tradução e preservação dos ensinamentos budistascontinuaram até o século 13, época em que ocorreu uma desaceleraçãocausada pela invasão muçulmana da Índia (e à conseqüente queda dobudismo) e pela ascensão de Gengis Khan na China. Os séculos detransmissão cultural introduziram teorias e práticas médicas ao povotibetano, juntamente com ensinamentos religiosos. Alguns dos maisfamosos entre os primeiros tradutores e líderes religiosos também erammestres na teoria médica.

As origens da medicina tibetana podem ser traçadas desde aConferência organizada pelo acima mencionado rei Srong-btsan sGam-

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po, que convidou médicos da Índia, China e Pérsia. Cada uma das dele-gações de médicos traduziu um texto para o tibetano e colaboraram parao desenvolvimento da medicina com um texto baseado em suasdiscussões durante a conferência. O médico persa Galenos (cujo nomepode refletir a origem grega de seus ensinamentos) permaneceu noTibete para trabalhar como médico da corte (Rechung, 1973, pág. 15).Outra conferência internacional ainda de maior repercussão ocorreudurante o reinado de Kri-srong lDe-btsan (800-815) com representantesda Índia, Kashimir, China, Nepal, Pérsia, Afeganistão e Sinkiang.

Novamente, cada delegação traduziu pelo menos um texto de seusistema médico. Discussões e debates foram realizados em Samye emuitos jovens tibetanos foram escolhidos para que recebessem oconhecimento médico acumulado (entre eles estava um dos maisrenomados médicos do Tibete, gYu-thog Yon-tan mGon-po (786-911).Nesta ocasião, o representante chinês permaneceu no Tibete comomédico da corte (Rechung, 1973; Finckh, 1975).

O texto mais fundamental da medicina tibetana possui quatroseções, 156 capítulos e denomina-se "rGyud-bzhi". O "rGyud-bzhi", cujotítulo por extenso traduz-se como "Os Quatro Tantras Orais SecretosSobre os Oito Ramos da Tradição Médica", é um texto traduzido para otibetano da obra "Amrta Astanga Guhyopadesa Tantra", a qualconsidera-se que tenha sido compilada no século 4 D.C. (Tsarong,1979). A obra original em sânscrito não foi mais encontrada e não restousequer uma referência à mesma na tradição médica indiana (Dash,1976).

O "rGyud-bzhi" mantém-se como o texto médico tibetano mais

popular, mais largamente estudado e freqüentemente comentado. Édividido em quatro partes: a primeira é o Tratado Raiz (que contém umpanorama dos oito grupos de patologias: doenças do corpo, doenças dascrianças, doenças das mulheres, doenças nervosas, lesões corporais,envenenamento, doenças do envelhecimento e fertilidade); a segundaparte é o Tratado Explanatório (que classifica a extensão do diagnóstico,do tratamento e da doença); a terceira é o Tratado da Instrução (que

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descreve cada doença em detalhes, incluindo uma seção sobre doençasmentais e nervosas) e a última é o Tratado Final (que descreve métodosde diagnóstico - anamnese, exame do pulso e da urina - e métodos detratamento – incluindo dieta, alterações comportamentais, medicamentosà base de ervas e moxabustão) (Finckh, 1975). As traduções dasprimeiras seções do "rGyud-bzhi" estão disponíveis (Tsarong, 1981;Dondhen, 1977), mas traduções das seções mais detalhadas não foramcompletadas. Além desta obra fundamental grande número de outrostextos médicos estão disponíveis em forma não traduzida (catalogados

pelo Tibetan Medical Center, Dharamsala, Índia).B. Conceitos:

A medicina tibetana está fundamentalmente relacionada com amanutenção do equilíbrio dos três nyes-pas  (pronuncia-se "niei-bas"),literalmente, os três "defeitos", "falhas" ou "formas de punição". Estesnyes-pas possuem função dualística: quando conservados em equilíbriomantém a saúde física e mental; mas quando alterados, elevados oureduzidos agem como causas de doenças. O nyes-pa é consideradoessencial para a vida e pela continuidade do complexo mente-corpo, eainda são sempre considerados potenciais causadores de doenças.Compatível com o ponto de vista budista de que a existência em sicontém a semente do sofrimento, o nyes-pa representa os processosessenciais do corpo que se tornam também "defeitos".

Os três nyes-pas  são denominados, respectivamente, rLung  (pronuncia-se "lung"), mKris-pa (pronuncia-se "tripa") e Bad-kan  (pronuncia-se "beiguen"). As traduções comuns como "vento", "bile" e"fleuma" podem ser empregadas apenas para auxiliar, pois indicam de

forma grosseira as qualidades gerais dos três nyes-pas . Por outro lado,seu uso é prejudicial pois tende a criar impressões entre os ocidentaisque não existem entre os médicos e estudiosos tibetanos. Melhor descri-tos por suas propriedades, os três nyes-pas  representam processosfísicos cuja interação harmoniosa é necessária para a vida, desde o nívelcelular até o orgânico.

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Descreve-se prana como estando em fluxo contínuo. Estemovimento é denominado rLung cujas qualidades são: áspero, leve, frio,móvel, compacto e sutil. Constituindo-se de correntes prânicas, é maispredominante naqueles processos corporais caracterizados pormovimento ou fluxo (tais como os sistemas nervoso, vascular oumuscular). mKris-pa possui as seguintes qualidades: quente, gorduroso,penetrante, leve, depurativo e úmido. Predomina nos processos corpo-rais caracterizados pela geração de calor ou produção de energia (taiscomo digestão e metabolismo). Bad-kan  possui como qualidades:

gorduroso, frio, pesado, embotado, mole, firme e pegajoso. É maispredominante nos processos corporais caracterizados por resfriamento,lubrificação e conservação de energia (tais como termo-regulação, fluidosinovial, produção de muco, sono e certas fases da digestão). De acordocom a medicina tibetana, quando um determinado nyes-pa é perturbado,aqueles processos corporais mais característicos do mesmo tendem arefletir o distúrbio (Touw, 1980).

A medicina tibetana finalmente atribui os desequilíbrios dequaisquer dos três nyes-pas  a causas psicológicas. Os três nyes-pas  possuem suas origens nos três fatores mentais aflitivos que servemcomo raízes de todos os estados mentais doentios, os quais na teoriabudista agem como a base do nascimento na existência cíclica.

"A realidade do nascimento de um indivíduo é um reflexodo fato de estarmos sujeitos às doenças. Nascemos comoconseqüência do fato de possuirmos a ignorância – sendo esta acausa distante de todas as doenças. Portanto, nosso nascimento é

um reflexo do fato de estarmos sujeitos a distúrbios causados pelaignorância - uma falha na compreensão de como as coisasrealmente são. Esta má compreensão da natureza das coisas geraoutros tipos de estados negativos da mente. Por exemplo, por causada ignorância geramos embotamento mental, um tipo de ignorânciaque nos torna incapazes de reconhecermos as falhas, asnegatividades e as fraquezas que temos. Conseqüentemente, são

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produzidos os outros quatro tipos de disposições mentais – odesejo, o ódio, o orgulho e a inveja – que dão origem as manifesta-ções físicas na forma dos três nyes-pas . A natureza ou ascaracterísticas do desejo correspondem na realidade as correntesvitais, ou seja, rLung e por causa desta correspondência, o desejoproduz doenças de rLung . O ódio é como o fogo, extremamenteenergético, e desta energia surgem as doenças de mKris-pa. Doembotamento, que é profundo, pesado, obscuro, lento, são geradasas doenças de Bad-kan ...que correspondem ao peso do

obscurecimento mental" (Dhonden, 1974).

Portanto, a teoria psicológica do Abhidharma está ligada àsteorias médicas dos três nyes-pas  e os estados doentios são vistoscomo cristalizações dos estados mentais predominantes.

4. Mente, Consciência e rLungPara compreendermos a doença mental do ponto de vista da

medicina tibetana é essencial obtermos a compreensão da natureza, daspropriedades e funções de rLung . De fato, de acordo com a teoriamédica tibetana, o funcionamento natural, intrínseco da mente dependedo equilíbrio das correntes prânicas. A mente não possui apenas anatureza leve e flutuante de rLung , mas a consciência em si depende derLung para atingir com sucesso sua meta que é estar consciente.

De acordo com a teoria psicológica, cada momento deconsciência depende do surgimento simultâneo de três fatores: umobjeto de um dos cinco sentidos ou da mente, o sentido ou a faculdademental e uma consciência específica direcionada a um dos cincosentidos ou à mente, que tem a função de "identificar" a percepção. Porexemplo, um momento de consciência visual depende do objeto visual,da faculdade sensorial do olho e da consciência da sensação; um mo-mento de consciência mental depende do objeto mental (pensamentosou emoções que são categorizados sob a rubrica de "fatores mentais"),

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da mente que gera o pensamento e da faculdade da consciência direcio-nada ao evento mental, e assim por diante.

A teoria médica tibetana afirma que rLung  age como umintermediário para a consciência, facilitando suas ações e possibilitandoque ela se movimente de objeto a objeto. "O modo de agir de rLung  como base ou suporte da consciência é exemplificado pelo cavaloservindo de suporte ao cavaleiro" (Lati Rimpoche, 1979, pág. 32). Nestesentido, a consciência é transportada pelas correntes de rLung , poismuda constantemente de objeto. Sem o veículo de rLung esta variação

de objetos não poderia ocorrer.A teoria tibetana sustenta que a mente, a consciência e rLung  

podem todos ser descritos ao lado de um continuum de corporalidade, apartir do mais grosseiro e mais físico ao mais sutil e mais etéreo. Mente,por exemplo é descrita em termos das faculdades grosseiras dasensação física, das faculdades sutis do pensamento e da emoção e damente que persiste no estado intermediário, servindo como base para onascimento. rLung é categorizado junto ao continuum físico, ao sutil e aosutilíssimo (exemplos serão fornecidos).

As cinco principais subdivisões representam as diferentescorrentes prânicas que sustentam o organismo psicofísico.4.1. Corrente de Sustentação da Vida: Do ponto de vista das doençasmentais, esta corrente é a mais importante. Sua fonte está localizadavariavelmente no topo da cabeça ou no coração, mas em todos os ca-sos, circula entre a cabeça e o tórax. Ela possibilita a deglutição dosalimentos, a respiração e o ato de espirrar e cuspir a saliva. “Proporcionatambém clareza à sua mente e aos órgãos sensoriais e ... fornece a base

física para a vida se alojar. Literalmente, proporciona a base física para amente” (Dhonden, 1980). A corrente de Sustentação da Vida em si podese dividir em cinco consciências sensoriais associadas com visão, audi-ção, olfato, paladar e tato. Estas formas secundárias servem como“auxílio na apreensão de objetos através das cinco consciênciassensoriais” (Lati e Hopkins, 1979, pág. 66). A um nível sutil, a correntede sustentação da vida serve como base para a consciência mental

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conceitual (Lati e Hopkins, 1979, pág. 32, 47), e a um nível mais sutil, éeste aspecto de prana que sustenta a mente mais sutil, aquela quepassa desta existência para a próxima, através do estado intermediário,o bardo ,4.2. Corrente Ascendente: Localizada no tórax, mas circula através dasregiões do nariz, da língua e da garganta. Sua função é proporcionarvigor ao corpo e, de maneira semelhante, auxiliar no vigor mental atra-vés do auxílio à memória, “possibilitando que o indiví duo reflita sobre oque foi experimentado anteriormente” (Dhonden, 1980). Também

sustenta a fala e a deglutição.4.3. Corrente Difusiva: Localizada variavelmente no coração ou no topoda cabeça, esta corrente pode ser encontrada em todas as partes docorpo, especialmente nas articulações. Auxilia na flexão e extensão dosmembros, na ação muscular, no desenvolvimento físico e nofuncionamento regular das funções corporais em geral, incluindo oprocesso do pensamento.4.4. Corrente Metabólica ou Aquela que Acompanha o Fogo: Localizadano estômago, circula em todas as partes ocas do corpo, incluindo vasossanguíneos e nervos. Após a digestão inicial e a decomposição dosalimentos sólidos, ela auxilia no processo digestivo como um todopossibilitando a absorção do material específico.4.5. Corrente Descendente: Localizada na região pélvica, circula atravésdo trato gastrointestinal, bexiga e órgãos genitais. Controla o mecanismoda produção de sêmen, a ovulação e funções excretoras para acumulare eliminar as excreções, assim como o processo do parto e amenstruação.

Portanto, rLung  funciona como base para a atividade nervosa,hormonal, muscular esquelética, muscular lisa e transporte demembrana. A um nível mais sutil, serve como fundamento para aconsciência mental e sensorial. Como tal, rLung circunda a mente masnão é limitada pela mesma. Pelo contrário, a mente não é vista comoseparada do corpo; está inseparavelmente unida ao corpo através derLung . Assim, o distúrbio mental é visto como um reflexo de uma

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alteração do fluxo de rLung e, do mesmo modo, o desequilíbrio de rLung  em qualquer local dentro do organismo pode produzir desequilíbriosmentais ou emocionais relacionados (cuja natureza exata investi-garemos posteriormente).

5. rLung na Morte e na Meditação 

Em nenhuma parte a teoria de rLung é mais importante do queem sua relação com a experiência da morte. De acordo com osensinamentos do mais elevado Tantra Yoga, o processo da morte deve

ser descrito em termos da dissolução seqüencial dos vários aspectos derLung . “Sobre o colapso em série da capacidade destas correntesprânicas de servirem como base para consciência, os acontecimentosda morte – interna e externa – sucedem-se” (Lati e Hopkins, 1979, pág.13). Na morte, todas as correntes prânicas do corpo dissolvem-se, enfim,na corrente de sustentação da vida mais sutil, que serve como base paraa consciência do estado intermediário (bardo), entre a morte física e orenascimento.

