RASCUNHOS DA CARTA À VERA SASSULITCH DE 1881

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  • 8/13/2019 RASCUNHOS DA CARTA VERA SASSULITCH DE 1881

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    Vol. 24, Ns 1 e 2, jan.dez. /2005

    Razes

    Razes, Campina Grande, Vol. 24, ns 01 e 02, p. 110123, jan./dez. 2005

    I

    [PRIMEIRORASCUNHO]

    1) Em se tratando da gnese da produo capitalista,eu tinha dito que existe no fundoa separao radical do produtor dos meios de produo(p.315, coluna I, ed. francesa do Capital) e que a basede toda esta evoluo a expropriao dos lavradores. Elano se realizou ainda de modo radical seno na Ingla-

    terra... Mas todos os pases da Europa ocidental percor-rem o mesmo movimento. (l.c. C. II)Eu restringi, portanto, expressamente a fatalidade hist-

    rica deste movimento aos pases da Europa Ocidental. E porqu? Compare, por favor, o captulo XXXII, onde se l:

    O movimento de eliminao que transforma os meios de produoindividuais e dispersos em meios de produo socialmente concentra-dos, fazendo de um nmero grande de propriedades ans, a proprie-dade colossal de alguns, esta dolorosa e espantosa expropriao do povotrabalhador eis a a origem, a gnese do capital... A propriedade pri-

    KARLMARX

    RASCUNHOSDACARTAVERASASSULITCHDE1881

    [TTULOEDITORIAL]

    (Traduo de Edgard Malagodi e Rogrio Silva Bezerra)

    vada, fundada sobre o trabalho pessoal... ser suplantada pela propri-edade privada capitalista, fundada sobre a explorao do trabalho deoutrem, sobre o sistema salarial. (p. 340, C. II)

    Desta forma, em ltima anlise, o que ocorre a trans-formao de uma forma de propriedade privada em umaoutra forma de propriedade privada; (o movimento ociden-tal). Como ento esse tipo de desenvolvimento poderia seaplicar aos camponeses russos, sem que a terra, que est em

    suas mos, jamais tivesse sido sua propriedade privada?2) Do ponto de vista histrico, o nico argumento s-rio apresentado a favor da dissoluo fatal da comuna doscamponeses russos, este:

    Voltando muito atrs, encontramos por toda parte naEuropa ocidental a propriedade comum de um tipo maisou menos arcaico; ela desapareceu em todo lugar com oprogresso social. Por que unicamente na Rssia poderiaela escapar do mesmo destino?

    Eu respondo: porque na Rssia, graas a uma combi-nao nica de circunstncias, a comuna rural, ainda es-

    Sobre a traduo dos Rascunhos de Mar x da carta V. Sassulitch

    A traduo foi feita a partir do texto em francs da edio:Marx-Engels Archiv. Zeitschr des Marx-Engels Institutes. Por D. Rjazanov (ed).Frankfurt/M, 1925. Pg. 309-342. Vera Sassulitch redigiu sua carta a Marx em francs e Marx usou esse idioma no apenas para respon-der a ela como tambm para redigir os rascunhos preparatrios.

    As partes do manuscrito corrigidas (riscadas) por Marx foram incorporadas ao texto, no mesmo estilo da edio preparada por Rjazanov,e aparecem indicadas com os parntesis agudos e esto destacadas em caracteres diferentes. (Exemplo: de formao secundria A parte de origem mais recente se encontra riscada no manuscrito.)

    As partes sublinhadas do texto so do prprio autor, Marx. No caderno de rascunho no aparecem notas de rodap, e as que aparecemnesta edio foram inseridas pelo editor do manuscrito (Rjazanov), ou por mim (E. Malagodi), e tem uma finalidade meramente infor-mativa e elucidativa. Sempre que possvel indica-se as fontes das informaes adicionais, que serviram para a redao das notas. Entrecolchetes [ ]esto os adendos colocados no trabalho de traduo, e eventualmente pela editor russo do manuscrito. Os parntesis comuns

    so de autoria do prprio Marx.A traduo teve por vezes que ser literal para permitir a percepo das diferentes formulaes riscadas por Marx. Formas de tratamentoforam atualizadas e s implificadas.

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    111tabelecida em uma escala nacional, pde gradualmente irse livrando de suas caractersticas primitivas e se desenvol-vendo diretamente como um elemento da produo cole-tiva em escala nacional. E justamente graas ao fato deser contempornea da produo capitalista que ela podese apropriar de todas as aquisies positivas desse sistemade produo sem passar por suas peripcias horrorosas. A Rssia no vive isolada do mundo moder-no, ela no tampouco a presa de um conquistador es-trangeiro como, por exemplo, as ndias Orientais.

    Se os admiradores russos do sistema capitalista negama possibilidade terica de tal evoluo, eu lhes colocarei aseguinte questo: para poder utilizar as mquinas, os na-vios a vapor, as estradas de ferro, etc., viu-se a Rssia even-tualmente forada, como foi o caso do Ocidente, a passarpor um longo perodo de incubao da indstria mecni-ca? Que eles me expliquem ainda: o que eles fizeram paraintroduzir em seu pas num piscar olhos todo o mecanis-mo de trocas (bancos, sociedades de crdito, etc.) cuja cri-ao custou sculos ao Ocidente?

    Se, no momento da emancipao, as comunas ruraistivessem tido desde o incio as condies normais de pros-peridade, e se, em seguida, a imensa dvida pblica, pagaem sua maior parte custa dos camponeses, juntamentecom as quantias enormes que foram transferidas aos no-

    vos pilares da sociedade, transformados em capitalistas,pela intermediao do Estado (mas retiradas sempre doscamponeses) se todas essas somas tivessem servido aodesenvolvimento posterior da comuna rural, ento nin-gum sonharia hoje com a fatalidade histrica da des-truio da comuna: todo mundo reconheceria nela o ele-mento da regenerao da sociedade russa e um elementode superioridade em relao aos demais pases, ainda sub-jugados pelo regime capitalista.

