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RAPHAEL ANAWATE STRAATMANN ESTRUTURAÇAO DA ESTRATEGIA E DA TI EM STARTUP DE ALIMENTAÇAO SAUDAVEL Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção São Paulo 2017

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RAPHAEL ANAWATE STRAATMANN

ESTRUTURAÇAO DA ESTRATEGIA E DA TI EM STARTUP DE ALIMENTAÇAO

SAUDAVEL

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção

São Paulo

2017

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RAPHAEL ANAWATE STRAATMANN

ESTRUTURAÇAO DA ESTRATEGIA E DA TI EM STARTUP DE ALIMENTAÇAO

SAUDAVEL

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção Orientador: Professor Doutor André Leme Fleury

São Paulo

2017

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Dedico este trabalho à minha família e amigos

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e irmão, pelo suor investido em minha formação e pelo exemplo e valores

transmitidos a mim.

Aos professores da Escola Politécnica, por sua dedicação e esforço em exigir sempre o

melhor de nós alunos. Em especial, ao meu orientador, Professor Doutor André Leme Fleury,

pelo apoio, incentivo e excelente orientação no desenvolvimento deste trabalho.

Aos amigos feitos durante o curso, que trouxeram alegria e apoio a estes bons anos de vida

acadêmica e sem os quais esse momento teria sido mais difícil de alcançar. Em especial, aos

amigos do Centro Acadêmico da Engenharia de Produção, pelas risadas e aprendizados

juntos. À Cris e ao Osni, pessoas incríveis, exemplos de carinho, esforço e companheirismo.

À Daniela, sem a qual esse momento não teria acontecido.

A todos que de alguma forma contribuíram para essa conquista.

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“Goodness is the only investment that never fails"

(Henry David Thoreau)

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RESUMO

A internet e a tecnologia têm mudado a estrutura de diversas indústrias, principalmente pelo

pioneirismo de empreendedores. A empresa estudada no presente trabalho é uma startup

brasileira que busca reestruturar a indústria de alimentos por meio da tecnologia. Nascida no

final de 2015, ela busca tornar a alimentação saudável parte do dia a dia da população ao fazer

dela uma alternativa prática e acessível.

Como grande parte das startups, sua concepção e crescimento rápidos exigem grande foco na

execução e no trabalho diário de toda a equipe, o que faz com que processos e definições

estratégicas originais se tornem obsoletos rapidamente. No caso estudado, a TI foi

internalizada após a validação do modelo de negócios e, portanto, quando do momento deste

trabalho, estava ainda em fase inicial e pouco estruturada.

Nesse contexto, o trabalho inicou por trazer à claridade a estratégia da empresa: qual sua

missão, valores e visão, seu posicionamento estratégico e quais seus diferenciais quanto à

indústria tradicional de alimentos por meio de análise de Oceano Azul. Em seguida, analisou

o papel da TI dentro de tal estratégia para, a partir daí, traçar a organização da equipe de TI e

desenhar o processo de desenvolvimento de software adequado.

Palavras-chave: startup, empreendedorismo, estratégia, gestão da TI, desenvolvimento de

software

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ABSTRACT

The internet and technology have completely changed many industries, specially through the

pionerism of entrepreneurs. The studied company is a brazilian startup that seeks to

reestructure the food industry through technology. Founded in late 2015, its goal is to make

healthy meals part of people's daily lives by turning it into an acessible and easy alternative.

As most startups, its rapid conception and growth demand big focus on execution and daily

work from the whole team, what makes processes and strategic definitions quickly obsolete.

On the studied case, IT was internalized after the business model validation and, therefore,

was still on an early and little structured phase when this work was done.

On this context, this study began by bringing the company's strategy to clarity: what its

mission, values and vision are, its strategic positioning and what its differentials are when

comparing it to the traditional food industry through Blue Ocean analysis. After that, this

work analysed IT's role on that strategy to, on top of that, trace the IT team organization and

design the adequate software development process.

Keywords: startup, entrepreneurship, strategy, IT management, software development

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - As cinco forças de Porter que definem a estrutura de uma indústria. ..................... 23

Figura 2 - Grid estratégico de Nolan e McFarlan. ................................................................... 28

Figura 3 - Processo de desenvolvimento seguindo a metodologia Scrum. .............................. 34

Figura 4 - As três dimensões críticas de um processo. ............................................................ 35

Figura 5 - Visão geral da metodologia do trabalho. ................................................................. 37

Figura 6 - Fluxo de atividades elaboradas neste trabalho. ....................................................... 40

Figura 7 - Grid estratégico de McFarlan com papel da TI na ComidaBoa. ............................. 55

Figura 8 - Esquema do processo de desenvolvimento atual da ComidaBoa. .......................... 57

Figura 9 - Representação das reuniões do DP com as principais áreas da empresa. ............... 59

Figura 10 - Esquema da elaboração e priorização do Backlog. ............................................... 60

Figura 11 - Representação da Reunião de planejamento do Sprint. ........................................ 61

Figura 12 - Fluxo de Implantação Contínua. ........................................................................... 62

Figura 13 - Ciclo de desenvolvimento. .................................................................................... 63

Figura 14 - Visão geral do processo de desenvolvimento proposto para a ComidaBoa. ......... 64

Figura 15 - Logotipo do Asana®. ............................................................................................ 65

Figura 16 - Captura de tela do Projeto Backlog no Asana®. ................................................... 66

Figura 17 - Captura de tela do Projeto Sprint no Asana®. ...................................................... 67

Figura 18 - Imagem ilustrativa do Projeto de Gestão de Falhas no Asana®. .......................... 67

Figura 19 - Relação entre os ramos master e dev (representado por develop). ....................... 68

Figura 20 - Relação entre os ramos dev (representado por develop) e de funcionalidade. ...... 69

Figura 21 - Imagem ilustrativa do painel de controle do BitBucket Pipelines®. .................... 70

Figura 22 - Logotipo do Slack® .............................................................................................. 71

Figura 23 - Mensagem ilustrativa enviada a um canal no Slack® pela integração com o

Asana®. ................................................................................................................................... 71

Figura 24 - Mensagem automática enviada pelo BitBucket Pipelines® para o Slack®. ......... 72

Figura 25 - Desenho final do processo de desenvolvimento de software da ComidaBoa. ...... 73

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Canvas de estratégia. ............................................................................................. 27

Gráfico 2 - Canvas estratégico da indústria tradicional de alimentos. ..................................... 48

Gráfico 3 - Canvas estratégico da indústria tradicional de alimentos com serviços de entregas.

.................................................................................................................................................. 49

Gráfico 4 - Canvas estratégico da indústria de alimentos com a entrada da ComidaBoa. ...... 51

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Comparativo estratégico entre estratégias de Oceano Azul e Oceano Vermelho. . 25

Tabela 2 - Síntese da análise das forças de Porter no ramo de refeições prontas congeladas. 47

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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

TI Tecnologia da Informação

CEO Chief Executive Officer

Grid Rede

ISO International Organization for Standardization

ERP Enterprise Resource Planning

PPCP Planejamento, Programação e Controle da Produção

CTO Chief Technology Officer

CMO Chief Marketing Officer

XP Extreme Programming

dev Desenvolvimento

API Application Programming Interface

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Sumário 1. Introdução ...................................................................................................................... 15

1.1. COMIDA BOA LTDA ................................................................................................... 15

1.2. PROBLEMA ................................................................................................................ 15

1.3. OBJETIVO .................................................................................................................. 16

1.4. JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 17

1.5. ESTRUTURA DO TF .................................................................................................... 18

2. Revisão bibliográfica ..................................................................................................... 19

2.1. ESTRATÉGIA ............................................................................................................. 19

2.1.1. Missão .............................................................................................................. 19

2.1.2. Valores ............................................................................................................. 20

2.1.3. Visão ................................................................................................................ 21

2.1.4. Cinco forças de porter ...................................................................................... 22

2.1.5. Oceano azul ...................................................................................................... 25

2.2. GESTÃO DA TI ........................................................................................................... 27

2.2.1. Grid estratégico ................................................................................................ 27

2.2.2. Gestão de projetos de software ........................................................................ 29

2.3. PROCESSOS ÁGEIS DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE ......................................... 30

2.3.1. Scrum ............................................................................................................... 30

2.3.2. Ferramentas para desenvolvimento de software .............................................. 35

3. Método ............................................................................................................................ 37

3.1. ESTRATÉGIA ............................................................................................................. 37

3.2. GESTÃO DA TI ........................................................................................................... 39

3.3. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE ..................................................... 39

4. Resultados ....................................................................................................................... 41

4.1. DEFINIÇÃO DA ESTRATÉGIA ...................................................................................... 41

4.1.1. Missão, valores e visão da empresa ................................................................. 41

4.1.2. Análise do mercado .......................................................................................... 44

4.2. GESTÃO DA TI ........................................................................................................... 52

4.2.1. O papel da ti na comidaboa .............................................................................. 53

4.2.2. Gestão de projetos da ti .................................................................................... 55

4.3. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE ..................................................... 56

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4.3.1. Elaboração do processo de desenvolvimento de software ............................... 56

4.3.2. Escolha das ferramentas de desenvolvimento .................................................. 64

4.3.3. Desenho final do processo de desenvolvimento de software ........................... 72

5. Conclusão ........................................................................................................................ 75

6. Referências bibliográficas ............................................................................................. 77

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1. Introdução

1.1. Comida Boa Ltda

O presente trabalho foi realizado em uma startup brasileira do setor de alimentação fundada

em março de 2016 que, a fins de confidencialidade, será denominada neste trabalho por

Comida Boa Ltda (ComidaBoa), um nome fictício.

Em um contexto no qual a internet e a inserção dos smartphones na população têm

revolucionado e criado diversos mercados, o setor de alimentação continuou estagnado. Os

produtos são os mesmos, as marcas são as mesmas, a experiência é a mesma, o

relacionamento do consumidor com as empresas ainda é o mesmo de anos atrás.

Por outro lado, a mesma internet e smartphones têm difundido o acesso à informação e

fortalecido os consumidores, principalmente os mais jovens, nascidos nesse novo contexto,

resultando em demandas cada vez maiores por qualidade, conveniência, transparência,

autenticidade e novas e melhores experiências.

É no grande espaço entre essa nova e forte demanda dos consumidores e a antiga e estagnada

oferta do mercado de alimentação que surgiu a ComidaBoa: uma startup que busca oferecer

refeições naturais, saudáveis, de qualidade e práticas por meio do mundo digital, de interações

instantâneas, experiências fluidas e fáceis, com marca jovem e criando um relacionamento

com o consumidor.

Desde a fundação, a empresa tem crescido de maneira exponencial, passando de cinco

funcionários para sessenta quando do momento deste trabalho, crescendo em média mais de

23% ao mês. Atualmente, ela possui uma cozinha em São Paulo e dois centros de distribuição

com escritórios administrativos, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. Ela comercializa

seus produtos pelo seu comércio eletrônico, entregando para regiões da Grande São Paulo e

Grande Rio.

1.2. Problema

Quando da fundação da empresa, nenhum dos sócios possuía conhecimento técnico para

desenvolver os sistemas do comércio eletrônico. Com formação em Engenharia de Produção,

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focaram seus esforços em construir o produto, a marca e a infraestrutura necessária para o

negócio, terceirizando o desenvolvimento dos sistemas digitais durante o período de validação

do modelo de negócios.

Com o crescimento acelerado da empresa e a validação do modelo de negócios, a demanda

interna por sistemas próprios, tanto para desenvolvimento do produto digital (comércio

eletrônico) quanto para alavancar as operações da empresa (integrar sistemas produtivos e

logísticos e automatizar processos), cresceu até se tornar prioridade para a empresa.

Nesse contexto, o autor deste trabalho entrou para a empresa como sócio para desenvolver

internamente a área de TI em janeiro de 2017. Desde então, a empresa continuou crescendo

no ritmo acelerado e, com ela, o departamento de TI também cresceu.

Devido ao ritmo acelerado de crescimento da empresa e da área e da juventude tanto da

empresa como de TI, existe a necessidade de estruturar o processo de desenvolvimento a fim

de que ele atenda às demandas de desenvolvimento do produto e de suporte às áreas

operacionais de maneira eficaz e eficiente, garantindo a qualidade e agilidade necessárias.

Para determinar o melhor processo de desenvolvimento para a ComidaBoa, é necessário levar

em consideração sua estratégia. Novamente, por a empresa ser tão jovem, não há definições

claras ou estruturadas quanto a seu posicionamento estratégico.

1.3. Objetivo

Tendo em vista a trajetória da empresa e os problemas levantados, o presente trabalho tem por

objetivo geral estruturar a área de TI da ComidaBoa, definindo seu processo de

desenvolvimento de software. O objetivo final é obter um processo que se adeque à empresa,

permitindo o rápido desenvolvimento do seu produto, a escalabilidade de suas operações e a

flexibilidade necessários em um ambiente tão incerto quanto o mundo das startups.