Praticantes do mais elevado Tantra Yoga buscam, através dameditação, refletir conscientemente a experiência da morte realizandodeliberadamente a mesma dissolução da corrente vital que ocorredurante a mesma (Lati e Hopkins, 1979; Chang, 1963). Este difícilprocesso envolve a obtenção de domínio sobre as correntes de prana,imitando as muitas alterações de consciência que ocorrem durante amorte, como descreve a teoria tântrica. “Psicologicamente, pelo fato daconsciência variar do mais grosseiro ao mais sutil dependendo dascorrentes prânicas, como um cavaleiro sobre um cavalo, sua dissoluçãoou perda da capacidade de servir como base para a consciência produzmudanças na experiência consciente” (Lati e Hopkins, 1979, pág. 15).Através da realização destas experiências na meditação, obtém-sefamiliaridade com o processo da morte. A perfeição desta Yoga,portanto, permite o domínio sobre a morte, a transformação do prana dasustentação da vida mais sutil na base da “luz clara metafórica” e do“corpo ilusório”- e a subseqüente liberdade do renascimento (Lati e

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Hopkins, 1972, pág. 71-72). Estas descrições constituem a essência deobras como “O Livro dos Mortos Tibetano” e muito considerado pela

teoria que existe por trás das práticas meditativas Tântricas.

6. Doenças de rLung 

As doenças mentais são descritas dentro de duas seções dosTantras médicos tibetanos: a categoria das doenças de rLung em geral ea categoria “insanidade” ( em tibetano smyo ). Para apreciarmos aconcepção tibetana de distúrbio mental é necessário compreendermos

em alguma profundidade os conceitos tibetanos sobre a natureza,etiologia e sintomas das doenças de rLung .6.1. Etiologia: De acordo com a medicina tibetana, as doenças do fluxode prana são numerosas, cada distúrbio variando em graus deseveridade. Considera-se que distúrbios iniciais de desequilíbrios nofluxo de prana surjam através de seus canais naturais. A repetidaperturbação, entretanto, leva a uma elevação de rLung , além de suaquantidade normal, mas ainda confinado em seus canais naturais. Estesdois processos (de perturbação inicial e elevação anormal) são em geralinseparáveis; juntos resultam em alterações das funções destessistemas orgânicos que são predominantemente de natureza rLung .Com a continuidade da perturbação, este eleva-se além de um pontocrítico e, conseqüentemente, extravasa de seus canais naturais,perturbando os outros dois nyes-pa, assim como os processos corporaisdependentes dos mesmos. De maneira semelhante, se um dos outrosnyes-pas  é perturbado e elevado, extravasa e afeta a circulação derLung , causando sintomas de redução deste último. As causas gerais dedesequilíbrio de rLung  incluem: dieta ou padrões comportamentaisinadequados, fatores sazonais, medicamentos incorretos, venenos,forças externas prejudiciais e a realização de ações negativas (Dhonden,1980). Algumas destas causas (tais como fatores dietéticos, sazonais,comportamentais e tóxicos) são definidos através do questionamento edo raciocínio; alguns (tais como a influência de forças externas) sãodeduzíveis através do exame e outros (tais como a realização de ações

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negativas) são suposições quando todas as outras causas estiverem au-sentes.

Certos fatores comportamentais servem como agentespatológicos na formação, elevação e distúrbio de rLung . Representam osextremos do comportamento físico e mental que influenciam diretamentena circulação de rLung no corpo, com ramificações tanto físicas comomentais. Estes fatores incluem:-dieta pobre (por exemplo, manteiga, alimentos leves ou ásperos emexcesso, tais como, café, pepino, chá forte ou carne de porco)

-relações sexuais em excesso-alimentação insuficiente ou jejum prolongado-insônia-esforço físico, oral e mental ou exercícios em jejum-"pensamentos físicos" (pensar sobre algo durante muito tempo semfazer nada realmente relacionado a isso, Dhonden, 1980)-hemorragia-vômitos ou diarréia em excesso-exposição ao frio, tal como brisas-perda de apetite-tristeza ou alegria em excesso-depressão (especialmente como resultado de um desejo frustrado)-má-nutrição-esforço na eliminação de excreções, retenção forçada dos mesmos,eliminação excessivamente forçada de saliva ou espirros6.2. Categorias: Há um total de sessenta e três diferentes doenças derLung, cada uma delas descritas em termos dos complexos sintomas

que as compreendem. Destas sessenta e três doenças, quarenta e oitopertencem à categoria de patologias gerais, graves o suficiente paraafetar um sistema orgânico em particular, enquanto quinze delaspertencem a uma categoria específica que compreende distúrbios nofuncionamento e no equilíbrio dos cinco tipos de rLung detalhados naparte 4.

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A categoria de doenças gerais é sumariamente descrita emtermos de seus efeitos sobre o crânio, o coração, pulmão, intestinogrosso, rins, fígado, estômago ou todo o corpo. Quando há muitoexistente, o extravasamento de rLung a partir de seus canais naturaisproduz distúrbios caracterizados principalmente por sintomasneurológicos (incluindo rigidez muscular, espasmo, enfraquecimento,edema/distensão, limitação dos movimentos dos membros, dores, perdada função sensorial, dormência, formigamento e coma).

A categoria de doenças específicas são resumidas em termos

das manifestações dos distúrbios de cada uma das cinco correntesprânicas principais. Os complexos sintomáticos específicos refletem odesequilíbrio de correntes prânicas específicas de maneira que serãodetalhadas sumariamente.6.3. Sintomas: Ficou claro que o espectro de distúrbios do fluxo de prana abrange muito mais do que apenas desequilíbrios mentais. Os textosmédicos tibetanos contém descrições detalhadas dos sintomas quecaracterizam a deterioração física, resultante do distúrbio de rLung .Dentro destas listas estão uma infinidade de sintomas definidos pelosprofissionais de saúde ocidentais como “queixas inespecíficas”. O

indivíduo, sofrendo de um ou mais destes sintomas, sente que algo estáerrado – mas o médico ocidental com frequência não é capaz de fazerum diagnóstico definido. Quando reconhece que os fatorescomportamentais e dietéticos podem ser agentes etiológicos, os médicostibetanos não rejeitam estes sintomas como “psicossomáticos”, pois para este profissional eles representam reflexos de um distúrbio no fluxo deprana do organismo em questão. Existe uma explicação dentro do

sistema médico tibetano para estas queixas e os pacientes são tratadosadequadamente.Os sintomas dos distúrbios de rLung são os seguintes:

(Para maiores esclarecimentos ver Dhonden e Kelsang, 1977: a gamade sintomas e sinais pode parecer nebulosa, mas de acordo com amedicina tibetana, são indicadores de um desequilíbrio prânico)-pulso: vazio e desgovernado, desaparece quando pressionado

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-urina: clara e aquosa sem qualquer transformação após o resfriamento-inquietação-soluços-mente instável, distraída-vertigem-zumbido-língua: seca, vermelha e áspera com sabor adstringente mesmo quandonenhum alimento foi ingerido-dores difusas e não localizadas

- tremores e calafrios-dores difusas ao movimentar todas as partes do corpo-preguiça-cãibras que inibem a flexão e a extensão dos músculos-sensação como se a carne estivesse separada da pele e os ossosseparados das articulações-sensação de ossos quebrados-sensação de que os órgãos e os olhos estão salientes-sensação de que os membros estão limitados-pele arrepiada-insônia-bocejos, tremores, desejo de espreguiçar-se-raiva-impressão de que ossos e articulações da região pélvica foramcontundidos-dor nas costas, no peito e na mandíbula-dor nos pontos focais de rLung : primeira, sexta e sétima vértebras,

especialmente quando pressionadas-ânsias de vômitos-distensão gástrica-ruídos abdominais

Os sintomas de elevação grave de rLung  (Dhonden e Kelsang,1977, pág. 83) incluem: ressecamento do corpo, atração por calor,tremores, protusão do abdome, constipação, verborréia, vertigem, perda

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de vigor, insônia e redução da claridade dos sentidos. Os sintomas daredução de rLung  incluem perda de energia, pouca conversação,desconforto físico, perda de memória e atenção, frio, fraqueza digestiva,sensação de peso, preguiça, sono em demasia, dificuldade para respirar,salivação e produção excessiva de muco e frouxidão dos membros.

Para o médico tibetano, a presença de qualquer um dos sintomasfísicos e mentais listados acima é imediatamente sugestivo de umdistúrbio de rLung . Obtém-se a confirmação através da análise do pulso,da urina e do questionamento da presença dos agentes patológicos

listados anteriormente.Às vezes, o conjunto de sintomas, sinais físicos e história pessoal

indica um distúrbio específico de uma das cinco correntes principais:sustentação da vida, ascendente, metabólica ou descendente.Examinaremos alguns destes distúrbios específicos.6.4. Distúrbios do rLung  sustentador da vida: As ansiedades maiscomuns, as depressões menores e as emoções superficiaisincontroláveis são atribuídas ao desequilíbrio ou perturbação primária dacorrente prânica da sustentação da vida ( em tibetano sok -rlung ).Quando esta corrente é seriamente afetada, ou seja, com a invasão deseus canais por outras correntes elevadas, podem surgir sintomasrelativos a um comportamento histérico ou violento. Se gravemente alte-rado, pode ocorrer psicose, como será discutido posteriormente.

As causas da perturbação de sok-rlung incluem esforço mental dequalquer tipo, dieta excessivamente hipoproteica, jejum, permanecerlongos períodos com sensação de fome, esforço físico associado comquaisquer dos fatores acima e eliminação forçada das excreções. É mais

provável que o distúrbio ocorra quando as circunstâncias externas fluemem excesso. Os sintomas de sok -rlung alterado podem incluir vertigemou hiperpnéia, assim como perturbações mentais.

Em resumo, os tibetanos consideram a maioria das ansiedades edepressões em termos de um distúrbio de sok-rlung , na corrente prânicada sustentação da vida que fornece a base física para a mente. Como seafirma que a mente repousa na corrente prânica de sustentação da vida,

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quando esta é perturbada a mente é alterada da mesma forma econseqüentemente sofre um distúrbio.6.5. Sok -rlung  induzido pela meditação: Uma área na qual a culturatibetana pode declarar indiscutível habilidade é na teoria e prática dameditação. Um tipo específico de distúrbio de sok -rlung está associadocom a meditação: é uma complicação da prática inadequada dameditação e é referida simplificadamente como sok-rlung . Os médicos,lamas e instrutores de meditação tibetanos são bem versados nascausas predisponentes, sintomatologia e tratamento desta doença.

Como os ocidentais tornaram-se crescentemente fascinados com ameditação, um reconhecimento preciso da patologia pode provar sernecessário.

De acordo com os tibetanos, este tipo de sok -rlung pode surgircom maior probabilidade nos meditantes inadequadamente instruídosnos métodos destinados a concentrar a mente. Se o objeto da meditaçãonão é agradável ao indivíduo, se a concentração desenvolvida émanchada por estados negativos da mente ou não equilibrada comatenção suficiente ou especialmente, se a mente não está concentradacom o esforço adequado, pode haver o desenvolvimento de sok-rlung . Oúltimo ponto talvez seja o mais importante. Quando se desenvolveesforço na tentativa da mente em concentrar-se no objeto de meditação,ou seja, ao invés de ser suavemente orientada para um único sentido, amente é forçada à submissão, se desliza e contrai-se em sua tentativade concentrar-se, diz-se que ela “se levanta buscando encontrar o

objeto. A corrente prânica na qual está montada eleva-se com a mesma,produzindo os sintomas e sinais de sok-rlung . Este mesmo aumento em

sok-rlung  ocorrerá também quando pensamentos interiores obsessivossobre o progresso na meditação surgirem em uma mente já concentradaa um nível no qual absorções sensoriais externas não mais ocorrem.

O resultado deste desequilíbrio de sok-rlung é um tipo de estadomaníaco no qual a mente se move. Ao invés de se tornar tranqüila comprática da meditação, a mente reage com uma tentativa forçada dedominá-la e torna-se incapaz de se localizar em qualquer objeto. Ela

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salta de tópico para tópico, tornando o indivíduo ansioso, impaciente ecom frequência dramaticamente emocional e insensível a orientação dosprofessores (por causa da incapacidade da mente em concentrar-seefetivamente nas palavras de outras pessoas).

Um professor sensível pode observar melhor o distúrbio de sok- rlung  em um estágio precoce, envolvendo o aluno em uma conversacalma e lenta e observando a forma como sua mente e sua fala saltamcom frequência de um objeto para outro, antes que um pensamentoesteja completamente terminado. A expressão, a inquietação, a

aparência dos olhos e a relutância para responder às questões tambémsão dados valiosos para identificar a presença desta doença.Fisicamente, o pescoço, os ombros e a região dorsal superior comfrequência estão doloridos.

Em casos menos avançados, a mudança do objeto de meditaçãoou uma cuidadosa instrução sobre o método de meditação pode sersuficiente. Em casos mais avançados, está indicada uma interrupção emtodos os esforços para a meditação. Uma dieta muito nutritiva, alimentosaltamente proteicos são prescritos e o indivíduo afetado é instruído arelaxar e divertir-se, a evitar pensamentos aborrecedores para ficar maiscalmo, assim como não passar muito tempo sozinho. O distúrbio dacorrente de sustentação da vida é reconhecido como um risco na práticada meditação, afetando iniciantes assim como aqueles com poderes deconcentração desenvolvidos, e são feitos esforços para reconhecer ossinais do distúrbio tão logo apareçam. (A seção sobre sok-rlung induzidopela meditação foi compilada após entrevistas com o Dr. YesheDhonden, Dharamsala, Índia; com o Venerável Lobsang Gyatso, Diretor

do Buddhist School of Dialetics, Dharamsala, Índia; Venerável KaluRimpoche, em Sonada, Índia e com S.S. Gyalwa Karmapa, RumtekMonastery, Sikkim, na primavera de 1981)6.6. Outras doenças de rLung : Enquanto a maioria das doenças mentais,segundo a medicina tibetana, são reflexos de distúrbios do rLung  sustentador da vida, as rupturas do equilíbrio das outras quatro correntesprânicas principais também ocorrem com manifestações

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psicofisiológicas. Estas perturbações podem ser limitadas a umacorrente individual ou associada ou como efeito colateral da alteração dorLung sustentador da vida . Por exemplo, o equilíbrio da correnteascendente pode ser rompido através de casos tão diferentes como asupressão do vômito, carregar objetos pesados ou mesmo umemocionalismo excessivo, especialmente choro. Manifestaçõessintomáticas incluem dificuldades na deglutição, fadiga, indisposição ena memória. O rLung  difusivo pode ser perturbado pela hiperatividade,stress físico, inquietação, repouso em local úmido, abafado, medo,

choque, depressão ou comportamento fóbico. Os sintomas incluemdesgaste geral, insônia e funções mentais reduzidas evidenciadas porbocejos exagerados, olhar fixo, atividade verbal excessiva e medosinconsistentes.

