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Raul Cruz cena

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Page 1: Raul Cruz cena

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Raul Cruzcena

Page 2: Raul Cruz cena

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MANIFESTO

(Hablo por mi diferencia)

No soy Pasolini pidiendo explicaciones

No soy Ginsberg expulsado de Cuba

No soy un marica disfrazado de poeta

No necesito disfraz

Aquí está mi cara

Hablo por mi diferencia

Defiendo lo que soy

(...)

Pedro Lemebel – trecho inicial do texto lido como intervenção num ato político, em setembro de 1986 na cidade de Santiago do Chile

Page 3: Raul Cruz cena

3

(...)

Pescadores de pérolas

Em mares azuis-ciano

Águas profundas

Lavando a ilha dos mortos

Em baías de corais

Ânforas

Espalham Ouro

Sobre o fundo do mar imóvel

Deitamos ali

Abanados pelas velas

Dos navios esquecidos

Arremessados pelos ventos pesarosos

Do fundo

Garotos perdidos

Dormem para sempre

Em um abraço profundo

Lábios salgados se tocando

Em jardins submarinos

Dedos de mármore frio

Tocam um sorriso antigo

Sons de conchas

Sussurro

À deriva do amor profundo na maré permanente

O cheiro dele

Lindo de morrer

Em plena beleza de verão

Seu blue jeans

Ao redor de seus tornozelos

Augúrios para meus olhos espectrais

Beije-me

Nos lábios

Nos olhos

Nossos nomes serão esquecidos

Com o tempo

Ninguém se lembrará do nosso trabalho

Nossa vida passará como os traços de uma nuvem

E se dissipará como

O nevoeiro atravessado pelos

Raios do sol

Pois nosso tempo é a passagem de uma sombra

E a nossa vida correrá como

Faíscas através do capim seco.

Eu coloco um delphinium, Azul, sobre seu túmulo.

Texto narrado no trecho final do filme “Blue”, dirigido por Derek Jarman, em 1993

Page 4: Raul Cruz cena

4

5 A P R E S E N T A Ç Ã O

6 C E N A R A U L C R U Z P a u l o R e i s

8 V I A J A N T E D E N T R O D A N O I T E I v o M e s q u i t a

14 R A U L C R U Z : A A U S Ê N C I A R E V E L A D A G e r a l d o L e ã o

16 O Q U A D R O E l i a n e P r o l i k

19 A S S A Z R A U L E l i a n e P r o l i k G e r a l d o L e ã o P a u l o R e i s

24 L I T O N O V E L A " A R O S A " R a u l C r u z

27 N Ã O C H O V E U H é l i o L e i t e s

28 T R Ê S T E X T O S D E R A U L C R U Z

30 E X P O S I Ç Ã O C E N A R A U L C R U Z

41 C R É D I T O S P U B L I C A Ç Ã O

42 C R É D I T O S E X P O S I Ç Ã O

S U M Á R I O

Page 5: Raul Cruz cena

55

O Serviço Social da Indústria do Paraná - Sesi/PR compreende que a arte e a cultura são essenciais para a transformação social, de

forma que contribuem para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador da indústria, seus familiares e comunidade em geral. Com

base nessa premissa, a Gerência de Cultura do Sesi/PR desenvolve projetos e ações que buscam difundir as artes em todas as suas formas,

oferecendo uma programação cultural diversificada e acessível a todos.

Dentre suas ações culturais, em 2014, foi apresentada a exposição Cena Raul Cruz no Centro Cultural Sistema Fiep, que abordou com

sensibilidade a produção artística de Raul Cruz, artista curitibano com grande atuação nos anos 80, que atuou em várias linhas artísticas

como as artes plásticas, o teatro e a escrita. Essa exposição, que foi pesquisada, desenhada e construída pela equipe de curadores, contou

com o apoio de outras instituições culturais da cidade de Curitiba, como a Fundação Cultural de Curitiba, o Museu de Arte Contemporânea

do Paraná, o Museu da Gravura da cidade de Curitiba, a Galeria Casa da Imagem e o Instituto de Línguas Inter Americano, além de instituições

particulares, que, gentilmente, cederam seus acervos para compor essa mostra.

Durante três meses, as pinturas do Raul Cruz, trechos de suas peças teatrais, textos críticos sobre seu trabalho, músicas e performances

preencheram o Centro Cultural com arte, cores, sons e vídeos. Sua arte foi sentida e estimulada de diversas formas, inclusive a partir de

conversas com seus pares, que viveram de perto Raul Cruz e sua obra. Como resultado desta rica experiência, a exposição Cena Raul Cruz se

materializa novamente através deste catálogo. O Sesi Cultura, enquanto realizador de projetos como este, reafirma seu compromisso com

a valorização e divulgação do trabalho dos artistas e da arte paranaense e brasileira e deseja a todos uma ótima leitura.

