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Raquel Folmer Corrêa TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES E LIMITES DE TRANSFORMAÇÃO DE SENTIDOS Tese submetida ao Programa de Pós- Graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de doutora em Educação Científica e Tecnológica. Orientador: Prof. Dr. Irlan von Linsingen Florianópolis 2016

Raquel Folmer Corrêa - Repositório Institucional da UFSC

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Page 1: Raquel Folmer Corrêa - Repositório Institucional da UFSC

Raquel Folmer Correcirca

TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCACcedilAtildeO

POSSIBILIDADES E LIMITES DE TRANSFORMACcedilAtildeO DE

SENTIDOS

Tese submetida ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e

Tecnoloacutegica da Universidade Federal de

Santa Catarina para a obtenccedilatildeo do Grau

de doutora em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e

Tecnoloacutegica

Orientador Prof Dr Irlan von Linsingen

Florianoacutepolis

2016

Dedico esta tese a educadoras e educadores

com interesse em tecnologias sociais

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo aos meus familiares ao Franco ao meu orientador Irlan

e agrave Suzani aos colegas amigas e amigos do DiCiTE da turma de

doutorado de 2012 da UNTL em Timor-Leste do IFRS de Caxias do

Sul aos meus alunos e alunas do IFRS e agrave Dona Eneida Muito obrigada

pelo apoio carinho e companheirismo

Esta tese contou com o auxiacutelio financeiro da Capes

Ser dialeacutetico significa ter o vento da histoacuteria nas

velas As velas satildeo os conceitos Poreacutem natildeo

basta dispor das velas O decisivo eacute a arte de

posicionaacute-las

Walter Benjamin (2009 p 515)

RESUMO

Nesta tese investigo de que maneira e em que medida o

desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais

(TS) pode colaborar para transformar sentidos deterministas sobre

tecnologia que satildeo debatidos entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico

As contribuiccedilotildees teoacutericas utilizadas satildeo os estudos latino-americanos

que relacionam Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) em perspectiva

educacional e alguns de seus possiacuteveis interlocutores O objetivo

consiste em analisar possibilidades e limites para discutir TS e

transformar sentidos identificados com determinismo tecnoloacutegico em

Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) de modo a

promover mobilizaccedilatildeo para a autoria Os procedimentos metodoloacutegicos

adotados para atingir o objetivo proposto envolvem coleta e anaacutelise de

dados primaacuterios e secundaacuterios Os dados foram coletados durante todo o

ano de 2015 no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Rio Grande do Sul (IFRS) da cidade de Caxias do Sul tanto em

documentos disponibilizados pela direccedilatildeo do IFRS quanto com

intervenccedilotildees junto a seus estudantes dos primeiros anos dos CTIEM A

anaacutelise dos dados envolveu a apreciaccedilatildeo quantitativa (elaboraccedilatildeo de

graacuteficos quadros e tabelas) que foi executada com o auxiacutelio do

programa Excel 2013 e qualitativa que se baseou na leitura criacutetica

descriccedilatildeo e anaacutelise soacutecio-histoacuterica de dados coletados Os resultados

indicam certa sensibilidade de estudantes para com a temaacutetica

socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre

tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a realizaccedilatildeo de projetos

autorais Aleacutem disso os resultados apontam a necessidade de elaboraccedilatildeo

de projetos conjuntos entre estudantes docentes de diversas disciplinas e

a coletividade escolar para o desenvolvimento colaborativo de TS que

integrem diferentes conhecimentos Esta tese foi desenvolvida no grupo

Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) e contou

com o apoio financeiro da Capes

Palavras-chave Tecnologias sociais Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo CTS Ensino

meacutedio teacutecnico Autoria

ABSTRACT

In this thesis we investigate in what way and to what extent the

development of a critical perspective on Social Technologies (ST) can

collaborate to transform deterministic meanings of technology that are

discussed by students of the technical high school The theoretical

contributions used are Latin American studies relating Science

Technology and Society (STS) in educational perspective and some of

its possible interlocutors The main goal is to analyze the possibilities

and limits to discuss ST and transform identified senses with

technological determinism in Integrated Technical Courses to High

School (ITCHS) to promote mobilization for authorship The

methodological procedures adopted to achieve the proposed objective

involve collecting and analyzing primary and secondary data All data

were collected throughout the year 2015 at the Instituto Federal de

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) from the

city of Caxias do Sul in both documents made available by the direction

of IFRS as with interventions with their students of the first years of

ITCHS Data analysis involved the quantitative assessment (preparation

of charts and tables) which was performed with the aid of Excel 2013

program and qualitative which was based on critical reading

description and sociohistorical analysis of the data collected The results

indicate certain sensitivity to students with the socio-technical subject

proposed in transforming deterministic way of technology particularly

in the arrangement for carrying out authorial projects Moreover the

results indicate the need for development of joint projects among

students teachers of various disciplines and the school community for

the collaborative development of ST integrating different

knowledge This thesis was developed in the group Discursos da Ciecircncia

e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) and received financial support

from Capes

Key-words Social Technologies Education STS education Technical

high school Authorship

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 39

Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico 42

Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS 144

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS 145

Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade 166

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias 193

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01 194

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02 194

Figura 9 - Autoria 196

Figura 10 - Dados sobre homofobia 198

Figura 11 - O problema do transporte de catildees 201

Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer 204

Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia 205

Figura 14 - Proposta de melhorias 207

Figura 15 - Identidade visual do aplicativo 209

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia 92

Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e

emancipaccedilatildeo social

107

Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia 118

Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA 133

Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS 137

Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS 138

Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS 138

Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST 140

Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 143

Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS 148

Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees 152

Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo 153

Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas 179

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil 34

Graacutefico 2 - Necessidades especiais entre estudantes do IFRS 88

Graacutefico 3 - Coletividades 151

Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa 167

Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo 169

Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul 170

Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS 172

Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015 180

Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015 181

Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS 185

Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS 185

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo 87

Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS 149

Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS 150

Tabela 4 - Religiatildeo declarada 166

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que

participaram da pesquisa

184

LISTA DE MAPAS E FOTOGRAFIAS

Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS 164

Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana 168

Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima 171

Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial 190

Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo 200

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABONG - Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais

AD - Anaacutelise de Discurso

AEL - Academia Estudantil de Letras

AST - Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica

AULP - Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua Portuguesa

BB - Banco do Brasil

BICT - Bacharelados Interdisciplinares em Ciecircncias e Tecnologia

BTS - Banco de Tecnologias Sociais

CAPES - Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CED - Centro de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

CEFET - Centros Federais de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica

CampT - Ciecircncia e Tecnologia

CFDH - Conselho Federal de Defesa dos Direitos Humanos

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico

COCTS - Cuestionario de Opiniones de Ciencia Tecnologiacutea y Sociedad

CS - Ciecircncias Sociais

CST - Construccedilatildeo Social da Tecnologia

CTFMIEM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado

ao Ensino Meacutedio

CTIEM - Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio

CTPIEM - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino

Meacutedio

CTQIEM - Curso Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino

Meacutedio

CTS - Ciecircncia Tecnologia e Sociedade

CTSA - Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente

DiCiTE - Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo

DIY - Do It Yourself

ECT - Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

ECTS - Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

ENEM - Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FBB - Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FEE - Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel

Heuser

FGV - Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

GEECITETL - Grupo de Estudos sobre Ensino de Ciecircncias e

Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste

GTrsquos - Grupos de Trabalho

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IDHM - Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal

IFFarroupilha - Instituto Federal Farroupilha

IFRS - Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Rio Grande do Sul

IFSul - Instituto Federal Sul-riograndense

Ipea - Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada

IPF - Instituto Paulo Freire

ITCP - Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

ITS - Instituto de Tecnologia Social

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MCT - Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia

MDS - Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome

MEC - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MI - Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional

OCEMSociologia - Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino

Meacutedio-Sociologia

ONGs - Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCIPs - Organizaccedilotildees da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PCNrsquos - Paracircmetros Curriculares Nacionais

PCT - Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia

PETROBRAS - Petroacuteleo Brasileiro SA

PLACTS - Pensamento Latino-americano sobre Ciecircncia

Tecnologia e Sociedade

PPCs - Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos

PPGECT - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica

e Tecnoloacutegica

PPI - Projeto Poliacutetico Institucional

PQLP - Programa de Qualificaccedilatildeo de Docente e Ensino de

Liacutengua Portuguesa

PROEJA - Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Profissional com a Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e

Adultos

PUCSP - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

REDTISA - Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social

RS - Rio Grande do Sul

RTS - Rede de Tecnologia Social

SCOT - Social Construction of Technology

SECIS - Secretaria de Inclusatildeo Social

SENAI - Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial

SL - Software Livre

STS - Science and Technology Studies

TA - Tecnologia(s) Apropriada(s)

TAR - Teoria Ator-Rede

TC - Tecnologia(s) Convencional(ais)

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCT - Teoria Criacutetica da Tecnologia

TFM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

TIS - Tecnologias para a Inclusatildeo Social

TP - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos

TQ - Curso Teacutecnico em Quiacutemica

TS - Tecnologia(s) Social(ais)

UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro

UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

UNTL - Universidade Nacional Timor Lorosarsquoe

UTFPR - Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute

VOSTS - Views On Science-Techology-Society

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 33

QUESTOtildeES 46

OBJETIVOS 46

TESE 47

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 47

RELEVAcircNCIA 49

TOacutePICOS 50

CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS 53

11 SUJEITO 53

12 EDUCACcedilAtildeO 55

121 Paulo Freire e autonomia 57

122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social 61

123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria 65

124 Karl Marx e a politecnia 67

13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS 72

131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS 77

14 JUVENTUDES 84

15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO 89

16 AUTORIA 93

17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL 102

CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 109

21 TECNOLOGIA 109

211 Dimensotildees de anaacutelise 109

212 Sentido geral 111

213 Teoria Criacutetica da Tecnologia 116

22 TECNOLOGIAS SOCIAIS 127

221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees 127

222 Denominaccedilotildees e sentidos 135

223 Ponderaccedilotildees 145

224 TS tipos exemplos entidades e coletividades

relacionadas

148

225 Relaccedilotildees com processos educacionais 151

CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES 161 31 CONTEXTO 163

311 A cidade 163

312 O bairro 171

313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia

174

314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul 177

32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA 183

321 Anaacutelise da questatildeo inicial 186

322 Anaacutelise dos questionaacuterios 190 33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 192

331Campanha contra homofobia nas escolas 197

332 Transporte de catildees em coletivos 200

333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel 203

334 Inovaccedilotildees no site da escola 206

335 Aplicativo para estudos e lazer 208

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 213

REFEREcircNCIAS 219

APEcircNDICES 243

Apecircndice A - Termo de consentimento para coleta de dados -

Diretor Geral

243

Apecircndice B - Termo de consentimento para coleta de dados -

Diretor de Ensino

244

Apecircndice C - Termo de consentimento livre e esclarecido -

alunosas (modelo)

245

Apecircndice D - Questionaacuterio 246

Apecircndice E - Roteiro didaacutetico 253

Apecircndice F - Texto base das aulas 259

ANEXOS 263

Anexo A - Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de

controle acadecircmico do IFRS

263

Anexo B - Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados 264

Anexo C - Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo

disponiacutevel nos Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)

268

33

INTRODUCcedilAtildeO

O pensador da epiacutegrafe Walter Benjamim (1892-1940)

anunciava no seacuteculo passado o que muitos outros pensadores e

pensadoras tambeacutem reconheciam e que acredito ser ainda atual a

importacircncia de nosso posicionamento como sujeitos histoacutericos e em

busca de autonomia e emancipaccedilatildeo social Essa posiccedilatildeo pode ilustrar a

intenccedilatildeo geral que unifica os diferentes momentos que foram

necessaacuterios para a realizaccedilatildeo desta tese Desde a pesquisa de mestrado

com novos entendimentos sobre tecnologias passando pela percepccedilatildeo

da importacircncia da problematizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em processos de

emancipaccedilatildeo social ateacute uma tentativa de articulaccedilatildeo de debates sobre

educaccedilatildeo e tecnologia

No mestrado ao pesquisar sobre Tecnologias Sociais (TS)1

percebi que muitas iniciativas de desenvolvimento eram voltadas a

temas educacionais Meu levantamento de dados no Banco de

Tecnologias Sociais (BTS) da Fundaccedilatildeo Banco do Brasil (FBB)

mostrou que entre 2001 e 2008 35 do total de TS desenvolvidas no

Brasil (e cadastradas no BTS) estavam voltadas a problemas nos temas

ligados agrave educaccedilatildeo (CORREA 2010 2013b) O graacutefico 1 abaixo

ilustra como as tecnologias que examinei estavam direcionadas a

solucionar questotildees relativas a diferentes temaacuteticas

1 Sendo aluna evadida da Engenharia Quiacutemica minha primeira graduaccedilatildeo

busquei atividades de pesquisa sobre tecnologias no curso de Ciecircncias Sociais

Ali sob orientaccedilatildeo da profordf Dra Maiacutera Baumgarten verifiquei que linhas de

pesquisas que inter-relacionavam tecnologias e problemas sociais poderiam

resgatar alguns de meus interesses de estudos originais

34

Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil

Fonte (CORREcircA 2010 2013b)

Portanto no graacutefico 1 acima eacute possiacutevel verificar o predomiacutenio de

tecnologias voltadas a problemas nos temas ligados agrave educaccedilatildeo como

destaquei anteriormente Foram 157 casos desse tipo de um total de 447

tecnologias examinadas Esse nuacutemero expressivo levou-me a buscar

subsiacutedios teoacutericos para analisar sentidos2 sobre tecnologia em processos

educacionais (entendidos aqui em sentido amplo como relaccedilotildees entre

sujeitos que envolvem ensino e aprendizagem)

Encontrei-os de fato no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT) da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC) nas discussotildees propiciadas nas disciplinas e

seminaacuterios do doutorado e sobretudo no grupo de estudos a que me

filiei o DiCiTE (Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo)

Nesses ambientes pude examinar de modo mais especiacutefico e

aprofundado implicaccedilotildees sociais da tecnologia na educaccedilatildeo

Busquei identificar dentro dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da

Tecnologia (ECTS) em especial dos ECTS latino-americanos correntes

teoacutericas que considero as mais apropriadas ao estudo de TS na educaccedilatildeo

no Brasil Aleacutem disso na medida do possiacutevel tentei relacionar

autoresas que podem ser considerados como pertencentes a outras

2 Sentidos satildeo aqui entendidos como uma construccedilatildeo histoacuterica permeada por

valores criados e transformados por sujeitos em determinadas situaccedilotildees O

sentido permite espaccedilos para a autoria

35

correntes teoacutericas com meu proacuteprio olhar (de mulher latino-americana)

sobre o problema estudado

Minha primeira intenccedilatildeo foi investigar a formaccedilatildeo docente inicial

em Ciecircncias Sociais (CS) na Universidade Federal do Rio Grande do

Sul (UFRGS) para examinar sentidos sobre tecnologia que por ali

circulavam (eram debatidos) ou que atravessavam (sem ser

necessariamente discutidos) aquele contexto Eu havia passado por tal

formaccedilatildeo haacute pouco tempo e muitas questotildees em relaccedilatildeo agrave tecnologia me

deixavam inquieta naquele periacuteodo Na aproximaccedilatildeo com as leituras

propostas no acircmbito da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT)

busquei portanto literaturas sobre formaccedilatildeo docente inicial e sobre o

ensino de Sociologia no Brasil de modo a articulaacute-las com os ECTS

Durante essa construccedilatildeo do problema de pesquisa para a tese tive

a oportunidade de fazer parte do Programa Proacute-Mobilidade

Internacional da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior (Capes) com a Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua

Portuguesa (AULP) na cooperaccedilatildeo entre Brasil e Timor-Leste Fiquei

dois meses do ano de 2014 em Timor-Leste sob orientaccedilatildeo do prof Dr

Gaspar Varela e participei sobretudo da articulaccedilatildeo de estudos e

pesquisas com docentes e discentes da Universidade Nacional Timor

Lorosarsquoe (UNTL)

Essa articulaccedilatildeo foi mediada pelo Grupo de Estudos sobre Ensino

de Ciecircncias e Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste

(GEECITE-TL) co-coordenado por professoresas timorenses e pela

profordf brasileira Faacutetima Suely Ribeiro Cunha colega do doutorado do

PPGECT da UFSC Aleacutem disso acompanhei os trabalhos de colegas

cooperantes em Timor-Leste no projeto Programa de Qualificaccedilatildeo de

Docente e Ensino de Liacutengua Portuguesa (PQLP) gerido pelo Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo (MEC) brasileiro e pela Capes e co-coordenado no Brasil

pela profordf Dra Patricia Montanari Giraldi do Centro de Ciecircncias da

Educaccedilatildeo (CED) da UFSC

Saiacute do Brasil com a intenccedilatildeo de investigar aspectos gerais da

formaccedilatildeo docente em Timor-Leste de modo a levantar novas questotildees

para a minha pesquisa de tese Com isso participei da concepccedilatildeo e

realizaccedilatildeo da oficina ldquoOs alquimistas estatildeo chegandordquo como parte do

projeto de pesquisa ldquoOs alquimistas estatildeo chegando sentidos sobre

conhecimentos na cooperaccedilatildeo entre professores do Brasil e Timor-

Lesterdquo desenvolvido em conjunto com a profordf Dra Mariana Brasil

Ramos do CED da UFSC e tambeacutem participante do Projeto Proacute-

Mobilidade naquele momento

Contudo dos relatos de colegas com mais experiecircncia em Timor-

36

Leste e de minha aproximaccedilatildeo com o prof Estanislau Alves Correia

docente da UNTL verifiquei que existiam demandas para refletirmos

sobre possibilidades e limites nas articulaccedilotildees entre a produccedilatildeo de

conhecimentos tradicionais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual sobretudo em

relaccedilatildeo agrave ECT Com isso colaborei com a organizaccedilatildeo e participei da

mesa-redonda ldquoTecnologias Sociais e Produccedilatildeo de Conhecimentosrdquo

promovida pelo GEECITE-TL na UNTL com a comunicaccedilatildeo

ldquoTecnologias Sociais elementos para debates em perspectiva

educacionalrdquo

As discussotildees com docentes e discentes da UNTL que resultaram

dessa mesa-redonda levaram-me a refletir sobre as possibilidades de

explorar a questatildeo da autoria ao articular TS e educaccedilatildeo Nesse sentido

busquei possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com

a questatildeo da autoria em ambientes educacionais Pois acredito que

sujeitos que fazem parte de processos educacionais em um contexto de

construccedilatildeo de autoria podem ter possibilidades de ler e interpretar

criativa e criticamente a realidade social3 na qual estatildeo inseridos

A partir dessas possibilidades os sujeitos poderiam estar

mobilizados a mostrarem suas visotildees sentidos e experiecircncias acerca dos

problemas socioteacutecnicos4 vivenciados Esses uacuteltimos aqui entendidos a

partir da percepccedilatildeo de que a tecnologia natildeo eacute o produto de uma uacutenica

racionalidade teacutecnica mas a combinaccedilatildeo de fatores teacutecnicos e sociais na

qual eacute possiacutevel tanto perceber significaccedilotildees sociais atribuiacutedas a artefatos

quanto considerar a importacircncia do contexto social nas direccedilotildees e

influecircncias do desenvolvimento tecnoloacutegico

3 Uso o termo sem qualquer pretensatildeo explicativa filosoacutefica Sem deixar de

compreender a complexidade das discussotildees filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a

categoria ldquorealidaderdquo o que interessa aqui eacute destacar algo que reconhecemos ter

existecircncia independente de noacutes Por realidade social podemos compreender

relaccedilotildees estabelecidas entre sujeitos e entre sujeitos e aquilo que os rodeia 4 Utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo como uma abordagem que possibilite anaacutelises

integradas de fatores teacutecnicos e sociais a fim de superar determinismos

tecnoloacutegicos e sociais As perspectivas dos sistemas tecnoloacutegicos de Hughes

dos conjuntos socioteacutecnicos de Pinch e Bijker das mediaccedilotildees socioteacutecnicas da

Teoria Ator-Rede (TAR) de Latour e Callon e da construccedilatildeo social da

tecnologia e da Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica (AST) de Dagnino e Thomas no

contexto latinoamericano satildeo certamente influecircncias teoacutericas Contudo natildeo eacute o

caso de eu estar estritamente filiada a qualquer uma dessas perspectavias

Socioteacutecnico aqui significa que a sociedade eacute tatildeo tecnologicamente construiacuteda

quanto as tecnologias satildeo socialmente desenvolvidas

37

Na volta para o Brasil busquei aprofundar a questatildeo da autoria e

relacionaacute-la com a formaccedilatildeo docente inicial em CS Entretanto tive

dificuldades para realizar a pesquisa no campo selecionado (UFRGS)

Meu contexto no momento levou-me a considerar novos sujeitos de

pesquisa de modo que os encontrei entre estudantes do ensino meacutedio

teacutecnico O fato de eu passar a atuar no Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) Cacircmpus Caxias do

Sul como docente temporaacuteria da disciplina de Sociologia nas turmas de

Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) naquele

momento com uma grande imersatildeo no contexto escolar local aliada agraves

dificuldades encontradas na coleta de dados junto agrave UFRGS levaram-

me a reavaliar se meu referencial teoacuterico permitiria relacionar

juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio sentidos sobre

tecnologia e TS

Verifiquei que algumas abordagens dentro dos ECTS latino-

americanos principalmente em perspectiva educacional poderiam

contribuir para o entendimento de tais inter-relaccedilotildees E nesse espaccedilo

percebi que eu tambeacutem poderia trazer contribuiccedilotildees com minha

pesquisa Portanto nesta tese trato de dois grandes temas educaccedilatildeo e

tecnologia com vistas a indicar uma possibilidade de abordagem sobre

TS no ensino meacutedio

A intenccedilatildeo de enfocar TS no ensino meacutedio surgiu sobretudo da

identificaccedilatildeo jaacute antiga de percepccedilotildees restritas sobre tecnologia muito

presentes no imaginaacuterio social de modo geral e em contextos

educacionais especificamente Uma dessas percepccedilotildees5 eacute o sentido

determinista sobre tecnologia que examino tendo em vista sua

problematizaccedilatildeo a partir dos princiacutepios socioloacutegicos do estranhamento e

da desnaturalizaccedilatildeo Com isso considero possibilidades de

transformaccedilatildeo desse sentido

A ideia de determinismo tecnoloacutegico comumente aparece ao

tratarmos das relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade6 Essa percepccedilatildeo natildeo

eacute algo novo De acordo com Chaacutevarro (2004) e Smith e Marx (1994) na

modernidade desde o estabelecimento de um imaginaacuterio sobre o

5 Percepccedilatildeo que natildeo eacute apenas minha mas de boa parte de pesquisadores sobre

ciecircncia e tecnologia como atesta por exemplo o estudo de Wyatt (2008) que eacute

examinado adiante 6 Para um levantamento bibliograacutefico histoacuterico e conceitual sobre determinismo

tecnoloacutegico do ponto de vista dos ECTS latino-americanos verificar

DAGNINO R Neutralidade da ciecircncia e determinismo tecnoloacutegico

Campinas Unicamp 2008

38

progresso a tecnologia apareceria como sua principal causa De modo

que teriacuteamos herdado do Iluminismo a ideia de que a ciecircncia seria uma

forccedila libertadora e que investir em tecnologia levaria ao maior

desenvolvimento produtivo e consequentemente ao bem-estar (SMITH

MARX1994)

No artigo ldquoDeterminismo Tecnoloacutegico na Cultura Americanardquo

(Technological Determinism in American Culture) (SMITH 1994) o

autor procura mostrar como obras de arte e anuacutencios publicitaacuterios

contribuiacuteram para o surgimento da crenccedila generalizada na tecnologia

como a forccedila motriz do desenvolvimento social A figura 1 abaixo7 faz

parte dessa anaacutelise Nela o autor destaca uma mulher que representaria

a deusa da liberdade (um velho siacutembolo republicano agora identificado

com o progresso) que flutua em direccedilatildeo ao ocidente (civilizaccedilatildeo) e

carrega consigo um livro escolar (educaccedilatildeo) e os fios do teleacutegrafo

(tecnologia de comunicaccedilatildeo) De acordo com Smith (1994 p10) ldquoa

pintura transmite claramente a atitude da cultura dominante para com a

natureza os nativos americanos e mais geralmente a mudanccedila linear e

melhoria atraveacutes da ciecircncia e da tecnologiardquo8

7 Pintura do ano de 1872 do tipo oacuteleo sobre tela de John Gast chamada

Westward-ho ou American Progress 8 ldquoThe painting clearly conveys the dominant cultures attitude toward nature

Native Americans and more generally linear change and improvement

through science and technologyrdquo Traduccedilatildeo livre da autora

39

Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico

Fonte (SMITH 1994 p 12)

Portanto como destaca Huguet (2003) o seacuteculo XX herdou uma

proposta ideoloacutegica e social que legitimava o crescimento tecnoloacutegico

como sinocircnimo de desenvolvimento e incorporava dimensotildees de

grandiosidade e aceleraccedilatildeo ainda imprevistas ateacute aquele momento

(CORREcircA 2010 2013a) Para aleacutem dessa questatildeo estritamente

econocircmica Huguet (2003) tambeacutem destaca o caraacuteter eacutetico que estaria

relacionado agrave ideia de determinismo Pois faria parte dessa ideia um

efeito libertador aos chamados paiacuteses do Norte9 (centrais colonialistas

9 Refiro-me ao Norte e Sul geograacutefico metafoacuterico e epistecircmico das anaacutelises de

Santos e Meneses (2010) Meneses (2014) e Santos (2007) que contestam a

hegemonia dos saberes e valores ocidentais (de domiacutenio colonialista

imperialista e capitalista) sobre as resistecircncias do Sul e investigam

possibilidades de uma ecologia dos saberes baseada em diaacutelogos horizontais

que reconheccedila conhecimentos plurais (epistemologias do Sul) Eacute importante

compreendermos que como destaca Meneses (2014) ldquoo Sul epistecircmico coincide

parcialmente com o Sul geograacutefico O Sul global refere-se agraves regiotildees do mundo

que foram submetidas ao colonialismo europeu e que natildeo atingiram niacuteveis de

desenvolvimento econocircmico semelhantes ao do Norte global (Europa e Ameacuterica

40

ldquodesenvolvidosrdquo) frente a sua responsabilidade moral histoacuterica sobre os

males causados aos chamados paiacuteses do Sul (periferia colonizados ldquoem

desenvolvimentordquo) (HUGUET 2003)

Podemos perceber portanto que o entendimento da ideia de

determinismo tecnoloacutegico na contemporaneidade tambeacutem pode facilitar

a compreensatildeo das formas com que paiacuteses do Norte e do Sul se

relacionam atualmente Haacute um discurso legitimador e salvacionista

daqueles sobre o Sul ldquomiseraacutevel e atrasadordquo (HUGUET 2003) E isso eacute

importante para pensarmos o contexto educacional brasileiro sobretudo

ao discutirmos sobre emancipaccedilatildeo social autonomia e autoria

Assim tais relaccedilotildees entre Norte e Sul parecem-me relevantes

para o exame de processos educacionais no Brasil Contudo eacute

importante aleacutem desse breve histoacuterico sobre o determinismo

tecnoloacutegico apresentar inicialmente uma compreensatildeo geral das

definiccedilotildees que envolvem essa questatildeo O filoacutesofo norte-americano

Andrew Feenberg (1991) apresenta uma abordagem interessante ao

esclarecer que atraveacutes da concepccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico tenta-

se explicar fenocircmenos sociais e histoacutericos de acordo com um fator

principal que no caso seria a tecnologia

Para Feenberg (1991) determinismo tecnoloacutegico significa que

existiria a possibilidade de o destino da sociedade ser ao menos de

modo parcial dependente de um fator considerado natildeo-social que o

influenciaria sem no entanto sofrer uma influecircncia reciacuteproca Assim o

determinismo estaria baseado na suposiccedilatildeo de que as tecnologias tecircm

uma loacutegica funcional autocircnoma que poderia ser explicada sem se fazer

referecircncia agrave sociedade Nesse sentido o autor trata ainda do chamado

coacutedigo teacutecnico10 que significa que certos produtos possuem um design

(projeto) que encerra em si todo o contexto de suas concepccedilotildees e estatildeo

do Norte) A sobreposiccedilatildeo natildeo eacute total porque por um lado no interior do Norte

geograacutefico vastos grupos sociais estiveram e estatildeo sujeitos agrave dominaccedilatildeo

capitalista e colonial e por outro lado porque no interior do Sul geograacutefico

houve sempre as lsquopequenas Europasrsquo pequenas elites locais que se beneficiaram

da dominaccedilatildeo capitalista e colonial e que depois das independecircncias a

exerceram e continuam a exercecirc-la por suas proacuteprias matildeos contra as classes e

grupos sociais subordinadosrdquo (MENESES 2014 p 92) 10 Feenberg explica que o coacutedigo teacutecnico se refere a uma traduccedilatildeo entre uma

demanda puacuteblica e uma especificaccedilatildeo teacutecnica ldquoEu desenvolvi o conceito de

lsquocoacutedigo teacutecnicorsquo para falar desse processo de traduccedilatildeo Ele eacute o modelo do

conteuacutedo veiculado de um lado no discurso dos movimentos sociais e de

outro nas especificaccedilotildees teacutecnicasrdquo (MARICONDA MOLINA 2009 p 168)

41

ligados a determinadas estrateacutegias Estas representariam interesses

correspondentes a instacircncias especiacuteficas do tipo de sociedade Por

exemplo no capitalismo as grandes corporaccedilotildees (FEENBERG 2002

2012)

De acordo com Castro (2009) tais interesses especiacuteficos tambeacutem

se relacionam ao consumismo tecnoloacutegico Um projeto de um

smartphone por exemplo jaacute prevecirc quando ele sairaacute de linha e carrega

consigo uma estrateacutegia de obsolescecircncia programada Tal projeto

incorpora uma estrateacutegia de consumo que se baseia na novidade Com

isso o consumidor entende que a aquisiccedilatildeo de novos produtos

tecnoloacutegicos significa um progresso e acredita que estaacute ldquoevoluindordquo e

que tem um produto melhor de uacuteltima tecnologia mesmo que o produto

antigo tivesse a mesma qualidade (CASTRO 2009) E essa eacute uma

constataccedilatildeo importante para o debate sobre determinismo tecnoloacutegico

em processos educacionais que envolvem as juventudes e suas praacuteticas

de consumo por exemplo

Em termos de definiccedilotildees Chandler (1995) destaca assim como

fez Feenberg (1991) que na perspectiva determinista o desenvolvimento

tecnoloacutegico seria o principal condicionante da mudanccedila e das estruturas

sociais Chandler (1995) aponta que na concepccedilatildeo determinista da

tecnologia as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade podem ser

consideradas segundo as categorias de autonomia condicionamento e

unidirecionalidade A tecnologia seria desenvolvida de modo autocircnomo

e independente seria o grande condicionante do desenvolvimento da

sociedade e a relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade ocorreria de modo

unidirecional daquela agindo sobre esta

Assim a fonte primordial das mudanccedilas sociais se caracterizaria

pelo desenvolvimento de tecnologias Resistecircncias e intervenccedilotildees

sociais poliacuteticas institucionais e culturais postas aos processos de

desenvolvimento de tecnologias teriam pouco ou nenhum efeito pois as

tecnologias afetariam inexoravelmente todos os acircmbitos sociais

(CHANDLER 1995 WYATT 2008)

Nesse mesmo sentido Bimber (1994) destaca que existem duas

condiccedilotildees que devem ser preenchidas para que possamos considerar o

determinismo tecnoloacutegico A primeira delas eacute a de que a mudanccedila social

tenha como causa fenocircmenos ou leis anteriores e a segunda condiccedilatildeo eacute a

de que tais leis dependam de caracteriacutesticas da tecnologia de modo que

os sujeitos natildeo exerccedilam accedilatildeo em relaccedilatildeo agraves mudanccedilas Ao considerar

essas condiccedilotildees o autor destaca trecircs possiacuteveis interpretaccedilotildees do

determinismo tecnoloacutegico e quais delas poderiam satisfazer essas

condiccedilotildees quais sejam a normativa a nomoloacutegica e a de consequecircncias

42

imprevistas

Na primeira a causa da mudanccedila estaria nas praacuteticas sociais e nas

crenccedilas dos sujeitos enquanto na segunda a sociedade se desenvolveria

de maneira fixa e determinada independente da resistecircncia dos sujeitos e

a terceira apontaria a possibilidade de efeitos sociais involuntaacuterios e

indeterminados Para Bimber (1994) a segunda interpretaccedilatildeo

nomoloacutegica eacute a uacutenica que satisfaz as duas condiccedilotildees e portanto eacute a que

infere a condiccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico (CORREcircA 2010)

Para aleacutem de possiacuteveis caracterizaccedilotildees do determinismo

tecnoloacutegico eacute importante destacar que a ideia de determinismo pode

assumir diversos significados Smith e Marx (1994) trazem a ideia de

uma imagem gradativa na qual poderiacuteamos visualizar dois extremos

opostos que representariam cada um um grau de determinismo Um

extremo seria chamado de hard (determinismo forte) e o outro soft (determinismo fraco) Nessa imagem o lado hard atribuiria agrave tecnologia

o poder de promover mudanccedilas sociais de modo inevitaacutevel e necessaacuterio

enquanto o extremo soft ainda consideraria aspectos sociais

econocircmicos poliacuteticos e culturais nessas mudanccedilas Tal como na figura 2

abaixo

Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Portanto para esses autores o determinismo tecnoloacutegico pode

significar tanto que a tecnologia ou seus atributos intriacutensecos tem o

poder de efetuar mudanccedilas quanto existiria uma matriz mais diversa e

complexa do ponto de vista social econocircmico poliacutetico e cultural

(SMITH MARX 1994)

Ainda em relaccedilatildeo aos significados Chaacutevarro (2004) lembra que

a ideia determinista sobre a tecnologia estaacute presente tanto em discursos

otimistas (tecnoacutefilos) do progresso como mostrado anteriormente

quanto em discursos pessimistas (tecnofoacutebicos) daquele Para uma visatildeo

tecnoacutefila a soluccedilatildeo dos problemas implicaria em pensaacute-los

tecnologicamente com um apoio irrestrito agraves promessas e feitos da

tecnologia muitas vezes sem grande olhar criacutetico sobre os seus usos

(FURTADO 2009) E esse apoio exigiria liberdade para que natildeo

43

houvesse controle externo sobre o desenvolvimento da investigaccedilatildeo

tecnoloacutegica pois assim se garantiria o bem-estar humano Controle

aqui significaria restriccedilatildeo da liberdade que levaria ao atraso econocircmico

e ateacute cultural

A visatildeo tecnofoacutebica compreenderia no entanto essa falta de

controle como o iniacutecio do caminho para um desastre OA tecnofoacutebicoa

criticaria e chegaria ateacute a rejeitar o desenvolvimento tecnoloacutegico que

elea veria como fonte de diversos problemas sociais (FURTADO

2009) Contudo eacute importante destacar que natildeo entendo a visatildeo

tecnofoacutebica como uma afiliaccedilatildeo contemporacircnea ao ludismo11 como

poderia ser suposto

Essa breve indicaccedilatildeo de pontos que considero importantes no

debate sobre determinismo tecnoloacutegico inclui tambeacutem uma perspectiva

que considera o porquecirc da forte influecircncia dessa ideia determinista em

noacutes Wyatt (2008) esclarece que ldquoinclusive nossos haacutebitos linguiacutesticos

persistem em nomear eacutepocas histoacutericas e sociedades inteiras por seus

artefatos tecnoloacutegicos dominantesrdquo12 (WYATT 2008 p 168) e que isso

pode ser testemunhado desde em museus ateacute nos meios de

comunicaccedilatildeo13 Desse modo assim como Wyatt (2008) questiono por

que a ideia de determinismo permanece

Contudo uma posiccedilatildeo extremamente oposta do tipo de

determinismo social que consideraria que o desenvolvimento

tecnoloacutegico depende intensamente de nosso livre arbiacutetrio para tomarmos

decisotildees de acordo com nossas preferecircncias valorativas poderia estar a

subestimar a forccedila com que as tecnologias influem culturalmente

Nesses extremos de determinismos podemos natildeo perceber que entre

11 Natildeo compreendo o movimento ludista (Europa seacutec XIX) como

simplesmente a quebra de maacutequinas em represaacutelia a inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

Assim como Hobsbawm (2000) entendo que no ludismo natildeo havia uma

hostilidade especial contra as maacutequinas os trabalhadores natildeo estavam

preocupados com o progresso teacutecnico abstratamente mas com o desemprego e

em manter um padratildeo de vida digno (idem) 12 ldquoYet the linguistic habit persists of naming whole historical epochs and

societies by their dominant technological artefactsrdquo (WYATT 2008 p 168)

Traduccedilatildeo livre da autora 13 A autora cita o exemplo de uma seacuterie de cinco palestras apresentadas no ano

de 2005 na rede de raacutedio inglesa BBC que se chamava ldquoThe triumph of

technologyrdquo (O triunfo da tecnologia) com uma palestra cujo nome era

ldquoTechnology will determine the future of the human racerdquo (A tecnologia iraacute

determinar o futuro da raccedila humana) (WYATT 2008)

44

tecnologias e valores ocorrem interaccedilotildees muacutetuas e complexas e natildeo

apenas uma influecircncia com direccedilatildeo uacutenica (CORREcircA 2010)

Sob as condiccedilotildees capitalistas atuais por exemplo parece difiacutecil

refutar a ideia de que a adoccedilatildeo de certas tecnologias exerce influecircncia

forte na sociedade Mas eacute importante considerarmos que vivemos em

uma sociedade com um niacutevel de interaccedilatildeo com outros fatores que natildeo

apenas tecnoloacutegicos Portanto parece-me difiacutecil justificar uma

insistecircncia na tecnologia como o elemento fundamental das

transformaccedilotildees sociais assim como outra determinaccedilatildeo (como a

econocircmica por exemplo) Fatores poliacuteticos econocircmicos religiosos

culturais assim como a opiniatildeo puacuteblica e os processos educacionais

comumente aparecem como inter-relacionados a tecnologias (CORREcircA

2010)

Embora natildeo seja a referecircncia teoacuterica desta tese cito aqui a

perspectiva da Construccedilatildeo Social da Tecnologia (CST)14 que contraacuteria

ao determinismo forte (hard) considera a forccedila da dimensatildeo

sociocultural nas mudanccedilas teacutecnicas Os autores Pinch e Bijker (2008)

desenvolvem estudos nos quais mostram como a tecnologia eacute uma

construccedilatildeo social Um exemplo eacute sua investigaccedilatildeo sobre o

desenvolvimento da bicicleta cujo desenho final dependeu das praacuteticas

de uso de seus possiacuteveis consumidores Nesse sentido Bijker (2008)

desenvolve o conceito de marco tecnoloacutegico que se apoia nos

significados que os sujeitos conferem a uma tecnologia e na gramaacutetica

que se desenvolve ao redor desses para explicar como a sociedade

interfere no desenho de uma tecnologia15 (PINCH BIJKER 2008)

Filiados ou natildeo agrave perspectiva da CST podemos como faz

Dieacuteguez (2005) problematizar posicionamentos deterministas sobre

tecnologia Um passo para isso seria compreendermos que muitas

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo satildeo desenvolvidas que muitos aspectos

econocircmicos influenciam na adaptaccedilatildeo de tecnologias e finalmente que

existem tecnologias mais ldquoelaacutesticasrdquo que podem ter uma exploraccedilatildeo

mais diversificada Algo que Wyatt (2008)16 tambeacutem examina ao fazer 14 Do inglecircs Social Construction of Technology tambeacutem conhecida

como SCOT 15 O que procura demonstrar que a mediaccedilatildeo dos sujeitos seria central nos

processos de desenvolvimento tecnoloacutegico Os autores esclarecem que a

tecnologia comportaria algo como uma ldquoflexibilidade interpretativardquo pois ela

poderia ser compreendida de diversos modos por diferentes grupos de

usuaacuteriosas 16 Destaco que Wyatt (2008) faz uma anaacutelise dos STS sofisticada que inclui

uma categorizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do princiacutepio de simetria por autores como

45

um levantamento de como os chamados Estudos da Ciecircncia e

Tecnologia (STS na sigla em inglecircs para Science and Technology

Studies) vecircm analisando a questatildeo pelo menos nos uacuteltimos 25 anos

De acordo com a autora para a maioria dos analistas dos STS o

determinismo tecnoloacutegico natildeo eacute um modelo adequado mas como eacute uma

crenccedila comum entre os sujeitos natildeo eacute possiacutevel rejeitaacute-lo Ela ainda

reforccedila que essa crenccedila no determinismo permanece pois ele encerra

caracteriacutesticas como simplicidade conformidade com as experiecircncias

dos sujeitos entendimento de que as tecnologias satildeo coisas misteriosas

de origem desconhecida de modo que facilmente nos adaptamos a ideia

ou como a autora chama modelo de determinismo (WYATT 2008)

Mesmo que se possa aceitar diferentes graus e significados sobre

o determinismo procurei demarcar caracteriacutesticas que me parecem

encerrar o conteuacutedo central de determinismo tal como ele eacute analisado

em meus estudos de modo geral e nesta tese especificamente A saber

que o determinismo tecnoloacutegico pode ser examinado como uma

compreensatildeo restrita sobre as relaccedilotildees entre os sujeitos e as tecnologias

na qual haveria pouca oportunidade de conhecimento participaccedilatildeo e

controle dos processos que envolvem questotildees relacionadas agrave tecnologia

(elaboraccedilatildeo desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo apropriaccedilatildeo e

ensino) pelos sujeitos

Com isso destaquei pontos que considero importantes acerca da

questatildeo do determinismo tecnoloacutegico tendo em vista debates sobre

processos educacionais Penso que compreender esses aspectos da

perspectiva determinista pode ajudar no exame de sentidos sobre

tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM17 Cursos estes

entendidos como uma categoria com suas contradiccedilotildees seus espaccedilos e

tempos soacutecio-histoacutericos especiacuteficos e nos quais as juventudes

constroem reconstroem e satildeo atravessadas por diversos sentidos sobre

suas (im)possibilidades de inserccedilatildeo na realidade social

Minha intenccedilatildeo ao apontar problemas relacionados agrave ideia

persistente de determinismo tecnoloacutegico na atualidade (tais como o fato

de ele conter uma compreensatildeo restrita das relaccedilotildees entre os sujeitos e a

produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo considerar fatores sociais no

David Bloor Trevor Pinch Wiebe Bjiker e Michel Callon aleacutem de apresentar

sua proacutepria posiccedilatildeo no debate Essa classificaccedilatildeo natildeo eacute explorada nesta tese

Uma leitura aprofundada pode ser realizada a partir do artigo de Wyatt do ano

de 2008 que utilizo aqui como referecircncia 17 Esclareccedilo que minhas anaacutelises natildeo silenciam perspectivas natildeo-deterministas

que emergem durante a realizaccedilatildeo da pesquisa

46

desenvolvimento da tecnologia nos isentar de responsabilidades sobre o

que eacute desenvolvido e silenciar relaccedilotildees de dominaccedilatildeo em acircmbito

geopoliacutetico Norte-Sul) foi reforccedilar as implicaccedilotildees que um sentido

determinista da tecnologia pode ter de modo especiacutefico no que se

refere a processos educacionais

Busco o auxiacutelio do pensador brasileiro Rubem Alves (1933-

2014) para demonstrar a importacircncia de abordar o determinismo

tecnoloacutegico em sala de aula Embora o autor natildeo trate nomeadamente do

determinismo tecnoloacutegico e reflita sobre relaccedilotildees entre conhecimento e

poliacutetica no ato de pesquisa concordo com ele em um ponto no qual eacute

destacado que ldquonatildeo se conquistam os determinismos pela sua

ignoracircncia Eacute necessaacuterio contemplaacute-los face a face No momento em que

os reconhecemos e os chamamos pelo seu nome proacuteprio o caminho para

a liberdade e a iniciativa estaacute abertordquo (ALVES 1989 p 85-86)

QUESTOtildeES

Com isso penso que o problema de pesquisa foi construiacutedo de

modo que seja possiacutevel compreender as duas questotildees fundamentais que

conduzem as investigaccedilotildees desta tese (i) de que maneira e em que

medida uma perspectiva criacutetica sobre TS pode colaborar para

transformar sentidos deterministas sobre a tecnologia nos CTIEM E

(ii) em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais voltados agrave

construccedilatildeo de autoria a partir de um posicionamento criacutetico sobre TS

pode mobilizar estudantes dos CTIEM para a emancipaccedilatildeo social18 e a

autonomia

OBJETIVOS

Para buscar responder a essas duas questotildees destaco que o

objetivo geral da pesquisa eacute analisar possibilidades e limites para

discutir tecnologia e TS e transformar sentidos deterministas sobre

tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS nos CTIEM

Como suporte a esse objetivo geral apresento os quatro objetivos

18 Assim como a autonomia e a autoria a emancipaccedilatildeo social eacute uma categoria

importante nesse estudo No capiacutetulo 1 desta tese eacute apresentada a perspectiva

emancipatoacuteria educacional de Adorno (1995) utilizada e possiacuteveis diaacutelogos com

a pesquisa internacional ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social para novos

manifestosrdquo organizada pelo socioacutelogo portuguecircs Boaventura de Sousa Santos

(SANTOS 2009) que tem relevacircncia no quadro da pesquisa socioloacutegica atual

embora natildeo trate especificamente da questatildeo educacional mesmo que ela seja

referida

47

especiacuteficos (i) identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre

estudantes dos CTIEM (ii) problematizar tais sentidos de acordo com os

princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (iii)

examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de

um posicionamento criacutetico sobre TS e (iv) verificar se e como

promover contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar

sentidos de emancipaccedilatildeo social e autonomia entre estudantes

TESE

Tais objetivos assim como a pesquisa das questotildees propostas satildeo

o apoio para que eu possa defender a seguinte tese sentidos

deterministas sobre tecnologia que satildeo discutidos entre estudantes dos

CTIEM podem ser transformados atraveacutes de processos educacionais que

contemplem o desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre TS

Isso ocorre na medida em que essesas estudantes possam visualizar

possibilidades de emancipaccedilatildeo social ao constituiacuterem-se autonomamente

como autoresas capazes de compreender e modificar os contextos

socioteacutecnicos determinados soacutecio-historicamente que os satildeo

apresentados

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Os procedimentos19 necessaacuterios para realizar a pesquisa

compreendem coleta e anaacutelise de dados primaacuterios e secundaacuterios

qualitativos e quantitativos Os instrumentos de coleta de dados

primaacuterios satildeo uma questatildeo inicial formulada agravesaos estudantes (O que eacute

tecnologia para vocecirc) um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla

escolha20 (conforme Apecircndice D) e uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de

TS aleacutem do meu diaacuterio de campo (memoacuteria das aulas) A coleta de

dados secundaacuterios envolve pesquisa bibliograacutefica e documental Faz

19 Todas as consideraccedilotildees que se referem aos procedimentos metodoloacutegicos satildeo

detalhadas no capiacutetulo 3 desta tese 20 Tendo em vista a criacutetica feita por Thiollent (1985) ao positivismo empiacuterico

nas pesquisas sociais considerei a utilizaccedilatildeo do questionaacuterio de modo criacutetico e

histoacuterico e avaliei as vantagens (i) e desvantagens (ii) de sua utilizaccedilatildeo Tais

como (i) facilidade de aplicaccedilatildeo e anaacutelise praticidade e rapidez ao responder e

apresentaccedilatildeo de diversas alternativas (aleacutem da alternativa aberta) e (ii) exigecircncia

de tempo na sua preparaccedilatildeo para garantir diversas opccedilotildees de resposta conexatildeo

com os pressupostos teoacutericos e possibilidade de influecircncia no sujeito

respondente Dentro desse quadro a considerar o espaccedilo e o tempo da pesquisa

e com o cuidado de enfocar as condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas dos sujeitos da

pesquisa essa pareceu a opccedilatildeo mais adequada

48

parte da pesquisa ainda a elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico

na temaacutetica socioteacutecnica (conforme Apecircndice E)

Alguns dados foram coletados durante todo o ano de 2015

diretamente no IFRS sendo que a pergunta inicial e os questionaacuterios

foram aplicados no iniacutecio do terceiro trimestre escolar a partir do mecircs

de outubro e as apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS

aconteceram no mecircs de dezembro

A pesquisa aqui proposta envolve uma discussatildeo sobre estudantes

dos CTIEM contudo tendo em vista a possibilidade de

operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e a coerecircncia com o meu plano de

trabalho e o planejamento de ensino no IFRS foram selecionados

estudantes apenas dos primeiros anos dos CTIEM Com isso o universo

da pesquisa eacute composto por 184 alunosas matriculadosas nos primeiros

anos e que tecircm entre 14 e 18 anos de idade21 Contudo infrequecircncias

ausecircncias e opccedilatildeo por natildeo participar da pesquisa exigem um recorte que

finaliza com 149 estudantes que satildeo os sujeitos da pesquisa22

A descriccedilatildeo quantitativa elaboraccedilatildeo de graacuteficos quadros e

tabelas envolve a utilizaccedilatildeo do programa Excel 2013 A anaacutelise

qualitativa por sua vez baseia-se na leitura criacutetica descriccedilatildeo e anaacutelise

soacutecio-histoacuterica dos dados documentais das respostas agrave pergunta inicial

dos questionaacuterios da memoacuteria das aulas e da produccedilatildeo sobre TS Na

pesquisa proposta os dados quantitativos satildeo considerados como um

suporte importante mas o caraacuteter da pesquisa eacute qualitativo Contudo

destaco que assim como Trivintildeos (1987) natildeo haacute aqui uma

caracterizaccedilatildeo dicotocircmica entre o qualitativo e o quantitativo Do ponto

de vista de uma pesquisa dialeacutetica (na qual os polos analisados satildeo

diferentes mas se implicam mutuamente um depende necessariamente

do outro) existe uma relaccedilatildeo necessaacuteria entre a mudanccedila quantitativa e a

mudanccedila qualitativa

Esse enfoque qualitativo que corresponde a um modo de

compreender e analisar a realidade pode ser examinado dentro do que

Trivintildeos (1987) chama de ldquocriacutetico-participativo com visatildeo histoacuterico-

estruturalrdquo (p 117) Nesse quadro autores como Marx Engels

Gramsci Adorno Horkheimer Marcuse e Habermas entre outros

partem da necessidade de conhecer a realidade ldquopara transformaacute-la em

processos contextuais e dinacircmicos complexosrdquo (TRIVINtildeOS 1987 p

21 Um perfil sociodemograacuteficos dosas estudantes eacute apresentado no capiacutetulo 3

desta tese 22 Destaco que dentre esses sujeitos selecionei cinco TS (31 alunosas) para

analisar de modo mais aprofundado como descrevo no capiacutetulo 3

49

125) Assim nesta tese a intenccedilatildeo eacute realizar uma pesquisa que capte

tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema delineado (descrito)

Interessam portanto suas origens causas consequecircncias e contradiccedilotildees

tendo em vista possibilidades de transformaccedilotildees da realidade

A ideia eacute examinar relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo tendo em

vista a obtenccedilatildeo de dados que possibilitem ampliar a compreensatildeo de

qualidades constitutivas dessas relaccedilotildees (dos sentidos que as atravessam

que ali circulam suas contradiccedilotildees) e verificar possibilidades de

transformaccedilatildeo desses sentidos dentro de processos educacionais Em

termos metodoloacutegicos ao apropriar-me dessas relaccedilotildees em primeiro

lugar ligo-as agrave minha concepccedilatildeo de mundo e em seguida procuro

inseri-las em um quadro teoacuterico de apoio Portanto ao buscar a

historicidade e contradiccedilotildees dessas relaccedilotildees penso que as escolhas

metodoloacutegicas realizadas estatildeo de acordo com o referencial teoacuterico

escolhido que por sua vez tem coerecircncia com minha consciecircncia social

RELEVAcircNCIA

A relevacircncia dessa iniciativa de pesquisa encontra-se nas

possibilidades de (i) compreender (e poder transformar) soacutecio-

historicamente sentidos restritos sobre tecnologias que circulam entre as

juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (ii) expandir

entendimentos sobre processos educacionais voltados agrave mobilizaccedilatildeo

para autoria emancipaccedilatildeo social e autonomia em um paiacutes do Sul e (iii)

ampliar espaccedilos para debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e

sociedade

O entendimento criacutetico de tais relaccedilotildees eacute percebido aqui como um

fator a ser considerado na compreensatildeo de processos educacionais

criacuteticos e contextualizados (sensiacuteveis agraves diversidades poliacuteticas de classe

religiosas eacutetnico-raciais23 e de gecircnero) vinculados a perspectivas de

efetiva transformaccedilatildeo social

23 Conforme Gomes (2012) no Brasil militantes e intelectuais utilizam o termo

ldquoeacutetnico-racialrdquo para demonstrar que consideram as muacuteltiplas dimensotildees que

envolvem a histoacuteria as culturas e a vida de negros no paiacutes Ao adotarem o termo

ldquoraccedilardquo natildeo o fazem no sentido bioloacutegico pelo contraacuterio ldquotrabalham o termo

raccedila atribuindo-lhe um significado poliacutetico construiacutedo a partir da anaacutelise do tipo

de racismo que existe no contexto brasileiro e considerando as dimensotildees

histoacuterica e cultural que este nos remeterdquo (GOMES 2012 p 47)

50

TOacutePICOS

Operacionalizei a tese dentro do pressuposto de que natildeo eacute

interessante uma visatildeo isolada das partes do estudo tendo em vista que

elas estatildeo inter-relacionadas Desse modo a fundamentaccedilatildeo teoacuterica por

exemplo natildeo tem um capiacutetulo especiacutefico pois ela vai apoiar de maneira

dinacircmica as ideias que surgem no desenvolvimento da pesquisa

Entretanto para tentar desenvolver de modo objetivo os argumentos e

apresentar de maneira concisa os dados desta tese o texto estaacute dividido

em trecircs partes aleacutem das consideraccedilotildees finais

No primeiro capiacutetulo discuto sobre processos educacionais

Apresento meus posicionamentos e filiaccedilotildees teoacutericas em relaccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo ECT Educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia Tecnologia Sociedade)

juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio e autoria Aleacutem da

discussatildeo conceitual trago aspectos histoacutericos e bibliograacuteficos sobre tais

temas de modo que as informaccedilotildees desse capiacutetulo possam encaminhar

para entendimentos sobre tecnologia tal como delineado de maneira

especiacutefica no segundo capiacutetulo

No capiacutetulo 2 apresento uma discussatildeo relativa aos contextos

socioculturais poliacuteticos e educacionais nos quais os debates sobre

tecnologia estatildeo inseridos Para isso examino o caraacuteter social da

tecnologia a partir de diferentes autoresas exponho minha filiaccedilatildeo

teoacuterica e delineio o sentido geral sobre tecnologia que eacute considerado na

pesquisa de tese Apoacutes realizo uma reflexatildeo histoacuterica conceitual e

documental sobre TS e apresento estudos sobre relaccedilotildees entre TS e

processos educacionais

Com o foco em examinar sentidos sobre tecnologia que

atravessam os (e circulam nos) CTIEM no terceiro capiacutetulo apresento

detalhadamente os procedimentos envolvidos na coleta e anaacutelise de

dados Exponho informaccedilotildees relevantes para a pesquisa sobre o IFRS

(histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outros dados) e sobre aspectos

sociodemograacuteficos qualitativos e quantitativos dos sujeitos da pesquisa

De acordo com minha opccedilatildeo por adotar a teacutecnica de pesquisa de

intervenccedilatildeo socioloacutegica (THIOLLENT 1985) ao realizar uma anaacutelise

criacutetica dos dados coletados intenciono que a partir desses dados os

sentidos sejam examinados segundo uma perspectiva teoacuterica que

permita o retorno a esses sentidos agora contextualizadas em muacuteltiplas

relaccedilotildees

Tal movimento envolve mediaccedilotildees em trecircs momentos A partir

do caos concreto (no qual satildeo captadas as qualidades gerais da

realidade) passa-se por uma instacircncia abstrata (na qual estabelecem-se

as relaccedilotildees soacutecio-histoacutericas do fenocircmeno determinam-se os traccedilos

51

quantitativos do exame) ateacute chegar novamente ao concreto agora

pensado (no qual estabelecem-se os aspectos essenciais do fenocircmeno

seu fundamento sua realidade e possibilidade o que nele eacute singular e

geral necessaacuterio e contingente)

Conforme informo na dedicatoacuteria esta tese foi escrita para

educadoras e educadores de qualquer modalidade de ensino e de

diferentes formaccedilotildees disciplinares que tenham interesse em TS

52

53

CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS

Neste primeiro capiacutetulo tendo em vista o que estaacute envolvido24

com a educaccedilatildeo desenvolvo consideraccedilotildees acerca de elementos que

vejo como importantes na investigaccedilatildeo de relaccedilotildees dessa com a

tecnologia Inicialmente apresento meu posicionamento geral sobre o

sujeito desse processo e destaco o que compreendo por educaccedilatildeo de

modo geral e segundo autoresas que podem ajudar-me a analisar em

alguma medida o contexto25 nacional atual

Apoacutes reflito sobre ECT e Educaccedilatildeo CTS tendo em vista alguns

princiacutepios do ensino de Sociologia no ensino meacutedio (estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo) questotildees de autoria e as juventudes que compotildeem os

CTIEM (sujeitos do conhecimento) Finalizo o capiacutetulo com uma

tentativa de relacionar essas perspectivas com indagaccedilotildees sobre uma

outra educaccedilatildeo possiacutevel A ideia eacute que esse capiacutetulo inicial relacione

autoresas e teorias em relaccedilatildeo agrave autonomia autoria e emancipaccedilatildeo

social que possam trazer subsiacutedios para um debate sobre tecnologia e

TS em ambientes educacionais

11 SUJEITO

No contexto geral das discussotildees de que participo na aacuterea da

ECT percebo ao menos alguns temas efetivos que derivam de

concepccedilotildees sobre a natureza as funccedilotildees aplicaccedilotildees e implicaccedilotildees

sociais do conhecimento da ciecircncia da tecnologia e da educaccedilatildeo

Central em tudo isso estatildeo as concepccedilotildees sobre o sujeito

fundamentalmente sobre o sujeito do conhecimento que perpassam

todos esses temas e implicam em diferentes posicionamentos em relaccedilatildeo

a eles26

24 Considero que processos educacionais envolvem interaccedilotildees entre

professoresas estudantes escola estrutura fiacutesica materiais da escola poliacutetica

educacional interna e externa participaccedilatildeo de paisresponsaacuteveis abertura agrave

comunidade procedimentos avaliativos e componentes curriculares 25 Nesta tese uso o termo ldquocontextordquo em sentido geral como inter-relaccedilatildeo de

circunstacircncias (sociais culturais poliacuteticas econocircmicas tecnoloacutegicas

educacionais) que acompanham dadas situaccedilotildees Natildeo eacute minha intenccedilatildeo discutir

o termo de acordo com teorias antropoloacutegicas ou linguiacutesticas 26 Muitos estudos epistemoloacutegicos investigam as relaccedilotildees entre sujeito (S)

objeto (O) e imagem (I) Algo que natildeo seraacute explorado de modo especiacutefico nesta

tese Tendo em vista uma leitura voltada a questotildees educacionais eacute possiacutevel

compreender ideias baacutesicas sobre essas relaccedilotildees e especificamente sobre

54

Considero que essas concepccedilotildees podem ser analisadas como

conjuntamente interligadas mas de modo a respeitar suas

particularidades Como jaacute referenciei tratarei fundamentalmente sobre

relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo contudo eacute importante iniciar esse

estudo com uma breve indicaccedilatildeo de como compreendo o sujeito nesse

processo

Uma primeira inspiraccedilatildeo para localizar de maneira mais

especiacutefica quem eacute(satildeo) meu(s) sujeito(s) foi construiacuteda a partir do

acompanhamento das leituras realizadas no DiCiTE Naquele ambiente

pesquisadoresas tecircm interesse por questotildees que relacionam educaccedilatildeo

ECTS e linguagem Ali tambeacutem satildeo investigados aspectos da Anaacutelise

de Discurso (AD) francesa sobretudo do filoacutesofo francecircs Michel

Pecirccheux (1938-1983) Nessa imersatildeo pude compreender que para a AD

o sujeito assume determinadas posiccedilotildees e manteacutem uma relaccedilatildeo com o

mundo De modo que a maneira como ele eacute visto e como se vecirc estaacute

vinculada a certa posiccedilatildeo ideoloacutegica

Sem explorar o rico referencial da AD considero o seu sujeito

que estaacute imerso em relaccedilotildees e vinculado agrave ideologia Assim nesta tese

com meu foco em estudantes dos CTIEM meu paracircmetro eacute o ser

humano Como afirma Severino (1994) entendo o ser humano como

entidade histoacuterica influenciado pelas condiccedilotildees objetivas de sua

existecircncia ao mesmo tempo em que atua sobre elas por meio de sua

praacutexis27 Reconheccedilo o sujeito tanto em sua subjetividade (como produtor

e transformador de sentidos) quanto imerso nos contextos soacutecio-

histoacutericos vivenciados

realismo realismo criacutetico e modelo dialeacutetico respectivamente nas seguintes

referecircncias utilizadas na ECT HESSEN J Teoria do Conhecimento Satildeo

Paulo Martins Fontes 2003 SCHAFF A Histoacuteria e Verdade Satildeo Paulo

Martins Fontes 1995 BECKER F Modelos pedagoacutegicos e modelos

epistemoloacutegicos In SILVA L H AZEVEDO JC (Org) A paixatildeo de

aprender II Petroacutepolis Vozes 1995 27 Sem entrar no debate acerca da possiacutevel ambiguidade do conceito quando

tratado particularmente por Marx e Engels na obra ldquoA ideologia alematilderdquo

(MARX ENGELS 1982) considero a posiccedilatildeo de Castoriadis (1986) quando

esse autor afirma que a praacutexis eacute o fazer no qual ldquoo outro ou os outros satildeo

visados como seres autocircnomos () Existe na praacutexis um por fazer mas esse por

fazer eacute especiacutefico eacute precisamente o desenvolvimento da autonomia () (p 94)

A praacutexis eacute entendida aqui portanto de modo geral como praacutetica humana que

tende a criar condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave existecircncia da sociedade agraves atividades

materiais agrave produccedilatildeo (SEVERINO 1994)

55

Contudo a ideia eacute a de que esse sujeito a que me refiro natildeo

apareccedila em minhas anaacutelises do capiacutetulo 3 de maneira abstrata e

homogecircnea Busco representar a diversidade sem perder de vista a

unicidade Minha intenccedilatildeo eacute a de que as pluralidades e diferenccedilas

poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero possam emergir

sensivelmente Pois concordo com Santos (2014) quando a autora

afirma que a ciecircncia tem gecircnero e aponta a necessidade de

problematizaccedilatildeo de determinaccedilotildees essencialistas no que diz respeito

sobretudo a questotildees de gecircnero

Assim considero osas estudantes dentro de minhas perspectivas

teoacutericas como sujeitos ativos e integrados (natildeo acomodados) na

construccedilatildeo de conhecimentos e em busca permanente de

conscientizaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica Essa minha percepccedilatildeo tem base

no educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) que pensa em sujeitos

ldquointerferidoresrdquo (homem Sujeito) imersos em relaccedilotildees que os integram

aos seus contextos (FREIRE 1983)

Ao avaliar possibilidades de transformar sentidos sobre

tecnologia tendo em vista processos educacionais penso que considerar

a capacidade de integraccedilatildeo dos sujeitos seja fundamental ldquoA integraccedilatildeo

resulta da capacidade de ajustar-se agrave realidade acrescida da de

transformaacute-la a que se junta a de optar cuja nota fundamental eacute a

criticidaderdquo (FREIRE 1983 p 42) Esse sujeito (com identidades

poliacutetica religiosa eacutetnico-racial e de gecircnero) integrado ativo criacutetico

seria capaz de alterar a realidade soacutecio-histoacuterica que lhe eacute apresentada

Seria portanto um sujeito autor que constitui uma base das relaccedilotildees

entre educaccedilatildeo e tecnologia que busco examinar

12 EDUCACcedilAtildeO

Natildeo pretendo tratar educaccedilatildeo e tecnologia como abstraccedilotildees mas

como produccedilotildees soacutecio-histoacutericas complexas e que podem ser localizadas

geograacutefica e temporalmente Penso no contexto educacional brasileiro

no iniacutecio da segunda deacutecada do seacuteculo XXI Considero com isso as

intencionalidades dos sujeitos do conhecimento (envolvidos em

processos educacionais) a historicidade temporalidade e contradiccedilotildees

das teorias tecnoloacutegicas e educacionais e uma perspectiva natildeo

determinista da tecnologia28 no desenvolvimento econocircmico e social

28 Meu posicionamento em relaccedilatildeo agrave tecnologia seraacute exposto no segundo

capiacutetulo desta tese

56

Trato aqui de uma reflexatildeo sobre a educaccedilatildeo como aacuterea no qual o

cenaacuterio sociopoliacutetico brasileiro estaacute expresso com suas contradiccedilotildees

desigualdades preconceitos e tambeacutem suas virtualidades Assim como

a filoacutesofa brasileira Marilena Chauiacute e o filoacutesofo huacutengaro Istvaacuten

Meacuteszaacuteros compreendo a educaccedilatildeo como atividade social permanente e

inseparaacutevel do processo de formaccedilatildeo humana Meacuteszaacuteros (2008) aponta

ainda que ldquosem um progressivo e consciente intercacircmbio com processos

de educaccedilatildeo abrangentes como lsquoa nossa proacutepria vidarsquo a educaccedilatildeo

formal natildeo pode realizar as suas muito necessaacuterias aspiraccedilotildees

emancipadoras rdquo (p 59 grifos do autor)

Brandatildeo (1995) lembra-nos de que a educaccedilatildeo existe de muitos

modos sendo que alguns desses podem ter como princiacutepio a

transformaccedilatildeo A educaccedilatildeo como algo que envolve um movimento de

transformaccedilatildeo interna de uma condiccedilatildeo de saber a outra condiccedilatildeo de

saber ou ainda agrave compreensatildeo do outro de si mesmo da realidade do

tempo presente e da cultura acumulada (CHAUIacute 2003) de modo geral

pode ser entendida segundo uma concepccedilatildeo problematizadora ou

dialoacutegica (FREIRE 1987) Isso implicaria numa atuaccedilatildeo cidadatilde dos

sujeitos com ela envolvidos tendo em vista as possibilidades de

transformaccedilatildeo desses sujeitos e da sociedade

Tal transformaccedilatildeo pode ser encontrada em Meacuteszaacuteros (2008)

quando esse declara tal qual Freire (1987) que educar natildeo eacute transferir

conhecimentos (JINKINGS 2008) e sustenta que a educaccedilatildeo (como

conscientizaccedilatildeo e testemunho de vida) deve ser permanente e contiacutenua

para poder ser assim chamada Para ele

Sim ldquoa aprendizagem eacute a nossa proacutepria vidardquo

como Paracelso afirmou haacute cinco seacuteculos e

tambeacutem muitos outros que seguiram seu caminho

mas que talvez nunca tenham sequer ouvido seu

nome Mas para tornar essa verdade algo oacutebvio

como deveria ser temos de reivindicar uma

educaccedilatildeo plena para toda a vida para que seja

possiacutevel colocar em perspectiva a sua parte

formal a fim de instituir tambeacutem aiacute uma reforma

radical Isso natildeo pode ser feito sem desafiar as

formas atualmente dominantes de internalizaccedilatildeo

fortemente consolidadas a favor do capital pelo

proacuteprio sistema educacional formal (MEacuteSZAacuteROS

2008 p 55 grifo do autor)

57

Ao abordar as perspectivas de uma educaccedilatildeo para aleacutem do

capital o autor condena propostas apenas reformistas Para ele deveria

haver uma alteraccedilatildeo fundamental em todo o sistema de internalizaccedilatildeo29

Em termos de educaccedilatildeo seria necessaacuteria uma alternativa concreta e

abrangente Contudo Meacuteszaacuteros (2008) compreende que a tarefa

histoacuterica enfrentada eacute ldquoincomensuravelmente maior que a negaccedilatildeo do

capitalismo O conceito para aleacutem do capital eacute inerentemente concreto

Ele tem em vista a realizaccedilatildeo de uma ordem social metaboacutelica que

sustente concretamente a si proacutepriardquo (p 62 grifos do autor)

Acredito haver aqui um ponto de convergecircncia entre Meacuteszaacuteros

(2008) e Paulo Freire (1987) pois os dois autores fazem uma criacutetica agrave

educaccedilatildeo capitalista

121 Paulo Freire e autonomia

Meu interesse pelo pensamento de Paulo Freire vai ao encontro

de uma tendecircncia nacional de crescimento de utilizaccedilatildeo de suas obras

em pesquisas acadecircmicas Ao analisarem poliacuteticas de curriacuteculo sob um

ponto de vista freireano Saul e Silva (2012) fizeram um levantamento

no banco de dados da Capes e verificaram a existecircncia de 228 registros

de teses que utilizaram o referencial freireano entre os anos 1987 e

2010 O total de registros para esse periacuteodo com dissertaccedilotildees chega a

1441 pesquisas Portanto mesmo que examinado de maneira pontual e

dentro de um quadro teoacuterico diverso considero que o pensamento

freireano ao qual faccedilo referecircncia colabora fundamentalmente com as

perspectivas criacuteticas aqui apontadas

Ao analisar a criacutetica de Freire (1987) agrave educaccedilatildeo capitalista

(educaccedilatildeo bancaacuteria educaccedilatildeo do opressor) podemos compreender (de

modo simplificado) a educaccedilatildeo bancaacuteria e examinar relaccedilotildees entre

educadora e educandoa A accedilatildeo doa primeiroa se dividiria em um

momento inicial de aquisiccedilatildeo de conhecimentos e em seguida ocorreria

uma narraccedilatildeo dessa primeira accedilatildeo aaos educandasos Essases por sua

vez copiariam ou arquivariam o que ouviram Essas accedilotildees deixam

educadora e educandoa em situaccedilotildees bem definidas De modo que oa

educadora seria uma saacutebioa detentora de conhecimentos e oa

educandoa seria aquelea que natildeo sabe (FREIRE 1987)

29 De modo abreviado essa internalizaccedilatildeo corresponderia a que os sujeitos

adotassem como suas as metas de reproduccedilatildeo do sistema capitalista Algo que a

educaccedilatildeo sob o domiacutenio do capital se proporia a fazer

58

Freire (1987) explica porque natildeo pode ser produzido

conhecimento nesse processo

Natildeo pode haver conhecimento pois os educandos

natildeo satildeo chamados a conhecer mas a memorizar o

conteuacutedo narrado pelo educador Natildeo realizam

nenhum ato cognoscitivo uma vez que o objeto

que deveria ser posto como incidecircncia de seu ato

cognoscente eacute posse do educador e natildeo

mediatizador da reflexatildeo criacutetica de ambos A

praacutetica problematizadora pelo contraacuterio natildeo

distingue estes momentos no quefazer do

educador-educando Natildeo eacute sujeito cognoscente em

um e sujeito narrador do conteuacutedo conhecido em

outro Eacute sempre um sujeito cognoscente quer

quando se prepara quer quando se encontra

dialogicamente com os educandos (FREIRE

1987 p 69 grifo do autor)

Portanto na loacutegica da educaccedilatildeo bancaacuteria um lado educaria e

agiria (seria sujeito) enquanto o outro lado seria educado e passivo

(seria objeto) Este uacuteltimo seria um depoacutesito reservado a arquivar

informaccedilotildees com possibilidades tolhidas de desenvolver consciecircncia

criacutetica e libertar-se de situaccedilotildees de opressatildeo A educaccedilatildeo bancaacuteria como

praacutetica de dominaccedilatildeo condicionaria os sujeitos agrave adaptaccedilatildeo agrave realidade

social dada Isso destituiria o homem como sujeito ativo e livre para

optar

Essa concepccedilatildeo bancaacuteria da educaccedilatildeo que foi brevemente

examinada eacute um exemplo de educaccedilatildeo antidialoacutegica Acima apontei

uma perspectiva de educaccedilatildeo problematizadora ou dialoacutegica A

dialogicidade em Freire (2013) seria algo como uma exigecircncia

epistemoloacutegica Pois a construccedilatildeo da autonomia passaria pela

conscientizaccedilatildeo30 pelo esforccedilo de conhecimento criacutetico dos obstaacuteculos

que impedem a transformaccedilatildeo do mundo (FREIRE 2011) Tal

conscientizaccedilatildeo dependeria da relaccedilatildeo consciecircncia-mundo (o sujeito se

30 Freire (1980) lembra-nos de que o homem eacute o uacutenico ser vivo que conseguiria

tomar distacircncia do mundo em uma visatildeo em perspectiva para justamente

conseguir uma aproximaccedilatildeo maior e conhececirc-lo Esse movimento eacute uma tomada

de consciecircncia mas para ser conscientizaccedilatildeo deve existir em uma praacutexis

Assim a conscientizaccedilatildeo seria uma posiccedilatildeo criacutetica assumida pelo sujeito

59

constitui em sua subjetividade pela consciecircncia do mundo e do outro) e

implicaria transformaccedilatildeo do mundo

O diaacutelogo seria o proacuteprio movimento que constituiria a

consciecircncia (do mundo) o encontro de sujeitos para ldquoser maisrdquo

(FREIRE 1987) Nessa praacutetica dialoacutegica o sujeito poderia construir sua

autonomia Brandatildeo (1981) reforccedila que na perspectiva freireana o

diaacutelogo eacute fundamental ldquoeacute o sentimento do amor tornado accedilatildeo

(BRANDAtildeO 1981 p 103) E nisso o autor explicita as relaccedilotildees entre

sujeitos natureza e trabalho no diaacutelogo freireano

A relaccedilatildeo entre sujeitos e natureza ocorreria pelo diaacutelogo e nela o

mundo seria transformado e a histoacuteria aconteceria Em outro momento

do mesmo diaacutelogo ocorreriam as relaccedilotildees entre os sujeitos na natureza e

pelo trabalho O trabalho natildeo eacute uma relaccedilatildeo entre o homem e a

natureza O trabalho eacute uma relaccedilatildeo entre os homens atraveacutes da natureza

(BRANDAtildeO 1981 p 104) Assim como em Meacuteszaacuteros (2008) e como

mostrarei adiante na perspectiva de ensino politeacutecnico o trabalho seria

algo fundamental nas relaccedilotildees entre os sujeitos aiacute incluiacutedos os

processos educacionais fundamentalmente

Uma educaccedilatildeo contra a proposta bancaacuteria seria portando

essencialmente dialoacutegica problematizadora e tentaria promover a

autonomia do sujeito educando Esse teria noa educadora um sujeito

que faz parte de seu processo de formaccedilatildeo A contradiccedilatildeo educadora

(sujeito) ndash educandoa (objeto) seria superada A educaccedilatildeo

problematizadora seria entatildeo possiacutevel com a superaccedilatildeo da contradiccedilatildeo

entre educadora e educandosas e dentro do diaacutelogo E isso faz sentido

ao examinarmos a famosa constataccedilatildeo freireana de que

Jaacute agora ningueacutem educa ningueacutem como tampouco

ningueacutem se educa a si mesmo os homens se

educam em comunhatildeo mediatizados pelo mundo

Mediatizados pelos objetos cognosciacuteveis que na

praacutetica ldquobancaacuteriardquo satildeo possuiacutedos pelo educador

que os descreve ou os deposita nos educandos

(FREIRE 1987 p 69)

Em sua proposta dialoacutegica Freire (1987) ainda demonstra

preocupaccedilatildeo com um entendimento restrito sobre a educaccedilatildeo que a desvinculasse de sua inter-relaccedilatildeo com os sujeitos ldquoem suas culturas

vivendo suas vidasrdquo (BRANDAtildeO 1995) E desse modo propotildee um

processo de ensino que possibilite a construccedilatildeo de condiccedilotildees para que os

sujeitos possam ser todos seres para si tendo em vista uma educaccedilatildeo

60

que possibilite a construccedilatildeo de uma realidade social aberta agrave autonomia

desses sujeitos Tal abertura agrave autonomia tem relaccedilatildeo com mobilizaccedilatildeo para a

curiosidade e a criticidade e contra memorizaccedilotildees mecacircnicas Pressupotildee

a compreensatildeo da mutabilidade e historicidade do conhecimento tendo

em vista a inexistecircncia de conhecimento absoluto Com isso Freire

(2011) destaca a importacircncia de estarmos abertos31 tanto para

conhecermos o que jaacute foi produzido quanto para produzirmos novos

conhecimentos Mas essa abertura chamada de curiosidade natildeo deveria

ser algo ingecircnuo (baseada apenas na experiecircncia) e sim uma

curiosidade epistemoloacutegica (FREIRE 2011) criacutetica

Segundo o autor deveria haver a superaccedilatildeo da ingenuidade para

chegar agrave criticidade32 atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia Pois natildeo

haveria possibilidades para autonomia segundo visotildees ingecircnuas do

mundo sem criticidade Nesse processo a curiosidade se relaciona com

a criatividade sendo a primeira condiccedilatildeo para a segunda Essa relaccedilatildeo

integraria as condiccedilotildees para tanto conhecermos o que do mundo natildeo

fizemos quanto nele acrescentarmos nossa produccedilatildeo (FREIRE 2011)

Para finalizar a contribuiccedilatildeo do pensamento freireano

fundamentalmente na questatildeo da autonomia no que penso sobre

educaccedilatildeo no contexto nacional atual (que pode ser relacionado com TS)

trago sua perspectiva acerca do ensino tecnicista Para o autor o ensino

teacutecnico-cientiacutefico eacute necessaacuterio poreacutem natildeo eacute suficiente para a construccedilatildeo

da autonomia Tambeacutem seria necessaacuteria uma formaccedilatildeo eacutetica e esteacutetica

Pois ao compreendermos que fazemos o mundo a partir de nossa

liberdade temos um compromisso eacutetico que se relaciona com a esteacutetica

pois temos liberdade de construir beleza e feiura Contudo essa

formaccedilatildeo eacute muitas vezes preterida em nome de treinamentos puramente

teacutecnicos e isso diminuiria o caraacuteter formador da educaccedilatildeo (FREIRE

2011)

Com isso eacute possiacutevel perceber que na perspectiva freireana a

educaccedilatildeo envolve um movimento dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre

o fazer entre ingenuidade e criticidade Nesse processo a integraccedilatildeo

(comunhatildeo) entre educandoa e educadora e a curiosidade seriam

31 Ao verificar a premissa do autor de que a educaccedilatildeo para a autonomia soacute eacute

possiacutevel nessas condiccedilotildees de possibilidades posso considerar relaccedilotildees entre a

educaccedilatildeo para a autonomia e a autoria em processos educacionais como

destacarei adiante 32 Voltarei a essa questatildeo ao considerar os princiacutepios de estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo no ensino de Sociologia

61

fundamentais De acordo com o autor a curiosidade eacute parte do ser

humano e o conhecimento comeccedila por ela e pelas perguntas (FREIRE

FAUNDEZ 1986) Entretanto como jaacute mencionei para ele eacute necessaacuteria

a superaccedilatildeo da curiosidade ingecircnua para uma curiosidade

epistemoloacutegica Algo que poderia ser realizado com reflexatildeo criacutetica que

visaria a autonomia

Em conjunto com uma educaccedilatildeo voltada agrave autonomia penso em

processos educacionais que possibilitem emancipaccedilatildeo social Podemos

considerar autonomia e emancipaccedilatildeo33 como intimamente relacionadas

Nesse sentido trago abaixo uma perspectiva que acredito poder fazer

essa relaccedilatildeo no que diz respeito agrave educaccedilatildeo

122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social

O tema da emancipaccedilatildeo social eacute constantemente debatido

sobretudo nas Ciecircncias Humanas Nessa aacuterea de conhecimento uma

definiccedilatildeo usual pode ser encontrada em Cattani

O conceito de emancipaccedilatildeo social designa o

processo ideoloacutegico e histoacuterico de liberaccedilatildeo por

parte de comunidades poliacuteticas ou de grupos

sociais da dependecircncia tutela e dominaccedilatildeo nas

esferas econocircmicas sociais e culturais

Emancipar-se significa livrar-se do poder exercido

por outros conquistando ao mesmo tempo a

plena capacidade civil e cidadatilde no Estado

33 O filoacutesofo alematildeo Juumlrgen Habermas tem uma contribuiccedilatildeo importante nos

estudos sobre a emancipaccedilatildeo com a Teoria da Accedilatildeo Comunicativa Embora essa

natildeo seja exatamente examinada nesta tese destaco que para Habermas (1989) a

emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo voltada para o entendimento o que faz com

que ela seja possiacutevel quando ocorre a expansatildeo dos processos de accedilatildeo

comunicativa que se fundamentam necessariamente na capacidade da

humanidade de alcanccedilar consensos racionais atraveacutes do processo de

argumentaccedilatildeo O autor considera que a emancipaccedilatildeo significa autonomia do

sujeito e diz respeito a um tipo especial de auto-experiecircncia relativa agrave

intersubjetividade na qual os processos de auto-entendimento se entrecruzam

com um ganho de autonomia (HABERMAS 1993) Portanto eacute possiacutevel

compreender que para Habermas (1989) a emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo

voltada para o entendimento o que faz com que ela seja possiacutevel quando ocorre

a expansatildeo dos processos de accedilatildeo comunicativa que se fundamentam

necessariamente na capacidade da humanidade de alcanccedilar consensos racionais

atraveacutes do processo de argumentaccedilatildeo

62

democraacutetico de direito Emancipar-se denota

ainda aceder agrave maioridade de consciecircncia

entendendo-se por isso a capacidade de conhecer

e reconhecer as normas sociais e morais

independentemente de criteacuterios externos impostos

ou equivocadamente apresentados como naturais

(2009 p 175)

A partir dessa definiccedilatildeo considero uma perspectiva

emancipatoacuteria que pressuponha o exerciacutecio criacutetico e reflexivo da

razatildeo34 tendo em vista processos educacionais enquanto possibilidades

de superaccedilatildeo das formas de dominaccedilatildeo vigentes Nesse aspecto acredito

que algumas reflexotildees do filoacutesofo alematildeo Theodor Adorno (1903-

1969) podem contribuir

Assim como Paulo Freire Adorno possui uma obra vasta e

teoricamente densa na qual destacam-se preocupaccedilotildees com a liberdade

humana Para buscarmos relaccedilotildees mais pontuais de seus trabalhos com a

temaacutetica educacional atual eacute importante compreendermos ao menos dois

pontos intimamente interligados O primeiro deles diz respeito a suas

criacuteticas agrave induacutestria cultural e o segundo ao seu contexto sociopoliacutetico

Em relaccedilatildeo a esse destaco que Adorno viveu e produziu tendo a

Segunda Guerra Mundial no seu horizonte35 Portanto questotildees sobre

barbaacuterie (do nazismo e de Estados totalitaacuterios) a personalidade

autoritaacuteria a racionalidade teacutecnica e possibilidades de emancipaccedilatildeo

humana satildeo relacionadas a essas suas vivencias

Juntamente com seu compatriota e colega o filoacutesofo Max

Horkheimer (1895-1973) Adorno eacute considerado membro fundamental

da chamada Escola de Frankfurt cujos conjuntos de trabalhos satildeo

conhecidos como Teoria Criacutetica36 A Escola teve seu desenvolvimento

34 Natildeo entrarei na discussatildeo filosoacutefica acerca dos sentidos do termo ldquorazatildeordquo

Minha referecircncia nesse momento eacute a criacutetica que Adorno e Horkheimer (1985)

fazem agrave ideia de razatildeo originaria do Iluminismo que visava agrave emancipaccedilatildeo dos

sujeitos e ao progresso social mas terminou por levar a uma maior dominaccedilatildeo

desses sujeitos em virtude do desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial Para

esses autores o problema estava na razatildeo controladora e instrumental que

busca sempre a dominaccedilatildeo tanto da natureza quanto dos sujeitos 35 No ano de 1933 quando Hitler assumiu como chanceler do Terceiro Reich o

autor parte da Alemanha para a Inglaterra e posteriormente para os Estados

Unidos regressando a Frankfurt apenas em 1950 (HORKHEIMER e

ADORNO 1991) 36 Voltarei a examinar a Teoria Criacutetica e a Teoria Criacutetica da Tecnologia (TCT)

no proacuteximo capiacutetulo

63

na Alemanha desde 1924 a partir da criaccedilatildeo do Instituto para a Pesquisa

Social Mas a ideia de uma instituiccedilatildeo permanente sob a forma de um

instituto de investigaccedilatildeo independente surgiu apoacutes a realizaccedilatildeo da

Primeira Semana de Trabalho Marxista em 1922 que pretendia

repensar o marxismo (ASSOUN 1991)

De acordo com Wiggershaus (2002) a Escola pode ser assim

chamada por apresentar os seguintes elementos um quadro

institucional pensadores influentes um manifesto um novo paradigma

e uma revista Portanto Escola de Frankfurt Instituto para a Pesquisa

Social e Teoria Criacutetica estatildeo relacionados embora natildeo sejam uma

unidade e guardem suas especificidades (WIGGERSHAUS 2002) Isso

eacute importante para compreendermos o pensamento de Adorno em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo que iniciam com o exame da induacutestria

cultural

A induacutestria cultural eacute um tema fundamental para tratarmos da

educaccedilatildeo no autor pois ele via aquela como a impeditiva da

possibilidade humana de agir com autonomia O termo foi utilizado pela

primeira vez no ano de 1947 no livro ldquoDialeacutetica do Esclarecimento

fragmentos filosoacuteficosrdquo escrito em coautoria com Horkheimer Nele os

autores destacam como a consciecircncia humana pode ser dominada pela

comercializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo dos bens culturais

Sob o poder do monopoacutelio toda cultura de massas

eacute idecircntica e seu esqueleto a ossatura conceitual

fabricada por aquele comeccedila a se delinear Os

dirigentes natildeo estatildeo mais sequer muito

interessados em encobri-lo seu poder se fortalece

quanto mais brutalmente ele se confessa de

puacuteblico O cinema e o raacutedio natildeo precisam mais se

apresentar como arte A verdade de que natildeo

passam de um negoacutecio eles a utilizam como uma

ideologia destinada a legitimar o lixo que

propositalmente produzem Eles se definem a si

mesmos como induacutestrias e as cifras publicadas

dos rendimentos de seus diretores gerais

suprimem toda duacutevida quanto agrave necessidade social

de seus produtos (ADORNO HORKHEIMER

1985 p 100)

O termo induacutestria cultural substitui o entatildeo usual cultura de

massa que poderia deixar margens para que se acreditasse que existiria

64

alguma cultura surgindo das massas naquela escala industrial que eles

verificavam

O autor esclarece que quando um bem cultural eacute vendido

juntamente com um carro de luxo por exemplo esse bem perde

capacidade de despertar reflexotildees e indagaccedilotildees no sujeito O que

ocorreria nessa situaccedilatildeo seria uma distraccedilatildeo do sujeito enquanto ele

recebe uma grande quantidade de informaccedilotildees atraveacutes dos meios de

comunicaccedilatildeo como em uma propaganda para vender um carro luxuoso

(ADORNO HORKHEIMER 1985) Pois a induacutestria cultural enquanto

meio de ideologizaccedilatildeo natildeo vende apenas mercadorias mas ideias e

opiniotildees

Nesse processo ficaria comprometida a capacidade criacutetica e a

autonomia dos sujeitos A induacutestria cultural se utilizaria da distraccedilatildeo

para que os sujeitos venham a esquecer a opressatildeo vivida e tenham foco

em temas irrelevantes (alienaccedilatildeo) Nesse sentido Adorno (1995)

apresenta sua criacutetica ao modelo de educaccedilatildeo voltada para a adaptaccedilatildeo e

passividade das massas Algo que Freire (1983) e Meacuteszaacuteros (2008) a

seus tempos e em seus contextos tambeacutem criticaram

Mesmo que o autor trate da educaccedilatildeo alematilde de sua eacutepoca

(pessimista devido a barbaacuterie dos campos de concentraccedilatildeo nazistas37)

sua criacutetica eacute atual e pertinente a paiacuteses do Sul pois demonstra

contradiccedilotildees que vivenciamos atualmente na educaccedilatildeo segundo um

sistema de produccedilatildeo capitalista Aleacutem disso penso em uma leitura de

Adorno tendo em vista sobretudo a induacutestria cultural de modo a

problematizar possibilidades de colonizaccedilatildeo das condiccedilotildees

emancipatoacuterias (atenccedilatildeo agrave reproduccedilatildeo de discursos sexistas racistas e

homofoacutebicos por exemplo)

Adorno (1995) considera que a educaccedilatildeo teria um poder de

resistecircncia Suas criacuteticas ao sistema educacional evidenciam a relevacircncia

que o autor daacute ao tema Ele pensa em educaccedilatildeo como formaccedilatildeo

dinacircmica integrando conhecimentos em ciecircncias humanidades e artes

tendo em vista uma vivecircncia democraacutetica (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-

OLIVEIRA 2008)

Nas suas palavras

37 A importacircncia desse contexto de barbaacuterie em Adorno (1995) eacute destacada em

sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ldquoOra a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo de Adorno objetiva

exatamente criticar essa sociedade que potencialmente carrega dentro de si o

retorno da barbaacuterierdquo (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-OLIVEIRA 2008 p 119)

65

A seguir e assumindo o risco gostaria de

apresentar minha concepccedilatildeo inicial de educaccedilatildeo

Evidentemente natildeo a assim chamada modelagem

de pessoas porque natildeo temos o direito de modelar

pessoas a partir de seu exterior mas tambeacutem natildeo a

mera transmissatildeo de conhecimentos cuja

caracteriacutestica de coisa morta jaacute foi mais do que

destacada mas a produccedilatildeo de uma consciecircncia

verdadeira Isso seria inclusive da maior

importacircncia poliacutetica sua ideia se eacute permitido

dizer assim eacute uma exigecircncia poliacutetica Isto eacute uma

democracia com o dever de natildeo apenas funcionar

mas operar conforme seu conceito demanda

pessoas emancipadas Uma democracia efetiva soacute

pode ser imaginada enquanto uma sociedade de

quem eacute emancipado (ADORNO 1995 p 141-

142 grifos do autor)

A educaccedilatildeo natildeo sendo inconsciente aparece portanto

relacionada tanto com uma tarefa poliacutetica (como nos trabalhos de Paulo

Freire) quanto como experiecircncia emancipatoacuteria Nesse aspecto e

brevemente destaquei pontos importantes para compreendermos

possibilidades de emancipaccedilatildeo social (possibilidade de criacutetica agrave situaccedilatildeo

de vulnerabilidade vivida) atraveacutes de processos educacionais Com

pontos em comum os dois autores que satildeo considerados a seguir

apresentam propostas efetivas de ensino segundo algumas perspectivas

gerais vistas ateacute agora

123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria

Um sentido poliacutetico e emancipatoacuterio da educaccedilatildeo tambeacutem pode

ser analisado em alguns pontos especiacuteficos nas perspectivas do filoacutesofo

italiano Antonio Gramsci (1891-1937) Meacuteszaacuteros (2008) destaca a

posiccedilatildeo democraacutetica de Gramsci com seu resgate do sentido estruturante

da educaccedilatildeo e de sua relaccedilatildeo com o trabalho Relaccedilatildeo que tambeacutem pode

ser encontrada em Adorno (1995) que assim como Gramsci destaca a

possibilidade emancipatoacuteria da educaccedilatildeo

A autonomia e a conscientizaccedilatildeo em Freire (1980 1983 2011)

tambeacutem podem ser vistas na resistecircncia agrave ideologia dominante

(hegemonia) analisada por Gramsci Portanto guardando as

especificidades de cada posiccedilatildeo teoacuterica especiacutefica Gramsci pode

dialogar com os autores tratados anteriormente no sentido de buscar um

66

rompimento com a loacutegica do capital E sua atualidade e relevacircncia no

contexto educacional em um paiacutes do Sul tambeacutem vai nessa direccedilatildeo

Eacute possiacutevel compreender o pensamento de Gramsci em relaccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo a partir de sua proposta de integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo trabalho

e cultura Nessa integraccedilatildeo um aspecto fundamental eacute a questatildeo da

hegemonia38 Para Gramsci (1982) a educaccedilatildeo estaria relacionada tanto

com a hegemonia quanto com a contra hegemonia A primeira teria

respaldo natildeo apenas no Estado mas tambeacutem na esfera privada sendo

que o modo segundo o qual a escola se organiza contribuiria para a

consolidaccedilatildeo da hegemonia que seria exercida essencialmente em niacutevel

da cultura e da ideologia (GRAMSCI 1982) Mas nesse ambiente

tambeacutem seriam formados sujeitos que auxiliariam na formaccedilatildeo de contra

hegemonia

Gramsci investiga a educaccedilatildeo tendo o sistema de ensino italiano

de sua eacutepoca como paracircmetro e o projeto da pedagoga russa Nadežda

Krupskaia39 (1869-1939) para a revisatildeo da educaccedilatildeo na Ruacutessia (desde a

Revoluccedilatildeo Russa de 1917) em mente A partir dessa anaacutelise e em

contrapartida ao dualismo (humanista x profissional) verificado na

escola italiana ele apresenta sua proposta de escola unitaacuteria Essa que

teria caraacuteter puacuteblico seria uacutenica de cultura geral e integrativa de

capacidades manuais e intelectuais

O advento da escola unitaacuteria significa o iniacutecio de

novas relaccedilotildees entre trabalho intelectual e trabalho

industrial natildeo apenas na escola mas em toda a

vida social O princiacutepio unitaacuterio por isso refletir-

se-aacute em todos os organismos de cultura

transformando-os e emprestando-lhes um novo

conteuacutedo (GRAMSCI 1982 p 125)

Portanto na escola unitaacuteria poderiam se iniciar as novas relaccedilotildees

entre trabalho intelectual e trabalho manual para aleacutem dessa e que

38 De modo simplificado podemos compreender a questatildeo da hegemonia em

Gramsci conforme explica Sassoon (1996) segundo a qual hegemonia indica

ldquoo princiacutepio organizador de uma sociedade na qual uma classe se impotildee sobre

as outras natildeo apenas atraveacutes da forccedila mas tambeacutem mantendo a sujeiccedilatildeo da

massa da populaccedilatildeordquo (p 350) e essa sujeiccedilatildeo considera a influecircncia no modo

como os sujeitos pensam 39 Conforme Manacorda (2013) o documento de Krupskaia eacute uma indicaccedilatildeo

expliacutecita e direta do modelo de escola unitaacuteria (escola uacutenica do trabalho) que

Gramsci ldquotem presente de forma constante em suas reflexotildeesrdquo (p 170)

67

seguiriam na vida social (GONZALES 1996) Uma questatildeo importante

na integraccedilatildeo do mundo da cultura com o mundo do trabalho eacute a de que

os trabalhadores sejam sujeitos intelectualmente ativos com acesso aos

conhecimentos e subsiacutedios para o desenvolvimento de atividades

culturais (GONZALES 1996)

Nessa escola unitaacuteria haveria tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com o

desenvolvimento da criatividade Sua proposta apresentava vaacuterias fases

na escola e a uacuteltima delas ldquojaacute deve contribuir para desenvolver o

elemento de responsabilidade autocircnoma nos indiviacuteduos deve ser uma

escola criadorardquo (GRAMSCI 1982 p 124) Contudo natildeo haacute aiacute a ideia

de uma escola de ldquoinventores e descobridoresrdquo (GRAMSCI 1982) mas

um meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento (cujo domiacutenio indica

maturidade intelectual) que pressupotildee inter-relaccedilatildeo entre educadora e

educandoa e no qual essea tem papel ativo e independente

Meu uacuteltimo apontamento sobre as reflexotildees de Gramsci em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo se refere a ideia de omnilateralidade Essa

concepccedilatildeo que diz respeito agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos atraveacutes do

trabalho seraacute tratada com mais detalhes em Marx a seguir Contudo

destaco que Gramsci considera que a base da cultura da educaccedilatildeo e da

escola seria a praacutetica produtiva do trabalho industrial (MANACORDA

2010)

Assim como o pensador alematildeo Karl Marx (1818-1883) Gramsci

privilegia a formaccedilatildeo do sujeito na perspectiva da omnilateralidade

Guardadas as diferenccedilas entre a escola unitaacuteria desse com a politecnia

daquele ambos ponderavam sobre uma educaccedilatildeo voltada agrave preparaccedilatildeo

dos sujeitos na sociedade socialista Desse modo a seguir exponho

algumas consideraccedilotildees sobre princiacutepios educativos em Marx que podem

colaborar com as reflexotildees sobre a educaccedilatildeo na atualidade

124 Karl Marx e a politecnia

O conceito de politecnia surgiu nas obras de Marx em meados do

seacuteculo XIX40 E foi tratado tambeacutem por pensadores como Lecircnin e

Gramsci (MANACORDA 2010) aleacutem de Krupskaia como jaacute

mencionei Conforme Saviani (1987) no contexto em que Marx

comeccedilou a refletir sobre politecnia a escola ainda natildeo era uma

instituiccedilatildeo democratizada mas restrita a classes privilegiadas

40 Entretanto Manacorda (2013) lembra-nos de que Krupskaia havia estudado a

questatildeo e encontrado referecircncias agrave educaccedilatildeo geral politeacutecnica em Lavoisier

Condorcet Rousseau Pestalozzi e Robert Owen

68

Mesmo que Marx juntamente com seu amigo compatriota e

parceiro intelectual Friedrich Engels (1820-1895) natildeo tivesse foco

especificamente na educaccedilatildeo escolar (a politecnia se refere agrave categoria

trabalho central nesses autores41) ele forneceu subsiacutedios para a criacutetica

da influecircncia do capitalismo nesse acircmbito de formaccedilatildeo (criacutetica comum

aos autores apontados acima) Como bem destaca Manacorda (2010 p

33) ldquo() a temaacutetica pedagoacutegica eacute de fato tratada de maneira ocasional

em seus aspectos especiacuteficos mas que acima de tudo estaacute colocada

organicamente no contexto de uma criacutetica rigorosa das relaccedilotildees sociaisrdquo

De modo geral a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxista (ou

marxiana42) de educaccedilatildeo segundo a qual o ser humano deve ser

integralmente desenvolvido em suas potencialidades (princiacutepio da

omnilateralidade) (MANACORDA 2010) Esse desenvolvimento

ocorreria atraveacutes de um processo educacional de totalidade que

proporcionaria formaccedilatildeo cientiacutefica (capacitaccedilatildeo teacutecnica) poliacutetica e

cultural geral (esteacutetica) tendo em vista a libertaccedilatildeo do ser humano Tal

propoacutesito educacional apresentaria as condiccedilotildees necessaacuterias agrave formaccedilatildeo

de seres ldquogeneacutericosrdquo e ldquouniversalizadosrdquo (MARX 1988) de modo que a

razatildeo da existecircncia do trabalhador natildeo poderia ser restrita agraves condiccedilotildees

naturais e agraves possibilidades de produccedilatildeo material (MANACORDA

2010 SILVA 2008)

Eacute importante esclarecer aqui que Marx e Engels (2004) ao

integrarem educaccedilatildeo e trabalho43 consideravam tambeacutem uma

regulaccedilatildeo do trabalho infantil (reduccedilatildeo da jornada e proibiccedilatildeo de

41 Conforme Saviani (2003) na politecnia natildeo existe trabalho manual puro e

nem trabalho intelectual puro sendo que ldquotodo trabalho humano envolve a

concomitacircncia do exerciacutecio dos membros das matildeos e do exerciacutecio mental

intelectual Isso estaacute na proacutepria origem do entendimento da realidade humana

como constituiacuteda pelo trabalhordquo (SAVIANI 2003 p 138) 42 Para Manacorda (2010) a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxiana pois eacute

inerente ao pensamento de Marx 43 Mesmo que brevemente eacute importante destacar as reflexotildees de Marx sobre a

oposiccedilatildeo entre trabalho alienado e trabalho produtivo Gonzales (1996)

esclarece que para Marx o trabalho natildeo seria apenas uma categoria econocircmica

mas tambeacutem e fundamentalmente antropoloacutegica Seria no trabalho que haveria

identificaccedilatildeo entre homem e natureza Daiacute que o trabalho alienado seria uma

atividade que produziria algo exterior produzindo necessidades do mercado e

natildeo do sujeito Ali a produccedilatildeo estaria direcionada para a necessidade de outros

sujeitos e o seu produto natildeo pertenceria ao trabalhador Jaacute o trabalho produtivo

seria uma atividade pela qual o homem desenvolveria a si mesmo seria a

expressatildeo proacutepria do sujeito de suas faculdades fiacutesicas e mentais

69

trabalho noturno) tendo em vista a sauacutede fiacutesica e intelectual desses Ao

fazer uma criacutetica ao emprego fabril de crianccedilas e adolescentes Marx e

Engels (2004 p 60) afirmam que ldquoa sociedade natildeo pode permitir que

pais e patrotildees empreguem no trabalho crianccedilas e adolescentes a menos

que se combine este trabalho produtivo com a educaccedilatildeordquo E essa

preocupaccedilatildeo vinha da percepccedilatildeo de que haveria uma tendecircncia da

induacutestria moderna para incorporar o trabalho de crianccedilas e jovens

Em seguida definem o que entendem por educaccedilatildeo

Por educaccedilatildeo entendemos trecircs coisas Educaccedilatildeo

intelectual Educaccedilatildeo corporal tal como a que se

consegue com os exerciacutecios de ginaacutestica e

militares Educaccedilatildeo tecnoloacutegica que recolhe os

princiacutepios gerais e de caraacuteter cientiacutefico de todo o

processo de produccedilatildeo e ao mesmo tempo inicia

as crianccedilas e os adolescentes no manejo de

ferramentas elementares dos diversos ramos

industriais (MARX ENGELS 2004 p 60)

Nesses termos Marx e Engels (2004) indicam a finalidade de sua

proposta ldquoEsta combinaccedilatildeo de trabalho produtivo pago com a educaccedilatildeo

intelectual os exerciacutecios corporais e a formaccedilatildeo politeacutecnica elevaraacute a

classe operaacuteria acima dos niacuteveis das classes burguesa e aristocraacuteticardquo

(MARX ENGELS 2004 p 60) Como destaca Frigotto (1999) o

princiacutepio educativo do trabalho visaria que o trabalhador tivesse

condiccedilotildees de superar uma visatildeo reducionista e utilitarista do trabalho

dentro de um processo coletivo ldquoorganizado de busca praacutetica de

transformaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais desumanizadoras e portanto

deseducativasrdquo (p 8) E nesse processo o desenvolvimento de

consciecircncia criacutetica seria fundamental

Na leitura que Manacorda (2010) e Silva (2008) fazem de Marx e

Engels a politecnia seria uma base formadora necessaacuteria agrave superaccedilatildeo da

unilateralidade em que o trabalhador estaria mantido em funccedilatildeo da

formaccedilatildeo voltada exclusivamente para a sua capacitaccedilatildeo produtiva Essa

unilateralizaccedilatildeo44 se caracterizaria por uma concepccedilatildeo capitalista na

qual os sujeitos precisariam atualizar suas habilidades teacutecnicas e

produtivas sempre que ocorressem inovaccedilotildees nas formas de produccedilatildeo

44 Silva (2008) destaca que a unilateralizaccedilatildeo eacute o oposto da onilateralizaccedilatildeo

Esta uacuteltima como a universalizaccedilatildeo se caracteriza como o processo que

proporciona a superaccedilatildeo da alienaccedilatildeo pela formaccedilatildeo do sujeito onilateral

atraveacutes da politecnia

70

mas sem alterar as relaccedilotildees de produccedilatildeo (MARX 1988) Assim a

unilateralizaccedilatildeo seria o oposto da universalizaccedilatildeo defendida por Marx e

Engels (MANACORDA 2010)

Em relaccedilatildeo agrave operacionalizaccedilatildeo da proposta de uniatildeo entre

educaccedilatildeo e trabalho Marx ao contraacuterio de Gramsci (1982) natildeo detalha

a implantaccedilatildeo de sua proposta para uma escola pautada nos pressupostos

socialistas Entretanto Rodrigues (2008) descreve que as ideias centrais

de um ensino politeacutecnico satildeo (i) educaccedilatildeo puacuteblica gratuita obrigatoacuteria

e uacutenica para todas as crianccedilas e jovens (ii) combinaccedilatildeo de educaccedilatildeo

(intelectual corporal e tecnoloacutegica) com a produccedilatildeo material para

superar o distanciamento entre essas atividades (iii) formaccedilatildeo onilateral

(multilateral integral) da personalidade e (iv) integraccedilatildeo reciacuteproca da

escola agrave sociedade com o propoacutesito de superar o estranhamento entre as

praacuteticas educativas e as demais praacuteticas sociais

Kuenzer (2013) destaca que a educaccedilatildeo politeacutecnica se refere agrave

integraccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo A ideia seria integrar trabalho

cultura e ciecircncia proporcionar o domiacutenio intelectual da teacutecnica e

articular teoria e praacutetica parte e totalidade disciplinaridade e

transdisciplinaridade O ensino politeacutecnico visaria promover portanto

aprendizagem com significado e assegurar a participaccedilatildeo de estudantes

na sistematizaccedilatildeo dos conhecimentos (KUENZER 2013) Princiacutepios

tambeacutem encontrados nos autores45 que foram vistos ateacute agora

No que diz respeito especificamente ao Brasil essa proposta de

educaccedilatildeo jaacute esteve na pauta de discussotildees pedagoacutegicas e fora dela por

diversas vezes46 Em resumo eacute possiacutevel destacar a iniciativa do filoacutesofo

e pedagogo brasileiro Dermeval Saviani atraveacutes de um curso de

doutorado da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP)

nos anos 1980 que buscou desenvolver uma criacutetica consistente ao

especialismo ao autoritarismo e ao reprodutivismo em educaccedilatildeo assim

como ao marxismo vulgar Segundo Rodrigues (2008) Saviani entendia

45 Destaco principalmente que essas posiccedilotildees vatildeo ao encontro de Freire

(1985) pois educaccedilatildeo se refere a comunicaccedilatildeo e dialogicidade Algo que

exige alteridade Como natildeo haveria transferecircncia (de conhecimentos) a

interlocuccedilatildeo a troca e a criaccedilatildeo de sentidos seriam possiacuteveis Portanto natildeo

haveria espaccedilo para assistencialismo nessa relaccedilatildeo dialoacutegica 46 Em artigo publicado no ano de 2014 examinei a Proposta Pedagoacutegica para o

Ensino Meacutedio Politeacutecnico e Educaccedilatildeo Profissional Integrada ao Ensino Meacutedio

do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (RS) mandato 2011-2014 A ideia

foi compreender modos pelos quais a tecnologia era entendida na proposta

(CORREcircA 2014)

71

que estudar teoria da formaccedilatildeo humana consistia em apreender

concepccedilotildees de homem sociedade e educaccedilatildeo em Marx e Gramsci

Natildeo haacute aqui a intenccedilatildeo de explicitar a trajetoacuteria do ensino

politeacutecnico no Brasil (ou em outros lugares) Contudo de modo geral e

tendo em vista as diferentes perspectivas dosas autoresas47 envolvidos

no debate pedagoacutegico politeacutecnico eacute possiacutevel destacar que a proposta

brasileira de educaccedilatildeo politeacutecnica pode ser caracterizada por trecircs eixos

fundamentais dimensatildeo infraestrutural (reapropriaccedilatildeo do domiacutenio do

trabalho ndash possiacutevel desde as transformaccedilotildees tecnoloacutegicas) dimensatildeo

socialista (ruptura com a educaccedilatildeo estritamente profissionalizante) e

dimensatildeo pedagoacutegica (buscar praacuteticas pedagoacutegicas concretas)

(RODRIGUES 2008)

Sendo assim assinalo que na politecnia o ser humano seria o foco

central e natildeo o mercado de trabalho Tendo em vista que o

conhecimento da realidade histoacuterica e social em dado periacuteodo partiria

das consideraccedilotildees sobre os elementos materiais que a determinariam no

ensino politeacutecnico haveria a busca por uma formaccedilatildeo na qual o

trabalhador pudesse atuar no cenaacuterio poliacutetico e desfrutar do patrimocircnio

cultural produzido pela humanidade (RODRIGUES 2008)48

Saviani (1989 2003) destaca que o sentido de politecnia

envolvido na proposta de ensino politeacutecnico natildeo prevecirc um trabalhador

polivalente que exerce muacuteltiplas funccedilotildees antes se refere ao domiacutenio

dos fundamentos cientiacuteficos das diferentes teacutecnicas que caracterizam o

processo de trabalho produtivo moderno tendo em vista que o

trabalhador possa desenvolver diversas modalidades de trabalho com a

compreensatildeo do seu caraacuteter e da sua essecircncia

Esse autor lembra que mesmo que a politecnia signifique

literalmente muacuteltiplas teacutecnicas esse conceito natildeo se refere agrave totalidade

das diferentes teacutecnicas fragmentadas autonomamente consideradas ldquoSe

a politecnia fosse o conjunto da totalidade das teacutecnicas disponiacuteveis

haveria uma relaccedilatildeo sempre incompleta sempre sujeita a acreacutescimordquo

(SAVIANI 2003 p140) Portanto a educaccedilatildeo politeacutecnica natildeo significa

47 Eacute possiacutevel aprofundar a questatildeo ao verificar autoresas como Acaacutecia Kuenzer

Gaudecircncio Frigotto Joseacute Rodrigues e Luciacutelia Machado entre outros 48 Esses princiacutepios tambeacutem aparecem em Freire (1983) Meacuteszaacuteros (2008) e

Adorno (1995) que criticam modelos de educaccedilatildeo voltadas agrave adaptaccedilatildeo e

passividade sem integraccedilatildeo de conhecimentos

72

absolutamente o ensino de uma multiplicidade de teacutecnicas embora

contenha uma dimensatildeo tecnoloacutegica central em sua perspectiva49

Para finalizar os apontamentos sobre a politecnia destaco a

controveacutersia que existe em relaccedilatildeo agrave qual seria a sua melhor

denominaccedilatildeo As opccedilotildees aqui listadas seriam (i) educaccedilatildeo tecnoloacutegica e

(ii) educaccedilatildeo politeacutecnica Conforme Saviani (2003) em (i) encontramos

uma apropriaccedilatildeo pelo discurso burguecircs hegemocircnico enquanto que em

(ii) ldquoa concepccedilatildeo de politecnia foi preservada na tradiccedilatildeo socialista

sendo uma das maneiras de demarcar esta visatildeo educativa em relaccedilatildeo

agravequela correspondente agrave concepccedilatildeo dominanterdquo (SAVIANI 2003 p

146)

A seguir examino alguns pontos sobre a ECT e a Educaccedilatildeo CTS

de modo que a opccedilatildeo pela educaccedilatildeo politeacutecnica fique delineada

13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS

A ECT em sentidos gerais se ocupa de processos educacionais

(formais ou natildeo) no que diz respeito a temas em ciecircncia e tecnologia

(ou CampT)50 com consideraccedilatildeo dos contextos nos quais esses processos

se estabelecem Muitos estudos tecircm foco por exemplo (i) nas

implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia na educaccedilatildeo (ii) em uma

formaccedilatildeo de professoresas que contemple a contextualizaccedilatildeo do ensino

em temas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iii) nas formas de socializaccedilatildeo

(divulgaccedilatildeo) dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iv) nas

epistemologias e histoacuterias das Ciecircncias Naturais e da Matemaacutetica (v)

em processos de ensino e aprendizagem em Biologia Quiacutemica Fiacutesica e

Matemaacutetica (vi) nas relaccedilotildees entre miacutedias novas tecnologias de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo e o ensino de ciecircncias e de tecnologia (vii)

em poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica (viii) em estudos focados na anaacutelise

do funcionamento da linguagem (ix) em relaccedilotildees de gecircnero no acircmbito

das ciecircncias e da tecnologia e (x) em relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia

sociedade e ambiente (CTSA) entre outros temas

Conforme Grinspun (2009) a tecnologia envolve um saber que

pode ser adquirido pela teoria praacutetica e pesquisa daiacute a centralidade da

educaccedilatildeo tecnoloacutegica ldquoquer para preparaccedilatildeo de todo aquele que vive em

49 Voltarei ao tema politeacutecnico adiante para analisar suas possibilidades e

limites na investigaccedilatildeo sobre transformaccedilatildeo de sentidos sobre tecnologia atraveacutes

de uma perspectiva criacutetica de TS 50 Uma discussatildeo sobre as nomenclaturas em relaccedilatildeo agrave CampT satildeo feitas no

proacuteximo capiacutetulo

73

sociedades em que a tecnologia estabeleceu-se quer para a formaccedilatildeo de

pessoal habilitado que a crie desenvolva e opererdquo (GRINSPUN 2009

p 17) Mas isso natildeo significaria uma formaccedilatildeo teacutecnica-profissional

antes uma educaccedilatildeo em sentido amplo como formaccedilatildeo humana tendo

em vista responsabilidades frente aos aspectos tecnoloacutegicos da

sociedade como a que aqui defendo

Em termos de educaccedilatildeo baacutesica51 Moll (2010) destaca as relaccedilotildees

entre educaccedilatildeo e tecnologia no ensino profissional e tecnoloacutegico tendo

em vista o caraacuteter poliacutetico da educaccedilatildeo e as potencialidades para que

esse modelo de ensino seja mais uma ferramenta para transformar a

sociedade superando desigualdades sociais econocircmicas culturais e

poliacuteticas Nesse mesmo aspecto e incluindo o termo profissional agrave

educaccedilatildeo tecnoloacutegica concordo com Frigotto (2010) na defesa da

integraccedilatildeo (e natildeo apenas articulaccedilatildeo) da formaccedilatildeo profissional agrave

educaccedilatildeo baacutesica

O estabelecimento de um viacutenculo mais orgacircnico

entre a universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica e a

formaccedilatildeo teacutecnico-profissional implica resgatar a

educaccedilatildeo baacutesica (fundamental e meacutedia) na sua

concepccedilatildeo unitaacuteria e politeacutecnica ou tecnoloacutegica

Portanto trata-se de uma educaccedilatildeo natildeo dualista

que articule cultura conhecimento tecnologia e

trabalho como direito de todos e condiccedilatildeo de

cidadania e democracia efetivas (2010 p 37)

Desse modo articulo minha perspectiva sobre educaccedilatildeo

(politecnia) dentro do quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da

tecnologia na educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS

Lembro que essa uacuteltima eacute uma aacuterea dentro dos ECTS52 Ao

examinaacute-la eacute interessante destacar que de modo geral nos ECTS

quando buscamos estabelecer relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e

sociedade consideramos que ciecircncia e tecnologia satildeo contextuais pois

satildeo desenvolvidas em situaccedilotildees soacutecio-histoacutericas especiacuteficas Nessa

direccedilatildeo Linsingen (2002) aponta que tais relaccedilotildees

51 Voltarei ao tema da educaccedilatildeo baacutesica e profissional no terceiro capiacutetulo 52 Para uma visatildeo histoacuterica e mais esquemaacutetica de classificaccedilotildees dentro dos

chamados enfoques CTS verificar a seguinte referecircncia SANTOS W L P

Significados da educaccedilatildeo cientiacutefica com enfoque CTS In SANTOS W L P

AULER D CTS e educaccedilatildeo cientiacutefica desafios tendecircncias e resultados de

pesquisa Brasiacutelia Editora UnB 2011

74

() natildeo existe agrave margem do proacuteprio contexto

social em que se desenvolve e no qual os

conhecimentos e os artefatos adquirem relevacircncia

e valor Desse modo as imbricaccedilotildees entre ciecircncia

tecnologia e sociedade apresentam uma

complexidade muito maior do que as decorrentes

das relaccedilotildees imaginadas entre campos estanques

que se comunicam mas sem interpenetraccedilatildeo

apontando para uma anaacutelise mais cuidadosa e

abrangente das reciprocidades ao inveacutes da

simples aplicaccedilatildeo da claacutessica relaccedilatildeo linear entra

elas (LINSINGEN 2002 p100)

A complexidade dos ECTS como campo interdisciplinar

tambeacutem pode ser verificada na variedade de perspectivas teoacutericas que o

compotildee Neles perpassam desde estudos construtivistas (TAR e estudos

socioteacutecnicos por exemplo) influenciados pelo Programa Forte na

Sociologia do Conhecimento (BLOOR 2009) ateacute anaacutelises estruturais da

TCT (FEENBERG 1991) herdeira da Escola de Frankfurt

Sendo que Thomas Kuhn Paul Feyerabend David Bloor

Hernaacuten Thomas Ludwik Fleck Rosalba Casas Bruno Latour Mariano

Zukerfeld Pablo Kreimer Michel Callon Hebe Vessuri Karin Knorr-

Cetina Trevor Pinch Wiebe Bijker e Andrew Feenberg satildeo algumas das

referecircncias estrangeiras (de fora do Brasil) entre tantas outras comuns

em todo o campo teoacuterico de anaacutelises (COLLINS 2015 ABRAHAtildeO

2015)

Em relaccedilatildeo aos ECTS latino-americanos Linsingen (2007)

explica que suas reflexotildees abordam as especificidades que se referem agrave

ciecircncia e tecnologia na Ameacuterica Latina e de modo mais abrangente

ibero-americanas Esses estudos que desde meados dos anos 196053

vem contribuindo de modo sistemaacutetico para a ressignificaccedilatildeo da

natureza do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e de suas implicaccedilotildees

socioculturais e socioeconocircmicas podem ser considerados como ldquoum

campo de trabalho de caraacuteter criacutetico com relaccedilatildeo agrave tradicional imagem

53 Nesse contexto desenvolveu-se o chamado Pensamento Latino-americano

sobre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (PLACTS) que tinha foco na elaboraccedilatildeo

da Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia (PCT) dos paiacuteses latino-americanos em

contraposiccedilatildeo aos chamados paiacuteses avanccedilados (DAGNINO THOMAS

DAVYT 1996)

75

essencialista da ciecircncia e da tecnologiardquo (CASSIANI LINSINGEN

GIRALDI p 61 2011)

Linsingen (2007) destaca ainda que os ECTS latino-americanos

contestam percepccedilotildees sociais hegemocircnicas da ciecircncia e tecnologia muito

presentes em diferentes campos de conhecimento e com influecircncia nas

poliacuteticas puacuteblicas desses paiacuteses Nessas percepccedilotildees ldquotanto ciecircncia

quanto tecnologia e por extensatildeo todas as aacutereas teacutecnicas que lhes datildeo

sustentaccedilatildeo deveriam estar alheias a interesses opiniotildees e valoraccedilotildeesrdquo

(LINSINGEN 2007 p 03)

Em contraposiccedilatildeo a essa percepccedilatildeo os ECTS latino-americanos

consideram como jaacute apontei aspectos filosoacuteficos antropoloacutegicos

poliacuteticos e socioloacutegicos da ciecircncia e da tecnologia bem como elementos

educacionais com elas envolvidos A relaccedilatildeo desses estudos com

processos educacionais considera reflexotildees sobre condicionamentos

sociais poliacuteticos econocircmicos e ambientais nas decisotildees e nos processos

cientiacuteficos e tecnoloacutegicos compreendidos como praacuteticas sociais natildeo

neutras e dependentes de contextos histoacutericos (CASSIANI

LINSINGEN 2010)

Em termos educacionais e nessa direccedilatildeo concordo com

Linsingen (2007) quando ele destaca que a Educaccedilatildeo CTS tem

preocupaccedilatildeo com uma abordagem educacional que seja contextualizada

(como ensinar o que eacute importante para esse sujeito nessa situaccedilatildeo

especiacutefica) que problematize a noccedilatildeo de transferecircncia de

conhecimentos (como mobilizarmos para a autoria e autonomia) que

esteja em sintonia com os aspectos sociais (para quem e onde estou

falando) e comprometida em termos curriculares (o que estounatildeo estou

ensinando e por quecirc)

Dentro dessa abordagem pesquisas (destaco aqui algumas em

Educaccedilatildeo em Ciecircncias) buscam articulaccedilotildees com pressupostos da

pedagogia de Paulo Freire Os diferentes enfoques teoacutericos de autoresas

como Delizoicov (2008) Auler (2006) Auler e Delizoicov (2001)54

54 Com a intenccedilatildeo de contribuir para a construccedilatildeo de uma imagem mais realista

das atividades cientiacuteficas e tecnoloacutegicas os autores mostram uma importante

relaccedilatildeo entre CTS e a superaccedilatildeo do que eles chamam de mitos no ensino de

ciecircncias superioridade do modelo tecnocrata perspectiva salvacionista da

ciecircncia e tecnologia e determinismo tecnoloacutegico aleacutem da neutralidade da

ciecircncia e da tecnologia (ldquomito originalrdquo) grifo dos autores Auler e Delizoicov

(2001) apontam que aproximaccedilotildees com o referencial freireano podem contribuir

para a superaccedilatildeo desses mitos Tendo em vista que para Freire (1983 1987) a

educaccedilatildeo tambeacutem eacute entendida como uma leitura criacutetica do mundo os autores

destacam que ldquouma reinvenccedilatildeo da concepccedilatildeo freireana deve incluir uma

76

Nascimento e Linsingen (2006) e Cassiani Linsingen e Lunardi

(2012)55 discutem e buscam ampliar essas articulaccedilotildees Como destaca

Linsingen (2007) satildeo estimuladas possibilidades de debates que

envolvem os sentidos dos ECTS em relaccedilatildeo sobretudo agrave investigaccedilatildeo

temaacutetica freireana (temas geradores)

De maneira simplificada aponto que a perspectiva de educaccedilatildeo

dialoacutegico-problematizadora (FREIRE 1983) pode ser entendida como

um levantamento coletivo de temas relevantes para os sujeitos de modo

que o quotidiano poderia ser compreendido com vistas a sua

transformaccedilatildeo Na investigaccedilatildeo temaacutetica (FREIRE 1987) os temas

geradores estatildeo portanto relacionados com a vivecircncia dosas

educandosas e consideram os conhecimentos historicamente

produzidos

Lembremos que Freire (1987) esclarece que o que se pretende

investigar satildeo os sujeitos que se encontram envolvidos em seus temas

geradores de modo que esses uacuteltimos nos daratildeo um ldquouniverso miacutenimo

temaacuteticordquo Para o autor o conceito de tema gerador natildeo eacute uma

arbitrariedade ldquoou uma hipoacutetese de trabalho que deva ser comprovada

Se o lsquotema geradorrsquo fosse uma hipoacutetese que devesse ser comprovada a

investigaccedilatildeo primeiramente natildeo seria em torno dele mas de sua

existecircncia ou natildeordquo (FREIRE 1987 p 88)

Ao se referir agrave metodologia de investigaccedilatildeo dos temas geradores

Freire (1987) enfatiza que ldquoo tema gerador natildeo se encontra nos homens

isolados da realidade nem tampouco na realidade separada dos homens

Soacute pode ser compreendido nas relaccedilotildees homem-mundo (FREIRE 1987

p 98) Desse modo poderia ser iniciado o desenvolvimento de uma

metodologia dialeacutetica (codificaccedilatildeo e descodificaccedilatildeo) conscientizadora

atraveacutes da qual os sujeitos poderiam pensar seu mundo de modo criacutetico

Delizoicov (2008) indica que nesse sentido uma linha de accedilatildeo

seria estabelecida com o intuito de apreender e trabalhar os temas

geradores dialeticamente no transcorrer de todo o processo educativo

Considero que o destaque do autor para possibilidades dialeacuteticas da

investigaccedilatildeo temaacutetica satildeo importantes para pensarmos a complexidade

dos processos educacionais em um paiacutes do Sul tendo em vista busca por

contextos de autonomia e emancipaccedilatildeo

compreensatildeo criacutetica sobre as interaccedilotildees entre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade

dimensatildeo fundamental para essa lsquoleitura do mundorsquo contemporacircneordquo (AULER

DELIZOICOV 2001 p 09) 55 Autoresas que vivenciam essas articulaccedilotildees na praacutetica de formaccedilatildeo de

professores em Timor-Leste

77

Em conjunto com a busca por um contexto possiacutevel para que os

sujeitos possam tomar decisotildees informadas e criacuteticas em assuntos sobre

ciecircncia e tecnologia (CASSIANI LINSINGEN 2010) um dos

interesses dos ECTS e da Educaccedilatildeo CTS eacute a investigaccedilatildeo sobre

produccedilatildeo de conhecimentos e TS Portanto quando trato da Educaccedilatildeo

CTS ou na perspectiva educacional dos ECTS considero aleacutem dos

conhecimentos ldquooficiaisrdquo (i) os conhecimentos situados costumeiros

ancestrais e taacutecitos que emergem de modo bem marcado na

configuraccedilatildeo das TS e (ii) diaacutelogos entre esses conhecimentos

ecologia56 dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2007)

como mostrarei no segundo capiacutetulo

Antes disso apresento a seguir estudos latino-americanos

recentes57 que em alguma medida relacionam-se com a Educaccedilatildeo CTS

131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS

O primeiro estudo a que me refiro traz o estado da arte da

temaacutetica em Educaccedilatildeo CTS Intitulado ldquoAs abordagens teoacuterico-

metodoloacutegicas dos trabalhos apresentados no V TECSOC e no

ESOCITE4S e sua articulaccedilatildeo com o campo da Educaccedilatildeo CTSrdquo

56 Esclareccedilo que ao buscar entender o termo ldquoecologiardquo em Boaventura

considero dois aspectos O primeiro deles eacute certo cuidado com uma possiacutevel

naturalizaccedilatildeo de aspectos soacutecio-histoacutericos ao utilizar termos das Ciecircncias

Bioloacutegicas nas Ciecircncias Sociais E o segundo deles diz respeito a minha

profunda falta de expertise em Ciecircncias Naturais Nesse quadro percebo que

nas Ciecircncias Bioloacutegicas ecologia pode ser referir a pelo menos trecircs aspectos

relaccedilotildees (seres vivos e meio) interaccedilotildees (entre seres) e coexistecircncia (em

determinados ambientes) Conforme as anaacutelises propostas por Boaventura

Meneses (2014 p 93) esclarece que ldquoA ideia da ecologia denota

multiplicidades e relaccedilotildees natildeo destrutivasrdquo A autora elenca as cinco ecologias

desenvolvidas por Boaventura ecologia dos saberes (identificar outros saberes e

criteacuterios de rigor) ecologia das temporalidades (inclui vaacuterias temporalidades)

ecologia dos reconhecimentos (identificar diferenccedilas entre iguais sem

desconsiderar sua legitimidade) ecologia das transescalas (desglobalizar o local

e globalizar a diversidade) e ecologia das produtividades (recuperar e valorizar

sistemas alternativos de produccedilatildeo) assim compreendo que uma possibilidade

de leitura para o termo possa considerar um sentido de conflito e tensatildeo no qual

as contradiccedilotildees lutas e resistecircncias apareceriam e natildeo seriam silenciadas 57 Os trabalhos a que faccedilo referecircncia foram enviados ao VI Simpoacutesio Nacional

de Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (VI ESOCITE BrasilTECSOC) realizado

na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2015 e estatildeo disponiacuteveis em

httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDADE=6

78

(SILVEIRA MATOS GANHOR 2015) o artigo traz um levantamento

dos uacuteltimos encontros TECSOC e ESOCITE4S (realizados nos anos de

2013 e 2014 respectivamente) Os autores analisaram textos dos Grupos

de Trabalho (GTrsquos) de Educaccedilatildeo CTS e buscaram apreender a

perspectiva adotada os referenciais teoacutericos e as metodologias

propostas A ideia seria verificar como as visotildees estampadas nos artigos

desses GTrsquos operacionalizariam a formaccedilatildeo CTS aleacutem de seu proacuteprio

discurso ou de suas intenccedilotildees

No trabalho ldquoA participaccedilatildeo puacuteblica em Ciecircncia e Tecnologia e a

Educaccedilatildeo CTSrdquo (ldquoLa participacioacuten puacuteblica en Ciencia y Tecnologiacutea y

la Educacioacuten CTSrdquo)58 Ortega (2015) considera que a cidadania

cientiacutefica-tecnoloacutegica eacute exercida mediante mecanismos e processos de

participaccedilatildeo puacuteblica intrinsecamente relacionados com visotildees sobre

ciecircncia e tecnologia A autora destaca que existem processos de

participaccedilatildeo ex ante na Ameacuterica Latina e aponta a extensatildeo universitaacuteria

e processos de desenvolvimento de TS como exemplos de coproduccedilatildeo

de conhecimentos A partir dessas consideraccedilotildees ela busca aprofundar

articulaccedilotildees possiacuteveis entre a pedagogia criacutetica baseada no lugar e os

ECTS Tendo em vista produzir conhecimentos em Educaccedilatildeo CTS a

autora analisa um processo de formaccedilatildeo para participaccedilatildeo puacuteblica na

cidade de Campinas no estado de Satildeo Paulo

Com foco na educaccedilatildeo tecnoloacutegica o trabalho ldquoArticulaccedilotildees

entre CTS e Paulo Freire na definiccedilatildeo de objetos de educaccedilatildeo

tecnoloacutegicardquo de Niezwida (2015) analisa o contexto da educaccedilatildeo

tecnoloacutegica (o que ensinar) na Argentina A autora defende a educaccedilatildeo

tecnoloacutegica como um acircmbito potencial de intervenccedilatildeo mesmo que

indireto em questotildees de tecnocientiacuteficas59 Para isso ela propotildee que se

assumam tanto pressupostos epistemoloacutegicos e pedagoacutegicos adequados

quanto uma perspectiva distinta sobre o que eacute ser professora alunoa e

conhecimento nesse acircmbito de formaccedilatildeo

Tendo a divulgaccedilatildeo cientiacutefica como relacionada com a Educaccedilatildeo

CTS Socorro e Penido (2015) abordam espaccedilos natildeo formais de

divulgaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia no trabalho ldquoA contribuiccedilatildeo do

Instituto Kirimurecirc na divulgaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia em espaccedilos

natildeo formais da Baia de Todos os Santosrdquo Ao analisarem as

contribuiccedilotildees do Instituto as autoras realizam um levantamento e uma

anaacutelise dos meacutetodos e abordagens das praacuteticas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

58 Artigo original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 59 Na paacutegina 98 em nota de rodapeacute faccedilo algumas consideraccedilotildees sobre o uso do

termo ldquotecnocientiacuteficordquo

79

nos espaccedilos natildeo formais dos municiacutepios da Baia de Todos os Santos e as

contribuiccedilotildees na promoccedilatildeo da difusatildeo do conhecimento em ciecircncia e

tecnologia nas aacutereas das Ciecircncias da Natureza

A divulgaccedilatildeo cientiacutefica tambeacutem eacute tema do artigo de Janning

(2015) ldquoAnaacutelise dos discursos sobre ciecircncia em um livro de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica sobre formigas diaacutelogos com educaccedilatildeo CTSrdquo O autor analisa

um livro de divulgaccedilatildeo cientiacutefica sobre a vida das formigas pois no

tema haveria potencial didaacutetico para os ensinos fundamental e meacutedio

Pelo estudo de formigas seria possiacutevel desenvolver educaccedilatildeo ambiental

ao se relacionar temas como pragas agriacutecolas interaccedilotildees ecoloacutegicas e

coevoluccedilatildeo folclore e conhecimentos tradicionais Para isso o autor

utiliza os referenciais teoacuterico-metodoloacutegicos da AD de linha francesa e

contribuiccedilotildees da perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS Os resultados

mostraram que eacute possiacutevel relacionar sociedades humanas e das formigas

perceber questotildees sobre o papel do cientista do meacutetodo e do erro na

pesquisa assim como verificar como um discurso natildeo cientiacutefico se

transforma atraveacutes de efeitos de sentidos em discurso cientiacutefico no

livro analisado

O estudo intitulado ldquoEducaccedilatildeo CTS nos bacharelados

interdisciplinares em ciecircncia e tecnologia na regiatildeo nordeste do Brasilrdquo

de Lucena e Cabral (2015) traz resultados de uma pesquisa iniciada no

ano de 2010 sobre a poliacutetica do Governo Federal do Brasil de

desenvolvimento e implantaccedilatildeo de Bacharelados Interdisciplinares em

Ciecircncias e Tecnologia (BICT) O objetivo das autoras seria mapear a

presenccedila das disciplinas em humanidades nos cursos existentes na

regiatildeo Nordeste e identificar relaccedilotildees com abordagens CTS Ao

analisarem documentos oficiais projetos pedagoacutegicos e curriacuteculos entre

outros materiais elas apontam tanto para a contribuiccedilatildeo dos estudos

CTS para a formaccedilatildeo eacutetica e responsaacutevel de cientistas e engenheiros

quanto para a ampliaccedilatildeo desses estudos no espaccedilo dos BICT

Os sentidos construiacutedos sobre Educaccedilatildeo CTS por docentes em um

curso de Engenharia faz parte da anaacutelise realizada por Jacinski (2015)

No trabalho ldquoEducaccedilatildeo CTS no curso de Engenharia da Computaccedilatildeo

sentidos construiacutedos pelos docentesrdquo o autor traz resultados de uma

pesquisa qualitativa feita no curso de Engenharia de Computaccedilatildeo da

Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute (UTFPR) Nessa pesquisa

o autor articulou referenciais da Educaccedilatildeo CTS e dos ECTS com uma

perspectiva discursiva do Ciacuterculo de Bakhtin Suas conclusotildees mostram

dificuldades em abrir a caixa-preta da tecnologia para osas futurosas

engenheirosas e apontam para a permanecircncia de uma tensatildeo dialoacutegica

entre uma formaccedilatildeo que problematize os aspectos sociais da tecnologia

80

e uma organizaccedilatildeo curricular disciplinar que reitere perspectivas

deterministas e lineares da tecnologia

O trabalho ldquoA inclusatildeo do saber do catador na construccedilatildeo de

plataforma informativo-educativa em prol da reciclagem inclusivardquo de

Ventura e Andrade (2015) tem foco na gestatildeo problemaacutetica de resiacuteduos

soacutelidos em aacutereas urbanas Os autores analisam como a Plataforma

Online Interativa Passo Certo (que segundo eles eacute uma proposta

tecnoloacutegica diferenciada de aprendizagem) envolveria diretamente

catadoresas latino-americanosas em seu processo de criaccedilatildeo e

desenvolvimento Para os autores essa participaccedilatildeo teria valorizado

osas catadoresas como detentoresas de saberes imprescindiacuteveis para a

gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos

Reis (2015) parte do suposto de que assuntos controversos tais

como transgecircnicos ou ceacutelulas tronco necessitariam ser debatidos em

sociedade mas essa precisaria ter conhecimentos mais profundos (aleacutem

das informaccedilotildees veiculadas na miacutedia) e que natildeo estatildeo contemplados

pelo curriacuteculo escolar Com isso a autora apresenta o estudo ldquoA

Ciecircncia vai agrave Sociedade Projeto de Extensatildeo Universitaacuteria Oficinas

Filosoacuteficas em Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS)rdquo que objetiva

levar alunosas do ensino meacutedio da cidade de Campos dos Goytacazes

(RJ) a refletirem sobre as consequecircncias dos avanccedilos tecnoloacutegicos O

projeto desenvolvido na Universidade Estadual do Norte Fluminense

Darcy Ribeiro (UENF) resultou em dados que segundo a autora podem

levar agrave compreensatildeo das concepccedilotildees que osas alunosas possuem sobre

ciecircncia e universidade

O trabalho de Silva (2015) e colegas intitulado ldquoDiscussotildees

educacionais em CTS relato de experiecircncia em sala de aula na visatildeo

discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Tecnologia da UTFPRrdquo

compartilha experiecircncias docentes sobre praacuteticas de ensino na

perspectiva das muacuteltiplas visotildees disciplinares relacionadas agraves discussotildees

CTS Os autores fizeram um levantamento de dados e de documentaccedilotildees

de suas experiecircncias em sala de aula e consideraram a experiecircncia

discente como ponto de partida para a percepccedilatildeo dos dilemas

disciplinares na academia e da problemaacutetica CTS na universidade Com

isso integram tanto as formaccedilotildees especificas de graduaccedilatildeo quanto as

linhas e temaacuteticas de pesquisa de cada docente e discente

A educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTS eacute tema do estudo de

Gomes (2015) No artigo ldquoO potencial das controveacutersias

sociocientiacuteficas para a educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTSrdquo a

autora reflete sobre a necessidade de apresentar e discutir os problemas

ambientais no acircmbito escolar (educaccedilatildeo ambiental) de modo que

81

cidadatildesatildeos possam ter consciecircncia dos problemas e das formas de

solucionaacute-los A ideia seria resgatar aspectos da trajetoacuteria histoacuterica da

inserccedilatildeo e aperfeiccediloamento da educaccedilatildeo ambiental no acircmbito escolar

que acabou culminando na proposiccedilatildeo e desenvolvimento de pesquisas

sobre a viabilidade e importacircncia do uso de controveacutersias

sociocientiacuteficas na educaccedilatildeo escolar

O artigo de Bueno (2015) intitulado ldquoCiecircncia tecnologia e

interdisciplinaridade numa perspectiva histoacuterico-criacutetica aspectos

pedagoacutegicos na formaccedilatildeo docenterdquo traz um relato de experiecircncia em um

curso de Licenciatura interdisciplinar em Ciecircncias Naturais em uma

universidade puacuteblica A autora utiliza uma abordagem pedagoacutegica

histoacuterico-criacutetica para mostrar aspectos epistemoloacutegicos na formaccedilatildeo

docente e destaca a dimensatildeo da tecnologia presente na organizaccedilatildeo do

trabalho pedagoacutegico Eacute enfatizada a abordagem interdisciplinar

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo docente fundamentada em uma pedagogia

progressista e em perspectivas criacuteticas da ciecircncia e da tecnologia

Um olhar sobre museus existentes em paiacuteses latino-americanos

que possuam exposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees

preacute-colombianas eacute a intenccedilatildeo do estudo de Gorri (2015) no artigo

ldquoExposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees preacute-

colombianas em museus latino-americanos e o Ensino de Ciecircncias e

Tecnologiasrdquo O trabalho objetiva investigar em quais museus de paiacuteses

latino-americanos encontram-se exposiccedilotildees destinadas a temaacuteticas em

ciecircncia e tecnologia para compreender como elas podem contribuir para

problematizaccedilotildees sobre a dominacircncia e a neutralidade concedidas aos

conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos a partir da consolidaccedilatildeo do

contexto histoacuterico da modernidade-colonialidade

A colonialidade tambeacutem eacute debatida no trabalho de Diniz (2015)

ldquoDiaacutelogos e olhares sobre CTS em Timor-Leste uma experiecircncia no

curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da UNTLrdquo A autora apresenta um relato

sobre experiecircncias vivenciadas a partir da co-docecircncia na disciplina

Ciecircncia Tecnologia e Ciecircncias dos Valores Humanos ministrada para

estudantes do 6ordm periacuteodo do curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da Faculdade de

Ciecircncias Sociais da UNTL Com isso ela destaca que um dos desafios

encontrados foi a dificuldade de professoresas timorenses e

brasileirosas para interpretar e compreender as ementas das disciplinas

(muitas vezes traduzidas da liacutengua indoneacutesia) E pontua que a Educaccedilatildeo

CTS natildeo deveria ser tratada apenas nessa disciplina mas

transversalmente nas demais disciplinas da proposta curricular do curso

Diferentes sentidos produzidos sobre tecnologia no Norte e no

Sul tambeacutem satildeo tema do estudo de Trevisan (2015) No trabalho

82

ldquoCiecircncia teacutecnica e tecnologia em dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias

Sociaisrdquo o autor considera que o dicionaacuterio eacute uma tecnologia que pode

funcionar como instrumento pedagoacutegico e testemunho valioso para a

compreensatildeo de diferentes interpretaccedilotildees Seu estudo investigou a

dicionarizaccedilatildeo dos termos ciecircncia teacutecnica e tecnologia em 42

dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais publicados em doze paiacuteses

do Norte e em 19 dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais

publicados em oito paiacuteses do Sul totalizando 61 obras publicadas entre

os anos de 1905 e 2010 O objetivo seria a comparaccedilatildeo da

dicionarizaccedilatildeo ou natildeo dos termos objetos da investigaccedilatildeo e das

definiccedilotildees presentes nos termos dicionarizados para identificar se

haveria questotildees que apontem para especificidades regionais

O trabalho ldquoGeneacutetica raccedila e poliacuteticas de accedilotildees afirmativas a

partir de questotildees sociocientiacuteficasrdquo (DIAS SERRA E SEPULVEDA

ARTEAGA 2015) parte da verificaccedilatildeo de que os discursos cientiacuteficos e

praacuteticas das tecnociecircncias estiveram comprometidos com processos

sociais de dominaccedilatildeo entre povos de modo a compor complexas

relaccedilotildees de poder Os autores consideram que conhecimentos derivados

das Ciecircncias Naturais contribuiacuteram para criaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo do

conceito de raccedila ao longo da histoacuteria com objetivos expliacutecitos de

inferiorizaccedilatildeo marginalizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo eacutetnicas A partir de uma

estrateacutegia pedagoacutegica derivada da abordagem educacional CTSA

objetivam construir uma questatildeo sociocientiacutefica com base no debate

entre grupos sociais diversos a respeito dos resultados de estudos sobre a

composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo brasileira e suas implicaccedilotildees para as

poliacuteticas de accedilotildees afirmativas A ideia seria promover uma educaccedilatildeo das

relaccedilotildees eacutetnico-raciais

No artigo de Maurici (2015) ldquoHaacute controveacutersias cientiacuteficas na

Prova do ENEM Contribuiccedilotildees dos Estudos CTS agrave Educaccedilatildeordquo satildeo

analisadas as questotildees relacionadas agrave disciplina de Fiacutesica da prova

amarela do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) do ano de 2013

O autor busca identificar a presenccedila ou natildeo de temas que envolvem

controveacutersias cientiacuteficas a natureza dessas controveacutersias que conteuacutedos

satildeo favorecidos e o que elas contribuem para uma educaccedilatildeo

emancipadora Com isso pretende evidenciar a contribuiccedilatildeo dos estudos

das controveacutersias cientiacuteficas no ensino de ciecircncias de modo a ampliar a

visatildeo dosas alunosas sobre relaccedilotildees CTS

Com essa breve apresentaccedilatildeo de alguns estudos recentes em

Educaccedilatildeo CTS pretendo mostrar diversas aproximaccedilotildees com a questatildeo

Mas acima de tudo busco evidenciar o quanto pode ser simplista a

avaliaccedilatildeo generalizada de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com esses

83

estudos pois haacute um interesse na temaacutetica da Educaccedilatildeo CTS ainda que a

interaccedilatildeo com a PCT nacional ldquoande a passos lentosrdquo Uso aspas e

posiciono-me em referecircncia ao artigo de Dagnino Silva e Padovanni

(2011) que haacute algum tempo questionaram a lentidatildeo da Educaccedilatildeo

CTS

Nesse artigo os autores examinam relaccedilotildees entre a Educaccedilatildeo

CTS e a PCT Para eles as causas da lentidatildeo da Educaccedilatildeo CTS podem

ser analisadas desde uma perspectiva de um jogo poliacutetico entre os

sujeitos envolvidos Sujeitos que satildeo organizados de acordo com a

tipologia60 do coraccedilatildeo vermelho versus coraccedilatildeo cinza e mente vermelha

versus mente cinza Em resumo os autores destacam a necessidade de

engajamento dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo CTS (que teriam o

coraccedilatildeo vermelho em sua maioria) na problematizaccedilatildeo do conhecimento

em ciecircncia e tecnologia que eacute produzido (algo que quem teria a mente

cinza natildeo faria) E assim apontam as potencialidades da perspectiva da

AST

Segundo a concepccedilatildeo da adequaccedilatildeo socioteacutecnica a

tecnociecircncia existe desde que reprojetada (ou

usando um anglicismo corrente redesenhada)

poderia servir de suporte a diferentes estilos de vida

cada um refletindo diferentes propostas a respeito

do bem-viver Isso resultaria em escolhas de

projetos diferentes dado que orientadas por outros

interesses e valores (alternativos) (DAGNINO

SILVA PADOVANNI 2011 p 121)

Com isso destaco que o que os autores chamam aqui de AST eacute

basicamente a perspectiva da TCT que examinarei adiante Como

leitores de Feenberg eles apontam a necessidade de criticar o

determinismo tecnoloacutegico Portanto propotildeem que a AST seja adotada

por uma via filosoacutefica para ldquomudar o comportamento apaacutetico da

comunidade da ECTSrdquo (DAGNINO SILVA PADOVANNI 2011 p

122)

Tendo em vista a metaacutefora dos autores identifico-me com a

mente e o coraccedilatildeo vermelhos ou seja considero a Educaccedilatildeo CTS em

suas possibilidades e limites para transformar a realidade superando

desigualdades sociais econocircmicas culturais e poliacuteticas Contudo natildeo

60 O vermelho estaria relacionado com uma perspectiva de inclusatildeo social

justiccedila equidade e sustentabilidade enquanto o cinza se referiria agrave adequaccedilatildeo

ao conhecimento tecnocientiacutefico produzido

84

apoio o suposto de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo

CTS Desse modo examino possibilidades emancipatoacuterias (que visam a

autonomia dos sujeitos e a abertura agrave alteridade) em processos

educacionais contextualizados e mobilizados para diaacutelogos e trocas de

aprendizagens agrave moda da ecologia dos saberes de Santos e Meneses

(2010) e Santos (2007)

A seguir apresento quem satildeo os sujeitos (natildeo apaacuteticos natildeo

acomodados ativos e integrados na construccedilatildeo de conhecimentos e na

compreensatildeo do domiacutenio intelectual da teacutecnica - politecnia) que

considero nesta tese

14 JUVENTUDES

Ao destacar minhas perspectivas sobre educaccedilatildeo em diferentes

autoresas de modo a chegar em uma ideia sobre politecnia desenvolvi

entendimentos sobre o que penso que possa ser uma educaccedilatildeo

transformadora Refleti tambeacutem sobre essas possibilidades segundo a

ECT e a Educaccedilatildeo CTS Jaacute expus minhas concepccedilotildees sobre o sujeito do

conhecimento (ativo integrado natildeo acomodado natildeo abstrato e natildeo

homogecircneo) que aparecem aqui como as juventudes que compotildeem os

CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul Nesse momento portanto

reflito sobre para quem pensei essa educaccedilatildeo de modo concreto nesta

tese

Antes de tratar de relaccedilotildees entre juventudes e escola exploro

brevemente alguns sentidos sobre o termo ldquojuventudesrdquo Muitosas

autoresas examinam o tema e existe uma produccedilatildeo teoacuterica consistente

na aacuterea No entanto natildeo eacute meu propoacutesito recuperar todos os debates

sobre juventudes tampouco elaborar uma definiccedilatildeo para ele Ao

compreender a complexidade do tema busco demarcar o sentido geral

que eacute aqui utilizado

Diferentes aacutereas de produccedilatildeo de conhecimento procuram definir o

que seria a ldquojuventuderdquo Destaco trecircs perspectivas a saber (i) Ciecircncias

Meacutedicas na qual se estabelece o termo ldquopuberdaderdquo para nomear as

transformaccedilotildees em uma crianccedila que se torna adulto (ii) Psicologia

Psicanaacutelise e Pedagogia nas quais o termo ldquoadolescecircnciardquo marca

mudanccedilas na personalidade mente e comportamento do sujeito que se

torna adulto e (iii) Sociologia na qual o termo ldquojuventuderdquo costuma

expressar o interstiacutecio entre as funccedilotildees sociais da infacircncia e as funccedilotildees

sociais do adulto (GROPPO 2000)

85

Adoto aqui o uso que a Sociologia faz do termo que natildeo eacute

restrito a determinaccedilotildees de faixas etaacuterias61 considera fatores sociais

culturais e econocircmicos aleacutem das posiccedilotildees que os sujeitos ocupam na

sociedade em um momento de construccedilatildeo de autonomia Utilizo o termo

no plural ldquojuventudesrdquo para marcar a heterogeneidade e diversidade

que acredito estar ali representada Concordo com Souza (2003) para

quem

A juventude deve ser encarada pois como uma

categoria histoacuterica Isso implica natildeo falar

genericamente da juventude como se fosse um

bloco homogecircneo mas sim uma categoria

segmentada estudantes e natildeo estudantes

trabalhadores e natildeo trabalhadores homens e

mulheres moradores das grandes e das pequenas

cidades ou ainda zona rural A condiccedilatildeo juvenil

portanto natildeo soacute varia de sociedade para

sociedade mas no interior de uma mesma

formaccedilatildeo social ao longo do tempo de grupo para

grupo ou de classe para classe (SOUZA 2003 p

45-46)

Portanto eacute possiacutevel entender que ao falarmos sobre juventudes

estamos a tratar tanto de um momento de transiccedilatildeo (mas que natildeo se

reduz a uma mera passagem) quanto de um processo que sofre

influecircncia do contexto soacutecio-histoacuterico no qual se desenvolve e que tem

suas especificidades na constituiccedilatildeo dos sujeitos

Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do puacuteblico jovem o socioacutelogo brasileiro

Juarez Dayrell (1996) tem no contexto soacutecio-histoacuterico um fator

importante para relacionar juventudes e escola Esse autor defende a

escola como espaccedilo sociocultural inserida na cultura onde os sujeitos

teriam relevacircncia Para ele eacute importante resgatar o papel dos sujeitos na

trama social que constitui a escola enquanto instituiccedilatildeo

Embora eu natildeo siga estritamente sua perspectiva sobre a escola

os relatos da pesquisa do autor com professoresas de cursos noturnos

em escolas da rede puacuteblica de ensino da cidade de Belo Horizonte nos

anos 1990 mostram alguns caminhos para a compreensatildeo das

juventudes

61 Conforme a UNESCO (2004) uma definiccedilatildeo predominantemente etaacuteria

abrangeria o ciclo que vai dos 15 aos 29 anos

86

Dayrell (1996) aponta que as juventudes nas escolas nesse

contexto precisam ser compreendidas

como sujeitos soacutecio-culturais () implica em

superar a visatildeo homogeneizante e estereotipada da

noccedilatildeo de aluno dando-lhe um outro significado

Trata-se de compreendecirc-lo na sua diferenccedila

enquanto indiviacuteduo que possui uma historicidade

com visotildees de mundo escalas de valores

sentimentos emoccedilotildees desejos projetos com

loacutegicas de comportamentos e haacutebitos que lhe satildeo

proacuteprios (DAYRELL 1996 p05)

Verifiquei muitas descriccedilotildees do autor no meu quotidiano no

IFRS As juventudes com as quais convivi naquele ambiente tambeacutem

estatildeo presentes em alguma medida na descriccedilatildeo do autor

Eacute a convivecircncia rotineira de pessoas com

trajetoacuterias culturas interesses diferentes que

passam a dividir um mesmo territoacuterio pelo menos

por um ano Sendo assim formam-se subgrupos

por afinidades interesses comuns etcEacute a

formaccedilatildeo de panelinhas quase sempre

identificadas por algum dos estereoacutetipos correntes a

turma da bagunccedila os CDF os mauricinhos ()

Com as conversas e brincadeiras ocorrendo

preferencialmente no interior de cada um deles

cada grupo tem regras e valores proacuteprios Ao

mesmo tempo haacute vaacuterios alunos soltos que

parecem natildeo se ligar a nenhum dos grupos ou

porque natildeo se identificam ou porque de alguma

forma satildeo excluiacutedos (DAYRELL p 15 1996)

De modo que eacute interessante nesse momento retomar alguns

dados apresentados na introduccedilatildeo desta tese e que podem ajudar em uma

visualizaccedilatildeo dosas estudantes com osas quais interagi na pesquisa

Trabalhei com todosas estudantes matriculados (e com frequecircncia) nos

primeiros anos dos trecircs CTIEM oferecidos nos turnos matutino e

vespertino no Cacircmpus Caxias do Sul Satildeo eles Curso Teacutecnico em

Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTFMIEM) Curso

87

Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino Meacutedio (CTPIEM) e Curso

Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTQIEM)62

A seguir apresento dados quantitativos que tentaratildeo durante o

texto trazer aspectos qualitativos para a anaacutelise

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo63

Cursoturno Feminino Masculino Total

TFMManhatilde 02 30 32

TFMTarde 05 23 28

TPManhatilde 19 11 30

TPTarde 22 08 30

TQManhatilde 12 20 32

TQTarde 20 12 32

Total 80 104 184

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Por hora a partir da tabela 1 acima eacute possiacutevel verificar que a

distribuiccedilatildeo de estudantes por cursos e turnos eacute similar e que a

quantidade de alunos (56) eacute levemente maior que a de alunas (44)

No TFM nos dois turnos haacute predomiacutenio de alunos (53) com apenas 07

alunas Enquanto no TP tambeacutem no somatoacuterio dos dois turnos verifico

41 alunas e 19 alunos No contexto maior do Cacircmpus de Caxias do Sul

a partir de dados de 2015 verifiquei o registro de 553 de estudantes

do sexo masculino e 447 do feminino

Dentro do quadro geral de estudantes do IFRS no que diz

respeito a necessidades especiais meus sujeitos seguem o padratildeo ali

apresentado conforme graacutefico 2 abaixo com menos de 5 de

estudantes com alguma necessidade especial declarada (dados de 2015)

62 Daqui por diante CTFMIEM = TFM CTPIEM = TP e CTQIEM = TQ 63 Nos primeiros anos dos CTIEM natildeo fiz uma discussatildeo preliminar sobre sexo

identidade de gecircnero e orientaccedilatildeo sexual por isso na coleta de dados solicitei o

sexo de nascimento dosas estudantes

88

Graacutefico 2 - Necessidades especiais64 entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Com esses dois destaques que faccedilo nesse momento mais que

tentar apresentar as juventudes com as quais interagi procuro mostrar as

situaccedilotildees que eu encontrava em sala de aula e segundo as quais a

pesquisa se desenvolveu Ressalto que esses nuacutemeros natildeo pretendem

silenciar as diferenccedilas que se apresentam em sala de aula As discussotildees

do terceiro capiacutetulo (com o exame de outros dados) pretendem

justamente evidenciaacute-las

Concordo com Dayrell (2007) no ponto em que ele alerta para o

fato de que as relaccedilotildees entre juventudes e escola natildeo satildeo lineares de

causa e efeito satildeo mais complexas pois fazem parte das mudanccedilas

profundas que ocorrem na sociedade Para o autor a socializaccedilatildeo ocorre

em muacuteltiplos espaccedilos e tempos o que implica em reconhecer que a

dimensatildeo educativa natildeo se reduz agrave escola e que as propostas educativas

para jovens natildeo precisam acontecer dominadas pela loacutegica escolar

Desse modo natildeo ignoro que os sentidos sobre tecnologia que eu

busco examinar circulam (satildeo debatidos) em um espaccedilo e entre sujeitos

posicionados soacutecio-historicamente Assim passo agrave reflexatildeo de como

efetivamente na praacutetica do ensino de Sociologia no ensino meacutedio

existiriam possibilidades de transformar sentidos sobre tecnologias entre

essas juventudes Para isso apresento a seguir consideraccedilotildees sobre o

ensino de Sociologia no ensino meacutedio

64 Fiacutesicas e cognitivas

89

15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO

Minha intenccedilatildeo de verificar possibilidades de transformar

sentidos sobre tecnologia no ensino meacutedio pode ser realizada segundo

minha aacuterea de atuaccedilatildeo a Sociologia Nas reflexotildees que permeiam

minhas atividades docentes as seguintes questotildees satildeo constantes Por

que ensinar O que ensinar Como ensinar Como mobilizar para a

aprendizagem O que eu aprendi O que eleselas aprenderam O que

foi esquecido Como transformar sentidos Como avaliar essa

transformaccedilatildeo65

Junto a isso mantenho certa vigilacircncia para organizar modos

significativos de propor uma transposiccedilatildeo didaacutetica relevante aleacutem de

buscar relacionar minhas ideias com uma leitura criacutetica das Orientaccedilotildees

Curriculares para o Ensino Meacutedio-Sociologia (OCEM-Sociologia) da

proposta curricular Liccedilotildees do Rio Grande da Lei de Diretrizes e Bases

da Educaccedilatildeo Nacional (LDB) e dos Paracircmetros Curriculares Nacionais

(PCNrsquos)

Desse modo alguns princiacutepios fundamentais do ensino de

Sociologia no ensino meacutedio como os princiacutepios epistemoloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento satildeo agora considerados Moraes e

Guimaratildees (2010) fazem uma leitura das OCEM-Sociologia e destacam

que o estranhamento se relaciona com questotildees do tipo Por que eacute

assim Sempre foi assim Eacute assim em outros lugares Portanto

estranhar se refere agrave admiraccedilatildeo do desconhecido ou inesperado

por achar estranho ao perceber (algueacutem ou algo)

diferente do que se conhece ou do que seria de se

esperar que acontecesse daquela forma por

surpreender-se assombrar-se em funccedilatildeo do

desconhecimento de algo que acontecia haacute muito

tempo por sentir-se incomodado ou ter sensaccedilatildeo

de incocircmodo diante de um fato novo ou de uma

nova realidade por natildeo se conformar com alguma

coisa ou com a situaccedilatildeo em que se vive natildeo se

acomodar rejeitar (MORAES GUIMARAtildeES

2010 p 46)

65 Retornarei a essas questotildees na discussatildeo de resultados no capiacutetulo 3 onde as

questotildees acerca de ldquopara quemrdquo e ldquoonderdquo ensinar que jaacute foram apresentadas no

toacutepico sobre juventudes retornaratildeo

90

Assim compreendo que o estranhamento eacute um passo significativo

na mobilizaccedilatildeo para aprender e transformar a realidade social que se

apresenta Algo que jaacute destaquei ao tratar de Paulo Freire Vejo o

princiacutepio da desnaturalizaccedilatildeo de modo similar

A desnaturalizaccedilatildeo como o nome indica prevecirc que a

compreensatildeo de fenocircmenos sociais seja independente de explicaccedilotildees de

origem natural Ou seja os fenocircmenos sociais tecircm origem soacutecio-

histoacuterica que resultam de relaccedilotildees sociais

Haacute uma tendecircncia sempre recorrente de se

explicarem as relaccedilotildees sociais as instituiccedilotildees os

modos de vida as accedilotildees humanas coletivas ou

individuais a estrutura social a organizaccedilatildeo

poliacutetica etc com argumentos naturalizadores

Primeiro perde-se de vista a historicidade desses

fenocircmenos isto eacute que nem sempre foram assim

segundo que certas mudanccedilas ou continuidades

histoacutericas decorrem de decisotildees e essas de

interesses ou seja de razotildees objetivas e humanas

natildeo sendo fruto de tendecircncias naturais

(MORAES GUIMARAtildeES 2010 p 47)

Acredito que uma concepccedilatildeo problematizadora e dialoacutegica da

educaccedilatildeo estaacute relacionada com tais princiacutepios epistemoloacutegicos Minha

intenccedilatildeo com o ensino de Sociologia baseado em tais princiacutepios eacute a de

que atraveacutes das atitudes de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (o que

chamo de perspectiva criacutetica na qual possamos compreender que aquilo

que resulta da obra humana pode ser visto como produto da accedilatildeo de

sujeitos histoacutericos e natildeo como determinaccedilatildeo natural ou iluminaccedilatildeo

divina) osas estudantes possam

(i) transformar sentidos problemaacuteticos sobre tecnologia

(ii) considerar suas possibilidades de para aleacutem de participar de

debates tecnoloacutegicos e cientiacuteficos promover novas questotildees sobre esses

assuntos e

(iii) visualizarem possibilidades de emancipaccedilatildeo social nesse

processo de autoria

De modo que se perguntem o que ciecircncia e tecnologia tecircm a ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a

esses temas entre outras tantas reflexotildees possiacuteveis Acredito que essa

intenccedilatildeo estaacute de acordo (sem desconsiderar criacuteticas) com os documentos

oficiais supracitados que preveem a organizaccedilatildeo dos componentes

curriculares da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil

91

Eacute importante destacar que atividades com questotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas em sala de aula natildeo satildeo exatamente novidade e tornaram-se

mais frequentes nas uacuteltimas deacutecadas impulsionadas pelos ECTS A

partir da deacutecada de 1970 esses estudos se consolidaram como campos

de reflexatildeo sobre condicionamentos sociais poliacuteticos econocircmicos e

ambientais nas decisotildees e nos processos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos

(CORREcircA GEREMIAS 2015)

Alguns debates atuais no campo dos ECTS propotildeem tratar as

relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e os sujeitos de modo abrangente e

com foco didaacutetico nos estudos de caso por exemplo Os socioacutelogos

britacircnicos Harry Collins e Trevor Pinch (2010a 2010b) que jaacute

mencionei trazem contribuiccedilotildees em relaccedilatildeo agrave abertura de oportunidades

a diferentes sujeitos para se pensar sobre ciecircncias e tecnologias

Segundo esses autores o objetivo de suas anaacutelises natildeo eacute oferecer

poliacuteticas ou dizer aos leitores como devem se posicionar contra ou a

favor de tal tecnologia mas criar um espaccedilo para pensar essas questotildees

Seus estudos remetem a episoacutedios de questotildees controversas em ciecircncia e

tecnologia marcantes do passado e do presente CORREcircA GEREMIAS

2015) De acordo com esses autores ldquoreflexos autoritaacuterios acompanham

a tendecircncia a enxergar a ciecircncia e a tecnologia como misteriosas ndash

segredos de uma casta privilegiada como sacerdotes com acesso

especial a um conhecimento bem aleacutem do raciociacutenio comumrdquo

(COLLINS PINCH 2010b p08)

Embora natildeo sejam meu referencial teoacuterico penso que os

episoacutedios relatados por Collins e Pinch (2010a 2010b) podem ser

usados nas salas de aula para mobilizar estudantes a questionar a

relevacircncia da ciecircncia e da tecnologia na sua vida entre muitas outras

apropriaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer Para isso seria interessante aleacutem do

resgate histoacuterico sobre o desenvolvimento de artefatos propor

problematizaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees sociais de sua produccedilatildeo e

adoccedilatildeo

Para finalizar66 meus apontamentos sobre o ensino de Sociologia

no ensino meacutedio destaco os debates acerca de estrateacutegias de ensino Um

modelo usual eacute apresentado no quadro 1 abaixo

66 Natildeo tratarei do histoacuterico da recente obrigatoriedade do ensino de Sociologia

juntamente com Filosofia no ensino meacutedio brasileiro Leituras aprofundadas a

esse respeito podem ser encontradas em MEIRELLES M et al (Orgs) Ensino

de Sociologia Trabalho Ciecircncia e Cultura Porto Alegre EvangrafLAVIECS

2013a MEIRELLES M et al (Orgs) O ensino de Sociologia no RS

Repensando o lugar da Sociologia Porto Alegre EvangrafLAVIECS 2013b

92

Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia

Fonte (ABREU 2009)

Contudo para aleacutem dessas divisotildees estanques penso que o

contexto da sala de aula dosas estudantes (sua situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica

e suas histoacuterias de vida) dos CTIEM em questatildeo e da temaacutetica a ser

discutida deva ser considerada para uma opccedilatildeo estrateacutegica efetiva Em

geral compreendo que o ensino de Sociologia pode ser inicialmente

desenvolvido numa articulaccedilatildeo entre as perspectivas de Carvalho

(2004) (origens pensadores e atualidade) e de Tomazi (2010) (teorias

conceitos e temas)

Desse modo acredito que minha proposta de problematizar

questotildees sobre tecnologia considera oa estudante na construccedilatildeo de seus

proacuteprios conhecimentos (autonomia) Isso fica presente no objetivo de

mobilizaacute-los para aleacutem de propor a criacutetica buscar modos de transformar

visotildees que distanciam compreensotildees sobre tecnologia do seu quotidiano

(emancipaccedilatildeo) A seguir destaco aspectos importantes nessa construccedilatildeo

tendo em vista a mobilizaccedilatildeo para a autoria

93

16 AUTORIA

Outro ponto importante nesta tese eacute apresentar alguns elementos

para debater a questatildeo da autoria Conforme Hollanda (2010) uma ideia

de autoria tal qual a utilizada geralmente na atualidade tem origem

aproximadamente apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa (1789-1799) com a

ascensatildeo do individualismo e da economia de mercado Naquele

contexto as primeiras leis reguladoras da propriedade intelectual

(copyright-inglesa e droit dauteur-francesa) foram elaboradas de modo

a considerar o debate acerca das disputas entre o direito dos sujeitos e o

interesse puacuteblico (HOLLANDA 2010)

Em termos de produccedilatildeo teoacuterica Hollanda (2010) destaca que o

filoacutesofo francecircs Michel Foucault (1926-1984) eacute fundamental no debate

sobre autoria sobretudo por seu texto do ano de 1969 ldquo O que eacute um

autorrdquo (Quest un auteur) Para a autora nessa obra ldquoFoucault desloca

a ideia essencialista da existecircncia real de uma autoria para a noccedilatildeo de

funccedilatildeo do autor Ou seja a autoria eacute uma noccedilatildeo construiacuteda

historicamente e existe apenas em sua funcionalidade cultural e

comercialrdquo (HOLLANDA 2010 sp)

No que diz respeito agrave educaccedilatildeo Juacutenior (2013) trata de autoria na

produccedilatildeo de textos acadecircmicos a partir da noccedilatildeo de moldura jaacute utilizada

por estudiosos de Artes Plaacutesticas Ele entende a autoria como um

complexo de componentes moldurais ldquodemarcadores de sentido entre o

que estaacute lsquoditorsquo pela obra e pode ser lido desde lsquodentrorsquo da moldura e

aquilo que estaacute dito pela obra fora da moldurardquo (JUacuteNIOR p 233) 67

Aleacutem disso Juacutenior (2013) natildeo compreende a autoria como um atributo

individual mas como um componente social fundamental nos processos

de produccedilatildeo de conhecimentos

Sem ignorar a gecircnese e a densidade teoacuterica do tema da autoria em

diversas aacutereas de conhecimento o foco de minhas reflexotildees nesse

momento eacute investigar de que maneira e em que medida eacute possiacutevel

promover a autoria segundo uma visatildeo criacutetica de TS em ambientes

educacionais Como eu relatei na introduccedilatildeo essa questatildeo tomou

contornos mais definidos a partir de minhas interaccedilotildees com docentes e

discentes da UNTL em Timor Leste Contudo antes disso o tema da

67 Assim a autoria seria algo como um demarcador simboacutelico de espaccedilos de

circulaccedilatildeo de sentidos nas quais a dialeacutetica entre as propriedades

ldquointramolduraisrdquo e os componentes ldquoextra-molduraisrdquo se expressariam

(JUacuteNIOR 2013 p 239)

94

autoria tornou-se objeto de minhas reflexotildees devido a aproximaccedilotildees que

tive com as leituras no grupo DiCiTE

Em pesquisas realizadas por integrantes do grupo existem

discussotildees voltadas agrave perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS

(CASSIANI LINSINGEN 2010) que buscam contribuiccedilotildees da AD

francesa e de abordagens de educaccedilatildeo criacutetica como as de Paulo Freire

por exemplo Um dos elementos presentes nos estudos do grupo diz

respeito a construir processos formativos que considerem a questatildeo da

autoria e possibilitem ldquomaior inserccedilatildeo social das pessoas no sentido de

se tornarem aptas a participarem dos processos de tomadas de decisotildees

conscientes e negociadas em assuntos que envolvam ciecircncia e

tecnologiardquo (LINSINGEN 2007 p 13)

Uma ideia geral que perpassa tais pesquisas eacute a de que atraveacutes do

conceito de autoria seria possiacutevel relacionar posiccedilotildees dos sujeitos nos

processos de ensino-aprendizagem com os sentidos produzidos a partir

dessas posiccedilotildees (GIRALDI 2010 CASSIANI GIRALDI

LINSINGEN 2012) ldquoAo assumir a posiccedilatildeo de autor o sujeito situa-se

em uma determinada posiccedilatildeo social filiando-se a uma rede de sentidos

Assim para a assunccedilatildeo da autoria eacute preciso que os processos de

ensinoaprendizagem escolar permitam a abertura de um espaccedilo de

dizerrdquo (GIRALDI 2010 p 136) Nesses espaccedilos citados pela autora

penso nas possibilidades de desenvolvimento de autonomia

Compreendo que haacute uma questatildeo de autonomia dos sujeitos

envolvida nos processos formativos participativos e conscientes citados

logo acima por Linsingen (2007) A autonomia tambeacutem faz parte das

reflexotildees de Giraldi (2010) que ao debater profundamente a questatildeo da

autoria no ensino de ciecircncias destaca a necessidade dosas estudantes

colocarem-se como sujeitos de sua aprendizagem A autora aproxima-se

de Freire (1987) e de sua criacutetica agrave educaccedilatildeo bancaacuteria de modo que vecirc

na assunccedilatildeo da autoria possibilidades de autonomia

Portanto meu interesse pelo tema da autoria e minha intenccedilatildeo de

examinar relaccedilotildees entre esta e a autonomia e a emancipaccedilatildeo social na

educaccedilatildeo tecircm origem no DiCiTE A partir de entatildeo busquei construir

sentidos sobre autoria em relaccedilatildeo a TS Para isso aleacutem de minha

experiecircncia em Timor-Leste outra circunstacircncia que foi influente diz

respeito a uma situaccedilatildeo pessoal na qual eu fui comparada agrave Aracne por

defender um trabalho autoral

95

O mito de Aracne tem muitas versotildees68 mas trata basicamente

de uma disputa entre Aracne (uma mortal habilidosa nas artes de tecer e

bordar) e a deusa romana protetora dos artesatildeos Minerva69 Nos relatos

Minerva natildeo aprecia o fato da mortal natildeo lhe dar creacuteditos por suas

habilidades como pode ser observado no trecho de diaacutelogo descrito

abaixo

ldquo() - Maacutes conveacutem agradecer sempre agrave Minerva este dom

recebido

- Ora e que meacuteritos eu teria se devo exclusivamente a ela meu

talento ndash disse Aracne - Ela que cuide de seus bordados que eu cuido

dos meusrdquo (FRANCHINI SEGANFREDO 2012 p 219)

Com isso a deusa Minerva haveria proposto uma disputa com a

mortal Aracne na qual cada uma delas deveria produzir um bordado que

seria julgado pelas ninfas (divindades mortais que auxiliavam osas

deusesas) A deusa entatildeo desenhou uma cena na qual mostrava o

descontentamento dosas deusesas ldquocom mortais presunccedilosos que se

atreviam a concorrer com elesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) enquanto

Aracne escolheu ldquoassuntos destinados a provar os enganos e erros dos

deusesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) No final da disputa o

descontentamento da deusa com a beleza do trabalho da mortal resultou

em um castigo com a transformaccedilatildeo dessa em uma aranha Contudo

Aracne mesmo metamorfoseada passou a produzir trabalhos ainda mais

belos

A criacutetica que recebi levou-me a refletir sobre como buscar

possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com a

questatildeo da autoria em ambientes educacionais de modo que estudantes

tendo em vista o mito de Aracne possam (i) desenvolver (mais) atitudes

criacuteticas (estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo) em relaccedilatildeo a conhecimentos

previamente construiacutedos (ii) pensar (mais) criticamente sobre a

importacircncia de seu posicionamento como produtores (autores) de

conhecimentos (elaborar problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicas) e (iii)

compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo humana (feita por sujeitos em

condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas determinadas) e natildeo algo ldquomaacutegicordquo e fora de

suas possibilidades de entendimento

68 No entanto em todas as versotildees da histoacuteria que examinei Aracne sempre eacute

transformada em aranha pela deusa Minerva no final do relato e permanece a

ideia de que Aracne defendia seu trabalho como autoral a despeito de ter sido

ou natildeo disciacutepula da deusa 69 Na mitologia grega Minerva eacute chamada de Atena

96

Essa reflexatildeo sobre o mito de Aracne poderia ajudar a

desmistificar as ideias de genialidade e exterioridade muitas vezes

envolvidas na produccedilatildeo de tecnologias Aleacutem disso destaco que natildeo eacute o

caso aqui de propor autoria como sinocircnimo de individualidade

privatizaccedilatildeo centralizaccedilatildeo ou mesmo de propriedade Penso que a

relaccedilatildeo com a defesa que Aracne faz da sua arte possa se referir ao

pensamento criacutetico e a autonomia sem prescindir de concepccedilotildees sobre

trabalhos em formatos colaborativos de trocas produtivas e de criaccedilatildeo

compartilhada

Acredito que desse modo a ideia de autoria tambeacutem pode estar

relacionada em alguma medida com outro movimento que me inspira70

em relaccedilatildeo agrave temaacutetica autoral qual seja o debate envolvido nos

princiacutepios baacutesicos do Software Livre (SL)71 Para compreendermos o

baacutesico desse debate eacute importante lembrarmos algumas ideias gerais

sobre computaccedilatildeo como as que apresento modestamente a seguir

Os computadores (incluiacutedos aqui notebooks tablets e etc)

precisam de programas para seu funcionamento sendo que o chamado

sistema operacional eacute o programa responsaacutevel pelo funcionamento do

computador que faz a comunicaccedilatildeo entre hardware (mouse teclado

etc) e software (aplicativos) Existem programas que possuem o coacutedigo-

fonte (conjunto de comandos em alguma das linguagens de programaccedilatildeo

existentes) aberto desenvolvido por programadoresas voluntaacuteriosas

espalhadosas na internet e distribuiacutedo sob Licenccedila Puacuteblica Geral LPG

(conhecida em inglecircs como copyleft em contraposiccedilatildeo ao copyright) O

Linux eacute um exemplo de nuacutecleo de um sistema operacional desse tipo e

faz parte dos chamados SL (SILVEIRA 2009)

Jaacute o Windows da empresa Microsoft eacute um exemplo de software

proprietaacuterio que natildeo possui coacutedigo-fonte disponiacutevel e vende uma

licenccedila para que oa usuaacuterioa possa utilizaacute-lo Conforme Silveira

(2004) o software proprietaacuterio estaacute orientado ao benefiacutecio de fabricantes

(geralmente meacutedias ou grandes empresas) e o SL se orienta

principalmente para o benefiacutecio de seussuas usuaacuteriosas Sendo que a

grande consequecircncia sociocultural e econocircmica do SL seria sua aposta

no compartilhamento de informaccedilotildees e conhecimentos

70 Verifico que tal inspiraccedilatildeo tambeacutem aparece em estudos como o de Silveira

(2009) que reflete sobre tecnologia e processos de emancipaccedilatildeo inclusive com

base nas perspectivas teoacutericas de Boaventura de Sousa Santos no que diz

respeito agrave globalizaccedilatildeo contra hegemocircnica 71 Nesta tese natildeo exploro o histoacuterico os pressupostos poliacuteticos e a eacutetica do SL

Para maiores informaccedilotildees verificar a referecircncia feita a Silveira (2004)

97

Silveira (2004) destaca que a movimentaccedilatildeo em torno do

desenvolvimento de SL comeccedilou nos anos 1980 e ganhou forccedila atraveacutes

da internet O autor classifica ldquodefensores e opositoresrdquo do SL Osas

primeirosas seriam aleacutem de interessadosas em programaccedilatildeo e sistemas

computacionais ldquoos acadecircmicos os cientistas os mais diferentes

combatentes pela causa da liberdade e mais recentemente as forccedilas

poliacutetico-culturais que apoiam a distribuiccedilatildeo mais equitativa dos

benefiacutecios da era da informaccedilatildeordquo (SILVEIRA 2004 sp) Para o autor

osas opositoresas seriam grandes empresas capitalistas usuaacuterias de um

modelo econocircmico baseado na exploraccedilatildeo de licenccedilas de uso de

software e do controle monopoliacutestico de coacutedigos essenciais dos

programas de computadores72

Richard Stallman presidente da Fundaccedilatildeo do Software Livre

(Free Software Foundation) esclarece que em contraposiccedilatildeo ao

software proprietaacuterio (defendido pelosas opositoresas do SL) o SL diz

respeito agrave liberdade dosas usuaacuteriosas para (i) executar (ii) copiar (iii)

distribuir e (iv) estudar e melhorar o software (modificaccedilatildeo)

(STALLMAN 2008)73 Essas quatro liberdades citadas se relacionam

com os princiacutepios do SL para ser socialmente justo economicamente

viaacutevel e tecnologicamente sustentaacutevel (SILVEIRA 2004) Aleacutem disso

Silveira (2004) esclarece que os projetos de SL envolvem tanto a

colaboraccedilatildeo entre sujeitos interessados quanto a descentralizaccedilatildeo do

poder de modo a preservar as quatro liberdades envolvidas com SL

Em sentido similar Raymond (1998) faz uma comparaccedilatildeo entre

dois modos diferentes de organizar o desenvolvimento de software

quais sejam cathedral (catedral) e Bazaar (bazar) O primeiro deles

identificado com o software proprietaacuterio corresponderia a maior parte

do mundo comercial e funcionaria de modo hierarquizado e

conservador Jaacute o modelo bazar baseado no mundo do Linux e

identificado com o SL natildeo possuiria uma organizaccedilatildeo formal e

apresentaria tendecircncias voluntaacuterias Por estar em constante

aprimoramento dosas usuaacuteriosas a capacidade de inovaccedilatildeo desse

uacuteltimo seria mais alta que a do modelo catedral do software proprietaacuterio

(RAYMOND 1998)

72 Contudo essa afirmaccedilatildeo natildeo estaacute fora de controveacutersias em torno do fato de

que atualmente grandes empresas capitalistas faccedilam uso de SL 73 Free software is a matter of the users freedom to run copy distribute study

change and improve the software (STALLMAN 2008) Traduccedilatildeo livre da

autora

98

Tendo em vista um sentido dinacircmico de criaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo

social penso nas possibilidades de relacionar essas caracteriacutesticas do SL

com uma perspectiva criacutetica de TS tal como examinarei no capiacutetulo 2 (a

partir da paacutegina 115) Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE e

primeira aproximaccedilatildeo com o tema da autoria procurei relacionar essa

temaacutetica com uma leitura sobre o mito de Aracne e com princiacutepios que

entendo que sejam compartilhados com desenvolvedoresas de SL

Contudo minhas vivecircncias em Timor-Leste levaram-me a refletir

sobre outros aspectos que poderiam ajudar a compor uma ideia de

autoria voltada a TS tendo em vista as perspectivas de criaccedilatildeo

colaborativa que apresentei na minha leitura sobre o mito de Aracne e

no desenvolvimento de SL Essas reflexotildees tomaram forma na

oportunidade que tive de participar de uma mesa-redonda sobre TS e

produccedilatildeo de conhecimentos na UNTL na qual debatemos sobre

perspectivas educacionais em TS como referi na introduccedilatildeo desta tese

Com alguma familiaridade com debates promovidos na aacuterea das

Ciecircncias Sociais sobre ldquoo que eacute ser brasileiroardquo minha preparaccedilatildeo para

a mesa-redonda envolveu alguns questionamentos acerca da construccedilatildeo

de identidades dosdas timorenses Minha preocupaccedilatildeo era compreender

para (com) quem eu falaria e como o tema sobre TS poderia ter

relevacircncia naquele contexto

De minhas observaccedilotildees e discussotildees com docentes e discentes da

UNTL compreendi que o fato de o paiacutes haver passado por um processo

de colonizaccedilatildeo por parte de Portugal que se seguiu a uma ocupaccedilatildeo

violenta por parte da Indoneacutesia74 estava relacionado agrave adoccedilatildeo do lema

oficial ldquopaz e desenvolvimentordquo e agrave vontade manifesta de reconstruccedilatildeo

do paiacutes Natildeo uma reconstruccedilatildeo imposta de fora mas um processo do

povo timorense com o povo timorense e para o povo timorense

Ao perceber essa demanda expressa sobretudo pelas juventudes

timorenses (estudantes da UNTL) busquei articular TS e educaccedilatildeo com

a questatildeo da autoria dentro daquilo que eacute conhecido como a eacutetica do

movimento DIY (sigla em inglecircs para Do It Yourself em portuguecircs

ldquofaccedila vocecirc mesmordquo) Conforme Carvalho (2015) o movimento DIY faz

criacutetica ao consumismo e busca a promoccedilatildeo de uma postura poliacutetica

74 Para uma inserccedilatildeo maior na compreensatildeo da histoacuteria timorense e sua relaccedilatildeo

com produccedilatildeo de conhecimentos verificar a tese de doutorado da seguinte

referecircncia PEREIRA P B (2014) O Programa de Qualificaccedilatildeo de Docentes

e Ensino de Liacutengua Portuguesa no Timor-Leste (PQLP) Um olhar para o

Ensino de Ciecircncias Naturais Tese de Doutorado Educaccedilatildeo Cientiacutefica e

Tecnoloacutegica UFSC Florianoacutepolis 2014

99

associada agrave produccedilatildeo proacutepria de bens de consumo de modo caseiro e

com baixo impacto ambiental negativo

O movimento teve forccedila em sua difusatildeo juntamente com a

cultura da muacutesica punk75 nos anos 1970 com quem compartilhava a

negaccedilatildeo do consumismo e a iniciativa de criaccedilatildeo proacutepria O DIY

incentiva a produccedilatildeo local (costura artesanato alimentos orgacircnicos de

agricultura familiar ou caseira) o consumo consciente (identificar

origem e custo ambiental) as produccedilotildees artiacutesticas colaborativas

(produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de muacutesica literatura e viacutedeo em rede) e a

autossuficiecircncia e independecircncia dos sujeitos (CARVALHO 2015)

Em relaccedilatildeo agrave autoria minha contextualizaccedilatildeo do DIY para

debates sobre desenvolvimento de TS com as juventudes timorenses

envolveu problematizar as possibilidades de articulaccedilatildeo entre os

conhecimentos locais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual via TS mas aleacutem

disso destacar o potencial criativo existente em cada um de noacutes A

intenccedilatildeo foi estabelecer um debate sobre as possibilidades que temos

para desenvolver projetos de um novo jeito do nosso jeito voltados ao

nosso contexto nas condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas atuais

A ideia ali foi mostrar que as TS tambeacutem poderiam ser vistas

dessa maneira como o jeito proacuteprio de cada sujeito em seu coletivo

pensar em seus problemas ou antes fazer a criacutetica de sua condiccedilatildeo

desnaturalizaacute-la e problematizaacute-la [com o cuidado de natildeo compreender

TS segundo perspectivas problemaacuteticas envolvidas com as Tecnologias

Apropriadas (TA)] De modo a resgatar seus conhecimentos e

75 Resumidamente punk eacute um estilo musical originaacuterio dos anos 1970 derivado

do rock tanto da Inglaterra quanto dos Estados Unidos Eacute um tipo de muacutesica

caracterizada por ter poucos acordes ser simples e raacutepida Na origem tinha

letras que expressavam a realidade de jovens pobres desempregados e sem

futuro Criticavam o governo a educaccedilatildeo os poliacuteticos a monarquia os

impostos a pobreza o desemprego e a falta de perspectiva (SHAND

KEMPIM 2002 BIVAR 1983) Um dos principais diferenciais do punk em

relaccedilatildeo ao rock progressivo que dominava a eacutepoca era que o fatilde conseguia tocar

como o seu iacutedolo porque o som era faacutecil de ser executado (BIVAR 1983) De

certa maneira o distanciamento entre fatilde e iacutedolo ou entre ouvinte e banda

diminuiacutea Desse modo o punk estava envolvido com a ideia de que ldquose vocecirc

natildeo gosta do que existe faccedila vocecirc mesmordquo (SAVAGE 2005 sp) Nesse

espiacuterito do DIY os punks comeccedilaram a criar suas proacuteprias artes plaacutesticas

roupas aacutelbuns e publicaccedilotildees editoriais (SAVAGE 2005) Sendo que a

socializaccedilatildeo independente dessas produccedilotildees eacute algo fundamental para as bandas

punk Exemplos de bandasartistas punk da primeira geraccedilatildeo Sex Pistols

Ramones The Clash Television e Patti Smith (artista solo)

100

potencialidades como sujeitos que possam ter acesso conhecimento e

possibilidade de escolha criacutetica em questotildees relacionadas ao

desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo educaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

tecnologias

Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE com o

conhecimento do tema sobre autoria passei a buscar relaccedilotildees entre essa

temaacutetica e TS Algo que me levou a uma leitura sobre o mito de Aracne

uma reflexatildeo sobre processos colaborativos envolvidos com o

desenvolvimento de SL e chegou ateacute o movimento DIY e suas

possibilidades criativas e autossuficientes Desse modo penso em

autoria ou produccedilatildeo autoral de TS tendo em vista tanto a apropriaccedilatildeo

(sujeitos envolvidos em seus problemas socioteacutecnicos) quanto a criaccedilatildeo

(sujeitos (re)constroem sentidos sobre seus sentimentos) para uma

mobilizaccedilatildeo reflexiva e criacutetica para a accedilatildeo e a transformaccedilatildeo Destaco

que natildeo eacute o caso de pensar na autoria como um estaacutegio final a ser

alcanccedilado como o resultado de um conjunto de accedilotildees Antes interessam

todos os processos de produccedilatildeo de novos sentidos Processos que natildeo

satildeo individuais porque se relacionam com o interdiscurso76

A partir dessas influecircncias nesta tese busco relacionar a

construccedilatildeo de autoria com possibilidades de desenvolvimento de

autonomia em contextos educacionais na medida em que sujeitos na

posiccedilatildeo de autoresas natildeo satildeo apenas usuaacuteriosas Uma usuaacuterioa de TS

por exemplo comumente estaria inseridoa em uma poliacutetica puacuteblica para

resoluccedilatildeo de problemas socioteacutecnicos que foi pensada de modo vertical

(desde o Estado ateacute o sujeito) que reproduziria soluccedilotildees utilizadas em

diferentes contextos e natildeo participaria necessariamente de alguma

etapa dos processos de identificaccedilatildeo e resoluccedilatildeo dos seus problemas

Jaacute o sujeito que faz parte de processos educacionais em um

contexto de construccedilatildeo de autoria sujeito autor tornaria puacuteblico que

seus problemas socioteacutecnicos satildeo importantes e que eacute relevante a busca

coletiva de soluccedilotildees Ou seja produzir e reconhecer sentidos de modo

contextualizado estaria relacionado ao desenvolvimento de TS

sobretudo na questatildeo da autonomia e da relaccedilatildeo problemanatildeo problema

e soluccedilatildeo (THOMAS 2009) na medida em que os sujeitos poderiam

tanto considerar e apresentar publicamente seus problemas socioteacutecnicos

76 Na AD o interdiscurso (o jaacute-dito) pode ser entendido como formulaccedilotildees

feitas e jaacute esquecidas que se relacionam com os dizeres dos sujeitos Assim

podemos compreender sentidos e formulaccedilotildees do que jaacute foi dito de modo

contextualizado soacutecio-historicamente

101

como relevantes como teriam possibilidades de tornarem-se autoresas

na resoluccedilatildeo destes

Em minhas reflexotildees sobre perspectivas educacionais em TS

considero que autoria e autonomia satildeo noccedilotildees que podem ser

examinadas de modo profiacutecuo quando em relaccedilatildeo como jaacute destaquei

sobretudo segundo a proposta educacional freireana articulada aos

ECTS algo tambeacutem analisado em autoresas como Nascimento e

Linsingen (2006)

Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados

com a vivecircncia dos sujeitos e que consideram os conhecimentos

historicamente produzidos Nascimento e Linsingen (2006) partiram de

tais pressupostos e os relacionaram agrave Educaccedilatildeo CTS ao analisarem o

ensino de ciecircncias Acredito que uma construccedilatildeo similar em relaccedilatildeo a

TS tambeacutem possa ser realizada

Para isso eacute possiacutevel partir da interpretaccedilatildeo criacutetica que Freire

(1992) apresenta sobre a tecnologia qual seja ldquonunca talvez a frase

quase feita ndash exercer o controle sobre a tecnologia e pocirc-la a serviccedilo dos

seres humanos ndash teve tanta urgecircncia de virar fato quanto hoje em defesa

da liberdade mesma sem a qual o sonho da democracia se esvairdquo

(FREIRE 1992 p133) Contudo vejo as potencialidades relacionadas a

TS com cautela para natildeo as pensar de modo determinista como

comumente se faz com as TA e as Tecnologias Convencionais (TC)77

Acreditar que por si soacute as TS teriam uma natureza

emancipatoacuteria que linearmente colaborariam nos processos de

autonomia dos sujeitos pode caracterizar o mesmo problema do

determinismo tecnoloacutegico que critico (CORREcircA 2010) Sem ignorar os

desafios inerentes a qualquer processo educativo aposto no potencial

pedagoacutegico emancipatoacuterio das TS e considero que um passo inicial

nesse processo seja a criacutetica agrave noccedilatildeo estrita de usuaacuterioa A partir dessa

criacutetica buscamos modificar uma possiacutevel posiccedilatildeo reativa (usuaacuterioa) em

accedilotildees de caraacuteter ativo colaborativo e criativo (buscar soluccedilotildees para

dificuldades e carecircncias socioteacutecnicas de suas coletividades) atraveacutes de

accedilotildees de efeito transformador

Contudo natildeo eacute o caso de considerar aqui que os sujeitos natildeo

tenham disposiccedilatildeo para enfrentar seus problemas socioteacutecnicos ou de

propor a mobilizaccedilatildeo para autoria como um processo de ldquoautoajudardquo

que desconsideraria estruturas opressivas que conferem uma situaccedilatildeo de

vulnerabilidade aos sujeitos A intenccedilatildeo eacute buscar interaccedilatildeo com as

juventudes atraveacutes de processos educacionais que destaquem tais

77 As TA e TC seratildeo examinadas no segundo capiacutetulo desta tese

102

situaccedilotildees opressoras e mobilizem para reflexotildees sobre possibilidades

emancipatoacuterias criativas e colaborativas Algo que jaacute referi ao tratar do

pensamento freireano em relaccedilatildeo agrave superaccedilatildeo de visotildees ingecircnuas para se

chegar na criticidade atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia

Para finalizar este primeiro capiacutetulo apresento no proacuteximo toacutepico

algumas questotildees sobre as possibilidades de uma educaccedilatildeo voltada para

a autoria uma outra educaccedilatildeo possiacutevel Portanto retomo a temaacutetica da

emancipaccedilatildeo social que foi vista em Adorno (1995) considero

posicionamentos de autoresas com interesse em temas sobre gecircnero

raccedilaetnia religiatildeo e classe social e busco diaacutelogos possiacuteveis com a

proposta de Santos (2009) para reinventar a emancipaccedilatildeo social

17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL

Neste capiacutetulo inicial esbocei o pensamento de autoresas e

orientaccedilotildees teoacutericas que tecircm relaccedilatildeo com o que penso sobre educaccedilatildeo na

perspectiva que delineei ateacute agora (politecnia) Qual seja dialoacutegica

transformadora criacutetica com formaccedilatildeo integral (atenda agraves dimensotildees do

desenvolvimento humano) com consciecircncia poliacutetica e contextualizada

Minha intenccedilatildeo natildeo foi examinar todos os autoresas que tratam de

relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia Assim como no tempo e espaccedilo

desta tese natildeo seria possiacutevel aprofundar a riqueza teoacuterica de cada

autora

Fiz escolhas e aproximaccedilotildees que acredito mostrarem aspectos

importantes mesmo que pontuais dessas relaccedilotildees tendo em vista o

contexto de minha anaacutelise Mais que isso osas autoresas que escolhi

discutir aqui fazem parte das minhas histoacuterias de leitura na vida

acadecircmica e acredito que em alguma medida tecircm contribuiccedilotildees ao

problema de pesquisa que apresentei

Portanto minha referecircncia a Freire Adorno Gramsci e Marx diz

respeito a minhas histoacuterias de leituras mais antigas A escolha desse

referencial natildeo significa a reproduccedilatildeo ingecircnua de algo como uma

epistemologia masculina (SANTOS 2014) Autorases que tratam de

questotildees relativas ao feminino e ao feminismo tambeacutem fazem parte de

minhas leituras mais recentes e certamente influenciam meu olhar sobre

as relaccedilotildees que busco investigar entre educaccedilatildeo e tecnologias no Brasil

atual Entre essas autoras cito Heleieth Saffioti Moema Viezzer Mariacutea

Luisa Femeniacuteas Donna Haraway e Sandra Harding Embora essas

autoras possam adotar diferentes perspectivas tecircm uma mirada sobre

gecircnero raccedilaetnia religiatildeo classe social e tecnologia que interessam

em minhas anaacutelises

103

Uma das pioneiras no Brasil em analisar questotildees sobre a

situaccedilatildeo da mulher na sociedade capitalista foi Heleieth Saffioti A

autora busca interpretar e superar problemas da posiccedilatildeo feminina no

modo de produccedilatildeo capitalista e examina a condiccedilatildeo da mulher na

perspectiva socialista (SAFFIOTI 2011) Ainda no Brasil Moema

Viezzer eacute escritora e socioacuteloga dedicada agrave educaccedilatildeo popular de mulheres

atraveacutes da Rede Mulher de Educaccedilatildeo que fundou nos anos 1980 Seus

estudos relacionam gecircnero e meio ambiente Eacute uma das organizadoras

do II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres (VIEZZER

MOREIRA GRONDIN 2009)

Mariacutea Luisa Femeniacuteas eacute uma filoacutesofa argentina cujos trabalhos

dialogam com diferentes campos disciplinares na tentativa de evidenciar

os modos pelos quais mulheres e o que ela chama de ldquosubalternos latino-

americanos em geralrdquo satildeo caracterizados nos discursos centrais

(FEMENIacuteAS 2007) que eu aqui chamo de Norte Como bem destaca

Santos (2014) a autora procura mostrar como cultura classe social

raccedilaetnia e religiatildeo estatildeo entrecruzados e relacionados com questotildees de

gecircnero na Ibero-Ameacuterica

Uma pesquisadora reconhecida segundo a perspectiva criacutetica

feminista da ciecircncia e tecnologia eacute Donna Haraway Com a ideia de

ciborgue criatura de um mundo poacutes-gecircnero ela trata de hibridaccedilatildeo de

quimeras de binocircmios modernos do tipo animal e maacutequina natural e

fabricado branco e negro macho e fecircmea entre outros exemplos

(HARAWAY 2013) Aleacutem disso tambeacutem interessam os

posicionamentos da autora em relaccedilatildeo ao pensamento de fronteira e seu

poder para a emancipaccedilatildeo e a resistecircncia (HARAWAY 1991)

A filoacutesofa norte-americana Sandra Harding complementa estudos

sobre gecircnero com a identificaccedilatildeo de trecircs tipos de investigaccedilatildeo feminista

A autora destaca o empirismo feminista as teorias poacutes-modernas e as

teorias perspectivistas ou do ponto de vista (Standpoint Epistemologies)

Filiada a essa uacuteltima Harding (1992 2004) considera que as

experiecircncias satildeo localizadas e portanto o conhecimento cientiacutefico deve

partir de localizaccedilotildees sociais objetivas A teoria do ponto de vista

considera tanto que os objetos devam ser compreendidos poliacutetica e

criticamente a partir do ponto de vista em que foram produzidos quanto

deva haver uma ampliaccedilatildeo de anaacutelises para permitir a presenccedila de outros

sujeitos tradicionalmente excluiacutedos

Para aleacutem dessas referecircncias (tanto explicitadas na abordagem

teoacuterica quanto as que acompanham ldquosilenciosamenterdquo as anaacutelises)

procuro estabelecer um diaacutelogo com algumas perspectivas de

Boaventura de Sousa Santos pois seus estudos tecircm (i) relevacircncia no

104

quadro socioloacutegico atual (ii) o Brasil (e o Sul) como campo de

pesquisas (iii) preocupaccedilatildeo com a questatildeo da emancipaccedilatildeo social (iv)

consideraccedilatildeo com a educaccedilatildeo78 e (v) posicionamento criacutetico agrave

globalizaccedilatildeo do capital (ponto que o aproxima do referencial que

utilizo) Portanto vejo que o exame mesmo que breve de seus

posicionamentos em relaccedilatildeo a Epistemologias do Sul (SANTOS

MENESES 2010) e Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias

(SANTOS 2002 2007) pode colaborar de modo profiacutecuo com as

minhas questotildees de investigaccedilatildeo79

Meneses (2014) esclarece que os processos que conferem

inteligibilidade e intencionalidade agraves experiecircncias sociais satildeo muacuteltiplos

e variados sendo que todas essas experiecircncias sociais produzem e

reproduzem conhecimento Tais accedilotildees pressupotildeem a presenccedila de vaacuterias

epistemologias Portanto o termo ldquoepistemologias do Sulrdquo considera

uma pluralidade epistemoloacutegica um ldquoreconhecimento de conhecimentos

plurais em presenccedilardquo (p 92) Em Epistemologias do Sul (SANTOS

MENESES 2010) os autores buscam possibilidades de descentralizar a

produccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico do Norte para o Sul

78 O que fica evidente em sua fala sobre ldquoA relaccedilatildeo entre universidade e

educaccedilatildeo popular atual momento histoacutericordquo como convidado do Foacuterum Social

Temaacutetico que marcou os 15 anos dos Foacuteruns Sociais Mundiais em janeiro do

ano de 2016 em Porto Alegre Disponiacutevel em

lthttpwwwforumeducacaopopularorggt 79 Sinto-me agrave vontade para estabelecer esse diaacutelogo pois como explica Trivintildeos

(1987) ldquoestamos conscientes que o investigador pode usar em seus trabalhos

conceitos que tenham as suas raiacutezes em ideologias diferentes inclusive opostas

() As aquisiccedilotildees do ser humano pertencem agrave humanidade O homem pode

recorrer a elas natildeo importando seu lugar no cosmos rdquo (p 13) Portanto para

aleacutem de pensar sobre ecologia dos saberes na educaccedilatildeo baacutesica via TS posso

realizar uma investigaccedilatildeo na qual use tais princiacutepios na praacutetica Ou seja busco

dentro de uma visatildeo criacutetica (e sensiacutevel a questotildees de gecircnero classe religiatildeo e

raccedilaetnia) possiacuteveis pontos de conexatildeo entre o Pensamento Pedagoacutegico

Socialista o Pensamento Pedagoacutegico Brasileiro Progressista a Teoria Criacutetica

(da Tecnologia) e as Epistemologias do Sul pois eles tecircm em comum a busca

por transformaccedilatildeo social e natildeo apenas uma reforma Natildeo ignoro diferenccedilas

epistemoloacutegicas importantes que possam haver entre essas perspectivas

Contudo entendo que a realidade social eacute complexa o suficiente (e que os

problemas nas aacutereas educacionais satildeo dilemaacuteticos) para que eu verifique que a

observaccedilatildeo a partir de um uacutenico acircngulo pode silenciar ou invisibilizar possiacuteveis

soluccedilotildees Natildeo eacute o caso como jaacute destaquei de resumir inadvertidamente a

complexidade dos autoresas que trago aqui mas mostrar a educadoras e

educadores leitorases desta tese alguns caminhos possiacuteveis

105

Jaacute no iniacutecio do texto Meneses (SANTOS MENESES 2010) ao

citar Santos esclarece os trecircs posicionamentos fundamentais para

compreendermos as ideias dos autores ou seja o Sul existe podemos ir

ateacute laacute e podemos aprender desde laacute e com os de laacute Para isso seria

necessaacuterio problematizarmos a influecircncia monopolizadora do

pensamento europeu tendo em vista as relaccedilotildees entre dominaccedilatildeo

colonial dominaccedilatildeo cientiacutefica e possibilidades de resistecircncias A ideia

central eacute a de que a democratizaccedilatildeo das sociedades passa

necessariamente pela democratizaccedilatildeo do conhecimento

A Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002

2007) se relaciona com a pesquisa realizada pelo autor e que citei

anteriormente ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social Para Novos

Manifestosrdquo que investigou possibilidades de uma globalizaccedilatildeo

alternativa agrave neoliberal e ao capitalismo global em diferentes paiacuteses

(Aacutefrica do Sul Brasil Colocircmbia Iacutendia Moccedilambique e Portugal) Nesse

intento tiveram voz movimentos sociais e Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais (ONGs)

Em termos teoacutericos o autor explica que

enquanto a sociologia das ausecircncias amplia o

campo das experiecircncias sociais jaacute disponiacuteveis a

sociologia das emergecircncias expande o campo de

experiecircncias sociais possiacuteveis As duas

sociologias estatildeo estreitamente associadas visto

que quanto mais experiecircncias estiverem

disponiacuteveis hoje no mundo mais experiecircncias

seratildeo possiacuteveis no futuro Quanto mais ampla for

a realidade criacutevel mais vasto seraacute o campo de

sinais ou pistas em que acreditar e de futuros

possiacuteveis e concretos Quanto maior for a

multiplicidade e a diversidade das experiecircncias

disponiacuteveis e possiacuteveis (conhecimentos e agentes)

maior seraacute a expansatildeo do presente e a contraccedilatildeo

do futuro (SANTOS 2006 p 88)80

80 Mientras que la sociologiacutea de las ausencias expande el campo de las

experiencias sociales ya disponibles la sociologiacutea de las emergencias expande

el campo de las experiencias sociales posibles Las dos sociologiacuteas estaacuten

estrechamente asociadas visto que cuanto maacutes experiencias estuvieren hoy

disponibles en el mundo maacutes experiencias seriacutean posibles en el futuro Cuanto

maacutes amplia fuera la realidad creiacuteble maacutes vasto seriacutea el campo de las sentildeales o

pistas creiacutebles y de los futuros posibles y concretos Cuanto mayor fuese la

multiplicidad y la diversidad de las experiencias disponibles y posibles

106

E em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo de conhecimentos eacute possiacutevel perceber

que interessam diaacutelogos desde a biotecnologia passando pela justiccedila a

agricultura e a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica Nesses termos em

discurso atual81 o autor trata do eminente diaacutelogo (interconhecimentos)

com a educaccedilatildeo Essa vista como negligenciada nos uacuteltimos anos de

modo que tanto juventudes como futuro ficaram comprometidos

Portanto seria necessaacuterio superar a dualidade entre educaccedilatildeo

popular (emancipadora das mentes e das praacuteticas) e educaccedilatildeo formal

(reguladora das mentes e das praacuteticas) pois a educaccedilatildeo formal estaacute

diversificada e democratizada constituindo um campo de luta

importante Para o autor precisamos aprofundar os diaacutelogos e as inter-

relaccedilotildees necessaacuterias para que toda a educaccedilatildeo seja popular e

emancipadora Algo que acredito poder ser desenvolvido em um ensino

politeacutecnico atento ao contexto educacional brasileiro atual E que

corresponde ao que considero como uma posiccedilatildeo criacutetica sobre TS em

processos educacionais Esse posicionamento se refere tanto a minhas

experiecircncias nos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul quanto a

minha consciecircncia social

No quadro 2 logo abaixo apresento um esquema das relaccedilotildees que

Santos e Meneses (2010) estabelecem entre produccedilatildeo de conhecimentos

dominaccedilatildeo e possibilidades de emancipaccedilatildeo social Desse modo penso

a educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo no qual as possibilidades para

diaacutelogos emancipatoacuterios estatildeo em pauta e quando indagaccedilotildees sobre

relaccedilotildees (produccedilotildees e apropriaccedilotildees) entre diferentes conhecimentos satildeo

pertinentes

(conocimientos y agentes) mayor seriacutea la expansioacuten del presente y la

contraccioacuten del futuro (SANTOS 2006 p 88) Traduccedilatildeo livre da autora 81 Foacuterum Social de Educaccedilatildeo Popular (2016) Verificar em

httpwwwforumeducacaopopularorg

107

Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e emancipaccedilatildeo social

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de texto de Santos e Meneses (2010)

Nesse quadro 2 acima localizo portanto o desenvolvimento de

TS como um momento de possibilidades de diaacutelogos horizontais entre

conhecimentos com inter-relaccedilatildeo entre teorias criacutetica a dogmatismos e

sensiacutevel a diferentes experiecircncias interpretaccedilotildees e valores dos sujeitos

envolvidos Algo que tambeacutem procuro relacionar com Freire (2011

1987) que considera os conhecimentos historicamente produzidos e faz

uma defesa de processos educacionais contextualizados e atentos agraves

vivecircncias dos sujeitos Assim como com a perspectiva defendida por

Feenberg de abertura de assuntos teacutecnicos agrave esfera puacuteblica como

verificamos na seguinte fala ldquoO aumento da esfera puacuteblica incluindo a

tecnologia marca uma mudanccedila radical do consenso anterior que

assegurava que os assuntos teacutecnicos deveriam ser decididos por

especialistas teacutecnicos sem interferecircncia leigardquo (FEENBERG 2004

p16)

108

Com o foco de atenccedilatildeo em processos educacionais no Brasil

tento refletir sobre novas (e antigas) questotildees educacionais apresentadas

pelas mudanccedilas soacutecio-histoacutericas contemporacircneas em relaccedilatildeo a

tecnologias Assim a seguir busco aprofundar as discussotildees sobre

tecnologia e TS tendo em vista suas possibilidades e limites

educacionais em contextos regionais latino-americanos

109

CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS

Na primeira parte desta tese meu foco foi em processos

educacionais Abordei a ECT de modo geral e a Educaccedilatildeo CTS como

uma especificidade em relaccedilatildeo agravequela que como um ramo dos ECTS

concentra-se em inter-relaccedilotildees entre perspectivas CTS e processos

educacionais Aleacutem disso destaquei influecircncias de diferentes autoresas

e correntes teoacutericas em tais inter-relaccedilotildees e busquei caracterizar como

considero o sujeito nas anaacutelises propostas

Nesta segunda parte ao delinear o sentido geral sobre tecnologia

que eacute aqui considerado examino pesquisas sobre o caraacuteter social da

tecnologia e posicionamentos de diferentes autoresas em relaccedilatildeo agrave

tecnologia Nesse processo dialogo com algumas perspectivas teoacutericas

(TCT por exemplo) e exponho a minha filiaccedilatildeo Para finalizar realizo

uma reflexatildeo sobre TS que inclui a sua histoacuteria conceitos pesquisas e

suas relaccedilotildees com processos educacionais

21 TECNOLOGIA

Consideremos mesmo que inicialmente que a tecnologia possa

ser algo como uma resposta a necessidades sociais Resposta essa que eacute

produzida em determinada sociedade e sob certas condiccedilotildees A partir

disso podemos compreender que diferentes modos de analisar essa

sociedade podem levar a muacuteltiplos pontos de vista no exame sobre a

tecnologia e podem produzir conhecimentos sobre esse tema com certas

particularidades Nesta tese destaco contribuiccedilotildees da Filosofia da

Educaccedilatildeo e das Ciecircncias Sociais mas eacute possiacutevel considerar a tecnologia

sob diversos olhares

211 Dimensotildees de anaacutelise

A tecnologia possui portanto muacuteltiplas dimensotildees82 que mesmo

que interligadas podem ser examinadas em separado Tais como a

econocircmica a poliacutetica a cientiacutefica e a ideoloacutegica (FIGUEIREDO 1989)

Essa uacuteltima faz referecircncia ao entendimento da tecnologia como algo

neutro que independe de interesses Figueiredo (1989) esclarece que ldquoa

dimensatildeo ideoloacutegica da tecnologia refere-se ao fato de a tecnologia se

82 Outras dimensotildees tambeacutem podem ser destacadas Cupani (2011) por

exemplo apresenta dimensotildees da tecnologia segundo o ponto de vista do

filoacutesofo norte-americano Carl Mitcham

110

apresentar como um processo neutro de domiacutenio e controle da natureza

em benefiacutecio de todosrdquo (p18) 83

Na dimensatildeo econocircmica as relaccedilotildees entre incremento

tecnoloacutegico inovaccedilatildeo e processo de industrializaccedilatildeo satildeo abordadas sob

diferentes teorias de desenvolvimento A anaacutelise com foco na poliacutetica

faz referecircncia agrave esfera de manifestaccedilatildeo de interesses sob determinadas

condiccedilotildees tendo em vista contextos institucionais de disputa por poder

Em relaccedilatildeo agrave ciecircncia Figueiredo (1989) esclarece que a tecnologia tem

uma histoacuteria proacutepria relacionada com a ciecircncia Contudo ciecircncia e

tecnologia apesar de muitas vezes se complementarem natildeo satildeo

substituiacuteveis entre si84

Essas constataccedilotildees natildeo significam a suposiccedilatildeo de

uma ciecircncia neutra contraposta a uma tecnologia

comprometida com interesses Ambas as

atividades satildeo expressatildeo cognitiva -

teoacutericopraacutetica - de interesses sociais e de

possibilidades por eles criadas O importante a

destacar eacute que os conhecimentos cientiacuteficos

produzidos ateacute um determinado momento satildeo

componente fundamental do campo de

possibilidades de avanccedilos tecnoloacutegicos Do

mesmo modo e em sentido inverso o

desenvolvimento tecnoloacutegico pressiona na direccedilatildeo

83 A problematizaccedilatildeo desse entendimento que apresenta como neutro o que eacute

ideoloacutegico eacute importante em processos educacionais que examinam a ideia de

determinismo tecnoloacutegico A seguir na apresentaccedilatildeo da TCT de Feenberg

(2002 2003 2012) essa questatildeo seraacute explorada com mais profundidade 84 A abordagem de Figueiredo (1989) permite o exame da tecnologia sem

prescindir de sua relaccedilatildeo com a ciecircncia mas de modo a considerar aquela como

objeto especiacutefico com suas dimensotildees proacuteprias para anaacutelise Como referi a

autora esclarece que ciecircncia e tecnologia tecircm histoacuterias proacuteprias que se cruzam

poreacutem sem se dissolverem uma na outra Isso permite que questotildees importantes

relativas a elas sejam examinadas conjuntamente ou em separado de acordo

com a anaacutelise pretendida Portanto mesmo com meu foco na tecnologia faccedilo

referecircncia aos termos ciecircncia e tecnologia em separado conjuntamente

(CampT - ciecircncia e tecnologia) utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer

referecircncia agrave tecnologia dentro de minha perspectiva como produccedilatildeo social E

em alguns momentos abordo o termo tecnocientiacuteficordquo (utilizado aqui como um

recurso de linguagem para significar relaccedilotildees entre ciecircncia e tecnologia Natildeo eacute o

caso de eu fazer referecircncia a esse termo como necessariamente relacionado agrave

tecnociecircncia essa eacute examinada adiante)

111

da ampliaccedilatildeo das fronteiras do conhecimento

existente (FIGUEIREDO 1989 p 17)

De modo similar Baumgarten (2002 2006b) enfatiza que nem

toda teacutecnica deriva da ciecircncia sendo que as teacutecnicas podem fornecer agrave

ciecircncia novos objetos de pesquisa assim como expandir os caminhos

para a proacutepria investigaccedilatildeo

Enquanto a ciecircncia constitui-se em enunciados

(leis teorias) permitindo conhecer-se a realidade

e modificaacute-la a teacutecnica promove a transformaccedilatildeo

do real consistindo em operaccedilotildees visando a

satisfazer determinadas necessidades a ciecircncia e a

teacutecnica pressupotildeem portanto um plano uma

concepccedilatildeo um desiacutegnio a ser realizado

(BAUMGARTEN 2002 p 313)

A autora tambeacutem destaca que foi em torno do seacuteculo XVIII que

se passou a utilizar o termo tecnologia com o significado de

melhoramento racional das artes (teacutecnicas) em especial daquelas que se

exerciam na induacutestria mediante seu estudo cientiacutefico e de seus

produtos (BAUMGARTEN 2006b p 291 grifos da autora) Assim a

autora procura situar a tecnologia em relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e

resgata a aproximaccedilatildeo histoacuterica entre ciecircncia e tecnologia

Portanto a tecnologia pode ser examinada em diferentes

contextos (sociocultural econocircmico poliacutetico e educacional por

exemplo) e por sujeitos com propoacutesitos distintos O que corrobora sua

importacircncia na constituiccedilatildeo das sociedades contemporacircneas e seu debate

em processos educacionais E eacute justamente essa dimensatildeo educacional

que eacute explorada nesta tese atraveacutes de uma perspectiva criacutetica de TS

212 Sentido geral

Destaco a perspectiva do filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto

(1909-1987) que assim como os estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-

americanos e Feenberg (2002 2003 2012) considera o caraacuteter

ideoloacutegico da tecnologia Embora sua abordagem seja filosoacutefica o autor

contribui para um olhar socioloacutegico sobre a tecnologia pois sua anaacutelise

tem uma mirada sobre a produccedilatildeo humana como produccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais construccedilatildeo de formas de convivecircncia (FREITAS 2005 2006)

De acordo com Kleba (2008) Aacutelvaro Vieira Pinto faz parte de

um grupo de teoacutericos que procuraram explicar o atraso (grifo do autor)

112

econocircmico e poliacutetico brasileiro atraveacutes de diferentes olhares ldquosejam

cultural-raciais como em Oliveira Viana cultural-poliacuteticas como em

Raymundo Faoro ou na figura do Jeca-Tatu de Monteiro Lobato e

econocircmicas como em Celso Furtado e Caio Prado Juacutenior entre tantos

outrosrdquo (KLEBA 2008 p9) Nesse contexto Pinto (2005) procura

demonstrar a funccedilatildeo ideoloacutegica da tecnologia em relaccedilatildeo ao chamado

subdesenvolvimento85

Ao declarar que ldquotodo objeto incorpora em si uma ideia

originada no pensamento de algueacutem pertencente a uma sociedade

determinada na qual tem interessesrdquo (PINTO 2005 p 323) a

preocupaccedilatildeo do autor eacute com o papel ideoloacutegico da tecnologia no Brasil

Um dos debates que o autor propotildee eacute justamente a problematizaccedilatildeo da

tecnologia em relaccedilatildeo ao subdesenvolvimento principalmente em sua

funcionalidade para manter relaccedilotildees de dominaccedilatildeo do centro sobre a

periferia (FREITAS 2005) ou na terminologia que uso nesta tese do

Norte sobre o Sul

Dentro desse propoacutesito Pinto (2005) analisou o conceito de

tecnologia sob algumas perspectivas dentre as quais aponto quatro

definiccedilotildees No primeiro significado destacado pelo autor ldquoa lsquotecnologiarsquo

tem de ser a teoria a ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica

abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes as habilidades do fazer as

profissotildees e generalizadamente os modos de produzir alguma coisardquo

(PINTO 2005 p 219)

Assim o autor considera seu sentido geneacuterico poreacutem essencial

visto como uma teoria ou uma ciecircncia No segundo significado

apresentado por Pinto (2005) a tecnologia equivale pura e simplesmente

agrave teacutecnica Indiscutivelmente constitui este o sentido mais frequente e

popular da palavra o usado na linguagem corrente quando natildeo se exige

precisatildeo maiorrdquo (p219) Para o autor as duas palavras mostram-se

assim ldquointercambiaacuteveis no discurso habitual coloquial e sem rigorrdquo

(PINTO 2005 p 219)

O terceiro significado aparece ligado ao segundo como sinocircnimo

da teacutecnica poreacutem com certa particularidade

() encontramos o conceito de lsquotecnologiarsquo

entendido como o conjunto de todas as teacutecnicas de

85 O conceito da amanualidade eacute central no pensamento do autor Com ele os

efeitos da passagem do subdesenvolvimento ao desenvolvimento atraveacutes do

trabalho satildeo explicados O que significaria a possibilidade de manusear a

realidade com recursos cada vez mais elaborados (FREITAS 2006)

113

que dispotildee uma determinada sociedade em

qualquer fase histoacuterica de seu desenvolvimento

Em tal caso aplica-se tanto agraves civilizaccedilotildees do

passado quanto as condiccedilotildees vigentes

modernamente em qualquer grupo social (PINTO

2005 p 219)

De acordo com o autor o terceiro significado assume importacircncia

por ser a ele ldquoque se costuma fazer menccedilatildeo quando se procura referir ou

medir o grau de avanccedilo do processo das forccedilas produtivas de uma

sociedaderdquo (PINTO 2005 p220)

Por fim Pinto (2005) apresenta a quarta acepccedilatildeo do termo

tecnologia na qual destaca a ideologia da teacutecnica

Toda tecnologia contendo necessariamente o

sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica

transporta inevitavelmente um conteuacutedo

ideoloacutegico Consiste numa determinada acepccedilatildeo

do significado e do valor das accedilotildees humanas do

modo social de realizarem-se das relaccedilotildees do

trabalhador com o produto ou o ato acabado e

sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em

seu papel de fabricante de um bem ou autor de um

empreendimento e o destino dado agravequilo que cria

A teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um

ato humano necessariamente inserido no contexto

social que a solicita a possibilita e lhe daacute

aplicaccedilatildeo (PINTO 2005 p 320-321)

Tal definiccedilatildeo que destaca a autoria de sujeito(s) e apresenta a

tecnologia em relaccedilatildeo ao local e agraves condiccedilotildees em que ela eacute produzida

pode levar agrave compreensatildeo do caraacuteter social que a tecnologia pode

assumir enquanto realizaccedilatildeo humana Esse caraacuteter segundo Feenberg

natildeo reside na loacutegica do funcionamento interno da tecnologia mas na

relaccedilatildeo dessa loacutegica com um contexto social86 (2002 p 79) Eacute possiacutevel

compreender portanto que a tecnologia tem caraacuteter histoacuterico e coletivo

de modo a incluir interesses poliacuteticos e econocircmicos bem como valores

sociais e morais (ARAUacuteJO 1998 BAUMGARTEN 2008b)

86 The social character of technology lies not in the logic of its inner workings

but in the relation of that logic to a social context (FEENBERG 2002 p 79)

Traduccedilatildeo livre da autora

114

Esse entendimento eacute importante para analisarmos sentidos sobre

tecnologia em processos educacionais que envolvem autoria Nesse

aspecto a quarta definiccedilatildeo de Pinto (2005) pode ser relacionada com

uma educaccedilatildeo problematizadora dialoacutegica e politeacutecnica que possibilite

processos de emancipaccedilatildeo social

As relaccedilotildees de influecircncia muacutetua entre Pinto e Freire natildeo satildeo

novidade Sendo que o fato de Freire (1983) o chamar de mestre ao

desenvolver as ideias de consciecircncia criacutetica e consciecircncia ingecircnua natildeo eacute

surpresa De acordo com Faveri (2014) tais categorias jaacute estatildeo presentes

na obra de Pinto que eacute citado por Freire (1983)

A consciecircncia criacutetica ldquoeacute a representaccedilatildeo das coisas

e dos fatos como se datildeo na existecircncia empiacuterica

Nas suas correlaccedilotildees causais e circunstanciaisrdquo

ldquoA consciecircncia ingecircnua (pelo contraacuterio) se crecirc

superior aos fatos dominando-os de fora e por

isso se julga livre para entendecirc-los conforme

melhor lhe agradarrdquo (FREIRE 1983 p 105)

Para aleacutem dessas categorias Faveri (2014) esclarece que tanto

Pinto quanto Freire pensam a educaccedilatildeo como ato poliacutetico Para os dois

autores na educaccedilatildeo eacute importante definir claramente que sujeito se quer

formar e para viver em qual contexto soacutecio-econocircmico-cultural se

pretende formaacute-lo (FAVERI 2014)

A partir do conhecimento de que Pinto (2005) eacute leitor de Marx

considero a seguinte passagem como relacionada com uma perspectiva

politeacutecnica

Deste modo a teacutecnica aparentemente mais

grosseira ou confinante conduz pela apreensatildeo do

seu significado teoacuterico ou epistemoloacutegico agrave

aquisiccedilatildeo do universal representado pelo igual

valor existencial do trabalho de cada homem Seraacute

entatildeo o momento em que o teacutecnico natildeo se

identificaraacute mais com a teacutecnica particular de sua

profissatildeo ateacute agora causa de limitaccedilatildeo existencial

mas teraacute negado a identificaccedilatildeo restritiva para

alcanccedilar a identificaccedilatildeo universal com a teacutecnica

ou seja com a totalidade da capacidade de atuaccedilatildeo

primaacuteria livre Galgando a compreensatildeo unitaacuteria

da teacutecnica na plena universalidade em funccedilatildeo de

novas condiccedilotildees sociais em que exercer passaraacute a

dominar a que executa e todas as demais sabendo

115

o que significa quanto vale e quais as finalidades

dela em vez de ser como agora dominado por

ela a ponto de receber do trabalho particular

profissional sua qualificaccedilatildeo social enquanto ser

humano (PINTO 2005 p 223)

Desse modo considero que o autor tambeacutem percebe assim como

Marx o domiacutenio intelectual da teacutecnica como princiacutepio de libertaccedilatildeo do

trabalhador de emancipaccedilatildeo do sujeito87 E essa uacuteltima natildeo estaacute

descolada dos processos de dominaccedilatildeo do Norte sobre o Sul

De acordo com Freitas (2005) a quarta definiccedilatildeo sobre a teacutecnica

que destaca sua ideologia mostra que Pinto (2005) via os processos de

dominaccedilatildeo como a disseminaccedilatildeo a partir do centro (Norte) de um dos

significados da teacutecnica como universal ldquoreservando ao mundo da

periferia a condiccedilatildeo de lsquopaciente receptorrsquo das inovaccedilotildees teacutecnicas

quando na verdade jaacute se pronunciava uma lsquofase histoacutericarsquo na qual era

possiacutevel atuar como lsquoagente propulsorrsquo do proacuteprio desenvolvimentordquo

(FREITAS 2005 p 4)

No esquema que apresentei no quadro 2 faccedilo uma leitura de

Santos e Meneses (2010) justamente nesse sentido Qual seja que

processos de dominaccedilatildeo natildeo ocorrem apenas por via econocircmica mas

tambeacutem atraveacutes de formas de conhecimentos (epistemologias) Assim

nesses processos de dominaccedilatildeo os conhecimentos hegemocircnicos do

Norte seriam hierarquicamente superiores aos conhecimentos do Sul

que como ldquopaciente receptorrdquo natildeo poderia divergir da ordem dominante

a custo de ser considerado como irracional

Freitas (2005 2006) mostra que Pinto (2005) tambeacutem vai contra

tal propoacutesito ao rejeitar que as teacutecnicas mais elaboradas fossem

disseminadas a partir da generosidade de seus usuaacuterios ldquoA tecnologia jaacute

pertence aos estratos mais simples da sociedade Esses estratos natildeo

podem ganhar na condiccedilatildeo de daacutediva aquilo que jaacute eacute constitutivo do

seu proacuteprio ser socialrdquo (PINTO 2005 p 20-21) O que retoma sua

preocupaccedilatildeo com a emancipaccedilatildeo dos sujeitos e a relaccedilatildeo dessa com o

domiacutenio dos fundamentos da tecnologia E que permite identificar uma

87 Freitas (2006) destaca que das histoacuterias de leitura de Pinto em relaccedilatildeo a

Marx surgem relaccedilotildees entre educaccedilatildeo emancipaccedilatildeo e tecnologia Pois segundo

o autor Pinto via que as juventudes por sua importacircncia deveriam ter

condiccedilotildees de operar tecnologias cada vez mais elaboradas Sendo que quanto

mais elaboradas elas fossem mais seriam disseminadas e menos estariam

vinculadas a mecanismos de acumulaccedilatildeo de riqueza individual

116

relaccedilatildeo com a busca por reconhecimento e diaacutelogos entre diferentes

conhecimentos como constitutiva de tal emancipaccedilatildeo

Nesse aspecto como bem destaca Figueiredo (1989) ldquoa

tecnologia circunscreve-se assim ao acircmbito do fazer humano no

campo da accedilatildeo social Um campo de saberes em disputa de exerciacutecios

de poder e de lutas por hegemoniardquo (p01) Portanto a partir do

entendimento do caraacuteter ideoloacutegico da tecnologia destaco a TCT

Entendo que essa auxilia na compreensatildeo da natureza dos interesses

envolvidos na temaacutetica e pode colaborar atraveacutes de suas categorizaccedilotildees

com a anaacutelise dos sentidos sobre tecnologias que circulam nos CTIEM

213 Teoria Criacutetica da Tecnologia

A TCT de Feenberg recebe a influecircncia entre outros

elementos88 da Teoria Criacutetica frankfurtiana Como destaquei no capiacutetulo

anterior a Teoria Criacutetica se refere ao conjunto de trabalhos

(heterogecircneos) de pensadores com interesses diversos como os jaacute

mencionados Horkheimer e Adorno aleacutem de Herbert Marcuse (1898-

1979) Walter Benjamin (1892-1940) Erich Fromm (1900-1980) e

Juumlrgen Habermas (1929)

Sem desconsiderar a densidade dos trabalhos produzidos naquele

contexto destaco abaixo um excerto do texto ldquoFilosofia e Teoria

Criacuteticardquo Nele Horkheimer (1980) comenta seu ensaio intitulado

ldquoTeoria Tradicional e Teoria Criacuteticardquo escrito na deacutecada de 1930 e que eacute

considerado como sendo a substacircncia teoacuterica de uma tentativa original

de unir teoria (pensamento filosoacutefico) e praacutetica (tensotildees do presente)

(ASSOUN 1991)

Horkheimer (1980) busca esclarecer que

Em meu ensaio Teoria Tradicional e Teoria

Criacuteticardquo apontei a diferenccedila entre dois meacutetodos

gnosioloacutegicos Um foi fundamentado no Discours

de la Meacutethode cujo jubileu de publicaccedilatildeo se

88 Outras influecircncias de Feenberg (1996a) para examinar a tecnologia podem ser

vistas em seus debates com Marcuse (de quem foi aluno) e Habermas

(CORREA 2010) Esses natildeo satildeo explorados nesta tese mas podem ser

encontrados em seu artigo do ano de 1996 ldquoMarcuse ou Habermas duas criacuteticas

da tecnologiardquo no qual o autor critica o pessimismo do primeiro em relaccedilatildeo agrave

ordem poliacutetica e tambeacutem o posicionamento do segundo em relaccedilatildeo agrave

exterioridade da ciecircncia e da tecnologia do mundo da vida

117

comemorou neste ano e o outro na criacutetica da

economia poliacutetica A teoria em sentido tradicional

cartesiano como a que se encontra em vigor em

todas as ciecircncias especializadas organiza a

experiecircncia agrave base da formulaccedilatildeo de questotildees que

surgem em conexatildeo com a reproduccedilatildeo da vida

dentro da sociedade atual Os sistemas das

disciplinas contecircm os conhecimentos de tal forma

que sob circunstacircncias dadas satildeo aplicaacuteveis ao

maior nuacutemero possiacutevel de ocasiotildees A gecircnese

social dos problemas as situaccedilotildees reais nas quais

a ciecircncia eacute empregada e os fins perseguidos em

sua aplicaccedilatildeo satildeo por ela mesma consideradas

exteriores ndash A teoria criacutetica da sociedade ao

contraacuterio tem como objeto os homens como

produtores de todas as suas formas histoacutericas de

vida As situaccedilotildees efetivas nas quais a ciecircncia se

baseia natildeo eacute para ela uma coisa dada cujo uacutenico

problema estaria na mera constataccedilatildeo e previsatildeo

segundo as leis da probabilidade O que eacute dado

natildeo depende apenas da natureza mas tambeacutem do

poder do homem sobre ele Os objetos e a espeacutecie

de percepccedilatildeo a formulaccedilatildeo de questotildees e o

sentido da resposta datildeo provas da atividade

humana e do grau de seu poder (HORKHEIMER

1980 p 155)

No texto Horkheimer (1980) adota uma postura criacutetica ao

positivismo e considera que () a teoria tradicional natildeo se ocupa da

gecircnese social dos problemas das situaccedilotildees reais nas quais a ciecircncia eacute

usada e dos escopos para os quais eacute usada (p 20) Em contraposiccedilatildeo o

autor defende que uma teoria criacutetica seja autocriacutetica e esclarecida que

visualize as accedilotildees de dominaccedilatildeo social haja vista o impedimento da

reproduccedilatildeo constante dessas mesmas

Com isso o autor critica o caraacuteter cientificista e reducionistas das

Ciecircncias Sociais que se ocupariam primordialmente em coletar e

classificar dados de modo a ignorar intervenccedilotildees que constantemente

ocorreriam no contexto social Esse posicionamento criacutetico segundo

Assoun (1991) se refere a sua proposta de reorganizaccedilatildeo da sociedade de modo a superar a razatildeo instrumental Pois essa visaria agrave dominaccedilatildeo

da natureza para fins lucrativos colocaria ciecircncia e tecnologia a serviccedilo

do capital e agiria em funccedilatildeo de interesses de classes e natildeo de interesses

da sociedade como um todo

118

A partir disso e sem desconsiderar outras influecircncias89 Feenberg

apresenta sua anaacutelise acerca da tecnologia a TCT dentro de um

prolongamento criacutetico na Escola de Frankfurt O quadro 3 abaixo

resume uma conferecircncia ldquoO que eacute Filosofia da Tecnologia rdquo (What is

Philosophy of Technology) pronunciada no Japatildeo e ilustra sua teoria

de modo didaacutetico e sinteacutetico90

Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia

A Tecnologia eacute Autocircnoma Humanamente

Controlada

Neutra

(separaccedilatildeo completa

entre meios e fins)

Determinismo

(por exemplo a teoria

da modernizaccedilatildeo)

Instrumentalismo

(feacute liberal no progresso)

Carregada de Valores

(meios formam um

modo de vida que

inclui fins)

Substantivismo

(meios e fins ligados

em sistemas)

Teoria Criacutetica

(escolha de sistemas de

meios-fins alternativos)

Fonte Feenberg (2003 p 06)

O proacuteprio autor explica como o quadro 3 pode ser interpretado

O eixo vertical oferece duas alternativas ou a

tecnologia eacute neutra de valor () ou estaacute carregada

de valor () A escolha natildeo eacute oacutebvia De uma

perspectiva um dispositivo teacutecnico eacute

simplesmente uma concatenaccedilatildeo de mecanismos

causais Natildeo haacute qualquer quantidade de estudos

cientiacuteficos que possa nela encontrar algum

89 Em sua paacutegina na internet Feenberg (1996b) resume suas influecircncias e sua

abordagem para o estudo filosoacutefico da tecnologia Algo que traduzo livremente

como construtivismo hermenecircutico historicismo democracia teacutecnica e meta-

teoria da tecnologia Verificar detalhes em

lthttpwwwsfuca~andrewfMethod1htmgt 90 Essas questotildees jaacute vinham sendo desenvolvidas nas obras Questioning

technology do ano de 2001 e Transforming technology a Critical Theory

revisited do ano de 2002 (Tambeacutem utilizo aqui uma traduccedilatildeo da Universidade

Nacional de Quilmes Argentina do ano de 2012) e esclarecem a linha de

argumentaccedilatildeo fundamentada por Feenberg (2003) no que se refere a temas

centrais para as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade

119

propoacutesito Mas para outros pontos de vista isso

natildeo chega ao ponto essencial As tecnologias no

eixo horizontal estatildeo consideradas como

autocircnomas ou humanamente controlaacuteveis Dizer

que a tecnologia eacute autocircnoma natildeo quer dizer que

ela se faz a si mesma Os seres humanos ainda

estatildeo envolvidos mas a questatildeo eacute eles tecircm de

fato a liberdade para decidir como a tecnologia

seraacute desenvolvida O proacuteximo passo depende da

evoluccedilatildeo do sistema teacutecnico ateacute noacutes Se a resposta

eacute natildeo entatildeo se pode dizer justificadamente que

a tecnologia eacute autocircnoma no sentido de que a

invenccedilatildeo e o desenvolvimento tecircm suas proacuteprias

leis imanentes as quais os seres humanos

simplesmente seguem ao interagirem nesse

domiacutenio teacutecnico Por outro lado a tecnologia pode

ser humanamente controlaacutevel enquanto se pode

determinar o proacuteximo passo de evoluccedilatildeo

conforme nossas intenccedilotildees (FEENBERG 2003 p

06)

Nesse quadro eacute possiacutevel verificar (i) se a tecnologia seria neutra

ou carregada de valores e (ii) se a tecnologia poderia ter seus efeitos

controlados pelos sujeitos ou atuaria de modo autocircnomo A partir das

combinaccedilotildees de (i) e (ii) eacute possiacutevel estabelecer quatro visotildees segundo as

quais se podem examinar as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade

determinismo instrumentalismo substantivismo e teoria criacutetica

A perspectiva do determinismo que jaacute foi aqui examinada e eacute um

sentido central para a pesquisa desta tese aceita a neutralidade e a

combina com a percepccedilatildeo de autonomia Desde esse ponto de vista a

tecnologia seria valorativamente neutra e natildeo seria controlada pelo

homem sendo ela que moldaria a sociedade

Os deterministas acreditam que a tecnologia natildeo eacute

controlada humanamente mas que pelo contraacuterio

controla os humanos isto eacute molda a sociedade agraves

exigecircncias de eficiecircncia e progresso Os

deterministas tecnoloacutegicos usualmente

argumentam que a tecnologia emprega o avanccedilo

do conhecimento do mundo natural para servir agraves

caracteriacutesticas universais de natureza humana tais

como as necessidades e faculdades baacutesicas ()

As tecnologias como o automoacutevel estendem

nossos peacutes enquanto os computadores estendem

120

nossa inteligecircncia A tecnologia enraiacuteza-se por um

lado no conhecimento da natureza e por outro nas

caracteriacutesticas geneacutericas da espeacutecie humana Natildeo

depende de noacutes adaptarmos a tecnologia a nossos

caprichos senatildeo pelo contraacuterio noacutes devemos nos

adaptar agrave tecnologia como expressatildeo mais

significativa de nossa humanidade (FEENBERG

2003 p 07)

Feenberg (1991) desenvolve duas teses-base sobre o

determinismo (i) a tese do progresso linear na qual o progresso teacutecnico

parece seguir um curso linear e fixo de fases menos avanccediladas para as

mais avanccediladas necessariamente e (ii) a tese da determinaccedilatildeo pela

base segundo a qual satildeo as instituiccedilotildees que precisam se adaptar aos

imperativos da base tecnoloacutegica Nas palavras do autor ldquoo

determinismo eacute somente uma estoacuteria feita para mostrar porque as coisas

tecircm que ser como satildeo Na realidade haacute sempre escolhas e alternativasrdquo

(MARICONDA MOLINA 2009 p 168)

A teoria instrumentalista combina as percepccedilotildees de neutralidade e

de controle humano da tecnologia Esta eacute a visatildeo-padratildeo moderna

segundo a qual a tecnologia eacute simplesmente uma ferramenta ou

instrumento da espeacutecie humana com os quais noacutes satisfazemos nossas

necessidades (FEENBERG 2003 p 06) O instrumentalismo oferece a

visatildeo mais popular de tecnologia muitas vezes relacionada com

perspectivas tecnoacutefilas

Para o autor o instrumentalismo eacute baseado na ideia do senso

comum de que as tecnologias satildeo ferramentas prontas para servir os

propoacutesitos de seus usuaacuterios A tecnologia eacute considerada neutra sem

conteuacutedo valorativo proacuteprio91 (FEENBERG 2002 p 05) Contudo

para Feenberg (2003) a tecnologia natildeo eacute um instrumento neutro e os

meios e os fins estatildeo conectados O autor destaca que se eacute possiacutevel

algum tipo de controle humano da tecnologia esse natildeo seraacute um controle

instrumental

O substantivismo combina as percepccedilotildees de autonomia e da

tecnologia condicionada por valores Segundo Feenberg (2003) esse

termo foi adotado ldquopara descrever uma posiccedilatildeo que atribui valores

substantivos agrave tecnologia em contraste com as visotildees como a do

91 It is based on the commonsense idea that technologies are tools standing

ready to serve the purposes of their users Technology is deemed neutral

without valuative content of its own (FEEMBERG 2002 p 05) Traduccedilatildeo livre

da autora

121

instrumentalismo e a do determinismo nos quais a tecnologia eacute vista

como neutra em si mesma (p 07)

O autor explica que por valores substantivos entende

um compromisso com uma concepccedilatildeo especiacutefica

de uma vida boa Se a tecnologia incorpora um

valor substantivo natildeo eacute meramente instrumental e

natildeo pode ser usado a diferentes propoacutesitos de

indiviacuteduos ou sociedades com ideacuteias diferentes do

bem O uso da tecnologia para esse ou aquele

propoacutesito seria uma escolha de valor especiacutefica

em si mesma e natildeo soacute uma forma mais eficiente

de compreender um valor preacute-existente de algum

tipo (FEENBERG 2003 p 07)

Poreacutem a autonomia preservada pelo substantivismo caracterizaria

uma tecnologia ameaccediladora e maleacutevola A tecnologia uma vez

libertada fica cada vez mais imperialista tomando domiacutenios sucessivos

da vida social (FEENBERG 2003 p 08) Nessa perspectiva identifico

uma visatildeo tecnofoacutebica como jaacute referi anteriormente e destaco a posiccedilatildeo

do pensador francecircs Jacques Ellul (1912-1994) para quem o sistema

tecnoloacutegico promoveria uma instrumentalizaccedilatildeo total dos sujeitos e se

apresentaria como um destino do qual natildeo haveria maneira de escapar

(ELLUL 1964 CORREcircA 2010)