Para se determinar as características que tal processo deve ter, a maneira a área de TI deve ser

organizada e quais seus objetivos, é necessário entender seu papel dentro da estratégia da

empresa. Por sua vez, para entender o papel da TI dentro da estratégia da empresa, é

necessário que esta esteja muito bem definida, o que atualmente não é o caso.

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O primeiro objetivo deste trabalho será, então, definir a estratégia de negócios da ComidaBoa.

A partir dela, o segundo objetivo é elaborar a estratégia de TI na empresa. Para tanto,

primeiro será analisado o papel da TI dentro da estratégia geral da companhia. Com tal papel

definido, será definida a metodologia de gestão de projetos que guiará a gestão da TI. O

terceiro objetivo passa a ser definir o processo de desenvolvimento de software que guiará TI

para cumprir seu papel.

1.4. Justificativa

O presente trabalho traz um olhar acadêmico e formal para temas vitais para a empresa: sua

estratégia e a organização de seu departamento de TI.

No ambiente veloz e dinâmico de uma startup, muitas vezes decisões e organizações são

feitas de maneira informal, sem metodologias e processos bem estruturados para os

respaldarem, como foi o caso da ComidaBoa. Além disso, segundo Christensen (1997), a

elaboração da estratégia não faz parte do dia a dia dos executivos, o que foi o caso da empresa

estudada. Dessa forma, este trabalho trouxe discussões e resultados que profissionalizaram os

rumos da organização, clareando seu posicionamento, seu diferencial e o direcionamento

futuro que ela almeja. O resultado deste estudo estratégico é de extrema importância para o

sucesso da ComidaBoa, uma vez que o sucesso na criação de novos espaços no mercado,

como ela tem procurado criar, está fundamentalmente ligado a fazer os movimentos

estratégicos corretos (KIM; MAUBORGNE, 2005).

Como será visto no desenrolar deste trabalho, TI tem papel estratégico na ComidaBoa. TI não

só é responsável por desenvolver e fortalecer o comércio eletrônico da empresa, seu único

canal de vendas, como também é responsável por automatizar e tornar escaláveis todas as

suas operações, desde a produção de refeições até seu armazenamento e distribuição,

mantendo e melhorando seu nível de serviço com o crescimento da empresa, sendo necessário

que seus sistemas sejam extremamente confiáveis e que novas aplicações sejam

desenvolvidas constantemente. Nesse sentido, a estruturação da TI de acordo com a estratégia

da ComidaBoa tende a guiar os resultados da área para a mesma direção, sentido e velocidade

exigidos pelo negócio. Em uma área recente e ainda com poucos funcionários, trazer essa

visão metódica e estruturada é fundamental para os objetivos e requisitos da área, sendo

crucial para o sucesso da companhia.

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Assim, fica evidente o valor deste trabalho para a empresa.

1.5. Estrutura do TF

O presente trabalho está dividido em seis capítulos.

• O primeiro tem por objetivo contextualizar o trabalho, descrevendo a empresa e a área

estudadas, o problema encontrado, o objetivo e a relevância deste estudo para a

companhia.

• O segundo capítulo traz uma revisão da literatura para fundamentar a teoria utilizada

no decorrer do trabalho.

• O terceiro elucida o método utilizado neste estudo para avaliar e atingir os objetivos

propostos.

• O quarto apresenta os resultados obtidos pelo autor ao aplicar o método proposto na

empresa estudada.

• O quinto traz as conclusões finais do estudo e finaliza o mesmo.

• O sexto apresenta as referências bibliográficas que serviram de fundamento teórico

para o trabalho.

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2. Revisão bibliográfica

O presente capítulo destina-se à revisão bibliográfica dos temas abordados neste trabalho, a

fim de servir como embasamento teórico para o mesmo.

Para facilitar a compreensão e o acompanhamento do trabalho, este capítulo segue a ordem

lógica de execução do trabalho, iniciando-se pela estratégia da empresa, indo para

fundamentos de gestão de projetos e finalizando em processos de desenvolvimento de

software.

Na parte de estratégia, serão analisados a missão da empresa, seus valores e visão, Cinco

Forças de Porter e estratégia de Oceano Azul.

Na parte de gestão da TI, será analisada a teoria do Grid Estratégico para determinar o papel

da TI na estratégia de uma organização e a metodologia ágil de gestão de projetos.

Na parte de desenvolvimento de software, será analisada o modelo Scrum de gerenciamento

ágil de projetos e um breve estudo sobre o papel das ferramentas que compõem um processo

de desenvolvimento.

2.1. Estratégia

Como o presente trabalho faz um estudo acerca da estratégia da ComidaBoa, esta seção

proverá o referencial teórico para tal análise, que começa por definir o que é estratégia.

Estratégia, para Porter (1996), é definir o conjunto de atividades que colocam a organização

em posição diferenciada no mercado.

Para Henderson (1989), tal definição passa por uma análise de quem a organização é e onde

está, e é por aí que este estudo se inicia.

2.1.1. Missão

De acordo com Soares (2001), a primeira etapa para a elaboração da estratégia de uma

empresa é definir qual sua missão.

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Segundo Collins e Rukstald (2008), esta é a mais elevada maneira de indicar o norte da

empresa, sua razão de ser.

Drucker (1998) diz que as pessoas mais produtivas e dedicadas são voluntárias, pois teriam

condições de estar fazendo outra atividade e logo, se são voluntárias, o fazem por espontâneo

ímpeto.

Segundo Collins e Porras (1996), para conseguir motivar as pessoas a esse nível no século 21,

é necessário que as empresas entendam seu significado, seu motivo de ser, e tenham isso de

maneira clara para que seus funcionários entendam seu porquê e considerem seu trabalho

significativo.

Para Niven (2002), o primeiro passo para se definir a missão de uma empresa é estipular

quem participará do processo. Segundo ele, é ideal a participação do CEO e de outros

executivos na formulação, além de possibilitar a participação dos empregados na elaboração

da declaração de missão da empresa.

Collins e Porras (1996) propõem a metodologia dos “Cinco porquês”, desenvolvida na Toyota

Motor Corporation e descrita por Taiichi Ohno (1998), para se chegar a tal declaração:

começar com uma declaração simples do que a empresa faz e perguntar “por quê?” cinco

vezes, até se chegar no motivo fundamental da existência da empresa.

Segundo Collins e Porras (1996), a declaração deve guiar e inspirar as pessoas de todos os

níveis da organização.

Niven (2002) aprofunda o tema, dizendo que além de inspiradora ela deve ser facilmente

compreensível e comunicável e se referir a um espaço de tempo suficientemente longo.

Drucker (1998) diz que a declaração de missão deve ser breve, devendo caber em uma

camiseta, e fazer com que qualquer membro da organização que a leia entenda, concorde e se

identifique com ela.

2.1.2. Valores

Os valores de uma organização são o segundo passo na hierarquia de declarações que a

norteiam segundo Collins e Rukstald (2008), devendo refletir no que a empresa acredita.

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Collins e Porras (1996) dizem que tais valores não devem ser impostos ou instalados, mas sim

percebidos, identificados, descritos. Segundo eles, o foco deve ser em entender

profundamente os valores que a organização possui, a fim de guiar e inspirar o

comportamento e as decisões dentro da organização.

Niven (2002) também diz que os valores vêm do comportamento diário do conjunto de

pessoas que compõem a organização, mas vai além, dizendo que muitas vezes eles são a

origem do diferencial e da força competitiva da organização. Segundo ele, os líderes da

organização exercem forte influência nos valores da mesma, tanto pelo exemplo dado quanto

pelos incentivos a determinados comportamentos.

Para se determinar os valores de uma organização, Barret (1998) propõe o Instrumento de

Avaliação de Cultura: todos os membros da organização analisam os 10 valores que mais os

representam, os 10 valores que mais representam a empresa em sua opinião e os 10 valores

que acreditam serem essenciais para uma organização de alto desempenho. Assim, segundo

ele, é possível dar luz aos valores da instituição e avaliar a diferença entre eles e os valores

pessoais de seus membros.

2.1.3. Visão

Collins e Rukstald (2008) colocam a visão como o terceiro passo na hierarquia das

declarações que norteiam uma organização.

Collins e Porras (1996) propõem que os valores e missão da empresa (ideologia central da

organização) dão base para a definição de sua visão de longo prazo.

Niven (2002), diz que a visão não só se baseia na missão e valores da organização, como é a

ponte entre eles e o mundo dinâmico da estratégia, possibilitando a todos os membros

formarem um modelo mental do futuro que os possibilite formular estratégias e objetivos,

devendo trazer a imagem mais concreta possível do estado futuro desejado.

Para Collins e Porras (1996), a visão é composta de duas partes:

• Metas audaciosas, chamadas BHAG (do inglês Big Hairy, Audacious Goals).

• Descrição vívida de como será quando tais metas forem atingidas.

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Segundo eles, as BHAG devem ser pensadas para 10 a 30 anos de agora, forçando o time

executivo a pensar de maneira não só tática e estratégica, mas visionária, reimaginando não só

as competências da organização, mas também as forças e condições impostas pelo ambiente.

Elas não devem ser metas fáceis de ser alcançadas, mas que tenham entre 50% e 70% de

chance de serem atingidas e despertem na empresa um sentimento de “nós conseguiremos

mesmo assim”.

A segunda parte, de descrição vívida, é pintar uma imagem vibrante do cenário no qual as

BHAG foram atingidas. Deve conter paixão e emoção, pois, segundo eles, são os elementos

que realmente atrairão e motivarão as pessoas.

Ainda segundo Collins e Porras (1996), ter a missão, valores e visão bem definidos forncerão

à organização uma base para que se torne uma organização visionária, criando alinhamento

interno e preservando sua essência enquanto estimula seu progresso.

2.1.4. Cinco forças de Porter

Porter (2008) afirma que para se entender a estrutura de uma indústria deve-se analisar cinco

forças competitivas que influenciam sua rentabilidade de longo prazo: ameaça de novos

entrantes, rivalidade de concorrentes diretos, ameaça de produtos substitutos e poderes de

barganha de clientes e fornecedores.

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Figura 1 - As cinco forças de Porter que definem a estrutura de uma indústria.

Fonte: Adaptado de PORTER (2008).

Porter (2008) afirma que a intensidade conjunta das forças é inversamente proporcional à

lucrabilidade do mercado analisado. Para se formular a estratégia da empresa, deve-se focar

nas forças que possuam maior intensidade.

Ameaça de novos entrantes

Novos entrantes no mercado trazem nova capacidade e brigam por fatias do mercado,

pressionando preços, custos e necessidade de investimento. Eles podem trazer competências e

fluxo de caixa de outros mercados, limitando a rentabilidade da indústria (PORTER, 2008).

O tamanho da ameaça depende das barreiras de entrada no mercado. Segundo Porter (2008),

existem sete principais origens de barreiras de entrada: economias de escala do lado da oferta,

benefícios de escala do lado da demanda (efeitos de rede), custo de mudança para o

consumidor, custo de investimento inicial, vantagens de ter entrado no mercado primeiro,

acesso desigual a canais de distribuição e políticas públicas (PORTER, 2008).

Poder de barganha de fornecedores

Rivalidadeentre

concorrentes

Poderdebarganhadosfornecedores

Ameaçadeprodutossubstitutos

Poderdebarganhados

clientes

Ameaçadenovos

entrantes

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Fornecedores podem capturar mais valor da cadeia ao cobrar preços maiores ou limitar

qualidade por seus produtos ou serviços, removendo lucratividade dos outros membros da

indústria. A força de seu poder de barganha está relacionada à concentração de fornecedores,

à dependência destes na indústria, ao custo de mudança para seus consumidores, à unicidade

ou diferenciação de seus produtos e à existência de produtos ou serviços substitutos ao que

fornecem (PORTER, 2008).

Poder de barganha de clientes

Clientes podem capturar mais valor ao exigir preços mais baixos ou maior qualidade de

serviços ou produtos. A força de seu poder de barganha está relacionada à concentração de

compradores, ao volume que compram, à unicidade ou diferenciação do produto vendido, ao

custo de mudança e à capacidade dos clientes desenvolverem o produto internamente

(PORTER, 2008).

Ameaça de produtos substitutos

Segundo Porter (2008), produtos substitutos são aqueles que exercem a mesma ou parecida

função dos da indústria analisada, mas por meios diferentes. Seu poder está relacionado ao

seu custo-benefício em relação ao produto analisado e ao custo de substituição de produtos.

Mudanças em mercados e tecnologias distintos podem impactar esta força.

Rivalidade entre concorrentes diretos

A rivalidade entre os concorrentes de uma mesma indústria vai desde cobrir o preço do

concorrente a propagandas. Segundo Porter (2008), o grau com que a rivalidade diminui o

potencial de lucros do mercado depende da intensidade e das dimensões do produto sobre as

quais a competição ocorre.