A P R E S E N T A Ç Ã O

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C e n a R a u l C r u z

A exposição Cena Raul Cruz, mostrada no Centro Cultural Sistema FIEP, no período de 24/08/14 a 19/10/14, propôs uma abordagem extensiva da produção do artista ao reunir seus registros documentais de peças teatrais e performances, trabalhos em pintura, desenho, gravura e também textos. Raul Cruz nasceu em Curitiba, em 15 de fevereiro de 1957, e faleceu em 27 de abril de 1993, em decorrência da aids. Teve atuação intensa na cidade de Curitiba em mais de dez exposições individuais, participou do evento “Moto contínuo”, na concepção das performances ‘Tatuatua ou Bandeira 69’ e ‘Ikebana – a estética do aborto’, das peças de teatro experimental ‘Cartas a Pierre Rivière’, ‘Grato Maria Bueno’, ‘A Ponte’, ‘A outra’, ‘Foz’, entre outras. O objetivo mais amplo desta exposição foi de apresentar a pluralidade de suas investigações poéticas, construir aproximações entre suas experiências em distintas linguagens, e buscar renovados olhares sobre suas pesquisas. O espaço expositivo de Cena Raul Cruz apresentou-se entremeado por uma série de textos críticos abordando momentos específicos de sua obra que evidenciavam e, espera-se, continuem suscitando novos debates e um permanente recolocar de sua obra no espaço da reflexão das artes visuais. A crítica de arte Adalice Araújo, no ano de 1985, fez uma instigante análise do jovem artista e seu lugar nas artes visuais no contexto dos anos 1980:

As telas que irá expor na Galeria Banestado, carregadas de lirismo e mistério, abrem-

nos as páginas de seu diário íntimo, contando-nos as aventuras que acabou de viver

ou sonhar. Com certo humor sardônico esse herdeiro tropicalista de Munch propõe-

nos, nas suas novelas pintadas, verdadeiros melodramas embebidos de tango e rock,

onde explora deliberadamente o kitsch. As cores fortemente contrastantes: verdes,

magentas e amarelos elétricos expressam um ‘zeitgeist’ deliberante que desnuda os

conflitos íntimos da dualidade do ser, da formação religiosa obsessiva da infância; do

onirismo e autoafirmação 1.

Desde o início de suas pesquisas como gravador, em 1982, Raul tem se dedicado a diferentes técnicas na busca daquela que melhor viesse a traduzir as necessidades de sua linguagem plástica. Artista polivalente, a característica figurativa de sua produção nos revela o ser humano como tema central de sua obra. A mulher e o homem no mundo do artista. Um mundo que ele nos oferece, a princípio no desenho, na gravura e na pintura, e cujas exigências estéticas acabarão por levá-lo às artes cênicas, agregando palavra e movimento ao seu universo expressionista cada vez mais exigente.

Renato Negrão,1992.

Paulo Reis

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Foto: acervo da família

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Textos do crítico Ivo Mesquita, Geraldo Leão, Eliane Prolik, Paulo Reis, Hélio Leites, Mariza Bertoli, David Mafra, Denise Bandeira, Graci Mello, André Malinski, Izabella Zanchi e de seu companheiro Renato Negrão, entre outros, compõem um importante panorama crítico de diversificadas leituras sobre a obra de Raul. Na exposição, havia também outros textos que indiretamente colocavam-se como comentários pertinentes à produção do artista, a partir de outros contextos e épocas. Entre eles, trechos do ‘Manifiesto (hablo por mi diferencia)’, de Pedro Lemebel e de ‘Into the Blue’ de Derek Jarman. O primeiro texto buscava um diálogo com o artista chileno Lemebel, apontando o engendramento de uma noção política de sujeito e corporalidade. A tal discussão sobre o corpo na arte dos anos 1980 foi amplamente apontada na exposição e catálogo ‘Perder la forma humana – una imagem sísmica de los años ochenta en América latina’ 1 . Já o texto do cineasta experimental Jarman, narrado no filme ‘Blue’, apontava uma reflexão sobre a produção artística realizada em meio à crise da aids de final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Ao ecoar a afirmação do artista David Wojnarowicz – sou prisioneiro de uma linguagem que não tem uma letra ou signo ou gesto que se aproxime do que estou sentindo 2 – buscou-se discutir pesquisas artísticas da época e seu enfrentamento de certo limiar da linguagem visual. E por último, ensaiaram-se aproximações e diálogos artísticos entre algumas obras dos artistas Leonilson, Hudinilson Jr. e Schwanke e as questões postas na obra de Raul relativas a um sujeito expressivo e crítico. O projeto da exposição assumiu, assim, a vontade de propor aproximações e diálogos entre a poética de Raul e outras produções artísticas, e a de destacar seu lugar relevante entre questões artísticas fundamentais na arte contemporânea. O legado do artista Raul Cruz coloca-se nesta exposição, entre tantas e possíveis abordagens, na trama de algumas questões poéticas mais específicas. Primeiramente apontou-se um elemento narrativo muito presente em suas pesquisas artísticas como, entre outros, na ficção noir da Litonovela ‘A Rosa’ (1984), apresentada em dez litografias e construída ficcionalmente no triângulo amoroso entre dois homens e uma mulher. Ficou também muito evidente o impacto no artista da leitura do livro/dossiê ‘Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão’, de Michel Foucault. Sintomaticamente em três momentos pode-se verificar tal impacto – sua direção e criação teatral da peça ‘Cartas a Pierre Rivière’ (1987), a pintura ‘Retrato de Pierre Rivière’ (1987) e em um ensaio fotográfico do artista como o personagem Pierre Rivière, fotografado por Silvio Aurichio. Para Raul o caso criminal analisado por Foucault parecia incorporar uma crítica às convenções, aos dispositivos reguladores da justiça e da medicina, a certa norma social conservadora. Deixou isto claro no texto de apresentação da peça, escrito na forma de uma carta endereçada a Pierre Rivière – porque como você, ao percebermos que o mundo gira no sentido contrário, indiferente à nossa dor, tomamos atitudes extremas, recriamos abismos 3. Essa intensidade do artista perpassou muitas de suas pinturas, sua série de