    Uma outra circunstncia favorvel conservao da co-muna russa (pela via de desenvolvimento) no apenas ofato dela ser contempornea produo capitalista , de ter sobrevivido at a pocaem que este sistema ainda se encontrava intacto, mas ago-ra, ao contrrio, ela o encontra tanto na Europa ocidentalcomo nos Estados Unidos, em conflito com a cincia, comas massas populares, e mesmo com as prprias foras pro-dutivas que ele engendrou Ela o encontra, em uma palavra, em uma crise queno acabar seno com sua eliminao, por um retornodas sociedades modernas ao tipo arcaico da proprieda-de comum, forma em que como diz um autor america-no1 absolutamente insuspeito de tendncias revolucio-nrias, subvencionado em seus trabalhos pelo governo deWashington, [para quem o] o novosistema para o qual tende a sociedade moderna, ser umrenascimento (a revival) em uma forma superior (in a su-perior form), de um tipo social arcaico. Portanto, no

    preciso se assustar com o uso da palavra arcaico.Mas, ento, seria preciso ao menos conhecer quais so

    essas vicissitudes. Delas no sabemos nada2. De um modoou de outro, esta comuna pereceu em meio a guerras in-cessantes, externas e internas. Ela morreu provavelmentede morte violenta quando as tribos germnicas vieramconquistar a Itlia, a Espanha, a Glia, etc. A comuna dotipo arcaico j no existia mais. Entretanto sua vitalidadenatural est estabelecida a partir de dois fatos. H exem-

    1 Marx se refere obra de Lewis Morgan, Ancient Society(Sociedade Antiga)... Londres, 1877, p. 552.2 A este ponto pode-se agregar o seguinte desenvolvimento, que se encontra na pg. 13 do caderno dos ra scu-

    nhos: A histria da decadncia das comunidades primitivas (seria um erro coloc-las todas na mesmalinha; como nas formaes geolgicas, no que diz respeito s formaes histricas h toda uma srie detipos primrios, secundrios e tercirios etc.) est ainda por fazer. At agora s se fez esquematizaessingelas. Em todo caso, a prospeco j est suficientemente avanada para poder afirmar: 1) que avitalidade das comunidades primitivas era incomparavelmente maior que a das sociedades semitas, gre-gas, romanas, etc. e, a fortior i, que a vitalidade das sociedades modernas capitalistas; 2) que as causasde sua decadncia derivam de dados econmicos que as impediam de ultrapassar certo grau de desen-volvimento, de ambientes histricos em nada anlogos ao ambiente histrico da comuna russa de hoje. Lendo as histrias das comunidades primitivas, escritas pelos burgueses, preciso se colocar em guarda. Eles no recuam mesmo diante de falsificaes. Sir Hen-ry Maine, por exemplo, que foi um ardoroso colaborador do governo ingls em sua obra de destruioviolenta das comunidades hindus, conta-nos hipocritamente que todos os nobres esforos da parte dogoverno para apoiar estas comunas fracassaram contra a fora espontnea das leis econmicas.

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    112plares esparsos dela, que sobreviveram a todas as perip-cias da Idade Mdia e se conservaram at nossos dias,como, por exemplo, na minha terra natal, no distrito deTrveris3. Mas, o que mais importante que ela tem bemmarcadas suas prprias caractersticas sobre a comuna quea suplantou comuna em que a terra arvel tornou-sepropriedade privada, ao passo que as matas, pastagens,terras ociosas, etc. mantiveram-se ainda como proprieda-de comunal o que permitiu a Maurer, ao decifrar estacomuna de formao secundria ,pode reconstruir o prottipo arcaico. Graas aos traoscaractersticos deste tipo, tomados de emprstimo, a novacomuna, introduzida pelos germnicos em todos os pa-ses conquistados, tornou-se durante toda a Idade Mdiao nico lar de liberdade e de vida popular.

    Se aps a poca de Tcito, no sabemos nada da vidada comuna < rural> , nem sobrea forma ou a poca de seu desaparecimento, ns conhe-cemos pelo menos seu ponto de partida, graas narrati-va de Jlio Csar. Ao seu tempo, a terra j eradividida anualmente, mas era dividida entre as linhagens e tribos das confederaesgermnicas, e no ainda entre os membros individuais deuma comuna. Na Germnia, a comuna rural , portanto, o resultado de um tipo mais arcaico, ela foi o

    produto de um desenvolvimento espontneo que se deua, em vez de ser importada toda pronta da sia. Nestelugar nas ndias Orientais ns a reencontramos tam-bm e sempre como o ltimo termo ou o ltimo perododa formao arcaica.

    Para julgar os destinos possveis de um ponto de vista puramente terico, isto ,supondo sempre condies normais de vida, preciso ago-ra apontar certos traos caractersticos que permitam fa-zer a distino entre a comuna agrcola e seus tipos maisarcaicos.

    Em primeiro lugar, as comunidades primitivas anteri-

    ores repousam todas sobre o parentesco natural de seusmembros; rompendo com este vnculo forte, mas estreito,a comuna agrcola mais capaz de se adaptar, de se ex-

    pandir e de experimentar o contato com estrangeiros.Ademais, nela, a casa e seus complementos, o ptio,constituem j propriedade privada do lavrador, ao passoque muito tempo antes da introduo da prpria agricul-tura a casa comunal foi uma das bases materiais das co-munidades precedentes.

    Por fim, ainda que a terra arvel permanecesse sendopropriedade comunal, ela passou a ser dividida periodi-camente entre membros da comuna agrcola, de sorte quecada lavrador passou a explorar por conta prpria os cam-pos que lhe eram atribudos; assim podia se apropriar in-dividualmente dos frutos, ao passo que na comuna maisarcaica a produo era ainda feita em comum e apenas oproduto era repartido. claro que este tipo primitivo deproduo coletiva ou cooperativa foi uma conseqncia dadebilidade do indivduo isolado e no [um efeito] da so-cializao dos meios de produo.

    Compreende-se facilmente como o dualismo inerente comuna agrcola pode dot-la de uma vida vigorosapois, de um lado, a propriedade comum e todas as rela-es sociais, que decorrem dela, tornam slida a sua base,ao mesmo tempo em que a casa privada, a explorao par-celizada4 da terra cultivvel e a apropriao privada dosfrutos permitem um desenvolvimento da individualidade,incompatveis com as condies das comunidades mais

    primitivas. Mas tambm no menos evidente que o mes-mo dualismo possa, com o tempo, tornar-se uma fonte dedecomposio desta comuna agrcola. Aparte de todas asinfluncias dos contextos hostis, por si s a acumulaogradual da riqueza mobiliria que comea pela posse dosanimais (e admitindo-se mesmo a riqueza em servos), opapel cada vez mais destacado que os elementos mobili-rios desempenham na prpria agricultura e uma srie deoutras circunstncias, inseparveis desta acumulao cujodetalhamento me levaria demasiado longe atuaro comoum elemento dissolvente da igualdade econmica e soci-al, e faro nascer, no interior da prpria comuna, um con-

    flito de interesses que provoca inicialmente a converso daterra arvel em propriedade privada e que finda com aapropriao privada das florestas, pastagens, terras deso-

    3 Marx nasceu e cresceu na cidade de Treveris, hoje Trier, em alemo, situada na Rennia ocidental, pr-xima Frana, possui runas imponentes da poca romana, como a Porta Nigra .

    4 A explorao parceli zada no quer dizer apenas explorao em pequenas parcelas, mas exploraoseqenciada, o famoso cultivo trienal da terra. Usada aqui por Marx para explicar a comuna rural pri-mitiva, pressupe a explorao individual da terra viabilizada por um sistema coletivo de uso da terra.Assim, o campons europeu medieval possua parcelas em diversos campos ou reas, cuja exploraoestava submetida a um regulamento geral. Havia a rotao de culturas e a seqncia no cultivo dasreas, o que era respeitado por todos os camponeses da aldeia. Por isso, o campons individual possuavarias parcelas, distribudas em diversos setores ou campos agrcolas diferentes.