Os distúrbios do rLung  metabólico podem ser agravados poralimentação de difícil digestão ou por dormir durante o dia. Resultam emindigestão, perda de apetite, vômitos ou hipoatividade abdominal. OrLung  descendente pode ser agravado pela eliminação forçada dasexcreções ou pelo aumento de mKris-pa. Seu desequilíbrio produzconstipação, dificuldades respiratórias e dor na região pélvica.

Um caso totalmente desenvolvido de depressão clínica,entretanto, com seu complexo sintomatológico de perda de peso,anorexia, constipação, incapacidade de concentração e insônia poderiarepresentar desequilíbrio em pelo menos quatro das cinco correntesprânicas. O distúrbio do rLung sustentador da vida reflete-se no estadode ânimo depressivo; o desequilíbrio do rLung  difusivo por umfuncionamento mental abaixo do padrão, insônia e desgaste geral; o

distúrbio do rLung metabólico poderia contribuir para a perda do apetite eas perturbações do rLung  descendente relacionam-se com aconstipação. É raro que um desequilíbrio de longa duração do rLung dasustentação da vida não influencie o equilíbrio das demais correntes (Dr.Yeshe Dhonden, comunicado pessoal, Março de 1981).6.7. Terapêutica: De acordo com a medicina tibetana, o tratamento dasdoenças de rLung  é de quatro tipos: dietético, comportamental,

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medicamentoso e terapias secundárias, tais como massagens,moxabustão ou enemas. Alguns distúrbios podem ser tratados sim-plesmente com dietas e modificações comportamentais; a maioria exigea prescrição de medicamentos compostos por inúmeras fontes naturais,predominantemente ervas, e alguns tratamentos são auxiliados pormedidas acessórias, especialmente as massagens com óleo.

As diretrizes dietéticas gerais para as doenças de rLung incluema ingestão de alimentos proteicos, especialmente carne, sopas feitas deossos, leite quente, massa de grãos cozida, óleo de sementes, açúcar

mascavo, alho e cebola. As diretrizes comportamentais incluemabstinência de fatores patogênicos (detalhados anteriormente), umambiente agradável, morno, não muito claro ou brilhante, de preferênciano andar térreo, vestimentas quentes, a companhia de pessoas amigas,agradáveis, conversas amigáveis e prazeirosas e uma sala e uma camaconfortáveis que possam induzir a um sono tranqüilo.

Uma variedade de compostos à base de ervas, contendo de oito atrinta e cinco ingredientes é utilizada no tratamento das doenças derLung , após um diagnóstico acurado, realizado através doquestionamento e dos exames do pulso e da urina. Os principais medi-camentos utilizados para o tratamento dos distúrbios do rLung  dasustentação da vida são fornecidos no apêndice.

7. Insanidade(Baseado na tradução do capítulo 78 da terceira parte do "rGyud-

bzhi", com comentários do Dr. Yeshe Dhonden aos autores)7.1. Características gerais:

Apesar de muitos autores (Ardussi e Epstein, 1978; Burang,1967) terem feito referência ao conceito tibetano de insanidade (emtibetano smyon -pa; pronuncia-se "nion-ba"), nenhum deles parece tertido acesso às obras médicas fundamentais sobre o assunto. A medicinatibetana depende muito da teoria tântrica para a descrição e explicaçãoda insanidade. De acordo com o Tantra, é a corrente da sustentação davida a principal afetada na insanidade – especialmente em sua forma

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sutil como a base para a consciência mental. Nas descrições tântricas, osítio da corrente da sustentação da vida é o coração. Na área do coraçãolocalizam-se os canais principais que contém a corrente de sustentaçãoda vida, que por sua vez sustenta ou serve como montaria para a menteda consciência mental conceitual. A psicose é definida como resultadoda entrada forçada de uma outra energia no espaço ou canal contendo oprana sutil sustentador da vida, e esta energia é geralmente externa eprejudicial, mas algumas vezes é simplesmente um outro nyes-pa ele-vado (perturbando a relação entre o fluxo prânico e a mente).

Como com outros distúrbios, certos fatores são conhecidos porencorajarem o desenvolvimento da insanidade. A depressão, um esforçomental, um coração fraco, uma dieta pobre e padrões comportamentaistais como intoxicação por excesso de álcool ou drogas, todos sãorelacionados como causas predisponentes. Além disso, na patogêneseda insanidade, a interferência de influências externas prejudiciais agecomo uma condição para seu desenvolvimento. Esta condição age comoagente auxiliar, o fator externo imediato que precipita as mudanças naconsciência, mas que não pode agir sem as causas predisponentes.Portanto, causas e condições agem em conjunto para romper ascorrentes prânicas que sustentam a mente.

Os mecanismos desta ruptura são descritos com alguns detalhesnos Tantras filosófico-religiosos e apenas citados nos textos médicos. Ocentro do coração é concebido como um lótus de oito pétalas em cujocentro localiza-se o “rei dos canais”, o sítio do rLung  mais sutil, queserve como base para a consciência do bardo ou estado intermediário(este canal é descrito como sendo tão fino como um fio do cabelo de um

rabo de cavalo). Circundando este canal estão os quatro canaisprincipais que se dirigem para cada uma das quatro direções, e outrosdois canais, um acima e outro abaixo do centro do coração. O canal aoleste é considerado anterior. Estes seis canais, ou “seis conjuntos de

consciências” representam as localizações das cinco divisões dacorrente da sustentação da vida que sustentam as consciênciassensoriais, além do caminho da corrente sutil da sustentação da vida

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que sustenta a mente da consciência mental conceitual. Estas locali-zações são as seguintes:Leste (anterior): consciência da audição - cor negraOeste (posterior):consciência da olfação - cor amarelaNorte (lateral): consciência do paladar - cor brancaSul (lateral): consciência da visão - cor avermelhadaSuperior (acima): consciência do corpo - cor verdeInferior (abaixo): consciência mental - cor azulada

A infiltração por influências externas prejudiciais ou por nyes-pas  

ocorre através do canal anterior, através da corrente que sustenta aconsciência da audição. É conduzido através do canal anterior até oinferior, local que sustenta a consciência mental. Esta infiltração gera umbloqueio no sítio inferior, ocluindo ou revertendo a corrente de prana sobre a qual a mente se localiza. Portanto, o controle sobre ofuncionamento do processo mental é perdido, com perda da memória ecomportamento histérico precedendo a psicose inteiramentedesenvolvida.

A mente, a memória e a consciência mental são entãoperturbadas. A capacidade de sentir prazer ou desconforto, quenormalmente acompanham todos as consciências sensoriais, também éperdida, assim como a capacidade de sentir felicidade e tristeza e decompreender a natureza e as causas do sofrimento. “A pessoa torna-seuma carruagem sem um condutor e agora ela não encontra nenhumaconsciência que este ja sob seu controle”. (Dr. Yeshe Dhonden,

comunicação pessoal, março de 1981).Apesar deste processo ser eventualmente descrito como

resultante de “assalto do rLung sustentador da vida por influênciasexternas prejudiciais”, este não é o caso, na realidade. Pelo contrário, ainfluência prejudicial penetra forçosamente no sítio da corrente da sus-tentação da vida, retirando-o e agindo naquele espaço. Isto é semelhantea “duas pessoas vivendo forçosamente juntas em um mesmo quarto”,quando um se torna mais poderoso, o outro perde o controle e a luta segeneraliza. A mente da pessoa afetada já não exibe sua natureza

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original, mas esta também não perdeu totalmente sua mente. Comoresultado, entretanto, os órgãos sensoriais e a consciência “funcionam

em total dependência com os objetos com os quais entram em contato”(Dr. Yeshe Dhonden, comunicação pessoal, março de 1981), fazendocom que o indivíduo fique freqüentemente sem auxílio, incapacitado emseu próprio ambiente, reagindo de uma maneira imediata ao estímulosem os benefícios dos julgamentos racionais ou das memórias.

Podem ser diferenciados sete tipos de insanidade:I. Insanidade com distúrbio primário de rLung : o indivíduo é

superficialmente desenvolvido, é temperamental e emocionalmente lábil,apresenta a esclera avermelhada e piora após a refeição (ou seja,enquanto digere o alimento).II. Insanidade com distúrbio primário de mKris-pa: o indivíduo afetadoestá freqüentemente irado, deseja alimentos frios, apresenta urina eesclera amarelada, tem a visão perturbada por imagens de fogo eestrelas.III. Insanidade com distúrbio primário de Bad-kan : o indivíduo é calmo,anorético, retraído, sonolento, fisicamente úmido e com excesso desaliva e muco.IV. Insanidade com distúrbio complexo de todos os três nyes-pas : oindivíduo apresenta sintomas e sinais dos três casos acima.V. Insanidade caracterizada primariamente por depressão (psicosedepressiva): precipitada freqüentemente pela separação de posses ouda família, o indivíduo está centralizado nele mesmo, punindo-sefreqüentemente sem qualquer razão, torna-se facilmente agressivo oudelirante, sem qualquer controle sobre o corpo, a fala e a mente. Nestes

momentos, pode-se ouvir o paciente murmurando palavras sem sentido.Nos momentos mais tranqüilos, pondera excessivamente sobre asperdas emocionais, apresenta uma atitude retraída, sofre de insônia.VI. Insanidade primariamente resultante de causas tóxicas: ou seja,toxinas internas ou externas que infiltram o corpo; o indivíduo écaracterizado por palidez, perda completa da compleição, fraqueza,debilidade e delírio.

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VII. Insanidade causada primariamente por forças prejudiciais: estescasos são caracterizados pela alteração súbita na personalidade, oindivíduo adquire temperamento e padrões de comportamento de umdos sessenta tipos de influências prejudiciais, conhecidos pelosdemonologistas tântricos. Mesmo nos casos acima, aparentando outrosdistúrbios, a influência por forças prejudiciais (espíritos) não pode serdescartada.7.2. Influências espirituais:

Como pudemos observar através da discussão anterior, os

conceitos tibetanos de psicopatologia consideram a possessão porespíritos como uma condição ativadora da psicose. Do ponto de vistatibetano, há muitos tipos diferentes de possessão, alguns deliberados,saudáveis e funcionais e outros inadvertidos e disfuncionais.

Dos seis reinos da cosmologia tibetana - homens, animais,fantasmas famintos (pretas ), seres infernais, deuses invejosos e deuses(devas ) – os espíritos que causam psicose pertencem primariamente aoreino dos fantasmas famintos. Estes seres são motivados por todas asemoções afetivas (tais como ódio, desejo e ignorância), são capazes deviajar tão rápido quanto os pensamentos, e são eventualmente atraídospelas predisposições humanas à sua influência.

As formas deliberadas de possessão por espíritos incluemaquelas procuradas pelo oráculo tibetano que “age como um porta-vozdos deuses ou dos espíritos que o possuem e falam através dele, comfrequência sem conhecimento do que está sendo dito, respondendodiretamente às questões daqueles que o consulta” (H.R.H. PríncipePeter da Grécia e Dinamarca, 1978).

De acordo com os tibetanos, a terapia de primeira linha para umadoença presumivelmente causada por espíritos é religiosa. Os serviçosde um lama ou de um médico treinado desta forma são empregados emcerimônias destinadas a desfazer-se das influências prejudiciais. Emmuitos dos rituais tântricos empregados em tais casos, o médico ou olama assumem o papel de vajracarya ou hierofante, tornando-se “umaespécie de funil para despejar as forças vitais sagradas no mundo

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profano” (Wayman, 1968, pág. 175) através de sua evocação eidentificação com os vários aspectos da mente iluminada (Stablein, 1973e 1968; Wayman, 1973). Como medida preventiva, o indivíduo afetadodesenvolverá certas práticas espirituais para repelir posterioresinfluências espirituais. Cultivar a caridade e outras ações saudáveistambém é benéfico para os pacientes – a força do mérito queacompanha tais ações auxilia no domínio das influências negativas.

8. Sumário

A tradição tibetana contém uma teoria compreensiva dapersonalidade, um sistema diagnóstico e uma teoria da patologiaderivada da medicina tibetana, sistemas de classificação depsicopatologia e uma cosmologia que considera a intervenção deentidades não-humanas (ou transpessoais). Historicamente, asinfluências da Ásia Central, Índia, China e Pérsia predominaram, com asinfluências religiosas budistas inexoravelmente entrelaçadas. Como nocaso do budismo tibetano, a maioria das teorias médicas e dos conceitosforam conservados com alterações mínimas desde o período entre osséculos 8 e 13.

Para os ocidentais intrigados com a concepção pan-asiática deuma energia vital universal, desenvolvida, denominada variavelmentecomo prana ou ch'i , o sistema médico filosófico tibetano fornece umavisão detalhada da padronização desta energia e das manifestações deseu distúrbio.

Uma compreensão especial das armadilhas mentais da práticameditativa está incluída nos conceitos tibetanos de doenças mentais. Aanálise dos remédios à base de ervas utilizados por esta tradição hámilhares de anos apenas começou. A tradição tibetana encerra umacompreensão da mente que remonta a uma época passada, mas aindasobrevive e está disponível para análise.

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9. Apêndice São fornecidos os ingredientes de alguns medicamentos

utilizados para tratar distúrbios mentais resultantes do desequilíbrio dacorrente prânica de sustentação da vida (sok-rlung ). As fórmulas destesmedicamentos foram obtidas do farmacologista-chefe da Farmácia doTibetan Medical Center, Dharamsala, Índia. Os termos em latim ou emportuguês fornecidos aqui são traduções grosseiras do tibetano e podemnão ser perfeitamente precisas, especialmente porque a análise botânicada matéria médica tibetana ainda não foi realizada. Freqüentemente,portanto, não há verificação se a planta classificada pelos tibetanos comum nome latino é de fato a mesma planta que conhecemos por aqueladenominação. A lista dos ingredientes é destinada a dar uma indicaçãoda complexidade do sistema tibetano de formulação dos medicamentos.-Agar-Gayba (Aquilaria agallocha – 8): Aquilaria agallocha, Myristicafragrans , Spondias axilaris , Tabashir  (resina do bambu), resina daShorea robusta, Saussurea lappa, Terminalia chebula, o pistilo e oestame da flor da Caesalpinea ferrea.