desenhos em nanquim sobre assassinatos (1986), no álbum Raul Cruz/Linóleogravuras (1992), no embate entre a espacialidade do papel e a linha negra contundente de seus últimos desenhos em bico de pena e, entre outros trabalhos, na peça ‘A Ponte’ 4 (1989) em que três homens encenavam no pequeno espaço do palco um jogo complexo de relações homoafetivas. Exposições de arte devem sempre repensar as narrativas da história cultural da arte do período tratado para além daquelas já tornadas hegemônicas. Realizar o levantamento para a exposição implicou posicionar-se frente à produção das artes visuais nas décadas de 1980 e início de 1990 no Brasil e seu contexto histórico marcado pelo fim do AI-5, redemocratização, hiperinflação, crise da aids, movimento das Diretas Já, queda do muro de Berlim, politização da discussão ecológica, desastre de Chernobyl, crescimento de organizações civis de defesa de direitos das mulheres, índios, homossexuais, afro-brasileiros, entre tantas outras discussões. E nas artes visuais observou-se um momento caracterizado, por um lado, pelos conceitos de pós-modernidade, pela transformação e problematização do circuito de artes visuais na chamada ‘volta da pintura’, no fortalecimento da figura do curador e sucesso comercial de certa produção dita jovem. Por outro lado, e ainda muito pouco exploradas na historiografia atual, cumpre trazer as evidências de uma densa cena artística caracterizada por projetos artísticos coletivos voltados para a retomada do espaço público pós-ditadura, releituras do legado artístico e conceitual dos anos 1960 e 1970, exploração das possibilidades do vídeo e propostas poéticas ligadas à performance. Esse catálogo reúne a documentação fotográfica da exposição, focando algumas obras escolhidas e registros de performances e peças teatrais, e também o registro de algumas ações performáticas que ocorreram durante a mostra, textos críticos sobre a obra de Raul Cruz e alguns textos do artista produzidos no contexto de sua produção teatral. Uma exposição é sempre um empreendimento coletivo formado por muitas vozes e é na pluralidade discursiva de textos e imagens deste catálogo que situamos também seu importante legado artístico.

1 Essa exposição aconteceu no Museo Reina Sofia, Madri, de 25/10/2012 a 11/03/2013.

2 David Wojnarowicz, Post-cards from America: X-Rays from Hell em Catálogo ‘Witnesses – against our vanishing’, Artists Space, Nova York, 1989.

3 Programa da peça teatral ‘Cartas a Pierre Rivière’, 1987.

4 A peça ‘A Ponte’ teve direção de Raul Cruz, coreografia de Rocio Infante, cenário de Eliane Prolik e, como atores, Beto Perna, Paulo Daher e Renato Negrão.

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Ivo Mesquita março, 1994.

O VIAJANTE DENTRO DA NOITE

One must take something visible in order to show the invisibie.

walter dahn, pintor, 1986

É possível um artista compor de forma convincente um território para a pintura

contemporânea incorporando figuração, paisagem e espacialidade? Podem esses

elementos ser usados para evocarem dramas psicológicos? As pinturas e desenhos de

Raul Cruz não levantam apenas estas questões, mas as respondem de maneira diferente

de outros artistas de sua geração, num período determinado, quando muitos deles

se defrontavam com os mesmos problemas. Contrastando com esses artistas, Cruz

concentra-se nas possibilidades da figuração. Personagens quase geometrizadas, formas

e torsos abstratos, alongados em quase triângulos ou losangos em uma paisagem ou

interior, onde a complexidade, muitas vezes como um espírito contraditório, é tanto

determinada pela variedade de cores, gestos e atmosfera, como pela relação entre os

elementos construtores do plano, representados com os elementos lineares e gráficos.

A inquietude de Cruz, o deslocamento das figuras pela aceleração do espaço

com ruptura da espacialidade e do plano, o caráter instável de suas imagens indicam

o refinamento de sua pintura e a remitologização de uma visão eloquente da vida e

da morte. Ele criou um léxico de imagens que evocam mundos visíveis e humanos. A

representação expressiva e figurativa é tomada como cânone estético e antropológico

de interpretação do mundo e de inscrição numa tradição enraizada na arte: ele é um

poeta recontando histórias de pesadelos, que nós já ouvimos inúmeras vezes, mas que

Almas, 1989acrílica sobre tela, 60 x 70 cm

acervo Nelson Galvão

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parecem diferentes em suas novas versões porque tocam novos nervos com vontade

primal e desejo.