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    Karl Marx

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    113cupadas, etc., que, desde ento, j vinham se tornandoanexos comunais da propriedade privada.5 por isso quea comuna agrcola se apresenta por toda a parte, por-tanto, como o tipo o mais recente da formao arcaica dassociedades, e que, no movimento histrico da Europa oci-dental, antigo e moderno, o perodo da comuna agrcolaaparece como perodo de transio da propriedade comumpara a propriedade privada, como o perodo de transioda formao primria para a formao secundria. Masquer isto dizer que em todas as circunstncias o desenvolvimento da comu-na agrcola dever seguir esta via? De modo nenhum. Suaforma constitutiva admite esta alternativa: ou o elementoda propriedade privada, que ela implica, triunfar sobre oelemento coletivo, ou este triunfar sobre aquele. Tudodepende de seu contexto histrico, no qual ela se encon-tra localizada... Estas duas solues soa prioripossveis,mas para que ocorra uma ou outra se requerem evidente-mente meios histricos completamente diferentes.

    3)

    A Rssia o nico pas europeu onde a comuna agr-

    cola se manteve em escala nacional at hoje. Ela no seencontra na situao de uma presa em mos de um con-quistador estrangeiro, como esto s ndias Orientais. To

    pouco a Rssia um pas isolado do mundo moderno. Porum lado, a propriedade comum da terra lhe permite umatransformao direta e gradualmente da agricultura parce-lizada e individualista em agricultura coletiva eos camponeses russos a praticam desde ento em pradariasindivisveis; a configurao fsica do seu solo representa umconvite explorao mecnica em grande escala; a familia-ridade do campons com o contrato de artel6representa umafacilidade para a transio do trabalho parcelrio para o tra-balho cooperativo e, por fim, a sociedade russa que tem vi-vido desde muito tempo s suas custas, lhe deve os adian-tamentos necessrios por tal transio. Por outro lado, a contemporaneidade daproduo ocidental, que domina o mercadomundial, permite a Rssia incorporar comuna todos asconquistas positivas elaboradas pelo sistema capitalista sempassar pelo jugo caudino7.

    Se os porta-vozes dos novos pilares sociais negam apossibilidade terica de tal evoluo indicada da comunarural moderna, pode-se revidar-lhes indagando se a Rs-sia se viu forada, como o Ocidente, a passar por um lon-

    go perodo de incubao da indstria mecnica para che-gar s mquinas, aos navios a vapor e s estradas de ferroetc.? Sero questionados ainda, como eles fizeram para

    5 Na pgina 12 deste rascunho estas idias reaparecem, de uma forma um pouco modificada. . parte da reao dequalquer outro elemento deletrio, do contexto hostil, o crescimento gradual dos bens mveis nas mosde famlias particulares, por exemplo, sua riqueza em animais e por vezes mesmo em escravos ou ser-vos, esta acumulao privada , por si s, suficiente para atuar a longo termo como elemento dissol-vente da igualdade econmica e social primitiva, e fazer nascer no seio mesmo da comuna um conflitode interesses que ataca primeiramente a propriedade comum das terras arveis e termina por levar con-sigo as florestas, pastos, terras livres etc. aps j t-las antecipadamente convertido em anexo comunal

    da propriedade privada.6 Contrato de Artelera uma prtica associativa de trabalhadores, especificamente russa, que tem a sua ori-

    gem em uma remota antiguidade. Consistia de uma uma equipe que trabalhava em conjunto, normal-mente dirigida por um chefe escolhido pelo prprio grupo, e que dividia entre si o lucro final. Tratava-sede uma associao do perodo pr-industrial, de um sistema cooperativo tradicional, freqentemente uti-lizado pelos artesos e pelas turmas de camponeses-operrios que trabalhavam fora de suas prprias al-deias de origem. Um exemplo poderia ser um grupo de trabalhadores da construo civil, vindos todos domesmo local de origem, para construir uma casa na capital provincial. O termo relao deartel utilizadogeralmente para expressar todos os tipos de cooperao tradicional na produo, propriedade e arrenda-mento, inclusive na comuna rural camponesa (obshchina). Shanin, 1983, p. 125.

    7 Jugo caudino ou jugo samnita, quer dizer, condio humilhante. A expresso vem da humilhao sofri-da pelas legies romanas em 321 A.C., aps carem prisioneiras dos samnistas (povo que habitava apennsula itlica, comandados por Caio Pncio Hernio) que obrigaram a todos os soldados romanosa passarem pelo jugo, uma armao de trs lanas inimigas. (MEW, tomo 19, p. 582).

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    114introduzir em seu pas em um piscar de olhos, todos osmecanismos de troca (bancos, sociedades por aes, etc.)cuja criao custou sculos ao Ocidente?

    H uma caracterstica da comuna agrcola na Rssiaque a torna dbil e lhe hostil em todos os aspectos. oseu isolamento, a falta de ligao entre a vida de uma co-muna com a das outras, esse microcosmo localizado, queno encontramos em qualquer lugar, como caractersticaimanente deste tipo, mas que em qualquer lugar onde eleexiste tem feito surgir por cima das comunas um despotis-mo mais ou menos central. A federao das repblicas rus-sas do norte prova que este isolamento, que parece ter sidoprimitivamente imposto pela prpria vastido de seu terri-trio, foi em grande parte consolidada pelos eventos polti-cos que a Rssia haveria de sofrer aps a invaso mongol.Hoje isto representa um obstculo de fcil eliminao. Bas-taria somente substituir a (Volost), o institutogovernamental, por uma assemblia de camponeses esco-lhidos pelas prprias comunas, servindo de organizaoeconmica e administrativa de seus interesses.

    Uma circunstncia muito favorvel do ponto de vistahistrico para conservao da comuna agrcola pela viade seu desenvolvimento ulterior, o fato dela ser no ape-nas contempornea da produo capitalista ocidental podendo assim se apropriar dos frutos sem

    se submeter a seu modus operandi, j que ela pde sobre-viver poca em que o sistema capitalista se apresentavaainda intacto, e alm disso, agora o encontra, tanto na Eu-ropa ocidental como nos Estados Unidos, em luta com asmassas trabalhadoras, com a cincia e com as prprias for-as produtivas que ela engendrou em uma palavra, emuma crise que acabar por sua eliminao, por um retornodas sociedades modernas a uma forma superior de um tipoarcaico da propriedade e da produo coletiva.

    Entende-se que a evoluo se far gradualmente e queo primeiro passo ser o de coloc-la nas condies nor-mais sobre sua base atual.