Ainda de acordo com Porter (2008), a intensidade depende da quantidade e do tamanho dos

competidores (se forem muitos e/ou de tamanho similar, ela será maior), da velocidade de

crescimento da indústria e das barreiras de saída dela.

Já em relação às dimensões na qual a competição ocorre, o autor ressalva que a mais

destrutiva para os lucros é a competição por preço, pois ela transfere o lucro das empresas

para os consumidores. Competição por outras dimensões como funcionalidades do produto,

marca, serviços agregados são menos perigosas à lucratividade por melhorar o valor ao

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consumidor e atenuar outras forças competitivas como a de produtos substitutos, dado que o

produto fica mais forte em relação a eles (PORTER, 2008).

2.1.5. Oceano Azul

O estudo da estratégia tradicionalmente se baseia em como se destacar da competição. Porter

(1996) define estratégia como o conjunto de atividades que diferenciam a organização em

relação ao mercado. No item 2.1.4 deste trabalho, analisamos as cinco forças competitivas de

Porter que definem a estratégia.

Kim e Mauborgne (2005) afirmam que esse ponto de vista da estratégia intimamente ligada

com a competição é em parte explicado pela origem militar da estratégia, de confrontar um

inimigo em determinado ambiente. Segundo os autores, um dos maiores motores de

crescimento econômico da humanidade tem sido criar ou recriar indústrias e mercados e que

as empresas responsáveis por tais inovações o fizeram menos por revoluções tecnológicas,

mas por um tipo de estratégia denominado de Oceano Azul, que se opõe à estratégia

competitiva tradicional, que denominaram Oceano Vermelho.

Tabela 1 - Comparativo entre estratégias de Oceano Azul e Oceano Vermelho.

Fonte: Adaptado de Kim e Mauborgne (2005).

Segundo Kim e Mauborgne (2005), na estratégia de Oceano Vermelho tradicional os limites

do ambiente são bem definidos e aceitos como restrições, bem como as regras competitivas

EstratégiadeOceanoVermelho EstratégiadeOceanoAzul

Competiremespaçodemercadoexistente Criarespaço nãodisputadonomercado

Venceracompetição Tornar acompetiçãoirrelevante

Aproveitardemandaexistente Criarecapturar novademanda

Trade-offentrevalor/custo Quebrarotrade-offentrevalor/custo

Alinharaestratégiadaempresacomsuaescolha

estratégicaentrediferenciaçãoOUcustobaixo

Alinharaestratégiadaempresanabuscapor

diferenciaçãoEcustobaixo

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são bem entendidas. As empresas lutam por fatias do mercado, por parcelas da demanda

existente e, conforme a competição cresce, lucro e crescimento se reduzem. Porter (2008)

afirma que quantos mais fortes as forças competitivas, menor o potencial de lucratividade do

mercado. Nessa estratégia, a empresa define se competirá por preço ou por diferenciação,

analisando a troca entre custo e valor gerado.

Já na estratégia de Oceano Azul, Kim e Mauborgne (2005) afirmam que a demanda é criada,

não disputada. O ambiente não é ignorado, mas sim bem entendido e seus limites repensados

e redesenhados. A estratégia passa de observar o que existe e melhorá-lo para repensar a

definição de valor e de mercado e a escolha entre valor ou custo perde o sentido, alinhando a

empresa para buscar ambos, diferenciação e custo baixo.

Para se criar um Oceano Azul, o principal fator segundo Kim e Mauborgne (2005) é tomar as

decisões estratégicas corretas. Para reduzir custos, se elimina e reduz fatores nos quais a

indústria compete. Para se aumentar o valor, se aumenta e cria elementos que a indústria não

oferece. Assim, chega-se em um estado onde o produto oferece uma combinação de valor e

custo única, que o coloca tão melhor que os outros que não se pode dizer que são

competidores ou que estão no mesmo mercado. Uma nova indústria é criada, sem

competidores, um Oceano Azul.

Ao se criar com sucesso um Oceano Azul, a posição única faz com que o crescimento seja

muito acelerado. Criam-se barreiras econômicas e cognitivas à imitação: desde ganhos de

escala e de rede pelo rápido crescimento até barreiras internas que impedem outras empresas

de se reorganizarem para competir. Além disso, a empresa torna-se conhecida, criando uma

base de consumidores leais (KIM; MAUBORGNE, 2005).

Para se analisar o mercado conhecido e quais fatores ele valoriza e investe, Kim e Mauborgne

(2005) propõem o Canvas de Estratégia, um gráfico no qual são listados os principais fatores

da indústria e os fatores relevantes para o consumidor no eixo X e a intensidade de cada fator

no eixo Y. Em seguida, todos os players a serem analisados são avaliados e postos no gráfico.

Assim, ficarão evidentes as estratégias seguidas por diferentes grupos de empresas. Para

mudar radicalmente o Canvas de Estratégia de uma indústria a ponto de criar um mercado

novo, deve-se mudar o foco dos competidores para alternativas e dos consumidores para os

não-consumidores, redefinindo o problema que a indústria se propõe a resolver e redefinindo

a entrega de valor, se libertando de restrições anteriores do ambiente.

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Gráfico 1 - Canvas de estratégia.

Fonte: Kim e Mauborgne (2005).

2.2. Gestão da TI

2.2.1. Grid Estratégico

A fim de determinar o papel da TI na estratégia das organizações, Nolan e McFarlan (2005)

propõem a análise do Grid Estratégico. Nela, avalia-se o grau de confiabilidade necessário das

aplicações de TI para o desempenho estratégico da empresa, bem como a necessidade do

desenvolvimento de novas aplicações para que a visão e o planejamento da empresa sejam

alcançados. Ambos os fatores são avaliados como altos ou baixos, formando uma matriz, ou

grid, com quatro possíveis valores: Estratégico, Fábrica, Suporte e Transição.

Quando TI se encontra no quadrante Estratégico, significa que não apenas a empresa depende

de alta confiabilidade das aplicações de TI como também depende do desenvolvimento de

novos sistemas para seu sucesso (NOLAN; MCFARLAN, 2005). O exemplo tradicional é um

banco, no qual o sistema deve ser altamente confiável para não se perder informações sobre as

movimentações financeiras e novos sistemas devem ser desenvolvidos para lidar com um

número cada vez maior de transações e para analisar as informações obtidas a favor do

desenvolvimento da companhia.

No quadrante Fábrica, a empresa depende de um alto grau de confiança das aplicações de TI,

mas o desenvolvimento de novos sistemas não é necessário para seu futuro (NOLAN;

Preço Uso de expressões enólogas na

comunicação

Marketing de ponta Qualidade do envelhecimento do

vinho

Prestígio

Plac

ar

Fatores de competição

Canvas Estratégico - Indústria de Vinho americana nos anos 1990

Vinhos premium

Vinhos baratos

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MCFARLAN, 2005). Pode-se pensar em companhias aéreas como um bom exemplo, nas

quais TI é extremamente necessária para fornecer informações confiáveis aos pilotos e

controladores, mas não são necessários novos sistemas, uma vez que os atuais já estão

maduros o suficiente para a estratégia das empresas.

Empresas onde TI se encontra no papel de Suporte são as que não dependem dela e ela tem

pouca função estratégica (NOLAN; MCFARLAN, 2005). Nesses casos, se os sistemas de TI

ficarem fora do ar por um período longo de tempo, não necessariamente o negócio da empresa

fica comprometido. Ainda, novos sistemas não são necessários para o desenvolvimento da

companhia. Pode-se pensar na manufatura tradicional, na qual TI não é o núcleo do negócio,

mas sim um suporte às operações.

Organizações nas quais TI está no quadrante Transição se encontram na fase de desenvolver

novos sistemas para seu futuro, mas ainda não são dependentes desses sistemas (NOLAN;

MCFARLAN, 2005). Pode-se pensar em mercados onde as mais recentes tecnologias ainda

não entraram, mas se enxerga seu potencial, como o mercado imobiliário, no qual empresas

estão automatizando o aluguel de imóveis, mas ainda não dependem desses sistemas.

Figura 2 - Grid estratégico de Nolan e McFarlan.

Fonte: Adaptado de Nolan e McFarlan (2005)

Fábrica Estratégico

Suporte Transição

NecessidadedenovasaplicaçõesdeTI

Necessidadede

TIcon

fiável

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2.2.2. Gestão de Projetos de Software

A definição de projeto dada pela ISO 10006 (1997) o retrata como um processo singular, com

requisitos e objetivos, composto por uma série de atividades planejadas restritas pelos

recursos e pelo tempo dispostos para realizá-las.

Gestão de Projetos, por sua vez, é gerir tais restrições de forma a realizar as atividades

atingindo ou superando os requisitos e objetivos propostos (PMBOK 1.0, 2000).

Ao se olhar para a abordagem tradicional de gestão de projetos, percebe-se que esta parte do

princípio de que há poucas e estáveis incertezas, que podem ser geridas. Em ambientes mais

instáveis, porém, essa abordagem pode resultar em uma gestão ineficiente dos projetos da

empresa. Neste caso, metodologias que ofereçam respostas a incertezas imprevisíveis são

importantes para seu sucesso (SOMMER; LOCH; DONG, 2009).

No caso de projetos de software, os processos são categorizados entre processos orientados a

planejamentos e processos ágeis. Os primeiros são projetos nos quais todas as atividades são

planejadas desde o princípio e o progresso é medido ao final, comparado com o planejado. Os

últimos são projetos nos quais o planejamento e a avaliação do progresso são incrementais,

possibilitando mudanças ao longo do caminho de acordo com a evolução dos requisitos dos

clientes e do aprendizado sobre incertezas (SOMMERVILLE, 2009).

Metodologia Ágil

A Metodologia Ágil de desenvolvimento de software surgiu como um movimento proposto

por um grupo de desenvolvedores em 2001, a partir do lançamento do Manifesto pelo

Desenvolvimento Ágil de Software (AGILEMANIFESTO.ORG, 2001). Em tal documento,

foram propostos 12 princípios:

• A maior prioridade é satisfazer o consumidor por meio de entregas rápidas e contínuas

de software que possua valor para ele;

• Troca dos requisitos são bem vindas, mesmo que em um estágio avançado de

desenvolvimento;

• Entregar um software funcional rápido;

• Pessoas de negócio e programadores devem trabalhar juntos diariamente;

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• Construir projetos ao redor de pessoas motivadas, fornecendo o ambiente necessário e

confiando nelas para a execução do trabalho;

• O modo mais eficiente de trocar informações dentro de um time de desenvolvimento é

conversando pessoalmente;

• Software funcional é a principal métrica de progresso;

• Processos ágeis promovem o desenvolvimento sustentável, com ritmo constante;

• Atenção contínua a excelência técnica e bom planejamento aumenta a agilidade;

• Simplicidade é essencial;

• As melhores soluções emergem de times auto-organizados;

• O time reflete sobre como ficar mais produtivo e age de acordo regularmente

(AGILEMANIFESTO.ORG, 2001, tradução do autor).

Pressman (2010) aponta que o objetivo do desenvolvimento ágil é reduzir o custo de

mudanças durante o desenvolvimento do projeto, permitindo com que ele se adapte a novas

descobertas, novos requisitos dos usuários e mudanças no ambiente.

Isso permite com que o projeto evolua com agilidade, daí o nome da metodologia, permitindo

com que ele tenha retorno dos usuários mais rapidamente, mude mais rapidamente e entregue

valor ao usuário final de maneira acelerada por meio de entregas menores e constantes. Dessa

forma, é uma metodologia mais adequada para negócios como comércios eletrônicos

(SOMMERVILLE, 2009).

2.3. Processos Ágeis de Desenvolvimento de Software

Existem diversas maneiras de se aplicar a Metodologia Ágil no desenvolvimento de software.

A principal abordagem utilizada atualmente é o Scrum (SCRUM ALLIANCE, 2015) e ela

será desenvolvida neste trabalho.

2.3.1. Scrum

O Scrum nasceu como uma metodologia para adicionar velocidade e flexibilidade ao

desenvolvimento de produtos, além dos antigos requisitos por alta qualidade, baixo custo e

diferenciação. Seu nome vem do rugby, em uma analogia ao scrum, formação do esporte na

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qual o time se une para passar a bola de um para outro enquanto avança junto pelo campo

(TAKEUCHI; NONAKA, 1986).

Ele possui seis características que dele fazem uma abordagem holística para o

desenvolvimento de software:

• Instabilidade como parte conhecida do sistema;

• Times auto-organizados;

• Fases de desenvolvimento sobrepostas;

• Aprendizado múltiplo;

• Controle sutil;

• Transferência de aprendizado pela organização (TAKEUCHI; NONAKA, 1986).

Na prática, o Scrum é composto por um time, eventos e artefatos (SCHWABER;

SUTHERLAND, 2013).