Produzida no quadro de uma arte das cidades - manifestação da cultura urbana

como a de um grande grupo de artistas aparecidos no ocidente dos anos 80 - suas

cenas reportam à singularidade das névoas das madrugadas curitibanas, povoadas

de vampiros e fantasmas. Os quadros seduzem pelo encanto sensual da superfície

pictórica, que retém insinuações de vivências fugazes ou percebidas à flor da pele na

atmosfera adensada e, por vezes, tensa dos centros urbanos com todas as suas feridas.

Cenas noturnas, torturas sentimentais, corpos desejantes, sexo insatisfeito, esperma e

sangue. Cada uma dessas cenas, anônimas, mas ainda assim estranhamente específicas,

apresenta indivíduos, qualquer indivíduo, carregados de compaixão mas numa apoteose

de anonimato. São testemunhas de quê? O que acontece entre eles? Estas são algumas

das perguntas que o espectador se faz sem chegar a nenhuma conclusão. Não importa

o seu significado. Importa a provocação que elas causam ao afirmarem, de um lado,

a pintura como experiência capaz de expressar o imediato e o sensível, de dar forma,

melhor que nenhum outro meio de expressão, a visões, mitos, sonhos e sofrimentos, e,

de outro, ao afirmarem a sexualidade como força subjetiva de autoestima (enquanto

a energia do gesto confere uma vitalidade natural às figuras, elas sugerem sua própria

emancipação e autonomia, o que inclui sua orientação sexual).

Cruz revela uma tocante coragem nessa crença, sobretudo por trazer à luz o que se

considera da esfera do privado, transformando a alegoria psicomoral, tradicional centro

da vida, em um espetáculo narrativo. Toda sua obra tem uma história interior, o viajante

noturno que se põe a caminho, deixando para trás todas as limitações para encarcerar-

se na incerteza dos jogos do desejo. Trazem de volta para a terra perdida do patriarcado

detalhe da obra O princípio da ciência, 1990

Page 10: Raul Cruz cena

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qualidades associadas com o feminino na tradição romântica - imaginação, intuição,

expressividade, alma - que confere à sua arte uma urgência emocional. É um retrato

de família disfarçado. Elementos arquetípicos, alusões religiosas, clichês sobre a vida e

a inteligência invadem a paisagem e os interiores sublinhados pelos rosas, vermelhos,

azuis, cinzas e negros e adquirem um significado que se sobrepõe à sua própria realidade.

A melancolia invernal que invade a cena evoca toda espécie de nostalgia numa ilusão

de beleza. Emergem para oferecer uma visão profundamente conflitiva de uma Curitiba

que fala melancolicamente, embora, às vezes, com uma voz destrutiva. Suas referências

pessoais, sua quase melodramática sinceridade em sua visão apocalíptica têm pouco em

comum com um certo lirismo embaçado dos artistas institucionalizados do Paraná.

Para fazer as coisas ainda mais difíceis, os trabalhos de Cruz criam paradoxos:

medo e desespero acoplam-se ao riso cataclísmico e ao grotesco, confrontando o

onanismo dos neo-estilos com a tentativa de introduzir algo de imediato na relação entre

arte e experiência. Estes trabalhos abandonam a cultura visual marcada pela herança

formal modernista e apontam para todas as questões que parte da arte contemporânea

reprime para evitar olhar para a realidade. Expressa pela linguagem pictórica do presente,

sua obra é, ao mesmo tempo, indutora da angústia que a engendra e de liberação. O

resultado é um eloquente e construído testemunho de uma obra em diferentes meios,

que celebra algo além do imediato histórico, pois ela batalha para escapar da obviedade

da vida urbana.

A cama do artista, 1985acrílica sobre tela, 90 x 130 cm

acervo da família

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A partner, 1989acrílica sobre tela, 70 x 90 cm

acervo da família

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Retrato de Leonor Botteri, 1990acrílica sobre tela, 48,7 x 58,4 cmacervo Fundação Cultural de Curitiba

Page 13: Raul Cruz cena

O princípio da ciência, 1990acrílica sobre tela, 80 x 80 cm

acervo Fundação Cultural de Curitiba

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RAUL CRUZ: A AUSÊNCIA REVELADA

Penso que sempre vi o trabalho do Raul como um paradoxo, por mostrar, ou melhor,

descrever um drama que não era acompanhado por uma fatura dramática, onde os meios

usados não guardavam as marcas de uma mão (um corpo) envolta em drama, que deixasse

na matéria do quadro pistas do seu dilaceramento. O drama era descrito – mas por uma mão

sábia – com distanciamento.

Olho para as novas pinturas do Raul, enxutas, pequenas, com grossas molduras, e

chama a atenção o fato que todos os quadros, ou quase, são construídos ao contrário da

pintura tradicional que se faz por acréscimo de matéria sobre a tela. O Raul constrói suas

figuras construindo na realidade o que está à sua volta, para que, por contraste, a “figura”

se apresente pela sua própria falta.

Vejo então que o trabalho do Raul mostra o que não aponta, operação deceptiva

que desmonta meu olhar, obrigando-me a repensar o meu ponto de vista, meu lugar no

mundo. Contornadas por planos de cor ou definidas pela tinta retirada por um estilete, as

suas essências nos olham, separadas do mundo por grossas molduras que contêm o que não

é do mundo. Contêm o que se não estivesse contido transbordaria para uma existência fora

da arte.