-Agar-Chonga (Aquilaria agallocha – 15): Aquilaria agallocha, Spondias axilaris , sândalo branco, sândalo vermelho, Myristica fragrans , resina dobambu, Crocus sativus , um tipo de Rhodolia, Terminalia chebula,Terminalia belerica, Emblica officinalis , Iris arema, Tinospora cordifolia,salamin indiano, alho.-Agar-Nyishu (Aquilaria agallocha – 20): Aquilaria agallocha, Myristicafragrans , Spondias axilaris , resina do bambu, resina da Shorea robusta,Saussurea lappa, Terminalia chebula, o pistilo e o estame da flor daCaesalpinea ferrea, bile solidificada de elefante, Syzigium aromaticum ,

tamarindo, Crocus sativus , Iris arema, chifre de rinoceronte, a "mãe dapérola", Strichnus nux-vomica coração de coelho, Emblica officinalis ,sândalo.-Agar-Songna (Aquilaria agallocha – 35): Aquilaria agallocha, Myristicafragrans , Syzigium aromaticum , resina do bambu, Elettariacardamomum , Amomum sabulatum , Terminalia chebula, Iris arema,Emblica officinalis , Tinospora cordifolia, alho, salamin indiano, chifre de

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rinoceronte, Adhatoda vasica, Swertia chirata, Picrorhiza kurroa,almíscar ballirem  indiano, Strichnus nux-vomica, o pistilo e o estame daflor da Caesalpinea ferrea, Saussurea lappa, papoula azul, Punica grana- tum .

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4. UMA ABORDAGEM HUMANÍSTICA AO TRATAMENTO ECONTROLE DO CÂNCER

Desde a época em que entrei em contato com pacientes

portadores de câncer na clínica do Dr. Yeshe Dhonden e,posteriormente, na clínica da Dra. Lobsang Dolma, um sentimentopersistiu por longo tempo. A maioria dos médicos, no tratamento dosdoentes por eles consultados antes de virem para cá, esquece umaspecto vital da boa medicina. O médico, no exame do paciente pareceestar inteiramente absorvido com o tumor que acaba de encontrar emenos interessado com o paciente que sofre, sentindo-se arruinado peloconhecimento da doença. Ele realiza uma biópsia, estuda o tumor nolaboratório, estuda radiografias, exames hematológicos e outros testes ecom base nestes resultados, determina como proceder com o paciente.Durante todo o tempo o paciente é um participante silencioso que esperao médico resolver seu problema e realizar procedimentos que o curarão.Apesar de sua reação a esta condição ser influenciada pelo que leu ououviu sobre o câncer, muito dessa atitude depende de como o médico otrata como pessoa, porque neste estágio ele está buscando segurança,além de qualquer coisa.

Como o médico está dando importância apenas ao tumor, à suaevolução, à possibilidade de metástases e ao modo de tratá-lo atravésda radioterapia, quimioterapia ou cirurgia, ele não faz qualquer esforçoverdadeiro para mencionar o que o paciente como pessoa pode fazer porsi mesmo. E como poderia, se já determinou que o tumor é a causa dadoença e a única maneira é queimá-lo ou retirá-lo. Consequentemente, opaciente retorna com a noção de que está acometido por uma doençaterrível e provavelmente fatal, sobre a qual ele pode fazer nada: está

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convencido de que o agente estranho que invadiu seu corpo não iráembora a menos que seja bombardeado até deixar de existir, assimcomo disse o médico. Nada que ele como pessoa envolvida faça,alimente-se ou pense fará diferença porque o médico afirmou que nãohavia nada a fazer com o processo da doença.

O paciente não deve ser culpado pelo seu interesse. Mesmo queo médico não saiba a causa da doença, ele é enfático em que a origem éum câncer e sua eliminação significa o fim do mesmo. Mesmo sabendoque os tratamentos convencionais, tais como radiação e cirurgia,

funcionam em apenas 5% dos casos graves de câncer, insiste nelescomo os únicos métodos de tratar a doença. Ele não se dispõe aconsiderar qualquer outro método diferente ou a recomendar terapiasacessórias, apesar de saber que certos procedimentos nãoconvencionais como a medicina comportamental, a psicoterapia e asdietas têm feito maravilhas na dramática recuperação de muitospacientes.

Quando é um ser amado que está doente, o médico está dispostoa reconhecer o elemento humano no processo da doença, e compartilhaos sentimentos, medos e esperanças do paciente. Apesar de não aceitaras declarações terapêuticas da dietética, da psicoterapia e de outrossistemas de medicina, pratica-as inconscientemente. Demonstrainteresse e cuidado, tenta compreender as condutas incorretas dopaciente, anima-o nos momentos de depressão, sugere atividades emesmo o tipo de alimento que o paciente deveria ingerir. É humanoquando isto ocorre com a pessoa com a qual ele se importa, dispõe-se acompreender as necessidades do paciente como indivíduo, é sensível à

condição humana e demonstra confiança na capacidade do paciente emenfrentar sua doença.Mas quando é um "estranho", o médico aplica uma regra

diferente. Faz aquilo que foi ensinado a fazer. Estuda os sintomas,encaixa-os em uma categoria chamada de doença padrão e chega aodiagnóstico que o leva a um tratamento. Não significa que falte com ocuidado ou que não se interesse pelo que sente o paciente, apenas não

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se dispõe a ir um pouco além daquele ponto. Se o paciente responde àsua simpatia falando de seus sentimentos, sobre a devastação que oconhecimento da doença causará sobre ele e sua família, o médicoapenas ouve. Ele não se dispõe a compartilhar os sentimentos dopaciente porque, de acordo com ele, não o auxiliarão no diagnóstico ouno tratamento da doença e, portanto, não vale a pena encorajá-lo a falarsobre eles.

Mesmo quando o paciente é portador de um câncer em estadoterminal, o médico concentra-se completamente no tumor, apesar de

pouco poder fazer sobre a situação. Ele não compreende que além deconseguir aliviar o paciente da dor, a maior necessidade do momento é asegurança e a orientação, de modo que, proporcionando ambos, estarárealmente tratando o paciente. Mas, sentindo-se desconfortável comqualquer coisa fora do modelo de doença, desvia convenientemente oproblema do paciente para encaixá-lo dentro do padrão que lhe é tãofamiliar. No processo, o paciente que vai eventualmente morrer destadoença perde uma chance valiosa de encontrar um significado maiorpara as coisas escondidas dentro dele todos estes anos. A doença éuma recordação plangente da inviolabilidade da vida e um médico devetentar proporcionar todas as oportunidades para que o paciente sedesenvolva e cresça.

Das, um homem jovem de 30 anos, casado e trabalhando para ogoverno, veio à clínica da Dra. Dolma, onde eu clinicava para ajudá-la,enquanto participava de conferências no exterior. Ele havia sidodiagnosticado pelos médicos do Instituto de Pós-Graduação em CiênciasMédicas, em Chandigarh, como portador de um carcinoma esofágico em

estado avançado. Haviam sugerido uma gastrostomia, de forma amanter a nutrição, pois a obstrução era completa e haviam esclarecido aele que a doença estava avançada, tornando impossível a retiradacirúrgica; em resumo, não poderiam tratar o câncer, mas estavamdispostos a estudar cuidadosamente seu sofrimento. Tendo escutado oprognóstico, Das tirou alguns dias para pensar sobre o que faria.

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Finalmente, decidiu vir a Dharamsala, após tomar conhecimento de umamédica tibetana através de um amigo.

Ele chegou arruinado e devastado pela experiência. Estavaemagrecido e perdendo peso progressivamente. Queixou-se de dorretroesternal, grave disfagia e regurgitava tudo o que ingeria. Seu pulsoestava fraco, ligeiramente tenso sob pressão na porção superior eapresentava um leve tremor. O pulso cardíaco estava irregular ecolapsado sob pressão – um dado significativo, pois exclui qualquerdoença cardiovascular grave. Obviamente, estava passando por uma

fase terrível. Seu problema, até onde podia lembrar-se, começara comdesconforto abdominal e dificuldade na deglutição dos alimentos nosúltimos oito meses. Nenhum dos primeiros tratamentos feitos em suacidade natal haviam ajudado de forma permanente, porque os médicostrataram-no constantemente pelos problemas digestivos. Quandoquestionado sobre como se sentia, suas respostas foram típicas demuitos pacientes na mesma condição. Sentia-se desamparado ederrotado e queria estar seguro de que poderia melhorar.

É espantoso que continuemos a negligenciar o aspecto humanoda medicina, pois quando alguém como Das vem até nós, conversamossobre o câncer e tudo o que estamos dispostos a fazer com ele, masnunca o encorajamos seriamente para tentar e enfrentar a doença a estenível. Não damos o tipo de encorajamento de que procura, chamando-lhe a atenção para casos de pessoas que com pura coragem e força devontade ganharam tempo e novamente venceram a doença. Nãocitamos casos como o de Norman Cousins, conhecido escritor norte-americano que descartou métodos de tratamentos convencionais para

adotar um inteiramente diferente, utilizando a risada como meio de curá-lo.Se não falarmos ao paciente sobre estas coisas, como ele ficará

sabendo e como será capaz de adquirir confiança em si mesmo? Quemseria melhor que o médico para falar-lhe sobre isto? Acreditamosrealmente, em nossos corações, que não teríamos nos aproveitadodesta informação se estivéssemos na mesma situação? Se nós assim

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fazemos, por que não faríamos o mesmo com a maioria de nossospacientes? E mais, se o paciente fala sobre estas situações e consulta omédico sobre as mesmas, porque deveria este rejeitá-lasinstantaneamente e achar que o paciente precisa esquecer esseassunto.

Das estava seguro quanto aos resultados positivos do tratamentoe ficou impressionado, pois o processo de cura poderia começar apenasquando ele mudasse sua atitude perante a doença. Quando tornou-seconfiante e realizou que tudo estava sendo feito para seu benefício,

então foi capaz de fazer a dieta adequada e as mudanças psicológicas ecomportamentais em sua vida. Como todos estes aspectos estãointimamente conectados com o processo da doença, qualquernegligência na adoção das recomendações terapêuticas associadas aela impediria o processo de cura.

Ele retornou duas semanas depois sem qualquer melhora. Aindanão tinha sido capaz de conciliar-se à sua condição e quando começaraa separar as coisas, algo acontecera em sua família para impedirqualquer progresso futuro e ele estava de volta para justificar-se.Conseqüentemente, havia perdido a confiança nos medicamentos eesquecia-se de tomá-los regularmente. Falando-lhe mais firmementedesta vez, afirmei-lhe que as drogas seriam inúteis se ele não mudasseprimeiramente sua atitude; que seria melhor então não fazer otratamento. Ele prometeu que tentaria novamente. Retornou um mêsdepois, sentindo-se bem melhor e relatando que já havia começado aingerir alimentos semi-sólidos. Disse-me que tinha ocorrido uma notávelmelhora e uma sensação de bem estar. Voltarei a este ponto

posteriormente, mas nesta etapa, Das começou a sentir-se melhor comopessoa quando compartilhou responsabilidades para enfrentar o câncer.Ele havia aprendido a aceitar sua condição e apesar de suaincapacidade, aprendido a viver em um estado de saúde. Agora vocêtem uma pessoa que se dispõe a encarar sua situação e adaptar-se demaneira a construir uma vida melhor para ele e para as pessoas que orodeiam. Isto foi realmente o que planejamos fazer e o fizemos porque

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estamos dispostos a compartilhar a tarefa do processo de cura com opaciente. Evidentemente, ele continuou a apresentar problemas, a sofrer,mas sua capacidade de enfrentá-los estaria agora amadurecida esaudável.

Todos os anos os governos gastam milhões de dólares tentandodescobrir mais sobre o câncer, de forma que possa ser encontrado omelhor e mais efetivo tratamento. Apesar destes esforços, não estamosmais próximos de uma resposta e testemunhamos o efeito devastadorda doença, uma vez que ela destrói as vidas das pessoas sem qualquer

respeito à sua idade, posição social e econômica. Por exemplo, nosEstados Unidos da América, uma em cada cinco pessoas morrem decâncer e uma em cada onze mulheres podem esperar adquirir umcâncer de mama para o qual a taxa de sobrevivência não mudouconsideravelmente nos últimos quarenta anos. A cada ano, 300.000norte-americanos morrem de câncer e mais do que o dobro destenúmero de casos são detectados. Se a situação continuar como está, napróxima década uma em cada quatro pessoas morrerão da doença.Estes fatos naturalmente trazem à tona a questão sobre estarem ou nãocorretas as abordagens atuais com relação ao câncer. Isto nos fazquestionar se não é necessário, com urgência, um esforço renovado; umque não esteja limitado a uma mera visão mecanicista, que não fique àespera de que todas as peças do quebra cabeça estejam em seu lugar.

Às vezes é inacreditável observar a maneira como conduzimosas coisas atualmente. Esperamos que problemas complexosrelacionados aos seres humanos, incluindo muitos tipos de doenças,envolvendo mais do que uma simples patologia, possam ser

considerados como se fossem inteiramente à parte do corpo. Fixamo-nos em que área, presumivelmente, teremos que corrigir a causa doproblema e esperamos que o paciente melhore. Quando isto não ocorree ele continua apresentando queixas sobre o problema, sentimo-nosdesconfortáveis e se realizamos testes posteriores que apresentem nadamais além do que já sabíamos, deduzimos que o problema do paciente épsicológico e o encaminhamos a um psiquiatra.

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Estamos lidando com seres humanos cujos pensamentos,atitudes, emoções, dieta, comportamento e funções biológicas são tãocomplexos quanto difíceis de entender. E se nós, na profissão de curar,esperamos que o câncer, cuja causa permanece na interação entreestes fatores, possa ser separado da personalidade humana e ajustadodentro de um paradigma, então precisamos reexaminar nossaabordagem.