Time

O time, de característica auto-organizada, possui três partes: o Dono do Produto (DP), o

Mestre do Scrum (MS) e o Time de Desenvolvimento (TD) (SCHWABER; SUTHERLAND,

2013).

Para Rubin (2012), o DP é quem faz a interface entre o TD e os stakeholders do projeto. Sua

função é criar e gerenciar o backlog do produto (a ser detalhado em seguida), ou seja, a lista

de funcionalidades a serem desenvolvidas, sua prioridade e seus requisitos. Além disso, ele

avalia junto aos stakeholders, o resultado final das entregas. Dessa forma, ele garante a

agilidade do time ao centralizar as decisões acerca do produto junto aos stakeholders,

garantindo a adequação dos requisitos frente às constantes descobertas e mudanças do

negócio.

O MS, segundo Rubin (2012), é o responsável por garantir que os processos do Scrum

ocorram conforme planejado. Ele auxilia e ensina o DP e o TD em suas dúvidas, busca

garantir a maior eficiência dos processos, adaptando-os quando necessário, e blinda o TD de

quaisquer ingerências que possam atrapalhar o desenvolvimento.

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O TD é a equipe que possui todas as funções necessárias para o desenvolvimento do projeto,

normalmente composta por programadores, designers e pesquisadores, sendo organizado de

maneira horizontal (RUBIN, 2012).

Possui entre três e nove membros, de modo que a comunicação entre eles seja ativa e fácil e

que seja possível desenvolver as demandas do DP com a agilidade necessária (SCHWABER;

SUTHERLAND, 2013).

Eventos

Os eventos do Scrum são parte crucial de sua proposta de agilidade. Eles ditam o ritmo do

desenvolvimento e promovem alinhamento e comunicação constantes, sendo realizados em

período definido a fim de garantir previsibilidade ao processo, evitando interrupções não

planejadas (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013). São eles:

Sprint

O evento principal do Scrum, o Sprint é o periodo fixo de tempo no qual os incrementos de

produto devem ser lançados ou criados. Geralmente tem duração menor do que um mês e ele

contém os outros eventos do Scrum. Ao final de um Sprint, imediatamente inicia-se o

próximo (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013).

Segundo Schwaber e Sutherland (2013), o objetivo do Sprint não deve mudar após seu início,

mas suas tarefas podem mudar de acordo com o aprendizado obtido durante seu

desenvolvimento.

Reunião de Planejamento do Sprint

A Reunião de Planejamento do Sprint é o encontro de todos os integrantes do time do Scrum

para definir o escopo do Sprint planejado. Ela tem duração de no máximo oito horas por mês

e deve ser garantida pelo MS, o qual deve garantir que o time entenda seus objetivos e que ela

tenha o tempo e a eficiência desejados (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013).

Reunião Diária do Scrum

A Reunião Diária do Scrum é um encontro diário de 15 minutos entre os membros do time do

Scrum com o objetivo de aumentar o alinhamento da equipe. Nela, cada membro comenta o

que realizou desde a última Reunião Diária do Scrum e o que realizará até a próxima,

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ressaltando os possíveis impedimentos encontrados durante o processo para compartilhar com

o time e buscar ajuda caso alguém possa auxiliá-lo. É papel do MS garantir sua realização e

sua eficiência (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013).

Reunião de Revisão do Sprint

Segundo Schwaber e Sutherland (2013), ao final de todo Sprint essa reunião deve ocorrer para

se analisar o produto incremental desenvolvido e adaptar o backlog de produto de acordo.

Participam dela o time do Scrum e os stakeholders envolvidos, a fim de fomentar a

colaboração e a revisão dos processos, garantindo alinhamento entre todos.

Ela deve ocupar no máximo quatro horas por mês e inclui demonstrações da entrega,

problemas ocorridos durante o Sprint e discussões sobre o backlog de produto que

alimentarão a próxima Reunião de Planejamento do Sprint.

Reunião de Retrospectiva do Sprint

O último evento do Scrum tem por objetivo analisar os processos do Scrum em si, a fim de

melhorá-los constantemente. Ele deve ocorrer após a Reunião de Revisão do Sprint e antes da

Reunião de Planejamento do Sprint seguinte, devendo tomar até três horas por mês. Como

todos eventos do Scrum, é responsabilidade do MS garantir que a Reunião ocorra e que todos

participantes entendam seus objetivos e participem de acordo com o esperado (SCHWABER;

SUTHERLAND, 2013).

Artefatos

Os artefatos definidos no Scrum são, segundo Schwaber e Sutherland (2013), desenhados para

maximizar a transparência das informações chave do processo, a fim de que todos os

envolvidos tenham o mesmo entendimento deles.

Backlog de Produto (BP)

O BP é uma lista de todas as mudanças necessárias no produto e é a única fonte de requisitos

para quaisquer mudanças a serem feitas nele. Ele é uma lista que evolui constantemente,

conforme novas funcionalidades são entregues e outras surgem por demandas do negócio,

sendo gerido pelo DP (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013).

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Os itens mais ao topo da lista, ou seja, os de maior prioridade devem ter o maior grau de

refinamento. Seus requisitos devem estar claros e prontos para o TD começar a trabalhar

neles. Os mais abaixo, por outro lado, podem estar mais vagos e menos detalhados. Isso

garante que o tempo do DP será investido em refinar os próximos itens a serem

desenvolvidos, aumentando a agilidade do processo.

Backlog do Sprint (BS)

O BS é o conjunto de itens puxados do BP que foram definidos como parte do Sprint atual na

Reunião de Planejamento do Sprint. Somente o TD pode alterar os itens no BS, conforme

avançam no desenvolvimento e novos conhecimentos são obtidos. Dessa forma, diminui-se o

risco de ingerência e demandas não priorizadas pelo time atravessarem os planos formulados

em equipe (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013).

Incremento

O incremento é a entrega realizada pelo TD ao final do Sprint. Ele deve estar pronto para ser

lançado, cabendo ao DP definir se será ou não (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013).

Figura 3 - Processo de desenvolvimento seguindo a metodologia Scrum.

Fonte: Scrum.org® https://www.scrum.org/resources/what-is-Scrum.

BacklogdoSprint

BacklogdoProduto

ReuniãodiáriadoScrum

Sprint

Incremento

ReuniãodePlanejamentodoSprint

ReuniãodeRevisãodoSprint

ReuniãodeRetrospectivadoSprint

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2.3.2. Ferramentas para Desenvolvimento de Software

Ferramentas para desenvolvimento de software são programas usados para auxiliar a

atividade, sejam editores de design, dicionários de dados, compiladores. Seu papel é

automatizar e facilitar o desenvolvimento (SOMMERVILLE, 2009).

Segundo o CMMI v1.3 (2010), o que une uma organização são os processos utilizados por

ela, garantindo o alinhamento do negócio, sua escalabilidade e a antecipação de tendências.

Os recursos humanos, a metodologia utilizada e as ferramentas usadas são as três dimensões

críticas que as organizações focam para definir um processo e melhorar seu negócio e, como

tal, constituem a base conceitual para a análise do processo de desenvolvimento de software

que este trabalho realizará.

Figura 4 - As três dimensões críticas de um processo.

Fonte: CMMI v1.3 (2010).

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3. Método

Este capítulo tem por objetivo descrever o método utilizado para se definir a estrutura da TI

na ComidaBoa, a fim de garantir que ela esteja no nível necessário para cumprir seu papel na

organização.

Para tanto, é necessário definir seu papel na organização, o que, por sua vez, exige a análise

da estratégia da empresa e é por aí que este trabalho começa. Uma visão geral do processo

seguido neste trabalho pode ser vista na figura seguinte:

Figura 5 - Visão geral da metodologia do trabalho.

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.1. Estratégia

Para a elaboração da estratégia da empresa, é necessário entender qual o propósito da mesma,

qual a base sob a qual foi construída e pretende estar e aonde ela quer chegar. O trabalho

começa, então, definindo a missão, os valores e a visão da empresa. A abordagem para se

chegar a tais definições foi a proposta por Collins e Porras (1996), na qual se começa

analisando qual o propósito fundamental da empresa (sua missão), quais seus valores

fundamentais e em seguida qual sua visão.

DefiniçãodaEstratégiadaEmpresa

ElaborardeclaraçãodeMissão DescobrirValores ElaborarVisãode

LongoPrazo CincoForçasdePorter EstratégiadeOceanoAzul

DefiniçãodaEstratégiadaTI

DeterminarpapeldaTInaempresa

EscolhermetodologiadeGestãodeProjetos

ElaboraçãodoProcessodeDesenvolvimento

Analisarprocessoatual

Elaborarnovoprocesso Escolherferramentas Desenharprocesso

completo

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Para elaborar a declaração de missão da empresa, foi realizada uma reunião com os sete

sócios diretores da empresa em seu escritório, na qual foi utilizado o Método dos Cinco

Porquês desenvolvido na Toyota Motor Corporation (OHNO, 1988) partindo-se da atividade

realizada pela empresa.

Em seguida, na mesma reunião, para se chegar aos valores fundamentais da ComidaBoa foi

seguida a metodologia proposta por Barret (1998) de forma simplificada, tomando apenas os

sete sócios diretores da empresa e respondendo à pergunta: "quais são os valores mais

importantes para o sucesso da empresa?". Em seguida, as respostas foram consolidadas e

votadas pelos sete, elencando-se os principais valores da companhia.

Munidos da declaração de missão e dos valores fundamentais da empresa, a visão da mesma

foi elaborada seguindo a proposta de Collins e Porras (1996), ou seja, descrevendo-se metas

ambiciosas de longo prazo e descrição vívida do que seria alcançá-las. Para tanto, foi

realizada uma nova reunião com os sócios da organização na qual foi realizado um

brainstorming nos quatro temas sugeridos pelos autores: objetivo, inimigo comum, exemplo e

transformação interna. O resultado foram as metas ambiciosas de longo prazo da empresa. A

descrição vívida do cenário foi realizada pelo autor ao final da reunião.

Os exercícios para elaboração das declarações de missão, valores e visão da empresa

evidenciaram o tamanho da ambição da mesma. Os próximos passos da elaboração da

estratégia da ComidaBoa tratam de avaliar o ambiente a fim de possibilitar enxergar como

atingir a visão agora definida.

Para tanto, iniciou-se analisando o mercado e a competição existentes por meio do modelo

das Cinco Forças Competitivas de Porter. Para relizá-la, foi feita uma nova reunião entre o

autor e os sócios fundadores da ComidaBoa, a fim de entender sua visão sobre cada força. Tal

análise evidenciou que no ramo de atuação atual da empresa, de refeições prontas congeladas,

a força dos concorrentes é fraca enquanto as de produtos substitutos e ingressantes potenciais

são fortes. Esse resultado é característico de empresas que encontram um Oceano Azul.

A empresa foi então estudada sob a ótica do Oceano Azul, a fim de entender seus diferenciais

e sua posição em relação ao mercado utilizando o Canvas de Estratégia de Kim e Mauborgne.

Uma nova entrevista foi realizada com os sócios fundadores a fim de entender as

oportunidades enxergadas no mercado e os novos fatores que a empresa inseriu na indústria.

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3.2. Gestão da TI

As conclusões tiradas das análises estratégicas interna e ambiental alimentam o estudo do

papel da TI na ComidaBoa. Para a definição de tal papel, foi utilizado o Grid Estratégico de

McFarlan. Após entrevista com o CEO da companhia, chegou-se à conclusão de que TI tem

papel estratégico na empresa, sendo crucial que seja confiável no presente e que desenvolva

novas aplicações para o futuro.

Tal necessidade de desenvolver novos sistemas no futuro em um ambiente de Oceano Azul,

de inovação, aponta para uma grande incerteza: o que a TI deve produzir? Onde focar seus

esforços? Essa é a pergunta que a metodologia de gestão de projetos da TI deve responder e

dada à juventude e dinamicidade da empresa, de seu mercado e de suas oportunidades, foi

escolhida pelo autor a Metodologia Ágil a fim de mitigar tal incerteza e acelerar a geração de

valor para a empresa.

3.3. Processo de Desenvolvimento de Software

Escolhido o modelo de gestão, falta definir qual o processo de desenvolvimento de software

que será utilizado. Para defini-lo e desenhar, foi consultada a equipe de desenvolvimento atual

da empresa e estudado o seu processo atual. Além disso, a equipe e os principais stakeholders

dela foram entrevistados a fim de se entender os principais pontos positivos e negativos do

processo atual.

Por ser uma das metodologias ágeis mais utilizadas em empresas e startups de tecnologia

mundo afora e ser já conhecida por todos os desenvolvedores da equipe, o que permite fácil

adoção e evolução de seus processos, foi escolhida a metodologia Scrum. Tomando-o por

base e entendendo as qualidades e defeitos do processo existente, foi formulado um novo

processo de desenvolvimento, mais adequado ao estado da equipe e à estratégia da TI.

