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1 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

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1 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

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2 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*RAUL SEIXAS* (Raul Seixas, O Verbalóide)

O Verbo que se fez carne e habitou entre nós

Todas as fotos pertencem ao Arquivo do NOVO AEON FÃ CLUBE/RAUL ROCK SEIXAS e foram doadas pelo próprio Raul Seixas e por sua mãe, Dona Maria Eugênia Seixas, em l980 e l990.

-QUAISQUER SEMELHANÇAS COM PESSOAS OU FATOS TERÁ SIDO MERA “CONHECIDÊNCIA”.

-QUANDO EU FALO PÃO, EU QUER DIZER TUDO O

QUE ALIMENTAR...-

(Ednardo – A BOMBA Z)

(Isaac Soares de Souza)

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3 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*RAUL SEIXAS - 1945 + 1989

CORRESPONDÊNCIA/CONTATO-AUTOR:

Isaac Soares de Souza - Rua Nações Unidas, 1016 - Jd. Cruzeiro do Sul - SÃO CARLOS-SP - Cep. 13572-082

[email protected]

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4 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(TODOS OS DIREITOS RESERVADOS DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO EM VIGOR)

(O HOMEM É UM CANIÇO, O MAIS FRACO DA NATUREZA, MAS PENSANTE.)

- Blaise Pascal –

ISAAC e seus irmãos, o poeta Eliezer Soares de Souza e Eliseu Soares de Souza

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*ISAAC (Nome que significa “O QUE RI”, em Hebraico) e cujo significado não condiz com a verdade, pois não há no mundo sujeito mais triste e desprovido de senso de riso do que eu. “Triste de quem é feliz”, já dizia Fernando Pessoa.

(Dona Maria Eugênia Seixas, Raul Seixas e Sr. Raul Varella Seixas)

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(RAUL SEIXAS, O VERBALÓIDE)

(O ÓDIO NÃO É O REAL, É A AUSÊNCIA DO AMOR)

-Raul Seixas-

*A ENXADA QUE FOGE À GLÓRIA DO TRABALHO, CAI NA TRAGÉDIA DA FERRUGEM* - (Chico Xavier)

*(NOSCE TEIPSUM) CONHECE-TE A TI MESMO. NINGUÉM SE ILUDA COM OS FOGOS-FÁTUOS DO INTELECTUALISMO

ARTIFICIOSO.*

- (Emmanuel)

*A disposição e a apresentação do conjunto desta edição, em *A disposição e a apresentação do conjunto desta edição, em *A disposição e a apresentação do conjunto desta edição, em *A disposição e a apresentação do conjunto desta edição, em suas características editorial, artística e a forma em que está suas características editorial, artística e a forma em que está suas características editorial, artística e a forma em que está suas características editorial, artística e a forma em que está disposta, são de propriedade ddisposta, são de propriedade ddisposta, são de propriedade ddisposta, são de propriedade doooo Novo Aeon Fã Clube/Raul Rock Novo Aeon Fã Clube/Raul Rock Novo Aeon Fã Clube/Raul Rock Novo Aeon Fã Clube/Raul Rock Seixas Seixas Seixas Seixas –––– NOVO AEON PUBLICATION, estando sua reprodução NOVO AEON PUBLICATION, estando sua reprodução NOVO AEON PUBLICATION, estando sua reprodução NOVO AEON PUBLICATION, estando sua reprodução PROIBIDA por qualquer meio, sem autorização prévia do editor e PROIBIDA por qualquer meio, sem autorização prévia do editor e PROIBIDA por qualquer meio, sem autorização prévia do editor e PROIBIDA por qualquer meio, sem autorização prévia do editor e do autor.*do autor.*do autor.*do autor.*

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(O MAR É GRANDE, MAIOR É O HOMEM QUE FAZ DIQUES. O MAR VAI NO EMBALO, O HOMEM O NAVEGA.)

-Eliezer Soares de Souza-

(OS CONCEITOS E OPINIÕES EMITIDOS NESTE LIVRO SÃO DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO AUTOR)

*COMISERATIVO É, QUE BRILHE A LUA TAMBÉM SOBRE OS *COMISERATIVO É, QUE BRILHE A LUA TAMBÉM SOBRE OS *COMISERATIVO É, QUE BRILHE A LUA TAMBÉM SOBRE OS *COMISERATIVO É, QUE BRILHE A LUA TAMBÉM SOBRE OS IDIOTAS*IDIOTAS*IDIOTAS*IDIOTAS*

(Eliezer Soares de Souza)

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AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

A Kika Seixas, que continua mantendo viva a memória de Raulzito.

Ao amigo e mestre bluesman, J. J. Jackson (LEO ROBINSON)

Ao próprio Raul Seixas, que mesmo distante, continua presente e inspirador, sem o qual seria impossível a publicação deste livro.

A meu irmão Eliezer Soares de Souza, pela força e cumplicidade na realização deste compêndio raulseixista.

A Eliseu Soares de Souza, meu irmão, raulseixista até a medula e divulgador dos meus escritos e meu parceiro musical.

Aos meus filhos, Milca, Isac e Eliezer, crias da fuzarca, estrelas que ilumunam o meu opaco céu de maluco beleza.

A Fátima, eterna como Raulzito.

A Afonsina C. Nobre, demônio, favônio, casuarina...

A Dona Maria Eugênia Seixas (mãe de todos os raulseixistas) in memorian.

Ao amigo William´s, presidente do Zé Ramalho Oficial Fã Clube, que colaborou imensamente com textos e fotos para o capitulo especial sobre Zé Ramalho.

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Ao amigo e ídolo Zé Ramalho, pela autorização a mim concedida para poder usar e abusar de seu nome e trajetória artística.

A Cabeça Pensante de Irará, Tom Zé, pelas fotos e releases cedidos para que eu pudesse escrever parte de sua dura trajetória musical.

Ao amigo Luis Calanca, da fabulosa Baratos Afins, pelo material cedido e informações sobre Sérgio Sampaio.

Ao maranhense e exímio poeta Zeca Baleiro, por mais detalhadas informações sobre Sérgio Sampaio, cujo disco inédito “CRUEL”, foi totalmente produzido por Zeca através de seu selo Saravá Discos, resgatando parte inédita da obra de Sampaio.

Ao amigo Rodrigo Moreira, que escreveu a biografia que faltava de Sérgio Sampaio, “EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA”, mesmo porque Sérgio Sampaio não existiria no meio artístico sem a mão de Raul Seixas e nem Raul teria se transformado no mito eterno que é sem a ajuda e incentivo de Sérgio.

A VIVIAN SEIXAS pela belíssima foto autografada.

Ao grande bluesman Edvaldo Santana pela supimpa regravação de “Metrô Linha 743”.

Aos amigos e parceiros musicais, os geniais Douglas “Dodi” Carneiro

e Oscar Marinero, capitães do ótimo grupo musical HANGAR XVIII.

A todos os fã clubes e raulseixistas natos, que de fato, sentem na carne a ausência de Raul Seixas, o nosso eterno Lobo Conselheiro.

A Jorge Mautner, o Profeta do Kaos, que considera Raul Seixas um dos semideuses do Kaos.

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Ao amigo, jornalista e escritor de suprema habilidade, mas que não gosta de mostrar seus escritos, Valdecir Martins, responsável pelo texto da orelha deste livro.

Ao amigo e artista plástico, escultor e músico maluco beleza, VALDEMIR.

Ao amigo e incentivador, raulseixista e poeta, Landerson Batata.

A minha prima querida, Abigail da Silva Brussolo.

Ao Rei do escracho, Falcão (WHAT PORRA IS THIS).

Ao “rocker-punk” e exímio caricaturista, Thiago Ivanildo Lima, o “Elvis Presley” pelas caricaturas de Raul, especialmente desenhadas para abrilhantarem as páginas deste livro.

Ao editor e amigo de longa data, Vilson Aparecido Della Coletta, outro avatar da cultura, que publicou meu primeiro livro “Raul Seixas, O Metamorfônico”.

Aos amigos “blueseiros” exímios do majestoso BLUES THE VILLE: David Tanganelli, Netão, Danilo e Coxa.

Ao fenomenal gaitista Flavio Guimarães (BLUES ETILÍCOS), pelas gravações das antológicas “Canceriano Sem Lar” e “Al Capone”. Flávio verteu para o blues um naco da obra raulseixista, o que levou outras bandas nacionais de blues a gravarem outras pérolas de Raul Seixas, tais como: BASEADO EM BLUES, que gravou “Como Vovó Já Dizia” e MÍSTER JACK, que gravou “O Trem das Sete”, KIM KHEL & OS KURANDEIROS, que homenageou Raulzito com a bela canção “Pro Raul”.

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Aos que sempre me traíram e me invejam, falsos amigos e pessoas da minha própria família, íntimas, mas dotadas de dupla personalidade, deixo registrado o meu asco e o meu desprezo. A vida há de revelar a vocês todos, traidores e falsos, portanto, facínoras, que vocês são fantoches do Monstro Sist. Somente aquele que tiver o KAOS dentro de si, poderá dar luz à grande estrela bailarina e vocês são como os vendilhões do Templo, cróias são mais dignas do que vocês. Apregoa o dito popular: “A vingança é o veneno da autodestruição do vingador. Mentira, neste caso específico, para mim a vingança é doce como o mel e nada é mais prazeroso para um homem que sempre foi execrado, invejado e traído por falsos amigos e transformado em opróbrio dos homens, sem amor, sem carinho, sem rango e sem cobre, do que assistir de camarote, na arena da vida, esse abissal Coliseu, a destruição e a queda dos seus traidores.”

Ao amigo e incentivador ALBERTO BARBOSA, impressor do jornal Primeira Página, em cujo jornal trabalhei durante 9 anos.

Agradeço de coração lavado e saciado de poesia e obras literárias de extrema grandeza, aos escritores e poetas, amigos de meu filho Eliezer, Affonso Romano de Sant´anna, Deonísio da Silva e Ferreira Gullar e ao majestoso poeta Lêdo Ivo.

Ao meu sobrinho, André de Souza Almeida, pela colaboração para que este livro se tornasse real e pelas noites regadas a muito rock´n´roll e blues e porres homéricos.

A minha querida amiga e leitora, (ADRIANA RUIVA LINDA), Araraquara-SP

Isaac Soares de Souza

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(AQUI JAZ A HISTÓRIA SOB OS ESCOMBROS DA ESCÓRIA.)

-Zeca Baleiro-

(ACREDITAR EM DEUS É ACREDITAR EM VOCÊ PRÓPRIO, POIS VOCÊ É A IMAGEM E SEMELHANÇA DE

DEUS.)

– Isaac Soares de Souza-

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ILUSTRAÇÃO: Isaac Soares de Souza - 1995

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*R A U L S E I X A S*

Raul: (Nome de origem germânica - pelo

francês RAOUL - que significa “LOBO

CONSELHEIRO”

“Eu me utilizo de todos os meios da sociedade de

consumo, penetro no sistema, mas como um

veneno.”

*Como somos verbalóides, o começo foi o verbo.

Em “GITA”, e em outras composições minhas. “Eu

sou, eu fui, eu vou...”. A afirmação do “eu”, pois

o homem precisa aprender a auto-afirmar-se, o

“eu” assumido e vomitado, arrancará do âmago

esse medo que o homem tem de declarar-se

senhor absoluto de seus direitos e do universo.*

(RAUL SEIXAS)

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(I CORINTIOS, 13)(I CORINTIOS, 13)(I CORINTIOS, 13)(I CORINTIOS, 13)

Se eu falar em línguas de homens e de anjos, mas não tiver amor, tenho-me tornado um pedaço de latão que ressoa ou címbalo que retina. E se eu tiver o dom de profetizar e estiver familiarizado com todos os segredos sagrados e com todo o conhecimento, e se eu tiver toda a fé, de modo a transplantar montanhas, mas não tiver amor, nada sou. E se eu der todos os meus bens para alimentar os outros, e se eu entregar meu o corpo, para jactar-me, mas não tiver amor, de nada me aproveita.

O amor é longânime e benigno. O amor não é ciumento, não se gaba, não se ufana, não se comporta indecentemente, não procura os seus próprios interesses, não fica encolerizado. Não leva em conta o dano. Não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade. Suporta todas as coisas, acredita todas as coisas, espera todas as coisas, persevera em todas as coisas.

O amor nunca falha. Mas, quer haja dons de profetizar, serão eliminados; quer haja línguas, cessarão; quer haja conhecimento, será eliminado. Pois temos conhecimento parcial e profetizamos parcialmente; mas, quando chegar o que é completo, será eliminado o que é parcial. Quando eu era pequeno, costumava falar como pequenino, pensar como pequenino, raciocinar como pequeno; mas agora que me tornei homem, eliminei as características de pequenino.

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16 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Pois, atualmente vemos em contorno indefinido por meio de um espelho de metal, mas não será face a face. Atualmente eu sei em parte, mas então saberei exatamente, assim como também sou conhecido exatamente. Agora porém, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o AMOR.

(Tradução do Novo(Tradução do Novo(Tradução do Novo(Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas Mundo das Escrituras Sagradas Mundo das Escrituras Sagradas Mundo das Escrituras Sagradas –––– 1967, 1967, 1967, 1967, 1986 1986 1986 1986 ---- Watch Bible And Tract Society Of Pensilvânia.)Watch Bible And Tract Society Of Pensilvânia.)Watch Bible And Tract Society Of Pensilvânia.)Watch Bible And Tract Society Of Pensilvânia.)

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17 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(MR. BOB DYLAN) -Homenagem a Bob Dylan/2009-

ISAAC SOARES DE SOUZA

Hei, Mr. Bob Dylan Cante uma canção

para este homem desterrado e sem galardão Vagando pelo orbe sem lar e sem chão

Exilado em pátria estranha como um coiote longe da montanha

que é seu habitat Minha bandeira é a bandeira negra

da loucura e da pirataria Tocando minha guitarra

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18 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

canto o blues pra espantar a dor

de viver sozinho pelo mundo e sem um amor

meu lema é a liberdade e por esta verdade

luto até mesmo com Satã Por ser livre sou alvo do poder

e da sanha assassina de uma sociedade ignorante e ferina

que me deseja o fim Hei, Mr. Bob Dylan

cante mais uma canção pra mim como Raul Seixas, o maluco beleza

o meu caminho com certeza também é bem fácil de seguir

Porque minha vereda conduz somente à liberdade

e pra ser livre eu canto folk e canto rock e canto blues

Hei, Mr. Bob Dylan cante para mim

suas canções são mantras para o meu irrequieto espírito

me fazem pensar que o meu inferno é o paraíso

Hei, Mr. Bob Dylan cante mais uma canção

enquanto eu toco meu violão, pois ele é a arma que tenho em mãos

pra metralhar os muros de toda segregação. (Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,

I´n not sleepy and there is no place I´m goin to.

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19 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me, In the jingle jungle morning I´ll come followin´you....

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“Eu sou a luz das estrelas”...

O tempo é a medida de cada artista. Quando a obra de qualquer artista transcende o tempo é porque, de fato, ela possui qualidades para ser chamada de Arte. Neste contexto, sem nenhuma margem de dúvida, se insere a obra de Raul Seixas, principalmente aquela que o consagrou como o verdadeiro precursor do rock nacional, capaz de superar a barreira do iê-iê-iê quase infantil da Jovem Guarda. Fato inconteste: além de dividir o rock em antes e depois da sua obra, Raul contribuiu decisivamente para a evolução da Música Popular Brasileira. Curiosamente, aliás, Raul Seixas também participou, como compositor (sob o nome de Raulzito), da Jovem Guarda, embora seu pensamento poético e musical transcendesse a superficialidade deste gênero.

Felizmente, para todos nós, o Raul Seixas que ficou para a posteridade foi aquele cuja obra brotou a partir da década de 1970, mais precisamente 1973, quando estourou pelas rádios de todo o país, ainda AM (quando elas tocavam qualquer gênero musical, sem a influência venal das gravadoras), o

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20 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide sucesso “Ouro de Tolo”, música que retratava corajosamente a crise existencial de ser humano. A propósito, com “Ouro de Tolo”, Raul Seixas descobriu a sua mina para a consolidação de uma carreira inquieta e não menos irreverente como ele sempre foi. Na mesma linha, podem ser citadas outras composições: “Metamorfose Ambulante”, “Medo da Chuva”, “Tente Outra Vez” e até mesmo “Trem das Sete”.

Mas Raul Seixas, junto com Paulo Coelho, também teve o desplante de lançar a idéia de uma “Sociedade Alternativa”, um movimento que pretendia ser digamos anarquista (e isto sem qualquer sentido pejorativo que a palavra possa pressupor) em plenos anos de chumbo da ditadura militar. Lógico que o movimento só poderia ter sido abortado pelo regime, mas a idéia lançada no coração dos jovens daquela geração persiste até hoje: “não sendo mais um sonho que se sonha só”...

Raul Seixas, porém, era multifacetado, metamorfônico, sim, muito mais do que se possa imaginar. Nele também pulsava uma veia romântica de rara sensibilidade que podemos dimensionar, por exemplo, através de “A Maçã” e “Mata Virgem”, duas composições, aliás, que representam o paroxismo, faces opostas de um mesmo amor.

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Quando mais maduro, antes de firmar parceria com Marcelo Nova, mas já escaldado pelas lições e contratempos que a vida lhe pregou, Raul ressurgiu em 1987 com outro grande sucesso, “Cowboy Fora da Lei”, uma síntese debochada da sua própria vida e também, por que não dizer, um retrato fiel – e infelizmente ainda contemporâneo – do Brasil daquela época, aliás, um país já pós-ditadura militar, mas com todos os resquícios e preconceitos dos anos de chumbo e de uma sociedade assaz conservadora, embora em perene transformação.

Mas das obras de Raul Seixas, uma das que mais me marcaram, sem dúvida, foi “Gita”, uma espécie de “antítese” do deus ocidental e ao mesmo tempo, o deus cósmico, mais presente nas religiões orientais. Não era para menos, “Gita” se inspira no Bhagavad Gita, poema épico hindu, quando Arjuna pergunta a Krishna “quem é você” e Krishna responde: “Eu sou a luz das estrelas”...

Em suma, daí surgiu o mote para uma canção definitiva por sintetizar em si a verdadeira essência de Deus – não um Deus monocrático, mas monocósmico. Desde sempre,

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como podemos perceber agora, se o tempo mede o artista, também é capaz, numa espécie de simbiose criativa, de imitar a sua própria Arte: Raul Seixas já era eterno muito antes mesmo de nos deixar...

Valdecir Martins

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SOPHIA LORENSOPHIA LORENSOPHIA LORENSOPHIA LOREN

Isaac Soares de Souza

Acende no meu peito o fogo,

inferno de labaredas dionisíacas

E quando o meu cajado

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inflamável e eriçado,

estocar as paredes da basílica,

Eis que os santos cairão dos seus andores,

Sacerdotes celibatários esquecerão os seus pudores

As muralhas do meu coração,

Tornar-se-ão débeis à qualquer invasão

as mulheres cairão em prantos,

enciumadas

Ordeno e quero que todas elas chorem

lágrimas de derrota esmiuçada

O amor pertence a mim

e a minha amada!

Ah! Deusa, Sophia, Sophia Loren !

Lenda, linda como a divina Itália !!!

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1945 – o mundo começava a esboçar os primeiros

passos trôpegos rumo à recuperação da carnificina de mais de 50 milhões de pessoas dizimadas pela Segunda Guerra Mundial, que teve seu início em 1939, quando a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha de Adolf Hitler, por causa da invasão da Polônia pelos nazistas. 50 milhões de pessoas foram barbaramente mortas na Segunda Guerra Mundial. Milhões de refugiados perambulavam pela Europa tentando regressar à casa e retomar suas vidas, em pequenas e grandes cidades destruídas por uma avalanche de bombas. O cheiro acre do imenso e caudaloso rio de sangue derramado e a podridão dos corpos mutilados, ainda ascendia e pairava no ar infectado pela estupidez do homem. Plêiades de mulheres e meninas, especificamente na Rússia e na Alemanha, tentavam superar o trauma do estupro às mãos de exércitos invasores. Na maior parte da Europa, havia racionamento de alimentação e vestuário. Milhares e milhares de soldados desmobilizados procuravam emprego. Viúvas e órfãos choravam a perda de seus maridos, filhos, irmãos e pais. O mundo parecia ter se transformado no érebo de Dante e a sensação de total desolação era iminente. O mais sangrento e hediondo capítulo da história da humanidade parecia chegar ao fim. A lembrança das atrocidades, a realidade do holocausto dos judeus, ainda hoje permanece na memória de vítimas marcadas para sempre e na memória do mundo todo. A serviço de interesses políticos e comerciais de potências mundiais e de seus governantes, hienas que dirigiam o poder, a Segunda Guerra Mundial, transformou a

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humanidade num planeta negro, inóspito, habitado por assassinos, demasiadamente assassinos bestiais e desde então, o ser humano nunca mais foi o mesmo. Depois de 1945 a Terra sofreu mudançacatastróficas no que se refere à cultura, costumes, vida social e moral, o homem começou então, a enxergar os conceitos humanitários com outros olhos, de lince, olhos de hiena... faminta.

Quando o mundo descortinou, finalmente, o derrotado III REICH, um monstro foi abatido e o horror dos campos de concentração nazistas, veio à lume envergonhando a humanidade, que nunca mesmo teve muita vergonha de seus atos de barbárie.

A visão medonha e satânica era um pesadelo monstruoso demais para ser entendido. Soldados e civis conseguiam apenas mirar, em silencioso horror, os horripilantes fragmentos de uma gigantesca

máquina de

Somente no campo de extermínio de Auschwitz, cerca de 1.500.000 foram mortos, torturados e esquartejados, prova cabal de que o homem é o animal mais nocivo e cruel sobre a face da Terra, capaz

de cometer atrocidades indizíveis, que fariam enrubecer a fac

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

humanidade num planeta negro, inóspito, habitado por assassinos, demasiadamente assassinos bestiais e desde então, o ser humano nunca mais foi o mesmo. Depois de 1945 a Terra sofreu mudanças catastróficas no que se refere à cultura, costumes, vida social e moral, o homem começou então, a enxergar os conceitos humanitários com outros olhos, de lince, olhos de hiena... faminta.

mente, o derrotado III REICH, um monstro foi abatido e o horror dos campos de concentração nazistas, veio à lume envergonhando a humanidade, que nunca

satânica era um pesadelo monstruoso demais para ser entendido. Soldados e civis conseguiam apenas mirar, em

uma gigantesca máquina de matar.

Somente no campo de extermínio de Auschwitz, cerca de 1.500.000 foram mortos, torturados e esquartejados, prova cabal de que o homem é o animal mais nocivo e cruel sobre a face da Terra, capaz

de cometer atrocidades indizíveis, que fariam enrubecer a face

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demoníaca de um “Serial-Killer” qualquer, apodrecendo nas masmorras de um manicômio judiciário. Em 1945, precisamente no dia 28 de junho, na cidade de Salvador-BA, nascia o rebento Raul Santos Seixas, filho de Dona Maria Eugênia Seixas (dona-de-casa) e do engenheiro ferroviário, Raul Varella Seixas. Raul era rebento dessa época caótica, talvez daí tivesse surgido nele a constante revolta contra as injustiças e a sua luta pela liberdade total e absoluta do homem.

RAUL, cujo nome não tem fim nem começo, pois é LUAR aos avessos, é um nome de origem germânica (pelo francês Raoul), que significa “LOBO CONSELHEIRO”. E foi nesta mesma época de terror, que se alastrou por toda a humanidade, em que o “ENOLA GAY” despejava o terror atômico sobre Hiroshima e Nagasaki, que veio à luz o “Lobo Conselheiro”, Raul Seixas. Raul nasceu em junho, dois meses depois, precisamente no dia 16 de agosto, 8h15min da manhã, hora do Japão, um tremendo lampejo de luz atravessava o céu de Hiroshima e “Litlle Boy”, a bomba da morte foi lançada da superfortaleza voadora B-29, transformando Hiroshima num mar de chamas e de mortos. Três dias depois foi a vez de Nagasaki e seus 75 mil mortos dizimados pela segunda Bomba Atômica. 4,25 m de comprimento e 1,4 m de diâmetro e 4.500 kg de peso de morte e terror foram lançados sobre pessoas inocentes. O homem é o lobo do homem. Hitler sonhava com a purificação da raça ariana e não media esforços, por mais hediondos que pudessem ser para chegar à meta demoníaca traçada por ele. Raul Seixas, o Lobo Conselheiro, imaginava e acreditava na possibilidade de o homem ser um super-homem, ser seu próprio Deus e assim conquistar o planeta e implantar o sistema pregado pela Sociedade Alternativa, só que, a única guerra que seria necessário travar, não era uma guerra

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armada e nem sanguinária, mas sim uma guerra íntima, pessoal, moral e consciente. A Sociedade Alternativa, engendrada por Raul e Paulo Coelho, a meu ver se assemelha ao Partido do Kaos, idealizado pelo nietzschiano e filósofo Jorge Mautner e, Mautner considera Raul e Jimi Hendrix, semideuses do Kaos (com K) e, em suas canções-discursos sempre repete as seguintes elocubrações nietzschianas: “Somente quem tiver o KAOS dentro de si, poderá dar luz à grande estrela bailarina.”, já o mago Raul Seixas, cantava sem parar o hino da Sociedade Alternativa, cujas palavras, diferentes das declaradas por Jorge Mautner, mas carregadas do mesmo sentido, alertam: “Viva a Sociedade Alternativa... Se eu quero e você quer, tomar banho de chapéu, ou discutir Carlos Gardel, então vá, faça o que tu queres, pois é tudo da lei... Todo homem e toda mulher é uma estrela... e essa estrela, com absoluta certeza, é a mesma estrela bailarina nascida do Kaos. Cada homem disposto a se apresentar e servir como soldado sem capitão, guerrilheiro sem armas, no Exército da Sociedade Alternativa, teria de estar disposto a fazer uma longa peregrinação pelo seu próprio interior, adentraria sorrateiramente o abismo do seu “eu” e minaria com bombas culturais o campo inconsciente de seu próprio âmago, eriçando das profundas de seu inferno, a grande estrela bailarina. Desde o surgimento do primeiro homem sobre a face da terra, a população terrestre vive na mais esquálida e diabólica inércia, não encontrou até o presente momento, força necessária para derrubar as muralhas da inconsciência, velhos preconceitos morais, calabouços, bruxas e temporais. O homem vive sob uma avassaladora ditadura cultural, sob as garras do colonialismo moderno. O homem só precisa de uma única lei: A Lei da Vontade. A Lei de Telema. Quando o homem tiver o domínio total da Lei de Telema, atingirá

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29 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

então, gradativamente, o reinado de paz, da paz interior, individual e conseqüentemente, da paz coletiva. Quando Raul falava: “Não existe Deus, senão o homem”, uma frase do Livro da Lei, de Aleister Crowley, ele jamais insinuou que não acreditava na existência de Deus, muito pelo contrário, com estas palavras, Raul afirmava, categoricamente a sua fé: “Não existe Deus senão o homem.”, aqui Raul queria ou quereria ilustrar então, que, Deus é um ser divino e real, que está em cada um de nós. Não falava do Deus Todo-Poderoso e vingativo que criou o homem robô do qual a Santa Igreja (?), responsável direta pelos crimes mais horrendos contra a humanidade, nos fala. Para ser livre completamente, o homem teria de arregimentar forças e coragem suficientes para descer ao fundo do calabouço de sua alma e acordar da milenar hibernação do seu “eu”. Libertos, homem e alma, feitos um só, de ousadia e consciência, o homem seria uma fortaleza intransponível e estaria pronto para o Novo Aeon, preparado para dar luz à grande estrela bailarina. Derrotaria os fantasmas pré-históricos: IGREJA-ESTADO-SOCIEDADE, implantando o início de uma Nova Era, um eterno reinado de paz. Quando Adolf Hitler e seu partido nacional-socialista (os nazistas assassinaram milhões e milhões de judeus no coração da cristandade, a Igreja Católica e a Igreja Protestante, apoiaram entusiasticamente o Estado Nazista e seus ideais arianos. As igrejas rogavam o privilégio de usar e exibir a Suástica em seus templos.

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Católicos-romanos, protestantes e ortodoxos orientais, batizados, bispos, padres, pastores, enfim, toda a liderança religiosa, apoiaram desavergonhadamente o Estado Nazista e todas as guerras nojentas travadas pelos governos de seus países. A Cruz e a Suástica, durante o Estado Nazista, podiam ser vistas e veneradas juntas, do alto das torres das catedrais alemãs. Igreja e Estado, são irmãos gêmeos ou consangüineos, gerados pelo diabo do poder e da ganância, mascarados de cordeiros de holocausto. A História é mentirosa e disforme, pois toda boca que beija também morde e lança impropérios, cospe e escarra. De acordo com o que registra uma infinidade de livros de história, nos quais podemos constatar e conhecer um pouco mais sobre estes macabros episódios, que minaram o planeta Terra de sangue inocente e carne putrefata de milhões de pessoas barbaramente assassinadas durante a Segunda Guerra Mundial, o que mais causa repugnância é exatamente, a confirmação despudorada e covarde do apoio eclesiástico ao extermínio de milhões de seres inocentes e ao regime Hitlerista. Apenas uma pequena seita à época, corajosa e intrépida, merece todo o respeito e reconhecimento da humanidade e da história, pois recusou-se sistematicamente a apoiar o regime nazista. Milhares de seguidores desta seita foram presos, torturados e mortos covardemente nos campos de concentração nazistas, mas nunca temeram a fúria hitlerista, não abdicaram de sua fé. Pregavam seus ideais de esperança e fé inabalável e desafiaram humildemente, alicerçados nos ensinamentos bíblicos, à Gestapo e ao Estado Nazista. As testemunhas de Jeová, essa gente difamada e escarnecida por causa de sua obediência exemplar à Bíblia e às palavras de Deus, cujo nome é mesmo Jeová, foram quem primeiro enfrentou corajosamente a fúria do demônio nazista. Elas recusaram

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sistematicamente, a adoração à Hitler e à Suástica, obedecendo fielmente às instruções de seu Deus Jeová. “Forjaram de suas espadas relhas de arado”. Dentre as histórias e horrores que ouvi contar e que me cansei de ler em livros, a que mais me despertou para a realidade foi, sem dúvida, a fé e a perseverança exemplares das Testemunhas de Jeová. Elas são a prova viva da força da fé, quando acreditamos na veracidade de nossos ideais, a perseguição e o descaso que porventura venhamos a sofrer e todpreconceitos, torturas e obstáculos que nos forem impostos, serão meros detalhes, que mais adiante nos fortalecerão logo que a procela expirar. Não tenho religião, não professo nenhuma fé, pois só acredito em mim, e longe de mim o estigma de ostentar qualquer credo religioso, mesmo porque, independente de ter fé em um Deus único ou não, todas as manifestações religiosas, cristãs ou não, conduzem todas as ovelhas ao aprisco do mesmo Deus, embora por veredas diferentes. Acredito que cada um de nós é a

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quando acreditamos na veracidade de nossos ideais, a perseguição e o descaso que porventura venhamos a sofrer e toda sorte de preconceitos, torturas e obstáculos que nos forem impostos, serão meros detalhes, que mais adiante nos fortalecerão logo que a procela expirar. Não tenho religião, não professo nenhuma fé, pois

im, e longe de mim o estigma de ostentar qualquer credo religioso, mesmo porque, independente de ter fé em um Deus único ou não, todas as manifestações religiosas, cristãs ou

mesmo Deus, embora por veredas diferentes. Acredito que cada um de nós é a

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sua própria religião, cada um é o seu próprio Deus. Como filosofava Raul: “Não tem certo nem errado, todo mundo tem razão... O ponto de vista é que é o ponto da questão...” Toda e qualquer organização religiosa é responsável pela estagnação da raça humana e deturpam os ensinamentos bíblicos, pois a Bíblia contém exemplos aos borbotões e suficientes para revelarem ao homem, que o amor e respeito ao próximo, são as únicas armas capazes de nos conduzir à igualdade e à liberdade, ao Kaos, à Sociedade Alternativa. Mas eu não poderia deixar de citar aqui, tamanho exemplo de coragem, honradez e fé. As “testemunhas de Jeová”, ainda hoje sofrem um dos mais acirrados preconceitos em comparação às seitas contemporâneas e mesmo as arcaicas. Não foi à toa que, Zé Ramalho, o Profeta do Terceiro Milênio, em parceria com o “crowleyano” Mauro Motta, compôs e gravou a belíssima canção “ACREDITE QUEM QUISER”, em que ele evoca o respeito e a liberdade de culto a todas as religiões: “Filhos de Jacob, Testemunhas de Jeová, Bichos que habitam essa Arca de Noé, Salvem o que puder salvar, Porque o homem veio pra acabar, E o fim tá difícil de evitar...” Os dados históricos sobre a Segunda Guerra Mundial e o regime Hitlerista, que compõem estas páginas iniciais deste compêndio raulseixista, eu os retirei e os transcrevi das revistas “SENTINELA” e “DESPERTAI”, editadas pelas Testemunhas de Jeová. “Não diga que a vitória está perdida, tenha fé em Deus, tenha fé na vida, pois é de batalhas que se vive a vida”. Raul Seixas nos outorgou como testamento a sua lucidez para que pudéssemos ter a coragem de construir um mundo melhor. E esse mundo melhor (o reinado de paz),, para que o conquistemos, só depende da nossa própria força, fé e vontade. Nós somos “a geração da luz e a esperança no ar”. Porque deixar que o mundo

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lhe acorrente os pés? Fingir que é normal estar insatisfeito? Será direito? Por que você faz isso com você? Por que, homem?

-Os homens fazem leis e mais leis: leis contra os costumes, o pensamento, o amor e o sexo. E a vida é livre, não segue nenhuma lei. Por isso é que sofremos. A vida é a frustração, o limite, o que poderia ter sido e não é... Por que temos de viver sob atos institucionais, sob leis, leis e mais leis, uma mais estúpida do que a outra? O amor, a poesia, os direitos humanos, tudo jaz esmagado sob o peso das leis, mais estúpidas e ilegais do que os próprios estúpidos e sacripantas que as decretaram, pois são esses mesmos estúpidos os primeiros a violarem as leis criadas por eles. No mundo atual, Deus e sua Igreja agonizam. A Igreja ainda vive de sua pregação contra o sexo, a tentação da carne, a sensualidade. Os pecados capitais continuam os mesmos: a ira, a gula, a luxúria... e os homens já progrediram tanto neste setor, inventaram novos pecados, requintados, diferentes. Aprenderam a assassinar friamente povos inteiros em defesa da liberdade, a torturar em nome dos direitos humanos, a matar pela fome milhares de pessoas. O mundo é absurdo e ridículo, como pode uma minoria munida de metralhadoras e tanques esmagar a maioria, condenando-a à miséria e privando-a da liberdade? Em toda parte, tortura-se, mata-se em nome da ordem, da família, dos costumes, do sistema, de Deus. O massacre de Cristo não bastou, seu sangue foi pouco para saciar a sede de sangue dos homens. Todo dia comemora-se o sacrifício de Cristo, crucificando-se um ser humano. A vida, uma viagem marcada pela morte. Seguimos nosso próprio funeral. (MARIA LÚCIA PINHEIRO SAMPAIO).

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Todos nós fazemos parte deste jogo sujo, onde o ser humano é jogado ao centro da arena, em luta desigual contra os leões do sistema, para o deleite sadomasoquista da realeza. Não foi por acaso que José Saramago proferiu palavras duras para ilustrar a sua concepção quanto à condição humana: “Acho que a vida não passa de uma grande sacanagem de Deus, se é que Ele existe. As pessoas sofrem, passam o diabo

e tudo para no fim acabar do mesmo jeito? Você nasce sabendo que vai morrer, nasce e começa a morrer... isso é uma grande sacanagem, brincadeira de mau gosto. A dignidade do ser humano é todos os dias insultada pelos poderosos do nosso mundo, a menuniversal tomou o lugar das verdades plurais; o homem deixou de respeitar-se a si mesmo quando perdeu o respeito que devia ao seu semelhante. A História é mentirosa e disforme e muito mal contada. Tudo não passa de um grande engodo e o homem só vai atingir o ápice de sua supremacia, quando deixar de lado seus medos e receios e exigir que a verdade venha à tona. Monteiro Lobato já

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Todos nós fazemos parte deste jogo sujo, onde o ser humano é jogado ao centro da arena, em luta desigual contra os leões do sistema, para o deleite sadomasoquista da realeza. Não foi por acaso que José Saramago proferiu palavras duras para ilustrar a sua concepção quanto à condição humana: “Acho que a vida não passa de uma grande sacanagem de Deus, se é que Ele existe. As pessoas sofrem, passam o diabo

mesmo jeito? Você nasce sabendo que vai morrer, nasce e começa a morrer... isso é uma grande sacanagem, brincadeira de mau gosto. A dignidade do ser humano é todos os dias insultada pelos poderosos do nosso mundo, a mentira universal tomou o lugar das verdades plurais; o homem deixou de

se a si mesmo quando perdeu o respeito que devia ao seu semelhante. A História é mentirosa e disforme e muito mal contada.

e um grande engodo e o homem só vai atingir o ápice de sua supremacia, quando deixar de lado seus medos e receios e exigir que a verdade venha à tona. Monteiro Lobato já

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dizia: “O Estado é um enorme canteiro em que as classes sociais privilegiadas são as flores e a imensa massa da maioria é apenas o esterco que engorda essas flores. Esterco doloroso e gemebundo.”

(RAUL SEIXAS, em show (RAUL SEIXAS, em show (RAUL SEIXAS, em show (RAUL SEIXAS, em show de lançamento do LP de lançamento do LP de lançamento do LP de lançamento do LP “O DIA EM QUE A“O DIA EM QUE A“O DIA EM QUE A“O DIA EM QUE ATERRA PTERRA PTERRA PTERRA PArquivo do Novo Aeon Arquivo do Novo Aeon Arquivo do Novo Aeon Arquivo do Novo Aeon

Fã Clube)Fã Clube)Fã Clube)Fã Clube)

O nazismo ainda hoje continua sendo a mais vergonhosa barbárie a que a humanidade foi exposta. O nazismo é o mal em estado de raiz, pois continua a nortear o pensamento demilhares de pessoas em todo o mundo. Pela primeira vez na história não se

permitiu a um povo perseguido uma saída. A mais temida guarda islâmica (os janízaros) eram filhos de cristãos seqüestrados e fanatizados pelos otomanos. Semelhantes em crueldade e assassínio à guarda islâmica, somente a Securitäte na

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e as classes sociais legiadas são as flores e a imensa massa da maioria é apenas o

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O nazismo ainda hoje continua sendo a mais vergonhosa barbárie a que a humanidade foi exposta. O nazismo é o mal em estado de raiz, pois continua a nortear o pensamento de milhares de pessoas em todo o mundo. Pela primeira vez na história não se

permitiu a um povo perseguido uma saída. A mais temida guarda islâmica (os janízaros) eram filhos de cristãos seqüestrados e

tomanos. Semelhantes em crueldade e assassínio

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Romênia, a polícia secreta do louco ditador Nicolau, condenado a morte depois de sucumbido seu governo de terror e a Polícia Militar brasileira, que só investe sua fúria contra pretos, pobres e putas e é mancomunada com criminosos. Na Inquisição, a Igreja de Roma dava aos condenados à fogueira, a escolha do batismo para que escapassem da terrível sentença. No nazismo, só havia uma saída para os perseguidos: a escravidão seguida de morte. Um judeu mesmo que quisesse ser nazista, não poderia. Ele estava condenado ao extermínio desde o instante em que era fecundado.

Em setembro de 1939, teve início o mais cruel pesadelo da humanidade. As forças de Hitler invadiram a Polônia e desencadearam a mais sangrenta guerra da História e a perseguição às raças inferiores, conforme Hitler as considerava. Todas as raças seriam escravizadas pela raça ariana, com exceção dos judeus, que seriam exterminados da face da Terra. Hitler considerava os judeus uma raça inferior. Para ele os judeus não eram humanos e por isso, não tinham direitos humanos. O extermínio da raça judaica passou então, a ser o alvo principal do III REICH. O que causa maior repugnância é ter conhecimento que a Igreja de Roma, a corporação mais rica do mundo (O VATICANO), tem a maior fortuna do globo terrestre, foi colaboradora do III REICH. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Igreja de Roma (no Grego a palavra significa “FORÇA”), permitiu o sacrifício de seis milhões de judeus e de mais de um milhão de sérvios ortodoxos, a propósito único de acumular e garantir o domínio do catolicismo romano e extravasar o seu ódio demoníaco contra o comunismo, usando Hitler, Mussolini, Franco e outros “fantoches guerreiros”. Desde que foi fundada por Constantino, imperador romano pagão, com o nome de Igreja

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Católica, já se responsabilizou pelo sacrifício de milhões de pessoas (cristãos, judeus, negros, índios e muçulmanos) com cruzadas, inquisição e centenas de guerras e guerrilhas por ela fundamentadas e apoiadas. O catolicismo romano, tem, sorrateira e enganosamente, trilhado durante 16 séculos, ludibriando, escravizando, corrompendo e destruindo pessoas. Gregório VII Hildebrando, foi o grande mentor e organizador da Igreja de Roma, levando-a ao seu pedestal de líder mundial, dominando reis, príncipes e governos. Dos séculos 11 ao

16, essa Igreja dominou sobsobre todos os povos da Terra e somente quando Lutero fez chegar aos povos da Europa a Bíblia, é que os mesmos tomaram conhecimento sobre a liberdade religiosa e política.

Essa mesma Igreja de Roma, que por pouco não o mundo a uma III Mundial, continuou apadrinhando criminosos de guerra nazistas, após o colapso de Hitler. Depois que os aliados executaram quase todos os principais carrascos do regime nazista, de a

julgamento de Nuremberg, milhares de criminosos de guerra conseguiram cobertura sob o refúgio do Vaticano, entrincheirandoem conventos, mosteiros e demais instituições religiosas. O Papa Pio

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Católica, já se responsabilizou pelo sacrifício de milhões de pessoas s) com cruzadas,

inquisição e centenas de guerras e guerrilhas por ela fundamentadas e apoiadas. O catolicismo romano, tem, sorrateira e enganosamente, trilhado durante 16 séculos, ludibriando, escravizando, corrompendo

ruindo pessoas. Gregório VII Hildebrando, foi o grande mentor a ao seu pedestal de líder

mundial, dominando reis, príncipes e governos. Dos séculos 11 ao 16, essa Igreja dominou soberana sobre todos os povos da Terra e somente quando Lutero fez chegar aos povos da Europa a Bíblia, é que os mesmos tomaram conhecimento sobre a liberdade

Essa mesma Igreja de pouco não levou

o mundo a uma III Guerra Mundial, continuou apadrinhando criminosos de guerra nazistas, após o colapso de Hitler. Depois que os aliados executaram quase todos os principais carrascos do regime nazista, de acordo com o

julgamento de Nuremberg, milhares de criminosos de guerra conseguiram cobertura sob o refúgio do Vaticano, entrincheirando-se em conventos, mosteiros e demais instituições religiosas. O Papa Pio

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XII, seu líder à época, tinha conhecimento de todas essas operações criminosas. A Igreja de Roma e o poder político mundial são corcéis do apocalipse, atrelados em parelha à carruagem da História. Responsáveis únicos e diretos pelo Armagedom que se abateu sobre a humanidade. Ditadura cultural, religiosa, colonialismo, mentira, engodo e escravidão. O período mais asqueroso do papado é o que quebrantou os longínquos anos de 904 a 963, sendo conhecido como a época da “pornocracia” ou do domínio das meretrizes. Quando inúmeros papas (papas-tudo) estiveram envolvidos em escândalos sexuais e orgias, quando as meretrizes invadiram o Vaticano. Papas maníacos sexuais, dados à prostituição, homossexualismo, concubinato, sedução e muita promiscuidade, macularam ainda mais o nome já sujo da Igreja de Roma.

“Oh! Nave minha que carga ruim tu levas”, voz que dizia num lamento que se supunha vir do céu, pela triste situação da Igreja de Roma, na Divina Comédia de Dante (1265/1321), me induziu a escrever uma letra de música que diz em seus últimos versos: “SE O MUNDO TEM ÂNUS, O CENTRO DELE É O VATICANO...” Todos estes acontecimentos dantescos podem ser confirmados e pesquisados através de livros importantíssimos, de Karl Weiss, teólogo e escritor, pesquisador britânico, que é uma das maiores, senão a maior autoridade em política do Vaticano. É de suma importância que nenhum escritor, independente de seu credo religioso, ao escrever qualquer menção sobre a II Guerra Mundial e o sacrifício do povo judeu e de outros povos, deixe de relatar e documentar esses fatos, pois o desejado extermínio do povo judeu e de outras etnias está intimamente ligado à Igreja Católica. Ocultar a verdade para poupar vexames e justiça, é conivência e toda conivência é criminosa e vergonhosa. A obrigação e a meta do

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escritor é o que norteia sua honra e o dever dos escribas é contar estórias e tornar real e documentada a História. Embora eu não professe nenhuma religião e não acredito que o homem tenha o seu destino traçado, pois conforme dizia Raul Seixas: “Quem faz o destino é a gente/Na mente de quem for capaz...”, considero a religião uma necessidade humana e fundamental, inventada pelo homem para dar sentido à sua vida.

A LEI DE TELEMA, a Lei da Vontade, tão cantada e ensinada por Raul Seixas, não obedece e nem segue regras sociais ou religiosas impostas, e é por isso que, para os fanáticos religiosos, Raul Seixas era a encarnação do Demônio, pois ele cantava, clara e objetivamente que: a Lei é fazer a sua Vontade. Cada um de nós deve e pode fazer a sua própria Lei, sem deixar de respeitar as leis naturais e contemporâneas. Questionar os valores ensinados, não significa transformar tudo num caos absoluto, mas transformar o caos em Kaos, pois é necessário e imprescindível que a vontade alheia também seja respeitada e mantida, até que a verdade seja uma vontade geral, aprendida inconscientemente e buscada por todos. Fazer a própria vontade implica, obviamente em enfrentar vários conflitos internos e externos, principalmente. A Lei da Vontade, antes de tudo, é também a lei da Coragem, A Lei do Eu Posso, Eu Faço, Eu Vou, Eu Sou... Não podemos e não devemos jamais, confundir a Lei da Vontade com a Lei da Anarquia. Raul sempre dizia: “Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei, a Lei do Forte, essa é a nossa Lei e a Alegria do mundo...”, “Os Escravos servirão.” Não devemos nunca dar lugar antinomia, pois a Lei da Vontade, não é a Lei da anarquia institucionalizada. A Lei da Vontade de ser forte, guerreiro e consciente, da vontade de ser

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homem, de ser mulher e de ser uma estrela brilhando num mundo de paz, livre de preconceitos tolos, livre dos calabouços da História. Sempre, desde os primórdios, a história vem sendo escrita por aqueles que venceram, portanto, não devemos nunca dar crédito a tudo o que nos tentam empurrar boca a dentro. Esta era a grande preocupação de Raul Seixas, ensinar ao homem como ser livre e dono de seu nariz. Raul via o homem como indivíduo único, atravessando um processo de aprendizado e libertação lento. Através de suas músicas, poemas e textos, conseguiu passar a divina e verdadeira mensagem de que somos capazes de realizar coisas novas e construir um mundo melhor. Ele ensinou ao homem o seu próprio “EU”, Mostrou ao homem a importância da auto-afirmação: -EU SOU... EU POSSO... EU VOU...” Raul já nasceu póstumo, a morte física, pela primeira vez, perdeu a guerra macabra contra a vida, pois a lenda continua viva e ativa. Visto que a morte não mata quem nasceu imortal, Raul, o Lobo Conselheiro, o Carpinteiro do Universo, não morreu, atingiu a Grande Consciência Cósmica e passou para a Fase A da Sociedade Alternativa. “Um homem não é nada mais do que ele sabe.” (Francis Bacon – 1561/1626), com estas palavras o filósofo alemão deixou verdadeiramente, no mural da parca inteligência humana, lapidado na cabeça do animal irracional, que só usa dez por cento de sua cabeça animal, um retrato 3x4 da própria espécime: Um homem nada mais é do que ele sabe, nada significa, é um escravo eterno de sua própria ignorância e medo e os escravos servirão. Se tudo sabe, é um semideus todo-poderoso, gigante e livre, se nada sabe, nada significa. Por que Raul Seixas chegou ao ponto crucial de se autodestruir etilicamente? Porque ele lutou ferozmente contra o Monstro Sist e contra todos aqueles que eram contrários aos direitos que ele pregava corajosamente, pertencerem a todos os

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seres vivos. Porque ele sabia que um homem não é nada mais do que ele sabe. O homem é o único, dentre todas as criaturas vivas da Mãe natureza, capaz de questionar a sua história e origem à cata de respostas para perguntas que, desde o princípio da civilização humana inquire a si mesmo: “Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Criação, evolução, vida e morte, Deus e Diabo, paraíso, inferno, reencarnação, ressurreição, são questões misteriosas que tiram o sossego de qualquer ser pensante. Atado pelos grilhões de velhos e medievais conceitos e dogmas religiosos e preconceitos morais, o homem tenta, a todo custo responder sobre sua mentirosa e sanguinária história. Forjou como um aprendiz de ferreiro, os mitos, a arte, estabeleceu a religião inquisidora e mergulhou no tempo e no espaço. Articulou a filosofia, virou cientista, equipou-se com a armadura da pretensa coragem que nunca teve e enveredou por trilhas antes nunca exploradas, mas sempre regressava de cada empreitada, abatido e fraco com novas e inexplicáveis questões e dúvidas. O homem é um explorador de teorias e mistérios.

Desde o princípio tem conseguido apenas provar que é um cego e incapacitado. Ainda não se libertou dos calabouços, bruxas e temporais, permanece escravo de si mesmo. Nenhum avanço tecnológico, científico ou religioso terá verdadeiro sentido, se antes o homem não avançar e descer até as profundezas do seu “eu”. Eis que tudo se torna mais fácil quando se consegue fingir e sofrer calado, manietado, como se tudo fosse um capricho do destino ou vontade de Deus. O homem tomou emprestadas as palavras do poeta romano Públio Ovídio Nasão, conhecido como Ovídio (43 a. C.): “Ficamos mais seduzidos por aquilo que não possuímos. A safra

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é sempre mais rica no campo dos outros, e o rebanho do vizinho tem as tetas mais cheias.” Esse culto à inveja e ao ciúme, peculiaridades que forjam a natureza humana e que têm impedido o homem de lutar e retomar o que lhe é de direito, transformou-o num frágil e patético monturo de carne e ossos. “É pena eu não ser burro, não sofria tanto...”, canta o mestre Raulzito. O caminho é longo, tortuoso e assustador, entretanto, ao dar de cara amedrontada com a porta que vai dar lá no “quarto dos segredos” da alma, certamente encontrará a sabedoria e a liberdade, que há milênios, encarcerados nos porões fétidos do âmago, esperavam por esse alvará de soltura. Como proceder e agir para atingir esse grau máximo de liberdade? “Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei”, embarque na Estação Sociedade Alternativa, no Trem 103, plataforma de embarque número 666 e não perca o horário de saída do único trem que poderá conduzi-lo à Cidade de Cabeça-pra-baixo: -TREM DAS SETE-, desembarque pontualmente ou atrasado não importa o horário de chegada, porque na Cidade de Cabeça-pra-baixo, ninguém sabe o que é calendário e a hora é sempre de chegar. Vem sem medo que não vamos naufragar, deixe os que sonham em ser felizes habitando o paraíso. Livre-se de toda idiotice, imploda a estrutura social, político, religiosa e psicológica que o aprisionou por tantos anos de inércia absoluta. A religião é a grande peste, o grande tormento apocalíptico que João escreveu em seus pergaminhos proféticos durante o exílio na Ilha de Patmos, pois toda a estrutura social e humana se apóia nela. Acredite: “Cada um de nós é sua própria religião”, o homem é seu próprio “Deus”, porque Deus está em cada um de nós. “Não existe pátria. Você é sua pátria”. Como na visão de Nietzsche: Você tem a possibilidade de ascender ao pico da montanha, tal e qual uma

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fênix renascida das cinzas do grande sinistro que atearam em você. Você tem a possibilidade de ser um super-homem, sem medrar a pavorosa e destrutiva kriptonita que o Monstro Sist tem em mãos para controlá-lo, sem essa estapafúrdia condição de ser CLARK KENT a metade do tempo, isso só ocorre nas Histórias em Quadrinhos. Você tem de assumir que pode ser o super-homem sempre, em tempo integral, pois o mundo carece de super-heróis de verdade, chega de ficção. “Todo homem e toda mulher é uma estrela”, e essa é uma afirmação categoricamente científica, pois toda forma de vida provêm de restos estelares. O homem é um ser divino, não acaba com a morte física, pois a semente que ele deixar plantada, joio ou trigo, será colhida por outra geração e o que ele fez de bom ou ruim, será preservado para o bem ou para o mal. Só os covardes serão esquecidos... e, os escravos servirão... “Os fortes, bravos, dominantes, orgulhosos, se ajustarão melhor à sociedade vindoura”. Esta era também, uma das crenças de Nietzsche. Deveras, de que benefício é o homem poder viajar à lua, conquistar cosmos, mas não poder resolver os problemas básicos da raça humana? O homem é um semi-deus, todo-poderoso sim senhor e rei do planeta, não pode e nem deve nunca acreditar na teoria de ele evoluiu de criaturas simiescas, como pregava Charles Darwin, pois aceitando o fato de que descende de animais irracionais, não é de admirar que cada vez mais pessoas ajam como verdadeiros monstros pré-históricos, se devorando uns aos outros. O homem é seu próprio “Deus”, cada um é sua própria religião, cada um é seu próprio país. Raciocine e reaja, poder não é um objeto que possa ser dado a você, poder é uma habilidade de agir, poder tem que ser tomado e conquistado.

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“A LENDA CONTINUA VIVA E ATIVA”

A história do rock´n´roll brasileiro, quando realmente for escrita, se é que algum dia o será, pois já estamos no ano 2007 Terceiro Milênio), e apenas fragmentos dela foram rascunhados, parecerá sem sombra de dúvidas, com uma biografia simples de Raul Seixas, pois além dele nenhum outro artista dentro desse segmento musical, atingiu o grau filosófico e mítico que a obra de Raul atingiu. No Brasil nenhum artista jamais ousou tanto e com tamanho sarcasmo e inteligência. Nenhum cantor/compositor ousou encarar o Monstro Sist de peito aberto, sem medo. Nenhum artista viveu, de fato, o que cantava. Foi o mago Raulzito quem levou, praticamente sozinho, a bandeira do rock feito no Brasil nas últimas décadas que antecederam sua morte. Raul varava as noites em claro sem conciliar o sono, pois não admitia a possibilidade de um homem dormir confortavelmente, enquanto outro ser humano dormia esfomeado e tiritando nas calçadas, nos guetos, sob as marquises... Desde a infância rebelde em Salvador, até seu triste desaparecimento em 21 de agosto de 1989, Raul viveu e sofreu na carne tudo o que o verdadeiro espírito do rock exige de quem almeja representá-lo pelas estradas das almas solitárias. Primeiro filho de um engenheiro ferroviário e de dona-de-casa, viveu sua infância entre livros de ficção e filosofia. Seus primeiros contatos com o rock´n´roll aconteceram numa época em que os jovens brasileiros mal se davam conta daquele ritmo tribal que começara a invadir e sacudir os EUA através de Chuck Berry, Litlle Richard, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Em 1045, quando Raul nasceu, o rock´n

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´roll já havia mostrado suas garras, dando as primeiras investidas com “Arthur Big Boy Crudup”, até atingir o cume da reestruturação de valores em 1954, mais ou menos com cinco influências diferentes, como sempre ensinava Dom Raulzito: O rock de Chicago – Chuck Berry; o do Alabama – Litlle Richard; os gospels (spirituals) dos negros americanos e foi metamorfoseado até chegar a Elvis Presley. O rock era um movimento comportamentista.

Desde o início, o Diabo foi reconhecido como o pai do rock e os pregadores da sua nefasta palavra eram considerados seres POSSUÍDOS PELO DEMÔNIO e errantes, possuídos pelo mal. Todo jovem ou quem quer que seja que ousasse cantar rock, era imediatamente taxado de elemento nocivo à juventude, portanto, execrado e ainda hoje é assim, embora muita coisa tenha mudado. Quem ousasse desafiar regras estabelecidas naqueles tempos de moral rígida, era sumariamente elevado ao patamar da ignomínia e perseguido implacavelmente como divulgador da nova seita demoníaca: O ROCK´N´ROLL. Além de todas as perseguições que esses cavaleiros do apocalipse, passaram a enfrentar, havia no ar o cheiro de enxofre da lenda criada em torno do nome de Robert Johnson e o provável pacto que ele fizera com o Diabo numa encruzilhada. Associar o rock e o blues à influências satânicas é um costume que ainda hoje prevalece. Conta a lenda que, nos anos 20, o Diabo tomou sua última talagada de Bourbon, jogou sobre os ombros a capa de veludo black e caiu na estrada. A lua se escondeu daquela noite no Deep South, o vento uivava como um cachorro louco (Populus, meu cão). O encontro lendário entre Robert Johnson e o Diabo, aconteceria numa encruzilhada (Crossroad) solitária em pleno descampado, sem testemunhas oculares, apenas

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os nefilins do Hades, para efetivo registro daquele encontro macabro. Robert Johnson, mancebo negro, gato bluesman de Hazjehurst, Mississippi, neto de escravos, um “olho ruim” contaminado por catarata, dedos delicados, paletó risca-de-giz de dupla lapela e pork-pie-hat, chegou na hora marcada. Um relâmpago infernal iluminou uma Gibson Kalamasoo e todo o Mississippi escutou o mais profundo e diabólico acorde de guitarra já extraído por mão humana. Robert Johnson nem piscou o olho ruim e Sta despediu-se com um riso incendiado e lúgubre. Estava selado o futuro de toda música popular afro-americana, mundial e por que não dizer do rock´n´roll, que é o rebento bastardo do blues? Esta satânica conversação numa encruzilhada solitária, deu lugar às lendas referentes ao blues e ao rock. O fato é que Robert Johnson, o cão do inferno, é o mais influente bluesman da história, levou o blues do campo para a cidade, onde o blues teve um filhinho também crioulo e com aspecto demoníaco, chamado rock´n´roll, que cresceu percorrendo todo o mundo e influenciando gerações e mais gerações, irrequieto e contestador, entrou para a história da música pop mundial e se eternizou. As lendas que forjam os mitos são responsáveis diretas pela aversão que os caretas do mundo têm em relação ao rock, dando ao ritmo tribal o codinome de “inspiração demoníaca”, principalmente entre os fanáticos religiosos. Esta lenda em torno do nome de Robert Johnson acabou tomando ares de coisa verídica, depois de sua morte prematura e misteriosa, pois Robert viveu tão-somente 27 anos, morreu supostamente envenenado num quarto de pensão, provavelmente envenenado por um marido traído e enciumado, visto ter sido Robert Johnson, um conquistador incorrigível. Como herança, deixou apenas a mala e um violão e eternizadas, apenas

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29 canções. (Pepe Escobar escreveu para o “Caderno 2” do jornal O Estado de São Paulo, há vários anos. O artigo acima, parcialmente transcrito sobre a lenda viva Robert Johnson e o pacto que ele fizera com o Demônio nos anos 20. Transcrevi trechos do referido artigo, injetando nele minhas considerações, por considerá-lo o mais explicativo e perspicaz para dar um toque aos “ditos cidadãos respeitáveis” e tentar fazê-los entender e extirpar de suas mentes mórbidas, a idéia errônea que nutrem em relação ao rock´n´roll.) Certa vez Raul Seixas declarou que preferia dizer que tinha um pacto com o demônio do que dizer que tinha parte com a revolução. E já que o velho e bom rock´n´roll é mesmo dionisíaco, Raul, implacavelmente, confirmou as suspeitas acima ditas e foi réu confesso, quando escreveu “ROCK DO DIABO”, em cujos versos ele vocifera: “O DIABO É O PAI DO ROCK...”

-Eu quero é ter tentação no caminho, pois o homem é o exercício que faz... Minha espada é a guitarra na mão... Quero ver Beethoven fazer aquilo que Chuck Berry faz... Um pacto com Satã ainda quero tentar” Todas estas afirmações sarcásticas proferidas pela língua ferina de Raul Seixas, em várias de suas composições musicais e declarações à imprensa (esse poder destituído de inteligência e que trabalha com o intuito único de denegrir o moral das pessoas, pois obedece regras patronais), contribuíram sobremaneira, para dar vida e fôlego às suspeitas religiosas de que ele, realmente, era um representante do Diabo na Terra. Sem levar em consideração a sua tão alardeada cumplicidade com a magia negra e sociedades esotéricas. Fatos realmente verdadeiros, mas não da forma como foram ditos e havidos e considerados, pois Raul, ligado mesmo a tais sociedades e à magia de Crowley, a qual ele chamava de

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“magik”, pois não se tratava de magia negra e sim de magia condutora à liberdade e à Lei da Vontade, só queria mesmo era conhecimento e não se tornar membro assíduo e fanático de nenhuma ordem e dos ensinamentos de Crowley, Raul sugou apenas o que considerava benéfico para a humanidade. Raul, nos anos 70 e 76 começou a freqüentar a AA (cujas iniciais no passado foram interpretadas como Argentum Astrum), uma sociedade esotérica que simpatizou com a música “Sociedade Alternativa” e com o trabalho que Raul e Paulo Coelho estavam realizando na época. Foi então, que Raul se envolveu com o ocultismo, com Aleister Crowley e a tal AA chegou mesmo a fazer a doação de um terreno enorme para Raul, em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, que era um sonho dele naqueles longínquos anos de ditadura militar. Raul pertencia a AA tanto no Brasil como nos EUA. Chegou a iniciar 11 pessoas nos Estados Unidos, mas acabou sumariamente expulso da Argentum Astrum por ter violado uma lei sagrada: Raul simplesmente enrolou um “baseado” num pedaço de papiro egípcio, que era considerado sagrado.- Raul, na verdade, era um guerreiro em busca de conhecimentos básicos para dar continuidade ao seu trabalho em prol da paz e da auto-afirmação humana. Freqüentou seitas, sociedades esotéricas e magia por pura e simples curiosidade e aprendizado, jamais por acreditar na realidade dessas seitas e suas verdades absolutas que jamais o convenceram, mesmo porque, desde os 11 anos de idade, que ele já desconfiava de toda verdade que aparentava ser absoluta. Tanto é verdadeiro este raciocínio que, Raul usurpou sabiamente, muitos dos ensinamentos esotéricos e muita coisa de Aleister Crowley e os transformou em obras-primas musicais e poéticas. Exatamente nesta mesma época caótica, o governo militar se viu acuado diante de tais pregações e se sentiu

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incomodado com a tal de Sociedade Alternativa e decidiu então, acabar com aquelas pretensões maquiavélicas idealizadas por um artista que acabara de surgir no cenário musical, e até então, permanecia intocável pelos cães da ditadura militar, essa turba assassina que enegreceu a história política brasileira e cometeu torturas e assassinatos em nome de uma falsa ordem. Havia um novo líder revolucionário que não obedecia as regras estabelecidas e era preciso acabar com aquilo, era preciso cortar o mal pela raiz, antes que aquela árvore se tornasse frondosa e desse frutos e as pessoas começassem a procurar sua sombra. A ordem de prisão veio do I Exército, que queria os nomes das pessoas envolvidas com a Sociedade Alternativa. De acordo com os militares, a Sociedade Alternativa era um movimento revolucionário contra o governo. Raul foi detido no Aterro do Flamengo, levado para um local desconhecido, com uma carapuça negra na cabeça e completamente nu. Foi espancado, torturado, levou choque nas partes íntimas e foi enterrado até o pescoço por horas a fio, segundo ele mesmo me declarou em 1984, pois os agentes do governo queriam que ele entregasse os nomes das pessoas envolvidas com o que os militares acreditavam ser um movimento contra o governo. A Sociedade Alternativa pretendia se alastrar nacionalmente, sim, mas não como um movimento revolucionário, a Sociedade Alternativa é um movimento íntimo e pessoal, portanto, um movimento revolucionário mental, consciente. Você pode não estar dentro da Sociedade Alternativa, mas a Sociedade Alternativa sempre esteve dentro de você. Raul acabou sendo expulso do país em segredo quase absoluto, como ele mesmo dizia: “fui convidado a sair”, em 1974 e despejado em Nova York, sem dinheiro, sem amigos e sem destino. “A história dos mortos e desaparecidos políticos durante a

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ditadura militar no Brasil, incluindo o período imediatamente após o Golpe Militar de 1964, é o mais negro e abominável período que nosso povo e país atravessaram. Militantes de organizações de esquerda e muitas pessoas ligadas aos movimentos contra aquele estado de coisas, perderam a vida nas lutas contra a opressão política e a injustiça social existentes no Brasil. Artistas de todos os gêneros culturais foram torturados e expulsos do país e centenas de pessoas assassinadas sob tortura nos fétidos porões da ditadura. Em l979, a conquista da Anistia representou um marco na luta contra a ditadura, ainda que não tenha sido ampla, geral e irrestrita como almejava a maior parte da sociedade. Durante 25 anos, desde meados dos anos 70, familiares e ex-companheiros dos mortos e desaparecidos políticos lutaram para obter informações sobre seus parentes e amigos, organizados em comissões e contando com o apoio de setores da sociedade civil, especialmente entidades voltadas para a defesa e promoção dos direitos humanos. O principal fruto desse trabalho, sem dúvida, é o Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos. A partir de 1964, outra frente de luta foi intensificada no Congresso Nacional e durou quase cinco anos até a conquista da Lei 9.140/95, de 4 de dezembro de 1995, que estabeleceu condições para a reparação moral das pessoas mortas por motivos políticos bem como indenização financeira a seus familiares. Ao realizar esse reconhecimento legal, o Estado brasileiro assumiu a responsabilidade geral por seqüestros, prisões, torturas, desaparecimentos forçados e assassinatos cometidos no negro período. Assumiu também, as violações dos direitos humanos praticados pela ditadura militar, inclusive as ocorridas em virtude de suas conexões com os aparelhos repressivos de outros regimes ditatoriais então existentes na América Latina. (Trechos do livro

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“Dos Filhos Deste Solo – Mortos e Desaparecidos Políticos Durante a Ditadura Militar: A Responsabilidade do Estado), de Nilmário Miranda Carlos Tibúrcio, Primeira edição, agosto de 1999, Editora Perseu Abramo e Boitempo Editorial. As conquistas da Anistia, em 1979 e da Lei 9.140/95, em 1995, são de fato um marco importantíssimo na luta contra a ditadura militar. No entanto, muita coisa ainda está faltando para que o Estado assuma suas responsabilidades e permita que a verdade total venha à tona neste mar de lama e sangue. A ditadura militar só não pode ser comparada ao nazismo porque matou e torturou menor número de pessoas, mas, os requintes de crueldade foram idênticos. O nazismo e a ditadura militar devem ser escrachados sempre nos anais da história, para que períodos bestiais como estes, jamais tornem a se repetir. O nazismo, em poder assassino ficou muito atrás da ditadura militar, que foi muito mais violenta, o nazismo queria a extinção do povo judeu, enquanto que a ditadura militar lançava seus tentáculos assassinos sobre todos os suspeitos de serem seus inimigos, sem distinção de raça, credo, ou nível social. Raul Seixas teve muita sorte, ele poderia ter morrido nos porões da ditadura e lá em Nova York, era ajudado pela família e pela gravadora, que sempre enviavam dinheiro para que ele se mantivesse no exílio. A música GITA o trouxe de volta do exílio e o reestruturou como artista. A IDÉIA DE FUNDAR UMA CIDADE ONDE SEUS HABITANTES E NOVOS MUNÍCIPES SERIAM O ANTI-ADVOGADO, O ANTI-GUARDA, O ANTI-TUDO, era uma loucura naquela época. Mas vejam o poder de libertação que a música possui: Raul só voltou ao Brasil, logo depois de ter sido convidado a sair, depois que sua música mais conhecida estourou nas paradas musicais de todo o País. Uma mutação radical de todos os valores sociais, e a edição do Gibi-Manifesto, financiado pela gravadora Philips, que rapidamente foi recolhido pela polícia do

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Exército, “O MANIFESTO DE KRIG-HÁ”, foram os responsáveis diretos pela prisão e expulsão de Raul Seixas do país. Nos EUA, Raul foi dar com os costados na Geórgia, comprou um Cadilac do sogro e junto com Glória Vaquer, sua companheira na época, colocaram as coisas no veículo 57, cor-de-rosa, do tempo de Elvis Presley e atravessaram os Estados Unidos inteiros. Acabaram indo para Nova York e passaram a residir no Greenwich Village. Foi nesta mesma época “braba” que Raul conheceu John Lennon. Também cantou, acompanhado ao piano por Jerry Lee Lewis (The Killer), em Memphis, Tennessee. Desde a infância, Raul era um garoto problemático, assustava as mães que queriam suas filhas sempre bem afastadas daquela cópia esquizofrênica de James Jean. Raul morava ao lado do Consulado Americano, em Salvador, e junto com os amigos estrangeiros acabou injetando nas artérias o veneno do rock´n´roll trazido por eles e aprendeu ainda a falar inglês fluentemente. Falava melhor o inglês do que a própria língua portuguesa. Aprendeu a tocar sozinho um violão que ganhara de presente da mãe, ouvindo discos de rock: Chuck Berry, Litlle Richard, Jerry Lee Lewis, Elvis Presley, Ed Chrocan e outros, completamente desconhecidos no Brasil. Mas a sua grande paixão, foi mesmo Elvis Presley. Na adolescência, Raul era o próprio Elvis baiano, copiava o ídolo em tudo e por isso mesmo amedrontava as donas-de-casa, que acreditavam que ele tinha constantes ataques de epilepsia no palco. Naquela época o rock´n´roll era coisa de marginal. Só negro, empregada doméstica, caminhoneiro e malandro gostava do ritmo tribal e satânico importado da América, não era estilo musical para gente honrada e da sociedade ouvir. A repugnância que o rock causava era tão grande, que em Salvador existiam duas correntes musicais: O ROCK e a BOSSA NOVA, ambos

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os movimentos se odiavam entre si, e muitas brigas aconteciam entre as duas vertentes musicais, levando seus adeptos mais fanáticos a brigarem pra valer. Desde aquela época Raul já era considerado como uma criança problema (PROBLEM CHILD), repetiu cinco vezes o ano letivo, não gostava de estudar, matava as aulas constantemente para ouvir rock´n´roll, aprontava mil travessuras, levando sua mãe à loucura, ela não queria Raul nas ruas para que ele não aprendesse a falar palavrão. Raul fundou ao lado do amigo Waldir Serrão, o primeiro fã-clube de Elvis Presley, em Salvador, o “ELVIS ROCK CLUB”. A aparente e nítida revolta diante dos valores estabelecidos e regras sociais, religiosas e familiares, contribuiu para que todos vissem naquela esquálida e insípida figura, a encarnação do demo, porque ele sempre se opunha às regras idiotas e caretices estabelecidas e consolidadas, queria e lutaria por um mundo melhor, mais justo, no qual o homem pudesse andar de cabeça erguida, sem medo e completamente livre.

Raul queria deixar sua impressão digital no mundo. Então ele era mesmo a encarnação do demônio, o Opositor. Eu afirmo, sem receio de cometer nenhum equívoco: Raul, quando gravou o segundo LP de sua carreira, o “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez”, em 1971, pela CBS, criava naquele ano uma nova ordem mística e esotérica, pois o referido disco reuniu pessoas com idéias novas e foi gravado de forma alternativa, sem o aval da gravadora. Raul convidava as pessoas na rua para participar do disco, que foi produzido e gravado por ele, Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star. O disco foi gravado às pressas, durante uma viagem do diretor da gravadora e em seguida recolhido das lojas por ordem do mesmo, que não aceitou aquele ato de

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insubordinação. Mas a lenda que corre de que Raul teria sido expulso da CBS por causa deste disco não-autorizado, não é verdadeira. Raul apenas ouviu poucas e boas, mas não perdeu o emprego, justamente por ser um dos mais sagazes e capacitados produtores musicais. E foi justamente da junção da Sociedade da Grã-ordem Kavernista e Sociedade Secreta da Besta do Apocalipse, que nasceu o mais conhecido e venerado culto à liberdade, que deu à luz o “raulseixismo”: a SOCIEDADE ALTERNATIVA.

A Sociedade Secreta da Besta do Apocalipse era uma entidade secreta da qual Paulo Coelho fazia parte. Paulo dirigia também, a revista alternativa 2001!

Raulzito o procurou na época para dialogar sobre um artigo que Paulo Coelho havia escrito para a tal revista, que impressionara Raul, pois falava de discos voadores. Paulo Coelho, Raul Seixas, Adalgisa Halada e Salomé Nadine, fundaram a Sociedade Alternativa, em setembro de 1973. Baseada nos ensinamentos do bruxo inglês Aleister Crowley, que se autodenominava A BESTA DO APOCALIPSE, a Sociedade Alternativa foi mundialmente reconhecida, no dia 17 de fevereiro de 1974. A Sociedade Alternativa tinha um selo de reconhecimento impresso nas capas de alguns discos de Raul. Dois círculos, um maior e outro menor, desenhados e escritos no tipo gótico: IMPRIMATUR/SOCIEDADE ALTERNATIVA, escritos em forma arredondadas, dentro do círculo maior e completando o círculo menor, uma chave com dois degraus embaixo, simbolizando os degraus da iniciação, a chave que abre a porta lá do quarto dos segredos. A Chave da Vida. A Chave da Sociedade Alternativa. Na verdade, esta chave enigmática, que só foi impressa nas capas dos primeiros discos de Raul, só tornando a aparecer longos anos

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depois, quase no final de sua vida, no disco A Pedra do Gênesis, é uma adaptação da Cruz de Ansata (ANKH), um dos hieróglifos egípcios encontrados em toda a literatura que revela a pictografia egípcia. É a chave da vida como dizia Raulzito, o sopro da vida, daquele que quer evoluir, ousar crescer.

A chave que abre as portas do palácios suntuosos da vida. Sabemos que o poder da Igreja era tão forte nos primórdios que, absolutamente nenhum tipo de literatura podia ser impresso ou publicado sem que houvesse autorização expressa do poder eclesiástico, ou o Imprimatur da Igreja (IMPRIMATUR, em latim quer dizer imprima-se, pode ser divulgado). O Diabo na obra de Raul Seixas, é talvez o assunto mais importante, um fator predominante em sua obra musical e poética/filosófica. Quer queiramos admitir ou não, toda vez que ouvimos uma canção de Raul Seixas ou lemos seus escritos, adentramos os portais da cultura e da história, da literatura, da filosofia, da religião, da tradição milenar, da cabala e dos velhos preconceitos que empobrecem a alma. Entretanto, trata-se de um assunto, deveras curioso, causador de acirradas discussões, mas de fácil entendimento. Sabemos que na simbologia religiosa, Lúcifer quer dizer o Filho da Luz ou aquele que traz a luz. E Lúcifer era um anjo no qual Deus depositara toda a confiança, portanto, continua sendo um anjo, bom ou mal, ainda é um anjo criado por Deus, embora opositor dos desígnios divinos. Diabo quer dizer “opositor” e quem se opõe a qualquer regra constituída como verdade absoluta, toma consciência de si, adquire a Lei do Conhecimento do que é certo ou equivocado. O próprio Raul dizia: “A desobediência é uma virtude necessária à criatividade”. A Bíblia (cuja palavra vem do grego bíblia, que é o plural de biblion

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e significa “livros”) relata no livro de Gênesis, que a serpente (Diabo) o mais sagaz dos animais selváticos, que o Senhor havia criado, seduzira Eva, induzindo-a a comer do fruto da árvore do bem e do mal. A serpente (Diabo) a convenceu de que seus olhos se lhe abririam e que Eva, conseqüentemente, seria igual a Deus, sabedora de todas as coisas, conhecedora do bem e do mal, ou seja, tomaria consciência de si. Para a cultura eclesiástica, este foi o grande pecado, se opor ao Criador dos céus e da Terra. Mas, para a cultura esotérica, esta foi a grande virtude do primeiro homem. Concluímos por meio desta passagem bíblica, registrada no Gênesis que, quando Deus criou o homem e o colocou como guardião do Jardim do Éden, Adão certamente conversava com os animais, pois eis que, todos os animais selváticos estavam sob seu domínio, conforme relata a Bíblia e Adão fora encarregado por Deus de denominar e dominar a cada espécie de animal.

A Bíblia não confirma esta possível conversação entre o primeiro homem e os animais, mas é uma conclusão bastante lógica esta, pois, se esta possibilidade não fosse verídica ou pelo menos discutível, como explicar então, a ingênua cilada a que Eva se expôs?. Não fosse comum o diálogo entre homem e animal, quando o Diabo, em forma de serpente interpelou Eva, questionando-a, com absoluta certeza, Eva teria entrado em pânico ao constatar que uma serpente deitara-lhe falação e teria saído em desabalada carreira e gritaria pelo Éden afora, chamando por Adão e jamais teria caído numa armadilha tão visível e satânica. Imagine-se o o prezado leitor destes escritos raulseixistas, caminhando por uma trilha qualquer, em meio à bucólica atmosfera de uma mata ou bosque, quando repentinamente, enrolada a uma frondosa galhada de uma árvore

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secular, uma víbora enorme se interpusesse em seu caminho e o detivesse estático, dirigindo-lhe algumas inusitadas perguntas. Com certeza absoluta, o prezado leitor, de imediato e apavorado diante de tal possibilidade e susto, sofreria uma síncope cardíaca, um desmaio eterno, entraria em parafuso, ou jamais voltaria a raciocinar diante de tão improvável acontecimento, ou então, sairia em desesperada carreira, aos berros e se arranhando todo entre galhos e espinhos e nunca mais acharia o caminho de volta para casa. A história é mentirosa e disforme, é sempre bom aprender, mais uma vez que, a boca que beija também morde, escarra, vomita e lança impropérios. Para dar asas às superstições e às lendárias tradições e contos da carochinha, muitas vezes tidos como fatos acontecidos e reais, contamos ainda com as figuras repugnantes de bodes e deuses diabólicos, que na verdade, são figuras que simbolicamente representam o Universo.

O Bode foi escolhido como figura representativa de muitas culturas por ser o animal que melhor representava a primavera, devido à sua voraz capacidade sexual. As próprias Escrituras Sagradas estão recheadas de figuras horrendas que representavam as visões dos profetas. Veja, por exemplo, no Velho Testamento, precisamente no livro de Daniel: 8: 5-8, numa visão da parte de Deus, Daniel vê um “bode que tinha entre seus olhos um chifre sobressalente”. Uma visão tão assustadora para os olhos de qualquer mortal, descrita por Daniel como uma coisa comum entre os profetas: “Eu o vi atingir o carneiro, e golpeou o carneiro e quebrou-lhe os dois chifres, e o carneiro mostrou não ter alguém que o livrasse. E o bode assumiu ares de grandeza, mas, assim que se tornou forte, o grande chifre foi quebrado, e passaram a subir quatro em lugar

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dele.”. O bode peludo representa o rei da Grécia, e quanto ao chifre grande que sobressaia entre os seus olhos, este representa o primeiro rei. E que este mesmo chifre foi quebrado, de modo que por fim se ergueram quatro em seu lugar, haverá quatro reinos que se erguerão de sua nação, mas não com o mesmo poder.: (Daniel: *:21,22). A história mostra claramente que, esse “rei da Grécia” foi Alexandre, O Grande. Depois de sua morte seu império foi dividido entre quatro de seus generais: Seleuco, Nicator I, Ptolomeu I e Lisímaco, exatamente como fora previsto na visão de Daniel: “Por fim se ergueram quatro em seu lugar” Como também previsto, nenhum deles teve poder igualado ao de Alexandre, O Grande. Conclui-se, desta forma, baseando-se em visões fantasmagóricas e incompreensíveis ao entendimento humano, que desde a mais remota civilização, o homem e principalmente a religião, faziam uso constante de imagens, hieróglifos, estatuetas, totens e visões, de desenhos com formas estranhas e bizarras para representar situações vividas, batalhas perdidas ou vencidas, datas e registros históricos. Em algumas civilizações usava-se até mesmo o pênis nos portais das casas e em gigantes estátuas espalhadas pelas cidades, como representativos da virilidade humana e da colheita farta.

Deuses e fatos, tudo na civilização humana foi representado por figuras horripilantes, hoje consideradas pelas modernas civilizações como figuras representativas do Demônio, parece que as pessoas regrediram mentalmente, apesar do avanço científico e tecnológico. Tudo tinha significado e misticismo, como ocorre ainda hoje, em pleno Terceiro Milênio. No gnosticismo, por exemplo, Deus e Satã são a mesma pessoa. Deus é chamado de Abraxas pelos gnósticos. Deus é um andrógino que se desdobra na sua deusa, sendo ao

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mesmo tempo macho e fêmea. Dentro da concepção gnóstica, Abraxas (Deus) surge como Deus e Satã e Deus e Deusa, símbolo do pleroma, a essência divina que ao se manifestar o fez através dos pares opostos. A gnose nos proporciona este mergulho interior e esta experiência que é o vivenciamento de Deus e do Sagrado. Podemos atingir a Deus através da gnose do coração, do sentimento, da intuição e não pela razão. O gnosticismo era a parte esotérica do cristianismo e foi influenciado pelos mistérios da religião egípcia e pelos seus segredos. Na verdade, o gnosticismo é um movimento de características místicas anterior ao próprio cristianismo, com raízes na ciência egípcia e na filosofia grega. As idéias gnósticas se centraram na narração do destino da alma. Habitante do mundo imaterial, ela sofrerá uma queda na matéria onde era prisioneira. O gnosticismo se empenha em descobrir o caminho de volta para o mundo imaterial e a libertação da matéria. Os gnósticos viveram durante os quatro primeiros séculos da era cristã e pertenciam a seitas cristãs consideradas heréticas pela Igreja Católica. Foram perseguidos, mortos, e seus escritos queimados. Em 1945, depois da Segunda Guerra Mundial, um camponês achou em Nag Hammadi, no Egito, um pote de barro enterrado contendo uma biblioteca gnóstica. Para os gnósticos, o mal jamais poderá ser vencido ou extinto, mas será dominado, pois Deus e satã são a mesma pessoa, portanto, o ódio não é o real, é a ausência do amor.

Apregoa a religião, que a perfídia e astúcia do Diabo são suas maiores armas secretas, pois o encantador sabe insinuar-se nos seres humanos através dos sentidos, da fantasia e da concupiscência. A Bíblia afirma que o Diabo veio para roubar,

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matar, subjugar e enganar. Charles Baudelaire afirma, nas “Litanias a Satã”: “A maior astúcia do Diabo é convencer-nos de que não existe”. Afinal, quem é o Diabo, esta infame e temida criatura divina? Por que Deus criou o Diabo? O Diabo é a dor de Deus... na medida em que criou Satã até o extremo de fazer dele a mais bela e luminosa de suas criaturas e na medida em que, ao haver-lhe dotado de livre arbítrio, não pode impedir sua queda, Deus passou a sofrer por seu anjo imediatamente depois de tê-lo condenado.

Desterrado da relação de puro amor que havia presidido sua criação e sua vida na glória, o Diabo foi condenado ao mais atroz dos castigos: o da incapacidade de amar. Teólogos, estudiosos, religiosos de todas as crenças cristãs e leigos de outras inúmeras seitas, são unânimes em conclamar, que o Diabo atua, principalmente nas mentes torpes e alienadas, aliciadas dos grandes nomes da poesia, literatura e da música pop, em especial do rock pesado, transmitindo a sua mensagem infernal e destrutiva através desses seus mais arraigados seguidores: os artistas.

O Corão (Surata XXVI, versículos 221, 224-226) diz: “Acaso hei de informar-te sobre quem descem os demônios? Descem sobre os poetas. Não vês como andam errantes pelos vales e dizem o que não fazem?” Sem a existência do Diabo, que é o grande “bode expiatório dos erros humanos”, seria inexplicável a aventura na Terra. Culpado por todos os horrores da humanidade, sua presença entre nós é necessária e vital, pois ele é o único capaz de estimular no íntimo de cada um de nós o desejo de romper os padrões e conquistar a liberdade. Todo e qualquer homem que ousar desafiar e questionar os valores estabelecidos e resolva por si, caminhar do lado oposto ao que o Estado, a Igreja e a Sociedade

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perpetuaram como o lado certo, correrá o risco de ser tratado como louco, demoníaco, caótico e revolucionário. Com Raul não foi diferente, a Igreja Evangélica, comandada por líderes e pastores que exploram a ingenuidade do povo, enchendo os cofres de seus templos com ofertas e dízimos, se encarregou de pintar o nome de Raul Seixas com as cores do Armagedon e deu a ele o número 666, para retratá-lo como seguidor do demônio. As Assembléias de Deus chegaram a publicar em seu jornal evangélico “Mensageiro da Paz”, matéria alertando os jovens sobre a influência satânica na obra de Raul. Uma outra denominação religiosa, mandou imprimir milhares de panfletos e os distribuiu na entrada de um estádio onde Raul Seixas e Marcelo Nova se apresentavam, denominando-os como “representantes do Diabo”. Pastores evangélicos simplesmente fogem de tudo o que se relaciona ao nome de Raul seixas e sua música, como o Diabo foge da cruz, mas existem líderes religiosos mais inteligentes e menos fanatizados, que admiram sobremaneira a lavra poética, musical e filosófica do mais causticante pensador que a música brasileira já pariu e sabem que Raul, era, isso sim, um verbalóide, como todos nós o somos e que toda a sua complexa obra musical é um canto de louvor ao homem, à liberdade, e, sendo o homem imagem e semelhança de Deus, que está no próprio homem, é também um canto de louvor e glória à Divina Providência. Os evangélicos fanáticos, na realidade, passaram a perseguí-lo depois que tomaram conhecimento de seu envolvimento com a magia e o esoterismo e suas pregações de textos crowleyanos, além da criação da forte canção “Rock do Diabo”.

Foi a partir daí que a Igreja voltou a ter lampejos de viajar no túnel do tempo e recriar a Inquisição disfarçada em ataques verbais

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contra sua obra. Se a Igreja e seus líderes conseguissem alçar vôos mais altos, Raul seria, certamente, condenado à fogueira por heresia. Exatamente por temer esse poder assassino que a Igreja possui, toda pessoa que tivesse contato com as informações esotéricas, era obrigada a se recolher ao anonimato. Por essa razão única, alguns mais corajosos, que ousaram apregoar suas crenças e descobertas foram queimados na fogueira da Inquisição, outros foram excomungados e condenados ao desterro, ao vexame e à prisão perpétua. Daí o surgimento inevitável da fé em outras novas denominações e seitas. Muitas Ordens Iniciáticas e Sociedades Secretas Esotéricas, apareceram no mundo todo e continuam surgindo, pois a verdade tem facetas diferentes, mas vão dar todas no mesmo lugar. O filósofo e mago inglês Aleister Crowley, a figura mais poderosa, polêmica e enigmática da história do ocultismo, serviu de referência para a modelação da Sociedade Alternativa de Paulo Coelho e Raul Seixas, além de ter servido de ponto de referência em muitas de suas músicas. Atualmente, Paulo Coelho se desvinculou de todo envolvimento com essas seitas esotéricas e se vendeu ao sistema, considerado um dos maiores escritores do planeta, sua literatura barata e insossa, já foi traduzida para dezenas de línguas e seus livros vendem milhões de exemplares. Paulo Coelho é um mago que faz chover... dinheiro em sua horta. É o best-seller do momento, o livro agourento que ninguém entende, mas todo mundo quer ler... Os livros de Paulo Coelho são um insulto à inteligência humana. O único livro que ele escreveu no início da década de 80, que pode ser considerado razoável, é o pouco conhecido “Arquivos do Inferno”, editado pela Shogun Arte, editora que pertencia a Christina Oiticica, sua esposa, atualmente fora de atividade. Mas, a maior provocação à inteligência, foi

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mesmo a eleição de Paulo Coelho para a Academia Brasileira de Letras, o mago de araque foi transformado em imortal e a ocupação de uma cadeira na ABL, por esse senhor vendilhão do templo, é um disparate, uma vergonha para a Literatura Brasileira. Que vergonha para os grandes nomes da literatura nacional. Só vislumbro uma única vantagem na ascensão literária de Paulo Coelho: “A eternisação da memória de Raul Seixas”. Obrigatoriamente, ao lançar um novo livro a cada ano, Paulo, queira ou não, sempre é inquirido a falar sobre Raul Seixas. Ele deve sua fama e eternização como imortal da ABL, admita ele ou não, ao período de parceria musical com Raul, que inegavelmente, foi a mais criativa.