Molduras que separam o que é arte do que é mundo, não como emoldurar uma

pintura para enfeitá-la ou para realçar o que seria uma visão ideal do próprio mundo, mas que

(como parênteses) abrem na concretude do real uma brecha, ponto onde o real se mantém

em suspenso, vazio, eterna possibilidade.

Geraldo LeãoCuritiba, 1988/92

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Page 15: Raul Cruz cena

Sem título,acrílica sobre tela, 60 x 50 cm

acervo da família

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O QUADRO

Ellane Prolik

O quadro é uma pintura emoldurada. Superfície de um espaço interno e subjetivo.

O ato de pintar como concreção precária é consciência, instinto, desejo, sentimento e

razão. A tela pintada como um caso passional do artista e do espectador é uma cena

imposta e desaparecida. A vida e a pintura são um drama do espírito. O tempo é suspenso

no quadro. A veiculação do olhar se dá simultaneamente na forma e na cor. A superfície

que impõe presenças em um relato visual de personagens e planos. O imaginário retém

em si uma temporalidade circular e profunda: a origem é uma pulsão anterior. A moldura

interessa à pintura. A obra de Raul não é expansão para fora da tela, e não é decoração.

A moldura significa sobrepor, contrapor e transpor num senso pós-moderno. O espaço

de representação incorpora a trama expressionista. Os objetos particularizados em

confronto e imersão. O fundo monocromático é vazio ou com formas e áreas que se

presenciam mutuamente, em contraste. A cor e a carga afetiva, Bokun, Pierre Rivière,

Maria Bueno e Salomé. Retratos e criaturas, invadidos e invasores. Homens cujo espírito

treme e cintila, lá onde as paredes do mundo parecem infinitamente quebráveis.*

* Antonin ArtaudRetrato de Pierre Rivièreacrílica sobre tela, 60 x 50 cmacervo Fundação Cultural de Curitiba

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Performa, 1983acrílica sobre papel, 70 x 100 cm

acervo Fundação Cultural de Curitiba

Page 18: Raul Cruz cena

Aquário, 1985 acrílica sobre tela, 70 x 110 cm

acervo da família

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ASSAZ RAUL

Raul Cruz, que produziu um corpo de obras singular durante os anos 1980 e início

de 90, sempre se mostrou avesso à teorização e racionalização sobre seu trabalho e

sobre a arte em geral. No entanto, achamos indispensável nos deter, mais uma vez,

em sua obra, a fim de buscar uma mirada mais focalizada para sua produção gráfica.

A exposição RAUL CRUZ – DESENHOS1 propõe um olhar mais concentrado

sobre seu desenho, linguagem à qual o artista se dedicou durante toda sua trajetória

artística e que perpassou também suas pesquisas na pintura e gravura. Nascido

em 1957 e falecido prematuramente em 1993, em decorrência da aids, Raul estava

inserido no contexto da produção de jovens artistas no início dos anos 80, em Curitiba,

e teve participação efetiva em importantes movimentações artísticas como o grupo

Convergência (80/81) e Bicicleta (82). Em 83, participou do evento Moto Contínuo, que

marcou uma importante baliza para a arte brasileira. Junto a outras manifestações

nacionais, como o grupo “A Moreninha” (RJ) e “3NÓS3” (SP), Moto Contínuo abriu

outra perspectiva para a produção artística mais jovem, não unicamente ligada à

chamada “volta da pintura”, subscrevendo um leque maior de pesquisas como as

ações urbanas, performances e trabalhos coletivos.

O desenho na virada dos anos 70/80, período da repressão política, teve presença

relevante no Brasil e somou-se à cena local através das Mostras de Desenho Brasileiro.

Juntamente a este contexto, a presença de algumas exposições em Curitiba, como a

Sem título, 1988/89nanquim sobre papel, 31,6 x 21,2 cmacervo Fundação Cultural de Curitiba

Eliane ProlikGeraldo LeãoPaulo Reis

1Exposição no Museu de Arte Contemporânea do Paraná em 2006.

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do artista Darel Valença, na Sala Miguel Bakun, e uma mostra sobre o expressionismo

alemão, no MAC/PR, foram decisivas para a formação do pensamento gráfico do

artista. Em sua primeira exposição individual, no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos,

em 1982, ele apresentou uma série de desenhos que uniam o caráter gráfico da escrita

e a presença da palavra, o uso simbólico da cor e uma profusão de elementos que

anunciavam a constituição de uma mitologia própria.

Dos trabalhos em papel vergé, de 1984, à série Crimes e Assassinatos de 1985/86,

o percurso do artista é o do abandono de certo naturalismo, remanescente da época da

Escola de Belas Artes e a afirmação da linha como valor gráfico não representacional e,

ao mesmo tempo, como meio de expressão de uma subjetividade. A concisão, aparente

no traço de Raul desde 1984, indica a dedicação do artista à disciplina do desenho,

permitindo a prática de uma narrativa mínima e um olhar mais atento aos valores

de luz e tensões já dados pelo campo do papel. Raul, como os grandes desenhistas

(lembremos dos textos de Matisse), supera a polaridade entre a linha e o espaço

pensados como cheio e vazio, presença e ausência. Uma de suas grandes qualidades é

que o gesto, que registra a ação de um corpo, faz o que não é gesto - o espaço, no caso

o papel -, tornar-se ainda mais presente e nunca “vazio” ou “neutro”. Tal operação

difere das tentativas convencionais nas quais uma linha “ocupa” o papel, violentando

um espaço “vazio”. Simultaneamente ao fato da linha ganhar mais domínio, o aspecto

dramático de seus desenhos foi, porém, exacerbado. Adicione-se a esse novo fazer

gráfico, o exercício com a linóleo-gravura, com seus gestos rápidos e subtração de