Finalmente, tendo-se definido o método a ser seguido, foram definidas as ferramentas a serem

utilizadas pelo departamento de TI. Os principais fatores para a tomada de decisão foram a

minimização do número de ferramentas, sua disponibilidade na nuvem, a facilidade da

interface com unidades de negócio e, claro, sua adaptação às necessidades da equipe e dos

processos definidos.

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Com isso, o trabalho termina com o desenho completo do processo de desenvolvimento de

software e os recursos utilizados pela equipe.

Figura 6 - Fluxo de atividades elaboradas neste trabalho.

Fonte: Elaborado pelo autor.

DefiniçãodaEstratégiadaEmpresa

ElaborardeclaraçãodeMissão

DescobrirValoresElaborarVisãode

LongoPrazoCincoForçasdePorter

EstratégiadeOceanoAzul

DefiniçãodaEstratégiadaTI

DeterminarpapeldaTInaempresa

EscolhermetodologiadeGestãodeProjetos

ElaboraçãodoProcessodeDesenvolvimento

Analisarprocessoatual

Elaborarnovoprocesso

EscolherferramentasDesenharprocesso

completo

Reuniãocomsóciosdiretores

5porquês

Reuniãocomsóciosdiretores

“Quaisosvaloresmais

importantesparaaempresa?”

Reuniãocomsóciosdiretores

Metas audaciosas

Descriçãovívidadocenário

Entrevistacomsócios

fundadores

Análisedasforças

Entrevistacomsócios

fundadores

Canvas estratégico

EntrevistacomCEO

AnáliseGridEstratégico

Análisedaestratégia deTIe

ambientedaempresa

Escolhadametodologia

Entrevistas comequipede

desenvolvimentoestakeholders

Desenhodoprocessoatual

Escolhadametodologia

adequada

Desenhodoprocessobaseado

nametodologia, requisitoseobjetivosdaequipe

Análisedasferramentasatuais

Proposta denovasutilizações

Desenho finaldoprocessode

desenvolvimento

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41

4. Resultados

O presente capítulo tem por objetivo aplicar o método descrito no capítulo anterior, baseado

na bibliografia revisada anteriormente, e analisar os resultados obtidos, observando seu

impacto na empresa.

4.1. Definição da estratégia

Conforme elucidado no método proposto, o primeiro passo deste estudo é definir a estratégia

da ComidaBoa. Será baseada nela que a estratégia de gestão da TI será em seguida

estruturada.

4.1.1. Missão, valores e visão da empresa

A primeira etapa para se entender a estratégia da empresa foi olhar para dentro dela: qual seu

propósito? Quais valores permeiam as pessoas da organização e quais ela quer incentivar?

Onde a empresa quer chegar?

Para responder essas perguntas, foi realizada uma reunião com os sete sócios diretores da

empresa exclusivamente para abordar o tema. Foi seguida a hierarquia proposta por Collins e

Rukstald (2008) na definição da ordem a ser seguida: primeiro, discutiu-se missão; em

seguida, valores; por fim, visão.

Missão

O método que guiou a definição de missão da ComidaBoa foi o dos “Cinco Porquês”. Partiu-

se da atividade exercida pela empresa:

“Vendemos comida boa e saudável de um jeito conveniente e acessível”.

Por quê?

“Para facilitar o acesso à alimentação saudável”.

Por quê?

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“Para fazer as pessoas comerem melhor, em termos nutritivos e de sabor”.

Por quê?

“Para melhorar a qualidade de vida das pessoas”.

Chegou-se, então, que o propósito da empresa é melhorar a qualidade de vida das pessoas. A

partir desse propósito, foi elaborada uma declaração de missão que servisse de guia e

inspiração que fosse facilmente compreensível e que fosse breve a ponto de caber em uma

camiseta:

“Melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio da alimentação, fazendo dela uma

experiência fantástica”.

Valores

A empresa já possuía uma declaração de valores, mas esta havia sido feita sem uma

metodologia a guiando, em uma reunião também com todos os sócios diretores realizada em

Março de 2017. O que os guiara à época fora o desejo de traduzir a cultura da empresa em

valores fundamentais. O resultado está apresentado a seguir:

• Foco nas pessoas

• Fazer a coisa certa do jeito certo

• Sonho grande

• Diversidade e pessoas inspiradoras no time

• Proatividade

• Transparência

• Alegria e bom humor

• Vida ativa

• Responsabilidade e autonomia

A discussão para se definir os valores da empresa, desta vez, foi pautada pela pergunta

simples: quais valores você acha que são os mais importantes para a empresa? Cada um dos

sete sócios escreveu de maneira privada os dez valores que julgava mais importante.

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Em seguida, todas as respostas foram consolidadas em uma lousa branca presente na sala,

agrupadas por significado e cada participante recebeu três adesivos para votar nos que julgava

mais importantes.

O resultado foi uma lista de valores mais coesa e sucinta, exibida abaixo com breve descrição

de cada valor:

Foco nas pessoas

Foco em melhorar a vida das pessoas, sejam clientes, fornecedores ou membros da equipe,

criar relacionamentos, tratar com respeito, encantar, impactar positivamente.

Sonho grande

Pensar grande, mover e ser movido pelo desafio de gerar um impacto positivo no mundo, não

perder de vista a missão da empresa, não se deixar levar pelo pensamento de curto prazo.

Dinamismo e garra

Ser proativo, flexível e incentivar esse comportamento na equipe.

Fazer o certo do jeito certo

Os fins não justificam os meios, ser transparente, honesto, sustentável ambiental, social e

economicamente.

Vida ativa e bom humor

Dedicar tempo à sua própria qualidade de vida, ao seu desenvolvimento, ao que te faz feliz e

trazer essa alegria para o escritório e para as relações da empresa.

Visão

Com a missão e os valores da empresa em mãos, foi seguida a proposta de visão integrada,

com eles sendo a ideologia central da ComidaBoa.

Para tanto, primeiro foram definidos os BHAG, as metas audaciosas para 10 a 30 anos a partir

de agora, por meio de brainstorming nos quatro temas sugeridos pelos autores: objetivo,

inimigo comum, exemplo e transformação interna. O resultado foi o seguinte:

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• Democratizar o acesso à alimentação saudável no mundo;

• Eliminar competitivamente as empresas que não respeitem o consumidor, a sociedade

e o meio ambiente;

• Se tornar referência em qualidade e conveniência.

A segunda parte, de descrever vividamente como o cenário será quando as metas forem

atingidas, foi esboçada ao final da reunião e finalizada pelo autor a partir de tal diretriz:

“Mudaremos o jeito de se relacionar com os alimentos. Por meio da conveniência e qualidade

que ofereceremos, as pessoas dividirão refeições fantásticas no seu dia a dia, que farão bem

para seu corpo e sua mente.

Revolucionaremos a maneira como a indústria tradicional age e produz, obrigando ela a se

adaptar ou se aposentar. Por meio da tecnologia e processos eficientes, tornaremos escaláveis

a produção sustentável e transparente de alimentos saudáveis.”

4.1.2. Análise do mercado

Tendo olhado para dentro da empresa e definido qual seu propósito e para onde ela se vê indo,

o segundo passo é olhar para o ambiente em que ela se encontra. Tendo em mãos quem é a

empresa e onde ela se encontra, será possível definir sua estratégia. Para esta etapa do

trabalho, foi realizada uma nova reunião com os sete sócios diretores da empresa.

Cinco forças competitivas de Porter

A primeira etapa da análise ambiental da ComidaBoa foi avaliar seu posicionamento frente às

Cinco Forças Competitivas de Porter. Para tanto, é necessário definir qual o mercado no qual

a empresa se situa, o que resultou no mercado de refeições saudáveis prontas congeladas,

produto principal da empresa hoje.

A dinâmica da reunião foi proposta e encaminhada pelo autor. Este explicou o embasamento

teórico e o significado de cada força. Em seguida, para cada força foi dado um período de

cinco minutos para os participantes formularem os fatores que a compunham seguido de um

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período de cinco minutos de discussão e determinação da intensidade da força. O resultado foi

o seguinte:

Ameaça de produtos substitutos

O ramo de refeições prontas congeladas está suscetível a uma grande variedade de opções,

uma vez que busca oferecer refeições para o dia a dia. Para tanto, os consumidores podem

optar por comprar e cozinhar em casa, comer em algum restaurante ou utilizar serviços de

entrega que possibilitam receber ambos em casa (ingredientes ou refeições prontas).

Essas opções ainda operam do mesmo jeito que décadas atrás, vendendo os mesmos tipos de

alimento. Não há, hoje, opções que ofereçam simultaneamente a conveniência digital, a

conveniência da entrega e do preparo, a qualidade do alimento e a atenção ao impacto da

refeição na saúde humana que a ComidaBoa oferece.

O surgimento de produtos substitutos que unam esses valores de maneira diferente pode

representar uma grande ameaça à empresa. Por isso, foi considerada uma força competitiva de

alta intensidade.

Ingressantes potenciais

Por mais que a empresa tenha diferenciais de empresa pequena como flexibilidade e

agilidade, ela não possui os recursos que grandes empresas nacionais e internacionais de

alimentos possuem. Empresas grandes e consolidadas como Nestlé®, Unilever® e Procter &

Gamble® têm se utilizado de seu grande poder econômico para adquirir empresas menores e

entrar em mercados que antes não acessavam. Outras, que já possuem expertise digital e

operacional, como Amazon® e Walmart®, estão utilizando seus recursos também para

desenvolver internamente soluções próprias para mercados que empresas pequenas e startups

comprovaram ser atraentes.

Pelo tamanho e potencial do mercado de alimentação e pela força dos players tradicionais,

esta é uma força competitiva de alta intensidade.

Concorrentes

As empresas que atuam no mercado de refeições saudáveis prontas congeladas hoje no Brasil

são poucas e pequenas. A maioria atende a nichos específicos, como dietas de academia ou

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público vegetariano, possuindo muitas vezes uma infraestrutura familiar e um crescimento

lento nos últimos anos.

A ComidaBoa, em seus quase dois anos de existência, já atingiu a liderança deste mercado e

seu resultado não é mais afetado por campanhas ou variações de preços dos concorrentes

diretos. Por isso, esta força competitiva foi considerada de baixa intensidade.

Poder de barganha dos fornecedores

Os fornecedores da empresa são em sua quase totalidade fornecedores de commodities,

principalmente matéria-prima alimentar como frutas, verduras, legumes, carnes e queijos. Tal

mercado é conhecidamente pulverizado, possuindo um grande número de provedores. Por

política da empresa, a maioria são produtores e cooperativas locais e de produtos orgânicos,

que por conta do relacionamento com a empresa e do crescimento desta têm aumentado sua

produção e se desenvolvido junto.

Desta forma, o poder de barganha se encontra nas mãos da empresa, não dos fornecedores, o

que caracteriza esta como uma força competitiva de baixa intensidade.

Poder de barganha dos clientes

O mercado de alimentação possui uma infinidade de opções para o consumidor escolher,

porém quando observamos o segmento de refeições saudáveis prontas congeladas, como

notamos na análise de concorrentes, as opções são poucas e voltadas a nichos específicos.

Por conta do crescimento acelerado da empresa, da taxa de retenção alta que possui e da alta

satisfação que ela tem medido junto aos consumidores, esta força competitiva foi considerada

de baixa intensidade.

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Tabela 2 - Síntese da análise das forças de Porter no ramo de refeições prontas congeladas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

As forças competitivas mais intensas detectadas são, então, forças em potencial (ameaça de

novos entrantes e de produtos substitutos). Podemos dizer então que as forças competitivas

não são intensas, o que mostra um grande potencial de lucro para a empresa. Além disso,

podemos notar que a competição não é tão relevante para a ComidaBoa neste momento, o que

indica um potencial Oceano Azul.

Oceano Azul

Para verificar tal potencial e investigar se a ComidaBoa descobriu um mercado pouco

explorado e de alto potencial, foi aplicado o Canvas Estratégico a fim de se comparar a

empresa com os maiores mercados dentro da indústria de alimentos, a fim de avaliar os

valores demandados pelos clientes e como eles são entregues hoje por cada mercado.

Tradicionalmente, as opções que o consumidor urbano possuía para realizar suas refeições

eram comprar os alimentos no mercado, cozinhar em casa e comer onde quiser (chamaremos

de “Mercados – MP”), comprar alimentos prontos (congelados) no mercado e comer onde

ForçadePorter Intensidade Observações

Ameaça deprodutos substitutos Alta

Omercado dealimentospossui

umavastagamadeopções.

Podemsurgir substitutos.

Novosingressantes Alta

Aindústriadealimentospossui

empresasestabelecidascom

muitocapital.

Concorrentes Baixa Poucos,pequenos edenicho

Poderdebarganhados

fornecedoresBaixa

Muitas opçõesdefornecedores

decommodities

Poderdebarganhados

consumidoresBaixa

Poucasopçõesderefeições

prontascongeladascom as

mesmascaracterísticas

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quiser (chamaremos de “Mercados – Congelados”) ou comer em estabelecimentos que

oferecem serviço de refeição (chamaremos de “Restaurantes”).