Evidentemente, testemunhamos as dramáticas aquisições daciência médica moderna e hoje a maioria dos países desenvolvidos

estão livres das doenças devastadoras e freqüentemente fatais comovaríola, febre tifóide, cólera e poliomielite. Mas isto aconteceu porque oscientistas, quando pesquisaram a causa, foram capazes de aplicar talciência com perfeição no caso da doença em questão. Eles estavamprocurando basicamente por um vírus como a causa da doença e adescobriram. Assim, desenvolveram uma vacina e um tratamentoadequado à doença. Conseguiram uma resposta porque sua abordagemfoi a correta em primeiro lugar. Entretanto, no período pós-industrialestamos experimentando um aumento surpreendente da mortalidade,acompanhada por uma inabilidade com doenças de espécies diferentes,muitas das quais geradas pela nossa incapacidade de competir emsituação de igualdade com as pressões da vida moderna.

Ninguém sabe exatamente o que é o câncer, mesmo médicosque cuidam de todos os seus tipos. Quando o paciente vai ao hospital,ele é tratado de tal maneira que nos dá a impressão de que o médicosabe precisamente o que é o câncer. Isto porque aquele profissional vêmuitos casos e sabe como reconhecê-los sintomaticamente. Além

destas condutas, ele sabe muito pouco sobre a causa real. O paciente,entretanto, acha que o médico sabe tudo sobre a doença e não cogitaem sua mente questioná-lo sobre a mesma, sobre as relações com seuestilo de vida e hábitos. Ele começa a encarar a doença da mesmaforma que o médico, a doença como um câncer e nada mais que isso.

Médicos e cientistas descobriram que o câncer envolve falha nosistema imunológico do organismo, resultando em desenvolvimento de

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células anormais em várias regiões do corpo. Normalmente, quandoagentes estranhos, vírus e substâncias tóxicas entram no organismo,são destruídos pelos mecanismos de defesa do corpo antes que possammultiplicar-se ou causar danos. De algum modo, isto parece não ocorrerno caso do câncer. Desta forma, um agente carcinogênico como aanilina afeta o organismo e por alguma razão o sistema imune é incapazde controlar suas funções reprodutivas. As células afetadas multiplicam-se sem interferências, podendo inibir uma região do corpo e permanecerinativas por um longo período de tempo, antes de serem subitamente

ativadas e começarem a se disseminar para outras áreas,transformando-se em um tumor maligno nesta situação inicial. Em seuprocesso de desenvolvimento, danificam outras células sadias,circundando-as e roubando-lhes de forma excessiva os nutrientescelulares. Se o tumor ainda está localizado e é tratado ou cirurgicamenteremovido precocemente, os procedimentos são geralmente efetivos. Masna maioria dos casos, a doença é insidiosa, a detecção precoce éretardada e conseqüentemente, quando o paciente toma consciência dotumor, este já se disseminou para outras regiões do corpo, através dacirculação sanguínea ou linfática. Torna-se virtualmente impossível tratarou controlar o câncer neste estágio.

Nenhum órgão ou tecido está livre do câncer, apesar de certasáreas serem mais susceptíveis que outras. Os órgãos maisfreqüentemente afetados são boca, pele, trato respiratório, sangue elinfa, órgãos digestivos, órgãos reprodutivos e as mamas.

Apesar de não sabermos ainda o que causa o câncer, uma sériede fatores, através dos anos foram associados à doença. Mas nenhum

destes é inteiramente responsável pela doença. Se nenhum delesparece representar um papel principal na produção do câncer, sãoinsuficientes para fazê-lo em outros casos e condições. Não é incomum,portanto, encontrarmos pessoas que vivem em condições de vidasemelhantes, expostas aos agentes causadores de câncer, seremafetadas enquanto outras não o são.

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Recentemente, a maioria dos pesquisadores tem se concentradono papel dos vírus – os menores e mais complexos organismosconhecidos – na produção do câncer. Apesar de um certo número devírus tornar-se conhecido como causa do câncer, inclusive as leucemiase suas formações tumorais, não há evidências sólidas de que podem serencontrados em todos os 285 tipos de tumores malignos e ainda, noscasos em que são encontrados, não há maneira de determinar se sãorealmente a causa do tumor ou surgem como um efeito resultante doprocesso da doença.

Os agentes carcinogênicos, como asbesto, alcatrão, certoscorantes industriais, substâncias químicas eliminadas pelo escapamentodos carros, fumaça industrial, radiação e outros, são conhecidos porproduzirem a doença com o decorrer do tempo. Apesar disso, tomamosconhecimento de pessoas que fumaram incessantemente durante todasua vida ou de outras que são constantemente expostas à radiação ou àfumaça industrial as quais não necessariamente adquiriram um câncerde pulmão ou qualquer outro tipo de tumor, enquanto aqueles que nãofumam podem vir a desenvolvê-lo.

Mesmo a teoria genética é subjetiva. Enquanto seja verdade querepresente um papel na produção do câncer, é necessário que seobtenham explicações adicionais. Observou-se que pessoas que vivemem certas vilas, alimentando-se de uma dieta completamente natural,apresentam uma incidência de câncer muito mais baixa. Este fato fezcom que as pessoas acreditassem que certos grupos de pessoasfossem geneticamente resistentes à doença. Mas descobriu-se quequando estas pessoas migram para as cidades e expõem-se ao stress e

à tensão do modo de vida moderno, a incidência da doença entre elasaumenta dramaticamente.O Dr. Dhonden relatou-me que encontrou raros casos de câncer

no Tibete e prosseguiu dizendo que era completamente desconhecido.Segundo ele, a razão seria que os tibetanos levavam uma vidarelativamente menos estressante e competitiva do que certos povos emoutras sociedades. A religião representava um papel importante em suas

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vidas e atingia a todos intimamente em todos aspectos de sua rotina.Quando algum deles adquiria alguma doença grave, recorriam aosistema de sua convicção para suprir suas necessidades e enfrentar suasituação com maturidade e procedimentos de natureza benéfica. O pontode vista do Dr. Dondhen é compartilhado por alguns poucos médicosocidentais, apesar de não haver estatísticas disponíveis para sustentarsuas afirmações (os médicos tibetanos raramente conservam registrosmédicos adequados). Apesar disso, um aspecto tem se tornado claro: aincidência do câncer entre os tibetanos está aumentando gradualmente.

Hoje a doença não é desconhecida para muitos deles, porque jáconhecem alguém próximo ou um amigo que sofre ou que tenha falecidoem decorrência da mesma.

Historicamente, a descrição e a etiologia do câncer explicadopelos textos médicos tibetanos indicam com clareza que os médicostibetanos identificam a doença como algo mais que um simples tumor oulesão. O tumor é meramente um sintoma, um produto final. A causa realreside mais profundamente.

A história pela vida neste planeta tem sido uma constante luta pelasobrevivência entre os seres vivos. De fato, a interação entre os reinosvegetal e animal é realmente uma lei fundamental da natureza mesmo aníveis atômicos e sub-atômicos. Vida significa sobrevivência, e a lutapela existência é, na realidade, a habilidade em adaptar e ajustar ascondições ambientais adversas – apenas aqueles que demonstram umacapacidade extraordinária podem sobreviver. Entre os fatores ambientaisadversos, através de um processo de adaptação mútua, a multidão deorganismos vivos vive em harmonia.

Todo ser vivo e saudável hospeda organismos – eles sãoencontrados até mesmo no sangue de recém-nascidos saudáveis.Alguns destes microrganismos, entretanto, não estão completamenteauto-adaptados a uma coexistência pacífica conosco e eventualmentedão origem a um distúrbio, especialmente se conseguem acesso a umsítio fora de sua normalidade ou se conseguem desenvolver umacaracterística patogênica através de um processo de mutação.

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A causa do câncer, de acordo com a medicina tibetana é um certotipo de organismo que reside normalmente no corpo humano. Assimcomo dependemos do alimento fornecido pelas plantas e pelos animais,da mesma forma estes organismos sobrevivem e proliferam em nossosistema sangüíneo. Basicamente, pertencem à família demicrorganismos que causam os tipos de doenças inflamatórias auto-imunes. Entretanto, os médicos tibetanos não são capazes de identificaro organismo e os textos médicos não fornecem informações maisprofundas, exceto por uma descrição fisiológica do mesmo. Assim,

mencionam que os organismos são extremamente móveis e encontram-se virtualmente em todas as partes do corpo. Quando o corpo estáfuncionando normalmente, permanecem em simbiose com o hospedeiroe, na verdade, são responsáveis pela saúde do indivíduo, evitando queorganismos externos criem condições patológicas. Suas atividades sãoamplamente determinadas pela multiplicidade de fatores que vão desdegenéticos, dietéticos, comportamentais, psicológicos, ambientais atétraumáticos. Entretanto, quaisquer destes fatores isoladamente não sãocapazes de causar o câncer uma vez que o sistema energético quecontrola o sistema nervoso esteja ativando as funções celulares e osistema imune do corpo.

Há basicamente dois tipos de sistemas de energia: um delesrelacionado aos sistemas metabólico e endócrino, conhecido comomKris-pa em tibetano e pitta em sânscrito; e o outro, relacionado com osistema nervoso e responsável por todas as atividades voluntárias einvoluntárias do corpo. Este último é conhecido como rLung em tibetanoe vayu em sâncrito. Quando o rLung  ou a “energia que penetra em todos

os locais” torna-se patológica, não é mais capaz de fornecer imunidadecontra os organismos sob seu controle. A energia no corpo estábloqueada e os organismos adquirem controle sobre as células eatividades reprodutoras. Entretanto, contanto que rLung,  ou a “energia

infiltrativa”, esteja equilibrado, outros fatores não são capazes de ativar oprocesso da doença.

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Obviamente, o câncer é um produto da complexa interação entrefatores neurológicos, endócrinos e as emocionais do paciente. Asfunções e o desenvolvimento de cada órgão no corpo estão intimamenteassociados com os impulsos e as descargas nervosas. As mensagensque viajam através dos nervos para cada sistema orgânico mantém osórgãos em um padrão integrado e funcional. Quando estas mensagenssão irregulares ou quando as trajetórias nervosas estão rompidas, épossível que afetem um sistema orgânico em particular, especialmentese este já estiver sob a influência de outros fatores patológicos, e podeminduzir a uma ruptura nos mecanismos normais. Se a “energia infiltrativa” é incapaz de controlar danos posteriores por estar tambémpatologicamente afetada, isto deve contribuir para uma obliteraçãolocalizada e o aparecimento de células mutantes, permitindo que semultipliquem sem interferência ou sem que sejam detectadas.

No tratamento do câncer, o envolvimento do paciente deve serintegral no processo de cura. No caso de Das, por exemplo, a maioriados sintomas e distúrbios apresentados se deviam a condiçõesemocionais, além da malignidade da doença. É normal que as pessoasnesta situação sintam-se assim, como Das. O mais importante éobservar a reação do paciente às emoções. Quando ele reage com umacompleta sensação de desamparo e desiste de tudo, o médico deveintervir e tratar o problema primeiro. A abordagem normal é fornecersegurança verbal, mas ao fazer isto, a primeira regra é não dar falsasesperanças ao paciente e, ao mesmo tempo, informá-lo dos possíveismétodos de tratamentos alternativos disponíveis. Quando o médicocompartilha seu conhecimento sobre a doença e o que pode ser feito

sobre o problema, a maioria dos pacientes torna-se mais realista comrelação à sua situação.Colocando suas possibilidades, o médico trabalha tendo como

objetivo primário a cura do paciente. Tudo isto, entretanto, deve ser feitocom sensatez e com um estudo cuidadoso do tipo de paciente envolvido.Se o médico é muito acessível e honesto em sua avaliação sobre adoença e as chances de recuperação do paciente, este o deixará e

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procurará por outro que seja mais encorajador. Por outro lado, se omédico o engana com falsas esperanças de 100% de cura e outraspromessas, ele eventualmente descobrirá. Enfim, o médico estábasicamente em uma situação pouco invejável. Isto é válidoespecialmente para aqueles que estão envolvidos com um sistema demedicina diferente. O paciente chega com enormes expectativas – próximo de pedir por um milagre – e fica desapontado quando o médicolhe diz que são necessários tempo e paciência.

Na medicina tibetana temos mais precisamente um único método

para descobrir o estado das atividades biológicas do corpo com relaçãoao processo da doença: o estudo do pulso e da urina. No caso de Das,os pulsos da região torácica apresentavam-se irregulares, fracos eligeiramente tensos e mostravam claramente que havia um distúrbioinflamatório. Entretanto, os pulsos do estômago e do fígado estavammais fracos e, quando pressionados, ficavam colabados, significandoduas condições: Primeiro, o paciente possuía um distúrbio digestivoprovavelmente com padrões de mobilidade alterados. A constatação deque o pulso não estava tenso como aquele da região torácica excluíaqualquer doença orgânica maior no fígado e no estômago. Foi, portanto,seguro assumir que esta era uma condição secundária ao problema real.Em segundo lugar, a maioria de seus sintomas imediatos eraamplamente influenciada pelas emoções.

O exame da urina revelou um odor forte e pútrido, com coloraçãoamarelada, como vinho levemente turvo. Agitando a amostra, estavamvisíveis sinais de inflamação, uma vez que as bolhas apareciamirregularmente e desapareciam com um som sibilante. Através de uma

observação mais profunda, via-se que algumas bolhas possuíamtamanho muito grande e permaneciam por algum tempo sobre asuperfície, indicando claramente uma condição emocional.

Há um vasto arsenal de drogas na farmacopéia médica tibetanaindicadas para vários tipos de câncer, mas sua prescrição é determinadapor dois fatores principais. Primeiro, o fator humoral ativo principalmenteenvolvido no processo da doença, e segundo, o local onde se manifesta

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a doença e a presença de complicações secundárias envolvidas.Conseqüentemente, apenas um médico treinado é capaz de prescrevercom exatidão os medicamentos necessários, porque apenas ele é capazde determinar a atividade humoral, o local e a presença de complicaçõessecundárias à doença. Isto significa que uma pessoa que possua umapatologia ativa de rLung  associada ao câncer de abdome receberá umtipo de tratamento bastante diferente daquele que possui um câncersemelhante, mas predisposto a mKris-pa.

No caso de Das, os sintomas de rLung foram tratados através de

recomendações dietéticas e comportamentais. A pílula ingerida pelamanhã era um analgésico suave cuja dosagem foi aumentadaposteriormente quando os sintomas de rLung  foram controlados. Alémdisso, uma droga com propriedades anti-cancerígena foi indicada, a qual,ao mesmo tempo, facilitava as funções respiratórias e combatia osproblemas congestivos e inflamatórios na região da garganta e do tratodigestivo superior.