Feenberg (2002) explica que existiria espaccedilo para as decisotildees dos

sujeitos mas o determinismo e o substantivismo natildeo o considerariam E

ldquofazem parecer que a tecnologia tem sua proacutepria loacutegica de

desenvolvimento mas noacutes descobrimos que podemos agir e mudar a

tecnologia portanto essas teorias natildeo podem ser verdadeirasrdquo

(MARICONDA MOLINA 2009 p 168) O substantivismo apresenta

em suas concepccedilotildees poucas ou nenhuma possibilidades de controle e

de transformaccedilatildeo de uma estrutura de dominaccedilatildeo autocircnoma da

tecnologia posiccedilatildeo da qual Feenberg (2002 2003 2004 2012) se

distancia ao caracterizar a TCT

Na TCT os valores incorporados agrave tecnologia satildeo socialmente

especiacuteficos natildeo sendo representados adequadamente por abstraccedilotildees

como a eficiecircncia ou o controle Conforme Feenberg (2003) a tecnologia natildeo moldaria (no sentido em que as molduras satildeo limites e

contecircm o que estaacute por dentro mas natildeo determinam os valores

percebidos dentro delas) apenas um modo de vida Sendo que considera

a possibilidade de diferentes estilos de vida distintos da mediaccedilatildeo

122

tecnoloacutegica Algo similar ao que Dagnino Silva e Padovanni (2011)

defendem com sua abordagem sobre AST como apontei na p 71

A TCT assim como o instrumentalismo considera a

possibilidade de controle humano da tecnologia No entanto ao

contraacuterio desse aquela percebe a tecnologia como carregada de valores

e natildeo como neutra Em teoria criacutetica a tecnologia natildeo eacute vista como

ferramentas mas como estruturas para estilos de vida As escolhas estatildeo

abertas para noacutes e situadas num niacutevel mais alto do que o instrumental

(FEENBERG 2003 p11)

A tecnologia carregaria portanto os valores resultantes de sua

vinculaccedilatildeo com o contexto capitalista natildeo sendo um mero instrumento

neutro Os valores e interesses dos sujeitos no caso as classes

dominantes influenciariam no desenho nas decisotildees e nos

procedimentos Desse modo a tecnologia natildeo constituiria uma entidade

autocircnoma ldquoela natildeo eacute um destino mas sim um cenaacuterio de lutardquo92

(FEENBERG 2002 p 15)

Com isso Feenberg (2002 2012) defende uma posiccedilatildeo natildeo

determinista cujas teses baacutesicas seriam que (i) o desenvolvimento

tecnoloacutegico estaacute sobre determinado tanto por criteacuterios teacutecnicos quanto

sociais de progresso e podem por conseguinte bifurcar-se em diversas

direccedilotildees conforme a hegemonia que prevalecer e que (ii) enquanto as

instituiccedilotildees sociais se adaptam ao desenvolvimento tecnoloacutegico o

processo de adaptaccedilatildeo eacute reciacuteproco - a tecnologia muda em resposta agraves

condiccedilotildees em que se encontra tanto quanto ela as influencia

Essa posiccedilatildeo demonstra o caraacuteter ambivalente93 da tecnologia

presente na possibilidade de a tecnologia ser instrumentalizada para

diferentes sistemas (CUPANI 2011)

A teoria da instrumentalizaccedilatildeo defende que a

tecnologia deve ser analisada em dois niacuteveis o

niacutevel de nossa relaccedilatildeo funcional original com a

realidade e o niacutevel de propoacutesito e implementaccedilatildeo

No primeiro niacutevel procuramos achar recursos que

podem ser mobilizados em dispositivos e sistemas

para descontextualizar os objetos da experiecircncia e

92 On this view technology is not a destiny but a scene of strugglerdquo

(FEENBERG 2002 p 15) Traduccedilatildeo livre da autora 93 Essa ambivalecircncia da tecnologia significa que natildeo haveria uma uacutenica relaccedilatildeo

entre avanccedilo tecnoloacutegico e distribuiccedilatildeo social de poder pois a tecnologia estaria

disponiacutevel a desenvolvimentos alternativos

123

reduzi-los a suas propriedades normais Isso

envolve um processo () em que os objetos satildeo

retirados de seus contextos originais e postos agrave

anaacutelise e manipulaccedilatildeo enquanto os sujeitos se

colocam para controle agrave distacircncia () No

segundo niacutevel introduzimos propoacutesitos que

podem ser integrados a outros dispositivos e

sistemas jaacute existentes tais como princiacutepios eacuteticos

e esteacuteticos O niacutevel primaacuterio simplifica objetos

para incorporaccedilatildeo a um dispositivo enquanto o

segundo niacutevel integra os objetos simplificados a

um ambiente natural e social (FEENBERG 2004

p 6-7)

Como argumenta Feenberg (2002 2004 2005) aleacutem de um

produto cultural eacute possiacutevel perceber na tecnologia uma dupla

instrumentalizaccedilatildeo que sugere a possibilidade de que ela venha a ter

rumos diferentes A tecnologia constitui basicamente uma atitude ou

orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave realidade (instrumentalizaccedilatildeo primaacuteria) No

entanto ela eacute tambeacutem um modo de accedilatildeo ou realizaccedilatildeo no mundo social

A essecircncia da tecnologia reside na uniatildeo (dialeacutetica) entre ambos os

niacuteveis de instrumentalizaccedilatildeo

Eacute importante destacar que Feenberg (1999) vecirc a tecnologia como

um poder que atingiria diferentes domiacutenios nas sociedades modernas

Para ele osas especialistas em sistemas teacutecnicos teriam um grande

controle sobre o desenvolvimento urbano logiacutestico habitacional e em

escolhas de inovaccedilotildees Desse modo a tecnologia ampliaria seu poder

sobre o quotidiano dos sujeitos ao mesmo tempo em que a democracia

poliacutetica perderia poder para aquelesas especialistas sendo que essesas

uacuteltimosas teriam mais poder sobre decisotildees essenciais para a vida

quotidiana do que as instituiccedilotildees poliacuteticas Tal situaccedilatildeo levaria agrave

chamada tecnocracia Situaccedilatildeo na qual os debates puacuteblicos satildeo

substituiacutedos por decisotildees de especialistas teacutecnicos Daiacute a necessidade de

discutir possibilidades de se democratizar a proacutepria tecnologia

(FEENBERG 1999)

Algo tambeacutem presente em Thomas (2009) quando o autor afirma

que seria ldquoingecircnuo pensar que semelhante niacutevel de decisotildees possa ficar

exclusivamente em matildeo de lsquoperitosrsquo assim como conceber que a

participaccedilatildeo natildeo informada pode melhorar as decisotildeesrdquo (p 76) Esse

autor assim como Feenberg (1999) procura demonstrar as fragilidades

de posicionamentos que natildeo consideram o desenvolvimento tecnoloacutegico

como um tema central para debates sobre democracia

124

Minha opccedilatildeo teoacuterica pela TCT de Feenberg ao contraacuterio de

correntes teoacutericas bastante populares nos ECTS como o construtivismo

e a TAR por exemplo vai ao encontro do que o autor esclarece em

termos da anaacutelise da questatildeo do determinismo tecnoloacutegico

A sociologia da tecnologia sofria uma revoluccedilatildeo

de si mesma nos anos 80 com a emergecircncia das

polecircmicas entre a escola do construtivismo social

e a teoria de redes dos atores tanto na Inglaterra

como na Franccedila Tinha conhecimento desses

debates e com eles muito aprendi mas estava

insatisfeito com a recusa das duas escolas de

pensamento engajarem-se com os temas mais

amplos da modernidade levantados pela Escola de

Frankfurt No entanto a nova sociologia da

tecnologia natildeo oferecia uma metodologia frutiacutefera

e argumentos fortes contra o determinismo

tecnoloacutegico que poderiam ser empregados para

apoiar a ideia de mudanccedila democraacutetica na esfera

teacutecnica Minha abordagem eacute informada pelos

estudos tecnoloacutegicos contemporacircneos e desse

modo alcanccedila um niacutevel de concreticidade ()

(FEENBERG 2004 p 03)

Aleacutem dessa posiccedilatildeo assumida em relaccedilatildeo a questotildees importantes

dos ECTS o pensamento de Feenberg tambeacutem interessa pelo fato de que

o autor tem uma preocupaccedilatildeo em articular sua TCT com a questatildeo

educacional94 Conforme destaca Silva (2005) Feenberg se auto intitula

como um dos fundadores da educaccedilatildeo online Para Feenberg (2001) as

teorias instrumentais e substantivistas podem ser verificadas nos

processos educacionais No instrumentalismo (otimista) se buscariam

possibilidades de reduzir custos com processos de formaccedilatildeo humana

tendo em vista esforccedilos para incrementar a produccedilatildeo e aumentar os

lucros enquanto no substantivismo (pessimista) as possibilidades de

articulaccedilatildeo entre tecnologia e educaccedilatildeo natildeo seriam visualizadas pois a

tecnologia eliminaria elementos pedagoacutegicos fundamentais como por

exemplo o diaacutelogo

94 Silva (2005) enfatiza que Feenberg desenvolve projetos de pesquisa em que

articula sua TCT com a educaccedilatildeo De modo que o proacuteprio Feenberg jaacute haveria

feito referecircncia agrave captaccedilatildeo de US$632000 que conseguiu para o

desenvolvimento de um novo software para foacuteruns de discussatildeo online

125

Nesse quadro dualista o autor esclarece que a TCT poderia

contribuir para uma terceira perspectiva de relaccedilotildees entre tecnologia e

educaccedilatildeo na medida em que a TCT apresenta a tecnologia natildeo como um

destino mas como possibilidades para os sujeitos Com isso seria

necessaacuterio romper com o determinismo tecnoloacutegico e visualizar as

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo como um destino mas como oportunidades

para aperfeiccediloar os processos educacionais (FEENBERG 2001)

Assim Feenberg (2003 2004) aponta para uma modificaccedilatildeo

cultural proveniente de avanccedilos democraacuteticos O autor afirma que eacute

possiacutevel agrave humanidade escolher o mundo no qual deseja viver A TCT

possibilita pensar em tais escolhas em maneiras de submetecirc-las a

controles mais democraacuteticos de modo que seja possiacutevel a intervenccedilatildeo

democraacutetica na tecnologia Para o autor

A teoria criacutetica da tecnologia sustenta que os seres

humanos natildeo precisam esperar um Deus para

mudar a sua sociedade tecnoloacutegica num lugar

melhor para viver A teoria criacutetica reconhece as

consequumlecircncias catastroacuteficas do desenvolvimento

tecnoloacutegico ressaltadas pelo substantivismo mas

ainda vecirc uma promessa de maior liberdade na

tecnologia O problema natildeo estaacute na tecnologia

como tal senatildeo em nosso fracasso ateacute agora em

inventar instituiccedilotildees apropriadas para exercer o

controle humano dela (FEENBERG 2003 p 09)

Na TCT examinam-se exemplos95 nos quais haacute uma tendecircncia de

maior participaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos com os processos de

mudanccedila tecnoloacutegica nas decisotildees sobre o desenho e o desenvolvimento

da tecnologia A esfera puacuteblica parece estar se abrindo lentamente para

abranger os assuntos teacutecnicos que eram vistos antigamente como esfera

exclusiva dos peritos (FEENBERG 2003 p 11) Compreendo que o

autor busca entre outros aspectos refletir sobre possibilidades de

democratizar usos de tecnologias na sociedade

Esses posicionamentos de Feenberg sobre a tecnologia

interessam-me especialmente para buscar compreensotildees acerca de

sentidos sobre tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM

Entendo que o desenvolvimento de tecnologia assim como os contextos

95 Cupani (2011) e Silva (2005) apresentam os exemplos da aacuterea de

telecomunicaccedilatildeo e da medicina explorados por Feenberg para mostrar como os

sujeitos afetam o desenvolvimento tecnoloacutegico

126

educacionais96 ocorre historicamente e encontra-se sujeitado em

alguma medida a transformaccedilotildees que partem do acircmbito da accedilatildeo

humana Por isso a importacircncia do foco nas possibilidades de

intervenccedilatildeo social (transformaccedilatildeo de sentidos) a partir da accedilatildeo dos

sujeitos (educaccedilatildeo emancipadora)

Penso que esse posicionamento pode ser relacionado com Freire

(1987) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995) pois para eles a tecnologia

seria uma expressatildeo do processo de engajamento dos sujeitos no mundo

e estaria relacionada com a transformaccedilatildeo Percebo que tanto para Freire

(1987) quanto para Feenberg (2003) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995)

a tecnologia teria uma dimensatildeo poliacutetica pois como praacutetica humana natildeo

seria neutra e acompanharia a visatildeo de mundo da sociedade na qual seria

produzida e utilizada

Portanto Feenberg (2003 2004) destaca a importacircncia de os

sujeitos compreenderem que a mediaccedilatildeo do processo poliacutetico que atua

em interesses proacuteprios da sociedade como tal pode englobar tambeacutem as

questotildees tecnoloacutegicas Para o autor portanto a esperanccedila97 nas

potencialidades democraacuteticas da tecnologia e na abertura da esfera

puacuteblica aos assuntos teacutecnicos precisa ser mantida Vejo que essa

abertura tem um caminho em processos educacionais que mobilizem

para autoria tendo em vista uma perspectiva criacutetica de TS Tema que

apresento a seguir

96 Como jaacute referi o tema da educaccedilatildeo jaacute foi explorado em alguma medida por

Feenberg Conforme Mariconda e Molina (2009) e Silva (2005) o autor jaacute nos

anos 1980 nos Estados Unidos participou do projeto do primeiro programa de

educaccedilatildeo online Fato que o ajudou a definir limites e possibilidades desse

formato educacional como espaccedilo para interaccedilatildeo pedagoacutegica por meio da

escrita 97 Essa esperanccedila do autor se relaciona ao fato de que a hegemonia do chamado

coacutedigo teacutecnico do capitalismo natildeo pode impedir que haja iniciativas contraacuterias

Conforme jaacute destaquei na introduccedilatildeo desta tese Feenberg (2002) afirma que a

sociedade pode ser comparada a um jogo e que desde esse ponto de vista as

estrateacutegias de domiacutenio que preservam a autonomia operacional satildeo contestadas

por taacuteticas dos dominados que aproveitam suas margens de manobra Assim

como a autonomia operacional serve como a base estrutural da dominaccedilatildeo um

diferente tipo de autonomia eacute conquistado pelos dominados uma autonomia que

opera com o jogo no sistema para redefinir e modificar suas formas e

propoacutesitos

127

22 TECNOLOGIAS SOCIAIS

Esta parte da tese traz alguns elementos que discuti na pesquisa

para o mestrado ocasiatildeo na qual fiz um levantamento sobre TS

desenvolvidas no Brasil na atualidade conforme informei na introduccedilatildeo

Esses dados encaminham uma discussatildeo teoacuterica e um levantamento

bibliograacutefico que podem auxiliar na investigaccedilatildeo de possibilidades e

limites de transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia em

ambientes educacionais tendo em vista uma perspectiva criacutetica sobre TS

Para isso introduzo a temaacutetica das TS pela origem do debate

221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees

Origens

O termo ldquoTecnologia Socialrdquo foi desenvolvido no Brasil no iniacutecio

dos anos 2000 Nesse contexto o desenvolvimento de TS tecircm suas

origens nos chamados novos movimentos sociais no movimento dos

ECTS nas metodologias de pesquisa participativas na crise da visatildeo

tradicional das poliacuteticas de ciecircncia e tecnologia nos meacutetodos de trabalho

e abordagem socioteacutecnica nas chamadas TA e nos princiacutepios freireanos

da educaccedilatildeo popular entre outros (ITS 2009 SANTOS 2008)

Em relaccedilatildeo a essa uacuteltima a uacutenica origem que exploro aqui

destaco que os princiacutepios de educaccedilatildeo popular freireanos satildeo

constituintes importantes da origem do desenvolvimento de TS no

Brasil Lembremos de modo breve e simplificado que jaacute nos anos

1960 no interior do estado do Rio Grande do Norte (no municiacutepio de

Angicos) Paulo Freire promoveu a alfabetizaccedilatildeo de sujeitos a partir da

discussatildeo de questotildees diaacuterias baseadas nas experiecircncias de vida dessas

pessoas Ao partir da praacutetica de que faria sentido uma agricultora

aprender as palavras terra e colheita por exemplo foram alfabetizados

300 sujeitos no que ficou conhecido como 40 horas de Angicos

Ao verificar que osas trabalhadoresas rurais estavam sem

alfabetizaccedilatildeo ou acesso agrave escola ele utilizava as chamadas palavras

geradoras que emergiam da realidade dos sujeitos de modo que oa

educandoa passasse a construir novas palavras Como jaacute destaquei a

ideia dos temas geradores envolve uma construccedilatildeo coletiva e com a

participaccedilatildeo doa educandoa e doa educadora como sujeitos do

processo de aprendizagem Por isso a influecircncia nas TS na qual os

sujeitos deveriam participar da construccedilatildeo e resoluccedilatildeo de seus

problemas socioteacutecnicos A perspectiva freireana eacute dinacircmica contiacutenua e

128

criacutetica e assim como as TS prevecirc o resgate da cultura e da cidadania de

sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade98

Contraposiccedilotildees

Inicialmente as TS foram pensadas como uma contraposiccedilatildeo agrave

chamada Tecnologia Convencional (TC) De acordo com Dagnino

(2004) a TC se configuraria como a tecnologia predominante na

atualidade Seria caracterizada por ser utilizada por empresas privadas

por poupar matildeo-de-obra e usar intensivamente insumos sinteacuteticos aleacutem

de ser ambientalmente insustentaacutevel Conforme Baumgarten (2006c) e

Rutkowski (2005) a TC teria seu cerne em demandas empresariais e das

camadas ricas ou influentes da populaccedilatildeo A TC atuaria na manutenccedilatildeo

e promoccedilatildeo dos interesses das classes dominantes aleacutem de disseminar e

sustentar a ideologia dessas classes na sociedade

Os processos envolvidos no desenvolvimento de TC carregam

intrinsecamente a ideia de determinismo tecnoloacutegico jaacute examinada E

essa por sua vez encontra-se muitas vezes relacionadas a uma

perspectiva denominada de tecnociecircncia99 Premebida (2008) esclarece

que o termo pode ser entendido como a fusatildeo de ciecircncia sistemas

tecnoloacutegicos e organizaccedilatildeo da induacutestria com o capital financeiro O

termo eacute tido como cunhado pelo filoacutesofo belga Gilbert Hottois no final

da deacutecada de 1970 e muito difundido nos uacuteltimos anos pelos trabalhos

de Bruno Latour sobre a produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e

tecnoloacutegico (PREMEBIDA 2008 p 37)

Para Echeverriacutea (2003) ldquoa tecnociecircncia eacute um instrumento de

domiacutenio e transformaccedilatildeo natildeo soacute da natureza mas tambeacutem das

sociedades revelando-se muito uacutetil para determinados grupos sociais

98 Em meus estudos utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo pois o

compreendo como expressatildeo da maior ou menor possibilidade dos sujeitos

controlarem as forccedilas que afetam seu bem-estar Nos debates acerca do uso de

termos como inclusatildeo social e exclusatildeo social considera-se que eles seriam

termos eurocecircntricos que natildeo teriam sentido em sociedades que nunca

conheceram a plena integraccedilatildeo social (MTE 2007) Para aleacutem do debate acerca

da inadequaccedilatildeo do uso dessas expressotildees para o estudo da realidade de paiacuteses

do Sul utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo de modo a buscar apreender o

dinamismo dos processos de desigualdade de maneira mais ampla Para captar

esse dinamismo considero zonas de vulnerabilidade com tendecircncia agrave

precarizaccedilatildeo e estruturas de oportunidades existentes no Brasil na atualidade 99 Segundo Albagli (1999) a tecnociecircncia conseguiu ultrapassar os limites da

produccedilatildeo material e passou a exercer influecircncia nas esferas culturais e

simboacutelicas da sociedade

129

transnacionais em princiacutepio natildeo-estatais que obtecircm atraveacutes dela

grandes ganhosrdquo (p 310) A tecnociecircncia seria um sistema de accedilotildees

eficientes baseadas em conhecimentos teacutecnicos e cientiacuteficos que visaria

transformar o mundo (para aleacutem de explicaacute-lo) e implicaria natildeo soacute uma

profissionalizaccedilatildeo mas uma empresarializaccedilatildeo da atividade cientiacutefica e

sendo um fator relevante de inovaccedilatildeo e desenvolvimento econocircmico

passaria a ser tambeacutem um poder dominante na sociedade tendendo

sua praacutetica ao segredo e agrave privatizaccedilatildeo100 (ECHEVERRIacuteA 2003

BAUMGARTEN 2006a)

Relaccedilotildees

Eacute portanto em contraposiccedilatildeo a essas perspectivas de TC e da

tecnociecircncia que as TS satildeo pensadas Mas as ideias que compotildeem as TS

natildeo surgem espontaneamente Conforme Dagnino (2014) ldquo() remonta

ao iniacutecio dos anos sessenta do seacuteculo passado quando surgiu a ideia de

Tecnologia Intermediaacuteria (que originou o movimento da Tecnologia

Apropriada e veio a desembocar no atual da TS)rdquo (p 155) As TS tecircm

portanto relaccedilatildeo com as TA tambeacutem propostas como alternativas agraves TC

(DAGNINO BRANDAtildeO NOVAES 2004)

Nesse sentido Brandatildeo (2001) esclarece que as TA satildeo

reconhecidas como iniciativas provenientes de movimentos ocorridos na

Iacutendia durante o final do seacuteculo XIX Contexto no qual pensadores como

Mahatma Gandhi (1869-1948) tiveram sua atenccedilatildeo voltada para

processos de reabilitaccedilatildeo e desenvolvimento de tecnologias tradicionais

praticadas nas aldeias como estrateacutegia de luta e resistecircncia contra o

domiacutenio britacircnico (produccedilatildeo artesanal de tecidos por exemplo)101

100 Destaco que pensadoresas de diversas aacutereas tecircm refletido sobre a

possibilidade de se alterar o quadro que envolve a questatildeo tecnocientiacutefica atual

Hobsbawm (2005) alerta para o fato de que ldquoas forccedilas geradas pela economia

tecnocientiacutefica satildeo agora suficientemente grandes para destruir o meio

ambiente ou seja as fundaccedilotildees materiais da vida humana () Nosso mundo

corre o risco de explosatildeo e implosatildeo Tem de mudarrdquo (p 562) Penso que uma

proposta de mudanccedila para esse cenaacuterio passa pela proacutepria reflexatildeo sobre a

tecnociecircncia que pode ser feita a partir das TS 101 Essa produccedilatildeo teve como siacutembolo uma espeacutecie de roda de fiar chamada de

Charkha No projeto de Gandhi havia uma preocupaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo da

sociedade hindu atraveacutes de um crescimento endoacutegeno sem imposiccedilotildees externas

Essa perspectiva implicava num crescimento que previa melhorar as teacutecnicas

locais de uso corrente e adaptar a tecnologia moderna ao contexto social e

econocircmico da Iacutendia (CORREcircA 2010)

130

Apesar de Gandhi natildeo usar a expressatildeo tecnologia apropriada

seu projeto estava delineado de acordo com tal perspectiva e previa a

promoccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para a identificaccedilatildeo e a

soluccedilatildeo de problemas concretos da Iacutendia (DAGNINO BRANDAtildeO

NOVAES 2004)

Conforme Brandatildeo

A percepccedilatildeo de que a transferecircncia

indiscriminada de tecnologia a partir dos paiacuteses

industrializados natildeo era uma soluccedilatildeo adequada

para os paiacuteses em desenvolvimento jaacute estava de

fato presente no Sarovaya no ano de 1909 Esta

concepccedilatildeo estava baseada no desenvolvimento das

aldeias com os meios de produccedilatildeo para satisfazer

as necessidades baacutesicas em poder das famiacutelias ou

cooperativas de famiacutelias A educaccedilatildeo ndash baseada

no trabalho manual e na identificaccedilatildeo e soluccedilatildeo

dos problemas de importacircncia imediata ndash era o

instrumento para desenvolver a inteligecircncia

criativa Em resumo autodeterminaccedilatildeo a niacutevel de

aldeia concentraccedilatildeo nos problemas importantes

imediatos antes que em planos de longo prazo

busca de inteligecircncia criativa atraveacutes do

desenvolvimento total do indiviacuteduo e mudanccedilas

sociais obtidas atraveacutes da desobediecircncia civil natildeo-

violenta e a natildeo cooperaccedilatildeo eram os elementos

centrais do seu enfoque para o desenvolvimento

O conceito de desenvolvimento de Gandhi incluiacutea

uma poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica expliacutecita que

era essencial para sua implementaccedilatildeo A

insistecircncia de Gandhi na proteccedilatildeo dos artesanatos

das aldeias natildeo significava uma conservaccedilatildeo

estaacutetica das tecnologias tradicionais Ao contraacuterio

implicava o melhoramento das teacutecnicas locais a

adaptaccedilatildeo da tecnologia moderna ao meio

ambiente e agraves condiccedilotildees da Iacutendia e o fomento da

pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica para identificar e

resolver os problemas importantes imediatos Seu

objetivo final era a transformaccedilatildeo da sociedade

Hindu atraveacutes de um processo de crescimento

orgacircnico feito a partir de dentro e natildeo atraveacutes de

uma imposiccedilatildeo externa (2001 p 31)

131

Essas ideias influenciaram o economista alematildeo Ernst Friedrich

Schumacher (1911-1977) que criou a expressatildeo tecnologia intermeacutedia

depois de visitar a Iacutendia no ano de 1963 Brandatildeo (2001) afirma que

Schumacher foi o responsaacutevel por introduzir e popularizar a TA no

mundo ocidental com a criaccedilatildeo do Grupo de Desenvolvimento da TA

em 1966

As ideacuteias de Schumacher a respeito da tecnologia

intermediaacuteria influenciadas por Gandhi a quem

ele considerava o maior economista do seacuteculo 20

foram mais bem difundidas e causaram grande

impacto a partir de 1973 com a publicaccedilatildeo do seu

famoso livro Small is beautiful economics as if

people mattered traduzido para mais de quinze

idiomas e que talvez tenha sido a obra que mais

conseguiu popularizar a Tecnologia Apropriada

(TA) no mundo introduzindo-a no mundo

acadecircmico e nos estudos governamentais de

vaacuterios paiacuteses Neste livro que reuacutene alguns dos

seus ensaios entre eles Economia em um Paiacutes

budista Economia natildeo-violenta e Niacuteveis de

tecnologia escritos entre 1955 e 1963 ao explicar

que as tecnologias desenvolvidas nos paiacuteses

desenvolvidos natildeo se adequam aos paiacuteses em

desenvolvimento pois sua tecnologia moderna

por ser demasiadamente grande agrave medida que

cresce requer mais insumos para a sua

manutenccedilatildeo Schumacher propotildee uma pesquisa

visando agrave geraccedilatildeo de TAs para as zonas rurais

(BRANDAtildeO 2001 p 33)

No Brasil o livro de Schumacher eacute intitulado ldquoO negoacutecio eacute ser

pequenordquo Nele o autor avalia a necessidade de um enfoque regional de

desenvolvimento conjugado ao uso de uma TA aos paiacuteses pobres Nas

palavras do autor

O desenvolvimento econocircmico em aacutereas de pobreza

soacute pode ser fecundo quando baseado no que

designei por tecnologia intermeacutedia Em uacuteltima

anaacutelise a tecnologia intermeacutedia seraacute de uso

intensivo de matildeo-de-obra e prestar-se-aacute a ser

utilizada em estabelecimentos fabris de escala

pequena Mas tanto a intensidade de matildeo-de-obra

como a escala pequena natildeo implicam uma

132

tecnologia intermeacutedia () Uma tal tecnologia

intermeacutedia seria imensamente mais produtiva do

que a tecnologia proacutepria (que amiuacutede se acha em

decomposiccedilatildeo) mas tambeacutem seria imensamente

mais barata do que a tecnologia requintada de uso

altamente intensivo de capital da induacutestria

moderna () A tecnologia intermeacutedia tambeacutem se

enquadraria de um modo muito mais natural no

ambiente relativamente rudimentar em que vai ser

utilizada O equipamento seria razoavelmente

simples e portanto compreensiacutevel adequado agrave

manutenccedilatildeo e reparos no local O equipamento

simples eacute normalmente menos dependente de

mateacuterias-primas de grande pureza ou especificaccedilotildees

exatas e muito mais adaptaacutevel a flutuaccedilotildees do

mercado do que o equipamento altamente

sofisticado Os homens satildeo mais facilmente

treinados a supervisatildeo o controle e a organizaccedilatildeo

satildeo mais simples e haacute muito menor vulnerabilidade

a dificuldades imprevistas (SCHUMACHER 1977

p 159 - 161)

Verifico que essa proposta pretendia uma tecnologia que se

caracterizasse pelo baixo custo de capital pequena escala e

simplicidade abarcando tambeacutem uma dimensatildeo ambiental que por

tudo isso foi entendida como mais adequada aos paiacuteses pobres

Neder (2008) esclarece que o movimento iniciado por

Schumacher mobilizou praticantes e teoacutericos de diversas localidades que

defendiam e buscavam viabilidade de tecnologias que fossem

apropriadas agraves culturas locais e agraves realidades regionais em escalas

dominadas pelos sujeitos Teacutecnicos e militantes na Europa Aacutesia e

Ameacuterica Latina nos anos 1960 e 1970 propuseram a luta pela

perspectiva de uma TA em peacute de igualdade com a cultura tecnocientiacutefica

hegemocircnica (NEDER 2008)

No quadro 4 abaixo Brandatildeo (2001) traccedila um paralelo entre

uma sociedade baseada em TC (Hard Technology-tecnologia fortedura)

e uma sociedade com base no que ele chama de Tecnologia Alternativa

(Soft Technology-tecnologia suavemacia) aqui usada como sinocircnimo

de TA Nele eacute possiacutevel perceber que o autor considera que uma

sociedade baseada em TA se aproximaria da visatildeo que melhor se

encaixa em uma noccedilatildeo sustentaacutevel de desenvolvimento Mas revela a

complexidade envolvida nessa questatildeo e afirma defender uma TA para o

desenvolvimento sustentaacutevel mas natildeo como uma panaceia que

133

solucione todos os problemas advindos da incapacidade dos modelos

econocircmicos por deacutecadas dominantes em resolver os problemas mais

baacutesicos da populaccedilatildeo do mundo (BRANDAtildeO 2001 p42)

Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA

Sociedade Baseada em Tecnologia

Convencional

(Hard Technology)

Sociedade Baseada em

Tecnologia Alternativa

(Soft Technology)

1 Ecologicamente doente

2 Grande consumo de energia

3 Alto iacutendice de poluiccedilatildeo

4 Uso irreversiacutevel de materiais e

energia

5 Funcional somente por tempo

limitado

6 Produccedilatildeo em massa

7 Especializaccedilatildeo em alto niacutevel

8 Nuacutecleo familiar

9 Importacircncia agraves cidades

10 Poliacutetica de consenso

11 Fronteiras estabelecidas pela

riqueza

12 Alienaccedilatildeo da natureza

13 Comeacutercio internacional

14 Destruidora da cultura local

15 Tecnologia passiacutevel de ser mal-

usada

16 Altamente destruidora de outras

espeacutecies

17 Inovaccedilatildeo regida por lucros e

perdas

18 Economia orientada para o

crescimento

19 Capital intensivo

20 Centralista

21 Aliena jovens e velhos

22 A eficiecircncia geral aumenta com

grandeza

23 Meacutetodos operacionais muito

complicados para compreensatildeo geral

24 Acidentes tecnoloacutegicos frequumlentes

e graves

25 Soluccedilotildees uacutenicas para problemas

Ecologicamente sadia

Pequeno consumo de energia

Baixo iacutendice de poluiccedilatildeo

Uso reversiacutevel de materiais e

energia

Funcional por tempo ilimitado

Induacutestria artesanal

Pouca especializaccedilatildeo

Unidades comunais

Importacircncia agraves vilas

Poliacutetica democraacutetica

Fronteiras estabelecidas pela

natureza

Integrada agrave natureza

Intercacircmbio local

Compatiacutevel com a cultura local

Medidas de seguranccedila contra mau

uso

Dependente do bem-estar de

outras espeacutecies

Inovaccedilatildeo regida pela necessidade

Economia estabilizada

Trabalho intensivo

Natildeo-centralista

Integra jovens e velhos

A eficiecircncia geral aumenta com a

pequenez

Meacutetodos operacionais

compreensiacuteveis para todos

Acidentes tecnoloacutegicos raros e

sem gravidade

Soluccedilotildees diversas para problemas

134

teacutecnicos e sociais

26 Na agricultura importacircncia da

monocultura

27 Criteacuterios de quantidade altamente

valorizados

28 Trabalho empreendido

principalmente por dinheiro

29 Produccedilatildeo alimentar feita por

induacutestrias especializadas

30 Ciecircncia e tecnologia alienadas da

cultura

31 Pequenas unidades totalmente

dependentes de outras

32 Ciecircncia e tecnologia exercida por

elites especializadas

33 Ciecircncia e tecnologia separadas

das outras formas de conhecimento

34 Distinccedilatildeo acentuada entre

laborlazer

35 Desemprego em grande escala

36 Metas teacutecnicas vaacutelidas somente

para uma pequena porccedilatildeo do globo

por tempo limitado

teacutecnicos e sociais

Na agricultura importacircncia agrave

diversificaccedilatildeo

Criteacuterios de qualidade altamente

valorizados

Trabalho empreendido

principalmente por satisfaccedilatildeo

Produccedilatildeo alimentar feita por

todos

Ciecircncia e tecnologia integradas agrave

cultura

Pequenas unidades auto-

suficientes

Ciecircncia e tecnologia exercida por

todos

Ciecircncia e tecnologia integradas

com outras formas de

conhecimento

Distinccedilatildeo leve ou natildeo existente

entre laborlazer

(conceito natildeo vaacutelido)

Metas teacutecnicas vaacutelidas para

todos os homens em todos os

tempos

Fonte (BRANDAtildeO 2001 p41)

As ideias de Gandhi e Schumacher presentes na perspectiva de

TA foram acolhidas inclusive pelo Norte Contudo Dagnino Brandatildeo e

Novaes (2004) apontam que a partir de meados dos anos 1980 as

iniciativas de desenvolvimento de TA perdem forccedila devido ao contexto

geopoliacutetico neoliberal que se agravou Aleacutem disso Dias e Novaes

(2009) mostram que as TA tinham uma debilidade importante Essa

consistia em pressupor que o simples alargamento do leque de

alternativas tecnoloacutegicas agrave disposiccedilatildeo do Sul poderia alterar a natureza

do processo que presidiria a adoccedilatildeo de tecnologia

Thomas e Fressoli (2009) vatildeo aleacutem e consideram que as TA

apresentaram uma seacuterie de restriccedilotildees pois foram

desenhadas para situaccedilotildees de pobreza extrema de

nuacutecleos familiares ou pequenas comunidades

geralmente aplicam conhecimentos tecnoloacutegicos

simples e tecnologias antigas deixando de lado

novos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos

disponiacuteveis Concebidas como meros bens de uso

135

normalmente perdem de vista que ao mesmo

tempo geram bens de troca e dinacircmicas de

mercado De fato normalmente ignoram os

sistemas de acumulaccedilatildeo e os mercados de bens e

serviccedilos em que estatildeo inseridas e resultam

economicamente insustentaacuteveis (p 114)102

Contudo o desenvolvimento de TS busca evitar os equiacutevocos

detectados nas TA De acordo com Fonseca e Serafim (2009) a

proposta das TS pretende superar a visatildeo do movimento pela TA com a

realizaccedilatildeo da criacutetica agrave neutralidade e ao determinismo E foi esse

cuidado que ressaltei ao apontar possibilidades e limites de mobilizaccedilatildeo

(criativa colaborativa e autossuficiente) para a autoria em ambientes

educacionais via TS Aleacutem disso Dagnino Brandatildeo e Novaes (2004)

consideram que o movimento da TA apontou elementos para o processo

de elaboraccedilatildeo do marco analiacutetico-conceitual hoje disponiacutevel para a

formulaccedilatildeo de um conceito de TS adequado agrave realidade brasileira como

mostrarei adiante

222 Denominaccedilotildees e sentidos

Atualmente o termo ldquoTecnologia Socialrdquo eacute muito conhecido seja

por quem estuda tecnologia seja por quem desenvolve accedilotildees em

perspectiva de inovaccedilatildeo e inclusatildeo socioteacutecnica Contudo na literatura

disponiacutevel as TS satildeo muitas vezes relacionadas agraves TA e vaacuterias

denominaccedilotildees aparecem para fazer referecircncia a iniciativas que se

contrapotildeem agrave TC e agrave tecnociecircncia Satildeo elas tecnologia alternativa

tecnologia utoacutepica tecnologia intermediaacuteria tecnologia adequada

tecnologia socialmente apropriada tecnologia ambientalmente

apropriada tecnologia adaptada ao meio ambiente tecnologia correta

tecnologia ecoloacutegica tecnologia limpa tecnologia natildeo-violenta

tecnologia natildeo-agressiva ou suave tecnologia branda tecnologia doce

tecnologia racional tecnologia humana tecnologia de auto-ajuda

102 Disentildeadas para situaciones de extrema pobreza de nuacutecleos familiares o

pequentildeas comunidades normalmente aplican conocimientos tecnoloacutegicos

simples y tecnologiacuteas maduras dejando de lado el nuevo conocimiento

cientiacutefico y tecnoloacutegico disponible Concebidas como simples bienes de uso

normalmente pierden de vista que al mismo tiempo generan bienes de cambio

y dinaacutemicas de mercado De hecho normalmente ignoran los sistemas de

acumulacioacuten y los mercados de bienes y servicios en los que se insertan y

resultan econoacutemicamente insustentables (p 114) Traduccedilatildeo livre da autora

136

tecnologia progressiva tecnologia popular tecnologia do povo

tecnologia orientada para o povo tecnologia orientada para a sociedade

tecnologia democraacutetica tecnologia comunitaacuteria tecnologia de vila

tecnologia radical tecnologia emancipadora tecnologia libertaacuteria

tecnologia liberatoacuteria tecnologia de baixo custo tecnologia da escassez

tecnologia adaptativa tecnologia de sobrevivecircncia e tecnologia

poupadora de capital (BRANDAtildeO 2001)

Para aleacutem de todas essas denominaccedilotildees apresento alguns

sentidos sobre TS que aparecem nos discursos sobre o tema Como jaacute

mencionei desde o iniacutecio dos anos 2000 existem tentativas de

formulaccedilatildeo de um conceito de TS ou de unificaccedilatildeo de ideias recorrentes

acerca do tema por entidades e pesquisadoresas que tratam dessa

questatildeo Aponto aqui algumas dessas iniciativas

A seguinte definiccedilatildeo para TS produtos teacutecnicas eou

metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a

comunidade e que represente efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social

(MCT 2010 RTS 2004) eacute utilizada por

Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia do Brasil (MCT) atraveacutes da

Secretaria de Inclusatildeo Social (SECIS) busca promover inclusatildeo social

por meio de accedilotildees que melhorem a qualidade de vida e estimulem a

geraccedilatildeo de ocupaccedilatildeo e renda (MCT 2010)

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atraveacutes da Incubadora

Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares (ITCP) desenvolve TS que

visam agrave construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvimento local

sustentaacutevel baseadas em princiacutepios da socioeconomia solidaacuteria

(MATSUMOTO 2008 sp)

Rede de Tecnologia Social (RTS) tem entre seus noacutes o MCT o

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS) o

Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (MI) a Petroacuteleo Brasileiro SA

(PETROBRAS) o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico (CNPq) a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

(EMBRAPA) o Instituto Paulo Freire (IPF) a FBB o Instituto de

Tecnologia Social (ITS) a Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais (ABONG) e o Conselho Federal de Defesa dos Direitos

Humanos (CFDH) entre outras instituiccedilotildees (RTS 2010)

O ITS define TS de modo similar ao MCT FGV e RTS TS eacute

ldquoum conjunto de teacutecnicas metodologias transformadoras desenvolvidas

eou aplicadas na interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo e apropriadas por ela que

representam soluccedilotildees para inclusatildeo social e melhoria das condiccedilotildees de

vidardquo (ITS 2004 p 130) Aleacutem disso o ITS (2009) indica no quadro 5

137

abaixo as dimensotildees que seratildeo analisadas para considerar se uma

iniciativa se constitui como TS ou natildeo

Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS

Dimensotildees CaracteriacutesticasIndicadores

Conhecimento Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo

1 Objetiva solucionar demanda social

2 Organizaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo

3 Grau de inovaccedilatildeo

Participaccedilatildeo Cidadania e

Democracia

4 Democracia e cidadania

5 Metodologia participativa

6 Difusatildeo

Educaccedilatildeo

7 Processo pedagoacutegico

8 Diaacutelogo entre saberes

9 ApropriaccedilatildeoEmpoderamento

Relevacircncia Social

10 Eficaacutecia

11 Sustentabilidade

12 Transformaccedilatildeo social

Fonte (ITS 2009 sp)

Jaacute a FBB que manteacutem um banco de dados sobre TS o BTS jaacute

referido na introduccedilatildeo desta tese caracteriza TS como ldquotodo processo

meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema

social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil

reaplicabilidade e impacto social comprovado (PENA MELLO 2004

p 84) No site da FBB disponiacutevel em ltwwwtecnologiassocialorgbrgt

as TS satildeo definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou

metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a

comunidade e que representem efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo

social (BTS 2008 FBB 2008 sp)

Segundo a FBB (2008) o conceito remete a uma proposta

inovadora de desenvolvimento que considera a participaccedilatildeo coletiva no

seu processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implantaccedilatildeo aleacutem de

estar baseado na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a

demandas sociais concretas Para a entidade tecnologias sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e conhecimento teacutecnico-

cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e reaplicaacuteveis

propiciando desenvolvimento social em escala (FBB 2008 sp)

Pelo exame dessas conceituaccedilotildees percebo que as TS se propotildeem

de modo geral a atender questotildees relativas agrave melhoria de condiccedilotildees de

138

vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local

sustentaacutevel

Jaacute para Tait Fonseca e Dagnino (2007) o conceito de TS deveria

ser empregado para se referir a produtos e metodologias que fossem

claramente identificados com a oacuterbita da produccedilatildeo primordialmente nos

ambientes de cooperativas tendo em vista que essas entidades seriam

teoricamente fundamentais no processo de promoccedilatildeo de sustentabilidade

social via ambiente de produccedilatildeo A partir desse entendimento eacute

interessante examinar as contraposiccedilotildees apresentadas por Dagnino

(2004) em relaccedilatildeo aos sentidos sobre TS em relaccedilatildeo agrave TC

Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS

O que faz a TC ser diferente da TS

A TC eacute funcional para a

empresa privada que no

capitalismo eacute a

responsaacutevel por

transformar

conhecimento em bens e

serviccedilos

Os governos dos paiacuteses

centrais apoacuteiam seu

desenvolvimento

As organizaccedilotildees e os

profissionais que a

concebem estatildeo

imersos no ambiente

social e poliacutetico que a

legitima e demanda

Porque trazem

consigo seus valores e

por isso a reproduzem

Fonte (DAGNINO 2004 p 195)

Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS

Como eacute (ou deveria ser) a TS

Adaptada a pequeno

tamanho fiacutesico e financeiro

Natildeo-discriminatoacuteria (patratildeo

x empregado)

Orientada para o mercado

interno de massa

Liberadora do

potencial e da

criatividade do produtor

direto

Capaz de viabilizar

economicamente os

empreendimentos

autogestionaacuterios e as

pequenas empresas

Fonte (DAGNINO 2004 p 193)

139

Verifico que Dagnino (2004) concebe TS fortemente

contrapostas agrave TC e ao contexto capitalista de produccedilatildeo O autor

apresenta um conjunto de princiacutepios normativos envolvidos com TS

pelos quais essas deveriam ser adaptadas a pequenos produtores e

consumidores de baixo poder econocircmico natildeo promovedoras do

controle segmentaccedilatildeo hierarquizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre

patrotildees e empregados orientadas para o mercado interno de massa

incentivadoras do potencial e da criatividade de produtores diretos e dos

usuaacuterios e capazes de viabilizar economicamente empreendimentos

como cooperativas populares incubadoras e pequenas empresas

(DAGNINO 2004)

Esse autor tem conceituado TS como

o resultado da accedilatildeo de um coletivo de produtores

sobre um processo de trabalho que em funccedilatildeo de

um contexto socioeconocircmico (que engendra a

propriedade coletiva dos meios de produccedilatildeo) e de

um acordo social (que legitima o associativismo)

os quais ensejam no ambiente produtivo um

controle (autogestionaacuterio) e uma cooperaccedilatildeo (de

tipo voluntaacuterio e participativo) permite (a accedilatildeo

referida) uma modificaccedilatildeo no produto gerado

passiacutevel de ser economicamente apropriada

segundo a decisatildeo do coletivo (DAGNINO 2014

p 204)

Para desenvolver a TS Dagnino (2014) aponta a necessidade de

um processo de AST como jaacute apontei anteriormente com as seguintes

modalidades (i) alteraccedilatildeo na distribuiccedilatildeo da receita gerada (ii)

apropriaccedilatildeo (iii) repotenciamento (iv) ajuste no processo de trabalho

(v) alternativas tecnoloacutegicas (vi) incorporaccedilatildeo de conhecimento

tecnocientiacutefico existente e (vii) busca de conhecimento tecnocientiacutefico

novo103

Uma adequaccedilatildeo social e teacutecnica para TS como a exposta acima eacute

ampliada na proposta de inspiraccedilatildeo construtivista de Thomas e Fressoli

(2009) e Thomas e Buch (2008) Para esses autores a AST pode ser

compreendida como um processo que busca promover adequaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos tanto aos requisitos de caraacuteter teacutecnico e

econocircmico como fundamentalmente ao conjunto de aspectos de

103 Um detalhamento de cada uma das sete modalidades natildeo eacute explorado aqui

Para mais informaccedilotildees ver a referecircncia Dagnino (2014)

140

natureza socioeconocircmica e ambiental Equipamentos insumos e formas

de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo em forma tangiacutevel ou taacutecita se vinculam a

processos de participaccedilatildeo democraacutetica no processo de trabalho na

atenccedilatildeo ao ambiente e agrave sauacutede de trabalhadores e consumidores bem

como agrave capacitaccedilatildeo autogestionaacuteria (THOMAS BUCH 2008)

A AST eacute compreendida portanto como um processo e natildeo como

um resultado a ser buscado (como o que ocorre com as TA) Ela

substituiria a idealizaccedilatildeo tiacutepica do laboratoacuterio pela praacutetica concreta dos

movimentos sociais (THOMAS BUCH 2008) Assim os autores

destacam a importacircncia da participaccedilatildeo de coletividades em especial de

movimentos sociais e ao contraacuterio de Dagnino (2004) natildeo partem da

comparaccedilatildeo com a TC mas da comparaccedilatildeo com a TA No quadro 8 a

seguir Thomas (2008) relaciona TA e a perspectiva de AST em termos

sociocognitivos104

Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST

Tecnologias

Apropriadas

Adequaccedilatildeo

Socioteacutecnica

Concepccedilatildeo baacutesica Estoque de

tecnologias

Tecnologias

singulares

Produccedilotildees ad hoc

Montagem socioteacutecnica

Construccedilatildeo do

problema

social

Processo exoacutegeno

Conhecimento de

especialistas

Processo endoacutegeno

Muacuteltiplos saberes

Relaccedilatildeo problema ndash

soluccedilatildeo

Uniacutevoca

Linear

Singular

Monovariaacutevel

Flexibilidade

interpretativa

Natildeo linear

Plural

Sistecircmica

Desenho da

tecnologia

Exoacutegeno

Teacutecnico

Centrado no artefato

Endoacutegeno

Socioteacutecnico

Centrado na dinacircmica

socioteacutecnica

Equipe de desenho Grupo de

especialistas

Divisatildeo social do

trabalho

Coletivo de produtores e

usuaacuterios de tecnologias

Divisatildeo teacutecnica do

trabalho

Processo de

concepccedilatildeo e

Transferecircncia e

difusatildeo Adaptaccedilatildeo a

Co-construccedilatildeo

104 Natildeo exploro aqui cada componente da AST apresentado no quadro 8

141

construccedilatildeo condiccedilotildees locais

Conhecimentos

implicados

Homogecircneos

Expertise

Predomiacutenio de

conhecimentos de

engenharia

Heterogecircneos

Conhecimentos

codificados e taacutecitos

Transdisciplinar

Intensidade dos

conhecimentos

Baixa

Tecnologias antigas

Alta Tecnologias

intensivas em

Conhecimentos

Presenccedila de

conhecimento taacutecito

Efeitos natildeo

desejados

Integrado ao processo de

desenho

Papel do usuaacuterio Receptor passivo

Ao final da linha

Participante ativo

Ao iniacutecio do processo

Capacitaccedilatildeo dos

usuaacuterios

Ex post Usuaacuterio

passivo

Ex ante Usuaacuterio ativo

Fonte (THOMAS 2008 sp)105

Penso que o importante nesse momento eacute compreender que a

intenccedilatildeo dos autores eacute a de que natildeo se repitam nas TS os erros

cometidos pelas iniciativas baseadas nas TA Nesses termos a AST para

TS poderia ser entendida como um procedimento no qual uma

tecnologia sofreria um processo de adequaccedilatildeo aos interesses poliacuteticos de

grupos sociais relevantes diferentes daqueles que lhes deram origem

(THOMAS FRESSOLI 2009 THOMAS BUCH 2008)

Destaco tambeacutem que Thomas (2012) apresenta uma

compreensatildeo das TS como Tecnologias para a Inclusatildeo Social (TIS)

Nas palavras do autor

As Tecnologias para a Inclusatildeo Social satildeo uma

maneira de desenhar desenvolver implementar e

gerenciar tecnologias orientadas a resolver

problemas sociais e ambientais gerando

dinacircmicas sociais e econocircmicas de inclusatildeo social

e de desenvolvimento sustentaacutevel () e alcanccedilam

uma ampla gama de produccedilotildees de tecnologias de

produtos processos e organizaccedilatildeo (THOMAS

2012 p 27)106

105 Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 106 Las Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social son una forma de disentildear

desarrollar implementar y gestionar tecnologiacuteas orientadas a resolver

problemas sociales y ambientales generando dinaacutemicas sociales y econoacutemicas

de inclusioacuten social y de desarrollo sustentablerdquo [hellip] y ldquoalcanzan un amplio

142

Um sentido sobre TS que dialoga com a AST das TIS e

compreende a questatildeo da inovaccedilatildeo social eacute encontrado em Baumgarten

(2008a 2008b) A autora reflete acerca da temaacutetica de inovaccedilatildeo social

contextualizada com uma visatildeo geral sobre as atuais formas de produzir

ciecircncia e tecnologia que considere o papel de redes de produccedilatildeo de

conhecimentos para sustentabilidade social Para ela esse debate se

refere tanto agrave vinculaccedilatildeo entre produccedilatildeo de ciecircncia tecnologia e

inovaccedilatildeo relacionada a necessidades e possibilidades sociais quanto agrave

importacircncia crescente de apropriaccedilatildeo por parte de diferentes sujeitos de

conhecimentos que possam ser incorporados a TS Essas entendidas

como

As tecnologias sociais teriam pois a

potencialidade para expressar instacircncias fiacutesicas e

virtuais de trocas reintegraccedilatildeo de saberes

contrabandos inter campos e disciplinas que se

fazem por sendas atraveacutes das quais constroem

conhecimentos que datildeo conta da complexidade do

mundo real e de nossas capacidades para construiacute-

lo e reconstruiacute-lo de acordo com nossas

necessidades e potencialidades (BAUMGARTEN

2010 sp)

Nesse sentido as TS poderiam se articular como um noacute no qual

seria possiacutevel conectar uma ampla rede de sujeitos (BAUMGARTEN

2010) Nessa perspectiva de TS a teacutecnica seria entendida como um

meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo

forma de controle ou causa de desigualdade social (CORREcircA 2010)

Thomas (2009) tambeacutem apresenta um apanhado de diferentes

posicionamentos teoacutericos desenvolvidos sobre TS a partir da deacutecada dos

anos 1960 O quadro 9 abaixo traz uma siacutentese dessas contribuiccedilotildees

abanico de producciones de tecnologiacuteas de producto proceso y organizacioacuten

(THOMAS 2012 p 27) Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da

autora

143

Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico

Fonte (VALADAtildeO ANDRADE NETO 2014 p 56)

Eacute possiacutevel verificar que o quadro 9 apresenta posicionamentos

criacuteticos em relaccedilatildeo a padrotildees lineares e convencionais de

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico Destaco portanto a

importacircncia das posiccedilotildees acima referidas no entendimento das TS

Desde a perspectiva normativa e contraposta agrave TC de Dagnino (2004)

passando pela AST das TIS em contraposiccedilatildeo agrave TA de Thomas (2012) e

Thomas e Fressoli (2009) ateacute a perspectiva de inovaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo

social desenvolvido por Baumgarten 2008a 2008b) mostram-me modos

de abordar a questatildeo de maneira criacutetica e com relevacircncia aos sujeitos envolvidos com as TS

E esse sentido criacutetico seria importante para pensarmos sobre TS

em processos educacionais Compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo

humana permeada de valores (caraacuteter ideoloacutegico) e que como tal pode

ser construiacuteda conforme nossos interesses e de acordo com nossos

144

contextos (de diversidade eacutetnico-racial de gecircnero e de classes por

exemplo) pode auxiliar na mobilizaccedilatildeo para autoria em ambientes

educacionais

Assim apresento a figura 3 abaixo na qual esquematizo um

modo possiacutevel de relacionar criticamente dimensotildees gerais das TS com

as categorias que utilizo nesta tese

Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

A ideia eacute que em torno de uma perspectiva criacutetica sobre TS em

processos educacionais seja possiacutevel promover (i) diaacutelogos entre

diferentes conhecimentos (ii) mobilizaccedilatildeo de estudantes para autoria na

(maior) compreensatildeo da relevacircncia de seus problemas (e soluccedilotildees)

socioteacutecnicos (iii) (resgate de) sentidos na busca por emancipaccedilatildeo

social e (iv) possibilidades (maiores) de compreender a tecnologia como

conhecimento humano possiacutevel de ser aprendido

Ao apontar essas quatro dimensotildees possiacuteveis de anaacutelises em TS

procuro natildeo silenciar seu caraacuteter poliacutetico tampouco os conhecimentos

produzidos pelas diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no

contexto escolar da atualidade E em alguma medida busco refletir sobre as relaccedilotildees entre essas diversidades e os possiacuteveis aspectos que

representariam sua unicidade em um contexto nacional mais geral

Acredito que promover uma perspectiva criacutetica de TS (que

apresente a histoacuteria das teacutecnicas a importacircncia dos sujeitos as

145

contradiccedilotildees e os efeitos desses desenvolvimentos em nossas culturas)

pode colaborar com debates nos quais estudantes (como autoresas e natildeo

apenas usuaacuteriosas) percebam (mais) que seus problemas socioteacutecnicos

tecircm relevacircncia e que eleselas tecircm possibilidades (autonomia) de

desenvolver autoria na busca por soluccedilotildees criativas e colaborativas

(emancipaccedilatildeo social)

Entretanto vaacuterios sentidos sobre TS que circulam e muitas

iniciativas de desenvolvimento que estatildeo implantadas apresentam

caracteriacutesticas que merecem ser examinadas com algum cuidado

223 Ponderaccedilotildees

Um sentido sobre TS muito disseminado no Brasil se refere agrave

proposta da FBB107 que como apontei anteriormente destaca as

dimensotildees de simplicidade baixo custo faacutecil reaplicabilidade e resposta

social comprovada Um esquema dessas caracteriacutesticas pode ser visto na

Figura 4 abaixo

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Junto a isso as possibilidades de (i) apropriaccedilatildeo das TS pelos

sujeitos e (ii) articulaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais e

107 A popularidade do conceito de TS utilizado pela FBB ocorre porque essa

manteacutem desde 2001 um banco de dados de TS que serve de base para o Precircmio

FBB de TS que ocorre a cada dois anos O Banco do Brasil (BB) tem presenccedila

expressiva em todas as regiotildees do paiacutes e conta com um suporte de publicidade

amplo Desse modo o Precircmio FBB de TS tem divulgaccedilatildeo em todo o paiacutes em

vaacuterias miacutedias o que confere expressividade ao seu alcance e ao nuacutemero de

iniciativas inscritas

146

conhecimentos socioteacutecnicos tambeacutem satildeo caracteriacutesticas apontadas por

autoresas e instituiccedilotildees que discutem a questatildeo De modo que apresento

a seguir certas consideraccedilotildees em relaccedilatildeo a algumas dessas dimensotildees

das TS para que elas possam ser pensadas de modo menos ingecircnuo

O aspecto da simplicidade muitas vezes se traduz como pontual

Em minha pesquisa para a dissertaccedilatildeo identifiquei que as TS analisadas

satildeo dirigidas prioritariamente agrave soluccedilatildeo de problemas pontuais muitas

vezes parciais de sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade O que pode

carregar um sentido assistencialista Ou seja praacuteticas normalmente

paliativas que prestam assistecircncia a sujeitos necessitados de uma

coletividade em detrimento de uma poliacutetica que os tire da sua condiccedilatildeo

de carecircncia e vulnerabilidade (CORREcircA 2010) Frente a isso eacute

interessante pensarmos na simplicidade como a busca pelo uso de

conhecimentos locais

Em relaccedilatildeo agrave reaplicaccedilatildeo considero importante a distinccedilatildeo de

replicaccedilatildeo De acordo com Barros (2007) replicaccedilatildeo eacute uma coacutepia de um

modelo sem exercer alteraccedilotildees As TS envolvem reaplicaccedilatildeo porque

precisam ser reconstruiacutedas o tempo todo Pois os conhecimentos se

reconstroem com a participaccedilatildeo de todosas osas que interagem na sua

multiplicaccedilatildeo (BARROS 2007) Portanto as TS podem ser reaplicaacuteveis

(ou adaptadas para cada contexto) desde reflexotildees criacuteticas e em conjunto

com os sujeitos envolvidos

As possibilidades de mediaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais

e conhecimentos socioteacutecnicos atraveacutes de TS pode ser pensada desde

uma perspectiva interdisciplinar108 Nessa direccedilatildeo Rocha Neto (2002)

propotildee inter-relaccedilotildees entre Ciecircncias Sociais e Ciecircncias Naturais Para o

autor a ampliaccedilatildeo do escopo das atividades de pesquisa e a realizaccedilatildeo

de projetos de relevacircncia social com a colaboraccedilatildeo de diferentes aacutereas

do conhecimento pode ser uma iniciativa nessa direccedilatildeo

108 De acordo com Pombo (2006) o modelo atual de produccedilatildeo de

conhecimentos cientiacuteficos levou ao extremo de especializaccedilotildees cientiacuteficas As

disciplinas acadecircmicas instituiacutedas mantecircm pouca ou nenhuma comunicaccedilatildeo

muitas vezes dentro da mesma aacuterea de conhecimento O que parece desperdiccedilar

possibilidades de diaacutelogo entre acadecircmicos aacutereas campos de conhecimentos e

desses com os sujeitos Sem desconsiderar a importacircncia dos especialistas e a

relevacircncia acadecircmica e social de estudos aprofundados aponto que muitas

vezes especializaccedilotildees extremas podem levar a fragmentaccedilatildeo de conhecimentos

que podem natildeo contemplar uma integraccedilatildeo de conhecimentos que possibilitem

abranger a complexidade que as problemaacuteticas atuais apresentam (CORREcircA

2010)

147

Contudo para aleacutem da abertura e integraccedilatildeo entre aacutereas

acadecircmicas eacute importante o diaacutelogo com os sujeitos que produzem

conhecimentos em outras instacircncias Jaacute nos anos 1980 Santos (2010b)

apresentava seu paradigma emergente que permite pensarmos em uma

educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo Para pensarmos sobre TS de

modo menos ingecircnuo seria importante considerarmos as teses do autor

de que (i) todo o conhecimento cientiacutefico-natural eacute cientiacutefico social (ii)

todo o conhecimento eacute local e total (iii) todo o conhecimento eacute

autoconhecimento e (iv) todo o conhecimento cientiacutefico visa constituir-

se em senso comum (SANTOS 2010b)

O autor destaca que com a emergecircncia do novo paradigma

comeccedilaria a desaparecer a diferenccedila hieraacuterquica entre senso comum e

conhecimento cientiacutefico Essa equidade entre os tipos de conhecimento

natildeo visaria desfavorecer o conhecimento cientiacutefico que inegavelmente

atua em muitos sentidos na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos

mas fazer perceber que natildeo eacute necessaacuterio abdicar dos conhecimentos

locais nativos das artes filosoacutefico e especulativo para aceitar a ciecircncia

e a tecnologia

Com isso a possibilidade de contemplar uma integraccedilatildeo de

conhecimentos nas TS natildeo representaria um simples somatoacuterio mas a

recriaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo de conhecimentos que cruzariam as fronteiras

das disciplinas acadecircmicas e extrapolariam os muros da academia Para

isso considero a importacircncia de oportunizar conhecimentos em ciecircncia

e tecnologia para os sujeitos (domiacutenio intelectual da teacutecnica) que lhes

permitam um debate informado e criacutetico sobre o tema (autonomia)

A esse respeito Castro (2009) esclarece que leva tempo para

educar algueacutem a ser criacutetico com a tecnologia e a conhecer sua proacutepria

capacidade de decisatildeo Portanto o autor destaca que seria importante

introduzir essa discussatildeo na escola inicial porque ali as crianccedilas jaacute tecircm

celular videogames e muitas possibilidades tecnoloacutegicas Tendo em

vista o exemplo das discussotildees ecoloacutegicas que comeccedilaram a ser

apresentadas fortemente agraves crianccedilas nas seacuteries inicias de ensino poderia

ser relevante comeccedilar a combater cedo a dimensatildeo ideoloacutegica de que a

tecnologia eacute apoliacutetica (CASTRO 2009)

Antes de examinar os detalhes que envolvem as TS em processos

educacionais destaco tipos de TS exemplos entidades e coletividades

que as desenvolvem no Brasil contemporacircneo

148

224 TS tipos exemplos entidades e coletividades

relacionadas109

Em minha dissertaccedilatildeo elaborei uma tipologia sobre TS pois

naquele contexto fazia sentido identificaacute-las como materiais ou

imateriais Na primeira categoria identifiquei produtos mercadorias e

creacutedito enquanto na segunda analisei serviccedilos processos e formas de

gestatildeo Essa definiccedilatildeo do tipo de tecnologia natildeo foi feita em relaccedilatildeo

apenas agrave finalidade da TS mas considerei o contexto110 no qual o

desenvolvimento ocorria os sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade

com a qual a TS se relacionava e o problema a ser resolvido Desse

modo procurei evitar uma percepccedilatildeo instrumental das TS O quadro 10

abaixo mostra a prevalecircncia de TS de tipo imaterial que em percentual

correspondia a 87 dos casos que analisei

Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS

Fonte Correcirca (2010)

109 Satildeo exemplos de TS muito divulgados soro caseiro Banco Palmas cisternas

para captaccedilatildeo de aacutegua cafeacute com floresta e encauchados de vegetais da

Amazocircnia entre outras iniciativas que podem ser verificadas emlt

httpfbborgbrtecnologiasocialgt 110 Considerei a proposiccedilatildeo de Feenberg (2002) para quem o caraacuteter social da

tecnologia natildeo reside na loacutegica do seu funcionamento interno mas na relaccedilatildeo

dessa loacutegica com um contexto social

149

Subdividi as TS imateriais em (i) serviccedilos (ii) processos e (iii)

gestatildeo Satildeo exemplos de cada um desses casos (i) serviccedilos gratuitos de

auxiacutelio em questotildees juriacutedicas coleta de lixo por prefeituras confecccedilatildeo

de documentos de identificaccedilatildeo como carteira de identidade

distribuiccedilatildeo de alimentos cadastro de desempregadosas e empreacutestimo

de equipamentos ortopeacutedicos entre outros (ii) cursos de educaccedilatildeo

popular capacitaccedilatildeo de professoresas capacitaccedilatildeo de lideranccedilas

comunitaacuterias formaccedilatildeo de monitoresas de desenvolvimento rural

cursos de informaacutetica para sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e

cursos de aperfeiccediloamento teacutecnico e (iii) gerecircncia de atividades de

economia solidaacuteria

Essa categorizaccedilatildeo eacute importante pois apareceraacute em alguma

medida no exame dos dados sobre as TS desenvolvidas por estudantes

dos CTIEM Cacircmpus Caxias do Sul

Acredito que a relaccedilatildeo entre tipos de TS desenvolvidas e sua

localizaccedilatildeo pode ilustrar o contexto no qual faccedilo minha investigaccedilatildeo A

tabela 2 abaixo traz alguns dados nesse sentido Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS

Fonte Correcirca (2010)

Destaco que a Regiatildeo Sul como pode ser visto tem maior

desenvolvimento de TS de tipo imaterial (64 casos) Podemos observar

que essas TS satildeo a maioria em todas as regiotildees do Brasil Em minha

dissertaccedilatildeo verifiquei que TS imateriais de tipo serviccedilos e processos

sobretudo no tema da educaccedilatildeo estatildeo relacionadas com esse padratildeo

Apresento abaixo dados sobre as entidades que desenvolvem TS

no Brasil

150

Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS

Fonte Correcirca (2010)

Destaco as entidades que tecircm alguma relaccedilatildeo com processos

educacionais Na tabela 3 acima elas estatildeo distribuiacutedas entre entidades

puacuteblicas (oacutergatildeos dos poderes executivo legislativo e judiciaacuterio em

acircmbitos federais estaduais e municipais empresas puacuteblicas escolas

universidades e centros de pesquisas) em fundaccedilotildees (de empresas

privadas) em educacionais privadas (faculdades centros de pesquisa e

escolas privadas que natildeo tecircm caraacuteter filantroacutepico) em assistenciais e

filantroacutepicas (entidades autodeclaradas desse modo natildeo satildeo oacutergatildeos

governamentais) no 3ordm setor sindicatos e cooperativas (Organizaccedilotildees da

Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico - OSCIPs ONGs e associaccedilotildees

privadas de interesse puacuteblico) e na categoria outras Embora a perspectiva educacional possa estar diluiacuteda em vaacuterias

categorias eacute possiacutevel verificar que as entidades classificadas como

puacuteblicas somam 37 das TS desenvolvidas com 165 casos dos quais

76 satildeo nomeadamente entidades educacionais Assim como os 89 casos

em oacutergatildeos relacionados ao poder executivo legislativo e judiciaacuterio de

151

prefeituras estados e do Governo Federal podem ter relaccedilatildeo com

processos educacionais (CORREcircA 2010)

Por fim apresento o graacutefico 3 abaixo que contempla as

coletividades envolvidas com as TS que analisei

Graacutefico 3 - Coletividades

Fonte Correcirca (2010)

O graacutefico 3 acima mostra que na categoria de coletividades

classificadas como especiacuteficas existem 7 de casos de TS (voltadas ao

puacuteblico analfabeto e a professoresas) Estudantes correspondem a 45

casos 10 do total Os trecircs grandes grupos de coletividades para as

quais as TS se dirigem satildeo pequenosas agricultoresas adolescentes e

famiacutelias de baixa renda (CORREcircA 2010) Mesmo que o nuacutemero de TS

voltadas a analfabetosas e professoresas seja baixo se for considerada

a concentraccedilatildeo de TS dirigidas a problemas no tema educaccedilatildeo eacute possiacutevel

relacionar esses sujeitos como demandantes de TS nessa temaacutetica

Tendo em vista essas informaccedilotildees sobre TS desenvolvidas no

Brasil na atualidade examino a seguir algumas iniciativas que as

relacionam em alguma medida com processos educacionais

225 Relaccedilotildees com processos educacionais

As TS satildeo debatidas sob diversos pontos de vista a partir de

diferentes aacutereas e com preocupaccedilotildees distintas Bioacutelogosas fiacutesicosas

152

geoacutegrafosas ecologistas economistas profissionais da aacuterea da sauacutede

educadoresas estudantes engenheirosas cientistas sociais

participantes de ONGs OSCIPs e de movimentos sociais poliacuteticos

sindicalistas e gestoresas institucionais entre muitos outros sujeitos

desenvolvem estudos ou implantam iniciativas sobre TS no Brasil na

atualidade

Antes de apresentar estudos sobre relaccedilotildees entre TS e processos

educacionais destaco um levantamento de obras sobre TS publicadas

entre os anos de 2003 e 2011 tanto no Brasil quanto em outros paiacuteses

(FREITAS SEGATTO 2013) Para tentar caracterizar a produccedilatildeo

cientiacutefica sobre TS os autores coletaram uma amostra de 133

publicaccedilotildees entre artigos em perioacutedicos (com e sem Qualis111) artigos

completos em anais resumos em anais livros e capiacutetulos de livros entre

outros documentos Desses 925 (123) satildeo de origem nacional e 75

(10) de origem estrangeira (FREITAS SEGATTO 2013)

No quadro 11 abaixo eacute possiacutevel verificar o nuacutemero de

publicaccedilotildees por ano e por paiacutes no qual o Brasil aparece com destaque

na produccedilatildeo de obras sobre TS no periacuteodo analisado

Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees

Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)

Os autores tambeacutem organizaram os dados coletados em relaccedilatildeo

aos temas das publicaccedilotildees conforme pode ser visto no quadro 12

111 O chamado Qualis se refere a avaliaccedilotildees que expressam a pertinecircncia do

conteuacutedo de um perioacutedico para uma determinada aacuterea do conhecimento A

qualidade dos perioacutedicos eacute classificada anualmente pela Capes em estratos que

compreendem desde a melhor avaliaccedilatildeo (A1) passando por A2 B1 B2 B3 B4

e B5 ateacute a menor pertinecircncia (C) e pode ser verificada em

lthttpssucupiracapesgovbrsucupirapublicconsultascoletaveiculoPublicac

aoQualislistaConsultaGeralPeriodicosjsfgt

153

abaixo Destaco a pequena presenccedila de relatos em temas sobre

educaccedilatildeo com apenas uma publicaccedilatildeo ateacute o momento da coleta dos

dados

Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo

Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)

Penso que o tema da educaccedilatildeo possa estar presente mesmo que

silenciado pois pode natildeo ter sido feita uma referecircncia clara no tiacutetulo da

obra (que foi o meacutetodo de coleta de dados utilizado pelos autores) Haacute

tambeacutem o fato de que muitas iniciativas de desenvolvimento de TS na

aacuterea educacional natildeo satildeo relatadas nesse tipo de formato de publicaccedilatildeo

Em minha dissertaccedilatildeo verifiquei o apelo de TS nessa aacuterea como

154

referenciei na introduccedilatildeo desta tese Entretanto nos anos iniciais de

reflexatildeo sobre TS no Brasil havia realmente uma preocupaccedilatildeo na

definiccedilatildeo de prioridades de anaacutelise em TS com focos na divulgaccedilatildeo de

iniciativas de desenvolvimento de TS e na organizaccedilatildeo das demandas

institucionais e poliacuteticas Algo que pode ser visto no quadro 12 acima

onde aparecem 30 publicaccedilotildees (23) concentradas em divulgar

experiecircncias com TS e 23 estudos (17) com ecircnfase nas demandas

institucionais e poliacuteticas

Outra informaccedilatildeo relevante no levantamento de Freitas e Segatto

(2013) eacute a presenccedila de estudos nos temas da AST (que como referi

anteriormente tem preocupaccedilatildeo com iniciativas voltadas a soluccedilotildees

pontuais alinhadas agraves TA) e da inovaccedilatildeo social (que como jaacute apontei

destaca processos inovadores para melhorar ou desenvolver novas TS)

Com isso apresento a seguir contribuiccedilotildees recentes que de alguma

maneira estatildeo relacionadas com processos educacionais112

A ldquoAcademia Estudantil de Letrasrdquo (AEL) foi desenvolvida por

uma professora na Regiatildeo Sudeste do Brasil e atualmente envolve 15

mil alunosas de Ensino Fundamental e Meacutedio A AEL tem como

objetivo despertar o gosto e o interesse pela leitura nosas estudantes

elevar sua autoestima promover inclusatildeo social no processo de

aquisiccedilatildeo da linguagem e agrave formaccedilatildeo integral doa estudante No

projeto cada estudante participante escolhe uma autora para

representar e estudar simulando uma academia de letras113

A TS intitulada ldquoCisterbanrdquo eacute desenvolvida em uma escola na

Regiatildeo Nordeste do Brasil Nela satildeo construiacutedas cisternas a partir do

reaproveitamento da fibra de bananeira Processo mais barato que a

fabricaccedilatildeo de cisternas tradicionais e que amenizam a seca no semiaacuterido

cearense Tambeacutem com foco em produto uma escola municipal da

Regiatildeo Norte do Brasil desenvolve forros ecoloacutegicos feito com

embalagens do tipo longa vida que garante conforto teacutermico

diminuindo a temperatura em ateacute 9ordm C no interior dos lares das

comunidades de baixa renda 112 Com exceccedilatildeo da TS chamada ldquoEscolas Sustentaacuteveisrdquo desenvolvida na

Argentina e que descrevo a seguir todas as iniciativas de desenvolvimento de

TS aqui listadas podem ser acessadas em httpwwwaprenderensinartscombr Satildeo relatos de experiecircncias jaacute

implantadas e que natildeo precisam necessariamente estar publicadas em formato

de artigo 113Informaccedilotildees disponiacuteveis em

httpwwwacademiaestudantildeletrasblogspotcombr

155

O projeto ldquoBanco Verde e Bazar Verderdquo se constitui como um

serviccedilo de troca de materiais reciclaacuteveis por material escolar A

iniciativa desenvolvida na rede puacuteblica de ensino na Regiatildeo Sudeste

funciona como uma troca osas alunosas coletam materiais reciclaacuteveis

(garrafas PET potes de vidros latinhas de alumiacutenio e sacos plaacutesticos) e

trocam por moedas verdes Essas que satildeo depositadas no Banco Verde

que fica dentro da escola podem ser gastas no Bazar Verde que tambeacutem

fica na escola e vende artigos variados de papelaria perfumaria e

tecnologia

Com mais de 200 professoresas formadosas desde 2011 o

projeto intitulado ldquoA Escola eacute a Cidade amp a Cidade eacute a Escolardquo da

Regiatildeo Sudeste do Brasil visa melhorar o ambiente escolar e integrar

educaccedilatildeo e cultura A metodologia da TS eacute formar profissionais que

possam usar a arte em accedilotildees contemporacircneas que contribuam com a

melhoria do ambiente escolar no que diz respeito ao espaccedilo fiacutesico mais

atrativo e na aproximaccedilatildeo dos interesses educacionais e juvenis A

preocupaccedilatildeo com formaccedilatildeo de professoresas (aqui estendida a

alunosas) tambeacutem eacute tema da TS ldquoAbra os Olhos para a Ciecircnciardquo

Iniciativa desenvolvida na Regiatildeo Nordeste do Brasil e que incentiva o

envolvimento de alunosas do ensino meacutedio em atividades de divulgaccedilatildeo

e construccedilatildeo do conhecimento cientifico para a compreensatildeo e resoluccedilatildeo

de problemas socioambientais

A TS ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo tem foco na formaccedilatildeo de

jovens na relaccedilatildeo entre direitos humanos cidadania e orccedilamento

puacuteblico A TS consiste em oficinas em escolas puacuteblicas do Distrito

Federal A ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo problematiza a escola a partir

da reflexatildeo sobre educaccedilatildeo de qualidade trabalha com formaccedilatildeo em

orccedilamento puacuteblico direitos humanos cidadania comunicaccedilatildeo e

processo legislativo Na possibilidade de diaacutelogo com o parlamento

osas adolescentes aprendem a defender seus interesses sem a

intermediaccedilatildeo de outros sujeitos

Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o ldquoLaboratoacuterio de

Desenvolvimento de Tecnologias Sociaisrdquo desenvolve projetos

tecnoloacutegicos de recuperaccedilatildeo de aacutereas urbanas degradadas Segundo

Nunes (2005) o laboratoacuterio utiliza uma metodologia participativa e

estimula a integraccedilatildeo dos diversos sujeitos atraveacutes da formaccedilatildeo de

parcerias com universidades e empresas A participaccedilatildeo coletiva eacute

estimulada atraveacutes de um foacuterum de discussatildeo que aborda os principais

temas principalmente sobre a problemaacutetica socioambiental da regiatildeo O

foacuterum busca apontar soluccedilotildees para os problemas locais atraveacutes da

156

construccedilatildeo de uma agenda para a viabilizaccedilatildeo da sustentabilidade local

(NUNES 2005)

O projeto do ldquoObservatoacuterio do Movimento pela Tecnologia

Social na Ameacuterica Latinardquo com sede na Universidade de Brasiacutelia

(UnB) visa identificar discutir analisar e avaliar a efetividade de

experiecircncias com TS implantadas como soluccedilotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas a partir de demandas sociais Conforme Neder (2008) o

observatoacuterio pretende cobrir as muacuteltiplas dimensotildees do movimento de

entidades civis empresas puacuteblicas oacutergatildeos governamentais e poliacuteticas

puacuteblicas governamentais expressas nos uacuteltimos anos

O curso ldquoFundamentos da Tecnologia Socialrdquo tambeacutem

oferecido na UnB tem como objetivo sistematizar as dificuldades e

necessidades enfrentadas hoje pelos que defendem as inovaccedilotildees

socioteacutecnicas e TS As metas do curso consistem em discutir as bases

da apropriaccedilatildeo da teacutecnica sob uma visatildeo de pluralismo tecnoloacutegico nas

praacuteticas cientiacuteficas e acadecircmicas e realizar discussotildees empiacutericas a

partir do exame de alguns casos de TS no Brasil (NEDER 2008)

Aleacutem de discutir os fundamentos teoacutericos de TS o curso segue a linha

de pesquisa de anaacutelise de tecnologias para a sustentabilidade

Por fim destaco uma iniciativa desenvolvida na Argentina com

coordenaccedilatildeo da Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social (REDTISA) voltada ao desenvolvimento de TS tendo em vista a ideia

de escolas sustentaacuteveis Conforme a coordenadora Paula Juarez o

projeto eacute uma iniciativa que aborda problemas de escolas rurais a partir

da perspectiva dos sistemas tecnoloacutegicos sociais Assim problemas em

temas como aacutegua saneamento energia nutriccedilatildeo e sauacutede seriam

debatidos com a comunidade escolar e sujeitos locais de modo a buscar

soluccedilotildees socioteacutecnicas adequadas e necessaacuterias a cada realidade O

projeto envolveria desde o desenho comunitaacuterio da proposta a

autoconstruccedilatildeo com matildeo de obra local e uso de materiais locais ateacute a

formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo de docentes como agentes de desenvolvimento

(REDTISA 2016)

Jaacute em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre TS fiz duas

revisotildees (julho de 2015 e maio de 2016) no banco de teses e dissertaccedilotildees

da Capes disponiacutevel para acesso em

lthttpbancodetesescapesgovbrbanco-tesesgt A busca pelo termo

ldquotecnologia social educaccedilatildeordquo em tiacutetulos de documentos disponiacuteveis

apenas de origem da Plataforma Sucupira no periacuteodo de 2013 a 2016 na

aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo resultou em 6945 registros

encontrados A maioria desses registros tratava de tecnologia em geral

tecnologia assistiva tecnologia educacionaleducativa e de

157

comunicaccedilatildeoinformaccedilatildeodigitaismoacuteveis Apenas um registro citava TS

no tiacutetulo114

Uma pesquisa nos mesmos paracircmetros que citei acima mas

apenas para o termo ldquotecnologia socialrdquo e aberta a todas as aacutereas de

concentraccedilatildeo resultou em 212 registros Na aacuterea de concentraccedilatildeo

ldquoeducaccedilatildeordquo resultaram oito trabalhos mas apenas dois deles continham

TS no tiacutetulo115 Outra pesquisa apenas com o diferencial de buscar o

termo no plural ldquotecnologias sociaisrdquo resultou em 241 trabalhos sendo

que apenas sete deles estavam na aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo e

desses somente dois continham TS no tiacutetulo116

Com isso antes de pretender examinar os detalhes que envolvem

as TS nos CTIEM busquei apenas apontar estudos iniciativas

perspectivas e posicionamentos que podem colaborar com o exame

proposto Encaminhei um sentido sobre tecnologia que me guia durante

a pesquisa busquei relacionaacute-lo com o enfoque educacional que me

orienta e procurei dialogar com autoresas que podem contribuir em

alguma medida com minhas reflexotildees Assim procuro apontar caminhos

possiacuteveis para compreender e investigar o caraacuteter social da tecnologia

sobretudo em processos educacionais

Compreendo assim como Feenberg (2002 2012) que a

tecnologia pode ser vista como engendrada por relaccedilotildees sociais entre

sujeitos os quais defendem interesses e atuam a partir de valores

proacuteprios agrave sua cultura Noccedilatildeo que tambeacutem percebo em Freire (1968)

quando o autor esclarece que a tecnologia como uma praacutetica humana eacute

114 COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo intergeracional como tecnologia

social uma abordagem da intergeracionalidade no acircmbito da Universidade

Federal do Tocantins-UFT 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 115 OLIVEIRA J P de Tecnologia Social na Educaccedilatildeo Profissional e

tecnoloacutegica perspectivas da formaccedilatildeo do curso teacutecnico integrado em

informaacutetica do IFRN ndash Campus Mossoroacute 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo

Profissional) ndash IFRS Natal 2015 e COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo

intergeracional como tecnologia social uma abordagem da

intergeracionalidade no acircmbito da Universidade Federal do Tocantins-UFT

2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 116 JULIANO M C C Rede Famiacutelia um estudo sobre uma experiecircncia de

tecnologia social e seu diaacutelogo com a promoccedilatildeo de resiliecircncia comunitaacuteria e a

Educaccedilatildeo Ambiental 2013 Doutorado (Educaccedilatildeo Ambiental) ndash FURG Rio

Grande 2013 e MEAULO M P Fundaccedilatildeo Dorina Nowill Para Cegos Um

Estudo Sobre a Educaccedilatildeo Natildeo Formal e Tecnologias Sociais Presentes na

Inclusatildeo de Portadores de Deficiecircncia Visual 2014 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash

Centro Universitaacuterio Salesiano de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2014

158

poliacutetica e intencional natildeo eacute neutra e natildeo se produz nem se usa sem uma

visatildeo de mundo Assim como o posicionamento do autor sobre a

educaccedilatildeo a tecnologia poderia estar relacionada com a praacutetica da

liberdade

Percebo que a liberdade tanto no desenvolvimento tecnoloacutegico

quanto em processos educacionais eacute uma expressatildeo de emancipaccedilatildeo

social autonomia e consciecircncia criacutetica E essas satildeo categorias

importantes em relaccedilatildeo a TS que se pretendam mobilizadoras de

juventudes para a autoria Portanto destaco a vigilacircncia com a qual

examino sentidos sobre TS que circulam nos CTIEM do IFRS Cacircmpus

Caxias do Sul Minha atenccedilatildeo eacute para o que emerge e tambeacutem para o que

estaacute ausente (sentidos natildeo deterministas) Algo que Santos (2010a) jaacute

alerta em sua ecologia dos saberes

Diz o autor que

() eacute crucial comparar o conhecimento que estaacute

sendo aprendido com o conhecimento que estaacute

sendo esquecido ou desaprendido A ignoracircncia soacute

eacute uma condiccedilatildeo desqualificadora quando o que

estaacute sendo aprendido tem mais valor do que o que

estaacute sendo esquecido A utopia do

interconhecimento eacute aprender outros

conhecimentos sem esquecer a si mesmo Esta eacute a

ideia de prudecircncia que permanece na ecologia dos

saberes (SANTOS 2010a p52)117

O que acredito ser possiacutevel sobretudo ao buscarmos mobilizar

estudantes para a autonomia e a emancipaccedilatildeo social dentro de uma

perspectiva criacutetica da Educaccedilatildeo CTS Nesse sentido concordo com

Linsingen (2007) no que o autor afirma que esse tipo de educaccedilatildeo

envolve fundamentalmente favorecer um ensino desobre ciecircncia e

tecnologia atento agrave formaccedilatildeo de sujeitos com consciecircncia criacutetica em

relaccedilatildeo a suas possibilidades de participarem ativamente (autoria) da

transformaccedilatildeo da realidade em que vivem

117 Es crucial para comparar el conocimiento que se estaacute siendo aprendido con

el conocimiento que por lo tanto estaacute siendo olvidado o desaprendido La

ignorancia es solo una condicioacuten descalificadora cuando lo que se estaacute siendo

aprendido tiene maacutes valor que lo que se estaacute siendo olvidado La utopiacutea del

interconocimiento es aprender otros conocimientos sin olvidar el de uno mismo

Esta es la idea de la prudencia que subsiste bajo la ecologiacutea de los saberes

Traduccedilatildeo livre da autora

159

Tanto para esse autor quanto para mim uma renovaccedilatildeo educativa

dentro da Educaccedilatildeo CTS pode ser favorecida por mudanccedilas de

perspectivas de educadoresas e de educandosas atraveacutes da qual o

ensino de temas em tecnologia deixaria de ser enfocado em conteuacutedos

distantes e fragmentado baseado em conhecimentos supostamente

neutros e autocircnomos e passaria a ter foco em situaccedilotildees reais vividas

pelosas educandosas em seus contextos (LINSINGEN 2007)

Podemos ainda lembrar de Freire (2011) e Gramsci (1982) que

como destaquei no primeiro capiacutetulo chamam a atenccedilatildeo para a

curiosidade e a criatividade na construccedilatildeo de conhecimentos Algo que

acredito que estaria presente na intenccedilatildeo de mobilizar estudantes para a

autoria (com inspiraccedilatildeo em propostas de produccedilatildeo coletiva e de criacutetica a

modelos previamente impostos sem contextualizaccedilatildeo que fazem parte

tanto do movimento SL quanto da eacutetica do DIY) no desenvolvimento de

TS segundo uma perspectiva criacutetica

E eacute sob tais perspectivas que no proacuteximo capiacutetulo apresento

minha pesquisa sobre processos de desenvolvimento de TS entre

juventudes dos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul

160

161

CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES

A terceira parte desta tese eacute dedicada agraves anaacutelises dos dados

coletados conforme informei na introduccedilatildeo Os exames aqui realizados

visam examinar possibilidades e limites de transformar sentidos

deterministas sobre tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre

TS nos CTIEM Os passos para alcanccedilar esse objetivo geral envolvem

identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre estudantes dos

CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos

examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de

um posicionamento criacutetico sobre TS e verificar se e como promover

contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar emancipaccedilatildeo

social e autonomia entre estudantes

Para isso elaborei e realizei um roteiro didaacutetico para desenvolver

a temaacutetica socioteacutecnica tal como apresento de modo especiacutefico no

Apecircndice E mas que eacute discutido durante a anaacutelise dos dados Nesse

roteiro mostro como coletei dados primaacuterios atraveacutes de uma questatildeo

inicial formulada agravesaos estudantes (o que eacute tecnologia para vocecirc)

apliquei um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla escolha (conforme

Apecircndice D) e mobilizei para uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS

como mostrarei a seguir A memoacuteria das aulas atraveacutes dos registros em

meu diaacuterio de campo tambeacutem satildeo subsiacutedios para as anaacutelises Assim

como os dados secundaacuterios (pesquisa bibliograacutefica e documental) que

aparecem durante toda a tese mas aqui com o foco em documentos

sobre o IFRS

Os procedimentos e anaacutelises que detalharei satildeo parte da intenccedilatildeo

geral de captar tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema de

pesquisa que esbocei na introduccedilatildeo Procuro mostrar que ao examinar

sentidos sobre tecnologias que atravessam sem debates os (e circulam

sendo debatidos nos) CTIEM interesso-me por suas origens causas

consequecircncias e contradiccedilotildees tendo em vista possibilidades de

transformaccedilotildees da realidade social Essas possibilidades satildeo aqui

verificadas tendo em vista que as TS podem contribuir para uma

ecologia dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2010a

SANTOS 2007) que busque legitimar diferentes formas de

conhecimentos

Acredito que tal legitimidade estaacute relacionada com o

entendimento da emergecircncia como pode sugerir a Sociologia das

Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002 2007) de

compreendermos que problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas)

de estudantes de ensino meacutedio satildeo relevantes Estudos em Educaccedilatildeo

162

CTS latino-americanos atuais tecircm dado visibilidade a percepccedilotildees sobre

relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade em componentes

curriculares da ECT de Engenharias e de aacutereas das Ciecircncias Naturais e

Exatas (JACINSKI 2015 NIEZWIDA 2015) Neles haacute uma

problematizaccedilatildeo importante da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias

Humanas em aacutereas teacutecnicas (SILVEIRA MATOS GANHOR 2015

LINSINGEN 2007) Nesse contexto percebo certa ausecircncia de

discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica

Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de

possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)

conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade

socioteacutecnica com a qual elesas podem interagir diariamente Nessa

leitura que faccedilo de Santos (2006) vejo a Sociologia das Emergecircncias

como a ldquocontraccedilatildeo do futuro para dentro do presenterdquo (p 88)118 Ou

seja ao apresentar uma ausecircncia percebida considero a emergecircncia da

inclusatildeo de novos sujeitos nos debates socioteacutecnicos Sujeitos

especiacuteficos (com identidades de gecircnero poliacuteticas e eacutetnico-raciais) que

emergem do contexto escolar

Nesse sentido lembro a escola visualizada por Freire (2011) que

assim como osas educadoresas deveria natildeo soacute respeitar os

conhecimentos ldquocom que os educandos sobretudo os das classes

populares chegam a ela - saberes socialmente construiacutedos na praacutetica

comunitaacuteria - mas tambeacutem () discutir com os alunos a razatildeo de ser de

alguns desses saberes em relaccedilatildeo com o ensino dos conteuacutedosrdquo (p 31)

Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais

integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a

compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu

caraacuteter contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas)

A seguir apresento detalhadamente os procedimentos envolvidos

na coleta e anaacutelise de dados Inicialmente trago informaccedilotildees sobre a

cidade de Caxias do Sul sobre o bairro no qual o IFRS estaacute localizado e

sobre o proacuteprio Cacircmpus (histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outras)

Momento no qual tambeacutem apresento um breve panorama sobre o IFRS e

a educaccedilatildeo profissional no Brasil Na segunda parte do capiacutetulo

apresento sentidos sobre tecnologias que circulam entre as juventudes

que compotildeem os CTIEM analisados identificados atraveacutes da anaacutelise da

pergunta inicial e do questionaacuterio Por fim exponho possibilidades de

promover autoria entre estudantes a partir do desenvolvimento de TS e

118 ldquola contraccioacuten del futuro en el presenterdquo Traduccedilatildeo livre da autora

163

analiso esse desenvolvimento tendo em vista problemaacuteticas relacionadas

agrave emancipaccedilatildeo social e autonomia

31 CONTEXTO

Longe de querer abordar o contexto a partir de teorias linguiacutesticas

ou antropoloacutegicas o que pretendo nesse momento eacute apenas apresentar

algumas circunstacircncias que tecircm relaccedilatildeo com a investigaccedilatildeo que realizo

Portanto por contexto refiro-me a certas situaccedilotildees relacionadas a

espaccedilos os quais os sujeitos da minha pesquisa transitam de alguma

maneira

311 A cidade

A instalaccedilatildeo do IFRS no bairro Nossa Senhora de Faacutetima119 em

Caxias do Sul foi estrateacutegica Para compreender tanto os processos que

envolveram tal resoluccedilatildeo quanto as culturas locais eacute importante

verificar alguns aspectos da cidade e do bairro De acordo com dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) Caxias do Sul eacute a

segunda cidade mais populosa do estado do RS com mais de 435 mil

habitantes no ano de 2015120 (963 vivem na aacuterea urbana e 37 na

aacuterea rural) atraacutes somente da capital do estado Porto Alegre Municiacutepio

do qual estaacute agrave 127 km de distacircncia apenas conforme pode ser

visualizado no mapa 1 abaixo

119 Daqui em diante apenas Faacutetima 120 213612 homens e 221952 mulheres (IBGE 2015)

164

Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS

Fonte Google mapas (2016)

A regiatildeo na qual a cidade estaacute localizada que faz parte da

chamada serra gauacutecha121 era originalmente habitada pelo povo indiacutegena

Kaingang (ou caingangue)122 mas a partir do final do seacuteculo XIX

comeccedilou a receber sistematicamente migrantes vindosas da Europa

sobretudo da Itaacutelia E a identificaccedilatildeo italiana eacute ainda marcante na regiatildeo

Variaccedilotildees da liacutengua italiana assim como festas religiosas (catoacutelicas)

atividades agriacutecolas e a culinaacuteria da eacutepoca colonial123 satildeo preservadas

121 Gauacutechoa eacute o gentiacutelico de naturais do RS sinocircnimo de sul-rio-grandense 122 Para informaccedilotildees sobre o povo Kaingang nesse contexto verificar a seguinte

referecircncia DORNELLES S S De Coroados a Kaingang as experiecircncias

vividas pelos indiacutegenas no contexto de imigraccedilatildeo alematilde e italiana no Rio

Grande do Sul do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em

Histoacuteria) - UFRGS Porto Alegre 2011 123 Osas migrantes da regiatildeo satildeo conhecidosas (de modo ateacute elogioso) como

ldquocolonosrdquo e ldquocolonasrdquo pois um dos objetivos de sua instalaccedilatildeo seria colonizar

(no sentido de ocupaccedilatildeo territorial e desenvolvimento de atividades agriacutecolas

em um novo espaccedilo com a preservaccedilatildeo de costumes haacutebitos e culturas trazidos

de seus locais de origem) o lugar Frente a isso faccedilo uso do termo ldquocolonialrdquo no

sentido geral em que ele circula na regiatildeo e natildeo faccedilo referecircncia a debates

decoloniais descoloniais ou poacutes-coloniais de maneira especiacutefica embora

compreenda que uma anaacutelise desse tipo nesse contexto seria profiacutecua

165

com orgulho A induacutestria do turismo explora tais referecircncias e vende

com sucesso o estilo de vida ruacutestico dosas primeirosas migrantes

Um exemplo eacute a Festa da Uva que ocorre a cada dois anos desde

1931 (interrompida entre 1938 e 1950) e eacute dedicada a reavivar tradiccedilotildees

e celebrar a migraccedilatildeo italiana na regiatildeo Contudo mais do que o apelo

simboacutelico a Festa da Uva marca a predominacircncia da regiatildeo de Caxias

do Sul na produccedilatildeo nacional de uva De acordo com dados do IBGE

(2015) a produccedilatildeo de uva estimada para o ano de 2015 no RS seria de

876286 toneladas sendo que 80 desse total viria da regiatildeo de Caxias

do Sul O RS foi responsaacutevel por 565 da produccedilatildeo de uva no Brasil

em 2014 o equivalente a 812537 toneladas

Narrativas sobre as dificuldades enfrentadas na chegada ao Brasil

satildeo populares como pode ser visto no trecho abaixo disponiacutevel no site

da prefeitura da cidade

Era preciso conquistar a terra pelo trabalho

Trabalhar para viver e trabalhar para pagar a terra

Nos depoimentos de imigrantes o sonho de

colheitas abundantes e as facilidades de plantio

que a ldquovelha Itaacuteliardquo natildeo podia mais oferecer seria

concretizado na Serra Gauacutecha atraveacutes de muito

trabalho Um trabalho estafante recompensado

por colheitas fartas em uma terra ainda virgem

() A mesa tornou-se menos pobre a casa mais

confortaacutevel mantinha-se com austeridade a prole

que se tornava numerosa (CAXIAS 2015)

O silenciamento dos povos que jaacute habitavam a regiatildeo (ldquoterra

ainda virgemrdquo) e o valor dado agrave terra e ao trabalho como meio de

conquistas pessoais marcam ainda hoje certo ideaacuterio geral sobre o que

poderia ser compreendido como a vocaccedilatildeo da cidade Essa inclinaccedilatildeo eacute

expressa no lema ldquoFeacute e Trabalhordquo que eacute parte da identidade visual

adotada pela atual gestatildeo municipal como pode ser visto na figura 5

abaixo

166

Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade

Fonte CAXIAS 2015

Em relaccedilatildeo agrave feacute ao examinar alguns indicadores disponiacuteveis no

site do IBGE (2015) eacute possiacutevel verificar que a religiatildeo declarada pela

maioria da populaccedilatildeo da cidade eacute a catoacutelica conforme a tabela 4

abaixo Dados que corroboram percepccedilotildees gerais que podemos ter ao

convivermos com moradoresas da cidade sobre sua ligaccedilatildeo simboacutelica

com o Vaticano e ao observarmos a quantidade expressiva de festas

catoacutelicas promovidas por diversas paroacutequias durante todo o ano

Entendo que outras expressotildees de feacute tecircm pouco espaccedilo de divulgaccedilatildeo

em massa eou satildeo pouco declaradas em tal contexto

Tabela 4 - Religiatildeo declarada

Religiatildeo declarada Quantidade de pessoas (mil)

Catoacutelica apostoacutelica romana 332101

Evangeacutelicas 60230

Espiacuterita 11859

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de dados do IBGE (2015)

Em relaccedilatildeo a trabalho e renda eacute possiacutevel verificar no graacutefico 4

abaixo que a maioria da populaccedilatildeo economicamente ativa (com 18 anos

ou mais) da cidade estava ocupada no ano de 2010 (753) Natildeo haacute

dados oficiais atualizados mas induacutestrias do setor metalmecacircnico que

segundo a Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel

Heuser (FEE) concentra dois terccedilos dos empregos formais da cidade

anunciaram na imprensa local demissotildees durante todo o ano de 2015124

124 Informaccedilotildees tambeacutem disponiacuteveis em

httpwwwsimecscombrnoticias20150617crise-no-setor-metalmecanico-

empresas-apresentam-desempenho-economico-preocupante-nos-primeiros-

cinco-meses-de-2015

167

Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa

Fonte PNUD (2015)

Contudo de acordo com dados do IBGE (2015) no ano de 2013

o nuacutemero de empresas atuantes em Caxias do Sul era de 26477

unidades (o que lhe conferiu o primeiro lugar sendo que o

segundo lugar no RS ficaria com o municiacutepio de Novo Hamburgo com

15352 unidades) Aleacutem disso informaccedilotildees jornaliacutesticas especializadas

mostram que a cidade concentra 21 dos 500 maiores grupos de

empresasinduacutestrias da Regiatildeo Sul do Brasil125

De acordo com dados do IBGE do ano de 2010 o rendimento

meacutedio per capita (por pessoa) no muniacutecipio de Caxias do Sul eacute de pouco

mais de 1400 reais o que o coloca em 33ordm lugar entre os municiacutepios

brasileiros e 6ordm entre os do RS Jaacute o mapa 2 a seguir mostra que a

renda domiciliar meacutedia urbana no ano de 2013 era de mais de 3 mil

reais

125 Informaccedilotildees disponiacuteveis em httpwwwamanhacombr500maiores

168

Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana

Fonte IBGE (2015)

Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dados do IBGE (2015) mostram que no

ano de 2012 a populaccedilatildeo residente alfabetizada era de 391554 pessoas

(aproximadamente 89) A quantidade de matriacuteculas no ensino

fundamental e meacutedio eram respectivamente 56408 e 16360 A

escolaridade da populaccedilatildeo de 25 anos ou mais no ano de 2010 pode ser

verificada no graacutefico 5 a seguir A partir dele eacute possiacutevel fazer uma

comparaccedilatildeo com dados nacionais ou seja em Caxias do Sul 28 da

populaccedilatildeo estava em condiccedilatildeo de analfabetismo (no Brasil 118)

446 possuiacuteam o ensino meacutedio completo (358 no Brasil) e 135

possuiacuteam o ensino superior completo (112 no Brasil) (IBGE 2015

PNUD 2015) Eacute possiacutevel verificar uma disparidade consideraacutevel em

relaccedilatildeo agrave taxa nacional apenas no criteacuterio do analfabetismo

169

Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo

Fonte PNUD (2015)

Se analisarmos indicadores de longevidade (esperanccedila de vida ao

nascer em anos que em Caxias do Sul eacute de 7658) juntamente com

dados como renda e educaccedilatildeo como mostrei acima teremos o chamado

Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)126 Esse varia

de 0 (zero) a 1 (um) e quanto mais proacuteximo de 1 (um) maior o

desenvolvimento humano O IDHM de Caxias do Sul eacute 0782 o que a

situa na faixa de desenvolvimento humano alto (IDHM entre 0700 e

0799) A dimensatildeo que mais contribui para o IDHM do municiacutepio eacute a

da longevidade com iacutendice de 0860 seguida de renda (renda per

capita em R$) com iacutendice de 0812 e de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo

(percentual de pessoas estudando de acordo com a faixa etaacuteria) com

iacutendice de 0686 (PNUD 2015)

O graacutefico 6 abaixo traz uma comparaccedilatildeo entre o IDHM de

Caxias do Sul e o de outros municiacutepios brasileiros Nele podemos ver

certa situaccedilatildeo levemente favoraacutevel do municiacutepio em relaccedilatildeo ao IDHM

gauacutecho e nacional no ano de 2010

126 O IDH eacute medido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) com base em

indicadores de educaccedilatildeo renda e expectativa de vida como jaacute referi No Brasil

o levantamento ocorre a cada dez anos e eacute feito em parceria com o Instituto de

Pesquisa Econocircmica Aplicada (Ipea) Assim como o IDH os dados mais

recentes do IDHM satildeo de 2010

170

Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul

Fonte PNUD (2015)

Conforme explicitei na introduccedilatildeo desta tese entendo que a

adoccedilatildeo estrita de meacutetodos quantitativos sobretudo de mediccedilatildeo de

qualidade de vida pode trazer limitaccedilotildees e generalizaccedilotildees silenciadoras

de especificidades importantes Contudo o IDHM pode ser uacutetil para

analisarmos criticamente impactos de poliacuteticas puacuteblicas na populaccedilatildeo

nessas aacutereas por exemplo

Para aleacutem de tentar contextualizar aspectos da cidade (e sua

caracterizaccedilatildeo marcada pela opulecircncia) na qual a investigaccedilatildeo eacute

realizada o que busco com esses dados nesse momento eacute compreender

certos discursos generalizados que muitas vezes verifico tanto nas

miacutedias locais quanto entre estudantes dos CTIEM E que entendo

estarem sintetizados na seguinte frase que consta no site da prefeitura

da cidade ldquoA garra e determinaccedilatildeo herdadas dos imigrantes satildeo a marca

do povo caxienserdquo (CAXIAS 2015)

Percebo que haveria um modo peculiar entre descendentes de

migrantes italianosas de encarar os desafios e construir um

desenvolvimento econocircmico baseado em esforccedilos pessoais Sendo que

ecircxitos alcanccedilados seriam derivados de trabalho pessoal intensivo O que

pode deixar margens para que se possa pensar que a natildeo obtenccedilatildeo de progresso econocircmico seria reponsabilidade do sujeito que natildeo

empregou esforccedilo suficiente para alcanccedilar os seus objetivos

Natildeo eacute minha intenccedilatildeo levantar dados para especular acerca de

possiacuteveis atitudes individualistas ou colaborativas (de menor ou maior

171

apoio agrave presenccedila do Estado em atividades de regulaccedilatildeo por exemplo) de

residentes em Caxias do Sul Nesta tese natildeo abordo sentidos atribuiacutedos

ao trabalho por sujeitos especiacuteficos Trago essas percepccedilotildees porque elas

fazem parte em alguma medida do contexto no qual a investigaccedilatildeo eacute

realizada e penso que eacute importante que natildeo sejam silenciadas Nesse

mesmo sentido a seguir apresento algumas informaccedilotildees sobre o bairro

no qual o Cacircmpus de Caxias do Sul do IFRS estaacute instalado

312 O bairro

O IFRS de Caxias do Sul estaacute localizado na parte Nordeste do

bairro Faacutetima conhecido como Faacutetima Alta Local esse que faz parte da

regiatildeo setentrional da cidade Seus limites satildeo ao Norte a Rodovia RSC

453 (que compotildee a Rodovia Rota do Sol que liga a serra gauacutecha ao

litoral) no Leste estaacute o Rio Tega (complexo dalrsquoboacute ndash barragens Satildeo

Miguel e Satildeo Pedro) ao Sul o bairro universitaacuterio e no Oeste o bairro

pioneiro O mapa 3 a seguir ilustra essas referecircncias e mostra uma zona

de limite entre residecircncias (e pequenos comeacutercios informais) induacutestrias

e aacutereas pouco urbanizadas

Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima

Fonte Google mapas (2015)

172

De acordo com dados do IBGE (2015) a populaccedilatildeo do Faacutetima no

ano de 2010 era de 13759 pessoas o que o coloca em 6ordm lugar como

bairro mais populoso da cidade (entre os 65 bairros do municiacutepio)

Contudo a maioria dosas estudantes do IFRS reside fora do bairro

Entre estudantes dos CTIEM que investiguei menos de 10 moravam

proacuteximo agrave escola127 Mais de 80 dosas alunosas residem em outras

partes da cidade como pode ser verificado a partir do graacutefico 7 abaixo

que indica meios de transporte utilizados para chegar agrave escola (dados de

2015)

Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Nas imediaccedilotildees do IFRS existem pelo menos trecircs instituiccedilotildees

municipais de ensino fundamental uma unidade baacutesica de sauacutede um

grupo de convivecircncia das mulheres do bairro uma associaccedilatildeo para as

crianccedilas um centro de encontros e praacutetica da doutrina espiacuterita uma

igreja do Evangelho Quadrangular uma igreja Assembleia de Deus

uma Agecircncia de Desenvolvimento Adventista e uma Igreja Catoacutelica128

Ao lado da escola ficam o centro comunitaacuterio e uma quadra de esportes

127 A partir de agora uso o termo ldquoescolardquo como sinocircnimo do IFRS de Caxias do

Sul e natildeo no sentido geral de instituiccedilatildeo 128 Podemos verificar que somente no entorno do IFRS existem cinco tipos

diferentes de locais relacionados com espiritualidade e religiatildeo O que natildeo deve

contrariar os dados gerais do IBGE (2015) para a cidade conforme destaquei na

tabela 4 acima mas reforccedila a percepccedilatildeo de que religiotildees e outras expressotildees de

feacute diferentes do catolicismo satildeo pouco declaradas oficialmente

173

Essa uacuteltima muitas vezes utilizada para as atividades da disciplina de

Educaccedilatildeo Fiacutesica do IFRS pois ainda natildeo haacute um local apropriado para

essas atividades nas dependecircncias da escola

Em geral a infraestrutura do bairro eacute problemaacutetica em

saneamento baacutesico (sistema de tratamento de esgoto precaacuterio)

pavimentaccedilatildeo de ruas (vias com calccedilamento irregular ou inexistente)

cobertura de iluminaccedilatildeo puacuteblica (postes com luzes danificadas) e

limpeza de aacutereas natildeo habitadas (terrenos com formaccedilatildeo vegetal sem

cuidados) Existem pelo menos trecircs linhas de ocircnibus urbanos que

circulam na regiatildeo mas com precisatildeo de horaacuterios insatisfatoacuteria (atrasos

constantes) Contudo um dos maiores problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo residente e tambeacutem pela comunidade escolar eacute a inseguranccedila

Traacutefico de drogas e assassinatos satildeo noticiados regularmente na

imprensa local como destaco nas seguintes manchetes de um jornal da

cidade129 24072015 ldquoHomem eacute preso com maconha no bairro

Faacutetimardquo 29112015 ldquoTrinta facadas mataram avoacute e neta no bairro

Faacutetimardquo 02122015 ldquoHomem eacute encontrado morto em parada de ocircnibus

no bairro Faacutetimardquo 19122015 ldquoEstudante de Quiacutemica no Instituto

Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) eacute assassinada no bairro Faacutetima

quando ia para o trabalhordquo130 16012016 ldquoHomem eacute baleado no bairro

Faacutetimardquo

Portanto temas sobre violecircncia urbana satildeo comumente discutidos

na escola Nas minhas aulas de Sociologia essa temaacutetica sempre

apareceu Verifiquei que osas alunosas apresentavam reaccedilotildees que

transitavam entre o sentimento de medo de sofrer alguma violecircncia no

caminho para a escola ateacute a praacutetica de atos preconceituosos com colegas

ou servidoresas que moravam no bairro ou nas proximidades Esse

contexto levou agrave participaccedilatildeo da comunidade escolar no projeto

ldquoAlianccedila pela Pazrdquo que entre suas accedilotildees promoveu uma caminhada

pelas ruas do bairro no mecircs de novembro do ano de 2015 A intenccedilatildeo foi

unir comunidades escolares locais e moradoresas do bairro para chamar

a atenccedilatildeo da cidade para problemas de inseguranccedila no Faacutetima

129 Tendo em vista diferentes apelos que temas sobre a violecircncia urbana podem

ter sobretudo na miacutedia destaco o cuidado que tive em minha busca no jornal de

maior circulaccedilatildeo na cidade com as chamadas ldquomanchetes sensacionalistasrdquo

Notiacutecias disponiacuteveis em lthttppioneiroclicrbscombrrsgeralcidadesgt 130 Esse fato obviamente teve grande impacto e gerou muita comoccedilatildeo na

escola A aluna em questatildeo (que frequentava minhas aulas) residia no bairro e

tinha apenas 16 anos

174

Com esses destaques acredito que certos aspectos culturais que

estatildeo presentes no quotidiano da escola foram considerados Embora

minha intenccedilatildeo seja investigar sentidos sobre tecnologia natildeo deixo de

chamar a atenccedilatildeo para possibilidades de problematizar relaccedilotildees entre a

declarada opulecircncia da cidade e (i) sua proclamada ligaccedilatildeo com o

trabalho de descendentes de migrantes europeus e (ii) situaccedilotildees de

vulnerabilidade social que estatildeo presentes no Faacutetima

Com isso natildeo desejo apenas levantar possiacuteveis contradiccedilotildees

expressas mas buscar compreender um pouco sobre ideias mais gerais

que circulam entre as juventudes dos CTIEM que estatildeo aleacutem do meu

foco de pesquisa mas satildeo relevantes para o entendimento do contexto

geral Algo que tambeacutem se refere a uma mirada sobre os Institutos

Federais como apresento a seguir

313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Eacute importante lembrarmos que os atuais Institutos Federias tecircm

relaccedilatildeo com a educaccedilatildeo profissional Conforme Kuenzer (2006) a

poliacutetica de educaccedilatildeo profissional no Brasil teve iniacutecio com a criaccedilatildeo das

chamadas Escolas de Aprendizes Artiacutefices nas capitais do Brasil no ano

de 1909 pelo entatildeo presidente Nilo Peccedilanha A partir da deacutecada de

1930 a burguesia industrial crescente comeccedilaria a desenvolver um

projeto de fortalecimento do capitalismo nos grandes centros urbanos do

paiacutes Desse modo a autora afirma que agraves classes populares estaria

disponiacutevel uma formaccedilatildeo (praacutetica) necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo de sua

condiccedilatildeo enquanto descendentes das elites teriam acesso agrave formaccedilatildeo

intelectual (propedecircutica)

Assim ldquo() desenvolveu-se uma rede de escolas de formaccedilatildeo

profissional em diferentes niacuteveis () com a finalidade de atender agraves

funccedilotildees instrumentais inerentes agraves atividades praacuteticas que decorriam da

crescente diferenciaccedilatildeo dos ramos profissionaisrdquo (KUENZER 2006 p

17) Sendo que ao longo do seacuteculo XX as escolas de formaccedilatildeo teacutecnica

se desenvolveram em paralelo a escolas de formaccedilatildeo propedecircutica com

vistas a atender diferentes demandas e classes Algo que Gramsci (1982)

jaacute criticava ao propor a escola unitaacuteria

Desde as Escolas de Aprendizes Artiacutefices a educaccedilatildeo

profissional passou por vaacuterias mudanccedilas que englobaram a formaccedilatildeo de

Liceus Industriais em 1937 Escolas Industriais e Teacutecnicas em 1942

Escolas Teacutecnicas Federais em 1959 Centros Federais de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica (CEFET) iniciados em 1978 e retomados em 1999 ateacute

175

chegar aos atuais Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia131 criados em 2008 (OLIVEIRA 2015)

Os Institutos Federais como instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas

ligadas ao Governo Federal foram inicialmente concebidos tendo em

vista o potencial jaacute instalado nos CEFET Escolas Teacutecnicas Federais

Agroteacutecnicas e vinculadas agraves Universidades Federais Eles fazem parte

da Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

Essa atua em todos os estados brasileiros e oferece cursos teacutecnicos

superiores de tecnologia licenciaturas mestrado e doutorado (IFRS

2015)

Satildeo instituiccedilotildees que visam oferecer cursos em educaccedilatildeo

profissional e tecnoloacutegica de modo a fortalecer os arranjos produtivos

sociais e culturais das localidades onde estatildeo instalados Nesse sentido

seus objetivos envolveriam (aleacutem da educaccedilatildeo profissional teacutecnica em

niacutevel meacutedio e para jovens e adultos) a formaccedilatildeo inicial e continuada de

trabalhadoresas a realizaccedilatildeo de pesquisas e o desenvolvimento de

atividades de extensatildeo articuladas com o mundo do trabalho e os

coletivos locais (IFRS 2015)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior e de poacutes-graduaccedilatildeo o

objetivo seria promover o estabelecimento de bases soacutelidas em

educaccedilatildeo ciecircncia e tecnologia tendo em vista processos de geraccedilatildeo e

inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (IFRS 2015) Tal formaccedilatildeo compreenderia os

cursos superiores de tecnologia (formaccedilatildeo de profissionais para os

diferentes setores da economia) as licenciaturas (formaccedilatildeo de

professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica e para a educaccedilatildeo profissional) e

os bacharelados engenharias mestrados e doutorados (formaccedilatildeo de

especialistas nas diferentes aacutereas do conhecimento)

Tendo em vista a ecircnfase dos Institutos Federais na produccedilatildeo

desenvolvimento e divulgaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e

tecnoloacutegicos tambeacutem eacute seu objetivo ldquoestimular e apoiar processos

educativos que levem agrave geraccedilatildeo de trabalho e renda e agrave emancipaccedilatildeo do

cidadatildeo na perspectiva do desenvolvimento socioeconocircmico local e

regionalrdquo (IFRS 2015 sp) A Lei nordm 11892 de 29122008 que

instituiu a Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e

131 A atual Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da

qual fazem parte os Institutos Federais teve um significativo desenvolvimento

na atualidade Entre os anos de 1909 e 2002 foram construiacutedas 140 escolas

teacutecnicas no paiacutes A expansatildeo dessa rede entre os anos de 2003 e 2015 contou

com a implantaccedilatildeo de 562 unidades que proporcionaratildeo a oferta de 600 mil

vagas (OLIVEIRA 2015)

176

Tecnoloacutegica e criou os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia destaca que entre outras finalidades e caracteriacutesticas os

Institutos Federias devem

(i) ofertar educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica formando e

qualificando cidadatildeos com vistas na atuaccedilatildeo profissional nos diversos

setores da economia com ecircnfase no desenvolvimento socioeconocircmico

local regional e nacional (ii) desenvolver a educaccedilatildeo profissional e

tecnoloacutegica como processo educativo e investigativo de geraccedilatildeo e

adaptaccedilatildeo de soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas agraves demandas sociais e

peculiaridades regionais e (iii) promover a produccedilatildeo o desenvolvimento

e a transferecircncia de tecnologias sociais (BRASIL 2008 grifo da autora)

Algo que em princiacutepio poderia levar a um distanciamento da

perspectiva de educaccedilatildeo profissional voltada agrave manutenccedilatildeo de interesses

de classes que seria desenvolvida historicamente no Brasil como

destacou Kuenzer (2006) E leva-me a reflexatildeo sobre o desenvolvimento

de TS entre as juventudes do IFRS como apresentarei adiante

No RS existem trecircs Institutos Federais quais sejam o Instituto

Federal Sul-riograndense (IFSul) o Instituto Federal Farroupilha

(IFFarroupilha) e o IFRS Esse uacuteltimo estaacute presente em 16 cidades de

diferentes regiotildees132 do RS Bento Gonccedilalves Canoas Caxias do Sul

Erechim Farroupilha Feliz Ibirubaacute Osoacuterio Porto Alegre (dois

Cacircmpus) Rio Grande Sertatildeo Alvorada133 Rolante Vacaria

Veranoacutepolis e Viamatildeo

Atualmente o IFRS registra cerca de 15 mil alunosas

matriculadosas em 180 opccedilotildees de cursos nas diferentes modalidades de

ensino disponiacuteveis Nele trabalham mais de 1600 profissionais (mais de

840 professoresas e 840 teacutecnicos-administrativos) sendo que quase

50 dosas servidoresas satildeo mestresas ou doutoresas Estaacute

classificado entre os dez maiores Institutos Federais do Brasil em

nuacutemero de alunosas e servidoresas (IFRS 2015)

O IFRS em consonacircncia com os Institutos Federais propotildee a

valorizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos os niacuteveis e em termos curriculares

apresenta um arranjo educacional proposto a discutir possibilidades de

combinaccedilatildeo do ensino de Ciecircncias Naturais Humanidades e Educaccedilatildeo

Profissional e Tecnoloacutegica para o ensino meacutedio Tem como objetivos

oportunizar possibilidades de acesso agrave educaccedilatildeo gratuita e de qualidade

e fomentar o atendimento a demandas localizadas ldquocom atenccedilatildeo

132 Os Cacircmpus atuam em aacutereas distintas como agropecuaacuteria de serviccedilos aacuterea

industrial vitivinicultura turismo moda e outras (IFRS 2015) 133 Nessas uacuteltimas cinco cidades o IFRS estaacute em processo de implantaccedilatildeo

177

especial agraves camadas sociais que carecem de oportunidades de formaccedilatildeo

e de incentivo agrave inserccedilatildeo no mundo produtivordquo (IFRS 2015

sp) Assim seu foco estaria voltado agrave justiccedila social equidade

competitividade econocircmica e geraccedilatildeo de novas tecnologias

Dentro dessa poliacutetica destaco que osas alunosas possuem

acompanhamento pedagoacutegico psicoloacutegico e de estudos orientados

(possibilidade de estudo individualizado direto com oa professora)

Existem subsiacutedios financeiros de apoio agrave permanecircncia na escola

disponibilizados atraveacutes de auxiacutelio alimentaccedilatildeo auxiacutelio transporte e

auxiacutelio material escolar entre outros De modo que o IFRS e os

Institutos Federais de modo geral possui uma estrutura privilegiada em

relaccedilatildeo agrave maioria das instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas municipais e

estaduais do Brasil

O IFRS foi pensado para ser um centro de excelecircncia do ensino

puacuteblico (IFRS 2015) Com isso busca conexatildeo com as induacutestrias locais

tendo em vista ldquoo compromisso de intervenccedilatildeo em suas respectivas

regiotildees identificando deficiecircncias no mercado de trabalho e criando

soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas para o desenvolvimento sustentaacutevel

com inclusatildeo socialrdquo (IFRS 2015 sp) Nesse momento natildeo questiono

sobre como essa inclusatildeo seria entendida nos diversos Cacircmpus (em qual

modelo produtivo que perfil profissional para qual mercado e com que

tipo de tecnologia) nem sobre que accedilotildees efetivas estariam em curso

Antes destaco aspectos pontuais do IFRS de Caxias do Sul

314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul

No ano de 2008 o entatildeo presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio

Lula da Silva anunciou que Caxias do Sul fora uma das cidades

contempladas com um Cacircmpus do IFRS Fato que atendeu agrave Chamada

Puacuteblica MECSETEC nordm 1 de 2007 de apoio agrave fase dois do plano134 de

expansatildeo da Rede Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e fez parte da

iniciativa do Governo Federal de implantar 150 novas unidades da Rede

(IFRS 2015)

A contrapartida da Chamada Puacuteblica que citei acima seria a

doaccedilatildeo de uma aacuterea de terra em zona urbana (com dimensotildees miacutenimas

de 20 mil metros quadrados) agrave uniatildeo por parte da prefeitura da cidade O

que ocorreu no mecircs de dezembro do ano de 2008 quando a prefeitura de

134 O plano previa a instalaccedilatildeo de uma escola teacutecnica em cada cidade polo do

paiacutes Com a lei 11892 essas instituiccedilotildees passaram a integrar diferentes

Institutos Federais (IFRS 2015)

178

Caxias do Sul designou uma aacuterea de 30 mil metros quadrados no

Faacutetima para a construccedilatildeo da escola (IFRS 2015) A intenccedilatildeo seria

dispor de um local no qual o IFRS tivesse possibilidades de impactar de

maneira socialmente positiva na comunidade local Algo que destaquei

anteriormente ao comentar sobre a escolha estrateacutegica do Faacutetima

Os Institutos Federais do RS tecircm uma poliacutetica de definir por meio

de audiecircncias puacuteblicas com representantes da sociedade os novos cursos

que seratildeo ofertados nas suas unidades Nesse sentido no iniacutecio do ano

de 2009 representantes de diversos sindicatos (patronais e de

trabalhadores) empresas instituiccedilotildees de ensino poder puacuteblico

(municipal estadual e federal) e ONGs reuniram-se de modo que foram

definidas as seguintes ofertas quatro cursos superiores (Tecnologia em

Metalurgia Tecnologia em Logiacutestica Licenciatura em Quiacutemica e

Licenciatura em Matemaacutetica) e cinco cursos teacutecnicos (Plaacutesticos

Quiacutemica Mecacircnica Cozinha e Comeacutercio) (IFRS 2015)

Junto a isso foi definido o projeto de construccedilatildeo das instalaccedilotildees

prediais do Cacircmpus e a execuccedilatildeo da obra comeccedilou jaacute no mecircs de

fevereiro do ano de 2009 No ano de 2010 a escola iniciou suas

atividades mas ainda em uma sede provisoacuteria localizada no bairro

Floresta Foi apenas no iniacutecio do ano de 2014 que a sede proacutepria e

definitiva (com um espaccedilo de mais de 7 mil metros quadrados de aacuterea

construiacuteda) foi ocupada (IFRS 2015)

O Cacircmpus de Caxias do Sul estaacute em processo de expansatildeo Ateacute o

ano de 2015 estavam em funcionamento 14 salas de aula dois

laboratoacuterios de informaacutetica trecircs laboratoacuterios de quiacutemica laboratoacuterios de

liacutenguas matemaacutetica fiacutesica biologia ensaios mecacircnicos

instrumentaccedilatildeo tratamentos teacutermicos metalografia preparaccedilatildeo

mecacircnica fundiccedilatildeo e conformaccedilatildeo laboratoacuterio de corte soldas e

usinagem de processos e fabricaccedilatildeo mecacircnica caracterizaccedilatildeo e

processos de transformaccedilatildeo de poliacutemeros hidraacuteulica e pneumaacutetica aleacutem

de biblioteca cantina salas de convivecircncia e sala de professoresas

(IFRS 2015) Aleacutem disso osas alunosas contam com apoio

especializado de profissionais em assistecircncia social psicologia e

pedagogia

No ano de 2015 foram ofertados os seguintes cursos

Niacutevel meacutedio teacutecnico e profissionalizante em Plaacutesticos Quiacutemica e

Fabricaccedilatildeo Mecacircnica (em dois turnos diurnos) aleacutem do Curso Teacutecnico

em Administraccedilatildeo Integrado ao Ensino Meacutedio na modalidade PROEJA

(Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Profissional com a

Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e Adultos) no turno noturno

Modalidade Subsequente Teacutecnico em Plaacutesticos (turno noturno)

179

Graduaccedilatildeo Licenciatura em Matemaacutetica (turno diurno e noturno)

e Tecnoacutelogo em Processos Metaluacutergicos (turno diurno e noturno)

Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Tecnologia e

Engenharia de Materiais135

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de vagas oferecidas (330) e a procura

de estudantes por essas vagas para o ano de 2015 no Cacircmpus de Caxias

do Sul pode ser vista no quadro 13 abaixo Nele eacute possiacutevel verificar a

existecircncia de cursos com pouca procura o que levou a direccedilatildeo da escola

a propor medidas de publicidade sobre a oferta de vagas na instituiccedilatildeo

no ano de 2015

Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas

Fonte (IFRS 2015)

No graacutefico 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis os percentuais de

estudantes em cada curso Como jaacute referi o Cacircmpus ofereceu 330 vagas

nas modalidades meacutedio PROEJA subsequente e graduaccedilatildeo136 No ano

de 2015 havia 840 estudantes matriculadosas incluindo todas as

modalidades de ensino A previsatildeo eacute de que novos cursos superiores

sejam ofertados e que 14 mil estudantes estejam matriculados no IFRS

de Caxias do Sul no ano de 2016 (IFRS 2015)

135 Aleacutem de Caxias do Sul suas aulas satildeo ofertadas em Cacircmpus de mais duas

cidades da regiatildeo Farroupilha e Feliz 136 Conforme o que estaacute previsto no artigo 8o da Lei nordm 11892 ou seja que os

Institutos Federais garantam o miacutenimo de 50 de suas vagas para educaccedilatildeo

profissional teacutecnica de niacutevel meacutedio prioritariamente na forma de cursos

integrados para osas concluintes do ensino fundamental e para o puacuteblico da

educaccedilatildeo de jovens e adultos e o miacutenimo de 20 de suas vagas para educaccedilatildeo

superior em cursos de licenciatura bem como programas especiais de formaccedilatildeo

pedagoacutegica com vistas agrave formaccedilatildeo de professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica

sobretudo nas aacutereas de ciecircncias e matemaacutetica e para a educaccedilatildeo profissional

(BRASIL 2008)

180

Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Para a elaboraccedilatildeo do graacutefico 8 osas estudantes do mestrado

ainda natildeo haviam sido contabilizadosas pois as aulas na poacutes-graduaccedilatildeo

iniciaram em meados do ano de 2015 No graacutefico acima podemos

verificar que mais de 60 da ocupaccedilatildeo de vagas estaacute no niacutevel meacutedio

Esse dado se relaciona com o graacutefico 9 abaixo que indica a idade

dosas estudantes

181

Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Podemos verificar que em sua maioria satildeo menores de 18 anos

Osas estudantes dos CTIEM que satildeo os sujeitos da minha pesquisa

tecircm entre 14 e 18 anos (maioria entre 15 e 16 anos) como jaacute referi

anteriormente Outros aspectos sobre o Cacircmpus e osas estudantes

tambeacutem satildeo considerados na segunda e na terceira parte deste capiacutetulo

quando analiso as atividades em relaccedilatildeo ao desenvolvimento de TS

Antes disso e para finalizar essa parte destaco alguns pontos do

Projeto Poliacutetico Institucional (PPI) e dos Projetos Pedagoacutegicos dos

Cursos (PPCs) do IFRS de Caxias do Sul que podem ajudar a compor o

contexto geral (geofiacutesico poliacutetico institucional e pedagoacutegico) de minha

pesquisa

Conforme descrito no PPC do curso de Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

(mas que eacute similar ao dos outros dois cursos) o IFRS tem seu PPI

pautado em diretrizes pedagoacutegicas que concebem a educaccedilatildeo como

um processo complexo e dialeacutetico uma praacutetica

contra hegemocircnica que envolve a transformaccedilatildeo

humana na direccedilatildeo do seu desenvolvimento pleno

Ela deve ser emancipatoacuteria ou seja possibilitar a

construccedilatildeo de conhecimentos de forma

significativa e que possa ponderar o educando

para sua inserccedilatildeo no mundo do trabalho ()

compreendida como acessiacutevel e inclusiva voltada

para todos os sujeitos independente de gecircnero

etnia classe social ou outra relaccedilatildeo qualquer

(IFRS 2013 p 13-14)

182

Aleacutem disso ainda eacute destacado que todosas aquelesas

servidoresas que fazem parte da instituiccedilatildeo podem ser sujeitos

transformadores da realidade Concepccedilotildees que compreendo como

relacionadas com a perspectiva politeacutecnica na qual me filio conforme

apontei na primeira parte desta tese E que de maneira mais geral

tambeacutem estatildeo presentes tanto em Meacuteszaacuteros (2008) e sua reivindicaccedilatildeo a

favor de uma educaccedilatildeo plena quanto em Freire (1987 2011) e seu

posicionamento em relaccedilatildeo a formaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica dosas

educandosas

Outro aspecto do PPC que vai ao encontro de minhas

perspectivas teoacutericas diz respeito a premissa137 do trabalho assumido

como princiacutepio educativo O PPC destaca que as relaccedilotildees entre trabalho

ciecircncia tecnologia e cultura satildeo indissociaacuteveis Algo bem visiacutevel em

Gramsci (1982) Portanto o IFRS deveria ldquogarantir as competecircncias e

habilidades na formaccedilatildeo apresentada baseando-se em princiacutepios eacuteticos

poliacuteticos e pedagoacutegicos que buscam articular tecnologia e humanismordquo

(IFRS 2013 p 15) E tal formaccedilatildeo estaria baseada em uma metodologia

interdisciplinar fundamentada em referenciais de uma educaccedilatildeo

emancipatoacuteria

Compreendo que os princiacutepios apresentados no PPI e no PPC do

IFRS sinalizam positivamente para uma concepccedilatildeo politeacutecnica da

educaccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos Algo que estaacute de

acordo com minhas posiccedilotildees sobre a temaacutetica educacional Entretanto

questiono-me se mesmo dentro dessa perspectiva poliacutetico-pedagoacutegica o

IFRS de Caxias do Sul tem rompido com a loacutegica dualista entre

formaccedilatildeo teacutecnica e propedecircutica historicamente desenvolvida no Brasil

e se tem proporcionado ldquoproduccedilatildeo desenvolvimento e transferecircncia de

tecnologias sociaisrdquo conforme indicado legalmente (BRASIL 2008

sp)

Essas satildeo questotildees que em alguma medida podem ir aleacutem do

que pretendo nesta tese mas que fazem parte da cultura escolar e podem

ter influecircncia na minha pesquisa Portanto elas acompanham as anaacutelises

que apresento a seguir

137 Premissa fundamentada no Documento Base da Educaccedilatildeo Profissional

Teacutecnica de Niacutevel Meacutedio Integrado ao Ensino Meacutedio (BRASIL 2007)

183

32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA

Conforme jaacute referi durante o texto a realizaccedilatildeo da pesquisa desta

tese envolveu a elaboraccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico e de um

questionaacuterio na temaacutetica socioteacutecnica Esclareccedilo que o roteiro tem base

no meu plano de ensino (disponiacutevel no Anexo B) e no planejamento de

ensino do IFRS Portanto ele comtempla os objetivos de ensino-

aprendizagem em relaccedilatildeo agrave componente curricular de Sociologia e natildeo

necessaacuteria e estritamente os meus objetivos de pesquisa embora eles

guardem intersecccedilotildees importantes

Assim o roteiro se constituiu como uma espeacutecie de guia que

colaborou com a organizaccedilatildeo da coleta dos dados e por isso o exploro

com detalhes ao longo das anaacutelises Natildeo eacute minha intenccedilatildeo fazer um

levantamento quantitativo acerca de percepccedilotildees sobre tecnologia

baseado no questionaacuterio como explicitarei adiante Ele foi construiacutedo

para levantar questotildees e mediar discussotildees (desnaturalizar e estranhar)

embora seus resultados sejam contemplados nas anaacutelises em alguma

medida

Iniciarei as anaacutelises com a apresentaccedilatildeo de alguns dados sobre

osas estudantes que efetivamente participaram da pesquisa Depois

apresento sentidos sobre tecnologias de acordo com as respostas agrave

pergunta inicial e no final desse toacutepico apresento alguns sentidos sobre

tecnologia que se referem ao questionaacuterio

Natildeo eacute possiacutevel nesse momento caracterizar as identidades

poliacuteticas de gecircnero religiosas e eacutetnico-raciais de modo mais marcado

nessas juventudes No entanto apresento a seguir informaccedilotildees sobre

sexo autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial e histoacuteria escolar que mesmo que

gerais podem ajudar a ilustrar as juventudes com as quais interagi

Aspectos mais especiacuteficos dessesas jovens seratildeo abordados no proacuteximo

toacutepico na anaacutelise das TS desenvolvidas

O periacuteodo de realizaccedilatildeo da pesquisa contou com oito aulas na

disciplina de Sociologia realizadas no terceiro trimestre escolar entre

os meses de outubro e dezembro do ano de 2015 Estiveram envolvidos

todos os primeiros anos dos CTIEM nos turnos da manhatilde e da tarde

totalizando seis turmas (uma turma de cada um dos trecircs cursos em cada

turno)138 e 149 estudantes conforme pode ser visto na tabela 5 abaixo

138 Lembro que existem os cursos de Quiacutemica Plaacutesticos e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

disponiacuteveis ou em periacuteodo matutino ou vespertino

184

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que participaram da

pesquisa

Cursoturno Feminino Masculino Total

TFMManhatilde 02 23 25

TFMTarde 05 16 21

TPManhatilde 15 07 22

TPTarde 20 08 28

TQManhatilde 08 18 26

TQTarde 18 09 27

Total 68 81 149

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

A tabela 5 acima mostra que 46 das estudantes que

participaram da pesquisa eram meninas enquanto os meninos

representaram um percentual levemente maior com 54 de

participaccedilatildeo Algo que segue o quadro geral dos cursos com leve

preponderacircncia do percentual masculino como jaacute mostrei na tabela 1

Em relaccedilatildeo a questotildees eacutetnico-raciais dessesas jovens osas

envolvidosas com a pesquisa seguem a amostragem do graacutefico 10

abaixo no qual a maioria das autodeclaraccedilotildees139 satildeo quanto a categoria

(do IBGE) ldquobrancordquo

139 Desde o ano de 2013 o IFRS destina 50 de suas vagas para estudantes

vindosas de escolas puacuteblicas e destas reserva vagas para pretos pardos e

indiacutegenas em proporccedilatildeo no miacutenimo igual agrave de pretos pardos e indiacutegenas na

populaccedilatildeo da Unidade da Federaccedilatildeo onde estaacute instalada a instituiccedilatildeo de acordo

com os dados do IBGE

185

Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Essa maioria de estudantes autodeclaradosas na categoria

ldquobrancosrdquo se relaciona com dados de amostragem eacutetnico-racial do IBGE

para a cidade de Caxias do Sul Em relaccedilatildeo a escolas de origem

dessesas estudantes eacute possiacutevel verificar que a maioria cursou o ensino

fundamental integralmente em escolas puacuteblicas conforme o graacutefico 11

abaixo

Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Embora os dados do graacutefico 11 englobem todos os cursos da

escola ele representa significativamente a origem escolar dosas

estudantes da pesquisa Que satildeo de modo geral em sua maioria vindos

186

de escolas puacuteblicas (o que pode ser um indicativo de renda no Brasil) na

sua maior parte satildeo moradoresas de fora do bairro Faacutetima satildeo

autodeclaradosas ldquobrancosrdquo (como a maioria da populaccedilatildeo da regiatildeo) e

em nuacutemero quase igual entre meninas (46) e meninos (54)

Com esse quadro em mente (mas sem esquecer as especificidades

relacionadas a essesas estudantes) podemos examinar como a pesquisa

aconteceu tendo em vista o roteiro didaacutetico previsto que estaacute disponiacutevel

no Apecircndice E

321 Anaacutelise da questatildeo inicial

Na primeira aula com as turmas retomei os trecircs temas que

haviam sido desenvolvidos na primeira parte do trimestre (ideologia

miacutedias e consumo) e propus que osas alunosas pensassem em possiacuteveis

relaccedilotildees com tecnologias pois esse seria o proacuteximo tema (elesas tinham

o cronograma das aulas com essas informaccedilotildees) Em um segundo

momento dessa aula expliquei que durante o desenvolvimento da

segunda parte do trimestre eu realizaria uma pesquisa para o meu

doutorado Apresentei informaccedilotildees sobre essa atividade forneci e fiz a

leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e

entreguei a todosas uma folha de papel em branco para que

expressassem o que pensavam sobre tecnologia sem necessidade de

identificaccedilatildeo e com devoluccedilatildeo para mim no final do periacuteodo

A pergunta feita foi O que eacute tecnologia para vocecirc Esse

momento visava verificar que sentidos sobre tecnologia emergiriam

espontaneamente140 dessa espeacutecie de chuva de ideias Essa praacutetica jaacute era

recorrente nos iniacutecios de um novo tema para discussatildeo e minha intenccedilatildeo

foi mobilizar para que elesas pudessem se expressar criativamente com

possibilidades de debates entre si e sem preocupaccedilatildeo com respostas

corretas ou incorretas Minha atenccedilatildeo tambeacutem estava voltada a

possibilidades de abertura de espaccedilos de dizer (GIRALDI 2010)

Organizei as respostas agrave questatildeo inicial tendo em vista as quatro

perspectivas sobre os relacionamentos entre tecnologia e sociedade

propostos por Feenberg (2003)141 determinismo instrumentalismo

140 Destaco que osas estudantes satildeo proibidosas pela direccedilatildeo da escola de

utilizar qualquer tipo de aparelho celular e de acessar a internet nas salas de

aula 141 Domingues (2010) realizou anaacutelise semelhante baseada nas perspectivas

apontadas por Feenberg (2003) a partir de respostas de empreendedores de

187

substantivismo e teoria criacutetica conforme indiquei no quadro 3

Esclareccedilo que ao considerar as categorias apontadas pelo autor natildeo

tenho intenccedilatildeo de encaixar essas primeiras declaraccedilotildees dosas estudantes

nesse quadro de modo fechado Mesmo com a atenccedilatildeo voltada a

sentidos deterministas sobre tecnologia minha ideia envolve examinar

relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade segundo visotildees dessas juventudes

de modo mais dinacircmico tendo os paracircmetros de neutralidadenatildeo

neutralidade e autonomianatildeo autonomia da tecnologia como

aproximaccedilotildees

A seguir apresento quatro conjuntos de respostas com as

referecircncias que as fazem pertencer a cada grupo (palavras e expressotildees

que as categorizam em uma das quatro perspectivas) Essas referecircncias

foram construiacutedas tendo em vista a separaccedilatildeo que fiz por turmas

Analisei as respostas de cada turma separadamente (embora eu as

apresente sem fazer essa distinccedilatildeo) e com atenccedilatildeo aos seus contextos

Esse cuidado foi necessaacuterio pois cada uma das turmas tinha suas

especificidades e algumas vezes certas palavras de referecircncia

significavam de modos diferentes de acordo com as histoacuterias escolares

daquelesas estudantes dos preconceitos que circulavam no interior de

cada curso de suas expectativas em relaccedilatildeo ao mundomercado de

trabalho e de nossas vivecircncias nas aulas de Sociologia Os conjuntos

estatildeo dispostos desde o que concentrou o maior nuacutemero de referecircncias

ateacute o que menos as apresentou

Esclareccedilo que algumas respostas faziam referecircncia a mais de uma

perspectiva ao mesmo tempo Nesses casos busquei a perspectiva que

mais se destacava dentro das especificidades que citei acima Em geral

as respostas foram curtas a maioria com frases pequenas e muitas com

apenas uma ou duas palavras

No primeiro conjunto (determinismo tecnologia autocircnoma e

neutra) concentrei 84 respostas que se aproximavam de referecircncias com

ideias sobre avanccedilo progresso inovaccedilatildeo e invenccedilatildeo sem que os

sujeitos aparecessem necessariamente relacionados Algumas respostas

142

ldquoEacute aquilo que dita o estilo de vida das pessoas atualmenterdquo

incubadoras tecnoloacutegicas universitaacuterias sobre relaccedilotildees entre tecnologia e

sociedade 142 A partir de agora utilizo itaacutelico e aspas para transcrever passagens das

respostas dosas alunosas

188

ldquoVivemos na era da evoluccedilatildeo da tecnologia e ela evolui e nos

leva para evoluir tambeacutemrdquo

ldquoOs bens materiais satildeo um exemplo eles mudam assim as pessoas tambeacutem mudam para se adaptar a essas mudanccedilasrdquo

ldquoComo novos produtos se criamrdquo

ldquoPara mim tecnologia eacute inovaccedilotildees desde uma coisa mais simples ateacute mais complexas mudando seu jeito de viver e de convivecircncia com os

que estatildeo no redorrdquo

O segundo bloco (instrumentalismo tecnologia controlaacutevel e

neutra) com 44 respostas concentrou sentidos mais positivos

(tecnoacutefilos) sobre tecnologia e com aproximaccedilatildeo de referecircncias com

ideias sobre utilidade ferramentas instrumentos ou artefatos

construiacutedos para realizar tarefas atendimento a necessidades humanas e

com sujeitos envolvidos em accedilotildees Algumas respostas

ldquoAlgo que facilitamelhora nossa vidardquo

ldquoQuando aplicamos o que sabemos para fazer ferramentas que

nos ajudamrdquo

ldquoTudo que inventamos para nos ajudarrdquo

ldquoEacute o melhor entretenimento dos jovens atualmenterdquo

O terceiro conjunto de respostas (substantivismo tecnologia com

valores e autocircnoma) concentrou 10 respostas aproximadas a sentidos

mais negativos (tecnofoacutebicos) sobre tecnologia com referecircncias a deias

sobre dominaccedilatildeo da vida humana falta de controle sobre a tecnologia e

impossibilidades de escolha Algumas respostas

ldquoAs novas tecnologias fazem a gente querer os novos produtos

produzidos aumentando nosso consumo e desperdiacuteciordquo

ldquoEacute uma rede universal que controla quase todo o planeta () de

tatildeo importante que eacute ela estaacute mais para um estado de espiacuterito globalrdquo ldquoSatildeo as coisas que estatildeo nos dominandordquo

ldquoEacute um dos principais fatores para o consumismordquo

No quarto bloco (teoria criacutetica tecnologia com valores e

controlaacutevel) concentrei seis respostas com referecircncias aproximadas a

possibilidades de escolha dos sujeitos sobre a tecnologia

desenvolvimento da tecnologia relacionado com seu contexto e

consciecircncia da responsabilidade sobre o que eacute desenvolvido Algumas

respostas

189

ldquoO conceito de tecnologia varia de acordo com o tempordquo

ldquoAcredito que eacute importante usa-la com consciecircncia e preparaccedilatildeo necessaacuteria para tal accedilatildeordquo

ldquoA tecnologia existe pois haacute dinheiro e pessoas que possuem

capacidade mental ou seja se natildeo houver pessoas mentalmente desenvolvidas e economicamente bem desenvolvidas natildeo seraacute possiacutevel

obter tecnologiasrdquo ldquoMuitas vezes natildeo sabemos usa-la e ela vira uma arma em

nossas matildeosrdquo

Contudo para cinco respostas natildeo foi possiacutevel uma aproximaccedilatildeo

a um quadro de referecircncias que eu pudesse operacionalizar Escaparam-

me as possibilidades de filiaacute-las ao que Giraldi (2010) chama de rede de

sentidos Satildeo casos de repostas com possibilidades de sentidos para

interpretaccedilatildeo (polissemia) e de filiaccedilotildees que eu natildeo consegui apreender

Como por exemplo ldquonintendordquo ldquoa cabeccedila do Gabrielrdquo e ldquo() mas e

uma arvore Soacute porque natildeo foi o homem que a criou ela natildeo eacute

tecnologia Francamente ela eacute porque foi feita com o intuito de fazer

fotossiacutentese e produzir oxigecircnio e aleacutem disso sem elas seria quase

impossiacutevel a nossa existecircnciardquo Penso que eu poderia fazer uma aproximaccedilatildeo a referecircncias mais

instrumentais dessas respostas Nintendo seria uma ferramenta para

entretenimento o Gabriel poderia ter sido comparado agrave inteligecircncia de

um computador por exemplo Natildeo ignoro a existecircncia de polissemia

Portanto optei por deixaacute-las abertas a interpretaccedilotildees e diferentes

possibilidades de filiaccedilatildeo de sentidos sem relacionaacute-las diretamente com

o meu quadro de referecircncias e com cuidado para natildeo as silenciar

Minha impressatildeo geral e inicial de um sentido determinista sobre

tecnologia entre as juventudes dos CTIEM emergiu de maneira

destacada na maioria das respostas Do mesmo modo uma perspectiva

instrumental tambeacutem foi representativa Penso que a resposta que um

aluno forneceu em forma de desenho representa esses sentidos sobre

tecnologia

A fotografia 1 que exponho abaixo pode ser relacionada com as

perspectivas de Feenberg (1991 2002 2003) sobre determinismo

tecnoloacutegico na medida em que eacute possiacutevel fazer uma leitura acerca de um

progresso teacutecnico que percorreria niacuteveis do mais simples ateacute um mais

complexo O desenvolvimento dos artefatos seguiria uma linearidade de

etapas necessaacuterias e cada etapa desse desenvolvimento possibilitaria a

proacutexima sem ramificaccedilotildees ou desvios fora da linha principal

190

Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de resposta de estudante

Com isso podemos refletir sobre as possibilidades de inserir os

sujeitos na representaccedilatildeo que o aluno fez no desenho acima de modo a

transformar percepccedilotildees focadas na tecnologia em visotildees mais criacuteticas

sobre relaccedilotildees CTS O combate agrave ideia de tecnologia isenta de valores

parece-me ser um caminho profiacutecuo (necessaacuterio embora natildeo suficiente)

e algo que possa ser desenvolvido desde uma perspectiva criacutetica de TS

322 Anaacutelise dos questionaacuterios

Na segunda aula com a continuidade de discussotildees sobre

tecnologia apliquei o questionaacuterio com 18 questotildees e muacuteltiplas escolhas

de respostas (entre cinco e oito) para cada uma aleacutem do espaccedilo aberto

para respostas natildeo previstas conforme estaacute disponiacutevel no Apecircndice D

A atividade ocupou todo o tempo do periacuteodo mas a elaboraccedilatildeo de um

questionaacuterio longo foi proposital

Conforme eu indiquei na introduccedilatildeo desta tese sigo a perspectiva

de Thiollent (1985) e minha opccedilatildeo metodoloacutegica foi adotar a teacutecnica de

pesquisa de intervenccedilatildeo socioloacutegica Nesse sentido meu questionaacuterio eacute

modestamente inspirado na Enquete Operaacuteria de 1880 elaborada e

aplicada por Marx a trabalhadoresas na Franccedila (THIOLLENT 1985)

Minha inspiraccedilatildeo nessa praacutexis vai no sentido de que antes de ser um

levantamento de dados o proacuteprio questionaacuterio visa levar a problematizar

relaccedilotildees nas quais os sujeitos estatildeo inseridos e que ainda natildeo foram

refletidas dessa forma

Portanto o questionaacuterio natildeo foi aqui proposto como um

instrumento de coleta de dados para anaacutelises quantitativas de modo

estrito Tampouco para avaliar atitudes frente a relaccedilotildees CTS agrave moda

dos VOSTS (sigla em inglecircs para Views On Science-Techology-Society

ndash visotildees sobre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade) canadenses ou dos

COCTS (sigla em espanhol para Cuestionario de Opiniones de Ciencia

Tecnologiacutea y Sociedad ndash questionaacuterio de opiniotildees sobre Ciecircncia

Tecnologia e Sociedade) espanhoacuteis (CUNHA SILVA 2009)

191

O questionaacuterio foi pensado dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento A ideia foi apresentar questotildees

(algumas dilemaacuteticas) que natildeo seriam avaliadas dentro dos paracircmetros

de correccedilatildeo ou incorreccedilatildeo mas que causassem inquietaccedilatildeo e

mobilizassem para a problematizaccedilatildeo A intenccedilatildeo de Marx era a de que

ao lerem as questotildees de sua enquete osas trabalhadoresas refletissem

sobre suas condiccedilotildees de trabalho (THIOLLENT 1985) A discussatildeo do

questionaacuterio nas aulas dos CTIEM teve esse mesmo sentido de

mobilizaccedilatildeo para (mais) consciecircncia criacutetica (FREIRE 1983)

Contudo a proposta natildeo estaacute baseada em accedilotildees de causa e efeito

(identificar um problema aplicar um meacutetodo e avaliar a soluccedilatildeo) e de

classificaccedilatildeo dosas estudantes entre deterministas e natildeo deterministas

por exemplo A intenccedilatildeo foi refletir contextualmente sobre os modos

pelos quais essas juventudes dos CTIEM se posicionam ao serem

apresentadas formalmente a discussotildees CTS Assim discuto respostas

dadas a trecircs questotildees (07 11 e 12) que faziam referecircncia a autonomia e

neutralidade da tecnologia

A partir da questatildeo de nordm 07 seria possiacutevel refletir sobre

possibilidades de sujeitos natildeo especialistas tomarem parte em decisotildees

sobre o desenvolvimento tecnoloacutegico As respostas ficaram

basicamente divididas entre um posicionamento que entenderia o

desenvolvimento tecnoloacutegico como algo independente das accedilotildees dos

sujeitos (aproximadamente 42) e um posicionamento que

compreenderia que em alguma medida os sujeitos estariam envolvidos

com o desenvolvimento tecnoloacutegico (48)

Nas questotildees de nordm 11 e 12 seria possiacutevel ponderar sobre

contextos valores e sentimentos envolvidos com o desenvolvimento

tecnoloacutegico De modo geral verifiquei que a maioria dosas estudantes

(87) compreende que lugares eacutepocas interesses valores e intenccedilotildees

dos sujeitos estatildeo relacionados com o desenvolvimento tecnoloacutegico

Com isso questionei-me se a tese da neutralidade seria mais faacutecil de ser

problematizada

Penso que os questionamentos e duacutevidas acerca de possibilidades

de participaccedilatildeo nos proacuteximos passos que algum desenvolvimento

tecnoloacutegico seguiraacute satildeo maiores do que a visualizaccedilatildeo de que o

desenvolvimento de tecnologias pode carregar valores culturais Minha

percepccedilatildeo vem de algumas reflexotildees sobre muitas respostas de

estudantes agrave questatildeo inicial com referecircncias agrave tecnologia como

ldquoaplicativos para facilitar nossa vidardquo

Dentro de um grande quadro de interpretaccedilotildees provaacuteveis indico

uma possibilidade de anaacutelise baseada na verificaccedilatildeo de que osas

192

estudantes tecircm uma referecircncia de tecnologia nos aplicativos de celulares

e smartphones Assim esses aplicativos que satildeo vistos de modo

positivo atendem a suas necessidades e por isso estatildeo relacionados a

seus sentimentos valores e expectativas Poreacutem compreendo que

essesas estudantes como usuaacuteriosas natildeo visualizem tantas

probabilidades de desenvolverem aplicativos ou de decidirem como e

quando eles poderiam ser atualizados por exemplo No limite a posiccedilatildeo

de usuaacuterioa estaria relacionada a perspectivas de menores

possibilidades de escolhas e participaccedilatildeo em processos de

desenvolvimento tecnoloacutegico

Esclareccedilo que compreendo que embora eu ainda natildeo tivesse

apresentado o texto de apoio e um posicionamento CTS nessas questotildees

algunsmas estudantes podem ter antecipado em alguma medida

respostas que entenderiam como mais apropriadas agrave aula de Sociologia

na qual a situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica dos sujeitos sempre foi discutida

De qualquer maneira entendo que o questionaacuterio mobilizou para

debates e busca de posicionamentos Verifiquei que osas alunosas

transitaram desde uma preocupaccedilatildeo em saber se o questionaacuterio ldquocairia

na provardquo ateacute a solicitaccedilatildeo de ldquomudar a respostardquo que havia sido dada agrave

questatildeo inicial da aula anterior Com isso possiacuteveis contradiccedilotildees entre

posicionamentos na questatildeo inicial e respostas ao questionaacuterio satildeo aqui

compreendidas dentro do processo geral de problematizaccedilatildeo da temaacutetica

socioteacutecnica

A seguir apresento os proacuteximos passos dentro do roteiro didaacutetico

que chegam ateacute o desenvolvimento TS

33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS

Apoacutes as duas primeiras aulas que envolveram respostas agrave questatildeo

inicial e ao questionaacuterio iniciamos a terceira aula com a retomada de

discussotildees sobre alguns toacutepicos deste uacuteltimo A partir disso iniciei uma

exposiccedilatildeo dialogada sobre tecnologia do ponto de vista de estudos em

Educaccedilatildeo CTS latino-americanos Fizemos a leitura de um texto de

apoio sobre tecnologia e TS de minha autoria (disponiacutevel no Apecircndice

F) e assistimos a um audiovisual de cinco minutos chamado ldquoO que eacute

tecnologia afinalrdquo disponiacutevel em

lthttpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=rel

atedgt

A figura 6 abaixo eacute um exemplo de informaccedilatildeo que mediou as

discussotildees desse momento e que esteve disponiacutevel nos slides

apresentados durante as aulas Destaco que nesse processo busquei

193

articular minha perspectiva sobre educaccedilatildeo (politecnia) dentro do

quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da tecnologia na

educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS Assim a ideia foi ilustrar

como podemos pensar nas tecnologias como desenvolvimento soacutecio-

histoacuterico e contextual

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Na 4ordf aula foram retomadas as discussotildees sobre tecnologias com

inserccedilatildeo do termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer referecircncia agraves relaccedilotildees

apresentadas na terceira aula Com os recursos de leitura e debates sobre

o texto disponibilizado no encontro anterior o primeiro momento da

aula envolveu uma problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e na

segunda etapa discutimos sobre TS As figuras 7 8 e 4 abaixo ficaram

disponiacuteveis nos slides durante a aula e ilustraram os debates propostos

para esse momento

194

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01

Fonte Google imagens

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

195

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

As aulas de nuacutemero 5 e 6 foram realizadas no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Na 5ordf aula retomei a temaacutetica socioteacutecnica incluiacute

uma perspectiva de autoria nos debates e forneci informaccedilotildees sobre a

tarefa final de elaboraccedilatildeo de um projeto sobre TS para resolver um

problema socioteacutecnico relevante no quotidiano dosas alunosas No

segundo momento da aula houve a divisatildeo dosas estudantes em grupos

de livre escolha para a realizaccedilatildeo da tarefa final e o iniacutecio das pesquisas

para executaacute-la

Na 6ordf aula prosseguimos com as pesquisas orientadas no

laboratoacuterio de informaacutetica Imagens dos slides e textos ficaram agrave

disposiccedilatildeo para consulta Ressaltei novamente o aspecto autoral da

atividade com criatividade e originalidade na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do

problema socioteacutecnico levantado

Nesse sentido retomo a advertecircncia de Gramsci (1982) para

quem uma educaccedilatildeo integral e com o domiacutenio intelectual da teacutecnica se

relacionava com o desenvolvimento da criatividade Sendo esta uacuteltima

entendida como meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento que busca

maturidade intelectual e natildeo promover ldquoinventores e descobridoresrdquo no

sentido de sujeitos ldquoprivilegiadosrdquo ou ldquoiluminadosrdquo A figura 9 abaixo

ilustrou o que se pretenderia superar com a mobilizaccedilatildeo para a autoria

196

Figura 9 - Autoria

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

As duas uacuteltimas aulas (7ordf e 8ordf) ficaram reservadas agraves

apresentaccedilotildees de seminaacuterios com os projetos sobre TS discussotildees

acerca dessas iniciativas e auto avaliaccedilotildees finais Destaco que osas

estudantes foram mobilizados para pensar coletiva colaborativa criativa

e criticamente sobre problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicos vivenciados Os

modos pelos quais os projetos poderiam ser apresentados tambeacutem

tiveram essa orientaccedilatildeo

A partir desse detalhamento do roteiro que as aulas seguiram a

seguir descrevo e analiso cinco projetos de desenvolvimento de TS

dentre os pouco mais de 20 que foram apresentados nos seminaacuterios

finais Esse recorte foi necessaacuterio para privilegiar aspectos mais

especiacuteficos e contextualizados tanto dos sujeitos envolvidos quanto dos

sentidos sobre tecnologia e TS que foram debatidos nessa atividade

Todos os projetos apresentados nos seminaacuterios foram analisados

mas estabeleci criteacuterios de escolha para os que seriam aqui descritos

Esses criteacuterios foram os seguintes (i) envolvimento dosas alunosas do

grupo na realizaccedilatildeo da tarefa (pesquisa sobre TS e debates para levantar

o problema a ser resolvido) (ii) destaque agrave relevacircncia de um problema

do seu quotidiano (iii) estabelecimento de relaccedilatildeo do projeto com a

temaacutetica socioteacutecnica e (iv) incorporaccedilatildeo de um modo pessoal e possiacutevel

de resolver o problema destacado

197

Portanto verifiquei que em alguma medida os projetos aqui

descritos143 foram desenvolvidos por estudantes que ocuparam os

tempos das aulas no laboratoacuterio de informaacutetica para investigar sobre TS

Momentos nos quais estabeleceram diaacutelogos entre osas componentes do

grupo para decidir sobre o problema tendo em vista que este uacuteltimo teria

relevacircncia no seu dia-a-dia Buscaram de algum modo um paracircmetro

de comparaccedilatildeo nas caracteriacutesticas baacutesicas de TS (simplicidade baixo

custo resposta social e possibilidade de reaplicaccedilatildeo) e sobretudo

mostraram alguma iniciativa para apresentar algo (levantamento e

possiacutevel resoluccedilatildeo do problema) que fosse conforme suas

possibilidades contextualizado com suas caracteriacutesticas pessoais e que

envolvesse seus conhecimentos Os cinco projetos escolhidos satildeo

apresentados a seguir

331 Campanha contra homofobia nas escolas

O grupo da turma do CTIEM de quiacutemica que desenvolveu um

projeto tendo em vista a questatildeo da homofobia nas escolas era composto

por cinco estudantes As quatro meninas e o menino do grupo tinham

entre 15 e 16 anos de idade natildeo trabalhavam no contra turno natildeo eram

residentes do Faacutetima e cursavam pela primeira vez o 1ordm ano Percebi que

a sua integraccedilatildeo nesse formato de grupo ocorreu pelos laccedilos de

amizades que eles haviam estabelecido durante o ano letivo Todosas

ocupavam lugares proacuteximos na parte do fundo da sala de aula e era

comum encontraacute-losas reunidosas nos intervalos das aulas

Duas meninas do grupo jaacute haviam trabalhado comigo em um

projeto de pesquisa sobre diversidade linguiacutestica (sotaques giacuterias) nas

diferentes regiotildees do Brasil De modo geral o grupo era coeso quanto ao

interesse por questotildees debatidas na aacuterea das Ciecircncias Humanas

Verifiquei que nas duas aulas com pesquisas orientadas no laboratoacuterio

143 Destaco que algumas iniciativas interessantes ficaram fora das descriccedilotildees

apresentadas nesta tese Por exemplo o desenvolvimento de diversos aplicativos

para celular e smartphones Desde um que compararia preccedilos de medicamentos

em diferentes farmaacutecias da cidade passando por um que mostraria a localizaccedilatildeo

do ocircnibus e o tempo que ele levaria para chegar ao usuaacuterioa ateacute um com dicas

de sauacutede e boa forma e outro com notiacutecias e informaccedilotildees sobre o quotidiano da

escola Contudo alguns projetos analisados natildeo foram aqui explorados por natildeo

atenderem aos criteacuterios definidos como por exemplo um separador de moedas

e um ar condicionado caseiro que satildeo semelhantes a ideias divulgadas no Brasil

pelo Manual do Mundo e que podem ser conferidos em

lthttpwwwmanualdomundocombrgt

198

de informaacutetica elesas investigaram TS desenvolvidas no Brasil e jaacute

naqueles espaccedilos elaboraram um esboccedilo da apresentaccedilatildeo final A figura

10 abaixo eacute um slide que foi apresentado pelo grupo no seminaacuterio final

Figura 10 - Dados sobre homofobia

Fonte Montagem da autora a partir de slides da apresentaccedilatildeo do grupo de

alunosas

Eacute interessante verificar que o grupo buscou articular informaccedilotildees

do seu quotidiano na escola com outros dados de pesquisas como os do

slide da figura 10 acima E assim construiacuteram conhecimentos sobre o

problema da homofobia A seguinte fala apresentada em um slide do

grupo mostra esse sentido de problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas

ldquoPara pensar 87 da comunidade escolar tem preconceito contra homossexuais Homofobia nas escolas eacute um reflexo do

preconceito na sociedade rdquo

Acredito que esse tema tenha emergido por conta da possiacutevel

orientaccedilatildeo sexual de uma participante do grupo que em diferentes

niacuteveis sofria com preconceito de colegas Destaco que questotildees sobre gecircnero (sexo orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero) satildeo previstas

para as turmas dos segundos anos da escola mas pelo interesse

demonstrado indiquei e orientei leituras sobre o tema do ponto de vista

da Sociologia para o grupo

199

A partir da percepccedilatildeo de um problema elesas pensaram em uma

soluccedilatildeo baseada na prestaccedilatildeo de serviccedilo de apoio a viacutetimas de

homofobia na escola e encaminhamento agrave assistecircncia estudantil Nesse

processo a duacutevida que elesas apresentaram foi sobre a pertinecircncia

dessa questatildeo para TS tendo em vista que elesas natildeo haviam

identificado um problema teacutecnico mas um problema social De modo

que o grupo pensou em acrescentar ao projeto a possibilidade de

desenvolver um aplicativo de celular para denuacutencias contra situaccedilotildees de

homofobia na escola

Minha estrateacutegia foi mobilizaacute-losas para a (maior) percepccedilatildeo de

que seus problemas quotidianos (e seus conhecimentos sobre eles) tecircm

relevacircncia e que as soluccedilotildees apontadas satildeo igualmente importantes Na

investigaccedilatildeo envolvida nesta tese visualizo possibilidades de processos

educacionais atuarem na transformaccedilatildeo da realidade social Assim como

Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados com a

vivecircncia dos sujeitos procurei natildeo silenciar os conhecimentos

produzidos pelo grupo Esse uacuteltimo entendido como integrante das

diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no contexto escolar

da atualidade

Nessa perspectiva o grupo desenvolveu o projeto e buscou nas

carateriacutesticas baacutesicas de TS algumas referecircncias para apresentar

soluccedilotildees ao problema identificado Em um de seus slides aparecia a

seguinte proposta

ldquoCriar campanhas para que a sociedade entenda que cada indiviacuteduo eacute livre e tem sua forma de amar Independentemente da sua

escolha o que nos resta eacute respeitarrdquo

Osas integrantes do grupo buscaram apresentar algo que

entendiam como possiacutevel de ser feito com pouco investimento

financeiro e que visualizavam que ajudaria a resolver o problema

levantado A apresentaccedilatildeo da proposta para osas colegas da turma

contou com uma boa recepccedilatildeo Conforme estaacute retratado na fotografia 2

abaixo uma de suas accedilotildees consistia em colar cartazes educativos sobre

homofobia nas dependecircncias da escola Algo que relaciono com o

interesse de todosas os integrantes do grupo pelas aulas da disciplina de

Artes144

144 O Anexo C mostra as disciplinas obrigatoacuterias para cada curso a cada ano

200

Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo

Fonte Adaptado de fotografia feita pela autora

De modo geral o que acompanhei do grupo na elaboraccedilatildeo do

projeto indica uma mobilizaccedilatildeo para a relevacircncia de seus problemas

como de interesse a um grupo maior de sujeitos do seu contexto e uma

disposiccedilatildeo para desenvolver os projetos com sensibilidade aos modos

com que cada integrante do grupo pudesse colaborar Destaco que foi

importante desenvolver junto ao grupo e agrave turma questotildees acerca da natildeo

linearidade entre a identificaccedilatildeo de um problema e sua resoluccedilatildeo A

complexidade e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir

foram apontados

332 Transporte de catildees em coletivos

Ainda nessa turma de quiacutemica na qual foi abordada a homofobia

foi desenvolvido um projeto sobre o transporte de animais domeacutesticos

em coletivos urbanos O grupo que desenvolveu a atividade era

composto por trecircs meninas e um menino (namorado de uma das

meninas) Suas idades estavam entre 15 e 16 anos todasos residentes

fora do Faacutetima sem exercerem atividades de trabalho ou estaacutegio no

contra turno da escola e pela primeira vez no 1ordm ano Assim como osas

colegas que abordaram a homofobia percebi que os laccedilos que os uniam

como grupo eram de amizade Para aleacutem dessa atividade conjunta em

201

sala de aula elesas sentavam proacuteximos na aacuterea central da sala e

mantinham conviacutevio nos outros espaccedilos da escola

Havia certa coesatildeo no grupo quanto aos planos futuros de

seguirem estudos na aacuterea da Quiacutemica (engenharia farmaacutecia e quiacutemica

forense) Com exceccedilatildeo do menino que sempre expressou natildeo

compreender a necessidade de estudar Sociologia e Filosofia eu

percebia que a disciplina de Sociologia era entendida dentro de um

conjunto de conhecimentos necessaacuterios para atingir as metas

profissionais estabelecidas Verifiquei que as meninas pesquisaram

sobre TS e escolheram um tema que elas vivenciavam como problema

quotidiano

A figura 11 abaixo traz um slide no qual o grupo apresentava

seu problema

Figura 11 - O problema do transporte de catildees

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas

Em relaccedilatildeo ao grupo que problematizou a homofobia aqui as

impressotildees gerais sobre o transporte coletivo da cidade natildeo foram

contrapostas com outras fontes ou outros tipos de informaccedilatildeo Durante

as pesquisas procurei propor ao grupo o estabelecimento de relaccedilotildees

entre suas percepccedilotildees iniciais sobre o transporte puacuteblico e informaccedilotildees

disponiacuteveis sobre o tema Minha intenccedilatildeo natildeo foi desmobilizaacute-los do

problema levantado antes disso foi lembraacute-los da importacircncia de uma

leitura menos ingecircnua e naturalizada da realidade social Algo que

202

Moraes e Guimaratildees (2010) destacam com os princiacutepios socioloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento

Contudo o problema levantado pelo grupo pareceu-me sensiacutevel agrave

relevacircncia do tema no seu quotidiano Acompanhei a elaboraccedilatildeo do

problema durante as aulas e verifiquei que o grupo identificou uma

iniciativa de transporte de catildees similar e jaacute em uso em outro contexto

Apoacutes alguns debates elesas optaram por prosseguir com o projeto pois

ele tratava de um problema que era importante para o grupo naquele

momento

A proposta apresentada conforme as suas falas envolvia

ldquoA melhor soluccedilatildeo no quesito custo X benefiacutecio seria a implantaccedilatildeo de casas de cachorro (semelhantes a uma gaiola poreacutem

com o conforto adequado ao bicho) embaixo de cada banco assim o

dono poderia acomodar o seu animal fechar a porta da casa e sentar-se no banco logo acima Dessa forma natildeo atrapalharia ningueacutem e o

animal estaria protegido rdquo O grupo apresentou a ideia aosagraves colegas tendo em vista que as

gaiolas poderiam ser produzidas pelosas proacuteprios estudantes nos

laboratoacuterios da escola em alguma disciplina teacutecnica e com custo baixo

A intenccedilatildeo seria levar as gaiolas a empresas de transporte mas o modo

como haveria a produccedilatildeo natildeo foi estabelecido O grupo foi questionado

pelosas colegas sobre vaacuterios aspectos do projeto desde a originalidade

(questionamento da existecircncia de um produto similar) ateacute aspectos

sanitaacuterios do transporte de animais

Ao fim dos debates osas colegas pensaram que haveria

possibilidade para tal atividade mas que seria interessante desenvolver

algum material plaacutestico novo para as gaiolas Percebi certa preocupaccedilatildeo

de algunsmas estudantes com a necessidade de haver inovaccedilatildeo na

proposta de gaiola apresentada o que poderia estar relacionado ao que

Feenberg (1991 2002 2003) chamaria de perspectivas deterministas do

progresso teacutecnico

Contudo de modo geral verifiquei que as meninas do grupo

estiveram sensiacuteveis para refletir sobre um problema vivenciado e para

pensar em soluccedilotildees dentro de suas possibilidades de execuccedilatildeo Embora

natildeo tivessem apresentado maiores problematizaccedilotildees da situaccedilatildeo do

transporte puacuteblico na cidade percebi certa abertura para (maior)

compreensatildeo da inserccedilatildeo dos sujeitos (e suas demandas) no

desenvolvimento tecnoloacutegico

203

333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel

A utilizaccedilatildeo de pallets145 para construccedilatildeo de um espaccedilo de

convivecircncia na escola fez parte do projeto desenvolvido por sete

meninos do CTIEM em fabricaccedilatildeo mecacircnica Assim como o projeto das

gaiolas para catildees os meninos focaram em um produto Esses meninos

tinham entre 15 e 17 anos de idade todos residiam fora do Faacutetima

estavam pela primeira vez no 1ordm ano e dois deles participavam do

Projeto Jovem Aprendiz do Serviccedilo Nacional de Aprendizagem

Industrial (SENAI) no contra turno da escola

Assim como a maioria de seus colegas de turma (25 meninos e

apenas duas meninas) os meninos do grupo pensavam em trabalhar nas

aacutereas teacutecnicas (engenharias e setor metalmecacircnico) da regiatildeo no futuro

Entretanto eu percebia o interesse dos meninos desse grupo em temas

socioloacutegicos pois natildeo raro eles traziam materiais para discussatildeo em sala

de aula (sobretudo em relaccedilatildeo agrave perspectiva socioloacutegica sobre trabalho

modos de produccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo produtiva)

Apesar de grande e diverso o grupo contava com meninos

integrados por laccedilos de amizade desenvolvidos durante o ano escolar

Embora separados na sala de aula era comum encontraacute-los reunidos

inclusive no contra turno Durante as pesquisas para o projeto sobre TS

percebi que havia dificuldade em escolher algo comum (problema) a

todo o grupo Durante nossas conversas eles relataram que gostavam de

slackline146 e tinham previsto um espaccedilo para essa praacutetica no projeto que

estavam desenvolvendo na disciplina de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Busquei mobilizaacute-los para refletirem sobre tal projeto tendo em

vista a temaacutetica socioteacutecnica Eles avaliaram que estavam

desenvolvendo TS e passaram a organizar o projeto em termos de

problemas e soluccedilotildees identificadas O interessante foi a relaccedilatildeo entre

conhecimentos produzidos em outra aacuterea que em um primeiro momento

natildeo teve relaccedilatildeo com a atividade proposta mas que passou a fazer parte

de um conjunto maior de possibilidades Eles verificaram que

conhecimentos de diferentes disciplinas poderiam estar envolvidos no

projeto que eles planejavam

No iniacutecio das pesquisas no laboratoacuterio verifiquei certa

preocupaccedilatildeo com a questatildeo da autoria pois o projeto havia sido pensado

145 Satildeo estradosbases de madeira metal ou plaacutestico utilizados para

movimentaccedilatildeo de caixas em induacutestrias ou grandes estabelecimentos comerciais 146 Esporte que permite agraveao praticante andar e fazer manobras por cima de uma

fita elaacutestica esticada entre dois pontos fixos

204

para outra disciplina Contudo nos debates que eles estabeleceram (e

que eu participei) percebi que houve uma distinccedilatildeo entre ldquoproduzir algo

colaborativo e do nosso jeitordquo e ldquotrazer algo que nunca foi feito antesrdquo

De modo que eles buscaram ampliar alguns aspectos do projeto tendo

em vista a apresentaccedilatildeo aos colegas

A figura 12 abaixo traz um slide que o grupo produziu para

apresentar seu projeto agrave turma

Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Os meninos partiram de problemas vivenciados no seu quotidiano

(necessidade de um espaccedilo de convivecircncia e resiacuteduos natildeo aproveitados)

e os relacionaram com possibilidades de soluccedilotildees disponiacuteveis (pallets

descartados pelas induacutestrias vizinhas ao Faacutetima) e em alguma medida

exequiacuteveis (simplicidade na execuccedilatildeo) Utilizaram seus conhecimentos

das aulas da disciplina de Desenho Teacutecnico e elaboraram uma planta

para o projeto como mostra a figura 13 abaixo

205

Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Podemos verificar na figura 13 acima o espaccedilo destinado ao

slackline em vermelho A fala a seguir conteacutem um pouco da projeccedilatildeo de

resultados que os meninos apresentaram agrave turma

ldquoPara esta aacuterea de convivecircncia grande parte dos materiais

seratildeo obtidos atraveacutes de empresas materiais estes que natildeo satildeo utilizados pela mesma e satildeo descartados O espaccedilo contaraacute tambeacutem

com flores e plantas algumas frutiacuteferas rdquo

Compreendo que a escola fazia parte da vida dos meninos do

grupo de maneira especial Para aleacutem desse espaccedilo de socializaccedilatildeo que o

projeto deles procurava resgatar haveria ali um caminho para a

realizaccedilatildeo das expectativas profissionais futuras Aleacutem disso eu

percebia nesse grupo uma abertura agrave perspectiva politeacutecnica de

educaccedilatildeo como destacada por Marx e Engels (2004) e Saviani (1989

2003) Pois eles demonstravam uma percepccedilatildeo positiva sobre a

integraccedilatildeo entre ensino teacutecnico humanidades artes e atividades fiacutesicas

Penso que os meninos mostraram um pouco desses sentimentos na

intenccedilatildeo de desenvolver algo que poderia ser ampliado para zonas

carentes desses espaccedilos no Faacutetima e em outras unidades do IFRS

206

334 Inovaccedilotildees no site da escola

Tal sentimento de pertencimento e cuidado com a escola que

verifiquei nos meninos do curso de fabricaccedilatildeo mecacircnica apareceu em

alguma medida no grupo que desenvolveu o projeto de melhoria para a

paacutegina do IFRS de Caxias do Sul na internet No entanto esse grupo

composto por oito meninos do CTIEM da quiacutemica natildeo era tatildeo coeso e

pude perceber uma divisatildeo interna em dois subgrupos

Os meninos tinham entre 15 e 17 anos de idade um deles era

residente do Faacutetima e o uacutenico a trabalhar no contra turno da escola

Observei que ele e mais dois meninos do grupo formavam um subgrupo

enquanto os outros cinco meninos formavam o segundo subgrupo No

primeiro subgrupo os trecircs meninos formaram laccedilos de amizade durante

o ano sentavam proacuteximos no fundo da sala de aula e estavam sempre

juntos nas atividades da escola Eles demonstravam um interesse por

temas socioloacutegicos na medida em que era mais uma disciplina a ser

estudada Quanto a planos para o futuro profissional apenas um deles

apresentava o desejo de cursar Educaccedilatildeo Fiacutesica no ensino superior

Os cinco meninos do que chamo aqui de segundo subgrupo

tambeacutem haviam estabelecido laccedilos de amizade ao longo do ano escolar

sentavam proacuteximos na lateral da sala de aula e eram parceiros nas

atividades escolares Todos eles expressavam interesse na disciplina de

Sociologia de alguma forma Desde o que gostaria de ldquoaprender os

fundamentos da revoluccedilatildeo socialistardquo passando pelo que pensava em

ldquoestudar o suiciacutedio entre jovens roqueirosrdquo ateacute os que buscavam

diferentes explicaccedilotildees para problemas sociais vivenciados na sua cidade

Um interesse geral nesse subgrupo era por informaacutetica SL e pela

chamada cultura hacker que eles relacionaram com textos sobre

ideologia que haviacuteamos debatido na primeira parte do trimestre

Contudo os dois subgrupos estavam caracterizados como apenas

um grupo pois mantinham relacionamentos de amizade na sala de aula

O que os unia como grupo era a proposta de projeto atividade na qual

desenvolveram debates profiacutecuos Acompanhei as atividades de

pesquisa e verifiquei que eles concordavam que o site da escola natildeo era

funcional A fala a seguir que ilustrou um slide da apresentaccedilatildeo do

seminaacuterio do grupo mostra os problemas identificados

ldquoProblemaacutetica menu muito extenso e confuso difiacutecil para novos usuaacuterios utilizarem informaccedilotildees sobre a instituiccedilatildeo muito lsquoescondidasrsquo

sem acesso faacutecil agrave notiacutecias e arquivos antigos natildeo possui mapa da

instituiccedilatildeo e o botatildeo viacutedeo natildeo funciona rdquo

207

Em outro slide disponiacutevel na figura 14 abaixo o grupo mostrou

a imagem do site e as melhorias que poderiam ser feitas destacadas em

vermelho

Figura 14 - Proposta de melhorias

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Na apresentaccedilatildeo do projeto aos colegas o grupo destacou que

gostaria de resolver os problemas levantados de modo simples

(ldquoreescrever os comandosrdquo no site) barato e com conhecimentos sobre

programaccedilatildeo disponiacuteveis na proacutepria internet A turma recebeu o projeto

de modo positivo e fez outras sugestotildees de melhorias no site Muitosas

alunosas demonstraram interesse em conhecer melhor os processos de

produccedilatildeo organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de conteuacutedo digital no site da escola

e pensaram em levar a pauta ateacute a direccedilatildeo

Ao acompanhar o desenvolvimento do projeto verifiquei que os

trecircs meninos do primeiro subgrupo tiveram mais iniciativa ao demostrar

os problemas do site e deixaram a parte de resoluccedilatildeo para os meninos do

segundo subgrupo Com isso busquei mobilizar os primeiros para que

eles tanto visualizassem (mais) a importacircncia de apontar problemas

relevantes do seu quotidiano quanto compreendessem (mais) que as

resoluccedilotildees natildeo precisariam ser necessariamente deixadas a especialistas

que poderiacuteamos compreender aspectos do desenvolvimento tecnoloacutegico

que permitiriam nossa participaccedilatildeo informada nesse processo como

defende Feenberg (2002 2003)

208

335 Aplicativo para estudos e lazer

Ainda na aacuterea de informaacutetica e programaccedilatildeo o grupo de sete

alunosas do CTIEM de plaacutesticos desenvolveu o projeto de um

aplicativo para smartphone que uniria estudos e entretenimento O grupo

era composto por trecircs meninas e quatro meninos com idades entre 15 e

16 anos todosas residentes fora do Faacutetima nenhuma trabalhava no

contra turno escolar e estavam pela primeira vez no 1ordm ano

Embora constituiacutessem um grupo grande apresentavam coesatildeo

nas decisotildees sobre o desenvolvimento do projeto Ao contraacuterio dos

outros grupos que desenvolveram projetos sobre TS e foram aqui

citados osas estudantes desse grupo natildeo sentavam proacuteximos ou

ficavam juntos nos intervalos das aulas Contudo observei que elesas

geralmente realizavam as tarefas da escola entre si O que acredito que

os caracterizou como integrados por laccedilos de amizade e estudos

De modo geral o grupo demostrava interesse na Sociologia natildeo

apenas como uma disciplina a ser estudada na escola mas como um tipo

de ldquoconhecimento importante para compreender a sociedaderdquo

Aquelesas que jaacute tinham uma projeccedilatildeo de futuro profissional pensavam

em seguir estudos universitaacuterios na medicina nas engenharias ou na

fiacutesica Natildeo destacaram interesse em aacutereas relacionadas com informaacutetica

e programaccedilatildeo de modo especiacutefico mas algunsmas declararam que

desenvolver SL era ldquoum oacutetimo hobbyrdquo

Na descriccedilatildeo do slide de apresentaccedilatildeo do projeto para a turma eacute

possiacutevel verificar as suas motivaccedilotildees

ldquoAtualmente a tecnologia mais utilizada pelos jovens eacute o celular

Muitas vezes os alunos usam o celular apenas para entretenimento e acabam largando os estudos de lado poreacutem o que aconteceria se

juntaacutessemos o entretenimento com os estudos De acordo com esta

ideia surgiu o EIFante rdquo

O grupo afirmou que a ideia seria juntar estudos e lazer

(ldquoentretenimento inteligenteldquo) tendo em vista a oacutetima memoacuteria de um

elefante A identidade visual do aplicativo seria desenvolvida a partir de

uma imagem da internet que consta na figura 15 abaixo e foi

apresentada em slide na sala de aula

209

Figura 15 - Identidade visual do aplicativo

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas

No acompanhamento que fiz durante o desenvolvimento do

projeto o grupo informou-me de que a ideia do ELFante veio de um

programa antigo que sincronizava dados de diversas agendas tinha um

espaccedilo grande para armazenar informaccedilotildees e rapidez na execuccedilatildeo das

tarefas Desde o iniacutecio das atividades sobre TS elesas pensaram sobre

isso e buscaram justificar sua escolha como pode ser visto na seguinte

fala que fez parte da apresentaccedilatildeo do grupo agrave turma

ldquoVantagens do Aplicativo EIFante praticidade graacutetis e leve

auxiacutelio e maior foco nos estudos para as provas memorizaccedilatildeo dos conteuacutedos trabalhados entretenimento de forma educativa interaccedilatildeo

com professores e colegas de forma divertida rdquo

O grupo pensava em um produto faacutecil de ser feito (ldquonecessidade apenas de noccedilotildees baacutesicas de programaccedilatildeordquo) de usar (ldquocom interface

amigaacutevelrdquo) e de acessar (ldquolanccedilado na Google Play e App Storerdquo) O

funcionamento do aplicativo foi apresentado da seguinte forma

ldquoPerguntas e Respostas perguntas separadas por seacuteries e

mateacuterias conecte com suas redes sociais desafie seus colegas nas diversas mateacuterias disponiacuteveis crie novas perguntas para cada mateacuteria

e interaja com seus professores atraveacutes do quiz rdquo

A apresentaccedilatildeo do grupo levou a debates sobre quem poderia

produzir o conteuacutedo se professoresas participariam e se as avaliaccedilotildees

escolares poderiam utilizar resultados do aplicativo De modo geral a

210

turma recebeu a proposta de modo positivo e osas estudantes

demostraram interesse em usaacute-lo Fato que os levou a refletir sobre

possibilidades de desenvolver (natildeo apenas aplicativos e softwares)

soluccedilotildees para problemas socioteacutecnicos do quotidiano a partir de seus

conhecimentos integrando diferentes conhecimentos e dentro de seus

contextos Nesses cinco casos analisados verifiquei certa preocupaccedilatildeo

inicial dos grupos em elaborar ldquoprodutos e inovaccedilotildeesrdquo para facilitar o

quotidiano Por outro lado certa perspectiva instrumental foi

compartilhada com intenccedilotildees manifestas de relacionar meios e fins no

desenvolvimento dos projetos Em alguma medida nos debates

proporcionados pelos seminaacuterios finais osas alunosas destacaram a

importacircncia de haver oportunidades de escolha (ou ao menos

conhecimento) entre diferentes caminhos para o desenvolvimento de

tecnologias

Em relaccedilatildeo agrave autoria no desenvolvimento de TS durante as

pesquisas no laboratoacuterio destaquei a importacircncia dosas estudantes

buscarem seus conhecimentos articularem com outros conhecimentos

disponiacuteveis e refletirem sobre soluccedilotildees contextualizadas e simples

Nesse processo percebi dois aspectos (i) a necessidade de retomarmos

as diferenccedilas entre TS simples e TS pontual e restrita De modo que o

contexto soacutecio-histoacuterico (aspectos estruturais e poliacuteticos) no qual o seu

projeto seria desenvolvido fosse considerado e (ii) as possibilidades de

explorar as aproximaccedilotildees entre a questatildeo da autoria e da natildeo

neutralidade Tendo em vista as indicaccedilotildees de que elesas possam

visualizar as tecnologias como relacionadas a seus desejos seria

interessante discutir sobre a contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados

ao desenvolvimento tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele

ocorre

Para aleacutem das especificidades nas trajetoacuterias de pesquisa de cada

grupo procurei manter a mobilizaccedilatildeo dosas alunosas para (i) a

relevacircncia de seus problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas) do

quotidiano no contexto maior de sua realidade social (ii) (maior)

compreensatildeo de caracteriacutesticas do desenvolvimento tecnoloacutegico tendo

em vista participaccedilatildeo informada nos debates sobre os rumos desse

desenvolvimento e (iii) as possibilidades contidas nas articulaccedilotildees de

seus conhecimentos (situados costumeiros ancestrais e taacutecitos) com

conhecimentos disponiacuteveis nas diversas disciplinas escolares (e no

quotidiano da vida escolar) para refletir sobre participaccedilatildeo informada e

criacutetica em processos de transformaccedilatildeo social

211

E eacute a partir dessas consideraccedilotildees que encaminho as reflexotildees

finais que apresento a seguir

212

213

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao fim das anaacutelises pude perceber ainda mais a complexidade

envolvida tanto em questotildees educacionais quanto na temaacutetica

socioteacutecnica Lembro de um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano

(1940-2015) no qual ele reflete sobre determinismos tecnoloacutegicos e

sociais Na sua ldquoBreve histoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo (GALEANO

2009 p 331-332) ele nos diz

Crescei e multiplicai-vos dissemos

e as maacutequinas cresceram e se multiplicaram

Tinham nos prometido que trabalhariam para

noacutes

Agora noacutes trabalhamos para elas

As maacutequinas que noacutes inventamos

para multiplicar a comida

multiplicam a nossa fome

As armas que inventamos para nos defender

nos matam

Os automoacuteveis que inventamos para nos mover

nos paralisam

As cidades que inventamos para nos encontrar

nos desencontram

Os grandes meios que inventamos para

nos comunicarmos

natildeo nos escutam nem nos vecircem

Somos maacutequinas de nossas maacutequinas

Elas alegam inocecircncia

E tecircm razatildeo

Essas reflexotildees estiveram sempre presentes em minha intenccedilatildeo de

investigar de que maneira e em que medida uma perspectiva criacutetica

sobre TS poderia colaborar para transformar sentidos deterministas

sobre tecnologia entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico O

entendimento de posiccedilotildees deterministas tambeacutem me levou a buscar

compreender em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais

voltados agrave construccedilatildeo de autoria a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS poderia mobilizar tais estudantes para a emancipaccedilatildeo social e

a autonomia

Nesse processo de investigaccedilatildeo encontrei diferentes desafios tais

como o cuidado em natildeo considerar meus sujeitos da pesquisa de

maneira abstrata homogecircnea ou idealizada em buscar representar as

214

diversidades sem perder de vista a unicidade em verificar pluralidades e

diferenccedilas poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero em

natildeo assumir uma perspectiva salvacionista das TS e da Educaccedilatildeo CTS e

em natildeo ignorar contradiccedilotildees silenciamentos e a polissemia Desafios

esses que foram aliados do pequeno tempo para o desenvolvimento do

roteiro didaacutetico dos equiacutevocos inerentes agrave minha primeira experiecircncia

como docente no ensino meacutedio formal e das dificuldades estruturais para

superaccedilatildeo das contradiccedilotildees agraves quais me referi

Dentro do possiacutevel procurei que o desenvolvimento da temaacutetica

socioteacutecnica tivesse significado para osas estudantes no

estabelecimento de relaccedilotildees com as realidades sociais nas quais elesas

estavam inseridosas Abordei TS como tema a ser estudado dentro dos

princiacutepios de desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento tendo em vista o

rompimento com visotildees hierarquizadas sobre conhecimento Minha

intenccedilatildeo foi destacar o caraacuteter processual da produccedilatildeo de conhecimentos

e a importacircncia da alteridade interaccedilatildeo e interdependecircncia dos sujeitos

nesse processo

Destaco minha compreensatildeo acerca da existecircncia de perspectivas

educacionais (re)produtoras de heteronomia Frente a isso busquei

desenvolver em alguma medida praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agrave

formaccedilatildeo criacutetica dos sujeitos Abordei questotildees socioteacutecnicas na

educaccedilatildeo baacutesica tendo em vista possibilidades de mudanccedilas estruturais

de base Minha intervenccedilatildeo junto aos CTIEM visou problematizar a

origem soacutecio-histoacuterica do desenvolvimento tecnoloacutegico as relaccedilotildees de

poder ali envolvidas e nossas possibilidades de participaccedilatildeo nesses

processos

Compreendo que os cuidados que tive natildeo puderam garantir algo

como o cumprimento ideal de meus objetivos Percebi limites tanto para

alguma transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia entre

juventudes quanto para mobilizaccedilotildees para a autoria De maneira geral

tais limites podem se referir tanto a praacuteticas docentes (tipo de

abordagem e escolha pedagoacutegica tempo disponiacutevel) quanto agrave estrutura

escolar (componentes curriculares possibilidades de trabalho

interdisciplinar) por exemplo

Em especiacutefico verifiquei a importacircncia de desenvolver com

estudantes questotildees acerca da natildeo linearidade entre a identificaccedilatildeo de

um problema e sua resoluccedilatildeo de modo a apontar as muacuteltiplas

influecircncias e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir Aleacutem

disso foi necessaacuterio embora natildeo suficiente tendo em vista um processo

de transformaccedilatildeo e criaccedilatildeo de novos sentidos destacar diferenccedilas e

possiacuteveis aproximaccedilotildees entre TC TS e TA aleacutem de problematizar a

215

contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados ao desenvolvimento

tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele ocorre

Verifiquei que a tarefa de mobilizaccedilatildeo de estudantes para

desenvolvimento autoral de TS em niacutevel disciplinar apenas na

disciplina de Sociologia foi um fator limitante Assim como a busca por

novas praacuteticas pedagoacutegicas e didaacuteticas natildeo se constituiu como uma

tarefa simples Contudo visualizei algumas possibilidades para

transformaccedilatildeo de sentidos e criaccedilatildeo de novos sentidos sobre o

desenvolvimento tecnoloacutegico

As anaacutelises realizadas indicaram certa sensibilidade de estudantes

para com a temaacutetica socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos

deterministas sobre tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo de projetos autorais Entendo que foi profiacutecuo mobilizaacute-losas

para aleacutem de refletir sobre problemas socioteacutecnicos do quotidiano

pensar em possibilidades de soluccedilotildees de acordo com seus desejos

dentro de suas possibilidades e contextos

Considero que a disposiccedilatildeo manifesta pelosas estudantes para

projetos autorais pode estar relacionada com autonomia na medida em

que ocorre certo tipo de desenvolvimento de maturidade intelectual

nesse processo Maturidade desenvolvida pela criatividade colaboraccedilatildeo

e abertura para trabalhos conjuntos e compartilhados entre diferentes

conhecimentos Esses trabalhos conjuntos mais que interdisciplinares

podem envolver a coletividade escolar e os diferentes conhecimentos

produzidos por seus sujeitos de modo geral

Portanto a integraccedilatildeo de diferentes conhecimentos no

desenvolvimento de TS seria possiacutevel em grupo E nessas experiecircncias

conjuntas os processos educacionais estariam sensiacuteveis ao

desenvolvimento de maturidade intelectual Maturidade vinculada agrave

autonomia como destaquei acima e agrave emancipaccedilatildeo social Essa uacuteltima

ligada a possibilidades dos sujeitos se posicionarem socialmente tanto

em relaccedilatildeo a criacuteticas a situaccedilotildees de vulnerabilidade vivenciadas quanto agrave

libertaccedilatildeo de condiccedilotildees de dependecircncia e tutela

Dessa maneira minhas intervenccedilotildees junto agraves juventudes dos

CTIEM do IFRS mostraram que em alguma medida existem

possibilidades de transformar sentidos deterministas sobre tecnologia (e

construir novos sentidos) atraveacutes de processos educacionais sensiacuteveis a

uma perspectiva criacutetica sobre TS (processos colaborativos de

desenvolvimento) Em tais processos as juventudes parecem

compreender (mais) que os problemas socioteacutecnicos satildeo (socialmente)

construiacutedos e que as tecnologias podem atender a seus desejos e

incorporar valores contextuais

216

Nas pesquisas que realizei para esta tese sobretudo nas oito aulas

de desenvolvimento do roteiro didaacutetico verifiquei que a temaacutetica

socioteacutecnica natildeo era necessariamente um problema para as juventudes

do CTIEM Entretanto houve a construccedilatildeo de problemas na medida em

que foram exploradas as possibilidades de participaccedilatildeo via autoria com a

criaccedilatildeo de TS De modo que percebo que ao constituiacuterem-se como

autoresas (e natildeo mais apenas usuaacuteriosas) satildeo visualizadas as

possibilidades de autonomia e liberaccedilatildeo de tutela e dependecircncia

Poreacutem natildeo entendo esse processo como algo linear e

previamente determinado pelo desenvolvimento de TS entre juventudes

Compreendo a complexidade aqui envolvida e aponto uma

possibilidade entre outras tantas que poderiam ser exploradas para

desenvolver processos educacionais atentos a perspectivas CTS

Procurei natildeo reproduzir praacuteticas pedagoacutegicas problemaacuteticas e nesse

sentido verifiquei a necessidade de atenccedilatildeo constante Contudo penso

que foi possiacutevel obter dados sobre relaccedilotildees entre tecnologia e processos

educacionais que permitam ampliar a compreensatildeo de qualidades

constitutivas dessas relaccedilotildees Algo que acredito ser proveitoso para

educadoresas com interesse em TS

Em termos acadecircmicos creio que estudos que relacionam

sentidos sobre tecnologia e juventudes que compotildeem a educaccedilatildeo baacutesica

podem contribuir com as produccedilotildees na aacuterea da ECT Pois ao considerar

temas em ciecircncia e tecnologia a ECT tambeacutem estaacute atenta aos contextos

nos quais processos educacionais formais se desenvolvem Com isso

procurei relacionar minha perspectiva politeacutecnica sobre educaccedilatildeo dentro

de um quadro da Educaccedilatildeo CTS latino-americana com vistas a

contribuir com estudos da ECT sobretudo nas implicaccedilotildees sociais da

tecnologia na educaccedilatildeo

Existem muitos aspectos a serem ainda explorados Para aleacutem das

TS destaco a importacircncia de investigaccedilotildees que examinem em que

sentidos a questatildeo da inclusatildeo social seria desenvolvida nos Institutos

Federais Seria possiacutevel questionar qual modelo produtivo seria

considerado que perfil profissional estaria previsto para qual mercado e

com que tipo de tecnologia as accedilotildees seriam pensadas Aponto tambeacutem

a relevacircncia de pesquisas sobre o desenvolvimento da perspectiva

poliacutetico-pedagoacutegica do IFRS Seria interessante a verificaccedilatildeo mais

atenta sobre a manutenccedilatildeo ou natildeo da loacutegica dualista entre formaccedilatildeo

teacutecnica e propedecircutica e suas implicaccedilotildees na formaccedilatildeo discente

Embora natildeo tenha sido o foco de abordagem nesse estudo as

questotildees relacionadas ao curriacuteculo tecircm relevacircncia em debates sobre

processos educacionais A literatura sobre o tema apresenta trabalhos

217

importantes sobre as relaccedilotildees entre curriacuteculo e normas sociais por

exemplo Destaco tambeacutem estudos nos quais os conhecimentos e

experiecircncias que osas alunosas possuem satildeo considerados em

organizaccedilotildees curriculares mais flexiacuteveis e atentas a especificidades

locais e regionais

Na aacuterea educacional natildeo haacute muita novidade no fato de que os

conteuacutedos curriculares deveriam permitir que estudantes tenham

possibilidades de adotar uma postura criacutetica sobre diferentes aspectos da

realidade social De modo que o curriacuteculo natildeo apresentaria uma uacutenica

visatildeo ou interpretaccedilatildeo mas representaria as complexidades da realidade

social Dessa maneira penso que estudos criacuteticos sobre questotildees

curriculares no IFRS tambeacutem podem trazer contribuiccedilotildees para o

entendimento de relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia

Minha intenccedilatildeo geral nesta tese foi considerar possiblidades de

transformaccedilotildees pertinentes a dois grandes temas educaccedilatildeo e tecnologia

Verifiquei possibilidades e potencialidades assim como limites e

desafios Poreacutem natildeo perdi a disposiccedilatildeo de mobilizar juventudes para

reflexotildees natildeo deterministas e natildeo neutras sobre tecnologia tendo em

vista uma educaccedilatildeo (politeacutecnica) criacutetica integral permanente e

contextualizada

Iniciei essas consideraccedilotildees finais com a reflexatildeo de Galeano

sobre as condiccedilotildees dilemaacuteticas do desenvolvimento socioteacutecnico Para

encerrar refiro-me ao poeta brasileiro Maacuterio Quintana (1906-1994) que

em sua ldquoDas utopiasrdquo (QUINTANA 1997 p 36) lembra-nos de que

Se as coisas satildeo inatingiacuteveishellip ora

Natildeo eacute motivo para natildeo querecirc-lashellip

Que tristes os caminhos se natildeo fora

A presenccedila distante das estrelas

E eacute essa atitude de projetar caminhos tendo em vista suas

possibilidades concretas de execuccedilatildeo que continua presente ao finalizar

essa etapa de reflexotildees e pesquisas sobre TS na educaccedilatildeo baacutesica

Sobretudo permanece a intenccedilatildeo de ir aleacutem e procurar criacutetica e

comparativamente complementos teoacutericos e metodoloacutegicos que possam

ajudar a subsidiar pesquisas relevantes e tragam contribuiccedilotildees aos debates sobre relaccedilotildees entre sentidos sobre tecnologia e processos

educacionais

As experiecircncias pelas quais passei nos diferentes momentos que

envolveram a execuccedilatildeo desta tese mobilizaram-me para prosseguir em

estudos que possam em alguma medida gerar interpretaccedilotildees originais

218

aos novos e velhos problemas da aacuterea da educaccedilatildeo em geral e da ECT

brasileira em particular Com minha atenccedilatildeo voltada aos sujeitos

mantenho o interesse em processos nos quais diferentes sujeitos possam

ter participaccedilatildeo informada e criacutetica em questotildees socioteacutecnicas Para que

como disse Walter Benjamin (2009) na epiacutegrafe desta tese esses

sujeitos possam cada vez mais dominar a arte de ldquoposicionar as velasrdquo

219

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APEcircNDICES

Apecircndice A Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor

Geral

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS

Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio

Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS

Senhor Diretor Geral JULIANO CANTARELLI TONIOLO

Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von

Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul

(informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar

questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio

em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que

circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul

Grata por sua colaboraccedilatildeo Raquel Folmer Correcirca

Florianoacutepolis _________________

__________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

244

Apecircndice B Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor de

Ensino

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS

Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio

Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS

Senhor Diretor de Ensino VITOR SCHLICKMANN

Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von

Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul (informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar

questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do

texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que

circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul Grata por sua colaboraccedilatildeo

Raquel Folmer Correcirca

Florianoacutepolis _________________

__________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

245

Apecircndice C Termo de consentimento livre e esclarecido - alunosas

(modelo)147

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu ___________________________________________________________ autorizo a

utilizaccedilatildeo de dados obtidos em sala de aula no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Caxias do Sul - para a realizaccedilatildeo de pesquisa para

elaboraccedilatildeo de tese de doutorado junto ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica

e Tecnoloacutegica da UFSC intitulada TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCACcedilAtildeO POSSIBILIDADES E LIMITES DE TRANSFORMACcedilAtildeO DE SENTIDOS Tambeacutem autorizo

a apresentaccedilatildeo de trabalhos em encontros cientiacuteficos Concedo ainda o direito de retenccedilatildeo e uso

para fins de ensino e divulgaccedilatildeo em jornais eou revistas cientiacuteficas do paiacutes e do estrangeiro Se caso eu tiver novas perguntas sobre este estudo posso chamar os responsaacuteveis pela pesquisa

no telefone (54) 99497932 para qualquer esclarecimento sobre os meus direitos como

participante deste estudo Estou ciente que nada tenho a exigir a tiacutetulo de ressarcimento ou indenizaccedilatildeo pela participaccedilatildeo nas accedilotildees propostas Assim a assinatura desse Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) formaliza a autorizaccedilatildeo para a publicaccedilatildeo de

dados Vale salientar que seraacute garantido o anonimato dos sujeitos participantes Declaro que apoacutes ter lido e compreendido as informaccedilotildees contidas neste TCLE concordo em participar

desse estudo E atraveacutes deste instrumento autorizo os pesquisadores Raquel Folmer Correcirca e

Irlan von Linsingen a utilizarem as informaccedilotildees obtidas com a finalidade de desenvolver trabalho de cunho cientiacutefico na aacuterea de Educaccedilatildeo

Florianoacutepolis _____________________

______________________________________________ Assinatura doa alunoa participante

____________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

147 Originais assinados pelosas alunosas em posse da autora

246

Apecircndice D Questionaacuterio

QUESTIONAacuteRIO

Estimadoa alunoa

Este questionaacuterio traz 18 perguntas seguidas por diferentes afirmaccedilotildees ou

apenas afirmaccedilotildees sobre nossas relaccedilotildees com tecnologia Leia atentamente

cada questatildeo reflita se vocecirc concorda ou discorda com cada afirmaccedilatildeo e

escolha dentre as alternativas disponiacuteveis aquela uacutenica que vocecirc reconhece

como a mais proacutexima ao que vocecirc pensa MARQUE APENAS UMA

ALTERNATIVA O questionaacuterio eacute frente e verso

SEXO F ( ) M ( ) IDADE_____anos

1 O melhor modo de descrever tecnologia eacute

(A) Tecnologia eacute tudo que nos rodeia

(B) Tecnologia satildeo todos os aparelhos que nos rodeiam

(C) Tecnologia satildeo todos os novos aparelhos que nos rodeiam

(D) Tecnologia satildeo aparelhos (produtos) metodologias e tambeacutem serviccedilos

(E) Tecnologia eacute toda a aplicaccedilatildeo praacutetica da ciecircncia

(F) Tecnologia satildeo ferramentas prontas para servir os propoacutesitos dos usuaacuterios

(G) Satildeo as produccedilotildees humanas que visam uma finalidade praacutetica mas que

podem envolver pesquisa

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

2 O processo de produzir tecnologia eacute melhor descrito como

(A) Tudo o que fazemos para entender o mundo

(B) Tudo o que fazemos para mudar o mundo

(C) Tudo o que fazemos para melhorar o mundo

(D)Tudo o que fazemos e que transforma a natureza e o mundo e envolve

nossos desejos gostos e valores

(E) Tudo o que eacute feito nas faacutebricas tanto para melhorar ou piorar o mundo

(F) Tudo o que eacute feito para descobrir os segredos da natureza

(G) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia para entender o universo

(H) A descoberta de novos modos de fazer as coisas

(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

3 Definir o que eacute tecnologia eacute difiacutecil porque ela serve para muitas coisas

Mas a tecnologia eacute PRINCIPALMENTE

(A) Muito parecida com a ciecircncia

(B) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia

247

(C) Processos meacutetodos instrumentos maacutequinas e ferramentas com aplicaccedilotildees

praacuteticas para o uso diaacuterio

(D) Robocircs eletrocircnicos computadores sistemas de comunicaccedilatildeo e maacutequinas

(E) Uma teacutecnica para construir coisas ou uma forma de resolver problemas

praacuteticos

(F) Inventar desenhar e transformar coisas (por exemplo membros humanos

artificiais computadores e veiacuteculos espaciais)

(G) Ideias e teacutecnicas para fazer coisas e organizar as pessoas para o progresso

da humanidade

(H) Saber como fazer coisas (por exemplo instrumentos e maacutequinas)

(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

4 O desenvolvimento de uma nova tecnologia (reator nuclear ou aparelho

para cirurgia cardiacuteaca por exemplo) pode ser colocado em praacutetica ou natildeo

A decisatildeo de usar uma nova tecnologia depende PRINCIPALMENTE

(A) Da explicaccedilatildeo dosas teacutecnicosas que a desenvolveram pois elesas sabem

avaliar os riscos

(B) Das pessoas que deram dinheiro para que a tecnologia fosse desenvolvida

pois elas que investiram

(C) Da faacutebrica que iraacute produzir pois laacute eacute que haveraacute possiacuteveis impactos

ambientais e de risco aos trabalhadoresas

(D) Do governo pois ele poderaacute oferecer a toda a populaccedilatildeo a tecnologia

(E) Vai depender do tipo de tecnologia pois para cada uma existe uma

especialista que pode avaliar

(F) Vai depender de vaacuterios aspectos como osas especialistas osas

investidoresas e o governo

(G) Vai depender de um amplo debate puacuteblico entre todos os segmentos

interessados inclusive a populaccedilatildeo inicialmente leiga no assunto

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

5Ciecircncia e tecnologia satildeo bastante relacionadas estre si porque

(A) Ciecircncia eacute a base dos avanccedilos tecnoloacutegicos e eacute difiacutecil ver como a tecnologia

pode ajudar a ciecircncia

(B) A investigaccedilatildeo cientiacutefica leva a aplicaccedilotildees praacuteticas tecnoloacutegicas e as

aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas aumentam a capacidade da investigaccedilatildeo cientiacutefica

(C) Mesmo sendo diferentes estatildeo unidas de modo tatildeo proacuteximo que eacute difiacutecil

separaacute-las

(D) Tecnologia eacute a base dos avanccedilos cientiacuteficos e eacute difiacutecil ver como a ciecircncia

pode ajudar a tecnologia

(E) Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa

248

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

6 A tecnologia influencia a sociedade

(A) A tecnologia natildeo influencia muito a sociedade

(B) A tecnologia influencia bastante a sociedade

(C) A tecnologia nos influencia se noacutes deixarmos

(D) Independentemente de deixarmos ou natildeo a tecnologia nos influencia

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

7 O desenvolvimento tecnoloacutegico pode ser controlado pelas pessoas natildeo

especialistas pelos cidadatildeos

(A) Sim porque osas especialistas saiacuteram da populaccedilatildeo em geral Portanto a

populaccedilatildeo em geral controla um pouco os avanccedilos da tecnologia

(B) Sim porque os avanccedilos tecnoloacutegicos satildeo patrocinados pelo governo e ao

eleger o governo a populaccedilatildeo escolhe o tipo de avanccedilo tecnoloacutegico que

ocorreraacute

(C) Sim porque a populaccedilatildeo deveria ter acesso e possibilidade de escolha nas

questotildees que envolvem o desenvolvimento tecnoloacutegico

(D) Sim mas apenas quando estatildeo organizados em grupos (associaccedilotildees ONGrsquos

cooperativas por exemplo)

(E) Natildeo o desenvolvimento tecnoloacutegico soacute pode ser controlado pelosas

teacutecnicosas diretamente envolvidosas no desenvolvimento da tecnologia pois

elesas entendem todos os processos envolvidos

(F) Natildeo porque a tecnologia avanccedila tatildeo raacutepido que osas natildeo especialistas natildeo

conseguem acompanhar

(G) Natildeo porque a tecnologia se desenvolve de modo independente das pessoas

e nem osas especialistas podem controlar o rumo que uma tecnologia teraacute

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

8 Investir em tecnologia melhora a qualidade de vida das pessoas

(A) Sim porque a tecnologia sempre tem melhorado a vida das pessoas e natildeo haacute

razatildeo para isso natildeo acontecer mais agora

(B) Sim porque investir em tecnologia leva ao desenvolvimento econocircmico

que leva ao desenvolvimento social tambeacutem

(C) Sim porque a tecnologia torna nossa vida mais faacutecil

(D) Sim mas apenas para aqueles que tem acesso a essa tecnologia quem natildeo

tem acesso natildeo eacute afetado

(E) Natildeo porque satildeo desenvolvimentos independentes

249

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

9 A sociedade influencia a tecnologia

(A) A sociedade natildeo influencia muito a tecnologia

(B) A sociedade influencia bastante a tecnologia

(C) A sociedade natildeo influencia a tecnologia pois a tecnologia segue um rumo

independente do que podemos decidir

(D) A sociedade influencia a tecnologia na medida em que podemos usar ou natildeo

uma tecnologia de acordo com nossos gostos e valores mesmos que haja

pressatildeo para utilizar determinadas tecnologias

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

10 Quem deve decidir que tecnologia seraacute desenvolvida em nosso paiacutes eacute

(A) Osas engenheirosas e teacutecnicosas pois satildeo osas especialistas

(B) Os governantes pois satildeo os grandes investidores

(C) Os governantes e osas especialistas

(D) Aleacutem dos governantes e especialistas as lideranccedilas religiosas tambeacutem

devem ser ouvidas pois a tecnologia envolve valores morais das pessoas

(E) Aleacutem de governantes e especialistas a sociedade em geral tambeacutem precisa

poder decidir o que seraacute desenvolvido

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

11 No desenvolvimento de tecnologia estatildeo envolvidos

(A) Os contextos (lugar e eacutepoca de seu desenvolvimento)

(B) A histoacuteria do que estaacute sendo desenvolvido (quem jaacute produziu como)

(C) Interesses poliacuteticos e econocircmicos

(D) Valores sociais e morais

(E) Todas as alternativas anteriores

(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte

teacutecnica e econocircmica

(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

12 A tecnologia tambeacutem se relaciona com o que desejamos

(A) Sim pois como ela eacute desenvolvida por seres humanos ela carrega nossos

valores e intenccedilotildees

(B) Sim mas isso natildeo impede que a tecnologia se desenvolva fora do controle

da sociedade

250

(C) Natildeo pois o desenvolvimento de tecnologia eacute um processo neutro sem

envolvimento sentimental

(D) Natildeo pois embora o ser humano desenvolva tecnologia seus sentimentos

natildeo interferem

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

13 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc se considera

(A) Observadora acompanho o que eacute desenvolvido mas natildeo compro nem uso

nem passo a diante

(B) Usuaacuterioa comproganho o que eacute desenvolvido e que me agrada para minha

proacutepria utilizaccedilatildeo

(C) Divulgadora comproganho e independente de utilizar ou natildeo divulgo o

que eacute desenvolvido e que me agrada

(D) Autora procuro desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos

problemas que quero resolver

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

14 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc gostaria de ser

(A) Observadora acompanhar o que eacute desenvolvido mas natildeo comprar nem

usar nem passar a diante

(B) Usuaacuterioa comprarganhar o que eacute desenvolvido e que me agrada para

minha proacutepria utilizaccedilatildeo

(C) Divulgadora comprarganhar e independente de utilizar ou natildeo divulgar o

que eacute desenvolvido e que me agrada

(D) Autora procuraria desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos

problemas que gostaria de resolver

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

15 O desenvolvimento uso e disseminaccedilatildeodistribuiccedilatildeo de tecnologia estaacute

relacionado a

(A) Poliacutetica

(B) Economia

(C) Cultura

(D) Educaccedilatildeo

(E) Todas as alternativas anteriores

(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte

teacutecnica logiacutestica e econocircmica

(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

251

16 Vocecirc concorda com a afirmaccedilatildeo ldquotoda tecnologia eacute social assim como

toda a sociedade eacute tecnoloacutegicardquo

(A) Sim pois os seres humanos desenvolvem tecnologia entatildeo ela eacute social e a

sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia

(B) Sim e natildeo Sim a tecnologia eacute social pois eacute desenvolvida por seres

humanos E natildeo a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem

tecnologia

(C) Natildeo Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos a

desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos

E natildeo toda a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem tecnologia

(D) Natildeo e sim Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos

a desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos

E sim e a sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

17 Vocecirc concorda que o desenvolvimento uso e distribuiccedilatildeo de tecnologia

tenha conteuacutedo ideoloacutegico

(A) Sim pois como toda a produccedilatildeo humana ela eacute cheia de valores

sentimentos e intenccedilotildees

(B) Sim mas ela tem os valores proacuteprios do desenvolvimento teacutecnico e natildeo os

valores humanos

(C) Natildeo pois a tecnologia natildeo eacute afetada por questotildees morais sentimentais e de

valores

(D) Natildeo mas podemos pensar em uma utilidade da tecnologia que faccedila bem agraves

pessoas

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

18 Vocecirc concorda com a seguinte afirmaccedilatildeo ldquoRevoacutelveres natildeo matam seres

humanos satildeo os seres humanos que puxam o gatilho e matam outros seres

humanosrdquo

(A) Sim pois o revoacutelver foi desenvolvido para a defesa e as pessoas se matam

com ele porque querem

(B) Sim mas o revoacutelver foi feito para matar

(C) Natildeo pois o revoacutelver foi desenvolvido para matar pessoas Armas apenas de

defesa natildeo podem ter capacidade de matar

(D) Natildeo mas os seres humanos natildeo inventaram o revoacutelver com intenccedilatildeo de

matar

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

252

Fim

Por favor antes de devolver seu questionaacuterio verifique se todas as questotildees

foram respondidas

Obrigada

253

Apecircndice E Roteiro didaacutetico

1 Tiacutetulo

Tecnologia e tecnologias sociais autoria em problemas socioteacutecnicos

2 Tema

Problematizaccedilatildeo da temaacutetica tecnoloacutegica e suas relaccedilotildees com uma

perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais (TS) na resoluccedilatildeo autoral de

problemas socioteacutecnicos de juventudes dos Cursos Teacutecnico Integrados ao

Ensino Meacutedio (CTIEM)

3 Contextualizaccedilatildeo e justificativa

Alguns estudos latino-americanos atuais que relacionam ciecircncia

tecnologia e sociedade (CTS) de um ponto de vista educacional tecircm dado

visibilidade a percepccedilotildees sobre relaccedilotildees CTS em componentes curriculares da

Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT) de Engenharias e de aacutereas das

Ciecircncias Naturais e Exatas Nesses estudos haacute uma problematizaccedilatildeo importante

da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias Humanas em aacutereas teacutecnicas Nesse

contexto percebo certa ausecircncia de discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica

Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de

possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)

conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade socioteacutecnica com

a qual elesas podem interagir diariamente Ao apresentar uma ausecircncia

percebida considero a emergecircncia da inclusatildeo de novos sujeitos nos debates

socioteacutecnicos Sujeitos especiacuteficos que emergem do contexto escolar dos

CTIEM

Nesse sentido este roteiro traz uma possibilidade de abordagem

educacional sobre TS O objetivo eacute mobilizar alunosas (e professoresas) para

promover (participar de) debates criacuteticos sobre temas socioteacutecnicos em seu

quotidiano Ao abordar esses temas a ideia eacute que novas questotildees surjam e que

possam vir a contribuir para a Educaccedilatildeo CTS

A intenccedilatildeo aqui eacute que estudantes considerem suas possibilidades para

para aleacutem de participar de debates socioteacutecnicos promoverem novas questotildees

sobre esses assuntos De modo que se perguntem o que tecnologia e TS tecircm a

ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a esses

temas entre outras reflexotildees possiacuteveis

Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais

integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a

compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu caraacuteter

contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas) De modo que os

temas desenvolvidos possam ser relacionados com o mundo do trabalho e as

praacuteticas sociais preparando osas educandosas para o exerciacutecio da cidadania

A relevacircncia dessa iniciativa encontra-se nas possibilidades de (i)

problematizar relaccedilotildees entre sujeito e sociedade e o papel do sujeito na

254

construccedilatildeo da realidade social (ii) compreender (e poder transformar) soacutecio-

historicamente sentidos sobre tecnologias que circulam (satildeo debatidos) entre as

juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (iii) ampliar espaccedilos para

debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade e (iv) vincular tais

debates a perspectivas socioloacutegicas do mundo do trabalho e da cidadania

4 Objetivos

Identificar sentidos sobre tecnologia que circulam entre estudantes dos

CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos examinar

possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de um

posicionamento criacutetico sobre TS e estabelecer relaccedilotildees entre a temaacutetica

socioteacutecnica e o mundo do trabalho e o desenvolvimento cidadatildeo

5 Conteuacutedos

Tecnologia determinismo tecnoloacutegico e TS

6 Metodologia

Apresento uma proposta pedagoacutegica com foco no ensino de Sociologia I

em CTIEM mas aberta a diferentes perspectivas e modalidades de ensino

Penso que pode ser interessante e produtivo promover aberturas inter e

transdisciplinares e propor a colegas de disciplinas como Histoacuteria Biologia e

Geografia por exemplo a participaccedilatildeo nessas atividades Contudo cabe a

docentes adequarem as atividades ao seu contexto de ensino e sobretudo

modificaacute-la de acordo com seus propoacutesitos e planejamentos

O roteiro didaacutetico estaacute distribuiacutedo em oito momentos (aulas de 50

minutos) tendo em vista apenas uma aula por semana O desenvolvimento das

atividades envolve uma problematizaccedilatildeo inicial leitura de texto

acompanhamento de exibiccedilatildeo de audiovisual aula expositiva-dialogada

pesquisa orientada apresentaccedilatildeo de trabalhos e debates de finalizaccedilatildeo Cada

turma dos CTIEM estaacute dividida em grupos de aproximadamente seis

estudantes em cada grupo de modo que existam cerca de cinco grupos em cada

turma (o que contemplaria osas 30 alunosas geralmente frequente em cada

turma) Cada grupo tem entre 10 e 15 minutos para apresentaccedilatildeo de seu trabalho

final

7 Roteiro

1ordf aula Explicaccedilatildeo da proposta de estudo sobre tecnologia (e da

pesquisa para tese) e lanccedilamento da questatildeo inicial (o que eacute tecnologia para

vocecirc) a ser respondida individualmente mas com abertura a diaacutelogos entre

osas alunosas

2ordf aula Retomada do tema socioteacutecnico e aplicaccedilatildeo do questionaacuterio

individual

3ordf aula discussatildeo do questionaacuterio iniacutecio da exposiccedilatildeo dialogada sobre

tecnologia do ponto de vista de Estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-americanos

Leitura de um texto sobre tecnologia de minha autoria Exibiccedilatildeo do viacutedeo ldquoO

255

que eacute tecnologia afinalrdquo que tem cinco minutos e mostra imagens de diversas

tecnologias desenvolvidas em diferentes periacuteodos Viacutedeo disponiacutevel em

httpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=related

A figura 6 abaixo (de minha autoria) eacute um exemplo de informaccedilatildeo que

pode mediar as discussotildees desse momento

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

4ordf aula Retomada de ideias sobre tecnologia introduccedilatildeo da

problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e de ideias sobre TS

As figuras 7 e 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis livremente na internet e

podem ilustrar os debates propostos para esse momento

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01

Fonte Google imagens

256

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

Para a exposiccedilatildeo dialogada sobre TS a figura 4 abaixo pode ilustrar as

discussotildees

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

5ordf e 6ordf aulas Explicaccedilatildeo da tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS para

resolver um problema socioteacutecnico relevante no seu quotidiano Divisatildeo dos

grupos Pesquisas orientadas no laboratoacuterio de informaacutetica Imagens e textos

ficam agrave disposiccedilatildeo para consulta Apresentar a importacircncia de buscar

originalidade e autoria na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do problema socioteacutecnico

levantado

A figura 9 abaixo pode ilustrar o que se pretende com o

desenvolvimento de autoria

257

Figura 9 - Autoria

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

7ordf aula iniacutecio das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS

8ordf aula final das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS (se

for o caso) debates sobre os seminaacuterios e auto avaliaccedilotildees finais

8 Materiais utilizados

Folhas de papel para a questatildeo inicial questionaacuterio texto de apoio

slides com toacutepicos sobre a temaacutetica (figuras notiacutecias jornaliacutesticas peccedilas

publicitaacuterias viacutedeos) computadores para pesquisas e projetor multimiacutedia para

apresentaccedilotildees

9 Avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo eacute aqui entendida como um continuum que perpassa todos os

processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos durante as aulas Eacute

interessante destacar que fazem parte desse processo tanto uma avaliaccedilatildeo

formativa (avaliaccedilatildeo ldquoparardquo o aprendizado ocorre continuamente) quanto uma

avaliaccedilatildeo somativa (avaliaccedilatildeo ldquodordquo aprendizado pontual com atribuiccedilatildeo de

notas) Para essa proposta haacute preocupaccedilatildeo com uma avaliaccedilatildeo formativa mas

penso que o desenvolvimento e apresentaccedilatildeo das propostas de TS tenham

tambeacutem um caraacuteter somativo

O que apresento aqui satildeo ideias para desenvolver com osas alunosas a

problematizaccedilatildeo (dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo) a argumentaccedilatildeo a construccedilatildeo de conhecimentos e a

capacidade de se posicionar dialogicamente de modo informado sobre questotildees

socioteacutecnicas Com isso os criteacuterios considerados nas avaliaccedilotildees dosas

alunosas contemplam as reflexotildees e entendimentos dosas mesmosas sobre (i)

o que e como tecnologias e determinismo tecnoloacutegico significam no dia-a-dia

(ii) TS como tema de relevacircncia a estudantes (como podem influenciar o

258

trabalho os relacionamentos o lazer etc) e (iii) possibilidades e limites de

desenvolver autoria na resoluccedilatildeo de seus problemas socioteacutecnicos e relaccedilotildees

dessa com princiacutepios socioloacutegicos de cidadania (o que eacute possiacutevel fazer como e

por quecirc)

A atribuiccedilatildeo de notas fica relacionada com a mobilizaccedilatildeo para os

debates a pesquisa e a apresentaccedilatildeo da tarefa final

10 Sugestotildees de audiovisuais para reflexotildees sobre a temaacutetica

2001 uma Odisseia no Espaccedilo (EUAInglaterra 1968 Stanley

Kubrick)

Admiraacutevel Mundo Novo (EUA 1998 Leslie Libman)

A Guerra do Fogo (FranccedilaCanadaacute 1981 Jean-Jacques Annaud)

Alphaville (FranccedilaItaacutelia 1965 Jean-Luc Godard)

Blade runner o caccedilador de androides (EUA 1982 Ridley Scott)

Gattaca - Experiecircncia Geneacutetica (EUA 1997 Andrew Niccol)

Matrix (EUAAustraacutelia 1999 irmatildeos Wachowski)

259

Apecircndice F Texto base das aulas

IFRS - Cacircmpus Caxias do Sul

Sociologia I Profordf Raquel Folmer Correcirca

TECNOLOGIA

Percebe-se que a palavra tecnologia eacute empregada largamente em

diferentes contextos (social cultural econocircmico poliacutetico educaccedilatildeo) sendo

utilizada para as mais diversas finalidades e por pessoas com propoacutesitos

distintos Poreacutem do mesmo modo que o seu uso se torna cada vez mais

corrente confusotildees e imprecisotildees semacircnticas permeiam o seu emprego O

filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto apresenta a tecnologia como ldquoa teoria a

ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes

as habilidades do fazer as profissotildees e generalizadamente os modos de

produzir alguma coisardquo (2005 p 219)148

Ele tambeacutem destaca que

toda tecnologia contendo necessariamente o

sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica transporta

inevitavelmente um conteuacutedo ideoloacutegico Consiste

numa determinada acepccedilatildeo do significado e do valor

das accedilotildees humanas do modo social de realizarem-se das

relaccedilotildees do trabalhador com o produto ou o ato acabado

e sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em seu

papel de fabricante de um bem ou autor de um

empreendimento e o destino dado agravequilo que cria A

teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um ato

humano necessariamente inserido no contexto social

que a solicita a possibilita e lhe daacute aplicaccedilatildeo (ibidem p

320-321)

A socioacuteloga gauacutecha Maiacutera Baumgarten (2006)149 situa a tecnologia em

relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e destaca que o ser humano tem a capacidade de

inventar teacutecnicas aperfeiccediloaacute-las e transmiti-las Ela pontua que na tecnologia

148 PINTO A V O conceito de Tecnologia (Vol 1) Rio de janeiro

Contraponto 2005 149 BAUMGARTEN M Tecnologia In CATTANI A HOLZMANN L

(orgs) Dicionaacuterio de trabalho e tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006

260

que reside a possibilidade de transformaccedilatildeo da realidade Para ela uma ideia

geral de tecnologia pode ser compreendida como

() atividade socialmente organizada baseada em

planos e de caraacuteter essencialmente praacutetico

Tecnologia compreende portanto conjuntos de

conhecimentos e informaccedilotildees utilizados na

produccedilatildeo de bens e serviccedilos provenientes de

fontes diversas como descobertas cientiacuteficas e

invenccedilotildees obtidas por meio de distintos meacutetodos

a partir de objetivos definidos e com finalidades

praacuteticas () como toda produccedilatildeo humana a

tecnologia deve ser pensada no contexto das

relaccedilotildees sociais e dentro de seu desenvolvimento

histoacuterico (ibidem p 288)

Tendo em vista essas consideraccedilotildees pode-se compreender o

desenvolvimento os usos e as aplicaccedilotildees da tecnologia enquanto fenocircmeno

eminentemente social relacionado agrave poliacutetica agrave economia agrave educaccedilatildeo e agrave

cultura

TECNOLOGIAS SOCIAIS

Tecnologia Social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias

reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem

efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Eacute um conceito que remete para uma

proposta inovadora de desenvolvimento considerando a participaccedilatildeo coletiva

no processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implementaccedilatildeo Estaacute baseado

na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a demandas de

alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo energia habitaccedilatildeo renda recursos hiacutedricos sauacutede meio

ambiente dentre outras

As Tecnologias Sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e

reaplicaacuteveis propiciando desenvolvimento social em escala

A Fundaccedilatildeo Banco do Brasil caracteriza tecnologia social como todo

processo meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema

social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil

reaplicabilidade e impacto social comprovado Tecnologias sociais satildeo

definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis

desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem efetivas

soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Podemos compreender que tecnologias

sociais se propotildeem a atender questotildees relativas agrave melhoria das condiccedilotildees de

vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local

sustentaacutevel Nessa perspectiva de tecnologia social a teacutecnica seria entendida

como um meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo

forma de controle ou causa de desigualdade social Satildeo exemplos de

261

Tecnologias sociais o soro caseiro (mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que combate a

desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil) as cisternas de placas preacute-moldadas

que atenuam os problemas de acesso a aacutegua de boa qualidade agrave populaccedilatildeo do

semiaacuterido entre outros

262

263

ANEXOS

Anexo A Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de controle

acadecircmico do IFRS150

Fonte IFRS 2015

150 Os pontos amarelos indicam o registro das aulas sobre tecnologia Contudo

uma aula sobre tecnologia natildeo foi registrada nesse sistema pois foi cedida de

modo informal a mim pelosas colegas professoresas na semana do dia

10112015 A primeira coluna agrave esquerda do ponto amarelo indica as datas em

que as aulas ocorreram

264

Anexo B Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados151

Disciplina Sociologia I

Carga Horaacuteria 30 horasaula

Periacuteodo 2015

Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica-Manhatilde

Atendimento Segunda-feira 1330-1530

Professora Raquel Folmer Correcirca

raquelcorreacaxiasifrsedubr

Ementa

Desenvolvimento de uma educaccedilatildeo escolar vinculada com o mundo do

trabalho e a praacutetica social preparando o educando para o exerciacutecio da cidadania

Busca de compreensatildeo das sociedades humanas como objeto de conhecimento

cientiacutefico atraveacutes do estudo de relaccedilotildees instituiccedilotildees e estruturas sociais em seu

caraacuteter atual e em suas dinacircmicas de transformaccedilatildeo Problematizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade e do papel do sujeito na construccedilatildeo da

realidade social Estudo sobre formas de trabalho relaccedilatildeo entre trabalho e

Direitos Humanos Modos de Produccedilatildeo origem e desenvolvimento da

Sociologia teorias socioloacutegicas claacutessicas e perspectivas atuais miacutedia ideologia

alienaccedilatildeo desenvolvimento sustentaacutevel

Objetivos

Desenvolver no educando uma perspectiva socioloacutegica de modo a

desnaturalizar a visatildeo de sociedade e da vida social construiacuteda no senso comum

Proporcionar a mobilizaccedilatildeo de conceitos e teorias socioloacutegicas como

ferramentas analiacuteticas para a compreensatildeo da vida quotidiana e do mundo do

trabalho a partir de uma visatildeo criacutetica

Programa

1 Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico

2 Teorias socioloacutegicas claacutessicas

3 Modos de produccedilatildeo

4 Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees na contemporaneidade

5 Temas atuais em Sociologia miacutedias e consumoconsumismo

6 Temas atuais em Sociologia tecnologias

151 Todos os CTIEM nos quais desenvolvi as atividades seguem o mesmo plano

265

Cronograma

Trimestre Descriccedilatildeo de conteuacutedos

1ordm trimestre

Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico

Produccedilatildeo social do conhecimento

O olhar socioloacutegico problematizaccedilatildeo e desnaturalizaccedilatildeo

Modernidade e origens do pensamento socioloacutegico

AVALIACcedilAtildeO

Teorias socioloacutegicas claacutessicas

Durkheim ndash fato social

Marx ndash classes sociais

Weber ndash accedilatildeo social

AVALIACcedilAtildeO

2ordm trimestre

Modos de produccedilatildeo

Antiguidade

Idade meacutedia

Modernidade

AVALIACcedilAtildeO

Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees

Fordismo

Taylorismo

Trabalho no Brasil

AVALIACcedilAtildeO

3ordm trimestre

Temas atuais em Sociologia miacutedias e

consumoconsumismo

Ideologia

Miacutedias

Consumo e consumismo

AVALIACcedilAtildeO

Temas atuais em Sociologia tecnologias

Determinismo tecnoloacutegico

Consumo e tecnologias

Trabalho e tecnologia

AVALIACcedilAtildeO

Metodologia

As aulas seratildeo em sua forma geral expositivasdialogadas A professora

trabalharaacute de modo que os temas encaminhem aos principais autoresas da

Sociologia e aos conceitos socioloacutegicos As aulas seratildeo iniciadas com a

recapitulaccedilatildeo da aula anterior e a apresentaccedilatildeo do objetivo da aula do dia

Haveraacute apresentaccedilatildeo do tema com levantamento dos entendimentos dosas

alunosas sobre o mesmo seguido do diaacutelogo com osas autoresas da

Sociologia e apresentaccedilatildeo dos conceitos (atraveacutes de leitura e interpretaccedilatildeo de

texto audiovisuais ou muacutesica) Os debates seratildeo promovidos durante toda a aula

e seratildeo propostas atividades de reflexatildeo sobre os mesmos (produccedilatildeo textual

266

individual grupos de trabalho coletivos etc) Ao final haveraacute sugestotildees de

materiais adicionais sobre o tema orientaccedilotildees sobre a disponibilizaccedilatildeo do

material na plataforma moodle e por fim encaminhamentos sobre a aula

seguinte

Teacutecnicas e Recursos

bull Recapitulaccedilatildeo de aula bull Aulas expositivasdialogadas bull Trabalhos em grupos

bull Debates bull Leitura de textos

bull Quadrocaneta bullTextosaudiovisuaismuacutesicas bullData Show

bullLivros didaacuteticosrevistasinternet

Avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo seraacute contiacutenua durante todas as aulas nas quais comumente

haveraacute a produccedilatildeo de textos curtos do tipo respostas a questotildees

propostasinterpretaccedilatildeo de texto e de materiais audiovisuais Essas produccedilotildees

seratildeo em grupos ou individualmente Haveraacute tambeacutem a solicitaccedilatildeo de pesquisa

em aula de termos em livros revistas e na internet

Em datas preacute-combinadas (conforme cronograma) haveraacute avaliaccedilotildees

especiacuteficas de modo que osas alunosas sejam avaliadosas trimestralmente

atraveacutes de 2 instrumentos diferentes Cada uma das duas avaliaccedilotildees do trimestre

teraacute nota 45 Ao final do ano oa alunoa poderaacute obter 90 pontos das avaliaccedilotildees

especiacuteficas (45 por avaliaccedilatildeo x 2 avaliaccedilotildees) Em caso de ausecircncia nessas

avaliaccedilotildees especiacuteficas oa alunoa que quiser realizar outra avaliaccedilatildeo deveraacute

protocolar requerimento (junto ao protocolo acadecircmico) no prazo maacuteximo de 48

horas a contar da data de realizaccedilatildeo da prova anexando ao mesmo justificativa

para ausecircncia devidamente comprovada Oa alunoa que natildeo realizar o pedido

no prazo estipulado natildeo teraacute direito a prova de segunda chamada Oa alunoa

que faltar a prova de segunda chamada ficaraacute com nota 000 (zero) nesse campo

Criteacuterios que seratildeo considerados durante as aulas pontualidade

assiduidade empenho e interesse nas atividades propostas entrega dos trabalhos

solicitados na data marcada postura adequada em relaccedilatildeo aosagraves colegas e com a

professora O atendimento a esses criteacuterios constitui 10 ponto na nota final

A uacuteltima aula poderaacute contar com atividades de avaliaccedilotildees muacutetuas

Oa alunoa que obtiver um aproveitamento anual referente a meacutedia das

notas registradas no Diaacuterio de Classe maior ou igual a 70 (estipulado pela

instituiccedilatildeo) seraacute considerado aprovadoa

Oa alunoa que natildeo atingir essa meacutedia teraacute o direito de realizar uma

avaliaccedilatildeo final que contemplaraacute todo o conteuacutedo ministrado durante o ano

Nesse caso seraacute consideradoa aprovadoa aquelea que obtiver um resultado

final referente a meacutedia entre a avaliaccedilatildeo final e o aproveitamento anual maior

ou igual a 50 (estipulado pela instituiccedilatildeo)

267

Referecircncias

Bibliografia Baacutesica

[1] OLIVEIRA P S Introduccedilatildeo agrave Sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 2011

[2] MARTINS C O que eacute sociologia Satildeo Paulo Brasiliense 1982

[3] TOMAZI N D Sociologia para o Ensino Meacutedio Satildeo Paulo Saraiva

2010

Bibliografia complementar

[1] GIDDENS A Sociologia Porto Alegre Artmed 2005

[2] DIAS R Introduccedilatildeo agrave Sociologia Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2005

[3] DURKHEIM E As regras do meacutetodo socioloacutegico Satildeo Paulo

Martins

Fontes 2003

[4] ALBORNOZ S O que eacute Trabalho Satildeo Paulo Brasiliense 1994

[5] MARX K Manuscritos Econocircmico-Filosoacuteficos Satildeo Paulo Boitempo

2004

Informaccedilotildees adicionais

As datas que constam no plano de ensino estatildeo sujeitas a alteraccedilotildees no

decorrer do ano (inclusive data de apresentaccedilotildees e entregas de

trabalhos) dependendo das necessidades da turma e dos acordos

estabelecidos entre professora e alunosas

Algumas bibliografias poderatildeo ser acrescentadas no decorrer do ano

dependendo da necessidade da professora Sendo que as mesmas

sempre seratildeo informadas

Caxias do Sul 27 de fevereiro de 2015

___________________________________

Profordf Raquel Folmer Correcirca

268

Anexo C Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo disponiacutevel nos

Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)152

Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

152 Fonte IFRS 2015

269

Teacutecnico em Plaacutesticos

270

Teacutecnico em Quiacutemica

Page 2: Raquel Folmer Corrêa - Repositório Institucional da UFSC

Dedico esta tese a educadoras e educadores

com interesse em tecnologias sociais

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo aos meus familiares ao Franco ao meu orientador Irlan

e agrave Suzani aos colegas amigas e amigos do DiCiTE da turma de

doutorado de 2012 da UNTL em Timor-Leste do IFRS de Caxias do

Sul aos meus alunos e alunas do IFRS e agrave Dona Eneida Muito obrigada

pelo apoio carinho e companheirismo

Esta tese contou com o auxiacutelio financeiro da Capes

Ser dialeacutetico significa ter o vento da histoacuteria nas

velas As velas satildeo os conceitos Poreacutem natildeo

basta dispor das velas O decisivo eacute a arte de

posicionaacute-las

Walter Benjamin (2009 p 515)

RESUMO

Nesta tese investigo de que maneira e em que medida o

desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais

(TS) pode colaborar para transformar sentidos deterministas sobre

tecnologia que satildeo debatidos entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico

As contribuiccedilotildees teoacutericas utilizadas satildeo os estudos latino-americanos

que relacionam Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) em perspectiva

educacional e alguns de seus possiacuteveis interlocutores O objetivo

consiste em analisar possibilidades e limites para discutir TS e

transformar sentidos identificados com determinismo tecnoloacutegico em

Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) de modo a

promover mobilizaccedilatildeo para a autoria Os procedimentos metodoloacutegicos

adotados para atingir o objetivo proposto envolvem coleta e anaacutelise de

dados primaacuterios e secundaacuterios Os dados foram coletados durante todo o

ano de 2015 no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Rio Grande do Sul (IFRS) da cidade de Caxias do Sul tanto em

documentos disponibilizados pela direccedilatildeo do IFRS quanto com

intervenccedilotildees junto a seus estudantes dos primeiros anos dos CTIEM A

anaacutelise dos dados envolveu a apreciaccedilatildeo quantitativa (elaboraccedilatildeo de

graacuteficos quadros e tabelas) que foi executada com o auxiacutelio do

programa Excel 2013 e qualitativa que se baseou na leitura criacutetica

descriccedilatildeo e anaacutelise soacutecio-histoacuterica de dados coletados Os resultados

indicam certa sensibilidade de estudantes para com a temaacutetica

socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre

tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a realizaccedilatildeo de projetos

autorais Aleacutem disso os resultados apontam a necessidade de elaboraccedilatildeo

de projetos conjuntos entre estudantes docentes de diversas disciplinas e

a coletividade escolar para o desenvolvimento colaborativo de TS que

integrem diferentes conhecimentos Esta tese foi desenvolvida no grupo

Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) e contou

com o apoio financeiro da Capes

Palavras-chave Tecnologias sociais Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo CTS Ensino

meacutedio teacutecnico Autoria

ABSTRACT

In this thesis we investigate in what way and to what extent the

development of a critical perspective on Social Technologies (ST) can

collaborate to transform deterministic meanings of technology that are

discussed by students of the technical high school The theoretical

contributions used are Latin American studies relating Science

Technology and Society (STS) in educational perspective and some of

its possible interlocutors The main goal is to analyze the possibilities

and limits to discuss ST and transform identified senses with

technological determinism in Integrated Technical Courses to High

School (ITCHS) to promote mobilization for authorship The

methodological procedures adopted to achieve the proposed objective

involve collecting and analyzing primary and secondary data All data

were collected throughout the year 2015 at the Instituto Federal de

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) from the

city of Caxias do Sul in both documents made available by the direction

of IFRS as with interventions with their students of the first years of

ITCHS Data analysis involved the quantitative assessment (preparation

of charts and tables) which was performed with the aid of Excel 2013

program and qualitative which was based on critical reading

description and sociohistorical analysis of the data collected The results

indicate certain sensitivity to students with the socio-technical subject

proposed in transforming deterministic way of technology particularly

in the arrangement for carrying out authorial projects Moreover the

results indicate the need for development of joint projects among

students teachers of various disciplines and the school community for

the collaborative development of ST integrating different

knowledge This thesis was developed in the group Discursos da Ciecircncia

e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) and received financial support

from Capes

Key-words Social Technologies Education STS education Technical

high school Authorship

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 39

Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico 42

Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS 144

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS 145

Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade 166

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias 193

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01 194

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02 194

Figura 9 - Autoria 196

Figura 10 - Dados sobre homofobia 198

Figura 11 - O problema do transporte de catildees 201

Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer 204

Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia 205

Figura 14 - Proposta de melhorias 207

Figura 15 - Identidade visual do aplicativo 209

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia 92

Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e

emancipaccedilatildeo social

107

Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia 118

Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA 133

Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS 137

Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS 138

Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS 138

Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST 140

Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 143

Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS 148

Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees 152

Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo 153

Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas 179

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil 34

Graacutefico 2 - Necessidades especiais entre estudantes do IFRS 88

Graacutefico 3 - Coletividades 151

Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa 167

Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo 169

Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul 170

Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS 172

Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015 180

Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015 181

Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS 185

Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS 185

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo 87

Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS 149

Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS 150

Tabela 4 - Religiatildeo declarada 166

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que

participaram da pesquisa

184

LISTA DE MAPAS E FOTOGRAFIAS

Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS 164

Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana 168

Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima 171

Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial 190

Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo 200

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABONG - Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais

AD - Anaacutelise de Discurso

AEL - Academia Estudantil de Letras

AST - Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica

AULP - Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua Portuguesa

BB - Banco do Brasil

BICT - Bacharelados Interdisciplinares em Ciecircncias e Tecnologia

BTS - Banco de Tecnologias Sociais

CAPES - Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CED - Centro de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

CEFET - Centros Federais de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica

CampT - Ciecircncia e Tecnologia

CFDH - Conselho Federal de Defesa dos Direitos Humanos

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico

COCTS - Cuestionario de Opiniones de Ciencia Tecnologiacutea y Sociedad

CS - Ciecircncias Sociais

CST - Construccedilatildeo Social da Tecnologia

CTFMIEM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado

ao Ensino Meacutedio

CTIEM - Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio

CTPIEM - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino

Meacutedio

CTQIEM - Curso Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino

Meacutedio

CTS - Ciecircncia Tecnologia e Sociedade

CTSA - Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente

DiCiTE - Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo

DIY - Do It Yourself

ECT - Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

ECTS - Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

ENEM - Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FBB - Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FEE - Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel

Heuser

FGV - Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

GEECITETL - Grupo de Estudos sobre Ensino de Ciecircncias e

Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste

GTrsquos - Grupos de Trabalho

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IDHM - Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal

IFFarroupilha - Instituto Federal Farroupilha

IFRS - Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Rio Grande do Sul

IFSul - Instituto Federal Sul-riograndense

Ipea - Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada

IPF - Instituto Paulo Freire

ITCP - Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

ITS - Instituto de Tecnologia Social

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MCT - Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia

MDS - Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome

MEC - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MI - Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional

OCEMSociologia - Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino

Meacutedio-Sociologia

ONGs - Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCIPs - Organizaccedilotildees da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PCNrsquos - Paracircmetros Curriculares Nacionais

PCT - Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia

PETROBRAS - Petroacuteleo Brasileiro SA

PLACTS - Pensamento Latino-americano sobre Ciecircncia

Tecnologia e Sociedade

PPCs - Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos

PPGECT - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica

e Tecnoloacutegica

PPI - Projeto Poliacutetico Institucional

PQLP - Programa de Qualificaccedilatildeo de Docente e Ensino de

Liacutengua Portuguesa

PROEJA - Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Profissional com a Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e

Adultos

PUCSP - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

REDTISA - Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social

RS - Rio Grande do Sul

RTS - Rede de Tecnologia Social

SCOT - Social Construction of Technology

SECIS - Secretaria de Inclusatildeo Social

SENAI - Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial

SL - Software Livre

STS - Science and Technology Studies

TA - Tecnologia(s) Apropriada(s)

TAR - Teoria Ator-Rede

TC - Tecnologia(s) Convencional(ais)

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCT - Teoria Criacutetica da Tecnologia

TFM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

TIS - Tecnologias para a Inclusatildeo Social

TP - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos

TQ - Curso Teacutecnico em Quiacutemica

TS - Tecnologia(s) Social(ais)

UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro

UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

UNTL - Universidade Nacional Timor Lorosarsquoe

UTFPR - Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute

VOSTS - Views On Science-Techology-Society

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 33

QUESTOtildeES 46

OBJETIVOS 46

TESE 47

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 47

RELEVAcircNCIA 49

TOacutePICOS 50

CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS 53

11 SUJEITO 53

12 EDUCACcedilAtildeO 55

121 Paulo Freire e autonomia 57

122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social 61

123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria 65

124 Karl Marx e a politecnia 67

13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS 72

131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS 77

14 JUVENTUDES 84

15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO 89

16 AUTORIA 93

17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL 102

CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 109

21 TECNOLOGIA 109

211 Dimensotildees de anaacutelise 109

212 Sentido geral 111

213 Teoria Criacutetica da Tecnologia 116

22 TECNOLOGIAS SOCIAIS 127

221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees 127

222 Denominaccedilotildees e sentidos 135

223 Ponderaccedilotildees 145

224 TS tipos exemplos entidades e coletividades

relacionadas

148

225 Relaccedilotildees com processos educacionais 151

CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES 161 31 CONTEXTO 163

311 A cidade 163

312 O bairro 171

313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia

174

314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul 177

32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA 183

321 Anaacutelise da questatildeo inicial 186

322 Anaacutelise dos questionaacuterios 190 33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 192

331Campanha contra homofobia nas escolas 197

332 Transporte de catildees em coletivos 200

333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel 203

334 Inovaccedilotildees no site da escola 206

335 Aplicativo para estudos e lazer 208

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 213

REFEREcircNCIAS 219

APEcircNDICES 243

Apecircndice A - Termo de consentimento para coleta de dados -

Diretor Geral

243

Apecircndice B - Termo de consentimento para coleta de dados -

Diretor de Ensino

244

Apecircndice C - Termo de consentimento livre e esclarecido -

alunosas (modelo)

245

Apecircndice D - Questionaacuterio 246

Apecircndice E - Roteiro didaacutetico 253

Apecircndice F - Texto base das aulas 259

ANEXOS 263

Anexo A - Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de

controle acadecircmico do IFRS

263

Anexo B - Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados 264

Anexo C - Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo

disponiacutevel nos Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)

268

33

INTRODUCcedilAtildeO

O pensador da epiacutegrafe Walter Benjamim (1892-1940)

anunciava no seacuteculo passado o que muitos outros pensadores e

pensadoras tambeacutem reconheciam e que acredito ser ainda atual a

importacircncia de nosso posicionamento como sujeitos histoacutericos e em

busca de autonomia e emancipaccedilatildeo social Essa posiccedilatildeo pode ilustrar a

intenccedilatildeo geral que unifica os diferentes momentos que foram

necessaacuterios para a realizaccedilatildeo desta tese Desde a pesquisa de mestrado

com novos entendimentos sobre tecnologias passando pela percepccedilatildeo

da importacircncia da problematizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em processos de

emancipaccedilatildeo social ateacute uma tentativa de articulaccedilatildeo de debates sobre

educaccedilatildeo e tecnologia

No mestrado ao pesquisar sobre Tecnologias Sociais (TS)1

percebi que muitas iniciativas de desenvolvimento eram voltadas a

temas educacionais Meu levantamento de dados no Banco de

Tecnologias Sociais (BTS) da Fundaccedilatildeo Banco do Brasil (FBB)

mostrou que entre 2001 e 2008 35 do total de TS desenvolvidas no

Brasil (e cadastradas no BTS) estavam voltadas a problemas nos temas

ligados agrave educaccedilatildeo (CORREA 2010 2013b) O graacutefico 1 abaixo

ilustra como as tecnologias que examinei estavam direcionadas a

solucionar questotildees relativas a diferentes temaacuteticas

1 Sendo aluna evadida da Engenharia Quiacutemica minha primeira graduaccedilatildeo

busquei atividades de pesquisa sobre tecnologias no curso de Ciecircncias Sociais

Ali sob orientaccedilatildeo da profordf Dra Maiacutera Baumgarten verifiquei que linhas de

pesquisas que inter-relacionavam tecnologias e problemas sociais poderiam

resgatar alguns de meus interesses de estudos originais

34

Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil

Fonte (CORREcircA 2010 2013b)

Portanto no graacutefico 1 acima eacute possiacutevel verificar o predomiacutenio de

tecnologias voltadas a problemas nos temas ligados agrave educaccedilatildeo como

destaquei anteriormente Foram 157 casos desse tipo de um total de 447

tecnologias examinadas Esse nuacutemero expressivo levou-me a buscar

subsiacutedios teoacutericos para analisar sentidos2 sobre tecnologia em processos

educacionais (entendidos aqui em sentido amplo como relaccedilotildees entre

sujeitos que envolvem ensino e aprendizagem)

Encontrei-os de fato no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT) da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC) nas discussotildees propiciadas nas disciplinas e

seminaacuterios do doutorado e sobretudo no grupo de estudos a que me

filiei o DiCiTE (Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo)

Nesses ambientes pude examinar de modo mais especiacutefico e

aprofundado implicaccedilotildees sociais da tecnologia na educaccedilatildeo

Busquei identificar dentro dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da

Tecnologia (ECTS) em especial dos ECTS latino-americanos correntes

teoacutericas que considero as mais apropriadas ao estudo de TS na educaccedilatildeo

no Brasil Aleacutem disso na medida do possiacutevel tentei relacionar

autoresas que podem ser considerados como pertencentes a outras

2 Sentidos satildeo aqui entendidos como uma construccedilatildeo histoacuterica permeada por

valores criados e transformados por sujeitos em determinadas situaccedilotildees O

sentido permite espaccedilos para a autoria

35

correntes teoacutericas com meu proacuteprio olhar (de mulher latino-americana)

sobre o problema estudado

Minha primeira intenccedilatildeo foi investigar a formaccedilatildeo docente inicial

em Ciecircncias Sociais (CS) na Universidade Federal do Rio Grande do

Sul (UFRGS) para examinar sentidos sobre tecnologia que por ali

circulavam (eram debatidos) ou que atravessavam (sem ser

necessariamente discutidos) aquele contexto Eu havia passado por tal

formaccedilatildeo haacute pouco tempo e muitas questotildees em relaccedilatildeo agrave tecnologia me

deixavam inquieta naquele periacuteodo Na aproximaccedilatildeo com as leituras

propostas no acircmbito da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT)

busquei portanto literaturas sobre formaccedilatildeo docente inicial e sobre o

ensino de Sociologia no Brasil de modo a articulaacute-las com os ECTS

Durante essa construccedilatildeo do problema de pesquisa para a tese tive

a oportunidade de fazer parte do Programa Proacute-Mobilidade

Internacional da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior (Capes) com a Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua

Portuguesa (AULP) na cooperaccedilatildeo entre Brasil e Timor-Leste Fiquei

dois meses do ano de 2014 em Timor-Leste sob orientaccedilatildeo do prof Dr

Gaspar Varela e participei sobretudo da articulaccedilatildeo de estudos e

pesquisas com docentes e discentes da Universidade Nacional Timor

Lorosarsquoe (UNTL)

Essa articulaccedilatildeo foi mediada pelo Grupo de Estudos sobre Ensino

de Ciecircncias e Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste

(GEECITE-TL) co-coordenado por professoresas timorenses e pela

profordf brasileira Faacutetima Suely Ribeiro Cunha colega do doutorado do

PPGECT da UFSC Aleacutem disso acompanhei os trabalhos de colegas

cooperantes em Timor-Leste no projeto Programa de Qualificaccedilatildeo de

Docente e Ensino de Liacutengua Portuguesa (PQLP) gerido pelo Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo (MEC) brasileiro e pela Capes e co-coordenado no Brasil

pela profordf Dra Patricia Montanari Giraldi do Centro de Ciecircncias da

Educaccedilatildeo (CED) da UFSC

Saiacute do Brasil com a intenccedilatildeo de investigar aspectos gerais da

formaccedilatildeo docente em Timor-Leste de modo a levantar novas questotildees

para a minha pesquisa de tese Com isso participei da concepccedilatildeo e

realizaccedilatildeo da oficina ldquoOs alquimistas estatildeo chegandordquo como parte do

projeto de pesquisa ldquoOs alquimistas estatildeo chegando sentidos sobre

conhecimentos na cooperaccedilatildeo entre professores do Brasil e Timor-

Lesterdquo desenvolvido em conjunto com a profordf Dra Mariana Brasil

Ramos do CED da UFSC e tambeacutem participante do Projeto Proacute-

Mobilidade naquele momento

Contudo dos relatos de colegas com mais experiecircncia em Timor-

36

Leste e de minha aproximaccedilatildeo com o prof Estanislau Alves Correia

docente da UNTL verifiquei que existiam demandas para refletirmos

sobre possibilidades e limites nas articulaccedilotildees entre a produccedilatildeo de

conhecimentos tradicionais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual sobretudo em

relaccedilatildeo agrave ECT Com isso colaborei com a organizaccedilatildeo e participei da

mesa-redonda ldquoTecnologias Sociais e Produccedilatildeo de Conhecimentosrdquo

promovida pelo GEECITE-TL na UNTL com a comunicaccedilatildeo

ldquoTecnologias Sociais elementos para debates em perspectiva

educacionalrdquo

As discussotildees com docentes e discentes da UNTL que resultaram

dessa mesa-redonda levaram-me a refletir sobre as possibilidades de

explorar a questatildeo da autoria ao articular TS e educaccedilatildeo Nesse sentido

busquei possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com

a questatildeo da autoria em ambientes educacionais Pois acredito que

sujeitos que fazem parte de processos educacionais em um contexto de

construccedilatildeo de autoria podem ter possibilidades de ler e interpretar

criativa e criticamente a realidade social3 na qual estatildeo inseridos

A partir dessas possibilidades os sujeitos poderiam estar

mobilizados a mostrarem suas visotildees sentidos e experiecircncias acerca dos

problemas socioteacutecnicos4 vivenciados Esses uacuteltimos aqui entendidos a

partir da percepccedilatildeo de que a tecnologia natildeo eacute o produto de uma uacutenica

racionalidade teacutecnica mas a combinaccedilatildeo de fatores teacutecnicos e sociais na

qual eacute possiacutevel tanto perceber significaccedilotildees sociais atribuiacutedas a artefatos

quanto considerar a importacircncia do contexto social nas direccedilotildees e

influecircncias do desenvolvimento tecnoloacutegico

3 Uso o termo sem qualquer pretensatildeo explicativa filosoacutefica Sem deixar de

compreender a complexidade das discussotildees filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a

categoria ldquorealidaderdquo o que interessa aqui eacute destacar algo que reconhecemos ter

existecircncia independente de noacutes Por realidade social podemos compreender

relaccedilotildees estabelecidas entre sujeitos e entre sujeitos e aquilo que os rodeia 4 Utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo como uma abordagem que possibilite anaacutelises

integradas de fatores teacutecnicos e sociais a fim de superar determinismos

tecnoloacutegicos e sociais As perspectivas dos sistemas tecnoloacutegicos de Hughes

dos conjuntos socioteacutecnicos de Pinch e Bijker das mediaccedilotildees socioteacutecnicas da

Teoria Ator-Rede (TAR) de Latour e Callon e da construccedilatildeo social da

tecnologia e da Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica (AST) de Dagnino e Thomas no

contexto latinoamericano satildeo certamente influecircncias teoacutericas Contudo natildeo eacute o

caso de eu estar estritamente filiada a qualquer uma dessas perspectavias

Socioteacutecnico aqui significa que a sociedade eacute tatildeo tecnologicamente construiacuteda

quanto as tecnologias satildeo socialmente desenvolvidas

37

Na volta para o Brasil busquei aprofundar a questatildeo da autoria e

relacionaacute-la com a formaccedilatildeo docente inicial em CS Entretanto tive

dificuldades para realizar a pesquisa no campo selecionado (UFRGS)

Meu contexto no momento levou-me a considerar novos sujeitos de

pesquisa de modo que os encontrei entre estudantes do ensino meacutedio

teacutecnico O fato de eu passar a atuar no Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) Cacircmpus Caxias do

Sul como docente temporaacuteria da disciplina de Sociologia nas turmas de

Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) naquele

momento com uma grande imersatildeo no contexto escolar local aliada agraves

dificuldades encontradas na coleta de dados junto agrave UFRGS levaram-

me a reavaliar se meu referencial teoacuterico permitiria relacionar

juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio sentidos sobre

tecnologia e TS

Verifiquei que algumas abordagens dentro dos ECTS latino-

americanos principalmente em perspectiva educacional poderiam

contribuir para o entendimento de tais inter-relaccedilotildees E nesse espaccedilo

percebi que eu tambeacutem poderia trazer contribuiccedilotildees com minha

pesquisa Portanto nesta tese trato de dois grandes temas educaccedilatildeo e

tecnologia com vistas a indicar uma possibilidade de abordagem sobre

TS no ensino meacutedio

A intenccedilatildeo de enfocar TS no ensino meacutedio surgiu sobretudo da

identificaccedilatildeo jaacute antiga de percepccedilotildees restritas sobre tecnologia muito

presentes no imaginaacuterio social de modo geral e em contextos

educacionais especificamente Uma dessas percepccedilotildees5 eacute o sentido

determinista sobre tecnologia que examino tendo em vista sua

problematizaccedilatildeo a partir dos princiacutepios socioloacutegicos do estranhamento e

da desnaturalizaccedilatildeo Com isso considero possibilidades de

transformaccedilatildeo desse sentido

A ideia de determinismo tecnoloacutegico comumente aparece ao

tratarmos das relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade6 Essa percepccedilatildeo natildeo

eacute algo novo De acordo com Chaacutevarro (2004) e Smith e Marx (1994) na

modernidade desde o estabelecimento de um imaginaacuterio sobre o

5 Percepccedilatildeo que natildeo eacute apenas minha mas de boa parte de pesquisadores sobre

ciecircncia e tecnologia como atesta por exemplo o estudo de Wyatt (2008) que eacute

examinado adiante 6 Para um levantamento bibliograacutefico histoacuterico e conceitual sobre determinismo

tecnoloacutegico do ponto de vista dos ECTS latino-americanos verificar

DAGNINO R Neutralidade da ciecircncia e determinismo tecnoloacutegico

Campinas Unicamp 2008

38

progresso a tecnologia apareceria como sua principal causa De modo

que teriacuteamos herdado do Iluminismo a ideia de que a ciecircncia seria uma

forccedila libertadora e que investir em tecnologia levaria ao maior

desenvolvimento produtivo e consequentemente ao bem-estar (SMITH

MARX1994)

No artigo ldquoDeterminismo Tecnoloacutegico na Cultura Americanardquo

(Technological Determinism in American Culture) (SMITH 1994) o

autor procura mostrar como obras de arte e anuacutencios publicitaacuterios

contribuiacuteram para o surgimento da crenccedila generalizada na tecnologia

como a forccedila motriz do desenvolvimento social A figura 1 abaixo7 faz

parte dessa anaacutelise Nela o autor destaca uma mulher que representaria

a deusa da liberdade (um velho siacutembolo republicano agora identificado

com o progresso) que flutua em direccedilatildeo ao ocidente (civilizaccedilatildeo) e

carrega consigo um livro escolar (educaccedilatildeo) e os fios do teleacutegrafo

(tecnologia de comunicaccedilatildeo) De acordo com Smith (1994 p10) ldquoa

pintura transmite claramente a atitude da cultura dominante para com a

natureza os nativos americanos e mais geralmente a mudanccedila linear e

melhoria atraveacutes da ciecircncia e da tecnologiardquo8

7 Pintura do ano de 1872 do tipo oacuteleo sobre tela de John Gast chamada

Westward-ho ou American Progress 8 ldquoThe painting clearly conveys the dominant cultures attitude toward nature

Native Americans and more generally linear change and improvement

through science and technologyrdquo Traduccedilatildeo livre da autora

39

Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico

Fonte (SMITH 1994 p 12)

Portanto como destaca Huguet (2003) o seacuteculo XX herdou uma

proposta ideoloacutegica e social que legitimava o crescimento tecnoloacutegico

como sinocircnimo de desenvolvimento e incorporava dimensotildees de

grandiosidade e aceleraccedilatildeo ainda imprevistas ateacute aquele momento

(CORREcircA 2010 2013a) Para aleacutem dessa questatildeo estritamente

econocircmica Huguet (2003) tambeacutem destaca o caraacuteter eacutetico que estaria

relacionado agrave ideia de determinismo Pois faria parte dessa ideia um

efeito libertador aos chamados paiacuteses do Norte9 (centrais colonialistas

9 Refiro-me ao Norte e Sul geograacutefico metafoacuterico e epistecircmico das anaacutelises de

Santos e Meneses (2010) Meneses (2014) e Santos (2007) que contestam a

hegemonia dos saberes e valores ocidentais (de domiacutenio colonialista

imperialista e capitalista) sobre as resistecircncias do Sul e investigam

possibilidades de uma ecologia dos saberes baseada em diaacutelogos horizontais

que reconheccedila conhecimentos plurais (epistemologias do Sul) Eacute importante

compreendermos que como destaca Meneses (2014) ldquoo Sul epistecircmico coincide

parcialmente com o Sul geograacutefico O Sul global refere-se agraves regiotildees do mundo

que foram submetidas ao colonialismo europeu e que natildeo atingiram niacuteveis de

desenvolvimento econocircmico semelhantes ao do Norte global (Europa e Ameacuterica

40

ldquodesenvolvidosrdquo) frente a sua responsabilidade moral histoacuterica sobre os

males causados aos chamados paiacuteses do Sul (periferia colonizados ldquoem

desenvolvimentordquo) (HUGUET 2003)

Podemos perceber portanto que o entendimento da ideia de

determinismo tecnoloacutegico na contemporaneidade tambeacutem pode facilitar

a compreensatildeo das formas com que paiacuteses do Norte e do Sul se

relacionam atualmente Haacute um discurso legitimador e salvacionista

daqueles sobre o Sul ldquomiseraacutevel e atrasadordquo (HUGUET 2003) E isso eacute

importante para pensarmos o contexto educacional brasileiro sobretudo

ao discutirmos sobre emancipaccedilatildeo social autonomia e autoria

Assim tais relaccedilotildees entre Norte e Sul parecem-me relevantes

para o exame de processos educacionais no Brasil Contudo eacute

importante aleacutem desse breve histoacuterico sobre o determinismo

tecnoloacutegico apresentar inicialmente uma compreensatildeo geral das

definiccedilotildees que envolvem essa questatildeo O filoacutesofo norte-americano

Andrew Feenberg (1991) apresenta uma abordagem interessante ao

esclarecer que atraveacutes da concepccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico tenta-

se explicar fenocircmenos sociais e histoacutericos de acordo com um fator

principal que no caso seria a tecnologia

Para Feenberg (1991) determinismo tecnoloacutegico significa que

existiria a possibilidade de o destino da sociedade ser ao menos de

modo parcial dependente de um fator considerado natildeo-social que o

influenciaria sem no entanto sofrer uma influecircncia reciacuteproca Assim o

determinismo estaria baseado na suposiccedilatildeo de que as tecnologias tecircm

uma loacutegica funcional autocircnoma que poderia ser explicada sem se fazer

referecircncia agrave sociedade Nesse sentido o autor trata ainda do chamado

coacutedigo teacutecnico10 que significa que certos produtos possuem um design

(projeto) que encerra em si todo o contexto de suas concepccedilotildees e estatildeo

do Norte) A sobreposiccedilatildeo natildeo eacute total porque por um lado no interior do Norte

geograacutefico vastos grupos sociais estiveram e estatildeo sujeitos agrave dominaccedilatildeo

capitalista e colonial e por outro lado porque no interior do Sul geograacutefico

houve sempre as lsquopequenas Europasrsquo pequenas elites locais que se beneficiaram

da dominaccedilatildeo capitalista e colonial e que depois das independecircncias a

exerceram e continuam a exercecirc-la por suas proacuteprias matildeos contra as classes e

grupos sociais subordinadosrdquo (MENESES 2014 p 92) 10 Feenberg explica que o coacutedigo teacutecnico se refere a uma traduccedilatildeo entre uma

demanda puacuteblica e uma especificaccedilatildeo teacutecnica ldquoEu desenvolvi o conceito de

lsquocoacutedigo teacutecnicorsquo para falar desse processo de traduccedilatildeo Ele eacute o modelo do

conteuacutedo veiculado de um lado no discurso dos movimentos sociais e de

outro nas especificaccedilotildees teacutecnicasrdquo (MARICONDA MOLINA 2009 p 168)

41

ligados a determinadas estrateacutegias Estas representariam interesses

correspondentes a instacircncias especiacuteficas do tipo de sociedade Por

exemplo no capitalismo as grandes corporaccedilotildees (FEENBERG 2002

2012)

De acordo com Castro (2009) tais interesses especiacuteficos tambeacutem

se relacionam ao consumismo tecnoloacutegico Um projeto de um

smartphone por exemplo jaacute prevecirc quando ele sairaacute de linha e carrega

consigo uma estrateacutegia de obsolescecircncia programada Tal projeto

incorpora uma estrateacutegia de consumo que se baseia na novidade Com

isso o consumidor entende que a aquisiccedilatildeo de novos produtos

tecnoloacutegicos significa um progresso e acredita que estaacute ldquoevoluindordquo e

que tem um produto melhor de uacuteltima tecnologia mesmo que o produto

antigo tivesse a mesma qualidade (CASTRO 2009) E essa eacute uma

constataccedilatildeo importante para o debate sobre determinismo tecnoloacutegico

em processos educacionais que envolvem as juventudes e suas praacuteticas

de consumo por exemplo

Em termos de definiccedilotildees Chandler (1995) destaca assim como

fez Feenberg (1991) que na perspectiva determinista o desenvolvimento

tecnoloacutegico seria o principal condicionante da mudanccedila e das estruturas

sociais Chandler (1995) aponta que na concepccedilatildeo determinista da

tecnologia as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade podem ser

consideradas segundo as categorias de autonomia condicionamento e

unidirecionalidade A tecnologia seria desenvolvida de modo autocircnomo

e independente seria o grande condicionante do desenvolvimento da

sociedade e a relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade ocorreria de modo

unidirecional daquela agindo sobre esta

Assim a fonte primordial das mudanccedilas sociais se caracterizaria

pelo desenvolvimento de tecnologias Resistecircncias e intervenccedilotildees

sociais poliacuteticas institucionais e culturais postas aos processos de

desenvolvimento de tecnologias teriam pouco ou nenhum efeito pois as

tecnologias afetariam inexoravelmente todos os acircmbitos sociais

(CHANDLER 1995 WYATT 2008)

Nesse mesmo sentido Bimber (1994) destaca que existem duas

condiccedilotildees que devem ser preenchidas para que possamos considerar o

determinismo tecnoloacutegico A primeira delas eacute a de que a mudanccedila social

tenha como causa fenocircmenos ou leis anteriores e a segunda condiccedilatildeo eacute a

de que tais leis dependam de caracteriacutesticas da tecnologia de modo que

os sujeitos natildeo exerccedilam accedilatildeo em relaccedilatildeo agraves mudanccedilas Ao considerar

essas condiccedilotildees o autor destaca trecircs possiacuteveis interpretaccedilotildees do

determinismo tecnoloacutegico e quais delas poderiam satisfazer essas

condiccedilotildees quais sejam a normativa a nomoloacutegica e a de consequecircncias

42

imprevistas

Na primeira a causa da mudanccedila estaria nas praacuteticas sociais e nas

crenccedilas dos sujeitos enquanto na segunda a sociedade se desenvolveria

de maneira fixa e determinada independente da resistecircncia dos sujeitos e

a terceira apontaria a possibilidade de efeitos sociais involuntaacuterios e

indeterminados Para Bimber (1994) a segunda interpretaccedilatildeo

nomoloacutegica eacute a uacutenica que satisfaz as duas condiccedilotildees e portanto eacute a que

infere a condiccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico (CORREcircA 2010)

Para aleacutem de possiacuteveis caracterizaccedilotildees do determinismo

tecnoloacutegico eacute importante destacar que a ideia de determinismo pode

assumir diversos significados Smith e Marx (1994) trazem a ideia de

uma imagem gradativa na qual poderiacuteamos visualizar dois extremos

opostos que representariam cada um um grau de determinismo Um

extremo seria chamado de hard (determinismo forte) e o outro soft (determinismo fraco) Nessa imagem o lado hard atribuiria agrave tecnologia

o poder de promover mudanccedilas sociais de modo inevitaacutevel e necessaacuterio

enquanto o extremo soft ainda consideraria aspectos sociais

econocircmicos poliacuteticos e culturais nessas mudanccedilas Tal como na figura 2

abaixo

Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Portanto para esses autores o determinismo tecnoloacutegico pode

significar tanto que a tecnologia ou seus atributos intriacutensecos tem o

poder de efetuar mudanccedilas quanto existiria uma matriz mais diversa e

complexa do ponto de vista social econocircmico poliacutetico e cultural

(SMITH MARX 1994)

Ainda em relaccedilatildeo aos significados Chaacutevarro (2004) lembra que

a ideia determinista sobre a tecnologia estaacute presente tanto em discursos

otimistas (tecnoacutefilos) do progresso como mostrado anteriormente

quanto em discursos pessimistas (tecnofoacutebicos) daquele Para uma visatildeo

tecnoacutefila a soluccedilatildeo dos problemas implicaria em pensaacute-los

tecnologicamente com um apoio irrestrito agraves promessas e feitos da

tecnologia muitas vezes sem grande olhar criacutetico sobre os seus usos

(FURTADO 2009) E esse apoio exigiria liberdade para que natildeo

43

houvesse controle externo sobre o desenvolvimento da investigaccedilatildeo

tecnoloacutegica pois assim se garantiria o bem-estar humano Controle

aqui significaria restriccedilatildeo da liberdade que levaria ao atraso econocircmico

e ateacute cultural

A visatildeo tecnofoacutebica compreenderia no entanto essa falta de

controle como o iniacutecio do caminho para um desastre OA tecnofoacutebicoa

criticaria e chegaria ateacute a rejeitar o desenvolvimento tecnoloacutegico que

elea veria como fonte de diversos problemas sociais (FURTADO

2009) Contudo eacute importante destacar que natildeo entendo a visatildeo

tecnofoacutebica como uma afiliaccedilatildeo contemporacircnea ao ludismo11 como

poderia ser suposto

Essa breve indicaccedilatildeo de pontos que considero importantes no

debate sobre determinismo tecnoloacutegico inclui tambeacutem uma perspectiva

que considera o porquecirc da forte influecircncia dessa ideia determinista em

noacutes Wyatt (2008) esclarece que ldquoinclusive nossos haacutebitos linguiacutesticos

persistem em nomear eacutepocas histoacutericas e sociedades inteiras por seus

artefatos tecnoloacutegicos dominantesrdquo12 (WYATT 2008 p 168) e que isso

pode ser testemunhado desde em museus ateacute nos meios de

comunicaccedilatildeo13 Desse modo assim como Wyatt (2008) questiono por

que a ideia de determinismo permanece

Contudo uma posiccedilatildeo extremamente oposta do tipo de

determinismo social que consideraria que o desenvolvimento

tecnoloacutegico depende intensamente de nosso livre arbiacutetrio para tomarmos

decisotildees de acordo com nossas preferecircncias valorativas poderia estar a

subestimar a forccedila com que as tecnologias influem culturalmente

Nesses extremos de determinismos podemos natildeo perceber que entre

11 Natildeo compreendo o movimento ludista (Europa seacutec XIX) como

simplesmente a quebra de maacutequinas em represaacutelia a inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

Assim como Hobsbawm (2000) entendo que no ludismo natildeo havia uma

hostilidade especial contra as maacutequinas os trabalhadores natildeo estavam

preocupados com o progresso teacutecnico abstratamente mas com o desemprego e

em manter um padratildeo de vida digno (idem) 12 ldquoYet the linguistic habit persists of naming whole historical epochs and

societies by their dominant technological artefactsrdquo (WYATT 2008 p 168)

Traduccedilatildeo livre da autora 13 A autora cita o exemplo de uma seacuterie de cinco palestras apresentadas no ano

de 2005 na rede de raacutedio inglesa BBC que se chamava ldquoThe triumph of

technologyrdquo (O triunfo da tecnologia) com uma palestra cujo nome era

ldquoTechnology will determine the future of the human racerdquo (A tecnologia iraacute

determinar o futuro da raccedila humana) (WYATT 2008)

44

tecnologias e valores ocorrem interaccedilotildees muacutetuas e complexas e natildeo

apenas uma influecircncia com direccedilatildeo uacutenica (CORREcircA 2010)

Sob as condiccedilotildees capitalistas atuais por exemplo parece difiacutecil

refutar a ideia de que a adoccedilatildeo de certas tecnologias exerce influecircncia

forte na sociedade Mas eacute importante considerarmos que vivemos em

uma sociedade com um niacutevel de interaccedilatildeo com outros fatores que natildeo

apenas tecnoloacutegicos Portanto parece-me difiacutecil justificar uma

insistecircncia na tecnologia como o elemento fundamental das

transformaccedilotildees sociais assim como outra determinaccedilatildeo (como a

econocircmica por exemplo) Fatores poliacuteticos econocircmicos religiosos

culturais assim como a opiniatildeo puacuteblica e os processos educacionais

comumente aparecem como inter-relacionados a tecnologias (CORREcircA

2010)

Embora natildeo seja a referecircncia teoacuterica desta tese cito aqui a

perspectiva da Construccedilatildeo Social da Tecnologia (CST)14 que contraacuteria

ao determinismo forte (hard) considera a forccedila da dimensatildeo

sociocultural nas mudanccedilas teacutecnicas Os autores Pinch e Bijker (2008)

desenvolvem estudos nos quais mostram como a tecnologia eacute uma

construccedilatildeo social Um exemplo eacute sua investigaccedilatildeo sobre o

desenvolvimento da bicicleta cujo desenho final dependeu das praacuteticas

de uso de seus possiacuteveis consumidores Nesse sentido Bijker (2008)

desenvolve o conceito de marco tecnoloacutegico que se apoia nos

significados que os sujeitos conferem a uma tecnologia e na gramaacutetica

que se desenvolve ao redor desses para explicar como a sociedade

interfere no desenho de uma tecnologia15 (PINCH BIJKER 2008)

Filiados ou natildeo agrave perspectiva da CST podemos como faz

Dieacuteguez (2005) problematizar posicionamentos deterministas sobre

tecnologia Um passo para isso seria compreendermos que muitas

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo satildeo desenvolvidas que muitos aspectos

econocircmicos influenciam na adaptaccedilatildeo de tecnologias e finalmente que

existem tecnologias mais ldquoelaacutesticasrdquo que podem ter uma exploraccedilatildeo

mais diversificada Algo que Wyatt (2008)16 tambeacutem examina ao fazer 14 Do inglecircs Social Construction of Technology tambeacutem conhecida

como SCOT 15 O que procura demonstrar que a mediaccedilatildeo dos sujeitos seria central nos

processos de desenvolvimento tecnoloacutegico Os autores esclarecem que a

tecnologia comportaria algo como uma ldquoflexibilidade interpretativardquo pois ela

poderia ser compreendida de diversos modos por diferentes grupos de

usuaacuteriosas 16 Destaco que Wyatt (2008) faz uma anaacutelise dos STS sofisticada que inclui

uma categorizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do princiacutepio de simetria por autores como

45

um levantamento de como os chamados Estudos da Ciecircncia e

Tecnologia (STS na sigla em inglecircs para Science and Technology

Studies) vecircm analisando a questatildeo pelo menos nos uacuteltimos 25 anos

De acordo com a autora para a maioria dos analistas dos STS o

determinismo tecnoloacutegico natildeo eacute um modelo adequado mas como eacute uma

crenccedila comum entre os sujeitos natildeo eacute possiacutevel rejeitaacute-lo Ela ainda

reforccedila que essa crenccedila no determinismo permanece pois ele encerra

caracteriacutesticas como simplicidade conformidade com as experiecircncias

dos sujeitos entendimento de que as tecnologias satildeo coisas misteriosas

de origem desconhecida de modo que facilmente nos adaptamos a ideia

ou como a autora chama modelo de determinismo (WYATT 2008)

Mesmo que se possa aceitar diferentes graus e significados sobre

o determinismo procurei demarcar caracteriacutesticas que me parecem

encerrar o conteuacutedo central de determinismo tal como ele eacute analisado

em meus estudos de modo geral e nesta tese especificamente A saber

que o determinismo tecnoloacutegico pode ser examinado como uma

compreensatildeo restrita sobre as relaccedilotildees entre os sujeitos e as tecnologias

na qual haveria pouca oportunidade de conhecimento participaccedilatildeo e

controle dos processos que envolvem questotildees relacionadas agrave tecnologia

(elaboraccedilatildeo desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo apropriaccedilatildeo e

ensino) pelos sujeitos

Com isso destaquei pontos que considero importantes acerca da

questatildeo do determinismo tecnoloacutegico tendo em vista debates sobre

processos educacionais Penso que compreender esses aspectos da

perspectiva determinista pode ajudar no exame de sentidos sobre

tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM17 Cursos estes

entendidos como uma categoria com suas contradiccedilotildees seus espaccedilos e

tempos soacutecio-histoacutericos especiacuteficos e nos quais as juventudes

constroem reconstroem e satildeo atravessadas por diversos sentidos sobre

suas (im)possibilidades de inserccedilatildeo na realidade social

Minha intenccedilatildeo ao apontar problemas relacionados agrave ideia

persistente de determinismo tecnoloacutegico na atualidade (tais como o fato

de ele conter uma compreensatildeo restrita das relaccedilotildees entre os sujeitos e a

produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo considerar fatores sociais no

David Bloor Trevor Pinch Wiebe Bjiker e Michel Callon aleacutem de apresentar

sua proacutepria posiccedilatildeo no debate Essa classificaccedilatildeo natildeo eacute explorada nesta tese

Uma leitura aprofundada pode ser realizada a partir do artigo de Wyatt do ano

de 2008 que utilizo aqui como referecircncia 17 Esclareccedilo que minhas anaacutelises natildeo silenciam perspectivas natildeo-deterministas

que emergem durante a realizaccedilatildeo da pesquisa

46

desenvolvimento da tecnologia nos isentar de responsabilidades sobre o

que eacute desenvolvido e silenciar relaccedilotildees de dominaccedilatildeo em acircmbito

geopoliacutetico Norte-Sul) foi reforccedilar as implicaccedilotildees que um sentido

determinista da tecnologia pode ter de modo especiacutefico no que se

refere a processos educacionais

Busco o auxiacutelio do pensador brasileiro Rubem Alves (1933-

2014) para demonstrar a importacircncia de abordar o determinismo

tecnoloacutegico em sala de aula Embora o autor natildeo trate nomeadamente do

determinismo tecnoloacutegico e reflita sobre relaccedilotildees entre conhecimento e

poliacutetica no ato de pesquisa concordo com ele em um ponto no qual eacute

destacado que ldquonatildeo se conquistam os determinismos pela sua

ignoracircncia Eacute necessaacuterio contemplaacute-los face a face No momento em que

os reconhecemos e os chamamos pelo seu nome proacuteprio o caminho para

a liberdade e a iniciativa estaacute abertordquo (ALVES 1989 p 85-86)

QUESTOtildeES

Com isso penso que o problema de pesquisa foi construiacutedo de

modo que seja possiacutevel compreender as duas questotildees fundamentais que

conduzem as investigaccedilotildees desta tese (i) de que maneira e em que

medida uma perspectiva criacutetica sobre TS pode colaborar para

transformar sentidos deterministas sobre a tecnologia nos CTIEM E

(ii) em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais voltados agrave

construccedilatildeo de autoria a partir de um posicionamento criacutetico sobre TS

pode mobilizar estudantes dos CTIEM para a emancipaccedilatildeo social18 e a

autonomia

OBJETIVOS

Para buscar responder a essas duas questotildees destaco que o

objetivo geral da pesquisa eacute analisar possibilidades e limites para

discutir tecnologia e TS e transformar sentidos deterministas sobre

tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS nos CTIEM

Como suporte a esse objetivo geral apresento os quatro objetivos

18 Assim como a autonomia e a autoria a emancipaccedilatildeo social eacute uma categoria

importante nesse estudo No capiacutetulo 1 desta tese eacute apresentada a perspectiva

emancipatoacuteria educacional de Adorno (1995) utilizada e possiacuteveis diaacutelogos com

a pesquisa internacional ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social para novos

manifestosrdquo organizada pelo socioacutelogo portuguecircs Boaventura de Sousa Santos

(SANTOS 2009) que tem relevacircncia no quadro da pesquisa socioloacutegica atual

embora natildeo trate especificamente da questatildeo educacional mesmo que ela seja

referida

47

especiacuteficos (i) identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre

estudantes dos CTIEM (ii) problematizar tais sentidos de acordo com os

princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (iii)

examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de

um posicionamento criacutetico sobre TS e (iv) verificar se e como

promover contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar

sentidos de emancipaccedilatildeo social e autonomia entre estudantes

TESE

Tais objetivos assim como a pesquisa das questotildees propostas satildeo

o apoio para que eu possa defender a seguinte tese sentidos

deterministas sobre tecnologia que satildeo discutidos entre estudantes dos

CTIEM podem ser transformados atraveacutes de processos educacionais que

contemplem o desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre TS

Isso ocorre na medida em que essesas estudantes possam visualizar

possibilidades de emancipaccedilatildeo social ao constituiacuterem-se autonomamente

como autoresas capazes de compreender e modificar os contextos

socioteacutecnicos determinados soacutecio-historicamente que os satildeo

apresentados

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Os procedimentos19 necessaacuterios para realizar a pesquisa

compreendem coleta e anaacutelise de dados primaacuterios e secundaacuterios

qualitativos e quantitativos Os instrumentos de coleta de dados

primaacuterios satildeo uma questatildeo inicial formulada agravesaos estudantes (O que eacute

tecnologia para vocecirc) um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla

escolha20 (conforme Apecircndice D) e uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de

TS aleacutem do meu diaacuterio de campo (memoacuteria das aulas) A coleta de

dados secundaacuterios envolve pesquisa bibliograacutefica e documental Faz

19 Todas as consideraccedilotildees que se referem aos procedimentos metodoloacutegicos satildeo

detalhadas no capiacutetulo 3 desta tese 20 Tendo em vista a criacutetica feita por Thiollent (1985) ao positivismo empiacuterico

nas pesquisas sociais considerei a utilizaccedilatildeo do questionaacuterio de modo criacutetico e

histoacuterico e avaliei as vantagens (i) e desvantagens (ii) de sua utilizaccedilatildeo Tais

como (i) facilidade de aplicaccedilatildeo e anaacutelise praticidade e rapidez ao responder e

apresentaccedilatildeo de diversas alternativas (aleacutem da alternativa aberta) e (ii) exigecircncia

de tempo na sua preparaccedilatildeo para garantir diversas opccedilotildees de resposta conexatildeo

com os pressupostos teoacutericos e possibilidade de influecircncia no sujeito

respondente Dentro desse quadro a considerar o espaccedilo e o tempo da pesquisa

e com o cuidado de enfocar as condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas dos sujeitos da

pesquisa essa pareceu a opccedilatildeo mais adequada

48

parte da pesquisa ainda a elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico

na temaacutetica socioteacutecnica (conforme Apecircndice E)

Alguns dados foram coletados durante todo o ano de 2015

diretamente no IFRS sendo que a pergunta inicial e os questionaacuterios

foram aplicados no iniacutecio do terceiro trimestre escolar a partir do mecircs

de outubro e as apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS

aconteceram no mecircs de dezembro

A pesquisa aqui proposta envolve uma discussatildeo sobre estudantes

dos CTIEM contudo tendo em vista a possibilidade de

operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e a coerecircncia com o meu plano de

trabalho e o planejamento de ensino no IFRS foram selecionados

estudantes apenas dos primeiros anos dos CTIEM Com isso o universo

da pesquisa eacute composto por 184 alunosas matriculadosas nos primeiros

anos e que tecircm entre 14 e 18 anos de idade21 Contudo infrequecircncias

ausecircncias e opccedilatildeo por natildeo participar da pesquisa exigem um recorte que

finaliza com 149 estudantes que satildeo os sujeitos da pesquisa22

A descriccedilatildeo quantitativa elaboraccedilatildeo de graacuteficos quadros e

tabelas envolve a utilizaccedilatildeo do programa Excel 2013 A anaacutelise

qualitativa por sua vez baseia-se na leitura criacutetica descriccedilatildeo e anaacutelise

soacutecio-histoacuterica dos dados documentais das respostas agrave pergunta inicial

dos questionaacuterios da memoacuteria das aulas e da produccedilatildeo sobre TS Na

pesquisa proposta os dados quantitativos satildeo considerados como um

suporte importante mas o caraacuteter da pesquisa eacute qualitativo Contudo

destaco que assim como Trivintildeos (1987) natildeo haacute aqui uma

caracterizaccedilatildeo dicotocircmica entre o qualitativo e o quantitativo Do ponto

de vista de uma pesquisa dialeacutetica (na qual os polos analisados satildeo

diferentes mas se implicam mutuamente um depende necessariamente

do outro) existe uma relaccedilatildeo necessaacuteria entre a mudanccedila quantitativa e a

mudanccedila qualitativa

Esse enfoque qualitativo que corresponde a um modo de

compreender e analisar a realidade pode ser examinado dentro do que

Trivintildeos (1987) chama de ldquocriacutetico-participativo com visatildeo histoacuterico-

estruturalrdquo (p 117) Nesse quadro autores como Marx Engels

Gramsci Adorno Horkheimer Marcuse e Habermas entre outros

partem da necessidade de conhecer a realidade ldquopara transformaacute-la em

processos contextuais e dinacircmicos complexosrdquo (TRIVINtildeOS 1987 p

21 Um perfil sociodemograacuteficos dosas estudantes eacute apresentado no capiacutetulo 3

desta tese 22 Destaco que dentre esses sujeitos selecionei cinco TS (31 alunosas) para

analisar de modo mais aprofundado como descrevo no capiacutetulo 3

49

125) Assim nesta tese a intenccedilatildeo eacute realizar uma pesquisa que capte

tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema delineado (descrito)

Interessam portanto suas origens causas consequecircncias e contradiccedilotildees

tendo em vista possibilidades de transformaccedilotildees da realidade

A ideia eacute examinar relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo tendo em

vista a obtenccedilatildeo de dados que possibilitem ampliar a compreensatildeo de

qualidades constitutivas dessas relaccedilotildees (dos sentidos que as atravessam

que ali circulam suas contradiccedilotildees) e verificar possibilidades de

transformaccedilatildeo desses sentidos dentro de processos educacionais Em

termos metodoloacutegicos ao apropriar-me dessas relaccedilotildees em primeiro

lugar ligo-as agrave minha concepccedilatildeo de mundo e em seguida procuro

inseri-las em um quadro teoacuterico de apoio Portanto ao buscar a

historicidade e contradiccedilotildees dessas relaccedilotildees penso que as escolhas

metodoloacutegicas realizadas estatildeo de acordo com o referencial teoacuterico

escolhido que por sua vez tem coerecircncia com minha consciecircncia social

RELEVAcircNCIA

A relevacircncia dessa iniciativa de pesquisa encontra-se nas

possibilidades de (i) compreender (e poder transformar) soacutecio-

historicamente sentidos restritos sobre tecnologias que circulam entre as

juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (ii) expandir

entendimentos sobre processos educacionais voltados agrave mobilizaccedilatildeo

para autoria emancipaccedilatildeo social e autonomia em um paiacutes do Sul e (iii)

ampliar espaccedilos para debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e

sociedade

O entendimento criacutetico de tais relaccedilotildees eacute percebido aqui como um

fator a ser considerado na compreensatildeo de processos educacionais

criacuteticos e contextualizados (sensiacuteveis agraves diversidades poliacuteticas de classe

religiosas eacutetnico-raciais23 e de gecircnero) vinculados a perspectivas de

efetiva transformaccedilatildeo social

23 Conforme Gomes (2012) no Brasil militantes e intelectuais utilizam o termo

ldquoeacutetnico-racialrdquo para demonstrar que consideram as muacuteltiplas dimensotildees que

envolvem a histoacuteria as culturas e a vida de negros no paiacutes Ao adotarem o termo

ldquoraccedilardquo natildeo o fazem no sentido bioloacutegico pelo contraacuterio ldquotrabalham o termo

raccedila atribuindo-lhe um significado poliacutetico construiacutedo a partir da anaacutelise do tipo

de racismo que existe no contexto brasileiro e considerando as dimensotildees

histoacuterica e cultural que este nos remeterdquo (GOMES 2012 p 47)

50

TOacutePICOS

Operacionalizei a tese dentro do pressuposto de que natildeo eacute

interessante uma visatildeo isolada das partes do estudo tendo em vista que

elas estatildeo inter-relacionadas Desse modo a fundamentaccedilatildeo teoacuterica por

exemplo natildeo tem um capiacutetulo especiacutefico pois ela vai apoiar de maneira

dinacircmica as ideias que surgem no desenvolvimento da pesquisa

Entretanto para tentar desenvolver de modo objetivo os argumentos e

apresentar de maneira concisa os dados desta tese o texto estaacute dividido

em trecircs partes aleacutem das consideraccedilotildees finais

No primeiro capiacutetulo discuto sobre processos educacionais

Apresento meus posicionamentos e filiaccedilotildees teoacutericas em relaccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo ECT Educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia Tecnologia Sociedade)

juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio e autoria Aleacutem da

discussatildeo conceitual trago aspectos histoacutericos e bibliograacuteficos sobre tais

temas de modo que as informaccedilotildees desse capiacutetulo possam encaminhar

para entendimentos sobre tecnologia tal como delineado de maneira

especiacutefica no segundo capiacutetulo

No capiacutetulo 2 apresento uma discussatildeo relativa aos contextos

socioculturais poliacuteticos e educacionais nos quais os debates sobre

tecnologia estatildeo inseridos Para isso examino o caraacuteter social da

tecnologia a partir de diferentes autoresas exponho minha filiaccedilatildeo

teoacuterica e delineio o sentido geral sobre tecnologia que eacute considerado na

pesquisa de tese Apoacutes realizo uma reflexatildeo histoacuterica conceitual e

documental sobre TS e apresento estudos sobre relaccedilotildees entre TS e

processos educacionais

Com o foco em examinar sentidos sobre tecnologia que

atravessam os (e circulam nos) CTIEM no terceiro capiacutetulo apresento

detalhadamente os procedimentos envolvidos na coleta e anaacutelise de

dados Exponho informaccedilotildees relevantes para a pesquisa sobre o IFRS

(histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outros dados) e sobre aspectos

sociodemograacuteficos qualitativos e quantitativos dos sujeitos da pesquisa

De acordo com minha opccedilatildeo por adotar a teacutecnica de pesquisa de

intervenccedilatildeo socioloacutegica (THIOLLENT 1985) ao realizar uma anaacutelise

criacutetica dos dados coletados intenciono que a partir desses dados os

sentidos sejam examinados segundo uma perspectiva teoacuterica que

permita o retorno a esses sentidos agora contextualizadas em muacuteltiplas

relaccedilotildees

Tal movimento envolve mediaccedilotildees em trecircs momentos A partir

do caos concreto (no qual satildeo captadas as qualidades gerais da

realidade) passa-se por uma instacircncia abstrata (na qual estabelecem-se

as relaccedilotildees soacutecio-histoacutericas do fenocircmeno determinam-se os traccedilos

51

quantitativos do exame) ateacute chegar novamente ao concreto agora

pensado (no qual estabelecem-se os aspectos essenciais do fenocircmeno

seu fundamento sua realidade e possibilidade o que nele eacute singular e

geral necessaacuterio e contingente)

Conforme informo na dedicatoacuteria esta tese foi escrita para

educadoras e educadores de qualquer modalidade de ensino e de

diferentes formaccedilotildees disciplinares que tenham interesse em TS

52

53

CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS

Neste primeiro capiacutetulo tendo em vista o que estaacute envolvido24

com a educaccedilatildeo desenvolvo consideraccedilotildees acerca de elementos que

vejo como importantes na investigaccedilatildeo de relaccedilotildees dessa com a

tecnologia Inicialmente apresento meu posicionamento geral sobre o

sujeito desse processo e destaco o que compreendo por educaccedilatildeo de

modo geral e segundo autoresas que podem ajudar-me a analisar em

alguma medida o contexto25 nacional atual

Apoacutes reflito sobre ECT e Educaccedilatildeo CTS tendo em vista alguns

princiacutepios do ensino de Sociologia no ensino meacutedio (estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo) questotildees de autoria e as juventudes que compotildeem os

CTIEM (sujeitos do conhecimento) Finalizo o capiacutetulo com uma

tentativa de relacionar essas perspectivas com indagaccedilotildees sobre uma

outra educaccedilatildeo possiacutevel A ideia eacute que esse capiacutetulo inicial relacione

autoresas e teorias em relaccedilatildeo agrave autonomia autoria e emancipaccedilatildeo

social que possam trazer subsiacutedios para um debate sobre tecnologia e

TS em ambientes educacionais

11 SUJEITO

No contexto geral das discussotildees de que participo na aacuterea da

ECT percebo ao menos alguns temas efetivos que derivam de

concepccedilotildees sobre a natureza as funccedilotildees aplicaccedilotildees e implicaccedilotildees

sociais do conhecimento da ciecircncia da tecnologia e da educaccedilatildeo

Central em tudo isso estatildeo as concepccedilotildees sobre o sujeito

fundamentalmente sobre o sujeito do conhecimento que perpassam

todos esses temas e implicam em diferentes posicionamentos em relaccedilatildeo

a eles26

24 Considero que processos educacionais envolvem interaccedilotildees entre

professoresas estudantes escola estrutura fiacutesica materiais da escola poliacutetica

educacional interna e externa participaccedilatildeo de paisresponsaacuteveis abertura agrave

comunidade procedimentos avaliativos e componentes curriculares 25 Nesta tese uso o termo ldquocontextordquo em sentido geral como inter-relaccedilatildeo de

circunstacircncias (sociais culturais poliacuteticas econocircmicas tecnoloacutegicas

educacionais) que acompanham dadas situaccedilotildees Natildeo eacute minha intenccedilatildeo discutir

o termo de acordo com teorias antropoloacutegicas ou linguiacutesticas 26 Muitos estudos epistemoloacutegicos investigam as relaccedilotildees entre sujeito (S)

objeto (O) e imagem (I) Algo que natildeo seraacute explorado de modo especiacutefico nesta

tese Tendo em vista uma leitura voltada a questotildees educacionais eacute possiacutevel

compreender ideias baacutesicas sobre essas relaccedilotildees e especificamente sobre

54

Considero que essas concepccedilotildees podem ser analisadas como

conjuntamente interligadas mas de modo a respeitar suas

particularidades Como jaacute referenciei tratarei fundamentalmente sobre

relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo contudo eacute importante iniciar esse

estudo com uma breve indicaccedilatildeo de como compreendo o sujeito nesse

processo

Uma primeira inspiraccedilatildeo para localizar de maneira mais

especiacutefica quem eacute(satildeo) meu(s) sujeito(s) foi construiacuteda a partir do

acompanhamento das leituras realizadas no DiCiTE Naquele ambiente

pesquisadoresas tecircm interesse por questotildees que relacionam educaccedilatildeo

ECTS e linguagem Ali tambeacutem satildeo investigados aspectos da Anaacutelise

de Discurso (AD) francesa sobretudo do filoacutesofo francecircs Michel

Pecirccheux (1938-1983) Nessa imersatildeo pude compreender que para a AD

o sujeito assume determinadas posiccedilotildees e manteacutem uma relaccedilatildeo com o

mundo De modo que a maneira como ele eacute visto e como se vecirc estaacute

vinculada a certa posiccedilatildeo ideoloacutegica

Sem explorar o rico referencial da AD considero o seu sujeito

que estaacute imerso em relaccedilotildees e vinculado agrave ideologia Assim nesta tese

com meu foco em estudantes dos CTIEM meu paracircmetro eacute o ser

humano Como afirma Severino (1994) entendo o ser humano como

entidade histoacuterica influenciado pelas condiccedilotildees objetivas de sua

existecircncia ao mesmo tempo em que atua sobre elas por meio de sua

praacutexis27 Reconheccedilo o sujeito tanto em sua subjetividade (como produtor

e transformador de sentidos) quanto imerso nos contextos soacutecio-

histoacutericos vivenciados

realismo realismo criacutetico e modelo dialeacutetico respectivamente nas seguintes

referecircncias utilizadas na ECT HESSEN J Teoria do Conhecimento Satildeo

Paulo Martins Fontes 2003 SCHAFF A Histoacuteria e Verdade Satildeo Paulo

Martins Fontes 1995 BECKER F Modelos pedagoacutegicos e modelos

epistemoloacutegicos In SILVA L H AZEVEDO JC (Org) A paixatildeo de

aprender II Petroacutepolis Vozes 1995 27 Sem entrar no debate acerca da possiacutevel ambiguidade do conceito quando

tratado particularmente por Marx e Engels na obra ldquoA ideologia alematilderdquo

(MARX ENGELS 1982) considero a posiccedilatildeo de Castoriadis (1986) quando

esse autor afirma que a praacutexis eacute o fazer no qual ldquoo outro ou os outros satildeo

visados como seres autocircnomos () Existe na praacutexis um por fazer mas esse por

fazer eacute especiacutefico eacute precisamente o desenvolvimento da autonomia () (p 94)

A praacutexis eacute entendida aqui portanto de modo geral como praacutetica humana que

tende a criar condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave existecircncia da sociedade agraves atividades

materiais agrave produccedilatildeo (SEVERINO 1994)

55

Contudo a ideia eacute a de que esse sujeito a que me refiro natildeo

apareccedila em minhas anaacutelises do capiacutetulo 3 de maneira abstrata e

homogecircnea Busco representar a diversidade sem perder de vista a

unicidade Minha intenccedilatildeo eacute a de que as pluralidades e diferenccedilas

poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero possam emergir

sensivelmente Pois concordo com Santos (2014) quando a autora

afirma que a ciecircncia tem gecircnero e aponta a necessidade de

problematizaccedilatildeo de determinaccedilotildees essencialistas no que diz respeito

sobretudo a questotildees de gecircnero

Assim considero osas estudantes dentro de minhas perspectivas

teoacutericas como sujeitos ativos e integrados (natildeo acomodados) na

construccedilatildeo de conhecimentos e em busca permanente de

conscientizaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica Essa minha percepccedilatildeo tem base

no educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) que pensa em sujeitos

ldquointerferidoresrdquo (homem Sujeito) imersos em relaccedilotildees que os integram

aos seus contextos (FREIRE 1983)

Ao avaliar possibilidades de transformar sentidos sobre

tecnologia tendo em vista processos educacionais penso que considerar

a capacidade de integraccedilatildeo dos sujeitos seja fundamental ldquoA integraccedilatildeo

resulta da capacidade de ajustar-se agrave realidade acrescida da de

transformaacute-la a que se junta a de optar cuja nota fundamental eacute a

criticidaderdquo (FREIRE 1983 p 42) Esse sujeito (com identidades

poliacutetica religiosa eacutetnico-racial e de gecircnero) integrado ativo criacutetico

seria capaz de alterar a realidade soacutecio-histoacuterica que lhe eacute apresentada

Seria portanto um sujeito autor que constitui uma base das relaccedilotildees

entre educaccedilatildeo e tecnologia que busco examinar

12 EDUCACcedilAtildeO

Natildeo pretendo tratar educaccedilatildeo e tecnologia como abstraccedilotildees mas

como produccedilotildees soacutecio-histoacutericas complexas e que podem ser localizadas

geograacutefica e temporalmente Penso no contexto educacional brasileiro

no iniacutecio da segunda deacutecada do seacuteculo XXI Considero com isso as

intencionalidades dos sujeitos do conhecimento (envolvidos em

processos educacionais) a historicidade temporalidade e contradiccedilotildees

das teorias tecnoloacutegicas e educacionais e uma perspectiva natildeo

determinista da tecnologia28 no desenvolvimento econocircmico e social

28 Meu posicionamento em relaccedilatildeo agrave tecnologia seraacute exposto no segundo

capiacutetulo desta tese

56

Trato aqui de uma reflexatildeo sobre a educaccedilatildeo como aacuterea no qual o

cenaacuterio sociopoliacutetico brasileiro estaacute expresso com suas contradiccedilotildees

desigualdades preconceitos e tambeacutem suas virtualidades Assim como

a filoacutesofa brasileira Marilena Chauiacute e o filoacutesofo huacutengaro Istvaacuten

Meacuteszaacuteros compreendo a educaccedilatildeo como atividade social permanente e

inseparaacutevel do processo de formaccedilatildeo humana Meacuteszaacuteros (2008) aponta

ainda que ldquosem um progressivo e consciente intercacircmbio com processos

de educaccedilatildeo abrangentes como lsquoa nossa proacutepria vidarsquo a educaccedilatildeo

formal natildeo pode realizar as suas muito necessaacuterias aspiraccedilotildees

emancipadoras rdquo (p 59 grifos do autor)

Brandatildeo (1995) lembra-nos de que a educaccedilatildeo existe de muitos

modos sendo que alguns desses podem ter como princiacutepio a

transformaccedilatildeo A educaccedilatildeo como algo que envolve um movimento de

transformaccedilatildeo interna de uma condiccedilatildeo de saber a outra condiccedilatildeo de

saber ou ainda agrave compreensatildeo do outro de si mesmo da realidade do

tempo presente e da cultura acumulada (CHAUIacute 2003) de modo geral

pode ser entendida segundo uma concepccedilatildeo problematizadora ou

dialoacutegica (FREIRE 1987) Isso implicaria numa atuaccedilatildeo cidadatilde dos

sujeitos com ela envolvidos tendo em vista as possibilidades de

transformaccedilatildeo desses sujeitos e da sociedade

Tal transformaccedilatildeo pode ser encontrada em Meacuteszaacuteros (2008)

quando esse declara tal qual Freire (1987) que educar natildeo eacute transferir

conhecimentos (JINKINGS 2008) e sustenta que a educaccedilatildeo (como

conscientizaccedilatildeo e testemunho de vida) deve ser permanente e contiacutenua

para poder ser assim chamada Para ele

Sim ldquoa aprendizagem eacute a nossa proacutepria vidardquo

como Paracelso afirmou haacute cinco seacuteculos e

tambeacutem muitos outros que seguiram seu caminho

mas que talvez nunca tenham sequer ouvido seu

nome Mas para tornar essa verdade algo oacutebvio

como deveria ser temos de reivindicar uma

educaccedilatildeo plena para toda a vida para que seja

possiacutevel colocar em perspectiva a sua parte

formal a fim de instituir tambeacutem aiacute uma reforma

radical Isso natildeo pode ser feito sem desafiar as

formas atualmente dominantes de internalizaccedilatildeo

fortemente consolidadas a favor do capital pelo

proacuteprio sistema educacional formal (MEacuteSZAacuteROS

2008 p 55 grifo do autor)

57

Ao abordar as perspectivas de uma educaccedilatildeo para aleacutem do

capital o autor condena propostas apenas reformistas Para ele deveria

haver uma alteraccedilatildeo fundamental em todo o sistema de internalizaccedilatildeo29

Em termos de educaccedilatildeo seria necessaacuteria uma alternativa concreta e

abrangente Contudo Meacuteszaacuteros (2008) compreende que a tarefa

histoacuterica enfrentada eacute ldquoincomensuravelmente maior que a negaccedilatildeo do

capitalismo O conceito para aleacutem do capital eacute inerentemente concreto

Ele tem em vista a realizaccedilatildeo de uma ordem social metaboacutelica que

sustente concretamente a si proacutepriardquo (p 62 grifos do autor)

Acredito haver aqui um ponto de convergecircncia entre Meacuteszaacuteros

(2008) e Paulo Freire (1987) pois os dois autores fazem uma criacutetica agrave

educaccedilatildeo capitalista

121 Paulo Freire e autonomia

Meu interesse pelo pensamento de Paulo Freire vai ao encontro

de uma tendecircncia nacional de crescimento de utilizaccedilatildeo de suas obras

em pesquisas acadecircmicas Ao analisarem poliacuteticas de curriacuteculo sob um

ponto de vista freireano Saul e Silva (2012) fizeram um levantamento

no banco de dados da Capes e verificaram a existecircncia de 228 registros

de teses que utilizaram o referencial freireano entre os anos 1987 e

2010 O total de registros para esse periacuteodo com dissertaccedilotildees chega a

1441 pesquisas Portanto mesmo que examinado de maneira pontual e

dentro de um quadro teoacuterico diverso considero que o pensamento

freireano ao qual faccedilo referecircncia colabora fundamentalmente com as

perspectivas criacuteticas aqui apontadas

Ao analisar a criacutetica de Freire (1987) agrave educaccedilatildeo capitalista

(educaccedilatildeo bancaacuteria educaccedilatildeo do opressor) podemos compreender (de

modo simplificado) a educaccedilatildeo bancaacuteria e examinar relaccedilotildees entre

educadora e educandoa A accedilatildeo doa primeiroa se dividiria em um

momento inicial de aquisiccedilatildeo de conhecimentos e em seguida ocorreria

uma narraccedilatildeo dessa primeira accedilatildeo aaos educandasos Essases por sua

vez copiariam ou arquivariam o que ouviram Essas accedilotildees deixam

educadora e educandoa em situaccedilotildees bem definidas De modo que oa

educadora seria uma saacutebioa detentora de conhecimentos e oa

educandoa seria aquelea que natildeo sabe (FREIRE 1987)

29 De modo abreviado essa internalizaccedilatildeo corresponderia a que os sujeitos

adotassem como suas as metas de reproduccedilatildeo do sistema capitalista Algo que a

educaccedilatildeo sob o domiacutenio do capital se proporia a fazer

58

Freire (1987) explica porque natildeo pode ser produzido

conhecimento nesse processo

Natildeo pode haver conhecimento pois os educandos

natildeo satildeo chamados a conhecer mas a memorizar o

conteuacutedo narrado pelo educador Natildeo realizam

nenhum ato cognoscitivo uma vez que o objeto

que deveria ser posto como incidecircncia de seu ato

cognoscente eacute posse do educador e natildeo

mediatizador da reflexatildeo criacutetica de ambos A

praacutetica problematizadora pelo contraacuterio natildeo

distingue estes momentos no quefazer do

educador-educando Natildeo eacute sujeito cognoscente em

um e sujeito narrador do conteuacutedo conhecido em

outro Eacute sempre um sujeito cognoscente quer

quando se prepara quer quando se encontra

dialogicamente com os educandos (FREIRE

1987 p 69 grifo do autor)

Portanto na loacutegica da educaccedilatildeo bancaacuteria um lado educaria e

agiria (seria sujeito) enquanto o outro lado seria educado e passivo

(seria objeto) Este uacuteltimo seria um depoacutesito reservado a arquivar

informaccedilotildees com possibilidades tolhidas de desenvolver consciecircncia

criacutetica e libertar-se de situaccedilotildees de opressatildeo A educaccedilatildeo bancaacuteria como

praacutetica de dominaccedilatildeo condicionaria os sujeitos agrave adaptaccedilatildeo agrave realidade

social dada Isso destituiria o homem como sujeito ativo e livre para

optar

Essa concepccedilatildeo bancaacuteria da educaccedilatildeo que foi brevemente

examinada eacute um exemplo de educaccedilatildeo antidialoacutegica Acima apontei

uma perspectiva de educaccedilatildeo problematizadora ou dialoacutegica A

dialogicidade em Freire (2013) seria algo como uma exigecircncia

epistemoloacutegica Pois a construccedilatildeo da autonomia passaria pela

conscientizaccedilatildeo30 pelo esforccedilo de conhecimento criacutetico dos obstaacuteculos

que impedem a transformaccedilatildeo do mundo (FREIRE 2011) Tal

conscientizaccedilatildeo dependeria da relaccedilatildeo consciecircncia-mundo (o sujeito se

30 Freire (1980) lembra-nos de que o homem eacute o uacutenico ser vivo que conseguiria

tomar distacircncia do mundo em uma visatildeo em perspectiva para justamente

conseguir uma aproximaccedilatildeo maior e conhececirc-lo Esse movimento eacute uma tomada

de consciecircncia mas para ser conscientizaccedilatildeo deve existir em uma praacutexis

Assim a conscientizaccedilatildeo seria uma posiccedilatildeo criacutetica assumida pelo sujeito

59

constitui em sua subjetividade pela consciecircncia do mundo e do outro) e

implicaria transformaccedilatildeo do mundo

O diaacutelogo seria o proacuteprio movimento que constituiria a

consciecircncia (do mundo) o encontro de sujeitos para ldquoser maisrdquo

(FREIRE 1987) Nessa praacutetica dialoacutegica o sujeito poderia construir sua

autonomia Brandatildeo (1981) reforccedila que na perspectiva freireana o

diaacutelogo eacute fundamental ldquoeacute o sentimento do amor tornado accedilatildeo

(BRANDAtildeO 1981 p 103) E nisso o autor explicita as relaccedilotildees entre

sujeitos natureza e trabalho no diaacutelogo freireano

A relaccedilatildeo entre sujeitos e natureza ocorreria pelo diaacutelogo e nela o

mundo seria transformado e a histoacuteria aconteceria Em outro momento

do mesmo diaacutelogo ocorreriam as relaccedilotildees entre os sujeitos na natureza e

pelo trabalho O trabalho natildeo eacute uma relaccedilatildeo entre o homem e a

natureza O trabalho eacute uma relaccedilatildeo entre os homens atraveacutes da natureza

(BRANDAtildeO 1981 p 104) Assim como em Meacuteszaacuteros (2008) e como

mostrarei adiante na perspectiva de ensino politeacutecnico o trabalho seria

algo fundamental nas relaccedilotildees entre os sujeitos aiacute incluiacutedos os

processos educacionais fundamentalmente

Uma educaccedilatildeo contra a proposta bancaacuteria seria portando

essencialmente dialoacutegica problematizadora e tentaria promover a

autonomia do sujeito educando Esse teria noa educadora um sujeito

que faz parte de seu processo de formaccedilatildeo A contradiccedilatildeo educadora

(sujeito) ndash educandoa (objeto) seria superada A educaccedilatildeo

problematizadora seria entatildeo possiacutevel com a superaccedilatildeo da contradiccedilatildeo

entre educadora e educandosas e dentro do diaacutelogo E isso faz sentido

ao examinarmos a famosa constataccedilatildeo freireana de que

Jaacute agora ningueacutem educa ningueacutem como tampouco

ningueacutem se educa a si mesmo os homens se

educam em comunhatildeo mediatizados pelo mundo

Mediatizados pelos objetos cognosciacuteveis que na

praacutetica ldquobancaacuteriardquo satildeo possuiacutedos pelo educador

que os descreve ou os deposita nos educandos

(FREIRE 1987 p 69)

Em sua proposta dialoacutegica Freire (1987) ainda demonstra

preocupaccedilatildeo com um entendimento restrito sobre a educaccedilatildeo que a desvinculasse de sua inter-relaccedilatildeo com os sujeitos ldquoem suas culturas

vivendo suas vidasrdquo (BRANDAtildeO 1995) E desse modo propotildee um

processo de ensino que possibilite a construccedilatildeo de condiccedilotildees para que os

sujeitos possam ser todos seres para si tendo em vista uma educaccedilatildeo

60

que possibilite a construccedilatildeo de uma realidade social aberta agrave autonomia

desses sujeitos Tal abertura agrave autonomia tem relaccedilatildeo com mobilizaccedilatildeo para a

curiosidade e a criticidade e contra memorizaccedilotildees mecacircnicas Pressupotildee

a compreensatildeo da mutabilidade e historicidade do conhecimento tendo

em vista a inexistecircncia de conhecimento absoluto Com isso Freire

(2011) destaca a importacircncia de estarmos abertos31 tanto para

conhecermos o que jaacute foi produzido quanto para produzirmos novos

conhecimentos Mas essa abertura chamada de curiosidade natildeo deveria

ser algo ingecircnuo (baseada apenas na experiecircncia) e sim uma

curiosidade epistemoloacutegica (FREIRE 2011) criacutetica

Segundo o autor deveria haver a superaccedilatildeo da ingenuidade para

chegar agrave criticidade32 atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia Pois natildeo

haveria possibilidades para autonomia segundo visotildees ingecircnuas do

mundo sem criticidade Nesse processo a curiosidade se relaciona com

a criatividade sendo a primeira condiccedilatildeo para a segunda Essa relaccedilatildeo

integraria as condiccedilotildees para tanto conhecermos o que do mundo natildeo

fizemos quanto nele acrescentarmos nossa produccedilatildeo (FREIRE 2011)

Para finalizar a contribuiccedilatildeo do pensamento freireano

fundamentalmente na questatildeo da autonomia no que penso sobre

educaccedilatildeo no contexto nacional atual (que pode ser relacionado com TS)

trago sua perspectiva acerca do ensino tecnicista Para o autor o ensino

teacutecnico-cientiacutefico eacute necessaacuterio poreacutem natildeo eacute suficiente para a construccedilatildeo

da autonomia Tambeacutem seria necessaacuteria uma formaccedilatildeo eacutetica e esteacutetica

Pois ao compreendermos que fazemos o mundo a partir de nossa

liberdade temos um compromisso eacutetico que se relaciona com a esteacutetica

pois temos liberdade de construir beleza e feiura Contudo essa

formaccedilatildeo eacute muitas vezes preterida em nome de treinamentos puramente

teacutecnicos e isso diminuiria o caraacuteter formador da educaccedilatildeo (FREIRE

2011)

Com isso eacute possiacutevel perceber que na perspectiva freireana a

educaccedilatildeo envolve um movimento dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre

o fazer entre ingenuidade e criticidade Nesse processo a integraccedilatildeo

(comunhatildeo) entre educandoa e educadora e a curiosidade seriam

31 Ao verificar a premissa do autor de que a educaccedilatildeo para a autonomia soacute eacute

possiacutevel nessas condiccedilotildees de possibilidades posso considerar relaccedilotildees entre a

educaccedilatildeo para a autonomia e a autoria em processos educacionais como

destacarei adiante 32 Voltarei a essa questatildeo ao considerar os princiacutepios de estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo no ensino de Sociologia

61

fundamentais De acordo com o autor a curiosidade eacute parte do ser

humano e o conhecimento comeccedila por ela e pelas perguntas (FREIRE

FAUNDEZ 1986) Entretanto como jaacute mencionei para ele eacute necessaacuteria

a superaccedilatildeo da curiosidade ingecircnua para uma curiosidade

epistemoloacutegica Algo que poderia ser realizado com reflexatildeo criacutetica que

visaria a autonomia

Em conjunto com uma educaccedilatildeo voltada agrave autonomia penso em

processos educacionais que possibilitem emancipaccedilatildeo social Podemos

considerar autonomia e emancipaccedilatildeo33 como intimamente relacionadas

Nesse sentido trago abaixo uma perspectiva que acredito poder fazer

essa relaccedilatildeo no que diz respeito agrave educaccedilatildeo

122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social

O tema da emancipaccedilatildeo social eacute constantemente debatido

sobretudo nas Ciecircncias Humanas Nessa aacuterea de conhecimento uma

definiccedilatildeo usual pode ser encontrada em Cattani

O conceito de emancipaccedilatildeo social designa o

processo ideoloacutegico e histoacuterico de liberaccedilatildeo por

parte de comunidades poliacuteticas ou de grupos

sociais da dependecircncia tutela e dominaccedilatildeo nas

esferas econocircmicas sociais e culturais

Emancipar-se significa livrar-se do poder exercido

por outros conquistando ao mesmo tempo a

plena capacidade civil e cidadatilde no Estado

33 O filoacutesofo alematildeo Juumlrgen Habermas tem uma contribuiccedilatildeo importante nos

estudos sobre a emancipaccedilatildeo com a Teoria da Accedilatildeo Comunicativa Embora essa

natildeo seja exatamente examinada nesta tese destaco que para Habermas (1989) a

emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo voltada para o entendimento o que faz com

que ela seja possiacutevel quando ocorre a expansatildeo dos processos de accedilatildeo

comunicativa que se fundamentam necessariamente na capacidade da

humanidade de alcanccedilar consensos racionais atraveacutes do processo de

argumentaccedilatildeo O autor considera que a emancipaccedilatildeo significa autonomia do

sujeito e diz respeito a um tipo especial de auto-experiecircncia relativa agrave

intersubjetividade na qual os processos de auto-entendimento se entrecruzam

com um ganho de autonomia (HABERMAS 1993) Portanto eacute possiacutevel

compreender que para Habermas (1989) a emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo

voltada para o entendimento o que faz com que ela seja possiacutevel quando ocorre

a expansatildeo dos processos de accedilatildeo comunicativa que se fundamentam

necessariamente na capacidade da humanidade de alcanccedilar consensos racionais

atraveacutes do processo de argumentaccedilatildeo

62

democraacutetico de direito Emancipar-se denota

ainda aceder agrave maioridade de consciecircncia

entendendo-se por isso a capacidade de conhecer

e reconhecer as normas sociais e morais

independentemente de criteacuterios externos impostos

ou equivocadamente apresentados como naturais

(2009 p 175)

A partir dessa definiccedilatildeo considero uma perspectiva

emancipatoacuteria que pressuponha o exerciacutecio criacutetico e reflexivo da

razatildeo34 tendo em vista processos educacionais enquanto possibilidades

de superaccedilatildeo das formas de dominaccedilatildeo vigentes Nesse aspecto acredito

que algumas reflexotildees do filoacutesofo alematildeo Theodor Adorno (1903-

1969) podem contribuir

Assim como Paulo Freire Adorno possui uma obra vasta e

teoricamente densa na qual destacam-se preocupaccedilotildees com a liberdade

humana Para buscarmos relaccedilotildees mais pontuais de seus trabalhos com a

temaacutetica educacional atual eacute importante compreendermos ao menos dois

pontos intimamente interligados O primeiro deles diz respeito a suas

criacuteticas agrave induacutestria cultural e o segundo ao seu contexto sociopoliacutetico

Em relaccedilatildeo a esse destaco que Adorno viveu e produziu tendo a

Segunda Guerra Mundial no seu horizonte35 Portanto questotildees sobre

barbaacuterie (do nazismo e de Estados totalitaacuterios) a personalidade

autoritaacuteria a racionalidade teacutecnica e possibilidades de emancipaccedilatildeo

humana satildeo relacionadas a essas suas vivencias

Juntamente com seu compatriota e colega o filoacutesofo Max

Horkheimer (1895-1973) Adorno eacute considerado membro fundamental

da chamada Escola de Frankfurt cujos conjuntos de trabalhos satildeo

conhecidos como Teoria Criacutetica36 A Escola teve seu desenvolvimento

34 Natildeo entrarei na discussatildeo filosoacutefica acerca dos sentidos do termo ldquorazatildeordquo

Minha referecircncia nesse momento eacute a criacutetica que Adorno e Horkheimer (1985)

fazem agrave ideia de razatildeo originaria do Iluminismo que visava agrave emancipaccedilatildeo dos

sujeitos e ao progresso social mas terminou por levar a uma maior dominaccedilatildeo

desses sujeitos em virtude do desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial Para

esses autores o problema estava na razatildeo controladora e instrumental que

busca sempre a dominaccedilatildeo tanto da natureza quanto dos sujeitos 35 No ano de 1933 quando Hitler assumiu como chanceler do Terceiro Reich o

autor parte da Alemanha para a Inglaterra e posteriormente para os Estados

Unidos regressando a Frankfurt apenas em 1950 (HORKHEIMER e

ADORNO 1991) 36 Voltarei a examinar a Teoria Criacutetica e a Teoria Criacutetica da Tecnologia (TCT)

no proacuteximo capiacutetulo

63

na Alemanha desde 1924 a partir da criaccedilatildeo do Instituto para a Pesquisa

Social Mas a ideia de uma instituiccedilatildeo permanente sob a forma de um

instituto de investigaccedilatildeo independente surgiu apoacutes a realizaccedilatildeo da

Primeira Semana de Trabalho Marxista em 1922 que pretendia

repensar o marxismo (ASSOUN 1991)

De acordo com Wiggershaus (2002) a Escola pode ser assim

chamada por apresentar os seguintes elementos um quadro

institucional pensadores influentes um manifesto um novo paradigma

e uma revista Portanto Escola de Frankfurt Instituto para a Pesquisa

Social e Teoria Criacutetica estatildeo relacionados embora natildeo sejam uma

unidade e guardem suas especificidades (WIGGERSHAUS 2002) Isso

eacute importante para compreendermos o pensamento de Adorno em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo que iniciam com o exame da induacutestria

cultural

A induacutestria cultural eacute um tema fundamental para tratarmos da

educaccedilatildeo no autor pois ele via aquela como a impeditiva da

possibilidade humana de agir com autonomia O termo foi utilizado pela

primeira vez no ano de 1947 no livro ldquoDialeacutetica do Esclarecimento

fragmentos filosoacuteficosrdquo escrito em coautoria com Horkheimer Nele os

autores destacam como a consciecircncia humana pode ser dominada pela

comercializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo dos bens culturais

Sob o poder do monopoacutelio toda cultura de massas

eacute idecircntica e seu esqueleto a ossatura conceitual

fabricada por aquele comeccedila a se delinear Os

dirigentes natildeo estatildeo mais sequer muito

interessados em encobri-lo seu poder se fortalece

quanto mais brutalmente ele se confessa de

puacuteblico O cinema e o raacutedio natildeo precisam mais se

apresentar como arte A verdade de que natildeo

passam de um negoacutecio eles a utilizam como uma

ideologia destinada a legitimar o lixo que

propositalmente produzem Eles se definem a si

mesmos como induacutestrias e as cifras publicadas

dos rendimentos de seus diretores gerais

suprimem toda duacutevida quanto agrave necessidade social

de seus produtos (ADORNO HORKHEIMER

1985 p 100)

O termo induacutestria cultural substitui o entatildeo usual cultura de

massa que poderia deixar margens para que se acreditasse que existiria

64

alguma cultura surgindo das massas naquela escala industrial que eles

verificavam

O autor esclarece que quando um bem cultural eacute vendido

juntamente com um carro de luxo por exemplo esse bem perde

capacidade de despertar reflexotildees e indagaccedilotildees no sujeito O que

ocorreria nessa situaccedilatildeo seria uma distraccedilatildeo do sujeito enquanto ele

recebe uma grande quantidade de informaccedilotildees atraveacutes dos meios de

comunicaccedilatildeo como em uma propaganda para vender um carro luxuoso

(ADORNO HORKHEIMER 1985) Pois a induacutestria cultural enquanto

meio de ideologizaccedilatildeo natildeo vende apenas mercadorias mas ideias e

opiniotildees

Nesse processo ficaria comprometida a capacidade criacutetica e a

autonomia dos sujeitos A induacutestria cultural se utilizaria da distraccedilatildeo

para que os sujeitos venham a esquecer a opressatildeo vivida e tenham foco

em temas irrelevantes (alienaccedilatildeo) Nesse sentido Adorno (1995)

apresenta sua criacutetica ao modelo de educaccedilatildeo voltada para a adaptaccedilatildeo e

passividade das massas Algo que Freire (1983) e Meacuteszaacuteros (2008) a

seus tempos e em seus contextos tambeacutem criticaram

Mesmo que o autor trate da educaccedilatildeo alematilde de sua eacutepoca

(pessimista devido a barbaacuterie dos campos de concentraccedilatildeo nazistas37)

sua criacutetica eacute atual e pertinente a paiacuteses do Sul pois demonstra

contradiccedilotildees que vivenciamos atualmente na educaccedilatildeo segundo um

sistema de produccedilatildeo capitalista Aleacutem disso penso em uma leitura de

Adorno tendo em vista sobretudo a induacutestria cultural de modo a

problematizar possibilidades de colonizaccedilatildeo das condiccedilotildees

emancipatoacuterias (atenccedilatildeo agrave reproduccedilatildeo de discursos sexistas racistas e

homofoacutebicos por exemplo)

Adorno (1995) considera que a educaccedilatildeo teria um poder de

resistecircncia Suas criacuteticas ao sistema educacional evidenciam a relevacircncia

que o autor daacute ao tema Ele pensa em educaccedilatildeo como formaccedilatildeo

dinacircmica integrando conhecimentos em ciecircncias humanidades e artes

tendo em vista uma vivecircncia democraacutetica (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-

OLIVEIRA 2008)

Nas suas palavras

37 A importacircncia desse contexto de barbaacuterie em Adorno (1995) eacute destacada em

sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ldquoOra a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo de Adorno objetiva

exatamente criticar essa sociedade que potencialmente carrega dentro de si o

retorno da barbaacuterierdquo (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-OLIVEIRA 2008 p 119)

65

A seguir e assumindo o risco gostaria de

apresentar minha concepccedilatildeo inicial de educaccedilatildeo

Evidentemente natildeo a assim chamada modelagem

de pessoas porque natildeo temos o direito de modelar

pessoas a partir de seu exterior mas tambeacutem natildeo a

mera transmissatildeo de conhecimentos cuja

caracteriacutestica de coisa morta jaacute foi mais do que

destacada mas a produccedilatildeo de uma consciecircncia

verdadeira Isso seria inclusive da maior

importacircncia poliacutetica sua ideia se eacute permitido

dizer assim eacute uma exigecircncia poliacutetica Isto eacute uma

democracia com o dever de natildeo apenas funcionar

mas operar conforme seu conceito demanda

pessoas emancipadas Uma democracia efetiva soacute

pode ser imaginada enquanto uma sociedade de

quem eacute emancipado (ADORNO 1995 p 141-

142 grifos do autor)

A educaccedilatildeo natildeo sendo inconsciente aparece portanto

relacionada tanto com uma tarefa poliacutetica (como nos trabalhos de Paulo

Freire) quanto como experiecircncia emancipatoacuteria Nesse aspecto e

brevemente destaquei pontos importantes para compreendermos

possibilidades de emancipaccedilatildeo social (possibilidade de criacutetica agrave situaccedilatildeo

de vulnerabilidade vivida) atraveacutes de processos educacionais Com

pontos em comum os dois autores que satildeo considerados a seguir

apresentam propostas efetivas de ensino segundo algumas perspectivas

gerais vistas ateacute agora

123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria

Um sentido poliacutetico e emancipatoacuterio da educaccedilatildeo tambeacutem pode

ser analisado em alguns pontos especiacuteficos nas perspectivas do filoacutesofo

italiano Antonio Gramsci (1891-1937) Meacuteszaacuteros (2008) destaca a

posiccedilatildeo democraacutetica de Gramsci com seu resgate do sentido estruturante

da educaccedilatildeo e de sua relaccedilatildeo com o trabalho Relaccedilatildeo que tambeacutem pode

ser encontrada em Adorno (1995) que assim como Gramsci destaca a

possibilidade emancipatoacuteria da educaccedilatildeo

A autonomia e a conscientizaccedilatildeo em Freire (1980 1983 2011)

tambeacutem podem ser vistas na resistecircncia agrave ideologia dominante

(hegemonia) analisada por Gramsci Portanto guardando as

especificidades de cada posiccedilatildeo teoacuterica especiacutefica Gramsci pode

dialogar com os autores tratados anteriormente no sentido de buscar um

66

rompimento com a loacutegica do capital E sua atualidade e relevacircncia no

contexto educacional em um paiacutes do Sul tambeacutem vai nessa direccedilatildeo

Eacute possiacutevel compreender o pensamento de Gramsci em relaccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo a partir de sua proposta de integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo trabalho

e cultura Nessa integraccedilatildeo um aspecto fundamental eacute a questatildeo da

hegemonia38 Para Gramsci (1982) a educaccedilatildeo estaria relacionada tanto

com a hegemonia quanto com a contra hegemonia A primeira teria

respaldo natildeo apenas no Estado mas tambeacutem na esfera privada sendo

que o modo segundo o qual a escola se organiza contribuiria para a

consolidaccedilatildeo da hegemonia que seria exercida essencialmente em niacutevel

da cultura e da ideologia (GRAMSCI 1982) Mas nesse ambiente

tambeacutem seriam formados sujeitos que auxiliariam na formaccedilatildeo de contra

hegemonia

Gramsci investiga a educaccedilatildeo tendo o sistema de ensino italiano

de sua eacutepoca como paracircmetro e o projeto da pedagoga russa Nadežda

Krupskaia39 (1869-1939) para a revisatildeo da educaccedilatildeo na Ruacutessia (desde a

Revoluccedilatildeo Russa de 1917) em mente A partir dessa anaacutelise e em

contrapartida ao dualismo (humanista x profissional) verificado na

escola italiana ele apresenta sua proposta de escola unitaacuteria Essa que

teria caraacuteter puacuteblico seria uacutenica de cultura geral e integrativa de

capacidades manuais e intelectuais

O advento da escola unitaacuteria significa o iniacutecio de

novas relaccedilotildees entre trabalho intelectual e trabalho

industrial natildeo apenas na escola mas em toda a

vida social O princiacutepio unitaacuterio por isso refletir-

se-aacute em todos os organismos de cultura

transformando-os e emprestando-lhes um novo

conteuacutedo (GRAMSCI 1982 p 125)

Portanto na escola unitaacuteria poderiam se iniciar as novas relaccedilotildees

entre trabalho intelectual e trabalho manual para aleacutem dessa e que

38 De modo simplificado podemos compreender a questatildeo da hegemonia em

Gramsci conforme explica Sassoon (1996) segundo a qual hegemonia indica

ldquoo princiacutepio organizador de uma sociedade na qual uma classe se impotildee sobre

as outras natildeo apenas atraveacutes da forccedila mas tambeacutem mantendo a sujeiccedilatildeo da

massa da populaccedilatildeordquo (p 350) e essa sujeiccedilatildeo considera a influecircncia no modo

como os sujeitos pensam 39 Conforme Manacorda (2013) o documento de Krupskaia eacute uma indicaccedilatildeo

expliacutecita e direta do modelo de escola unitaacuteria (escola uacutenica do trabalho) que

Gramsci ldquotem presente de forma constante em suas reflexotildeesrdquo (p 170)

67

seguiriam na vida social (GONZALES 1996) Uma questatildeo importante

na integraccedilatildeo do mundo da cultura com o mundo do trabalho eacute a de que

os trabalhadores sejam sujeitos intelectualmente ativos com acesso aos

conhecimentos e subsiacutedios para o desenvolvimento de atividades

culturais (GONZALES 1996)

Nessa escola unitaacuteria haveria tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com o

desenvolvimento da criatividade Sua proposta apresentava vaacuterias fases

na escola e a uacuteltima delas ldquojaacute deve contribuir para desenvolver o

elemento de responsabilidade autocircnoma nos indiviacuteduos deve ser uma

escola criadorardquo (GRAMSCI 1982 p 124) Contudo natildeo haacute aiacute a ideia

de uma escola de ldquoinventores e descobridoresrdquo (GRAMSCI 1982) mas

um meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento (cujo domiacutenio indica

maturidade intelectual) que pressupotildee inter-relaccedilatildeo entre educadora e

educandoa e no qual essea tem papel ativo e independente

Meu uacuteltimo apontamento sobre as reflexotildees de Gramsci em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo se refere a ideia de omnilateralidade Essa

concepccedilatildeo que diz respeito agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos atraveacutes do

trabalho seraacute tratada com mais detalhes em Marx a seguir Contudo

destaco que Gramsci considera que a base da cultura da educaccedilatildeo e da

escola seria a praacutetica produtiva do trabalho industrial (MANACORDA

2010)

Assim como o pensador alematildeo Karl Marx (1818-1883) Gramsci

privilegia a formaccedilatildeo do sujeito na perspectiva da omnilateralidade

Guardadas as diferenccedilas entre a escola unitaacuteria desse com a politecnia

daquele ambos ponderavam sobre uma educaccedilatildeo voltada agrave preparaccedilatildeo

dos sujeitos na sociedade socialista Desse modo a seguir exponho

algumas consideraccedilotildees sobre princiacutepios educativos em Marx que podem

colaborar com as reflexotildees sobre a educaccedilatildeo na atualidade

124 Karl Marx e a politecnia

O conceito de politecnia surgiu nas obras de Marx em meados do

seacuteculo XIX40 E foi tratado tambeacutem por pensadores como Lecircnin e

Gramsci (MANACORDA 2010) aleacutem de Krupskaia como jaacute

mencionei Conforme Saviani (1987) no contexto em que Marx

comeccedilou a refletir sobre politecnia a escola ainda natildeo era uma

instituiccedilatildeo democratizada mas restrita a classes privilegiadas

40 Entretanto Manacorda (2013) lembra-nos de que Krupskaia havia estudado a

questatildeo e encontrado referecircncias agrave educaccedilatildeo geral politeacutecnica em Lavoisier

Condorcet Rousseau Pestalozzi e Robert Owen

68

Mesmo que Marx juntamente com seu amigo compatriota e

parceiro intelectual Friedrich Engels (1820-1895) natildeo tivesse foco

especificamente na educaccedilatildeo escolar (a politecnia se refere agrave categoria

trabalho central nesses autores41) ele forneceu subsiacutedios para a criacutetica

da influecircncia do capitalismo nesse acircmbito de formaccedilatildeo (criacutetica comum

aos autores apontados acima) Como bem destaca Manacorda (2010 p

33) ldquo() a temaacutetica pedagoacutegica eacute de fato tratada de maneira ocasional

em seus aspectos especiacuteficos mas que acima de tudo estaacute colocada

organicamente no contexto de uma criacutetica rigorosa das relaccedilotildees sociaisrdquo

De modo geral a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxista (ou

marxiana42) de educaccedilatildeo segundo a qual o ser humano deve ser

integralmente desenvolvido em suas potencialidades (princiacutepio da

omnilateralidade) (MANACORDA 2010) Esse desenvolvimento

ocorreria atraveacutes de um processo educacional de totalidade que

proporcionaria formaccedilatildeo cientiacutefica (capacitaccedilatildeo teacutecnica) poliacutetica e

cultural geral (esteacutetica) tendo em vista a libertaccedilatildeo do ser humano Tal

propoacutesito educacional apresentaria as condiccedilotildees necessaacuterias agrave formaccedilatildeo

de seres ldquogeneacutericosrdquo e ldquouniversalizadosrdquo (MARX 1988) de modo que a

razatildeo da existecircncia do trabalhador natildeo poderia ser restrita agraves condiccedilotildees

naturais e agraves possibilidades de produccedilatildeo material (MANACORDA

2010 SILVA 2008)

Eacute importante esclarecer aqui que Marx e Engels (2004) ao

integrarem educaccedilatildeo e trabalho43 consideravam tambeacutem uma

regulaccedilatildeo do trabalho infantil (reduccedilatildeo da jornada e proibiccedilatildeo de

41 Conforme Saviani (2003) na politecnia natildeo existe trabalho manual puro e

nem trabalho intelectual puro sendo que ldquotodo trabalho humano envolve a

concomitacircncia do exerciacutecio dos membros das matildeos e do exerciacutecio mental

intelectual Isso estaacute na proacutepria origem do entendimento da realidade humana

como constituiacuteda pelo trabalhordquo (SAVIANI 2003 p 138) 42 Para Manacorda (2010) a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxiana pois eacute

inerente ao pensamento de Marx 43 Mesmo que brevemente eacute importante destacar as reflexotildees de Marx sobre a

oposiccedilatildeo entre trabalho alienado e trabalho produtivo Gonzales (1996)

esclarece que para Marx o trabalho natildeo seria apenas uma categoria econocircmica

mas tambeacutem e fundamentalmente antropoloacutegica Seria no trabalho que haveria

identificaccedilatildeo entre homem e natureza Daiacute que o trabalho alienado seria uma

atividade que produziria algo exterior produzindo necessidades do mercado e

natildeo do sujeito Ali a produccedilatildeo estaria direcionada para a necessidade de outros

sujeitos e o seu produto natildeo pertenceria ao trabalhador Jaacute o trabalho produtivo

seria uma atividade pela qual o homem desenvolveria a si mesmo seria a

expressatildeo proacutepria do sujeito de suas faculdades fiacutesicas e mentais

69

trabalho noturno) tendo em vista a sauacutede fiacutesica e intelectual desses Ao

fazer uma criacutetica ao emprego fabril de crianccedilas e adolescentes Marx e

Engels (2004 p 60) afirmam que ldquoa sociedade natildeo pode permitir que

pais e patrotildees empreguem no trabalho crianccedilas e adolescentes a menos

que se combine este trabalho produtivo com a educaccedilatildeordquo E essa

preocupaccedilatildeo vinha da percepccedilatildeo de que haveria uma tendecircncia da

induacutestria moderna para incorporar o trabalho de crianccedilas e jovens

Em seguida definem o que entendem por educaccedilatildeo

Por educaccedilatildeo entendemos trecircs coisas Educaccedilatildeo

intelectual Educaccedilatildeo corporal tal como a que se

consegue com os exerciacutecios de ginaacutestica e

militares Educaccedilatildeo tecnoloacutegica que recolhe os

princiacutepios gerais e de caraacuteter cientiacutefico de todo o

processo de produccedilatildeo e ao mesmo tempo inicia

as crianccedilas e os adolescentes no manejo de

ferramentas elementares dos diversos ramos

industriais (MARX ENGELS 2004 p 60)

Nesses termos Marx e Engels (2004) indicam a finalidade de sua

proposta ldquoEsta combinaccedilatildeo de trabalho produtivo pago com a educaccedilatildeo

intelectual os exerciacutecios corporais e a formaccedilatildeo politeacutecnica elevaraacute a

classe operaacuteria acima dos niacuteveis das classes burguesa e aristocraacuteticardquo

(MARX ENGELS 2004 p 60) Como destaca Frigotto (1999) o

princiacutepio educativo do trabalho visaria que o trabalhador tivesse

condiccedilotildees de superar uma visatildeo reducionista e utilitarista do trabalho

dentro de um processo coletivo ldquoorganizado de busca praacutetica de

transformaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais desumanizadoras e portanto

deseducativasrdquo (p 8) E nesse processo o desenvolvimento de

consciecircncia criacutetica seria fundamental

Na leitura que Manacorda (2010) e Silva (2008) fazem de Marx e

Engels a politecnia seria uma base formadora necessaacuteria agrave superaccedilatildeo da

unilateralidade em que o trabalhador estaria mantido em funccedilatildeo da

formaccedilatildeo voltada exclusivamente para a sua capacitaccedilatildeo produtiva Essa

unilateralizaccedilatildeo44 se caracterizaria por uma concepccedilatildeo capitalista na

qual os sujeitos precisariam atualizar suas habilidades teacutecnicas e

produtivas sempre que ocorressem inovaccedilotildees nas formas de produccedilatildeo

44 Silva (2008) destaca que a unilateralizaccedilatildeo eacute o oposto da onilateralizaccedilatildeo

Esta uacuteltima como a universalizaccedilatildeo se caracteriza como o processo que

proporciona a superaccedilatildeo da alienaccedilatildeo pela formaccedilatildeo do sujeito onilateral

atraveacutes da politecnia

70

mas sem alterar as relaccedilotildees de produccedilatildeo (MARX 1988) Assim a

unilateralizaccedilatildeo seria o oposto da universalizaccedilatildeo defendida por Marx e

Engels (MANACORDA 2010)

Em relaccedilatildeo agrave operacionalizaccedilatildeo da proposta de uniatildeo entre

educaccedilatildeo e trabalho Marx ao contraacuterio de Gramsci (1982) natildeo detalha

a implantaccedilatildeo de sua proposta para uma escola pautada nos pressupostos

socialistas Entretanto Rodrigues (2008) descreve que as ideias centrais

de um ensino politeacutecnico satildeo (i) educaccedilatildeo puacuteblica gratuita obrigatoacuteria

e uacutenica para todas as crianccedilas e jovens (ii) combinaccedilatildeo de educaccedilatildeo

(intelectual corporal e tecnoloacutegica) com a produccedilatildeo material para

superar o distanciamento entre essas atividades (iii) formaccedilatildeo onilateral

(multilateral integral) da personalidade e (iv) integraccedilatildeo reciacuteproca da

escola agrave sociedade com o propoacutesito de superar o estranhamento entre as

praacuteticas educativas e as demais praacuteticas sociais

Kuenzer (2013) destaca que a educaccedilatildeo politeacutecnica se refere agrave

integraccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo A ideia seria integrar trabalho

cultura e ciecircncia proporcionar o domiacutenio intelectual da teacutecnica e

articular teoria e praacutetica parte e totalidade disciplinaridade e

transdisciplinaridade O ensino politeacutecnico visaria promover portanto

aprendizagem com significado e assegurar a participaccedilatildeo de estudantes

na sistematizaccedilatildeo dos conhecimentos (KUENZER 2013) Princiacutepios

tambeacutem encontrados nos autores45 que foram vistos ateacute agora

No que diz respeito especificamente ao Brasil essa proposta de

educaccedilatildeo jaacute esteve na pauta de discussotildees pedagoacutegicas e fora dela por

diversas vezes46 Em resumo eacute possiacutevel destacar a iniciativa do filoacutesofo

e pedagogo brasileiro Dermeval Saviani atraveacutes de um curso de

doutorado da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP)

nos anos 1980 que buscou desenvolver uma criacutetica consistente ao

especialismo ao autoritarismo e ao reprodutivismo em educaccedilatildeo assim

como ao marxismo vulgar Segundo Rodrigues (2008) Saviani entendia

45 Destaco principalmente que essas posiccedilotildees vatildeo ao encontro de Freire

(1985) pois educaccedilatildeo se refere a comunicaccedilatildeo e dialogicidade Algo que

exige alteridade Como natildeo haveria transferecircncia (de conhecimentos) a

interlocuccedilatildeo a troca e a criaccedilatildeo de sentidos seriam possiacuteveis Portanto natildeo

haveria espaccedilo para assistencialismo nessa relaccedilatildeo dialoacutegica 46 Em artigo publicado no ano de 2014 examinei a Proposta Pedagoacutegica para o

Ensino Meacutedio Politeacutecnico e Educaccedilatildeo Profissional Integrada ao Ensino Meacutedio

do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (RS) mandato 2011-2014 A ideia

foi compreender modos pelos quais a tecnologia era entendida na proposta

(CORREcircA 2014)

71

que estudar teoria da formaccedilatildeo humana consistia em apreender

concepccedilotildees de homem sociedade e educaccedilatildeo em Marx e Gramsci

Natildeo haacute aqui a intenccedilatildeo de explicitar a trajetoacuteria do ensino

politeacutecnico no Brasil (ou em outros lugares) Contudo de modo geral e

tendo em vista as diferentes perspectivas dosas autoresas47 envolvidos

no debate pedagoacutegico politeacutecnico eacute possiacutevel destacar que a proposta

brasileira de educaccedilatildeo politeacutecnica pode ser caracterizada por trecircs eixos

fundamentais dimensatildeo infraestrutural (reapropriaccedilatildeo do domiacutenio do

trabalho ndash possiacutevel desde as transformaccedilotildees tecnoloacutegicas) dimensatildeo

socialista (ruptura com a educaccedilatildeo estritamente profissionalizante) e

dimensatildeo pedagoacutegica (buscar praacuteticas pedagoacutegicas concretas)

(RODRIGUES 2008)

Sendo assim assinalo que na politecnia o ser humano seria o foco

central e natildeo o mercado de trabalho Tendo em vista que o

conhecimento da realidade histoacuterica e social em dado periacuteodo partiria

das consideraccedilotildees sobre os elementos materiais que a determinariam no

ensino politeacutecnico haveria a busca por uma formaccedilatildeo na qual o

trabalhador pudesse atuar no cenaacuterio poliacutetico e desfrutar do patrimocircnio

cultural produzido pela humanidade (RODRIGUES 2008)48

Saviani (1989 2003) destaca que o sentido de politecnia

envolvido na proposta de ensino politeacutecnico natildeo prevecirc um trabalhador

polivalente que exerce muacuteltiplas funccedilotildees antes se refere ao domiacutenio

dos fundamentos cientiacuteficos das diferentes teacutecnicas que caracterizam o

processo de trabalho produtivo moderno tendo em vista que o

trabalhador possa desenvolver diversas modalidades de trabalho com a

compreensatildeo do seu caraacuteter e da sua essecircncia

Esse autor lembra que mesmo que a politecnia signifique

literalmente muacuteltiplas teacutecnicas esse conceito natildeo se refere agrave totalidade

das diferentes teacutecnicas fragmentadas autonomamente consideradas ldquoSe

a politecnia fosse o conjunto da totalidade das teacutecnicas disponiacuteveis

haveria uma relaccedilatildeo sempre incompleta sempre sujeita a acreacutescimordquo

(SAVIANI 2003 p140) Portanto a educaccedilatildeo politeacutecnica natildeo significa

47 Eacute possiacutevel aprofundar a questatildeo ao verificar autoresas como Acaacutecia Kuenzer

Gaudecircncio Frigotto Joseacute Rodrigues e Luciacutelia Machado entre outros 48 Esses princiacutepios tambeacutem aparecem em Freire (1983) Meacuteszaacuteros (2008) e

Adorno (1995) que criticam modelos de educaccedilatildeo voltadas agrave adaptaccedilatildeo e

passividade sem integraccedilatildeo de conhecimentos

72

absolutamente o ensino de uma multiplicidade de teacutecnicas embora

contenha uma dimensatildeo tecnoloacutegica central em sua perspectiva49

Para finalizar os apontamentos sobre a politecnia destaco a

controveacutersia que existe em relaccedilatildeo agrave qual seria a sua melhor

denominaccedilatildeo As opccedilotildees aqui listadas seriam (i) educaccedilatildeo tecnoloacutegica e

(ii) educaccedilatildeo politeacutecnica Conforme Saviani (2003) em (i) encontramos

uma apropriaccedilatildeo pelo discurso burguecircs hegemocircnico enquanto que em

(ii) ldquoa concepccedilatildeo de politecnia foi preservada na tradiccedilatildeo socialista

sendo uma das maneiras de demarcar esta visatildeo educativa em relaccedilatildeo

agravequela correspondente agrave concepccedilatildeo dominanterdquo (SAVIANI 2003 p

146)

A seguir examino alguns pontos sobre a ECT e a Educaccedilatildeo CTS

de modo que a opccedilatildeo pela educaccedilatildeo politeacutecnica fique delineada

13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS

A ECT em sentidos gerais se ocupa de processos educacionais

(formais ou natildeo) no que diz respeito a temas em ciecircncia e tecnologia

(ou CampT)50 com consideraccedilatildeo dos contextos nos quais esses processos

se estabelecem Muitos estudos tecircm foco por exemplo (i) nas

implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia na educaccedilatildeo (ii) em uma

formaccedilatildeo de professoresas que contemple a contextualizaccedilatildeo do ensino

em temas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iii) nas formas de socializaccedilatildeo

(divulgaccedilatildeo) dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iv) nas

epistemologias e histoacuterias das Ciecircncias Naturais e da Matemaacutetica (v)

em processos de ensino e aprendizagem em Biologia Quiacutemica Fiacutesica e

Matemaacutetica (vi) nas relaccedilotildees entre miacutedias novas tecnologias de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo e o ensino de ciecircncias e de tecnologia (vii)

em poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica (viii) em estudos focados na anaacutelise

do funcionamento da linguagem (ix) em relaccedilotildees de gecircnero no acircmbito

das ciecircncias e da tecnologia e (x) em relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia

sociedade e ambiente (CTSA) entre outros temas

Conforme Grinspun (2009) a tecnologia envolve um saber que

pode ser adquirido pela teoria praacutetica e pesquisa daiacute a centralidade da

educaccedilatildeo tecnoloacutegica ldquoquer para preparaccedilatildeo de todo aquele que vive em

49 Voltarei ao tema politeacutecnico adiante para analisar suas possibilidades e

limites na investigaccedilatildeo sobre transformaccedilatildeo de sentidos sobre tecnologia atraveacutes

de uma perspectiva criacutetica de TS 50 Uma discussatildeo sobre as nomenclaturas em relaccedilatildeo agrave CampT satildeo feitas no

proacuteximo capiacutetulo

73

sociedades em que a tecnologia estabeleceu-se quer para a formaccedilatildeo de

pessoal habilitado que a crie desenvolva e opererdquo (GRINSPUN 2009

p 17) Mas isso natildeo significaria uma formaccedilatildeo teacutecnica-profissional

antes uma educaccedilatildeo em sentido amplo como formaccedilatildeo humana tendo

em vista responsabilidades frente aos aspectos tecnoloacutegicos da

sociedade como a que aqui defendo

Em termos de educaccedilatildeo baacutesica51 Moll (2010) destaca as relaccedilotildees

entre educaccedilatildeo e tecnologia no ensino profissional e tecnoloacutegico tendo

em vista o caraacuteter poliacutetico da educaccedilatildeo e as potencialidades para que

esse modelo de ensino seja mais uma ferramenta para transformar a

sociedade superando desigualdades sociais econocircmicas culturais e

poliacuteticas Nesse mesmo aspecto e incluindo o termo profissional agrave

educaccedilatildeo tecnoloacutegica concordo com Frigotto (2010) na defesa da

integraccedilatildeo (e natildeo apenas articulaccedilatildeo) da formaccedilatildeo profissional agrave

educaccedilatildeo baacutesica

O estabelecimento de um viacutenculo mais orgacircnico

entre a universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica e a

formaccedilatildeo teacutecnico-profissional implica resgatar a

educaccedilatildeo baacutesica (fundamental e meacutedia) na sua

concepccedilatildeo unitaacuteria e politeacutecnica ou tecnoloacutegica

Portanto trata-se de uma educaccedilatildeo natildeo dualista

que articule cultura conhecimento tecnologia e

trabalho como direito de todos e condiccedilatildeo de

cidadania e democracia efetivas (2010 p 37)

Desse modo articulo minha perspectiva sobre educaccedilatildeo

(politecnia) dentro do quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da

tecnologia na educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS

Lembro que essa uacuteltima eacute uma aacuterea dentro dos ECTS52 Ao

examinaacute-la eacute interessante destacar que de modo geral nos ECTS

quando buscamos estabelecer relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e

sociedade consideramos que ciecircncia e tecnologia satildeo contextuais pois

satildeo desenvolvidas em situaccedilotildees soacutecio-histoacutericas especiacuteficas Nessa

direccedilatildeo Linsingen (2002) aponta que tais relaccedilotildees

51 Voltarei ao tema da educaccedilatildeo baacutesica e profissional no terceiro capiacutetulo 52 Para uma visatildeo histoacuterica e mais esquemaacutetica de classificaccedilotildees dentro dos

chamados enfoques CTS verificar a seguinte referecircncia SANTOS W L P

Significados da educaccedilatildeo cientiacutefica com enfoque CTS In SANTOS W L P

AULER D CTS e educaccedilatildeo cientiacutefica desafios tendecircncias e resultados de

pesquisa Brasiacutelia Editora UnB 2011

74

() natildeo existe agrave margem do proacuteprio contexto

social em que se desenvolve e no qual os

conhecimentos e os artefatos adquirem relevacircncia

e valor Desse modo as imbricaccedilotildees entre ciecircncia

tecnologia e sociedade apresentam uma

complexidade muito maior do que as decorrentes

das relaccedilotildees imaginadas entre campos estanques

que se comunicam mas sem interpenetraccedilatildeo

apontando para uma anaacutelise mais cuidadosa e

abrangente das reciprocidades ao inveacutes da

simples aplicaccedilatildeo da claacutessica relaccedilatildeo linear entra

elas (LINSINGEN 2002 p100)

A complexidade dos ECTS como campo interdisciplinar

tambeacutem pode ser verificada na variedade de perspectivas teoacutericas que o

compotildee Neles perpassam desde estudos construtivistas (TAR e estudos

socioteacutecnicos por exemplo) influenciados pelo Programa Forte na

Sociologia do Conhecimento (BLOOR 2009) ateacute anaacutelises estruturais da

TCT (FEENBERG 1991) herdeira da Escola de Frankfurt

Sendo que Thomas Kuhn Paul Feyerabend David Bloor

Hernaacuten Thomas Ludwik Fleck Rosalba Casas Bruno Latour Mariano

Zukerfeld Pablo Kreimer Michel Callon Hebe Vessuri Karin Knorr-

Cetina Trevor Pinch Wiebe Bijker e Andrew Feenberg satildeo algumas das

referecircncias estrangeiras (de fora do Brasil) entre tantas outras comuns

em todo o campo teoacuterico de anaacutelises (COLLINS 2015 ABRAHAtildeO

2015)

Em relaccedilatildeo aos ECTS latino-americanos Linsingen (2007)

explica que suas reflexotildees abordam as especificidades que se referem agrave

ciecircncia e tecnologia na Ameacuterica Latina e de modo mais abrangente

ibero-americanas Esses estudos que desde meados dos anos 196053

vem contribuindo de modo sistemaacutetico para a ressignificaccedilatildeo da

natureza do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e de suas implicaccedilotildees

socioculturais e socioeconocircmicas podem ser considerados como ldquoum

campo de trabalho de caraacuteter criacutetico com relaccedilatildeo agrave tradicional imagem

53 Nesse contexto desenvolveu-se o chamado Pensamento Latino-americano

sobre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (PLACTS) que tinha foco na elaboraccedilatildeo

da Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia (PCT) dos paiacuteses latino-americanos em

contraposiccedilatildeo aos chamados paiacuteses avanccedilados (DAGNINO THOMAS

DAVYT 1996)

75

essencialista da ciecircncia e da tecnologiardquo (CASSIANI LINSINGEN

GIRALDI p 61 2011)

Linsingen (2007) destaca ainda que os ECTS latino-americanos

contestam percepccedilotildees sociais hegemocircnicas da ciecircncia e tecnologia muito

presentes em diferentes campos de conhecimento e com influecircncia nas

poliacuteticas puacuteblicas desses paiacuteses Nessas percepccedilotildees ldquotanto ciecircncia

quanto tecnologia e por extensatildeo todas as aacutereas teacutecnicas que lhes datildeo

sustentaccedilatildeo deveriam estar alheias a interesses opiniotildees e valoraccedilotildeesrdquo

(LINSINGEN 2007 p 03)

Em contraposiccedilatildeo a essa percepccedilatildeo os ECTS latino-americanos

consideram como jaacute apontei aspectos filosoacuteficos antropoloacutegicos

poliacuteticos e socioloacutegicos da ciecircncia e da tecnologia bem como elementos

educacionais com elas envolvidos A relaccedilatildeo desses estudos com

processos educacionais considera reflexotildees sobre condicionamentos

sociais poliacuteticos econocircmicos e ambientais nas decisotildees e nos processos

cientiacuteficos e tecnoloacutegicos compreendidos como praacuteticas sociais natildeo

neutras e dependentes de contextos histoacutericos (CASSIANI

LINSINGEN 2010)

Em termos educacionais e nessa direccedilatildeo concordo com

Linsingen (2007) quando ele destaca que a Educaccedilatildeo CTS tem

preocupaccedilatildeo com uma abordagem educacional que seja contextualizada

(como ensinar o que eacute importante para esse sujeito nessa situaccedilatildeo

especiacutefica) que problematize a noccedilatildeo de transferecircncia de

conhecimentos (como mobilizarmos para a autoria e autonomia) que

esteja em sintonia com os aspectos sociais (para quem e onde estou

falando) e comprometida em termos curriculares (o que estounatildeo estou

ensinando e por quecirc)

Dentro dessa abordagem pesquisas (destaco aqui algumas em

Educaccedilatildeo em Ciecircncias) buscam articulaccedilotildees com pressupostos da

pedagogia de Paulo Freire Os diferentes enfoques teoacutericos de autoresas

como Delizoicov (2008) Auler (2006) Auler e Delizoicov (2001)54

54 Com a intenccedilatildeo de contribuir para a construccedilatildeo de uma imagem mais realista

das atividades cientiacuteficas e tecnoloacutegicas os autores mostram uma importante

relaccedilatildeo entre CTS e a superaccedilatildeo do que eles chamam de mitos no ensino de

ciecircncias superioridade do modelo tecnocrata perspectiva salvacionista da

ciecircncia e tecnologia e determinismo tecnoloacutegico aleacutem da neutralidade da

ciecircncia e da tecnologia (ldquomito originalrdquo) grifo dos autores Auler e Delizoicov

(2001) apontam que aproximaccedilotildees com o referencial freireano podem contribuir

para a superaccedilatildeo desses mitos Tendo em vista que para Freire (1983 1987) a

educaccedilatildeo tambeacutem eacute entendida como uma leitura criacutetica do mundo os autores

destacam que ldquouma reinvenccedilatildeo da concepccedilatildeo freireana deve incluir uma

76

Nascimento e Linsingen (2006) e Cassiani Linsingen e Lunardi

(2012)55 discutem e buscam ampliar essas articulaccedilotildees Como destaca

Linsingen (2007) satildeo estimuladas possibilidades de debates que

envolvem os sentidos dos ECTS em relaccedilatildeo sobretudo agrave investigaccedilatildeo

temaacutetica freireana (temas geradores)

De maneira simplificada aponto que a perspectiva de educaccedilatildeo

dialoacutegico-problematizadora (FREIRE 1983) pode ser entendida como

um levantamento coletivo de temas relevantes para os sujeitos de modo

que o quotidiano poderia ser compreendido com vistas a sua

transformaccedilatildeo Na investigaccedilatildeo temaacutetica (FREIRE 1987) os temas

geradores estatildeo portanto relacionados com a vivecircncia dosas

educandosas e consideram os conhecimentos historicamente

produzidos

Lembremos que Freire (1987) esclarece que o que se pretende

investigar satildeo os sujeitos que se encontram envolvidos em seus temas

geradores de modo que esses uacuteltimos nos daratildeo um ldquouniverso miacutenimo

temaacuteticordquo Para o autor o conceito de tema gerador natildeo eacute uma

arbitrariedade ldquoou uma hipoacutetese de trabalho que deva ser comprovada

Se o lsquotema geradorrsquo fosse uma hipoacutetese que devesse ser comprovada a

investigaccedilatildeo primeiramente natildeo seria em torno dele mas de sua

existecircncia ou natildeordquo (FREIRE 1987 p 88)

Ao se referir agrave metodologia de investigaccedilatildeo dos temas geradores

Freire (1987) enfatiza que ldquoo tema gerador natildeo se encontra nos homens

isolados da realidade nem tampouco na realidade separada dos homens

Soacute pode ser compreendido nas relaccedilotildees homem-mundo (FREIRE 1987

p 98) Desse modo poderia ser iniciado o desenvolvimento de uma

metodologia dialeacutetica (codificaccedilatildeo e descodificaccedilatildeo) conscientizadora

atraveacutes da qual os sujeitos poderiam pensar seu mundo de modo criacutetico

Delizoicov (2008) indica que nesse sentido uma linha de accedilatildeo

seria estabelecida com o intuito de apreender e trabalhar os temas

geradores dialeticamente no transcorrer de todo o processo educativo

Considero que o destaque do autor para possibilidades dialeacuteticas da

investigaccedilatildeo temaacutetica satildeo importantes para pensarmos a complexidade

dos processos educacionais em um paiacutes do Sul tendo em vista busca por

contextos de autonomia e emancipaccedilatildeo

compreensatildeo criacutetica sobre as interaccedilotildees entre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade

dimensatildeo fundamental para essa lsquoleitura do mundorsquo contemporacircneordquo (AULER

DELIZOICOV 2001 p 09) 55 Autoresas que vivenciam essas articulaccedilotildees na praacutetica de formaccedilatildeo de

professores em Timor-Leste

77

Em conjunto com a busca por um contexto possiacutevel para que os

sujeitos possam tomar decisotildees informadas e criacuteticas em assuntos sobre

ciecircncia e tecnologia (CASSIANI LINSINGEN 2010) um dos

interesses dos ECTS e da Educaccedilatildeo CTS eacute a investigaccedilatildeo sobre

produccedilatildeo de conhecimentos e TS Portanto quando trato da Educaccedilatildeo

CTS ou na perspectiva educacional dos ECTS considero aleacutem dos

conhecimentos ldquooficiaisrdquo (i) os conhecimentos situados costumeiros

ancestrais e taacutecitos que emergem de modo bem marcado na

configuraccedilatildeo das TS e (ii) diaacutelogos entre esses conhecimentos

ecologia56 dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2007)

como mostrarei no segundo capiacutetulo

Antes disso apresento a seguir estudos latino-americanos

recentes57 que em alguma medida relacionam-se com a Educaccedilatildeo CTS

131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS

O primeiro estudo a que me refiro traz o estado da arte da

temaacutetica em Educaccedilatildeo CTS Intitulado ldquoAs abordagens teoacuterico-

metodoloacutegicas dos trabalhos apresentados no V TECSOC e no

ESOCITE4S e sua articulaccedilatildeo com o campo da Educaccedilatildeo CTSrdquo

56 Esclareccedilo que ao buscar entender o termo ldquoecologiardquo em Boaventura

considero dois aspectos O primeiro deles eacute certo cuidado com uma possiacutevel

naturalizaccedilatildeo de aspectos soacutecio-histoacutericos ao utilizar termos das Ciecircncias

Bioloacutegicas nas Ciecircncias Sociais E o segundo deles diz respeito a minha

profunda falta de expertise em Ciecircncias Naturais Nesse quadro percebo que

nas Ciecircncias Bioloacutegicas ecologia pode ser referir a pelo menos trecircs aspectos

relaccedilotildees (seres vivos e meio) interaccedilotildees (entre seres) e coexistecircncia (em

determinados ambientes) Conforme as anaacutelises propostas por Boaventura

Meneses (2014 p 93) esclarece que ldquoA ideia da ecologia denota

multiplicidades e relaccedilotildees natildeo destrutivasrdquo A autora elenca as cinco ecologias

desenvolvidas por Boaventura ecologia dos saberes (identificar outros saberes e

criteacuterios de rigor) ecologia das temporalidades (inclui vaacuterias temporalidades)

ecologia dos reconhecimentos (identificar diferenccedilas entre iguais sem

desconsiderar sua legitimidade) ecologia das transescalas (desglobalizar o local

e globalizar a diversidade) e ecologia das produtividades (recuperar e valorizar

sistemas alternativos de produccedilatildeo) assim compreendo que uma possibilidade

de leitura para o termo possa considerar um sentido de conflito e tensatildeo no qual

as contradiccedilotildees lutas e resistecircncias apareceriam e natildeo seriam silenciadas 57 Os trabalhos a que faccedilo referecircncia foram enviados ao VI Simpoacutesio Nacional

de Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (VI ESOCITE BrasilTECSOC) realizado

na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2015 e estatildeo disponiacuteveis em

httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDADE=6

78

(SILVEIRA MATOS GANHOR 2015) o artigo traz um levantamento

dos uacuteltimos encontros TECSOC e ESOCITE4S (realizados nos anos de

2013 e 2014 respectivamente) Os autores analisaram textos dos Grupos

de Trabalho (GTrsquos) de Educaccedilatildeo CTS e buscaram apreender a

perspectiva adotada os referenciais teoacutericos e as metodologias

propostas A ideia seria verificar como as visotildees estampadas nos artigos

desses GTrsquos operacionalizariam a formaccedilatildeo CTS aleacutem de seu proacuteprio

discurso ou de suas intenccedilotildees

No trabalho ldquoA participaccedilatildeo puacuteblica em Ciecircncia e Tecnologia e a

Educaccedilatildeo CTSrdquo (ldquoLa participacioacuten puacuteblica en Ciencia y Tecnologiacutea y

la Educacioacuten CTSrdquo)58 Ortega (2015) considera que a cidadania

cientiacutefica-tecnoloacutegica eacute exercida mediante mecanismos e processos de

participaccedilatildeo puacuteblica intrinsecamente relacionados com visotildees sobre

ciecircncia e tecnologia A autora destaca que existem processos de

participaccedilatildeo ex ante na Ameacuterica Latina e aponta a extensatildeo universitaacuteria

e processos de desenvolvimento de TS como exemplos de coproduccedilatildeo

de conhecimentos A partir dessas consideraccedilotildees ela busca aprofundar

articulaccedilotildees possiacuteveis entre a pedagogia criacutetica baseada no lugar e os

ECTS Tendo em vista produzir conhecimentos em Educaccedilatildeo CTS a

autora analisa um processo de formaccedilatildeo para participaccedilatildeo puacuteblica na

cidade de Campinas no estado de Satildeo Paulo

Com foco na educaccedilatildeo tecnoloacutegica o trabalho ldquoArticulaccedilotildees

entre CTS e Paulo Freire na definiccedilatildeo de objetos de educaccedilatildeo

tecnoloacutegicardquo de Niezwida (2015) analisa o contexto da educaccedilatildeo

tecnoloacutegica (o que ensinar) na Argentina A autora defende a educaccedilatildeo

tecnoloacutegica como um acircmbito potencial de intervenccedilatildeo mesmo que

indireto em questotildees de tecnocientiacuteficas59 Para isso ela propotildee que se

assumam tanto pressupostos epistemoloacutegicos e pedagoacutegicos adequados

quanto uma perspectiva distinta sobre o que eacute ser professora alunoa e

conhecimento nesse acircmbito de formaccedilatildeo

Tendo a divulgaccedilatildeo cientiacutefica como relacionada com a Educaccedilatildeo

CTS Socorro e Penido (2015) abordam espaccedilos natildeo formais de

divulgaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia no trabalho ldquoA contribuiccedilatildeo do

Instituto Kirimurecirc na divulgaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia em espaccedilos

natildeo formais da Baia de Todos os Santosrdquo Ao analisarem as

contribuiccedilotildees do Instituto as autoras realizam um levantamento e uma

anaacutelise dos meacutetodos e abordagens das praacuteticas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

58 Artigo original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 59 Na paacutegina 98 em nota de rodapeacute faccedilo algumas consideraccedilotildees sobre o uso do

termo ldquotecnocientiacuteficordquo

79

nos espaccedilos natildeo formais dos municiacutepios da Baia de Todos os Santos e as

contribuiccedilotildees na promoccedilatildeo da difusatildeo do conhecimento em ciecircncia e

tecnologia nas aacutereas das Ciecircncias da Natureza

A divulgaccedilatildeo cientiacutefica tambeacutem eacute tema do artigo de Janning

(2015) ldquoAnaacutelise dos discursos sobre ciecircncia em um livro de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica sobre formigas diaacutelogos com educaccedilatildeo CTSrdquo O autor analisa

um livro de divulgaccedilatildeo cientiacutefica sobre a vida das formigas pois no

tema haveria potencial didaacutetico para os ensinos fundamental e meacutedio

Pelo estudo de formigas seria possiacutevel desenvolver educaccedilatildeo ambiental

ao se relacionar temas como pragas agriacutecolas interaccedilotildees ecoloacutegicas e

coevoluccedilatildeo folclore e conhecimentos tradicionais Para isso o autor

utiliza os referenciais teoacuterico-metodoloacutegicos da AD de linha francesa e

contribuiccedilotildees da perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS Os resultados

mostraram que eacute possiacutevel relacionar sociedades humanas e das formigas

perceber questotildees sobre o papel do cientista do meacutetodo e do erro na

pesquisa assim como verificar como um discurso natildeo cientiacutefico se

transforma atraveacutes de efeitos de sentidos em discurso cientiacutefico no

livro analisado

O estudo intitulado ldquoEducaccedilatildeo CTS nos bacharelados

interdisciplinares em ciecircncia e tecnologia na regiatildeo nordeste do Brasilrdquo

de Lucena e Cabral (2015) traz resultados de uma pesquisa iniciada no

ano de 2010 sobre a poliacutetica do Governo Federal do Brasil de

desenvolvimento e implantaccedilatildeo de Bacharelados Interdisciplinares em

Ciecircncias e Tecnologia (BICT) O objetivo das autoras seria mapear a

presenccedila das disciplinas em humanidades nos cursos existentes na

regiatildeo Nordeste e identificar relaccedilotildees com abordagens CTS Ao

analisarem documentos oficiais projetos pedagoacutegicos e curriacuteculos entre

outros materiais elas apontam tanto para a contribuiccedilatildeo dos estudos

CTS para a formaccedilatildeo eacutetica e responsaacutevel de cientistas e engenheiros

quanto para a ampliaccedilatildeo desses estudos no espaccedilo dos BICT

Os sentidos construiacutedos sobre Educaccedilatildeo CTS por docentes em um

curso de Engenharia faz parte da anaacutelise realizada por Jacinski (2015)

No trabalho ldquoEducaccedilatildeo CTS no curso de Engenharia da Computaccedilatildeo

sentidos construiacutedos pelos docentesrdquo o autor traz resultados de uma

pesquisa qualitativa feita no curso de Engenharia de Computaccedilatildeo da

Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute (UTFPR) Nessa pesquisa

o autor articulou referenciais da Educaccedilatildeo CTS e dos ECTS com uma

perspectiva discursiva do Ciacuterculo de Bakhtin Suas conclusotildees mostram

dificuldades em abrir a caixa-preta da tecnologia para osas futurosas

engenheirosas e apontam para a permanecircncia de uma tensatildeo dialoacutegica

entre uma formaccedilatildeo que problematize os aspectos sociais da tecnologia

80

e uma organizaccedilatildeo curricular disciplinar que reitere perspectivas

deterministas e lineares da tecnologia

O trabalho ldquoA inclusatildeo do saber do catador na construccedilatildeo de

plataforma informativo-educativa em prol da reciclagem inclusivardquo de

Ventura e Andrade (2015) tem foco na gestatildeo problemaacutetica de resiacuteduos

soacutelidos em aacutereas urbanas Os autores analisam como a Plataforma

Online Interativa Passo Certo (que segundo eles eacute uma proposta

tecnoloacutegica diferenciada de aprendizagem) envolveria diretamente

catadoresas latino-americanosas em seu processo de criaccedilatildeo e

desenvolvimento Para os autores essa participaccedilatildeo teria valorizado

osas catadoresas como detentoresas de saberes imprescindiacuteveis para a

gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos

Reis (2015) parte do suposto de que assuntos controversos tais

como transgecircnicos ou ceacutelulas tronco necessitariam ser debatidos em

sociedade mas essa precisaria ter conhecimentos mais profundos (aleacutem

das informaccedilotildees veiculadas na miacutedia) e que natildeo estatildeo contemplados

pelo curriacuteculo escolar Com isso a autora apresenta o estudo ldquoA

Ciecircncia vai agrave Sociedade Projeto de Extensatildeo Universitaacuteria Oficinas

Filosoacuteficas em Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS)rdquo que objetiva

levar alunosas do ensino meacutedio da cidade de Campos dos Goytacazes

(RJ) a refletirem sobre as consequecircncias dos avanccedilos tecnoloacutegicos O

projeto desenvolvido na Universidade Estadual do Norte Fluminense

Darcy Ribeiro (UENF) resultou em dados que segundo a autora podem

levar agrave compreensatildeo das concepccedilotildees que osas alunosas possuem sobre

ciecircncia e universidade

O trabalho de Silva (2015) e colegas intitulado ldquoDiscussotildees

educacionais em CTS relato de experiecircncia em sala de aula na visatildeo

discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Tecnologia da UTFPRrdquo

compartilha experiecircncias docentes sobre praacuteticas de ensino na

perspectiva das muacuteltiplas visotildees disciplinares relacionadas agraves discussotildees

CTS Os autores fizeram um levantamento de dados e de documentaccedilotildees

de suas experiecircncias em sala de aula e consideraram a experiecircncia

discente como ponto de partida para a percepccedilatildeo dos dilemas

disciplinares na academia e da problemaacutetica CTS na universidade Com

isso integram tanto as formaccedilotildees especificas de graduaccedilatildeo quanto as

linhas e temaacuteticas de pesquisa de cada docente e discente

A educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTS eacute tema do estudo de

Gomes (2015) No artigo ldquoO potencial das controveacutersias

sociocientiacuteficas para a educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTSrdquo a

autora reflete sobre a necessidade de apresentar e discutir os problemas

ambientais no acircmbito escolar (educaccedilatildeo ambiental) de modo que

81

cidadatildesatildeos possam ter consciecircncia dos problemas e das formas de

solucionaacute-los A ideia seria resgatar aspectos da trajetoacuteria histoacuterica da

inserccedilatildeo e aperfeiccediloamento da educaccedilatildeo ambiental no acircmbito escolar

que acabou culminando na proposiccedilatildeo e desenvolvimento de pesquisas

sobre a viabilidade e importacircncia do uso de controveacutersias

sociocientiacuteficas na educaccedilatildeo escolar

O artigo de Bueno (2015) intitulado ldquoCiecircncia tecnologia e

interdisciplinaridade numa perspectiva histoacuterico-criacutetica aspectos

pedagoacutegicos na formaccedilatildeo docenterdquo traz um relato de experiecircncia em um

curso de Licenciatura interdisciplinar em Ciecircncias Naturais em uma

universidade puacuteblica A autora utiliza uma abordagem pedagoacutegica

histoacuterico-criacutetica para mostrar aspectos epistemoloacutegicos na formaccedilatildeo

docente e destaca a dimensatildeo da tecnologia presente na organizaccedilatildeo do

trabalho pedagoacutegico Eacute enfatizada a abordagem interdisciplinar

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo docente fundamentada em uma pedagogia

progressista e em perspectivas criacuteticas da ciecircncia e da tecnologia

Um olhar sobre museus existentes em paiacuteses latino-americanos

que possuam exposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees

preacute-colombianas eacute a intenccedilatildeo do estudo de Gorri (2015) no artigo

ldquoExposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees preacute-

colombianas em museus latino-americanos e o Ensino de Ciecircncias e

Tecnologiasrdquo O trabalho objetiva investigar em quais museus de paiacuteses

latino-americanos encontram-se exposiccedilotildees destinadas a temaacuteticas em

ciecircncia e tecnologia para compreender como elas podem contribuir para

problematizaccedilotildees sobre a dominacircncia e a neutralidade concedidas aos

conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos a partir da consolidaccedilatildeo do

contexto histoacuterico da modernidade-colonialidade

A colonialidade tambeacutem eacute debatida no trabalho de Diniz (2015)

ldquoDiaacutelogos e olhares sobre CTS em Timor-Leste uma experiecircncia no

curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da UNTLrdquo A autora apresenta um relato

sobre experiecircncias vivenciadas a partir da co-docecircncia na disciplina

Ciecircncia Tecnologia e Ciecircncias dos Valores Humanos ministrada para

estudantes do 6ordm periacuteodo do curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da Faculdade de

Ciecircncias Sociais da UNTL Com isso ela destaca que um dos desafios

encontrados foi a dificuldade de professoresas timorenses e

brasileirosas para interpretar e compreender as ementas das disciplinas

(muitas vezes traduzidas da liacutengua indoneacutesia) E pontua que a Educaccedilatildeo

CTS natildeo deveria ser tratada apenas nessa disciplina mas

transversalmente nas demais disciplinas da proposta curricular do curso

Diferentes sentidos produzidos sobre tecnologia no Norte e no

Sul tambeacutem satildeo tema do estudo de Trevisan (2015) No trabalho

82

ldquoCiecircncia teacutecnica e tecnologia em dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias

Sociaisrdquo o autor considera que o dicionaacuterio eacute uma tecnologia que pode

funcionar como instrumento pedagoacutegico e testemunho valioso para a

compreensatildeo de diferentes interpretaccedilotildees Seu estudo investigou a

dicionarizaccedilatildeo dos termos ciecircncia teacutecnica e tecnologia em 42

dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais publicados em doze paiacuteses

do Norte e em 19 dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais

publicados em oito paiacuteses do Sul totalizando 61 obras publicadas entre

os anos de 1905 e 2010 O objetivo seria a comparaccedilatildeo da

dicionarizaccedilatildeo ou natildeo dos termos objetos da investigaccedilatildeo e das

definiccedilotildees presentes nos termos dicionarizados para identificar se

haveria questotildees que apontem para especificidades regionais

O trabalho ldquoGeneacutetica raccedila e poliacuteticas de accedilotildees afirmativas a

partir de questotildees sociocientiacuteficasrdquo (DIAS SERRA E SEPULVEDA

ARTEAGA 2015) parte da verificaccedilatildeo de que os discursos cientiacuteficos e

praacuteticas das tecnociecircncias estiveram comprometidos com processos

sociais de dominaccedilatildeo entre povos de modo a compor complexas

relaccedilotildees de poder Os autores consideram que conhecimentos derivados

das Ciecircncias Naturais contribuiacuteram para criaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo do

conceito de raccedila ao longo da histoacuteria com objetivos expliacutecitos de

inferiorizaccedilatildeo marginalizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo eacutetnicas A partir de uma

estrateacutegia pedagoacutegica derivada da abordagem educacional CTSA

objetivam construir uma questatildeo sociocientiacutefica com base no debate

entre grupos sociais diversos a respeito dos resultados de estudos sobre a

composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo brasileira e suas implicaccedilotildees para as

poliacuteticas de accedilotildees afirmativas A ideia seria promover uma educaccedilatildeo das

relaccedilotildees eacutetnico-raciais

No artigo de Maurici (2015) ldquoHaacute controveacutersias cientiacuteficas na

Prova do ENEM Contribuiccedilotildees dos Estudos CTS agrave Educaccedilatildeordquo satildeo

analisadas as questotildees relacionadas agrave disciplina de Fiacutesica da prova

amarela do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) do ano de 2013

O autor busca identificar a presenccedila ou natildeo de temas que envolvem

controveacutersias cientiacuteficas a natureza dessas controveacutersias que conteuacutedos

satildeo favorecidos e o que elas contribuem para uma educaccedilatildeo

emancipadora Com isso pretende evidenciar a contribuiccedilatildeo dos estudos

das controveacutersias cientiacuteficas no ensino de ciecircncias de modo a ampliar a

visatildeo dosas alunosas sobre relaccedilotildees CTS

Com essa breve apresentaccedilatildeo de alguns estudos recentes em

Educaccedilatildeo CTS pretendo mostrar diversas aproximaccedilotildees com a questatildeo

Mas acima de tudo busco evidenciar o quanto pode ser simplista a

avaliaccedilatildeo generalizada de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com esses

83

estudos pois haacute um interesse na temaacutetica da Educaccedilatildeo CTS ainda que a

interaccedilatildeo com a PCT nacional ldquoande a passos lentosrdquo Uso aspas e

posiciono-me em referecircncia ao artigo de Dagnino Silva e Padovanni

(2011) que haacute algum tempo questionaram a lentidatildeo da Educaccedilatildeo

CTS

Nesse artigo os autores examinam relaccedilotildees entre a Educaccedilatildeo

CTS e a PCT Para eles as causas da lentidatildeo da Educaccedilatildeo CTS podem

ser analisadas desde uma perspectiva de um jogo poliacutetico entre os

sujeitos envolvidos Sujeitos que satildeo organizados de acordo com a

tipologia60 do coraccedilatildeo vermelho versus coraccedilatildeo cinza e mente vermelha

versus mente cinza Em resumo os autores destacam a necessidade de

engajamento dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo CTS (que teriam o

coraccedilatildeo vermelho em sua maioria) na problematizaccedilatildeo do conhecimento

em ciecircncia e tecnologia que eacute produzido (algo que quem teria a mente

cinza natildeo faria) E assim apontam as potencialidades da perspectiva da

AST

Segundo a concepccedilatildeo da adequaccedilatildeo socioteacutecnica a

tecnociecircncia existe desde que reprojetada (ou

usando um anglicismo corrente redesenhada)

poderia servir de suporte a diferentes estilos de vida

cada um refletindo diferentes propostas a respeito

do bem-viver Isso resultaria em escolhas de

projetos diferentes dado que orientadas por outros

interesses e valores (alternativos) (DAGNINO

SILVA PADOVANNI 2011 p 121)

Com isso destaco que o que os autores chamam aqui de AST eacute

basicamente a perspectiva da TCT que examinarei adiante Como

leitores de Feenberg eles apontam a necessidade de criticar o

determinismo tecnoloacutegico Portanto propotildeem que a AST seja adotada

por uma via filosoacutefica para ldquomudar o comportamento apaacutetico da

comunidade da ECTSrdquo (DAGNINO SILVA PADOVANNI 2011 p

122)

Tendo em vista a metaacutefora dos autores identifico-me com a

mente e o coraccedilatildeo vermelhos ou seja considero a Educaccedilatildeo CTS em

suas possibilidades e limites para transformar a realidade superando

desigualdades sociais econocircmicas culturais e poliacuteticas Contudo natildeo

60 O vermelho estaria relacionado com uma perspectiva de inclusatildeo social

justiccedila equidade e sustentabilidade enquanto o cinza se referiria agrave adequaccedilatildeo

ao conhecimento tecnocientiacutefico produzido

84

apoio o suposto de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo

CTS Desse modo examino possibilidades emancipatoacuterias (que visam a

autonomia dos sujeitos e a abertura agrave alteridade) em processos

educacionais contextualizados e mobilizados para diaacutelogos e trocas de

aprendizagens agrave moda da ecologia dos saberes de Santos e Meneses

(2010) e Santos (2007)

A seguir apresento quem satildeo os sujeitos (natildeo apaacuteticos natildeo

acomodados ativos e integrados na construccedilatildeo de conhecimentos e na

compreensatildeo do domiacutenio intelectual da teacutecnica - politecnia) que

considero nesta tese

14 JUVENTUDES

Ao destacar minhas perspectivas sobre educaccedilatildeo em diferentes

autoresas de modo a chegar em uma ideia sobre politecnia desenvolvi

entendimentos sobre o que penso que possa ser uma educaccedilatildeo

transformadora Refleti tambeacutem sobre essas possibilidades segundo a

ECT e a Educaccedilatildeo CTS Jaacute expus minhas concepccedilotildees sobre o sujeito do

conhecimento (ativo integrado natildeo acomodado natildeo abstrato e natildeo

homogecircneo) que aparecem aqui como as juventudes que compotildeem os

CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul Nesse momento portanto

reflito sobre para quem pensei essa educaccedilatildeo de modo concreto nesta

tese

Antes de tratar de relaccedilotildees entre juventudes e escola exploro

brevemente alguns sentidos sobre o termo ldquojuventudesrdquo Muitosas

autoresas examinam o tema e existe uma produccedilatildeo teoacuterica consistente

na aacuterea No entanto natildeo eacute meu propoacutesito recuperar todos os debates

sobre juventudes tampouco elaborar uma definiccedilatildeo para ele Ao

compreender a complexidade do tema busco demarcar o sentido geral

que eacute aqui utilizado

Diferentes aacutereas de produccedilatildeo de conhecimento procuram definir o

que seria a ldquojuventuderdquo Destaco trecircs perspectivas a saber (i) Ciecircncias

Meacutedicas na qual se estabelece o termo ldquopuberdaderdquo para nomear as

transformaccedilotildees em uma crianccedila que se torna adulto (ii) Psicologia

Psicanaacutelise e Pedagogia nas quais o termo ldquoadolescecircnciardquo marca

mudanccedilas na personalidade mente e comportamento do sujeito que se

torna adulto e (iii) Sociologia na qual o termo ldquojuventuderdquo costuma

expressar o interstiacutecio entre as funccedilotildees sociais da infacircncia e as funccedilotildees

sociais do adulto (GROPPO 2000)

85

Adoto aqui o uso que a Sociologia faz do termo que natildeo eacute

restrito a determinaccedilotildees de faixas etaacuterias61 considera fatores sociais

culturais e econocircmicos aleacutem das posiccedilotildees que os sujeitos ocupam na

sociedade em um momento de construccedilatildeo de autonomia Utilizo o termo

no plural ldquojuventudesrdquo para marcar a heterogeneidade e diversidade

que acredito estar ali representada Concordo com Souza (2003) para

quem

A juventude deve ser encarada pois como uma

categoria histoacuterica Isso implica natildeo falar

genericamente da juventude como se fosse um

bloco homogecircneo mas sim uma categoria

segmentada estudantes e natildeo estudantes

trabalhadores e natildeo trabalhadores homens e

mulheres moradores das grandes e das pequenas

cidades ou ainda zona rural A condiccedilatildeo juvenil

portanto natildeo soacute varia de sociedade para

sociedade mas no interior de uma mesma

formaccedilatildeo social ao longo do tempo de grupo para

grupo ou de classe para classe (SOUZA 2003 p

45-46)

Portanto eacute possiacutevel entender que ao falarmos sobre juventudes

estamos a tratar tanto de um momento de transiccedilatildeo (mas que natildeo se

reduz a uma mera passagem) quanto de um processo que sofre

influecircncia do contexto soacutecio-histoacuterico no qual se desenvolve e que tem

suas especificidades na constituiccedilatildeo dos sujeitos

Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do puacuteblico jovem o socioacutelogo brasileiro

Juarez Dayrell (1996) tem no contexto soacutecio-histoacuterico um fator

importante para relacionar juventudes e escola Esse autor defende a

escola como espaccedilo sociocultural inserida na cultura onde os sujeitos

teriam relevacircncia Para ele eacute importante resgatar o papel dos sujeitos na

trama social que constitui a escola enquanto instituiccedilatildeo

Embora eu natildeo siga estritamente sua perspectiva sobre a escola

os relatos da pesquisa do autor com professoresas de cursos noturnos

em escolas da rede puacuteblica de ensino da cidade de Belo Horizonte nos

anos 1990 mostram alguns caminhos para a compreensatildeo das

juventudes

61 Conforme a UNESCO (2004) uma definiccedilatildeo predominantemente etaacuteria

abrangeria o ciclo que vai dos 15 aos 29 anos

86

Dayrell (1996) aponta que as juventudes nas escolas nesse

contexto precisam ser compreendidas

como sujeitos soacutecio-culturais () implica em

superar a visatildeo homogeneizante e estereotipada da

noccedilatildeo de aluno dando-lhe um outro significado

Trata-se de compreendecirc-lo na sua diferenccedila

enquanto indiviacuteduo que possui uma historicidade

com visotildees de mundo escalas de valores

sentimentos emoccedilotildees desejos projetos com

loacutegicas de comportamentos e haacutebitos que lhe satildeo

proacuteprios (DAYRELL 1996 p05)

Verifiquei muitas descriccedilotildees do autor no meu quotidiano no

IFRS As juventudes com as quais convivi naquele ambiente tambeacutem

estatildeo presentes em alguma medida na descriccedilatildeo do autor

Eacute a convivecircncia rotineira de pessoas com

trajetoacuterias culturas interesses diferentes que

passam a dividir um mesmo territoacuterio pelo menos

por um ano Sendo assim formam-se subgrupos

por afinidades interesses comuns etcEacute a

formaccedilatildeo de panelinhas quase sempre

identificadas por algum dos estereoacutetipos correntes a

turma da bagunccedila os CDF os mauricinhos ()

Com as conversas e brincadeiras ocorrendo

preferencialmente no interior de cada um deles

cada grupo tem regras e valores proacuteprios Ao

mesmo tempo haacute vaacuterios alunos soltos que

parecem natildeo se ligar a nenhum dos grupos ou

porque natildeo se identificam ou porque de alguma

forma satildeo excluiacutedos (DAYRELL p 15 1996)

De modo que eacute interessante nesse momento retomar alguns

dados apresentados na introduccedilatildeo desta tese e que podem ajudar em uma

visualizaccedilatildeo dosas estudantes com osas quais interagi na pesquisa

Trabalhei com todosas estudantes matriculados (e com frequecircncia) nos

primeiros anos dos trecircs CTIEM oferecidos nos turnos matutino e

vespertino no Cacircmpus Caxias do Sul Satildeo eles Curso Teacutecnico em

Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTFMIEM) Curso

87

Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino Meacutedio (CTPIEM) e Curso

Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTQIEM)62

A seguir apresento dados quantitativos que tentaratildeo durante o

texto trazer aspectos qualitativos para a anaacutelise

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo63

Cursoturno Feminino Masculino Total

TFMManhatilde 02 30 32

TFMTarde 05 23 28

TPManhatilde 19 11 30

TPTarde 22 08 30

TQManhatilde 12 20 32

TQTarde 20 12 32

Total 80 104 184

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Por hora a partir da tabela 1 acima eacute possiacutevel verificar que a

distribuiccedilatildeo de estudantes por cursos e turnos eacute similar e que a

quantidade de alunos (56) eacute levemente maior que a de alunas (44)

No TFM nos dois turnos haacute predomiacutenio de alunos (53) com apenas 07

alunas Enquanto no TP tambeacutem no somatoacuterio dos dois turnos verifico

41 alunas e 19 alunos No contexto maior do Cacircmpus de Caxias do Sul

a partir de dados de 2015 verifiquei o registro de 553 de estudantes

do sexo masculino e 447 do feminino

Dentro do quadro geral de estudantes do IFRS no que diz

respeito a necessidades especiais meus sujeitos seguem o padratildeo ali

apresentado conforme graacutefico 2 abaixo com menos de 5 de

estudantes com alguma necessidade especial declarada (dados de 2015)

62 Daqui por diante CTFMIEM = TFM CTPIEM = TP e CTQIEM = TQ 63 Nos primeiros anos dos CTIEM natildeo fiz uma discussatildeo preliminar sobre sexo

identidade de gecircnero e orientaccedilatildeo sexual por isso na coleta de dados solicitei o

sexo de nascimento dosas estudantes

88

Graacutefico 2 - Necessidades especiais64 entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Com esses dois destaques que faccedilo nesse momento mais que

tentar apresentar as juventudes com as quais interagi procuro mostrar as

situaccedilotildees que eu encontrava em sala de aula e segundo as quais a

pesquisa se desenvolveu Ressalto que esses nuacutemeros natildeo pretendem

silenciar as diferenccedilas que se apresentam em sala de aula As discussotildees

do terceiro capiacutetulo (com o exame de outros dados) pretendem

justamente evidenciaacute-las

Concordo com Dayrell (2007) no ponto em que ele alerta para o

fato de que as relaccedilotildees entre juventudes e escola natildeo satildeo lineares de

causa e efeito satildeo mais complexas pois fazem parte das mudanccedilas

profundas que ocorrem na sociedade Para o autor a socializaccedilatildeo ocorre

em muacuteltiplos espaccedilos e tempos o que implica em reconhecer que a

dimensatildeo educativa natildeo se reduz agrave escola e que as propostas educativas

para jovens natildeo precisam acontecer dominadas pela loacutegica escolar

Desse modo natildeo ignoro que os sentidos sobre tecnologia que eu

busco examinar circulam (satildeo debatidos) em um espaccedilo e entre sujeitos

posicionados soacutecio-historicamente Assim passo agrave reflexatildeo de como

efetivamente na praacutetica do ensino de Sociologia no ensino meacutedio

existiriam possibilidades de transformar sentidos sobre tecnologias entre

essas juventudes Para isso apresento a seguir consideraccedilotildees sobre o

ensino de Sociologia no ensino meacutedio

64 Fiacutesicas e cognitivas

89

15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO

Minha intenccedilatildeo de verificar possibilidades de transformar

sentidos sobre tecnologia no ensino meacutedio pode ser realizada segundo

minha aacuterea de atuaccedilatildeo a Sociologia Nas reflexotildees que permeiam

minhas atividades docentes as seguintes questotildees satildeo constantes Por

que ensinar O que ensinar Como ensinar Como mobilizar para a

aprendizagem O que eu aprendi O que eleselas aprenderam O que

foi esquecido Como transformar sentidos Como avaliar essa

transformaccedilatildeo65

Junto a isso mantenho certa vigilacircncia para organizar modos

significativos de propor uma transposiccedilatildeo didaacutetica relevante aleacutem de

buscar relacionar minhas ideias com uma leitura criacutetica das Orientaccedilotildees

Curriculares para o Ensino Meacutedio-Sociologia (OCEM-Sociologia) da

proposta curricular Liccedilotildees do Rio Grande da Lei de Diretrizes e Bases

da Educaccedilatildeo Nacional (LDB) e dos Paracircmetros Curriculares Nacionais

(PCNrsquos)

Desse modo alguns princiacutepios fundamentais do ensino de

Sociologia no ensino meacutedio como os princiacutepios epistemoloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento satildeo agora considerados Moraes e

Guimaratildees (2010) fazem uma leitura das OCEM-Sociologia e destacam

que o estranhamento se relaciona com questotildees do tipo Por que eacute

assim Sempre foi assim Eacute assim em outros lugares Portanto

estranhar se refere agrave admiraccedilatildeo do desconhecido ou inesperado

por achar estranho ao perceber (algueacutem ou algo)

diferente do que se conhece ou do que seria de se

esperar que acontecesse daquela forma por

surpreender-se assombrar-se em funccedilatildeo do

desconhecimento de algo que acontecia haacute muito

tempo por sentir-se incomodado ou ter sensaccedilatildeo

de incocircmodo diante de um fato novo ou de uma

nova realidade por natildeo se conformar com alguma

coisa ou com a situaccedilatildeo em que se vive natildeo se

acomodar rejeitar (MORAES GUIMARAtildeES

2010 p 46)

65 Retornarei a essas questotildees na discussatildeo de resultados no capiacutetulo 3 onde as

questotildees acerca de ldquopara quemrdquo e ldquoonderdquo ensinar que jaacute foram apresentadas no

toacutepico sobre juventudes retornaratildeo

90

Assim compreendo que o estranhamento eacute um passo significativo

na mobilizaccedilatildeo para aprender e transformar a realidade social que se

apresenta Algo que jaacute destaquei ao tratar de Paulo Freire Vejo o

princiacutepio da desnaturalizaccedilatildeo de modo similar

A desnaturalizaccedilatildeo como o nome indica prevecirc que a

compreensatildeo de fenocircmenos sociais seja independente de explicaccedilotildees de

origem natural Ou seja os fenocircmenos sociais tecircm origem soacutecio-

histoacuterica que resultam de relaccedilotildees sociais

Haacute uma tendecircncia sempre recorrente de se

explicarem as relaccedilotildees sociais as instituiccedilotildees os

modos de vida as accedilotildees humanas coletivas ou

individuais a estrutura social a organizaccedilatildeo

poliacutetica etc com argumentos naturalizadores

Primeiro perde-se de vista a historicidade desses

fenocircmenos isto eacute que nem sempre foram assim

segundo que certas mudanccedilas ou continuidades

histoacutericas decorrem de decisotildees e essas de

interesses ou seja de razotildees objetivas e humanas

natildeo sendo fruto de tendecircncias naturais

(MORAES GUIMARAtildeES 2010 p 47)

Acredito que uma concepccedilatildeo problematizadora e dialoacutegica da

educaccedilatildeo estaacute relacionada com tais princiacutepios epistemoloacutegicos Minha

intenccedilatildeo com o ensino de Sociologia baseado em tais princiacutepios eacute a de

que atraveacutes das atitudes de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (o que

chamo de perspectiva criacutetica na qual possamos compreender que aquilo

que resulta da obra humana pode ser visto como produto da accedilatildeo de

sujeitos histoacutericos e natildeo como determinaccedilatildeo natural ou iluminaccedilatildeo

divina) osas estudantes possam

(i) transformar sentidos problemaacuteticos sobre tecnologia

(ii) considerar suas possibilidades de para aleacutem de participar de

debates tecnoloacutegicos e cientiacuteficos promover novas questotildees sobre esses

assuntos e

(iii) visualizarem possibilidades de emancipaccedilatildeo social nesse

processo de autoria

De modo que se perguntem o que ciecircncia e tecnologia tecircm a ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a

esses temas entre outras tantas reflexotildees possiacuteveis Acredito que essa

intenccedilatildeo estaacute de acordo (sem desconsiderar criacuteticas) com os documentos

oficiais supracitados que preveem a organizaccedilatildeo dos componentes

curriculares da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil

91

Eacute importante destacar que atividades com questotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas em sala de aula natildeo satildeo exatamente novidade e tornaram-se

mais frequentes nas uacuteltimas deacutecadas impulsionadas pelos ECTS A

partir da deacutecada de 1970 esses estudos se consolidaram como campos

de reflexatildeo sobre condicionamentos sociais poliacuteticos econocircmicos e

ambientais nas decisotildees e nos processos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos

(CORREcircA GEREMIAS 2015)

Alguns debates atuais no campo dos ECTS propotildeem tratar as

relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e os sujeitos de modo abrangente e

com foco didaacutetico nos estudos de caso por exemplo Os socioacutelogos

britacircnicos Harry Collins e Trevor Pinch (2010a 2010b) que jaacute

mencionei trazem contribuiccedilotildees em relaccedilatildeo agrave abertura de oportunidades

a diferentes sujeitos para se pensar sobre ciecircncias e tecnologias

Segundo esses autores o objetivo de suas anaacutelises natildeo eacute oferecer

poliacuteticas ou dizer aos leitores como devem se posicionar contra ou a

favor de tal tecnologia mas criar um espaccedilo para pensar essas questotildees

Seus estudos remetem a episoacutedios de questotildees controversas em ciecircncia e

tecnologia marcantes do passado e do presente CORREcircA GEREMIAS

2015) De acordo com esses autores ldquoreflexos autoritaacuterios acompanham

a tendecircncia a enxergar a ciecircncia e a tecnologia como misteriosas ndash

segredos de uma casta privilegiada como sacerdotes com acesso

especial a um conhecimento bem aleacutem do raciociacutenio comumrdquo

(COLLINS PINCH 2010b p08)

Embora natildeo sejam meu referencial teoacuterico penso que os

episoacutedios relatados por Collins e Pinch (2010a 2010b) podem ser

usados nas salas de aula para mobilizar estudantes a questionar a

relevacircncia da ciecircncia e da tecnologia na sua vida entre muitas outras

apropriaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer Para isso seria interessante aleacutem do

resgate histoacuterico sobre o desenvolvimento de artefatos propor

problematizaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees sociais de sua produccedilatildeo e

adoccedilatildeo

Para finalizar66 meus apontamentos sobre o ensino de Sociologia

no ensino meacutedio destaco os debates acerca de estrateacutegias de ensino Um

modelo usual eacute apresentado no quadro 1 abaixo

66 Natildeo tratarei do histoacuterico da recente obrigatoriedade do ensino de Sociologia

juntamente com Filosofia no ensino meacutedio brasileiro Leituras aprofundadas a

esse respeito podem ser encontradas em MEIRELLES M et al (Orgs) Ensino

de Sociologia Trabalho Ciecircncia e Cultura Porto Alegre EvangrafLAVIECS

2013a MEIRELLES M et al (Orgs) O ensino de Sociologia no RS

Repensando o lugar da Sociologia Porto Alegre EvangrafLAVIECS 2013b

92

Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia

Fonte (ABREU 2009)

Contudo para aleacutem dessas divisotildees estanques penso que o

contexto da sala de aula dosas estudantes (sua situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica

e suas histoacuterias de vida) dos CTIEM em questatildeo e da temaacutetica a ser

discutida deva ser considerada para uma opccedilatildeo estrateacutegica efetiva Em

geral compreendo que o ensino de Sociologia pode ser inicialmente

desenvolvido numa articulaccedilatildeo entre as perspectivas de Carvalho

(2004) (origens pensadores e atualidade) e de Tomazi (2010) (teorias

conceitos e temas)

Desse modo acredito que minha proposta de problematizar

questotildees sobre tecnologia considera oa estudante na construccedilatildeo de seus

proacuteprios conhecimentos (autonomia) Isso fica presente no objetivo de

mobilizaacute-los para aleacutem de propor a criacutetica buscar modos de transformar

visotildees que distanciam compreensotildees sobre tecnologia do seu quotidiano

(emancipaccedilatildeo) A seguir destaco aspectos importantes nessa construccedilatildeo

tendo em vista a mobilizaccedilatildeo para a autoria

93

16 AUTORIA

Outro ponto importante nesta tese eacute apresentar alguns elementos

para debater a questatildeo da autoria Conforme Hollanda (2010) uma ideia

de autoria tal qual a utilizada geralmente na atualidade tem origem

aproximadamente apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa (1789-1799) com a

ascensatildeo do individualismo e da economia de mercado Naquele

contexto as primeiras leis reguladoras da propriedade intelectual

(copyright-inglesa e droit dauteur-francesa) foram elaboradas de modo

a considerar o debate acerca das disputas entre o direito dos sujeitos e o

interesse puacuteblico (HOLLANDA 2010)

Em termos de produccedilatildeo teoacuterica Hollanda (2010) destaca que o

filoacutesofo francecircs Michel Foucault (1926-1984) eacute fundamental no debate

sobre autoria sobretudo por seu texto do ano de 1969 ldquo O que eacute um

autorrdquo (Quest un auteur) Para a autora nessa obra ldquoFoucault desloca

a ideia essencialista da existecircncia real de uma autoria para a noccedilatildeo de

funccedilatildeo do autor Ou seja a autoria eacute uma noccedilatildeo construiacuteda

historicamente e existe apenas em sua funcionalidade cultural e

comercialrdquo (HOLLANDA 2010 sp)

No que diz respeito agrave educaccedilatildeo Juacutenior (2013) trata de autoria na

produccedilatildeo de textos acadecircmicos a partir da noccedilatildeo de moldura jaacute utilizada

por estudiosos de Artes Plaacutesticas Ele entende a autoria como um

complexo de componentes moldurais ldquodemarcadores de sentido entre o

que estaacute lsquoditorsquo pela obra e pode ser lido desde lsquodentrorsquo da moldura e

aquilo que estaacute dito pela obra fora da moldurardquo (JUacuteNIOR p 233) 67

Aleacutem disso Juacutenior (2013) natildeo compreende a autoria como um atributo

individual mas como um componente social fundamental nos processos

de produccedilatildeo de conhecimentos

Sem ignorar a gecircnese e a densidade teoacuterica do tema da autoria em

diversas aacutereas de conhecimento o foco de minhas reflexotildees nesse

momento eacute investigar de que maneira e em que medida eacute possiacutevel

promover a autoria segundo uma visatildeo criacutetica de TS em ambientes

educacionais Como eu relatei na introduccedilatildeo essa questatildeo tomou

contornos mais definidos a partir de minhas interaccedilotildees com docentes e

discentes da UNTL em Timor Leste Contudo antes disso o tema da

67 Assim a autoria seria algo como um demarcador simboacutelico de espaccedilos de

circulaccedilatildeo de sentidos nas quais a dialeacutetica entre as propriedades

ldquointramolduraisrdquo e os componentes ldquoextra-molduraisrdquo se expressariam

(JUacuteNIOR 2013 p 239)

94

autoria tornou-se objeto de minhas reflexotildees devido a aproximaccedilotildees que

tive com as leituras no grupo DiCiTE

Em pesquisas realizadas por integrantes do grupo existem

discussotildees voltadas agrave perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS

(CASSIANI LINSINGEN 2010) que buscam contribuiccedilotildees da AD

francesa e de abordagens de educaccedilatildeo criacutetica como as de Paulo Freire

por exemplo Um dos elementos presentes nos estudos do grupo diz

respeito a construir processos formativos que considerem a questatildeo da

autoria e possibilitem ldquomaior inserccedilatildeo social das pessoas no sentido de

se tornarem aptas a participarem dos processos de tomadas de decisotildees

conscientes e negociadas em assuntos que envolvam ciecircncia e

tecnologiardquo (LINSINGEN 2007 p 13)

Uma ideia geral que perpassa tais pesquisas eacute a de que atraveacutes do

conceito de autoria seria possiacutevel relacionar posiccedilotildees dos sujeitos nos

processos de ensino-aprendizagem com os sentidos produzidos a partir

dessas posiccedilotildees (GIRALDI 2010 CASSIANI GIRALDI

LINSINGEN 2012) ldquoAo assumir a posiccedilatildeo de autor o sujeito situa-se

em uma determinada posiccedilatildeo social filiando-se a uma rede de sentidos

Assim para a assunccedilatildeo da autoria eacute preciso que os processos de

ensinoaprendizagem escolar permitam a abertura de um espaccedilo de

dizerrdquo (GIRALDI 2010 p 136) Nesses espaccedilos citados pela autora

penso nas possibilidades de desenvolvimento de autonomia

Compreendo que haacute uma questatildeo de autonomia dos sujeitos

envolvida nos processos formativos participativos e conscientes citados

logo acima por Linsingen (2007) A autonomia tambeacutem faz parte das

reflexotildees de Giraldi (2010) que ao debater profundamente a questatildeo da

autoria no ensino de ciecircncias destaca a necessidade dosas estudantes

colocarem-se como sujeitos de sua aprendizagem A autora aproxima-se

de Freire (1987) e de sua criacutetica agrave educaccedilatildeo bancaacuteria de modo que vecirc

na assunccedilatildeo da autoria possibilidades de autonomia

Portanto meu interesse pelo tema da autoria e minha intenccedilatildeo de

examinar relaccedilotildees entre esta e a autonomia e a emancipaccedilatildeo social na

educaccedilatildeo tecircm origem no DiCiTE A partir de entatildeo busquei construir

sentidos sobre autoria em relaccedilatildeo a TS Para isso aleacutem de minha

experiecircncia em Timor-Leste outra circunstacircncia que foi influente diz

respeito a uma situaccedilatildeo pessoal na qual eu fui comparada agrave Aracne por

defender um trabalho autoral

95

O mito de Aracne tem muitas versotildees68 mas trata basicamente

de uma disputa entre Aracne (uma mortal habilidosa nas artes de tecer e

bordar) e a deusa romana protetora dos artesatildeos Minerva69 Nos relatos

Minerva natildeo aprecia o fato da mortal natildeo lhe dar creacuteditos por suas

habilidades como pode ser observado no trecho de diaacutelogo descrito

abaixo

ldquo() - Maacutes conveacutem agradecer sempre agrave Minerva este dom

recebido

- Ora e que meacuteritos eu teria se devo exclusivamente a ela meu

talento ndash disse Aracne - Ela que cuide de seus bordados que eu cuido

dos meusrdquo (FRANCHINI SEGANFREDO 2012 p 219)

Com isso a deusa Minerva haveria proposto uma disputa com a

mortal Aracne na qual cada uma delas deveria produzir um bordado que

seria julgado pelas ninfas (divindades mortais que auxiliavam osas

deusesas) A deusa entatildeo desenhou uma cena na qual mostrava o

descontentamento dosas deusesas ldquocom mortais presunccedilosos que se

atreviam a concorrer com elesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) enquanto

Aracne escolheu ldquoassuntos destinados a provar os enganos e erros dos

deusesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) No final da disputa o

descontentamento da deusa com a beleza do trabalho da mortal resultou

em um castigo com a transformaccedilatildeo dessa em uma aranha Contudo

Aracne mesmo metamorfoseada passou a produzir trabalhos ainda mais

belos

A criacutetica que recebi levou-me a refletir sobre como buscar

possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com a

questatildeo da autoria em ambientes educacionais de modo que estudantes

tendo em vista o mito de Aracne possam (i) desenvolver (mais) atitudes

criacuteticas (estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo) em relaccedilatildeo a conhecimentos

previamente construiacutedos (ii) pensar (mais) criticamente sobre a

importacircncia de seu posicionamento como produtores (autores) de

conhecimentos (elaborar problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicas) e (iii)

compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo humana (feita por sujeitos em

condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas determinadas) e natildeo algo ldquomaacutegicordquo e fora de

suas possibilidades de entendimento

68 No entanto em todas as versotildees da histoacuteria que examinei Aracne sempre eacute

transformada em aranha pela deusa Minerva no final do relato e permanece a

ideia de que Aracne defendia seu trabalho como autoral a despeito de ter sido

ou natildeo disciacutepula da deusa 69 Na mitologia grega Minerva eacute chamada de Atena

96

Essa reflexatildeo sobre o mito de Aracne poderia ajudar a

desmistificar as ideias de genialidade e exterioridade muitas vezes

envolvidas na produccedilatildeo de tecnologias Aleacutem disso destaco que natildeo eacute o

caso aqui de propor autoria como sinocircnimo de individualidade

privatizaccedilatildeo centralizaccedilatildeo ou mesmo de propriedade Penso que a

relaccedilatildeo com a defesa que Aracne faz da sua arte possa se referir ao

pensamento criacutetico e a autonomia sem prescindir de concepccedilotildees sobre

trabalhos em formatos colaborativos de trocas produtivas e de criaccedilatildeo

compartilhada

Acredito que desse modo a ideia de autoria tambeacutem pode estar

relacionada em alguma medida com outro movimento que me inspira70

em relaccedilatildeo agrave temaacutetica autoral qual seja o debate envolvido nos

princiacutepios baacutesicos do Software Livre (SL)71 Para compreendermos o

baacutesico desse debate eacute importante lembrarmos algumas ideias gerais

sobre computaccedilatildeo como as que apresento modestamente a seguir

Os computadores (incluiacutedos aqui notebooks tablets e etc)

precisam de programas para seu funcionamento sendo que o chamado

sistema operacional eacute o programa responsaacutevel pelo funcionamento do

computador que faz a comunicaccedilatildeo entre hardware (mouse teclado

etc) e software (aplicativos) Existem programas que possuem o coacutedigo-

fonte (conjunto de comandos em alguma das linguagens de programaccedilatildeo

existentes) aberto desenvolvido por programadoresas voluntaacuteriosas

espalhadosas na internet e distribuiacutedo sob Licenccedila Puacuteblica Geral LPG

(conhecida em inglecircs como copyleft em contraposiccedilatildeo ao copyright) O

Linux eacute um exemplo de nuacutecleo de um sistema operacional desse tipo e

faz parte dos chamados SL (SILVEIRA 2009)

Jaacute o Windows da empresa Microsoft eacute um exemplo de software

proprietaacuterio que natildeo possui coacutedigo-fonte disponiacutevel e vende uma

licenccedila para que oa usuaacuterioa possa utilizaacute-lo Conforme Silveira

(2004) o software proprietaacuterio estaacute orientado ao benefiacutecio de fabricantes

(geralmente meacutedias ou grandes empresas) e o SL se orienta

principalmente para o benefiacutecio de seussuas usuaacuteriosas Sendo que a

grande consequecircncia sociocultural e econocircmica do SL seria sua aposta

no compartilhamento de informaccedilotildees e conhecimentos

70 Verifico que tal inspiraccedilatildeo tambeacutem aparece em estudos como o de Silveira

(2009) que reflete sobre tecnologia e processos de emancipaccedilatildeo inclusive com

base nas perspectivas teoacutericas de Boaventura de Sousa Santos no que diz

respeito agrave globalizaccedilatildeo contra hegemocircnica 71 Nesta tese natildeo exploro o histoacuterico os pressupostos poliacuteticos e a eacutetica do SL

Para maiores informaccedilotildees verificar a referecircncia feita a Silveira (2004)

97

Silveira (2004) destaca que a movimentaccedilatildeo em torno do

desenvolvimento de SL comeccedilou nos anos 1980 e ganhou forccedila atraveacutes

da internet O autor classifica ldquodefensores e opositoresrdquo do SL Osas

primeirosas seriam aleacutem de interessadosas em programaccedilatildeo e sistemas

computacionais ldquoos acadecircmicos os cientistas os mais diferentes

combatentes pela causa da liberdade e mais recentemente as forccedilas

poliacutetico-culturais que apoiam a distribuiccedilatildeo mais equitativa dos

benefiacutecios da era da informaccedilatildeordquo (SILVEIRA 2004 sp) Para o autor

osas opositoresas seriam grandes empresas capitalistas usuaacuterias de um

modelo econocircmico baseado na exploraccedilatildeo de licenccedilas de uso de

software e do controle monopoliacutestico de coacutedigos essenciais dos

programas de computadores72

Richard Stallman presidente da Fundaccedilatildeo do Software Livre

(Free Software Foundation) esclarece que em contraposiccedilatildeo ao

software proprietaacuterio (defendido pelosas opositoresas do SL) o SL diz

respeito agrave liberdade dosas usuaacuteriosas para (i) executar (ii) copiar (iii)

distribuir e (iv) estudar e melhorar o software (modificaccedilatildeo)

(STALLMAN 2008)73 Essas quatro liberdades citadas se relacionam

com os princiacutepios do SL para ser socialmente justo economicamente

viaacutevel e tecnologicamente sustentaacutevel (SILVEIRA 2004) Aleacutem disso

Silveira (2004) esclarece que os projetos de SL envolvem tanto a

colaboraccedilatildeo entre sujeitos interessados quanto a descentralizaccedilatildeo do

poder de modo a preservar as quatro liberdades envolvidas com SL

Em sentido similar Raymond (1998) faz uma comparaccedilatildeo entre

dois modos diferentes de organizar o desenvolvimento de software

quais sejam cathedral (catedral) e Bazaar (bazar) O primeiro deles

identificado com o software proprietaacuterio corresponderia a maior parte

do mundo comercial e funcionaria de modo hierarquizado e

conservador Jaacute o modelo bazar baseado no mundo do Linux e

identificado com o SL natildeo possuiria uma organizaccedilatildeo formal e

apresentaria tendecircncias voluntaacuterias Por estar em constante

aprimoramento dosas usuaacuteriosas a capacidade de inovaccedilatildeo desse

uacuteltimo seria mais alta que a do modelo catedral do software proprietaacuterio

(RAYMOND 1998)

72 Contudo essa afirmaccedilatildeo natildeo estaacute fora de controveacutersias em torno do fato de

que atualmente grandes empresas capitalistas faccedilam uso de SL 73 Free software is a matter of the users freedom to run copy distribute study

change and improve the software (STALLMAN 2008) Traduccedilatildeo livre da

autora

98

Tendo em vista um sentido dinacircmico de criaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo

social penso nas possibilidades de relacionar essas caracteriacutesticas do SL

com uma perspectiva criacutetica de TS tal como examinarei no capiacutetulo 2 (a

partir da paacutegina 115) Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE e

primeira aproximaccedilatildeo com o tema da autoria procurei relacionar essa

temaacutetica com uma leitura sobre o mito de Aracne e com princiacutepios que

entendo que sejam compartilhados com desenvolvedoresas de SL

Contudo minhas vivecircncias em Timor-Leste levaram-me a refletir

sobre outros aspectos que poderiam ajudar a compor uma ideia de

autoria voltada a TS tendo em vista as perspectivas de criaccedilatildeo

colaborativa que apresentei na minha leitura sobre o mito de Aracne e

no desenvolvimento de SL Essas reflexotildees tomaram forma na

oportunidade que tive de participar de uma mesa-redonda sobre TS e

produccedilatildeo de conhecimentos na UNTL na qual debatemos sobre

perspectivas educacionais em TS como referi na introduccedilatildeo desta tese

Com alguma familiaridade com debates promovidos na aacuterea das

Ciecircncias Sociais sobre ldquoo que eacute ser brasileiroardquo minha preparaccedilatildeo para

a mesa-redonda envolveu alguns questionamentos acerca da construccedilatildeo

de identidades dosdas timorenses Minha preocupaccedilatildeo era compreender

para (com) quem eu falaria e como o tema sobre TS poderia ter

relevacircncia naquele contexto

De minhas observaccedilotildees e discussotildees com docentes e discentes da

UNTL compreendi que o fato de o paiacutes haver passado por um processo

de colonizaccedilatildeo por parte de Portugal que se seguiu a uma ocupaccedilatildeo

violenta por parte da Indoneacutesia74 estava relacionado agrave adoccedilatildeo do lema

oficial ldquopaz e desenvolvimentordquo e agrave vontade manifesta de reconstruccedilatildeo

do paiacutes Natildeo uma reconstruccedilatildeo imposta de fora mas um processo do

povo timorense com o povo timorense e para o povo timorense

Ao perceber essa demanda expressa sobretudo pelas juventudes

timorenses (estudantes da UNTL) busquei articular TS e educaccedilatildeo com

a questatildeo da autoria dentro daquilo que eacute conhecido como a eacutetica do

movimento DIY (sigla em inglecircs para Do It Yourself em portuguecircs

ldquofaccedila vocecirc mesmordquo) Conforme Carvalho (2015) o movimento DIY faz

criacutetica ao consumismo e busca a promoccedilatildeo de uma postura poliacutetica

74 Para uma inserccedilatildeo maior na compreensatildeo da histoacuteria timorense e sua relaccedilatildeo

com produccedilatildeo de conhecimentos verificar a tese de doutorado da seguinte

referecircncia PEREIRA P B (2014) O Programa de Qualificaccedilatildeo de Docentes

e Ensino de Liacutengua Portuguesa no Timor-Leste (PQLP) Um olhar para o

Ensino de Ciecircncias Naturais Tese de Doutorado Educaccedilatildeo Cientiacutefica e

Tecnoloacutegica UFSC Florianoacutepolis 2014

99

associada agrave produccedilatildeo proacutepria de bens de consumo de modo caseiro e

com baixo impacto ambiental negativo

O movimento teve forccedila em sua difusatildeo juntamente com a

cultura da muacutesica punk75 nos anos 1970 com quem compartilhava a

negaccedilatildeo do consumismo e a iniciativa de criaccedilatildeo proacutepria O DIY

incentiva a produccedilatildeo local (costura artesanato alimentos orgacircnicos de

agricultura familiar ou caseira) o consumo consciente (identificar

origem e custo ambiental) as produccedilotildees artiacutesticas colaborativas

(produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de muacutesica literatura e viacutedeo em rede) e a

autossuficiecircncia e independecircncia dos sujeitos (CARVALHO 2015)

Em relaccedilatildeo agrave autoria minha contextualizaccedilatildeo do DIY para

debates sobre desenvolvimento de TS com as juventudes timorenses

envolveu problematizar as possibilidades de articulaccedilatildeo entre os

conhecimentos locais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual via TS mas aleacutem

disso destacar o potencial criativo existente em cada um de noacutes A

intenccedilatildeo foi estabelecer um debate sobre as possibilidades que temos

para desenvolver projetos de um novo jeito do nosso jeito voltados ao

nosso contexto nas condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas atuais

A ideia ali foi mostrar que as TS tambeacutem poderiam ser vistas

dessa maneira como o jeito proacuteprio de cada sujeito em seu coletivo

pensar em seus problemas ou antes fazer a criacutetica de sua condiccedilatildeo

desnaturalizaacute-la e problematizaacute-la [com o cuidado de natildeo compreender

TS segundo perspectivas problemaacuteticas envolvidas com as Tecnologias

Apropriadas (TA)] De modo a resgatar seus conhecimentos e

75 Resumidamente punk eacute um estilo musical originaacuterio dos anos 1970 derivado

do rock tanto da Inglaterra quanto dos Estados Unidos Eacute um tipo de muacutesica

caracterizada por ter poucos acordes ser simples e raacutepida Na origem tinha

letras que expressavam a realidade de jovens pobres desempregados e sem

futuro Criticavam o governo a educaccedilatildeo os poliacuteticos a monarquia os

impostos a pobreza o desemprego e a falta de perspectiva (SHAND

KEMPIM 2002 BIVAR 1983) Um dos principais diferenciais do punk em

relaccedilatildeo ao rock progressivo que dominava a eacutepoca era que o fatilde conseguia tocar

como o seu iacutedolo porque o som era faacutecil de ser executado (BIVAR 1983) De

certa maneira o distanciamento entre fatilde e iacutedolo ou entre ouvinte e banda

diminuiacutea Desse modo o punk estava envolvido com a ideia de que ldquose vocecirc

natildeo gosta do que existe faccedila vocecirc mesmordquo (SAVAGE 2005 sp) Nesse

espiacuterito do DIY os punks comeccedilaram a criar suas proacuteprias artes plaacutesticas

roupas aacutelbuns e publicaccedilotildees editoriais (SAVAGE 2005) Sendo que a

socializaccedilatildeo independente dessas produccedilotildees eacute algo fundamental para as bandas

punk Exemplos de bandasartistas punk da primeira geraccedilatildeo Sex Pistols

Ramones The Clash Television e Patti Smith (artista solo)

100

potencialidades como sujeitos que possam ter acesso conhecimento e

possibilidade de escolha criacutetica em questotildees relacionadas ao

desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo educaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

tecnologias

Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE com o

conhecimento do tema sobre autoria passei a buscar relaccedilotildees entre essa

temaacutetica e TS Algo que me levou a uma leitura sobre o mito de Aracne

uma reflexatildeo sobre processos colaborativos envolvidos com o

desenvolvimento de SL e chegou ateacute o movimento DIY e suas

possibilidades criativas e autossuficientes Desse modo penso em

autoria ou produccedilatildeo autoral de TS tendo em vista tanto a apropriaccedilatildeo

(sujeitos envolvidos em seus problemas socioteacutecnicos) quanto a criaccedilatildeo

(sujeitos (re)constroem sentidos sobre seus sentimentos) para uma

mobilizaccedilatildeo reflexiva e criacutetica para a accedilatildeo e a transformaccedilatildeo Destaco

que natildeo eacute o caso de pensar na autoria como um estaacutegio final a ser

alcanccedilado como o resultado de um conjunto de accedilotildees Antes interessam

todos os processos de produccedilatildeo de novos sentidos Processos que natildeo

satildeo individuais porque se relacionam com o interdiscurso76

A partir dessas influecircncias nesta tese busco relacionar a

construccedilatildeo de autoria com possibilidades de desenvolvimento de

autonomia em contextos educacionais na medida em que sujeitos na

posiccedilatildeo de autoresas natildeo satildeo apenas usuaacuteriosas Uma usuaacuterioa de TS

por exemplo comumente estaria inseridoa em uma poliacutetica puacuteblica para

resoluccedilatildeo de problemas socioteacutecnicos que foi pensada de modo vertical

(desde o Estado ateacute o sujeito) que reproduziria soluccedilotildees utilizadas em

diferentes contextos e natildeo participaria necessariamente de alguma

etapa dos processos de identificaccedilatildeo e resoluccedilatildeo dos seus problemas

Jaacute o sujeito que faz parte de processos educacionais em um

contexto de construccedilatildeo de autoria sujeito autor tornaria puacuteblico que

seus problemas socioteacutecnicos satildeo importantes e que eacute relevante a busca

coletiva de soluccedilotildees Ou seja produzir e reconhecer sentidos de modo

contextualizado estaria relacionado ao desenvolvimento de TS

sobretudo na questatildeo da autonomia e da relaccedilatildeo problemanatildeo problema

e soluccedilatildeo (THOMAS 2009) na medida em que os sujeitos poderiam

tanto considerar e apresentar publicamente seus problemas socioteacutecnicos

76 Na AD o interdiscurso (o jaacute-dito) pode ser entendido como formulaccedilotildees

feitas e jaacute esquecidas que se relacionam com os dizeres dos sujeitos Assim

podemos compreender sentidos e formulaccedilotildees do que jaacute foi dito de modo

contextualizado soacutecio-historicamente

101

como relevantes como teriam possibilidades de tornarem-se autoresas

na resoluccedilatildeo destes

Em minhas reflexotildees sobre perspectivas educacionais em TS

considero que autoria e autonomia satildeo noccedilotildees que podem ser

examinadas de modo profiacutecuo quando em relaccedilatildeo como jaacute destaquei

sobretudo segundo a proposta educacional freireana articulada aos

ECTS algo tambeacutem analisado em autoresas como Nascimento e

Linsingen (2006)

Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados

com a vivecircncia dos sujeitos e que consideram os conhecimentos

historicamente produzidos Nascimento e Linsingen (2006) partiram de

tais pressupostos e os relacionaram agrave Educaccedilatildeo CTS ao analisarem o

ensino de ciecircncias Acredito que uma construccedilatildeo similar em relaccedilatildeo a

TS tambeacutem possa ser realizada

Para isso eacute possiacutevel partir da interpretaccedilatildeo criacutetica que Freire

(1992) apresenta sobre a tecnologia qual seja ldquonunca talvez a frase

quase feita ndash exercer o controle sobre a tecnologia e pocirc-la a serviccedilo dos

seres humanos ndash teve tanta urgecircncia de virar fato quanto hoje em defesa

da liberdade mesma sem a qual o sonho da democracia se esvairdquo

(FREIRE 1992 p133) Contudo vejo as potencialidades relacionadas a

TS com cautela para natildeo as pensar de modo determinista como

comumente se faz com as TA e as Tecnologias Convencionais (TC)77

Acreditar que por si soacute as TS teriam uma natureza

emancipatoacuteria que linearmente colaborariam nos processos de

autonomia dos sujeitos pode caracterizar o mesmo problema do

determinismo tecnoloacutegico que critico (CORREcircA 2010) Sem ignorar os

desafios inerentes a qualquer processo educativo aposto no potencial

pedagoacutegico emancipatoacuterio das TS e considero que um passo inicial

nesse processo seja a criacutetica agrave noccedilatildeo estrita de usuaacuterioa A partir dessa

criacutetica buscamos modificar uma possiacutevel posiccedilatildeo reativa (usuaacuterioa) em

accedilotildees de caraacuteter ativo colaborativo e criativo (buscar soluccedilotildees para

dificuldades e carecircncias socioteacutecnicas de suas coletividades) atraveacutes de

accedilotildees de efeito transformador

Contudo natildeo eacute o caso de considerar aqui que os sujeitos natildeo

tenham disposiccedilatildeo para enfrentar seus problemas socioteacutecnicos ou de

propor a mobilizaccedilatildeo para autoria como um processo de ldquoautoajudardquo

que desconsideraria estruturas opressivas que conferem uma situaccedilatildeo de

vulnerabilidade aos sujeitos A intenccedilatildeo eacute buscar interaccedilatildeo com as

juventudes atraveacutes de processos educacionais que destaquem tais

77 As TA e TC seratildeo examinadas no segundo capiacutetulo desta tese

102

situaccedilotildees opressoras e mobilizem para reflexotildees sobre possibilidades

emancipatoacuterias criativas e colaborativas Algo que jaacute referi ao tratar do

pensamento freireano em relaccedilatildeo agrave superaccedilatildeo de visotildees ingecircnuas para se

chegar na criticidade atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia

Para finalizar este primeiro capiacutetulo apresento no proacuteximo toacutepico

algumas questotildees sobre as possibilidades de uma educaccedilatildeo voltada para

a autoria uma outra educaccedilatildeo possiacutevel Portanto retomo a temaacutetica da

emancipaccedilatildeo social que foi vista em Adorno (1995) considero

posicionamentos de autoresas com interesse em temas sobre gecircnero

raccedilaetnia religiatildeo e classe social e busco diaacutelogos possiacuteveis com a

proposta de Santos (2009) para reinventar a emancipaccedilatildeo social

17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL

Neste capiacutetulo inicial esbocei o pensamento de autoresas e

orientaccedilotildees teoacutericas que tecircm relaccedilatildeo com o que penso sobre educaccedilatildeo na

perspectiva que delineei ateacute agora (politecnia) Qual seja dialoacutegica

transformadora criacutetica com formaccedilatildeo integral (atenda agraves dimensotildees do

desenvolvimento humano) com consciecircncia poliacutetica e contextualizada

Minha intenccedilatildeo natildeo foi examinar todos os autoresas que tratam de

relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia Assim como no tempo e espaccedilo

desta tese natildeo seria possiacutevel aprofundar a riqueza teoacuterica de cada

autora

Fiz escolhas e aproximaccedilotildees que acredito mostrarem aspectos

importantes mesmo que pontuais dessas relaccedilotildees tendo em vista o

contexto de minha anaacutelise Mais que isso osas autoresas que escolhi

discutir aqui fazem parte das minhas histoacuterias de leitura na vida

acadecircmica e acredito que em alguma medida tecircm contribuiccedilotildees ao

problema de pesquisa que apresentei

Portanto minha referecircncia a Freire Adorno Gramsci e Marx diz

respeito a minhas histoacuterias de leituras mais antigas A escolha desse

referencial natildeo significa a reproduccedilatildeo ingecircnua de algo como uma

epistemologia masculina (SANTOS 2014) Autorases que tratam de

questotildees relativas ao feminino e ao feminismo tambeacutem fazem parte de

minhas leituras mais recentes e certamente influenciam meu olhar sobre

as relaccedilotildees que busco investigar entre educaccedilatildeo e tecnologias no Brasil

atual Entre essas autoras cito Heleieth Saffioti Moema Viezzer Mariacutea

Luisa Femeniacuteas Donna Haraway e Sandra Harding Embora essas

autoras possam adotar diferentes perspectivas tecircm uma mirada sobre

gecircnero raccedilaetnia religiatildeo classe social e tecnologia que interessam

em minhas anaacutelises

103

Uma das pioneiras no Brasil em analisar questotildees sobre a

situaccedilatildeo da mulher na sociedade capitalista foi Heleieth Saffioti A

autora busca interpretar e superar problemas da posiccedilatildeo feminina no

modo de produccedilatildeo capitalista e examina a condiccedilatildeo da mulher na

perspectiva socialista (SAFFIOTI 2011) Ainda no Brasil Moema

Viezzer eacute escritora e socioacuteloga dedicada agrave educaccedilatildeo popular de mulheres

atraveacutes da Rede Mulher de Educaccedilatildeo que fundou nos anos 1980 Seus

estudos relacionam gecircnero e meio ambiente Eacute uma das organizadoras

do II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres (VIEZZER

MOREIRA GRONDIN 2009)

Mariacutea Luisa Femeniacuteas eacute uma filoacutesofa argentina cujos trabalhos

dialogam com diferentes campos disciplinares na tentativa de evidenciar

os modos pelos quais mulheres e o que ela chama de ldquosubalternos latino-

americanos em geralrdquo satildeo caracterizados nos discursos centrais

(FEMENIacuteAS 2007) que eu aqui chamo de Norte Como bem destaca

Santos (2014) a autora procura mostrar como cultura classe social

raccedilaetnia e religiatildeo estatildeo entrecruzados e relacionados com questotildees de

gecircnero na Ibero-Ameacuterica

Uma pesquisadora reconhecida segundo a perspectiva criacutetica

feminista da ciecircncia e tecnologia eacute Donna Haraway Com a ideia de

ciborgue criatura de um mundo poacutes-gecircnero ela trata de hibridaccedilatildeo de

quimeras de binocircmios modernos do tipo animal e maacutequina natural e

fabricado branco e negro macho e fecircmea entre outros exemplos

(HARAWAY 2013) Aleacutem disso tambeacutem interessam os

posicionamentos da autora em relaccedilatildeo ao pensamento de fronteira e seu

poder para a emancipaccedilatildeo e a resistecircncia (HARAWAY 1991)

A filoacutesofa norte-americana Sandra Harding complementa estudos

sobre gecircnero com a identificaccedilatildeo de trecircs tipos de investigaccedilatildeo feminista

A autora destaca o empirismo feminista as teorias poacutes-modernas e as

teorias perspectivistas ou do ponto de vista (Standpoint Epistemologies)

Filiada a essa uacuteltima Harding (1992 2004) considera que as

experiecircncias satildeo localizadas e portanto o conhecimento cientiacutefico deve

partir de localizaccedilotildees sociais objetivas A teoria do ponto de vista

considera tanto que os objetos devam ser compreendidos poliacutetica e

criticamente a partir do ponto de vista em que foram produzidos quanto

deva haver uma ampliaccedilatildeo de anaacutelises para permitir a presenccedila de outros

sujeitos tradicionalmente excluiacutedos

Para aleacutem dessas referecircncias (tanto explicitadas na abordagem

teoacuterica quanto as que acompanham ldquosilenciosamenterdquo as anaacutelises)

procuro estabelecer um diaacutelogo com algumas perspectivas de

Boaventura de Sousa Santos pois seus estudos tecircm (i) relevacircncia no

104

quadro socioloacutegico atual (ii) o Brasil (e o Sul) como campo de

pesquisas (iii) preocupaccedilatildeo com a questatildeo da emancipaccedilatildeo social (iv)

consideraccedilatildeo com a educaccedilatildeo78 e (v) posicionamento criacutetico agrave

globalizaccedilatildeo do capital (ponto que o aproxima do referencial que

utilizo) Portanto vejo que o exame mesmo que breve de seus

posicionamentos em relaccedilatildeo a Epistemologias do Sul (SANTOS

MENESES 2010) e Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias

(SANTOS 2002 2007) pode colaborar de modo profiacutecuo com as

minhas questotildees de investigaccedilatildeo79

Meneses (2014) esclarece que os processos que conferem

inteligibilidade e intencionalidade agraves experiecircncias sociais satildeo muacuteltiplos

e variados sendo que todas essas experiecircncias sociais produzem e

reproduzem conhecimento Tais accedilotildees pressupotildeem a presenccedila de vaacuterias

epistemologias Portanto o termo ldquoepistemologias do Sulrdquo considera

uma pluralidade epistemoloacutegica um ldquoreconhecimento de conhecimentos

plurais em presenccedilardquo (p 92) Em Epistemologias do Sul (SANTOS

MENESES 2010) os autores buscam possibilidades de descentralizar a

produccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico do Norte para o Sul

78 O que fica evidente em sua fala sobre ldquoA relaccedilatildeo entre universidade e

educaccedilatildeo popular atual momento histoacutericordquo como convidado do Foacuterum Social

Temaacutetico que marcou os 15 anos dos Foacuteruns Sociais Mundiais em janeiro do

ano de 2016 em Porto Alegre Disponiacutevel em

lthttpwwwforumeducacaopopularorggt 79 Sinto-me agrave vontade para estabelecer esse diaacutelogo pois como explica Trivintildeos

(1987) ldquoestamos conscientes que o investigador pode usar em seus trabalhos

conceitos que tenham as suas raiacutezes em ideologias diferentes inclusive opostas

() As aquisiccedilotildees do ser humano pertencem agrave humanidade O homem pode

recorrer a elas natildeo importando seu lugar no cosmos rdquo (p 13) Portanto para

aleacutem de pensar sobre ecologia dos saberes na educaccedilatildeo baacutesica via TS posso

realizar uma investigaccedilatildeo na qual use tais princiacutepios na praacutetica Ou seja busco

dentro de uma visatildeo criacutetica (e sensiacutevel a questotildees de gecircnero classe religiatildeo e

raccedilaetnia) possiacuteveis pontos de conexatildeo entre o Pensamento Pedagoacutegico

Socialista o Pensamento Pedagoacutegico Brasileiro Progressista a Teoria Criacutetica

(da Tecnologia) e as Epistemologias do Sul pois eles tecircm em comum a busca

por transformaccedilatildeo social e natildeo apenas uma reforma Natildeo ignoro diferenccedilas

epistemoloacutegicas importantes que possam haver entre essas perspectivas

Contudo entendo que a realidade social eacute complexa o suficiente (e que os

problemas nas aacutereas educacionais satildeo dilemaacuteticos) para que eu verifique que a

observaccedilatildeo a partir de um uacutenico acircngulo pode silenciar ou invisibilizar possiacuteveis

soluccedilotildees Natildeo eacute o caso como jaacute destaquei de resumir inadvertidamente a

complexidade dos autoresas que trago aqui mas mostrar a educadoras e

educadores leitorases desta tese alguns caminhos possiacuteveis

105

Jaacute no iniacutecio do texto Meneses (SANTOS MENESES 2010) ao

citar Santos esclarece os trecircs posicionamentos fundamentais para

compreendermos as ideias dos autores ou seja o Sul existe podemos ir

ateacute laacute e podemos aprender desde laacute e com os de laacute Para isso seria

necessaacuterio problematizarmos a influecircncia monopolizadora do

pensamento europeu tendo em vista as relaccedilotildees entre dominaccedilatildeo

colonial dominaccedilatildeo cientiacutefica e possibilidades de resistecircncias A ideia

central eacute a de que a democratizaccedilatildeo das sociedades passa

necessariamente pela democratizaccedilatildeo do conhecimento

A Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002

2007) se relaciona com a pesquisa realizada pelo autor e que citei

anteriormente ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social Para Novos

Manifestosrdquo que investigou possibilidades de uma globalizaccedilatildeo

alternativa agrave neoliberal e ao capitalismo global em diferentes paiacuteses

(Aacutefrica do Sul Brasil Colocircmbia Iacutendia Moccedilambique e Portugal) Nesse

intento tiveram voz movimentos sociais e Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais (ONGs)

Em termos teoacutericos o autor explica que

enquanto a sociologia das ausecircncias amplia o

campo das experiecircncias sociais jaacute disponiacuteveis a

sociologia das emergecircncias expande o campo de

experiecircncias sociais possiacuteveis As duas

sociologias estatildeo estreitamente associadas visto

que quanto mais experiecircncias estiverem

disponiacuteveis hoje no mundo mais experiecircncias

seratildeo possiacuteveis no futuro Quanto mais ampla for

a realidade criacutevel mais vasto seraacute o campo de

sinais ou pistas em que acreditar e de futuros

possiacuteveis e concretos Quanto maior for a

multiplicidade e a diversidade das experiecircncias

disponiacuteveis e possiacuteveis (conhecimentos e agentes)

maior seraacute a expansatildeo do presente e a contraccedilatildeo

do futuro (SANTOS 2006 p 88)80

80 Mientras que la sociologiacutea de las ausencias expande el campo de las

experiencias sociales ya disponibles la sociologiacutea de las emergencias expande

el campo de las experiencias sociales posibles Las dos sociologiacuteas estaacuten

estrechamente asociadas visto que cuanto maacutes experiencias estuvieren hoy

disponibles en el mundo maacutes experiencias seriacutean posibles en el futuro Cuanto

maacutes amplia fuera la realidad creiacuteble maacutes vasto seriacutea el campo de las sentildeales o

pistas creiacutebles y de los futuros posibles y concretos Cuanto mayor fuese la

multiplicidad y la diversidad de las experiencias disponibles y posibles

106

E em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo de conhecimentos eacute possiacutevel perceber

que interessam diaacutelogos desde a biotecnologia passando pela justiccedila a

agricultura e a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica Nesses termos em

discurso atual81 o autor trata do eminente diaacutelogo (interconhecimentos)

com a educaccedilatildeo Essa vista como negligenciada nos uacuteltimos anos de

modo que tanto juventudes como futuro ficaram comprometidos

Portanto seria necessaacuterio superar a dualidade entre educaccedilatildeo

popular (emancipadora das mentes e das praacuteticas) e educaccedilatildeo formal

(reguladora das mentes e das praacuteticas) pois a educaccedilatildeo formal estaacute

diversificada e democratizada constituindo um campo de luta

importante Para o autor precisamos aprofundar os diaacutelogos e as inter-

relaccedilotildees necessaacuterias para que toda a educaccedilatildeo seja popular e

emancipadora Algo que acredito poder ser desenvolvido em um ensino

politeacutecnico atento ao contexto educacional brasileiro atual E que

corresponde ao que considero como uma posiccedilatildeo criacutetica sobre TS em

processos educacionais Esse posicionamento se refere tanto a minhas

experiecircncias nos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul quanto a

minha consciecircncia social

No quadro 2 logo abaixo apresento um esquema das relaccedilotildees que

Santos e Meneses (2010) estabelecem entre produccedilatildeo de conhecimentos

dominaccedilatildeo e possibilidades de emancipaccedilatildeo social Desse modo penso

a educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo no qual as possibilidades para

diaacutelogos emancipatoacuterios estatildeo em pauta e quando indagaccedilotildees sobre

relaccedilotildees (produccedilotildees e apropriaccedilotildees) entre diferentes conhecimentos satildeo

pertinentes

(conocimientos y agentes) mayor seriacutea la expansioacuten del presente y la

contraccioacuten del futuro (SANTOS 2006 p 88) Traduccedilatildeo livre da autora 81 Foacuterum Social de Educaccedilatildeo Popular (2016) Verificar em

httpwwwforumeducacaopopularorg

107

Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e emancipaccedilatildeo social

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de texto de Santos e Meneses (2010)

Nesse quadro 2 acima localizo portanto o desenvolvimento de

TS como um momento de possibilidades de diaacutelogos horizontais entre

conhecimentos com inter-relaccedilatildeo entre teorias criacutetica a dogmatismos e

sensiacutevel a diferentes experiecircncias interpretaccedilotildees e valores dos sujeitos

envolvidos Algo que tambeacutem procuro relacionar com Freire (2011

1987) que considera os conhecimentos historicamente produzidos e faz

uma defesa de processos educacionais contextualizados e atentos agraves

vivecircncias dos sujeitos Assim como com a perspectiva defendida por

Feenberg de abertura de assuntos teacutecnicos agrave esfera puacuteblica como

verificamos na seguinte fala ldquoO aumento da esfera puacuteblica incluindo a

tecnologia marca uma mudanccedila radical do consenso anterior que

assegurava que os assuntos teacutecnicos deveriam ser decididos por

especialistas teacutecnicos sem interferecircncia leigardquo (FEENBERG 2004

p16)

108

Com o foco de atenccedilatildeo em processos educacionais no Brasil

tento refletir sobre novas (e antigas) questotildees educacionais apresentadas

pelas mudanccedilas soacutecio-histoacutericas contemporacircneas em relaccedilatildeo a

tecnologias Assim a seguir busco aprofundar as discussotildees sobre

tecnologia e TS tendo em vista suas possibilidades e limites

educacionais em contextos regionais latino-americanos

109

CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS

Na primeira parte desta tese meu foco foi em processos

educacionais Abordei a ECT de modo geral e a Educaccedilatildeo CTS como

uma especificidade em relaccedilatildeo agravequela que como um ramo dos ECTS

concentra-se em inter-relaccedilotildees entre perspectivas CTS e processos

educacionais Aleacutem disso destaquei influecircncias de diferentes autoresas

e correntes teoacutericas em tais inter-relaccedilotildees e busquei caracterizar como

considero o sujeito nas anaacutelises propostas

Nesta segunda parte ao delinear o sentido geral sobre tecnologia

que eacute aqui considerado examino pesquisas sobre o caraacuteter social da

tecnologia e posicionamentos de diferentes autoresas em relaccedilatildeo agrave

tecnologia Nesse processo dialogo com algumas perspectivas teoacutericas

(TCT por exemplo) e exponho a minha filiaccedilatildeo Para finalizar realizo

uma reflexatildeo sobre TS que inclui a sua histoacuteria conceitos pesquisas e

suas relaccedilotildees com processos educacionais

21 TECNOLOGIA

Consideremos mesmo que inicialmente que a tecnologia possa

ser algo como uma resposta a necessidades sociais Resposta essa que eacute

produzida em determinada sociedade e sob certas condiccedilotildees A partir

disso podemos compreender que diferentes modos de analisar essa

sociedade podem levar a muacuteltiplos pontos de vista no exame sobre a

tecnologia e podem produzir conhecimentos sobre esse tema com certas

particularidades Nesta tese destaco contribuiccedilotildees da Filosofia da

Educaccedilatildeo e das Ciecircncias Sociais mas eacute possiacutevel considerar a tecnologia

sob diversos olhares

211 Dimensotildees de anaacutelise

A tecnologia possui portanto muacuteltiplas dimensotildees82 que mesmo

que interligadas podem ser examinadas em separado Tais como a

econocircmica a poliacutetica a cientiacutefica e a ideoloacutegica (FIGUEIREDO 1989)

Essa uacuteltima faz referecircncia ao entendimento da tecnologia como algo

neutro que independe de interesses Figueiredo (1989) esclarece que ldquoa

dimensatildeo ideoloacutegica da tecnologia refere-se ao fato de a tecnologia se

82 Outras dimensotildees tambeacutem podem ser destacadas Cupani (2011) por

exemplo apresenta dimensotildees da tecnologia segundo o ponto de vista do

filoacutesofo norte-americano Carl Mitcham

110

apresentar como um processo neutro de domiacutenio e controle da natureza

em benefiacutecio de todosrdquo (p18) 83

Na dimensatildeo econocircmica as relaccedilotildees entre incremento

tecnoloacutegico inovaccedilatildeo e processo de industrializaccedilatildeo satildeo abordadas sob

diferentes teorias de desenvolvimento A anaacutelise com foco na poliacutetica

faz referecircncia agrave esfera de manifestaccedilatildeo de interesses sob determinadas

condiccedilotildees tendo em vista contextos institucionais de disputa por poder

Em relaccedilatildeo agrave ciecircncia Figueiredo (1989) esclarece que a tecnologia tem

uma histoacuteria proacutepria relacionada com a ciecircncia Contudo ciecircncia e

tecnologia apesar de muitas vezes se complementarem natildeo satildeo

substituiacuteveis entre si84

Essas constataccedilotildees natildeo significam a suposiccedilatildeo de

uma ciecircncia neutra contraposta a uma tecnologia

comprometida com interesses Ambas as

atividades satildeo expressatildeo cognitiva -

teoacutericopraacutetica - de interesses sociais e de

possibilidades por eles criadas O importante a

destacar eacute que os conhecimentos cientiacuteficos

produzidos ateacute um determinado momento satildeo

componente fundamental do campo de

possibilidades de avanccedilos tecnoloacutegicos Do

mesmo modo e em sentido inverso o

desenvolvimento tecnoloacutegico pressiona na direccedilatildeo

83 A problematizaccedilatildeo desse entendimento que apresenta como neutro o que eacute

ideoloacutegico eacute importante em processos educacionais que examinam a ideia de

determinismo tecnoloacutegico A seguir na apresentaccedilatildeo da TCT de Feenberg

(2002 2003 2012) essa questatildeo seraacute explorada com mais profundidade 84 A abordagem de Figueiredo (1989) permite o exame da tecnologia sem

prescindir de sua relaccedilatildeo com a ciecircncia mas de modo a considerar aquela como

objeto especiacutefico com suas dimensotildees proacuteprias para anaacutelise Como referi a

autora esclarece que ciecircncia e tecnologia tecircm histoacuterias proacuteprias que se cruzam

poreacutem sem se dissolverem uma na outra Isso permite que questotildees importantes

relativas a elas sejam examinadas conjuntamente ou em separado de acordo

com a anaacutelise pretendida Portanto mesmo com meu foco na tecnologia faccedilo

referecircncia aos termos ciecircncia e tecnologia em separado conjuntamente

(CampT - ciecircncia e tecnologia) utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer

referecircncia agrave tecnologia dentro de minha perspectiva como produccedilatildeo social E

em alguns momentos abordo o termo tecnocientiacuteficordquo (utilizado aqui como um

recurso de linguagem para significar relaccedilotildees entre ciecircncia e tecnologia Natildeo eacute o

caso de eu fazer referecircncia a esse termo como necessariamente relacionado agrave

tecnociecircncia essa eacute examinada adiante)

111

da ampliaccedilatildeo das fronteiras do conhecimento

existente (FIGUEIREDO 1989 p 17)

De modo similar Baumgarten (2002 2006b) enfatiza que nem

toda teacutecnica deriva da ciecircncia sendo que as teacutecnicas podem fornecer agrave

ciecircncia novos objetos de pesquisa assim como expandir os caminhos

para a proacutepria investigaccedilatildeo

Enquanto a ciecircncia constitui-se em enunciados

(leis teorias) permitindo conhecer-se a realidade

e modificaacute-la a teacutecnica promove a transformaccedilatildeo

do real consistindo em operaccedilotildees visando a

satisfazer determinadas necessidades a ciecircncia e a

teacutecnica pressupotildeem portanto um plano uma

concepccedilatildeo um desiacutegnio a ser realizado

(BAUMGARTEN 2002 p 313)

A autora tambeacutem destaca que foi em torno do seacuteculo XVIII que

se passou a utilizar o termo tecnologia com o significado de

melhoramento racional das artes (teacutecnicas) em especial daquelas que se

exerciam na induacutestria mediante seu estudo cientiacutefico e de seus

produtos (BAUMGARTEN 2006b p 291 grifos da autora) Assim a

autora procura situar a tecnologia em relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e

resgata a aproximaccedilatildeo histoacuterica entre ciecircncia e tecnologia

Portanto a tecnologia pode ser examinada em diferentes

contextos (sociocultural econocircmico poliacutetico e educacional por

exemplo) e por sujeitos com propoacutesitos distintos O que corrobora sua

importacircncia na constituiccedilatildeo das sociedades contemporacircneas e seu debate

em processos educacionais E eacute justamente essa dimensatildeo educacional

que eacute explorada nesta tese atraveacutes de uma perspectiva criacutetica de TS

212 Sentido geral

Destaco a perspectiva do filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto

(1909-1987) que assim como os estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-

americanos e Feenberg (2002 2003 2012) considera o caraacuteter

ideoloacutegico da tecnologia Embora sua abordagem seja filosoacutefica o autor

contribui para um olhar socioloacutegico sobre a tecnologia pois sua anaacutelise

tem uma mirada sobre a produccedilatildeo humana como produccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais construccedilatildeo de formas de convivecircncia (FREITAS 2005 2006)

De acordo com Kleba (2008) Aacutelvaro Vieira Pinto faz parte de

um grupo de teoacutericos que procuraram explicar o atraso (grifo do autor)

112

econocircmico e poliacutetico brasileiro atraveacutes de diferentes olhares ldquosejam

cultural-raciais como em Oliveira Viana cultural-poliacuteticas como em

Raymundo Faoro ou na figura do Jeca-Tatu de Monteiro Lobato e

econocircmicas como em Celso Furtado e Caio Prado Juacutenior entre tantos

outrosrdquo (KLEBA 2008 p9) Nesse contexto Pinto (2005) procura

demonstrar a funccedilatildeo ideoloacutegica da tecnologia em relaccedilatildeo ao chamado

subdesenvolvimento85

Ao declarar que ldquotodo objeto incorpora em si uma ideia

originada no pensamento de algueacutem pertencente a uma sociedade

determinada na qual tem interessesrdquo (PINTO 2005 p 323) a

preocupaccedilatildeo do autor eacute com o papel ideoloacutegico da tecnologia no Brasil

Um dos debates que o autor propotildee eacute justamente a problematizaccedilatildeo da

tecnologia em relaccedilatildeo ao subdesenvolvimento principalmente em sua

funcionalidade para manter relaccedilotildees de dominaccedilatildeo do centro sobre a

periferia (FREITAS 2005) ou na terminologia que uso nesta tese do

Norte sobre o Sul

Dentro desse propoacutesito Pinto (2005) analisou o conceito de

tecnologia sob algumas perspectivas dentre as quais aponto quatro

definiccedilotildees No primeiro significado destacado pelo autor ldquoa lsquotecnologiarsquo

tem de ser a teoria a ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica

abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes as habilidades do fazer as

profissotildees e generalizadamente os modos de produzir alguma coisardquo

(PINTO 2005 p 219)

Assim o autor considera seu sentido geneacuterico poreacutem essencial

visto como uma teoria ou uma ciecircncia No segundo significado

apresentado por Pinto (2005) a tecnologia equivale pura e simplesmente

agrave teacutecnica Indiscutivelmente constitui este o sentido mais frequente e

popular da palavra o usado na linguagem corrente quando natildeo se exige

precisatildeo maiorrdquo (p219) Para o autor as duas palavras mostram-se

assim ldquointercambiaacuteveis no discurso habitual coloquial e sem rigorrdquo

(PINTO 2005 p 219)

O terceiro significado aparece ligado ao segundo como sinocircnimo

da teacutecnica poreacutem com certa particularidade

() encontramos o conceito de lsquotecnologiarsquo

entendido como o conjunto de todas as teacutecnicas de

85 O conceito da amanualidade eacute central no pensamento do autor Com ele os

efeitos da passagem do subdesenvolvimento ao desenvolvimento atraveacutes do

trabalho satildeo explicados O que significaria a possibilidade de manusear a

realidade com recursos cada vez mais elaborados (FREITAS 2006)

113

que dispotildee uma determinada sociedade em

qualquer fase histoacuterica de seu desenvolvimento

Em tal caso aplica-se tanto agraves civilizaccedilotildees do

passado quanto as condiccedilotildees vigentes

modernamente em qualquer grupo social (PINTO

2005 p 219)

De acordo com o autor o terceiro significado assume importacircncia

por ser a ele ldquoque se costuma fazer menccedilatildeo quando se procura referir ou

medir o grau de avanccedilo do processo das forccedilas produtivas de uma

sociedaderdquo (PINTO 2005 p220)

Por fim Pinto (2005) apresenta a quarta acepccedilatildeo do termo

tecnologia na qual destaca a ideologia da teacutecnica

Toda tecnologia contendo necessariamente o

sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica

transporta inevitavelmente um conteuacutedo

ideoloacutegico Consiste numa determinada acepccedilatildeo

do significado e do valor das accedilotildees humanas do

modo social de realizarem-se das relaccedilotildees do

trabalhador com o produto ou o ato acabado e

sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em

seu papel de fabricante de um bem ou autor de um

empreendimento e o destino dado agravequilo que cria

A teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um

ato humano necessariamente inserido no contexto

social que a solicita a possibilita e lhe daacute

aplicaccedilatildeo (PINTO 2005 p 320-321)

Tal definiccedilatildeo que destaca a autoria de sujeito(s) e apresenta a

tecnologia em relaccedilatildeo ao local e agraves condiccedilotildees em que ela eacute produzida

pode levar agrave compreensatildeo do caraacuteter social que a tecnologia pode

assumir enquanto realizaccedilatildeo humana Esse caraacuteter segundo Feenberg

natildeo reside na loacutegica do funcionamento interno da tecnologia mas na

relaccedilatildeo dessa loacutegica com um contexto social86 (2002 p 79) Eacute possiacutevel

compreender portanto que a tecnologia tem caraacuteter histoacuterico e coletivo

de modo a incluir interesses poliacuteticos e econocircmicos bem como valores

sociais e morais (ARAUacuteJO 1998 BAUMGARTEN 2008b)

86 The social character of technology lies not in the logic of its inner workings

but in the relation of that logic to a social context (FEENBERG 2002 p 79)

Traduccedilatildeo livre da autora

114

Esse entendimento eacute importante para analisarmos sentidos sobre

tecnologia em processos educacionais que envolvem autoria Nesse

aspecto a quarta definiccedilatildeo de Pinto (2005) pode ser relacionada com

uma educaccedilatildeo problematizadora dialoacutegica e politeacutecnica que possibilite

processos de emancipaccedilatildeo social

As relaccedilotildees de influecircncia muacutetua entre Pinto e Freire natildeo satildeo

novidade Sendo que o fato de Freire (1983) o chamar de mestre ao

desenvolver as ideias de consciecircncia criacutetica e consciecircncia ingecircnua natildeo eacute

surpresa De acordo com Faveri (2014) tais categorias jaacute estatildeo presentes

na obra de Pinto que eacute citado por Freire (1983)

A consciecircncia criacutetica ldquoeacute a representaccedilatildeo das coisas

e dos fatos como se datildeo na existecircncia empiacuterica

Nas suas correlaccedilotildees causais e circunstanciaisrdquo

ldquoA consciecircncia ingecircnua (pelo contraacuterio) se crecirc

superior aos fatos dominando-os de fora e por

isso se julga livre para entendecirc-los conforme

melhor lhe agradarrdquo (FREIRE 1983 p 105)

Para aleacutem dessas categorias Faveri (2014) esclarece que tanto

Pinto quanto Freire pensam a educaccedilatildeo como ato poliacutetico Para os dois

autores na educaccedilatildeo eacute importante definir claramente que sujeito se quer

formar e para viver em qual contexto soacutecio-econocircmico-cultural se

pretende formaacute-lo (FAVERI 2014)

A partir do conhecimento de que Pinto (2005) eacute leitor de Marx

considero a seguinte passagem como relacionada com uma perspectiva

politeacutecnica

Deste modo a teacutecnica aparentemente mais

grosseira ou confinante conduz pela apreensatildeo do

seu significado teoacuterico ou epistemoloacutegico agrave

aquisiccedilatildeo do universal representado pelo igual

valor existencial do trabalho de cada homem Seraacute

entatildeo o momento em que o teacutecnico natildeo se

identificaraacute mais com a teacutecnica particular de sua

profissatildeo ateacute agora causa de limitaccedilatildeo existencial

mas teraacute negado a identificaccedilatildeo restritiva para

alcanccedilar a identificaccedilatildeo universal com a teacutecnica

ou seja com a totalidade da capacidade de atuaccedilatildeo

primaacuteria livre Galgando a compreensatildeo unitaacuteria

da teacutecnica na plena universalidade em funccedilatildeo de

novas condiccedilotildees sociais em que exercer passaraacute a

dominar a que executa e todas as demais sabendo

115

o que significa quanto vale e quais as finalidades

dela em vez de ser como agora dominado por

ela a ponto de receber do trabalho particular

profissional sua qualificaccedilatildeo social enquanto ser

humano (PINTO 2005 p 223)

Desse modo considero que o autor tambeacutem percebe assim como

Marx o domiacutenio intelectual da teacutecnica como princiacutepio de libertaccedilatildeo do

trabalhador de emancipaccedilatildeo do sujeito87 E essa uacuteltima natildeo estaacute

descolada dos processos de dominaccedilatildeo do Norte sobre o Sul

De acordo com Freitas (2005) a quarta definiccedilatildeo sobre a teacutecnica

que destaca sua ideologia mostra que Pinto (2005) via os processos de

dominaccedilatildeo como a disseminaccedilatildeo a partir do centro (Norte) de um dos

significados da teacutecnica como universal ldquoreservando ao mundo da

periferia a condiccedilatildeo de lsquopaciente receptorrsquo das inovaccedilotildees teacutecnicas

quando na verdade jaacute se pronunciava uma lsquofase histoacutericarsquo na qual era

possiacutevel atuar como lsquoagente propulsorrsquo do proacuteprio desenvolvimentordquo

(FREITAS 2005 p 4)

No esquema que apresentei no quadro 2 faccedilo uma leitura de

Santos e Meneses (2010) justamente nesse sentido Qual seja que

processos de dominaccedilatildeo natildeo ocorrem apenas por via econocircmica mas

tambeacutem atraveacutes de formas de conhecimentos (epistemologias) Assim

nesses processos de dominaccedilatildeo os conhecimentos hegemocircnicos do

Norte seriam hierarquicamente superiores aos conhecimentos do Sul

que como ldquopaciente receptorrdquo natildeo poderia divergir da ordem dominante

a custo de ser considerado como irracional

Freitas (2005 2006) mostra que Pinto (2005) tambeacutem vai contra

tal propoacutesito ao rejeitar que as teacutecnicas mais elaboradas fossem

disseminadas a partir da generosidade de seus usuaacuterios ldquoA tecnologia jaacute

pertence aos estratos mais simples da sociedade Esses estratos natildeo

podem ganhar na condiccedilatildeo de daacutediva aquilo que jaacute eacute constitutivo do

seu proacuteprio ser socialrdquo (PINTO 2005 p 20-21) O que retoma sua

preocupaccedilatildeo com a emancipaccedilatildeo dos sujeitos e a relaccedilatildeo dessa com o

domiacutenio dos fundamentos da tecnologia E que permite identificar uma

87 Freitas (2006) destaca que das histoacuterias de leitura de Pinto em relaccedilatildeo a

Marx surgem relaccedilotildees entre educaccedilatildeo emancipaccedilatildeo e tecnologia Pois segundo

o autor Pinto via que as juventudes por sua importacircncia deveriam ter

condiccedilotildees de operar tecnologias cada vez mais elaboradas Sendo que quanto

mais elaboradas elas fossem mais seriam disseminadas e menos estariam

vinculadas a mecanismos de acumulaccedilatildeo de riqueza individual

116

relaccedilatildeo com a busca por reconhecimento e diaacutelogos entre diferentes

conhecimentos como constitutiva de tal emancipaccedilatildeo

Nesse aspecto como bem destaca Figueiredo (1989) ldquoa

tecnologia circunscreve-se assim ao acircmbito do fazer humano no

campo da accedilatildeo social Um campo de saberes em disputa de exerciacutecios

de poder e de lutas por hegemoniardquo (p01) Portanto a partir do

entendimento do caraacuteter ideoloacutegico da tecnologia destaco a TCT

Entendo que essa auxilia na compreensatildeo da natureza dos interesses

envolvidos na temaacutetica e pode colaborar atraveacutes de suas categorizaccedilotildees

com a anaacutelise dos sentidos sobre tecnologias que circulam nos CTIEM

213 Teoria Criacutetica da Tecnologia

A TCT de Feenberg recebe a influecircncia entre outros

elementos88 da Teoria Criacutetica frankfurtiana Como destaquei no capiacutetulo

anterior a Teoria Criacutetica se refere ao conjunto de trabalhos

(heterogecircneos) de pensadores com interesses diversos como os jaacute

mencionados Horkheimer e Adorno aleacutem de Herbert Marcuse (1898-

1979) Walter Benjamin (1892-1940) Erich Fromm (1900-1980) e

Juumlrgen Habermas (1929)

Sem desconsiderar a densidade dos trabalhos produzidos naquele

contexto destaco abaixo um excerto do texto ldquoFilosofia e Teoria

Criacuteticardquo Nele Horkheimer (1980) comenta seu ensaio intitulado

ldquoTeoria Tradicional e Teoria Criacuteticardquo escrito na deacutecada de 1930 e que eacute

considerado como sendo a substacircncia teoacuterica de uma tentativa original

de unir teoria (pensamento filosoacutefico) e praacutetica (tensotildees do presente)

(ASSOUN 1991)

Horkheimer (1980) busca esclarecer que

Em meu ensaio Teoria Tradicional e Teoria

Criacuteticardquo apontei a diferenccedila entre dois meacutetodos

gnosioloacutegicos Um foi fundamentado no Discours

de la Meacutethode cujo jubileu de publicaccedilatildeo se

88 Outras influecircncias de Feenberg (1996a) para examinar a tecnologia podem ser

vistas em seus debates com Marcuse (de quem foi aluno) e Habermas

(CORREA 2010) Esses natildeo satildeo explorados nesta tese mas podem ser

encontrados em seu artigo do ano de 1996 ldquoMarcuse ou Habermas duas criacuteticas

da tecnologiardquo no qual o autor critica o pessimismo do primeiro em relaccedilatildeo agrave

ordem poliacutetica e tambeacutem o posicionamento do segundo em relaccedilatildeo agrave

exterioridade da ciecircncia e da tecnologia do mundo da vida

117

comemorou neste ano e o outro na criacutetica da

economia poliacutetica A teoria em sentido tradicional

cartesiano como a que se encontra em vigor em

todas as ciecircncias especializadas organiza a

experiecircncia agrave base da formulaccedilatildeo de questotildees que

surgem em conexatildeo com a reproduccedilatildeo da vida

dentro da sociedade atual Os sistemas das

disciplinas contecircm os conhecimentos de tal forma

que sob circunstacircncias dadas satildeo aplicaacuteveis ao

maior nuacutemero possiacutevel de ocasiotildees A gecircnese

social dos problemas as situaccedilotildees reais nas quais

a ciecircncia eacute empregada e os fins perseguidos em

sua aplicaccedilatildeo satildeo por ela mesma consideradas

exteriores ndash A teoria criacutetica da sociedade ao

contraacuterio tem como objeto os homens como

produtores de todas as suas formas histoacutericas de

vida As situaccedilotildees efetivas nas quais a ciecircncia se

baseia natildeo eacute para ela uma coisa dada cujo uacutenico

problema estaria na mera constataccedilatildeo e previsatildeo

segundo as leis da probabilidade O que eacute dado

natildeo depende apenas da natureza mas tambeacutem do

poder do homem sobre ele Os objetos e a espeacutecie

de percepccedilatildeo a formulaccedilatildeo de questotildees e o

sentido da resposta datildeo provas da atividade

humana e do grau de seu poder (HORKHEIMER

1980 p 155)

No texto Horkheimer (1980) adota uma postura criacutetica ao

positivismo e considera que () a teoria tradicional natildeo se ocupa da

gecircnese social dos problemas das situaccedilotildees reais nas quais a ciecircncia eacute

usada e dos escopos para os quais eacute usada (p 20) Em contraposiccedilatildeo o

autor defende que uma teoria criacutetica seja autocriacutetica e esclarecida que

visualize as accedilotildees de dominaccedilatildeo social haja vista o impedimento da

reproduccedilatildeo constante dessas mesmas

Com isso o autor critica o caraacuteter cientificista e reducionistas das

Ciecircncias Sociais que se ocupariam primordialmente em coletar e

classificar dados de modo a ignorar intervenccedilotildees que constantemente

ocorreriam no contexto social Esse posicionamento criacutetico segundo

Assoun (1991) se refere a sua proposta de reorganizaccedilatildeo da sociedade de modo a superar a razatildeo instrumental Pois essa visaria agrave dominaccedilatildeo

da natureza para fins lucrativos colocaria ciecircncia e tecnologia a serviccedilo

do capital e agiria em funccedilatildeo de interesses de classes e natildeo de interesses

da sociedade como um todo

118

A partir disso e sem desconsiderar outras influecircncias89 Feenberg

apresenta sua anaacutelise acerca da tecnologia a TCT dentro de um

prolongamento criacutetico na Escola de Frankfurt O quadro 3 abaixo

resume uma conferecircncia ldquoO que eacute Filosofia da Tecnologia rdquo (What is

Philosophy of Technology) pronunciada no Japatildeo e ilustra sua teoria

de modo didaacutetico e sinteacutetico90

Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia

A Tecnologia eacute Autocircnoma Humanamente

Controlada

Neutra

(separaccedilatildeo completa

entre meios e fins)

Determinismo

(por exemplo a teoria

da modernizaccedilatildeo)

Instrumentalismo

(feacute liberal no progresso)

Carregada de Valores

(meios formam um

modo de vida que

inclui fins)

Substantivismo

(meios e fins ligados

em sistemas)

Teoria Criacutetica

(escolha de sistemas de

meios-fins alternativos)

Fonte Feenberg (2003 p 06)

O proacuteprio autor explica como o quadro 3 pode ser interpretado

O eixo vertical oferece duas alternativas ou a

tecnologia eacute neutra de valor () ou estaacute carregada

de valor () A escolha natildeo eacute oacutebvia De uma

perspectiva um dispositivo teacutecnico eacute

simplesmente uma concatenaccedilatildeo de mecanismos

causais Natildeo haacute qualquer quantidade de estudos

cientiacuteficos que possa nela encontrar algum

89 Em sua paacutegina na internet Feenberg (1996b) resume suas influecircncias e sua

abordagem para o estudo filosoacutefico da tecnologia Algo que traduzo livremente

como construtivismo hermenecircutico historicismo democracia teacutecnica e meta-

teoria da tecnologia Verificar detalhes em

lthttpwwwsfuca~andrewfMethod1htmgt 90 Essas questotildees jaacute vinham sendo desenvolvidas nas obras Questioning

technology do ano de 2001 e Transforming technology a Critical Theory

revisited do ano de 2002 (Tambeacutem utilizo aqui uma traduccedilatildeo da Universidade

Nacional de Quilmes Argentina do ano de 2012) e esclarecem a linha de

argumentaccedilatildeo fundamentada por Feenberg (2003) no que se refere a temas

centrais para as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade

119

propoacutesito Mas para outros pontos de vista isso

natildeo chega ao ponto essencial As tecnologias no

eixo horizontal estatildeo consideradas como

autocircnomas ou humanamente controlaacuteveis Dizer

que a tecnologia eacute autocircnoma natildeo quer dizer que

ela se faz a si mesma Os seres humanos ainda

estatildeo envolvidos mas a questatildeo eacute eles tecircm de

fato a liberdade para decidir como a tecnologia

seraacute desenvolvida O proacuteximo passo depende da

evoluccedilatildeo do sistema teacutecnico ateacute noacutes Se a resposta

eacute natildeo entatildeo se pode dizer justificadamente que

a tecnologia eacute autocircnoma no sentido de que a

invenccedilatildeo e o desenvolvimento tecircm suas proacuteprias

leis imanentes as quais os seres humanos

simplesmente seguem ao interagirem nesse

domiacutenio teacutecnico Por outro lado a tecnologia pode

ser humanamente controlaacutevel enquanto se pode

determinar o proacuteximo passo de evoluccedilatildeo

conforme nossas intenccedilotildees (FEENBERG 2003 p

06)

Nesse quadro eacute possiacutevel verificar (i) se a tecnologia seria neutra

ou carregada de valores e (ii) se a tecnologia poderia ter seus efeitos

controlados pelos sujeitos ou atuaria de modo autocircnomo A partir das

combinaccedilotildees de (i) e (ii) eacute possiacutevel estabelecer quatro visotildees segundo as

quais se podem examinar as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade

determinismo instrumentalismo substantivismo e teoria criacutetica

A perspectiva do determinismo que jaacute foi aqui examinada e eacute um

sentido central para a pesquisa desta tese aceita a neutralidade e a

combina com a percepccedilatildeo de autonomia Desde esse ponto de vista a

tecnologia seria valorativamente neutra e natildeo seria controlada pelo

homem sendo ela que moldaria a sociedade

Os deterministas acreditam que a tecnologia natildeo eacute

controlada humanamente mas que pelo contraacuterio

controla os humanos isto eacute molda a sociedade agraves

exigecircncias de eficiecircncia e progresso Os

deterministas tecnoloacutegicos usualmente

argumentam que a tecnologia emprega o avanccedilo

do conhecimento do mundo natural para servir agraves

caracteriacutesticas universais de natureza humana tais

como as necessidades e faculdades baacutesicas ()

As tecnologias como o automoacutevel estendem

nossos peacutes enquanto os computadores estendem

120

nossa inteligecircncia A tecnologia enraiacuteza-se por um

lado no conhecimento da natureza e por outro nas

caracteriacutesticas geneacutericas da espeacutecie humana Natildeo

depende de noacutes adaptarmos a tecnologia a nossos

caprichos senatildeo pelo contraacuterio noacutes devemos nos

adaptar agrave tecnologia como expressatildeo mais

significativa de nossa humanidade (FEENBERG

2003 p 07)

Feenberg (1991) desenvolve duas teses-base sobre o

determinismo (i) a tese do progresso linear na qual o progresso teacutecnico

parece seguir um curso linear e fixo de fases menos avanccediladas para as

mais avanccediladas necessariamente e (ii) a tese da determinaccedilatildeo pela

base segundo a qual satildeo as instituiccedilotildees que precisam se adaptar aos

imperativos da base tecnoloacutegica Nas palavras do autor ldquoo

determinismo eacute somente uma estoacuteria feita para mostrar porque as coisas

tecircm que ser como satildeo Na realidade haacute sempre escolhas e alternativasrdquo

(MARICONDA MOLINA 2009 p 168)

A teoria instrumentalista combina as percepccedilotildees de neutralidade e

de controle humano da tecnologia Esta eacute a visatildeo-padratildeo moderna

segundo a qual a tecnologia eacute simplesmente uma ferramenta ou

instrumento da espeacutecie humana com os quais noacutes satisfazemos nossas

necessidades (FEENBERG 2003 p 06) O instrumentalismo oferece a

visatildeo mais popular de tecnologia muitas vezes relacionada com

perspectivas tecnoacutefilas

Para o autor o instrumentalismo eacute baseado na ideia do senso

comum de que as tecnologias satildeo ferramentas prontas para servir os

propoacutesitos de seus usuaacuterios A tecnologia eacute considerada neutra sem

conteuacutedo valorativo proacuteprio91 (FEENBERG 2002 p 05) Contudo

para Feenberg (2003) a tecnologia natildeo eacute um instrumento neutro e os

meios e os fins estatildeo conectados O autor destaca que se eacute possiacutevel

algum tipo de controle humano da tecnologia esse natildeo seraacute um controle

instrumental

O substantivismo combina as percepccedilotildees de autonomia e da

tecnologia condicionada por valores Segundo Feenberg (2003) esse

termo foi adotado ldquopara descrever uma posiccedilatildeo que atribui valores

substantivos agrave tecnologia em contraste com as visotildees como a do

91 It is based on the commonsense idea that technologies are tools standing

ready to serve the purposes of their users Technology is deemed neutral

without valuative content of its own (FEEMBERG 2002 p 05) Traduccedilatildeo livre

da autora

121

instrumentalismo e a do determinismo nos quais a tecnologia eacute vista

como neutra em si mesma (p 07)

O autor explica que por valores substantivos entende

um compromisso com uma concepccedilatildeo especiacutefica

de uma vida boa Se a tecnologia incorpora um

valor substantivo natildeo eacute meramente instrumental e

natildeo pode ser usado a diferentes propoacutesitos de

indiviacuteduos ou sociedades com ideacuteias diferentes do

bem O uso da tecnologia para esse ou aquele

propoacutesito seria uma escolha de valor especiacutefica

em si mesma e natildeo soacute uma forma mais eficiente

de compreender um valor preacute-existente de algum

tipo (FEENBERG 2003 p 07)

Poreacutem a autonomia preservada pelo substantivismo caracterizaria

uma tecnologia ameaccediladora e maleacutevola A tecnologia uma vez

libertada fica cada vez mais imperialista tomando domiacutenios sucessivos

da vida social (FEENBERG 2003 p 08) Nessa perspectiva identifico

uma visatildeo tecnofoacutebica como jaacute referi anteriormente e destaco a posiccedilatildeo

do pensador francecircs Jacques Ellul (1912-1994) para quem o sistema

tecnoloacutegico promoveria uma instrumentalizaccedilatildeo total dos sujeitos e se

apresentaria como um destino do qual natildeo haveria maneira de escapar

(ELLUL 1964 CORREcircA 2010)

Feenberg (2002) explica que existiria espaccedilo para as decisotildees dos

sujeitos mas o determinismo e o substantivismo natildeo o considerariam E

ldquofazem parecer que a tecnologia tem sua proacutepria loacutegica de

desenvolvimento mas noacutes descobrimos que podemos agir e mudar a

tecnologia portanto essas teorias natildeo podem ser verdadeirasrdquo

(MARICONDA MOLINA 2009 p 168) O substantivismo apresenta

em suas concepccedilotildees poucas ou nenhuma possibilidades de controle e

de transformaccedilatildeo de uma estrutura de dominaccedilatildeo autocircnoma da

tecnologia posiccedilatildeo da qual Feenberg (2002 2003 2004 2012) se

distancia ao caracterizar a TCT

Na TCT os valores incorporados agrave tecnologia satildeo socialmente

especiacuteficos natildeo sendo representados adequadamente por abstraccedilotildees

como a eficiecircncia ou o controle Conforme Feenberg (2003) a tecnologia natildeo moldaria (no sentido em que as molduras satildeo limites e

contecircm o que estaacute por dentro mas natildeo determinam os valores

percebidos dentro delas) apenas um modo de vida Sendo que considera

a possibilidade de diferentes estilos de vida distintos da mediaccedilatildeo

122

tecnoloacutegica Algo similar ao que Dagnino Silva e Padovanni (2011)

defendem com sua abordagem sobre AST como apontei na p 71

A TCT assim como o instrumentalismo considera a

possibilidade de controle humano da tecnologia No entanto ao

contraacuterio desse aquela percebe a tecnologia como carregada de valores

e natildeo como neutra Em teoria criacutetica a tecnologia natildeo eacute vista como

ferramentas mas como estruturas para estilos de vida As escolhas estatildeo

abertas para noacutes e situadas num niacutevel mais alto do que o instrumental

(FEENBERG 2003 p11)

A tecnologia carregaria portanto os valores resultantes de sua

vinculaccedilatildeo com o contexto capitalista natildeo sendo um mero instrumento

neutro Os valores e interesses dos sujeitos no caso as classes

dominantes influenciariam no desenho nas decisotildees e nos

procedimentos Desse modo a tecnologia natildeo constituiria uma entidade

autocircnoma ldquoela natildeo eacute um destino mas sim um cenaacuterio de lutardquo92

(FEENBERG 2002 p 15)

Com isso Feenberg (2002 2012) defende uma posiccedilatildeo natildeo

determinista cujas teses baacutesicas seriam que (i) o desenvolvimento

tecnoloacutegico estaacute sobre determinado tanto por criteacuterios teacutecnicos quanto

sociais de progresso e podem por conseguinte bifurcar-se em diversas

direccedilotildees conforme a hegemonia que prevalecer e que (ii) enquanto as

instituiccedilotildees sociais se adaptam ao desenvolvimento tecnoloacutegico o

processo de adaptaccedilatildeo eacute reciacuteproco - a tecnologia muda em resposta agraves

condiccedilotildees em que se encontra tanto quanto ela as influencia

Essa posiccedilatildeo demonstra o caraacuteter ambivalente93 da tecnologia

presente na possibilidade de a tecnologia ser instrumentalizada para

diferentes sistemas (CUPANI 2011)