Nesse cenário tradicional, os principais valores disputados pelo mercado são:

• Preço

• Variedade de opções

• Conveniência de compra

• Conveniência de consumo

• Qualidade da refeição

O Canvas desse cenário mostra a relação de valor dentro da indústria de refeições:

Gráfico 2 - Canvas estratégico da indústria tradicional de alimentos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Neste caso, comprar no mercado e cozinhar em casa é a opção mais barata, com maior

variedade de opções, com qualidade que depende da habilidade em cozinhar do consumidor e

com pouca conveniência, dado que ele tem que se deslocar até lá, escolher os ingredientes,

preparar e cozinhar em casa. Comprar alimentos congelados, nesse cenário, representa um

custo um pouco maior e uma perda na percepção de qualidade em troca de ganho de

conveniência no momento de consumo, dado que o alimento já está pronto. O restaurante

representa um ganho de qualidade (refeição preparada por chefs) e de conveniência em troca

de perda de variedade (restrita às opções de restaurantes) e aumento do preço.

Preço Variedade Conveniência de compra

Conveniência de consumo

Qualidade

Fatores de competição

Canvas estratégico - Indústria tradicional de alimentos

Mercados - MP

Mercados - Congelados

Restaurantes

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Com a penetração dos smartphones e da internet na sociedade e o advento dos comércios

eletrônicos e serviços de entrega, o serviço de entregas de restaurantes se tornou competitivo,

abrindo novas opções de descoberta de restaurantes e maior conveniência de compra em troca

de um custo mais elevado (chamaremos de “Entregas de restaurantes”).

Gráfico 3 - Canvas estratégico da indústria tradicional de alimentos com serviços de entregas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em entrevista com os fundadores da ComidaBoa, eles afirmam que o que os fez iniciar a

empresa em março de 2016 foi analisar esse cenário e perceber uma desconexão entre os

valores disputados pelas empresas tradicionais e os valores percebidos e demandados pelos

consumidores:

“Encontramos uma indústria entregando um produto desconectado com as novas demandas

dos consumidores. Sentíamos que ela não estava preocupada com sua saúde ou com a

qualidade de vida das pessoas. As marcas e os produtos evoluíram pouco nas últimas

décadas e a indústria não acompanhou as mudanças trazidas pela internet”

Fundador da ComidaBoa

Preço Variedade Conveniência de compra

Conveniência de consumo

Qualidade

Fatores de competição

Canvas estratégico - Indústria tradicional de alimentos com serviços de entregas

Mercados - MP

Mercados - Congelados

Entregas de restaurantes

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As pesquisas de mercado e de tendências apontam para o mesmo caminho. A maior tendência

observada é por conveniência oriunda do imediatismo, de querer receber o produto na hora,

obter respostas na hora, querer ser atendido na hora (EUROMONITOR, 2017). Os

consumidores exigem da marca um nível alto de serviço em todas as esferas e caso sua

expectativa não seja atendida eles migram para serviços concorrentes (ACCENTURE, 2013).

Além disso, o mercado de alimentação saudável e de bem-estar é o que mais cresce dentro da

indústria de alimentos, sendo o Brasil o segundo maior mercado nessa categoria

(EUROMONITOR, 2012). A sustentabilidade também tem crescido muito em importância,

sendo que 66% dos consumidores demonstram a intenção de pagar mais por alimentos que

sejam produzidos de maneira sustentável (NIELSEN, 2015). Os consumidores buscam

também cada vez mais autenticidade nos produtos, ou seja, menos produtos feitos em massa

sem diferenciação, o que se traduz em uma tendência de personalização da voz da marca e

dos produtos que vende (EUROMONITOR, 2017).

Dessa forma, os fatores atualmente mais relevantes para se analisar o valor entregue por cada

segmento do mercado de alimentação são:

• Preço: valor médio para uma refeição completa;

• Variedade: quantas opções de refeições são oferecidas;

• Marca autêntica: como a empresa se utiliza de mídias digitais, mídias sociais, quão

moderna é a linguagem da marca;

• Saudabilidade: quão saudáveis são as opções oferecidas;

• Conveniência de compra: tempo até conseguir efetuar uma compra, tempo até estar

com o produto em mãos. Se aplicável, velocidade e facilidade do comércio eletrônico,

qualidade da experiência de entrega, flexibilidade do serviço;

• Nível de serviço: como a empresa se relaciona com os consumidores, em quantos

canais atende, quão eficaz e flexível é o atendimento.

• Qualidade: qualidade percebida pelos clientes;

• Conveniência de preparação e consumo: tempo entre comprar e o produto estar pronto

para o consumo;

• Sustentabilidade: quanto a empresa é conhecida por ser sustentável ambiental e

socialmente, desde seu processo produtivo, ao impacto de seus produtos no

consumidor até o descarte;

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Os mercados a serem comparados com a ComidaBoa nesse novo cenário são as possíveis

opções que o consumidor tem para realizar uma refeição atualmente que, além dos

previamente citados, inclui seus concorrentes no segmento de refeições saudáveis prontas

congeladas:

• Supermercados – matéria-prima

• Supermercados - produtos congelados tradicionais

• Restaurantes

• Entregas de restaurantes

• Ramo de entrega de refeições saudáveis prontas congeladas (concorrentes)

Por se avaliar que entregas de restaurantes oferecem o mesmo produto final do que sua

contrapartida puramente física, se diferenciando por maior conveniência e aumento no custo,

e a fim de simplificar e facilitar a visualização do Canvas, optou-se por remover os

restaurantes físicos da análise, sob a hipótese de que sua versão digital apresenta maior força

competitiva neste estudo.

Além disso, como já foi observado que a força competitiva dos concorrentes é de baixa

intensidade, esta também foi removida da lista inicial a fim de melhorar a visualização do

Canvas.

Gráfico 4 - Canvas estratégico da indústria de alimentos com a entrada da ComidaBoa.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Preço Variedade Marca autêntica Saudabilidade Conveniência de compra

Nível de serviço Qualidade Conveniência de consumo

Sustentabilidade

Fatores de competição

Canvas estratégico - ComidaBoa

ComidaBoa

Indústria tradicional congelados

Entregas de restaurantes

Entregas de mercados

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É possível perceber graficamente a diferença da estratégia da ComidaBoa em relação aos

segmentos tradicionais do mercado. Por controlar a cadeia de valor desde a seleção de

fornecedores até chegar ao consumidor final e por ter nascido digital, um comércio eletrônico

no qual consegue medir e se comunicar diretamente com seus clientes, a empresa é capaz de

alinhar seus produtos à forte demanda por qualidade e saudabilidade, de alinhar seu nível de

serviço e conveniência às expectativas do público e de veicular sua personalidade e ações de

sustentabilidade de maneira transparente e autêntica.

Além disso, pelo modelo de refeições congeladas no qual, segundo a empresa, se compra em

média oito refeições por pedido, o custo logístico de entrega se dilui, o que, aliado à produção

em escala dos alimentos, resulta em preço médio por refeição abaixo dos preços médios de

serviços de entrega de restaurantes (R$23,00 por refeição segundo a empresa). O preço mais

alto em relação a mercados e congelados tradicionais segue a tendência de que os

consumidores buscam cada vez mais alimentos naturais, saudáveis e pouco processados e

estão dispostos a pagar mais por isso (NIELSEN, 2015).

O resultado é um crescimento médio acelerado de 23% ao mês desde que foi criada no início

de 2016 com ampla taxa de satisfação dos consumidores, expandindo o mercado de refeições

saudáveis a pessoas que não se alimentavam bem por falta de opções convenientes e de

qualidade e expandindo o mercado de refeições prontas congeladas a pessoas que possuíam

preconceito em relação a alimentos prontos, pelas características tradicionais da indústria.

4.2. Gestão da TI

A estratégia da ComidaBoa então pode ser resumida como uma busca por melhorar a

qualidade de vida das pessoas ao repensar a maneira como o mercado oferece alimentação

saudável. Para tanto, a empresa se conecta com seu cliente por meio de seu comércio

eletrônico, sua equipe de atendimento ao consumidor e da linguagem da marca, oferecendo

um nível alto de serviço e de experiência de compra comparado ao mercado. Tal contato

retroalimenta sua produção e desenvolvimento dos produtos por meio de análises de

tendências e satisfação. A empresa também considera a conveniência um grande diferencial,

seja pela experiência de compra e entrega, ou seja, pelo produto ficar congelado e armazenado

no freezer do consumidor, pronto para ser consumido.

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O objetivo desta parte do trabalho é agora examinar como o departamento de TI se encaixa

nesse contexto, qual seu papel na empresa, para, com isso, determinar qual metodologia ele

deve seguir.

4.2.1. O papel da TI na ComidaBoa

Para determinar o papel da TI na ComidaBoa, analisaremos quão sólidos e confiáveis devem

ser os sistemas de TI e quão forte é a necessidade por novos sistemas para o sucesso da

empresa.

Para analisar o nível de confiança exigido pelos sistemas de TI da empresa é necessário

primeiramente elucidar quais são eles:

• Comércio eletrônico: A loja eletrônica da empresa, único canal de vendas por onde é

possível adquirir os produtos da ComidaBoa;

• Sistema de gestão de recursos (ERP): Sistema que possui todas informações de

clientes, vendas, produtos, cupons de desconto, nota fiscal e centros de distribuição da

empresa;

• Sistema de separação e embalagem de pedidos: Sistema que faz a interface entre os

trabalhadores logísticos da empresa e a entrega dos pedidos dos clientes. Composto

por três computadores dispostos na região do estoque de saída dos produtos, cada um

com um leitor de código de barras e controlado por um operador. O sistema exibe os

itens de cada pedido, que devem ser separados pelo operador e lidos pelo código de

barras para então serem embalados e armazenados até o momento de expedição;

• Sistema de gestão de estoques: Sistema de controle e atualização dos estoques da

empresa. Os controladores de estoque sobem atualizações quando a produção informa

nova quantidade de produtos acabados e quando produtos são transferidos entre

centros de distribuição. O Sistema de separação e embalagem de pedidos atualiza a

quantidade em estoque de cada centro assim que o produto é identificado como

“pronto para ser expedido” pelo leitor de código de barras.

O nível de confiança exigido por todos os sistemas é máximo.

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Caso o comércio eletrônico fique fora do ar, a empresa não gera receita e pode perder clientes

pela experiência frustrante. O mesmo pode ocorrer caso o sistema apresente falhas que

interfiram na jornada de compra do usuário.

Caso o ERP fique desconectado ou sem serviço, as operações internas da empresa cessam:

emissão de nota fiscal, atendimento ao cliente, gestão de vendas, usuários e produtos.

O Sistema de separação e embalagem de pedidos também não pode ficar fora do ar, se não a

operação de separação e, consequentemente, de expedição cessaria. Isso faria com que a fila

de pedidos se acumulasse, pedidos atrasassem e clientes se frustrassem com a empresa.

Já o Sistema de gestão de estoques tem maior tolerância a ficar sem serviço, pois suas

consultas e atualizações são pontuais, não contínuas. Porém, o nível de confiabilidade exigido

das informações que ele exibe é o mais alto, uma vez que todas as decisões de planejamento e

programação da produção (PPCP) e incentivo de produtos via ações de marketing ou

recomendação no comércio eletrônico são baseadas nele.

Quanto à necessidade do desenvolvimento de novos sistemas, em conversa com os sócios

diretores da ComidaBoa a empresa acredita que eles são essenciais para atingir sua visão de

futuro e entregar os valores abordados na análise estratégica definida neste trabalho. Segundo

eles, a empresa tem uma vasta gama de sistemas que são essenciais para escalar o negócio,

desde aplicativos para smartphones até integrar as áreas de PPCP, gestão de fornecedores e

processos da cozinha a sistemas digitais, possibilitando a modelagem completa da operação e

futura implementação de sistemas modernos de inteligência artificial, trazendo as operações

da empresa para a indústria 4.0.

Dessa forma, o papel da TI no modelo de Grid Estratégico é estratégico.

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Figura 7 - Grid estratégico de McFarlan com papel da TI na ComidaBoa.

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2.2. Gestão de projetos da TI

Com a estratégia da ComidaBoa definida e o papel da TI dentro da empresa esclarecido,

parte-se para a etapa de estruturação interna da área. O primeiro passo, para tanto, é escolher

o paradigma que regerá tal organização.