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ALEISTER CROWLEY

Aleister Crowley nasceu em 1875, em Leamington e faleceu em 1947, em Sussex, cidades inglesas. De família riquíssima, desde muito jovem seu interesse por magia negra e satanismo lhe trouxe inúmeros problemas. Chamado de “BESTA 666”, com a herança recebida da família, rodou o mundo, ingressando em várias ordens

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secretas e seitas. Apesar de freqüentemente perseguido e caminhando entre a genialidade e o charlatanismo, atraiu a atenção de intelectuais como Ezra Pound, Dylan Thomas, Yeats e tantos outros. Quando morreu, em 2 de dezembro de 1947, a imprensa britânica qualificou-o como “o personagem mais imundo e perverso de toda a Grã-Bretanha”. Crowley fora expulso da França em 1929, atuou como espião da Alemanha nos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. Na Índia, os jornalistas imputaram a ele a autoria do assassinato de uma mulher para sugar-lhe o sangue. A maioria dos artistas, especificamente os que fizeram do rock a sua bandeira da contestação, é influenciada pela obra mística de Crowley: John Lennon,, Alice Cooper, Ozzy Osborne, Kiss, Black Sabbath, Led Zeppelin, AC/DC, Rolling Stones, Sepultura, Renato Russo, Raul Seixas (talvez o artista que mais tenha se envolvido com Crowley) e uma infinidade de nomes. Hitler conheceu seus livros e chegou a praticar seus ensinamentos mágicos na seita que reunia vários oficiais nazistas, a Ordem de Thule. A maioria dos envolvidos com a obra de Crowley, coincidência ou não, teve morte misteriosa e anormal e outra parte a carreira destruída. A maldição de Crowley e do Satanismo parece ter destruído a vida de muitos dos seus seguidores.

Jimmy Page, o guitarrista do Led Zeppelin, nutria seus ávidos interesses por ocultismo e magia. Em 1970, ele comprou a Boleskine House, propriedade que pertencera a Aleister Crowley, cuja sinistra história do lugar registra uma decapitação e o incêndio de uma congregação da igreja. Page colecionava manuscritos de Crowley, livros e mobílias. A mansão Boleskine House fica à beira do Loch Ness (lago que diz a lenda, é habitado por uma serpente

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pré-histórica), onde Crowley havia vivido por longo tempo praticando seus rituais, pontuou a carreira e a vida de Jimmy Page de sucessivas derrocadas. Foi o fim do Led Zeppelin. Basta dar uma olhada na capa do disco Sargeant Peppers, dos Beatles, que a perturbadora face do maior satanista está impressa lá. John Lennon foi assassinado e George Harrinson, outro crowleyano, partiu antes do combinado como costuma dizer o sábio contador de “causos”, ator e cantor/compositor de extrema grandeza, Rolando Boldrin.

Renato Russo era um apaixonado pelos escritos de Crowley: morreu aidético e prematuramente, no auge da carreira. Raul Seixas, o mais causticante pensador brasileiro do século e um dos mais ferrenhos defensores de Crowley, morreu aos 44 anos, só e dominado pelo alcoolismo, depressivo e quase na miséria. E assim sucessivamente, muitas vidas e carreiras foram devastadas por causa da obra de Aleister Crowley, que chamava a si mesmo de a “BESTA DO APOCALIPSE”. Eu, Isaac Soares de Souza, também admirador da obra crowleyana, desde que me conheço por gente, minha vida tem sido uma sucessão de desgraças: traição, prisão e constante aperreio financeiro, só perdas e nenhuma vitória e anos de desemprego, nada dá certo em minha vida. Mas, sejam tais acontecimentos ocasionados ou não pela obra de Crowley, a veracidade dos fatos é que ele deixou uma imensa obra na história da magia e denominou esta obra de MAGIK, para tornar óbvio a diferença enter a sua magia e tudo o que havia no ocultismo. Em 1904, Aleister Crowley escreveu o chamado Livro da Lei, dividido em 3 partes. As duas primeiras com 22 páginas (lâminas) cada e a terceira parte contendo 21 páginas (lâminas). NUIT, HADIT e RA-HOOR-KUIT, a mãe, o pai e o filho (divindades do Panteon Egípcio). Raul Seixas

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usou e abusou de muitos textos e frases do Livro da Lei para compor suas músicas e escritos pessoais. O Livro da Lei teve apenas uma publicação no Brasil, em 1976, e misteriosamente foi retirado de circulação. Até hoje as pessoas interessadas em misticismo e magia têm medo da obra de Crowley, que é considerado, ao longo desses anos, como a encarnação do demônio. Até o dia de sua morte, aos 72 anos, Crowley sobreviveu de doações e da venda de seus livros. Morreu em relativa miséria, viciado em heroína. A Lei de Thelema não sucumbiu com a morte de seu criador, que como Raul, não dava a mínima para as leis impostas, fazia as suas próprias leis e afirmou que, uma imensa transformação ocorreria com o Novo Aeon, a Nova Era, a Era de Aquário, quando as pessoas entrariam em contato com a sua força interior, que não poderá ser sufocada nem limitada por leis sociais. Tanto Crowley quanto Raul Seixas, foram grandes filósofos, grandes pensadores, que contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento intelectual e místico do ser humano. Raul granjeou a antipatia de muitos ligados à Igreja Católica e muito mais latente na Igreja Protestante, por suas constantes citações referentes à obra de Aleister Crowley do que pela sua verborrágica fúria contra o Monstro Sist. Quando Raul declarava que “Não existe Deus senão o homem”, “Cada um é seu próprio Deus e religião”, queria expressar exatamente o princípio do satanismo que, antes de ser uma religião, trata-se de uma filosofia e como tal, contestadora.

Aleister Crowley foi, sem sombra de dúvida, o maior mago do século XX. Suas explorações no campo das drogas e do sexo, são enfatizadas em demasia por quase todas as pessoas que se põem a falar sobre ele. Esta sua faceta poderia ser explicada (talvez até

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possa ser justificada) por uma fuga genial da pútrida sociedade ultrapuritana em que foi criado. O protestantismo vitoriano foi uma das manifestações mais repressoras de que já se teve notícia e, Crowley, juntamente com alguns artistas de vanguarda de sua época, tiveram a ousadia de se colocar contra todo esse sistema de valores e criar um sistema próprio, que por pior que fosse era melhor do que o sistema imposto a ferro e fogo. A mente de Crowley, um misto de Nietzsche e Rabelais, com uma estética egípcia e um negro senso de humor, era de certa forma inescrutável. Crowley escreveu excelentes prosa e poesia, mas que de forma alguma superaram o interesse do mundo pela história de sua vida, atribulada, trágica e cheia de aventuras como foi, por si só, uma obra de arte.

Aleister Crowley nasceu em 1875, filho de um pastor protestante de uma seita fundamentalista, que também era dono de uma fábrica de cerveja. Seu pai morreu cedo deixando boas lembranças no menino, mas sua mãe, segundo ele, era uma “estúpida criatura”, e as brigas na adolescência logo fizeram com que sua mãe o chamasse de “Besta”, apelido que adotou posteriormente e que lhe trouxe boa parte de sua fama. Na escola se tornou brilhante e obediente, até que, foi culpado injustamente de um pequeno delito e foi posto de castigo, a pão e água, o que piorou sua já fraca saúde (tempos depois lhe receitaram heroína para a asma, substância que usou até os 72 anos de idade, quando morreu de parada cardíaca).

Crowley nunca esqueceu desse tratamento e desde menino começou a achar que havia algo de errado com o “senso comum” da

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época. Decidiu ser um homem santo e cometer o maior pecado, como em uma lenda dos Plymouth Brothers (culto de seu pai), que afirmava que o maior santo cometeria o maior pecado.

Na Universidade, Crowley se encontrou. Com muito dinheiro (da herança de seu pai) e livre da repressão da família, exerceu todas as atividades pelas quais ficou conhecido: alpinismo, poesia, enxadrismo, sexo e magia. E, dizem, foi excepcional em cada uma delas. Crowley travou contato com a Golden Dawn, uma ordem-pseudo-maçônica de prática ritualística e iniciatória que esteve no seu auge no fim do século passado. Subiu rapidamente pelos degraus da ordem, mas foi barrado por um grupo de pessoas que chegou a afirmar que: “a ordem não era um reformatório”. Crowley era desconsiderado pelos intelectuais e desprezado pela burguesia. Embora parecendo extremamente arrogante e narcisista em seus escritos, Crowley sempre buscou o reconhecimento e a aprovação das pessoas, e quando notou que isso não era possível, mantendo sua crítica atroz aos absurdos do puritanismo inglês, ele resolveu aparecer fazendo escândalos, reais ou falsificados, ao estilo do “falem mal, mas falem”.

Seus trabalhos mágicos e estudos místicos o levaram às mais diversas partes do mundo, experimentando todas as formas de catarse e intoxicação, que considerava como bases da religião. Mas, aos poucos se distanciava de MacGregor Mathers, seu chefe na Golden Dawn, até perceber que ele era uma farsa. Desiludido com a Golden Dawn, passou meses afastado da magia, mas voltou pouco a pouco, trabalhando sozinho. Em uma viagem ao Cairo em 1904, recém casado, sua esposa começou a falar coisas estranhas das quais ela não poderia ter conhecimento, e o mandou invocar o

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deus Hórus. Dessa invocação surgiu um texto pequeno, de três capítulos, intenso e esquisito, ditado por um dos “ministros” da forma de Hórus conhecida por “Hoor-Paar-Kaat”, Harpócrates, Hórus, a criança. Aiwass era o nome dessa entidade, depois reconhecida como Sagrado Anjo Guardião do próprio Crowley. Quando finalmente aceitou o Livro da Lei, estava em contato com um grupo germânico de iniciados que, em outro livro dele (The Book of Lies) encontraram um segredo de magia sexual que pensavam ter monopólio no ocidente. Crowley perdeu muito dinheiro publicando seus próprios livros e vendendo-os muitíssimo barato. Ele sobreviveu de doações e venda de livros até o fim da vida. E morreu em relativa miséria, ainda viciado em heroína, pouco tempo depois de terminar seu último trabalho, um livro sobre o Tarô, que Lady Frieda Harris havia pintado com suas indicações. (Muitas das informações contidas neste pequeno capítulo sobre Crowley, foram baseadas e retiradas da Biografia de Aleister Crowley, na Internet, de autoria de Eduardo Pinheiro). O mais abjeto dos seres humanos que já habitou este orbe, se auto-intitulou a “Besta666”, exatamente porque tais palavras significam “A LUZ DO SOL”. Crowley, foi, com certeza, um dos maiores pensadores da história e Raul sacou essa sapiência nas inúmeras obras de Crowley, transformando muita coisa do mago em músicas que se tornaram verdadeiros clássicos. Hoje a obra literária, a poesia e o pensamento de Crowley estão sendo traduzidos e publicados em várias línguas. Alem de ter sido um exímio escritor e poeta, Crowley foi um grande alpinista e pintor. No Brasil, a Editora Madras já publicou vários livros de Crwley e uma biografia excelente, que conta toda a trajetória do mago, que foi um dos homens mais polêmicos de todos os tempos.

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Ele, Raul Seixas, era um pacifista, trabalhou incansavelmente pela paz, pela liberdade de pensamento, por um mundo mais justo e pela igualdade do homem. Carpinteiro do Universo, Lobo Conselheiro, um homem-bomba que ousou expor sua força descomunal, que brotava de seu próprio peito e foi mais longe ainda, neste imenso deserto que é a vida, ao declarar cansado, escancarando seu interior, jogou em terra árida as

sementes da Sociedade Alternativa, e provou que todas as teorias humanas são trapos de imundície e não passam de bestas conclusões febris. “Eu sotriste. Não vivo, vegeto. O vegetal é mais feliz. Estou triste com os homens e com o mundo. Estou triste com Deus. Estou triste comigo mesmo. Eu realmente não sei nada. O caminho da felicidade? É vedado a mim provar desse doce cálice. Tentei controlar minha vida, afinal, eu jamais tive êxito. Tudo mudou para mim. Não faço

nada com vontade, não tenho vontade de escrever, de tocar, só quero dormir, só sonhando sou mais feliz. Vivo só, muito só. Trabalho contra os caretas do mundo, contra o torpor, a imprecação, contra a arapuca que nos foi armada e durante séculos vivemos conformados, presos nela, comendo o alpiste que nos dão. Trabalho para sair da arapuca com todos os que estão querendo

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Ele, Raul Seixas, era um pacifista, trabalhou incansavelmente pela paz, pela liberdade de pensamento, por um mundo mais justo

igualdade do homem. Carpinteiro do Universo, Lobo bomba que ousou expor sua força

descomunal, que brotava de seu próprio peito e foi mais longe que já estava

cansado, escancarando seu interior, jogou em terra árida as sementes da Sociedade Alternativa, e provou que todas as teorias humanas são trapos de imundície e não passam de bestas conclusões febris. “Eu sou triste. Não vivo, vegeto. O vegetal é mais feliz. Estou triste com os homens e com o mundo. Estou triste com Deus. Estou triste comigo mesmo. Eu realmente não sei nada. O caminho da felicidade? É vedado

r desse doce cálice. Tentei controlar minha vida, afinal, eu jamais tive êxito. Tudo mudou para mim. Não faço

nada com vontade, não tenho vontade de escrever, de tocar, só o só, muito só.

Trabalho contra os caretas do mundo, contra o torpor, a imprecação, contra a arapuca que nos foi armada e durante séculos vivemos conformados, presos nela, comendo o alpiste que nos dão.

ir da arapuca com todos os que estão querendo

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ser pássaros livres outra vez.” Nenhum artista brasileiro ousou tanto e chegou ao ponto de vociferar seu descontentamento na cara do regime militar, através de sua arte, como o fez Raul Seixas. Desde o dia 13 de dezembro de 1968, quando foi editado o Ato Institucional Número 5 (AI-5), os mecanismos ditatoriais foram reforçados e estabelecidas as bases legais e institucionais para a instauração de um sistema de repressão policial-militar sem precedentes, que todos os artistas e qualquer cidadão comum, poderia ser preso, torturado e morto ao se opor ao Estado Militar. A partir dessa época macabra, começaram a coordenar-se as operações contra a resistência ao regime militar num organismo especial, o DOI-CODI (Departamento de Operações e Informações Centro de Operações de Defesa Interna). Desde 1968 até 1979, quando foi promulgada a Anistia, toda e qualquer manifestação popular e artística, de resistência ao regime era severamente punida, com prisão, tortura, morte e exílio e um número muito maior de pessoas teria sido barbaramente assassinada sob tortura se não tivesse saído clandestinamente do país. Alguns artistas de vários segmentos, foram presos, torturados, espancados, interrogados e outros expulsos do país e suas obras proibidas, outros, inconformados e sob vigilância do Exército, se auto-exilaram. Raul foi um dos poucos, que apesar de ter sido preso, torturado e exilado, teve a sorte grande de não ter sido assassinado nos calabouços da intolerância militar. Extinta a ditadura militar (extinta?), ainda podemos vislumbrar muitas coisas semelhantes àquele período tétrico, pois disfarçadamente, a ditadura continua fomentando desgraças, deixou de torturar pessoas, de exilá-las e de prendê-las à toa, mas o que fazem para destruir a cultura e a educação, a saúde do povo, relegando-o a mais esquálida miséria e

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inércia, confirma a presença desapercebida de uma ditadura ainda mais destrutiva dos sonhos e direitos humanos. A Polícia Militar, essa turba, discípulos de Torquemada, não abandonou as práticas ditatoriais, continua a investir contra os direitos do cidadão. É paga pelo povo para protegê-lo e dar-lhe segurança, mas ao contrário, espanca-o, desacata-o e vive de rabo preso com o crime organizado, se corrompe e corrompe. *(...) Povo que tem a PM que temos não precisa de inimigo externo. O que é que o Presidente da República está esperando para extinguir – de uma penada! – esse inimigo interno do povo brasileiro? Que lhe matem mais filhos e irmãos? Que lhe ceguem os olhos e amputem as pernas? O presidente dispõe da medida provisória, que maneja com perícia e munificência. Pois, use-a, para acabar com esse bando de jagunços fardados, comandados por um bando de facínoras. Temos dito! Será o caso de pedir asilo ao estrangeiro depois dessa?*

Quem é que não se recorda de um fato triste ocorrido em 1982, quando a polícia carioca amarrou com corda vários trabalhadores, arrastando-os morro abaixo como se fossem escravos? O vergonhoso episódio se de em setembro de 82, no Rio de Janeiro e só não ficou impune porque o fato estarrecedor ganhou as manchetes nacionais e mundiais. O fotógrafo Luiz Morier e o repórter J. Paulo da Silva, do Jornal do Brasil, subiam o Morro da Coroa, quando depararam com sete trabalhadores sendo presos por policiais militares. Estavam amarrados pelo pescoço, exatamente como os escravos eram conduzidos das saídas das galés dos navios para o mercado negreiro. Todos amarrados com corda ao pescoço. Os policiais justificaram a atitude desumana e criminosa com “medida de segurança”. Terminaram demitidos, um acontecimento inédito,

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pois quase sempre são inimputáveis por seus atos vis. Mas a humilhação ficou eternizada. A foto que o fotógrafo fizera daquela situação constrangedora ganhou o Prêmio Esso de 1983. Num país como o nosso, que é uma praga de maldade e lixo, corrupção e desigualdade social gritante, já não há quem negue: vivemos atolados na lameira e no mesmo lodo todos manuseados... Brasil, problemático e febril, o que não chora não mama, o que não rouba é um imbecil...

Quem vai para a cadeia é preto, pobre e puta. É a justiça do PPP. Portanto, não me venham com desculpas esfarrapadas, a polícia militar tem de ser extinta já, pois o óbvio não confunde nem ao daltônico. Os verdadeiros criminosos estão aqui fora , do lado de cá das muralhas das podres prisões, essa gigantesca indústria do crime, que tem enchido o bolso de muita gente tida e havida como honesta. Muitos justificam os crimes cometidos pela polícia, alegando que um policial trabalha sob pressão, sem armamento de qualidade, só que esse armamento sem qualidade e fraco, tem matado ao longo dos anos, não bandidos, mas a grande maioria dos assassinados pela polícia, comprovadamente, é inocente, pobre e preto. Dizem que a polícia ganha um soldo miserável, mas vejam, defensores da justiça corrupta e dessa polícia mal educada e violenta e prestem bem atenção: Se todo o povo brasileiro, em sua totalidade, em todos os recantos deste país continente, ganhasse o dito salário miserável que a polícia ganha e tivesse a garantia trabalhista e a impunidade que a polícia militar tem, certamente o quadro social seria outro. Ninguém agüenta mais essa polícia que aí está, corruptível, prepotente e mal educada e assassina. Essa PM tem de ser extinta já. Ou declare-se guerra ao povo brasileiro.

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Aposto minha pele como, extinta a polícia, a violência diminui. Pois, essa PM que aí está, não passa de um resquício da Guarda Nacional, um monte de assassinos fardados e facinorosos, comandando janízaros, que promovem a violência maior contra o povo mal informado que a sustenta. Ou se extingue a PM, ou as Forças Armadas renegam que esta seja uma força militar, ou a PM assume como legítimo patrono, não Tiradentes, mas Joaquim Silvério dos Reis. *Quais capitães-do-mato, investem contra sem-terra, sem-teto, sem-nome, pobres, pretos, mestiços. Que desonra para a farda de Caxias. O lado glorioso que há, nas Forças Armadas devia impedir que o adjetvo “militar” continuasse sendo usado por essa gente. *(Estas admoestações aqui injetadas sobre a pouca-vergonha que é a polícia militar brasileira, são de autoria do genial e corajoso Mylton Severiano, publicadas em sua coluna mensal na revista CAROS AMIGOS, números 32/Nov. 1999 e 34/2000. Baseado em tão intrépidas palavras, escrevi uma letra de música intitulada “SECURITATE”, parceria com Mylton Severiano, desconhecida por ele, que somente agora com o lançamento deste livro chegará ao seu conhecimento. A letra acima aludida, encontra-se numa das últimas páginas deste “Raul Seixas, O Verbalóide”). Raul sabia como ninguém driblar a censura e a ditadura e talvez, por causa dessa artimanha, tenha conseguido se safar de um destino macabro. Com o lançamento do compacto que trazia a obra-prima “Ouro de Tolo”, Raul se tornaria um mito. O compacto foi tão procurado, que precisou ser prensado duas vezes em apenas uma semana, um fenômeno naqueles tempos. Ouro de Tolo, cuja melodia é uma espécie de canto gregoriano com apenas uma diferença essencial: naquele estilo medieval de compor hinos havia muitas notas para pouco texto, uma única sílaba podia percorrer uma linha melódica

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de mais de dez notas. Em “Ouro de Tolo”, Raul colocou numa nota só, mais de dez palavras. Ao ser convidado a abandonar o país em 1974, antes de embarcar para os EUA, ele havia deixado gravado o disco “GITA”. Neste disco, o mais conhecido do maluco beleza e o mais vendido, Raul parecia um messias pronto para curar as dores da humanidade. Um messias indeciso. GITA estourou em todo o Pai, um Record de vendagem. O governo militar, se viu então, obrigado a buscá-lo de volta. Era o fim de um curto exílio. A messiânica GITA, além de salvar Raul do exílio, trata-se de um trecho, um conjunto de versos do décimo capítulo da BAHAGAVAD GITA, em tradução livre. BHAGAVAD GITA é o terceiro capítulo do MAHABHÁRATA, que é o maior poema épico escrito em toda a história de todas as culturas. O MAHABHÁRATA é composto de cem mil estrofes, divididas em cem capítulos e remonta à época védica (cerca de 3.000 a. C). “A Índia, que nos deu a filologia, a álgebra, a trigonometria, os algarismos decimais, o jogo de xadrez e muitas outras coisas, que nem sequer imaginamos que vieram de lá, como a manga, a jaca, a cana e o gado vacum (para não dizer também a linguagem dos deuses, através da cultura greco-romana, deu-nos também a verdade revelada por KRISHNA na BHAGAVAD GITA. A cultura indiana é uma das mais misteriosas do mundo, com uma população que ultrapassa mais de 1 bilhão de habitantes, a pobreza é latente e chocante e o povo é dividido em castas e existem na Índia um número incontável de dialetos e expressões religiosas.” - (BHAGAVAD GITA CANÇÃO DO DIVINO MESTRE, tradução, introdução e notas de Rogério Duarte/Companhia das Letras).

Foi com os BEATLES que Raul vislumbrou a possibilidade de falar sobre todas as coisas que o atormentavam, através da música

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e começou então a compor freneticamente suas próprias letras e músicas. Em 1962, estreava à frente de seu primeiro grupo de rock, na TV Itapoá, “OS RELÂMPAGOS DO ROCK”. No ano seguinte, rebatizou o grupo com o nome de “THE PANTERS” e se apresentava em bailes, acompanhando astros da Jovem Guarda, que se apresentavam em Salvador. Tudo começou a mudar na vida e na cabeça do irrequieto adolescente Raulzito. Em 1965, com o estouro da Jovem Guarda, o grupo, já com o nome de “RAULZITO e OS PANTERAS”, era o grupo mais caro da Bahia e os astros da Jovem Guarda só queriam ser acompanhados pelo grupo do qual era o líder. Foi nesta mesma época, a convite de Jerry Adriani, que o grupo decidiu tentar a sorte no Rio de Janeiro.

Os garotos baianos, cheios de sonhos e a vontade de vencer, gravam então, seu primeiro LP: “RAULZITO E OS PANTERAS”, um disco estranho para ser entendido naquela época, as letras das músicas falavam de agnosticismo e não aconteceu junto ao público, que não entendia aquela linguagem. O disco foi um grande fracasso. Mais adiante, Raulzito descobriu que o disco, não atingira uma popularidade maior por puro descaso da gravadora, que não tinha divulgado o disco.

A Odeon prensara o disco apenas para preencher o catálogo de gravações anuais, pois, todo final de ano a gravadora tinha de prestar contas do que realizara para a sede estrangeira, ou seja, tão-somente havia gravado aquele LP para preencher os requisitos, a quota de gravações anuais, prática esta que, até hoje as gravadoras que mantêm filiais no Brasil, costumam fazer. Decepção, raiva e sonho desfeito, o grupo se dissolve e Raulzito e os panteras regressaram a Salvador. Desiludidos e carcomidos pela depressão

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e tristeza, Raulzito retoma os estudos e faz filosofia por conta própria. Em 1970, novamente a convite de Evandro Ribeiro, então diretor da CBS, Raulzito regressa ao Rio de Janeiro, agora casado com Edith Wisner, para ser produtor de discos. Em sua nova carreira de executivo, produz discos bregas e da Jovem Guarda: Jerry Adriani, Trio Ternura, Renato e Seus Blue Caps, Tony e Frankie, Diana, Odair José, Leno e Lílian e outros mais. Descobre e produz o fenomenal Sérgio Sampaio e muitos outros nomes que se destacaram na década de 70. Em 1972, por influência do amigo Sérgio Sampaio, que, sem que Raul soubesse, inscreveu duas canções dele no VII FIC. Ao tomar conhecimento da classificação das músicas que Sérgio havia inscrito para concorrer no Festival, Raul decidiu participar do evento promovido pela Rede Globo (ou seria Rede Lobo?). Sérgio Sampaio houvera inscrito de sua autoria, apenas uma canção, que acabou virando seu único sucesso nacional: “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, música esta, que muita gente tem certeza que foi composta por Raul e dada de presente a Sérgio Sampaio, coisa da qual não duvido, pois ela tem tudo a ver com a lavra contestatória de Raul, embora Sérgio também tenha sido um dos mais geniais compositores deste país farsante. As duas canções de Raul que Sérgio inscrevera no VII FIC: “LET ME SING” e “EU SOU EU, NICURI É O DIABO”, foram ambas classificadas, o que levou Raul a assinar seu primeiro contrato com a gravadora Philips. É míster dizer e deixar registrado que, mais uma vez, neste festival, Raul conheceu as garras afiadas da censura. Suas duas canções estavam para ser as ganhadoras do VII FIC, mas os federais estavam atrás do palco, dando ordens e fazendo ameaças de que, se ele recebesse os primeiros lugares estaria perdido. Raul ficou apavorado, nunca tinha presenciado atitude tão absurda e insana. Ele não podia

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ganhar o Festival? Tudo porque o júri, de acordo com os federais, era anarquista. Mas, Sérgio Sampaio foi bem classificado e sua música virou um sucesso nacional. Raul iniciou sua meteórica carreira impulsionado pelo amigo Sérgio Sampaio, que constantemente o instigava a gravar suas composições e a cantar. Provando desde o começo o gosto amargo da perseguição desencadeada pela besta e draculina Censura, Raul prosseguiu até o fim de sua carreira, transpondo obstáculos e velhos preconceitos morais. Em 1973, pela Philips, Raul lança o antológico LP “KRIG, HÁ-BANDOLO”, um disco fenomenal, um dos melhores discos já gravados em toda a história da música popular brasileira.

Neste mesmo ano, 1973, foi lançado o LP “OS 24 MAIORES SUCESSOS DA ERA DO ROCK”, composto de clássicos do rock. O nome de Raul permanecia anônimo, sem crédito na capa, no lugar do seu nome aparece o nome de um grupo supostamente internacional: ROCK GENERATION. Todo armado pela gravadora para dar a impressão de que se tratava de um lançamento especial. Em 1975, este mesmo LP seria reeditado com o título de “20 ANOS DE ROCK”, com enxertos de palmas e uma introdução inédita para dar a impressão de que se tratava de uma gravação atual e ao vivo. Tudo uma grande enganação, uma jogada de marketing, que é um costume das gravadoras para enganar a todos nós consumidores, que já nascemos com cara de abortados e babacas. Só que desta feita, Raul teve o reconhecimento merecido, aparece na capa do disco, bradando que era ele o próprio rock e deixando clara, a farsa que a gravadora tinha arquitetado outrora. OS 24 MAIORES SUCESSOS DA ERA DO ROCK, foi relançado em 2002 pela MZA MUSIC, em sua forma original. Raul Seixas, desde o início de sua

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carreira, sofreu acirradas perseguições. Eu tenho a nítida impressão, se não a certeza, de que as pessoas tinham verdadeiro pavor de sua língua ferina e servida. Raul era um homem destemido, que ousava vomitar seus conhecimentos e indignações na cara-de-pau do Monstro Sist. Cutucava as nádegas da society com vara curta e não temia suas reações. Ao sistema ele deu a alcunha de MONSTRO SIST. Um gênio esboçado, um filho da dor, mas dono de seu nariz, forte e íntegro, jamais se curvou aos modismos baratos, não pertencia a linha evolutiva da música popular brasileira. Ele era único e exclusivo. Raul aprendeu latim só para ler METAMORFOSES, de Ovídio, no original. Com dezenas de canções açucaradas e simplórias gravadas por cantores que ele próprio produzia, confessou não gostar de nenhuma delas e sempre dizia: Para entrar no buraco do rato, de rato você tem que transar”. “Eu tenho uma visão nítida da minha posição e não pretendo arredar pé dela. Nem vou fazer música de raiz. Aliás, a única raiz que me agrada é a da mandioca”, enfim, a integridade artística desse gênio transcende a honra humana e artística, muito diferente de artistas vendilhões do templo, tais como Fagner, que chegou a gravar ao lado de uma das piores duplas sertanejas da história, os intragáveis Zezé di Camargo & Luciano, que também tiveram a infeliz idéia de gravar a clássica “TENTE OUTRA VEZ”, transformando esta canção de Raulzito num grunhido insuportável e irritante de se ouvir. Ou mesmo o que ocorreu mais recentemente com Zé Ramalho, que teve a desfaçatez e a infeliz idéia de gravar uma de suas belas canções dividindo os vocais com a mais tenebrosa e intragável das duplas sertanejas: Chitãozinho & Xororó. Quer mais? A dupla mais antiga entre os chamados modernos desse ritmo insuportável, também gravou a belíssima “TENTE OUTRA VEZ”, pois alegaram os irmãos de Astorga-

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PR que, prestes a abandonarem a carreira, quando ela sofreu uma queda, que deveria ser eterna, ao ouvirem no carro esta canção de Raul, tiveram um estalo e decidiram tentar mais uma vez. Que pena, deveriam ter parado há muito tempo. O que dizer então, das vozes perturbadoras e feias, que doem nos tímpanos, de sujeitinhos que se autodenominam cantores como Leonardo, Daniel e quetais? Meu santo deus da música, livrai-nos desse mal, amém! Tudo isso é imposto pelas gravadoras e os vendilhões do templo, como cróias embevecidas pelo sucesso fácil, vendem-se aos poderosos da indústria fonográfica, esse cartel de exploração da ingenuidade do povo. Vade retro, Satanás! Duvido e pago para ver, se Raul estivesse vivo, ele jamais gravaria ao lado desses artistas enganadores, mesmo que recebesse ordens expressas de sua gravadora, antes mandaria seu diretor artístico para o inferno e rescindiria no ato da proposta, que é um atentado contra a inteligência, seu contrato com qualquer gravadora que fosse. Por que é que uma música tão verdadeira quanto a que compôs Chico César e Rita Lee, gravada por Chico, o geniosinho de Catolé do Rocha, nunca toca no rádio e nem na TV? Simplesmente porque a canção citada desmascara a indústria da música sertaneja e dos Rodeios. “Odeio Rodeio e sinto nojo quando vejo um sertanejo cantar...” Quer mais? Por que é que Zé Geraldo, o mineiro de Rodeiro-MG, que tem uma vasta obra musical e poética ligada às coisas do campo, com um pé no rock e um pé no mato, não faz tanto sucesso? Porque ele é mais um dos gênios musicais honrados, que não se vende por um punhado de dinheiro e sucesso. Mais? Por que Jorge Mautner, o semideus do Kaos, não é conhecido nacionalmente e também não é tocado no rádio e nem na TV? Porque não se adeqüa às imposições da indústria da música.

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Raul Seixas, filho da Bomba Atômica e do rock´n´roll, cujo auge do seu egoísmo era sempre querer ajudar, jamais se rendeu à indústria e hoje são raros os artistas que não se deitam com o poder. No princípio era o Verbo e o Verbo se fez carne e habitou entre nós. O Verbo é a palavra e quem não tem palavra, servirá eternamente como escravo de sua própria falta de eloqüência e coragem. Todos nós somos verbalóides e talvez por causa dessa desmesurada convicção verborrágica, Raul tenha sofrido e queria que todos sofressem um verdadeiro processo de profanação interior, para então, poder se livrar dos valores que não são nossos.

A única realidade é o verbo ser: “Eu sou e não admito imposições”. Todo homem tem a obrigação de questionar permanentemente, todas as instituições: Família, Igreja, Estado e Deus. Um Verbalóide chora, ri, luta, perde e ganha, mas, antes de tudo, fraqueja muitas vezes, conquista glórias, mas não desiste jamais, pois tem de agir como verbalóide convicto que é. Nada somos senão um átomo de Deus, sempre estivemos mortos antes de nascer. A estrutura mental dos seres humanos é o verbo ser: tudo é ou tudo está. “Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim para me governar é um tirano, um usurpador e eu o declaro meu inimigo.”

Assim como Proudhon, Raul levava a sério estas palavras e nunca admitiu que guiassem seus passos firmes rumo ao pedestal da tão almejada liberdade. Ele não era nenhuma ficção, era um ser humano como qualquer outro, dividido, com as mesmas angústias e fraquezas, mas extremamente corajoso e inquiridor, tinha os pés no chão, sabia a hora exata de iniciar o combate e sabia a hora certa para a trégua, andava de passo de leve para não acordar o dia,

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pois era com o Sol que ele dividia sua energia. Raul era um cidadão comum como todos nós somos, tanto que sua ligação com as mulheres era um de seus assuntos preferidos: “O homem ama e odeia a mulher, eu amo e odeio as mulheres. Eu me amo muito, certo? Eu acho que a pessoa que não se ama não pode amar os outros. Quando eu me ligo a uma mulher, eu tenho que dar parte do meu amor a ela. E isso me irrita profundamente. A mulher arranca um pedaço do meu amor. Quando isso acontece, o amor morre. Eu morro. Morro para nascer de novo para uma outra mulher. A mulher é a boceta do universo. Não transo extras.”

A primeira mulher de Raul Seixas, Edith Wisner, era filha de pastor protestante, virgem e, segundo afirmações de dona Maria Eugênia Seixas, foi a mulher que Raul mais amou, com Edith Raul teve sua primeira filha, Simone Andréa Seixas. Glória Vaquer, sua segunda mulher e mãe de Scarlet Seixas, é irmã de Gay Vaquer, guitarrista que acompanhou Raul por algum tempo. Trocou o nome por motivos óbvios e hoje se chama Jay Vaquer, vive como as duas primeiras mulheres de Raul, nos EUA. Jay foi marido da cantora Jane Duboc, com quem tem um filho também chamado Jay Vaquer, cantor e compositor. Em 1999, Jay gravou um CD intitulado “Relembrando Raulzito” e escreveu o polêmico livro “OPUS 666/TRIÂNGULO DO DIABO”, que gerou uma briga feia entre ele e Kika Seixas, grande amor da vida de Raul e sua grande colaboradora. Com Kika Seixas Raul viveu alguns anos e teve com ela com sua terceira filha, a beldade e DJ Vivian Costa Seixas. Nos últimos anos de sua vida, conheceu e passou a viver com Lena Coutinho. Viveram pouco tempo juntos e mais uma vez aconteceu a separação. Raul tinha necessidade constante de companhia humana,

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todas as mulheres que viveram com ele, participaram esporádica e fielmente de seus discos, compondo (?), empresariando, cantando ou fotografando. A mais ativa delas, sem sombra de dúvidas, foi Kika Seixas, que até hoje, transcorridos 17 anos da morte de Raul, ainda realiza shows e exposições anuais em homenagem a ele. O projeto O BAÚ DO RAUL deu à luz livros póstumos, discos raros e videografia. Kika é uma verdadeira guardiã dos pergaminhos raulseixistas. Raul era um homem simples, sujeito às mesmas intempéries da vida como qualquer habitante do planeta Terra, com crises pessoais, existenciais e exposto às dores de amores frustrados. Um verbalóide, com apenas uma pequena e vital diferença, ausente na maioria das pessoas: íntegro, guerreiro, inigualável, pronto para todas as batalhas, forte, destemido, um verdadeiro lobo conselheiro, um simples verbalóide, honrado e solidário como poucos. Aliás, “O VERBALÓIDE” era também, o título de um livro de filosofia que Raul sonhava publicar, mas que acabou não acontecendo, fato extremamente triste para seus milhares de seguidores e cujos fragmentos textuais acabaram saindo em livros posteriores à sua morte, fragmentados. Por isso, para homenageá-lo, decidi dar a este meu segundo livro sobre Raul, o título de “RAUL SEIXAS, O VERBALÓIDE”.

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*A ERA DO ROCK**A ERA DO ROCK**A ERA DO ROCK**A ERA DO ROCK*

A Era Rock começou, precisamente, em 1955, quando “Rock Around The Clock” com Bill Halley, reinou absoluta durante algumas semanas no primeiro lugar da BILLBOARD, quando todos os EUA e o resto do mundo tomaram conhecimento do nascimento do varão negro chamado “rock´n´roll”. Nessa época, Raul estava completando 10 anos de idade e foi contaminado por esse vírus negro e não alcançaria mais a cura, embora tenha incursionado por outros caminhos musicais e rítmicos, o rock uma doença incurável, até o seu último dia de vida. “Antes de ser um estilo musical, rock´n´roll é uma história social”. O rock explodiu no cenário americano em meados dos anos 50, entretanto, sua ascendência musical pode ser traçada voltando-se alguns séculos, nas tradições musicais da África

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*A ERA DO ROCK**A ERA DO ROCK**A ERA DO ROCK**A ERA DO ROCK*

Rock começou, precisamente, em 1955, quando “Rock Around The Clock” com Bill Halley, reinou absoluta durante algumas semanas no primeiro lugar da BILLBOARD, quando todos os EUA e

do nascimento do varão negro chamado “rock´n´roll”. Nessa época, Raul estava completando 10 anos de idade e foi contaminado por esse vírus negro e não alcançaria mais a cura, embora tenha incursionado por outros

musicais e rítmicos, o rock uma doença incurável, até o seu último dia de vida. “Antes de ser um estilo musical, rock´n´roll é uma história social”. O rock explodiu no cenário americano em

sua ascendência musical pode ser se alguns séculos, nas tradições musicais da África

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e Europa. O rock´n´roll teve início com a evolução do rock clássico, que extraiu suas raízes dos estilos rhythm and blues, blues, country e rockabilly. Os meados dos anos 50 foram um período no qual o racismo, que até hoje envergonha o ser humano, dando-lhe a conotação de animal irracional, permanecia exercendo uma poderosa força plítica e cultural. A discriminação racial ainda era legal em muitos Estados americanos, linchamentos ocorriam no Sul, assim como a perseguição (e eventual assassinato) de líderes do crescente movimento de luta pelos direitos civis. Por que que um artista com o talento de Chuck Berry como compositor, guitarrista e performático alcançou tão-somente um patamar limitado de sucesso comercial, enquanto que o mundo alçou ao Trono de Rei do Rock, um talento bem menor como o de Elvis Presley? (Rock´n´roll: Uma História Social – Paul Friedlander/Editora Record).

Para a alegria e auto-conhecimento geral da nação, Raul permaneceu fiel ao rock, sem cair na arapuca da ignorância dos modismos baratos e da falta de vergonha na cara, que transformou a nossa MPB num monturo fétido de merda. Antes de Bill Halley chegar com Rock Around the Clock, o filme No Balanço das Ondas (película que Raul viu seguidas vezes), a música em si para Raul era uma coisa secundária, a sua grande preocupação eram os problemas que afligiam o ser humano, os problemas da vida e da morte, de onde vim, para onde vou, o que é que eu estou fazendo aqui?

“Por que nascemos para amar se vamos morrer? Por que morrer se amamos?” “Por que falta sentido de viver, amar, morrer?”

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Raul vivia afundado na biblioteca do pai, o que ele queria mesmo era ser escritor. Viver da renda de seus livros, como Jorge Amado. A febre veio invadindo suas veias e entranhas com Bill Halley e Seus Cometas, veio na voz urrada de Litlle Richard e atingiu o seu clímax com os requebros dos quadris de Elvis Presley. “ELVIS É PELVIS!”, dizia sempre Raul Seixas. E o menino que vivia trancado no quarto sonhando ser escritor e viver de literatura foi despertado de seu sonho, pois enxergava na música uma forma mais abrangente de transmitir seus pensamentos com maior rapidez. Raul começou então, a tomar emprestados dos garotos do Consulado Americano, que ficava a poucas quadras de sua casa, discos de 78 rotações, os quais ele ouvia até gastar. Fats Domino, Chuck Berry, Bo Didley, Jerry Lee Lewis e muitos outros ainda pouco conhecidos entre os brasileiros. Ele não dava muita atenção para as letras das músicas, mas foi com os discos de rock que aprendeu a falar inglês, o dos

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caipiras e dos negros, cheio de sotaques. O que o fascinava era o ritmo tribal, cru, obsceno. Com uma tábua e um braço de violão velho, Raul e o amigo Mariano construíram a primeira guitarra do tipo que os americanos usavam e um rádio antigo do avô de Mariano, era usado como amplificador. “Whe Woin´t Stop Playning the Guitar Breaks” (não vamos parar de tocar até que a guitarra quebre), seguiam à risca o que Elvis cantava em “King Creole”. Em 1960, eles já tinham baixo elétrico e o grupo iniciou sua caminhada viajando pelo interior da Bahia e tocando muito rock´n´roll. Mas foram mesmo os Beatles, que deram o grande pontapé na bunda de Raul, que lhe abriram a cabeça muito mais que o rock. Foi com os quatro cabeludos de Liverpool, que Raulzito percebeu que o rock poderia ser usado como veículo de massa. “Se os Beatles podem eu também posso dizer o penso com minhas músicas.” A partir daí, ele começou a compor. Com os Panteras passou por uma fase áurea, tocavam músicas dos Beatles, tinham aparelhagem, tinham nome e eram os mais bem pagos. Nesta época a Bosta Nova, ops, digo Bossa Nova, dominava os meios musicais em Salvador. De um lado o Teatro Vila velha, o Cinema Roma do outro lado era o templo do rock, dos transviados, organizado pelo amigo Waldir Serrão. Era uma guerra dos diabos: Rock x Bossa Nova ( o termo pejorativo “Bosta Nova”, eu já alardeava desde os anos 70, antes mesmo de Raul tê-lo usado no LP A PANELA DO DIABO, porque sempre considerei a “Bossa Nova” uma “bosta nova”). Raul era o líder do rock em Salvador e, quando ele entrou na Faculdade de Direito era olhado pelo pessoal do Diretório como o idiota do rock. Raul gostava de provocar, usava roupas estranhas, cores berrantes, parecia um rebelde e fazia questão de manter viva a imagem de provocador, mesmo porque o rock era um movimento comportamentista à

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época e exigia de seus asseclas essa atitude de desprezo aos sistemas vigentes. Em 1974, o estrondoso sucesso “GITA” deu a Raul o seu primeiro disco de ouro pela inesperada vendagem de 600 mil cópias, uma verdadeira panacéia musical, um fenômeno à época, em que poucos cantores no país atingiam vendagens tão altas. Para compor a música “GITA”, Raul e Paulo Coelho se inspiraram no BHAGAVAD GITA, o terceiro livro mais importante da humanidade, depois da Bíblia e do Tão-te-King (Lao Tse) da China. Com “GITA” Raul quase foi transformado em guru da geração que curtia o orientalismo. Muitas mães levavam seus filhos enfermos para que pudessem ao menos, tocar em suas vestes durante os shows. Raul Seixas, O Messias Indeciso. “As pessoas ficam ali esperando um profeta, um messias. E se a gente deixa, vira messias mesmo.”

NOVO AEON, o LP de 1975, é todo alicerçado no Livro da Lei, que Crowley recebeu, ditado por um ser do Novo Aeon. Mas, o álbum não é apostólico como as pessoas acreditavam ter sido o anterior “GITA”. Raul dizia naquela época, não ter levado a sério Aleister Crowley, talvez fosse aquilo mesmo que Crowley queria. “Tirei coisas dele para mim, aproveitei”. NOVO AEON foi um dos discos que menos vendeu, mas nem por isso, um disco sem importância, continha verdadeiras pérolas como “Tente Outra Vez”, uma overdose de coragem para os idealistas prostrados e cabisbaixos, mas, desde que se libertassem daquele estado de letargia, seriam capazes de “sacudir o mundo”, “Rock do Diabo”, um rockão demoníaco para amparar a tese de que o rock é mesmo filho legítimo do inferno e pertence a mesma ordem de instintos reprimidos e flagelados, que os asseclas da libertação teriam que

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desatrelar da carroça da história. Mexendo com as culpas dos adultos e cutucando os terrores e temores da infância, o disco continha a ferida exposta “Para-Nóia”: “Deus vê sempre tudo o que ´cê faz... eu sinto medo...” “Fim de Mês”, desce o cacete no lombo da classe média consumista, agora enquadrando os pobres-coitados que se suicidam nos crediários e têm montanhas de prestações para saldar no fim do mês com seus salários aviltantes e miseráveis, que são atestados de escravidão moderna. “NOVO AEON” é um dos mais belos discos já gravados na história da música popular mundial. Sem sombra de dúvidas, Raul Trabalhava com mais afinco, criando suas obras-primas, sob constante pressão, combatendo e derrotando um inimigo visível e quase invencível a cada dia.

*EU NASCI HÁ DEZ MIL ANOS

ATRÁS*

Em 1976, Raul Seixas teve a imensa satisfação de beber do vinho inebriante do sucesso absoluto com o lançamento do LP “EU NASCI HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS”, reconquistando a confiança de sua gravadora e as paradas de sucesso com várias faixas do disco sendo muito bem executadas nas rádios brasileiras e se apresentando muito mais nos programas de TV. “EU NASCI HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS”, foi acusado de ser um disco insípido, desprovido de idéias novas, musicalmente fraco em comparação aos discos anteriores, com muita orquestra e pouco rock, o que não correspondia à verdade dos fatos e comprovava desde àquela época que, a crítica especializada (em falar asneira), nunca soube de absolutamente nada, no que tange à arte musical, é detratora e

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invejosa, de eloqüência duvidosa. O disco é uma prova fiel de que Raul era mesmo um transgressor das obviedades. Quando todos esperavam um disco de rock, ele encarnava Carlos Gardel, no debochado tango “Canto para a Minha Morte”, debochado, pouco aprazível, mas sério e verdadeiro, que trata de delicado e pavoroso tema: A MORTE.

Definitivamente, Raul Seixas não engolia a empáfia das companhias fonográficas e execrava a atitude gananciosa e enganadora dos empresários, por isso mesmo, em 1977, trocava a Phillips pela então recém-fundada WEA, onde atravessou o período

mais obscuro de sua carreira. O primeiro disco pela nova gravadora foi “O DIA EM QUE A TERRA PAROU”, ao lado de um antigo parceiro e velho amigo, Cláudio Roberto. Cabelos cortados famoso cavanhaque, sua marca registrada, faz um show de lançamento do LP no Teatro

Bandeirantes, em São Paulo. Gilberto Gil (Jiló) participa do álbum na faixa “Que Luz é essa”. Grava para a TV Globo o videoclipe“MALUCO BELEZA”, que passou a ser o codinome de Raul pelo resto de sua vida. Neste mesmo ano o selo Fontana/Phonogram edita o LP “RAUL ROCK SEIXAS”, contendo sobras de gravações em estúdio. Foi nesta mesma época que Raul começou sua “via crucis”

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invejosa, de eloqüência duvidosa. O disco é uma prova fiel de que das obviedades. Quando todos

esperavam um disco de rock, ele encarnava Carlos Gardel, no bochado tango “Canto para a Minha Morte”, debochado, pouco

aprazível, mas sério e verdadeiro, que trata de delicado e pavoroso

Definitivamente, Raul Seixas não engolia a empáfia das companhias fonográficas e execrava a atitude gananciosa e enganadora dos empresários, por isso mesmo, em 1977, trocava a

undada WEA, onde atravessou o período mais obscuro de sua carreira. O primeiro disco pela nova gravadora foi “O DIA EM QUE A TERRA PAROU”, ao lado de um antigo parceiro e velho amigo, Cláudio Roberto. Cabelos cortados e sem o famoso cavanhaque, sua marca registrada, faz um show de lançamento do LP no Teatro

Bandeirantes, em São Paulo. Gilberto Gil (Jiló) participa do álbum na faixa “Que Luz é essa”. Grava para a TV Globo o videoclipe “MALUCO BELEZA”, que passou a ser o codinome de Raul pelo resto de sua vida. Neste mesmo ano o selo Fontana/Phonogram edita o LP “RAUL ROCK SEIXAS”, contendo sobras de gravações em

Raul começou sua “via crucis”

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e seu organismo ressentia dos freqüentes abusos alcoólicos que lhe ocasionaram uma pancreatite crônica. Novamente ele rompe as barreiras da solidão e em 1978 conhece Tânia Menna Barreto, que passa a ser sua nova companheira. Durante meses se recupera da pancreatite que o debilitara numa fazenda da família no interior da Bahia. Retorna ao estúdio de gravação e grava o LP “MATA VIRGEM”, ainda pela WEA. Pepeu Gomes participa do disco tocando guitarra na faixa “Pagando Brabo”. Arrisca novamente a parceria musical com Paulo Coelho e compõem juntos a música “Judas”. Em 1979, com um novo parceiro, Oscar Rasmussem grava o disco “POR QUEM OS SINOS DOBRAM”. Sérgio Dias participa de algumas faixas dedilhando sua guitarra única e sempre renovadora. Mais um disco fracassado. Raul acusa o presidente da WEA de escolher produtores incapazes para seus discos e de não ter divulgado convenientemente “Por Quem Os Sinos Dobram”. Estaria selada aí sua reputação de “artista difícil” entre os executivos das gravadoras.

“André Midani só faz confusão, sonhei com ele e mijei no colchão.” Com esses versos provocativos e sarcásticos de “Conversa Pra Boi Dormir”, Raul decretava o seu asco diante das multinacionais do disco. Rescinde o contrato com a WEA e separa-se de Tânia Menna Barreto. Conhece então, Ângela Maria Affonso Costa (KIKA SEIXAS), com quem passa a conviver. Novamente internado no Hospital Israelita Albert Einstein, Raul é submetido a uma operação para a retirada de metade do pâncreas. Decide transferir-se de mala e cuia para São Paulo, onde residiu até o fatídico dia de sua morte. Assina contrato com a CBS, sim, a mesma CBS onde ele já havia trabalhado anos atrás como produtor. Na novas casa, Raul lança o polêmico e belíssimo disco “ABRE-TE

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SÉSAMO”. Revigorado, contundente e assustador, com um disco recheado de obras-primas, testava os limites da abertura política com uma música ferina, que era ao mesmo tempo título desse LP, equiparando a dita cuja às balelas das Mil e Uma Noites, vociferando que: “é tudo mentira, quem vai nessa pira”. Com a música “Aluga-se” ele propunha o aluguel do Brasil para os gringos, uma sábia solução mais real e salvadora do que a adotada pelos políticos safados e ladrões, de matar o povo de fome e miséria para pagar os credores estrangeiros. Sempre fiel aos seus valores, Raul hesita em dirigir o seu trabalho rumo à mesmice, ao sucesso óbvio em que estava chafurdada a mal fadada linha evolutiva da música popular brasileira (música popular para babacas). Atira-se de cabeça, cada vez mais no precipício do álcool, que o afoga nos constantes cancelamentos de espetáculos e crises de hepatite. Apesar do grande sucesso de crítica alcançado pelo disco “Abre-te Sésamo”, considerado um dos melhores daquele ano, com direito a clipe no Fantástico, Raul parecia estagnado e ainda descontente com tudo. Em 1982, apresenta-se tão acidentalmente na cidade de Caieiras-SP, que termina por ser confundido como impostor dele mesmo. É preso e espancado pela polícia e delegado da cidade. O caso ganhou repercussão na mídia de todo o país, causando uma grande revolta em Raul. A diretoria da CBS, logo depois do lançamento do disco “Abre-te Sésamo”, propôs a Raul a gravação de um segundo disco em homenagem ao Príncipe Charles e Lady Diana, culo casamento ocorrido naquela década de 80, foi chamado de “o casamento do século”, que futuramente daria no escândalo de intrigas e traições que deu e culminaria com a separação do casal real e na morte da princesa Diana. Abismado diante de tal e tão absurda proposta, indignado e incrédulo, Raul não encontrou

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outra alternativa, se não rescindir o contrato com a CBS. Arrasado e sem gravadora, sem amigos leais, pessoas que ele ajudara no passado, produzindo seus discos, batiam a porta em seu nariz, negando-lhe ajuda e trabalho. Inativo e sem perspectivas, justamente quando o rock nacional passava por um novo apogeu comercial, com a proliferação e o sucesso estrondoso de bandas e cantores insossos, ele permanecia à margem, enquanto um bando de imberbes e imbecis se autoproclamava expoente do novo “boom” e faturava com suas musiquinhas idiotas, Raul, o pai do rock nacional, fiel defensor nos anos difíceis que sua cria houvera atravessado, como Daniel, continuava jogado entre as feras, na cova dos leões. Mas o destino veio como uma vergastada de justiça revigorar o ânimo do maluco beleza: o Estúdio Eldorado, uma pequena gravadora pertencente ao grupo econômico do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, convida-o para ingressar em seu pequeno cast. Raul grava então, naquele sombrio ano de 1983 o disco “RAUL SEIXAS”, uma coleção de momentos, como ele mesmo definiu, sem arrojos filosóficos ou implicações metafísicas. Nem por essa simplicidade íntima musical e poética, o disco deixou de ser carregado de talento e competência e ao mesmo tempo, repleto de toques em poemas mais leves, que revelavam um Raul mais cônscio e mais humano. O disco “RAUL SEIXAS” cumpriu sua nobre missão, trouxe de volta um Raul que há muito o Brasil não via, recuperado, subido das profundezas do abismo e pronto para começar tudo outra vez. O estrepitante sucesso da faixa “Carimbador Maluco/Plunct, Plact-Zum” fez Raul brilhar triunfante, em fevereiro de 1983, com um grande show de lançamento, na Sociedade Esportiva Palmeiras, em cuja apresentação apoteótica e há muito aguardada por sua legião de seguidores, deu uma verdadeira aula

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de rock´n´roll. Finalmente o monstro sagrado do rock brasileiro voltava ao palco, despertara de seu estado de inércia musical, descobriu que ainda tinha um imenso e fiel público, um fã clube organizado e outros tantos espalhados pelo Brasil com o propósito único de não deixarem sua obra naufragar no mar do esquecimento e percebeu que não poderia jamais deixar de se apresentar ao vivo. Apesar de seu medo latente e confesso de ser assassinado como Lennon, o palco era o seu trono eterno. Neste mesmo ano Raul viu sua fama de arruaceiro e antiprofissional ser engolida pelo sucesso arrebatador da música “Carimbador Maluco”, que acabou virando tema de um especial infantil na Rede Globo, “PLUNCT, PLACT-ZUM” e levou-o novamente a uma apresentação no último Festival de Águas Claras (Iacanga-SP). A Eldorado, aproveitando-se dos registros do show na Sociedade Esportiva Palmeiras, lançou em meados de 1984, numa acirrada disputa comercial com a Som Livre, o histórico disco “RAUL SEIXAS AO VIVO/ÚNICO E EXCLUSIVO”. Já desligado do Estúdio Eldorado, em 1984, Raul gravou seu disco pela Som Livre: “METRÔ LINHA 743”, um disco em “preto e branco” como ele próprio o definiu. A faixa título e o restante do disco, não trazia o colorido condicionado dos clichês de violinos, de metais e das guitarras, apenas o violão acústico, para dar asas à cada um de projetar a imaginação. Um disco totalmente acústico. A produção do LP estourou o orçamento, não teve a divulgação esperada e o disco, apesar de ser belíssimo, dando de goleada nas porcarias que infestavam as FMs de então, não obteve grande sucesso comercial. Raul já estava brigado com a Som Livre por conta de um clipe da música “Metrô Linha 743”, que não havia sido gravado de acordo com o que ele planejara, desliga-se, mais uma vez, também da Som Livre. Seu casamento com Kika Seixas, o mais duradouro e que

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parecia estruturado e eterno vai se deteriorando gradativamente até chegar a um triste final. Sua saúde estava debilitada outra vez. Separa-se de Kika Seixas e passa um curto período na capital baiana para se recompor.

De regresso a São Paulo e com uma nova companheira, Lena Coutinho, retoma a batalha à procura de uma nova gravadora. O meio artístico e a indústria fonográfica, mais uma vez, fecham as portas para o mago do rock, ninguém o queria em seus quadros.

Em 1985, o fã clube oficial RAUL ROCK CLUB, sob o comando de Sylvio Passos, produz o álbum “LET ME SING MY ROCK´N´ROLL”, o primeiro disco produzido no Brasil por um fã clube e que teve uma edição limitada de apenas 1.000 exemplares, tornando-se rapidamente, uma raridade, hoje disputado a peso de ouro por colecionadores raulseixistas. Em 1995, outro fã clube, o NOVO AEON FÃ CLUB/RAUL ROCK SEIXAS, fundado em l975, na cidade de Bariri-SP, e que na verdade é o primeiro fã clube de Raul a ser inaugurado no país, que tinha o aval e o reconhecimento do próprio Raul, mas que não foi oficializado, porque eu, seu fundador e diretor até 1992, quando o fã clube encerrou suas atividades, e hoje só trabalha na produção de exposições e lançamentos de livros e música, sempre entendi que este negócio de oficializar fã clubes não passa de uma grande frescura, já que poucos são os artistas que apóiam quem os mantém vivos na memória do povo, através dos fã clubes, o que não era o caso de Raul, que sempre contribuiu comigo e com o Sylvio Passos, que sempre esteve mais próximo dele. Nunca me interessei pela oficialização do Novo Aeon, apesar de ter sido amigo pessoal de Raul Seixas e ainda hoje o sou de sua filha Vivian e de sua ex-esposa Kika Seixas, porque tenho

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visto desde então, o ataque de estrelismo que se apodera de grande parte dos fundadores de fã clubes, quando conseguem a oficialização junto aos artistas divulgados, tenho observado a incompetência de muitos outros, que só querem aparecer e ganhar dinheiro. Quando o “RAUL ROCK CLUB” foi fundado por Sylvio Passos, eu contribuí muito para o desenvolvimento do fã clube, inclusive as carteirinhas dos associados que o Sylvio distribuía no Raul Rock Club para os sócios, eram as mesmas que eu mandara confeccionar para o Novo Aeon Fã Club/Raul Rock Seixas, enquanto ele preparava a que viria a ser depois distribuída por ele e nunca tive reconhecimento, apenas o próprio Raul me dava atenção e material, sempre distribuí entre os associados ao fã clube fundado por mim, material impresso, fotos, discos e depois CD´s e camisetas, gratuitamente e sem visar nenhum lucro, muito embora todos saibam que a manutenção de um fã clube e o atendimento aos associados tenha um custo, às vezes alto, repetiu o pioneirismo de editar a primeira biografia de Raul Seixas através de um fã clube: “RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO”. O livro teve apenas uma única edição de 1.000 exemplares, só para colecionadores e também virou uma raridade disputada entre os raulseixistas.

O referido vinil “LET ME SING MY ROCK´N´ROLL” mereceu a posição de disco oficial, pois contém a gravação de músicas gravadas somente em compactos e não incluídas nos discos oficiais de Raul Seixas. Anos depois, “LET ME SING MY ROCK´N´ROLL” foi reeditado com outra capa e com o título de “CAROÇO DE MANGA”. Em 1986 Raul assina contrato com a gravadora Copacabana, mas, os problemas de saúde acabam interferindo novamente nas sessões de estúdio e o primeiro disco pela nova gravadora, tão esperado pelos

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raulseixistas para aquele ano, termina por ser lançado somente em 1987. Como título o novo trabalho trazia o grito de guerra do

rock´n´roll: “UAHLU-BAP-LAHO mais puro rock´n´roll estava de volta, para ensinar os espertinhos que se denominavam expoentes do rock nacional, com é que se fazia rock e com qualidade ímpar. Um disco revigorador, vomitando pelos sulcos energia, para não deo rock´n´roll morrer. De norte a sul do país o disco é muito

executado mais uma vez. Raul provara que um verdadeiro rei jamais perde a majestade, mesmo que seu trono seja usurpado por traidores. A música “Cowboy Fora-da-Lei” estoura nas paradas musicais e é incluída na trilha sonora da novela das 7 da Rede Globo, um clipe espetacular e cheio de humor foi gravado para o Fantástico. Marcelo Nova, então vocalista e líder do debochótimo grupo CAMISA DE VÊNUS e discípulo confesso de Raul, o convida para participar do álbum-duplo que o grupo preparava. O disco “DUPLO SENTIDO”, LP duplo, foi o último do CAMISA DE VÊNUS, que viria a se separar logo depois.

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

raulseixistas para aquele ano, termina por ser lançado somente em 1987. Como título o novo trabalho trazia o grito de guerra do

rock´n´roll: “UAH-BAP-LAH-BÉIN-BUM!”.

puro rock´n´roll estava de volta, para ensinar os espertinhos que se denominavam expoentes do rock nacional, com é que se fazia rock e com qualidade ímpar. Um disco revigorador, vomitando pelos sulcos energia, para não deixar o rock´n´roll morrer. De norte a sul do país o disco é muito

executado mais uma vez. Raul provara que um verdadeiro rei jamais perde a majestade, mesmo que seu trono seja usurpado por

Lei” estoura nas paradas musicais e é incluída na trilha sonora da novela das 7 da Rede Globo, um clipe espetacular e cheio de humor foi gravado para o Fantástico. Marcelo Nova, então vocalista e líder do debochado e ótimo grupo CAMISA DE VÊNUS e discípulo confesso de Raul, o

duplo que o grupo preparava. O disco “DUPLO SENTIDO”, LP duplo, foi o último do CAMISA DE

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Com o Camisa de Vênus Raul dividiu os vocais com Marcelo Nova na faixa “Muita Estrela, Pouca Constelação”, cuja letra ferina retratava o cenário pop de forma desdenhosa, apontando a falta de respeito musical e as farsas montadas por aqueles que se julgam estrelas, mas não têm nenhum brilho. Neste mesmo álbum duplo o Camisa de Vênus reverencia o mestre Raulzito regravando a música “Aluga-se”, que diga-se de passagem, ficou horrivelmente mal interpretada. Marcelo é um desses intérpretes que, infelizmente só se dá bem cantando suas próprias composições, pois entre as músicas da lavra de Raul que ele tentou cantar, nenhuma merece elogios, acabou estragando as músicas do mestre do rock. Aliás, Marcelo Nova, que eu considero um dos melhores compositores do país, mas dentro de seu estilo único, não tem capacidade vocal para interpretar Raul. E até hoje eu não consigo entender o fato de Raul ter gravado um disco inédito com ele. Só pode ter sido por causa da situação de desgraça absoluta em que se encontrava, que levou Raul a se mancomunar com Marcelo Nova, induzido pela amizade que ambos tinham, jamais por achar que Marcelo reunia capacidade musical e interpretativa para se tornar seu parceiro. Isso sem levar em conta a prepotência que norteia a personalidade de Marcelo Nova: mal educado, metido à besta e intragável, uma cópia xerox mal feita do BOB CUSPE. Mas, enfim, Raul sabia que estava prestes a partir para outra dimensão e decidiu fazer o pé-de-meia de mais um e assim deixar para a posteridade, o verdadeiro motivo pelo qual ele era considerado um “CARPINTEIRO DO UNIVERSO”, pois o auge do seu egoísmo era sempre querer ajudar... Afinal, Raul dava outra vez sinais de revigoramento, pois já no ano seguinte, 1988, grava no mês de setembro, o disco “A PEDRA DO GÊNESIS”, voltando a falar sobre a Sociedade Alternativa com a música

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fortíssima “A LEI”, em que conclamava com mais rigidez todos os direitos humanos. Raul incluiu nesse disco algumas canções que pertenceriam a um antigo projeto musical, a mesma capa do “A PEDRA DO GÊNESIS”, seriam crias do projeto musical: OPUS 666 e NUIT, que ele não chegou a gravar. Apesar de estar musicalmente ativo, Raul não se apresentava ao vivo já há bastante tempo, foi quando Marcelo Nova convidou-o para viajar a Salvador, aonde iria se apresentar. Raul aceitou o convite e viajou com o amigo e discípulo. Durante o show, Marcelo chamou Raul ao palco para uma canja, meio a contragosto ele cantou e encantou a platéia. O sucesso foi tamanho que ele recebeu uma injeção de ânimo, iniciando na capital baiana uma série de shows com o nome “MARCELO NOVA E RAUL SEIXAS”, que culminaria numa turnê de 50 apresentações por todo o Brasil. Sob a insígnia da águia Raul ascendia ao trono mais uma derradeira vez, parecia que o retorno do mestre guerreiro coincidia com a milenar profecia bíblica alardeada pelo grande profeta Isaías, dando conta de um rei seria como uma ave de rapina vindo para devorar o Império Babilônico. Isaías se referia a Ciro, O Grande e suas tropas imbatíveis, que tinham águias nos estandartes de batalha, avançaram sobre a cidade de Babilônia como águias que se precipitam sobre a presa.

Guerreiros como Carlos Magno e Napoleão e países como EUA e Alemanha, escolheram a águia como símbolo de seu poderio. Mas, a águia, ave tantas vezes mencionada nas Escrituras Sagradas, é usada para simbolizar sabedoria, rapidez e proteção divina. A águia, com sua capacidade de enxergar longe, pode ver o perigo bem à distância e tomar precauções antecipadas de defesa. Sabe o momento exato de recuar e a hora certa de se precipitar sobre a

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presa. Na língua portuguesa a palavra águia refere-se, em sentido figurado, à pessoa de grande perspicácia. E perspicácia, ousadia, altivez e sabedoria, eram adjetivos que Raul possuía para dar e vender aos quilos. Raul sabia que estava próximo do fim, mas ele não queria terminar assim incógnito, precisava alçar vôo, causar mais terremotos antes de despedir-se de nós raulseixistas e verbalóides e da vida em grande estilo. E nesta volta triunfal, benditas sejam as mãos de Marcelo Nova que, intencionalmente ou não, o reergueram do nada, do limbo do esquecimento, das cinzas. A volta por cima do mestre Raul, foi tão gigantesca que, Marcelo Nova, dividindo todas as apresentações com ele e segurando tudo, parecia a encarnação do bom samaritano. Raul estava muito mal fisicamente, não passava de um mero coadjuvante e carregou o peso do preconceito e da indiferença (características inerentes nas almas repletas de ignomínia dos imbecis), pelos quatro cantos do país com um orgulho e sobriedade indizíveis. Marcelo é quem tomava as dores de Raul, quando iam aos estúdios em algumas rádios e Raul sofria todo tipo de gozação pelo seu estado de saúde debilitado, fisicamente detonado, era o discípulo Marceleza, quem reagia ferozmente, diante de tanto desrespeito e maldade para com um homem da estirpe de Raul. Ele parecia um zumbi, um morto-vivo se esforçando para sucumbir, mas foi recebido por uma imensa e fanatizada legião de seguidores, como um verdadeiro rei, que retornava do exílio musical. O alarde causado pela sua inesperada volta por cima foi tão inacreditavelmente dissecada, que toda a mídia queria porque queria desvendar o segredo da ressurreição do maluco beleza, que o meio artístico cria acabado e esquecido para sempre. Não havia nenhum segredo a ser desvendado, Raul voltara triunfante e belo, com a mesma irreverência e inquietude, para se

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despedir de todos e fechar com chave de ouro o seu testamento, sua passagem por esta Terra de populacho sandeu. Ele não tinha mais nada a fazer por aqui neste planeta em que a dor e a ignorância humana fizeram habitação eterna, cumprira sua missão de lobo conselheiro e estava na hora de elevado à condição de mito, a lenda viva do rock´n´roll, mas, desta vez, em outra dimensão: a FASE A da SOCIEDADE ALTERNATIVA.

Precisava partir para revolucionar outras plagas além e se eternizar entre nós verbalóides...

“Eu vou me embora apostando em vocês, meu testamento deixo minha lucidez, vocês vão ter um mundo bem melhor que o meu, pois a semente que eu ajudei a plantar já nasceu...”

Raul Seixas e Marcelo Nova registraram então, esta volta triunfal e apocalíptica num dos mais belos e proféticos discos já gravados na história da MPB, o lendário LP “A PANELA DO DIABO”, lançado dois dias antes do falecimento de Raul. Quando tomei conhecimento da morte de Raul, apossou-se de mim uma fúria incontrolável, eu tive vontade de vociferar impropérios, heresias e blasfêmias, vontade de xingar e de esmurrar o cadáver do velho mestre e amigo desgraçado, traidor, desertor: ele havia planejado tudo, premeditado, não pensou em nós, seus órfãos. Mas, entendi que tudo fazia parte de um plano secreto, pois Raul era amigo fiel de Jesus e se ele não morresse como o mestre nazareno, o mundo não teria a marca sagrada da luz...

Dia 21 de agosto de 1989, manhã de sol, segunda-feira, 9 horas: O REI ESTAVA MORTO! Havia nos abandonado à mercê do

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Monstro Sist. Por quê?

Dalva Borges da Silva, a empregada de Raulzito, chega ao apartamento número 1003, no Edifício Aliança, zona central de São Paulo e encontra, estupefata, sobre a cama e uma Bíblia sobre o peito, o corpo do profeta do Apocalipse, Raul Seixas. Imediatamente Dalva comunica-se com o médico e com a família Seixas. A triste notícia se espalha como rastilho de pólvora e logo as emissoras de rádio e Tv divulgam o falecimento do mito mais corrosivo do século. Jornalistas e amigos de Raul dirigem-se ao prédio onde ele morava. Raul havia falecido duas horas antes da chegada da empregada de parada cardíaca causada pela pancreatite crônica que sofria há 10 anos. São Paulo parou. O Brasil parou. O Rock parou. Uma legião de admiradores, raulseixistas e não-raulseixistas, acorreu ao local, desesperada, comovida em *“RAULFADAS” de dor, para confirmar a veracidade da fatídica notícia, que muitas vezes tivera sido alardeada inescrupulosamente, só que desta vez a notícia era verdadeira. Por exigência dos fãs que chegavam de todo o Brasil, o corpo de Raul foi levado para o Palácio das Convenções do Anhembi. O corpo de Raul foi velado por uma multidão inconsolada, que passou toda a noite chorando lágrimas de dor esmiuçada e cantando as músicas do ídolo. Na saída do corpo para o Aeroporto de Congonhas, de onde se daria o translado para Salvador, houve uma confusão generalizada e repressão policial, com muitas pessoas apanhando da “polícia Torquemada” e sendo trancafiadas em camburões. Tamanha balbúrdia se deu porque os fãs queriam acompanhar o corpo e o cortejo fúnebre até Congonhas, provocando assim, a reação criminosa da polícia. Sempre a PM (Pústulas Maquiavélicos), em ocasiões como esta, tem de arregaçar as mangas

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da violência e mostrar aos olhos do povo a sua ignorância, indício de resquício militar. O povo nunca pode manifestar seus sentimentos e desejos, vem logo esse bando de marginais fardados tentando estancar a qualquer custo, toda expressão de tristeza ou alegria, filhos da puta, verdugos do povo sandeu. Polícia assassina e violenta, que estupra os direitos do povo que paga o seu soldo. Asseclas do PCC são mais dignos do que vocês.

Carrascos e ignóbeis, se autodenominam “autoridades”. Mas o povo até que merece tanta violência e desrespeito, enquanto permanecer neste estado de inércia e aceitar ofensas da parte daqueles que são pagos para defendê-lo e protegê-lo. Quando o povo acordar deste estado de hibernação e reagir, quando o povo sofrido entender que o poder pertence a ele que paga a polícia, as Forças Armadas e escolhe e emprega os poderosos demagogos e corruptos e entender que, merece todo o respeito de quem é seu empregado, as coisas seguramente tomarão outro caminho. Depois de conseguirem que o Corpo de Bombeiros levasse o corpo de Raul Seixas em carro aberto até o aeroporto, os ânimos foram serenados e a última homenagem era então, consumada. Exatamente às 13 horas do dia 23 de agosto de 1989, sob forte sol, o jatinho da Líder Táxi Aéreo, fretado pela família Seixas, pousou no Aeroporto Dois de Julho, em Salvador, trazendo o corpo de Raul no seu retorno definitivo a Bahia de todos os santos. Raul foi sepultado às 16 horas, no Cemitério Jardim da Saudade, no Bairro de Brotas. Entretanto, a morte não mata quem já nasceu imortal e Raul é poeta que nunca morre, já nasceu póstumo. Uma lenda viva. Desde a sua morte física, Raul se transformou num fantasma que constantemente tem puxado os pés fedorentos de chulé da música

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popular brasileira (Música Popular para Babacas). Raul é o primeiro cantor/compositor brasileiro a ser cultuado depois da morte, elevado à condição de mito (IMORTAL).

Raul continua mais vivo do que quando estava vivo. Como Elvis nos EUA. Como Bob Marley na Jamaica. A morte perdeu pela primeira vez a guerra macabra contra a vida, sem querer imortalizou Raul, pois, mais forte que a morte, é a memória dos que permanecem vivos entre nós. Por que toda a humanidade está certa da ressurreição de Jesus Cristo? Porque sua morte na cruz, realmente o ressuscitou dentre os mortos e Ele está mais vivo do quando vivo sobre o orbe. Neste país miserável, governado por ladrões, maquiavélicos e safados, onde o povo está condenado a uma ditadura cultural e à mais esquálida miséria, desprovido de memória que a máquina do poder tenta constantemente apagar, o fato de Raul seixas continuar vivo no imaginário dos que o cultuam, é digno de um vasto e minucioso estudo. Raul é um fenômeno popular, que ainda hoje, quase duas décadas depois de sua morte, ainda continua causando alarde e desassossego. Sem nenhuma ajuda oficial ou empresarial continua zumbizando na sopa da MPB e incomodando muita gente, que o queria morto de verdade. Não é tocado à exaustão no rádio, sua imagem aparece esporadicamente na TV e nenhuma das grandes gravadoras fez algum projeto de marketing para vender seus discos, mas suas músicas continuam vendendo e muito bem, obrigado! Sua obra musical continua nas bocas, mentes e corações! Toda a sua discografia oficial foi relançada em vinil e CD, tornou-se um “long-seller”, nome que a indústria fonográfica dá aos artistas que têm vendagem garantida e contínua mesmo depois de falecidos.

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*(RAULFADAS)Termo criado pelo autor deste livro para

designar grande tristeza e comoção do exército

raulseixista diante da notícia de sua morte.

**********************************************

Até disco de ouro Raul recebeu depois de morto e continua vendendo anualmente mais de 300.000 CD´s. Comparando o grande feito com o mundo dos vivos, é mais do que poderia sonhar qualquer cantorzinho insosso desses que vive emplacando hits nas paradas de sucesso e comprando espaços na TV e no Rádio para não ser esquecido. Nos dias que precederam sua morte, Marcelo Nova concedeu um depoimento a Emilse Barbosa, que foi publicado na revista AMIGA, com o título “O Caminho de um grande amigo-parceiro”, em cujas e emocionantes palavras, o grande e genial “transgressor” Marceleza, como Raul carinhosamente o chamava, quebrou o mito de que Raul era uma pessoa difícil de lidar, irresponsável e turrão. Raul gostava e fazia questão de dar o troco e bem gordo a quem não o respeitava como homem e artista: “Havia uma coincidência entre a minha carreira e a de Raul: Nenhum de nós dois freqüentava clubes sociais. Sempre fomos sós neste aspecto. Nossa relação era com o público. Vivíamos fora do circuito in. A gente ia fazer uma turnê até o fim do ano e, depois cada um seguiria o seu caminho. As coisas com a gente eram tarimbadas. Íamos fazendo à medida que as idéias casavam. Este disco, Panela do Diabo, foi um trabalho muito emocional. Raul é imortal, um gênio, absoluto. Aprendi muito com ele. A motivação dele era o público. Não me recordo de haver no Brasil um líder

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com o carisma de Raul Seixas e sou testemunha de que esse reencontro com o público na sua volta depois de quase cinco anos longe dos palcos foi uma coisa muito gratificante para ele. Sinto-me gratificado por ter colaborado com isso. Raul era meu ídolo desde criança. Foi o primeiro cantor com blusão de couro a fazer minha cabeça a ponto de eu querer imitá-lo. Sou um privilegiado por ter podido acompanhar toda a sua trajetória. Por outro lado, não tenho a preocupação de ser o seu sucessor, porque Raul foi um universo completo, um caso único. Infelizmente foi tão vilipendiado na vida. As pessoas o drogavam e carregavam para o palco sem condições de se apresentar, com isso sua imagem foi caindo em descrédito diante do público. Em mim ele pôde confiar. Durante este ano que trabalhamos juntos ele se divertiu muito. Não há dinheiro que faça alguém repetir 50 shows sem faltar a nenhum deles. Raul fez todos os shows comigo, sem problemas e conseguiu desmistificar a imagem de profissional negligente. O mesmo Raul que agora é mostrado como herói, estava trabalhando, fazendo shows pelo Brasil, só que não aparecia na mídia. Eu estava dormindo quando soube de sua morte. Foi um grande choque, e não há frases para definir essa perda. Acho que ele mesmo já as deixou para nós: -Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Hoje sou uma estrela que amanhã já se apagou. O que falta é cultura para cuspir na estrutura e outras mais.”

Não foi acaso que Raul seixas considerava Marcelo Nova um verdadeiro homem, rockeiro nato, que não fazia parte dessa panelinha dos contentes, que se autointitulava a “nova geração do rock and roll”. Pequenos fedelhos metidos a rockeiros, uns

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rebeldinhos doidos para levar umas palmadas no bumbum, mal saídos das fraldas borradas. Sempre cutucando a onça com vara curta, correndo o risco de ser devorado, Raul não poupava farpas, distribuindo-as por todos os flancos, atacava em todas as direções e incomodava muita gente. Talvez por isso mesmo, poucos artistas e cantores compareceram ao velório de Raul. Mesmo morto, com absoluta certeza, o maluco beleza não aceitaria lágrimas de Judas, aliás Judas, mesmo delatando Jesus, era mais digno do que muita gente que cercava Raul, pois a sua atitude traidora teve uma causa justa e destinada, enquanto que os traidores e sanguessugas que rodeavam Raul, tinham em mente apenas um único intuito: destruí-lo e sugar tudo o que ele dispunha e se tinha coisa que ele mais detestava era falsidade e os parasitas de plantão, não suportariam a vergonha de encará-lo, mesmo dentro de um esquife, pois, eis que Drácula vive por toda a eternidade e a qualquer instante pode se levantar do caixão. Esses sanguessugas e oportunistas preferiram deixar que a dupla personalidade aflorasse mais tarde, em homenagens póstumas, regravações bizarras e idiotas de seu acervo musical. Foi o que ocorreu desavergonhadamente. Ditos, tidos e havidos como grandes nomes da MPB, pessoas que jamais tiveram a mínima ligação artística com Raulzito e outros que até o execrava, repentinamente alardeavam sua admiração pela obra do mago baiano e se achavam prontos e no direito de regravar suas músicas, vituperando assim, o trabalho incomparável do mais corrosivo pensador brasileiro. De repente Raul seixas tinha se transformado em “nova onda”, o raulseixismo poderia aferir lucros inimagináveis e até mesmo levar alguns nomes ao estrelato, içando algumas porcarias do abismo da incompetência musical e artística, como ocorreu com raros nomes, mas por um curto espaço de tempo.

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Ouro de Tolo, Raul era agora, uma mina de ouro redescoberta depois de considerada maldita e inativa. E assim ocorreu, as homenagens póstumas renderam muito dinheiro, recolocaram nomes nas paradas de sucesso, fizeram o pé de meia de muita gente que antes tinha horror a Raul Seixas. Até a intragável casta sertaneja se empanturrou comendo enormes fatias do gigantesco bolo raulseixista, uma vergonha, verdadeira heresia. Em todo o país surgiram pretensos imitadores, cada qual pior do que o outro, todos eles à cata de migalhas desse filão. Entre os chamados imitadores de Raul, talvez o pior e mais intragável deles, tenha sido um tal de Amorim Menezes, isso mesmo, aquele do “RÁ”, (que nada tem a ver com o Pepeu Gomes), que se apresentava nos raríssimos shows que realizava, cheio de penduricalhos e bugigangas dependuradas, vestindo cuecas por cima das calças, num arremedo de debilidade mental. ARRRRRGGHHHH! Mas, o mais terrível de agüentar é a voz estridente e péssima desse tal de Amorim Menezes. A ousadia do bofe é tamanha, que ele ousa divulgar em seus releases, que tem a voz semelhante a de Raul. Amorim Menezes se daria muito bem imitando o tenebroso Amado batista ou o bregão Falcão. Apesar de que nem mesmo o genial falcão mereceria ser tão vilupendiado assim dessa forma maquiavélica e insensata. Vários ouros imitadores baratos, péssimos cantores e músicos sem nenhuma expressividade artística, conseguiram sobreviver durante algum tempo, convictos de que eram a encarnação de Raul Seixas. Como a mentira tem pernas curtas, a verdadeira intenção desses imitadores veio à lume e, felizmente, a maioria deixou de querer ser o que não era. Apesar dos pesares, do oportunismo descarado das gravadoras e de certos cantores de W. C., das dezenas de imitadores baratos, que surgiram

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de todos os recantos deste Brasil farsante, uma coisa era certa e real: Raul transformou-se num único fenômeno jamais visto na história da música brasileira. Os oportunistas e aproveitadores, aos poucos foram mostrando suas verdadeiras pretensões e, graças a deus muitos desapareceram na poeira da incompetência. Mas, sem querer, inconscientemente eles também faziam parte de uma missão: Ajudar a perpetuar o nome de Raul. Sem querer acabaram ajudando a consolidar ainda mais a memória de Raul. Ao menos uma vez na vida conseguiram aparecer e estar em evidência, regravando e tentando imitar o inimitável, a quem no passado, faziam questão de renegar. Hoje permanecem dopados pela ganância, com suas carreiras reduzidas a um átomo de sub-nitrato de coisa nenhuma, mas prestaram um grande serviço: Tatuaram o nome de Raul Seixas na memória do povo. Acredito cabalmente que, todas essas coisas já estavam traçadas pelo destino, pois, o que realmente importa é que Raul jamais seja esquecido e que a sua obra musical e filosófica ganhe dimensões futuristas. Discos póstumos, coletâneas diversas, tributos, regravações e livros biográficos foram editados aos borbotões. Várias homenagens foram e continuarão sendo prestadas pelos séculos dos séculos, amém...

Muitas dessas homenagens póstumas são verdadeiros interesses comerciais, outras possuem qualidade acima de qualquer suspeita. Muitos outros livros estão escritos e engavetados à espera de publicação, como este que agora foi editado, mas que amargou 10 anos de espera engavetado e outros tantos ainda serão escritos e publicados, tanto é verdade que Dona Maria Eugênia Seixas, enquanto viva, confessou não dar importância à qualidade de tudo o que era publicado a respeito de seu filho querido, para ela o que

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importava era que Raul nunca deixasse de ser lembrado e cantado. O transgressor Raul seixas, que fez de sua vida e arte atribuladas um hino à liberdade sem peias nem dogmas, o que lhe valeu prisão, tortura e exílio, desceu ao sétimo círculo mais abjeto do érebo de Dante, perseguido e execrado como homem e como artista. Mas, foi elevado à condição de mito. Pois ele era implacável e inflamado, como todos os homens ternos que amam a justiça. Ele era uma das almas autenticamente grandiosa da música popular brasileira. Raul era o perigo, aquele cujas palavras tinham o poder de abalar estruturas, costumes e regimes. Sua extensa obra musical foi dedicada ao homem verbalóide, cujas personagens de carne e osso remetiam, entre outros, aos humilhados e ofendidos dostoiévskianos, à ralé de Gorki, aos parias de Zola. O homem que não ousa e não pensa, não poderá jamais se livrar dos grilhões que o impedem de ser livre e feliz. Mas, Raul também reservou em sua obra contestadora, espaço para o amor carnal, compondo belíssimas canções do mais elevado lirismo, que parecem subir do fundo de um lago, como as ninfas de Claude Monet. Um gênio esboçado. Um filho fiel da dor... “Conhecereis a verdade, e a verdade os libertará.” (Jesus Cristo) – João 8,32. Toda a obra musical de Raul seixas contém um paradoxo enorme com estas palavras de Jesus Cristo, pois, traz consigo elementos capazes de despertar o indivíduo para que este busque suas próprias verdades. Ousar é preciso. Segundo Platão: “O profeta ou gênio é semelhante ao louco”. Simplesmente porque conheceu a verdade e a verdade o tornou livre e livre, fatalmente, não se adequará às mentiras sociais e religiosas, passará a combatê-las ferrenhamente e não se irmanará com o gigantesco conluio de mongolóides que grassa pela terra. A razão pela Raul foi perseguido e barrado é clara: ele ousou questionar tudo e o pior,

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tentou por todos os meios possíveis, mostrar ao homem que ele é um indivíduo e como tal pode ser feliz e livre se acreditar em si mesmo. As pessoas sempre tendem a transferir a responsabilidade do “realizar” para os outros e principalmente para os condicionamentos sociais. Pois, desde os primórdios, o homem teme o desconhecido. Não sabe das suas possibilidades e atravessa a curta existência e a vida tão preciosa acorrentado aos grilhões da história, mentirosa e disforme. O homem tem de aprender a agir, a pensar,. Ousar é mais do que preciso. E a ousadia possibilita o “fazer”. Caso contrário o homem corre o sério risco de pertencer a vida toda àquele grupo de quatro pessoas que ilustram o seguinte ditado:

Esta é uma estória de quatro pessoas: TODO MUNDO, ALGUÉM, QUALQUER UM e NINGUÉM. Havia um importante trabalho a ser feito e TODO MUNDO tinha certeza de que ALGUÉM o faria. QUALQUER UM poderia tê-lo feito, mas NINGUÉM o fez. ALGUÉM zangou-se porque era trabalho de TODO MUNDO. TODO MUNDO pensou que QUALQUER UM poderia fazê-lo, mas NINGUÉM imaginou que TODO MUNDO deixasse de fazê-lo. Ao final, TODO MUNDO culpou ALGUÉM quando NINGUÉM fez o que QUALQUER UM poderia ter feito.*

Será que o ser humano percebe o quanto a vida é bela, mas extremamente passageira? A gente nasce e já começa a morrer. Hoje, amanhã ou depois a morte vem vestida de cetim e carrega a gente enrolada em nosso sonho. Será que o homem já percebeu

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que ele é um dos seres que tem a vida mais curta sobre a face da Terra? Então, pondere: “Uma pessoa que vive 60 anos, na verdade viveu apenas 20 anos. Como assim? O homem nasce e até os 6/7 anos ainda é uma criança, portanto, não tem consciência de estar vivo, pois se considera imortal e nem sabe o que significa a vida, tudo é festa e diversão. Depois vem a fase escolar, em que o sujeito se quiser ser alguém na vida, com prestígio e posição profissional, vai ter de passar alguns longos anos entre a escola e a Universidade, portanto, sobra-lhe pouco tempo para pensar que está vivo. Se o indivíduo for pobre, no limiar da adolescência será obrigado a trabalhar e aí os sonhos se desintegram de vez, exceto em casos raríssimos de muita força de vontade. Pois bem, o dia e a noite somam 24 horas, ou seja, 8 horas o sujeito tem de trabalhar para sobreviver à duras penas. Outras 8 horas ele tem de passar na cama dormindo e descansando para recompor as energias vitais, sobram-lhe 8 horas de paz e de diversão e isso quando o indivíduo trabalha e ganha o suficiente para se divertir ao lado da família, o que não ocorre com a maioria pobre e desvalida. Conclusão: o ser humano vive tão-somente 8 horas diárias. Portanto, vive um terço da vida que lhe cabe. Enquanto estuda não tem tempo para refletir sobre a vida, só para pensar no futuro. Quando trabalha, está sob estado de admoestação e escravidão, não tem tempo para pensar na vida. Quando está dormindo, são mais 8 horas de inconsciência absoluta, em que o indivíduo morre todos os dias durante algumas horas, perde a consciência de que está vivo. Sobram-lhe 8 horas livres e nestas 8 horas livres o que faz o homem? Absolutamente nada, simplesmente vegeta e também não ousa pensar, pois a máquina assassina e poderosa do sistema já lhe entrega tudo pronto e mastigado, tudo em troca da ciência e da vivência. Aí, aos 60 anos o indivíduo pifa, sofre uma síncope

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cardíaca e vai pro raio que o parta. Conclusão: Quantos anos esse indivíduo viveu de verdade? Apenas 20 anos, sacou? 20 anos... é mole? Portanto, homem, reaja, não fique aí perdido feito ave sem destino... A desobediência é uma virtude necessária à criatividade...