Sem título, 1988nanquim sobre papel, 48 x 33 cm

acervo Museu de Arte Contemporânea do Paraná

Page 21: Raul Cruz cena

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matéria. Outras linguagens artísticas agregaram-se à poética do artista para reforçar,

também, suas pesquisas plásticas, como a performance e o teatro em seu caráter de

ocupação cada vez mais econômica do espaço (cênico) e no jogo teatral/ficcional das

personagens e situações.

Muitas obras de Raul Cruz permaneceram inéditas, como boa parte da série

de desenhos dos anos 1988 e 89, agora mostrados. Trata-se da produção de um

desenho sintético e amadurecido que mantém lado a lado a potente afirmação do

desejo, certa ironia e a presença de um mundo sempre ameaçador. O artista trabalha

a dramaticidade da figuração e a inteligência visual do espaço, não permitindo que a

figura habite passivamente e sem complexidade o “fundo” retangular. Nesta série,

o risco que indica uma figura recorta e reafirma o branco do papel. Com agilidade,

a superfície abre-se para novos espaços, capazes de se desdobrarem flutuantes no

repente do desejo e da comunicação. O gesto gráfico que sulcava a cor em muitas de

suas pinturas e criava tensão e drama em suas linóleo-gravuras, agora se explicita em

toda sua argúcia nos desenhos a nanquim.

A crise econômica, o marasmo político do governo Sarney e o aparecimento

devastador da aids colocaram um fim à euforia do começo da década de 80. A essa

‘euforia’, na verdade, a construção de um novo mercado de arte contemporânea

“jovem”, cuja produção respondia refletindo sobre as possibilidades das formas

artísticas tradicionais, lidas com um distanciamento vindo da Pop Art, ao tratar da

realidade de um país recém saído de 20 anos de ditadura militar. Enquanto artistas

como Jorge Guinle, tratavam de manter o foco sobre as questões mais amplas do Sem título, 1988/89

nanquim sobre papel, 47,7 x 33,2 cmacervo Museu de Arte Contemporânea do Paraná

Page 22: Raul Cruz cena

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estatuto da pintura e da representação, outros, como Leonilson e o próprio Raul,

colocavam as questões individuais no centro de suas investigações. Leonilson, na

pintura Leo não consegue mudar o mundo (1989), ao contrapor a impossibilidade da

mudança à afirmação de um coração pulsando entre `abismo´ e `luzes´, configura o

panorama de certa produção ligada à subjetividade.

No espaço entre o desencanto e a asserção de um sujeito, mesmo que

fragmentado, construíram-se muitas poéticas neste período. A contribuição de Raul

para este cenário está em constituir uma discussão de viés também irônico dessas

pulsões individuais, “expressionistas”, ao apresentá-las de uma forma narrativa

declarada, mas com um distanciamento técnico que contradizia um possível discurso

direto e expressivo. O artista trabalhou a dimensão do sujeito e sua inadequação

ao mundo, especialmente revelada pela argumentação sobre a crença, a fé e sua

crítica, as paixões, a sexualidade e o desejo homossexual. O espaço da intimidade foi

desvelado em seus silêncios por um desenho sintético. O corpo da narrativa, - a tinta

mais o papel -, é vigorosamente ativado e um outro corpo, o do narrador/personagem,

é presença constante. As sombras e espectros que ora aparecem perturbadores são,

em alguns trabalhos, projeções da própria figura. Abismos e luzes se encontram como

continuidade, e não oposição, momento de impasse, onde não há redenção, nem

crime ou pecado.

Sem título, 1986nanquim sobre papel, 23,2 x 10,5 cmacervo Fundação Cultural de Curitiba

Page 23: Raul Cruz cena

Sem título, 1988/89nanquim sobre papel, 47,6 x 33,2 cm

acervo Museu de Arte Contemporânea do Paraná

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LITONOVELA “A ROSA” (1984)

Coleção: Fundação Cultural de Curitiba

A série de dez litogravuras “A Rosa” foi denominada pelo artista de “Litonovela”. Essa sequência possui uma narrativa dramática, os personagens, uma mulher e dois homens, formam um “triângulo amoroso”. A série formada por dez litogravuras, na ordem determinada pelo artista, foi gravada e impressa nas oficinas da Casa da Gravura, em papel Acqua Velim Salto, com uma tiragem de dezoito exemplares, sendo dezessete para comércio e uma prova do artista. (trecho da monografia “Raul Cruz: obra gravada”, de Denise Bandeira, 1994)

O casamento, 24x19 cm A rosa, 22x18 cm Expresso, 20x14 cm

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Não se pode dizer saudade, 21x19 cm Cedo, 11x23 cm Adeus, 18x17 cm

Page 26: Raul Cruz cena

Tarde, 11x21 cm

Éramos nós, 15x23 cm

Imagem, 12x22 cmO anel, 16x23 cm

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NÃO CHOVEU

Na tarde do sábado em que o poeta Alberto Cardoso foi enterrado, choveu. E foi a maior chuva que nós, seus amigos,

tomamos nas costas. Foi descer a ladeira fria e o mundo desabou em água sobre o cortejo. O céu ameaçava negro pros lados de

Santa Cândida, indiferentes os bem-te-vis, sanhaços e outros passarinhos não catalogados cantaram à passagem do féretro.

