Raquel de Queiroz

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1. Trabalho de Português Nomes:Aaron Bruna Karina Ester Menezes Larissa Silva Série:3*A Prof*:Eliane Tema do Trabalho:Rachel de Queiroz 2. Biografia Rachel de Queiroz "[...] tento, com a maior insistência, embora com tão precário resultado (como se tornou evidente), incorporar a linguagem que falo e escuto no meu ambiente nativo à língua com que ganho a vida nas folhas impressas. Não que o faça por novidade, apenas por necessidade. Meu parente José de Alencar quase um século atrás vivia brigando por isso e fez escola." Rachel de Queiroz, nasceu em Fortaleza - CE, no dia 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descendendo, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar (sua bisavó materna — "dona Miliquinha" — era prima José de Alencar, autor de "O Guarani"), e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas em Quixadá, onde residiam e seu pai era Juiz de Direito nessa época. Em 1913, voltam a Fortaleza, face à nomeação de seu pai para o cargo de promotor. Após um ano no cargo, ele pede demissão e vai lecionar Geografia no Liceu. Dedica- se pessoalmente à educação de Rachel, ensinando-a a ler, cavalgar e a nadar. As cinco anos a escritora leu "Ubirajara", de José de Alencar, "obviamente sem entender nada", como gosta de frisar. Fugindo dos horrores da seca de 1915, em julho de 1917 transfere-se com sua família para o Rio de Janeiro, fato esse que seria mais tarde aproveitado pela escritora como tema de seu livro de estréia, "O Quinze". Logo depois da chegada, em novembro, mudam-se para Belém do Pará, onde residem por dois anos. Retornam ao Ceará, inicialmente para Guaramiranga e depois Quixadá, onde Rachel é matriculada no curso normal, como interna do Colégio Imaculada Conceição, formando-se professora em 1925, aos 15 anos de idade. Sua formação escolar pára aí. Rachel retorna à fazenda dos pais, em Quixadá. Dedica-se inteiramente à leitura, orientada por sua mãe, sempre atualizada com lançamento nacionais e estrangeiros, em especial os franceses. O constante ler estimula os primeiros escritos. Envergonhada, não mostrava seus textos a ninguém. Em 1926, nasce sua irmã caçula, Maria Luiza. Os outros irmãos eram Roberto, Flávio e Luciano, já falecidos). Com o pseudônimo de "Rita de Queluz" ela envia ao jornal "O Ceará", em 1927, uma carta ironizando o concurso "Rainha dos Estudantes", promovido por aquela publicação. O diretor do jornal, Júlio Ibiapina, amigo de seu pai, diante do sucesso da carta a convida para colaborar com o veículo. Três anos depois, ironicamente, 3. quando exercia as funções de professora substituta de História no colégio onde havia se formado, Rachel foi eleita a "Rainha dos Estudantes". Com a presença do Governador do Estado, a festa da coroação tinha andamento quando chega a notícia do assassinato de João Pessoa. Joga a coroa no chão e deixa às pressas o local, com uma única explicação "Sou repórter". Seu pai adquiri o Sítio do Pici, perto de Fortaleza, para onde a família se transfere. Sua colaboração em "O Ceará" torna-se regular. Publica o folhetim "História de um nome" — sobre as várias encarnações de uma tal Rachel — e organiza a página de literatura do jornal. Submetida a rígido tratamento de saúde, em 1930, face a uma congestão pulmonar e suspeita de tuberculose, a autora se vê obrigada a fazer repouso e resolve escrever "um livro sobre a seca". "O Quinze" — romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca — é mostrado aos pais, que decidem "emprestar" o dinheiro para sua edição, que é publicada em agosto com uma tiragem de mil exemplares. Diante da reação reticente dos críticos cearenses, remete o livro para o Rio de Janeiro e São Paulo, sendo elogiado por Augusto Frederico Schmidt e Mário de Andrade. O livro logo transformaria Rachel numa personalidade literária. Com o dinheiro da venda dos exemplares, a escritora "paga" o empréstimo dos pais. Em março de 1931, recebe no Rio de Janeiro o prêmio de romance da Fundação Graça Aranha, mantida pelo escritor, em companhia de Murilo Mendes (poesia) e Cícero Dias (pintura). Conhece integrantes do Partido Comunista; de volta a Fortaleza ajuda a fundar o PC cearense. Casa-se com o poeta bissexto José Auto da Cruz Oliveira, em 1932. É fichada como "agitadora comunista" pela polícia política de Pernambuco. Seu segundo romance, "João Miguel", estava pronto para ser levado ao editor quando a autora é informada de que deveria submetê-lo a um comitê antes de publicá-lo. Semanas depois, em uma reunião no cais do porto do Rio de Janeiro, é informada de que seu livro não fora aprovado pelo PC, porque nele um operário mata