    Mas frente a ela se levanta a propriedade fundiria ten-do em suas mos quase a metade, e a melhor parte, do solo,sem mencionar os domnios do Estado. por esse lado quea conservao da comuna rural, pela via de sua evoluoulterior, se confunde com o movimento geral da sociedaderussa, cuja regenerao pressupe justamente esse preo.

    Mesmo do ponto de vista puramen-te econmico, a Rssia pode sair de seu [...?...]8 agrcolaatravs da evoluo de sua comuna rural; ela experimen-taria em vo uma sada atravs doarrendamento capitalista moda inglesa, ao qual se opem(em conjunto) todas as condies rurais do pas.

    Abstrao feita de todas as misrias que atormentam no

    presente a comuna rural russa, e no considerando se-no a sua forma constitutiva e o seu contexto histrico, primeiramente evidente que uma de suas caractersticasfundamentais, a propriedade comum do solo, constitui asua base natural de produo e de apropriao coletiva.Ademais, a familiaridade do campons russo com o con-

    8 No terceiro rascunho encontra-se no lugar correspondente a palavra: impasse.

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    Karl Marx

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    115trato de artel lhe facilitaria a transio do trabalho parce-lrio ao trabalho coletivo, que ele j pratica em certo graunos pradarias indivisas, nas atividades de drenagem e ou-tras tarefas de interesse geral. Mas para que o trabalhocoletivo possa suplantar o trabalho parcelrio forma deapropriao privada na agricultura propriamente dita preciso duas coisas: a necessidade econmica de tal trans-formao e as condies materiais para realiz-la.

    Quanto necessidade econmica ela se far sentir pelacomuna rural j nos primeiros momentos em que elaseja colocada em condies normais, ou seja, no momen-to que o peso que pesa sobre ela tiver sido suprimido e oslotes a serem cultivados passem a ter uma extenso nor-mal. J passou o tempo em que a agricultura russa recla-mava apenas de terra, e seu lavrador parcelrio equipadosde instrumentos mais ou menos primitivos ... Esse tempo passou to mais rapidamente quan-to a opresso do lavrador que infecta e esteriliza a sua la-voura. Falta-lhe agora o trabalho cooperativo, organizadoem grande escala. Ademais, ao campons desprovido dascoisas necessrias para o cultivo das suas trs deseatinas,estaria ele em melhores condies se tivesse dez vezes maisdeseatinas?9

    Mas as ferramentas, os insumos, os mtodos agronmi-cos, etc., todos os meios indispensveis ao trabalho coleti-

    vo, onde podero ser encontrados? Eis a, precisamente, agrande superioridade da comuna rural russa sobre as co-munas arcaicas do mesmo tipo. Apenas ela, na Europa, semanteve em uma escala vasta, nacional. Ela se encontradeste modo, colocada em um contexto histrico, onde acontemporaneidade da produo capitalista lhe coloca to-das as condies do trabalho coletivo. Ela est, inclusive, emcondies de incorporar as conquistas positivas obtidas pelosistema capitalista sem passar pelo jugo caudino. A confi-gurao fsica da terra russa representa um convite explo-rao agrcola com a ajuda de mquinas, organizada emuma vasta escala, manejada pelo trabalho co-

    operativo. Quanto aos primeiros custos de estabelecimento custos intelectuais e materiais a sociedade russa os deve comuna rural, custa da qual tem vivido h longo tem-po, e na qual dever procurar seu elemento regenerador.

    A melhor prova que este desenvolvimento da comunarural corresponde corrente histrica de nossa poca acrise fatal sofrida pela produo capitalista nos pases euro-

    peus e americanos, onde tomou um grande impulso, criseque acabar por provocar a sua eliminao, atravs do re-torno da sociedade moderna a uma forma superior de tipomais arcaico produo e a apropriao coletiva.

    4)

    Para poder se desenvolver, preciso antes de tudo vi-ver, e ningum poderia dissimular o fato de que, nestemomento, a vida da comuna rural esteja sob perigo.

    Para expropriar os lavradores no necessrio expul-s-los de sua terra como se fez na Inglaterra e em outraspartes; no tampouco necessrio abolir a propriedadecomum por um kase.10Basta arrancar dos camponeses o

    produto do seu trabalho agrcola alm de uma determi-nada medida e, apesar da sua polcia e de vosso exrcitovocs no tero xito em prend-los nos campos. Nos l-timos tempos do imprio romano, os decuries provinci-ais, no os camponeses mas os proprietrios fundirios,fugiram de suas casas, abandonaram suas terras, se ven-deram mesmo como escravos, e tudo isso para se desfaze-rem de uma propriedade que no era mais que um pre-texto oficial para os espoliarem sem d nem piedade.

    Desde a assim chamada emancipao dos camponeses,a comuna russa foi colocada pelo Estado em condieseconmicas anormais, e depois deste tempo no parou de

    oprimi-la com as foras sociais concentradas em suasmos. Extenuada pela taxao fiscal, ela se tornou umamatria inerte, de fcil explorao pelo trfico, pela pro-priedade fundiria e pela usura. Essa opresso vindo defora desencadeou, no seio mesmo da comuna, o conflitode interesses j presente, e desenvolveu rapidamente seusgermes de decomposio. Mas isso no tudo.

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    116tas dos camponeses, ele impulsionou como em uma estufa as ex-crescncias mais fceis de se aclimatar do sistema capitalista, abolsa, a especulao, os bancos, as sociedades de aes, as es-tradas de fer ro, empresas para as quais o estado cobre o dficit ecujos lucros so antecipados aos empresrios, etc., etc.> s cus-tas dos camponeses, o Estado fez se desenvolver em uma estufa os setores dosistema capitalista ocidental que, sem desenvolver de for-ma alguma as premissas produtivas da agricultura, so asmais apropriadas para facilitar e precipitar o roubo de seusfrutos pelos intermedirios improdutivos. Ele cooperoudeste modo para o enriquecimento de um novo vermecapitalista, sugando o sangue da j to empobrecida co-muna rural.

    ...em uma palavra, o Estado emprestou suas competncias ao desenvolvi-mento precoce dos meios tcnicos e econmicos os maisprprios a facilitar e a precipitar a explorao do lavrador,ou seja, da maior fora produtiva da Rssia, e a enrique-cer os novos pilares da sociedade.

    5)

    Esse concurso de influncias destrutivas, a menos que

    seja quebrado por uma poderosa reao, deve naturalmen-te desembocar na morte da comuna rural.