Na terça-feira em que o Raul Cruz partiu, não choveu. Não fui ao enterro. Não sei se o céu ficou triste. Nem se os passarinhos

cantaram. Não sei se houve poema. Por isso deixo aqui esse pedaço de silêncio.

Silêncio que ele tão magistralmente modelava, fosse em teatro, nas telas ou em palavras.

Como esquecer o silêncio de Maria Adélia na abertura da peça “Grato Maria Bueno”? Tom Waits se esgoelando no

radinho. Postada em frente da penteadeira, acompanhava a música com a cabeça. Na penumbra, por um momento preciso,

o palco se transforma numa gravura alemã, num gobelino em tom pastel. Uma cena tão harmoniosa que me dei ao luxo de

gravar na bagunça de minha memória. Lembrança que acendo sempre. Muitos dirão: “também, assistiu 12 vezes”. Retruco na

hora. Assistiria mais, não fosse a destruição do Teatro da Classe (ou Teatro 13 de maio, ou Teatro José Maria Santos, ou... ou...)

monumento vivo do abandono cultural do Estado.

Os feixes de promessas de reconstrução ficaram no ar e acabaram por debaixo do matagal em que se transformou o local.

Para dar início à reconstrução não é necessário uma política cultural, é preciso de uma boa enxada. Uma carpinagem cultural. Ou

estarão apostando em nosso esquecimento? Ou em mais um novo estacionamento? Dúvida cruel nesta cidade onde tudo acaba

em Shopping ou na Rua 24h.

No entulho, uma placa corroída pela ferrugem do esquecimento, ainda anuncia: “Cia das Índias apresenta hoje: Grato

Maria Bueno”.

Como é possível esquecer na cena seguinte o silêncio da beleza clássica de Jacqueline na Estação acenando saudades?

Ou então, da cena em que ela, suspensa em seu desespero, revira a bolsa atrás do comprimento milagroso? Ou da cena em que

uma cadeira é transformada em altar e Maria Bueno refuga a grinalda, a flor e o manto santificado?

Como é possível esquecer a devota da Letícia que atravessa a cidade toda segunda-feira e na humanidade de suas chinelas

de dedo consertadas com arame, usando sabão de pedra, lava o átrio e a alma aos pés da Santinha Municipal. Debruçado nessa

qualidade de esperança, peço a Maria Bueno que acomode o nosso Raul num sítio profundo e silencioso, de onde ele possa ouvir

as rosas ensaiarem suas cores e os passarinhos a ordenarem suas peninhas novas.

Hélio LeitesO Estado do Paraná09.05.1993

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Um homem ilumina o outro

Um homem sente fisicamente a passagem do outro

Um homem sente a presença do outro

O silêncio entre três homens

Um homem pisa no outro

O outro idolatra, mistifica

Um homem serve de ponte para o outro

Um homem dá as costas para o outro, se debate

Um homem fala por sinais, caminha sobre cadeiras

Infinitamente atrás de outro que divaga

Um homem beija o outro no rosto

Um homem manipula outro homem

Um usa a voz de comando e o outro obedece cegamente

Um homem vendado

Um homem amarrado

Um homem oprimido

O homem oprimido

O homem é o outro do outro

O homem e seu duplo

O homem e o espelho

o espelho

a porta

a janela

os corredores

as portas e as janelas

Três portas e uma estranha ocupação

Os outros não vão saber do que se trata

O que são aqueles rituais

A não ser que olhem para si próprios

Um homem risca em seu corpo símbolos e regiões de cor

Um homem conspira com outro contra um terceiro

Um homem serve de apoio ao outro

Dois homens são um só

Três homens chegarão a algum lugar

Três homens passam sobre um abismo

Um homem com vertigem que não pode olhar para baixo nem para cima

Outro que não pode olhar para os lados

Um não olha prá frente nem olha prá trás

Dois homens se cumprimentam

Os homens tem maneiras particulares de se cumprimentar

Um homem nada apoiado em uma cadeira

em uma escada

Um homem anda mas é o chão que se move

Pela janela do trem é a paisagem que se vai

Só a lua acompanha.

Texto de Raul Cruz coreografado por Rocio Infante para peça de teatro A Ponte, 1989

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T R Ê S T E X T O S D E R A U L C R U Z

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Meu muito caro Pierre,

Por ser tão parecido conosco, por ser tão parecido comigo, porque

comungamos todos na dor e no vazio, porque recriamos tudo na nossa

infindável tragédia, porque se mergulhássemos como você nessa estranha

lucidez a que só temos acesso em pequenos momentos de grande dor

ou prazer, sucumbiríamos também à irresistível sedução da paixão e da

morte. Porque nossa grande verdade é a solidão e porque nos afastamos da

realidade sempre que nos aproximamos de nós mesmos, por isso é que lhe

escrevo. Porque como você, ao percebermos que o mundo gira no sentido

contrário, indiferente à nossa dor, tomamos atitudes extremas, recriamos

abismos. Por ter degolado sua mãe e seus irmãos para lavar a alma de

seu pai, pelos seus vinte e um anos de vida terrestre e porque teve uma

compreensão tão particular da vida é que lhe escrevo e subscrevo-me,

Sempre seu, Raul.