Observando a história e a estratégia da empresa, percebe-se que ela está criando um mercado

novo, um Oceano Azul, e, portanto, pode ser considerada uma empresa inovadora. Mesmo

com as declarações de missão e visão definidas neste trabalho, o modo como a empresa vai

buscar atingir esses objetivos é uma grande interrogação e seu rápido crescimento e sua breve

história mostram que seu futuro, como em toda organização inovadora, é cercado de

incertezas. Dada a juventude da empresa (menos de dois anos desde sua fundação), seu grau

de incerteza vai além de simplesmente não conhecer as probabilidades de certas variáveis, ela

também não conhece todas as variáveis cujas probabilidades, se posicionando, então, em um

cenário de grande incerteza.

Como observado na análise do papel da TI na ComidaBoa, os sistemas desenvolvidos são

predominantemente de software. No caso de projetos de software, esse cenário de incertezas

Fábrica

Estratégico

Suporte Transição

NecessidadedenovasaplicaçõesdeTI

Necessidadede

TIcon

fiável

ComidaBoa

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56

se traduz em necessidade de um processo de desenvolvimento flexível e menos formal, o que

sugere que a solução mais efetiva para a área será a utilização da metodologia ágil.

4.3. Processo de desenvolvimento de software

Definido o paradigma que mais se adequa às necessidades da TI na ComidaBoa, parte-se

agora para a estruturação do processo de desenvolvimento de software e da escolha das

ferramentas que farão parte do dia a dia da área.

4.3.1. Elaboração do processo de desenvolvimento de software

Diagnóstico do processo atual

Conforme descrito no Capítulo 3 deste trabalho, existem diversas abordagens de

desenvolvimento de software que seguem a metodologia ágil. Para determinar qual ou quais

melhor se encaixam na TI da ComidaBoa, foi analisado o processo atual de desenvolvimento

e realizadas entrevistas com todos os participantes desse processo, a fim de entender como a

equipe está organizada hoje, quais seus pontos positivos e negativos e o que, na visão da

equipe, seriam as qualidades de um processo ideal.

O processo atual da TI é baseado na metodologia Scrum, porém, ao mesmo tempo que não

segue grande parte das proposições, não é bem definido, isto é, as etapas não estão claras a

todos os envolvidos. O processo, esquematizado na figura abaixo, começa com uma reunião

da equipe de TI inteira (cinco desenvolvedores e o CTO) junto com um representante de cada

área da empresa (marketing, atendimento ao cliente, produção e logística) e o CEO, chamada

de Reunião de Backlog. Nessa reunião, as áreas trazem suas demandas para a área de TI e

debate-se em conjunto quais serão as prioridades do time. Define-se, então, quais as tarefas

que a equipe trabalhará nas próximas duas semanas no seu Sprint.

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Figura 8 - Esquema do processo de desenvolvimento atual da ComidaBoa.

Fonte: Elaborado pelo autor.

As entrevistas foram então realizadas com os desenvolvedores, o CTO da empresa, os

representantes de cada área e o CEO da ComidaBoa.

As seguintes perguntas foram realizadas:

• Quais são os pontos negativos da organização atual da equipe?

• Quais são os pontos positivos da organização atual da equipe?

• Com quais processos de desenvolvimento você já trabalhou?

• Quais as características do processo ideal para a equipe?

O principal ponto negativo levantado pelas áreas clientes foi um sentimento de insegurança:

eles não sabem quando nem como a funcionalidade será desenvolvida. Sentimento parecido é

o que possui a equipe de desenvolvimento: não sabem o que a área cliente espera, se sentem

inseguros e acabam fazendo o que imaginam terem entendido do problema. O diagnóstico é

de que há uma falta de comunicação em como o processo é encaminhado atualmente. O

resultado desse problema é a existência de retrabalho, atrasos e má gestão de expectativas.

O principal ponto positivo apontado por todos foi a transparência. Todos participam da

tomada de decisão e têm um sentimento de que as decisões são realmente as que mais trarão

valor para a empresa. Não existem rivalidades entre as áreas, garantindo alinhamento e

colaboração na equipe.

BacklogdoSprint

BacklogdoProduto

SprintIncremento

ReuniãodeBacklog

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Todos os membros da equipe de desenvolvimento e o responsável pela equipe de marketing

(CMO) já haviam trabalhado com metodologias ágeis anteriormente. Todos eles possuíam

experiência com a abordagem do Scrum, três dos cinco desenvolvedores já haviam utilizado

Kanban e apenas um possuía experiência com XP.

Ao descreverem as características que o processo ideal de desenvolvimento de software

deveria ter na ComidaBoa, os principais pontos levantados foram:

Agilidade

Foi considerada a característica mais importante que o processo seja ágil, com o mínimo de

burocracia possível, permitindo que a equipe entregue valor para o cliente o rapidamente

responda à imprevisibilidade do ambiente e do projeto.

Transparência

Dada como o principal ponto positivo do processo atual, transparência é algo que todos os

envolvidos consideram crucial para o processo e para a cultura da empresa, possibilitando a

todos participarem e estarem a par das decisões e de seus racionais.

Comunicação

Levantado como o ponto fraco do processo atual, os envolvidos visualizam um processo no

qual a área cliente e o time de desenvolvimento estejam alinhados na implementação das

tarefas e no qual a equipe inteira fique a par da evolução e das novidades.

Formulação do novo processo de desenvolvimento

Observando a demanda por agilidade e pouca burocracia e aproveitando o fato do processo

atual ter sido baseado na metodologia Scrum, de essa ser a abordagem na qual os membros da

equipe possuem maior experiência e dela ser uma das principais utilizadas em empresas de

diferentes portes (mostrando sua adaptabilidade e escalabilidade), o Scrum foi a abordagem

escolhida para montar o processo de desenvolvimento de software na ComidaBoa.

Foi definido então um Dono do Produto (DP): como a empresa ainda é pequena, o CTO da

empresa exercerá essa função. Ele será responsável por maximizar o valor que o time de

desenvolvimento entrega à ComidaBoa, ou seja, por garantir a otimização do backlog.

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Em seguida, um dos desenvolvedores foi designado pelo time como o Mestre do Scrum, por

ser o mais experiente e que mais conhecia dos processos. Ele irá garantir que o processo

seguirá como planejado.

Como a transparência na tomada de decisões foi um dos pontos positivos do processo atual,

optou-se por manter os mesmos participantes da Reunião de Backlog, ou seja, o time de

desenvolvimento e os representantes de cada área da empresa. Por ser uma reunião com tantos

participantes, foi levantado que por vezes ela se alonga mais do que a uma hora planejada.

Para resolver esse problema e o da falta de definição de requisitos e de definição de tarefa

pronta, o processo se iniciará com uma reunião individual entre o DP e o responsável de cada

área, na qual este trará as prioridades da mesma. O papel do DP é já filtrar o que não for

possível do time realizar e fazer a área pensar nos problemas a serem resolvidos, não nas

soluções. Estas serão desenhadas em conjunto com o time de desenvolvimento. Para tanto,

ainda nesta reunião eles prepararão os requisitos e as definições de sucesso dos problemas.

Figura 9 - Representação das reuniões do DP com as principais áreas da empresa.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Dessa forma, as áreas chegarão com seus problemas bem preparados e definidos para que a

Reunião de Backlog tenha como foco pensar nas possíveis soluções e avaliar seu impacto na

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empresa e seu tempo de desenvolvimento para, com isso, priorizar as mais relevantes com

ganhos mais rápidos, garantindo agilidade na entrega de valor para o cliente. O resultado

desta reunião, que ocorrerá quinzenalmente às sextas-feiras, é uma lista das soluções

prioritárias a serem implementadas pela TI, que alimentará a segunda etapa do processo: a

Reunião de Planejamento do Sprint.

Figura 10 - Esquema da elaboração e priorização do Backlog.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A Reunião de Planejamento do Sprint é interna ao time de TI e ocorrerá na segunda-feira

seguinte à de Backlog. Nela, a equipe quebrará as soluções em tarefas, definirão quais

entrarão no Sprint, de duas semanas, e quem será o responsável por cada tarefa, elaborando

um cronograma do Sprint. Dessa forma, amplia-se a transparência e gere-se a expectativa das

áreas cliente.

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Figura 11 - Representação da Reunião de planejamento do Sprint.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ao término dessa reunião, cada programador marcará um horário com os principais

envolvidos na solução que desenvolverá para a desenharem em conjunto, garantindo que tanto

a expertise técnica quanto a de negócios estarão envolvidas, gerando alinhamento e

possibilitando a inovação.

Para garantir o alinhamento interno do time de TI, tanto nas práticas de desenvolvimento e

padrões de código quanto no sentimento de equipe, serão realizadas as Reuniões Diárias do

Scrum. Tais reuniões terão duração máxima de 15 minutos e serão realizadas de pé. Elas serão

guiadas pelo Mestre do Scrum e cada desenvolvedor responderá três perguntas:

• O que realizou desde a última Reunião Diária de Scrum?

• O que realizará até a próxima Reunião Diária de Scrum?

• Quais são os maiores impedimentos que tem encontrado no desenvolvimento?

Dessa maneira, a equipe terá uma visão do andamento do Sprint e de quais partes do código

estão sendo alteradas ou desenvolvidas e compartilhará seus maiores bloqueios. Dessa forma,

se algum desenvolvedor já tiver passado por aquela parte do código fonte ou por bloqueios

parecidos, ocorrerá a troca de experiências e de informações, promovendo a cooperação

dentro do time e a agilidade da equipe.

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Além das Reuniões Diárias do Scrum, foi proposta pelo autor Reuniões Diárias de

Alinhamento, a serem realizadas logo antes da do Scrum. Elas serão reuniões também de 15

minutos que cada desenvolvedor terá com os envolvidos da área de negócio relacionados à

sua tarefa, a fim de atualizar o andamento do desenvolvimento e coletar opiniões (do inglês,

feedback) da área de negócios, com o objetivo de detectar divergências ou falhas o mais cedo

possível no ciclo de desenvolvimento.

Ao invés de esperar o fim do Sprint para apresentar demonstrações, essas Reuniões Diárias de

Alinhamento permitirão demonstrações frequentes, com feedback constante, permitindo que

assim que a solução estiver terminada, testada e aceita pelo time de negócios envolvido ela

possa ser lançada. Dessa forma, o valor será entregue para o cliente assim que a solução

estiver pronta, minimizando burocracias e aumentando a agilidade da equipe.

Para garantir que os lançamentos constantes sejam seguros e não ocasionem em falhas no

sistema que destruam valor, será implementado de um sistema de Implantação Contínua (IC),

uma etapa de Revisão de Código na homologação da solução e um ritmo diário de

lançamentos de soluções (sempre que houver pelo menos uma pronta).

Tal sistema de IC consiste em escrever testes automatizados unitários e funcionais que

cubram a maior e mais importante parte do código fonte e implementar uma rotina que exige

a aprovação de todos os testes para o lançamento de novas versões, lançando-as ou rejeitando-

as automaticamente. Além disso, significa adicionar novos testes para novas funcionalidades.

Para tanto, os testes passam a fazer parte da definição de pronto das soluções.

Figura 12 - Fluxo de Implantação Contínua.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Desenvolvimento Testesautomatizados

Lançamentoemambientede

testes

Testesautomatizadosemambientede

testes

Lançamentoemambientedeprodução

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A Revisão de Código significa que a última etapa de homologação será o desenvolvedor

apresentar as mudanças realizadas para outro colega programador, a fim de validar a lógica

utilizada, o padrão de código e as mudanças feitas. Com isso, não só se garante a qualidade da

entrega como o conhecimento não fica centralizado no desenvolvedor da solução e sua

eventual manutenção poderá ser feita por mais de um programador.

A frequência diária dos lançamentos visa diminuir a quantidade de mudanças que irão ao ar

simultaneamente, diminuindo sua complexidade e, portanto, seus riscos. Além disso, garante

agilidade e previsibilidade ao processo, possibilitando aos desenvolvedores e às áreas saberem

quando as novidades irão ao ar.

Figura 13 - Ciclo de desenvolvimento.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ao final do Sprint e antes da Reunião de Backlog, será realizada uma Reunião de Revisão do

Sprint. Esta terá por objetivo analisar o processo de desenvolvimento, fomentando na equipe

o espírito crítico e de dono do processo em si. Deverão ser respondidas as seguintes

perguntas:

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• O processo está eficiente? A equipe está rendendo como gostaria? Existem fontes de

desperdício atrapalhando o desenvolvimento? Como melhorar?

• O processo está eficaz? A equipe está entregando o resultado esperado? Existem

atrasos ou faltas de alinhamento que não deveriam existir? Como melhorar?

Assim, foi desenvolvido um processo baseado na metodologia Scrum, mas adaptado à

demanda por pouca burocracia, transparência e maior comunicação entre as diversas áreas da

ComidaBoa. O processo envolve participação constante dos desenvolvedores na tomada de

decisão, participação frequente da área de negócios nos ciclos de desenvolvimento e entrega

de valor rápida para os clientes por meio desse alinhamento entre as áreas e de lançamentos

frequentes possibilitados pelo sistema de Integração Contínua.