    Mas a gente se pergunta: por que todos esses gruposde interesse (eu incluo as grandes indstrias, colocadas soba tutela governamental), que tiram tanto proveito da situ-ao atual da comuna rural, por que sabidamente elesesto conspirando para provocar a morte da galinha dosovos de ouro? Precisamente porque sentem que este seuestado atual no mais sustentvel, e que por conseq-ncia o modelo atual de explorao j no

    estar mais na moda. A misria do lavrador j infectou aterra, e esta se esterilizou. As boas colheitas se compen-sam pelos perodos de fome. Em lugar de exportar, a Rs-sia tem que importar cereais. A mdia dos ltimos dezanos revelou uma produo agrcola no somente estag-nada, mas em reduo. Finalmente, pela primeira vez aRssia deve importar cereais em vez de exportar. Portan-to, no h mais tempo a perder. Portanto, preciso aca-bar com ela. Deve-se constituir em classe mdia rural aminoria mais ou menos favorecida dos camponeses, e con-

    verter a maioria em proletrios comuns e correntes . Para este fim, os porta-vozes dos novospilares sociedade denunciam as feridas que eles mesmoscausaram comuna, como sintomas da decadncia dela.

    Uma vez que interesses diversos e, sobretudo, aque-les dos novos pilares sociais, que se formaram sob o im-prio bondoso de Alexandre II, retiraram sua parte do es-tado atual da comuna rural, por que viriam eles agora,conscientemente, conspirar para provocar a sua morte?Porque seus porta-vozes denunciam feridas infringidasa ela, como as tantas provas irrefutveis de sua caduqui-ce natural? Por que querem eles matar a sua galinha dosovos de ouro? Simplesmente porque os fatos econmi-cos, cuja anlise me levaria demasiado longe, desvendamo mistrio que o estado atual da comuna no maissustentvel, e que pela prpria necessidade das coisas omodelo atual de explorao das massas populares noestar mais nas exigncias do tempo. Ento preciso algonovo, e a novidade, insinuada sob as formas mais diver-sas, retorna todo dia a isto: abolir a propriedade comum,deixar que a minoria mais ou menos favorecida dos cam-poneses se constitua em classe mdia rural, e em conver-ter a grande maioria dos camponeses em proletrios to-talmente expropriados.

    De um lado, a comuna

    rural est reduzida quase beira da decadncia, e do ou-tro, uma conspirao poderosa lhe espera, a fim de lhe daro golpe de misericrdia. Para salvar a comuna russa, pre-ciso uma revoluo russa. De resto, os detentores da forapoltica e social esto dando o melhor de si para prepararas massas para semelhante catstrofe. Ao mesmo tempoem que sangram e torturam a comuna, que esterilizam epauperizam suas terras, os lacaios literrios dos novospilares da sociedade apontam ironicamente para as feri-das que lhe foram infringidas como os tais sintomas de suadecrepitude espontnea e incontestvel, e declaram que elaest morrendo de uma morte natural, e que fariam um

    bem em abreviar sua agonia. Aqui no se trata mais de umproblema a resolver, mais um inimigo a derrotar. No mais um problema terico; Para salvar a comuna russa, preciso uma revoluo russa. De resto, o governo russoe os novos pilares sociais tem feito o melhor que podempara preparar as massas para tal catstrofe. Se a revoluose fizer no tempo oportuno, se ela concentrar todas as suasforas , paraassegurar o livre desenvolvimento da comuna rural, esta

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    Karl Marx

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    117se desenvolver logo em um elemento de regenerao dasociedade russa e como um elemento de superioridade emrelao aos pases subjugados pelo regime capitalista.

    II

    [SEGUNDORASCUNHO]

    I. Eu mostrei no Capital que a me-tamorfose da produo feudal em produo capitalista tevecomo ponto de partida a expropriao do produtor, e maisparticularmente que a base de toda essa evoluo a ex-propriao dos lavradores (p.315 da edio francesa). Eucontinuo: Ela (a expropriao dos lavradores) no secompletou de uma maneira radical seno na Inglaterra...Todos os outros pases da Europa Ocidental seguem omesmo movimento. (l.c.)

    Por isso eu restringi expres-samente esta fatalidade his-trica aos pases da Europa ocidental. Para no dei-xar a menor dvida acerca de meu pensamento, eu digona pg. 341:

    A propriedade privada como anttese da propriedade coletiva, sexiste ali onde as... condies exteriores do trabalho pertencem a par-

    ticulares. Mas na medida em que estes sejam os trabalhadores ou osno trabalhadores, a propriedade privada muda de forma.

    Assim o processo, que eu analisei, substituiuuma forma da propriedade privada e fragmentada dos tra-balhadores pela propriedade capitalista11 de uma nfimaminoria (l.c., p. 342), fez assim substituir uma espcie depropriedade por outra. Como poderia se apli-car Rssia, onde a terra no e nem jamais foi a propri-edade privada do lavrador? Por-tanto, a nica concluso fundamentada que eles poderiamretirar da marcha das coisas no ocidente, a seguinte: paraestabelecer a produo capitalista na Rssia, ela deve come-

    ar por abolir a propriedade comunal e expropriar os cam-poneses, isto , a grande massa do povo. De resto, isto oque desejam os liberais russos, , mas teria eventualmenteeste seu desejo gratuito um poder maior do que o desejode Catarina II de implantar em solo russo oregime ocidental dos ofcios da Idade Mdia?

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    118II) Quanto aos marxistas russos que voc mencionouem sua carta, eles me so totalmente desconhecidos. Os

    russos, com os quais eu tenho tido relaes pessoais, man-tm, pelo que eu saiba, pontos de vista totalmente dife-rentes destes que voc cita.

    III) Do ponto de vista histrico o nico argumento s-rio em favor da dissoluo fa-tal da propriedade comunal na Rssia o seguinte: a pro-priedade comunal existiu por toda Europa ocidental; eladesapareceu com o progresso social; como ento poder elaescapar a mesma sorte na Rssia?12

    Em primeiro lugar, na Europa Ocidental a morte dapropriedade comunal e o nascimento daproduo capitalista so separados uma da outra por umintervalo imenso, envolvendotoda uma srie de revolues e de evolues econmicassucessivas, , cuja produo capitalista apenas a mais recente. De um lado, ela desenvolve mara-vilhosamente as foras produtivas sociais, mas, de outro ladoela revelou sua prpria in-compatibilidade com as mesmas foras que engendra. Suahistria no doravante, mais que uma histria de antago-nismos, de crises, de conflitos, de desastres. Em ltimo lu-

    gar, ela revelou para todo mundo, salvo os cegos por inte-resse, seu carter puramente transitrio. Os povos, nos quaisela tomou um grande desenvolvimento na Europa e na Amrica no aspiram mais que livrar-se de suas correntes, substituindo a produo capitalista pelaproduo cooperativa e a propriedade capitalista por umaforma superior do tipo arcaica da propriedade, isto , a pro-priedade comunista.

    Se a Rssia se encontrasse isolada do mundo, ela deve-ria ento elaborar por sua prpria conta as conquistas eco-nmicas que a Europa ocidental alcanou tendo percorri-do uma longa srie de evolues depois da existncia de suas

    comunidades primitivas at seu estado presente. No ha-veria, pelo menos do meu ponto de vista, nenhuma dvidade que suas comunidades estariam fatalmente condenadasa perecer com o desenvolvimento da sociedade russa. Masa situao da comuna russa absolutamente diferente dascomunidades primitivas do ocidente .A Rssia o nico pas da Europa onde a propriedade co-

    munal se manteve em uma escala vasta, nacional, mas, aomesmo tempo, este pas se insere em um contexto histricomoderno, pois a Rssia contempornea de uma culturasuperior e se encontra ligada a um mercado mundial, ondepredomina a produo capitalista.