outro. Fingindo concordar, Rachel pega os originais de volta e, depois de dizer que não via no partido autoridade para censurar sua obra, foge do local "em desabalada carreira", rompendo com o Partido Comunista. Publica o livro pela editora Schmidt, do Rio, e muda-se para São Paulo, onde se aproxima do grupo trotskista. Nasce, em Fortaleza, no ano de 1933, sua filha Clotilde. Muda-se para Maceió, em 1935, onde faz amizade com Jorge de Lima, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Aproxima-se, também, do jornalista Arnon de Mello (pai do futuro presidente da República, Fernando Collor, que a agraciou com a Ordem Nacional do Mérito). Sua filha morre aos 18 meses, vítima de septicemia. O lançamento do romance "Caminho de Pedras", pela José Olympio - Rio, se dá em 1937, que seria sua editora até 1992. Com a decretação do Estado Novo, seus livros são queimados em Salvador - BA, juntamente com os de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, sob a acusação de subversivos. Permanece detida, por três meses, na sala de cinema do quartel do Corpo de Bombeiros de Fortaleza. Em 1939, separa-se de seu marido e muda-se para o Rio, onde publica seu quarto romance, "As Três Marias". Por intermédio de seu primo, o médico e escritor Pedro Nava, em 1940 conhece o também médico Oyama de Macedo, com quem passa a viver. O casamento duraria até à morte do marido, em 1982. A notícia de que uma picareta de quebrar gelo, por 4. ordem de Stalin, havia esmigalhado o crânio de Trótski faz com que ela se afaste da esquerda. Deixa de colaborar, em 1944, com os jornais "Correio da Manhã", "O Jornal" e "Diário da Tarde", passando a ser cronista exclusiva da revista "O Cruzeiro", onde permanece até 1975. Estabelece residência na Ilha do Governador, em 1945. Seu pai vem a falecer em 1948, ano em que publica "A Donzela e a Moura Torta". No ano de 1950, escreve em quarenta edições da revista "O Cruzeiro" o folhetim "O Galo de Ouro". Sua primeira peça para o teatro, "Lampião", é montada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo, no ano de 1953. É agraciada, pela montagem paulista, com o Prêmio Saci, conferido pelo jornal "O Estado de São Paulo". Recebe, da Academia Brasileira de Letras, em 1957, o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra. Em 1958, publica a peça "A beata Maria do Egito", montada no Teatro Serrador, no Rio, tendo no papel-título a atriz Glauce Rocha. O presidente da República, Jânio Quadros, a convida para ocupar o cargo de ministra da Educação, que é recusado. Na época, justificando sua decisão, teria dito: "Sou apenas jornalista e gostaria de continuar sendo apenas jornalista." O livro "As Três Marias", com ilustrações de Aldemir Martins, em tradução inglesa, é lançado pela University of Texas Press, em 1964. O golpe militar de 1964 teve em Rachel uma colaboradora, que "conspirou" a favor da deposição do presidente João Goulart. O presidente general Humberto de Alencar Castelo Branco, seu conterrâneo e aparentado, no ano de 1966 a nomeia para ser delegada do Brasil na 21ª. Sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, junto à Comissão dos Direitos do Homem. Passa a integrar o Conselho Federal de Cultura, em 1967, e lá ficaria até 1985. Depois de visitar a escritora na Fazenda Não me Deixes, em Quixadá, o presidente Castelo Branco morre em desastre aéreo. Estréia na literatura infanto-juvenil, em 1969, com "O Menino Mágico", em 1969. No ano de 1975, publica o romance "Dôra, Doralina". Em 1977, por 23 votos a 15, e um em branco, Rachel de Queiroz vence o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda e torna-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras. A eleição acontece no dia 04 de agosto e a posse, em 04 de novembro. Ocupa a cadeira número 5, fundada por Raimundo Correia, tendo como patrono Bernardo Guimarães e ocupada sucessivamente pelo médico Oswaldo Cruz, o poeta Aluísio de Castro e o jurista, crítico e jornalista Cândido Mota Filho. Seu livro, "O Quinze", é publicado no Japão pela editora Shinsekaisha e na Alemanha pela Suhrkamp, em 1978. Em 1980, a editora francesa Stock lança "Dôra, Doralina". Estréia da Rede Globo de Televisão a novela "As Três Marias", baseada no romance homônimo da escritora. Com direção de Perry Salles, estréia no cinema a adaptação de "Dôra, Doralina", em 1981. 