As drogas indicadas no combate ao câncer são preparadas apartir de plantas, animais e minerais, principalmente em suas formasbrutas e naturais. Entre estas um grande número de minerais éparticularmente eficaz contra crescimentos tumorais e outras doençasmalignas. A maioria dos extratos de plantas é utilizada principalmentepara complementar os extratos de animais e minerais e, ao mesmotempo, para neutralizar qualquer toxicidade e efeitos colaterais destassubstâncias. Entretanto, em muitos casos de câncer, particularmenteaqueles que foram tratados com quimioterapia e radioterapia, as drogasextraídas de plantas têm agido com muita eficácia.

Os médicos tibetanos têm atraído progressivamente a atenção,por sua habilidade em controlar e tratar o câncer, e a confiança noscasos de centenas de pacientes em todo mundo. Observei pessoalmentemuitos pacientes em todos os grupos etários conseguindo notávelmelhora após o tratamento com os medicamentos tibetanos. Os casosde leucemia são de especial interesse. Independentemente da faixaetária, os pacientes acometidos por certos tipos da doença tiveram, em

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geral, recuperação extraordinária após receberem tratamento por dois outrês meses.

Como resultado do sucesso obtido pelos médicos tibetanos, aFaculdade de Medicina da Universidade de Virginia, nos E.U.A., iniciouuma pesquisa-piloto com drogas tibetanas anti-câncer, em 1979.Acompanhei o Dr. Dhonden nestes experimentos. Os resultados foramtão promissores que os médicos sugeriram uma pesquisa maisextensiva, que ainda está sendo feita. O Dr. Baker do Departamento deRadiologia relatou que em treze anos de pesquisas com a leucemia em

particular os resultados das drogas tibetanas foram provavelmente osmais satisfatórios.

Mas a ênfase na medicina tibetana ainda reside no elementohumano da doença. O câncer é uma experiência altamente emocionalexigindo uma atmosfera social de sustentação e uma atitude apropriada,especialmente um desejo de ser bem-sucedido. Quando médico epaciente passam a acreditar mais e mais na droga apenas, e menos nofator humano da doença, de alguma forma o processo de cura torna-semais lento e a recuperação torna-se difícil.

A dieta é um outro fator igualmente importante na produção docâncer e está recebendo mais atenção. Entre seus proponentes ninguémé mais conhecido do que o professor japonês Michio Kushi. Muitos deseus princípios da macrobiótica são semelhantes à dietética tibetana.

O alimento que você ingere é da maior importância, pois é eleque faz com que você seja o que é. Boa saúde significa ingerir o tipocorreto de alimento e suprir regularmente as células sanguíneas com osnutrientes de que necessitam. Isto depende de dois fatores: o tipo de

alimento ingerido e o estado do sistema digestivo. Uma avaliação denossos hábitos dietéticos revelam que somos os menos preocupadoscom relação ao tipo de alimento que ingerimos. A conveniência, aaparência e o sabor determinam nossas refeições de tal modo que amaioria dos cardápios contém grandes quantidades de sal, carne,gordura e açúcar. Apesar das carnes e gorduras serem suaves, nós apreparamos adicionando enormes quantidades de produtos químicos e

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especiarias. Como resultado, evitamos aqueles alimentos que nãocontém estes aditivos e neste processo ingerimos poucos cereais,vegetais, verduras cruas e frutas, mesmo sabendo que sãoabsolutamente essenciais para uma dieta equilibrada e saudável.

Uma maneira de tornar nossa dieta saudável é aprender a partirdas sociedades tradicionais. As pessoas nestas sociedades possuem umpadrão dietético que permaneceu ao teste do tempo. Suas refeições sãointeiramente selecionadas através da experimentação de váriascombinações de alimentos naturais. Ao invés de utilizar produtos

químicos e grandes quantidades de açúcar, sal ou gorduras, preferem osvegetais frescos, verdes e com aditivos naturais.

Comer alimentos naturais e saudáveis simplesmente não garantea saúde. O sistema digestivo deve estar em perfeitas condições defuncionamento, deve ser capaz de absorver o alimento e transportá-loadequadamente às células sanguíneas e aos tecidos. As enzimas sãoresponsáveis pela quebra do alimento, mas igualmente importante é oestado do revestimento do trato digestivo. Por exemplo, estandobloqueado ou com um processo inflamatório, o alimento absorvido nãoserá capaz de atravessá-lo apropriadamente e alimentar os tecidoscorporais. Posteriormente, as próprias células e os tecidos não serãocapazes de absorver os nutrientes trazidos pelo sangue. Ocorre,consequentemente, uma congestão e um acúmulo de resíduos nascélulas e tecidos.

Todas as funções do sistema digestivo estão intimamenterelacionadas com a personalidade humana. Os músculos e orevestimento dos órgãos são controlados pelo sistema nervoso

autônomo, tornam-se vermelhos e produzem suco gástrico comabundante quantidade de ácidos, não apenas quando uma refeiçãoapetitosa está sendo preparada, mas também quando há ansiedade erancor. Quando estamos deprimidos, a mucosa do estômago torna-sepálido, produz menos ácido e não temos apetite. Ansiedade,preocupação, desapontamento ou sobrecarga no trabalho e abuso nãointencional do corpo e da mente podem perturbar o mecanismo nervoso,

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delicadamente equilibrado, que controla e sincroniza os contínuosmovimentos do estômago e dos intestinos.

Ao se recomendar uma dieta para pacientes com câncer, aprimeira consideração é com relação à lesão, sua extensão,complicações secundárias e atividade humoral. A idade do paciente, ofator sazonal e o local onde vive também são pontos determinantes.Evidentemente, as preferências do paciente e os tipos de gênerosalimentícios disponíveis para ele são considerados, uma vez que aquantidade de alimento que ingere depende disto.

De maneira geral, uma dieta ideal deve conter menos gorduras ecarboidratos e mais frutas frescas e verduras verdes viçosas. Umaalteração saudável em nossa dieta normal eliminaria muitos dosalimentos prejudiciais das sociedades urbanas modernas. A combinaçãode grãos e legumes deve constituir a base da refeição. Devem, portanto,perfazer cerca de 60% da refeição, e os vegetais devem ser tambémingeridos em grande quantidade, pois dão sabor e vitalidade, além defornecer vitaminas, proteínas e minerais essenciais. Os vegetais verdessão particularmente benéficos, pois proporcionam maior porcentagem devitaminas e minerais e mais proteínas do que os demais. Além destes,produtos com quantidades variáveis de vitamina B12 devem serincluídos, principalmente laticínios, carnes, ovos, peixes, aves e certosfeijões fermentados, como tofu  (à base de soja). Alimentos crus emforma de saladas são essenciais e frutas devem ser incluídas em pelomenos uma das refeições do dia. Esta seleção deve variar conforme suadisponibilidade durante as estações do ano.

O câncer geralmente localiza-se em um órgão e pode ser

comparado à folha de uma planta. O fator que determina em qual ramoou órgão se localizará a doença está relacionado a muitos fatores, entreeles o excesso de alguns alimentos. Açúcar ou laticínios, como leite,sorvete e outros, em excesso, determinarão sua localização na regiãosuperior do corpo, pois as características destes alimentoscorrespondem às estruturas orgânicas desta região. Gorduras animais elaticínios salgados e sólidos, como queijos, confinarão a doença na

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região inferior do corpo, enquanto a combinação destes gênerosalimentícios determinarão sua localização na região mediana.Dependendo da localização do câncer, os itens alimentarescorrespondentes devem ser evitados. Em todos os casos, deve-segarantir a redução da ingestão de açúcar, sal, carnes gordurosas,especiarias e alimentos picantes .

Há algum tempo, sabe-se que o stress prolongado tende aenfraquecer o sistema imune e produzir uma elevada susceptibilidadeviral, assim como outras infecções. Tem sido observado também que,

durante a reação ao stress prolongado, o número de linfócitos T e certascélulas sanguíneas sofrem marcada redução. Uma vez que a funçãodestas células é procurar e destruir antígenos, esta redução em seunúmero durante o stress pode aumentar a vulnerabilidade ao câncer. Ocomplexo relacionamento entre os níveis hormonais, o stress psicológicoe a susceptibilidade ao câncer foi mencionado por Eugene Prederrass,ex-presidente do American Cancer Society, que agora transcrevo:"Qualquer pessoa que tenha adquirido vasta experiência no tratamentodo câncer está consciente de que há grandes diferenças entre ospacientes... Eu, pessoalmente, tenho observado pacientes portadores decâncer que foram bem sucedidos no tratamento, sobrevivendo e em bomestado geral durante anos. Repentinamente, um stress emocional, comoa morte de um filho na II Guerra Mundial, a infidelidade de uma neta ou opeso de uma prolongada inatividade, parece ter sido o fatordesencadeante na reativação de sua doença, resultando em morte... Háevidências sólidas de que o curso da doença em geral é afetado pelosdistúrbios emocionais."

Há alguns anos, oncologistas e psicoterapeutas ocidentais vêmestudando o domínio da comunicação mente-corpo e estão conseguindoresultados notáveis no controle do câncer através da união entre a auto-regulação psicológica e o tratamento médico atual. De fato, a quantidadede trabalhos médicos que abrangem os diferentes aspectos da relaçãoentre a emoção e o stress na malignidade, assim como em outrasdoenças muito sérias, indicam claramente uma interação entre estes dois

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fatores e a questão agora é determinar o grau de importância e comoinfluenciar atividades bio-fisiológicas no câncer.

Quando observamos a maioria destes pacientes que obtiveramremissão espontânea ou uma resposta inesperadamente boa, o fatorcomum ocorrido em todos foi semelhante. Os pacientes tinham de algummodo conseguido uma profunda mudança em sua atitude. Alguns haviamvisualizado Deus curando-os, outros apresentavam um forte desejopessoal de conseguir uma melhora. Qualquer que fosse a origem, tais“abordagens positivas ao problema” trouxeram uma mudança dramática

e iniciaram o processo de bem-estar e saúde.A forma mais popular de psicoterapia atualmente em uso é aquela

que envolve técnicas de visualização e relaxamento. Quando as basespsicológicas não são predominantes na doença, uma técnica devisualização utilizando a respiração por exemplo é altamente benéfica.Apesar de não ser o propósito entrar em detalhes, em resumo, taispráticas envolvem a visualização de uma corrente de energia em formade luz ou corpúsculos sanguíneos brancos lutando e destruindo o tumorcancerígeno que pode ser visualizado como um agente prejudicial negro.Isto pode ser feito simplesmente através da visualização da respiração,inalada como uma energia curativa poderosa que flui através de todas aspartes do corpo e ataca finalmente o sítio da doença, expelindo-a aomesmo tempo em que a respiração é exalada. Evidentemente, a práticareal de tais meditações são técnicas e requerem supervisão cuidadosa.

Quando o aspecto psicológico da doença é predominante e opaciente está profundamente afetado emocionalmente, recomenda-seuma técnica um pouco mais complexa, exigindo que o paciente possua

algum treinamento anterior em técnicas meditativas ou que as adquiraantes de iniciar a prática real. As técnicas envolvem métodos através dosquais o paciente é ensinado a observar seus pensamentos e emoções deforma que possa separar-se deles. É necessário que o pacienteconcentre-se inicialmente em sua respiração e analise quaisquer tipos depensamentos e emoções. O paciente observa imediatamente aquelesmomentos em que pensamentos, sons, dores físicas ou irritações

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interrompem sua concentração. Ele aprenderá com o tempo a identificarestas interrupções como entidades distintas de sua concentração. Amente que tenta se concentrar e é interrompida é apenas um aspectodaquele que assiste e observa o que a outra está fazendo. Ele tornar-se-á consciente de que aquela parte de si que vagueia e deprime-se ésubjetiva, enquanto a mente que observa tudo o que acontece é maispermanente e estável. Neste processo, o paciente é encorajado aassociar-se com a mente que observa o que seu aspecto subjetivo estáfazendo. Quando estados negativos da mente são submetidas a uma

observação mais profunda perdem muito de sua intensidade eagressividade e o paciente é capaz de observar não apenas como ospensamentos trabalham e como afetam suas atividades mentais, mastambém como tais pensamentos surgem pela primeira vez.

Um tipo de técnica inteiramente diferente, envolvendo meditaçãocom exercícios físicos tem despertado o interesse apenas recentemente.É conhecido como Yoga Yantra e na medicina tibetana é indicado comoterapia coadjuvante em estados neuróticos. O sistema é semelhante aoChi gong  que está sendo proposto por uma praticante chinesa notratamento da maioria das doenças degenerativas com resultadosparticularmente surpreendentes. A técnica envolve um processomeditativo semelhante àqueles mencionados anteriormente, mas incluemtambém atividades físicas determinadas pela localização da lesão.

Tentarmos manejar a ameaça do câncer com explicaçõesbaseadas apenas no conhecimento científico atual evidentemente nãosão a resposta. O usufruto dos sistemas tradicionais não necessitamnecessariamente do abandono da medicina moderna; melhor que isso,

eles enfatizam que tais tipos de tratamento recomendados podemcomplementar quaisquer métodos convencionais de tratamento. Nós,conhecedores da medicina tibetana, estamos dispostos a compartilharnosso conhecimento e participar de qualquer tentativa genuína deproporcionar uma saúde melhor a quantas pessoas for possível.

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5. YOGA DO RELAXAMENTO: UM MÉTODO TIBETANO PARAPROPORCIONAR UMA SAÚDE MELHOR

Os médicos modernos estão tão intensamente interessados em

encaixar todas as queixas do paciente em um modelo de doença quehoje, para a maioria das pessoas, saúde significa nada mais que a meraausência de doenças. Poucos consideram a outra metade – o aspectopositivo da saúde como bem estar mental e social. É por esta razão quenos últimos anos temos testemunhado sistemas de cura alternativos,muitos dos quais não possuem base histórica ou documentada,acomodando-se calmamente no vazio deixado pela ciência. Não háqualquer dúvida sobre a superioridade da medicina moderna, quando omodelo derivado do mundo mecanicista, do ponto de vista de Newton,encaixa os sintomas e explica a causa das doenças. Infelizmente, taisdoenças existem em menor número, e há toda uma variedade delas,funcionais, psicológicas e psicossomáticas, com ou sem lesõesanatômicas, que não podem ser explicadas pelo modelo de doença. Defato, apenas 25% dos pacientes que visitam uma clínica de cuidadosprimários são efetivamente tratados pela medicina moderna – os demais,75%, são tratados mais pelos seus sintomas e complicações queproduzem, do que pela causa do problema (Benson, Herbert: Beyond Relaxation Response , 1983).