A vida é bela, mas é uma cadela sempre no cio. O mais pernicioso freio moral no indivíduo é a religião, tudo para possibilitar a vida em sociedade. O único homem que pode ser considerado realmente bom e livre é aquele que não professa nenhuma fé, a não ser a fé nele próprio, que não acredita em Deus ou em vida após a morte e, por conseqüência, não teme punição do além, e ainda assim, pratica o bem sem esperar recompensa, este homem sabe que ele é seu próprio Deus e que não há Deus senão o homem consciente de seu papel humano, este homem é verdadeiramente livre. O homem comum, atado a velhos preconceitos morais tem um medo aterrador da morte, não consegue resignar-se com ela, portanto, tem constante necessidade de criar inúmeras filosofias e teologias. O homem afirma em DEUS o que ele nega em si. “Eu posso, eu sou, eu faço.” Desde o início da história humana, todas as sociedades têm alguma forma de controle social baseada em religiões. Todos os preconceitos engendrados durante milênios, são provenientes das religiões. Deus, se é que Ele existe mesmo, é o mais ferrenho escravocrata do Universo, pois ao ditar e escrever em pedra os Dez Mandamentos que passou a Moisés, o Criador diz e ordena: *Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma que pertença ao teu próximo. (Êxodo 20,17)* Se realmente Deus disse tais palavras a Moisés, está comprovado que Ele permitia a escravidão, caso contrário teria dito

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e ordenado: *Não tomarás para ti o teu semelhante para servir-te como escravo.* Mas, esta dúvida atroz se confirma mais além, em Êxodo 21, nos artigos da Lei Acerca dos Escravos:

*São estes os estatutos que lhes proporás: Se comprares um *São estes os estatutos que lhes proporás: Se comprares um *São estes os estatutos que lhes proporás: Se comprares um *São estes os estatutos que lhes proporás: Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá forro, de escravo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá forro, de escravo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá forro, de escravo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá forro, de graça.graça.graça.graça.

Se entrou solteiro, sozinho sairá; se eraSe entrou solteiro, sozinho sairá; se eraSe entrou solteiro, sozinho sairá; se eraSe entrou solteiro, sozinho sairá; se era homem casado, com homem casado, com homem casado, com homem casado, com ele sairá sua mulher. Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der ele sairá sua mulher. Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der ele sairá sua mulher. Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der ele sairá sua mulher. Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, e ele sairá sozinho.*e ele sairá sozinho.*e ele sairá sozinho.*e ele sairá sozinho.*

Deus não existe ou na realidade nunca falou com Moisés e nem escreveu tais estatutos, que estão em completo desacordo com a sua apregoada benevolência e amor para com a raça humana. Talvez tenha sido o próprio Moisés que tenha astutamente criado estes estatutos e os Dez Mandamentos, para exercer total domínio sobre o povo que ele guiava rumo a terra prometida, e quem sabe Moisés não passava de um grande mentiroso ou de um visionário fanatizado, que procurava conter um povo em êxodo e já descrente das suas promessas. Se o homem utiliza Deus como um modelo de como ele próprio deseja ser, não há senão o homem. Com certeza absoluta a origem do homem não é divina, não fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, pois se Deus existe e é um ser supremo, divino, como atesta a Bíblia Sagrada, Ele jamais colocaria no mundo esta criatura divina que rouba, mata, polui a terra e destrói sem piedade todas as outras formas de vida. Faria-nos perfeitos e bons, livres e sem maldade no coração. Se Deus e o Diabo, de fato existem e são reais, são sócios, pois Lúcifer trabalha para manter as religiões vivas e escravocratas. O Bem não

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é nada sem o Mal. Acredito até que, as religiões, em vez de permanecerem desde o início de sua conturbada história tentando exorcizar o Tinhoso e seus anjos guardiões, deveriam, isto sim, invocá-lo e agradecê-lo, pois, por medo do fogo eterno, um enorme e incontável conluio de mongolóides vive na mais esquálida miséria para enriquecer líderes religiosos. As pessoas se preocupam demais com as convenções e normas sociais e religiosas e por isso se esquecem de viver, não conhecem a verdade, que é libertadora de todos os grilhões e calabouços. Era contra toda esta macabra e saprófaga acomodação que Raul seixas se opunha e se manifestava. Ele falava o tempo todo que é preciso ter coragem, pois o ser humano pode mais.

Raul era o Gregório de Matos moderno. Gregório viveu na Bahia setecentista, ficou conhecido como “O BOCA DO INFERNO”, o primeiro poeta maldito brasileiro, nascido em 1636 e falecido em 1695, temido e odiado, mas também reverenciado, é autor de uma poesia ferina e virulenta, sempre pronta para atacar os poderosos, os moralistas, os dogmas e os “bons costumes”. Por isso, até hoje sua obra permanece como uma das mais malditas e rebeldes da história da literatura brasileira, afirma Higino Barros, que organizou cuidadosamente a antologia GREGÓRIO DE MATOS, publicada pela L&PM Editores-1999. Gregório de Matos foi preso e deportado para Angola e mesmo no degredo, em 1694, um ano antes de falecer, em Luanda, se envolveu com uma sublevação de militares, que protestavam contra a mudança de padrão monetário, imposto pela Corte à colônia africana. Por sua atuação, ficando ao lado do poder real, escreve Higino Barros à página 17 da citada Antologia, obtém o direito de retornar ao Brasil. É repatriado para Pernambuco, em 1695, e passa os últimos dias de sua vida, proibido de versejar, às

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margens do Capibaribe. Um de seus versos mais conhecidos e brilhantes e ferinos ao extremo, é o que inicia “SONÊTO”: -A cada canto um grande conselheiro/Que nos quer governar cabana, e vinha;/Não sabem governar sua cozinha,/E podem governar o mundo inteiro.- Apenas uma única restrição tenho em desagravo à pessoa de Gregório de Matos, eu disse à pessoa e jamais à obra, que considero uma das mais ricas e corajosas. O Gregório de Matos-ser humano, era dotado de um forte preconceito contra os negros, coisa que “O Boca do Inferno”, baiano de Quenguenhém, Raul Seixas desconhecia, pois era um ser humano sem nenhuma mácula, todos os seres para ele eram irmãos e iguais. Mas isso não tira o mérito da obra de Gregório de Matos, era uma falha pessoal dele, que odiava os descendentes de africanos, mas amava as mulatas, com as quais vivia em conluio carnal.

*BIOGRAFIAS PÓSTUMAS*

O primeiro livro sobre Raul Seixas, foi publicado em 1983 pela Shogun Arte, editora que era propriedade de Christina Oiticica e Paulo Coelho, “AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE THOR”, escrito pelo próprio Raul Seixas, uma espécie de documento sobre a formação cultural e musical dele, com 98 páginas contendo trechos de seu diário, contos, poemas, história em quadrinhos, que Raul criava e desenhava na infância para vender ao irmão Plínio Seixas, são apresentados como verdadeiras alucinações raulseixistas. Este mesmo livro foi reeditado com uma capa diferente, em 1991 pela mesma Shogun Arte, desativada tempos depois. Paulo Coelho, repentinamente tinha se transformado num literato de prêmio, com seus livros simplórios e suas estórias medíocres de magia e auto-ajuda, portanto não fazia mais nenhum sentido para ele e sua

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esposa continuarem a manter uma editora pequena, semelhante a muitas que existem no Brasil e que trabalham em sistema de cooperativa entre os autores (pagou publica-se qualquer porcaria, não tendo meios de pagar a publicação de quantas páginas o autor consiga pagar, por mais prolífica que seja a sua obra, não será jamais publicada), assim funcionam essas editoras. Quando recebi, em 1983, alguns exemplares do livro “AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE THOR”, enviados pelo próprio Paulo Coelho para que eu o ajudasse na divulgação por intermédio do Novo Aeon Fã Clube/Raul Rock Seixas, tive a iluminação de escrever a primeira biografia de Raul Seixas, que contasse toda a sua trajetória artística e pessoal até aquela data, já que nenhum acadêmico ou jornalista tinha até então, elaborado nenhum livro sobre o mais temido pensador do rock nacional.

Dei início à difícil tarefa, corria o ano de 1984, quando saí à cata de material e fotos para incluir no livro que pretendia escrever. Comuniquei a Raul a minha intenção de perpetuar seu nome e carreira em uma biografia. Raul me enviou dezenas de fotos, pôsteres, LP´s, compactos, vasto material impresso, uma tonelada de coisas que ainda hoje preservo como peças de um raro tesouro, sem contar o material que Raul havia passado aos cuidados de Sylvio Passos, para que ele me entregasse num momento oportuno e que até hoje estou esperando, desde 1984 e foi o próprio Raul quem me indagou se o Sylvio Passos tinha me entregado o material que ele havia separado para me presentear. Lembro-me que, na ocasião, para não criar uma situação embaraçosa para o Sylvio, eu disse ao Raul que ele tinha me entregado todo o material. Recebi ainda algumas cartas, mas Raul não tocou no assunto e nem mencionou nada sobre o livro que eu

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pretendia escrever. Convicto de ele não aprovara a idéia, pensei em desistir do projeto. Mas, pensando bem, deduzi: “O silêncio pode ser a confirmação de alguma coisa. Se Raul não tivesse aprovado a idéia, por que razão mandaria uma montanha de material e fotos? Fui em frente e trinta dias depois estavam prontos e escritos à mão os originais da tão sonhada biografia, contendo 200 páginas e a qual intitulei: “RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO”. Faltava então o principal para que o projeto literário ganhasse vida e se viabilizasse: uma editora para publicá-lo. Saí do front e resolvi encarar o inimigo de frente. Dei início a uma acirrada batalha em busca de uma editora interessada em publicar meu livro, mas perdi a batalha, eu não estava preparado, não conhecia o mundo editorial e constatei que os inimigos de Raul formavam uma legião, mais estratégicos do que eu poderia imaginar. Nenhuma editora recebeu a idéia com um mínimo de dignidade e respeito. Editores me vomitaram na cara, que estavam vacinados contra o raulseixismo e quem sabe, poderiam pensar em publicar uma biografia de um louco-intemporal depois de sua morte. Tomei a drástica decisão de engavetar os originais de “RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO” e tão-somente 11 anos depois, algumas destas mesmas editoras que eu havia procurado, em 1984, mostraram interesse em rever o projeto e possível edição do mesmo livro recusado outrora, pois agora, com a morte de Raul e algumas biografias já publicadas com sucesso, o livro poderia ser mais um filão para os editores. A hora da vingança tinha chegado, antes mesmo do sonho virar utopia. Me vinguei de todas elas, mandando-as, junto com o meu sonho para os quintos do inferno. Que fossem estancar a sua sede no deserto do Saara. Resolvi começar tudo novamente, com os originais manuscritos debaixo do braço fui bater à porta de uma editora

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pequena, mas nem por isso menos qualitativa que as grandes casas editoriais, sob a direção de um ex-patrão e amigo meu.

Tiro certeiro, “RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO”, finalmente seria editado 11 anos depois de escrito e engavetado. O primeiro livro biográfico de Raul Seixas ganharia vida e forma em 1995. Quando o livro saiu do prelo, eu temia a reação dos admiradores de Raul, afinal de contas, mais de uma dezena de livros sobre o mestre do rock já havia sido publicada depois de sua morte, um fenômeno sem precedentes na história da MPB e eu, um semi-analfabeto, com apenas o quarto ano primário como bagagem escolar, ousava escrever e publicar uma biografia do mais causticante e genial pensador do século? Que ousadia a minha. Com absoluta certeza, as críticas cairiam como avalanche em cima da minha cabeça, seriam mordazes e destrutivas, mas havia o consolo de que alguns livros que contam a trajetória de Raul eram de qualidade duvidosa. Obviamente que, antes mesmo de publicar o livro, fui obrigado a reescrevê-lo, mesmo porque, desde 1984, muita coisa aconteceu na vida e na carreira de Raul, até o momento de sua morte, em 1989. Restava-me aguardar e dar tempo ao tempo para ver e sentir o resultado daquela louca e ousada empreitada literária. Para minha surpresa e contentamento, a primeira e única edição de 1.000 exemplares se esgotou rapidamente e o livro foi bem recebido e aceito pela turba raulseixista, que considerou –o um dos melhores livros já publicados sobre o mago baiano. Desabando de alegria por ter passado no teste torturante, dei início a um segundo livro, quando ainda o citado “Raul Seixas, O Metamorfônico” estava à venda nas livrarias.

Em dezembro de 1995, comecei a escrever este livro, que

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agora você está lendo ou folheando por mera curiosidade, ao qual dei o título de “RAUL SEIXAS, O VERBALÓIDE”, publicado agora, quase 12 depois. Por quê Raul Seixas, o verbalóide? Porque todos nós somos verbalóides, e segundo o próprio Raul, o verdadeiro sentido do ser humano foi alterado pelo verbo ser. Raul era um filósofo e a música era apenas uma oportunidade de passar para todos nós a sua maneira de pensar e de ver as coisas, pois, a música tem a capacidade de penetração mais rápida no consciente coletivo. O verbalóide era também o título de um tratado de filosofia que Raul tinha escrevido há muitos anos e sonhava publicá-lo. Para a infelicidade geral da nação raulseixista, não se sabe porque cargas d´água O VERBALÓIDE não foi publicado, apenas fragmentos dele foram levados ao conhecimento do público raulseixista através de entrevistas, letras de músicas e grande parte está contida no livro “O BAÚ DO RAUL” e ainda assim, poucos sabem disso. Por essa razão, decidi prestar mais esta singela homenagem a Raul, dando a este meu segundo livro o título de seu tratado de filosofia, que não vingou.

Em 1990, Sylvio Passos organizou textos e depoimentos e entrevistas de Raul e publicou pela Martin Claret, o livro mais conhecido do mito maluco beleza: “RAUL SEIXAS POR ELE MESMO”. Em 1992, novamente Sylvio Passos uniu-se ao talentoso Toninho Buda e mais vez, pela mesma Martin Claret, publicaram o livro “ANTOLOGIA”, reunindo todas as letras das músicas gravadas por Raul Seixas e um estudo de Toninho Buda sobre Raul e o esoterismo. Corria o ano de 1992, exatamente no dia 21 de agosto, quando a Polygram lançou o LP “BAÚ DO RAUL”, contendo gravações inéditas (sobras de estúdio, ensaios, aparições de Raul na TV Itapoã/Bahia, de 1963 a 1978). Junto com este LP, sai também

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o livro “O BAÚ DO RAUL”, com textos e letras e poemas inéditos, organizados por Kika Seixas e Tárik de Souza, pela Editora Globo. Definitivamente, O BAÚ DO RAUL trata-se do melhor e mais autêntico livro já publicado sobre o mago do rock, pois nada mais é do que um livro escrito por ele mesmo, que contém fragmentos do tratado de filosofia “O VERBALÓIDE”, sobre cujo projeto Raul tinha me confidenciado lá nos longínquos finais da década de 70, quando o conheci. “O BAÚ DO RAUL”, transformou-se num projeto idealizado por Kika Seixas, através do qual, durante anos vários artistas eram reunidos e convidados a prestarem reverência a Raul, em diversas apresentações pelo Brasil. O BAÚ DO RAUL reuniu milhares de fãs por onde passou e teve início no Circo Voador, no Rio de Janeiro.

Em setembro de 1993, a Rede Globo exibiu o especial “SOM BRASILEIRO”, em homenagem a Raul, com a participação de várias duplas sertanejas e outros nomes da MPB. Ninguém entendeu absolutamente nada, um tributo desrespeitoso e besta, de repente até a casta sertaneja, Arrghhhh!, achou que tinha peito e idoneidade para cantar Raul Seixas, uma coisa horripilante e imperdoável, que petulância da Rede Globo, ops, digo Lobo... Naquele mesmo ano, 1993, a extinta Editora Ateniense, lançou ao mesmo tempo, três livros caça-níqueis no mercado literário, com poemas abomináveis sobre Raul Seixas, uma afronta à memória do mestre do rock nacional:

VIAJANDO COM RAUL SEIXAS, de João Benedito de Farias

RAUL SEIXAS FOREVER, de Madiel Figueiredo

HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS, de Renato Luiz Maitan

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1993 – Luciane Alves publica pela Martin Claret o livro “RAUL SEIXAS O SONHO DA SOCIEDADE ALTERNATIVA”.

Ainda estamos no ano de 1993, quando Ayrton Mugnaini Jr., publica pela Nova Sampa Diretriz Editora Ltda., o livro recheado de informações inéditas, “EU QUERO CANTAR POR CANTAR-Raul Seixas/Biblioteca Musical 1.

Em 1994, já no final do ano, Kika Seixas lança o “ROCK BOOK RAUL SEIXAS”, com letras, fotos inéditas e partituras de vários sucessos de Raul pela Editora Gryphus. O poeta e repentista Costa Senna publica em 1994, pela Nova Sampa, o livro “O RAULSEIXISMO”. Ainda em 1994, pela Nova sampa, Thaís de Moraes lança o livro “RAUL SEIXAS, MUSICALMENTE FALANDO”. Em meados de 1995, a Cúpula do Relâmpago Dourado, que tem como membros principais, Sylvio Passos, Luciane Alves, Zelinda Hypolito, Ayrton Mugnaini Jr., Costa Senna, drago, Jairo Ferreira e o genial Toninho Buda, reúne textos escritos por eles e lança, mais uma vez, pela Nova Sampa, o livro “RAUL SEIXAS O TREM DAS SETE”. Dezembro de 1995, Thildo gama, amigo e ex-integrante do grupo Relâmpagos do Rock, no início da carreira de Raulzito e primeiro guitarrista da banda Raulzito e Os Panteras, publica pela Pen Comércio e Comunicações Ltda., o livro “RAUL SEIXAS A TRAJETÓRIA DE UM ÍDOLO”. Ainda atravessamos o ano de 1995, quando Kika Seixas, mais uma vez, publica pela Editora Globo, o fabuloso livro “RAUL ROCK SEIXAS”, com fotos inéditas, letras e poemas de Raul, nunca antes publicados. No final de dezembro de 1995, finalmente sai pela Gráfica e Editora Coletta Ltda., o livro “RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO”, de Isaac Soares de Souza, com prefácio e

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poema inédito em homenagem a Raul, de seu irmão, o poeta e escritor Eliezer Soares de Souza.

Os livros mais importantes e conhecidos sobre Raul Seixas seguem relacionados abaixo, por ordem de lançamento:

A PAIXÃO SEGUNDO RAUL SEIXAS – Toninho Buda/Editora Maya, SP, 1999.

A TRAJETÓRIA DE UM ÍDOLO – Thildo Gama/Pen Editora, SP, 1995.

AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE THOR – Raul Seixas/Shogun Arte, RJ, 1983.

DEZ ANOS SEM RAUL SEIXAS – Tiago Sotero de Sá e Mirella franco Barrella/Produção Alternativa, SP, 1999.

EU QUERO CANTAR POR CANTAR-RAUL SEIXAS – Ayrton Mugnaini Jr./Nova Sampa editora, SP, 1993.

LUAR AOS AVESSOS – Ângelo Sastre/Scortecci Editora, SP, 1999.

O BAÚ DO RAUL – (Raul Seixas), Seleção de Kika Seixas, organização e apresentação de Tárik de Souza/Editora Globo, SP, 1992.

RAULSEIXISMO – Costa Senna/Nova Sampa Editora, SP, 1994.

RAUL ROCK SEIXAS – (Raul Seixas), Pesquisa, organização e edição de Kika Seixas/Editora Globo, SP, 1995.

RAUL SEIXAS, A HISTÓRIA QUE NÃO FOI CONTADA – Elton Frans/Irmãos Vitale Editores, SP, 2000.

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RAUL SEIXAS: A VERDADE ABSOLUTA FILOSOFIAS POLÍTICAS E LUTAS – Mario Lucena/McBel Oficina de Letras, SP, 2002.

RAUL SEIXAS/BIOGRAFIA – (Coleção Gente do Século) – Regina Echeverria/Editora Três, SP, 1999.

RAUL SEIXAS DEZ MIL ANOS À FRENTE – Marco Aurélio/M2 Mídia, BA, 2003.

RAUL SEIXAS E A MODERNIDADE-UMA VIAGEM NA CONTRAMÃO – Sonielson Juvino Silva/Marca de Fantasia, PB, 2004.

RAUL SEIXAS E O SONHO DA SOCIEDADE ALTERNATIVA – Luciane Alves/Martin Claret, SP, 1993.

RAUL SEIXAS, ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS – Thildo Gama/Pen Editora, SP, 1997.

RAUL NO CALDEIRÃO – David Eduardo Martins/Editora Catedral das Letras, RJ, 2005.

RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO – Isaac Soares de Souza/Gráfica e Editora Coletta, SP, 1995.

RAUL SEIXAS POR ELE MESMO – Sylvio Passos/Martin Claret, SP, 1990.

RAUL SEIXAS ROCK BOOK – (Raul Seixas) – Pesquisa,cão de Kika Seixas/Gryphus Editora, RJ, 1994.

RAUL SEIXAS, UMA ANTOLOGIA – Sylvio Passos e Toninho Buda/Martin Claret Editores, SP, 1992.

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TREM DAS SETE – Luciane Alves, Toninho Buda, Drago, Jairo Ferreira, Zelinda Hypolito, Ayrton Mugnaini Jr. E Sylvio Passos/Nova Sampa Editora, SP, 1995.

TRIÂNGULO DO DIABO/OPUS 666 – Jay Vaquer/Girl Press, EUA, 1999.

RAUL SEIXAS/METAMORFOSE AMBULANTE – Autor e Organizador: Mário Lucena – Coordenador: Sylvio Passos – Coautores: Igor Zinza e Laura Kohan/B&A, São Paulo/2009

NOVO AEON Raul Seixas no Torvelinho do seu tempo – Autor: Vitor Cei Santos – Luminária Academia/Multifoco – 2010

RAUL SEIXAS-Uma lenda viva na memória dos seus admiradores – Autor: Elton Frans –GPC Edições – 2010.

RAUL SEIXAS, O VERBALÓIDE – Autor: Isaac Soares de Souza/Clube de autores – (WWW.clubedeautores.com.br)-2010

ZÉ RAMALHO: O PROFETA DO TERCEIRO MILÊNIO – Autor: Isaac Soares de Souza – Marca de Fantasia/2009 – (WWW.clubedeautores.com.br)-2010.

*O BAÚ DO RAUL REVIRADO*

Raul Seixas morreu vítima do alcoolismo, desafiou a tudo e a todos, pagou um preço altíssimo pela sua teimosia “braba” de guerreiro, mas de maluco Raul não tinha nenhum resquício. Tanto é verdade que, 17 anos após sua morte, ele continua causando polêmica e vendendo discos como poucos. Biografias e tributos incontáveis são editados todos os anos. Isto deve-se exclusivamente à garra afiada de minha amiga querida e ex-esposa de Raul, Kika

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Seixas, que há anos vem mantendo vivo o projeto “O BAÚ DO RAUL”.

O trabalho desenvolvido por Kika Seixas merece todo o respeito e reconhecimento. Somente no ano de 2005, quase no seu final, Kika Seixas organizou e fez editar dois projetosgrandeza: o primeiro, “O BAÚ DO RAUL”, CD duplo e DVD do show-tributo que levou milhares de fãs à Fundição Progresso, Lapa, Rio de Janeiro, reduto dos boêmios e das tribos alternativas, celebrando a décima edição do evento e que contou com a participação de vários nomes consagrados da MPB, evidenciou que passados l6 anos da morte de Raul, seu legado continua vivo. Em novembro de 2005, mais um projeto organizado por Kika elivro/almanaque/CD, chegava às livrarias de todo o Brasil para fomentar a ansiedade dos fãs de carteirinha. Este segundo projeto, feito com maestria pura para fechar aquele ano, intitulado “O BAÚ DO RAUL REVIRADO”, além de imagens pessoais do acervo da esposa de Raul e manuscritos exclusivos, traz ainda um CD grátis com gravações inéditas de Raul Seixas. O baú no qual Raul guardava as pequenas lembranças de sua carreira está ao alcance do público. Este livro reúne fotos e manuscritos inéditos

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vivo o projeto “O BAÚ DO

O trabalho desenvolvido por Kika Seixas merece todo o respeito e reconhecimento. Somente no ano de 2005, quase no seu final, Kika Seixas organizou e fez editar dois projetos de extrema

l6 anos da morte de Raul, seu legado continua vivo. Em novembro de 2005, mais um projeto organizado por Kika em forma de livro/almanaque/CD, chegava às livrarias de todo o Brasil para fomentar a ansiedade dos fãs de carteirinha. Este segundo projeto, feito com maestria pura para fechar aquele ano, intitulado “O BAÚ

DO”, além de imagens pessoais do acervo da esposa de Raul e manuscritos exclusivos, traz ainda um CD grátis com gravações inéditas de Raul Seixas. O baú no qual Raul guardava as pequenas lembranças de sua carreira está finalmente ao alcance do público. Este livro reúne fotos e manuscritos inéditos

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de um dos maiores ídolos do Brasil. Conhecer a história de Raul e do rock nacional por meio dos objetos pessoais do cantor, irá agradar até a quem nasceu “há dez mil anos atrás”. O livro é da editora Ediouro. Long live Raul Seixas! Long live rock and roll!!!.

- DISCOS PÓSTUMOS -

O mais celebrado deles foi “O BAÚ DO RAUL” (Polygram, 1992, produção de Sylvio Passos, que, sem trocadilhos, foi um passo adiante daquele dado com LET ME SING... Neste disco o fundador do Raul Rock Club reuniu raridades do ídolo do período entre 1963 (as gravações do The Panters na TV Itapoá) e 1978 (a faixa inédita “Sou o que sou”, parceria de Raul com Tânia Menna Barreto). No pacote, vieram ainda faixas como “Nanny” (de Gino Frey, gravada por Raul em 1964, mas não incluída em nenhum de seus discos), as versões em espanhol de “Metamorfose Ambulante” e “Ouro de Tolo”, encontradas apenas em CD e gravações cruas de clássicos do rock (das sessões de Raul Rock Seixas), como “Can´t Help Falling Love” e “Kansas City”. Alguns discos ao vivo também saíram do baú após a morte do astro. Caso de “EU RAUL SEIXAS” (Polygram, 1991, com registros de um show feito em 1982, em Santos, na Praia do Gonzaga). “RAUL VIVO” (Eldorado, 1993, uma ampliação do disco “Raul Seixas Ao Vivo Único e Exclusivo, com gravações de suas composições de sucesso) e “Se o Rádio não Toca” (Eldorado, 1994, com recuperação de fitas de um histórico show em Brasília, no ano de 1974).

De fitas guardadas há anos, o produtor Mazzola fez em 1998 o disco “DOCUMENTO” (MZA Music), outro destaque na discografia

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póstuma de Raul Seixas. Este belo Cd traz as versões em inglês de “O Trem das Sete”, “Ouro de Tolo” e “S. O. S.”, a inédita “Faça, Fuce, Force”, takes alternativos de “How Could I Know” e “Rockixe”, além de uma recriação eletrônica de “É Fim de Mês”. Como as fitas apresentassem deteriorações, o produtor separou as vozes e os violões de Raul e chamou os músicos que gravaram com ele na época para fazer as bases. Em 2003, foi a vez de Sylvio Passos voltar à ativa com “Anarkilópolis” (Som Livre), uma compilação de faixas já manjadas, como “No Fundo do Quintal da Escola”, “Quero Mais” e “Que Luz é Essa”. A novidade do disco ficou por conta da inclusão da faixa-título, uma primeira versão, que apregoavam, inédita, de “Cowboy Fora-da-lei”, registrada em 1984, nas sessões de Metrô Linha 743.

- CAIXAS: -

RAUL SÉRIE GRANDES NOMES (com 4 CD´s e um livro ilustrativo), Polygram, 1995.

MALUCO BELEZA (com as reedições remasterizadas dos seus primeiros discos entre 1973 e 1977, Universal Music, 2002.

- DISCOS-TRIBUTOS: -

O INÍCIO, O FIM E O MEIO - (Vários artistas, Epic/Sony Music, 1992)

TRIBUTO A RAUL SEIXAS - (O Terço, Movieplay, 1999)

ZÉ RAMALHO CANTA RAUL SEIXAS - (Zé Ramalho, BMG, 2001)

O BAÚ DO RAUL - (Vários artistas, Som Livre, 2004, também em DVD)

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- PRINCIPAIS COLETÂNEAS: -

A ARTE DE RAUL SEIXAS – (Polygram)

METAMORFOSE AMBULANTE – (Polygram)

RAUL ROCK SEIXAS 2 – (Polygram)

MALUCO BELEZA – (WEA)

AS PROFECIAS – (WEA)

MÚSICA! O Melhor da música de Raul Seixas – (WEA)

MILLENIUM – (Polygram)

BIS-RAUL SEIXAS – (EMI)

ESSENTIAL BRAZIL RAUL SEIXAS – (EMI)

*RAUL SEIXAS, O HOMEM QUE DEIXOU A VIDA PARA ENTRAR NA HISTÓRIA*

Se a morte, sorrateira e saprófaga, vestida de cetim, não o tivesse levado prematuramente, aos 44 anos, em agosto de 1989, Raul Seixas estaria hoje, em 2007, prestes a completar 62 anos de idade, no próximo dia 28 de junho. Uma verdadeira legião de admiradores e quase uma geração inteira de novos fãs, preparam por todo o país, várias comemorações em homenagem ao rockeiro baiano, nas datas de seu nascimento e na data de sua morte:

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junho/agosto. Em todo o Brasil, como acontece há l8 anos anos consecutivos, desde a sua partida para a Fase A da Sociedade Alternativa, essas homenagens ocorrem em shows realizados por toda a parte, em bares de inúmeras cidades do país, apresentações dos principais covers e exposições de objetos do cantor organizados pelos inúmeros fãs clubes. Uma panacéia geral que expressa a importância da obra musical desse gênio esboçado que a música popular brasileira teve a sorte e a honra de parir.

É bom lembrar aos desesperados e fiéis seguidores do mago baiano, que não tinha nenhuma ligação com a linha evolutiva da música brasileira, que todos os fã clubes ainda em atividade, são os responsáveis por essa “guerra” permanente, de lutar para que o nome de Raul nunca caia no esquecimento. Por isso, a mídia tem a obrigação de apoiar e divulgar tais acontecimentos. Raul Seixas era único: nunca um artista brasileiro ousou tanto com sua arte corrosiva e genial. O que ele cantava era o que ele vivia sem falsidade. Nunca fez parte de nenhuma cúpula musical, não pertencia à linha evolutiva da MPB: sua linha e ideologia era o “raulseixismo”. Raul morreu triste como Carlos Drummond de Andrade. Ele imprimia tão catastroficamente seu estilo próprio às suas composições que, dificilmente elas tinham significado ou aura na interpretação de outros artistas que o regravaram suas canções. O Brasil precisou perdê-lo para reencontrá-lo na eternidade de sua obra filosófica e magistral, um fator tragicômico, mas que é uma característica de um povo sandeu e sem memória e sem cultura, como o povo brasileiro, pois, como o próprio Raul sempre dizia: “A SOCIEDADE ASSASSINA SEUS POETAS PARA ENTÃO CITÁ-LOS”.

Como prova da eternidade do maior pensador que a música

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brasileira já pariu, totalmente maculada pela avalanche de artistas inexpressivos que surge a cada geração e que contribuem para o “emburrecimento” do povo com suas obras mesquinhas e intragáveis, pasmem, a Som Livre lançou uma coletânea do cantor baiano com uma canção country jamais lançada em disco. Digo pasmem, porque foi a mesma Som Livre que, em 1984, lançou o LP “METRÔ LINHA 743” e foi esta mesma gravadora, dirigida por João Araújo, pai do poeta do absurdo e destrambelhado de Ipanema, Cazuza, que jogou este clássico disco no fosso do anonimato. Não deu ao disco o valor que ele merecia, não o divulgou, por isso acabou provocando a saída relâmpago de Raul de seu cast naqueles distantes anos da década de 80.

“ANARKILÓPOLIS”, título do disco que a Som Livre lançou e cuja música que dá nome ao disco, assinada por Raul, Cláudio Roberto e

mais uma vez, (pasmem), Sylvio Passos. Mais uma coletânea que, apesar de um pouco diferente de inúmeras outras já editadas,

cheira à caça-níqueis. Não convence a nenhum admirador da obra raulseixista, pois não tem nenhum ineditismo. A música

“Anarkilópolis” é um country que deveria ter entrado no disco “Metrô Linha 743”. Como os produtores da gravadora entenderam na época que a música não tinha ficado bem acabada, decidiram

não incluí-la naquele disco de 84. Outra estória contada para justificar a não inclusão desta canção no disco, é a de que Raul

naquela época, estava com problemas cada vez mais freqüentes em sua vida particular. Depois de chegar embriagado ao estúdio por

causa de uma briga com a mulher, acabou comprometendo a gravação, que não pôde mais ser trabalhada a tempo de entrar no álbum. Até a capa desta coletânea “Anarkilópolis” é uma cópia da

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capa do disco “Metrô Linha 743”, que foi trabalhada pelo artista gráfico e raulseixista Drago, amigo pessoal de Sylvio Passos para dar a impressão de uma coisa nova. A faixa Anarkilópolis merece atenção

especial, porque trata-se de uma letra de Sylvio Passos que Raul musicou. O próprio Sylvio é quem conta como se deu a parceria: Raul tinha

escrito, em 1973, uma música chamada Cowboy 73, e me mostrou a letra me convidando (eu acredito que ele estava mesmo é me dando uma

oportunidade única, generoso ao extremo que era) para fazer uma letra em cima daquela onde somente aproveitaríamos o refrão, que era assim:

Eu não sou besta pra tirar onda de herói Sou vacinado, sou cowboy, cowboy 73.

Durango Kid só existe no gibi Quem quiser que fique aqui

Entrar pra história é com vocês.

Eu que escrevia uns versinhos e coisas típicas de adolescente, tive ali a oportunidade de escrever junto a Raul algo mais "sério". Raul me passou a idéia e o refrão e falou: Se vira, Sylvícola! Foram inúmeras

tentativas, rabiscos, papeis no lixo até que saiu a letra que foi gravada. Fui com Raul ao Rio, já que eu estava acompanhando todas as sessões de gravação do Metrô Linha 743 tanto no Rio (Som Livre) como aqui

em Sampa num estúdio da RGE, ele chegou completamente chapado no estúdio e gravou de qualquer jeito a Cowboy Fora da Lei, que acabou

virando Anarkilópolis em 2003 para não entrar em conflito com a outra versão lançada em 1987. Resultado: Com data de lançamento marcado,

gravações do vídeo-clipe para o Fantástico, a música acabou não entrando no disco, pois o cronograma e o orçamento já estavam

estourados. A gravação permaneceu perdida no acervo da Som Livre durante quase 20 anos, até que um belo dia Aramis Barros me liga

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dizendo que tinha encontrado uma gravação inédita de Raul das sessões do Metrô Linha 743 e queria saber mais informações sobre a mesma. Qual não foi minha surpresa e alegria ao ouvir tal gravação. Raul que havia adquirido o hábito de não deixar nada nas gravadoras depois que

lançaram o Raul Rock Seixas (1977) com coisas que ele deixou na Philips, havia se esquecido de apagar a tal gravação não aproveitada no Metrô. Acho que ele nem se lembrava de te-la gravado visto o estado em que se encontrava no dia da gravação. E nem eu me lembrava, até que pude ouvir e dizer ao Aramis e a Kika que aquela era a versão que eu e Raul havíamos feito em 1984 e que eu tinha as fitinhas K7 com a gente

compondo tal música. Daí pra frente, você já conhece a história. Raul Seixas morreu triste e continua mais triste além-túmulo, pois o que estão fazendo com seu legado é uma coisa lastimável. Todo mundo quer tirar uma casquinha desta mina de ouro... de tolo... Todo mundo quer uma fatia deste gigantesco bolo, que

nunca é comido totalmente, sempre sobra um pedaço para os mais espertos e gulosos, que se dizem guardiões da obra raulseixista. Criou-se uma panelinha malfazeja, composta por meia dúzia ou

pouco mais, de pessoas que se acham as únicas com o indiscutível direito de explorar o legado de Raulzito, que precisa ser revista e desmanchada. Raul sabia que estava por parasitas, salvo raríssimas exceções. Sylvio Passos foi amigo pessoal de Raulzito, guardião do

famoso Baú do cantor, que ainda em vida o passou para que ele o preservasse e o fez por merecer, porque é um dos mais arrojados e

batalhadores soldados raulseixistas de que tenho conhecimento.

Raul era um ser humano, que apesar de sua fama de encrenqueiro e meio maluco, possuía um coração enorme e costumava dar a parceria em algumas de suas composições para um amigo qualquer e para as esposas que teve. Por quê será que todas as mulheres

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que passaram por sua vida, têm pelo menos uma música em parceria com ele? Um dos seus parceiros realmente parceiro e que escrevia letras e dividia mesmo tudo, foi o genial Cláudio Roberto, que hoje vive em um sítio na cidade fluminense de Miguel Pereira.

Para que o fã menos avisado tenha uma vaga idéia, quando Raul convocou e convidou Paulo Coelho para assumir uma parceria firme com ele, que foi uma das mais prolíficas do rock nacional, a primeira música que trazia o nome de Paulo Coelho como parceiro, “Caroço de Manga”, foi escrita e musicada inteiramente por Raul e ele para incentivar o amigo, cedeu-lhe a parceria e, hoje o próprio Paulo Coelho afirma tal coisa. Por quê é que, depois do rompimento da parceria de ambos, Paulo Coelho nunca mais compôs nada, a não ser umas três ou quatro canções insossas? Por quê é que depois da separação conjugal, suas ex-esposas, Kika Seixas, Tânia Menna Barreto, e Lena Coutinho e também a americana Glória Vaquer, jamais retornaram a compor absolutamente nenhuma canção?

Mas, apesar dos pesares, a tão aclamada e alardeada música inédita, “Anarkilópolis” é uma gostosa brincadeira, não para o grande público, mas dirigida ao fã colecionador: Estou de pleno acordo com o crítico Jotabê Medeiros, quando escreveu: “a única coisa que prestava mesmo em “Anarkilópolis”, a tal canção inédita do novo disco de Raulzito, gravada originalmente em 1984, era o refrão “eu não sou besta pra tirar uma de herói”, que ele aproveitou três anos depois”. O trecho foi utilizado na conhecidíssima “Cowboy Fora-da-lei”, do disco “Uah, Bap, lah, Bein-Bum!”, que lhe deu o segundo disco de ouro pela Copacabana.

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Jotabê Medeiros vai ainda mais longe: “o resto do country que puxa o novo lançamento é um besteirol, algo inferior à verve do cantor baiano em outros momentos. Só tem um versinho que salva “cada um manda no seu nariz/por isso que o povo lá é feliz”. A tão propagada inédita do maluco beleza, entre as 14 faixas do disco “Anarkilópolis”, com absoluta certeza, é a mais insossa. Nas páginas iniciais deste mesmo tomo, eu declaro que em 1980/82, quando Sylvio Passos fundou o RAUL ROCK CLUB, ele me escreveu inúmeras cartas solicitando a mim a gentileza de ceder-lhe as mesmas carteirinhas que eu distribuía então aos associados ao fã clube NOVO AEON FÃ CLUBE/RAUL ROCK SEIXAS, fundado por mim em 1976 na cidade de Bariri-SP e que trata-se do primeiro fã clube brasileiro de Raul Seixas, não oficializado simplesmente porque eu não quis, pois acredito que a oficialização de um fã clube não tem tanta importância, já que os artistas homenageados nunca dão a menor importância para os fã clubes, que mantêm a memória deles viva, o que não era o caso de Raul, que sempre colaborou com seus fã clubes. Na época, eu enviei inúmeras carteirinhas do Novo Aeon para o Sylvio, mesmo porque ele pretendia distribuí-las entre os associados ao RAUL ROCK CLUB, enquanto as carteirinhas que ele mandara imprimir na época não estivessem prontas. Dias depois de atender ao pedido de Sylvio e de ter-lhe enviado as carteirinhas, recebi outra carta dele afirmando que houvera recebido as ditas carteirinhas e que já tinha distribuído todas elas, agradecendo-me então. Recentemente, eu publiquei na internet no site www.casaderock.com.br parte deste mesmo livro (100 páginas) para download com a ajuda do amigo Spm Ripper. Qual não foi o meu espanto quando recebi de Sylvio Passos uma nota referente as inverdade que escrevi em meu livro, simplesmente porque eu afirmava as coisas que estão relatadas acima a respeito das carteirinhas que ele havia me solicitado na década de 80 e

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furioso porque eu afirmo que o primeiro fã clube brasileiro em homenagem a Raul foi exatamente o NOVO AEON FÃ CLUB/RAUL ROCK SEIXAS. Confesso que nada entendi, pois nenhuma inverdade foi dita. Felizmente, ainda hoje guardo todas as cartas que recebi na década de 80 escritas por Sylvio Passos e que atestam a veracidade de tudo o que contei neste livro. No entanto, entretanto e portanto, para que não paire nenhuma dúvida na cabeça de qualquer leitor deste tomo, seguem abaixo as notas publicadas por Sylvio Passos e distribuídas através da internet aos raulseixistas e ainda as respostas que enviei por e-mail ao Sylvio Passos, que é meu amigo de longos anos e que se trata de uma figura honrada, mas que, por um lapso de memória, certamente se esqueceu de como começou a história verdadeira e das inúmeras cartas que me escreveu na década de 80.

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RAUL SEIXAS: O Homem que deixou a vida para entrar na história

"Cansado de correr atrás de uma editora para publicar meu livro, decidi colocar e/ou disponibilizar para leitura gratuíta, RAUL SEIXAS: O HOMEM QUE DEIXOU A VIDA PARA

ENTRAR NA HISTÓRIA, que, na verdade, é uma compilação de meu livro RAUL SEIXAS, O VERBALÓIDE.

Peço a atenção de todos vocês e apoio de cada um que venha a receber este comunicado. Solicito a cada um de vocês que, ao

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terminar de ler esta mensagem, me ajude a divulgá-la,

enviando-a pelo correio eletrônico a todos os seus amigos e contatos, esta notícia. Já que não tenho o apoio das editoras, que só querem vender livros e mais livros e encherem seus cofres de dinheiro, relegando poetas e escritores e artistas de todos os segmentos culturais ao mais esquálido ostracismo, a única

forma que nós, poetas e escritores independentes e desconhecidos temos é esta: a divulgação boca a boca, a única capaz de derrubar o monopólio em que se transformou as

grandes editoras. Se cada um de vocês, amigos inteligentes e cultos, cujas amizades muito prezo, me ajudar a divulgar este

comunicado, enviando-o aos seus amigos e contatos, brevemente este mesmo livro disponibilizado na internet para leitura e acesso gratuíto, será inexoravelmente editado em forma

impressa e virará um livro conhecido e bem lido. Obrigado, de coração, muito obrigado."

ISAAC SOARES DE SOUZA (Poeta, compositor e escritor)

Este ebook/livro tem o apoio cultural do RAUL MESTRE SEIXAS CLUB - Fã Clube Raul Seixas e da Casa de Rock

RAUL MESTRE SEIXAS CLUB - Fã Clube Raul Seixas Caixa Postal: 101 - Catanduva/SP - CEP: 15.800-970

Para contato: [email protected] Loja Virtual do Fã Clube:

http://lojavirtualrmsclub.blogspot.com Comunidade do fã clube no orkut:

http://www.orkut.com/community.aspx?cmm=35408596 Canal no Youtube:

http://www.youtube.com/mestreraulseixas

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140 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide Nota sobre inverdades publicadas no e-book "Raul

Seixas, O Homem Que Deixou A Vida Para Entrar Na

História", de Isaac Soares de Souza.

Esta é uma história de quatro pessoas: TODO MUNDO, ALGUÉM, QUALQUER UM e NINGUÉM.

Havia um trabalho importante a ser feito e TODO MUNDO tinha certeza de que ALGUÉM o faria.

QUALQUER UM poderia tê-lo feito, mas NINGUÉM o fez. ALGUÉM zangou-se porque era um trabalho de TODO MUNDO. TODO MUNDO pensou que QUALQUER UM poderia fazê-lo, mas

NINGUÉM imaginou que TODO MUNDO deixasse de fazê-lo. Ao final, TODO MUNDO culpou ALGUÉM quando NINGUÉM fez

o que QUALQUER UM poderia ter feito. Autor desconhecido

Após a leitura das 100 páginas - entre inúmeras & torturantes crises

de Cefaléia em Salvas - do referido e-book, e deparar-me com referências a mim e ao trabalho que há 30 anos faço em prol da

memória de Raul Seixas, indignou-me os ataques pessoais, diretos ou indiretos - e descabidos - dirigidos diretamente a mim. O autor, que conheço desde 1981, época em que fundei o Raul Rock Club/Raul Seixas Oficial Fã-Clube, quando não se refere a mim com desdenho

diretamente (embora, em algumas citações a minha pessoa, o autor teça elogios), deixa subentendido em seu texto os referidos ataques e inverdades, motivado, talvez, por frustrações e/ou por algum desejo

de vingança(?) tendo-me como alvo dos mesmos.

Não tenho a menor intenção de "criar caso" com o autor, mas, diante dos fatos, não posso ficar quieto e deixar que, mais uma vez,

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141 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

venham tentar achincalhar minha imagem, nome e trabalho - coisa

que, de uns tempos para cá, virou terreno comum, de certa forma. O que fica evidente para mim, além da clara falta de bom senso, é que esses que alardeiam por aí tais discrepâncias, me julgando como se fossem os bastiões dos fracos e oprimidos (sic), não tem o menor

embasamento, moral ou virtude para, gratuitamente, desferirem suas queixas e mágoas para cima de mim. Se consegui alguma

notoriedade com minhas ações, não foi forçada e/ou comprada, mas, sim, pela qualidade, competência, profissionalismo, transparência e,

principalmente, pela honestidade aplicadas em tudo que faço. Se agrada ou não o público, aí já foge ao meu controle, afinal, usando

um velho clichê, se nem Jesus Cristo agradou à todos, por que haveria eu de agradar?

Vivemos num país livre e respeito a liberdade de expressão desde que esteja corroborada a fatos e não a elucubrações baseadas em devaneios sórdidos que só fazem envenenar as mentes e corações dos incautos. Portanto, deixo abaixo os números das páginas do referido e-book onde senti-me agredido de alguma forma, e, em

seguida, minha argumentação acerca de tais injurias.

Página 42: Ao se referir a oficialização de fãs-clubes, o autor fala sobre ataques de estrelismos (?) de seus fundadores e que eu

distribuía as carteirinhas de seu fã-clube aos associados do Raul Rock Club. Isso nunca aconteceu. Jamais distribui carteirinhas de

outros fãs-clubes aos associados do Raul Rock Club. Quanto a questão de "ataques de estrelismo", não tenho nada a dizer senão

que o mal reside tão e somente nos olhos e no coração dos detratores. Na mesma página ainda sou citado como não tendo dado

o divido reconhecimento ao autor(?).

Página 53: Nesta página o autor afirma que, em 1984, Raul teria entregue a mim algum material para que eu entregasse à ele por

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conta de um livro que o mesmo estaria escrevendo e o mesmo

afirma que jamais recebeu tal material que, supostamente, Raul teria deixado aos meus cuidados. Quero deixar bem claro que Raul

jamais entregou qualquer material à mim para que eu entregasse ao autor deste e-book. Vale dizer aqui também que em 1981, quando conheci Raul em sua residência, no bairro do Brooklin, zona sul de capital paulista, em minha primeira vista a sua casa, cheguei lá com a proposta, além da fundação do Raul Rock Club, de escrever um

livro sobre ele e desde então Raul passou a me entregar muitos itens de seu famoso baú para que eu os recuperasse e toda sorte de

material para que eu desenvolvesse minha pesquisa. Com todo aquele material a disposição (fitas, fotos, textos, manuscritos,

documentos...) elaborei não só o livro, mas também projetos para discos com material raro e inédito. Nos anos seguintes, sempre que Raul entrava numa gravadora me apresentava aos diretores e produtores dizendo que eu tinha projetos e material para lançamento de discos e um livro, na esperança de que os mesmos fossem lançados naquela época juntos, talvez, com seus álbuns. Infelizmente não conseguimos lançar nada naquele período. O livro somente veio ser lançado em 1992, em parceria com meu velho amigo Toninho Buda, com o título Raul Seixas, Uma Antologia, na então pequena Martin Claret Editores (antes, em 1990, eu havia lançado pela mesma editora o livro-clipping Raul Seixas Por Ele Mesmo, pois o Sr. Martin Claret, desconhecendo Raul Seixas e seu público, queria saber se valeria a pena investir no Antologia, um livro que exigia mais cuidado e investimento em sua publicação.). Assim como o livro, o primeiro disco com material inédito, também só foi lançado em 1992, pela Philips/Polygram com o título de O Baú Do Raul, já que Kika Seixas e Tarik de Souza estavam lançando um livro com mesmo título e, evidentemente, assim como o disco, com material que constava no famoso baú do Raul. Kika tinha alguns manuscritos que se transformou no livro para a Editora Globo e eu tinha os tapes para produzir o disco para a multi holandesa.

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143 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide Página 61: No último parágrafo dessa página o autor desfere seu ataque acusando-me de falso parceiro musical de Raul na faixa, até então inédita, Anarkilópolis, a primeira versão de Cowboy Fora da Lei (1987), composta por mim e por Raul em 1984. Na acusação o autor usa expressões como "PASMEM" e diz que tal parceria é VEXATÓRIA, e que tudo fazia parte de uma armação (sic) com intuito de ludibriar o público. Cabe aqui dizer que Anarkilópolis foi composta apenas por mim e por Raul em 1984 e que a mesma deveria mesmo ter entrado no álbum Metrô Linha 743, o que infelizmente acabou não acontecendo por Raul ter entrado em estúdio para grava-la em condições não favoráveis e, principalmente, porque findava as sessões de gravação e mixagem do disco que já estava com data de lançamento marcada. O nome de Cláudio Roberto aparece na parceria por conta de que em 1987 Raul o convidou para fazer uma outra versão, a que acabou estourando em todo Brasil naquele ano. Como essa segunda versão havia sido registrada primeiro, obrigatoriamente teria que se incluir o nome de Cláudio nesta versão inédita até então (2003) não registrada. Segue, no anexo, trecho em MP3 de uma das inúmeras gravações que eu e Raul fizemos enquanto compunha-mos a canção em 1984. O desafeto segue nas páginas seguintes, 62 e 63, respectivamente, com inúmeros equívocos cometidos nessas páginas, principalmente com relação a ficha técnica e a concepção/conceito do CD em si que não cabe explanação aqui, seguido de excertos de artigo publicado pelo jornalista Jotabê Medeiros no jornal O Estado de São Paulo acerca do lançamento em 2003. (Vide integra do artigo no final desta.) Para finalizar quero deixar bem claro que nunca tive qualquer tipo de problema com Isaac Soares de Souza, que inclusive esteve comigo na Passeata Raulseixiticka aqui em São Paulo no último 21 de agosto. Mas, tais observações se faziam necessárias uma vez que o e-book está sendo largamente divulgado no mundo virtual.

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144 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Sem mais,

Long Live Rock and Raul!

I Know It's Only Raul Seixas (But I Like It)

Sylvio Passos

Sylvio Passos tel. (11) 2948 2983 cel. (11) 8304 4568

Site: www.sylviopassos.com e-mail: [email protected]

Os fatos prevalecem sobre os documentos.

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Desfile de jóias do anarquista raro

JOTABÊ MEDEIROS

A única coisa que prestava mesmo em Anarkilópolis, a tal canção inédita do novo disco de Raulzito, gravada originalmente em 1984,

era o refrão. "Eu não sou besta pra tirar onda de herói", que ele aproveitou três anos depois.

O resto do country que puxa o novo lançamento é um besteirol,

algo bem inferior à verve do cantor baiano em outros momentos. Só tem um versinho que se salva: "Cada um manda no seu nariz/ Por

isso que o povo lá é feliz."

Há coisas bem melhores do que a "inédita" de Raulzito entre as 14

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faixas desse disco Anarkilópolis (lançamento Som Livre, preço

médio R$ 30,00), que reúne sua produção crepuscular. Um caso é o xaxado Ê, Meu Pai (1980), dele e de Claudio Roberto, com Jackson

do Pandeiro e coro do grupo As Gatas.

Delícia também é o xote Quero Mais, cujos vocais são divididos com a musa da Jovem Guarda Wanderléa, pontuado pelo desafio de

uma embolada. "Nosso beijo é doce que nem rapadura." Em Mamãe, Eu não Queria, o valente Raul prega contra o alistamento

obrigatório ao Exército, semeando a desobediência civil (1984). Do mesmo ano é balada brega Mas I Love You (Pra Ser Feliz), com um

coro se equilibrando na guitarrinha de Rick Ferreira.

Das parcerias de Raulzito com Marcelo Nova, no fim dos anos 80, comparecem duas faixas (Muita Estrela, Pouca Constelação e

Rock'n'Roll). Dos malditos, está o bicho-grilo Sérgio Sampaio, em Eu Sou Eu, Nicuri É o Diabo.

E, bom sinal, a qualidade das gravações está acima da média no álbum.

Raulzito foi o primeiro artista nacional a ter um disco organizado por um fã-clube, Let Me Sing My Rock-and-Roll (1985). Esse disco é da mesma natureza. A seleção obedece a um critério "subversivo", para justificar os símbolos de anarquismo aqui e ali. É justo. O papel

de Raulzito sempre foi esse mesmo, o de puxar o cordão dos visionários.

(© O Estado de S. Paulo)

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Re: Enc: Nota sobre inverdades publicadas no e-book "Raul Seixas, O Homem Que Deixou A Vida Para Entrar Na História", de Isaac Soares de Souza.

Quarta-feira, 22 de Setembro de 2010 16:20

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146 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

De: "Sylvio Passos" <[email protected]>

Para: "Isaac Seixas" <[email protected]>

Caro Isaac, Confesso que chateou-me mesmo ler o que li no teu e-book. Eu

havia recebido um e-mail com a informação de que o e-book estava disponível para download e já ia iniciar a divulgação do mesmo.

Mas, antes de iniciar a divulgação, resolvi ler o e-book, foi aí que a coisa pegou.

Não sei se você sabe, mas sofro de Cefaléia em Salvas [ http://www.cefaleiaemsalvas.com.br e/ou

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cefaleia_em_salvas ] há mais de 25 anos, uma doença rara tida com a pior das dores de cabeça suportada

pelo ser humano. Estou em pleno período de crises diárias dessa verdadeira tortura medieval. Acredito ser pertinente dizer isso, pois, quando estou nesse período de crises, minha sensibilidade fica mais aguçada e, por vezes, desmedida, dando, talvez, mais importância

do que deveria à algumas coisas. Energia drenada, raciocínio confuso e outras manifestações antagônicas se somam (isso mesmo, antagônicas), tornando minha vida um verdadeiro inferno. Levei 2

ou 3 dias com crises homéricas lendo seu e-book e relutando comigo mesmo para não escrever nada, a noite tudo aquilo me perturbava e não houve outro jeito senão manifestar, colocar pra fora o que me atormentava, além das dores infernais. Um suplício, na verdade.

Pensei em escrever apenas uma resenha sobre o e-book, onde alertaria aos leitores sobre essas questões pessoais as quais acredito serem completamente desnecessárias sua publicação, visto que isso

implica em "forçar a barra" e/ou criar confusão junto ao público.

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147 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Acredito, quando se vai escrever algo sobre Raul, tornando público o que escrevemos, deve-se manter um certo distanciamento,

imparcialidade, sabe? Focando apenas em Raul e sua obra. Quando nos incluímos e/ou incluímos outras pessoas na história, há que se

tomar muiiiiito cuidado com as palavras e construção do texto, pois a coisa pode tomar um rumo muito mais complexo, delicado e

perigoso até. Levei muito tempo pra entender isso, principalmente quando se trata de um mito como Raul Seixas, que tem um público

enorme, sendo um boa parte formada por malucos nada beleza e dado a revoltadinhos com embasamento em gibis de Walt Disney.

Quanto às minhas observações acerca das inverdades publicadas no teu e-book, continuo seguro de tudo que escrevi. Mesmo que eu tenha te escrito cartas sugerindo uma possível distribuição das

carteirinhas do seu fã-clube às pessoas que faziam contato comigo quando da fundação do Raul Rock Club, eu, realmente, jamais as

distribui, e acredito que nem tenha recebido tais carteirinhas pra eu distribui-las. Se recebi, não me lembro. Mas, caso as tenha recebido, é bem provável que eu às tenha dado aos meus amigos e familiares, pois, seguindo um raciocínio lógico (acredito que sempre tive essa

preocupação, por mais que não pareça), não faria o menor sentido eu enviar carteirinha de outro fã-clube aos novos sócios do Raul Rock

Club, concorda? No teu e-book você afirma que eu enviava tais carteirinhas aos sócios do RRC, quando, mesmo sendo

completamente desnecessário citar esse tipo de coisa, você poderia, já que desejava falar sobre isso, apenas dizer que nos conhecemos no início da década de 1980 e que havia ali uma ajuda mútua entre

fãs e fãs-clubes de Raul, já que eu estava mais próximo dele. Percebe como a coisa fica de uma maneira mais bacana e menos

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148 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

queixosa como você publicou? E pra piorar você ainda cobra de mim um reconhecimento não sei de que. (????)

Com relação ao suposto material que Raul teria deixado aos meus cuidados para te entregar, realmente, isso nunca ocorreu.

Principalmente naquele período, 1983/84, quando Raul estava entre Rio/São Paulo/Bahia/Estados Unidos e vivendo um momento muito

tumultuado na sua vida. Por um lado estourando nas pardas e fazendo shows por todo o Brasil, por outro, tendo inúmeros

problemas com empresários e gravadoras e com o casamento dele com a Kika indo prás cucuias e com a saúde já apresentando sinal de

alerta o tempo todo. Nessa época, ou melhor, um pouco antes, em 1982, Raul teve que se mandar de Sampa por conta da merda toda que rolou em Caieiras, e o que ninguém sabe é que ele, Kika e Vivi

tiveram que sair às pressas daqui e, praticamente tudo do Raul (baús, equipamento de som, livros, discos...) ficou guardado na casa

da minha mãe até que Raul voltasse pra Sampa em 1983 quando estava sendo contatado pelo Estúdio Eldorado. Nesse período eu

vivia entre Rio e São Paulo, pois Raul estava morando em Copacabana, num pequeno apartamento (se não me engano do pai da Kika) na Rua Pompeu Loureiro. Então, pra fechar esse item, Raul nunca me entregou absolutamente nada para encaminhar à

você. Se você mantinha contato com ele via correio, é, no mínimo, de se estranhar que ele me passasse qualquer coisa para te enviar, uma vez que nem nos conhecíamos pessoalmente, nossa amizade

também era via troca de correspondências. Logo, espero que tire de sua mente essa suposta sacanagem que, em seu juízo, eu teria feito

com você, ok? Quanto a minha parceria com Raul em Anarkilópolis, acredito que já

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está tudo bem esclarecido, né? Mas, se faz necessário uma outra observação. Raul tinha escrito, em 1973, uma música chamada

Cowboy 73, e me mostrou a letra me convidando (eu acredito que ele estava mesmo é me dando uma oportunidade única, generoso ao

extremo que era) para fazer uma letra em cima daquela onde somente aproveitaríamos o refrão, que era assim:

Eu não sou besta pra tirar onda de herói Sou vacinado, sou cowboy, cowboy 73.

Durango Kid só existe no gibi Quem quiser que fique aqui

Entrar pra história é com vocês. Eu que escrevia uns versinhos e coisas típicas de adolescente, tive ali a oportunidade de escrever junto a Raul algo mais "sério". Raul

me passou a idéia e o refrão e falou: Se vira, Sylvícola! Foram inúmeras tentativas, rabiscos, papeis no lixo até que saiu a letra que foi gravada. Fui com Raul ao Rio, já que eu estava acompanhando

todas as sessões de gravação do Metrô Linha 743 tanto no Rio (Som Livre) como aqui em Sampa num estúdio da RGE, ele chegou

completamente chapado no estúdio e gravou de qualquer jeito a Cowboy Fora da Lei, que acabou virando Anarkilópolis em 2003 para não entrar em conflito com a outra versão lançada em 1987.

Resultado: Com data de lançamento marcado, gravações do vídeo-clipe para o Fantástico, a música acabou não entrando no disco, pois

o cronograma e o orçamento já estavam estourados. A gravação permaneceu perdida no acervo da Som Livre durante quase 20 anos,

até que um belo dia Aramis Barros me

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liga dizendo que tinha encontrado uma gravação inédita de Raul das sessões do Metrô Linha 743 e queria saber mais informações sobre a mesma. Qual não foi minha surpresa e alegria ao ouvir tal gravação.

Raul que havia adquirido o hábito de não deixar nada nas gravadoras depois que lançaram o Raul Rock Seixas (1977) com

coisas que ele deixou na Philips, havia se esquecido de apagar a tal gravação não aproveitada no Metrô. Acho que ele nem se lembrava

de te-la gravado visto o estado em que se encontrava no dia da gravação. E nem eu me lembrava, até que pude ouvir e dizer ao Aramis e a Kika que aquela era a versão que eu e Raul havíamos

feito em 1984 e que eu tinha as fitinhas K7 com a gente compondo tal música. Daí pra frente, você já conhece a história.

Bom, escrevi bagarai, não revisei nada, como na nota anterior, tive durante isso duas crises de Cefaléia em Salvas, mas aí está minha

resposta à sua mensagem. Aproveito para sugerir que você releia todo seu e-book e tente ficar menos pessoal no teu texto, assim você irá evitar que outras pessoas

se manifestem contra você. A palavra mágicka é IMPARCIALIDADE.

abs, SPassos

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Caro Amigo Sylvio Passos!

DESCOBRI UMA PROFISSÃO PARA VOCÊ!

Como você sabe, eu hoje mudei de profissão e sou professor de educação física e também professor de fisiologia do exercício. E às

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vezes eu fico pensando numa profissão para você. Qual seria a profissão que você poderia assumir no mundo careta??? Mas agora

eu acho que descobri: VOCÊ PODE SER UM EXCELENTE PSIQUIATRA!

E ainda dá tempo de você estudar e se formar nessa área (lembre-se que eu me formei em educação física com 59 anos de idade!). O

conhecimento não tem idade nem época. E tenho certeza absoluta de que ninguém mais do que você tem experiência de lidar com

MALUCOS, PIRADOS, DESTRAMELADOS, DOIDAÇOS E COISAS PARECIDAS!

Você ficaria RICO em pouco tempo, só tratando de pirados! Você não precisaria mais se preocupar com eles te azucrinando e te

enchendo o saco! Em vez de perder tempo tentando se defender das ofensas deles, você ficaria rico com a doença mental deles! Eles viriam atrás de você no consultório, pagando CARO, só para te

ouvir e você orientá-los na vida diária! Pois veja bem: dá uma examinada na quantidade de doidos que você

teve e tem que aturar todo dia (até dentro de sua própria casa, se bem me lembro...). A doideira humana não tem limites. E o próprio Raul Seixas - por ter lidado diretamente com esse TEMA - acaba

atraindo todo tipo de descabeçado que existe por aí! Os descabeçados são assim mesmo, eles ficam se imaginando "defensores do Raul Seixas", "advogados das fãs do Raul",

"moralizadores da herança do Raul Seixas", etc. Lembra daquele doidão que fez um escândalo dentro dos bastidores da Rede Globo, "denunciando a armação que estavam fazendo no programa"???... Tem doido prá todo lado!!! E esse nome "Raul Seixas" parece um ímã atraindo esse tipo de psicose. Mas não tem problema, vamos

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pensar na solução: Tem um trecho do ZARATUSTRA (do Nietzsche) que eu

recomendo prá você: se chama "As moscas da praça pública". Vai lá e dá uma ida urgente! Pois você está sendo sugado pelas moscas e

vai acabar morrendo de inanição e leucemia! Mas pode também se lembrar de uma música que diz "POR QUE CÊ MATA UMA E VEM OUTRA EM MEU LUGÁ!!!... As

moscas venenosas são milhares, são milhões... E você não nasceu para ser enxota-moscas!

Um abração do Toninho Biotônico Neocid

_______________________________________________

RE: Enc: RE: Nota sobre inverdades publicadas no e-book "Raul Seixas, O Homem Que Deixou A Vida Para Entrar Na História", de Isaac Soares de Souza.

Quarta-feira, 22 de Setembro de 2010

OK, Isaac.

Eu não te conheço, mas conheço o Sylvio há 30 anos. Eu entendo o que você escreve e você, nesse texto, me parece uma

pessoa sensata e articulada. O que me entristece é ver o Sylvio eternamente se defendendo de

acusações de todo tipo. Muita gente o chama de ladrão, de usurpador, de falsário, de

aproveitador e até já o processaram várias vezes por essas coisas. O mais engraçado é que eles não conseguem ganhar nada nesses

processos, porque o Sylvio não tem nada para ser roubado!

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E as pessoas ficam achando que podem tirar alguma casquinha dele,

porque ele é uma pessoa muito conhecida... Por outro lado, eu o conheço bem para saber que ele NUNCA quis

mal a ninguém, e não é uma pessoa desonesta. E ele ainda consegue manter uma certa linha quando se defende das

acusações que muitos lhe fazem. É por isso que eu acho realmente que ele deveria ser um psiquiatra!

Tem que ser especialista em doideira prá aguentar um negócio desses!

Um abraço Toninho

____________________________

Prezado Sylvio, Acho melhor a gente parar de tentar se explicar, cada um a sua maneira, eu

respeito muito seu trabalho cara e jamais quis ou pretendi esculhambar você. Apenas eu disse a verdade que a mídia desconhece. Acredito que a história pra ser contada de verdade, tem de ter honra de quem a conta. É o caso da história do descobrimento do Brasil. Quem acreditaria que o Brasil

foi na verdade descoberto pelos chineses e que os portugueses é que ganharam a fama de descobridores? Mas é um fato quase que provado por estudiosos, agora, vai tentar convencer a todos da realidade da história. A mentira sempre comandou o poder e quem conta a história humana são sempre os vencedores e todo vencedor é cheio de megalomania. Nunca

detratei seu nome e nem seu trabalho, mas não gosto de mentiras ou meias verdades. Esse negócio de primeiro ou último não passa de uma grande frescura e você sabe que o RRC não foi jamais o primeiro fã clube em

homenagem a Raul, outros chegaram antes e é exatamente este pormenor que tento levar ao conhecimento de todos e é também o ponto que te irrita,

por qual motivo desconheço, mas é a verdade. E a verdade tem que ser

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dita e registrada. O RRC pode ter sido o mais ativo fã clube de Raul, sem nenhuma dúvida, mas não foi o primeiro assim como o meu não deve ter

sido o primeiro. O que manda é a batalha que todos nós raulseixistas sempre travamos para manter a memória de Raul viva e é isso que sempre tentei passar. Mas você acha justo ser publicado que O RRC é o primeiro fã clube brasileiro de Raul, quando você sabe que nunca foi? Então, nas entrevistas que concedo e nas quais me perguntam que os fã clubes de

Raul devem o mérito de suas existências ao RRC, que foi o primeiro, eu desmentir a mal informação dos jornalistas? Retratando a eles que o

primeiro fã clube brasileiro de Raul foi o Novo Aeon? Aí todos ficam espantados diante da verdade, pois só acreditam na história de que antes

do RRC nada existia em homenagem a Raul. É só isso o que tento afirmar e você se nega a reconhecer, mais nada além disso. O que há de errado

nisso? Tão-somente a verdade. Nada mais que a verdade. Podem ter existido outros fã clubes antes mesmo da existência do Novo Aeon e RRC,

coisa que desconheço, mesmo assim, os de maior impacto e que mais trabalharam na manutenção da obra raulseixista, foram o Novo Aeon e o

RRC, culminando na produção de livros e discos e até hoje atuando constantemente. É só isso que não deixo de comentar nunca, porque é parte da história e da verdade. Quando jornalistas me interpelam e me perguntam se o RRC inspirou a fundação do Novo Aeon assim como

inspirou a fundação de todos os fã clubes, é óbvio que tenho a obrigação de desmentir tal coisa, porque trata-se da verdade. O Novo Aeon não foi

jamais inspirado pelo RRC ou por qualquer outro fã clube, que eu nem sei se existia antes do Novo Aeon ou do RRC. Todos os outros fã clubes

podem ter sido inspirados no RRC, menos o Novo Aeon, que já existia antes. É só isso o que quero e faço questão de deixar claro. E nisso não

vejo nenhuma discordância ou mentira, porque é a realidade. Quando me perguntam qual é o fã clube mais ativo de Raul, sempre fui claro e

objetivo: O RRC é o melhor e mais ativo, mas o primeiro da história é o Novo Aeon, que merece ser reconhecido e jamais o foi, é só isso Sylvio,

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nada mais. E tal coisa nem mesmo você, sabendo que é verdade, jamais comentou ou reconheceu e a história continua sendo mal contada. Não vejo nenhuma discordância neste quesito. A única vez que eu escrevi alguma coisa que possa ter te ofendido é exatamente quando falei da

suspeita que eu tinha da sua parceria com Raul na música Anarkilópolis, você ou quem quer que seja, pode jurar e afirmar que esta música teve a participação sua e da Kika mas eu tenho certeza que não teve. Se esta

música Raul compôs um refrão em 1973 e só veio gravá-la em 1987, por quê que na gravação de 87 ele não reconheceu sua parceria e nem a

parceria de Kika Seixas? Se você fez a letra e o Raul a musicou e depois a gravou em 87, por que ele não colocou seu nome e o nome da Kika como parceiros? Tem algo mal contado nessa conversa e ninguém me tira isso da cabeça. O Raul dava parceria pra todo mundo que o agradasse. Mas

como a coisa deve ter sido registrada, não tenho o direito de duvidar, mas tenho certeza de que minha dúvida é real. Mas esse lado a gente pode

deixar pra lá, vamos esquecer tal coisa e deixar como está, você sabe que não estou errado, só não quer dar o braço a torcer. Você pode ter sido

amigo constante do Raul e conhecer suas fraquezas e alegrias e pensamentos, mas eu, Sylvio, em duas ou três ocasiões em que estive com Raul e conversamos durante horas seguidas, já pude ter um traçado geral

de quem foi Raul como ser humano e as coisas que Raul me disse na época, são provas gerais de tudo o que costumo escrever sem medo. Outra

coisa cara, provas do que escrevi tenho aos borbotões, não escrevi nada aleatóriamente para denegrir ninguém, apenas escrevi a realidade. E por

ela vou até o fim e não arredo pé. Nunca quis ofender a ninguém, pois jamais dei muita importância pra essas coisas bobas e frescas. Agora, meu caro, como você pode dizer que estou mentindo e denegrindo sua imagem, se tudo aquilo que escrevi em meu livro, são coisas que você me disse e

me escreveu nos anos 80? Neste caso, meu caro, te pergunto: Quem mentiu ou mente? Eu???

Abraços. Isaac

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--- Em ter, 12/10/10, Sylvio Passos <[email protected]> escreveu: De: Sylvio Passos <[email protected]>

Assunto: Re: Caro Sylvio, Para: "Isaac Seixas" <[email protected]>, [email protected], [email protected]

Data: Terça-feira, 12 de Outubro de 2010, 15:17

Caro Isaac,

Não estou pleiteando o título de primeiro fã-clube de Raul Seixas. Em

nenhuma das minhas mensagens - seja enviadas à você ou ao pessoal do blog Casa de Rock - afirmei que o Raul Rock Club foi o primeiro fã-clube fundado em homenagem a Raul Seixas. Os temas apontados por mim em

minha nota de esclarecimento são diretos, apontando as páginas do e-book onde me senti, de alguma forma, "agredido", como você bem pode

conferir na nota de esclarecimento que enviei à você e ao pessoal do blog Casa de Rock. Acredito que vários fãs-clubes de Raul Seixas foram

fundados desde que Raul surgiu no cenário musical brasileiro lá nos idos da década de 1970, isso não quer dizer absolutamente nada, quem fundou o primeiro ou o último fã-clube para Raul não importa. O que importa de fato é que fãs e fãs-clubes promovem e preservam a memória, o nome e a obra de Raul Seixas e é esse o meu único objetivo enquanto fã-clube. Não

quero provar nada, mas também não posso ficar quieto quando, você, pessoa que conheço desde que fundei o RRC, resolve me esculhambar

gratuitamente. Aceito toda e qualquer tipo de críticas, mas desferir ataques pessoais

gratuitos a minha pessoa e/ou ao meu trabalho à frente do Raul Rock Club sem base alguma para tal, me chateia muito e reajo como qualquer um reagiria. Entendo que lidar com fãs sempre foi uma coisa complicada,

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afinal, estou nisso há 30 anos e já aprendi a lidar com o público mais radical.

Quero finalizar deixando bem claro que nada tenho contra você e que não estou, de forma alguma, querendo criar caso e/ou pleiteando qualquer

título a não ser o que me cabe. É isso. abs,

Sylvio ***************************************

(O renegado Raul Seixas nunca pertenceu à linha evolutiva da MPB e como dizia sempre, seguia a linha do raulseixismo)

*RAUL SEIXAS É RELEMBRADO EM CAIXA COM SEIS CDS*

Raul nunca pertenceu a linha evolutiva (?) da Música Popular Brasileira e graças aos deuses da música por ele ter sempre agido assim desta forma única e pessoal. Raul seguia a linha do “raulseixismo”, como ele mesmo dizia, pois era único dentro do insípido cenário da MPB, livre e lírico. Um maluco beleza, um Quixote a combater moinhos... Raul apregoou no Manifesto Número 11 da Sociedade Alternativa, toda a trajetória do seria a sua obra musical e filosófica, só os imbecis que o chamaram de profeta do apocalipse é que não entenderam o que ele tinha a dizer: “Eu não canto e nem escrevo para intelectuais nem para radicais da velha esquerda festiva. Eles não precisam do meu trabalho. Tudo o que canto e escrevo é para o povo que não sabe das suas possibilidades e alternativas, meu trabalho é educativo.”

LUAR é seu nome aos avessos, não tem fim nem começo,

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por isso, falar sobre Raul Seixas é o mesmo que correr riscos constantes e reacender a ira de outros. Figura deveras nebulosa e cabalística. Muito já foi dito e escrito em relação às idéias e ideais do gênio baiano, esse filho da dor, que foi capaz de erguer do lodo uma voz rouca e um canto de amor. Sua obra, veementemente nua, crua e objetiva, não encontra paralelos dentro do tosco cenário musical brasileiro e quiçá mundial. Não foram poucos os adjetivos que mereceu ao longo dos anos que viveu cuspindo sua fúria nos sistemas estabelecidos e dogmas sociais, debochando das elites, dos senhores dos escravos e dos fracos. Como se vivesse na era “gregoriana” e atrelado à genialidade de Gregório de Matos, ambos tivessem combinado no além, que ele, Raul, se encarregaria de, 400 anos depois, dar continuidade à corajosa luta contra o poder, em todos os seus âmbitos e de vergastá-lo sem piedade e Raul tivesse seguido à risca o trato com seu conterrâneo baiano, deixando uma obra poética e musical diferente da “gregoriana”, mas idêntica em ousadia e em qualidade. Irreverente, irônico, pensador caótico, surrealista, demoníaco, louco e irresponsável, turrão e por aí à fora vai a enorme lista negra dos prismas pelos quais já foram encarados e alardeados o trabalho e a pessoa de Raul Seixas. Raul foi um estorvo, a mosca na sopa da azeda MPB. Filho bastardo do rock e soube como ninguém honrar o nome do ritmo negro que corria em suas artérias. Suscitou a raiva e o ciúme eterno da turma do “Tropicalismo”, no início de carreira na Bahia. Caetano Veloso, Gilberto Gil e gal Costa e etc., que só cantavam bossa nova, ritmo ao qual Raul chamava de “bosta nova”, se borravam de inveja daquele rapaz magricela com pinta de James Dean, uma enciclopédia viva de rock´n´roll, cujo grupo musical do qual era líder “Raulzito e Os Panteras”, era o mais caro da Bahia e o mais

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requisitado para acompanhar os astros da Jovem Guarda.

Raul morreu vítima do álcool, desafiou a tudo e a todos, pagou um preço altíssimo pela sua teimosia “braba de guerreiro”, mas de maluco, Raul Seixas não tinha nenhum resquício, já escrevi anteriormente estas mesmas palavras, mas elas são propositais, escritas repetidas vezes para lembrar o leitor de que ele precisa conhecer a verdade sobre esse gênio brasileiro, sem contar o fato de que este livro é meu e eu escrevo o que eu quiser, porque ninguém tem namesmo que suas páginas pareçam enfadonhas, chatas e enjoadas, como na canção do meu velho amigo Silvio Brito.

Não chega a ser estranho que a esquerda brasileira nunca tenha dado muita importância ao fato de ele ter pago um preço alto por confrontar a ditadura militar com seus hits em forma de hinos filosóficos e de contestação, casos de “Ouro de Tolo”, “Metamorfose Ambulante” e “Mosca na Sopa”. Numa época em que a vida política e cultural brasileira polarizou artistas e intelectuais entre os engajados e os alienados, Raul foi mandado para o limbo do segundo grupo. Apaixonado pelo rock americano conheceu o ritmo na infância, influenciado pelos filhos de funcionários do Consulado Americano em salvador. A ponto de incorporar a seu visual a jaqueta de couro e o topete de seu ídolo maior, Elvis Presley. Era uma veneração obsessiva. O isolamento começou

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

requisitado para acompanhar os astros da Jovem Guarda.

álcool, desafiou a tudo e a todos,

escrevo o que eu quiser, porque ninguém tem nada com isso, mesmo que suas páginas pareçam enfadonhas, chatas e enjoadas,

Não chega a ser estranho que a esquerda brasileira nunca tenha e ele ter pago um preço alto por

confrontar a ditadura militar com seus hits em forma de hinos filosóficos e de contestação, casos de “Ouro de Tolo”, “Metamorfose Ambulante” e “Mosca na Sopa”. Numa época em que

política e cultural brasileira polarizou artistas e intelectuais entre os engajados e os alienados, Raul foi mandado para o limbo do segundo grupo. Apaixonado pelo rock americano conheceu o

pelos filhos de funcionários do Consulado Americano em salvador. A ponto de incorporar a seu visual a jaqueta de couro e o topete de seu ídolo maior, Elvis Presley. Era uma veneração obsessiva. O isolamento começou

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quando LET ME SING MY ROCK AND ROLL quase ganhou a final no Festival Internacional da Canção de 1972, promovido pela Rede Globo. A música ficou em terceiro lugar e intercalava rock e baião, numa mistura que lhe rendeu boas vaias dos puristas e até risos dos tropicalistas, ao aparecer travestido de Elvis Presley. Como o próprio Raul insistiria depois, tudo não passou de encenação proposital para sair do anonimato. Na sua cabeça, porém, havia naquela mistura muitas similaridades entre os dois ritmos tão distantes.

VIVENDO À MARGEM - Embora tivesse construído a mais importante e singular discografia do rock nacional, pelas múltiplas tendências e influências que antecipou, Raul viveu à margem de um rígido sistema de promoção cultural intelectualizada comandado a mão de ferro pela esquerda, sempre de braços abertos para projetar seus simpatizantes. Coube a ele o papel de um estranho no ninho, sem classificação, sem tribo, sem a ovação dos opositores ao regime militar. Para piorar, no auge de sua popularidade, gravou dois discos para homenagear o rock americano: 30 ANOS DE ROCK (1973) e RAUL ROCK SEIXAS (1977).

A história das vítimas da repressão militar também deve um capitulo especial ao roqueiro. Em 1974, Raul foi preso no Aterro do Flamengo. Encapuzado, ficou três dias num local desconhecido sob interrogatório até concordar em deixar o país por causa do sucesso “Sociedade Alternativa”, interpretada como uma apologia à subversão. Foi conduzido até o aeroporto para embarque imediato. Viveria o mesmo calvário dos exilados mais famosos, como Caetano, Gil e Chico Buarque. Vagou sem rumo em Nova York até ser salvo pela explosão de “GITA”, que, gravada antes de deixar o país,

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vendera respeitáveis 600 mil cópias. A gravadora Philips havia convencido os militares a permitirem sua volta.

Por outro lado, a solidão e a falta de compromisso com grupos ou turmas parecem ter dado a Raul liberdade para trilhar um caminho próprio numa década de trevas para o rock nacional, marcada por fracassos de bandas que embarcaram no delirante rock progressivo. Se não criou um movimento musical ou deixou seguidores isso se deve à singularidade de sua obra. Os quatro discos solo que gravou pela Philips: KRIG-HÁ BANDOLO! (1973), GITA (1974), NOVO AEON (1975) e HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS (1976), antecipam tudo o que de mais importante aconteceu no gênero nos 30 anos seguintes: do rock militante e político do Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, Camisa de Vênus e Cazuza, aos conflitos existencialistas das grandes cidades, como Ira!; sem esquecer a safadeza política e erótica do Ultraje a Rigor. Contribuiu ainda com a fusão do rock com ritmos nordestinos, que ninguém entendeu em 1972, mas aplaudiu em Chico Science –influência, aliás que, remanescente de sua banda Nação Zumbi, exorcizam com certa arrogância.

E são esses quatro álbuns que voltam agora na merecida caixa Maluco Beleza, da gravadora Universal, que inclui várias faixas bônus, algumas inéditas como a belíssima versão alternativa de “Ouro de Tolo” e um livreto com fotos nunca dantes publicadas, principalmente da infância e adolescência. Completam o pacote os dois discos com covers de clássicos americanos do rock´n´roll realizados na mesma época. Os encartes refeitos com novas fotos contendo todas as letras das músicas.

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OUSADIA E CAOS - Krig-há Bandolo!, na verdade, foi o terceiro disco de Raul. A estréia aconteceu com Raulzito e Os Panteras, de 1968, com canções nada originais dentro da fórmula da Jovem Guarda. Com o fracasso, Raul teve uma bem-sucedida carreira como produtor da CBS (Sony), de 1970 a 1972. Além de compositor de grandes sucessos populares como DOCE, DOCE AMOR (Jerry Adriani), LÁGRIMAS NOS OLHOS (José Roberto) e SHA-LA-LA (Leno). O álbum seguinte foi ousado, caótico e experimental: de 1971, realizado sem autorização da gravadora. “SOCIEDADE DA GRÃ-ORDEM KAVERNISTA APRESENTA SESSÃO DAS DEZ”, de 1971, realizado sem autorização da gravadora.

A idéia era expressar o que Raul chamou de “caos bonitinho” da época e tinha a pretensão de “revolucionar” o rock brasileiro. O músico e produtor formou um quarteto com os desconhecidos Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star. Ao contrário do que se diz, ele não foi demitido por isso, mas o álbum acabou recolhido das lojas. Pouco tempo depois, Raul deixou a CBS para ganhar o dobro do salário na RCA Victor.

A gênese da virada da militância de Raul estava num disco anterior, gravado entre dezembro de 1970 e janeiro de 1971, que ainda hoje permanece como o elo perdido do rock nacional. Trata-se de “VIDA E OBRA DE JOHNNY McCARTNEY”, de Leno da dupla Leno e Lílian. O álbum teve 6 das suas 12 faixas vetadas pela censura e ficou inédito por 23 anos. Somente em 1994, o pesquisador Marcelo Fróes encontrou os tapes originais que Leno acreditava destruídos, como fora dito pela gravadora. No ano seguinte saia o CD, numa tiragem de apenas duas mil cópias. Já seria um disco histórico por ter sido o primeiro gravado em oito

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canais no Brasil, o máximo em tecnologia na época. Leno vivia seu melhor momento como cantor romântico e suas vendas lhe deram o privilégio de inaugurar o equipamento importado pela gravadora. Leno então, pretendia reformular sua carreira e decidiu trocar a canção romântica fácil pelo rock mais “experimental”, Raul entrou no projeto quando o amigo lhe pediu para terminar a letra de “SENTADO À BEIRA DO ARCO-ÍRIS”. Virou produtor e não demorou para que compusesse junto com Leno um repertório de rock´n´roll e rock pesado. O problema estava nas letras, que falavam de LSD, violência policial e até criticavam o Presidente Médici. A censura vetou “SENTADO À BEIRA DO ARCO-ÍRIS”, sobre reforma agrária, a primeira a ser vetada. “POBRE DO REI”, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Vale, foi interpretada como uma homenagem a João Goulart. Por quê não? Também criticava o regime militar. A satírica “SR. IMPOSTO DE RENDA” seguia o caminho da antológica “NÃO HÁ LEI EM GRILO CITY”, uma provocação contra a censura. Como o veto das músicas só foi possível fazer o compacto duplo com quatro músicas. Sem divulgação, não vendeu mais que 15 mil cópias.

PARCERIA COM PAULO COELHO - O conceito do disco abortado seria a base para “Krig-há Bandolo!”, o melhor e mais importante do rock nacional. O LP foi composto em parte pela parceria com Paulo Coelho, um jornalista que colaborava com a imprensa alternativa, seus artigos saíam em revistas como A POMBA, ROLLING STONE e 2001. Um desses textos sobre discos voadores, aproximou os dois e renderia muitos sucessos, alguns discos e conflitos de personalidades. O álbum misturava existencialismo com inconformismo político, que Raul negaria por toda a vida, provavelmente por orgulho ou mágoa pela indiferença que a esquerda lhe dedicou.

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A principal influência de Raul nesse momento foi o livro “1984”, do escritor inglês George Orwel (1903-1950), célebre romance de ficção científica que mostra a opressão num regime totalitário bem atual naquele momento. Ao mesmo tempo, trazia a aproximação da dupla de estudos esotéricos, com ênfase para a obra do mago inglês Aleister Crowley. O mais representativo do disco, sem dúvidas, eram as faixas da autoria exclusiva de Raul, quase todas de abordagem política.

A filosófica e moderna “Ouro de Tolo” criticava o conformismo, as benesses do milagre brasileiro e dizia que a vida era bem mais que isso de ficar sentado no trono (vaso sanitário) de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar. O rock-baião “Mosca na Sopa”, com seus poucos versos, permitia amplas interpretações e prenunciava que Raul chegara definitivamente para incomodar.