5. Em 1985, é inaugurada em Ramat-Gau, Tel Aviv (Israel), a creche "Casa de Rachel de Queiroz". "O Galo de Ouro" é publicado em livro. Retorna à literatura infantil, em 1986, com "Cafute & Perna-de-Pau". A José Olympio Editora lança, em 1989, sua "Obra Reunida", em cinco volumes, com todos os livros que Rachel publicara até então destinados ao público adulto. Segundo notícia que circulou em 1991, a Editora Siciliano, de São Paulo, pagou US$150.000,00 pelos direitos de publicação da obra completa de Rachel. Já na nova editora, lança em 1992 o romance "Memorial de Maria Moura". Em 1993, recebe dos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões e da União Brasileira de Escritores, o Juca Pato. A Siciliano inicia o relançamento de sua obra completa. 1994 marca a estréia, na Rede Globo de Televisão, da minissérie "Memorial de Maria Moura", adaptada da obra da escritora. Tendo no papel principal a atriz Glória Pires, notícias dão conta que Rachel recebeu a quantia de US$50.000,00 de direitos autorais. Inicia seu livro de memórias, em 1995, escrito em colaboração com a irmã Maria Luiza, que é publicado posteriormente com o título "Tantos anos". Pelo conjunto de sua obra, em 1996, recebe o Prêmio Moinho Santista. Em 2000, é publicado "Não me Deixes — Suas histórias e sua cozinha", em colaboração com sua irmã, Maria Luiza. Em novembro deste ano, quando a escritora completou 90 anos de idade, foi inaugurada, na Academia Brasileira de Letras, a exposição "Viva Rachel". São 17 painéis e um ensaio fotográfico de Eduardo Simões resumindo o que os organizadores da mostra chamam de “geografia interior de Rachel, suas lembranças e a paisagem que inspirou a sua obra”. Rachel de Queiroz chega aos 90 anos afirmando que não gosta de escrever e o faz para se sustentar. Ela lembra que começou a escrever para jornais aos 19 anos e nunca mais parou, embora considere pequeno o número de livros que publicou. “Para mim, foram só cinco, (além de O Quinze, As Três Marias, Dôra, Doralina, O Galo de Ouro e Memorial de Maria Moura), pois os outros eram compilações de crônicas que fiz para a imprensa, sem muito prazer de escrever, mas porque precisava sustentar-me”, recorda ela. “Na verdade, eu não gosto de escrever e se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa”. Recebe, em 06-12-2000, o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Em 2003, é inaugurado em Quixadá (CE), o Centro Cultural Rachel de Queiroz. Faleceu, dormindo em sua rede, no dia 04-11-2003, na cidade do Rio de Janeiro. Deixou, aguardando publicação, o livro "Visões: Maurício Albano e Rachel de Queiroz", uma fusão de imagens do Ceará fotografadas por Maurício com textos de Rachel de Queiroz. Obras: Individuais: - Romances: - O quinze (1930) 6. - João Miguel (1932) - Caminho de pedras (1937) - As três Marias (1939) - Dôra, Doralina (1975) - O galo de ouro (1985) - folhetim na revista " O Cruzeiro", (1950) - Obra reunida (1989) - Memorial de Maria Moura (1992) - Literatura Infanto-Juvenil: - O menino mágico (1969) - Cafute & Pena-de-Prata (1986) - Andira (1992) - Cenas brasileiras - Para gostar de ler 17. - Teatro: - Lampião (1953) - A beata Maria do Egito (1958) - Teatro (1995) - O padrezinho santo (inédita) - A sereia voadora (inédita) - Crônica: - A donzela e a moura torta (1948); - 100 Crônicas escolhidas (1958) - O brasileiro perplexo (1964) - O caçador de tatu (1967) - As menininhas e outras crônicas (1976) - O jogador de sinuca e mais historinhas (1980) - Mapinguari (1964) - As terras ásperas (1993) - O homem e o tempo (74 crônicas escolhidas} - A longa vida que já vivemos - Um alpendre, uma rede, um açude: 100 crônicas escolhidas - Cenas brasileiras - Xerimbabo (ilustrações de Graça Lima) - Falso mar, falso mundo - 89 crônicas escolhidas (2002) - Antologias: - Três romances (1948) - Quatro romances (1960) (O Quinze, João Miguel, Caminho de Pedras, As três Marias) - Seleta (1973) - organização de Paulo Rónai - Livros em parceria: - Brandão entre o mar e o amor (romance - 1942) - com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Jorge Amado. - O mistério dos MMM (romance policial - 1962) - Com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Jorge Amado, José Condé, Guimarães 7. Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa. - Luís e Maria (cartilha de alfabetização de adultos - 1971) - Com Marion Vilas Boas Sá Rego. - Meu livro de Brasil (Educação Moral e Cívica - 1º. Grau, Volumes 3, 4 e 5 - 1971) - Com Nilda Bethlem. - O nosso Ceará (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), relato, 1994. - Tantos anos (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), auto-biografia, 1998. - O Não Me Deixes – Suas Histórias e Sua Cozinha (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), 2000. Obras traduzidas pela escritora: - Romances: AUSTEN, Jane. Mansfield Parlz (1942). BALZAC, Honoré de. A mulher de trinta anos (1948). BAUM, Vicki. Helena Wilfuer (1944). BELLAMANN, Henry. A intrusa (1945). BOTTONE, Phyllis. Tempestade d'alma (1943). BRONTË, Emily. O morro