Maria Bueno gostava de baile

moça de família não sai com soldado

moça de casa não trai seu amante

santa de casa não faz milagre.

Rosa de pano manchada de sangue

busto de gesso, peito apertado dor de ciúme

dor da saudade, acórdão, farda surrada

carmim de passar no rosto

água de flores, amor mal fadado

coração paranaense: vestido de noiva

em mulher mal falada.

Texto de Raul Cruz publicado no programa da peça de teatro Cartas a Pierre Rivière, 1987.Texto de Raul Cruz publicado no programa da peça de teatro Grato Maria Bueno, 1992.

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Exposição CENA RAUL CRUZno Centro Cultural Sistema FIEP - Curitiba

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Display mostrando ensaio da peça A Ponte, com Renato Negrão, Raul Cruz e Beto Perna.

Performance Tatuatua ou Bandeira 69, com Renato Negrão, Jacqueline Daher e Beto Perna.

Ensaio da peça A Ponte, com Renato Negão, Raul Cruz e Beto Perna.

Peça Grato Maria Bueno, com Jacqueline Daher.

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Page 34: Raul Cruz cena

Evento de expansão - Performance de Edith Camargo cantando a música ‘Cortei o dedo”, de Raul Cruz e Carlos Careqa. Discotecagem de Rádio Ga Ga.

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Evento de expansãoInusitada Companhia Traço. Raul Cruz. Performance.

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Evento de expansãoUma leitura dramática sobre a obra de Raul Cruz. Proposição de Letícia Guimarães / Cia do Abração. Centro Cultural Teatro Guaíra - Mini Auditório.

Foto: Cia do Abração

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Evento de ExpansãoBate-papo com Beto Perna, David Mafra e Paulo Reis. Centro Cultural SESI Heitor Stockler de França.

Evento de ExpansãoBate-papo com Fernando Rosembaum. Centro Cultural Sistema FIEP.

Evento de ExpansãoOficinas de pesquisa nas artes gráficas e a obra de Raul Cruz. Voltadas para o público infanto-juvenil. Bicicletaria Cultural.

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Evento de ExpansãoPerformance de encerramento - Kátia Drumond e Chiris Gomes cantando as músicas Cortei o dedo, de Carlos Careqa e “God bless the child”, de Billie Holiday.s

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40 Foto: acervo da família

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PU

BLI

CA

ÇÃ

OC

EN

A R

AU

L C

RU

Z Organização Paulo ReisLuana Navarro Elenize Dezgeniski

Textos críticosEliane ProlikGeraldo LeãoHélio LeitesIvo MesquitaPaulo ReisRaul Cruz

EdiçãoEliana BorgesRicardo Corona

Fotografia Elenize DezgeniskiLidia Ueta

Design gráficoEliana Borges

RevisãoNylcéa Thereza de Siqueira Pedra

isbn 978-85-64029-19-4

REALIZAÇÃO

2016

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Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná

Centro Cultural Sistema FIEP Curitiba

Edson CampagnoloPresidente do Sistema FIEP

José Antonio FaresSuperintendente do Sesi no Paraná

Anna Paula ZétolaGerente de Cultura do Sesi no Paraná

Neiane da Silva Azevedo AndreatoGerência de Cultura

Ana Luiza Suhr ReghelinGerência de Cultura

Laura Maria Toledo FelisminoGerência de Cultura

Paulo ReisCurador

Luana NavarroCuradora adjunta

Elenize DezgeniskiCuradoria de eventos de expansão

Elenize Dezgeniski e Luana NavarroProdução

Guilherme JacconAssistência de produção

Gislaine Pagotto e Fran FerreiraMediadoras

Danilo Fialho DuarteMarcenaria

Cristian Teles e Fernanda StancikEquipe de Montagem Curitiba

Fernando de ProençaAssessoria de Imprensa

Adriana AlegriaDesign gráfico

AgradecimentosÁldice Lopes, Ana González,Ana Luiza Reghelin, André Malinski,Berenice Mendes, Beto Perna, Bicicletaria Cultural, Carlos Careqa, Chiris Gomes, David Mafra, Débora Zanatta,Denise Bandeira, Edith de Camargo, Eliane Prolik, Gabriel Gallarza, Geraldo Leão, Helio Leites,Ivo Mesquita, Jacinta Caron,Karin van der Broocke,Kátia Drumond, Letícia Guimarães,Luiz Alberto Borges da Cruz (Foca),Marco Mello, Mila Jung, Nelson Galvão, Paulo Daher, Rafael Camargo,Ricardo Corona, Selvática Ações Artísticas, CiaSenhas de Teatro e Funcionários do Centro deDocumentação e Pesquisa do Museu de Arte Contemporânea do Paraná e do Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro

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