INFLUÊNCIA HIPPIE - O disco “GITA” é descrito por Mazzola como a consolidação da dupla Raul e Coelho. “Tinha muito do movimento hippie, com letras mais complexas, que exigiam muita informação para serem compreendidas”. Também deu continuidade ao trabalho anterior. O flerte com o místico e o esotérico ganhou mais espaço. A política também se manteve forte. A militância aparece nas provocativas SUPER-HERÓIS, AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE THOR, SOCIEDADE ALTERNATIVA e LOTERIA DA BABILÔNIA, mais o bônus NÃO PARE NA PISTA. Uma das mais tocadas, S. O. S., segue a fórmula de OURO DE TOLO, ao falar de um cidadão que não agüenta mais a mesmice do mundo e pede socorro a um disco voador para que o leve do planeta. É ainda em disco que marca a aproximação de Raul com uma obsessão: a

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morte, que chega no TREM DAS SETE. Ao longo da carreira, mais de trinta composições suas falariam do tema. A mais radical delas saiu em HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS, com a faixa CANTO PARA A MINHA MORTE, sobre a expectativa do encontro que parece breve.

O passo seguinte, NOVO AEON, prenunciou outras temáticas dominantes em seus trabalhos futuros: a loucura, o sarcasmo e a autoflagelação.

Fantasiado de um velho imortal, o LP HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS, trouxe um Raul polarizado entre a vida e a morte, mais existencialista e terrivelmente mórbido.

Depois que saiu da Philips, ainda fez pelo menos mais três bons discos: O DIA EM QUE A TERRA PAROU (WEA, 1977), ABRE-TE SÉSAMO (1980, CBS) e A PANELA DO DIABO (WEA, 1989), com Marcelo Nova. Consumidor voraz de gibis, literatura e filosofia, desde a infância, Raul Seixas desenvolveu uma visão pessimista do mundo. Conhecia a fundo as correntes filosóficas e ideológicas, questionou as religiões organizadas e a existência de Deus. Dizia que a desobediência era uma virtude necessária à criatividade e estava coberto de razão. (Texto de Gonçalo Junior, “INVESTNEWS/GAZETA MERCANTIL”, adaptado por Isaac Soares de Souza e publicado no jornal “PRIMEIRA PÁGINA”, São Carlos-SP).

ILUSÕES: AS AVENTURAS DE UM MESSIAS INDECISO

Richard Bach, nos anos 60 só pensava em voar. Mais alto e mais rápido, como seu personagem imortal, Fernão Capelo Gaivota. Entrou na Força Aérea e tornou-se piloto, mas percebeu que não era seu desejo participar de combates imortais. Deixou a Forças

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Armadas e passou a dedicar-se a uma nova missão: descrever seus sentimentos em palavras que motivasse uma vida mais feliz e mais completa.

O sucesso veio com o romance sobre a gaivota voadora. E não parou mais. Seus livros venderam milhões de exemplares em muitos países, sempre com mensagens positivas que inspiram leitores de todas as culturas.

Em ILUSÕES AS Aventuras de um Messias Indeciso, Bach compartilha com seus leitores uma história inesquecível. Nos ergue nos ares para que possamos descobrir lá em cima verdades eternas, que dão asas à nossas almas: que as pessoas não precisam de aviões para planar, que mesmo as nuvens escuras têm um significado, basta que consigamos voar acima delas. E, ainda que, o Messias pode ser encontrado nos lugares mais improváveis, como num campo de feno, cidadezinhas perdidas, e mais importante, dentro de cada um de nós.

Os milhões de leitores das aventuras de Fernão Capelo Gaivota encontram novas palavras de inspiração, além de momentos da mais prazerosa leitura, em ILUSÕES, um dos maiores sucessos do autor. Com meio milhão de exemplares vendidos apenas no Brasil, ILUSÕES há 30 anos vem motivando pessoas em todo o mundo com a emocionante história de um Messias Moderno. Richard Bach foi piloto da Força Aérea Americana durante um curto período de paz entre as guerras da Coréia e do Vietnã. Após dar baixa, resolveu se dedicar à literatura. Seu primeiro sucesso veio com Fernão Capela Gaivota, publicado em 1970, depois de ser recusado por diversos editores. Desde então escreveu outras obras de grande popularidade. Os aviões, porém, não foram deixados de lado.

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ILUSÕES As Aventuras de um Messias Indeciso, transporta os leitores numa locomotiva e/ou aeronave rumo a uma longa viagem para o âmago da alma, levando-os a descoberta de que cada ser vivente é um Messias Indeciso. O homem não precisa de subterfúgios, pois mesmo sem ser dotado de asas para voar, pode levitar e planar nos ares, em seu próprio orbe, sem correr o risco de ter as asas de cera derretidas pelo Sol abrasador, como aconteceu com Ícaro. Este belíssimo livro de Richard Bach, é um dos maiores sucessos de sua lavra literária, tocou fundo a consciência de milhares de pessoas em todo o planeta e, com certeza foi a fonte de inspiração de uma das mais belas canções já compostas por Raul Seixas. Muito embora poucas pessoas tenham percebido que a música “O MESSIAS INDECISO”, gravada em 1984, no LP “METRÔ LINHA 743”, foi totalmente inspirada no livro de Richard Bach, o que não significa um “plágio” descarado do mago rock nacional, só acho estranho tal fato nunca ter sido comentado. Nos anos 80, outro monstro sagrado da MPB, o paraibano Zé ramalho, foi acusado de plágio por causa da música “FORÇA VERDE”, que deu título ao mesmo disco que continha a citada pérola musical. Zé Ramalho sofreu um processo e quase teve a carreira destruída por gravar a referida música, que diziam, ele havia plagiado. Raul creditou a composição de “O MESSIAS INDECISO” à sua própria verve e a Kika Seixas, sua esposa na época. Raul tinha a mania e a infinita bondade de compor músicas e dar a parceria de algumas delas a amigos e esposas, assim ocorreu até mesmo com Paulo Coelho. Falam tanto da parceria Paulo Coelho e Raul Seixas, que eu, pessoalmente considero uma das mais prolíficas de sua carreira, mas ninguém comenta nada a respeito da parceria de Raul com o genial Cláudio Roberto, que foi a mais ativa parceria já engendrada pelo mago do

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rock. A parceria Cláudio Roberto/Raul Seixas, foi muito mais admirável do que a que Raul manteve com Paulo Coelho. Mesmo porque, Cláudio é um letrista genial e sabia se afinar à ideologia raulseixista, é um injustiçado e seu trabalho deve merecer o reconhecimento de todos. Outra coisa: alguém já parou para analisar a qualidade e a poesia que qualquer composição criada só por Raul possui? Raul compunha coisas magníficas sem a ajuda de qualquer parceiro e com muito mais qualidade. Também é bastante estranho o fato de Raul nunca ter citado que sua música, na verdade, fora baseada inteiramente no livro de Richard Bach. Outra coisa bastante admirável em sua verve criadora, era o fato, para alguns fatídico, pois ninguém entenderia que um cérebro tão privilegiado quanto o de Raul pudesse basear sua música em cima de outras, de que Raul Seixas compor grande parte de suas músicas invertendo notas musicais de clássicos do rock. Raul chegou a me dizer certa feita, que ele plagiava muita coisa boa esquecida e quando ele realizava alguma parceria musical, já entregava aos seus pretensos parceiros 70% das composições prontas. Eu acredito que estas nuances da criatividade artística deste gênio baiano, provam que ele era mesmo um homem além de seu tempo, pois, nunca, jamais Raul foi acusado de plágio. Havia sim, insinuações sobre algumas músicas famosas de astros internacionais em cima das quais Raul criara várias músicas, entretanto, jamais houve uma acusação formal. Confira abaixo a letra da canção “O MESSIAS INDECISO” e tire suas próprias conclusões. Raul nunca foi acusado de plágio e jamais sofreu um único processo de apropriação indébita da obra de quem quer que seja, pois ele era de uma genialidade tão fora do comum que, se fosse acusado de plágio, ninguém saberia se o plagiador era mesmo ele ou o dono da obra questionada, pois Raul me confidenciou, em 1983 que, realmente ele

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“meteu a mão” em muita música que não era dele.

*O MESSIAS INDECISO*

Raul Seixas/Kika Seixas

Certa vez houve um homem

Comum como um homem qualquer

Jogou pelada descalços, cresceu e formou-se em ter fé

Mas nele havia algo estranho, lembrava ter vivido outra vez

Em outros mundos distantes, e assim acreditando se fez

E acreditando em si mesmo

Tornou-se o mais sábio entre os seus,

E o povo pedindo milagres, chamava esse homem de Deus

Ah! Quantas ilusões

Nas luzes do arrebol

Quantos segredos terá?

E enquanto ele trabalhava na sua tarefa escolhida

A multidão se aglomerava

Perguntando os segredos da vida

E ele falou simplesmente:

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Destino é a gente que faz

Quem faz o destino é a gente,

Na mente de quem for capaz

E o povo confuso, que terrível cada vez mais lhe seguia

Fugiu pra floresta sozinho

Pra Deus perguntar pra onde ia

Mas foi sua própria voz que falou: seja feita a sua vontade

Siga seu próprio caminho

Para ser feliz de verdade

E aquela voz foi ouvida por sobre morros e vales

Ante ao Messias de fato,

Que jamais quis ser adorado!

(*Artigo escrito por Isaac Soares de Souza, publicado no jornal “A FOLHA”, São Carlos-SP, sobre o livro “ILUSÕES/As Aventuras de um Messias Indeciso”, de Richard Bach - Editora Record -, edição de número 29 - www.record.com.br)

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(O TRIÂNGULO DO DIABO/OPUS 666)(O TRIÂNGULO DO DIABO/OPUS 666)(O TRIÂNGULO DO DIABO/OPUS 666)(O TRIÂNGULO DO DIABO/OPUS 666)

Somente no ano de 1995, seis anos após a morte de Raul seixas, foram editados 6 livros contando sua trajetória artística e vida pessoal, um fenômeno sem precedentes na vasta história da MPB. Mas, um desses livros foi o causador de uma enorme polêmica envolvendo seu autor, Jay Vaquer e Kika Seixas, ocasionando a proibição do lançamento do livro no Brasil. O livro “O TRIÂNGULO DO DIABO-OPUS 666”, escrito pelo guitarrista Jay Vaquer e editado nos EUA pela Girl Press e o Cd “Relembrando Raulzito”, também gravado por Jay, causaram controvérsia até hoje mal contada na imprensa. Jay Vaquer foi guitarrista, diretor musical e produtor de Raul Seixas por mais de 8 anos, além de amigo pessoal, parceiro em algumas canções e cunhado de Raul. O livro “O TRIÂNGULO DO DIABO-OPUS 666”, foi elogiado pelo editor Martin Claret, que já publicou três livros sobre Raul Seixas, os quais se tornaram sucessos absolutos. Estranhamente, Kika Seixas, em uma carta enviada ao editor, ameaçava-o de processo na justiça se o referido livro escrito por Jay Vaquer fosse porventura editado. Uma polêmica mal contada, a qual além de obscura, só veio prejudicar comercialmente os legítimos herdeiros de Raul Seixas, que são suas únicas três filhas e seu grande público. Mas, como predicava o próprio Raul: “Não tem certo nem errado nem errado, todo mundo tem razão, o ponto de vista é que é o ponto da questão”. Só o tempo dirá se Kika Seixas tem razão para proibir o lançamento deste livro no Brasil. Raul Seixas se casou oficialmente apenas duas vezes. Sua primeira esposa, Edith Wisner, teve uma filha de Raul, a qual tem direito a um terço do espólio do pai e, sua segunda esposa, Glória Vaquer, com quem teve uma outra

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filha, Scarlet Seixas, a qual faz jus a um terço do espólio de Raul, é irmã de Jay Vaquer, que já conviveu maritalmente com a grande cantora Jane Duboc. Glória Vaquer canta e divide a parceria com Raul na bela canção “SUNSEED”, do disco “NOVO AEON” (Philips, 1975), em que assina com o nome de Spacey Glow. Edith e Glória, após se separarem de Raul Seixas, voltaram para os Estados Unidos onde vivem atualmente com suas filhas. Kika Seixas, não era casada oficialmente com Raul, mas deu à luz Vivian Seixas, lindíssima, que também tem direito a um terço do espólio do maluco beleza. Não se sabe o que motivou Kika a ameaçar Jay Vaquer judicialmente e a barrar a publicação no Brasil do CD “RELEMBRANDO RAULZITO” e do livro “O TRIÂNGULO DO DIABO-OPUS 666”. Mas, eu que sou amigo de Kika e sei de sua honra e preocupação em manter viva e intocável a memória e a obra magistral de Raul, que foi um dos grandes amores de sua vida, com certeza absoluta tem motivos de sobra para barrar a publicação dessas obras, musical e literária de Jay Vaquer, no Brasil. Entretanto, nós, raulseixistas, sabemos que Jay Vaquer e Raul saíram em viagem pelos EUA para escolher locações de um filme que nunca chegou a ser rodado totalmente. Este filme, que ao longo desses anos tem aguçado a curiosidade dos fãs, é exatamente “O TRIÂNGULO DO DIABO”, cujo roteiro foi escrito por Raul Seixas. Se o roteiro original do que viria a ser um filme, é de autoria de Raul com a cooperação de Jay, obviamente que o senhor Jay Vaquer, ao publicar o livro em questão, com certeza cometeu uma flagrante violação dos direitos personalíssimos previstos na Constituição Federal e legislação específica em vigor no Brasil, pois ele não tinha autorização das herdeiras do espólio de Raul, mesmo uma delas sendo sua sobrinha. Este livro não se encontra à venda no Brasil, mas pode ser importado através do site do guitarrista. Se

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o livro foi publicado nos EUA, significa que as filhas de Raul americanas e que residem nos EUA, autorizaram a publicação do mesmo por lá, pois as leis que regem os direitos autorais lá fora são muito mais rígidas e eficientes do que as leis brasileiras.

A proibição só é válida para publicação no Brasil. Nesta pendenga, tão-somente os admiradores da obra raulseixista saíram perdendo e muito. O roteiro de “O TRIÂNGULO DO DIABO-OPUS 666”, tornou-se verdadeiro mito para os fãs, uma raridade buscada a peso de ouro, mas um projeto que não vingou. Raul pretendia, ainda, como ele mesmo chegou a declarar para a imprensa, escrever o roteiro de segundo filme a ser rodado e ambientado no Brasil, intitulado “O EDFÍCIO”, um filme filosófico, que contaria a história de grandes personalidades, tais como Jesus Cristo, Nero, Calígula, Hitler e outros, todos convivendo como vizinhos num mesmo edifício. Não se tem conhecimento de este roteiro tenha sido escrito realmente, ou se apenas era uma idéia que Raul tinha, mas que não chegou a ser concretizada.

O livro “O TRIÂNGULO DO DIABO-OPUS 666”, reúne os manuscritos, roteiro e fotos inéditas da viagem de Raul, Glória e Jay Vaquer pelos EUA. Este livro não está à venda no Brasil e não tem perspectivas de ser editado por aqui. Pode ser encontrado apenas no site de Jay Vaquer na Internet: http:www.jayvaquer.com

Aos fãs raulseixistas natos e de fato, só resta esperar que o tempo convença a herdeira de Raul brasileira, Vivian Seixas, a liberar a edição deste livro por aqui, mas que, o tempo curador das feridas e escaramuças humanas, também conscientize o senhor Jay Vaquer a reconhecer a participação de Raul neste projeto polêmico

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e aguardado pelos fãs no Brasil. Mesmo sendo editado independentemente nos EUA, pela Girl Press, “O TRIÂNGULO DO DIABO-OPUS 666”, está em português, embora muito mal escrito, contendo erros infindáveis cometidos por Jay, o livro é mais uma peça desejada pelos raulseixistas.

Raul seixas, definitivamente não morreu, passou para a Fase AR da Sociedade Alternativa, que é dividida em 4 Fases: TERRA, ÀGUA, FOGO e AR. Passados já alguns anos de sua viagem interestelar, Raul continua mais vivo e ativo do que antes, quando estava entre nós. Desde aquele fatídico dia 21 de agosto de 1989, o número de novos admiradores interessados em conhecer sua música magnífica e suas idéias, vem aumentando vertiginosamente. Pessoas de todas as faixas de idade e camadas sociais se organizam em todo o Brasil, em torno dos fã clubes, fundados em todas as regiões do país e até no estrangeiro para manter viva a memória do mito baiano. Dezenas e mais dezenas de fã clubes estão em plena atividade pelo Brasil todo. Praças, Casas Culturais, viadutos, ruas, bares e lanchonetes recebem o seu nome ou títulos de quaisquer de suas músicas. A cada geração surge outra geração de raulseixistas, que certamente influenciará outra geração e assim por diante, pois Raul é sempiterno, seu nome é LUAR aos avessos. Sua memória será cultivada e reverenciada pelos séculos dos séculos, amém. Revistas em edições especiais, pôsteres, gibis e livros às dezenas contando sua vida e obra musical/filosófica são lançados constantemente, desde sua morte, perpetuando a sua memória, seus discos e coletâneas não param de sair e vendem bem, porque a morte não mata quem já nasceu póstumo.

São incontáveis os grandes e pequenos eventos que ocorrem

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em todo o Brasil, nas datas comemorativas de nascimento e de morte de Raul, 28 de junho e 21 de agosto, datas em que o raulseixismo invade os ares do país. É sabido que a doença incurável do pai aliada a uma previsão de uma vidente, que nos anos 70 predissera a Raul que ele não passaria dos 31 anos vivo, foram fatores preponderantes e irreversíveis da depressão que o manteve preso dentro de si mesmo nos últimos anos. Muito ligado ao esoterismo, Raul queria realizar tudo ao mesmo tempo, ele tinha pressa de viver por saber que sua passagem pela terra seria curta e ínfima como a de todos nós. “Oh, Morte! Tu que és tão forte, que matas o gato, o rato e o homem, vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar”.

Seu pai Raul Varella Seixas, faleceu no dia 05 de setembro de 1991, aos 72 anos de idade, de câncer. O senhor Raul Varella Seixas, que era parente distante do poeta Fagundes Varella, além de engenheiro ferroviário, foi um grande poeta e professor de matemática. Raulzito gravou alguns versos do pai: “MINHA VIOLA” e “CORAÇÃO NOTURNO”. Se a doença foi um dos fatores de sua depressão, a morte de Raul foi para seu pai o motivo de uma profunda tristeza e o aceleramento de sua incurável doença. A doença do pai acelerou a morte de Raul e a morte de Raul acelerou o fim do senhor Raul Varela Seixas.

Raul teve cinco mulheres, as duas primeiras, com quem ele se casou oficialmente, eram americanas. No longínquo ano de 1967, precisamente no dia 28 de junho, aos 22 anos, Raul comemorou o seu aniversário casando-se com Edith Wisner, filha de pastor protestante, que foi o primeiro e eterno amor dele, segundo afirmação feita por Dona Maria Eugênia Seixas. Raul nunca esqueceu

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Edith, com ela teve a sua primeira filha, Simone Andréa Wisner Seixas. Em 1974, Raul e Edith se separaram, ela volta com a filha para os EUA. No ano seguinte à separação, Raul casa-se com Glória Vaquer, outra americana, irmã de seu guitarrista Gay Vaquer, que viria a mudar o nome para Jay, por motivos bem claros. Já pensou o leitor, em pleno ano de 2007, um homem chamado GAY? No dia 16 de junho de 1976 nascia Scarlet Vaquer seixas, segunda filha de Raul. Novamente no ano seguinte, separa-se de Glória Vaquer, que também regressa para os EUA levando a filha Scarlet.

Em 1978, Raul conhece Tânia Menna Barreto, amiga de Cláudio Roberto, seu parceiro musical, que passa a conviver com ele. Com Tânia Raul não teve nenhum filho, talvez pelo pouco espaço de tempo que viveram juntos, pois já no ano seguinte, 1979, Raul também se separa de Tânia. Conheceu então, Ângela Maria Affonso Costa, a Kika Seixas, que se tornaria sua quarta mulher. De todas as mulheres que passaram pela vida de Raul, sem sombra de dúvidas, Kika teve participação fundamental na carreira dele e continua fazendo das tripas coração para manter a memória de Raul sempre viva. Em 27 de julho de 1981, nasce Vivian Costa Seixas, terceira filha de Raul. Kika Seixas hoje é casada com o baixista e compositor Arnaldo Brandão, que tocou com Raul e teve composições suas incluídas no disco “A VIDA E A OBRA DE JOHNNY McCARTNEY”, gravado por Leno e produzido por Raulzito Seixas. No dia 13 de fevereiro, Raul canta para 180 mil pessoas no Festival Música na Praia, realizado no ano de 1982, na Praia do Gonzaga, em Santos. Este histórico show foi transmitido pela TV Cultura e, em 1991, virou disco pirata com o título de “EU, RAUL SEIXAS”, lançado sem autorização, o que motivou um processo judicial das herdeiras

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contra a gravadora Polygram do Brasil. Em 1983, depois de um tempo sem gravar, Raul assina contrato com a gravadora Eldorado e lança o LP “RAUL SEIXAS”, realiza uma turnê pelo Brasil, por conta deste disco e volta a fazer muito sucesso. Participa do especial infantil “PLUCT, PLACT, ZUM!”, da Rede Globo, destacando-se e roubando a cena. A música “Carimbador Maluco”, o maior sucesso do especial lhe garantiu o segundo disco de ouro. Em 1984, Raul assina contrato com a Som Livre e grava o LP “Metrô Linha 743”. Nesta época Raul foi acusado de se vender ao sistema e de trair os ideais raulseixistas, tão apregoados por ele, o que não conferia com a verdade dos fatos. Mas ele provaria logo mais, que tais acusações eram infundadas e injustas, pois ele só estava trabalhando, saiu fora da arapuca armada global o mais rápido possível, quando percebeu que a Som Livre não era o seu lugar. Antes, porém, Raul participaria ainda do especial “PLUNCT, PLACT ZUM II”, com a música “Geração da Luz”. Separa-se mais uma vez. O casamento com Kika Seixas, chegara ao ponto culminante da separação e em 1985, volta de Salvador com sua quinta e última esposa, Lena Coutinho, publicitária e fotógrafa. Mais uma vez o casamento de Raul e Lena dura pouco tempo, em outubro de 1988, eles se separam. Com 5 casamentos desfeitos e três filhas, muita gente talvez conclua que Raul Seixas era um mulherengo incorrigível, machista, ledo engano. Raul era um homem íntegro e fiel, que tinha como parâmetro de vida familiar, a fidelidade conjugal. Todos os seus relacionamentos, não se consolidaram em felicidade plena e absoluta, porque apesar da sua integridade humana, Raul era um homem depressivo e difícil, sem contar o fato de que ele era alcoólatra, mas extremamente carinhoso com a família. Óbvio que nenhuma das mulheres que viveu com ele, suportaria por muito

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tempo sua “teimosia braba” de guerreiro e o fato de tê-lo constantemente embriagado. Talvez tenha lhes faltado um pouco mais de compreensão, carinho e paciência, mas, todas as suas ex-mulheres mantinham contato permanente com ele. Somente Edith e Glória, que vivem nos EUA, desde que se separaram dele, não tinham contato permanente com Raul. Ele estava sempre em estado de alerta, pronto para ajudar suas ex-mulheres e era amigo delas. Enfim, Raul Santos Seixas, definitivamente, não morreu. Eu poderia escrever e relacionar milhares de fatos que envolveram a vida atribulada e a carreira de Raul e momentos que tive o prazer e a honra de passar ao lado dele, no entanto, para não cair na constante repetição, maior ainda do que estou praticando nestes escritos, prefiro parar por aqui, lembrando mais uma vez que, Raul seixas não morreu, pois eis que a morte não mata quem já nasceu imortal. E, tomando emprestadas as palavras sábias de Raul, lembro-vos outra vez: “A Desobediência é uma Virtude necessária à Criatividade”. Raul desobedeceu às leis da natureza, dos mortos e se recusou a obedecer ao silêncio além-túmulo, pois está sempre no meio daqueles que vivem a SOCIEDADE ALTERNATIVA, empurrando-nos de encontro ao Monstro Sist, revestindo-nos de coragem e fé, pois ele sabia que nós podemos mais, para que nossa fraqueza não nos faça esmorecer na hora fatídica e sanguinária de peitar, cara a cara, olho por olho, dente por dente, o tenebroso e assassino Monstro Sist, ao qual precisamos destruir se quisermos viver em paz e fazer do planeta Terra uma SOCIEDADE ALTERNATIVA. “A sociedade assassina seus poetas para então citá-los”, e o nosso país, este gigante adormecido, não poderia ser diferente, charrete que perdeu o condutor e se precipitou no precipício da burrice crônica, essa maldirá doença, sentiu e viu em nós, verbalóides raulseixistas,

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arautos do rei Raul, o primeiro e único antídoto infalível e capaz de curar esta epidemia que se alastra a cada dia que transcorre, que é uma característica visível e agourenta em todo homem que não vive a Sociedade Alternativa. Portanto, “Faça o que quiseres, pois há de ser tudo da lei”. O homem é seu próprio Deus. Cada um é sua religião. Cada um é seu próprio país. Não existe pátria, sua pátria é você mesmo. Quer negá-la? Negue-a. Você quer matá-la? Mate-a. Não existe pátria e nem fronteiras. Aprenda a dizer não, exija que os seus direitos como homem sejam respeitados, mesmo que, para tal, seja necessário o uso da força bruta, como eles fazem para nos manter sob rédeas. Pois somente os escravos servirão. No princípio nós éramos verbalóides, mas nos tornamos carne e já que habitamos o planeta Terra e comandamos todas as coisas, por quê abaixar nossas cabeças e deixar que falsos líderes conduzam à servidão eterna bilhões de seres? Vivamos a Sociedade Alternativa em toda a sua plenitude e veracidade, livres e líricos, pois, comiserativo é, que brilhe a lua também sobre os idiotas! Amém!!!

*Viva a Sociedade Alternativa!

Viva a Sociedade Novo Aeon!

Viva Raul Rock Seixas!

Querer o meu não é roubar o seu,

Pois o que eu quero é só função de “eu”

Sociedade Alternativa, Sociedade Novo Aeon

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É um sapato em cada pé,

Direito de ser ateu ou de ter fé,

Direito de ter riso e de ter prazer

E até direito de deixar Jesus sofrer!!!

(NOVO AEON, 1975 – LP “NOVO AEON)

(SOCIEDADE ALTERNATIVA, NÃO UMA ALTERNATIVA PARA A SOCIEDADE)

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz. E coragem é uma palavra que traduz o nome de Raul, que é LUAR aos avessos e a LUA incide sua beleza e luz sobre a ardência do Rei Sol, que se põe ao fim de cada dia para dar lugar à imponência da Lua. Nunca se vence uma guerra lutando sozinho, pois sonho que se sonha só é um só um sonho que se sonha só, mas sonho que sonha junto é realidade. Em plena ditadura militar Raul surgiu chutando todos os preconceitos e valores, medos e dogmas, e, ao contrário de outros artistas da época, não apontava nenhuma alternativa para a sociedade que fedia à carniça, ele queria uma sociedade alternativa. E se utilizava de todos os meios da sociedade de consumo, penetrando no sistema, como um veneno. “A coisa mais penosa do nosso tempo é que os tolos possuem convicção e os que possuem imaginação e raciocínio vivem cheios de dúvida e indecisão”. “Temos visto as pessoas esmagadas pelas rodas do Monstro Sist, antes mesmo de perguntarem o que está acontecendo.” “Conhecimento e felicidade para mim especificamente é quando você chega à compreensão do todo”,

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dizia Raul Seixas: “ou você se assume com é, ou fica em casa fazendo tricô”. “O homem nasceu para o amor e a liberdade, é imprescindível que as pessoas se convençam de sua força, buscando o Deus que há em cada ser humano, porque não se encontra Deus mandando foguetes à Lua ou Marte”. “Tem um livro meu de metafísica, em que questiono a tese aristotélica das cinco perguntas básicas: POR QUÊ?, QUÊ?, ONDE?, COMO?, QUAL? “Não existem respostas porque não existem perguntas. Eu não pergunto mais, eu faço. As coisas são”. “Nós somos verbos. Somos e estamos, é a única coisa que a gente sabe.” “Conjecturar, quem há de?” Raul levava tão à sério os seus pensamentos, que talvez tenha sido o único artista brasileiro que viveu o que cantava, nada na obra de Raul era fictício ou fantasioso. A Sociedade Alternativa era uma coisa tão real, que Raul e Paulo Coelho constantemente eram indagados sobre as regras, sobre os líderes que a encabeçavam, queriam saber se a tal Sociedade Alternativa era uma nova religião. Não existiam regras e nem líderes e nem se tratava de uma nova seita, na Sociedade Alternativa cada um é seu próprio líder, senão não seria uma sociedade alternativa. Nem se tratava de uma nova seita religiosa ou esotérica, porque ninguém pode dizer ou impor a religião que você quer ou deve seguir e ninguém pode fazer religião para os outros. O homem é seu próprio Deus, cada um é sua religião. Raul e Paulo Coelho chegaram a adquirir um enorme terreno, onde seria edificada a Cidade das Estrelas (O PAÍS DOS VERBALÓIDES). A Cidade das Estrelas seria um lugar onde todos poderiam viver livres, embasados em suas próprias leis, que é fazer o que se queira sem proibição, mas com responsabilidade e respeito ao próximo. Aqueles que não vivem bebendo a água do passado, que respeitam a si mesmos, fazendo tudo o que querem,

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ou seja, aqueles que já estão prontos para o Novo Aeon. Entretanto, em plena ditadura militar, a ousadia de colocar em prática planos como estes, fizera com que o governo vislumbrasse assombrado, mas erroneamente, um quadro de desobediência à nação, como se não fosse o próprio governo sacripanta que devesse obediência e respeito ao povo que o elege, e baixou então, uma ordem de prisão ao I Exército. Raul e Paulo foram presos e convidados a deixar o Brasil.

*O FIM DE UMA PARCERIA CRIATIVA*

Depois do lançamento do LP “HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS”, em 1976, Raul e Paulo Coelho romperam definitivamente a antiga parceria musical, responsável por inúmeros e eternos sucessos. Paulo amedrontado com o rumo negro que as coisas tinham tomado, decidiu seguir seu próprio caminho e enveredou anos depois pela viela da literatura barata. Raul continuou firme no seu propósito de ensinar o homem a lutar pela liberdade almejada, defendendo os seus ideais e idéias. Negando o quem, como, onde e o por quê, enfrentando seus medos e matando um fantasma todos os dias. Levava o sistema à sério porque ele é um monstro, mas a sua arma era ironizá-lo sempre, descobrindo um novo calcanhar de Aquiles, onde o espetava com seus versos ferinos e mortais. Assim foi o filósofo RAUL SANTOS SEIXAS, nascido aos 28 de junho de 1945, em Salvador, Bahia, a Cidade de Thor.

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Número do C. P. F.: 099997797

Número da Carteira de Identidade: 554.480

Religião: (Deus é o que me falta para compreender o que não compreendo)

“Que o mel é doce é coisa que me nego a afirmar, mas que parece doce, eu afirmo plenamente. Sonho que sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade... Antes de ler o livro que o Guru lhe deu, você tem de escrever o seu... Hoje eu sei que a vida não é uma resposta e se eu aconteço aqui, se deve ao fato de eu simplesmente ser. Não sou cantor nem compositor. Uso a música para dizer o que penso. A arte é o espelho social de uma época.”. -Eu quero o Oscar! Sou tão bom ator que finjo ser cantor e compositor e todo mundo acredita- . RAUL SANTOS SEIXAS, O LOBO CONSELHEIRO - *1945 +1989.

“NÃO EXISTE LAÇO QUE POSSA UNIR OS DIVIDIDOS A NÃO SER O AMOR: TUDO MAIS É MALDIÇÃO”.

Aleister Crowley

“AH! AH! MORTE! MORTE! TU ANSIARÁS PELA MORTE.

MORTE ESTÁ PROIBIDA, Ó HOMEM, PARA TI”.

(Aleister Crowley)

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(Eliseu Soares de Souza/Landerson “Batata” e Isaac Soares de Souza-SESC São Carlos-SP/2005)

Magia de Amor

Raul Seixas/Paulo Coelho

Me fascina tua morte mal morrida E a tua luta pra ficar em tal estado

O teu beijo, tão fatal, nunca me assustaPois existe um fim pelo sangue derramadoMe fascinam teus olhos quando brilhamPouco antes de escolher quem te seduzE me fascinam os teus medos absurdosA estaca, o alho, o fogo, o sol, a cruz

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Eliseu Soares de Souza/Landerson “Batata” e Isaac Soares de

O teu beijo, tão fatal, nunca me assusta existe um fim pelo sangue derramado

Me fascinam teus olhos quando brilham

E me fascinam os teus medos absurdos

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185 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Me fascina a tua força, muito embora Não consiga resistir à frágil aurora

E tua capa, de uma escuridão sem mácula Me fascinam os teus dentes assustadores

E teus séculos de lendas e de horrores E a nobreza do teu nome, Conde Drácula

(RAUL SEIXAS NO ESTÚDIO)

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-O DIABO-

(GRAVURA DO PINTOR ALEMÃO ALBERCHT DUERER

“SATÔ vem do hebraico; significa oponente, acusador. Traduzido para o grego virou diabolos, que significa caluniador. Lúcifer quer dizer “Aquele que carrega a luz”. Satã, Anjo Caído, AhrimAzazel, Namiar, Ashakrou, Capeta, Satanás, Belzebu, Tinhoso, Besta, Príncipe das Trevas e por aí vai a infinidade de nomes pelos quais o Diabo é conhecido e popularmente chamado.

Tido e havido como o inimigo número 1 do Todohumanidade. Mas, o nome mais conhecido do anjo caído que cheira à enxofre, é Diabo. Satã foi retratado em centenas e centenas de gravuras e ilustrações, muito mais do que Deus, por grandes artistas,

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

ALBERCHT DUERER - O DIABO)

“SATÔ vem do hebraico; significa oponente, acusador. Traduzido , que significa caluniador. Lúcifer quer

dizer “Aquele que carrega a luz”. Satã, Anjo Caído, Ahriman, Belial, Pã, Azazel, Namiar, Ashakrou, Capeta, Satanás, Belzebu, Tinhoso, Besta, Príncipe das Trevas e por aí vai a infinidade de nomes pelos quais o

o inimigo número 1 do Todo-Poderoso e da humanidade. Mas, o nome mais conhecido do anjo caído que cheira à enxofre, é Diabo. Satã foi retratado em centenas e centenas de

eus, por grandes artistas,

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tais como Giotto, Brueghel, Bosch, Delacroix, Fragonard, Duerer, Goya e muitos outros. Os pintores tinham medo de ofender a Igreja dando um rosto a Deus, por isso preferiam pintar o Diabo e quanto mais tétrico melhor, era o que a Igreja queria, escritores importantes também deixaram nas páginas da história a atração e curiosidade que o Demônio exercia sobre os literatos. A palavra Demônio vem de “DAIMON”, que é sinônimo de Deus em grego-arcaico. Em seu “Dicionário do Diabo”, Ambroise Bierce descreve e apresenta o Diabo, como o principal e primeiro responsável pela libertação do homem, segundo Ambroise Bierce, ao ser expulso da ordem dos arcanjos, o Diabo teria formulado a Deus um último pedido: “Que os homens tivessem o direito de fazer suas próprias leis”. A grande verdade é que o Diabo é um grande mito e desde os primórdios tem fascinado a literatura, a poesia, o cinema, a música e aos homens. O desejo humano de personificar o mal, culminou no renascimento do Demônio em múltiplas encarnações, é certo que, o homem jamais deixará de acreditar e buscar a Deus, mas, esta busca frenética e pré-histórica de Deus, conduz também ao encontro com o Diabo, o Príncipe das Trevas, pois um depende do outro para ser lembrados. O Bem e o Mal, antagônicos, mas ao mesmo tempo gêmeos. Um não pode viver sem o outro.

*O ÓDIO NÃO É O REAL É A AUSÊNCIA DO AMOR*

A humanidade sempre esteve envolvida sanguinariamente em uma longa guerra após outra e os conflitos se tornam cada vez mais destrutivos, ao passo que os homens desenvolveram métodos mais eficazes de se matarem uns aos outros, como se fossem verdadeiras bestas humanas. A raça humana perdeu as rédeas do raciocínio, mata-se pelos mais banais motivos, ou seja, sem motivo algum, mata-

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se por matar-se, a intolerância religiosa, o racismo, diferenças culturais, ideologias divergentes entre si, nacionalismo e a doutrina da soberania nacional, as condições econômicas e a aceitação popular do militarismo. Em quase todas as guerras ou genocídios, a religião está envolvida, os massacres de Ruanda, um país predominantemente católico – romano, padres, pastores e freiras se encontravam entre os milhares de prisioneiros hutus que aguardavam julgamento por atos de genocídio.

Bispos e arcebispos, não condenaram os massacres com a devida prontidão, eles estavam de rabo preso ao governo Habyarimana, que auxiliou a treinar os esquadrões da morte. Sarajevo, Banja Luka, Bihac, Mostar, Goradze, Tuzia, Zepa e Srebrencia, na Bósnia, Dubrovinik, na Croácia. Todas estas cidades foram bombardeadas e saqueadas, depois queimadas na guerra entre os sérvios, mulçumanos e croatas, que lutavam entre si pelo controle da região e toda esta carnificina ocorria sob o olhar passivo de toda a humanidade, que desde a crucificação do Mestre Nazareno, vem lavando as mãos como o fez Pilatos, nas águas insalubres de sua ignorância e preconceitos. E, mais uma vez, a supremacia das etnias e o fanatismo religioso, levaram os sérvios, muçulmanos e croatas a se matarem uns aos outros em nome de Deus. A religião e a política, pragas indestrutíveis que assolam a humanidade, continuam lançando seus tentáculos pegajosos e provocando guerras, guerrilhas e genocídios e assim será até o fim dos dias. O que o Governo Americano, aliado a outros países seus asseclas, fez e continua fazendo contra o povo iraquiano, ávido por tomar posse das riquezas petrolíficas, é de assombrar ao mais cruel verdugo. Os EUA fizeram com que o ditador Sadan Hussein fosse enforcado, como se o governo americano não fosse também um dos

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mais esquálidos e perversos sistemas ditatoriais do planeta. O enforcamento de Sadan Hussein, transmitido pelos canais de Tv de todo o planeta, causando a indignação de uns e o prazer de outros, demonstra a que estágio de animalidade chegou o ser humano. Enforcado Sadan Hussein, deveriam enforcar agora, ao Governo Americano, sem piedade e com os mesmos requintes de desumanidade. O Diabo tem sido, há milênios, o responsável direto e único por certos crimes e atos animalescos que os homens praticam. Pobre Diabo, não passa de um bode expiatório da fraqueza humana, que aliada ao medo, a religião, adotou como instrumentos de defesa absoluta para amedrontar e estarrecer a humanidade, lançando-a de encontro às raias da esquizofrenia. Registros históricos atestam que há séculos, durante as Cruzadas ou Batalhas da Fé, organizadas e abençoadas pelos papas, bispos e reis católicos, cenas de sangue, canibalismo, estupro, assassinatos em massa de crianças, que era uma coisa comum, e tudo em nome de Deus. Faziam ferver nas caldeiras os pagãos, fincavam em espetos as crianças e as devoravam grelhadas. Cenas dignas do mais cruel retrato da indignação e terror. Tomadas grotescas de um filme qualquer de terror, mas de uma realidade tão absurda, que faria corar de vergonha o rosto do mais cruel dos assassinos. Séculos e séculos passaram, o avanço científico e tecnológico, não foi nem de longe, capaz de extirpar da memória os grandes mitos históricos e milenares. Entre eles estão as Cruzadas ou Batalhas da Fé, seja na recordação do Ocidente Conquistador ou no ressentimento do Oriente derrotado. As Cruzadas deram início a um período de perseguições que se estenderia por muitos séculos, culminando no genocídio que aniquilou 6 milhões de judeus durante a II GUERRA MUNDIAL. O ataque terrorista contra as torres gêmeas no World Trade Center, no coração financeiro de New York naquele

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fatídico dia 11 de setembro de 2001 e a morte de milhares de pessoas, são provas cabais de que a religião é o âmago do terrorismo. Desde de que o primeiro homem foi criado, evoluído ou quem sabe cagado, pois eis que não existe termo correto e certo para explicar o aparecimento do homem sobre a face da Terra, mesmo porque um ser tão absolutamente estranho, cruel e assassino, não dispõe de prismas para ser retratado, esse ser em que o preconceito, a ânsia do poder e a violência, estão enraizados e o caracteriza como animal irracional, pois, racional é a hiena... estes mesmos arroubos de ignomínia foram injetados durante séculos, revelados aos poucos por grandes bestas humanas no decorrer da história. Entretanto, o grande vulcão do mal não resistiu ao tempo, entrou em erupção e liberou a horda demoníaca através das Cruzadas e das Guerras. Como dizia Raul Seixas: “Cada cabeça é um mundo, antes de ler o livro que o guru lhe deu você tem de escrever o seu. O que é que a Ciência tem? Tem lápis de calcular. O que mais que a Ciência tem? Borracha para depois apagar. Você já foi ao espelho, nego? Não? Então vá”. Para se libertar de velhos preconceitos morais, religiosos ou étnicos, o homem precisa urgentemente, se olhar no espelho e verificar que ele é um animal, mas um animal racional, que só usa dez por cento de sua cabeça animal. Se o homem não parar agora, já, de caminhar segundo as leis estabelecidas, nunca poderá ser livre.As dúvidas que assolam os homens é apenas o medo de mudar o rumo da história. O homem não pode continuar agindo como criminoso bestial. “O ÓDIO NÃO É O REAL, É A AUSÊNCIA DO AMOR”. O Planeta é nosso, façamos da Terra um paraíso, porque a terra é paradisíaca, mas mal cuidada e infestada de seres vis. Podemos ter uma Terra sem religiões, sem ódio, sem preconceitos. Mas onde a igualdade pode ser implantada, se assim almejarmos. Somos deuses, índios, negros, albinos, judeus,

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pigmeus, aborígenes, amarelos e vermelhos. Ninguém é diferente de ninguém, somos humanos, demasiadamente humanos, livres para expressar nossos conceitos e planos, planos plenos de liberdade absoluta, de auto-estima e de amor, mas, amor sob vontade. Esta é a Lei! A lei do forte, pois os escravos servirão!

*RAUL SEIXAS E SUA LUTA PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO*

Desde que o homem habita o planeta Terra, tem lutado ferrenhamente pela liberdade de expressão. Promulgaram-se leis, travaram-se guerras e perderam-se vidas em defesa do direito de expressar publicamente uma idéia. A história está repleta de fatos envolvendo os que lutaram pelo direito de propagar publicamente uma opinião própria, o que quase sempre os levou a serem violentamente perseguidos, execrados ou mortos impiedosamente.

O filósofo Sócrates (470/399), cujos ensinamentos e conceitos eram vistos como influência negativa e corrompedora da moral dos jovens atenienses, foi condenado a morte. Sócrates granjeou, devido a sua liberdade de expressão, a ira de líderes políticos e religiosos da hierarquia grega e foi estupidamente condenado. No entanto, perante o júri que terminou condenando-o, é uma das mais eloqüentes defesas da liberdade de expressão, um rasgo de destemor e de vitória, uma cusparada na cara daqueles que acreditavam deter o controle geral da humanidade, chafurdados em sua prepotência e medo da verdade absoluta: *Se vós me inocentásseis neste caso, sob a condição de eu não mais expressar minha opinião nessa busca de sabedoria, e de que, se eu fosse pego fazendo novamente isso teria de morrer, diria-vos: Homens de Atenas obedecerei a Deus em vez de a vós, enquanto eu tiver vida e energia, jamais deixarei de seguir a

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filosofia e de exortar e persuadir a quem quer de vós que eu encontre. Estejam certos de que isso é o que Deus ordena... E, atenienses, devo ainda dizer: Inocentem-me, ou não; saibam, porém, que jamais agirei diferente, mesmo que por isso tenha de morrer muitas vezes.*

Não foi só durante o reinado de Tibério (14/37), que a intolerância para com os que falassem contra o governo ou suas diretrizes, assassinou cruelmente muitos homens.

Durante a maioria dos períodos da História, os direitos civis concedidos pelos governos foram muitas vezes alterados ou revogados. Muito sangue foi derramado, torturas, prisões e exílios, as mais cruéis e hediondas atitudes foram tomadas por governantes, monarcas, juízes, Igreja e sociedade para que a liberdade de expressão fosse terminantemente negada aos seres humanos. Raul Seixas, num período mais atual da nossa história,, tomou como parâmetro para a sua constante batalha pelo direito de expressar seu pensamento, as corajosas palavras de Sócrates. Raul viveu e morreu lutando pela total liberdade de expressão, sempre injetando nas veias entupidas de “sangue de barata” do homem, o antídoto revigorante da força e da coragem e do direito à liberdade de expressão. Foi perseguido, amaldiçoado, preso e torturado e expulso do país. Os poderosos, os sistemas organizados, aos quais Raul alcunhou de Monstro Sist, se borravam ódio e medo toda vez que ele escancarava a boca servida para vociferar verdades absolutas. E quem seria o calhorda poderoso, que ousaria dizer que Raul não triunfou? No Brasil todos os setores culturais foram os mais atingidos e perseguidos durante a ditadura militar. Naquele período nebuloso e sanguinário, a imprensa, o teatro, a literatura, o cinema, as artes plásticas e a música principalmente,

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eram vistos como uma ameaça corrosiva ao sistema, e, a todo e qualquer custo, os ditadores (cujas bestas humanas deveriam estar apodrecendo nos subterrâneos das prisões) tentavam coibir violentamente tais manifestações culturais. A música popular foi o grande canal denunciador que expunha as mudanças drásticas ocorridas no período dos chamados anos de chumbo. A juventude estava repartida ao meio, como faces da mesma moeda: os alienados da “jovem guarda”, que ouviam o expoente a “REI SEM COROA” Roberto Carlos “Praga”, e os engajados, metidos a gênios e revolucionários, que faziam política estudantil e ouviam Chico Buarque e a Pimentinha Elis Regina.

E por esta vereda de espinhos e canhões, caminhava a trôpega MPB, os que acreditavam nas flores vencendo os canhões, embalados pelas canções de protesto que dividiam os festivais, levaram uma bofetada ao ouvirem estupefatos, a canção acusadora e corajosa de Geraldo Vandré, no III Festival Internacional da Canção, realizado em primeiro de outubro de 1968: “Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não, há soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas nas mão, nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição, de morrer pela pátria e viver sem razão”. Essa mesma juventude transviada, em 1968, fazia ainda alarde inspirada pelos protestos dos estudantes de Paris. O auge aconteceu com a eclosão do tropicalismo liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil (a quem Raul chamava de Giló). No IV Festival de MPB, no Teatro Record, Caetano ousava e desafiava: “Mas é esta a juventude que diz que quer tomar o poder? Caetano foi então, vaiado e irritado, prosseguiu: “ A Mãe da Virgem disse que não, eu digo que não, e eu digo que não ao não, e eu digo que é proibido proibir, é

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proibido proibir”. Em dezembro daquele mesmo ano, Caetano e Gil foram presos em São Paulo. Em 1971, Chico Buarque, Tom Jobim, Edu Lobo, Ruy Guerra e Marcos Valle foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional. O cerco contra a liberdade de expressão começou a fechar-se, naquele mesmo ano com a promulgação do AI-5. Nunca se proibiu tanto, tão absurdamente, mas também a MPB nunca produziu tão bons frutos quanto produzia naqueles negros anos. Para burlar a marcação acirrada e faro de doberman da censura, Chico Buarque usava o engraçadíssimo pseudônimo de “Julinho da Adelaide”, para compor e gravar três músicas que foram sucessos na época: “ACORDA AMOR”, “JORGE MARAVILHA” e “MILAGRE BRASILEIRO”. Somente no final do Governo Geisel (74/79), esse quadro dantesco de intolerância e censura, sofreu sua primeira modificação, com a reabertura do Congresso Nacional e com a garantia assinada em decreto da extinção da pena de banimento e das comissões de investigação. Foi garantido também, o “hábeas-corpus” para crimes políticos, a anistia e o fim da censura à imprensa. Pouco antes do término desta agrura promulgada em Atos Institucionais, provocando mordazmente o Governo Geisel, surgia lampejante, um baiano da Cidade de Thor, que saculejou as arquibancadas e a opinião pública no Maracanãzinho, durante o VII Festival Internacional da Canção, em 1972, RAUL SANTOS SEIXAS. Nunca, até então, na música popular brasileira, um artista ousara tanto, dando chicotadas em todos os ângulos do sistema. Raul foi tão longe em sua ousadia, que começou sua tarefa alcunhando o sistema de MONSTRO SIST e já de sopetão, queria transformar a Sociedade Alternativa numa coisa real, projetada, palpável e habitada por malucos beleza. Raul atacava e alfinetava os sistemas estabelecidos com garras afiadas, ensinando ao homem como enfrentar, sem medo e sem receio essa turba de seres maquiavélicos

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que se autoproclama proprietária do Universo. Raul inverteu a história, virou-a de cabeça-pra-baixo, aos avessos, que é o seu verdadeiro lugar, pisoteou dogmas, escancarou as portas do calabouço, quebrou os elos das correntes e se jogou como pedra no telhado do Monstro Sist. Derrubou por terra conceitos milenares, comeu o pão que o Diabo amassou, mas, sem dúvida deixou sua impressão digital no mundo. Jamais na história mal contada da MPB, a qual Raul fazia questão de não pertencer, houve ou haverá, um personagem deveras corajoso e turrão como o foi Raul seixas – LIVRE, LÍRICO e LIBERTÁRIO - SEIXAS/SEIXO, o anjo rebelde do inferno que chegou para conscientizar e içar o ser humano do abismo de ignorância em que se encontra desde os primórdios da humanidade. Pois, os escravos servirão!!!

*DIGAM VERSOS PELA RESISTÊNCIA,

FAÇAM COISAS PELA LIBERDADE.

PULEM OS MUROS, DESAMARREM OS LAÇOS

PELOS CAMINHOS DAS AVENTURAS,

AS ALTURAS MERECEM TODAS AS ASAS...* - (Zé Ramalho)

Estes versos do paraibano de Brejo do Cruz, Zé Ramalho, o Apolo da Caatinga, refletem bem a situação do ser humano diante da visão sombria do ódio em grupos sociais, étnicos, religiosos e políticos, situação esta, que precisa ser mudada, pois o homem necessita urgentemente de pular os muros da intolerância, desamarrar os laços e fazer coisas pela liberdade. O ódio não é o real, é a ausência do amor. O ódio sempre despertou o monstro da maldade,

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que se encontra em estado de hibernação no âmago da alma humana, quando se permite que o amor se ausente de nós, o monstro da maldade é despertado, pois, o medo é também, o estopim do ódio e já está tatuado no inconsciente coletivo de todos os povos. O ódio é um sentimento exclusivo da espécie humana, cada vez mais alimentada pelos conflitos mundiais, que por sua vez, são forjados pelo homem em defesa de seus cruentos ideais. O transcorrer de alguns poucos anos do ataque terrorista ao World Trade Center e ao Pentágono, nos EUA, os escombros e o mar de sangue da guerra contra o povo iraquiano, a violência paradoxal entre israelitas e palestinos e as escaramuças e massacre na África vem transformando homens em demônios e assassinos bestiais e, toda esta saprófaga situação deve-se unicamente à intolerância e ao preconceito, que levam a humanidade a se degladiar ferozmente entre si, pela hegemonia das etnias, credos e ideologias. No entanto, o homem se esquece de que “o ódio não é o real, é a ausência do amor”. Como dizia o mestre Raul: “A Desobediência é uma Virtude necessária à Criatividade”. “Minha cabeça só pensa naquilo que ela aprendeu, por isso mesmo, eu não confio nela, eu sou mais eu... para ser feliz é olhar as coisas como elas são sem permitir da gente uma falsa conclusão, seguir somente a voz do seu coração... Mas é preciso você tentar, talvez alguma coisa muito nova possa lhe acontecer...”.

*RAULZITO, O PRODUTOR*

Ao longo de sua carreira, desde a mais tenra idade, sempre envolvida com a música, além de sua discografia solo, Raul Seixas foi durante alguns anos, produtor musical. Deixou gravados 28 compactos simples e duplos e participou de vários discos de artistas produzidos

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por ele. Sem contar as dezenas de composições de sua lavra autoral, que foram gravadas por muitos outros artistas que ele produziu na antiga CBS (Sony). Em 1979, foi lançado pela RCA Victor, o álbum duplo “O BANQUETE DOS MENDIGOS”, uma gravação ao vivo do show beneficente “Direitos Humanos no Banquete dos Mendigos”, realizado em 10 de dezembro de 1973, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Este álbum duplo havia sido censurado, em 1979 foi relançado com uma capa diferente e liberado. Raul participa deste álbum antológico com a música “Cachorro Urubu”.

Um exemplo de produtividade artística, que fez de Raul um dos mais hábeis produtores, ocorreu na época áurea da Jovem Guarda. Tão-somente os fãs mais ardorosos conhecem esta outra faceta desenvolvida com maestria pelo baiano de Queguem-nhém. Como produtor musical, Raul lançou artistas que estão até hoje em plena atividade, compôs para muita gente, sucessos eternos e popularescos. Não sei por que cargas d´àgua os especialistas em MPB nunca escreveram sobre a participação decisiva de Raul na Jovem Guarda. Talvez pelo preconceito que a crítica especializada sempre manteve em relação a chamada música brega. Teses, ensaios e quase duas dezenas de livros sobre a vida e a obra de Raul Seixas e ainda assim nada ou quase nada se escreveu ou se registrou sobre uma época importantíssima na vida e início de carreira dele, quando a Jovem Guarda deu seus frutos e Raul produziu muitos deles. Raul Seixas, ou simplesmente Raulzito, como ele era chamado naquela época, foi e sempre será único e exclusivo, sem parentesco com a “linha evolutiva” da MPB, a qual eu sempre chamei de “Música para Babacas”, ele nunca teve nenhum vínculo com esta linha evolutiva e metida à besta, intelectual de esquina, que implantou o chip da

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ignorância na cabeça do povo, uma verdadeira ditadura cultural. Todo raulseixista sabe que quem trouxe Raul para o Rio de Janeiro foi Jerry Adriani, quando este o conheceu durante uma de suas excursões pelo interior do País. Naqueles idos de 1967, Raulzito e os Panteras era muito conhecido na Bahia. Era o grupo mais comentado, que mais entendia de rock´n´roll e o que cobrava o cachê mais alto. O grupo acompanhou quase todos os astros da Jovem Guarda: Ed Wilson, Wanderléa, Roberto Carlos, Wanderley Cardoso e outros. De toda essa turma jovem guardista, Raul gostava mesmo era do JET BLACK´S. Jerry Adriani acreditava no talento artístico de Raulzito e foi ele que convenceu o então presidente da CBS, Evandro Ribeiro, a dar-lhe uma vaga de produtor e o trouxe de volta para o Rio. Numa época em que o produtor era pouco mais que um funcionário da gravadora, não recebendo créditos na capa nem no selo dos discos, Raul trabalhou anonimamente durante um certo período. Na então CBS, Raul fez grandes amigos e alguns inimigos também. Em 1968, a dupla OS JOVENS e o grupo THE SUNSHINES apostaram em suas composições. Para o lado B de seu compacto “QUERO GRITAR”, OS JOVENS escolheram a música “Se Você me Prometer”, enquanto THE SUNSHINES gravaram “Um Novo Amor Há de Vir”, uma versão de Raulzito para “How´d We Ever Get This Way”. Na época, o grande amigo de Raulzito sempre foi o LENO. Raulzito sempre esteve 20 anos adiante de seu tempo e LENo o compreendia, havia a admiração mútua. Foi o próprio LENO que me confidenciou há anos por telefone, que o livro de cabeceira de Raulzito era o lúgubre e genial “EU E OUTRAS POESIAS”, do mortífero Augusto dos Anjos e não “O LIVRO DA LEI”, de Aleister Crowley, como acreditam muitos. Raul não tinha nenhuma ligação com a magia negra, isso não passa de uma deslavada mentira. Em seu compacto duplo “PAPEL PICADO”, lançado

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em 1969, LENO registrou “Um Minuto Mais”, versão de Raulzito para “I WILL”. Jerry Adriani convocou então, Raulzito para ser o produtor de seus discos. No álbum de 1969, aproveitou para gravar uma de suas músicas, “Tudo o que é bom dura pouco”. Na mesma época, outros ídolos da Jovem Guarda também começaram a gravar as composições de Raulzito. Ed Wilson gravou “Se Ela Não serva Pra Você também Não Serve Pra Mim”, enquanto Renato e Seus Blue Caps ficaram com a gravação de “Obrigado pela Atenção” e, LENO, já em 1970, com “Sha-La-La” (Quanto eu lhe Adoro). O ano de 1970 marcou o início de uma fase ativa e importantíssima na carreira de Raulzito, ainda que como produtor. Os discos produzidos por ele começavam a trazer seu nome nos créditos e suas músicas passaram a ser gravadas constantemente, pois eram sucessos absolutos. Raulzito e Leno iniciaram uma parceria compondo “Se Estou Feliz Por que Estou Chorando?”, para Renato e Seus Blue Caps. Raul passou o ano compondo e produzindo discos para Tony e Frankie, Oswaldo Nunes, Jerry Adriani, Edy e Diana, além de escrever uma quantidade enorme de músicas que fizeram sucesso na época: “Se Pensamento Falasse” e “O Táxi Está Esperando”, para Jerry Adriani, “Se Você Soubesse”, para Daniel, “Ainda é Quente Bicho”, para Matilda, “Volta e Vamos Recordar” e “Último da Lista”, para Lafayette, “Deixe Ele Falar Sozinho” e “Desta Vez Eu Voltei Pra Ficar”, para Luis Carlos Magno e “Tudo Acabado”, para Odair José, que era conhecido como “o terror das empregadas” Isto tudo só no ano de 1970, além das versões “O Mundo é Triste Sem Você” (de Lê Monde Est Gris) e “Não Quero Lhe Perder” (I Don´t Wanna Lose You Baby), ambas para Altamir César, e as parcerias “Play Boy”, com Pedro Paulo, gravada por Renato e Seus Blue Caps e, “Não Consigo te Esquecer”, com Leno e Rossini Pinto, gravada por Sérgio & Cotel.

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Em 1970, o álbum de Renato e Seus Blue Caps trouxe impresso em sua contracapa”A LEI DA INSEQÜAPIBILIDADE”, um texto muito louco escrito anonimamente por Raulzito, cujos escritos já davam asas à sua futura rebeldia e mostrava sua genialidade pré-Paulo Coelho: A LEI DA INSEQÜAPIBILIDADE:

*Muita gente ainda hoje se pergunta se é isequapível ou não A resposta é clilófricamente simples: A Lei da Inseqüapilidade pode ser explicada baseando-se no mérito do “Diafragma de Aquiles”. Tomando-se por base os crepúsculos de diferentes dimensões, alia-se ao pentagrama diluvial pela quinta Lei de Newton, lei esta referente à gravitação das histórias em quadrinhos em torno dos velocípedes. Daí onde a teoria vigente entra em desacordo com a referida inseqüapibilidade. Inseqüapíveis? Sim, porém inseqüapíveis em certos aspectos, quando examinados pelo oblíquo lado do patinete.*

FÓRMULA

(SEGUNDO OU TERCEIRO GODOFREDO DO IRÃ)

I-RETUMBLÊNCIAS TRANSPURCAR COM AZÔTO DE CARBONO.

II-3% DE RETACLENAS QUENTES.

III-6 LITROS DE PISCELETO À GAMPÔLA NA

MANTEIGA.

FÓRMULA ALGÉBRICA DA INSEQÜAPIBILIDADE.

X3 + NADA = OU PARECIDO.

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Taí, a Lei da Inseqüapibilidade, com sua fórmula algébrica e esquizofrênica; formulada pelo mesmo Raulzito, o mago do rock nacional, maluco beleza, que afirmava ter dado uns cascudos no Pepeu Gomes, por ele ter-lhe roubado alguns acordes, quando ainda tocava no grupo “OS MINOS”. O ano de 1971, foi encerrado com o início da gravação do álbum “A VIDA E A OBRA DE JOHNNY MAcCARTNEY”, produzido por Raulzito e Leno. Várias faixas do disco foram censuradas e o projeto arquivado pela gravadora, o que levou Leno a pedir rescisão de contrato. As matrizes do disco foram redescobertas vários anos depois e relançado em CD, em 1995. Depois de um alerta dado pela diretoria da CBS, Raulzito continuou produzindo artistas no decorrer de 1971, dentre os quais Trio Ternura, Sérgio Sampaio e uma infinidade de outros artistas. “Estou Voltando Pra Casa”, foi uma parceria com Pedro Paulo, “Trifocal” foi gravada por Tony & Frankye. “Amei você Um Pouco Demais”, parceria com Sérgio Sampaio para José Roberto. “Se Você não Precisasse Você Não Pedia”, também gravada por José Roberto. “Ainda é Hora de Chorar”, parceria com Àtila, para Renato e Seus Blue Caps. Na mesma época Raulzito compôs várias músicas em parceria com o ex-blue cap Mauro Motta, ex-produtor de Roberto “Chato” Carlos, deixando registradas somente em 1971, as seguintes músicas: “DARLING”, gravada por Renato, “AMIGO CONTIGO EU ME CONFESSO”, gravada por Túlio Monteiro, “AINDA QUEIMA A ESPERANÇA”, gravada por Diana, “DOCE, DOCE AMOR”, por Jerry Adriani, “VÊ SE DÁ UM JEITO NISSO”, pelo Trio Ternura, “SHEILA”, gravada por Renato. “FOI VOCÊ”, gravada por Márcio Greyk. O ano seguinte, 1972, não foi diferente, Raulzito e Mauro Motta continuaram compondo muito mais para os artistas da CBS: “DEUS QUEIRA”, “AGORA EU FAÇO O QUE ME CONVÉM”, foram gravadas por José Roberto, “MINHA AMIGA SHEILA”, gravada por

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Pedro Paulo, “VIM DIZER QUE AINDA TE AMO”, gravada por Raphael, “MUITO OBRIGADO MEU BEM”, por Paulo Ghandi, “UDOIS”, gravada por Leno e Lílian. Diana gravou “FATALIDADE”Adriani ficou com a gravação de “TARDE DEMAIS”. HORA” foi gravada por Waldir Serrão, “BABY, BABY”Seus Blue Caps. Diana, que na época era esposa de Odair José, gravaria mais três canções: “SONHEI COM VOCÊ”COMPLETAMENTE APAIXONADA” e “VOCÊ TEM QUE ACEITAR”Lilian gravaram “DEUS É QUEM SABE” e “OBJETO VOADOR”Recentemente, Lílian, depois de um longo tempo afastada dos estúdios lançou totalmente financiados por ela, o CD “LILIAN KNAPP” e a autobiografia “COMO NUM CONTO DE FADAS”. O disco marca a estréia do novo nome artístico e traz oito músicas inéditas e quatro regravações, entre elas está “DEUS É QUEM SABE”, de Raulzito. Leno também regravou num CD ao vivo, pela gravadora MNF BRAZIL, em 2002, a música “OBJETO VOADOR”, que foi gravada por Raul no messiânico e antológico LP “GITA”uma letra bem diferente e o título de “S.O.S”. Núbia Lafayette gravou “JAMAIS ESTIVE TÃO SEGURA DE MIM MESMA”. compôs “LÁGRIMAS NOS OLHOS” e “HOJE EU RESOLVI PARTIR”

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

, gravada por Raphael, “UM DRINK OU

“FATALIDADE”, Jerry . “A QUALQUER

“BABY, BABY” por Renato e Seus Blue Caps. Diana, que na época era esposa de Odair José,

“SONHEI COM VOCÊ”, “ESTOU “VOCÊ TEM QUE ACEITAR”. Leno e

“OBJETO VOADOR”.

gravada por Raul no messiânico e antológico LP “GITA”-1974, com . Núbia Lafayette gravou

Raulzito ainda “HOJE EU RESOLVI PARTIR”, ambas

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para José Roberto e “NÃO DIGA NADA” e “PROBLEMAS”, parcerias com Mauro Motta, que foram gravadas por Mony. Durante sua permanência na CBS, muitas de suas composições foram gravadas por artistas pertencentes à outras gravadoras, tais como: Wanderley Cardoso, que gravou ”O MUNDO DÁ MUITAS VOLTAS”, pela Copacabana e Alípio Martins, “TENHO MUITO O QUE FAZER”, pela RCA VICTOR, em 1971, enquanto que José Ricardo ficou com a gravação de “SÃO COISAS DA VIDA”, pela Odeon, em 1972. Lena Rios gravou pela Philips, também em 1972, “EU SOU EU, NICURI É O DIABO”. Raul viria a produzir ainda, na década de 80 o primeiro disco da excepcional cantora JANE DUBOC, sua ex-concunhada. A produtividade de Raulzito, desde os primeiros anos de sua carreira como produtor e compositor, é um fato histórico e fantástico, com um currículo repleto de glorias, só poderia dar com os costados no pódio do futuro sucesso como artista solo, que o colocou no pedestal de rei do rock nacional, pois Raul foi o que de melhor e mais avançado a música brasileira já pariu em toda a sua história. Primeiro Raulzito aprendeu o jogo dos ratos, para então devorar a maior fatia do queijo do rock. Durante anos eu li e folheei todos os escritos, reportagens e um número sem fim de livros sobre a obra e a carreira desse gênio esboçado, dessa criança louca, filho da dor chamado Raul Seixas e confesso, que quase nada li a respeito do período áureo em que ele produziu muita gente e compôs uma infinidade de canções bregas, das quais ele mesmo fazia pouco caso. Isso prova sistematicamente, a imbecilidade e a ignorância dos que escrevem sobre música. Do que é que certos pesquisadores e críticos têm medo? Medo de afirmar e registrar nos anais da música brasileira, que neste país inculto e de memória curta, onde a música é rateada entre uma corja de safados, que se autodenomina intelectual só

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porque levou porrada da polícia? O cidadão comum, que trabalha dia e noite e não tem direito a absolutamente nada, leva paulada todo santo dia dessa casta demoníaca que a polícia brasileira e ninguém toma suas dores. A grande e dura verdade, mais do que absoluta, é que a música brasileira, a qual Raul Seixas fazia questão de não estar atrelado, nunca conheceu tão criativo, expressivo e corajoso poeta. Raul Seixas e Raulzito sempre foram o mesmo homem, mas para aprender o jogo dos ratos transou com Deus e com o Lobisomem.Raul sempre foi Rei, mas não o tinha na barriga como certos cortesãos do poder que só porque servem aos monarcas da indústria fonográfica, se julgam príncipes e na calada da noite, arquitetam planos diabólicos para usurpar o trono e a coroa de um reino que jamais terá sucessor. Assim sendo, faço questão absoluta de externar meus sinceros agradecimentos ao “music-man” Marcelo Fróes, do Jornal INTERNATIONAL MAGAZINE, que teve a ousadia e a inteligência de publicar e escrever um artigo detalhado sobre esta época áurea na carreira de Raul Seixas, intitulado “RAULZITO AOS 50”, de cujo artigo retirei tudo o que transcrevi aqui neste capítulo. Eu já havia dado início a este capitulo sobre o período de Raulzito como produtor/compositor brega, quando me chegou às mãos o artigo do Marcelo Fróes. Caí de quatro, prostrado, pois era de tal informação que os admiradores de Raul e seus seguidores fiéis necessitavam há muito tempo, então, fiz uso absoluto do referido artigo, que é excelente e esclarecedor, além de digno de nota. Um outro livro que também incursiona por estas trilhas e que se trata de um trabalho de pesquisa muito bem elaborado e importantíssimo para a historiografia raulseixista, trata-se do livro “EU QUERO CANTAR POR CANTAR”, do jornalista Ayrton Mugnaini Jr./Nova Sampa Editora-SP.

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O filósofo Sócrates, fundador da Ética, foi considerado e reconhecido como um dos mais sábios homens por não julgar saber o que não sabia. Gostava de conversar com pessoas simples, autênticas. Raul fazia o mesmo. Sócrates tomou de um só gole o cálice de cicuta e se deitou para esperar resignado a morte. Raul emborcou o copo de vodka e esperou, aliviado, a chegada da “dama de cetim”. Raul, sem receio de cometer nenhum exagero, foi o Sócrates da MPB. Por pouco Raul não morreu no ostracismo. Ele era um destruidor de certezas como Sócrates e a verdade absoluta da MPB. Seu único erro fatal foi ter afogado suas dores e inconformismo diante da situação humana no álcool, que o matou cedo demais. Raul era um ser humano íntegro, que questionava excessivamente. Insuflava os cidadãos a agir em nome da ética e da moral num mundo dominado pela corrupção, como um Sócrates do século XX. Raul não aceitava a prosperidade como meta humana, morreu pobre, pois acreditava que o homem próspero ou é ladrão ou explorador, no mínimo injusto. O homem nasceu para praticar o bem, nisto consiste a sapiência humana. A total liberdade só pode existir plena e absoluta, se houver igualdade e, a igualdade culmina na prosperidade de todos. Sua obra musical, deixada como legado de paz e sabedoria para as gerações futuras, é um imenso tratado filosófico, pois, nenhum artista brasileiro conseguiu cativar gerações inteiras e ser cultuado como ele. E que não ousem vir me dizer que genial é a obra musical e literária de Chico Buarque, inegavelmente bela e admirável, mas desprovida da espada da Lei do Forte, que a Lei do Raulseixismo e a Alegria do Mundo.

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*CELLY CAMPELO & RAUL SEIXAS*

Quem tem boa memória e já passou dos 40 anos bem vividos, deve se lembrar muito bem de um programa de televisão, até bastante enfadonho, mas muito mais aprazível do que a maioria dos programas atuais da Tv brasileira, “ALMOÇO COM AS ESTRELAS”, que era apresentado, em São Paulo pelo casal Ayrton e Lolita Rodrigues. Um belo e inesperado dia apareceu por lá, quem diria, o velho cowboy foraRaul Seixas. Muito gordo, vestido de “São Pedro”. Depois de cantar uma música sua lavra maluco beleza, alguém lembrou que entre os convidados do programa estava Celly Campelo, a primeira cantora de rock do Brasil.

A monotonia característica do extinto programa virou uma festa de arromba. Raul Seixas puxou Celly pelo braço e mandou ver no repertório dela. Rocks “brabos” dos bons tempos como “Banho de Lua”, “Estúpido Cupido”, os quais Raul já houvera gravado no LP “20 ANOS DE ROCK”, rolaram com ele e Cdividindo os vocais. Na longínqua época citada, deste encontro alucinado e inusitado, cujas imagens até hoje ninguém se lembrou de resgatar, se é que ainda existem, um crítico de rock que assistira ao programa em casa, este teria sido o mais importante encontro da primeira e terceira geração do rock tupiniquim. Muito antes de Raul

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*CELLY CAMPELO & RAUL SEIXAS*

Quem tem boa memória e já passou 40 anos bem vividos, deve se lembrar

muito bem de um programa de televisão, até bastante enfadonho, mas muito mais aprazível do que a maioria dos programas

“ALMOÇO COM AS esentado, em São

Paulo pelo casal Ayrton e Lolita Rodrigues. Um belo e inesperado dia apareceu por lá, quem diria, o velho cowboy fora-da-lei Raul Seixas. Muito gordo, vestido de “São Pedro”. Depois de cantar uma música de sua lavra maluco beleza, alguém lembrou que entre os convidados do programa estava Celly Campelo, a primeira cantora

A monotonia característica do extinto Raul Seixas puxou Celly pelo

braço e mandou ver no repertório dela. Rocks “brabos” dos bons , os quais Raul já

, rolaram com ele e Celly dividindo os vocais. Na longínqua época citada, deste encontro alucinado e inusitado, cujas imagens até hoje ninguém se lembrou de resgatar, se é que ainda existem, um crítico de rock que assistira ao

este teria sido o mais importante encontro da primeira e terceira geração do rock tupiniquim. Muito antes de Raul

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seguir pelas estradas das almas solitárias e de se transformar no rei do rock nacional, antes mesmo de nossa Santa Rita Lee deixar Os Mutantes e partir para as trilhas do rock com o seu grupo Tutti Frutti, Celly era a artista mais importante e bem sucedida do rock brasileiro pré Jovem Guarda. Ela gravou apenas 6 álbuns em sua época áurea, que até hoje são disputados e passam de mão em mão a peso de ouro.

Mesmo sem ter muitos discos no mercado sem memória da indústria fonográfica, Celly Campelo nunca foi esquecida. Alguns de seus sucessos, como “Estúpido Cupido”, Túnel do Amor” e “Banho de Lua” fazem parte do inconsciente coletivo. Boa parte do repertorio de Celly tinha versões de Paul Anka e Neil Sedaka, feitas por Fred Jorge e uma de suas grandes influências era a Sapoti Ângela Maria, além das rainhas do pop americano, Brenda Lee e Connie Francis. No mesmo ano em que João Gilberto emplacou seu primeiro grande sucesso com “Chega de Saudade”, a cantora atingia o estrelato com apenas 16 anos ao lançar “Estúpido Cupido”, versão de um sucesso americano de Neil Sedaka. Celly começou na Rádio Nacional paulista com 15 anos de idade. Virou mania nacional. Foi eleita pela Revista do Rock, em 1960 a rainha do estilo inocente e imberbe. Cantando ingenuidades como “Túnel do Amor”, “Lacinhos Cor de Rosa” e “Broto Legal”, fez a alegria do público infanto-juvenil. Celly Campelo era tão popular que inspirou uma fábrica de brinquedos a criar uma boneca com seu nome e uma outra fábrica de chocolates chegou a lançar o bombom “CUPIDO”. Ela comandou ainda, o primeiro programa da TV brasileira dedicado ao rock, “CRUSH EM HI – FI”. Mas a própria Celly Campelo não queria viver como estrela: “Meu sonho era outro: casar, ter filhos e ser feliz ao lado da família” “Eu tinha talento para ser estrela, mas não para viver como estrela”.

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Celly saiu completamente de cena em 1962 para se casar com o contador Eduardo Chacon, seu namorado desde os 14 anos. Encantada com a vida pacata do interior, Celly referia-se aos anos de fama sem nenhum arrependimento. Colaborava com obras assistenciais, fazia pinturas e cuidava dos dois filhos e dos dois netos aos lado do marido, com quem viveu até o fim. Em 1968, Celly foi sondada para apresentar o programa Jovem Guarda, com Roberto Carlos e Erasmo. Não aceitou o convite e abriu espaço para o estrelato de Waderléia. Aliás, uma coisa que me intriga até os dias de hoje: quando Raul deu início ao grupo Raulzito e Os Panteras, Roberto Carlos fazia questão de ser acompanhado em seus shows pelo nordeste, somente pelo grupo de Raulzito, que na época era o conjunto mais caro da Bahia e hoje, ao falar dos áureos tempos nunca cita tal acontecimento e nem o nome de Raul Seixas, mesmo sabendo que Raulzito teve uma importância muito grande na época da Jovem Guarda, como produtor e compositor. Será que o Rei sem coroa tem o rei na barriga?. Celly Campelo morreu em Campinas, cidade paulista onde morava, numa terça-feira de carnaval, vítima de câncer, em 2003. Anos de tratamento reduziram o avanço da doença, mas não impediram a metástase óssea, que terminaria por tirar a vida da primeira artista mais importante e bem sucedida do rock brasileiro, mulher de uma dignidade ímpar.

*EU QUERO É QUE OS FRACOS SE FODAM. OS ESCRAVOS SERVIRÃO* (Raul Seixas)

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FILMOGRAFIA

1- RITMO ALUCINANTE/Globo Vídeo-1975-RJ (Filme que traz os melhores momentos e lances do FESTIVAL HOLLYWOOD ROCK, realizado no Rio de Janeiro/1975, com Raul Seixas e outros nomes: Rita Lee, Celly Campelo, Erasmo Carlos e O Peso)

2- 1993-Lançamento do curta-metragem de Tadeu Knudsen, “TANTA ESTRELA POR AÍ”, com Rita Lee vivendo o papel de Raulzito.

3- 1993-Curta-metragem de Jairo Ferreira, “METAMORFOSE AMBULANTE” e/ou “AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE THOR”, com participação de Toninho Buda e Sylvio Passos. 4- 1999-Vídeo, 35 min., “RAUL SEIXAS TAMBÉM É DOCUMENTO”/MZA MUSIC, produção executiva: Kika Seixas. No dia 11 de janeiro de 1999, em pleno verão carioca, acontece a estréia da peça teatral (monólogo), “RAUL FORA-DA-LEI”, no Teatro Plenário. No palco o ator Roberto Bontempo (conhecido por suas atuações no cinema, na televisão e no teatro), realiza um antigo sonho, um monólogo com textos originais do próprio Raul Seixas, escritos durante sua breve vida, que ajudaram a desvendar um pouco da controvertida personalidade deste que sempre será o mito do rock brasileiro. A produção da peça “RAUL FORA-DA-LEI” é do próprio Roberto Bontempo em parceria com a competente Analu Tanuri.

A direção é assinada pelo cineasta José Jofilly, em sua primeira incursão teatral. No filme “QUEM MATOU PIXOTE”, Jofilly incluiu na trilha sonora duas músicas de Raul Seixas: “A HORA DO TREM PASSAR” e “METAMORFOSE AMBULANTE”.

A peça “RAUL FORA-DA-LEI” conta ainda, com uma banda em

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cena executando ao vivo trechos de algumas das mais conhecidas músicas de Raul. É pena que esta peça não tenha feito muito sucesso e deixou de ser encenada.

Raulzito na telona

FORAM 200 HORAS DE FILMAGENS, CONDENSADAS EM UMA HORA E MEIA e com estréia marcada para o início de 2011.

O compositor baiano é o tema do documentário “Raul Seixas, o Começo, o Meio e o Fim”, dirigido por Walter Carvalho.

“Será Raul Seixas em overdose, será uma injeção de estriquinina na veia”, promete o diretor. Carvalho queimou os neurônios para

transformar as mais de 200 horas de material filmado ou pesquisado em uma hora e meia de filme. O diretor fez uma varredura pesquisando

imagens em arquivos de emissoras de TV, relíquias familiares e nos baús dos fãs.

Há material em Super 8, em vídeo, em VHS e em fotos. O filme está enraizado na trajetória de Raul, no grupo Raulzito e seus Panteras, na

parceria com Paulo Coelho, no seu jeito de compor, de intervir no palco, de se relacionar com os amigos, o público, as cinco companheiras e as três

filhas. Carvalho realizou filmagens em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, na Suíça e nos Estados Unidos.

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Woodstock Brasileiro O mundo comemora quatro décadas de Woodstock, a Tpm, os 30 anos do Festival de Águas Claras.

16.09.2009 | Texto por Luara Calvi Anic, de Iacanga Fotos Arquivo Pessoal*

O Festival de Águas Claras não existiu. Pergunte àquela tia riponga e ela vai te contar. Ou não. Aos moldes do Woodstock, cada uma das quatro edições reuniu mais de 30 mil pessoas sem memória. “Pra fazer esta matéria você vai ter que escavar as camadas mais ancestrais da cabeça de quem for entrevistar. É um tema apagado da memória pela Cannabis”, acredita a atriz Marisa Orth. Ela esteve lá e preservou a lembrança. Mas muita gente não lembra do que viveu ali. E quem não

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212 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide foi, pouco ouviu falar. Aos 16 anos, Marisa era virgem e não tinha escolhido ser bicho-grilo. Topou acompanhar a prima num show de três dias e, sem nunca ter montado uma barraca, partiu para a cidadezinha de Iacanga, a 376 quilômetros de São Paulo, onde aconteceu o festival. Arnaldo Baptista, ex-Mutante, não tem ideia do que se passou lá. “Infelizmente o Arnaldo não tem nenhum registro e também não se lembra do que ocorreu”, avisou Lucinha Barbosa, sua esposa, por e-mail. Acompanhando a banda Patrulha do Espaço, ele não conseguiu tocar. O músico passou exatas três horas em cima de uma árvore tocando flauta – jura de pé junto o iacanguense Nicolau Abdala Neto, um dos organizadores do festival.

Foi por Nicolau que Maria José Abdala Neto, paulista de Sorocaba, se apaixonou entre um show e outro. Até hoje, há exatos 30 anos, estão juntos – vivem em Iacanga desde 1979. Ela resume bem o clima do evento: “Todo mundo em paz, nenhuma briga. Deixava meu filho solto na multidão, sempre tinha alguém cuidando dele. Um tinha arroz, outro feijão. Todos se ajudavam”.

Marisa Orth se diverte lembrando dos dias em que passou na fazenda – garante que seus pais só a deixaram ir porque não tinham noção do que acontecia lá. “A maconha era absolutamente liberada, a moeda de troca”, conta. Apesar de o LSD também rolar, eram especialmente a maconha e os cogumelos que faziam a cabeça dos malucos. Na edição de maior sucesso, em 1981, o festival levou para a cidade artistas como Raul Seixas, Hermeto Paschoal, João Gilberto, Egberto Gismonti, Gilberto Gil, Alceu Valença e mais de 15 nomes do rock nacional e da música popular brasileira. Os shows começavam no fim da tarde e se estendiam pela madrugada. As quatro edições – 1975, 1981, 1983 e 1984 – são lembradas por muitos como a versão brasileira do Woodstock. Para o grande responsável, o ex-barbudo e hoje advogado Antonio Checchin Junior, o Leivinha, a festa foi “uma

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213 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide grande quermesse brasileira”. Hippie que é hippie não perdeu. O clima de quermesse a que se refere estava em atrações como o globo da morte, a competição de motocross, um balão colorido e os palhaços de perna de pau que bailavam durante o show de Egberto Gismonti. Na época, o cantor lançava o disco Circense. A apresentação de Egberto, Raulzito bebaço sem conseguir cantar e João Gilberto emudecendo a plateia diante do seu “dim dim dom” são os momentos mais lembrados. “João Gilberto tocou às cinco da manhã, chovendo e no meio da lama. Só tinha bêbado, chapado, o povo viajando, cheio de ácido na cabeça. E ele não parava de tocar!”, lembra Cláudio Prado, um dos organizadores do festival e ex-produtor de shows de bandas como Os Mutantes e Novos Baianos.

A folia toda aconteceu graças ao pai de Leivinha. Fazendeiro e dono de farmácia, ele queria que o filho – que aos 22 anos já tinha rodado meio mundo – se aquietasse no Brasil. Para “segurá-lo”, liberou a house party ao ar livre. Leivinha, envolvido com teatro e rodeado por amigos músicos, agilizou tudo. “O objetivo era abrir a cabeça dos jovens interioranos para a música brasileira”, explica o próprio. Tal qual o Woodstock, o que era para ser uma pequena apresentação no campo virou um festão. “Começou a chegar aquele povo que andava pelo Brasil inteiro, os hippies. Eles não carregavam nada, só bondade. Eram muito educados ”, recorda o ex-policial de Iacanga José Carlos Biondo, 53, enquanto varre as folhas da frente de sua casa.

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214 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

( Raul Seixas, Wanderléa e Leivinha, o cabeça do festival)

Na época em que José estava na ativa, a cidade tinha 3 mil habitantes (hoje tem 9 mil). Edgard Cantão, 45, músico e radialista de Iacanga, não se esquece da multidão – brasileiros e sul-americanos aos punhados – desembarcando na praça central. “No começo o povo estranhou, achava que os hippies comiam criancinhas”, conta, e garante que estava na praça quando Gilberto Gil chegou lá com sua banda. “Com aquela bolsinha de lado e o cabelo torneado, perguntou se podia fumar maconha. Eu disse que sim. ”Na primeira edição de Iacanga, 1975, dez anos antes do fim da ditadura, grandes shows ao ar livre não faziam parte do cotidiano da juventude, principalmente a interiorana. “O que aconteceria ali era uma incógnita para nós, da organização. A ideia de deixar a cidade cheia de gente estava no nosso imaginário, mas não tínhamos como medir de que tamanho seria aquilo”, conta Cláudio Prado, um dos organizadores. “O primeiro sinal de que ia rolar eram as bandas topando. Isso resultou numa

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215 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide avalanche de gente.” Raul Seixas ligou pessoalmente para Leivinha querendo participar. O músico, festejado mês passado por causa dos 20 anos de sua morte, na época era o rei da hipparada. O Maluco Beleza ganhou seu lugar no palco às cinco da manhã.

Bunda grande, peito pequeno A água era escassa e a comida também. Os mercadinhos de Iacanga não deram conta daquele mundaréu de gente em nenhuma das quatro edições do festival. O banho era no rio, o banheiro, ao natural, e as

vestes, mínimas. “Tinha um lago onde todo mundo nadava nu, menos eu”, garante Marisa Orth. “Lembro de um cara que andava pelado e

usava só uma bandana no pescoço. Ele se apaixonou por mim e eu era novinha, virgem, ficava superconstrangida!” A atriz lembra que, na

época, mulher bonita tinha cabelo crespo, bunda grande e peito pequeno – o modelo de beleza da Gal Costa.

Alceu Valença, que tocou na edição de 1981 e na época estava lançando o álbum Coração Bobo, se lembra bem dessas mulheres. “Eram lindas, gostosas. Iacanga tinha um clima de sonho, de delírio. Era uma coisa natural, não se usava camisinha, namorar era fácil. Arranjei muitas gatas nessa época”, conta o músico pernambucano.

Músicos topando, ingressos vendendo, Leivinha entendia de política e foi atrás de uma autorização dos militares. “No começo ouvi um ‘não’ do delegado da cidade. Fui para São Paulo e passei um mês esperando o coronel Erasmo Dias [secretário da Segurança Pública durante o regime militar] me atender. Mandaram, então, eu falar com Silvio Pereira Machado, delegado do Deops [Departamento de Ordem Política e Social]. Tive de assinar um termo atestando que o festival não teria nenhuma subversão ou apologia às drogas”, conta. Maria José, a que foi pra Iacanga e não voltou, se emociona ao relacionar o festival à ditadura: “Na escola não podíamos falar nada, dar opinião

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216 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide sobre o governo. No festival não se tocou na palavra ‘ditadura’ , mas aquilo era claramente um movimento de libertação”.

Sônia Abreu, uma das primeiras DJs de São Paulo e maluca beleza nos anos 70, sente saudades daqueles dias “pulsantes, de música o dia todo, paz e multidão”. Era ela quem, nos intervalos dos shows, acionava o play para soltar os hits de Woodstock: Joe Cocker, Jethro Tull, Janis Joplin. Enquanto a música soava nos alto-falantes, a moçada curtia a quermesse mais livre que o Brasil já teve.

* As fotos desta matéria fazem parte do arquivo pessoal de: Carlos Alberto de Carvalho Maria, Giséle Calvi Anic, Leivinha, Mário Thompson, Mauro Scarpinatti, Sétima Lua, Susi Tavares, Victor Gottez, Viviane Xavier Sacramento e Zé Brasil.