    Ao se apropriar dos resultados positivos deste modo deproduo, ela est ento em condio de desenvolver etransformar a forma ainda arcaica de sua comuna rural emvez de destru-la. (Eu destaco en passantque a forma dapropriedade comunista na Rssia a forma mais moder-na do tipo arcaico, que passou ele mesmo por toda umasrie de evolues).

    Se os admiradores do sistema capitalista na Rssia ne-gam a possibilidade de tal combinao, que eles forneama prova de que, para utilizar-se das mquinas, esse pasfoi forado de passar por um perodo de incubao da pro-duo mecnica! Que eles me expliquem como tiveramxito para introduzir em seu pas em alguns dias, por as-sim dizer, o mecanismo de troca (bancos, sociedades decrdito, etc.,) cuja elaborao custou sculos para o Oci-dente?

    .

    IV) A formao arcaica ou primria de nosso mundocontm em si, uma srie de camadas de diversas idades,na qual uma est sobreposta outra; da mesma maneira,a formao arcaica da sociedade nos revela uma srie detipos diferentes , marcando pocas progressivas. A comuna rural rus-sa pertence ao tipo mais recente dessa cadeia. O lavradorpossui agora a propriedade privada da casa que habita edo quintal que forma o complemento. Eis a o primeiroelemento dissolvente da forma arcaica, desconhecida aos

    tipos mais antigos . Por outro lado, estes tipos repousam sobrerelaes de parentesco natural entre os membros da comu-na, ao passo que o tipo ao qual pertence a comuna russaest emancipado desse vnculo estreito. Ela , por issomesmo, capaz de um desenvolvimento mais amplo. O iso-lamento das comunas rurais, a falta de ligao entre a vida

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    12 Este pargrafo retorna mais abaixo na seguinte formulao: Do ponto de vista histrico no h senoum nico argumento srio em favor da dissoluo fatal da propriedade comunista russa. o seguinte:a propriedade comunista existiu em toda a Europa ocidental; ela desapareceu por toda parte, com oprogresso social. Por que unicamente na Rssia ela escaparia da mesma sorte?

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    119de cada uma delas com a das outras, este microcosmo lo-calizado no se encontra em todas as partes como ca-racterstica imanente do tipo primitivo, mas onde quer queexista ele faz surgir, sobre as comunas, um despotismocentral. Parece-me que na Rssia este isolamento primitivamenteimposto pela vasta extenso do territrio um fato de f-cil eliminao, apenas que os entraves governamentaissejam retirados.

    Chego agora ao fundo da questo. No se poder dissi-mular que o tipo arcaico, ao qual pertence a comuna russa esconde um dualismo ntimo que, dadas certascondies histricas, pode causar sua runa . A propriedade da terra comum, mas cadacampons cultiva e explora seu campo por sua conta, tal como opequeno campons ocidental. Propriedade comum, explo-rao parcelizada da terra, esta combinao , tilnas pocas mais remotas, tornam-se perigosos na nossapoca. De um lado, o patrimnio mobilirio, elemento quedesempenha um papel a cada dia mais importante na pr-pria agricultura, diferencia progressivamente a fortuna dos

    membros da comuna e d lugar a um conflito de interes-ses, sobretudo sob a presso fiscal do Estado. De outro lado,a superioridade econmica da propriedade comum comobase do trabalho cooperativo e combinado se perde. Masno se deve esquecer que na explorao das pradarias indi-visas, os camponeses russos j praticam o modo coletivo,que sua familiaridade com o contrato de artel lhes facilita-r muito a transio da cultura parcelizada cultura coleti-va, que a configurao fsica do solo russo convida ao cul-tivo mecnico, combinado em uma larga escala , e que enfim a sociedade russa que por tan-to tempo viveu custa e em detrimento da comuna rural,

    deve a ela os primeiros avanos necessrios para esta mu-dana. Claro est que, no se trata seno de uma mudanagradual que comear por colocar a comuna em estadonormal sobre sua base atual.

    V. Deixando de lado toda questo mais ou menos te-rica, no preciso que eu lhe diga que hoje a prpria exis-tncia da comuna russa est ameaada por uma conspi-rao de grupos de interesse poderosos. Certo tipo decapitalismo, nutrido custa dos camponeses pela interme-

    diao do Estado, se defronta face a face com a comuna;esse capitalismo tem o interesse de esmag-la. Est tam-bm entre os interesses dos proprietrios fundirios a trans-formao dos camponeses mais ou menos abastados emclasse intermediria13rural, e a transformao dos lavra-dores pobres quer dizer, a [grande] massa em simplestrabalhadores assalariados. O que representa trabalho ba-rato. Como ento a comuna poderia resistir, se se encon-tra esmagada pela extorso do Estado, pilhada pelo comr-cio, explorada pelos proprietrios fundirios e minadainternamente pela usura!

    O que ameaa a vida da comuna russa no nemqualquer fatalidade histrica, nem uma teoria: a opres-so promovida pelo Estado e a explorao atravs dos in-trusos capitalistas, que se tornaram poderosos por obrae graa do Estado, custa e em detrimento dos campo-neses.

    III

    [TERCEIRORASCUNHO]

    Estimada CidadPara tratar a fundo as questes propostas em vossa carta

    de 16 de fevereiro, seria preciso entrar nos detalhes das

    coisas e interromper trabalhos urgentes, mas a exposiosucinta que tenho a honra de lhe enviar ser suficiente,creio eu, para dissipar todo o mal-entendido sobre a su-posta minha teoria.

    I) Analisando a gnese da produo capitalista, eu digo:No fundo do sistema capitalista h ento a separaoradical do produtor dos meios de produo.... A base detoda sua evoluo a expropriao dos lavradores. Mas elaainda no se realizou de modo radical seno na Inglater-ra... mas todos os outros pases da Europa ocidental per-correm o mesmo movimento. (O Capital, Ed. Francesa,p.315).

    A fatalidade histrica deste movimento est, portan-to, expressamente restrita aos pases da Europa ociden-tal O porqu dessa restrio est indi-cado na passagem do cap. XXXII: a propriedadeprivada, fundada sobre o trabalho pessoal... ser suplan-tada pela propriedade privada capitalista, baseada naexplorao do trabalho de outrem, no sistema do assala-riamento. (l.c., p.340).

    Neste movimento ocidental trata-se, portanto, da trans-

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    13 Classe mitoyene, classe prxima aos proprietrios fundirios.