dos ventos uivantes (1947). BRUYÈRE, André. Os Robinsons da montanha (1948). BUCK, Pearl. A promessa (1946). BUTLER, Samuel. Destino da carne (1942). CHRISTIE, Agatha. A mulher diabólica (1971). CRONIN, A. J. A família Brodie (1940). CRONIN, A. J. Anos de ternura (1947). CRONIN, A. J. Aventuras da maleta negra (1948). DONAL, Mario. O quarto misterioso e Congresso de bonecas (1947). DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Humilhados e ofendidos (1944). DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Recordações da casa dos mortos (1945). DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os demônios (1951). DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os irmãos Karamazov (1952) 3 v. DU MAURIER, Daphne. O roteiro das gaivotas (1943). FREMANTLE, Anne. Idade da fé (1970). GALSWORTHY, John. A crônica dos Forsyte (1946) 3 v. GASKELL, Elisabeth. Cranford (1946). GAUTHIER, Théophile. O romance da múmia (1972). HEIDENSTAM, Verner von. Os carolinos: crônica de Carlos XII (1963). HILTON, James. Fúria no céu (1944). LA CONTRIE, M. D'Agon de. Aventuras de Carlota (1947). LOISEL, Y. A casa dos cravos brancos (1947). LONDON, Jack. O lobo do mar (1972). MAURIAC, François. O deserto do amor (1966). PROUTY, Oliver. Stella Dallas (1945). REMARQUE, Erich Maria. Náufragos (1942). ROSAIRE, Forrest. Os dois amores de Grey Manning (1948). ROSMER, Jean. A afilhada do imperador (1950). SAILLY, Suzanne. A deusa da tribo (1950). 8. VERDAT, Germaine. A conquista da torre misteriosa (1948). VERNE, Júlio. Miguel Strogoff (1972). WHARTON, Edith. Eu soube amar (1940). WILLEMS, Raphaelle. A predileta (1950). - Teatro: CRONIN, A. J. Os deuses riem (1952). Resumo Obra principal Em sua obra de estréia, autora harmoniza o social e o psicológico no drama dos retirantes. Publicado em 1930, o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, não desfez o contraste que ainda hoje persiste entre o êxito da estréia e a "singularidade mediana" com que superou o naturalismo provinciano de um romance como A Fome (1890), de Rodolfo Teófilo, por exemplo, mas não a estrutura fragmentária da narrativa de A Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida, inegavelmente marcado pela escrita elíptica dos modernistas, Oswald de Andrade à frente. É verdade que se tratava, como bem assinalou Augusto Frederico Schmidt, "de uma mocinha de 19 anos", que trazia então, com todos os riscos de uma obra de estréia, uma contribuição expressiva à vasta matéria da literatura das secas. E o fazia de modo tão convincente que, nas palavras do poeta do Canto do Brasileiro, deixava longe a literatura exaltada e sem entusiasmo de um romance como o Viagem Maravilhosa, do modernista Graça Aranha, "em que a complicação - segundo Schmidt - pretendia esconder a mediocridade irremediável da alma". Mas lembremos que tal novidade, que aparece n'O Quinze como uma espécie de outra face do modernismo - a da paisagem social e humana de um Brasil embrutecido e atrasado que a ficção regionalista de 30 depois nos revelaria a fundo -, se comparada ao conjunto das obras que compõem o ciclo inaugurado pela Bagaceira, mais do que um avanço estético no arranjo do texto, o que fez foi escapar ao peso do contexto social do romance anterior e assim liberar a subjetividade das personagens, que passam então a falar e a agir fora do esquadro da observação naturalista. Daí a nova atitude que o romance assume frente ao drama dos retirantes da seca, vistos agora de uma perspectiva que harmoniza o social e o psicológico sem perder o foco de entrada para alguns temas políticos da maior importância para a época, entre eles o da afirmação social da mulher (no caso, a protagonista Conceição) naquele contexto difícil e sabidamente adverso. Sob este aspecto, se é correto dizer, como o fez a melhor crítica, que a heroína do Quinze em última instância investiga e interroga o seu destino, a verdade é que, visto a partir dele, o drama social dos flagelados parece diluir-se no pano de fundo da paisagem calcinada que a linguagem de Rachel de Queiroz recupera de um ângulo lírico e alusivo, mas cheio de verdade e corrosão. 