A teoria da instrumentalizaccedilatildeo defende que a

tecnologia deve ser analisada em dois niacuteveis o

niacutevel de nossa relaccedilatildeo funcional original com a

realidade e o niacutevel de propoacutesito e implementaccedilatildeo

No primeiro niacutevel procuramos achar recursos que

podem ser mobilizados em dispositivos e sistemas

para descontextualizar os objetos da experiecircncia e

92 On this view technology is not a destiny but a scene of strugglerdquo

(FEENBERG 2002 p 15) Traduccedilatildeo livre da autora 93 Essa ambivalecircncia da tecnologia significa que natildeo haveria uma uacutenica relaccedilatildeo

entre avanccedilo tecnoloacutegico e distribuiccedilatildeo social de poder pois a tecnologia estaria

disponiacutevel a desenvolvimentos alternativos

123

reduzi-los a suas propriedades normais Isso

envolve um processo () em que os objetos satildeo

retirados de seus contextos originais e postos agrave

anaacutelise e manipulaccedilatildeo enquanto os sujeitos se

colocam para controle agrave distacircncia () No

segundo niacutevel introduzimos propoacutesitos que

podem ser integrados a outros dispositivos e

sistemas jaacute existentes tais como princiacutepios eacuteticos

e esteacuteticos O niacutevel primaacuterio simplifica objetos

para incorporaccedilatildeo a um dispositivo enquanto o

segundo niacutevel integra os objetos simplificados a

um ambiente natural e social (FEENBERG 2004

p 6-7)

Como argumenta Feenberg (2002 2004 2005) aleacutem de um

produto cultural eacute possiacutevel perceber na tecnologia uma dupla

instrumentalizaccedilatildeo que sugere a possibilidade de que ela venha a ter

rumos diferentes A tecnologia constitui basicamente uma atitude ou

orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave realidade (instrumentalizaccedilatildeo primaacuteria) No

entanto ela eacute tambeacutem um modo de accedilatildeo ou realizaccedilatildeo no mundo social

A essecircncia da tecnologia reside na uniatildeo (dialeacutetica) entre ambos os

niacuteveis de instrumentalizaccedilatildeo

Eacute importante destacar que Feenberg (1999) vecirc a tecnologia como

um poder que atingiria diferentes domiacutenios nas sociedades modernas

Para ele osas especialistas em sistemas teacutecnicos teriam um grande

controle sobre o desenvolvimento urbano logiacutestico habitacional e em

escolhas de inovaccedilotildees Desse modo a tecnologia ampliaria seu poder

sobre o quotidiano dos sujeitos ao mesmo tempo em que a democracia

poliacutetica perderia poder para aquelesas especialistas sendo que essesas

uacuteltimosas teriam mais poder sobre decisotildees essenciais para a vida

quotidiana do que as instituiccedilotildees poliacuteticas Tal situaccedilatildeo levaria agrave

chamada tecnocracia Situaccedilatildeo na qual os debates puacuteblicos satildeo

substituiacutedos por decisotildees de especialistas teacutecnicos Daiacute a necessidade de

discutir possibilidades de se democratizar a proacutepria tecnologia

(FEENBERG 1999)

Algo tambeacutem presente em Thomas (2009) quando o autor afirma

que seria ldquoingecircnuo pensar que semelhante niacutevel de decisotildees possa ficar

exclusivamente em matildeo de lsquoperitosrsquo assim como conceber que a

participaccedilatildeo natildeo informada pode melhorar as decisotildeesrdquo (p 76) Esse

autor assim como Feenberg (1999) procura demonstrar as fragilidades

de posicionamentos que natildeo consideram o desenvolvimento tecnoloacutegico

como um tema central para debates sobre democracia

124

Minha opccedilatildeo teoacuterica pela TCT de Feenberg ao contraacuterio de

correntes teoacutericas bastante populares nos ECTS como o construtivismo

e a TAR por exemplo vai ao encontro do que o autor esclarece em

termos da anaacutelise da questatildeo do determinismo tecnoloacutegico

A sociologia da tecnologia sofria uma revoluccedilatildeo

de si mesma nos anos 80 com a emergecircncia das

polecircmicas entre a escola do construtivismo social

e a teoria de redes dos atores tanto na Inglaterra

como na Franccedila Tinha conhecimento desses

debates e com eles muito aprendi mas estava

insatisfeito com a recusa das duas escolas de

pensamento engajarem-se com os temas mais

amplos da modernidade levantados pela Escola de

Frankfurt No entanto a nova sociologia da

tecnologia natildeo oferecia uma metodologia frutiacutefera

e argumentos fortes contra o determinismo

tecnoloacutegico que poderiam ser empregados para

apoiar a ideia de mudanccedila democraacutetica na esfera

teacutecnica Minha abordagem eacute informada pelos

estudos tecnoloacutegicos contemporacircneos e desse

modo alcanccedila um niacutevel de concreticidade ()

(FEENBERG 2004 p 03)

Aleacutem dessa posiccedilatildeo assumida em relaccedilatildeo a questotildees importantes

dos ECTS o pensamento de Feenberg tambeacutem interessa pelo fato de que

o autor tem uma preocupaccedilatildeo em articular sua TCT com a questatildeo

educacional94 Conforme destaca Silva (2005) Feenberg se auto intitula

como um dos fundadores da educaccedilatildeo online Para Feenberg (2001) as

teorias instrumentais e substantivistas podem ser verificadas nos

processos educacionais No instrumentalismo (otimista) se buscariam

possibilidades de reduzir custos com processos de formaccedilatildeo humana

tendo em vista esforccedilos para incrementar a produccedilatildeo e aumentar os

lucros enquanto no substantivismo (pessimista) as possibilidades de

articulaccedilatildeo entre tecnologia e educaccedilatildeo natildeo seriam visualizadas pois a

tecnologia eliminaria elementos pedagoacutegicos fundamentais como por

exemplo o diaacutelogo

94 Silva (2005) enfatiza que Feenberg desenvolve projetos de pesquisa em que

articula sua TCT com a educaccedilatildeo De modo que o proacuteprio Feenberg jaacute haveria

feito referecircncia agrave captaccedilatildeo de US$632000 que conseguiu para o

desenvolvimento de um novo software para foacuteruns de discussatildeo online

125

Nesse quadro dualista o autor esclarece que a TCT poderia

contribuir para uma terceira perspectiva de relaccedilotildees entre tecnologia e

educaccedilatildeo na medida em que a TCT apresenta a tecnologia natildeo como um

destino mas como possibilidades para os sujeitos Com isso seria

necessaacuterio romper com o determinismo tecnoloacutegico e visualizar as

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo como um destino mas como oportunidades

para aperfeiccediloar os processos educacionais (FEENBERG 2001)

Assim Feenberg (2003 2004) aponta para uma modificaccedilatildeo

cultural proveniente de avanccedilos democraacuteticos O autor afirma que eacute

possiacutevel agrave humanidade escolher o mundo no qual deseja viver A TCT

possibilita pensar em tais escolhas em maneiras de submetecirc-las a

controles mais democraacuteticos de modo que seja possiacutevel a intervenccedilatildeo

democraacutetica na tecnologia Para o autor

A teoria criacutetica da tecnologia sustenta que os seres

humanos natildeo precisam esperar um Deus para

mudar a sua sociedade tecnoloacutegica num lugar

melhor para viver A teoria criacutetica reconhece as

consequumlecircncias catastroacuteficas do desenvolvimento

tecnoloacutegico ressaltadas pelo substantivismo mas

ainda vecirc uma promessa de maior liberdade na

tecnologia O problema natildeo estaacute na tecnologia

como tal senatildeo em nosso fracasso ateacute agora em

inventar instituiccedilotildees apropriadas para exercer o

controle humano dela (FEENBERG 2003 p 09)

Na TCT examinam-se exemplos95 nos quais haacute uma tendecircncia de

maior participaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos com os processos de

mudanccedila tecnoloacutegica nas decisotildees sobre o desenho e o desenvolvimento

da tecnologia A esfera puacuteblica parece estar se abrindo lentamente para

abranger os assuntos teacutecnicos que eram vistos antigamente como esfera

exclusiva dos peritos (FEENBERG 2003 p 11) Compreendo que o

autor busca entre outros aspectos refletir sobre possibilidades de

democratizar usos de tecnologias na sociedade

Esses posicionamentos de Feenberg sobre a tecnologia

interessam-me especialmente para buscar compreensotildees acerca de

sentidos sobre tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM

Entendo que o desenvolvimento de tecnologia assim como os contextos

95 Cupani (2011) e Silva (2005) apresentam os exemplos da aacuterea de

telecomunicaccedilatildeo e da medicina explorados por Feenberg para mostrar como os

sujeitos afetam o desenvolvimento tecnoloacutegico

126

educacionais96 ocorre historicamente e encontra-se sujeitado em

alguma medida a transformaccedilotildees que partem do acircmbito da accedilatildeo

humana Por isso a importacircncia do foco nas possibilidades de

intervenccedilatildeo social (transformaccedilatildeo de sentidos) a partir da accedilatildeo dos

sujeitos (educaccedilatildeo emancipadora)

Penso que esse posicionamento pode ser relacionado com Freire

(1987) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995) pois para eles a tecnologia

seria uma expressatildeo do processo de engajamento dos sujeitos no mundo

e estaria relacionada com a transformaccedilatildeo Percebo que tanto para Freire

(1987) quanto para Feenberg (2003) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995)

a tecnologia teria uma dimensatildeo poliacutetica pois como praacutetica humana natildeo

seria neutra e acompanharia a visatildeo de mundo da sociedade na qual seria

produzida e utilizada

Portanto Feenberg (2003 2004) destaca a importacircncia de os

sujeitos compreenderem que a mediaccedilatildeo do processo poliacutetico que atua

em interesses proacuteprios da sociedade como tal pode englobar tambeacutem as

questotildees tecnoloacutegicas Para o autor portanto a esperanccedila97 nas

potencialidades democraacuteticas da tecnologia e na abertura da esfera

puacuteblica aos assuntos teacutecnicos precisa ser mantida Vejo que essa

abertura tem um caminho em processos educacionais que mobilizem

para autoria tendo em vista uma perspectiva criacutetica de TS Tema que

apresento a seguir

96 Como jaacute referi o tema da educaccedilatildeo jaacute foi explorado em alguma medida por

Feenberg Conforme Mariconda e Molina (2009) e Silva (2005) o autor jaacute nos

anos 1980 nos Estados Unidos participou do projeto do primeiro programa de

educaccedilatildeo online Fato que o ajudou a definir limites e possibilidades desse

formato educacional como espaccedilo para interaccedilatildeo pedagoacutegica por meio da

escrita 97 Essa esperanccedila do autor se relaciona ao fato de que a hegemonia do chamado

coacutedigo teacutecnico do capitalismo natildeo pode impedir que haja iniciativas contraacuterias

Conforme jaacute destaquei na introduccedilatildeo desta tese Feenberg (2002) afirma que a

sociedade pode ser comparada a um jogo e que desde esse ponto de vista as

estrateacutegias de domiacutenio que preservam a autonomia operacional satildeo contestadas

por taacuteticas dos dominados que aproveitam suas margens de manobra Assim

como a autonomia operacional serve como a base estrutural da dominaccedilatildeo um

diferente tipo de autonomia eacute conquistado pelos dominados uma autonomia que

opera com o jogo no sistema para redefinir e modificar suas formas e

propoacutesitos

127

22 TECNOLOGIAS SOCIAIS

Esta parte da tese traz alguns elementos que discuti na pesquisa

para o mestrado ocasiatildeo na qual fiz um levantamento sobre TS

desenvolvidas no Brasil na atualidade conforme informei na introduccedilatildeo

Esses dados encaminham uma discussatildeo teoacuterica e um levantamento

bibliograacutefico que podem auxiliar na investigaccedilatildeo de possibilidades e

limites de transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia em

ambientes educacionais tendo em vista uma perspectiva criacutetica sobre TS

Para isso introduzo a temaacutetica das TS pela origem do debate

221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees

Origens

O termo ldquoTecnologia Socialrdquo foi desenvolvido no Brasil no iniacutecio

dos anos 2000 Nesse contexto o desenvolvimento de TS tecircm suas

origens nos chamados novos movimentos sociais no movimento dos

ECTS nas metodologias de pesquisa participativas na crise da visatildeo

tradicional das poliacuteticas de ciecircncia e tecnologia nos meacutetodos de trabalho

e abordagem socioteacutecnica nas chamadas TA e nos princiacutepios freireanos

da educaccedilatildeo popular entre outros (ITS 2009 SANTOS 2008)

Em relaccedilatildeo a essa uacuteltima a uacutenica origem que exploro aqui

destaco que os princiacutepios de educaccedilatildeo popular freireanos satildeo

constituintes importantes da origem do desenvolvimento de TS no

Brasil Lembremos de modo breve e simplificado que jaacute nos anos

1960 no interior do estado do Rio Grande do Norte (no municiacutepio de

Angicos) Paulo Freire promoveu a alfabetizaccedilatildeo de sujeitos a partir da

discussatildeo de questotildees diaacuterias baseadas nas experiecircncias de vida dessas

pessoas Ao partir da praacutetica de que faria sentido uma agricultora

aprender as palavras terra e colheita por exemplo foram alfabetizados

300 sujeitos no que ficou conhecido como 40 horas de Angicos

Ao verificar que osas trabalhadoresas rurais estavam sem

alfabetizaccedilatildeo ou acesso agrave escola ele utilizava as chamadas palavras

geradoras que emergiam da realidade dos sujeitos de modo que oa

educandoa passasse a construir novas palavras Como jaacute destaquei a

ideia dos temas geradores envolve uma construccedilatildeo coletiva e com a

participaccedilatildeo doa educandoa e doa educadora como sujeitos do

processo de aprendizagem Por isso a influecircncia nas TS na qual os

sujeitos deveriam participar da construccedilatildeo e resoluccedilatildeo de seus

problemas socioteacutecnicos A perspectiva freireana eacute dinacircmica contiacutenua e

128

criacutetica e assim como as TS prevecirc o resgate da cultura e da cidadania de

sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade98

Contraposiccedilotildees

Inicialmente as TS foram pensadas como uma contraposiccedilatildeo agrave

chamada Tecnologia Convencional (TC) De acordo com Dagnino

(2004) a TC se configuraria como a tecnologia predominante na

atualidade Seria caracterizada por ser utilizada por empresas privadas

por poupar matildeo-de-obra e usar intensivamente insumos sinteacuteticos aleacutem

de ser ambientalmente insustentaacutevel Conforme Baumgarten (2006c) e

Rutkowski (2005) a TC teria seu cerne em demandas empresariais e das

camadas ricas ou influentes da populaccedilatildeo A TC atuaria na manutenccedilatildeo

e promoccedilatildeo dos interesses das classes dominantes aleacutem de disseminar e

sustentar a ideologia dessas classes na sociedade

Os processos envolvidos no desenvolvimento de TC carregam

intrinsecamente a ideia de determinismo tecnoloacutegico jaacute examinada E

essa por sua vez encontra-se muitas vezes relacionadas a uma

perspectiva denominada de tecnociecircncia99 Premebida (2008) esclarece

que o termo pode ser entendido como a fusatildeo de ciecircncia sistemas

tecnoloacutegicos e organizaccedilatildeo da induacutestria com o capital financeiro O

termo eacute tido como cunhado pelo filoacutesofo belga Gilbert Hottois no final

da deacutecada de 1970 e muito difundido nos uacuteltimos anos pelos trabalhos

de Bruno Latour sobre a produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e

tecnoloacutegico (PREMEBIDA 2008 p 37)

Para Echeverriacutea (2003) ldquoa tecnociecircncia eacute um instrumento de

domiacutenio e transformaccedilatildeo natildeo soacute da natureza mas tambeacutem das

sociedades revelando-se muito uacutetil para determinados grupos sociais

98 Em meus estudos utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo pois o

compreendo como expressatildeo da maior ou menor possibilidade dos sujeitos

controlarem as forccedilas que afetam seu bem-estar Nos debates acerca do uso de

termos como inclusatildeo social e exclusatildeo social considera-se que eles seriam

termos eurocecircntricos que natildeo teriam sentido em sociedades que nunca

conheceram a plena integraccedilatildeo social (MTE 2007) Para aleacutem do debate acerca

da inadequaccedilatildeo do uso dessas expressotildees para o estudo da realidade de paiacuteses

do Sul utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo de modo a buscar apreender o

dinamismo dos processos de desigualdade de maneira mais ampla Para captar

esse dinamismo considero zonas de vulnerabilidade com tendecircncia agrave

precarizaccedilatildeo e estruturas de oportunidades existentes no Brasil na atualidade 99 Segundo Albagli (1999) a tecnociecircncia conseguiu ultrapassar os limites da

produccedilatildeo material e passou a exercer influecircncia nas esferas culturais e

simboacutelicas da sociedade

129

transnacionais em princiacutepio natildeo-estatais que obtecircm atraveacutes dela

grandes ganhosrdquo (p 310) A tecnociecircncia seria um sistema de accedilotildees

eficientes baseadas em conhecimentos teacutecnicos e cientiacuteficos que visaria

transformar o mundo (para aleacutem de explicaacute-lo) e implicaria natildeo soacute uma

profissionalizaccedilatildeo mas uma empresarializaccedilatildeo da atividade cientiacutefica e

sendo um fator relevante de inovaccedilatildeo e desenvolvimento econocircmico

passaria a ser tambeacutem um poder dominante na sociedade tendendo

sua praacutetica ao segredo e agrave privatizaccedilatildeo100 (ECHEVERRIacuteA 2003

BAUMGARTEN 2006a)

Relaccedilotildees

Eacute portanto em contraposiccedilatildeo a essas perspectivas de TC e da

tecnociecircncia que as TS satildeo pensadas Mas as ideias que compotildeem as TS

natildeo surgem espontaneamente Conforme Dagnino (2014) ldquo() remonta

ao iniacutecio dos anos sessenta do seacuteculo passado quando surgiu a ideia de

Tecnologia Intermediaacuteria (que originou o movimento da Tecnologia

Apropriada e veio a desembocar no atual da TS)rdquo (p 155) As TS tecircm

portanto relaccedilatildeo com as TA tambeacutem propostas como alternativas agraves TC

(DAGNINO BRANDAtildeO NOVAES 2004)

Nesse sentido Brandatildeo (2001) esclarece que as TA satildeo

reconhecidas como iniciativas provenientes de movimentos ocorridos na

Iacutendia durante o final do seacuteculo XIX Contexto no qual pensadores como

Mahatma Gandhi (1869-1948) tiveram sua atenccedilatildeo voltada para

processos de reabilitaccedilatildeo e desenvolvimento de tecnologias tradicionais

praticadas nas aldeias como estrateacutegia de luta e resistecircncia contra o

domiacutenio britacircnico (produccedilatildeo artesanal de tecidos por exemplo)101

100 Destaco que pensadoresas de diversas aacutereas tecircm refletido sobre a

possibilidade de se alterar o quadro que envolve a questatildeo tecnocientiacutefica atual

Hobsbawm (2005) alerta para o fato de que ldquoas forccedilas geradas pela economia

tecnocientiacutefica satildeo agora suficientemente grandes para destruir o meio

ambiente ou seja as fundaccedilotildees materiais da vida humana () Nosso mundo

corre o risco de explosatildeo e implosatildeo Tem de mudarrdquo (p 562) Penso que uma

proposta de mudanccedila para esse cenaacuterio passa pela proacutepria reflexatildeo sobre a

tecnociecircncia que pode ser feita a partir das TS 101 Essa produccedilatildeo teve como siacutembolo uma espeacutecie de roda de fiar chamada de

Charkha No projeto de Gandhi havia uma preocupaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo da

sociedade hindu atraveacutes de um crescimento endoacutegeno sem imposiccedilotildees externas

Essa perspectiva implicava num crescimento que previa melhorar as teacutecnicas

locais de uso corrente e adaptar a tecnologia moderna ao contexto social e

econocircmico da Iacutendia (CORREcircA 2010)

130

Apesar de Gandhi natildeo usar a expressatildeo tecnologia apropriada

seu projeto estava delineado de acordo com tal perspectiva e previa a

promoccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para a identificaccedilatildeo e a

soluccedilatildeo de problemas concretos da Iacutendia (DAGNINO BRANDAtildeO

NOVAES 2004)

Conforme Brandatildeo

A percepccedilatildeo de que a transferecircncia

indiscriminada de tecnologia a partir dos paiacuteses

industrializados natildeo era uma soluccedilatildeo adequada

para os paiacuteses em desenvolvimento jaacute estava de

fato presente no Sarovaya no ano de 1909 Esta

concepccedilatildeo estava baseada no desenvolvimento das

aldeias com os meios de produccedilatildeo para satisfazer

as necessidades baacutesicas em poder das famiacutelias ou

cooperativas de famiacutelias A educaccedilatildeo ndash baseada

no trabalho manual e na identificaccedilatildeo e soluccedilatildeo

dos problemas de importacircncia imediata ndash era o

instrumento para desenvolver a inteligecircncia

criativa Em resumo autodeterminaccedilatildeo a niacutevel de

aldeia concentraccedilatildeo nos problemas importantes

imediatos antes que em planos de longo prazo

busca de inteligecircncia criativa atraveacutes do

desenvolvimento total do indiviacuteduo e mudanccedilas

sociais obtidas atraveacutes da desobediecircncia civil natildeo-

violenta e a natildeo cooperaccedilatildeo eram os elementos

centrais do seu enfoque para o desenvolvimento

O conceito de desenvolvimento de Gandhi incluiacutea

uma poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica expliacutecita que

era essencial para sua implementaccedilatildeo A

insistecircncia de Gandhi na proteccedilatildeo dos artesanatos

das aldeias natildeo significava uma conservaccedilatildeo

estaacutetica das tecnologias tradicionais Ao contraacuterio

implicava o melhoramento das teacutecnicas locais a

adaptaccedilatildeo da tecnologia moderna ao meio

ambiente e agraves condiccedilotildees da Iacutendia e o fomento da

pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica para identificar e

resolver os problemas importantes imediatos Seu

objetivo final era a transformaccedilatildeo da sociedade

Hindu atraveacutes de um processo de crescimento

orgacircnico feito a partir de dentro e natildeo atraveacutes de

uma imposiccedilatildeo externa (2001 p 31)

131

Essas ideias influenciaram o economista alematildeo Ernst Friedrich

Schumacher (1911-1977) que criou a expressatildeo tecnologia intermeacutedia

depois de visitar a Iacutendia no ano de 1963 Brandatildeo (2001) afirma que

Schumacher foi o responsaacutevel por introduzir e popularizar a TA no

mundo ocidental com a criaccedilatildeo do Grupo de Desenvolvimento da TA

em 1966

As ideacuteias de Schumacher a respeito da tecnologia

intermediaacuteria influenciadas por Gandhi a quem

ele considerava o maior economista do seacuteculo 20

foram mais bem difundidas e causaram grande

impacto a partir de 1973 com a publicaccedilatildeo do seu

famoso livro Small is beautiful economics as if

people mattered traduzido para mais de quinze

idiomas e que talvez tenha sido a obra que mais

conseguiu popularizar a Tecnologia Apropriada

(TA) no mundo introduzindo-a no mundo

acadecircmico e nos estudos governamentais de

vaacuterios paiacuteses Neste livro que reuacutene alguns dos

seus ensaios entre eles Economia em um Paiacutes

budista Economia natildeo-violenta e Niacuteveis de

tecnologia escritos entre 1955 e 1963 ao explicar

que as tecnologias desenvolvidas nos paiacuteses

desenvolvidos natildeo se adequam aos paiacuteses em

desenvolvimento pois sua tecnologia moderna

por ser demasiadamente grande agrave medida que

cresce requer mais insumos para a sua

manutenccedilatildeo Schumacher propotildee uma pesquisa

visando agrave geraccedilatildeo de TAs para as zonas rurais

(BRANDAtildeO 2001 p 33)

No Brasil o livro de Schumacher eacute intitulado ldquoO negoacutecio eacute ser

pequenordquo Nele o autor avalia a necessidade de um enfoque regional de

desenvolvimento conjugado ao uso de uma TA aos paiacuteses pobres Nas

palavras do autor

O desenvolvimento econocircmico em aacutereas de pobreza

soacute pode ser fecundo quando baseado no que

designei por tecnologia intermeacutedia Em uacuteltima

anaacutelise a tecnologia intermeacutedia seraacute de uso

intensivo de matildeo-de-obra e prestar-se-aacute a ser

utilizada em estabelecimentos fabris de escala

pequena Mas tanto a intensidade de matildeo-de-obra

como a escala pequena natildeo implicam uma

132

tecnologia intermeacutedia () Uma tal tecnologia

intermeacutedia seria imensamente mais produtiva do

que a tecnologia proacutepria (que amiuacutede se acha em

decomposiccedilatildeo) mas tambeacutem seria imensamente

mais barata do que a tecnologia requintada de uso

altamente intensivo de capital da induacutestria

moderna () A tecnologia intermeacutedia tambeacutem se

enquadraria de um modo muito mais natural no

ambiente relativamente rudimentar em que vai ser

utilizada O equipamento seria razoavelmente

simples e portanto compreensiacutevel adequado agrave

manutenccedilatildeo e reparos no local O equipamento

simples eacute normalmente menos dependente de

mateacuterias-primas de grande pureza ou especificaccedilotildees

exatas e muito mais adaptaacutevel a flutuaccedilotildees do

mercado do que o equipamento altamente

sofisticado Os homens satildeo mais facilmente

treinados a supervisatildeo o controle e a organizaccedilatildeo

satildeo mais simples e haacute muito menor vulnerabilidade

a dificuldades imprevistas (SCHUMACHER 1977

p 159 - 161)

Verifico que essa proposta pretendia uma tecnologia que se

caracterizasse pelo baixo custo de capital pequena escala e

simplicidade abarcando tambeacutem uma dimensatildeo ambiental que por

tudo isso foi entendida como mais adequada aos paiacuteses pobres

Neder (2008) esclarece que o movimento iniciado por

Schumacher mobilizou praticantes e teoacutericos de diversas localidades que

defendiam e buscavam viabilidade de tecnologias que fossem

apropriadas agraves culturas locais e agraves realidades regionais em escalas

dominadas pelos sujeitos Teacutecnicos e militantes na Europa Aacutesia e

Ameacuterica Latina nos anos 1960 e 1970 propuseram a luta pela

perspectiva de uma TA em peacute de igualdade com a cultura tecnocientiacutefica

hegemocircnica (NEDER 2008)

No quadro 4 abaixo Brandatildeo (2001) traccedila um paralelo entre

uma sociedade baseada em TC (Hard Technology-tecnologia fortedura)

e uma sociedade com base no que ele chama de Tecnologia Alternativa

(Soft Technology-tecnologia suavemacia) aqui usada como sinocircnimo

de TA Nele eacute possiacutevel perceber que o autor considera que uma

sociedade baseada em TA se aproximaria da visatildeo que melhor se

encaixa em uma noccedilatildeo sustentaacutevel de desenvolvimento Mas revela a

complexidade envolvida nessa questatildeo e afirma defender uma TA para o

desenvolvimento sustentaacutevel mas natildeo como uma panaceia que

133

solucione todos os problemas advindos da incapacidade dos modelos

econocircmicos por deacutecadas dominantes em resolver os problemas mais

baacutesicos da populaccedilatildeo do mundo (BRANDAtildeO 2001 p42)

Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA

Sociedade Baseada em Tecnologia

Convencional

(Hard Technology)

Sociedade Baseada em

Tecnologia Alternativa

(Soft Technology)

1 Ecologicamente doente

2 Grande consumo de energia

3 Alto iacutendice de poluiccedilatildeo

4 Uso irreversiacutevel de materiais e

energia

5 Funcional somente por tempo

limitado

6 Produccedilatildeo em massa

7 Especializaccedilatildeo em alto niacutevel

8 Nuacutecleo familiar

9 Importacircncia agraves cidades

10 Poliacutetica de consenso

11 Fronteiras estabelecidas pela

riqueza

12 Alienaccedilatildeo da natureza

13 Comeacutercio internacional

14 Destruidora da cultura local

15 Tecnologia passiacutevel de ser mal-

usada

16 Altamente destruidora de outras

espeacutecies

17 Inovaccedilatildeo regida por lucros e

perdas

18 Economia orientada para o

crescimento

19 Capital intensivo

20 Centralista

21 Aliena jovens e velhos

22 A eficiecircncia geral aumenta com

grandeza

23 Meacutetodos operacionais muito

complicados para compreensatildeo geral

24 Acidentes tecnoloacutegicos frequumlentes

e graves

25 Soluccedilotildees uacutenicas para problemas

Ecologicamente sadia

Pequeno consumo de energia

Baixo iacutendice de poluiccedilatildeo

Uso reversiacutevel de materiais e

energia

Funcional por tempo ilimitado

Induacutestria artesanal

Pouca especializaccedilatildeo

Unidades comunais

Importacircncia agraves vilas

Poliacutetica democraacutetica

Fronteiras estabelecidas pela

natureza

Integrada agrave natureza

Intercacircmbio local

Compatiacutevel com a cultura local

Medidas de seguranccedila contra mau

uso

Dependente do bem-estar de

outras espeacutecies

Inovaccedilatildeo regida pela necessidade

Economia estabilizada

Trabalho intensivo

Natildeo-centralista

Integra jovens e velhos

A eficiecircncia geral aumenta com a

pequenez

Meacutetodos operacionais

compreensiacuteveis para todos

Acidentes tecnoloacutegicos raros e

sem gravidade

Soluccedilotildees diversas para problemas

134

teacutecnicos e sociais

26 Na agricultura importacircncia da

monocultura

27 Criteacuterios de quantidade altamente

valorizados

28 Trabalho empreendido

principalmente por dinheiro

29 Produccedilatildeo alimentar feita por

induacutestrias especializadas

30 Ciecircncia e tecnologia alienadas da

cultura

31 Pequenas unidades totalmente

dependentes de outras

32 Ciecircncia e tecnologia exercida por

elites especializadas

33 Ciecircncia e tecnologia separadas

das outras formas de conhecimento

34 Distinccedilatildeo acentuada entre

laborlazer

35 Desemprego em grande escala

36 Metas teacutecnicas vaacutelidas somente

para uma pequena porccedilatildeo do globo

por tempo limitado

teacutecnicos e sociais

Na agricultura importacircncia agrave

diversificaccedilatildeo

Criteacuterios de qualidade altamente

valorizados

Trabalho empreendido

principalmente por satisfaccedilatildeo

Produccedilatildeo alimentar feita por

todos

Ciecircncia e tecnologia integradas agrave

cultura

Pequenas unidades auto-

suficientes

Ciecircncia e tecnologia exercida por

todos

Ciecircncia e tecnologia integradas

com outras formas de

conhecimento

Distinccedilatildeo leve ou natildeo existente

entre laborlazer

(conceito natildeo vaacutelido)

Metas teacutecnicas vaacutelidas para

todos os homens em todos os

tempos

Fonte (BRANDAtildeO 2001 p41)

As ideias de Gandhi e Schumacher presentes na perspectiva de

TA foram acolhidas inclusive pelo Norte Contudo Dagnino Brandatildeo e

Novaes (2004) apontam que a partir de meados dos anos 1980 as

iniciativas de desenvolvimento de TA perdem forccedila devido ao contexto

geopoliacutetico neoliberal que se agravou Aleacutem disso Dias e Novaes

(2009) mostram que as TA tinham uma debilidade importante Essa

consistia em pressupor que o simples alargamento do leque de

alternativas tecnoloacutegicas agrave disposiccedilatildeo do Sul poderia alterar a natureza

do processo que presidiria a adoccedilatildeo de tecnologia

Thomas e Fressoli (2009) vatildeo aleacutem e consideram que as TA

apresentaram uma seacuterie de restriccedilotildees pois foram

desenhadas para situaccedilotildees de pobreza extrema de

nuacutecleos familiares ou pequenas comunidades

geralmente aplicam conhecimentos tecnoloacutegicos

simples e tecnologias antigas deixando de lado

novos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos

disponiacuteveis Concebidas como meros bens de uso

135

normalmente perdem de vista que ao mesmo

tempo geram bens de troca e dinacircmicas de

mercado De fato normalmente ignoram os

sistemas de acumulaccedilatildeo e os mercados de bens e

serviccedilos em que estatildeo inseridas e resultam

economicamente insustentaacuteveis (p 114)102

Contudo o desenvolvimento de TS busca evitar os equiacutevocos

detectados nas TA De acordo com Fonseca e Serafim (2009) a

proposta das TS pretende superar a visatildeo do movimento pela TA com a

realizaccedilatildeo da criacutetica agrave neutralidade e ao determinismo E foi esse

cuidado que ressaltei ao apontar possibilidades e limites de mobilizaccedilatildeo

(criativa colaborativa e autossuficiente) para a autoria em ambientes

educacionais via TS Aleacutem disso Dagnino Brandatildeo e Novaes (2004)

consideram que o movimento da TA apontou elementos para o processo

de elaboraccedilatildeo do marco analiacutetico-conceitual hoje disponiacutevel para a

formulaccedilatildeo de um conceito de TS adequado agrave realidade brasileira como

mostrarei adiante

222 Denominaccedilotildees e sentidos

Atualmente o termo ldquoTecnologia Socialrdquo eacute muito conhecido seja

por quem estuda tecnologia seja por quem desenvolve accedilotildees em

perspectiva de inovaccedilatildeo e inclusatildeo socioteacutecnica Contudo na literatura

disponiacutevel as TS satildeo muitas vezes relacionadas agraves TA e vaacuterias

denominaccedilotildees aparecem para fazer referecircncia a iniciativas que se

contrapotildeem agrave TC e agrave tecnociecircncia Satildeo elas tecnologia alternativa

tecnologia utoacutepica tecnologia intermediaacuteria tecnologia adequada

tecnologia socialmente apropriada tecnologia ambientalmente

apropriada tecnologia adaptada ao meio ambiente tecnologia correta

tecnologia ecoloacutegica tecnologia limpa tecnologia natildeo-violenta

tecnologia natildeo-agressiva ou suave tecnologia branda tecnologia doce

tecnologia racional tecnologia humana tecnologia de auto-ajuda

102 Disentildeadas para situaciones de extrema pobreza de nuacutecleos familiares o

pequentildeas comunidades normalmente aplican conocimientos tecnoloacutegicos

simples y tecnologiacuteas maduras dejando de lado el nuevo conocimiento

cientiacutefico y tecnoloacutegico disponible Concebidas como simples bienes de uso

normalmente pierden de vista que al mismo tiempo generan bienes de cambio

y dinaacutemicas de mercado De hecho normalmente ignoran los sistemas de

acumulacioacuten y los mercados de bienes y servicios en los que se insertan y

resultan econoacutemicamente insustentables (p 114) Traduccedilatildeo livre da autora

136

tecnologia progressiva tecnologia popular tecnologia do povo

tecnologia orientada para o povo tecnologia orientada para a sociedade

tecnologia democraacutetica tecnologia comunitaacuteria tecnologia de vila

tecnologia radical tecnologia emancipadora tecnologia libertaacuteria

tecnologia liberatoacuteria tecnologia de baixo custo tecnologia da escassez

tecnologia adaptativa tecnologia de sobrevivecircncia e tecnologia

poupadora de capital (BRANDAtildeO 2001)

Para aleacutem de todas essas denominaccedilotildees apresento alguns

sentidos sobre TS que aparecem nos discursos sobre o tema Como jaacute

mencionei desde o iniacutecio dos anos 2000 existem tentativas de

formulaccedilatildeo de um conceito de TS ou de unificaccedilatildeo de ideias recorrentes

acerca do tema por entidades e pesquisadoresas que tratam dessa

questatildeo Aponto aqui algumas dessas iniciativas

A seguinte definiccedilatildeo para TS produtos teacutecnicas eou

metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a

comunidade e que represente efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social

(MCT 2010 RTS 2004) eacute utilizada por

Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia do Brasil (MCT) atraveacutes da

Secretaria de Inclusatildeo Social (SECIS) busca promover inclusatildeo social

por meio de accedilotildees que melhorem a qualidade de vida e estimulem a

geraccedilatildeo de ocupaccedilatildeo e renda (MCT 2010)

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atraveacutes da Incubadora

Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares (ITCP) desenvolve TS que

visam agrave construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvimento local

sustentaacutevel baseadas em princiacutepios da socioeconomia solidaacuteria

(MATSUMOTO 2008 sp)

Rede de Tecnologia Social (RTS) tem entre seus noacutes o MCT o

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS) o

Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (MI) a Petroacuteleo Brasileiro SA

(PETROBRAS) o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico (CNPq) a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

(EMBRAPA) o Instituto Paulo Freire (IPF) a FBB o Instituto de

Tecnologia Social (ITS) a Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais (ABONG) e o Conselho Federal de Defesa dos Direitos

Humanos (CFDH) entre outras instituiccedilotildees (RTS 2010)

O ITS define TS de modo similar ao MCT FGV e RTS TS eacute

ldquoum conjunto de teacutecnicas metodologias transformadoras desenvolvidas

eou aplicadas na interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo e apropriadas por ela que

representam soluccedilotildees para inclusatildeo social e melhoria das condiccedilotildees de

vidardquo (ITS 2004 p 130) Aleacutem disso o ITS (2009) indica no quadro 5

137

abaixo as dimensotildees que seratildeo analisadas para considerar se uma

iniciativa se constitui como TS ou natildeo

Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS

Dimensotildees CaracteriacutesticasIndicadores

Conhecimento Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo

1 Objetiva solucionar demanda social

2 Organizaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo

3 Grau de inovaccedilatildeo

Participaccedilatildeo Cidadania e

Democracia

4 Democracia e cidadania

5 Metodologia participativa

6 Difusatildeo

Educaccedilatildeo

7 Processo pedagoacutegico

8 Diaacutelogo entre saberes

9 ApropriaccedilatildeoEmpoderamento

Relevacircncia Social

10 Eficaacutecia

11 Sustentabilidade

12 Transformaccedilatildeo social

Fonte (ITS 2009 sp)

Jaacute a FBB que manteacutem um banco de dados sobre TS o BTS jaacute

referido na introduccedilatildeo desta tese caracteriza TS como ldquotodo processo

meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema

social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil

reaplicabilidade e impacto social comprovado (PENA MELLO 2004

p 84) No site da FBB disponiacutevel em ltwwwtecnologiassocialorgbrgt

as TS satildeo definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou

metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a

comunidade e que representem efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo

social (BTS 2008 FBB 2008 sp)

Segundo a FBB (2008) o conceito remete a uma proposta

inovadora de desenvolvimento que considera a participaccedilatildeo coletiva no

seu processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implantaccedilatildeo aleacutem de

estar baseado na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a

demandas sociais concretas Para a entidade tecnologias sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e conhecimento teacutecnico-

cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e reaplicaacuteveis

propiciando desenvolvimento social em escala (FBB 2008 sp)

Pelo exame dessas conceituaccedilotildees percebo que as TS se propotildeem

de modo geral a atender questotildees relativas agrave melhoria de condiccedilotildees de

138

vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local

sustentaacutevel

Jaacute para Tait Fonseca e Dagnino (2007) o conceito de TS deveria

ser empregado para se referir a produtos e metodologias que fossem

claramente identificados com a oacuterbita da produccedilatildeo primordialmente nos

ambientes de cooperativas tendo em vista que essas entidades seriam

teoricamente fundamentais no processo de promoccedilatildeo de sustentabilidade

social via ambiente de produccedilatildeo A partir desse entendimento eacute

interessante examinar as contraposiccedilotildees apresentadas por Dagnino

(2004) em relaccedilatildeo aos sentidos sobre TS em relaccedilatildeo agrave TC

Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS

O que faz a TC ser diferente da TS

A TC eacute funcional para a

empresa privada que no

capitalismo eacute a

responsaacutevel por

transformar

conhecimento em bens e

serviccedilos

Os governos dos paiacuteses

centrais apoacuteiam seu

desenvolvimento

As organizaccedilotildees e os

profissionais que a

concebem estatildeo

imersos no ambiente

social e poliacutetico que a

legitima e demanda

Porque trazem

consigo seus valores e

por isso a reproduzem

Fonte (DAGNINO 2004 p 195)

Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS

Como eacute (ou deveria ser) a TS

Adaptada a pequeno

tamanho fiacutesico e financeiro

Natildeo-discriminatoacuteria (patratildeo

x empregado)

Orientada para o mercado

interno de massa

Liberadora do

potencial e da

criatividade do produtor

direto

Capaz de viabilizar

economicamente os

empreendimentos

autogestionaacuterios e as

pequenas empresas

Fonte (DAGNINO 2004 p 193)

139

Verifico que Dagnino (2004) concebe TS fortemente

contrapostas agrave TC e ao contexto capitalista de produccedilatildeo O autor

apresenta um conjunto de princiacutepios normativos envolvidos com TS

pelos quais essas deveriam ser adaptadas a pequenos produtores e

consumidores de baixo poder econocircmico natildeo promovedoras do

controle segmentaccedilatildeo hierarquizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre

patrotildees e empregados orientadas para o mercado interno de massa

incentivadoras do potencial e da criatividade de produtores diretos e dos

usuaacuterios e capazes de viabilizar economicamente empreendimentos

como cooperativas populares incubadoras e pequenas empresas

(DAGNINO 2004)

Esse autor tem conceituado TS como

o resultado da accedilatildeo de um coletivo de produtores

sobre um processo de trabalho que em funccedilatildeo de

um contexto socioeconocircmico (que engendra a

propriedade coletiva dos meios de produccedilatildeo) e de

um acordo social (que legitima o associativismo)

os quais ensejam no ambiente produtivo um

controle (autogestionaacuterio) e uma cooperaccedilatildeo (de

tipo voluntaacuterio e participativo) permite (a accedilatildeo

referida) uma modificaccedilatildeo no produto gerado

passiacutevel de ser economicamente apropriada

segundo a decisatildeo do coletivo (DAGNINO 2014

p 204)

Para desenvolver a TS Dagnino (2014) aponta a necessidade de

um processo de AST como jaacute apontei anteriormente com as seguintes

modalidades (i) alteraccedilatildeo na distribuiccedilatildeo da receita gerada (ii)

apropriaccedilatildeo (iii) repotenciamento (iv) ajuste no processo de trabalho

(v) alternativas tecnoloacutegicas (vi) incorporaccedilatildeo de conhecimento

tecnocientiacutefico existente e (vii) busca de conhecimento tecnocientiacutefico

novo103

Uma adequaccedilatildeo social e teacutecnica para TS como a exposta acima eacute

ampliada na proposta de inspiraccedilatildeo construtivista de Thomas e Fressoli

(2009) e Thomas e Buch (2008) Para esses autores a AST pode ser

compreendida como um processo que busca promover adequaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos tanto aos requisitos de caraacuteter teacutecnico e

econocircmico como fundamentalmente ao conjunto de aspectos de

103 Um detalhamento de cada uma das sete modalidades natildeo eacute explorado aqui

Para mais informaccedilotildees ver a referecircncia Dagnino (2014)

140

natureza socioeconocircmica e ambiental Equipamentos insumos e formas

de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo em forma tangiacutevel ou taacutecita se vinculam a

processos de participaccedilatildeo democraacutetica no processo de trabalho na

atenccedilatildeo ao ambiente e agrave sauacutede de trabalhadores e consumidores bem

como agrave capacitaccedilatildeo autogestionaacuteria (THOMAS BUCH 2008)

A AST eacute compreendida portanto como um processo e natildeo como

um resultado a ser buscado (como o que ocorre com as TA) Ela

substituiria a idealizaccedilatildeo tiacutepica do laboratoacuterio pela praacutetica concreta dos

movimentos sociais (THOMAS BUCH 2008) Assim os autores

destacam a importacircncia da participaccedilatildeo de coletividades em especial de

movimentos sociais e ao contraacuterio de Dagnino (2004) natildeo partem da

comparaccedilatildeo com a TC mas da comparaccedilatildeo com a TA No quadro 8 a

seguir Thomas (2008) relaciona TA e a perspectiva de AST em termos

sociocognitivos104

Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST

Tecnologias

Apropriadas

Adequaccedilatildeo

Socioteacutecnica

Concepccedilatildeo baacutesica Estoque de

tecnologias

Tecnologias

singulares

Produccedilotildees ad hoc

Montagem socioteacutecnica

Construccedilatildeo do

problema

social

Processo exoacutegeno

Conhecimento de

especialistas

Processo endoacutegeno

Muacuteltiplos saberes

Relaccedilatildeo problema ndash

soluccedilatildeo

Uniacutevoca

Linear

Singular

Monovariaacutevel

Flexibilidade

interpretativa

Natildeo linear

Plural

Sistecircmica

Desenho da

tecnologia

Exoacutegeno

Teacutecnico

Centrado no artefato

Endoacutegeno

Socioteacutecnico

Centrado na dinacircmica

socioteacutecnica

Equipe de desenho Grupo de

especialistas

Divisatildeo social do

trabalho

Coletivo de produtores e

usuaacuterios de tecnologias

Divisatildeo teacutecnica do

trabalho

Processo de

concepccedilatildeo e

Transferecircncia e

difusatildeo Adaptaccedilatildeo a

Co-construccedilatildeo

104 Natildeo exploro aqui cada componente da AST apresentado no quadro 8

141

construccedilatildeo condiccedilotildees locais

Conhecimentos

implicados

Homogecircneos

Expertise

Predomiacutenio de

conhecimentos de

engenharia

Heterogecircneos

Conhecimentos

codificados e taacutecitos

Transdisciplinar

Intensidade dos

conhecimentos

Baixa

Tecnologias antigas

Alta Tecnologias

intensivas em

Conhecimentos

Presenccedila de

conhecimento taacutecito

Efeitos natildeo

desejados

Integrado ao processo de

desenho

Papel do usuaacuterio Receptor passivo

Ao final da linha

Participante ativo

Ao iniacutecio do processo

Capacitaccedilatildeo dos

usuaacuterios

Ex post Usuaacuterio

passivo

Ex ante Usuaacuterio ativo

Fonte (THOMAS 2008 sp)105

Penso que o importante nesse momento eacute compreender que a

intenccedilatildeo dos autores eacute a de que natildeo se repitam nas TS os erros

cometidos pelas iniciativas baseadas nas TA Nesses termos a AST para

TS poderia ser entendida como um procedimento no qual uma

tecnologia sofreria um processo de adequaccedilatildeo aos interesses poliacuteticos de

grupos sociais relevantes diferentes daqueles que lhes deram origem

(THOMAS FRESSOLI 2009 THOMAS BUCH 2008)

Destaco tambeacutem que Thomas (2012) apresenta uma

compreensatildeo das TS como Tecnologias para a Inclusatildeo Social (TIS)

Nas palavras do autor

As Tecnologias para a Inclusatildeo Social satildeo uma

maneira de desenhar desenvolver implementar e

gerenciar tecnologias orientadas a resolver

problemas sociais e ambientais gerando

dinacircmicas sociais e econocircmicas de inclusatildeo social

e de desenvolvimento sustentaacutevel () e alcanccedilam

uma ampla gama de produccedilotildees de tecnologias de

produtos processos e organizaccedilatildeo (THOMAS

2012 p 27)106

105 Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 106 Las Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social son una forma de disentildear

desarrollar implementar y gestionar tecnologiacuteas orientadas a resolver

problemas sociales y ambientales generando dinaacutemicas sociales y econoacutemicas

de inclusioacuten social y de desarrollo sustentablerdquo [hellip] y ldquoalcanzan un amplio

142

Um sentido sobre TS que dialoga com a AST das TIS e

compreende a questatildeo da inovaccedilatildeo social eacute encontrado em Baumgarten

(2008a 2008b) A autora reflete acerca da temaacutetica de inovaccedilatildeo social

contextualizada com uma visatildeo geral sobre as atuais formas de produzir

ciecircncia e tecnologia que considere o papel de redes de produccedilatildeo de

conhecimentos para sustentabilidade social Para ela esse debate se

refere tanto agrave vinculaccedilatildeo entre produccedilatildeo de ciecircncia tecnologia e

inovaccedilatildeo relacionada a necessidades e possibilidades sociais quanto agrave

importacircncia crescente de apropriaccedilatildeo por parte de diferentes sujeitos de

conhecimentos que possam ser incorporados a TS Essas entendidas

como

As tecnologias sociais teriam pois a

potencialidade para expressar instacircncias fiacutesicas e

virtuais de trocas reintegraccedilatildeo de saberes

contrabandos inter campos e disciplinas que se

fazem por sendas atraveacutes das quais constroem

conhecimentos que datildeo conta da complexidade do

mundo real e de nossas capacidades para construiacute-

lo e reconstruiacute-lo de acordo com nossas

necessidades e potencialidades (BAUMGARTEN

2010 sp)

Nesse sentido as TS poderiam se articular como um noacute no qual

seria possiacutevel conectar uma ampla rede de sujeitos (BAUMGARTEN

2010) Nessa perspectiva de TS a teacutecnica seria entendida como um

meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo

forma de controle ou causa de desigualdade social (CORREcircA 2010)

Thomas (2009) tambeacutem apresenta um apanhado de diferentes

posicionamentos teoacutericos desenvolvidos sobre TS a partir da deacutecada dos

anos 1960 O quadro 9 abaixo traz uma siacutentese dessas contribuiccedilotildees

abanico de producciones de tecnologiacuteas de producto proceso y organizacioacuten

(THOMAS 2012 p 27) Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da

autora

143

Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico

Fonte (VALADAtildeO ANDRADE NETO 2014 p 56)

Eacute possiacutevel verificar que o quadro 9 apresenta posicionamentos

criacuteticos em relaccedilatildeo a padrotildees lineares e convencionais de

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico Destaco portanto a

importacircncia das posiccedilotildees acima referidas no entendimento das TS

Desde a perspectiva normativa e contraposta agrave TC de Dagnino (2004)

passando pela AST das TIS em contraposiccedilatildeo agrave TA de Thomas (2012) e

Thomas e Fressoli (2009) ateacute a perspectiva de inovaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo

social desenvolvido por Baumgarten 2008a 2008b) mostram-me modos

de abordar a questatildeo de maneira criacutetica e com relevacircncia aos sujeitos envolvidos com as TS

E esse sentido criacutetico seria importante para pensarmos sobre TS

em processos educacionais Compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo

humana permeada de valores (caraacuteter ideoloacutegico) e que como tal pode

ser construiacuteda conforme nossos interesses e de acordo com nossos

144

contextos (de diversidade eacutetnico-racial de gecircnero e de classes por

exemplo) pode auxiliar na mobilizaccedilatildeo para autoria em ambientes

educacionais

Assim apresento a figura 3 abaixo na qual esquematizo um

modo possiacutevel de relacionar criticamente dimensotildees gerais das TS com

as categorias que utilizo nesta tese

Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

A ideia eacute que em torno de uma perspectiva criacutetica sobre TS em

processos educacionais seja possiacutevel promover (i) diaacutelogos entre

diferentes conhecimentos (ii) mobilizaccedilatildeo de estudantes para autoria na

(maior) compreensatildeo da relevacircncia de seus problemas (e soluccedilotildees)

socioteacutecnicos (iii) (resgate de) sentidos na busca por emancipaccedilatildeo

social e (iv) possibilidades (maiores) de compreender a tecnologia como

conhecimento humano possiacutevel de ser aprendido

Ao apontar essas quatro dimensotildees possiacuteveis de anaacutelises em TS

procuro natildeo silenciar seu caraacuteter poliacutetico tampouco os conhecimentos

produzidos pelas diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no

contexto escolar da atualidade E em alguma medida busco refletir sobre as relaccedilotildees entre essas diversidades e os possiacuteveis aspectos que

representariam sua unicidade em um contexto nacional mais geral

Acredito que promover uma perspectiva criacutetica de TS (que

apresente a histoacuteria das teacutecnicas a importacircncia dos sujeitos as

145

contradiccedilotildees e os efeitos desses desenvolvimentos em nossas culturas)

pode colaborar com debates nos quais estudantes (como autoresas e natildeo

apenas usuaacuteriosas) percebam (mais) que seus problemas socioteacutecnicos

tecircm relevacircncia e que eleselas tecircm possibilidades (autonomia) de

desenvolver autoria na busca por soluccedilotildees criativas e colaborativas

(emancipaccedilatildeo social)

Entretanto vaacuterios sentidos sobre TS que circulam e muitas

iniciativas de desenvolvimento que estatildeo implantadas apresentam

caracteriacutesticas que merecem ser examinadas com algum cuidado

223 Ponderaccedilotildees

Um sentido sobre TS muito disseminado no Brasil se refere agrave

proposta da FBB107 que como apontei anteriormente destaca as

dimensotildees de simplicidade baixo custo faacutecil reaplicabilidade e resposta

social comprovada Um esquema dessas caracteriacutesticas pode ser visto na

Figura 4 abaixo

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Junto a isso as possibilidades de (i) apropriaccedilatildeo das TS pelos

sujeitos e (ii) articulaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais e

107 A popularidade do conceito de TS utilizado pela FBB ocorre porque essa

manteacutem desde 2001 um banco de dados de TS que serve de base para o Precircmio

FBB de TS que ocorre a cada dois anos O Banco do Brasil (BB) tem presenccedila

expressiva em todas as regiotildees do paiacutes e conta com um suporte de publicidade

amplo Desse modo o Precircmio FBB de TS tem divulgaccedilatildeo em todo o paiacutes em

vaacuterias miacutedias o que confere expressividade ao seu alcance e ao nuacutemero de

iniciativas inscritas

146

conhecimentos socioteacutecnicos tambeacutem satildeo caracteriacutesticas apontadas por

autoresas e instituiccedilotildees que discutem a questatildeo De modo que apresento

a seguir certas consideraccedilotildees em relaccedilatildeo a algumas dessas dimensotildees

das TS para que elas possam ser pensadas de modo menos ingecircnuo

O aspecto da simplicidade muitas vezes se traduz como pontual

Em minha pesquisa para a dissertaccedilatildeo identifiquei que as TS analisadas

satildeo dirigidas prioritariamente agrave soluccedilatildeo de problemas pontuais muitas

vezes parciais de sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade O que pode

carregar um sentido assistencialista Ou seja praacuteticas normalmente

paliativas que prestam assistecircncia a sujeitos necessitados de uma

coletividade em detrimento de uma poliacutetica que os tire da sua condiccedilatildeo

de carecircncia e vulnerabilidade (CORREcircA 2010) Frente a isso eacute

interessante pensarmos na simplicidade como a busca pelo uso de

conhecimentos locais

Em relaccedilatildeo agrave reaplicaccedilatildeo considero importante a distinccedilatildeo de

replicaccedilatildeo De acordo com Barros (2007) replicaccedilatildeo eacute uma coacutepia de um

modelo sem exercer alteraccedilotildees As TS envolvem reaplicaccedilatildeo porque

precisam ser reconstruiacutedas o tempo todo Pois os conhecimentos se

reconstroem com a participaccedilatildeo de todosas osas que interagem na sua

multiplicaccedilatildeo (BARROS 2007) Portanto as TS podem ser reaplicaacuteveis

(ou adaptadas para cada contexto) desde reflexotildees criacuteticas e em conjunto

com os sujeitos envolvidos

As possibilidades de mediaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais

e conhecimentos socioteacutecnicos atraveacutes de TS pode ser pensada desde

uma perspectiva interdisciplinar108 Nessa direccedilatildeo Rocha Neto (2002)

propotildee inter-relaccedilotildees entre Ciecircncias Sociais e Ciecircncias Naturais Para o

autor a ampliaccedilatildeo do escopo das atividades de pesquisa e a realizaccedilatildeo

de projetos de relevacircncia social com a colaboraccedilatildeo de diferentes aacutereas

do conhecimento pode ser uma iniciativa nessa direccedilatildeo

108 De acordo com Pombo (2006) o modelo atual de produccedilatildeo de

conhecimentos cientiacuteficos levou ao extremo de especializaccedilotildees cientiacuteficas As

disciplinas acadecircmicas instituiacutedas mantecircm pouca ou nenhuma comunicaccedilatildeo

muitas vezes dentro da mesma aacuterea de conhecimento O que parece desperdiccedilar

possibilidades de diaacutelogo entre acadecircmicos aacutereas campos de conhecimentos e

desses com os sujeitos Sem desconsiderar a importacircncia dos especialistas e a

relevacircncia acadecircmica e social de estudos aprofundados aponto que muitas

vezes especializaccedilotildees extremas podem levar a fragmentaccedilatildeo de conhecimentos

que podem natildeo contemplar uma integraccedilatildeo de conhecimentos que possibilitem

abranger a complexidade que as problemaacuteticas atuais apresentam (CORREcircA

2010)

147

Contudo para aleacutem da abertura e integraccedilatildeo entre aacutereas

acadecircmicas eacute importante o diaacutelogo com os sujeitos que produzem

conhecimentos em outras instacircncias Jaacute nos anos 1980 Santos (2010b)

apresentava seu paradigma emergente que permite pensarmos em uma

educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo Para pensarmos sobre TS de

modo menos ingecircnuo seria importante considerarmos as teses do autor

de que (i) todo o conhecimento cientiacutefico-natural eacute cientiacutefico social (ii)

todo o conhecimento eacute local e total (iii) todo o conhecimento eacute

autoconhecimento e (iv) todo o conhecimento cientiacutefico visa constituir-

se em senso comum (SANTOS 2010b)

O autor destaca que com a emergecircncia do novo paradigma

comeccedilaria a desaparecer a diferenccedila hieraacuterquica entre senso comum e

conhecimento cientiacutefico Essa equidade entre os tipos de conhecimento

natildeo visaria desfavorecer o conhecimento cientiacutefico que inegavelmente

atua em muitos sentidos na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos

mas fazer perceber que natildeo eacute necessaacuterio abdicar dos conhecimentos

locais nativos das artes filosoacutefico e especulativo para aceitar a ciecircncia

e a tecnologia

Com isso a possibilidade de contemplar uma integraccedilatildeo de

conhecimentos nas TS natildeo representaria um simples somatoacuterio mas a

recriaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo de conhecimentos que cruzariam as fronteiras

das disciplinas acadecircmicas e extrapolariam os muros da academia Para

isso considero a importacircncia de oportunizar conhecimentos em ciecircncia

e tecnologia para os sujeitos (domiacutenio intelectual da teacutecnica) que lhes

permitam um debate informado e criacutetico sobre o tema (autonomia)

A esse respeito Castro (2009) esclarece que leva tempo para

educar algueacutem a ser criacutetico com a tecnologia e a conhecer sua proacutepria

capacidade de decisatildeo Portanto o autor destaca que seria importante

introduzir essa discussatildeo na escola inicial porque ali as crianccedilas jaacute tecircm

celular videogames e muitas possibilidades tecnoloacutegicas Tendo em

vista o exemplo das discussotildees ecoloacutegicas que comeccedilaram a ser

apresentadas fortemente agraves crianccedilas nas seacuteries inicias de ensino poderia

ser relevante comeccedilar a combater cedo a dimensatildeo ideoloacutegica de que a

tecnologia eacute apoliacutetica (CASTRO 2009)

Antes de examinar os detalhes que envolvem as TS em processos

educacionais destaco tipos de TS exemplos entidades e coletividades

que as desenvolvem no Brasil contemporacircneo

148

224 TS tipos exemplos entidades e coletividades

relacionadas109

Em minha dissertaccedilatildeo elaborei uma tipologia sobre TS pois

naquele contexto fazia sentido identificaacute-las como materiais ou

imateriais Na primeira categoria identifiquei produtos mercadorias e

creacutedito enquanto na segunda analisei serviccedilos processos e formas de

gestatildeo Essa definiccedilatildeo do tipo de tecnologia natildeo foi feita em relaccedilatildeo

apenas agrave finalidade da TS mas considerei o contexto110 no qual o

desenvolvimento ocorria os sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade

com a qual a TS se relacionava e o problema a ser resolvido Desse

modo procurei evitar uma percepccedilatildeo instrumental das TS O quadro 10

abaixo mostra a prevalecircncia de TS de tipo imaterial que em percentual

correspondia a 87 dos casos que analisei

Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS

Fonte Correcirca (2010)

109 Satildeo exemplos de TS muito divulgados soro caseiro Banco Palmas cisternas

para captaccedilatildeo de aacutegua cafeacute com floresta e encauchados de vegetais da

Amazocircnia entre outras iniciativas que podem ser verificadas emlt

httpfbborgbrtecnologiasocialgt 110 Considerei a proposiccedilatildeo de Feenberg (2002) para quem o caraacuteter social da

tecnologia natildeo reside na loacutegica do seu funcionamento interno mas na relaccedilatildeo

dessa loacutegica com um contexto social

149

Subdividi as TS imateriais em (i) serviccedilos (ii) processos e (iii)

gestatildeo Satildeo exemplos de cada um desses casos (i) serviccedilos gratuitos de

auxiacutelio em questotildees juriacutedicas coleta de lixo por prefeituras confecccedilatildeo

de documentos de identificaccedilatildeo como carteira de identidade

distribuiccedilatildeo de alimentos cadastro de desempregadosas e empreacutestimo

de equipamentos ortopeacutedicos entre outros (ii) cursos de educaccedilatildeo

popular capacitaccedilatildeo de professoresas capacitaccedilatildeo de lideranccedilas

comunitaacuterias formaccedilatildeo de monitoresas de desenvolvimento rural

cursos de informaacutetica para sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e

cursos de aperfeiccediloamento teacutecnico e (iii) gerecircncia de atividades de

economia solidaacuteria

Essa categorizaccedilatildeo eacute importante pois apareceraacute em alguma

medida no exame dos dados sobre as TS desenvolvidas por estudantes

dos CTIEM Cacircmpus Caxias do Sul

Acredito que a relaccedilatildeo entre tipos de TS desenvolvidas e sua

localizaccedilatildeo pode ilustrar o contexto no qual faccedilo minha investigaccedilatildeo A

tabela 2 abaixo traz alguns dados nesse sentido Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS

Fonte Correcirca (2010)

Destaco que a Regiatildeo Sul como pode ser visto tem maior

desenvolvimento de TS de tipo imaterial (64 casos) Podemos observar

que essas TS satildeo a maioria em todas as regiotildees do Brasil Em minha

dissertaccedilatildeo verifiquei que TS imateriais de tipo serviccedilos e processos

sobretudo no tema da educaccedilatildeo estatildeo relacionadas com esse padratildeo

Apresento abaixo dados sobre as entidades que desenvolvem TS

no Brasil

150

Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS

Fonte Correcirca (2010)

Destaco as entidades que tecircm alguma relaccedilatildeo com processos

educacionais Na tabela 3 acima elas estatildeo distribuiacutedas entre entidades

puacuteblicas (oacutergatildeos dos poderes executivo legislativo e judiciaacuterio em

acircmbitos federais estaduais e municipais empresas puacuteblicas escolas

universidades e centros de pesquisas) em fundaccedilotildees (de empresas

privadas) em educacionais privadas (faculdades centros de pesquisa e

escolas privadas que natildeo tecircm caraacuteter filantroacutepico) em assistenciais e

filantroacutepicas (entidades autodeclaradas desse modo natildeo satildeo oacutergatildeos

governamentais) no 3ordm setor sindicatos e cooperativas (Organizaccedilotildees da

Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico - OSCIPs ONGs e associaccedilotildees

privadas de interesse puacuteblico) e na categoria outras Embora a perspectiva educacional possa estar diluiacuteda em vaacuterias

categorias eacute possiacutevel verificar que as entidades classificadas como

puacuteblicas somam 37 das TS desenvolvidas com 165 casos dos quais

76 satildeo nomeadamente entidades educacionais Assim como os 89 casos

em oacutergatildeos relacionados ao poder executivo legislativo e judiciaacuterio de

151

prefeituras estados e do Governo Federal podem ter relaccedilatildeo com

processos educacionais (CORREcircA 2010)

Por fim apresento o graacutefico 3 abaixo que contempla as

coletividades envolvidas com as TS que analisei

Graacutefico 3 - Coletividades

Fonte Correcirca (2010)

O graacutefico 3 acima mostra que na categoria de coletividades

classificadas como especiacuteficas existem 7 de casos de TS (voltadas ao

puacuteblico analfabeto e a professoresas) Estudantes correspondem a 45

casos 10 do total Os trecircs grandes grupos de coletividades para as

quais as TS se dirigem satildeo pequenosas agricultoresas adolescentes e

famiacutelias de baixa renda (CORREcircA 2010) Mesmo que o nuacutemero de TS

voltadas a analfabetosas e professoresas seja baixo se for considerada

a concentraccedilatildeo de TS dirigidas a problemas no tema educaccedilatildeo eacute possiacutevel

relacionar esses sujeitos como demandantes de TS nessa temaacutetica

Tendo em vista essas informaccedilotildees sobre TS desenvolvidas no

Brasil na atualidade examino a seguir algumas iniciativas que as

relacionam em alguma medida com processos educacionais

225 Relaccedilotildees com processos educacionais

As TS satildeo debatidas sob diversos pontos de vista a partir de

diferentes aacutereas e com preocupaccedilotildees distintas Bioacutelogosas fiacutesicosas

152

geoacutegrafosas ecologistas economistas profissionais da aacuterea da sauacutede

educadoresas estudantes engenheirosas cientistas sociais

participantes de ONGs OSCIPs e de movimentos sociais poliacuteticos

sindicalistas e gestoresas institucionais entre muitos outros sujeitos

desenvolvem estudos ou implantam iniciativas sobre TS no Brasil na

atualidade

Antes de apresentar estudos sobre relaccedilotildees entre TS e processos

educacionais destaco um levantamento de obras sobre TS publicadas

entre os anos de 2003 e 2011 tanto no Brasil quanto em outros paiacuteses

(FREITAS SEGATTO 2013) Para tentar caracterizar a produccedilatildeo

cientiacutefica sobre TS os autores coletaram uma amostra de 133

publicaccedilotildees entre artigos em perioacutedicos (com e sem Qualis111) artigos

completos em anais resumos em anais livros e capiacutetulos de livros entre

outros documentos Desses 925 (123) satildeo de origem nacional e 75

(10) de origem estrangeira (FREITAS SEGATTO 2013)

No quadro 11 abaixo eacute possiacutevel verificar o nuacutemero de

publicaccedilotildees por ano e por paiacutes no qual o Brasil aparece com destaque

na produccedilatildeo de obras sobre TS no periacuteodo analisado

Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees

Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)

Os autores tambeacutem organizaram os dados coletados em relaccedilatildeo

aos temas das publicaccedilotildees conforme pode ser visto no quadro 12

111 O chamado Qualis se refere a avaliaccedilotildees que expressam a pertinecircncia do

conteuacutedo de um perioacutedico para uma determinada aacuterea do conhecimento A

qualidade dos perioacutedicos eacute classificada anualmente pela Capes em estratos que

compreendem desde a melhor avaliaccedilatildeo (A1) passando por A2 B1 B2 B3 B4

e B5 ateacute a menor pertinecircncia (C) e pode ser verificada em

lthttpssucupiracapesgovbrsucupirapublicconsultascoletaveiculoPublicac

aoQualislistaConsultaGeralPeriodicosjsfgt

153

abaixo Destaco a pequena presenccedila de relatos em temas sobre

educaccedilatildeo com apenas uma publicaccedilatildeo ateacute o momento da coleta dos

dados

Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo

Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)

Penso que o tema da educaccedilatildeo possa estar presente mesmo que

silenciado pois pode natildeo ter sido feita uma referecircncia clara no tiacutetulo da

obra (que foi o meacutetodo de coleta de dados utilizado pelos autores) Haacute

tambeacutem o fato de que muitas iniciativas de desenvolvimento de TS na

aacuterea educacional natildeo satildeo relatadas nesse tipo de formato de publicaccedilatildeo

Em minha dissertaccedilatildeo verifiquei o apelo de TS nessa aacuterea como

154

referenciei na introduccedilatildeo desta tese Entretanto nos anos iniciais de

reflexatildeo sobre TS no Brasil havia realmente uma preocupaccedilatildeo na

definiccedilatildeo de prioridades de anaacutelise em TS com focos na divulgaccedilatildeo de

iniciativas de desenvolvimento de TS e na organizaccedilatildeo das demandas

institucionais e poliacuteticas Algo que pode ser visto no quadro 12 acima

onde aparecem 30 publicaccedilotildees (23) concentradas em divulgar

experiecircncias com TS e 23 estudos (17) com ecircnfase nas demandas

institucionais e poliacuteticas

Outra informaccedilatildeo relevante no levantamento de Freitas e Segatto

(2013) eacute a presenccedila de estudos nos temas da AST (que como referi

anteriormente tem preocupaccedilatildeo com iniciativas voltadas a soluccedilotildees

pontuais alinhadas agraves TA) e da inovaccedilatildeo social (que como jaacute apontei

destaca processos inovadores para melhorar ou desenvolver novas TS)

Com isso apresento a seguir contribuiccedilotildees recentes que de alguma

maneira estatildeo relacionadas com processos educacionais112

A ldquoAcademia Estudantil de Letrasrdquo (AEL) foi desenvolvida por

uma professora na Regiatildeo Sudeste do Brasil e atualmente envolve 15

mil alunosas de Ensino Fundamental e Meacutedio A AEL tem como

objetivo despertar o gosto e o interesse pela leitura nosas estudantes

elevar sua autoestima promover inclusatildeo social no processo de

aquisiccedilatildeo da linguagem e agrave formaccedilatildeo integral doa estudante No

projeto cada estudante participante escolhe uma autora para

representar e estudar simulando uma academia de letras113

A TS intitulada ldquoCisterbanrdquo eacute desenvolvida em uma escola na

Regiatildeo Nordeste do Brasil Nela satildeo construiacutedas cisternas a partir do

reaproveitamento da fibra de bananeira Processo mais barato que a

fabricaccedilatildeo de cisternas tradicionais e que amenizam a seca no semiaacuterido

cearense Tambeacutem com foco em produto uma escola municipal da

Regiatildeo Norte do Brasil desenvolve forros ecoloacutegicos feito com

embalagens do tipo longa vida que garante conforto teacutermico

diminuindo a temperatura em ateacute 9ordm C no interior dos lares das

comunidades de baixa renda 112 Com exceccedilatildeo da TS chamada ldquoEscolas Sustentaacuteveisrdquo desenvolvida na

Argentina e que descrevo a seguir todas as iniciativas de desenvolvimento de

TS aqui listadas podem ser acessadas em httpwwwaprenderensinartscombr Satildeo relatos de experiecircncias jaacute

implantadas e que natildeo precisam necessariamente estar publicadas em formato

de artigo 113Informaccedilotildees disponiacuteveis em

httpwwwacademiaestudantildeletrasblogspotcombr

155

O projeto ldquoBanco Verde e Bazar Verderdquo se constitui como um

serviccedilo de troca de materiais reciclaacuteveis por material escolar A

iniciativa desenvolvida na rede puacuteblica de ensino na Regiatildeo Sudeste

funciona como uma troca osas alunosas coletam materiais reciclaacuteveis

(garrafas PET potes de vidros latinhas de alumiacutenio e sacos plaacutesticos) e

trocam por moedas verdes Essas que satildeo depositadas no Banco Verde

que fica dentro da escola podem ser gastas no Bazar Verde que tambeacutem

fica na escola e vende artigos variados de papelaria perfumaria e

tecnologia

Com mais de 200 professoresas formadosas desde 2011 o

projeto intitulado ldquoA Escola eacute a Cidade amp a Cidade eacute a Escolardquo da

Regiatildeo Sudeste do Brasil visa melhorar o ambiente escolar e integrar

educaccedilatildeo e cultura A metodologia da TS eacute formar profissionais que

possam usar a arte em accedilotildees contemporacircneas que contribuam com a

melhoria do ambiente escolar no que diz respeito ao espaccedilo fiacutesico mais

atrativo e na aproximaccedilatildeo dos interesses educacionais e juvenis A

preocupaccedilatildeo com formaccedilatildeo de professoresas (aqui estendida a

alunosas) tambeacutem eacute tema da TS ldquoAbra os Olhos para a Ciecircnciardquo

Iniciativa desenvolvida na Regiatildeo Nordeste do Brasil e que incentiva o

envolvimento de alunosas do ensino meacutedio em atividades de divulgaccedilatildeo

e construccedilatildeo do conhecimento cientifico para a compreensatildeo e resoluccedilatildeo

de problemas socioambientais

A TS ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo tem foco na formaccedilatildeo de

jovens na relaccedilatildeo entre direitos humanos cidadania e orccedilamento

puacuteblico A TS consiste em oficinas em escolas puacuteblicas do Distrito

Federal A ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo problematiza a escola a partir

da reflexatildeo sobre educaccedilatildeo de qualidade trabalha com formaccedilatildeo em

orccedilamento puacuteblico direitos humanos cidadania comunicaccedilatildeo e

processo legislativo Na possibilidade de diaacutelogo com o parlamento

osas adolescentes aprendem a defender seus interesses sem a

intermediaccedilatildeo de outros sujeitos

Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o ldquoLaboratoacuterio de

Desenvolvimento de Tecnologias Sociaisrdquo desenvolve projetos

tecnoloacutegicos de recuperaccedilatildeo de aacutereas urbanas degradadas Segundo

Nunes (2005) o laboratoacuterio utiliza uma metodologia participativa e

estimula a integraccedilatildeo dos diversos sujeitos atraveacutes da formaccedilatildeo de

parcerias com universidades e empresas A participaccedilatildeo coletiva eacute

estimulada atraveacutes de um foacuterum de discussatildeo que aborda os principais

temas principalmente sobre a problemaacutetica socioambiental da regiatildeo O

foacuterum busca apontar soluccedilotildees para os problemas locais atraveacutes da

156

construccedilatildeo de uma agenda para a viabilizaccedilatildeo da sustentabilidade local

(NUNES 2005)

O projeto do ldquoObservatoacuterio do Movimento pela Tecnologia

Social na Ameacuterica Latinardquo com sede na Universidade de Brasiacutelia

(UnB) visa identificar discutir analisar e avaliar a efetividade de

experiecircncias com TS implantadas como soluccedilotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas a partir de demandas sociais Conforme Neder (2008) o

observatoacuterio pretende cobrir as muacuteltiplas dimensotildees do movimento de

entidades civis empresas puacuteblicas oacutergatildeos governamentais e poliacuteticas

puacuteblicas governamentais expressas nos uacuteltimos anos

O curso ldquoFundamentos da Tecnologia Socialrdquo tambeacutem

oferecido na UnB tem como objetivo sistematizar as dificuldades e

necessidades enfrentadas hoje pelos que defendem as inovaccedilotildees

socioteacutecnicas e TS As metas do curso consistem em discutir as bases

da apropriaccedilatildeo da teacutecnica sob uma visatildeo de pluralismo tecnoloacutegico nas

praacuteticas cientiacuteficas e acadecircmicas e realizar discussotildees empiacutericas a

partir do exame de alguns casos de TS no Brasil (NEDER 2008)

Aleacutem de discutir os fundamentos teoacutericos de TS o curso segue a linha

de pesquisa de anaacutelise de tecnologias para a sustentabilidade

Por fim destaco uma iniciativa desenvolvida na Argentina com

coordenaccedilatildeo da Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social (REDTISA) voltada ao desenvolvimento de TS tendo em vista a ideia

de escolas sustentaacuteveis Conforme a coordenadora Paula Juarez o

projeto eacute uma iniciativa que aborda problemas de escolas rurais a partir

da perspectiva dos sistemas tecnoloacutegicos sociais Assim problemas em

temas como aacutegua saneamento energia nutriccedilatildeo e sauacutede seriam

debatidos com a comunidade escolar e sujeitos locais de modo a buscar

soluccedilotildees socioteacutecnicas adequadas e necessaacuterias a cada realidade O

projeto envolveria desde o desenho comunitaacuterio da proposta a

autoconstruccedilatildeo com matildeo de obra local e uso de materiais locais ateacute a

formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo de docentes como agentes de desenvolvimento

(REDTISA 2016)

Jaacute em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre TS fiz duas

revisotildees (julho de 2015 e maio de 2016) no banco de teses e dissertaccedilotildees

da Capes disponiacutevel para acesso em

lthttpbancodetesescapesgovbrbanco-tesesgt A busca pelo termo

ldquotecnologia social educaccedilatildeordquo em tiacutetulos de documentos disponiacuteveis

apenas de origem da Plataforma Sucupira no periacuteodo de 2013 a 2016 na

aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo resultou em 6945 registros

encontrados A maioria desses registros tratava de tecnologia em geral

tecnologia assistiva tecnologia educacionaleducativa e de

157

comunicaccedilatildeoinformaccedilatildeodigitaismoacuteveis Apenas um registro citava TS

no tiacutetulo114

Uma pesquisa nos mesmos paracircmetros que citei acima mas

apenas para o termo ldquotecnologia socialrdquo e aberta a todas as aacutereas de

concentraccedilatildeo resultou em 212 registros Na aacuterea de concentraccedilatildeo

ldquoeducaccedilatildeordquo resultaram oito trabalhos mas apenas dois deles continham

TS no tiacutetulo115 Outra pesquisa apenas com o diferencial de buscar o

termo no plural ldquotecnologias sociaisrdquo resultou em 241 trabalhos sendo

que apenas sete deles estavam na aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo e

desses somente dois continham TS no tiacutetulo116

Com isso antes de pretender examinar os detalhes que envolvem

as TS nos CTIEM busquei apenas apontar estudos iniciativas

perspectivas e posicionamentos que podem colaborar com o exame

proposto Encaminhei um sentido sobre tecnologia que me guia durante

a pesquisa busquei relacionaacute-lo com o enfoque educacional que me

orienta e procurei dialogar com autoresas que podem contribuir em

alguma medida com minhas reflexotildees Assim procuro apontar caminhos

possiacuteveis para compreender e investigar o caraacuteter social da tecnologia

sobretudo em processos educacionais

Compreendo assim como Feenberg (2002 2012) que a

tecnologia pode ser vista como engendrada por relaccedilotildees sociais entre

sujeitos os quais defendem interesses e atuam a partir de valores

proacuteprios agrave sua cultura Noccedilatildeo que tambeacutem percebo em Freire (1968)

quando o autor esclarece que a tecnologia como uma praacutetica humana eacute

114 COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo intergeracional como tecnologia

social uma abordagem da intergeracionalidade no acircmbito da Universidade

Federal do Tocantins-UFT 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 115 OLIVEIRA J P de Tecnologia Social na Educaccedilatildeo Profissional e

tecnoloacutegica perspectivas da formaccedilatildeo do curso teacutecnico integrado em

informaacutetica do IFRN ndash Campus Mossoroacute 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo

Profissional) ndash IFRS Natal 2015 e COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo

intergeracional como tecnologia social uma abordagem da

intergeracionalidade no acircmbito da Universidade Federal do Tocantins-UFT

2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 116 JULIANO M C C Rede Famiacutelia um estudo sobre uma experiecircncia de

tecnologia social e seu diaacutelogo com a promoccedilatildeo de resiliecircncia comunitaacuteria e a

Educaccedilatildeo Ambiental 2013 Doutorado (Educaccedilatildeo Ambiental) ndash FURG Rio

Grande 2013 e MEAULO M P Fundaccedilatildeo Dorina Nowill Para Cegos Um

Estudo Sobre a Educaccedilatildeo Natildeo Formal e Tecnologias Sociais Presentes na

Inclusatildeo de Portadores de Deficiecircncia Visual 2014 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash

Centro Universitaacuterio Salesiano de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2014

158

poliacutetica e intencional natildeo eacute neutra e natildeo se produz nem se usa sem uma

visatildeo de mundo Assim como o posicionamento do autor sobre a

educaccedilatildeo a tecnologia poderia estar relacionada com a praacutetica da

liberdade

Percebo que a liberdade tanto no desenvolvimento tecnoloacutegico

quanto em processos educacionais eacute uma expressatildeo de emancipaccedilatildeo

social autonomia e consciecircncia criacutetica E essas satildeo categorias

importantes em relaccedilatildeo a TS que se pretendam mobilizadoras de

juventudes para a autoria Portanto destaco a vigilacircncia com a qual

examino sentidos sobre TS que circulam nos CTIEM do IFRS Cacircmpus

Caxias do Sul Minha atenccedilatildeo eacute para o que emerge e tambeacutem para o que

estaacute ausente (sentidos natildeo deterministas) Algo que Santos (2010a) jaacute

alerta em sua ecologia dos saberes

Diz o autor que

() eacute crucial comparar o conhecimento que estaacute

sendo aprendido com o conhecimento que estaacute

sendo esquecido ou desaprendido A ignoracircncia soacute

eacute uma condiccedilatildeo desqualificadora quando o que

estaacute sendo aprendido tem mais valor do que o que

estaacute sendo esquecido A utopia do

interconhecimento eacute aprender outros

conhecimentos sem esquecer a si mesmo Esta eacute a

ideia de prudecircncia que permanece na ecologia dos

saberes (SANTOS 2010a p52)117

O que acredito ser possiacutevel sobretudo ao buscarmos mobilizar

estudantes para a autonomia e a emancipaccedilatildeo social dentro de uma

perspectiva criacutetica da Educaccedilatildeo CTS Nesse sentido concordo com

Linsingen (2007) no que o autor afirma que esse tipo de educaccedilatildeo

envolve fundamentalmente favorecer um ensino desobre ciecircncia e

tecnologia atento agrave formaccedilatildeo de sujeitos com consciecircncia criacutetica em

relaccedilatildeo a suas possibilidades de participarem ativamente (autoria) da

transformaccedilatildeo da realidade em que vivem

117 Es crucial para comparar el conocimiento que se estaacute siendo aprendido con

el conocimiento que por lo tanto estaacute siendo olvidado o desaprendido La

ignorancia es solo una condicioacuten descalificadora cuando lo que se estaacute siendo

aprendido tiene maacutes valor que lo que se estaacute siendo olvidado La utopiacutea del

interconocimiento es aprender otros conocimientos sin olvidar el de uno mismo

Esta es la idea de la prudencia que subsiste bajo la ecologiacutea de los saberes

Traduccedilatildeo livre da autora

159

Tanto para esse autor quanto para mim uma renovaccedilatildeo educativa

dentro da Educaccedilatildeo CTS pode ser favorecida por mudanccedilas de

perspectivas de educadoresas e de educandosas atraveacutes da qual o

ensino de temas em tecnologia deixaria de ser enfocado em conteuacutedos

distantes e fragmentado baseado em conhecimentos supostamente

neutros e autocircnomos e passaria a ter foco em situaccedilotildees reais vividas

pelosas educandosas em seus contextos (LINSINGEN 2007)

Podemos ainda lembrar de Freire (2011) e Gramsci (1982) que

como destaquei no primeiro capiacutetulo chamam a atenccedilatildeo para a

curiosidade e a criatividade na construccedilatildeo de conhecimentos Algo que

acredito que estaria presente na intenccedilatildeo de mobilizar estudantes para a

autoria (com inspiraccedilatildeo em propostas de produccedilatildeo coletiva e de criacutetica a

modelos previamente impostos sem contextualizaccedilatildeo que fazem parte

tanto do movimento SL quanto da eacutetica do DIY) no desenvolvimento de

TS segundo uma perspectiva criacutetica

E eacute sob tais perspectivas que no proacuteximo capiacutetulo apresento

minha pesquisa sobre processos de desenvolvimento de TS entre

juventudes dos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul

160

161

CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES

A terceira parte desta tese eacute dedicada agraves anaacutelises dos dados

coletados conforme informei na introduccedilatildeo Os exames aqui realizados

visam examinar possibilidades e limites de transformar sentidos

deterministas sobre tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre

TS nos CTIEM Os passos para alcanccedilar esse objetivo geral envolvem

identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre estudantes dos

CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos

examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de

um posicionamento criacutetico sobre TS e verificar se e como promover

contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar emancipaccedilatildeo

social e autonomia entre estudantes

Para isso elaborei e realizei um roteiro didaacutetico para desenvolver

a temaacutetica socioteacutecnica tal como apresento de modo especiacutefico no

Apecircndice E mas que eacute discutido durante a anaacutelise dos dados Nesse

roteiro mostro como coletei dados primaacuterios atraveacutes de uma questatildeo

inicial formulada agravesaos estudantes (o que eacute tecnologia para vocecirc)

apliquei um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla escolha (conforme

Apecircndice D) e mobilizei para uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS

como mostrarei a seguir A memoacuteria das aulas atraveacutes dos registros em

meu diaacuterio de campo tambeacutem satildeo subsiacutedios para as anaacutelises Assim

como os dados secundaacuterios (pesquisa bibliograacutefica e documental) que

aparecem durante toda a tese mas aqui com o foco em documentos

sobre o IFRS

Os procedimentos e anaacutelises que detalharei satildeo parte da intenccedilatildeo

geral de captar tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema de

pesquisa que esbocei na introduccedilatildeo Procuro mostrar que ao examinar

sentidos sobre tecnologias que atravessam sem debates os (e circulam

sendo debatidos nos) CTIEM interesso-me por suas origens causas

consequecircncias e contradiccedilotildees tendo em vista possibilidades de

transformaccedilotildees da realidade social Essas possibilidades satildeo aqui

verificadas tendo em vista que as TS podem contribuir para uma

ecologia dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2010a

SANTOS 2007) que busque legitimar diferentes formas de

conhecimentos

Acredito que tal legitimidade estaacute relacionada com o

entendimento da emergecircncia como pode sugerir a Sociologia das

Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002 2007) de

compreendermos que problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas)

de estudantes de ensino meacutedio satildeo relevantes Estudos em Educaccedilatildeo

162

CTS latino-americanos atuais tecircm dado visibilidade a percepccedilotildees sobre

relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade em componentes

curriculares da ECT de Engenharias e de aacutereas das Ciecircncias Naturais e

Exatas (JACINSKI 2015 NIEZWIDA 2015) Neles haacute uma

problematizaccedilatildeo importante da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias

Humanas em aacutereas teacutecnicas (SILVEIRA MATOS GANHOR 2015

LINSINGEN 2007) Nesse contexto percebo certa ausecircncia de

discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica

Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de

possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)

conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade

socioteacutecnica com a qual elesas podem interagir diariamente Nessa

leitura que faccedilo de Santos (2006) vejo a Sociologia das Emergecircncias

como a ldquocontraccedilatildeo do futuro para dentro do presenterdquo (p 88)118 Ou

seja ao apresentar uma ausecircncia percebida considero a emergecircncia da

inclusatildeo de novos sujeitos nos debates socioteacutecnicos Sujeitos

especiacuteficos (com identidades de gecircnero poliacuteticas e eacutetnico-raciais) que

emergem do contexto escolar

Nesse sentido lembro a escola visualizada por Freire (2011) que

assim como osas educadoresas deveria natildeo soacute respeitar os

conhecimentos ldquocom que os educandos sobretudo os das classes

populares chegam a ela - saberes socialmente construiacutedos na praacutetica

comunitaacuteria - mas tambeacutem () discutir com os alunos a razatildeo de ser de

alguns desses saberes em relaccedilatildeo com o ensino dos conteuacutedosrdquo (p 31)

Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais

integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a

compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu

caraacuteter contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas)

A seguir apresento detalhadamente os procedimentos envolvidos

na coleta e anaacutelise de dados Inicialmente trago informaccedilotildees sobre a

cidade de Caxias do Sul sobre o bairro no qual o IFRS estaacute localizado e

sobre o proacuteprio Cacircmpus (histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outras)

Momento no qual tambeacutem apresento um breve panorama sobre o IFRS e

a educaccedilatildeo profissional no Brasil Na segunda parte do capiacutetulo

apresento sentidos sobre tecnologias que circulam entre as juventudes

que compotildeem os CTIEM analisados identificados atraveacutes da anaacutelise da

pergunta inicial e do questionaacuterio Por fim exponho possibilidades de

promover autoria entre estudantes a partir do desenvolvimento de TS e

118 ldquola contraccioacuten del futuro en el presenterdquo Traduccedilatildeo livre da autora

163

analiso esse desenvolvimento tendo em vista problemaacuteticas relacionadas

agrave emancipaccedilatildeo social e autonomia

31 CONTEXTO

Longe de querer abordar o contexto a partir de teorias linguiacutesticas

ou antropoloacutegicas o que pretendo nesse momento eacute apenas apresentar

algumas circunstacircncias que tecircm relaccedilatildeo com a investigaccedilatildeo que realizo

Portanto por contexto refiro-me a certas situaccedilotildees relacionadas a

espaccedilos os quais os sujeitos da minha pesquisa transitam de alguma

maneira

311 A cidade

A instalaccedilatildeo do IFRS no bairro Nossa Senhora de Faacutetima119 em

Caxias do Sul foi estrateacutegica Para compreender tanto os processos que

envolveram tal resoluccedilatildeo quanto as culturas locais eacute importante

verificar alguns aspectos da cidade e do bairro De acordo com dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) Caxias do Sul eacute a

segunda cidade mais populosa do estado do RS com mais de 435 mil

habitantes no ano de 2015120 (963 vivem na aacuterea urbana e 37 na

aacuterea rural) atraacutes somente da capital do estado Porto Alegre Municiacutepio

do qual estaacute agrave 127 km de distacircncia apenas conforme pode ser

visualizado no mapa 1 abaixo

119 Daqui em diante apenas Faacutetima 120 213612 homens e 221952 mulheres (IBGE 2015)

164

Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS

Fonte Google mapas (2016)

A regiatildeo na qual a cidade estaacute localizada que faz parte da

chamada serra gauacutecha121 era originalmente habitada pelo povo indiacutegena

Kaingang (ou caingangue)122 mas a partir do final do seacuteculo XIX

comeccedilou a receber sistematicamente migrantes vindosas da Europa

sobretudo da Itaacutelia E a identificaccedilatildeo italiana eacute ainda marcante na regiatildeo

Variaccedilotildees da liacutengua italiana assim como festas religiosas (catoacutelicas)

atividades agriacutecolas e a culinaacuteria da eacutepoca colonial123 satildeo preservadas

121 Gauacutechoa eacute o gentiacutelico de naturais do RS sinocircnimo de sul-rio-grandense 122 Para informaccedilotildees sobre o povo Kaingang nesse contexto verificar a seguinte

referecircncia DORNELLES S S De Coroados a Kaingang as experiecircncias

vividas pelos indiacutegenas no contexto de imigraccedilatildeo alematilde e italiana no Rio

Grande do Sul do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em

Histoacuteria) - UFRGS Porto Alegre 2011 123 Osas migrantes da regiatildeo satildeo conhecidosas (de modo ateacute elogioso) como

ldquocolonosrdquo e ldquocolonasrdquo pois um dos objetivos de sua instalaccedilatildeo seria colonizar

(no sentido de ocupaccedilatildeo territorial e desenvolvimento de atividades agriacutecolas

em um novo espaccedilo com a preservaccedilatildeo de costumes haacutebitos e culturas trazidos

de seus locais de origem) o lugar Frente a isso faccedilo uso do termo ldquocolonialrdquo no

sentido geral em que ele circula na regiatildeo e natildeo faccedilo referecircncia a debates

decoloniais descoloniais ou poacutes-coloniais de maneira especiacutefica embora

compreenda que uma anaacutelise desse tipo nesse contexto seria profiacutecua

165

com orgulho A induacutestria do turismo explora tais referecircncias e vende

com sucesso o estilo de vida ruacutestico dosas primeirosas migrantes

Um exemplo eacute a Festa da Uva que ocorre a cada dois anos desde

1931 (interrompida entre 1938 e 1950) e eacute dedicada a reavivar tradiccedilotildees

e celebrar a migraccedilatildeo italiana na regiatildeo Contudo mais do que o apelo

simboacutelico a Festa da Uva marca a predominacircncia da regiatildeo de Caxias

do Sul na produccedilatildeo nacional de uva De acordo com dados do IBGE

(2015) a produccedilatildeo de uva estimada para o ano de 2015 no RS seria de

876286 toneladas sendo que 80 desse total viria da regiatildeo de Caxias

do Sul O RS foi responsaacutevel por 565 da produccedilatildeo de uva no Brasil

em 2014 o equivalente a 812537 toneladas

Narrativas sobre as dificuldades enfrentadas na chegada ao Brasil

satildeo populares como pode ser visto no trecho abaixo disponiacutevel no site

da prefeitura da cidade

Era preciso conquistar a terra pelo trabalho

Trabalhar para viver e trabalhar para pagar a terra

Nos depoimentos de imigrantes o sonho de

colheitas abundantes e as facilidades de plantio

que a ldquovelha Itaacuteliardquo natildeo podia mais oferecer seria

concretizado na Serra Gauacutecha atraveacutes de muito

trabalho Um trabalho estafante recompensado

por colheitas fartas em uma terra ainda virgem

() A mesa tornou-se menos pobre a casa mais

confortaacutevel mantinha-se com austeridade a prole

que se tornava numerosa (CAXIAS 2015)

O silenciamento dos povos que jaacute habitavam a regiatildeo (ldquoterra

ainda virgemrdquo) e o valor dado agrave terra e ao trabalho como meio de

conquistas pessoais marcam ainda hoje certo ideaacuterio geral sobre o que

poderia ser compreendido como a vocaccedilatildeo da cidade Essa inclinaccedilatildeo eacute

expressa no lema ldquoFeacute e Trabalhordquo que eacute parte da identidade visual

adotada pela atual gestatildeo municipal como pode ser visto na figura 5

abaixo

166

Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade

Fonte CAXIAS 2015

Em relaccedilatildeo agrave feacute ao examinar alguns indicadores disponiacuteveis no

site do IBGE (2015) eacute possiacutevel verificar que a religiatildeo declarada pela

maioria da populaccedilatildeo da cidade eacute a catoacutelica conforme a tabela 4

abaixo Dados que corroboram percepccedilotildees gerais que podemos ter ao

convivermos com moradoresas da cidade sobre sua ligaccedilatildeo simboacutelica

com o Vaticano e ao observarmos a quantidade expressiva de festas

catoacutelicas promovidas por diversas paroacutequias durante todo o ano

Entendo que outras expressotildees de feacute tecircm pouco espaccedilo de divulgaccedilatildeo

em massa eou satildeo pouco declaradas em tal contexto

Tabela 4 - Religiatildeo declarada

Religiatildeo declarada Quantidade de pessoas (mil)

Catoacutelica apostoacutelica romana 332101

Evangeacutelicas 60230

Espiacuterita 11859

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de dados do IBGE (2015)

Em relaccedilatildeo a trabalho e renda eacute possiacutevel verificar no graacutefico 4

abaixo que a maioria da populaccedilatildeo economicamente ativa (com 18 anos

ou mais) da cidade estava ocupada no ano de 2010 (753) Natildeo haacute

dados oficiais atualizados mas induacutestrias do setor metalmecacircnico que

segundo a Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel

Heuser (FEE) concentra dois terccedilos dos empregos formais da cidade

anunciaram na imprensa local demissotildees durante todo o ano de 2015124

124 Informaccedilotildees tambeacutem disponiacuteveis em

httpwwwsimecscombrnoticias20150617crise-no-setor-metalmecanico-

empresas-apresentam-desempenho-economico-preocupante-nos-primeiros-

cinco-meses-de-2015

167

Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa

Fonte PNUD (2015)

Contudo de acordo com dados do IBGE (2015) no ano de 2013

o nuacutemero de empresas atuantes em Caxias do Sul era de 26477

unidades (o que lhe conferiu o primeiro lugar sendo que o

segundo lugar no RS ficaria com o municiacutepio de Novo Hamburgo com

15352 unidades) Aleacutem disso informaccedilotildees jornaliacutesticas especializadas

mostram que a cidade concentra 21 dos 500 maiores grupos de

empresasinduacutestrias da Regiatildeo Sul do Brasil125

De acordo com dados do IBGE do ano de 2010 o rendimento

meacutedio per capita (por pessoa) no muniacutecipio de Caxias do Sul eacute de pouco

mais de 1400 reais o que o coloca em 33ordm lugar entre os municiacutepios

brasileiros e 6ordm entre os do RS Jaacute o mapa 2 a seguir mostra que a

renda domiciliar meacutedia urbana no ano de 2013 era de mais de 3 mil

reais

125 Informaccedilotildees disponiacuteveis em httpwwwamanhacombr500maiores

168

Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana

Fonte IBGE (2015)

Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dados do IBGE (2015) mostram que no

ano de 2012 a populaccedilatildeo residente alfabetizada era de 391554 pessoas

(aproximadamente 89) A quantidade de matriacuteculas no ensino

fundamental e meacutedio eram respectivamente 56408 e 16360 A

escolaridade da populaccedilatildeo de 25 anos ou mais no ano de 2010 pode ser

verificada no graacutefico 5 a seguir A partir dele eacute possiacutevel fazer uma

comparaccedilatildeo com dados nacionais ou seja em Caxias do Sul 28 da

populaccedilatildeo estava em condiccedilatildeo de analfabetismo (no Brasil 118)

446 possuiacuteam o ensino meacutedio completo (358 no Brasil) e 135

possuiacuteam o ensino superior completo (112 no Brasil) (IBGE 2015

PNUD 2015) Eacute possiacutevel verificar uma disparidade consideraacutevel em

relaccedilatildeo agrave taxa nacional apenas no criteacuterio do analfabetismo

169

Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo

Fonte PNUD (2015)

Se analisarmos indicadores de longevidade (esperanccedila de vida ao

nascer em anos que em Caxias do Sul eacute de 7658) juntamente com

dados como renda e educaccedilatildeo como mostrei acima teremos o chamado

Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)126 Esse varia

de 0 (zero) a 1 (um) e quanto mais proacuteximo de 1 (um) maior o

desenvolvimento humano O IDHM de Caxias do Sul eacute 0782 o que a

situa na faixa de desenvolvimento humano alto (IDHM entre 0700 e

0799) A dimensatildeo que mais contribui para o IDHM do municiacutepio eacute a

da longevidade com iacutendice de 0860 seguida de renda (renda per

capita em R$) com iacutendice de 0812 e de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo

(percentual de pessoas estudando de acordo com a faixa etaacuteria) com

iacutendice de 0686 (PNUD 2015)

O graacutefico 6 abaixo traz uma comparaccedilatildeo entre o IDHM de

Caxias do Sul e o de outros municiacutepios brasileiros Nele podemos ver

certa situaccedilatildeo levemente favoraacutevel do municiacutepio em relaccedilatildeo ao IDHM

gauacutecho e nacional no ano de 2010

126 O IDH eacute medido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) com base em

indicadores de educaccedilatildeo renda e expectativa de vida como jaacute referi No Brasil

o levantamento ocorre a cada dez anos e eacute feito em parceria com o Instituto de

Pesquisa Econocircmica Aplicada (Ipea) Assim como o IDH os dados mais

recentes do IDHM satildeo de 2010

170

Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul

Fonte PNUD (2015)

Conforme explicitei na introduccedilatildeo desta tese entendo que a

adoccedilatildeo estrita de meacutetodos quantitativos sobretudo de mediccedilatildeo de

qualidade de vida pode trazer limitaccedilotildees e generalizaccedilotildees silenciadoras

de especificidades importantes Contudo o IDHM pode ser uacutetil para

analisarmos criticamente impactos de poliacuteticas puacuteblicas na populaccedilatildeo

nessas aacutereas por exemplo

Para aleacutem de tentar contextualizar aspectos da cidade (e sua

caracterizaccedilatildeo marcada pela opulecircncia) na qual a investigaccedilatildeo eacute

realizada o que busco com esses dados nesse momento eacute compreender

certos discursos generalizados que muitas vezes verifico tanto nas

miacutedias locais quanto entre estudantes dos CTIEM E que entendo

estarem sintetizados na seguinte frase que consta no site da prefeitura

da cidade ldquoA garra e determinaccedilatildeo herdadas dos imigrantes satildeo a marca

do povo caxienserdquo (CAXIAS 2015)

Percebo que haveria um modo peculiar entre descendentes de

migrantes italianosas de encarar os desafios e construir um

desenvolvimento econocircmico baseado em esforccedilos pessoais Sendo que

ecircxitos alcanccedilados seriam derivados de trabalho pessoal intensivo O que

pode deixar margens para que se possa pensar que a natildeo obtenccedilatildeo de progresso econocircmico seria reponsabilidade do sujeito que natildeo

empregou esforccedilo suficiente para alcanccedilar os seus objetivos

Natildeo eacute minha intenccedilatildeo levantar dados para especular acerca de

possiacuteveis atitudes individualistas ou colaborativas (de menor ou maior

171

apoio agrave presenccedila do Estado em atividades de regulaccedilatildeo por exemplo) de

residentes em Caxias do Sul Nesta tese natildeo abordo sentidos atribuiacutedos

ao trabalho por sujeitos especiacuteficos Trago essas percepccedilotildees porque elas

fazem parte em alguma medida do contexto no qual a investigaccedilatildeo eacute

realizada e penso que eacute importante que natildeo sejam silenciadas Nesse

mesmo sentido a seguir apresento algumas informaccedilotildees sobre o bairro

no qual o Cacircmpus de Caxias do Sul do IFRS estaacute instalado

312 O bairro

O IFRS de Caxias do Sul estaacute localizado na parte Nordeste do

bairro Faacutetima conhecido como Faacutetima Alta Local esse que faz parte da

regiatildeo setentrional da cidade Seus limites satildeo ao Norte a Rodovia RSC

453 (que compotildee a Rodovia Rota do Sol que liga a serra gauacutecha ao

litoral) no Leste estaacute o Rio Tega (complexo dalrsquoboacute ndash barragens Satildeo

Miguel e Satildeo Pedro) ao Sul o bairro universitaacuterio e no Oeste o bairro

pioneiro O mapa 3 a seguir ilustra essas referecircncias e mostra uma zona

de limite entre residecircncias (e pequenos comeacutercios informais) induacutestrias

e aacutereas pouco urbanizadas

Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima

Fonte Google mapas (2015)

172

De acordo com dados do IBGE (2015) a populaccedilatildeo do Faacutetima no

ano de 2010 era de 13759 pessoas o que o coloca em 6ordm lugar como

bairro mais populoso da cidade (entre os 65 bairros do municiacutepio)

Contudo a maioria dosas estudantes do IFRS reside fora do bairro

Entre estudantes dos CTIEM que investiguei menos de 10 moravam

proacuteximo agrave escola127 Mais de 80 dosas alunosas residem em outras

partes da cidade como pode ser verificado a partir do graacutefico 7 abaixo

que indica meios de transporte utilizados para chegar agrave escola (dados de

2015)

Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Nas imediaccedilotildees do IFRS existem pelo menos trecircs instituiccedilotildees

municipais de ensino fundamental uma unidade baacutesica de sauacutede um

grupo de convivecircncia das mulheres do bairro uma associaccedilatildeo para as

crianccedilas um centro de encontros e praacutetica da doutrina espiacuterita uma

igreja do Evangelho Quadrangular uma igreja Assembleia de Deus

uma Agecircncia de Desenvolvimento Adventista e uma Igreja Catoacutelica128

Ao lado da escola ficam o centro comunitaacuterio e uma quadra de esportes

127 A partir de agora uso o termo ldquoescolardquo como sinocircnimo do IFRS de Caxias do

Sul e natildeo no sentido geral de instituiccedilatildeo 128 Podemos verificar que somente no entorno do IFRS existem cinco tipos

diferentes de locais relacionados com espiritualidade e religiatildeo O que natildeo deve

contrariar os dados gerais do IBGE (2015) para a cidade conforme destaquei na

tabela 4 acima mas reforccedila a percepccedilatildeo de que religiotildees e outras expressotildees de

feacute diferentes do catolicismo satildeo pouco declaradas oficialmente

173

Essa uacuteltima muitas vezes utilizada para as atividades da disciplina de

Educaccedilatildeo Fiacutesica do IFRS pois ainda natildeo haacute um local apropriado para

essas atividades nas dependecircncias da escola

Em geral a infraestrutura do bairro eacute problemaacutetica em

saneamento baacutesico (sistema de tratamento de esgoto precaacuterio)

pavimentaccedilatildeo de ruas (vias com calccedilamento irregular ou inexistente)

cobertura de iluminaccedilatildeo puacuteblica (postes com luzes danificadas) e

limpeza de aacutereas natildeo habitadas (terrenos com formaccedilatildeo vegetal sem

cuidados) Existem pelo menos trecircs linhas de ocircnibus urbanos que

circulam na regiatildeo mas com precisatildeo de horaacuterios insatisfatoacuteria (atrasos

constantes) Contudo um dos maiores problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo residente e tambeacutem pela comunidade escolar eacute a inseguranccedila

Traacutefico de drogas e assassinatos satildeo noticiados regularmente na

imprensa local como destaco nas seguintes manchetes de um jornal da

cidade129 24072015 ldquoHomem eacute preso com maconha no bairro

Faacutetimardquo 29112015 ldquoTrinta facadas mataram avoacute e neta no bairro

Faacutetimardquo 02122015 ldquoHomem eacute encontrado morto em parada de ocircnibus

no bairro Faacutetimardquo 19122015 ldquoEstudante de Quiacutemica no Instituto

Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) eacute assassinada no bairro Faacutetima

quando ia para o trabalhordquo130 16012016 ldquoHomem eacute baleado no bairro

Faacutetimardquo

Portanto temas sobre violecircncia urbana satildeo comumente discutidos

na escola Nas minhas aulas de Sociologia essa temaacutetica sempre

apareceu Verifiquei que osas alunosas apresentavam reaccedilotildees que

transitavam entre o sentimento de medo de sofrer alguma violecircncia no

caminho para a escola ateacute a praacutetica de atos preconceituosos com colegas

ou servidoresas que moravam no bairro ou nas proximidades Esse

contexto levou agrave participaccedilatildeo da comunidade escolar no projeto

ldquoAlianccedila pela Pazrdquo que entre suas accedilotildees promoveu uma caminhada

pelas ruas do bairro no mecircs de novembro do ano de 2015 A intenccedilatildeo foi

unir comunidades escolares locais e moradoresas do bairro para chamar

a atenccedilatildeo da cidade para problemas de inseguranccedila no Faacutetima

129 Tendo em vista diferentes apelos que temas sobre a violecircncia urbana podem

ter sobretudo na miacutedia destaco o cuidado que tive em minha busca no jornal de

maior circulaccedilatildeo na cidade com as chamadas ldquomanchetes sensacionalistasrdquo

Notiacutecias disponiacuteveis em lthttppioneiroclicrbscombrrsgeralcidadesgt 130 Esse fato obviamente teve grande impacto e gerou muita comoccedilatildeo na

escola A aluna em questatildeo (que frequentava minhas aulas) residia no bairro e

tinha apenas 16 anos

174

Com esses destaques acredito que certos aspectos culturais que

estatildeo presentes no quotidiano da escola foram considerados Embora

minha intenccedilatildeo seja investigar sentidos sobre tecnologia natildeo deixo de

chamar a atenccedilatildeo para possibilidades de problematizar relaccedilotildees entre a

declarada opulecircncia da cidade e (i) sua proclamada ligaccedilatildeo com o

trabalho de descendentes de migrantes europeus e (ii) situaccedilotildees de

vulnerabilidade social que estatildeo presentes no Faacutetima

Com isso natildeo desejo apenas levantar possiacuteveis contradiccedilotildees

expressas mas buscar compreender um pouco sobre ideias mais gerais

que circulam entre as juventudes dos CTIEM que estatildeo aleacutem do meu

foco de pesquisa mas satildeo relevantes para o entendimento do contexto

geral Algo que tambeacutem se refere a uma mirada sobre os Institutos

Federais como apresento a seguir

313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Eacute importante lembrarmos que os atuais Institutos Federias tecircm

relaccedilatildeo com a educaccedilatildeo profissional Conforme Kuenzer (2006) a

poliacutetica de educaccedilatildeo profissional no Brasil teve iniacutecio com a criaccedilatildeo das

chamadas Escolas de Aprendizes Artiacutefices nas capitais do Brasil no ano

de 1909 pelo entatildeo presidente Nilo Peccedilanha A partir da deacutecada de

1930 a burguesia industrial crescente comeccedilaria a desenvolver um

projeto de fortalecimento do capitalismo nos grandes centros urbanos do

paiacutes Desse modo a autora afirma que agraves classes populares estaria

disponiacutevel uma formaccedilatildeo (praacutetica) necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo de sua

condiccedilatildeo enquanto descendentes das elites teriam acesso agrave formaccedilatildeo

intelectual (propedecircutica)

Assim ldquo() desenvolveu-se uma rede de escolas de formaccedilatildeo

profissional em diferentes niacuteveis () com a finalidade de atender agraves

funccedilotildees instrumentais inerentes agraves atividades praacuteticas que decorriam da

crescente diferenciaccedilatildeo dos ramos profissionaisrdquo (KUENZER 2006 p

17) Sendo que ao longo do seacuteculo XX as escolas de formaccedilatildeo teacutecnica

se desenvolveram em paralelo a escolas de formaccedilatildeo propedecircutica com

vistas a atender diferentes demandas e classes Algo que Gramsci (1982)

jaacute criticava ao propor a escola unitaacuteria

Desde as Escolas de Aprendizes Artiacutefices a educaccedilatildeo

profissional passou por vaacuterias mudanccedilas que englobaram a formaccedilatildeo de

Liceus Industriais em 1937 Escolas Industriais e Teacutecnicas em 1942

Escolas Teacutecnicas Federais em 1959 Centros Federais de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica (CEFET) iniciados em 1978 e retomados em 1999 ateacute

175

chegar aos atuais Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia131 criados em 2008 (OLIVEIRA 2015)

Os Institutos Federais como instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas

ligadas ao Governo Federal foram inicialmente concebidos tendo em

vista o potencial jaacute instalado nos CEFET Escolas Teacutecnicas Federais

Agroteacutecnicas e vinculadas agraves Universidades Federais Eles fazem parte

da Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

Essa atua em todos os estados brasileiros e oferece cursos teacutecnicos

superiores de tecnologia licenciaturas mestrado e doutorado (IFRS

2015)

Satildeo instituiccedilotildees que visam oferecer cursos em educaccedilatildeo

profissional e tecnoloacutegica de modo a fortalecer os arranjos produtivos

sociais e culturais das localidades onde estatildeo instalados Nesse sentido

seus objetivos envolveriam (aleacutem da educaccedilatildeo profissional teacutecnica em

niacutevel meacutedio e para jovens e adultos) a formaccedilatildeo inicial e continuada de

trabalhadoresas a realizaccedilatildeo de pesquisas e o desenvolvimento de

atividades de extensatildeo articuladas com o mundo do trabalho e os

coletivos locais (IFRS 2015)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior e de poacutes-graduaccedilatildeo o

objetivo seria promover o estabelecimento de bases soacutelidas em

educaccedilatildeo ciecircncia e tecnologia tendo em vista processos de geraccedilatildeo e

inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (IFRS 2015) Tal formaccedilatildeo compreenderia os

cursos superiores de tecnologia (formaccedilatildeo de profissionais para os

diferentes setores da economia) as licenciaturas (formaccedilatildeo de

professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica e para a educaccedilatildeo profissional) e

os bacharelados engenharias mestrados e doutorados (formaccedilatildeo de

especialistas nas diferentes aacutereas do conhecimento)

Tendo em vista a ecircnfase dos Institutos Federais na produccedilatildeo

desenvolvimento e divulgaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e

tecnoloacutegicos tambeacutem eacute seu objetivo ldquoestimular e apoiar processos

educativos que levem agrave geraccedilatildeo de trabalho e renda e agrave emancipaccedilatildeo do

cidadatildeo na perspectiva do desenvolvimento socioeconocircmico local e

regionalrdquo (IFRS 2015 sp) A Lei nordm 11892 de 29122008 que

instituiu a Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e

131 A atual Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da

qual fazem parte os Institutos Federais teve um significativo desenvolvimento

na atualidade Entre os anos de 1909 e 2002 foram construiacutedas 140 escolas

teacutecnicas no paiacutes A expansatildeo dessa rede entre os anos de 2003 e 2015 contou

com a implantaccedilatildeo de 562 unidades que proporcionaratildeo a oferta de 600 mil

vagas (OLIVEIRA 2015)

176

Tecnoloacutegica e criou os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia destaca que entre outras finalidades e caracteriacutesticas os

Institutos Federias devem

(i) ofertar educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica formando e

qualificando cidadatildeos com vistas na atuaccedilatildeo profissional nos diversos

setores da economia com ecircnfase no desenvolvimento socioeconocircmico

local regional e nacional (ii) desenvolver a educaccedilatildeo profissional e

tecnoloacutegica como processo educativo e investigativo de geraccedilatildeo e

adaptaccedilatildeo de soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas agraves demandas sociais e

peculiaridades regionais e (iii) promover a produccedilatildeo o desenvolvimento

e a transferecircncia de tecnologias sociais (BRASIL 2008 grifo da autora)

Algo que em princiacutepio poderia levar a um distanciamento da

perspectiva de educaccedilatildeo profissional voltada agrave manutenccedilatildeo de interesses

de classes que seria desenvolvida historicamente no Brasil como

destacou Kuenzer (2006) E leva-me a reflexatildeo sobre o desenvolvimento

de TS entre as juventudes do IFRS como apresentarei adiante

No RS existem trecircs Institutos Federais quais sejam o Instituto

Federal Sul-riograndense (IFSul) o Instituto Federal Farroupilha

(IFFarroupilha) e o IFRS Esse uacuteltimo estaacute presente em 16 cidades de

diferentes regiotildees132 do RS Bento Gonccedilalves Canoas Caxias do Sul

Erechim Farroupilha Feliz Ibirubaacute Osoacuterio Porto Alegre (dois

Cacircmpus) Rio Grande Sertatildeo Alvorada133 Rolante Vacaria

Veranoacutepolis e Viamatildeo

Atualmente o IFRS registra cerca de 15 mil alunosas

matriculadosas em 180 opccedilotildees de cursos nas diferentes modalidades de

ensino disponiacuteveis Nele trabalham mais de 1600 profissionais (mais de

840 professoresas e 840 teacutecnicos-administrativos) sendo que quase

50 dosas servidoresas satildeo mestresas ou doutoresas Estaacute

classificado entre os dez maiores Institutos Federais do Brasil em

nuacutemero de alunosas e servidoresas (IFRS 2015)

O IFRS em consonacircncia com os Institutos Federais propotildee a

valorizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos os niacuteveis e em termos curriculares

apresenta um arranjo educacional proposto a discutir possibilidades de

combinaccedilatildeo do ensino de Ciecircncias Naturais Humanidades e Educaccedilatildeo

Profissional e Tecnoloacutegica para o ensino meacutedio Tem como objetivos

oportunizar possibilidades de acesso agrave educaccedilatildeo gratuita e de qualidade

e fomentar o atendimento a demandas localizadas ldquocom atenccedilatildeo

132 Os Cacircmpus atuam em aacutereas distintas como agropecuaacuteria de serviccedilos aacuterea

industrial vitivinicultura turismo moda e outras (IFRS 2015) 133 Nessas uacuteltimas cinco cidades o IFRS estaacute em processo de implantaccedilatildeo

177

especial agraves camadas sociais que carecem de oportunidades de formaccedilatildeo

e de incentivo agrave inserccedilatildeo no mundo produtivordquo (IFRS 2015

sp) Assim seu foco estaria voltado agrave justiccedila social equidade

competitividade econocircmica e geraccedilatildeo de novas tecnologias

Dentro dessa poliacutetica destaco que osas alunosas possuem

acompanhamento pedagoacutegico psicoloacutegico e de estudos orientados

(possibilidade de estudo individualizado direto com oa professora)

Existem subsiacutedios financeiros de apoio agrave permanecircncia na escola

disponibilizados atraveacutes de auxiacutelio alimentaccedilatildeo auxiacutelio transporte e

auxiacutelio material escolar entre outros De modo que o IFRS e os

Institutos Federais de modo geral possui uma estrutura privilegiada em

relaccedilatildeo agrave maioria das instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas municipais e

estaduais do Brasil

O IFRS foi pensado para ser um centro de excelecircncia do ensino

puacuteblico (IFRS 2015) Com isso busca conexatildeo com as induacutestrias locais

tendo em vista ldquoo compromisso de intervenccedilatildeo em suas respectivas

regiotildees identificando deficiecircncias no mercado de trabalho e criando

soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas para o desenvolvimento sustentaacutevel

com inclusatildeo socialrdquo (IFRS 2015 sp) Nesse momento natildeo questiono

sobre como essa inclusatildeo seria entendida nos diversos Cacircmpus (em qual

modelo produtivo que perfil profissional para qual mercado e com que

tipo de tecnologia) nem sobre que accedilotildees efetivas estariam em curso

Antes destaco aspectos pontuais do IFRS de Caxias do Sul

314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul

No ano de 2008 o entatildeo presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio

Lula da Silva anunciou que Caxias do Sul fora uma das cidades

contempladas com um Cacircmpus do IFRS Fato que atendeu agrave Chamada

Puacuteblica MECSETEC nordm 1 de 2007 de apoio agrave fase dois do plano134 de

expansatildeo da Rede Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e fez parte da

iniciativa do Governo Federal de implantar 150 novas unidades da Rede

(IFRS 2015)

A contrapartida da Chamada Puacuteblica que citei acima seria a

doaccedilatildeo de uma aacuterea de terra em zona urbana (com dimensotildees miacutenimas

de 20 mil metros quadrados) agrave uniatildeo por parte da prefeitura da cidade O

que ocorreu no mecircs de dezembro do ano de 2008 quando a prefeitura de

134 O plano previa a instalaccedilatildeo de uma escola teacutecnica em cada cidade polo do

paiacutes Com a lei 11892 essas instituiccedilotildees passaram a integrar diferentes

Institutos Federais (IFRS 2015)

178

Caxias do Sul designou uma aacuterea de 30 mil metros quadrados no

Faacutetima para a construccedilatildeo da escola (IFRS 2015) A intenccedilatildeo seria

dispor de um local no qual o IFRS tivesse possibilidades de impactar de

maneira socialmente positiva na comunidade local Algo que destaquei

anteriormente ao comentar sobre a escolha estrateacutegica do Faacutetima

Os Institutos Federais do RS tecircm uma poliacutetica de definir por meio

de audiecircncias puacuteblicas com representantes da sociedade os novos cursos

que seratildeo ofertados nas suas unidades Nesse sentido no iniacutecio do ano

de 2009 representantes de diversos sindicatos (patronais e de

trabalhadores) empresas instituiccedilotildees de ensino poder puacuteblico

(municipal estadual e federal) e ONGs reuniram-se de modo que foram

definidas as seguintes ofertas quatro cursos superiores (Tecnologia em

Metalurgia Tecnologia em Logiacutestica Licenciatura em Quiacutemica e

Licenciatura em Matemaacutetica) e cinco cursos teacutecnicos (Plaacutesticos

Quiacutemica Mecacircnica Cozinha e Comeacutercio) (IFRS 2015)

Junto a isso foi definido o projeto de construccedilatildeo das instalaccedilotildees

prediais do Cacircmpus e a execuccedilatildeo da obra comeccedilou jaacute no mecircs de

fevereiro do ano de 2009 No ano de 2010 a escola iniciou suas

atividades mas ainda em uma sede provisoacuteria localizada no bairro

Floresta Foi apenas no iniacutecio do ano de 2014 que a sede proacutepria e

definitiva (com um espaccedilo de mais de 7 mil metros quadrados de aacuterea

construiacuteda) foi ocupada (IFRS 2015)

O Cacircmpus de Caxias do Sul estaacute em processo de expansatildeo Ateacute o

ano de 2015 estavam em funcionamento 14 salas de aula dois

laboratoacuterios de informaacutetica trecircs laboratoacuterios de quiacutemica laboratoacuterios de

liacutenguas matemaacutetica fiacutesica biologia ensaios mecacircnicos

instrumentaccedilatildeo tratamentos teacutermicos metalografia preparaccedilatildeo

mecacircnica fundiccedilatildeo e conformaccedilatildeo laboratoacuterio de corte soldas e

usinagem de processos e fabricaccedilatildeo mecacircnica caracterizaccedilatildeo e

processos de transformaccedilatildeo de poliacutemeros hidraacuteulica e pneumaacutetica aleacutem

de biblioteca cantina salas de convivecircncia e sala de professoresas

(IFRS 2015) Aleacutem disso osas alunosas contam com apoio

especializado de profissionais em assistecircncia social psicologia e

pedagogia

No ano de 2015 foram ofertados os seguintes cursos

Niacutevel meacutedio teacutecnico e profissionalizante em Plaacutesticos Quiacutemica e

Fabricaccedilatildeo Mecacircnica (em dois turnos diurnos) aleacutem do Curso Teacutecnico

em Administraccedilatildeo Integrado ao Ensino Meacutedio na modalidade PROEJA

(Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Profissional com a

Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e Adultos) no turno noturno

Modalidade Subsequente Teacutecnico em Plaacutesticos (turno noturno)

179

Graduaccedilatildeo Licenciatura em Matemaacutetica (turno diurno e noturno)

e Tecnoacutelogo em Processos Metaluacutergicos (turno diurno e noturno)

Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Tecnologia e

Engenharia de Materiais135

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de vagas oferecidas (330) e a procura

de estudantes por essas vagas para o ano de 2015 no Cacircmpus de Caxias

do Sul pode ser vista no quadro 13 abaixo Nele eacute possiacutevel verificar a

existecircncia de cursos com pouca procura o que levou a direccedilatildeo da escola

a propor medidas de publicidade sobre a oferta de vagas na instituiccedilatildeo

no ano de 2015

Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas

Fonte (IFRS 2015)

No graacutefico 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis os percentuais de

estudantes em cada curso Como jaacute referi o Cacircmpus ofereceu 330 vagas

nas modalidades meacutedio PROEJA subsequente e graduaccedilatildeo136 No ano

de 2015 havia 840 estudantes matriculadosas incluindo todas as

modalidades de ensino A previsatildeo eacute de que novos cursos superiores

sejam ofertados e que 14 mil estudantes estejam matriculados no IFRS

de Caxias do Sul no ano de 2016 (IFRS 2015)

135 Aleacutem de Caxias do Sul suas aulas satildeo ofertadas em Cacircmpus de mais duas

cidades da regiatildeo Farroupilha e Feliz 136 Conforme o que estaacute previsto no artigo 8o da Lei nordm 11892 ou seja que os

Institutos Federais garantam o miacutenimo de 50 de suas vagas para educaccedilatildeo

profissional teacutecnica de niacutevel meacutedio prioritariamente na forma de cursos

integrados para osas concluintes do ensino fundamental e para o puacuteblico da

educaccedilatildeo de jovens e adultos e o miacutenimo de 20 de suas vagas para educaccedilatildeo

superior em cursos de licenciatura bem como programas especiais de formaccedilatildeo

pedagoacutegica com vistas agrave formaccedilatildeo de professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica

sobretudo nas aacutereas de ciecircncias e matemaacutetica e para a educaccedilatildeo profissional

(BRASIL 2008)

180

Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Para a elaboraccedilatildeo do graacutefico 8 osas estudantes do mestrado

ainda natildeo haviam sido contabilizadosas pois as aulas na poacutes-graduaccedilatildeo

iniciaram em meados do ano de 2015 No graacutefico acima podemos

verificar que mais de 60 da ocupaccedilatildeo de vagas estaacute no niacutevel meacutedio

Esse dado se relaciona com o graacutefico 9 abaixo que indica a idade

dosas estudantes

181

Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Podemos verificar que em sua maioria satildeo menores de 18 anos

Osas estudantes dos CTIEM que satildeo os sujeitos da minha pesquisa

tecircm entre 14 e 18 anos (maioria entre 15 e 16 anos) como jaacute referi

anteriormente Outros aspectos sobre o Cacircmpus e osas estudantes

tambeacutem satildeo considerados na segunda e na terceira parte deste capiacutetulo

quando analiso as atividades em relaccedilatildeo ao desenvolvimento de TS

Antes disso e para finalizar essa parte destaco alguns pontos do

Projeto Poliacutetico Institucional (PPI) e dos Projetos Pedagoacutegicos dos

Cursos (PPCs) do IFRS de Caxias do Sul que podem ajudar a compor o

contexto geral (geofiacutesico poliacutetico institucional e pedagoacutegico) de minha

pesquisa

Conforme descrito no PPC do curso de Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

(mas que eacute similar ao dos outros dois cursos) o IFRS tem seu PPI

pautado em diretrizes pedagoacutegicas que concebem a educaccedilatildeo como

um processo complexo e dialeacutetico uma praacutetica

contra hegemocircnica que envolve a transformaccedilatildeo

humana na direccedilatildeo do seu desenvolvimento pleno

Ela deve ser emancipatoacuteria ou seja possibilitar a

construccedilatildeo de conhecimentos de forma

significativa e que possa ponderar o educando

para sua inserccedilatildeo no mundo do trabalho ()

compreendida como acessiacutevel e inclusiva voltada

para todos os sujeitos independente de gecircnero

etnia classe social ou outra relaccedilatildeo qualquer

(IFRS 2013 p 13-14)

182

Aleacutem disso ainda eacute destacado que todosas aquelesas

servidoresas que fazem parte da instituiccedilatildeo podem ser sujeitos

transformadores da realidade Concepccedilotildees que compreendo como

relacionadas com a perspectiva politeacutecnica na qual me filio conforme

apontei na primeira parte desta tese E que de maneira mais geral

tambeacutem estatildeo presentes tanto em Meacuteszaacuteros (2008) e sua reivindicaccedilatildeo a

favor de uma educaccedilatildeo plena quanto em Freire (1987 2011) e seu

posicionamento em relaccedilatildeo a formaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica dosas

educandosas

Outro aspecto do PPC que vai ao encontro de minhas

perspectivas teoacutericas diz respeito a premissa137 do trabalho assumido

como princiacutepio educativo O PPC destaca que as relaccedilotildees entre trabalho

ciecircncia tecnologia e cultura satildeo indissociaacuteveis Algo bem visiacutevel em

Gramsci (1982) Portanto o IFRS deveria ldquogarantir as competecircncias e

habilidades na formaccedilatildeo apresentada baseando-se em princiacutepios eacuteticos

poliacuteticos e pedagoacutegicos que buscam articular tecnologia e humanismordquo

(IFRS 2013 p 15) E tal formaccedilatildeo estaria baseada em uma metodologia

interdisciplinar fundamentada em referenciais de uma educaccedilatildeo

emancipatoacuteria

Compreendo que os princiacutepios apresentados no PPI e no PPC do

IFRS sinalizam positivamente para uma concepccedilatildeo politeacutecnica da

educaccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos Algo que estaacute de

acordo com minhas posiccedilotildees sobre a temaacutetica educacional Entretanto

questiono-me se mesmo dentro dessa perspectiva poliacutetico-pedagoacutegica o

IFRS de Caxias do Sul tem rompido com a loacutegica dualista entre

formaccedilatildeo teacutecnica e propedecircutica historicamente desenvolvida no Brasil

e se tem proporcionado ldquoproduccedilatildeo desenvolvimento e transferecircncia de

tecnologias sociaisrdquo conforme indicado legalmente (BRASIL 2008

sp)

Essas satildeo questotildees que em alguma medida podem ir aleacutem do

que pretendo nesta tese mas que fazem parte da cultura escolar e podem

ter influecircncia na minha pesquisa Portanto elas acompanham as anaacutelises

que apresento a seguir

137 Premissa fundamentada no Documento Base da Educaccedilatildeo Profissional

Teacutecnica de Niacutevel Meacutedio Integrado ao Ensino Meacutedio (BRASIL 2007)

183

32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA

Conforme jaacute referi durante o texto a realizaccedilatildeo da pesquisa desta

tese envolveu a elaboraccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico e de um

questionaacuterio na temaacutetica socioteacutecnica Esclareccedilo que o roteiro tem base

no meu plano de ensino (disponiacutevel no Anexo B) e no planejamento de

ensino do IFRS Portanto ele comtempla os objetivos de ensino-

aprendizagem em relaccedilatildeo agrave componente curricular de Sociologia e natildeo

necessaacuteria e estritamente os meus objetivos de pesquisa embora eles

guardem intersecccedilotildees importantes

Assim o roteiro se constituiu como uma espeacutecie de guia que

colaborou com a organizaccedilatildeo da coleta dos dados e por isso o exploro

com detalhes ao longo das anaacutelises Natildeo eacute minha intenccedilatildeo fazer um

levantamento quantitativo acerca de percepccedilotildees sobre tecnologia

baseado no questionaacuterio como explicitarei adiante Ele foi construiacutedo

para levantar questotildees e mediar discussotildees (desnaturalizar e estranhar)

embora seus resultados sejam contemplados nas anaacutelises em alguma

medida

Iniciarei as anaacutelises com a apresentaccedilatildeo de alguns dados sobre

osas estudantes que efetivamente participaram da pesquisa Depois

apresento sentidos sobre tecnologias de acordo com as respostas agrave

pergunta inicial e no final desse toacutepico apresento alguns sentidos sobre

tecnologia que se referem ao questionaacuterio

Natildeo eacute possiacutevel nesse momento caracterizar as identidades

poliacuteticas de gecircnero religiosas e eacutetnico-raciais de modo mais marcado

nessas juventudes No entanto apresento a seguir informaccedilotildees sobre

sexo autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial e histoacuteria escolar que mesmo que

gerais podem ajudar a ilustrar as juventudes com as quais interagi

Aspectos mais especiacuteficos dessesas jovens seratildeo abordados no proacuteximo

toacutepico na anaacutelise das TS desenvolvidas

O periacuteodo de realizaccedilatildeo da pesquisa contou com oito aulas na

disciplina de Sociologia realizadas no terceiro trimestre escolar entre

os meses de outubro e dezembro do ano de 2015 Estiveram envolvidos

todos os primeiros anos dos CTIEM nos turnos da manhatilde e da tarde

totalizando seis turmas (uma turma de cada um dos trecircs cursos em cada

turno)138 e 149 estudantes conforme pode ser visto na tabela 5 abaixo

138 Lembro que existem os cursos de Quiacutemica Plaacutesticos e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

disponiacuteveis ou em periacuteodo matutino ou vespertino

184

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que participaram da

pesquisa

Cursoturno Feminino Masculino Total

TFMManhatilde 02 23 25

TFMTarde 05 16 21

TPManhatilde 15 07 22

TPTarde 20 08 28

TQManhatilde 08 18 26

TQTarde 18 09 27

Total 68 81 149

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

A tabela 5 acima mostra que 46 das estudantes que

participaram da pesquisa eram meninas enquanto os meninos

representaram um percentual levemente maior com 54 de

participaccedilatildeo Algo que segue o quadro geral dos cursos com leve

preponderacircncia do percentual masculino como jaacute mostrei na tabela 1

Em relaccedilatildeo a questotildees eacutetnico-raciais dessesas jovens osas

envolvidosas com a pesquisa seguem a amostragem do graacutefico 10

abaixo no qual a maioria das autodeclaraccedilotildees139 satildeo quanto a categoria

(do IBGE) ldquobrancordquo

139 Desde o ano de 2013 o IFRS destina 50 de suas vagas para estudantes

vindosas de escolas puacuteblicas e destas reserva vagas para pretos pardos e

indiacutegenas em proporccedilatildeo no miacutenimo igual agrave de pretos pardos e indiacutegenas na

populaccedilatildeo da Unidade da Federaccedilatildeo onde estaacute instalada a instituiccedilatildeo de acordo

com os dados do IBGE

185

Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Essa maioria de estudantes autodeclaradosas na categoria

ldquobrancosrdquo se relaciona com dados de amostragem eacutetnico-racial do IBGE

para a cidade de Caxias do Sul Em relaccedilatildeo a escolas de origem

dessesas estudantes eacute possiacutevel verificar que a maioria cursou o ensino

fundamental integralmente em escolas puacuteblicas conforme o graacutefico 11

abaixo

Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Embora os dados do graacutefico 11 englobem todos os cursos da

escola ele representa significativamente a origem escolar dosas

estudantes da pesquisa Que satildeo de modo geral em sua maioria vindos

186

de escolas puacuteblicas (o que pode ser um indicativo de renda no Brasil) na

sua maior parte satildeo moradoresas de fora do bairro Faacutetima satildeo

autodeclaradosas ldquobrancosrdquo (como a maioria da populaccedilatildeo da regiatildeo) e

em nuacutemero quase igual entre meninas (46) e meninos (54)

Com esse quadro em mente (mas sem esquecer as especificidades

relacionadas a essesas estudantes) podemos examinar como a pesquisa

aconteceu tendo em vista o roteiro didaacutetico previsto que estaacute disponiacutevel

no Apecircndice E

321 Anaacutelise da questatildeo inicial

Na primeira aula com as turmas retomei os trecircs temas que

haviam sido desenvolvidos na primeira parte do trimestre (ideologia

miacutedias e consumo) e propus que osas alunosas pensassem em possiacuteveis

relaccedilotildees com tecnologias pois esse seria o proacuteximo tema (elesas tinham

o cronograma das aulas com essas informaccedilotildees) Em um segundo

momento dessa aula expliquei que durante o desenvolvimento da

segunda parte do trimestre eu realizaria uma pesquisa para o meu

doutorado Apresentei informaccedilotildees sobre essa atividade forneci e fiz a

leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e

entreguei a todosas uma folha de papel em branco para que

expressassem o que pensavam sobre tecnologia sem necessidade de

identificaccedilatildeo e com devoluccedilatildeo para mim no final do periacuteodo

A pergunta feita foi O que eacute tecnologia para vocecirc Esse

momento visava verificar que sentidos sobre tecnologia emergiriam

espontaneamente140 dessa espeacutecie de chuva de ideias Essa praacutetica jaacute era

recorrente nos iniacutecios de um novo tema para discussatildeo e minha intenccedilatildeo

foi mobilizar para que elesas pudessem se expressar criativamente com

possibilidades de debates entre si e sem preocupaccedilatildeo com respostas

corretas ou incorretas Minha atenccedilatildeo tambeacutem estava voltada a

possibilidades de abertura de espaccedilos de dizer (GIRALDI 2010)

Organizei as respostas agrave questatildeo inicial tendo em vista as quatro

perspectivas sobre os relacionamentos entre tecnologia e sociedade

propostos por Feenberg (2003)141 determinismo instrumentalismo

140 Destaco que osas estudantes satildeo proibidosas pela direccedilatildeo da escola de

utilizar qualquer tipo de aparelho celular e de acessar a internet nas salas de

aula 141 Domingues (2010) realizou anaacutelise semelhante baseada nas perspectivas

apontadas por Feenberg (2003) a partir de respostas de empreendedores de

187

substantivismo e teoria criacutetica conforme indiquei no quadro 3

Esclareccedilo que ao considerar as categorias apontadas pelo autor natildeo

tenho intenccedilatildeo de encaixar essas primeiras declaraccedilotildees dosas estudantes

nesse quadro de modo fechado Mesmo com a atenccedilatildeo voltada a

sentidos deterministas sobre tecnologia minha ideia envolve examinar

relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade segundo visotildees dessas juventudes

de modo mais dinacircmico tendo os paracircmetros de neutralidadenatildeo

neutralidade e autonomianatildeo autonomia da tecnologia como

aproximaccedilotildees

A seguir apresento quatro conjuntos de respostas com as

referecircncias que as fazem pertencer a cada grupo (palavras e expressotildees

que as categorizam em uma das quatro perspectivas) Essas referecircncias

foram construiacutedas tendo em vista a separaccedilatildeo que fiz por turmas

Analisei as respostas de cada turma separadamente (embora eu as

apresente sem fazer essa distinccedilatildeo) e com atenccedilatildeo aos seus contextos

Esse cuidado foi necessaacuterio pois cada uma das turmas tinha suas

especificidades e algumas vezes certas palavras de referecircncia

significavam de modos diferentes de acordo com as histoacuterias escolares

daquelesas estudantes dos preconceitos que circulavam no interior de

cada curso de suas expectativas em relaccedilatildeo ao mundomercado de

trabalho e de nossas vivecircncias nas aulas de Sociologia Os conjuntos

estatildeo dispostos desde o que concentrou o maior nuacutemero de referecircncias

ateacute o que menos as apresentou

Esclareccedilo que algumas respostas faziam referecircncia a mais de uma

perspectiva ao mesmo tempo Nesses casos busquei a perspectiva que

mais se destacava dentro das especificidades que citei acima Em geral

as respostas foram curtas a maioria com frases pequenas e muitas com

apenas uma ou duas palavras

No primeiro conjunto (determinismo tecnologia autocircnoma e

neutra) concentrei 84 respostas que se aproximavam de referecircncias com

ideias sobre avanccedilo progresso inovaccedilatildeo e invenccedilatildeo sem que os

sujeitos aparecessem necessariamente relacionados Algumas respostas

142

ldquoEacute aquilo que dita o estilo de vida das pessoas atualmenterdquo

incubadoras tecnoloacutegicas universitaacuterias sobre relaccedilotildees entre tecnologia e

sociedade 142 A partir de agora utilizo itaacutelico e aspas para transcrever passagens das

respostas dosas alunosas

188

ldquoVivemos na era da evoluccedilatildeo da tecnologia e ela evolui e nos

leva para evoluir tambeacutemrdquo

ldquoOs bens materiais satildeo um exemplo eles mudam assim as pessoas tambeacutem mudam para se adaptar a essas mudanccedilasrdquo

ldquoComo novos produtos se criamrdquo

ldquoPara mim tecnologia eacute inovaccedilotildees desde uma coisa mais simples ateacute mais complexas mudando seu jeito de viver e de convivecircncia com os

que estatildeo no redorrdquo

O segundo bloco (instrumentalismo tecnologia controlaacutevel e

neutra) com 44 respostas concentrou sentidos mais positivos

(tecnoacutefilos) sobre tecnologia e com aproximaccedilatildeo de referecircncias com

ideias sobre utilidade ferramentas instrumentos ou artefatos

construiacutedos para realizar tarefas atendimento a necessidades humanas e

com sujeitos envolvidos em accedilotildees Algumas respostas

ldquoAlgo que facilitamelhora nossa vidardquo

ldquoQuando aplicamos o que sabemos para fazer ferramentas que

nos ajudamrdquo

ldquoTudo que inventamos para nos ajudarrdquo

ldquoEacute o melhor entretenimento dos jovens atualmenterdquo

O terceiro conjunto de respostas (substantivismo tecnologia com

valores e autocircnoma) concentrou 10 respostas aproximadas a sentidos

mais negativos (tecnofoacutebicos) sobre tecnologia com referecircncias a deias

sobre dominaccedilatildeo da vida humana falta de controle sobre a tecnologia e

impossibilidades de escolha Algumas respostas

ldquoAs novas tecnologias fazem a gente querer os novos produtos

produzidos aumentando nosso consumo e desperdiacuteciordquo

ldquoEacute uma rede universal que controla quase todo o planeta () de

tatildeo importante que eacute ela estaacute mais para um estado de espiacuterito globalrdquo ldquoSatildeo as coisas que estatildeo nos dominandordquo

ldquoEacute um dos principais fatores para o consumismordquo

No quarto bloco (teoria criacutetica tecnologia com valores e

controlaacutevel) concentrei seis respostas com referecircncias aproximadas a

possibilidades de escolha dos sujeitos sobre a tecnologia

desenvolvimento da tecnologia relacionado com seu contexto e

consciecircncia da responsabilidade sobre o que eacute desenvolvido Algumas

respostas

189

ldquoO conceito de tecnologia varia de acordo com o tempordquo

ldquoAcredito que eacute importante usa-la com consciecircncia e preparaccedilatildeo necessaacuteria para tal accedilatildeordquo

ldquoA tecnologia existe pois haacute dinheiro e pessoas que possuem

capacidade mental ou seja se natildeo houver pessoas mentalmente desenvolvidas e economicamente bem desenvolvidas natildeo seraacute possiacutevel

obter tecnologiasrdquo ldquoMuitas vezes natildeo sabemos usa-la e ela vira uma arma em

nossas matildeosrdquo

Contudo para cinco respostas natildeo foi possiacutevel uma aproximaccedilatildeo

a um quadro de referecircncias que eu pudesse operacionalizar Escaparam-

me as possibilidades de filiaacute-las ao que Giraldi (2010) chama de rede de

sentidos Satildeo casos de repostas com possibilidades de sentidos para

interpretaccedilatildeo (polissemia) e de filiaccedilotildees que eu natildeo consegui apreender

Como por exemplo ldquonintendordquo ldquoa cabeccedila do Gabrielrdquo e ldquo() mas e

uma arvore Soacute porque natildeo foi o homem que a criou ela natildeo eacute

tecnologia Francamente ela eacute porque foi feita com o intuito de fazer

fotossiacutentese e produzir oxigecircnio e aleacutem disso sem elas seria quase

impossiacutevel a nossa existecircnciardquo Penso que eu poderia fazer uma aproximaccedilatildeo a referecircncias mais

instrumentais dessas respostas Nintendo seria uma ferramenta para

entretenimento o Gabriel poderia ter sido comparado agrave inteligecircncia de

um computador por exemplo Natildeo ignoro a existecircncia de polissemia

Portanto optei por deixaacute-las abertas a interpretaccedilotildees e diferentes

possibilidades de filiaccedilatildeo de sentidos sem relacionaacute-las diretamente com

o meu quadro de referecircncias e com cuidado para natildeo as silenciar

Minha impressatildeo geral e inicial de um sentido determinista sobre

tecnologia entre as juventudes dos CTIEM emergiu de maneira

destacada na maioria das respostas Do mesmo modo uma perspectiva

instrumental tambeacutem foi representativa Penso que a resposta que um

aluno forneceu em forma de desenho representa esses sentidos sobre

tecnologia

A fotografia 1 que exponho abaixo pode ser relacionada com as

perspectivas de Feenberg (1991 2002 2003) sobre determinismo

tecnoloacutegico na medida em que eacute possiacutevel fazer uma leitura acerca de um

progresso teacutecnico que percorreria niacuteveis do mais simples ateacute um mais

complexo O desenvolvimento dos artefatos seguiria uma linearidade de

etapas necessaacuterias e cada etapa desse desenvolvimento possibilitaria a

proacutexima sem ramificaccedilotildees ou desvios fora da linha principal

190

Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de resposta de estudante

Com isso podemos refletir sobre as possibilidades de inserir os

sujeitos na representaccedilatildeo que o aluno fez no desenho acima de modo a

transformar percepccedilotildees focadas na tecnologia em visotildees mais criacuteticas

sobre relaccedilotildees CTS O combate agrave ideia de tecnologia isenta de valores

parece-me ser um caminho profiacutecuo (necessaacuterio embora natildeo suficiente)

e algo que possa ser desenvolvido desde uma perspectiva criacutetica de TS

322 Anaacutelise dos questionaacuterios

Na segunda aula com a continuidade de discussotildees sobre

tecnologia apliquei o questionaacuterio com 18 questotildees e muacuteltiplas escolhas

de respostas (entre cinco e oito) para cada uma aleacutem do espaccedilo aberto

para respostas natildeo previstas conforme estaacute disponiacutevel no Apecircndice D

A atividade ocupou todo o tempo do periacuteodo mas a elaboraccedilatildeo de um

questionaacuterio longo foi proposital

Conforme eu indiquei na introduccedilatildeo desta tese sigo a perspectiva

de Thiollent (1985) e minha opccedilatildeo metodoloacutegica foi adotar a teacutecnica de

pesquisa de intervenccedilatildeo socioloacutegica Nesse sentido meu questionaacuterio eacute

modestamente inspirado na Enquete Operaacuteria de 1880 elaborada e

aplicada por Marx a trabalhadoresas na Franccedila (THIOLLENT 1985)

Minha inspiraccedilatildeo nessa praacutexis vai no sentido de que antes de ser um

levantamento de dados o proacuteprio questionaacuterio visa levar a problematizar

relaccedilotildees nas quais os sujeitos estatildeo inseridos e que ainda natildeo foram

refletidas dessa forma

Portanto o questionaacuterio natildeo foi aqui proposto como um

instrumento de coleta de dados para anaacutelises quantitativas de modo

estrito Tampouco para avaliar atitudes frente a relaccedilotildees CTS agrave moda

dos VOSTS (sigla em inglecircs para Views On Science-Techology-Society

ndash visotildees sobre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade) canadenses ou dos

COCTS (sigla em espanhol para Cuestionario de Opiniones de Ciencia

Tecnologiacutea y Sociedad ndash questionaacuterio de opiniotildees sobre Ciecircncia

Tecnologia e Sociedade) espanhoacuteis (CUNHA SILVA 2009)

191

O questionaacuterio foi pensado dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento A ideia foi apresentar questotildees

(algumas dilemaacuteticas) que natildeo seriam avaliadas dentro dos paracircmetros

de correccedilatildeo ou incorreccedilatildeo mas que causassem inquietaccedilatildeo e

mobilizassem para a problematizaccedilatildeo A intenccedilatildeo de Marx era a de que

ao lerem as questotildees de sua enquete osas trabalhadoresas refletissem

sobre suas condiccedilotildees de trabalho (THIOLLENT 1985) A discussatildeo do

questionaacuterio nas aulas dos CTIEM teve esse mesmo sentido de

mobilizaccedilatildeo para (mais) consciecircncia criacutetica (FREIRE 1983)

Contudo a proposta natildeo estaacute baseada em accedilotildees de causa e efeito

(identificar um problema aplicar um meacutetodo e avaliar a soluccedilatildeo) e de

classificaccedilatildeo dosas estudantes entre deterministas e natildeo deterministas

por exemplo A intenccedilatildeo foi refletir contextualmente sobre os modos

pelos quais essas juventudes dos CTIEM se posicionam ao serem

apresentadas formalmente a discussotildees CTS Assim discuto respostas

dadas a trecircs questotildees (07 11 e 12) que faziam referecircncia a autonomia e

neutralidade da tecnologia

A partir da questatildeo de nordm 07 seria possiacutevel refletir sobre

possibilidades de sujeitos natildeo especialistas tomarem parte em decisotildees

sobre o desenvolvimento tecnoloacutegico As respostas ficaram

basicamente divididas entre um posicionamento que entenderia o

desenvolvimento tecnoloacutegico como algo independente das accedilotildees dos

sujeitos (aproximadamente 42) e um posicionamento que

compreenderia que em alguma medida os sujeitos estariam envolvidos

com o desenvolvimento tecnoloacutegico (48)

Nas questotildees de nordm 11 e 12 seria possiacutevel ponderar sobre

contextos valores e sentimentos envolvidos com o desenvolvimento

tecnoloacutegico De modo geral verifiquei que a maioria dosas estudantes

(87) compreende que lugares eacutepocas interesses valores e intenccedilotildees

dos sujeitos estatildeo relacionados com o desenvolvimento tecnoloacutegico

Com isso questionei-me se a tese da neutralidade seria mais faacutecil de ser

problematizada

Penso que os questionamentos e duacutevidas acerca de possibilidades

de participaccedilatildeo nos proacuteximos passos que algum desenvolvimento

tecnoloacutegico seguiraacute satildeo maiores do que a visualizaccedilatildeo de que o

desenvolvimento de tecnologias pode carregar valores culturais Minha

percepccedilatildeo vem de algumas reflexotildees sobre muitas respostas de

estudantes agrave questatildeo inicial com referecircncias agrave tecnologia como

ldquoaplicativos para facilitar nossa vidardquo

Dentro de um grande quadro de interpretaccedilotildees provaacuteveis indico

uma possibilidade de anaacutelise baseada na verificaccedilatildeo de que osas

192

estudantes tecircm uma referecircncia de tecnologia nos aplicativos de celulares

e smartphones Assim esses aplicativos que satildeo vistos de modo

positivo atendem a suas necessidades e por isso estatildeo relacionados a

seus sentimentos valores e expectativas Poreacutem compreendo que

essesas estudantes como usuaacuteriosas natildeo visualizem tantas

probabilidades de desenvolverem aplicativos ou de decidirem como e

quando eles poderiam ser atualizados por exemplo No limite a posiccedilatildeo

de usuaacuterioa estaria relacionada a perspectivas de menores

possibilidades de escolhas e participaccedilatildeo em processos de

desenvolvimento tecnoloacutegico

Esclareccedilo que compreendo que embora eu ainda natildeo tivesse

apresentado o texto de apoio e um posicionamento CTS nessas questotildees

algunsmas estudantes podem ter antecipado em alguma medida

respostas que entenderiam como mais apropriadas agrave aula de Sociologia

na qual a situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica dos sujeitos sempre foi discutida

De qualquer maneira entendo que o questionaacuterio mobilizou para

debates e busca de posicionamentos Verifiquei que osas alunosas

transitaram desde uma preocupaccedilatildeo em saber se o questionaacuterio ldquocairia

na provardquo ateacute a solicitaccedilatildeo de ldquomudar a respostardquo que havia sido dada agrave

questatildeo inicial da aula anterior Com isso possiacuteveis contradiccedilotildees entre

posicionamentos na questatildeo inicial e respostas ao questionaacuterio satildeo aqui

compreendidas dentro do processo geral de problematizaccedilatildeo da temaacutetica

socioteacutecnica

A seguir apresento os proacuteximos passos dentro do roteiro didaacutetico

que chegam ateacute o desenvolvimento TS

33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS

Apoacutes as duas primeiras aulas que envolveram respostas agrave questatildeo

inicial e ao questionaacuterio iniciamos a terceira aula com a retomada de

discussotildees sobre alguns toacutepicos deste uacuteltimo A partir disso iniciei uma

exposiccedilatildeo dialogada sobre tecnologia do ponto de vista de estudos em

Educaccedilatildeo CTS latino-americanos Fizemos a leitura de um texto de

apoio sobre tecnologia e TS de minha autoria (disponiacutevel no Apecircndice

F) e assistimos a um audiovisual de cinco minutos chamado ldquoO que eacute

tecnologia afinalrdquo disponiacutevel em

lthttpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=rel

atedgt

A figura 6 abaixo eacute um exemplo de informaccedilatildeo que mediou as

discussotildees desse momento e que esteve disponiacutevel nos slides

apresentados durante as aulas Destaco que nesse processo busquei

193

articular minha perspectiva sobre educaccedilatildeo (politecnia) dentro do

quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da tecnologia na

educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS Assim a ideia foi ilustrar

como podemos pensar nas tecnologias como desenvolvimento soacutecio-

histoacuterico e contextual

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Na 4ordf aula foram retomadas as discussotildees sobre tecnologias com

inserccedilatildeo do termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer referecircncia agraves relaccedilotildees

apresentadas na terceira aula Com os recursos de leitura e debates sobre

o texto disponibilizado no encontro anterior o primeiro momento da

aula envolveu uma problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e na

segunda etapa discutimos sobre TS As figuras 7 8 e 4 abaixo ficaram

disponiacuteveis nos slides durante a aula e ilustraram os debates propostos

para esse momento

194

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01

Fonte Google imagens

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

195

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

As aulas de nuacutemero 5 e 6 foram realizadas no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Na 5ordf aula retomei a temaacutetica socioteacutecnica incluiacute

uma perspectiva de autoria nos debates e forneci informaccedilotildees sobre a

tarefa final de elaboraccedilatildeo de um projeto sobre TS para resolver um

problema socioteacutecnico relevante no quotidiano dosas alunosas No

segundo momento da aula houve a divisatildeo dosas estudantes em grupos

de livre escolha para a realizaccedilatildeo da tarefa final e o iniacutecio das pesquisas

para executaacute-la

Na 6ordf aula prosseguimos com as pesquisas orientadas no

laboratoacuterio de informaacutetica Imagens dos slides e textos ficaram agrave

disposiccedilatildeo para consulta Ressaltei novamente o aspecto autoral da

atividade com criatividade e originalidade na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do

problema socioteacutecnico levantado

Nesse sentido retomo a advertecircncia de Gramsci (1982) para

quem uma educaccedilatildeo integral e com o domiacutenio intelectual da teacutecnica se

relacionava com o desenvolvimento da criatividade Sendo esta uacuteltima

entendida como meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento que busca

maturidade intelectual e natildeo promover ldquoinventores e descobridoresrdquo no

sentido de sujeitos ldquoprivilegiadosrdquo ou ldquoiluminadosrdquo A figura 9 abaixo

ilustrou o que se pretenderia superar com a mobilizaccedilatildeo para a autoria

196

Figura 9 - Autoria

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

As duas uacuteltimas aulas (7ordf e 8ordf) ficaram reservadas agraves

apresentaccedilotildees de seminaacuterios com os projetos sobre TS discussotildees

acerca dessas iniciativas e auto avaliaccedilotildees finais Destaco que osas

estudantes foram mobilizados para pensar coletiva colaborativa criativa

e criticamente sobre problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicos vivenciados Os

modos pelos quais os projetos poderiam ser apresentados tambeacutem

tiveram essa orientaccedilatildeo

A partir desse detalhamento do roteiro que as aulas seguiram a

seguir descrevo e analiso cinco projetos de desenvolvimento de TS

dentre os pouco mais de 20 que foram apresentados nos seminaacuterios

finais Esse recorte foi necessaacuterio para privilegiar aspectos mais

especiacuteficos e contextualizados tanto dos sujeitos envolvidos quanto dos

sentidos sobre tecnologia e TS que foram debatidos nessa atividade

Todos os projetos apresentados nos seminaacuterios foram analisados

mas estabeleci criteacuterios de escolha para os que seriam aqui descritos

Esses criteacuterios foram os seguintes (i) envolvimento dosas alunosas do

grupo na realizaccedilatildeo da tarefa (pesquisa sobre TS e debates para levantar

o problema a ser resolvido) (ii) destaque agrave relevacircncia de um problema

do seu quotidiano (iii) estabelecimento de relaccedilatildeo do projeto com a

temaacutetica socioteacutecnica e (iv) incorporaccedilatildeo de um modo pessoal e possiacutevel

de resolver o problema destacado

197

Portanto verifiquei que em alguma medida os projetos aqui

descritos143 foram desenvolvidos por estudantes que ocuparam os

tempos das aulas no laboratoacuterio de informaacutetica para investigar sobre TS

Momentos nos quais estabeleceram diaacutelogos entre osas componentes do

grupo para decidir sobre o problema tendo em vista que este uacuteltimo teria

relevacircncia no seu dia-a-dia Buscaram de algum modo um paracircmetro

de comparaccedilatildeo nas caracteriacutesticas baacutesicas de TS (simplicidade baixo

custo resposta social e possibilidade de reaplicaccedilatildeo) e sobretudo

mostraram alguma iniciativa para apresentar algo (levantamento e

possiacutevel resoluccedilatildeo do problema) que fosse conforme suas

possibilidades contextualizado com suas caracteriacutesticas pessoais e que

envolvesse seus conhecimentos Os cinco projetos escolhidos satildeo

apresentados a seguir

331 Campanha contra homofobia nas escolas

O grupo da turma do CTIEM de quiacutemica que desenvolveu um

projeto tendo em vista a questatildeo da homofobia nas escolas era composto

por cinco estudantes As quatro meninas e o menino do grupo tinham

entre 15 e 16 anos de idade natildeo trabalhavam no contra turno natildeo eram

residentes do Faacutetima e cursavam pela primeira vez o 1ordm ano Percebi que

a sua integraccedilatildeo nesse formato de grupo ocorreu pelos laccedilos de

amizades que eles haviam estabelecido durante o ano letivo Todosas

ocupavam lugares proacuteximos na parte do fundo da sala de aula e era

comum encontraacute-losas reunidosas nos intervalos das aulas

Duas meninas do grupo jaacute haviam trabalhado comigo em um

projeto de pesquisa sobre diversidade linguiacutestica (sotaques giacuterias) nas

diferentes regiotildees do Brasil De modo geral o grupo era coeso quanto ao

interesse por questotildees debatidas na aacuterea das Ciecircncias Humanas

Verifiquei que nas duas aulas com pesquisas orientadas no laboratoacuterio

143 Destaco que algumas iniciativas interessantes ficaram fora das descriccedilotildees

apresentadas nesta tese Por exemplo o desenvolvimento de diversos aplicativos

para celular e smartphones Desde um que compararia preccedilos de medicamentos

em diferentes farmaacutecias da cidade passando por um que mostraria a localizaccedilatildeo

do ocircnibus e o tempo que ele levaria para chegar ao usuaacuterioa ateacute um com dicas

de sauacutede e boa forma e outro com notiacutecias e informaccedilotildees sobre o quotidiano da

escola Contudo alguns projetos analisados natildeo foram aqui explorados por natildeo

atenderem aos criteacuterios definidos como por exemplo um separador de moedas

e um ar condicionado caseiro que satildeo semelhantes a ideias divulgadas no Brasil

pelo Manual do Mundo e que podem ser conferidos em

lthttpwwwmanualdomundocombrgt

198

de informaacutetica elesas investigaram TS desenvolvidas no Brasil e jaacute

naqueles espaccedilos elaboraram um esboccedilo da apresentaccedilatildeo final A figura

10 abaixo eacute um slide que foi apresentado pelo grupo no seminaacuterio final

Figura 10 - Dados sobre homofobia

Fonte Montagem da autora a partir de slides da apresentaccedilatildeo do grupo de

alunosas

Eacute interessante verificar que o grupo buscou articular informaccedilotildees

do seu quotidiano na escola com outros dados de pesquisas como os do

slide da figura 10 acima E assim construiacuteram conhecimentos sobre o

problema da homofobia A seguinte fala apresentada em um slide do

grupo mostra esse sentido de problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas

ldquoPara pensar 87 da comunidade escolar tem preconceito contra homossexuais Homofobia nas escolas eacute um reflexo do

preconceito na sociedade rdquo

Acredito que esse tema tenha emergido por conta da possiacutevel

orientaccedilatildeo sexual de uma participante do grupo que em diferentes

niacuteveis sofria com preconceito de colegas Destaco que questotildees sobre gecircnero (sexo orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero) satildeo previstas

para as turmas dos segundos anos da escola mas pelo interesse

demonstrado indiquei e orientei leituras sobre o tema do ponto de vista

da Sociologia para o grupo

199

A partir da percepccedilatildeo de um problema elesas pensaram em uma

soluccedilatildeo baseada na prestaccedilatildeo de serviccedilo de apoio a viacutetimas de

homofobia na escola e encaminhamento agrave assistecircncia estudantil Nesse

processo a duacutevida que elesas apresentaram foi sobre a pertinecircncia

dessa questatildeo para TS tendo em vista que elesas natildeo haviam

identificado um problema teacutecnico mas um problema social De modo

que o grupo pensou em acrescentar ao projeto a possibilidade de

desenvolver um aplicativo de celular para denuacutencias contra situaccedilotildees de

homofobia na escola

Minha estrateacutegia foi mobilizaacute-losas para a (maior) percepccedilatildeo de

que seus problemas quotidianos (e seus conhecimentos sobre eles) tecircm

relevacircncia e que as soluccedilotildees apontadas satildeo igualmente importantes Na

investigaccedilatildeo envolvida nesta tese visualizo possibilidades de processos

educacionais atuarem na transformaccedilatildeo da realidade social Assim como

Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados com a

vivecircncia dos sujeitos procurei natildeo silenciar os conhecimentos

produzidos pelo grupo Esse uacuteltimo entendido como integrante das

diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no contexto escolar

da atualidade

Nessa perspectiva o grupo desenvolveu o projeto e buscou nas

carateriacutesticas baacutesicas de TS algumas referecircncias para apresentar

soluccedilotildees ao problema identificado Em um de seus slides aparecia a

seguinte proposta

ldquoCriar campanhas para que a sociedade entenda que cada indiviacuteduo eacute livre e tem sua forma de amar Independentemente da sua

escolha o que nos resta eacute respeitarrdquo

Osas integrantes do grupo buscaram apresentar algo que

entendiam como possiacutevel de ser feito com pouco investimento

financeiro e que visualizavam que ajudaria a resolver o problema

levantado A apresentaccedilatildeo da proposta para osas colegas da turma

contou com uma boa recepccedilatildeo Conforme estaacute retratado na fotografia 2

abaixo uma de suas accedilotildees consistia em colar cartazes educativos sobre

homofobia nas dependecircncias da escola Algo que relaciono com o

interesse de todosas os integrantes do grupo pelas aulas da disciplina de

Artes144

144 O Anexo C mostra as disciplinas obrigatoacuterias para cada curso a cada ano

200

Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo

Fonte Adaptado de fotografia feita pela autora

De modo geral o que acompanhei do grupo na elaboraccedilatildeo do

projeto indica uma mobilizaccedilatildeo para a relevacircncia de seus problemas

como de interesse a um grupo maior de sujeitos do seu contexto e uma

disposiccedilatildeo para desenvolver os projetos com sensibilidade aos modos

com que cada integrante do grupo pudesse colaborar Destaco que foi

importante desenvolver junto ao grupo e agrave turma questotildees acerca da natildeo

linearidade entre a identificaccedilatildeo de um problema e sua resoluccedilatildeo A

complexidade e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir

foram apontados

332 Transporte de catildees em coletivos

Ainda nessa turma de quiacutemica na qual foi abordada a homofobia

foi desenvolvido um projeto sobre o transporte de animais domeacutesticos

em coletivos urbanos O grupo que desenvolveu a atividade era

composto por trecircs meninas e um menino (namorado de uma das

meninas) Suas idades estavam entre 15 e 16 anos todasos residentes

fora do Faacutetima sem exercerem atividades de trabalho ou estaacutegio no

contra turno da escola e pela primeira vez no 1ordm ano Assim como osas

colegas que abordaram a homofobia percebi que os laccedilos que os uniam

como grupo eram de amizade Para aleacutem dessa atividade conjunta em

201

sala de aula elesas sentavam proacuteximos na aacuterea central da sala e

mantinham conviacutevio nos outros espaccedilos da escola

Havia certa coesatildeo no grupo quanto aos planos futuros de

seguirem estudos na aacuterea da Quiacutemica (engenharia farmaacutecia e quiacutemica

forense) Com exceccedilatildeo do menino que sempre expressou natildeo

compreender a necessidade de estudar Sociologia e Filosofia eu

percebia que a disciplina de Sociologia era entendida dentro de um

conjunto de conhecimentos necessaacuterios para atingir as metas

profissionais estabelecidas Verifiquei que as meninas pesquisaram

sobre TS e escolheram um tema que elas vivenciavam como problema

quotidiano

A figura 11 abaixo traz um slide no qual o grupo apresentava

seu problema

Figura 11 - O problema do transporte de catildees

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas

Em relaccedilatildeo ao grupo que problematizou a homofobia aqui as

impressotildees gerais sobre o transporte coletivo da cidade natildeo foram

contrapostas com outras fontes ou outros tipos de informaccedilatildeo Durante

as pesquisas procurei propor ao grupo o estabelecimento de relaccedilotildees

entre suas percepccedilotildees iniciais sobre o transporte puacuteblico e informaccedilotildees

disponiacuteveis sobre o tema Minha intenccedilatildeo natildeo foi desmobilizaacute-los do

problema levantado antes disso foi lembraacute-los da importacircncia de uma

leitura menos ingecircnua e naturalizada da realidade social Algo que

202

Moraes e Guimaratildees (2010) destacam com os princiacutepios socioloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento

Contudo o problema levantado pelo grupo pareceu-me sensiacutevel agrave

relevacircncia do tema no seu quotidiano Acompanhei a elaboraccedilatildeo do

problema durante as aulas e verifiquei que o grupo identificou uma

iniciativa de transporte de catildees similar e jaacute em uso em outro contexto

Apoacutes alguns debates elesas optaram por prosseguir com o projeto pois

ele tratava de um problema que era importante para o grupo naquele

momento

A proposta apresentada conforme as suas falas envolvia

ldquoA melhor soluccedilatildeo no quesito custo X benefiacutecio seria a implantaccedilatildeo de casas de cachorro (semelhantes a uma gaiola poreacutem

com o conforto adequado ao bicho) embaixo de cada banco assim o

dono poderia acomodar o seu animal fechar a porta da casa e sentar-se no banco logo acima Dessa forma natildeo atrapalharia ningueacutem e o

animal estaria protegido rdquo O grupo apresentou a ideia aosagraves colegas tendo em vista que as

gaiolas poderiam ser produzidas pelosas proacuteprios estudantes nos

laboratoacuterios da escola em alguma disciplina teacutecnica e com custo baixo

A intenccedilatildeo seria levar as gaiolas a empresas de transporte mas o modo

como haveria a produccedilatildeo natildeo foi estabelecido O grupo foi questionado

pelosas colegas sobre vaacuterios aspectos do projeto desde a originalidade

(questionamento da existecircncia de um produto similar) ateacute aspectos

sanitaacuterios do transporte de animais

Ao fim dos debates osas colegas pensaram que haveria

possibilidade para tal atividade mas que seria interessante desenvolver

algum material plaacutestico novo para as gaiolas Percebi certa preocupaccedilatildeo

de algunsmas estudantes com a necessidade de haver inovaccedilatildeo na

proposta de gaiola apresentada o que poderia estar relacionado ao que

Feenberg (1991 2002 2003) chamaria de perspectivas deterministas do

progresso teacutecnico

Contudo de modo geral verifiquei que as meninas do grupo

estiveram sensiacuteveis para refletir sobre um problema vivenciado e para

pensar em soluccedilotildees dentro de suas possibilidades de execuccedilatildeo Embora

natildeo tivessem apresentado maiores problematizaccedilotildees da situaccedilatildeo do

transporte puacuteblico na cidade percebi certa abertura para (maior)

compreensatildeo da inserccedilatildeo dos sujeitos (e suas demandas) no

desenvolvimento tecnoloacutegico

203

333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel

A utilizaccedilatildeo de pallets145 para construccedilatildeo de um espaccedilo de

convivecircncia na escola fez parte do projeto desenvolvido por sete

meninos do CTIEM em fabricaccedilatildeo mecacircnica Assim como o projeto das

gaiolas para catildees os meninos focaram em um produto Esses meninos

tinham entre 15 e 17 anos de idade todos residiam fora do Faacutetima

estavam pela primeira vez no 1ordm ano e dois deles participavam do

Projeto Jovem Aprendiz do Serviccedilo Nacional de Aprendizagem

Industrial (SENAI) no contra turno da escola

Assim como a maioria de seus colegas de turma (25 meninos e

apenas duas meninas) os meninos do grupo pensavam em trabalhar nas

aacutereas teacutecnicas (engenharias e setor metalmecacircnico) da regiatildeo no futuro

Entretanto eu percebia o interesse dos meninos desse grupo em temas

socioloacutegicos pois natildeo raro eles traziam materiais para discussatildeo em sala

de aula (sobretudo em relaccedilatildeo agrave perspectiva socioloacutegica sobre trabalho

modos de produccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo produtiva)

Apesar de grande e diverso o grupo contava com meninos

integrados por laccedilos de amizade desenvolvidos durante o ano escolar

Embora separados na sala de aula era comum encontraacute-los reunidos

inclusive no contra turno Durante as pesquisas para o projeto sobre TS

percebi que havia dificuldade em escolher algo comum (problema) a

todo o grupo Durante nossas conversas eles relataram que gostavam de

slackline146 e tinham previsto um espaccedilo para essa praacutetica no projeto que

estavam desenvolvendo na disciplina de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Busquei mobilizaacute-los para refletirem sobre tal projeto tendo em

vista a temaacutetica socioteacutecnica Eles avaliaram que estavam

desenvolvendo TS e passaram a organizar o projeto em termos de

problemas e soluccedilotildees identificadas O interessante foi a relaccedilatildeo entre

conhecimentos produzidos em outra aacuterea que em um primeiro momento

natildeo teve relaccedilatildeo com a atividade proposta mas que passou a fazer parte

de um conjunto maior de possibilidades Eles verificaram que

conhecimentos de diferentes disciplinas poderiam estar envolvidos no

projeto que eles planejavam

No iniacutecio das pesquisas no laboratoacuterio verifiquei certa

preocupaccedilatildeo com a questatildeo da autoria pois o projeto havia sido pensado

145 Satildeo estradosbases de madeira metal ou plaacutestico utilizados para

movimentaccedilatildeo de caixas em induacutestrias ou grandes estabelecimentos comerciais 146 Esporte que permite agraveao praticante andar e fazer manobras por cima de uma

fita elaacutestica esticada entre dois pontos fixos

204

para outra disciplina Contudo nos debates que eles estabeleceram (e

que eu participei) percebi que houve uma distinccedilatildeo entre ldquoproduzir algo

colaborativo e do nosso jeitordquo e ldquotrazer algo que nunca foi feito antesrdquo

De modo que eles buscaram ampliar alguns aspectos do projeto tendo

em vista a apresentaccedilatildeo aos colegas

A figura 12 abaixo traz um slide que o grupo produziu para

apresentar seu projeto agrave turma

Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Os meninos partiram de problemas vivenciados no seu quotidiano

(necessidade de um espaccedilo de convivecircncia e resiacuteduos natildeo aproveitados)

e os relacionaram com possibilidades de soluccedilotildees disponiacuteveis (pallets

descartados pelas induacutestrias vizinhas ao Faacutetima) e em alguma medida

exequiacuteveis (simplicidade na execuccedilatildeo) Utilizaram seus conhecimentos

das aulas da disciplina de Desenho Teacutecnico e elaboraram uma planta

para o projeto como mostra a figura 13 abaixo

205

Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Podemos verificar na figura 13 acima o espaccedilo destinado ao

slackline em vermelho A fala a seguir conteacutem um pouco da projeccedilatildeo de

resultados que os meninos apresentaram agrave turma

ldquoPara esta aacuterea de convivecircncia grande parte dos materiais

seratildeo obtidos atraveacutes de empresas materiais estes que natildeo satildeo utilizados pela mesma e satildeo descartados O espaccedilo contaraacute tambeacutem

com flores e plantas algumas frutiacuteferas rdquo

Compreendo que a escola fazia parte da vida dos meninos do

grupo de maneira especial Para aleacutem desse espaccedilo de socializaccedilatildeo que o

projeto deles procurava resgatar haveria ali um caminho para a

realizaccedilatildeo das expectativas profissionais futuras Aleacutem disso eu

percebia nesse grupo uma abertura agrave perspectiva politeacutecnica de

educaccedilatildeo como destacada por Marx e Engels (2004) e Saviani (1989

2003) Pois eles demonstravam uma percepccedilatildeo positiva sobre a

integraccedilatildeo entre ensino teacutecnico humanidades artes e atividades fiacutesicas

Penso que os meninos mostraram um pouco desses sentimentos na

intenccedilatildeo de desenvolver algo que poderia ser ampliado para zonas

carentes desses espaccedilos no Faacutetima e em outras unidades do IFRS

206

334 Inovaccedilotildees no site da escola

Tal sentimento de pertencimento e cuidado com a escola que

verifiquei nos meninos do curso de fabricaccedilatildeo mecacircnica apareceu em

alguma medida no grupo que desenvolveu o projeto de melhoria para a

paacutegina do IFRS de Caxias do Sul na internet No entanto esse grupo

composto por oito meninos do CTIEM da quiacutemica natildeo era tatildeo coeso e

pude perceber uma divisatildeo interna em dois subgrupos

Os meninos tinham entre 15 e 17 anos de idade um deles era

residente do Faacutetima e o uacutenico a trabalhar no contra turno da escola

Observei que ele e mais dois meninos do grupo formavam um subgrupo

enquanto os outros cinco meninos formavam o segundo subgrupo No

primeiro subgrupo os trecircs meninos formaram laccedilos de amizade durante

o ano sentavam proacuteximos no fundo da sala de aula e estavam sempre

juntos nas atividades da escola Eles demonstravam um interesse por

temas socioloacutegicos na medida em que era mais uma disciplina a ser

estudada Quanto a planos para o futuro profissional apenas um deles

apresentava o desejo de cursar Educaccedilatildeo Fiacutesica no ensino superior

Os cinco meninos do que chamo aqui de segundo subgrupo

tambeacutem haviam estabelecido laccedilos de amizade ao longo do ano escolar

sentavam proacuteximos na lateral da sala de aula e eram parceiros nas

atividades escolares Todos eles expressavam interesse na disciplina de

Sociologia de alguma forma Desde o que gostaria de ldquoaprender os

fundamentos da revoluccedilatildeo socialistardquo passando pelo que pensava em

ldquoestudar o suiciacutedio entre jovens roqueirosrdquo ateacute os que buscavam

diferentes explicaccedilotildees para problemas sociais vivenciados na sua cidade

Um interesse geral nesse subgrupo era por informaacutetica SL e pela

chamada cultura hacker que eles relacionaram com textos sobre

ideologia que haviacuteamos debatido na primeira parte do trimestre

Contudo os dois subgrupos estavam caracterizados como apenas

um grupo pois mantinham relacionamentos de amizade na sala de aula

O que os unia como grupo era a proposta de projeto atividade na qual

desenvolveram debates profiacutecuos Acompanhei as atividades de

pesquisa e verifiquei que eles concordavam que o site da escola natildeo era

funcional A fala a seguir que ilustrou um slide da apresentaccedilatildeo do

seminaacuterio do grupo mostra os problemas identificados

ldquoProblemaacutetica menu muito extenso e confuso difiacutecil para novos usuaacuterios utilizarem informaccedilotildees sobre a instituiccedilatildeo muito lsquoescondidasrsquo

sem acesso faacutecil agrave notiacutecias e arquivos antigos natildeo possui mapa da

instituiccedilatildeo e o botatildeo viacutedeo natildeo funciona rdquo

207

Em outro slide disponiacutevel na figura 14 abaixo o grupo mostrou

a imagem do site e as melhorias que poderiam ser feitas destacadas em

vermelho

Figura 14 - Proposta de melhorias

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Na apresentaccedilatildeo do projeto aos colegas o grupo destacou que

gostaria de resolver os problemas levantados de modo simples

(ldquoreescrever os comandosrdquo no site) barato e com conhecimentos sobre

programaccedilatildeo disponiacuteveis na proacutepria internet A turma recebeu o projeto

de modo positivo e fez outras sugestotildees de melhorias no site Muitosas

alunosas demonstraram interesse em conhecer melhor os processos de

produccedilatildeo organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de conteuacutedo digital no site da escola

e pensaram em levar a pauta ateacute a direccedilatildeo

Ao acompanhar o desenvolvimento do projeto verifiquei que os

trecircs meninos do primeiro subgrupo tiveram mais iniciativa ao demostrar

os problemas do site e deixaram a parte de resoluccedilatildeo para os meninos do

segundo subgrupo Com isso busquei mobilizar os primeiros para que

eles tanto visualizassem (mais) a importacircncia de apontar problemas

relevantes do seu quotidiano quanto compreendessem (mais) que as

resoluccedilotildees natildeo precisariam ser necessariamente deixadas a especialistas

que poderiacuteamos compreender aspectos do desenvolvimento tecnoloacutegico

que permitiriam nossa participaccedilatildeo informada nesse processo como

defende Feenberg (2002 2003)

208

335 Aplicativo para estudos e lazer

Ainda na aacuterea de informaacutetica e programaccedilatildeo o grupo de sete

alunosas do CTIEM de plaacutesticos desenvolveu o projeto de um

aplicativo para smartphone que uniria estudos e entretenimento O grupo

era composto por trecircs meninas e quatro meninos com idades entre 15 e

16 anos todosas residentes fora do Faacutetima nenhuma trabalhava no

contra turno escolar e estavam pela primeira vez no 1ordm ano

Embora constituiacutessem um grupo grande apresentavam coesatildeo

nas decisotildees sobre o desenvolvimento do projeto Ao contraacuterio dos

outros grupos que desenvolveram projetos sobre TS e foram aqui

citados osas estudantes desse grupo natildeo sentavam proacuteximos ou

ficavam juntos nos intervalos das aulas Contudo observei que elesas

geralmente realizavam as tarefas da escola entre si O que acredito que

os caracterizou como integrados por laccedilos de amizade e estudos

De modo geral o grupo demostrava interesse na Sociologia natildeo

apenas como uma disciplina a ser estudada na escola mas como um tipo

de ldquoconhecimento importante para compreender a sociedaderdquo

Aquelesas que jaacute tinham uma projeccedilatildeo de futuro profissional pensavam

em seguir estudos universitaacuterios na medicina nas engenharias ou na

fiacutesica Natildeo destacaram interesse em aacutereas relacionadas com informaacutetica

e programaccedilatildeo de modo especiacutefico mas algunsmas declararam que

desenvolver SL era ldquoum oacutetimo hobbyrdquo

Na descriccedilatildeo do slide de apresentaccedilatildeo do projeto para a turma eacute

possiacutevel verificar as suas motivaccedilotildees

ldquoAtualmente a tecnologia mais utilizada pelos jovens eacute o celular

Muitas vezes os alunos usam o celular apenas para entretenimento e acabam largando os estudos de lado poreacutem o que aconteceria se

juntaacutessemos o entretenimento com os estudos De acordo com esta

ideia surgiu o EIFante rdquo

O grupo afirmou que a ideia seria juntar estudos e lazer

(ldquoentretenimento inteligenteldquo) tendo em vista a oacutetima memoacuteria de um

elefante A identidade visual do aplicativo seria desenvolvida a partir de

uma imagem da internet que consta na figura 15 abaixo e foi

apresentada em slide na sala de aula

209

Figura 15 - Identidade visual do aplicativo

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas

No acompanhamento que fiz durante o desenvolvimento do

projeto o grupo informou-me de que a ideia do ELFante veio de um

programa antigo que sincronizava dados de diversas agendas tinha um

espaccedilo grande para armazenar informaccedilotildees e rapidez na execuccedilatildeo das

tarefas Desde o iniacutecio das atividades sobre TS elesas pensaram sobre

isso e buscaram justificar sua escolha como pode ser visto na seguinte

fala que fez parte da apresentaccedilatildeo do grupo agrave turma

ldquoVantagens do Aplicativo EIFante praticidade graacutetis e leve

auxiacutelio e maior foco nos estudos para as provas memorizaccedilatildeo dos conteuacutedos trabalhados entretenimento de forma educativa interaccedilatildeo

com professores e colegas de forma divertida rdquo

O grupo pensava em um produto faacutecil de ser feito (ldquonecessidade apenas de noccedilotildees baacutesicas de programaccedilatildeordquo) de usar (ldquocom interface

amigaacutevelrdquo) e de acessar (ldquolanccedilado na Google Play e App Storerdquo) O

funcionamento do aplicativo foi apresentado da seguinte forma

ldquoPerguntas e Respostas perguntas separadas por seacuteries e

mateacuterias conecte com suas redes sociais desafie seus colegas nas diversas mateacuterias disponiacuteveis crie novas perguntas para cada mateacuteria

e interaja com seus professores atraveacutes do quiz rdquo

A apresentaccedilatildeo do grupo levou a debates sobre quem poderia

produzir o conteuacutedo se professoresas participariam e se as avaliaccedilotildees

escolares poderiam utilizar resultados do aplicativo De modo geral a

210

turma recebeu a proposta de modo positivo e osas estudantes

demostraram interesse em usaacute-lo Fato que os levou a refletir sobre

possibilidades de desenvolver (natildeo apenas aplicativos e softwares)

soluccedilotildees para problemas socioteacutecnicos do quotidiano a partir de seus

conhecimentos integrando diferentes conhecimentos e dentro de seus

contextos Nesses cinco casos analisados verifiquei certa preocupaccedilatildeo

inicial dos grupos em elaborar ldquoprodutos e inovaccedilotildeesrdquo para facilitar o

quotidiano Por outro lado certa perspectiva instrumental foi

compartilhada com intenccedilotildees manifestas de relacionar meios e fins no

desenvolvimento dos projetos Em alguma medida nos debates

proporcionados pelos seminaacuterios finais osas alunosas destacaram a

importacircncia de haver oportunidades de escolha (ou ao menos

conhecimento) entre diferentes caminhos para o desenvolvimento de

tecnologias

Em relaccedilatildeo agrave autoria no desenvolvimento de TS durante as

pesquisas no laboratoacuterio destaquei a importacircncia dosas estudantes

buscarem seus conhecimentos articularem com outros conhecimentos

disponiacuteveis e refletirem sobre soluccedilotildees contextualizadas e simples

Nesse processo percebi dois aspectos (i) a necessidade de retomarmos

as diferenccedilas entre TS simples e TS pontual e restrita De modo que o

contexto soacutecio-histoacuterico (aspectos estruturais e poliacuteticos) no qual o seu

projeto seria desenvolvido fosse considerado e (ii) as possibilidades de

explorar as aproximaccedilotildees entre a questatildeo da autoria e da natildeo

neutralidade Tendo em vista as indicaccedilotildees de que elesas possam

visualizar as tecnologias como relacionadas a seus desejos seria

interessante discutir sobre a contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados

ao desenvolvimento tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele

ocorre

Para aleacutem das especificidades nas trajetoacuterias de pesquisa de cada

grupo procurei manter a mobilizaccedilatildeo dosas alunosas para (i) a

relevacircncia de seus problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas) do

quotidiano no contexto maior de sua realidade social (ii) (maior)

compreensatildeo de caracteriacutesticas do desenvolvimento tecnoloacutegico tendo

em vista participaccedilatildeo informada nos debates sobre os rumos desse

desenvolvimento e (iii) as possibilidades contidas nas articulaccedilotildees de

seus conhecimentos (situados costumeiros ancestrais e taacutecitos) com

conhecimentos disponiacuteveis nas diversas disciplinas escolares (e no

quotidiano da vida escolar) para refletir sobre participaccedilatildeo informada e

criacutetica em processos de transformaccedilatildeo social

211

E eacute a partir dessas consideraccedilotildees que encaminho as reflexotildees

finais que apresento a seguir

212

213

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao fim das anaacutelises pude perceber ainda mais a complexidade

envolvida tanto em questotildees educacionais quanto na temaacutetica

socioteacutecnica Lembro de um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano

(1940-2015) no qual ele reflete sobre determinismos tecnoloacutegicos e

sociais Na sua ldquoBreve histoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo (GALEANO

2009 p 331-332) ele nos diz

Crescei e multiplicai-vos dissemos

e as maacutequinas cresceram e se multiplicaram

Tinham nos prometido que trabalhariam para

noacutes

Agora noacutes trabalhamos para elas

As maacutequinas que noacutes inventamos

para multiplicar a comida

multiplicam a nossa fome

As armas que inventamos para nos defender

nos matam

Os automoacuteveis que inventamos para nos mover

nos paralisam

As cidades que inventamos para nos encontrar

nos desencontram

Os grandes meios que inventamos para

nos comunicarmos

natildeo nos escutam nem nos vecircem

Somos maacutequinas de nossas maacutequinas

Elas alegam inocecircncia

E tecircm razatildeo

Essas reflexotildees estiveram sempre presentes em minha intenccedilatildeo de

investigar de que maneira e em que medida uma perspectiva criacutetica

sobre TS poderia colaborar para transformar sentidos deterministas

sobre tecnologia entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico O

entendimento de posiccedilotildees deterministas tambeacutem me levou a buscar

compreender em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais

voltados agrave construccedilatildeo de autoria a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS poderia mobilizar tais estudantes para a emancipaccedilatildeo social e

a autonomia

Nesse processo de investigaccedilatildeo encontrei diferentes desafios tais

como o cuidado em natildeo considerar meus sujeitos da pesquisa de

maneira abstrata homogecircnea ou idealizada em buscar representar as

214

diversidades sem perder de vista a unicidade em verificar pluralidades e

diferenccedilas poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero em

natildeo assumir uma perspectiva salvacionista das TS e da Educaccedilatildeo CTS e

em natildeo ignorar contradiccedilotildees silenciamentos e a polissemia Desafios

esses que foram aliados do pequeno tempo para o desenvolvimento do

roteiro didaacutetico dos equiacutevocos inerentes agrave minha primeira experiecircncia

como docente no ensino meacutedio formal e das dificuldades estruturais para

superaccedilatildeo das contradiccedilotildees agraves quais me referi

Dentro do possiacutevel procurei que o desenvolvimento da temaacutetica

socioteacutecnica tivesse significado para osas estudantes no

estabelecimento de relaccedilotildees com as realidades sociais nas quais elesas

estavam inseridosas Abordei TS como tema a ser estudado dentro dos

princiacutepios de desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento tendo em vista o

rompimento com visotildees hierarquizadas sobre conhecimento Minha

intenccedilatildeo foi destacar o caraacuteter processual da produccedilatildeo de conhecimentos

e a importacircncia da alteridade interaccedilatildeo e interdependecircncia dos sujeitos

nesse processo

Destaco minha compreensatildeo acerca da existecircncia de perspectivas

educacionais (re)produtoras de heteronomia Frente a isso busquei

desenvolver em alguma medida praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agrave

formaccedilatildeo criacutetica dos sujeitos Abordei questotildees socioteacutecnicas na

educaccedilatildeo baacutesica tendo em vista possibilidades de mudanccedilas estruturais

de base Minha intervenccedilatildeo junto aos CTIEM visou problematizar a

origem soacutecio-histoacuterica do desenvolvimento tecnoloacutegico as relaccedilotildees de

poder ali envolvidas e nossas possibilidades de participaccedilatildeo nesses

processos

Compreendo que os cuidados que tive natildeo puderam garantir algo

como o cumprimento ideal de meus objetivos Percebi limites tanto para

alguma transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia entre

juventudes quanto para mobilizaccedilotildees para a autoria De maneira geral

tais limites podem se referir tanto a praacuteticas docentes (tipo de

abordagem e escolha pedagoacutegica tempo disponiacutevel) quanto agrave estrutura

escolar (componentes curriculares possibilidades de trabalho

interdisciplinar) por exemplo

Em especiacutefico verifiquei a importacircncia de desenvolver com

estudantes questotildees acerca da natildeo linearidade entre a identificaccedilatildeo de

um problema e sua resoluccedilatildeo de modo a apontar as muacuteltiplas

influecircncias e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir Aleacutem

disso foi necessaacuterio embora natildeo suficiente tendo em vista um processo

de transformaccedilatildeo e criaccedilatildeo de novos sentidos destacar diferenccedilas e

possiacuteveis aproximaccedilotildees entre TC TS e TA aleacutem de problematizar a

215

contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados ao desenvolvimento

tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele ocorre

Verifiquei que a tarefa de mobilizaccedilatildeo de estudantes para

desenvolvimento autoral de TS em niacutevel disciplinar apenas na

disciplina de Sociologia foi um fator limitante Assim como a busca por

novas praacuteticas pedagoacutegicas e didaacuteticas natildeo se constituiu como uma

tarefa simples Contudo visualizei algumas possibilidades para

transformaccedilatildeo de sentidos e criaccedilatildeo de novos sentidos sobre o

desenvolvimento tecnoloacutegico

As anaacutelises realizadas indicaram certa sensibilidade de estudantes

para com a temaacutetica socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos

deterministas sobre tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo de projetos autorais Entendo que foi profiacutecuo mobilizaacute-losas

para aleacutem de refletir sobre problemas socioteacutecnicos do quotidiano

pensar em possibilidades de soluccedilotildees de acordo com seus desejos

dentro de suas possibilidades e contextos

Considero que a disposiccedilatildeo manifesta pelosas estudantes para

projetos autorais pode estar relacionada com autonomia na medida em

que ocorre certo tipo de desenvolvimento de maturidade intelectual

nesse processo Maturidade desenvolvida pela criatividade colaboraccedilatildeo

e abertura para trabalhos conjuntos e compartilhados entre diferentes

conhecimentos Esses trabalhos conjuntos mais que interdisciplinares

podem envolver a coletividade escolar e os diferentes conhecimentos

produzidos por seus sujeitos de modo geral

Portanto a integraccedilatildeo de diferentes conhecimentos no

desenvolvimento de TS seria possiacutevel em grupo E nessas experiecircncias

conjuntas os processos educacionais estariam sensiacuteveis ao

desenvolvimento de maturidade intelectual Maturidade vinculada agrave

autonomia como destaquei acima e agrave emancipaccedilatildeo social Essa uacuteltima

ligada a possibilidades dos sujeitos se posicionarem socialmente tanto

em relaccedilatildeo a criacuteticas a situaccedilotildees de vulnerabilidade vivenciadas quanto agrave

libertaccedilatildeo de condiccedilotildees de dependecircncia e tutela

Dessa maneira minhas intervenccedilotildees junto agraves juventudes dos

CTIEM do IFRS mostraram que em alguma medida existem

possibilidades de transformar sentidos deterministas sobre tecnologia (e

construir novos sentidos) atraveacutes de processos educacionais sensiacuteveis a

uma perspectiva criacutetica sobre TS (processos colaborativos de

desenvolvimento) Em tais processos as juventudes parecem

compreender (mais) que os problemas socioteacutecnicos satildeo (socialmente)

construiacutedos e que as tecnologias podem atender a seus desejos e

incorporar valores contextuais

216

Nas pesquisas que realizei para esta tese sobretudo nas oito aulas

de desenvolvimento do roteiro didaacutetico verifiquei que a temaacutetica

socioteacutecnica natildeo era necessariamente um problema para as juventudes

do CTIEM Entretanto houve a construccedilatildeo de problemas na medida em

que foram exploradas as possibilidades de participaccedilatildeo via autoria com a

criaccedilatildeo de TS De modo que percebo que ao constituiacuterem-se como

autoresas (e natildeo mais apenas usuaacuteriosas) satildeo visualizadas as

possibilidades de autonomia e liberaccedilatildeo de tutela e dependecircncia

Poreacutem natildeo entendo esse processo como algo linear e

previamente determinado pelo desenvolvimento de TS entre juventudes

Compreendo a complexidade aqui envolvida e aponto uma

possibilidade entre outras tantas que poderiam ser exploradas para

desenvolver processos educacionais atentos a perspectivas CTS

Procurei natildeo reproduzir praacuteticas pedagoacutegicas problemaacuteticas e nesse

sentido verifiquei a necessidade de atenccedilatildeo constante Contudo penso

que foi possiacutevel obter dados sobre relaccedilotildees entre tecnologia e processos

educacionais que permitam ampliar a compreensatildeo de qualidades

constitutivas dessas relaccedilotildees Algo que acredito ser proveitoso para

educadoresas com interesse em TS

Em termos acadecircmicos creio que estudos que relacionam

sentidos sobre tecnologia e juventudes que compotildeem a educaccedilatildeo baacutesica

podem contribuir com as produccedilotildees na aacuterea da ECT Pois ao considerar

temas em ciecircncia e tecnologia a ECT tambeacutem estaacute atenta aos contextos

nos quais processos educacionais formais se desenvolvem Com isso

procurei relacionar minha perspectiva politeacutecnica sobre educaccedilatildeo dentro

de um quadro da Educaccedilatildeo CTS latino-americana com vistas a

contribuir com estudos da ECT sobretudo nas implicaccedilotildees sociais da

tecnologia na educaccedilatildeo

Existem muitos aspectos a serem ainda explorados Para aleacutem das

TS destaco a importacircncia de investigaccedilotildees que examinem em que

sentidos a questatildeo da inclusatildeo social seria desenvolvida nos Institutos

Federais Seria possiacutevel questionar qual modelo produtivo seria

considerado que perfil profissional estaria previsto para qual mercado e

com que tipo de tecnologia as accedilotildees seriam pensadas Aponto tambeacutem

a relevacircncia de pesquisas sobre o desenvolvimento da perspectiva

poliacutetico-pedagoacutegica do IFRS Seria interessante a verificaccedilatildeo mais

atenta sobre a manutenccedilatildeo ou natildeo da loacutegica dualista entre formaccedilatildeo

teacutecnica e propedecircutica e suas implicaccedilotildees na formaccedilatildeo discente

Embora natildeo tenha sido o foco de abordagem nesse estudo as

questotildees relacionadas ao curriacuteculo tecircm relevacircncia em debates sobre

processos educacionais A literatura sobre o tema apresenta trabalhos

217

importantes sobre as relaccedilotildees entre curriacuteculo e normas sociais por

exemplo Destaco tambeacutem estudos nos quais os conhecimentos e

experiecircncias que osas alunosas possuem satildeo considerados em

organizaccedilotildees curriculares mais flexiacuteveis e atentas a especificidades

locais e regionais

Na aacuterea educacional natildeo haacute muita novidade no fato de que os

conteuacutedos curriculares deveriam permitir que estudantes tenham

possibilidades de adotar uma postura criacutetica sobre diferentes aspectos da

realidade social De modo que o curriacuteculo natildeo apresentaria uma uacutenica

visatildeo ou interpretaccedilatildeo mas representaria as complexidades da realidade

social Dessa maneira penso que estudos criacuteticos sobre questotildees

curriculares no IFRS tambeacutem podem trazer contribuiccedilotildees para o

entendimento de relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia

Minha intenccedilatildeo geral nesta tese foi considerar possiblidades de

transformaccedilotildees pertinentes a dois grandes temas educaccedilatildeo e tecnologia

Verifiquei possibilidades e potencialidades assim como limites e

desafios Poreacutem natildeo perdi a disposiccedilatildeo de mobilizar juventudes para

reflexotildees natildeo deterministas e natildeo neutras sobre tecnologia tendo em

vista uma educaccedilatildeo (politeacutecnica) criacutetica integral permanente e

contextualizada

Iniciei essas consideraccedilotildees finais com a reflexatildeo de Galeano

sobre as condiccedilotildees dilemaacuteticas do desenvolvimento socioteacutecnico Para

encerrar refiro-me ao poeta brasileiro Maacuterio Quintana (1906-1994) que

em sua ldquoDas utopiasrdquo (QUINTANA 1997 p 36) lembra-nos de que

Se as coisas satildeo inatingiacuteveishellip ora

Natildeo eacute motivo para natildeo querecirc-lashellip

Que tristes os caminhos se natildeo fora

A presenccedila distante das estrelas

E eacute essa atitude de projetar caminhos tendo em vista suas

possibilidades concretas de execuccedilatildeo que continua presente ao finalizar

essa etapa de reflexotildees e pesquisas sobre TS na educaccedilatildeo baacutesica

Sobretudo permanece a intenccedilatildeo de ir aleacutem e procurar criacutetica e

comparativamente complementos teoacutericos e metodoloacutegicos que possam

ajudar a subsidiar pesquisas relevantes e tragam contribuiccedilotildees aos debates sobre relaccedilotildees entre sentidos sobre tecnologia e processos

educacionais

As experiecircncias pelas quais passei nos diferentes momentos que

envolveram a execuccedilatildeo desta tese mobilizaram-me para prosseguir em

estudos que possam em alguma medida gerar interpretaccedilotildees originais

218

aos novos e velhos problemas da aacuterea da educaccedilatildeo em geral e da ECT

brasileira em particular Com minha atenccedilatildeo voltada aos sujeitos

mantenho o interesse em processos nos quais diferentes sujeitos possam

ter participaccedilatildeo informada e criacutetica em questotildees socioteacutecnicas Para que

como disse Walter Benjamin (2009) na epiacutegrafe desta tese esses

sujeitos possam cada vez mais dominar a arte de ldquoposicionar as velasrdquo

219

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243

APEcircNDICES

Apecircndice A Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor

Geral

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS

Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio

Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS

Senhor Diretor Geral JULIANO CANTARELLI TONIOLO

Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von

Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul

(informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar

questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio

em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que

circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul

Grata por sua colaboraccedilatildeo Raquel Folmer Correcirca

Florianoacutepolis _________________

__________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

244

Apecircndice B Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor de

Ensino

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS

Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio

Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS

Senhor Diretor de Ensino VITOR SCHLICKMANN

Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von

Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul (informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar

questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do

texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que

circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul Grata por sua colaboraccedilatildeo

Raquel Folmer Correcirca

Florianoacutepolis _________________

__________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

245

Apecircndice C Termo de consentimento livre e esclarecido - alunosas

(modelo)147

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu ___________________________________________________________ autorizo a

utilizaccedilatildeo de dados obtidos em sala de aula no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Caxias do Sul - para a realizaccedilatildeo de pesquisa para

elaboraccedilatildeo de tese de doutorado junto ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica

e Tecnoloacutegica da UFSC intitulada TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCACcedilAtildeO POSSIBILIDADES E LIMITES DE TRANSFORMACcedilAtildeO DE SENTIDOS Tambeacutem autorizo

a apresentaccedilatildeo de trabalhos em encontros cientiacuteficos Concedo ainda o direito de retenccedilatildeo e uso

para fins de ensino e divulgaccedilatildeo em jornais eou revistas cientiacuteficas do paiacutes e do estrangeiro Se caso eu tiver novas perguntas sobre este estudo posso chamar os responsaacuteveis pela pesquisa

no telefone (54) 99497932 para qualquer esclarecimento sobre os meus direitos como

participante deste estudo Estou ciente que nada tenho a exigir a tiacutetulo de ressarcimento ou indenizaccedilatildeo pela participaccedilatildeo nas accedilotildees propostas Assim a assinatura desse Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) formaliza a autorizaccedilatildeo para a publicaccedilatildeo de

dados Vale salientar que seraacute garantido o anonimato dos sujeitos participantes Declaro que apoacutes ter lido e compreendido as informaccedilotildees contidas neste TCLE concordo em participar

desse estudo E atraveacutes deste instrumento autorizo os pesquisadores Raquel Folmer Correcirca e

Irlan von Linsingen a utilizarem as informaccedilotildees obtidas com a finalidade de desenvolver trabalho de cunho cientiacutefico na aacuterea de Educaccedilatildeo

Florianoacutepolis _____________________

______________________________________________ Assinatura doa alunoa participante

____________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

147 Originais assinados pelosas alunosas em posse da autora

246

Apecircndice D Questionaacuterio

QUESTIONAacuteRIO

Estimadoa alunoa

Este questionaacuterio traz 18 perguntas seguidas por diferentes afirmaccedilotildees ou

apenas afirmaccedilotildees sobre nossas relaccedilotildees com tecnologia Leia atentamente

cada questatildeo reflita se vocecirc concorda ou discorda com cada afirmaccedilatildeo e

escolha dentre as alternativas disponiacuteveis aquela uacutenica que vocecirc reconhece

como a mais proacutexima ao que vocecirc pensa MARQUE APENAS UMA

ALTERNATIVA O questionaacuterio eacute frente e verso

SEXO F ( ) M ( ) IDADE_____anos

1 O melhor modo de descrever tecnologia eacute

(A) Tecnologia eacute tudo que nos rodeia

(B) Tecnologia satildeo todos os aparelhos que nos rodeiam

(C) Tecnologia satildeo todos os novos aparelhos que nos rodeiam

(D) Tecnologia satildeo aparelhos (produtos) metodologias e tambeacutem serviccedilos

(E) Tecnologia eacute toda a aplicaccedilatildeo praacutetica da ciecircncia

(F) Tecnologia satildeo ferramentas prontas para servir os propoacutesitos dos usuaacuterios

(G) Satildeo as produccedilotildees humanas que visam uma finalidade praacutetica mas que

podem envolver pesquisa

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

2 O processo de produzir tecnologia eacute melhor descrito como

(A) Tudo o que fazemos para entender o mundo

(B) Tudo o que fazemos para mudar o mundo

(C) Tudo o que fazemos para melhorar o mundo

(D)Tudo o que fazemos e que transforma a natureza e o mundo e envolve

nossos desejos gostos e valores

(E) Tudo o que eacute feito nas faacutebricas tanto para melhorar ou piorar o mundo

(F) Tudo o que eacute feito para descobrir os segredos da natureza

(G) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia para entender o universo

(H) A descoberta de novos modos de fazer as coisas

(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

3 Definir o que eacute tecnologia eacute difiacutecil porque ela serve para muitas coisas

Mas a tecnologia eacute PRINCIPALMENTE

(A) Muito parecida com a ciecircncia

(B) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia

247

(C) Processos meacutetodos instrumentos maacutequinas e ferramentas com aplicaccedilotildees

praacuteticas para o uso diaacuterio

(D) Robocircs eletrocircnicos computadores sistemas de comunicaccedilatildeo e maacutequinas

(E) Uma teacutecnica para construir coisas ou uma forma de resolver problemas

praacuteticos

(F) Inventar desenhar e transformar coisas (por exemplo membros humanos

artificiais computadores e veiacuteculos espaciais)

(G) Ideias e teacutecnicas para fazer coisas e organizar as pessoas para o progresso

da humanidade

(H) Saber como fazer coisas (por exemplo instrumentos e maacutequinas)

(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

4 O desenvolvimento de uma nova tecnologia (reator nuclear ou aparelho

para cirurgia cardiacuteaca por exemplo) pode ser colocado em praacutetica ou natildeo

A decisatildeo de usar uma nova tecnologia depende PRINCIPALMENTE

(A) Da explicaccedilatildeo dosas teacutecnicosas que a desenvolveram pois elesas sabem

avaliar os riscos

(B) Das pessoas que deram dinheiro para que a tecnologia fosse desenvolvida

pois elas que investiram

(C) Da faacutebrica que iraacute produzir pois laacute eacute que haveraacute possiacuteveis impactos

ambientais e de risco aos trabalhadoresas

(D) Do governo pois ele poderaacute oferecer a toda a populaccedilatildeo a tecnologia

(E) Vai depender do tipo de tecnologia pois para cada uma existe uma

especialista que pode avaliar

(F) Vai depender de vaacuterios aspectos como osas especialistas osas

investidoresas e o governo

(G) Vai depender de um amplo debate puacuteblico entre todos os segmentos

interessados inclusive a populaccedilatildeo inicialmente leiga no assunto

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

5Ciecircncia e tecnologia satildeo bastante relacionadas estre si porque

(A) Ciecircncia eacute a base dos avanccedilos tecnoloacutegicos e eacute difiacutecil ver como a tecnologia

pode ajudar a ciecircncia

(B) A investigaccedilatildeo cientiacutefica leva a aplicaccedilotildees praacuteticas tecnoloacutegicas e as

aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas aumentam a capacidade da investigaccedilatildeo cientiacutefica

(C) Mesmo sendo diferentes estatildeo unidas de modo tatildeo proacuteximo que eacute difiacutecil

separaacute-las

(D) Tecnologia eacute a base dos avanccedilos cientiacuteficos e eacute difiacutecil ver como a ciecircncia

pode ajudar a tecnologia

(E) Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa

248

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

6 A tecnologia influencia a sociedade

(A) A tecnologia natildeo influencia muito a sociedade

(B) A tecnologia influencia bastante a sociedade

(C) A tecnologia nos influencia se noacutes deixarmos

(D) Independentemente de deixarmos ou natildeo a tecnologia nos influencia

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

7 O desenvolvimento tecnoloacutegico pode ser controlado pelas pessoas natildeo

especialistas pelos cidadatildeos

(A) Sim porque osas especialistas saiacuteram da populaccedilatildeo em geral Portanto a

populaccedilatildeo em geral controla um pouco os avanccedilos da tecnologia

(B) Sim porque os avanccedilos tecnoloacutegicos satildeo patrocinados pelo governo e ao

eleger o governo a populaccedilatildeo escolhe o tipo de avanccedilo tecnoloacutegico que

ocorreraacute

(C) Sim porque a populaccedilatildeo deveria ter acesso e possibilidade de escolha nas

questotildees que envolvem o desenvolvimento tecnoloacutegico

(D) Sim mas apenas quando estatildeo organizados em grupos (associaccedilotildees ONGrsquos

cooperativas por exemplo)

(E) Natildeo o desenvolvimento tecnoloacutegico soacute pode ser controlado pelosas

teacutecnicosas diretamente envolvidosas no desenvolvimento da tecnologia pois

elesas entendem todos os processos envolvidos

(F) Natildeo porque a tecnologia avanccedila tatildeo raacutepido que osas natildeo especialistas natildeo

conseguem acompanhar

(G) Natildeo porque a tecnologia se desenvolve de modo independente das pessoas

e nem osas especialistas podem controlar o rumo que uma tecnologia teraacute

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

8 Investir em tecnologia melhora a qualidade de vida das pessoas

(A) Sim porque a tecnologia sempre tem melhorado a vida das pessoas e natildeo haacute

razatildeo para isso natildeo acontecer mais agora

(B) Sim porque investir em tecnologia leva ao desenvolvimento econocircmico

que leva ao desenvolvimento social tambeacutem

(C) Sim porque a tecnologia torna nossa vida mais faacutecil

(D) Sim mas apenas para aqueles que tem acesso a essa tecnologia quem natildeo

tem acesso natildeo eacute afetado

(E) Natildeo porque satildeo desenvolvimentos independentes

249

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

9 A sociedade influencia a tecnologia

(A) A sociedade natildeo influencia muito a tecnologia

(B) A sociedade influencia bastante a tecnologia

(C) A sociedade natildeo influencia a tecnologia pois a tecnologia segue um rumo

independente do que podemos decidir

(D) A sociedade influencia a tecnologia na medida em que podemos usar ou natildeo

uma tecnologia de acordo com nossos gostos e valores mesmos que haja

pressatildeo para utilizar determinadas tecnologias

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

10 Quem deve decidir que tecnologia seraacute desenvolvida em nosso paiacutes eacute

(A) Osas engenheirosas e teacutecnicosas pois satildeo osas especialistas

(B) Os governantes pois satildeo os grandes investidores

(C) Os governantes e osas especialistas

(D) Aleacutem dos governantes e especialistas as lideranccedilas religiosas tambeacutem

devem ser ouvidas pois a tecnologia envolve valores morais das pessoas

(E) Aleacutem de governantes e especialistas a sociedade em geral tambeacutem precisa

poder decidir o que seraacute desenvolvido

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

11 No desenvolvimento de tecnologia estatildeo envolvidos

(A) Os contextos (lugar e eacutepoca de seu desenvolvimento)

(B) A histoacuteria do que estaacute sendo desenvolvido (quem jaacute produziu como)

(C) Interesses poliacuteticos e econocircmicos

(D) Valores sociais e morais

(E) Todas as alternativas anteriores

(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte

teacutecnica e econocircmica

(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

12 A tecnologia tambeacutem se relaciona com o que desejamos

(A) Sim pois como ela eacute desenvolvida por seres humanos ela carrega nossos

valores e intenccedilotildees

(B) Sim mas isso natildeo impede que a tecnologia se desenvolva fora do controle

da sociedade

250

(C) Natildeo pois o desenvolvimento de tecnologia eacute um processo neutro sem

envolvimento sentimental

(D) Natildeo pois embora o ser humano desenvolva tecnologia seus sentimentos

natildeo interferem

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

13 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc se considera

(A) Observadora acompanho o que eacute desenvolvido mas natildeo compro nem uso

nem passo a diante

(B) Usuaacuterioa comproganho o que eacute desenvolvido e que me agrada para minha

proacutepria utilizaccedilatildeo

(C) Divulgadora comproganho e independente de utilizar ou natildeo divulgo o

que eacute desenvolvido e que me agrada

(D) Autora procuro desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos

problemas que quero resolver

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

14 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc gostaria de ser

(A) Observadora acompanhar o que eacute desenvolvido mas natildeo comprar nem

usar nem passar a diante

(B) Usuaacuterioa comprarganhar o que eacute desenvolvido e que me agrada para

minha proacutepria utilizaccedilatildeo

(C) Divulgadora comprarganhar e independente de utilizar ou natildeo divulgar o

que eacute desenvolvido e que me agrada

(D) Autora procuraria desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos

problemas que gostaria de resolver

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

15 O desenvolvimento uso e disseminaccedilatildeodistribuiccedilatildeo de tecnologia estaacute

relacionado a

(A) Poliacutetica

(B) Economia

(C) Cultura

(D) Educaccedilatildeo

(E) Todas as alternativas anteriores

(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte

teacutecnica logiacutestica e econocircmica

(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

251

16 Vocecirc concorda com a afirmaccedilatildeo ldquotoda tecnologia eacute social assim como

toda a sociedade eacute tecnoloacutegicardquo

(A) Sim pois os seres humanos desenvolvem tecnologia entatildeo ela eacute social e a

sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia

(B) Sim e natildeo Sim a tecnologia eacute social pois eacute desenvolvida por seres

humanos E natildeo a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem

tecnologia

(C) Natildeo Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos a

desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos

E natildeo toda a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem tecnologia

(D) Natildeo e sim Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos

a desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos

E sim e a sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

17 Vocecirc concorda que o desenvolvimento uso e distribuiccedilatildeo de tecnologia

tenha conteuacutedo ideoloacutegico

(A) Sim pois como toda a produccedilatildeo humana ela eacute cheia de valores

sentimentos e intenccedilotildees

(B) Sim mas ela tem os valores proacuteprios do desenvolvimento teacutecnico e natildeo os

valores humanos

(C) Natildeo pois a tecnologia natildeo eacute afetada por questotildees morais sentimentais e de

valores

(D) Natildeo mas podemos pensar em uma utilidade da tecnologia que faccedila bem agraves

pessoas

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

18 Vocecirc concorda com a seguinte afirmaccedilatildeo ldquoRevoacutelveres natildeo matam seres

humanos satildeo os seres humanos que puxam o gatilho e matam outros seres

humanosrdquo

(A) Sim pois o revoacutelver foi desenvolvido para a defesa e as pessoas se matam

com ele porque querem

(B) Sim mas o revoacutelver foi feito para matar

(C) Natildeo pois o revoacutelver foi desenvolvido para matar pessoas Armas apenas de

defesa natildeo podem ter capacidade de matar

(D) Natildeo mas os seres humanos natildeo inventaram o revoacutelver com intenccedilatildeo de

matar

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

252

Fim

Por favor antes de devolver seu questionaacuterio verifique se todas as questotildees

foram respondidas

Obrigada

253

Apecircndice E Roteiro didaacutetico

1 Tiacutetulo

Tecnologia e tecnologias sociais autoria em problemas socioteacutecnicos

2 Tema

Problematizaccedilatildeo da temaacutetica tecnoloacutegica e suas relaccedilotildees com uma

perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais (TS) na resoluccedilatildeo autoral de

problemas socioteacutecnicos de juventudes dos Cursos Teacutecnico Integrados ao

Ensino Meacutedio (CTIEM)

3 Contextualizaccedilatildeo e justificativa

Alguns estudos latino-americanos atuais que relacionam ciecircncia

tecnologia e sociedade (CTS) de um ponto de vista educacional tecircm dado

visibilidade a percepccedilotildees sobre relaccedilotildees CTS em componentes curriculares da

Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT) de Engenharias e de aacutereas das

Ciecircncias Naturais e Exatas Nesses estudos haacute uma problematizaccedilatildeo importante

da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias Humanas em aacutereas teacutecnicas Nesse

contexto percebo certa ausecircncia de discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica

Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de

possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)

conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade socioteacutecnica com

a qual elesas podem interagir diariamente Ao apresentar uma ausecircncia

percebida considero a emergecircncia da inclusatildeo de novos sujeitos nos debates

socioteacutecnicos Sujeitos especiacuteficos que emergem do contexto escolar dos

CTIEM

Nesse sentido este roteiro traz uma possibilidade de abordagem

educacional sobre TS O objetivo eacute mobilizar alunosas (e professoresas) para

promover (participar de) debates criacuteticos sobre temas socioteacutecnicos em seu

quotidiano Ao abordar esses temas a ideia eacute que novas questotildees surjam e que

possam vir a contribuir para a Educaccedilatildeo CTS

A intenccedilatildeo aqui eacute que estudantes considerem suas possibilidades para

para aleacutem de participar de debates socioteacutecnicos promoverem novas questotildees

sobre esses assuntos De modo que se perguntem o que tecnologia e TS tecircm a

ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a esses

temas entre outras reflexotildees possiacuteveis

Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais

integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a

compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu caraacuteter

contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas) De modo que os

temas desenvolvidos possam ser relacionados com o mundo do trabalho e as

praacuteticas sociais preparando osas educandosas para o exerciacutecio da cidadania

A relevacircncia dessa iniciativa encontra-se nas possibilidades de (i)

problematizar relaccedilotildees entre sujeito e sociedade e o papel do sujeito na

254

construccedilatildeo da realidade social (ii) compreender (e poder transformar) soacutecio-

historicamente sentidos sobre tecnologias que circulam (satildeo debatidos) entre as

juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (iii) ampliar espaccedilos para

debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade e (iv) vincular tais

debates a perspectivas socioloacutegicas do mundo do trabalho e da cidadania

4 Objetivos

Identificar sentidos sobre tecnologia que circulam entre estudantes dos

CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos examinar

possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de um

posicionamento criacutetico sobre TS e estabelecer relaccedilotildees entre a temaacutetica

socioteacutecnica e o mundo do trabalho e o desenvolvimento cidadatildeo

5 Conteuacutedos

Tecnologia determinismo tecnoloacutegico e TS

6 Metodologia

Apresento uma proposta pedagoacutegica com foco no ensino de Sociologia I

em CTIEM mas aberta a diferentes perspectivas e modalidades de ensino

Penso que pode ser interessante e produtivo promover aberturas inter e

transdisciplinares e propor a colegas de disciplinas como Histoacuteria Biologia e

Geografia por exemplo a participaccedilatildeo nessas atividades Contudo cabe a

docentes adequarem as atividades ao seu contexto de ensino e sobretudo

modificaacute-la de acordo com seus propoacutesitos e planejamentos

O roteiro didaacutetico estaacute distribuiacutedo em oito momentos (aulas de 50

minutos) tendo em vista apenas uma aula por semana O desenvolvimento das

atividades envolve uma problematizaccedilatildeo inicial leitura de texto

acompanhamento de exibiccedilatildeo de audiovisual aula expositiva-dialogada

pesquisa orientada apresentaccedilatildeo de trabalhos e debates de finalizaccedilatildeo Cada

turma dos CTIEM estaacute dividida em grupos de aproximadamente seis

estudantes em cada grupo de modo que existam cerca de cinco grupos em cada

turma (o que contemplaria osas 30 alunosas geralmente frequente em cada

turma) Cada grupo tem entre 10 e 15 minutos para apresentaccedilatildeo de seu trabalho

final

7 Roteiro

1ordf aula Explicaccedilatildeo da proposta de estudo sobre tecnologia (e da

pesquisa para tese) e lanccedilamento da questatildeo inicial (o que eacute tecnologia para

vocecirc) a ser respondida individualmente mas com abertura a diaacutelogos entre

osas alunosas

2ordf aula Retomada do tema socioteacutecnico e aplicaccedilatildeo do questionaacuterio

individual

3ordf aula discussatildeo do questionaacuterio iniacutecio da exposiccedilatildeo dialogada sobre

tecnologia do ponto de vista de Estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-americanos

Leitura de um texto sobre tecnologia de minha autoria Exibiccedilatildeo do viacutedeo ldquoO

255

que eacute tecnologia afinalrdquo que tem cinco minutos e mostra imagens de diversas

tecnologias desenvolvidas em diferentes periacuteodos Viacutedeo disponiacutevel em

httpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=related

A figura 6 abaixo (de minha autoria) eacute um exemplo de informaccedilatildeo que

pode mediar as discussotildees desse momento

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

4ordf aula Retomada de ideias sobre tecnologia introduccedilatildeo da

problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e de ideias sobre TS

As figuras 7 e 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis livremente na internet e

podem ilustrar os debates propostos para esse momento

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01

Fonte Google imagens

256

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

Para a exposiccedilatildeo dialogada sobre TS a figura 4 abaixo pode ilustrar as

discussotildees

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

5ordf e 6ordf aulas Explicaccedilatildeo da tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS para

resolver um problema socioteacutecnico relevante no seu quotidiano Divisatildeo dos

grupos Pesquisas orientadas no laboratoacuterio de informaacutetica Imagens e textos

ficam agrave disposiccedilatildeo para consulta Apresentar a importacircncia de buscar

originalidade e autoria na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do problema socioteacutecnico

levantado

A figura 9 abaixo pode ilustrar o que se pretende com o

desenvolvimento de autoria

257

Figura 9 - Autoria

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

7ordf aula iniacutecio das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS

8ordf aula final das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS (se

for o caso) debates sobre os seminaacuterios e auto avaliaccedilotildees finais

8 Materiais utilizados

Folhas de papel para a questatildeo inicial questionaacuterio texto de apoio

slides com toacutepicos sobre a temaacutetica (figuras notiacutecias jornaliacutesticas peccedilas

publicitaacuterias viacutedeos) computadores para pesquisas e projetor multimiacutedia para

apresentaccedilotildees

9 Avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo eacute aqui entendida como um continuum que perpassa todos os

processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos durante as aulas Eacute

interessante destacar que fazem parte desse processo tanto uma avaliaccedilatildeo

formativa (avaliaccedilatildeo ldquoparardquo o aprendizado ocorre continuamente) quanto uma

avaliaccedilatildeo somativa (avaliaccedilatildeo ldquodordquo aprendizado pontual com atribuiccedilatildeo de

notas) Para essa proposta haacute preocupaccedilatildeo com uma avaliaccedilatildeo formativa mas

penso que o desenvolvimento e apresentaccedilatildeo das propostas de TS tenham

tambeacutem um caraacuteter somativo

O que apresento aqui satildeo ideias para desenvolver com osas alunosas a

problematizaccedilatildeo (dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo) a argumentaccedilatildeo a construccedilatildeo de conhecimentos e a

capacidade de se posicionar dialogicamente de modo informado sobre questotildees

socioteacutecnicas Com isso os criteacuterios considerados nas avaliaccedilotildees dosas

alunosas contemplam as reflexotildees e entendimentos dosas mesmosas sobre (i)

o que e como tecnologias e determinismo tecnoloacutegico significam no dia-a-dia

(ii) TS como tema de relevacircncia a estudantes (como podem influenciar o

258

trabalho os relacionamentos o lazer etc) e (iii) possibilidades e limites de

desenvolver autoria na resoluccedilatildeo de seus problemas socioteacutecnicos e relaccedilotildees

dessa com princiacutepios socioloacutegicos de cidadania (o que eacute possiacutevel fazer como e

por quecirc)

A atribuiccedilatildeo de notas fica relacionada com a mobilizaccedilatildeo para os

debates a pesquisa e a apresentaccedilatildeo da tarefa final

10 Sugestotildees de audiovisuais para reflexotildees sobre a temaacutetica

2001 uma Odisseia no Espaccedilo (EUAInglaterra 1968 Stanley

Kubrick)

Admiraacutevel Mundo Novo (EUA 1998 Leslie Libman)

A Guerra do Fogo (FranccedilaCanadaacute 1981 Jean-Jacques Annaud)

Alphaville (FranccedilaItaacutelia 1965 Jean-Luc Godard)

Blade runner o caccedilador de androides (EUA 1982 Ridley Scott)

Gattaca - Experiecircncia Geneacutetica (EUA 1997 Andrew Niccol)

Matrix (EUAAustraacutelia 1999 irmatildeos Wachowski)

259

Apecircndice F Texto base das aulas

IFRS - Cacircmpus Caxias do Sul

Sociologia I Profordf Raquel Folmer Correcirca

TECNOLOGIA

Percebe-se que a palavra tecnologia eacute empregada largamente em

diferentes contextos (social cultural econocircmico poliacutetico educaccedilatildeo) sendo

utilizada para as mais diversas finalidades e por pessoas com propoacutesitos

distintos Poreacutem do mesmo modo que o seu uso se torna cada vez mais

corrente confusotildees e imprecisotildees semacircnticas permeiam o seu emprego O

filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto apresenta a tecnologia como ldquoa teoria a

ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes

as habilidades do fazer as profissotildees e generalizadamente os modos de

produzir alguma coisardquo (2005 p 219)148

Ele tambeacutem destaca que

toda tecnologia contendo necessariamente o

sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica transporta

inevitavelmente um conteuacutedo ideoloacutegico Consiste

numa determinada acepccedilatildeo do significado e do valor

das accedilotildees humanas do modo social de realizarem-se das

relaccedilotildees do trabalhador com o produto ou o ato acabado

e sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em seu

papel de fabricante de um bem ou autor de um

empreendimento e o destino dado agravequilo que cria A

teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um ato

humano necessariamente inserido no contexto social

que a solicita a possibilita e lhe daacute aplicaccedilatildeo (ibidem p

320-321)

A socioacuteloga gauacutecha Maiacutera Baumgarten (2006)149 situa a tecnologia em

relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e destaca que o ser humano tem a capacidade de

inventar teacutecnicas aperfeiccediloaacute-las e transmiti-las Ela pontua que na tecnologia

148 PINTO A V O conceito de Tecnologia (Vol 1) Rio de janeiro

Contraponto 2005 149 BAUMGARTEN M Tecnologia In CATTANI A HOLZMANN L

(orgs) Dicionaacuterio de trabalho e tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006

260

que reside a possibilidade de transformaccedilatildeo da realidade Para ela uma ideia

geral de tecnologia pode ser compreendida como

() atividade socialmente organizada baseada em

planos e de caraacuteter essencialmente praacutetico

Tecnologia compreende portanto conjuntos de

conhecimentos e informaccedilotildees utilizados na

produccedilatildeo de bens e serviccedilos provenientes de

fontes diversas como descobertas cientiacuteficas e

invenccedilotildees obtidas por meio de distintos meacutetodos

a partir de objetivos definidos e com finalidades

praacuteticas () como toda produccedilatildeo humana a

tecnologia deve ser pensada no contexto das

relaccedilotildees sociais e dentro de seu desenvolvimento

histoacuterico (ibidem p 288)

Tendo em vista essas consideraccedilotildees pode-se compreender o

desenvolvimento os usos e as aplicaccedilotildees da tecnologia enquanto fenocircmeno

eminentemente social relacionado agrave poliacutetica agrave economia agrave educaccedilatildeo e agrave

cultura

TECNOLOGIAS SOCIAIS

Tecnologia Social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias

reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem

efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Eacute um conceito que remete para uma

proposta inovadora de desenvolvimento considerando a participaccedilatildeo coletiva

no processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implementaccedilatildeo Estaacute baseado

na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a demandas de

alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo energia habitaccedilatildeo renda recursos hiacutedricos sauacutede meio

ambiente dentre outras

As Tecnologias Sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e

reaplicaacuteveis propiciando desenvolvimento social em escala

A Fundaccedilatildeo Banco do Brasil caracteriza tecnologia social como todo

processo meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema

social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil

reaplicabilidade e impacto social comprovado Tecnologias sociais satildeo

definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis

desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem efetivas

soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Podemos compreender que tecnologias

sociais se propotildeem a atender questotildees relativas agrave melhoria das condiccedilotildees de

vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local

sustentaacutevel Nessa perspectiva de tecnologia social a teacutecnica seria entendida

como um meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo

forma de controle ou causa de desigualdade social Satildeo exemplos de

261

Tecnologias sociais o soro caseiro (mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que combate a

desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil) as cisternas de placas preacute-moldadas

que atenuam os problemas de acesso a aacutegua de boa qualidade agrave populaccedilatildeo do

semiaacuterido entre outros

262

263

ANEXOS

Anexo A Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de controle

acadecircmico do IFRS150

Fonte IFRS 2015

150 Os pontos amarelos indicam o registro das aulas sobre tecnologia Contudo

uma aula sobre tecnologia natildeo foi registrada nesse sistema pois foi cedida de

modo informal a mim pelosas colegas professoresas na semana do dia

10112015 A primeira coluna agrave esquerda do ponto amarelo indica as datas em

que as aulas ocorreram

264

Anexo B Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados151

Disciplina Sociologia I

Carga Horaacuteria 30 horasaula

Periacuteodo 2015

Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica-Manhatilde

Atendimento Segunda-feira 1330-1530

Professora Raquel Folmer Correcirca

raquelcorreacaxiasifrsedubr

Ementa

Desenvolvimento de uma educaccedilatildeo escolar vinculada com o mundo do

trabalho e a praacutetica social preparando o educando para o exerciacutecio da cidadania

Busca de compreensatildeo das sociedades humanas como objeto de conhecimento

cientiacutefico atraveacutes do estudo de relaccedilotildees instituiccedilotildees e estruturas sociais em seu

caraacuteter atual e em suas dinacircmicas de transformaccedilatildeo Problematizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade e do papel do sujeito na construccedilatildeo da

realidade social Estudo sobre formas de trabalho relaccedilatildeo entre trabalho e

Direitos Humanos Modos de Produccedilatildeo origem e desenvolvimento da

Sociologia teorias socioloacutegicas claacutessicas e perspectivas atuais miacutedia ideologia

alienaccedilatildeo desenvolvimento sustentaacutevel

Objetivos

Desenvolver no educando uma perspectiva socioloacutegica de modo a

desnaturalizar a visatildeo de sociedade e da vida social construiacuteda no senso comum

Proporcionar a mobilizaccedilatildeo de conceitos e teorias socioloacutegicas como

ferramentas analiacuteticas para a compreensatildeo da vida quotidiana e do mundo do

trabalho a partir de uma visatildeo criacutetica

Programa

1 Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico

2 Teorias socioloacutegicas claacutessicas

3 Modos de produccedilatildeo

4 Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees na contemporaneidade

5 Temas atuais em Sociologia miacutedias e consumoconsumismo

6 Temas atuais em Sociologia tecnologias

151 Todos os CTIEM nos quais desenvolvi as atividades seguem o mesmo plano

265

Cronograma

Trimestre Descriccedilatildeo de conteuacutedos

1ordm trimestre

Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico

Produccedilatildeo social do conhecimento

O olhar socioloacutegico problematizaccedilatildeo e desnaturalizaccedilatildeo

Modernidade e origens do pensamento socioloacutegico

AVALIACcedilAtildeO

Teorias socioloacutegicas claacutessicas

Durkheim ndash fato social

Marx ndash classes sociais

Weber ndash accedilatildeo social

AVALIACcedilAtildeO

2ordm trimestre

Modos de produccedilatildeo

Antiguidade

Idade meacutedia

Modernidade

AVALIACcedilAtildeO

Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees

Fordismo

Taylorismo

Trabalho no Brasil

AVALIACcedilAtildeO

3ordm trimestre

Temas atuais em Sociologia miacutedias e

consumoconsumismo

Ideologia

Miacutedias

Consumo e consumismo

AVALIACcedilAtildeO

Temas atuais em Sociologia tecnologias

Determinismo tecnoloacutegico

Consumo e tecnologias

Trabalho e tecnologia

AVALIACcedilAtildeO

Metodologia

As aulas seratildeo em sua forma geral expositivasdialogadas A professora

trabalharaacute de modo que os temas encaminhem aos principais autoresas da

Sociologia e aos conceitos socioloacutegicos As aulas seratildeo iniciadas com a

recapitulaccedilatildeo da aula anterior e a apresentaccedilatildeo do objetivo da aula do dia

Haveraacute apresentaccedilatildeo do tema com levantamento dos entendimentos dosas

alunosas sobre o mesmo seguido do diaacutelogo com osas autoresas da

Sociologia e apresentaccedilatildeo dos conceitos (atraveacutes de leitura e interpretaccedilatildeo de

texto audiovisuais ou muacutesica) Os debates seratildeo promovidos durante toda a aula

e seratildeo propostas atividades de reflexatildeo sobre os mesmos (produccedilatildeo textual

266

individual grupos de trabalho coletivos etc) Ao final haveraacute sugestotildees de

materiais adicionais sobre o tema orientaccedilotildees sobre a disponibilizaccedilatildeo do

material na plataforma moodle e por fim encaminhamentos sobre a aula

seguinte

Teacutecnicas e Recursos

bull Recapitulaccedilatildeo de aula bull Aulas expositivasdialogadas bull Trabalhos em grupos

bull Debates bull Leitura de textos

bull Quadrocaneta bullTextosaudiovisuaismuacutesicas bullData Show

bullLivros didaacuteticosrevistasinternet

Avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo seraacute contiacutenua durante todas as aulas nas quais comumente

haveraacute a produccedilatildeo de textos curtos do tipo respostas a questotildees

propostasinterpretaccedilatildeo de texto e de materiais audiovisuais Essas produccedilotildees

seratildeo em grupos ou individualmente Haveraacute tambeacutem a solicitaccedilatildeo de pesquisa

em aula de termos em livros revistas e na internet

Em datas preacute-combinadas (conforme cronograma) haveraacute avaliaccedilotildees

especiacuteficas de modo que osas alunosas sejam avaliadosas trimestralmente

atraveacutes de 2 instrumentos diferentes Cada uma das duas avaliaccedilotildees do trimestre

teraacute nota 45 Ao final do ano oa alunoa poderaacute obter 90 pontos das avaliaccedilotildees

especiacuteficas (45 por avaliaccedilatildeo x 2 avaliaccedilotildees) Em caso de ausecircncia nessas

avaliaccedilotildees especiacuteficas oa alunoa que quiser realizar outra avaliaccedilatildeo deveraacute

protocolar requerimento (junto ao protocolo acadecircmico) no prazo maacuteximo de 48

horas a contar da data de realizaccedilatildeo da prova anexando ao mesmo justificativa

para ausecircncia devidamente comprovada Oa alunoa que natildeo realizar o pedido

no prazo estipulado natildeo teraacute direito a prova de segunda chamada Oa alunoa

que faltar a prova de segunda chamada ficaraacute com nota 000 (zero) nesse campo

Criteacuterios que seratildeo considerados durante as aulas pontualidade

assiduidade empenho e interesse nas atividades propostas entrega dos trabalhos

solicitados na data marcada postura adequada em relaccedilatildeo aosagraves colegas e com a

professora O atendimento a esses criteacuterios constitui 10 ponto na nota final

A uacuteltima aula poderaacute contar com atividades de avaliaccedilotildees muacutetuas

Oa alunoa que obtiver um aproveitamento anual referente a meacutedia das

notas registradas no Diaacuterio de Classe maior ou igual a 70 (estipulado pela

instituiccedilatildeo) seraacute considerado aprovadoa

Oa alunoa que natildeo atingir essa meacutedia teraacute o direito de realizar uma

avaliaccedilatildeo final que contemplaraacute todo o conteuacutedo ministrado durante o ano

Nesse caso seraacute consideradoa aprovadoa aquelea que obtiver um resultado

final referente a meacutedia entre a avaliaccedilatildeo final e o aproveitamento anual maior

ou igual a 50 (estipulado pela instituiccedilatildeo)

267

Referecircncias

Bibliografia Baacutesica

[1] OLIVEIRA P S Introduccedilatildeo agrave Sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 2011

[2] MARTINS C O que eacute sociologia Satildeo Paulo Brasiliense 1982

[3] TOMAZI N D Sociologia para o Ensino Meacutedio Satildeo Paulo Saraiva

2010

Bibliografia complementar

[1] GIDDENS A Sociologia Porto Alegre Artmed 2005

[2] DIAS R Introduccedilatildeo agrave Sociologia Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2005

[3] DURKHEIM E As regras do meacutetodo socioloacutegico Satildeo Paulo

Martins

Fontes 2003

[4] ALBORNOZ S O que eacute Trabalho Satildeo Paulo Brasiliense 1994

[5] MARX K Manuscritos Econocircmico-Filosoacuteficos Satildeo Paulo Boitempo

2004

Informaccedilotildees adicionais

As datas que constam no plano de ensino estatildeo sujeitas a alteraccedilotildees no

decorrer do ano (inclusive data de apresentaccedilotildees e entregas de

trabalhos) dependendo das necessidades da turma e dos acordos

estabelecidos entre professora e alunosas

Algumas bibliografias poderatildeo ser acrescentadas no decorrer do ano

dependendo da necessidade da professora Sendo que as mesmas

sempre seratildeo informadas

Caxias do Sul 27 de fevereiro de 2015

___________________________________

Profordf Raquel Folmer Correcirca

268

Anexo C Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo disponiacutevel nos

Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)152

Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

152 Fonte IFRS 2015

269

Teacutecnico em Plaacutesticos

270

Teacutecnico em Quiacutemica

Page 3: Raquel Folmer Corrêa - Repositório Institucional da UFSC

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo aos meus familiares ao Franco ao meu orientador Irlan

e agrave Suzani aos colegas amigas e amigos do DiCiTE da turma de

doutorado de 2012 da UNTL em Timor-Leste do IFRS de Caxias do

Sul aos meus alunos e alunas do IFRS e agrave Dona Eneida Muito obrigada

pelo apoio carinho e companheirismo

Esta tese contou com o auxiacutelio financeiro da Capes

Ser dialeacutetico significa ter o vento da histoacuteria nas

velas As velas satildeo os conceitos Poreacutem natildeo

basta dispor das velas O decisivo eacute a arte de

posicionaacute-las

Walter Benjamin (2009 p 515)

RESUMO

Nesta tese investigo de que maneira e em que medida o

desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais

(TS) pode colaborar para transformar sentidos deterministas sobre

tecnologia que satildeo debatidos entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico

As contribuiccedilotildees teoacutericas utilizadas satildeo os estudos latino-americanos

que relacionam Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) em perspectiva

educacional e alguns de seus possiacuteveis interlocutores O objetivo

consiste em analisar possibilidades e limites para discutir TS e

transformar sentidos identificados com determinismo tecnoloacutegico em

Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) de modo a

promover mobilizaccedilatildeo para a autoria Os procedimentos metodoloacutegicos

adotados para atingir o objetivo proposto envolvem coleta e anaacutelise de

dados primaacuterios e secundaacuterios Os dados foram coletados durante todo o

ano de 2015 no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Rio Grande do Sul (IFRS) da cidade de Caxias do Sul tanto em

documentos disponibilizados pela direccedilatildeo do IFRS quanto com

intervenccedilotildees junto a seus estudantes dos primeiros anos dos CTIEM A

anaacutelise dos dados envolveu a apreciaccedilatildeo quantitativa (elaboraccedilatildeo de

graacuteficos quadros e tabelas) que foi executada com o auxiacutelio do

programa Excel 2013 e qualitativa que se baseou na leitura criacutetica

descriccedilatildeo e anaacutelise soacutecio-histoacuterica de dados coletados Os resultados

indicam certa sensibilidade de estudantes para com a temaacutetica

socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre

tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a realizaccedilatildeo de projetos

autorais Aleacutem disso os resultados apontam a necessidade de elaboraccedilatildeo

de projetos conjuntos entre estudantes docentes de diversas disciplinas e

a coletividade escolar para o desenvolvimento colaborativo de TS que

integrem diferentes conhecimentos Esta tese foi desenvolvida no grupo

Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) e contou

com o apoio financeiro da Capes

Palavras-chave Tecnologias sociais Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo CTS Ensino

meacutedio teacutecnico Autoria

ABSTRACT

In this thesis we investigate in what way and to what extent the

development of a critical perspective on Social Technologies (ST) can

collaborate to transform deterministic meanings of technology that are

discussed by students of the technical high school The theoretical

contributions used are Latin American studies relating Science

Technology and Society (STS) in educational perspective and some of

its possible interlocutors The main goal is to analyze the possibilities

and limits to discuss ST and transform identified senses with

technological determinism in Integrated Technical Courses to High

School (ITCHS) to promote mobilization for authorship The

methodological procedures adopted to achieve the proposed objective

involve collecting and analyzing primary and secondary data All data

were collected throughout the year 2015 at the Instituto Federal de

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) from the

city of Caxias do Sul in both documents made available by the direction

of IFRS as with interventions with their students of the first years of

ITCHS Data analysis involved the quantitative assessment (preparation

of charts and tables) which was performed with the aid of Excel 2013

program and qualitative which was based on critical reading

description and sociohistorical analysis of the data collected The results

indicate certain sensitivity to students with the socio-technical subject

proposed in transforming deterministic way of technology particularly

in the arrangement for carrying out authorial projects Moreover the

results indicate the need for development of joint projects among

students teachers of various disciplines and the school community for

the collaborative development of ST integrating different

knowledge This thesis was developed in the group Discursos da Ciecircncia

e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) and received financial support

from Capes

Key-words Social Technologies Education STS education Technical

high school Authorship

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 39

Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico 42

Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS 144

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS 145

Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade 166

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias 193

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01 194

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02 194

Figura 9 - Autoria 196

Figura 10 - Dados sobre homofobia 198

Figura 11 - O problema do transporte de catildees 201

Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer 204

Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia 205

Figura 14 - Proposta de melhorias 207

Figura 15 - Identidade visual do aplicativo 209

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia 92

Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e

emancipaccedilatildeo social

107

Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia 118

Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA 133

Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS 137

Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS 138

Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS 138

Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST 140

Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 143

Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS 148

Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees 152

Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo 153

Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas 179

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil 34

Graacutefico 2 - Necessidades especiais entre estudantes do IFRS 88

Graacutefico 3 - Coletividades 151

Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa 167

Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo 169

Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul 170

Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS 172

Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015 180

Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015 181

Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS 185

Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS 185

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo 87

Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS 149

Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS 150

Tabela 4 - Religiatildeo declarada 166

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que

participaram da pesquisa

184

LISTA DE MAPAS E FOTOGRAFIAS

Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS 164

Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana 168

Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima 171

Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial 190

Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo 200

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABONG - Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais

AD - Anaacutelise de Discurso

AEL - Academia Estudantil de Letras

AST - Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica

AULP - Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua Portuguesa

BB - Banco do Brasil

BICT - Bacharelados Interdisciplinares em Ciecircncias e Tecnologia

BTS - Banco de Tecnologias Sociais

CAPES - Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CED - Centro de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

CEFET - Centros Federais de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica

CampT - Ciecircncia e Tecnologia

CFDH - Conselho Federal de Defesa dos Direitos Humanos

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico

COCTS - Cuestionario de Opiniones de Ciencia Tecnologiacutea y Sociedad

CS - Ciecircncias Sociais

CST - Construccedilatildeo Social da Tecnologia

CTFMIEM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado

ao Ensino Meacutedio

CTIEM - Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio

CTPIEM - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino

Meacutedio

CTQIEM - Curso Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino

Meacutedio

CTS - Ciecircncia Tecnologia e Sociedade

CTSA - Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente

DiCiTE - Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo

DIY - Do It Yourself

ECT - Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

ECTS - Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

ENEM - Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FBB - Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FEE - Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel

Heuser

FGV - Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

GEECITETL - Grupo de Estudos sobre Ensino de Ciecircncias e

Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste

GTrsquos - Grupos de Trabalho

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IDHM - Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal