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    120formao de uma forma de propriedade privada em umaoutra forma de propriedade privada. Entre os campone-ses russos, pelo contrrio, sua propriedade comum teriaque ser transformada em propriedade privada. Que se afir-me ou que se negue a fatalidade desta transformao, asrazes a favor e as razes em contra no tm nada a vercom minha anlise da gnese do regime capitalista. Omximo que se poderia inferir que, dado o estado atualda grande maioria dos camponeses russos, o ato de suaconverso em pequenos proprietrios no seria mais queprlogo de sua expropriao rpida.

    II) O argumento mais srio que foi apresentado con-tra a comuna russa se reduz ao seguinte:

    Remontando s origens das sociedades ocidentais, en-contramos por toda parte a propriedade comum do solo;com o progresso social ela desaparece por completo, trans-formando-se em propriedade privada; ento ela no po-deria escapar da mesma sorte somente na Rssia.

    Eu no tomarei em conta este raciocnio, seno que ele diga respeito s experinci-as europias. Quanto s ndias Orientais, por exemplo,todo mundo, salvo Sir H. Maine e outras pessoas que sofarinha do mesmo saco, sabem que nesta parte do mun-do a supresso da propriedade comum do solo no pas-sou de um ato do vandalismo ingls, empurrando o povo

    nativo no para frente, mas para trs.As comunidades primitivas no so todas talhadas se-

    gundo o mesmo padro. Seu conjunto forma, ao contr-rio, uma srie de agrupamentos sociais que diferem detipo e idade e que marcam fases de evoluo sucessivas.Um desses tipos, que convencionamos chamar de comu-na agrcola compreende tambm o tipo da comuna rus-sa. Seu equivalente no ocidente a comuna germnica,que data de poca muito recente. Ela no existia aindano tempo de Jlio Csar e no existia mais quando astribos germnicas vieram conquistar a Itlia, a Glia, aEspanha, etc. Na poca de Jlio Csar j havia uma re-

    partio anual da terra cultivvel entre grupos, entre asgentes e as tribos, mas no ainda entre as famlias indi-viduais de uma comuna; provavelmente o cultivo se fa-zia tambm pelos grupos em comum. Sobre o solo ger-mnico, mesmo esta comunidade do tipo mais arcaica setransformou atravs de um desenvolvimento natural emcomuna agrcola, tal como a descreve Tcito. Depois dotempo de Tcito ns a perdemos de vista. Ela pereceude forma obscura em meio a guerras e migraes inces-santes; ela morreu talvez de morte violenta. Mas a suavitalidade natural est provada por dois fatos incontes-

    tveis. Alguns exemplares esparsos desse modelo sobre-viveram a todas as peripcias da Idade Mdia e se con-servaram at nossos dias, por exemplo, na minha terranatal, no distrito de Trveris. Mas, o que h de maisimportante, que ns encontramos pistas desta comu-na agrcola to bem marcadas sobre a nova comuna, quese desenvolveu a partir daquela, que Maurer tentandodecifrar esta nova, pode reconstruir a primeira. A novacomuna, onde a terra cultivvel pertence aos lavradorescomo propriedade privada, ao mesmo tempo em que osbosques, pastagens, terras desocupadas, etc., permanecemainda como propriedade comum, foi introduzida pelosgermanos em todos os pases conquistados. Graas scaractersticas tomadas de emprstimo de seu prottipo,ela foi durante toda a Idade mdia o nico lar de liber-dade e de vida popular.

    Encontramos a comuna rural tambm na sia entreos afegos, etc., mas ela se manifesta em toda parte comoo tipo mais recente e, por assim dizer, como a ltima pa-lavra da formao arcaica das sociedades. para dar des-taque a este fato, que apresento aqui alguns detalhes acer-ca da comuna germnica.

    Precisamos considerar agora os traos mais caracters-ticos que distinguem a comuna agrcola das comunida-des mais arcaicas.

    1) Todas as outras comunidades esto baseadas sobreos laos de consanginidade entre seus membros. No sepode participar delas, a menos que seja parente natural ouadotado. Sua estrutura de uma rvore genealgica. Acomuna agrcola foi o primeiro agrupamento social dehomens livres, no ligados pelo vnculo do sangue.

    2) Na comuna agrcola, a casa e seu complemento, optio, pertencem exclusivamente ao lavrador. A casa co-mum e a habitao coletiva eram, ao contrrio, uma baseeconmica das comunidades mais primitivas, isso j mui-to tempo antes da introduo da vida pastoral ou agrco-la. verdade que encontramos comunas agrcolas onde

    as casas, mesmo que tenham deixado de ser lugares dehabitao coletiva, mudavam periodicamente de possuidor.O usufruto individual era assim combinado com a pro-priedade comum. Mas tais comunas, todavia, traziam ain-da as marcas de nascena: elas se encontravam em estadode transio de uma comunidade mais arcaica a uma co-muna agrcola propriamente dita.

    3) A terra cultivvel, propriedade inalienvel e comum, dividida periodicamente entre os membros da comunaagrcola, de sorte que cada um explora por sua prpriaconta os campos atribudos a ele, que se apropria para si

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    121dos frutos. Nas comunidades mais primitivas o trabalhose faz em comum e o produto comum, salvo a cota partereservada reproduo, repartido medida das necessi-dades de consumo.

    Compreende-se que o dualismo inerente constituioda comuna agrcola pudesse dot-la de uma vida vigoro-sa. Emancipada dos vnculos fortes, porm estreitos, doparentesco natural, a propriedade comum do solo e as re-laes sociais que dela emanam, lhe garantem uma posi-o slida, ao mesmo tempo em que a casa e o ptio, do-mnio exclusivo da famlia individual, assim como acultura parcelizada e a apropriao privada dos frutos doimpulso ao desenvolvimento da individualidade, incom-patvel com o organismo das comunidadesmais primitivas.

    Mas no menos evidente que, com o tempo, estemesmo dualismo pode se tornar um germe de decom-posio. parte de todas as influncias malignas vin-das de fora, a comuna traz em si mesma seus prprioselementos deletrios. A propriedade fundiria privadaj foi infiltrada na forma de uma casa com seu ptiorural que pode se transformar em uma praa forte, deonde se preparar o ataque contra a terra comum. Issoj se tem visto. Mas o essencial o trabalho parcelriocomo fonte de apropriao privada. Ele d lugar acu-

    mulao de bens mveis, por exemplo, de animais, dedinheiro, e por vezes mesmo de escravos ou servos. Estapropriedade mvel, incontrolvel pela comuna, sujeitaa trocas individuais, onde a artimanha e a casualidadepodem agir livremente, pesar cada vez mais sobre todaeconomia rural. Eis a o elemento dissolvente da igual-dade econmica e social primitivas. Ele introduz, noseio da comuna, uma heterogeneidade de interesses epaixes gerando os conflitos prprios para atacar pri-meiro a propriedade comum das terras cultivveis, emseguida a propriedade comum dos bosques, as pasta-gens, as terras desocupadas, etc., as quais, uma vez con-

    vertidas em anexos comunais da propriedade privada,acabaro com o tempo por cair nas mos desta ltima.Como ltima fase da formao

    primitiva da sociedade, a comuna agrcola , ao mesmo tempo, fase detransio formao secundria, portanto, representa atransio da sociedade baseada na propriedade comumpara a sociedade baseada na propriedade privada. Estclaro que, a formao secundria, compreende toda a s-rie das sociedades baseadas na escravido e na servido.