9. Basta ver como os planos descontínuos que organizam o relato dependem do poético para nos revelar ora a face humanizada dos retirantes que se descolam da realidade para figurar na metáfora como símbolos de coragem e dignidade (Chico Bento, Cordulina, Mocinha, os meninos Pedro e Josias), ora o despertar da consciência empenhada dos que, como Conceição), reconhecem o peso das desigualdades e acabam se solidarizando com sofrimento dos pobres, a ponto de dedicar-lhes o seu tempo. Pólos - Entre os dois pólos, define-se o intervalo propriamente documental em que aparecem os tipos mais afeitos à observação realista do romance. La estão os vaqueiros João das Marrecas, Chico Pastora e Zé Bernardo, lá também a velha Inácia e Dona Maroca das Aroeiras, proprietárias ingênuas, mas zelosas de suas posses, e ao seu lado o vaqueiro Vicente, "todo vermelho e tostado de sol", a trabalhar pela manutenção da fazenda com a fibra do sertanejo forte que não se curva ao destino, tópico que o romance valoriza e quer igualmente demonstrar. Mas, ao contrário do que ocorre em São Bernardo ou em Fogo Morto, por exemplo, esses planos não se cruzam, os pólos opostos não entram em conflito, harmonizados que estão pela distância poética da elocução centrada nos fragmentos líricos do desencanto. Afinal, à medida que cresce o drama dos retirantes, aumenta em razão equivalente o drama do coração ferido de Conceição, que vem para o centro da cena e oblitera o martírio dos mutilados em marcha batida para fora do romance. No Quinze, com efeito, o único ponto de fusão entre os pólos opostos viria de uma resposta positiva do vaqueiro Vicente ao amor dissimulado que por ele nutria "aquela mulher superior e inteligente" que era Conceição. "Havia quase de ser um sonho ter, por toda a vida, aquela carinhosa inteligência a acompanhá-lo", confessa ele, que também a amava em segredo. Amor no entanto que afinal não vem e acaba diluído na ambigüidade ideológica do romance, exatamente como o fluxo das imagens alusivas ao drama de tantos infelizes, numa espécie de figuração reminiscente de quem vê a vida com a segurança dos que nada têm a temer. Vazio - Nada que lembre, por exemplo, a consciência intransigente de Madalena frente à prepotência de Paulo Honório no pólo extremo de seus interesses. O vazio que se interpõe entre Conceição e o vaqueiro Vicente - onde se localiza o fulcro dinâmico do relato - é o vazio da verossimilhança que apenas confirma as vicissitudes do lirismo que separa as classes com a prudência dos que mandam na vida. Sob esse aspecto, talvez a grandeza do Quinze venha dos núcleos temáticos que ele anuncia, mas não realiza. Afinal, vários de seus temas e cenas, tomados no traçado literário de seu contorno, foram depois recheados por Graciliano Ramos de uma real notação de conflito, entre eles o episódio do soldado amarelo, no Vidas Secas, que lembra em muitos aspectos a bela cena descrita por Rachel de Queiroz da discussão de Chico Bento com o preposto que lhe negava as passagens para Quixadá, onde o vaqueiro esperava abrigar a família esfomeada: - "Desgraçado! quando acaba, andam espalhando que o governo ajuda os pobres... Não ajuda nem a morrer!" 10. Segunda opção de resumo Curiosidades sobre O Quinze 11. - O livro "O Quinze" foi escrito por Rachel de Queiroz em 1928, quando tinha apenas 18 anos. - Jurandir Oliveira e Rachel de Queiroz se conheceram em 1997. Na época ele substituiu um ator na montagem da peça "A Beata Maria do Egito", de autoria de Rachel. - Estréia de Jurandir Oliveira como diretor de longa-metragem. - Jurandir Oliveira levou um ano para concluir o roteiro, que passou por 5 versões. A própria Rachel de Queiroz chegou a lê-lo e dar opiniões. - Inicialmente Jurandir Oliveira não atuaria em O Quinze , o que apenas fez atendendo a pedidos da produtora Letícia Menescal e de amigos. - Cerca de 90% do filme foi rodado em Quixadá, no sertão central do Ceará. - Foram necessárias 6 semanas de filmagens no Ceará e uma semana em Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, onde foram rodadas as sequências do trem. - A estação ferroviária onde foram realizadas as filmagens leva o nome do pai da escritora Rachel de Queiroz, Daniel de Queiroz. - Rachel de Queiroz faleceu em 4 de novembro de 2003, duas semanas antes de Jurandir Oliveira dar o corte final do filme. - Apesar de ter sido exibido no Festival de Gramado em 2004, O Quinze apenas foi lançado nos cinemas brasileiros em 2007. Curiosidades Raquel de Queiroz • Rachel de Queiroz nasceu no dia 17 de novembro de 1910, em Fortaleza, capital cearense. • Seu pai, que era juiz na cidade de Quixadá, no sertão do Ceará, mudou-se para Fortaleza por causa da terrível seca que atingiu o nordeste em 1915. A família ainda moraria no Rio de Janeiro e depois em Belém do Pará. • Na infância, Rachel e suas primas costumavam tomar conta da avó que já estava bem velhinha. Para distraí-la, as netas liam romances religiosos em francês. • Uma das moças que frequentava a fazenda da família de Rachel namorou o escritor Gonçalves Dias, autor de "Canção do Exílio". Ele era separado da mulher e, por isso, o namoro era considerado pecaminoso. Dizem que o poema "Os Seus Olhos" foi dedicado a essa tia-bisavó da escritora, por volta de 