IFFarroupilha - Instituto Federal Farroupilha

IFRS - Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Rio Grande do Sul

IFSul - Instituto Federal Sul-riograndense

Ipea - Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada

IPF - Instituto Paulo Freire

ITCP - Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

ITS - Instituto de Tecnologia Social

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MCT - Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia

MDS - Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome

MEC - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MI - Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional

OCEMSociologia - Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino

Meacutedio-Sociologia

ONGs - Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCIPs - Organizaccedilotildees da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PCNrsquos - Paracircmetros Curriculares Nacionais

PCT - Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia

PETROBRAS - Petroacuteleo Brasileiro SA

PLACTS - Pensamento Latino-americano sobre Ciecircncia

Tecnologia e Sociedade

PPCs - Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos

PPGECT - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica

e Tecnoloacutegica

PPI - Projeto Poliacutetico Institucional

PQLP - Programa de Qualificaccedilatildeo de Docente e Ensino de

Liacutengua Portuguesa

PROEJA - Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Profissional com a Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e

Adultos

PUCSP - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

REDTISA - Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social

RS - Rio Grande do Sul

RTS - Rede de Tecnologia Social

SCOT - Social Construction of Technology

SECIS - Secretaria de Inclusatildeo Social

SENAI - Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial

SL - Software Livre

STS - Science and Technology Studies

TA - Tecnologia(s) Apropriada(s)

TAR - Teoria Ator-Rede

TC - Tecnologia(s) Convencional(ais)

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCT - Teoria Criacutetica da Tecnologia

TFM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

TIS - Tecnologias para a Inclusatildeo Social

TP - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos

TQ - Curso Teacutecnico em Quiacutemica

TS - Tecnologia(s) Social(ais)

UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro

UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

UNTL - Universidade Nacional Timor Lorosarsquoe

UTFPR - Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute

VOSTS - Views On Science-Techology-Society

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 33

QUESTOtildeES 46

OBJETIVOS 46

TESE 47

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 47

RELEVAcircNCIA 49

TOacutePICOS 50

CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS 53

11 SUJEITO 53

12 EDUCACcedilAtildeO 55

121 Paulo Freire e autonomia 57

122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social 61

123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria 65

124 Karl Marx e a politecnia 67

13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS 72

131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS 77

14 JUVENTUDES 84

15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO 89

16 AUTORIA 93

17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL 102

CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 109

21 TECNOLOGIA 109

211 Dimensotildees de anaacutelise 109

212 Sentido geral 111

213 Teoria Criacutetica da Tecnologia 116

22 TECNOLOGIAS SOCIAIS 127

221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees 127

222 Denominaccedilotildees e sentidos 135

223 Ponderaccedilotildees 145

224 TS tipos exemplos entidades e coletividades

relacionadas

148

225 Relaccedilotildees com processos educacionais 151

CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES 161 31 CONTEXTO 163

311 A cidade 163

312 O bairro 171

313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia

174

314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul 177

32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA 183

321 Anaacutelise da questatildeo inicial 186

322 Anaacutelise dos questionaacuterios 190 33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 192

331Campanha contra homofobia nas escolas 197

332 Transporte de catildees em coletivos 200

333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel 203

334 Inovaccedilotildees no site da escola 206

335 Aplicativo para estudos e lazer 208

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 213

REFEREcircNCIAS 219

APEcircNDICES 243

Apecircndice A - Termo de consentimento para coleta de dados -

Diretor Geral

243

Apecircndice B - Termo de consentimento para coleta de dados -

Diretor de Ensino

244

Apecircndice C - Termo de consentimento livre e esclarecido -

alunosas (modelo)

245

Apecircndice D - Questionaacuterio 246

Apecircndice E - Roteiro didaacutetico 253

Apecircndice F - Texto base das aulas 259

ANEXOS 263

Anexo A - Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de

controle acadecircmico do IFRS

263

Anexo B - Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados 264

Anexo C - Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo

disponiacutevel nos Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)

268

33

INTRODUCcedilAtildeO

O pensador da epiacutegrafe Walter Benjamim (1892-1940)

anunciava no seacuteculo passado o que muitos outros pensadores e

pensadoras tambeacutem reconheciam e que acredito ser ainda atual a

importacircncia de nosso posicionamento como sujeitos histoacutericos e em

busca de autonomia e emancipaccedilatildeo social Essa posiccedilatildeo pode ilustrar a

intenccedilatildeo geral que unifica os diferentes momentos que foram

necessaacuterios para a realizaccedilatildeo desta tese Desde a pesquisa de mestrado

com novos entendimentos sobre tecnologias passando pela percepccedilatildeo

da importacircncia da problematizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em processos de

emancipaccedilatildeo social ateacute uma tentativa de articulaccedilatildeo de debates sobre

educaccedilatildeo e tecnologia

No mestrado ao pesquisar sobre Tecnologias Sociais (TS)1

percebi que muitas iniciativas de desenvolvimento eram voltadas a

temas educacionais Meu levantamento de dados no Banco de

Tecnologias Sociais (BTS) da Fundaccedilatildeo Banco do Brasil (FBB)

mostrou que entre 2001 e 2008 35 do total de TS desenvolvidas no

Brasil (e cadastradas no BTS) estavam voltadas a problemas nos temas

ligados agrave educaccedilatildeo (CORREA 2010 2013b) O graacutefico 1 abaixo

ilustra como as tecnologias que examinei estavam direcionadas a

solucionar questotildees relativas a diferentes temaacuteticas

1 Sendo aluna evadida da Engenharia Quiacutemica minha primeira graduaccedilatildeo

busquei atividades de pesquisa sobre tecnologias no curso de Ciecircncias Sociais

Ali sob orientaccedilatildeo da profordf Dra Maiacutera Baumgarten verifiquei que linhas de

pesquisas que inter-relacionavam tecnologias e problemas sociais poderiam

resgatar alguns de meus interesses de estudos originais

34

Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil

Fonte (CORREcircA 2010 2013b)

Portanto no graacutefico 1 acima eacute possiacutevel verificar o predomiacutenio de

tecnologias voltadas a problemas nos temas ligados agrave educaccedilatildeo como

destaquei anteriormente Foram 157 casos desse tipo de um total de 447

tecnologias examinadas Esse nuacutemero expressivo levou-me a buscar

subsiacutedios teoacutericos para analisar sentidos2 sobre tecnologia em processos

educacionais (entendidos aqui em sentido amplo como relaccedilotildees entre

sujeitos que envolvem ensino e aprendizagem)

Encontrei-os de fato no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT) da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC) nas discussotildees propiciadas nas disciplinas e

seminaacuterios do doutorado e sobretudo no grupo de estudos a que me

filiei o DiCiTE (Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo)

Nesses ambientes pude examinar de modo mais especiacutefico e

aprofundado implicaccedilotildees sociais da tecnologia na educaccedilatildeo

Busquei identificar dentro dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da

Tecnologia (ECTS) em especial dos ECTS latino-americanos correntes

teoacutericas que considero as mais apropriadas ao estudo de TS na educaccedilatildeo

no Brasil Aleacutem disso na medida do possiacutevel tentei relacionar

autoresas que podem ser considerados como pertencentes a outras

2 Sentidos satildeo aqui entendidos como uma construccedilatildeo histoacuterica permeada por

valores criados e transformados por sujeitos em determinadas situaccedilotildees O

sentido permite espaccedilos para a autoria

35

correntes teoacutericas com meu proacuteprio olhar (de mulher latino-americana)

sobre o problema estudado

Minha primeira intenccedilatildeo foi investigar a formaccedilatildeo docente inicial

em Ciecircncias Sociais (CS) na Universidade Federal do Rio Grande do

Sul (UFRGS) para examinar sentidos sobre tecnologia que por ali

circulavam (eram debatidos) ou que atravessavam (sem ser

necessariamente discutidos) aquele contexto Eu havia passado por tal

formaccedilatildeo haacute pouco tempo e muitas questotildees em relaccedilatildeo agrave tecnologia me

deixavam inquieta naquele periacuteodo Na aproximaccedilatildeo com as leituras

propostas no acircmbito da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT)

busquei portanto literaturas sobre formaccedilatildeo docente inicial e sobre o

ensino de Sociologia no Brasil de modo a articulaacute-las com os ECTS

Durante essa construccedilatildeo do problema de pesquisa para a tese tive

a oportunidade de fazer parte do Programa Proacute-Mobilidade

Internacional da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior (Capes) com a Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua

Portuguesa (AULP) na cooperaccedilatildeo entre Brasil e Timor-Leste Fiquei

dois meses do ano de 2014 em Timor-Leste sob orientaccedilatildeo do prof Dr

Gaspar Varela e participei sobretudo da articulaccedilatildeo de estudos e

pesquisas com docentes e discentes da Universidade Nacional Timor

Lorosarsquoe (UNTL)

Essa articulaccedilatildeo foi mediada pelo Grupo de Estudos sobre Ensino

de Ciecircncias e Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste

(GEECITE-TL) co-coordenado por professoresas timorenses e pela

profordf brasileira Faacutetima Suely Ribeiro Cunha colega do doutorado do

PPGECT da UFSC Aleacutem disso acompanhei os trabalhos de colegas

cooperantes em Timor-Leste no projeto Programa de Qualificaccedilatildeo de

Docente e Ensino de Liacutengua Portuguesa (PQLP) gerido pelo Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo (MEC) brasileiro e pela Capes e co-coordenado no Brasil

pela profordf Dra Patricia Montanari Giraldi do Centro de Ciecircncias da

Educaccedilatildeo (CED) da UFSC

Saiacute do Brasil com a intenccedilatildeo de investigar aspectos gerais da

formaccedilatildeo docente em Timor-Leste de modo a levantar novas questotildees

para a minha pesquisa de tese Com isso participei da concepccedilatildeo e

realizaccedilatildeo da oficina ldquoOs alquimistas estatildeo chegandordquo como parte do

projeto de pesquisa ldquoOs alquimistas estatildeo chegando sentidos sobre

conhecimentos na cooperaccedilatildeo entre professores do Brasil e Timor-

Lesterdquo desenvolvido em conjunto com a profordf Dra Mariana Brasil

Ramos do CED da UFSC e tambeacutem participante do Projeto Proacute-

Mobilidade naquele momento

Contudo dos relatos de colegas com mais experiecircncia em Timor-

36

Leste e de minha aproximaccedilatildeo com o prof Estanislau Alves Correia

docente da UNTL verifiquei que existiam demandas para refletirmos

sobre possibilidades e limites nas articulaccedilotildees entre a produccedilatildeo de

conhecimentos tradicionais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual sobretudo em

relaccedilatildeo agrave ECT Com isso colaborei com a organizaccedilatildeo e participei da

mesa-redonda ldquoTecnologias Sociais e Produccedilatildeo de Conhecimentosrdquo

promovida pelo GEECITE-TL na UNTL com a comunicaccedilatildeo

ldquoTecnologias Sociais elementos para debates em perspectiva

educacionalrdquo

As discussotildees com docentes e discentes da UNTL que resultaram

dessa mesa-redonda levaram-me a refletir sobre as possibilidades de

explorar a questatildeo da autoria ao articular TS e educaccedilatildeo Nesse sentido

busquei possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com

a questatildeo da autoria em ambientes educacionais Pois acredito que

sujeitos que fazem parte de processos educacionais em um contexto de

construccedilatildeo de autoria podem ter possibilidades de ler e interpretar

criativa e criticamente a realidade social3 na qual estatildeo inseridos

A partir dessas possibilidades os sujeitos poderiam estar

mobilizados a mostrarem suas visotildees sentidos e experiecircncias acerca dos

problemas socioteacutecnicos4 vivenciados Esses uacuteltimos aqui entendidos a

partir da percepccedilatildeo de que a tecnologia natildeo eacute o produto de uma uacutenica

racionalidade teacutecnica mas a combinaccedilatildeo de fatores teacutecnicos e sociais na

qual eacute possiacutevel tanto perceber significaccedilotildees sociais atribuiacutedas a artefatos

quanto considerar a importacircncia do contexto social nas direccedilotildees e

influecircncias do desenvolvimento tecnoloacutegico

3 Uso o termo sem qualquer pretensatildeo explicativa filosoacutefica Sem deixar de

compreender a complexidade das discussotildees filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a

categoria ldquorealidaderdquo o que interessa aqui eacute destacar algo que reconhecemos ter

existecircncia independente de noacutes Por realidade social podemos compreender

relaccedilotildees estabelecidas entre sujeitos e entre sujeitos e aquilo que os rodeia 4 Utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo como uma abordagem que possibilite anaacutelises

integradas de fatores teacutecnicos e sociais a fim de superar determinismos

tecnoloacutegicos e sociais As perspectivas dos sistemas tecnoloacutegicos de Hughes

dos conjuntos socioteacutecnicos de Pinch e Bijker das mediaccedilotildees socioteacutecnicas da

Teoria Ator-Rede (TAR) de Latour e Callon e da construccedilatildeo social da

tecnologia e da Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica (AST) de Dagnino e Thomas no

contexto latinoamericano satildeo certamente influecircncias teoacutericas Contudo natildeo eacute o

caso de eu estar estritamente filiada a qualquer uma dessas perspectavias

Socioteacutecnico aqui significa que a sociedade eacute tatildeo tecnologicamente construiacuteda

quanto as tecnologias satildeo socialmente desenvolvidas

37

Na volta para o Brasil busquei aprofundar a questatildeo da autoria e

relacionaacute-la com a formaccedilatildeo docente inicial em CS Entretanto tive

dificuldades para realizar a pesquisa no campo selecionado (UFRGS)

Meu contexto no momento levou-me a considerar novos sujeitos de

pesquisa de modo que os encontrei entre estudantes do ensino meacutedio

teacutecnico O fato de eu passar a atuar no Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) Cacircmpus Caxias do

Sul como docente temporaacuteria da disciplina de Sociologia nas turmas de

Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) naquele

momento com uma grande imersatildeo no contexto escolar local aliada agraves

dificuldades encontradas na coleta de dados junto agrave UFRGS levaram-

me a reavaliar se meu referencial teoacuterico permitiria relacionar

juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio sentidos sobre

tecnologia e TS

Verifiquei que algumas abordagens dentro dos ECTS latino-

americanos principalmente em perspectiva educacional poderiam

contribuir para o entendimento de tais inter-relaccedilotildees E nesse espaccedilo

percebi que eu tambeacutem poderia trazer contribuiccedilotildees com minha

pesquisa Portanto nesta tese trato de dois grandes temas educaccedilatildeo e

tecnologia com vistas a indicar uma possibilidade de abordagem sobre

TS no ensino meacutedio

A intenccedilatildeo de enfocar TS no ensino meacutedio surgiu sobretudo da

identificaccedilatildeo jaacute antiga de percepccedilotildees restritas sobre tecnologia muito

presentes no imaginaacuterio social de modo geral e em contextos

educacionais especificamente Uma dessas percepccedilotildees5 eacute o sentido

determinista sobre tecnologia que examino tendo em vista sua

problematizaccedilatildeo a partir dos princiacutepios socioloacutegicos do estranhamento e

da desnaturalizaccedilatildeo Com isso considero possibilidades de

transformaccedilatildeo desse sentido

A ideia de determinismo tecnoloacutegico comumente aparece ao

tratarmos das relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade6 Essa percepccedilatildeo natildeo

eacute algo novo De acordo com Chaacutevarro (2004) e Smith e Marx (1994) na

modernidade desde o estabelecimento de um imaginaacuterio sobre o

5 Percepccedilatildeo que natildeo eacute apenas minha mas de boa parte de pesquisadores sobre

ciecircncia e tecnologia como atesta por exemplo o estudo de Wyatt (2008) que eacute

examinado adiante 6 Para um levantamento bibliograacutefico histoacuterico e conceitual sobre determinismo

tecnoloacutegico do ponto de vista dos ECTS latino-americanos verificar

DAGNINO R Neutralidade da ciecircncia e determinismo tecnoloacutegico

Campinas Unicamp 2008

38

progresso a tecnologia apareceria como sua principal causa De modo

que teriacuteamos herdado do Iluminismo a ideia de que a ciecircncia seria uma

forccedila libertadora e que investir em tecnologia levaria ao maior

desenvolvimento produtivo e consequentemente ao bem-estar (SMITH

MARX1994)

No artigo ldquoDeterminismo Tecnoloacutegico na Cultura Americanardquo

(Technological Determinism in American Culture) (SMITH 1994) o

autor procura mostrar como obras de arte e anuacutencios publicitaacuterios

contribuiacuteram para o surgimento da crenccedila generalizada na tecnologia

como a forccedila motriz do desenvolvimento social A figura 1 abaixo7 faz

parte dessa anaacutelise Nela o autor destaca uma mulher que representaria

a deusa da liberdade (um velho siacutembolo republicano agora identificado

com o progresso) que flutua em direccedilatildeo ao ocidente (civilizaccedilatildeo) e

carrega consigo um livro escolar (educaccedilatildeo) e os fios do teleacutegrafo

(tecnologia de comunicaccedilatildeo) De acordo com Smith (1994 p10) ldquoa

pintura transmite claramente a atitude da cultura dominante para com a

natureza os nativos americanos e mais geralmente a mudanccedila linear e

melhoria atraveacutes da ciecircncia e da tecnologiardquo8

7 Pintura do ano de 1872 do tipo oacuteleo sobre tela de John Gast chamada

Westward-ho ou American Progress 8 ldquoThe painting clearly conveys the dominant cultures attitude toward nature

Native Americans and more generally linear change and improvement

through science and technologyrdquo Traduccedilatildeo livre da autora

39

Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico

Fonte (SMITH 1994 p 12)

Portanto como destaca Huguet (2003) o seacuteculo XX herdou uma

proposta ideoloacutegica e social que legitimava o crescimento tecnoloacutegico

como sinocircnimo de desenvolvimento e incorporava dimensotildees de

grandiosidade e aceleraccedilatildeo ainda imprevistas ateacute aquele momento

(CORREcircA 2010 2013a) Para aleacutem dessa questatildeo estritamente

econocircmica Huguet (2003) tambeacutem destaca o caraacuteter eacutetico que estaria

relacionado agrave ideia de determinismo Pois faria parte dessa ideia um

efeito libertador aos chamados paiacuteses do Norte9 (centrais colonialistas

9 Refiro-me ao Norte e Sul geograacutefico metafoacuterico e epistecircmico das anaacutelises de

Santos e Meneses (2010) Meneses (2014) e Santos (2007) que contestam a

hegemonia dos saberes e valores ocidentais (de domiacutenio colonialista

imperialista e capitalista) sobre as resistecircncias do Sul e investigam

possibilidades de uma ecologia dos saberes baseada em diaacutelogos horizontais

que reconheccedila conhecimentos plurais (epistemologias do Sul) Eacute importante

compreendermos que como destaca Meneses (2014) ldquoo Sul epistecircmico coincide

parcialmente com o Sul geograacutefico O Sul global refere-se agraves regiotildees do mundo

que foram submetidas ao colonialismo europeu e que natildeo atingiram niacuteveis de

desenvolvimento econocircmico semelhantes ao do Norte global (Europa e Ameacuterica

40

ldquodesenvolvidosrdquo) frente a sua responsabilidade moral histoacuterica sobre os

males causados aos chamados paiacuteses do Sul (periferia colonizados ldquoem

desenvolvimentordquo) (HUGUET 2003)

Podemos perceber portanto que o entendimento da ideia de

determinismo tecnoloacutegico na contemporaneidade tambeacutem pode facilitar

a compreensatildeo das formas com que paiacuteses do Norte e do Sul se

relacionam atualmente Haacute um discurso legitimador e salvacionista

daqueles sobre o Sul ldquomiseraacutevel e atrasadordquo (HUGUET 2003) E isso eacute

importante para pensarmos o contexto educacional brasileiro sobretudo

ao discutirmos sobre emancipaccedilatildeo social autonomia e autoria

Assim tais relaccedilotildees entre Norte e Sul parecem-me relevantes

para o exame de processos educacionais no Brasil Contudo eacute

importante aleacutem desse breve histoacuterico sobre o determinismo

tecnoloacutegico apresentar inicialmente uma compreensatildeo geral das

definiccedilotildees que envolvem essa questatildeo O filoacutesofo norte-americano

Andrew Feenberg (1991) apresenta uma abordagem interessante ao

esclarecer que atraveacutes da concepccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico tenta-

se explicar fenocircmenos sociais e histoacutericos de acordo com um fator

principal que no caso seria a tecnologia

Para Feenberg (1991) determinismo tecnoloacutegico significa que

existiria a possibilidade de o destino da sociedade ser ao menos de

modo parcial dependente de um fator considerado natildeo-social que o

influenciaria sem no entanto sofrer uma influecircncia reciacuteproca Assim o

determinismo estaria baseado na suposiccedilatildeo de que as tecnologias tecircm

uma loacutegica funcional autocircnoma que poderia ser explicada sem se fazer

referecircncia agrave sociedade Nesse sentido o autor trata ainda do chamado

coacutedigo teacutecnico10 que significa que certos produtos possuem um design

(projeto) que encerra em si todo o contexto de suas concepccedilotildees e estatildeo

do Norte) A sobreposiccedilatildeo natildeo eacute total porque por um lado no interior do Norte

geograacutefico vastos grupos sociais estiveram e estatildeo sujeitos agrave dominaccedilatildeo

capitalista e colonial e por outro lado porque no interior do Sul geograacutefico

houve sempre as lsquopequenas Europasrsquo pequenas elites locais que se beneficiaram

da dominaccedilatildeo capitalista e colonial e que depois das independecircncias a

exerceram e continuam a exercecirc-la por suas proacuteprias matildeos contra as classes e

grupos sociais subordinadosrdquo (MENESES 2014 p 92) 10 Feenberg explica que o coacutedigo teacutecnico se refere a uma traduccedilatildeo entre uma

demanda puacuteblica e uma especificaccedilatildeo teacutecnica ldquoEu desenvolvi o conceito de

lsquocoacutedigo teacutecnicorsquo para falar desse processo de traduccedilatildeo Ele eacute o modelo do

conteuacutedo veiculado de um lado no discurso dos movimentos sociais e de

outro nas especificaccedilotildees teacutecnicasrdquo (MARICONDA MOLINA 2009 p 168)

41

ligados a determinadas estrateacutegias Estas representariam interesses

correspondentes a instacircncias especiacuteficas do tipo de sociedade Por

exemplo no capitalismo as grandes corporaccedilotildees (FEENBERG 2002

2012)

De acordo com Castro (2009) tais interesses especiacuteficos tambeacutem

se relacionam ao consumismo tecnoloacutegico Um projeto de um

smartphone por exemplo jaacute prevecirc quando ele sairaacute de linha e carrega

consigo uma estrateacutegia de obsolescecircncia programada Tal projeto

incorpora uma estrateacutegia de consumo que se baseia na novidade Com

isso o consumidor entende que a aquisiccedilatildeo de novos produtos

tecnoloacutegicos significa um progresso e acredita que estaacute ldquoevoluindordquo e

que tem um produto melhor de uacuteltima tecnologia mesmo que o produto

antigo tivesse a mesma qualidade (CASTRO 2009) E essa eacute uma

constataccedilatildeo importante para o debate sobre determinismo tecnoloacutegico

em processos educacionais que envolvem as juventudes e suas praacuteticas

de consumo por exemplo

Em termos de definiccedilotildees Chandler (1995) destaca assim como

fez Feenberg (1991) que na perspectiva determinista o desenvolvimento

tecnoloacutegico seria o principal condicionante da mudanccedila e das estruturas

sociais Chandler (1995) aponta que na concepccedilatildeo determinista da

tecnologia as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade podem ser

consideradas segundo as categorias de autonomia condicionamento e

unidirecionalidade A tecnologia seria desenvolvida de modo autocircnomo

e independente seria o grande condicionante do desenvolvimento da

sociedade e a relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade ocorreria de modo

unidirecional daquela agindo sobre esta

Assim a fonte primordial das mudanccedilas sociais se caracterizaria

pelo desenvolvimento de tecnologias Resistecircncias e intervenccedilotildees

sociais poliacuteticas institucionais e culturais postas aos processos de

desenvolvimento de tecnologias teriam pouco ou nenhum efeito pois as

tecnologias afetariam inexoravelmente todos os acircmbitos sociais

(CHANDLER 1995 WYATT 2008)

Nesse mesmo sentido Bimber (1994) destaca que existem duas

condiccedilotildees que devem ser preenchidas para que possamos considerar o

determinismo tecnoloacutegico A primeira delas eacute a de que a mudanccedila social

tenha como causa fenocircmenos ou leis anteriores e a segunda condiccedilatildeo eacute a

de que tais leis dependam de caracteriacutesticas da tecnologia de modo que

os sujeitos natildeo exerccedilam accedilatildeo em relaccedilatildeo agraves mudanccedilas Ao considerar

essas condiccedilotildees o autor destaca trecircs possiacuteveis interpretaccedilotildees do

determinismo tecnoloacutegico e quais delas poderiam satisfazer essas

condiccedilotildees quais sejam a normativa a nomoloacutegica e a de consequecircncias

42

imprevistas

Na primeira a causa da mudanccedila estaria nas praacuteticas sociais e nas

crenccedilas dos sujeitos enquanto na segunda a sociedade se desenvolveria

de maneira fixa e determinada independente da resistecircncia dos sujeitos e

a terceira apontaria a possibilidade de efeitos sociais involuntaacuterios e

indeterminados Para Bimber (1994) a segunda interpretaccedilatildeo

nomoloacutegica eacute a uacutenica que satisfaz as duas condiccedilotildees e portanto eacute a que

infere a condiccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico (CORREcircA 2010)

Para aleacutem de possiacuteveis caracterizaccedilotildees do determinismo

tecnoloacutegico eacute importante destacar que a ideia de determinismo pode

assumir diversos significados Smith e Marx (1994) trazem a ideia de

uma imagem gradativa na qual poderiacuteamos visualizar dois extremos

opostos que representariam cada um um grau de determinismo Um

extremo seria chamado de hard (determinismo forte) e o outro soft (determinismo fraco) Nessa imagem o lado hard atribuiria agrave tecnologia

o poder de promover mudanccedilas sociais de modo inevitaacutevel e necessaacuterio

enquanto o extremo soft ainda consideraria aspectos sociais

econocircmicos poliacuteticos e culturais nessas mudanccedilas Tal como na figura 2

abaixo

Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Portanto para esses autores o determinismo tecnoloacutegico pode

significar tanto que a tecnologia ou seus atributos intriacutensecos tem o

poder de efetuar mudanccedilas quanto existiria uma matriz mais diversa e

complexa do ponto de vista social econocircmico poliacutetico e cultural

(SMITH MARX 1994)

Ainda em relaccedilatildeo aos significados Chaacutevarro (2004) lembra que

a ideia determinista sobre a tecnologia estaacute presente tanto em discursos

otimistas (tecnoacutefilos) do progresso como mostrado anteriormente

quanto em discursos pessimistas (tecnofoacutebicos) daquele Para uma visatildeo

tecnoacutefila a soluccedilatildeo dos problemas implicaria em pensaacute-los

tecnologicamente com um apoio irrestrito agraves promessas e feitos da

tecnologia muitas vezes sem grande olhar criacutetico sobre os seus usos

(FURTADO 2009) E esse apoio exigiria liberdade para que natildeo

43

houvesse controle externo sobre o desenvolvimento da investigaccedilatildeo

tecnoloacutegica pois assim se garantiria o bem-estar humano Controle

aqui significaria restriccedilatildeo da liberdade que levaria ao atraso econocircmico

e ateacute cultural

A visatildeo tecnofoacutebica compreenderia no entanto essa falta de

controle como o iniacutecio do caminho para um desastre OA tecnofoacutebicoa

criticaria e chegaria ateacute a rejeitar o desenvolvimento tecnoloacutegico que

elea veria como fonte de diversos problemas sociais (FURTADO

2009) Contudo eacute importante destacar que natildeo entendo a visatildeo

tecnofoacutebica como uma afiliaccedilatildeo contemporacircnea ao ludismo11 como

poderia ser suposto

Essa breve indicaccedilatildeo de pontos que considero importantes no

debate sobre determinismo tecnoloacutegico inclui tambeacutem uma perspectiva

que considera o porquecirc da forte influecircncia dessa ideia determinista em

noacutes Wyatt (2008) esclarece que ldquoinclusive nossos haacutebitos linguiacutesticos

persistem em nomear eacutepocas histoacutericas e sociedades inteiras por seus

artefatos tecnoloacutegicos dominantesrdquo12 (WYATT 2008 p 168) e que isso

pode ser testemunhado desde em museus ateacute nos meios de

comunicaccedilatildeo13 Desse modo assim como Wyatt (2008) questiono por

que a ideia de determinismo permanece

Contudo uma posiccedilatildeo extremamente oposta do tipo de

determinismo social que consideraria que o desenvolvimento

tecnoloacutegico depende intensamente de nosso livre arbiacutetrio para tomarmos

decisotildees de acordo com nossas preferecircncias valorativas poderia estar a

subestimar a forccedila com que as tecnologias influem culturalmente

Nesses extremos de determinismos podemos natildeo perceber que entre

11 Natildeo compreendo o movimento ludista (Europa seacutec XIX) como

simplesmente a quebra de maacutequinas em represaacutelia a inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

Assim como Hobsbawm (2000) entendo que no ludismo natildeo havia uma

hostilidade especial contra as maacutequinas os trabalhadores natildeo estavam

preocupados com o progresso teacutecnico abstratamente mas com o desemprego e

em manter um padratildeo de vida digno (idem) 12 ldquoYet the linguistic habit persists of naming whole historical epochs and

societies by their dominant technological artefactsrdquo (WYATT 2008 p 168)

Traduccedilatildeo livre da autora 13 A autora cita o exemplo de uma seacuterie de cinco palestras apresentadas no ano

de 2005 na rede de raacutedio inglesa BBC que se chamava ldquoThe triumph of

technologyrdquo (O triunfo da tecnologia) com uma palestra cujo nome era

ldquoTechnology will determine the future of the human racerdquo (A tecnologia iraacute

determinar o futuro da raccedila humana) (WYATT 2008)

44

tecnologias e valores ocorrem interaccedilotildees muacutetuas e complexas e natildeo

apenas uma influecircncia com direccedilatildeo uacutenica (CORREcircA 2010)

Sob as condiccedilotildees capitalistas atuais por exemplo parece difiacutecil

refutar a ideia de que a adoccedilatildeo de certas tecnologias exerce influecircncia

forte na sociedade Mas eacute importante considerarmos que vivemos em

uma sociedade com um niacutevel de interaccedilatildeo com outros fatores que natildeo

apenas tecnoloacutegicos Portanto parece-me difiacutecil justificar uma

insistecircncia na tecnologia como o elemento fundamental das

transformaccedilotildees sociais assim como outra determinaccedilatildeo (como a

econocircmica por exemplo) Fatores poliacuteticos econocircmicos religiosos

culturais assim como a opiniatildeo puacuteblica e os processos educacionais

comumente aparecem como inter-relacionados a tecnologias (CORREcircA

2010)

Embora natildeo seja a referecircncia teoacuterica desta tese cito aqui a

perspectiva da Construccedilatildeo Social da Tecnologia (CST)14 que contraacuteria

ao determinismo forte (hard) considera a forccedila da dimensatildeo

sociocultural nas mudanccedilas teacutecnicas Os autores Pinch e Bijker (2008)

desenvolvem estudos nos quais mostram como a tecnologia eacute uma

construccedilatildeo social Um exemplo eacute sua investigaccedilatildeo sobre o

desenvolvimento da bicicleta cujo desenho final dependeu das praacuteticas

de uso de seus possiacuteveis consumidores Nesse sentido Bijker (2008)

desenvolve o conceito de marco tecnoloacutegico que se apoia nos

significados que os sujeitos conferem a uma tecnologia e na gramaacutetica

que se desenvolve ao redor desses para explicar como a sociedade

interfere no desenho de uma tecnologia15 (PINCH BIJKER 2008)

Filiados ou natildeo agrave perspectiva da CST podemos como faz

Dieacuteguez (2005) problematizar posicionamentos deterministas sobre

tecnologia Um passo para isso seria compreendermos que muitas

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo satildeo desenvolvidas que muitos aspectos

econocircmicos influenciam na adaptaccedilatildeo de tecnologias e finalmente que

existem tecnologias mais ldquoelaacutesticasrdquo que podem ter uma exploraccedilatildeo

mais diversificada Algo que Wyatt (2008)16 tambeacutem examina ao fazer 14 Do inglecircs Social Construction of Technology tambeacutem conhecida

como SCOT 15 O que procura demonstrar que a mediaccedilatildeo dos sujeitos seria central nos

processos de desenvolvimento tecnoloacutegico Os autores esclarecem que a

tecnologia comportaria algo como uma ldquoflexibilidade interpretativardquo pois ela

poderia ser compreendida de diversos modos por diferentes grupos de

usuaacuteriosas 16 Destaco que Wyatt (2008) faz uma anaacutelise dos STS sofisticada que inclui

uma categorizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do princiacutepio de simetria por autores como

45

um levantamento de como os chamados Estudos da Ciecircncia e

Tecnologia (STS na sigla em inglecircs para Science and Technology

Studies) vecircm analisando a questatildeo pelo menos nos uacuteltimos 25 anos

De acordo com a autora para a maioria dos analistas dos STS o

determinismo tecnoloacutegico natildeo eacute um modelo adequado mas como eacute uma

crenccedila comum entre os sujeitos natildeo eacute possiacutevel rejeitaacute-lo Ela ainda

reforccedila que essa crenccedila no determinismo permanece pois ele encerra

caracteriacutesticas como simplicidade conformidade com as experiecircncias

dos sujeitos entendimento de que as tecnologias satildeo coisas misteriosas

de origem desconhecida de modo que facilmente nos adaptamos a ideia

ou como a autora chama modelo de determinismo (WYATT 2008)

Mesmo que se possa aceitar diferentes graus e significados sobre

o determinismo procurei demarcar caracteriacutesticas que me parecem

encerrar o conteuacutedo central de determinismo tal como ele eacute analisado

em meus estudos de modo geral e nesta tese especificamente A saber

que o determinismo tecnoloacutegico pode ser examinado como uma

compreensatildeo restrita sobre as relaccedilotildees entre os sujeitos e as tecnologias

na qual haveria pouca oportunidade de conhecimento participaccedilatildeo e

controle dos processos que envolvem questotildees relacionadas agrave tecnologia

(elaboraccedilatildeo desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo apropriaccedilatildeo e

ensino) pelos sujeitos

Com isso destaquei pontos que considero importantes acerca da

questatildeo do determinismo tecnoloacutegico tendo em vista debates sobre

processos educacionais Penso que compreender esses aspectos da

perspectiva determinista pode ajudar no exame de sentidos sobre

tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM17 Cursos estes

entendidos como uma categoria com suas contradiccedilotildees seus espaccedilos e

tempos soacutecio-histoacutericos especiacuteficos e nos quais as juventudes

constroem reconstroem e satildeo atravessadas por diversos sentidos sobre

suas (im)possibilidades de inserccedilatildeo na realidade social

Minha intenccedilatildeo ao apontar problemas relacionados agrave ideia

persistente de determinismo tecnoloacutegico na atualidade (tais como o fato

de ele conter uma compreensatildeo restrita das relaccedilotildees entre os sujeitos e a

produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo considerar fatores sociais no

David Bloor Trevor Pinch Wiebe Bjiker e Michel Callon aleacutem de apresentar

sua proacutepria posiccedilatildeo no debate Essa classificaccedilatildeo natildeo eacute explorada nesta tese

Uma leitura aprofundada pode ser realizada a partir do artigo de Wyatt do ano

de 2008 que utilizo aqui como referecircncia 17 Esclareccedilo que minhas anaacutelises natildeo silenciam perspectivas natildeo-deterministas

que emergem durante a realizaccedilatildeo da pesquisa

46

desenvolvimento da tecnologia nos isentar de responsabilidades sobre o

que eacute desenvolvido e silenciar relaccedilotildees de dominaccedilatildeo em acircmbito

geopoliacutetico Norte-Sul) foi reforccedilar as implicaccedilotildees que um sentido

determinista da tecnologia pode ter de modo especiacutefico no que se

refere a processos educacionais

Busco o auxiacutelio do pensador brasileiro Rubem Alves (1933-

2014) para demonstrar a importacircncia de abordar o determinismo

tecnoloacutegico em sala de aula Embora o autor natildeo trate nomeadamente do

determinismo tecnoloacutegico e reflita sobre relaccedilotildees entre conhecimento e

poliacutetica no ato de pesquisa concordo com ele em um ponto no qual eacute

destacado que ldquonatildeo se conquistam os determinismos pela sua

ignoracircncia Eacute necessaacuterio contemplaacute-los face a face No momento em que

os reconhecemos e os chamamos pelo seu nome proacuteprio o caminho para

a liberdade e a iniciativa estaacute abertordquo (ALVES 1989 p 85-86)

QUESTOtildeES

Com isso penso que o problema de pesquisa foi construiacutedo de

modo que seja possiacutevel compreender as duas questotildees fundamentais que

conduzem as investigaccedilotildees desta tese (i) de que maneira e em que

medida uma perspectiva criacutetica sobre TS pode colaborar para

transformar sentidos deterministas sobre a tecnologia nos CTIEM E

(ii) em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais voltados agrave

construccedilatildeo de autoria a partir de um posicionamento criacutetico sobre TS

pode mobilizar estudantes dos CTIEM para a emancipaccedilatildeo social18 e a

autonomia

OBJETIVOS

Para buscar responder a essas duas questotildees destaco que o

objetivo geral da pesquisa eacute analisar possibilidades e limites para

discutir tecnologia e TS e transformar sentidos deterministas sobre

tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS nos CTIEM

Como suporte a esse objetivo geral apresento os quatro objetivos

18 Assim como a autonomia e a autoria a emancipaccedilatildeo social eacute uma categoria

importante nesse estudo No capiacutetulo 1 desta tese eacute apresentada a perspectiva

emancipatoacuteria educacional de Adorno (1995) utilizada e possiacuteveis diaacutelogos com

a pesquisa internacional ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social para novos

manifestosrdquo organizada pelo socioacutelogo portuguecircs Boaventura de Sousa Santos

(SANTOS 2009) que tem relevacircncia no quadro da pesquisa socioloacutegica atual

embora natildeo trate especificamente da questatildeo educacional mesmo que ela seja

referida

47

especiacuteficos (i) identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre

estudantes dos CTIEM (ii) problematizar tais sentidos de acordo com os

princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (iii)

examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de

um posicionamento criacutetico sobre TS e (iv) verificar se e como

promover contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar

sentidos de emancipaccedilatildeo social e autonomia entre estudantes

TESE

Tais objetivos assim como a pesquisa das questotildees propostas satildeo

o apoio para que eu possa defender a seguinte tese sentidos

deterministas sobre tecnologia que satildeo discutidos entre estudantes dos

CTIEM podem ser transformados atraveacutes de processos educacionais que

contemplem o desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre TS

Isso ocorre na medida em que essesas estudantes possam visualizar

possibilidades de emancipaccedilatildeo social ao constituiacuterem-se autonomamente

como autoresas capazes de compreender e modificar os contextos

socioteacutecnicos determinados soacutecio-historicamente que os satildeo

apresentados

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Os procedimentos19 necessaacuterios para realizar a pesquisa

compreendem coleta e anaacutelise de dados primaacuterios e secundaacuterios

qualitativos e quantitativos Os instrumentos de coleta de dados

primaacuterios satildeo uma questatildeo inicial formulada agravesaos estudantes (O que eacute

tecnologia para vocecirc) um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla

escolha20 (conforme Apecircndice D) e uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de

TS aleacutem do meu diaacuterio de campo (memoacuteria das aulas) A coleta de

dados secundaacuterios envolve pesquisa bibliograacutefica e documental Faz

19 Todas as consideraccedilotildees que se referem aos procedimentos metodoloacutegicos satildeo

detalhadas no capiacutetulo 3 desta tese 20 Tendo em vista a criacutetica feita por Thiollent (1985) ao positivismo empiacuterico

nas pesquisas sociais considerei a utilizaccedilatildeo do questionaacuterio de modo criacutetico e

histoacuterico e avaliei as vantagens (i) e desvantagens (ii) de sua utilizaccedilatildeo Tais

como (i) facilidade de aplicaccedilatildeo e anaacutelise praticidade e rapidez ao responder e

apresentaccedilatildeo de diversas alternativas (aleacutem da alternativa aberta) e (ii) exigecircncia

de tempo na sua preparaccedilatildeo para garantir diversas opccedilotildees de resposta conexatildeo

com os pressupostos teoacutericos e possibilidade de influecircncia no sujeito

respondente Dentro desse quadro a considerar o espaccedilo e o tempo da pesquisa

e com o cuidado de enfocar as condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas dos sujeitos da

pesquisa essa pareceu a opccedilatildeo mais adequada

48

parte da pesquisa ainda a elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico

na temaacutetica socioteacutecnica (conforme Apecircndice E)

Alguns dados foram coletados durante todo o ano de 2015

diretamente no IFRS sendo que a pergunta inicial e os questionaacuterios

foram aplicados no iniacutecio do terceiro trimestre escolar a partir do mecircs

de outubro e as apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS

aconteceram no mecircs de dezembro

A pesquisa aqui proposta envolve uma discussatildeo sobre estudantes

dos CTIEM contudo tendo em vista a possibilidade de

operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e a coerecircncia com o meu plano de

trabalho e o planejamento de ensino no IFRS foram selecionados

estudantes apenas dos primeiros anos dos CTIEM Com isso o universo

da pesquisa eacute composto por 184 alunosas matriculadosas nos primeiros

anos e que tecircm entre 14 e 18 anos de idade21 Contudo infrequecircncias

ausecircncias e opccedilatildeo por natildeo participar da pesquisa exigem um recorte que

finaliza com 149 estudantes que satildeo os sujeitos da pesquisa22

A descriccedilatildeo quantitativa elaboraccedilatildeo de graacuteficos quadros e

tabelas envolve a utilizaccedilatildeo do programa Excel 2013 A anaacutelise

qualitativa por sua vez baseia-se na leitura criacutetica descriccedilatildeo e anaacutelise

soacutecio-histoacuterica dos dados documentais das respostas agrave pergunta inicial

dos questionaacuterios da memoacuteria das aulas e da produccedilatildeo sobre TS Na

pesquisa proposta os dados quantitativos satildeo considerados como um

suporte importante mas o caraacuteter da pesquisa eacute qualitativo Contudo

destaco que assim como Trivintildeos (1987) natildeo haacute aqui uma

caracterizaccedilatildeo dicotocircmica entre o qualitativo e o quantitativo Do ponto

de vista de uma pesquisa dialeacutetica (na qual os polos analisados satildeo

diferentes mas se implicam mutuamente um depende necessariamente

do outro) existe uma relaccedilatildeo necessaacuteria entre a mudanccedila quantitativa e a

mudanccedila qualitativa

Esse enfoque qualitativo que corresponde a um modo de

compreender e analisar a realidade pode ser examinado dentro do que

Trivintildeos (1987) chama de ldquocriacutetico-participativo com visatildeo histoacuterico-

estruturalrdquo (p 117) Nesse quadro autores como Marx Engels

Gramsci Adorno Horkheimer Marcuse e Habermas entre outros

partem da necessidade de conhecer a realidade ldquopara transformaacute-la em

processos contextuais e dinacircmicos complexosrdquo (TRIVINtildeOS 1987 p

21 Um perfil sociodemograacuteficos dosas estudantes eacute apresentado no capiacutetulo 3

desta tese 22 Destaco que dentre esses sujeitos selecionei cinco TS (31 alunosas) para

analisar de modo mais aprofundado como descrevo no capiacutetulo 3

49

125) Assim nesta tese a intenccedilatildeo eacute realizar uma pesquisa que capte

tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema delineado (descrito)

Interessam portanto suas origens causas consequecircncias e contradiccedilotildees

tendo em vista possibilidades de transformaccedilotildees da realidade

A ideia eacute examinar relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo tendo em

vista a obtenccedilatildeo de dados que possibilitem ampliar a compreensatildeo de

qualidades constitutivas dessas relaccedilotildees (dos sentidos que as atravessam

que ali circulam suas contradiccedilotildees) e verificar possibilidades de

transformaccedilatildeo desses sentidos dentro de processos educacionais Em

termos metodoloacutegicos ao apropriar-me dessas relaccedilotildees em primeiro

lugar ligo-as agrave minha concepccedilatildeo de mundo e em seguida procuro

inseri-las em um quadro teoacuterico de apoio Portanto ao buscar a

historicidade e contradiccedilotildees dessas relaccedilotildees penso que as escolhas

metodoloacutegicas realizadas estatildeo de acordo com o referencial teoacuterico

escolhido que por sua vez tem coerecircncia com minha consciecircncia social

RELEVAcircNCIA

A relevacircncia dessa iniciativa de pesquisa encontra-se nas

possibilidades de (i) compreender (e poder transformar) soacutecio-

historicamente sentidos restritos sobre tecnologias que circulam entre as

juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (ii) expandir

entendimentos sobre processos educacionais voltados agrave mobilizaccedilatildeo

para autoria emancipaccedilatildeo social e autonomia em um paiacutes do Sul e (iii)

ampliar espaccedilos para debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e

sociedade

O entendimento criacutetico de tais relaccedilotildees eacute percebido aqui como um

fator a ser considerado na compreensatildeo de processos educacionais

criacuteticos e contextualizados (sensiacuteveis agraves diversidades poliacuteticas de classe

religiosas eacutetnico-raciais23 e de gecircnero) vinculados a perspectivas de

efetiva transformaccedilatildeo social

23 Conforme Gomes (2012) no Brasil militantes e intelectuais utilizam o termo

ldquoeacutetnico-racialrdquo para demonstrar que consideram as muacuteltiplas dimensotildees que

envolvem a histoacuteria as culturas e a vida de negros no paiacutes Ao adotarem o termo

ldquoraccedilardquo natildeo o fazem no sentido bioloacutegico pelo contraacuterio ldquotrabalham o termo

raccedila atribuindo-lhe um significado poliacutetico construiacutedo a partir da anaacutelise do tipo

de racismo que existe no contexto brasileiro e considerando as dimensotildees

histoacuterica e cultural que este nos remeterdquo (GOMES 2012 p 47)

50

TOacutePICOS

Operacionalizei a tese dentro do pressuposto de que natildeo eacute

interessante uma visatildeo isolada das partes do estudo tendo em vista que

elas estatildeo inter-relacionadas Desse modo a fundamentaccedilatildeo teoacuterica por

exemplo natildeo tem um capiacutetulo especiacutefico pois ela vai apoiar de maneira

dinacircmica as ideias que surgem no desenvolvimento da pesquisa

Entretanto para tentar desenvolver de modo objetivo os argumentos e

apresentar de maneira concisa os dados desta tese o texto estaacute dividido

em trecircs partes aleacutem das consideraccedilotildees finais

No primeiro capiacutetulo discuto sobre processos educacionais

Apresento meus posicionamentos e filiaccedilotildees teoacutericas em relaccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo ECT Educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia Tecnologia Sociedade)

juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio e autoria Aleacutem da

discussatildeo conceitual trago aspectos histoacutericos e bibliograacuteficos sobre tais

temas de modo que as informaccedilotildees desse capiacutetulo possam encaminhar

para entendimentos sobre tecnologia tal como delineado de maneira

especiacutefica no segundo capiacutetulo

No capiacutetulo 2 apresento uma discussatildeo relativa aos contextos

socioculturais poliacuteticos e educacionais nos quais os debates sobre

tecnologia estatildeo inseridos Para isso examino o caraacuteter social da

tecnologia a partir de diferentes autoresas exponho minha filiaccedilatildeo

teoacuterica e delineio o sentido geral sobre tecnologia que eacute considerado na

pesquisa de tese Apoacutes realizo uma reflexatildeo histoacuterica conceitual e

documental sobre TS e apresento estudos sobre relaccedilotildees entre TS e

processos educacionais

Com o foco em examinar sentidos sobre tecnologia que

atravessam os (e circulam nos) CTIEM no terceiro capiacutetulo apresento

detalhadamente os procedimentos envolvidos na coleta e anaacutelise de

dados Exponho informaccedilotildees relevantes para a pesquisa sobre o IFRS

(histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outros dados) e sobre aspectos

sociodemograacuteficos qualitativos e quantitativos dos sujeitos da pesquisa

De acordo com minha opccedilatildeo por adotar a teacutecnica de pesquisa de

intervenccedilatildeo socioloacutegica (THIOLLENT 1985) ao realizar uma anaacutelise

criacutetica dos dados coletados intenciono que a partir desses dados os

sentidos sejam examinados segundo uma perspectiva teoacuterica que

permita o retorno a esses sentidos agora contextualizadas em muacuteltiplas

relaccedilotildees

Tal movimento envolve mediaccedilotildees em trecircs momentos A partir

do caos concreto (no qual satildeo captadas as qualidades gerais da

realidade) passa-se por uma instacircncia abstrata (na qual estabelecem-se

as relaccedilotildees soacutecio-histoacutericas do fenocircmeno determinam-se os traccedilos

51

quantitativos do exame) ateacute chegar novamente ao concreto agora

pensado (no qual estabelecem-se os aspectos essenciais do fenocircmeno

seu fundamento sua realidade e possibilidade o que nele eacute singular e

geral necessaacuterio e contingente)

Conforme informo na dedicatoacuteria esta tese foi escrita para

educadoras e educadores de qualquer modalidade de ensino e de

diferentes formaccedilotildees disciplinares que tenham interesse em TS

52

53

CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS

Neste primeiro capiacutetulo tendo em vista o que estaacute envolvido24

com a educaccedilatildeo desenvolvo consideraccedilotildees acerca de elementos que

vejo como importantes na investigaccedilatildeo de relaccedilotildees dessa com a

tecnologia Inicialmente apresento meu posicionamento geral sobre o

sujeito desse processo e destaco o que compreendo por educaccedilatildeo de

modo geral e segundo autoresas que podem ajudar-me a analisar em

alguma medida o contexto25 nacional atual

Apoacutes reflito sobre ECT e Educaccedilatildeo CTS tendo em vista alguns

princiacutepios do ensino de Sociologia no ensino meacutedio (estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo) questotildees de autoria e as juventudes que compotildeem os

CTIEM (sujeitos do conhecimento) Finalizo o capiacutetulo com uma

tentativa de relacionar essas perspectivas com indagaccedilotildees sobre uma

outra educaccedilatildeo possiacutevel A ideia eacute que esse capiacutetulo inicial relacione

autoresas e teorias em relaccedilatildeo agrave autonomia autoria e emancipaccedilatildeo

social que possam trazer subsiacutedios para um debate sobre tecnologia e

TS em ambientes educacionais

11 SUJEITO

No contexto geral das discussotildees de que participo na aacuterea da

ECT percebo ao menos alguns temas efetivos que derivam de

concepccedilotildees sobre a natureza as funccedilotildees aplicaccedilotildees e implicaccedilotildees

sociais do conhecimento da ciecircncia da tecnologia e da educaccedilatildeo

Central em tudo isso estatildeo as concepccedilotildees sobre o sujeito

fundamentalmente sobre o sujeito do conhecimento que perpassam

todos esses temas e implicam em diferentes posicionamentos em relaccedilatildeo

a eles26

24 Considero que processos educacionais envolvem interaccedilotildees entre

professoresas estudantes escola estrutura fiacutesica materiais da escola poliacutetica

educacional interna e externa participaccedilatildeo de paisresponsaacuteveis abertura agrave

comunidade procedimentos avaliativos e componentes curriculares 25 Nesta tese uso o termo ldquocontextordquo em sentido geral como inter-relaccedilatildeo de

circunstacircncias (sociais culturais poliacuteticas econocircmicas tecnoloacutegicas

educacionais) que acompanham dadas situaccedilotildees Natildeo eacute minha intenccedilatildeo discutir

o termo de acordo com teorias antropoloacutegicas ou linguiacutesticas 26 Muitos estudos epistemoloacutegicos investigam as relaccedilotildees entre sujeito (S)

objeto (O) e imagem (I) Algo que natildeo seraacute explorado de modo especiacutefico nesta

tese Tendo em vista uma leitura voltada a questotildees educacionais eacute possiacutevel

compreender ideias baacutesicas sobre essas relaccedilotildees e especificamente sobre

54

Considero que essas concepccedilotildees podem ser analisadas como

conjuntamente interligadas mas de modo a respeitar suas

particularidades Como jaacute referenciei tratarei fundamentalmente sobre

relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo contudo eacute importante iniciar esse

estudo com uma breve indicaccedilatildeo de como compreendo o sujeito nesse

processo

Uma primeira inspiraccedilatildeo para localizar de maneira mais

especiacutefica quem eacute(satildeo) meu(s) sujeito(s) foi construiacuteda a partir do

acompanhamento das leituras realizadas no DiCiTE Naquele ambiente

pesquisadoresas tecircm interesse por questotildees que relacionam educaccedilatildeo

ECTS e linguagem Ali tambeacutem satildeo investigados aspectos da Anaacutelise

de Discurso (AD) francesa sobretudo do filoacutesofo francecircs Michel

Pecirccheux (1938-1983) Nessa imersatildeo pude compreender que para a AD

o sujeito assume determinadas posiccedilotildees e manteacutem uma relaccedilatildeo com o

mundo De modo que a maneira como ele eacute visto e como se vecirc estaacute

vinculada a certa posiccedilatildeo ideoloacutegica

Sem explorar o rico referencial da AD considero o seu sujeito

que estaacute imerso em relaccedilotildees e vinculado agrave ideologia Assim nesta tese

com meu foco em estudantes dos CTIEM meu paracircmetro eacute o ser

humano Como afirma Severino (1994) entendo o ser humano como

entidade histoacuterica influenciado pelas condiccedilotildees objetivas de sua

existecircncia ao mesmo tempo em que atua sobre elas por meio de sua

praacutexis27 Reconheccedilo o sujeito tanto em sua subjetividade (como produtor

e transformador de sentidos) quanto imerso nos contextos soacutecio-

histoacutericos vivenciados

realismo realismo criacutetico e modelo dialeacutetico respectivamente nas seguintes

referecircncias utilizadas na ECT HESSEN J Teoria do Conhecimento Satildeo

Paulo Martins Fontes 2003 SCHAFF A Histoacuteria e Verdade Satildeo Paulo

Martins Fontes 1995 BECKER F Modelos pedagoacutegicos e modelos

epistemoloacutegicos In SILVA L H AZEVEDO JC (Org) A paixatildeo de

aprender II Petroacutepolis Vozes 1995 27 Sem entrar no debate acerca da possiacutevel ambiguidade do conceito quando

tratado particularmente por Marx e Engels na obra ldquoA ideologia alematilderdquo

(MARX ENGELS 1982) considero a posiccedilatildeo de Castoriadis (1986) quando

esse autor afirma que a praacutexis eacute o fazer no qual ldquoo outro ou os outros satildeo

visados como seres autocircnomos () Existe na praacutexis um por fazer mas esse por

fazer eacute especiacutefico eacute precisamente o desenvolvimento da autonomia () (p 94)

A praacutexis eacute entendida aqui portanto de modo geral como praacutetica humana que

tende a criar condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave existecircncia da sociedade agraves atividades

materiais agrave produccedilatildeo (SEVERINO 1994)

55

Contudo a ideia eacute a de que esse sujeito a que me refiro natildeo

apareccedila em minhas anaacutelises do capiacutetulo 3 de maneira abstrata e

homogecircnea Busco representar a diversidade sem perder de vista a

unicidade Minha intenccedilatildeo eacute a de que as pluralidades e diferenccedilas

poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero possam emergir

sensivelmente Pois concordo com Santos (2014) quando a autora

afirma que a ciecircncia tem gecircnero e aponta a necessidade de

problematizaccedilatildeo de determinaccedilotildees essencialistas no que diz respeito

sobretudo a questotildees de gecircnero

Assim considero osas estudantes dentro de minhas perspectivas

teoacutericas como sujeitos ativos e integrados (natildeo acomodados) na

construccedilatildeo de conhecimentos e em busca permanente de

conscientizaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica Essa minha percepccedilatildeo tem base

no educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) que pensa em sujeitos

ldquointerferidoresrdquo (homem Sujeito) imersos em relaccedilotildees que os integram

aos seus contextos (FREIRE 1983)

Ao avaliar possibilidades de transformar sentidos sobre

tecnologia tendo em vista processos educacionais penso que considerar

a capacidade de integraccedilatildeo dos sujeitos seja fundamental ldquoA integraccedilatildeo

resulta da capacidade de ajustar-se agrave realidade acrescida da de

transformaacute-la a que se junta a de optar cuja nota fundamental eacute a

criticidaderdquo (FREIRE 1983 p 42) Esse sujeito (com identidades

poliacutetica religiosa eacutetnico-racial e de gecircnero) integrado ativo criacutetico

seria capaz de alterar a realidade soacutecio-histoacuterica que lhe eacute apresentada

Seria portanto um sujeito autor que constitui uma base das relaccedilotildees

entre educaccedilatildeo e tecnologia que busco examinar

12 EDUCACcedilAtildeO

Natildeo pretendo tratar educaccedilatildeo e tecnologia como abstraccedilotildees mas

como produccedilotildees soacutecio-histoacutericas complexas e que podem ser localizadas

geograacutefica e temporalmente Penso no contexto educacional brasileiro

no iniacutecio da segunda deacutecada do seacuteculo XXI Considero com isso as

intencionalidades dos sujeitos do conhecimento (envolvidos em

processos educacionais) a historicidade temporalidade e contradiccedilotildees

das teorias tecnoloacutegicas e educacionais e uma perspectiva natildeo

determinista da tecnologia28 no desenvolvimento econocircmico e social

28 Meu posicionamento em relaccedilatildeo agrave tecnologia seraacute exposto no segundo

capiacutetulo desta tese

56

Trato aqui de uma reflexatildeo sobre a educaccedilatildeo como aacuterea no qual o

cenaacuterio sociopoliacutetico brasileiro estaacute expresso com suas contradiccedilotildees

desigualdades preconceitos e tambeacutem suas virtualidades Assim como

a filoacutesofa brasileira Marilena Chauiacute e o filoacutesofo huacutengaro Istvaacuten

Meacuteszaacuteros compreendo a educaccedilatildeo como atividade social permanente e

inseparaacutevel do processo de formaccedilatildeo humana Meacuteszaacuteros (2008) aponta

ainda que ldquosem um progressivo e consciente intercacircmbio com processos

de educaccedilatildeo abrangentes como lsquoa nossa proacutepria vidarsquo a educaccedilatildeo

formal natildeo pode realizar as suas muito necessaacuterias aspiraccedilotildees

emancipadoras rdquo (p 59 grifos do autor)

Brandatildeo (1995) lembra-nos de que a educaccedilatildeo existe de muitos

modos sendo que alguns desses podem ter como princiacutepio a

transformaccedilatildeo A educaccedilatildeo como algo que envolve um movimento de

transformaccedilatildeo interna de uma condiccedilatildeo de saber a outra condiccedilatildeo de

saber ou ainda agrave compreensatildeo do outro de si mesmo da realidade do

tempo presente e da cultura acumulada (CHAUIacute 2003) de modo geral

pode ser entendida segundo uma concepccedilatildeo problematizadora ou

dialoacutegica (FREIRE 1987) Isso implicaria numa atuaccedilatildeo cidadatilde dos

sujeitos com ela envolvidos tendo em vista as possibilidades de

transformaccedilatildeo desses sujeitos e da sociedade

Tal transformaccedilatildeo pode ser encontrada em Meacuteszaacuteros (2008)

quando esse declara tal qual Freire (1987) que educar natildeo eacute transferir

conhecimentos (JINKINGS 2008) e sustenta que a educaccedilatildeo (como

conscientizaccedilatildeo e testemunho de vida) deve ser permanente e contiacutenua

para poder ser assim chamada Para ele

Sim ldquoa aprendizagem eacute a nossa proacutepria vidardquo

como Paracelso afirmou haacute cinco seacuteculos e

tambeacutem muitos outros que seguiram seu caminho

mas que talvez nunca tenham sequer ouvido seu

nome Mas para tornar essa verdade algo oacutebvio

como deveria ser temos de reivindicar uma

educaccedilatildeo plena para toda a vida para que seja

possiacutevel colocar em perspectiva a sua parte

formal a fim de instituir tambeacutem aiacute uma reforma

radical Isso natildeo pode ser feito sem desafiar as

formas atualmente dominantes de internalizaccedilatildeo

fortemente consolidadas a favor do capital pelo

proacuteprio sistema educacional formal (MEacuteSZAacuteROS

2008 p 55 grifo do autor)

57

Ao abordar as perspectivas de uma educaccedilatildeo para aleacutem do

capital o autor condena propostas apenas reformistas Para ele deveria

haver uma alteraccedilatildeo fundamental em todo o sistema de internalizaccedilatildeo29

Em termos de educaccedilatildeo seria necessaacuteria uma alternativa concreta e

abrangente Contudo Meacuteszaacuteros (2008) compreende que a tarefa

histoacuterica enfrentada eacute ldquoincomensuravelmente maior que a negaccedilatildeo do

capitalismo O conceito para aleacutem do capital eacute inerentemente concreto

Ele tem em vista a realizaccedilatildeo de uma ordem social metaboacutelica que

sustente concretamente a si proacutepriardquo (p 62 grifos do autor)

Acredito haver aqui um ponto de convergecircncia entre Meacuteszaacuteros

(2008) e Paulo Freire (1987) pois os dois autores fazem uma criacutetica agrave

educaccedilatildeo capitalista

121 Paulo Freire e autonomia

Meu interesse pelo pensamento de Paulo Freire vai ao encontro

de uma tendecircncia nacional de crescimento de utilizaccedilatildeo de suas obras

em pesquisas acadecircmicas Ao analisarem poliacuteticas de curriacuteculo sob um

ponto de vista freireano Saul e Silva (2012) fizeram um levantamento

no banco de dados da Capes e verificaram a existecircncia de 228 registros

de teses que utilizaram o referencial freireano entre os anos 1987 e

2010 O total de registros para esse periacuteodo com dissertaccedilotildees chega a

1441 pesquisas Portanto mesmo que examinado de maneira pontual e

dentro de um quadro teoacuterico diverso considero que o pensamento

freireano ao qual faccedilo referecircncia colabora fundamentalmente com as

perspectivas criacuteticas aqui apontadas

Ao analisar a criacutetica de Freire (1987) agrave educaccedilatildeo capitalista

(educaccedilatildeo bancaacuteria educaccedilatildeo do opressor) podemos compreender (de

modo simplificado) a educaccedilatildeo bancaacuteria e examinar relaccedilotildees entre

educadora e educandoa A accedilatildeo doa primeiroa se dividiria em um

momento inicial de aquisiccedilatildeo de conhecimentos e em seguida ocorreria

uma narraccedilatildeo dessa primeira accedilatildeo aaos educandasos Essases por sua

vez copiariam ou arquivariam o que ouviram Essas accedilotildees deixam

educadora e educandoa em situaccedilotildees bem definidas De modo que oa

educadora seria uma saacutebioa detentora de conhecimentos e oa

educandoa seria aquelea que natildeo sabe (FREIRE 1987)

29 De modo abreviado essa internalizaccedilatildeo corresponderia a que os sujeitos

adotassem como suas as metas de reproduccedilatildeo do sistema capitalista Algo que a

educaccedilatildeo sob o domiacutenio do capital se proporia a fazer

58

Freire (1987) explica porque natildeo pode ser produzido

conhecimento nesse processo

Natildeo pode haver conhecimento pois os educandos

natildeo satildeo chamados a conhecer mas a memorizar o

conteuacutedo narrado pelo educador Natildeo realizam

nenhum ato cognoscitivo uma vez que o objeto

que deveria ser posto como incidecircncia de seu ato

cognoscente eacute posse do educador e natildeo

mediatizador da reflexatildeo criacutetica de ambos A

praacutetica problematizadora pelo contraacuterio natildeo

distingue estes momentos no quefazer do

educador-educando Natildeo eacute sujeito cognoscente em

um e sujeito narrador do conteuacutedo conhecido em

outro Eacute sempre um sujeito cognoscente quer

quando se prepara quer quando se encontra

dialogicamente com os educandos (FREIRE

1987 p 69 grifo do autor)

Portanto na loacutegica da educaccedilatildeo bancaacuteria um lado educaria e

agiria (seria sujeito) enquanto o outro lado seria educado e passivo

(seria objeto) Este uacuteltimo seria um depoacutesito reservado a arquivar

informaccedilotildees com possibilidades tolhidas de desenvolver consciecircncia

criacutetica e libertar-se de situaccedilotildees de opressatildeo A educaccedilatildeo bancaacuteria como

praacutetica de dominaccedilatildeo condicionaria os sujeitos agrave adaptaccedilatildeo agrave realidade

social dada Isso destituiria o homem como sujeito ativo e livre para

optar

Essa concepccedilatildeo bancaacuteria da educaccedilatildeo que foi brevemente

examinada eacute um exemplo de educaccedilatildeo antidialoacutegica Acima apontei

uma perspectiva de educaccedilatildeo problematizadora ou dialoacutegica A

dialogicidade em Freire (2013) seria algo como uma exigecircncia

epistemoloacutegica Pois a construccedilatildeo da autonomia passaria pela

conscientizaccedilatildeo30 pelo esforccedilo de conhecimento criacutetico dos obstaacuteculos

que impedem a transformaccedilatildeo do mundo (FREIRE 2011) Tal

conscientizaccedilatildeo dependeria da relaccedilatildeo consciecircncia-mundo (o sujeito se

30 Freire (1980) lembra-nos de que o homem eacute o uacutenico ser vivo que conseguiria

tomar distacircncia do mundo em uma visatildeo em perspectiva para justamente

conseguir uma aproximaccedilatildeo maior e conhececirc-lo Esse movimento eacute uma tomada

de consciecircncia mas para ser conscientizaccedilatildeo deve existir em uma praacutexis

Assim a conscientizaccedilatildeo seria uma posiccedilatildeo criacutetica assumida pelo sujeito

59

constitui em sua subjetividade pela consciecircncia do mundo e do outro) e

implicaria transformaccedilatildeo do mundo

O diaacutelogo seria o proacuteprio movimento que constituiria a

consciecircncia (do mundo) o encontro de sujeitos para ldquoser maisrdquo

(FREIRE 1987) Nessa praacutetica dialoacutegica o sujeito poderia construir sua

autonomia Brandatildeo (1981) reforccedila que na perspectiva freireana o

diaacutelogo eacute fundamental ldquoeacute o sentimento do amor tornado accedilatildeo

(BRANDAtildeO 1981 p 103) E nisso o autor explicita as relaccedilotildees entre

sujeitos natureza e trabalho no diaacutelogo freireano

A relaccedilatildeo entre sujeitos e natureza ocorreria pelo diaacutelogo e nela o

mundo seria transformado e a histoacuteria aconteceria Em outro momento

do mesmo diaacutelogo ocorreriam as relaccedilotildees entre os sujeitos na natureza e

pelo trabalho O trabalho natildeo eacute uma relaccedilatildeo entre o homem e a

natureza O trabalho eacute uma relaccedilatildeo entre os homens atraveacutes da natureza

(BRANDAtildeO 1981 p 104) Assim como em Meacuteszaacuteros (2008) e como

mostrarei adiante na perspectiva de ensino politeacutecnico o trabalho seria

algo fundamental nas relaccedilotildees entre os sujeitos aiacute incluiacutedos os

processos educacionais fundamentalmente

Uma educaccedilatildeo contra a proposta bancaacuteria seria portando

essencialmente dialoacutegica problematizadora e tentaria promover a

autonomia do sujeito educando Esse teria noa educadora um sujeito

que faz parte de seu processo de formaccedilatildeo A contradiccedilatildeo educadora

(sujeito) ndash educandoa (objeto) seria superada A educaccedilatildeo

problematizadora seria entatildeo possiacutevel com a superaccedilatildeo da contradiccedilatildeo

entre educadora e educandosas e dentro do diaacutelogo E isso faz sentido

ao examinarmos a famosa constataccedilatildeo freireana de que

Jaacute agora ningueacutem educa ningueacutem como tampouco

ningueacutem se educa a si mesmo os homens se

educam em comunhatildeo mediatizados pelo mundo

Mediatizados pelos objetos cognosciacuteveis que na

praacutetica ldquobancaacuteriardquo satildeo possuiacutedos pelo educador

que os descreve ou os deposita nos educandos

(FREIRE 1987 p 69)

Em sua proposta dialoacutegica Freire (1987) ainda demonstra

preocupaccedilatildeo com um entendimento restrito sobre a educaccedilatildeo que a desvinculasse de sua inter-relaccedilatildeo com os sujeitos ldquoem suas culturas

vivendo suas vidasrdquo (BRANDAtildeO 1995) E desse modo propotildee um

processo de ensino que possibilite a construccedilatildeo de condiccedilotildees para que os

sujeitos possam ser todos seres para si tendo em vista uma educaccedilatildeo

60

que possibilite a construccedilatildeo de uma realidade social aberta agrave autonomia

desses sujeitos Tal abertura agrave autonomia tem relaccedilatildeo com mobilizaccedilatildeo para a

curiosidade e a criticidade e contra memorizaccedilotildees mecacircnicas Pressupotildee

a compreensatildeo da mutabilidade e historicidade do conhecimento tendo

em vista a inexistecircncia de conhecimento absoluto Com isso Freire

(2011) destaca a importacircncia de estarmos abertos31 tanto para

conhecermos o que jaacute foi produzido quanto para produzirmos novos

conhecimentos Mas essa abertura chamada de curiosidade natildeo deveria

ser algo ingecircnuo (baseada apenas na experiecircncia) e sim uma

curiosidade epistemoloacutegica (FREIRE 2011) criacutetica

Segundo o autor deveria haver a superaccedilatildeo da ingenuidade para

chegar agrave criticidade32 atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia Pois natildeo

haveria possibilidades para autonomia segundo visotildees ingecircnuas do

mundo sem criticidade Nesse processo a curiosidade se relaciona com

a criatividade sendo a primeira condiccedilatildeo para a segunda Essa relaccedilatildeo

integraria as condiccedilotildees para tanto conhecermos o que do mundo natildeo

fizemos quanto nele acrescentarmos nossa produccedilatildeo (FREIRE 2011)

Para finalizar a contribuiccedilatildeo do pensamento freireano

fundamentalmente na questatildeo da autonomia no que penso sobre

educaccedilatildeo no contexto nacional atual (que pode ser relacionado com TS)

trago sua perspectiva acerca do ensino tecnicista Para o autor o ensino

teacutecnico-cientiacutefico eacute necessaacuterio poreacutem natildeo eacute suficiente para a construccedilatildeo

da autonomia Tambeacutem seria necessaacuteria uma formaccedilatildeo eacutetica e esteacutetica

Pois ao compreendermos que fazemos o mundo a partir de nossa

liberdade temos um compromisso eacutetico que se relaciona com a esteacutetica

pois temos liberdade de construir beleza e feiura Contudo essa

formaccedilatildeo eacute muitas vezes preterida em nome de treinamentos puramente

teacutecnicos e isso diminuiria o caraacuteter formador da educaccedilatildeo (FREIRE

2011)

Com isso eacute possiacutevel perceber que na perspectiva freireana a

educaccedilatildeo envolve um movimento dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre

o fazer entre ingenuidade e criticidade Nesse processo a integraccedilatildeo

(comunhatildeo) entre educandoa e educadora e a curiosidade seriam

31 Ao verificar a premissa do autor de que a educaccedilatildeo para a autonomia soacute eacute

possiacutevel nessas condiccedilotildees de possibilidades posso considerar relaccedilotildees entre a

educaccedilatildeo para a autonomia e a autoria em processos educacionais como

destacarei adiante 32 Voltarei a essa questatildeo ao considerar os princiacutepios de estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo no ensino de Sociologia

61

fundamentais De acordo com o autor a curiosidade eacute parte do ser

humano e o conhecimento comeccedila por ela e pelas perguntas (FREIRE

FAUNDEZ 1986) Entretanto como jaacute mencionei para ele eacute necessaacuteria

a superaccedilatildeo da curiosidade ingecircnua para uma curiosidade

epistemoloacutegica Algo que poderia ser realizado com reflexatildeo criacutetica que

visaria a autonomia

Em conjunto com uma educaccedilatildeo voltada agrave autonomia penso em

processos educacionais que possibilitem emancipaccedilatildeo social Podemos

considerar autonomia e emancipaccedilatildeo33 como intimamente relacionadas

Nesse sentido trago abaixo uma perspectiva que acredito poder fazer

essa relaccedilatildeo no que diz respeito agrave educaccedilatildeo

122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social

O tema da emancipaccedilatildeo social eacute constantemente debatido

sobretudo nas Ciecircncias Humanas Nessa aacuterea de conhecimento uma

definiccedilatildeo usual pode ser encontrada em Cattani

O conceito de emancipaccedilatildeo social designa o

processo ideoloacutegico e histoacuterico de liberaccedilatildeo por

parte de comunidades poliacuteticas ou de grupos

sociais da dependecircncia tutela e dominaccedilatildeo nas

esferas econocircmicas sociais e culturais

Emancipar-se significa livrar-se do poder exercido

por outros conquistando ao mesmo tempo a

plena capacidade civil e cidadatilde no Estado

33 O filoacutesofo alematildeo Juumlrgen Habermas tem uma contribuiccedilatildeo importante nos

estudos sobre a emancipaccedilatildeo com a Teoria da Accedilatildeo Comunicativa Embora essa

natildeo seja exatamente examinada nesta tese destaco que para Habermas (1989) a

emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo voltada para o entendimento o que faz com

que ela seja possiacutevel quando ocorre a expansatildeo dos processos de accedilatildeo

comunicativa que se fundamentam necessariamente na capacidade da

humanidade de alcanccedilar consensos racionais atraveacutes do processo de

argumentaccedilatildeo O autor considera que a emancipaccedilatildeo significa autonomia do

sujeito e diz respeito a um tipo especial de auto-experiecircncia relativa agrave

intersubjetividade na qual os processos de auto-entendimento se entrecruzam

com um ganho de autonomia (HABERMAS 1993) Portanto eacute possiacutevel

compreender que para Habermas (1989) a emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo

voltada para o entendimento o que faz com que ela seja possiacutevel quando ocorre

a expansatildeo dos processos de accedilatildeo comunicativa que se fundamentam

necessariamente na capacidade da humanidade de alcanccedilar consensos racionais

atraveacutes do processo de argumentaccedilatildeo

62

democraacutetico de direito Emancipar-se denota

ainda aceder agrave maioridade de consciecircncia

entendendo-se por isso a capacidade de conhecer

e reconhecer as normas sociais e morais

independentemente de criteacuterios externos impostos

ou equivocadamente apresentados como naturais

(2009 p 175)

A partir dessa definiccedilatildeo considero uma perspectiva

emancipatoacuteria que pressuponha o exerciacutecio criacutetico e reflexivo da

razatildeo34 tendo em vista processos educacionais enquanto possibilidades

de superaccedilatildeo das formas de dominaccedilatildeo vigentes Nesse aspecto acredito

que algumas reflexotildees do filoacutesofo alematildeo Theodor Adorno (1903-

1969) podem contribuir

Assim como Paulo Freire Adorno possui uma obra vasta e

teoricamente densa na qual destacam-se preocupaccedilotildees com a liberdade

humana Para buscarmos relaccedilotildees mais pontuais de seus trabalhos com a

temaacutetica educacional atual eacute importante compreendermos ao menos dois

pontos intimamente interligados O primeiro deles diz respeito a suas

criacuteticas agrave induacutestria cultural e o segundo ao seu contexto sociopoliacutetico

Em relaccedilatildeo a esse destaco que Adorno viveu e produziu tendo a

Segunda Guerra Mundial no seu horizonte35 Portanto questotildees sobre

barbaacuterie (do nazismo e de Estados totalitaacuterios) a personalidade

autoritaacuteria a racionalidade teacutecnica e possibilidades de emancipaccedilatildeo

humana satildeo relacionadas a essas suas vivencias

Juntamente com seu compatriota e colega o filoacutesofo Max

Horkheimer (1895-1973) Adorno eacute considerado membro fundamental

da chamada Escola de Frankfurt cujos conjuntos de trabalhos satildeo

conhecidos como Teoria Criacutetica36 A Escola teve seu desenvolvimento

34 Natildeo entrarei na discussatildeo filosoacutefica acerca dos sentidos do termo ldquorazatildeordquo

Minha referecircncia nesse momento eacute a criacutetica que Adorno e Horkheimer (1985)

fazem agrave ideia de razatildeo originaria do Iluminismo que visava agrave emancipaccedilatildeo dos

sujeitos e ao progresso social mas terminou por levar a uma maior dominaccedilatildeo

desses sujeitos em virtude do desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial Para

esses autores o problema estava na razatildeo controladora e instrumental que

busca sempre a dominaccedilatildeo tanto da natureza quanto dos sujeitos 35 No ano de 1933 quando Hitler assumiu como chanceler do Terceiro Reich o

autor parte da Alemanha para a Inglaterra e posteriormente para os Estados

Unidos regressando a Frankfurt apenas em 1950 (HORKHEIMER e

ADORNO 1991) 36 Voltarei a examinar a Teoria Criacutetica e a Teoria Criacutetica da Tecnologia (TCT)

no proacuteximo capiacutetulo

63

na Alemanha desde 1924 a partir da criaccedilatildeo do Instituto para a Pesquisa

Social Mas a ideia de uma instituiccedilatildeo permanente sob a forma de um

instituto de investigaccedilatildeo independente surgiu apoacutes a realizaccedilatildeo da

Primeira Semana de Trabalho Marxista em 1922 que pretendia

repensar o marxismo (ASSOUN 1991)

De acordo com Wiggershaus (2002) a Escola pode ser assim

chamada por apresentar os seguintes elementos um quadro

institucional pensadores influentes um manifesto um novo paradigma

e uma revista Portanto Escola de Frankfurt Instituto para a Pesquisa

Social e Teoria Criacutetica estatildeo relacionados embora natildeo sejam uma

unidade e guardem suas especificidades (WIGGERSHAUS 2002) Isso

eacute importante para compreendermos o pensamento de Adorno em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo que iniciam com o exame da induacutestria

cultural

A induacutestria cultural eacute um tema fundamental para tratarmos da

educaccedilatildeo no autor pois ele via aquela como a impeditiva da

possibilidade humana de agir com autonomia O termo foi utilizado pela

primeira vez no ano de 1947 no livro ldquoDialeacutetica do Esclarecimento

fragmentos filosoacuteficosrdquo escrito em coautoria com Horkheimer Nele os

autores destacam como a consciecircncia humana pode ser dominada pela

comercializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo dos bens culturais

Sob o poder do monopoacutelio toda cultura de massas

eacute idecircntica e seu esqueleto a ossatura conceitual

fabricada por aquele comeccedila a se delinear Os

dirigentes natildeo estatildeo mais sequer muito

interessados em encobri-lo seu poder se fortalece

quanto mais brutalmente ele se confessa de

puacuteblico O cinema e o raacutedio natildeo precisam mais se

apresentar como arte A verdade de que natildeo

passam de um negoacutecio eles a utilizam como uma

ideologia destinada a legitimar o lixo que

propositalmente produzem Eles se definem a si

mesmos como induacutestrias e as cifras publicadas

dos rendimentos de seus diretores gerais

suprimem toda duacutevida quanto agrave necessidade social

de seus produtos (ADORNO HORKHEIMER

1985 p 100)

O termo induacutestria cultural substitui o entatildeo usual cultura de

massa que poderia deixar margens para que se acreditasse que existiria

64

alguma cultura surgindo das massas naquela escala industrial que eles

verificavam

O autor esclarece que quando um bem cultural eacute vendido

juntamente com um carro de luxo por exemplo esse bem perde

capacidade de despertar reflexotildees e indagaccedilotildees no sujeito O que

ocorreria nessa situaccedilatildeo seria uma distraccedilatildeo do sujeito enquanto ele

recebe uma grande quantidade de informaccedilotildees atraveacutes dos meios de

comunicaccedilatildeo como em uma propaganda para vender um carro luxuoso

(ADORNO HORKHEIMER 1985) Pois a induacutestria cultural enquanto

meio de ideologizaccedilatildeo natildeo vende apenas mercadorias mas ideias e

opiniotildees

Nesse processo ficaria comprometida a capacidade criacutetica e a

autonomia dos sujeitos A induacutestria cultural se utilizaria da distraccedilatildeo

para que os sujeitos venham a esquecer a opressatildeo vivida e tenham foco

em temas irrelevantes (alienaccedilatildeo) Nesse sentido Adorno (1995)

apresenta sua criacutetica ao modelo de educaccedilatildeo voltada para a adaptaccedilatildeo e

passividade das massas Algo que Freire (1983) e Meacuteszaacuteros (2008) a

seus tempos e em seus contextos tambeacutem criticaram

Mesmo que o autor trate da educaccedilatildeo alematilde de sua eacutepoca

(pessimista devido a barbaacuterie dos campos de concentraccedilatildeo nazistas37)

sua criacutetica eacute atual e pertinente a paiacuteses do Sul pois demonstra

contradiccedilotildees que vivenciamos atualmente na educaccedilatildeo segundo um

sistema de produccedilatildeo capitalista Aleacutem disso penso em uma leitura de

Adorno tendo em vista sobretudo a induacutestria cultural de modo a

problematizar possibilidades de colonizaccedilatildeo das condiccedilotildees

emancipatoacuterias (atenccedilatildeo agrave reproduccedilatildeo de discursos sexistas racistas e

homofoacutebicos por exemplo)

Adorno (1995) considera que a educaccedilatildeo teria um poder de

resistecircncia Suas criacuteticas ao sistema educacional evidenciam a relevacircncia

que o autor daacute ao tema Ele pensa em educaccedilatildeo como formaccedilatildeo

dinacircmica integrando conhecimentos em ciecircncias humanidades e artes

tendo em vista uma vivecircncia democraacutetica (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-

OLIVEIRA 2008)

Nas suas palavras

37 A importacircncia desse contexto de barbaacuterie em Adorno (1995) eacute destacada em

sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ldquoOra a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo de Adorno objetiva

exatamente criticar essa sociedade que potencialmente carrega dentro de si o

retorno da barbaacuterierdquo (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-OLIVEIRA 2008 p 119)

65

A seguir e assumindo o risco gostaria de

apresentar minha concepccedilatildeo inicial de educaccedilatildeo

Evidentemente natildeo a assim chamada modelagem

de pessoas porque natildeo temos o direito de modelar

pessoas a partir de seu exterior mas tambeacutem natildeo a

mera transmissatildeo de conhecimentos cuja

caracteriacutestica de coisa morta jaacute foi mais do que

destacada mas a produccedilatildeo de uma consciecircncia

verdadeira Isso seria inclusive da maior

importacircncia poliacutetica sua ideia se eacute permitido

dizer assim eacute uma exigecircncia poliacutetica Isto eacute uma

democracia com o dever de natildeo apenas funcionar

mas operar conforme seu conceito demanda

pessoas emancipadas Uma democracia efetiva soacute

pode ser imaginada enquanto uma sociedade de

quem eacute emancipado (ADORNO 1995 p 141-

142 grifos do autor)

A educaccedilatildeo natildeo sendo inconsciente aparece portanto

relacionada tanto com uma tarefa poliacutetica (como nos trabalhos de Paulo

Freire) quanto como experiecircncia emancipatoacuteria Nesse aspecto e

brevemente destaquei pontos importantes para compreendermos

possibilidades de emancipaccedilatildeo social (possibilidade de criacutetica agrave situaccedilatildeo

de vulnerabilidade vivida) atraveacutes de processos educacionais Com

pontos em comum os dois autores que satildeo considerados a seguir

apresentam propostas efetivas de ensino segundo algumas perspectivas

gerais vistas ateacute agora

123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria

Um sentido poliacutetico e emancipatoacuterio da educaccedilatildeo tambeacutem pode

ser analisado em alguns pontos especiacuteficos nas perspectivas do filoacutesofo

italiano Antonio Gramsci (1891-1937) Meacuteszaacuteros (2008) destaca a

posiccedilatildeo democraacutetica de Gramsci com seu resgate do sentido estruturante

da educaccedilatildeo e de sua relaccedilatildeo com o trabalho Relaccedilatildeo que tambeacutem pode

ser encontrada em Adorno (1995) que assim como Gramsci destaca a

possibilidade emancipatoacuteria da educaccedilatildeo

A autonomia e a conscientizaccedilatildeo em Freire (1980 1983 2011)

tambeacutem podem ser vistas na resistecircncia agrave ideologia dominante

(hegemonia) analisada por Gramsci Portanto guardando as

especificidades de cada posiccedilatildeo teoacuterica especiacutefica Gramsci pode

dialogar com os autores tratados anteriormente no sentido de buscar um

66

rompimento com a loacutegica do capital E sua atualidade e relevacircncia no

contexto educacional em um paiacutes do Sul tambeacutem vai nessa direccedilatildeo

Eacute possiacutevel compreender o pensamento de Gramsci em relaccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo a partir de sua proposta de integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo trabalho

e cultura Nessa integraccedilatildeo um aspecto fundamental eacute a questatildeo da

hegemonia38 Para Gramsci (1982) a educaccedilatildeo estaria relacionada tanto

com a hegemonia quanto com a contra hegemonia A primeira teria

respaldo natildeo apenas no Estado mas tambeacutem na esfera privada sendo

que o modo segundo o qual a escola se organiza contribuiria para a

consolidaccedilatildeo da hegemonia que seria exercida essencialmente em niacutevel

da cultura e da ideologia (GRAMSCI 1982) Mas nesse ambiente

tambeacutem seriam formados sujeitos que auxiliariam na formaccedilatildeo de contra

hegemonia

Gramsci investiga a educaccedilatildeo tendo o sistema de ensino italiano

de sua eacutepoca como paracircmetro e o projeto da pedagoga russa Nadežda

Krupskaia39 (1869-1939) para a revisatildeo da educaccedilatildeo na Ruacutessia (desde a

Revoluccedilatildeo Russa de 1917) em mente A partir dessa anaacutelise e em

contrapartida ao dualismo (humanista x profissional) verificado na

escola italiana ele apresenta sua proposta de escola unitaacuteria Essa que

teria caraacuteter puacuteblico seria uacutenica de cultura geral e integrativa de

capacidades manuais e intelectuais

O advento da escola unitaacuteria significa o iniacutecio de

novas relaccedilotildees entre trabalho intelectual e trabalho

industrial natildeo apenas na escola mas em toda a

vida social O princiacutepio unitaacuterio por isso refletir-

se-aacute em todos os organismos de cultura

transformando-os e emprestando-lhes um novo

conteuacutedo (GRAMSCI 1982 p 125)

Portanto na escola unitaacuteria poderiam se iniciar as novas relaccedilotildees

entre trabalho intelectual e trabalho manual para aleacutem dessa e que

38 De modo simplificado podemos compreender a questatildeo da hegemonia em

Gramsci conforme explica Sassoon (1996) segundo a qual hegemonia indica

ldquoo princiacutepio organizador de uma sociedade na qual uma classe se impotildee sobre

as outras natildeo apenas atraveacutes da forccedila mas tambeacutem mantendo a sujeiccedilatildeo da

massa da populaccedilatildeordquo (p 350) e essa sujeiccedilatildeo considera a influecircncia no modo

como os sujeitos pensam 39 Conforme Manacorda (2013) o documento de Krupskaia eacute uma indicaccedilatildeo

expliacutecita e direta do modelo de escola unitaacuteria (escola uacutenica do trabalho) que

Gramsci ldquotem presente de forma constante em suas reflexotildeesrdquo (p 170)

67

seguiriam na vida social (GONZALES 1996) Uma questatildeo importante

na integraccedilatildeo do mundo da cultura com o mundo do trabalho eacute a de que

os trabalhadores sejam sujeitos intelectualmente ativos com acesso aos

conhecimentos e subsiacutedios para o desenvolvimento de atividades

culturais (GONZALES 1996)

Nessa escola unitaacuteria haveria tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com o

desenvolvimento da criatividade Sua proposta apresentava vaacuterias fases

na escola e a uacuteltima delas ldquojaacute deve contribuir para desenvolver o

elemento de responsabilidade autocircnoma nos indiviacuteduos deve ser uma

escola criadorardquo (GRAMSCI 1982 p 124) Contudo natildeo haacute aiacute a ideia

de uma escola de ldquoinventores e descobridoresrdquo (GRAMSCI 1982) mas

um meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento (cujo domiacutenio indica

maturidade intelectual) que pressupotildee inter-relaccedilatildeo entre educadora e

educandoa e no qual essea tem papel ativo e independente

Meu uacuteltimo apontamento sobre as reflexotildees de Gramsci em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo se refere a ideia de omnilateralidade Essa

concepccedilatildeo que diz respeito agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos atraveacutes do

trabalho seraacute tratada com mais detalhes em Marx a seguir Contudo

destaco que Gramsci considera que a base da cultura da educaccedilatildeo e da

escola seria a praacutetica produtiva do trabalho industrial (MANACORDA

2010)

Assim como o pensador alematildeo Karl Marx (1818-1883) Gramsci

privilegia a formaccedilatildeo do sujeito na perspectiva da omnilateralidade

Guardadas as diferenccedilas entre a escola unitaacuteria desse com a politecnia

daquele ambos ponderavam sobre uma educaccedilatildeo voltada agrave preparaccedilatildeo

dos sujeitos na sociedade socialista Desse modo a seguir exponho

algumas consideraccedilotildees sobre princiacutepios educativos em Marx que podem

colaborar com as reflexotildees sobre a educaccedilatildeo na atualidade

124 Karl Marx e a politecnia

O conceito de politecnia surgiu nas obras de Marx em meados do

seacuteculo XIX40 E foi tratado tambeacutem por pensadores como Lecircnin e

Gramsci (MANACORDA 2010) aleacutem de Krupskaia como jaacute

mencionei Conforme Saviani (1987) no contexto em que Marx

comeccedilou a refletir sobre politecnia a escola ainda natildeo era uma

instituiccedilatildeo democratizada mas restrita a classes privilegiadas

40 Entretanto Manacorda (2013) lembra-nos de que Krupskaia havia estudado a

questatildeo e encontrado referecircncias agrave educaccedilatildeo geral politeacutecnica em Lavoisier

Condorcet Rousseau Pestalozzi e Robert Owen

68

Mesmo que Marx juntamente com seu amigo compatriota e

parceiro intelectual Friedrich Engels (1820-1895) natildeo tivesse foco

especificamente na educaccedilatildeo escolar (a politecnia se refere agrave categoria

trabalho central nesses autores41) ele forneceu subsiacutedios para a criacutetica

da influecircncia do capitalismo nesse acircmbito de formaccedilatildeo (criacutetica comum

aos autores apontados acima) Como bem destaca Manacorda (2010 p

33) ldquo() a temaacutetica pedagoacutegica eacute de fato tratada de maneira ocasional

em seus aspectos especiacuteficos mas que acima de tudo estaacute colocada

organicamente no contexto de uma criacutetica rigorosa das relaccedilotildees sociaisrdquo

De modo geral a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxista (ou

marxiana42) de educaccedilatildeo segundo a qual o ser humano deve ser

integralmente desenvolvido em suas potencialidades (princiacutepio da

omnilateralidade) (MANACORDA 2010) Esse desenvolvimento

ocorreria atraveacutes de um processo educacional de totalidade que

proporcionaria formaccedilatildeo cientiacutefica (capacitaccedilatildeo teacutecnica) poliacutetica e

cultural geral (esteacutetica) tendo em vista a libertaccedilatildeo do ser humano Tal

propoacutesito educacional apresentaria as condiccedilotildees necessaacuterias agrave formaccedilatildeo

de seres ldquogeneacutericosrdquo e ldquouniversalizadosrdquo (MARX 1988) de modo que a

razatildeo da existecircncia do trabalhador natildeo poderia ser restrita agraves condiccedilotildees

naturais e agraves possibilidades de produccedilatildeo material (MANACORDA

2010 SILVA 2008)

Eacute importante esclarecer aqui que Marx e Engels (2004) ao

integrarem educaccedilatildeo e trabalho43 consideravam tambeacutem uma

regulaccedilatildeo do trabalho infantil (reduccedilatildeo da jornada e proibiccedilatildeo de

41 Conforme Saviani (2003) na politecnia natildeo existe trabalho manual puro e

nem trabalho intelectual puro sendo que ldquotodo trabalho humano envolve a

concomitacircncia do exerciacutecio dos membros das matildeos e do exerciacutecio mental

intelectual Isso estaacute na proacutepria origem do entendimento da realidade humana

como constituiacuteda pelo trabalhordquo (SAVIANI 2003 p 138) 42 Para Manacorda (2010) a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxiana pois eacute

inerente ao pensamento de Marx 43 Mesmo que brevemente eacute importante destacar as reflexotildees de Marx sobre a

oposiccedilatildeo entre trabalho alienado e trabalho produtivo Gonzales (1996)

esclarece que para Marx o trabalho natildeo seria apenas uma categoria econocircmica

mas tambeacutem e fundamentalmente antropoloacutegica Seria no trabalho que haveria

identificaccedilatildeo entre homem e natureza Daiacute que o trabalho alienado seria uma

atividade que produziria algo exterior produzindo necessidades do mercado e

natildeo do sujeito Ali a produccedilatildeo estaria direcionada para a necessidade de outros

sujeitos e o seu produto natildeo pertenceria ao trabalhador Jaacute o trabalho produtivo

seria uma atividade pela qual o homem desenvolveria a si mesmo seria a

expressatildeo proacutepria do sujeito de suas faculdades fiacutesicas e mentais

69

trabalho noturno) tendo em vista a sauacutede fiacutesica e intelectual desses Ao

fazer uma criacutetica ao emprego fabril de crianccedilas e adolescentes Marx e

Engels (2004 p 60) afirmam que ldquoa sociedade natildeo pode permitir que

pais e patrotildees empreguem no trabalho crianccedilas e adolescentes a menos

que se combine este trabalho produtivo com a educaccedilatildeordquo E essa

preocupaccedilatildeo vinha da percepccedilatildeo de que haveria uma tendecircncia da

induacutestria moderna para incorporar o trabalho de crianccedilas e jovens

Em seguida definem o que entendem por educaccedilatildeo

Por educaccedilatildeo entendemos trecircs coisas Educaccedilatildeo

intelectual Educaccedilatildeo corporal tal como a que se

consegue com os exerciacutecios de ginaacutestica e

militares Educaccedilatildeo tecnoloacutegica que recolhe os

princiacutepios gerais e de caraacuteter cientiacutefico de todo o

processo de produccedilatildeo e ao mesmo tempo inicia

as crianccedilas e os adolescentes no manejo de

ferramentas elementares dos diversos ramos

industriais (MARX ENGELS 2004 p 60)

Nesses termos Marx e Engels (2004) indicam a finalidade de sua

proposta ldquoEsta combinaccedilatildeo de trabalho produtivo pago com a educaccedilatildeo

intelectual os exerciacutecios corporais e a formaccedilatildeo politeacutecnica elevaraacute a

classe operaacuteria acima dos niacuteveis das classes burguesa e aristocraacuteticardquo

(MARX ENGELS 2004 p 60) Como destaca Frigotto (1999) o

princiacutepio educativo do trabalho visaria que o trabalhador tivesse

condiccedilotildees de superar uma visatildeo reducionista e utilitarista do trabalho

dentro de um processo coletivo ldquoorganizado de busca praacutetica de

transformaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais desumanizadoras e portanto

deseducativasrdquo (p 8) E nesse processo o desenvolvimento de

consciecircncia criacutetica seria fundamental

Na leitura que Manacorda (2010) e Silva (2008) fazem de Marx e

Engels a politecnia seria uma base formadora necessaacuteria agrave superaccedilatildeo da

unilateralidade em que o trabalhador estaria mantido em funccedilatildeo da

formaccedilatildeo voltada exclusivamente para a sua capacitaccedilatildeo produtiva Essa

unilateralizaccedilatildeo44 se caracterizaria por uma concepccedilatildeo capitalista na

qual os sujeitos precisariam atualizar suas habilidades teacutecnicas e

produtivas sempre que ocorressem inovaccedilotildees nas formas de produccedilatildeo

44 Silva (2008) destaca que a unilateralizaccedilatildeo eacute o oposto da onilateralizaccedilatildeo

Esta uacuteltima como a universalizaccedilatildeo se caracteriza como o processo que

proporciona a superaccedilatildeo da alienaccedilatildeo pela formaccedilatildeo do sujeito onilateral

atraveacutes da politecnia

70

mas sem alterar as relaccedilotildees de produccedilatildeo (MARX 1988) Assim a

unilateralizaccedilatildeo seria o oposto da universalizaccedilatildeo defendida por Marx e

Engels (MANACORDA 2010)

Em relaccedilatildeo agrave operacionalizaccedilatildeo da proposta de uniatildeo entre

educaccedilatildeo e trabalho Marx ao contraacuterio de Gramsci (1982) natildeo detalha

a implantaccedilatildeo de sua proposta para uma escola pautada nos pressupostos

socialistas Entretanto Rodrigues (2008) descreve que as ideias centrais

de um ensino politeacutecnico satildeo (i) educaccedilatildeo puacuteblica gratuita obrigatoacuteria

e uacutenica para todas as crianccedilas e jovens (ii) combinaccedilatildeo de educaccedilatildeo

(intelectual corporal e tecnoloacutegica) com a produccedilatildeo material para

superar o distanciamento entre essas atividades (iii) formaccedilatildeo onilateral

(multilateral integral) da personalidade e (iv) integraccedilatildeo reciacuteproca da

escola agrave sociedade com o propoacutesito de superar o estranhamento entre as

praacuteticas educativas e as demais praacuteticas sociais

Kuenzer (2013) destaca que a educaccedilatildeo politeacutecnica se refere agrave

integraccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo A ideia seria integrar trabalho

cultura e ciecircncia proporcionar o domiacutenio intelectual da teacutecnica e

articular teoria e praacutetica parte e totalidade disciplinaridade e

transdisciplinaridade O ensino politeacutecnico visaria promover portanto

aprendizagem com significado e assegurar a participaccedilatildeo de estudantes

na sistematizaccedilatildeo dos conhecimentos (KUENZER 2013) Princiacutepios

tambeacutem encontrados nos autores45 que foram vistos ateacute agora

No que diz respeito especificamente ao Brasil essa proposta de

educaccedilatildeo jaacute esteve na pauta de discussotildees pedagoacutegicas e fora dela por

diversas vezes46 Em resumo eacute possiacutevel destacar a iniciativa do filoacutesofo

e pedagogo brasileiro Dermeval Saviani atraveacutes de um curso de

doutorado da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP)

nos anos 1980 que buscou desenvolver uma criacutetica consistente ao

especialismo ao autoritarismo e ao reprodutivismo em educaccedilatildeo assim

como ao marxismo vulgar Segundo Rodrigues (2008) Saviani entendia

45 Destaco principalmente que essas posiccedilotildees vatildeo ao encontro de Freire

(1985) pois educaccedilatildeo se refere a comunicaccedilatildeo e dialogicidade Algo que

exige alteridade Como natildeo haveria transferecircncia (de conhecimentos) a

interlocuccedilatildeo a troca e a criaccedilatildeo de sentidos seriam possiacuteveis Portanto natildeo

haveria espaccedilo para assistencialismo nessa relaccedilatildeo dialoacutegica 46 Em artigo publicado no ano de 2014 examinei a Proposta Pedagoacutegica para o

Ensino Meacutedio Politeacutecnico e Educaccedilatildeo Profissional Integrada ao Ensino Meacutedio

do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (RS) mandato 2011-2014 A ideia

foi compreender modos pelos quais a tecnologia era entendida na proposta

(CORREcircA 2014)

71

que estudar teoria da formaccedilatildeo humana consistia em apreender

concepccedilotildees de homem sociedade e educaccedilatildeo em Marx e Gramsci

Natildeo haacute aqui a intenccedilatildeo de explicitar a trajetoacuteria do ensino

politeacutecnico no Brasil (ou em outros lugares) Contudo de modo geral e

tendo em vista as diferentes perspectivas dosas autoresas47 envolvidos

no debate pedagoacutegico politeacutecnico eacute possiacutevel destacar que a proposta

brasileira de educaccedilatildeo politeacutecnica pode ser caracterizada por trecircs eixos

fundamentais dimensatildeo infraestrutural (reapropriaccedilatildeo do domiacutenio do

trabalho ndash possiacutevel desde as transformaccedilotildees tecnoloacutegicas) dimensatildeo

socialista (ruptura com a educaccedilatildeo estritamente profissionalizante) e

dimensatildeo pedagoacutegica (buscar praacuteticas pedagoacutegicas concretas)

(RODRIGUES 2008)

Sendo assim assinalo que na politecnia o ser humano seria o foco

central e natildeo o mercado de trabalho Tendo em vista que o

conhecimento da realidade histoacuterica e social em dado periacuteodo partiria

das consideraccedilotildees sobre os elementos materiais que a determinariam no

ensino politeacutecnico haveria a busca por uma formaccedilatildeo na qual o

trabalhador pudesse atuar no cenaacuterio poliacutetico e desfrutar do patrimocircnio

cultural produzido pela humanidade (RODRIGUES 2008)48

Saviani (1989 2003) destaca que o sentido de politecnia

envolvido na proposta de ensino politeacutecnico natildeo prevecirc um trabalhador

polivalente que exerce muacuteltiplas funccedilotildees antes se refere ao domiacutenio

dos fundamentos cientiacuteficos das diferentes teacutecnicas que caracterizam o

processo de trabalho produtivo moderno tendo em vista que o

trabalhador possa desenvolver diversas modalidades de trabalho com a

compreensatildeo do seu caraacuteter e da sua essecircncia

Esse autor lembra que mesmo que a politecnia signifique

literalmente muacuteltiplas teacutecnicas esse conceito natildeo se refere agrave totalidade

das diferentes teacutecnicas fragmentadas autonomamente consideradas ldquoSe

a politecnia fosse o conjunto da totalidade das teacutecnicas disponiacuteveis

haveria uma relaccedilatildeo sempre incompleta sempre sujeita a acreacutescimordquo

(SAVIANI 2003 p140) Portanto a educaccedilatildeo politeacutecnica natildeo significa

47 Eacute possiacutevel aprofundar a questatildeo ao verificar autoresas como Acaacutecia Kuenzer

Gaudecircncio Frigotto Joseacute Rodrigues e Luciacutelia Machado entre outros 48 Esses princiacutepios tambeacutem aparecem em Freire (1983) Meacuteszaacuteros (2008) e

Adorno (1995) que criticam modelos de educaccedilatildeo voltadas agrave adaptaccedilatildeo e

passividade sem integraccedilatildeo de conhecimentos

72

absolutamente o ensino de uma multiplicidade de teacutecnicas embora

contenha uma dimensatildeo tecnoloacutegica central em sua perspectiva49

Para finalizar os apontamentos sobre a politecnia destaco a

controveacutersia que existe em relaccedilatildeo agrave qual seria a sua melhor

denominaccedilatildeo As opccedilotildees aqui listadas seriam (i) educaccedilatildeo tecnoloacutegica e

(ii) educaccedilatildeo politeacutecnica Conforme Saviani (2003) em (i) encontramos

uma apropriaccedilatildeo pelo discurso burguecircs hegemocircnico enquanto que em

(ii) ldquoa concepccedilatildeo de politecnia foi preservada na tradiccedilatildeo socialista

sendo uma das maneiras de demarcar esta visatildeo educativa em relaccedilatildeo

agravequela correspondente agrave concepccedilatildeo dominanterdquo (SAVIANI 2003 p

146)

A seguir examino alguns pontos sobre a ECT e a Educaccedilatildeo CTS

de modo que a opccedilatildeo pela educaccedilatildeo politeacutecnica fique delineada

13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS

A ECT em sentidos gerais se ocupa de processos educacionais

(formais ou natildeo) no que diz respeito a temas em ciecircncia e tecnologia

(ou CampT)50 com consideraccedilatildeo dos contextos nos quais esses processos

se estabelecem Muitos estudos tecircm foco por exemplo (i) nas

implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia na educaccedilatildeo (ii) em uma

formaccedilatildeo de professoresas que contemple a contextualizaccedilatildeo do ensino

em temas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iii) nas formas de socializaccedilatildeo

(divulgaccedilatildeo) dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iv) nas

epistemologias e histoacuterias das Ciecircncias Naturais e da Matemaacutetica (v)

em processos de ensino e aprendizagem em Biologia Quiacutemica Fiacutesica e

Matemaacutetica (vi) nas relaccedilotildees entre miacutedias novas tecnologias de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo e o ensino de ciecircncias e de tecnologia (vii)

em poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica (viii) em estudos focados na anaacutelise

do funcionamento da linguagem (ix) em relaccedilotildees de gecircnero no acircmbito

das ciecircncias e da tecnologia e (x) em relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia

sociedade e ambiente (CTSA) entre outros temas

Conforme Grinspun (2009) a tecnologia envolve um saber que

pode ser adquirido pela teoria praacutetica e pesquisa daiacute a centralidade da

educaccedilatildeo tecnoloacutegica ldquoquer para preparaccedilatildeo de todo aquele que vive em

49 Voltarei ao tema politeacutecnico adiante para analisar suas possibilidades e

limites na investigaccedilatildeo sobre transformaccedilatildeo de sentidos sobre tecnologia atraveacutes

de uma perspectiva criacutetica de TS 50 Uma discussatildeo sobre as nomenclaturas em relaccedilatildeo agrave CampT satildeo feitas no

proacuteximo capiacutetulo

73

sociedades em que a tecnologia estabeleceu-se quer para a formaccedilatildeo de

pessoal habilitado que a crie desenvolva e opererdquo (GRINSPUN 2009

p 17) Mas isso natildeo significaria uma formaccedilatildeo teacutecnica-profissional

antes uma educaccedilatildeo em sentido amplo como formaccedilatildeo humana tendo

em vista responsabilidades frente aos aspectos tecnoloacutegicos da

sociedade como a que aqui defendo

Em termos de educaccedilatildeo baacutesica51 Moll (2010) destaca as relaccedilotildees

entre educaccedilatildeo e tecnologia no ensino profissional e tecnoloacutegico tendo

em vista o caraacuteter poliacutetico da educaccedilatildeo e as potencialidades para que

esse modelo de ensino seja mais uma ferramenta para transformar a

sociedade superando desigualdades sociais econocircmicas culturais e

poliacuteticas Nesse mesmo aspecto e incluindo o termo profissional agrave

educaccedilatildeo tecnoloacutegica concordo com Frigotto (2010) na defesa da

integraccedilatildeo (e natildeo apenas articulaccedilatildeo) da formaccedilatildeo profissional agrave

educaccedilatildeo baacutesica

O estabelecimento de um viacutenculo mais orgacircnico

entre a universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica e a

formaccedilatildeo teacutecnico-profissional implica resgatar a

educaccedilatildeo baacutesica (fundamental e meacutedia) na sua

concepccedilatildeo unitaacuteria e politeacutecnica ou tecnoloacutegica

Portanto trata-se de uma educaccedilatildeo natildeo dualista

que articule cultura conhecimento tecnologia e

trabalho como direito de todos e condiccedilatildeo de

cidadania e democracia efetivas (2010 p 37)

Desse modo articulo minha perspectiva sobre educaccedilatildeo

(politecnia) dentro do quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da

tecnologia na educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS

Lembro que essa uacuteltima eacute uma aacuterea dentro dos ECTS52 Ao

examinaacute-la eacute interessante destacar que de modo geral nos ECTS

quando buscamos estabelecer relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e

sociedade consideramos que ciecircncia e tecnologia satildeo contextuais pois

satildeo desenvolvidas em situaccedilotildees soacutecio-histoacutericas especiacuteficas Nessa

direccedilatildeo Linsingen (2002) aponta que tais relaccedilotildees

51 Voltarei ao tema da educaccedilatildeo baacutesica e profissional no terceiro capiacutetulo 52 Para uma visatildeo histoacuterica e mais esquemaacutetica de classificaccedilotildees dentro dos

chamados enfoques CTS verificar a seguinte referecircncia SANTOS W L P

Significados da educaccedilatildeo cientiacutefica com enfoque CTS In SANTOS W L P

AULER D CTS e educaccedilatildeo cientiacutefica desafios tendecircncias e resultados de

pesquisa Brasiacutelia Editora UnB 2011

74

() natildeo existe agrave margem do proacuteprio contexto

social em que se desenvolve e no qual os

conhecimentos e os artefatos adquirem relevacircncia

e valor Desse modo as imbricaccedilotildees entre ciecircncia

tecnologia e sociedade apresentam uma

complexidade muito maior do que as decorrentes

das relaccedilotildees imaginadas entre campos estanques

que se comunicam mas sem interpenetraccedilatildeo

apontando para uma anaacutelise mais cuidadosa e

abrangente das reciprocidades ao inveacutes da

simples aplicaccedilatildeo da claacutessica relaccedilatildeo linear entra

elas (LINSINGEN 2002 p100)

A complexidade dos ECTS como campo interdisciplinar

tambeacutem pode ser verificada na variedade de perspectivas teoacutericas que o

compotildee Neles perpassam desde estudos construtivistas (TAR e estudos

socioteacutecnicos por exemplo) influenciados pelo Programa Forte na

Sociologia do Conhecimento (BLOOR 2009) ateacute anaacutelises estruturais da

TCT (FEENBERG 1991) herdeira da Escola de Frankfurt

Sendo que Thomas Kuhn Paul Feyerabend David Bloor

Hernaacuten Thomas Ludwik Fleck Rosalba Casas Bruno Latour Mariano

Zukerfeld Pablo Kreimer Michel Callon Hebe Vessuri Karin Knorr-

Cetina Trevor Pinch Wiebe Bijker e Andrew Feenberg satildeo algumas das

referecircncias estrangeiras (de fora do Brasil) entre tantas outras comuns

em todo o campo teoacuterico de anaacutelises (COLLINS 2015 ABRAHAtildeO

2015)

Em relaccedilatildeo aos ECTS latino-americanos Linsingen (2007)

explica que suas reflexotildees abordam as especificidades que se referem agrave

ciecircncia e tecnologia na Ameacuterica Latina e de modo mais abrangente

ibero-americanas Esses estudos que desde meados dos anos 196053

vem contribuindo de modo sistemaacutetico para a ressignificaccedilatildeo da

natureza do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e de suas implicaccedilotildees

socioculturais e socioeconocircmicas podem ser considerados como ldquoum

campo de trabalho de caraacuteter criacutetico com relaccedilatildeo agrave tradicional imagem

53 Nesse contexto desenvolveu-se o chamado Pensamento Latino-americano

sobre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (PLACTS) que tinha foco na elaboraccedilatildeo

da Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia (PCT) dos paiacuteses latino-americanos em

contraposiccedilatildeo aos chamados paiacuteses avanccedilados (DAGNINO THOMAS

DAVYT 1996)

75

essencialista da ciecircncia e da tecnologiardquo (CASSIANI LINSINGEN

GIRALDI p 61 2011)

Linsingen (2007) destaca ainda que os ECTS latino-americanos

contestam percepccedilotildees sociais hegemocircnicas da ciecircncia e tecnologia muito

presentes em diferentes campos de conhecimento e com influecircncia nas

poliacuteticas puacuteblicas desses paiacuteses Nessas percepccedilotildees ldquotanto ciecircncia

quanto tecnologia e por extensatildeo todas as aacutereas teacutecnicas que lhes datildeo

sustentaccedilatildeo deveriam estar alheias a interesses opiniotildees e valoraccedilotildeesrdquo

(LINSINGEN 2007 p 03)

Em contraposiccedilatildeo a essa percepccedilatildeo os ECTS latino-americanos

consideram como jaacute apontei aspectos filosoacuteficos antropoloacutegicos

poliacuteticos e socioloacutegicos da ciecircncia e da tecnologia bem como elementos

educacionais com elas envolvidos A relaccedilatildeo desses estudos com

processos educacionais considera reflexotildees sobre condicionamentos

sociais poliacuteticos econocircmicos e ambientais nas decisotildees e nos processos

cientiacuteficos e tecnoloacutegicos compreendidos como praacuteticas sociais natildeo

neutras e dependentes de contextos histoacutericos (CASSIANI

LINSINGEN 2010)

Em termos educacionais e nessa direccedilatildeo concordo com

Linsingen (2007) quando ele destaca que a Educaccedilatildeo CTS tem

preocupaccedilatildeo com uma abordagem educacional que seja contextualizada

(como ensinar o que eacute importante para esse sujeito nessa situaccedilatildeo

especiacutefica) que problematize a noccedilatildeo de transferecircncia de

conhecimentos (como mobilizarmos para a autoria e autonomia) que

esteja em sintonia com os aspectos sociais (para quem e onde estou

falando) e comprometida em termos curriculares (o que estounatildeo estou

ensinando e por quecirc)

Dentro dessa abordagem pesquisas (destaco aqui algumas em

Educaccedilatildeo em Ciecircncias) buscam articulaccedilotildees com pressupostos da

pedagogia de Paulo Freire Os diferentes enfoques teoacutericos de autoresas

como Delizoicov (2008) Auler (2006) Auler e Delizoicov (2001)54

54 Com a intenccedilatildeo de contribuir para a construccedilatildeo de uma imagem mais realista

das atividades cientiacuteficas e tecnoloacutegicas os autores mostram uma importante

relaccedilatildeo entre CTS e a superaccedilatildeo do que eles chamam de mitos no ensino de

ciecircncias superioridade do modelo tecnocrata perspectiva salvacionista da

ciecircncia e tecnologia e determinismo tecnoloacutegico aleacutem da neutralidade da

ciecircncia e da tecnologia (ldquomito originalrdquo) grifo dos autores Auler e Delizoicov

(2001) apontam que aproximaccedilotildees com o referencial freireano podem contribuir

para a superaccedilatildeo desses mitos Tendo em vista que para Freire (1983 1987) a

educaccedilatildeo tambeacutem eacute entendida como uma leitura criacutetica do mundo os autores

destacam que ldquouma reinvenccedilatildeo da concepccedilatildeo freireana deve incluir uma

76

Nascimento e Linsingen (2006) e Cassiani Linsingen e Lunardi

(2012)55 discutem e buscam ampliar essas articulaccedilotildees Como destaca

Linsingen (2007) satildeo estimuladas possibilidades de debates que

envolvem os sentidos dos ECTS em relaccedilatildeo sobretudo agrave investigaccedilatildeo

temaacutetica freireana (temas geradores)

De maneira simplificada aponto que a perspectiva de educaccedilatildeo

dialoacutegico-problematizadora (FREIRE 1983) pode ser entendida como

um levantamento coletivo de temas relevantes para os sujeitos de modo

que o quotidiano poderia ser compreendido com vistas a sua

transformaccedilatildeo Na investigaccedilatildeo temaacutetica (FREIRE 1987) os temas

geradores estatildeo portanto relacionados com a vivecircncia dosas

educandosas e consideram os conhecimentos historicamente

produzidos

Lembremos que Freire (1987) esclarece que o que se pretende

investigar satildeo os sujeitos que se encontram envolvidos em seus temas

geradores de modo que esses uacuteltimos nos daratildeo um ldquouniverso miacutenimo

temaacuteticordquo Para o autor o conceito de tema gerador natildeo eacute uma

arbitrariedade ldquoou uma hipoacutetese de trabalho que deva ser comprovada

Se o lsquotema geradorrsquo fosse uma hipoacutetese que devesse ser comprovada a

investigaccedilatildeo primeiramente natildeo seria em torno dele mas de sua

existecircncia ou natildeordquo (FREIRE 1987 p 88)

Ao se referir agrave metodologia de investigaccedilatildeo dos temas geradores

Freire (1987) enfatiza que ldquoo tema gerador natildeo se encontra nos homens

isolados da realidade nem tampouco na realidade separada dos homens

Soacute pode ser compreendido nas relaccedilotildees homem-mundo (FREIRE 1987

p 98) Desse modo poderia ser iniciado o desenvolvimento de uma

metodologia dialeacutetica (codificaccedilatildeo e descodificaccedilatildeo) conscientizadora

atraveacutes da qual os sujeitos poderiam pensar seu mundo de modo criacutetico

Delizoicov (2008) indica que nesse sentido uma linha de accedilatildeo

seria estabelecida com o intuito de apreender e trabalhar os temas

geradores dialeticamente no transcorrer de todo o processo educativo

Considero que o destaque do autor para possibilidades dialeacuteticas da

investigaccedilatildeo temaacutetica satildeo importantes para pensarmos a complexidade

dos processos educacionais em um paiacutes do Sul tendo em vista busca por

contextos de autonomia e emancipaccedilatildeo

compreensatildeo criacutetica sobre as interaccedilotildees entre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade

dimensatildeo fundamental para essa lsquoleitura do mundorsquo contemporacircneordquo (AULER

DELIZOICOV 2001 p 09) 55 Autoresas que vivenciam essas articulaccedilotildees na praacutetica de formaccedilatildeo de

professores em Timor-Leste

77

Em conjunto com a busca por um contexto possiacutevel para que os

sujeitos possam tomar decisotildees informadas e criacuteticas em assuntos sobre

ciecircncia e tecnologia (CASSIANI LINSINGEN 2010) um dos

interesses dos ECTS e da Educaccedilatildeo CTS eacute a investigaccedilatildeo sobre

produccedilatildeo de conhecimentos e TS Portanto quando trato da Educaccedilatildeo

CTS ou na perspectiva educacional dos ECTS considero aleacutem dos

conhecimentos ldquooficiaisrdquo (i) os conhecimentos situados costumeiros

ancestrais e taacutecitos que emergem de modo bem marcado na

configuraccedilatildeo das TS e (ii) diaacutelogos entre esses conhecimentos

ecologia56 dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2007)

como mostrarei no segundo capiacutetulo

Antes disso apresento a seguir estudos latino-americanos

recentes57 que em alguma medida relacionam-se com a Educaccedilatildeo CTS

131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS

O primeiro estudo a que me refiro traz o estado da arte da

temaacutetica em Educaccedilatildeo CTS Intitulado ldquoAs abordagens teoacuterico-

metodoloacutegicas dos trabalhos apresentados no V TECSOC e no

ESOCITE4S e sua articulaccedilatildeo com o campo da Educaccedilatildeo CTSrdquo

56 Esclareccedilo que ao buscar entender o termo ldquoecologiardquo em Boaventura

considero dois aspectos O primeiro deles eacute certo cuidado com uma possiacutevel

naturalizaccedilatildeo de aspectos soacutecio-histoacutericos ao utilizar termos das Ciecircncias

Bioloacutegicas nas Ciecircncias Sociais E o segundo deles diz respeito a minha

profunda falta de expertise em Ciecircncias Naturais Nesse quadro percebo que

nas Ciecircncias Bioloacutegicas ecologia pode ser referir a pelo menos trecircs aspectos

relaccedilotildees (seres vivos e meio) interaccedilotildees (entre seres) e coexistecircncia (em

determinados ambientes) Conforme as anaacutelises propostas por Boaventura

Meneses (2014 p 93) esclarece que ldquoA ideia da ecologia denota

multiplicidades e relaccedilotildees natildeo destrutivasrdquo A autora elenca as cinco ecologias

desenvolvidas por Boaventura ecologia dos saberes (identificar outros saberes e

criteacuterios de rigor) ecologia das temporalidades (inclui vaacuterias temporalidades)

ecologia dos reconhecimentos (identificar diferenccedilas entre iguais sem

desconsiderar sua legitimidade) ecologia das transescalas (desglobalizar o local

e globalizar a diversidade) e ecologia das produtividades (recuperar e valorizar

sistemas alternativos de produccedilatildeo) assim compreendo que uma possibilidade

de leitura para o termo possa considerar um sentido de conflito e tensatildeo no qual

as contradiccedilotildees lutas e resistecircncias apareceriam e natildeo seriam silenciadas 57 Os trabalhos a que faccedilo referecircncia foram enviados ao VI Simpoacutesio Nacional

de Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (VI ESOCITE BrasilTECSOC) realizado

na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2015 e estatildeo disponiacuteveis em

httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDADE=6

78

(SILVEIRA MATOS GANHOR 2015) o artigo traz um levantamento

dos uacuteltimos encontros TECSOC e ESOCITE4S (realizados nos anos de

2013 e 2014 respectivamente) Os autores analisaram textos dos Grupos

de Trabalho (GTrsquos) de Educaccedilatildeo CTS e buscaram apreender a

perspectiva adotada os referenciais teoacutericos e as metodologias

propostas A ideia seria verificar como as visotildees estampadas nos artigos

desses GTrsquos operacionalizariam a formaccedilatildeo CTS aleacutem de seu proacuteprio

discurso ou de suas intenccedilotildees

No trabalho ldquoA participaccedilatildeo puacuteblica em Ciecircncia e Tecnologia e a

Educaccedilatildeo CTSrdquo (ldquoLa participacioacuten puacuteblica en Ciencia y Tecnologiacutea y

la Educacioacuten CTSrdquo)58 Ortega (2015) considera que a cidadania

cientiacutefica-tecnoloacutegica eacute exercida mediante mecanismos e processos de

participaccedilatildeo puacuteblica intrinsecamente relacionados com visotildees sobre

ciecircncia e tecnologia A autora destaca que existem processos de

participaccedilatildeo ex ante na Ameacuterica Latina e aponta a extensatildeo universitaacuteria

e processos de desenvolvimento de TS como exemplos de coproduccedilatildeo

de conhecimentos A partir dessas consideraccedilotildees ela busca aprofundar

articulaccedilotildees possiacuteveis entre a pedagogia criacutetica baseada no lugar e os

ECTS Tendo em vista produzir conhecimentos em Educaccedilatildeo CTS a

autora analisa um processo de formaccedilatildeo para participaccedilatildeo puacuteblica na

cidade de Campinas no estado de Satildeo Paulo

Com foco na educaccedilatildeo tecnoloacutegica o trabalho ldquoArticulaccedilotildees

entre CTS e Paulo Freire na definiccedilatildeo de objetos de educaccedilatildeo

tecnoloacutegicardquo de Niezwida (2015) analisa o contexto da educaccedilatildeo

tecnoloacutegica (o que ensinar) na Argentina A autora defende a educaccedilatildeo

tecnoloacutegica como um acircmbito potencial de intervenccedilatildeo mesmo que

indireto em questotildees de tecnocientiacuteficas59 Para isso ela propotildee que se

assumam tanto pressupostos epistemoloacutegicos e pedagoacutegicos adequados

quanto uma perspectiva distinta sobre o que eacute ser professora alunoa e

conhecimento nesse acircmbito de formaccedilatildeo

Tendo a divulgaccedilatildeo cientiacutefica como relacionada com a Educaccedilatildeo

CTS Socorro e Penido (2015) abordam espaccedilos natildeo formais de

divulgaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia no trabalho ldquoA contribuiccedilatildeo do

Instituto Kirimurecirc na divulgaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia em espaccedilos

natildeo formais da Baia de Todos os Santosrdquo Ao analisarem as

contribuiccedilotildees do Instituto as autoras realizam um levantamento e uma

anaacutelise dos meacutetodos e abordagens das praacuteticas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

58 Artigo original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 59 Na paacutegina 98 em nota de rodapeacute faccedilo algumas consideraccedilotildees sobre o uso do

termo ldquotecnocientiacuteficordquo

79

nos espaccedilos natildeo formais dos municiacutepios da Baia de Todos os Santos e as

contribuiccedilotildees na promoccedilatildeo da difusatildeo do conhecimento em ciecircncia e

tecnologia nas aacutereas das Ciecircncias da Natureza

A divulgaccedilatildeo cientiacutefica tambeacutem eacute tema do artigo de Janning

(2015) ldquoAnaacutelise dos discursos sobre ciecircncia em um livro de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica sobre formigas diaacutelogos com educaccedilatildeo CTSrdquo O autor analisa

um livro de divulgaccedilatildeo cientiacutefica sobre a vida das formigas pois no

tema haveria potencial didaacutetico para os ensinos fundamental e meacutedio

Pelo estudo de formigas seria possiacutevel desenvolver educaccedilatildeo ambiental

ao se relacionar temas como pragas agriacutecolas interaccedilotildees ecoloacutegicas e

coevoluccedilatildeo folclore e conhecimentos tradicionais Para isso o autor

utiliza os referenciais teoacuterico-metodoloacutegicos da AD de linha francesa e

contribuiccedilotildees da perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS Os resultados

mostraram que eacute possiacutevel relacionar sociedades humanas e das formigas

perceber questotildees sobre o papel do cientista do meacutetodo e do erro na

pesquisa assim como verificar como um discurso natildeo cientiacutefico se

transforma atraveacutes de efeitos de sentidos em discurso cientiacutefico no

livro analisado

O estudo intitulado ldquoEducaccedilatildeo CTS nos bacharelados

interdisciplinares em ciecircncia e tecnologia na regiatildeo nordeste do Brasilrdquo

de Lucena e Cabral (2015) traz resultados de uma pesquisa iniciada no

ano de 2010 sobre a poliacutetica do Governo Federal do Brasil de

desenvolvimento e implantaccedilatildeo de Bacharelados Interdisciplinares em

Ciecircncias e Tecnologia (BICT) O objetivo das autoras seria mapear a

presenccedila das disciplinas em humanidades nos cursos existentes na

regiatildeo Nordeste e identificar relaccedilotildees com abordagens CTS Ao

analisarem documentos oficiais projetos pedagoacutegicos e curriacuteculos entre

outros materiais elas apontam tanto para a contribuiccedilatildeo dos estudos

CTS para a formaccedilatildeo eacutetica e responsaacutevel de cientistas e engenheiros

quanto para a ampliaccedilatildeo desses estudos no espaccedilo dos BICT

Os sentidos construiacutedos sobre Educaccedilatildeo CTS por docentes em um

curso de Engenharia faz parte da anaacutelise realizada por Jacinski (2015)

No trabalho ldquoEducaccedilatildeo CTS no curso de Engenharia da Computaccedilatildeo

sentidos construiacutedos pelos docentesrdquo o autor traz resultados de uma

pesquisa qualitativa feita no curso de Engenharia de Computaccedilatildeo da

Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute (UTFPR) Nessa pesquisa

o autor articulou referenciais da Educaccedilatildeo CTS e dos ECTS com uma

perspectiva discursiva do Ciacuterculo de Bakhtin Suas conclusotildees mostram

dificuldades em abrir a caixa-preta da tecnologia para osas futurosas

engenheirosas e apontam para a permanecircncia de uma tensatildeo dialoacutegica

entre uma formaccedilatildeo que problematize os aspectos sociais da tecnologia

80

e uma organizaccedilatildeo curricular disciplinar que reitere perspectivas

deterministas e lineares da tecnologia

O trabalho ldquoA inclusatildeo do saber do catador na construccedilatildeo de

plataforma informativo-educativa em prol da reciclagem inclusivardquo de

Ventura e Andrade (2015) tem foco na gestatildeo problemaacutetica de resiacuteduos

soacutelidos em aacutereas urbanas Os autores analisam como a Plataforma

Online Interativa Passo Certo (que segundo eles eacute uma proposta

tecnoloacutegica diferenciada de aprendizagem) envolveria diretamente

catadoresas latino-americanosas em seu processo de criaccedilatildeo e

desenvolvimento Para os autores essa participaccedilatildeo teria valorizado

osas catadoresas como detentoresas de saberes imprescindiacuteveis para a

gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos

Reis (2015) parte do suposto de que assuntos controversos tais

como transgecircnicos ou ceacutelulas tronco necessitariam ser debatidos em

sociedade mas essa precisaria ter conhecimentos mais profundos (aleacutem

das informaccedilotildees veiculadas na miacutedia) e que natildeo estatildeo contemplados

pelo curriacuteculo escolar Com isso a autora apresenta o estudo ldquoA

Ciecircncia vai agrave Sociedade Projeto de Extensatildeo Universitaacuteria Oficinas

Filosoacuteficas em Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS)rdquo que objetiva

levar alunosas do ensino meacutedio da cidade de Campos dos Goytacazes

(RJ) a refletirem sobre as consequecircncias dos avanccedilos tecnoloacutegicos O

projeto desenvolvido na Universidade Estadual do Norte Fluminense

Darcy Ribeiro (UENF) resultou em dados que segundo a autora podem

levar agrave compreensatildeo das concepccedilotildees que osas alunosas possuem sobre

ciecircncia e universidade

O trabalho de Silva (2015) e colegas intitulado ldquoDiscussotildees

educacionais em CTS relato de experiecircncia em sala de aula na visatildeo

discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Tecnologia da UTFPRrdquo

compartilha experiecircncias docentes sobre praacuteticas de ensino na

perspectiva das muacuteltiplas visotildees disciplinares relacionadas agraves discussotildees

CTS Os autores fizeram um levantamento de dados e de documentaccedilotildees

de suas experiecircncias em sala de aula e consideraram a experiecircncia

discente como ponto de partida para a percepccedilatildeo dos dilemas

disciplinares na academia e da problemaacutetica CTS na universidade Com

isso integram tanto as formaccedilotildees especificas de graduaccedilatildeo quanto as

linhas e temaacuteticas de pesquisa de cada docente e discente

A educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTS eacute tema do estudo de

Gomes (2015) No artigo ldquoO potencial das controveacutersias

sociocientiacuteficas para a educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTSrdquo a

autora reflete sobre a necessidade de apresentar e discutir os problemas

ambientais no acircmbito escolar (educaccedilatildeo ambiental) de modo que

81

cidadatildesatildeos possam ter consciecircncia dos problemas e das formas de

solucionaacute-los A ideia seria resgatar aspectos da trajetoacuteria histoacuterica da

inserccedilatildeo e aperfeiccediloamento da educaccedilatildeo ambiental no acircmbito escolar

que acabou culminando na proposiccedilatildeo e desenvolvimento de pesquisas

sobre a viabilidade e importacircncia do uso de controveacutersias

sociocientiacuteficas na educaccedilatildeo escolar

O artigo de Bueno (2015) intitulado ldquoCiecircncia tecnologia e

interdisciplinaridade numa perspectiva histoacuterico-criacutetica aspectos

pedagoacutegicos na formaccedilatildeo docenterdquo traz um relato de experiecircncia em um

curso de Licenciatura interdisciplinar em Ciecircncias Naturais em uma

universidade puacuteblica A autora utiliza uma abordagem pedagoacutegica

histoacuterico-criacutetica para mostrar aspectos epistemoloacutegicos na formaccedilatildeo

docente e destaca a dimensatildeo da tecnologia presente na organizaccedilatildeo do

trabalho pedagoacutegico Eacute enfatizada a abordagem interdisciplinar

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo docente fundamentada em uma pedagogia

progressista e em perspectivas criacuteticas da ciecircncia e da tecnologia

Um olhar sobre museus existentes em paiacuteses latino-americanos

que possuam exposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees

preacute-colombianas eacute a intenccedilatildeo do estudo de Gorri (2015) no artigo

ldquoExposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees preacute-

colombianas em museus latino-americanos e o Ensino de Ciecircncias e

Tecnologiasrdquo O trabalho objetiva investigar em quais museus de paiacuteses

latino-americanos encontram-se exposiccedilotildees destinadas a temaacuteticas em

ciecircncia e tecnologia para compreender como elas podem contribuir para

problematizaccedilotildees sobre a dominacircncia e a neutralidade concedidas aos

conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos a partir da consolidaccedilatildeo do

contexto histoacuterico da modernidade-colonialidade

A colonialidade tambeacutem eacute debatida no trabalho de Diniz (2015)

ldquoDiaacutelogos e olhares sobre CTS em Timor-Leste uma experiecircncia no

curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da UNTLrdquo A autora apresenta um relato

sobre experiecircncias vivenciadas a partir da co-docecircncia na disciplina

Ciecircncia Tecnologia e Ciecircncias dos Valores Humanos ministrada para

estudantes do 6ordm periacuteodo do curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da Faculdade de

Ciecircncias Sociais da UNTL Com isso ela destaca que um dos desafios

encontrados foi a dificuldade de professoresas timorenses e

brasileirosas para interpretar e compreender as ementas das disciplinas

(muitas vezes traduzidas da liacutengua indoneacutesia) E pontua que a Educaccedilatildeo

CTS natildeo deveria ser tratada apenas nessa disciplina mas

transversalmente nas demais disciplinas da proposta curricular do curso

Diferentes sentidos produzidos sobre tecnologia no Norte e no

Sul tambeacutem satildeo tema do estudo de Trevisan (2015) No trabalho

82

ldquoCiecircncia teacutecnica e tecnologia em dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias

Sociaisrdquo o autor considera que o dicionaacuterio eacute uma tecnologia que pode

funcionar como instrumento pedagoacutegico e testemunho valioso para a

compreensatildeo de diferentes interpretaccedilotildees Seu estudo investigou a

dicionarizaccedilatildeo dos termos ciecircncia teacutecnica e tecnologia em 42

dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais publicados em doze paiacuteses

do Norte e em 19 dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais

publicados em oito paiacuteses do Sul totalizando 61 obras publicadas entre

os anos de 1905 e 2010 O objetivo seria a comparaccedilatildeo da

dicionarizaccedilatildeo ou natildeo dos termos objetos da investigaccedilatildeo e das

definiccedilotildees presentes nos termos dicionarizados para identificar se

haveria questotildees que apontem para especificidades regionais

O trabalho ldquoGeneacutetica raccedila e poliacuteticas de accedilotildees afirmativas a

partir de questotildees sociocientiacuteficasrdquo (DIAS SERRA E SEPULVEDA

ARTEAGA 2015) parte da verificaccedilatildeo de que os discursos cientiacuteficos e

praacuteticas das tecnociecircncias estiveram comprometidos com processos

sociais de dominaccedilatildeo entre povos de modo a compor complexas

relaccedilotildees de poder Os autores consideram que conhecimentos derivados

das Ciecircncias Naturais contribuiacuteram para criaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo do

conceito de raccedila ao longo da histoacuteria com objetivos expliacutecitos de

inferiorizaccedilatildeo marginalizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo eacutetnicas A partir de uma

estrateacutegia pedagoacutegica derivada da abordagem educacional CTSA

objetivam construir uma questatildeo sociocientiacutefica com base no debate

entre grupos sociais diversos a respeito dos resultados de estudos sobre a

composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo brasileira e suas implicaccedilotildees para as

poliacuteticas de accedilotildees afirmativas A ideia seria promover uma educaccedilatildeo das

relaccedilotildees eacutetnico-raciais

No artigo de Maurici (2015) ldquoHaacute controveacutersias cientiacuteficas na

Prova do ENEM Contribuiccedilotildees dos Estudos CTS agrave Educaccedilatildeordquo satildeo

analisadas as questotildees relacionadas agrave disciplina de Fiacutesica da prova

amarela do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) do ano de 2013

O autor busca identificar a presenccedila ou natildeo de temas que envolvem

controveacutersias cientiacuteficas a natureza dessas controveacutersias que conteuacutedos

satildeo favorecidos e o que elas contribuem para uma educaccedilatildeo

emancipadora Com isso pretende evidenciar a contribuiccedilatildeo dos estudos

das controveacutersias cientiacuteficas no ensino de ciecircncias de modo a ampliar a

visatildeo dosas alunosas sobre relaccedilotildees CTS

Com essa breve apresentaccedilatildeo de alguns estudos recentes em

Educaccedilatildeo CTS pretendo mostrar diversas aproximaccedilotildees com a questatildeo

Mas acima de tudo busco evidenciar o quanto pode ser simplista a

avaliaccedilatildeo generalizada de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com esses

83

estudos pois haacute um interesse na temaacutetica da Educaccedilatildeo CTS ainda que a

interaccedilatildeo com a PCT nacional ldquoande a passos lentosrdquo Uso aspas e

posiciono-me em referecircncia ao artigo de Dagnino Silva e Padovanni

(2011) que haacute algum tempo questionaram a lentidatildeo da Educaccedilatildeo

CTS

Nesse artigo os autores examinam relaccedilotildees entre a Educaccedilatildeo

CTS e a PCT Para eles as causas da lentidatildeo da Educaccedilatildeo CTS podem

ser analisadas desde uma perspectiva de um jogo poliacutetico entre os

sujeitos envolvidos Sujeitos que satildeo organizados de acordo com a

tipologia60 do coraccedilatildeo vermelho versus coraccedilatildeo cinza e mente vermelha

versus mente cinza Em resumo os autores destacam a necessidade de

engajamento dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo CTS (que teriam o

coraccedilatildeo vermelho em sua maioria) na problematizaccedilatildeo do conhecimento

em ciecircncia e tecnologia que eacute produzido (algo que quem teria a mente

cinza natildeo faria) E assim apontam as potencialidades da perspectiva da

AST

Segundo a concepccedilatildeo da adequaccedilatildeo socioteacutecnica a

tecnociecircncia existe desde que reprojetada (ou

usando um anglicismo corrente redesenhada)

poderia servir de suporte a diferentes estilos de vida

cada um refletindo diferentes propostas a respeito

do bem-viver Isso resultaria em escolhas de

projetos diferentes dado que orientadas por outros

interesses e valores (alternativos) (DAGNINO

SILVA PADOVANNI 2011 p 121)

Com isso destaco que o que os autores chamam aqui de AST eacute

basicamente a perspectiva da TCT que examinarei adiante Como

leitores de Feenberg eles apontam a necessidade de criticar o

determinismo tecnoloacutegico Portanto propotildeem que a AST seja adotada

por uma via filosoacutefica para ldquomudar o comportamento apaacutetico da

comunidade da ECTSrdquo (DAGNINO SILVA PADOVANNI 2011 p

122)

Tendo em vista a metaacutefora dos autores identifico-me com a

mente e o coraccedilatildeo vermelhos ou seja considero a Educaccedilatildeo CTS em

suas possibilidades e limites para transformar a realidade superando

desigualdades sociais econocircmicas culturais e poliacuteticas Contudo natildeo

60 O vermelho estaria relacionado com uma perspectiva de inclusatildeo social

justiccedila equidade e sustentabilidade enquanto o cinza se referiria agrave adequaccedilatildeo

ao conhecimento tecnocientiacutefico produzido

84

apoio o suposto de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo

CTS Desse modo examino possibilidades emancipatoacuterias (que visam a

autonomia dos sujeitos e a abertura agrave alteridade) em processos

educacionais contextualizados e mobilizados para diaacutelogos e trocas de

aprendizagens agrave moda da ecologia dos saberes de Santos e Meneses

(2010) e Santos (2007)

A seguir apresento quem satildeo os sujeitos (natildeo apaacuteticos natildeo

acomodados ativos e integrados na construccedilatildeo de conhecimentos e na

compreensatildeo do domiacutenio intelectual da teacutecnica - politecnia) que

considero nesta tese

14 JUVENTUDES

Ao destacar minhas perspectivas sobre educaccedilatildeo em diferentes

autoresas de modo a chegar em uma ideia sobre politecnia desenvolvi

entendimentos sobre o que penso que possa ser uma educaccedilatildeo

transformadora Refleti tambeacutem sobre essas possibilidades segundo a

ECT e a Educaccedilatildeo CTS Jaacute expus minhas concepccedilotildees sobre o sujeito do

conhecimento (ativo integrado natildeo acomodado natildeo abstrato e natildeo

homogecircneo) que aparecem aqui como as juventudes que compotildeem os

CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul Nesse momento portanto

reflito sobre para quem pensei essa educaccedilatildeo de modo concreto nesta

tese

Antes de tratar de relaccedilotildees entre juventudes e escola exploro

brevemente alguns sentidos sobre o termo ldquojuventudesrdquo Muitosas

autoresas examinam o tema e existe uma produccedilatildeo teoacuterica consistente

na aacuterea No entanto natildeo eacute meu propoacutesito recuperar todos os debates

sobre juventudes tampouco elaborar uma definiccedilatildeo para ele Ao

compreender a complexidade do tema busco demarcar o sentido geral

que eacute aqui utilizado

Diferentes aacutereas de produccedilatildeo de conhecimento procuram definir o

que seria a ldquojuventuderdquo Destaco trecircs perspectivas a saber (i) Ciecircncias

Meacutedicas na qual se estabelece o termo ldquopuberdaderdquo para nomear as

transformaccedilotildees em uma crianccedila que se torna adulto (ii) Psicologia

Psicanaacutelise e Pedagogia nas quais o termo ldquoadolescecircnciardquo marca

mudanccedilas na personalidade mente e comportamento do sujeito que se

torna adulto e (iii) Sociologia na qual o termo ldquojuventuderdquo costuma

expressar o interstiacutecio entre as funccedilotildees sociais da infacircncia e as funccedilotildees

sociais do adulto (GROPPO 2000)

85

Adoto aqui o uso que a Sociologia faz do termo que natildeo eacute

restrito a determinaccedilotildees de faixas etaacuterias61 considera fatores sociais

culturais e econocircmicos aleacutem das posiccedilotildees que os sujeitos ocupam na

sociedade em um momento de construccedilatildeo de autonomia Utilizo o termo

no plural ldquojuventudesrdquo para marcar a heterogeneidade e diversidade

que acredito estar ali representada Concordo com Souza (2003) para

quem

A juventude deve ser encarada pois como uma

categoria histoacuterica Isso implica natildeo falar

genericamente da juventude como se fosse um

bloco homogecircneo mas sim uma categoria

segmentada estudantes e natildeo estudantes

trabalhadores e natildeo trabalhadores homens e

mulheres moradores das grandes e das pequenas

cidades ou ainda zona rural A condiccedilatildeo juvenil

portanto natildeo soacute varia de sociedade para

sociedade mas no interior de uma mesma

formaccedilatildeo social ao longo do tempo de grupo para

grupo ou de classe para classe (SOUZA 2003 p

45-46)

Portanto eacute possiacutevel entender que ao falarmos sobre juventudes

estamos a tratar tanto de um momento de transiccedilatildeo (mas que natildeo se

reduz a uma mera passagem) quanto de um processo que sofre

influecircncia do contexto soacutecio-histoacuterico no qual se desenvolve e que tem

suas especificidades na constituiccedilatildeo dos sujeitos

Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do puacuteblico jovem o socioacutelogo brasileiro

Juarez Dayrell (1996) tem no contexto soacutecio-histoacuterico um fator

importante para relacionar juventudes e escola Esse autor defende a

escola como espaccedilo sociocultural inserida na cultura onde os sujeitos

teriam relevacircncia Para ele eacute importante resgatar o papel dos sujeitos na

trama social que constitui a escola enquanto instituiccedilatildeo

Embora eu natildeo siga estritamente sua perspectiva sobre a escola

os relatos da pesquisa do autor com professoresas de cursos noturnos

em escolas da rede puacuteblica de ensino da cidade de Belo Horizonte nos

anos 1990 mostram alguns caminhos para a compreensatildeo das

juventudes

61 Conforme a UNESCO (2004) uma definiccedilatildeo predominantemente etaacuteria

abrangeria o ciclo que vai dos 15 aos 29 anos

86

Dayrell (1996) aponta que as juventudes nas escolas nesse

contexto precisam ser compreendidas

como sujeitos soacutecio-culturais () implica em

superar a visatildeo homogeneizante e estereotipada da

noccedilatildeo de aluno dando-lhe um outro significado

Trata-se de compreendecirc-lo na sua diferenccedila

enquanto indiviacuteduo que possui uma historicidade

com visotildees de mundo escalas de valores

sentimentos emoccedilotildees desejos projetos com

loacutegicas de comportamentos e haacutebitos que lhe satildeo

proacuteprios (DAYRELL 1996 p05)

Verifiquei muitas descriccedilotildees do autor no meu quotidiano no

IFRS As juventudes com as quais convivi naquele ambiente tambeacutem

estatildeo presentes em alguma medida na descriccedilatildeo do autor

Eacute a convivecircncia rotineira de pessoas com

trajetoacuterias culturas interesses diferentes que

passam a dividir um mesmo territoacuterio pelo menos

por um ano Sendo assim formam-se subgrupos

por afinidades interesses comuns etcEacute a

formaccedilatildeo de panelinhas quase sempre

identificadas por algum dos estereoacutetipos correntes a

turma da bagunccedila os CDF os mauricinhos ()

Com as conversas e brincadeiras ocorrendo

preferencialmente no interior de cada um deles

cada grupo tem regras e valores proacuteprios Ao

mesmo tempo haacute vaacuterios alunos soltos que

parecem natildeo se ligar a nenhum dos grupos ou

porque natildeo se identificam ou porque de alguma

forma satildeo excluiacutedos (DAYRELL p 15 1996)

De modo que eacute interessante nesse momento retomar alguns

dados apresentados na introduccedilatildeo desta tese e que podem ajudar em uma

visualizaccedilatildeo dosas estudantes com osas quais interagi na pesquisa

Trabalhei com todosas estudantes matriculados (e com frequecircncia) nos

primeiros anos dos trecircs CTIEM oferecidos nos turnos matutino e

vespertino no Cacircmpus Caxias do Sul Satildeo eles Curso Teacutecnico em

Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTFMIEM) Curso

87

Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino Meacutedio (CTPIEM) e Curso

Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTQIEM)62

A seguir apresento dados quantitativos que tentaratildeo durante o

texto trazer aspectos qualitativos para a anaacutelise

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo63

Cursoturno Feminino Masculino Total

TFMManhatilde 02 30 32

TFMTarde 05 23 28

TPManhatilde 19 11 30

TPTarde 22 08 30

TQManhatilde 12 20 32

TQTarde 20 12 32

Total 80 104 184

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Por hora a partir da tabela 1 acima eacute possiacutevel verificar que a

distribuiccedilatildeo de estudantes por cursos e turnos eacute similar e que a

quantidade de alunos (56) eacute levemente maior que a de alunas (44)

No TFM nos dois turnos haacute predomiacutenio de alunos (53) com apenas 07

alunas Enquanto no TP tambeacutem no somatoacuterio dos dois turnos verifico

41 alunas e 19 alunos No contexto maior do Cacircmpus de Caxias do Sul

a partir de dados de 2015 verifiquei o registro de 553 de estudantes

do sexo masculino e 447 do feminino

Dentro do quadro geral de estudantes do IFRS no que diz

respeito a necessidades especiais meus sujeitos seguem o padratildeo ali

apresentado conforme graacutefico 2 abaixo com menos de 5 de

estudantes com alguma necessidade especial declarada (dados de 2015)

62 Daqui por diante CTFMIEM = TFM CTPIEM = TP e CTQIEM = TQ 63 Nos primeiros anos dos CTIEM natildeo fiz uma discussatildeo preliminar sobre sexo

identidade de gecircnero e orientaccedilatildeo sexual por isso na coleta de dados solicitei o

sexo de nascimento dosas estudantes

88

Graacutefico 2 - Necessidades especiais64 entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Com esses dois destaques que faccedilo nesse momento mais que

tentar apresentar as juventudes com as quais interagi procuro mostrar as

situaccedilotildees que eu encontrava em sala de aula e segundo as quais a

pesquisa se desenvolveu Ressalto que esses nuacutemeros natildeo pretendem

silenciar as diferenccedilas que se apresentam em sala de aula As discussotildees

do terceiro capiacutetulo (com o exame de outros dados) pretendem

justamente evidenciaacute-las

Concordo com Dayrell (2007) no ponto em que ele alerta para o

fato de que as relaccedilotildees entre juventudes e escola natildeo satildeo lineares de

causa e efeito satildeo mais complexas pois fazem parte das mudanccedilas

profundas que ocorrem na sociedade Para o autor a socializaccedilatildeo ocorre

em muacuteltiplos espaccedilos e tempos o que implica em reconhecer que a

dimensatildeo educativa natildeo se reduz agrave escola e que as propostas educativas

para jovens natildeo precisam acontecer dominadas pela loacutegica escolar

Desse modo natildeo ignoro que os sentidos sobre tecnologia que eu

busco examinar circulam (satildeo debatidos) em um espaccedilo e entre sujeitos

posicionados soacutecio-historicamente Assim passo agrave reflexatildeo de como

efetivamente na praacutetica do ensino de Sociologia no ensino meacutedio

existiriam possibilidades de transformar sentidos sobre tecnologias entre

essas juventudes Para isso apresento a seguir consideraccedilotildees sobre o

ensino de Sociologia no ensino meacutedio

64 Fiacutesicas e cognitivas

89

15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO

Minha intenccedilatildeo de verificar possibilidades de transformar

sentidos sobre tecnologia no ensino meacutedio pode ser realizada segundo

minha aacuterea de atuaccedilatildeo a Sociologia Nas reflexotildees que permeiam

minhas atividades docentes as seguintes questotildees satildeo constantes Por

que ensinar O que ensinar Como ensinar Como mobilizar para a

aprendizagem O que eu aprendi O que eleselas aprenderam O que

foi esquecido Como transformar sentidos Como avaliar essa

transformaccedilatildeo65

Junto a isso mantenho certa vigilacircncia para organizar modos

significativos de propor uma transposiccedilatildeo didaacutetica relevante aleacutem de

buscar relacionar minhas ideias com uma leitura criacutetica das Orientaccedilotildees

Curriculares para o Ensino Meacutedio-Sociologia (OCEM-Sociologia) da

proposta curricular Liccedilotildees do Rio Grande da Lei de Diretrizes e Bases

da Educaccedilatildeo Nacional (LDB) e dos Paracircmetros Curriculares Nacionais

(PCNrsquos)

Desse modo alguns princiacutepios fundamentais do ensino de

Sociologia no ensino meacutedio como os princiacutepios epistemoloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento satildeo agora considerados Moraes e

Guimaratildees (2010) fazem uma leitura das OCEM-Sociologia e destacam

que o estranhamento se relaciona com questotildees do tipo Por que eacute

assim Sempre foi assim Eacute assim em outros lugares Portanto

estranhar se refere agrave admiraccedilatildeo do desconhecido ou inesperado

por achar estranho ao perceber (algueacutem ou algo)

diferente do que se conhece ou do que seria de se

esperar que acontecesse daquela forma por

surpreender-se assombrar-se em funccedilatildeo do

desconhecimento de algo que acontecia haacute muito

tempo por sentir-se incomodado ou ter sensaccedilatildeo

de incocircmodo diante de um fato novo ou de uma

nova realidade por natildeo se conformar com alguma

coisa ou com a situaccedilatildeo em que se vive natildeo se

acomodar rejeitar (MORAES GUIMARAtildeES

2010 p 46)

65 Retornarei a essas questotildees na discussatildeo de resultados no capiacutetulo 3 onde as

questotildees acerca de ldquopara quemrdquo e ldquoonderdquo ensinar que jaacute foram apresentadas no

toacutepico sobre juventudes retornaratildeo

90

Assim compreendo que o estranhamento eacute um passo significativo

na mobilizaccedilatildeo para aprender e transformar a realidade social que se

apresenta Algo que jaacute destaquei ao tratar de Paulo Freire Vejo o

princiacutepio da desnaturalizaccedilatildeo de modo similar

A desnaturalizaccedilatildeo como o nome indica prevecirc que a

compreensatildeo de fenocircmenos sociais seja independente de explicaccedilotildees de

origem natural Ou seja os fenocircmenos sociais tecircm origem soacutecio-

histoacuterica que resultam de relaccedilotildees sociais

Haacute uma tendecircncia sempre recorrente de se

explicarem as relaccedilotildees sociais as instituiccedilotildees os

modos de vida as accedilotildees humanas coletivas ou

individuais a estrutura social a organizaccedilatildeo

poliacutetica etc com argumentos naturalizadores

Primeiro perde-se de vista a historicidade desses

fenocircmenos isto eacute que nem sempre foram assim

segundo que certas mudanccedilas ou continuidades

histoacutericas decorrem de decisotildees e essas de

interesses ou seja de razotildees objetivas e humanas

natildeo sendo fruto de tendecircncias naturais

(MORAES GUIMARAtildeES 2010 p 47)

Acredito que uma concepccedilatildeo problematizadora e dialoacutegica da

educaccedilatildeo estaacute relacionada com tais princiacutepios epistemoloacutegicos Minha

intenccedilatildeo com o ensino de Sociologia baseado em tais princiacutepios eacute a de

que atraveacutes das atitudes de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (o que

chamo de perspectiva criacutetica na qual possamos compreender que aquilo

que resulta da obra humana pode ser visto como produto da accedilatildeo de

sujeitos histoacutericos e natildeo como determinaccedilatildeo natural ou iluminaccedilatildeo

divina) osas estudantes possam

(i) transformar sentidos problemaacuteticos sobre tecnologia

(ii) considerar suas possibilidades de para aleacutem de participar de

debates tecnoloacutegicos e cientiacuteficos promover novas questotildees sobre esses

assuntos e

(iii) visualizarem possibilidades de emancipaccedilatildeo social nesse

processo de autoria

De modo que se perguntem o que ciecircncia e tecnologia tecircm a ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a

esses temas entre outras tantas reflexotildees possiacuteveis Acredito que essa

intenccedilatildeo estaacute de acordo (sem desconsiderar criacuteticas) com os documentos

oficiais supracitados que preveem a organizaccedilatildeo dos componentes

curriculares da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil

91

Eacute importante destacar que atividades com questotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas em sala de aula natildeo satildeo exatamente novidade e tornaram-se

mais frequentes nas uacuteltimas deacutecadas impulsionadas pelos ECTS A

partir da deacutecada de 1970 esses estudos se consolidaram como campos

de reflexatildeo sobre condicionamentos sociais poliacuteticos econocircmicos e

ambientais nas decisotildees e nos processos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos

(CORREcircA GEREMIAS 2015)

Alguns debates atuais no campo dos ECTS propotildeem tratar as

relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e os sujeitos de modo abrangente e

com foco didaacutetico nos estudos de caso por exemplo Os socioacutelogos

britacircnicos Harry Collins e Trevor Pinch (2010a 2010b) que jaacute

mencionei trazem contribuiccedilotildees em relaccedilatildeo agrave abertura de oportunidades

a diferentes sujeitos para se pensar sobre ciecircncias e tecnologias

Segundo esses autores o objetivo de suas anaacutelises natildeo eacute oferecer

poliacuteticas ou dizer aos leitores como devem se posicionar contra ou a

favor de tal tecnologia mas criar um espaccedilo para pensar essas questotildees

Seus estudos remetem a episoacutedios de questotildees controversas em ciecircncia e

tecnologia marcantes do passado e do presente CORREcircA GEREMIAS

2015) De acordo com esses autores ldquoreflexos autoritaacuterios acompanham

a tendecircncia a enxergar a ciecircncia e a tecnologia como misteriosas ndash

segredos de uma casta privilegiada como sacerdotes com acesso

especial a um conhecimento bem aleacutem do raciociacutenio comumrdquo

(COLLINS PINCH 2010b p08)

Embora natildeo sejam meu referencial teoacuterico penso que os

episoacutedios relatados por Collins e Pinch (2010a 2010b) podem ser

usados nas salas de aula para mobilizar estudantes a questionar a

relevacircncia da ciecircncia e da tecnologia na sua vida entre muitas outras

apropriaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer Para isso seria interessante aleacutem do

resgate histoacuterico sobre o desenvolvimento de artefatos propor

problematizaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees sociais de sua produccedilatildeo e

adoccedilatildeo

Para finalizar66 meus apontamentos sobre o ensino de Sociologia

no ensino meacutedio destaco os debates acerca de estrateacutegias de ensino Um

modelo usual eacute apresentado no quadro 1 abaixo

66 Natildeo tratarei do histoacuterico da recente obrigatoriedade do ensino de Sociologia

juntamente com Filosofia no ensino meacutedio brasileiro Leituras aprofundadas a

esse respeito podem ser encontradas em MEIRELLES M et al (Orgs) Ensino

de Sociologia Trabalho Ciecircncia e Cultura Porto Alegre EvangrafLAVIECS

2013a MEIRELLES M et al (Orgs) O ensino de Sociologia no RS

Repensando o lugar da Sociologia Porto Alegre EvangrafLAVIECS 2013b

92

Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia

Fonte (ABREU 2009)

Contudo para aleacutem dessas divisotildees estanques penso que o

contexto da sala de aula dosas estudantes (sua situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica

e suas histoacuterias de vida) dos CTIEM em questatildeo e da temaacutetica a ser

discutida deva ser considerada para uma opccedilatildeo estrateacutegica efetiva Em

geral compreendo que o ensino de Sociologia pode ser inicialmente

desenvolvido numa articulaccedilatildeo entre as perspectivas de Carvalho

(2004) (origens pensadores e atualidade) e de Tomazi (2010) (teorias

conceitos e temas)

Desse modo acredito que minha proposta de problematizar

questotildees sobre tecnologia considera oa estudante na construccedilatildeo de seus

proacuteprios conhecimentos (autonomia) Isso fica presente no objetivo de

mobilizaacute-los para aleacutem de propor a criacutetica buscar modos de transformar

visotildees que distanciam compreensotildees sobre tecnologia do seu quotidiano

(emancipaccedilatildeo) A seguir destaco aspectos importantes nessa construccedilatildeo

tendo em vista a mobilizaccedilatildeo para a autoria

93

16 AUTORIA

Outro ponto importante nesta tese eacute apresentar alguns elementos

para debater a questatildeo da autoria Conforme Hollanda (2010) uma ideia

de autoria tal qual a utilizada geralmente na atualidade tem origem

aproximadamente apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa (1789-1799) com a

ascensatildeo do individualismo e da economia de mercado Naquele

contexto as primeiras leis reguladoras da propriedade intelectual

(copyright-inglesa e droit dauteur-francesa) foram elaboradas de modo

a considerar o debate acerca das disputas entre o direito dos sujeitos e o

interesse puacuteblico (HOLLANDA 2010)

Em termos de produccedilatildeo teoacuterica Hollanda (2010) destaca que o

filoacutesofo francecircs Michel Foucault (1926-1984) eacute fundamental no debate

sobre autoria sobretudo por seu texto do ano de 1969 ldquo O que eacute um

autorrdquo (Quest un auteur) Para a autora nessa obra ldquoFoucault desloca

a ideia essencialista da existecircncia real de uma autoria para a noccedilatildeo de

funccedilatildeo do autor Ou seja a autoria eacute uma noccedilatildeo construiacuteda

historicamente e existe apenas em sua funcionalidade cultural e

comercialrdquo (HOLLANDA 2010 sp)

No que diz respeito agrave educaccedilatildeo Juacutenior (2013) trata de autoria na

produccedilatildeo de textos acadecircmicos a partir da noccedilatildeo de moldura jaacute utilizada

por estudiosos de Artes Plaacutesticas Ele entende a autoria como um

complexo de componentes moldurais ldquodemarcadores de sentido entre o

que estaacute lsquoditorsquo pela obra e pode ser lido desde lsquodentrorsquo da moldura e

aquilo que estaacute dito pela obra fora da moldurardquo (JUacuteNIOR p 233) 67

Aleacutem disso Juacutenior (2013) natildeo compreende a autoria como um atributo

individual mas como um componente social fundamental nos processos

de produccedilatildeo de conhecimentos

Sem ignorar a gecircnese e a densidade teoacuterica do tema da autoria em

diversas aacutereas de conhecimento o foco de minhas reflexotildees nesse

momento eacute investigar de que maneira e em que medida eacute possiacutevel

promover a autoria segundo uma visatildeo criacutetica de TS em ambientes

educacionais Como eu relatei na introduccedilatildeo essa questatildeo tomou

contornos mais definidos a partir de minhas interaccedilotildees com docentes e

discentes da UNTL em Timor Leste Contudo antes disso o tema da

67 Assim a autoria seria algo como um demarcador simboacutelico de espaccedilos de

circulaccedilatildeo de sentidos nas quais a dialeacutetica entre as propriedades

ldquointramolduraisrdquo e os componentes ldquoextra-molduraisrdquo se expressariam

(JUacuteNIOR 2013 p 239)

94

autoria tornou-se objeto de minhas reflexotildees devido a aproximaccedilotildees que

tive com as leituras no grupo DiCiTE

Em pesquisas realizadas por integrantes do grupo existem

discussotildees voltadas agrave perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS

(CASSIANI LINSINGEN 2010) que buscam contribuiccedilotildees da AD

francesa e de abordagens de educaccedilatildeo criacutetica como as de Paulo Freire

por exemplo Um dos elementos presentes nos estudos do grupo diz

respeito a construir processos formativos que considerem a questatildeo da

autoria e possibilitem ldquomaior inserccedilatildeo social das pessoas no sentido de

se tornarem aptas a participarem dos processos de tomadas de decisotildees

conscientes e negociadas em assuntos que envolvam ciecircncia e

tecnologiardquo (LINSINGEN 2007 p 13)

Uma ideia geral que perpassa tais pesquisas eacute a de que atraveacutes do

conceito de autoria seria possiacutevel relacionar posiccedilotildees dos sujeitos nos

processos de ensino-aprendizagem com os sentidos produzidos a partir

dessas posiccedilotildees (GIRALDI 2010 CASSIANI GIRALDI

LINSINGEN 2012) ldquoAo assumir a posiccedilatildeo de autor o sujeito situa-se

em uma determinada posiccedilatildeo social filiando-se a uma rede de sentidos

Assim para a assunccedilatildeo da autoria eacute preciso que os processos de

ensinoaprendizagem escolar permitam a abertura de um espaccedilo de

dizerrdquo (GIRALDI 2010 p 136) Nesses espaccedilos citados pela autora

penso nas possibilidades de desenvolvimento de autonomia

Compreendo que haacute uma questatildeo de autonomia dos sujeitos

envolvida nos processos formativos participativos e conscientes citados

logo acima por Linsingen (2007) A autonomia tambeacutem faz parte das

reflexotildees de Giraldi (2010) que ao debater profundamente a questatildeo da

autoria no ensino de ciecircncias destaca a necessidade dosas estudantes

colocarem-se como sujeitos de sua aprendizagem A autora aproxima-se

de Freire (1987) e de sua criacutetica agrave educaccedilatildeo bancaacuteria de modo que vecirc

na assunccedilatildeo da autoria possibilidades de autonomia

Portanto meu interesse pelo tema da autoria e minha intenccedilatildeo de

examinar relaccedilotildees entre esta e a autonomia e a emancipaccedilatildeo social na

educaccedilatildeo tecircm origem no DiCiTE A partir de entatildeo busquei construir

sentidos sobre autoria em relaccedilatildeo a TS Para isso aleacutem de minha

experiecircncia em Timor-Leste outra circunstacircncia que foi influente diz

respeito a uma situaccedilatildeo pessoal na qual eu fui comparada agrave Aracne por

defender um trabalho autoral

95

O mito de Aracne tem muitas versotildees68 mas trata basicamente

de uma disputa entre Aracne (uma mortal habilidosa nas artes de tecer e

bordar) e a deusa romana protetora dos artesatildeos Minerva69 Nos relatos

Minerva natildeo aprecia o fato da mortal natildeo lhe dar creacuteditos por suas

habilidades como pode ser observado no trecho de diaacutelogo descrito

abaixo

ldquo() - Maacutes conveacutem agradecer sempre agrave Minerva este dom

recebido

- Ora e que meacuteritos eu teria se devo exclusivamente a ela meu

talento ndash disse Aracne - Ela que cuide de seus bordados que eu cuido

dos meusrdquo (FRANCHINI SEGANFREDO 2012 p 219)

Com isso a deusa Minerva haveria proposto uma disputa com a

mortal Aracne na qual cada uma delas deveria produzir um bordado que

seria julgado pelas ninfas (divindades mortais que auxiliavam osas

deusesas) A deusa entatildeo desenhou uma cena na qual mostrava o

descontentamento dosas deusesas ldquocom mortais presunccedilosos que se

atreviam a concorrer com elesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) enquanto

Aracne escolheu ldquoassuntos destinados a provar os enganos e erros dos

deusesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) No final da disputa o

descontentamento da deusa com a beleza do trabalho da mortal resultou

em um castigo com a transformaccedilatildeo dessa em uma aranha Contudo

Aracne mesmo metamorfoseada passou a produzir trabalhos ainda mais

belos

A criacutetica que recebi levou-me a refletir sobre como buscar

possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com a

questatildeo da autoria em ambientes educacionais de modo que estudantes

tendo em vista o mito de Aracne possam (i) desenvolver (mais) atitudes

criacuteticas (estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo) em relaccedilatildeo a conhecimentos

previamente construiacutedos (ii) pensar (mais) criticamente sobre a

importacircncia de seu posicionamento como produtores (autores) de

conhecimentos (elaborar problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicas) e (iii)

compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo humana (feita por sujeitos em

condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas determinadas) e natildeo algo ldquomaacutegicordquo e fora de

suas possibilidades de entendimento

68 No entanto em todas as versotildees da histoacuteria que examinei Aracne sempre eacute

transformada em aranha pela deusa Minerva no final do relato e permanece a

ideia de que Aracne defendia seu trabalho como autoral a despeito de ter sido

ou natildeo disciacutepula da deusa 69 Na mitologia grega Minerva eacute chamada de Atena

96

Essa reflexatildeo sobre o mito de Aracne poderia ajudar a

desmistificar as ideias de genialidade e exterioridade muitas vezes

envolvidas na produccedilatildeo de tecnologias Aleacutem disso destaco que natildeo eacute o

caso aqui de propor autoria como sinocircnimo de individualidade

privatizaccedilatildeo centralizaccedilatildeo ou mesmo de propriedade Penso que a

relaccedilatildeo com a defesa que Aracne faz da sua arte possa se referir ao

pensamento criacutetico e a autonomia sem prescindir de concepccedilotildees sobre

trabalhos em formatos colaborativos de trocas produtivas e de criaccedilatildeo

compartilhada

Acredito que desse modo a ideia de autoria tambeacutem pode estar

relacionada em alguma medida com outro movimento que me inspira70

em relaccedilatildeo agrave temaacutetica autoral qual seja o debate envolvido nos

princiacutepios baacutesicos do Software Livre (SL)71 Para compreendermos o

baacutesico desse debate eacute importante lembrarmos algumas ideias gerais

sobre computaccedilatildeo como as que apresento modestamente a seguir

Os computadores (incluiacutedos aqui notebooks tablets e etc)

precisam de programas para seu funcionamento sendo que o chamado

sistema operacional eacute o programa responsaacutevel pelo funcionamento do

computador que faz a comunicaccedilatildeo entre hardware (mouse teclado

etc) e software (aplicativos) Existem programas que possuem o coacutedigo-

fonte (conjunto de comandos em alguma das linguagens de programaccedilatildeo

existentes) aberto desenvolvido por programadoresas voluntaacuteriosas

espalhadosas na internet e distribuiacutedo sob Licenccedila Puacuteblica Geral LPG

(conhecida em inglecircs como copyleft em contraposiccedilatildeo ao copyright) O

Linux eacute um exemplo de nuacutecleo de um sistema operacional desse tipo e

faz parte dos chamados SL (SILVEIRA 2009)

Jaacute o Windows da empresa Microsoft eacute um exemplo de software

proprietaacuterio que natildeo possui coacutedigo-fonte disponiacutevel e vende uma

licenccedila para que oa usuaacuterioa possa utilizaacute-lo Conforme Silveira

(2004) o software proprietaacuterio estaacute orientado ao benefiacutecio de fabricantes

(geralmente meacutedias ou grandes empresas) e o SL se orienta

principalmente para o benefiacutecio de seussuas usuaacuteriosas Sendo que a

grande consequecircncia sociocultural e econocircmica do SL seria sua aposta

no compartilhamento de informaccedilotildees e conhecimentos

70 Verifico que tal inspiraccedilatildeo tambeacutem aparece em estudos como o de Silveira

(2009) que reflete sobre tecnologia e processos de emancipaccedilatildeo inclusive com

base nas perspectivas teoacutericas de Boaventura de Sousa Santos no que diz

respeito agrave globalizaccedilatildeo contra hegemocircnica 71 Nesta tese natildeo exploro o histoacuterico os pressupostos poliacuteticos e a eacutetica do SL

Para maiores informaccedilotildees verificar a referecircncia feita a Silveira (2004)

97

Silveira (2004) destaca que a movimentaccedilatildeo em torno do

desenvolvimento de SL comeccedilou nos anos 1980 e ganhou forccedila atraveacutes

da internet O autor classifica ldquodefensores e opositoresrdquo do SL Osas

primeirosas seriam aleacutem de interessadosas em programaccedilatildeo e sistemas

computacionais ldquoos acadecircmicos os cientistas os mais diferentes

combatentes pela causa da liberdade e mais recentemente as forccedilas

poliacutetico-culturais que apoiam a distribuiccedilatildeo mais equitativa dos

benefiacutecios da era da informaccedilatildeordquo (SILVEIRA 2004 sp) Para o autor

osas opositoresas seriam grandes empresas capitalistas usuaacuterias de um

modelo econocircmico baseado na exploraccedilatildeo de licenccedilas de uso de

software e do controle monopoliacutestico de coacutedigos essenciais dos

programas de computadores72

Richard Stallman presidente da Fundaccedilatildeo do Software Livre

(Free Software Foundation) esclarece que em contraposiccedilatildeo ao

software proprietaacuterio (defendido pelosas opositoresas do SL) o SL diz

respeito agrave liberdade dosas usuaacuteriosas para (i) executar (ii) copiar (iii)

distribuir e (iv) estudar e melhorar o software (modificaccedilatildeo)

(STALLMAN 2008)73 Essas quatro liberdades citadas se relacionam

com os princiacutepios do SL para ser socialmente justo economicamente

viaacutevel e tecnologicamente sustentaacutevel (SILVEIRA 2004) Aleacutem disso

Silveira (2004) esclarece que os projetos de SL envolvem tanto a

colaboraccedilatildeo entre sujeitos interessados quanto a descentralizaccedilatildeo do

poder de modo a preservar as quatro liberdades envolvidas com SL

Em sentido similar Raymond (1998) faz uma comparaccedilatildeo entre

dois modos diferentes de organizar o desenvolvimento de software

quais sejam cathedral (catedral) e Bazaar (bazar) O primeiro deles

identificado com o software proprietaacuterio corresponderia a maior parte

do mundo comercial e funcionaria de modo hierarquizado e

conservador Jaacute o modelo bazar baseado no mundo do Linux e

identificado com o SL natildeo possuiria uma organizaccedilatildeo formal e

apresentaria tendecircncias voluntaacuterias Por estar em constante

aprimoramento dosas usuaacuteriosas a capacidade de inovaccedilatildeo desse

uacuteltimo seria mais alta que a do modelo catedral do software proprietaacuterio

(RAYMOND 1998)

72 Contudo essa afirmaccedilatildeo natildeo estaacute fora de controveacutersias em torno do fato de

que atualmente grandes empresas capitalistas faccedilam uso de SL 73 Free software is a matter of the users freedom to run copy distribute study

change and improve the software (STALLMAN 2008) Traduccedilatildeo livre da

autora

98

Tendo em vista um sentido dinacircmico de criaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo

social penso nas possibilidades de relacionar essas caracteriacutesticas do SL

com uma perspectiva criacutetica de TS tal como examinarei no capiacutetulo 2 (a

partir da paacutegina 115) Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE e

primeira aproximaccedilatildeo com o tema da autoria procurei relacionar essa

temaacutetica com uma leitura sobre o mito de Aracne e com princiacutepios que

entendo que sejam compartilhados com desenvolvedoresas de SL

Contudo minhas vivecircncias em Timor-Leste levaram-me a refletir

sobre outros aspectos que poderiam ajudar a compor uma ideia de

autoria voltada a TS tendo em vista as perspectivas de criaccedilatildeo

colaborativa que apresentei na minha leitura sobre o mito de Aracne e

no desenvolvimento de SL Essas reflexotildees tomaram forma na

oportunidade que tive de participar de uma mesa-redonda sobre TS e

produccedilatildeo de conhecimentos na UNTL na qual debatemos sobre

perspectivas educacionais em TS como referi na introduccedilatildeo desta tese

Com alguma familiaridade com debates promovidos na aacuterea das

Ciecircncias Sociais sobre ldquoo que eacute ser brasileiroardquo minha preparaccedilatildeo para

a mesa-redonda envolveu alguns questionamentos acerca da construccedilatildeo

de identidades dosdas timorenses Minha preocupaccedilatildeo era compreender

para (com) quem eu falaria e como o tema sobre TS poderia ter

relevacircncia naquele contexto

De minhas observaccedilotildees e discussotildees com docentes e discentes da

UNTL compreendi que o fato de o paiacutes haver passado por um processo

de colonizaccedilatildeo por parte de Portugal que se seguiu a uma ocupaccedilatildeo

violenta por parte da Indoneacutesia74 estava relacionado agrave adoccedilatildeo do lema

oficial ldquopaz e desenvolvimentordquo e agrave vontade manifesta de reconstruccedilatildeo

do paiacutes Natildeo uma reconstruccedilatildeo imposta de fora mas um processo do

povo timorense com o povo timorense e para o povo timorense

Ao perceber essa demanda expressa sobretudo pelas juventudes

timorenses (estudantes da UNTL) busquei articular TS e educaccedilatildeo com

a questatildeo da autoria dentro daquilo que eacute conhecido como a eacutetica do

movimento DIY (sigla em inglecircs para Do It Yourself em portuguecircs

ldquofaccedila vocecirc mesmordquo) Conforme Carvalho (2015) o movimento DIY faz

criacutetica ao consumismo e busca a promoccedilatildeo de uma postura poliacutetica

74 Para uma inserccedilatildeo maior na compreensatildeo da histoacuteria timorense e sua relaccedilatildeo

com produccedilatildeo de conhecimentos verificar a tese de doutorado da seguinte

referecircncia PEREIRA P B (2014) O Programa de Qualificaccedilatildeo de Docentes

e Ensino de Liacutengua Portuguesa no Timor-Leste (PQLP) Um olhar para o

Ensino de Ciecircncias Naturais Tese de Doutorado Educaccedilatildeo Cientiacutefica e

Tecnoloacutegica UFSC Florianoacutepolis 2014

99

associada agrave produccedilatildeo proacutepria de bens de consumo de modo caseiro e

com baixo impacto ambiental negativo

O movimento teve forccedila em sua difusatildeo juntamente com a

cultura da muacutesica punk75 nos anos 1970 com quem compartilhava a

negaccedilatildeo do consumismo e a iniciativa de criaccedilatildeo proacutepria O DIY

incentiva a produccedilatildeo local (costura artesanato alimentos orgacircnicos de

agricultura familiar ou caseira) o consumo consciente (identificar

origem e custo ambiental) as produccedilotildees artiacutesticas colaborativas

(produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de muacutesica literatura e viacutedeo em rede) e a

autossuficiecircncia e independecircncia dos sujeitos (CARVALHO 2015)

Em relaccedilatildeo agrave autoria minha contextualizaccedilatildeo do DIY para

debates sobre desenvolvimento de TS com as juventudes timorenses

envolveu problematizar as possibilidades de articulaccedilatildeo entre os

conhecimentos locais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual via TS mas aleacutem

disso destacar o potencial criativo existente em cada um de noacutes A

intenccedilatildeo foi estabelecer um debate sobre as possibilidades que temos

para desenvolver projetos de um novo jeito do nosso jeito voltados ao

nosso contexto nas condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas atuais

A ideia ali foi mostrar que as TS tambeacutem poderiam ser vistas

dessa maneira como o jeito proacuteprio de cada sujeito em seu coletivo

pensar em seus problemas ou antes fazer a criacutetica de sua condiccedilatildeo

desnaturalizaacute-la e problematizaacute-la [com o cuidado de natildeo compreender

TS segundo perspectivas problemaacuteticas envolvidas com as Tecnologias

Apropriadas (TA)] De modo a resgatar seus conhecimentos e

75 Resumidamente punk eacute um estilo musical originaacuterio dos anos 1970 derivado

do rock tanto da Inglaterra quanto dos Estados Unidos Eacute um tipo de muacutesica

caracterizada por ter poucos acordes ser simples e raacutepida Na origem tinha

letras que expressavam a realidade de jovens pobres desempregados e sem

futuro Criticavam o governo a educaccedilatildeo os poliacuteticos a monarquia os

impostos a pobreza o desemprego e a falta de perspectiva (SHAND

KEMPIM 2002 BIVAR 1983) Um dos principais diferenciais do punk em

relaccedilatildeo ao rock progressivo que dominava a eacutepoca era que o fatilde conseguia tocar

como o seu iacutedolo porque o som era faacutecil de ser executado (BIVAR 1983) De

certa maneira o distanciamento entre fatilde e iacutedolo ou entre ouvinte e banda

diminuiacutea Desse modo o punk estava envolvido com a ideia de que ldquose vocecirc

natildeo gosta do que existe faccedila vocecirc mesmordquo (SAVAGE 2005 sp) Nesse

espiacuterito do DIY os punks comeccedilaram a criar suas proacuteprias artes plaacutesticas

roupas aacutelbuns e publicaccedilotildees editoriais (SAVAGE 2005) Sendo que a

socializaccedilatildeo independente dessas produccedilotildees eacute algo fundamental para as bandas

punk Exemplos de bandasartistas punk da primeira geraccedilatildeo Sex Pistols

Ramones The Clash Television e Patti Smith (artista solo)

100

potencialidades como sujeitos que possam ter acesso conhecimento e

possibilidade de escolha criacutetica em questotildees relacionadas ao

desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo educaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

tecnologias

Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE com o

conhecimento do tema sobre autoria passei a buscar relaccedilotildees entre essa

temaacutetica e TS Algo que me levou a uma leitura sobre o mito de Aracne

uma reflexatildeo sobre processos colaborativos envolvidos com o

desenvolvimento de SL e chegou ateacute o movimento DIY e suas

possibilidades criativas e autossuficientes Desse modo penso em

autoria ou produccedilatildeo autoral de TS tendo em vista tanto a apropriaccedilatildeo

(sujeitos envolvidos em seus problemas socioteacutecnicos) quanto a criaccedilatildeo

(sujeitos (re)constroem sentidos sobre seus sentimentos) para uma

mobilizaccedilatildeo reflexiva e criacutetica para a accedilatildeo e a transformaccedilatildeo Destaco

que natildeo eacute o caso de pensar na autoria como um estaacutegio final a ser

alcanccedilado como o resultado de um conjunto de accedilotildees Antes interessam

todos os processos de produccedilatildeo de novos sentidos Processos que natildeo

satildeo individuais porque se relacionam com o interdiscurso76

A partir dessas influecircncias nesta tese busco relacionar a

construccedilatildeo de autoria com possibilidades de desenvolvimento de

autonomia em contextos educacionais na medida em que sujeitos na

posiccedilatildeo de autoresas natildeo satildeo apenas usuaacuteriosas Uma usuaacuterioa de TS

por exemplo comumente estaria inseridoa em uma poliacutetica puacuteblica para

resoluccedilatildeo de problemas socioteacutecnicos que foi pensada de modo vertical

(desde o Estado ateacute o sujeito) que reproduziria soluccedilotildees utilizadas em

diferentes contextos e natildeo participaria necessariamente de alguma

etapa dos processos de identificaccedilatildeo e resoluccedilatildeo dos seus problemas

Jaacute o sujeito que faz parte de processos educacionais em um

contexto de construccedilatildeo de autoria sujeito autor tornaria puacuteblico que

seus problemas socioteacutecnicos satildeo importantes e que eacute relevante a busca

coletiva de soluccedilotildees Ou seja produzir e reconhecer sentidos de modo

contextualizado estaria relacionado ao desenvolvimento de TS

sobretudo na questatildeo da autonomia e da relaccedilatildeo problemanatildeo problema

e soluccedilatildeo (THOMAS 2009) na medida em que os sujeitos poderiam

tanto considerar e apresentar publicamente seus problemas socioteacutecnicos

76 Na AD o interdiscurso (o jaacute-dito) pode ser entendido como formulaccedilotildees

feitas e jaacute esquecidas que se relacionam com os dizeres dos sujeitos Assim

podemos compreender sentidos e formulaccedilotildees do que jaacute foi dito de modo

contextualizado soacutecio-historicamente

101

como relevantes como teriam possibilidades de tornarem-se autoresas

na resoluccedilatildeo destes

Em minhas reflexotildees sobre perspectivas educacionais em TS

considero que autoria e autonomia satildeo noccedilotildees que podem ser

examinadas de modo profiacutecuo quando em relaccedilatildeo como jaacute destaquei

sobretudo segundo a proposta educacional freireana articulada aos

ECTS algo tambeacutem analisado em autoresas como Nascimento e

Linsingen (2006)

Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados

com a vivecircncia dos sujeitos e que consideram os conhecimentos

historicamente produzidos Nascimento e Linsingen (2006) partiram de

tais pressupostos e os relacionaram agrave Educaccedilatildeo CTS ao analisarem o

ensino de ciecircncias Acredito que uma construccedilatildeo similar em relaccedilatildeo a

TS tambeacutem possa ser realizada

Para isso eacute possiacutevel partir da interpretaccedilatildeo criacutetica que Freire

(1992) apresenta sobre a tecnologia qual seja ldquonunca talvez a frase

quase feita ndash exercer o controle sobre a tecnologia e pocirc-la a serviccedilo dos

seres humanos ndash teve tanta urgecircncia de virar fato quanto hoje em defesa

da liberdade mesma sem a qual o sonho da democracia se esvairdquo

(FREIRE 1992 p133) Contudo vejo as potencialidades relacionadas a

TS com cautela para natildeo as pensar de modo determinista como

comumente se faz com as TA e as Tecnologias Convencionais (TC)77

Acreditar que por si soacute as TS teriam uma natureza

emancipatoacuteria que linearmente colaborariam nos processos de

autonomia dos sujeitos pode caracterizar o mesmo problema do

determinismo tecnoloacutegico que critico (CORREcircA 2010) Sem ignorar os

desafios inerentes a qualquer processo educativo aposto no potencial

pedagoacutegico emancipatoacuterio das TS e considero que um passo inicial

nesse processo seja a criacutetica agrave noccedilatildeo estrita de usuaacuterioa A partir dessa

criacutetica buscamos modificar uma possiacutevel posiccedilatildeo reativa (usuaacuterioa) em

accedilotildees de caraacuteter ativo colaborativo e criativo (buscar soluccedilotildees para

dificuldades e carecircncias socioteacutecnicas de suas coletividades) atraveacutes de

accedilotildees de efeito transformador

Contudo natildeo eacute o caso de considerar aqui que os sujeitos natildeo

tenham disposiccedilatildeo para enfrentar seus problemas socioteacutecnicos ou de

propor a mobilizaccedilatildeo para autoria como um processo de ldquoautoajudardquo

que desconsideraria estruturas opressivas que conferem uma situaccedilatildeo de

vulnerabilidade aos sujeitos A intenccedilatildeo eacute buscar interaccedilatildeo com as

juventudes atraveacutes de processos educacionais que destaquem tais

77 As TA e TC seratildeo examinadas no segundo capiacutetulo desta tese

102

situaccedilotildees opressoras e mobilizem para reflexotildees sobre possibilidades

emancipatoacuterias criativas e colaborativas Algo que jaacute referi ao tratar do

pensamento freireano em relaccedilatildeo agrave superaccedilatildeo de visotildees ingecircnuas para se

chegar na criticidade atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia

Para finalizar este primeiro capiacutetulo apresento no proacuteximo toacutepico

algumas questotildees sobre as possibilidades de uma educaccedilatildeo voltada para

a autoria uma outra educaccedilatildeo possiacutevel Portanto retomo a temaacutetica da

emancipaccedilatildeo social que foi vista em Adorno (1995) considero

posicionamentos de autoresas com interesse em temas sobre gecircnero

raccedilaetnia religiatildeo e classe social e busco diaacutelogos possiacuteveis com a

proposta de Santos (2009) para reinventar a emancipaccedilatildeo social

17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL

Neste capiacutetulo inicial esbocei o pensamento de autoresas e

orientaccedilotildees teoacutericas que tecircm relaccedilatildeo com o que penso sobre educaccedilatildeo na

perspectiva que delineei ateacute agora (politecnia) Qual seja dialoacutegica

transformadora criacutetica com formaccedilatildeo integral (atenda agraves dimensotildees do

desenvolvimento humano) com consciecircncia poliacutetica e contextualizada

Minha intenccedilatildeo natildeo foi examinar todos os autoresas que tratam de

relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia Assim como no tempo e espaccedilo

desta tese natildeo seria possiacutevel aprofundar a riqueza teoacuterica de cada

autora

Fiz escolhas e aproximaccedilotildees que acredito mostrarem aspectos

importantes mesmo que pontuais dessas relaccedilotildees tendo em vista o

contexto de minha anaacutelise Mais que isso osas autoresas que escolhi

discutir aqui fazem parte das minhas histoacuterias de leitura na vida

acadecircmica e acredito que em alguma medida tecircm contribuiccedilotildees ao

problema de pesquisa que apresentei

Portanto minha referecircncia a Freire Adorno Gramsci e Marx diz

respeito a minhas histoacuterias de leituras mais antigas A escolha desse

referencial natildeo significa a reproduccedilatildeo ingecircnua de algo como uma

epistemologia masculina (SANTOS 2014) Autorases que tratam de

questotildees relativas ao feminino e ao feminismo tambeacutem fazem parte de

minhas leituras mais recentes e certamente influenciam meu olhar sobre

as relaccedilotildees que busco investigar entre educaccedilatildeo e tecnologias no Brasil

atual Entre essas autoras cito Heleieth Saffioti Moema Viezzer Mariacutea

Luisa Femeniacuteas Donna Haraway e Sandra Harding Embora essas

autoras possam adotar diferentes perspectivas tecircm uma mirada sobre

gecircnero raccedilaetnia religiatildeo classe social e tecnologia que interessam

em minhas anaacutelises

103

Uma das pioneiras no Brasil em analisar questotildees sobre a

situaccedilatildeo da mulher na sociedade capitalista foi Heleieth Saffioti A

autora busca interpretar e superar problemas da posiccedilatildeo feminina no

modo de produccedilatildeo capitalista e examina a condiccedilatildeo da mulher na

perspectiva socialista (SAFFIOTI 2011) Ainda no Brasil Moema

Viezzer eacute escritora e socioacuteloga dedicada agrave educaccedilatildeo popular de mulheres

atraveacutes da Rede Mulher de Educaccedilatildeo que fundou nos anos 1980 Seus

estudos relacionam gecircnero e meio ambiente Eacute uma das organizadoras

do II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres (VIEZZER

MOREIRA GRONDIN 2009)

Mariacutea Luisa Femeniacuteas eacute uma filoacutesofa argentina cujos trabalhos

dialogam com diferentes campos disciplinares na tentativa de evidenciar

os modos pelos quais mulheres e o que ela chama de ldquosubalternos latino-

americanos em geralrdquo satildeo caracterizados nos discursos centrais

(FEMENIacuteAS 2007) que eu aqui chamo de Norte Como bem destaca

Santos (2014) a autora procura mostrar como cultura classe social

raccedilaetnia e religiatildeo estatildeo entrecruzados e relacionados com questotildees de

gecircnero na Ibero-Ameacuterica

Uma pesquisadora reconhecida segundo a perspectiva criacutetica

feminista da ciecircncia e tecnologia eacute Donna Haraway Com a ideia de

ciborgue criatura de um mundo poacutes-gecircnero ela trata de hibridaccedilatildeo de

quimeras de binocircmios modernos do tipo animal e maacutequina natural e

fabricado branco e negro macho e fecircmea entre outros exemplos

(HARAWAY 2013) Aleacutem disso tambeacutem interessam os

posicionamentos da autora em relaccedilatildeo ao pensamento de fronteira e seu

poder para a emancipaccedilatildeo e a resistecircncia (HARAWAY 1991)

A filoacutesofa norte-americana Sandra Harding complementa estudos

sobre gecircnero com a identificaccedilatildeo de trecircs tipos de investigaccedilatildeo feminista

A autora destaca o empirismo feminista as teorias poacutes-modernas e as

teorias perspectivistas ou do ponto de vista (Standpoint Epistemologies)

Filiada a essa uacuteltima Harding (1992 2004) considera que as

experiecircncias satildeo localizadas e portanto o conhecimento cientiacutefico deve

partir de localizaccedilotildees sociais objetivas A teoria do ponto de vista

considera tanto que os objetos devam ser compreendidos poliacutetica e

criticamente a partir do ponto de vista em que foram produzidos quanto

deva haver uma ampliaccedilatildeo de anaacutelises para permitir a presenccedila de outros

sujeitos tradicionalmente excluiacutedos

Para aleacutem dessas referecircncias (tanto explicitadas na abordagem

teoacuterica quanto as que acompanham ldquosilenciosamenterdquo as anaacutelises)

procuro estabelecer um diaacutelogo com algumas perspectivas de

Boaventura de Sousa Santos pois seus estudos tecircm (i) relevacircncia no

104

quadro socioloacutegico atual (ii) o Brasil (e o Sul) como campo de

pesquisas (iii) preocupaccedilatildeo com a questatildeo da emancipaccedilatildeo social (iv)

consideraccedilatildeo com a educaccedilatildeo78 e (v) posicionamento criacutetico agrave

globalizaccedilatildeo do capital (ponto que o aproxima do referencial que

utilizo) Portanto vejo que o exame mesmo que breve de seus

posicionamentos em relaccedilatildeo a Epistemologias do Sul (SANTOS

MENESES 2010) e Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias

(SANTOS 2002 2007) pode colaborar de modo profiacutecuo com as

minhas questotildees de investigaccedilatildeo79

Meneses (2014) esclarece que os processos que conferem

inteligibilidade e intencionalidade agraves experiecircncias sociais satildeo muacuteltiplos

e variados sendo que todas essas experiecircncias sociais produzem e

reproduzem conhecimento Tais accedilotildees pressupotildeem a presenccedila de vaacuterias

epistemologias Portanto o termo ldquoepistemologias do Sulrdquo considera

uma pluralidade epistemoloacutegica um ldquoreconhecimento de conhecimentos

plurais em presenccedilardquo (p 92) Em Epistemologias do Sul (SANTOS

MENESES 2010) os autores buscam possibilidades de descentralizar a

produccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico do Norte para o Sul

78 O que fica evidente em sua fala sobre ldquoA relaccedilatildeo entre universidade e

educaccedilatildeo popular atual momento histoacutericordquo como convidado do Foacuterum Social

Temaacutetico que marcou os 15 anos dos Foacuteruns Sociais Mundiais em janeiro do

ano de 2016 em Porto Alegre Disponiacutevel em

lthttpwwwforumeducacaopopularorggt 79 Sinto-me agrave vontade para estabelecer esse diaacutelogo pois como explica Trivintildeos

(1987) ldquoestamos conscientes que o investigador pode usar em seus trabalhos

conceitos que tenham as suas raiacutezes em ideologias diferentes inclusive opostas

() As aquisiccedilotildees do ser humano pertencem agrave humanidade O homem pode

recorrer a elas natildeo importando seu lugar no cosmos rdquo (p 13) Portanto para

aleacutem de pensar sobre ecologia dos saberes na educaccedilatildeo baacutesica via TS posso

realizar uma investigaccedilatildeo na qual use tais princiacutepios na praacutetica Ou seja busco

dentro de uma visatildeo criacutetica (e sensiacutevel a questotildees de gecircnero classe religiatildeo e

raccedilaetnia) possiacuteveis pontos de conexatildeo entre o Pensamento Pedagoacutegico

Socialista o Pensamento Pedagoacutegico Brasileiro Progressista a Teoria Criacutetica

(da Tecnologia) e as Epistemologias do Sul pois eles tecircm em comum a busca

por transformaccedilatildeo social e natildeo apenas uma reforma Natildeo ignoro diferenccedilas

epistemoloacutegicas importantes que possam haver entre essas perspectivas

Contudo entendo que a realidade social eacute complexa o suficiente (e que os

problemas nas aacutereas educacionais satildeo dilemaacuteticos) para que eu verifique que a

observaccedilatildeo a partir de um uacutenico acircngulo pode silenciar ou invisibilizar possiacuteveis

soluccedilotildees Natildeo eacute o caso como jaacute destaquei de resumir inadvertidamente a

complexidade dos autoresas que trago aqui mas mostrar a educadoras e

educadores leitorases desta tese alguns caminhos possiacuteveis

105

Jaacute no iniacutecio do texto Meneses (SANTOS MENESES 2010) ao

citar Santos esclarece os trecircs posicionamentos fundamentais para

compreendermos as ideias dos autores ou seja o Sul existe podemos ir

ateacute laacute e podemos aprender desde laacute e com os de laacute Para isso seria

necessaacuterio problematizarmos a influecircncia monopolizadora do

pensamento europeu tendo em vista as relaccedilotildees entre dominaccedilatildeo

colonial dominaccedilatildeo cientiacutefica e possibilidades de resistecircncias A ideia

central eacute a de que a democratizaccedilatildeo das sociedades passa

necessariamente pela democratizaccedilatildeo do conhecimento

A Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002

2007) se relaciona com a pesquisa realizada pelo autor e que citei

anteriormente ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social Para Novos

Manifestosrdquo que investigou possibilidades de uma globalizaccedilatildeo

alternativa agrave neoliberal e ao capitalismo global em diferentes paiacuteses

(Aacutefrica do Sul Brasil Colocircmbia Iacutendia Moccedilambique e Portugal) Nesse

intento tiveram voz movimentos sociais e Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais (ONGs)

Em termos teoacutericos o autor explica que

enquanto a sociologia das ausecircncias amplia o

campo das experiecircncias sociais jaacute disponiacuteveis a

sociologia das emergecircncias expande o campo de

experiecircncias sociais possiacuteveis As duas

sociologias estatildeo estreitamente associadas visto

que quanto mais experiecircncias estiverem

disponiacuteveis hoje no mundo mais experiecircncias

seratildeo possiacuteveis no futuro Quanto mais ampla for

a realidade criacutevel mais vasto seraacute o campo de

sinais ou pistas em que acreditar e de futuros

possiacuteveis e concretos Quanto maior for a

multiplicidade e a diversidade das experiecircncias

disponiacuteveis e possiacuteveis (conhecimentos e agentes)

maior seraacute a expansatildeo do presente e a contraccedilatildeo

do futuro (SANTOS 2006 p 88)80

80 Mientras que la sociologiacutea de las ausencias expande el campo de las

experiencias sociales ya disponibles la sociologiacutea de las emergencias expande

el campo de las experiencias sociales posibles Las dos sociologiacuteas estaacuten

estrechamente asociadas visto que cuanto maacutes experiencias estuvieren hoy

disponibles en el mundo maacutes experiencias seriacutean posibles en el futuro Cuanto

maacutes amplia fuera la realidad creiacuteble maacutes vasto seriacutea el campo de las sentildeales o

pistas creiacutebles y de los futuros posibles y concretos Cuanto mayor fuese la

multiplicidad y la diversidad de las experiencias disponibles y posibles

106

E em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo de conhecimentos eacute possiacutevel perceber

que interessam diaacutelogos desde a biotecnologia passando pela justiccedila a

agricultura e a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica Nesses termos em

discurso atual81 o autor trata do eminente diaacutelogo (interconhecimentos)

com a educaccedilatildeo Essa vista como negligenciada nos uacuteltimos anos de

modo que tanto juventudes como futuro ficaram comprometidos

Portanto seria necessaacuterio superar a dualidade entre educaccedilatildeo

popular (emancipadora das mentes e das praacuteticas) e educaccedilatildeo formal

(reguladora das mentes e das praacuteticas) pois a educaccedilatildeo formal estaacute

diversificada e democratizada constituindo um campo de luta

importante Para o autor precisamos aprofundar os diaacutelogos e as inter-

relaccedilotildees necessaacuterias para que toda a educaccedilatildeo seja popular e

emancipadora Algo que acredito poder ser desenvolvido em um ensino

politeacutecnico atento ao contexto educacional brasileiro atual E que

corresponde ao que considero como uma posiccedilatildeo criacutetica sobre TS em

processos educacionais Esse posicionamento se refere tanto a minhas

experiecircncias nos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul quanto a

minha consciecircncia social

No quadro 2 logo abaixo apresento um esquema das relaccedilotildees que

Santos e Meneses (2010) estabelecem entre produccedilatildeo de conhecimentos

dominaccedilatildeo e possibilidades de emancipaccedilatildeo social Desse modo penso

a educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo no qual as possibilidades para

diaacutelogos emancipatoacuterios estatildeo em pauta e quando indagaccedilotildees sobre

relaccedilotildees (produccedilotildees e apropriaccedilotildees) entre diferentes conhecimentos satildeo

pertinentes

(conocimientos y agentes) mayor seriacutea la expansioacuten del presente y la

contraccioacuten del futuro (SANTOS 2006 p 88) Traduccedilatildeo livre da autora 81 Foacuterum Social de Educaccedilatildeo Popular (2016) Verificar em

httpwwwforumeducacaopopularorg

107

Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e emancipaccedilatildeo social

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de texto de Santos e Meneses (2010)

Nesse quadro 2 acima localizo portanto o desenvolvimento de

TS como um momento de possibilidades de diaacutelogos horizontais entre

conhecimentos com inter-relaccedilatildeo entre teorias criacutetica a dogmatismos e

sensiacutevel a diferentes experiecircncias interpretaccedilotildees e valores dos sujeitos

envolvidos Algo que tambeacutem procuro relacionar com Freire (2011

1987) que considera os conhecimentos historicamente produzidos e faz

uma defesa de processos educacionais contextualizados e atentos agraves

vivecircncias dos sujeitos Assim como com a perspectiva defendida por

Feenberg de abertura de assuntos teacutecnicos agrave esfera puacuteblica como

verificamos na seguinte fala ldquoO aumento da esfera puacuteblica incluindo a

tecnologia marca uma mudanccedila radical do consenso anterior que

assegurava que os assuntos teacutecnicos deveriam ser decididos por

especialistas teacutecnicos sem interferecircncia leigardquo (FEENBERG 2004

p16)

108

Com o foco de atenccedilatildeo em processos educacionais no Brasil

tento refletir sobre novas (e antigas) questotildees educacionais apresentadas

pelas mudanccedilas soacutecio-histoacutericas contemporacircneas em relaccedilatildeo a

tecnologias Assim a seguir busco aprofundar as discussotildees sobre

tecnologia e TS tendo em vista suas possibilidades e limites

educacionais em contextos regionais latino-americanos

109

CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS

Na primeira parte desta tese meu foco foi em processos

educacionais Abordei a ECT de modo geral e a Educaccedilatildeo CTS como

uma especificidade em relaccedilatildeo agravequela que como um ramo dos ECTS

concentra-se em inter-relaccedilotildees entre perspectivas CTS e processos

educacionais Aleacutem disso destaquei influecircncias de diferentes autoresas

e correntes teoacutericas em tais inter-relaccedilotildees e busquei caracterizar como

considero o sujeito nas anaacutelises propostas

Nesta segunda parte ao delinear o sentido geral sobre tecnologia

que eacute aqui considerado examino pesquisas sobre o caraacuteter social da

tecnologia e posicionamentos de diferentes autoresas em relaccedilatildeo agrave

tecnologia Nesse processo dialogo com algumas perspectivas teoacutericas

(TCT por exemplo) e exponho a minha filiaccedilatildeo Para finalizar realizo

uma reflexatildeo sobre TS que inclui a sua histoacuteria conceitos pesquisas e

suas relaccedilotildees com processos educacionais

21 TECNOLOGIA

Consideremos mesmo que inicialmente que a tecnologia possa

ser algo como uma resposta a necessidades sociais Resposta essa que eacute

produzida em determinada sociedade e sob certas condiccedilotildees A partir

disso podemos compreender que diferentes modos de analisar essa

sociedade podem levar a muacuteltiplos pontos de vista no exame sobre a

tecnologia e podem produzir conhecimentos sobre esse tema com certas

particularidades Nesta tese destaco contribuiccedilotildees da Filosofia da

Educaccedilatildeo e das Ciecircncias Sociais mas eacute possiacutevel considerar a tecnologia

sob diversos olhares

211 Dimensotildees de anaacutelise

A tecnologia possui portanto muacuteltiplas dimensotildees82 que mesmo

que interligadas podem ser examinadas em separado Tais como a

econocircmica a poliacutetica a cientiacutefica e a ideoloacutegica (FIGUEIREDO 1989)

Essa uacuteltima faz referecircncia ao entendimento da tecnologia como algo

neutro que independe de interesses Figueiredo (1989) esclarece que ldquoa

dimensatildeo ideoloacutegica da tecnologia refere-se ao fato de a tecnologia se

82 Outras dimensotildees tambeacutem podem ser destacadas Cupani (2011) por

exemplo apresenta dimensotildees da tecnologia segundo o ponto de vista do

filoacutesofo norte-americano Carl Mitcham

110

apresentar como um processo neutro de domiacutenio e controle da natureza

em benefiacutecio de todosrdquo (p18) 83

Na dimensatildeo econocircmica as relaccedilotildees entre incremento

tecnoloacutegico inovaccedilatildeo e processo de industrializaccedilatildeo satildeo abordadas sob

diferentes teorias de desenvolvimento A anaacutelise com foco na poliacutetica

faz referecircncia agrave esfera de manifestaccedilatildeo de interesses sob determinadas

condiccedilotildees tendo em vista contextos institucionais de disputa por poder

Em relaccedilatildeo agrave ciecircncia Figueiredo (1989) esclarece que a tecnologia tem

uma histoacuteria proacutepria relacionada com a ciecircncia Contudo ciecircncia e

tecnologia apesar de muitas vezes se complementarem natildeo satildeo

substituiacuteveis entre si84

Essas constataccedilotildees natildeo significam a suposiccedilatildeo de

uma ciecircncia neutra contraposta a uma tecnologia

comprometida com interesses Ambas as

atividades satildeo expressatildeo cognitiva -

teoacutericopraacutetica - de interesses sociais e de

possibilidades por eles criadas O importante a

destacar eacute que os conhecimentos cientiacuteficos

produzidos ateacute um determinado momento satildeo

componente fundamental do campo de

possibilidades de avanccedilos tecnoloacutegicos Do

mesmo modo e em sentido inverso o

desenvolvimento tecnoloacutegico pressiona na direccedilatildeo

83 A problematizaccedilatildeo desse entendimento que apresenta como neutro o que eacute

ideoloacutegico eacute importante em processos educacionais que examinam a ideia de

determinismo tecnoloacutegico A seguir na apresentaccedilatildeo da TCT de Feenberg

(2002 2003 2012) essa questatildeo seraacute explorada com mais profundidade 84 A abordagem de Figueiredo (1989) permite o exame da tecnologia sem

prescindir de sua relaccedilatildeo com a ciecircncia mas de modo a considerar aquela como

objeto especiacutefico com suas dimensotildees proacuteprias para anaacutelise Como referi a

autora esclarece que ciecircncia e tecnologia tecircm histoacuterias proacuteprias que se cruzam

poreacutem sem se dissolverem uma na outra Isso permite que questotildees importantes

relativas a elas sejam examinadas conjuntamente ou em separado de acordo

com a anaacutelise pretendida Portanto mesmo com meu foco na tecnologia faccedilo

referecircncia aos termos ciecircncia e tecnologia em separado conjuntamente

(CampT - ciecircncia e tecnologia) utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer

referecircncia agrave tecnologia dentro de minha perspectiva como produccedilatildeo social E

em alguns momentos abordo o termo tecnocientiacuteficordquo (utilizado aqui como um

recurso de linguagem para significar relaccedilotildees entre ciecircncia e tecnologia Natildeo eacute o

caso de eu fazer referecircncia a esse termo como necessariamente relacionado agrave

tecnociecircncia essa eacute examinada adiante)

111

da ampliaccedilatildeo das fronteiras do conhecimento

existente (FIGUEIREDO 1989 p 17)

De modo similar Baumgarten (2002 2006b) enfatiza que nem

toda teacutecnica deriva da ciecircncia sendo que as teacutecnicas podem fornecer agrave

ciecircncia novos objetos de pesquisa assim como expandir os caminhos

para a proacutepria investigaccedilatildeo

Enquanto a ciecircncia constitui-se em enunciados

(leis teorias) permitindo conhecer-se a realidade

e modificaacute-la a teacutecnica promove a transformaccedilatildeo

do real consistindo em operaccedilotildees visando a

satisfazer determinadas necessidades a ciecircncia e a

teacutecnica pressupotildeem portanto um plano uma

concepccedilatildeo um desiacutegnio a ser realizado

(BAUMGARTEN 2002 p 313)

A autora tambeacutem destaca que foi em torno do seacuteculo XVIII que

se passou a utilizar o termo tecnologia com o significado de

melhoramento racional das artes (teacutecnicas) em especial daquelas que se

exerciam na induacutestria mediante seu estudo cientiacutefico e de seus

produtos (BAUMGARTEN 2006b p 291 grifos da autora) Assim a

autora procura situar a tecnologia em relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e

resgata a aproximaccedilatildeo histoacuterica entre ciecircncia e tecnologia

Portanto a tecnologia pode ser examinada em diferentes

contextos (sociocultural econocircmico poliacutetico e educacional por

exemplo) e por sujeitos com propoacutesitos distintos O que corrobora sua

importacircncia na constituiccedilatildeo das sociedades contemporacircneas e seu debate

em processos educacionais E eacute justamente essa dimensatildeo educacional

que eacute explorada nesta tese atraveacutes de uma perspectiva criacutetica de TS

212 Sentido geral

Destaco a perspectiva do filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto

(1909-1987) que assim como os estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-

americanos e Feenberg (2002 2003 2012) considera o caraacuteter

ideoloacutegico da tecnologia Embora sua abordagem seja filosoacutefica o autor

contribui para um olhar socioloacutegico sobre a tecnologia pois sua anaacutelise

tem uma mirada sobre a produccedilatildeo humana como produccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais construccedilatildeo de formas de convivecircncia (FREITAS 2005 2006)

De acordo com Kleba (2008) Aacutelvaro Vieira Pinto faz parte de

um grupo de teoacutericos que procuraram explicar o atraso (grifo do autor)

112

econocircmico e poliacutetico brasileiro atraveacutes de diferentes olhares ldquosejam

cultural-raciais como em Oliveira Viana cultural-poliacuteticas como em

Raymundo Faoro ou na figura do Jeca-Tatu de Monteiro Lobato e

econocircmicas como em Celso Furtado e Caio Prado Juacutenior entre tantos

outrosrdquo (KLEBA 2008 p9) Nesse contexto Pinto (2005) procura

demonstrar a funccedilatildeo ideoloacutegica da tecnologia em relaccedilatildeo ao chamado

subdesenvolvimento85

Ao declarar que ldquotodo objeto incorpora em si uma ideia

originada no pensamento de algueacutem pertencente a uma sociedade

determinada na qual tem interessesrdquo (PINTO 2005 p 323) a

preocupaccedilatildeo do autor eacute com o papel ideoloacutegico da tecnologia no Brasil

Um dos debates que o autor propotildee eacute justamente a problematizaccedilatildeo da

tecnologia em relaccedilatildeo ao subdesenvolvimento principalmente em sua

funcionalidade para manter relaccedilotildees de dominaccedilatildeo do centro sobre a

periferia (FREITAS 2005) ou na terminologia que uso nesta tese do

Norte sobre o Sul

Dentro desse propoacutesito Pinto (2005) analisou o conceito de

tecnologia sob algumas perspectivas dentre as quais aponto quatro

definiccedilotildees No primeiro significado destacado pelo autor ldquoa lsquotecnologiarsquo

tem de ser a teoria a ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica

abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes as habilidades do fazer as

profissotildees e generalizadamente os modos de produzir alguma coisardquo

(PINTO 2005 p 219)

Assim o autor considera seu sentido geneacuterico poreacutem essencial

visto como uma teoria ou uma ciecircncia No segundo significado

apresentado por Pinto (2005) a tecnologia equivale pura e simplesmente

agrave teacutecnica Indiscutivelmente constitui este o sentido mais frequente e

popular da palavra o usado na linguagem corrente quando natildeo se exige

precisatildeo maiorrdquo (p219) Para o autor as duas palavras mostram-se

assim ldquointercambiaacuteveis no discurso habitual coloquial e sem rigorrdquo

(PINTO 2005 p 219)

O terceiro significado aparece ligado ao segundo como sinocircnimo

da teacutecnica poreacutem com certa particularidade

() encontramos o conceito de lsquotecnologiarsquo

entendido como o conjunto de todas as teacutecnicas de

85 O conceito da amanualidade eacute central no pensamento do autor Com ele os

efeitos da passagem do subdesenvolvimento ao desenvolvimento atraveacutes do

trabalho satildeo explicados O que significaria a possibilidade de manusear a

realidade com recursos cada vez mais elaborados (FREITAS 2006)

113

que dispotildee uma determinada sociedade em

qualquer fase histoacuterica de seu desenvolvimento

Em tal caso aplica-se tanto agraves civilizaccedilotildees do

passado quanto as condiccedilotildees vigentes

modernamente em qualquer grupo social (PINTO

2005 p 219)

De acordo com o autor o terceiro significado assume importacircncia

por ser a ele ldquoque se costuma fazer menccedilatildeo quando se procura referir ou

medir o grau de avanccedilo do processo das forccedilas produtivas de uma

sociedaderdquo (PINTO 2005 p220)

Por fim Pinto (2005) apresenta a quarta acepccedilatildeo do termo

tecnologia na qual destaca a ideologia da teacutecnica

Toda tecnologia contendo necessariamente o

sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica

transporta inevitavelmente um conteuacutedo

ideoloacutegico Consiste numa determinada acepccedilatildeo

do significado e do valor das accedilotildees humanas do

modo social de realizarem-se das relaccedilotildees do

trabalhador com o produto ou o ato acabado e

sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em

seu papel de fabricante de um bem ou autor de um

empreendimento e o destino dado agravequilo que cria

A teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um

ato humano necessariamente inserido no contexto

social que a solicita a possibilita e lhe daacute

aplicaccedilatildeo (PINTO 2005 p 320-321)

Tal definiccedilatildeo que destaca a autoria de sujeito(s) e apresenta a

tecnologia em relaccedilatildeo ao local e agraves condiccedilotildees em que ela eacute produzida

pode levar agrave compreensatildeo do caraacuteter social que a tecnologia pode

assumir enquanto realizaccedilatildeo humana Esse caraacuteter segundo Feenberg

natildeo reside na loacutegica do funcionamento interno da tecnologia mas na

relaccedilatildeo dessa loacutegica com um contexto social86 (2002 p 79) Eacute possiacutevel

compreender portanto que a tecnologia tem caraacuteter histoacuterico e coletivo

de modo a incluir interesses poliacuteticos e econocircmicos bem como valores

sociais e morais (ARAUacuteJO 1998 BAUMGARTEN 2008b)

86 The social character of technology lies not in the logic of its inner workings

but in the relation of that logic to a social context (FEENBERG 2002 p 79)

Traduccedilatildeo livre da autora

114

Esse entendimento eacute importante para analisarmos sentidos sobre

tecnologia em processos educacionais que envolvem autoria Nesse

aspecto a quarta definiccedilatildeo de Pinto (2005) pode ser relacionada com

uma educaccedilatildeo problematizadora dialoacutegica e politeacutecnica que possibilite

processos de emancipaccedilatildeo social

As relaccedilotildees de influecircncia muacutetua entre Pinto e Freire natildeo satildeo

novidade Sendo que o fato de Freire (1983) o chamar de mestre ao

desenvolver as ideias de consciecircncia criacutetica e consciecircncia ingecircnua natildeo eacute

surpresa De acordo com Faveri (2014) tais categorias jaacute estatildeo presentes

na obra de Pinto que eacute citado por Freire (1983)

A consciecircncia criacutetica ldquoeacute a representaccedilatildeo das coisas

e dos fatos como se datildeo na existecircncia empiacuterica

Nas suas correlaccedilotildees causais e circunstanciaisrdquo

ldquoA consciecircncia ingecircnua (pelo contraacuterio) se crecirc

superior aos fatos dominando-os de fora e por

isso se julga livre para entendecirc-los conforme

melhor lhe agradarrdquo (FREIRE 1983 p 105)

Para aleacutem dessas categorias Faveri (2014) esclarece que tanto

Pinto quanto Freire pensam a educaccedilatildeo como ato poliacutetico Para os dois

autores na educaccedilatildeo eacute importante definir claramente que sujeito se quer

formar e para viver em qual contexto soacutecio-econocircmico-cultural se

pretende formaacute-lo (FAVERI 2014)

A partir do conhecimento de que Pinto (2005) eacute leitor de Marx

considero a seguinte passagem como relacionada com uma perspectiva

politeacutecnica

Deste modo a teacutecnica aparentemente mais

grosseira ou confinante conduz pela apreensatildeo do

seu significado teoacuterico ou epistemoloacutegico agrave

aquisiccedilatildeo do universal representado pelo igual

valor existencial do trabalho de cada homem Seraacute

entatildeo o momento em que o teacutecnico natildeo se

identificaraacute mais com a teacutecnica particular de sua

profissatildeo ateacute agora causa de limitaccedilatildeo existencial

mas teraacute negado a identificaccedilatildeo restritiva para

alcanccedilar a identificaccedilatildeo universal com a teacutecnica

ou seja com a totalidade da capacidade de atuaccedilatildeo

primaacuteria livre Galgando a compreensatildeo unitaacuteria

da teacutecnica na plena universalidade em funccedilatildeo de

novas condiccedilotildees sociais em que exercer passaraacute a

dominar a que executa e todas as demais sabendo

115

o que significa quanto vale e quais as finalidades

dela em vez de ser como agora dominado por

ela a ponto de receber do trabalho particular

profissional sua qualificaccedilatildeo social enquanto ser

humano (PINTO 2005 p 223)

Desse modo considero que o autor tambeacutem percebe assim como

Marx o domiacutenio intelectual da teacutecnica como princiacutepio de libertaccedilatildeo do

trabalhador de emancipaccedilatildeo do sujeito87 E essa uacuteltima natildeo estaacute

descolada dos processos de dominaccedilatildeo do Norte sobre o Sul

De acordo com Freitas (2005) a quarta definiccedilatildeo sobre a teacutecnica

que destaca sua ideologia mostra que Pinto (2005) via os processos de

dominaccedilatildeo como a disseminaccedilatildeo a partir do centro (Norte) de um dos

significados da teacutecnica como universal ldquoreservando ao mundo da

periferia a condiccedilatildeo de lsquopaciente receptorrsquo das inovaccedilotildees teacutecnicas

quando na verdade jaacute se pronunciava uma lsquofase histoacutericarsquo na qual era

possiacutevel atuar como lsquoagente propulsorrsquo do proacuteprio desenvolvimentordquo

(FREITAS 2005 p 4)

No esquema que apresentei no quadro 2 faccedilo uma leitura de

Santos e Meneses (2010) justamente nesse sentido Qual seja que

processos de dominaccedilatildeo natildeo ocorrem apenas por via econocircmica mas

tambeacutem atraveacutes de formas de conhecimentos (epistemologias) Assim

nesses processos de dominaccedilatildeo os conhecimentos hegemocircnicos do

Norte seriam hierarquicamente superiores aos conhecimentos do Sul

que como ldquopaciente receptorrdquo natildeo poderia divergir da ordem dominante

a custo de ser considerado como irracional

Freitas (2005 2006) mostra que Pinto (2005) tambeacutem vai contra

tal propoacutesito ao rejeitar que as teacutecnicas mais elaboradas fossem

disseminadas a partir da generosidade de seus usuaacuterios ldquoA tecnologia jaacute

pertence aos estratos mais simples da sociedade Esses estratos natildeo

podem ganhar na condiccedilatildeo de daacutediva aquilo que jaacute eacute constitutivo do

seu proacuteprio ser socialrdquo (PINTO 2005 p 20-21) O que retoma sua

preocupaccedilatildeo com a emancipaccedilatildeo dos sujeitos e a relaccedilatildeo dessa com o

domiacutenio dos fundamentos da tecnologia E que permite identificar uma

87 Freitas (2006) destaca que das histoacuterias de leitura de Pinto em relaccedilatildeo a

Marx surgem relaccedilotildees entre educaccedilatildeo emancipaccedilatildeo e tecnologia Pois segundo

o autor Pinto via que as juventudes por sua importacircncia deveriam ter

condiccedilotildees de operar tecnologias cada vez mais elaboradas Sendo que quanto

mais elaboradas elas fossem mais seriam disseminadas e menos estariam

vinculadas a mecanismos de acumulaccedilatildeo de riqueza individual

116

relaccedilatildeo com a busca por reconhecimento e diaacutelogos entre diferentes

conhecimentos como constitutiva de tal emancipaccedilatildeo

Nesse aspecto como bem destaca Figueiredo (1989) ldquoa

tecnologia circunscreve-se assim ao acircmbito do fazer humano no

campo da accedilatildeo social Um campo de saberes em disputa de exerciacutecios

de poder e de lutas por hegemoniardquo (p01) Portanto a partir do

entendimento do caraacuteter ideoloacutegico da tecnologia destaco a TCT

Entendo que essa auxilia na compreensatildeo da natureza dos interesses

envolvidos na temaacutetica e pode colaborar atraveacutes de suas categorizaccedilotildees

com a anaacutelise dos sentidos sobre tecnologias que circulam nos CTIEM

213 Teoria Criacutetica da Tecnologia

A TCT de Feenberg recebe a influecircncia entre outros

elementos88 da Teoria Criacutetica frankfurtiana Como destaquei no capiacutetulo

anterior a Teoria Criacutetica se refere ao conjunto de trabalhos

(heterogecircneos) de pensadores com interesses diversos como os jaacute

mencionados Horkheimer e Adorno aleacutem de Herbert Marcuse (1898-

1979) Walter Benjamin (1892-1940) Erich Fromm (1900-1980) e

Juumlrgen Habermas (1929)

Sem desconsiderar a densidade dos trabalhos produzidos naquele

contexto destaco abaixo um excerto do texto ldquoFilosofia e Teoria

Criacuteticardquo Nele Horkheimer (1980) comenta seu ensaio intitulado

ldquoTeoria Tradicional e Teoria Criacuteticardquo escrito na deacutecada de 1930 e que eacute

considerado como sendo a substacircncia teoacuterica de uma tentativa original

de unir teoria (pensamento filosoacutefico) e praacutetica (tensotildees do presente)

(ASSOUN 1991)

Horkheimer (1980) busca esclarecer que

Em meu ensaio Teoria Tradicional e Teoria

Criacuteticardquo apontei a diferenccedila entre dois meacutetodos

gnosioloacutegicos Um foi fundamentado no Discours

de la Meacutethode cujo jubileu de publicaccedilatildeo se

88 Outras influecircncias de Feenberg (1996a) para examinar a tecnologia podem ser

vistas em seus debates com Marcuse (de quem foi aluno) e Habermas

(CORREA 2010) Esses natildeo satildeo explorados nesta tese mas podem ser

encontrados em seu artigo do ano de 1996 ldquoMarcuse ou Habermas duas criacuteticas

da tecnologiardquo no qual o autor critica o pessimismo do primeiro em relaccedilatildeo agrave

ordem poliacutetica e tambeacutem o posicionamento do segundo em relaccedilatildeo agrave

exterioridade da ciecircncia e da tecnologia do mundo da vida

117

comemorou neste ano e o outro na criacutetica da

economia poliacutetica A teoria em sentido tradicional

cartesiano como a que se encontra em vigor em

todas as ciecircncias especializadas organiza a

experiecircncia agrave base da formulaccedilatildeo de questotildees que

surgem em conexatildeo com a reproduccedilatildeo da vida

dentro da sociedade atual Os sistemas das

disciplinas contecircm os conhecimentos de tal forma

que sob circunstacircncias dadas satildeo aplicaacuteveis ao

maior nuacutemero possiacutevel de ocasiotildees A gecircnese

social dos problemas as situaccedilotildees reais nas quais

a ciecircncia eacute empregada e os fins perseguidos em

sua aplicaccedilatildeo satildeo por ela mesma consideradas

exteriores ndash A teoria criacutetica da sociedade ao

contraacuterio tem como objeto os homens como

produtores de todas as suas formas histoacutericas de

vida As situaccedilotildees efetivas nas quais a ciecircncia se

baseia natildeo eacute para ela uma coisa dada cujo uacutenico

problema estaria na mera constataccedilatildeo e previsatildeo

segundo as leis da probabilidade O que eacute dado

natildeo depende apenas da natureza mas tambeacutem do

poder do homem sobre ele Os objetos e a espeacutecie

de percepccedilatildeo a formulaccedilatildeo de questotildees e o

sentido da resposta datildeo provas da atividade

humana e do grau de seu poder (HORKHEIMER

1980 p 155)

No texto Horkheimer (1980) adota uma postura criacutetica ao

positivismo e considera que () a teoria tradicional natildeo se ocupa da

gecircnese social dos problemas das situaccedilotildees reais nas quais a ciecircncia eacute

usada e dos escopos para os quais eacute usada (p 20) Em contraposiccedilatildeo o

autor defende que uma teoria criacutetica seja autocriacutetica e esclarecida que

visualize as accedilotildees de dominaccedilatildeo social haja vista o impedimento da

reproduccedilatildeo constante dessas mesmas

Com isso o autor critica o caraacuteter cientificista e reducionistas das

Ciecircncias Sociais que se ocupariam primordialmente em coletar e

classificar dados de modo a ignorar intervenccedilotildees que constantemente

ocorreriam no contexto social Esse posicionamento criacutetico segundo

Assoun (1991) se refere a sua proposta de reorganizaccedilatildeo da sociedade de modo a superar a razatildeo instrumental Pois essa visaria agrave dominaccedilatildeo

da natureza para fins lucrativos colocaria ciecircncia e tecnologia a serviccedilo

do capital e agiria em funccedilatildeo de interesses de classes e natildeo de interesses

da sociedade como um todo

118

A partir disso e sem desconsiderar outras influecircncias89 Feenberg

apresenta sua anaacutelise acerca da tecnologia a TCT dentro de um

prolongamento criacutetico na Escola de Frankfurt O quadro 3 abaixo

resume uma conferecircncia ldquoO que eacute Filosofia da Tecnologia rdquo (What is

Philosophy of Technology) pronunciada no Japatildeo e ilustra sua teoria

de modo didaacutetico e sinteacutetico90

Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia

A Tecnologia eacute Autocircnoma Humanamente

Controlada

Neutra

(separaccedilatildeo completa

entre meios e fins)

Determinismo

(por exemplo a teoria

da modernizaccedilatildeo)

Instrumentalismo

(feacute liberal no progresso)

Carregada de Valores

(meios formam um

modo de vida que

inclui fins)

Substantivismo

(meios e fins ligados

em sistemas)

Teoria Criacutetica

(escolha de sistemas de

meios-fins alternativos)

Fonte Feenberg (2003 p 06)

O proacuteprio autor explica como o quadro 3 pode ser interpretado

O eixo vertical oferece duas alternativas ou a

tecnologia eacute neutra de valor () ou estaacute carregada

de valor () A escolha natildeo eacute oacutebvia De uma

perspectiva um dispositivo teacutecnico eacute

simplesmente uma concatenaccedilatildeo de mecanismos

causais Natildeo haacute qualquer quantidade de estudos

cientiacuteficos que possa nela encontrar algum

89 Em sua paacutegina na internet Feenberg (1996b) resume suas influecircncias e sua

abordagem para o estudo filosoacutefico da tecnologia Algo que traduzo livremente

como construtivismo hermenecircutico historicismo democracia teacutecnica e meta-

teoria da tecnologia Verificar detalhes em

lthttpwwwsfuca~andrewfMethod1htmgt 90 Essas questotildees jaacute vinham sendo desenvolvidas nas obras Questioning

technology do ano de 2001 e Transforming technology a Critical Theory

revisited do ano de 2002 (Tambeacutem utilizo aqui uma traduccedilatildeo da Universidade

Nacional de Quilmes Argentina do ano de 2012) e esclarecem a linha de

argumentaccedilatildeo fundamentada por Feenberg (2003) no que se refere a temas

centrais para as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade

119

propoacutesito Mas para outros pontos de vista isso

natildeo chega ao ponto essencial As tecnologias no

eixo horizontal estatildeo consideradas como

autocircnomas ou humanamente controlaacuteveis Dizer

que a tecnologia eacute autocircnoma natildeo quer dizer que

ela se faz a si mesma Os seres humanos ainda

estatildeo envolvidos mas a questatildeo eacute eles tecircm de

fato a liberdade para decidir como a tecnologia

seraacute desenvolvida O proacuteximo passo depende da

evoluccedilatildeo do sistema teacutecnico ateacute noacutes Se a resposta

eacute natildeo entatildeo se pode dizer justificadamente que

a tecnologia eacute autocircnoma no sentido de que a

invenccedilatildeo e o desenvolvimento tecircm suas proacuteprias

leis imanentes as quais os seres humanos

simplesmente seguem ao interagirem nesse

domiacutenio teacutecnico Por outro lado a tecnologia pode

ser humanamente controlaacutevel enquanto se pode

determinar o proacuteximo passo de evoluccedilatildeo

conforme nossas intenccedilotildees (FEENBERG 2003 p

06)

Nesse quadro eacute possiacutevel verificar (i) se a tecnologia seria neutra

ou carregada de valores e (ii) se a tecnologia poderia ter seus efeitos

controlados pelos sujeitos ou atuaria de modo autocircnomo A partir das

combinaccedilotildees de (i) e (ii) eacute possiacutevel estabelecer quatro visotildees segundo as

quais se podem examinar as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade

determinismo instrumentalismo substantivismo e teoria criacutetica

A perspectiva do determinismo que jaacute foi aqui examinada e eacute um

sentido central para a pesquisa desta tese aceita a neutralidade e a

combina com a percepccedilatildeo de autonomia Desde esse ponto de vista a

tecnologia seria valorativamente neutra e natildeo seria controlada pelo

homem sendo ela que moldaria a sociedade

Os deterministas acreditam que a tecnologia natildeo eacute

controlada humanamente mas que pelo contraacuterio

controla os humanos isto eacute molda a sociedade agraves

exigecircncias de eficiecircncia e progresso Os

deterministas tecnoloacutegicos usualmente

argumentam que a tecnologia emprega o avanccedilo

do conhecimento do mundo natural para servir agraves

caracteriacutesticas universais de natureza humana tais

como as necessidades e faculdades baacutesicas ()

As tecnologias como o automoacutevel estendem

nossos peacutes enquanto os computadores estendem

120

nossa inteligecircncia A tecnologia enraiacuteza-se por um

lado no conhecimento da natureza e por outro nas

caracteriacutesticas geneacutericas da espeacutecie humana Natildeo

depende de noacutes adaptarmos a tecnologia a nossos

caprichos senatildeo pelo contraacuterio noacutes devemos nos

adaptar agrave tecnologia como expressatildeo mais

significativa de nossa humanidade (FEENBERG

2003 p 07)

Feenberg (1991) desenvolve duas teses-base sobre o

determinismo (i) a tese do progresso linear na qual o progresso teacutecnico

parece seguir um curso linear e fixo de fases menos avanccediladas para as

mais avanccediladas necessariamente e (ii) a tese da determinaccedilatildeo pela

base segundo a qual satildeo as instituiccedilotildees que precisam se adaptar aos

imperativos da base tecnoloacutegica Nas palavras do autor ldquoo

determinismo eacute somente uma estoacuteria feita para mostrar porque as coisas

tecircm que ser como satildeo Na realidade haacute sempre escolhas e alternativasrdquo

(MARICONDA MOLINA 2009 p 168)

A teoria instrumentalista combina as percepccedilotildees de neutralidade e

de controle humano da tecnologia Esta eacute a visatildeo-padratildeo moderna

segundo a qual a tecnologia eacute simplesmente uma ferramenta ou

instrumento da espeacutecie humana com os quais noacutes satisfazemos nossas

necessidades (FEENBERG 2003 p 06) O instrumentalismo oferece a

visatildeo mais popular de tecnologia muitas vezes relacionada com

perspectivas tecnoacutefilas

Para o autor o instrumentalismo eacute baseado na ideia do senso

comum de que as tecnologias satildeo ferramentas prontas para servir os

propoacutesitos de seus usuaacuterios A tecnologia eacute considerada neutra sem

conteuacutedo valorativo proacuteprio91 (FEENBERG 2002 p 05) Contudo

para Feenberg (2003) a tecnologia natildeo eacute um instrumento neutro e os

meios e os fins estatildeo conectados O autor destaca que se eacute possiacutevel

algum tipo de controle humano da tecnologia esse natildeo seraacute um controle

instrumental

O substantivismo combina as percepccedilotildees de autonomia e da

tecnologia condicionada por valores Segundo Feenberg (2003) esse

termo foi adotado ldquopara descrever uma posiccedilatildeo que atribui valores

substantivos agrave tecnologia em contraste com as visotildees como a do

91 It is based on the commonsense idea that technologies are tools standing

ready to serve the purposes of their users Technology is deemed neutral

without valuative content of its own (FEEMBERG 2002 p 05) Traduccedilatildeo livre

da autora

121

instrumentalismo e a do determinismo nos quais a tecnologia eacute vista

como neutra em si mesma (p 07)

O autor explica que por valores substantivos entende

um compromisso com uma concepccedilatildeo especiacutefica

de uma vida boa Se a tecnologia incorpora um

valor substantivo natildeo eacute meramente instrumental e

natildeo pode ser usado a diferentes propoacutesitos de

indiviacuteduos ou sociedades com ideacuteias diferentes do

bem O uso da tecnologia para esse ou aquele

propoacutesito seria uma escolha de valor especiacutefica

em si mesma e natildeo soacute uma forma mais eficiente

de compreender um valor preacute-existente de algum

tipo (FEENBERG 2003 p 07)

Poreacutem a autonomia preservada pelo substantivismo caracterizaria

uma tecnologia ameaccediladora e maleacutevola A tecnologia uma vez

libertada fica cada vez mais imperialista tomando domiacutenios sucessivos

da vida social (FEENBERG 2003 p 08) Nessa perspectiva identifico

uma visatildeo tecnofoacutebica como jaacute referi anteriormente e destaco a posiccedilatildeo

do pensador francecircs Jacques Ellul (1912-1994) para quem o sistema

tecnoloacutegico promoveria uma instrumentalizaccedilatildeo total dos sujeitos e se

apresentaria como um destino do qual natildeo haveria maneira de escapar

(ELLUL 1964 CORREcircA 2010)

Feenberg (2002) explica que existiria espaccedilo para as decisotildees dos

sujeitos mas o determinismo e o substantivismo natildeo o considerariam E

ldquofazem parecer que a tecnologia tem sua proacutepria loacutegica de

desenvolvimento mas noacutes descobrimos que podemos agir e mudar a

tecnologia portanto essas teorias natildeo podem ser verdadeirasrdquo

(MARICONDA MOLINA 2009 p 168) O substantivismo apresenta

em suas concepccedilotildees poucas ou nenhuma possibilidades de controle e

de transformaccedilatildeo de uma estrutura de dominaccedilatildeo autocircnoma da

tecnologia posiccedilatildeo da qual Feenberg (2002 2003 2004 2012) se

distancia ao caracterizar a TCT

Na TCT os valores incorporados agrave tecnologia satildeo socialmente

especiacuteficos natildeo sendo representados adequadamente por abstraccedilotildees

como a eficiecircncia ou o controle Conforme Feenberg (2003) a tecnologia natildeo moldaria (no sentido em que as molduras satildeo limites e

contecircm o que estaacute por dentro mas natildeo determinam os valores

percebidos dentro delas) apenas um modo de vida Sendo que considera

a possibilidade de diferentes estilos de vida distintos da mediaccedilatildeo

122

tecnoloacutegica Algo similar ao que Dagnino Silva e Padovanni (2011)

defendem com sua abordagem sobre AST como apontei na p 71

A TCT assim como o instrumentalismo considera a

possibilidade de controle humano da tecnologia No entanto ao

contraacuterio desse aquela percebe a tecnologia como carregada de valores

e natildeo como neutra Em teoria criacutetica a tecnologia natildeo eacute vista como

ferramentas mas como estruturas para estilos de vida As escolhas estatildeo

abertas para noacutes e situadas num niacutevel mais alto do que o instrumental

(FEENBERG 2003 p11)

A tecnologia carregaria portanto os valores resultantes de sua

vinculaccedilatildeo com o contexto capitalista natildeo sendo um mero instrumento

neutro Os valores e interesses dos sujeitos no caso as classes

dominantes influenciariam no desenho nas decisotildees e nos

procedimentos Desse modo a tecnologia natildeo constituiria uma entidade

autocircnoma ldquoela natildeo eacute um destino mas sim um cenaacuterio de lutardquo92

(FEENBERG 2002 p 15)

Com isso Feenberg (2002 2012) defende uma posiccedilatildeo natildeo

determinista cujas teses baacutesicas seriam que (i) o desenvolvimento

tecnoloacutegico estaacute sobre determinado tanto por criteacuterios teacutecnicos quanto

sociais de progresso e podem por conseguinte bifurcar-se em diversas

direccedilotildees conforme a hegemonia que prevalecer e que (ii) enquanto as

instituiccedilotildees sociais se adaptam ao desenvolvimento tecnoloacutegico o

processo de adaptaccedilatildeo eacute reciacuteproco - a tecnologia muda em resposta agraves

condiccedilotildees em que se encontra tanto quanto ela as influencia

Essa posiccedilatildeo demonstra o caraacuteter ambivalente93 da tecnologia

presente na possibilidade de a tecnologia ser instrumentalizada para

diferentes sistemas (CUPANI 2011)

A teoria da instrumentalizaccedilatildeo defende que a

tecnologia deve ser analisada em dois niacuteveis o

niacutevel de nossa relaccedilatildeo funcional original com a

realidade e o niacutevel de propoacutesito e implementaccedilatildeo

No primeiro niacutevel procuramos achar recursos que

podem ser mobilizados em dispositivos e sistemas

para descontextualizar os objetos da experiecircncia e

92 On this view technology is not a destiny but a scene of strugglerdquo

(FEENBERG 2002 p 15) Traduccedilatildeo livre da autora 93 Essa ambivalecircncia da tecnologia significa que natildeo haveria uma uacutenica relaccedilatildeo

entre avanccedilo tecnoloacutegico e distribuiccedilatildeo social de poder pois a tecnologia estaria

disponiacutevel a desenvolvimentos alternativos

123

reduzi-los a suas propriedades normais Isso

envolve um processo () em que os objetos satildeo

retirados de seus contextos originais e postos agrave

anaacutelise e manipulaccedilatildeo enquanto os sujeitos se

colocam para controle agrave distacircncia () No

segundo niacutevel introduzimos propoacutesitos que

podem ser integrados a outros dispositivos e

sistemas jaacute existentes tais como princiacutepios eacuteticos

e esteacuteticos O niacutevel primaacuterio simplifica objetos

para incorporaccedilatildeo a um dispositivo enquanto o

segundo niacutevel integra os objetos simplificados a

um ambiente natural e social (FEENBERG 2004

p 6-7)

Como argumenta Feenberg (2002 2004 2005) aleacutem de um

produto cultural eacute possiacutevel perceber na tecnologia uma dupla

instrumentalizaccedilatildeo que sugere a possibilidade de que ela venha a ter

rumos diferentes A tecnologia constitui basicamente uma atitude ou

orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave realidade (instrumentalizaccedilatildeo primaacuteria) No

entanto ela eacute tambeacutem um modo de accedilatildeo ou realizaccedilatildeo no mundo social

A essecircncia da tecnologia reside na uniatildeo (dialeacutetica) entre ambos os

niacuteveis de instrumentalizaccedilatildeo

Eacute importante destacar que Feenberg (1999) vecirc a tecnologia como

um poder que atingiria diferentes domiacutenios nas sociedades modernas

Para ele osas especialistas em sistemas teacutecnicos teriam um grande

controle sobre o desenvolvimento urbano logiacutestico habitacional e em

escolhas de inovaccedilotildees Desse modo a tecnologia ampliaria seu poder

sobre o quotidiano dos sujeitos ao mesmo tempo em que a democracia

poliacutetica perderia poder para aquelesas especialistas sendo que essesas

uacuteltimosas teriam mais poder sobre decisotildees essenciais para a vida

quotidiana do que as instituiccedilotildees poliacuteticas Tal situaccedilatildeo levaria agrave

chamada tecnocracia Situaccedilatildeo na qual os debates puacuteblicos satildeo

substituiacutedos por decisotildees de especialistas teacutecnicos Daiacute a necessidade de

discutir possibilidades de se democratizar a proacutepria tecnologia

(FEENBERG 1999)

Algo tambeacutem presente em Thomas (2009) quando o autor afirma

que seria ldquoingecircnuo pensar que semelhante niacutevel de decisotildees possa ficar

exclusivamente em matildeo de lsquoperitosrsquo assim como conceber que a

participaccedilatildeo natildeo informada pode melhorar as decisotildeesrdquo (p 76) Esse

autor assim como Feenberg (1999) procura demonstrar as fragilidades

de posicionamentos que natildeo consideram o desenvolvimento tecnoloacutegico

como um tema central para debates sobre democracia

124

Minha opccedilatildeo teoacuterica pela TCT de Feenberg ao contraacuterio de

correntes teoacutericas bastante populares nos ECTS como o construtivismo

e a TAR por exemplo vai ao encontro do que o autor esclarece em

termos da anaacutelise da questatildeo do determinismo tecnoloacutegico

A sociologia da tecnologia sofria uma revoluccedilatildeo

de si mesma nos anos 80 com a emergecircncia das

polecircmicas entre a escola do construtivismo social

e a teoria de redes dos atores tanto na Inglaterra

como na Franccedila Tinha conhecimento desses

debates e com eles muito aprendi mas estava

insatisfeito com a recusa das duas escolas de

pensamento engajarem-se com os temas mais

amplos da modernidade levantados pela Escola de

Frankfurt No entanto a nova sociologia da

tecnologia natildeo oferecia uma metodologia frutiacutefera

e argumentos fortes contra o determinismo

tecnoloacutegico que poderiam ser empregados para

apoiar a ideia de mudanccedila democraacutetica na esfera

teacutecnica Minha abordagem eacute informada pelos

estudos tecnoloacutegicos contemporacircneos e desse

modo alcanccedila um niacutevel de concreticidade ()