*Se você participou dos festivais, o documentarista Thiago Mattar está interessado na sua história. Entre em contato pelo e-mail [email protected]

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217 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Flyer do evento

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*Graças aos deuses da música, eu tive o prazer incomensurável de participar da loucura que foi o FESTIVAL DE ÁGUAS CLARAS. Lá estive e jamais apagarei da memória a sensação de viagem extraterrestre que tive nos dois Festivais em que estive presente na década de 80. Exatamente por ainda trazer viva na memória esta grande festa da música brasileira é que tomei a liberdade de emprestar este artigo, que é um verdadeiro documento e incluí-lo neste livro. Parabenizo os autores do mesmo, pois ao ler na internet tais memórias que o tempo jamais levará de mim, confesso que voltei ao meu tempo de adolescente maluco. Iacanga fica a mais ou menos 30 ou 40 kms. De distância da cidade de Bariri-SP, em cujo pequeno município eu

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218 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide residia na época em que ocorreram todas as edições do Festival de Águas Claras. Pobre, mais duro do que cacete de tarado e louco que era, decidi participar daquela loucura musical, daquele caos de gente, pois lá se apresentariam meus ídolos naquela época e que futuramente seriam meus amigos: RAUL SEIXAS, JORGE MAUTNER e LUIZ GONZAGA. Saí da cidade em que morava rumo à Iacanga, sem nenhum centavo no bolso e caminhei dia e noite, ora pegando carona na estrada, ora acompanhando uma multidão que caminhava a pé como eu para chegar ao paraíso. Todo o sofrimento e fome que passei para estar nas últimas duas edições do festival de Águas Claras valeram muito a pena, jamais sairá da minha lembrança a sensação de estar em pleno Woodstock brasileiro. Na penúltima edição do Festival (1983), eu já era casado e meu filho acabara de nascer. Eu, minha esposa e mais outras quatro pessoas amigas, botamos o pé na estrada novamente, sem dinheiro e sem sabermos se conseguiríamos adentrar à fazenda onde acontecia o Festival. Lembro-me que naquele ano eu tinha recebido do Paulo Coelho 10 exemplares do livro AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE THOR, lançado pela editora Shogun Arte, pertencente à sua esposa Christina Oiticica e hoje desativada, para divulgação e venda. Levei todos os livros para trocá-los com os ingressos para minha esposa e para uma prima dela que fora conosco. Nós homens resolvemos dar a volta em torno da fazenda e então burlaríamos o forte esquema de segurança e, sorrateiramente entraríamos para assistir ao Festival. Minha esposa e sua prima conseguiram trocar livros por ingressos e ainda venderam na entrada para raulseixistas exaltados, 8 exemplares do referido livro de Raul Seixas e levantaram uma grana extra para nos alimentarmos. Uma aventura da qual jamais me esquecerei e hoje, aos 52 anos de idade, eu repetiria tudo com a mesma vivacidade e alegria.

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219 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide AS MULHERES DA VIDA DE RAUL SEIXAS:

1) Edith Wiesner – viveu com Raul de 1967 à 1974

2) Glória Vaquer de 1975 à 1977,

3) Tania Mena Barreto de 1978 à 1979,

4) Angela Maria de Affonso Costa (Kika Seixas) de 1980 à 1984,

5) Lena Coutinho de 1985 à 1988.

(Tânia Menna Barreto, foi uma das mulheres de Raul Seixas e dividiu a parceria de duas músicas no disco Mata Virgem com Raul)

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220 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(GLÓRIA VAQUER, agora usando o nome Sky Keys e sua filha com Raul, Scarlet Seixas; ex-mulher gravou depoimento para documentário que estréia em 2011)

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221 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Raul Seixas e a fotógrafa Lena Coutinho. Lena foi, segundo o próprio Raul me confidenciou, sua mais complicada relação amorosa. Lena era extremamente ciumenta e

possessiva)

(Raul Seixas e Edith Wisner, em 1970

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222 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Raul Seixas e Kika Seixas. Kika foi, talvez, a mais influente das mulheres que Raul conheceu, parceira em algumas canções e mãe de sua terceira filha, Vivian, minhas

amigas e grandes divulgadoras do legado artístico de Raul)

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223 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide Conheça a Igreja Invisível, inspirada em Raul Seixas

Busca por estados alterados de consciência é feita com chá de gengibre. Organização está envolvida na luta

antimanicomial por Nathalia Lavigne

A casa de número 854 da rua Tonelero virou um intrigante mistério para a tradicional vizinhança da Vila Ipojuca, na Lapa. Com todas as janelas da extensa fachada vedadas, as únicas pistas do que acontece ali estão sobre a porta principal: um enigmático endereço do site Igreja Invisível.com, ao lado de uma estrela de oito pontas e a chave que Raul Seixas imortalizou como o símbolo da Sociedade Alternativa. No poste de luz em frente, desenhos do músico deixam a coisa ainda mais sinistra para quem já ouviu falar de sua a ligação com rituais de magia negra. Com nome inspirado na música “Pastor João e a Igreja Invisível”, a ii, como seus membros a chamam, também pode ser considerada um caminho alternativo. “As religiões tradicionais tentam sempre nos transformar no que a gente não é”, dá uma pista a atriz e publicitária Valéria Calado, que pertenceu ao Santo Daime antes de fundar a Igreja Invisível, em dezembro de 2007. A ideia de "terceira via" também é sugerida nos versos do hino inspirador: “Eu não sei se é o céu ou o inferno/ Qual dos dois você vai ter que encarar/ E foi para não lhe deixar no horror/ Que eu vim para lhe acalmar”, escreveu Raul Seixas. No último sábado (22), dia seguinte ao aniversário de 20 anos da morte do cantor, o grupo se reuniu para o que chamam de "experiência invisível", principal cerimônia da entidade. “É uma busca de estados alterados de consciência, cada pessoa experimenta o seu”, tenta explicar Valéria. É bom deixar claro que eles não usam nenhuma droga. “O único chá que vamos servir é de gengibre”, brinca a presidente da ii. Apesar de não se ater muito a rituais religiosos, a ii tem as portas abertas como às de qualquer igreja. E quem superar a desconfiança e tocar a campainha vai ver que não há nada de macabro ali dentro. Mas, desta vez, o mistério se fez mais claro para a

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224 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide vizinhança, que conseguia espiar parte da cerimônia na garagem da casa: “Por causa da gripe suína, vamos fazer a experiência invisível aqui fora ", explica Dennis Brandão, marido de Valéria. Instalada quase em frente a tradicional igreja de Santo Antonio do bairro desde o início do ano, a Igreja Invisível não segue nenhum preceito religioso – apesar de seus membros se definirem como cristãos e negarem ser agnósticos. Mistura de centro cultural e espaço terapêutico, a entidade está envolvida na luta antimanicomial e comanda ações sociais para portadores de doenças mentais. “Ninguém melhor que o Maluco Beleza para ser o mentor do nosso projeto", resume Dennis.

Santinho confeccionado na igreja invisível

Uma das iniciativas sociais da ii, que tem uma mini produtora de audiovisual no espaço, é o Projeto Carrano, em homenagem ao escritor Austregésilo Carrano, autor do livro Cantos dos Malditos, adaptado para o cinema no filme Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky. “ Ele foi uma vítima do sistema manicomial e da indústria farmacêutica", protesta Dennis, que era amigo do escritor, e usou seu nome para batizar o projeto de produzir dez curtas metragens protagonizados por pessoas com algum transtorno mental.

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225 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide Travestido de Raul, era ele quem comandava a experiência invisível aquele dia – na ausência de João, o encarregado de fazer as honras de pastor, tal como na música. “Ao final de quatro encontros teremos o personagem invisível, vamos conhecer o seu semblante. Tirem suas máscaras”, orientava Dennis, mesclando as técnicas de suas aulas de teatro com cromoterapia e música, enquanto alguns membros cuidavam dos preparativos, cortando os papéis do santinho invisível e incensando o ambiente. Encerrada a experiência, era a hora de fechar o encontro com o pocket show do grupo Exu do Raul. “Acredito que ele baixa em mim de verdade”, diz Dennis, justificando o nome da banda. Os versos da inédita música Gostei (“Por que que cristo não desceu lá do céu?/E o veneno só tem gosto de mel?”), parceria de Raul de Paulo Coelho e regravada na versão original na última semana, caíram muito bem no repertório. “É uma clara demostração de Raul com sua religiosidade invisível, retratando perguntas que fazemos todos os dias”, filosofa . Como dizem os integrantes da ii, “Acredite vindo”. (Matéria publicada pela Revista ÉPOCA e a qual decidi publicar neste livro na íntegra, pois, ao tomar conhecimento da existência da II e de São Invisível, eu não sabia se morria de rir ou se deixava o peito aberto para a entrada de uma forte revolta diante de tamanha insensatez humana. O casal que fundou a II, simplesmente são pessoas inteligentes, mas dotadas de desejos de exploração da fé alheia. Sabem que um monte de gente burra vai aderir à seita e vai adorar o invisível São Invisível. Assim ocorre em denominações religiosas já manjadas e reconhecidas, que deveriam também adotar como Santo protetor esse mesmo São Invisível. Que piada mais exdrúxula e sem pé nem cabeça. Acredito que a família de Raul Seixas e seus milhares de fãs e aqueles que cuidam de seu legado artístico e memória, tinham de se unirem e lutarem acirradamente para proibir este tipo de coisa e de arroubos imbecis como tais. Mas o povo brasileiro, prostrado de quatro ao falo do poder e da ignorância, vilupendiado em sua honra, não se apercebe diante de ignomínias deste naipe e, certamente, alimentará a ganância de seitas semelhantes. As filhas americanas de Raul, advogados responsáveis pelo espólio do baiano genial e até mesmo a senhora Kika Seixas, todos unidos, encetaram uma guerra

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226 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(EDMUNDO LEITE)

ilógica contra o jornalista Edmundo Leite e proibiram o lançamento de uma biografia que o jornalista pretendia lançar. Edmundo Leite passou alguns anos pesquisando a vida do compositor baiano, viajou aos E.U.A e a vários lugares para entrevistar amigos, familiares e fãs e realizou um dos mais honrados e brilhantes trabalhos biográficos da história da música brasileira. Tudo em vão, sua biografia foi sumariamente proibida pela família seixas e o jornalista ameaçado de processo caso continuasse em sua insanidade biográfica do mitológico Raul Seixas. Edmundo Leite esteve em São Carlos me entrevistando durante quase um dia inteiro. Fui aguardá-lo na rodoviária de São Carlos, sob uma chuva torrencial e em minha residência Edmundo vasculhou, fotografou e filmou o vasto material que guardo a sete chaves sobre Raulzito, conversamos horas a fio, bebemos pouco, almoçamos e Edmundo pareceu-me ser um profissional capacitado e ser humano honrado. À noite fomos levar o Edmundo à rodoviária, pois ele precisava retornar a São Paulo. Eu e meu irmão, Eliseu, que também participou da entrevista que o jornalista realizou comigo, conduzimos o Edmundo numa Perua Kombi de propriedade de meu irmão caindo aos pedaços. Acho que o Edmundo jamais passou por situação tão vexatória em sua vida de jornalista e pesquisador e até o fim da vida se lembrará deste fatídico dia em que ousou entrevistar um pobre coitado e desprovido de tudo como eu. Mas o Edmundo tornou-se um prezado amigo que fiz questão de colocar na galeria principal do meu coração. Por isto o que mais me indigna diante de tais acontecimentos é justamente o fato de a família seixas proibir um trabalho biográfico tão sério como este realizado pelo jornalista Edmundo Leite, mas

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227 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide permanecer calada e com o rabo entre as pernas no que tange à fundação da Igreja Invisível.

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LETRA BREGA/SERTANEJO – (sertanojo):

"UM AMOR VAI OUTRO VEM" Autor: Isaac Soares de Souza

Você quer ir embora vai, meu bem

Mas se você cruzar a porta, não terá mais volta Não vou me arrastar a seus pés

Como se no mundo não existisse mais ninguém Além de você, meu bem

Saiba que um amor vai outro vem No nosso amor perdi a fé

A paixão de outrora meu bem, agora, é coisa morta Nossa vida foi um pandemônio Um erro grave de matrimônio

Que o tempo desgastou Ainda te amo

mas não vou ser escravo desse amor Toda vez que a gente briga,

dissimulada e fingida Você diz que vai embora,

se descabela de ciúme e chora, Mas desfaz a mala na mesma hora

Depois você me isola e não faz amor comigo

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228 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Você é o meu castigo Quero acabar com essa situação agora

Você quer ir embora vai, meu bem, Não te quero mais nem pra fazer nenem...

RAUL SEIXAS – VERSÕES E “PLÁGIOS” – 1) I Want You (melodia “Cowboy Fora da Lei”) – Bob Dylan; 2) Xote das Meninas (trechos em “É Fim do Mês”) – Luiz Gonzaga; 3) Lucy In The Sky With Diamond (versão “Você Ainda Pode Sonhar”) – The Beatles; 4) Cambalache (versão “Cambalache”) – Tita Merello; 5) Slippi’n & Slidin’n (versão “Não Fosse o Cabral”) – Little Richard; 6) Bop-a-Lena (versão “Babilina”) – Ronnie Self; 7) I Will (versão “Um Minuto Mais”) – Dean Martin; 8) Killer Diller (versão “Rock das “Aranha”) – Jim Breedlove; 9) I Was Born About Ten Thousand Years Ago (inspirou “Há 10 Mil Anos Atrás”) – Elvis Presley; 10) Got My Feet On The Ground (melodia de “Eu Sou Eu Nicuri É o Diabo”) – The Kinks; 11) Willow Garden (versão “A Beira do Pantanal”) – Peter & Gordon; 12) Mr. Spaceman (versão “S.O.S.”) – The Byrds; 13) My Baby Left Me (inicio “A Verdade Sobre A Nostalgia”) – Arthur “Big Boy” Grudup; 14) No No Song (versão “Não Quero Mais Andar Na Contramão”) – Ringo Starr; 15) Obladi, Oblada (inicio “Peixuxa”) – The Beatles; 16) Here Tonight (Versão “Mas I Love You”) – Gene Clark; 17) Smokestack Lightning (inicio “As Minas do Rei Salomão”) – Howlin Wolf; 18) Sweet Home Chicago (semelhante “Canceriano Sem Lar”) – Blues Brothers; 19) Back In The USSR (versão “O Dia da Saudade”) – The Beatles; 20) How Many More Times (melodia “Loteria da Babilônia”) – Led Zeppelin; 21) Beach Boy Blues (versão “Na Rodoviária”) – Elvis Presley; 22) Aline (melodia do refrão em “Maluco Beleza”) –

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229 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Christophe ; 23) Friends Of Mine (melodia do refrão em “Se Ainda Existe Amor”) – The Zombies; 24) Kansas City (início e fim de “Super Heróis) – The Beatles.

*ORAÇÃO A RAUL SEIXAS*

RAUL nosso que estais nos céus, rogai por nós desertores e escravos do Monstro Sist. Venha a nós a vossa Sociedade Alternativa, agora ou na hora da nossa morte, amém! S.O.S!!!

Seja feita a vossa vontade, assim na Cidade das Estrelas, como no céu, a canção perdida e a vida nos concedei hoje.

S.O.S! E perdoai as nossas faltas, a nossa covardia, assim como perdoaste a quem não controla sua maluquez.

Livrai-nos do peso massacrante que o Monstro Sist nos impele a carregar.

Conduz essa legião de raulseixistas à Terra Prometida, no Trem 103 ou no Trem das 7, rumo à Cidade das Estrelas, a “cidade de cabeça-pra-baixo”, onde dinheiro é fruta que apodrece nos cachos e ninguém precisa fazer nenhuma coisa que não tenha vontade, exceto respeitar ao outro de verdade.

Nos outorgue o direito de habitar este jardim, dê-nos a chave dos portões desta iluminada cidade, onde a Lei de Telema é regida com hombridade e perdoai-nos por não seguirmos seus passos, pois, somos verbalóides e fracos.

Concedei-nos a suprema graça de receber de sermos como tu, carpinteiros do universo e de nós mesmos e dai-nos coragem para

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230 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

lutar contra os sistemas organizados.

Sabemos que o ódio não é o real, e sim a ausência do amor.

E a função do homem é amar e ser livre!

Viva a Sociedade Alternativa!

Viva a Siciedade Novo Aeon!

Os escravos servirão, AMÉM!!! - (Isaac Soares de Souza/1995)

ÊXITOÊXITOÊXITOÊXITO

Isaac Soares de Souza/Raul Seixas

Eu sou um sujeito triste,

Que desiste facilmente diante dos obstáculos vis,

Deitado à sombra do meu teto,

Não vivo, vegeto.

O vegetal é mais feliz

Vivo sem êxito na mais completa solidão

Este é o meu habitat, meu submundo,

Estou triste com os homens e o mundo

Estou triste com Deus,

Eu não sei quem sou eu,

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231 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Vira-lata vagabundo,

Caminhando a esmo,

À procura das migalhas e restos

Nas vielas e guetos

Não sou judeu, vermelho ou preto

Porque o ser humano não tem cor

Mas o preconceito não tem nacionalidade e também não tem cor

O preconceito simplesmente é humano

Viver sob esse estado de demência é um horror

Estou triste comigo mesmo

Eu, realmente, não sei nada,

Qual é a grande jogada?

Eu sei que existem limites

Que eu jamais conseguirei superar

Não consigo atingir o ápice

Quanta mediocridade,

Deus é o que me falta para compreender a verdade,

O caminho da felicidade?

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232 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

É vedado a mim provar tão doce cálice

Aos 45 anos tudo mudou para mim:

Não faço nada com vontade,

Tenho vontade de tocar rock nem de escrever,

Só quero dormir, hibernar...

Só sonhando sou mais feliz!

Pois, é chafurdado na solidão

Que trabalho contra os caretas do mundo,

Contra o torpor, a imprecação,

Contra a arapuca que nos foi armada,

Contra a religião, o Monstro Sist e suas ciladas,

Durante séculos vivemos conformados,

Escravizados, presos nela

Numa grande cela sem cancela,

E não conseguimos fugir dela

Por medo, ignorância ou covardia?

Comendo noite e dia o mesmo alpiste que nos dão...

(Poema baseado em textos do próprio Raul Seixas)

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233 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Estas três composições, inéditas no Brasil, foram gravadas em 1999, nos EUA, pelo ex-cunhado de Raul, Jay Vaquer, no CD de título

“RELEMBRANDO RAULZITO”.

TONY e FRANKIE

Raul Seixas/Jay Vaquer

Não fico mais aqui, seu moço

Por favor, me dê carona neste caminhão

Eu fico sempre aqui parado

Nunca faço nada para me adiantar

Agora vai ser diferente, vou seguir em frente

Sem me preocupar

Já passa das cinco da tarde

Vou me iluminar se eu vou ficar aqui

E antes que o galo cante que o sol levante

Eu tenho que seguir

Não fico mais aqui, seu moço

Por favor, me dê carona neste caminhão

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234 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*SEM VOCÊ**SEM VOCÊ**SEM VOCÊ**SEM VOCÊ*

Raul Seixas/Jay Vaquer

Jamais estive tão seguro de mim mesmo

Quando escolhi a letra certa do grande amor

Não é possível que meu coração me engane

O que ele sente é possivelmente amor

Isto é inveja, fruto vindo do infortúnio

De infelizes que o amor não conheceu

Se Deus quisesse que esse ciúme me deixasse

Não teria indicado com um presente seu

Uma paixão pode ser vista pelos olhos

Daquele alguém que traz um brilho interior

O nosso amor se corresponde muito atualmente

Nós somos surdos para o falso relator

A nossa vida tão completa de harmonia

Que não dá margem para o nosso amor morrer

Se desse ouvidos olha só a maldade vinha

Minha vida ao invés de cheia era vazia sem você

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235 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*ESCRAVOS DA TERRA**ESCRAVOS DA TERRA**ESCRAVOS DA TERRA**ESCRAVOS DA TERRA*

Raul Seixas/Jay Vaquer

A Terra deu tudo para o homem

Água limpa, ar puro e alimentação

E chuvas que molhavam qualquer plantação

O mundo inteiro vivia em harmonia

A natureza perfeita, dia após dia

Pintou o homem com o fogo na mão

Criou carros, represas e armas de destruição

Lá foi o ar e a àgua, contaminação

A Terra sabia transar com o homem

E agora os homens só podem ser

Escravos da terra

Para sobreviver

Escravos da terra

Senão a terra vai botar pra foder

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236 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(SILVIO BRITO: O MUNDO PAROU PARA ELE DESCER)

(FOTO: SILVIO BRITO-PaulinasCOMEP - Divulgação)

São poucos, quase raros os artistas que conseguiram imprimir uma marca tão forte na memória popular, perfazendo um logo caminho que soma quase 40 anos de carreira. Pois quando se fala de Silvio Brito, muitos se lembram de músicas como: “Ta Todo Mundo Louco”, “Espelho Mágico”, “Pare o Mundo Que Eu Quero Descer”, etc. Todos os que ouviram rádio ou viram TV nos anos 70 cantam com prazer pelos menos alguns versos de tão conhecidas canções. Quem é que não se recorda da engraçada e bem feira canção “Careca, Sem Dente e Pelado”? Seguramente, pode-se dizer que Silvio Brito é um caso raro neste meio, em que a música brasileira mergulhou num lodaçal de

repetição, pois ele se mantém único no gênero que adotou, de escrever letras geniais e

transformá-las em canções magníficas e que dizem muita coisa interessante,

ao contrário da grande maioria dos artistas atuais, interessados tão-somente em fazer sucesso, mas que se esquecem de que a música é cultura e um veículo que possibilita ao povo, aprendizado e alegria. Desde muito pequeno Silvio vem conseguindo esta façanha. Mineiro, vindo de uma família muito

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237 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

humilde e religiosa de Três Pontas, ele foi criado em Varginha, onde, com 2 anos de idade perdeu seu pai. Caçula dentre 5 irmãos, sempre gostou de música e logo quando ainda era uma criança, ganhou um violão de brinquedo. Com uma formação religiosa muito forte e norteadora, aos 6 anos, tornou-se coroinha. Daí em diante, teve a oportunidade de conhecer o padre Honório Link, que percebeu de imediato sua vocação musical e o encaminhou para participar do programa mirim da Rádio local, onde Silvio cantou durante três anos. Aos dez anos de idade, em Belo Horizonte, aconteceu com ele o que muita gente busca durante uma vida inteira: gravou seu primeiro disco. Com muito talento e luta constante, Silvio Brito literalmente estourou como cantor/compositor, criando músicas para grandes nomes como Vanusa e Ronnie Von. Mais tarde, apresentado ao Pe. Zezinho, scj. (que é o maior expoente da música sacra e evangélica, mesmo porque, a música não tem fronteiras, mas sim qualidade e mesmo dentro do contexto religioso, que foge completamente à proposta deste livro, Pe. Zezinho, scj., é um dos melhores poetas e compositores brasileiros), foi convidado por ele para trabalhar em conjunto na cidade de São Paulo, onde gravou pela primeira vez pela gravadora PaulinasCOMEP (gravadora católica). Vindo do grupo mineiro “OS APACHES”, em meados da década de 70, Silvio fez um enorme sucesso imitando à sua maneira própria o inimitável Raul Seixas. Em 1976, Raul chamou Silvio Brito de “chato” na música “EU TAMBÉM VOU RECLAMAR”, o que na verdade não se tratava de uma ofensa e sim de uma brincadeira do maluco beleza. Prova de sua qualidade e honradez como artista e ser humano é um currículo de fazer inveja a qualquer desses “astros de araque”, que vez ou outra infestam as paradas de sucesso com suas musiquinhas sem graça e sem nenhuma qualidade e que desaparecem da noite para o dia, que Silvio sustenta há quase 40 anos: gravou quase 40 discos, entre eles

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238 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

alguns premiados como discos de ouro, e se não bastasse, participou de alguns festivais internacionais, já foi apresentador da extinta TV TUPI e da TV Bandeirantes e SBT, também apresentou o programa “SILVIO BRITO SHOW”, na Rede Vida de Televisão. Sua poesia em forma de música já foi levada com sucesso para vários países como: Estados Unidos, Canadá, Portugal, França e Itália. O que faz de Silvio Brito um cantor e compositor brilhante e um homem antenado com as mazelas da vida, solidário e honrado, são as mensagens de paz e justiça que ecoam em nosso espírito, despertando-nos uma misteriosa vontade de repercutir solidariedade e amor para com o próximo. Ligado a estudos de parapsicologia, místico, homem de fé, Silvio Brito sempre trilhou por veredas certas, daí o seu carisma e espiritualidade acentuadamente notáveis. Silvio é um vencedor em todos os aspectos, é por essa razão simples e por que não dizer, ideológica? Que esse mineiro apaixonado pela vida e pela natureza, apesar de ser injustiçado, mesmo porque, sua obra musical é extremamente magnânima, decidiu parar tudo e descer na Terra dos seus sonhos e dedicou a Raul uma das mais belas e singelas homenagens, na bela canção “UM SONHO MALUCO “UM SONHO MALUCO “UM SONHO MALUCO “UM SONHO MALUCO –––– Com um abraço pro Raul”Com um abraço pro Raul”Com um abraço pro Raul”Com um abraço pro Raul”, parceria dele com Ivan Santos.

“UM SONHO MALUCO”

(Com um abraço pro Raul)

Silvio Brito/Ivan Santos

Essa noite eu tive um sonho esquisito

E até agora, eu não sei bem ao certo,

Se estava dormindo ou acordado

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239 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Dois seres de planeta distante,

Me diziam muito assustados

Que um anjo doido perambulava sem

Destino pelas estrelas do céu...

Com umas idéias malucas, que deixavam

O pessoal lá em cima pinel

Um cara rebelde, mas de alma e coração tão puros...

Com blusão de couro, barba e óculos escuro

Não, não pode ser ele!

Mas, se não for ele, quem será?

Por que será que as pessoas só reconhecem

Seus heróis e profetas, quando eles triunfam ou morrem?

E acendem suas velas aos santos, só quando

Se arrependem ou sofrem?

Um cowboy fora-da-lei, solitário, carente,

Mas muito irreverente...

Com a boca escancarada, cheia de dentes

E tirando o maior sarro da gente

Um cara rebelde, mas de alma e coração tão puros...

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240 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Com um blusão de couro, barba e óculos escuro

Não, não pode ser ele!

Mas, se não for ele quem será?

Pois então mande um recado pra ele:

Diz que por aqui não mudou quase nada,

Que além de tudo ele continua fazendo uma falta danada...

Pois então mande um recado pra ele:

Diz pra ele voltar de cabeça erguida,

Porque acima de tudo, aqui ele tem amigos,

Bebida, casa e comida...

*TÁ TODO MUNDO LOUCO**TÁ TODO MUNDO LOUCO**TÁ TODO MUNDO LOUCO**TÁ TODO MUNDO LOUCO*

SILVIO BRITO

Essa música foi feita num momento de depressão

Eu tava com o saco cheio, com raiva da vida,

Com raiva de tudo

Fiz essa música pra encher o saco de todo mundo

É uma música sem graça, sem métrica,

Sem rima, sem ritmo, com muitos erros de português

Ah, mas ninguém tem nada com isso

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241 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Porque a música é minha,

E eu faço dela o que eu quiser

Eu fiz tudo pra não fazer um plágio,

Mas ela saiu muito parecida com a música do RAUL SEIXAS

Ah, mas não tem nada, não, porque ela não foi feita

Pra fazer sucesso e nem pra ser apresentada

Em nenhum programa de televisão

Eu até coloquei uma frase em inglês

Pra valorizar a música: I LOVE YOU

É uma dessas músicas chatas, enjoadas, sem graça

Que a gente faz pra participar de festival

E você que ta ouvindo essa música

Não tem nada com isso

Deve ta me achando chato, enjoado

Não liga pr´isso não

Não liga pr´isso não

Não liga pr´isso não

É a cabeça, irmão

É a cabeça, irmão

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242 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

É a cabeça, irmão

Mas que confusão

É a cabeça, irmão

É a cabeça, irmão

Desafinação,

É a cabeça, irmão...

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243 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*SEUS ÍDOLOS E INFLUÊNCIAS*

*BOB DYLAN, THE HURRICANE*

(ROBERT ALLEN ZIMMERMAN, 24 de maio de 1941, (DULUTH, MINNESOTTA)

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244 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(PRODUTOR FONOGRÁFICO: DISCOS AMC LTDA. – LUIZ GONZAGA e JACKSON DO PANDEIRO) - Caricatura de

BATISTÃO, capa do CD “FORRÓ QUE NÃO ACABA MAIS”, Banda

Umbuzada (Forró Elétrico).

Tributo a Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, reis do baião e rei do ritmo. Reprodução: Isaac Soares de Souza.

***RAUL SEIXAS, Rei do Rock, entre os Reis do Baião e do Ritmo, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, influências marcantes na formação de Raul***

(O Maestro Miguel Cidras, grande amigo e parceiro de Raul, um dos raros maestros que entendiam o que Raul queria em termos musicais. Falecido,

mas que se tornou eterno na obra raulseixista.)

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245 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(ELVIS THE PELVIS) - Ilustração: Isaac Soares de Souza/1995

Elvis Aaron Presley (THE PELVIS), o primeiro grande astro do rock and roll, é a pedra fundamental da cultura pop. Elvis recebeu o título de Rei do Rock´n´roll, no início da sua trajetória e, como um rei viu seu império se alastrar pelos quatro cantos da Terra. Quando morreu, em 1977, era a segunda imagem mais reproduzida no mundo, depois de Mickey Mouse, o rato mais amado no planeta. Sua influência no rock é percebida até hoje. Elvis, The Pélvis, com sua música e sua sensibilidade foi um modelo para gerações de rebeldes sem causa, que cresceram com a fúria canina do rockbilly e se desiludiram ao vê-lo no Exército de Tio Sam e emaranhado na rede do famigerado e capitalista Coronel Thomas Andrew Parker. A grande influência que atirou Raul Seixas de encontro às raias da esquizofrenia, ainda menino lá em Salvador, levando-o a ser e a agir como um rebelde sem causa, protótipo de James Dean tupiniquim. Foi o Rei do Rock´n´Roll, Elvis Aaron Presley, o maior ídolo de Raulzito,

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246 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

ele sabia tudo a respeito do homem de Memphis e tinha tudo o que se possa imaginar sobre ele, quando Elvis morreu, a Rede Globo praticamente se mudou para a casa de Raul, à caça de informações, mas Raul negou-se veementemente a passar quaisquer coisas referentes ao Rei do Rock. Depois de servir o Exército, Elvis se deixou cair nas teias do Monstro Sist, transformando sua carreira num emaranhado de baboseiras musicais, mas, ele continuou vendendo discos como nunca se vira antes.

Alceu Valença, o moleque mamulengo pernambucano, outro dos gênios brasileiros, assumidamente influenciado por Elvis, chegou a declarar numa entrevista concedida a Revista Bizz: “Eu tenho uma ligação com o antigo rock, com os dois primeiros discos de Elvis Presley, que fizeram minha cabeça, os outros são tudo merda. Mas ficou em mim o que eu queria fazer, porque minha música é multiplicada, cada disco é uma surpresa...”

Raul Seixas nunca ocultou sua grande paixão por Elvis, que também esfriou quando ele percebeu que Elvis havia entregado os pontos e passou a nadar nas águas turvas do sistema. Mas conservava viva a influência, o aprendizado e o respeito total ao branco que colocou o ritmo negro no pedestal da História.

Elvis Presley, The Pélvis, The King of Rock and Roll, não credito à lendária figura a coroa do rock, pois Elvis nem compor suas próprias canções ele compunha, The Pelvis era apenas um bom intérprete. Na verdade, Elvis foi moldado a ferro e fogo para fazer o sucesso que fez e ainda faz. Havia naqueles anos dourados do rock and roll, uma leva de cantores negros e brancos, que mereciam muito mais do que ele o título de Rei do Rock. Teria sido muito mais justo,

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247 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

reluzente e cintilante, se a coroa de majestade do rock, tivesse sido colocada na cabeça de um Little Richard, de um Chuck Berry ou de um Jerry Lee Lewis, estes sim, merecedores e artistas de capacidade indiscutível.

Mesmo assim, glórias ao Rei Elvis, depois dele e por causa dele é que o planeta Terra foi sacudido pelo abalo sísmico casado pelo rock´ n ´roll. Arrastada pelo ritmo tribal, sexual e obsceno, a juventude comportadinha se viu transviada e enlouquecida e ousou então, desafiar os pais e o sistema, a religião e a sociedade. E o mundo acabou se curvando diante do endiabrado Sr. ELVIS PRESLEY.

(ALCEU VALENÇA & ELISEU SOARES DE SOUZA - SESC SÃO CARLOS-SP/1997) Alceu, grande admirador da obra de Raul Seixas, recebeu das mãos de Eliseu um exemplar do livro “RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO”

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

reluzente e cintilante, se a coroa de majestade do rock, tivesse sido colocada na cabeça de um Little Richard, de um Chuck Berry ou de

wis, estes sim, merecedores e artistas de capacidade

Mesmo assim, glórias ao Rei Elvis, depois dele e por causa dele é que o planeta Terra foi sacudido pelo abalo sísmico casado pelo

rrastada pelo ritmo tribal, sexual e obsceno, a juventude comportadinha se viu transviada e enlouquecida e ousou então, desafiar os pais e o sistema, a religião e a sociedade. E o mundo

brado Sr. ELVIS PRESLEY.

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248 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Ilustração: Isaac Soares de Souza) - CHUCK BERRY, um dos príncipes do rock e influência marcante na carreira de Raul Seixas.

(LENNON & RAUL SEIXAS - Ilustração: Isaac Soares de Souza/1995 - Raul considerava John Lennon um intelectual)

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249 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Nos anos 70, na Boate Bad Bob (BOB MALVADO) na Geórgia, Jrry Lee Lewis, Raul, Paulo Coelho, Adalgisa Rios e Edith Wisner tomaram Bourbon juntos. Completamente bêbado, The Killer acompanhou ao piano o mago maluco beleza, que atacou de LONG TALL SALLY) – Ilustração: Isaac Soares de Souza

(Em uma de suas estadas no Brasil há anos, entrevistado por jornalistas, Jerry Lee Lewis, ao ser indagado se se lembrava de ter tocado piano enquanto Raul cantava nos EUA, numa boate em que The Killer se apresentava, afirmou que não se lembrava de nada e que nunca ouvira falar em Raul Seixas.)

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250 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

“COMO VOVÓ JÁ DIZIA”, foi escrita originalmente, em 1973, com o título de “ÓCULOS ESCURO” e proibida pela Censura no mesmo ano”

“ÓCULOS ESCURO” “ÓCULOS ESCURO” “ÓCULOS ESCURO” “ÓCULOS ESCURO” –––– COMO VOVÓ JÁ DIZIACOMO VOVÓ JÁ DIZIACOMO VOVÓ JÁ DIZIACOMO VOVÓ JÁ DIZIA

Raul Seixas

Essa luz é muito forte

Tenho medo de cegar

Os meus olhos estão machucados

Com teus raios de luar

Eu deixei a vela acesa

Para a bruxa não voltar

Acendi a luz de dia

Para a noite não chiar

Já bebi daquela água

Quero agora vomitar

Uma vez a gente aceita

Duas vezes tem que reclamar

A serpente está na terra

O programa está no ar

Vim de longe de outra terra

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251 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Pra morder teu calcanhar

Esta noite eu tive um sonho

Eu queria me matar

Com dois galos a galinha

Não tem tempo de chocar

Tanto pé na nossa frente

Que não sabe como andar (comandar)

Quem não tem colírio usa óculos escuro

Quem não tem colírio usa óculos escuro

Quem não tem papel dá o recado pelo muro

Quem não presente

Se conforma com o futuro

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252 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(O Profeta NOSTRADAMUS, fonte inspiradora de canções da lavra (O Profeta NOSTRADAMUS, fonte inspiradora de canções da lavra (O Profeta NOSTRADAMUS, fonte inspiradora de canções da lavra (O Profeta NOSTRADAMUS, fonte inspiradora de canções da lavra raulseixista, zéramalheana e dusekeana)raulseixista, zéramalheana e dusekeana)raulseixista, zéramalheana e dusekeana)raulseixista, zéramalheana e dusekeana)

“NINGUÉM MORRE, AS PESSOAS DESPERTAM DO SONHO DA

VIDA”

“EU QUERO QUE OS FRACOS SE FODAM... OS ESCRAVOS SERVIRÃO”

POR QUÊ NASCEMOS PARA AMAR, SE VAMOS MORRER? POR QUÊ MORRER SE AMAMOS? POR QUÊ FALTA SENTIDO AO SENTIDO DE

VIVER, AMAR, MORRER?

“SONHO QUE SE SONHA SÓ É SÓ UM SONHO QUE SE SONHA SÓ, MAS SONHO QUE SE SONHA JUNTO É REALIDA

NÃO SOU MELHOR NEM PIOR QUE NINGUÉM PORQUE SOU ÚNICO”

(RAUL SEIXAS)(RAUL SEIXAS)(RAUL SEIXAS)(RAUL SEIXAS)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(O Profeta NOSTRADAMUS, fonte inspiradora de canções da lavra (O Profeta NOSTRADAMUS, fonte inspiradora de canções da lavra (O Profeta NOSTRADAMUS, fonte inspiradora de canções da lavra (O Profeta NOSTRADAMUS, fonte inspiradora de canções da lavra

“NINGUÉM MORRE, AS PESSOAS DESPERTAM DO SONHO DA

“EU QUERO QUE OS FRACOS SE FODAM... OS ESCRAVOS

QUÊ NASCEMOS PARA AMAR, SE VAMOS MORRER? POR QUÊ MORRER SE AMAMOS? POR QUÊ FALTA SENTIDO AO SENTIDO DE

“SONHO QUE SE SONHA SÓ É SÓ UM SONHO QUE SE SONHA SÓ, MAS SONHO QUE SE SONHA JUNTO É REALIDADE”

NÃO SOU MELHOR NEM PIOR QUE NINGUÉM PORQUE SOU ÚNICO”

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253 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*UM BAÚ CHEIO DE NOVIDADES*

Em 1998, transcorridos 9 anos da morte do maior e mas corrosivo e criativo compositor do Século XX, Raul Seixas (1945-1989), o baiano que falava melhor inglês do que a própria língua, e exalava rock and roll e rebeldia por todos os poros, batendo recordes de vendagens mesmo depois de falecido, um dos maiores fenômenos da música brasileira e mundial, continuava mais vivo do nunca. Seus admiradores não podem se queixar da falta de novidades sobre o ídolo: a cada ano transcorrido, discos e livros são lançados e as homenagens acontecem em todo o país. A única entidade que ainda deve muito à memória de Raul, é a entidade cinematográfica brasileira, que até a presente data, ainda não se decidiu a fazer um longa-metragem sobre o mago baiano. Artistas de menor importância já tiveram sua vida toda retratada no cinema, por que não Raul? Raul Seixas é uma lenda viva, e em 1998, quando se completavam 9 anos de sua partida, o produtor Marco Mazzola, Kika Seixas e a MZA Music, em parceria com a Polygram, uniram-se para produzir e editar o CD “RAUL SEIXAS DOCUMENTO”, com 14 músicas inéditas, a maioria delas cantadas em inglês, para homenagear o rei do rock tupiniquim e, finalmente um disco póstumo que merece ser incluso em sua discografia oficial. Além do CD, em agosto daquele ano, saiu também um vídeo inédito de Raul, acompanhado de um livro recheado de fotos inéditas. “RAUL SEIXAS DOCUMENTO” traduziu todo o potencial raulseixista de interpretar seus grandes sucessos em inglês e sintetizava também, um antigo sonho de Raul, que era gravar um disco em inglês. Entre as 14 canções que integram o CD duas merecem destaque absoluto: “FAÇA, FUCE, FORCE”, desconhecida e inédita, trata-se de blues com uma letra mais do que atual e bem

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elaborada, que certamente servirá de lenitivo para as almas solitárias de plantão na solidão da vida, ajudando-os a exorcizar os seus fantasmas fantasiados de Al Capone, nas noites tenebrosas em que os tais têm medo de gangsters. “WHITE WINGS”, uma versão belíssima para o clássico de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, “ASA BRANCA”, cujo fonograma foi cedido pela gravadora EMI-Copacabana, que estava arquivado. “WHITE WINGS” acabou ficando de fora de um dos discos que Raul gravou pela Copacabana, um country que certamente, se fosse bem divulgado lá fora, seria sucesso absoluto nas paradas norte-americanas e que deixaria até mesmo Mr. Bob Dylan de queixo caído. Em 1972, Marco Mazzola conheceu Raul Seixas e começou a produzir seus discos. Segundo palavra do próprio Mazzola, em suas conversas Raul sempre afirmava que seu sonho era gravar um disco com versões em inglês. Em 1994, Mazzola procurou o então diretor de marketing da Polygram, Marcelo Castelo Branco, com o material em K-7, propondo este projeto que finalmente, em 1998 chegava em forma de CD às mãos de milhares de raulseixistas. Antes, porém, Mazzola procurou Kika Seixas e convidou-a a ouvir todo o material inédito. A partir daí, Mazzola assumiu o projeto com a aprovação de Kika e a ajuda do velho Baú do Raul, onde existiam algumas letras originais de 23 anos atrás.

As gravações foram feitas originalmente em 4 e 8 canais. Retiradas as vozes e os violões do Raul foi feito um tratamento técnico, as vozes remasterizadas, devido ao mal estado de conservação dos tapes. Mazzola aproveitou então, os instrumentos de Jackson do Pandeiro, Chiquinho do Acordeon e vocais dos Golden Boys, entre outros. Foram convocados os mesmos músicos que, durante aquele período de 73/76 gravaram com Raul. Fato curioso é

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que um dos mesmos músicos convocados naquele ano de 1998, era comandante de uma grande empresa de aviação. Transferidas as vozes e violões para 48 canais, foi iniciado o processo de regravação dos arranjos originais, que foram transcritos por J. Moraes, em virtude de não ter sido encontrado o Arranjador que sempre acompanhou Raulzito, o genial maestro Miguel Cidras.

“CHECK UP”, música vetada pela censura em 1973, “SE O RÁDIO NÃO TOCA” e “ROCKIXE”, são versões inéditas.

A música “LET ME SING...”, finalíssima em 1972, no VII FIC tinha que entrar neste CD-DOCUMENTO, porque foi a partir daí que tudo começou para Raulzito. Em “BLUE MOON OF KENTUCKY”, Raul dá um show criando o que veio a ser a sua marca registrada: o Forrock. “LOVE IS MAGIK”, música que anteriormente teve sua letra censurada, ganhou um novo arranjo de cordas. Fã confesso desde garoto de Luiz Gonzaga, em 1987, Raul gravou “WHITE WINGS”, uma versão com a poesia e as cores do autor original. Ela foi gravada pela Copacabana Records, mas não saiu em nenhum dos discos que Raul gravou. Nela foi feito o mesmo tratamento técnico musical das faixas anteriores.

“FAÇA, FUCE, FORCE” é outra música inédita e uma surpresa dentro deste CD. Finalmente em “É FIM DE MÊS”, utilizou-se somente a voz de Raul e a base, ganhou uma roupagem nova. Kika entregou a Mazzola uma fita K-7 em que Raul registrou, num velho gravador sua filha Vivian Seixas com 1 mês de idade e fez questão de fazer ao produtor Mazzola uma dedicatória. A certeza da integridade e da legitimidade deste projeto, está na concretização de um velho sonho de Raulzito e na qualidade do projeto, que é um dos mais arrojados e sérios projetos musicais da década de 90. Raul é uma lenda viva e

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jamais me cansarei de repetir tais palavras, mesmo depois de morto continua surpreendendo o meio musical e tomando de assalto os milhares de raulseixistas.

(FAÇA, FUCE, FORCE)

Raul Seixas

Faça, Fuce, Force, mas

Não fique na fossa

Faça, Fuce, Force, mas

Não chore na porta

Faça, Fuce, Force, vá

Derrube esta porta

Trace, fuce, force, vá

Que essa chave é torta

(Os meus fantasmas são incríveis, fantásticos, extraordinários

Se fantasiam de Al Capone nas noites que tenho medo de gangsters

Abusam da minha tendência mística,

Sempre que possível...

Os meus fantasmas transformaram a minha solidão em vício

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257 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

E a minha solução em Status Quo)

Faça, Fuce, Force, mas não fique na fossa

Faça, Fuce, Force, mas não chore atrás da porta

Faça, Fuce, Force, vá, derrube esta porta

Faça, Fuce, Force, vá, que esta chave é torta

(Feliz por saber que eu só sei que não sei

E quem sabe não fala, não diz

Vida, alguma coisa acontece

Morte, alguma coisa pode acontecer

Que o mel é doce, é coisa que me nego a afirmar

Mas que parece doce, isso afirmo plenamente)

Faça, Fuce, Force

Faça, Fuce, Force...

(AINDA (AINDA (AINDA (AINDA QUEIMA A ESPERANÇA)QUEIMA A ESPERANÇA)QUEIMA A ESPERANÇA)QUEIMA A ESPERANÇA)

Raulzito/Mauro Motta

Uma vela está queimando

Hoje é o nosso aniversário

Está fazendo hoje um ano

Que você me disse adeus

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258 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Eu não sei se nessa chama

Ainda queima a esperança

Eu só sei que a saudade

Ainda queima o coração

Meus parabéns agora, e feliz aniversário amor

Está feliz agora, depois que tudo acabou

Depois que tudo acabou

Todo dia é o mesmo dia

Toda hora é qualquer hora;

Quanto tempo eu vou viver

Sem esquecer o seu amor?

Sua história mal contada

Não me sai do pensamento

Eu bem sei que foi desculpa

Teve alguém em meu lugar

Meus parabéns agora, e feliz aniversário amor

Está feliz agora, depois que tudo acabou,

Depois que tudo acabou....

(Ainda Queima a Esperança, música gravada inicialmente pela cantora Diana. Até hoje é sucesso e muitos artistas regravam ainda essa demonstração de pura

música estilo “Zé-povinho”, que é cria de Raul Seixas e Mauro Motta.)

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*SE O RÁDIO NÃO TOCA*

Raul Seixas/Paulo Coelho

Se o rádio não toca

A música que você quer ouvir

Não procure dançar

Ao som daquela antiga valsa

Não, não, não, não,

É muito simples

É muito simples

É só mudar de estação

É só girar o botão

Se o carro não pára

Na porta de quem sabe te curtir

Não procure entrar

Na casa da vizinha

Não, não, não, não,

É muito simples

É muito simples

Eu puxo o freio de mão

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Mudando a direção

É só mudar de estação...

(Nunca uma música tão velha foi tão atual como esta. Se hoje você não ouve no rádio a musica que você quer ouvir, foda-se você, que é o único culpado de tanta porcaria irritando seu tímpano. É muito simples, é só mudar de estação, é só girar o botão, que não é necessariamente, só o botão do rádio, isso é só uma metáfora, gire o botão da vida e mude de estação, saia desse estado

vegetativo...)

(O amigo GÉ, raulseixista até a medula e sua esposa Andréia e os filhos Stefane e Luiz ao lado do amigo Roberto Seixas. Jeferson (Gé) comanda e pilota o famoso BAR DO MUGIGUITA, antro de raulseixistas e roqueiros de várias tribos, no Bar do Mugiguita a amizade regada à muito rock´n´roll e Raul Seixas flui e encanta a todos. Mugiguita era

o apelido do pai do nosso amigo Gé, já falecido e em homenagem a seu pai, Gé continua atrás do balcão.)

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*ROBERTO SEIXAS*

Raul Seixas já dizia: “Minha espada é a guitarra na mão, quero ver Beethoven fazer aquilo que Chuck Berry faz!...

-ELOS DE LIGAÇÃO-

Elvis foi quem transformou o blues em rock´n ´roll pela primeira vez na história. No Brasil mais precisamente em Salvador, um baiano maluco beleza, que residia ao lado do Consulado Americano, foi terrivelmente influenciado por Elvis e se transformou no Rei do Rock Tupiniquim, “RAUL ROCK SEIXAS”. Apesar de que em tempos atuais o rock ter deixado a nítida impressão de que foi vergastado por uma infinidade de tendências musicais, algumas deploráveis e inaudíveis e de que não passa de um veículo propagador da violência e da depressão, ódio, miséria e nazismo e demonismo, o rock de Raul Seixas continua vivo e expressivo. O rock tem cara de bicho-papão, mas é, na verdade uma válvula de escape por onde a juventude do planeta inteiro pode se manifestar livremente, aos quatro ventos, seu direito inalienável à liberdade de expressão. Quem não se lembra do suicídio do babaca do Kurt Cobain, o líder do NIRVANA? Quantos outros rockeiros se matarão ainda e deixarão perpetuadas suas idéias errôneas à respeito da vida? Quantos jovens ainda se deixarão levar pelo falso discurso desses tontos, traficantes de torpes influências. É esta a juventude que quer mudar o mundo? E agora Drummond, só tem calhordas e covardes no front... Os urros de inconformismo da juventude ecoa em toda a Terra e nada mais é do uma escarrada na cara do Monstro Sist. Só que, a juventude seguidora do ritmo tribal, filho do blues, alcunhado de rock, enveredou por caminhos tortuosos, interpreta e muito mal, as mensagens dos seus ídolos. O que os

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grandes porta-vozes do rock queriam e querem, na realidade, era despertar o lado reivindicatório e o espírito de luta, em cada jovem, em cada homem. Eles só queriam contar para os miseráveis que já nasceram com cara de abortados, como dizia o poeta destrambelhado de Ipanema, Cazuza: Pedir piedade para essa gente careta e covarde. Nossos ídolos morreram de overdose, assassinados, outros se mataram covardemente, alguns abdicaram e outros acabaram no esquecimento. Esta gigantesca e descomunal avalanche de tristes acontecimentos envolvendo nossos ídolos, é a prova cabal de que estamos perdidos, pois eles desistiram de lutar sozinhos no front.

Raul Seixas foi o último dos moicanos, sempre segurava nossas mãos quando elas fraquejavam, uno e único, nunca fez parte desta linha evolutiva da MPB, mas morreu triste como Carlos Drummond de Andrade, porque ele sabia que sua mensagem de paz e igualdade, ainda não encontraria terreno fértil para dar frutos e que o homem sofreria conseqüências drásticas até que a assimilasse e tivesse coragem suficiente para exigir a transformação de todos os valores, o que ainda perdurará por séculos vindouros. Raul imprimiu tão catastroficamente seu estilo próprio às suas composições, que dificilmente elas tinham significado ou aura nas interpretações de outros artistas que ousaram regravar suas canções. Raul não morreu e mais vivo do que nunca, ressurgiu das cinzas, imitado e copiado descaradamente por dezenas de pretensos imitadores. Todo mundo sabe que cover quer dizer capa, tampa. Talvez por isso mesmo, nenhum cover seja digno de elogios. Tudo bem, até concordo que esta seja uma das melhores formas de preservação da memória e da obra desse gênio imortal, mas existem alguns “covers” por aí, espalhados pelo Brasil todo, que merecem umas boas palmadas nas

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nádegas cagadas. Mas, como dizem os fãs: Tudo é válido para lembrar a performance do maior pensador do século dentro do contexto musical. Mas que é um pé nos testículos, lá isto é...

Entre os vários imitadores de Raul Seixas, há uma exceção: ROBERTO SEIXAS. Ele obteve em Cartório, junto aos pais de Raul, o direito de usar o sobrenome Seixas. E tem mais: Roberto Seixas começou a imitar o ídolo Raul, em 1987, dois anos antes de sua morte, o que já derruba a idéia e a suspeita de oportunismo. Roberto Seixas é parecidíssimo com Raul Seixas, fisionomicamente falando, é óbvio, porque na voz Raul é inimitável.. Mas Roberto Seixas, além de se tratar de uma das figuras humanas mais dignas e honradas que já tive o prazer de conhecer e cuja amizade perdura através dos anos, trata-se de um ótimo músico, cantor e compositor de primeira linhagem. Um injustiçado, merecia maior destaque na mídia falada, escrita e televisionada. Residente em São Paulo, músico por vocação e maluco por opção, como ele mesmo faz questão de frisar, porém lúcido na arte de transmitir ao público a mensagem de Raulzito, a qual vem difundindo desde 1987, uma obra chamada Sociedade Alternativa. Em 1989 com a morte de Raul, todos pensaram que o sonho tinha acabado, mas o sonho continua no trabalho inigualável de Roberto Seixas. Com uma semelhança física e vocal vistas à olhos perscrutadores, além de fã incondicional de Raulzito, Roberto Seixas apresenta um show de altíssimo nível, onde é acompanhado por sua banda sempre afinada. Um verdadeiro representante de Raul Seixas aqui na Terra.

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*O NADA DEVE EXISTIR*

Roberto Seixas/Raul Seixas

Eu hoje senti

Apesar de pensando

E compreendi também, ora bolas,

O que era Deus,

Ele está em mim

Sou eu

E eu não estou Nele, ora pois,

Ele é o tudo e ao mesmo tempo o nada,

Eu preciso utilizar das minhas

As suas palavras

Ele é a própria existência

Do tudo ou do nada, digo pois,

O nada deve existir

Hoje senti mesmo

O quanto eu sou vil e orgulhoso, digo pois,

Mal e vi por outro lado

Meu amor, minha humildade, meus lados

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265 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Eu sei o que sou

Acho que isto que houve hoje

É um primeiro passo

Para ser

De ser o homem que sou

Sem rancor por nada

Pois, talvez o meu orgulho tão cego

Nessa noite rendeu-se

Ao amor que me foi dado

Por este clarão que eu senti

(Letra inédita de Raul Seixas, musicada por Roberto Seixas e gravada no CD “ROBERTO ROCK SEIXAS”, seu segundo disco.)

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266 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*CÓPIA DA AUTORIZAÇÃO ASSINADA EM CARTÓRIO PELOS PAIS DE RAUL, OUTORGANDO A ROBERTO SEIXAS O DIREITO LEGAL DE INCLUIR O SOBRENOME “SEIXAS” EM SEU NOME ARTÍSTICO.*

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267 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(RAUL SANTOS SEIXAS -THE KING OF ROCK´N´ROLL-) – Ilustração: Isaac Soares de Souza/1995

*NÃO SOU CANTOR NEM COMPOSITOR, USO A MÚSICA PARA DIZER O QUE PENSO.*

*EU SOU O INÍCIO, O FIM E O MEIO... “LUAR” É MEU NOME AOS AVESSOS, NÃO TEM FIM NEM COMEÇO.*

*OS HOMENS PASSAM AS MÚSICAS FICAM.*

*1945 / +1989 (RAUL SEIXAS)

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268 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(ISAAC SOARES DE SOUZA, ZÉ RAMALHO & O POETA ELIEZER SOARES (ISAAC SOARES DE SOUZA, ZÉ RAMALHO & O POETA ELIEZER SOARES (ISAAC SOARES DE SOUZA, ZÉ RAMALHO & O POETA ELIEZER SOARES (ISAAC SOARES DE SOUZA, ZÉ RAMALHO & O POETA ELIEZER SOARES DE SOUZADE SOUZADE SOUZADE SOUZA))))

(O POETA) - Para Raul Seixas/1995

Isaac Soares de Souza

Não perturbes o poeta

Em seu alçapão de cismas proféticas

Deixes tranqüilo o poeta,

Em meio aos destroços

Dos calabouços e poços,

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(ISAAC SOARES DE SOUZA, ZÉ RAMALHO & O POETA ELIEZER SOARES (ISAAC SOARES DE SOUZA, ZÉ RAMALHO & O POETA ELIEZER SOARES (ISAAC SOARES DE SOUZA, ZÉ RAMALHO & O POETA ELIEZER SOARES (ISAAC SOARES DE SOUZA, ZÉ RAMALHO & O POETA ELIEZER SOARES

Para Raul Seixas/1995

Em seu alçapão de cismas proféticas

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269 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Que circundam a terra escaldada

Por suas mãos despedaçadas

De lavrar a poesia!

Sementeiras férteis

Alfabeto dos inertes:

Poemas, prosa e sonetos

Ruas, campos, cidades e guetos,

Todas as coisas ainda informes,

São geradas nas folha de papel em branco que o poeta rabisca

E de traços rabiscados vem à luz a vida,

O sonho e o pesadelo

e o impossível se torna real

Enquanto os homens comem e bebem

E matam e se matam pelo dinheiro

Enquanto as águias dormem nos penedos

O poeta acorda mais cedo

Inadiável compromisso de escrever a vida!

Respeita o poeta

No momento de angústia procurado, imerso

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E as dores que ele abriga,

Na cor de sangue dos seus versos!!!

*GRANDES NOMES DA MPB REGRAVARAM GRANDES NOMES DA MPB REGRAVARAM GRANDES NOMES DA MPB REGRAVARAM GRANDES NOMES DA MPB REGRAVARAM COMPOSIÇÕES DE RAUL SEIXAS*COMPOSIÇÕES DE RAUL SEIXAS*COMPOSIÇÕES DE RAUL SEIXAS*COMPOSIÇÕES DE RAUL SEIXAS*

A importância e penetração da obra musical e filosófica de Raul Seixas, em épocas diferentes e estilos os mais variados imagináveis, tornaram-se imprescindíveis para a MPB e para o registro de sua história. Vários artistas regravaram muitas das obras musicais de Raul, grandes ídolos da música brasileira e uma turba de aproveitadores, que jamais tiveram nenhuma ligação artística com o raulseixismo entraram na fila de nomes que regravaram suas composições. Mesmo quando Raul compunha qualquer música com parceiros diferentes, desde a época em que atuou como produtor na década de 60/70, ele já entregava pronto aos seus parceiros, quase que 70% de uma música qualquer.

A música, para Raul não tinha fronteiras, mas convenhamos, uma enxurrada de artistas inexpressíveis e babacas, ao regravar seus antigos sucessos culminaram no paredão da morte musical, no qual já vivia encostada há anos, esperando a “execução pública”. Exemplo fatídico é o caso de várias duplas sertanejas, em gravações bizarras e inaudíveis, desenterraram o monstro da imbecilidade musical, com suas vozes esganiçadas. As gravações sertanejas dos grandes sucessos de Raul, não poderão jamais ser consideradas como homenagens e sim um feito descabido, de puro e óbvio oportunismo.

O mais influente dos roqueiros brasileiros, em vez de ser homenageado e lembrado sempre, reverenciado com respeito, teve parte de sua obra, execrada, violentada e vituperada por uma corja

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de aproveitadores e astutos produtores musicais. Uma total e descarada falta de compostura e reconhecimento para com aquele que foi e sempre será o retrato vivo do único artista brasileiro livre, lúcido e lírico.

Se nome é LUAR aos avessos, não tem fim nem começo -RAUL-.

Tão-somente alguns e raros nomes que regravaram Raul Seixas merecem destaque no cenário suspeito das homenagens pós-morte, pois reconheceram no trabalho musical de Raul uma vergastada do mais límpido amor e preocupação com a vida, com o homem e com o planeta.

*FALCÃO, O REI DO ESCRACHO*

(FOTO: FALCÃO – BMG)

“Eu gostaria de participar de um disco tributo com -TU ÉS O MDC DA MINHA VIDA-. Raul fez muitas músicas que eram para eu ter feito”. (Falcão)

Falcão parece ter adotado definitivamente o sarcasmo como linha única de seu trabalho humorístico/sarcástico/musical e, se as pessoas fossem um pouco mais inteligentes e parassem para refletir e entender o que esse cearense quer realmente dizer através de sua obra poética e musical, travestida de brega, certamente pensariam duas

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vezes antes de execrá-lo, pois sua obra contém farpas atiradas em todas as direções, pois, disfarçadamente e com uma sagacidade ímpar, sem paralelos dentro do quadro da nossa música popular, ele solta o verbo contra esse marasmo que tomou conta do ser humano. Falcão é um abusado, ferino e genial, único em seu estilo de falar a verdade sem ferir ninguém, brincando com coisa séria. O escrachado e inusitado Falcão, este ex-arquiteto feioso para os padrões do showbizz, de voz esganiçada de taquara rachada está bem à um passo da MPB. Falcão já mereceu todos os adjetivos imagináveis, mas de uma coisa ninguém poderá chamá-lo jamais: Brega, pois quem o assim classificar estará correndo o risco de se autoproclamar um desinformado musical de primeira instância. Por trás da máscara brega e de mau cantor, na realidade esconde-se um gozador da situação macabra em que se encontra a Música Popular Brasileira, contaminada pelo vírus da mesmice e inundada por uma exurrada de porcarias musicais sem precedentes.

Marcondes Falcão é um cearense muito esperto, inteligente e um excelente compositor. Suas letras retratam a realidade social e humana, inserindo em suas composições um palavreado chulo, obsceno e considerado brega, o rei do escracho, sorrateiramente, pousou como uma mosca na sopa azeda da MPB. Brega é a MPB, que está empanturrada de artistas inexpressivos, cantores e astros de araque, fabricados da noite para o dia. Os donos da música sempre ditaram a preferência do povo. São raríssimos os cantores que têm a liberdade para gravar e compor o que quiser. A música sempre foi uma gigantesca indústria, uma fábrica de ilusões. A indústria fonográfica sempre trabalhou na área “ZÉ POVINHO”, como dizia o mestre Raulzito, impondo ritmo, modas e astros de araque. À mídia escrita, falada e televisada, cabe 90% da culpa de tamanha insanidade

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cultural, é cúmplice do genocídio da cultura, porque também é controlada e paga para apresentar ao povo e ao mundo do show bizz, esse bando de artistas fabricados e sem nenhuma expressividade, que nos empurram goela abaixo.

Falcão não se encaixa neste buraco de ratos, ele veio, viu e venceu, bem ao estilo do famoso dito popular. Sempre, em todos os setores a mídia é a grande vilã, pois ela sabe que o povo aceitará qualquer gato por lebre, o povo não tem discernimento para separar o joio do trigo, age como autômato, se deixa seduzir facilmente, se deixa induzir por opiniões de traficantes de influências e abobrinhas. Veja, por exemplo, a grande e imperdoável heresia cometida pela imprensa mundial, quando compara absurdamente, a falecida e ex-princesa Lady Di (e a Lady “dava” de verdade para os seus súditos) à Madre Teresa de Calcutá. É possível tal heresia? Burrice generalizada e blasfêmia imperdoável. Madre Teresa foi quase uma santa, enquanto Lady Di era uma mulher comum, embora da realeza, envolvida em escândalos pessoais e infidelidade conjugal.

E o planeta inteiro, comovido, acabará, então beatificando e canonizando a ex-princesa Diana primeiro do que a verdadeira santa de Calcutá. Mas, não me espantaria nada com tal acontecimento, mesmo porque, o povo é tão “Maria-vai-com-as-outras”, que tem a desfaçatez de eleger políticos filhos-da-puta e ladrões aos borbotões, que eleitos lhe roubarão os tostões e lhe chutarão os culhões e mesmo assim, o povo aplaude estes crápulas em seus discursos nos palanques da pouca vergonha. Por isso, o cearense Marcondes Falcão Maia, é um dos artistas mais verdadeiros e originais. Sua voz esganiçada é a prova de que qualidade não é sinônimo de melosidade e mesmice, pois o que está ocorrendo com a MPB é exatamente isto,

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como cantava Raul Seixas: “É muita estrela para pouca constelação...”

Falcão é tão original que chegou a afirmar que, o que o deixa “p da vida” é o fato de Raul Seixas ter composto primeiro todas as grandes músicas que ele queria compor. Esse cearense arretado compõe e toca violão desde os 15 anos de idade. Fazia as mesmas coisas escrachadas que faz hoje e pensava em dar para alguém gravar. Chegou a mostrar suas músicas para alguns cantores, sem obter êxito. Então decidiu cantar suas próprias composições e criou um estilo único e inusitado, até então nunca ousado por nenhum outro. Falcão entrou na Faculdade de Arquitetura, em 1982, em Fortaleza. Cantava depois das aulas. Foi aí que surgiu a idéia das roupas extravagantes, do visual falcômico.

Em 1988 participou de um festival bancário com a engraçadíssima “CANTO BREGORIANO 2”. O juri detestou, entrou em polvorosa, era muita ousadia apresentar aquilo como música, mas o público adorou e aprovou, tanto que a organização do festival foi obrigada a colocá-lo nas finais, pois o público ameaçava quebrar tudo ao ver o rei do escracho desclassificado. Ele participou do LP do Festival e montou então, seu próprio show. Em quatro meses Falcão virou um sucesso estrondoso em Fortaleza. E veio a tão sonhada oportunidade de gravar um disco só com composições próprias.

Nesta mesma época, Falcão tinha um escritório de arquitetura. Em 1991 gravou o primeiro LP independente, “BONITO, LINDO E JOIADO” e a gravadora Continental alugou a fita para lançar o disco no resto do país. Mas a mesma gravadora não se interessou em fazer o segundo disco e Falcão decidiu que gravaria independente outra vez. Foi quando ele conheceu no Rio de Janeiro, outro dos mestres cearenses, o cantor e compositor Raimundo Fagner, também produtor

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exímio e farejador de sucessos. Falcão convidou-o para participar do seu novo disco e, qual não foi a surpresa de Falcão, quando Fagner se ofereceu para produzir seus discos, ao lado do excelente multiinstrumentista autodidata e produtor de primeira categoria, Robertinho de Recife. E lá estava Falcão, na BMG Ariola! Levado pelos amigos Fagner e Robertinho de Recife, o sucesso dos próximos discos foi imediato. Com o lançamento do quarto CD “A UM PASSO DA MPB”, falcão mostrou de uma vez por todas, quem é que era brega.

Somente o título bem sacado e controverso do CD, já mereceria uma medalha de ouro, muito bem sacado e oportuno para dar um cutucão no rabo dos acomodados e um auto-retrato do próprio Falcão. “A UM PASSO DA MPB”, neste disco Falcão conta com as participações especiais do BARÃO VERMELHO, na faixa “Orai e Vigiai”, um libelo dedicado à Igreja Universal do Reino de Deus, do Bispo Edir Macedo e o paraibano de Brejo do Cruz, cheio de luz, ZÉ RAMALHO, que canta com Falcão a ótima “Guerra de Facão”, música de Wilson Aragão, excelente letrista e compositor de quem Raul Seixas já houvera gravado a clássica “CAPIM GUINÉ”.

“Guerra de Facão” foi também gravada por Roberto Seixas, no CD “ROBERTO ROCK SEIXAS”. Depois dessas e outras, quem ousaria dizer que Falcão não está rigidamente “a um passo da mpb”?

Após ganhar um site na Internet e de comandar seu próprio, escrachado e horrível programa na Bandeirantes, “FALCÃO NA CONTRAMÃO”, que graças ao Altíssimo durou pouco tempo no ar, pois o roqueiro brega não merecia ser odiado por causa de um programa tão idiota, Falcão deu uma pequena pausa para rever seus valores e retornar logo a seguir mais ferino do que nunca.

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Mas, como apregoava o vate cearense: “Nada é tão ruim que não possa ser piorado”. Cumprindo sua promessa e desejo de gravar alguma música do ídolo Raul Seixas e alçando vôos rasantes, Falcão chegou glorioso ao quinto CD de sua carreira, “QUANTO PIOR MELHOR”, no qual incluiu a gravação de “Tu és o MDC da minha vida”, a qual ele já havia gravado, em 1997 para a MTV, acompanhado pelos músicos do não menos sarcástico e ótimo grupo mineiro PATO FU. “QUANTO PIOR MELHOR” foi uma porrada certeira na cara lavada da MPB, leia-se “Música Para Babacas”, pois é uma prova inconteste de que, qualquer um é capaz de fazer musiquinhas bobas e incluí-las no rol da MPB.

E Marcondes Falcão Maia, arregaça as mangas da camisa, tira o maior sarro da MPB e deixa óbvio que qualquer pessoa pode fazer MPB, cinema e televisão. E tem mais: pode-se fazer tudo isso com sarcasmo e inteligência, sem que haja a necessidade de ser um galã ou dono de uma voz melosa e irritante como a dos pagodeiros e sertanejos, que são um pé no saco de qualquer cristão e sem ataques de estrelismo.

*Década de 70. Raul Seixas e Paulo Coelho... taí dois cabras pedra 90! Era eu menino ainda quando ouvia na quermesse o chacundum da dupla, pensando fazer algo um dia, em termos de MMC (Mínimo Múltiplo Comum). Depois compreendi que a ordem dos fatores não altera o produto, isto é, eu é que deveria ter composto esta música. Como igualmente deveria ter feito YESTERDAY, DETALHES, SATISFACTION, AVÔHAI, PAIXÃO DE UM HOMEM, SAMPA, A BANDA, AS ROSAS NÃO FALAM, STAIRWAY TO HEAVEN, ASA BRANCA, NEW YORK, CIELITO LINDO, PARABÉNS PARA VOCÊ, FEELINGS etc. Por isso que eu gosto do Rauzito!*

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277 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(O PENSAMENTO VIVO DO REI DO BESTEIROL)

“QUEM DÁ AOS POBRES PAGA MOTEL”

“MEU FÃ-CLUBE ESTÁ ESTIMADO EM DOIS MIL HOMENS, DOS QUAIS 1.900 SÃO MULHERES”

“SOU O JOÃO GILBERTO MODERNO”

AS DIFERENÇAS ENTRE MIM E CHICO BUARQUE SÃO TOTALMENTE DIFERENTES”

“NADA É TÃO RUIM QUE NÃO POSSA SER PIORADO”

“AS BONITAS QUE ME PERDOEM, MAS A FEIURA É DE LASCAR”

“A PRIMEIRA AMNÉSIA A GENTE NUNCA ESQUECE”

“SE NÃO FOR VERDADE, É PELO MENOS UMA EXCELENTE MENTIRA”

“O DIREITO DE SOFRER É UMA DAS ÚLTIMAS ALEGRIAS DO POVO BRASILEIRO”

“A BESTEIRA É A BASE DA SABEDORIA”

“É MELHOR CAIR EM TENTAÇÃO QUE DO OITAVO ANDAR”

“EU REFLITO TANTO QUE BABO”

“ESTÁ CADA VEZ MAIS DIFÍCIL SER MENINO”

“ACHO QUE TENHO ALGUM PARENTESCO COM MINHA MÃE. LÁ EM CASA NÓS ÉRAMOS SEIS: EU E MAMÃE!”

“SEGREDO QUE VAZA É SEGREDO DE MUNICÍPIO”

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278 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

“ASSIM COMO SÃO AS PESSOAS SÃO AS CRIATURAS”

“ASSIM COMO É A POLÍCIA SÃO OS POLICIAIS”

“ATUALMENTE O FUTURO ESTÁ MUITO MUDADO”

“EM MATÉRIA DE SER HUMANO, ENQUANTO PESSOA SOU MUITO GENTE”

“ANDO TÃO OCUPADO QUE NÃO TENHO TEMPO NEM DE DEIXAR A BARBA CRESCER”

“ENQUANTO VOCÊ PERMANECER CALADO EM RELAÇÃO A MIM, EU PERMANECEREI SURDO EM RELAÇÃO A VOCÊ, SÓ PARA FAZER O MAL”

“SE EU SOUBESSE QUE IA FICAR TÃO BONITO AO CRESCER, EU JÁ TINHA NASCIDO GRANDE”

“QUEM É CEGO DOS DOIS OLHOS NÃO CARECE DE SOBRANCELHA”

“É DEVER DE TODOS ESCUTAR A VELHA MPB ATÉ QUE UMA NOVA SEJA PREPARADA POR MIM”

“SOU BASTANTE FLEXÍVEL PARA MANDAR VOCÊ À PUTA QUE PARIU SEM MOTIVO”

“MINHA OBRA É 99% ESPETACULAR, A OUTRA METADE É SENSACIONAL”

“SE DIGO UMA MENTIRA É PORQUE PENSO QUE VOCÊS SÃO BESTAS O SUFICIENTE PARA ACREDITAR”

“ERA UMA GALINHA TÃO GALINHA QUE APRENDEU A NADAR PARA DAR PROS PATOS”

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279 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

“CONFIRMADO: AMANHÃ, AINDA SERÁ OUTRO DIA”

“HÁ MALES QUE VÊM PARA O MAL”

“ANDE COM CUIDADO, VOCÊ PODE MATAR UMA FORMIGA COM

228 FILHOS PARA CRIAR”

*GUERRA DE FACÃO*

Wilson Aragão

A dô num coxo é num tê ração pro gado

A dô do gado é num achá capim no pasto

A dô do pasto é num vê chuva há muito tempo

A dô do tempo é corrê junto da morte

A dô da morte é num acabá com os nordestinos

A dô dos nordestinos é tê as pena injagerada

De aviá logo discurpa pra quem li pisô no lombo

E lascou-lhe um cucurute vinte quilo de lajedo

Invés de achotá pra cachaprego o vagabundo

Que se adeitô num trono e acordo num pau de sebo

Eh, eh, eh, boi, eh, eh, bioada, eh, eh, eh, boi, eh, eh, boiada

A dô do jegue tadim nasceu sem chifre

A dô do chifre é não nasce em certa gente

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280 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A dô da gente é cunfiá demais nus otros

A dô dos otros é que nem todo mundo é besta

A dô da besta é não pari pra ter seu fio

A dô pior dum fio é chorá e a mãe num vê

Ta chegando o fim das époa vai pegá fogo no mundo

E o pio que os vaga vida toca musga estrangera

Invés de aproveitá o que é da gente do nordeste

Vou chamar de mentiroso quem mi dizê

Que é cabra da peste

Eh, eh, eh, boi, eh, eh, boiada, eh, eh, eh, boi, eh, eh, boiada

A dô du Sol é ele num conhecê a noite

A dô da noite é que num tem mais seresteiro

A dô du seresteiro é o medo da puliça

A da puliça é tê ladrão no mundo inteiro

A dô do mundo inteiro é que ta chegano gringo

A dô do gringo é outro gringo do outro lado

Num sei se to errado mais arrisco meu palpite

De acabá com as bomba tromba incoivará os rifres

Tocá fogo em toda venda que é de fabricá canhão

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281 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Morre muito mena genti se a guerra for de facão

Eh, eh, eh, boi, eh, eh, boiada, eh, eh, eh, boi, eh, eh, eh, boiada

*WHAT PORRA IS THIS?*

Quem não tem cão não caça e como amanhã será Tomorrow, preste atenção nas doze perguntas que podem cair na prova. It´s now or never, ou vai ou racha, ou dá ou desce, It´s now or never, que porra é essa?

WHAT PORRA IS THIS?, este é o título do oitavo Cd do inusitado e debochado Falcão. Produzido por ele e Getúlio França e com a participação da Banda Diarréia, esta porra de disco é uma porrada na cara de pau da MPB. Uma prova inconteste de que o trabalho musical desse cearense ou vai ou racha a bolacha da MPB. Sempre tirando sarro da gente, mesmo antes de gravar esta porra de Cd, Falcão publicou pela Premius Editora e Edições Livro Técnico, o mais metido à besta dos livros.

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282 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

“FALCÃO E HETERÔNIMOS – LERUAITE/DOG´S AU-AU, IT´S NOT NHAC-NHAC”-, já atingiu várias edições, pois trata-se de um livreto “ejaculação precoce”, de um Padeiro Espiritual, como o chamou o professor do Curso de Comunicação Social da UFC, escritor e pesquisador da cultura popular, Gilmar de Carvalho, que também prefaciou o livreto Leruaite. Trata-se de um livro ímpar e repleto de pensamentos do rei do brega-inteligente (?).

É um achado literário, cuja dissertação que ilustra a contracapa do livro foi escrita pelo não menos talentoso e ex-patrão do cearense, Raimundo Fagner.

(Falcão é um cara grande, porque, medida a sua extensão na vertical, ou seja, dos pés à cabeça, verifica-se que não é pequeno. Quando menino saiu de sua terra natal, não voltando até agora. Por isso mesmo não mora mais lá. Possui muitas qualidades, mas a mais importante é a principal.)

Como cantor/compositor já lançou até agora, 8 CD´s, sendo que o oitavo é o mais recente. O rei da gozação-séria, Marcondes Falcão Maia é pereirense porque nasceu em Pereiro, a 16 de setembro de 1957. Pereiro fica no estado do Ceará, visto que se localiza no território cearense, porque se se localizasse em plagas baianas seria cearense do mesmo jeito. Mas, WHAT PORRA IS THIS? Falcão deve estar rindo das nossas caras de babacas como sempre faz, pois esta coleção de fuleiragens vai nos matar de rir diante dos acontecimentos que pululam essa porra de vida, que parece séria, mas é tudo armação. O nosso escrachado e “enfant terrible” ataca de literato de prêmio e quem sabe, conquistará uma cadeira de imortal na ABL, já que lá alguns porras de escritores poderosos, andam travestidos com

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seus fardões de ignorância, metidos a intelectuais, que pagam um alto preço para ser eleitos. WHAT PORRA IS THIS? É o nosso Brasil brasileiro... It´s now or never, quem não tem cão não caça, porque gato não substitui a raça. É aí que a coisa ferve, quem come a bolacha da Emengarda, a empregada da vizinha, que todo dia à tardinha, serve de bandeja sua deliciosa rosquinha, sabe muito bem que pimenta no cu dos outros é refresco. WHAT PORRA IS THIS?, como sou feliz, pois se eu tivesse de ser mulher e antes desse dia eu morreria, eu não conheceria a bolacha da vizinha. Eu amo todos os viados, mas não me dou bem com eles. Porque quanto mais boiola tiver no mundo, mais mulher sobrará para mim. Tenho tanta aversão a homem que, quando estou pelado no chuveiro me recuso a lavar meu pênis, deixando a triste tarefa para a mulher que porventura estiver comigo. What Porra Is This?... Quanta abobrinha... Depois de ler este Leruaite e de babar com as poesias extraídas da poética popular e verificar que foi com tais versos que Facão cresceu e se fez vate maior, ninguém nunca mais falará de Joyce, Ezra Pound, Becket e muito menos de mim.

*REPENTE 1

Eu avistei um tolete

Debaixo de um pé de alfafa,

Liso como uma garrafa,

Grosso como um porrete.

Bati mão num cacete

Pra fazer a medição;

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284 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Dois palmos da minha mão

Ainda pude medir nele.

Como é que um troço daquele

Passa no cu dum cristão?

*REPENTE 2

“Toda roupa veste um nu

Menos gravata e colete

Porque não cobre o cacete

Nem a regada do cu...”

WHAT PORRA IS THIS? simplesmente trata-se da obra literária e musical do vate Falcão, prova cabal de que existe a possibilidade de se criar coisas geniais compenetrando-as e irmanando-as à genialidade criativa, tão em falta na música popular brasileira. Pois, como o próprio Falcão apregoa: “Nada é tão pior que não possa ser piorado ou vice-versa”.

AVE, FALCÃO!!!

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285 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(GAL COSTA E RAUL SEIXAS) - Ilustração: Isaac Soares de Souza/1996

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Aos 22 anos surgia no cenário musical, lá pelos idos de 1967, uma moça baiana chamada Gal Costa (Maria das Graças Penna Costa Burgos). Com “BABY” e “MAMÃE CORAGEM”, marcou o início do tropicalismo. Antes, Gal tinha feito apenas uma participação em “ARENA CANTA BAHIA”, com Maria Bethânia, mas não chegou a causar o impacto esperado. Passou então, a usar cabelos encaracolados e pantalonas de veludo, ocasionando naquela década de 1960, o estranhamento do público, o que fatalmente a impulsionou rumo ao sucesso. Com a música de Caetano apresentada no Festival da TV Record, em 1968, Gal Costa traduziu a revolução tropicalista, que abria suas asas para o vôo rasante dos baianos.

Gal foi vaiada por uma parte da platéia e endeusada pela outra. Em 1969 gravou seu primeiro disco, cujo título “MEU NOME É GAL”, composição de Roberto e Erasmo Carlos, alavancou a carreira da baiana e fez grande sucesso.

Desde então, Gal não parou mais, conseguiu emplacar um sucesso atrás do outro, firmando-se como uma das mais belas e afinadas vozes da música popular brasileira. Gal fez quase tudo para agradar ao seu seleto público, já mostrou as pernas apetitosas e perfeitas, mostrou os seios e cantou sobre um telhado.

Mas a sua grande mancada artística aconteceu em 1983/1984, quando recusou o convite do mago do rock para gravar em dueto com ele a música “QUEO MAIS”, que faz parte do LP “RAUL SEIXAS”, Estúdio Eldorado. Diante da recusa de Gal, Raul convidou então, a gata borralheira, a princesa da Jovem Guarda Wanderléia e não é que a “Ternurinha”, que realmente é uma ternura de mulher, deu um banho de interpretação e de maturidade artística, cantou como

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ninguém a música “QUERO MAIS”, ao lado do único artista nacional que nunca teve ligação nenhuma com a linha evolutiva da música popular brasileira.

Mesmo diante da recusa em participar de seu disco, Raul não guardou nenhum ressentimento, pois ele gostava muito de Gal, riu da situação e escreveu alguns versos proclamando sua admiração e respeito por Gal Costa.

*GAL COSTA* - (É RAUL)

Raul Seixas

To aqui ouvindo “GAL A TODO VAPOR”

Gosto muito desse pique

Puta de um baixista, né menina?

Tive com Amim anteontem e tava

Conversando com ele sobre seu novo LP

Sabe, tem uma música que eu gravei

Há muito tempo

(Daquelas que são invisíveis

Para o sucesso?? Rádio, gente, ce sabe...)

É o que não consegui como compositor

Passar para o povo

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288 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(É uma faixa perdida num LP antigo)

Pensei em você assumindo a

Mulher Total, a Mulher-Marte Morte,

O nosso fim de estrela

A mão maior. É uma música em

Que eu invoco a Morte como

Uma mulher sendo a boceta

Do universo (Vestida de Azul)

É assim que eu quero que você

Venha me buscar.

“Canto Pra Minha Morte”

Morte

Mulher

Mãe

Ouça, vê se você se veste “bela”

Como seu canto de sereia

Vai ser bonito conforto aos mortais

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289 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(A OVELHA NEGRA ENCARNA O MALUCO BELEZA)

(RITA LEE DO ROCK À TROPICÁLIA) – Ilustração: Isaac Soares de Souza/1995)

*Caricatura ilustrativa da matéria A PROFANA RITA LEE ABENÇOA O ROCK, de Mauro Dias, publicada em 28 de outubro de 1975, no Caderno 2 –O ESTADO DE SÃO PAULO-, Ano IX, Edição 3.184*

Rita Lee, a Ovelha Negra da MPB e do rock nacional, retrato ¾ de uma geração que revirou os costumes babacas estabelecidos por seus pais, em busca de um caminho próprio, desde que deixou OS MUTANTES, em 1972 para formar o seu próprio grupo, TUTTI FRUTTI, foi a primeira mulher a comandar no país, um grupo de rock. Rita Lee nunca foi e nem sonhava ser o protótipo da moçoila bem-comportada, assumidamente, fumava maconha aos 20 anos, como todo mundo e continuou consumindo drogas por anos a fio. Estranhamente, parecia que ela havia encarnado Raul Seixas e estava se autodestruindo tal e qual o maluco beleza fizera em sua curta passagem pela Terra. Rita foi internada, em dezembro de 1994, com um quadro de overdose causado por calmantes e bebida alcoólica. Parecia muito mal e fora de si.

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Em 1993 Rita Lee tinha recebido um convite para fazer o papel de Raul Seixas no curta-metragem “TANTA ESTRELA POR AÍ”, do cineasta Tadeu Knudsen. Encarnou o personagem metamorfônico sem cobrar cachê. Fez tão bem a vez de Raulzito, que no Rio Cine Festival arrebatou o prêmio de melhor ator. Rita levou tão a contento o papel de Raul, que dizia até que andara tendo contatos imediatos de terceiro grau com o maluco beleza. “Senhor Raul Seixas, teremos o prazer de dançar esta noite...”

Frases funestas escritas pela própria Rita, antes de ser internada, encerrava o artigo escrito para o Jornal da Tarde, atestando o estado de completa alucinação em que se encontrava a Rainha do Rock nacional. Finalmente, Rita se recuperou e voltou ao meio musical com uma fome de leão, mostrando suas garras sempre afiadas. Em 1998, Rita gravou ao vivo a canção “GITA”, no disco “MTV Acústico”, redimindo-se perante o público raulseixista.

Mas, a “Ovelha Negra”, Santa Rita Lee, há 20 anos passados, exatamente no ano de 1979, gravara no LP “ENTRADAS E BANDEIRAS” a música “BRUXA AMARELA”, uma versão diferente da proibida “CHECK UP”, de Raul e Paulo Coelho.

“BRUXA AMARELA” e “CHECK UP” são a mesma música com letras diferentes para driblar a vetação da Censura, “BRUXA AMARELA” passou batida pela malha fina da Censura, mas “CHECK UP”, com sua letra original, permaneceu censurada por anos a fio. Quando Raul resolveu gravá-la, em 1988, no LP “A PEDRA DO GÊNESIS”, a música teve sua execução proibida no rádio, só porque Raul citava os nomes de alguns remédios que ele tomava e novamente a letra da canção tinha uma versão um pouco diferente da original. Somente no ano de

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1998, finalmente, “CHECK UP” foi gravada em disco com sua versão original, quando do lançamento do CD “RAUL SEIXAS – DOCUMENTO”, mas aí o mago do rock já estava morto há quase uma década.

*BRUXA AMARELA*

Raul Seixas e Paulo Coelho

Acabei de dar um check up geral na situação

O que me levou a reler Alice no País das Maravilhas

Já andei de motocicleta e fiz esporte

E numa corrida eu me encontrei com a morte

Acabei de tomar minha cerveja

Minha comida está quente sobre a mesa

Duas horas da manhã eu abro a minha janela

E vou dormir quase em paz!

E a chuva promete não deixar vestígio

Aprendi a ler no rosto

O que as pessoas não querem me dizer

Aprendi a ler na alma

O que as pessoas não podem me esconder

Duas horas da manhã eu abro a minha janela

E vejo a bruxa cruzando a grande lua amarela

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292 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

E eu vou dormir quase em paz

E a chuva promete não deixar vestígio!

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(RAUL SEIXAS – COWBOY FORA-DA-LEI)

(Ilustração: Isac Leite do (Ilustração: Isac Leite do (Ilustração: Isac Leite do (Ilustração: Isac Leite do Nascimento, meu filho. Ilustração criada em 1996, Nascimento, meu filho. Ilustração criada em 1996, Nascimento, meu filho. Ilustração criada em 1996, Nascimento, meu filho. Ilustração criada em 1996, quando meu filho contava com apenas 12 anos de idade.)quando meu filho contava com apenas 12 anos de idade.)quando meu filho contava com apenas 12 anos de idade.)quando meu filho contava com apenas 12 anos de idade.)

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294 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*PRELÚDIO*

Raul Seixas

Gravação: Simone

SONHO QUE SE SONHA SÓ

É SÓ UM SONHO QUE SE SONHA SÓ

MAS, SONHO QUE SE SONHA JUNTO É REALIDADE...

(SIMONE BITTENCOURT DE CARVALHO, também gravou anos depois a deliciosa canção “A MAÇÔ)

(SIMONE (SIMONE (SIMONE (SIMONE ---- Ilustração:Isaac Soares de Souza/1995)Ilustração:Isaac Soares de Souza/1995)Ilustração:Isaac Soares de Souza/1995)Ilustração:Isaac Soares de Souza/1995)

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295 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(RAUL SEIXAS & MARCELO NOVA)

*SE CADA UM DE NÓS POSSUI UMA IMPRESSÃO DIGITAL COMPLETAMENTE DIFERENTE DO OUTRO, É PORQUE SOMOS DIFERENTES UNS DOS OUTROS. E, ASSIM, COMO É QUE PODE SE PRETENDER UMA LEI PARA REGER TODOS COMO SE FOSSEM IGUAIS?* - Raul Seixas -

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

NÓS POSSUI UMA IMPRESSÃO DIGITAL COMPLETAMENTE DIFERENTE DO OUTRO, É PORQUE SOMOS DIFERENTES UNS DOS OUTROS. E, ASSIM, COMO É QUE PODE SE PRETENDER UMA LEI PARA REGER TODOS COMO SE FOSSEM

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296 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*NUIT*

Raul Seixas/Kika Seixas

Eu, eu ando de passo leve

Para não acordar o dia

Sou, da noite a companheira

Mais fiel que ela queria

Amo a guerra, adoro o fogo,

Elemento natural do jogo, senhores:

Jamais me revelarei,

Jamais me revelarei!

Eu, eu ando de passo leve

Para não acordar o dia

Sou, da noite a companheira

Mais fiel que ela queria

E quão longa é a noite

A noite eterna do tempo

Se comparada ao curto sonho da vida

Chega enfeitando de azul

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

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297 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A grande amante dos homens

Guardando do Sol, seu beijo incomum...

Seja bom ou que não presta

Acendo as luzes para a nossa festa, senhores:

Eu sou o mistério do Sol!