    Mas quer isso dizer que a trajetria histrica da comu-

    na agrcola deve fatalmente conduzir a este resultado? Dejeito nenhum. Seu dualismo inato admite uma alternati-va: ou seu elemento de propriedade [privada] prevalecersobre seu elemento coletivo, ou este prevalecer sobre oprimeiro. Tudo vai depender do contexto histrico ondeesteja estabelecida.

    Faamos por hora abstrao das misrias que pressio-nam a comuna russa, para olhar apenas para as suas pos-sibilidades de evoluo. Ela ocupa uma situao nica,sem precedentes na histria. Apenas ela, na Europa, cons-titui ainda a forma orgnica predominante na vida ruralde um imenso imprio. A propriedade comum do solo lheoferece a base natural da apropriao coletiva, e seu con-texto histrico, o fato de ser contempornea da produocapitalista lhe presenteia de forma pronta e acabada todasas condies materiais do trabalho cooperativo, organiza-do em grande escala. Ela pode ento incorporar a si todasas conquistas positivas produzidas pelo sistema capitalis-ta sem ter que passar pelo jugo caudino. Ela pode gradu-almente suplantar a agricultura parcelizada pela agricul-tura combinada com a ajuda das mquinas, qual aconfigurao fsica do solo russo parece ser adequada.Aps ter sido previamente colocada no estado normal emsua forma presente, ela pode se tornar o ponto de partidadireto para o sistema econmico ao qual tende a socieda-

    de moderna e dar nova roupagem sem que seja necess-rio comear pelo seu suicdio.

    Os prprios ingleses fizeram tais tentativas nas ndiasOrientais; e o que conseguiram foi deteriorar a agricultu-ra nativa e redobrar o nmero e a intensidade dos pero-dos de fome.

    Mas ento, que efeito teria a maldio que acompanhaa comuna seu isolamento, a falta de ligao entre a vidade uma com a vida das demais, este microcosmo localiza-do que at hoje lhe impossibilitou de toda iniciativa his-

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    122trica? Isso desaparecia em meio a uma comoo geral dasociedade russa.14

    A familiaridade do campons russo com o contrato deartel lhe facilitaria especialmente a transio do trabalhoparcelrio ao trabalho cooperativo que ele j pratica em certograu na colheita do feno e nos empreendimentoscomunais como nos trabalhos de drenagem etc. Uma pe-culiaridade bem arcaica, verdadeiro pesadelo para os agr-nomos modernos, influencia tambm nesse sentido. Che-gando a um pas qualquer onde a terra agricultveldenuncia os traos de uma diviso estranha, que lhe impri-me a forma de um tabuleiro de xadrez composto por pe-quenos lotes; no existe dvida, tm-se diante de si as ter-ras de uma comuna agrcola, morta! Seus membros, todavia,sem ter passado pelo estudo da teoria da renda fundiria15,se advertiram que uma mesma quantidade de trabalho, dis-pensada em lotes com fertilidade natural e localizao di-ferentes, produzem resultados diferentes. Para igualarem asoportunidades de trabalho, eles dividem a terra em certonmero de reas segundo as diferenas naturais e econ-micas do solo e depois, pem-se a dividir novamente essasreas maiores no tanto de parcelas conforme a quantidadede trabalhadores. Assim, cada qual recebe uma parcela em

    cada uma das reas maiores, definidas por sua produtivi-dade. Este arranjo, perpetuado pela comuna russa at nos-

    sos dias, dispensa dizer, refratrio s exigncias agron-micas parte de outros inconvenientes, ele necessita umadissipao de esforo e de tempo. De todo modo, isso favorece a tran-sio ao cultivo coletivo, ao qual ele se parece to refratrio primeira vista. A parcela [...]

    IV

    [QUARTORASCUNHO]

    8 de maro de 1881.Estimada CidadUma doena dos nervos que me ataca periodicamente

    h dez anos me impediu de responder sua carta, datadade 16 de fevereiro

    Eu lamento de no poder lhe dar uma exposio su-cinta, destinada publicao, da ques-to que voc me fez a honra de propor.H dois meses que prometi um trabalho sobre o mesmotema ao Comit de So Petersburgo. Entretanto, eu espe-ro que algumas linhas sero suficientes para retirar-lhe

    toda dvida sobre o malentendido a respeito de minha suposta teoria.

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    14 O pargrafo que segue e que serve de concluso para o terceiro rascunho, encontra-se em um papelde carta, com a anotao Fim. O pargrafo seguinte, que no manuscrito original est cheio decorrees e modificaes, est antecedido por uma passagem, riscado obliquamente de fora a fora,que corresponde a uma tentativa de resumir o desenvolvimento todo realizado at aqui. Repro-duzimos fielmente esta passagem com os trechos riscados, desde que legveis, para evidenciar oestilo de trabalho do velho Marx:

    ...

    15 Poderamos imaginar que algum, olhando Marx escrevendo, por trs de seus ombros, lhe completassea frase: ... E sem ter lido o Capitalat o final, ou seja, at a parte VI, do terceiro tomo (Sobre a trans-formao da mais-val ia em renda fundir ia, que nas tradues brasileiras, esto na penltima parte doV. Volume, na edio da Abril Cultural, e do VI. Volume, na edio da Civilizao Brasileira). Ao queMarx, em 1881, poderia replicar: Mas eu s publiquei o primeiro tomo do Capital, e no disse a nin-gum que minha teoria da renda fundiria j estivesse pronta. Alis, cheguei a comentar que quando aescrevesse usaria a Rssia como exemplo, assim como usei a Inglaterra para o primeiro tomo. Os ma-nuscritos que escrevi sobre isso esto superados, pois correspondem a uma conjuntura especfica daminha formao intelectual e so de uma poca muito anterior aos meus estudos sobre o campesinatorusso! Ver Malagodi, 1998, p. 282.

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    1231) A analise exposta no Capital no oferece, portan-to, nenhuma razo que se pudesse fazer valer

    nem a favor, nem contra a vitalidade da comuna russa.

    Os estudos especiais que fiz sobre ela, e cujos materi-ais busquei em fontes originais, me convenceram que esta comuna o ponto de apoio natural da regenerao social da Rs-sia, Mas paraque ela possa funcionar como tal, seria preciso eliminarprimeiramente as influncias deletrias que a assaltam portodos os lados, e em seguida assegurar-lhe as condiespara um desenvolvimento espontneo.

    (Traduo de Edgard Malagodi e Rogrio Silva Bezerra)

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