(FEENBERG 2004 p 03)

Aleacutem dessa posiccedilatildeo assumida em relaccedilatildeo a questotildees importantes

dos ECTS o pensamento de Feenberg tambeacutem interessa pelo fato de que

o autor tem uma preocupaccedilatildeo em articular sua TCT com a questatildeo

educacional94 Conforme destaca Silva (2005) Feenberg se auto intitula

como um dos fundadores da educaccedilatildeo online Para Feenberg (2001) as

teorias instrumentais e substantivistas podem ser verificadas nos

processos educacionais No instrumentalismo (otimista) se buscariam

possibilidades de reduzir custos com processos de formaccedilatildeo humana

tendo em vista esforccedilos para incrementar a produccedilatildeo e aumentar os

lucros enquanto no substantivismo (pessimista) as possibilidades de

articulaccedilatildeo entre tecnologia e educaccedilatildeo natildeo seriam visualizadas pois a

tecnologia eliminaria elementos pedagoacutegicos fundamentais como por

exemplo o diaacutelogo

94 Silva (2005) enfatiza que Feenberg desenvolve projetos de pesquisa em que

articula sua TCT com a educaccedilatildeo De modo que o proacuteprio Feenberg jaacute haveria

feito referecircncia agrave captaccedilatildeo de US$632000 que conseguiu para o

desenvolvimento de um novo software para foacuteruns de discussatildeo online

125

Nesse quadro dualista o autor esclarece que a TCT poderia

contribuir para uma terceira perspectiva de relaccedilotildees entre tecnologia e

educaccedilatildeo na medida em que a TCT apresenta a tecnologia natildeo como um

destino mas como possibilidades para os sujeitos Com isso seria

necessaacuterio romper com o determinismo tecnoloacutegico e visualizar as

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo como um destino mas como oportunidades

para aperfeiccediloar os processos educacionais (FEENBERG 2001)

Assim Feenberg (2003 2004) aponta para uma modificaccedilatildeo

cultural proveniente de avanccedilos democraacuteticos O autor afirma que eacute

possiacutevel agrave humanidade escolher o mundo no qual deseja viver A TCT

possibilita pensar em tais escolhas em maneiras de submetecirc-las a

controles mais democraacuteticos de modo que seja possiacutevel a intervenccedilatildeo

democraacutetica na tecnologia Para o autor

A teoria criacutetica da tecnologia sustenta que os seres

humanos natildeo precisam esperar um Deus para

mudar a sua sociedade tecnoloacutegica num lugar

melhor para viver A teoria criacutetica reconhece as

consequumlecircncias catastroacuteficas do desenvolvimento

tecnoloacutegico ressaltadas pelo substantivismo mas

ainda vecirc uma promessa de maior liberdade na

tecnologia O problema natildeo estaacute na tecnologia

como tal senatildeo em nosso fracasso ateacute agora em

inventar instituiccedilotildees apropriadas para exercer o

controle humano dela (FEENBERG 2003 p 09)

Na TCT examinam-se exemplos95 nos quais haacute uma tendecircncia de

maior participaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos com os processos de

mudanccedila tecnoloacutegica nas decisotildees sobre o desenho e o desenvolvimento

da tecnologia A esfera puacuteblica parece estar se abrindo lentamente para

abranger os assuntos teacutecnicos que eram vistos antigamente como esfera

exclusiva dos peritos (FEENBERG 2003 p 11) Compreendo que o

autor busca entre outros aspectos refletir sobre possibilidades de

democratizar usos de tecnologias na sociedade

Esses posicionamentos de Feenberg sobre a tecnologia

interessam-me especialmente para buscar compreensotildees acerca de

sentidos sobre tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM

Entendo que o desenvolvimento de tecnologia assim como os contextos

95 Cupani (2011) e Silva (2005) apresentam os exemplos da aacuterea de

telecomunicaccedilatildeo e da medicina explorados por Feenberg para mostrar como os

sujeitos afetam o desenvolvimento tecnoloacutegico

126

educacionais96 ocorre historicamente e encontra-se sujeitado em

alguma medida a transformaccedilotildees que partem do acircmbito da accedilatildeo

humana Por isso a importacircncia do foco nas possibilidades de

intervenccedilatildeo social (transformaccedilatildeo de sentidos) a partir da accedilatildeo dos

sujeitos (educaccedilatildeo emancipadora)

Penso que esse posicionamento pode ser relacionado com Freire

(1987) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995) pois para eles a tecnologia

seria uma expressatildeo do processo de engajamento dos sujeitos no mundo

e estaria relacionada com a transformaccedilatildeo Percebo que tanto para Freire

(1987) quanto para Feenberg (2003) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995)

a tecnologia teria uma dimensatildeo poliacutetica pois como praacutetica humana natildeo

seria neutra e acompanharia a visatildeo de mundo da sociedade na qual seria

produzida e utilizada

Portanto Feenberg (2003 2004) destaca a importacircncia de os

sujeitos compreenderem que a mediaccedilatildeo do processo poliacutetico que atua

em interesses proacuteprios da sociedade como tal pode englobar tambeacutem as

questotildees tecnoloacutegicas Para o autor portanto a esperanccedila97 nas

potencialidades democraacuteticas da tecnologia e na abertura da esfera

puacuteblica aos assuntos teacutecnicos precisa ser mantida Vejo que essa

abertura tem um caminho em processos educacionais que mobilizem

para autoria tendo em vista uma perspectiva criacutetica de TS Tema que

apresento a seguir

96 Como jaacute referi o tema da educaccedilatildeo jaacute foi explorado em alguma medida por

Feenberg Conforme Mariconda e Molina (2009) e Silva (2005) o autor jaacute nos

anos 1980 nos Estados Unidos participou do projeto do primeiro programa de

educaccedilatildeo online Fato que o ajudou a definir limites e possibilidades desse

formato educacional como espaccedilo para interaccedilatildeo pedagoacutegica por meio da

escrita 97 Essa esperanccedila do autor se relaciona ao fato de que a hegemonia do chamado

coacutedigo teacutecnico do capitalismo natildeo pode impedir que haja iniciativas contraacuterias

Conforme jaacute destaquei na introduccedilatildeo desta tese Feenberg (2002) afirma que a

sociedade pode ser comparada a um jogo e que desde esse ponto de vista as

estrateacutegias de domiacutenio que preservam a autonomia operacional satildeo contestadas

por taacuteticas dos dominados que aproveitam suas margens de manobra Assim

como a autonomia operacional serve como a base estrutural da dominaccedilatildeo um

diferente tipo de autonomia eacute conquistado pelos dominados uma autonomia que

opera com o jogo no sistema para redefinir e modificar suas formas e

propoacutesitos

127

22 TECNOLOGIAS SOCIAIS

Esta parte da tese traz alguns elementos que discuti na pesquisa

para o mestrado ocasiatildeo na qual fiz um levantamento sobre TS

desenvolvidas no Brasil na atualidade conforme informei na introduccedilatildeo

Esses dados encaminham uma discussatildeo teoacuterica e um levantamento

bibliograacutefico que podem auxiliar na investigaccedilatildeo de possibilidades e

limites de transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia em

ambientes educacionais tendo em vista uma perspectiva criacutetica sobre TS

Para isso introduzo a temaacutetica das TS pela origem do debate

221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees

Origens

O termo ldquoTecnologia Socialrdquo foi desenvolvido no Brasil no iniacutecio

dos anos 2000 Nesse contexto o desenvolvimento de TS tecircm suas

origens nos chamados novos movimentos sociais no movimento dos

ECTS nas metodologias de pesquisa participativas na crise da visatildeo

tradicional das poliacuteticas de ciecircncia e tecnologia nos meacutetodos de trabalho

e abordagem socioteacutecnica nas chamadas TA e nos princiacutepios freireanos

da educaccedilatildeo popular entre outros (ITS 2009 SANTOS 2008)

Em relaccedilatildeo a essa uacuteltima a uacutenica origem que exploro aqui

destaco que os princiacutepios de educaccedilatildeo popular freireanos satildeo

constituintes importantes da origem do desenvolvimento de TS no

Brasil Lembremos de modo breve e simplificado que jaacute nos anos

1960 no interior do estado do Rio Grande do Norte (no municiacutepio de

Angicos) Paulo Freire promoveu a alfabetizaccedilatildeo de sujeitos a partir da

discussatildeo de questotildees diaacuterias baseadas nas experiecircncias de vida dessas

pessoas Ao partir da praacutetica de que faria sentido uma agricultora

aprender as palavras terra e colheita por exemplo foram alfabetizados

300 sujeitos no que ficou conhecido como 40 horas de Angicos

Ao verificar que osas trabalhadoresas rurais estavam sem

alfabetizaccedilatildeo ou acesso agrave escola ele utilizava as chamadas palavras

geradoras que emergiam da realidade dos sujeitos de modo que oa

educandoa passasse a construir novas palavras Como jaacute destaquei a

ideia dos temas geradores envolve uma construccedilatildeo coletiva e com a

participaccedilatildeo doa educandoa e doa educadora como sujeitos do

processo de aprendizagem Por isso a influecircncia nas TS na qual os

sujeitos deveriam participar da construccedilatildeo e resoluccedilatildeo de seus

problemas socioteacutecnicos A perspectiva freireana eacute dinacircmica contiacutenua e

128

criacutetica e assim como as TS prevecirc o resgate da cultura e da cidadania de

sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade98

Contraposiccedilotildees

Inicialmente as TS foram pensadas como uma contraposiccedilatildeo agrave

chamada Tecnologia Convencional (TC) De acordo com Dagnino

(2004) a TC se configuraria como a tecnologia predominante na

atualidade Seria caracterizada por ser utilizada por empresas privadas

por poupar matildeo-de-obra e usar intensivamente insumos sinteacuteticos aleacutem

de ser ambientalmente insustentaacutevel Conforme Baumgarten (2006c) e

Rutkowski (2005) a TC teria seu cerne em demandas empresariais e das

camadas ricas ou influentes da populaccedilatildeo A TC atuaria na manutenccedilatildeo

e promoccedilatildeo dos interesses das classes dominantes aleacutem de disseminar e

sustentar a ideologia dessas classes na sociedade

Os processos envolvidos no desenvolvimento de TC carregam

intrinsecamente a ideia de determinismo tecnoloacutegico jaacute examinada E

essa por sua vez encontra-se muitas vezes relacionadas a uma

perspectiva denominada de tecnociecircncia99 Premebida (2008) esclarece

que o termo pode ser entendido como a fusatildeo de ciecircncia sistemas

tecnoloacutegicos e organizaccedilatildeo da induacutestria com o capital financeiro O

termo eacute tido como cunhado pelo filoacutesofo belga Gilbert Hottois no final

da deacutecada de 1970 e muito difundido nos uacuteltimos anos pelos trabalhos

de Bruno Latour sobre a produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e

tecnoloacutegico (PREMEBIDA 2008 p 37)

Para Echeverriacutea (2003) ldquoa tecnociecircncia eacute um instrumento de

domiacutenio e transformaccedilatildeo natildeo soacute da natureza mas tambeacutem das

sociedades revelando-se muito uacutetil para determinados grupos sociais

98 Em meus estudos utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo pois o

compreendo como expressatildeo da maior ou menor possibilidade dos sujeitos

controlarem as forccedilas que afetam seu bem-estar Nos debates acerca do uso de

termos como inclusatildeo social e exclusatildeo social considera-se que eles seriam

termos eurocecircntricos que natildeo teriam sentido em sociedades que nunca

conheceram a plena integraccedilatildeo social (MTE 2007) Para aleacutem do debate acerca

da inadequaccedilatildeo do uso dessas expressotildees para o estudo da realidade de paiacuteses

do Sul utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo de modo a buscar apreender o

dinamismo dos processos de desigualdade de maneira mais ampla Para captar

esse dinamismo considero zonas de vulnerabilidade com tendecircncia agrave

precarizaccedilatildeo e estruturas de oportunidades existentes no Brasil na atualidade 99 Segundo Albagli (1999) a tecnociecircncia conseguiu ultrapassar os limites da

produccedilatildeo material e passou a exercer influecircncia nas esferas culturais e

simboacutelicas da sociedade

129

transnacionais em princiacutepio natildeo-estatais que obtecircm atraveacutes dela

grandes ganhosrdquo (p 310) A tecnociecircncia seria um sistema de accedilotildees

eficientes baseadas em conhecimentos teacutecnicos e cientiacuteficos que visaria

transformar o mundo (para aleacutem de explicaacute-lo) e implicaria natildeo soacute uma

profissionalizaccedilatildeo mas uma empresarializaccedilatildeo da atividade cientiacutefica e

sendo um fator relevante de inovaccedilatildeo e desenvolvimento econocircmico

passaria a ser tambeacutem um poder dominante na sociedade tendendo

sua praacutetica ao segredo e agrave privatizaccedilatildeo100 (ECHEVERRIacuteA 2003

BAUMGARTEN 2006a)

Relaccedilotildees

Eacute portanto em contraposiccedilatildeo a essas perspectivas de TC e da

tecnociecircncia que as TS satildeo pensadas Mas as ideias que compotildeem as TS

natildeo surgem espontaneamente Conforme Dagnino (2014) ldquo() remonta

ao iniacutecio dos anos sessenta do seacuteculo passado quando surgiu a ideia de

Tecnologia Intermediaacuteria (que originou o movimento da Tecnologia

Apropriada e veio a desembocar no atual da TS)rdquo (p 155) As TS tecircm

portanto relaccedilatildeo com as TA tambeacutem propostas como alternativas agraves TC

(DAGNINO BRANDAtildeO NOVAES 2004)

Nesse sentido Brandatildeo (2001) esclarece que as TA satildeo

reconhecidas como iniciativas provenientes de movimentos ocorridos na

Iacutendia durante o final do seacuteculo XIX Contexto no qual pensadores como

Mahatma Gandhi (1869-1948) tiveram sua atenccedilatildeo voltada para

processos de reabilitaccedilatildeo e desenvolvimento de tecnologias tradicionais

praticadas nas aldeias como estrateacutegia de luta e resistecircncia contra o

domiacutenio britacircnico (produccedilatildeo artesanal de tecidos por exemplo)101

100 Destaco que pensadoresas de diversas aacutereas tecircm refletido sobre a

possibilidade de se alterar o quadro que envolve a questatildeo tecnocientiacutefica atual

Hobsbawm (2005) alerta para o fato de que ldquoas forccedilas geradas pela economia

tecnocientiacutefica satildeo agora suficientemente grandes para destruir o meio

ambiente ou seja as fundaccedilotildees materiais da vida humana () Nosso mundo

corre o risco de explosatildeo e implosatildeo Tem de mudarrdquo (p 562) Penso que uma

proposta de mudanccedila para esse cenaacuterio passa pela proacutepria reflexatildeo sobre a

tecnociecircncia que pode ser feita a partir das TS 101 Essa produccedilatildeo teve como siacutembolo uma espeacutecie de roda de fiar chamada de

Charkha No projeto de Gandhi havia uma preocupaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo da

sociedade hindu atraveacutes de um crescimento endoacutegeno sem imposiccedilotildees externas

Essa perspectiva implicava num crescimento que previa melhorar as teacutecnicas

locais de uso corrente e adaptar a tecnologia moderna ao contexto social e

econocircmico da Iacutendia (CORREcircA 2010)

130

Apesar de Gandhi natildeo usar a expressatildeo tecnologia apropriada

seu projeto estava delineado de acordo com tal perspectiva e previa a

promoccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para a identificaccedilatildeo e a

soluccedilatildeo de problemas concretos da Iacutendia (DAGNINO BRANDAtildeO

NOVAES 2004)

Conforme Brandatildeo

A percepccedilatildeo de que a transferecircncia

indiscriminada de tecnologia a partir dos paiacuteses

industrializados natildeo era uma soluccedilatildeo adequada

para os paiacuteses em desenvolvimento jaacute estava de

fato presente no Sarovaya no ano de 1909 Esta

concepccedilatildeo estava baseada no desenvolvimento das

aldeias com os meios de produccedilatildeo para satisfazer

as necessidades baacutesicas em poder das famiacutelias ou

cooperativas de famiacutelias A educaccedilatildeo ndash baseada

no trabalho manual e na identificaccedilatildeo e soluccedilatildeo

dos problemas de importacircncia imediata ndash era o

instrumento para desenvolver a inteligecircncia

criativa Em resumo autodeterminaccedilatildeo a niacutevel de

aldeia concentraccedilatildeo nos problemas importantes

imediatos antes que em planos de longo prazo

busca de inteligecircncia criativa atraveacutes do

desenvolvimento total do indiviacuteduo e mudanccedilas

sociais obtidas atraveacutes da desobediecircncia civil natildeo-

violenta e a natildeo cooperaccedilatildeo eram os elementos

centrais do seu enfoque para o desenvolvimento

O conceito de desenvolvimento de Gandhi incluiacutea

uma poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica expliacutecita que

era essencial para sua implementaccedilatildeo A

insistecircncia de Gandhi na proteccedilatildeo dos artesanatos

das aldeias natildeo significava uma conservaccedilatildeo

estaacutetica das tecnologias tradicionais Ao contraacuterio

implicava o melhoramento das teacutecnicas locais a

adaptaccedilatildeo da tecnologia moderna ao meio

ambiente e agraves condiccedilotildees da Iacutendia e o fomento da

pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica para identificar e

resolver os problemas importantes imediatos Seu

objetivo final era a transformaccedilatildeo da sociedade

Hindu atraveacutes de um processo de crescimento

orgacircnico feito a partir de dentro e natildeo atraveacutes de

uma imposiccedilatildeo externa (2001 p 31)

131

Essas ideias influenciaram o economista alematildeo Ernst Friedrich

Schumacher (1911-1977) que criou a expressatildeo tecnologia intermeacutedia

depois de visitar a Iacutendia no ano de 1963 Brandatildeo (2001) afirma que

Schumacher foi o responsaacutevel por introduzir e popularizar a TA no

mundo ocidental com a criaccedilatildeo do Grupo de Desenvolvimento da TA

em 1966

As ideacuteias de Schumacher a respeito da tecnologia

intermediaacuteria influenciadas por Gandhi a quem

ele considerava o maior economista do seacuteculo 20

foram mais bem difundidas e causaram grande

impacto a partir de 1973 com a publicaccedilatildeo do seu

famoso livro Small is beautiful economics as if

people mattered traduzido para mais de quinze

idiomas e que talvez tenha sido a obra que mais

conseguiu popularizar a Tecnologia Apropriada

(TA) no mundo introduzindo-a no mundo

acadecircmico e nos estudos governamentais de

vaacuterios paiacuteses Neste livro que reuacutene alguns dos

seus ensaios entre eles Economia em um Paiacutes

budista Economia natildeo-violenta e Niacuteveis de

tecnologia escritos entre 1955 e 1963 ao explicar

que as tecnologias desenvolvidas nos paiacuteses

desenvolvidos natildeo se adequam aos paiacuteses em

desenvolvimento pois sua tecnologia moderna

por ser demasiadamente grande agrave medida que

cresce requer mais insumos para a sua

manutenccedilatildeo Schumacher propotildee uma pesquisa

visando agrave geraccedilatildeo de TAs para as zonas rurais

(BRANDAtildeO 2001 p 33)

No Brasil o livro de Schumacher eacute intitulado ldquoO negoacutecio eacute ser

pequenordquo Nele o autor avalia a necessidade de um enfoque regional de

desenvolvimento conjugado ao uso de uma TA aos paiacuteses pobres Nas

palavras do autor

O desenvolvimento econocircmico em aacutereas de pobreza

soacute pode ser fecundo quando baseado no que

designei por tecnologia intermeacutedia Em uacuteltima

anaacutelise a tecnologia intermeacutedia seraacute de uso

intensivo de matildeo-de-obra e prestar-se-aacute a ser

utilizada em estabelecimentos fabris de escala

pequena Mas tanto a intensidade de matildeo-de-obra

como a escala pequena natildeo implicam uma

132

tecnologia intermeacutedia () Uma tal tecnologia

intermeacutedia seria imensamente mais produtiva do

que a tecnologia proacutepria (que amiuacutede se acha em

decomposiccedilatildeo) mas tambeacutem seria imensamente

mais barata do que a tecnologia requintada de uso

altamente intensivo de capital da induacutestria

moderna () A tecnologia intermeacutedia tambeacutem se

enquadraria de um modo muito mais natural no

ambiente relativamente rudimentar em que vai ser

utilizada O equipamento seria razoavelmente

simples e portanto compreensiacutevel adequado agrave

manutenccedilatildeo e reparos no local O equipamento

simples eacute normalmente menos dependente de

mateacuterias-primas de grande pureza ou especificaccedilotildees

exatas e muito mais adaptaacutevel a flutuaccedilotildees do

mercado do que o equipamento altamente

sofisticado Os homens satildeo mais facilmente

treinados a supervisatildeo o controle e a organizaccedilatildeo

satildeo mais simples e haacute muito menor vulnerabilidade

a dificuldades imprevistas (SCHUMACHER 1977

p 159 - 161)

Verifico que essa proposta pretendia uma tecnologia que se

caracterizasse pelo baixo custo de capital pequena escala e

simplicidade abarcando tambeacutem uma dimensatildeo ambiental que por

tudo isso foi entendida como mais adequada aos paiacuteses pobres

Neder (2008) esclarece que o movimento iniciado por

Schumacher mobilizou praticantes e teoacutericos de diversas localidades que

defendiam e buscavam viabilidade de tecnologias que fossem

apropriadas agraves culturas locais e agraves realidades regionais em escalas

dominadas pelos sujeitos Teacutecnicos e militantes na Europa Aacutesia e

Ameacuterica Latina nos anos 1960 e 1970 propuseram a luta pela

perspectiva de uma TA em peacute de igualdade com a cultura tecnocientiacutefica

hegemocircnica (NEDER 2008)

No quadro 4 abaixo Brandatildeo (2001) traccedila um paralelo entre

uma sociedade baseada em TC (Hard Technology-tecnologia fortedura)

e uma sociedade com base no que ele chama de Tecnologia Alternativa

(Soft Technology-tecnologia suavemacia) aqui usada como sinocircnimo

de TA Nele eacute possiacutevel perceber que o autor considera que uma

sociedade baseada em TA se aproximaria da visatildeo que melhor se

encaixa em uma noccedilatildeo sustentaacutevel de desenvolvimento Mas revela a

complexidade envolvida nessa questatildeo e afirma defender uma TA para o

desenvolvimento sustentaacutevel mas natildeo como uma panaceia que

133

solucione todos os problemas advindos da incapacidade dos modelos

econocircmicos por deacutecadas dominantes em resolver os problemas mais

baacutesicos da populaccedilatildeo do mundo (BRANDAtildeO 2001 p42)

Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA

Sociedade Baseada em Tecnologia

Convencional

(Hard Technology)

Sociedade Baseada em

Tecnologia Alternativa

(Soft Technology)

1 Ecologicamente doente

2 Grande consumo de energia

3 Alto iacutendice de poluiccedilatildeo

4 Uso irreversiacutevel de materiais e

energia

5 Funcional somente por tempo

limitado

6 Produccedilatildeo em massa

7 Especializaccedilatildeo em alto niacutevel

8 Nuacutecleo familiar

9 Importacircncia agraves cidades

10 Poliacutetica de consenso

11 Fronteiras estabelecidas pela

riqueza

12 Alienaccedilatildeo da natureza

13 Comeacutercio internacional

14 Destruidora da cultura local

15 Tecnologia passiacutevel de ser mal-

usada

16 Altamente destruidora de outras

espeacutecies

17 Inovaccedilatildeo regida por lucros e

perdas

18 Economia orientada para o

crescimento

19 Capital intensivo

20 Centralista

21 Aliena jovens e velhos

22 A eficiecircncia geral aumenta com

grandeza

23 Meacutetodos operacionais muito

complicados para compreensatildeo geral

24 Acidentes tecnoloacutegicos frequumlentes

e graves

25 Soluccedilotildees uacutenicas para problemas

Ecologicamente sadia

Pequeno consumo de energia

Baixo iacutendice de poluiccedilatildeo

Uso reversiacutevel de materiais e

energia

Funcional por tempo ilimitado

Induacutestria artesanal

Pouca especializaccedilatildeo

Unidades comunais

Importacircncia agraves vilas

Poliacutetica democraacutetica

Fronteiras estabelecidas pela

natureza

Integrada agrave natureza

Intercacircmbio local

Compatiacutevel com a cultura local

Medidas de seguranccedila contra mau

uso

Dependente do bem-estar de

outras espeacutecies

Inovaccedilatildeo regida pela necessidade

Economia estabilizada

Trabalho intensivo

Natildeo-centralista

Integra jovens e velhos

A eficiecircncia geral aumenta com a

pequenez

Meacutetodos operacionais

compreensiacuteveis para todos

Acidentes tecnoloacutegicos raros e

sem gravidade

Soluccedilotildees diversas para problemas

134

teacutecnicos e sociais

26 Na agricultura importacircncia da

monocultura

27 Criteacuterios de quantidade altamente

valorizados

28 Trabalho empreendido

principalmente por dinheiro

29 Produccedilatildeo alimentar feita por

induacutestrias especializadas

30 Ciecircncia e tecnologia alienadas da

cultura

31 Pequenas unidades totalmente

dependentes de outras

32 Ciecircncia e tecnologia exercida por

elites especializadas

33 Ciecircncia e tecnologia separadas

das outras formas de conhecimento

34 Distinccedilatildeo acentuada entre

laborlazer

35 Desemprego em grande escala

36 Metas teacutecnicas vaacutelidas somente

para uma pequena porccedilatildeo do globo

por tempo limitado

teacutecnicos e sociais

Na agricultura importacircncia agrave

diversificaccedilatildeo

Criteacuterios de qualidade altamente

valorizados

Trabalho empreendido

principalmente por satisfaccedilatildeo

Produccedilatildeo alimentar feita por

todos

Ciecircncia e tecnologia integradas agrave

cultura

Pequenas unidades auto-

suficientes

Ciecircncia e tecnologia exercida por

todos

Ciecircncia e tecnologia integradas

com outras formas de

conhecimento

Distinccedilatildeo leve ou natildeo existente

entre laborlazer

(conceito natildeo vaacutelido)

Metas teacutecnicas vaacutelidas para

todos os homens em todos os

tempos

Fonte (BRANDAtildeO 2001 p41)

As ideias de Gandhi e Schumacher presentes na perspectiva de

TA foram acolhidas inclusive pelo Norte Contudo Dagnino Brandatildeo e

Novaes (2004) apontam que a partir de meados dos anos 1980 as

iniciativas de desenvolvimento de TA perdem forccedila devido ao contexto

geopoliacutetico neoliberal que se agravou Aleacutem disso Dias e Novaes

(2009) mostram que as TA tinham uma debilidade importante Essa

consistia em pressupor que o simples alargamento do leque de

alternativas tecnoloacutegicas agrave disposiccedilatildeo do Sul poderia alterar a natureza

do processo que presidiria a adoccedilatildeo de tecnologia

Thomas e Fressoli (2009) vatildeo aleacutem e consideram que as TA

apresentaram uma seacuterie de restriccedilotildees pois foram

desenhadas para situaccedilotildees de pobreza extrema de

nuacutecleos familiares ou pequenas comunidades

geralmente aplicam conhecimentos tecnoloacutegicos

simples e tecnologias antigas deixando de lado

novos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos

disponiacuteveis Concebidas como meros bens de uso

135

normalmente perdem de vista que ao mesmo

tempo geram bens de troca e dinacircmicas de

mercado De fato normalmente ignoram os

sistemas de acumulaccedilatildeo e os mercados de bens e

serviccedilos em que estatildeo inseridas e resultam

economicamente insustentaacuteveis (p 114)102

Contudo o desenvolvimento de TS busca evitar os equiacutevocos

detectados nas TA De acordo com Fonseca e Serafim (2009) a

proposta das TS pretende superar a visatildeo do movimento pela TA com a

realizaccedilatildeo da criacutetica agrave neutralidade e ao determinismo E foi esse

cuidado que ressaltei ao apontar possibilidades e limites de mobilizaccedilatildeo

(criativa colaborativa e autossuficiente) para a autoria em ambientes

educacionais via TS Aleacutem disso Dagnino Brandatildeo e Novaes (2004)

consideram que o movimento da TA apontou elementos para o processo

de elaboraccedilatildeo do marco analiacutetico-conceitual hoje disponiacutevel para a

formulaccedilatildeo de um conceito de TS adequado agrave realidade brasileira como

mostrarei adiante

222 Denominaccedilotildees e sentidos

Atualmente o termo ldquoTecnologia Socialrdquo eacute muito conhecido seja

por quem estuda tecnologia seja por quem desenvolve accedilotildees em

perspectiva de inovaccedilatildeo e inclusatildeo socioteacutecnica Contudo na literatura

disponiacutevel as TS satildeo muitas vezes relacionadas agraves TA e vaacuterias

denominaccedilotildees aparecem para fazer referecircncia a iniciativas que se

contrapotildeem agrave TC e agrave tecnociecircncia Satildeo elas tecnologia alternativa

tecnologia utoacutepica tecnologia intermediaacuteria tecnologia adequada

tecnologia socialmente apropriada tecnologia ambientalmente

apropriada tecnologia adaptada ao meio ambiente tecnologia correta

tecnologia ecoloacutegica tecnologia limpa tecnologia natildeo-violenta

tecnologia natildeo-agressiva ou suave tecnologia branda tecnologia doce

tecnologia racional tecnologia humana tecnologia de auto-ajuda

102 Disentildeadas para situaciones de extrema pobreza de nuacutecleos familiares o

pequentildeas comunidades normalmente aplican conocimientos tecnoloacutegicos

simples y tecnologiacuteas maduras dejando de lado el nuevo conocimiento

cientiacutefico y tecnoloacutegico disponible Concebidas como simples bienes de uso

normalmente pierden de vista que al mismo tiempo generan bienes de cambio

y dinaacutemicas de mercado De hecho normalmente ignoran los sistemas de

acumulacioacuten y los mercados de bienes y servicios en los que se insertan y

resultan econoacutemicamente insustentables (p 114) Traduccedilatildeo livre da autora

136

tecnologia progressiva tecnologia popular tecnologia do povo

tecnologia orientada para o povo tecnologia orientada para a sociedade

tecnologia democraacutetica tecnologia comunitaacuteria tecnologia de vila

tecnologia radical tecnologia emancipadora tecnologia libertaacuteria

tecnologia liberatoacuteria tecnologia de baixo custo tecnologia da escassez

tecnologia adaptativa tecnologia de sobrevivecircncia e tecnologia

poupadora de capital (BRANDAtildeO 2001)

Para aleacutem de todas essas denominaccedilotildees apresento alguns

sentidos sobre TS que aparecem nos discursos sobre o tema Como jaacute

mencionei desde o iniacutecio dos anos 2000 existem tentativas de

formulaccedilatildeo de um conceito de TS ou de unificaccedilatildeo de ideias recorrentes

acerca do tema por entidades e pesquisadoresas que tratam dessa

questatildeo Aponto aqui algumas dessas iniciativas

A seguinte definiccedilatildeo para TS produtos teacutecnicas eou

metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a

comunidade e que represente efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social

(MCT 2010 RTS 2004) eacute utilizada por

Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia do Brasil (MCT) atraveacutes da

Secretaria de Inclusatildeo Social (SECIS) busca promover inclusatildeo social

por meio de accedilotildees que melhorem a qualidade de vida e estimulem a

geraccedilatildeo de ocupaccedilatildeo e renda (MCT 2010)

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atraveacutes da Incubadora

Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares (ITCP) desenvolve TS que

visam agrave construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvimento local

sustentaacutevel baseadas em princiacutepios da socioeconomia solidaacuteria

(MATSUMOTO 2008 sp)

Rede de Tecnologia Social (RTS) tem entre seus noacutes o MCT o

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS) o

Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (MI) a Petroacuteleo Brasileiro SA

(PETROBRAS) o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico (CNPq) a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

(EMBRAPA) o Instituto Paulo Freire (IPF) a FBB o Instituto de

Tecnologia Social (ITS) a Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais (ABONG) e o Conselho Federal de Defesa dos Direitos

Humanos (CFDH) entre outras instituiccedilotildees (RTS 2010)

O ITS define TS de modo similar ao MCT FGV e RTS TS eacute

ldquoum conjunto de teacutecnicas metodologias transformadoras desenvolvidas

eou aplicadas na interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo e apropriadas por ela que

representam soluccedilotildees para inclusatildeo social e melhoria das condiccedilotildees de

vidardquo (ITS 2004 p 130) Aleacutem disso o ITS (2009) indica no quadro 5

137

abaixo as dimensotildees que seratildeo analisadas para considerar se uma

iniciativa se constitui como TS ou natildeo

Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS

Dimensotildees CaracteriacutesticasIndicadores

Conhecimento Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo

1 Objetiva solucionar demanda social

2 Organizaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo

3 Grau de inovaccedilatildeo

Participaccedilatildeo Cidadania e

Democracia

4 Democracia e cidadania

5 Metodologia participativa

6 Difusatildeo

Educaccedilatildeo

7 Processo pedagoacutegico

8 Diaacutelogo entre saberes

9 ApropriaccedilatildeoEmpoderamento

Relevacircncia Social

10 Eficaacutecia

11 Sustentabilidade

12 Transformaccedilatildeo social

Fonte (ITS 2009 sp)

Jaacute a FBB que manteacutem um banco de dados sobre TS o BTS jaacute

referido na introduccedilatildeo desta tese caracteriza TS como ldquotodo processo

meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema

social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil

reaplicabilidade e impacto social comprovado (PENA MELLO 2004

p 84) No site da FBB disponiacutevel em ltwwwtecnologiassocialorgbrgt

as TS satildeo definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou

metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a

comunidade e que representem efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo

social (BTS 2008 FBB 2008 sp)

Segundo a FBB (2008) o conceito remete a uma proposta

inovadora de desenvolvimento que considera a participaccedilatildeo coletiva no

seu processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implantaccedilatildeo aleacutem de

estar baseado na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a

demandas sociais concretas Para a entidade tecnologias sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e conhecimento teacutecnico-

cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e reaplicaacuteveis

propiciando desenvolvimento social em escala (FBB 2008 sp)

Pelo exame dessas conceituaccedilotildees percebo que as TS se propotildeem

de modo geral a atender questotildees relativas agrave melhoria de condiccedilotildees de

138

vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local

sustentaacutevel

Jaacute para Tait Fonseca e Dagnino (2007) o conceito de TS deveria

ser empregado para se referir a produtos e metodologias que fossem

claramente identificados com a oacuterbita da produccedilatildeo primordialmente nos

ambientes de cooperativas tendo em vista que essas entidades seriam

teoricamente fundamentais no processo de promoccedilatildeo de sustentabilidade

social via ambiente de produccedilatildeo A partir desse entendimento eacute

interessante examinar as contraposiccedilotildees apresentadas por Dagnino

(2004) em relaccedilatildeo aos sentidos sobre TS em relaccedilatildeo agrave TC

Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS

O que faz a TC ser diferente da TS

A TC eacute funcional para a

empresa privada que no

capitalismo eacute a

responsaacutevel por

transformar

conhecimento em bens e

serviccedilos

Os governos dos paiacuteses

centrais apoacuteiam seu

desenvolvimento

As organizaccedilotildees e os

profissionais que a

concebem estatildeo

imersos no ambiente

social e poliacutetico que a

legitima e demanda

Porque trazem

consigo seus valores e

por isso a reproduzem

Fonte (DAGNINO 2004 p 195)

Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS

Como eacute (ou deveria ser) a TS

Adaptada a pequeno

tamanho fiacutesico e financeiro

Natildeo-discriminatoacuteria (patratildeo

x empregado)

Orientada para o mercado

interno de massa

Liberadora do

potencial e da

criatividade do produtor

direto

Capaz de viabilizar

economicamente os

empreendimentos

autogestionaacuterios e as

pequenas empresas

Fonte (DAGNINO 2004 p 193)

139

Verifico que Dagnino (2004) concebe TS fortemente

contrapostas agrave TC e ao contexto capitalista de produccedilatildeo O autor

apresenta um conjunto de princiacutepios normativos envolvidos com TS

pelos quais essas deveriam ser adaptadas a pequenos produtores e

consumidores de baixo poder econocircmico natildeo promovedoras do

controle segmentaccedilatildeo hierarquizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre

patrotildees e empregados orientadas para o mercado interno de massa

incentivadoras do potencial e da criatividade de produtores diretos e dos

usuaacuterios e capazes de viabilizar economicamente empreendimentos

como cooperativas populares incubadoras e pequenas empresas

(DAGNINO 2004)

Esse autor tem conceituado TS como

o resultado da accedilatildeo de um coletivo de produtores

sobre um processo de trabalho que em funccedilatildeo de

um contexto socioeconocircmico (que engendra a

propriedade coletiva dos meios de produccedilatildeo) e de

um acordo social (que legitima o associativismo)

os quais ensejam no ambiente produtivo um

controle (autogestionaacuterio) e uma cooperaccedilatildeo (de

tipo voluntaacuterio e participativo) permite (a accedilatildeo

referida) uma modificaccedilatildeo no produto gerado

passiacutevel de ser economicamente apropriada

segundo a decisatildeo do coletivo (DAGNINO 2014

p 204)

Para desenvolver a TS Dagnino (2014) aponta a necessidade de

um processo de AST como jaacute apontei anteriormente com as seguintes

modalidades (i) alteraccedilatildeo na distribuiccedilatildeo da receita gerada (ii)

apropriaccedilatildeo (iii) repotenciamento (iv) ajuste no processo de trabalho

(v) alternativas tecnoloacutegicas (vi) incorporaccedilatildeo de conhecimento

tecnocientiacutefico existente e (vii) busca de conhecimento tecnocientiacutefico

novo103

Uma adequaccedilatildeo social e teacutecnica para TS como a exposta acima eacute

ampliada na proposta de inspiraccedilatildeo construtivista de Thomas e Fressoli

(2009) e Thomas e Buch (2008) Para esses autores a AST pode ser

compreendida como um processo que busca promover adequaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos tanto aos requisitos de caraacuteter teacutecnico e

econocircmico como fundamentalmente ao conjunto de aspectos de

103 Um detalhamento de cada uma das sete modalidades natildeo eacute explorado aqui

Para mais informaccedilotildees ver a referecircncia Dagnino (2014)

140

natureza socioeconocircmica e ambiental Equipamentos insumos e formas

de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo em forma tangiacutevel ou taacutecita se vinculam a

processos de participaccedilatildeo democraacutetica no processo de trabalho na

atenccedilatildeo ao ambiente e agrave sauacutede de trabalhadores e consumidores bem

como agrave capacitaccedilatildeo autogestionaacuteria (THOMAS BUCH 2008)

A AST eacute compreendida portanto como um processo e natildeo como

um resultado a ser buscado (como o que ocorre com as TA) Ela

substituiria a idealizaccedilatildeo tiacutepica do laboratoacuterio pela praacutetica concreta dos

movimentos sociais (THOMAS BUCH 2008) Assim os autores

destacam a importacircncia da participaccedilatildeo de coletividades em especial de

movimentos sociais e ao contraacuterio de Dagnino (2004) natildeo partem da

comparaccedilatildeo com a TC mas da comparaccedilatildeo com a TA No quadro 8 a

seguir Thomas (2008) relaciona TA e a perspectiva de AST em termos

sociocognitivos104

Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST

Tecnologias

Apropriadas

Adequaccedilatildeo

Socioteacutecnica

Concepccedilatildeo baacutesica Estoque de

tecnologias

Tecnologias

singulares

Produccedilotildees ad hoc

Montagem socioteacutecnica

Construccedilatildeo do

problema

social

Processo exoacutegeno

Conhecimento de

especialistas

Processo endoacutegeno

Muacuteltiplos saberes

Relaccedilatildeo problema ndash

soluccedilatildeo

Uniacutevoca

Linear

Singular

Monovariaacutevel

Flexibilidade

interpretativa

Natildeo linear

Plural

Sistecircmica

Desenho da

tecnologia

Exoacutegeno

Teacutecnico

Centrado no artefato

Endoacutegeno

Socioteacutecnico

Centrado na dinacircmica

socioteacutecnica

Equipe de desenho Grupo de

especialistas

Divisatildeo social do

trabalho

Coletivo de produtores e

usuaacuterios de tecnologias

Divisatildeo teacutecnica do

trabalho

Processo de

concepccedilatildeo e

Transferecircncia e

difusatildeo Adaptaccedilatildeo a

Co-construccedilatildeo

104 Natildeo exploro aqui cada componente da AST apresentado no quadro 8

141

construccedilatildeo condiccedilotildees locais

Conhecimentos

implicados

Homogecircneos

Expertise

Predomiacutenio de

conhecimentos de

engenharia

Heterogecircneos

Conhecimentos

codificados e taacutecitos

Transdisciplinar

Intensidade dos

conhecimentos

Baixa

Tecnologias antigas

Alta Tecnologias

intensivas em

Conhecimentos

Presenccedila de

conhecimento taacutecito

Efeitos natildeo

desejados

Integrado ao processo de

desenho

Papel do usuaacuterio Receptor passivo

Ao final da linha

Participante ativo

Ao iniacutecio do processo

Capacitaccedilatildeo dos

usuaacuterios

Ex post Usuaacuterio

passivo

Ex ante Usuaacuterio ativo

Fonte (THOMAS 2008 sp)105

Penso que o importante nesse momento eacute compreender que a

intenccedilatildeo dos autores eacute a de que natildeo se repitam nas TS os erros

cometidos pelas iniciativas baseadas nas TA Nesses termos a AST para

TS poderia ser entendida como um procedimento no qual uma

tecnologia sofreria um processo de adequaccedilatildeo aos interesses poliacuteticos de

grupos sociais relevantes diferentes daqueles que lhes deram origem

(THOMAS FRESSOLI 2009 THOMAS BUCH 2008)

Destaco tambeacutem que Thomas (2012) apresenta uma

compreensatildeo das TS como Tecnologias para a Inclusatildeo Social (TIS)

Nas palavras do autor

As Tecnologias para a Inclusatildeo Social satildeo uma

maneira de desenhar desenvolver implementar e

gerenciar tecnologias orientadas a resolver

problemas sociais e ambientais gerando

dinacircmicas sociais e econocircmicas de inclusatildeo social

e de desenvolvimento sustentaacutevel () e alcanccedilam

uma ampla gama de produccedilotildees de tecnologias de

produtos processos e organizaccedilatildeo (THOMAS

2012 p 27)106

105 Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 106 Las Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social son una forma de disentildear

desarrollar implementar y gestionar tecnologiacuteas orientadas a resolver

problemas sociales y ambientales generando dinaacutemicas sociales y econoacutemicas

de inclusioacuten social y de desarrollo sustentablerdquo [hellip] y ldquoalcanzan un amplio

142

Um sentido sobre TS que dialoga com a AST das TIS e

compreende a questatildeo da inovaccedilatildeo social eacute encontrado em Baumgarten

(2008a 2008b) A autora reflete acerca da temaacutetica de inovaccedilatildeo social

contextualizada com uma visatildeo geral sobre as atuais formas de produzir

ciecircncia e tecnologia que considere o papel de redes de produccedilatildeo de

conhecimentos para sustentabilidade social Para ela esse debate se

refere tanto agrave vinculaccedilatildeo entre produccedilatildeo de ciecircncia tecnologia e

inovaccedilatildeo relacionada a necessidades e possibilidades sociais quanto agrave

importacircncia crescente de apropriaccedilatildeo por parte de diferentes sujeitos de

conhecimentos que possam ser incorporados a TS Essas entendidas

como

As tecnologias sociais teriam pois a

potencialidade para expressar instacircncias fiacutesicas e

virtuais de trocas reintegraccedilatildeo de saberes

contrabandos inter campos e disciplinas que se

fazem por sendas atraveacutes das quais constroem

conhecimentos que datildeo conta da complexidade do

mundo real e de nossas capacidades para construiacute-

lo e reconstruiacute-lo de acordo com nossas

necessidades e potencialidades (BAUMGARTEN

2010 sp)

Nesse sentido as TS poderiam se articular como um noacute no qual

seria possiacutevel conectar uma ampla rede de sujeitos (BAUMGARTEN

2010) Nessa perspectiva de TS a teacutecnica seria entendida como um

meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo

forma de controle ou causa de desigualdade social (CORREcircA 2010)

Thomas (2009) tambeacutem apresenta um apanhado de diferentes

posicionamentos teoacutericos desenvolvidos sobre TS a partir da deacutecada dos

anos 1960 O quadro 9 abaixo traz uma siacutentese dessas contribuiccedilotildees

abanico de producciones de tecnologiacuteas de producto proceso y organizacioacuten

(THOMAS 2012 p 27) Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da

autora

143

Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico

Fonte (VALADAtildeO ANDRADE NETO 2014 p 56)

Eacute possiacutevel verificar que o quadro 9 apresenta posicionamentos

criacuteticos em relaccedilatildeo a padrotildees lineares e convencionais de

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico Destaco portanto a

importacircncia das posiccedilotildees acima referidas no entendimento das TS

Desde a perspectiva normativa e contraposta agrave TC de Dagnino (2004)

passando pela AST das TIS em contraposiccedilatildeo agrave TA de Thomas (2012) e

Thomas e Fressoli (2009) ateacute a perspectiva de inovaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo

social desenvolvido por Baumgarten 2008a 2008b) mostram-me modos

de abordar a questatildeo de maneira criacutetica e com relevacircncia aos sujeitos envolvidos com as TS

E esse sentido criacutetico seria importante para pensarmos sobre TS

em processos educacionais Compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo

humana permeada de valores (caraacuteter ideoloacutegico) e que como tal pode

ser construiacuteda conforme nossos interesses e de acordo com nossos

144

contextos (de diversidade eacutetnico-racial de gecircnero e de classes por

exemplo) pode auxiliar na mobilizaccedilatildeo para autoria em ambientes

educacionais

Assim apresento a figura 3 abaixo na qual esquematizo um

modo possiacutevel de relacionar criticamente dimensotildees gerais das TS com

as categorias que utilizo nesta tese

Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

A ideia eacute que em torno de uma perspectiva criacutetica sobre TS em

processos educacionais seja possiacutevel promover (i) diaacutelogos entre

diferentes conhecimentos (ii) mobilizaccedilatildeo de estudantes para autoria na

(maior) compreensatildeo da relevacircncia de seus problemas (e soluccedilotildees)

socioteacutecnicos (iii) (resgate de) sentidos na busca por emancipaccedilatildeo

social e (iv) possibilidades (maiores) de compreender a tecnologia como

conhecimento humano possiacutevel de ser aprendido

Ao apontar essas quatro dimensotildees possiacuteveis de anaacutelises em TS

procuro natildeo silenciar seu caraacuteter poliacutetico tampouco os conhecimentos

produzidos pelas diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no

contexto escolar da atualidade E em alguma medida busco refletir sobre as relaccedilotildees entre essas diversidades e os possiacuteveis aspectos que

representariam sua unicidade em um contexto nacional mais geral

Acredito que promover uma perspectiva criacutetica de TS (que

apresente a histoacuteria das teacutecnicas a importacircncia dos sujeitos as

145

contradiccedilotildees e os efeitos desses desenvolvimentos em nossas culturas)

pode colaborar com debates nos quais estudantes (como autoresas e natildeo

apenas usuaacuteriosas) percebam (mais) que seus problemas socioteacutecnicos

tecircm relevacircncia e que eleselas tecircm possibilidades (autonomia) de

desenvolver autoria na busca por soluccedilotildees criativas e colaborativas

(emancipaccedilatildeo social)

Entretanto vaacuterios sentidos sobre TS que circulam e muitas

iniciativas de desenvolvimento que estatildeo implantadas apresentam

caracteriacutesticas que merecem ser examinadas com algum cuidado

223 Ponderaccedilotildees

Um sentido sobre TS muito disseminado no Brasil se refere agrave

proposta da FBB107 que como apontei anteriormente destaca as

dimensotildees de simplicidade baixo custo faacutecil reaplicabilidade e resposta

social comprovada Um esquema dessas caracteriacutesticas pode ser visto na

Figura 4 abaixo

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Junto a isso as possibilidades de (i) apropriaccedilatildeo das TS pelos

sujeitos e (ii) articulaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais e

107 A popularidade do conceito de TS utilizado pela FBB ocorre porque essa

manteacutem desde 2001 um banco de dados de TS que serve de base para o Precircmio

FBB de TS que ocorre a cada dois anos O Banco do Brasil (BB) tem presenccedila

expressiva em todas as regiotildees do paiacutes e conta com um suporte de publicidade

amplo Desse modo o Precircmio FBB de TS tem divulgaccedilatildeo em todo o paiacutes em

vaacuterias miacutedias o que confere expressividade ao seu alcance e ao nuacutemero de

iniciativas inscritas

146

conhecimentos socioteacutecnicos tambeacutem satildeo caracteriacutesticas apontadas por

autoresas e instituiccedilotildees que discutem a questatildeo De modo que apresento

a seguir certas consideraccedilotildees em relaccedilatildeo a algumas dessas dimensotildees

das TS para que elas possam ser pensadas de modo menos ingecircnuo

O aspecto da simplicidade muitas vezes se traduz como pontual

Em minha pesquisa para a dissertaccedilatildeo identifiquei que as TS analisadas

satildeo dirigidas prioritariamente agrave soluccedilatildeo de problemas pontuais muitas

vezes parciais de sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade O que pode

carregar um sentido assistencialista Ou seja praacuteticas normalmente

paliativas que prestam assistecircncia a sujeitos necessitados de uma

coletividade em detrimento de uma poliacutetica que os tire da sua condiccedilatildeo

de carecircncia e vulnerabilidade (CORREcircA 2010) Frente a isso eacute

interessante pensarmos na simplicidade como a busca pelo uso de

conhecimentos locais

Em relaccedilatildeo agrave reaplicaccedilatildeo considero importante a distinccedilatildeo de

replicaccedilatildeo De acordo com Barros (2007) replicaccedilatildeo eacute uma coacutepia de um

modelo sem exercer alteraccedilotildees As TS envolvem reaplicaccedilatildeo porque

precisam ser reconstruiacutedas o tempo todo Pois os conhecimentos se

reconstroem com a participaccedilatildeo de todosas osas que interagem na sua

multiplicaccedilatildeo (BARROS 2007) Portanto as TS podem ser reaplicaacuteveis

(ou adaptadas para cada contexto) desde reflexotildees criacuteticas e em conjunto

com os sujeitos envolvidos

As possibilidades de mediaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais

e conhecimentos socioteacutecnicos atraveacutes de TS pode ser pensada desde

uma perspectiva interdisciplinar108 Nessa direccedilatildeo Rocha Neto (2002)

propotildee inter-relaccedilotildees entre Ciecircncias Sociais e Ciecircncias Naturais Para o

autor a ampliaccedilatildeo do escopo das atividades de pesquisa e a realizaccedilatildeo

de projetos de relevacircncia social com a colaboraccedilatildeo de diferentes aacutereas

do conhecimento pode ser uma iniciativa nessa direccedilatildeo

108 De acordo com Pombo (2006) o modelo atual de produccedilatildeo de

conhecimentos cientiacuteficos levou ao extremo de especializaccedilotildees cientiacuteficas As

disciplinas acadecircmicas instituiacutedas mantecircm pouca ou nenhuma comunicaccedilatildeo

muitas vezes dentro da mesma aacuterea de conhecimento O que parece desperdiccedilar

possibilidades de diaacutelogo entre acadecircmicos aacutereas campos de conhecimentos e

desses com os sujeitos Sem desconsiderar a importacircncia dos especialistas e a

relevacircncia acadecircmica e social de estudos aprofundados aponto que muitas

vezes especializaccedilotildees extremas podem levar a fragmentaccedilatildeo de conhecimentos

que podem natildeo contemplar uma integraccedilatildeo de conhecimentos que possibilitem

abranger a complexidade que as problemaacuteticas atuais apresentam (CORREcircA

2010)

147

Contudo para aleacutem da abertura e integraccedilatildeo entre aacutereas

acadecircmicas eacute importante o diaacutelogo com os sujeitos que produzem

conhecimentos em outras instacircncias Jaacute nos anos 1980 Santos (2010b)

apresentava seu paradigma emergente que permite pensarmos em uma

educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo Para pensarmos sobre TS de

modo menos ingecircnuo seria importante considerarmos as teses do autor

de que (i) todo o conhecimento cientiacutefico-natural eacute cientiacutefico social (ii)

todo o conhecimento eacute local e total (iii) todo o conhecimento eacute

autoconhecimento e (iv) todo o conhecimento cientiacutefico visa constituir-

se em senso comum (SANTOS 2010b)

O autor destaca que com a emergecircncia do novo paradigma

comeccedilaria a desaparecer a diferenccedila hieraacuterquica entre senso comum e

conhecimento cientiacutefico Essa equidade entre os tipos de conhecimento

natildeo visaria desfavorecer o conhecimento cientiacutefico que inegavelmente

atua em muitos sentidos na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos

mas fazer perceber que natildeo eacute necessaacuterio abdicar dos conhecimentos

locais nativos das artes filosoacutefico e especulativo para aceitar a ciecircncia

e a tecnologia

Com isso a possibilidade de contemplar uma integraccedilatildeo de

conhecimentos nas TS natildeo representaria um simples somatoacuterio mas a

recriaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo de conhecimentos que cruzariam as fronteiras

das disciplinas acadecircmicas e extrapolariam os muros da academia Para

isso considero a importacircncia de oportunizar conhecimentos em ciecircncia

e tecnologia para os sujeitos (domiacutenio intelectual da teacutecnica) que lhes

permitam um debate informado e criacutetico sobre o tema (autonomia)

A esse respeito Castro (2009) esclarece que leva tempo para

educar algueacutem a ser criacutetico com a tecnologia e a conhecer sua proacutepria

capacidade de decisatildeo Portanto o autor destaca que seria importante

introduzir essa discussatildeo na escola inicial porque ali as crianccedilas jaacute tecircm

celular videogames e muitas possibilidades tecnoloacutegicas Tendo em

vista o exemplo das discussotildees ecoloacutegicas que comeccedilaram a ser

apresentadas fortemente agraves crianccedilas nas seacuteries inicias de ensino poderia

ser relevante comeccedilar a combater cedo a dimensatildeo ideoloacutegica de que a

tecnologia eacute apoliacutetica (CASTRO 2009)

Antes de examinar os detalhes que envolvem as TS em processos

educacionais destaco tipos de TS exemplos entidades e coletividades

que as desenvolvem no Brasil contemporacircneo

148

224 TS tipos exemplos entidades e coletividades

relacionadas109

Em minha dissertaccedilatildeo elaborei uma tipologia sobre TS pois

naquele contexto fazia sentido identificaacute-las como materiais ou

imateriais Na primeira categoria identifiquei produtos mercadorias e

creacutedito enquanto na segunda analisei serviccedilos processos e formas de

gestatildeo Essa definiccedilatildeo do tipo de tecnologia natildeo foi feita em relaccedilatildeo

apenas agrave finalidade da TS mas considerei o contexto110 no qual o

desenvolvimento ocorria os sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade

com a qual a TS se relacionava e o problema a ser resolvido Desse

modo procurei evitar uma percepccedilatildeo instrumental das TS O quadro 10

abaixo mostra a prevalecircncia de TS de tipo imaterial que em percentual

correspondia a 87 dos casos que analisei

Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS

Fonte Correcirca (2010)

109 Satildeo exemplos de TS muito divulgados soro caseiro Banco Palmas cisternas

para captaccedilatildeo de aacutegua cafeacute com floresta e encauchados de vegetais da

Amazocircnia entre outras iniciativas que podem ser verificadas emlt

httpfbborgbrtecnologiasocialgt 110 Considerei a proposiccedilatildeo de Feenberg (2002) para quem o caraacuteter social da

tecnologia natildeo reside na loacutegica do seu funcionamento interno mas na relaccedilatildeo

dessa loacutegica com um contexto social

149

Subdividi as TS imateriais em (i) serviccedilos (ii) processos e (iii)

gestatildeo Satildeo exemplos de cada um desses casos (i) serviccedilos gratuitos de

auxiacutelio em questotildees juriacutedicas coleta de lixo por prefeituras confecccedilatildeo

de documentos de identificaccedilatildeo como carteira de identidade

distribuiccedilatildeo de alimentos cadastro de desempregadosas e empreacutestimo

de equipamentos ortopeacutedicos entre outros (ii) cursos de educaccedilatildeo

popular capacitaccedilatildeo de professoresas capacitaccedilatildeo de lideranccedilas

comunitaacuterias formaccedilatildeo de monitoresas de desenvolvimento rural

cursos de informaacutetica para sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e

cursos de aperfeiccediloamento teacutecnico e (iii) gerecircncia de atividades de

economia solidaacuteria

Essa categorizaccedilatildeo eacute importante pois apareceraacute em alguma

medida no exame dos dados sobre as TS desenvolvidas por estudantes

dos CTIEM Cacircmpus Caxias do Sul

Acredito que a relaccedilatildeo entre tipos de TS desenvolvidas e sua

localizaccedilatildeo pode ilustrar o contexto no qual faccedilo minha investigaccedilatildeo A

tabela 2 abaixo traz alguns dados nesse sentido Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS

Fonte Correcirca (2010)

Destaco que a Regiatildeo Sul como pode ser visto tem maior

desenvolvimento de TS de tipo imaterial (64 casos) Podemos observar

que essas TS satildeo a maioria em todas as regiotildees do Brasil Em minha

dissertaccedilatildeo verifiquei que TS imateriais de tipo serviccedilos e processos

sobretudo no tema da educaccedilatildeo estatildeo relacionadas com esse padratildeo

Apresento abaixo dados sobre as entidades que desenvolvem TS

no Brasil

150

Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS

Fonte Correcirca (2010)

Destaco as entidades que tecircm alguma relaccedilatildeo com processos

educacionais Na tabela 3 acima elas estatildeo distribuiacutedas entre entidades

puacuteblicas (oacutergatildeos dos poderes executivo legislativo e judiciaacuterio em

acircmbitos federais estaduais e municipais empresas puacuteblicas escolas

universidades e centros de pesquisas) em fundaccedilotildees (de empresas

privadas) em educacionais privadas (faculdades centros de pesquisa e

escolas privadas que natildeo tecircm caraacuteter filantroacutepico) em assistenciais e

filantroacutepicas (entidades autodeclaradas desse modo natildeo satildeo oacutergatildeos

governamentais) no 3ordm setor sindicatos e cooperativas (Organizaccedilotildees da

Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico - OSCIPs ONGs e associaccedilotildees

privadas de interesse puacuteblico) e na categoria outras Embora a perspectiva educacional possa estar diluiacuteda em vaacuterias

categorias eacute possiacutevel verificar que as entidades classificadas como

puacuteblicas somam 37 das TS desenvolvidas com 165 casos dos quais

76 satildeo nomeadamente entidades educacionais Assim como os 89 casos

em oacutergatildeos relacionados ao poder executivo legislativo e judiciaacuterio de

151

prefeituras estados e do Governo Federal podem ter relaccedilatildeo com

processos educacionais (CORREcircA 2010)

Por fim apresento o graacutefico 3 abaixo que contempla as

coletividades envolvidas com as TS que analisei

Graacutefico 3 - Coletividades

Fonte Correcirca (2010)

O graacutefico 3 acima mostra que na categoria de coletividades

classificadas como especiacuteficas existem 7 de casos de TS (voltadas ao

puacuteblico analfabeto e a professoresas) Estudantes correspondem a 45

casos 10 do total Os trecircs grandes grupos de coletividades para as

quais as TS se dirigem satildeo pequenosas agricultoresas adolescentes e

famiacutelias de baixa renda (CORREcircA 2010) Mesmo que o nuacutemero de TS

voltadas a analfabetosas e professoresas seja baixo se for considerada

a concentraccedilatildeo de TS dirigidas a problemas no tema educaccedilatildeo eacute possiacutevel

relacionar esses sujeitos como demandantes de TS nessa temaacutetica

Tendo em vista essas informaccedilotildees sobre TS desenvolvidas no

Brasil na atualidade examino a seguir algumas iniciativas que as

relacionam em alguma medida com processos educacionais

225 Relaccedilotildees com processos educacionais

As TS satildeo debatidas sob diversos pontos de vista a partir de

diferentes aacutereas e com preocupaccedilotildees distintas Bioacutelogosas fiacutesicosas

152

geoacutegrafosas ecologistas economistas profissionais da aacuterea da sauacutede

educadoresas estudantes engenheirosas cientistas sociais

participantes de ONGs OSCIPs e de movimentos sociais poliacuteticos

sindicalistas e gestoresas institucionais entre muitos outros sujeitos

desenvolvem estudos ou implantam iniciativas sobre TS no Brasil na

atualidade

Antes de apresentar estudos sobre relaccedilotildees entre TS e processos

educacionais destaco um levantamento de obras sobre TS publicadas

entre os anos de 2003 e 2011 tanto no Brasil quanto em outros paiacuteses

(FREITAS SEGATTO 2013) Para tentar caracterizar a produccedilatildeo

cientiacutefica sobre TS os autores coletaram uma amostra de 133

publicaccedilotildees entre artigos em perioacutedicos (com e sem Qualis111) artigos

completos em anais resumos em anais livros e capiacutetulos de livros entre

outros documentos Desses 925 (123) satildeo de origem nacional e 75

(10) de origem estrangeira (FREITAS SEGATTO 2013)

No quadro 11 abaixo eacute possiacutevel verificar o nuacutemero de

publicaccedilotildees por ano e por paiacutes no qual o Brasil aparece com destaque

na produccedilatildeo de obras sobre TS no periacuteodo analisado

Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees

Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)

Os autores tambeacutem organizaram os dados coletados em relaccedilatildeo

aos temas das publicaccedilotildees conforme pode ser visto no quadro 12

111 O chamado Qualis se refere a avaliaccedilotildees que expressam a pertinecircncia do

conteuacutedo de um perioacutedico para uma determinada aacuterea do conhecimento A

qualidade dos perioacutedicos eacute classificada anualmente pela Capes em estratos que

compreendem desde a melhor avaliaccedilatildeo (A1) passando por A2 B1 B2 B3 B4

e B5 ateacute a menor pertinecircncia (C) e pode ser verificada em

lthttpssucupiracapesgovbrsucupirapublicconsultascoletaveiculoPublicac

aoQualislistaConsultaGeralPeriodicosjsfgt

153

abaixo Destaco a pequena presenccedila de relatos em temas sobre

educaccedilatildeo com apenas uma publicaccedilatildeo ateacute o momento da coleta dos

dados

Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo

Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)

Penso que o tema da educaccedilatildeo possa estar presente mesmo que

silenciado pois pode natildeo ter sido feita uma referecircncia clara no tiacutetulo da

obra (que foi o meacutetodo de coleta de dados utilizado pelos autores) Haacute

tambeacutem o fato de que muitas iniciativas de desenvolvimento de TS na

aacuterea educacional natildeo satildeo relatadas nesse tipo de formato de publicaccedilatildeo

Em minha dissertaccedilatildeo verifiquei o apelo de TS nessa aacuterea como

154

referenciei na introduccedilatildeo desta tese Entretanto nos anos iniciais de

reflexatildeo sobre TS no Brasil havia realmente uma preocupaccedilatildeo na

definiccedilatildeo de prioridades de anaacutelise em TS com focos na divulgaccedilatildeo de

iniciativas de desenvolvimento de TS e na organizaccedilatildeo das demandas

institucionais e poliacuteticas Algo que pode ser visto no quadro 12 acima

onde aparecem 30 publicaccedilotildees (23) concentradas em divulgar

experiecircncias com TS e 23 estudos (17) com ecircnfase nas demandas

institucionais e poliacuteticas

Outra informaccedilatildeo relevante no levantamento de Freitas e Segatto

(2013) eacute a presenccedila de estudos nos temas da AST (que como referi

anteriormente tem preocupaccedilatildeo com iniciativas voltadas a soluccedilotildees

pontuais alinhadas agraves TA) e da inovaccedilatildeo social (que como jaacute apontei

destaca processos inovadores para melhorar ou desenvolver novas TS)

Com isso apresento a seguir contribuiccedilotildees recentes que de alguma

maneira estatildeo relacionadas com processos educacionais112

A ldquoAcademia Estudantil de Letrasrdquo (AEL) foi desenvolvida por

uma professora na Regiatildeo Sudeste do Brasil e atualmente envolve 15

mil alunosas de Ensino Fundamental e Meacutedio A AEL tem como

objetivo despertar o gosto e o interesse pela leitura nosas estudantes

elevar sua autoestima promover inclusatildeo social no processo de

aquisiccedilatildeo da linguagem e agrave formaccedilatildeo integral doa estudante No

projeto cada estudante participante escolhe uma autora para

representar e estudar simulando uma academia de letras113

A TS intitulada ldquoCisterbanrdquo eacute desenvolvida em uma escola na

Regiatildeo Nordeste do Brasil Nela satildeo construiacutedas cisternas a partir do

reaproveitamento da fibra de bananeira Processo mais barato que a

fabricaccedilatildeo de cisternas tradicionais e que amenizam a seca no semiaacuterido

cearense Tambeacutem com foco em produto uma escola municipal da

Regiatildeo Norte do Brasil desenvolve forros ecoloacutegicos feito com

embalagens do tipo longa vida que garante conforto teacutermico

diminuindo a temperatura em ateacute 9ordm C no interior dos lares das

comunidades de baixa renda 112 Com exceccedilatildeo da TS chamada ldquoEscolas Sustentaacuteveisrdquo desenvolvida na

Argentina e que descrevo a seguir todas as iniciativas de desenvolvimento de

TS aqui listadas podem ser acessadas em httpwwwaprenderensinartscombr Satildeo relatos de experiecircncias jaacute

implantadas e que natildeo precisam necessariamente estar publicadas em formato

de artigo 113Informaccedilotildees disponiacuteveis em

httpwwwacademiaestudantildeletrasblogspotcombr

155

O projeto ldquoBanco Verde e Bazar Verderdquo se constitui como um

serviccedilo de troca de materiais reciclaacuteveis por material escolar A

iniciativa desenvolvida na rede puacuteblica de ensino na Regiatildeo Sudeste

funciona como uma troca osas alunosas coletam materiais reciclaacuteveis

(garrafas PET potes de vidros latinhas de alumiacutenio e sacos plaacutesticos) e

trocam por moedas verdes Essas que satildeo depositadas no Banco Verde

que fica dentro da escola podem ser gastas no Bazar Verde que tambeacutem

fica na escola e vende artigos variados de papelaria perfumaria e

tecnologia

Com mais de 200 professoresas formadosas desde 2011 o

projeto intitulado ldquoA Escola eacute a Cidade amp a Cidade eacute a Escolardquo da

Regiatildeo Sudeste do Brasil visa melhorar o ambiente escolar e integrar

educaccedilatildeo e cultura A metodologia da TS eacute formar profissionais que

possam usar a arte em accedilotildees contemporacircneas que contribuam com a

melhoria do ambiente escolar no que diz respeito ao espaccedilo fiacutesico mais

atrativo e na aproximaccedilatildeo dos interesses educacionais e juvenis A

preocupaccedilatildeo com formaccedilatildeo de professoresas (aqui estendida a

alunosas) tambeacutem eacute tema da TS ldquoAbra os Olhos para a Ciecircnciardquo

Iniciativa desenvolvida na Regiatildeo Nordeste do Brasil e que incentiva o

envolvimento de alunosas do ensino meacutedio em atividades de divulgaccedilatildeo

e construccedilatildeo do conhecimento cientifico para a compreensatildeo e resoluccedilatildeo

de problemas socioambientais

A TS ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo tem foco na formaccedilatildeo de

jovens na relaccedilatildeo entre direitos humanos cidadania e orccedilamento

puacuteblico A TS consiste em oficinas em escolas puacuteblicas do Distrito

Federal A ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo problematiza a escola a partir

da reflexatildeo sobre educaccedilatildeo de qualidade trabalha com formaccedilatildeo em

orccedilamento puacuteblico direitos humanos cidadania comunicaccedilatildeo e

processo legislativo Na possibilidade de diaacutelogo com o parlamento

osas adolescentes aprendem a defender seus interesses sem a

intermediaccedilatildeo de outros sujeitos

Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o ldquoLaboratoacuterio de

Desenvolvimento de Tecnologias Sociaisrdquo desenvolve projetos

tecnoloacutegicos de recuperaccedilatildeo de aacutereas urbanas degradadas Segundo

Nunes (2005) o laboratoacuterio utiliza uma metodologia participativa e

estimula a integraccedilatildeo dos diversos sujeitos atraveacutes da formaccedilatildeo de

parcerias com universidades e empresas A participaccedilatildeo coletiva eacute

estimulada atraveacutes de um foacuterum de discussatildeo que aborda os principais

temas principalmente sobre a problemaacutetica socioambiental da regiatildeo O

foacuterum busca apontar soluccedilotildees para os problemas locais atraveacutes da

156

construccedilatildeo de uma agenda para a viabilizaccedilatildeo da sustentabilidade local

(NUNES 2005)

O projeto do ldquoObservatoacuterio do Movimento pela Tecnologia

Social na Ameacuterica Latinardquo com sede na Universidade de Brasiacutelia

(UnB) visa identificar discutir analisar e avaliar a efetividade de

experiecircncias com TS implantadas como soluccedilotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas a partir de demandas sociais Conforme Neder (2008) o

observatoacuterio pretende cobrir as muacuteltiplas dimensotildees do movimento de

entidades civis empresas puacuteblicas oacutergatildeos governamentais e poliacuteticas

puacuteblicas governamentais expressas nos uacuteltimos anos

O curso ldquoFundamentos da Tecnologia Socialrdquo tambeacutem

oferecido na UnB tem como objetivo sistematizar as dificuldades e

necessidades enfrentadas hoje pelos que defendem as inovaccedilotildees

socioteacutecnicas e TS As metas do curso consistem em discutir as bases

da apropriaccedilatildeo da teacutecnica sob uma visatildeo de pluralismo tecnoloacutegico nas

praacuteticas cientiacuteficas e acadecircmicas e realizar discussotildees empiacutericas a

partir do exame de alguns casos de TS no Brasil (NEDER 2008)

Aleacutem de discutir os fundamentos teoacutericos de TS o curso segue a linha

de pesquisa de anaacutelise de tecnologias para a sustentabilidade

Por fim destaco uma iniciativa desenvolvida na Argentina com

coordenaccedilatildeo da Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social (REDTISA) voltada ao desenvolvimento de TS tendo em vista a ideia

de escolas sustentaacuteveis Conforme a coordenadora Paula Juarez o

projeto eacute uma iniciativa que aborda problemas de escolas rurais a partir

da perspectiva dos sistemas tecnoloacutegicos sociais Assim problemas em

temas como aacutegua saneamento energia nutriccedilatildeo e sauacutede seriam

debatidos com a comunidade escolar e sujeitos locais de modo a buscar

soluccedilotildees socioteacutecnicas adequadas e necessaacuterias a cada realidade O

projeto envolveria desde o desenho comunitaacuterio da proposta a

autoconstruccedilatildeo com matildeo de obra local e uso de materiais locais ateacute a

formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo de docentes como agentes de desenvolvimento

(REDTISA 2016)

Jaacute em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre TS fiz duas

revisotildees (julho de 2015 e maio de 2016) no banco de teses e dissertaccedilotildees

da Capes disponiacutevel para acesso em

lthttpbancodetesescapesgovbrbanco-tesesgt A busca pelo termo

ldquotecnologia social educaccedilatildeordquo em tiacutetulos de documentos disponiacuteveis

apenas de origem da Plataforma Sucupira no periacuteodo de 2013 a 2016 na

aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo resultou em 6945 registros

encontrados A maioria desses registros tratava de tecnologia em geral

tecnologia assistiva tecnologia educacionaleducativa e de

157

comunicaccedilatildeoinformaccedilatildeodigitaismoacuteveis Apenas um registro citava TS

no tiacutetulo114

Uma pesquisa nos mesmos paracircmetros que citei acima mas

apenas para o termo ldquotecnologia socialrdquo e aberta a todas as aacutereas de

concentraccedilatildeo resultou em 212 registros Na aacuterea de concentraccedilatildeo

ldquoeducaccedilatildeordquo resultaram oito trabalhos mas apenas dois deles continham

TS no tiacutetulo115 Outra pesquisa apenas com o diferencial de buscar o

termo no plural ldquotecnologias sociaisrdquo resultou em 241 trabalhos sendo

que apenas sete deles estavam na aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo e

desses somente dois continham TS no tiacutetulo116

Com isso antes de pretender examinar os detalhes que envolvem

as TS nos CTIEM busquei apenas apontar estudos iniciativas

perspectivas e posicionamentos que podem colaborar com o exame

proposto Encaminhei um sentido sobre tecnologia que me guia durante

a pesquisa busquei relacionaacute-lo com o enfoque educacional que me

orienta e procurei dialogar com autoresas que podem contribuir em

alguma medida com minhas reflexotildees Assim procuro apontar caminhos

possiacuteveis para compreender e investigar o caraacuteter social da tecnologia

sobretudo em processos educacionais

Compreendo assim como Feenberg (2002 2012) que a

tecnologia pode ser vista como engendrada por relaccedilotildees sociais entre

sujeitos os quais defendem interesses e atuam a partir de valores

proacuteprios agrave sua cultura Noccedilatildeo que tambeacutem percebo em Freire (1968)

quando o autor esclarece que a tecnologia como uma praacutetica humana eacute

114 COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo intergeracional como tecnologia

social uma abordagem da intergeracionalidade no acircmbito da Universidade

Federal do Tocantins-UFT 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 115 OLIVEIRA J P de Tecnologia Social na Educaccedilatildeo Profissional e

tecnoloacutegica perspectivas da formaccedilatildeo do curso teacutecnico integrado em

informaacutetica do IFRN ndash Campus Mossoroacute 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo

Profissional) ndash IFRS Natal 2015 e COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo

intergeracional como tecnologia social uma abordagem da

intergeracionalidade no acircmbito da Universidade Federal do Tocantins-UFT

2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 116 JULIANO M C C Rede Famiacutelia um estudo sobre uma experiecircncia de

tecnologia social e seu diaacutelogo com a promoccedilatildeo de resiliecircncia comunitaacuteria e a

Educaccedilatildeo Ambiental 2013 Doutorado (Educaccedilatildeo Ambiental) ndash FURG Rio

Grande 2013 e MEAULO M P Fundaccedilatildeo Dorina Nowill Para Cegos Um

Estudo Sobre a Educaccedilatildeo Natildeo Formal e Tecnologias Sociais Presentes na

Inclusatildeo de Portadores de Deficiecircncia Visual 2014 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash

Centro Universitaacuterio Salesiano de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2014

158

poliacutetica e intencional natildeo eacute neutra e natildeo se produz nem se usa sem uma

visatildeo de mundo Assim como o posicionamento do autor sobre a

educaccedilatildeo a tecnologia poderia estar relacionada com a praacutetica da

liberdade

Percebo que a liberdade tanto no desenvolvimento tecnoloacutegico

quanto em processos educacionais eacute uma expressatildeo de emancipaccedilatildeo

social autonomia e consciecircncia criacutetica E essas satildeo categorias

importantes em relaccedilatildeo a TS que se pretendam mobilizadoras de

juventudes para a autoria Portanto destaco a vigilacircncia com a qual

examino sentidos sobre TS que circulam nos CTIEM do IFRS Cacircmpus

Caxias do Sul Minha atenccedilatildeo eacute para o que emerge e tambeacutem para o que

estaacute ausente (sentidos natildeo deterministas) Algo que Santos (2010a) jaacute

alerta em sua ecologia dos saberes

Diz o autor que

() eacute crucial comparar o conhecimento que estaacute

sendo aprendido com o conhecimento que estaacute

sendo esquecido ou desaprendido A ignoracircncia soacute

eacute uma condiccedilatildeo desqualificadora quando o que

estaacute sendo aprendido tem mais valor do que o que

estaacute sendo esquecido A utopia do

interconhecimento eacute aprender outros

conhecimentos sem esquecer a si mesmo Esta eacute a

ideia de prudecircncia que permanece na ecologia dos

saberes (SANTOS 2010a p52)117

O que acredito ser possiacutevel sobretudo ao buscarmos mobilizar

estudantes para a autonomia e a emancipaccedilatildeo social dentro de uma

perspectiva criacutetica da Educaccedilatildeo CTS Nesse sentido concordo com

Linsingen (2007) no que o autor afirma que esse tipo de educaccedilatildeo

envolve fundamentalmente favorecer um ensino desobre ciecircncia e

tecnologia atento agrave formaccedilatildeo de sujeitos com consciecircncia criacutetica em

relaccedilatildeo a suas possibilidades de participarem ativamente (autoria) da

transformaccedilatildeo da realidade em que vivem

117 Es crucial para comparar el conocimiento que se estaacute siendo aprendido con

el conocimiento que por lo tanto estaacute siendo olvidado o desaprendido La

ignorancia es solo una condicioacuten descalificadora cuando lo que se estaacute siendo

aprendido tiene maacutes valor que lo que se estaacute siendo olvidado La utopiacutea del

interconocimiento es aprender otros conocimientos sin olvidar el de uno mismo

Esta es la idea de la prudencia que subsiste bajo la ecologiacutea de los saberes

Traduccedilatildeo livre da autora

159

Tanto para esse autor quanto para mim uma renovaccedilatildeo educativa

dentro da Educaccedilatildeo CTS pode ser favorecida por mudanccedilas de

perspectivas de educadoresas e de educandosas atraveacutes da qual o

ensino de temas em tecnologia deixaria de ser enfocado em conteuacutedos

distantes e fragmentado baseado em conhecimentos supostamente

neutros e autocircnomos e passaria a ter foco em situaccedilotildees reais vividas

pelosas educandosas em seus contextos (LINSINGEN 2007)

Podemos ainda lembrar de Freire (2011) e Gramsci (1982) que

como destaquei no primeiro capiacutetulo chamam a atenccedilatildeo para a

curiosidade e a criatividade na construccedilatildeo de conhecimentos Algo que

acredito que estaria presente na intenccedilatildeo de mobilizar estudantes para a

autoria (com inspiraccedilatildeo em propostas de produccedilatildeo coletiva e de criacutetica a

modelos previamente impostos sem contextualizaccedilatildeo que fazem parte

tanto do movimento SL quanto da eacutetica do DIY) no desenvolvimento de

TS segundo uma perspectiva criacutetica

E eacute sob tais perspectivas que no proacuteximo capiacutetulo apresento

minha pesquisa sobre processos de desenvolvimento de TS entre

juventudes dos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul

160

161

CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES

A terceira parte desta tese eacute dedicada agraves anaacutelises dos dados

coletados conforme informei na introduccedilatildeo Os exames aqui realizados

visam examinar possibilidades e limites de transformar sentidos

deterministas sobre tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre

TS nos CTIEM Os passos para alcanccedilar esse objetivo geral envolvem

identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre estudantes dos

CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos

examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de

um posicionamento criacutetico sobre TS e verificar se e como promover

contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar emancipaccedilatildeo

social e autonomia entre estudantes

Para isso elaborei e realizei um roteiro didaacutetico para desenvolver

a temaacutetica socioteacutecnica tal como apresento de modo especiacutefico no

Apecircndice E mas que eacute discutido durante a anaacutelise dos dados Nesse

roteiro mostro como coletei dados primaacuterios atraveacutes de uma questatildeo

inicial formulada agravesaos estudantes (o que eacute tecnologia para vocecirc)

apliquei um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla escolha (conforme

Apecircndice D) e mobilizei para uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS

como mostrarei a seguir A memoacuteria das aulas atraveacutes dos registros em

meu diaacuterio de campo tambeacutem satildeo subsiacutedios para as anaacutelises Assim

como os dados secundaacuterios (pesquisa bibliograacutefica e documental) que

aparecem durante toda a tese mas aqui com o foco em documentos

sobre o IFRS

Os procedimentos e anaacutelises que detalharei satildeo parte da intenccedilatildeo

geral de captar tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema de

pesquisa que esbocei na introduccedilatildeo Procuro mostrar que ao examinar

sentidos sobre tecnologias que atravessam sem debates os (e circulam

sendo debatidos nos) CTIEM interesso-me por suas origens causas

consequecircncias e contradiccedilotildees tendo em vista possibilidades de

transformaccedilotildees da realidade social Essas possibilidades satildeo aqui

verificadas tendo em vista que as TS podem contribuir para uma

ecologia dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2010a

SANTOS 2007) que busque legitimar diferentes formas de

conhecimentos

Acredito que tal legitimidade estaacute relacionada com o

entendimento da emergecircncia como pode sugerir a Sociologia das

Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002 2007) de

compreendermos que problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas)

de estudantes de ensino meacutedio satildeo relevantes Estudos em Educaccedilatildeo

162

CTS latino-americanos atuais tecircm dado visibilidade a percepccedilotildees sobre

relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade em componentes

curriculares da ECT de Engenharias e de aacutereas das Ciecircncias Naturais e

Exatas (JACINSKI 2015 NIEZWIDA 2015) Neles haacute uma

problematizaccedilatildeo importante da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias

Humanas em aacutereas teacutecnicas (SILVEIRA MATOS GANHOR 2015

LINSINGEN 2007) Nesse contexto percebo certa ausecircncia de

discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica

Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de

possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)

conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade

socioteacutecnica com a qual elesas podem interagir diariamente Nessa

leitura que faccedilo de Santos (2006) vejo a Sociologia das Emergecircncias

como a ldquocontraccedilatildeo do futuro para dentro do presenterdquo (p 88)118 Ou

seja ao apresentar uma ausecircncia percebida considero a emergecircncia da

inclusatildeo de novos sujeitos nos debates socioteacutecnicos Sujeitos

especiacuteficos (com identidades de gecircnero poliacuteticas e eacutetnico-raciais) que

emergem do contexto escolar

Nesse sentido lembro a escola visualizada por Freire (2011) que

assim como osas educadoresas deveria natildeo soacute respeitar os

conhecimentos ldquocom que os educandos sobretudo os das classes

populares chegam a ela - saberes socialmente construiacutedos na praacutetica

comunitaacuteria - mas tambeacutem () discutir com os alunos a razatildeo de ser de

alguns desses saberes em relaccedilatildeo com o ensino dos conteuacutedosrdquo (p 31)

Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais

integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a

compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu

caraacuteter contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas)

A seguir apresento detalhadamente os procedimentos envolvidos

na coleta e anaacutelise de dados Inicialmente trago informaccedilotildees sobre a

cidade de Caxias do Sul sobre o bairro no qual o IFRS estaacute localizado e

sobre o proacuteprio Cacircmpus (histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outras)

Momento no qual tambeacutem apresento um breve panorama sobre o IFRS e

a educaccedilatildeo profissional no Brasil Na segunda parte do capiacutetulo

apresento sentidos sobre tecnologias que circulam entre as juventudes

que compotildeem os CTIEM analisados identificados atraveacutes da anaacutelise da

pergunta inicial e do questionaacuterio Por fim exponho possibilidades de

promover autoria entre estudantes a partir do desenvolvimento de TS e

118 ldquola contraccioacuten del futuro en el presenterdquo Traduccedilatildeo livre da autora

163

analiso esse desenvolvimento tendo em vista problemaacuteticas relacionadas

agrave emancipaccedilatildeo social e autonomia

31 CONTEXTO

Longe de querer abordar o contexto a partir de teorias linguiacutesticas

ou antropoloacutegicas o que pretendo nesse momento eacute apenas apresentar

algumas circunstacircncias que tecircm relaccedilatildeo com a investigaccedilatildeo que realizo

Portanto por contexto refiro-me a certas situaccedilotildees relacionadas a

espaccedilos os quais os sujeitos da minha pesquisa transitam de alguma

maneira

311 A cidade

A instalaccedilatildeo do IFRS no bairro Nossa Senhora de Faacutetima119 em

Caxias do Sul foi estrateacutegica Para compreender tanto os processos que

envolveram tal resoluccedilatildeo quanto as culturas locais eacute importante

verificar alguns aspectos da cidade e do bairro De acordo com dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) Caxias do Sul eacute a

segunda cidade mais populosa do estado do RS com mais de 435 mil

habitantes no ano de 2015120 (963 vivem na aacuterea urbana e 37 na

aacuterea rural) atraacutes somente da capital do estado Porto Alegre Municiacutepio

do qual estaacute agrave 127 km de distacircncia apenas conforme pode ser

visualizado no mapa 1 abaixo

119 Daqui em diante apenas Faacutetima 120 213612 homens e 221952 mulheres (IBGE 2015)

164

Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS

Fonte Google mapas (2016)

A regiatildeo na qual a cidade estaacute localizada que faz parte da

chamada serra gauacutecha121 era originalmente habitada pelo povo indiacutegena

Kaingang (ou caingangue)122 mas a partir do final do seacuteculo XIX

comeccedilou a receber sistematicamente migrantes vindosas da Europa

sobretudo da Itaacutelia E a identificaccedilatildeo italiana eacute ainda marcante na regiatildeo

Variaccedilotildees da liacutengua italiana assim como festas religiosas (catoacutelicas)

atividades agriacutecolas e a culinaacuteria da eacutepoca colonial123 satildeo preservadas

121 Gauacutechoa eacute o gentiacutelico de naturais do RS sinocircnimo de sul-rio-grandense 122 Para informaccedilotildees sobre o povo Kaingang nesse contexto verificar a seguinte

referecircncia DORNELLES S S De Coroados a Kaingang as experiecircncias

vividas pelos indiacutegenas no contexto de imigraccedilatildeo alematilde e italiana no Rio

Grande do Sul do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em

Histoacuteria) - UFRGS Porto Alegre 2011 123 Osas migrantes da regiatildeo satildeo conhecidosas (de modo ateacute elogioso) como

ldquocolonosrdquo e ldquocolonasrdquo pois um dos objetivos de sua instalaccedilatildeo seria colonizar

(no sentido de ocupaccedilatildeo territorial e desenvolvimento de atividades agriacutecolas

em um novo espaccedilo com a preservaccedilatildeo de costumes haacutebitos e culturas trazidos

de seus locais de origem) o lugar Frente a isso faccedilo uso do termo ldquocolonialrdquo no

sentido geral em que ele circula na regiatildeo e natildeo faccedilo referecircncia a debates

decoloniais descoloniais ou poacutes-coloniais de maneira especiacutefica embora

compreenda que uma anaacutelise desse tipo nesse contexto seria profiacutecua

165

com orgulho A induacutestria do turismo explora tais referecircncias e vende

com sucesso o estilo de vida ruacutestico dosas primeirosas migrantes

Um exemplo eacute a Festa da Uva que ocorre a cada dois anos desde

1931 (interrompida entre 1938 e 1950) e eacute dedicada a reavivar tradiccedilotildees

e celebrar a migraccedilatildeo italiana na regiatildeo Contudo mais do que o apelo

simboacutelico a Festa da Uva marca a predominacircncia da regiatildeo de Caxias

do Sul na produccedilatildeo nacional de uva De acordo com dados do IBGE

(2015) a produccedilatildeo de uva estimada para o ano de 2015 no RS seria de

876286 toneladas sendo que 80 desse total viria da regiatildeo de Caxias

do Sul O RS foi responsaacutevel por 565 da produccedilatildeo de uva no Brasil

em 2014 o equivalente a 812537 toneladas

Narrativas sobre as dificuldades enfrentadas na chegada ao Brasil

satildeo populares como pode ser visto no trecho abaixo disponiacutevel no site

da prefeitura da cidade

Era preciso conquistar a terra pelo trabalho

Trabalhar para viver e trabalhar para pagar a terra

Nos depoimentos de imigrantes o sonho de

colheitas abundantes e as facilidades de plantio

que a ldquovelha Itaacuteliardquo natildeo podia mais oferecer seria

concretizado na Serra Gauacutecha atraveacutes de muito

trabalho Um trabalho estafante recompensado

por colheitas fartas em uma terra ainda virgem

() A mesa tornou-se menos pobre a casa mais

confortaacutevel mantinha-se com austeridade a prole

que se tornava numerosa (CAXIAS 2015)

O silenciamento dos povos que jaacute habitavam a regiatildeo (ldquoterra

ainda virgemrdquo) e o valor dado agrave terra e ao trabalho como meio de

conquistas pessoais marcam ainda hoje certo ideaacuterio geral sobre o que

poderia ser compreendido como a vocaccedilatildeo da cidade Essa inclinaccedilatildeo eacute

expressa no lema ldquoFeacute e Trabalhordquo que eacute parte da identidade visual

adotada pela atual gestatildeo municipal como pode ser visto na figura 5

abaixo

166

Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade

Fonte CAXIAS 2015

Em relaccedilatildeo agrave feacute ao examinar alguns indicadores disponiacuteveis no

site do IBGE (2015) eacute possiacutevel verificar que a religiatildeo declarada pela

maioria da populaccedilatildeo da cidade eacute a catoacutelica conforme a tabela 4

abaixo Dados que corroboram percepccedilotildees gerais que podemos ter ao

convivermos com moradoresas da cidade sobre sua ligaccedilatildeo simboacutelica

com o Vaticano e ao observarmos a quantidade expressiva de festas

catoacutelicas promovidas por diversas paroacutequias durante todo o ano

Entendo que outras expressotildees de feacute tecircm pouco espaccedilo de divulgaccedilatildeo

em massa eou satildeo pouco declaradas em tal contexto

Tabela 4 - Religiatildeo declarada

Religiatildeo declarada Quantidade de pessoas (mil)

Catoacutelica apostoacutelica romana 332101

Evangeacutelicas 60230

Espiacuterita 11859

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de dados do IBGE (2015)

Em relaccedilatildeo a trabalho e renda eacute possiacutevel verificar no graacutefico 4

abaixo que a maioria da populaccedilatildeo economicamente ativa (com 18 anos

ou mais) da cidade estava ocupada no ano de 2010 (753) Natildeo haacute

dados oficiais atualizados mas induacutestrias do setor metalmecacircnico que

segundo a Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel

Heuser (FEE) concentra dois terccedilos dos empregos formais da cidade

anunciaram na imprensa local demissotildees durante todo o ano de 2015124

124 Informaccedilotildees tambeacutem disponiacuteveis em

httpwwwsimecscombrnoticias20150617crise-no-setor-metalmecanico-

empresas-apresentam-desempenho-economico-preocupante-nos-primeiros-

cinco-meses-de-2015

167

Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa

Fonte PNUD (2015)

Contudo de acordo com dados do IBGE (2015) no ano de 2013

o nuacutemero de empresas atuantes em Caxias do Sul era de 26477

unidades (o que lhe conferiu o primeiro lugar sendo que o

segundo lugar no RS ficaria com o municiacutepio de Novo Hamburgo com

15352 unidades) Aleacutem disso informaccedilotildees jornaliacutesticas especializadas

mostram que a cidade concentra 21 dos 500 maiores grupos de

empresasinduacutestrias da Regiatildeo Sul do Brasil125

De acordo com dados do IBGE do ano de 2010 o rendimento

meacutedio per capita (por pessoa) no muniacutecipio de Caxias do Sul eacute de pouco

mais de 1400 reais o que o coloca em 33ordm lugar entre os municiacutepios

brasileiros e 6ordm entre os do RS Jaacute o mapa 2 a seguir mostra que a

renda domiciliar meacutedia urbana no ano de 2013 era de mais de 3 mil

reais

125 Informaccedilotildees disponiacuteveis em httpwwwamanhacombr500maiores

168

Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana

Fonte IBGE (2015)

Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dados do IBGE (2015) mostram que no

ano de 2012 a populaccedilatildeo residente alfabetizada era de 391554 pessoas

(aproximadamente 89) A quantidade de matriacuteculas no ensino

fundamental e meacutedio eram respectivamente 56408 e 16360 A

escolaridade da populaccedilatildeo de 25 anos ou mais no ano de 2010 pode ser

verificada no graacutefico 5 a seguir A partir dele eacute possiacutevel fazer uma

comparaccedilatildeo com dados nacionais ou seja em Caxias do Sul 28 da

populaccedilatildeo estava em condiccedilatildeo de analfabetismo (no Brasil 118)

446 possuiacuteam o ensino meacutedio completo (358 no Brasil) e 135

possuiacuteam o ensino superior completo (112 no Brasil) (IBGE 2015

PNUD 2015) Eacute possiacutevel verificar uma disparidade consideraacutevel em

relaccedilatildeo agrave taxa nacional apenas no criteacuterio do analfabetismo

169

Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo

Fonte PNUD (2015)

Se analisarmos indicadores de longevidade (esperanccedila de vida ao

nascer em anos que em Caxias do Sul eacute de 7658) juntamente com

dados como renda e educaccedilatildeo como mostrei acima teremos o chamado

Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)126 Esse varia

de 0 (zero) a 1 (um) e quanto mais proacuteximo de 1 (um) maior o

desenvolvimento humano O IDHM de Caxias do Sul eacute 0782 o que a

situa na faixa de desenvolvimento humano alto (IDHM entre 0700 e

0799) A dimensatildeo que mais contribui para o IDHM do municiacutepio eacute a

da longevidade com iacutendice de 0860 seguida de renda (renda per

capita em R$) com iacutendice de 0812 e de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo

(percentual de pessoas estudando de acordo com a faixa etaacuteria) com

iacutendice de 0686 (PNUD 2015)

O graacutefico 6 abaixo traz uma comparaccedilatildeo entre o IDHM de

Caxias do Sul e o de outros municiacutepios brasileiros Nele podemos ver

certa situaccedilatildeo levemente favoraacutevel do municiacutepio em relaccedilatildeo ao IDHM

gauacutecho e nacional no ano de 2010

126 O IDH eacute medido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) com base em

indicadores de educaccedilatildeo renda e expectativa de vida como jaacute referi No Brasil

o levantamento ocorre a cada dez anos e eacute feito em parceria com o Instituto de

Pesquisa Econocircmica Aplicada (Ipea) Assim como o IDH os dados mais

recentes do IDHM satildeo de 2010

170

Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul

Fonte PNUD (2015)

Conforme explicitei na introduccedilatildeo desta tese entendo que a

adoccedilatildeo estrita de meacutetodos quantitativos sobretudo de mediccedilatildeo de

qualidade de vida pode trazer limitaccedilotildees e generalizaccedilotildees silenciadoras

de especificidades importantes Contudo o IDHM pode ser uacutetil para

analisarmos criticamente impactos de poliacuteticas puacuteblicas na populaccedilatildeo

nessas aacutereas por exemplo

Para aleacutem de tentar contextualizar aspectos da cidade (e sua

caracterizaccedilatildeo marcada pela opulecircncia) na qual a investigaccedilatildeo eacute

realizada o que busco com esses dados nesse momento eacute compreender

certos discursos generalizados que muitas vezes verifico tanto nas

miacutedias locais quanto entre estudantes dos CTIEM E que entendo

estarem sintetizados na seguinte frase que consta no site da prefeitura

da cidade ldquoA garra e determinaccedilatildeo herdadas dos imigrantes satildeo a marca

do povo caxienserdquo (CAXIAS 2015)

Percebo que haveria um modo peculiar entre descendentes de

migrantes italianosas de encarar os desafios e construir um

desenvolvimento econocircmico baseado em esforccedilos pessoais Sendo que

ecircxitos alcanccedilados seriam derivados de trabalho pessoal intensivo O que

pode deixar margens para que se possa pensar que a natildeo obtenccedilatildeo de progresso econocircmico seria reponsabilidade do sujeito que natildeo

empregou esforccedilo suficiente para alcanccedilar os seus objetivos

Natildeo eacute minha intenccedilatildeo levantar dados para especular acerca de

possiacuteveis atitudes individualistas ou colaborativas (de menor ou maior

171

apoio agrave presenccedila do Estado em atividades de regulaccedilatildeo por exemplo) de

residentes em Caxias do Sul Nesta tese natildeo abordo sentidos atribuiacutedos

ao trabalho por sujeitos especiacuteficos Trago essas percepccedilotildees porque elas

fazem parte em alguma medida do contexto no qual a investigaccedilatildeo eacute

realizada e penso que eacute importante que natildeo sejam silenciadas Nesse

mesmo sentido a seguir apresento algumas informaccedilotildees sobre o bairro

no qual o Cacircmpus de Caxias do Sul do IFRS estaacute instalado

312 O bairro

O IFRS de Caxias do Sul estaacute localizado na parte Nordeste do

bairro Faacutetima conhecido como Faacutetima Alta Local esse que faz parte da

regiatildeo setentrional da cidade Seus limites satildeo ao Norte a Rodovia RSC

453 (que compotildee a Rodovia Rota do Sol que liga a serra gauacutecha ao

litoral) no Leste estaacute o Rio Tega (complexo dalrsquoboacute ndash barragens Satildeo

Miguel e Satildeo Pedro) ao Sul o bairro universitaacuterio e no Oeste o bairro

pioneiro O mapa 3 a seguir ilustra essas referecircncias e mostra uma zona

de limite entre residecircncias (e pequenos comeacutercios informais) induacutestrias

e aacutereas pouco urbanizadas

Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima

Fonte Google mapas (2015)

172

De acordo com dados do IBGE (2015) a populaccedilatildeo do Faacutetima no

ano de 2010 era de 13759 pessoas o que o coloca em 6ordm lugar como

bairro mais populoso da cidade (entre os 65 bairros do municiacutepio)

Contudo a maioria dosas estudantes do IFRS reside fora do bairro

Entre estudantes dos CTIEM que investiguei menos de 10 moravam

proacuteximo agrave escola127 Mais de 80 dosas alunosas residem em outras

partes da cidade como pode ser verificado a partir do graacutefico 7 abaixo

que indica meios de transporte utilizados para chegar agrave escola (dados de

2015)

Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Nas imediaccedilotildees do IFRS existem pelo menos trecircs instituiccedilotildees

municipais de ensino fundamental uma unidade baacutesica de sauacutede um

grupo de convivecircncia das mulheres do bairro uma associaccedilatildeo para as

crianccedilas um centro de encontros e praacutetica da doutrina espiacuterita uma

igreja do Evangelho Quadrangular uma igreja Assembleia de Deus

uma Agecircncia de Desenvolvimento Adventista e uma Igreja Catoacutelica128

Ao lado da escola ficam o centro comunitaacuterio e uma quadra de esportes

127 A partir de agora uso o termo ldquoescolardquo como sinocircnimo do IFRS de Caxias do

Sul e natildeo no sentido geral de instituiccedilatildeo 128 Podemos verificar que somente no entorno do IFRS existem cinco tipos

diferentes de locais relacionados com espiritualidade e religiatildeo O que natildeo deve

contrariar os dados gerais do IBGE (2015) para a cidade conforme destaquei na

tabela 4 acima mas reforccedila a percepccedilatildeo de que religiotildees e outras expressotildees de

feacute diferentes do catolicismo satildeo pouco declaradas oficialmente

173

Essa uacuteltima muitas vezes utilizada para as atividades da disciplina de

Educaccedilatildeo Fiacutesica do IFRS pois ainda natildeo haacute um local apropriado para

essas atividades nas dependecircncias da escola

Em geral a infraestrutura do bairro eacute problemaacutetica em

saneamento baacutesico (sistema de tratamento de esgoto precaacuterio)

pavimentaccedilatildeo de ruas (vias com calccedilamento irregular ou inexistente)

cobertura de iluminaccedilatildeo puacuteblica (postes com luzes danificadas) e

limpeza de aacutereas natildeo habitadas (terrenos com formaccedilatildeo vegetal sem

cuidados) Existem pelo menos trecircs linhas de ocircnibus urbanos que

circulam na regiatildeo mas com precisatildeo de horaacuterios insatisfatoacuteria (atrasos

constantes) Contudo um dos maiores problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo residente e tambeacutem pela comunidade escolar eacute a inseguranccedila

Traacutefico de drogas e assassinatos satildeo noticiados regularmente na

imprensa local como destaco nas seguintes manchetes de um jornal da

cidade129 24072015 ldquoHomem eacute preso com maconha no bairro

Faacutetimardquo 29112015 ldquoTrinta facadas mataram avoacute e neta no bairro

Faacutetimardquo 02122015 ldquoHomem eacute encontrado morto em parada de ocircnibus

no bairro Faacutetimardquo 19122015 ldquoEstudante de Quiacutemica no Instituto

Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) eacute assassinada no bairro Faacutetima

quando ia para o trabalhordquo130 16012016 ldquoHomem eacute baleado no bairro

Faacutetimardquo

Portanto temas sobre violecircncia urbana satildeo comumente discutidos

na escola Nas minhas aulas de Sociologia essa temaacutetica sempre

apareceu Verifiquei que osas alunosas apresentavam reaccedilotildees que

transitavam entre o sentimento de medo de sofrer alguma violecircncia no

caminho para a escola ateacute a praacutetica de atos preconceituosos com colegas

ou servidoresas que moravam no bairro ou nas proximidades Esse

contexto levou agrave participaccedilatildeo da comunidade escolar no projeto

ldquoAlianccedila pela Pazrdquo que entre suas accedilotildees promoveu uma caminhada

pelas ruas do bairro no mecircs de novembro do ano de 2015 A intenccedilatildeo foi

unir comunidades escolares locais e moradoresas do bairro para chamar

a atenccedilatildeo da cidade para problemas de inseguranccedila no Faacutetima

129 Tendo em vista diferentes apelos que temas sobre a violecircncia urbana podem

ter sobretudo na miacutedia destaco o cuidado que tive em minha busca no jornal de

maior circulaccedilatildeo na cidade com as chamadas ldquomanchetes sensacionalistasrdquo

Notiacutecias disponiacuteveis em lthttppioneiroclicrbscombrrsgeralcidadesgt 130 Esse fato obviamente teve grande impacto e gerou muita comoccedilatildeo na

escola A aluna em questatildeo (que frequentava minhas aulas) residia no bairro e

tinha apenas 16 anos

174

Com esses destaques acredito que certos aspectos culturais que

estatildeo presentes no quotidiano da escola foram considerados Embora

minha intenccedilatildeo seja investigar sentidos sobre tecnologia natildeo deixo de

chamar a atenccedilatildeo para possibilidades de problematizar relaccedilotildees entre a

declarada opulecircncia da cidade e (i) sua proclamada ligaccedilatildeo com o

trabalho de descendentes de migrantes europeus e (ii) situaccedilotildees de

vulnerabilidade social que estatildeo presentes no Faacutetima

Com isso natildeo desejo apenas levantar possiacuteveis contradiccedilotildees

expressas mas buscar compreender um pouco sobre ideias mais gerais

que circulam entre as juventudes dos CTIEM que estatildeo aleacutem do meu

foco de pesquisa mas satildeo relevantes para o entendimento do contexto

geral Algo que tambeacutem se refere a uma mirada sobre os Institutos

Federais como apresento a seguir

313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Eacute importante lembrarmos que os atuais Institutos Federias tecircm

relaccedilatildeo com a educaccedilatildeo profissional Conforme Kuenzer (2006) a

poliacutetica de educaccedilatildeo profissional no Brasil teve iniacutecio com a criaccedilatildeo das

chamadas Escolas de Aprendizes Artiacutefices nas capitais do Brasil no ano

de 1909 pelo entatildeo presidente Nilo Peccedilanha A partir da deacutecada de

1930 a burguesia industrial crescente comeccedilaria a desenvolver um

projeto de fortalecimento do capitalismo nos grandes centros urbanos do

paiacutes Desse modo a autora afirma que agraves classes populares estaria

disponiacutevel uma formaccedilatildeo (praacutetica) necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo de sua

condiccedilatildeo enquanto descendentes das elites teriam acesso agrave formaccedilatildeo

intelectual (propedecircutica)

Assim ldquo() desenvolveu-se uma rede de escolas de formaccedilatildeo

profissional em diferentes niacuteveis () com a finalidade de atender agraves

funccedilotildees instrumentais inerentes agraves atividades praacuteticas que decorriam da

crescente diferenciaccedilatildeo dos ramos profissionaisrdquo (KUENZER 2006 p

17) Sendo que ao longo do seacuteculo XX as escolas de formaccedilatildeo teacutecnica

se desenvolveram em paralelo a escolas de formaccedilatildeo propedecircutica com

vistas a atender diferentes demandas e classes Algo que Gramsci (1982)

jaacute criticava ao propor a escola unitaacuteria

Desde as Escolas de Aprendizes Artiacutefices a educaccedilatildeo

profissional passou por vaacuterias mudanccedilas que englobaram a formaccedilatildeo de

Liceus Industriais em 1937 Escolas Industriais e Teacutecnicas em 1942

Escolas Teacutecnicas Federais em 1959 Centros Federais de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica (CEFET) iniciados em 1978 e retomados em 1999 ateacute

175

chegar aos atuais Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia131 criados em 2008 (OLIVEIRA 2015)

Os Institutos Federais como instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas

ligadas ao Governo Federal foram inicialmente concebidos tendo em

vista o potencial jaacute instalado nos CEFET Escolas Teacutecnicas Federais

Agroteacutecnicas e vinculadas agraves Universidades Federais Eles fazem parte

da Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

Essa atua em todos os estados brasileiros e oferece cursos teacutecnicos

superiores de tecnologia licenciaturas mestrado e doutorado (IFRS

2015)

Satildeo instituiccedilotildees que visam oferecer cursos em educaccedilatildeo

profissional e tecnoloacutegica de modo a fortalecer os arranjos produtivos

sociais e culturais das localidades onde estatildeo instalados Nesse sentido

seus objetivos envolveriam (aleacutem da educaccedilatildeo profissional teacutecnica em

niacutevel meacutedio e para jovens e adultos) a formaccedilatildeo inicial e continuada de

trabalhadoresas a realizaccedilatildeo de pesquisas e o desenvolvimento de

atividades de extensatildeo articuladas com o mundo do trabalho e os

coletivos locais (IFRS 2015)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior e de poacutes-graduaccedilatildeo o

objetivo seria promover o estabelecimento de bases soacutelidas em

educaccedilatildeo ciecircncia e tecnologia tendo em vista processos de geraccedilatildeo e

inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (IFRS 2015) Tal formaccedilatildeo compreenderia os

cursos superiores de tecnologia (formaccedilatildeo de profissionais para os

diferentes setores da economia) as licenciaturas (formaccedilatildeo de

professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica e para a educaccedilatildeo profissional) e

os bacharelados engenharias mestrados e doutorados (formaccedilatildeo de

especialistas nas diferentes aacutereas do conhecimento)

Tendo em vista a ecircnfase dos Institutos Federais na produccedilatildeo

desenvolvimento e divulgaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e

tecnoloacutegicos tambeacutem eacute seu objetivo ldquoestimular e apoiar processos

educativos que levem agrave geraccedilatildeo de trabalho e renda e agrave emancipaccedilatildeo do

cidadatildeo na perspectiva do desenvolvimento socioeconocircmico local e

regionalrdquo (IFRS 2015 sp) A Lei nordm 11892 de 29122008 que

instituiu a Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e

131 A atual Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da

qual fazem parte os Institutos Federais teve um significativo desenvolvimento

na atualidade Entre os anos de 1909 e 2002 foram construiacutedas 140 escolas

teacutecnicas no paiacutes A expansatildeo dessa rede entre os anos de 2003 e 2015 contou

com a implantaccedilatildeo de 562 unidades que proporcionaratildeo a oferta de 600 mil

vagas (OLIVEIRA 2015)

176

Tecnoloacutegica e criou os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia destaca que entre outras finalidades e caracteriacutesticas os

Institutos Federias devem

(i) ofertar educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica formando e

qualificando cidadatildeos com vistas na atuaccedilatildeo profissional nos diversos

setores da economia com ecircnfase no desenvolvimento socioeconocircmico

local regional e nacional (ii) desenvolver a educaccedilatildeo profissional e

tecnoloacutegica como processo educativo e investigativo de geraccedilatildeo e

adaptaccedilatildeo de soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas agraves demandas sociais e

peculiaridades regionais e (iii) promover a produccedilatildeo o desenvolvimento

e a transferecircncia de tecnologias sociais (BRASIL 2008 grifo da autora)

Algo que em princiacutepio poderia levar a um distanciamento da

perspectiva de educaccedilatildeo profissional voltada agrave manutenccedilatildeo de interesses

de classes que seria desenvolvida historicamente no Brasil como

destacou Kuenzer (2006) E leva-me a reflexatildeo sobre o desenvolvimento

de TS entre as juventudes do IFRS como apresentarei adiante

No RS existem trecircs Institutos Federais quais sejam o Instituto

Federal Sul-riograndense (IFSul) o Instituto Federal Farroupilha

(IFFarroupilha) e o IFRS Esse uacuteltimo estaacute presente em 16 cidades de

diferentes regiotildees132 do RS Bento Gonccedilalves Canoas Caxias do Sul

Erechim Farroupilha Feliz Ibirubaacute Osoacuterio Porto Alegre (dois

Cacircmpus) Rio Grande Sertatildeo Alvorada133 Rolante Vacaria

Veranoacutepolis e Viamatildeo

Atualmente o IFRS registra cerca de 15 mil alunosas

matriculadosas em 180 opccedilotildees de cursos nas diferentes modalidades de

ensino disponiacuteveis Nele trabalham mais de 1600 profissionais (mais de

840 professoresas e 840 teacutecnicos-administrativos) sendo que quase

50 dosas servidoresas satildeo mestresas ou doutoresas Estaacute

classificado entre os dez maiores Institutos Federais do Brasil em

nuacutemero de alunosas e servidoresas (IFRS 2015)

O IFRS em consonacircncia com os Institutos Federais propotildee a

valorizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos os niacuteveis e em termos curriculares

apresenta um arranjo educacional proposto a discutir possibilidades de

combinaccedilatildeo do ensino de Ciecircncias Naturais Humanidades e Educaccedilatildeo

Profissional e Tecnoloacutegica para o ensino meacutedio Tem como objetivos

oportunizar possibilidades de acesso agrave educaccedilatildeo gratuita e de qualidade

e fomentar o atendimento a demandas localizadas ldquocom atenccedilatildeo

132 Os Cacircmpus atuam em aacutereas distintas como agropecuaacuteria de serviccedilos aacuterea

industrial vitivinicultura turismo moda e outras (IFRS 2015) 133 Nessas uacuteltimas cinco cidades o IFRS estaacute em processo de implantaccedilatildeo

177

especial agraves camadas sociais que carecem de oportunidades de formaccedilatildeo

e de incentivo agrave inserccedilatildeo no mundo produtivordquo (IFRS 2015

sp) Assim seu foco estaria voltado agrave justiccedila social equidade

competitividade econocircmica e geraccedilatildeo de novas tecnologias

Dentro dessa poliacutetica destaco que osas alunosas possuem

acompanhamento pedagoacutegico psicoloacutegico e de estudos orientados

(possibilidade de estudo individualizado direto com oa professora)

Existem subsiacutedios financeiros de apoio agrave permanecircncia na escola

disponibilizados atraveacutes de auxiacutelio alimentaccedilatildeo auxiacutelio transporte e

auxiacutelio material escolar entre outros De modo que o IFRS e os

Institutos Federais de modo geral possui uma estrutura privilegiada em

relaccedilatildeo agrave maioria das instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas municipais e

estaduais do Brasil

O IFRS foi pensado para ser um centro de excelecircncia do ensino

puacuteblico (IFRS 2015) Com isso busca conexatildeo com as induacutestrias locais

tendo em vista ldquoo compromisso de intervenccedilatildeo em suas respectivas

regiotildees identificando deficiecircncias no mercado de trabalho e criando

soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas para o desenvolvimento sustentaacutevel

com inclusatildeo socialrdquo (IFRS 2015 sp) Nesse momento natildeo questiono

sobre como essa inclusatildeo seria entendida nos diversos Cacircmpus (em qual

modelo produtivo que perfil profissional para qual mercado e com que

tipo de tecnologia) nem sobre que accedilotildees efetivas estariam em curso

Antes destaco aspectos pontuais do IFRS de Caxias do Sul

314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul

No ano de 2008 o entatildeo presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio

Lula da Silva anunciou que Caxias do Sul fora uma das cidades

contempladas com um Cacircmpus do IFRS Fato que atendeu agrave Chamada

Puacuteblica MECSETEC nordm 1 de 2007 de apoio agrave fase dois do plano134 de

expansatildeo da Rede Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e fez parte da

iniciativa do Governo Federal de implantar 150 novas unidades da Rede

(IFRS 2015)

A contrapartida da Chamada Puacuteblica que citei acima seria a

doaccedilatildeo de uma aacuterea de terra em zona urbana (com dimensotildees miacutenimas

de 20 mil metros quadrados) agrave uniatildeo por parte da prefeitura da cidade O

que ocorreu no mecircs de dezembro do ano de 2008 quando a prefeitura de

134 O plano previa a instalaccedilatildeo de uma escola teacutecnica em cada cidade polo do

paiacutes Com a lei 11892 essas instituiccedilotildees passaram a integrar diferentes

Institutos Federais (IFRS 2015)

178

Caxias do Sul designou uma aacuterea de 30 mil metros quadrados no

Faacutetima para a construccedilatildeo da escola (IFRS 2015) A intenccedilatildeo seria

dispor de um local no qual o IFRS tivesse possibilidades de impactar de

maneira socialmente positiva na comunidade local Algo que destaquei

anteriormente ao comentar sobre a escolha estrateacutegica do Faacutetima

Os Institutos Federais do RS tecircm uma poliacutetica de definir por meio

de audiecircncias puacuteblicas com representantes da sociedade os novos cursos

que seratildeo ofertados nas suas unidades Nesse sentido no iniacutecio do ano

de 2009 representantes de diversos sindicatos (patronais e de

trabalhadores) empresas instituiccedilotildees de ensino poder puacuteblico

(municipal estadual e federal) e ONGs reuniram-se de modo que foram

definidas as seguintes ofertas quatro cursos superiores (Tecnologia em

Metalurgia Tecnologia em Logiacutestica Licenciatura em Quiacutemica e

Licenciatura em Matemaacutetica) e cinco cursos teacutecnicos (Plaacutesticos

Quiacutemica Mecacircnica Cozinha e Comeacutercio) (IFRS 2015)

Junto a isso foi definido o projeto de construccedilatildeo das instalaccedilotildees

prediais do Cacircmpus e a execuccedilatildeo da obra comeccedilou jaacute no mecircs de

fevereiro do ano de 2009 No ano de 2010 a escola iniciou suas

atividades mas ainda em uma sede provisoacuteria localizada no bairro

Floresta Foi apenas no iniacutecio do ano de 2014 que a sede proacutepria e

definitiva (com um espaccedilo de mais de 7 mil metros quadrados de aacuterea

construiacuteda) foi ocupada (IFRS 2015)

O Cacircmpus de Caxias do Sul estaacute em processo de expansatildeo Ateacute o

ano de 2015 estavam em funcionamento 14 salas de aula dois

laboratoacuterios de informaacutetica trecircs laboratoacuterios de quiacutemica laboratoacuterios de

liacutenguas matemaacutetica fiacutesica biologia ensaios mecacircnicos

instrumentaccedilatildeo tratamentos teacutermicos metalografia preparaccedilatildeo

mecacircnica fundiccedilatildeo e conformaccedilatildeo laboratoacuterio de corte soldas e

usinagem de processos e fabricaccedilatildeo mecacircnica caracterizaccedilatildeo e

processos de transformaccedilatildeo de poliacutemeros hidraacuteulica e pneumaacutetica aleacutem

de biblioteca cantina salas de convivecircncia e sala de professoresas

(IFRS 2015) Aleacutem disso osas alunosas contam com apoio

especializado de profissionais em assistecircncia social psicologia e

pedagogia

No ano de 2015 foram ofertados os seguintes cursos

Niacutevel meacutedio teacutecnico e profissionalizante em Plaacutesticos Quiacutemica e

Fabricaccedilatildeo Mecacircnica (em dois turnos diurnos) aleacutem do Curso Teacutecnico

em Administraccedilatildeo Integrado ao Ensino Meacutedio na modalidade PROEJA

(Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Profissional com a

Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e Adultos) no turno noturno

Modalidade Subsequente Teacutecnico em Plaacutesticos (turno noturno)

179

Graduaccedilatildeo Licenciatura em Matemaacutetica (turno diurno e noturno)

e Tecnoacutelogo em Processos Metaluacutergicos (turno diurno e noturno)

Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Tecnologia e

Engenharia de Materiais135

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de vagas oferecidas (330) e a procura

de estudantes por essas vagas para o ano de 2015 no Cacircmpus de Caxias

do Sul pode ser vista no quadro 13 abaixo Nele eacute possiacutevel verificar a

existecircncia de cursos com pouca procura o que levou a direccedilatildeo da escola

a propor medidas de publicidade sobre a oferta de vagas na instituiccedilatildeo

no ano de 2015

Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas

Fonte (IFRS 2015)

No graacutefico 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis os percentuais de

estudantes em cada curso Como jaacute referi o Cacircmpus ofereceu 330 vagas

nas modalidades meacutedio PROEJA subsequente e graduaccedilatildeo136 No ano

de 2015 havia 840 estudantes matriculadosas incluindo todas as

modalidades de ensino A previsatildeo eacute de que novos cursos superiores

sejam ofertados e que 14 mil estudantes estejam matriculados no IFRS

de Caxias do Sul no ano de 2016 (IFRS 2015)

135 Aleacutem de Caxias do Sul suas aulas satildeo ofertadas em Cacircmpus de mais duas

cidades da regiatildeo Farroupilha e Feliz 136 Conforme o que estaacute previsto no artigo 8o da Lei nordm 11892 ou seja que os

Institutos Federais garantam o miacutenimo de 50 de suas vagas para educaccedilatildeo

profissional teacutecnica de niacutevel meacutedio prioritariamente na forma de cursos

integrados para osas concluintes do ensino fundamental e para o puacuteblico da

educaccedilatildeo de jovens e adultos e o miacutenimo de 20 de suas vagas para educaccedilatildeo

superior em cursos de licenciatura bem como programas especiais de formaccedilatildeo

pedagoacutegica com vistas agrave formaccedilatildeo de professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica

sobretudo nas aacutereas de ciecircncias e matemaacutetica e para a educaccedilatildeo profissional

(BRASIL 2008)

180

Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Para a elaboraccedilatildeo do graacutefico 8 osas estudantes do mestrado

ainda natildeo haviam sido contabilizadosas pois as aulas na poacutes-graduaccedilatildeo

iniciaram em meados do ano de 2015 No graacutefico acima podemos

verificar que mais de 60 da ocupaccedilatildeo de vagas estaacute no niacutevel meacutedio

Esse dado se relaciona com o graacutefico 9 abaixo que indica a idade

dosas estudantes

181

Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Podemos verificar que em sua maioria satildeo menores de 18 anos

Osas estudantes dos CTIEM que satildeo os sujeitos da minha pesquisa

tecircm entre 14 e 18 anos (maioria entre 15 e 16 anos) como jaacute referi

anteriormente Outros aspectos sobre o Cacircmpus e osas estudantes

tambeacutem satildeo considerados na segunda e na terceira parte deste capiacutetulo

quando analiso as atividades em relaccedilatildeo ao desenvolvimento de TS

Antes disso e para finalizar essa parte destaco alguns pontos do

Projeto Poliacutetico Institucional (PPI) e dos Projetos Pedagoacutegicos dos

Cursos (PPCs) do IFRS de Caxias do Sul que podem ajudar a compor o

contexto geral (geofiacutesico poliacutetico institucional e pedagoacutegico) de minha

pesquisa

Conforme descrito no PPC do curso de Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

(mas que eacute similar ao dos outros dois cursos) o IFRS tem seu PPI

pautado em diretrizes pedagoacutegicas que concebem a educaccedilatildeo como

um processo complexo e dialeacutetico uma praacutetica

contra hegemocircnica que envolve a transformaccedilatildeo

humana na direccedilatildeo do seu desenvolvimento pleno

Ela deve ser emancipatoacuteria ou seja possibilitar a

construccedilatildeo de conhecimentos de forma

significativa e que possa ponderar o educando

para sua inserccedilatildeo no mundo do trabalho ()

compreendida como acessiacutevel e inclusiva voltada

para todos os sujeitos independente de gecircnero

etnia classe social ou outra relaccedilatildeo qualquer

(IFRS 2013 p 13-14)

182

Aleacutem disso ainda eacute destacado que todosas aquelesas

servidoresas que fazem parte da instituiccedilatildeo podem ser sujeitos

transformadores da realidade Concepccedilotildees que compreendo como

relacionadas com a perspectiva politeacutecnica na qual me filio conforme

apontei na primeira parte desta tese E que de maneira mais geral

tambeacutem estatildeo presentes tanto em Meacuteszaacuteros (2008) e sua reivindicaccedilatildeo a

favor de uma educaccedilatildeo plena quanto em Freire (1987 2011) e seu

posicionamento em relaccedilatildeo a formaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica dosas

educandosas

Outro aspecto do PPC que vai ao encontro de minhas

perspectivas teoacutericas diz respeito a premissa137 do trabalho assumido

como princiacutepio educativo O PPC destaca que as relaccedilotildees entre trabalho

ciecircncia tecnologia e cultura satildeo indissociaacuteveis Algo bem visiacutevel em

Gramsci (1982) Portanto o IFRS deveria ldquogarantir as competecircncias e

habilidades na formaccedilatildeo apresentada baseando-se em princiacutepios eacuteticos

poliacuteticos e pedagoacutegicos que buscam articular tecnologia e humanismordquo

(IFRS 2013 p 15) E tal formaccedilatildeo estaria baseada em uma metodologia

interdisciplinar fundamentada em referenciais de uma educaccedilatildeo

emancipatoacuteria

Compreendo que os princiacutepios apresentados no PPI e no PPC do

IFRS sinalizam positivamente para uma concepccedilatildeo politeacutecnica da

educaccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos Algo que estaacute de

acordo com minhas posiccedilotildees sobre a temaacutetica educacional Entretanto

questiono-me se mesmo dentro dessa perspectiva poliacutetico-pedagoacutegica o

IFRS de Caxias do Sul tem rompido com a loacutegica dualista entre

formaccedilatildeo teacutecnica e propedecircutica historicamente desenvolvida no Brasil

e se tem proporcionado ldquoproduccedilatildeo desenvolvimento e transferecircncia de

tecnologias sociaisrdquo conforme indicado legalmente (BRASIL 2008

sp)

Essas satildeo questotildees que em alguma medida podem ir aleacutem do

que pretendo nesta tese mas que fazem parte da cultura escolar e podem

ter influecircncia na minha pesquisa Portanto elas acompanham as anaacutelises

que apresento a seguir

137 Premissa fundamentada no Documento Base da Educaccedilatildeo Profissional

Teacutecnica de Niacutevel Meacutedio Integrado ao Ensino Meacutedio (BRASIL 2007)

183

32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA

Conforme jaacute referi durante o texto a realizaccedilatildeo da pesquisa desta

tese envolveu a elaboraccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico e de um

questionaacuterio na temaacutetica socioteacutecnica Esclareccedilo que o roteiro tem base

no meu plano de ensino (disponiacutevel no Anexo B) e no planejamento de

ensino do IFRS Portanto ele comtempla os objetivos de ensino-

aprendizagem em relaccedilatildeo agrave componente curricular de Sociologia e natildeo

necessaacuteria e estritamente os meus objetivos de pesquisa embora eles

guardem intersecccedilotildees importantes

Assim o roteiro se constituiu como uma espeacutecie de guia que

colaborou com a organizaccedilatildeo da coleta dos dados e por isso o exploro

com detalhes ao longo das anaacutelises Natildeo eacute minha intenccedilatildeo fazer um

levantamento quantitativo acerca de percepccedilotildees sobre tecnologia

baseado no questionaacuterio como explicitarei adiante Ele foi construiacutedo

para levantar questotildees e mediar discussotildees (desnaturalizar e estranhar)

embora seus resultados sejam contemplados nas anaacutelises em alguma

medida

Iniciarei as anaacutelises com a apresentaccedilatildeo de alguns dados sobre

osas estudantes que efetivamente participaram da pesquisa Depois

apresento sentidos sobre tecnologias de acordo com as respostas agrave

pergunta inicial e no final desse toacutepico apresento alguns sentidos sobre

tecnologia que se referem ao questionaacuterio

Natildeo eacute possiacutevel nesse momento caracterizar as identidades

poliacuteticas de gecircnero religiosas e eacutetnico-raciais de modo mais marcado

nessas juventudes No entanto apresento a seguir informaccedilotildees sobre

sexo autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial e histoacuteria escolar que mesmo que

gerais podem ajudar a ilustrar as juventudes com as quais interagi

Aspectos mais especiacuteficos dessesas jovens seratildeo abordados no proacuteximo

toacutepico na anaacutelise das TS desenvolvidas

O periacuteodo de realizaccedilatildeo da pesquisa contou com oito aulas na

disciplina de Sociologia realizadas no terceiro trimestre escolar entre

os meses de outubro e dezembro do ano de 2015 Estiveram envolvidos

todos os primeiros anos dos CTIEM nos turnos da manhatilde e da tarde

totalizando seis turmas (uma turma de cada um dos trecircs cursos em cada

turno)138 e 149 estudantes conforme pode ser visto na tabela 5 abaixo

138 Lembro que existem os cursos de Quiacutemica Plaacutesticos e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

disponiacuteveis ou em periacuteodo matutino ou vespertino

184

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que participaram da

pesquisa

Cursoturno Feminino Masculino Total

TFMManhatilde 02 23 25

TFMTarde 05 16 21

TPManhatilde 15 07 22

TPTarde 20 08 28

TQManhatilde 08 18 26

TQTarde 18 09 27

Total 68 81 149

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

A tabela 5 acima mostra que 46 das estudantes que

participaram da pesquisa eram meninas enquanto os meninos

representaram um percentual levemente maior com 54 de

participaccedilatildeo Algo que segue o quadro geral dos cursos com leve

preponderacircncia do percentual masculino como jaacute mostrei na tabela 1

Em relaccedilatildeo a questotildees eacutetnico-raciais dessesas jovens osas

envolvidosas com a pesquisa seguem a amostragem do graacutefico 10

abaixo no qual a maioria das autodeclaraccedilotildees139 satildeo quanto a categoria

(do IBGE) ldquobrancordquo

139 Desde o ano de 2013 o IFRS destina 50 de suas vagas para estudantes

vindosas de escolas puacuteblicas e destas reserva vagas para pretos pardos e

indiacutegenas em proporccedilatildeo no miacutenimo igual agrave de pretos pardos e indiacutegenas na

populaccedilatildeo da Unidade da Federaccedilatildeo onde estaacute instalada a instituiccedilatildeo de acordo

com os dados do IBGE

185

Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Essa maioria de estudantes autodeclaradosas na categoria

ldquobrancosrdquo se relaciona com dados de amostragem eacutetnico-racial do IBGE

para a cidade de Caxias do Sul Em relaccedilatildeo a escolas de origem

dessesas estudantes eacute possiacutevel verificar que a maioria cursou o ensino

fundamental integralmente em escolas puacuteblicas conforme o graacutefico 11

abaixo

Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Embora os dados do graacutefico 11 englobem todos os cursos da

escola ele representa significativamente a origem escolar dosas

estudantes da pesquisa Que satildeo de modo geral em sua maioria vindos

186

de escolas puacuteblicas (o que pode ser um indicativo de renda no Brasil) na

sua maior parte satildeo moradoresas de fora do bairro Faacutetima satildeo

autodeclaradosas ldquobrancosrdquo (como a maioria da populaccedilatildeo da regiatildeo) e

em nuacutemero quase igual entre meninas (46) e meninos (54)

Com esse quadro em mente (mas sem esquecer as especificidades

relacionadas a essesas estudantes) podemos examinar como a pesquisa

aconteceu tendo em vista o roteiro didaacutetico previsto que estaacute disponiacutevel

no Apecircndice E

321 Anaacutelise da questatildeo inicial

Na primeira aula com as turmas retomei os trecircs temas que

haviam sido desenvolvidos na primeira parte do trimestre (ideologia

miacutedias e consumo) e propus que osas alunosas pensassem em possiacuteveis

relaccedilotildees com tecnologias pois esse seria o proacuteximo tema (elesas tinham

o cronograma das aulas com essas informaccedilotildees) Em um segundo

momento dessa aula expliquei que durante o desenvolvimento da

segunda parte do trimestre eu realizaria uma pesquisa para o meu

doutorado Apresentei informaccedilotildees sobre essa atividade forneci e fiz a

leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e

entreguei a todosas uma folha de papel em branco para que

expressassem o que pensavam sobre tecnologia sem necessidade de

identificaccedilatildeo e com devoluccedilatildeo para mim no final do periacuteodo

A pergunta feita foi O que eacute tecnologia para vocecirc Esse

momento visava verificar que sentidos sobre tecnologia emergiriam

espontaneamente140 dessa espeacutecie de chuva de ideias Essa praacutetica jaacute era

recorrente nos iniacutecios de um novo tema para discussatildeo e minha intenccedilatildeo

foi mobilizar para que elesas pudessem se expressar criativamente com

possibilidades de debates entre si e sem preocupaccedilatildeo com respostas

corretas ou incorretas Minha atenccedilatildeo tambeacutem estava voltada a

possibilidades de abertura de espaccedilos de dizer (GIRALDI 2010)

Organizei as respostas agrave questatildeo inicial tendo em vista as quatro

perspectivas sobre os relacionamentos entre tecnologia e sociedade

propostos por Feenberg (2003)141 determinismo instrumentalismo

140 Destaco que osas estudantes satildeo proibidosas pela direccedilatildeo da escola de

utilizar qualquer tipo de aparelho celular e de acessar a internet nas salas de

aula 141 Domingues (2010) realizou anaacutelise semelhante baseada nas perspectivas

apontadas por Feenberg (2003) a partir de respostas de empreendedores de

187

substantivismo e teoria criacutetica conforme indiquei no quadro 3

Esclareccedilo que ao considerar as categorias apontadas pelo autor natildeo

tenho intenccedilatildeo de encaixar essas primeiras declaraccedilotildees dosas estudantes

nesse quadro de modo fechado Mesmo com a atenccedilatildeo voltada a

sentidos deterministas sobre tecnologia minha ideia envolve examinar

relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade segundo visotildees dessas juventudes

de modo mais dinacircmico tendo os paracircmetros de neutralidadenatildeo

neutralidade e autonomianatildeo autonomia da tecnologia como

aproximaccedilotildees

A seguir apresento quatro conjuntos de respostas com as

referecircncias que as fazem pertencer a cada grupo (palavras e expressotildees

que as categorizam em uma das quatro perspectivas) Essas referecircncias

foram construiacutedas tendo em vista a separaccedilatildeo que fiz por turmas

Analisei as respostas de cada turma separadamente (embora eu as

apresente sem fazer essa distinccedilatildeo) e com atenccedilatildeo aos seus contextos

Esse cuidado foi necessaacuterio pois cada uma das turmas tinha suas

especificidades e algumas vezes certas palavras de referecircncia

significavam de modos diferentes de acordo com as histoacuterias escolares

daquelesas estudantes dos preconceitos que circulavam no interior de

cada curso de suas expectativas em relaccedilatildeo ao mundomercado de

trabalho e de nossas vivecircncias nas aulas de Sociologia Os conjuntos

estatildeo dispostos desde o que concentrou o maior nuacutemero de referecircncias

ateacute o que menos as apresentou

Esclareccedilo que algumas respostas faziam referecircncia a mais de uma

perspectiva ao mesmo tempo Nesses casos busquei a perspectiva que

mais se destacava dentro das especificidades que citei acima Em geral

as respostas foram curtas a maioria com frases pequenas e muitas com

apenas uma ou duas palavras

No primeiro conjunto (determinismo tecnologia autocircnoma e

neutra) concentrei 84 respostas que se aproximavam de referecircncias com

ideias sobre avanccedilo progresso inovaccedilatildeo e invenccedilatildeo sem que os

sujeitos aparecessem necessariamente relacionados Algumas respostas

142

ldquoEacute aquilo que dita o estilo de vida das pessoas atualmenterdquo

incubadoras tecnoloacutegicas universitaacuterias sobre relaccedilotildees entre tecnologia e

sociedade 142 A partir de agora utilizo itaacutelico e aspas para transcrever passagens das

respostas dosas alunosas

188

ldquoVivemos na era da evoluccedilatildeo da tecnologia e ela evolui e nos

leva para evoluir tambeacutemrdquo

ldquoOs bens materiais satildeo um exemplo eles mudam assim as pessoas tambeacutem mudam para se adaptar a essas mudanccedilasrdquo

ldquoComo novos produtos se criamrdquo

ldquoPara mim tecnologia eacute inovaccedilotildees desde uma coisa mais simples ateacute mais complexas mudando seu jeito de viver e de convivecircncia com os

que estatildeo no redorrdquo

O segundo bloco (instrumentalismo tecnologia controlaacutevel e

neutra) com 44 respostas concentrou sentidos mais positivos

(tecnoacutefilos) sobre tecnologia e com aproximaccedilatildeo de referecircncias com

ideias sobre utilidade ferramentas instrumentos ou artefatos

construiacutedos para realizar tarefas atendimento a necessidades humanas e

com sujeitos envolvidos em accedilotildees Algumas respostas

ldquoAlgo que facilitamelhora nossa vidardquo

ldquoQuando aplicamos o que sabemos para fazer ferramentas que

nos ajudamrdquo

ldquoTudo que inventamos para nos ajudarrdquo

ldquoEacute o melhor entretenimento dos jovens atualmenterdquo

O terceiro conjunto de respostas (substantivismo tecnologia com

valores e autocircnoma) concentrou 10 respostas aproximadas a sentidos

mais negativos (tecnofoacutebicos) sobre tecnologia com referecircncias a deias

sobre dominaccedilatildeo da vida humana falta de controle sobre a tecnologia e

impossibilidades de escolha Algumas respostas

ldquoAs novas tecnologias fazem a gente querer os novos produtos

produzidos aumentando nosso consumo e desperdiacuteciordquo

ldquoEacute uma rede universal que controla quase todo o planeta () de

tatildeo importante que eacute ela estaacute mais para um estado de espiacuterito globalrdquo ldquoSatildeo as coisas que estatildeo nos dominandordquo

ldquoEacute um dos principais fatores para o consumismordquo

No quarto bloco (teoria criacutetica tecnologia com valores e

controlaacutevel) concentrei seis respostas com referecircncias aproximadas a

possibilidades de escolha dos sujeitos sobre a tecnologia

desenvolvimento da tecnologia relacionado com seu contexto e

consciecircncia da responsabilidade sobre o que eacute desenvolvido Algumas

respostas

189

ldquoO conceito de tecnologia varia de acordo com o tempordquo

ldquoAcredito que eacute importante usa-la com consciecircncia e preparaccedilatildeo necessaacuteria para tal accedilatildeordquo

ldquoA tecnologia existe pois haacute dinheiro e pessoas que possuem

capacidade mental ou seja se natildeo houver pessoas mentalmente desenvolvidas e economicamente bem desenvolvidas natildeo seraacute possiacutevel

obter tecnologiasrdquo ldquoMuitas vezes natildeo sabemos usa-la e ela vira uma arma em

nossas matildeosrdquo

Contudo para cinco respostas natildeo foi possiacutevel uma aproximaccedilatildeo

a um quadro de referecircncias que eu pudesse operacionalizar Escaparam-

me as possibilidades de filiaacute-las ao que Giraldi (2010) chama de rede de

sentidos Satildeo casos de repostas com possibilidades de sentidos para

interpretaccedilatildeo (polissemia) e de filiaccedilotildees que eu natildeo consegui apreender

Como por exemplo ldquonintendordquo ldquoa cabeccedila do Gabrielrdquo e ldquo() mas e

uma arvore Soacute porque natildeo foi o homem que a criou ela natildeo eacute

tecnologia Francamente ela eacute porque foi feita com o intuito de fazer

fotossiacutentese e produzir oxigecircnio e aleacutem disso sem elas seria quase

impossiacutevel a nossa existecircnciardquo Penso que eu poderia fazer uma aproximaccedilatildeo a referecircncias mais

instrumentais dessas respostas Nintendo seria uma ferramenta para

entretenimento o Gabriel poderia ter sido comparado agrave inteligecircncia de

um computador por exemplo Natildeo ignoro a existecircncia de polissemia

Portanto optei por deixaacute-las abertas a interpretaccedilotildees e diferentes

possibilidades de filiaccedilatildeo de sentidos sem relacionaacute-las diretamente com

o meu quadro de referecircncias e com cuidado para natildeo as silenciar

Minha impressatildeo geral e inicial de um sentido determinista sobre

tecnologia entre as juventudes dos CTIEM emergiu de maneira

destacada na maioria das respostas Do mesmo modo uma perspectiva

instrumental tambeacutem foi representativa Penso que a resposta que um

aluno forneceu em forma de desenho representa esses sentidos sobre

tecnologia

A fotografia 1 que exponho abaixo pode ser relacionada com as

perspectivas de Feenberg (1991 2002 2003) sobre determinismo

tecnoloacutegico na medida em que eacute possiacutevel fazer uma leitura acerca de um

progresso teacutecnico que percorreria niacuteveis do mais simples ateacute um mais

complexo O desenvolvimento dos artefatos seguiria uma linearidade de

etapas necessaacuterias e cada etapa desse desenvolvimento possibilitaria a

proacutexima sem ramificaccedilotildees ou desvios fora da linha principal

190

Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de resposta de estudante

Com isso podemos refletir sobre as possibilidades de inserir os

sujeitos na representaccedilatildeo que o aluno fez no desenho acima de modo a

transformar percepccedilotildees focadas na tecnologia em visotildees mais criacuteticas

sobre relaccedilotildees CTS O combate agrave ideia de tecnologia isenta de valores

parece-me ser um caminho profiacutecuo (necessaacuterio embora natildeo suficiente)

e algo que possa ser desenvolvido desde uma perspectiva criacutetica de TS

322 Anaacutelise dos questionaacuterios

Na segunda aula com a continuidade de discussotildees sobre

tecnologia apliquei o questionaacuterio com 18 questotildees e muacuteltiplas escolhas

de respostas (entre cinco e oito) para cada uma aleacutem do espaccedilo aberto

para respostas natildeo previstas conforme estaacute disponiacutevel no Apecircndice D

A atividade ocupou todo o tempo do periacuteodo mas a elaboraccedilatildeo de um

questionaacuterio longo foi proposital

Conforme eu indiquei na introduccedilatildeo desta tese sigo a perspectiva

de Thiollent (1985) e minha opccedilatildeo metodoloacutegica foi adotar a teacutecnica de

pesquisa de intervenccedilatildeo socioloacutegica Nesse sentido meu questionaacuterio eacute

modestamente inspirado na Enquete Operaacuteria de 1880 elaborada e

aplicada por Marx a trabalhadoresas na Franccedila (THIOLLENT 1985)

Minha inspiraccedilatildeo nessa praacutexis vai no sentido de que antes de ser um

levantamento de dados o proacuteprio questionaacuterio visa levar a problematizar

relaccedilotildees nas quais os sujeitos estatildeo inseridos e que ainda natildeo foram

refletidas dessa forma

Portanto o questionaacuterio natildeo foi aqui proposto como um

instrumento de coleta de dados para anaacutelises quantitativas de modo

estrito Tampouco para avaliar atitudes frente a relaccedilotildees CTS agrave moda

dos VOSTS (sigla em inglecircs para Views On Science-Techology-Society

ndash visotildees sobre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade) canadenses ou dos

COCTS (sigla em espanhol para Cuestionario de Opiniones de Ciencia

Tecnologiacutea y Sociedad ndash questionaacuterio de opiniotildees sobre Ciecircncia

Tecnologia e Sociedade) espanhoacuteis (CUNHA SILVA 2009)

191

O questionaacuterio foi pensado dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento A ideia foi apresentar questotildees

(algumas dilemaacuteticas) que natildeo seriam avaliadas dentro dos paracircmetros

de correccedilatildeo ou incorreccedilatildeo mas que causassem inquietaccedilatildeo e

mobilizassem para a problematizaccedilatildeo A intenccedilatildeo de Marx era a de que

ao lerem as questotildees de sua enquete osas trabalhadoresas refletissem

sobre suas condiccedilotildees de trabalho (THIOLLENT 1985) A discussatildeo do

questionaacuterio nas aulas dos CTIEM teve esse mesmo sentido de

mobilizaccedilatildeo para (mais) consciecircncia criacutetica (FREIRE 1983)

Contudo a proposta natildeo estaacute baseada em accedilotildees de causa e efeito

(identificar um problema aplicar um meacutetodo e avaliar a soluccedilatildeo) e de

classificaccedilatildeo dosas estudantes entre deterministas e natildeo deterministas

por exemplo A intenccedilatildeo foi refletir contextualmente sobre os modos

pelos quais essas juventudes dos CTIEM se posicionam ao serem

apresentadas formalmente a discussotildees CTS Assim discuto respostas

dadas a trecircs questotildees (07 11 e 12) que faziam referecircncia a autonomia e

neutralidade da tecnologia

A partir da questatildeo de nordm 07 seria possiacutevel refletir sobre

possibilidades de sujeitos natildeo especialistas tomarem parte em decisotildees

sobre o desenvolvimento tecnoloacutegico As respostas ficaram

basicamente divididas entre um posicionamento que entenderia o

desenvolvimento tecnoloacutegico como algo independente das accedilotildees dos

sujeitos (aproximadamente 42) e um posicionamento que

compreenderia que em alguma medida os sujeitos estariam envolvidos

com o desenvolvimento tecnoloacutegico (48)

Nas questotildees de nordm 11 e 12 seria possiacutevel ponderar sobre

contextos valores e sentimentos envolvidos com o desenvolvimento

tecnoloacutegico De modo geral verifiquei que a maioria dosas estudantes

(87) compreende que lugares eacutepocas interesses valores e intenccedilotildees

dos sujeitos estatildeo relacionados com o desenvolvimento tecnoloacutegico

Com isso questionei-me se a tese da neutralidade seria mais faacutecil de ser

problematizada

Penso que os questionamentos e duacutevidas acerca de possibilidades

de participaccedilatildeo nos proacuteximos passos que algum desenvolvimento

tecnoloacutegico seguiraacute satildeo maiores do que a visualizaccedilatildeo de que o

desenvolvimento de tecnologias pode carregar valores culturais Minha

percepccedilatildeo vem de algumas reflexotildees sobre muitas respostas de

estudantes agrave questatildeo inicial com referecircncias agrave tecnologia como

ldquoaplicativos para facilitar nossa vidardquo

Dentro de um grande quadro de interpretaccedilotildees provaacuteveis indico

uma possibilidade de anaacutelise baseada na verificaccedilatildeo de que osas

192

estudantes tecircm uma referecircncia de tecnologia nos aplicativos de celulares

e smartphones Assim esses aplicativos que satildeo vistos de modo

positivo atendem a suas necessidades e por isso estatildeo relacionados a

seus sentimentos valores e expectativas Poreacutem compreendo que

essesas estudantes como usuaacuteriosas natildeo visualizem tantas

probabilidades de desenvolverem aplicativos ou de decidirem como e

quando eles poderiam ser atualizados por exemplo No limite a posiccedilatildeo

de usuaacuterioa estaria relacionada a perspectivas de menores

possibilidades de escolhas e participaccedilatildeo em processos de

desenvolvimento tecnoloacutegico

Esclareccedilo que compreendo que embora eu ainda natildeo tivesse

apresentado o texto de apoio e um posicionamento CTS nessas questotildees

algunsmas estudantes podem ter antecipado em alguma medida

respostas que entenderiam como mais apropriadas agrave aula de Sociologia

na qual a situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica dos sujeitos sempre foi discutida

De qualquer maneira entendo que o questionaacuterio mobilizou para

debates e busca de posicionamentos Verifiquei que osas alunosas

transitaram desde uma preocupaccedilatildeo em saber se o questionaacuterio ldquocairia

na provardquo ateacute a solicitaccedilatildeo de ldquomudar a respostardquo que havia sido dada agrave

questatildeo inicial da aula anterior Com isso possiacuteveis contradiccedilotildees entre

posicionamentos na questatildeo inicial e respostas ao questionaacuterio satildeo aqui

compreendidas dentro do processo geral de problematizaccedilatildeo da temaacutetica

socioteacutecnica

A seguir apresento os proacuteximos passos dentro do roteiro didaacutetico

que chegam ateacute o desenvolvimento TS

33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS

Apoacutes as duas primeiras aulas que envolveram respostas agrave questatildeo

inicial e ao questionaacuterio iniciamos a terceira aula com a retomada de

discussotildees sobre alguns toacutepicos deste uacuteltimo A partir disso iniciei uma

exposiccedilatildeo dialogada sobre tecnologia do ponto de vista de estudos em

Educaccedilatildeo CTS latino-americanos Fizemos a leitura de um texto de

apoio sobre tecnologia e TS de minha autoria (disponiacutevel no Apecircndice

F) e assistimos a um audiovisual de cinco minutos chamado ldquoO que eacute

tecnologia afinalrdquo disponiacutevel em

lthttpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=rel

atedgt

A figura 6 abaixo eacute um exemplo de informaccedilatildeo que mediou as

discussotildees desse momento e que esteve disponiacutevel nos slides

apresentados durante as aulas Destaco que nesse processo busquei

193

articular minha perspectiva sobre educaccedilatildeo (politecnia) dentro do

quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da tecnologia na

educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS Assim a ideia foi ilustrar

como podemos pensar nas tecnologias como desenvolvimento soacutecio-

histoacuterico e contextual

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Na 4ordf aula foram retomadas as discussotildees sobre tecnologias com

inserccedilatildeo do termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer referecircncia agraves relaccedilotildees

apresentadas na terceira aula Com os recursos de leitura e debates sobre

o texto disponibilizado no encontro anterior o primeiro momento da

aula envolveu uma problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e na

segunda etapa discutimos sobre TS As figuras 7 8 e 4 abaixo ficaram

disponiacuteveis nos slides durante a aula e ilustraram os debates propostos

para esse momento

194

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01

Fonte Google imagens

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

195

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

As aulas de nuacutemero 5 e 6 foram realizadas no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Na 5ordf aula retomei a temaacutetica socioteacutecnica incluiacute

uma perspectiva de autoria nos debates e forneci informaccedilotildees sobre a

tarefa final de elaboraccedilatildeo de um projeto sobre TS para resolver um

problema socioteacutecnico relevante no quotidiano dosas alunosas No

segundo momento da aula houve a divisatildeo dosas estudantes em grupos

de livre escolha para a realizaccedilatildeo da tarefa final e o iniacutecio das pesquisas

para executaacute-la

Na 6ordf aula prosseguimos com as pesquisas orientadas no

laboratoacuterio de informaacutetica Imagens dos slides e textos ficaram agrave

disposiccedilatildeo para consulta Ressaltei novamente o aspecto autoral da

atividade com criatividade e originalidade na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do

problema socioteacutecnico levantado

Nesse sentido retomo a advertecircncia de Gramsci (1982) para

quem uma educaccedilatildeo integral e com o domiacutenio intelectual da teacutecnica se

relacionava com o desenvolvimento da criatividade Sendo esta uacuteltima

entendida como meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento que busca

maturidade intelectual e natildeo promover ldquoinventores e descobridoresrdquo no

sentido de sujeitos ldquoprivilegiadosrdquo ou ldquoiluminadosrdquo A figura 9 abaixo

ilustrou o que se pretenderia superar com a mobilizaccedilatildeo para a autoria

196

Figura 9 - Autoria

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

As duas uacuteltimas aulas (7ordf e 8ordf) ficaram reservadas agraves

apresentaccedilotildees de seminaacuterios com os projetos sobre TS discussotildees

acerca dessas iniciativas e auto avaliaccedilotildees finais Destaco que osas

estudantes foram mobilizados para pensar coletiva colaborativa criativa

e criticamente sobre problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicos vivenciados Os

modos pelos quais os projetos poderiam ser apresentados tambeacutem

tiveram essa orientaccedilatildeo

A partir desse detalhamento do roteiro que as aulas seguiram a

seguir descrevo e analiso cinco projetos de desenvolvimento de TS

dentre os pouco mais de 20 que foram apresentados nos seminaacuterios

finais Esse recorte foi necessaacuterio para privilegiar aspectos mais

especiacuteficos e contextualizados tanto dos sujeitos envolvidos quanto dos

sentidos sobre tecnologia e TS que foram debatidos nessa atividade

Todos os projetos apresentados nos seminaacuterios foram analisados

mas estabeleci criteacuterios de escolha para os que seriam aqui descritos

Esses criteacuterios foram os seguintes (i) envolvimento dosas alunosas do

grupo na realizaccedilatildeo da tarefa (pesquisa sobre TS e debates para levantar

o problema a ser resolvido) (ii) destaque agrave relevacircncia de um problema

do seu quotidiano (iii) estabelecimento de relaccedilatildeo do projeto com a

temaacutetica socioteacutecnica e (iv) incorporaccedilatildeo de um modo pessoal e possiacutevel

de resolver o problema destacado

197

Portanto verifiquei que em alguma medida os projetos aqui

descritos143 foram desenvolvidos por estudantes que ocuparam os

tempos das aulas no laboratoacuterio de informaacutetica para investigar sobre TS

Momentos nos quais estabeleceram diaacutelogos entre osas componentes do

grupo para decidir sobre o problema tendo em vista que este uacuteltimo teria

relevacircncia no seu dia-a-dia Buscaram de algum modo um paracircmetro

de comparaccedilatildeo nas caracteriacutesticas baacutesicas de TS (simplicidade baixo

custo resposta social e possibilidade de reaplicaccedilatildeo) e sobretudo

mostraram alguma iniciativa para apresentar algo (levantamento e

possiacutevel resoluccedilatildeo do problema) que fosse conforme suas

possibilidades contextualizado com suas caracteriacutesticas pessoais e que

envolvesse seus conhecimentos Os cinco projetos escolhidos satildeo

apresentados a seguir

331 Campanha contra homofobia nas escolas

O grupo da turma do CTIEM de quiacutemica que desenvolveu um

projeto tendo em vista a questatildeo da homofobia nas escolas era composto

por cinco estudantes As quatro meninas e o menino do grupo tinham

entre 15 e 16 anos de idade natildeo trabalhavam no contra turno natildeo eram

residentes do Faacutetima e cursavam pela primeira vez o 1ordm ano Percebi que

a sua integraccedilatildeo nesse formato de grupo ocorreu pelos laccedilos de

amizades que eles haviam estabelecido durante o ano letivo Todosas

ocupavam lugares proacuteximos na parte do fundo da sala de aula e era

comum encontraacute-losas reunidosas nos intervalos das aulas

Duas meninas do grupo jaacute haviam trabalhado comigo em um

projeto de pesquisa sobre diversidade linguiacutestica (sotaques giacuterias) nas

diferentes regiotildees do Brasil De modo geral o grupo era coeso quanto ao

interesse por questotildees debatidas na aacuterea das Ciecircncias Humanas

Verifiquei que nas duas aulas com pesquisas orientadas no laboratoacuterio

143 Destaco que algumas iniciativas interessantes ficaram fora das descriccedilotildees

apresentadas nesta tese Por exemplo o desenvolvimento de diversos aplicativos

para celular e smartphones Desde um que compararia preccedilos de medicamentos

em diferentes farmaacutecias da cidade passando por um que mostraria a localizaccedilatildeo

do ocircnibus e o tempo que ele levaria para chegar ao usuaacuterioa ateacute um com dicas

de sauacutede e boa forma e outro com notiacutecias e informaccedilotildees sobre o quotidiano da

escola Contudo alguns projetos analisados natildeo foram aqui explorados por natildeo

atenderem aos criteacuterios definidos como por exemplo um separador de moedas

e um ar condicionado caseiro que satildeo semelhantes a ideias divulgadas no Brasil

pelo Manual do Mundo e que podem ser conferidos em

lthttpwwwmanualdomundocombrgt

198

de informaacutetica elesas investigaram TS desenvolvidas no Brasil e jaacute

naqueles espaccedilos elaboraram um esboccedilo da apresentaccedilatildeo final A figura

10 abaixo eacute um slide que foi apresentado pelo grupo no seminaacuterio final

Figura 10 - Dados sobre homofobia

Fonte Montagem da autora a partir de slides da apresentaccedilatildeo do grupo de

alunosas

Eacute interessante verificar que o grupo buscou articular informaccedilotildees

do seu quotidiano na escola com outros dados de pesquisas como os do

slide da figura 10 acima E assim construiacuteram conhecimentos sobre o

problema da homofobia A seguinte fala apresentada em um slide do

grupo mostra esse sentido de problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas

ldquoPara pensar 87 da comunidade escolar tem preconceito contra homossexuais Homofobia nas escolas eacute um reflexo do

preconceito na sociedade rdquo

Acredito que esse tema tenha emergido por conta da possiacutevel

orientaccedilatildeo sexual de uma participante do grupo que em diferentes

niacuteveis sofria com preconceito de colegas Destaco que questotildees sobre gecircnero (sexo orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero) satildeo previstas

para as turmas dos segundos anos da escola mas pelo interesse

demonstrado indiquei e orientei leituras sobre o tema do ponto de vista

da Sociologia para o grupo

199

A partir da percepccedilatildeo de um problema elesas pensaram em uma

soluccedilatildeo baseada na prestaccedilatildeo de serviccedilo de apoio a viacutetimas de

homofobia na escola e encaminhamento agrave assistecircncia estudantil Nesse

processo a duacutevida que elesas apresentaram foi sobre a pertinecircncia

dessa questatildeo para TS tendo em vista que elesas natildeo haviam

identificado um problema teacutecnico mas um problema social De modo

que o grupo pensou em acrescentar ao projeto a possibilidade de

desenvolver um aplicativo de celular para denuacutencias contra situaccedilotildees de

homofobia na escola

Minha estrateacutegia foi mobilizaacute-losas para a (maior) percepccedilatildeo de

que seus problemas quotidianos (e seus conhecimentos sobre eles) tecircm

relevacircncia e que as soluccedilotildees apontadas satildeo igualmente importantes Na

investigaccedilatildeo envolvida nesta tese visualizo possibilidades de processos

educacionais atuarem na transformaccedilatildeo da realidade social Assim como

Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados com a

vivecircncia dos sujeitos procurei natildeo silenciar os conhecimentos

produzidos pelo grupo Esse uacuteltimo entendido como integrante das

diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no contexto escolar

da atualidade

Nessa perspectiva o grupo desenvolveu o projeto e buscou nas

carateriacutesticas baacutesicas de TS algumas referecircncias para apresentar

soluccedilotildees ao problema identificado Em um de seus slides aparecia a

seguinte proposta

ldquoCriar campanhas para que a sociedade entenda que cada indiviacuteduo eacute livre e tem sua forma de amar Independentemente da sua

escolha o que nos resta eacute respeitarrdquo

Osas integrantes do grupo buscaram apresentar algo que

entendiam como possiacutevel de ser feito com pouco investimento

financeiro e que visualizavam que ajudaria a resolver o problema

levantado A apresentaccedilatildeo da proposta para osas colegas da turma

contou com uma boa recepccedilatildeo Conforme estaacute retratado na fotografia 2

abaixo uma de suas accedilotildees consistia em colar cartazes educativos sobre

homofobia nas dependecircncias da escola Algo que relaciono com o

interesse de todosas os integrantes do grupo pelas aulas da disciplina de

Artes144

144 O Anexo C mostra as disciplinas obrigatoacuterias para cada curso a cada ano

200

Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo

Fonte Adaptado de fotografia feita pela autora

De modo geral o que acompanhei do grupo na elaboraccedilatildeo do

projeto indica uma mobilizaccedilatildeo para a relevacircncia de seus problemas

como de interesse a um grupo maior de sujeitos do seu contexto e uma

disposiccedilatildeo para desenvolver os projetos com sensibilidade aos modos

com que cada integrante do grupo pudesse colaborar Destaco que foi

importante desenvolver junto ao grupo e agrave turma questotildees acerca da natildeo

linearidade entre a identificaccedilatildeo de um problema e sua resoluccedilatildeo A

complexidade e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir

foram apontados

332 Transporte de catildees em coletivos

Ainda nessa turma de quiacutemica na qual foi abordada a homofobia

foi desenvolvido um projeto sobre o transporte de animais domeacutesticos

em coletivos urbanos O grupo que desenvolveu a atividade era

composto por trecircs meninas e um menino (namorado de uma das

meninas) Suas idades estavam entre 15 e 16 anos todasos residentes

fora do Faacutetima sem exercerem atividades de trabalho ou estaacutegio no

contra turno da escola e pela primeira vez no 1ordm ano Assim como osas

colegas que abordaram a homofobia percebi que os laccedilos que os uniam

como grupo eram de amizade Para aleacutem dessa atividade conjunta em

201

sala de aula elesas sentavam proacuteximos na aacuterea central da sala e

mantinham conviacutevio nos outros espaccedilos da escola

Havia certa coesatildeo no grupo quanto aos planos futuros de

seguirem estudos na aacuterea da Quiacutemica (engenharia farmaacutecia e quiacutemica

forense) Com exceccedilatildeo do menino que sempre expressou natildeo

compreender a necessidade de estudar Sociologia e Filosofia eu

percebia que a disciplina de Sociologia era entendida dentro de um

conjunto de conhecimentos necessaacuterios para atingir as metas

profissionais estabelecidas Verifiquei que as meninas pesquisaram

sobre TS e escolheram um tema que elas vivenciavam como problema

quotidiano

A figura 11 abaixo traz um slide no qual o grupo apresentava

seu problema

Figura 11 - O problema do transporte de catildees

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas

Em relaccedilatildeo ao grupo que problematizou a homofobia aqui as

impressotildees gerais sobre o transporte coletivo da cidade natildeo foram

contrapostas com outras fontes ou outros tipos de informaccedilatildeo Durante

as pesquisas procurei propor ao grupo o estabelecimento de relaccedilotildees

entre suas percepccedilotildees iniciais sobre o transporte puacuteblico e informaccedilotildees

disponiacuteveis sobre o tema Minha intenccedilatildeo natildeo foi desmobilizaacute-los do

problema levantado antes disso foi lembraacute-los da importacircncia de uma

leitura menos ingecircnua e naturalizada da realidade social Algo que

202

Moraes e Guimaratildees (2010) destacam com os princiacutepios socioloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento

Contudo o problema levantado pelo grupo pareceu-me sensiacutevel agrave

relevacircncia do tema no seu quotidiano Acompanhei a elaboraccedilatildeo do

problema durante as aulas e verifiquei que o grupo identificou uma

iniciativa de transporte de catildees similar e jaacute em uso em outro contexto

Apoacutes alguns debates elesas optaram por prosseguir com o projeto pois

ele tratava de um problema que era importante para o grupo naquele

momento

A proposta apresentada conforme as suas falas envolvia

ldquoA melhor soluccedilatildeo no quesito custo X benefiacutecio seria a implantaccedilatildeo de casas de cachorro (semelhantes a uma gaiola poreacutem

com o conforto adequado ao bicho) embaixo de cada banco assim o

dono poderia acomodar o seu animal fechar a porta da casa e sentar-se no banco logo acima Dessa forma natildeo atrapalharia ningueacutem e o

animal estaria protegido rdquo O grupo apresentou a ideia aosagraves colegas tendo em vista que as

gaiolas poderiam ser produzidas pelosas proacuteprios estudantes nos

laboratoacuterios da escola em alguma disciplina teacutecnica e com custo baixo

A intenccedilatildeo seria levar as gaiolas a empresas de transporte mas o modo

como haveria a produccedilatildeo natildeo foi estabelecido O grupo foi questionado

pelosas colegas sobre vaacuterios aspectos do projeto desde a originalidade

(questionamento da existecircncia de um produto similar) ateacute aspectos

sanitaacuterios do transporte de animais

Ao fim dos debates osas colegas pensaram que haveria

possibilidade para tal atividade mas que seria interessante desenvolver

algum material plaacutestico novo para as gaiolas Percebi certa preocupaccedilatildeo

de algunsmas estudantes com a necessidade de haver inovaccedilatildeo na

proposta de gaiola apresentada o que poderia estar relacionado ao que

Feenberg (1991 2002 2003) chamaria de perspectivas deterministas do

progresso teacutecnico

Contudo de modo geral verifiquei que as meninas do grupo

estiveram sensiacuteveis para refletir sobre um problema vivenciado e para

pensar em soluccedilotildees dentro de suas possibilidades de execuccedilatildeo Embora

natildeo tivessem apresentado maiores problematizaccedilotildees da situaccedilatildeo do

transporte puacuteblico na cidade percebi certa abertura para (maior)

compreensatildeo da inserccedilatildeo dos sujeitos (e suas demandas) no

desenvolvimento tecnoloacutegico

203

333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel

A utilizaccedilatildeo de pallets145 para construccedilatildeo de um espaccedilo de

convivecircncia na escola fez parte do projeto desenvolvido por sete

meninos do CTIEM em fabricaccedilatildeo mecacircnica Assim como o projeto das

gaiolas para catildees os meninos focaram em um produto Esses meninos

tinham entre 15 e 17 anos de idade todos residiam fora do Faacutetima

estavam pela primeira vez no 1ordm ano e dois deles participavam do

Projeto Jovem Aprendiz do Serviccedilo Nacional de Aprendizagem

Industrial (SENAI) no contra turno da escola

Assim como a maioria de seus colegas de turma (25 meninos e

apenas duas meninas) os meninos do grupo pensavam em trabalhar nas

aacutereas teacutecnicas (engenharias e setor metalmecacircnico) da regiatildeo no futuro

Entretanto eu percebia o interesse dos meninos desse grupo em temas

socioloacutegicos pois natildeo raro eles traziam materiais para discussatildeo em sala

de aula (sobretudo em relaccedilatildeo agrave perspectiva socioloacutegica sobre trabalho

modos de produccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo produtiva)

Apesar de grande e diverso o grupo contava com meninos

integrados por laccedilos de amizade desenvolvidos durante o ano escolar

Embora separados na sala de aula era comum encontraacute-los reunidos

inclusive no contra turno Durante as pesquisas para o projeto sobre TS

percebi que havia dificuldade em escolher algo comum (problema) a

todo o grupo Durante nossas conversas eles relataram que gostavam de

slackline146 e tinham previsto um espaccedilo para essa praacutetica no projeto que

estavam desenvolvendo na disciplina de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Busquei mobilizaacute-los para refletirem sobre tal projeto tendo em

vista a temaacutetica socioteacutecnica Eles avaliaram que estavam

desenvolvendo TS e passaram a organizar o projeto em termos de

problemas e soluccedilotildees identificadas O interessante foi a relaccedilatildeo entre

conhecimentos produzidos em outra aacuterea que em um primeiro momento

natildeo teve relaccedilatildeo com a atividade proposta mas que passou a fazer parte

de um conjunto maior de possibilidades Eles verificaram que

conhecimentos de diferentes disciplinas poderiam estar envolvidos no

projeto que eles planejavam

No iniacutecio das pesquisas no laboratoacuterio verifiquei certa

preocupaccedilatildeo com a questatildeo da autoria pois o projeto havia sido pensado

145 Satildeo estradosbases de madeira metal ou plaacutestico utilizados para

movimentaccedilatildeo de caixas em induacutestrias ou grandes estabelecimentos comerciais 146 Esporte que permite agraveao praticante andar e fazer manobras por cima de uma

fita elaacutestica esticada entre dois pontos fixos

204

para outra disciplina Contudo nos debates que eles estabeleceram (e

que eu participei) percebi que houve uma distinccedilatildeo entre ldquoproduzir algo

colaborativo e do nosso jeitordquo e ldquotrazer algo que nunca foi feito antesrdquo

De modo que eles buscaram ampliar alguns aspectos do projeto tendo

em vista a apresentaccedilatildeo aos colegas

A figura 12 abaixo traz um slide que o grupo produziu para

apresentar seu projeto agrave turma

Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Os meninos partiram de problemas vivenciados no seu quotidiano

(necessidade de um espaccedilo de convivecircncia e resiacuteduos natildeo aproveitados)

e os relacionaram com possibilidades de soluccedilotildees disponiacuteveis (pallets

descartados pelas induacutestrias vizinhas ao Faacutetima) e em alguma medida

exequiacuteveis (simplicidade na execuccedilatildeo) Utilizaram seus conhecimentos

das aulas da disciplina de Desenho Teacutecnico e elaboraram uma planta

para o projeto como mostra a figura 13 abaixo

205

Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Podemos verificar na figura 13 acima o espaccedilo destinado ao

slackline em vermelho A fala a seguir conteacutem um pouco da projeccedilatildeo de

resultados que os meninos apresentaram agrave turma

ldquoPara esta aacuterea de convivecircncia grande parte dos materiais

seratildeo obtidos atraveacutes de empresas materiais estes que natildeo satildeo utilizados pela mesma e satildeo descartados O espaccedilo contaraacute tambeacutem

com flores e plantas algumas frutiacuteferas rdquo

Compreendo que a escola fazia parte da vida dos meninos do

grupo de maneira especial Para aleacutem desse espaccedilo de socializaccedilatildeo que o

projeto deles procurava resgatar haveria ali um caminho para a

realizaccedilatildeo das expectativas profissionais futuras Aleacutem disso eu

percebia nesse grupo uma abertura agrave perspectiva politeacutecnica de

educaccedilatildeo como destacada por Marx e Engels (2004) e Saviani (1989

2003) Pois eles demonstravam uma percepccedilatildeo positiva sobre a

integraccedilatildeo entre ensino teacutecnico humanidades artes e atividades fiacutesicas

Penso que os meninos mostraram um pouco desses sentimentos na

intenccedilatildeo de desenvolver algo que poderia ser ampliado para zonas

carentes desses espaccedilos no Faacutetima e em outras unidades do IFRS

206

334 Inovaccedilotildees no site da escola

Tal sentimento de pertencimento e cuidado com a escola que

verifiquei nos meninos do curso de fabricaccedilatildeo mecacircnica apareceu em

alguma medida no grupo que desenvolveu o projeto de melhoria para a

paacutegina do IFRS de Caxias do Sul na internet No entanto esse grupo

composto por oito meninos do CTIEM da quiacutemica natildeo era tatildeo coeso e

pude perceber uma divisatildeo interna em dois subgrupos

Os meninos tinham entre 15 e 17 anos de idade um deles era

residente do Faacutetima e o uacutenico a trabalhar no contra turno da escola

Observei que ele e mais dois meninos do grupo formavam um subgrupo

enquanto os outros cinco meninos formavam o segundo subgrupo No

primeiro subgrupo os trecircs meninos formaram laccedilos de amizade durante

o ano sentavam proacuteximos no fundo da sala de aula e estavam sempre

juntos nas atividades da escola Eles demonstravam um interesse por

temas socioloacutegicos na medida em que era mais uma disciplina a ser

estudada Quanto a planos para o futuro profissional apenas um deles

apresentava o desejo de cursar Educaccedilatildeo Fiacutesica no ensino superior

Os cinco meninos do que chamo aqui de segundo subgrupo

tambeacutem haviam estabelecido laccedilos de amizade ao longo do ano escolar

sentavam proacuteximos na lateral da sala de aula e eram parceiros nas

atividades escolares Todos eles expressavam interesse na disciplina de

Sociologia de alguma forma Desde o que gostaria de ldquoaprender os

fundamentos da revoluccedilatildeo socialistardquo passando pelo que pensava em

ldquoestudar o suiciacutedio entre jovens roqueirosrdquo ateacute os que buscavam

diferentes explicaccedilotildees para problemas sociais vivenciados na sua cidade

Um interesse geral nesse subgrupo era por informaacutetica SL e pela

chamada cultura hacker que eles relacionaram com textos sobre

ideologia que haviacuteamos debatido na primeira parte do trimestre

Contudo os dois subgrupos estavam caracterizados como apenas

um grupo pois mantinham relacionamentos de amizade na sala de aula

O que os unia como grupo era a proposta de projeto atividade na qual

desenvolveram debates profiacutecuos Acompanhei as atividades de

pesquisa e verifiquei que eles concordavam que o site da escola natildeo era

funcional A fala a seguir que ilustrou um slide da apresentaccedilatildeo do

seminaacuterio do grupo mostra os problemas identificados

ldquoProblemaacutetica menu muito extenso e confuso difiacutecil para novos usuaacuterios utilizarem informaccedilotildees sobre a instituiccedilatildeo muito lsquoescondidasrsquo

sem acesso faacutecil agrave notiacutecias e arquivos antigos natildeo possui mapa da

instituiccedilatildeo e o botatildeo viacutedeo natildeo funciona rdquo

207

Em outro slide disponiacutevel na figura 14 abaixo o grupo mostrou

a imagem do site e as melhorias que poderiam ser feitas destacadas em

vermelho

Figura 14 - Proposta de melhorias

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Na apresentaccedilatildeo do projeto aos colegas o grupo destacou que

gostaria de resolver os problemas levantados de modo simples

(ldquoreescrever os comandosrdquo no site) barato e com conhecimentos sobre

programaccedilatildeo disponiacuteveis na proacutepria internet A turma recebeu o projeto

de modo positivo e fez outras sugestotildees de melhorias no site Muitosas

alunosas demonstraram interesse em conhecer melhor os processos de

produccedilatildeo organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de conteuacutedo digital no site da escola

e pensaram em levar a pauta ateacute a direccedilatildeo

Ao acompanhar o desenvolvimento do projeto verifiquei que os

trecircs meninos do primeiro subgrupo tiveram mais iniciativa ao demostrar

os problemas do site e deixaram a parte de resoluccedilatildeo para os meninos do

segundo subgrupo Com isso busquei mobilizar os primeiros para que

eles tanto visualizassem (mais) a importacircncia de apontar problemas

relevantes do seu quotidiano quanto compreendessem (mais) que as

resoluccedilotildees natildeo precisariam ser necessariamente deixadas a especialistas

que poderiacuteamos compreender aspectos do desenvolvimento tecnoloacutegico

que permitiriam nossa participaccedilatildeo informada nesse processo como

defende Feenberg (2002 2003)

208

335 Aplicativo para estudos e lazer

Ainda na aacuterea de informaacutetica e programaccedilatildeo o grupo de sete

alunosas do CTIEM de plaacutesticos desenvolveu o projeto de um

aplicativo para smartphone que uniria estudos e entretenimento O grupo

era composto por trecircs meninas e quatro meninos com idades entre 15 e

16 anos todosas residentes fora do Faacutetima nenhuma trabalhava no

contra turno escolar e estavam pela primeira vez no 1ordm ano

Embora constituiacutessem um grupo grande apresentavam coesatildeo

nas decisotildees sobre o desenvolvimento do projeto Ao contraacuterio dos

outros grupos que desenvolveram projetos sobre TS e foram aqui

citados osas estudantes desse grupo natildeo sentavam proacuteximos ou

ficavam juntos nos intervalos das aulas Contudo observei que elesas

geralmente realizavam as tarefas da escola entre si O que acredito que

os caracterizou como integrados por laccedilos de amizade e estudos

De modo geral o grupo demostrava interesse na Sociologia natildeo

apenas como uma disciplina a ser estudada na escola mas como um tipo

de ldquoconhecimento importante para compreender a sociedaderdquo

Aquelesas que jaacute tinham uma projeccedilatildeo de futuro profissional pensavam

em seguir estudos universitaacuterios na medicina nas engenharias ou na

fiacutesica Natildeo destacaram interesse em aacutereas relacionadas com informaacutetica

e programaccedilatildeo de modo especiacutefico mas algunsmas declararam que

desenvolver SL era ldquoum oacutetimo hobbyrdquo

Na descriccedilatildeo do slide de apresentaccedilatildeo do projeto para a turma eacute

possiacutevel verificar as suas motivaccedilotildees

ldquoAtualmente a tecnologia mais utilizada pelos jovens eacute o celular

Muitas vezes os alunos usam o celular apenas para entretenimento e acabam largando os estudos de lado poreacutem o que aconteceria se

juntaacutessemos o entretenimento com os estudos De acordo com esta

ideia surgiu o EIFante rdquo

O grupo afirmou que a ideia seria juntar estudos e lazer

(ldquoentretenimento inteligenteldquo) tendo em vista a oacutetima memoacuteria de um

elefante A identidade visual do aplicativo seria desenvolvida a partir de

uma imagem da internet que consta na figura 15 abaixo e foi

apresentada em slide na sala de aula

209

Figura 15 - Identidade visual do aplicativo

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas

No acompanhamento que fiz durante o desenvolvimento do

projeto o grupo informou-me de que a ideia do ELFante veio de um

programa antigo que sincronizava dados de diversas agendas tinha um

espaccedilo grande para armazenar informaccedilotildees e rapidez na execuccedilatildeo das

tarefas Desde o iniacutecio das atividades sobre TS elesas pensaram sobre

isso e buscaram justificar sua escolha como pode ser visto na seguinte

fala que fez parte da apresentaccedilatildeo do grupo agrave turma

ldquoVantagens do Aplicativo EIFante praticidade graacutetis e leve

auxiacutelio e maior foco nos estudos para as provas memorizaccedilatildeo dos conteuacutedos trabalhados entretenimento de forma educativa interaccedilatildeo

com professores e colegas de forma divertida rdquo

O grupo pensava em um produto faacutecil de ser feito (ldquonecessidade apenas de noccedilotildees baacutesicas de programaccedilatildeordquo) de usar (ldquocom interface

amigaacutevelrdquo) e de acessar (ldquolanccedilado na Google Play e App Storerdquo) O

funcionamento do aplicativo foi apresentado da seguinte forma

ldquoPerguntas e Respostas perguntas separadas por seacuteries e

mateacuterias conecte com suas redes sociais desafie seus colegas nas diversas mateacuterias disponiacuteveis crie novas perguntas para cada mateacuteria

e interaja com seus professores atraveacutes do quiz rdquo

A apresentaccedilatildeo do grupo levou a debates sobre quem poderia

produzir o conteuacutedo se professoresas participariam e se as avaliaccedilotildees

escolares poderiam utilizar resultados do aplicativo De modo geral a

210

turma recebeu a proposta de modo positivo e osas estudantes

demostraram interesse em usaacute-lo Fato que os levou a refletir sobre

possibilidades de desenvolver (natildeo apenas aplicativos e softwares)

soluccedilotildees para problemas socioteacutecnicos do quotidiano a partir de seus

conhecimentos integrando diferentes conhecimentos e dentro de seus

contextos Nesses cinco casos analisados verifiquei certa preocupaccedilatildeo

inicial dos grupos em elaborar ldquoprodutos e inovaccedilotildeesrdquo para facilitar o

quotidiano Por outro lado certa perspectiva instrumental foi

compartilhada com intenccedilotildees manifestas de relacionar meios e fins no

desenvolvimento dos projetos Em alguma medida nos debates

proporcionados pelos seminaacuterios finais osas alunosas destacaram a

importacircncia de haver oportunidades de escolha (ou ao menos

conhecimento) entre diferentes caminhos para o desenvolvimento de

tecnologias

Em relaccedilatildeo agrave autoria no desenvolvimento de TS durante as

pesquisas no laboratoacuterio destaquei a importacircncia dosas estudantes

buscarem seus conhecimentos articularem com outros conhecimentos

disponiacuteveis e refletirem sobre soluccedilotildees contextualizadas e simples

Nesse processo percebi dois aspectos (i) a necessidade de retomarmos

as diferenccedilas entre TS simples e TS pontual e restrita De modo que o

contexto soacutecio-histoacuterico (aspectos estruturais e poliacuteticos) no qual o seu

projeto seria desenvolvido fosse considerado e (ii) as possibilidades de

explorar as aproximaccedilotildees entre a questatildeo da autoria e da natildeo

neutralidade Tendo em vista as indicaccedilotildees de que elesas possam

visualizar as tecnologias como relacionadas a seus desejos seria

interessante discutir sobre a contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados

ao desenvolvimento tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele

ocorre

Para aleacutem das especificidades nas trajetoacuterias de pesquisa de cada

grupo procurei manter a mobilizaccedilatildeo dosas alunosas para (i) a

relevacircncia de seus problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas) do

quotidiano no contexto maior de sua realidade social (ii) (maior)

compreensatildeo de caracteriacutesticas do desenvolvimento tecnoloacutegico tendo

em vista participaccedilatildeo informada nos debates sobre os rumos desse

desenvolvimento e (iii) as possibilidades contidas nas articulaccedilotildees de

seus conhecimentos (situados costumeiros ancestrais e taacutecitos) com

conhecimentos disponiacuteveis nas diversas disciplinas escolares (e no

quotidiano da vida escolar) para refletir sobre participaccedilatildeo informada e

criacutetica em processos de transformaccedilatildeo social

211

E eacute a partir dessas consideraccedilotildees que encaminho as reflexotildees

finais que apresento a seguir

212

213

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao fim das anaacutelises pude perceber ainda mais a complexidade

envolvida tanto em questotildees educacionais quanto na temaacutetica

socioteacutecnica Lembro de um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano

(1940-2015) no qual ele reflete sobre determinismos tecnoloacutegicos e

sociais Na sua ldquoBreve histoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo (GALEANO

2009 p 331-332) ele nos diz

Crescei e multiplicai-vos dissemos

e as maacutequinas cresceram e se multiplicaram

Tinham nos prometido que trabalhariam para

noacutes

Agora noacutes trabalhamos para elas

As maacutequinas que noacutes inventamos

para multiplicar a comida

multiplicam a nossa fome

As armas que inventamos para nos defender

nos matam

Os automoacuteveis que inventamos para nos mover

nos paralisam

As cidades que inventamos para nos encontrar

nos desencontram

Os grandes meios que inventamos para

nos comunicarmos

natildeo nos escutam nem nos vecircem

Somos maacutequinas de nossas maacutequinas

Elas alegam inocecircncia

E tecircm razatildeo

Essas reflexotildees estiveram sempre presentes em minha intenccedilatildeo de

investigar de que maneira e em que medida uma perspectiva criacutetica

sobre TS poderia colaborar para transformar sentidos deterministas

sobre tecnologia entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico O

entendimento de posiccedilotildees deterministas tambeacutem me levou a buscar

compreender em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais

voltados agrave construccedilatildeo de autoria a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS poderia mobilizar tais estudantes para a emancipaccedilatildeo social e

a autonomia

Nesse processo de investigaccedilatildeo encontrei diferentes desafios tais

como o cuidado em natildeo considerar meus sujeitos da pesquisa de

maneira abstrata homogecircnea ou idealizada em buscar representar as

214

diversidades sem perder de vista a unicidade em verificar pluralidades e

diferenccedilas poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero em

natildeo assumir uma perspectiva salvacionista das TS e da Educaccedilatildeo CTS e

em natildeo ignorar contradiccedilotildees silenciamentos e a polissemia Desafios

esses que foram aliados do pequeno tempo para o desenvolvimento do

roteiro didaacutetico dos equiacutevocos inerentes agrave minha primeira experiecircncia

como docente no ensino meacutedio formal e das dificuldades estruturais para

superaccedilatildeo das contradiccedilotildees agraves quais me referi

Dentro do possiacutevel procurei que o desenvolvimento da temaacutetica

socioteacutecnica tivesse significado para osas estudantes no

estabelecimento de relaccedilotildees com as realidades sociais nas quais elesas

estavam inseridosas Abordei TS como tema a ser estudado dentro dos

princiacutepios de desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento tendo em vista o

rompimento com visotildees hierarquizadas sobre conhecimento Minha

intenccedilatildeo foi destacar o caraacuteter processual da produccedilatildeo de conhecimentos

e a importacircncia da alteridade interaccedilatildeo e interdependecircncia dos sujeitos

nesse processo

Destaco minha compreensatildeo acerca da existecircncia de perspectivas

educacionais (re)produtoras de heteronomia Frente a isso busquei

desenvolver em alguma medida praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agrave

formaccedilatildeo criacutetica dos sujeitos Abordei questotildees socioteacutecnicas na

educaccedilatildeo baacutesica tendo em vista possibilidades de mudanccedilas estruturais

de base Minha intervenccedilatildeo junto aos CTIEM visou problematizar a

origem soacutecio-histoacuterica do desenvolvimento tecnoloacutegico as relaccedilotildees de

poder ali envolvidas e nossas possibilidades de participaccedilatildeo nesses

processos

Compreendo que os cuidados que tive natildeo puderam garantir algo

como o cumprimento ideal de meus objetivos Percebi limites tanto para

alguma transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia entre

juventudes quanto para mobilizaccedilotildees para a autoria De maneira geral

tais limites podem se referir tanto a praacuteticas docentes (tipo de

abordagem e escolha pedagoacutegica tempo disponiacutevel) quanto agrave estrutura

escolar (componentes curriculares possibilidades de trabalho

interdisciplinar) por exemplo

Em especiacutefico verifiquei a importacircncia de desenvolver com

estudantes questotildees acerca da natildeo linearidade entre a identificaccedilatildeo de

um problema e sua resoluccedilatildeo de modo a apontar as muacuteltiplas

influecircncias e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir Aleacutem

disso foi necessaacuterio embora natildeo suficiente tendo em vista um processo

de transformaccedilatildeo e criaccedilatildeo de novos sentidos destacar diferenccedilas e

possiacuteveis aproximaccedilotildees entre TC TS e TA aleacutem de problematizar a

215

contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados ao desenvolvimento

tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele ocorre

Verifiquei que a tarefa de mobilizaccedilatildeo de estudantes para

desenvolvimento autoral de TS em niacutevel disciplinar apenas na

disciplina de Sociologia foi um fator limitante Assim como a busca por

novas praacuteticas pedagoacutegicas e didaacuteticas natildeo se constituiu como uma

tarefa simples Contudo visualizei algumas possibilidades para

transformaccedilatildeo de sentidos e criaccedilatildeo de novos sentidos sobre o

desenvolvimento tecnoloacutegico

As anaacutelises realizadas indicaram certa sensibilidade de estudantes

para com a temaacutetica socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos

deterministas sobre tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo de projetos autorais Entendo que foi profiacutecuo mobilizaacute-losas

para aleacutem de refletir sobre problemas socioteacutecnicos do quotidiano

pensar em possibilidades de soluccedilotildees de acordo com seus desejos

dentro de suas possibilidades e contextos

Considero que a disposiccedilatildeo manifesta pelosas estudantes para

projetos autorais pode estar relacionada com autonomia na medida em

que ocorre certo tipo de desenvolvimento de maturidade intelectual

nesse processo Maturidade desenvolvida pela criatividade colaboraccedilatildeo

e abertura para trabalhos conjuntos e compartilhados entre diferentes

conhecimentos Esses trabalhos conjuntos mais que interdisciplinares

podem envolver a coletividade escolar e os diferentes conhecimentos

produzidos por seus sujeitos de modo geral

Portanto a integraccedilatildeo de diferentes conhecimentos no

desenvolvimento de TS seria possiacutevel em grupo E nessas experiecircncias

conjuntas os processos educacionais estariam sensiacuteveis ao

desenvolvimento de maturidade intelectual Maturidade vinculada agrave

autonomia como destaquei acima e agrave emancipaccedilatildeo social Essa uacuteltima

ligada a possibilidades dos sujeitos se posicionarem socialmente tanto

em relaccedilatildeo a criacuteticas a situaccedilotildees de vulnerabilidade vivenciadas quanto agrave

libertaccedilatildeo de condiccedilotildees de dependecircncia e tutela

Dessa maneira minhas intervenccedilotildees junto agraves juventudes dos

CTIEM do IFRS mostraram que em alguma medida existem

possibilidades de transformar sentidos deterministas sobre tecnologia (e

construir novos sentidos) atraveacutes de processos educacionais sensiacuteveis a

uma perspectiva criacutetica sobre TS (processos colaborativos de

desenvolvimento) Em tais processos as juventudes parecem

compreender (mais) que os problemas socioteacutecnicos satildeo (socialmente)

construiacutedos e que as tecnologias podem atender a seus desejos e

incorporar valores contextuais

216

Nas pesquisas que realizei para esta tese sobretudo nas oito aulas

de desenvolvimento do roteiro didaacutetico verifiquei que a temaacutetica

socioteacutecnica natildeo era necessariamente um problema para as juventudes

do CTIEM Entretanto houve a construccedilatildeo de problemas na medida em

que foram exploradas as possibilidades de participaccedilatildeo via autoria com a

criaccedilatildeo de TS De modo que percebo que ao constituiacuterem-se como

autoresas (e natildeo mais apenas usuaacuteriosas) satildeo visualizadas as

possibilidades de autonomia e liberaccedilatildeo de tutela e dependecircncia

Poreacutem natildeo entendo esse processo como algo linear e

previamente determinado pelo desenvolvimento de TS entre juventudes

Compreendo a complexidade aqui envolvida e aponto uma

possibilidade entre outras tantas que poderiam ser exploradas para

desenvolver processos educacionais atentos a perspectivas CTS

Procurei natildeo reproduzir praacuteticas pedagoacutegicas problemaacuteticas e nesse

sentido verifiquei a necessidade de atenccedilatildeo constante Contudo penso

que foi possiacutevel obter dados sobre relaccedilotildees entre tecnologia e processos

educacionais que permitam ampliar a compreensatildeo de qualidades

constitutivas dessas relaccedilotildees Algo que acredito ser proveitoso para

educadoresas com interesse em TS

Em termos acadecircmicos creio que estudos que relacionam

sentidos sobre tecnologia e juventudes que compotildeem a educaccedilatildeo baacutesica

podem contribuir com as produccedilotildees na aacuterea da ECT Pois ao considerar

temas em ciecircncia e tecnologia a ECT tambeacutem estaacute atenta aos contextos

nos quais processos educacionais formais se desenvolvem Com isso

procurei relacionar minha perspectiva politeacutecnica sobre educaccedilatildeo dentro

de um quadro da Educaccedilatildeo CTS latino-americana com vistas a

contribuir com estudos da ECT sobretudo nas implicaccedilotildees sociais da

tecnologia na educaccedilatildeo

Existem muitos aspectos a serem ainda explorados Para aleacutem das

TS destaco a importacircncia de investigaccedilotildees que examinem em que

sentidos a questatildeo da inclusatildeo social seria desenvolvida nos Institutos

Federais Seria possiacutevel questionar qual modelo produtivo seria

considerado que perfil profissional estaria previsto para qual mercado e

com que tipo de tecnologia as accedilotildees seriam pensadas Aponto tambeacutem

a relevacircncia de pesquisas sobre o desenvolvimento da perspectiva

poliacutetico-pedagoacutegica do IFRS Seria interessante a verificaccedilatildeo mais

atenta sobre a manutenccedilatildeo ou natildeo da loacutegica dualista entre formaccedilatildeo

teacutecnica e propedecircutica e suas implicaccedilotildees na formaccedilatildeo discente

Embora natildeo tenha sido o foco de abordagem nesse estudo as

questotildees relacionadas ao curriacuteculo tecircm relevacircncia em debates sobre

processos educacionais A literatura sobre o tema apresenta trabalhos

217

importantes sobre as relaccedilotildees entre curriacuteculo e normas sociais por

exemplo Destaco tambeacutem estudos nos quais os conhecimentos e

experiecircncias que osas alunosas possuem satildeo considerados em

organizaccedilotildees curriculares mais flexiacuteveis e atentas a especificidades

locais e regionais

Na aacuterea educacional natildeo haacute muita novidade no fato de que os

conteuacutedos curriculares deveriam permitir que estudantes tenham

possibilidades de adotar uma postura criacutetica sobre diferentes aspectos da

realidade social De modo que o curriacuteculo natildeo apresentaria uma uacutenica

visatildeo ou interpretaccedilatildeo mas representaria as complexidades da realidade

social Dessa maneira penso que estudos criacuteticos sobre questotildees

curriculares no IFRS tambeacutem podem trazer contribuiccedilotildees para o

entendimento de relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia

Minha intenccedilatildeo geral nesta tese foi considerar possiblidades de

transformaccedilotildees pertinentes a dois grandes temas educaccedilatildeo e tecnologia

Verifiquei possibilidades e potencialidades assim como limites e

desafios Poreacutem natildeo perdi a disposiccedilatildeo de mobilizar juventudes para

reflexotildees natildeo deterministas e natildeo neutras sobre tecnologia tendo em

vista uma educaccedilatildeo (politeacutecnica) criacutetica integral permanente e

contextualizada

Iniciei essas consideraccedilotildees finais com a reflexatildeo de Galeano

sobre as condiccedilotildees dilemaacuteticas do desenvolvimento socioteacutecnico Para

encerrar refiro-me ao poeta brasileiro Maacuterio Quintana (1906-1994) que

em sua ldquoDas utopiasrdquo (QUINTANA 1997 p 36) lembra-nos de que

Se as coisas satildeo inatingiacuteveishellip ora

Natildeo eacute motivo para natildeo querecirc-lashellip

Que tristes os caminhos se natildeo fora

A presenccedila distante das estrelas

E eacute essa atitude de projetar caminhos tendo em vista suas

possibilidades concretas de execuccedilatildeo que continua presente ao finalizar

essa etapa de reflexotildees e pesquisas sobre TS na educaccedilatildeo baacutesica

Sobretudo permanece a intenccedilatildeo de ir aleacutem e procurar criacutetica e

comparativamente complementos teoacutericos e metodoloacutegicos que possam

ajudar a subsidiar pesquisas relevantes e tragam contribuiccedilotildees aos debates sobre relaccedilotildees entre sentidos sobre tecnologia e processos

educacionais

As experiecircncias pelas quais passei nos diferentes momentos que

envolveram a execuccedilatildeo desta tese mobilizaram-me para prosseguir em

estudos que possam em alguma medida gerar interpretaccedilotildees originais

218

aos novos e velhos problemas da aacuterea da educaccedilatildeo em geral e da ECT

brasileira em particular Com minha atenccedilatildeo voltada aos sujeitos

mantenho o interesse em processos nos quais diferentes sujeitos possam

ter participaccedilatildeo informada e criacutetica em questotildees socioteacutecnicas Para que

como disse Walter Benjamin (2009) na epiacutegrafe desta tese esses

sujeitos possam cada vez mais dominar a arte de ldquoposicionar as velasrdquo

219

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242

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ZUIN A A S PUCCI B RAMOS-DE-OLIVEIRA N R Adorno

O poder educativo do pensamento criacutetico Petroacutepolis Vozes 2008

WIGGERSHAUS R A Escola de Frankfurt Histoacuteria

desenvolvimento teoacuterico significaccedilatildeo poliacutetica Rio de janeiro Difel

2002

WYATT S Technological Determinism is Dead Long Live

Technological Determinism In HACKETT E J et al (eds) The

Handbook of Science amp Technology Studies Cambridge MA MIT

Press 2008

243

APEcircNDICES

Apecircndice A Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor

Geral

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS

Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio

Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS

Senhor Diretor Geral JULIANO CANTARELLI TONIOLO

Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von

Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul

(informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar

questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio

em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que

circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul

Grata por sua colaboraccedilatildeo Raquel Folmer Correcirca

Florianoacutepolis _________________

__________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

244

Apecircndice B Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor de

Ensino

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS

Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio

Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS

Senhor Diretor de Ensino VITOR SCHLICKMANN

Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von

Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul (informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar

questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do

texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que

circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul Grata por sua colaboraccedilatildeo

Raquel Folmer Correcirca

Florianoacutepolis _________________

__________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

245

Apecircndice C Termo de consentimento livre e esclarecido - alunosas

(modelo)147

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu ___________________________________________________________ autorizo a

utilizaccedilatildeo de dados obtidos em sala de aula no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Caxias do Sul - para a realizaccedilatildeo de pesquisa para

elaboraccedilatildeo de tese de doutorado junto ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica

e Tecnoloacutegica da UFSC intitulada TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCACcedilAtildeO POSSIBILIDADES E LIMITES DE TRANSFORMACcedilAtildeO DE SENTIDOS Tambeacutem autorizo

a apresentaccedilatildeo de trabalhos em encontros cientiacuteficos Concedo ainda o direito de retenccedilatildeo e uso

para fins de ensino e divulgaccedilatildeo em jornais eou revistas cientiacuteficas do paiacutes e do estrangeiro Se caso eu tiver novas perguntas sobre este estudo posso chamar os responsaacuteveis pela pesquisa

no telefone (54) 99497932 para qualquer esclarecimento sobre os meus direitos como

participante deste estudo Estou ciente que nada tenho a exigir a tiacutetulo de ressarcimento ou indenizaccedilatildeo pela participaccedilatildeo nas accedilotildees propostas Assim a assinatura desse Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) formaliza a autorizaccedilatildeo para a publicaccedilatildeo de

dados Vale salientar que seraacute garantido o anonimato dos sujeitos participantes Declaro que apoacutes ter lido e compreendido as informaccedilotildees contidas neste TCLE concordo em participar

desse estudo E atraveacutes deste instrumento autorizo os pesquisadores Raquel Folmer Correcirca e

Irlan von Linsingen a utilizarem as informaccedilotildees obtidas com a finalidade de desenvolver trabalho de cunho cientiacutefico na aacuterea de Educaccedilatildeo

Florianoacutepolis _____________________

______________________________________________ Assinatura doa alunoa participante

____________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

147 Originais assinados pelosas alunosas em posse da autora

246

Apecircndice D Questionaacuterio

QUESTIONAacuteRIO

Estimadoa alunoa

Este questionaacuterio traz 18 perguntas seguidas por diferentes afirmaccedilotildees ou

apenas afirmaccedilotildees sobre nossas relaccedilotildees com tecnologia Leia atentamente

cada questatildeo reflita se vocecirc concorda ou discorda com cada afirmaccedilatildeo e

escolha dentre as alternativas disponiacuteveis aquela uacutenica que vocecirc reconhece

como a mais proacutexima ao que vocecirc pensa MARQUE APENAS UMA

ALTERNATIVA O questionaacuterio eacute frente e verso

SEXO F ( ) M ( ) IDADE_____anos

1 O melhor modo de descrever tecnologia eacute

(A) Tecnologia eacute tudo que nos rodeia

(B) Tecnologia satildeo todos os aparelhos que nos rodeiam

(C) Tecnologia satildeo todos os novos aparelhos que nos rodeiam

(D) Tecnologia satildeo aparelhos (produtos) metodologias e tambeacutem serviccedilos

(E) Tecnologia eacute toda a aplicaccedilatildeo praacutetica da ciecircncia

(F) Tecnologia satildeo ferramentas prontas para servir os propoacutesitos dos usuaacuterios

(G) Satildeo as produccedilotildees humanas que visam uma finalidade praacutetica mas que

podem envolver pesquisa

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

2 O processo de produzir tecnologia eacute melhor descrito como

(A) Tudo o que fazemos para entender o mundo

(B) Tudo o que fazemos para mudar o mundo

(C) Tudo o que fazemos para melhorar o mundo

(D)Tudo o que fazemos e que transforma a natureza e o mundo e envolve

nossos desejos gostos e valores

(E) Tudo o que eacute feito nas faacutebricas tanto para melhorar ou piorar o mundo

(F) Tudo o que eacute feito para descobrir os segredos da natureza

(G) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia para entender o universo

(H) A descoberta de novos modos de fazer as coisas

(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

3 Definir o que eacute tecnologia eacute difiacutecil porque ela serve para muitas coisas

Mas a tecnologia eacute PRINCIPALMENTE

(A) Muito parecida com a ciecircncia

(B) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia

247

(C) Processos meacutetodos instrumentos maacutequinas e ferramentas com aplicaccedilotildees

praacuteticas para o uso diaacuterio

(D) Robocircs eletrocircnicos computadores sistemas de comunicaccedilatildeo e maacutequinas

(E) Uma teacutecnica para construir coisas ou uma forma de resolver problemas

praacuteticos

(F) Inventar desenhar e transformar coisas (por exemplo membros humanos

artificiais computadores e veiacuteculos espaciais)

(G) Ideias e teacutecnicas para fazer coisas e organizar as pessoas para o progresso

da humanidade

(H) Saber como fazer coisas (por exemplo instrumentos e maacutequinas)

(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

4 O desenvolvimento de uma nova tecnologia (reator nuclear ou aparelho

para cirurgia cardiacuteaca por exemplo) pode ser colocado em praacutetica ou natildeo

A decisatildeo de usar uma nova tecnologia depende PRINCIPALMENTE

(A) Da explicaccedilatildeo dosas teacutecnicosas que a desenvolveram pois elesas sabem

avaliar os riscos

(B) Das pessoas que deram dinheiro para que a tecnologia fosse desenvolvida

pois elas que investiram

(C) Da faacutebrica que iraacute produzir pois laacute eacute que haveraacute possiacuteveis impactos

ambientais e de risco aos trabalhadoresas

(D) Do governo pois ele poderaacute oferecer a toda a populaccedilatildeo a tecnologia

(E) Vai depender do tipo de tecnologia pois para cada uma existe uma

especialista que pode avaliar

(F) Vai depender de vaacuterios aspectos como osas especialistas osas

investidoresas e o governo

(G) Vai depender de um amplo debate puacuteblico entre todos os segmentos

interessados inclusive a populaccedilatildeo inicialmente leiga no assunto

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

5Ciecircncia e tecnologia satildeo bastante relacionadas estre si porque

(A) Ciecircncia eacute a base dos avanccedilos tecnoloacutegicos e eacute difiacutecil ver como a tecnologia

pode ajudar a ciecircncia

(B) A investigaccedilatildeo cientiacutefica leva a aplicaccedilotildees praacuteticas tecnoloacutegicas e as

aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas aumentam a capacidade da investigaccedilatildeo cientiacutefica

(C) Mesmo sendo diferentes estatildeo unidas de modo tatildeo proacuteximo que eacute difiacutecil

separaacute-las

(D) Tecnologia eacute a base dos avanccedilos cientiacuteficos e eacute difiacutecil ver como a ciecircncia

pode ajudar a tecnologia

(E) Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa

248

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

6 A tecnologia influencia a sociedade

(A) A tecnologia natildeo influencia muito a sociedade

(B) A tecnologia influencia bastante a sociedade

(C) A tecnologia nos influencia se noacutes deixarmos

(D) Independentemente de deixarmos ou natildeo a tecnologia nos influencia

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

7 O desenvolvimento tecnoloacutegico pode ser controlado pelas pessoas natildeo

especialistas pelos cidadatildeos

(A) Sim porque osas especialistas saiacuteram da populaccedilatildeo em geral Portanto a

populaccedilatildeo em geral controla um pouco os avanccedilos da tecnologia

(B) Sim porque os avanccedilos tecnoloacutegicos satildeo patrocinados pelo governo e ao

eleger o governo a populaccedilatildeo escolhe o tipo de avanccedilo tecnoloacutegico que

ocorreraacute

(C) Sim porque a populaccedilatildeo deveria ter acesso e possibilidade de escolha nas

questotildees que envolvem o desenvolvimento tecnoloacutegico

(D) Sim mas apenas quando estatildeo organizados em grupos (associaccedilotildees ONGrsquos

cooperativas por exemplo)

(E) Natildeo o desenvolvimento tecnoloacutegico soacute pode ser controlado pelosas

teacutecnicosas diretamente envolvidosas no desenvolvimento da tecnologia pois

elesas entendem todos os processos envolvidos

(F) Natildeo porque a tecnologia avanccedila tatildeo raacutepido que osas natildeo especialistas natildeo

conseguem acompanhar

(G) Natildeo porque a tecnologia se desenvolve de modo independente das pessoas

e nem osas especialistas podem controlar o rumo que uma tecnologia teraacute

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

8 Investir em tecnologia melhora a qualidade de vida das pessoas

(A) Sim porque a tecnologia sempre tem melhorado a vida das pessoas e natildeo haacute

razatildeo para isso natildeo acontecer mais agora

(B) Sim porque investir em tecnologia leva ao desenvolvimento econocircmico

que leva ao desenvolvimento social tambeacutem

(C) Sim porque a tecnologia torna nossa vida mais faacutecil

(D) Sim mas apenas para aqueles que tem acesso a essa tecnologia quem natildeo

tem acesso natildeo eacute afetado

(E) Natildeo porque satildeo desenvolvimentos independentes

249

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

9 A sociedade influencia a tecnologia

(A) A sociedade natildeo influencia muito a tecnologia

(B) A sociedade influencia bastante a tecnologia

(C) A sociedade natildeo influencia a tecnologia pois a tecnologia segue um rumo

independente do que podemos decidir

(D) A sociedade influencia a tecnologia na medida em que podemos usar ou natildeo

uma tecnologia de acordo com nossos gostos e valores mesmos que haja

pressatildeo para utilizar determinadas tecnologias

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

10 Quem deve decidir que tecnologia seraacute desenvolvida em nosso paiacutes eacute

(A) Osas engenheirosas e teacutecnicosas pois satildeo osas especialistas

(B) Os governantes pois satildeo os grandes investidores

(C) Os governantes e osas especialistas

(D) Aleacutem dos governantes e especialistas as lideranccedilas religiosas tambeacutem

devem ser ouvidas pois a tecnologia envolve valores morais das pessoas

(E) Aleacutem de governantes e especialistas a sociedade em geral tambeacutem precisa

poder decidir o que seraacute desenvolvido

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

11 No desenvolvimento de tecnologia estatildeo envolvidos

(A) Os contextos (lugar e eacutepoca de seu desenvolvimento)

(B) A histoacuteria do que estaacute sendo desenvolvido (quem jaacute produziu como)

(C) Interesses poliacuteticos e econocircmicos

(D) Valores sociais e morais

(E) Todas as alternativas anteriores

(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte

teacutecnica e econocircmica

(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

12 A tecnologia tambeacutem se relaciona com o que desejamos

(A) Sim pois como ela eacute desenvolvida por seres humanos ela carrega nossos

valores e intenccedilotildees

(B) Sim mas isso natildeo impede que a tecnologia se desenvolva fora do controle

da sociedade

250

(C) Natildeo pois o desenvolvimento de tecnologia eacute um processo neutro sem

envolvimento sentimental

(D) Natildeo pois embora o ser humano desenvolva tecnologia seus sentimentos

natildeo interferem

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

13 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc se considera

(A) Observadora acompanho o que eacute desenvolvido mas natildeo compro nem uso

nem passo a diante

(B) Usuaacuterioa comproganho o que eacute desenvolvido e que me agrada para minha

proacutepria utilizaccedilatildeo

(C) Divulgadora comproganho e independente de utilizar ou natildeo divulgo o

que eacute desenvolvido e que me agrada

(D) Autora procuro desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos

problemas que quero resolver

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

14 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc gostaria de ser

(A) Observadora acompanhar o que eacute desenvolvido mas natildeo comprar nem

usar nem passar a diante

(B) Usuaacuterioa comprarganhar o que eacute desenvolvido e que me agrada para

minha proacutepria utilizaccedilatildeo

(C) Divulgadora comprarganhar e independente de utilizar ou natildeo divulgar o

que eacute desenvolvido e que me agrada

(D) Autora procuraria desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos

problemas que gostaria de resolver

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

15 O desenvolvimento uso e disseminaccedilatildeodistribuiccedilatildeo de tecnologia estaacute

relacionado a

(A) Poliacutetica

(B) Economia

(C) Cultura

(D) Educaccedilatildeo

(E) Todas as alternativas anteriores

(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte

teacutecnica logiacutestica e econocircmica

(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

251

16 Vocecirc concorda com a afirmaccedilatildeo ldquotoda tecnologia eacute social assim como

toda a sociedade eacute tecnoloacutegicardquo

(A) Sim pois os seres humanos desenvolvem tecnologia entatildeo ela eacute social e a

sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia

(B) Sim e natildeo Sim a tecnologia eacute social pois eacute desenvolvida por seres

humanos E natildeo a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem

tecnologia

(C) Natildeo Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos a

desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos

E natildeo toda a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem tecnologia

(D) Natildeo e sim Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos

a desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos

E sim e a sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

17 Vocecirc concorda que o desenvolvimento uso e distribuiccedilatildeo de tecnologia

tenha conteuacutedo ideoloacutegico

(A) Sim pois como toda a produccedilatildeo humana ela eacute cheia de valores

sentimentos e intenccedilotildees

(B) Sim mas ela tem os valores proacuteprios do desenvolvimento teacutecnico e natildeo os

valores humanos

(C) Natildeo pois a tecnologia natildeo eacute afetada por questotildees morais sentimentais e de

valores

(D) Natildeo mas podemos pensar em uma utilidade da tecnologia que faccedila bem agraves

pessoas

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

18 Vocecirc concorda com a seguinte afirmaccedilatildeo ldquoRevoacutelveres natildeo matam seres

humanos satildeo os seres humanos que puxam o gatilho e matam outros seres

humanosrdquo

(A) Sim pois o revoacutelver foi desenvolvido para a defesa e as pessoas se matam

com ele porque querem

(B) Sim mas o revoacutelver foi feito para matar

(C) Natildeo pois o revoacutelver foi desenvolvido para matar pessoas Armas apenas de

defesa natildeo podem ter capacidade de matar

(D) Natildeo mas os seres humanos natildeo inventaram o revoacutelver com intenccedilatildeo de

matar

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

252

Fim

Por favor antes de devolver seu questionaacuterio verifique se todas as questotildees

foram respondidas

Obrigada

253

Apecircndice E Roteiro didaacutetico

1 Tiacutetulo

Tecnologia e tecnologias sociais autoria em problemas socioteacutecnicos

2 Tema

Problematizaccedilatildeo da temaacutetica tecnoloacutegica e suas relaccedilotildees com uma

perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais (TS) na resoluccedilatildeo autoral de

problemas socioteacutecnicos de juventudes dos Cursos Teacutecnico Integrados ao

Ensino Meacutedio (CTIEM)

3 Contextualizaccedilatildeo e justificativa

Alguns estudos latino-americanos atuais que relacionam ciecircncia

tecnologia e sociedade (CTS) de um ponto de vista educacional tecircm dado

visibilidade a percepccedilotildees sobre relaccedilotildees CTS em componentes curriculares da

Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT) de Engenharias e de aacutereas das

Ciecircncias Naturais e Exatas Nesses estudos haacute uma problematizaccedilatildeo importante

da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias Humanas em aacutereas teacutecnicas Nesse

contexto percebo certa ausecircncia de discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica

Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de

possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)

conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade socioteacutecnica com

a qual elesas podem interagir diariamente Ao apresentar uma ausecircncia

percebida considero a emergecircncia da inclusatildeo de novos sujeitos nos debates

socioteacutecnicos Sujeitos especiacuteficos que emergem do contexto escolar dos

CTIEM

Nesse sentido este roteiro traz uma possibilidade de abordagem

educacional sobre TS O objetivo eacute mobilizar alunosas (e professoresas) para

promover (participar de) debates criacuteticos sobre temas socioteacutecnicos em seu

quotidiano Ao abordar esses temas a ideia eacute que novas questotildees surjam e que

possam vir a contribuir para a Educaccedilatildeo CTS

A intenccedilatildeo aqui eacute que estudantes considerem suas possibilidades para

para aleacutem de participar de debates socioteacutecnicos promoverem novas questotildees

sobre esses assuntos De modo que se perguntem o que tecnologia e TS tecircm a

ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a esses

temas entre outras reflexotildees possiacuteveis

Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais

integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a

compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu caraacuteter

contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas) De modo que os

temas desenvolvidos possam ser relacionados com o mundo do trabalho e as

praacuteticas sociais preparando osas educandosas para o exerciacutecio da cidadania

A relevacircncia dessa iniciativa encontra-se nas possibilidades de (i)

problematizar relaccedilotildees entre sujeito e sociedade e o papel do sujeito na

254

construccedilatildeo da realidade social (ii) compreender (e poder transformar) soacutecio-

historicamente sentidos sobre tecnologias que circulam (satildeo debatidos) entre as

juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (iii) ampliar espaccedilos para

debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade e (iv) vincular tais

debates a perspectivas socioloacutegicas do mundo do trabalho e da cidadania

4 Objetivos

Identificar sentidos sobre tecnologia que circulam entre estudantes dos

CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos examinar

possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de um

posicionamento criacutetico sobre TS e estabelecer relaccedilotildees entre a temaacutetica

socioteacutecnica e o mundo do trabalho e o desenvolvimento cidadatildeo

5 Conteuacutedos

Tecnologia determinismo tecnoloacutegico e TS

6 Metodologia

Apresento uma proposta pedagoacutegica com foco no ensino de Sociologia I

em CTIEM mas aberta a diferentes perspectivas e modalidades de ensino

Penso que pode ser interessante e produtivo promover aberturas inter e

transdisciplinares e propor a colegas de disciplinas como Histoacuteria Biologia e

Geografia por exemplo a participaccedilatildeo nessas atividades Contudo cabe a

docentes adequarem as atividades ao seu contexto de ensino e sobretudo

modificaacute-la de acordo com seus propoacutesitos e planejamentos

O roteiro didaacutetico estaacute distribuiacutedo em oito momentos (aulas de 50

minutos) tendo em vista apenas uma aula por semana O desenvolvimento das

atividades envolve uma problematizaccedilatildeo inicial leitura de texto

acompanhamento de exibiccedilatildeo de audiovisual aula expositiva-dialogada

pesquisa orientada apresentaccedilatildeo de trabalhos e debates de finalizaccedilatildeo Cada

turma dos CTIEM estaacute dividida em grupos de aproximadamente seis

estudantes em cada grupo de modo que existam cerca de cinco grupos em cada

turma (o que contemplaria osas 30 alunosas geralmente frequente em cada

turma) Cada grupo tem entre 10 e 15 minutos para apresentaccedilatildeo de seu trabalho

final

7 Roteiro

1ordf aula Explicaccedilatildeo da proposta de estudo sobre tecnologia (e da

pesquisa para tese) e lanccedilamento da questatildeo inicial (o que eacute tecnologia para

vocecirc) a ser respondida individualmente mas com abertura a diaacutelogos entre

osas alunosas

2ordf aula Retomada do tema socioteacutecnico e aplicaccedilatildeo do questionaacuterio

individual

3ordf aula discussatildeo do questionaacuterio iniacutecio da exposiccedilatildeo dialogada sobre

tecnologia do ponto de vista de Estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-americanos

Leitura de um texto sobre tecnologia de minha autoria Exibiccedilatildeo do viacutedeo ldquoO

255

que eacute tecnologia afinalrdquo que tem cinco minutos e mostra imagens de diversas

tecnologias desenvolvidas em diferentes periacuteodos Viacutedeo disponiacutevel em

httpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=related

A figura 6 abaixo (de minha autoria) eacute um exemplo de informaccedilatildeo que

pode mediar as discussotildees desse momento

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

4ordf aula Retomada de ideias sobre tecnologia introduccedilatildeo da

problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e de ideias sobre TS

As figuras 7 e 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis livremente na internet e

podem ilustrar os debates propostos para esse momento

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01

Fonte Google imagens

256

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

Para a exposiccedilatildeo dialogada sobre TS a figura 4 abaixo pode ilustrar as

discussotildees

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

5ordf e 6ordf aulas Explicaccedilatildeo da tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS para

resolver um problema socioteacutecnico relevante no seu quotidiano Divisatildeo dos

grupos Pesquisas orientadas no laboratoacuterio de informaacutetica Imagens e textos

ficam agrave disposiccedilatildeo para consulta Apresentar a importacircncia de buscar

originalidade e autoria na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do problema socioteacutecnico

levantado

A figura 9 abaixo pode ilustrar o que se pretende com o

desenvolvimento de autoria

257

Figura 9 - Autoria

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

7ordf aula iniacutecio das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS

8ordf aula final das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS (se

for o caso) debates sobre os seminaacuterios e auto avaliaccedilotildees finais

8 Materiais utilizados

Folhas de papel para a questatildeo inicial questionaacuterio texto de apoio

slides com toacutepicos sobre a temaacutetica (figuras notiacutecias jornaliacutesticas peccedilas

publicitaacuterias viacutedeos) computadores para pesquisas e projetor multimiacutedia para

apresentaccedilotildees

9 Avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo eacute aqui entendida como um continuum que perpassa todos os

processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos durante as aulas Eacute

interessante destacar que fazem parte desse processo tanto uma avaliaccedilatildeo

formativa (avaliaccedilatildeo ldquoparardquo o aprendizado ocorre continuamente) quanto uma

avaliaccedilatildeo somativa (avaliaccedilatildeo ldquodordquo aprendizado pontual com atribuiccedilatildeo de

notas) Para essa proposta haacute preocupaccedilatildeo com uma avaliaccedilatildeo formativa mas

penso que o desenvolvimento e apresentaccedilatildeo das propostas de TS tenham

tambeacutem um caraacuteter somativo

O que apresento aqui satildeo ideias para desenvolver com osas alunosas a

problematizaccedilatildeo (dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo) a argumentaccedilatildeo a construccedilatildeo de conhecimentos e a

capacidade de se posicionar dialogicamente de modo informado sobre questotildees

socioteacutecnicas Com isso os criteacuterios considerados nas avaliaccedilotildees dosas

alunosas contemplam as reflexotildees e entendimentos dosas mesmosas sobre (i)

o que e como tecnologias e determinismo tecnoloacutegico significam no dia-a-dia

(ii) TS como tema de relevacircncia a estudantes (como podem influenciar o

258

trabalho os relacionamentos o lazer etc) e (iii) possibilidades e limites de

desenvolver autoria na resoluccedilatildeo de seus problemas socioteacutecnicos e relaccedilotildees

dessa com princiacutepios socioloacutegicos de cidadania (o que eacute possiacutevel fazer como e

por quecirc)

A atribuiccedilatildeo de notas fica relacionada com a mobilizaccedilatildeo para os

debates a pesquisa e a apresentaccedilatildeo da tarefa final

10 Sugestotildees de audiovisuais para reflexotildees sobre a temaacutetica

2001 uma Odisseia no Espaccedilo (EUAInglaterra 1968 Stanley

Kubrick)

Admiraacutevel Mundo Novo (EUA 1998 Leslie Libman)

A Guerra do Fogo (FranccedilaCanadaacute 1981 Jean-Jacques Annaud)

Alphaville (FranccedilaItaacutelia 1965 Jean-Luc Godard)

Blade runner o caccedilador de androides (EUA 1982 Ridley Scott)

Gattaca - Experiecircncia Geneacutetica (EUA 1997 Andrew Niccol)

Matrix (EUAAustraacutelia 1999 irmatildeos Wachowski)

259

Apecircndice F Texto base das aulas

IFRS - Cacircmpus Caxias do Sul

Sociologia I Profordf Raquel Folmer Correcirca

TECNOLOGIA

Percebe-se que a palavra tecnologia eacute empregada largamente em

diferentes contextos (social cultural econocircmico poliacutetico educaccedilatildeo) sendo

utilizada para as mais diversas finalidades e por pessoas com propoacutesitos

distintos Poreacutem do mesmo modo que o seu uso se torna cada vez mais

corrente confusotildees e imprecisotildees semacircnticas permeiam o seu emprego O

filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto apresenta a tecnologia como ldquoa teoria a

ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes

as habilidades do fazer as profissotildees e generalizadamente os modos de

produzir alguma coisardquo (2005 p 219)148

Ele tambeacutem destaca que

toda tecnologia contendo necessariamente o

sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica transporta

inevitavelmente um conteuacutedo ideoloacutegico Consiste

numa determinada acepccedilatildeo do significado e do valor

das accedilotildees humanas do modo social de realizarem-se das

relaccedilotildees do trabalhador com o produto ou o ato acabado

e sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em seu

papel de fabricante de um bem ou autor de um

empreendimento e o destino dado agravequilo que cria A

teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um ato

humano necessariamente inserido no contexto social

que a solicita a possibilita e lhe daacute aplicaccedilatildeo (ibidem p

320-321)

A socioacuteloga gauacutecha Maiacutera Baumgarten (2006)149 situa a tecnologia em

relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e destaca que o ser humano tem a capacidade de

inventar teacutecnicas aperfeiccediloaacute-las e transmiti-las Ela pontua que na tecnologia

148 PINTO A V O conceito de Tecnologia (Vol 1) Rio de janeiro

Contraponto 2005 149 BAUMGARTEN M Tecnologia In CATTANI A HOLZMANN L

(orgs) Dicionaacuterio de trabalho e tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006

260

que reside a possibilidade de transformaccedilatildeo da realidade Para ela uma ideia

geral de tecnologia pode ser compreendida como

() atividade socialmente organizada baseada em

planos e de caraacuteter essencialmente praacutetico

Tecnologia compreende portanto conjuntos de

conhecimentos e informaccedilotildees utilizados na

produccedilatildeo de bens e serviccedilos provenientes de

fontes diversas como descobertas cientiacuteficas e

invenccedilotildees obtidas por meio de distintos meacutetodos

a partir de objetivos definidos e com finalidades

praacuteticas () como toda produccedilatildeo humana a

tecnologia deve ser pensada no contexto das

relaccedilotildees sociais e dentro de seu desenvolvimento

histoacuterico (ibidem p 288)

Tendo em vista essas consideraccedilotildees pode-se compreender o

desenvolvimento os usos e as aplicaccedilotildees da tecnologia enquanto fenocircmeno

eminentemente social relacionado agrave poliacutetica agrave economia agrave educaccedilatildeo e agrave

cultura

TECNOLOGIAS SOCIAIS

Tecnologia Social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias

reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem

efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Eacute um conceito que remete para uma

proposta inovadora de desenvolvimento considerando a participaccedilatildeo coletiva

no processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implementaccedilatildeo Estaacute baseado

na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a demandas de

alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo energia habitaccedilatildeo renda recursos hiacutedricos sauacutede meio

ambiente dentre outras

As Tecnologias Sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e

reaplicaacuteveis propiciando desenvolvimento social em escala

A Fundaccedilatildeo Banco do Brasil caracteriza tecnologia social como todo

processo meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema

social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil

reaplicabilidade e impacto social comprovado Tecnologias sociais satildeo

definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis

desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem efetivas

soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Podemos compreender que tecnologias

sociais se propotildeem a atender questotildees relativas agrave melhoria das condiccedilotildees de

vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local

sustentaacutevel Nessa perspectiva de tecnologia social a teacutecnica seria entendida

como um meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo

forma de controle ou causa de desigualdade social Satildeo exemplos de

261

Tecnologias sociais o soro caseiro (mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que combate a

desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil) as cisternas de placas preacute-moldadas

que atenuam os problemas de acesso a aacutegua de boa qualidade agrave populaccedilatildeo do

semiaacuterido entre outros

262

263

ANEXOS

Anexo A Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de controle

acadecircmico do IFRS150

Fonte IFRS 2015

150 Os pontos amarelos indicam o registro das aulas sobre tecnologia Contudo

uma aula sobre tecnologia natildeo foi registrada nesse sistema pois foi cedida de

modo informal a mim pelosas colegas professoresas na semana do dia

10112015 A primeira coluna agrave esquerda do ponto amarelo indica as datas em

que as aulas ocorreram

264

Anexo B Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados151

Disciplina Sociologia I

Carga Horaacuteria 30 horasaula

Periacuteodo 2015

Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica-Manhatilde

Atendimento Segunda-feira 1330-1530

Professora Raquel Folmer Correcirca

raquelcorreacaxiasifrsedubr

Ementa

Desenvolvimento de uma educaccedilatildeo escolar vinculada com o mundo do

trabalho e a praacutetica social preparando o educando para o exerciacutecio da cidadania

Busca de compreensatildeo das sociedades humanas como objeto de conhecimento

cientiacutefico atraveacutes do estudo de relaccedilotildees instituiccedilotildees e estruturas sociais em seu

caraacuteter atual e em suas dinacircmicas de transformaccedilatildeo Problematizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade e do papel do sujeito na construccedilatildeo da

realidade social Estudo sobre formas de trabalho relaccedilatildeo entre trabalho e

Direitos Humanos Modos de Produccedilatildeo origem e desenvolvimento da

Sociologia teorias socioloacutegicas claacutessicas e perspectivas atuais miacutedia ideologia

alienaccedilatildeo desenvolvimento sustentaacutevel

Objetivos

Desenvolver no educando uma perspectiva socioloacutegica de modo a

desnaturalizar a visatildeo de sociedade e da vida social construiacuteda no senso comum

Proporcionar a mobilizaccedilatildeo de conceitos e teorias socioloacutegicas como

ferramentas analiacuteticas para a compreensatildeo da vida quotidiana e do mundo do

trabalho a partir de uma visatildeo criacutetica

Programa

1 Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico

2 Teorias socioloacutegicas claacutessicas

3 Modos de produccedilatildeo

4 Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees na contemporaneidade

5 Temas atuais em Sociologia miacutedias e consumoconsumismo

6 Temas atuais em Sociologia tecnologias

151 Todos os CTIEM nos quais desenvolvi as atividades seguem o mesmo plano

265

Cronograma

Trimestre Descriccedilatildeo de conteuacutedos

1ordm trimestre

Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico

Produccedilatildeo social do conhecimento

O olhar socioloacutegico problematizaccedilatildeo e desnaturalizaccedilatildeo

Modernidade e origens do pensamento socioloacutegico

AVALIACcedilAtildeO

Teorias socioloacutegicas claacutessicas

Durkheim ndash fato social

Marx ndash classes sociais

Weber ndash accedilatildeo social

AVALIACcedilAtildeO

2ordm trimestre

Modos de produccedilatildeo

Antiguidade

Idade meacutedia

Modernidade

AVALIACcedilAtildeO

Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees

Fordismo

Taylorismo

Trabalho no Brasil

AVALIACcedilAtildeO

3ordm trimestre

Temas atuais em Sociologia miacutedias e

consumoconsumismo

Ideologia

Miacutedias

Consumo e consumismo

AVALIACcedilAtildeO

Temas atuais em Sociologia tecnologias

Determinismo tecnoloacutegico

Consumo e tecnologias

Trabalho e tecnologia

AVALIACcedilAtildeO

Metodologia

As aulas seratildeo em sua forma geral expositivasdialogadas A professora

trabalharaacute de modo que os temas encaminhem aos principais autoresas da

Sociologia e aos conceitos socioloacutegicos As aulas seratildeo iniciadas com a

recapitulaccedilatildeo da aula anterior e a apresentaccedilatildeo do objetivo da aula do dia

Haveraacute apresentaccedilatildeo do tema com levantamento dos entendimentos dosas

alunosas sobre o mesmo seguido do diaacutelogo com osas autoresas da

Sociologia e apresentaccedilatildeo dos conceitos (atraveacutes de leitura e interpretaccedilatildeo de

texto audiovisuais ou muacutesica) Os debates seratildeo promovidos durante toda a aula

e seratildeo propostas atividades de reflexatildeo sobre os mesmos (produccedilatildeo textual

266

individual grupos de trabalho coletivos etc) Ao final haveraacute sugestotildees de

materiais adicionais sobre o tema orientaccedilotildees sobre a disponibilizaccedilatildeo do

material na plataforma moodle e por fim encaminhamentos sobre a aula

seguinte

Teacutecnicas e Recursos

bull Recapitulaccedilatildeo de aula bull Aulas expositivasdialogadas bull Trabalhos em grupos

bull Debates bull Leitura de textos

bull Quadrocaneta bullTextosaudiovisuaismuacutesicas bullData Show

bullLivros didaacuteticosrevistasinternet

Avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo seraacute contiacutenua durante todas as aulas nas quais comumente

haveraacute a produccedilatildeo de textos curtos do tipo respostas a questotildees

propostasinterpretaccedilatildeo de texto e de materiais audiovisuais Essas produccedilotildees

seratildeo em grupos ou individualmente Haveraacute tambeacutem a solicitaccedilatildeo de pesquisa

em aula de termos em livros revistas e na internet

Em datas preacute-combinadas (conforme cronograma) haveraacute avaliaccedilotildees

especiacuteficas de modo que osas alunosas sejam avaliadosas trimestralmente

atraveacutes de 2 instrumentos diferentes Cada uma das duas avaliaccedilotildees do trimestre

teraacute nota 45 Ao final do ano oa alunoa poderaacute obter 90 pontos das avaliaccedilotildees

especiacuteficas (45 por avaliaccedilatildeo x 2 avaliaccedilotildees) Em caso de ausecircncia nessas

avaliaccedilotildees especiacuteficas oa alunoa que quiser realizar outra avaliaccedilatildeo deveraacute

protocolar requerimento (junto ao protocolo acadecircmico) no prazo maacuteximo de 48

horas a contar da data de realizaccedilatildeo da prova anexando ao mesmo justificativa

para ausecircncia devidamente comprovada Oa alunoa que natildeo realizar o pedido

no prazo estipulado natildeo teraacute direito a prova de segunda chamada Oa alunoa

que faltar a prova de segunda chamada ficaraacute com nota 000 (zero) nesse campo

Criteacuterios que seratildeo considerados durante as aulas pontualidade

assiduidade empenho e interesse nas atividades propostas entrega dos trabalhos

solicitados na data marcada postura adequada em relaccedilatildeo aosagraves colegas e com a

professora O atendimento a esses criteacuterios constitui 10 ponto na nota final

A uacuteltima aula poderaacute contar com atividades de avaliaccedilotildees muacutetuas

Oa alunoa que obtiver um aproveitamento anual referente a meacutedia das

notas registradas no Diaacuterio de Classe maior ou igual a 70 (estipulado pela

instituiccedilatildeo) seraacute considerado aprovadoa

Oa alunoa que natildeo atingir essa meacutedia teraacute o direito de realizar uma

avaliaccedilatildeo final que contemplaraacute todo o conteuacutedo ministrado durante o ano

Nesse caso seraacute consideradoa aprovadoa aquelea que obtiver um resultado

final referente a meacutedia entre a avaliaccedilatildeo final e o aproveitamento anual maior

ou igual a 50 (estipulado pela instituiccedilatildeo)

267

Referecircncias

Bibliografia Baacutesica

[1] OLIVEIRA P S Introduccedilatildeo agrave Sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 2011

[2] MARTINS C O que eacute sociologia Satildeo Paulo Brasiliense 1982

[3] TOMAZI N D Sociologia para o Ensino Meacutedio Satildeo Paulo Saraiva

2010

Bibliografia complementar

[1] GIDDENS A Sociologia Porto Alegre Artmed 2005

[2] DIAS R Introduccedilatildeo agrave Sociologia Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2005

[3] DURKHEIM E As regras do meacutetodo socioloacutegico Satildeo Paulo

Martins

Fontes 2003

[4] ALBORNOZ S O que eacute Trabalho Satildeo Paulo Brasiliense 1994

[5] MARX K Manuscritos Econocircmico-Filosoacuteficos Satildeo Paulo Boitempo

2004

Informaccedilotildees adicionais

As datas que constam no plano de ensino estatildeo sujeitas a alteraccedilotildees no

decorrer do ano (inclusive data de apresentaccedilotildees e entregas de

trabalhos) dependendo das necessidades da turma e dos acordos

estabelecidos entre professora e alunosas

Algumas bibliografias poderatildeo ser acrescentadas no decorrer do ano

dependendo da necessidade da professora Sendo que as mesmas

sempre seratildeo informadas

Caxias do Sul 27 de fevereiro de 2015

___________________________________

Profordf Raquel Folmer Correcirca

268

Anexo C Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo disponiacutevel nos

Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)152

Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

152 Fonte IFRS 2015

269

Teacutecnico em Plaacutesticos

270

Teacutecnico em Quiacutemica

Page 4: Raquel Folmer Corrêa - Repositório Institucional da UFSC

Ser dialeacutetico significa ter o vento da histoacuteria nas

velas As velas satildeo os conceitos Poreacutem natildeo

basta dispor das velas O decisivo eacute a arte de

posicionaacute-las

Walter Benjamin (2009 p 515)

RESUMO

Nesta tese investigo de que maneira e em que medida o

desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais

(TS) pode colaborar para transformar sentidos deterministas sobre

tecnologia que satildeo debatidos entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico

As contribuiccedilotildees teoacutericas utilizadas satildeo os estudos latino-americanos

que relacionam Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS) em perspectiva

educacional e alguns de seus possiacuteveis interlocutores O objetivo

consiste em analisar possibilidades e limites para discutir TS e

transformar sentidos identificados com determinismo tecnoloacutegico em

Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) de modo a

promover mobilizaccedilatildeo para a autoria Os procedimentos metodoloacutegicos

adotados para atingir o objetivo proposto envolvem coleta e anaacutelise de

dados primaacuterios e secundaacuterios Os dados foram coletados durante todo o

ano de 2015 no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Rio Grande do Sul (IFRS) da cidade de Caxias do Sul tanto em

documentos disponibilizados pela direccedilatildeo do IFRS quanto com

intervenccedilotildees junto a seus estudantes dos primeiros anos dos CTIEM A

anaacutelise dos dados envolveu a apreciaccedilatildeo quantitativa (elaboraccedilatildeo de

graacuteficos quadros e tabelas) que foi executada com o auxiacutelio do

programa Excel 2013 e qualitativa que se baseou na leitura criacutetica

descriccedilatildeo e anaacutelise soacutecio-histoacuterica de dados coletados Os resultados

indicam certa sensibilidade de estudantes para com a temaacutetica

socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre

tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a realizaccedilatildeo de projetos

autorais Aleacutem disso os resultados apontam a necessidade de elaboraccedilatildeo

de projetos conjuntos entre estudantes docentes de diversas disciplinas e

a coletividade escolar para o desenvolvimento colaborativo de TS que

integrem diferentes conhecimentos Esta tese foi desenvolvida no grupo

Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) e contou

com o apoio financeiro da Capes

Palavras-chave Tecnologias sociais Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo CTS Ensino

meacutedio teacutecnico Autoria

ABSTRACT

In this thesis we investigate in what way and to what extent the

development of a critical perspective on Social Technologies (ST) can

collaborate to transform deterministic meanings of technology that are

discussed by students of the technical high school The theoretical

contributions used are Latin American studies relating Science

Technology and Society (STS) in educational perspective and some of

its possible interlocutors The main goal is to analyze the possibilities

and limits to discuss ST and transform identified senses with

technological determinism in Integrated Technical Courses to High

School (ITCHS) to promote mobilization for authorship The

methodological procedures adopted to achieve the proposed objective

involve collecting and analyzing primary and secondary data All data

were collected throughout the year 2015 at the Instituto Federal de

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) from the

city of Caxias do Sul in both documents made available by the direction

of IFRS as with interventions with their students of the first years of

ITCHS Data analysis involved the quantitative assessment (preparation

of charts and tables) which was performed with the aid of Excel 2013

program and qualitative which was based on critical reading

description and sociohistorical analysis of the data collected The results

indicate certain sensitivity to students with the socio-technical subject

proposed in transforming deterministic way of technology particularly

in the arrangement for carrying out authorial projects Moreover the

results indicate the need for development of joint projects among

students teachers of various disciplines and the school community for

the collaborative development of ST integrating different

knowledge This thesis was developed in the group Discursos da Ciecircncia

e da Tecnologia na Educaccedilatildeo (DiCiTE) and received financial support

from Capes

Key-words Social Technologies Education STS education Technical

high school Authorship

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 39

Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico 42

Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS 144

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS 145

Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade 166

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias 193

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01 194

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02 194

Figura 9 - Autoria 196

Figura 10 - Dados sobre homofobia 198

Figura 11 - O problema do transporte de catildees 201

Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer 204

Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia 205

Figura 14 - Proposta de melhorias 207

Figura 15 - Identidade visual do aplicativo 209

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia 92

Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e

emancipaccedilatildeo social

107

Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia 118

Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA 133

Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS 137

Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS 138

Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS 138

Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST 140

Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico 143

Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS 148

Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees 152

Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo 153

Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas 179

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil 34

Graacutefico 2 - Necessidades especiais entre estudantes do IFRS 88

Graacutefico 3 - Coletividades 151

Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa 167

Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo 169

Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul 170

Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS 172

Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015 180

Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015 181

Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS 185

Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS 185

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo 87

Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS 149

Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS 150

Tabela 4 - Religiatildeo declarada 166

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que

participaram da pesquisa

184

LISTA DE MAPAS E FOTOGRAFIAS

Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS 164

Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana 168

Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima 171

Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial 190

Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo 200

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABONG - Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais

AD - Anaacutelise de Discurso

AEL - Academia Estudantil de Letras

AST - Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica

AULP - Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua Portuguesa

BB - Banco do Brasil

BICT - Bacharelados Interdisciplinares em Ciecircncias e Tecnologia

BTS - Banco de Tecnologias Sociais

CAPES - Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior

CED - Centro de Ciecircncias da Educaccedilatildeo

CEFET - Centros Federais de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica

CampT - Ciecircncia e Tecnologia

CFDH - Conselho Federal de Defesa dos Direitos Humanos

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico

COCTS - Cuestionario de Opiniones de Ciencia Tecnologiacutea y Sociedad

CS - Ciecircncias Sociais

CST - Construccedilatildeo Social da Tecnologia

CTFMIEM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado

ao Ensino Meacutedio

CTIEM - Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio

CTPIEM - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino

Meacutedio

CTQIEM - Curso Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino

Meacutedio

CTS - Ciecircncia Tecnologia e Sociedade

CTSA - Ciecircncia Tecnologia Sociedade e Ambiente

DiCiTE - Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo

DIY - Do It Yourself

ECT - Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

ECTS - Estudos Sociais da Ciecircncia e da Tecnologia

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

ENEM - Exame Nacional do Ensino Meacutedio

FBB - Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FEE - Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel

Heuser

FGV - Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

GEECITETL - Grupo de Estudos sobre Ensino de Ciecircncias e

Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste

GTrsquos - Grupos de Trabalho

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IDHM - Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal

IFFarroupilha - Instituto Federal Farroupilha

IFRS - Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Rio Grande do Sul

IFSul - Instituto Federal Sul-riograndense

Ipea - Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada

IPF - Instituto Paulo Freire

ITCP - Incubadora Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares

ITS - Instituto de Tecnologia Social

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MCT - Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia

MDS - Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome

MEC - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MI - Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional

OCEMSociologia - Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino

Meacutedio-Sociologia

ONGs - Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais

ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCIPs - Organizaccedilotildees da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PCNrsquos - Paracircmetros Curriculares Nacionais

PCT - Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia

PETROBRAS - Petroacuteleo Brasileiro SA

PLACTS - Pensamento Latino-americano sobre Ciecircncia

Tecnologia e Sociedade

PPCs - Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos

PPGECT - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica

e Tecnoloacutegica

PPI - Projeto Poliacutetico Institucional

PQLP - Programa de Qualificaccedilatildeo de Docente e Ensino de

Liacutengua Portuguesa

PROEJA - Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Profissional com a Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e

Adultos

PUCSP - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

REDTISA - Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social

RS - Rio Grande do Sul

RTS - Rede de Tecnologia Social

SCOT - Social Construction of Technology

SECIS - Secretaria de Inclusatildeo Social

SENAI - Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial

SL - Software Livre

STS - Science and Technology Studies

TA - Tecnologia(s) Apropriada(s)

TAR - Teoria Ator-Rede

TC - Tecnologia(s) Convencional(ais)

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCT - Teoria Criacutetica da Tecnologia

TFM - Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

TIS - Tecnologias para a Inclusatildeo Social

TP - Curso Teacutecnico em Plaacutesticos

TQ - Curso Teacutecnico em Quiacutemica

TS - Tecnologia(s) Social(ais)

UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro

UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

UNTL - Universidade Nacional Timor Lorosarsquoe

UTFPR - Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute

VOSTS - Views On Science-Techology-Society

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 33

QUESTOtildeES 46

OBJETIVOS 46

TESE 47

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 47

RELEVAcircNCIA 49

TOacutePICOS 50

CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS 53

11 SUJEITO 53

12 EDUCACcedilAtildeO 55

121 Paulo Freire e autonomia 57

122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social 61

123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria 65

124 Karl Marx e a politecnia 67

13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS 72

131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS 77

14 JUVENTUDES 84

15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO 89

16 AUTORIA 93

17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL 102

CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 109

21 TECNOLOGIA 109

211 Dimensotildees de anaacutelise 109

212 Sentido geral 111

213 Teoria Criacutetica da Tecnologia 116

22 TECNOLOGIAS SOCIAIS 127

221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees 127

222 Denominaccedilotildees e sentidos 135

223 Ponderaccedilotildees 145

224 TS tipos exemplos entidades e coletividades

relacionadas

148

225 Relaccedilotildees com processos educacionais 151

CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES 161 31 CONTEXTO 163

311 A cidade 163

312 O bairro 171

313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia

174

314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul 177

32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA 183

321 Anaacutelise da questatildeo inicial 186

322 Anaacutelise dos questionaacuterios 190 33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS 192

331Campanha contra homofobia nas escolas 197

332 Transporte de catildees em coletivos 200

333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel 203

334 Inovaccedilotildees no site da escola 206

335 Aplicativo para estudos e lazer 208

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 213

REFEREcircNCIAS 219

APEcircNDICES 243

Apecircndice A - Termo de consentimento para coleta de dados -

Diretor Geral

243

Apecircndice B - Termo de consentimento para coleta de dados -

Diretor de Ensino

244

Apecircndice C - Termo de consentimento livre e esclarecido -

alunosas (modelo)