Eu sou o mistério do Sol!

Eu, eu ando de passo de leve

Para não acordar o dia

Sou, da noite a companheira

Mais fiel que ela queria!

Mas é com o Sol que eu divido

Toda a minha energia

Eu sou a noite do tempo

Ele é o dia da vida

Ele é a luz que não morre

Quando chego e anoiteço

O Sol dos dois horizontes

A mais perfeita harmonia

Eu, eu ando de passo leve...

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298 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Raul compôs “NUIT” para Simone, que não chegou a gravá-la. NUIT é uma palavra egípcia, que quer dizer “MULHER”, “NOITE”, “SOL DOS DOIS HORIZONTES”, “A GRANDE MÃE DO UNIVERSO”. Raul sempre dizia que a mulher é “A BOCETA DO UNIVERSO”. NUIT era uma das músicas que faria parte do ousado disco “OPUS 666”, que Raul não chegou a gravar.)

*CAZUZA* (ILUSTRAÇÃO: Isaac Soares de Souza/1996)

“O MEU CORAÇÃO É UM CORAÇÃO PARTIDO. OS MEUS HERÓIS “O MEU CORAÇÃO É UM CORAÇÃO PARTIDO. OS MEUS HERÓIS “O MEU CORAÇÃO É UM CORAÇÃO PARTIDO. OS MEUS HERÓIS “O MEU CORAÇÃO É UM CORAÇÃO PARTIDO. OS MEUS HERÓIS MORRERAM DE OVERDOSE E OS MEUS INIMIGOS ESTÃO NO MORRERAM DE OVERDOSE E OS MEUS INIMIGOS ESTÃO NO MORRERAM DE OVERDOSE E OS MEUS INIMIGOS ESTÃO NO MORRERAM DE OVERDOSE E OS MEUS INIMIGOS ESTÃO NO PODER. EU SOU UM CARA CANSADO DE CORRER NA DIREÇÃO PODER. EU SOU UM CARA CANSADO DE CORRER NA DIREÇÃO PODER. EU SOU UM CARA CANSADO DE CORRER NA DIREÇÃO PODER. EU SOU UM CARA CANSADO DE CORRER NA DIREÇÃO CONTRÁRIA, SEM PÓDIO DE CHEGADA. DIAS SIM E DIA NÃO, EU CONTRÁRIA, SEM PÓDIO DE CHEGADA. DIAS SIM E DIA NÃO, EU CONTRÁRIA, SEM PÓDIO DE CHEGADA. DIAS SIM E DIA NÃO, EU CONTRÁRIA, SEM PÓDIO DE CHEGADA. DIAS SIM E DIA NÃO, EU VOU SOBVOU SOBVOU SOBVOU SOBREVIVENDO SEM UM ARRANHÃO DA CARIDADE DE QUEM REVIVENDO SEM UM ARRANHÃO DA CARIDADE DE QUEM REVIVENDO SEM UM ARRANHÃO DA CARIDADE DE QUEM REVIVENDO SEM UM ARRANHÃO DA CARIDADE DE QUEM ME DETESTA. AGORA EU VOU CANTAR PROS MISERÁVEIS, QUE ME DETESTA. AGORA EU VOU CANTAR PROS MISERÁVEIS, QUE ME DETESTA. AGORA EU VOU CANTAR PROS MISERÁVEIS, QUE ME DETESTA. AGORA EU VOU CANTAR PROS MISERÁVEIS, QUE

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299 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

VAGAM PELO MUNDO DERROTADOS. DESSAS SEMENTES MAL VAGAM PELO MUNDO DERROTADOS. DESSAS SEMENTES MAL VAGAM PELO MUNDO DERROTADOS. DESSAS SEMENTES MAL VAGAM PELO MUNDO DERROTADOS. DESSAS SEMENTES MAL PLANTADAS, QUE JÁ NASCEM COM CARA DE ABORTADAS. PLANTADAS, QUE JÁ NASCEM COM CARA DE ABORTADAS. PLANTADAS, QUE JÁ NASCEM COM CARA DE ABORTADAS. PLANTADAS, QUE JÁ NASCEM COM CARA DE ABORTADAS. SENHOR, PIEDADE PRA ESSSENHOR, PIEDADE PRA ESSSENHOR, PIEDADE PRA ESSSENHOR, PIEDADE PRA ESSA GENTE CARETA E COVARDE. LHS DÊ A GENTE CARETA E COVARDE. LHS DÊ A GENTE CARETA E COVARDE. LHS DÊ A GENTE CARETA E COVARDE. LHS DÊ GRANDEZA E UM POUCO DE CORAGEM. IDEOLOGIA, EU QUERO GRANDEZA E UM POUCO DE CORAGEM. IDEOLOGIA, EU QUERO GRANDEZA E UM POUCO DE CORAGEM. IDEOLOGIA, EU QUERO GRANDEZA E UM POUCO DE CORAGEM. IDEOLOGIA, EU QUERO UMA PRA VIVER!”UMA PRA VIVER!”UMA PRA VIVER!”UMA PRA VIVER!”

*CAJU* (homenagem a Cazuza)

Isaac Soares de Souza & Douglas “Dodi” Carneiro - (HANGAR XVIII)

Caju,

I hadn´t anyone

´til you.

O tempo não pára

Para o rebelde de plantão

E o poeta dispara

A metralhadora cheia de mágoa,

Alvejando qualquer coração,

À deriva, na contramão!

Um menino poeta

Chamado Agenor

Cazuza Profeta,

Codinome Beija-Flor!!!

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300 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Caju,

I hadn´t anyone

´til you.

Sua voz rouca e blue

No tom exato de quem conhecia

A dor e a alegria

Cantou verdades de seu tempo,

Sem lenço e sem documento

Realidade e poesia

Esta era a ideologia

Que ele queria para viver!!!

((((CAZUZCAZUZCAZUZCAZUZA também gravou a música “CAVALOS CALADOS”, de Raul Seixas, em A também gravou a música “CAVALOS CALADOS”, de Raul Seixas, em A também gravou a música “CAVALOS CALADOS”, de Raul Seixas, em A também gravou a música “CAVALOS CALADOS”, de Raul Seixas, em 1989)1989)1989)1989)

*CAVALOS CALADOS*

RAUL SEIXAS

O termômetro registrou

A enfermeira confirmou

A minha morte aparente

A minha sorte

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301 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Minha camisa rasgada

No peito escorrendo

Óleo Diesel

O relógio alarmou

A TV anunciou

A minha morte

Preta e branca

A sua sorte

E o seu durex

Já não cola,

Já não basta

O tapa olho

Eu tenho mais um

Por entre as pernas cabeludas,

Olhos e antenas

Sobressalentes

O meu pulso não pulsou

O aparelho aceitou

A minha morte aparente

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302 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A sua sorte

Minha garganta sem voz

Acordo semi-lúcido

Entre a morte e a morte

Relembrando onde perdi

Minha língua servida

Pelas mortes,

Pelas vidas,

Pelas avenidas,

Pelas ave-marias cantadas em coros

No meu violão

Pelas ruas sem chão

Meu corpo tem dois mil e tantos

Cavalos Calados!!!

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303 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*BETHÂNIA* - (Ilustração: Isaac Soares de Souza/1996)

(Maria Bethânia, ao regravar a música GITA, demonstrou(Maria Bethânia, ao regravar a música GITA, demonstrou(Maria Bethânia, ao regravar a música GITA, demonstrou(Maria Bethânia, ao regravar a música GITA, demonstrou que não estava que não estava que não estava que não estava preparada para interpretar absolutamente nada do repertório de Raul. GITA, na preparada para interpretar absolutamente nada do repertório de Raul. GITA, na preparada para interpretar absolutamente nada do repertório de Raul. GITA, na preparada para interpretar absolutamente nada do repertório de Raul. GITA, na voz de Bethânia ficou horrível, a pior gravação registrada em vinil da clássica voz de Bethânia ficou horrível, a pior gravação registrada em vinil da clássica voz de Bethânia ficou horrível, a pior gravação registrada em vinil da clássica voz de Bethânia ficou horrível, a pior gravação registrada em vinil da clássica canção. Nunca houve nada mais esdrúxulo e mórbicanção. Nunca houve nada mais esdrúxulo e mórbicanção. Nunca houve nada mais esdrúxulo e mórbicanção. Nunca houve nada mais esdrúxulo e mórbido. O próprio Raul abominava do. O próprio Raul abominava do. O próprio Raul abominava do. O próprio Raul abominava esta primeira gravação na voz de Bethânia.)esta primeira gravação na voz de Bethânia.)esta primeira gravação na voz de Bethânia.)esta primeira gravação na voz de Bethânia.)

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304 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*GITA*

RAUL SEIXAS/PAULO COELHO

(Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo, procurando... Foi justamente num sonho que ele me falou:)

Às vezes você me pergunta

Por que que eu sou tão calado?

Não falo de amor quase nada

Nem fico sorrindo ao teu lado

Você pensa em mim toda hora

Me come, me cospe e me deixa

Talvez você não entenda

Mas hoje eu vou lhe mostrar:

Eu sou a luz das estrelas

Eu sou a cor do luar

Eu sou as coisas da vida

Eu sou o medo de amar

Eu sou o medo do fraco

A força da imaginação

O blefe do jogador,

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305 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Eu sou, eu fui, eu vou...

Gita, Gita, Gita, Gita...

Eu sou o seu sacrifício

A placa de contramão

O sangue no olhar do vampiro

E as juras de maldição

Eu sou a vela que acende

Eu sou a luz que se apaga

Eu sou a beira do abismo

Eu sou o tudo e o nada

Por quê você me pergunta?

Perguntas não vão lhe mostrar

Que eu sou feito da terra,

Do fogo, da água e do ar

Você me tem todo dia

Mas não sabe se é bom ou ruim

Mas saiba que eu estou em você

Mas você não está em mimDas telhas eu sou o telhado

A pesca do pescador

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306 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A letra A tem meu nome

Dos sonhos eu sou o amor

Eu sou a dona-de-casa

Nos pegue-pagues do mundo

Eu sou a mão do carrasco

Sou raso, largo, profundo

Gita, Gita, Gita, Gita...

Eu sou a mosca na sopa

E o dente do tubarão

Eu sou os olhos do cego

E a cegueira da visão

Mas eu sou o amargo da língua

A mãe, o pai e o avô

O filho que ainda não veio

O início, o fim e o meio

Eu sou o início, o fim e o meio...

(GITA, gravação: Maria Bethânia e Chico Buarque/1977 (GITA, gravação: Maria Bethânia e Chico Buarque/1977 (GITA, gravação: Maria Bethânia e Chico Buarque/1977 (GITA, gravação: Maria Bethânia e Chico Buarque/1977 –––– Philips/Phonogram)Philips/Phonogram)Philips/Phonogram)Philips/Phonogram)

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307 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*CAPA DO CD “RAUL SEIXAS IN CONCERT”, lançado em 1995, *CAPA DO CD “RAUL SEIXAS IN CONCERT”, lançado em 1995, *CAPA DO CD “RAUL SEIXAS IN CONCERT”, lançado em 1995, *CAPA DO CD “RAUL SEIXAS IN CONCERT”, lançado em 1995, pelo cantor e cover de Raul, TUKLEY*pelo cantor e cover de Raul, TUKLEY*pelo cantor e cover de Raul, TUKLEY*pelo cantor e cover de Raul, TUKLEY*

TUKLEY fazia parte da dupla “PONTO & VÍRGULA”, que em 1976 estourou nas paradas de sucesso com a música “CHACRILONGO”. Desde àquela época Tukley já cantava os grandes hits de seu ídolo, Raul Seixas, pelos palcos da vida e continua até hoje levando multidões ao delírio.

RAUL SEIXAS IN CONCERT, é um lançamento Videolar. Com novos arranjos para antigos sucessos de Raul e algumas canções desconhecidas do grande público. Tukley dedicou este disco a todos àqueles que têm o coração no lugar do fígado e acreditam que o impossível fica logo ali do outro lado da rua.

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*CAPA DO CD “RAUL SEIXAS IN CONCERT”, lançado em 1995, *CAPA DO CD “RAUL SEIXAS IN CONCERT”, lançado em 1995, *CAPA DO CD “RAUL SEIXAS IN CONCERT”, lançado em 1995, *CAPA DO CD “RAUL SEIXAS IN CONCERT”, lançado em 1995, pelo cantor e cover de Raul, TUKLEY*pelo cantor e cover de Raul, TUKLEY*pelo cantor e cover de Raul, TUKLEY*pelo cantor e cover de Raul, TUKLEY*

& VÍRGULA”, que em 1976 estourou nas paradas de sucesso com a música “CHACRILONGO”. Desde àquela época Tukley já cantava os grandes hits de seu ídolo, Raul Seixas, pelos palcos da vida e continua até hoje

RAUL SEIXAS IN CONCERT, é um lançamento Videolar. Com novos arranjos para antigos sucessos de Raul e algumas canções desconhecidas do grande público. Tukley dedicou este disco a

êm o coração no lugar do fígado e acreditam que o impossível fica logo ali do outro lado da rua.

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308 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

O verdadeiro objetivo deste CD era o de arrecadar fundos para a construção do Museu Raul Seixas, idealizado por Sylvio Passos (Fundador e presidente do Raul Rock Club), que tem como objetivo único, estudar, divulgar, preservar e dar continuidade as pesquisas e trabalhos iniciados por Raul Seixas. A idéia de fundar um Museu para dar continuidade à obra de Raul, é uma guerra que Sylvio vem travando há anos, mas por falta de apoio concreto, ainda não saiu do papel. Mais recentemente TUCKLEY gravou um belo CD intitulado “O BANDO DO VELHO ROCK”, recheado de versões para o português de clássicos do rock.

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309 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

ELIS REGINA (PIMENTINHA), numa foto inédita publicada pela extinta revista “INTERVALO”, que fez um enorme sucesso na década de 1970. Elis fez arder os olhos do Brasil e da MPB com sua morte precoce, fazendo jus ao dito popular: “Pimentinha no

cu dos outros não arde”. Sua morte levou o País à comoção, pois Elis era uma das mais belas vozes do cancioneiro popular brasileiro, uma intérprete que nunca compôs, mas suas interpretações renovavam qualquer canção. Raul Seixas homenageou Elis em duas poesias suas, a primeira “ELIS, ELIS”, gravada por Roberto Seixas no LP “O TREM DA LINHAGEM” e “AREIA DA AMPULHETA”, que Raul afirmava ter sido composta sob

nossa Pimentinha interpretar.

*AREIA DA AMPULHETA*

RAUL SEIXAS

Eu sou a areia da ampulheta

O lado mais leve da balança

O ignorante cultivado

O cão raivoso inconsciente

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

ELIS REGINA (PIMENTINHA), numa foto inédita publicada pela extinta revista “INTERVALO”, que fez um enorme sucesso na década de 1970. Elis fez arder os olhos do Brasil e da MPB com

o dito popular: “Pimentinha no cu dos outros não arde”. Sua morte levou o País à comoção, pois Elis era uma das mais belas vozes do cancioneiro popular brasileiro, uma intérprete que nunca compôs, mas suas

s renovavam qualquer canção. Raul Seixas homenageou Elis em duas poesias suas, a primeira “ELIS, ELIS”, gravada por Roberto Seixas no LP “O TREM DA LINHAGEM” e “AREIA DA AMPULHETA”, que Raul afirmava ter sido

medida para a

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310 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

O boi diário servido em pratos

O pivete encurralado

Eu sou a areia da ampulheta

O vagabundo conformado

O que não sabe qual o lado

Espreito pesadas pirâmides

Cachaceiro mal amado

O triste alegre adestrado

Eu sou a areia da ampulheta

O que ignora a existência

De que existem mais estados

Sem idéia que é redondo

O planeta onde vegeta

Eu sou a areia da ampulheta

Eu sou a areia da ampulheta

Mas o que carrega sua bandeira

De todo lugar o mais desonrado

Nascido no lugar errado

Eu sou, eu sou você...

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311 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*PARA ELIS*

RAUL SEIXAS

ELIS, ELIS, ELIS

Onde quer que você esteja

Fiz uma música bonita

Pra você cantar... ELIS

Embora eu não te conheça muito

Não faltaria assunto

Para a gente se entender

Sofri, chorei atrás dos meus óculos escuro

Para não dar bandeiras e murros

Quando a Globo abriu o seu caixão

Para filmar você morta

Pra o Fantástico de domingo

Amiga, cigarra, Pimentinha

Suas flores não continham

O que sua voz continha

Você vai fazer falta por aqui

Achei no seu leito florido

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312 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Seu jeitinho colorido

Na quieta mão de Deus

Compus uma música anteontem

Pra você cantar porreta

Intitulada “Areia da Ampulheta”

Que de mal chegou ao fim

ELIS, feliz, matriz, atriz

Eu admiro você.

(MINHA VIOLA e CORAÇÃO NOTURNO, são dois dos poemas da lavra literária do pai de Raul, senhor Raul Varella Seixas, musicados por Raul e gravados nos discos ABRE-TE SÉSAMO e RAUL SEIXAS)

*MINHA VIOLA*

RAUL VARELLA SEIXAS

Eu tenho uma viola

Que canta assim

Minha dor ela consola

Dilim, dilim, dilim...

Quando eu saí do meu sertão

Não tinha nada de meu

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313 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A não ser essa viola

Que foi meu pai quem me deu

Pelo mundo eu vou andando

Subo monte desço serra

Minha viola vou tocando

Relembrando a minha terra

E quando a tarde vai morrendo

Vou pegando minha viola

Se estou triste e sofrendo

Ela é quem me consola

Cada nota é um gemido

Cada gemido é uma saudade

De saudade estou perdido, viola

Nessa eterna soledade

Nesse sertão dos meus amores

Quando me ponho a tocar

Emudecem seus cantores

Para nos ouvir cantar

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314 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Canta a minha alegria

Canta para eu não chorar

Entrarei no céu contigo

Quando minha hora chegar

*CORAÇÃO NOTURNO*

RAUL SEIXAS/KIKA SEIXAS/RAUL VARELLA SEIXAS

Amanhece, amanhece, amanhece

Amanhece, amanhece o dia

Um leve toque de poesia

Com a certeza que a luz

Que se derrama

Nos traga um pouco de alegria!

A frieza do relógio

Não compete com a quentura

Do meu coração

Coração que bate 4 por 4

Sem lógica e sem nenhuma razão

Bom dia, Sol!

Bom dia, Dia!

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315 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Olha a fonte, olhe os montes, horizonte

Olha a luz que enxovalha e guia

A lua se oferece ao dia

E eu guardo cada pedacinho de mim

Pra mim mesmo

Rindo louco, louco

Mas louco, louco de euforia

Bom dia, Sol!

Bom dia, Dia!

Eu e o coração

Companheiros de absurdos no noturno

No soturno

No entanto, entretanto,

E portanto

Bom dia, Sol!

Bom dia, Sol!!!

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316 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*O ÚLTIMO DOS MOICANOS, PORTA-VOZ DOS FRACOS E OPRIMIDOS, UM DOS MAIS INTELIGENTES LETRISTAS DA MPB: O PENSADOR BELCHIOR*

(BELCHIOR: APENAS UM GÊNIO LATINO-AMERICANO)

(FOTO: Isaac Soares de Souza e Belchior/Araraquara

Seu nome todo é extraordinariamente comprido, parece nome de algum representante de família real: ANTÔNIO CARLOS GOMES BELCHIOR FONTENELLE FERNANDES. Por isso, artisticamente, ele ficou apenas com o BELCHIOR, muito bem escolhido, pois é assim que esse cearense genial é mais conhecido pelo grande e fiel público. Nasceu na cidade de Sobral (CE), a 26 de outubro de 1946, numa época em que os grandes ídolos da música popular brasileira eram Francisco Alves, o Trio de Ouro, Ciro Monteiro, Jorge Veiga, Carlos Galhardo e Vicente Celestino. Mas, no ano em que Belchior nasceu já se preparavam as bases de uma reforma em nossa música, pois, então surgiam para o firmamento artístico brasileiro “estrelas” renovadoras como Dick Farney e os Quitandinha Serenaders, mais adiante, como se sabe, responsáveis por uma espécie de “americanização” em nosso gosto. O final da década de 50 quando, enfim, ingressam no cenário João Gilberto e os

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

VOZ DOS FRACOS E OPRIMIDOS, UM DOS MAIS INTELIGENTES LETRISTAS DA

AMERICANO)

(FOTO: Isaac Soares de Souza e Belchior/Araraquara-SP)

Seu nome todo é extraordinariamente comprido, parece nome de

Monteiro, Jorge Veiga, Carlos Galhardo e Vicente Celestino. Mas, no reparavam as bases de uma

reforma em nossa música, pois, então surgiam para o firmamento artístico brasileiro “estrelas” renovadoras como Dick Farney e os Quitandinha Serenaders, mais adiante, como se sabe, responsáveis por

O final da década de 50 quando, enfim, ingressam no cenário João Gilberto e os

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317 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

fundadores da “Bossa Nova” na MPB, vai encontrar o jovem Belchior cantando em feiras e fazendo-se de “repentista” em sua terra natal. Logo a seguir Belchior está estudando piano, música coral e arranja emprego em rádio, após abandonar a idéia de estudar medicina.

O moço cearense de voz bastante estranha para os padrões da época, mas de uma genialidade ímpar, antes mesmo de decidir descer para o Rio de Janeiro, se envolveu em muitas outras coisas, mas sempre de cunho musical. Em 1971, na Cidade Maravilhosa, Belchior conquistou seu primeiro triunfo: venceu o IV Festival Universitário da Música Popular Brasileira, com a música “NA HORA DO ALMOÇO”, a qual, logo a seguir, ele gravou num disco compacto-simples da etiqueta “Copacabana”. Era, enfim, sua estréia em gravações. Do Rio Belchior se deslocou para São Paulo, onde com ânimo definitivo, instalou seu “quartel-general” artístico. Elis Regina gostou de sua música “MUCURIPE” (feita com Fagner, do “Pessoal do Ceará, com quem ele várias vezes se envolveu nos tempos de festivais no Nordeste), gravou-a e o sucesso começou a sorrir para Belchior.

Quando iniciava o ano de 1974, o jovem de 27 anos de idade conseguiu afinal, a oportunidade de gravar um primeiro LP todo seu pela gravadora Chantecler.

Belchior fez questão de incluir neste primeiro disco sua primeira grande vitória como autor: NA HORA DO ALMOÇO. Poucos tinham se dado conta daquela gravação anterior, datada de 1971 e escolheu então, para ele mesmo registrar, composições suas que nunca mostrara a nenhum outro intérprete.

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318 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Por exemplo: “MOTE E GLOSA”, datada da primeira fase criativa, uma de suas obras mais inteligentes, penetrantes e sutis. Outro exemplo: “BEBELO”, que a crítica elogiou quase a exageros.

O certo é que BELCHIOR (nome dado ao primeiro LP) praticamente representou o desfecho de tudo. Em abril de 1974, quando o disco saiu, somente alguns lhe deram importância. Mas, a bem da verdade, essas poucas pessoas de fundamental importância e influência na opinião pública, é que valeram a Belchior, lugar de destaque, apontando-o como uma das mais gratas revelações da música popular brasileira pós-bossa nova. Chamou-se a atenção para o seu jeito de cantar, para o timbre de sua voz e para o modo como ele fazia “escorrer” a frase melódica. Era alguma coisa diferente até então, afinal, num quadro geral de novidades que apenas se repetiam umas às outras. Depois de 1974, algum tempo passaria até que o combativo cearense por fim vencesse e se transformasse em sucesso absoluto. Hoje certamente, Belchior é conhecido em todo o país. É curioso, todavia, voltar-se ao Antônio Carlos Belchior de trinta e poucos anos atrás, ouvindo-lhe as primeiras mensagens e reapreciando seus primeiros passos.

Dono de uma voz única e marcante bigode farto, Belchior, sem dúvida, é dos mais inteligentes letristas e compositores do País. Quando ouço Caetano Veloso cantando versos como estes: “Êta, Êta, Êta/É a lua é o sol/É a luz de Tieta/Êta, Êta, Êta...”, que não querem

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319 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

dizer absolutamente patavina nenhuma, concluo que, Belchior costuma mesmo fazer o serviço completo, trabalhando música e letra. Belchior é o dissidente dos dissidentes, como já disse alguém, porta-voz dos que não prestam vassalagem à indústria fonográfica, pois ele segue e com sucesso, ainda que não alardeado pela mídia, uma sólida carreira quase que totalmente independente. Quando vejo, estupefato e incrédulo, Caetano Veloso cantando ao lado de artistas inexpressivos como Xandy (Harmonia do Samba) e de Alexandre Pireschego à conclusão de que a indústria fonográfica, dominadora e vassala, tem a certeza plena e absoluta, de que o povo brasileiro é ignorante e não tem capacidade para discernir o que é bom e o que não presta. A epidemia que se alastrou por todo o Brasil e que parece não ter cura, de “sertanejos” “pagodeiros não-sei-das-quantas” e “forrozeiros”, é a prova mais do que concreta do que diziam Raul Seixas e Marcelo Nova: Eu sei até que parece sério, mas é tudo armação/É muita estrela pra pouca constelação...”; ou como declarou LOBÃO, em entrevista bombástica à revista Caros Amigos/Janeiro de 2000-número 34: “AS GRAVADORAS TÊM UMA CARTILHA: O PÚBLICO QUER MERDA”

O artista independente, que não tem dinheiro, não toca em rádio e não aparece na mídia. Tudo é um grande jogo comercial. As “big-five”, que são as grandes e poderosas gravadoras e que pela ordem de grandeza são as gravadoras UNIVERSAL (ex-Polygram), BMG-ARIOLA, SONY MUSIC, o grupo EMI e a WEA. Já a SOM LIVRE entra como a sexta, porque é o braço fonográfico das Organizações Globo. E é uma espécie de híbrido, não tem cast, tem Xuxa e Emílio Santiago, comercializa compilações, montagens, num esquema muito inteligente, quase grátis para ela, de utilização de fonogramas de terceiros, viabilizando a televisão, que é a grande ferramenta e que

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320 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

realmente vende mesmo, garante a mesma entrevista acima citada. No caso específico das gravadoras independentes, além de não ter o poderio econômico para distribuição, não tem poderio econômico para divulgação e os artistas não podem nem ser tocados em rádio. Porque se sabe que para tocar em rádio, o preço do jabá oficial é de 1 dólar a unidade. Então, se vender 150.000 cópias de qualquer disco tocado à exaustão, as rádios ficam com 150.000 dólares por executar a música. É o Cartel Fonográfico. É crime. Para executar uma música maciçamente de forma a estourar, dez vezes por dia, cinco em horário nobre, a noite toda, tem que entrar o famoso jabá, que é acertado com o departamento artístico da gravadora.

É tudo institucionalizado e é tudo caixa dois. É tudo verbal. Em geral, ou é dinheiro, ou n são bens: carros zero quilômetro, viagens, carros com promoção da própria rádio. Mas o jabá é tabu, é sigiloso, falar em jabá dentro da rádio é perder o emprego. E o jabá fecha as portas do talento musical brasileiro. É criminoso e vergonhoso. Nos Estados Unidos dá cadeia, dois anos de pena inicial; é crime federal desde 1961, 10.000 dólares de multa na primeira reincidência. Mas, como combater o jabá no Brasil se quem deve fazer a lei é o deputado e o deputado é o dono da rádio?

O Brasil tem uma tradição de monocultura em todos os níveis, desde a agricultura até a monomania do futebol. Ou é sertanejo, ou pagode. Depredatória. É a criatividade no corredor da morte. Esta atitude covarde, vergonhosa e imbecil tomada pela indústria fonográfica brasileira, que aliás é estrangeira, pois a maioria das grandes gravadoras são filiais estrangeiras roubando o povo e atirando a criatividade no fosso da morte, e também pelas rádios que prestam vassalagem ao Cartel da Música, como se fossem prostitutas

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321 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

despudoradas vendendo seus pentelhos por míseros cruzeiros, às estocadas do “falo cultural”, tem levado ao ostracismo e preterimento de artistas talentosos como Belchior e tantos outros, em prol de uma corja de cantores e compositores ignorantes, sem nenhum talento ou capacidade musical, que se tornam ricos ou milionários às custas do povo sem cultura e guiado pela mídia, em todos os seus segmentos. Mas, Belchior, Jorge Mautner, Zé Geraldo, Tom Zé e tantos outros geniais cantores/compositores, não precisam provar mais nada a quem quer que seja. Mesmo desprezados pela mídia burra e vendida, continuam na estrada das almas solitárias. Muito bem elaborada esta entrevista-bomba com o LOBÃO e ZECA BALEIRO, publicada na revista Caros Amigos, da qual me apropriei de alguns trechos para levar ao conhecimento de um público maior, o verdadeiro motivo de tantos e geniais poetas e músicos brasileiros permanecerem esquecidos. Belchior faz uma média de 200 apresentações anuais por todo o Brasil, embora tenha sentido e provado o sabor de farta popularidade em seus anos de glória, Belchior não foi e nunca será artista palatável, vendilhão do Templo. O farto bigode nunca desfrutou da simpatia das macacas de auditório, nem da juventude-transviada pela beleza de cantores insossos e fabricados, mas Belchior sabe de cor que: “Nada é divino, nada é maravilhoso”. Apesar de já somar mais de 35 anos de carreira e quase a mesma quantidade de discos gravados, coisas que por si só já bastariam para provar que sua obra musical e poética é eterna e vem encantando gerações, Belchior é simplesmente um gênio latino-americano. Alguns de seus discos se tornaram álbuns antológicos e perenes, como “DIVINA COMÉDIA HUMANA” e “ALUCINAÇÃO”, disco que o projetou nacionalmente e que contém pérolas como “APENAS UM RAPAZ LATINO-AMERICANO”, “COMO NOSSOS PAIS” e “VELHA ROUPA COLORIDA”, as duas últimas

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322 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

escolhidas por Elis Regina para o show e o disco “FALSO BRILHANTE”. Belchior permanece há um bom tempo no mercado independente e, tomara que permaneça nele e cada vez mais criativo e que jamais entregue o ouro ao sistema saprófago da indústria fonográfica. Belchior é um grande admirador da obra raulseixista, além de já ter gravado a antológica e eterna “OURO DE TOLO”, Belchior pretende gravar futuramente, a canção “SAPATO 37”, parceria do maluco beleza com Cláudio Roberto. Belchior realizou cerca de mais de 10 apresentações ao lado de Raul Seixas. “Eu estava mais angustiado que o goleiro na hora do gol, quando a música de Belchior entrou em mim, como o sol no quintal. Aí um analista amigo meu, me disse: Desse jeito é que eu viveria satisfeito, porque a poesia é uma coisa mais profunda que o real...” Em 2010 o Programa da Rede Globo, Fantástico anunciava para todo o Brasil o misterioso desaparecimento de Belchior, fato estranho que deixou assustados seus milhares de admiradores. Belchior houvera desaparecido sem deixar rastros e nem notícias. Nem mesmo seus amigos mais próximos, parceiros e empresários, entrevistados pelo programa global sabiam sobre o sumiço do rapaz latino-americano. Dias depois, o Fantástico localizava Belchior em uma pousada no Chile, belo e tranqüilo, Belchior afirmou para a reportagem do Fantástico que estava no país vizinho à passeio e trabalho, ele pesquisava a música chilena e afirmou que tinha a pretensão de gravar um disco por lá com artistas chilenos. Um compositor e poeta da grandeza de Belchior, relegado e esquecido neste país miseravelmente ignorante como o Brasil, deveria mesmo ficar no Chile e não retornar mais, pois assim, quem sabe o destino não lhe dê mais reconhecimento por lá.

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323 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*OURO DE TOLO*

RAUL SEIXAS - (LP: KRIG-HÁ, BANDOLO!)

Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego

Sou um dito cidadão respeitável

E ganho 4 mil cruzeiros por mês

Eu devia agradecer ao senhor por ter tido sucesso na vida como artista,

Eu devia estar feliz porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito

Por morar em Ipanema depois de ter passado fome por dois anos

Aqui na Cidade Maravilhosa

Qh, eu devia estar sorrindo orgulhoso

Por ter finalmente vencido na vida,

Mas eu acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente por eu ter conseguido tudo o que eu quis

Mas confesso abestalhado, que eu estou decepcionado

Porque foi tão fácil conseguir e agora eu me pergunto e daí?

Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar

E eu não posso ficar aí parado

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324 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Eu devia estar feliz pelo Senhor ter me concedido

Um domingo pra ir com a família ao Jardim Zoológico dar pipoca aos macacos

Ah, mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado,

Macaco, praia, carro, jornal, tobogã,

Eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho se sentir um grandessíssimo idiota,

Saber que é humano, ridículo, limitado

E que só usa dez por cento de sua cabeça animal

E você ainda acredita que é um Doutor, Padre ou Policial

Que está contribuindo com sua parte

Para o nosso belo quadro social

Ah, eu é que não me sento no trono de um apartamento

Com a boca escancarada, cheia de dentes

Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais

Longe do cume calmo do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora de um disco voador...

(OURO DE TOLO também foi gravada pelo grupo Camisa de Vênus, no LP “Correndo o Risco”/1986-Warner Bross e por

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325 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Caetano Veloso, no LP “O Início, O Fim e O Meio”/1991-Epic/Sony Music, disco que reuniu vários grupos e cantores para uma homenagem a Raul Seixas. Um disco execrável, salvo raríssimas exceções, um verdadeiro caça-níqueis desprezível. A maioria dos artistas que participaram deste tributo nunca tiveram nenhuma ligação com a obra de Raul. Mas alguns dos participantes deram seu recado direitinho, como Caetano que cantou divinamente bem a clássica “Ouro de Tolo” e o mamulengo arretado Alceu Valença, que transformou “Como Vovó já Dizia” num belo forró/regae).

Eu sou punk

Eu quero matar minha mãe

Eu quero matar meu pai

Eu quero cuspir no copo de cerveja

Do meu melhor amigo

Eu sou punk.

(RAUL SEIXAS)

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326 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(FOTO: EDVALDO SANTANA e ISAAC SOARES DE SOUZA e o amigo Mateus, no SESC-SÃO CARLOS-SP-2010)

EDVALDO SANTANA gravou a música “METRÔ LINHA 743” no CD “LOBO SOLITÁRIO”/1995, gravadora Camerati. Admirador confesso do maluco-beleza, Edvaldo recebeu de presente um exemplar do livro “RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO”, durante apresentação no SESC-SÃO

CARLOS, em 1996. Edvaldo prestou naquela ocasião uma homenagem a Raul Seixas, citando frases de músicas dele na letra de sua apoteótica e

belíssima canção “A RÚSSIA PEGOU FOGO NA SAPUCAÍ”

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*EDVALDO SANTANA*

(Música popular inventiva e sofisticada, com o amor pela periferia na alma e na voz)

Edvaldo Santana nasceu e foi criado em São Miguel Paulista, periferia de São Paulo. Primeiro filho de uma prole de 8, esse filho do piauiense Félix e da pernambucana Judite, nordestinos que vieram tentar a sorte na cidade grande, teve o seu gosto musical despertado muito cedo e os primeiros acordes foram dados no velho violão do pai no final da década de 60, com influências que vão desde Manezinho Araújo, Jackson do Pandeiro, Torquato Neto a Jimi Hendrix e toda contra-cultura que entrava em cena nessa mesma época.

Na adolescência participou do grupo CAAXIÓ, mas nesta mesma época, a necessidade de ajudar a família o levou ao primeiro emprego numa fábrica de brinquedos, deixando os finais de semana para os ensaios com a banda. Uma luta desigual para quem tinha sonhos de se profissionalizar na música. Em 1974, no Teatro Arena, o CAAXIÓ apresenta o show “CASCA DE VENTO”, com Edvaldo como cantor e compositor. Os amigos Fernando Teles, Luciano Bongo e Zé Borges integravam o grupo. Numa época em que a censura era comum e não perdoava ninguém, o show teve dez músicas cortadas do seu repertório. Em meio à batalha pela sobrevivência o grupo consegue um contrato com a gravadora TOP-TAP, que de imediato impõe a condição de substituírem o nome do grupo, que passa a chamar-se MATÉRIA PRIMA. Infelizmente o contrato com a TOP-TAP é cancelado logo em seguida, mas o nome do grupo já modificado permanece intocável. Um ano antes da gravação do primeiro disco do MATÉRIA PRIMA, Edvaldo conhece TOM ZÉ, que convida o grupo para

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acompanhá-lo em alguns shows.

Edvaldo destaca esta fase de convivência com TOM ZÉ, como muito importante para sua formação e maior aprendizado. O primeiro disco sai finalmente pela Chantecler com a música “MARIA GASOLINA” sendo muito executada nas rádios. Em 1978 sai o segundo disco do MATÉRIA PRIMA, agora pela gravadora CBS e a música tocada nas rádios foi “ENTRANHAS DO HORIZONTE”.

MOVIMENTO POPULAR DA ARTE – No final dos anos 70 acontece o ressurgimento dos movimentos populares e sindicais em todo o país, com destaque às greves do ABC, antecedendo e sinalizando a abertura política e o fim da ditadura militar. Edvaldo e seu grupo e outros amigos músicos, poetas e artistas plásticos de São Miguel Paulista, atentos aos acontecimentos, resolvem se mobilizar e criam o MOVIMENTO POPULAR DA ARTE (MPA) promovendo eventos com música, teatro, poesia e oficinas de cultura. Foi um movimento pioneiro que serviu como orientação para muitos outros projetos de casas de cultura em São Paulo. Nesse mesmo período, o grupo MATÉRIA PRIMA participa de um evento em comemoração à visita do Papa João Paulo II ao Brasil, tocando para 100 mil pessoas no Morumbi.

No ano de 1985, o MPA, já reconhecido no meio artístico pelo trabalho que vinha desenvolvendo, grava uma coletânea com músicos locais no estúdio da Eldorado. São mais de cinco anos de existência e o movimento começa a apresentar um certo desgaste, conflitos de interferências políticas partidárias marcam, então, o fim do MPA.

CARREIRA SOLO - Com o fim do MPA, em 1986, Edvaldo Santana parte então, para a carreira solo, transfere-se para o Rio de

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Janeiro e se instala no Morro de Santa Teresa, onde vive entre o bate-bola com a rapaziada, suas composições e shows com o parceiro Paulo Aueira. Atento à riqueza cultural do Rio, freqüenta de festas do morro e gafieiras às apresentações da JAZZ SINFÔNICA. Circula pelo POSTO 9, ponto de encontro de personagens como Luís Melodia, Cazuza e Ferreira Gullar. A canção “SABONETE”, gravada no disco “LOBO SOLITÁRIO”, é desse período. Estamos em 1989 e Edvaldo resolve voltar para São Paulo, pois mesmo morando dois anos no Rio, era na Paulicéia Desvairada que viviam seus parceiros mais afinados. Conheceu o poeta Paulo Leminski através do amigo e parceiro, também poeta, Ademir Assumpção. Estas parcerias, além das engendradas com TOM ZÉ, Haroldo de Campos e Arnaldo Antunes, marcam sua carreira. Consegue um pré-contrato para gravar um disco com a Warner, que é cancelado com a vinda do devastador Plano Collor.

Desde 1980, época em que o Matéria Prima participava de festivais universitários

Edvaldo Santana mantém um relacionamento com a futura esposa Sueli, que é de Botucatu. Dessa relação nasceu em 1991 sua filha Carolina e com ela o poema “CARA CAROL”, que viria a ser gravado no segundo CD solo de Edvaldo, “TÁ ASSUSTADO”. Já o CD “LOBO SOLITÁRIO”, está em seu repertório de shows desde 1989, mas que foi gravado somente em 1993 pelo selo Camerati, como já foi descrito. O TOM WAITS da Paulicéia, com seu calo na garganta, o que faz de Edvaldo um dos mais destacados intérpretes da MPB, pois sua voz é única e facilmente identificável à primeira audição e que soa suave, embora possante e marcante em ouvidos sensíveis, mistura rock, blues e samba com a mesma maestria que interpreta qualquer

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canção popular. Infelizmente, o selo Camerati é limitado na distribuição de divulgação, e o disco tem dificuldade de chegar ao grande público. O mercado da música é monopólio das grandes gravadoras e as rádios estão vinculadas a este vergonhoso esquema, portanto, qualquer pequeno ou médio selo dará com os costados em diversos obstáculos de penetração num mercado mais abrangente. O segundo disco “TÁ ASSUSTADO”, foi lançado em 1993, agora pela gravadora Velas, com a participação do DUOFEL, Arnaldo Antunes e uma parceria inteligentíssima com o homem de Irará, TOM ZÉ. Shows do “Ta ASSUSTADO” são apresentados em vários pontos do país junto com algumas apresentações em festivais de blues, um público já conquistado pelo músico.

É citado no livro “DA LAMA À FAMA”, de Roberto Muggiatti, sobre a história do blues, onde o autor tece alguns comentários a respeito do trabalho de Edvaldo Santana, cujo artista, mesmo que trafegue por inúmeras tendências musicais, nunca perderá a aura de blueseiro, mesmo porque, ele trafega muito bem nesta estrada e sua voz rascante é puro blues. Já o terceiro CD, simplesmente intitulado “EDVALDO SANTANA”, lançado em 2000, com distribuição do selo Eldorado tem a participação de Oswaldinho do Acordeon, Fernando Deluque, Titane e Bocato. No repertório, “SAMBA DE TREM” abre o CD com Edvaldo fazendo suas alquimias e nesta faixa ele mistura o samba com seu ritmo contagiante aos slides da guitarra do blues. Além disso, há uma parceria inédita com Itamar Assumpção, “BLUES CABOCLO” e uma gravação antológica de “DOR ELEGANTE”, poema de Paulo Leminski. Destacam-se ainda, “SEM CENA” e “ZENSIDER” composições com letra de Ademir Assumpção. Arnaldo Antunes participa com a letra de “BEIJA-FLOR”, que encerra o álbum.

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AMOR DE PERIFERIA – Em 2004 Edvaldo lançou o CD “AMOR DE PERFERIA” e mais uma vez, a sonoridade é marcada pela diversidade, tem choro, reggae, samba-choro, blues de primeira qualidade, salsa e mambo-xote. A mistura testemunha a formação musical de Edvaldo: completa e exímia. Filho de músico que ouvia samba, choro e cantores populares em reuniões domésticas, enquanto escutava um pouco de tudo fora de casa: ROLLING STONES, BEATLES, ROBERTO CARLOS e ALTEMAR DUTRA.

Por isso, “AMOR DE PERIFERIA é um caldeirão sonoro, temperado com letras que, acima de tudo, resgatam outros tempos e outros lugares. É o caso da lírica “VARIANTE”, que recupera um episódio biográfico do músico, uma viagem que ele fez ao Norte do país quando criança, nesta viagem para sempre gravada na memória, um de seus irmãos morreu a bordo de um vapor no Rio São Francisco. “No Rio São Francisco navega o vapor/Que navegou no Mississipi/O Rio São Francisco deságua sua dor no Tietê/ Variante da estação do Norte/De seu Joaquim da Luz/Seu eu pudesse aproxima os empos/Adonirava o blues” Adonirava o blues é uma sacada e tanto de Edvaldo, porque Adoniram tinha muito a ver com aquela sagacidade periférica e simples do blues.

Músicas como “BATE LAJE” e “AMOR DE PERFERIA”, funcionam como crônicas musicais, ao focalizar cenas do cotidiano e falar de gente que encontra nas pequenas alegrias e na solidariedade um antídoto contra as agruras do dia-a-dia na periferia de qualquer grande cidade. Mais blues do que tais sentimentos, impossível descrever. O disco tem um a série de convidados especiais. O pianista cubano Yanel Matos participa das músicas “CHORO DE OUTONO” e “CANTORA DE CABARÉ”. A cantora Zélia Duncan divide os potentes

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vocais com Edvaldo na belíssima faixa “DESSE FRUTO”, enquanto “BATELAJE” tem a participação do Quinteto Preto e Branco e “GUILHOTINA” tem na guitarra Nuno Mindelis. Lenine, que é um grande admirador do trabalho de Edvaldo e um dos mais audazes e geniais compositores que o aís já pariu, divide os vocais com Edvaldo na gostosa música “O JOGADOR”. A letra da canção “CHORO DE OUTONO” homenageia e relembra nomes de grandes ídolos já mortos, mas jamais esquecidos da música brasileira e internacional: RAUL SEIXAS, CAZUZA, CARTOLA, CLEMENTINA DE JESUS, BOB MARLEY etc. Este é Edvaldo Santana. Para quem quer conhecer o que é música popular inventiva, sofisticada, singular, com imenso amor e reverência pela periferia na alma e na voz calejada. Quem já ouviu falar de Edvaldo Santana, o menestrel urbano-agreste-periférico? Quantas homenagens e prêmios recebeu? Quantas vezes suas geniais canções granjearam o topo das paradas de sucesso? Edvaldo é um dos mais tarimbados artistas populares, mas ainda amarga a desventura de não ter caído no gosto popular, talvez pelo simples motivo de sua genialidade assustar a quem o ouve pela primeira vez, popularesco, mas muito sofisticado. Alguém da importância de Edvaldo, culturalmente falando, merece o respeito e reconhecimento nacional. Poeta dos bons, músico exímio, empreendedor musical, historiador, compositor e descobridor de talentos, sempre viveu em prol da música. A música e a poesia urbana-agreste-periférica desse senhor é, deveras, da melhor estirpe, um retrato ¾ da vida cotidiana da gente simples da periferia paulista.

Somente com o talento e invenção é difícil competir e conquistar o mercado. Ainda bem que podemos contar com a coragem e ousadia de músicos como Edvaldo Santana, que até a

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presente data, não se rendeu ao “terrorismo cultural” imposto pelo mercado fonográfico. A genialidade desse senhor músico e poeta, que canta cenas e reminiscências de uma periferia muito diferente daquela que aparece hoje em dia nos raps, filmes e livros, merece ser mais respeitada e reverenciada, porque artistas com esse nível são raros neste mercado saprófago das artes, em todos os seus segmentos.

Ao falar de um tempo e de um lugar que não existe mais, Edvaldo fez seu disco mais pessoal. Edvaldo é puro blues. Então, ouso dizer: O rock é brasileiro e seu representante maior é, mesmo morto, RAUL SEIXAS. O blues é negro, mas também é brasileiro, pois a poesia/música de Edvaldo Santana é como o blues vindo lá das barrancas do barrento Rio Mississipi. Edvaldo Santana é um dos mais talentosos poetas e compositores da música brasileira, mas por incrível que pareça, ainda permanece no anonimato, não é conhecido do grande público e leva uma carreira independente. Recentemente, Edvaldo lançou mais dois discos primorosos, que engrandecem a historiografia da música brasileira: EDVALDO SANTANA – RESERVA DE ALEGRIA -, cujo disco faz jus ao título, pois é uma verdadeira reserva de alegria e o magnífico EDVALDO SANTANA AO VIVO.

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(FOTO CEDIDA POR DONA MARIA EUGÊNIA SEIXAS: OS PAIS DE RAUL, DONA MARIA EUGÊNIA SEIXAS E SR. RAUL VARELLA SEIXAS AO LADO DE UM FÃ DURANTE EXPOSIÇÃO RAUL SEIXAS NO SHOPPING BARRA, SALVADOR-BA - 19 a 25/08/1990)

“A VIOLÊNCIA É O IMPULSO DA MENTE, DO ÓDIO, DO IRREAL, DA “A VIOLÊNCIA É O IMPULSO DA MENTE, DO ÓDIO, DO IRREAL, DA “A VIOLÊNCIA É O IMPULSO DA MENTE, DO ÓDIO, DO IRREAL, DA “A VIOLÊNCIA É O IMPULSO DA MENTE, DO ÓDIO, DO IRREAL, DA FRAQUEZA, DO DESÂNIMO E DO DESCONTROLE” FRAQUEZA, DO DESÂNIMO E DO DESCONTROLE” FRAQUEZA, DO DESÂNIMO E DO DESCONTROLE” FRAQUEZA, DO DESÂNIMO E DO DESCONTROLE” ---- (Raul Seixas)(Raul Seixas)(Raul Seixas)(Raul Seixas)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(FOTO CEDIDA POR DONA MARIA EUGÊNIA SEIXAS: OS PAIS DE RAUL, RAUL VARELLA SEIXAS AO LADO

DE UM FÃ DURANTE EXPOSIÇÃO RAUL SEIXAS NO SHOPPING BARRA,

“A VIOLÊNCIA É O IMPULSO DA MENTE, DO ÓDIO, DO IRREAL, DA “A VIOLÊNCIA É O IMPULSO DA MENTE, DO ÓDIO, DO IRREAL, DA “A VIOLÊNCIA É O IMPULSO DA MENTE, DO ÓDIO, DO IRREAL, DA “A VIOLÊNCIA É O IMPULSO DA MENTE, DO ÓDIO, DO IRREAL, DA (Raul Seixas)(Raul Seixas)(Raul Seixas)(Raul Seixas)

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(RAUL SEIXAS DURANTE SHOW DE LANÇAMENTO DO LP “O DIA EM QUE A TERRA PAROU”, EM 1977 - SÃO PAULOARQUIVO DO NOVOAEON FÃ CLUBE/RAUL ROCK SEIXAS)

(EU ME UTILIZO DE TODOS OS MEIOS DA SOCIEDADECONSUMO, PENETRO NO SISTEMA, MAS COMO UM VENENO)

“Raul Seixas”

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(RAUL SEIXAS DURANTE SHOW DE LANÇAMENTO DO LP “O DIA SÃO PAULO-SP - FOTO:

AEON FÃ CLUBE/RAUL ROCK SEIXAS)

(EU ME UTILIZO DE TODOS OS MEIOS DA SOCIEDADE DE CONSUMO, PENETRO NO SISTEMA, MAS COMO UM VENENO) -

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336 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*ASA BRANCA*

LUIZ GONZAGA & HUMBERTO TEIXEIRA

Quando olhei a terra ardendo

Qual fogueira de São João

Eu perguntei a Deus do céu, ai,

Por quê tamanha judiação?

Que braseiro, que fornalha,

Nem um pé de plantação

Por falta d´àgua perdi meu gado,

Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a Asa Branca

Bateu asas do sertão

Entonce eu disse, adeus Rosinha,

Guarda contigo meu coração

Hoje longe muitas léguas

Numa triste solidão

Espero a chuva cair de novo

Pra mim voltar pro meu sertão

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337 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Quando o verde dos seus olhos

Se espaiar na plantação

Eu te asseguro, não chore não viu

Que eu voltarei, viu, pro meu sertão...

*WHITE WINGS*

Versão da obra original ASA BRANCA - (RAUL SEIXAS/EDIT. FERMATA 67955560)

LUIZ GONZAGA & HUMBERTO TEIXEIRA

When I stare the ground of my land

Burning loose as dancing flames

I asked the man upon the heavens

If I deserv me this kind of pain

Everywhere the ground is so dry

There´s no trees, no green, just red

I lost my casttle, my appaloosa

For lack of water some took away

Even white winged birds flew away

Flew away from my land sight

It was whwn I said goodbye sweet Rosie

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338 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Keep in to your heart, this heart of mine

My thousands miles away, now

Feeling lonely, lost and blue

I keep on away ting rain falls again there

So I´ ll be back Thou home again

When the glow green of your eyes

Flows again all over land

I can a sure yoy, so don´t you cry, no

´Cause I´ll be back, see

To you again!

(ASA BRANCA, este clássico nordestino, que relata o desespero do retirante sertanejo banido de sua terra, rachada e árida, aterrorizado pela seca e a música A TRISTE PARTIDA, composta por patativa do Assaré e gravada pelo Rei do Baião, juntamente com outro clássico do poeta de Assaré, VACA ESTRELA E BOI FUBÁ e CURVAS DO RIO, composição do mestre malungo e cantador ELOMAR, formam um quadrilátero musical, que é um verdadeiro documentário sobre a seca nordestina e a migração do sertanejo para os grandes centros à procura desesperada de uma vida mais digna, que não é encontrada nas grandes metrópoles. Raul Seixas regravou este clássico de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, em l977, no LP RAUL ROCK SEIXAS. Raul misturou ASA BRANCA com BLUE MOON OF KENTUCKY, provando que o rock e o baião, se não são irmãos gêmeos, no mínio são parentes próximos, pois a música não tem fronteiras. Já esta versão em inglês WHITE WINGS, magnificamente arquitetada por Raul Seixas, poderia ser um sucesso em qualquer parte do mundo, se houvesse interesse da

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gravadora Copacabana em torná-la conhecida em todo o planeta. Esta versão de ASA BRANCA foi gravada no CD RAUL SEIXAS DOCUMENTO. Não foi aproveitada pela gravadora Copacabana em nenhum dos discos de Raul. Um desperdício cultural sem precedentes, pois esta música reúne condições de ser sucesso lá fora e mataria MR. BOB DYLAN de inveja)

*VIOLÊNCIA*

RAUL SEIXAS - (Letra inédita)

Se você quer encrenca

´Cê já encontrou

Minha cara não nega

Tô ao seu dispor

Já nasci xingando

A parteira e o Doutor

Meu pai era um leão de chácara

Do mais baixo mangue

E eu sou o demônio!

Demônio e baixo astral eu sou

E, eu sou o demônio

O anjo do mal

Em mim baixou!!!

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340 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Evito violência

Pra quem é de paz

Mas se é na porrada

Pra mim nunca é demais

Se você quer sangue

Teu sangue eu te dou

E se você quer arruaça

Vagabundo, aqui estou

Eu sou o demônio!!

Demônio e baixo astral eu sou

É, é, eu sou o demônio

O anjo do mal

Em mim baixou!!!

*TEUS OLHOS AZUIS*

(Esta foi a primeira música composta por Raul Seixas para sua

namorada, Edith Wisner, em 1963)

Não sei porque gosto

Tanto assim de você

Não sei mais viver

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341 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Sem teus olhos azuis

Você, não há razão pra ter

Esta louca paixão

Não sei mais viver

Sem teus olhos azuis

Agora

Tenho mais porque viver

Tenho

Esta jóia que é você

Você louca paixão pra ter

Esta louca paixão

Não sei se são

Os teus olhos azuis...

*RAUL SEIXAS NÃO MORREU*

Isaac Soares de Souza/1995

Ninguém se iluda:

A Morte vem,

Antes do nascer do Sol

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342 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

À hora que ninguém espera!

De avião, navio, automóvel, Trem,

Trem 103, Trem das 7,

É o próprio arrebol

Com suas alpercatas

Cor de nuvem negra

Entoando mil endechas!

Amém, amém...

No balaço de uma arma que dispara

No fio cortante de uma navalha

Numa corda que se enlaça no pescoço

Para dar parada obrigatória à vida

No câncer já espalhado,

Na AIDS que consome vidas

Enfim, a morte está presente em todas as coisas vivas

Como dizia Raul Seixas:

Há homens que já nascem póstumos!

Pague pra ver que eu aposto

Falava dele próprio!

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343 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A Morte surda caminha ao lado

De todos nós

E ninguém sabe em que esquina

Ela vai nos beijar:

O coração que se recusa

A bater no próximo minuto,

Deus que não me quer mais sobre a face da Terra

Ou o Diabo que no sexto círculo de seu érebo me espera

Torturado, escravizado,

Excomungado e banido

Fuzilado, esfaqueado,

Enforcado covardemente

Como enforcaram a Saddam

Crucificado como Cristo

Qualquer tipo de morte está previsto

Para quem vive neste inferno/paraíso

Raul Seixas nasceu há dez mil anos atrás

Portanto, é eterno e não morrerá jamais!

Deixem-me escrever o que desejo

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344 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

O que posso fazer, o que almejo

Quebrando vidraças do velho Ricardo,

Nesta vizinhança sou filho bastardo

Opróbrio dos homens

Refém das dores que me consomem

Igreja, Estado e Sociedade

Viam na figura contestadora de Raul

O demônio e o cu

Do mundo,

Cachaceiro mal amado, vagabundo

Areia da ampulheta,

O falo que desvirginava qualquer boceta

Boca escancarada cheia de dentes

Escarrando verdades na cara da gente

Mas, Raul sabia por quem os sinos dobravam

Porque os burgueses e os poderosos

Vomitam suas insanidades sobre

As cabeças sem capacete protetor

Agora, destituído do corpo carnal

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345 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Raul caminha anônimo

Pelo insondável flanco

Da alma que se levanta sobre os pés

Invisíveis do coração descontínuo

De saudade!

Como soldado que voltasse

De uma batalha magnânima,

Não como herói que matou mais inimigos

Mas como um desertor

Que abandonou sorrateiramente o front,

Porque herói de guerra é o soldado que deserta

Nas margens da carne

Que arqueja e que arde

E parece um gemido

E percorre nossos ossos, nossos corpos deitados

Como animais extasiados

Pelo trabalho escravo

Manifestando em nós

A Sociedade Alternativa,

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346 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Outorgando-nos

A Cruz de Ansata,

A Chave da Vida!!!

A Morte não mata quem já nasceu imortal!

Metamorfose Ambulante,

Maluco Beleza, livre de corrente nas patas!

Já que somos o protótipo dos animais...

Quixote de Cervantes,

Mágico e forte,

Raul Seixas rompeu os grilhões

Disfarçado de louco

Vomitastes à mesa da realeza

Do Monstro Sist, da Sociedade e da Igreja,

Essa mesma Igreja que queimou multidões nas fogueiras

E conduz suas reses à beira do precipício da ignorância

E da servidão,

Que transformou Deus na bandeira negra da segregação

Raul, crescestes e conduzistes

Um povo chamado raulseixista

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347 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

E atravessastes a nado um mar Vermelho imaginário

Como Moisés no Livro sagrado,

Mas um Mar vermelho de sangue

E tirastes água da rocha,

Guerreiro, tua espada

Era a guitarra na mão

Você não morreu

Voltastes da batalha entre heróis feridos

E nós, os incompreendidos

Raulseixistas

Somos testemunhas sacrílegas

E primeiras como Madalena

Da tua ressurreição!!!

*TER PODER É TER O PODER DE QUÊ? SOBRE O QUÊ? TER O *TER PODER É TER O PODER DE QUÊ? SOBRE O QUÊ? TER O *TER PODER É TER O PODER DE QUÊ? SOBRE O QUÊ? TER O *TER PODER É TER O PODER DE QUÊ? SOBRE O QUÊ? TER O CONTROLE DE QUÊ? DE UMA IDÉIA, SEUS FILHOS DA PUTA?* CONTROLE DE QUÊ? DE UMA IDÉIA, SEUS FILHOS DA PUTA?* CONTROLE DE QUÊ? DE UMA IDÉIA, SEUS FILHOS DA PUTA?* CONTROLE DE QUÊ? DE UMA IDÉIA, SEUS FILHOS DA PUTA?* ----

(Raul Seixas)(Raul Seixas)(Raul Seixas)(Raul Seixas)

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(RAULZITO EM ITAJAÍ-SC/1998) - FOTO: CEDIDA POR ROSEMARI MABA (ANJO TORTO DE BLUMENAU)

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349 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*Amar é querer a liberdade, a completa liberdade do outro. O *Amar é querer a liberdade, a completa liberdade do outro. O *Amar é querer a liberdade, a completa liberdade do outro. O *Amar é querer a liberdade, a completa liberdade do outro. O primeiro ato do verdadeiro amor é a emancipação completa da primeiro ato do verdadeiro amor é a emancipação completa da primeiro ato do verdadeiro amor é a emancipação completa da primeiro ato do verdadeiro amor é a emancipação completa da pessoa que se ama.pessoa que se ama.pessoa que se ama.pessoa que se ama.

Não se pode verdadeiramente amar senão a um ser Não se pode verdadeiramente amar senão a um ser Não se pode verdadeiramente amar senão a um ser Não se pode verdadeiramente amar senão a um ser perfeitameperfeitameperfeitameperfeitamente livre.nte livre.nte livre.nte livre.

Um ANARQUISTA não reconhece ninguém acima dele nem abaixo. Um ANARQUISTA não reconhece ninguém acima dele nem abaixo. Um ANARQUISTA não reconhece ninguém acima dele nem abaixo. Um ANARQUISTA não reconhece ninguém acima dele nem abaixo. Nenhum homem deve pretender representar outro homem, porque Nenhum homem deve pretender representar outro homem, porque Nenhum homem deve pretender representar outro homem, porque Nenhum homem deve pretender representar outro homem, porque nisso reside a fonte de toda obediência e de todo conformismo. A nisso reside a fonte de toda obediência e de todo conformismo. A nisso reside a fonte de toda obediência e de todo conformismo. A nisso reside a fonte de toda obediência e de todo conformismo. A Anarquia é uma sociedade de Anarquia é uma sociedade de Anarquia é uma sociedade de Anarquia é uma sociedade de iguais e livres. Numa Sociedade de iguais e livres. Numa Sociedade de iguais e livres. Numa Sociedade de iguais e livres. Numa Sociedade de iguais, não se pode conceber Hierarquias, porque a Hierarquia iguais, não se pode conceber Hierarquias, porque a Hierarquia iguais, não se pode conceber Hierarquias, porque a Hierarquia iguais, não se pode conceber Hierarquias, porque a Hierarquia pressupõe a distinção e por conseqüência privilégio.pressupõe a distinção e por conseqüência privilégio.pressupõe a distinção e por conseqüência privilégio.pressupõe a distinção e por conseqüência privilégio.

A Humanidade se encontra dividida: De um lado os que buscam A Humanidade se encontra dividida: De um lado os que buscam A Humanidade se encontra dividida: De um lado os que buscam A Humanidade se encontra dividida: De um lado os que buscam o Poder (foo Poder (foo Poder (foo Poder (fonte de todas as misérias humanas); do outro os que nte de todas as misérias humanas); do outro os que nte de todas as misérias humanas); do outro os que nte de todas as misérias humanas); do outro os que pretendem destruir o Poder, nesta estão os “ANARQUISTAS”*.pretendem destruir o Poder, nesta estão os “ANARQUISTAS”*.pretendem destruir o Poder, nesta estão os “ANARQUISTAS”*.pretendem destruir o Poder, nesta estão os “ANARQUISTAS”*.

(Trecho do Discurso Anarquista do revolucionário russo Mikhail Bakunin, falecido em 1876)

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*ZÉ RAMALHO CANTA*ZÉ RAMALHO CANTA*ZÉ RAMALHO CANTA*ZÉ RAMALHO CANTA RAUL SEIXAS*RAUL SEIXAS*RAUL SEIXAS*RAUL SEIXAS*

(FOTO: ZÉ RAMALHO/RAUL SEIXAS – CAPA DO CD “ZÉ RAMALHO CANTA RAUL SEIXAS” - BMG/2001)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

RAUL SEIXAS*RAUL SEIXAS*RAUL SEIXAS*RAUL SEIXAS*

CAPA DO CD “ZÉ RAMALHO

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351 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Em maio de 2001, finalmente foi lançado o tão esperado e alardeado CD “ZÉ RAMALHO CANTA RAUL SEIXAS” – BMG, um trabalho musical da mais inesperada magnificência. Ousado em todos os sentidos, poder-se-ia afirmar sem receio de cometer qualquer exagero, embora a maioria da crítica especializada tenha execrado este disco de Zé Ramalho. Mas todo mundo deixou de pesar as conseqüências que um disco como este pode acarretar à carreira de um nome tão elevado quanto o de Zé Ramalho, exatamente, mesmo porque, um artista de nível indiscutível como Zé, com a carreira solidificada e considerada uma das mais brilhantes, geniais e eloqüentes, mas que teve a coragem e a ousadia de gravar um disco tributo a um gênio como Raul, é o mesmo que correr sérios riscos. Mas, Zé Ramalho resolveu correr este grande risco profissional, pois há muito se confessava admirador da obra musical e filosófica de Raul Seixas. Zé já havia gravado a música “O TREM DAS SETE”, no primeiro CD do projeto “O GRANDE ENCONTRO”, que gerou outros discos ao lado de Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e Alceu Valença, Belchior e Morais Moreira. Zé Ramalho também tinha em consentimento com Raul, a pretensão de gravarem um CD juntos, o que não aconteceu devido a morte do ídolo, em 1989. Raul chegou a passar uns dias no apartamento de Zé Ramalho, no Rio, logo após sua separação de Kika Seixas e Zé também tinha se separado de Amelinha. Permaneceram dois ou três dias juntos cantando músicas um do outro, bebendo muito e loucos. Zé registrou esse inédito encontro em vídeo e me cedeu uma cópia de alguns minutos dessa farra memorável e inédita. Afora a pendenga na justiça quanto à liberação para a gravação de certas canções clássicas, frutos da parceria Raul Seixas/Paulo Coelho, que acabaram ficando de fora do CD, a coragem de resgatar a obra

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raulseixista num disco tributo, já constitui um ato de heroísmo desse paraibano, que não precisa de licença para homenagear quem quer que seja. Um artista do porte de Zé Ramalho, um monstro sagrado, ao prestar uma homenagem tão digna, honrada como esta a um gênio que nunca teve absolutamente nada a ver com a linha evolutiva da música popular brasileira, ao mesmo tempo em que atinge o ponto máximo de sua carreira e discografia, corre fatalmente, o sério risco de acrescentar pontos negativos ao seu trabalho. A mordacidade e ignorância da crítica musical e de uma diminuta parcela do público ramalheano entenderam tudo de forma equivocada, desconexa e invejosa.

Entretanto, a qualidade e a aura de magnificência que cercam este disco, são, por si só, suficientes para atestar a veracidade da obra em questão e colocá-la no patamar dos grandes discos brasileiros de todos os tempos.

Zé Ramalho, há anos atrás, antes mesmo do lançamento deste CD em 2001, já anunciara o lançamento em questão e tinha em mente a gravação de outras músicas de Raul e até uma letra inédita de Raulzito, que ele se incumbiu de musicar e gravar neste mesmo disco. Por causa de uma pendenga sem nexo, Zé acabou modificando todo o repertório do disco e gravou tão-somente composições do próprio Raul, o que eu, pessoalmente, achei supimpa, pois, sem sombra de dúvida, as canções que Raul compôs sem o dedo parasita de certos parceiros, são deveras verdadeiras obras-primas e foi aí que Zé Ramalho acertou em cheio e matou à pau a pretensão financeira das pessoas envolvidas na pendenga proibitiva. “HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS” acabou ficando de fora do disco, por fazer parte da trilha

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sonora da novela UM ANJO QUE CAIU DO CÉU, fato curioso que comprova o jogo da indústria da música, pois, se fosse gravada no CD bateria de frente com a trilha sonora da novelinha global.

Pela primeira vez, 12 anos depois de sua morte, Raul Seixas, finalmente, recebia uma homenagem histórica e à altura de seu talento e genialidade.

Muita porcaria, aliás um monte de merda disfarçado de tributo, foi lançado no mercado em homenagem a Raul. Discos póstumos do mais baixo nível, verdadeiros caça-níqueis. Duplas sertanejas com suas vozes esganiçadas, cantores popularescos ao extremo e até grandes nomes da MPB (?), se aventuraram em homenagens pouco elogiáveis e verdadeiras. Ai, meu Santo Deus, ia me esquecendo de citar mais uma vez os pretensos imitadores de Raul, esses os mais tenebrosos e horripilantes, todo mundo de repente virou raulseixista e queria pelo menos um grama da barra do Ouro de Tolo. Apenas e tão-somente, raríssimas exceções prestaram homenagens dignas a Raul Seixas, mas podem ser contados nos dedos de uma única mão, o resto é resto, um bando de parasitas, muita estrela para pouquíssima constelação. E entre os que mais merecem destaques neste rol de nomes que prestou homenagens ao maluco beleza, sem sombra de dúvida, destacam-se as bandas de blues nacionais, que transformaram algumas canções de Raul em blues clássicos, se bem que algumas das músicas gravadas por estas mesmas bandas já tinham toda a levada blues prontas, entre estas bandas pode-se seguramente destacar: BLUES ETÍLICOS, MR. JACK, BASEADO EM BLUES, BLUES THE VILLE e EDVALDO SANTANA.

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*LAMPIÃO*

Isaac Soares de Souza

Desde que nascemos já estamos condenados à morte,

Como se fossemos bois de corte...

Mundo em colapso,

Povo escravizado, relapso

Anjos caídos trilhando caminhos tortos

Guerras de raças,

Poder e religião:

Deus virou bandeira negra da segregação

Etnias, miscigenação

O homem não passa de um cão

Babando sua hidrofobia

Pelas eras de covardia

Todos somos negros

Todos somos pó...

Destituídos da fé

O mais negro dos negros foi Jessé

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355 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Avô do Rei Salomão

Negra era a bela rainha de Sabá,

Que fez desmoronar de tesão

O mais sábio dos filhos de Davi

Negra é toda e qualquer nação

Construída sob o domínio e a escravidão

“LAMPIÃO disse que contra o flagelo

tem de lutar de parabelo na mão...”*

No Nordeste brasileiro

Antônio Conselheiro erigiu Canudos

Um verdadeiro Guevara na guerrilha do sertão

Tudo arrasado, enterrado

Pela poeira da História,

Tão mentirosa quanto os que a registram e escondem suas razões

Liberdade se conquista

Através do desejo de ser livre dos grilhões

Pois, quando o EDNARDO fala PÃO

Ele quer dizer tudo o que alimentar

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356 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Vítimas que respeitam seus algozes

Não merecem piedade

Pra se conquistar a liberdade

Aprenda esta verdade:

Nesta caatinga tem de ser mais LAMPIÃO

Reses desgarradas

A caminho do matadouro:

Olhem o “estouro do gado”

(*Citação da música “CANDEEIRO(*Citação da música “CANDEEIRO(*Citação da música “CANDEEIRO(*Citação da música “CANDEEIRO ENCANTADO”, de Lenine/Paulo César ENCANTADO”, de Lenine/Paulo César ENCANTADO”, de Lenine/Paulo César ENCANTADO”, de Lenine/Paulo César Pinheiro, que faz parte do CD “O DIA EPinheiro, que faz parte do CD “O DIA EPinheiro, que faz parte do CD “O DIA EPinheiro, que faz parte do CD “O DIA EM QUE FAREMOS CONTATO” M QUE FAREMOS CONTATO” M QUE FAREMOS CONTATO” M QUE FAREMOS CONTATO” –––– BMGBMGBMGBMG

*ZÉ RAMALHO DA PARAÍBA**ZÉ RAMALHO DA PARAÍBA**ZÉ RAMALHO DA PARAÍBA**ZÉ RAMALHO DA PARAÍBA*

Isaac Soares de Souza/1997

Da Paraíba

Trepidantemente veio Zé Ramalho

Coringa do baralho

Desde os atalhos

Lá de Brejo do Cruz,

Lugar cercado de luz!

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357 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Apolo da caatinga,

Agora o cantador se vinga

Das mazelas e mandingas

Com seus versos de Cordel!

É a eterna peleja do Diabo com o Dono do Céu,

Num Martelo Agalopado

Tridente no rabo do Diabo

Num Galope à beira mar

Fez o Tinhoso se afogar

Veio, viu e venceu,

Desde o começo com o mamulengo Alceu

Mas, isso não vem ao caso

Pois o sofrimento está por todo lado,

E feliz é o cantador

Que canta por amor

Já dizia Zé nas “Décimas de um Cantador”:

A missão do cantador

É de andar pelas estradas

Levando a sua função

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358 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Nas rimas improvisadas!!!

Em 1986, no LP “OPUS VISIONÁRIO” Em 1986, no LP “OPUS VISIONÁRIO” Em 1986, no LP “OPUS VISIONÁRIO” Em 1986, no LP “OPUS VISIONÁRIO” –––– CBS, Zé Ramalho CBS, Zé Ramalho CBS, Zé Ramalho CBS, Zé Ramalho homenageou Raul Seixas com a homenageou Raul Seixas com a homenageou Raul Seixas com a homenageou Raul Seixas com a canção “BÊ”, segundo afirmação canção “BÊ”, segundo afirmação canção “BÊ”, segundo afirmação canção “BÊ”, segundo afirmação do próprio Zé, esta canção é uma continuação de “MEDO DA do próprio Zé, esta canção é uma continuação de “MEDO DA do próprio Zé, esta canção é uma continuação de “MEDO DA do próprio Zé, esta canção é uma continuação de “MEDO DA CHUVA”)CHUVA”)CHUVA”)CHUVA”)

*ZÉ RAMALHO OFICIAL FÃ CLUBE - QNM 19 - CONJ. K - CASA 06 - CEILÂNDIA SUL - BRASÍLIA-DF - CEP. 72.215-190

*BÊ*

Zé Ramalho

Só depois que eu deitei em espinhos

É que eu percebi

Como é bom ter uma cama macia perto de você

Embora não tenhas comigo jogado

No jogo da morte é que eu vi você

Tão louca voando de longe

De longos cabelos de puro Liz

Teu vestido de gazes macias

Recebeu de mim

Novamente a eterna afeição dos meus madrigais

Tão louca menina de longos desejos que eu descobri

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359 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Vestida de noiva dos meus 20 anos de medo que eu construí

Porta aberta postigo de coisas, meus anseios vi

Refletidos no mais violento carne carnaval

Caindo de sono no meio do mundo eu fui passear

Nos dentes vermelhos da boca

Pequena que eu quase morri de rir

Teu sorriso no meu parapeito encontrou a paz

Nas delongas, matizes, apertos, essa cor esvai

Um lampejo nos olhos profundos me alucinou

Como fogo do teu artifício me alumiou

Pequeno fogo trocado, molambo, pano queimado

Tigela, pente e um bê

Beijando bela duquesa, batendo, bule e beleza

Boneca, branca e buquê por quê?

Zé Ramalho começou a interpretar as músicas de Raul Seixas, em seus shows a pedido dos próprios fã clubes, que sempre vislumbraram em seu trabalho poético/musical, semelhanças proféticas e apocalípticas, com o que Raul queria dizer em suas músicas. Rita Lee, a Ovelha Negra, rainha do rock nacional, fanzoca de Raul Seixas e de Zé Ramalho, carinhosamente os alcunhou de NOSTRADAMUS (ZÉ) e MAGO MERLIN (RAUL).

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360 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(A MORTE É A ÚNICA FORMA INFALÍVEL DE JUSTIÇA. AOS ENFUNADOS DE ORGULHO, REIS E PRÍNCIPES, SANTOS E PECADORES, FAUSTOS E MISERÁVEIS, NEGROS, BRANCOS, ALBINOS E VERMELHOS, PODEROSOS E ESCRAVOS, A MORTE OUTORGA O MESMO DIREITO DE REGRESSO AO ESTADO PRIMORDIAL DE NASCENÇA: ÉS PÓ E AO PÓ

TORNARÁS) - Isaac Soares de Souza -

O Brasil precisou perder Raul Seixas para reencontrá-lo na eternidade de sua obra, um fator tragicômico, mas que é uma característica de um povo sem cultura e sem memória, pois como dizia o próprio Raul: “A SOCIEDADE ASSASSINA SEUS POETAS PARA ENTÃO CITÁ-LOS”. Muito bem feito para o povo brasileiro as palavras vociferadas pela boca suja e livre de cabresto da pérola Janis Joplin, em fevereiro de 1969, em relação ao Brasil. Após cinco semanas em férias no território brasileiro, Janis estava de malas prontas para retornar a São Francisco junto com um de seus namorados, quando o dito cujo, certamente mais um passatempo de Janis, de nome David Niehaus foi retido no aeroporto do Rio por estar com o seu visto vencido. Janis embarcou sozinha no avião, mas antes de voar, berrou para os policiais: “Você é um cu e este país é um cu!” (JANIS JOPLIN: UMA VIDA. UMA ÉPOCA, páginas 279/280 – Alice Echols – Editora Global/2000). A polícia brasileira e o próprio Brasil, não poderiam ter recebido uma descrição tão real e verdadeira. Tudo aqui é um cu... Portanto, Zé Ramalho Canta Raul Seixas, doa a quem doer, gostem ou não, pode ser considerado uma obra-prima, este sim, um verdadeiro tributo ao artista genial, injustiçado, cachaceiro mal-amado, o boi diário servido em pratos, que precisou ser enterrado para saber que é morrendo que se vive para a vida eterna, como apregoa o Livro Sagrado.

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*O DIA D**O DIA D**O DIA D**O DIA D*

Eliezer Soares de Souza

Quando o carro funerário da “CAMINHO DO CÉU”,

Ou de outra agência funerária qualquer

Cismar comigo e vier solene e devagar,

E solicitar meus dados para a nota funerária

O mundo talvez esteja tão claro!

No entanto, meu pensamento estará escuro

E toda claridade desertora repousará longe de mim

E restarei inanimado e só feito uma pedra,

Abandonado ao silencioso festim dos vermes

Meu espírito apregoado

Nas Escrituras sagradas,

Sem ânimo nem fé para ressurreição

Nem de mim se lembrará

Também gelado, mas se esquecido

Na eternidade do tempo e de tudo.

(TODO DIA É DIA D) (TODO DIA É DIA D) (TODO DIA É DIA D) (TODO DIA É DIA D) ---- Torquato Neto Torquato Neto Torquato Neto Torquato Neto ----

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362 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(A IGREJA, O ESTADO E A SOCIEDADE, SÃO AINDA TÃO ANÁTEMAS PARA A HUMANIDADE, QUE DÃO AO SUICÍDIO

O ADJETIVO DE CRIME, COMO SE O HOMEM NÃO TIVESSE A CAPACIDADE DE DECIDIR ENTRE SUA PRÓPRIA

VIDA OU SUA IMINENTE MORTE) - Isaac Soares de Souza

*ZÉ GERALDO: UM PÉ NO MATO, UM PÉ NO ROCK*

- O CATADÔ DE BROMÉLIAS -

Mineiro de Rodeiro, mas criado em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, Zé Geraldo canta desde muito jovem, aliás canta e encanta. Cheio de sonhos veio para São Paulo tentar a carreira futebolística, mas devido a um inesperado acidente aos 20 anos, teve seus sonhos interrompidos e decidiu seguir a carreira musical, muito mais profícua do que o futebol, que se tornou um verdadeiro ringue de violência, um escárnio absoluto. O futebol brasileiro naufraga num oceano de pancadaria entre os fanáticos torcedores, pois o ser

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(A IGREJA, O ESTADO E A SOCIEDADE, SÃO AINDA TÃO ANÁTEMAS PARA A HUMANIDADE, QUE DÃO AO SUICÍDIO

O ADJETIVO DE CRIME, COMO SE O HOMEM NÃO TIVESSE A CAPACIDADE DE DECIDIR ENTRE SUA PRÓPRIA

Isaac Soares de Souza

*ZÉ GERALDO: UM PÉ NO MATO, UM PÉ NO ROCK*

Mineiro de Rodeiro, mas criado em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, Zé Geraldo canta desde muito jovem, aliás canta e encanta. Cheio de sonhos veio para São Paulo tentar a carreira

ística, mas devido a um inesperado acidente aos 20 anos, teve seus sonhos interrompidos e decidiu seguir a carreira musical, muito mais profícua do que o futebol, que se tornou um verdadeiro ringue

nio absoluto. O futebol brasileiro naufraga num oceano de pancadaria entre os fanáticos torcedores, pois o ser

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humano não admite perdas e o sabor da vitória tem de ser comemorado a qualquer custo. É óbvio que o futebol é uma indústria bilionária, por isso as autoridades não tomam providências enérgicas para acabar com tamanha violência e desfaçatez humana. Ainda bem que Zé se safou desta maldição e enveredou pela senda da poesia e da música. Pois o futebol atual, não pode ser chamado de arte, mesmo porque, é uma baderna desenfreada, Zé trabalhava, estudava e tocava em festas nos finais de semana e assim prosseguiu durante oito anos para sobreviver na selva de aço e concreto. Depois de participar de diversos festivais entre 1975 e 1978, conseguiu gravar seu primeiro disco pela gravadora CBS. O cantor mineiro tem um público cativo e desenvolveu um estilo bem próprio, zegeraldiano, que cheira à Bob Dylan e às vezes envereda pelas estradas raulseixistas, porque Zé é um admirador confesso da obra musical e filosófica do mago baiano. Passa ao largo da mídia sem com isso ficar no anonimato. Foi reconhecido pelo crítico musical Ronaldo Bôscoli como um letrista que desenvolve um trabalho dos mais bonitos e profundamente sincero. Versos fortes e melodias claras e únicas ilustram seu trabalho poético e dos mais marcantes e interessantes dentro do fraco mercado musical brasileiro. Nos seus mais de 30 anos de carreira, Zé Geraldo continua fiel a sua maneira de construir letras com junções de imagens urbanas e rurais. Zé Geraldo é um catadô de bromélias, as quais ele transforma em lindas e tocantes poesias. Ele tem um quê de sertão, mas não canta baião. Ele faz, isto sim, um country-rock à moda brasileira de muito bom gosto. Zé Geraldo sempre teve um pé no mato e outro no rock. No entender de Zé Geraldo, sua obra é o resumo simples de toda a sua trajetória, das festinhas, bailes e festivais aos palcos de Nova Iorque ou dentro da selva amazônica. Uma coroação à altura de quem nunca se vendeu ao

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sistema e jamais ficou de quatro para receber no rabo a estocada do cacete enorme do sucesso fácil. Entre os anos de 1975 a 1978 participou e foi largamente premiado em inúmeros festivais, de onde saiu direto para a gravadora CBS, levando seus versos arrancados do peito, para o festival MPB/SHELL. As músicas “RIO DOCE” e “MILHO AOS POMBOS” estouraram em todo o País, consolidando a carreira do nosso Bob Dylan, sem falar o grande estouro nacional que obteve a tocante música “CIDADÃO”. Naqueles longínqüos anos, duas belas músicas da lavra zegeraldiana foram destaques em novelas da Globo: “SÃO SEBASTIÃO DO RODEIRO”, em dueto com outro Zé, o Ramalho, que entrou na trilha nacional da novela (PARAÍSO) e “SEMENTE DE TUDO”, novela (LIVRE PARA VOAR). Zé percorreu o Brasil cantando e encantando a todos com suas músicas simples, mas geniais, principalmente o interior, num circuito de festas agropecuárias, feiras, exposições, teatros e ginásios, na maioria das vezes superlotados por um público cada mais fiel e juntos, cantavam “SENHORITA”, “MILHO AOS POMBOS”, “SEMENTE DE TUDO”, “COMO DIRIA DYLAN”, “CIDADÃO”, “QUANTO MAIS CONHEÇO OS DITADORES MAIS EU AMO O MEU CACHORRO”, esta música é uma homenagem ao grande ídolo Raul Seixas, composta no dia em que Raul faleceu. Em 1993, Zé Geraldo se apresentou em diversas cidades dos Estados Unidos, onde encontrou um grande mercado formado por brasileiros e latinos de um modo geral. Se sentiu em Minas Gerais. Zé é um dos recordistas de público do Centro Cultural São Paulo e Sesc: Fábrica Pompéia (São Paulo), Teatro Municipal (Santo André-SP), Teatro Cacilda Becker (São Bernardo do Campo-SP), Teatro Carlos Gomes (Vitória-ES), entre outros. Se apresenta regularmente nos garimpos das regiões amazônicas, onde é um dos artistas mais populares e queridos.

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(FOTO/JOSÉ WAICENKOVAS, cedida por

Zé Geraldo)

TOCAR E CANTAR

O velho hippie e sonhador de versos e prosas e que já foi gerente administrativo de uma empresa, vindo de uma família de músicos e que começou muito cedo a cantar e a tocar violão, é um combatente ferrenho de idéias e ideais. Este mesmo Zé Geraldo, que tem um pé no mato e outro no rock e que enveredou pelos caminhos do country-rock de qualidade indiscutível e

por meio de suas músicas repletas de apelos sociais, em que a vida do trabalhador rural e migrantes nordestinos, comoventemente, são um ponto inconteste em sua prática, é considerado por muitos o sucessor de Raul Seixas, e por causa disso arrebanhou grande parte do público do cantor falecido em 1989. Todos os que admiram o trabalho musical e filosófico de Raul Seixas, vêem em Zé Geraldo o ídolo que partiu cedo para outra dimensão e que resumiu tudo o que buscava a nossa geração.

Mas, Zé Geraldo já passou também maus momentos. Quando

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assinou contrato com a gravadora CBS, em 1979, pela qual lançou três discos, surgiu ao lado de nomes como Zé Ramalho, Elba Ramalho e outros nordestinos. Fizeram sucesso juntos, mas pouco tempo depois ele deixou de ser a estrela da gravadora, como ele mesmo afirma. E neste contexto de cair no esquecimento e deixar de ser um dos nomes que recebia mais apoio da gravadora, que passou a apoiar e investir mais no pessoal que desceu do Nordeste, houve, sem sombra de dúvida, traições vindas de quem Zé acreditava ser seu amigo, mas que, na verdade, era amigo da onça e puxou, sem que ele esperasse o seu tapete na CBS. Embora Zé, que um homem

digno e honrado ao extremo, nunca tenha tecido nenhum comentário à respeito, eu tenho certeza de que tal fato ocorreu e sei até mesmo o nome do traidor, mas não me compete aqui levantar fatos já sepultados.

Zé mergulhou no ostracismo popular e numa de suas músicas, deu a entender a realidade dos fatos, quando cantava “QUEM NASCE ZÉ NÃO MORRE JOHNNY, NÃO...”. As portas dos grandes centros se fecharam para ele, que teve de desbravar seus caminhos sozinho. Foi um tempo de dificuldades que o fizeram um homem amargo e desconfiado com o verdadeiro sistema das gravadoras. É essa força incrível que existe dentro de cada um, que o empurrou às estradas mais longínquas, aos lugares mais extremos acompanhado de seu violão e seus amigos, parceiros de sonhos, canções e lutas.

GUERRILHEIRO DE IDÉIAS

O seu dom de cativar pessoas e a sua simplicidade, sua integridade como ser humano tiveram a grandeza necessária, capaz de furar o bloqueio da mídia e semear a sua proposta nos ouvidos

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atentos e espíritos abertos. Hoje Zé Geraldo não precisa mais provar nada a ninguém, muito pelo contrário, as pessoas é que têm de provar se são inteligentes e cultas, ou fazem parte desse conluio de mongolóides guiado pela mídia e pela indústria fonográfica. Hoje, como ele mesmo canta, não tem mais a ilusão de aparecer nos programas do Gugu e do Faustão. Mas como este é o País em que compositores de música popular são chamados de grandes poetas, um escárnio total e absoluto, que lugar teria a poesia desse mineiro que sabe o que fala e o que compõe?

Parafraseando o indizível Graciliano Ramos: “UM PAÍS SEM CULTURA É APENAS UM DEPÓSITO DE GENTE SEM DESTINO E SEM FUTURO”.

Zé Geraldo é um guerrilheiro de idéias e ideais, mas um guerrilheiro pacífico, quixotesco, capaz de semear músicas no solo fértil de quem não se deixa influenciar por falsos líderes que se intitulam porta-vozes da razão. Ele se contenta em vender 30 mil discos por ano e andar com a consciência limpa, independente das facilidades encontradas nas propostas daqueles encantos contidos no apelo popular. Apesar de ter o apoio de um dos mais fiéis públicos do Brasil, Zé Geraldo continua uma pessoa muito simples, não se importa com o boicote que costuma sofrer das rádios e TV´s, tranqüilo e sem pressa de caminhar, ele responde àqueles que o indagam sobre a pretensão de ser mais tocado nas rádios e TV´s de todo o País: “Qualquer pessoa está sujeita a ter sucesso, mas prestígio e respeito é mais difícil. Se você tendo prestígio e respeito, está fadado a ter sucesso”.

“O Show é uma arma que eu tenho, pois onde a gente toca, a gente volta; exposições, praças, feiras, teatros e campos de futebol,

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qualquer lugar”.

Zé Geraldo se dá ao luxo de recusar propostas de mudança de estilo ou de fazer jingles políticos, e diz: “Acho que isso é dignidade. Para quem trafega pela marginal como eu, está bom”.

*GALHO SECO*

Zé Geraldo

“Quando um homem chega numa encruzilhada

quando a gente chega numa encruzilhada

Olha para um lado é nada

Olha para o outro é nada também

Aí o céu escurece, o céu desaba

Tudo se acaba

Quando tudo tá perdido na vida

Só quando tudo tá perdido na vida

É que a gente descobre que na vida, na vida

Nunca tudo tá perdido, minha flor.”