1850. • Em 1925, Rachel se formou como normalista no colégio Imaculada Conceição de Fortaleza. Dois anos mais tarde ela ingressava na carreira jornalística, como colaboradora do jornal "O Ceará" • A carreira de escritora começou quando Rachel foi eleita Rainha dos Estudantes, aos 16 anos. Debochada, ela escreveu para o jornal "O Ceará" um artigo zombando do título. Rachel assinou a carta com o pseudônimo de Rita de Queluz e atiçou a curiosidade do dono do jornal, promotor do concurso. No começo acharam que o artigo tivesse sido escrito por um homem, mas Jader de Carvalho, amigo da garota, identificou-a: "Não, isso é a Rachelzinha, filha do Daniel". O diretor do jornal mandou chamá-la e ela se tornou colaboradora da publicação. • O primeiro livro de Rachel de Queiroz, "O Quinze", foi publicado quando ela 12. tinha 19 anos. Aos 30, ela ajudou a fundar o Partido Comunista do Ceará, mas se desvinculou quando os colegas pediram que ela mudasse a história da obra "João Miguel". A exigência era de que a personagem que representava uma prostituta fosse filha do dono da terra e não do camponês. • Em 1964, a escritora defendeu a implantação do regime militar no país por causa de seu conterrâneo, o general Humberto Castelo Branco. Dois anos depois, Castelo Branco, então presidente, nomearia Rachel delegada do Brasil na 21ª Sessão da Assembleia Geral da ONU. • Foi a primeira mulher a ingressar para a Academia Brasileira de Letras. Ela foi eleita em 4 de agosto de 1977 e tomou posse em 4 de novembro do mesmo ano. • É parente de outro escritor famoso brasileiro: José de Alencar, autor de "Iracema". Uma de suas avós, Maria de Macedo Lima, era prima-irmã de Alencar. • Rachel, que pertenceu ao Conselho Federal de Cultura de 1967 até 1985, é cidadã carioca. O título foi concedido em 20 de novembro de 1970, pela Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara. A iniciativa da premiação foi da deputada Ligia Maria Lessa Bastos. • Rachel mantinha o hábito de infância de dormir em rede. • Rachel morreu no dia 4 de novembro de 2003, pouco antes de completar 93 anos. Ela sofreu um infarto enquanto dormia em sua casa no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. O corpo foi velado no salão da Academia Brasileira de Letras e enterrado no cemitério São João Batista, também no Rio de Janeiro. Mais curiosidades Precoce é um adjetivo que faz juwww.adorocinema.com s à escritora Rachel de Queiroz. Aos cinco anos, já devorava todos os livros que lhe caíam nas mãos. Ainda debutante, concluiu o curso normal. Porém, jamais lecionou: preferiu caneta e papel a giz e quadro-negro. Hoje, o país lamentaria a perda da mestra, não fosse a decisão tomada por ela aos 16 anos. Ingressou no jornalismo como quem toma um caminho sem volta. Até hoje, ao menos uma crônica por semana vem impressa com seu nome. Logo no início, ela assinava sob a alcunha Rita de Queluz. Não levou muito tempo para que saísse do anonimato. Com o lançamento de O Quinze (1930), obra precursora do romance regionalista, a adolescente de 19 anos foi alçada ao rol dos grandes escritores de seu tempo. Para dar noção do tamanho da proeza, vale dizer que as brasileiras só teriam direito ao voto, decretado por Getúlio Vargas, dois anos mais tarde. Rachel de Queiroz ainda iria romper uma tradição de 81 anos. Com sua eleição, em agosto de 1977, a Academia Brasileira de Letras (ABL) deixou de ser um “clube do Bolinha”. A mania de ser a primeira da turma a acompanha até hoje. Esse ano a ABL homenageia três de seus acadêmicos: Miguel Reale, Carlos Chagas e Rachel, que completam 90 anos. Embora seja a caçula e só faça aniversário dia 17 de 13. novembro, foi escolhida para dar o pontapé inicial à série de homenagens. A exposição Viva Rachel reuniu fotos e objetos pessoais da grande dama do sertão. Tarcísio Padilha, presidente da ABL, justificou a inversão alegando o "permanente pioneirismo de sua passagem pela cultura brasileira". O Educacional também deu uma de apressadinho. Como Rachel é avessa a homenagens, melhor entrevistá-la antes que se refugie em sua fazenda, Não me Deixes, onde faz o que mais gosta além de escrever: cozinhar. Sua próxima obra é um livro de receitas. Quem leu até aqui já teve um gostinho da entrevista a seguir. Como foi seu primeiro contato com os livros? Rachel de Queiroz - Eu aprendi a ler com cinco anos de idade. De lá pra cá, não parei mais. Eu desembestei e estou assim até hoje. Mamãe ia selecionando o que achava melhor. Mas, de maneira geral, eu era onívora. Ou seja, a sua formação como leitora se deve ao ambiente familiar. A senhora acredita que a formação de um leitor se dá mais por influência da família ou da escola? Rachel de Queiroz - Se você tem, dentro de casa, pessoas que discutem os livros, as novidades literárias, você se forma com mais facilidade. Foi o meu caso. Lá em casa sempre foi um lugar muito adiantado ideologicamente e literariamente. Minha mãe tinha muito bom gosto literário, a mesma coisa o meu pai. E o gosto pelos livros a levou a se formar no curso de magistério. A senhora nunca chegou a lecionar? Rachel de Queiroz - Eu sou professora. É o único curso que fiz, no Colégio da Imaculada Conceição, de Fortaleza. No resto, eu sou franco-atiradora, fui aprendendo com a vida e comigo mesma. Eu não cheguei a lecionar propriamente. Só alfabetizei dois irmãos meus, mas não ensinei em colégio nenhum. Eu comecei no jornalismo muito cedo. Aos 16 anos, já estava colaborando em jornais e me mantenho jornalista até hoje. A opção pelo jornalismo não era muito freqüente entre as mulheres da sua época... Rachel de Queiroz - Não era tão infreqüente assim. Havia várias moças que já faziam jornalismo: Suzana de Alencar Guimarães e várias outras. Já éramos algumas companheiras, mas eu fui das primeiras. Em uma de suas últimas crônicas, sobre seu bisneto, Pedro, a senhora comenta que um dos erros dos pais é planejar o futuro dos filhos. Seus pais cometeram esse erro com a senhora, quando perceberam que se encaminhava para o jornalismo? Rachel de Queiroz - Meu grande êxito agora é meu bisneto, Pedro, que é uma grande figura. Os pais sempre sonham com o futuro do filho. A minha casa sempre foi um 14. ambiente favorável a tudo que eu fizesse. Meus pais sempre me deram toda a liberdade e apoio. Eram pessoas muito esclarecidas e apoiaram todas as minhas ousadias, inclusive quando fui presa por motivo político. O jornal católico de Fortaleza se escandalizou porque papai e mamãe foram me visitar na prisão. E quando me viram toda heróica, toda Joana d'Arc, eles começaram a rir. Sua estréia foi no jornal O Ceará, no período entre-guerras, de grandes debates ideológicos. Como foi sua formação política? Rachel de Queiroz - Era um jornal amaldiçoado pelos bispos, porque tinha comprado uma briga com eles. Mas como meu pai era grande amigo do diretor do jornal, ele não se opôs a que eu ficasse lá. Era o período de preparação da Segunda Guerra. Nós já tínhamos as posições bem marcadas, éramos muito anti-hitleristas. Na época, tive uma forte formação política, comunista. Foi o único período em que estive na militância, depois eu fiquei somente como observadora, sem atuação política direta. Mas eu sempre fui espírito de porco, sempre do contra. Sou da família daquele cara que disse: "Há governo, sou contra." Apesar de curta, sua militância lhe valeu um período no cárcere. Como foi isso? Rachel de Queiroz - Eu fui presa várias vezes. A mais demorada - passei seis dias na cadeia - foi quando o Getúlio estava preparando o golpe para se apossar do poder. Ele botou todos os jornalistas da oposição em cana e deu o golpe de estado. E ninguém podia falar. Depois, quando a imprensa já estava toda amordaçada, continuou sem poder falar. Isso foi antes ou depois da publicação do romance O Quinze? Rachel de Queiroz - Eu tinha dezenove anos quando publiquei O Quinze. Foi antes da minha prisão. Eu comecei no jornalismo muito discretamente. Aí lancei o livro, que fez uma enorme zoada, e continuei as duas carreiras paralelamente. Então, a senhora já era uma mulher muito famosa... Rachel de Queiroz - Não era famosa, era falada. Digo isso porque ouvi falar sobre deliciosos episódios seus enquanto esteve presa. É verdade que os guardas a paqueravam e quem a tirou de lá foi o seu pai? Rachel de Queiroz - Eu era novinha, não é? Mas não houve paquera. Os guardas eram meus amigos. Sabe como é, na província. Você é conhecida, tem amigos, ou são amigos da família. Posso dizer que minhas prisões eram mais uma formalidade. Quando resolveram me soltar, chamaram papai, e ele foi me buscar. E como foi a repercussão de O Quinze? O livro foi a sensação de 1930, não foi? Rachel de Queiroz - Não digo tanto, mas o livro foi muito bem recebido. Era um tema 15. nacional, a seca. Mário de Andrade e Manuel Bandeira o elogiaram muito. Eu ganhei o prêmio Graça Aranha com a publicação. Era um prêmio novo, mas muito importante, porque me abriu o caminho da crítica literária. A senhora se surpreendeu com a boa recepção do livro? Afinal era edição de autor... Rachel de Queiroz - Meu pai financiou a edição e nós lançamos. O livro deu sorte e de lá pra cá não posso me queixar. Enquanto a José Olympio existiu, eu tinha uma editora poderosa. Agora, estou muito bem com a Siciliano. Por que com esse tremendo sucesso a senhora nunca deixou de escrever para jornais? Todo escritor, no decorrer da