Uma pessoa pode sentir um mal estar e queixar-se de sintomaspsicológicos por uma imensa variedade de razões, nem todosassociados à lesão anatômica. Uma pessoa que perdeu uma pessoaamada ou falhou em seu trabalho queixa-se de cefaléias e dispepsia,assim como uma personalidade compulsiva queixa-se dehiperventilação, palpitação e angina. Tratar apenas os sintomas

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proporciona cuidado com a doença, mas certamente não gera saúde.Por não considerar, em primeiro lugar, o stress e o esforço queprecipitaram a cefaléia ou a angina, a pessoa continuará a sofrer desteproblema muitas vezes.

É surpreendente como temos sido ensinados a considerar tudo,inclusive nossa saúde, do ponto de vista mecanicista. Temos nosesquecido, no decorrer deste processo, do aspecto positivo da saúde,nosso bem estar mental e social, juntos. Apesar de sermos eu ou vocêquem sofremos e experienciamos a dor, o desconforto, a lesão ou a

tensão, entregamos inteiramente ao médico – uma outra pessoa – asolução de todo nosso problema. Não tomamos para nós aresponsabilidade sobre nossa saúde e não colaboramos no que poderiaser uma maravilhosa oportunidade para o crescimento edesenvolvimento pessoal – nós convenientemente passamos aresponsabilidade para outro.

Pelo contrário, nossos ancestrais estavam seriamenteinteressados em sua saúde e com o que poderiam fazer pessoalmentesobre isto. Estavam conscientes da inter-relação entre a maneira comopensavam e o corpo. De fato, toda sua filosofia baseava-se em talcompreensão e todas as fases de suas vidas eram como queinfluenciadas por este ponto de vista. De uma certa maneira, nossosproblemas atuais originam-se não tanto de nossa incapacidade emcompreender tal ponto de vista, mas melhor dizendo, é uma falha napercepção de qual é o obstáculo.

Os médicos na Índia antiga e no Tibete observaram os efeitos dasestações do ano, do ambiente, da dieta, das atividades diárias e das

alterações sazonais para estudar como a otimização da saúde poderiaser conseguida. Pessoas que seguiam um estilo de vida espiritual, taiscomo os iogues, eram particularmente conscientes da boa saúde física emental, pois isto significava realizações espirituais mais rápidas eefetivas. Suas práticas eram, freqüentemente, em isolamento, possuindopouco tempo para irem às cidades consultar médicos, sem interrupçãode suas práticas. Para que se mantivessem constantemente saudáveis,

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utilizavam uma técnica que os conservasse fisicamente preparados e, aomesmo tempo, que pudesse ser integrada a suas práticas diárias. Taltécnica conveniente é conhecida como Yantra Yoga.

Yantra Yoga significa união da mente (através da meditação) ecorpo (através de asanas , ou seja, posturas eretas), com pranayama (exercícios respiratórios) e meditação. O procedimento é uma terapiaauto-induzida consistindo de uma série de atividades fisiológicas emeditativas auxiliares na promoção da súde física e mental com ou semaplicação espiritual.

Há vários sistemas de yoga e a maioria deles incluem asanas  (posturas eretas), pranayama (exercícios respiratórios) e meditação.Apesar de todas as formas de yoga, incluindo os asanas simples, seremessencialmente tântricas e ,portanto, conhecidas e praticadas apenaspor iniciados, após preencher requisitos específicos, muitas das yogas  orientadas para a saúde, tal como a Yantra Yoga podem ser praticadaspor qualquer pessoa para a qual seja conveniente.

A Yoga Tântrica, em geral, é classificada em quatro tipos, divididade acordo com as capacidades e aptidões dos praticantes. Ação,desempenho, Tantra Yoga e Yoga Superior constituem uma sériealtamente sofisticada de exercícios psicológicos e meditação quepossibilitam ao praticante libertar-se da prisão de seu ego,possivelmente dentro de uma vida. A prática principal implica na pessoaassumir a personalidade da divindade com a qual tenha uma afinidadeespecial. Daí em diante, todos os pensamentos, ações e conceitos queele experimentar seriam como os da divindade. Utilizando tal prática, apessoa gradualmente substitui seus pensamentos e experiências

comuns, e diminui sua dependência dos mesmos. Ela é treinada a gerarintenso orgulho por ser capaz de tornar-se uma divindade e por meiodisso, o ego – o conceito de quem pensamos que somos – conseguepoucas oportunidades para expressar-se através de pensamentos eexperiências comuns. Um estado alterado de consciência – que é o dadivindade – torna-se agora o ponto de contato para todas asexperiências posteriores.

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Durante muitos anos, a técnica do Yantra Yoga, destinada àsaúde e ao preparo físico permaneceu confinado entre os praticantestântricos e pouco se tornou conhecido fora daquele círculo. Apesar dostextos médicos e tântricos explicarem as técnicas em detalhes e comilustrações, poucas pessoas no passado ousaram estudá-los fora docírculo, com medo de que pudessem ultrapassar áreas não permitidas.Entretanto, os professores tibetanos estão se tornando mais abertospara a idéia de introduzir estes ensinamentos sob a alegação de que opreparo físico é absolutamente essencial para o desenvolvimento das

práticas espirituais. Como poucas pessoas hoje podem se dedicar a taispráticas por longos períodos de tempo, os professores tibetanos quelidam com a Yantra Yoga perceberam que os ensinamentos poderiamser introduzidos para qualquer pessoa, mesmo aquela que nãopossuísse qualquer prática espiritual.

A filosofia da Yantra Yoga está fundamentada na medicinabudista e nos ensinamentos tântricos. Todos os fenômenos vivos e não-vivos são constituídos de cinco elementos, traduzidos grosseiramentecomo “terra”, “água”, “fogo”, “ar” e “espaço”. Nos seres vivos, estes cinco

elementos funcionam como três processos fisiológicos, comumentereferidos como três “humores”. A atividade humoral rLung  estáassociada com os sistemas nervosos central e periférico, o “humor”metabólico mKris-pa, com os sistemas digestivo e endócrino, enquanto o“humor” estrutural Bad-kan  está associado com a estrutura fluida etecidual do corpo. Os caminhos através dos quais estes três processosfisiológicos agem são conhecidos como branco (rLung ), negro (mKris- pa) e fluido (Bad-kan ). As pessoas, com frequência, confundem-nos com

os três caminhos tântricos, comumente conhecidos como central, direitoe esquerdo. Estes últimos são caminhos imaginários: o sistema demeridianos chinês. Os chakras (rodas de energia), localizados em cincopartes vitais do corpo, são compostos destes caminhos. Eruditostântricos e fisiologistas possuem diferentes explicações sobre estes dois.Alguns afirmam que eles são um único ou o mesmo aspecto, enquantooutros – uma versão mais difundida – asseguram que os dois são

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inteiramente diferentes e afirmando ainda que os três sistemasfisiológicos originam-se dos três caminhos tântricos.

A clínica médica tibetana baseia-se no modelo de processofisiológico. Quando o médico tibetano reconhece o papel dos fatorespsicológicos no processo da doença ele é essencialmente ummaterialista e principalmente interessado no estudo da doença emtermos dos três processos fisiológicos – um modelo muito diferente domoderno. Através de uma série de procedimentos técnicos, ele chega aum diagnóstico. De acordo com esta definição, aplica uma grande

quantidade de tratamentos que incluem dieta, comportamento, drogas,acupuntura, massagem, moxabustão e hidroterapia. Ele está conscientedo papel da compaixão na situação clínica e esta é expressada na formade comportamentos delicados por parte do médico, mas isso deve estarpresente em todas as fases. O médico tibetano é treinado em psicologiabudista e técnicas iogues que são áreas de disciplinas próprias.

Na yoga e psicologia tibetana, rLung  (atividade humoral) estárelacionado com a base de toda atividade consciente também. O sistemanervoso serve como a montaria ou o caminho através do qual rLung  responde aos estímulos. A relação entre a mente e o corpo – há trêstipos de corpos – é descrita como aquela existente entre um cavaleiro(mente) e um cavalo (rLung ). De certo modo, podemos dizer que omédico tibetano trata os problemas fisiológicos, enquanto as terapiasque utilizam Yantra Yoga tratam rLung em um nível psicológico.

A Yantra Yoga também deve ser utilizada como um método parapromover a saúde e o bem estar geral. Através de uma série deexercícios posturais e meditações, uma pessoa torna-se mais sensível

às funções de seu corpo: mais consciente de suas áreas de tensão,assim como das áreas de vigor, flexibilidade e movimento. Uma vez queo corpo é estirado e utilizado, os músculos contraem-se e relaxam-sealternadamente, as articulações são geralmente estimuladas e começama mover-se livremente. Os músculos param de restringir a livremovimentação das articulações; a circulação nestas áreas, como osdiscos entre as vértebras, é melhorada e o corpo geralmente torna-se

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mais vigoroso. No processo, a pessoa torna-se conciente de suasfunções mentais, de como se relaciona com os objetos de seus sentidose como forma impressões.Tal aumento de consciência auxilia opraticante a realizar mudanças saudáveis em termos de dieta, atividadee experiências mentais que terão um efeito significativo em suas vidas.

Recentemente, cientistas ocidentais têm documentado asalterações fisiológicas causadas pela prática da yoga e da meditação.Estes pesquisadores descobriram que aqueles que utilizam tais práticasefetivamente podem reduzir a cefaléia, a angina pectoris, a pressão

sanguínea, podem dominar a insônia, evitar os ataque dehiperventilação, auxiliar no alívio dos sintomas de ansiedade, incluindonáuseas, vômitos, diarréia, constipação, reduzir totalmente o stress eadquirir grande equilíbrio emocional.

Apesar de demonstrada a possibilidade de serem alteradas asfunções corporais involuntárias, descoberta apenas recentemente noOcidente, os médicos e iogues tibetanos acreditam, desde temposantigos, que um indivíduo possa conseguir controle mental sobre taisfunções. Através de uma ampla variedade de atividades psico-fisiológicas, eles foram capazes de alterar funções tais como as dosistema nervoso e dos ritmos respiratório, cardíaco e metabólico. Em1982, um grupo de cientistas, supervisionados pelo Dr. Herbert Benson,M.D., Chefe do Departamento de Hipertensão, Beth Israel Hospital,Harvard Medical School, E.U.A., conduziu experiências sobre mongesbudistas tibetanos e a prática de um tipo especial de yoga conhecidacomo "Mulher Feroz", através da qual a temperatura poderia ser elevadaconforme a vontade do praticante. Todos os monges exibiam uma

capacidade de aquecer sua pele que excedia em muito os experimentosregistrados no Ocidente quando se utilizava hipnose e técnicas debiofeedback. A temperatura nos dedos das mãos destes mongeselevava-se a mais de 5°C e nos dedos dos pés, ainda maisextraordinariamente, elevava-se aproximadamente 7 a 9,5 °C. O fato detais monges demonstrarem cientificamente, através da dilatação,mentalmente induzida, dos vasos sangüíneos, o que parecia ser um

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efeito sobrenatural é muito significativo na compreensão da habilidadedo corpo de alterar as funções involuntárias.

Tais declarações sobre o controle das funções fisiológicasatravés do uso da yoga e de outras técnicas budistas têm sidoreforçadas por outros pesquisadores. Estas descobertas indicaram que,através do controle de certas atividades mentais voluntárias,mecanismos involuntários ou relacionados com o sistema nervosoautônomo podem ser alterados. Os Drs. A. Kasamtsue e T. Kirai, daUniversidade de Tókio, descobriram que monges Zen budistas, que

meditavam com seus olhos semi-abertos, desenvolviam umapredominância de ondas alfa, geralmente associadas com bem estar.Posteriormente, durante a meditação, as ondas aumentavam a amplitudee a regularidade. O Dr. B.K. Anand, Nova Delhi, e outros pesquisadoresna Índia, registraram a mesma intensificação da atividade alfa durante ameditação dos iogues.

Os médicos tibetanos utilizam um sistema de referência ediagnóstico para avaliar a atividade fisiológica durante o estado de saúdee durante uma alteração patológica. Cada um dos três processosfisiológicos no corpo estão associados com os tecidos e as funçõescorporais principais. Todas as atividades fisiológicas voluntárias einvoluntárias principais, tais como ritmo respiratório, índice metabólico efunções nervosas simpáticas estão associadas com rLung , enquantofunções orgânicas são avaliadas pelo estudo das atividades de mKris-pa e Bad-kan .

Entre os cinco tipos principais de rLung , o “rLung Sustentador daVida”, que existe dentro da região posterior do cérebro (hipotálamo?) e

na medula espinhal, é responsável principalmente por todas as funçõescorporais internas e atividades conscientes. De fato, este rLung , ao qualnos referiremos como RSV (“rLung  Sustentador da Vida”), serve como a

montaria sobre a qual a consciência caminha e, por sua vez, ésustentado pelos sistemas nervosos central e periférico.

As patologias por RSV são geralmente classificadas em trêstipos: hiperatividade, hipoatividade e distúrbio da atividade do mesmo.

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Apesar de serem categorizados em subtipos, na clínica, o médico lidaprincipalmente com os três grupos patológicos gerais. A hiperatividadedo RSV causa uma elevação das funções corporais resultando em pulso,índice metabólico e ritmos respiratório e cardíaco também elevados. Poroutro lado, a hipoatividade do RSV causa reações inversas noorganismo reduzindo, em todos os níveis, as funções corporais internas.O distúrbio da atividade do RSV envolve patologias psicológicasorgânicas ou funcionais mais graves que não serão abordadas nesteartigo.

Um imensa variedade de causas podem resultar emhiperatividade do RSV. Dietas hipoproteicas, ingestão excessiva dechás, exposição do corpo aos efeitos refrescantes das brisas ou dotempo úmido causam aumento da atividade do RSV. Uma falha em umempreendimento comercial, uma briga familiar ou mesmo umacompetição esportiva colocam em ação um ciclo vicioso de ansiedadecujos efeitos repercutem no organismo. Normalmente, nosso corpoapresenta uma capacidade inata e notável de cuidar de si mesmo frentea tais alterações. Dormir, modificar a dieta e relaxar são formas decontra-atacar, através das atividades fisiológicas opostas de Bad-kan , ecorrigir estas disfunções, restabelecendo um grau de normalidade.