Eu andava acabrunhado e só

Perdido e sem lugar

Feito um galho seco

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369 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Arrastado pelo temporal

Pensei até em enrolar minha bandeira e dar no pé

Eu pensei até em jogar fora a minha história

Os documentos e a minha fé

Fazia tempo que o sol não derramava luz na minha vidraça

Depois que tudo passa

O vento leva as nuvens negras

Noutra direção

Também pudera uma hora

Era o fogo que rasgava o chão

Outra hora era a chuva

Que descia e afogava toda a plantação

Ainda bem que me restou o seu sorriso

Que me alumia a alma

Que me acalma quando é preciso

E como eu preciso!

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370 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*O SERINGUEIRO*

(DEDICADA AO AMANTE DA NATUREZA CHICO MENDES)

ZÉ GERALDO

Muita dó

No pio da jaó

Bem-te-vi viu primeiro

Tratou de avisar o mundo inteiro

Só não pode evitar

Que um golpe traiçoeiro

Derrubasse o mais forte seringueiro

Chora rio

Desafoga cachoeira

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371 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Sai no bico da torneira

O choro de um coro

De curiós e juritis

Acompanhando o canto da perdiz

Como era verde o meu País...

*CACHORRO URUBU*

RAUL SEIXAS/PAULO COELHORAUL SEIXAS/PAULO COELHORAUL SEIXAS/PAULO COELHORAUL SEIXAS/PAULO COELHO

GRAVAÇÃO: ZÉ GERALDO/CD “APRENDENDO A VIVER” (Gravadora Eldorado

Baby, essa estrada é comprida

Ela não tem saída

É hora de acordar

Pra ver o galo cantar

Pro mundo inteiro escutar

Baby, a história é a mesma

Aprendi na quaresma

Depois do carnaval

A carne é algo mortal

O mundo é de avançar sinal

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372 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Todo jornal que eu leio

Me diz que a gente já era

Que não é mais primavera

Oh! Baby

A gente ainda nem começou

Baby, o que houve na trança

Vai mudar nossa dança

Sempre a mesma batalha

Por um cigarro de palha

Navio de cruzar deserto

Baby, isso só vai dar certo

Se você ficar perto

Eu sou um índio sioux

Eu sou cachorro urubu

Em guerra com Zé U

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(DEPOIMENTO DE ZÉ GERALDO FEITO AO

PROGRAMA “ENSAIO” DA TV CULTURA)

*Nasci em Rodeiro, Zona da Mata de Minas Gerais. Minas Gerais, eu curtia a minha infância lá às margens do Rio Doce, curti aquelas montanhas, curti aquele ar. Comecei a escrever meus primeiros versos em Minas Gerais e usufruí bastante das condições de Minas Gerais e vim embora pra São Paulo estudar, trabalhar, garoto ainda, 17, 18 anos. Trouxe uma música bem simples da roça tocada pelos meus tios e vim pra cá, vim e fiquei em São Paulo para escrever a minha história. Logo no início quando eu vim pra São Paulo eu já escrevi alguns versos, mas o meu grande sonho era ser jogador de futebol, eu sonhava em jogar no Santos, na Seleção, mas já gostava da boêmia e tudo por volta dos 20 anos, 21, eu fui passear em Minas Gerais e na volta o ônibus em que eu viajava sofreu um acidente com uma carreta na Rio-Bahia, mudou completamente meus sonhos. Fiquei 1 ano mais ou menos no hospital em Carangola-MG, depois fiquei mais 2 anos fazendo fisioterapia em Santos, aí comecei a cantar numa banda chamada Blow-Up, uma banda de Santos e fiquei 8 anos cantando em bailes e depois minha vida mudou e o jogador de futebol ficou pra trás, a vontade de jogar. E entrei na música, quando menos esperava eu estava virando um profissional da música, isso há 21 anos atrás. Nos bailes eu cantava um repertório basicamente feito de sambas em português, cantava Martinho da Vila, cantava Chico Buarque, Paulinho da Viola, Ataulfo Alves e um repertório inglês que era Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, as bandas dos anos 70, as grandes bandas e misturei assim, né?

Isso acabou influenciando minha maneira de compor. Aquela música simples que eu trouxe de Minas Gerais se

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misturou com o rock, com o blues e virou uma miscelânea nesse tipo de música que eu faço e que já estou no mercado há muito tempo. Sempre falo que minha música tem um pé no mato e outro no rock, eu acho que depois de tantos anos eu cheguei a conclusão que esse pé no mato é mais pro lado assim, do TIÃO CARREIRO. Eu, na realidade, cheguei a conclusão que o que eu queria mesmo era ser um imitador barato do TIÃO CARREIRO, que foi um ídolo para mim, porque eu fui descobrir isso mais tarde, passou pela minha vida e me influenciou bastante.

Roberto Carlos? Primeira canção que eu cantei no rádio foi do Roberto: “Escreva uma carta, meu amor e mande outro beijo por favor...”

Lá na Rádio Difusora de Tatuí. E o TIÃO, eu acho que o barato mesmo era que hoje eu cheguei à conclusão que eu queria mesmo era ser o TIÃO CARREIRO ou o Bob Dylan, um dos dois e deu Zé Geraldo, uma mistura dos dois com certeza. Brasileiramente, são poucos os que me influenciaram. Conheci o Raul, estive com ele 1 ano antes dele falecer na casa dele, levado por um fã e eu tinha nessa época dado um tempo com a bebida, eu tava assim em plena forma física, tava bonitão, o Raul me viu depois de alguns meses e ficou emocionado de me ver, demorou para me reconhecer, depois pegou nas minhas mãos e falou que eu tava lindo, começou a chorar e falou que ele também ia dar um tempo e que infelizmente, ele não deu esse tempo. Partiu antes da hora, mas com o Raul eu aprendi o mais importante de tudo, foi que o sonho é possível, a loucura é possível e o sonho é fundamental, a poesia e o sonho são fundamentais na vida das pessoas.*

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(No Trevo(No Trevo(No Trevo(No Trevo de entrada da cidade de Rodeirode entrada da cidade de Rodeirode entrada da cidade de Rodeirode entrada da cidade de Rodeiro----MG, foi inaugurada no dia 20 MG, foi inaugurada no dia 20 MG, foi inaugurada no dia 20 MG, foi inaugurada no dia 20 de janeiro de 2001 uma estátua de Zé Geraldo, o mais influente de janeiro de 2001 uma estátua de Zé Geraldo, o mais influente de janeiro de 2001 uma estátua de Zé Geraldo, o mais influente de janeiro de 2001 uma estátua de Zé Geraldo, o mais influente cidadão da pequena cidade mineira.)cidadão da pequena cidade mineira.)cidadão da pequena cidade mineira.)cidadão da pequena cidade mineira.)

(TIÃO CARREIRO & PARDINHO/REPRODUÇÃO)

*TIÃO CARREIRO: A MAJESTADE DA VIOLA*

VIDA E ARTE – TIÃO CARREIRO E PARDINHO

Ao lado de Pardinho, o rei da viola caipira, Tião Carreiro, atravessou 30 anos enfrentando estúdios e platéias. Permaneceu na mesma gravadora por quase toda a carreira (Chantecler-Continental-Warner), seu casamento com dona Nair, durou exatamente 4 décadas. Deixou amigos leais e mesmo com a conhecida incompatibilidade de gênios, o que ocasionava sempre a separação da dupla Tião Carreiro e Pardinho, a majestade do pagode caipira chorava toda vez que o companheiro resolvia abandoná-lo. Não devia ser nada fácil, para

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Pardinho, também um excelente violeiro, assistir a todos os rapapés e saudações à figura e ao talento de Tião Carreiro. Antonio Henrique de Lima, o “Pardinho”, era filho de nossa terra –São Carlos-, onde nasceu em 14 de agosto de 1932 e junto com o mineiro Tião Carreiro formou uma das duplas de música sertaneja de raiz das mais aclamadas e respeitadas da história musical que o país já conheceu. Mestre no violão, sua destreza nos solos pode ser ouvida em seus inúmeros discos. Dono de um compasso incomparável, soube como ninguém dar a base perfeita para os solos de viola de Tião Carreiro e dos outros parceiros com que fez dupla. Sempre como primeira voz, também fez dupla com Pardal e depois com João Mulato. No mês de agosto, exatamente no dia 14, foi inaugurada e tardiamente, em São Carlos, sua terra natal, o Parque Antonio Henrique de Lima “Pardinho”, através da Lei aprovada na Câmara Municipal, pelo vereador Lineu Navarro dando seu nome ao parque público localizado no Jardim Monte Carlo, onde Pardinho sempre vinha para visitar seus parentes. Esta homenagem tardia a um dos mais representativos nomes da música sertaneja, não tira a grandeza da homenagem, mas coloca em dúvida sua real intenção. Pardinho merecia ser homenageado com a inauguração de um Parque ou Praça num ponto mais privilegiado da cidade, talvez no centro e não num parque que, de tão distante da cidade e periférico ao extremo, permanecerá para sempre desconhecido e longe da visitação popular e do reconhecimento merecido. Assim como fizeram com o nome do genial Ronald Golias, um dos mais destacados humoristas que o país já produziu, que também é filho de São Carlos, que também recebeu homenagem com a inauguração de uma praça com seu nome lá nos quintos da cidade e da qual pouca gente tomou conhecimento. Estas homenagens são a mais pura manifestação do ego político, sempre

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querendo destaque, maior do que o destaque dos próprios astros que homenageiam. Pardinho e Ronald Golias, dois ilustres cidadãos são-carlenses, artistas de renome nacional, mereciam e merecem, homenagens mais óbvias e concretas e deviam ter seus nomes dados à praças centrais, mesmo porque existem nomes de várias personalidades são-carlenses que nem mereciam figurar em nomes de ruas ou praças e parques, pois a contribuição cultural de tais nomes ou mesmo as ações sociais de tais personalidades, nunca passaram de atos puramente políticos. Lá pelos idos de 1955, o Circo Irmãos Orlandino chegava a Pirajuí. Pardinho fazia parte da trupe e então, começou a nova dupla com Tião Carrreiro. Começaram se apresentando na Rádio Cultura e seis meses depois resolveram ganhar o mundo. Tião Carreiro e Pardinho se afinaram, de vez, tornando-se quase tão populares quanto Tonico e Tinoco. O primeiro sucesso foi “Cavaleiros do Bom Jesus” (João Alves, Nhô Silva e Teddy Vieira), e depois “Boiadeiro Punho de Aço” (Teddy Vieira e Pereira). O primeiro LP chegou em 1961. O Rei do Gado, com a música de Teddy Vieira, se transformaria num dos maiores clássicos do gênero. Durante as décadas de 60 e 70, chegaram a gravar até dois LPs por ano, e a gravadora lançava coletâneas de seus sucessos. A essa altura, Tião já era o único no estilo exuberante de tocar, respeitado pelas inspiradas melodias e letras (e pelo temperamento difícil). Barítono de timbre excepcional, tinha uma das melhores segundas-vozes daquele cenário. Foi em 1960, numa viagem a Maringá, norte do Paraná, apresentando-se na Rádio Cultura, que tanto mexeu e remexeu nas cordas da viola que descobriu um jeito diferente de tocá-las, numa outra levada. Estava inventado o pagode caipira e Tião se transformou em o “REI DO PAGODE”. Zé Geraldo, o Bob Dylan de Rodeiro, em Minas Gerais, que despertou para o sucesso com a música

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“CIDADÃO”, “Ta vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar... Mas me diz um cidadão, criança de pé no chão, aqui não pode estudar...), ficou hipnotizado ao ouvir o pagode do Tião e passou a vida afirmando que queria ser Tião Carreiro. De infância dura, o menino José Dias Nunes, nascido em Monte Azul, perto de Montes Claros, Minas gerais, foi criado numa fazenda nos arredores de Araçatuba, interior paulista, e teria um destino muito diferente do imaginado para um filho de lavrador. A viola foi seu passaporte para um mundo de maiores recompensas e eternização de seu nome. Tião Carreiro faleceu no dia 15 de outubro de 1993, aos 59 anos, no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, sem voltar a ver Pardinho e sem ter feito o disco que tanto sonhara, com os violeiros Renato Andrade e Almir Sater. Mas a história de vida e de tanta luta para chegar ao estrelato e ao trono de “Majestade da Viola”, não acabou com a morte de Tião Carreiro e nem com a morte de Pardinho. Muito pelo contrário, em meio a enxurrada de abobrinhas musicais que infesta o país, a obra musical do mineiro Tião Carreiro e do são-carlense Pardinho, continua mais do que viva, tocada e cantada em todos os recônditos deste imenso território nacional, cada vez mais respeitada pela nova geração de músicos, violeiros e compositores do país. Carlos Henrique de Lima, filho de Pardinho, segue também a carreira do pai genial e trata-se de um ótimo violeiro. As homenagens à mais famosa dupla de violeiros do Brasil, são cada vez maiores e constantes. O livro “MÚSICA CAIPIRA...”, da autoria da jornalista Rosa Nepomuceno, publicado pela Editora 34, dedica um capítulo especial a Tião Carreiro e Pardinho, além de contar toda a história da música sertaneja de raiz, de cujo livro foram retiradas todas as informações contidas nesta matéria. Outro livro que merece destaque e deve ser adquirido imediatamente por todos aqueles que admiram a obra

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musical e a trajetória de Tião Carreiro e Pardinho, pois conta detalhadamente, do início ao fim, a vida e a carreira desses dois gênios da moda de viola e traz as letras de todas as músicas da dupla, história do próprio autor, que é um dos mais ferrenhos admiradores da dupla e colecionador de tudo o que se refere a história dela, toda a discografia, trata-se do livro “VIDA E ARTE” – TIÃO CARREIRO E PARDINHO, , do biógrafo goiano Jurivê José Cardoso. O escritor esteve em nossa cidade, quando da inauguração do Parque Antonio Henrique de Lima “Pardinho”, autografando e vendendo seu importante livro e, eu não li em nenhum jornal são-carlense, uma resenha sequer referente a essa interessante biografia. Portanto, para o leitor interessado e para o fã mais ferrenho da obra musical dessa dupla excepcional brasileira, esse livro de Jurivê José Cardoso, pode e deve ser adquirido através dos seguintes endereços:

______________________________________________________________

- Rua l7 – A, Número 155 – Qd. 137 Lt. 23 - IV ETAPA - Vila Formosa - Anápolis-GO - Fones: (62) 9292-5326 / 3314-5624 MNS - [email protected] - E-mail: [email protected]

(TRIBUTO A TIÃO CARREIRO & PARDINHO)

Isaac Soares de Souza-2003

No Brasil um violeiro

Chamado Tião Carreiro

Fez um pacto com São Gonçalo

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380 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Protetor das pecadoras “madalenas”

E dos bambas da viola

Pra no romper da aurora

Tocar como ninguém pagode e cururu

Nômade por natureza

Tião Carreiro não tocava por dinheiro

Calçou as botinas e caiu no mundo

No rastro do vento, nos picadeiros

Junto com Pardinho,

Nascido na cidade de São Carlos

Da noite para o dia, assim de estalo

A dupla se eternizou no país inteiro

O violeiro

Cantador das mazelas e do amor

O mineiro Tião Carreiro

Inventou o pagode-caipira

Violeiro que gostava de samba,

Na viola de pinho, ao lado do companheiro Pardinho

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381 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Tião sempre foi o bamba

Entre lundus, cururus e catiras

Tião Carreiro, o Rei da viola-caipira

Remexendo nas cordas da viola

O mineiro José Dias Nunes criou o pagode

Aquele batidão de cordas

Misturando o ritmo do coco com o calango de roda

A viola é o coração da música brasileira

Junto com Pardinho, Tião Carreiro,

Eternizou a viola no coração do homem sertanejo

A viola do Tião,

Afinada em cebolão

É que deu origem ao pagode

Pra quem estranhou aquele batidão diferente

Que ainda hoje sacode qualquer ambiente

Do mais requintado ao mais indigente,

Abraçado à sua viola-caipira,

Tião Carreiro dizia:

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382 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

“Música só tem dois tipos,

A feia e a bonita.”

*ISAAC SOARES DE SOUZA e ROSA NEPOMUCENO*

*ASSIM FALOU O POETA*

Luiz Carlos Bahia/José Felice

GRAVAÇÃO: ZÉ GERALDO - CD “TÔ ZERADO”/Eldorado-Sony

Um dia o poeta falou

Da sombra sonora do disco voador

Eu sou a mosca que pousou em sua sopa

A história do dia em que a terra parou

Parou para ver o poeta maluco beleza ficar

Plantando seus versos na terra

No fogo, na água e no ar

Mamãe, não quero ser eleito prefeito

Prefiro ser metamorfose ambulante

Quanto mais longe mais perto

Quanto mais perto distante

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383 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Os segredos do universo

Estão nos livros que enfeitam a estante

A minha visão é dinâmica

A minha canção radioativa

Deixa morrer a bomba atômica

E viva a Sociedade Alternativa

Eu vi o poeta encantado, cidadão respeitado

Há dez mil anos atrás

Domingo com sua família

No jardim zoológico vendo os animais

Mordendo a maçã do pecado

Nos pegue-pagues do mundo

Voando num céu estrelado

Leve, suave e profundo

Se tudo deu errado da primeira vez

Levante a cabeça e tente outra vez

No livro que diz o futuro

Nas linhas da palma da mão

Bate a cara contra o muro

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384 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

O homem que não tem visão

A minha visão é dinâmica

A minha canção radioativa

Deixa morrer em paz a bomba atômica

E viva a Sociedade Alternativa

Dos filhos deste solo és mãe gentil

A solução é educar o Brasil

Deixa morrer em paz a bomba atômica

E viva a Sociedade Alternativa

Viva, viva, viva, viva

Viva a Sociedade Alternativa

ZÉ GERALDO: UM PÉ NO MATO, UM PÉ NO ROCK

Tão-somente um seleto público neste Brasil de ladrões, maquiavélicos e safados, de políticos demagogos e corruptos e corruptores, onde o crime organizado mantém a sociedade sob um estado de terror e onde toda a imprensa, escrita, falada e televisada, mastiga o cabresto do “poder” e cujo público é denominado de “família zegeraldiana”, conhece e é iluminado elos lampejos de magnificência provenientes da música parida pelo mineiro Zé Geraldo. E é ótimo que assim seja, pois a verve criadora de poesia agreste-urbana desse senhor “guerrilheiro” de idéias e ideais, jamais correrá, como acontece sempre, o fatídico risco de ser devorada pela

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“mesmice” que aniquila a criatividade de todo artista “vendilhão do templo”. Foi o que ocorreu com nomes expressivos da Música Popular Brasileira, que se curvaram ao sistema decretado pela mídia e pela draculina indústria fonográfica, tais como Zé Ramalho, cuja obra musical, outrora de categoria indiscutível, de uns anos para cá mergulhou no fosso do sucesso fácil e óbvio, mas ainda é uma das raras que se salvam, sob as rédeas da indústria musical e cantar junto com a dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó, foi um marco da profanação de um ideal que Zé abraçara no início da carreira. Com Caetano Veloso e Gilberto Gil se deu o mesmo. Caetano, com toda aquela pinta de intelectual, só conheceu o verdadeiro sucesso gravando canções bregas de compositores toscos como Peninha e Fernando Mendes, ou seja, Caetano não passa de pseudo-intelectual sempre de guarda-chuva e um pirulito na mão, postado à esquina do oportunismo esperando a carruagem popularesca passar para que possa lhe dar uma carona. Sem comentar a avalanche de artistas inexpressivos que infestou o rádio e a TV nesses últimos anos. Como dizia o eterno e incomparável Raul Seixas: “É muita estrela para pouca constelação”. O que a grande maioria da população não entende é que, enquanto concessão pública depender de político indecente e corrupto, não haverá jamais uma imprensa livre. Os políticos harpagãos têm uma força descomunal nas redações de TV´s, rádios e jornais do País e os jornalistas que trabalham nestes veículos, para não perderem o emprego, acabam virando cordeirinhos de holocausto. O Governo exerce influência ditatorial sobre os meios de comunicação através do dinheiro e no caso das TV´s, através das concessões. A grande maioria das rádios são propriedades de políticos, então, rádios e TV´s dependem exclusivamente do poder legislativo. E este mesmo poder é criminoso, pois é um atentado contra todas as

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formas de cultura. Enquanto concessão pública depender de político, não teremos uma imprensa livre e jamais teremos meios de levar a todo o povo brasileiro educação e cultura. Nomes como o de Zé Geraldo, Vital Farias, Elomar, Xangai, Saulo Laranjeiras e Jorge Mautner, Ednardo etc. jamais chegarão ao topo das paradas de sucesso, porque o sucesso sempre foi comprado e o preço é alto demais. Pouca gente ainda hoje sabe que, na década de 70, enquanto as rádios tocavam à exaustão “Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção”, nos fétidos porões da ditadura, irmãos nossos e artistas eram torturados e mortos, sem que ninguém tomasse conhecimento.

É natural que neste abissal ninho de cascavéis, a obra musical e poética de Zé Geraldo, não encontre acomodação. Mas, esse mineiro nascido em Rodeiro, Zona da Mata, no pé da Serra da Onça, há exatos 36 anos vem driblando o poder e soltando farpas por todos os flancos da malfadada MPB, com uma sagacidade e simplicidade tão dilacerantes, que sua poesia termina por penetrar na alma de quem o ouve como um bálsamo, passando despercebidos os toques ferinos que sua música contém. Peão do trecho, o nosso Bob Dylan segue comendo poeira com a viola na mão, pois como o velho ídolo Raulzito, o que ele quer é ter tentação no caminho, sua arma são seus versos, que encantam corações, com um pé no mato e outro no rock, ele caminha pisoteando a cabeça da naja que é a indústria do disco.

Zé Geraldo dita saídas e entradas e tem a fórmula mágica da felicidade de ser livre, nos versos da belíssima canção “OS SONHOS QUE A VIDA NOS DÁ”, ele aconselha a todos os que ainda têm uma nesga de esperança: “Já vi muitas manhãs/cansei de passar por forte

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o tempo inteiro/eu quero de volta meu choro/preciso sonhar/o que a gente leva da vida/são os sonhos que a vida nos dá/a cada manhã/mas muito cuidado/nem todo ouro seduz/pra fazer seus projetos na vida/o cego não conta com a luz”. Em 36 anos de carreira, Zé Geraldo gravou inúmeras coletâneas, compactos e l4 discos. “UM PÉ NO MATO UM PÉ NO ROCK”, lançado recentemente, é o seu décimo quinto disco e o primeiro DVD, gravados ao vivo, em 2005, no Teatro do Sesc Pompéia-SP. O CD e o DVD ao vivo, “UM PÉ NO MATO, UM PÉ NO ROCK”, foram lançados há pouco pela sua própria gravadora, “SOL DO MEIO DIA” e traçam sua trajetória e as principais músicas, em celebração aos seus 36 anos de carreira, uma carreira moldada a ferro e fogo e muita ousadia e persistência, em que a poesia cicia toda a sua eloqüência de homem do mato, mas com um pé no rock, “dylaniano”, raulseixista, mas antes de tudo “zegeraldiano”, poeta encantado, cidadão respeitado. Zé também nasceu há dez mil anos atrás e continua, lírico e impávido no centro deste gigantesco jardim zoológico dando pipoca aos animais. Este seu décimo quinto disco e o primeiro DVD, contam com as participações especiais do consagrado músico e compositor Renato Teixeira, Alexandre Lima (Banada MANIMAL), do amigo, músico e parceiro Aroldo Santarosa, que veio especialmente para participar deste inusitado projeto musical, diretamente de Nova Yorque. Sua filha NÔ STOPA, também dá o ar de sua graça neste disco. Compositora e uma revelação musical rara, talentosíssima, além de ser uma moça lindíssima, em vias de lançar seu segundo CD solo, ela canta ao lado do pai coruja e orgulhoso de sua cria. O DVD contém 19 lindas canções. Além do show, que é dividido em duas partes: UM PÉ NO MATO-UM PÉ NO ROCK, que lembra o espírito on the road do mineiro-rockeiro-caipira, fazem parte dos extras a faixa bônus “TÃO

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BONITA”, o Making Of, Galeria de Fotos e Discografia, história contada pelo próprio Zé, apresentação dos músicos e uma amostra de uma música inédita, que será gravada em seu próximo CD com músicas inéditas, intitulada “O CATADÔ DE BROMÉLIAS” e uma homenagem aos fãs, carinhosamente chamados de “Família Zegeraldiana”. Um dos momentos mais líricos e sublimes deste maravilhoso show, é quando Zé canta a bela música “OLHOS MANSOS”, que ele compôs para homenagear sua filha NÔ STOPA, quando ela nasceu. Um Show de proporções divinas, para lavar a alma daqueles que estão cansados e desiludidos com o rumo desqualificado que a MPB tomou. Uma consagração ao homem e ao artista Zé Geraldo e a certeza do dever cumprido, poética e musicalmente.

DISCOGRAFIA DE ZÉ GERALDO

1970 - OS GRANDES SÓ SÃO GRANDES PORQUE EU AINDA ESTOU DE JOELHOS - (ZEGÊ e THE SILVER JETS)

1979 - TERCEIRO MUNDO (CBS)

1980 - ESTRADAS (CBS)

1983 - CAMINHOS DE MINAS (COPACABANA)

1984 - SOL GIRASSOL (COPACABANA)

1986 - NO ARCO DA PORTA DE UM DIA (ARCA/ELDORADO/V.U.)

1988 - POEIRA E CANTO (ELDORADO)

1989 - VIAGENS E VERSOS (ELDORADO)

1990 - NINHO DE SONHOS (ELDORADO)

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389 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

1994 - APRENDENDO A VIVER (ELDORADO)

1996 - ACÚSTICO (PARADOXX MUSIC)

1998 - NO MEIO DA ÁREA (PARADOXX MUSIC)

2001 - O NOVO AMANHECE (KUARUP DISCOS) - CD gravado com Renato Teixeira, Chico Teixeira e Nô Stopa

2002 - TÔ ZERADO (ELDORADO/SONY)

2005/2006 - UM PÉ NO MATO/UM PÉ NO ROCK - (SOL DO MEIO DIA)

(www.zegeraldo.com)

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390 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*ELOMAR FIGUEIRA MELLO*

(ELOMAR FIGUEIRA MELLO, MENESTREL, CAVALEIRO MEDIEVAL LÁ DAS DISTANTES PARAGENS DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BA) -

Ilustração: Isaac Soares de Souza/1995

*CURVAS DO RIO*

ELOMAR

Vô corrê trecho

Vô percurá u´a terra

Pêu pudê trabaiá

Pá vê se dêxo

Essa minha pobre

Terra véa discansá

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391 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Foi na monarca

A primeira dirrubada

Dêrna d´intão

É sol, é fogo, é táid´inxada

Mi espera, assunta bem

Inté a boca das águas qui vem

Num chora, conforma mulé

Eu volto se assim Deus quiser

Ta um aperto

Ai que tempão de Deus

No sertão catinguêro

Vô dá um fora

Só dano um pulo agora

In San Palo, Triâng´Minêro

É duro moço

Esse mosquêro na cuzinha

A corda pura

E a cuia sem um grão de farinha

Abença Afiloteus

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392 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Te dêxo intregue nas guardas de Deus

Nocença, ai sodade viu

Pai volta pras curvas do rio

Ah! Mas cê veja

Num mi resta mais crédito

Prum furnicimento

Só eu caino

Na mão do véi Brolino

Mêrmo a deiz pur cento

É duro, moço

Ritirá prum trecho alei

Cum a pele no osso

E a alma nos bolso do véi

Mi espera, assunta viu

Sô imbuzêro das bêra do rio

Num chora, conforma mulé

Eu volto se assim Deus quiser

Num dêxa o rancho vazio

Pai volta pras curvas do rio...

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393 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*CURVAS DO RIO*CURVAS DO RIO*CURVAS DO RIO*CURVAS DO RIO - A canção relata toda a exploração a que o catingueiro está sujeito, quando permanece durante um certo período sem trabalho, sem poder plantar a terra carcomida pela seca. Fome, descrédito e a fatal retirada para os grandes centros em busca de emprego e o sonho de um dia voltar à terra seca e árida para socorrer a família ou trazê-la também para São Paulo, Rio ou Triângulo Mineiro. E desta triste partida em busca de dias melhores, muitos jamais retornam, pois a fúria da cidade grande, abocanha e engole todos os sonhos de uma vida mais digna. “Curvas do Rio” trata-se de uma obra-prima nascida da lavra elomariana*.

*O VIOLEIRO*

ELOMAR

Vou cantar num canto de primeiro

As coisas lá da minha mudernagem

Que me fizeram errante e violeiro

Eu falo sério e não é vadiagem

E pra você que agora está me ouvindo

Eu juro inté pelo santo menino

Virgem Maria que ouve o que eu digo

Se for mentira que me mande um castigo

Ia, pois pro cantadô e violeiro

Só há três coisas nesse mundo vão

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394 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Amor, forria, viola, nunca dinheiro

Viola, forria, amor dinheiro, não

Cantadô de trovas e martelos

De gabinete, ligeira e morão

Ai, cantadô corri o mundo inteiro

Já inté cantei nas portas de um castelo

De um rei que se chamava de João

Pode acreditar, meu companheiro

A dispois de eu ter cantado o dia inteiro

O rei me disse fica, eu disse não

Se eu tivesse de viver obrigado

Um dia e antes desse dia eu morro

Deus fez os homens e os bichos tudo forro

Já havia escrito no Livro Sagrado

Que a vida nessa terra é uma passagem

Cada um leva um fardo pesado

É o sentimento que desde a mudernagem

Eu trago dentro do coração guardado

Tive muita dor de ter nada

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395 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Pensando que esse mundo é tudo ter

Mas só depois de penar pelas estradas

Beleza na pobreza é que fui ver

Fui ver na procissão louvado seja

Mal assombro das casas abandonadas

Coro de cegos nas portas das igrejas

E o ermo da solidão nas estradas

Pispiando tudo do começo

Eu vou mostrar como se faz um pachola

Que enforca o pescoço da viola

E revira toda moda pelo avesso

Sem reparar siquer se é noite ou dia

Vai hoje cantar o bem da forria

Sem um tostão na cuia do cantador

Canta até morrer o bem do amor

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396 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(ISAAC SOARES DE SOUZA e ELOMAR FIGUEIRA MELLO/abril de 1997 São Carlos-SP – Azouri Plaza Hotel, durante entrevista concedida ao autor deste livro)

Menestrel, malungo, violeiro e cantadô. Um cavaleiro medieval, que vive nas barrancas do Rio Gavião, lá na Casa dos Carneiros, em Vitória da Conquista-BA. Elomar Figueira de Mello, é um fenômeno da natureza, o seu canto medieval e sebastiânico e sua integridade como homem e músico-arranjador, me outorgam a convicção de afirmar sem nenhum temor de cometer exageros: “Se Beethoven, Chopin ou Bach fossem vivos, com toda certeza seriam ouvintes assíduos do maior e mais verdadeiro autor erudito do nosso século. Cantador das misérias humanas e propagador confesso das verdades bíblicas, Elomar vive em sua fazenda, em Vitória da Conquista-BA, em pleno sertãmargens do Rio Gavião, um rio seco e sugado pelas longas estiagens, onde cria cabras, carneiros e, agora, envereda seu trabalho, também,

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(ISAAC SOARES DE SOUZA e ELOMAR FIGUEIRA MELLO/abril de 1997 – Azouri Plaza Hotel, durante entrevista concedida ao autor

Menestrel, malungo, violeiro e cantadô. Um cavaleiro medieval, que vive nas barrancas do Rio Gavião, lá na Casa dos Carneiros, em

BA. Elomar Figueira de Mello, é um fenômeno da u canto medieval e sebastiânico e sua integridade como

arranjador, me outorgam a convicção de afirmar sem nenhum temor de cometer exageros: “Se Beethoven, Chopin ou

ouvintes assíduos do maior e mais verdadeiro autor erudito do nosso século. Cantador das misérias humanas e propagador confesso das verdades bíblicas, Elomar

BA, em pleno sertão, às margens do Rio Gavião, um rio seco e sugado pelas longas estiagens, onde cria cabras, carneiros e, agora, envereda seu trabalho, também,

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a uma plantação de côco e é em meio a esse contraste sertanejo, que o menestrel da caatinga compõe maravilhas musicais.

Em 1973 Elomar gravou um disco que até hoje não se encontra onde comprar. Foi elogiado por pouquíssimos, ignorado por muitos. Mas, Elomar tem verdadeiro pavor do sucesso óbvio e prefere mostrar a cara e o talento, em esporádicas apresentações, embora seja reconhecido internacionalmente como um verdadeiro fenômeno. A arquitetura ainda contribui para o orçamento financeiro com trabalhos que, vez ou outra ele ainda realiza.

Trovador místico, homem da terra, ele parece com um personagem de Cervantes ou com uma figura rústica saída de algum livro de Guimarães Rosa, inspirador de Henfil na criação de Francisco Orelhana e da graúna.

Elomar é uma estranha mistura. Homem inquieto, empenhado em cantar a vida eterna e as histórias da Fome do Noventinha. Em seu “desoladoramente lindo” disco “FANTASIA LEIGA PARA UM RIO SECO”, de 1980, Elomar retrata com tamanha clareza e crueza o que foi a Fome do Noventinha, que ao se ouvir o primeiro Canto-Abertura do disco, destituída de letra, tem-se a impressão de que estamos vivendo aquela desgraça, inseridos na própria cena dantesca. Tudo tem início com um violão solitário em seus primeiros acordes. Logo após o espaço musical é preenchido pela orquestra, que os ouvintes têm a nítida impressão de que foram transportados para o ano de 1890, quando a seca assolou o sertão de sete estados do Nordeste do Brasil. O catingueiro percebendo que os homens do governo não davam conta do problema e da miséria, pois estavam muito mais preocupados em alcançar “espaço político” na então nova estrutura

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republicana, apelou desesperadamente para a fé e as profecias. Um exemplo desse conturbado “ano noventa” foi a aparição do Conselheiro, que constrói igrejas, cemitérios e restaura Vias Sacras, como a de Monte santo, construída pelo lendário Apolônio de Todi (figura urdida no Embuçado de estórias e relatos catingueiros). Esse que chamavam de Antônio Conselheiro, decera do Ceará, entrara no Sergipe e chegara à Bahia por volta de 1887. Em seu trajeto, cidades como Massaracá, Pombal, Tucano, Monte Santo e Jeremoabo tinham ouvido suas prédicas, sua promessa do Reino Santo, do retorno de Dom Sebastião para o estabelecimento da fé e da justiça no sertão. Ledo e lúgubre engano, pois o destino e a história se encarregariam de selar a desgraça e a carnificina que se abateu sobre os catingueiros e o Conselheiro. “FANTASIA LEIGA PARA UM RIO SECO”, é a trilha sonora de todo o Nordeste brasileiro e do homem simples que luta por um pedaço de terra e pelo pão de cada dia.

Toda a obra elomariana é comprometida com o universo catingueiro, sua solidão, seus sonhos, suas histórias e suas lendas. Quem ainda não teve o privilégio de conhecer o universo criativo desse senhor com ares medievais, esse malungo de alma maneira, sua obra musical, sobremaneira extensa e divinamente impressionante, certamente passou um trecho da vida em branco. Elomar compões e interpreta, por exemplo, “A PARCELADA DO V CANTO DO AUTO DA CATINGUEIRA”, composto esse por 1001 versos, já completo há anos e que faz parte de um projeto para um disco com a obra integral, de uma forma encantadora e única. A parcelada faz parte do “desafio das violas da morte”, que conduz à morte final dos dois cantadores. A música se refere à PARCELA, gênero de cantoria evitado pelos cantadores, pois, segundo a lenda, quem canta parcela fica louco ou

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morre dela. A Chula é um canto clássico e tradicional da Península Ibérica, e, através da presença colonial portuguesa em África e no Brasil, aqui teria chegado no século XVI.

A Puluxia, gênero de cantoria comum ao tropeiro (traduzida muitas vezes como Apologia e que não permite o perfeito entendimento do termo), é formado por cantos, por versos narrando o cotidiano do aprontar e conduzir a tropa. Assim é que a obra elomariana é chão desse mundo telúrico, e “prumodi que”, para entender Elomar é preciso penetrar nas veias abertas de um corpo ainda palpitante; no caráter telúrico de ATAHUALPA YUPANQUI, no amor à terra, aos bichos, às árvores (“Só a terra que você dêxo/quinda ta lá num retirou-se, não/os povo, as gente, os bichos, as coisa tudo/uns retirou-se em pirigrinação”); ao sentido do canto fundamental em MERCEDES SOZA (“campo branco que pena minhas penas secou/todo o bem que nós tinha era a chuva era o amor/num tem nada, não, nóis dois vai penano assim/campo lindo ai que tempo ruim/tu sem chuva e a tristeza em mim”), ao compromisso com a vida em VIOLETA PARRA (“Vô corrê trecho/vô percurá u´a terra preu podê trabaiá/Pa vê se dêxo essa minha pobre terra veia discansá”); exatamente como descreveu Ernani Maurílio, em março de 1979, no encarte que acompanha o álbum duplo “NA QUADRADA DAS ÁGUAS PERDIDAS”, cujo texto do encarte explicativo que acompanha o disco, Elomar me autorizou verbalmente a utilizá-lo a meu bel prazer, em 1997. A pintura que ilustra a capa do disco “NA QUADRADA DAS ÁGUAS PERDIDAS” e que retrata uma família de trabalhadores rurais do sertão, onde a tristeza e a desolação estão estampadas nas figuras comoventes dessa família de nordestinos, já valeria o disco.

Elomar é cristão de linhagem pura, luterano. Afirma também

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que, o catolicismo é uma das grandes desgraças da humanidade, assim como as religiões orientais. “Os países asiáticos só se desenvolveram ao ocidentalizar-se nos moldes da civilização de base reformista. Os países desenvolvidos são protestantes ou simpáticos ao protestantismo”.

Entre árias de óperas, antífonas, tiranas, parcela e mourão, Elomar prossegue falando e cantando, do amor entre os homens, das misérias humanas que não são nordestinas, mas universais. Não se vende jamais por tesouro nenhum, nunca se curvou ao sucesso óbvio e ignorante, que desceu como uma avalanche sobre a raquítica MPB, levando-a a atalhos pedregosos e insalubres e transformando-a num amontoado de estrume e idiotices musicais, que embalam a nação.

Aos que se autodenominam cantores, compositores e músicos de sucesso, salvo raríssimas exceções, depois de Elomar, quem são vocês? Meus pêsames! Já estão mortos e se esqueceram de deitar seus cadáveres putrefatos e carcomidos pelo sistema, culturalmente falidos, jazem no túmulo da ignorância musical e acreditam-se imortais e formadores de opinião, mas são apenas pseudo-intelectuais e “terroristas culturais”. Neste Brasil sem cultura, todo imbecil passa por gênio ou poeta, em cada esquina um pseudo-profeta, com um guarda-chuva e um pirulito na mão. Chega de papo furado, só acredito em quem pulou o cercado, quatro buldogues (hoje seriam quatro Pit - bulls) vigiando o portão, já alertava Raul Seixas nos versos da canção “TED BOY ROCK & BRILHANTINA”.

Raul Seixas era um grande admirador da obra elomariana e em 1983, à beira da piscina do Hotel Eldorado, em São Paulo, Raul me disse rindo muito, depois de falarmos durante um certo tempo sobre

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a música de Elomar: “Você saberia me dizer o que é que o Elomar tá fazendo a essa hora lá na beira do Rio Gavião?” “Com certeza, tá tangendo bodes e cabras... um gênio o Elomar...”

Em abril de 1997, numa quinta-feira quente como o inferno de Dante, mas com ares elomarianos, quando o calendário assegurava ser aquele dia, o décimo sétimo daquele mês, em São Carlos-SP, cidade onde viveu e arquitetou obras o autor de “OS SERTÕES”, Euclides da Cunha, estive confabulando com Elomar em seu quarto de hotel. Durante mais de duas horas conversamos e trocamos idéias, oportunidade em que presenteei-o com um exemplar de meu primeiro livro “RAUL SEIXAS, O METAMORFÔNICO” e tive uma prova de que Elomar leu algumas partes do livro, pois à noite ele elogiou um poema intitulado “SILÊNCIO”, de autoria de meu irmão Eliezer Soares de Souza, o qual fiz questão de incluir neste livro. Na ocasião, quando eu disse a Elomar, que em 1983, Raul Seixas me confidenciara sua admiração por sua obra musical e integridade artística, Elomar ficou espantado e admirado, mas satisfeitíssimo com a notícia. Elomar me concedeu uma entrevista exclusiva, que foi mais um bate-papo e uma verdadeira aula de cultura para mim. Permitiu-me tirar algumas fotos com ele, hoje mais do que inéditas, pois o fotografei na intimidade de seu quarto de hotel, à vontade.

Meu contentamento foi indescritível, mesmo porque, Elomar tem verdadeira aversão à entrevistas, não gosta muito de conversar com jornalistas, pois os considera incultos e ignorantes e detesta críticos musicais, considera todos eles incultos e afirma que nenhum deles conhece a história do Brasil, a história universal e nem a literatura clássica européia, literatura brasileira dos nossos poetas. Não estudaram latim nem o grego, não leram Virgílio, Ovídio e outros

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mais, porquanto, são ignorantes e o que dizem de sua obra entra por um ouvido e sai pelo outro. Por isso, críticos e jornalistas, TV e Rádio, só servem mesmo é para entrevistar pagodeiros e sertanejos, porque uma manada de burros se entende entre si, embora se entenda aos coices, pasta a manada do mesmo capim.

Para ser recebido por Elomar tive a grata satisfação de contar com a ajuda de seu filho JOÃO OMAR, também maestro e arranjador, seguidor das pegadas do pai. Em 1982, Elomar me enviou alguns de seus discos e uma carta quilométrica e quem despachou tudo foi seu filho João Omar, naquela época, ainda uma criança, quinze anos depois, ao comentar e mostrar a tal e inédita carta, João Omar imediatamente se lembrou e se propôs a intermediar uma entrevista com seu pai, que também se recordou do fato ocorrido há 15 anos passados e me recebeu.

Elomar segue o mesmo perfil de Guimarães Rosa em suas obras: principalmente em Grande Sertão: Veredas. Há poucos registros na História Oficial do Brasil sobre a “NOVENTINHA”, seca devastadora que assolou sete Estados Nordestinos, em 1890, dizimando boa parte de sua população. Naqueles longínquos anos, todo o Nordeste brasileiro conheceu estarrecido, a fúria saprófaga do profetizado ARMAGEDOM (NOVENTINHA). Elomar resolveu contar aquele combate entre a vida e a morte, aos moldes de Guimarães Rosa, através da música, que parece falar aos ouvidos, mesmo desprovida da prosa embutida magistralmente em outras obras de sua verve. ELOMAR FIGUEIRA DE MELLO, no cenário da débil música popular brasileira, veio para preencher o vácuo que a degenera com sua obra riquíssima, que se destaca num panorama pobre de técnica e de sentido político e religioso, dignificando o sertanejo, antes entregue aos discursos sem

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convicções dos ministros e dos chamados ministros de Deus. Elomar, em toda a sua obra sertaneja clássica, além de resgatar toda a História de sofrimento a que está relegado o Nordeste, consegue jogar na cara lavada do homem da cidade toda a sua hipocrisia e egoísmo e toda a sua imoralidade. Toda a podridão e descaso do homem-hiena delatadas em linguagem simples, mas divinamente inspirada, pura e verdadeira, destituída de qualquer mácula da modernidade.

*SERESTA SERTANEJA*

ELOMAR FIGUEIRA MELLO

Nos raios de luz de um beijo

Puro me estremeço

E eis-me a navegar

Por celúrias regiões onde

Ao malvado e ao impuro

Não é dado entrar

Tresloucado cavaleiro

Andante a vasculhar espaços

De extintos céus

Num confronto derradeiro

Vence Prometeu

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Anjo do mal

O mais cruel

Acusador de meus irmãos

Nestes mundos dissipados

Magas entidades dotam

O corpo meu

De poderes encantados

Mágicos sentidos

Na razão dos céus

Pois cindir o espaço

E o tempo

Vencer as tentações rasteiras

Do instinto animal

Só é dado a quem vê

No amor o único portal

Através de infindas sendas

Vias estelares num cordel de luz

Trago atado ao umbigo ainda

Pois não transmudei-me

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Ao reino dos cristais

Apois Deus acorrentou os sábios

Na prisão escura das três dimensões

E escravizados desde então

A serviço dos maus

Vive a mentir

Vive a enganar

A iludir corações

Visitante das estrelas

Hóspede celeste, visões ancestrais

Me torturam pois ao vê-las

Quebro o encanto e torno

Ao mundo dos meus pais

A minha origem planetária

Enfrentar a mansão da morte

Do pranto e da dor

Donzela feche esta janela

E não me tente mais.

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*TRAMAS DO SAGRADO: A POÉTICA DO SERTÃO

DE ELOMAR*

O livro (biografia/tese) TRAMAS DO SAGRADO: A POÉTICA DO SERTÃO DE ELOMAR, originado da tese de Doutorado defendida na Universidade Federal da Bahia, publicado recentemente com incentivo da FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, pela professora e pesquisadora da UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura, mestre e doutora em Letras pela UFBA, Simone Guerreiro, trata-se de um dos mais sérios trabalhos de pesquisa já realizados para desvendar a obra elomariana, sua poética e conseqüente significado. O Estado do Sertão inserido no Estado Moderno, onde o linguajar sertanejo encontra barreiras que o relega a um espaço contrito, transformando o homem do sertão num povo estranho e exilado dentro do próprio chão. Após alguns anos de pesquisa e tantas viagens ao sertão, para aprender com mais vigor aquela paisagem seca “em ânsia e aflição”, a fala de sua gente, seus valores e belezas, Simone Guerreiro presenteia a “nação elomariana” e o País e, finalmente completa o lapso que faltava na historiografia da Música Popular Brasileira, com este eloqüente e importantíssimo livro. Criterioso, sensível e competente, TRAMAS DO SAGRADO: A POÉTICA DO SERTÃO DE ELOMAR, livro há muito aguardado por todos aqueles que têm sensibilidade poética e musical, mas que, infelizmente, foi produzido em edição independente e única de 1.000 exemplares e, com certeza, até que seja distribuído por aqui, demandará um longo tempo, só pode ser adquirido através da produtora de Elomar, em Vitória da Conquista-BA, (www.rossanepublicidade.com.br) ou pelo e-mail da autora: [email protected]

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O livro TRAMAS DO SAGRADO: A POÉTICA DO SERTÃO DE ELOMAR, vem acompanhado do disco homônimo, gravado em estúdio, em Salvador, na lua nova de julho, e ilustra as leituras da poética elomariana que Simone Guerreiro empreendeu neste livro e, segundo palavras da própria autora, é um motivo de alegria para ela, pesquisadora, compartilhada com os admiradores do compositor de “alma manêra”. Além das canções que expressam o lirismo de Elomar, tão arredio ao estúdio, ele nos presenteia com a recitação dos poemas DE BELAS FORMAS QUE DE LONGE VÊM e TEMPORA LABATUR, de LIRA DOS DEZESSETE e OUTRAS QUADRAS, que tratam da ausência dos amores, da solidão, do idílio da infância e da inexorabilidade do tempo. Em virtude da duração prolongada, mais de duas horas, de um diálogo entre a autora e Elomar, ocorrido na varanda da Fazenda Santa Cruz, ao som dos ventos e dos animais, acompanhado por uma platéia de vaqueiros e malungos, ultrapassando a capacidade do CD, a autora Simone Guerreiro selecionou alguns momentos desta histórica entrevista e destaca a leitura do poema A BALADA DO DESESPERADO, de Henry Murger, e a recitação de AS TRÊS IRMÃS DO POETA, de E. Berthoud, ambos traduzidos por Castro Alves, além da execução improvisada de fragmento do AUTO DA CATINGUEIRA, que vem laurear esse encontro dedicado por Elomar ao escritor e também vaqueiro Guimarães Rosa. A entrevista completa vem transcrita no livro. Enfim, este disco é resultado também, de uma longa pesquisa acadêmica realizada pela autora e de várias parcerias, constituindo-se numa homenagem a Elomar Figueira Mello, compositor do estado do Sertão, e a todos os seus admiradores. ELOMAR, seu nome é formado pelo artigo “el” e “Omar” e significa “o de vida longa”. Conforme pesquisa, Omar é nome árabe, hebraico e significa “viver muito, que constrói muito, o que fala, eloqüente”,

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segundo Janete de Andrade, em ÉTIMO DOS NOMES PRÓPRIOS. Tais significados empregados ao nome do menestrel baiano, não poderiam ser mais verdadeiros, pois são o retrato do homem e do poeta catingueiro. “Elomar poderia dispor de variado arsenal lingüístico, pois, além do domínio da linguagem sertaneja, conhece não só o português clássico e o latim, através da leitura de Cícero, Ovídio, Virgílio, das fábulas de Fedro e de Esopo, mas também línguas estrangeiras como o espanhol, o inglês e, principalmente, o francês. Leu, no original, autores como Victor Hugo, Rousseau, baudelaire, Lautréamont, Flaubert, Verlaine, John Milton, Lord Byron, além de Cervantes e Calderón de la Barca.” (pág. 54/Tramas do Sagrado: A Poética do sertão de Elomar). Enfim, a magnitude deste livro/documento nos leva a uma viagem de volta ao tempo e nos faz ancorar no porto do mar negro dos anos de 1973, quando Vinícius de Moraes apresentou então, o disco DAS BARRANCAS DO RIO GAVIÃO, primeiro elepê de Elomar: “A mim me parece um disparate que exista mar em seu nome, porque um nada tem a ver com o outro”. Eu, particularmente, discordo do vislumbre do poeta Vinícius, pois acredito que, mar no nome de Elomar tem tudo a ver com a poética sertaneja, mesmo porque o homem do sertão nordestino sempre sonhou com a possibilidade de o sertão virar mar e o mar virar sertão: “ELO”, “MAR”, o elo entre o “mar e o “sertão”. A discografia de Elomar é composta por dezesseis discos: um compacto simples, onze álbuns simples e quatro duplos. Grande parte dos textos e composições de Elomar – embora veiculada em concertos - ainda não foi registrada em disco, o que dificulta a observação mais apurada da crítica elomariana. Elomar é um cancionista e um operista que não só dialoga com a literatura, mas por ela transita com liberdade e fluidez. Suas canções e árias possuem densidade na construção da linguagem,

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diluindo as fronteiras entre a poesia escrita e poesia cantada, observa a autora Simone Guerreiro, em seu requintado e poético livro que, se fosse ele editado num país culto, certamente seria um best-seller, mas como vivemos num Brasil fadado à ignorância, cujo povo não recebe um salário digno que o permita alimentar-se bem sequer, quem diria para comprar livros que, obviamente o ensinaria a pensar?

Menestrel, malungo, violeiro e cantadô. Um cavaleiro medieval, que vive nas barrancas do Rio Gavião, lá na Casa dos Carneiros, em Vitória da Conquista-BA. Elomar Figueira de Mello, é um fenômeno da natureza, o seu canto medieval e sebastiânico e sua integridade como homem e músico-arranjador, me outorgam a convicção de afirmar sem nenhum temor de cometer exageros: “Se Beethoven, Chopin ou Bach fossem vivos, com toda certeza seriam ouvintes assíduos do maior e mais verdadeiro autor erudito do nosso século. Cantador das misérias humanas e propagador confesso das verdades bíblicas, Elomar vive em sua fazenda, em Vitória da Conquista-BA, em pleno sertão, às margens do Rio Gavião, um rio seco e sugado pelas longas estiagens, onde cria cabras, carneiros e, compõe maravilhas musicais.

Em 1973 Elomar gravou um disco que até hoje não se encontra onde comprar. Foi elogiado por pouquíssimos, ignorado por muitos. Mas, Elomar tem verdadeiro pavor do sucesso óbvio e prefere mostrar a cara e o talento, em esporádicas apresentações, embora seja reconhecido internacionalmente como um verdadeiro fenômeno. A arquitetura ainda contribui para o orçamento financeiro com trabalhos que, vez ou outra ele ainda realiza.

Trovador místico, homem da terra, ele parece com um personagem de Cervantes ou com uma figura rústica saída de algum

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livro de Guimarães Rosa, inspirador de Henfil na criação de Francisco Orelhana e da graúna.

Elomar é uma estranha mistura. Homem inquieto, empenhado em cantar a vida eterna e as histórias da Fome do Noventinha. Em seu “desoladoramente lindo” disco “FANTASIA LEIGA PARA UM RIO SECO”, de 1980, Elomar retrata com tamanha clareza e crueza o que foi a Fome do Noventinha, que ao se ouvir o primeiro Canto-Abertura do disco, destituída de letra, tem-se a impressão de que estamos vivendo aquela desgraça, inseridos na própria cena dantesca. Tudo tem início com um violão solitário em seus primeiros acordes. Logo após o espaço musical é preenchido pela orquestra, que os ouvintes têm a nítida impressão de que foram transportados para o ano de 1890, quando a seca assolou o sertão de sete estados do Nordeste do Brasil. O catingueiro percebendo que os homens do governo não davam conta do problema e da miséria, pois estavam muito mais preocupados em alcançar “espaço político” na então nova estrutura republicana, apelou desesperadamente para a fé e as profecias. Um exemplo desse conturbado “ano noventa” foi a aparição do Conselheiro, que constrói igrejas, cemitérios e restaura Vias Sacras, como a de Monte Santo, construída pelo lendário Apolônio de Todi (figura urdida no Embuçado de estórias e relatos catingueiros). Esse que chamavam de Antônio Conselheiro, decera do Ceará, entrara no Sergipe e chegara à Bahia por volta de 1887. Em seu trajeto, cidades como Massaracá, Pombal, Tucano, Monte Santo e Jeremoabo tinham ouvido suas prédicas, sua promessa do Reino Santo, do retorno de Dom Sebastião para o estabelecimento da fé e da justiça no sertão. Ledo e lúgubre engano, pois o destino e a história se encarregariam de selar a desgraça e a carnificina que se abateu sobre os catingueiros e o Conselheiro. “FANTASIA LEIGA PARA UM RIO SECO”, é

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a trilha sonora de todo o Nordeste brasileiro e do homem simples que luta por um pedaço de terra e pelo pão de cada dia. Toda a obra elomariana é comprometida com o universo catingueiro, sua solidão, seus sonhos, suas histórias e suas lendas. Quem ainda não teve o privilégio de conhecer o universo criativo desse senhor com ares medievais, esse malungo de alma maneira, sua obra musical, sobremaneira extensa e divinamente impressionante, certamente passou um trecho da vida em branco. Entre árias de óperas, antífonas, tiranas, parcela e mourão, Elomar prossegue falando e cantando, do amor entre os homens, das misérias humanas que não são nordestinas, mas universais. Não se vende jamais por tesouro nenhum, nunca se curvou ao sucesso óbvio e ignorante, que desceu como uma avalanche sobre a raquítica MPB, levando-a a atalhos pedregosos e insalubres e transformando-a num amontoado de estrume e idiotices musicais, que embalam a nação. Raul Seixas era um grande admirador da obra elomariana e em 1983, à beira da piscina do Hotel Eldorado, em São Paulo, Raul me disse rindo muito, depois de falarmos durante um certo tempo sobre a música de Elomar: “Você saberia me dizer o que é que o Elomar tá fazendo a essa hora lá na beira do Rio Gavião?” “Com certeza, tá tangendo bodes e cabras... um gênio o Elomar...

”Elomar publicou seu primeiro romance de cavalaria intitulado “SERTANÍLIAS”

com a mesma maestria com que compõe suas geniais canções e cuja obra literária já se tornou histórica.

[email protected] www.rossanepublicidade.com.br

www.elomar.com.br

*Isaac Soares de Souza & Simone Guerreiro*

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*DA VILA PARA O BLUES* - BLUES THE VILLE –

Blues The Ville é uma das mais prolíficas bandas de blues, criada na Cidade de São Carlos-SP, pelo gaitista David Tanganelli que vem se destacando no cenário nacional e internacional. A banda já se apresentou em todo Brasil e países vizinhos e nas melhores casas do gênero como Bourbon Street (mais importante casa de Blues e Jazz da América latina), e outros palcos onde se apresentam grandes nomes do Blues nacional e internacional. Participou de diversos Festivais como Publiout Blues Festival , Sesc in Blues , e Sanca Blues Festival. Se apresentaram no Programa do Jô com enorme repercussão e já se apresentaram ao lado de grandes nomes do blues internacional. A banda prepara agora o lançamento do segundo disco, recheado de estilos diversos. Passeando por ritmos brasileiros misturados majestosamente ao blues, o novo disco promete arrebatar do limbo as almas já carcomidas por tanta música ruim que infesta os ares do país. David Tanganeli, Netto Yelserp, Mariel Perez e Danilo Hansen, transformaram o blues da vila em blues brasileiro de qualidade internacional e merecem respeito e reconhecimento. A música brasileira,

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apesar dos pesares e da rédea curta com a qual é conduzida pela saprófaga indústria fonográfica, ainda hoje trata-se da melhor música produzida no mundo. E o povo brasileiro precisa saber disso. Músicos importantes e inovadores, que já viveram momentos históricos de experimentalismo registrados pela TV e em discos que são verdadeiros documentos, defrontam-se atualmente, com o seu passado de glória, relegados ao abismo do quase esquecimento, para que a indústria fonográfica dê vazão à mediocridade musical que tomou conta do mercado discográfico. A indústria da música, quase sempre encabeçada por poderosas multinacionais só quer mesmo é empanturrar suas contas bancárias de milhões e milhões de dólares, sem dar a mínima importância à qualidade do produto oferecido. O preço do CD continua abusivo e muito alto, num flagrante desrespeito ao consumidor, que ganha um salário vergonhoso e aviltante. Daí a proliferação incontrolável da pirataria, responsável direta pela grande crise que devasta o mercado fonográfico, levando à bancarrota várias gravadoras. Uma enxurrada de exemplos de puro conformismo e de massificação quase que absoluta e repetitiva é jogada contra o grande painel da criatividade musical brasileira. É a música atual dos “nojentos” programas de auditório da TV, as intragáveis bandas de forró nordestinas, que fazem o Velho e genial Luis Gonzaga se revirar no túmulo de tanta raiva, dos Chororós e Chorãozinhos da vida, dos irritantes Zezé di Camargo & Luciano e quetais. Estes são os grandes astros da música brasileira? Arrrghhh! Vade retro Satanás!! Artistas tão inexpressivos representam a estagnação, pois a preciosa música popular brasileira está lá do outro lado do front, à espreita, pronta para salvar o grande veleiro do iminente naufrágio. Músicos importantes e inovadores não são adeptos do famoso e criminoso “jabá”, que corre solto nas rádios e programas de TV. A música

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brasileira predominante, a música que os produtores musicais das gravadoras impõem ao povo, que os canais abertos comerciais de TV e rádios tocam para ganharem muito dinheiro com a mão corrupta da indústria fonográfica, trata-se de uma música medíocre, repetitiva, batida e sem nenhuma criatividade, como uma novela, embalando o povo sem cultura em direção ao vagão da ignorância. A indústria fonográfica trata o povo como um conluio de mongolóides e, este quadro dantesco necessita de uma mudança drástica e urgente para que não incorramos no erro de, futuramente, sermos julgados pela história como “terroristas culturais”. Mas ainda bem que Deus parece ser mesmo brasileiro, pois contamos com um pequeno “exército da salvação”, composto por músicos, produtores e selos independentes, arranjadores e artistas inovadores e criativos, que são os “anjos caídos” da MPB, guardiões do templo, que enfrentam tufões e procelas para manterem a “preciosa” música brasileira no pedestal de melhor música produzida no mundo. Um dos segmentos mais prolíficos e criativos da música brasileira e que continua desprezado pela indústria da música, é sem dúvida, o BLUES, que se mantém à margem popular, mas que nem por isso, deixa de conquistar um público cada vez maior e mais fiel. O Brasil é um berço esplendido de grandes nomes do blues, reconhecidos e requisitados lá fora muito mais do que no próprio país. Sem levar em conta o inusitado fato de que alguns dos mais consagrados nomes do blues norte-americano estão radicados no Brasil há alguns anos. Só para citar dois exemplos dos mais conhecidos e requisitados e que já se apresentaram em São Carlos com grande sucesso, estão J. J. JACKSON, meu amigo e parceiro musical e KENNY BROWN. E para quem não sabe, pois continua hibernando ao som das musiquinhas insossas que empestam o rádio e a TV, em São Carlos, nasceu há 6 anos uma das melhores

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e mais queridas bandas de blues do país e quiçá do planeta: BLUES THE VILLE. Formado por Netto (guitarra), David Tanganelli (gaita e voz), Coxa (baixo) e Danilo Hansen (bateria e percussão), o quarteto de jovens músicos, com seus indefectíveis macacões brancos e Tênis vermelho, como bem os retratou o jornalista e avatar da cultura Michel Lacombe, em bela matéria publicada no jornal Primeira Página, acabaram de lançar o primeiro CD, depois de uma longa espera e muita luta. “DA VILA PARA O BLUES”. Com 10 faixas e a participação de Greg Wilson, que interpreta a faixa “ON THE BLUES ROAD”. E por quê razão esses quatro rapazes blueseiros são-carlenses ainda não são reconhecidos nacionalmente e nem estão nas paradas de sucesso? Simplesmente porque são jovens músicos e compositores tarimbados e excepcionais, que preferiram compor, tocar e cantar blues e diga-se de passagem, blues simples mas arrojados e de excelente nível. O quarteto é um orgulho para São Carlos. Se o grupo Blues The Ville tivesse decidido ser um grupo de pagode como tantos desses tontos e inexpressivos que existem por aí, ou tivesse enveredado pela estrada esburacada do sertanejo, com certeza já teria estourado em todo o país, mas, inteligentes e dotados de extremo bom gosto, os mancebos da vila decidiram levar ao povo são-carlense e brasileiro e brevemente ao povo europeu, a decência do blues e da boa música. O show de lançamento do CD “DA VILA PARA O BLUES”, ocorrido no dia 27 de abril, no Teatro Florestan Fernandes, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com a participação de Greg Wilson (Blues Etílicos) foi uma verdadeira apoteose, teatro completamente tomado por um público ávido e atento, ansioso por ouvir boa música, uma prova cabal de que os mancebos da vila e do blues, fazem música que vai além da vila. Da Vila Para o Mundo. E São Carlos, tida e havida como a “Capital da Tecnologia” e que nunca fez

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absolutamente nada de concreto e elogiável em prol de seus artistas, pouco fez para ajudar este ótimo grupo de blues, nacionalmente reconhecido pelos maiores nomes do blues brasileiro, a gravar seu esperado e tão sonhado primeiro CD. O Blues The Ville contou com a colaboração de poucas pessoas para a realização deste magnífico CD, quando os órgãos culturais da cidade deveriam ter abraçado totalmente esta causa nobre e já ter produzido há muito tempo o primeiro disco da banda. Lamentável, pois uma cidade que se auto-intitula “Capital da Tecnologia”, mas não apóia seus artistas com firmeza, não pode e nem deve ostentar este título, pois a “Capital da Tecnologia”, antes também tem de ser a “Capital da Cultura”. “DA VILA PARA O BLUES”, brevemente mudará o título para “DA VILA PARA O MUNDO”, mesmo porque o Blues The Ville, surgido em 2002, evoluiu muito de lá para cá e certamente conquistará todas as plagas blueseiras do mundo. Trajados com macacões brancos e tênis vermelho, os rapazes do Blues The Ville se assemelham a operários da música e como fazem bem o duro trabalho! Netto e David também compõem muito bem, letras simples, mas profundas e tocantes, sabem transmitir suas idéias e ideais. O CD “DA VILA PARA O BLUES”, também contém uma faixa multimídia com o making of das fotos que foram realizadas para o encarte e também um depoimento sobre cada faixa. A capa do CD já diz ao que o grupo veio: Blues, Blues e uma mistura de ritmos brasileiros feita com a maior singeleza e maestria. Só uma ressalva tenho a fazer quanto a capa do CD: A foto que ilustra o pôster de lançamento do CD ficaria muito mais apresentável e bonita do que a foto de capa. O Blues The Ville contou ainda, neste belo CD, com a participação de Flávio Guimarães, que musicou uma das faixas instrumentais mais belas do disco. Flávio Guimarães, além de ser um grande e velho amigo meu e

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mais ainda dos rapazes do grupo, é também um dos gaitistas mais requisitados do país e do mundo e junto com o genial Greg Wilson, encabeçam o majestoso BLUES ETÍLICOS. Da Vila para o mundo, sim senhores, pois o Blues The Ville, entre o final deste corrente ano ou início de 2008, pretende fazer uma turnê pela América Latina. Da vila para o mundo será um pulo só. Me bate no fundo da alma um resquício do mais puro orgulho de ter visto esta banda de blues nascer, pois, desde que esses garotos começaram a tocar nos bares e praças são-carlenses, que os acompanho e o orgulho se torna ainda mais visível em mim, porque sou amigo de todos os integrantes da banda, além de todos serem admiradores do trabalho poético e musical de Raul Seixas, interpretam clássicos do maluco beleza em suas andanças pelo país afora.

www.bluestheville.com.br

(APOTEOSE DO BLUES)

Letra: Netto

Música: Blues The Ville

Acho que já fui de New Orleans

Por isso tenho o blues dentro de mim

As vezes me pego sonhando sem fim

E sempre dando canja com Magic Slim

Sonhei com Stevie Ray tocando com a Mangueira

E o samba rolava a noite inteira

E pra botar mais lenha na fogueira

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Pensei em Janis Joplin de porta-bandeira

Imaginei um Woodstock com Dodô e Osmar

Com um trio elétrico botando pra quebrar

E no fundo o som de um pandeirinho

Com Jimi Hendrix tocando Brasileirinho...

*ANTÔNIO JOSÉ S. MARTINS* - (TOM ZÉ)

A história desse baiano, hoje mundialmente consagrado, começa quando um amigo-e-violão tocam uma canção para o menino Antônio José Santana Martins, o próprio: TOM ZÉ. A sonoridade polifônica foi um fascínio que perdura até hoje. Claro que Tom Zé comprou um violão assim que pode. Começou a cantar e a inventar estórias sobre a prosaica vida de Irará, sobre a melancolia pastoral dos arredores da cidade. Tinha início aí sua vida musical, entrecortada por um começo glorioso e em seguida o mais esquálido ostracismo, verdadeiro período de vacas magras. A família Martins

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Imaginei um Woodstock com Dodô e Osmar

(TOM ZÉ)

A história desse baiano, hoje mundialmente consagrado, começa

entrecortada por um começo glorioso e em seguida o mais esquálido ostracismo, verdadeiro período de vacas magras. A família Martins

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mudou-se para Salvador e Tom Zé ingressou na Universidade de Música da Bahia, recém-fundada por Hans-Joachim Koellreutter, compositor alemão pós-modernista. Estudou composição, Contraponto, Harmonia, Piano e Violoncelo, multiplicando seu conhecimento e interesse musical, que faria dele, anos depois um dos mais ecléticos e geniais músicos do planeta. Com a orientação teórica de Koellreutter e Ernest Widmer, Tom Zé incorporou à sua música conceitos modernistas, unindo elementos de música erudita e de vanguarda às canções populares e folclóricas. Em seus arranjos e orquestrações, acrescentou liquidificadores, rádios, máquinas de escrever, enceradeiras, gravadores, teclados e garrafas a instrumentos convencionais, a par de um complexo sistema de som construído por ele próprio.

Tom Zé desenvolvia uma carreira promissora na música erudita, quando, incentivado por amigos, resolveu dar com os costados na grande São Paulo. Na capital paulista, que cheira à peido, um grupo de artistas compartilhando afinidades estéticas, reuniu-se e detonou a Tropicália, movimento do qual foi um dos líderes.

As letras de Tom Zé, influenciadas pela poesia concreta, sintetizaram-se no essencial. Seus arranjos originais e a riqueza rítmica de suas composições o transformaram num dos mais irônicos e irreverentes intérpretes do Brasil. Ampliando os limites da canção popular, expressa a um só tempo rudimentaridade e alta tecnologia, realidade virtual e sonoridade naif. Elos que juntam o pop à música experimental. Vencedor de um dos lendários Festivais de MPB da TV Record, com SÃO SÃO PAULO, MEU AMOR, obteve também o quarto lugar com 2001, esta em parceria com Rita Lee.

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Em 1990, foi convidado pelo avant-gard-rocker, DAVID BYRNE, líder do Talking Heads, para ser o primeiro artista contratado pela gravadora Luaka Bop, que ele acabara de fundar. Este selo novaiorquino lançou “THE BEST OF TOM ZÉ BRASILIAN CLASSICS, VOL. 4, compilação dos discos “ESTUDANDO O SAMBA” e “TODOS OS OLHOS”, ambos da Continental. O disco “TODOS OS OLHOS”, continha em sua capa a fotografia de um cu (ânus), como se fosse um olho fechado, mas observador da década vivida, pois, para Tom todos os orifícios do corpo humano são lentes observadoras, são todos os olhos do homem. A ousadia do baiano de Irará passou despercebida aos olhos da Censura e da Ditadura, caso contrário ele teria sofrido conseqüências. Em 1993, a Luaka Bop lançou “THE HIPS OF TRADICTION (As Ancas da Tradição) BRAZILIAN CLASSICS, VOL. 5, primeiro trabalho inédito, depois de um silêncio de doze anos.

Foi um sucesso planetário, com resenhas entusiásticas em toda a imprensa mundial. No Festival Composer to Composer (EUA), que reúne anualmente a nata dos compositores da vanguarda internacional, recebeu o Prêmio de Criatividade, única premiação atribuída pelo evento. Foi o único brasileiro convidado até hoje para este Festival. As college rádios americanas tocaram OGODÔ, ANO 2000 e JINGLE DO DISCO e Tom fez diversas turnês pelos Estados Unidos e pela Europa. Qual fênix ressurgia das cinzas do esquecimento. Foi o único brasileiro a se apresentar tanto no MoMA (Museu de Arte Moderna) de Nova Yorque e no superseletivo WALKER ART CENTER. Exceções que expressam bem o entusiasmo pelo seu trabalho também de exceção. O sucesso e o reconhecimento internacional de Tom Zé, é uma prova inconteste de que este País miserável e sem memória, não valoriza seus grandes gênios.

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Em 1995, Tom participou do filme “SÁBADO”, de Ugo Georgetti, revelando aí seu potencial de ator. Foi convidado também a cantar na Macedônia, onde foi aplaudido por um público de diferentes etnias, presente no Teatro Nacional daquele país. Com a carreira renascida, Tom continua desenvolvendo suas loucas experiências musicais e sua obra “tonzeana” readquiriu o respeito merecido.

“TODOS OS OLHOS”, disco gravado em 1973 (que escandalizou porque tinha um cu na foto da capa), levou Tom Zé ao inferno do esquecimento, segundo palavras ditas por ele mesmo: “as grandes mídias não encontraram música para tocar do disco” e, ele começou a ser procurado por Universidades do interior de São Paulo. Passou a viver da curiosidade que suas músicas despertaram no interior. Em 1980, vendeu uma casa de praia para construir seus instrumentos experimentais, os instromenzés. Tom afirmava ter cometido alguns erros de estratégia e nunca culpou ninguém pelos seus equívocos.

O bode velho anarquista, fazia música popular-clássica com contraponto e etc. Se interessou pela investigação (anarquia) musical, mas, como apregoa o dito popular: “Santo de casa não faz milagre”, foi como se TOM tivesse saído do tom, perdera repentinamente o tom para virar somente o ZÉ, ou simplesmente ser o ZÉ, mais um ZÉ perdido na cidade grande, em busca dos seus sonhos. Tom Zé, um dos mais criativos e expressivos artistas da MPB sempre preferiu coroar o caos e fazer da língua musical, um emaranhado de dialetos sonoros, por pouco não retornou para sua cidade natal, Irará-BA, ninguém se interessava por sua criatividade mágica e seus instrumentos/eletrodomésticos. Tom já tinha tomado a decisão de regressar para Irará e trabalhar no comércio, pois “bicos” ele já fizera

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tantos e quantos que, gerenciar um posto de gasolina de um sobrinho, não seria diferente. No bairro onde mora na capital paulista, Tom Zé é jardineiro oficial do prédio em que reside, com carteira assinada e tudo e recebe um salário mínimo mensal. Mas tudo tomou o rumo certo e fez desistir de voltar a Irará, quando ele leu num jornal paulista, uma entrevista do compositor norte-americano David Byrne, líder da banda Talking Heads, que dizia estar encantado com a música de sua lavra.

O renascimento musical do baiano tropicalista esquecido estava novamente selado, uma luz no fim do túnel imenso do anonimato, acendia a esperança perdida e Tom decidiu esperar mais um pouco. David Byrne veio ao Brasil, ouviu outros discos de Tom e o içou das barrancas do inferno, elevando-o ao patamar do reconhecimento internacional, lugar há muito merecido.

Na década de 70, durante muitas semanas TOM concorreu com os mais importantes compositores brasileiros, num concurso lançado por Hebe Camargo, em seu programa semanal. Chico Buarque, Martinha, Nelson Ned, Dom e Ravel, Paulinho Nogueira e muitos outros apresentaram composições inéditas, que eram escolhidas pelo público do auditório e por uma comissão de produtores, com um prêmio final de 15.000 cruzeiros. Tom Zé foi o vencedor com a canção “SILÊNCIO DE NÓS DOIS”, lançada à época, em compacto simples pela RGE, tendo no verso a música “CIDADÃO”. A exemplo de “SÃO SÃO PAULO, MEU AMOR”, com a qual ganhara o Festival da TV Record, em 1968, quando acabara de chegar a São Paulo. Tom Zé, o músico-repórter, ganhou também o prêmio maior: o “OSCAR” do regresso triunfante. Durante um longo papo que tivemos, Tom contou-me que, ao se apresentar no Summer Stag, no Central Park de Nova

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York, ele foi confundido com Raul Seixas pela alvoroçada platéia brasileira: “Me pediram para cantar “Ouro de Tolo” e outros ouros do Raul Seixas. Sempre cantei coisas do Raul, em meus shows e até já cheguei a dar autógrafos na rua, como se eu fosse o Raul, também eu jamais teria conseguido convencer o fã que eu era o Tom Zé e não o Raul”.

Tom homenageou Raul Seixas, Luiz Gonzaga e Jimi Hendrix na singela canção “PERIFERIA” e tempos depois, em seu CD “JOGOS DE ARMAR”, pela gravadora Trama, ao som do forró de triângulo e zabumba, num toque de gênio, voltou a homenagear Raul com a música “A CHEGADA DE RAUL SEIXAS E LAMPIÃO NO FMI”. É por essas e outras ocorrências catastróficas, que berro pelos cinco mil alto-falantes e sem receio de cometer nenhum exagero: “Quem não gosta de Tom Zé, bom brasileiro não é, é simplesmente um retardado mental, um simulacro da mais cruel e causticante miséria cultural e musical”

Por jamais ter sucumbido à lançamentos contínuos e nem sempre cobertos de autenticidade, só pelo simples fato de gravar um novo disco a cada ano para o cumprimento de contrato com a gravadora, Tom Zé permanece intocável, muito aquém dos procedimentos neo-antropofágicos dos tropicalistas e influências estrangeiras da moda em sua criação. Tom Zé não tem influência de Beatles, nem de quaisquer vertentes que influenciaram a Tropicália e toda a MPB. Zé é Zé, só, a pé na estrada deserta da arte e da fé. Tom é único, unilateral, nunca praticou a antropofagia, enquanto seus amigos tropicalistas se deixaram enveredar pelas teias das influências, ele, totalmente apático, criador inusitado, traçou o próprio caminho. A luta foi contínua e árdua, mas incólume, o Zé de Irará, mostrou ao

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mundo o “defect fabrication” da arte musical brasileira. Ele que foi um dos líderes da Tropicália, foi traído até pelos próprios amigos, porque dificilmente era citado por eles e quando Tom se encontrava numa situação dramática, esquecido e sem perspectivas, ninguém lhe estendeu a mão, artisticamente falando.

Tom Zé chegou ao cume da inspiração musical isolado da vertente Tropicalista, “Com Defeito de Fabricação”, ou como ele próprio definiu o disco, plagicombinação, autentica a idéia de que experimentalismos radicais, sem sombra de dúvidas, rejuvenescem a obra de qualquer artista, que faz da ousadia e da loucura, as formas corretas de musicar o cotidiano e o ser humano. Já em 1997, ao criar a trilha sonora para balé do Grupo Corpo, com José Miguel Wisnik, o velho e bom Tom de Irará, deixava óbvio, que experimentalismo são asas que permitem aos Ícaros musicais, chegarem às extremidades da arte.

Os 42 minutos do balé “PARABELO”, trabalhou ritmos e danças regionais de maneira contemporânea sofisticada e moderna. Tinha como ponto de referência pequenas matrizes criadas por Tom Zé. Sons criados de serrote sobre tubos de PVC, do roçar de cordas, de bolinhas de sabão, apitos, garrafas, gaitas de chaveiro, bochechos e vozes.

Os 18 bailarinos do Grupo Corpo, em malhas cor de sangue, movendo-se ao som da voz de Tom Zé, em movimentos inspirados nos exercícios feitos pelo músico no estúdio, pareciam hipnotizados pelo xaxado, forró e baião, formando uma verdadeira família baiana. O CD “PARABELO”, com a música original do balé foi um dos discos de resultados mais felizes e belos. Contendo um total de 9 (nove)

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temas, o CD “PARABELO” era vendido nos locais em que o Grupo Corpo se apresentava. Esta foi para Tom uma das mais gratas empreitadas musicais que ele empreendeu com excelente resultado ao lado do genial compositor José Miguel Wisnik.

No Rock in Rio III/2001, Tom Zé platéia na antológica apresentação de 18 minutos feita por ele na Tenda Brasil, quando colocou o público da noite heavy metal nas mãos. Tom saiu ovacionado do palco, lavou a alma da MPB numa noite que seria dedicada ao heavy metal e na qual corria o risco de ser vaiado, hipnotizando o público metaleiro, que não concordou com o final da curta apresentação e gritava por seu nome insistentemente.

Sem discursos idiotas e maniqueístas, Tom deu o tom e afinou a distorção metaleira, na noite que foi sua, fez o Brasil respeitar o Brasil. Tom Zé e Jarbas Mariz, um dos geniais músicos integrantes da banda do baiano de Irará, encenaram o metafórico confronto do samba e do baião, vestidos de operários. Alguém imagina uma coisa mais heavy metal do que esta?

*A CHEGADA DE RAUL SEIXAS E LAMPIÃO NO FMI*

TOM ZÉ

É Raul, Raul, Raul,

É Raul, Raul Seixas, é Lampião

Chegaram no FMI

Que nem tentou resistir

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É Rau, Raú, Raú,

Lampião não anda só

Trouxe Deus e o Diabo

Raul, a terra do sol

Lampião com o clavinote

Raul trouxe o ylêaiê

Tiraram os culhões do rock

Enrabaram o iê-iê-iê

Chegaram na Casa Branca

Os dois de carro-de-boi

Tio Sam fugiu de tamanca

Ninguém viu para onde foi

Wall Stret fechou

E a ONU não deixou pista

O presidente jurou

Que sempre foi comunista

MANO BROWN disse a RAUL:

O dinheiro a gente investe

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No BANCO CARANDIRU

Xingu, Favela e Nordeste

Todo-poderoso e rico

O grande senhor dali

Cagou-se, pediu penico

Aflito, fora de si

Pois o FMI

Viu que não tinha mais jeito

E entregou todo o dinheiro

Para o pobre dividir

E o mundo se viu diante

De grande felicidade

Trabalho pra todo dia

Comida pra toda tarde

Mas entre os países pobres

Não houve acordo

Para dividir os cobres

E a guerra pegou fogo...

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*HANGAR XVIII*

O nome HANGAR XVIII ficou conhecido como o lugar onde a Força Aérea

Americana teria escondido corpos de extraterrestres de uma nave espacial caída em um local no sudeste dos Estados Unidos há cerca de mais de três décadas. Se o fato é verídico nunca saberemos ao

certo, pois o Serviço Secreto de qualquer País sempre fez questão de tratar o povo como imbecil e até que tem razão, mesmo porque o

povo não sabe das possibilidades que tem nas mãos. O mesmo ocorreu com aquela velha e manjada estória dos ET´s encontrados há

anos na cidade de Varginha-MG, também mantida em segredo de

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estado, embora algumas pessoas envolvidas neste mistério tenham morrido misteriosamente. HANGAR XVIII também é o título de uma música do grupo Megadeth, incluída no disco “Rust in Piece”/1990,

que gerou uma continuação em outro petardo do grupo e foi um dos pontos altos do álbum “Return to Hangar”. Mas o nome da banda

HANGAR XVIII nada tem a ver com nenhuma dessas estórias e segundo explicações dos próprios integrantes, o nome HANGAR XVIII foi escolhido justamente por causa da paixão que um dos músicos

tem pela aviação.

Douglas “Dodi” Carneiro, criador da banda HANGAR XVIII, poeta, compositor e guitarrista de extrema habilidade, é músico há mais de 25 anos e teve como professores, Marcos Godoy, John Cássio (Rio de Janeiro) e o guitarrista Eduardo Ardanuy. Possui uma das vozes mais estrondosas e potentes da MPB e um estilo que lembra muito o poeta do absurdo, Cazuza. Aliás, não é só a voz de Douglas que lembra Cazuza, ele também musicou a letra “CAJU”, homenagem ao poeta destrambelhado de Ipanema, escrita por mim e que está programada para entrar no quarto CD da banda liderada por ele. Douglas é militar e rocker-man e um exímio guitarrista, um dos melhores do país, uma das pessoas mais honradas que já tive a satisfação de conhecer em meus 52 anos de vida fodida, eu e Douglas firmamos há alguns anos uma parceria musical eterna, ele já musicou inúmeros poemas meus. A banda HANGAR XVIII tem tudo para virar o maior fenômeno musical do pop nacional, mas como se trata de uma banda independente, que não aceita se vender ao sucesso fácil, ainda vai demorar um pouco para que o Brasil tome conhecimento da sua existência. A banda HANGAR XVIII, nasceu na cidade de São Gabriel (RS), mas atualmente está radicada na cidade

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de Curitiba-PR, para onde Douglas se transferiu há anos atrás, por força da profissão de militar. Ainda não conhecida nacionalmente devido a capital paranaense não fazer parte do circuito musical brasileiro, que está mais enraizado no eixo Rio-São Paulo e mais pela desfaçatez com que as grandes gravadoras tratam nossos mais eminentes artistas. Agora, finalmente a banda chega à esperada gravação do terceiro CD, intitulado “ORIGINAL”, pela gravadora Nadyr Calvi Records. Mesmo independente a banda conta com mais de dez anos de estrada de uma carreira gloriosa e repleta de esperanças e muitas batalhas, fatores que levarão a banda, certamente ao estrelato mais dia menos dia. O novo CD da banda HANGAR XVIII, está recheado de composições inéditas da própria lavra da banda e contém ainda, para o deleite dos fãs e raulseixistas, três parcerias de Douglas comigo: “BABY BLUES” (homenagem a Raul Seixas, Elvis Presley e Muddy Waters), “LOBO DA ESTEPE” e “UTOPIA”.

A banda atua no cenário pop/rock nacional com a meta de sempre realizar um trabalho coerente com a proposta e o pensamento de cada um de seus integrantes, todos músicos formados e de capacidade sem paradoxo. Foi indicada recentemente por uma conhecida revista internacional como a banda mais completa e original do Brasil e está com uma música em castelhano, “CREA” – (ACREDITE), na Internet em MP3, esta mesma música faz parte do CD em duas versões, castelhano e português. Em shows ao vivo o grupo mostra sua capacidade de interpretação misturando em seu repertório hits de músicos do quilate de Jimi Hendrix, Deep Purple, Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, AC/DC entre outros. Além da região sul do país, a banda Hangar XVIII é muito conhecida em cidades como São Carlos e Bariri, locais onde possui grande número de admiradores

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e é maciçamente divulgada por mim e por meu irmão, Eliseu Soares de Souza, através de especiais no rádio e distribuição de CD´s e material impresso sobre a banda. Entre as três músicas em parceria comigo que a banda gravou, duas delas: “LOBO DA ESTEPE” e “UTOPIA” foram transformadas em Histórias em Quadrinhos pelo amigo e caricaturista Thiago Ivanildo Lima.

De minha amizade com Douglas “Dodi” Carneiro, principal compositor da banda, nasceu o embrião que gerou uma parceria harmoniosa e consistente. Douglas gostou dos meus poemas e letras e de imediato decidiu musicar alguns deles, gravando-os no terceiro CD da banda. O trabalho poético e musical apresentado pelo grupo Hangar XVIII trata de paixões, mulheres e a neura de viver nas cidades grandes, além, obviamente, de dar vida e musicalidade à poesia bem elaborada. O primeiro disco do grupo foi gravado em 1997, vendendo mais de 20 mil cópias somente no Rio Grande do Sul, emplacando músicas como “AQUARELA”, “VEM COMIGO” e “ME AMA”, sendo muito bem tocado no rádio. Uma vitória sem precedentes na história da música independente do interior, que impulsionou a banda a lutar pelo reconhecimento de seu trabalho. Somente num país como o nosso, onde as grandes gravadoras dominam todo o mercado musical, uma banda com a capacidade e o talento próprios da banda Hangar XVIII, permanece desconhecida do grande público.

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*LOBO DA ESTEPE*

ISAAC SOARES DE SOUZA & DOUGLAS “DODI” CARNEIRO – HANGAR XVIII)

Sou um homem solitário

Caminhando à esmo rumo ao calvário

Parece que estou carregando os pecados do mundo

Como se fosse o Rei dos Judeus

Solidão maltrata o meu coração

Último bastião de uma paixão mal resolvida

Lobo da estepe

Perdido nas planícies da vida

Cada bar que encontro no meu caminho

Cambaio encho a cara de cachaça e vinho

Minha velha Harley Davidson

Carrega um esqueleto sofredor

Minha guitarra chora um blues que é só dor

Lobo da estepe

Perdido nas planícies da vida

Sem Deus, sem amigos,

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Sem money no bolso

Sem destino, sem abrigo

Carregando no dorso

A esperança que há tempos jaz

Na minha alma sem paz

Sempre termino a noite num quarto de motel

Entre as pernas de uma vagabunda qualquer

Minha estrada não tem fim

Meu bem, o blues é assim

Só agonia, solidão e dor

O blues é azul, meu bem

E a minha solidão idem

Vem do velho Mississipi

O lendário ditado:

Todo blueseiro vendeu a alma ao Diabo

E eu vendi a minha para um Diabo de saia...

(Versão original da(Versão original da(Versão original da(Versão original da letra, que foi modificada por Douglas) letra, que foi modificada por Douglas) letra, que foi modificada por Douglas) letra, que foi modificada por Douglas)

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A banda Hangar XVIII é formada por Hermes Adriano Dreschsel (teclados e vocais), Douglas “Dodi” Carneiro (guitarra e vocal), Everson Ferreira Martins (sax e vocais), Oscar Marinero (Bateria e Produção) e Roni Müller (Baixo).

INFLUÊNCIAS – O grupo tem influências vindas de todas as vertentes musicais: rock/pop/MPB e mantém uma forte ligação com o blues, ritmo no qual a guitarra de Douglas expressa toda a sua criatividade, em rifes avassaladores. No seu repertório, além de apresentar músicas próprias, estão inclusos clássicos de bandas que marcaram a história do rock nacional e internacional, como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Celso Blues Boy, (descoberto e lançado por Raul Seixas), Rolling Stones, Steppenwolf, Deep Purple, Jimi Hendrix, Beatles, entre muitos outros. Douglas “Dodi” Carneiro, é um dos maiores admiradores do bluesman Buddy Guy, por isso sua guitarra chora um blues que é só dor, o que denota sua habilidade como um dos mais empíricos guitarristas brasileiros.