245

Apecircndice D - Questionaacuterio 246

Apecircndice E - Roteiro didaacutetico 253

Apecircndice F - Texto base das aulas 259

ANEXOS 263

Anexo A - Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de

controle acadecircmico do IFRS

263

Anexo B - Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados 264

Anexo C - Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo

disponiacutevel nos Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)

268

33

INTRODUCcedilAtildeO

O pensador da epiacutegrafe Walter Benjamim (1892-1940)

anunciava no seacuteculo passado o que muitos outros pensadores e

pensadoras tambeacutem reconheciam e que acredito ser ainda atual a

importacircncia de nosso posicionamento como sujeitos histoacutericos e em

busca de autonomia e emancipaccedilatildeo social Essa posiccedilatildeo pode ilustrar a

intenccedilatildeo geral que unifica os diferentes momentos que foram

necessaacuterios para a realizaccedilatildeo desta tese Desde a pesquisa de mestrado

com novos entendimentos sobre tecnologias passando pela percepccedilatildeo

da importacircncia da problematizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em processos de

emancipaccedilatildeo social ateacute uma tentativa de articulaccedilatildeo de debates sobre

educaccedilatildeo e tecnologia

No mestrado ao pesquisar sobre Tecnologias Sociais (TS)1

percebi que muitas iniciativas de desenvolvimento eram voltadas a

temas educacionais Meu levantamento de dados no Banco de

Tecnologias Sociais (BTS) da Fundaccedilatildeo Banco do Brasil (FBB)

mostrou que entre 2001 e 2008 35 do total de TS desenvolvidas no

Brasil (e cadastradas no BTS) estavam voltadas a problemas nos temas

ligados agrave educaccedilatildeo (CORREA 2010 2013b) O graacutefico 1 abaixo

ilustra como as tecnologias que examinei estavam direcionadas a

solucionar questotildees relativas a diferentes temaacuteticas

1 Sendo aluna evadida da Engenharia Quiacutemica minha primeira graduaccedilatildeo

busquei atividades de pesquisa sobre tecnologias no curso de Ciecircncias Sociais

Ali sob orientaccedilatildeo da profordf Dra Maiacutera Baumgarten verifiquei que linhas de

pesquisas que inter-relacionavam tecnologias e problemas sociais poderiam

resgatar alguns de meus interesses de estudos originais

34

Graacutefico 1 - Temas de TS desenvolvidas no Brasil

Fonte (CORREcircA 2010 2013b)

Portanto no graacutefico 1 acima eacute possiacutevel verificar o predomiacutenio de

tecnologias voltadas a problemas nos temas ligados agrave educaccedilatildeo como

destaquei anteriormente Foram 157 casos desse tipo de um total de 447

tecnologias examinadas Esse nuacutemero expressivo levou-me a buscar

subsiacutedios teoacutericos para analisar sentidos2 sobre tecnologia em processos

educacionais (entendidos aqui em sentido amplo como relaccedilotildees entre

sujeitos que envolvem ensino e aprendizagem)

Encontrei-os de fato no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT) da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC) nas discussotildees propiciadas nas disciplinas e

seminaacuterios do doutorado e sobretudo no grupo de estudos a que me

filiei o DiCiTE (Discursos da Ciecircncia e da Tecnologia na Educaccedilatildeo)

Nesses ambientes pude examinar de modo mais especiacutefico e

aprofundado implicaccedilotildees sociais da tecnologia na educaccedilatildeo

Busquei identificar dentro dos Estudos Sociais da Ciecircncia e da

Tecnologia (ECTS) em especial dos ECTS latino-americanos correntes

teoacutericas que considero as mais apropriadas ao estudo de TS na educaccedilatildeo

no Brasil Aleacutem disso na medida do possiacutevel tentei relacionar

autoresas que podem ser considerados como pertencentes a outras

2 Sentidos satildeo aqui entendidos como uma construccedilatildeo histoacuterica permeada por

valores criados e transformados por sujeitos em determinadas situaccedilotildees O

sentido permite espaccedilos para a autoria

35

correntes teoacutericas com meu proacuteprio olhar (de mulher latino-americana)

sobre o problema estudado

Minha primeira intenccedilatildeo foi investigar a formaccedilatildeo docente inicial

em Ciecircncias Sociais (CS) na Universidade Federal do Rio Grande do

Sul (UFRGS) para examinar sentidos sobre tecnologia que por ali

circulavam (eram debatidos) ou que atravessavam (sem ser

necessariamente discutidos) aquele contexto Eu havia passado por tal

formaccedilatildeo haacute pouco tempo e muitas questotildees em relaccedilatildeo agrave tecnologia me

deixavam inquieta naquele periacuteodo Na aproximaccedilatildeo com as leituras

propostas no acircmbito da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT)

busquei portanto literaturas sobre formaccedilatildeo docente inicial e sobre o

ensino de Sociologia no Brasil de modo a articulaacute-las com os ECTS

Durante essa construccedilatildeo do problema de pesquisa para a tese tive

a oportunidade de fazer parte do Programa Proacute-Mobilidade

Internacional da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel

Superior (Capes) com a Associaccedilatildeo das Universidades de Liacutengua

Portuguesa (AULP) na cooperaccedilatildeo entre Brasil e Timor-Leste Fiquei

dois meses do ano de 2014 em Timor-Leste sob orientaccedilatildeo do prof Dr

Gaspar Varela e participei sobretudo da articulaccedilatildeo de estudos e

pesquisas com docentes e discentes da Universidade Nacional Timor

Lorosarsquoe (UNTL)

Essa articulaccedilatildeo foi mediada pelo Grupo de Estudos sobre Ensino

de Ciecircncias e Tecnologia na Formaccedilatildeo de Professores em Timor-Leste

(GEECITE-TL) co-coordenado por professoresas timorenses e pela

profordf brasileira Faacutetima Suely Ribeiro Cunha colega do doutorado do

PPGECT da UFSC Aleacutem disso acompanhei os trabalhos de colegas

cooperantes em Timor-Leste no projeto Programa de Qualificaccedilatildeo de

Docente e Ensino de Liacutengua Portuguesa (PQLP) gerido pelo Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo (MEC) brasileiro e pela Capes e co-coordenado no Brasil

pela profordf Dra Patricia Montanari Giraldi do Centro de Ciecircncias da

Educaccedilatildeo (CED) da UFSC

Saiacute do Brasil com a intenccedilatildeo de investigar aspectos gerais da

formaccedilatildeo docente em Timor-Leste de modo a levantar novas questotildees

para a minha pesquisa de tese Com isso participei da concepccedilatildeo e

realizaccedilatildeo da oficina ldquoOs alquimistas estatildeo chegandordquo como parte do

projeto de pesquisa ldquoOs alquimistas estatildeo chegando sentidos sobre

conhecimentos na cooperaccedilatildeo entre professores do Brasil e Timor-

Lesterdquo desenvolvido em conjunto com a profordf Dra Mariana Brasil

Ramos do CED da UFSC e tambeacutem participante do Projeto Proacute-

Mobilidade naquele momento

Contudo dos relatos de colegas com mais experiecircncia em Timor-

36

Leste e de minha aproximaccedilatildeo com o prof Estanislau Alves Correia

docente da UNTL verifiquei que existiam demandas para refletirmos

sobre possibilidades e limites nas articulaccedilotildees entre a produccedilatildeo de

conhecimentos tradicionais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual sobretudo em

relaccedilatildeo agrave ECT Com isso colaborei com a organizaccedilatildeo e participei da

mesa-redonda ldquoTecnologias Sociais e Produccedilatildeo de Conhecimentosrdquo

promovida pelo GEECITE-TL na UNTL com a comunicaccedilatildeo

ldquoTecnologias Sociais elementos para debates em perspectiva

educacionalrdquo

As discussotildees com docentes e discentes da UNTL que resultaram

dessa mesa-redonda levaram-me a refletir sobre as possibilidades de

explorar a questatildeo da autoria ao articular TS e educaccedilatildeo Nesse sentido

busquei possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com

a questatildeo da autoria em ambientes educacionais Pois acredito que

sujeitos que fazem parte de processos educacionais em um contexto de

construccedilatildeo de autoria podem ter possibilidades de ler e interpretar

criativa e criticamente a realidade social3 na qual estatildeo inseridos

A partir dessas possibilidades os sujeitos poderiam estar

mobilizados a mostrarem suas visotildees sentidos e experiecircncias acerca dos

problemas socioteacutecnicos4 vivenciados Esses uacuteltimos aqui entendidos a

partir da percepccedilatildeo de que a tecnologia natildeo eacute o produto de uma uacutenica

racionalidade teacutecnica mas a combinaccedilatildeo de fatores teacutecnicos e sociais na

qual eacute possiacutevel tanto perceber significaccedilotildees sociais atribuiacutedas a artefatos

quanto considerar a importacircncia do contexto social nas direccedilotildees e

influecircncias do desenvolvimento tecnoloacutegico

3 Uso o termo sem qualquer pretensatildeo explicativa filosoacutefica Sem deixar de

compreender a complexidade das discussotildees filosoacuteficas e socioloacutegicas sobre a

categoria ldquorealidaderdquo o que interessa aqui eacute destacar algo que reconhecemos ter

existecircncia independente de noacutes Por realidade social podemos compreender

relaccedilotildees estabelecidas entre sujeitos e entre sujeitos e aquilo que os rodeia 4 Utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo como uma abordagem que possibilite anaacutelises

integradas de fatores teacutecnicos e sociais a fim de superar determinismos

tecnoloacutegicos e sociais As perspectivas dos sistemas tecnoloacutegicos de Hughes

dos conjuntos socioteacutecnicos de Pinch e Bijker das mediaccedilotildees socioteacutecnicas da

Teoria Ator-Rede (TAR) de Latour e Callon e da construccedilatildeo social da

tecnologia e da Adequaccedilatildeo Socioteacutecnica (AST) de Dagnino e Thomas no

contexto latinoamericano satildeo certamente influecircncias teoacutericas Contudo natildeo eacute o

caso de eu estar estritamente filiada a qualquer uma dessas perspectavias

Socioteacutecnico aqui significa que a sociedade eacute tatildeo tecnologicamente construiacuteda

quanto as tecnologias satildeo socialmente desenvolvidas

37

Na volta para o Brasil busquei aprofundar a questatildeo da autoria e

relacionaacute-la com a formaccedilatildeo docente inicial em CS Entretanto tive

dificuldades para realizar a pesquisa no campo selecionado (UFRGS)

Meu contexto no momento levou-me a considerar novos sujeitos de

pesquisa de modo que os encontrei entre estudantes do ensino meacutedio

teacutecnico O fato de eu passar a atuar no Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) Cacircmpus Caxias do

Sul como docente temporaacuteria da disciplina de Sociologia nas turmas de

Cursos Teacutecnicos Integrados ao Ensino Meacutedio (CTIEM) naquele

momento com uma grande imersatildeo no contexto escolar local aliada agraves

dificuldades encontradas na coleta de dados junto agrave UFRGS levaram-

me a reavaliar se meu referencial teoacuterico permitiria relacionar

juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio sentidos sobre

tecnologia e TS

Verifiquei que algumas abordagens dentro dos ECTS latino-

americanos principalmente em perspectiva educacional poderiam

contribuir para o entendimento de tais inter-relaccedilotildees E nesse espaccedilo

percebi que eu tambeacutem poderia trazer contribuiccedilotildees com minha

pesquisa Portanto nesta tese trato de dois grandes temas educaccedilatildeo e

tecnologia com vistas a indicar uma possibilidade de abordagem sobre

TS no ensino meacutedio

A intenccedilatildeo de enfocar TS no ensino meacutedio surgiu sobretudo da

identificaccedilatildeo jaacute antiga de percepccedilotildees restritas sobre tecnologia muito

presentes no imaginaacuterio social de modo geral e em contextos

educacionais especificamente Uma dessas percepccedilotildees5 eacute o sentido

determinista sobre tecnologia que examino tendo em vista sua

problematizaccedilatildeo a partir dos princiacutepios socioloacutegicos do estranhamento e

da desnaturalizaccedilatildeo Com isso considero possibilidades de

transformaccedilatildeo desse sentido

A ideia de determinismo tecnoloacutegico comumente aparece ao

tratarmos das relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade6 Essa percepccedilatildeo natildeo

eacute algo novo De acordo com Chaacutevarro (2004) e Smith e Marx (1994) na

modernidade desde o estabelecimento de um imaginaacuterio sobre o

5 Percepccedilatildeo que natildeo eacute apenas minha mas de boa parte de pesquisadores sobre

ciecircncia e tecnologia como atesta por exemplo o estudo de Wyatt (2008) que eacute

examinado adiante 6 Para um levantamento bibliograacutefico histoacuterico e conceitual sobre determinismo

tecnoloacutegico do ponto de vista dos ECTS latino-americanos verificar

DAGNINO R Neutralidade da ciecircncia e determinismo tecnoloacutegico

Campinas Unicamp 2008

38

progresso a tecnologia apareceria como sua principal causa De modo

que teriacuteamos herdado do Iluminismo a ideia de que a ciecircncia seria uma

forccedila libertadora e que investir em tecnologia levaria ao maior

desenvolvimento produtivo e consequentemente ao bem-estar (SMITH

MARX1994)

No artigo ldquoDeterminismo Tecnoloacutegico na Cultura Americanardquo

(Technological Determinism in American Culture) (SMITH 1994) o

autor procura mostrar como obras de arte e anuacutencios publicitaacuterios

contribuiacuteram para o surgimento da crenccedila generalizada na tecnologia

como a forccedila motriz do desenvolvimento social A figura 1 abaixo7 faz

parte dessa anaacutelise Nela o autor destaca uma mulher que representaria

a deusa da liberdade (um velho siacutembolo republicano agora identificado

com o progresso) que flutua em direccedilatildeo ao ocidente (civilizaccedilatildeo) e

carrega consigo um livro escolar (educaccedilatildeo) e os fios do teleacutegrafo

(tecnologia de comunicaccedilatildeo) De acordo com Smith (1994 p10) ldquoa

pintura transmite claramente a atitude da cultura dominante para com a

natureza os nativos americanos e mais geralmente a mudanccedila linear e

melhoria atraveacutes da ciecircncia e da tecnologiardquo8

7 Pintura do ano de 1872 do tipo oacuteleo sobre tela de John Gast chamada

Westward-ho ou American Progress 8 ldquoThe painting clearly conveys the dominant cultures attitude toward nature

Native Americans and more generally linear change and improvement

through science and technologyrdquo Traduccedilatildeo livre da autora

39

Figura 1 - Arte sobre desenvolvimento tecnoloacutegico

Fonte (SMITH 1994 p 12)

Portanto como destaca Huguet (2003) o seacuteculo XX herdou uma

proposta ideoloacutegica e social que legitimava o crescimento tecnoloacutegico

como sinocircnimo de desenvolvimento e incorporava dimensotildees de

grandiosidade e aceleraccedilatildeo ainda imprevistas ateacute aquele momento

(CORREcircA 2010 2013a) Para aleacutem dessa questatildeo estritamente

econocircmica Huguet (2003) tambeacutem destaca o caraacuteter eacutetico que estaria

relacionado agrave ideia de determinismo Pois faria parte dessa ideia um

efeito libertador aos chamados paiacuteses do Norte9 (centrais colonialistas

9 Refiro-me ao Norte e Sul geograacutefico metafoacuterico e epistecircmico das anaacutelises de

Santos e Meneses (2010) Meneses (2014) e Santos (2007) que contestam a

hegemonia dos saberes e valores ocidentais (de domiacutenio colonialista

imperialista e capitalista) sobre as resistecircncias do Sul e investigam

possibilidades de uma ecologia dos saberes baseada em diaacutelogos horizontais

que reconheccedila conhecimentos plurais (epistemologias do Sul) Eacute importante

compreendermos que como destaca Meneses (2014) ldquoo Sul epistecircmico coincide

parcialmente com o Sul geograacutefico O Sul global refere-se agraves regiotildees do mundo

que foram submetidas ao colonialismo europeu e que natildeo atingiram niacuteveis de

desenvolvimento econocircmico semelhantes ao do Norte global (Europa e Ameacuterica

40

ldquodesenvolvidosrdquo) frente a sua responsabilidade moral histoacuterica sobre os

males causados aos chamados paiacuteses do Sul (periferia colonizados ldquoem

desenvolvimentordquo) (HUGUET 2003)

Podemos perceber portanto que o entendimento da ideia de

determinismo tecnoloacutegico na contemporaneidade tambeacutem pode facilitar

a compreensatildeo das formas com que paiacuteses do Norte e do Sul se

relacionam atualmente Haacute um discurso legitimador e salvacionista

daqueles sobre o Sul ldquomiseraacutevel e atrasadordquo (HUGUET 2003) E isso eacute

importante para pensarmos o contexto educacional brasileiro sobretudo

ao discutirmos sobre emancipaccedilatildeo social autonomia e autoria

Assim tais relaccedilotildees entre Norte e Sul parecem-me relevantes

para o exame de processos educacionais no Brasil Contudo eacute

importante aleacutem desse breve histoacuterico sobre o determinismo

tecnoloacutegico apresentar inicialmente uma compreensatildeo geral das

definiccedilotildees que envolvem essa questatildeo O filoacutesofo norte-americano

Andrew Feenberg (1991) apresenta uma abordagem interessante ao

esclarecer que atraveacutes da concepccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico tenta-

se explicar fenocircmenos sociais e histoacutericos de acordo com um fator

principal que no caso seria a tecnologia

Para Feenberg (1991) determinismo tecnoloacutegico significa que

existiria a possibilidade de o destino da sociedade ser ao menos de

modo parcial dependente de um fator considerado natildeo-social que o

influenciaria sem no entanto sofrer uma influecircncia reciacuteproca Assim o

determinismo estaria baseado na suposiccedilatildeo de que as tecnologias tecircm

uma loacutegica funcional autocircnoma que poderia ser explicada sem se fazer

referecircncia agrave sociedade Nesse sentido o autor trata ainda do chamado

coacutedigo teacutecnico10 que significa que certos produtos possuem um design

(projeto) que encerra em si todo o contexto de suas concepccedilotildees e estatildeo

do Norte) A sobreposiccedilatildeo natildeo eacute total porque por um lado no interior do Norte

geograacutefico vastos grupos sociais estiveram e estatildeo sujeitos agrave dominaccedilatildeo

capitalista e colonial e por outro lado porque no interior do Sul geograacutefico

houve sempre as lsquopequenas Europasrsquo pequenas elites locais que se beneficiaram

da dominaccedilatildeo capitalista e colonial e que depois das independecircncias a

exerceram e continuam a exercecirc-la por suas proacuteprias matildeos contra as classes e

grupos sociais subordinadosrdquo (MENESES 2014 p 92) 10 Feenberg explica que o coacutedigo teacutecnico se refere a uma traduccedilatildeo entre uma

demanda puacuteblica e uma especificaccedilatildeo teacutecnica ldquoEu desenvolvi o conceito de

lsquocoacutedigo teacutecnicorsquo para falar desse processo de traduccedilatildeo Ele eacute o modelo do

conteuacutedo veiculado de um lado no discurso dos movimentos sociais e de

outro nas especificaccedilotildees teacutecnicasrdquo (MARICONDA MOLINA 2009 p 168)

41

ligados a determinadas estrateacutegias Estas representariam interesses

correspondentes a instacircncias especiacuteficas do tipo de sociedade Por

exemplo no capitalismo as grandes corporaccedilotildees (FEENBERG 2002

2012)

De acordo com Castro (2009) tais interesses especiacuteficos tambeacutem

se relacionam ao consumismo tecnoloacutegico Um projeto de um

smartphone por exemplo jaacute prevecirc quando ele sairaacute de linha e carrega

consigo uma estrateacutegia de obsolescecircncia programada Tal projeto

incorpora uma estrateacutegia de consumo que se baseia na novidade Com

isso o consumidor entende que a aquisiccedilatildeo de novos produtos

tecnoloacutegicos significa um progresso e acredita que estaacute ldquoevoluindordquo e

que tem um produto melhor de uacuteltima tecnologia mesmo que o produto

antigo tivesse a mesma qualidade (CASTRO 2009) E essa eacute uma

constataccedilatildeo importante para o debate sobre determinismo tecnoloacutegico

em processos educacionais que envolvem as juventudes e suas praacuteticas

de consumo por exemplo

Em termos de definiccedilotildees Chandler (1995) destaca assim como

fez Feenberg (1991) que na perspectiva determinista o desenvolvimento

tecnoloacutegico seria o principal condicionante da mudanccedila e das estruturas

sociais Chandler (1995) aponta que na concepccedilatildeo determinista da

tecnologia as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade podem ser

consideradas segundo as categorias de autonomia condicionamento e

unidirecionalidade A tecnologia seria desenvolvida de modo autocircnomo

e independente seria o grande condicionante do desenvolvimento da

sociedade e a relaccedilatildeo entre tecnologia e sociedade ocorreria de modo

unidirecional daquela agindo sobre esta

Assim a fonte primordial das mudanccedilas sociais se caracterizaria

pelo desenvolvimento de tecnologias Resistecircncias e intervenccedilotildees

sociais poliacuteticas institucionais e culturais postas aos processos de

desenvolvimento de tecnologias teriam pouco ou nenhum efeito pois as

tecnologias afetariam inexoravelmente todos os acircmbitos sociais

(CHANDLER 1995 WYATT 2008)

Nesse mesmo sentido Bimber (1994) destaca que existem duas

condiccedilotildees que devem ser preenchidas para que possamos considerar o

determinismo tecnoloacutegico A primeira delas eacute a de que a mudanccedila social

tenha como causa fenocircmenos ou leis anteriores e a segunda condiccedilatildeo eacute a

de que tais leis dependam de caracteriacutesticas da tecnologia de modo que

os sujeitos natildeo exerccedilam accedilatildeo em relaccedilatildeo agraves mudanccedilas Ao considerar

essas condiccedilotildees o autor destaca trecircs possiacuteveis interpretaccedilotildees do

determinismo tecnoloacutegico e quais delas poderiam satisfazer essas

condiccedilotildees quais sejam a normativa a nomoloacutegica e a de consequecircncias

42

imprevistas

Na primeira a causa da mudanccedila estaria nas praacuteticas sociais e nas

crenccedilas dos sujeitos enquanto na segunda a sociedade se desenvolveria

de maneira fixa e determinada independente da resistecircncia dos sujeitos e

a terceira apontaria a possibilidade de efeitos sociais involuntaacuterios e

indeterminados Para Bimber (1994) a segunda interpretaccedilatildeo

nomoloacutegica eacute a uacutenica que satisfaz as duas condiccedilotildees e portanto eacute a que

infere a condiccedilatildeo de determinismo tecnoloacutegico (CORREcircA 2010)

Para aleacutem de possiacuteveis caracterizaccedilotildees do determinismo

tecnoloacutegico eacute importante destacar que a ideia de determinismo pode

assumir diversos significados Smith e Marx (1994) trazem a ideia de

uma imagem gradativa na qual poderiacuteamos visualizar dois extremos

opostos que representariam cada um um grau de determinismo Um

extremo seria chamado de hard (determinismo forte) e o outro soft (determinismo fraco) Nessa imagem o lado hard atribuiria agrave tecnologia

o poder de promover mudanccedilas sociais de modo inevitaacutevel e necessaacuterio

enquanto o extremo soft ainda consideraria aspectos sociais

econocircmicos poliacuteticos e culturais nessas mudanccedilas Tal como na figura 2

abaixo

Figura 2 - Gradaccedilotildees do determinismo tecnoloacutegico

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Portanto para esses autores o determinismo tecnoloacutegico pode

significar tanto que a tecnologia ou seus atributos intriacutensecos tem o

poder de efetuar mudanccedilas quanto existiria uma matriz mais diversa e

complexa do ponto de vista social econocircmico poliacutetico e cultural

(SMITH MARX 1994)

Ainda em relaccedilatildeo aos significados Chaacutevarro (2004) lembra que

a ideia determinista sobre a tecnologia estaacute presente tanto em discursos

otimistas (tecnoacutefilos) do progresso como mostrado anteriormente

quanto em discursos pessimistas (tecnofoacutebicos) daquele Para uma visatildeo

tecnoacutefila a soluccedilatildeo dos problemas implicaria em pensaacute-los

tecnologicamente com um apoio irrestrito agraves promessas e feitos da

tecnologia muitas vezes sem grande olhar criacutetico sobre os seus usos

(FURTADO 2009) E esse apoio exigiria liberdade para que natildeo

43

houvesse controle externo sobre o desenvolvimento da investigaccedilatildeo

tecnoloacutegica pois assim se garantiria o bem-estar humano Controle

aqui significaria restriccedilatildeo da liberdade que levaria ao atraso econocircmico

e ateacute cultural

A visatildeo tecnofoacutebica compreenderia no entanto essa falta de

controle como o iniacutecio do caminho para um desastre OA tecnofoacutebicoa

criticaria e chegaria ateacute a rejeitar o desenvolvimento tecnoloacutegico que

elea veria como fonte de diversos problemas sociais (FURTADO

2009) Contudo eacute importante destacar que natildeo entendo a visatildeo

tecnofoacutebica como uma afiliaccedilatildeo contemporacircnea ao ludismo11 como

poderia ser suposto

Essa breve indicaccedilatildeo de pontos que considero importantes no

debate sobre determinismo tecnoloacutegico inclui tambeacutem uma perspectiva

que considera o porquecirc da forte influecircncia dessa ideia determinista em

noacutes Wyatt (2008) esclarece que ldquoinclusive nossos haacutebitos linguiacutesticos

persistem em nomear eacutepocas histoacutericas e sociedades inteiras por seus

artefatos tecnoloacutegicos dominantesrdquo12 (WYATT 2008 p 168) e que isso

pode ser testemunhado desde em museus ateacute nos meios de

comunicaccedilatildeo13 Desse modo assim como Wyatt (2008) questiono por

que a ideia de determinismo permanece

Contudo uma posiccedilatildeo extremamente oposta do tipo de

determinismo social que consideraria que o desenvolvimento

tecnoloacutegico depende intensamente de nosso livre arbiacutetrio para tomarmos

decisotildees de acordo com nossas preferecircncias valorativas poderia estar a

subestimar a forccedila com que as tecnologias influem culturalmente

Nesses extremos de determinismos podemos natildeo perceber que entre

11 Natildeo compreendo o movimento ludista (Europa seacutec XIX) como

simplesmente a quebra de maacutequinas em represaacutelia a inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

Assim como Hobsbawm (2000) entendo que no ludismo natildeo havia uma

hostilidade especial contra as maacutequinas os trabalhadores natildeo estavam

preocupados com o progresso teacutecnico abstratamente mas com o desemprego e

em manter um padratildeo de vida digno (idem) 12 ldquoYet the linguistic habit persists of naming whole historical epochs and

societies by their dominant technological artefactsrdquo (WYATT 2008 p 168)

Traduccedilatildeo livre da autora 13 A autora cita o exemplo de uma seacuterie de cinco palestras apresentadas no ano

de 2005 na rede de raacutedio inglesa BBC que se chamava ldquoThe triumph of

technologyrdquo (O triunfo da tecnologia) com uma palestra cujo nome era

ldquoTechnology will determine the future of the human racerdquo (A tecnologia iraacute

determinar o futuro da raccedila humana) (WYATT 2008)

44

tecnologias e valores ocorrem interaccedilotildees muacutetuas e complexas e natildeo

apenas uma influecircncia com direccedilatildeo uacutenica (CORREcircA 2010)

Sob as condiccedilotildees capitalistas atuais por exemplo parece difiacutecil

refutar a ideia de que a adoccedilatildeo de certas tecnologias exerce influecircncia

forte na sociedade Mas eacute importante considerarmos que vivemos em

uma sociedade com um niacutevel de interaccedilatildeo com outros fatores que natildeo

apenas tecnoloacutegicos Portanto parece-me difiacutecil justificar uma

insistecircncia na tecnologia como o elemento fundamental das

transformaccedilotildees sociais assim como outra determinaccedilatildeo (como a

econocircmica por exemplo) Fatores poliacuteticos econocircmicos religiosos

culturais assim como a opiniatildeo puacuteblica e os processos educacionais

comumente aparecem como inter-relacionados a tecnologias (CORREcircA

2010)

Embora natildeo seja a referecircncia teoacuterica desta tese cito aqui a

perspectiva da Construccedilatildeo Social da Tecnologia (CST)14 que contraacuteria

ao determinismo forte (hard) considera a forccedila da dimensatildeo

sociocultural nas mudanccedilas teacutecnicas Os autores Pinch e Bijker (2008)

desenvolvem estudos nos quais mostram como a tecnologia eacute uma

construccedilatildeo social Um exemplo eacute sua investigaccedilatildeo sobre o

desenvolvimento da bicicleta cujo desenho final dependeu das praacuteticas

de uso de seus possiacuteveis consumidores Nesse sentido Bijker (2008)

desenvolve o conceito de marco tecnoloacutegico que se apoia nos

significados que os sujeitos conferem a uma tecnologia e na gramaacutetica

que se desenvolve ao redor desses para explicar como a sociedade

interfere no desenho de uma tecnologia15 (PINCH BIJKER 2008)

Filiados ou natildeo agrave perspectiva da CST podemos como faz

Dieacuteguez (2005) problematizar posicionamentos deterministas sobre

tecnologia Um passo para isso seria compreendermos que muitas

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo satildeo desenvolvidas que muitos aspectos

econocircmicos influenciam na adaptaccedilatildeo de tecnologias e finalmente que

existem tecnologias mais ldquoelaacutesticasrdquo que podem ter uma exploraccedilatildeo

mais diversificada Algo que Wyatt (2008)16 tambeacutem examina ao fazer 14 Do inglecircs Social Construction of Technology tambeacutem conhecida

como SCOT 15 O que procura demonstrar que a mediaccedilatildeo dos sujeitos seria central nos

processos de desenvolvimento tecnoloacutegico Os autores esclarecem que a

tecnologia comportaria algo como uma ldquoflexibilidade interpretativardquo pois ela

poderia ser compreendida de diversos modos por diferentes grupos de

usuaacuteriosas 16 Destaco que Wyatt (2008) faz uma anaacutelise dos STS sofisticada que inclui

uma categorizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do princiacutepio de simetria por autores como

45

um levantamento de como os chamados Estudos da Ciecircncia e

Tecnologia (STS na sigla em inglecircs para Science and Technology

Studies) vecircm analisando a questatildeo pelo menos nos uacuteltimos 25 anos

De acordo com a autora para a maioria dos analistas dos STS o

determinismo tecnoloacutegico natildeo eacute um modelo adequado mas como eacute uma

crenccedila comum entre os sujeitos natildeo eacute possiacutevel rejeitaacute-lo Ela ainda

reforccedila que essa crenccedila no determinismo permanece pois ele encerra

caracteriacutesticas como simplicidade conformidade com as experiecircncias

dos sujeitos entendimento de que as tecnologias satildeo coisas misteriosas

de origem desconhecida de modo que facilmente nos adaptamos a ideia

ou como a autora chama modelo de determinismo (WYATT 2008)

Mesmo que se possa aceitar diferentes graus e significados sobre

o determinismo procurei demarcar caracteriacutesticas que me parecem

encerrar o conteuacutedo central de determinismo tal como ele eacute analisado

em meus estudos de modo geral e nesta tese especificamente A saber

que o determinismo tecnoloacutegico pode ser examinado como uma

compreensatildeo restrita sobre as relaccedilotildees entre os sujeitos e as tecnologias

na qual haveria pouca oportunidade de conhecimento participaccedilatildeo e

controle dos processos que envolvem questotildees relacionadas agrave tecnologia

(elaboraccedilatildeo desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo apropriaccedilatildeo e

ensino) pelos sujeitos

Com isso destaquei pontos que considero importantes acerca da

questatildeo do determinismo tecnoloacutegico tendo em vista debates sobre

processos educacionais Penso que compreender esses aspectos da

perspectiva determinista pode ajudar no exame de sentidos sobre

tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM17 Cursos estes

entendidos como uma categoria com suas contradiccedilotildees seus espaccedilos e

tempos soacutecio-histoacutericos especiacuteficos e nos quais as juventudes

constroem reconstroem e satildeo atravessadas por diversos sentidos sobre

suas (im)possibilidades de inserccedilatildeo na realidade social

Minha intenccedilatildeo ao apontar problemas relacionados agrave ideia

persistente de determinismo tecnoloacutegico na atualidade (tais como o fato

de ele conter uma compreensatildeo restrita das relaccedilotildees entre os sujeitos e a

produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo considerar fatores sociais no

David Bloor Trevor Pinch Wiebe Bjiker e Michel Callon aleacutem de apresentar

sua proacutepria posiccedilatildeo no debate Essa classificaccedilatildeo natildeo eacute explorada nesta tese

Uma leitura aprofundada pode ser realizada a partir do artigo de Wyatt do ano

de 2008 que utilizo aqui como referecircncia 17 Esclareccedilo que minhas anaacutelises natildeo silenciam perspectivas natildeo-deterministas

que emergem durante a realizaccedilatildeo da pesquisa

46

desenvolvimento da tecnologia nos isentar de responsabilidades sobre o

que eacute desenvolvido e silenciar relaccedilotildees de dominaccedilatildeo em acircmbito

geopoliacutetico Norte-Sul) foi reforccedilar as implicaccedilotildees que um sentido

determinista da tecnologia pode ter de modo especiacutefico no que se

refere a processos educacionais

Busco o auxiacutelio do pensador brasileiro Rubem Alves (1933-

2014) para demonstrar a importacircncia de abordar o determinismo

tecnoloacutegico em sala de aula Embora o autor natildeo trate nomeadamente do

determinismo tecnoloacutegico e reflita sobre relaccedilotildees entre conhecimento e

poliacutetica no ato de pesquisa concordo com ele em um ponto no qual eacute

destacado que ldquonatildeo se conquistam os determinismos pela sua

ignoracircncia Eacute necessaacuterio contemplaacute-los face a face No momento em que

os reconhecemos e os chamamos pelo seu nome proacuteprio o caminho para

a liberdade e a iniciativa estaacute abertordquo (ALVES 1989 p 85-86)

QUESTOtildeES

Com isso penso que o problema de pesquisa foi construiacutedo de

modo que seja possiacutevel compreender as duas questotildees fundamentais que

conduzem as investigaccedilotildees desta tese (i) de que maneira e em que

medida uma perspectiva criacutetica sobre TS pode colaborar para

transformar sentidos deterministas sobre a tecnologia nos CTIEM E

(ii) em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais voltados agrave

construccedilatildeo de autoria a partir de um posicionamento criacutetico sobre TS

pode mobilizar estudantes dos CTIEM para a emancipaccedilatildeo social18 e a

autonomia

OBJETIVOS

Para buscar responder a essas duas questotildees destaco que o

objetivo geral da pesquisa eacute analisar possibilidades e limites para

discutir tecnologia e TS e transformar sentidos deterministas sobre

tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS nos CTIEM

Como suporte a esse objetivo geral apresento os quatro objetivos

18 Assim como a autonomia e a autoria a emancipaccedilatildeo social eacute uma categoria

importante nesse estudo No capiacutetulo 1 desta tese eacute apresentada a perspectiva

emancipatoacuteria educacional de Adorno (1995) utilizada e possiacuteveis diaacutelogos com

a pesquisa internacional ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social para novos

manifestosrdquo organizada pelo socioacutelogo portuguecircs Boaventura de Sousa Santos

(SANTOS 2009) que tem relevacircncia no quadro da pesquisa socioloacutegica atual

embora natildeo trate especificamente da questatildeo educacional mesmo que ela seja

referida

47

especiacuteficos (i) identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre

estudantes dos CTIEM (ii) problematizar tais sentidos de acordo com os

princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (iii)

examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de

um posicionamento criacutetico sobre TS e (iv) verificar se e como

promover contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar

sentidos de emancipaccedilatildeo social e autonomia entre estudantes

TESE

Tais objetivos assim como a pesquisa das questotildees propostas satildeo

o apoio para que eu possa defender a seguinte tese sentidos

deterministas sobre tecnologia que satildeo discutidos entre estudantes dos

CTIEM podem ser transformados atraveacutes de processos educacionais que

contemplem o desenvolvimento de uma perspectiva criacutetica sobre TS

Isso ocorre na medida em que essesas estudantes possam visualizar

possibilidades de emancipaccedilatildeo social ao constituiacuterem-se autonomamente

como autoresas capazes de compreender e modificar os contextos

socioteacutecnicos determinados soacutecio-historicamente que os satildeo

apresentados

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Os procedimentos19 necessaacuterios para realizar a pesquisa

compreendem coleta e anaacutelise de dados primaacuterios e secundaacuterios

qualitativos e quantitativos Os instrumentos de coleta de dados

primaacuterios satildeo uma questatildeo inicial formulada agravesaos estudantes (O que eacute

tecnologia para vocecirc) um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla

escolha20 (conforme Apecircndice D) e uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de

TS aleacutem do meu diaacuterio de campo (memoacuteria das aulas) A coleta de

dados secundaacuterios envolve pesquisa bibliograacutefica e documental Faz

19 Todas as consideraccedilotildees que se referem aos procedimentos metodoloacutegicos satildeo

detalhadas no capiacutetulo 3 desta tese 20 Tendo em vista a criacutetica feita por Thiollent (1985) ao positivismo empiacuterico

nas pesquisas sociais considerei a utilizaccedilatildeo do questionaacuterio de modo criacutetico e

histoacuterico e avaliei as vantagens (i) e desvantagens (ii) de sua utilizaccedilatildeo Tais

como (i) facilidade de aplicaccedilatildeo e anaacutelise praticidade e rapidez ao responder e

apresentaccedilatildeo de diversas alternativas (aleacutem da alternativa aberta) e (ii) exigecircncia

de tempo na sua preparaccedilatildeo para garantir diversas opccedilotildees de resposta conexatildeo

com os pressupostos teoacutericos e possibilidade de influecircncia no sujeito

respondente Dentro desse quadro a considerar o espaccedilo e o tempo da pesquisa

e com o cuidado de enfocar as condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas dos sujeitos da

pesquisa essa pareceu a opccedilatildeo mais adequada

48

parte da pesquisa ainda a elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico

na temaacutetica socioteacutecnica (conforme Apecircndice E)

Alguns dados foram coletados durante todo o ano de 2015

diretamente no IFRS sendo que a pergunta inicial e os questionaacuterios

foram aplicados no iniacutecio do terceiro trimestre escolar a partir do mecircs

de outubro e as apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS

aconteceram no mecircs de dezembro

A pesquisa aqui proposta envolve uma discussatildeo sobre estudantes

dos CTIEM contudo tendo em vista a possibilidade de

operacionalizaccedilatildeo da pesquisa e a coerecircncia com o meu plano de

trabalho e o planejamento de ensino no IFRS foram selecionados

estudantes apenas dos primeiros anos dos CTIEM Com isso o universo

da pesquisa eacute composto por 184 alunosas matriculadosas nos primeiros

anos e que tecircm entre 14 e 18 anos de idade21 Contudo infrequecircncias

ausecircncias e opccedilatildeo por natildeo participar da pesquisa exigem um recorte que

finaliza com 149 estudantes que satildeo os sujeitos da pesquisa22

A descriccedilatildeo quantitativa elaboraccedilatildeo de graacuteficos quadros e

tabelas envolve a utilizaccedilatildeo do programa Excel 2013 A anaacutelise

qualitativa por sua vez baseia-se na leitura criacutetica descriccedilatildeo e anaacutelise

soacutecio-histoacuterica dos dados documentais das respostas agrave pergunta inicial

dos questionaacuterios da memoacuteria das aulas e da produccedilatildeo sobre TS Na

pesquisa proposta os dados quantitativos satildeo considerados como um

suporte importante mas o caraacuteter da pesquisa eacute qualitativo Contudo

destaco que assim como Trivintildeos (1987) natildeo haacute aqui uma

caracterizaccedilatildeo dicotocircmica entre o qualitativo e o quantitativo Do ponto

de vista de uma pesquisa dialeacutetica (na qual os polos analisados satildeo

diferentes mas se implicam mutuamente um depende necessariamente

do outro) existe uma relaccedilatildeo necessaacuteria entre a mudanccedila quantitativa e a

mudanccedila qualitativa

Esse enfoque qualitativo que corresponde a um modo de

compreender e analisar a realidade pode ser examinado dentro do que

Trivintildeos (1987) chama de ldquocriacutetico-participativo com visatildeo histoacuterico-

estruturalrdquo (p 117) Nesse quadro autores como Marx Engels

Gramsci Adorno Horkheimer Marcuse e Habermas entre outros

partem da necessidade de conhecer a realidade ldquopara transformaacute-la em

processos contextuais e dinacircmicos complexosrdquo (TRIVINtildeOS 1987 p

21 Um perfil sociodemograacuteficos dosas estudantes eacute apresentado no capiacutetulo 3

desta tese 22 Destaco que dentre esses sujeitos selecionei cinco TS (31 alunosas) para

analisar de modo mais aprofundado como descrevo no capiacutetulo 3

49

125) Assim nesta tese a intenccedilatildeo eacute realizar uma pesquisa que capte

tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema delineado (descrito)

Interessam portanto suas origens causas consequecircncias e contradiccedilotildees

tendo em vista possibilidades de transformaccedilotildees da realidade

A ideia eacute examinar relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo tendo em

vista a obtenccedilatildeo de dados que possibilitem ampliar a compreensatildeo de

qualidades constitutivas dessas relaccedilotildees (dos sentidos que as atravessam

que ali circulam suas contradiccedilotildees) e verificar possibilidades de

transformaccedilatildeo desses sentidos dentro de processos educacionais Em

termos metodoloacutegicos ao apropriar-me dessas relaccedilotildees em primeiro

lugar ligo-as agrave minha concepccedilatildeo de mundo e em seguida procuro

inseri-las em um quadro teoacuterico de apoio Portanto ao buscar a

historicidade e contradiccedilotildees dessas relaccedilotildees penso que as escolhas

metodoloacutegicas realizadas estatildeo de acordo com o referencial teoacuterico

escolhido que por sua vez tem coerecircncia com minha consciecircncia social

RELEVAcircNCIA

A relevacircncia dessa iniciativa de pesquisa encontra-se nas

possibilidades de (i) compreender (e poder transformar) soacutecio-

historicamente sentidos restritos sobre tecnologias que circulam entre as

juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (ii) expandir

entendimentos sobre processos educacionais voltados agrave mobilizaccedilatildeo

para autoria emancipaccedilatildeo social e autonomia em um paiacutes do Sul e (iii)

ampliar espaccedilos para debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e

sociedade

O entendimento criacutetico de tais relaccedilotildees eacute percebido aqui como um

fator a ser considerado na compreensatildeo de processos educacionais

criacuteticos e contextualizados (sensiacuteveis agraves diversidades poliacuteticas de classe

religiosas eacutetnico-raciais23 e de gecircnero) vinculados a perspectivas de

efetiva transformaccedilatildeo social

23 Conforme Gomes (2012) no Brasil militantes e intelectuais utilizam o termo

ldquoeacutetnico-racialrdquo para demonstrar que consideram as muacuteltiplas dimensotildees que

envolvem a histoacuteria as culturas e a vida de negros no paiacutes Ao adotarem o termo

ldquoraccedilardquo natildeo o fazem no sentido bioloacutegico pelo contraacuterio ldquotrabalham o termo

raccedila atribuindo-lhe um significado poliacutetico construiacutedo a partir da anaacutelise do tipo

de racismo que existe no contexto brasileiro e considerando as dimensotildees

histoacuterica e cultural que este nos remeterdquo (GOMES 2012 p 47)

50

TOacutePICOS

Operacionalizei a tese dentro do pressuposto de que natildeo eacute

interessante uma visatildeo isolada das partes do estudo tendo em vista que

elas estatildeo inter-relacionadas Desse modo a fundamentaccedilatildeo teoacuterica por

exemplo natildeo tem um capiacutetulo especiacutefico pois ela vai apoiar de maneira

dinacircmica as ideias que surgem no desenvolvimento da pesquisa

Entretanto para tentar desenvolver de modo objetivo os argumentos e

apresentar de maneira concisa os dados desta tese o texto estaacute dividido

em trecircs partes aleacutem das consideraccedilotildees finais

No primeiro capiacutetulo discuto sobre processos educacionais

Apresento meus posicionamentos e filiaccedilotildees teoacutericas em relaccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo ECT Educaccedilatildeo CTS (Ciecircncia Tecnologia Sociedade)

juventudes ensino de Sociologia no ensino meacutedio e autoria Aleacutem da

discussatildeo conceitual trago aspectos histoacutericos e bibliograacuteficos sobre tais

temas de modo que as informaccedilotildees desse capiacutetulo possam encaminhar

para entendimentos sobre tecnologia tal como delineado de maneira

especiacutefica no segundo capiacutetulo

No capiacutetulo 2 apresento uma discussatildeo relativa aos contextos

socioculturais poliacuteticos e educacionais nos quais os debates sobre

tecnologia estatildeo inseridos Para isso examino o caraacuteter social da

tecnologia a partir de diferentes autoresas exponho minha filiaccedilatildeo

teoacuterica e delineio o sentido geral sobre tecnologia que eacute considerado na

pesquisa de tese Apoacutes realizo uma reflexatildeo histoacuterica conceitual e

documental sobre TS e apresento estudos sobre relaccedilotildees entre TS e

processos educacionais

Com o foco em examinar sentidos sobre tecnologia que

atravessam os (e circulam nos) CTIEM no terceiro capiacutetulo apresento

detalhadamente os procedimentos envolvidos na coleta e anaacutelise de

dados Exponho informaccedilotildees relevantes para a pesquisa sobre o IFRS

(histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outros dados) e sobre aspectos

sociodemograacuteficos qualitativos e quantitativos dos sujeitos da pesquisa

De acordo com minha opccedilatildeo por adotar a teacutecnica de pesquisa de

intervenccedilatildeo socioloacutegica (THIOLLENT 1985) ao realizar uma anaacutelise

criacutetica dos dados coletados intenciono que a partir desses dados os

sentidos sejam examinados segundo uma perspectiva teoacuterica que

permita o retorno a esses sentidos agora contextualizadas em muacuteltiplas

relaccedilotildees

Tal movimento envolve mediaccedilotildees em trecircs momentos A partir

do caos concreto (no qual satildeo captadas as qualidades gerais da

realidade) passa-se por uma instacircncia abstrata (na qual estabelecem-se

as relaccedilotildees soacutecio-histoacutericas do fenocircmeno determinam-se os traccedilos

51

quantitativos do exame) ateacute chegar novamente ao concreto agora

pensado (no qual estabelecem-se os aspectos essenciais do fenocircmeno

seu fundamento sua realidade e possibilidade o que nele eacute singular e

geral necessaacuterio e contingente)

Conforme informo na dedicatoacuteria esta tese foi escrita para

educadoras e educadores de qualquer modalidade de ensino e de

diferentes formaccedilotildees disciplinares que tenham interesse em TS

52

53

CAPIacuteTULO 1 PROCESSOS EDUCACIONAIS

Neste primeiro capiacutetulo tendo em vista o que estaacute envolvido24

com a educaccedilatildeo desenvolvo consideraccedilotildees acerca de elementos que

vejo como importantes na investigaccedilatildeo de relaccedilotildees dessa com a

tecnologia Inicialmente apresento meu posicionamento geral sobre o

sujeito desse processo e destaco o que compreendo por educaccedilatildeo de

modo geral e segundo autoresas que podem ajudar-me a analisar em

alguma medida o contexto25 nacional atual

Apoacutes reflito sobre ECT e Educaccedilatildeo CTS tendo em vista alguns

princiacutepios do ensino de Sociologia no ensino meacutedio (estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo) questotildees de autoria e as juventudes que compotildeem os

CTIEM (sujeitos do conhecimento) Finalizo o capiacutetulo com uma

tentativa de relacionar essas perspectivas com indagaccedilotildees sobre uma

outra educaccedilatildeo possiacutevel A ideia eacute que esse capiacutetulo inicial relacione

autoresas e teorias em relaccedilatildeo agrave autonomia autoria e emancipaccedilatildeo

social que possam trazer subsiacutedios para um debate sobre tecnologia e

TS em ambientes educacionais

11 SUJEITO

No contexto geral das discussotildees de que participo na aacuterea da

ECT percebo ao menos alguns temas efetivos que derivam de

concepccedilotildees sobre a natureza as funccedilotildees aplicaccedilotildees e implicaccedilotildees

sociais do conhecimento da ciecircncia da tecnologia e da educaccedilatildeo

Central em tudo isso estatildeo as concepccedilotildees sobre o sujeito

fundamentalmente sobre o sujeito do conhecimento que perpassam

todos esses temas e implicam em diferentes posicionamentos em relaccedilatildeo

a eles26

24 Considero que processos educacionais envolvem interaccedilotildees entre

professoresas estudantes escola estrutura fiacutesica materiais da escola poliacutetica

educacional interna e externa participaccedilatildeo de paisresponsaacuteveis abertura agrave

comunidade procedimentos avaliativos e componentes curriculares 25 Nesta tese uso o termo ldquocontextordquo em sentido geral como inter-relaccedilatildeo de

circunstacircncias (sociais culturais poliacuteticas econocircmicas tecnoloacutegicas

educacionais) que acompanham dadas situaccedilotildees Natildeo eacute minha intenccedilatildeo discutir

o termo de acordo com teorias antropoloacutegicas ou linguiacutesticas 26 Muitos estudos epistemoloacutegicos investigam as relaccedilotildees entre sujeito (S)

objeto (O) e imagem (I) Algo que natildeo seraacute explorado de modo especiacutefico nesta

tese Tendo em vista uma leitura voltada a questotildees educacionais eacute possiacutevel

compreender ideias baacutesicas sobre essas relaccedilotildees e especificamente sobre

54

Considero que essas concepccedilotildees podem ser analisadas como

conjuntamente interligadas mas de modo a respeitar suas

particularidades Como jaacute referenciei tratarei fundamentalmente sobre

relaccedilotildees entre tecnologia e educaccedilatildeo contudo eacute importante iniciar esse

estudo com uma breve indicaccedilatildeo de como compreendo o sujeito nesse

processo

Uma primeira inspiraccedilatildeo para localizar de maneira mais

especiacutefica quem eacute(satildeo) meu(s) sujeito(s) foi construiacuteda a partir do

acompanhamento das leituras realizadas no DiCiTE Naquele ambiente

pesquisadoresas tecircm interesse por questotildees que relacionam educaccedilatildeo

ECTS e linguagem Ali tambeacutem satildeo investigados aspectos da Anaacutelise

de Discurso (AD) francesa sobretudo do filoacutesofo francecircs Michel

Pecirccheux (1938-1983) Nessa imersatildeo pude compreender que para a AD

o sujeito assume determinadas posiccedilotildees e manteacutem uma relaccedilatildeo com o

mundo De modo que a maneira como ele eacute visto e como se vecirc estaacute

vinculada a certa posiccedilatildeo ideoloacutegica

Sem explorar o rico referencial da AD considero o seu sujeito

que estaacute imerso em relaccedilotildees e vinculado agrave ideologia Assim nesta tese

com meu foco em estudantes dos CTIEM meu paracircmetro eacute o ser

humano Como afirma Severino (1994) entendo o ser humano como

entidade histoacuterica influenciado pelas condiccedilotildees objetivas de sua

existecircncia ao mesmo tempo em que atua sobre elas por meio de sua

praacutexis27 Reconheccedilo o sujeito tanto em sua subjetividade (como produtor

e transformador de sentidos) quanto imerso nos contextos soacutecio-

histoacutericos vivenciados

realismo realismo criacutetico e modelo dialeacutetico respectivamente nas seguintes

referecircncias utilizadas na ECT HESSEN J Teoria do Conhecimento Satildeo

Paulo Martins Fontes 2003 SCHAFF A Histoacuteria e Verdade Satildeo Paulo

Martins Fontes 1995 BECKER F Modelos pedagoacutegicos e modelos

epistemoloacutegicos In SILVA L H AZEVEDO JC (Org) A paixatildeo de

aprender II Petroacutepolis Vozes 1995 27 Sem entrar no debate acerca da possiacutevel ambiguidade do conceito quando

tratado particularmente por Marx e Engels na obra ldquoA ideologia alematilderdquo

(MARX ENGELS 1982) considero a posiccedilatildeo de Castoriadis (1986) quando

esse autor afirma que a praacutexis eacute o fazer no qual ldquoo outro ou os outros satildeo

visados como seres autocircnomos () Existe na praacutexis um por fazer mas esse por

fazer eacute especiacutefico eacute precisamente o desenvolvimento da autonomia () (p 94)

A praacutexis eacute entendida aqui portanto de modo geral como praacutetica humana que

tende a criar condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave existecircncia da sociedade agraves atividades

materiais agrave produccedilatildeo (SEVERINO 1994)

55

Contudo a ideia eacute a de que esse sujeito a que me refiro natildeo

apareccedila em minhas anaacutelises do capiacutetulo 3 de maneira abstrata e

homogecircnea Busco representar a diversidade sem perder de vista a

unicidade Minha intenccedilatildeo eacute a de que as pluralidades e diferenccedilas

poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero possam emergir

sensivelmente Pois concordo com Santos (2014) quando a autora

afirma que a ciecircncia tem gecircnero e aponta a necessidade de

problematizaccedilatildeo de determinaccedilotildees essencialistas no que diz respeito

sobretudo a questotildees de gecircnero

Assim considero osas estudantes dentro de minhas perspectivas

teoacutericas como sujeitos ativos e integrados (natildeo acomodados) na

construccedilatildeo de conhecimentos e em busca permanente de

conscientizaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica Essa minha percepccedilatildeo tem base

no educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) que pensa em sujeitos

ldquointerferidoresrdquo (homem Sujeito) imersos em relaccedilotildees que os integram

aos seus contextos (FREIRE 1983)

Ao avaliar possibilidades de transformar sentidos sobre

tecnologia tendo em vista processos educacionais penso que considerar

a capacidade de integraccedilatildeo dos sujeitos seja fundamental ldquoA integraccedilatildeo

resulta da capacidade de ajustar-se agrave realidade acrescida da de

transformaacute-la a que se junta a de optar cuja nota fundamental eacute a

criticidaderdquo (FREIRE 1983 p 42) Esse sujeito (com identidades

poliacutetica religiosa eacutetnico-racial e de gecircnero) integrado ativo criacutetico

seria capaz de alterar a realidade soacutecio-histoacuterica que lhe eacute apresentada

Seria portanto um sujeito autor que constitui uma base das relaccedilotildees

entre educaccedilatildeo e tecnologia que busco examinar

12 EDUCACcedilAtildeO

Natildeo pretendo tratar educaccedilatildeo e tecnologia como abstraccedilotildees mas

como produccedilotildees soacutecio-histoacutericas complexas e que podem ser localizadas

geograacutefica e temporalmente Penso no contexto educacional brasileiro

no iniacutecio da segunda deacutecada do seacuteculo XXI Considero com isso as

intencionalidades dos sujeitos do conhecimento (envolvidos em

processos educacionais) a historicidade temporalidade e contradiccedilotildees

das teorias tecnoloacutegicas e educacionais e uma perspectiva natildeo

determinista da tecnologia28 no desenvolvimento econocircmico e social

28 Meu posicionamento em relaccedilatildeo agrave tecnologia seraacute exposto no segundo

capiacutetulo desta tese

56

Trato aqui de uma reflexatildeo sobre a educaccedilatildeo como aacuterea no qual o

cenaacuterio sociopoliacutetico brasileiro estaacute expresso com suas contradiccedilotildees

desigualdades preconceitos e tambeacutem suas virtualidades Assim como

a filoacutesofa brasileira Marilena Chauiacute e o filoacutesofo huacutengaro Istvaacuten

Meacuteszaacuteros compreendo a educaccedilatildeo como atividade social permanente e

inseparaacutevel do processo de formaccedilatildeo humana Meacuteszaacuteros (2008) aponta

ainda que ldquosem um progressivo e consciente intercacircmbio com processos

de educaccedilatildeo abrangentes como lsquoa nossa proacutepria vidarsquo a educaccedilatildeo

formal natildeo pode realizar as suas muito necessaacuterias aspiraccedilotildees

emancipadoras rdquo (p 59 grifos do autor)

Brandatildeo (1995) lembra-nos de que a educaccedilatildeo existe de muitos

modos sendo que alguns desses podem ter como princiacutepio a

transformaccedilatildeo A educaccedilatildeo como algo que envolve um movimento de

transformaccedilatildeo interna de uma condiccedilatildeo de saber a outra condiccedilatildeo de

saber ou ainda agrave compreensatildeo do outro de si mesmo da realidade do

tempo presente e da cultura acumulada (CHAUIacute 2003) de modo geral

pode ser entendida segundo uma concepccedilatildeo problematizadora ou

dialoacutegica (FREIRE 1987) Isso implicaria numa atuaccedilatildeo cidadatilde dos

sujeitos com ela envolvidos tendo em vista as possibilidades de

transformaccedilatildeo desses sujeitos e da sociedade

Tal transformaccedilatildeo pode ser encontrada em Meacuteszaacuteros (2008)

quando esse declara tal qual Freire (1987) que educar natildeo eacute transferir

conhecimentos (JINKINGS 2008) e sustenta que a educaccedilatildeo (como

conscientizaccedilatildeo e testemunho de vida) deve ser permanente e contiacutenua

para poder ser assim chamada Para ele

Sim ldquoa aprendizagem eacute a nossa proacutepria vidardquo

como Paracelso afirmou haacute cinco seacuteculos e

tambeacutem muitos outros que seguiram seu caminho

mas que talvez nunca tenham sequer ouvido seu

nome Mas para tornar essa verdade algo oacutebvio

como deveria ser temos de reivindicar uma

educaccedilatildeo plena para toda a vida para que seja

possiacutevel colocar em perspectiva a sua parte

formal a fim de instituir tambeacutem aiacute uma reforma

radical Isso natildeo pode ser feito sem desafiar as

formas atualmente dominantes de internalizaccedilatildeo

fortemente consolidadas a favor do capital pelo

proacuteprio sistema educacional formal (MEacuteSZAacuteROS

2008 p 55 grifo do autor)

57

Ao abordar as perspectivas de uma educaccedilatildeo para aleacutem do

capital o autor condena propostas apenas reformistas Para ele deveria

haver uma alteraccedilatildeo fundamental em todo o sistema de internalizaccedilatildeo29

Em termos de educaccedilatildeo seria necessaacuteria uma alternativa concreta e

abrangente Contudo Meacuteszaacuteros (2008) compreende que a tarefa

histoacuterica enfrentada eacute ldquoincomensuravelmente maior que a negaccedilatildeo do

capitalismo O conceito para aleacutem do capital eacute inerentemente concreto

Ele tem em vista a realizaccedilatildeo de uma ordem social metaboacutelica que

sustente concretamente a si proacutepriardquo (p 62 grifos do autor)

Acredito haver aqui um ponto de convergecircncia entre Meacuteszaacuteros

(2008) e Paulo Freire (1987) pois os dois autores fazem uma criacutetica agrave

educaccedilatildeo capitalista

121 Paulo Freire e autonomia

Meu interesse pelo pensamento de Paulo Freire vai ao encontro

de uma tendecircncia nacional de crescimento de utilizaccedilatildeo de suas obras

em pesquisas acadecircmicas Ao analisarem poliacuteticas de curriacuteculo sob um

ponto de vista freireano Saul e Silva (2012) fizeram um levantamento

no banco de dados da Capes e verificaram a existecircncia de 228 registros

de teses que utilizaram o referencial freireano entre os anos 1987 e

2010 O total de registros para esse periacuteodo com dissertaccedilotildees chega a

1441 pesquisas Portanto mesmo que examinado de maneira pontual e

dentro de um quadro teoacuterico diverso considero que o pensamento

freireano ao qual faccedilo referecircncia colabora fundamentalmente com as

perspectivas criacuteticas aqui apontadas

Ao analisar a criacutetica de Freire (1987) agrave educaccedilatildeo capitalista

(educaccedilatildeo bancaacuteria educaccedilatildeo do opressor) podemos compreender (de

modo simplificado) a educaccedilatildeo bancaacuteria e examinar relaccedilotildees entre

educadora e educandoa A accedilatildeo doa primeiroa se dividiria em um

momento inicial de aquisiccedilatildeo de conhecimentos e em seguida ocorreria

uma narraccedilatildeo dessa primeira accedilatildeo aaos educandasos Essases por sua

vez copiariam ou arquivariam o que ouviram Essas accedilotildees deixam

educadora e educandoa em situaccedilotildees bem definidas De modo que oa

educadora seria uma saacutebioa detentora de conhecimentos e oa

educandoa seria aquelea que natildeo sabe (FREIRE 1987)

29 De modo abreviado essa internalizaccedilatildeo corresponderia a que os sujeitos

adotassem como suas as metas de reproduccedilatildeo do sistema capitalista Algo que a

educaccedilatildeo sob o domiacutenio do capital se proporia a fazer

58

Freire (1987) explica porque natildeo pode ser produzido

conhecimento nesse processo

Natildeo pode haver conhecimento pois os educandos

natildeo satildeo chamados a conhecer mas a memorizar o

conteuacutedo narrado pelo educador Natildeo realizam

nenhum ato cognoscitivo uma vez que o objeto

que deveria ser posto como incidecircncia de seu ato

cognoscente eacute posse do educador e natildeo

mediatizador da reflexatildeo criacutetica de ambos A

praacutetica problematizadora pelo contraacuterio natildeo

distingue estes momentos no quefazer do

educador-educando Natildeo eacute sujeito cognoscente em

um e sujeito narrador do conteuacutedo conhecido em

outro Eacute sempre um sujeito cognoscente quer

quando se prepara quer quando se encontra

dialogicamente com os educandos (FREIRE

1987 p 69 grifo do autor)

Portanto na loacutegica da educaccedilatildeo bancaacuteria um lado educaria e

agiria (seria sujeito) enquanto o outro lado seria educado e passivo

(seria objeto) Este uacuteltimo seria um depoacutesito reservado a arquivar

informaccedilotildees com possibilidades tolhidas de desenvolver consciecircncia

criacutetica e libertar-se de situaccedilotildees de opressatildeo A educaccedilatildeo bancaacuteria como

praacutetica de dominaccedilatildeo condicionaria os sujeitos agrave adaptaccedilatildeo agrave realidade

social dada Isso destituiria o homem como sujeito ativo e livre para

optar

Essa concepccedilatildeo bancaacuteria da educaccedilatildeo que foi brevemente

examinada eacute um exemplo de educaccedilatildeo antidialoacutegica Acima apontei

uma perspectiva de educaccedilatildeo problematizadora ou dialoacutegica A

dialogicidade em Freire (2013) seria algo como uma exigecircncia

epistemoloacutegica Pois a construccedilatildeo da autonomia passaria pela

conscientizaccedilatildeo30 pelo esforccedilo de conhecimento criacutetico dos obstaacuteculos

que impedem a transformaccedilatildeo do mundo (FREIRE 2011) Tal

conscientizaccedilatildeo dependeria da relaccedilatildeo consciecircncia-mundo (o sujeito se

30 Freire (1980) lembra-nos de que o homem eacute o uacutenico ser vivo que conseguiria

tomar distacircncia do mundo em uma visatildeo em perspectiva para justamente

conseguir uma aproximaccedilatildeo maior e conhececirc-lo Esse movimento eacute uma tomada

de consciecircncia mas para ser conscientizaccedilatildeo deve existir em uma praacutexis

Assim a conscientizaccedilatildeo seria uma posiccedilatildeo criacutetica assumida pelo sujeito

59

constitui em sua subjetividade pela consciecircncia do mundo e do outro) e

implicaria transformaccedilatildeo do mundo

O diaacutelogo seria o proacuteprio movimento que constituiria a

consciecircncia (do mundo) o encontro de sujeitos para ldquoser maisrdquo

(FREIRE 1987) Nessa praacutetica dialoacutegica o sujeito poderia construir sua

autonomia Brandatildeo (1981) reforccedila que na perspectiva freireana o

diaacutelogo eacute fundamental ldquoeacute o sentimento do amor tornado accedilatildeo

(BRANDAtildeO 1981 p 103) E nisso o autor explicita as relaccedilotildees entre

sujeitos natureza e trabalho no diaacutelogo freireano

A relaccedilatildeo entre sujeitos e natureza ocorreria pelo diaacutelogo e nela o

mundo seria transformado e a histoacuteria aconteceria Em outro momento

do mesmo diaacutelogo ocorreriam as relaccedilotildees entre os sujeitos na natureza e

pelo trabalho O trabalho natildeo eacute uma relaccedilatildeo entre o homem e a

natureza O trabalho eacute uma relaccedilatildeo entre os homens atraveacutes da natureza

(BRANDAtildeO 1981 p 104) Assim como em Meacuteszaacuteros (2008) e como

mostrarei adiante na perspectiva de ensino politeacutecnico o trabalho seria

algo fundamental nas relaccedilotildees entre os sujeitos aiacute incluiacutedos os

processos educacionais fundamentalmente

Uma educaccedilatildeo contra a proposta bancaacuteria seria portando

essencialmente dialoacutegica problematizadora e tentaria promover a

autonomia do sujeito educando Esse teria noa educadora um sujeito

que faz parte de seu processo de formaccedilatildeo A contradiccedilatildeo educadora

(sujeito) ndash educandoa (objeto) seria superada A educaccedilatildeo

problematizadora seria entatildeo possiacutevel com a superaccedilatildeo da contradiccedilatildeo

entre educadora e educandosas e dentro do diaacutelogo E isso faz sentido

ao examinarmos a famosa constataccedilatildeo freireana de que

Jaacute agora ningueacutem educa ningueacutem como tampouco

ningueacutem se educa a si mesmo os homens se

educam em comunhatildeo mediatizados pelo mundo

Mediatizados pelos objetos cognosciacuteveis que na

praacutetica ldquobancaacuteriardquo satildeo possuiacutedos pelo educador

que os descreve ou os deposita nos educandos

(FREIRE 1987 p 69)

Em sua proposta dialoacutegica Freire (1987) ainda demonstra

preocupaccedilatildeo com um entendimento restrito sobre a educaccedilatildeo que a desvinculasse de sua inter-relaccedilatildeo com os sujeitos ldquoem suas culturas

vivendo suas vidasrdquo (BRANDAtildeO 1995) E desse modo propotildee um

processo de ensino que possibilite a construccedilatildeo de condiccedilotildees para que os

sujeitos possam ser todos seres para si tendo em vista uma educaccedilatildeo

60

que possibilite a construccedilatildeo de uma realidade social aberta agrave autonomia

desses sujeitos Tal abertura agrave autonomia tem relaccedilatildeo com mobilizaccedilatildeo para a

curiosidade e a criticidade e contra memorizaccedilotildees mecacircnicas Pressupotildee

a compreensatildeo da mutabilidade e historicidade do conhecimento tendo

em vista a inexistecircncia de conhecimento absoluto Com isso Freire

(2011) destaca a importacircncia de estarmos abertos31 tanto para

conhecermos o que jaacute foi produzido quanto para produzirmos novos

conhecimentos Mas essa abertura chamada de curiosidade natildeo deveria

ser algo ingecircnuo (baseada apenas na experiecircncia) e sim uma

curiosidade epistemoloacutegica (FREIRE 2011) criacutetica

Segundo o autor deveria haver a superaccedilatildeo da ingenuidade para

chegar agrave criticidade32 atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia Pois natildeo

haveria possibilidades para autonomia segundo visotildees ingecircnuas do

mundo sem criticidade Nesse processo a curiosidade se relaciona com

a criatividade sendo a primeira condiccedilatildeo para a segunda Essa relaccedilatildeo

integraria as condiccedilotildees para tanto conhecermos o que do mundo natildeo

fizemos quanto nele acrescentarmos nossa produccedilatildeo (FREIRE 2011)

Para finalizar a contribuiccedilatildeo do pensamento freireano

fundamentalmente na questatildeo da autonomia no que penso sobre

educaccedilatildeo no contexto nacional atual (que pode ser relacionado com TS)

trago sua perspectiva acerca do ensino tecnicista Para o autor o ensino

teacutecnico-cientiacutefico eacute necessaacuterio poreacutem natildeo eacute suficiente para a construccedilatildeo

da autonomia Tambeacutem seria necessaacuteria uma formaccedilatildeo eacutetica e esteacutetica

Pois ao compreendermos que fazemos o mundo a partir de nossa

liberdade temos um compromisso eacutetico que se relaciona com a esteacutetica

pois temos liberdade de construir beleza e feiura Contudo essa

formaccedilatildeo eacute muitas vezes preterida em nome de treinamentos puramente

teacutecnicos e isso diminuiria o caraacuteter formador da educaccedilatildeo (FREIRE

2011)

Com isso eacute possiacutevel perceber que na perspectiva freireana a

educaccedilatildeo envolve um movimento dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre

o fazer entre ingenuidade e criticidade Nesse processo a integraccedilatildeo

(comunhatildeo) entre educandoa e educadora e a curiosidade seriam

31 Ao verificar a premissa do autor de que a educaccedilatildeo para a autonomia soacute eacute

possiacutevel nessas condiccedilotildees de possibilidades posso considerar relaccedilotildees entre a

educaccedilatildeo para a autonomia e a autoria em processos educacionais como

destacarei adiante 32 Voltarei a essa questatildeo ao considerar os princiacutepios de estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo no ensino de Sociologia

61

fundamentais De acordo com o autor a curiosidade eacute parte do ser

humano e o conhecimento comeccedila por ela e pelas perguntas (FREIRE

FAUNDEZ 1986) Entretanto como jaacute mencionei para ele eacute necessaacuteria

a superaccedilatildeo da curiosidade ingecircnua para uma curiosidade

epistemoloacutegica Algo que poderia ser realizado com reflexatildeo criacutetica que

visaria a autonomia

Em conjunto com uma educaccedilatildeo voltada agrave autonomia penso em

processos educacionais que possibilitem emancipaccedilatildeo social Podemos

considerar autonomia e emancipaccedilatildeo33 como intimamente relacionadas

Nesse sentido trago abaixo uma perspectiva que acredito poder fazer

essa relaccedilatildeo no que diz respeito agrave educaccedilatildeo

122 Theodor Adorno e emancipaccedilatildeo social

O tema da emancipaccedilatildeo social eacute constantemente debatido

sobretudo nas Ciecircncias Humanas Nessa aacuterea de conhecimento uma

definiccedilatildeo usual pode ser encontrada em Cattani

O conceito de emancipaccedilatildeo social designa o

processo ideoloacutegico e histoacuterico de liberaccedilatildeo por

parte de comunidades poliacuteticas ou de grupos

sociais da dependecircncia tutela e dominaccedilatildeo nas

esferas econocircmicas sociais e culturais

Emancipar-se significa livrar-se do poder exercido

por outros conquistando ao mesmo tempo a

plena capacidade civil e cidadatilde no Estado

33 O filoacutesofo alematildeo Juumlrgen Habermas tem uma contribuiccedilatildeo importante nos

estudos sobre a emancipaccedilatildeo com a Teoria da Accedilatildeo Comunicativa Embora essa

natildeo seja exatamente examinada nesta tese destaco que para Habermas (1989) a

emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo voltada para o entendimento o que faz com

que ela seja possiacutevel quando ocorre a expansatildeo dos processos de accedilatildeo

comunicativa que se fundamentam necessariamente na capacidade da

humanidade de alcanccedilar consensos racionais atraveacutes do processo de

argumentaccedilatildeo O autor considera que a emancipaccedilatildeo significa autonomia do

sujeito e diz respeito a um tipo especial de auto-experiecircncia relativa agrave

intersubjetividade na qual os processos de auto-entendimento se entrecruzam

com um ganho de autonomia (HABERMAS 1993) Portanto eacute possiacutevel

compreender que para Habermas (1989) a emancipaccedilatildeo pressupotildee uma accedilatildeo

voltada para o entendimento o que faz com que ela seja possiacutevel quando ocorre

a expansatildeo dos processos de accedilatildeo comunicativa que se fundamentam

necessariamente na capacidade da humanidade de alcanccedilar consensos racionais

atraveacutes do processo de argumentaccedilatildeo

62

democraacutetico de direito Emancipar-se denota

ainda aceder agrave maioridade de consciecircncia

entendendo-se por isso a capacidade de conhecer

e reconhecer as normas sociais e morais

independentemente de criteacuterios externos impostos

ou equivocadamente apresentados como naturais

(2009 p 175)

A partir dessa definiccedilatildeo considero uma perspectiva

emancipatoacuteria que pressuponha o exerciacutecio criacutetico e reflexivo da

razatildeo34 tendo em vista processos educacionais enquanto possibilidades

de superaccedilatildeo das formas de dominaccedilatildeo vigentes Nesse aspecto acredito

que algumas reflexotildees do filoacutesofo alematildeo Theodor Adorno (1903-

1969) podem contribuir

Assim como Paulo Freire Adorno possui uma obra vasta e

teoricamente densa na qual destacam-se preocupaccedilotildees com a liberdade

humana Para buscarmos relaccedilotildees mais pontuais de seus trabalhos com a

temaacutetica educacional atual eacute importante compreendermos ao menos dois

pontos intimamente interligados O primeiro deles diz respeito a suas

criacuteticas agrave induacutestria cultural e o segundo ao seu contexto sociopoliacutetico

Em relaccedilatildeo a esse destaco que Adorno viveu e produziu tendo a

Segunda Guerra Mundial no seu horizonte35 Portanto questotildees sobre

barbaacuterie (do nazismo e de Estados totalitaacuterios) a personalidade

autoritaacuteria a racionalidade teacutecnica e possibilidades de emancipaccedilatildeo

humana satildeo relacionadas a essas suas vivencias

Juntamente com seu compatriota e colega o filoacutesofo Max

Horkheimer (1895-1973) Adorno eacute considerado membro fundamental

da chamada Escola de Frankfurt cujos conjuntos de trabalhos satildeo

conhecidos como Teoria Criacutetica36 A Escola teve seu desenvolvimento

34 Natildeo entrarei na discussatildeo filosoacutefica acerca dos sentidos do termo ldquorazatildeordquo

Minha referecircncia nesse momento eacute a criacutetica que Adorno e Horkheimer (1985)

fazem agrave ideia de razatildeo originaria do Iluminismo que visava agrave emancipaccedilatildeo dos

sujeitos e ao progresso social mas terminou por levar a uma maior dominaccedilatildeo

desses sujeitos em virtude do desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial Para

esses autores o problema estava na razatildeo controladora e instrumental que

busca sempre a dominaccedilatildeo tanto da natureza quanto dos sujeitos 35 No ano de 1933 quando Hitler assumiu como chanceler do Terceiro Reich o

autor parte da Alemanha para a Inglaterra e posteriormente para os Estados

Unidos regressando a Frankfurt apenas em 1950 (HORKHEIMER e

ADORNO 1991) 36 Voltarei a examinar a Teoria Criacutetica e a Teoria Criacutetica da Tecnologia (TCT)

no proacuteximo capiacutetulo

63

na Alemanha desde 1924 a partir da criaccedilatildeo do Instituto para a Pesquisa

Social Mas a ideia de uma instituiccedilatildeo permanente sob a forma de um

instituto de investigaccedilatildeo independente surgiu apoacutes a realizaccedilatildeo da

Primeira Semana de Trabalho Marxista em 1922 que pretendia

repensar o marxismo (ASSOUN 1991)

De acordo com Wiggershaus (2002) a Escola pode ser assim

chamada por apresentar os seguintes elementos um quadro

institucional pensadores influentes um manifesto um novo paradigma

e uma revista Portanto Escola de Frankfurt Instituto para a Pesquisa

Social e Teoria Criacutetica estatildeo relacionados embora natildeo sejam uma

unidade e guardem suas especificidades (WIGGERSHAUS 2002) Isso

eacute importante para compreendermos o pensamento de Adorno em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo que iniciam com o exame da induacutestria

cultural

A induacutestria cultural eacute um tema fundamental para tratarmos da

educaccedilatildeo no autor pois ele via aquela como a impeditiva da

possibilidade humana de agir com autonomia O termo foi utilizado pela

primeira vez no ano de 1947 no livro ldquoDialeacutetica do Esclarecimento

fragmentos filosoacuteficosrdquo escrito em coautoria com Horkheimer Nele os

autores destacam como a consciecircncia humana pode ser dominada pela

comercializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo dos bens culturais

Sob o poder do monopoacutelio toda cultura de massas

eacute idecircntica e seu esqueleto a ossatura conceitual

fabricada por aquele comeccedila a se delinear Os

dirigentes natildeo estatildeo mais sequer muito

interessados em encobri-lo seu poder se fortalece

quanto mais brutalmente ele se confessa de

puacuteblico O cinema e o raacutedio natildeo precisam mais se

apresentar como arte A verdade de que natildeo

passam de um negoacutecio eles a utilizam como uma

ideologia destinada a legitimar o lixo que

propositalmente produzem Eles se definem a si

mesmos como induacutestrias e as cifras publicadas

dos rendimentos de seus diretores gerais

suprimem toda duacutevida quanto agrave necessidade social

de seus produtos (ADORNO HORKHEIMER

1985 p 100)

O termo induacutestria cultural substitui o entatildeo usual cultura de

massa que poderia deixar margens para que se acreditasse que existiria

64

alguma cultura surgindo das massas naquela escala industrial que eles

verificavam

O autor esclarece que quando um bem cultural eacute vendido

juntamente com um carro de luxo por exemplo esse bem perde

capacidade de despertar reflexotildees e indagaccedilotildees no sujeito O que

ocorreria nessa situaccedilatildeo seria uma distraccedilatildeo do sujeito enquanto ele

recebe uma grande quantidade de informaccedilotildees atraveacutes dos meios de

comunicaccedilatildeo como em uma propaganda para vender um carro luxuoso

(ADORNO HORKHEIMER 1985) Pois a induacutestria cultural enquanto

meio de ideologizaccedilatildeo natildeo vende apenas mercadorias mas ideias e

opiniotildees

Nesse processo ficaria comprometida a capacidade criacutetica e a

autonomia dos sujeitos A induacutestria cultural se utilizaria da distraccedilatildeo

para que os sujeitos venham a esquecer a opressatildeo vivida e tenham foco

em temas irrelevantes (alienaccedilatildeo) Nesse sentido Adorno (1995)

apresenta sua criacutetica ao modelo de educaccedilatildeo voltada para a adaptaccedilatildeo e

passividade das massas Algo que Freire (1983) e Meacuteszaacuteros (2008) a

seus tempos e em seus contextos tambeacutem criticaram

Mesmo que o autor trate da educaccedilatildeo alematilde de sua eacutepoca

(pessimista devido a barbaacuterie dos campos de concentraccedilatildeo nazistas37)

sua criacutetica eacute atual e pertinente a paiacuteses do Sul pois demonstra

contradiccedilotildees que vivenciamos atualmente na educaccedilatildeo segundo um

sistema de produccedilatildeo capitalista Aleacutem disso penso em uma leitura de

Adorno tendo em vista sobretudo a induacutestria cultural de modo a

problematizar possibilidades de colonizaccedilatildeo das condiccedilotildees

emancipatoacuterias (atenccedilatildeo agrave reproduccedilatildeo de discursos sexistas racistas e

homofoacutebicos por exemplo)

Adorno (1995) considera que a educaccedilatildeo teria um poder de

resistecircncia Suas criacuteticas ao sistema educacional evidenciam a relevacircncia

que o autor daacute ao tema Ele pensa em educaccedilatildeo como formaccedilatildeo

dinacircmica integrando conhecimentos em ciecircncias humanidades e artes

tendo em vista uma vivecircncia democraacutetica (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-

OLIVEIRA 2008)

Nas suas palavras

37 A importacircncia desse contexto de barbaacuterie em Adorno (1995) eacute destacada em

sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ldquoOra a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo de Adorno objetiva

exatamente criticar essa sociedade que potencialmente carrega dentro de si o

retorno da barbaacuterierdquo (ZUIN PUCCI RAMOS-DE-OLIVEIRA 2008 p 119)

65

A seguir e assumindo o risco gostaria de

apresentar minha concepccedilatildeo inicial de educaccedilatildeo

Evidentemente natildeo a assim chamada modelagem

de pessoas porque natildeo temos o direito de modelar

pessoas a partir de seu exterior mas tambeacutem natildeo a

mera transmissatildeo de conhecimentos cuja

caracteriacutestica de coisa morta jaacute foi mais do que

destacada mas a produccedilatildeo de uma consciecircncia

verdadeira Isso seria inclusive da maior

importacircncia poliacutetica sua ideia se eacute permitido

dizer assim eacute uma exigecircncia poliacutetica Isto eacute uma

democracia com o dever de natildeo apenas funcionar

mas operar conforme seu conceito demanda

pessoas emancipadas Uma democracia efetiva soacute

pode ser imaginada enquanto uma sociedade de

quem eacute emancipado (ADORNO 1995 p 141-

142 grifos do autor)

A educaccedilatildeo natildeo sendo inconsciente aparece portanto

relacionada tanto com uma tarefa poliacutetica (como nos trabalhos de Paulo

Freire) quanto como experiecircncia emancipatoacuteria Nesse aspecto e

brevemente destaquei pontos importantes para compreendermos

possibilidades de emancipaccedilatildeo social (possibilidade de criacutetica agrave situaccedilatildeo

de vulnerabilidade vivida) atraveacutes de processos educacionais Com

pontos em comum os dois autores que satildeo considerados a seguir

apresentam propostas efetivas de ensino segundo algumas perspectivas

gerais vistas ateacute agora

123 Antonio Gramsci e a escola unitaacuteria

Um sentido poliacutetico e emancipatoacuterio da educaccedilatildeo tambeacutem pode

ser analisado em alguns pontos especiacuteficos nas perspectivas do filoacutesofo

italiano Antonio Gramsci (1891-1937) Meacuteszaacuteros (2008) destaca a

posiccedilatildeo democraacutetica de Gramsci com seu resgate do sentido estruturante

da educaccedilatildeo e de sua relaccedilatildeo com o trabalho Relaccedilatildeo que tambeacutem pode

ser encontrada em Adorno (1995) que assim como Gramsci destaca a

possibilidade emancipatoacuteria da educaccedilatildeo

A autonomia e a conscientizaccedilatildeo em Freire (1980 1983 2011)

tambeacutem podem ser vistas na resistecircncia agrave ideologia dominante

(hegemonia) analisada por Gramsci Portanto guardando as

especificidades de cada posiccedilatildeo teoacuterica especiacutefica Gramsci pode

dialogar com os autores tratados anteriormente no sentido de buscar um

66

rompimento com a loacutegica do capital E sua atualidade e relevacircncia no

contexto educacional em um paiacutes do Sul tambeacutem vai nessa direccedilatildeo

Eacute possiacutevel compreender o pensamento de Gramsci em relaccedilatildeo agrave

educaccedilatildeo a partir de sua proposta de integraccedilatildeo entre educaccedilatildeo trabalho

e cultura Nessa integraccedilatildeo um aspecto fundamental eacute a questatildeo da

hegemonia38 Para Gramsci (1982) a educaccedilatildeo estaria relacionada tanto

com a hegemonia quanto com a contra hegemonia A primeira teria

respaldo natildeo apenas no Estado mas tambeacutem na esfera privada sendo

que o modo segundo o qual a escola se organiza contribuiria para a

consolidaccedilatildeo da hegemonia que seria exercida essencialmente em niacutevel

da cultura e da ideologia (GRAMSCI 1982) Mas nesse ambiente

tambeacutem seriam formados sujeitos que auxiliariam na formaccedilatildeo de contra

hegemonia

Gramsci investiga a educaccedilatildeo tendo o sistema de ensino italiano

de sua eacutepoca como paracircmetro e o projeto da pedagoga russa Nadežda

Krupskaia39 (1869-1939) para a revisatildeo da educaccedilatildeo na Ruacutessia (desde a

Revoluccedilatildeo Russa de 1917) em mente A partir dessa anaacutelise e em

contrapartida ao dualismo (humanista x profissional) verificado na

escola italiana ele apresenta sua proposta de escola unitaacuteria Essa que

teria caraacuteter puacuteblico seria uacutenica de cultura geral e integrativa de

capacidades manuais e intelectuais

O advento da escola unitaacuteria significa o iniacutecio de

novas relaccedilotildees entre trabalho intelectual e trabalho

industrial natildeo apenas na escola mas em toda a

vida social O princiacutepio unitaacuterio por isso refletir-

se-aacute em todos os organismos de cultura

transformando-os e emprestando-lhes um novo

conteuacutedo (GRAMSCI 1982 p 125)

Portanto na escola unitaacuteria poderiam se iniciar as novas relaccedilotildees

entre trabalho intelectual e trabalho manual para aleacutem dessa e que

38 De modo simplificado podemos compreender a questatildeo da hegemonia em

Gramsci conforme explica Sassoon (1996) segundo a qual hegemonia indica

ldquoo princiacutepio organizador de uma sociedade na qual uma classe se impotildee sobre

as outras natildeo apenas atraveacutes da forccedila mas tambeacutem mantendo a sujeiccedilatildeo da

massa da populaccedilatildeordquo (p 350) e essa sujeiccedilatildeo considera a influecircncia no modo

como os sujeitos pensam 39 Conforme Manacorda (2013) o documento de Krupskaia eacute uma indicaccedilatildeo

expliacutecita e direta do modelo de escola unitaacuteria (escola uacutenica do trabalho) que

Gramsci ldquotem presente de forma constante em suas reflexotildeesrdquo (p 170)

67

seguiriam na vida social (GONZALES 1996) Uma questatildeo importante

na integraccedilatildeo do mundo da cultura com o mundo do trabalho eacute a de que

os trabalhadores sejam sujeitos intelectualmente ativos com acesso aos

conhecimentos e subsiacutedios para o desenvolvimento de atividades

culturais (GONZALES 1996)

Nessa escola unitaacuteria haveria tambeacutem uma preocupaccedilatildeo com o

desenvolvimento da criatividade Sua proposta apresentava vaacuterias fases

na escola e a uacuteltima delas ldquojaacute deve contribuir para desenvolver o

elemento de responsabilidade autocircnoma nos indiviacuteduos deve ser uma

escola criadorardquo (GRAMSCI 1982 p 124) Contudo natildeo haacute aiacute a ideia

de uma escola de ldquoinventores e descobridoresrdquo (GRAMSCI 1982) mas

um meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento (cujo domiacutenio indica

maturidade intelectual) que pressupotildee inter-relaccedilatildeo entre educadora e

educandoa e no qual essea tem papel ativo e independente

Meu uacuteltimo apontamento sobre as reflexotildees de Gramsci em

relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo se refere a ideia de omnilateralidade Essa

concepccedilatildeo que diz respeito agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos atraveacutes do

trabalho seraacute tratada com mais detalhes em Marx a seguir Contudo

destaco que Gramsci considera que a base da cultura da educaccedilatildeo e da

escola seria a praacutetica produtiva do trabalho industrial (MANACORDA

2010)

Assim como o pensador alematildeo Karl Marx (1818-1883) Gramsci

privilegia a formaccedilatildeo do sujeito na perspectiva da omnilateralidade

Guardadas as diferenccedilas entre a escola unitaacuteria desse com a politecnia

daquele ambos ponderavam sobre uma educaccedilatildeo voltada agrave preparaccedilatildeo

dos sujeitos na sociedade socialista Desse modo a seguir exponho

algumas consideraccedilotildees sobre princiacutepios educativos em Marx que podem

colaborar com as reflexotildees sobre a educaccedilatildeo na atualidade

124 Karl Marx e a politecnia

O conceito de politecnia surgiu nas obras de Marx em meados do

seacuteculo XIX40 E foi tratado tambeacutem por pensadores como Lecircnin e

Gramsci (MANACORDA 2010) aleacutem de Krupskaia como jaacute

mencionei Conforme Saviani (1987) no contexto em que Marx

comeccedilou a refletir sobre politecnia a escola ainda natildeo era uma

instituiccedilatildeo democratizada mas restrita a classes privilegiadas

40 Entretanto Manacorda (2013) lembra-nos de que Krupskaia havia estudado a

questatildeo e encontrado referecircncias agrave educaccedilatildeo geral politeacutecnica em Lavoisier

Condorcet Rousseau Pestalozzi e Robert Owen

68

Mesmo que Marx juntamente com seu amigo compatriota e

parceiro intelectual Friedrich Engels (1820-1895) natildeo tivesse foco

especificamente na educaccedilatildeo escolar (a politecnia se refere agrave categoria

trabalho central nesses autores41) ele forneceu subsiacutedios para a criacutetica

da influecircncia do capitalismo nesse acircmbito de formaccedilatildeo (criacutetica comum

aos autores apontados acima) Como bem destaca Manacorda (2010 p

33) ldquo() a temaacutetica pedagoacutegica eacute de fato tratada de maneira ocasional

em seus aspectos especiacuteficos mas que acima de tudo estaacute colocada

organicamente no contexto de uma criacutetica rigorosa das relaccedilotildees sociaisrdquo

De modo geral a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxista (ou

marxiana42) de educaccedilatildeo segundo a qual o ser humano deve ser

integralmente desenvolvido em suas potencialidades (princiacutepio da

omnilateralidade) (MANACORDA 2010) Esse desenvolvimento

ocorreria atraveacutes de um processo educacional de totalidade que

proporcionaria formaccedilatildeo cientiacutefica (capacitaccedilatildeo teacutecnica) poliacutetica e

cultural geral (esteacutetica) tendo em vista a libertaccedilatildeo do ser humano Tal

propoacutesito educacional apresentaria as condiccedilotildees necessaacuterias agrave formaccedilatildeo

de seres ldquogeneacutericosrdquo e ldquouniversalizadosrdquo (MARX 1988) de modo que a

razatildeo da existecircncia do trabalhador natildeo poderia ser restrita agraves condiccedilotildees

naturais e agraves possibilidades de produccedilatildeo material (MANACORDA

2010 SILVA 2008)

Eacute importante esclarecer aqui que Marx e Engels (2004) ao

integrarem educaccedilatildeo e trabalho43 consideravam tambeacutem uma

regulaccedilatildeo do trabalho infantil (reduccedilatildeo da jornada e proibiccedilatildeo de

41 Conforme Saviani (2003) na politecnia natildeo existe trabalho manual puro e

nem trabalho intelectual puro sendo que ldquotodo trabalho humano envolve a

concomitacircncia do exerciacutecio dos membros das matildeos e do exerciacutecio mental

intelectual Isso estaacute na proacutepria origem do entendimento da realidade humana

como constituiacuteda pelo trabalhordquo (SAVIANI 2003 p 138) 42 Para Manacorda (2010) a politecnia trata de uma concepccedilatildeo marxiana pois eacute

inerente ao pensamento de Marx 43 Mesmo que brevemente eacute importante destacar as reflexotildees de Marx sobre a

oposiccedilatildeo entre trabalho alienado e trabalho produtivo Gonzales (1996)

esclarece que para Marx o trabalho natildeo seria apenas uma categoria econocircmica

mas tambeacutem e fundamentalmente antropoloacutegica Seria no trabalho que haveria

identificaccedilatildeo entre homem e natureza Daiacute que o trabalho alienado seria uma

atividade que produziria algo exterior produzindo necessidades do mercado e

natildeo do sujeito Ali a produccedilatildeo estaria direcionada para a necessidade de outros

sujeitos e o seu produto natildeo pertenceria ao trabalhador Jaacute o trabalho produtivo

seria uma atividade pela qual o homem desenvolveria a si mesmo seria a

expressatildeo proacutepria do sujeito de suas faculdades fiacutesicas e mentais

69

trabalho noturno) tendo em vista a sauacutede fiacutesica e intelectual desses Ao

fazer uma criacutetica ao emprego fabril de crianccedilas e adolescentes Marx e

Engels (2004 p 60) afirmam que ldquoa sociedade natildeo pode permitir que

pais e patrotildees empreguem no trabalho crianccedilas e adolescentes a menos

que se combine este trabalho produtivo com a educaccedilatildeordquo E essa

preocupaccedilatildeo vinha da percepccedilatildeo de que haveria uma tendecircncia da

induacutestria moderna para incorporar o trabalho de crianccedilas e jovens

Em seguida definem o que entendem por educaccedilatildeo

Por educaccedilatildeo entendemos trecircs coisas Educaccedilatildeo

intelectual Educaccedilatildeo corporal tal como a que se

consegue com os exerciacutecios de ginaacutestica e

militares Educaccedilatildeo tecnoloacutegica que recolhe os

princiacutepios gerais e de caraacuteter cientiacutefico de todo o

processo de produccedilatildeo e ao mesmo tempo inicia

as crianccedilas e os adolescentes no manejo de

ferramentas elementares dos diversos ramos

industriais (MARX ENGELS 2004 p 60)

Nesses termos Marx e Engels (2004) indicam a finalidade de sua

proposta ldquoEsta combinaccedilatildeo de trabalho produtivo pago com a educaccedilatildeo

intelectual os exerciacutecios corporais e a formaccedilatildeo politeacutecnica elevaraacute a

classe operaacuteria acima dos niacuteveis das classes burguesa e aristocraacuteticardquo

(MARX ENGELS 2004 p 60) Como destaca Frigotto (1999) o

princiacutepio educativo do trabalho visaria que o trabalhador tivesse

condiccedilotildees de superar uma visatildeo reducionista e utilitarista do trabalho

dentro de um processo coletivo ldquoorganizado de busca praacutetica de

transformaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais desumanizadoras e portanto

deseducativasrdquo (p 8) E nesse processo o desenvolvimento de

consciecircncia criacutetica seria fundamental

Na leitura que Manacorda (2010) e Silva (2008) fazem de Marx e

Engels a politecnia seria uma base formadora necessaacuteria agrave superaccedilatildeo da

unilateralidade em que o trabalhador estaria mantido em funccedilatildeo da

formaccedilatildeo voltada exclusivamente para a sua capacitaccedilatildeo produtiva Essa

unilateralizaccedilatildeo44 se caracterizaria por uma concepccedilatildeo capitalista na

qual os sujeitos precisariam atualizar suas habilidades teacutecnicas e

produtivas sempre que ocorressem inovaccedilotildees nas formas de produccedilatildeo

44 Silva (2008) destaca que a unilateralizaccedilatildeo eacute o oposto da onilateralizaccedilatildeo

Esta uacuteltima como a universalizaccedilatildeo se caracteriza como o processo que

proporciona a superaccedilatildeo da alienaccedilatildeo pela formaccedilatildeo do sujeito onilateral

atraveacutes da politecnia

70

mas sem alterar as relaccedilotildees de produccedilatildeo (MARX 1988) Assim a

unilateralizaccedilatildeo seria o oposto da universalizaccedilatildeo defendida por Marx e

Engels (MANACORDA 2010)

Em relaccedilatildeo agrave operacionalizaccedilatildeo da proposta de uniatildeo entre

educaccedilatildeo e trabalho Marx ao contraacuterio de Gramsci (1982) natildeo detalha

a implantaccedilatildeo de sua proposta para uma escola pautada nos pressupostos

socialistas Entretanto Rodrigues (2008) descreve que as ideias centrais

de um ensino politeacutecnico satildeo (i) educaccedilatildeo puacuteblica gratuita obrigatoacuteria

e uacutenica para todas as crianccedilas e jovens (ii) combinaccedilatildeo de educaccedilatildeo

(intelectual corporal e tecnoloacutegica) com a produccedilatildeo material para

superar o distanciamento entre essas atividades (iii) formaccedilatildeo onilateral

(multilateral integral) da personalidade e (iv) integraccedilatildeo reciacuteproca da

escola agrave sociedade com o propoacutesito de superar o estranhamento entre as

praacuteticas educativas e as demais praacuteticas sociais

Kuenzer (2013) destaca que a educaccedilatildeo politeacutecnica se refere agrave

integraccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo A ideia seria integrar trabalho

cultura e ciecircncia proporcionar o domiacutenio intelectual da teacutecnica e

articular teoria e praacutetica parte e totalidade disciplinaridade e

transdisciplinaridade O ensino politeacutecnico visaria promover portanto

aprendizagem com significado e assegurar a participaccedilatildeo de estudantes

na sistematizaccedilatildeo dos conhecimentos (KUENZER 2013) Princiacutepios

tambeacutem encontrados nos autores45 que foram vistos ateacute agora

No que diz respeito especificamente ao Brasil essa proposta de

educaccedilatildeo jaacute esteve na pauta de discussotildees pedagoacutegicas e fora dela por

diversas vezes46 Em resumo eacute possiacutevel destacar a iniciativa do filoacutesofo

e pedagogo brasileiro Dermeval Saviani atraveacutes de um curso de

doutorado da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP)

nos anos 1980 que buscou desenvolver uma criacutetica consistente ao

especialismo ao autoritarismo e ao reprodutivismo em educaccedilatildeo assim

como ao marxismo vulgar Segundo Rodrigues (2008) Saviani entendia

45 Destaco principalmente que essas posiccedilotildees vatildeo ao encontro de Freire

(1985) pois educaccedilatildeo se refere a comunicaccedilatildeo e dialogicidade Algo que

exige alteridade Como natildeo haveria transferecircncia (de conhecimentos) a

interlocuccedilatildeo a troca e a criaccedilatildeo de sentidos seriam possiacuteveis Portanto natildeo

haveria espaccedilo para assistencialismo nessa relaccedilatildeo dialoacutegica 46 Em artigo publicado no ano de 2014 examinei a Proposta Pedagoacutegica para o

Ensino Meacutedio Politeacutecnico e Educaccedilatildeo Profissional Integrada ao Ensino Meacutedio

do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (RS) mandato 2011-2014 A ideia

foi compreender modos pelos quais a tecnologia era entendida na proposta

(CORREcircA 2014)

71

que estudar teoria da formaccedilatildeo humana consistia em apreender

concepccedilotildees de homem sociedade e educaccedilatildeo em Marx e Gramsci

Natildeo haacute aqui a intenccedilatildeo de explicitar a trajetoacuteria do ensino

politeacutecnico no Brasil (ou em outros lugares) Contudo de modo geral e

tendo em vista as diferentes perspectivas dosas autoresas47 envolvidos

no debate pedagoacutegico politeacutecnico eacute possiacutevel destacar que a proposta

brasileira de educaccedilatildeo politeacutecnica pode ser caracterizada por trecircs eixos

fundamentais dimensatildeo infraestrutural (reapropriaccedilatildeo do domiacutenio do

trabalho ndash possiacutevel desde as transformaccedilotildees tecnoloacutegicas) dimensatildeo

socialista (ruptura com a educaccedilatildeo estritamente profissionalizante) e

dimensatildeo pedagoacutegica (buscar praacuteticas pedagoacutegicas concretas)

(RODRIGUES 2008)

Sendo assim assinalo que na politecnia o ser humano seria o foco

central e natildeo o mercado de trabalho Tendo em vista que o

conhecimento da realidade histoacuterica e social em dado periacuteodo partiria

das consideraccedilotildees sobre os elementos materiais que a determinariam no

ensino politeacutecnico haveria a busca por uma formaccedilatildeo na qual o

trabalhador pudesse atuar no cenaacuterio poliacutetico e desfrutar do patrimocircnio

cultural produzido pela humanidade (RODRIGUES 2008)48

Saviani (1989 2003) destaca que o sentido de politecnia

envolvido na proposta de ensino politeacutecnico natildeo prevecirc um trabalhador

polivalente que exerce muacuteltiplas funccedilotildees antes se refere ao domiacutenio

dos fundamentos cientiacuteficos das diferentes teacutecnicas que caracterizam o

processo de trabalho produtivo moderno tendo em vista que o

trabalhador possa desenvolver diversas modalidades de trabalho com a

compreensatildeo do seu caraacuteter e da sua essecircncia

Esse autor lembra que mesmo que a politecnia signifique

literalmente muacuteltiplas teacutecnicas esse conceito natildeo se refere agrave totalidade

das diferentes teacutecnicas fragmentadas autonomamente consideradas ldquoSe

a politecnia fosse o conjunto da totalidade das teacutecnicas disponiacuteveis

haveria uma relaccedilatildeo sempre incompleta sempre sujeita a acreacutescimordquo

(SAVIANI 2003 p140) Portanto a educaccedilatildeo politeacutecnica natildeo significa

47 Eacute possiacutevel aprofundar a questatildeo ao verificar autoresas como Acaacutecia Kuenzer

Gaudecircncio Frigotto Joseacute Rodrigues e Luciacutelia Machado entre outros 48 Esses princiacutepios tambeacutem aparecem em Freire (1983) Meacuteszaacuteros (2008) e

Adorno (1995) que criticam modelos de educaccedilatildeo voltadas agrave adaptaccedilatildeo e

passividade sem integraccedilatildeo de conhecimentos

72

absolutamente o ensino de uma multiplicidade de teacutecnicas embora

contenha uma dimensatildeo tecnoloacutegica central em sua perspectiva49

Para finalizar os apontamentos sobre a politecnia destaco a

controveacutersia que existe em relaccedilatildeo agrave qual seria a sua melhor

denominaccedilatildeo As opccedilotildees aqui listadas seriam (i) educaccedilatildeo tecnoloacutegica e

(ii) educaccedilatildeo politeacutecnica Conforme Saviani (2003) em (i) encontramos

uma apropriaccedilatildeo pelo discurso burguecircs hegemocircnico enquanto que em

(ii) ldquoa concepccedilatildeo de politecnia foi preservada na tradiccedilatildeo socialista

sendo uma das maneiras de demarcar esta visatildeo educativa em relaccedilatildeo

agravequela correspondente agrave concepccedilatildeo dominanterdquo (SAVIANI 2003 p

146)

A seguir examino alguns pontos sobre a ECT e a Educaccedilatildeo CTS

de modo que a opccedilatildeo pela educaccedilatildeo politeacutecnica fique delineada

13 ECT E EDUCACcedilAtildeO CTS

A ECT em sentidos gerais se ocupa de processos educacionais

(formais ou natildeo) no que diz respeito a temas em ciecircncia e tecnologia

(ou CampT)50 com consideraccedilatildeo dos contextos nos quais esses processos

se estabelecem Muitos estudos tecircm foco por exemplo (i) nas

implicaccedilotildees sociais da ciecircncia e da tecnologia na educaccedilatildeo (ii) em uma

formaccedilatildeo de professoresas que contemple a contextualizaccedilatildeo do ensino

em temas cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iii) nas formas de socializaccedilatildeo

(divulgaccedilatildeo) dos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos (iv) nas

epistemologias e histoacuterias das Ciecircncias Naturais e da Matemaacutetica (v)

em processos de ensino e aprendizagem em Biologia Quiacutemica Fiacutesica e

Matemaacutetica (vi) nas relaccedilotildees entre miacutedias novas tecnologias de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo e o ensino de ciecircncias e de tecnologia (vii)

em poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica (viii) em estudos focados na anaacutelise

do funcionamento da linguagem (ix) em relaccedilotildees de gecircnero no acircmbito

das ciecircncias e da tecnologia e (x) em relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia

sociedade e ambiente (CTSA) entre outros temas

Conforme Grinspun (2009) a tecnologia envolve um saber que

pode ser adquirido pela teoria praacutetica e pesquisa daiacute a centralidade da

educaccedilatildeo tecnoloacutegica ldquoquer para preparaccedilatildeo de todo aquele que vive em

49 Voltarei ao tema politeacutecnico adiante para analisar suas possibilidades e

limites na investigaccedilatildeo sobre transformaccedilatildeo de sentidos sobre tecnologia atraveacutes

de uma perspectiva criacutetica de TS 50 Uma discussatildeo sobre as nomenclaturas em relaccedilatildeo agrave CampT satildeo feitas no

proacuteximo capiacutetulo

73

sociedades em que a tecnologia estabeleceu-se quer para a formaccedilatildeo de

pessoal habilitado que a crie desenvolva e opererdquo (GRINSPUN 2009

p 17) Mas isso natildeo significaria uma formaccedilatildeo teacutecnica-profissional

antes uma educaccedilatildeo em sentido amplo como formaccedilatildeo humana tendo

em vista responsabilidades frente aos aspectos tecnoloacutegicos da

sociedade como a que aqui defendo

Em termos de educaccedilatildeo baacutesica51 Moll (2010) destaca as relaccedilotildees

entre educaccedilatildeo e tecnologia no ensino profissional e tecnoloacutegico tendo

em vista o caraacuteter poliacutetico da educaccedilatildeo e as potencialidades para que

esse modelo de ensino seja mais uma ferramenta para transformar a

sociedade superando desigualdades sociais econocircmicas culturais e

poliacuteticas Nesse mesmo aspecto e incluindo o termo profissional agrave

educaccedilatildeo tecnoloacutegica concordo com Frigotto (2010) na defesa da

integraccedilatildeo (e natildeo apenas articulaccedilatildeo) da formaccedilatildeo profissional agrave

educaccedilatildeo baacutesica

O estabelecimento de um viacutenculo mais orgacircnico

entre a universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica e a

formaccedilatildeo teacutecnico-profissional implica resgatar a

educaccedilatildeo baacutesica (fundamental e meacutedia) na sua

concepccedilatildeo unitaacuteria e politeacutecnica ou tecnoloacutegica

Portanto trata-se de uma educaccedilatildeo natildeo dualista

que articule cultura conhecimento tecnologia e

trabalho como direito de todos e condiccedilatildeo de

cidadania e democracia efetivas (2010 p 37)

Desse modo articulo minha perspectiva sobre educaccedilatildeo

(politecnia) dentro do quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da

tecnologia na educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS

Lembro que essa uacuteltima eacute uma aacuterea dentro dos ECTS52 Ao

examinaacute-la eacute interessante destacar que de modo geral nos ECTS

quando buscamos estabelecer relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e

sociedade consideramos que ciecircncia e tecnologia satildeo contextuais pois

satildeo desenvolvidas em situaccedilotildees soacutecio-histoacutericas especiacuteficas Nessa

direccedilatildeo Linsingen (2002) aponta que tais relaccedilotildees

51 Voltarei ao tema da educaccedilatildeo baacutesica e profissional no terceiro capiacutetulo 52 Para uma visatildeo histoacuterica e mais esquemaacutetica de classificaccedilotildees dentro dos

chamados enfoques CTS verificar a seguinte referecircncia SANTOS W L P

Significados da educaccedilatildeo cientiacutefica com enfoque CTS In SANTOS W L P

AULER D CTS e educaccedilatildeo cientiacutefica desafios tendecircncias e resultados de

pesquisa Brasiacutelia Editora UnB 2011

74

() natildeo existe agrave margem do proacuteprio contexto

social em que se desenvolve e no qual os

conhecimentos e os artefatos adquirem relevacircncia

e valor Desse modo as imbricaccedilotildees entre ciecircncia

tecnologia e sociedade apresentam uma

complexidade muito maior do que as decorrentes

das relaccedilotildees imaginadas entre campos estanques

que se comunicam mas sem interpenetraccedilatildeo

apontando para uma anaacutelise mais cuidadosa e

abrangente das reciprocidades ao inveacutes da

simples aplicaccedilatildeo da claacutessica relaccedilatildeo linear entra

elas (LINSINGEN 2002 p100)

A complexidade dos ECTS como campo interdisciplinar

tambeacutem pode ser verificada na variedade de perspectivas teoacutericas que o

compotildee Neles perpassam desde estudos construtivistas (TAR e estudos

socioteacutecnicos por exemplo) influenciados pelo Programa Forte na

Sociologia do Conhecimento (BLOOR 2009) ateacute anaacutelises estruturais da

TCT (FEENBERG 1991) herdeira da Escola de Frankfurt

Sendo que Thomas Kuhn Paul Feyerabend David Bloor

Hernaacuten Thomas Ludwik Fleck Rosalba Casas Bruno Latour Mariano

Zukerfeld Pablo Kreimer Michel Callon Hebe Vessuri Karin Knorr-

Cetina Trevor Pinch Wiebe Bijker e Andrew Feenberg satildeo algumas das

referecircncias estrangeiras (de fora do Brasil) entre tantas outras comuns

em todo o campo teoacuterico de anaacutelises (COLLINS 2015 ABRAHAtildeO

2015)

Em relaccedilatildeo aos ECTS latino-americanos Linsingen (2007)

explica que suas reflexotildees abordam as especificidades que se referem agrave

ciecircncia e tecnologia na Ameacuterica Latina e de modo mais abrangente

ibero-americanas Esses estudos que desde meados dos anos 196053

vem contribuindo de modo sistemaacutetico para a ressignificaccedilatildeo da

natureza do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e de suas implicaccedilotildees

socioculturais e socioeconocircmicas podem ser considerados como ldquoum

campo de trabalho de caraacuteter criacutetico com relaccedilatildeo agrave tradicional imagem

53 Nesse contexto desenvolveu-se o chamado Pensamento Latino-americano

sobre Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (PLACTS) que tinha foco na elaboraccedilatildeo

da Poliacutetica de Ciecircncia e Tecnologia (PCT) dos paiacuteses latino-americanos em

contraposiccedilatildeo aos chamados paiacuteses avanccedilados (DAGNINO THOMAS

DAVYT 1996)

75

essencialista da ciecircncia e da tecnologiardquo (CASSIANI LINSINGEN

GIRALDI p 61 2011)

Linsingen (2007) destaca ainda que os ECTS latino-americanos

contestam percepccedilotildees sociais hegemocircnicas da ciecircncia e tecnologia muito

presentes em diferentes campos de conhecimento e com influecircncia nas

poliacuteticas puacuteblicas desses paiacuteses Nessas percepccedilotildees ldquotanto ciecircncia

quanto tecnologia e por extensatildeo todas as aacutereas teacutecnicas que lhes datildeo

sustentaccedilatildeo deveriam estar alheias a interesses opiniotildees e valoraccedilotildeesrdquo

(LINSINGEN 2007 p 03)

Em contraposiccedilatildeo a essa percepccedilatildeo os ECTS latino-americanos

consideram como jaacute apontei aspectos filosoacuteficos antropoloacutegicos

poliacuteticos e socioloacutegicos da ciecircncia e da tecnologia bem como elementos

educacionais com elas envolvidos A relaccedilatildeo desses estudos com

processos educacionais considera reflexotildees sobre condicionamentos

sociais poliacuteticos econocircmicos e ambientais nas decisotildees e nos processos

cientiacuteficos e tecnoloacutegicos compreendidos como praacuteticas sociais natildeo

neutras e dependentes de contextos histoacutericos (CASSIANI

LINSINGEN 2010)

Em termos educacionais e nessa direccedilatildeo concordo com

Linsingen (2007) quando ele destaca que a Educaccedilatildeo CTS tem

preocupaccedilatildeo com uma abordagem educacional que seja contextualizada

(como ensinar o que eacute importante para esse sujeito nessa situaccedilatildeo

especiacutefica) que problematize a noccedilatildeo de transferecircncia de

conhecimentos (como mobilizarmos para a autoria e autonomia) que

esteja em sintonia com os aspectos sociais (para quem e onde estou

falando) e comprometida em termos curriculares (o que estounatildeo estou

ensinando e por quecirc)

Dentro dessa abordagem pesquisas (destaco aqui algumas em

Educaccedilatildeo em Ciecircncias) buscam articulaccedilotildees com pressupostos da

pedagogia de Paulo Freire Os diferentes enfoques teoacutericos de autoresas

como Delizoicov (2008) Auler (2006) Auler e Delizoicov (2001)54

54 Com a intenccedilatildeo de contribuir para a construccedilatildeo de uma imagem mais realista

das atividades cientiacuteficas e tecnoloacutegicas os autores mostram uma importante

relaccedilatildeo entre CTS e a superaccedilatildeo do que eles chamam de mitos no ensino de

ciecircncias superioridade do modelo tecnocrata perspectiva salvacionista da

ciecircncia e tecnologia e determinismo tecnoloacutegico aleacutem da neutralidade da

ciecircncia e da tecnologia (ldquomito originalrdquo) grifo dos autores Auler e Delizoicov

(2001) apontam que aproximaccedilotildees com o referencial freireano podem contribuir

para a superaccedilatildeo desses mitos Tendo em vista que para Freire (1983 1987) a

educaccedilatildeo tambeacutem eacute entendida como uma leitura criacutetica do mundo os autores

destacam que ldquouma reinvenccedilatildeo da concepccedilatildeo freireana deve incluir uma

76

Nascimento e Linsingen (2006) e Cassiani Linsingen e Lunardi

(2012)55 discutem e buscam ampliar essas articulaccedilotildees Como destaca

Linsingen (2007) satildeo estimuladas possibilidades de debates que

envolvem os sentidos dos ECTS em relaccedilatildeo sobretudo agrave investigaccedilatildeo

temaacutetica freireana (temas geradores)

De maneira simplificada aponto que a perspectiva de educaccedilatildeo

dialoacutegico-problematizadora (FREIRE 1983) pode ser entendida como

um levantamento coletivo de temas relevantes para os sujeitos de modo

que o quotidiano poderia ser compreendido com vistas a sua

transformaccedilatildeo Na investigaccedilatildeo temaacutetica (FREIRE 1987) os temas

geradores estatildeo portanto relacionados com a vivecircncia dosas

educandosas e consideram os conhecimentos historicamente

produzidos

Lembremos que Freire (1987) esclarece que o que se pretende

investigar satildeo os sujeitos que se encontram envolvidos em seus temas

geradores de modo que esses uacuteltimos nos daratildeo um ldquouniverso miacutenimo

temaacuteticordquo Para o autor o conceito de tema gerador natildeo eacute uma

arbitrariedade ldquoou uma hipoacutetese de trabalho que deva ser comprovada

Se o lsquotema geradorrsquo fosse uma hipoacutetese que devesse ser comprovada a

investigaccedilatildeo primeiramente natildeo seria em torno dele mas de sua

existecircncia ou natildeordquo (FREIRE 1987 p 88)

Ao se referir agrave metodologia de investigaccedilatildeo dos temas geradores

Freire (1987) enfatiza que ldquoo tema gerador natildeo se encontra nos homens

isolados da realidade nem tampouco na realidade separada dos homens

Soacute pode ser compreendido nas relaccedilotildees homem-mundo (FREIRE 1987

p 98) Desse modo poderia ser iniciado o desenvolvimento de uma

metodologia dialeacutetica (codificaccedilatildeo e descodificaccedilatildeo) conscientizadora

atraveacutes da qual os sujeitos poderiam pensar seu mundo de modo criacutetico

Delizoicov (2008) indica que nesse sentido uma linha de accedilatildeo

seria estabelecida com o intuito de apreender e trabalhar os temas

geradores dialeticamente no transcorrer de todo o processo educativo

Considero que o destaque do autor para possibilidades dialeacuteticas da

investigaccedilatildeo temaacutetica satildeo importantes para pensarmos a complexidade

dos processos educacionais em um paiacutes do Sul tendo em vista busca por

contextos de autonomia e emancipaccedilatildeo

compreensatildeo criacutetica sobre as interaccedilotildees entre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade

dimensatildeo fundamental para essa lsquoleitura do mundorsquo contemporacircneordquo (AULER

DELIZOICOV 2001 p 09) 55 Autoresas que vivenciam essas articulaccedilotildees na praacutetica de formaccedilatildeo de

professores em Timor-Leste

77

Em conjunto com a busca por um contexto possiacutevel para que os

sujeitos possam tomar decisotildees informadas e criacuteticas em assuntos sobre

ciecircncia e tecnologia (CASSIANI LINSINGEN 2010) um dos

interesses dos ECTS e da Educaccedilatildeo CTS eacute a investigaccedilatildeo sobre

produccedilatildeo de conhecimentos e TS Portanto quando trato da Educaccedilatildeo

CTS ou na perspectiva educacional dos ECTS considero aleacutem dos

conhecimentos ldquooficiaisrdquo (i) os conhecimentos situados costumeiros

ancestrais e taacutecitos que emergem de modo bem marcado na

configuraccedilatildeo das TS e (ii) diaacutelogos entre esses conhecimentos

ecologia56 dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2007)

como mostrarei no segundo capiacutetulo

Antes disso apresento a seguir estudos latino-americanos

recentes57 que em alguma medida relacionam-se com a Educaccedilatildeo CTS

131 Estudos em Educaccedilatildeo CTS

O primeiro estudo a que me refiro traz o estado da arte da

temaacutetica em Educaccedilatildeo CTS Intitulado ldquoAs abordagens teoacuterico-

metodoloacutegicas dos trabalhos apresentados no V TECSOC e no

ESOCITE4S e sua articulaccedilatildeo com o campo da Educaccedilatildeo CTSrdquo

56 Esclareccedilo que ao buscar entender o termo ldquoecologiardquo em Boaventura

considero dois aspectos O primeiro deles eacute certo cuidado com uma possiacutevel

naturalizaccedilatildeo de aspectos soacutecio-histoacutericos ao utilizar termos das Ciecircncias

Bioloacutegicas nas Ciecircncias Sociais E o segundo deles diz respeito a minha

profunda falta de expertise em Ciecircncias Naturais Nesse quadro percebo que

nas Ciecircncias Bioloacutegicas ecologia pode ser referir a pelo menos trecircs aspectos

relaccedilotildees (seres vivos e meio) interaccedilotildees (entre seres) e coexistecircncia (em

determinados ambientes) Conforme as anaacutelises propostas por Boaventura

Meneses (2014 p 93) esclarece que ldquoA ideia da ecologia denota

multiplicidades e relaccedilotildees natildeo destrutivasrdquo A autora elenca as cinco ecologias

desenvolvidas por Boaventura ecologia dos saberes (identificar outros saberes e

criteacuterios de rigor) ecologia das temporalidades (inclui vaacuterias temporalidades)

ecologia dos reconhecimentos (identificar diferenccedilas entre iguais sem

desconsiderar sua legitimidade) ecologia das transescalas (desglobalizar o local

e globalizar a diversidade) e ecologia das produtividades (recuperar e valorizar

sistemas alternativos de produccedilatildeo) assim compreendo que uma possibilidade

de leitura para o termo possa considerar um sentido de conflito e tensatildeo no qual

as contradiccedilotildees lutas e resistecircncias apareceriam e natildeo seriam silenciadas 57 Os trabalhos a que faccedilo referecircncia foram enviados ao VI Simpoacutesio Nacional

de Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (VI ESOCITE BrasilTECSOC) realizado

na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2015 e estatildeo disponiacuteveis em

httpwwwrio2015esociteorgsiteanaisarquivoresumoMODALIDADE=6

78

(SILVEIRA MATOS GANHOR 2015) o artigo traz um levantamento

dos uacuteltimos encontros TECSOC e ESOCITE4S (realizados nos anos de

2013 e 2014 respectivamente) Os autores analisaram textos dos Grupos

de Trabalho (GTrsquos) de Educaccedilatildeo CTS e buscaram apreender a

perspectiva adotada os referenciais teoacutericos e as metodologias

propostas A ideia seria verificar como as visotildees estampadas nos artigos

desses GTrsquos operacionalizariam a formaccedilatildeo CTS aleacutem de seu proacuteprio

discurso ou de suas intenccedilotildees

No trabalho ldquoA participaccedilatildeo puacuteblica em Ciecircncia e Tecnologia e a

Educaccedilatildeo CTSrdquo (ldquoLa participacioacuten puacuteblica en Ciencia y Tecnologiacutea y

la Educacioacuten CTSrdquo)58 Ortega (2015) considera que a cidadania

cientiacutefica-tecnoloacutegica eacute exercida mediante mecanismos e processos de

participaccedilatildeo puacuteblica intrinsecamente relacionados com visotildees sobre

ciecircncia e tecnologia A autora destaca que existem processos de

participaccedilatildeo ex ante na Ameacuterica Latina e aponta a extensatildeo universitaacuteria

e processos de desenvolvimento de TS como exemplos de coproduccedilatildeo

de conhecimentos A partir dessas consideraccedilotildees ela busca aprofundar

articulaccedilotildees possiacuteveis entre a pedagogia criacutetica baseada no lugar e os

ECTS Tendo em vista produzir conhecimentos em Educaccedilatildeo CTS a

autora analisa um processo de formaccedilatildeo para participaccedilatildeo puacuteblica na

cidade de Campinas no estado de Satildeo Paulo

Com foco na educaccedilatildeo tecnoloacutegica o trabalho ldquoArticulaccedilotildees

entre CTS e Paulo Freire na definiccedilatildeo de objetos de educaccedilatildeo

tecnoloacutegicardquo de Niezwida (2015) analisa o contexto da educaccedilatildeo

tecnoloacutegica (o que ensinar) na Argentina A autora defende a educaccedilatildeo

tecnoloacutegica como um acircmbito potencial de intervenccedilatildeo mesmo que

indireto em questotildees de tecnocientiacuteficas59 Para isso ela propotildee que se

assumam tanto pressupostos epistemoloacutegicos e pedagoacutegicos adequados

quanto uma perspectiva distinta sobre o que eacute ser professora alunoa e

conhecimento nesse acircmbito de formaccedilatildeo

Tendo a divulgaccedilatildeo cientiacutefica como relacionada com a Educaccedilatildeo

CTS Socorro e Penido (2015) abordam espaccedilos natildeo formais de

divulgaccedilatildeo de ciecircncia e tecnologia no trabalho ldquoA contribuiccedilatildeo do

Instituto Kirimurecirc na divulgaccedilatildeo da ciecircncia e da tecnologia em espaccedilos

natildeo formais da Baia de Todos os Santosrdquo Ao analisarem as

contribuiccedilotildees do Instituto as autoras realizam um levantamento e uma

anaacutelise dos meacutetodos e abordagens das praacuteticas de divulgaccedilatildeo cientiacutefica

58 Artigo original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 59 Na paacutegina 98 em nota de rodapeacute faccedilo algumas consideraccedilotildees sobre o uso do

termo ldquotecnocientiacuteficordquo

79

nos espaccedilos natildeo formais dos municiacutepios da Baia de Todos os Santos e as

contribuiccedilotildees na promoccedilatildeo da difusatildeo do conhecimento em ciecircncia e

tecnologia nas aacutereas das Ciecircncias da Natureza

A divulgaccedilatildeo cientiacutefica tambeacutem eacute tema do artigo de Janning

(2015) ldquoAnaacutelise dos discursos sobre ciecircncia em um livro de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica sobre formigas diaacutelogos com educaccedilatildeo CTSrdquo O autor analisa

um livro de divulgaccedilatildeo cientiacutefica sobre a vida das formigas pois no

tema haveria potencial didaacutetico para os ensinos fundamental e meacutedio

Pelo estudo de formigas seria possiacutevel desenvolver educaccedilatildeo ambiental

ao se relacionar temas como pragas agriacutecolas interaccedilotildees ecoloacutegicas e

coevoluccedilatildeo folclore e conhecimentos tradicionais Para isso o autor

utiliza os referenciais teoacuterico-metodoloacutegicos da AD de linha francesa e

contribuiccedilotildees da perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS Os resultados

mostraram que eacute possiacutevel relacionar sociedades humanas e das formigas

perceber questotildees sobre o papel do cientista do meacutetodo e do erro na

pesquisa assim como verificar como um discurso natildeo cientiacutefico se

transforma atraveacutes de efeitos de sentidos em discurso cientiacutefico no

livro analisado

O estudo intitulado ldquoEducaccedilatildeo CTS nos bacharelados

interdisciplinares em ciecircncia e tecnologia na regiatildeo nordeste do Brasilrdquo

de Lucena e Cabral (2015) traz resultados de uma pesquisa iniciada no

ano de 2010 sobre a poliacutetica do Governo Federal do Brasil de

desenvolvimento e implantaccedilatildeo de Bacharelados Interdisciplinares em

Ciecircncias e Tecnologia (BICT) O objetivo das autoras seria mapear a

presenccedila das disciplinas em humanidades nos cursos existentes na

regiatildeo Nordeste e identificar relaccedilotildees com abordagens CTS Ao

analisarem documentos oficiais projetos pedagoacutegicos e curriacuteculos entre

outros materiais elas apontam tanto para a contribuiccedilatildeo dos estudos

CTS para a formaccedilatildeo eacutetica e responsaacutevel de cientistas e engenheiros

quanto para a ampliaccedilatildeo desses estudos no espaccedilo dos BICT

Os sentidos construiacutedos sobre Educaccedilatildeo CTS por docentes em um

curso de Engenharia faz parte da anaacutelise realizada por Jacinski (2015)

No trabalho ldquoEducaccedilatildeo CTS no curso de Engenharia da Computaccedilatildeo

sentidos construiacutedos pelos docentesrdquo o autor traz resultados de uma

pesquisa qualitativa feita no curso de Engenharia de Computaccedilatildeo da

Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute (UTFPR) Nessa pesquisa

o autor articulou referenciais da Educaccedilatildeo CTS e dos ECTS com uma

perspectiva discursiva do Ciacuterculo de Bakhtin Suas conclusotildees mostram

dificuldades em abrir a caixa-preta da tecnologia para osas futurosas

engenheirosas e apontam para a permanecircncia de uma tensatildeo dialoacutegica

entre uma formaccedilatildeo que problematize os aspectos sociais da tecnologia

80

e uma organizaccedilatildeo curricular disciplinar que reitere perspectivas

deterministas e lineares da tecnologia

O trabalho ldquoA inclusatildeo do saber do catador na construccedilatildeo de

plataforma informativo-educativa em prol da reciclagem inclusivardquo de

Ventura e Andrade (2015) tem foco na gestatildeo problemaacutetica de resiacuteduos

soacutelidos em aacutereas urbanas Os autores analisam como a Plataforma

Online Interativa Passo Certo (que segundo eles eacute uma proposta

tecnoloacutegica diferenciada de aprendizagem) envolveria diretamente

catadoresas latino-americanosas em seu processo de criaccedilatildeo e

desenvolvimento Para os autores essa participaccedilatildeo teria valorizado

osas catadoresas como detentoresas de saberes imprescindiacuteveis para a

gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos

Reis (2015) parte do suposto de que assuntos controversos tais

como transgecircnicos ou ceacutelulas tronco necessitariam ser debatidos em

sociedade mas essa precisaria ter conhecimentos mais profundos (aleacutem

das informaccedilotildees veiculadas na miacutedia) e que natildeo estatildeo contemplados

pelo curriacuteculo escolar Com isso a autora apresenta o estudo ldquoA

Ciecircncia vai agrave Sociedade Projeto de Extensatildeo Universitaacuteria Oficinas

Filosoacuteficas em Ciecircncia Tecnologia e Sociedade (CTS)rdquo que objetiva

levar alunosas do ensino meacutedio da cidade de Campos dos Goytacazes

(RJ) a refletirem sobre as consequecircncias dos avanccedilos tecnoloacutegicos O

projeto desenvolvido na Universidade Estadual do Norte Fluminense

Darcy Ribeiro (UENF) resultou em dados que segundo a autora podem

levar agrave compreensatildeo das concepccedilotildees que osas alunosas possuem sobre

ciecircncia e universidade

O trabalho de Silva (2015) e colegas intitulado ldquoDiscussotildees

educacionais em CTS relato de experiecircncia em sala de aula na visatildeo

discente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Tecnologia da UTFPRrdquo

compartilha experiecircncias docentes sobre praacuteticas de ensino na

perspectiva das muacuteltiplas visotildees disciplinares relacionadas agraves discussotildees

CTS Os autores fizeram um levantamento de dados e de documentaccedilotildees

de suas experiecircncias em sala de aula e consideraram a experiecircncia

discente como ponto de partida para a percepccedilatildeo dos dilemas

disciplinares na academia e da problemaacutetica CTS na universidade Com

isso integram tanto as formaccedilotildees especificas de graduaccedilatildeo quanto as

linhas e temaacuteticas de pesquisa de cada docente e discente

A educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTS eacute tema do estudo de

Gomes (2015) No artigo ldquoO potencial das controveacutersias

sociocientiacuteficas para a educaccedilatildeo ambiental com abordagem CTSrdquo a

autora reflete sobre a necessidade de apresentar e discutir os problemas

ambientais no acircmbito escolar (educaccedilatildeo ambiental) de modo que

81

cidadatildesatildeos possam ter consciecircncia dos problemas e das formas de

solucionaacute-los A ideia seria resgatar aspectos da trajetoacuteria histoacuterica da

inserccedilatildeo e aperfeiccediloamento da educaccedilatildeo ambiental no acircmbito escolar

que acabou culminando na proposiccedilatildeo e desenvolvimento de pesquisas

sobre a viabilidade e importacircncia do uso de controveacutersias

sociocientiacuteficas na educaccedilatildeo escolar

O artigo de Bueno (2015) intitulado ldquoCiecircncia tecnologia e

interdisciplinaridade numa perspectiva histoacuterico-criacutetica aspectos

pedagoacutegicos na formaccedilatildeo docenterdquo traz um relato de experiecircncia em um

curso de Licenciatura interdisciplinar em Ciecircncias Naturais em uma

universidade puacuteblica A autora utiliza uma abordagem pedagoacutegica

histoacuterico-criacutetica para mostrar aspectos epistemoloacutegicos na formaccedilatildeo

docente e destaca a dimensatildeo da tecnologia presente na organizaccedilatildeo do

trabalho pedagoacutegico Eacute enfatizada a abordagem interdisciplinar

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo docente fundamentada em uma pedagogia

progressista e em perspectivas criacuteticas da ciecircncia e da tecnologia

Um olhar sobre museus existentes em paiacuteses latino-americanos

que possuam exposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees

preacute-colombianas eacute a intenccedilatildeo do estudo de Gorri (2015) no artigo

ldquoExposiccedilotildees destinadas agrave saberes e teacutecnicas de civilizaccedilotildees preacute-

colombianas em museus latino-americanos e o Ensino de Ciecircncias e

Tecnologiasrdquo O trabalho objetiva investigar em quais museus de paiacuteses

latino-americanos encontram-se exposiccedilotildees destinadas a temaacuteticas em

ciecircncia e tecnologia para compreender como elas podem contribuir para

problematizaccedilotildees sobre a dominacircncia e a neutralidade concedidas aos

conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos a partir da consolidaccedilatildeo do

contexto histoacuterico da modernidade-colonialidade

A colonialidade tambeacutem eacute debatida no trabalho de Diniz (2015)

ldquoDiaacutelogos e olhares sobre CTS em Timor-Leste uma experiecircncia no

curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da UNTLrdquo A autora apresenta um relato

sobre experiecircncias vivenciadas a partir da co-docecircncia na disciplina

Ciecircncia Tecnologia e Ciecircncias dos Valores Humanos ministrada para

estudantes do 6ordm periacuteodo do curso de Poliacuteticas Puacuteblicas da Faculdade de

Ciecircncias Sociais da UNTL Com isso ela destaca que um dos desafios

encontrados foi a dificuldade de professoresas timorenses e

brasileirosas para interpretar e compreender as ementas das disciplinas

(muitas vezes traduzidas da liacutengua indoneacutesia) E pontua que a Educaccedilatildeo

CTS natildeo deveria ser tratada apenas nessa disciplina mas

transversalmente nas demais disciplinas da proposta curricular do curso

Diferentes sentidos produzidos sobre tecnologia no Norte e no

Sul tambeacutem satildeo tema do estudo de Trevisan (2015) No trabalho

82

ldquoCiecircncia teacutecnica e tecnologia em dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias

Sociaisrdquo o autor considera que o dicionaacuterio eacute uma tecnologia que pode

funcionar como instrumento pedagoacutegico e testemunho valioso para a

compreensatildeo de diferentes interpretaccedilotildees Seu estudo investigou a

dicionarizaccedilatildeo dos termos ciecircncia teacutecnica e tecnologia em 42

dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais publicados em doze paiacuteses

do Norte e em 19 dicionaacuterios de Sociologia e Ciecircncias Sociais

publicados em oito paiacuteses do Sul totalizando 61 obras publicadas entre

os anos de 1905 e 2010 O objetivo seria a comparaccedilatildeo da

dicionarizaccedilatildeo ou natildeo dos termos objetos da investigaccedilatildeo e das

definiccedilotildees presentes nos termos dicionarizados para identificar se

haveria questotildees que apontem para especificidades regionais

O trabalho ldquoGeneacutetica raccedila e poliacuteticas de accedilotildees afirmativas a

partir de questotildees sociocientiacuteficasrdquo (DIAS SERRA E SEPULVEDA

ARTEAGA 2015) parte da verificaccedilatildeo de que os discursos cientiacuteficos e

praacuteticas das tecnociecircncias estiveram comprometidos com processos

sociais de dominaccedilatildeo entre povos de modo a compor complexas

relaccedilotildees de poder Os autores consideram que conhecimentos derivados

das Ciecircncias Naturais contribuiacuteram para criaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo do

conceito de raccedila ao longo da histoacuteria com objetivos expliacutecitos de

inferiorizaccedilatildeo marginalizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo eacutetnicas A partir de uma

estrateacutegia pedagoacutegica derivada da abordagem educacional CTSA

objetivam construir uma questatildeo sociocientiacutefica com base no debate

entre grupos sociais diversos a respeito dos resultados de estudos sobre a

composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo brasileira e suas implicaccedilotildees para as

poliacuteticas de accedilotildees afirmativas A ideia seria promover uma educaccedilatildeo das

relaccedilotildees eacutetnico-raciais

No artigo de Maurici (2015) ldquoHaacute controveacutersias cientiacuteficas na

Prova do ENEM Contribuiccedilotildees dos Estudos CTS agrave Educaccedilatildeordquo satildeo

analisadas as questotildees relacionadas agrave disciplina de Fiacutesica da prova

amarela do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) do ano de 2013

O autor busca identificar a presenccedila ou natildeo de temas que envolvem

controveacutersias cientiacuteficas a natureza dessas controveacutersias que conteuacutedos

satildeo favorecidos e o que elas contribuem para uma educaccedilatildeo

emancipadora Com isso pretende evidenciar a contribuiccedilatildeo dos estudos

das controveacutersias cientiacuteficas no ensino de ciecircncias de modo a ampliar a

visatildeo dosas alunosas sobre relaccedilotildees CTS

Com essa breve apresentaccedilatildeo de alguns estudos recentes em

Educaccedilatildeo CTS pretendo mostrar diversas aproximaccedilotildees com a questatildeo

Mas acima de tudo busco evidenciar o quanto pode ser simplista a

avaliaccedilatildeo generalizada de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com esses

83

estudos pois haacute um interesse na temaacutetica da Educaccedilatildeo CTS ainda que a

interaccedilatildeo com a PCT nacional ldquoande a passos lentosrdquo Uso aspas e

posiciono-me em referecircncia ao artigo de Dagnino Silva e Padovanni

(2011) que haacute algum tempo questionaram a lentidatildeo da Educaccedilatildeo

CTS

Nesse artigo os autores examinam relaccedilotildees entre a Educaccedilatildeo

CTS e a PCT Para eles as causas da lentidatildeo da Educaccedilatildeo CTS podem

ser analisadas desde uma perspectiva de um jogo poliacutetico entre os

sujeitos envolvidos Sujeitos que satildeo organizados de acordo com a

tipologia60 do coraccedilatildeo vermelho versus coraccedilatildeo cinza e mente vermelha

versus mente cinza Em resumo os autores destacam a necessidade de

engajamento dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo CTS (que teriam o

coraccedilatildeo vermelho em sua maioria) na problematizaccedilatildeo do conhecimento

em ciecircncia e tecnologia que eacute produzido (algo que quem teria a mente

cinza natildeo faria) E assim apontam as potencialidades da perspectiva da

AST

Segundo a concepccedilatildeo da adequaccedilatildeo socioteacutecnica a

tecnociecircncia existe desde que reprojetada (ou

usando um anglicismo corrente redesenhada)

poderia servir de suporte a diferentes estilos de vida

cada um refletindo diferentes propostas a respeito

do bem-viver Isso resultaria em escolhas de

projetos diferentes dado que orientadas por outros

interesses e valores (alternativos) (DAGNINO

SILVA PADOVANNI 2011 p 121)

Com isso destaco que o que os autores chamam aqui de AST eacute

basicamente a perspectiva da TCT que examinarei adiante Como

leitores de Feenberg eles apontam a necessidade de criticar o

determinismo tecnoloacutegico Portanto propotildeem que a AST seja adotada

por uma via filosoacutefica para ldquomudar o comportamento apaacutetico da

comunidade da ECTSrdquo (DAGNINO SILVA PADOVANNI 2011 p

122)

Tendo em vista a metaacutefora dos autores identifico-me com a

mente e o coraccedilatildeo vermelhos ou seja considero a Educaccedilatildeo CTS em

suas possibilidades e limites para transformar a realidade superando

desigualdades sociais econocircmicas culturais e poliacuteticas Contudo natildeo

60 O vermelho estaria relacionado com uma perspectiva de inclusatildeo social

justiccedila equidade e sustentabilidade enquanto o cinza se referiria agrave adequaccedilatildeo

ao conhecimento tecnocientiacutefico produzido

84

apoio o suposto de ldquoapatiardquo dos sujeitos envolvidos com a Educaccedilatildeo

CTS Desse modo examino possibilidades emancipatoacuterias (que visam a

autonomia dos sujeitos e a abertura agrave alteridade) em processos

educacionais contextualizados e mobilizados para diaacutelogos e trocas de

aprendizagens agrave moda da ecologia dos saberes de Santos e Meneses

(2010) e Santos (2007)

A seguir apresento quem satildeo os sujeitos (natildeo apaacuteticos natildeo

acomodados ativos e integrados na construccedilatildeo de conhecimentos e na

compreensatildeo do domiacutenio intelectual da teacutecnica - politecnia) que

considero nesta tese

14 JUVENTUDES

Ao destacar minhas perspectivas sobre educaccedilatildeo em diferentes

autoresas de modo a chegar em uma ideia sobre politecnia desenvolvi

entendimentos sobre o que penso que possa ser uma educaccedilatildeo

transformadora Refleti tambeacutem sobre essas possibilidades segundo a

ECT e a Educaccedilatildeo CTS Jaacute expus minhas concepccedilotildees sobre o sujeito do

conhecimento (ativo integrado natildeo acomodado natildeo abstrato e natildeo

homogecircneo) que aparecem aqui como as juventudes que compotildeem os

CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul Nesse momento portanto

reflito sobre para quem pensei essa educaccedilatildeo de modo concreto nesta

tese

Antes de tratar de relaccedilotildees entre juventudes e escola exploro

brevemente alguns sentidos sobre o termo ldquojuventudesrdquo Muitosas

autoresas examinam o tema e existe uma produccedilatildeo teoacuterica consistente

na aacuterea No entanto natildeo eacute meu propoacutesito recuperar todos os debates

sobre juventudes tampouco elaborar uma definiccedilatildeo para ele Ao

compreender a complexidade do tema busco demarcar o sentido geral

que eacute aqui utilizado

Diferentes aacutereas de produccedilatildeo de conhecimento procuram definir o

que seria a ldquojuventuderdquo Destaco trecircs perspectivas a saber (i) Ciecircncias

Meacutedicas na qual se estabelece o termo ldquopuberdaderdquo para nomear as

transformaccedilotildees em uma crianccedila que se torna adulto (ii) Psicologia

Psicanaacutelise e Pedagogia nas quais o termo ldquoadolescecircnciardquo marca

mudanccedilas na personalidade mente e comportamento do sujeito que se

torna adulto e (iii) Sociologia na qual o termo ldquojuventuderdquo costuma

expressar o interstiacutecio entre as funccedilotildees sociais da infacircncia e as funccedilotildees

sociais do adulto (GROPPO 2000)

85

Adoto aqui o uso que a Sociologia faz do termo que natildeo eacute

restrito a determinaccedilotildees de faixas etaacuterias61 considera fatores sociais

culturais e econocircmicos aleacutem das posiccedilotildees que os sujeitos ocupam na

sociedade em um momento de construccedilatildeo de autonomia Utilizo o termo

no plural ldquojuventudesrdquo para marcar a heterogeneidade e diversidade

que acredito estar ali representada Concordo com Souza (2003) para

quem

A juventude deve ser encarada pois como uma

categoria histoacuterica Isso implica natildeo falar

genericamente da juventude como se fosse um

bloco homogecircneo mas sim uma categoria

segmentada estudantes e natildeo estudantes

trabalhadores e natildeo trabalhadores homens e

mulheres moradores das grandes e das pequenas

cidades ou ainda zona rural A condiccedilatildeo juvenil

portanto natildeo soacute varia de sociedade para

sociedade mas no interior de uma mesma

formaccedilatildeo social ao longo do tempo de grupo para

grupo ou de classe para classe (SOUZA 2003 p

45-46)

Portanto eacute possiacutevel entender que ao falarmos sobre juventudes

estamos a tratar tanto de um momento de transiccedilatildeo (mas que natildeo se

reduz a uma mera passagem) quanto de um processo que sofre

influecircncia do contexto soacutecio-histoacuterico no qual se desenvolve e que tem

suas especificidades na constituiccedilatildeo dos sujeitos

Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do puacuteblico jovem o socioacutelogo brasileiro

Juarez Dayrell (1996) tem no contexto soacutecio-histoacuterico um fator

importante para relacionar juventudes e escola Esse autor defende a

escola como espaccedilo sociocultural inserida na cultura onde os sujeitos

teriam relevacircncia Para ele eacute importante resgatar o papel dos sujeitos na

trama social que constitui a escola enquanto instituiccedilatildeo

Embora eu natildeo siga estritamente sua perspectiva sobre a escola

os relatos da pesquisa do autor com professoresas de cursos noturnos

em escolas da rede puacuteblica de ensino da cidade de Belo Horizonte nos

anos 1990 mostram alguns caminhos para a compreensatildeo das

juventudes

61 Conforme a UNESCO (2004) uma definiccedilatildeo predominantemente etaacuteria

abrangeria o ciclo que vai dos 15 aos 29 anos

86

Dayrell (1996) aponta que as juventudes nas escolas nesse

contexto precisam ser compreendidas

como sujeitos soacutecio-culturais () implica em

superar a visatildeo homogeneizante e estereotipada da

noccedilatildeo de aluno dando-lhe um outro significado

Trata-se de compreendecirc-lo na sua diferenccedila

enquanto indiviacuteduo que possui uma historicidade

com visotildees de mundo escalas de valores

sentimentos emoccedilotildees desejos projetos com

loacutegicas de comportamentos e haacutebitos que lhe satildeo

proacuteprios (DAYRELL 1996 p05)

Verifiquei muitas descriccedilotildees do autor no meu quotidiano no

IFRS As juventudes com as quais convivi naquele ambiente tambeacutem

estatildeo presentes em alguma medida na descriccedilatildeo do autor

Eacute a convivecircncia rotineira de pessoas com

trajetoacuterias culturas interesses diferentes que

passam a dividir um mesmo territoacuterio pelo menos

por um ano Sendo assim formam-se subgrupos

por afinidades interesses comuns etcEacute a

formaccedilatildeo de panelinhas quase sempre

identificadas por algum dos estereoacutetipos correntes a

turma da bagunccedila os CDF os mauricinhos ()

Com as conversas e brincadeiras ocorrendo

preferencialmente no interior de cada um deles

cada grupo tem regras e valores proacuteprios Ao

mesmo tempo haacute vaacuterios alunos soltos que

parecem natildeo se ligar a nenhum dos grupos ou

porque natildeo se identificam ou porque de alguma

forma satildeo excluiacutedos (DAYRELL p 15 1996)

De modo que eacute interessante nesse momento retomar alguns

dados apresentados na introduccedilatildeo desta tese e que podem ajudar em uma

visualizaccedilatildeo dosas estudantes com osas quais interagi na pesquisa

Trabalhei com todosas estudantes matriculados (e com frequecircncia) nos

primeiros anos dos trecircs CTIEM oferecidos nos turnos matutino e

vespertino no Cacircmpus Caxias do Sul Satildeo eles Curso Teacutecnico em

Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTFMIEM) Curso

87

Teacutecnico em Plaacutesticos Integrado ao Ensino Meacutedio (CTPIEM) e Curso

Teacutecnico em Quiacutemica Integrado ao Ensino Meacutedio (CTQIEM)62

A seguir apresento dados quantitativos que tentaratildeo durante o

texto trazer aspectos qualitativos para a anaacutelise

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo geral de alunosas por curso turno e sexo63

Cursoturno Feminino Masculino Total

TFMManhatilde 02 30 32

TFMTarde 05 23 28

TPManhatilde 19 11 30

TPTarde 22 08 30

TQManhatilde 12 20 32

TQTarde 20 12 32

Total 80 104 184

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Por hora a partir da tabela 1 acima eacute possiacutevel verificar que a

distribuiccedilatildeo de estudantes por cursos e turnos eacute similar e que a

quantidade de alunos (56) eacute levemente maior que a de alunas (44)

No TFM nos dois turnos haacute predomiacutenio de alunos (53) com apenas 07

alunas Enquanto no TP tambeacutem no somatoacuterio dos dois turnos verifico

41 alunas e 19 alunos No contexto maior do Cacircmpus de Caxias do Sul

a partir de dados de 2015 verifiquei o registro de 553 de estudantes

do sexo masculino e 447 do feminino

Dentro do quadro geral de estudantes do IFRS no que diz

respeito a necessidades especiais meus sujeitos seguem o padratildeo ali

apresentado conforme graacutefico 2 abaixo com menos de 5 de

estudantes com alguma necessidade especial declarada (dados de 2015)

62 Daqui por diante CTFMIEM = TFM CTPIEM = TP e CTQIEM = TQ 63 Nos primeiros anos dos CTIEM natildeo fiz uma discussatildeo preliminar sobre sexo

identidade de gecircnero e orientaccedilatildeo sexual por isso na coleta de dados solicitei o

sexo de nascimento dosas estudantes

88

Graacutefico 2 - Necessidades especiais64 entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Com esses dois destaques que faccedilo nesse momento mais que

tentar apresentar as juventudes com as quais interagi procuro mostrar as

situaccedilotildees que eu encontrava em sala de aula e segundo as quais a

pesquisa se desenvolveu Ressalto que esses nuacutemeros natildeo pretendem

silenciar as diferenccedilas que se apresentam em sala de aula As discussotildees

do terceiro capiacutetulo (com o exame de outros dados) pretendem

justamente evidenciaacute-las

Concordo com Dayrell (2007) no ponto em que ele alerta para o

fato de que as relaccedilotildees entre juventudes e escola natildeo satildeo lineares de

causa e efeito satildeo mais complexas pois fazem parte das mudanccedilas

profundas que ocorrem na sociedade Para o autor a socializaccedilatildeo ocorre

em muacuteltiplos espaccedilos e tempos o que implica em reconhecer que a

dimensatildeo educativa natildeo se reduz agrave escola e que as propostas educativas

para jovens natildeo precisam acontecer dominadas pela loacutegica escolar

Desse modo natildeo ignoro que os sentidos sobre tecnologia que eu

busco examinar circulam (satildeo debatidos) em um espaccedilo e entre sujeitos

posicionados soacutecio-historicamente Assim passo agrave reflexatildeo de como

efetivamente na praacutetica do ensino de Sociologia no ensino meacutedio

existiriam possibilidades de transformar sentidos sobre tecnologias entre

essas juventudes Para isso apresento a seguir consideraccedilotildees sobre o

ensino de Sociologia no ensino meacutedio

64 Fiacutesicas e cognitivas

89

15 ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MEacuteDIO

Minha intenccedilatildeo de verificar possibilidades de transformar

sentidos sobre tecnologia no ensino meacutedio pode ser realizada segundo

minha aacuterea de atuaccedilatildeo a Sociologia Nas reflexotildees que permeiam

minhas atividades docentes as seguintes questotildees satildeo constantes Por

que ensinar O que ensinar Como ensinar Como mobilizar para a

aprendizagem O que eu aprendi O que eleselas aprenderam O que

foi esquecido Como transformar sentidos Como avaliar essa

transformaccedilatildeo65

Junto a isso mantenho certa vigilacircncia para organizar modos

significativos de propor uma transposiccedilatildeo didaacutetica relevante aleacutem de

buscar relacionar minhas ideias com uma leitura criacutetica das Orientaccedilotildees

Curriculares para o Ensino Meacutedio-Sociologia (OCEM-Sociologia) da

proposta curricular Liccedilotildees do Rio Grande da Lei de Diretrizes e Bases

da Educaccedilatildeo Nacional (LDB) e dos Paracircmetros Curriculares Nacionais

(PCNrsquos)

Desse modo alguns princiacutepios fundamentais do ensino de

Sociologia no ensino meacutedio como os princiacutepios epistemoloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento satildeo agora considerados Moraes e

Guimaratildees (2010) fazem uma leitura das OCEM-Sociologia e destacam

que o estranhamento se relaciona com questotildees do tipo Por que eacute

assim Sempre foi assim Eacute assim em outros lugares Portanto

estranhar se refere agrave admiraccedilatildeo do desconhecido ou inesperado

por achar estranho ao perceber (algueacutem ou algo)

diferente do que se conhece ou do que seria de se

esperar que acontecesse daquela forma por

surpreender-se assombrar-se em funccedilatildeo do

desconhecimento de algo que acontecia haacute muito

tempo por sentir-se incomodado ou ter sensaccedilatildeo

de incocircmodo diante de um fato novo ou de uma

nova realidade por natildeo se conformar com alguma

coisa ou com a situaccedilatildeo em que se vive natildeo se

acomodar rejeitar (MORAES GUIMARAtildeES

2010 p 46)

65 Retornarei a essas questotildees na discussatildeo de resultados no capiacutetulo 3 onde as

questotildees acerca de ldquopara quemrdquo e ldquoonderdquo ensinar que jaacute foram apresentadas no

toacutepico sobre juventudes retornaratildeo

90

Assim compreendo que o estranhamento eacute um passo significativo

na mobilizaccedilatildeo para aprender e transformar a realidade social que se

apresenta Algo que jaacute destaquei ao tratar de Paulo Freire Vejo o

princiacutepio da desnaturalizaccedilatildeo de modo similar

A desnaturalizaccedilatildeo como o nome indica prevecirc que a

compreensatildeo de fenocircmenos sociais seja independente de explicaccedilotildees de

origem natural Ou seja os fenocircmenos sociais tecircm origem soacutecio-

histoacuterica que resultam de relaccedilotildees sociais

Haacute uma tendecircncia sempre recorrente de se

explicarem as relaccedilotildees sociais as instituiccedilotildees os

modos de vida as accedilotildees humanas coletivas ou

individuais a estrutura social a organizaccedilatildeo

poliacutetica etc com argumentos naturalizadores

Primeiro perde-se de vista a historicidade desses

fenocircmenos isto eacute que nem sempre foram assim

segundo que certas mudanccedilas ou continuidades

histoacutericas decorrem de decisotildees e essas de

interesses ou seja de razotildees objetivas e humanas

natildeo sendo fruto de tendecircncias naturais

(MORAES GUIMARAtildeES 2010 p 47)

Acredito que uma concepccedilatildeo problematizadora e dialoacutegica da

educaccedilatildeo estaacute relacionada com tais princiacutepios epistemoloacutegicos Minha

intenccedilatildeo com o ensino de Sociologia baseado em tais princiacutepios eacute a de

que atraveacutes das atitudes de estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo (o que

chamo de perspectiva criacutetica na qual possamos compreender que aquilo

que resulta da obra humana pode ser visto como produto da accedilatildeo de

sujeitos histoacutericos e natildeo como determinaccedilatildeo natural ou iluminaccedilatildeo

divina) osas estudantes possam

(i) transformar sentidos problemaacuteticos sobre tecnologia

(ii) considerar suas possibilidades de para aleacutem de participar de

debates tecnoloacutegicos e cientiacuteficos promover novas questotildees sobre esses

assuntos e

(iii) visualizarem possibilidades de emancipaccedilatildeo social nesse

processo de autoria

De modo que se perguntem o que ciecircncia e tecnologia tecircm a ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a

esses temas entre outras tantas reflexotildees possiacuteveis Acredito que essa

intenccedilatildeo estaacute de acordo (sem desconsiderar criacuteticas) com os documentos

oficiais supracitados que preveem a organizaccedilatildeo dos componentes

curriculares da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil

91

Eacute importante destacar que atividades com questotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas em sala de aula natildeo satildeo exatamente novidade e tornaram-se

mais frequentes nas uacuteltimas deacutecadas impulsionadas pelos ECTS A

partir da deacutecada de 1970 esses estudos se consolidaram como campos

de reflexatildeo sobre condicionamentos sociais poliacuteticos econocircmicos e

ambientais nas decisotildees e nos processos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos

(CORREcircA GEREMIAS 2015)

Alguns debates atuais no campo dos ECTS propotildeem tratar as

relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e os sujeitos de modo abrangente e

com foco didaacutetico nos estudos de caso por exemplo Os socioacutelogos

britacircnicos Harry Collins e Trevor Pinch (2010a 2010b) que jaacute

mencionei trazem contribuiccedilotildees em relaccedilatildeo agrave abertura de oportunidades

a diferentes sujeitos para se pensar sobre ciecircncias e tecnologias

Segundo esses autores o objetivo de suas anaacutelises natildeo eacute oferecer

poliacuteticas ou dizer aos leitores como devem se posicionar contra ou a

favor de tal tecnologia mas criar um espaccedilo para pensar essas questotildees

Seus estudos remetem a episoacutedios de questotildees controversas em ciecircncia e

tecnologia marcantes do passado e do presente CORREcircA GEREMIAS

2015) De acordo com esses autores ldquoreflexos autoritaacuterios acompanham

a tendecircncia a enxergar a ciecircncia e a tecnologia como misteriosas ndash

segredos de uma casta privilegiada como sacerdotes com acesso

especial a um conhecimento bem aleacutem do raciociacutenio comumrdquo

(COLLINS PINCH 2010b p08)

Embora natildeo sejam meu referencial teoacuterico penso que os

episoacutedios relatados por Collins e Pinch (2010a 2010b) podem ser

usados nas salas de aula para mobilizar estudantes a questionar a

relevacircncia da ciecircncia e da tecnologia na sua vida entre muitas outras

apropriaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer Para isso seria interessante aleacutem do

resgate histoacuterico sobre o desenvolvimento de artefatos propor

problematizaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees sociais de sua produccedilatildeo e

adoccedilatildeo

Para finalizar66 meus apontamentos sobre o ensino de Sociologia

no ensino meacutedio destaco os debates acerca de estrateacutegias de ensino Um

modelo usual eacute apresentado no quadro 1 abaixo

66 Natildeo tratarei do histoacuterico da recente obrigatoriedade do ensino de Sociologia

juntamente com Filosofia no ensino meacutedio brasileiro Leituras aprofundadas a

esse respeito podem ser encontradas em MEIRELLES M et al (Orgs) Ensino

de Sociologia Trabalho Ciecircncia e Cultura Porto Alegre EvangrafLAVIECS

2013a MEIRELLES M et al (Orgs) O ensino de Sociologia no RS

Repensando o lugar da Sociologia Porto Alegre EvangrafLAVIECS 2013b

92

Quadro 1 - Estrateacutegias para o ensino da Sociologia

Fonte (ABREU 2009)

Contudo para aleacutem dessas divisotildees estanques penso que o

contexto da sala de aula dosas estudantes (sua situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica

e suas histoacuterias de vida) dos CTIEM em questatildeo e da temaacutetica a ser

discutida deva ser considerada para uma opccedilatildeo estrateacutegica efetiva Em

geral compreendo que o ensino de Sociologia pode ser inicialmente

desenvolvido numa articulaccedilatildeo entre as perspectivas de Carvalho

(2004) (origens pensadores e atualidade) e de Tomazi (2010) (teorias

conceitos e temas)

Desse modo acredito que minha proposta de problematizar

questotildees sobre tecnologia considera oa estudante na construccedilatildeo de seus

proacuteprios conhecimentos (autonomia) Isso fica presente no objetivo de

mobilizaacute-los para aleacutem de propor a criacutetica buscar modos de transformar

visotildees que distanciam compreensotildees sobre tecnologia do seu quotidiano

(emancipaccedilatildeo) A seguir destaco aspectos importantes nessa construccedilatildeo

tendo em vista a mobilizaccedilatildeo para a autoria

93

16 AUTORIA

Outro ponto importante nesta tese eacute apresentar alguns elementos

para debater a questatildeo da autoria Conforme Hollanda (2010) uma ideia

de autoria tal qual a utilizada geralmente na atualidade tem origem

aproximadamente apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa (1789-1799) com a

ascensatildeo do individualismo e da economia de mercado Naquele

contexto as primeiras leis reguladoras da propriedade intelectual

(copyright-inglesa e droit dauteur-francesa) foram elaboradas de modo

a considerar o debate acerca das disputas entre o direito dos sujeitos e o

interesse puacuteblico (HOLLANDA 2010)

Em termos de produccedilatildeo teoacuterica Hollanda (2010) destaca que o

filoacutesofo francecircs Michel Foucault (1926-1984) eacute fundamental no debate

sobre autoria sobretudo por seu texto do ano de 1969 ldquo O que eacute um

autorrdquo (Quest un auteur) Para a autora nessa obra ldquoFoucault desloca

a ideia essencialista da existecircncia real de uma autoria para a noccedilatildeo de

funccedilatildeo do autor Ou seja a autoria eacute uma noccedilatildeo construiacuteda

historicamente e existe apenas em sua funcionalidade cultural e

comercialrdquo (HOLLANDA 2010 sp)

No que diz respeito agrave educaccedilatildeo Juacutenior (2013) trata de autoria na

produccedilatildeo de textos acadecircmicos a partir da noccedilatildeo de moldura jaacute utilizada

por estudiosos de Artes Plaacutesticas Ele entende a autoria como um

complexo de componentes moldurais ldquodemarcadores de sentido entre o

que estaacute lsquoditorsquo pela obra e pode ser lido desde lsquodentrorsquo da moldura e

aquilo que estaacute dito pela obra fora da moldurardquo (JUacuteNIOR p 233) 67

Aleacutem disso Juacutenior (2013) natildeo compreende a autoria como um atributo

individual mas como um componente social fundamental nos processos

de produccedilatildeo de conhecimentos

Sem ignorar a gecircnese e a densidade teoacuterica do tema da autoria em

diversas aacutereas de conhecimento o foco de minhas reflexotildees nesse

momento eacute investigar de que maneira e em que medida eacute possiacutevel

promover a autoria segundo uma visatildeo criacutetica de TS em ambientes

educacionais Como eu relatei na introduccedilatildeo essa questatildeo tomou

contornos mais definidos a partir de minhas interaccedilotildees com docentes e

discentes da UNTL em Timor Leste Contudo antes disso o tema da

67 Assim a autoria seria algo como um demarcador simboacutelico de espaccedilos de

circulaccedilatildeo de sentidos nas quais a dialeacutetica entre as propriedades

ldquointramolduraisrdquo e os componentes ldquoextra-molduraisrdquo se expressariam

(JUacuteNIOR 2013 p 239)

94

autoria tornou-se objeto de minhas reflexotildees devido a aproximaccedilotildees que

tive com as leituras no grupo DiCiTE

Em pesquisas realizadas por integrantes do grupo existem

discussotildees voltadas agrave perspectiva discursiva de Educaccedilatildeo CTS

(CASSIANI LINSINGEN 2010) que buscam contribuiccedilotildees da AD

francesa e de abordagens de educaccedilatildeo criacutetica como as de Paulo Freire

por exemplo Um dos elementos presentes nos estudos do grupo diz

respeito a construir processos formativos que considerem a questatildeo da

autoria e possibilitem ldquomaior inserccedilatildeo social das pessoas no sentido de

se tornarem aptas a participarem dos processos de tomadas de decisotildees

conscientes e negociadas em assuntos que envolvam ciecircncia e

tecnologiardquo (LINSINGEN 2007 p 13)

Uma ideia geral que perpassa tais pesquisas eacute a de que atraveacutes do

conceito de autoria seria possiacutevel relacionar posiccedilotildees dos sujeitos nos

processos de ensino-aprendizagem com os sentidos produzidos a partir

dessas posiccedilotildees (GIRALDI 2010 CASSIANI GIRALDI

LINSINGEN 2012) ldquoAo assumir a posiccedilatildeo de autor o sujeito situa-se

em uma determinada posiccedilatildeo social filiando-se a uma rede de sentidos

Assim para a assunccedilatildeo da autoria eacute preciso que os processos de

ensinoaprendizagem escolar permitam a abertura de um espaccedilo de

dizerrdquo (GIRALDI 2010 p 136) Nesses espaccedilos citados pela autora

penso nas possibilidades de desenvolvimento de autonomia

Compreendo que haacute uma questatildeo de autonomia dos sujeitos

envolvida nos processos formativos participativos e conscientes citados

logo acima por Linsingen (2007) A autonomia tambeacutem faz parte das

reflexotildees de Giraldi (2010) que ao debater profundamente a questatildeo da

autoria no ensino de ciecircncias destaca a necessidade dosas estudantes

colocarem-se como sujeitos de sua aprendizagem A autora aproxima-se

de Freire (1987) e de sua criacutetica agrave educaccedilatildeo bancaacuteria de modo que vecirc

na assunccedilatildeo da autoria possibilidades de autonomia

Portanto meu interesse pelo tema da autoria e minha intenccedilatildeo de

examinar relaccedilotildees entre esta e a autonomia e a emancipaccedilatildeo social na

educaccedilatildeo tecircm origem no DiCiTE A partir de entatildeo busquei construir

sentidos sobre autoria em relaccedilatildeo a TS Para isso aleacutem de minha

experiecircncia em Timor-Leste outra circunstacircncia que foi influente diz

respeito a uma situaccedilatildeo pessoal na qual eu fui comparada agrave Aracne por

defender um trabalho autoral

95

O mito de Aracne tem muitas versotildees68 mas trata basicamente

de uma disputa entre Aracne (uma mortal habilidosa nas artes de tecer e

bordar) e a deusa romana protetora dos artesatildeos Minerva69 Nos relatos

Minerva natildeo aprecia o fato da mortal natildeo lhe dar creacuteditos por suas

habilidades como pode ser observado no trecho de diaacutelogo descrito

abaixo

ldquo() - Maacutes conveacutem agradecer sempre agrave Minerva este dom

recebido

- Ora e que meacuteritos eu teria se devo exclusivamente a ela meu

talento ndash disse Aracne - Ela que cuide de seus bordados que eu cuido

dos meusrdquo (FRANCHINI SEGANFREDO 2012 p 219)

Com isso a deusa Minerva haveria proposto uma disputa com a

mortal Aracne na qual cada uma delas deveria produzir um bordado que

seria julgado pelas ninfas (divindades mortais que auxiliavam osas

deusesas) A deusa entatildeo desenhou uma cena na qual mostrava o

descontentamento dosas deusesas ldquocom mortais presunccedilosos que se

atreviam a concorrer com elesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) enquanto

Aracne escolheu ldquoassuntos destinados a provar os enganos e erros dos

deusesrdquo (BULFINCH 2006 p 115) No final da disputa o

descontentamento da deusa com a beleza do trabalho da mortal resultou

em um castigo com a transformaccedilatildeo dessa em uma aranha Contudo

Aracne mesmo metamorfoseada passou a produzir trabalhos ainda mais

belos

A criacutetica que recebi levou-me a refletir sobre como buscar

possibilidades de relacionar uma perspectiva criacutetica de TS com a

questatildeo da autoria em ambientes educacionais de modo que estudantes

tendo em vista o mito de Aracne possam (i) desenvolver (mais) atitudes

criacuteticas (estranhamento e desnaturalizaccedilatildeo) em relaccedilatildeo a conhecimentos

previamente construiacutedos (ii) pensar (mais) criticamente sobre a

importacircncia de seu posicionamento como produtores (autores) de

conhecimentos (elaborar problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicas) e (iii)

compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo humana (feita por sujeitos em

condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas determinadas) e natildeo algo ldquomaacutegicordquo e fora de

suas possibilidades de entendimento

68 No entanto em todas as versotildees da histoacuteria que examinei Aracne sempre eacute

transformada em aranha pela deusa Minerva no final do relato e permanece a

ideia de que Aracne defendia seu trabalho como autoral a despeito de ter sido

ou natildeo disciacutepula da deusa 69 Na mitologia grega Minerva eacute chamada de Atena

96

Essa reflexatildeo sobre o mito de Aracne poderia ajudar a

desmistificar as ideias de genialidade e exterioridade muitas vezes

envolvidas na produccedilatildeo de tecnologias Aleacutem disso destaco que natildeo eacute o

caso aqui de propor autoria como sinocircnimo de individualidade

privatizaccedilatildeo centralizaccedilatildeo ou mesmo de propriedade Penso que a

relaccedilatildeo com a defesa que Aracne faz da sua arte possa se referir ao

pensamento criacutetico e a autonomia sem prescindir de concepccedilotildees sobre

trabalhos em formatos colaborativos de trocas produtivas e de criaccedilatildeo

compartilhada

Acredito que desse modo a ideia de autoria tambeacutem pode estar

relacionada em alguma medida com outro movimento que me inspira70

em relaccedilatildeo agrave temaacutetica autoral qual seja o debate envolvido nos

princiacutepios baacutesicos do Software Livre (SL)71 Para compreendermos o

baacutesico desse debate eacute importante lembrarmos algumas ideias gerais

sobre computaccedilatildeo como as que apresento modestamente a seguir

Os computadores (incluiacutedos aqui notebooks tablets e etc)

precisam de programas para seu funcionamento sendo que o chamado

sistema operacional eacute o programa responsaacutevel pelo funcionamento do

computador que faz a comunicaccedilatildeo entre hardware (mouse teclado

etc) e software (aplicativos) Existem programas que possuem o coacutedigo-

fonte (conjunto de comandos em alguma das linguagens de programaccedilatildeo

existentes) aberto desenvolvido por programadoresas voluntaacuteriosas

espalhadosas na internet e distribuiacutedo sob Licenccedila Puacuteblica Geral LPG

(conhecida em inglecircs como copyleft em contraposiccedilatildeo ao copyright) O

Linux eacute um exemplo de nuacutecleo de um sistema operacional desse tipo e

faz parte dos chamados SL (SILVEIRA 2009)

Jaacute o Windows da empresa Microsoft eacute um exemplo de software

proprietaacuterio que natildeo possui coacutedigo-fonte disponiacutevel e vende uma

licenccedila para que oa usuaacuterioa possa utilizaacute-lo Conforme Silveira

(2004) o software proprietaacuterio estaacute orientado ao benefiacutecio de fabricantes

(geralmente meacutedias ou grandes empresas) e o SL se orienta

principalmente para o benefiacutecio de seussuas usuaacuteriosas Sendo que a

grande consequecircncia sociocultural e econocircmica do SL seria sua aposta

no compartilhamento de informaccedilotildees e conhecimentos

70 Verifico que tal inspiraccedilatildeo tambeacutem aparece em estudos como o de Silveira

(2009) que reflete sobre tecnologia e processos de emancipaccedilatildeo inclusive com

base nas perspectivas teoacutericas de Boaventura de Sousa Santos no que diz

respeito agrave globalizaccedilatildeo contra hegemocircnica 71 Nesta tese natildeo exploro o histoacuterico os pressupostos poliacuteticos e a eacutetica do SL

Para maiores informaccedilotildees verificar a referecircncia feita a Silveira (2004)

97

Silveira (2004) destaca que a movimentaccedilatildeo em torno do

desenvolvimento de SL comeccedilou nos anos 1980 e ganhou forccedila atraveacutes

da internet O autor classifica ldquodefensores e opositoresrdquo do SL Osas

primeirosas seriam aleacutem de interessadosas em programaccedilatildeo e sistemas

computacionais ldquoos acadecircmicos os cientistas os mais diferentes

combatentes pela causa da liberdade e mais recentemente as forccedilas

poliacutetico-culturais que apoiam a distribuiccedilatildeo mais equitativa dos

benefiacutecios da era da informaccedilatildeordquo (SILVEIRA 2004 sp) Para o autor

osas opositoresas seriam grandes empresas capitalistas usuaacuterias de um

modelo econocircmico baseado na exploraccedilatildeo de licenccedilas de uso de

software e do controle monopoliacutestico de coacutedigos essenciais dos

programas de computadores72

Richard Stallman presidente da Fundaccedilatildeo do Software Livre

(Free Software Foundation) esclarece que em contraposiccedilatildeo ao

software proprietaacuterio (defendido pelosas opositoresas do SL) o SL diz

respeito agrave liberdade dosas usuaacuteriosas para (i) executar (ii) copiar (iii)

distribuir e (iv) estudar e melhorar o software (modificaccedilatildeo)

(STALLMAN 2008)73 Essas quatro liberdades citadas se relacionam

com os princiacutepios do SL para ser socialmente justo economicamente

viaacutevel e tecnologicamente sustentaacutevel (SILVEIRA 2004) Aleacutem disso

Silveira (2004) esclarece que os projetos de SL envolvem tanto a

colaboraccedilatildeo entre sujeitos interessados quanto a descentralizaccedilatildeo do

poder de modo a preservar as quatro liberdades envolvidas com SL

Em sentido similar Raymond (1998) faz uma comparaccedilatildeo entre

dois modos diferentes de organizar o desenvolvimento de software

quais sejam cathedral (catedral) e Bazaar (bazar) O primeiro deles

identificado com o software proprietaacuterio corresponderia a maior parte

do mundo comercial e funcionaria de modo hierarquizado e

conservador Jaacute o modelo bazar baseado no mundo do Linux e

identificado com o SL natildeo possuiria uma organizaccedilatildeo formal e

apresentaria tendecircncias voluntaacuterias Por estar em constante

aprimoramento dosas usuaacuteriosas a capacidade de inovaccedilatildeo desse

uacuteltimo seria mais alta que a do modelo catedral do software proprietaacuterio

(RAYMOND 1998)

72 Contudo essa afirmaccedilatildeo natildeo estaacute fora de controveacutersias em torno do fato de

que atualmente grandes empresas capitalistas faccedilam uso de SL 73 Free software is a matter of the users freedom to run copy distribute study

change and improve the software (STALLMAN 2008) Traduccedilatildeo livre da

autora

98

Tendo em vista um sentido dinacircmico de criaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo

social penso nas possibilidades de relacionar essas caracteriacutesticas do SL

com uma perspectiva criacutetica de TS tal como examinarei no capiacutetulo 2 (a

partir da paacutegina 115) Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE e

primeira aproximaccedilatildeo com o tema da autoria procurei relacionar essa

temaacutetica com uma leitura sobre o mito de Aracne e com princiacutepios que

entendo que sejam compartilhados com desenvolvedoresas de SL

Contudo minhas vivecircncias em Timor-Leste levaram-me a refletir

sobre outros aspectos que poderiam ajudar a compor uma ideia de

autoria voltada a TS tendo em vista as perspectivas de criaccedilatildeo

colaborativa que apresentei na minha leitura sobre o mito de Aracne e

no desenvolvimento de SL Essas reflexotildees tomaram forma na

oportunidade que tive de participar de uma mesa-redonda sobre TS e

produccedilatildeo de conhecimentos na UNTL na qual debatemos sobre

perspectivas educacionais em TS como referi na introduccedilatildeo desta tese

Com alguma familiaridade com debates promovidos na aacuterea das

Ciecircncias Sociais sobre ldquoo que eacute ser brasileiroardquo minha preparaccedilatildeo para

a mesa-redonda envolveu alguns questionamentos acerca da construccedilatildeo

de identidades dosdas timorenses Minha preocupaccedilatildeo era compreender

para (com) quem eu falaria e como o tema sobre TS poderia ter

relevacircncia naquele contexto

De minhas observaccedilotildees e discussotildees com docentes e discentes da

UNTL compreendi que o fato de o paiacutes haver passado por um processo

de colonizaccedilatildeo por parte de Portugal que se seguiu a uma ocupaccedilatildeo

violenta por parte da Indoneacutesia74 estava relacionado agrave adoccedilatildeo do lema

oficial ldquopaz e desenvolvimentordquo e agrave vontade manifesta de reconstruccedilatildeo

do paiacutes Natildeo uma reconstruccedilatildeo imposta de fora mas um processo do

povo timorense com o povo timorense e para o povo timorense

Ao perceber essa demanda expressa sobretudo pelas juventudes

timorenses (estudantes da UNTL) busquei articular TS e educaccedilatildeo com

a questatildeo da autoria dentro daquilo que eacute conhecido como a eacutetica do

movimento DIY (sigla em inglecircs para Do It Yourself em portuguecircs

ldquofaccedila vocecirc mesmordquo) Conforme Carvalho (2015) o movimento DIY faz

criacutetica ao consumismo e busca a promoccedilatildeo de uma postura poliacutetica

74 Para uma inserccedilatildeo maior na compreensatildeo da histoacuteria timorense e sua relaccedilatildeo

com produccedilatildeo de conhecimentos verificar a tese de doutorado da seguinte

referecircncia PEREIRA P B (2014) O Programa de Qualificaccedilatildeo de Docentes

e Ensino de Liacutengua Portuguesa no Timor-Leste (PQLP) Um olhar para o

Ensino de Ciecircncias Naturais Tese de Doutorado Educaccedilatildeo Cientiacutefica e

Tecnoloacutegica UFSC Florianoacutepolis 2014

99

associada agrave produccedilatildeo proacutepria de bens de consumo de modo caseiro e

com baixo impacto ambiental negativo

O movimento teve forccedila em sua difusatildeo juntamente com a

cultura da muacutesica punk75 nos anos 1970 com quem compartilhava a

negaccedilatildeo do consumismo e a iniciativa de criaccedilatildeo proacutepria O DIY

incentiva a produccedilatildeo local (costura artesanato alimentos orgacircnicos de

agricultura familiar ou caseira) o consumo consciente (identificar

origem e custo ambiental) as produccedilotildees artiacutesticas colaborativas

(produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de muacutesica literatura e viacutedeo em rede) e a

autossuficiecircncia e independecircncia dos sujeitos (CARVALHO 2015)

Em relaccedilatildeo agrave autoria minha contextualizaccedilatildeo do DIY para

debates sobre desenvolvimento de TS com as juventudes timorenses

envolveu problematizar as possibilidades de articulaccedilatildeo entre os

conhecimentos locais e a produccedilatildeo cientiacutefica atual via TS mas aleacutem

disso destacar o potencial criativo existente em cada um de noacutes A

intenccedilatildeo foi estabelecer um debate sobre as possibilidades que temos

para desenvolver projetos de um novo jeito do nosso jeito voltados ao

nosso contexto nas condiccedilotildees soacutecio-histoacutericas atuais

A ideia ali foi mostrar que as TS tambeacutem poderiam ser vistas

dessa maneira como o jeito proacuteprio de cada sujeito em seu coletivo

pensar em seus problemas ou antes fazer a criacutetica de sua condiccedilatildeo

desnaturalizaacute-la e problematizaacute-la [com o cuidado de natildeo compreender

TS segundo perspectivas problemaacuteticas envolvidas com as Tecnologias

Apropriadas (TA)] De modo a resgatar seus conhecimentos e

75 Resumidamente punk eacute um estilo musical originaacuterio dos anos 1970 derivado

do rock tanto da Inglaterra quanto dos Estados Unidos Eacute um tipo de muacutesica

caracterizada por ter poucos acordes ser simples e raacutepida Na origem tinha

letras que expressavam a realidade de jovens pobres desempregados e sem

futuro Criticavam o governo a educaccedilatildeo os poliacuteticos a monarquia os

impostos a pobreza o desemprego e a falta de perspectiva (SHAND

KEMPIM 2002 BIVAR 1983) Um dos principais diferenciais do punk em

relaccedilatildeo ao rock progressivo que dominava a eacutepoca era que o fatilde conseguia tocar

como o seu iacutedolo porque o som era faacutecil de ser executado (BIVAR 1983) De

certa maneira o distanciamento entre fatilde e iacutedolo ou entre ouvinte e banda

diminuiacutea Desse modo o punk estava envolvido com a ideia de que ldquose vocecirc

natildeo gosta do que existe faccedila vocecirc mesmordquo (SAVAGE 2005 sp) Nesse

espiacuterito do DIY os punks comeccedilaram a criar suas proacuteprias artes plaacutesticas

roupas aacutelbuns e publicaccedilotildees editoriais (SAVAGE 2005) Sendo que a

socializaccedilatildeo independente dessas produccedilotildees eacute algo fundamental para as bandas

punk Exemplos de bandasartistas punk da primeira geraccedilatildeo Sex Pistols

Ramones The Clash Television e Patti Smith (artista solo)

100

potencialidades como sujeitos que possam ter acesso conhecimento e

possibilidade de escolha criacutetica em questotildees relacionadas ao

desenvolvimento produccedilatildeo divulgaccedilatildeo educaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

tecnologias

Portanto a partir de minha inserccedilatildeo no DiCiTE com o

conhecimento do tema sobre autoria passei a buscar relaccedilotildees entre essa

temaacutetica e TS Algo que me levou a uma leitura sobre o mito de Aracne

uma reflexatildeo sobre processos colaborativos envolvidos com o

desenvolvimento de SL e chegou ateacute o movimento DIY e suas

possibilidades criativas e autossuficientes Desse modo penso em

autoria ou produccedilatildeo autoral de TS tendo em vista tanto a apropriaccedilatildeo

(sujeitos envolvidos em seus problemas socioteacutecnicos) quanto a criaccedilatildeo

(sujeitos (re)constroem sentidos sobre seus sentimentos) para uma

mobilizaccedilatildeo reflexiva e criacutetica para a accedilatildeo e a transformaccedilatildeo Destaco

que natildeo eacute o caso de pensar na autoria como um estaacutegio final a ser

alcanccedilado como o resultado de um conjunto de accedilotildees Antes interessam

todos os processos de produccedilatildeo de novos sentidos Processos que natildeo

satildeo individuais porque se relacionam com o interdiscurso76

A partir dessas influecircncias nesta tese busco relacionar a

construccedilatildeo de autoria com possibilidades de desenvolvimento de

autonomia em contextos educacionais na medida em que sujeitos na

posiccedilatildeo de autoresas natildeo satildeo apenas usuaacuteriosas Uma usuaacuterioa de TS

por exemplo comumente estaria inseridoa em uma poliacutetica puacuteblica para

resoluccedilatildeo de problemas socioteacutecnicos que foi pensada de modo vertical

(desde o Estado ateacute o sujeito) que reproduziria soluccedilotildees utilizadas em

diferentes contextos e natildeo participaria necessariamente de alguma

etapa dos processos de identificaccedilatildeo e resoluccedilatildeo dos seus problemas

Jaacute o sujeito que faz parte de processos educacionais em um

contexto de construccedilatildeo de autoria sujeito autor tornaria puacuteblico que

seus problemas socioteacutecnicos satildeo importantes e que eacute relevante a busca

coletiva de soluccedilotildees Ou seja produzir e reconhecer sentidos de modo

contextualizado estaria relacionado ao desenvolvimento de TS

sobretudo na questatildeo da autonomia e da relaccedilatildeo problemanatildeo problema

e soluccedilatildeo (THOMAS 2009) na medida em que os sujeitos poderiam

tanto considerar e apresentar publicamente seus problemas socioteacutecnicos

76 Na AD o interdiscurso (o jaacute-dito) pode ser entendido como formulaccedilotildees

feitas e jaacute esquecidas que se relacionam com os dizeres dos sujeitos Assim

podemos compreender sentidos e formulaccedilotildees do que jaacute foi dito de modo

contextualizado soacutecio-historicamente

101

como relevantes como teriam possibilidades de tornarem-se autoresas

na resoluccedilatildeo destes

Em minhas reflexotildees sobre perspectivas educacionais em TS

considero que autoria e autonomia satildeo noccedilotildees que podem ser

examinadas de modo profiacutecuo quando em relaccedilatildeo como jaacute destaquei

sobretudo segundo a proposta educacional freireana articulada aos

ECTS algo tambeacutem analisado em autoresas como Nascimento e

Linsingen (2006)

Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados

com a vivecircncia dos sujeitos e que consideram os conhecimentos

historicamente produzidos Nascimento e Linsingen (2006) partiram de

tais pressupostos e os relacionaram agrave Educaccedilatildeo CTS ao analisarem o

ensino de ciecircncias Acredito que uma construccedilatildeo similar em relaccedilatildeo a

TS tambeacutem possa ser realizada

Para isso eacute possiacutevel partir da interpretaccedilatildeo criacutetica que Freire

(1992) apresenta sobre a tecnologia qual seja ldquonunca talvez a frase

quase feita ndash exercer o controle sobre a tecnologia e pocirc-la a serviccedilo dos

seres humanos ndash teve tanta urgecircncia de virar fato quanto hoje em defesa

da liberdade mesma sem a qual o sonho da democracia se esvairdquo

(FREIRE 1992 p133) Contudo vejo as potencialidades relacionadas a

TS com cautela para natildeo as pensar de modo determinista como

comumente se faz com as TA e as Tecnologias Convencionais (TC)77

Acreditar que por si soacute as TS teriam uma natureza

emancipatoacuteria que linearmente colaborariam nos processos de

autonomia dos sujeitos pode caracterizar o mesmo problema do

determinismo tecnoloacutegico que critico (CORREcircA 2010) Sem ignorar os

desafios inerentes a qualquer processo educativo aposto no potencial

pedagoacutegico emancipatoacuterio das TS e considero que um passo inicial

nesse processo seja a criacutetica agrave noccedilatildeo estrita de usuaacuterioa A partir dessa

criacutetica buscamos modificar uma possiacutevel posiccedilatildeo reativa (usuaacuterioa) em

accedilotildees de caraacuteter ativo colaborativo e criativo (buscar soluccedilotildees para

dificuldades e carecircncias socioteacutecnicas de suas coletividades) atraveacutes de

accedilotildees de efeito transformador

Contudo natildeo eacute o caso de considerar aqui que os sujeitos natildeo

tenham disposiccedilatildeo para enfrentar seus problemas socioteacutecnicos ou de

propor a mobilizaccedilatildeo para autoria como um processo de ldquoautoajudardquo

que desconsideraria estruturas opressivas que conferem uma situaccedilatildeo de

vulnerabilidade aos sujeitos A intenccedilatildeo eacute buscar interaccedilatildeo com as

juventudes atraveacutes de processos educacionais que destaquem tais

77 As TA e TC seratildeo examinadas no segundo capiacutetulo desta tese

102

situaccedilotildees opressoras e mobilizem para reflexotildees sobre possibilidades

emancipatoacuterias criativas e colaborativas Algo que jaacute referi ao tratar do

pensamento freireano em relaccedilatildeo agrave superaccedilatildeo de visotildees ingecircnuas para se

chegar na criticidade atraveacutes da educaccedilatildeo para a autonomia

Para finalizar este primeiro capiacutetulo apresento no proacuteximo toacutepico

algumas questotildees sobre as possibilidades de uma educaccedilatildeo voltada para

a autoria uma outra educaccedilatildeo possiacutevel Portanto retomo a temaacutetica da

emancipaccedilatildeo social que foi vista em Adorno (1995) considero

posicionamentos de autoresas com interesse em temas sobre gecircnero

raccedilaetnia religiatildeo e classe social e busco diaacutelogos possiacuteveis com a

proposta de Santos (2009) para reinventar a emancipaccedilatildeo social

17 OUTRA EDUCACcedilAtildeO POSSIacuteVEL

Neste capiacutetulo inicial esbocei o pensamento de autoresas e

orientaccedilotildees teoacutericas que tecircm relaccedilatildeo com o que penso sobre educaccedilatildeo na

perspectiva que delineei ateacute agora (politecnia) Qual seja dialoacutegica

transformadora criacutetica com formaccedilatildeo integral (atenda agraves dimensotildees do

desenvolvimento humano) com consciecircncia poliacutetica e contextualizada

Minha intenccedilatildeo natildeo foi examinar todos os autoresas que tratam de

relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia Assim como no tempo e espaccedilo

desta tese natildeo seria possiacutevel aprofundar a riqueza teoacuterica de cada

autora

Fiz escolhas e aproximaccedilotildees que acredito mostrarem aspectos

importantes mesmo que pontuais dessas relaccedilotildees tendo em vista o

contexto de minha anaacutelise Mais que isso osas autoresas que escolhi

discutir aqui fazem parte das minhas histoacuterias de leitura na vida

acadecircmica e acredito que em alguma medida tecircm contribuiccedilotildees ao

problema de pesquisa que apresentei

Portanto minha referecircncia a Freire Adorno Gramsci e Marx diz

respeito a minhas histoacuterias de leituras mais antigas A escolha desse

referencial natildeo significa a reproduccedilatildeo ingecircnua de algo como uma

epistemologia masculina (SANTOS 2014) Autorases que tratam de

questotildees relativas ao feminino e ao feminismo tambeacutem fazem parte de

minhas leituras mais recentes e certamente influenciam meu olhar sobre

as relaccedilotildees que busco investigar entre educaccedilatildeo e tecnologias no Brasil

atual Entre essas autoras cito Heleieth Saffioti Moema Viezzer Mariacutea

Luisa Femeniacuteas Donna Haraway e Sandra Harding Embora essas

autoras possam adotar diferentes perspectivas tecircm uma mirada sobre

gecircnero raccedilaetnia religiatildeo classe social e tecnologia que interessam

em minhas anaacutelises

103

Uma das pioneiras no Brasil em analisar questotildees sobre a

situaccedilatildeo da mulher na sociedade capitalista foi Heleieth Saffioti A

autora busca interpretar e superar problemas da posiccedilatildeo feminina no

modo de produccedilatildeo capitalista e examina a condiccedilatildeo da mulher na

perspectiva socialista (SAFFIOTI 2011) Ainda no Brasil Moema

Viezzer eacute escritora e socioacuteloga dedicada agrave educaccedilatildeo popular de mulheres

atraveacutes da Rede Mulher de Educaccedilatildeo que fundou nos anos 1980 Seus

estudos relacionam gecircnero e meio ambiente Eacute uma das organizadoras

do II Plano Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres (VIEZZER

MOREIRA GRONDIN 2009)

Mariacutea Luisa Femeniacuteas eacute uma filoacutesofa argentina cujos trabalhos

dialogam com diferentes campos disciplinares na tentativa de evidenciar

os modos pelos quais mulheres e o que ela chama de ldquosubalternos latino-

americanos em geralrdquo satildeo caracterizados nos discursos centrais

(FEMENIacuteAS 2007) que eu aqui chamo de Norte Como bem destaca

Santos (2014) a autora procura mostrar como cultura classe social

raccedilaetnia e religiatildeo estatildeo entrecruzados e relacionados com questotildees de

gecircnero na Ibero-Ameacuterica

Uma pesquisadora reconhecida segundo a perspectiva criacutetica

feminista da ciecircncia e tecnologia eacute Donna Haraway Com a ideia de

ciborgue criatura de um mundo poacutes-gecircnero ela trata de hibridaccedilatildeo de

quimeras de binocircmios modernos do tipo animal e maacutequina natural e

fabricado branco e negro macho e fecircmea entre outros exemplos

(HARAWAY 2013) Aleacutem disso tambeacutem interessam os

posicionamentos da autora em relaccedilatildeo ao pensamento de fronteira e seu

poder para a emancipaccedilatildeo e a resistecircncia (HARAWAY 1991)

A filoacutesofa norte-americana Sandra Harding complementa estudos

sobre gecircnero com a identificaccedilatildeo de trecircs tipos de investigaccedilatildeo feminista

A autora destaca o empirismo feminista as teorias poacutes-modernas e as

teorias perspectivistas ou do ponto de vista (Standpoint Epistemologies)

Filiada a essa uacuteltima Harding (1992 2004) considera que as

experiecircncias satildeo localizadas e portanto o conhecimento cientiacutefico deve

partir de localizaccedilotildees sociais objetivas A teoria do ponto de vista

considera tanto que os objetos devam ser compreendidos poliacutetica e

criticamente a partir do ponto de vista em que foram produzidos quanto

deva haver uma ampliaccedilatildeo de anaacutelises para permitir a presenccedila de outros

sujeitos tradicionalmente excluiacutedos

Para aleacutem dessas referecircncias (tanto explicitadas na abordagem

teoacuterica quanto as que acompanham ldquosilenciosamenterdquo as anaacutelises)

procuro estabelecer um diaacutelogo com algumas perspectivas de

Boaventura de Sousa Santos pois seus estudos tecircm (i) relevacircncia no

104

quadro socioloacutegico atual (ii) o Brasil (e o Sul) como campo de

pesquisas (iii) preocupaccedilatildeo com a questatildeo da emancipaccedilatildeo social (iv)

consideraccedilatildeo com a educaccedilatildeo78 e (v) posicionamento criacutetico agrave

globalizaccedilatildeo do capital (ponto que o aproxima do referencial que

utilizo) Portanto vejo que o exame mesmo que breve de seus

posicionamentos em relaccedilatildeo a Epistemologias do Sul (SANTOS

MENESES 2010) e Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias

(SANTOS 2002 2007) pode colaborar de modo profiacutecuo com as

minhas questotildees de investigaccedilatildeo79

Meneses (2014) esclarece que os processos que conferem

inteligibilidade e intencionalidade agraves experiecircncias sociais satildeo muacuteltiplos

e variados sendo que todas essas experiecircncias sociais produzem e

reproduzem conhecimento Tais accedilotildees pressupotildeem a presenccedila de vaacuterias

epistemologias Portanto o termo ldquoepistemologias do Sulrdquo considera

uma pluralidade epistemoloacutegica um ldquoreconhecimento de conhecimentos

plurais em presenccedilardquo (p 92) Em Epistemologias do Sul (SANTOS

MENESES 2010) os autores buscam possibilidades de descentralizar a

produccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico do Norte para o Sul

78 O que fica evidente em sua fala sobre ldquoA relaccedilatildeo entre universidade e

educaccedilatildeo popular atual momento histoacutericordquo como convidado do Foacuterum Social

Temaacutetico que marcou os 15 anos dos Foacuteruns Sociais Mundiais em janeiro do

ano de 2016 em Porto Alegre Disponiacutevel em

lthttpwwwforumeducacaopopularorggt 79 Sinto-me agrave vontade para estabelecer esse diaacutelogo pois como explica Trivintildeos

(1987) ldquoestamos conscientes que o investigador pode usar em seus trabalhos

conceitos que tenham as suas raiacutezes em ideologias diferentes inclusive opostas

() As aquisiccedilotildees do ser humano pertencem agrave humanidade O homem pode

recorrer a elas natildeo importando seu lugar no cosmos rdquo (p 13) Portanto para

aleacutem de pensar sobre ecologia dos saberes na educaccedilatildeo baacutesica via TS posso

realizar uma investigaccedilatildeo na qual use tais princiacutepios na praacutetica Ou seja busco

dentro de uma visatildeo criacutetica (e sensiacutevel a questotildees de gecircnero classe religiatildeo e

raccedilaetnia) possiacuteveis pontos de conexatildeo entre o Pensamento Pedagoacutegico

Socialista o Pensamento Pedagoacutegico Brasileiro Progressista a Teoria Criacutetica

(da Tecnologia) e as Epistemologias do Sul pois eles tecircm em comum a busca

por transformaccedilatildeo social e natildeo apenas uma reforma Natildeo ignoro diferenccedilas

epistemoloacutegicas importantes que possam haver entre essas perspectivas

Contudo entendo que a realidade social eacute complexa o suficiente (e que os

problemas nas aacutereas educacionais satildeo dilemaacuteticos) para que eu verifique que a

observaccedilatildeo a partir de um uacutenico acircngulo pode silenciar ou invisibilizar possiacuteveis

soluccedilotildees Natildeo eacute o caso como jaacute destaquei de resumir inadvertidamente a

complexidade dos autoresas que trago aqui mas mostrar a educadoras e

educadores leitorases desta tese alguns caminhos possiacuteveis

105

Jaacute no iniacutecio do texto Meneses (SANTOS MENESES 2010) ao

citar Santos esclarece os trecircs posicionamentos fundamentais para

compreendermos as ideias dos autores ou seja o Sul existe podemos ir

ateacute laacute e podemos aprender desde laacute e com os de laacute Para isso seria

necessaacuterio problematizarmos a influecircncia monopolizadora do

pensamento europeu tendo em vista as relaccedilotildees entre dominaccedilatildeo

colonial dominaccedilatildeo cientiacutefica e possibilidades de resistecircncias A ideia

central eacute a de que a democratizaccedilatildeo das sociedades passa

necessariamente pela democratizaccedilatildeo do conhecimento

A Sociologia das Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002

2007) se relaciona com a pesquisa realizada pelo autor e que citei

anteriormente ldquoReinventar a Emancipaccedilatildeo Social Para Novos

Manifestosrdquo que investigou possibilidades de uma globalizaccedilatildeo

alternativa agrave neoliberal e ao capitalismo global em diferentes paiacuteses

(Aacutefrica do Sul Brasil Colocircmbia Iacutendia Moccedilambique e Portugal) Nesse

intento tiveram voz movimentos sociais e Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais (ONGs)

Em termos teoacutericos o autor explica que

enquanto a sociologia das ausecircncias amplia o

campo das experiecircncias sociais jaacute disponiacuteveis a

sociologia das emergecircncias expande o campo de

experiecircncias sociais possiacuteveis As duas

sociologias estatildeo estreitamente associadas visto

que quanto mais experiecircncias estiverem

disponiacuteveis hoje no mundo mais experiecircncias

seratildeo possiacuteveis no futuro Quanto mais ampla for

a realidade criacutevel mais vasto seraacute o campo de

sinais ou pistas em que acreditar e de futuros

possiacuteveis e concretos Quanto maior for a

multiplicidade e a diversidade das experiecircncias

disponiacuteveis e possiacuteveis (conhecimentos e agentes)

maior seraacute a expansatildeo do presente e a contraccedilatildeo

do futuro (SANTOS 2006 p 88)80

80 Mientras que la sociologiacutea de las ausencias expande el campo de las

experiencias sociales ya disponibles la sociologiacutea de las emergencias expande

el campo de las experiencias sociales posibles Las dos sociologiacuteas estaacuten

estrechamente asociadas visto que cuanto maacutes experiencias estuvieren hoy

disponibles en el mundo maacutes experiencias seriacutean posibles en el futuro Cuanto

maacutes amplia fuera la realidad creiacuteble maacutes vasto seriacutea el campo de las sentildeales o

pistas creiacutebles y de los futuros posibles y concretos Cuanto mayor fuese la

multiplicidad y la diversidad de las experiencias disponibles y posibles

106

E em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo de conhecimentos eacute possiacutevel perceber

que interessam diaacutelogos desde a biotecnologia passando pela justiccedila a

agricultura e a produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica Nesses termos em

discurso atual81 o autor trata do eminente diaacutelogo (interconhecimentos)

com a educaccedilatildeo Essa vista como negligenciada nos uacuteltimos anos de

modo que tanto juventudes como futuro ficaram comprometidos

Portanto seria necessaacuterio superar a dualidade entre educaccedilatildeo

popular (emancipadora das mentes e das praacuteticas) e educaccedilatildeo formal

(reguladora das mentes e das praacuteticas) pois a educaccedilatildeo formal estaacute

diversificada e democratizada constituindo um campo de luta

importante Para o autor precisamos aprofundar os diaacutelogos e as inter-

relaccedilotildees necessaacuterias para que toda a educaccedilatildeo seja popular e

emancipadora Algo que acredito poder ser desenvolvido em um ensino

politeacutecnico atento ao contexto educacional brasileiro atual E que

corresponde ao que considero como uma posiccedilatildeo criacutetica sobre TS em

processos educacionais Esse posicionamento se refere tanto a minhas

experiecircncias nos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul quanto a

minha consciecircncia social

No quadro 2 logo abaixo apresento um esquema das relaccedilotildees que

Santos e Meneses (2010) estabelecem entre produccedilatildeo de conhecimentos

dominaccedilatildeo e possibilidades de emancipaccedilatildeo social Desse modo penso

a educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo no qual as possibilidades para

diaacutelogos emancipatoacuterios estatildeo em pauta e quando indagaccedilotildees sobre

relaccedilotildees (produccedilotildees e apropriaccedilotildees) entre diferentes conhecimentos satildeo

pertinentes

(conocimientos y agentes) mayor seriacutea la expansioacuten del presente y la

contraccioacuten del futuro (SANTOS 2006 p 88) Traduccedilatildeo livre da autora 81 Foacuterum Social de Educaccedilatildeo Popular (2016) Verificar em

httpwwwforumeducacaopopularorg

107

Quadro 2 - Relaccedilotildees entre produccedilatildeo de conhecimentos e emancipaccedilatildeo social

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de texto de Santos e Meneses (2010)

Nesse quadro 2 acima localizo portanto o desenvolvimento de

TS como um momento de possibilidades de diaacutelogos horizontais entre

conhecimentos com inter-relaccedilatildeo entre teorias criacutetica a dogmatismos e

sensiacutevel a diferentes experiecircncias interpretaccedilotildees e valores dos sujeitos

envolvidos Algo que tambeacutem procuro relacionar com Freire (2011

1987) que considera os conhecimentos historicamente produzidos e faz

uma defesa de processos educacionais contextualizados e atentos agraves

vivecircncias dos sujeitos Assim como com a perspectiva defendida por

Feenberg de abertura de assuntos teacutecnicos agrave esfera puacuteblica como

verificamos na seguinte fala ldquoO aumento da esfera puacuteblica incluindo a

tecnologia marca uma mudanccedila radical do consenso anterior que

assegurava que os assuntos teacutecnicos deveriam ser decididos por

especialistas teacutecnicos sem interferecircncia leigardquo (FEENBERG 2004

p16)

108

Com o foco de atenccedilatildeo em processos educacionais no Brasil

tento refletir sobre novas (e antigas) questotildees educacionais apresentadas

pelas mudanccedilas soacutecio-histoacutericas contemporacircneas em relaccedilatildeo a

tecnologias Assim a seguir busco aprofundar as discussotildees sobre

tecnologia e TS tendo em vista suas possibilidades e limites

educacionais em contextos regionais latino-americanos

109

CAPIacuteTULO 2 TECNOLOGIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS

Na primeira parte desta tese meu foco foi em processos

educacionais Abordei a ECT de modo geral e a Educaccedilatildeo CTS como

uma especificidade em relaccedilatildeo agravequela que como um ramo dos ECTS

concentra-se em inter-relaccedilotildees entre perspectivas CTS e processos

educacionais Aleacutem disso destaquei influecircncias de diferentes autoresas

e correntes teoacutericas em tais inter-relaccedilotildees e busquei caracterizar como

considero o sujeito nas anaacutelises propostas

Nesta segunda parte ao delinear o sentido geral sobre tecnologia

que eacute aqui considerado examino pesquisas sobre o caraacuteter social da

tecnologia e posicionamentos de diferentes autoresas em relaccedilatildeo agrave

tecnologia Nesse processo dialogo com algumas perspectivas teoacutericas

(TCT por exemplo) e exponho a minha filiaccedilatildeo Para finalizar realizo

uma reflexatildeo sobre TS que inclui a sua histoacuteria conceitos pesquisas e

suas relaccedilotildees com processos educacionais

21 TECNOLOGIA

Consideremos mesmo que inicialmente que a tecnologia possa

ser algo como uma resposta a necessidades sociais Resposta essa que eacute

produzida em determinada sociedade e sob certas condiccedilotildees A partir

disso podemos compreender que diferentes modos de analisar essa

sociedade podem levar a muacuteltiplos pontos de vista no exame sobre a

tecnologia e podem produzir conhecimentos sobre esse tema com certas

particularidades Nesta tese destaco contribuiccedilotildees da Filosofia da

Educaccedilatildeo e das Ciecircncias Sociais mas eacute possiacutevel considerar a tecnologia

sob diversos olhares

211 Dimensotildees de anaacutelise

A tecnologia possui portanto muacuteltiplas dimensotildees82 que mesmo

que interligadas podem ser examinadas em separado Tais como a

econocircmica a poliacutetica a cientiacutefica e a ideoloacutegica (FIGUEIREDO 1989)

Essa uacuteltima faz referecircncia ao entendimento da tecnologia como algo

neutro que independe de interesses Figueiredo (1989) esclarece que ldquoa

dimensatildeo ideoloacutegica da tecnologia refere-se ao fato de a tecnologia se

82 Outras dimensotildees tambeacutem podem ser destacadas Cupani (2011) por

exemplo apresenta dimensotildees da tecnologia segundo o ponto de vista do

filoacutesofo norte-americano Carl Mitcham

110

apresentar como um processo neutro de domiacutenio e controle da natureza

em benefiacutecio de todosrdquo (p18) 83

Na dimensatildeo econocircmica as relaccedilotildees entre incremento

tecnoloacutegico inovaccedilatildeo e processo de industrializaccedilatildeo satildeo abordadas sob

diferentes teorias de desenvolvimento A anaacutelise com foco na poliacutetica

faz referecircncia agrave esfera de manifestaccedilatildeo de interesses sob determinadas

condiccedilotildees tendo em vista contextos institucionais de disputa por poder

Em relaccedilatildeo agrave ciecircncia Figueiredo (1989) esclarece que a tecnologia tem

uma histoacuteria proacutepria relacionada com a ciecircncia Contudo ciecircncia e

tecnologia apesar de muitas vezes se complementarem natildeo satildeo

substituiacuteveis entre si84

Essas constataccedilotildees natildeo significam a suposiccedilatildeo de

uma ciecircncia neutra contraposta a uma tecnologia

comprometida com interesses Ambas as

atividades satildeo expressatildeo cognitiva -

teoacutericopraacutetica - de interesses sociais e de

possibilidades por eles criadas O importante a

destacar eacute que os conhecimentos cientiacuteficos

produzidos ateacute um determinado momento satildeo

componente fundamental do campo de

possibilidades de avanccedilos tecnoloacutegicos Do

mesmo modo e em sentido inverso o

desenvolvimento tecnoloacutegico pressiona na direccedilatildeo

83 A problematizaccedilatildeo desse entendimento que apresenta como neutro o que eacute

ideoloacutegico eacute importante em processos educacionais que examinam a ideia de

determinismo tecnoloacutegico A seguir na apresentaccedilatildeo da TCT de Feenberg

(2002 2003 2012) essa questatildeo seraacute explorada com mais profundidade 84 A abordagem de Figueiredo (1989) permite o exame da tecnologia sem

prescindir de sua relaccedilatildeo com a ciecircncia mas de modo a considerar aquela como

objeto especiacutefico com suas dimensotildees proacuteprias para anaacutelise Como referi a

autora esclarece que ciecircncia e tecnologia tecircm histoacuterias proacuteprias que se cruzam

poreacutem sem se dissolverem uma na outra Isso permite que questotildees importantes

relativas a elas sejam examinadas conjuntamente ou em separado de acordo

com a anaacutelise pretendida Portanto mesmo com meu foco na tecnologia faccedilo

referecircncia aos termos ciecircncia e tecnologia em separado conjuntamente

(CampT - ciecircncia e tecnologia) utilizo o termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer

referecircncia agrave tecnologia dentro de minha perspectiva como produccedilatildeo social E

em alguns momentos abordo o termo tecnocientiacuteficordquo (utilizado aqui como um

recurso de linguagem para significar relaccedilotildees entre ciecircncia e tecnologia Natildeo eacute o

caso de eu fazer referecircncia a esse termo como necessariamente relacionado agrave

tecnociecircncia essa eacute examinada adiante)

111

da ampliaccedilatildeo das fronteiras do conhecimento

existente (FIGUEIREDO 1989 p 17)

De modo similar Baumgarten (2002 2006b) enfatiza que nem

toda teacutecnica deriva da ciecircncia sendo que as teacutecnicas podem fornecer agrave

ciecircncia novos objetos de pesquisa assim como expandir os caminhos

para a proacutepria investigaccedilatildeo

Enquanto a ciecircncia constitui-se em enunciados

(leis teorias) permitindo conhecer-se a realidade

e modificaacute-la a teacutecnica promove a transformaccedilatildeo

do real consistindo em operaccedilotildees visando a

satisfazer determinadas necessidades a ciecircncia e a

teacutecnica pressupotildeem portanto um plano uma

concepccedilatildeo um desiacutegnio a ser realizado

(BAUMGARTEN 2002 p 313)

A autora tambeacutem destaca que foi em torno do seacuteculo XVIII que

se passou a utilizar o termo tecnologia com o significado de

melhoramento racional das artes (teacutecnicas) em especial daquelas que se

exerciam na induacutestria mediante seu estudo cientiacutefico e de seus

produtos (BAUMGARTEN 2006b p 291 grifos da autora) Assim a

autora procura situar a tecnologia em relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e

resgata a aproximaccedilatildeo histoacuterica entre ciecircncia e tecnologia

Portanto a tecnologia pode ser examinada em diferentes

contextos (sociocultural econocircmico poliacutetico e educacional por

exemplo) e por sujeitos com propoacutesitos distintos O que corrobora sua

importacircncia na constituiccedilatildeo das sociedades contemporacircneas e seu debate

em processos educacionais E eacute justamente essa dimensatildeo educacional

que eacute explorada nesta tese atraveacutes de uma perspectiva criacutetica de TS

212 Sentido geral

Destaco a perspectiva do filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto

(1909-1987) que assim como os estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-

americanos e Feenberg (2002 2003 2012) considera o caraacuteter

ideoloacutegico da tecnologia Embora sua abordagem seja filosoacutefica o autor

contribui para um olhar socioloacutegico sobre a tecnologia pois sua anaacutelise

tem uma mirada sobre a produccedilatildeo humana como produccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais construccedilatildeo de formas de convivecircncia (FREITAS 2005 2006)

De acordo com Kleba (2008) Aacutelvaro Vieira Pinto faz parte de

um grupo de teoacutericos que procuraram explicar o atraso (grifo do autor)

112

econocircmico e poliacutetico brasileiro atraveacutes de diferentes olhares ldquosejam

cultural-raciais como em Oliveira Viana cultural-poliacuteticas como em

Raymundo Faoro ou na figura do Jeca-Tatu de Monteiro Lobato e

econocircmicas como em Celso Furtado e Caio Prado Juacutenior entre tantos

outrosrdquo (KLEBA 2008 p9) Nesse contexto Pinto (2005) procura

demonstrar a funccedilatildeo ideoloacutegica da tecnologia em relaccedilatildeo ao chamado

subdesenvolvimento85

Ao declarar que ldquotodo objeto incorpora em si uma ideia

originada no pensamento de algueacutem pertencente a uma sociedade

determinada na qual tem interessesrdquo (PINTO 2005 p 323) a

preocupaccedilatildeo do autor eacute com o papel ideoloacutegico da tecnologia no Brasil

Um dos debates que o autor propotildee eacute justamente a problematizaccedilatildeo da

tecnologia em relaccedilatildeo ao subdesenvolvimento principalmente em sua

funcionalidade para manter relaccedilotildees de dominaccedilatildeo do centro sobre a

periferia (FREITAS 2005) ou na terminologia que uso nesta tese do

Norte sobre o Sul

Dentro desse propoacutesito Pinto (2005) analisou o conceito de

tecnologia sob algumas perspectivas dentre as quais aponto quatro

definiccedilotildees No primeiro significado destacado pelo autor ldquoa lsquotecnologiarsquo

tem de ser a teoria a ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica

abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes as habilidades do fazer as

profissotildees e generalizadamente os modos de produzir alguma coisardquo

(PINTO 2005 p 219)

Assim o autor considera seu sentido geneacuterico poreacutem essencial

visto como uma teoria ou uma ciecircncia No segundo significado

apresentado por Pinto (2005) a tecnologia equivale pura e simplesmente

agrave teacutecnica Indiscutivelmente constitui este o sentido mais frequente e

popular da palavra o usado na linguagem corrente quando natildeo se exige

precisatildeo maiorrdquo (p219) Para o autor as duas palavras mostram-se

assim ldquointercambiaacuteveis no discurso habitual coloquial e sem rigorrdquo

(PINTO 2005 p 219)

O terceiro significado aparece ligado ao segundo como sinocircnimo

da teacutecnica poreacutem com certa particularidade

() encontramos o conceito de lsquotecnologiarsquo

entendido como o conjunto de todas as teacutecnicas de

85 O conceito da amanualidade eacute central no pensamento do autor Com ele os

efeitos da passagem do subdesenvolvimento ao desenvolvimento atraveacutes do

trabalho satildeo explicados O que significaria a possibilidade de manusear a

realidade com recursos cada vez mais elaborados (FREITAS 2006)

113

que dispotildee uma determinada sociedade em

qualquer fase histoacuterica de seu desenvolvimento

Em tal caso aplica-se tanto agraves civilizaccedilotildees do

passado quanto as condiccedilotildees vigentes

modernamente em qualquer grupo social (PINTO

2005 p 219)

De acordo com o autor o terceiro significado assume importacircncia

por ser a ele ldquoque se costuma fazer menccedilatildeo quando se procura referir ou

medir o grau de avanccedilo do processo das forccedilas produtivas de uma

sociedaderdquo (PINTO 2005 p220)

Por fim Pinto (2005) apresenta a quarta acepccedilatildeo do termo

tecnologia na qual destaca a ideologia da teacutecnica

Toda tecnologia contendo necessariamente o

sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica

transporta inevitavelmente um conteuacutedo

ideoloacutegico Consiste numa determinada acepccedilatildeo

do significado e do valor das accedilotildees humanas do

modo social de realizarem-se das relaccedilotildees do

trabalhador com o produto ou o ato acabado e

sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em

seu papel de fabricante de um bem ou autor de um

empreendimento e o destino dado agravequilo que cria

A teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um

ato humano necessariamente inserido no contexto

social que a solicita a possibilita e lhe daacute

aplicaccedilatildeo (PINTO 2005 p 320-321)

Tal definiccedilatildeo que destaca a autoria de sujeito(s) e apresenta a

tecnologia em relaccedilatildeo ao local e agraves condiccedilotildees em que ela eacute produzida

pode levar agrave compreensatildeo do caraacuteter social que a tecnologia pode

assumir enquanto realizaccedilatildeo humana Esse caraacuteter segundo Feenberg

natildeo reside na loacutegica do funcionamento interno da tecnologia mas na

relaccedilatildeo dessa loacutegica com um contexto social86 (2002 p 79) Eacute possiacutevel

compreender portanto que a tecnologia tem caraacuteter histoacuterico e coletivo

de modo a incluir interesses poliacuteticos e econocircmicos bem como valores

sociais e morais (ARAUacuteJO 1998 BAUMGARTEN 2008b)

86 The social character of technology lies not in the logic of its inner workings

but in the relation of that logic to a social context (FEENBERG 2002 p 79)

Traduccedilatildeo livre da autora

114

Esse entendimento eacute importante para analisarmos sentidos sobre

tecnologia em processos educacionais que envolvem autoria Nesse

aspecto a quarta definiccedilatildeo de Pinto (2005) pode ser relacionada com

uma educaccedilatildeo problematizadora dialoacutegica e politeacutecnica que possibilite

processos de emancipaccedilatildeo social

As relaccedilotildees de influecircncia muacutetua entre Pinto e Freire natildeo satildeo

novidade Sendo que o fato de Freire (1983) o chamar de mestre ao

desenvolver as ideias de consciecircncia criacutetica e consciecircncia ingecircnua natildeo eacute

surpresa De acordo com Faveri (2014) tais categorias jaacute estatildeo presentes

na obra de Pinto que eacute citado por Freire (1983)

A consciecircncia criacutetica ldquoeacute a representaccedilatildeo das coisas

e dos fatos como se datildeo na existecircncia empiacuterica

Nas suas correlaccedilotildees causais e circunstanciaisrdquo

ldquoA consciecircncia ingecircnua (pelo contraacuterio) se crecirc

superior aos fatos dominando-os de fora e por

isso se julga livre para entendecirc-los conforme

melhor lhe agradarrdquo (FREIRE 1983 p 105)

Para aleacutem dessas categorias Faveri (2014) esclarece que tanto

Pinto quanto Freire pensam a educaccedilatildeo como ato poliacutetico Para os dois

autores na educaccedilatildeo eacute importante definir claramente que sujeito se quer

formar e para viver em qual contexto soacutecio-econocircmico-cultural se

pretende formaacute-lo (FAVERI 2014)

A partir do conhecimento de que Pinto (2005) eacute leitor de Marx

considero a seguinte passagem como relacionada com uma perspectiva

politeacutecnica

Deste modo a teacutecnica aparentemente mais

grosseira ou confinante conduz pela apreensatildeo do

seu significado teoacuterico ou epistemoloacutegico agrave

aquisiccedilatildeo do universal representado pelo igual

valor existencial do trabalho de cada homem Seraacute

entatildeo o momento em que o teacutecnico natildeo se

identificaraacute mais com a teacutecnica particular de sua

profissatildeo ateacute agora causa de limitaccedilatildeo existencial

mas teraacute negado a identificaccedilatildeo restritiva para

alcanccedilar a identificaccedilatildeo universal com a teacutecnica

ou seja com a totalidade da capacidade de atuaccedilatildeo

primaacuteria livre Galgando a compreensatildeo unitaacuteria

da teacutecnica na plena universalidade em funccedilatildeo de

novas condiccedilotildees sociais em que exercer passaraacute a

dominar a que executa e todas as demais sabendo

115

o que significa quanto vale e quais as finalidades

dela em vez de ser como agora dominado por

ela a ponto de receber do trabalho particular

profissional sua qualificaccedilatildeo social enquanto ser

humano (PINTO 2005 p 223)

Desse modo considero que o autor tambeacutem percebe assim como

Marx o domiacutenio intelectual da teacutecnica como princiacutepio de libertaccedilatildeo do

trabalhador de emancipaccedilatildeo do sujeito87 E essa uacuteltima natildeo estaacute

descolada dos processos de dominaccedilatildeo do Norte sobre o Sul

De acordo com Freitas (2005) a quarta definiccedilatildeo sobre a teacutecnica

que destaca sua ideologia mostra que Pinto (2005) via os processos de

dominaccedilatildeo como a disseminaccedilatildeo a partir do centro (Norte) de um dos

significados da teacutecnica como universal ldquoreservando ao mundo da

periferia a condiccedilatildeo de lsquopaciente receptorrsquo das inovaccedilotildees teacutecnicas

quando na verdade jaacute se pronunciava uma lsquofase histoacutericarsquo na qual era

possiacutevel atuar como lsquoagente propulsorrsquo do proacuteprio desenvolvimentordquo

(FREITAS 2005 p 4)

No esquema que apresentei no quadro 2 faccedilo uma leitura de

Santos e Meneses (2010) justamente nesse sentido Qual seja que

processos de dominaccedilatildeo natildeo ocorrem apenas por via econocircmica mas

tambeacutem atraveacutes de formas de conhecimentos (epistemologias) Assim

nesses processos de dominaccedilatildeo os conhecimentos hegemocircnicos do

Norte seriam hierarquicamente superiores aos conhecimentos do Sul

que como ldquopaciente receptorrdquo natildeo poderia divergir da ordem dominante

a custo de ser considerado como irracional

Freitas (2005 2006) mostra que Pinto (2005) tambeacutem vai contra

tal propoacutesito ao rejeitar que as teacutecnicas mais elaboradas fossem

disseminadas a partir da generosidade de seus usuaacuterios ldquoA tecnologia jaacute

pertence aos estratos mais simples da sociedade Esses estratos natildeo

podem ganhar na condiccedilatildeo de daacutediva aquilo que jaacute eacute constitutivo do

seu proacuteprio ser socialrdquo (PINTO 2005 p 20-21) O que retoma sua

preocupaccedilatildeo com a emancipaccedilatildeo dos sujeitos e a relaccedilatildeo dessa com o

domiacutenio dos fundamentos da tecnologia E que permite identificar uma

87 Freitas (2006) destaca que das histoacuterias de leitura de Pinto em relaccedilatildeo a

Marx surgem relaccedilotildees entre educaccedilatildeo emancipaccedilatildeo e tecnologia Pois segundo

o autor Pinto via que as juventudes por sua importacircncia deveriam ter

condiccedilotildees de operar tecnologias cada vez mais elaboradas Sendo que quanto

mais elaboradas elas fossem mais seriam disseminadas e menos estariam

vinculadas a mecanismos de acumulaccedilatildeo de riqueza individual

116

relaccedilatildeo com a busca por reconhecimento e diaacutelogos entre diferentes

conhecimentos como constitutiva de tal emancipaccedilatildeo

Nesse aspecto como bem destaca Figueiredo (1989) ldquoa

tecnologia circunscreve-se assim ao acircmbito do fazer humano no

campo da accedilatildeo social Um campo de saberes em disputa de exerciacutecios

de poder e de lutas por hegemoniardquo (p01) Portanto a partir do

entendimento do caraacuteter ideoloacutegico da tecnologia destaco a TCT

Entendo que essa auxilia na compreensatildeo da natureza dos interesses

envolvidos na temaacutetica e pode colaborar atraveacutes de suas categorizaccedilotildees

com a anaacutelise dos sentidos sobre tecnologias que circulam nos CTIEM

213 Teoria Criacutetica da Tecnologia

A TCT de Feenberg recebe a influecircncia entre outros

elementos88 da Teoria Criacutetica frankfurtiana Como destaquei no capiacutetulo

anterior a Teoria Criacutetica se refere ao conjunto de trabalhos

(heterogecircneos) de pensadores com interesses diversos como os jaacute

mencionados Horkheimer e Adorno aleacutem de Herbert Marcuse (1898-

1979) Walter Benjamin (1892-1940) Erich Fromm (1900-1980) e

Juumlrgen Habermas (1929)

Sem desconsiderar a densidade dos trabalhos produzidos naquele

contexto destaco abaixo um excerto do texto ldquoFilosofia e Teoria

Criacuteticardquo Nele Horkheimer (1980) comenta seu ensaio intitulado

ldquoTeoria Tradicional e Teoria Criacuteticardquo escrito na deacutecada de 1930 e que eacute

considerado como sendo a substacircncia teoacuterica de uma tentativa original

de unir teoria (pensamento filosoacutefico) e praacutetica (tensotildees do presente)

(ASSOUN 1991)

Horkheimer (1980) busca esclarecer que

Em meu ensaio Teoria Tradicional e Teoria

Criacuteticardquo apontei a diferenccedila entre dois meacutetodos

gnosioloacutegicos Um foi fundamentado no Discours

de la Meacutethode cujo jubileu de publicaccedilatildeo se

88 Outras influecircncias de Feenberg (1996a) para examinar a tecnologia podem ser

vistas em seus debates com Marcuse (de quem foi aluno) e Habermas

(CORREA 2010) Esses natildeo satildeo explorados nesta tese mas podem ser

encontrados em seu artigo do ano de 1996 ldquoMarcuse ou Habermas duas criacuteticas

da tecnologiardquo no qual o autor critica o pessimismo do primeiro em relaccedilatildeo agrave

ordem poliacutetica e tambeacutem o posicionamento do segundo em relaccedilatildeo agrave

exterioridade da ciecircncia e da tecnologia do mundo da vida

117

comemorou neste ano e o outro na criacutetica da

economia poliacutetica A teoria em sentido tradicional

cartesiano como a que se encontra em vigor em

todas as ciecircncias especializadas organiza a

experiecircncia agrave base da formulaccedilatildeo de questotildees que

surgem em conexatildeo com a reproduccedilatildeo da vida

dentro da sociedade atual Os sistemas das

disciplinas contecircm os conhecimentos de tal forma

que sob circunstacircncias dadas satildeo aplicaacuteveis ao

maior nuacutemero possiacutevel de ocasiotildees A gecircnese

social dos problemas as situaccedilotildees reais nas quais

a ciecircncia eacute empregada e os fins perseguidos em

sua aplicaccedilatildeo satildeo por ela mesma consideradas

exteriores ndash A teoria criacutetica da sociedade ao

contraacuterio tem como objeto os homens como

produtores de todas as suas formas histoacutericas de

vida As situaccedilotildees efetivas nas quais a ciecircncia se

baseia natildeo eacute para ela uma coisa dada cujo uacutenico

problema estaria na mera constataccedilatildeo e previsatildeo

segundo as leis da probabilidade O que eacute dado

natildeo depende apenas da natureza mas tambeacutem do

poder do homem sobre ele Os objetos e a espeacutecie

de percepccedilatildeo a formulaccedilatildeo de questotildees e o

sentido da resposta datildeo provas da atividade

humana e do grau de seu poder (HORKHEIMER

1980 p 155)

No texto Horkheimer (1980) adota uma postura criacutetica ao

positivismo e considera que () a teoria tradicional natildeo se ocupa da

gecircnese social dos problemas das situaccedilotildees reais nas quais a ciecircncia eacute

usada e dos escopos para os quais eacute usada (p 20) Em contraposiccedilatildeo o

autor defende que uma teoria criacutetica seja autocriacutetica e esclarecida que

visualize as accedilotildees de dominaccedilatildeo social haja vista o impedimento da

reproduccedilatildeo constante dessas mesmas

Com isso o autor critica o caraacuteter cientificista e reducionistas das

Ciecircncias Sociais que se ocupariam primordialmente em coletar e

classificar dados de modo a ignorar intervenccedilotildees que constantemente

ocorreriam no contexto social Esse posicionamento criacutetico segundo

Assoun (1991) se refere a sua proposta de reorganizaccedilatildeo da sociedade de modo a superar a razatildeo instrumental Pois essa visaria agrave dominaccedilatildeo

da natureza para fins lucrativos colocaria ciecircncia e tecnologia a serviccedilo

do capital e agiria em funccedilatildeo de interesses de classes e natildeo de interesses

da sociedade como um todo

118

A partir disso e sem desconsiderar outras influecircncias89 Feenberg

apresenta sua anaacutelise acerca da tecnologia a TCT dentro de um

prolongamento criacutetico na Escola de Frankfurt O quadro 3 abaixo

resume uma conferecircncia ldquoO que eacute Filosofia da Tecnologia rdquo (What is

Philosophy of Technology) pronunciada no Japatildeo e ilustra sua teoria

de modo didaacutetico e sinteacutetico90

Quadro 3 - Caracterizaccedilotildees de tecnologia

A Tecnologia eacute Autocircnoma Humanamente

Controlada

Neutra

(separaccedilatildeo completa

entre meios e fins)

Determinismo

(por exemplo a teoria

da modernizaccedilatildeo)

Instrumentalismo

(feacute liberal no progresso)

Carregada de Valores

(meios formam um

modo de vida que

inclui fins)

Substantivismo

(meios e fins ligados

em sistemas)

Teoria Criacutetica

(escolha de sistemas de

meios-fins alternativos)

Fonte Feenberg (2003 p 06)

O proacuteprio autor explica como o quadro 3 pode ser interpretado

O eixo vertical oferece duas alternativas ou a

tecnologia eacute neutra de valor () ou estaacute carregada

de valor () A escolha natildeo eacute oacutebvia De uma

perspectiva um dispositivo teacutecnico eacute

simplesmente uma concatenaccedilatildeo de mecanismos

causais Natildeo haacute qualquer quantidade de estudos

cientiacuteficos que possa nela encontrar algum

89 Em sua paacutegina na internet Feenberg (1996b) resume suas influecircncias e sua

abordagem para o estudo filosoacutefico da tecnologia Algo que traduzo livremente

como construtivismo hermenecircutico historicismo democracia teacutecnica e meta-

teoria da tecnologia Verificar detalhes em

lthttpwwwsfuca~andrewfMethod1htmgt 90 Essas questotildees jaacute vinham sendo desenvolvidas nas obras Questioning

technology do ano de 2001 e Transforming technology a Critical Theory

revisited do ano de 2002 (Tambeacutem utilizo aqui uma traduccedilatildeo da Universidade

Nacional de Quilmes Argentina do ano de 2012) e esclarecem a linha de

argumentaccedilatildeo fundamentada por Feenberg (2003) no que se refere a temas

centrais para as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade

119

propoacutesito Mas para outros pontos de vista isso

natildeo chega ao ponto essencial As tecnologias no

eixo horizontal estatildeo consideradas como

autocircnomas ou humanamente controlaacuteveis Dizer

que a tecnologia eacute autocircnoma natildeo quer dizer que

ela se faz a si mesma Os seres humanos ainda

estatildeo envolvidos mas a questatildeo eacute eles tecircm de

fato a liberdade para decidir como a tecnologia

seraacute desenvolvida O proacuteximo passo depende da

evoluccedilatildeo do sistema teacutecnico ateacute noacutes Se a resposta

eacute natildeo entatildeo se pode dizer justificadamente que

a tecnologia eacute autocircnoma no sentido de que a

invenccedilatildeo e o desenvolvimento tecircm suas proacuteprias

leis imanentes as quais os seres humanos

simplesmente seguem ao interagirem nesse

domiacutenio teacutecnico Por outro lado a tecnologia pode

ser humanamente controlaacutevel enquanto se pode

determinar o proacuteximo passo de evoluccedilatildeo

conforme nossas intenccedilotildees (FEENBERG 2003 p

06)

Nesse quadro eacute possiacutevel verificar (i) se a tecnologia seria neutra

ou carregada de valores e (ii) se a tecnologia poderia ter seus efeitos

controlados pelos sujeitos ou atuaria de modo autocircnomo A partir das

combinaccedilotildees de (i) e (ii) eacute possiacutevel estabelecer quatro visotildees segundo as

quais se podem examinar as relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade

determinismo instrumentalismo substantivismo e teoria criacutetica

A perspectiva do determinismo que jaacute foi aqui examinada e eacute um

sentido central para a pesquisa desta tese aceita a neutralidade e a

combina com a percepccedilatildeo de autonomia Desde esse ponto de vista a

tecnologia seria valorativamente neutra e natildeo seria controlada pelo

homem sendo ela que moldaria a sociedade

Os deterministas acreditam que a tecnologia natildeo eacute

controlada humanamente mas que pelo contraacuterio

controla os humanos isto eacute molda a sociedade agraves

exigecircncias de eficiecircncia e progresso Os

deterministas tecnoloacutegicos usualmente

argumentam que a tecnologia emprega o avanccedilo

do conhecimento do mundo natural para servir agraves

caracteriacutesticas universais de natureza humana tais

como as necessidades e faculdades baacutesicas ()

As tecnologias como o automoacutevel estendem

nossos peacutes enquanto os computadores estendem

120

nossa inteligecircncia A tecnologia enraiacuteza-se por um

lado no conhecimento da natureza e por outro nas

caracteriacutesticas geneacutericas da espeacutecie humana Natildeo

depende de noacutes adaptarmos a tecnologia a nossos

caprichos senatildeo pelo contraacuterio noacutes devemos nos

adaptar agrave tecnologia como expressatildeo mais

significativa de nossa humanidade (FEENBERG

2003 p 07)

Feenberg (1991) desenvolve duas teses-base sobre o

determinismo (i) a tese do progresso linear na qual o progresso teacutecnico

parece seguir um curso linear e fixo de fases menos avanccediladas para as

mais avanccediladas necessariamente e (ii) a tese da determinaccedilatildeo pela

base segundo a qual satildeo as instituiccedilotildees que precisam se adaptar aos

imperativos da base tecnoloacutegica Nas palavras do autor ldquoo

determinismo eacute somente uma estoacuteria feita para mostrar porque as coisas

tecircm que ser como satildeo Na realidade haacute sempre escolhas e alternativasrdquo

(MARICONDA MOLINA 2009 p 168)

A teoria instrumentalista combina as percepccedilotildees de neutralidade e

de controle humano da tecnologia Esta eacute a visatildeo-padratildeo moderna

segundo a qual a tecnologia eacute simplesmente uma ferramenta ou

instrumento da espeacutecie humana com os quais noacutes satisfazemos nossas

necessidades (FEENBERG 2003 p 06) O instrumentalismo oferece a

visatildeo mais popular de tecnologia muitas vezes relacionada com

perspectivas tecnoacutefilas

Para o autor o instrumentalismo eacute baseado na ideia do senso

comum de que as tecnologias satildeo ferramentas prontas para servir os

propoacutesitos de seus usuaacuterios A tecnologia eacute considerada neutra sem

conteuacutedo valorativo proacuteprio91 (FEENBERG 2002 p 05) Contudo

para Feenberg (2003) a tecnologia natildeo eacute um instrumento neutro e os

meios e os fins estatildeo conectados O autor destaca que se eacute possiacutevel

algum tipo de controle humano da tecnologia esse natildeo seraacute um controle

instrumental

O substantivismo combina as percepccedilotildees de autonomia e da

tecnologia condicionada por valores Segundo Feenberg (2003) esse

termo foi adotado ldquopara descrever uma posiccedilatildeo que atribui valores

substantivos agrave tecnologia em contraste com as visotildees como a do

91 It is based on the commonsense idea that technologies are tools standing

ready to serve the purposes of their users Technology is deemed neutral

without valuative content of its own (FEEMBERG 2002 p 05) Traduccedilatildeo livre

da autora

121

instrumentalismo e a do determinismo nos quais a tecnologia eacute vista

como neutra em si mesma (p 07)

O autor explica que por valores substantivos entende

um compromisso com uma concepccedilatildeo especiacutefica

de uma vida boa Se a tecnologia incorpora um

valor substantivo natildeo eacute meramente instrumental e

natildeo pode ser usado a diferentes propoacutesitos de

indiviacuteduos ou sociedades com ideacuteias diferentes do

bem O uso da tecnologia para esse ou aquele

propoacutesito seria uma escolha de valor especiacutefica

em si mesma e natildeo soacute uma forma mais eficiente

de compreender um valor preacute-existente de algum

tipo (FEENBERG 2003 p 07)

Poreacutem a autonomia preservada pelo substantivismo caracterizaria

uma tecnologia ameaccediladora e maleacutevola A tecnologia uma vez

libertada fica cada vez mais imperialista tomando domiacutenios sucessivos

da vida social (FEENBERG 2003 p 08) Nessa perspectiva identifico

uma visatildeo tecnofoacutebica como jaacute referi anteriormente e destaco a posiccedilatildeo

do pensador francecircs Jacques Ellul (1912-1994) para quem o sistema

tecnoloacutegico promoveria uma instrumentalizaccedilatildeo total dos sujeitos e se

apresentaria como um destino do qual natildeo haveria maneira de escapar

(ELLUL 1964 CORREcircA 2010)

Feenberg (2002) explica que existiria espaccedilo para as decisotildees dos

sujeitos mas o determinismo e o substantivismo natildeo o considerariam E

ldquofazem parecer que a tecnologia tem sua proacutepria loacutegica de

desenvolvimento mas noacutes descobrimos que podemos agir e mudar a

tecnologia portanto essas teorias natildeo podem ser verdadeirasrdquo

(MARICONDA MOLINA 2009 p 168) O substantivismo apresenta

em suas concepccedilotildees poucas ou nenhuma possibilidades de controle e

de transformaccedilatildeo de uma estrutura de dominaccedilatildeo autocircnoma da

tecnologia posiccedilatildeo da qual Feenberg (2002 2003 2004 2012) se

distancia ao caracterizar a TCT

Na TCT os valores incorporados agrave tecnologia satildeo socialmente

especiacuteficos natildeo sendo representados adequadamente por abstraccedilotildees

como a eficiecircncia ou o controle Conforme Feenberg (2003) a tecnologia natildeo moldaria (no sentido em que as molduras satildeo limites e

contecircm o que estaacute por dentro mas natildeo determinam os valores

percebidos dentro delas) apenas um modo de vida Sendo que considera

a possibilidade de diferentes estilos de vida distintos da mediaccedilatildeo

122

tecnoloacutegica Algo similar ao que Dagnino Silva e Padovanni (2011)

defendem com sua abordagem sobre AST como apontei na p 71

A TCT assim como o instrumentalismo considera a

possibilidade de controle humano da tecnologia No entanto ao

contraacuterio desse aquela percebe a tecnologia como carregada de valores

e natildeo como neutra Em teoria criacutetica a tecnologia natildeo eacute vista como

ferramentas mas como estruturas para estilos de vida As escolhas estatildeo

abertas para noacutes e situadas num niacutevel mais alto do que o instrumental

(FEENBERG 2003 p11)

A tecnologia carregaria portanto os valores resultantes de sua

vinculaccedilatildeo com o contexto capitalista natildeo sendo um mero instrumento

neutro Os valores e interesses dos sujeitos no caso as classes

dominantes influenciariam no desenho nas decisotildees e nos

procedimentos Desse modo a tecnologia natildeo constituiria uma entidade

autocircnoma ldquoela natildeo eacute um destino mas sim um cenaacuterio de lutardquo92

(FEENBERG 2002 p 15)

Com isso Feenberg (2002 2012) defende uma posiccedilatildeo natildeo

determinista cujas teses baacutesicas seriam que (i) o desenvolvimento

tecnoloacutegico estaacute sobre determinado tanto por criteacuterios teacutecnicos quanto

sociais de progresso e podem por conseguinte bifurcar-se em diversas

direccedilotildees conforme a hegemonia que prevalecer e que (ii) enquanto as

instituiccedilotildees sociais se adaptam ao desenvolvimento tecnoloacutegico o

processo de adaptaccedilatildeo eacute reciacuteproco - a tecnologia muda em resposta agraves

condiccedilotildees em que se encontra tanto quanto ela as influencia

Essa posiccedilatildeo demonstra o caraacuteter ambivalente93 da tecnologia

presente na possibilidade de a tecnologia ser instrumentalizada para

diferentes sistemas (CUPANI 2011)

A teoria da instrumentalizaccedilatildeo defende que a

tecnologia deve ser analisada em dois niacuteveis o

niacutevel de nossa relaccedilatildeo funcional original com a

realidade e o niacutevel de propoacutesito e implementaccedilatildeo

No primeiro niacutevel procuramos achar recursos que

podem ser mobilizados em dispositivos e sistemas

para descontextualizar os objetos da experiecircncia e

92 On this view technology is not a destiny but a scene of strugglerdquo

(FEENBERG 2002 p 15) Traduccedilatildeo livre da autora 93 Essa ambivalecircncia da tecnologia significa que natildeo haveria uma uacutenica relaccedilatildeo

entre avanccedilo tecnoloacutegico e distribuiccedilatildeo social de poder pois a tecnologia estaria

disponiacutevel a desenvolvimentos alternativos

123

reduzi-los a suas propriedades normais Isso

envolve um processo () em que os objetos satildeo

retirados de seus contextos originais e postos agrave

anaacutelise e manipulaccedilatildeo enquanto os sujeitos se

colocam para controle agrave distacircncia () No

segundo niacutevel introduzimos propoacutesitos que

podem ser integrados a outros dispositivos e

sistemas jaacute existentes tais como princiacutepios eacuteticos

e esteacuteticos O niacutevel primaacuterio simplifica objetos

para incorporaccedilatildeo a um dispositivo enquanto o

segundo niacutevel integra os objetos simplificados a

um ambiente natural e social (FEENBERG 2004

p 6-7)

Como argumenta Feenberg (2002 2004 2005) aleacutem de um

produto cultural eacute possiacutevel perceber na tecnologia uma dupla

instrumentalizaccedilatildeo que sugere a possibilidade de que ela venha a ter

rumos diferentes A tecnologia constitui basicamente uma atitude ou

orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave realidade (instrumentalizaccedilatildeo primaacuteria) No

entanto ela eacute tambeacutem um modo de accedilatildeo ou realizaccedilatildeo no mundo social

A essecircncia da tecnologia reside na uniatildeo (dialeacutetica) entre ambos os

niacuteveis de instrumentalizaccedilatildeo

Eacute importante destacar que Feenberg (1999) vecirc a tecnologia como

um poder que atingiria diferentes domiacutenios nas sociedades modernas

Para ele osas especialistas em sistemas teacutecnicos teriam um grande

controle sobre o desenvolvimento urbano logiacutestico habitacional e em

escolhas de inovaccedilotildees Desse modo a tecnologia ampliaria seu poder

sobre o quotidiano dos sujeitos ao mesmo tempo em que a democracia

poliacutetica perderia poder para aquelesas especialistas sendo que essesas

uacuteltimosas teriam mais poder sobre decisotildees essenciais para a vida

quotidiana do que as instituiccedilotildees poliacuteticas Tal situaccedilatildeo levaria agrave

chamada tecnocracia Situaccedilatildeo na qual os debates puacuteblicos satildeo

substituiacutedos por decisotildees de especialistas teacutecnicos Daiacute a necessidade de

discutir possibilidades de se democratizar a proacutepria tecnologia

(FEENBERG 1999)

Algo tambeacutem presente em Thomas (2009) quando o autor afirma

que seria ldquoingecircnuo pensar que semelhante niacutevel de decisotildees possa ficar

exclusivamente em matildeo de lsquoperitosrsquo assim como conceber que a

participaccedilatildeo natildeo informada pode melhorar as decisotildeesrdquo (p 76) Esse

autor assim como Feenberg (1999) procura demonstrar as fragilidades

de posicionamentos que natildeo consideram o desenvolvimento tecnoloacutegico

como um tema central para debates sobre democracia

124

Minha opccedilatildeo teoacuterica pela TCT de Feenberg ao contraacuterio de

correntes teoacutericas bastante populares nos ECTS como o construtivismo

e a TAR por exemplo vai ao encontro do que o autor esclarece em

termos da anaacutelise da questatildeo do determinismo tecnoloacutegico

A sociologia da tecnologia sofria uma revoluccedilatildeo

de si mesma nos anos 80 com a emergecircncia das

polecircmicas entre a escola do construtivismo social

e a teoria de redes dos atores tanto na Inglaterra

como na Franccedila Tinha conhecimento desses

debates e com eles muito aprendi mas estava

insatisfeito com a recusa das duas escolas de

pensamento engajarem-se com os temas mais

amplos da modernidade levantados pela Escola de

Frankfurt No entanto a nova sociologia da

tecnologia natildeo oferecia uma metodologia frutiacutefera

e argumentos fortes contra o determinismo

tecnoloacutegico que poderiam ser empregados para

apoiar a ideia de mudanccedila democraacutetica na esfera

teacutecnica Minha abordagem eacute informada pelos

estudos tecnoloacutegicos contemporacircneos e desse

modo alcanccedila um niacutevel de concreticidade ()