Figura 14 - Visão geral do processo de desenvolvimento proposto para a ComidaBoa.

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.3.2. Escolha das ferramentas de desenvolvimento

Para se decidir acerca das ferramentas que serão utilizadas no processo de desenvolvimento

da ComidaBoa, foram consideradas as seguintes orientações:

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• Utilizar o menor número possível de ferramentas distintas, a fim de minimizar custos

de setup e facilitar a aceitação das escolhidas;

• Utilizar da computação em nuvem, para possibilitar o acesso às suas informações de

qualquer aparelho, em qualquer lugar, de maneira sincronizada;

• Facilidade da utilização pelas unidades de negócio quando for uma ferramenta que

elas se beneficiarão se também utilizarem;

• Custo da solução para a empresa.

Gerenciador de projetos

A primeira ferramenta necessária para o processo é um gerenciador de projetos, uma

ferramenta que possibilite documentar as prioridades definidas na Reunião de Backlog e

gerenciar as tarefas e responsáveis definidos na Reunião de Planejamento do Sprint. A

ComidaBoa já utiliza em seus diversos times o gerenciador de projetos Asana®, em sua

versão gratuita. O Asana® é um software na nuvem na qual a empresa cadastra times e cada

time cria seus projetos. Os projetos podem ser organizados em lista ou em kanban boards e

contêm as tarefas, que podem ser divididas em seções, possuem etiquetas (tags), um

responsável e um prazo de entrega (opcional). As tarefas possuem título, descrição, podem

receber comentários e ser divididas em subseções e subtarefas, que possuem as mesmas

características de uma tarefa.

Figura 15 - Logotipo do Asana®.

Fonte: Asana®.

A TI, em específico, o utiliza apenas para centralizar e gerenciar alertas de falhas, sendo que

as definições da Reunião da Backlog e as tarefas do Sprint são formalizadas apenas por e-

mail. O problema dessa prática é que o e-mail é uma representação estática das decisões, não

permitindo aos participantes acompanharem a evolução das tarefas e dificultando a

participação e colaboração entre a equipe.

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No novo processo, optou-se por continuar com o software Asana®, ainda em sua versão

gratuita, e serão criados três projetos dentro do time de TI:

Projeto Backlog – uma lista de tarefas organizadas por seções, onde cada seção será

uma área da empresa e possuirá como tarefas os três principais problemas da área,

priorizados por impacto. Dessa forma, não serão impostas soluções ou tarefas

propriamente ditas, mas sim uma mentalidade voltada a dados que buscará entender o

que se quer resolver. Com esse projeto, cada área da empresa será responsável por

manter sua seção atualizada e todos terão, a qualquer momento, visualização do estado atual das prioridades da TI.

Figura 16 - Captura de tela do Projeto Backlog no Asana®.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Projeto Sprint – um kanban board com as tarefas e respectivos responsáveis definidos

na Reunião de Planejamento do Sprint onde cada coluna é uma etapa do

desenvolvimento:

• Desenho da solução junto à equipe de negócios (“Design”)

• Desenvolvimento da solução (“Dev”)

• Homologação pela equipe de negócios (“Homolog”)

• Desenvolvimento de testes automatizados (“Testes”)

• Revisão do código por um colega (“Code review”)

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• Pronto (“Done”)

Figura 17 - Captura de tela do Projeto Sprint no Asana®.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Projeto Gestão de Falhas – uma lista de tarefas onde cada tarefa é uma falha

descoberta e reportada por quem a achou, contendo instruções de como reproduzir, em

qual aparelho foi detectada e informações extras que possam auxiliar na investigação e

reparo do problema.

Figura 18 - Imagem ilustrativa do Projeto de Gestão de Falhas no Asana®.

Fonte: Asana®: https://asana.com/guide/examples/eng/bug-tracking.

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Versionamento de código fonte

Um dos grandes desafios de equipes de desenvolvimento com mais de um programador (e

proporcionalmente mais difícil quanto mais pessoas no projeto) é o gerenciamento de versões

do código. A solução mais utilizada atualmente é o Git, sistema de controle de versões

gratuito e de código aberto desenvolvido por Linus Torvalds em 2005.

A solução empresarial do Git utilizada na ComidaBoa é a fornecida pela empresa australiana

Atlassian®, o BitBucket®. A solução possui todas as qualidades exigidas para a função e um

custo benefício que satisfaz a empresa. Não foram encontrados motivos fortes para a

mudança, então no novo processo o gerenciamento de versões continuará sendo feito pelo

software BitBucket®.

O fluxo atual de desenvolvimento, porém, apresenta certas falhas. Os sistemas Git possuem

uma estrutura de ramos de versões, no qual o ramo principal é geralmente chamado de master.

Na ComidaBoa, cada desenvolvedor cria seu próprio ramo e, ao terminar sua solução, une seu

ramo ao ramo master, o qual será utilizada para o lançamento da nova versão ao ar. O

problema desse fluxo é que por vezes os ramos individuais funcionam sem problemas, mas ao

juntá-los no ramo master surgem problemas de integração que podem passar despercebidos,

levando o problema para o sistema em produção.

Para solucionar esse problema, será aplicado o fluxo de trabalho conhecido por git-flow. Nele,

o ramo master conterá apenas as versões estáveis que foram ao ar. Além disso, existirá um

ramo dev, o qual unirá as soluções prontas desenvolvidas mas que ainda não foram lançadas.

Figura 19 - Relação entre os ramos master e dev (representado por develop).

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Fonte: Vincent Driessen (http://nvie.com/posts/a-successful-git-branching-model/ ).

Cada desenvolvedor criará, a partir do ramo dev, seu próprio ramo para cada funcionalidade

na qual trabalhará, dando a ele o nome da funcionalidade, seguido de um ponto final e do seu

nome, para posterior controle dos ramos: funcionalidade.nome_desenvolvedor. Dessa forma,

o ramo dev reunirá todas as mudanças e novidades que serão lançadas, possibilitando que

sejam testadas em conjunto. Quando testadas e aprovadas, serão então unidas ao ramo master

e seguirá para lançamento.

Figura 20 - Relação entre os ramos dev (representado por develop) e de funcionalidade.

Fonte: Vincent Driessen (http://nvie.com/posts/a-successful-git-branching-model/ ).

No caso de uma falha ser detectada após o lançamento, a correção será realizada diretamente

no ramo master, a fim de isolá-la de outras mudanças que já possam estar no ramo dev e de

promover a agilidade na resolução.

Implantação Contínua

Parte fundamental responsável pela agilidade do processo proposto é a Implantação Contínua,

ou seja, um processo automático de lançamento de novas versões que só permite que vão ao

ar após passarem por uma série de testes automatizados. Como a empresa utiliza o sistema de

versionamento de código BitBucket®, será utilizada a solução que o próprio sistema oferece,

chamado de BitBucket Pipelines®.

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Figura 21 - Imagem ilustrativa do painel de controle do BitBucket Pipelines®.

Fonte: BitBucket® https://bitbucket.org/product/features/pipelines

Para tanto, foi desenvolvida uma rotina que ao se atualizar o ramo master os testes

automatizados previamente desenvolvidos pela equipe são automaticamente executados no

ambiente em nuvem fornecido pela solução. Caso algum teste falhe, a atualização é rejeitada.

Se todos forem aprovados, a solução é automaticamente implantada pelo sistema.

Comunicação interna

A quarta ferramenta que o processo demanda é um facilitador da comunicação interna entre a

equipe e entre equipes. A empresa possui três escritórios, dois em São Paulo e um no Rio de

Janeiro, sendo que por vezes a equipe de desenvolvimento está distribuída entre eles. Além

disso, é necessária uma maneira mais veloz e instantânea do que a troca de e-mails, tanto para

conversas mais dinâmicas e explicações mais complexas quanto para conversas mais simples.

A empresa já utiliza uma ferramenta com essa finalidade, a aplicação de conversas

instantâneas corporativas Slack®. A ferramenta é dividida em organizações, que podem criar

canais dos quais participam os membros que tiverem interesse.

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Figura 22 - Logotipo do Slack®

Fonte: Slack ®

Para a equipe de TI, porém, a ferramenta está sendo subutilizada, se resumindo apenas ao

papel de facilitadora de conversas instantâneas. Um dos principais diferenciais competitivos

do Slack® é a integração via APIs com outras ferramentas, sendo que todas previamente

mencionadas neste trabalho podem ser alavancadas pelo Slack®.

A primeira integração relevante é com o Asana®. Duas aplicações foram realizadas de forma

a alavancar a comunicação interna da equipe. A primeira delas é a atualização do estado das

tarefas. Com os sistemas unidos, é possível marcar no Asana® quem são as pessoas

envolvidas na tarefa e, a qualquer atualização dela, enviar uma mensagem pelo Slack® a

todos. Dessa forma, os envolvidos acompanharão em tempo real o andamento de cada

solução, podendo marcar uma demonstração e agilizar o desenvolvimento da mesma.

Além disso, é possível realizar o fluxo contrário: por mensagem no Slack® criar uma tarefa

no Asana®. Tal funcionalidade permite integrar o sistema de alerta de falhas com a

ferramenta que as pessoas utilizam diariamente para conversar, tornando o aviso tão simples

quanto escrever uma mensagem. Para tanto, basta configurar em qual projeto a tarefa será

criada:

Figura 23 - Mensagem ilustrativa enviada a um canal no Slack® pela integração com o Asana®.

Fonte: Slack®, página de integração com o Asana®

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A outra grande funcionalidade que pode ser obtida por meio dos serviços integrados ao

Slack® é a sincronização com o BitBucket Pipelines®. É possível configurar no sistema de

Integração Contínua para que ao iniciar um processo novo de testes seja enviada uma

mensagem a um canal do Slack® previamente configurado. Quando o processo se encerra,

também será enviada uma mensagem ao canal informando se a atualização foi ou não

aprovada e lançada ao ar, aumentando a transparência e a comunicação interna da equipe.

Figura 24 - Mensagem automática enviada pelo BitBucket Pipelines® para o Slack®.

Fonte: adaptado de imagem fornecida pela ComidaBoa na conta da empresa no Slack®.

4.3.3. Desenho final do processo de desenvolvimento de software

O processo de desenvolvimento de software da ComidaBoa pode, então, ser finalmente

desenhado por completo, agora com as ferramentas utilizadas em cada etapa:

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Figura 25 - Desenho final do processo de desenvolvimento de software da ComidaBoa.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O novo processo foi validado junto à equipe e bem recebido por ela e pelos stakeholders. Ele

está em fase de implementação gradual. Como pode-se observar, espera-se que o processo

atenda às demandas por agilidade, transparência e alta comunicação, principalmente com o

uso das ferramentas estudadas. Com ele, se garantirá a priorização das tarefas que mais gerem

valor no momento, sua execução com a qualidade esperada pelos stakeholders e participação

ativa da equipe de desenvolvimento em todas etapas, além de garantir que o lançamento de

incrementos do produto também será ágil e o valor será entregue ao cliente o mais rápido

possível.

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5. Conclusão

Ao concluir este trabalho, é possível afirmar que seus objetivos propostos inicialmente foram

alcançados: a estratégia da empresa foi elaborada, bem como a estratégia de TI, e o processo

de desenvolvimento de software foi desenhado de acordo com as necessidades da

ComidaBoa, levando em conta sua estratégia, sua visão e sua cultura.

Pode-se observar que a literatura que deu base ao trabalho foi bastante aderente às

necessidades do mesmo. Por conta da juventude da empresa e do seu pequeno tamanho, por

vezes a teoria teve de ser simplificada, dado que grande parte dela é voltada para grandes e

consolidadas organizações. Porém, mesmo nesses casos, trouxe enorme valor à companhia.

Como observado nas referências utilizadas, a definição da estratégia da empresa de forma

embasada e consciente é fundamental para seu sucesso, principalmente em um ambiente

instável e novo como o que a ComidaBoa está inserida. O trabalho trouxe, nesse contexto, a

formalidade necessária para o momento da empresa e foi de grande valia para os sócios da

empresa, incluindo o autor do trabalho.

Este, inclusive, como o responsável pela área de TI, teve a oportunidade de avaliar

holisticamente o posicionamento da área, podendo ver além das tarefas do dia a dia da

organização e embasar o direcionamento da TI em forte respaldo teórico. É possível afirmar

que o trabalho já trouxe muito valor à empresa e seu desenvolvimento foi de fundamental

importância para o crescimento dela ao longo de sua elaboração.

No mundo dinâmico e acelerado das startups, muitas vezes parte-se direto para a prática,

deixando-se de lado os fundamentos teóricos. Tal abordagem apenas aumenta os riscos de um

ambiente já cercado por incertezas. Talvez o aprendizado mais importante deste trabalho seja

que a união entre a prática e a dinamicidade de tal mundo com o embasamento da literatura e

o rigor acadêmico é extremamente benéfica e possibilita que os novos empreendimentos

acelerem sob base sólida.

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