carreira, escolhe um gênero que mais se adapta ao seu estilo: a crônica, o romance, o conto ou a poesia. A senhora se sente mais cronista que romancista, é isso? Rachel de Queiroz - Eu escrevi em O Cruzeiro até a revista desaparecer. Durante trinta anos, eu escrevi a sua última página, que era uma crônica, não um artigo. Foi assim que eu fiquei conhecida no país inteiro, porque O Cruzeiro era vendido em toda parte. Sinto- me mais cronista. Romancista eu me sinto muito fraca. Toda semana eu mando um artigo para O Estado de S. Paulo. Já são milhares de crônicas, em vários livros. Faz-se uma seleção das menos ruins e se publica.. E sua entrada na Academia Brasileira de Letras nos anos 70? Ela deve ter sido vista como mais uma conquista feminina da época. Como foi a repercussão? Rachel de Queiroz - Não havia mulheres na Academia porque o regulamento não previa, não que não permitisse. Eu já vivia nesse meio, de forma que não foi um escândalo. Não houve repercussão, era esperado. Como todos os meus amigos estavam lá dentro, quando era dia de sessão, eles me abandonavam. Então, eles acharam que eu tinha que estar lá também. Manuel Bandeira e outros fizeram um movimento e abriu-se a academia às mulheres. As mulheres já vinham avançando em todos os terrenos. Eu fui a primeira, mas poderia ter sido a segunda ou a terceira. Depois, entraram Dinah Silveira de Queiroz e as outras. Mas quem é de fora percebe que a escolha de um novo acadêmico sempre envolve uma certa disputa, uma eleição. Como é o debate dentro da Academia? Rachel de Queiroz - A Academia é um clube de escritores. Os acadêmicos são, na verdade, velhos conhecidos. Não há disputas, não há inimigos lá dentro. Nós somos, na maioria, amigos. Nos reunimos uma vez por semana e discutimos os livros recém- publicados e os nossos projetos. E o que a senhora achou da exposição em sua homenagem feita pela Academia? 16. Rachel de Queiroz - Foi muito bonita, muito bem-feita. Eu fiquei muito orgulhosa. A propósito, a senhora deve estar se preparando para viver um fim de ano repleto de homenagens por seus 90 anos. O seu estado lhe deve uma bela homenagem, não é? Rachel de Queiroz - Eu acho que não, espero que não. A gente fica meio encabulada. O Ceará já se armou várias vezes para isso e eu tenho conseguido escapulir. Qualquer dia eles conseguem. O que a senhora pode adiantar sobre seu novo livro? Rachel de Queiroz - Ah, não! Estou com um livro muito ainda em preparo, não dá para falar ainda. Ele está muito em gestação. Prometo a você que daqui a alguns meses eu conto o que estou fazendo. Eu sei que a senhora prefere não comentar... Mas sabe-se que é um livro de culinária. É verdade mesmo? Rachel de Queiroz - Ah! O de culinária? Ele está pronto. São algumas receitas da Não me Deixes. Não me Deixes é o nome da minha fazenda. É lá que eu me exercito na cozinha, com a culinária que a gente pratica no interior do Ceará. O livro está para sair. A senhora é muito caseira, não é muito afeita a homenagens. A senhora se sente tão à vontade na cozinha quanto em seu escritório? Rachel de Queiroz - Sou boa cozinheira, sou melhor cozinheira que escritora, de forma que espero que esse meu livro de cozinha seja minha obra-prima. E quais são seus pratos prediletos? Quem foram seus mestres na culinária? Rachel de Queiroz - São os salgados, eu não sou muito de doces. Vatapá, galinha... Eu cultivo a cozinha brasileira clássica. De um modo geral, eu fui autodidata, sempre me interessei muito por cozinha e as cozinheiras velhas do sertão me ajudaram muito. Seu último livro, então, não é o de culinária... É uma boa notícia, porque saiu na imprensa que a senhora teria dito que detestava escrever, que não escreveria mais. A notícia dava a entender que a senhora teria tido um desgosto muito grande recentemente... Rachel de Queiroz - Não, não, esses meninos repórteres exageram. A gente faz uma brincadeira e eles levam a sério. Eu sempre recebi mais do que mereci do público Outra novidade é que Memorial de Maria Moura vai ser filmado. Ainda não foi escolhida a protagonista. Dizem que será a Patrícia Pilar. Mas as filmagens já 17. começaram, não é? Rachel de Queiroz -Talvez você tenha mais notícias do que eu, porque viajei ao sertão e me desliguei um pouco disso. Eu não tenho tido sorte com esse negócio de cinema. Eu me interesso e tal, mas os filmes não vão adiante. Aliás, o cinema brasileiro é difícil, não é uma indústria com capital. O entusiasta começa a fazer, juntando dinheiro, juntando gente. É um esforço pessoal. Blibiografia www..cineblog.com.br/ www.mundovestibular.com.br www.releituras.com www.marcondestorres.blogspot.com www.adorocinema.com www.educacional.net www.brasilescola.com/