(FEENBERG 2004 p 03)

Aleacutem dessa posiccedilatildeo assumida em relaccedilatildeo a questotildees importantes

dos ECTS o pensamento de Feenberg tambeacutem interessa pelo fato de que

o autor tem uma preocupaccedilatildeo em articular sua TCT com a questatildeo

educacional94 Conforme destaca Silva (2005) Feenberg se auto intitula

como um dos fundadores da educaccedilatildeo online Para Feenberg (2001) as

teorias instrumentais e substantivistas podem ser verificadas nos

processos educacionais No instrumentalismo (otimista) se buscariam

possibilidades de reduzir custos com processos de formaccedilatildeo humana

tendo em vista esforccedilos para incrementar a produccedilatildeo e aumentar os

lucros enquanto no substantivismo (pessimista) as possibilidades de

articulaccedilatildeo entre tecnologia e educaccedilatildeo natildeo seriam visualizadas pois a

tecnologia eliminaria elementos pedagoacutegicos fundamentais como por

exemplo o diaacutelogo

94 Silva (2005) enfatiza que Feenberg desenvolve projetos de pesquisa em que

articula sua TCT com a educaccedilatildeo De modo que o proacuteprio Feenberg jaacute haveria

feito referecircncia agrave captaccedilatildeo de US$632000 que conseguiu para o

desenvolvimento de um novo software para foacuteruns de discussatildeo online

125

Nesse quadro dualista o autor esclarece que a TCT poderia

contribuir para uma terceira perspectiva de relaccedilotildees entre tecnologia e

educaccedilatildeo na medida em que a TCT apresenta a tecnologia natildeo como um

destino mas como possibilidades para os sujeitos Com isso seria

necessaacuterio romper com o determinismo tecnoloacutegico e visualizar as

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo como um destino mas como oportunidades

para aperfeiccediloar os processos educacionais (FEENBERG 2001)

Assim Feenberg (2003 2004) aponta para uma modificaccedilatildeo

cultural proveniente de avanccedilos democraacuteticos O autor afirma que eacute

possiacutevel agrave humanidade escolher o mundo no qual deseja viver A TCT

possibilita pensar em tais escolhas em maneiras de submetecirc-las a

controles mais democraacuteticos de modo que seja possiacutevel a intervenccedilatildeo

democraacutetica na tecnologia Para o autor

A teoria criacutetica da tecnologia sustenta que os seres

humanos natildeo precisam esperar um Deus para

mudar a sua sociedade tecnoloacutegica num lugar

melhor para viver A teoria criacutetica reconhece as

consequumlecircncias catastroacuteficas do desenvolvimento

tecnoloacutegico ressaltadas pelo substantivismo mas

ainda vecirc uma promessa de maior liberdade na

tecnologia O problema natildeo estaacute na tecnologia

como tal senatildeo em nosso fracasso ateacute agora em

inventar instituiccedilotildees apropriadas para exercer o

controle humano dela (FEENBERG 2003 p 09)

Na TCT examinam-se exemplos95 nos quais haacute uma tendecircncia de

maior participaccedilatildeo dos sujeitos envolvidos com os processos de

mudanccedila tecnoloacutegica nas decisotildees sobre o desenho e o desenvolvimento

da tecnologia A esfera puacuteblica parece estar se abrindo lentamente para

abranger os assuntos teacutecnicos que eram vistos antigamente como esfera

exclusiva dos peritos (FEENBERG 2003 p 11) Compreendo que o

autor busca entre outros aspectos refletir sobre possibilidades de

democratizar usos de tecnologias na sociedade

Esses posicionamentos de Feenberg sobre a tecnologia

interessam-me especialmente para buscar compreensotildees acerca de

sentidos sobre tecnologia que atravessam os (e circulam nos) CTIEM

Entendo que o desenvolvimento de tecnologia assim como os contextos

95 Cupani (2011) e Silva (2005) apresentam os exemplos da aacuterea de

telecomunicaccedilatildeo e da medicina explorados por Feenberg para mostrar como os

sujeitos afetam o desenvolvimento tecnoloacutegico

126

educacionais96 ocorre historicamente e encontra-se sujeitado em

alguma medida a transformaccedilotildees que partem do acircmbito da accedilatildeo

humana Por isso a importacircncia do foco nas possibilidades de

intervenccedilatildeo social (transformaccedilatildeo de sentidos) a partir da accedilatildeo dos

sujeitos (educaccedilatildeo emancipadora)

Penso que esse posicionamento pode ser relacionado com Freire

(1987) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995) pois para eles a tecnologia

seria uma expressatildeo do processo de engajamento dos sujeitos no mundo

e estaria relacionada com a transformaccedilatildeo Percebo que tanto para Freire

(1987) quanto para Feenberg (2003) Meacuteszaacuteros (2008) e Adorno (1995)

a tecnologia teria uma dimensatildeo poliacutetica pois como praacutetica humana natildeo

seria neutra e acompanharia a visatildeo de mundo da sociedade na qual seria

produzida e utilizada

Portanto Feenberg (2003 2004) destaca a importacircncia de os

sujeitos compreenderem que a mediaccedilatildeo do processo poliacutetico que atua

em interesses proacuteprios da sociedade como tal pode englobar tambeacutem as

questotildees tecnoloacutegicas Para o autor portanto a esperanccedila97 nas

potencialidades democraacuteticas da tecnologia e na abertura da esfera

puacuteblica aos assuntos teacutecnicos precisa ser mantida Vejo que essa

abertura tem um caminho em processos educacionais que mobilizem

para autoria tendo em vista uma perspectiva criacutetica de TS Tema que

apresento a seguir

96 Como jaacute referi o tema da educaccedilatildeo jaacute foi explorado em alguma medida por

Feenberg Conforme Mariconda e Molina (2009) e Silva (2005) o autor jaacute nos

anos 1980 nos Estados Unidos participou do projeto do primeiro programa de

educaccedilatildeo online Fato que o ajudou a definir limites e possibilidades desse

formato educacional como espaccedilo para interaccedilatildeo pedagoacutegica por meio da

escrita 97 Essa esperanccedila do autor se relaciona ao fato de que a hegemonia do chamado

coacutedigo teacutecnico do capitalismo natildeo pode impedir que haja iniciativas contraacuterias

Conforme jaacute destaquei na introduccedilatildeo desta tese Feenberg (2002) afirma que a

sociedade pode ser comparada a um jogo e que desde esse ponto de vista as

estrateacutegias de domiacutenio que preservam a autonomia operacional satildeo contestadas

por taacuteticas dos dominados que aproveitam suas margens de manobra Assim

como a autonomia operacional serve como a base estrutural da dominaccedilatildeo um

diferente tipo de autonomia eacute conquistado pelos dominados uma autonomia que

opera com o jogo no sistema para redefinir e modificar suas formas e

propoacutesitos

127

22 TECNOLOGIAS SOCIAIS

Esta parte da tese traz alguns elementos que discuti na pesquisa

para o mestrado ocasiatildeo na qual fiz um levantamento sobre TS

desenvolvidas no Brasil na atualidade conforme informei na introduccedilatildeo

Esses dados encaminham uma discussatildeo teoacuterica e um levantamento

bibliograacutefico que podem auxiliar na investigaccedilatildeo de possibilidades e

limites de transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia em

ambientes educacionais tendo em vista uma perspectiva criacutetica sobre TS

Para isso introduzo a temaacutetica das TS pela origem do debate

221 Origens contraposiccedilotildees e relaccedilotildees

Origens

O termo ldquoTecnologia Socialrdquo foi desenvolvido no Brasil no iniacutecio

dos anos 2000 Nesse contexto o desenvolvimento de TS tecircm suas

origens nos chamados novos movimentos sociais no movimento dos

ECTS nas metodologias de pesquisa participativas na crise da visatildeo

tradicional das poliacuteticas de ciecircncia e tecnologia nos meacutetodos de trabalho

e abordagem socioteacutecnica nas chamadas TA e nos princiacutepios freireanos

da educaccedilatildeo popular entre outros (ITS 2009 SANTOS 2008)

Em relaccedilatildeo a essa uacuteltima a uacutenica origem que exploro aqui

destaco que os princiacutepios de educaccedilatildeo popular freireanos satildeo

constituintes importantes da origem do desenvolvimento de TS no

Brasil Lembremos de modo breve e simplificado que jaacute nos anos

1960 no interior do estado do Rio Grande do Norte (no municiacutepio de

Angicos) Paulo Freire promoveu a alfabetizaccedilatildeo de sujeitos a partir da

discussatildeo de questotildees diaacuterias baseadas nas experiecircncias de vida dessas

pessoas Ao partir da praacutetica de que faria sentido uma agricultora

aprender as palavras terra e colheita por exemplo foram alfabetizados

300 sujeitos no que ficou conhecido como 40 horas de Angicos

Ao verificar que osas trabalhadoresas rurais estavam sem

alfabetizaccedilatildeo ou acesso agrave escola ele utilizava as chamadas palavras

geradoras que emergiam da realidade dos sujeitos de modo que oa

educandoa passasse a construir novas palavras Como jaacute destaquei a

ideia dos temas geradores envolve uma construccedilatildeo coletiva e com a

participaccedilatildeo doa educandoa e doa educadora como sujeitos do

processo de aprendizagem Por isso a influecircncia nas TS na qual os

sujeitos deveriam participar da construccedilatildeo e resoluccedilatildeo de seus

problemas socioteacutecnicos A perspectiva freireana eacute dinacircmica contiacutenua e

128

criacutetica e assim como as TS prevecirc o resgate da cultura e da cidadania de

sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade98

Contraposiccedilotildees

Inicialmente as TS foram pensadas como uma contraposiccedilatildeo agrave

chamada Tecnologia Convencional (TC) De acordo com Dagnino

(2004) a TC se configuraria como a tecnologia predominante na

atualidade Seria caracterizada por ser utilizada por empresas privadas

por poupar matildeo-de-obra e usar intensivamente insumos sinteacuteticos aleacutem

de ser ambientalmente insustentaacutevel Conforme Baumgarten (2006c) e

Rutkowski (2005) a TC teria seu cerne em demandas empresariais e das

camadas ricas ou influentes da populaccedilatildeo A TC atuaria na manutenccedilatildeo

e promoccedilatildeo dos interesses das classes dominantes aleacutem de disseminar e

sustentar a ideologia dessas classes na sociedade

Os processos envolvidos no desenvolvimento de TC carregam

intrinsecamente a ideia de determinismo tecnoloacutegico jaacute examinada E

essa por sua vez encontra-se muitas vezes relacionadas a uma

perspectiva denominada de tecnociecircncia99 Premebida (2008) esclarece

que o termo pode ser entendido como a fusatildeo de ciecircncia sistemas

tecnoloacutegicos e organizaccedilatildeo da induacutestria com o capital financeiro O

termo eacute tido como cunhado pelo filoacutesofo belga Gilbert Hottois no final

da deacutecada de 1970 e muito difundido nos uacuteltimos anos pelos trabalhos

de Bruno Latour sobre a produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e

tecnoloacutegico (PREMEBIDA 2008 p 37)

Para Echeverriacutea (2003) ldquoa tecnociecircncia eacute um instrumento de

domiacutenio e transformaccedilatildeo natildeo soacute da natureza mas tambeacutem das

sociedades revelando-se muito uacutetil para determinados grupos sociais

98 Em meus estudos utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo pois o

compreendo como expressatildeo da maior ou menor possibilidade dos sujeitos

controlarem as forccedilas que afetam seu bem-estar Nos debates acerca do uso de

termos como inclusatildeo social e exclusatildeo social considera-se que eles seriam

termos eurocecircntricos que natildeo teriam sentido em sociedades que nunca

conheceram a plena integraccedilatildeo social (MTE 2007) Para aleacutem do debate acerca

da inadequaccedilatildeo do uso dessas expressotildees para o estudo da realidade de paiacuteses

do Sul utilizo o termo ldquovulnerabilidade socialrdquo de modo a buscar apreender o

dinamismo dos processos de desigualdade de maneira mais ampla Para captar

esse dinamismo considero zonas de vulnerabilidade com tendecircncia agrave

precarizaccedilatildeo e estruturas de oportunidades existentes no Brasil na atualidade 99 Segundo Albagli (1999) a tecnociecircncia conseguiu ultrapassar os limites da

produccedilatildeo material e passou a exercer influecircncia nas esferas culturais e

simboacutelicas da sociedade

129

transnacionais em princiacutepio natildeo-estatais que obtecircm atraveacutes dela

grandes ganhosrdquo (p 310) A tecnociecircncia seria um sistema de accedilotildees

eficientes baseadas em conhecimentos teacutecnicos e cientiacuteficos que visaria

transformar o mundo (para aleacutem de explicaacute-lo) e implicaria natildeo soacute uma

profissionalizaccedilatildeo mas uma empresarializaccedilatildeo da atividade cientiacutefica e

sendo um fator relevante de inovaccedilatildeo e desenvolvimento econocircmico

passaria a ser tambeacutem um poder dominante na sociedade tendendo

sua praacutetica ao segredo e agrave privatizaccedilatildeo100 (ECHEVERRIacuteA 2003

BAUMGARTEN 2006a)

Relaccedilotildees

Eacute portanto em contraposiccedilatildeo a essas perspectivas de TC e da

tecnociecircncia que as TS satildeo pensadas Mas as ideias que compotildeem as TS

natildeo surgem espontaneamente Conforme Dagnino (2014) ldquo() remonta

ao iniacutecio dos anos sessenta do seacuteculo passado quando surgiu a ideia de

Tecnologia Intermediaacuteria (que originou o movimento da Tecnologia

Apropriada e veio a desembocar no atual da TS)rdquo (p 155) As TS tecircm

portanto relaccedilatildeo com as TA tambeacutem propostas como alternativas agraves TC

(DAGNINO BRANDAtildeO NOVAES 2004)

Nesse sentido Brandatildeo (2001) esclarece que as TA satildeo

reconhecidas como iniciativas provenientes de movimentos ocorridos na

Iacutendia durante o final do seacuteculo XIX Contexto no qual pensadores como

Mahatma Gandhi (1869-1948) tiveram sua atenccedilatildeo voltada para

processos de reabilitaccedilatildeo e desenvolvimento de tecnologias tradicionais

praticadas nas aldeias como estrateacutegia de luta e resistecircncia contra o

domiacutenio britacircnico (produccedilatildeo artesanal de tecidos por exemplo)101

100 Destaco que pensadoresas de diversas aacutereas tecircm refletido sobre a

possibilidade de se alterar o quadro que envolve a questatildeo tecnocientiacutefica atual

Hobsbawm (2005) alerta para o fato de que ldquoas forccedilas geradas pela economia

tecnocientiacutefica satildeo agora suficientemente grandes para destruir o meio

ambiente ou seja as fundaccedilotildees materiais da vida humana () Nosso mundo

corre o risco de explosatildeo e implosatildeo Tem de mudarrdquo (p 562) Penso que uma

proposta de mudanccedila para esse cenaacuterio passa pela proacutepria reflexatildeo sobre a

tecnociecircncia que pode ser feita a partir das TS 101 Essa produccedilatildeo teve como siacutembolo uma espeacutecie de roda de fiar chamada de

Charkha No projeto de Gandhi havia uma preocupaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo da

sociedade hindu atraveacutes de um crescimento endoacutegeno sem imposiccedilotildees externas

Essa perspectiva implicava num crescimento que previa melhorar as teacutecnicas

locais de uso corrente e adaptar a tecnologia moderna ao contexto social e

econocircmico da Iacutendia (CORREcircA 2010)

130

Apesar de Gandhi natildeo usar a expressatildeo tecnologia apropriada

seu projeto estava delineado de acordo com tal perspectiva e previa a

promoccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para a identificaccedilatildeo e a

soluccedilatildeo de problemas concretos da Iacutendia (DAGNINO BRANDAtildeO

NOVAES 2004)

Conforme Brandatildeo

A percepccedilatildeo de que a transferecircncia

indiscriminada de tecnologia a partir dos paiacuteses

industrializados natildeo era uma soluccedilatildeo adequada

para os paiacuteses em desenvolvimento jaacute estava de

fato presente no Sarovaya no ano de 1909 Esta

concepccedilatildeo estava baseada no desenvolvimento das

aldeias com os meios de produccedilatildeo para satisfazer

as necessidades baacutesicas em poder das famiacutelias ou

cooperativas de famiacutelias A educaccedilatildeo ndash baseada

no trabalho manual e na identificaccedilatildeo e soluccedilatildeo

dos problemas de importacircncia imediata ndash era o

instrumento para desenvolver a inteligecircncia

criativa Em resumo autodeterminaccedilatildeo a niacutevel de

aldeia concentraccedilatildeo nos problemas importantes

imediatos antes que em planos de longo prazo

busca de inteligecircncia criativa atraveacutes do

desenvolvimento total do indiviacuteduo e mudanccedilas

sociais obtidas atraveacutes da desobediecircncia civil natildeo-

violenta e a natildeo cooperaccedilatildeo eram os elementos

centrais do seu enfoque para o desenvolvimento

O conceito de desenvolvimento de Gandhi incluiacutea

uma poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica expliacutecita que

era essencial para sua implementaccedilatildeo A

insistecircncia de Gandhi na proteccedilatildeo dos artesanatos

das aldeias natildeo significava uma conservaccedilatildeo

estaacutetica das tecnologias tradicionais Ao contraacuterio

implicava o melhoramento das teacutecnicas locais a

adaptaccedilatildeo da tecnologia moderna ao meio

ambiente e agraves condiccedilotildees da Iacutendia e o fomento da

pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica para identificar e

resolver os problemas importantes imediatos Seu

objetivo final era a transformaccedilatildeo da sociedade

Hindu atraveacutes de um processo de crescimento

orgacircnico feito a partir de dentro e natildeo atraveacutes de

uma imposiccedilatildeo externa (2001 p 31)

131

Essas ideias influenciaram o economista alematildeo Ernst Friedrich

Schumacher (1911-1977) que criou a expressatildeo tecnologia intermeacutedia

depois de visitar a Iacutendia no ano de 1963 Brandatildeo (2001) afirma que

Schumacher foi o responsaacutevel por introduzir e popularizar a TA no

mundo ocidental com a criaccedilatildeo do Grupo de Desenvolvimento da TA

em 1966

As ideacuteias de Schumacher a respeito da tecnologia

intermediaacuteria influenciadas por Gandhi a quem

ele considerava o maior economista do seacuteculo 20

foram mais bem difundidas e causaram grande

impacto a partir de 1973 com a publicaccedilatildeo do seu

famoso livro Small is beautiful economics as if

people mattered traduzido para mais de quinze

idiomas e que talvez tenha sido a obra que mais

conseguiu popularizar a Tecnologia Apropriada

(TA) no mundo introduzindo-a no mundo

acadecircmico e nos estudos governamentais de

vaacuterios paiacuteses Neste livro que reuacutene alguns dos

seus ensaios entre eles Economia em um Paiacutes

budista Economia natildeo-violenta e Niacuteveis de

tecnologia escritos entre 1955 e 1963 ao explicar

que as tecnologias desenvolvidas nos paiacuteses

desenvolvidos natildeo se adequam aos paiacuteses em

desenvolvimento pois sua tecnologia moderna

por ser demasiadamente grande agrave medida que

cresce requer mais insumos para a sua

manutenccedilatildeo Schumacher propotildee uma pesquisa

visando agrave geraccedilatildeo de TAs para as zonas rurais

(BRANDAtildeO 2001 p 33)

No Brasil o livro de Schumacher eacute intitulado ldquoO negoacutecio eacute ser

pequenordquo Nele o autor avalia a necessidade de um enfoque regional de

desenvolvimento conjugado ao uso de uma TA aos paiacuteses pobres Nas

palavras do autor

O desenvolvimento econocircmico em aacutereas de pobreza

soacute pode ser fecundo quando baseado no que

designei por tecnologia intermeacutedia Em uacuteltima

anaacutelise a tecnologia intermeacutedia seraacute de uso

intensivo de matildeo-de-obra e prestar-se-aacute a ser

utilizada em estabelecimentos fabris de escala

pequena Mas tanto a intensidade de matildeo-de-obra

como a escala pequena natildeo implicam uma

132

tecnologia intermeacutedia () Uma tal tecnologia

intermeacutedia seria imensamente mais produtiva do

que a tecnologia proacutepria (que amiuacutede se acha em

decomposiccedilatildeo) mas tambeacutem seria imensamente

mais barata do que a tecnologia requintada de uso

altamente intensivo de capital da induacutestria

moderna () A tecnologia intermeacutedia tambeacutem se

enquadraria de um modo muito mais natural no

ambiente relativamente rudimentar em que vai ser

utilizada O equipamento seria razoavelmente

simples e portanto compreensiacutevel adequado agrave

manutenccedilatildeo e reparos no local O equipamento

simples eacute normalmente menos dependente de

mateacuterias-primas de grande pureza ou especificaccedilotildees

exatas e muito mais adaptaacutevel a flutuaccedilotildees do

mercado do que o equipamento altamente

sofisticado Os homens satildeo mais facilmente

treinados a supervisatildeo o controle e a organizaccedilatildeo

satildeo mais simples e haacute muito menor vulnerabilidade

a dificuldades imprevistas (SCHUMACHER 1977

p 159 - 161)

Verifico que essa proposta pretendia uma tecnologia que se

caracterizasse pelo baixo custo de capital pequena escala e

simplicidade abarcando tambeacutem uma dimensatildeo ambiental que por

tudo isso foi entendida como mais adequada aos paiacuteses pobres

Neder (2008) esclarece que o movimento iniciado por

Schumacher mobilizou praticantes e teoacutericos de diversas localidades que

defendiam e buscavam viabilidade de tecnologias que fossem

apropriadas agraves culturas locais e agraves realidades regionais em escalas

dominadas pelos sujeitos Teacutecnicos e militantes na Europa Aacutesia e

Ameacuterica Latina nos anos 1960 e 1970 propuseram a luta pela

perspectiva de uma TA em peacute de igualdade com a cultura tecnocientiacutefica

hegemocircnica (NEDER 2008)

No quadro 4 abaixo Brandatildeo (2001) traccedila um paralelo entre

uma sociedade baseada em TC (Hard Technology-tecnologia fortedura)

e uma sociedade com base no que ele chama de Tecnologia Alternativa

(Soft Technology-tecnologia suavemacia) aqui usada como sinocircnimo

de TA Nele eacute possiacutevel perceber que o autor considera que uma

sociedade baseada em TA se aproximaria da visatildeo que melhor se

encaixa em uma noccedilatildeo sustentaacutevel de desenvolvimento Mas revela a

complexidade envolvida nessa questatildeo e afirma defender uma TA para o

desenvolvimento sustentaacutevel mas natildeo como uma panaceia que

133

solucione todos os problemas advindos da incapacidade dos modelos

econocircmicos por deacutecadas dominantes em resolver os problemas mais

baacutesicos da populaccedilatildeo do mundo (BRANDAtildeO 2001 p42)

Quadro 4 - Paralelo entre TC e TA

Sociedade Baseada em Tecnologia

Convencional

(Hard Technology)

Sociedade Baseada em

Tecnologia Alternativa

(Soft Technology)

1 Ecologicamente doente

2 Grande consumo de energia

3 Alto iacutendice de poluiccedilatildeo

4 Uso irreversiacutevel de materiais e

energia

5 Funcional somente por tempo

limitado

6 Produccedilatildeo em massa

7 Especializaccedilatildeo em alto niacutevel

8 Nuacutecleo familiar

9 Importacircncia agraves cidades

10 Poliacutetica de consenso

11 Fronteiras estabelecidas pela

riqueza

12 Alienaccedilatildeo da natureza

13 Comeacutercio internacional

14 Destruidora da cultura local

15 Tecnologia passiacutevel de ser mal-

usada

16 Altamente destruidora de outras

espeacutecies

17 Inovaccedilatildeo regida por lucros e

perdas

18 Economia orientada para o

crescimento

19 Capital intensivo

20 Centralista

21 Aliena jovens e velhos

22 A eficiecircncia geral aumenta com

grandeza

23 Meacutetodos operacionais muito

complicados para compreensatildeo geral

24 Acidentes tecnoloacutegicos frequumlentes

e graves

25 Soluccedilotildees uacutenicas para problemas

Ecologicamente sadia

Pequeno consumo de energia

Baixo iacutendice de poluiccedilatildeo

Uso reversiacutevel de materiais e

energia

Funcional por tempo ilimitado

Induacutestria artesanal

Pouca especializaccedilatildeo

Unidades comunais

Importacircncia agraves vilas

Poliacutetica democraacutetica

Fronteiras estabelecidas pela

natureza

Integrada agrave natureza

Intercacircmbio local

Compatiacutevel com a cultura local

Medidas de seguranccedila contra mau

uso

Dependente do bem-estar de

outras espeacutecies

Inovaccedilatildeo regida pela necessidade

Economia estabilizada

Trabalho intensivo

Natildeo-centralista

Integra jovens e velhos

A eficiecircncia geral aumenta com a

pequenez

Meacutetodos operacionais

compreensiacuteveis para todos

Acidentes tecnoloacutegicos raros e

sem gravidade

Soluccedilotildees diversas para problemas

134

teacutecnicos e sociais

26 Na agricultura importacircncia da

monocultura

27 Criteacuterios de quantidade altamente

valorizados

28 Trabalho empreendido

principalmente por dinheiro

29 Produccedilatildeo alimentar feita por

induacutestrias especializadas

30 Ciecircncia e tecnologia alienadas da

cultura

31 Pequenas unidades totalmente

dependentes de outras

32 Ciecircncia e tecnologia exercida por

elites especializadas

33 Ciecircncia e tecnologia separadas

das outras formas de conhecimento

34 Distinccedilatildeo acentuada entre

laborlazer

35 Desemprego em grande escala

36 Metas teacutecnicas vaacutelidas somente

para uma pequena porccedilatildeo do globo

por tempo limitado

teacutecnicos e sociais

Na agricultura importacircncia agrave

diversificaccedilatildeo

Criteacuterios de qualidade altamente

valorizados

Trabalho empreendido

principalmente por satisfaccedilatildeo

Produccedilatildeo alimentar feita por

todos

Ciecircncia e tecnologia integradas agrave

cultura

Pequenas unidades auto-

suficientes

Ciecircncia e tecnologia exercida por

todos

Ciecircncia e tecnologia integradas

com outras formas de

conhecimento

Distinccedilatildeo leve ou natildeo existente

entre laborlazer

(conceito natildeo vaacutelido)

Metas teacutecnicas vaacutelidas para

todos os homens em todos os

tempos

Fonte (BRANDAtildeO 2001 p41)

As ideias de Gandhi e Schumacher presentes na perspectiva de

TA foram acolhidas inclusive pelo Norte Contudo Dagnino Brandatildeo e

Novaes (2004) apontam que a partir de meados dos anos 1980 as

iniciativas de desenvolvimento de TA perdem forccedila devido ao contexto

geopoliacutetico neoliberal que se agravou Aleacutem disso Dias e Novaes

(2009) mostram que as TA tinham uma debilidade importante Essa

consistia em pressupor que o simples alargamento do leque de

alternativas tecnoloacutegicas agrave disposiccedilatildeo do Sul poderia alterar a natureza

do processo que presidiria a adoccedilatildeo de tecnologia

Thomas e Fressoli (2009) vatildeo aleacutem e consideram que as TA

apresentaram uma seacuterie de restriccedilotildees pois foram

desenhadas para situaccedilotildees de pobreza extrema de

nuacutecleos familiares ou pequenas comunidades

geralmente aplicam conhecimentos tecnoloacutegicos

simples e tecnologias antigas deixando de lado

novos conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos

disponiacuteveis Concebidas como meros bens de uso

135

normalmente perdem de vista que ao mesmo

tempo geram bens de troca e dinacircmicas de

mercado De fato normalmente ignoram os

sistemas de acumulaccedilatildeo e os mercados de bens e

serviccedilos em que estatildeo inseridas e resultam

economicamente insustentaacuteveis (p 114)102

Contudo o desenvolvimento de TS busca evitar os equiacutevocos

detectados nas TA De acordo com Fonseca e Serafim (2009) a

proposta das TS pretende superar a visatildeo do movimento pela TA com a

realizaccedilatildeo da criacutetica agrave neutralidade e ao determinismo E foi esse

cuidado que ressaltei ao apontar possibilidades e limites de mobilizaccedilatildeo

(criativa colaborativa e autossuficiente) para a autoria em ambientes

educacionais via TS Aleacutem disso Dagnino Brandatildeo e Novaes (2004)

consideram que o movimento da TA apontou elementos para o processo

de elaboraccedilatildeo do marco analiacutetico-conceitual hoje disponiacutevel para a

formulaccedilatildeo de um conceito de TS adequado agrave realidade brasileira como

mostrarei adiante

222 Denominaccedilotildees e sentidos

Atualmente o termo ldquoTecnologia Socialrdquo eacute muito conhecido seja

por quem estuda tecnologia seja por quem desenvolve accedilotildees em

perspectiva de inovaccedilatildeo e inclusatildeo socioteacutecnica Contudo na literatura

disponiacutevel as TS satildeo muitas vezes relacionadas agraves TA e vaacuterias

denominaccedilotildees aparecem para fazer referecircncia a iniciativas que se

contrapotildeem agrave TC e agrave tecnociecircncia Satildeo elas tecnologia alternativa

tecnologia utoacutepica tecnologia intermediaacuteria tecnologia adequada

tecnologia socialmente apropriada tecnologia ambientalmente

apropriada tecnologia adaptada ao meio ambiente tecnologia correta

tecnologia ecoloacutegica tecnologia limpa tecnologia natildeo-violenta

tecnologia natildeo-agressiva ou suave tecnologia branda tecnologia doce

tecnologia racional tecnologia humana tecnologia de auto-ajuda

102 Disentildeadas para situaciones de extrema pobreza de nuacutecleos familiares o

pequentildeas comunidades normalmente aplican conocimientos tecnoloacutegicos

simples y tecnologiacuteas maduras dejando de lado el nuevo conocimiento

cientiacutefico y tecnoloacutegico disponible Concebidas como simples bienes de uso

normalmente pierden de vista que al mismo tiempo generan bienes de cambio

y dinaacutemicas de mercado De hecho normalmente ignoran los sistemas de

acumulacioacuten y los mercados de bienes y servicios en los que se insertan y

resultan econoacutemicamente insustentables (p 114) Traduccedilatildeo livre da autora

136

tecnologia progressiva tecnologia popular tecnologia do povo

tecnologia orientada para o povo tecnologia orientada para a sociedade

tecnologia democraacutetica tecnologia comunitaacuteria tecnologia de vila

tecnologia radical tecnologia emancipadora tecnologia libertaacuteria

tecnologia liberatoacuteria tecnologia de baixo custo tecnologia da escassez

tecnologia adaptativa tecnologia de sobrevivecircncia e tecnologia

poupadora de capital (BRANDAtildeO 2001)

Para aleacutem de todas essas denominaccedilotildees apresento alguns

sentidos sobre TS que aparecem nos discursos sobre o tema Como jaacute

mencionei desde o iniacutecio dos anos 2000 existem tentativas de

formulaccedilatildeo de um conceito de TS ou de unificaccedilatildeo de ideias recorrentes

acerca do tema por entidades e pesquisadoresas que tratam dessa

questatildeo Aponto aqui algumas dessas iniciativas

A seguinte definiccedilatildeo para TS produtos teacutecnicas eou

metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a

comunidade e que represente efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social

(MCT 2010 RTS 2004) eacute utilizada por

Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia do Brasil (MCT) atraveacutes da

Secretaria de Inclusatildeo Social (SECIS) busca promover inclusatildeo social

por meio de accedilotildees que melhorem a qualidade de vida e estimulem a

geraccedilatildeo de ocupaccedilatildeo e renda (MCT 2010)

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atraveacutes da Incubadora

Tecnoloacutegica de Cooperativas Populares (ITCP) desenvolve TS que

visam agrave construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvimento local

sustentaacutevel baseadas em princiacutepios da socioeconomia solidaacuteria

(MATSUMOTO 2008 sp)

Rede de Tecnologia Social (RTS) tem entre seus noacutes o MCT o

Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS) o

Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (MI) a Petroacuteleo Brasileiro SA

(PETROBRAS) o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico (CNPq) a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

(EMBRAPA) o Instituto Paulo Freire (IPF) a FBB o Instituto de

Tecnologia Social (ITS) a Associaccedilatildeo Brasileira de Organizaccedilotildees Natildeo

Governamentais (ABONG) e o Conselho Federal de Defesa dos Direitos

Humanos (CFDH) entre outras instituiccedilotildees (RTS 2010)

O ITS define TS de modo similar ao MCT FGV e RTS TS eacute

ldquoum conjunto de teacutecnicas metodologias transformadoras desenvolvidas

eou aplicadas na interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo e apropriadas por ela que

representam soluccedilotildees para inclusatildeo social e melhoria das condiccedilotildees de

vidardquo (ITS 2004 p 130) Aleacutem disso o ITS (2009) indica no quadro 5

137

abaixo as dimensotildees que seratildeo analisadas para considerar se uma

iniciativa se constitui como TS ou natildeo

Quadro 5 - Dimensotildees examinadas na conceituaccedilatildeo de TS

Dimensotildees CaracteriacutesticasIndicadores

Conhecimento Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo

1 Objetiva solucionar demanda social

2 Organizaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo

3 Grau de inovaccedilatildeo

Participaccedilatildeo Cidadania e

Democracia

4 Democracia e cidadania

5 Metodologia participativa

6 Difusatildeo

Educaccedilatildeo

7 Processo pedagoacutegico

8 Diaacutelogo entre saberes

9 ApropriaccedilatildeoEmpoderamento

Relevacircncia Social

10 Eficaacutecia

11 Sustentabilidade

12 Transformaccedilatildeo social

Fonte (ITS 2009 sp)

Jaacute a FBB que manteacutem um banco de dados sobre TS o BTS jaacute

referido na introduccedilatildeo desta tese caracteriza TS como ldquotodo processo

meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema

social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil

reaplicabilidade e impacto social comprovado (PENA MELLO 2004

p 84) No site da FBB disponiacutevel em ltwwwtecnologiassocialorgbrgt

as TS satildeo definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou

metodologias reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a

comunidade e que representem efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo

social (BTS 2008 FBB 2008 sp)

Segundo a FBB (2008) o conceito remete a uma proposta

inovadora de desenvolvimento que considera a participaccedilatildeo coletiva no

seu processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implantaccedilatildeo aleacutem de

estar baseado na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a

demandas sociais concretas Para a entidade tecnologias sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e conhecimento teacutecnico-

cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e reaplicaacuteveis

propiciando desenvolvimento social em escala (FBB 2008 sp)

Pelo exame dessas conceituaccedilotildees percebo que as TS se propotildeem

de modo geral a atender questotildees relativas agrave melhoria de condiccedilotildees de

138

vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local

sustentaacutevel

Jaacute para Tait Fonseca e Dagnino (2007) o conceito de TS deveria

ser empregado para se referir a produtos e metodologias que fossem

claramente identificados com a oacuterbita da produccedilatildeo primordialmente nos

ambientes de cooperativas tendo em vista que essas entidades seriam

teoricamente fundamentais no processo de promoccedilatildeo de sustentabilidade

social via ambiente de produccedilatildeo A partir desse entendimento eacute

interessante examinar as contraposiccedilotildees apresentadas por Dagnino

(2004) em relaccedilatildeo aos sentidos sobre TS em relaccedilatildeo agrave TC

Quadro 6 - Diferenccedilas entre TC e TS

O que faz a TC ser diferente da TS

A TC eacute funcional para a

empresa privada que no

capitalismo eacute a

responsaacutevel por

transformar

conhecimento em bens e

serviccedilos

Os governos dos paiacuteses

centrais apoacuteiam seu

desenvolvimento

As organizaccedilotildees e os

profissionais que a

concebem estatildeo

imersos no ambiente

social e poliacutetico que a

legitima e demanda

Porque trazem

consigo seus valores e

por isso a reproduzem

Fonte (DAGNINO 2004 p 195)

Quadro 7 - Caracteriacutesticas de TS

Como eacute (ou deveria ser) a TS

Adaptada a pequeno

tamanho fiacutesico e financeiro

Natildeo-discriminatoacuteria (patratildeo

x empregado)

Orientada para o mercado

interno de massa

Liberadora do

potencial e da

criatividade do produtor

direto

Capaz de viabilizar

economicamente os

empreendimentos

autogestionaacuterios e as

pequenas empresas

Fonte (DAGNINO 2004 p 193)

139

Verifico que Dagnino (2004) concebe TS fortemente

contrapostas agrave TC e ao contexto capitalista de produccedilatildeo O autor

apresenta um conjunto de princiacutepios normativos envolvidos com TS

pelos quais essas deveriam ser adaptadas a pequenos produtores e

consumidores de baixo poder econocircmico natildeo promovedoras do

controle segmentaccedilatildeo hierarquizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo nas relaccedilotildees entre

patrotildees e empregados orientadas para o mercado interno de massa

incentivadoras do potencial e da criatividade de produtores diretos e dos

usuaacuterios e capazes de viabilizar economicamente empreendimentos

como cooperativas populares incubadoras e pequenas empresas

(DAGNINO 2004)

Esse autor tem conceituado TS como

o resultado da accedilatildeo de um coletivo de produtores

sobre um processo de trabalho que em funccedilatildeo de

um contexto socioeconocircmico (que engendra a

propriedade coletiva dos meios de produccedilatildeo) e de

um acordo social (que legitima o associativismo)

os quais ensejam no ambiente produtivo um

controle (autogestionaacuterio) e uma cooperaccedilatildeo (de

tipo voluntaacuterio e participativo) permite (a accedilatildeo

referida) uma modificaccedilatildeo no produto gerado

passiacutevel de ser economicamente apropriada

segundo a decisatildeo do coletivo (DAGNINO 2014

p 204)

Para desenvolver a TS Dagnino (2014) aponta a necessidade de

um processo de AST como jaacute apontei anteriormente com as seguintes

modalidades (i) alteraccedilatildeo na distribuiccedilatildeo da receita gerada (ii)

apropriaccedilatildeo (iii) repotenciamento (iv) ajuste no processo de trabalho

(v) alternativas tecnoloacutegicas (vi) incorporaccedilatildeo de conhecimento

tecnocientiacutefico existente e (vii) busca de conhecimento tecnocientiacutefico

novo103

Uma adequaccedilatildeo social e teacutecnica para TS como a exposta acima eacute

ampliada na proposta de inspiraccedilatildeo construtivista de Thomas e Fressoli

(2009) e Thomas e Buch (2008) Para esses autores a AST pode ser

compreendida como um processo que busca promover adequaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos tanto aos requisitos de caraacuteter teacutecnico e

econocircmico como fundamentalmente ao conjunto de aspectos de

103 Um detalhamento de cada uma das sete modalidades natildeo eacute explorado aqui

Para mais informaccedilotildees ver a referecircncia Dagnino (2014)

140

natureza socioeconocircmica e ambiental Equipamentos insumos e formas

de organizaccedilatildeo da produccedilatildeo em forma tangiacutevel ou taacutecita se vinculam a

processos de participaccedilatildeo democraacutetica no processo de trabalho na

atenccedilatildeo ao ambiente e agrave sauacutede de trabalhadores e consumidores bem

como agrave capacitaccedilatildeo autogestionaacuteria (THOMAS BUCH 2008)

A AST eacute compreendida portanto como um processo e natildeo como

um resultado a ser buscado (como o que ocorre com as TA) Ela

substituiria a idealizaccedilatildeo tiacutepica do laboratoacuterio pela praacutetica concreta dos

movimentos sociais (THOMAS BUCH 2008) Assim os autores

destacam a importacircncia da participaccedilatildeo de coletividades em especial de

movimentos sociais e ao contraacuterio de Dagnino (2004) natildeo partem da

comparaccedilatildeo com a TC mas da comparaccedilatildeo com a TA No quadro 8 a

seguir Thomas (2008) relaciona TA e a perspectiva de AST em termos

sociocognitivos104

Quadro 8 - Comparaccedilatildeo entre TA e AST

Tecnologias

Apropriadas

Adequaccedilatildeo

Socioteacutecnica

Concepccedilatildeo baacutesica Estoque de

tecnologias

Tecnologias

singulares

Produccedilotildees ad hoc

Montagem socioteacutecnica

Construccedilatildeo do

problema

social

Processo exoacutegeno

Conhecimento de

especialistas

Processo endoacutegeno

Muacuteltiplos saberes

Relaccedilatildeo problema ndash

soluccedilatildeo

Uniacutevoca

Linear

Singular

Monovariaacutevel

Flexibilidade

interpretativa

Natildeo linear

Plural

Sistecircmica

Desenho da

tecnologia

Exoacutegeno

Teacutecnico

Centrado no artefato

Endoacutegeno

Socioteacutecnico

Centrado na dinacircmica

socioteacutecnica

Equipe de desenho Grupo de

especialistas

Divisatildeo social do

trabalho

Coletivo de produtores e

usuaacuterios de tecnologias

Divisatildeo teacutecnica do

trabalho

Processo de

concepccedilatildeo e

Transferecircncia e

difusatildeo Adaptaccedilatildeo a

Co-construccedilatildeo

104 Natildeo exploro aqui cada componente da AST apresentado no quadro 8

141

construccedilatildeo condiccedilotildees locais

Conhecimentos

implicados

Homogecircneos

Expertise

Predomiacutenio de

conhecimentos de

engenharia

Heterogecircneos

Conhecimentos

codificados e taacutecitos

Transdisciplinar

Intensidade dos

conhecimentos

Baixa

Tecnologias antigas

Alta Tecnologias

intensivas em

Conhecimentos

Presenccedila de

conhecimento taacutecito

Efeitos natildeo

desejados

Integrado ao processo de

desenho

Papel do usuaacuterio Receptor passivo

Ao final da linha

Participante ativo

Ao iniacutecio do processo

Capacitaccedilatildeo dos

usuaacuterios

Ex post Usuaacuterio

passivo

Ex ante Usuaacuterio ativo

Fonte (THOMAS 2008 sp)105

Penso que o importante nesse momento eacute compreender que a

intenccedilatildeo dos autores eacute a de que natildeo se repitam nas TS os erros

cometidos pelas iniciativas baseadas nas TA Nesses termos a AST para

TS poderia ser entendida como um procedimento no qual uma

tecnologia sofreria um processo de adequaccedilatildeo aos interesses poliacuteticos de

grupos sociais relevantes diferentes daqueles que lhes deram origem

(THOMAS FRESSOLI 2009 THOMAS BUCH 2008)

Destaco tambeacutem que Thomas (2012) apresenta uma

compreensatildeo das TS como Tecnologias para a Inclusatildeo Social (TIS)

Nas palavras do autor

As Tecnologias para a Inclusatildeo Social satildeo uma

maneira de desenhar desenvolver implementar e

gerenciar tecnologias orientadas a resolver

problemas sociais e ambientais gerando

dinacircmicas sociais e econocircmicas de inclusatildeo social

e de desenvolvimento sustentaacutevel () e alcanccedilam

uma ampla gama de produccedilotildees de tecnologias de

produtos processos e organizaccedilatildeo (THOMAS

2012 p 27)106

105 Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da autora 106 Las Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social son una forma de disentildear

desarrollar implementar y gestionar tecnologiacuteas orientadas a resolver

problemas sociales y ambientales generando dinaacutemicas sociales y econoacutemicas

de inclusioacuten social y de desarrollo sustentablerdquo [hellip] y ldquoalcanzan un amplio

142

Um sentido sobre TS que dialoga com a AST das TIS e

compreende a questatildeo da inovaccedilatildeo social eacute encontrado em Baumgarten

(2008a 2008b) A autora reflete acerca da temaacutetica de inovaccedilatildeo social

contextualizada com uma visatildeo geral sobre as atuais formas de produzir

ciecircncia e tecnologia que considere o papel de redes de produccedilatildeo de

conhecimentos para sustentabilidade social Para ela esse debate se

refere tanto agrave vinculaccedilatildeo entre produccedilatildeo de ciecircncia tecnologia e

inovaccedilatildeo relacionada a necessidades e possibilidades sociais quanto agrave

importacircncia crescente de apropriaccedilatildeo por parte de diferentes sujeitos de

conhecimentos que possam ser incorporados a TS Essas entendidas

como

As tecnologias sociais teriam pois a

potencialidade para expressar instacircncias fiacutesicas e

virtuais de trocas reintegraccedilatildeo de saberes

contrabandos inter campos e disciplinas que se

fazem por sendas atraveacutes das quais constroem

conhecimentos que datildeo conta da complexidade do

mundo real e de nossas capacidades para construiacute-

lo e reconstruiacute-lo de acordo com nossas

necessidades e potencialidades (BAUMGARTEN

2010 sp)

Nesse sentido as TS poderiam se articular como um noacute no qual

seria possiacutevel conectar uma ampla rede de sujeitos (BAUMGARTEN

2010) Nessa perspectiva de TS a teacutecnica seria entendida como um

meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo

forma de controle ou causa de desigualdade social (CORREcircA 2010)

Thomas (2009) tambeacutem apresenta um apanhado de diferentes

posicionamentos teoacutericos desenvolvidos sobre TS a partir da deacutecada dos

anos 1960 O quadro 9 abaixo traz uma siacutentese dessas contribuiccedilotildees

abanico de producciones de tecnologiacuteas de producto proceso y organizacioacuten

(THOMAS 2012 p 27) Original em liacutengua espanhola Traduccedilatildeo livre da

autora

143

Quadro 9 - Discussotildees sobre desenvolvimento tecnoloacutegico

Fonte (VALADAtildeO ANDRADE NETO 2014 p 56)

Eacute possiacutevel verificar que o quadro 9 apresenta posicionamentos

criacuteticos em relaccedilatildeo a padrotildees lineares e convencionais de

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico Destaco portanto a

importacircncia das posiccedilotildees acima referidas no entendimento das TS

Desde a perspectiva normativa e contraposta agrave TC de Dagnino (2004)

passando pela AST das TIS em contraposiccedilatildeo agrave TA de Thomas (2012) e

Thomas e Fressoli (2009) ateacute a perspectiva de inovaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo

social desenvolvido por Baumgarten 2008a 2008b) mostram-me modos

de abordar a questatildeo de maneira criacutetica e com relevacircncia aos sujeitos envolvidos com as TS

E esse sentido criacutetico seria importante para pensarmos sobre TS

em processos educacionais Compreender que a tecnologia eacute produccedilatildeo

humana permeada de valores (caraacuteter ideoloacutegico) e que como tal pode

ser construiacuteda conforme nossos interesses e de acordo com nossos

144

contextos (de diversidade eacutetnico-racial de gecircnero e de classes por

exemplo) pode auxiliar na mobilizaccedilatildeo para autoria em ambientes

educacionais

Assim apresento a figura 3 abaixo na qual esquematizo um

modo possiacutevel de relacionar criticamente dimensotildees gerais das TS com

as categorias que utilizo nesta tese

Figura 3 - Uma leitura sobre as dimensotildees das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

A ideia eacute que em torno de uma perspectiva criacutetica sobre TS em

processos educacionais seja possiacutevel promover (i) diaacutelogos entre

diferentes conhecimentos (ii) mobilizaccedilatildeo de estudantes para autoria na

(maior) compreensatildeo da relevacircncia de seus problemas (e soluccedilotildees)

socioteacutecnicos (iii) (resgate de) sentidos na busca por emancipaccedilatildeo

social e (iv) possibilidades (maiores) de compreender a tecnologia como

conhecimento humano possiacutevel de ser aprendido

Ao apontar essas quatro dimensotildees possiacuteveis de anaacutelises em TS

procuro natildeo silenciar seu caraacuteter poliacutetico tampouco os conhecimentos

produzidos pelas diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no

contexto escolar da atualidade E em alguma medida busco refletir sobre as relaccedilotildees entre essas diversidades e os possiacuteveis aspectos que

representariam sua unicidade em um contexto nacional mais geral

Acredito que promover uma perspectiva criacutetica de TS (que

apresente a histoacuteria das teacutecnicas a importacircncia dos sujeitos as

145

contradiccedilotildees e os efeitos desses desenvolvimentos em nossas culturas)

pode colaborar com debates nos quais estudantes (como autoresas e natildeo

apenas usuaacuteriosas) percebam (mais) que seus problemas socioteacutecnicos

tecircm relevacircncia e que eleselas tecircm possibilidades (autonomia) de

desenvolver autoria na busca por soluccedilotildees criativas e colaborativas

(emancipaccedilatildeo social)

Entretanto vaacuterios sentidos sobre TS que circulam e muitas

iniciativas de desenvolvimento que estatildeo implantadas apresentam

caracteriacutesticas que merecem ser examinadas com algum cuidado

223 Ponderaccedilotildees

Um sentido sobre TS muito disseminado no Brasil se refere agrave

proposta da FBB107 que como apontei anteriormente destaca as

dimensotildees de simplicidade baixo custo faacutecil reaplicabilidade e resposta

social comprovada Um esquema dessas caracteriacutesticas pode ser visto na

Figura 4 abaixo

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Junto a isso as possibilidades de (i) apropriaccedilatildeo das TS pelos

sujeitos e (ii) articulaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais e

107 A popularidade do conceito de TS utilizado pela FBB ocorre porque essa

manteacutem desde 2001 um banco de dados de TS que serve de base para o Precircmio

FBB de TS que ocorre a cada dois anos O Banco do Brasil (BB) tem presenccedila

expressiva em todas as regiotildees do paiacutes e conta com um suporte de publicidade

amplo Desse modo o Precircmio FBB de TS tem divulgaccedilatildeo em todo o paiacutes em

vaacuterias miacutedias o que confere expressividade ao seu alcance e ao nuacutemero de

iniciativas inscritas

146

conhecimentos socioteacutecnicos tambeacutem satildeo caracteriacutesticas apontadas por

autoresas e instituiccedilotildees que discutem a questatildeo De modo que apresento

a seguir certas consideraccedilotildees em relaccedilatildeo a algumas dessas dimensotildees

das TS para que elas possam ser pensadas de modo menos ingecircnuo

O aspecto da simplicidade muitas vezes se traduz como pontual

Em minha pesquisa para a dissertaccedilatildeo identifiquei que as TS analisadas

satildeo dirigidas prioritariamente agrave soluccedilatildeo de problemas pontuais muitas

vezes parciais de sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade O que pode

carregar um sentido assistencialista Ou seja praacuteticas normalmente

paliativas que prestam assistecircncia a sujeitos necessitados de uma

coletividade em detrimento de uma poliacutetica que os tire da sua condiccedilatildeo

de carecircncia e vulnerabilidade (CORREcircA 2010) Frente a isso eacute

interessante pensarmos na simplicidade como a busca pelo uso de

conhecimentos locais

Em relaccedilatildeo agrave reaplicaccedilatildeo considero importante a distinccedilatildeo de

replicaccedilatildeo De acordo com Barros (2007) replicaccedilatildeo eacute uma coacutepia de um

modelo sem exercer alteraccedilotildees As TS envolvem reaplicaccedilatildeo porque

precisam ser reconstruiacutedas o tempo todo Pois os conhecimentos se

reconstroem com a participaccedilatildeo de todosas osas que interagem na sua

multiplicaccedilatildeo (BARROS 2007) Portanto as TS podem ser reaplicaacuteveis

(ou adaptadas para cada contexto) desde reflexotildees criacuteticas e em conjunto

com os sujeitos envolvidos

As possibilidades de mediaccedilatildeo entre conhecimentos tradicionais

e conhecimentos socioteacutecnicos atraveacutes de TS pode ser pensada desde

uma perspectiva interdisciplinar108 Nessa direccedilatildeo Rocha Neto (2002)

propotildee inter-relaccedilotildees entre Ciecircncias Sociais e Ciecircncias Naturais Para o

autor a ampliaccedilatildeo do escopo das atividades de pesquisa e a realizaccedilatildeo

de projetos de relevacircncia social com a colaboraccedilatildeo de diferentes aacutereas

do conhecimento pode ser uma iniciativa nessa direccedilatildeo

108 De acordo com Pombo (2006) o modelo atual de produccedilatildeo de

conhecimentos cientiacuteficos levou ao extremo de especializaccedilotildees cientiacuteficas As

disciplinas acadecircmicas instituiacutedas mantecircm pouca ou nenhuma comunicaccedilatildeo

muitas vezes dentro da mesma aacuterea de conhecimento O que parece desperdiccedilar

possibilidades de diaacutelogo entre acadecircmicos aacutereas campos de conhecimentos e

desses com os sujeitos Sem desconsiderar a importacircncia dos especialistas e a

relevacircncia acadecircmica e social de estudos aprofundados aponto que muitas

vezes especializaccedilotildees extremas podem levar a fragmentaccedilatildeo de conhecimentos

que podem natildeo contemplar uma integraccedilatildeo de conhecimentos que possibilitem

abranger a complexidade que as problemaacuteticas atuais apresentam (CORREcircA

2010)

147

Contudo para aleacutem da abertura e integraccedilatildeo entre aacutereas

acadecircmicas eacute importante o diaacutelogo com os sujeitos que produzem

conhecimentos em outras instacircncias Jaacute nos anos 1980 Santos (2010b)

apresentava seu paradigma emergente que permite pensarmos em uma

educaccedilatildeo em um momento de transiccedilatildeo Para pensarmos sobre TS de

modo menos ingecircnuo seria importante considerarmos as teses do autor

de que (i) todo o conhecimento cientiacutefico-natural eacute cientiacutefico social (ii)

todo o conhecimento eacute local e total (iii) todo o conhecimento eacute

autoconhecimento e (iv) todo o conhecimento cientiacutefico visa constituir-

se em senso comum (SANTOS 2010b)

O autor destaca que com a emergecircncia do novo paradigma

comeccedilaria a desaparecer a diferenccedila hieraacuterquica entre senso comum e

conhecimento cientiacutefico Essa equidade entre os tipos de conhecimento

natildeo visaria desfavorecer o conhecimento cientiacutefico que inegavelmente

atua em muitos sentidos na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos

mas fazer perceber que natildeo eacute necessaacuterio abdicar dos conhecimentos

locais nativos das artes filosoacutefico e especulativo para aceitar a ciecircncia

e a tecnologia

Com isso a possibilidade de contemplar uma integraccedilatildeo de

conhecimentos nas TS natildeo representaria um simples somatoacuterio mas a

recriaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo de conhecimentos que cruzariam as fronteiras

das disciplinas acadecircmicas e extrapolariam os muros da academia Para

isso considero a importacircncia de oportunizar conhecimentos em ciecircncia

e tecnologia para os sujeitos (domiacutenio intelectual da teacutecnica) que lhes

permitam um debate informado e criacutetico sobre o tema (autonomia)

A esse respeito Castro (2009) esclarece que leva tempo para

educar algueacutem a ser criacutetico com a tecnologia e a conhecer sua proacutepria

capacidade de decisatildeo Portanto o autor destaca que seria importante

introduzir essa discussatildeo na escola inicial porque ali as crianccedilas jaacute tecircm

celular videogames e muitas possibilidades tecnoloacutegicas Tendo em

vista o exemplo das discussotildees ecoloacutegicas que comeccedilaram a ser

apresentadas fortemente agraves crianccedilas nas seacuteries inicias de ensino poderia

ser relevante comeccedilar a combater cedo a dimensatildeo ideoloacutegica de que a

tecnologia eacute apoliacutetica (CASTRO 2009)

Antes de examinar os detalhes que envolvem as TS em processos

educacionais destaco tipos de TS exemplos entidades e coletividades

que as desenvolvem no Brasil contemporacircneo

148

224 TS tipos exemplos entidades e coletividades

relacionadas109

Em minha dissertaccedilatildeo elaborei uma tipologia sobre TS pois

naquele contexto fazia sentido identificaacute-las como materiais ou

imateriais Na primeira categoria identifiquei produtos mercadorias e

creacutedito enquanto na segunda analisei serviccedilos processos e formas de

gestatildeo Essa definiccedilatildeo do tipo de tecnologia natildeo foi feita em relaccedilatildeo

apenas agrave finalidade da TS mas considerei o contexto110 no qual o

desenvolvimento ocorria os sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade

com a qual a TS se relacionava e o problema a ser resolvido Desse

modo procurei evitar uma percepccedilatildeo instrumental das TS O quadro 10

abaixo mostra a prevalecircncia de TS de tipo imaterial que em percentual

correspondia a 87 dos casos que analisei

Quadro 10 - Descriccedilatildeo dos tipos de TS

Fonte Correcirca (2010)

109 Satildeo exemplos de TS muito divulgados soro caseiro Banco Palmas cisternas

para captaccedilatildeo de aacutegua cafeacute com floresta e encauchados de vegetais da

Amazocircnia entre outras iniciativas que podem ser verificadas emlt

httpfbborgbrtecnologiasocialgt 110 Considerei a proposiccedilatildeo de Feenberg (2002) para quem o caraacuteter social da

tecnologia natildeo reside na loacutegica do seu funcionamento interno mas na relaccedilatildeo

dessa loacutegica com um contexto social

149

Subdividi as TS imateriais em (i) serviccedilos (ii) processos e (iii)

gestatildeo Satildeo exemplos de cada um desses casos (i) serviccedilos gratuitos de

auxiacutelio em questotildees juriacutedicas coleta de lixo por prefeituras confecccedilatildeo

de documentos de identificaccedilatildeo como carteira de identidade

distribuiccedilatildeo de alimentos cadastro de desempregadosas e empreacutestimo

de equipamentos ortopeacutedicos entre outros (ii) cursos de educaccedilatildeo

popular capacitaccedilatildeo de professoresas capacitaccedilatildeo de lideranccedilas

comunitaacuterias formaccedilatildeo de monitoresas de desenvolvimento rural

cursos de informaacutetica para sujeitos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e

cursos de aperfeiccediloamento teacutecnico e (iii) gerecircncia de atividades de

economia solidaacuteria

Essa categorizaccedilatildeo eacute importante pois apareceraacute em alguma

medida no exame dos dados sobre as TS desenvolvidas por estudantes

dos CTIEM Cacircmpus Caxias do Sul

Acredito que a relaccedilatildeo entre tipos de TS desenvolvidas e sua

localizaccedilatildeo pode ilustrar o contexto no qual faccedilo minha investigaccedilatildeo A

tabela 2 abaixo traz alguns dados nesse sentido Tabela 2 - Regiotildees e tipos de TS

Fonte Correcirca (2010)

Destaco que a Regiatildeo Sul como pode ser visto tem maior

desenvolvimento de TS de tipo imaterial (64 casos) Podemos observar

que essas TS satildeo a maioria em todas as regiotildees do Brasil Em minha

dissertaccedilatildeo verifiquei que TS imateriais de tipo serviccedilos e processos

sobretudo no tema da educaccedilatildeo estatildeo relacionadas com esse padratildeo

Apresento abaixo dados sobre as entidades que desenvolvem TS

no Brasil

150

Tabela 3 - Entidades que desenvolvem TS

Fonte Correcirca (2010)

Destaco as entidades que tecircm alguma relaccedilatildeo com processos

educacionais Na tabela 3 acima elas estatildeo distribuiacutedas entre entidades

puacuteblicas (oacutergatildeos dos poderes executivo legislativo e judiciaacuterio em

acircmbitos federais estaduais e municipais empresas puacuteblicas escolas

universidades e centros de pesquisas) em fundaccedilotildees (de empresas

privadas) em educacionais privadas (faculdades centros de pesquisa e

escolas privadas que natildeo tecircm caraacuteter filantroacutepico) em assistenciais e

filantroacutepicas (entidades autodeclaradas desse modo natildeo satildeo oacutergatildeos

governamentais) no 3ordm setor sindicatos e cooperativas (Organizaccedilotildees da

Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico - OSCIPs ONGs e associaccedilotildees

privadas de interesse puacuteblico) e na categoria outras Embora a perspectiva educacional possa estar diluiacuteda em vaacuterias

categorias eacute possiacutevel verificar que as entidades classificadas como

puacuteblicas somam 37 das TS desenvolvidas com 165 casos dos quais

76 satildeo nomeadamente entidades educacionais Assim como os 89 casos

em oacutergatildeos relacionados ao poder executivo legislativo e judiciaacuterio de

151

prefeituras estados e do Governo Federal podem ter relaccedilatildeo com

processos educacionais (CORREcircA 2010)

Por fim apresento o graacutefico 3 abaixo que contempla as

coletividades envolvidas com as TS que analisei

Graacutefico 3 - Coletividades

Fonte Correcirca (2010)

O graacutefico 3 acima mostra que na categoria de coletividades

classificadas como especiacuteficas existem 7 de casos de TS (voltadas ao

puacuteblico analfabeto e a professoresas) Estudantes correspondem a 45

casos 10 do total Os trecircs grandes grupos de coletividades para as

quais as TS se dirigem satildeo pequenosas agricultoresas adolescentes e

famiacutelias de baixa renda (CORREcircA 2010) Mesmo que o nuacutemero de TS

voltadas a analfabetosas e professoresas seja baixo se for considerada

a concentraccedilatildeo de TS dirigidas a problemas no tema educaccedilatildeo eacute possiacutevel

relacionar esses sujeitos como demandantes de TS nessa temaacutetica

Tendo em vista essas informaccedilotildees sobre TS desenvolvidas no

Brasil na atualidade examino a seguir algumas iniciativas que as

relacionam em alguma medida com processos educacionais

225 Relaccedilotildees com processos educacionais

As TS satildeo debatidas sob diversos pontos de vista a partir de

diferentes aacutereas e com preocupaccedilotildees distintas Bioacutelogosas fiacutesicosas

152

geoacutegrafosas ecologistas economistas profissionais da aacuterea da sauacutede

educadoresas estudantes engenheirosas cientistas sociais

participantes de ONGs OSCIPs e de movimentos sociais poliacuteticos

sindicalistas e gestoresas institucionais entre muitos outros sujeitos

desenvolvem estudos ou implantam iniciativas sobre TS no Brasil na

atualidade

Antes de apresentar estudos sobre relaccedilotildees entre TS e processos

educacionais destaco um levantamento de obras sobre TS publicadas

entre os anos de 2003 e 2011 tanto no Brasil quanto em outros paiacuteses

(FREITAS SEGATTO 2013) Para tentar caracterizar a produccedilatildeo

cientiacutefica sobre TS os autores coletaram uma amostra de 133

publicaccedilotildees entre artigos em perioacutedicos (com e sem Qualis111) artigos

completos em anais resumos em anais livros e capiacutetulos de livros entre

outros documentos Desses 925 (123) satildeo de origem nacional e 75

(10) de origem estrangeira (FREITAS SEGATTO 2013)

No quadro 11 abaixo eacute possiacutevel verificar o nuacutemero de

publicaccedilotildees por ano e por paiacutes no qual o Brasil aparece com destaque

na produccedilatildeo de obras sobre TS no periacuteodo analisado

Quadro 11 - Origem e ano de publicaccedilotildees

Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)

Os autores tambeacutem organizaram os dados coletados em relaccedilatildeo

aos temas das publicaccedilotildees conforme pode ser visto no quadro 12

111 O chamado Qualis se refere a avaliaccedilotildees que expressam a pertinecircncia do

conteuacutedo de um perioacutedico para uma determinada aacuterea do conhecimento A

qualidade dos perioacutedicos eacute classificada anualmente pela Capes em estratos que

compreendem desde a melhor avaliaccedilatildeo (A1) passando por A2 B1 B2 B3 B4

e B5 ateacute a menor pertinecircncia (C) e pode ser verificada em

lthttpssucupiracapesgovbrsucupirapublicconsultascoletaveiculoPublicac

aoQualislistaConsultaGeralPeriodicosjsfgt

153

abaixo Destaco a pequena presenccedila de relatos em temas sobre

educaccedilatildeo com apenas uma publicaccedilatildeo ateacute o momento da coleta dos

dados

Quadro 12 - Principais temas em TS e ano de publicaccedilatildeo

Fonte (FREITAS SEGATTO 2013)

Penso que o tema da educaccedilatildeo possa estar presente mesmo que

silenciado pois pode natildeo ter sido feita uma referecircncia clara no tiacutetulo da

obra (que foi o meacutetodo de coleta de dados utilizado pelos autores) Haacute

tambeacutem o fato de que muitas iniciativas de desenvolvimento de TS na

aacuterea educacional natildeo satildeo relatadas nesse tipo de formato de publicaccedilatildeo

Em minha dissertaccedilatildeo verifiquei o apelo de TS nessa aacuterea como

154

referenciei na introduccedilatildeo desta tese Entretanto nos anos iniciais de

reflexatildeo sobre TS no Brasil havia realmente uma preocupaccedilatildeo na

definiccedilatildeo de prioridades de anaacutelise em TS com focos na divulgaccedilatildeo de

iniciativas de desenvolvimento de TS e na organizaccedilatildeo das demandas

institucionais e poliacuteticas Algo que pode ser visto no quadro 12 acima

onde aparecem 30 publicaccedilotildees (23) concentradas em divulgar

experiecircncias com TS e 23 estudos (17) com ecircnfase nas demandas

institucionais e poliacuteticas

Outra informaccedilatildeo relevante no levantamento de Freitas e Segatto

(2013) eacute a presenccedila de estudos nos temas da AST (que como referi

anteriormente tem preocupaccedilatildeo com iniciativas voltadas a soluccedilotildees

pontuais alinhadas agraves TA) e da inovaccedilatildeo social (que como jaacute apontei

destaca processos inovadores para melhorar ou desenvolver novas TS)

Com isso apresento a seguir contribuiccedilotildees recentes que de alguma

maneira estatildeo relacionadas com processos educacionais112

A ldquoAcademia Estudantil de Letrasrdquo (AEL) foi desenvolvida por

uma professora na Regiatildeo Sudeste do Brasil e atualmente envolve 15

mil alunosas de Ensino Fundamental e Meacutedio A AEL tem como

objetivo despertar o gosto e o interesse pela leitura nosas estudantes

elevar sua autoestima promover inclusatildeo social no processo de

aquisiccedilatildeo da linguagem e agrave formaccedilatildeo integral doa estudante No

projeto cada estudante participante escolhe uma autora para

representar e estudar simulando uma academia de letras113

A TS intitulada ldquoCisterbanrdquo eacute desenvolvida em uma escola na

Regiatildeo Nordeste do Brasil Nela satildeo construiacutedas cisternas a partir do

reaproveitamento da fibra de bananeira Processo mais barato que a

fabricaccedilatildeo de cisternas tradicionais e que amenizam a seca no semiaacuterido

cearense Tambeacutem com foco em produto uma escola municipal da

Regiatildeo Norte do Brasil desenvolve forros ecoloacutegicos feito com

embalagens do tipo longa vida que garante conforto teacutermico

diminuindo a temperatura em ateacute 9ordm C no interior dos lares das

comunidades de baixa renda 112 Com exceccedilatildeo da TS chamada ldquoEscolas Sustentaacuteveisrdquo desenvolvida na

Argentina e que descrevo a seguir todas as iniciativas de desenvolvimento de

TS aqui listadas podem ser acessadas em httpwwwaprenderensinartscombr Satildeo relatos de experiecircncias jaacute

implantadas e que natildeo precisam necessariamente estar publicadas em formato

de artigo 113Informaccedilotildees disponiacuteveis em

httpwwwacademiaestudantildeletrasblogspotcombr

155

O projeto ldquoBanco Verde e Bazar Verderdquo se constitui como um

serviccedilo de troca de materiais reciclaacuteveis por material escolar A

iniciativa desenvolvida na rede puacuteblica de ensino na Regiatildeo Sudeste

funciona como uma troca osas alunosas coletam materiais reciclaacuteveis

(garrafas PET potes de vidros latinhas de alumiacutenio e sacos plaacutesticos) e

trocam por moedas verdes Essas que satildeo depositadas no Banco Verde

que fica dentro da escola podem ser gastas no Bazar Verde que tambeacutem

fica na escola e vende artigos variados de papelaria perfumaria e

tecnologia

Com mais de 200 professoresas formadosas desde 2011 o

projeto intitulado ldquoA Escola eacute a Cidade amp a Cidade eacute a Escolardquo da

Regiatildeo Sudeste do Brasil visa melhorar o ambiente escolar e integrar

educaccedilatildeo e cultura A metodologia da TS eacute formar profissionais que

possam usar a arte em accedilotildees contemporacircneas que contribuam com a

melhoria do ambiente escolar no que diz respeito ao espaccedilo fiacutesico mais

atrativo e na aproximaccedilatildeo dos interesses educacionais e juvenis A

preocupaccedilatildeo com formaccedilatildeo de professoresas (aqui estendida a

alunosas) tambeacutem eacute tema da TS ldquoAbra os Olhos para a Ciecircnciardquo

Iniciativa desenvolvida na Regiatildeo Nordeste do Brasil e que incentiva o

envolvimento de alunosas do ensino meacutedio em atividades de divulgaccedilatildeo

e construccedilatildeo do conhecimento cientifico para a compreensatildeo e resoluccedilatildeo

de problemas socioambientais

A TS ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo tem foco na formaccedilatildeo de

jovens na relaccedilatildeo entre direitos humanos cidadania e orccedilamento

puacuteblico A TS consiste em oficinas em escolas puacuteblicas do Distrito

Federal A ldquoAdolescentes Protagonistasrdquo problematiza a escola a partir

da reflexatildeo sobre educaccedilatildeo de qualidade trabalha com formaccedilatildeo em

orccedilamento puacuteblico direitos humanos cidadania comunicaccedilatildeo e

processo legislativo Na possibilidade de diaacutelogo com o parlamento

osas adolescentes aprendem a defender seus interesses sem a

intermediaccedilatildeo de outros sujeitos

Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o ldquoLaboratoacuterio de

Desenvolvimento de Tecnologias Sociaisrdquo desenvolve projetos

tecnoloacutegicos de recuperaccedilatildeo de aacutereas urbanas degradadas Segundo

Nunes (2005) o laboratoacuterio utiliza uma metodologia participativa e

estimula a integraccedilatildeo dos diversos sujeitos atraveacutes da formaccedilatildeo de

parcerias com universidades e empresas A participaccedilatildeo coletiva eacute

estimulada atraveacutes de um foacuterum de discussatildeo que aborda os principais

temas principalmente sobre a problemaacutetica socioambiental da regiatildeo O

foacuterum busca apontar soluccedilotildees para os problemas locais atraveacutes da

156

construccedilatildeo de uma agenda para a viabilizaccedilatildeo da sustentabilidade local

(NUNES 2005)

O projeto do ldquoObservatoacuterio do Movimento pela Tecnologia

Social na Ameacuterica Latinardquo com sede na Universidade de Brasiacutelia

(UnB) visa identificar discutir analisar e avaliar a efetividade de

experiecircncias com TS implantadas como soluccedilotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas a partir de demandas sociais Conforme Neder (2008) o

observatoacuterio pretende cobrir as muacuteltiplas dimensotildees do movimento de

entidades civis empresas puacuteblicas oacutergatildeos governamentais e poliacuteticas

puacuteblicas governamentais expressas nos uacuteltimos anos

O curso ldquoFundamentos da Tecnologia Socialrdquo tambeacutem

oferecido na UnB tem como objetivo sistematizar as dificuldades e

necessidades enfrentadas hoje pelos que defendem as inovaccedilotildees

socioteacutecnicas e TS As metas do curso consistem em discutir as bases

da apropriaccedilatildeo da teacutecnica sob uma visatildeo de pluralismo tecnoloacutegico nas

praacuteticas cientiacuteficas e acadecircmicas e realizar discussotildees empiacutericas a

partir do exame de alguns casos de TS no Brasil (NEDER 2008)

Aleacutem de discutir os fundamentos teoacutericos de TS o curso segue a linha

de pesquisa de anaacutelise de tecnologias para a sustentabilidade

Por fim destaco uma iniciativa desenvolvida na Argentina com

coordenaccedilatildeo da Red de Tecnologiacuteas para la Inclusioacuten Social (REDTISA) voltada ao desenvolvimento de TS tendo em vista a ideia

de escolas sustentaacuteveis Conforme a coordenadora Paula Juarez o

projeto eacute uma iniciativa que aborda problemas de escolas rurais a partir

da perspectiva dos sistemas tecnoloacutegicos sociais Assim problemas em

temas como aacutegua saneamento energia nutriccedilatildeo e sauacutede seriam

debatidos com a comunidade escolar e sujeitos locais de modo a buscar

soluccedilotildees socioteacutecnicas adequadas e necessaacuterias a cada realidade O

projeto envolveria desde o desenho comunitaacuterio da proposta a

autoconstruccedilatildeo com matildeo de obra local e uso de materiais locais ateacute a

formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo de docentes como agentes de desenvolvimento

(REDTISA 2016)

Jaacute em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre TS fiz duas

revisotildees (julho de 2015 e maio de 2016) no banco de teses e dissertaccedilotildees

da Capes disponiacutevel para acesso em

lthttpbancodetesescapesgovbrbanco-tesesgt A busca pelo termo

ldquotecnologia social educaccedilatildeordquo em tiacutetulos de documentos disponiacuteveis

apenas de origem da Plataforma Sucupira no periacuteodo de 2013 a 2016 na

aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo resultou em 6945 registros

encontrados A maioria desses registros tratava de tecnologia em geral

tecnologia assistiva tecnologia educacionaleducativa e de

157

comunicaccedilatildeoinformaccedilatildeodigitaismoacuteveis Apenas um registro citava TS

no tiacutetulo114

Uma pesquisa nos mesmos paracircmetros que citei acima mas

apenas para o termo ldquotecnologia socialrdquo e aberta a todas as aacutereas de

concentraccedilatildeo resultou em 212 registros Na aacuterea de concentraccedilatildeo

ldquoeducaccedilatildeordquo resultaram oito trabalhos mas apenas dois deles continham

TS no tiacutetulo115 Outra pesquisa apenas com o diferencial de buscar o

termo no plural ldquotecnologias sociaisrdquo resultou em 241 trabalhos sendo

que apenas sete deles estavam na aacuterea de concentraccedilatildeo ldquoeducaccedilatildeordquo e

desses somente dois continham TS no tiacutetulo116

Com isso antes de pretender examinar os detalhes que envolvem

as TS nos CTIEM busquei apenas apontar estudos iniciativas

perspectivas e posicionamentos que podem colaborar com o exame

proposto Encaminhei um sentido sobre tecnologia que me guia durante

a pesquisa busquei relacionaacute-lo com o enfoque educacional que me

orienta e procurei dialogar com autoresas que podem contribuir em

alguma medida com minhas reflexotildees Assim procuro apontar caminhos

possiacuteveis para compreender e investigar o caraacuteter social da tecnologia

sobretudo em processos educacionais

Compreendo assim como Feenberg (2002 2012) que a

tecnologia pode ser vista como engendrada por relaccedilotildees sociais entre

sujeitos os quais defendem interesses e atuam a partir de valores

proacuteprios agrave sua cultura Noccedilatildeo que tambeacutem percebo em Freire (1968)

quando o autor esclarece que a tecnologia como uma praacutetica humana eacute

114 COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo intergeracional como tecnologia

social uma abordagem da intergeracionalidade no acircmbito da Universidade

Federal do Tocantins-UFT 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 115 OLIVEIRA J P de Tecnologia Social na Educaccedilatildeo Profissional e

tecnoloacutegica perspectivas da formaccedilatildeo do curso teacutecnico integrado em

informaacutetica do IFRN ndash Campus Mossoroacute 2015 Mestrado (Educaccedilatildeo

Profissional) ndash IFRS Natal 2015 e COSTA S Q B G da A Educaccedilatildeo

intergeracional como tecnologia social uma abordagem da

intergeracionalidade no acircmbito da Universidade Federal do Tocantins-UFT

2015 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash UFT Palmas 2015 116 JULIANO M C C Rede Famiacutelia um estudo sobre uma experiecircncia de

tecnologia social e seu diaacutelogo com a promoccedilatildeo de resiliecircncia comunitaacuteria e a

Educaccedilatildeo Ambiental 2013 Doutorado (Educaccedilatildeo Ambiental) ndash FURG Rio

Grande 2013 e MEAULO M P Fundaccedilatildeo Dorina Nowill Para Cegos Um

Estudo Sobre a Educaccedilatildeo Natildeo Formal e Tecnologias Sociais Presentes na

Inclusatildeo de Portadores de Deficiecircncia Visual 2014 Mestrado (Educaccedilatildeo) ndash

Centro Universitaacuterio Salesiano de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2014

158

poliacutetica e intencional natildeo eacute neutra e natildeo se produz nem se usa sem uma

visatildeo de mundo Assim como o posicionamento do autor sobre a

educaccedilatildeo a tecnologia poderia estar relacionada com a praacutetica da

liberdade

Percebo que a liberdade tanto no desenvolvimento tecnoloacutegico

quanto em processos educacionais eacute uma expressatildeo de emancipaccedilatildeo

social autonomia e consciecircncia criacutetica E essas satildeo categorias

importantes em relaccedilatildeo a TS que se pretendam mobilizadoras de

juventudes para a autoria Portanto destaco a vigilacircncia com a qual

examino sentidos sobre TS que circulam nos CTIEM do IFRS Cacircmpus

Caxias do Sul Minha atenccedilatildeo eacute para o que emerge e tambeacutem para o que

estaacute ausente (sentidos natildeo deterministas) Algo que Santos (2010a) jaacute

alerta em sua ecologia dos saberes

Diz o autor que

() eacute crucial comparar o conhecimento que estaacute

sendo aprendido com o conhecimento que estaacute

sendo esquecido ou desaprendido A ignoracircncia soacute

eacute uma condiccedilatildeo desqualificadora quando o que

estaacute sendo aprendido tem mais valor do que o que

estaacute sendo esquecido A utopia do

interconhecimento eacute aprender outros

conhecimentos sem esquecer a si mesmo Esta eacute a

ideia de prudecircncia que permanece na ecologia dos

saberes (SANTOS 2010a p52)117

O que acredito ser possiacutevel sobretudo ao buscarmos mobilizar

estudantes para a autonomia e a emancipaccedilatildeo social dentro de uma

perspectiva criacutetica da Educaccedilatildeo CTS Nesse sentido concordo com

Linsingen (2007) no que o autor afirma que esse tipo de educaccedilatildeo

envolve fundamentalmente favorecer um ensino desobre ciecircncia e

tecnologia atento agrave formaccedilatildeo de sujeitos com consciecircncia criacutetica em

relaccedilatildeo a suas possibilidades de participarem ativamente (autoria) da

transformaccedilatildeo da realidade em que vivem

117 Es crucial para comparar el conocimiento que se estaacute siendo aprendido con

el conocimiento que por lo tanto estaacute siendo olvidado o desaprendido La

ignorancia es solo una condicioacuten descalificadora cuando lo que se estaacute siendo

aprendido tiene maacutes valor que lo que se estaacute siendo olvidado La utopiacutea del

interconocimiento es aprender otros conocimientos sin olvidar el de uno mismo

Esta es la idea de la prudencia que subsiste bajo la ecologiacutea de los saberes

Traduccedilatildeo livre da autora

159

Tanto para esse autor quanto para mim uma renovaccedilatildeo educativa

dentro da Educaccedilatildeo CTS pode ser favorecida por mudanccedilas de

perspectivas de educadoresas e de educandosas atraveacutes da qual o

ensino de temas em tecnologia deixaria de ser enfocado em conteuacutedos

distantes e fragmentado baseado em conhecimentos supostamente

neutros e autocircnomos e passaria a ter foco em situaccedilotildees reais vividas

pelosas educandosas em seus contextos (LINSINGEN 2007)

Podemos ainda lembrar de Freire (2011) e Gramsci (1982) que

como destaquei no primeiro capiacutetulo chamam a atenccedilatildeo para a

curiosidade e a criatividade na construccedilatildeo de conhecimentos Algo que

acredito que estaria presente na intenccedilatildeo de mobilizar estudantes para a

autoria (com inspiraccedilatildeo em propostas de produccedilatildeo coletiva e de criacutetica a

modelos previamente impostos sem contextualizaccedilatildeo que fazem parte

tanto do movimento SL quanto da eacutetica do DIY) no desenvolvimento de

TS segundo uma perspectiva criacutetica

E eacute sob tais perspectivas que no proacuteximo capiacutetulo apresento

minha pesquisa sobre processos de desenvolvimento de TS entre

juventudes dos CTIEM do IFRS Cacircmpus Caxias do Sul

160

161

CAPIacuteTULO 3 ANAacuteLISES

A terceira parte desta tese eacute dedicada agraves anaacutelises dos dados

coletados conforme informei na introduccedilatildeo Os exames aqui realizados

visam examinar possibilidades e limites de transformar sentidos

deterministas sobre tecnologia a partir de uma perspectiva criacutetica sobre

TS nos CTIEM Os passos para alcanccedilar esse objetivo geral envolvem

identificar sentidos sobre tecnologias que circulam entre estudantes dos

CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos

examinar possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de

um posicionamento criacutetico sobre TS e verificar se e como promover

contextos educacionais voltados agrave autoria pode indicar emancipaccedilatildeo

social e autonomia entre estudantes

Para isso elaborei e realizei um roteiro didaacutetico para desenvolver

a temaacutetica socioteacutecnica tal como apresento de modo especiacutefico no

Apecircndice E mas que eacute discutido durante a anaacutelise dos dados Nesse

roteiro mostro como coletei dados primaacuterios atraveacutes de uma questatildeo

inicial formulada agravesaos estudantes (o que eacute tecnologia para vocecirc)

apliquei um questionaacuterio com questotildees de muacuteltipla escolha (conforme

Apecircndice D) e mobilizei para uma tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS

como mostrarei a seguir A memoacuteria das aulas atraveacutes dos registros em

meu diaacuterio de campo tambeacutem satildeo subsiacutedios para as anaacutelises Assim

como os dados secundaacuterios (pesquisa bibliograacutefica e documental) que

aparecem durante toda a tese mas aqui com o foco em documentos

sobre o IFRS

Os procedimentos e anaacutelises que detalharei satildeo parte da intenccedilatildeo

geral de captar tanto a aparecircncia quanto a essecircncia do problema de

pesquisa que esbocei na introduccedilatildeo Procuro mostrar que ao examinar

sentidos sobre tecnologias que atravessam sem debates os (e circulam

sendo debatidos nos) CTIEM interesso-me por suas origens causas

consequecircncias e contradiccedilotildees tendo em vista possibilidades de

transformaccedilotildees da realidade social Essas possibilidades satildeo aqui

verificadas tendo em vista que as TS podem contribuir para uma

ecologia dos saberes (SANTOS MENESES 2010 SANTOS 2010a

SANTOS 2007) que busque legitimar diferentes formas de

conhecimentos

Acredito que tal legitimidade estaacute relacionada com o

entendimento da emergecircncia como pode sugerir a Sociologia das

Ausecircncias e das Emergecircncias (SANTOS 2002 2007) de

compreendermos que problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas)

de estudantes de ensino meacutedio satildeo relevantes Estudos em Educaccedilatildeo

162

CTS latino-americanos atuais tecircm dado visibilidade a percepccedilotildees sobre

relaccedilotildees entre ciecircncia tecnologia e sociedade em componentes

curriculares da ECT de Engenharias e de aacutereas das Ciecircncias Naturais e

Exatas (JACINSKI 2015 NIEZWIDA 2015) Neles haacute uma

problematizaccedilatildeo importante da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias

Humanas em aacutereas teacutecnicas (SILVEIRA MATOS GANHOR 2015

LINSINGEN 2007) Nesse contexto percebo certa ausecircncia de

discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica

Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de

possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)

conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade

socioteacutecnica com a qual elesas podem interagir diariamente Nessa

leitura que faccedilo de Santos (2006) vejo a Sociologia das Emergecircncias

como a ldquocontraccedilatildeo do futuro para dentro do presenterdquo (p 88)118 Ou

seja ao apresentar uma ausecircncia percebida considero a emergecircncia da

inclusatildeo de novos sujeitos nos debates socioteacutecnicos Sujeitos

especiacuteficos (com identidades de gecircnero poliacuteticas e eacutetnico-raciais) que

emergem do contexto escolar

Nesse sentido lembro a escola visualizada por Freire (2011) que

assim como osas educadoresas deveria natildeo soacute respeitar os

conhecimentos ldquocom que os educandos sobretudo os das classes

populares chegam a ela - saberes socialmente construiacutedos na praacutetica

comunitaacuteria - mas tambeacutem () discutir com os alunos a razatildeo de ser de

alguns desses saberes em relaccedilatildeo com o ensino dos conteuacutedosrdquo (p 31)

Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais

integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a

compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu

caraacuteter contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas)

A seguir apresento detalhadamente os procedimentos envolvidos

na coleta e anaacutelise de dados Inicialmente trago informaccedilotildees sobre a

cidade de Caxias do Sul sobre o bairro no qual o IFRS estaacute localizado e

sobre o proacuteprio Cacircmpus (histoacuteria constituiccedilatildeo e missatildeo entre outras)

Momento no qual tambeacutem apresento um breve panorama sobre o IFRS e

a educaccedilatildeo profissional no Brasil Na segunda parte do capiacutetulo

apresento sentidos sobre tecnologias que circulam entre as juventudes

que compotildeem os CTIEM analisados identificados atraveacutes da anaacutelise da

pergunta inicial e do questionaacuterio Por fim exponho possibilidades de

promover autoria entre estudantes a partir do desenvolvimento de TS e

118 ldquola contraccioacuten del futuro en el presenterdquo Traduccedilatildeo livre da autora

163

analiso esse desenvolvimento tendo em vista problemaacuteticas relacionadas

agrave emancipaccedilatildeo social e autonomia

31 CONTEXTO

Longe de querer abordar o contexto a partir de teorias linguiacutesticas

ou antropoloacutegicas o que pretendo nesse momento eacute apenas apresentar

algumas circunstacircncias que tecircm relaccedilatildeo com a investigaccedilatildeo que realizo

Portanto por contexto refiro-me a certas situaccedilotildees relacionadas a

espaccedilos os quais os sujeitos da minha pesquisa transitam de alguma

maneira

311 A cidade

A instalaccedilatildeo do IFRS no bairro Nossa Senhora de Faacutetima119 em

Caxias do Sul foi estrateacutegica Para compreender tanto os processos que

envolveram tal resoluccedilatildeo quanto as culturas locais eacute importante

verificar alguns aspectos da cidade e do bairro De acordo com dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) Caxias do Sul eacute a

segunda cidade mais populosa do estado do RS com mais de 435 mil

habitantes no ano de 2015120 (963 vivem na aacuterea urbana e 37 na

aacuterea rural) atraacutes somente da capital do estado Porto Alegre Municiacutepio

do qual estaacute agrave 127 km de distacircncia apenas conforme pode ser

visualizado no mapa 1 abaixo

119 Daqui em diante apenas Faacutetima 120 213612 homens e 221952 mulheres (IBGE 2015)

164

Mapa 1 - Cidade de Caxias do Sul ndash RS

Fonte Google mapas (2016)

A regiatildeo na qual a cidade estaacute localizada que faz parte da

chamada serra gauacutecha121 era originalmente habitada pelo povo indiacutegena

Kaingang (ou caingangue)122 mas a partir do final do seacuteculo XIX

comeccedilou a receber sistematicamente migrantes vindosas da Europa

sobretudo da Itaacutelia E a identificaccedilatildeo italiana eacute ainda marcante na regiatildeo

Variaccedilotildees da liacutengua italiana assim como festas religiosas (catoacutelicas)

atividades agriacutecolas e a culinaacuteria da eacutepoca colonial123 satildeo preservadas

121 Gauacutechoa eacute o gentiacutelico de naturais do RS sinocircnimo de sul-rio-grandense 122 Para informaccedilotildees sobre o povo Kaingang nesse contexto verificar a seguinte

referecircncia DORNELLES S S De Coroados a Kaingang as experiecircncias

vividas pelos indiacutegenas no contexto de imigraccedilatildeo alematilde e italiana no Rio

Grande do Sul do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em

Histoacuteria) - UFRGS Porto Alegre 2011 123 Osas migrantes da regiatildeo satildeo conhecidosas (de modo ateacute elogioso) como

ldquocolonosrdquo e ldquocolonasrdquo pois um dos objetivos de sua instalaccedilatildeo seria colonizar

(no sentido de ocupaccedilatildeo territorial e desenvolvimento de atividades agriacutecolas

em um novo espaccedilo com a preservaccedilatildeo de costumes haacutebitos e culturas trazidos

de seus locais de origem) o lugar Frente a isso faccedilo uso do termo ldquocolonialrdquo no

sentido geral em que ele circula na regiatildeo e natildeo faccedilo referecircncia a debates

decoloniais descoloniais ou poacutes-coloniais de maneira especiacutefica embora

compreenda que uma anaacutelise desse tipo nesse contexto seria profiacutecua

165

com orgulho A induacutestria do turismo explora tais referecircncias e vende

com sucesso o estilo de vida ruacutestico dosas primeirosas migrantes

Um exemplo eacute a Festa da Uva que ocorre a cada dois anos desde

1931 (interrompida entre 1938 e 1950) e eacute dedicada a reavivar tradiccedilotildees

e celebrar a migraccedilatildeo italiana na regiatildeo Contudo mais do que o apelo

simboacutelico a Festa da Uva marca a predominacircncia da regiatildeo de Caxias

do Sul na produccedilatildeo nacional de uva De acordo com dados do IBGE

(2015) a produccedilatildeo de uva estimada para o ano de 2015 no RS seria de

876286 toneladas sendo que 80 desse total viria da regiatildeo de Caxias

do Sul O RS foi responsaacutevel por 565 da produccedilatildeo de uva no Brasil

em 2014 o equivalente a 812537 toneladas

Narrativas sobre as dificuldades enfrentadas na chegada ao Brasil

satildeo populares como pode ser visto no trecho abaixo disponiacutevel no site

da prefeitura da cidade

Era preciso conquistar a terra pelo trabalho

Trabalhar para viver e trabalhar para pagar a terra

Nos depoimentos de imigrantes o sonho de

colheitas abundantes e as facilidades de plantio

que a ldquovelha Itaacuteliardquo natildeo podia mais oferecer seria

concretizado na Serra Gauacutecha atraveacutes de muito

trabalho Um trabalho estafante recompensado

por colheitas fartas em uma terra ainda virgem

() A mesa tornou-se menos pobre a casa mais

confortaacutevel mantinha-se com austeridade a prole

que se tornava numerosa (CAXIAS 2015)

O silenciamento dos povos que jaacute habitavam a regiatildeo (ldquoterra

ainda virgemrdquo) e o valor dado agrave terra e ao trabalho como meio de

conquistas pessoais marcam ainda hoje certo ideaacuterio geral sobre o que

poderia ser compreendido como a vocaccedilatildeo da cidade Essa inclinaccedilatildeo eacute

expressa no lema ldquoFeacute e Trabalhordquo que eacute parte da identidade visual

adotada pela atual gestatildeo municipal como pode ser visto na figura 5

abaixo

166

Figura 5 - Siacutembolos e lema da cidade

Fonte CAXIAS 2015

Em relaccedilatildeo agrave feacute ao examinar alguns indicadores disponiacuteveis no

site do IBGE (2015) eacute possiacutevel verificar que a religiatildeo declarada pela

maioria da populaccedilatildeo da cidade eacute a catoacutelica conforme a tabela 4

abaixo Dados que corroboram percepccedilotildees gerais que podemos ter ao

convivermos com moradoresas da cidade sobre sua ligaccedilatildeo simboacutelica

com o Vaticano e ao observarmos a quantidade expressiva de festas

catoacutelicas promovidas por diversas paroacutequias durante todo o ano

Entendo que outras expressotildees de feacute tecircm pouco espaccedilo de divulgaccedilatildeo

em massa eou satildeo pouco declaradas em tal contexto

Tabela 4 - Religiatildeo declarada

Religiatildeo declarada Quantidade de pessoas (mil)

Catoacutelica apostoacutelica romana 332101

Evangeacutelicas 60230

Espiacuterita 11859

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de dados do IBGE (2015)

Em relaccedilatildeo a trabalho e renda eacute possiacutevel verificar no graacutefico 4

abaixo que a maioria da populaccedilatildeo economicamente ativa (com 18 anos

ou mais) da cidade estava ocupada no ano de 2010 (753) Natildeo haacute

dados oficiais atualizados mas induacutestrias do setor metalmecacircnico que

segundo a Fundaccedilatildeo de Economia e Estatiacutestica Siegfried Emanuel

Heuser (FEE) concentra dois terccedilos dos empregos formais da cidade

anunciaram na imprensa local demissotildees durante todo o ano de 2015124

124 Informaccedilotildees tambeacutem disponiacuteveis em

httpwwwsimecscombrnoticias20150617crise-no-setor-metalmecanico-

empresas-apresentam-desempenho-economico-preocupante-nos-primeiros-

cinco-meses-de-2015

167

Graacutefico 4 - Populaccedilatildeo economicamente ativa e inativa

Fonte PNUD (2015)

Contudo de acordo com dados do IBGE (2015) no ano de 2013

o nuacutemero de empresas atuantes em Caxias do Sul era de 26477

unidades (o que lhe conferiu o primeiro lugar sendo que o

segundo lugar no RS ficaria com o municiacutepio de Novo Hamburgo com

15352 unidades) Aleacutem disso informaccedilotildees jornaliacutesticas especializadas

mostram que a cidade concentra 21 dos 500 maiores grupos de

empresasinduacutestrias da Regiatildeo Sul do Brasil125

De acordo com dados do IBGE do ano de 2010 o rendimento

meacutedio per capita (por pessoa) no muniacutecipio de Caxias do Sul eacute de pouco

mais de 1400 reais o que o coloca em 33ordm lugar entre os municiacutepios

brasileiros e 6ordm entre os do RS Jaacute o mapa 2 a seguir mostra que a

renda domiciliar meacutedia urbana no ano de 2013 era de mais de 3 mil

reais

125 Informaccedilotildees disponiacuteveis em httpwwwamanhacombr500maiores

168

Mapa 2 - Renda domiciliar meacutedia urbana

Fonte IBGE (2015)

Em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dados do IBGE (2015) mostram que no

ano de 2012 a populaccedilatildeo residente alfabetizada era de 391554 pessoas

(aproximadamente 89) A quantidade de matriacuteculas no ensino

fundamental e meacutedio eram respectivamente 56408 e 16360 A

escolaridade da populaccedilatildeo de 25 anos ou mais no ano de 2010 pode ser

verificada no graacutefico 5 a seguir A partir dele eacute possiacutevel fazer uma

comparaccedilatildeo com dados nacionais ou seja em Caxias do Sul 28 da

populaccedilatildeo estava em condiccedilatildeo de analfabetismo (no Brasil 118)

446 possuiacuteam o ensino meacutedio completo (358 no Brasil) e 135

possuiacuteam o ensino superior completo (112 no Brasil) (IBGE 2015

PNUD 2015) Eacute possiacutevel verificar uma disparidade consideraacutevel em

relaccedilatildeo agrave taxa nacional apenas no criteacuterio do analfabetismo

169

Graacutefico 5 - Escolaridade da populaccedilatildeo

Fonte PNUD (2015)

Se analisarmos indicadores de longevidade (esperanccedila de vida ao

nascer em anos que em Caxias do Sul eacute de 7658) juntamente com

dados como renda e educaccedilatildeo como mostrei acima teremos o chamado

Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)126 Esse varia

de 0 (zero) a 1 (um) e quanto mais proacuteximo de 1 (um) maior o

desenvolvimento humano O IDHM de Caxias do Sul eacute 0782 o que a

situa na faixa de desenvolvimento humano alto (IDHM entre 0700 e

0799) A dimensatildeo que mais contribui para o IDHM do municiacutepio eacute a

da longevidade com iacutendice de 0860 seguida de renda (renda per

capita em R$) com iacutendice de 0812 e de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo

(percentual de pessoas estudando de acordo com a faixa etaacuteria) com

iacutendice de 0686 (PNUD 2015)

O graacutefico 6 abaixo traz uma comparaccedilatildeo entre o IDHM de

Caxias do Sul e o de outros municiacutepios brasileiros Nele podemos ver

certa situaccedilatildeo levemente favoraacutevel do municiacutepio em relaccedilatildeo ao IDHM

gauacutecho e nacional no ano de 2010

126 O IDH eacute medido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) com base em

indicadores de educaccedilatildeo renda e expectativa de vida como jaacute referi No Brasil

o levantamento ocorre a cada dez anos e eacute feito em parceria com o Instituto de

Pesquisa Econocircmica Aplicada (Ipea) Assim como o IDH os dados mais

recentes do IDHM satildeo de 2010

170

Graacutefico 6 - Evoluccedilatildeo do IDHM em Caxias do Sul

Fonte PNUD (2015)

Conforme explicitei na introduccedilatildeo desta tese entendo que a

adoccedilatildeo estrita de meacutetodos quantitativos sobretudo de mediccedilatildeo de

qualidade de vida pode trazer limitaccedilotildees e generalizaccedilotildees silenciadoras

de especificidades importantes Contudo o IDHM pode ser uacutetil para

analisarmos criticamente impactos de poliacuteticas puacuteblicas na populaccedilatildeo

nessas aacutereas por exemplo

Para aleacutem de tentar contextualizar aspectos da cidade (e sua

caracterizaccedilatildeo marcada pela opulecircncia) na qual a investigaccedilatildeo eacute

realizada o que busco com esses dados nesse momento eacute compreender

certos discursos generalizados que muitas vezes verifico tanto nas

miacutedias locais quanto entre estudantes dos CTIEM E que entendo

estarem sintetizados na seguinte frase que consta no site da prefeitura

da cidade ldquoA garra e determinaccedilatildeo herdadas dos imigrantes satildeo a marca

do povo caxienserdquo (CAXIAS 2015)

Percebo que haveria um modo peculiar entre descendentes de

migrantes italianosas de encarar os desafios e construir um

desenvolvimento econocircmico baseado em esforccedilos pessoais Sendo que

ecircxitos alcanccedilados seriam derivados de trabalho pessoal intensivo O que

pode deixar margens para que se possa pensar que a natildeo obtenccedilatildeo de progresso econocircmico seria reponsabilidade do sujeito que natildeo

empregou esforccedilo suficiente para alcanccedilar os seus objetivos

Natildeo eacute minha intenccedilatildeo levantar dados para especular acerca de

possiacuteveis atitudes individualistas ou colaborativas (de menor ou maior

171

apoio agrave presenccedila do Estado em atividades de regulaccedilatildeo por exemplo) de

residentes em Caxias do Sul Nesta tese natildeo abordo sentidos atribuiacutedos

ao trabalho por sujeitos especiacuteficos Trago essas percepccedilotildees porque elas

fazem parte em alguma medida do contexto no qual a investigaccedilatildeo eacute

realizada e penso que eacute importante que natildeo sejam silenciadas Nesse

mesmo sentido a seguir apresento algumas informaccedilotildees sobre o bairro

no qual o Cacircmpus de Caxias do Sul do IFRS estaacute instalado

312 O bairro

O IFRS de Caxias do Sul estaacute localizado na parte Nordeste do

bairro Faacutetima conhecido como Faacutetima Alta Local esse que faz parte da

regiatildeo setentrional da cidade Seus limites satildeo ao Norte a Rodovia RSC

453 (que compotildee a Rodovia Rota do Sol que liga a serra gauacutecha ao

litoral) no Leste estaacute o Rio Tega (complexo dalrsquoboacute ndash barragens Satildeo

Miguel e Satildeo Pedro) ao Sul o bairro universitaacuterio e no Oeste o bairro

pioneiro O mapa 3 a seguir ilustra essas referecircncias e mostra uma zona

de limite entre residecircncias (e pequenos comeacutercios informais) induacutestrias

e aacutereas pouco urbanizadas

Mapa 3 - Bairro Nossa Senhora de Faacutetima

Fonte Google mapas (2015)

172

De acordo com dados do IBGE (2015) a populaccedilatildeo do Faacutetima no

ano de 2010 era de 13759 pessoas o que o coloca em 6ordm lugar como

bairro mais populoso da cidade (entre os 65 bairros do municiacutepio)

Contudo a maioria dosas estudantes do IFRS reside fora do bairro

Entre estudantes dos CTIEM que investiguei menos de 10 moravam

proacuteximo agrave escola127 Mais de 80 dosas alunosas residem em outras

partes da cidade como pode ser verificado a partir do graacutefico 7 abaixo

que indica meios de transporte utilizados para chegar agrave escola (dados de

2015)

Graacutefico 7 - Mobilidade ateacute o IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Nas imediaccedilotildees do IFRS existem pelo menos trecircs instituiccedilotildees

municipais de ensino fundamental uma unidade baacutesica de sauacutede um

grupo de convivecircncia das mulheres do bairro uma associaccedilatildeo para as

crianccedilas um centro de encontros e praacutetica da doutrina espiacuterita uma

igreja do Evangelho Quadrangular uma igreja Assembleia de Deus

uma Agecircncia de Desenvolvimento Adventista e uma Igreja Catoacutelica128

Ao lado da escola ficam o centro comunitaacuterio e uma quadra de esportes

127 A partir de agora uso o termo ldquoescolardquo como sinocircnimo do IFRS de Caxias do

Sul e natildeo no sentido geral de instituiccedilatildeo 128 Podemos verificar que somente no entorno do IFRS existem cinco tipos

diferentes de locais relacionados com espiritualidade e religiatildeo O que natildeo deve

contrariar os dados gerais do IBGE (2015) para a cidade conforme destaquei na

tabela 4 acima mas reforccedila a percepccedilatildeo de que religiotildees e outras expressotildees de

feacute diferentes do catolicismo satildeo pouco declaradas oficialmente

173

Essa uacuteltima muitas vezes utilizada para as atividades da disciplina de

Educaccedilatildeo Fiacutesica do IFRS pois ainda natildeo haacute um local apropriado para

essas atividades nas dependecircncias da escola

Em geral a infraestrutura do bairro eacute problemaacutetica em

saneamento baacutesico (sistema de tratamento de esgoto precaacuterio)

pavimentaccedilatildeo de ruas (vias com calccedilamento irregular ou inexistente)

cobertura de iluminaccedilatildeo puacuteblica (postes com luzes danificadas) e

limpeza de aacutereas natildeo habitadas (terrenos com formaccedilatildeo vegetal sem

cuidados) Existem pelo menos trecircs linhas de ocircnibus urbanos que

circulam na regiatildeo mas com precisatildeo de horaacuterios insatisfatoacuteria (atrasos

constantes) Contudo um dos maiores problemas enfrentados pela

populaccedilatildeo residente e tambeacutem pela comunidade escolar eacute a inseguranccedila

Traacutefico de drogas e assassinatos satildeo noticiados regularmente na

imprensa local como destaco nas seguintes manchetes de um jornal da

cidade129 24072015 ldquoHomem eacute preso com maconha no bairro

Faacutetimardquo 29112015 ldquoTrinta facadas mataram avoacute e neta no bairro

Faacutetimardquo 02122015 ldquoHomem eacute encontrado morto em parada de ocircnibus

no bairro Faacutetimardquo 19122015 ldquoEstudante de Quiacutemica no Instituto

Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) eacute assassinada no bairro Faacutetima

quando ia para o trabalhordquo130 16012016 ldquoHomem eacute baleado no bairro

Faacutetimardquo

Portanto temas sobre violecircncia urbana satildeo comumente discutidos

na escola Nas minhas aulas de Sociologia essa temaacutetica sempre

apareceu Verifiquei que osas alunosas apresentavam reaccedilotildees que

transitavam entre o sentimento de medo de sofrer alguma violecircncia no

caminho para a escola ateacute a praacutetica de atos preconceituosos com colegas

ou servidoresas que moravam no bairro ou nas proximidades Esse

contexto levou agrave participaccedilatildeo da comunidade escolar no projeto

ldquoAlianccedila pela Pazrdquo que entre suas accedilotildees promoveu uma caminhada

pelas ruas do bairro no mecircs de novembro do ano de 2015 A intenccedilatildeo foi

unir comunidades escolares locais e moradoresas do bairro para chamar

a atenccedilatildeo da cidade para problemas de inseguranccedila no Faacutetima

129 Tendo em vista diferentes apelos que temas sobre a violecircncia urbana podem

ter sobretudo na miacutedia destaco o cuidado que tive em minha busca no jornal de

maior circulaccedilatildeo na cidade com as chamadas ldquomanchetes sensacionalistasrdquo

Notiacutecias disponiacuteveis em lthttppioneiroclicrbscombrrsgeralcidadesgt 130 Esse fato obviamente teve grande impacto e gerou muita comoccedilatildeo na

escola A aluna em questatildeo (que frequentava minhas aulas) residia no bairro e

tinha apenas 16 anos

174

Com esses destaques acredito que certos aspectos culturais que

estatildeo presentes no quotidiano da escola foram considerados Embora

minha intenccedilatildeo seja investigar sentidos sobre tecnologia natildeo deixo de

chamar a atenccedilatildeo para possibilidades de problematizar relaccedilotildees entre a

declarada opulecircncia da cidade e (i) sua proclamada ligaccedilatildeo com o

trabalho de descendentes de migrantes europeus e (ii) situaccedilotildees de

vulnerabilidade social que estatildeo presentes no Faacutetima

Com isso natildeo desejo apenas levantar possiacuteveis contradiccedilotildees

expressas mas buscar compreender um pouco sobre ideias mais gerais

que circulam entre as juventudes dos CTIEM que estatildeo aleacutem do meu

foco de pesquisa mas satildeo relevantes para o entendimento do contexto

geral Algo que tambeacutem se refere a uma mirada sobre os Institutos

Federais como apresento a seguir

313 Os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Eacute importante lembrarmos que os atuais Institutos Federias tecircm

relaccedilatildeo com a educaccedilatildeo profissional Conforme Kuenzer (2006) a

poliacutetica de educaccedilatildeo profissional no Brasil teve iniacutecio com a criaccedilatildeo das

chamadas Escolas de Aprendizes Artiacutefices nas capitais do Brasil no ano

de 1909 pelo entatildeo presidente Nilo Peccedilanha A partir da deacutecada de

1930 a burguesia industrial crescente comeccedilaria a desenvolver um

projeto de fortalecimento do capitalismo nos grandes centros urbanos do

paiacutes Desse modo a autora afirma que agraves classes populares estaria

disponiacutevel uma formaccedilatildeo (praacutetica) necessaacuteria agrave manutenccedilatildeo de sua

condiccedilatildeo enquanto descendentes das elites teriam acesso agrave formaccedilatildeo

intelectual (propedecircutica)

Assim ldquo() desenvolveu-se uma rede de escolas de formaccedilatildeo

profissional em diferentes niacuteveis () com a finalidade de atender agraves

funccedilotildees instrumentais inerentes agraves atividades praacuteticas que decorriam da

crescente diferenciaccedilatildeo dos ramos profissionaisrdquo (KUENZER 2006 p

17) Sendo que ao longo do seacuteculo XX as escolas de formaccedilatildeo teacutecnica

se desenvolveram em paralelo a escolas de formaccedilatildeo propedecircutica com

vistas a atender diferentes demandas e classes Algo que Gramsci (1982)

jaacute criticava ao propor a escola unitaacuteria

Desde as Escolas de Aprendizes Artiacutefices a educaccedilatildeo

profissional passou por vaacuterias mudanccedilas que englobaram a formaccedilatildeo de

Liceus Industriais em 1937 Escolas Industriais e Teacutecnicas em 1942

Escolas Teacutecnicas Federais em 1959 Centros Federais de Educaccedilatildeo

Tecnoloacutegica (CEFET) iniciados em 1978 e retomados em 1999 ateacute

175

chegar aos atuais Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia131 criados em 2008 (OLIVEIRA 2015)

Os Institutos Federais como instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas

ligadas ao Governo Federal foram inicialmente concebidos tendo em

vista o potencial jaacute instalado nos CEFET Escolas Teacutecnicas Federais

Agroteacutecnicas e vinculadas agraves Universidades Federais Eles fazem parte

da Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

Essa atua em todos os estados brasileiros e oferece cursos teacutecnicos

superiores de tecnologia licenciaturas mestrado e doutorado (IFRS

2015)

Satildeo instituiccedilotildees que visam oferecer cursos em educaccedilatildeo

profissional e tecnoloacutegica de modo a fortalecer os arranjos produtivos

sociais e culturais das localidades onde estatildeo instalados Nesse sentido

seus objetivos envolveriam (aleacutem da educaccedilatildeo profissional teacutecnica em

niacutevel meacutedio e para jovens e adultos) a formaccedilatildeo inicial e continuada de

trabalhadoresas a realizaccedilatildeo de pesquisas e o desenvolvimento de

atividades de extensatildeo articuladas com o mundo do trabalho e os

coletivos locais (IFRS 2015)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior e de poacutes-graduaccedilatildeo o

objetivo seria promover o estabelecimento de bases soacutelidas em

educaccedilatildeo ciecircncia e tecnologia tendo em vista processos de geraccedilatildeo e

inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (IFRS 2015) Tal formaccedilatildeo compreenderia os

cursos superiores de tecnologia (formaccedilatildeo de profissionais para os

diferentes setores da economia) as licenciaturas (formaccedilatildeo de

professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica e para a educaccedilatildeo profissional) e

os bacharelados engenharias mestrados e doutorados (formaccedilatildeo de

especialistas nas diferentes aacutereas do conhecimento)

Tendo em vista a ecircnfase dos Institutos Federais na produccedilatildeo

desenvolvimento e divulgaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos e

tecnoloacutegicos tambeacutem eacute seu objetivo ldquoestimular e apoiar processos

educativos que levem agrave geraccedilatildeo de trabalho e renda e agrave emancipaccedilatildeo do

cidadatildeo na perspectiva do desenvolvimento socioeconocircmico local e

regionalrdquo (IFRS 2015 sp) A Lei nordm 11892 de 29122008 que

instituiu a Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e

131 A atual Rede Federal de Educaccedilatildeo Profissional Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da

qual fazem parte os Institutos Federais teve um significativo desenvolvimento

na atualidade Entre os anos de 1909 e 2002 foram construiacutedas 140 escolas

teacutecnicas no paiacutes A expansatildeo dessa rede entre os anos de 2003 e 2015 contou

com a implantaccedilatildeo de 562 unidades que proporcionaratildeo a oferta de 600 mil

vagas (OLIVEIRA 2015)

176

Tecnoloacutegica e criou os Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e

Tecnologia destaca que entre outras finalidades e caracteriacutesticas os

Institutos Federias devem

(i) ofertar educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica formando e

qualificando cidadatildeos com vistas na atuaccedilatildeo profissional nos diversos

setores da economia com ecircnfase no desenvolvimento socioeconocircmico

local regional e nacional (ii) desenvolver a educaccedilatildeo profissional e

tecnoloacutegica como processo educativo e investigativo de geraccedilatildeo e

adaptaccedilatildeo de soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas agraves demandas sociais e

peculiaridades regionais e (iii) promover a produccedilatildeo o desenvolvimento

e a transferecircncia de tecnologias sociais (BRASIL 2008 grifo da autora)

Algo que em princiacutepio poderia levar a um distanciamento da

perspectiva de educaccedilatildeo profissional voltada agrave manutenccedilatildeo de interesses

de classes que seria desenvolvida historicamente no Brasil como

destacou Kuenzer (2006) E leva-me a reflexatildeo sobre o desenvolvimento

de TS entre as juventudes do IFRS como apresentarei adiante

No RS existem trecircs Institutos Federais quais sejam o Instituto

Federal Sul-riograndense (IFSul) o Instituto Federal Farroupilha

(IFFarroupilha) e o IFRS Esse uacuteltimo estaacute presente em 16 cidades de

diferentes regiotildees132 do RS Bento Gonccedilalves Canoas Caxias do Sul

Erechim Farroupilha Feliz Ibirubaacute Osoacuterio Porto Alegre (dois

Cacircmpus) Rio Grande Sertatildeo Alvorada133 Rolante Vacaria

Veranoacutepolis e Viamatildeo

Atualmente o IFRS registra cerca de 15 mil alunosas

matriculadosas em 180 opccedilotildees de cursos nas diferentes modalidades de

ensino disponiacuteveis Nele trabalham mais de 1600 profissionais (mais de

840 professoresas e 840 teacutecnicos-administrativos) sendo que quase

50 dosas servidoresas satildeo mestresas ou doutoresas Estaacute

classificado entre os dez maiores Institutos Federais do Brasil em

nuacutemero de alunosas e servidoresas (IFRS 2015)

O IFRS em consonacircncia com os Institutos Federais propotildee a

valorizaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos os niacuteveis e em termos curriculares

apresenta um arranjo educacional proposto a discutir possibilidades de

combinaccedilatildeo do ensino de Ciecircncias Naturais Humanidades e Educaccedilatildeo

Profissional e Tecnoloacutegica para o ensino meacutedio Tem como objetivos

oportunizar possibilidades de acesso agrave educaccedilatildeo gratuita e de qualidade

e fomentar o atendimento a demandas localizadas ldquocom atenccedilatildeo

132 Os Cacircmpus atuam em aacutereas distintas como agropecuaacuteria de serviccedilos aacuterea

industrial vitivinicultura turismo moda e outras (IFRS 2015) 133 Nessas uacuteltimas cinco cidades o IFRS estaacute em processo de implantaccedilatildeo

177

especial agraves camadas sociais que carecem de oportunidades de formaccedilatildeo

e de incentivo agrave inserccedilatildeo no mundo produtivordquo (IFRS 2015

sp) Assim seu foco estaria voltado agrave justiccedila social equidade

competitividade econocircmica e geraccedilatildeo de novas tecnologias

Dentro dessa poliacutetica destaco que osas alunosas possuem

acompanhamento pedagoacutegico psicoloacutegico e de estudos orientados

(possibilidade de estudo individualizado direto com oa professora)

Existem subsiacutedios financeiros de apoio agrave permanecircncia na escola

disponibilizados atraveacutes de auxiacutelio alimentaccedilatildeo auxiacutelio transporte e

auxiacutelio material escolar entre outros De modo que o IFRS e os

Institutos Federais de modo geral possui uma estrutura privilegiada em

relaccedilatildeo agrave maioria das instituiccedilotildees de ensino puacuteblicas municipais e

estaduais do Brasil

O IFRS foi pensado para ser um centro de excelecircncia do ensino

puacuteblico (IFRS 2015) Com isso busca conexatildeo com as induacutestrias locais

tendo em vista ldquoo compromisso de intervenccedilatildeo em suas respectivas

regiotildees identificando deficiecircncias no mercado de trabalho e criando

soluccedilotildees teacutecnicas e tecnoloacutegicas para o desenvolvimento sustentaacutevel

com inclusatildeo socialrdquo (IFRS 2015 sp) Nesse momento natildeo questiono

sobre como essa inclusatildeo seria entendida nos diversos Cacircmpus (em qual

modelo produtivo que perfil profissional para qual mercado e com que

tipo de tecnologia) nem sobre que accedilotildees efetivas estariam em curso

Antes destaco aspectos pontuais do IFRS de Caxias do Sul

314 O Cacircmpus do IFRS em Caxias do Sul

No ano de 2008 o entatildeo presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio

Lula da Silva anunciou que Caxias do Sul fora uma das cidades

contempladas com um Cacircmpus do IFRS Fato que atendeu agrave Chamada

Puacuteblica MECSETEC nordm 1 de 2007 de apoio agrave fase dois do plano134 de

expansatildeo da Rede Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica e fez parte da

iniciativa do Governo Federal de implantar 150 novas unidades da Rede

(IFRS 2015)

A contrapartida da Chamada Puacuteblica que citei acima seria a

doaccedilatildeo de uma aacuterea de terra em zona urbana (com dimensotildees miacutenimas

de 20 mil metros quadrados) agrave uniatildeo por parte da prefeitura da cidade O

que ocorreu no mecircs de dezembro do ano de 2008 quando a prefeitura de

134 O plano previa a instalaccedilatildeo de uma escola teacutecnica em cada cidade polo do

paiacutes Com a lei 11892 essas instituiccedilotildees passaram a integrar diferentes

Institutos Federais (IFRS 2015)

178

Caxias do Sul designou uma aacuterea de 30 mil metros quadrados no

Faacutetima para a construccedilatildeo da escola (IFRS 2015) A intenccedilatildeo seria

dispor de um local no qual o IFRS tivesse possibilidades de impactar de

maneira socialmente positiva na comunidade local Algo que destaquei

anteriormente ao comentar sobre a escolha estrateacutegica do Faacutetima

Os Institutos Federais do RS tecircm uma poliacutetica de definir por meio

de audiecircncias puacuteblicas com representantes da sociedade os novos cursos

que seratildeo ofertados nas suas unidades Nesse sentido no iniacutecio do ano

de 2009 representantes de diversos sindicatos (patronais e de

trabalhadores) empresas instituiccedilotildees de ensino poder puacuteblico

(municipal estadual e federal) e ONGs reuniram-se de modo que foram

definidas as seguintes ofertas quatro cursos superiores (Tecnologia em

Metalurgia Tecnologia em Logiacutestica Licenciatura em Quiacutemica e

Licenciatura em Matemaacutetica) e cinco cursos teacutecnicos (Plaacutesticos

Quiacutemica Mecacircnica Cozinha e Comeacutercio) (IFRS 2015)

Junto a isso foi definido o projeto de construccedilatildeo das instalaccedilotildees

prediais do Cacircmpus e a execuccedilatildeo da obra comeccedilou jaacute no mecircs de

fevereiro do ano de 2009 No ano de 2010 a escola iniciou suas

atividades mas ainda em uma sede provisoacuteria localizada no bairro

Floresta Foi apenas no iniacutecio do ano de 2014 que a sede proacutepria e

definitiva (com um espaccedilo de mais de 7 mil metros quadrados de aacuterea

construiacuteda) foi ocupada (IFRS 2015)

O Cacircmpus de Caxias do Sul estaacute em processo de expansatildeo Ateacute o

ano de 2015 estavam em funcionamento 14 salas de aula dois

laboratoacuterios de informaacutetica trecircs laboratoacuterios de quiacutemica laboratoacuterios de

liacutenguas matemaacutetica fiacutesica biologia ensaios mecacircnicos

instrumentaccedilatildeo tratamentos teacutermicos metalografia preparaccedilatildeo

mecacircnica fundiccedilatildeo e conformaccedilatildeo laboratoacuterio de corte soldas e

usinagem de processos e fabricaccedilatildeo mecacircnica caracterizaccedilatildeo e

processos de transformaccedilatildeo de poliacutemeros hidraacuteulica e pneumaacutetica aleacutem

de biblioteca cantina salas de convivecircncia e sala de professoresas

(IFRS 2015) Aleacutem disso osas alunosas contam com apoio

especializado de profissionais em assistecircncia social psicologia e

pedagogia

No ano de 2015 foram ofertados os seguintes cursos

Niacutevel meacutedio teacutecnico e profissionalizante em Plaacutesticos Quiacutemica e

Fabricaccedilatildeo Mecacircnica (em dois turnos diurnos) aleacutem do Curso Teacutecnico

em Administraccedilatildeo Integrado ao Ensino Meacutedio na modalidade PROEJA

(Programa Nacional de Integraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Profissional com a

Educaccedilatildeo Baacutesica na Modalidade de Jovens e Adultos) no turno noturno

Modalidade Subsequente Teacutecnico em Plaacutesticos (turno noturno)

179

Graduaccedilatildeo Licenciatura em Matemaacutetica (turno diurno e noturno)

e Tecnoacutelogo em Processos Metaluacutergicos (turno diurno e noturno)

Poacutes-Graduaccedilatildeo Mestrado Profissional em Tecnologia e

Engenharia de Materiais135

A relaccedilatildeo entre o nuacutemero de vagas oferecidas (330) e a procura

de estudantes por essas vagas para o ano de 2015 no Cacircmpus de Caxias

do Sul pode ser vista no quadro 13 abaixo Nele eacute possiacutevel verificar a

existecircncia de cursos com pouca procura o que levou a direccedilatildeo da escola

a propor medidas de publicidade sobre a oferta de vagas na instituiccedilatildeo

no ano de 2015

Quadro 13 - Relaccedilatildeo de candidatosas por vagas

Fonte (IFRS 2015)

No graacutefico 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis os percentuais de

estudantes em cada curso Como jaacute referi o Cacircmpus ofereceu 330 vagas

nas modalidades meacutedio PROEJA subsequente e graduaccedilatildeo136 No ano

de 2015 havia 840 estudantes matriculadosas incluindo todas as

modalidades de ensino A previsatildeo eacute de que novos cursos superiores

sejam ofertados e que 14 mil estudantes estejam matriculados no IFRS

de Caxias do Sul no ano de 2016 (IFRS 2015)

135 Aleacutem de Caxias do Sul suas aulas satildeo ofertadas em Cacircmpus de mais duas

cidades da regiatildeo Farroupilha e Feliz 136 Conforme o que estaacute previsto no artigo 8o da Lei nordm 11892 ou seja que os

Institutos Federais garantam o miacutenimo de 50 de suas vagas para educaccedilatildeo

profissional teacutecnica de niacutevel meacutedio prioritariamente na forma de cursos

integrados para osas concluintes do ensino fundamental e para o puacuteblico da

educaccedilatildeo de jovens e adultos e o miacutenimo de 20 de suas vagas para educaccedilatildeo

superior em cursos de licenciatura bem como programas especiais de formaccedilatildeo

pedagoacutegica com vistas agrave formaccedilatildeo de professoresas para a educaccedilatildeo baacutesica

sobretudo nas aacutereas de ciecircncias e matemaacutetica e para a educaccedilatildeo profissional

(BRASIL 2008)

180

Graacutefico 8 - Concentraccedilatildeo de estudantes por curso no ano de 2015

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Para a elaboraccedilatildeo do graacutefico 8 osas estudantes do mestrado

ainda natildeo haviam sido contabilizadosas pois as aulas na poacutes-graduaccedilatildeo

iniciaram em meados do ano de 2015 No graacutefico acima podemos

verificar que mais de 60 da ocupaccedilatildeo de vagas estaacute no niacutevel meacutedio

Esse dado se relaciona com o graacutefico 9 abaixo que indica a idade

dosas estudantes

181

Graacutefico 9 - Idade dosas estudantes no ano de 2015

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Podemos verificar que em sua maioria satildeo menores de 18 anos

Osas estudantes dos CTIEM que satildeo os sujeitos da minha pesquisa

tecircm entre 14 e 18 anos (maioria entre 15 e 16 anos) como jaacute referi

anteriormente Outros aspectos sobre o Cacircmpus e osas estudantes

tambeacutem satildeo considerados na segunda e na terceira parte deste capiacutetulo

quando analiso as atividades em relaccedilatildeo ao desenvolvimento de TS

Antes disso e para finalizar essa parte destaco alguns pontos do

Projeto Poliacutetico Institucional (PPI) e dos Projetos Pedagoacutegicos dos

Cursos (PPCs) do IFRS de Caxias do Sul que podem ajudar a compor o

contexto geral (geofiacutesico poliacutetico institucional e pedagoacutegico) de minha

pesquisa

Conforme descrito no PPC do curso de Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

(mas que eacute similar ao dos outros dois cursos) o IFRS tem seu PPI

pautado em diretrizes pedagoacutegicas que concebem a educaccedilatildeo como

um processo complexo e dialeacutetico uma praacutetica

contra hegemocircnica que envolve a transformaccedilatildeo

humana na direccedilatildeo do seu desenvolvimento pleno

Ela deve ser emancipatoacuteria ou seja possibilitar a

construccedilatildeo de conhecimentos de forma

significativa e que possa ponderar o educando

para sua inserccedilatildeo no mundo do trabalho ()

compreendida como acessiacutevel e inclusiva voltada

para todos os sujeitos independente de gecircnero

etnia classe social ou outra relaccedilatildeo qualquer

(IFRS 2013 p 13-14)

182

Aleacutem disso ainda eacute destacado que todosas aquelesas

servidoresas que fazem parte da instituiccedilatildeo podem ser sujeitos

transformadores da realidade Concepccedilotildees que compreendo como

relacionadas com a perspectiva politeacutecnica na qual me filio conforme

apontei na primeira parte desta tese E que de maneira mais geral

tambeacutem estatildeo presentes tanto em Meacuteszaacuteros (2008) e sua reivindicaccedilatildeo a

favor de uma educaccedilatildeo plena quanto em Freire (1987 2011) e seu

posicionamento em relaccedilatildeo a formaccedilatildeo de consciecircncia criacutetica dosas

educandosas

Outro aspecto do PPC que vai ao encontro de minhas

perspectivas teoacutericas diz respeito a premissa137 do trabalho assumido

como princiacutepio educativo O PPC destaca que as relaccedilotildees entre trabalho

ciecircncia tecnologia e cultura satildeo indissociaacuteveis Algo bem visiacutevel em

Gramsci (1982) Portanto o IFRS deveria ldquogarantir as competecircncias e

habilidades na formaccedilatildeo apresentada baseando-se em princiacutepios eacuteticos

poliacuteticos e pedagoacutegicos que buscam articular tecnologia e humanismordquo

(IFRS 2013 p 15) E tal formaccedilatildeo estaria baseada em uma metodologia

interdisciplinar fundamentada em referenciais de uma educaccedilatildeo

emancipatoacuteria

Compreendo que os princiacutepios apresentados no PPI e no PPC do

IFRS sinalizam positivamente para uma concepccedilatildeo politeacutecnica da

educaccedilatildeo com vistas agrave emancipaccedilatildeo dos sujeitos Algo que estaacute de

acordo com minhas posiccedilotildees sobre a temaacutetica educacional Entretanto

questiono-me se mesmo dentro dessa perspectiva poliacutetico-pedagoacutegica o

IFRS de Caxias do Sul tem rompido com a loacutegica dualista entre

formaccedilatildeo teacutecnica e propedecircutica historicamente desenvolvida no Brasil

e se tem proporcionado ldquoproduccedilatildeo desenvolvimento e transferecircncia de

tecnologias sociaisrdquo conforme indicado legalmente (BRASIL 2008

sp)

Essas satildeo questotildees que em alguma medida podem ir aleacutem do

que pretendo nesta tese mas que fazem parte da cultura escolar e podem

ter influecircncia na minha pesquisa Portanto elas acompanham as anaacutelises

que apresento a seguir

137 Premissa fundamentada no Documento Base da Educaccedilatildeo Profissional

Teacutecnica de Niacutevel Meacutedio Integrado ao Ensino Meacutedio (BRASIL 2007)

183

32 SENTIDOS SOBRE TECNOLOGIA

Conforme jaacute referi durante o texto a realizaccedilatildeo da pesquisa desta

tese envolveu a elaboraccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo de um roteiro didaacutetico e de um

questionaacuterio na temaacutetica socioteacutecnica Esclareccedilo que o roteiro tem base

no meu plano de ensino (disponiacutevel no Anexo B) e no planejamento de

ensino do IFRS Portanto ele comtempla os objetivos de ensino-

aprendizagem em relaccedilatildeo agrave componente curricular de Sociologia e natildeo

necessaacuteria e estritamente os meus objetivos de pesquisa embora eles

guardem intersecccedilotildees importantes

Assim o roteiro se constituiu como uma espeacutecie de guia que

colaborou com a organizaccedilatildeo da coleta dos dados e por isso o exploro

com detalhes ao longo das anaacutelises Natildeo eacute minha intenccedilatildeo fazer um

levantamento quantitativo acerca de percepccedilotildees sobre tecnologia

baseado no questionaacuterio como explicitarei adiante Ele foi construiacutedo

para levantar questotildees e mediar discussotildees (desnaturalizar e estranhar)

embora seus resultados sejam contemplados nas anaacutelises em alguma

medida

Iniciarei as anaacutelises com a apresentaccedilatildeo de alguns dados sobre

osas estudantes que efetivamente participaram da pesquisa Depois

apresento sentidos sobre tecnologias de acordo com as respostas agrave

pergunta inicial e no final desse toacutepico apresento alguns sentidos sobre

tecnologia que se referem ao questionaacuterio

Natildeo eacute possiacutevel nesse momento caracterizar as identidades

poliacuteticas de gecircnero religiosas e eacutetnico-raciais de modo mais marcado

nessas juventudes No entanto apresento a seguir informaccedilotildees sobre

sexo autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial e histoacuteria escolar que mesmo que

gerais podem ajudar a ilustrar as juventudes com as quais interagi

Aspectos mais especiacuteficos dessesas jovens seratildeo abordados no proacuteximo

toacutepico na anaacutelise das TS desenvolvidas

O periacuteodo de realizaccedilatildeo da pesquisa contou com oito aulas na

disciplina de Sociologia realizadas no terceiro trimestre escolar entre

os meses de outubro e dezembro do ano de 2015 Estiveram envolvidos

todos os primeiros anos dos CTIEM nos turnos da manhatilde e da tarde

totalizando seis turmas (uma turma de cada um dos trecircs cursos em cada

turno)138 e 149 estudantes conforme pode ser visto na tabela 5 abaixo

138 Lembro que existem os cursos de Quiacutemica Plaacutesticos e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

disponiacuteveis ou em periacuteodo matutino ou vespertino

184

Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo de alunosas por curso turno e sexo que participaram da

pesquisa

Cursoturno Feminino Masculino Total

TFMManhatilde 02 23 25

TFMTarde 05 16 21

TPManhatilde 15 07 22

TPTarde 20 08 28

TQManhatilde 08 18 26

TQTarde 18 09 27

Total 68 81 149

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

A tabela 5 acima mostra que 46 das estudantes que

participaram da pesquisa eram meninas enquanto os meninos

representaram um percentual levemente maior com 54 de

participaccedilatildeo Algo que segue o quadro geral dos cursos com leve

preponderacircncia do percentual masculino como jaacute mostrei na tabela 1

Em relaccedilatildeo a questotildees eacutetnico-raciais dessesas jovens osas

envolvidosas com a pesquisa seguem a amostragem do graacutefico 10

abaixo no qual a maioria das autodeclaraccedilotildees139 satildeo quanto a categoria

(do IBGE) ldquobrancordquo

139 Desde o ano de 2013 o IFRS destina 50 de suas vagas para estudantes

vindosas de escolas puacuteblicas e destas reserva vagas para pretos pardos e

indiacutegenas em proporccedilatildeo no miacutenimo igual agrave de pretos pardos e indiacutegenas na

populaccedilatildeo da Unidade da Federaccedilatildeo onde estaacute instalada a instituiccedilatildeo de acordo

com os dados do IBGE

185

Graacutefico 10 - Autodeclaraccedilatildeo eacutetnico-racial entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Essa maioria de estudantes autodeclaradosas na categoria

ldquobrancosrdquo se relaciona com dados de amostragem eacutetnico-racial do IBGE

para a cidade de Caxias do Sul Em relaccedilatildeo a escolas de origem

dessesas estudantes eacute possiacutevel verificar que a maioria cursou o ensino

fundamental integralmente em escolas puacuteblicas conforme o graacutefico 11

abaixo

Graacutefico 11 - Histoacuteria escolar entre estudantes do IFRS

Fonte Assistecircncia estudantil do IFRSCaxias do Sul

Embora os dados do graacutefico 11 englobem todos os cursos da

escola ele representa significativamente a origem escolar dosas

estudantes da pesquisa Que satildeo de modo geral em sua maioria vindos

186

de escolas puacuteblicas (o que pode ser um indicativo de renda no Brasil) na

sua maior parte satildeo moradoresas de fora do bairro Faacutetima satildeo

autodeclaradosas ldquobrancosrdquo (como a maioria da populaccedilatildeo da regiatildeo) e

em nuacutemero quase igual entre meninas (46) e meninos (54)

Com esse quadro em mente (mas sem esquecer as especificidades

relacionadas a essesas estudantes) podemos examinar como a pesquisa

aconteceu tendo em vista o roteiro didaacutetico previsto que estaacute disponiacutevel

no Apecircndice E

321 Anaacutelise da questatildeo inicial

Na primeira aula com as turmas retomei os trecircs temas que

haviam sido desenvolvidos na primeira parte do trimestre (ideologia

miacutedias e consumo) e propus que osas alunosas pensassem em possiacuteveis

relaccedilotildees com tecnologias pois esse seria o proacuteximo tema (elesas tinham

o cronograma das aulas com essas informaccedilotildees) Em um segundo

momento dessa aula expliquei que durante o desenvolvimento da

segunda parte do trimestre eu realizaria uma pesquisa para o meu

doutorado Apresentei informaccedilotildees sobre essa atividade forneci e fiz a

leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e

entreguei a todosas uma folha de papel em branco para que

expressassem o que pensavam sobre tecnologia sem necessidade de

identificaccedilatildeo e com devoluccedilatildeo para mim no final do periacuteodo

A pergunta feita foi O que eacute tecnologia para vocecirc Esse

momento visava verificar que sentidos sobre tecnologia emergiriam

espontaneamente140 dessa espeacutecie de chuva de ideias Essa praacutetica jaacute era

recorrente nos iniacutecios de um novo tema para discussatildeo e minha intenccedilatildeo

foi mobilizar para que elesas pudessem se expressar criativamente com

possibilidades de debates entre si e sem preocupaccedilatildeo com respostas

corretas ou incorretas Minha atenccedilatildeo tambeacutem estava voltada a

possibilidades de abertura de espaccedilos de dizer (GIRALDI 2010)

Organizei as respostas agrave questatildeo inicial tendo em vista as quatro

perspectivas sobre os relacionamentos entre tecnologia e sociedade

propostos por Feenberg (2003)141 determinismo instrumentalismo

140 Destaco que osas estudantes satildeo proibidosas pela direccedilatildeo da escola de

utilizar qualquer tipo de aparelho celular e de acessar a internet nas salas de

aula 141 Domingues (2010) realizou anaacutelise semelhante baseada nas perspectivas

apontadas por Feenberg (2003) a partir de respostas de empreendedores de

187

substantivismo e teoria criacutetica conforme indiquei no quadro 3

Esclareccedilo que ao considerar as categorias apontadas pelo autor natildeo

tenho intenccedilatildeo de encaixar essas primeiras declaraccedilotildees dosas estudantes

nesse quadro de modo fechado Mesmo com a atenccedilatildeo voltada a

sentidos deterministas sobre tecnologia minha ideia envolve examinar

relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade segundo visotildees dessas juventudes

de modo mais dinacircmico tendo os paracircmetros de neutralidadenatildeo

neutralidade e autonomianatildeo autonomia da tecnologia como

aproximaccedilotildees

A seguir apresento quatro conjuntos de respostas com as

referecircncias que as fazem pertencer a cada grupo (palavras e expressotildees

que as categorizam em uma das quatro perspectivas) Essas referecircncias

foram construiacutedas tendo em vista a separaccedilatildeo que fiz por turmas

Analisei as respostas de cada turma separadamente (embora eu as

apresente sem fazer essa distinccedilatildeo) e com atenccedilatildeo aos seus contextos

Esse cuidado foi necessaacuterio pois cada uma das turmas tinha suas

especificidades e algumas vezes certas palavras de referecircncia

significavam de modos diferentes de acordo com as histoacuterias escolares

daquelesas estudantes dos preconceitos que circulavam no interior de

cada curso de suas expectativas em relaccedilatildeo ao mundomercado de

trabalho e de nossas vivecircncias nas aulas de Sociologia Os conjuntos

estatildeo dispostos desde o que concentrou o maior nuacutemero de referecircncias

ateacute o que menos as apresentou

Esclareccedilo que algumas respostas faziam referecircncia a mais de uma

perspectiva ao mesmo tempo Nesses casos busquei a perspectiva que

mais se destacava dentro das especificidades que citei acima Em geral

as respostas foram curtas a maioria com frases pequenas e muitas com

apenas uma ou duas palavras

No primeiro conjunto (determinismo tecnologia autocircnoma e

neutra) concentrei 84 respostas que se aproximavam de referecircncias com

ideias sobre avanccedilo progresso inovaccedilatildeo e invenccedilatildeo sem que os

sujeitos aparecessem necessariamente relacionados Algumas respostas

142

ldquoEacute aquilo que dita o estilo de vida das pessoas atualmenterdquo

incubadoras tecnoloacutegicas universitaacuterias sobre relaccedilotildees entre tecnologia e

sociedade 142 A partir de agora utilizo itaacutelico e aspas para transcrever passagens das

respostas dosas alunosas

188

ldquoVivemos na era da evoluccedilatildeo da tecnologia e ela evolui e nos

leva para evoluir tambeacutemrdquo

ldquoOs bens materiais satildeo um exemplo eles mudam assim as pessoas tambeacutem mudam para se adaptar a essas mudanccedilasrdquo

ldquoComo novos produtos se criamrdquo

ldquoPara mim tecnologia eacute inovaccedilotildees desde uma coisa mais simples ateacute mais complexas mudando seu jeito de viver e de convivecircncia com os

que estatildeo no redorrdquo

O segundo bloco (instrumentalismo tecnologia controlaacutevel e

neutra) com 44 respostas concentrou sentidos mais positivos

(tecnoacutefilos) sobre tecnologia e com aproximaccedilatildeo de referecircncias com

ideias sobre utilidade ferramentas instrumentos ou artefatos

construiacutedos para realizar tarefas atendimento a necessidades humanas e

com sujeitos envolvidos em accedilotildees Algumas respostas

ldquoAlgo que facilitamelhora nossa vidardquo

ldquoQuando aplicamos o que sabemos para fazer ferramentas que

nos ajudamrdquo

ldquoTudo que inventamos para nos ajudarrdquo

ldquoEacute o melhor entretenimento dos jovens atualmenterdquo

O terceiro conjunto de respostas (substantivismo tecnologia com

valores e autocircnoma) concentrou 10 respostas aproximadas a sentidos

mais negativos (tecnofoacutebicos) sobre tecnologia com referecircncias a deias

sobre dominaccedilatildeo da vida humana falta de controle sobre a tecnologia e

impossibilidades de escolha Algumas respostas

ldquoAs novas tecnologias fazem a gente querer os novos produtos

produzidos aumentando nosso consumo e desperdiacuteciordquo

ldquoEacute uma rede universal que controla quase todo o planeta () de

tatildeo importante que eacute ela estaacute mais para um estado de espiacuterito globalrdquo ldquoSatildeo as coisas que estatildeo nos dominandordquo

ldquoEacute um dos principais fatores para o consumismordquo

No quarto bloco (teoria criacutetica tecnologia com valores e

controlaacutevel) concentrei seis respostas com referecircncias aproximadas a

possibilidades de escolha dos sujeitos sobre a tecnologia

desenvolvimento da tecnologia relacionado com seu contexto e

consciecircncia da responsabilidade sobre o que eacute desenvolvido Algumas

respostas

189

ldquoO conceito de tecnologia varia de acordo com o tempordquo

ldquoAcredito que eacute importante usa-la com consciecircncia e preparaccedilatildeo necessaacuteria para tal accedilatildeordquo

ldquoA tecnologia existe pois haacute dinheiro e pessoas que possuem

capacidade mental ou seja se natildeo houver pessoas mentalmente desenvolvidas e economicamente bem desenvolvidas natildeo seraacute possiacutevel

obter tecnologiasrdquo ldquoMuitas vezes natildeo sabemos usa-la e ela vira uma arma em

nossas matildeosrdquo

Contudo para cinco respostas natildeo foi possiacutevel uma aproximaccedilatildeo

a um quadro de referecircncias que eu pudesse operacionalizar Escaparam-

me as possibilidades de filiaacute-las ao que Giraldi (2010) chama de rede de

sentidos Satildeo casos de repostas com possibilidades de sentidos para

interpretaccedilatildeo (polissemia) e de filiaccedilotildees que eu natildeo consegui apreender

Como por exemplo ldquonintendordquo ldquoa cabeccedila do Gabrielrdquo e ldquo() mas e

uma arvore Soacute porque natildeo foi o homem que a criou ela natildeo eacute

tecnologia Francamente ela eacute porque foi feita com o intuito de fazer

fotossiacutentese e produzir oxigecircnio e aleacutem disso sem elas seria quase

impossiacutevel a nossa existecircnciardquo Penso que eu poderia fazer uma aproximaccedilatildeo a referecircncias mais

instrumentais dessas respostas Nintendo seria uma ferramenta para

entretenimento o Gabriel poderia ter sido comparado agrave inteligecircncia de

um computador por exemplo Natildeo ignoro a existecircncia de polissemia

Portanto optei por deixaacute-las abertas a interpretaccedilotildees e diferentes

possibilidades de filiaccedilatildeo de sentidos sem relacionaacute-las diretamente com

o meu quadro de referecircncias e com cuidado para natildeo as silenciar

Minha impressatildeo geral e inicial de um sentido determinista sobre

tecnologia entre as juventudes dos CTIEM emergiu de maneira

destacada na maioria das respostas Do mesmo modo uma perspectiva

instrumental tambeacutem foi representativa Penso que a resposta que um

aluno forneceu em forma de desenho representa esses sentidos sobre

tecnologia

A fotografia 1 que exponho abaixo pode ser relacionada com as

perspectivas de Feenberg (1991 2002 2003) sobre determinismo

tecnoloacutegico na medida em que eacute possiacutevel fazer uma leitura acerca de um

progresso teacutecnico que percorreria niacuteveis do mais simples ateacute um mais

complexo O desenvolvimento dos artefatos seguiria uma linearidade de

etapas necessaacuterias e cada etapa desse desenvolvimento possibilitaria a

proacutexima sem ramificaccedilotildees ou desvios fora da linha principal

190

Fotografia 1 - Exemplo de resposta agrave pergunta inicial

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora a partir de resposta de estudante

Com isso podemos refletir sobre as possibilidades de inserir os

sujeitos na representaccedilatildeo que o aluno fez no desenho acima de modo a

transformar percepccedilotildees focadas na tecnologia em visotildees mais criacuteticas

sobre relaccedilotildees CTS O combate agrave ideia de tecnologia isenta de valores

parece-me ser um caminho profiacutecuo (necessaacuterio embora natildeo suficiente)

e algo que possa ser desenvolvido desde uma perspectiva criacutetica de TS

322 Anaacutelise dos questionaacuterios

Na segunda aula com a continuidade de discussotildees sobre

tecnologia apliquei o questionaacuterio com 18 questotildees e muacuteltiplas escolhas

de respostas (entre cinco e oito) para cada uma aleacutem do espaccedilo aberto

para respostas natildeo previstas conforme estaacute disponiacutevel no Apecircndice D

A atividade ocupou todo o tempo do periacuteodo mas a elaboraccedilatildeo de um

questionaacuterio longo foi proposital

Conforme eu indiquei na introduccedilatildeo desta tese sigo a perspectiva

de Thiollent (1985) e minha opccedilatildeo metodoloacutegica foi adotar a teacutecnica de

pesquisa de intervenccedilatildeo socioloacutegica Nesse sentido meu questionaacuterio eacute

modestamente inspirado na Enquete Operaacuteria de 1880 elaborada e

aplicada por Marx a trabalhadoresas na Franccedila (THIOLLENT 1985)

Minha inspiraccedilatildeo nessa praacutexis vai no sentido de que antes de ser um

levantamento de dados o proacuteprio questionaacuterio visa levar a problematizar

relaccedilotildees nas quais os sujeitos estatildeo inseridos e que ainda natildeo foram

refletidas dessa forma

Portanto o questionaacuterio natildeo foi aqui proposto como um

instrumento de coleta de dados para anaacutelises quantitativas de modo

estrito Tampouco para avaliar atitudes frente a relaccedilotildees CTS agrave moda

dos VOSTS (sigla em inglecircs para Views On Science-Techology-Society

ndash visotildees sobre Ciecircncia-Tecnologia-Sociedade) canadenses ou dos

COCTS (sigla em espanhol para Cuestionario de Opiniones de Ciencia

Tecnologiacutea y Sociedad ndash questionaacuterio de opiniotildees sobre Ciecircncia

Tecnologia e Sociedade) espanhoacuteis (CUNHA SILVA 2009)

191

O questionaacuterio foi pensado dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento A ideia foi apresentar questotildees

(algumas dilemaacuteticas) que natildeo seriam avaliadas dentro dos paracircmetros

de correccedilatildeo ou incorreccedilatildeo mas que causassem inquietaccedilatildeo e

mobilizassem para a problematizaccedilatildeo A intenccedilatildeo de Marx era a de que

ao lerem as questotildees de sua enquete osas trabalhadoresas refletissem

sobre suas condiccedilotildees de trabalho (THIOLLENT 1985) A discussatildeo do

questionaacuterio nas aulas dos CTIEM teve esse mesmo sentido de

mobilizaccedilatildeo para (mais) consciecircncia criacutetica (FREIRE 1983)

Contudo a proposta natildeo estaacute baseada em accedilotildees de causa e efeito

(identificar um problema aplicar um meacutetodo e avaliar a soluccedilatildeo) e de

classificaccedilatildeo dosas estudantes entre deterministas e natildeo deterministas

por exemplo A intenccedilatildeo foi refletir contextualmente sobre os modos

pelos quais essas juventudes dos CTIEM se posicionam ao serem

apresentadas formalmente a discussotildees CTS Assim discuto respostas

dadas a trecircs questotildees (07 11 e 12) que faziam referecircncia a autonomia e

neutralidade da tecnologia

A partir da questatildeo de nordm 07 seria possiacutevel refletir sobre

possibilidades de sujeitos natildeo especialistas tomarem parte em decisotildees

sobre o desenvolvimento tecnoloacutegico As respostas ficaram

basicamente divididas entre um posicionamento que entenderia o

desenvolvimento tecnoloacutegico como algo independente das accedilotildees dos

sujeitos (aproximadamente 42) e um posicionamento que

compreenderia que em alguma medida os sujeitos estariam envolvidos

com o desenvolvimento tecnoloacutegico (48)

Nas questotildees de nordm 11 e 12 seria possiacutevel ponderar sobre

contextos valores e sentimentos envolvidos com o desenvolvimento

tecnoloacutegico De modo geral verifiquei que a maioria dosas estudantes

(87) compreende que lugares eacutepocas interesses valores e intenccedilotildees

dos sujeitos estatildeo relacionados com o desenvolvimento tecnoloacutegico

Com isso questionei-me se a tese da neutralidade seria mais faacutecil de ser

problematizada

Penso que os questionamentos e duacutevidas acerca de possibilidades

de participaccedilatildeo nos proacuteximos passos que algum desenvolvimento

tecnoloacutegico seguiraacute satildeo maiores do que a visualizaccedilatildeo de que o

desenvolvimento de tecnologias pode carregar valores culturais Minha

percepccedilatildeo vem de algumas reflexotildees sobre muitas respostas de

estudantes agrave questatildeo inicial com referecircncias agrave tecnologia como

ldquoaplicativos para facilitar nossa vidardquo

Dentro de um grande quadro de interpretaccedilotildees provaacuteveis indico

uma possibilidade de anaacutelise baseada na verificaccedilatildeo de que osas

192

estudantes tecircm uma referecircncia de tecnologia nos aplicativos de celulares

e smartphones Assim esses aplicativos que satildeo vistos de modo

positivo atendem a suas necessidades e por isso estatildeo relacionados a

seus sentimentos valores e expectativas Poreacutem compreendo que

essesas estudantes como usuaacuteriosas natildeo visualizem tantas

probabilidades de desenvolverem aplicativos ou de decidirem como e

quando eles poderiam ser atualizados por exemplo No limite a posiccedilatildeo

de usuaacuterioa estaria relacionada a perspectivas de menores

possibilidades de escolhas e participaccedilatildeo em processos de

desenvolvimento tecnoloacutegico

Esclareccedilo que compreendo que embora eu ainda natildeo tivesse

apresentado o texto de apoio e um posicionamento CTS nessas questotildees

algunsmas estudantes podem ter antecipado em alguma medida

respostas que entenderiam como mais apropriadas agrave aula de Sociologia

na qual a situaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica dos sujeitos sempre foi discutida

De qualquer maneira entendo que o questionaacuterio mobilizou para

debates e busca de posicionamentos Verifiquei que osas alunosas

transitaram desde uma preocupaccedilatildeo em saber se o questionaacuterio ldquocairia

na provardquo ateacute a solicitaccedilatildeo de ldquomudar a respostardquo que havia sido dada agrave

questatildeo inicial da aula anterior Com isso possiacuteveis contradiccedilotildees entre

posicionamentos na questatildeo inicial e respostas ao questionaacuterio satildeo aqui

compreendidas dentro do processo geral de problematizaccedilatildeo da temaacutetica

socioteacutecnica

A seguir apresento os proacuteximos passos dentro do roteiro didaacutetico

que chegam ateacute o desenvolvimento TS

33 AUTORIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS

Apoacutes as duas primeiras aulas que envolveram respostas agrave questatildeo

inicial e ao questionaacuterio iniciamos a terceira aula com a retomada de

discussotildees sobre alguns toacutepicos deste uacuteltimo A partir disso iniciei uma

exposiccedilatildeo dialogada sobre tecnologia do ponto de vista de estudos em

Educaccedilatildeo CTS latino-americanos Fizemos a leitura de um texto de

apoio sobre tecnologia e TS de minha autoria (disponiacutevel no Apecircndice

F) e assistimos a um audiovisual de cinco minutos chamado ldquoO que eacute

tecnologia afinalrdquo disponiacutevel em

lthttpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=rel

atedgt

A figura 6 abaixo eacute um exemplo de informaccedilatildeo que mediou as

discussotildees desse momento e que esteve disponiacutevel nos slides

apresentados durante as aulas Destaco que nesse processo busquei

193

articular minha perspectiva sobre educaccedilatildeo (politecnia) dentro do

quadro geral da ECT (nas implicaccedilotildees sociais da tecnologia na

educaccedilatildeo) bem como da Educaccedilatildeo CTS Assim a ideia foi ilustrar

como podemos pensar nas tecnologias como desenvolvimento soacutecio-

histoacuterico e contextual

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

Na 4ordf aula foram retomadas as discussotildees sobre tecnologias com

inserccedilatildeo do termo ldquosocioteacutecnicordquo para fazer referecircncia agraves relaccedilotildees

apresentadas na terceira aula Com os recursos de leitura e debates sobre

o texto disponibilizado no encontro anterior o primeiro momento da

aula envolveu uma problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e na

segunda etapa discutimos sobre TS As figuras 7 8 e 4 abaixo ficaram

disponiacuteveis nos slides durante a aula e ilustraram os debates propostos

para esse momento

194

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01

Fonte Google imagens

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

195

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

As aulas de nuacutemero 5 e 6 foram realizadas no laboratoacuterio de

informaacutetica da escola Na 5ordf aula retomei a temaacutetica socioteacutecnica incluiacute

uma perspectiva de autoria nos debates e forneci informaccedilotildees sobre a

tarefa final de elaboraccedilatildeo de um projeto sobre TS para resolver um

problema socioteacutecnico relevante no quotidiano dosas alunosas No

segundo momento da aula houve a divisatildeo dosas estudantes em grupos

de livre escolha para a realizaccedilatildeo da tarefa final e o iniacutecio das pesquisas

para executaacute-la

Na 6ordf aula prosseguimos com as pesquisas orientadas no

laboratoacuterio de informaacutetica Imagens dos slides e textos ficaram agrave

disposiccedilatildeo para consulta Ressaltei novamente o aspecto autoral da

atividade com criatividade e originalidade na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do

problema socioteacutecnico levantado

Nesse sentido retomo a advertecircncia de Gramsci (1982) para

quem uma educaccedilatildeo integral e com o domiacutenio intelectual da teacutecnica se

relacionava com o desenvolvimento da criatividade Sendo esta uacuteltima

entendida como meacutetodo de investigaccedilatildeo e de conhecimento que busca

maturidade intelectual e natildeo promover ldquoinventores e descobridoresrdquo no

sentido de sujeitos ldquoprivilegiadosrdquo ou ldquoiluminadosrdquo A figura 9 abaixo

ilustrou o que se pretenderia superar com a mobilizaccedilatildeo para a autoria

196

Figura 9 - Autoria

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

As duas uacuteltimas aulas (7ordf e 8ordf) ficaram reservadas agraves

apresentaccedilotildees de seminaacuterios com os projetos sobre TS discussotildees

acerca dessas iniciativas e auto avaliaccedilotildees finais Destaco que osas

estudantes foram mobilizados para pensar coletiva colaborativa criativa

e criticamente sobre problemas e soluccedilotildees socioteacutecnicos vivenciados Os

modos pelos quais os projetos poderiam ser apresentados tambeacutem

tiveram essa orientaccedilatildeo

A partir desse detalhamento do roteiro que as aulas seguiram a

seguir descrevo e analiso cinco projetos de desenvolvimento de TS

dentre os pouco mais de 20 que foram apresentados nos seminaacuterios

finais Esse recorte foi necessaacuterio para privilegiar aspectos mais

especiacuteficos e contextualizados tanto dos sujeitos envolvidos quanto dos

sentidos sobre tecnologia e TS que foram debatidos nessa atividade

Todos os projetos apresentados nos seminaacuterios foram analisados

mas estabeleci criteacuterios de escolha para os que seriam aqui descritos

Esses criteacuterios foram os seguintes (i) envolvimento dosas alunosas do

grupo na realizaccedilatildeo da tarefa (pesquisa sobre TS e debates para levantar

o problema a ser resolvido) (ii) destaque agrave relevacircncia de um problema

do seu quotidiano (iii) estabelecimento de relaccedilatildeo do projeto com a

temaacutetica socioteacutecnica e (iv) incorporaccedilatildeo de um modo pessoal e possiacutevel

de resolver o problema destacado

197

Portanto verifiquei que em alguma medida os projetos aqui

descritos143 foram desenvolvidos por estudantes que ocuparam os

tempos das aulas no laboratoacuterio de informaacutetica para investigar sobre TS

Momentos nos quais estabeleceram diaacutelogos entre osas componentes do

grupo para decidir sobre o problema tendo em vista que este uacuteltimo teria

relevacircncia no seu dia-a-dia Buscaram de algum modo um paracircmetro

de comparaccedilatildeo nas caracteriacutesticas baacutesicas de TS (simplicidade baixo

custo resposta social e possibilidade de reaplicaccedilatildeo) e sobretudo

mostraram alguma iniciativa para apresentar algo (levantamento e

possiacutevel resoluccedilatildeo do problema) que fosse conforme suas

possibilidades contextualizado com suas caracteriacutesticas pessoais e que

envolvesse seus conhecimentos Os cinco projetos escolhidos satildeo

apresentados a seguir

331 Campanha contra homofobia nas escolas

O grupo da turma do CTIEM de quiacutemica que desenvolveu um

projeto tendo em vista a questatildeo da homofobia nas escolas era composto

por cinco estudantes As quatro meninas e o menino do grupo tinham

entre 15 e 16 anos de idade natildeo trabalhavam no contra turno natildeo eram

residentes do Faacutetima e cursavam pela primeira vez o 1ordm ano Percebi que

a sua integraccedilatildeo nesse formato de grupo ocorreu pelos laccedilos de

amizades que eles haviam estabelecido durante o ano letivo Todosas

ocupavam lugares proacuteximos na parte do fundo da sala de aula e era

comum encontraacute-losas reunidosas nos intervalos das aulas

Duas meninas do grupo jaacute haviam trabalhado comigo em um

projeto de pesquisa sobre diversidade linguiacutestica (sotaques giacuterias) nas

diferentes regiotildees do Brasil De modo geral o grupo era coeso quanto ao

interesse por questotildees debatidas na aacuterea das Ciecircncias Humanas

Verifiquei que nas duas aulas com pesquisas orientadas no laboratoacuterio

143 Destaco que algumas iniciativas interessantes ficaram fora das descriccedilotildees

apresentadas nesta tese Por exemplo o desenvolvimento de diversos aplicativos

para celular e smartphones Desde um que compararia preccedilos de medicamentos

em diferentes farmaacutecias da cidade passando por um que mostraria a localizaccedilatildeo

do ocircnibus e o tempo que ele levaria para chegar ao usuaacuterioa ateacute um com dicas

de sauacutede e boa forma e outro com notiacutecias e informaccedilotildees sobre o quotidiano da

escola Contudo alguns projetos analisados natildeo foram aqui explorados por natildeo

atenderem aos criteacuterios definidos como por exemplo um separador de moedas

e um ar condicionado caseiro que satildeo semelhantes a ideias divulgadas no Brasil

pelo Manual do Mundo e que podem ser conferidos em

lthttpwwwmanualdomundocombrgt

198

de informaacutetica elesas investigaram TS desenvolvidas no Brasil e jaacute

naqueles espaccedilos elaboraram um esboccedilo da apresentaccedilatildeo final A figura

10 abaixo eacute um slide que foi apresentado pelo grupo no seminaacuterio final

Figura 10 - Dados sobre homofobia

Fonte Montagem da autora a partir de slides da apresentaccedilatildeo do grupo de

alunosas

Eacute interessante verificar que o grupo buscou articular informaccedilotildees

do seu quotidiano na escola com outros dados de pesquisas como os do

slide da figura 10 acima E assim construiacuteram conhecimentos sobre o

problema da homofobia A seguinte fala apresentada em um slide do

grupo mostra esse sentido de problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees vivenciadas

ldquoPara pensar 87 da comunidade escolar tem preconceito contra homossexuais Homofobia nas escolas eacute um reflexo do

preconceito na sociedade rdquo

Acredito que esse tema tenha emergido por conta da possiacutevel

orientaccedilatildeo sexual de uma participante do grupo que em diferentes

niacuteveis sofria com preconceito de colegas Destaco que questotildees sobre gecircnero (sexo orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero) satildeo previstas

para as turmas dos segundos anos da escola mas pelo interesse

demonstrado indiquei e orientei leituras sobre o tema do ponto de vista

da Sociologia para o grupo

199

A partir da percepccedilatildeo de um problema elesas pensaram em uma

soluccedilatildeo baseada na prestaccedilatildeo de serviccedilo de apoio a viacutetimas de

homofobia na escola e encaminhamento agrave assistecircncia estudantil Nesse

processo a duacutevida que elesas apresentaram foi sobre a pertinecircncia

dessa questatildeo para TS tendo em vista que elesas natildeo haviam

identificado um problema teacutecnico mas um problema social De modo

que o grupo pensou em acrescentar ao projeto a possibilidade de

desenvolver um aplicativo de celular para denuacutencias contra situaccedilotildees de

homofobia na escola

Minha estrateacutegia foi mobilizaacute-losas para a (maior) percepccedilatildeo de

que seus problemas quotidianos (e seus conhecimentos sobre eles) tecircm

relevacircncia e que as soluccedilotildees apontadas satildeo igualmente importantes Na

investigaccedilatildeo envolvida nesta tese visualizo possibilidades de processos

educacionais atuarem na transformaccedilatildeo da realidade social Assim como

Freire (2011 1987) defende processos educacionais relacionados com a

vivecircncia dos sujeitos procurei natildeo silenciar os conhecimentos

produzidos pelo grupo Esse uacuteltimo entendido como integrante das

diversidades que compotildeem as juventudes brasileiras no contexto escolar

da atualidade

Nessa perspectiva o grupo desenvolveu o projeto e buscou nas

carateriacutesticas baacutesicas de TS algumas referecircncias para apresentar

soluccedilotildees ao problema identificado Em um de seus slides aparecia a

seguinte proposta

ldquoCriar campanhas para que a sociedade entenda que cada indiviacuteduo eacute livre e tem sua forma de amar Independentemente da sua

escolha o que nos resta eacute respeitarrdquo

Osas integrantes do grupo buscaram apresentar algo que

entendiam como possiacutevel de ser feito com pouco investimento

financeiro e que visualizavam que ajudaria a resolver o problema

levantado A apresentaccedilatildeo da proposta para osas colegas da turma

contou com uma boa recepccedilatildeo Conforme estaacute retratado na fotografia 2

abaixo uma de suas accedilotildees consistia em colar cartazes educativos sobre

homofobia nas dependecircncias da escola Algo que relaciono com o

interesse de todosas os integrantes do grupo pelas aulas da disciplina de

Artes144

144 O Anexo C mostra as disciplinas obrigatoacuterias para cada curso a cada ano

200

Fotografia 2 - Cartaz elaborado pelo grupo

Fonte Adaptado de fotografia feita pela autora

De modo geral o que acompanhei do grupo na elaboraccedilatildeo do

projeto indica uma mobilizaccedilatildeo para a relevacircncia de seus problemas

como de interesse a um grupo maior de sujeitos do seu contexto e uma

disposiccedilatildeo para desenvolver os projetos com sensibilidade aos modos

com que cada integrante do grupo pudesse colaborar Destaco que foi

importante desenvolver junto ao grupo e agrave turma questotildees acerca da natildeo

linearidade entre a identificaccedilatildeo de um problema e sua resoluccedilatildeo A

complexidade e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir

foram apontados

332 Transporte de catildees em coletivos

Ainda nessa turma de quiacutemica na qual foi abordada a homofobia

foi desenvolvido um projeto sobre o transporte de animais domeacutesticos

em coletivos urbanos O grupo que desenvolveu a atividade era

composto por trecircs meninas e um menino (namorado de uma das

meninas) Suas idades estavam entre 15 e 16 anos todasos residentes

fora do Faacutetima sem exercerem atividades de trabalho ou estaacutegio no

contra turno da escola e pela primeira vez no 1ordm ano Assim como osas

colegas que abordaram a homofobia percebi que os laccedilos que os uniam

como grupo eram de amizade Para aleacutem dessa atividade conjunta em

201

sala de aula elesas sentavam proacuteximos na aacuterea central da sala e

mantinham conviacutevio nos outros espaccedilos da escola

Havia certa coesatildeo no grupo quanto aos planos futuros de

seguirem estudos na aacuterea da Quiacutemica (engenharia farmaacutecia e quiacutemica

forense) Com exceccedilatildeo do menino que sempre expressou natildeo

compreender a necessidade de estudar Sociologia e Filosofia eu

percebia que a disciplina de Sociologia era entendida dentro de um

conjunto de conhecimentos necessaacuterios para atingir as metas

profissionais estabelecidas Verifiquei que as meninas pesquisaram

sobre TS e escolheram um tema que elas vivenciavam como problema

quotidiano

A figura 11 abaixo traz um slide no qual o grupo apresentava

seu problema

Figura 11 - O problema do transporte de catildees

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas

Em relaccedilatildeo ao grupo que problematizou a homofobia aqui as

impressotildees gerais sobre o transporte coletivo da cidade natildeo foram

contrapostas com outras fontes ou outros tipos de informaccedilatildeo Durante

as pesquisas procurei propor ao grupo o estabelecimento de relaccedilotildees

entre suas percepccedilotildees iniciais sobre o transporte puacuteblico e informaccedilotildees

disponiacuteveis sobre o tema Minha intenccedilatildeo natildeo foi desmobilizaacute-los do

problema levantado antes disso foi lembraacute-los da importacircncia de uma

leitura menos ingecircnua e naturalizada da realidade social Algo que

202

Moraes e Guimaratildees (2010) destacam com os princiacutepios socioloacutegicos de

desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento

Contudo o problema levantado pelo grupo pareceu-me sensiacutevel agrave

relevacircncia do tema no seu quotidiano Acompanhei a elaboraccedilatildeo do

problema durante as aulas e verifiquei que o grupo identificou uma

iniciativa de transporte de catildees similar e jaacute em uso em outro contexto

Apoacutes alguns debates elesas optaram por prosseguir com o projeto pois

ele tratava de um problema que era importante para o grupo naquele

momento

A proposta apresentada conforme as suas falas envolvia

ldquoA melhor soluccedilatildeo no quesito custo X benefiacutecio seria a implantaccedilatildeo de casas de cachorro (semelhantes a uma gaiola poreacutem

com o conforto adequado ao bicho) embaixo de cada banco assim o

dono poderia acomodar o seu animal fechar a porta da casa e sentar-se no banco logo acima Dessa forma natildeo atrapalharia ningueacutem e o

animal estaria protegido rdquo O grupo apresentou a ideia aosagraves colegas tendo em vista que as

gaiolas poderiam ser produzidas pelosas proacuteprios estudantes nos

laboratoacuterios da escola em alguma disciplina teacutecnica e com custo baixo

A intenccedilatildeo seria levar as gaiolas a empresas de transporte mas o modo

como haveria a produccedilatildeo natildeo foi estabelecido O grupo foi questionado

pelosas colegas sobre vaacuterios aspectos do projeto desde a originalidade

(questionamento da existecircncia de um produto similar) ateacute aspectos

sanitaacuterios do transporte de animais

Ao fim dos debates osas colegas pensaram que haveria

possibilidade para tal atividade mas que seria interessante desenvolver

algum material plaacutestico novo para as gaiolas Percebi certa preocupaccedilatildeo

de algunsmas estudantes com a necessidade de haver inovaccedilatildeo na

proposta de gaiola apresentada o que poderia estar relacionado ao que

Feenberg (1991 2002 2003) chamaria de perspectivas deterministas do

progresso teacutecnico

Contudo de modo geral verifiquei que as meninas do grupo

estiveram sensiacuteveis para refletir sobre um problema vivenciado e para

pensar em soluccedilotildees dentro de suas possibilidades de execuccedilatildeo Embora

natildeo tivessem apresentado maiores problematizaccedilotildees da situaccedilatildeo do

transporte puacuteblico na cidade percebi certa abertura para (maior)

compreensatildeo da inserccedilatildeo dos sujeitos (e suas demandas) no

desenvolvimento tecnoloacutegico

203

333 Aacuterea de convivecircncia reciclaacutevel

A utilizaccedilatildeo de pallets145 para construccedilatildeo de um espaccedilo de

convivecircncia na escola fez parte do projeto desenvolvido por sete

meninos do CTIEM em fabricaccedilatildeo mecacircnica Assim como o projeto das

gaiolas para catildees os meninos focaram em um produto Esses meninos

tinham entre 15 e 17 anos de idade todos residiam fora do Faacutetima

estavam pela primeira vez no 1ordm ano e dois deles participavam do

Projeto Jovem Aprendiz do Serviccedilo Nacional de Aprendizagem

Industrial (SENAI) no contra turno da escola

Assim como a maioria de seus colegas de turma (25 meninos e

apenas duas meninas) os meninos do grupo pensavam em trabalhar nas

aacutereas teacutecnicas (engenharias e setor metalmecacircnico) da regiatildeo no futuro

Entretanto eu percebia o interesse dos meninos desse grupo em temas

socioloacutegicos pois natildeo raro eles traziam materiais para discussatildeo em sala

de aula (sobretudo em relaccedilatildeo agrave perspectiva socioloacutegica sobre trabalho

modos de produccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo produtiva)

Apesar de grande e diverso o grupo contava com meninos

integrados por laccedilos de amizade desenvolvidos durante o ano escolar

Embora separados na sala de aula era comum encontraacute-los reunidos

inclusive no contra turno Durante as pesquisas para o projeto sobre TS

percebi que havia dificuldade em escolher algo comum (problema) a

todo o grupo Durante nossas conversas eles relataram que gostavam de

slackline146 e tinham previsto um espaccedilo para essa praacutetica no projeto que

estavam desenvolvendo na disciplina de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Busquei mobilizaacute-los para refletirem sobre tal projeto tendo em

vista a temaacutetica socioteacutecnica Eles avaliaram que estavam

desenvolvendo TS e passaram a organizar o projeto em termos de

problemas e soluccedilotildees identificadas O interessante foi a relaccedilatildeo entre

conhecimentos produzidos em outra aacuterea que em um primeiro momento

natildeo teve relaccedilatildeo com a atividade proposta mas que passou a fazer parte

de um conjunto maior de possibilidades Eles verificaram que

conhecimentos de diferentes disciplinas poderiam estar envolvidos no

projeto que eles planejavam

No iniacutecio das pesquisas no laboratoacuterio verifiquei certa

preocupaccedilatildeo com a questatildeo da autoria pois o projeto havia sido pensado

145 Satildeo estradosbases de madeira metal ou plaacutestico utilizados para

movimentaccedilatildeo de caixas em induacutestrias ou grandes estabelecimentos comerciais 146 Esporte que permite agraveao praticante andar e fazer manobras por cima de uma

fita elaacutestica esticada entre dois pontos fixos

204

para outra disciplina Contudo nos debates que eles estabeleceram (e

que eu participei) percebi que houve uma distinccedilatildeo entre ldquoproduzir algo

colaborativo e do nosso jeitordquo e ldquotrazer algo que nunca foi feito antesrdquo

De modo que eles buscaram ampliar alguns aspectos do projeto tendo

em vista a apresentaccedilatildeo aos colegas

A figura 12 abaixo traz um slide que o grupo produziu para

apresentar seu projeto agrave turma

Figura 12 - Resiacuteduos e aacutereas de lazer

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Os meninos partiram de problemas vivenciados no seu quotidiano

(necessidade de um espaccedilo de convivecircncia e resiacuteduos natildeo aproveitados)

e os relacionaram com possibilidades de soluccedilotildees disponiacuteveis (pallets

descartados pelas induacutestrias vizinhas ao Faacutetima) e em alguma medida

exequiacuteveis (simplicidade na execuccedilatildeo) Utilizaram seus conhecimentos

das aulas da disciplina de Desenho Teacutecnico e elaboraram uma planta

para o projeto como mostra a figura 13 abaixo

205

Figura 13 - Planta do centro de convivecircncia

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Podemos verificar na figura 13 acima o espaccedilo destinado ao

slackline em vermelho A fala a seguir conteacutem um pouco da projeccedilatildeo de

resultados que os meninos apresentaram agrave turma

ldquoPara esta aacuterea de convivecircncia grande parte dos materiais

seratildeo obtidos atraveacutes de empresas materiais estes que natildeo satildeo utilizados pela mesma e satildeo descartados O espaccedilo contaraacute tambeacutem

com flores e plantas algumas frutiacuteferas rdquo

Compreendo que a escola fazia parte da vida dos meninos do

grupo de maneira especial Para aleacutem desse espaccedilo de socializaccedilatildeo que o

projeto deles procurava resgatar haveria ali um caminho para a

realizaccedilatildeo das expectativas profissionais futuras Aleacutem disso eu

percebia nesse grupo uma abertura agrave perspectiva politeacutecnica de

educaccedilatildeo como destacada por Marx e Engels (2004) e Saviani (1989

2003) Pois eles demonstravam uma percepccedilatildeo positiva sobre a

integraccedilatildeo entre ensino teacutecnico humanidades artes e atividades fiacutesicas

Penso que os meninos mostraram um pouco desses sentimentos na

intenccedilatildeo de desenvolver algo que poderia ser ampliado para zonas

carentes desses espaccedilos no Faacutetima e em outras unidades do IFRS

206

334 Inovaccedilotildees no site da escola

Tal sentimento de pertencimento e cuidado com a escola que

verifiquei nos meninos do curso de fabricaccedilatildeo mecacircnica apareceu em

alguma medida no grupo que desenvolveu o projeto de melhoria para a

paacutegina do IFRS de Caxias do Sul na internet No entanto esse grupo

composto por oito meninos do CTIEM da quiacutemica natildeo era tatildeo coeso e

pude perceber uma divisatildeo interna em dois subgrupos

Os meninos tinham entre 15 e 17 anos de idade um deles era

residente do Faacutetima e o uacutenico a trabalhar no contra turno da escola

Observei que ele e mais dois meninos do grupo formavam um subgrupo

enquanto os outros cinco meninos formavam o segundo subgrupo No

primeiro subgrupo os trecircs meninos formaram laccedilos de amizade durante

o ano sentavam proacuteximos no fundo da sala de aula e estavam sempre

juntos nas atividades da escola Eles demonstravam um interesse por

temas socioloacutegicos na medida em que era mais uma disciplina a ser

estudada Quanto a planos para o futuro profissional apenas um deles

apresentava o desejo de cursar Educaccedilatildeo Fiacutesica no ensino superior

Os cinco meninos do que chamo aqui de segundo subgrupo

tambeacutem haviam estabelecido laccedilos de amizade ao longo do ano escolar

sentavam proacuteximos na lateral da sala de aula e eram parceiros nas

atividades escolares Todos eles expressavam interesse na disciplina de

Sociologia de alguma forma Desde o que gostaria de ldquoaprender os

fundamentos da revoluccedilatildeo socialistardquo passando pelo que pensava em

ldquoestudar o suiciacutedio entre jovens roqueirosrdquo ateacute os que buscavam

diferentes explicaccedilotildees para problemas sociais vivenciados na sua cidade

Um interesse geral nesse subgrupo era por informaacutetica SL e pela

chamada cultura hacker que eles relacionaram com textos sobre

ideologia que haviacuteamos debatido na primeira parte do trimestre

Contudo os dois subgrupos estavam caracterizados como apenas

um grupo pois mantinham relacionamentos de amizade na sala de aula

O que os unia como grupo era a proposta de projeto atividade na qual

desenvolveram debates profiacutecuos Acompanhei as atividades de

pesquisa e verifiquei que eles concordavam que o site da escola natildeo era

funcional A fala a seguir que ilustrou um slide da apresentaccedilatildeo do

seminaacuterio do grupo mostra os problemas identificados

ldquoProblemaacutetica menu muito extenso e confuso difiacutecil para novos usuaacuterios utilizarem informaccedilotildees sobre a instituiccedilatildeo muito lsquoescondidasrsquo

sem acesso faacutecil agrave notiacutecias e arquivos antigos natildeo possui mapa da

instituiccedilatildeo e o botatildeo viacutedeo natildeo funciona rdquo

207

Em outro slide disponiacutevel na figura 14 abaixo o grupo mostrou

a imagem do site e as melhorias que poderiam ser feitas destacadas em

vermelho

Figura 14 - Proposta de melhorias

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunos

Na apresentaccedilatildeo do projeto aos colegas o grupo destacou que

gostaria de resolver os problemas levantados de modo simples

(ldquoreescrever os comandosrdquo no site) barato e com conhecimentos sobre

programaccedilatildeo disponiacuteveis na proacutepria internet A turma recebeu o projeto

de modo positivo e fez outras sugestotildees de melhorias no site Muitosas

alunosas demonstraram interesse em conhecer melhor os processos de

produccedilatildeo organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de conteuacutedo digital no site da escola

e pensaram em levar a pauta ateacute a direccedilatildeo

Ao acompanhar o desenvolvimento do projeto verifiquei que os

trecircs meninos do primeiro subgrupo tiveram mais iniciativa ao demostrar

os problemas do site e deixaram a parte de resoluccedilatildeo para os meninos do

segundo subgrupo Com isso busquei mobilizar os primeiros para que

eles tanto visualizassem (mais) a importacircncia de apontar problemas

relevantes do seu quotidiano quanto compreendessem (mais) que as

resoluccedilotildees natildeo precisariam ser necessariamente deixadas a especialistas

que poderiacuteamos compreender aspectos do desenvolvimento tecnoloacutegico

que permitiriam nossa participaccedilatildeo informada nesse processo como

defende Feenberg (2002 2003)

208

335 Aplicativo para estudos e lazer

Ainda na aacuterea de informaacutetica e programaccedilatildeo o grupo de sete

alunosas do CTIEM de plaacutesticos desenvolveu o projeto de um

aplicativo para smartphone que uniria estudos e entretenimento O grupo

era composto por trecircs meninas e quatro meninos com idades entre 15 e

16 anos todosas residentes fora do Faacutetima nenhuma trabalhava no

contra turno escolar e estavam pela primeira vez no 1ordm ano

Embora constituiacutessem um grupo grande apresentavam coesatildeo

nas decisotildees sobre o desenvolvimento do projeto Ao contraacuterio dos

outros grupos que desenvolveram projetos sobre TS e foram aqui

citados osas estudantes desse grupo natildeo sentavam proacuteximos ou

ficavam juntos nos intervalos das aulas Contudo observei que elesas

geralmente realizavam as tarefas da escola entre si O que acredito que

os caracterizou como integrados por laccedilos de amizade e estudos

De modo geral o grupo demostrava interesse na Sociologia natildeo

apenas como uma disciplina a ser estudada na escola mas como um tipo

de ldquoconhecimento importante para compreender a sociedaderdquo

Aquelesas que jaacute tinham uma projeccedilatildeo de futuro profissional pensavam

em seguir estudos universitaacuterios na medicina nas engenharias ou na

fiacutesica Natildeo destacaram interesse em aacutereas relacionadas com informaacutetica

e programaccedilatildeo de modo especiacutefico mas algunsmas declararam que

desenvolver SL era ldquoum oacutetimo hobbyrdquo

Na descriccedilatildeo do slide de apresentaccedilatildeo do projeto para a turma eacute

possiacutevel verificar as suas motivaccedilotildees

ldquoAtualmente a tecnologia mais utilizada pelos jovens eacute o celular

Muitas vezes os alunos usam o celular apenas para entretenimento e acabam largando os estudos de lado poreacutem o que aconteceria se

juntaacutessemos o entretenimento com os estudos De acordo com esta

ideia surgiu o EIFante rdquo

O grupo afirmou que a ideia seria juntar estudos e lazer

(ldquoentretenimento inteligenteldquo) tendo em vista a oacutetima memoacuteria de um

elefante A identidade visual do aplicativo seria desenvolvida a partir de

uma imagem da internet que consta na figura 15 abaixo e foi

apresentada em slide na sala de aula

209

Figura 15 - Identidade visual do aplicativo

Fonte Slides da apresentaccedilatildeo do grupo de alunosas

No acompanhamento que fiz durante o desenvolvimento do

projeto o grupo informou-me de que a ideia do ELFante veio de um

programa antigo que sincronizava dados de diversas agendas tinha um

espaccedilo grande para armazenar informaccedilotildees e rapidez na execuccedilatildeo das

tarefas Desde o iniacutecio das atividades sobre TS elesas pensaram sobre

isso e buscaram justificar sua escolha como pode ser visto na seguinte

fala que fez parte da apresentaccedilatildeo do grupo agrave turma

ldquoVantagens do Aplicativo EIFante praticidade graacutetis e leve

auxiacutelio e maior foco nos estudos para as provas memorizaccedilatildeo dos conteuacutedos trabalhados entretenimento de forma educativa interaccedilatildeo

com professores e colegas de forma divertida rdquo

O grupo pensava em um produto faacutecil de ser feito (ldquonecessidade apenas de noccedilotildees baacutesicas de programaccedilatildeordquo) de usar (ldquocom interface

amigaacutevelrdquo) e de acessar (ldquolanccedilado na Google Play e App Storerdquo) O

funcionamento do aplicativo foi apresentado da seguinte forma

ldquoPerguntas e Respostas perguntas separadas por seacuteries e

mateacuterias conecte com suas redes sociais desafie seus colegas nas diversas mateacuterias disponiacuteveis crie novas perguntas para cada mateacuteria

e interaja com seus professores atraveacutes do quiz rdquo

A apresentaccedilatildeo do grupo levou a debates sobre quem poderia

produzir o conteuacutedo se professoresas participariam e se as avaliaccedilotildees

escolares poderiam utilizar resultados do aplicativo De modo geral a

210

turma recebeu a proposta de modo positivo e osas estudantes

demostraram interesse em usaacute-lo Fato que os levou a refletir sobre

possibilidades de desenvolver (natildeo apenas aplicativos e softwares)

soluccedilotildees para problemas socioteacutecnicos do quotidiano a partir de seus

conhecimentos integrando diferentes conhecimentos e dentro de seus

contextos Nesses cinco casos analisados verifiquei certa preocupaccedilatildeo

inicial dos grupos em elaborar ldquoprodutos e inovaccedilotildeesrdquo para facilitar o

quotidiano Por outro lado certa perspectiva instrumental foi

compartilhada com intenccedilotildees manifestas de relacionar meios e fins no

desenvolvimento dos projetos Em alguma medida nos debates

proporcionados pelos seminaacuterios finais osas alunosas destacaram a

importacircncia de haver oportunidades de escolha (ou ao menos

conhecimento) entre diferentes caminhos para o desenvolvimento de

tecnologias

Em relaccedilatildeo agrave autoria no desenvolvimento de TS durante as

pesquisas no laboratoacuterio destaquei a importacircncia dosas estudantes

buscarem seus conhecimentos articularem com outros conhecimentos

disponiacuteveis e refletirem sobre soluccedilotildees contextualizadas e simples

Nesse processo percebi dois aspectos (i) a necessidade de retomarmos

as diferenccedilas entre TS simples e TS pontual e restrita De modo que o

contexto soacutecio-histoacuterico (aspectos estruturais e poliacuteticos) no qual o seu

projeto seria desenvolvido fosse considerado e (ii) as possibilidades de

explorar as aproximaccedilotildees entre a questatildeo da autoria e da natildeo

neutralidade Tendo em vista as indicaccedilotildees de que elesas possam

visualizar as tecnologias como relacionadas a seus desejos seria

interessante discutir sobre a contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados

ao desenvolvimento tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele

ocorre

Para aleacutem das especificidades nas trajetoacuterias de pesquisa de cada

grupo procurei manter a mobilizaccedilatildeo dosas alunosas para (i) a

relevacircncia de seus problemas socioteacutecnicos (e as soluccedilotildees apontadas) do

quotidiano no contexto maior de sua realidade social (ii) (maior)

compreensatildeo de caracteriacutesticas do desenvolvimento tecnoloacutegico tendo

em vista participaccedilatildeo informada nos debates sobre os rumos desse

desenvolvimento e (iii) as possibilidades contidas nas articulaccedilotildees de

seus conhecimentos (situados costumeiros ancestrais e taacutecitos) com

conhecimentos disponiacuteveis nas diversas disciplinas escolares (e no

quotidiano da vida escolar) para refletir sobre participaccedilatildeo informada e

criacutetica em processos de transformaccedilatildeo social

211

E eacute a partir dessas consideraccedilotildees que encaminho as reflexotildees

finais que apresento a seguir

212

213

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao fim das anaacutelises pude perceber ainda mais a complexidade

envolvida tanto em questotildees educacionais quanto na temaacutetica

socioteacutecnica Lembro de um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano

(1940-2015) no qual ele reflete sobre determinismos tecnoloacutegicos e

sociais Na sua ldquoBreve histoacuteria da revoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo (GALEANO

2009 p 331-332) ele nos diz

Crescei e multiplicai-vos dissemos

e as maacutequinas cresceram e se multiplicaram

Tinham nos prometido que trabalhariam para

noacutes

Agora noacutes trabalhamos para elas

As maacutequinas que noacutes inventamos

para multiplicar a comida

multiplicam a nossa fome

As armas que inventamos para nos defender

nos matam

Os automoacuteveis que inventamos para nos mover

nos paralisam

As cidades que inventamos para nos encontrar

nos desencontram

Os grandes meios que inventamos para

nos comunicarmos

natildeo nos escutam nem nos vecircem

Somos maacutequinas de nossas maacutequinas

Elas alegam inocecircncia

E tecircm razatildeo

Essas reflexotildees estiveram sempre presentes em minha intenccedilatildeo de

investigar de que maneira e em que medida uma perspectiva criacutetica

sobre TS poderia colaborar para transformar sentidos deterministas

sobre tecnologia entre juventudes do ensino meacutedio teacutecnico O

entendimento de posiccedilotildees deterministas tambeacutem me levou a buscar

compreender em que sentidos a promoccedilatildeo de contextos educacionais

voltados agrave construccedilatildeo de autoria a partir de uma perspectiva criacutetica sobre TS poderia mobilizar tais estudantes para a emancipaccedilatildeo social e

a autonomia

Nesse processo de investigaccedilatildeo encontrei diferentes desafios tais

como o cuidado em natildeo considerar meus sujeitos da pesquisa de

maneira abstrata homogecircnea ou idealizada em buscar representar as

214

diversidades sem perder de vista a unicidade em verificar pluralidades e

diferenccedilas poliacuteticas de classe religiosas eacutetnico-raciais e de gecircnero em

natildeo assumir uma perspectiva salvacionista das TS e da Educaccedilatildeo CTS e

em natildeo ignorar contradiccedilotildees silenciamentos e a polissemia Desafios

esses que foram aliados do pequeno tempo para o desenvolvimento do

roteiro didaacutetico dos equiacutevocos inerentes agrave minha primeira experiecircncia

como docente no ensino meacutedio formal e das dificuldades estruturais para

superaccedilatildeo das contradiccedilotildees agraves quais me referi

Dentro do possiacutevel procurei que o desenvolvimento da temaacutetica

socioteacutecnica tivesse significado para osas estudantes no

estabelecimento de relaccedilotildees com as realidades sociais nas quais elesas

estavam inseridosas Abordei TS como tema a ser estudado dentro dos

princiacutepios de desnaturalizaccedilatildeo e estranhamento tendo em vista o

rompimento com visotildees hierarquizadas sobre conhecimento Minha

intenccedilatildeo foi destacar o caraacuteter processual da produccedilatildeo de conhecimentos

e a importacircncia da alteridade interaccedilatildeo e interdependecircncia dos sujeitos

nesse processo

Destaco minha compreensatildeo acerca da existecircncia de perspectivas

educacionais (re)produtoras de heteronomia Frente a isso busquei

desenvolver em alguma medida praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agrave

formaccedilatildeo criacutetica dos sujeitos Abordei questotildees socioteacutecnicas na

educaccedilatildeo baacutesica tendo em vista possibilidades de mudanccedilas estruturais

de base Minha intervenccedilatildeo junto aos CTIEM visou problematizar a

origem soacutecio-histoacuterica do desenvolvimento tecnoloacutegico as relaccedilotildees de

poder ali envolvidas e nossas possibilidades de participaccedilatildeo nesses

processos

Compreendo que os cuidados que tive natildeo puderam garantir algo

como o cumprimento ideal de meus objetivos Percebi limites tanto para

alguma transformaccedilatildeo de sentidos deterministas sobre tecnologia entre

juventudes quanto para mobilizaccedilotildees para a autoria De maneira geral

tais limites podem se referir tanto a praacuteticas docentes (tipo de

abordagem e escolha pedagoacutegica tempo disponiacutevel) quanto agrave estrutura

escolar (componentes curriculares possibilidades de trabalho

interdisciplinar) por exemplo

Em especiacutefico verifiquei a importacircncia de desenvolver com

estudantes questotildees acerca da natildeo linearidade entre a identificaccedilatildeo de

um problema e sua resoluccedilatildeo de modo a apontar as muacuteltiplas

influecircncias e os vaacuterios rumos que esses processos podem seguir Aleacutem

disso foi necessaacuterio embora natildeo suficiente tendo em vista um processo

de transformaccedilatildeo e criaccedilatildeo de novos sentidos destacar diferenccedilas e

possiacuteveis aproximaccedilotildees entre TC TS e TA aleacutem de problematizar a

215

contextualizaccedilatildeo dos valores incorporados ao desenvolvimento

tecnoloacutegico conforme a realidade social em que ele ocorre

Verifiquei que a tarefa de mobilizaccedilatildeo de estudantes para

desenvolvimento autoral de TS em niacutevel disciplinar apenas na

disciplina de Sociologia foi um fator limitante Assim como a busca por

novas praacuteticas pedagoacutegicas e didaacuteticas natildeo se constituiu como uma

tarefa simples Contudo visualizei algumas possibilidades para

transformaccedilatildeo de sentidos e criaccedilatildeo de novos sentidos sobre o

desenvolvimento tecnoloacutegico

As anaacutelises realizadas indicaram certa sensibilidade de estudantes

para com a temaacutetica socioteacutecnica proposta na transformaccedilatildeo de sentidos

deterministas sobre tecnologia sobretudo na disposiccedilatildeo para a

realizaccedilatildeo de projetos autorais Entendo que foi profiacutecuo mobilizaacute-losas

para aleacutem de refletir sobre problemas socioteacutecnicos do quotidiano

pensar em possibilidades de soluccedilotildees de acordo com seus desejos

dentro de suas possibilidades e contextos

Considero que a disposiccedilatildeo manifesta pelosas estudantes para

projetos autorais pode estar relacionada com autonomia na medida em

que ocorre certo tipo de desenvolvimento de maturidade intelectual

nesse processo Maturidade desenvolvida pela criatividade colaboraccedilatildeo

e abertura para trabalhos conjuntos e compartilhados entre diferentes

conhecimentos Esses trabalhos conjuntos mais que interdisciplinares

podem envolver a coletividade escolar e os diferentes conhecimentos

produzidos por seus sujeitos de modo geral

Portanto a integraccedilatildeo de diferentes conhecimentos no

desenvolvimento de TS seria possiacutevel em grupo E nessas experiecircncias

conjuntas os processos educacionais estariam sensiacuteveis ao

desenvolvimento de maturidade intelectual Maturidade vinculada agrave

autonomia como destaquei acima e agrave emancipaccedilatildeo social Essa uacuteltima

ligada a possibilidades dos sujeitos se posicionarem socialmente tanto

em relaccedilatildeo a criacuteticas a situaccedilotildees de vulnerabilidade vivenciadas quanto agrave

libertaccedilatildeo de condiccedilotildees de dependecircncia e tutela

Dessa maneira minhas intervenccedilotildees junto agraves juventudes dos

CTIEM do IFRS mostraram que em alguma medida existem

possibilidades de transformar sentidos deterministas sobre tecnologia (e

construir novos sentidos) atraveacutes de processos educacionais sensiacuteveis a

uma perspectiva criacutetica sobre TS (processos colaborativos de

desenvolvimento) Em tais processos as juventudes parecem

compreender (mais) que os problemas socioteacutecnicos satildeo (socialmente)

construiacutedos e que as tecnologias podem atender a seus desejos e

incorporar valores contextuais

216

Nas pesquisas que realizei para esta tese sobretudo nas oito aulas

de desenvolvimento do roteiro didaacutetico verifiquei que a temaacutetica

socioteacutecnica natildeo era necessariamente um problema para as juventudes

do CTIEM Entretanto houve a construccedilatildeo de problemas na medida em

que foram exploradas as possibilidades de participaccedilatildeo via autoria com a

criaccedilatildeo de TS De modo que percebo que ao constituiacuterem-se como

autoresas (e natildeo mais apenas usuaacuteriosas) satildeo visualizadas as

possibilidades de autonomia e liberaccedilatildeo de tutela e dependecircncia

Poreacutem natildeo entendo esse processo como algo linear e

previamente determinado pelo desenvolvimento de TS entre juventudes

Compreendo a complexidade aqui envolvida e aponto uma

possibilidade entre outras tantas que poderiam ser exploradas para

desenvolver processos educacionais atentos a perspectivas CTS

Procurei natildeo reproduzir praacuteticas pedagoacutegicas problemaacuteticas e nesse

sentido verifiquei a necessidade de atenccedilatildeo constante Contudo penso

que foi possiacutevel obter dados sobre relaccedilotildees entre tecnologia e processos

educacionais que permitam ampliar a compreensatildeo de qualidades

constitutivas dessas relaccedilotildees Algo que acredito ser proveitoso para

educadoresas com interesse em TS

Em termos acadecircmicos creio que estudos que relacionam

sentidos sobre tecnologia e juventudes que compotildeem a educaccedilatildeo baacutesica

podem contribuir com as produccedilotildees na aacuterea da ECT Pois ao considerar

temas em ciecircncia e tecnologia a ECT tambeacutem estaacute atenta aos contextos

nos quais processos educacionais formais se desenvolvem Com isso

procurei relacionar minha perspectiva politeacutecnica sobre educaccedilatildeo dentro

de um quadro da Educaccedilatildeo CTS latino-americana com vistas a

contribuir com estudos da ECT sobretudo nas implicaccedilotildees sociais da

tecnologia na educaccedilatildeo

Existem muitos aspectos a serem ainda explorados Para aleacutem das

TS destaco a importacircncia de investigaccedilotildees que examinem em que

sentidos a questatildeo da inclusatildeo social seria desenvolvida nos Institutos

Federais Seria possiacutevel questionar qual modelo produtivo seria

considerado que perfil profissional estaria previsto para qual mercado e

com que tipo de tecnologia as accedilotildees seriam pensadas Aponto tambeacutem

a relevacircncia de pesquisas sobre o desenvolvimento da perspectiva

poliacutetico-pedagoacutegica do IFRS Seria interessante a verificaccedilatildeo mais

atenta sobre a manutenccedilatildeo ou natildeo da loacutegica dualista entre formaccedilatildeo

teacutecnica e propedecircutica e suas implicaccedilotildees na formaccedilatildeo discente

Embora natildeo tenha sido o foco de abordagem nesse estudo as

questotildees relacionadas ao curriacuteculo tecircm relevacircncia em debates sobre

processos educacionais A literatura sobre o tema apresenta trabalhos

217

importantes sobre as relaccedilotildees entre curriacuteculo e normas sociais por

exemplo Destaco tambeacutem estudos nos quais os conhecimentos e

experiecircncias que osas alunosas possuem satildeo considerados em

organizaccedilotildees curriculares mais flexiacuteveis e atentas a especificidades

locais e regionais

Na aacuterea educacional natildeo haacute muita novidade no fato de que os

conteuacutedos curriculares deveriam permitir que estudantes tenham

possibilidades de adotar uma postura criacutetica sobre diferentes aspectos da

realidade social De modo que o curriacuteculo natildeo apresentaria uma uacutenica

visatildeo ou interpretaccedilatildeo mas representaria as complexidades da realidade

social Dessa maneira penso que estudos criacuteticos sobre questotildees

curriculares no IFRS tambeacutem podem trazer contribuiccedilotildees para o

entendimento de relaccedilotildees entre educaccedilatildeo e tecnologia

Minha intenccedilatildeo geral nesta tese foi considerar possiblidades de

transformaccedilotildees pertinentes a dois grandes temas educaccedilatildeo e tecnologia

Verifiquei possibilidades e potencialidades assim como limites e

desafios Poreacutem natildeo perdi a disposiccedilatildeo de mobilizar juventudes para

reflexotildees natildeo deterministas e natildeo neutras sobre tecnologia tendo em

vista uma educaccedilatildeo (politeacutecnica) criacutetica integral permanente e

contextualizada

Iniciei essas consideraccedilotildees finais com a reflexatildeo de Galeano

sobre as condiccedilotildees dilemaacuteticas do desenvolvimento socioteacutecnico Para

encerrar refiro-me ao poeta brasileiro Maacuterio Quintana (1906-1994) que

em sua ldquoDas utopiasrdquo (QUINTANA 1997 p 36) lembra-nos de que

Se as coisas satildeo inatingiacuteveishellip ora

Natildeo eacute motivo para natildeo querecirc-lashellip

Que tristes os caminhos se natildeo fora

A presenccedila distante das estrelas

E eacute essa atitude de projetar caminhos tendo em vista suas

possibilidades concretas de execuccedilatildeo que continua presente ao finalizar

essa etapa de reflexotildees e pesquisas sobre TS na educaccedilatildeo baacutesica

Sobretudo permanece a intenccedilatildeo de ir aleacutem e procurar criacutetica e

comparativamente complementos teoacutericos e metodoloacutegicos que possam

ajudar a subsidiar pesquisas relevantes e tragam contribuiccedilotildees aos debates sobre relaccedilotildees entre sentidos sobre tecnologia e processos

educacionais

As experiecircncias pelas quais passei nos diferentes momentos que

envolveram a execuccedilatildeo desta tese mobilizaram-me para prosseguir em

estudos que possam em alguma medida gerar interpretaccedilotildees originais

218

aos novos e velhos problemas da aacuterea da educaccedilatildeo em geral e da ECT

brasileira em particular Com minha atenccedilatildeo voltada aos sujeitos

mantenho o interesse em processos nos quais diferentes sujeitos possam

ter participaccedilatildeo informada e criacutetica em questotildees socioteacutecnicas Para que

como disse Walter Benjamin (2009) na epiacutegrafe desta tese esses

sujeitos possam cada vez mais dominar a arte de ldquoposicionar as velasrdquo

219

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Geral

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS

Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio

Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS

Senhor Diretor Geral JULIANO CANTARELLI TONIOLO

Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von

Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul

(informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar

questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio

em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que

circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul

Grata por sua colaboraccedilatildeo Raquel Folmer Correcirca

Florianoacutepolis _________________

__________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

244

Apecircndice B Termo de consentimento para coleta de dados - Diretor de

Ensino

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA COLETA DE DADOS

Solicitaccedilatildeo de coleta de dados no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio

Grande do Sul ndash IFRSCacircmpus Caxias do Sul-RS

Senhor Diretor de Ensino VITOR SCHLICKMANN

Eu Raquel Folmer Correcirca com a identidade nuacutemero 9057472574 aluna do curso de Doutorado no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (PPGECT)

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob orientaccedilatildeo do prof Dr Irlan von

Linsingen solicito autorizaccedilatildeo para (1) coletar dados institucionais do IFRSCaxias do Sul (informaccedilotildees sobre a estrutura curricular PPCrsquos e dados sociodemograacuteficos) e (2) aplicar

questionaacuterio aos alunosas dos primeiros anos dos cursos Teacutecnico Integrado ao Ensino Meacutedio em Plaacutesticos Quiacutemica e Fabricaccedilatildeo Mecacircnica Esses dados seratildeo uacuteteis para a realizaccedilatildeo do

texto de minha tese doutoral Particularmente para analisar sentidos sobre tecnologias que

circulam entre estudantes do Ensino Meacutedio Teacutecnico do Rio Grande do Sul Grata por sua colaboraccedilatildeo

Raquel Folmer Correcirca

Florianoacutepolis _________________

__________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

245

Apecircndice C Termo de consentimento livre e esclarecido - alunosas

(modelo)147

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu ___________________________________________________________ autorizo a

utilizaccedilatildeo de dados obtidos em sala de aula no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Caxias do Sul - para a realizaccedilatildeo de pesquisa para

elaboraccedilatildeo de tese de doutorado junto ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica

e Tecnoloacutegica da UFSC intitulada TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCACcedilAtildeO POSSIBILIDADES E LIMITES DE TRANSFORMACcedilAtildeO DE SENTIDOS Tambeacutem autorizo

a apresentaccedilatildeo de trabalhos em encontros cientiacuteficos Concedo ainda o direito de retenccedilatildeo e uso

para fins de ensino e divulgaccedilatildeo em jornais eou revistas cientiacuteficas do paiacutes e do estrangeiro Se caso eu tiver novas perguntas sobre este estudo posso chamar os responsaacuteveis pela pesquisa

no telefone (54) 99497932 para qualquer esclarecimento sobre os meus direitos como

participante deste estudo Estou ciente que nada tenho a exigir a tiacutetulo de ressarcimento ou indenizaccedilatildeo pela participaccedilatildeo nas accedilotildees propostas Assim a assinatura desse Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) formaliza a autorizaccedilatildeo para a publicaccedilatildeo de

dados Vale salientar que seraacute garantido o anonimato dos sujeitos participantes Declaro que apoacutes ter lido e compreendido as informaccedilotildees contidas neste TCLE concordo em participar

desse estudo E atraveacutes deste instrumento autorizo os pesquisadores Raquel Folmer Correcirca e

Irlan von Linsingen a utilizarem as informaccedilotildees obtidas com a finalidade de desenvolver trabalho de cunho cientiacutefico na aacuterea de Educaccedilatildeo

Florianoacutepolis _____________________

______________________________________________ Assinatura doa alunoa participante

____________________________

Raquel Folmer Correcirca - doutoranda

- orientador

147 Originais assinados pelosas alunosas em posse da autora

246

Apecircndice D Questionaacuterio

QUESTIONAacuteRIO

Estimadoa alunoa

Este questionaacuterio traz 18 perguntas seguidas por diferentes afirmaccedilotildees ou

apenas afirmaccedilotildees sobre nossas relaccedilotildees com tecnologia Leia atentamente

cada questatildeo reflita se vocecirc concorda ou discorda com cada afirmaccedilatildeo e

escolha dentre as alternativas disponiacuteveis aquela uacutenica que vocecirc reconhece

como a mais proacutexima ao que vocecirc pensa MARQUE APENAS UMA

ALTERNATIVA O questionaacuterio eacute frente e verso

SEXO F ( ) M ( ) IDADE_____anos

1 O melhor modo de descrever tecnologia eacute

(A) Tecnologia eacute tudo que nos rodeia

(B) Tecnologia satildeo todos os aparelhos que nos rodeiam

(C) Tecnologia satildeo todos os novos aparelhos que nos rodeiam

(D) Tecnologia satildeo aparelhos (produtos) metodologias e tambeacutem serviccedilos

(E) Tecnologia eacute toda a aplicaccedilatildeo praacutetica da ciecircncia

(F) Tecnologia satildeo ferramentas prontas para servir os propoacutesitos dos usuaacuterios

(G) Satildeo as produccedilotildees humanas que visam uma finalidade praacutetica mas que

podem envolver pesquisa

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

2 O processo de produzir tecnologia eacute melhor descrito como

(A) Tudo o que fazemos para entender o mundo

(B) Tudo o que fazemos para mudar o mundo

(C) Tudo o que fazemos para melhorar o mundo

(D)Tudo o que fazemos e que transforma a natureza e o mundo e envolve

nossos desejos gostos e valores

(E) Tudo o que eacute feito nas faacutebricas tanto para melhorar ou piorar o mundo

(F) Tudo o que eacute feito para descobrir os segredos da natureza

(G) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia para entender o universo

(H) A descoberta de novos modos de fazer as coisas

(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

3 Definir o que eacute tecnologia eacute difiacutecil porque ela serve para muitas coisas

Mas a tecnologia eacute PRINCIPALMENTE

(A) Muito parecida com a ciecircncia

(B) A aplicaccedilatildeo da ciecircncia

247

(C) Processos meacutetodos instrumentos maacutequinas e ferramentas com aplicaccedilotildees

praacuteticas para o uso diaacuterio

(D) Robocircs eletrocircnicos computadores sistemas de comunicaccedilatildeo e maacutequinas

(E) Uma teacutecnica para construir coisas ou uma forma de resolver problemas

praacuteticos

(F) Inventar desenhar e transformar coisas (por exemplo membros humanos

artificiais computadores e veiacuteculos espaciais)

(G) Ideias e teacutecnicas para fazer coisas e organizar as pessoas para o progresso

da humanidade

(H) Saber como fazer coisas (por exemplo instrumentos e maacutequinas)

(I) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

4 O desenvolvimento de uma nova tecnologia (reator nuclear ou aparelho

para cirurgia cardiacuteaca por exemplo) pode ser colocado em praacutetica ou natildeo

A decisatildeo de usar uma nova tecnologia depende PRINCIPALMENTE

(A) Da explicaccedilatildeo dosas teacutecnicosas que a desenvolveram pois elesas sabem

avaliar os riscos

(B) Das pessoas que deram dinheiro para que a tecnologia fosse desenvolvida

pois elas que investiram

(C) Da faacutebrica que iraacute produzir pois laacute eacute que haveraacute possiacuteveis impactos

ambientais e de risco aos trabalhadoresas

(D) Do governo pois ele poderaacute oferecer a toda a populaccedilatildeo a tecnologia

(E) Vai depender do tipo de tecnologia pois para cada uma existe uma

especialista que pode avaliar

(F) Vai depender de vaacuterios aspectos como osas especialistas osas

investidoresas e o governo

(G) Vai depender de um amplo debate puacuteblico entre todos os segmentos

interessados inclusive a populaccedilatildeo inicialmente leiga no assunto

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

5Ciecircncia e tecnologia satildeo bastante relacionadas estre si porque

(A) Ciecircncia eacute a base dos avanccedilos tecnoloacutegicos e eacute difiacutecil ver como a tecnologia

pode ajudar a ciecircncia

(B) A investigaccedilatildeo cientiacutefica leva a aplicaccedilotildees praacuteticas tecnoloacutegicas e as

aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas aumentam a capacidade da investigaccedilatildeo cientiacutefica

(C) Mesmo sendo diferentes estatildeo unidas de modo tatildeo proacuteximo que eacute difiacutecil

separaacute-las

(D) Tecnologia eacute a base dos avanccedilos cientiacuteficos e eacute difiacutecil ver como a ciecircncia

pode ajudar a tecnologia

(E) Ciecircncia e tecnologia satildeo a mesma coisa

248

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

6 A tecnologia influencia a sociedade

(A) A tecnologia natildeo influencia muito a sociedade

(B) A tecnologia influencia bastante a sociedade

(C) A tecnologia nos influencia se noacutes deixarmos

(D) Independentemente de deixarmos ou natildeo a tecnologia nos influencia

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

7 O desenvolvimento tecnoloacutegico pode ser controlado pelas pessoas natildeo

especialistas pelos cidadatildeos

(A) Sim porque osas especialistas saiacuteram da populaccedilatildeo em geral Portanto a

populaccedilatildeo em geral controla um pouco os avanccedilos da tecnologia

(B) Sim porque os avanccedilos tecnoloacutegicos satildeo patrocinados pelo governo e ao

eleger o governo a populaccedilatildeo escolhe o tipo de avanccedilo tecnoloacutegico que

ocorreraacute

(C) Sim porque a populaccedilatildeo deveria ter acesso e possibilidade de escolha nas

questotildees que envolvem o desenvolvimento tecnoloacutegico

(D) Sim mas apenas quando estatildeo organizados em grupos (associaccedilotildees ONGrsquos

cooperativas por exemplo)

(E) Natildeo o desenvolvimento tecnoloacutegico soacute pode ser controlado pelosas

teacutecnicosas diretamente envolvidosas no desenvolvimento da tecnologia pois

elesas entendem todos os processos envolvidos

(F) Natildeo porque a tecnologia avanccedila tatildeo raacutepido que osas natildeo especialistas natildeo

conseguem acompanhar

(G) Natildeo porque a tecnologia se desenvolve de modo independente das pessoas

e nem osas especialistas podem controlar o rumo que uma tecnologia teraacute

(H) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

8 Investir em tecnologia melhora a qualidade de vida das pessoas

(A) Sim porque a tecnologia sempre tem melhorado a vida das pessoas e natildeo haacute

razatildeo para isso natildeo acontecer mais agora

(B) Sim porque investir em tecnologia leva ao desenvolvimento econocircmico

que leva ao desenvolvimento social tambeacutem

(C) Sim porque a tecnologia torna nossa vida mais faacutecil

(D) Sim mas apenas para aqueles que tem acesso a essa tecnologia quem natildeo

tem acesso natildeo eacute afetado

(E) Natildeo porque satildeo desenvolvimentos independentes

249

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

9 A sociedade influencia a tecnologia

(A) A sociedade natildeo influencia muito a tecnologia

(B) A sociedade influencia bastante a tecnologia

(C) A sociedade natildeo influencia a tecnologia pois a tecnologia segue um rumo

independente do que podemos decidir

(D) A sociedade influencia a tecnologia na medida em que podemos usar ou natildeo

uma tecnologia de acordo com nossos gostos e valores mesmos que haja

pressatildeo para utilizar determinadas tecnologias

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

10 Quem deve decidir que tecnologia seraacute desenvolvida em nosso paiacutes eacute

(A) Osas engenheirosas e teacutecnicosas pois satildeo osas especialistas

(B) Os governantes pois satildeo os grandes investidores

(C) Os governantes e osas especialistas

(D) Aleacutem dos governantes e especialistas as lideranccedilas religiosas tambeacutem

devem ser ouvidas pois a tecnologia envolve valores morais das pessoas

(E) Aleacutem de governantes e especialistas a sociedade em geral tambeacutem precisa

poder decidir o que seraacute desenvolvido

(F) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute______________________________

11 No desenvolvimento de tecnologia estatildeo envolvidos

(A) Os contextos (lugar e eacutepoca de seu desenvolvimento)

(B) A histoacuteria do que estaacute sendo desenvolvido (quem jaacute produziu como)

(C) Interesses poliacuteticos e econocircmicos

(D) Valores sociais e morais

(E) Todas as alternativas anteriores

(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte

teacutecnica e econocircmica

(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

12 A tecnologia tambeacutem se relaciona com o que desejamos

(A) Sim pois como ela eacute desenvolvida por seres humanos ela carrega nossos

valores e intenccedilotildees

(B) Sim mas isso natildeo impede que a tecnologia se desenvolva fora do controle

da sociedade

250

(C) Natildeo pois o desenvolvimento de tecnologia eacute um processo neutro sem

envolvimento sentimental

(D) Natildeo pois embora o ser humano desenvolva tecnologia seus sentimentos

natildeo interferem

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

13 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc se considera

(A) Observadora acompanho o que eacute desenvolvido mas natildeo compro nem uso

nem passo a diante

(B) Usuaacuterioa comproganho o que eacute desenvolvido e que me agrada para minha

proacutepria utilizaccedilatildeo

(C) Divulgadora comproganho e independente de utilizar ou natildeo divulgo o

que eacute desenvolvido e que me agrada

(D) Autora procuro desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos

problemas que quero resolver

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

14 Em sua relaccedilatildeo com tecnologia vocecirc gostaria de ser

(A) Observadora acompanhar o que eacute desenvolvido mas natildeo comprar nem

usar nem passar a diante

(B) Usuaacuterioa comprarganhar o que eacute desenvolvido e que me agrada para

minha proacutepria utilizaccedilatildeo

(C) Divulgadora comprarganhar e independente de utilizar ou natildeo divulgar o

que eacute desenvolvido e que me agrada

(D) Autora procuraria desenvolver tecnologia dentro do que me agrada ou dos

problemas que gostaria de resolver

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

15 O desenvolvimento uso e disseminaccedilatildeodistribuiccedilatildeo de tecnologia estaacute

relacionado a

(A) Poliacutetica

(B) Economia

(C) Cultura

(D) Educaccedilatildeo

(E) Todas as alternativas anteriores

(F) Nenhuma das alternativas anteriores pois depende basicamente da parte

teacutecnica logiacutestica e econocircmica

(G) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

251

16 Vocecirc concorda com a afirmaccedilatildeo ldquotoda tecnologia eacute social assim como

toda a sociedade eacute tecnoloacutegicardquo

(A) Sim pois os seres humanos desenvolvem tecnologia entatildeo ela eacute social e a

sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia

(B) Sim e natildeo Sim a tecnologia eacute social pois eacute desenvolvida por seres

humanos E natildeo a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem

tecnologia

(C) Natildeo Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos a

desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos

E natildeo toda a sociedade natildeo eacute tecnoloacutegica pois podemos viver sem tecnologia

(D) Natildeo e sim Toda tecnologia natildeo eacute social pois mesmo que os seres humanos

a desenvolvam ela pode seguir um desenvolvimento independente dos humanos

E sim e a sociedade eacute tecnoloacutegica pois eacute difiacutecil vivermos sem tecnologia

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

17 Vocecirc concorda que o desenvolvimento uso e distribuiccedilatildeo de tecnologia

tenha conteuacutedo ideoloacutegico

(A) Sim pois como toda a produccedilatildeo humana ela eacute cheia de valores

sentimentos e intenccedilotildees

(B) Sim mas ela tem os valores proacuteprios do desenvolvimento teacutecnico e natildeo os

valores humanos

(C) Natildeo pois a tecnologia natildeo eacute afetada por questotildees morais sentimentais e de

valores

(D) Natildeo mas podemos pensar em uma utilidade da tecnologia que faccedila bem agraves

pessoas

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

18 Vocecirc concorda com a seguinte afirmaccedilatildeo ldquoRevoacutelveres natildeo matam seres

humanos satildeo os seres humanos que puxam o gatilho e matam outros seres

humanosrdquo

(A) Sim pois o revoacutelver foi desenvolvido para a defesa e as pessoas se matam

com ele porque querem

(B) Sim mas o revoacutelver foi feito para matar

(C) Natildeo pois o revoacutelver foi desenvolvido para matar pessoas Armas apenas de

defesa natildeo podem ter capacidade de matar

(D) Natildeo mas os seres humanos natildeo inventaram o revoacutelver com intenccedilatildeo de

matar

(E) Nenhuma das opccedilotildees se aproxima do que eu penso O que eu penso

eacute_____________________________

252

Fim

Por favor antes de devolver seu questionaacuterio verifique se todas as questotildees

foram respondidas

Obrigada

253

Apecircndice E Roteiro didaacutetico

1 Tiacutetulo

Tecnologia e tecnologias sociais autoria em problemas socioteacutecnicos

2 Tema

Problematizaccedilatildeo da temaacutetica tecnoloacutegica e suas relaccedilotildees com uma

perspectiva criacutetica sobre Tecnologias Sociais (TS) na resoluccedilatildeo autoral de

problemas socioteacutecnicos de juventudes dos Cursos Teacutecnico Integrados ao

Ensino Meacutedio (CTIEM)

3 Contextualizaccedilatildeo e justificativa

Alguns estudos latino-americanos atuais que relacionam ciecircncia

tecnologia e sociedade (CTS) de um ponto de vista educacional tecircm dado

visibilidade a percepccedilotildees sobre relaccedilotildees CTS em componentes curriculares da

Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica (ECT) de Engenharias e de aacutereas das

Ciecircncias Naturais e Exatas Nesses estudos haacute uma problematizaccedilatildeo importante

da mera inserccedilatildeo de disciplinas de Ciecircncias Humanas em aacutereas teacutecnicas Nesse

contexto percebo certa ausecircncia de discussotildees voltadas agrave formaccedilatildeo baacutesica

Uma vez identificada essa ausecircncia vislumbro a emergecircncia de

possibilitar tambeacutem a estudantes de ensino meacutedio acesso a (mais)

conhecimentos (e possibilidades de criacuteticas) sobre a realidade socioteacutecnica com

a qual elesas podem interagir diariamente Ao apresentar uma ausecircncia

percebida considero a emergecircncia da inclusatildeo de novos sujeitos nos debates

socioteacutecnicos Sujeitos especiacuteficos que emergem do contexto escolar dos

CTIEM

Nesse sentido este roteiro traz uma possibilidade de abordagem

educacional sobre TS O objetivo eacute mobilizar alunosas (e professoresas) para

promover (participar de) debates criacuteticos sobre temas socioteacutecnicos em seu

quotidiano Ao abordar esses temas a ideia eacute que novas questotildees surjam e que

possam vir a contribuir para a Educaccedilatildeo CTS

A intenccedilatildeo aqui eacute que estudantes considerem suas possibilidades para

para aleacutem de participar de debates socioteacutecnicos promoverem novas questotildees

sobre esses assuntos De modo que se perguntem o que tecnologia e TS tecircm a

ver com o seu quotidiano como e por que dar importacircncia e significado a esses

temas entre outras reflexotildees possiacuteveis

Penso que discussotildees sobre TS podem constituir processos educacionais

integrados e natildeo estritamente teacutecnicos nas quais seja possibilitada a

compreensatildeo da produccedilatildeo intelectual da tecnologia (politecnia) e seu caraacuteter

contextual (adequada agrave realidade de coletividades especiacuteficas) De modo que os

temas desenvolvidos possam ser relacionados com o mundo do trabalho e as

praacuteticas sociais preparando osas educandosas para o exerciacutecio da cidadania

A relevacircncia dessa iniciativa encontra-se nas possibilidades de (i)

problematizar relaccedilotildees entre sujeito e sociedade e o papel do sujeito na

254

construccedilatildeo da realidade social (ii) compreender (e poder transformar) soacutecio-

historicamente sentidos sobre tecnologias que circulam (satildeo debatidos) entre as

juventudes em especiacutefico de estudantes dos CTIEM (iii) ampliar espaccedilos para

debater as muacuteltiplas relaccedilotildees entre tecnologia e sociedade e (iv) vincular tais

debates a perspectivas socioloacutegicas do mundo do trabalho e da cidadania

4 Objetivos

Identificar sentidos sobre tecnologia que circulam entre estudantes dos

CTIEM problematizar (estranhar e desnaturalizar) tais sentidos examinar

possibilidades de promover autoria entre estudantes a partir de um

posicionamento criacutetico sobre TS e estabelecer relaccedilotildees entre a temaacutetica

socioteacutecnica e o mundo do trabalho e o desenvolvimento cidadatildeo

5 Conteuacutedos

Tecnologia determinismo tecnoloacutegico e TS

6 Metodologia

Apresento uma proposta pedagoacutegica com foco no ensino de Sociologia I

em CTIEM mas aberta a diferentes perspectivas e modalidades de ensino

Penso que pode ser interessante e produtivo promover aberturas inter e

transdisciplinares e propor a colegas de disciplinas como Histoacuteria Biologia e

Geografia por exemplo a participaccedilatildeo nessas atividades Contudo cabe a

docentes adequarem as atividades ao seu contexto de ensino e sobretudo

modificaacute-la de acordo com seus propoacutesitos e planejamentos

O roteiro didaacutetico estaacute distribuiacutedo em oito momentos (aulas de 50

minutos) tendo em vista apenas uma aula por semana O desenvolvimento das

atividades envolve uma problematizaccedilatildeo inicial leitura de texto

acompanhamento de exibiccedilatildeo de audiovisual aula expositiva-dialogada

pesquisa orientada apresentaccedilatildeo de trabalhos e debates de finalizaccedilatildeo Cada

turma dos CTIEM estaacute dividida em grupos de aproximadamente seis

estudantes em cada grupo de modo que existam cerca de cinco grupos em cada

turma (o que contemplaria osas 30 alunosas geralmente frequente em cada

turma) Cada grupo tem entre 10 e 15 minutos para apresentaccedilatildeo de seu trabalho

final

7 Roteiro

1ordf aula Explicaccedilatildeo da proposta de estudo sobre tecnologia (e da

pesquisa para tese) e lanccedilamento da questatildeo inicial (o que eacute tecnologia para

vocecirc) a ser respondida individualmente mas com abertura a diaacutelogos entre

osas alunosas

2ordf aula Retomada do tema socioteacutecnico e aplicaccedilatildeo do questionaacuterio

individual

3ordf aula discussatildeo do questionaacuterio iniacutecio da exposiccedilatildeo dialogada sobre

tecnologia do ponto de vista de Estudos em Educaccedilatildeo CTS latino-americanos

Leitura de um texto sobre tecnologia de minha autoria Exibiccedilatildeo do viacutedeo ldquoO

255

que eacute tecnologia afinalrdquo que tem cinco minutos e mostra imagens de diversas

tecnologias desenvolvidas em diferentes periacuteodos Viacutedeo disponiacutevel em

httpwwwyoutubecomwatchv=eFqXjF4KNxAampfeature=related

A figura 6 abaixo (de minha autoria) eacute um exemplo de informaccedilatildeo que

pode mediar as discussotildees desse momento

Figura 6 - Construccedilatildeo social das tecnologias

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

4ordf aula Retomada de ideias sobre tecnologia introduccedilatildeo da

problematizaccedilatildeo do determinismo tecnoloacutegico e de ideias sobre TS

As figuras 7 e 8 abaixo estatildeo disponiacuteveis livremente na internet e

podem ilustrar os debates propostos para esse momento

Figura 7 - Determinismo tecnoloacutegico 01

Fonte Google imagens

256

Figura 8 - Determinismo tecnoloacutegico 02

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

Para a exposiccedilatildeo dialogada sobre TS a figura 4 abaixo pode ilustrar as

discussotildees

Figura 4 - Esquema sobre caracteriacutesticas das TS

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

5ordf e 6ordf aulas Explicaccedilatildeo da tarefa final de elaboraccedilatildeo de TS para

resolver um problema socioteacutecnico relevante no seu quotidiano Divisatildeo dos

grupos Pesquisas orientadas no laboratoacuterio de informaacutetica Imagens e textos

ficam agrave disposiccedilatildeo para consulta Apresentar a importacircncia de buscar

originalidade e autoria na construccedilatildeo e resoluccedilatildeo do problema socioteacutecnico

levantado

A figura 9 abaixo pode ilustrar o que se pretende com o

desenvolvimento de autoria

257

Figura 9 - Autoria

Fonte Montagem da autora a partir de imagem disponiacutevel no Google imagens

7ordf aula iniacutecio das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS

8ordf aula final das apresentaccedilotildees de seminaacuterios com elaboraccedilotildees de TS (se

for o caso) debates sobre os seminaacuterios e auto avaliaccedilotildees finais

8 Materiais utilizados

Folhas de papel para a questatildeo inicial questionaacuterio texto de apoio

slides com toacutepicos sobre a temaacutetica (figuras notiacutecias jornaliacutesticas peccedilas

publicitaacuterias viacutedeos) computadores para pesquisas e projetor multimiacutedia para

apresentaccedilotildees

9 Avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo eacute aqui entendida como um continuum que perpassa todos os

processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos durante as aulas Eacute

interessante destacar que fazem parte desse processo tanto uma avaliaccedilatildeo

formativa (avaliaccedilatildeo ldquoparardquo o aprendizado ocorre continuamente) quanto uma

avaliaccedilatildeo somativa (avaliaccedilatildeo ldquodordquo aprendizado pontual com atribuiccedilatildeo de

notas) Para essa proposta haacute preocupaccedilatildeo com uma avaliaccedilatildeo formativa mas

penso que o desenvolvimento e apresentaccedilatildeo das propostas de TS tenham

tambeacutem um caraacuteter somativo

O que apresento aqui satildeo ideias para desenvolver com osas alunosas a

problematizaccedilatildeo (dentro dos princiacutepios socioloacutegicos de estranhamento e

desnaturalizaccedilatildeo) a argumentaccedilatildeo a construccedilatildeo de conhecimentos e a

capacidade de se posicionar dialogicamente de modo informado sobre questotildees

socioteacutecnicas Com isso os criteacuterios considerados nas avaliaccedilotildees dosas

alunosas contemplam as reflexotildees e entendimentos dosas mesmosas sobre (i)

o que e como tecnologias e determinismo tecnoloacutegico significam no dia-a-dia

(ii) TS como tema de relevacircncia a estudantes (como podem influenciar o

258

trabalho os relacionamentos o lazer etc) e (iii) possibilidades e limites de

desenvolver autoria na resoluccedilatildeo de seus problemas socioteacutecnicos e relaccedilotildees

dessa com princiacutepios socioloacutegicos de cidadania (o que eacute possiacutevel fazer como e

por quecirc)

A atribuiccedilatildeo de notas fica relacionada com a mobilizaccedilatildeo para os

debates a pesquisa e a apresentaccedilatildeo da tarefa final

10 Sugestotildees de audiovisuais para reflexotildees sobre a temaacutetica

2001 uma Odisseia no Espaccedilo (EUAInglaterra 1968 Stanley

Kubrick)

Admiraacutevel Mundo Novo (EUA 1998 Leslie Libman)

A Guerra do Fogo (FranccedilaCanadaacute 1981 Jean-Jacques Annaud)

Alphaville (FranccedilaItaacutelia 1965 Jean-Luc Godard)

Blade runner o caccedilador de androides (EUA 1982 Ridley Scott)

Gattaca - Experiecircncia Geneacutetica (EUA 1997 Andrew Niccol)

Matrix (EUAAustraacutelia 1999 irmatildeos Wachowski)

259

Apecircndice F Texto base das aulas

IFRS - Cacircmpus Caxias do Sul

Sociologia I Profordf Raquel Folmer Correcirca

TECNOLOGIA

Percebe-se que a palavra tecnologia eacute empregada largamente em

diferentes contextos (social cultural econocircmico poliacutetico educaccedilatildeo) sendo

utilizada para as mais diversas finalidades e por pessoas com propoacutesitos

distintos Poreacutem do mesmo modo que o seu uso se torna cada vez mais

corrente confusotildees e imprecisotildees semacircnticas permeiam o seu emprego O

filoacutesofo brasileiro Aacutelvaro Vieira Pinto apresenta a tecnologia como ldquoa teoria a

ciecircncia o estudo a discussatildeo da teacutecnica abrangidas nessa uacuteltima noccedilatildeo as artes

as habilidades do fazer as profissotildees e generalizadamente os modos de

produzir alguma coisardquo (2005 p 219)148

Ele tambeacutem destaca que

toda tecnologia contendo necessariamente o

sentido jaacute indicado de logos da teacutecnica transporta

inevitavelmente um conteuacutedo ideoloacutegico Consiste

numa determinada acepccedilatildeo do significado e do valor

das accedilotildees humanas do modo social de realizarem-se das

relaccedilotildees do trabalhador com o produto ou o ato acabado

e sobretudo envolve a ligaccedilatildeo entre o teacutecnico em seu

papel de fabricante de um bem ou autor de um

empreendimento e o destino dado agravequilo que cria A

teacutecnica representa o aspecto qualitativo de um ato

humano necessariamente inserido no contexto social

que a solicita a possibilita e lhe daacute aplicaccedilatildeo (ibidem p

320-321)

A socioacuteloga gauacutecha Maiacutera Baumgarten (2006)149 situa a tecnologia em

relaccedilatildeo ao seu caraacuteter social e destaca que o ser humano tem a capacidade de

inventar teacutecnicas aperfeiccediloaacute-las e transmiti-las Ela pontua que na tecnologia

148 PINTO A V O conceito de Tecnologia (Vol 1) Rio de janeiro

Contraponto 2005 149 BAUMGARTEN M Tecnologia In CATTANI A HOLZMANN L

(orgs) Dicionaacuterio de trabalho e tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006

260

que reside a possibilidade de transformaccedilatildeo da realidade Para ela uma ideia

geral de tecnologia pode ser compreendida como

() atividade socialmente organizada baseada em

planos e de caraacuteter essencialmente praacutetico

Tecnologia compreende portanto conjuntos de

conhecimentos e informaccedilotildees utilizados na

produccedilatildeo de bens e serviccedilos provenientes de

fontes diversas como descobertas cientiacuteficas e

invenccedilotildees obtidas por meio de distintos meacutetodos

a partir de objetivos definidos e com finalidades

praacuteticas () como toda produccedilatildeo humana a

tecnologia deve ser pensada no contexto das

relaccedilotildees sociais e dentro de seu desenvolvimento

histoacuterico (ibidem p 288)

Tendo em vista essas consideraccedilotildees pode-se compreender o

desenvolvimento os usos e as aplicaccedilotildees da tecnologia enquanto fenocircmeno

eminentemente social relacionado agrave poliacutetica agrave economia agrave educaccedilatildeo e agrave

cultura

TECNOLOGIAS SOCIAIS

Tecnologia Social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias

reaplicaacuteveis desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem

efetivas soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Eacute um conceito que remete para uma

proposta inovadora de desenvolvimento considerando a participaccedilatildeo coletiva

no processo de organizaccedilatildeo desenvolvimento e implementaccedilatildeo Estaacute baseado

na disseminaccedilatildeo de soluccedilotildees para problemas voltados a demandas de

alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo energia habitaccedilatildeo renda recursos hiacutedricos sauacutede meio

ambiente dentre outras

As Tecnologias Sociais podem aliar saber popular organizaccedilatildeo social e

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Importa essencialmente que sejam efetivas e

reaplicaacuteveis propiciando desenvolvimento social em escala

A Fundaccedilatildeo Banco do Brasil caracteriza tecnologia social como todo

processo meacutetodo ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema

social e que atenda aos quesitos de simplicidade baixo custo faacutecil

reaplicabilidade e impacto social comprovado Tecnologias sociais satildeo

definidas similarmente como produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis

desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representem efetivas

soluccedilotildees de transformaccedilatildeo social Podemos compreender que tecnologias

sociais se propotildeem a atender questotildees relativas agrave melhoria das condiccedilotildees de

vida e agrave diminuiccedilatildeo de desigualdades sociais via desenvolvimento local

sustentaacutevel Nessa perspectiva de tecnologia social a teacutecnica seria entendida

como um meio de emancipaccedilatildeo social e natildeo como instrumento de dominaccedilatildeo

forma de controle ou causa de desigualdade social Satildeo exemplos de

261

Tecnologias sociais o soro caseiro (mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que combate a

desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil) as cisternas de placas preacute-moldadas

que atenuam os problemas de acesso a aacutegua de boa qualidade agrave populaccedilatildeo do

semiaacuterido entre outros

262

263

ANEXOS

Anexo A Registro das aulas sobre tecnologia no sistema de controle

acadecircmico do IFRS150

Fonte IFRS 2015

150 Os pontos amarelos indicam o registro das aulas sobre tecnologia Contudo

uma aula sobre tecnologia natildeo foi registrada nesse sistema pois foi cedida de

modo informal a mim pelosas colegas professoresas na semana do dia

10112015 A primeira coluna agrave esquerda do ponto amarelo indica as datas em

que as aulas ocorreram

264

Anexo B Exemplo de plano de ensino dos CTIEM examinados151

Disciplina Sociologia I

Carga Horaacuteria 30 horasaula

Periacuteodo 2015

Curso Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica-Manhatilde

Atendimento Segunda-feira 1330-1530

Professora Raquel Folmer Correcirca

raquelcorreacaxiasifrsedubr

Ementa

Desenvolvimento de uma educaccedilatildeo escolar vinculada com o mundo do

trabalho e a praacutetica social preparando o educando para o exerciacutecio da cidadania

Busca de compreensatildeo das sociedades humanas como objeto de conhecimento

cientiacutefico atraveacutes do estudo de relaccedilotildees instituiccedilotildees e estruturas sociais em seu

caraacuteter atual e em suas dinacircmicas de transformaccedilatildeo Problematizaccedilatildeo das

relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade e do papel do sujeito na construccedilatildeo da

realidade social Estudo sobre formas de trabalho relaccedilatildeo entre trabalho e

Direitos Humanos Modos de Produccedilatildeo origem e desenvolvimento da

Sociologia teorias socioloacutegicas claacutessicas e perspectivas atuais miacutedia ideologia

alienaccedilatildeo desenvolvimento sustentaacutevel

Objetivos

Desenvolver no educando uma perspectiva socioloacutegica de modo a

desnaturalizar a visatildeo de sociedade e da vida social construiacuteda no senso comum

Proporcionar a mobilizaccedilatildeo de conceitos e teorias socioloacutegicas como

ferramentas analiacuteticas para a compreensatildeo da vida quotidiana e do mundo do

trabalho a partir de uma visatildeo criacutetica

Programa

1 Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico

2 Teorias socioloacutegicas claacutessicas

3 Modos de produccedilatildeo

4 Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees na contemporaneidade

5 Temas atuais em Sociologia miacutedias e consumoconsumismo

6 Temas atuais em Sociologia tecnologias

151 Todos os CTIEM nos quais desenvolvi as atividades seguem o mesmo plano

265

Cronograma

Trimestre Descriccedilatildeo de conteuacutedos

1ordm trimestre

Introduccedilatildeo ao pensamento socioloacutegico

Produccedilatildeo social do conhecimento

O olhar socioloacutegico problematizaccedilatildeo e desnaturalizaccedilatildeo

Modernidade e origens do pensamento socioloacutegico

AVALIACcedilAtildeO

Teorias socioloacutegicas claacutessicas

Durkheim ndash fato social

Marx ndash classes sociais

Weber ndash accedilatildeo social

AVALIACcedilAtildeO

2ordm trimestre

Modos de produccedilatildeo

Antiguidade

Idade meacutedia

Modernidade

AVALIACcedilAtildeO

Trabalho e suas relaccedilotildeesimplicaccedilotildees

Fordismo

Taylorismo

Trabalho no Brasil

AVALIACcedilAtildeO

3ordm trimestre

Temas atuais em Sociologia miacutedias e

consumoconsumismo

Ideologia

Miacutedias

Consumo e consumismo

AVALIACcedilAtildeO

Temas atuais em Sociologia tecnologias

Determinismo tecnoloacutegico

Consumo e tecnologias

Trabalho e tecnologia

AVALIACcedilAtildeO

Metodologia

As aulas seratildeo em sua forma geral expositivasdialogadas A professora

trabalharaacute de modo que os temas encaminhem aos principais autoresas da

Sociologia e aos conceitos socioloacutegicos As aulas seratildeo iniciadas com a

recapitulaccedilatildeo da aula anterior e a apresentaccedilatildeo do objetivo da aula do dia

Haveraacute apresentaccedilatildeo do tema com levantamento dos entendimentos dosas

alunosas sobre o mesmo seguido do diaacutelogo com osas autoresas da

Sociologia e apresentaccedilatildeo dos conceitos (atraveacutes de leitura e interpretaccedilatildeo de

texto audiovisuais ou muacutesica) Os debates seratildeo promovidos durante toda a aula

e seratildeo propostas atividades de reflexatildeo sobre os mesmos (produccedilatildeo textual

266

individual grupos de trabalho coletivos etc) Ao final haveraacute sugestotildees de

materiais adicionais sobre o tema orientaccedilotildees sobre a disponibilizaccedilatildeo do

material na plataforma moodle e por fim encaminhamentos sobre a aula

seguinte

Teacutecnicas e Recursos

bull Recapitulaccedilatildeo de aula bull Aulas expositivasdialogadas bull Trabalhos em grupos

bull Debates bull Leitura de textos

bull Quadrocaneta bullTextosaudiovisuaismuacutesicas bullData Show

bullLivros didaacuteticosrevistasinternet

Avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo seraacute contiacutenua durante todas as aulas nas quais comumente

haveraacute a produccedilatildeo de textos curtos do tipo respostas a questotildees

propostasinterpretaccedilatildeo de texto e de materiais audiovisuais Essas produccedilotildees

seratildeo em grupos ou individualmente Haveraacute tambeacutem a solicitaccedilatildeo de pesquisa

em aula de termos em livros revistas e na internet

Em datas preacute-combinadas (conforme cronograma) haveraacute avaliaccedilotildees

especiacuteficas de modo que osas alunosas sejam avaliadosas trimestralmente

atraveacutes de 2 instrumentos diferentes Cada uma das duas avaliaccedilotildees do trimestre

teraacute nota 45 Ao final do ano oa alunoa poderaacute obter 90 pontos das avaliaccedilotildees

especiacuteficas (45 por avaliaccedilatildeo x 2 avaliaccedilotildees) Em caso de ausecircncia nessas

avaliaccedilotildees especiacuteficas oa alunoa que quiser realizar outra avaliaccedilatildeo deveraacute

protocolar requerimento (junto ao protocolo acadecircmico) no prazo maacuteximo de 48

horas a contar da data de realizaccedilatildeo da prova anexando ao mesmo justificativa

para ausecircncia devidamente comprovada Oa alunoa que natildeo realizar o pedido

no prazo estipulado natildeo teraacute direito a prova de segunda chamada Oa alunoa

que faltar a prova de segunda chamada ficaraacute com nota 000 (zero) nesse campo

Criteacuterios que seratildeo considerados durante as aulas pontualidade

assiduidade empenho e interesse nas atividades propostas entrega dos trabalhos

solicitados na data marcada postura adequada em relaccedilatildeo aosagraves colegas e com a

professora O atendimento a esses criteacuterios constitui 10 ponto na nota final

A uacuteltima aula poderaacute contar com atividades de avaliaccedilotildees muacutetuas

Oa alunoa que obtiver um aproveitamento anual referente a meacutedia das

notas registradas no Diaacuterio de Classe maior ou igual a 70 (estipulado pela

instituiccedilatildeo) seraacute considerado aprovadoa

Oa alunoa que natildeo atingir essa meacutedia teraacute o direito de realizar uma

avaliaccedilatildeo final que contemplaraacute todo o conteuacutedo ministrado durante o ano

Nesse caso seraacute consideradoa aprovadoa aquelea que obtiver um resultado

final referente a meacutedia entre a avaliaccedilatildeo final e o aproveitamento anual maior

ou igual a 50 (estipulado pela instituiccedilatildeo)

267

Referecircncias

Bibliografia Baacutesica

[1] OLIVEIRA P S Introduccedilatildeo agrave Sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 2011

[2] MARTINS C O que eacute sociologia Satildeo Paulo Brasiliense 1982

[3] TOMAZI N D Sociologia para o Ensino Meacutedio Satildeo Paulo Saraiva

2010

Bibliografia complementar

[1] GIDDENS A Sociologia Porto Alegre Artmed 2005

[2] DIAS R Introduccedilatildeo agrave Sociologia Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2005

[3] DURKHEIM E As regras do meacutetodo socioloacutegico Satildeo Paulo

Martins

Fontes 2003

[4] ALBORNOZ S O que eacute Trabalho Satildeo Paulo Brasiliense 1994

[5] MARX K Manuscritos Econocircmico-Filosoacuteficos Satildeo Paulo Boitempo

2004

Informaccedilotildees adicionais

As datas que constam no plano de ensino estatildeo sujeitas a alteraccedilotildees no

decorrer do ano (inclusive data de apresentaccedilotildees e entregas de

trabalhos) dependendo das necessidades da turma e dos acordos

estabelecidos entre professora e alunosas

Algumas bibliografias poderatildeo ser acrescentadas no decorrer do ano

dependendo da necessidade da professora Sendo que as mesmas

sempre seratildeo informadas

Caxias do Sul 27 de fevereiro de 2015

___________________________________

Profordf Raquel Folmer Correcirca

268

Anexo C Representaccedilatildeo graacutefica do perfil de formaccedilatildeo disponiacutevel nos

Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPCs)152

Teacutecnico em Fabricaccedilatildeo Mecacircnica

152 Fonte IFRS 2015

269

Teacutecnico em Plaacutesticos

270

Teacutecnico em Quiacutemica

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