Entretanto, quando estes fatores perturbadores surgemnovamente, pode começar a operar um ciclo neste organismo que osmecanismos inatos não são capazes de avaliar. Neste caso, deve-seprocurar uma ajuda externa para corrigir a falha.

Como espero apresentar aspectos importantes da Yantra Yogaem línguas ocidentais nos próximos meses e anos, escolhi uma prática

em especial para ser discutida, ou seja, uma técnica preparatóriautilizada pelos iogues e meditadores antigos.A técnica consiste de asana, pranayama e concentração sobre a

respiração. Estes três, por si mesmos, podem ser familiares para muitosporque são comumente aplicados. Entretanto, a singularidade da Yogado relaxamento é que tais técnicas, que são normalmente praticadas

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separadamente, foram integradas em uma única prática para maximizaro bem-estar físico e mental.

Uma das principais razões pelas quais devemos praticar a Yogado Relaxamente é o fato da mesma ter sido utilizada pelos iogues,exatamente da mesma maneira como explicada aqui, há milhares deanos. Na literatura budista internacional, os nove exercícios respiratóriosalternantes que formam uma das três partes da Yoga do Relaxamento érecomendada como uma prática preparatória antes de dedicar-se aqualquer yoga ou meditação. Os iogues e meditadores budistas parecem

estar conscientes de que a respiração correta pelo abdome, comorecomendada pelo pranayama, acentua o fluxo de sangue para a pele eregiões periféricas do corpo, tais como cérebro e membros. A livrecirculação do sangue permite que todas as partes do corpo recebam seusuprimento de oxigênio, permitindo-lhes funcionar em seu estadosaudável. Tal estado de equilíbrio permite que atividades como ameditação torne-se efetiva e significativa.

A técnica da Yoga do Relaxamento é fácil de realizar e deve serutilizada tanto para propósitos espirituais como físicos. Enquanto osiogues utilizavam-na como prática preliminar para suas principaisatividades espirituais, a Yoga do Relaxamento deve ser utilizada comoprática real para o desenvolvimento da saúde e da mente. Por outrolado, deve ser efetivamente utilizada como um nível preparatório paraoutras práticas, tais como a Meditação Transcendental ensinada, peloiogue Maharishi, ou a Resposta ao Relaxamento, pelo Dr. HerbertBenson.

Os benefícios do uso da Yoga são vastos, uma vez que integram

práticas como o enfoque sobre a respiração, exercícios respiratórios eum asana, todos por si mesmos comprovados cientificamente comobenéficos na redução do stress, tensão e doenças relacionadas.

Algumas pessoas podem ser mais adeptas ao asana, enquantooutras consideram a meditação mais apropriada. Como a prática dostrês é similar, um iniciante, particularmente, pode querer determinar com

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quais dos três apresenta melhor sintonia. A Yoga do Relaxamento,através desta integração fornece meios para constatar isso.

Enquanto práticas meditacionais bem conhecidas como aMeditação Transcendental, pelo iogue Maharishi, e a Resposta aoRelaxamento, pelo Dr. Herbert Benson, produzem alterações no corpo etrazem à tona o poder básico e inato do mesmo de combater o sistemade luta e fuga produzida pelo stress e pela tensão, o emergir destespoderes depende da capacidade da pessoa em utilizar as técnicasefetivamente. A história do uso da meditação indica que em uma certa

categoria de pessoas, por exemplo, aquelas que apresentamdificuldades com suas emoções, a meditação pode produzir efeitoscolaterais que se apresentam ao clínico como distúrbios psicológicos.Por outro lado, qualquer fluxo anormal da atividade do RSV repercutepara criar variações na experiência. É por este motivo que muitosmeditantes que praticam apenas pranayama, ou um asana relatam quedurante duas sessões distintas os resultados variam notavelmente.Médicos e iogues tibetanos salientaram o potencial patológico de taispráticas, se estas não forem conduzidas com a realização deintroduções apropriadas. A prática preparatória mais comumenterecomendada é a Yoga do Relaxamento.

A Yoga do Relaxamento serve como uma dupla checagem.Enquanto integra as técnicas meditacionais básicas, tais como aMeditação Transcendental e a Resposta ao Relaxamento, assegurando,portanto, os benefícios que estas produzem, inclui também um asana para ser realizado durante a prática dos 9 exercícios respiratórios. Afunção principal do asana é regularizar o fluxo do RSV no hipotálamo e

na medula espinhal. O fluxo normal do RSV produz o mesmo tipo deresposta que a meditação gera no corpo. Como este rLung Sustentadorda Vida controla as atividades fisiológicas internas do corpo, suaatividade normal assegura o funcionamento adequado de atividadescomo ritmo respiratório, batimentos cardíacos, etc. Se o enfoque sobre arespiração (meditação) na Yoga do Relaxamento não produz resultadosbenéficos, há chances de que a prática correta do asana o faça.

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Finalmente, as possibilidades de utilizar a Yoga do Relaxamentopara propósitos terapêuticos são imensas. Enquanto os médicos eiogues tibetanos indicam práticas de Yantra Yoga mais avançadas parapropósitos terapêuticos, no tratamento de neuroses e psicoses, a Yogado Relaxamento pode ser utilizada para o tratamento de muitas doençasfuncionais ou resultantes do stress. A ênfase sobre a concentração narespiração, por exemplo, apresenta grande valor terapêutico. Atravésdesta prática, o paciente encontra-se face ao funcionamento de seuspróprios processos mentais. Enquanto assiste sua respiração, torna-se

consciente das interrupções sobre sua concentração, sob a forma depensamentos sobre acontecimentos passados (memórias), de fantasias,planos e preocupações sobre futuros acontecimentos. Interrupçõesmomentâneas que surgem do presente, como barulhos, mudanças detemperatura, dor e desconforto, podem ser usadas pelo paciente, soborientação de um terapêuta competente, para adquirir novosdiscernimentos sobre si mesmo. Através do processamento dastécnicas, ele pode ser capaz de relacionar seus pensamentos às causasde sua crise mental atual, por exemplo, pensamentos repetidos sobrefatos do passado, tais como um abuso na infância, pode ajudá-lo aassociar aquele evento com sua reação atual de raiva e culpa.Entretanto, o propósito desta apresentação não é discutir os usos daYoga do Relaxamento nas terapias, pois requereria explicaçõesextensivas da psicologia e psiquiatria budista. Mencionando apenas umaspecto da maneira como a Yoga do Relaxamento pode ser utilizada,espero demonstrar as inúmeras possibilidades de empregar as terapiaspsicológicas budistas no tratamento de pacientes neuróticos e psicóticos.

A Yoga do Relaxamento consiste de uma combinação de noveexercícios respiratórios alternados, asana e meditação, envolvendo oenfoque da mente na respiração.

A Técnica para a Yoga do Relaxamento 

1. Postura

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Sente-se na postura de lótus ou padmasana. Cruze as pernassobre as coxas opostas. Junte suas mãos na altura do umbigo com apalma da mão esquerda sobre a direita. Conserve o corpo ereto, opescoço endireitado e o peito para frente. Não fique com a posturarelaxada, inclinada. Mantenha os olhos fechados. Se esta posição formuito difícil, sente-se na posição de pernas semicruzadas, que éconfortável e permitirá que você permaneça desta maneira pelo menospor vinte minutos.2. Os Nove Exercícios Respiratórios Alternantes

Sentado na postura de lótus. Inspire profundamente a partir daboca do estômago através de ambas as narinas, como se elevasse oscotovelos e os ombros, até uma contagem rítmica de 5.

Sem interrupção, feche a narina direita com o dedo médio direitoe expire pela narine esquerda, longa e suavemente, até a contagemrítmica de 5.

Repita a inalação como explicado acima.Sem interrupção, feche sua narina esquerda agora com o dedo

médio esquerdo e exale de sua narina direita, em uma longa, profunda esuave expiração, até a contagem rítmica de 5.

Repita o exercício completo acima descrito três vezes.3. Asana 

Sem interrupção, inale profundamente através de ambas asnarinas até a contagem rítmica de 5, da mesma maneira comoexplicado, e expire por ambas as narinas até a contagem rítmica de 5.

Com a expiração, curve suas costas conservando-a tão eretaquanto possível, até que a testa toque o chão, em uma contagem rítmica

de 5. Ao inalar, traga suas costas para a posição ereta em umacontagem rítmica de 5.3. A Yoga Final

Sem interrupção, inale profundamente, através de ambas asnarinas, até a contagem rítmica de 5.

Repita o exercício completo três vezes.

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4. MeditaçãoEnquanto inspira e expira, concentre-se em sua respiração. Este

respirar até a contagem de 5 foi introduzido para sincronizar ritmo eregularidade e não é parte da prática original. Aqueles que quiseremmanter a prática original, podem fazê-la sem as contagens; outrospodem achar extremamente útil e integrá-las livremente em sua práticade Yoga do Relaxamento.

Quando ocorrerem pensamentos que o distraiam, retorne para arespiração. Pensamentos, imaginações, sentimentos podem vaguear

dentro de sua consciência. Não se concentre em nenhum deles, maspermita que eles passem, focalizando a respiração novamente. Nãoestabeleça metas para si mesmo e reaja às dificuldades experimentadasdurante a prática.

Todas as três partes da Yoga do Relaxamento são componentesimportantes para alcançar o máximo em benefícios. Entretanto, pormuitas razões os praticantes podem desejar fazer modificações em suaprática. Você é bem-vindo a fazê-las contanto que as partes essenciaisestejam incluídas, de uma forma ou de outra, à sua prática.

O pranayama é o medidor, controlador e direcionador darespiração e, portanto, da energia dentro deste organismo, de maneira arestaurar e manter as funções internas normais. A respiração adequadaassegura um suprimento regular de oxigênio para que as células denosso corpo possam queimar carboidratos, proteínas e gorduras, asquais produzem a energia que nos mantém. Neste processo,conseguimos também eliminar nossas excreções, como o dióxido decarbono.

A maneira mais eficaz de respirar é a partir do abdome, melhordo que a respiração na região superior do tórax, como faz a maioria daspessoas. Com a gravidade, a distribuição do sangue dentro dos pulmõesfavorece as regiões inferiores do corpo. Com a respiração abdominal oudiafragmática, maior quantidade de ar é transportado para estas áreas,misturando eficientemente sangue e oxigênio. Além disso, tal respiraçãoassegura um menor consumo de energia.

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Esteja atento para a exalação. Através da concentração no ato deexalar as pessoas, às vezes, não esvaziam seus pulmõessuficientemente, para conseguir uma respiração completa de ar frescoquando inalam novamente.

Praticando a Yoga do Relaxamento sistematicamente, pode-seassegurar o adequado funcionamento de uma atividade fisiológica vital.Se não se destinar a nada mais, pode-se praticar a Yoga doRelaxamento até que a respiração realizada de uma maneira saudáveltorne-se fácil para você. Além disso, você pode desejar integrar imagens

durante a prática. É benéfico e muito recomendado, se você sentir quepode enriquecer sua prática. Imagine que está direcionando suarespiração para a região esgotada ou lesada do corpo. Ao pensar queestá respirando para aquele ponto e energizando-a com a respiração, oscapilares se abrirão e um fluxo maior de sangue circulará nestas áreas.Para muitas pessoas a Yoga do Relaxamento produzirá resultadosquase que imediatamente; para outros, haverá necessidade de umesforço maior.

O asana, ou postura ereta, deve ser confortável, relaxante eagradável. Para um iogue para o qual foi ensinado seu significado, cadaasana representa um estado específico da mente, de modo que seupensamento está refletido em suas funções corporais. Portanto, sãoimportantes tanto a preparação para a meditação como a meditação emsi. Sem envolver um esforço diretamente na concentração mental, umasana acalma e equilibra as funções da mente e do corpo, admitindoaspectos intuitivos do funcionamento do cérebro, como indicado nosexperimentos com biofeed-back durantes estados meditativos.

Através da prática dos asanas , após um certo período de tempo,um músculo atrofiado ou debilitado torna-se fortalecido, pois a circulaçãopara esta região foi restaurada. Quando um músculo está tenso, oscapilares contraem-se, reduzindo a circulação sanguínea enquanto ascélulas na área continuam a produzir energia, nutrir-se, metabolizar eeliminar resíduos nas áreas adjacentes. Com a utilização dos nutrientesdisponíveis e com o contínuo acúmulo de resíduos, a região torna-se

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mais susceptível à infecção e à doença. Se as células estiveremexecutando inteiramente suas atividades, os músculos devem serutilizados regularmente e relaxados após o uso. De outro modo, ascélulas acabam se tornando subnutridas. A inclusão do asana na Yogado Relaxamento pode ajudar a melhorar a circulação sanguínea e anutrição, reduzindo a susceptibilidade às doenças.

Os princípios e práticas apresentadas aqui podem sercombinadas satisfatoriamente para conduzir a uma saúde melhor e aobem estar. Entretanto, deve-se usar de precaução quando tais práticas

ou quaisquer técnicas meditativas ou da yoga forem indicadas para umafinalidade médica. Deve-se buscar o aconselhamento de um médicocompetente. Temos testemunhado com frequência que pessoas semqualquer treinamento médico, seja em medicina convencional oualternativa, tendem a recomendar yoga e meditação para o tratamentode todos os tipos de doenças, levando muitas pessoas crédulas aabandonarem seu tratamento convencional com garantias de cura porestes métodos. Para qualquer tipo de patologia, quer fisiológica ouorgânica, o tratamento médico nunca deve ser abandonado sem oconsentimento do mesmo. A yoga e a meditação possuem imensopotencial para proporcionar uma saúde melhor, mas não podemsubstituir o delicado tratamento que a medicina moderna e alternativatem a oferecer.

A Yoga do Relaxamento pode, de fato, ser uma experiênciaenriquecedora que trará mudanças vitais. Como o horizonte do homemcontinua a se expandir, e como os médicos modernos se tornam maisconscientes da relação entre corpo e mente, áreas até o momento