A HISTÓRIA – A banda HANGAR XVIII já lançou dois discos de forma independente, em 1997, foi gravado pelo selo “Studio Máster”, o CD homônimo “HANGAR XVIII”, que destacou a banda no cenário independente e em 2001, o CD “CIDADE OCULTA”, pelo selo “Monkey Records”. Agora, em pleno ano de 2007, finalmente é lançado pela gravadora Nadyr Calvi Records, o terceiro CD da banda, gravado desde 2004, com l3 faixas, uma das quais é uma versão em língua espanhola e escolhida pela revista norte-americana “BOOM ALTERLATINA” (Flórida) para sua coletânea “Lo mejor de 2004”, como a única banda brasileira de dita compilação com a música “CREA”.

A BANDA – HERMES ADRIANO DRESCHSEL estudou música na Escola

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de Música e Belas Artes do Paraná e também formou-se pela UFPR, onde trabalhou como músico da Orquestra e do Grupo de MPB desta instituição, trabalha como músico convidado, maestro e arranjador.

DOUGLAS “DODI” CARNEIRO é músico há mais de 20 anos, tendo como professores Marcos Godoy e John Cássio (no Rio de Janeiro, sua terra natal) e o guitarrista Eduardo Ardanuy (São Paulo).

EVERSON FERREIRA MARTINS estudou música na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, trabalha como docente na escola de Música Beethoven Hauss e é instrumentista há mais de 15 anos, estudou com o saxofonista Paulo Branco.

OSCAR MARINERO nasceu em El Salvador e veio para o Brasil ainda muito jovem. Trabalha como baterista há mais de 20 anos e já acompanhou alguns dos mais importantes nomes do blues e rock nacional, como Celso Blues Boy, André Christóvam, Big Gilson e Allan Green (da banda Big Allambik), os guitarristas Luis Sérgio Carlini (Rita Lee) e o americano Steve James.

RONI MÜLLER começou sua carreira sob as influências do blues e do rock e participou de bandas importantes do cenário musical paranaense e sua forma única de tocar se afinou perfeitamente ao trabalho desenvolvido pela Hangar XVIII.

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*J. J. JACKSON DO BRASIL* - MR. LEO ROBINSON

(J. J. JACKSON: Ilustração: Thiago Ivanildo Lima)

J .J. JACKSON REALIZA JAM SESSION EM SÃO CARLOS E FALA SOBRE SUA MÚSICA)

O público são-carlense, amante do blues´n´jazz, não vai esquecer facilmente as noites de 27 e 28 de novembro de 2002, quando passaram pelo Teatro do SESC os maiores nomes do blues da cidade e da região, além do astro internacional do blues do Arkansas (EUA) J. J. JACKSON. O SANCA BLUES FESTIVAL, tradição anual em toda a região, foi organizado pelo Projeto Contribuinte da Cultura em parceria com o Sesc São Carlos e ocorre todo final de ano. O cantor

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norte-americano J. J. Jackson, figura enigmática e muito carismática já dividiu o palco com astros como B. B. King e Lightnin´ Hopkins. Nascido em Arkansas (EUA), no ano de 1942, seu nome verdadeiro é LEO ROBINSON. Na mesma época em que sua música “TO MY HEART” integrou a trilha sonora da telenovela “JOGO DA VIDA”, da Rede Globo, ele decidiu fixar moradia no Brasil. Vivendo em São Paulo há mais de 25 anos, Leo Robinson, por sugestão da Rede Globo mudou seu nome artístico para J. J. Jackson e mais recentemente, ele passou a ser conhecido como J. J. Jackson do Brasil, uma homenagem ao país que o acolheu como um dos maiores representantes do blues. Mas foi como Leo Robinson que ele gravou o antológico disco “THE SONGS OF LIONEL RICHIE”, acompanhado por exímios músicos brasileiros que estão com ele há bastante tempo. No Teatro do Sesc, J. J. Jackson realizou uma autêntica jam de blues e jazz, levando ao delírio a platéia hipnotizada. Ao lado de músicos do calibre de Tuco Marcondes, Mário Manga, Rodrigo Rodrigues e David Tanganelli, Neto, Coxa e Danilo, da banda são-carlense BLUES THE VILLE o teatro quase veio abaixo. Toda a platéia se levantou para dançar e cantar a convite de J. J. Jackson, que encantou a todos ao interpretar magistralmente a clássica canção “STAND BY ME”, criação do talentoso Ben E. King e também conhecida na inusitada gravação de John Lennon. Mas, nem seu criador Ben E. King e nem mesmo o besouro John Lennon, conseguiram dar a “STAND BY ME” a magnificência da voz de J. J. Jackson. Tamanho foi o sucesso de J. J. Jackson em São Carlos, que sua apresentação teve de ser dividida em duas sessões especiais para conter o ânimo do público, que superlotou as dependências do Teatro do Sesc. Todos os CD´s trazidos pela produção para a venda durante o show, esgotaram-se antes mesmo do término de sua apresentação. Um verdadeiro gentleman, pessoa

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deveras agradabilíssima e extrovertida que adora fazer amizades por onde passa. J. J. Jackson do Brasil é uma das mais firmes amizades que conquistei em mais de 30 anos dedicados à pesquisa musical e é também meu parceiro musical em algumas letras de blues ainda inéditas e mantemos contato constantemente, desde 2002. O consagrado bluesman concedeu-me uma entrevista exclusiva, publicada no jornal PRIMEIRA PÁGINA, diário são-carlense. Confira a seguir como esse artista nascido no Arkansas (EUA) a terra do blues, pertencente à nata dos maiores nomes do blues americano, conquistou o Brasil e blueseiros de todas as faixas de idade, credo religioso e etnias.

ENTREVISTA:

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Como é que um artista nascido no Arkansas, a terra do blues, pertencente à nata dos grandes blueseiros decide vir fixar residência no País do samba e do futebol?

J. J. JacksonJ. J. JacksonJ. J. JacksonJ. J. Jackson - Eu acho que para a minha vida mudar mesmo. E para que isso acontecesse, foi preciso mudar de País (risos). É completamente diferente, pelo que eu sei, mas são coisas que eu quis fazer. Eu queria conhecer os músicos maravilhosos do Brasil.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - O primeiro Festival de Blues realizado no Brasil no ano de 1989, na cidade de Ribeirão Preto-SP, na sua opinião foi o responsável pela propagação do blues entre nós, ou o blues com ou sem abertura penetra em todo mundo?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Ah! Sem dúvida, eu acho que abriu um caminho muito almejado pelos blueseiros daqui, que eram poucos na época, mas que estavam crescendo tanto, meu Deus, tanto e tão rápido, que os maiores blueseiros do mundo sempre vêm ao Brasil. Além disso abriu portas para o blueseiros maravilhosos do Brasil e aqui mesmo na cidade.

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PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Você seguiu os mesmos passos dos grandes nomes do blues participando do coral da Igreja de Arkansas?

J. J. J. J. J. J. J. J. JACKSONJACKSONJACKSONJACKSON - Ah! Isso é verdade. Inclusive minha mãe era cantora de igrejas nos Estados Unidos. Era uma coisa maravilhosa, né? Ouvir todas aquelas vozes cantando, eu pensava: “Que maravilha!”

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - O que é bem diferente do que ocorre no Brasil, não é? Aqui as igrejas parecem ser elitizadas e preconceituosas, parecem prender seus fiéis. Não dão a liberdade tão peculiar lá nos Estados Unidos de cantar, dançar e mostrar toda aquela espiritualidade nos cultos. Concorda?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - (Risos) Concordo. Mas está mudando um pouco, graças a Deus!

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - O Brasil é um campo aberto para todos os ritmos e tendências, mas nota-se ainda que a maioria das rádios e gravadoras, salvo raríssimas exceções, não investem no blues. Por quê isto ocorre, na sua opinião?

J. J. JACJ. J. JACJ. J. JACJ. J. JACKSON KSON KSON KSON - Muito boa pergunta. Eu acho que isso ocorre porque a maioria dos produtores musicais, de todas as tendências, não está por dentro do blues. Porque o blues, realmente, a pessoa precisa entender para senti-lo e gostar. Pessoas como Buddy Guy e Junior Walker estão vindo para cá. Mas está mudando. O público de blues tem aumentado a cada show. São três a quatro mil pessoas.

PRIMEIRA PÁGINA - Esta iniciativa do SESC e do Projeto Contribuinte da Cultura, em realizar o SANCA BLUES FESTIVAL é a prova cabal de que o blues tem fácil penetração e que o povo brasileiro tem bom gosto musical. O que está faltando para que o

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público tenha acesso à cultura, a eventos desse porte, tão-somente que os produtores se apercebam do fato?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - (Mais risos) Eu acho. A coisa poderia caminhar mais tranqüila e não continuar a passos lentos. Eu acho que as pessoas têm que entender, porque a gente faz o melhor possível. Mas há uma má organização das coisas. Há muita coisa por dentro do blues que os produtores nem sabem que existe.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Como você conseguiu dividir o palco com o monstro sagrado do blues, Lightnin ´ Hopkins? No Brasil, houve uma parceria célebre de dois astros do rock tupiniquim, RAUL SEIXAS e MARCELO NOVA por causa de um disco de Lightnin ´ Hopkins...

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Em primeiro lugar eu não sabia disso. Eu acho que sou uma pessoa super-privilegiada, porque eu conheço os dois: RAUL SEIXAS e Marcelo Nova. RAUL SEIXAS morava antigamente na minha rua e a gente tomava cerveja juntos na padaria. RAUL foi realmente um cara que marcou a música brasileira e ainda é meu herói. E eu acho que as coisas estão melhorando para os blueseiros. Eu tive o privilégio de dividir o palco com Lightnin ´ Hopkins, além de B. B. King e outros.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Quais são as suas parcerias com James Marshall, que em Londres ficou conhecido como Jimi Hendrix? Você e Hendrix moravam em Seattle: Ambos faziam parte de alguma banda de blues?

J. J.J. J.J. J.J. J. JACKSONJACKSONJACKSONJACKSON - Uma banda de jovens, eu acho. Ah!, isso foi há muito tempo atrás. Estou com “cinquentinha” e a primeira banda com Jimi Hendrix chamava-se THE ROCKING TEENS. Foi uma época muito boa. Jimi foi uma pessoa muito especial em minha vida e ele tinha um jeito de tocar e cantar que precisa ser mostrado

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sempre para as novas gerações. A gente cresceu juntos na escola. Meu pai e o pai de Hendrix eram vizinhos de rua. Meu pai hoje está com 82 anos e quando veio ao Brasil me visitar falou em arrumar uma namorada brasileira. Com 82 anos... Parecia brincadeira...

PRIMEIRA PÁGINA - Como fica um grande nome do blues e do jazz tendo canções incluídas em trilhas de novelas como “BEBÊ À BORDO”, “VAMP”, “SALVADOR DA PÁTRIA” e “RAINHA DA SUCATA”, entre outras?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Eu não sei... Grande nome do blues? Não sou, sou um grande aprendiz da vida, estou tentando aprender mais ainda, e preciso aprender mais. Minha participação nas trilhas das novelas da Globo foi absolutamente maravilhosa. Ah! Deu para eu sobreviver muito bem com o que eles me deram, de fato. Além de que tudo isso foi um absoluto prazer em fazer. Me sinto mais uma vez privilegiado pelo convite da Rede Globo e ainda quero fazer de novo.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - O seu primeiro disco, que leva seu nome foi lançado no Brasil e nos Estados Unidos, em 1995 e distribuído pela gravadora Eldorado, “JACKSON AND SPECIAL FRIENDS”, que conta com a participação honrosa de Nuno Mindelis, por quê tão poucos discos no País em que você vive?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Porque é muito difícil para a pessoa conseguir uma “veia”. Vamos dizer assim: parece que as pessoas têm de provar que é tudo. Eu já estou no País há mais de 20 anos. Esses discos que gravei são independentes. Eu paguei, produtores pagaram. E para nós recolhermos o fruto desses trabalhos ainda vai levar um tempo, porque é uma loucura, né? Mas as coisas estão começando a pegar. Agora estou feliz com as coisas andando bem. Realmente não é fácil e esta é a vida do artista,

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você sabe muito bem... PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - No CD solo de Flávio Guimarães (ON THE LOOSE) você canta duas faixas lindíssimas. Fale um pouco sobre esta sua participação e quais os nomes do blues nacional que você gosta e ouve?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Flávio Guimarães é um amigo, um irmão. Já fiz muita coisa com ele e ele sempre está me convidando para fazer várias coisas com ele. E eu estou devendo um pouquinho para o Flávio. Eu amo esse cara, realmente ele é um dos pioneiros do blues aqui no Brasil. Muito dedicado, para mim ele é um dos maiores gaitistas desse País, quando se fala em blues. Fui convidado para cantar uma só faixa neste CD, mas, a coisa ficou tão doida que eu acabei cantando duas faixas. A segunda música estava programada para a Cássia Eller cantar, mas o Flávio decidiu me colocar no lugar dela. Eu achei maravilhoso. Ah! As matérias de blues que você me entregou, entre elas eu pude ver uma letra que você fez em homenagem a Muddy Waters, chamada “THE MOJO IS GONE, THE MÁSTER HÁS WON”, parceria com Flávio Guimarães, que eu achei muito boa. Você é muito bom. Vou analisar as letras que você me passou e se me interessar por alguma será uma honra dividir a parceria com você. Bom, quanto aos nomes que eu gosto do blues nacional são: Nuno Mindelis, Fernando Noronha, André Christóvam e Blues Etílicos. Mindelis é uma pessoa super talentosa e foi capa da GUITAR PLAYER, uma das mais respeitadas revistas do mundo. Noronha é muito bom e Christóvam também é craque. Os Blues Etílicos são ótimos e sabem o que querem. São e sabem o que querem. São pessoas que eu gosto e que me transmitem uma luz na estrada do blues.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - O melhor caminho para o blues no Brasil continua sendo Porto Alegre. Ou capitais como São Paulo e Rio

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de Janeiro já superaram o problema crônico da falta de lugares fixos para shows de blues?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Felizmente lugares como São Paulo, Rio e Belo Horizonte são lugares apropriados para o blues, e eu espero que isso possa melhorar e está melhorando rápido. Mas eu acho que os melhores lugares continuam sendo São Paulo, Rio e Belo Horizonte e claro, Porto Alegre. São Paulo é a capital, né? Mas esses lugares precisam se cuidar porque os outros estão chegando...

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Quando você começou a cantar blues? Quais são os grandes mestres da guitarra slide e da harmônica em sua opinião?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Eu comecei a cantar blues há muito tempo, tinha 15 anos, por aí. B. B. King, Fred King... são tantos nomes que me influenciaram, que não dá para falar. Faz um tempo bom que isso aconteceu.

PRIMEIRA PRIMEIRA PRIMEIRA PRIMEIRA PÁGINAPÁGINAPÁGINAPÁGINA - Bem Harper disse que não há nada de novo que se possa fazer com o slide. Ray Cooder e David Lindley têm experimentado com a worl music. O que você pensa a respeito? (NOTA: o slide é uma técnica que consiste em escorregar um cilindro de metal ou vidro afixado a um dos dedos da mão esquerda, geralmente o mínimo)

J. J. J. J. J. JACKSONJ. JACKSONJ. JACKSONJ. JACKSON - Bom, você sempre pode fazer alguma coisa com o slide e Bem Harper é realmente muito bom. David também. Sonny Boy Willianson...

não sei, é tanta gente boa, tem muita coisa ainda que se pode aprender com o slide. Eu vi que você estava ouvindo, hipnotizado, durante o ensaio o Tuco Marcondes tocando slide.

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É impressionante, não é? Um dos melhores do Brasil no slide, você sabe!

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Quando você compõe, o que vem primeiro, a letra ou a melodia?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Isso depende. É o estado de espírito que comanda tudo. Por exemplo, eu estou mexendo com uma música que a letra veio primeiro. Vou cantar, vou gravar em português e acho que será interessante.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Explique para os leitores do PRIMEIRA PÁGINA e para o público, como é que um astro do blues norte-americano consegue misturar violinos, viola, violoncelo e contrabaixo acústico, além de piano e bateria/percussão com blues, e tudo permanece blues.

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Não foi fácil. Eu acredito no meu trabalho, pois vim para o Brasil há muito tempo, longe de tudo, para começar de novo. E eu sabia que era isso que eu queria. É uma coisa diferente, o som é completamente diferente.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - O show “MOMENTO ACÚSTICO” é um trabalho distinto de tudo o que você já realizou, uma fuga do eletro-eletrônico. Isso significa que você está mais familiarizado com a música brasileira?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - “MOMENTO” é um show acústico, com o qual realizei uma boa parte dos meus sonhos. Eu adoro “MOMENTO”. Mas hoje logo mais à noite, o que eu vou apresentar para o público é uma jam session, que a gente montou com exclusividade (NOTA: esta entrevista foi realizada antes do show no Sesc, no dia 28/11/2002). “MOMENTO ACÚSTICO” é com o

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meu grupo que está em São Paulo, mas espero voltar a São Carlos com esse show.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Eu tive o prazer de ouvir com exclusividade o show que você apresentou no Direct Hall em São Paulo e que será o seu próximo CD. Acho que agora o privilegiado sou eu: aquele solo de piano do maestro Saulo Cruz é uma coisa divina, que cala fundo na alma...

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Ahhh!, você gostou? Lindo, não é? Você conhece o Saulo? Um gentleman, maestro genial. Neste novo show eu coloquei cordas porque cordas abrem as mentes, os ouvidos das pessoas e levam todas elas a prestar atenção.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Por quê o blues e não black? Deixe uma mensagem para os nossos leitores.

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Porque o blues é blues mesmo. Black não precisa porque eu já sou black. Blues é uma coisa que vem de dentro, me pegou absolutamente, não é uma coisa que é black. Música não tem cor, graças a Deus e nem nacionalidade. Vem de dentro. Os músicos e cantores não podem ter preconceito. Música não escolhe a cor da pessoa que vai interpretá-la. Música é música. E eu não quero nem saber das pessoas preconceituosas. E para os leitores eu deixo a seguinte mensagem: música, música e mais música.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Qual a sua impressão sobre São Carlos e o Sanca Blues Festival?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Humm! É maravilhoso, tomara que mais pessoas da cidade façam projetos como este realizado pelo Sesc e Contribuinte da Cultura. Porque através de projetos como este o mundo vai ficar cada vez mais gostoso, musicalmente vai

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caminhar do jeito que tem de caminhar. Estou muito orgulhoso por ter sido convidado para cantar aqui, com essa oportunidade de mostrar o meu som. E da próxima vez eu quero trazer o show “MOMENTO ACÚSTICO” para cá. Muito obrigado a você e ao Primeira Página pelas matérias publicadas. Muito boas e vão todas para o nosso book.

PRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINAPRIMEIRA PÁGINA - Qual o conselho que você daria para os garotos da novata, mas ótima banda BLUES THE VILLE?

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Que continuaem tocando, estão no caminho certo, absolutamente certo. Muito legal! Esses garotos vão participar de uma jam comigo e os músicos só precisam se controlar. Passaram por um ensaio e acho que vai ser muito legal.

PRIPRIPRIPRIMEIRA PÁGINAMEIRA PÁGINAMEIRA PÁGINAMEIRA PÁGINA - Jackson, muito obrigado pela atenção a mim dispensada e pela entrevista concedida ao jornal PRIMEIRA PÁGINA. Sucesso e espero que vê-lo brevemente entre nós com o show “MOMENTO ACÚSTICO”.

J. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSONJ. J. JACKSON - Eu é que tenho muito a lhe agradecer, ao povo de São Carlos, ao Sesc, ao Projeto Contribuinte da Cultura, a você mais uma vez pelas matérias publicadas a meu respeito em vários jornais daqui... Obrigado. J. J. Jackson do Brasil, aos 65 anos e mais de 30 de carreira, vive no Brasil desde o início dos anos 80. Hoje transcende sua maturidade musical onde a pluralidade melódica se alia ao instrumento vocal. Ele faz de suas interpretações de suas interpretações singulares uma coisa que transcende o entendimento, envolvendo seu público numa verdadeira conspiração musical. Quem já teve a divina oportunidade de ouvi-lo interpretar a clássica e eterna canção “Geórgia on My Mind” à capela, sabe do que é que eu estou falando, ouvi-lo é uma viagem ao Éden. Por seu trabalho no Brasil, recebeu no dia 13 de março de 2002 o título de “Personalidade

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Brasileira dos 500 Anos”, pelo Conselho de Honrarias e Méritos do Brasil e o reconhecimento da Comunidade Negra Brasileira com a comenda “Soberana Ordem do Mérito Cívico Afro-Brasileiro-Memória e Alma de Zumbi dos Palmares”, em cerimônia realizada no Teatro Municipal de São Paulo ao lado de grandes nomes da Cultura nacional. Assistir a qualquer show deste monstro sagrado do blues é reciclar a atenção à um sofisticado trabalho musical, dos mais prolíficos e honrados do planeta, trazendo arranjos inéditos à composições já conhecidas e consagradas, J. J. Jackson recria à sua maneira todas as obras que interpreta, dando-lhes roupagens novas e sofisticadas. Entusiasmando os espectadores que tornam-se seus coadjuvantes, cantando e dançando suas canções. J. J. Jackson é um negro magro, alto e iluminado, um verdadeiro negro gato, mas bem diferente daquele cantado por Erasmo Carlos, do qual queriam a pele para tamborim, mas um negro gato de arrepiar platéias com sua voz e carisma. Com um visual elegante a la Ray Charles, porta-se com um estilo muito marcante: dá a mão para alguns presentes e troca palavras com a platéia, faz pose, piada, brinca com os músicos e contagia a todos. Agora, chamado de J. J. Jackson do Brasil, seu último disco “BLUESMAN”, trata-se de um dos melhores do gênero.

www.jj.jackson.nom.br

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(FOTO CEDIDA POR KIKA SEIXAS: VIVIAN SEIXAS e KIKA SEIXAS)(FOTO CEDIDA POR KIKA SEIXAS: VIVIAN SEIXAS e KIKA SEIXAS)(FOTO CEDIDA POR KIKA SEIXAS: VIVIAN SEIXAS e KIKA SEIXAS)(FOTO CEDIDA POR KIKA SEIXAS: VIVIAN SEIXAS e KIKA SEIXAS)

FOTO: CLÁUDIO THOMPSON/N. Y.FOTO: CLÁUDIO THOMPSON/N. Y.FOTO: CLÁUDIO THOMPSON/N. Y.FOTO: CLÁUDIO THOMPSON/N. Y.

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(ILUSTRAÇÃO: Isaac Soares de Souza/1996 - Contracapa do disco RAUL ROCK SEIXAS-1977/Fontana-Phonogram)

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Ilustração: Isaac SoaresIlustração: Isaac SoaresIlustração: Isaac SoaresIlustração: Isaac Soares de Souza/1996de Souza/1996de Souza/1996de Souza/1996

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*JORGE MAUTNER,

HABITAT: FILOSOFIA E

PK*

(JORGE MAUTNER e ELISEU SOARES DE

SOUZA (O SEMIDEUS DO KAOS), NO PÁTIO DO

SESC SÃO CARLOS/JULHO DE 1996) FOTO: Carlos

Bigode

O metafísico Jorge Mautner é fundador e divulgador do PK (Partido do Kaos) e sua música é uma síntese de seu pensamento político e filosófico. Henrique George Mautner ou simplesmente Jorge Mautner, dono de uma formação judaicometafísico, filho de refugiados de guerra, arauto e divulgador ferrenho do Partido do Kaos, inspirado no suporte que inclui a Numerologia, a Cabala, a Astrologia, telepatia, empatia e toda e qualquer fenomenologia, a psicanálise freudiana e a de todos os dissidentes (ênfase em Marcuse, Norman Brown, Otto Rank, Carl Jung, Ferensky, Geza Roheim,

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

divulgador do PK (Partido do Kaos) e sua música é uma síntese de seu pensamento político e filosófico. Henrique George Mautner ou simplesmente Jorge Mautner, dono de uma formação judaico-européia,

filho de refugiados de guerra, arauto e divulgador ferrenho do Partido do Kaos, inspirado no suporte que inclui a Numerologia, a Cabala, a Astrologia, telepatia, empatia e toda e qualquer

ana e a de todos os dissidentes (ênfase em Marcuse, Norman Brown, Otto Rank, Carl Jung, Ferensky,

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Nietzsche e Wilhelm Reich), Jorge Mautner novamente expõe seu MUK: Movimento Universalista do Kaos (congrega minorias e agrega harmonias). Palavras essas, muito bem empregadas pelo poeta e jornalista Paulo Klein para descrever o pensamento político e musical de Mautner, quando do lançamento do disco “ANTIMALDITO”. Jorge Mautner é um bardo, um compositor popular que possui plataforma política e ligação sangüinea com as imensas classes minoritárias, arrotando Sartre e Nietzsche, os pré-socráticos Allan Watts, macumba, LSD e, mais tarde, o Partido do Kaos. Desde os fins dos anos 60, com toda sua febre alternativa e seu abissal poço de criatividade, Mautner já gabitava entre os “Lindos-Loucos”, “Malucos Beleza”, como o farol da ponta de pedra, ou o audacioso equilibrista cantando filosofices por sobre as cabeças de feras furiosas prontas para dilacerá-lo.

Atravessou escrevendo livros que vendiam pouco mas eram citados e elogiados pela crítica: “KAOS”, “NARCISO EM TARDE CINZA”, “VIGARISTA JORGE”, “FRAGMENTOS DE SABONETE”, “DEUS DA CHUVA E DA MORTE”, cujos livros são raridades literárias, além de ter participado de um filme underlouco chamado “O DEMIURGO”, roteirizado e financiado por ele. Influenciou Caetano Veloso e Gilberto Gil e brilhantemente se apresentou, em 1982, no II FESTIVAL DE ÁGUAS CLARAS, um tipo de Woodstock brasileiro, onde Raul Seixas era figura sempre presente. Sem camisa, descalço e com uma calça branca, Mautner enfeitiçou aquela doida platéia de milhares de jovens. Obviamente que, se as gravadoras conhecessem um pouco mais o valor criativo de Mautner, cuja música é uma síntese de seu pensamento político e filosófico, não permitiriam que ele comungasse um jejum artístico de vários anos, durante os quais ele sobreviveu realizando shows pelo Brasil afora, em circuito mais restrito ao grande

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público. São Carlos, apesar dos pesares políticos e sociais e de ser uma carruagem que perdeu o condutor, governada por líderes políticos que agem como se fossem moleques baderneiros brincando de “Faz de Conta...”, às vezes chega a ser uma cidade privilegiada na área cultural. Os grandes nomes da MPB e da música internacional, que já deram o ar de sua graça por estas plagas mal governadas pelos “cavaleiros do apocalipse”, são incontáveisJORGE MAUTNER, por exemplo, já se apresentou inúmeras vezes por aqui e, inclusive, teve um de seus discos, o “PEDRA BRUTA”, editado pelo selo ROCK COMPANY, de Porto Ferreira-SP, cidade vizinha e alguns outros discos raros reeditados no formato CD pelo mesmo selo independente, cujo diretor, Valmir Zuzzi é um velho amigo nosso que já trabalhou e residiu em São Carlos.

Depois que Caetano Veloso gravou sua música “VAMPIRO”, a repercussão alcançada o levou até André Midani, aquele mesmo que Raul achincalhou no disco “ABRE-TE SÉSAMO”: “André Midani só faz confusão, sonhei com ele e mijei no colchão”, que não tardou em levá-lo para o disco, tendo nesta mesma época a música “MARACATU ATÔMICO”, feita em parceria com o inseparável Nelson Jacobina, gravada e bastante executada nas rádios, na voz de Gilberto Gil. Talvez seja este o trabalho de Jorge Mautner mais popular entre os curtidores de músicas não alienantes e que também ficou muito conhecida na gravação espetacular de Chico Science e Nação Zumbi. Jorge Mautner provou que esse negócio de viver de tradição musical era papo furado, não existe fronteiras musicais e assim traçou como ninguém ousara até então, o seu próprio e inimitável caminho.

Em 1975 Jorge Mautner torpedou o júri do Festival Abertura/Rede Globo, fazendo-se acompanhar de seu irreverente

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violino, dançando e cantando a música “BEM TE VI”, de sua autoria.

Para Jorge Mautner chegar ao seu quarto LP (gravou três deles pela Polygram) “BOMBA DE ESTRELAS”, também à convite de André Midani, que na época tinha se transferido para a gravadora WEA, foi preciso aguardar a realização da primeira eliminatória do Festival MPB/81, promvido pela Rede Globo, no qual sua música “O ENCANTADOR DE SERPENTES”, cantada com Robertinho do Recife, foi desclassificada, prova cabal e triste de que o júri burro mais uma vez não o tinha compreendido. “BOMBA DE ESTRELAS” não resumia as tradições às quais Mautner continuava retido, era, isto sim, uma autêntica reunião de grandes e velhos amigos. Amigos e companheiros como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Pepeu Gomes, Robertinho do Recife, Amelinha, Moraes Moreira e o grande cavaleiro místico e eloqüente Zé Ramalho, que um ano depois gravaria uma música de Jorge,

“ORQUÍDEA NEGRA”, também título do disco do homem de Brejo do Cruz. Zé Ramalho voltaria a gravar mais uma música de Mautner, em 1996, no CD “CIDADES & LENDAS”, desta vez a música escolhida foi a mesma que deu nome ao quarto disco de Jorge, “BOMBA DE ESTRELAS”.

No início da década de 70, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, sob a direção geral de Jards Macalé, foi realizada ao vivo a gravação do histórico álbum duplo “O BANQUETE DOS MENDIGOS”, a 10 de dezembro de 1973 e cujo show baseado na Declaração dos Direitos Humanos, foi gravado em prol dos esfomeados na Etiópia, deu tanto pano pra manga este disco inédito, que o álbum foi sumariamente proibido pela Censura, somente tendo a sua liberação

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no ano de 1979, com uma capa diferente. O álbum “O BANQUETE DOS MENDIGOS” era dedicado ao poeta Torquato Neto e contou com a participação de Jorge Mautner, com a engraçadíssima música “SAMBA DOS ANIMAIS”. Paulinho da Viola, Raul Seixas, Luiz Gonzaga Jr., Chico Buarque, Luis Melodia, Milton Nascimento, Dominguinhos e Gal Costa. Chico Buarque nesta época para driblar a Censura, usou o pseudônimo de Julinho da Adelaide. Estes foram alguns dos grandes nomes da MPB em início de carreira, que participaram do evento Direitos Humanos no Banquete dos Mendigos.

Jorge Mautner é uma bomba de estrelas que veio de outra dimensão, como um anjo maldito para exorcizar as bombas da violência, ele é uma onda sonora contra o terror, empunhando o sabre do Kaos contra o caos. Jorge com suas palavras proféticas e filosóficas vem há muito tempo alertando a todos nós sobre este estado caótico em que o mundo mergulhou: “Para mudar alguma coisa, primeiro teremos que mudar a nós próprios, mudar o homem para que depois a sociedade seja mudada”. Sempre repetindo seus temas antológicos, como a bomba atômica, disco voador, o minotauro e o centauro, Mautner flecha sem piedade a cara lavada do Monstro Sist, alcunha que o velho semideus do Kaos Raul Seixas deu ao sistema saprófago, com citações cruas e desnudas, em uma gaveta na qual as bugingangas são “índios tupi guarani”, Freud, Jesus, Deus e o Diabo, Ray Charles, Bob Dylan e ele próprio.

Com certeza, ao trilhar meandros políticos e filosóficos, Mautner consiga colocar em prática alguns pensamentos que camuflou sob os pés de “Anjo Maldito” por toda a vida. Pensamentos sobre pacifismo, ecologia, amor, dor e alternativas contemporâneas. A semelhança entre o Partido do Kaos de Jorge e a Sociedade Alternativa de Raul

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Seixas, são gritantes, embora ambas expressem uma forma de pensamento diferente, o intuito de ambas era provocar o Kaos, pois só aquele que tiver o Kaos dentro de si poderá dar luz à grande estrela bailarina. E é o próprio Jorge quem considera Raul Seixas, um dos semideuses do Kaos.

Vade retro Satanás! Vá cagar as regras noutra vala,

O seu cabedal político não se irmana com a minha fala

Peias não tolhem meus atos,

Prefiro a companhia dos ratos

Do que tua presença, anjo do mal

Sou metamorfose ambulante

Tenho dentro de mim o KAOS

AVE JORGE! AVE MAUTNER!

QUE MORA NA FILOSOFIA!!!

*ESCARAVELHO*

Isaac Soares de Souza - (PARA JORGE MAUTNER)

Ahhhh! Sou um inseto “coleóptero escarabídeo”

Que vive nos excrementos dos governos sem controle

Cujas bestas humanas

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Transformaram esta Nação

Numa enorme privada

Onde defecam, vomitam e escarram

Toda a sua podridão

Terra endividada,

Analfabeta, esfomeada,

Entre outras mil,

Ès tu Brasil

Ó pátria que nunca foi amada!

Vejo os homens amedrontados

De olhar esfomeado,

Sucumbindo dia a dia

Entre os escombros deste precipício

Mal governado

Pelos cavaleiros do apocalipse

Ninguém toma nenhuma atitude,

Eu nem sei como é que pude

Arrombar o meu peito

E berrar tão forte desse jeito

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458 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Em busca de uma solução!

Mas, contudo minha voz não reboa pra ferir

Ainda tenho, em meio a esta imundície

Coragem faminta de sorrir,

Para que os homens tenham medo de odiar

Que me degolem os cavaleiros do apocalipse

Ainda tenho sangue, tenho coragem de morrer

Para que os homens tenham medo de matar

Tenho o Kaos dentro de mim

Esse estado de coisas tem de chegar ao fim

Ah! Como disse Jorge Mautner em sua canção:

Pode acontecer a terceira ou a quarta

Guerra Mundial, atômica nuclear

Podem usar a esmo até mesmo

A tal Bomba de Nêutrons

Minha voz cantaria neste mesmo diapasão

Ahhhh! Sou um inseto “coleóptero escarabídeo”,

Que vive nos excrementos dos governos sem controle...

(Letra composta em l982, em homenagem a Jorge Mautner)(Letra composta em l982, em homenagem a Jorge Mautner)(Letra composta em l982, em homenagem a Jorge Mautner)(Letra composta em l982, em homenagem a Jorge Mautner)

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459 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*SAMBA DOS ANIMAIS*

JORGE MAUTNER

O homem antigamente falava

Com a cobra, o jaboti e o leão

Olha o macaco na selva

(Aonde, aonde, ali no coqueiro)

Mas não é macaco, baby,

É meu irmão

Porém, por um pouquíssimo tempo

Dessa incrível curtição

Pois o homem, rei do planeta

Logo fez sua careta

E começou a sua civilização

Agora já é tarde

Ninguém nunca volta jamais

O jeito é tomar o foguete

E comer desse banquete

Para obter a paz

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460 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Que a gente tinha quando falava com os animais

*MITOLOGIA DO KAOS*

JORGE MAUTNER, O SEMIDEUS DO KAOS

Entre a seleta minoria ‘fã-nática’, e eu me incluo nesta pequena turba de kaosmaníacos, que admira e bebe na fonte filosófica de Jorge Mautner, uma minoria ainda mais seleta conhece a trajetória literária desse genial Demiurgo. Pois, como dizia o próprio Jorge, baseado em elocubrações nietzschianas: “ SÓ QUEM TIVER O KAOS DENTRO DE SI, PODERÁ DAR LUZ À GRANDE ESTRELA BAILARINA” . Jorge Mautner é filho de pais austríacos que chegaram ao Brasil fugindo do regime Hitlerista. Nascido no Rio de Janeiro, cresceu e formou-se em São Paulo, para onde seus pais se mudaram quando ele ainda tinha 7 anos de idade. Filho de pais separados, Jorge aprendeu música com o padrasto e na verdade, sua incursão pela arte musical e a primeira música que ele lembra ter composto data de 1954. Desde muito criança Jorge vivia em meio a uma infinidade de livros e possuía verba ilimitada para a compra de livros e qualquer coisa que se referisse à cultura. No entanto, foi apenas em 1956, depois de ter lido Padre Vieira, que Jorge descobriu num estalo o seu estilo próprio, não só o literário, mas também o de compositor célere e célebre e genial. Mas, afirma ele que, somente em 1958 compôs as suas primeiras músicas de verdade: “Iluminação” (que é inclusive uma definição ideológica do Kaos, e que foi acrescida posteriormente com referências a Bob Dylan, Gilberto Gil, entre outros), “Olhar Bestial” e “Quando a Tarde Vem” e outras pérolas compostas nos meses seguintes, enquanto escrevia seu primeiro livro. DEUS DA CHUVA E DA MORTE, seu primeiro rebento literário, cujo romance

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abalou a cena literária brasileira em 1962, quando foi lançado, elevando o nome de Jorge Mautner, então com 19 anos de idade, ao patamar de uma das mais surpreendentes revelações da moderna literatura brasileira de então. Na verdade, este DEUS DA CHUVA E DA MORTE, que projetou o nome de Jorge Mautner no cenário literário, se aproximava muito mais da aventura beat norte-americana. Até aquela época, no Brasil, nenhum jovem até então, havia escrito como Jorge Mautner. Uns tomam ópio, outros cocaína. Mautner bebe a si mesmo, embriaga-se com o próprio excesso de vitalidade e fica “possuído”. E é nesse estado que Jorge escrevia e escreve. Razão porque entre ele e sua obra não há diferenças. Sua vida e sua obra são uma coisa só: realiza de maneira total a integração autor-obra. Assim o definiu Nelson Coelho, quando do lançamento de DEUS DA CHUVA E DA MORTE, em 1962. Aos 21 anos e já tendo sua obra literária agraciada com o Prêmio Jabuti, o jovem nietzschiano, demasiado humano, estava já por terminar a trilogia literária a qual ele afirmava ser a definição do Kaos: DEUS DA CHUVA E DA MORTE, o primeiro volume, KAOS, o segundo e NARCISO EM TARDE CINZA, o volume que encerra a trilogia. Além da literatura, que lhe rendeu fama e respeito, Jorge também trafegava com a mesma desenvoltura e genialidade, pelas veredas da música e do cinema, pois criou e roteirizou filmes poucos, mas polêmicos e históricos, que ainda hoje permanecem inéditos e únicos dentro da historiografia cinematográfica brasileira. A Trilogia do Kaos totaliza cerca de 1.250 páginas, tarefa que demandou na época de sua criação, quatro anos para ser concluída, mas que, resultou em uma das mais belas e raras obras da literatura brasileira, plena de fôlego, filosofia e misticismo e que fez germinar a semente do KAOS.

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Os três primeiros volumes que formam esta trilogia, segundo afirmara Mautner, não poderiam ser considerados separadamente, mas apenas em conjunto, pois são parte de um todo, interligados. A trilogia é também a chave que abre a porta dos segredos, a “COISA NOVA”: O PARTIDO DO KAOS? A Coisa Nova. KAOS com K é, pois o CAOS com C, nada mais tem a nos oferecer. Kaos com K é o caos com o c transformado. Em 1966, ao publicar seu livro “VIGARISTA JORGE”, Mautner foi interrogado pelos cães canibais no DOPS e mais de 3 mil exemplares de seu livro foram recolhidos pelas autoridades, em várias livrarias, pois o conteúdo do livro foi considerado “subversivo e pornográfico”. Depois do estardalhaço literário que seus livros causaram no Brasil e de um início de carreira musical, nas madrugadas paulistas, Mautner deixou o Brasil e foi morar nos Estados Unidos. Poderíamos, então, ter perdido para sempre o nosso mais jovem e afinado escritor, ele poderia ter desaparecido para sempre, nas ruas fervilhantes de Nova York, durante os agitados anos da grande convulsão cultural da década de sessenta. O Demiurgo, filho de Nietzsche, ou quem sabe o filho predileto de Xangô, cachorro louco e demasiado humano Jorge, reencontraria, porém, o Brasil, lá pelos fins da celebrada década, em plena Londres, nas pessoas dos baianos, também exilados, Caetano Veloso e Gilberto Gil entre tantos outros brasileiros curiosos e andarilhos como ele próprio. E foi dessa amizade com Gil e Caetano, que Jorge teve a brilhante e inusitada idéia de fazer um filme sobre o exílio com eles, todo rodado em Londres. Todos os negativos foram comprados das sobras do filme “QUEIMADAS” do Marlon Brando. O DEMIURGO permanece inédito até a presente data. O filme é colorido, realizado em 1971 e nesta película Caetano é um DEMIURGO (mistura de oráculo, prestidigitador, pitonisa, profeta)Gil é o deus Pã , Leilah Assumpção é Cassandra e

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Jorge Mautner, como não poderia deixar de ser, é Satã, a negação. Há a revolta das mulheres chefiadas por Dedê. Há milhares de situações e acontecimentos.

Aguilar, o pintor, é Sócrates, mestre do Demiurgo. A realização deste filme seria impossível sem a maestria utópica de Mautner que teve a idéia do filme e escreveu o roteiro, além de investir todo o seu dinheiro reservado para a compra de um apartamento nesta louca aventura cinematográfica, que, embora tenha sido rodado em Londres, é um marco do cinema nacional, que necessita ser urgentemente refilmado para as novas gerações. Depois disso Jorge realmente descobriu que o Brasil era o seu lugar, seu berço verdadeiro de inspiração e sonhos e decidiu voltar. Com algumas parcerias com Gilberto Gil, que gravou algumas músicas de Jorge em seus discos de estréia, assim como fez Caetano Veloso, é que o lado compositor e musical dele se tornou mais conhecido do que o lado literário entre nós brasileiros e assim continua até os dias hoje. Eu estou mais convicto do que um visionário, que a música de Jorge Mautner, não consegue conquistar um campo mais abrangente no cenário musical porque as pessoas têm medo de ouvir suas verdades e aderirem ao Kaos, coisa que demanda coragem e vontade de ver o mundo dividido em partes iguais entre todos os seus habitantes, pois como dizia outro de nossos semideuses do Kaos, Raul Seixas: “O ÓDIO NÃO É O REAL, É A AUSÊNCIA DO AMOR”. Mas essa mudança não tirou o mérito literário de Jorge, antes o reforçou, mesmo porque, suas composições e poesias nada mais são do que a continuidade deste genial trabalho literário musicado. Jorge, que não é o da Capadócia, mas de natureza heróica, esse filho predileto de Xangô, esse gênio esboçado e cachorro louco, filho, do holocausto e da dor, profeta do Kaos, esse “vigarista Jorge”, traz em seu alforje, transmutadas em

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canções-discursos, filosofia utópica, mas real, pois ele é poeta e todo poeta é também um grande profeta, então cumprida está a profecia de Jorge e eis que tudo se tornará “KAOS”. Finalmente, depois de anos adormecida, a trilogia MANIFESTO DO KAOS, ressurge das cinzas literárias e volta a alçar vôos rasantes por sobre cabeças pensantes de cavaleiros errantes e adeptos do Kaos. Num rasgo do mais profundo senso cultural e literário, merecedor de rasgados elogios e respeito, a AZOUGUE EDITORIAL, em pareria com a Secretaria do Livro e da Leitura do Ministério da Cultura do Brasil e com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea-CEDEC, no ano de 2002, elaboraram e imprimiram a primeira edição da caixa MANIFESTO DO KAOS, em 2.000 exemplares, que foram distribuídos para bibliotecas de todo Brasil dentro do projeto “Uma Biblioteca em cada Município”, levando a um número bem mais abrangente de pessoas esta magnífica obra literária do Profeta do Kaos.

A trilogia MANIFESTO DO KAOS, obra literária completa de Jorge Mautner, até 2002, quando de seu inusitado e corajoso lançamento, já que, mais recentemente, Jorge Mautner publicou um novo livro intitulado MEMÓRIAS DO HOLOCAUSTO, só foi possível graças à ousadia dos editores Sergio Cohn e Juliano de Fiore, da Azougue Editorial que, irmanados a esforços de outros personagens importantes e amigos, pela primeira vea, deram ao leitor a possibilidade de ler o conjunto da obra de Jorge Mautner devidamente reunida nesta caixa MANIFESTO DO KAOS. Não é à toa que o autor, desde de seu primeiro livro, em 1962, afirmara que, só uma leitura global da obra possibilitaria sua correta compreensão. Ao contrário de escritores cujos livros são indepedentes, Jorge Mautner pertence à gama de autores que, na recorrência e dissonância, na síntese e no paradoxo, criam uma obra contínua, uma e interligada. Essas obras completas são um

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465 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

documento no sentido mais rico do termo. Não só pelo seu valor poético e artístico, mas pelo valor histórico, de relato pessoal de momentos e personagens marcantes destes últimos 50 anos, feitos por um artista sempre atento e perspicaz. A caixa MANISTO DO KAOS, vem acompanhada por um CD bônus, com regravações inéditas de quatro músicas do autor, além de uma leitura sonorizada de poemas do seu último livro. Enfim, tais palavras escritas pelos editores na página de apresentação de cada volume que compõem esta caixa MANIFESTO DO KAOS, esta pequena biblioteca mautneriana, soam como ressuscitadoras de uma das obras mais completas e polêmicas da literatura nacional. Eis a ressurreição da lavra literária de Jorge Mautner, o criador do MANIFESTO DO KAOS, pois só quem tiver o Kaos dentro de si poderá dar luz à grande estrela bailarina.

(O PROFETA DO KAOS) – Para Jorge Mautner

Isaac Soares de Souza – 2007

Cavaleiro Jorge, o Demiurgo

Profeta do Kaos

Kaos com K

Porque o Caos com C

Nada mais tem a nos oferecer,

Nenhuma grandeza e nenhum prazer

Enquanto o Kaos com K

Essa utopia de bem-viver

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466 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Fará nossa esperança renascer

O mundo entrou em coma,

Canceroso e fedentino,

Cheira à fecaloma

E o Kaos é a única zona

Não empestada por esse cheiro nauseabundo

Seres humanos, retratos do medo e do engano,

Senhores do mal,

Não há lugar pra vocês na Zona do Kaos

Mautner, o Cavaleiro profeta

Dizia em sua sábia filosofia:

-A missão divina e suprema do poeta e do artista

é humanizar os conflitos,

é diminuir a agressividade e os extremismos e os atritos e a

violência

E promover a profunda união de todos os irmãos

Da nação, que é continente,

E que é o profundo florão das Américas...

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467 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

O Éden do Kaos...

As relações humanas não podem ser só quimera

Embora utópicas, deveras

Cabe a cada um de nós torná-las reais

Pois o Kaos é a revolução da paz

Há ângulos e ângulos,

Assim como o retângulo

Tem 3 partes , que formam uma só parte

Mesmo divisíveis entre si

Formam um todo

O Kaos é o meu estandarte

Os seres humanos são diferentes,

Mas ao mesmo tempo são todos irmãos

O Mestre que pregava a suprema Paz e o Amor,

Fustigou os canalhas fariseus do Templo

Da Casa de seu Pai

E eu, em nome da paz

Quero agora este Kaos...

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468 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Eu também posso fustigar os meus ais

E os meus detratores

Fazendo troar os tambores

Que o meu peito africano abriga

Mostrando a toda essa gente os valores

Da vida em pleno Kaos

Sob essa chuva celestial

Que lava os pecados do mundo

Satã existe ao lado de Jesus

Assim como eu existo guiado pela luz dos teus olhos azuis

No combate final Satã será reabilitado

E talvez até mesmo cumprimentado

Pela execução de tanto mal,

Que é o equilíbrio do bem

Isso é o Kaos,

Assim foi com o nosso amor , meu bem

“Só quem tiver o Kaos dentro de si, poderá dar luz à grande estrela bailarina”

Lá vai o Demiurgo Jorge

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469 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Levando o Kaos em seu alforje,

Lá vai o Vigarista Jorge

Espalhando pelo caminho

Flores e espinhos

E o Kaos à granel

Glória a Deus nas alturas dos céus

E paz na terra aos demasiadamente humanos de boa vontade

É o Kaos, o Kaos, Kaos

Paz na terra a Jorge Mautner !!!!!

www.jorgemautner.com.br

www.azougue.com.br

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470 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(JORGE MAUTNER (JORGE MAUTNER (JORGE MAUTNER (JORGE MAUTNER ---- KAOS KAOS KAOS KAOS ---- Ilustração: Isaac Soares de Souza/2007)Ilustração: Isaac Soares de Souza/2007)Ilustração: Isaac Soares de Souza/2007)Ilustração: Isaac Soares de Souza/2007)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Ilustração: Isaac Soares de Souza/2007)Ilustração: Isaac Soares de Souza/2007)Ilustração: Isaac Soares de Souza/2007)Ilustração: Isaac Soares de Souza/2007)

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471 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(CARTÃO POSTAL E SELO - Homenagem póstuma da ECT, lançadosdurante o ROCK IN RIO II - 18 a 27/01/1991)

(CARTÃO POSTAL E SELO - HOMENAGEM PÓSTUMA DA ECT, LANÇADOS DURANTE O ROCK IN RIO II - 18 A 27/01/1991 CRIAÇÃO/ARTE: JOSÉ LUIZ BENÍCIO-GUILHERME PERRIRAZ MOREIRA)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Homenagem póstuma da ECT, lançados 18 a 27/01/1991)

HOMENAGEM PÓSTUMA DA ECT, 18 A 27/01/1991 -

GUILHERME PERRIRAZ

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472 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(FOTO: No tempo do grupo “RAULZITO E OS PANTERAS”. Raul é o (FOTO: No tempo do grupo “RAULZITO E OS PANTERAS”. Raul é o (FOTO: No tempo do grupo “RAULZITO E OS PANTERAS”. Raul é o (FOTO: No tempo do grupo “RAULZITO E OS PANTERAS”. Raul é o primeiro à direita; ao centro o rei “ROBERTO CARLOS) primeiro à direita; ao centro o rei “ROBERTO CARLOS) primeiro à direita; ao centro o rei “ROBERTO CARLOS) primeiro à direita; ao centro o rei “ROBERTO CARLOS) ---- Arquivo pessoal Arquivo pessoal Arquivo pessoal Arquivo pessoal

de Sylvio Passos - (RAUL ROCK CLUB)

(O(O(O(O que mais me espanta hoje é o fato de o Rei Roberto Carlos, jamais citar o que mais me espanta hoje é o fato de o Rei Roberto Carlos, jamais citar o que mais me espanta hoje é o fato de o Rei Roberto Carlos, jamais citar o que mais me espanta hoje é o fato de o Rei Roberto Carlos, jamais citar o nome de Raul Seixas em suas entrevistas, quando no auge da Jovem Guarda nome de Raul Seixas em suas entrevistas, quando no auge da Jovem Guarda nome de Raul Seixas em suas entrevistas, quando no auge da Jovem Guarda nome de Raul Seixas em suas entrevistas, quando no auge da Jovem Guarda Roberto só chamava Raulzito e Os Panteras para acompanháRoberto só chamava Raulzito e Os Panteras para acompanháRoberto só chamava Raulzito e Os Panteras para acompanháRoberto só chamava Raulzito e Os Panteras para acompanhá----lo em suas lo em suas lo em suas lo em suas

apresentações pelo nordeste. Não posso aapresentações pelo nordeste. Não posso aapresentações pelo nordeste. Não posso aapresentações pelo nordeste. Não posso acreditar que Roberto seja um desses creditar que Roberto seja um desses creditar que Roberto seja um desses creditar que Roberto seja um desses babacas que por causa de sua alardeada religiosidade, acredite que Raul babacas que por causa de sua alardeada religiosidade, acredite que Raul babacas que por causa de sua alardeada religiosidade, acredite que Raul babacas que por causa de sua alardeada religiosidade, acredite que Raul

tenha algo mesmo de demoníaco.)tenha algo mesmo de demoníaco.)tenha algo mesmo de demoníaco.)tenha algo mesmo de demoníaco.)

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473 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(FOTO: Encarte do LP “METRÔ LINHA 743/Som Livre (agachado) E THE PANTHERS)

(Isaac Soares de Souza – FOTO: JORNAL “A TRIBUNA”)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(FOTO: Encarte do LP “METRÔ LINHA 743/Som Livre - RAULZITO

FOTO: JORNAL “A TRIBUNA”)

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474 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

“Maluco beleza” é um estado de espírito. Jesus Cristo, Ghandi, Nero, Calígula, Hitler, etc., foram mitos que influenciaram a humanidade, eram ou foram “malucos beleza”. Místicos ou loucos trilharam veredas próprias e exerceram grande poder sobre o povo. Enveredaram-se por atalhos, trilhas fáceis de seguir, por não ter aonde ir, eles escolheram os seus próprios caminhos, certos ou equivocados, mas escolheram e ousaram tentar outra vez., pois todos eles sabiam que não se poderia viver a vida sem batalhas.

Enquanto 99% dos seres humanos se esforçam para manter a aparência de normalidade e moralidade, os malucos beleza invadem a caverna do Ali-Babá e dividem o prazer de violar os falsos tesouros.

O planeta é nosso, somos os proprietários legais de toda a Terra e sócios e ninguém tem o direito de posse de nenhuma parcela maior do que a pertencente a todos, pois cada um é sua pátria, para locomover-se pela face da terra, não precisamos de passaporte e de vistos alfandegários. A Terra nos foi legada por um ser supremo e é propriedade de todos os homens: Judeus, negros, índios, ateus, loucos, lazarentos, beatos, vermelhos, amarelos, pigmeus, aborígenes e albinos, sem distinção de raça, cor ou credo religioso. Cada homem tem o direito de acreditar naquilo que ele quiser, em Deus ou no Diabo, ou até mesmo numa imagem fabricada por suas próprias mãos para culto e adoração, mas não tem o direito de tentar forçar o seu semelhante a acreditar naquilo que ele considera o correto. Não podemos auferir a uma minoria, a casta harpagã dos poderosos, o poder de guiar nossos passos. Se abrirmos mão e permanecermos calados, com absoluta certeza, caminharemos todos, em direção ao

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precipício da ignorância e servidão eternas. O homem é seu próprio Deus, não existe religião, pois as seitas religiosas, o protestantismo e o catolicismo, são a grande besta do apocalipse, a desgraça da humanidade desde os primórdios. Para que sobrevivamos, é necessário e urgente que extirpemos esta pútrida ferida: RELIGIÃO.

Nós, os malucos beleza temos urgentemente, de criarmos uma língua universal, um idioma próprio para a nossa etnia, que poderia ser chamada de “maluquês” ou “raulseixismo”. Aos fracos não seria admitido, sob pena de morte ou desterro, o ingresso na SOCIEDADE ALTERNITAVA, porque os fracos são traidores e os traidores, em toda a História derrubaram muitos levantes em prol da liberdade humana. Toda pessoa fraca é traidora, se assemelha a uma mulher sem princípios que se casa e depois pratica o adultério, mantém amantes, trepa com o inimigo.

Os escravos servirão!

Viva a Sociedade Alternativa!

Viva a Sociedade Novo Aeon!

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476 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA*

SAMPAIO

(CARICATURA DE SÉRGIO SAMPAIO/BATISTÃO-REPRODUÇÃO)

(LIVRO RESGATA A OBRA DE UM

CANTOR/COMPOSITOR CONSIDERADO “MALDITO”

E TEM POR OBJETIVO RESSALTAR A

IMPORTÂNCIA DO COMPOSITOR DA MPB

SETENTISTA)

Sérgio Sampaio foi um dos mais polêmicos e criativos compositores brasileiros, considerado um dos que sempre encabeçaram o rol da safra dos “malditos” da maldita MPB, justamente por jamais ter se adequado idiotices préSérgio Sampaio, nascido aos

13 de abril de 1947, em Cachoeiro do Itapemirim, terra natal do Rei sem coroa Roberto Carlos, era aluno aplicado na escola, o melhor da classe. Filho de Raul Gonçalves Sampaio, fabricante de tamancos e maestro de banda e Maria de Lourdes Moraes, professora

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

R MEU BLOCO NA RUA* - SÉRGIO

REPRODUÇÃO)

(LIVRO RESGATA A OBRA DE UM

CANTOR/COMPOSITOR CONSIDERADO “MALDITO”

E TEM POR OBJETIVO RESSALTAR A

IMPORTÂNCIA DO COMPOSITOR DA MPB

NTISTA)

Sérgio Sampaio foi um dos mais polêmicos e criativos compositores brasileiros, considerado um dos que sempre encabeçaram o rol da safra dos “malditos” da maldita MPB, justamente por jamais ter se adequado às idiotices pré-estabelecidas. Sérgio Sampaio, nascido aos

13 de abril de 1947, em Cachoeiro do Itapemirim, terra natal do Rei sem coroa Roberto Carlos, era aluno aplicado na escola, o melhor da

nçalves Sampaio, fabricante de tamancos e maestro de banda e Maria de Lourdes Moraes, professora

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477 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

primária, começou a gostar de música ainda muito novo. Ficou vidrado no samba de autoria do pai, “CALA A BOCA, ZEBEDEU”, inspirado em uma vizinha da Rua Moreira que espinafrava o marido diariamente. Anos depois, Sérgio viria a gravar em disco este mesmo samba. Em 1964, ingressa como locutor na XYL-9, Rádio Cachoeiro; logo depois passa três meses de experiência como locutor na Rádio Federal, no Rio de janeiro, mas retorna à cidade natal para servir no Tiro de Guerra local, onde é freqüentemente detido por trocar os pernoites por incursões aos bares e bordéis cachoeirenses.

Em 1967, muda-se definitivamente para o Rio de Janeiro para tentar a vida como locutor ou cantor-compositor. Passou pelas rádios Rio de Janeiro, Mauá e Carioca, mas foi na Rádio Continental que ele conheceu Erivaldo Santana, parceiro do primeiro samba feito no Rio, “CHORINHO INCONSEQÜENTE”, o mesmo que foi gravado por Mirian Batucada, em 1972 no LP “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez”. Torna-se amigo de Raul Seixas e assina contrato com a CBS, onde Raul Seixas era produtor dos mais ativos e conhecidos. Então tem início a saga do homem que botou o bloco na rua da ditadura militar. Sérgio colheu o que plantou com suas tempestades, considerava a sociedade muito estanque, ela nunca aprenderia a conviver com ele, que não se afinava com as suas diretrizes. Cantor-compositor de um único sucesso explosivo, “EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA”, foi o maior incentivador e responsável pela carreira de Raul Seixas como cantor solo, pois à época Raul atuava como produtor e compositor na CBS. Sérgio enveredou pelo caminho do alcoolismo e apesar de ter deixado uma obra das mais significativas na história da música popular brasileira, morreu no ostracismo, às cinco horas da manhã do dia 15 de maio

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478 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

de 1994, com crise de pancreatite.

O livro “EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA”, do escritor, músico e compositor Rodrigo Moreira, trata-se de um resgate da obra única e sem paradoxo desse cachoeirense considerado “maldito”, pois é uma mania muito feia de medíocres e detratores sem nenhuma história para ser registrada, tentar apagar a biografia dos do que deixaram alguma coisa de proveitosa para a humanidade. A vida e a carreira musical de Sérgio Sampaio ganharam um enorme respaldo histórico e qualitativo nesta biografia que há muito fazia falta nas prateleiras dos aficionados pela obra sem paralelos que ele deixou. Também muito digna a colaboração prestada à história da MPB e de Sérgio, elaborada pelo maranhense ZECA BALEIRO, que produziu e lançou através de seu selo Saravá Discos um dos álbuns de Sérgio Sampaio inéditos, intitulado “CRUEL”.

Resultado de três anos de pesquisa sobre a vida e a carreira musical de Sérgio Sampaio, este livro de Rodrigo Moreira, “EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA”, tem por objetivo fazer justiça a um nome tão importante como o de Sérgio e oferece ao leitor um amplo painel de sua obra gravada e inédita, ao mesmo tempo apontando a qualidade e a implicação histórica de suas composições, além de falar da amizade entre Sérgio e Raul Seixas na década de 70.

*PARA SÉRGIO*

Isaac Soares de Souza

Sérgio fabricava tamancos

Pra chutar a bunda suja do sistema

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479 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Sampaio fazia versos com um toque de gênio

Anjo torto de Cachoeiro do Itapemirim

No Rio de Janeiro

Gritou bem alto para o Brasil inteiro:

“EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA”

da amargura asfaltada pela ditadura

dura de roer...

Gingar, botar pra ferver!

Sampaio tinha serpentes no balaio pra ar e vender

Sérgio era um atalaia da MPB

Internado no hospício da vida,

Não enlouqueceu como Nietzsche

Porque vomitava suas angústias na poesia

Seus versos eram sabres abrindo feridas

Ele era um poeta triste,

Mas sempre com o dedo em riste

Sérgio vivia à deriva

Ele não era besta

Entre leros, leros & boleros

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480 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

O velho poeta bandido

Cantava o seu pobre blues

Até samba com feeling de rock,

Pois Sampaio era pop

Apenas um cantor popular

Não era o Diabo, nem era “maldito”

Mas sabia dar um “toque”

Seu pai era Raul, Cala a Boca Zebedeu

Seu amigo era Raul, que entre os loucos se perdeu

Baiano de Quenguenhém

Enquanto as cinzas do Velho Aeon

Vinham carregadas no vagão do trem

Sérgio e Raul faziam da vida um eterno blues

Cantor de rádio, locutor,

Gênio esboçado, filho da dor

Sátiro do cotidiano

Que o alcoolismo tombou!!!

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481 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*SÉRGIO SAMPAIO BOTOU O BLOCO NA RUA DO CÉU*

29 de maio de 1995, estava eu vasculhando meu arquivo

sobre Raul Seixas, já bastante amarelado pelo tempo, quando entre centenas de fotos, livros e reportagens que coleciono desde 1972, encontrei duas pequenas notas publicadas em revistas (POP e AMIGA, 1970/1980) sobre Sérgio Samapaio. Confesso que aquela altura eu nem me recordava mais de ter ainda guardadas aqueles pequenos recortes sobre o homem que botou o bloco na rua. Engraçado, mas naquele exato momento, me invadiu uma necessidade louca e inexplicável de saber o que era feito de Sérgio Sampaio, que há muito havia desaparecido da mídia.

Eu só lembrava de que, em 1984, perguntara a Raul por onde andava Sérgio Sampaio. Raul simplesmente me disse que pouco sabia a respeito dele e que havia perdido o contato com Sérgio Sampaio, pois já não eram mais tão amigos como no início de carreira. Sergio era outro “maldito”, que gostava de se esbaldar etilicamente. Raul me dissera que Sérgio foi quem mais o incentivou para que ele gravasse um disco solo com suas próprias composições. Ao me recordar do Raul me falara naqueles distantes anos de 1980, minha curiosidade em saber o que o homem do Bloco na Rua estaria tramando musicalmente, tomou proporções incontroláveis e eu dei início a uma caça às bruxas para saber por onde andava Sérgio. Sérgio trabalhou muito com Raul e foi sem dúvida, companheiro marcante da Sociedade da Grã-Ordem Kavernista. Raul produziu e participou de seu trabalho em disco. Ambos se ajudaram mutuamente e se lançaram artisticamente, praticamente juntos. Na época mencionada, escrevi inúmeras cartas e enderecei-as às gravadoras, aos amigos na esperança última de saber por onde estacionava Sérgio Sampaio.

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482 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Meses se arrastaram ao lado de minha ansiedade, nenhuma resposta me chegava às mãos e terminei por aquiecer a ansiedade esquecendo-me do fato. No final do mês de junho de 1995, recebi uma carta de um amigo residente em São Paulo e não pude deixar de me estarrecer até os recônditos da alma, quando ao ler a referida carta, tomei conhecimento de que Sérgio Sampaio falecera no dia 15 de maio de 1995. Havia um show marcado dois dias antes de Sérgio falecer, em São Paulo e também o plano de gravar seu primeiro CD pela Baratos e Afins. O referido show acabou não acontecendo, pois Sérgio já estava agonizando e o CD não sairia pela gravadora mencionada. Sérgio contribuiu muito com o trabalho de Raul e é digno que nos lembremos desse gênio ímpar, que não pode ser atirado ao limbo do esquecimento, cujo único sucesso estrondoso e eterno foi, sem dúvida, “EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA”.

Eu tinha entre 13 e 14 anos e vivia cantando esta música de Sérgio e foi através do trabalho magistral desse cachoeirense que conheci Raul Seixas. Sérgio Sampaio desapareceu do cenário musical, porque assim como o mestre e amigo Raul, ele sentia asco do sucesso negociado. Preferiu morrer esquecido do que mergulhado na mesmice em que se transformou a música brasileira. E, parece-me que ele era idêntico a Raul neste aspecto de não se afinar e nem se amofinar diante das exigências do mercado e da indústria fonográfica, tinha tendências para se autodestruir, sem contar a maldição causada pela bebida, não dava a mínima para a carreira musical engendrada pelas imbecilidades da indústria. Com certeza, Sérgio Sampaio foi chamado pelo amigo Raulzito. Ele foi botar o bloco nas ruas celestiais e participar do Eterno Carnaval no céu. Sérgio Sampaio deve ser lembrado não só pela importância de sua obra e obstinação, corajosamente, o mais “maldito” entre os “malditos”, preferiu morrer

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483 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

no esquecimento do que entregar-se à ditadura imposta pelas gravadoras. Não negociou seu talento ímpar e disse não ao sucesso fácil e ignorante. Sem contar que a sua participação no LP “SOCIEDADE DA GRÃ-ORDEM KAVERNISTA APRESENTA SESSÃO DAZ DEZ”, foi definitiva e importantíssima. Sérgio Sampaio foi um ícone e precisa ser resgatado e levado ao conhecimento das novas gerações.

*EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA*

SÉRGIO SAMPAIO

Há quem diga que eu dormi de touca

Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga

Que eu caí do galho e que não vi saída

Que eu morri de medo quando o pau quebrou

Há quem diga que eu não sei de nada

Que eu não sou de nada e não peço desculpas

Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira

E que Durango Kid quase me pegou

Eu, por mim, queria isso e aquilo

Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso

É disso que eu preciso ou não é nada disso

Eu quero é todo mundo nesse Carnaval

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484 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Eu quero é botar meu bloco na rua

Brinar, botar pra gemer

Eu quero é botar meu bloco na rua

Gingar pra dar e vender...

(EU QUERO É BOTAR MEU

BLCO NA RUA ficou com o

primeiro lugar no VII FIC, em 1972 e LET ME SING, LET ME SING e

EU SOU EU, NICURI É O

DIABO, de Raul Seixas foram ambas classificadas)

(MEU NOME É RAULZITO SEIXAS/EU VIM DA BAHIA/VIM MODIFICAR ISSO AQUI/POP, SAMBA E ROCK, MORENA/BALADA

E BAIOCK...

Raul sempre lutou para que o homem anátema se tornasse um ser livre e feliz, ajudando-o com suas músicas a libertar-se do sistema e das correntes que o manietam desde os primórdios da História, Religião, Estado (trilogia Lúciferana), a desvencilhar-se das garras senhoriais da sociedade fundamentada em princípios e valores retrógrados e ultrapassados, guardados há séculos e séculos de inércia absoluta e aviltante.

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485 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Raul mostrou ao homem que ele é seu próprio Deus e seu próprio País, um gigante que não pode ser vencido por nenhum Davi, desde que ele saiba o que está fazendo aqui, a que veio, por quê? Raul preocupava-se tanto com o indivíduo, que interrompeu sua própria vida para ensiná-lo a ser mais homem, mostrou a possibilidade de o homem pisotear a cabeça da grande besta, dos preconceitos morais, outorgou ao ser humano a Cruz de Ansata, a Chave da Vida, para que ele então, pudesse e ousasse abrir a porta lá do quarto dos segredos e se transformasse no oposto dessa estupidez.

A grande maioria continua muito distante dessa verdade absoluta, pois os escravos sempre servirão pelos séculos dos séculos. Quando Raul nos deixou, naquele fatídico e lúgubre dia 21 de agosto de 1989, ele não tinha mais razão para permanecer entre nós, chegara o tempo de subir para a Fase A da Sociedade Alternativa. Ele havia cumprido sua missão e esta gigantesca missão fora extremamente longa, pois a missão de resgate da humanidade incumbida a Cristo, não durou mais que 3 anos, mas a missão que Jesus impôs a Raul Seixas, durou exatos 16 anos e ele a cumpriu com maestria e honra. Portanto, ah! Meus Deus e porquanto, não devemos, nós, os raulseixistas, malucos beleza, lamentar sua morte e sim, regozijar-nos. Raul não morreu, nasceu póstumo. É lamentável se constatar que após sua morte, indivíduos surgiram que, dantes o execravam, dizendo-se seus seguidores e então, organizaram o que se pode denominar seguramente, de Cartel Raulseixista e encheram os bolsos e os cofres e contas bancárias, usando desavergonhadamente, seu nome e sua obra musical.Intitulam-se sósias e imitadores numa ânsia frenética de se autoproclamarem a reencarnação de Raul.

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486 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Tolos, eles não sabem o que fazem. “Eles só vão entender o que disse no esperado dia do eclipse”, profetizou Raul.

Pobres diabos. Os escravos servirão!

*A LEI DE TELEMA*

Isaac Soares de Souza

Fé em você, força e raça

Raul Seixas falou:

Berimbau tem cabaça,

É um som que é “deep in my soul”

Não existe Deus senão o homem

Vá e grite ao mundo que você está certo

O poder do homem é imenso

Logo penso: Posso fazer o que quisewr

Sem nunca desrespeitar o ser humano como ele é

O amor é a lei. Amor sob vontade.

Eis que os escrevos servirão!

A Lei de Telema: Reinado de paz,

Paz interna, paz individual

O homem não é o chacal

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487 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Que a História afirma ser

Quebrar os elos da escravidão milenar,

Mudar esse paradigma de que

Deus vê tudo que você faz

A religião é a grande peste,

Nós somos super-homens

Como na visão de Nietzsche

O homem é um ser divino

Que perdura além da morte física,

Os homens passam, as musicam ficam

E atestam e indicam:

“A morte não mata quem já nasceu imortal!”

Apenas faça e arrume as malas

Somente duas conduções

Poderão levá-lo para a Cidade das Estrelas

Esteja pronto para o Novo Aeon,

Coragem, eu sei que você pode mais

Embarque na Estação Sociedade Alternativa,

Vem, amém!

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488 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Trem das 7, Trem 103

Força e raça, fé em você,

Tente outra vez,

Pois é de batalhas que se vive a vida

Viva, viva, viva a Sociedade Alternativa!!!

*DÁ-LHE QUE DÁ*

RAUL SEIXAS/OSCAR RASMUSSEM

Dá-lhe que dá

Dá-lhe que dá, mãe

Que não vai sangrar, não

Eu digo: vai lá

Dá-lhe que dá

Tire a careta, mamãe

Vamos remar

Que essa onda já está prestes a estourar!

E o perigo de você se afogar

É muito! Muito

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489 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Dá-lhe que dá...

*RÉQUIEM PARA UMA FLOR*

RAUL SEIXAS/OSCAR RASMUSSEM

Fruto do mundo

Somos os homens

Pequenos girassóis

Os que mostram a cara

E enorme as montanhas

Que não dizem nada...

(Incapaces los hombres que hablan de todo y sufrem callados...)

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490 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(IMPRIMATUR SOCIEDADE ALTERNATIVA/FOTO: Raul Seixas Contracapa do LP “KRIG-HÁ BANDOLO!” - *1945 +1989

SANTOS SEIXAS)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(IMPRIMATUR SOCIEDADE ALTERNATIVA/FOTO: Raul Seixas - *1945 +1989 - RAUL

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491 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*DIAMANTE DE MENDIGO*

RAUL SEIXAS/OSCAR RASMUSSEM

Eu tive que perder minha família

Para perceber o benefício que ela me proporcionava

É triste aceitar esse engano

Quando já se esgotaram todas as possibilidades

E agora sofro as atitudes que tomei

Por acreditar em verdades ignorantes

Que na época tomei

Acreditando numa moda passageira

Que se foi tal qual fumaça

Não respeitei o sacrifício

Que custa para construir

A fortaleza que se chama família

Acabamos, no fim, perdendo a quem nos ama

Só porque o jornaleiro da esquina

Falou que é otário aquele que confia

E é tão difícil confiar em alguém

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492 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Quando a gente aceita se mentir,

Se mentir...

Somente conhecendo a beleza da união

É que a gente tem a força

Para não, não se enganar

Eu que me achava um diamante

Nas mãos de mendigos

Só pelo medo de não sê-lo...

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493 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(CÓPIA DA CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO VARÃO RAUL SEIXAS)

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494 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(CÓPIA DA DECLARAÇÃO DE ÓBITO DE RAUL SEIXAS, EXPEDIDA E ASSINADA PELO DR. LUCIANO STANKA E SILVA, EM AGOSTO DE 1989)

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495 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Ilustração: Isaac Soares de Souza/1995)

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496 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(PROUDHON)

“Ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, endoutrinado,

predicado-controlado, calculado, apreciado, censurado, comandado por seres que não tem o título, nem a

ciência, nem a virtude... Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado,

admoestado, impedido, refoemado, reenviado, corrigido. É sob o pretexto da utilidade pública e em nome do

interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado, monopolizado, extorquido,

pressionado, mistificado, roubado e depois à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado,

espancado, discriminado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado,

vendido, traído e no máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o Governo, eis a Justiça, eis a

sua Moral!!!”

(Deste discurso de Proudhon, Raul Seixas retirou a letra da (Deste discurso de Proudhon, Raul Seixas retirou a letra da (Deste discurso de Proudhon, Raul Seixas retirou a letra da (Deste discurso de Proudhon, Raul Seixas retirou a letra da aparentemente inocente música “CARIMBADOR MALUCO” (PLUNCT, PLACT aparentemente inocente música “CARIMBADOR MALUCO” (PLUNCT, PLACT aparentemente inocente música “CARIMBADOR MALUCO” (PLUNCT, PLACT aparentemente inocente música “CARIMBADOR MALUCO” (PLUNCT, PLACT ZUM!), que aZUM!), que aZUM!), que aZUM!), que acabou se transformando no tema de um especial infantil cabou se transformando no tema de um especial infantil cabou se transformando no tema de um especial infantil cabou se transformando no tema de um especial infantil produzido pela Rede Globo e foi um grande sucesso entre a garotada)produzido pela Rede Globo e foi um grande sucesso entre a garotada)produzido pela Rede Globo e foi um grande sucesso entre a garotada)produzido pela Rede Globo e foi um grande sucesso entre a garotada)

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497 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*BANQUETE DE LIXO*

MARCELO NOVA/RAUL SEIXAS

Às três horas da manhã numa cidade tão estranha

Um palhaço teve a manha

De um banquete apresentar

E era um latão de lixo

Transbordando New York, catchup e caviar

Eu dormindo embriagado, um par de coxas do meu lado

E eu sem saber se devia ou não tocar

Se era estrangeira, mãe, esposa ou outra besteira

Que eu inventei de aprontar

O hoje é apenas é um furo no futuro

Por onde o passado começa a jorrar

Eu aqui isolado onde nada é perdoado

Vi o fim chamando o princípio pra poderem se encontrar

Fui levado na marra, pois enfermeiro quando agarra

É que nem ordem de prisão

A ambulância me esperava e aí o que rolava,

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498 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Internamento e injeção

E lá em Serra Pelada ouro no meio do nada,

Dor de barriga desgraçada resolveu me atacar

O show estava começando e eu no escuro me apertando

E autografando sem parar

O hoje é apenas um furo no futuro

Por onde o passado começa a jorrar

Eu aqui isolado onde nada é perdoado

Vi o fim chamando o princípio pra poderem se encontrar

Muitas mulheres eu amei e com tantas me casei

Mas agora é Raul Seixas que Raul vai encarar

Nem todo bem que eu conquistei, nem todo mal que eu causei

Me dão direito de poder lhe ensinar

Meu amigo Marceleza já me disse com certeza

Não sou nenhuma ficção

E assim torto e de verdade com amor e com maldade,

Um abraço e até outra vez

O hoje é apenas um furo no futuro

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499 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Por onde o passado começa a jorrar

Eu aqui isolado onde nada é perdoado

Vi o fim chamando o princípio pra poderem se encontrar...

******************************

(Nesta letra “BANQUETE DE LIXO”, Raul conta fatos verídicos que ele (Nesta letra “BANQUETE DE LIXO”, Raul conta fatos verídicos que ele (Nesta letra “BANQUETE DE LIXO”, Raul conta fatos verídicos que ele (Nesta letra “BANQUETE DE LIXO”, Raul conta fatos verídicos que ele viveu. Por exemplo, logo no viveu. Por exemplo, logo no viveu. Por exemplo, logo no viveu. Por exemplo, logo no início da letra, ele relata que estava início da letra, ele relata que estava início da letra, ele relata que estava início da letra, ele relata que estava

perambulando pelas ruas de Nova Yorque, às três horas da manhã, de perambulando pelas ruas de Nova Yorque, às três horas da manhã, de perambulando pelas ruas de Nova Yorque, às três horas da manhã, de perambulando pelas ruas de Nova Yorque, às três horas da manhã, de repente, numa viela sem saída e escura, deu de cara com um mendigo, repente, numa viela sem saída e escura, deu de cara com um mendigo, repente, numa viela sem saída e escura, deu de cara com um mendigo, repente, numa viela sem saída e escura, deu de cara com um mendigo, travestido de palhaço, de compleição física travestido de palhaço, de compleição física travestido de palhaço, de compleição física travestido de palhaço, de compleição física enorme, revirando um latão enorme, revirando um latão enorme, revirando um latão enorme, revirando um latão de lixo à cata de restos comestíveis, literalmente comendo lixo. O tal de lixo à cata de restos comestíveis, literalmente comendo lixo. O tal de lixo à cata de restos comestíveis, literalmente comendo lixo. O tal de lixo à cata de restos comestíveis, literalmente comendo lixo. O tal

mendigo, gesticulando sinais, convidava Raul para dividir com ele prazer mendigo, gesticulando sinais, convidava Raul para dividir com ele prazer mendigo, gesticulando sinais, convidava Raul para dividir com ele prazer mendigo, gesticulando sinais, convidava Raul para dividir com ele prazer de se deleitar com aquele banquete de lixo: catchde se deleitar com aquele banquete de lixo: catchde se deleitar com aquele banquete de lixo: catchde se deleitar com aquele banquete de lixo: catchup e caviar.up e caviar.up e caviar.up e caviar.

Raul não se fez de rogado e participou do ágape de lixo: “O lixo de Raul não se fez de rogado e participou do ágape de lixo: “O lixo de Raul não se fez de rogado e participou do ágape de lixo: “O lixo de Raul não se fez de rogado e participou do ágape de lixo: “O lixo de Nova York é comestível”, dizia Raul toda vez que alguém tocava na Nova York é comestível”, dizia Raul toda vez que alguém tocava na Nova York é comestível”, dizia Raul toda vez que alguém tocava na Nova York é comestível”, dizia Raul toda vez que alguém tocava na

hilária situação. Raul, nesta letra também nos fala sobre um hilária situação. Raul, nesta letra também nos fala sobre um hilária situação. Raul, nesta letra também nos fala sobre um hilária situação. Raul, nesta letra também nos fala sobre um acontecimacontecimacontecimacontecimento engraçado, tragicômico vivido por ele. Em Serra Pelada, ento engraçado, tragicômico vivido por ele. Em Serra Pelada, ento engraçado, tragicômico vivido por ele. Em Serra Pelada, ento engraçado, tragicômico vivido por ele. Em Serra Pelada,

ele deu autógrafo cagando. Esta situação ele deu autógrafo cagando. Esta situação ele deu autógrafo cagando. Esta situação ele deu autógrafo cagando. Esta situação

constrangedora e agonizante se deu no garimpo de Serra Pelada, entre constrangedora e agonizante se deu no garimpo de Serra Pelada, entre constrangedora e agonizante se deu no garimpo de Serra Pelada, entre constrangedora e agonizante se deu no garimpo de Serra Pelada, entre uma multidão de garimpeiros e prostitutas. Raul foiuma multidão de garimpeiros e prostitutas. Raul foiuma multidão de garimpeiros e prostitutas. Raul foiuma multidão de garimpeiros e prostitutas. Raul foi procurado por um procurado por um procurado por um procurado por um empresário que o contratou para um show em pleno garimpo, indicado e empresário que o contratou para um show em pleno garimpo, indicado e empresário que o contratou para um show em pleno garimpo, indicado e empresário que o contratou para um show em pleno garimpo, indicado e solicitado pelos próprios garimpeiros. Embarcou num avião em São Paulo solicitado pelos próprios garimpeiros. Embarcou num avião em São Paulo solicitado pelos próprios garimpeiros. Embarcou num avião em São Paulo solicitado pelos próprios garimpeiros. Embarcou num avião em São Paulo e a cada escala passava para um avião menor, seguiu viagem pae a cada escala passava para um avião menor, seguiu viagem pae a cada escala passava para um avião menor, seguiu viagem pae a cada escala passava para um avião menor, seguiu viagem passando ssando ssando ssando de uma aeronave para outra, até chegar ao garimpo de Serra Pelada de uma aeronave para outra, até chegar ao garimpo de Serra Pelada de uma aeronave para outra, até chegar ao garimpo de Serra Pelada de uma aeronave para outra, até chegar ao garimpo de Serra Pelada num aviãozinho qualquer. Ao pousar no referido garimpo no meio da num aviãozinho qualquer. Ao pousar no referido garimpo no meio da num aviãozinho qualquer. Ao pousar no referido garimpo no meio da num aviãozinho qualquer. Ao pousar no referido garimpo no meio da mata, não havia hotel nem casas, apenas pequenas barracas de mata, não havia hotel nem casas, apenas pequenas barracas de mata, não havia hotel nem casas, apenas pequenas barracas de mata, não havia hotel nem casas, apenas pequenas barracas de madeira, só existiammadeira, só existiammadeira, só existiammadeira, só existiam garimpeiros e prostitutas ali. Raul se hospedou garimpeiros e prostitutas ali. Raul se hospedou garimpeiros e prostitutas ali. Raul se hospedou garimpeiros e prostitutas ali. Raul se hospedou numa dessas barracas, que pertencia a uma prostituta. Na hora do numa dessas barracas, que pertencia a uma prostituta. Na hora do numa dessas barracas, que pertencia a uma prostituta. Na hora do numa dessas barracas, que pertencia a uma prostituta. Na hora do show, quando ele decidiu subir ao palco, foi acometido por uma dor de show, quando ele decidiu subir ao palco, foi acometido por uma dor de show, quando ele decidiu subir ao palco, foi acometido por uma dor de show, quando ele decidiu subir ao palco, foi acometido por uma dor de barriga incontrolável que o fazia sbarriga incontrolável que o fazia sbarriga incontrolável que o fazia sbarriga incontrolável que o fazia suar frio. Não tinha como suportar uar frio. Não tinha como suportar uar frio. Não tinha como suportar uar frio. Não tinha como suportar aquela batalha intestinal, ele tinha que encontrar um banheiro aquela batalha intestinal, ele tinha que encontrar um banheiro aquela batalha intestinal, ele tinha que encontrar um banheiro aquela batalha intestinal, ele tinha que encontrar um banheiro

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500 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

urgentemente, caso contrário cagaria nas calças. Então Raul avisou ao urgentemente, caso contrário cagaria nas calças. Então Raul avisou ao urgentemente, caso contrário cagaria nas calças. Então Raul avisou ao urgentemente, caso contrário cagaria nas calças. Então Raul avisou ao empresário sobre a fatídica e inesperada caganeira que empresário sobre a fatídica e inesperada caganeira que empresário sobre a fatídica e inesperada caganeira que empresário sobre a fatídica e inesperada caganeira que o acometera, o acometera, o acometera, o acometera, não tinha mais como suportar aquilo, ele precisava cagar onde quer que não tinha mais como suportar aquilo, ele precisava cagar onde quer que não tinha mais como suportar aquilo, ele precisava cagar onde quer que não tinha mais como suportar aquilo, ele precisava cagar onde quer que fosse. Raul foi levado às pressas para um lugar escuro, nos fundos de fosse. Raul foi levado às pressas para um lugar escuro, nos fundos de fosse. Raul foi levado às pressas para um lugar escuro, nos fundos de fosse. Raul foi levado às pressas para um lugar escuro, nos fundos de uma boate, o banheiro era um buraco no chão e ele acocorouuma boate, o banheiro era um buraco no chão e ele acocorouuma boate, o banheiro era um buraco no chão e ele acocorouuma boate, o banheiro era um buraco no chão e ele acocorou----se pse pse pse para ara ara ara cagar. As pessoas o seguiram em romaria, uma multidão de garimpeiros cagar. As pessoas o seguiram em romaria, uma multidão de garimpeiros cagar. As pessoas o seguiram em romaria, uma multidão de garimpeiros cagar. As pessoas o seguiram em romaria, uma multidão de garimpeiros e putas, todos acenderam fósforos e isqueiros para iluminar a área. Raul e putas, todos acenderam fósforos e isqueiros para iluminar a área. Raul e putas, todos acenderam fósforos e isqueiros para iluminar a área. Raul e putas, todos acenderam fósforos e isqueiros para iluminar a área. Raul cagava e dava autógrafos ao mesmo tempo, depois de aliviado, ele cagava e dava autógrafos ao mesmo tempo, depois de aliviado, ele cagava e dava autógrafos ao mesmo tempo, depois de aliviado, ele cagava e dava autógrafos ao mesmo tempo, depois de aliviado, ele realizou realizou realizou realizou um show espetacular. Um rei nunca perde a majestade, mesmo um show espetacular. Um rei nunca perde a majestade, mesmo um show espetacular. Um rei nunca perde a majestade, mesmo um show espetacular. Um rei nunca perde a majestade, mesmo em meio à merda, um monarca será sempre um monarca, mesmo que em meio à merda, um monarca será sempre um monarca, mesmo que em meio à merda, um monarca será sempre um monarca, mesmo que em meio à merda, um monarca será sempre um monarca, mesmo que lhe atirem merda à coroa. A verdadeira corte do Rei Raullhe atirem merda à coroa. A verdadeira corte do Rei Raullhe atirem merda à coroa. A verdadeira corte do Rei Raullhe atirem merda à coroa. A verdadeira corte do Rei Raul----Luar. Apesar Luar. Apesar Luar. Apesar Luar. Apesar de todos os pesares da situde todos os pesares da situde todos os pesares da situde todos os pesares da situação constrangedora e da longa e cansativa ação constrangedora e da longa e cansativa ação constrangedora e da longa e cansativa ação constrangedora e da longa e cansativa viagem ao garimpo naquele fim de mundo, Raul cumpriu sua missão e viagem ao garimpo naquele fim de mundo, Raul cumpriu sua missão e viagem ao garimpo naquele fim de mundo, Raul cumpriu sua missão e viagem ao garimpo naquele fim de mundo, Raul cumpriu sua missão e entre putas, garimpeiros e policiais teve a ousadia de cantar “MAMÃE, entre putas, garimpeiros e policiais teve a ousadia de cantar “MAMÃE, entre putas, garimpeiros e policiais teve a ousadia de cantar “MAMÃE, entre putas, garimpeiros e policiais teve a ousadia de cantar “MAMÃE, EU NÃO QUERIA”. Os policiais, ou bestas EU NÃO QUERIA”. Os policiais, ou bestas EU NÃO QUERIA”. Os policiais, ou bestas EU NÃO QUERIA”. Os policiais, ou bestas humanas fardadas, não humanas fardadas, não humanas fardadas, não humanas fardadas, não gostaram nenhum um pouco daquele magricela abusado, no entanto, gostaram nenhum um pouco daquele magricela abusado, no entanto, gostaram nenhum um pouco daquele magricela abusado, no entanto, gostaram nenhum um pouco daquele magricela abusado, no entanto, não reagiram à provocação. Raul nesse memorável e assustador dia, não reagiram à provocação. Raul nesse memorável e assustador dia, não reagiram à provocação. Raul nesse memorável e assustador dia, não reagiram à provocação. Raul nesse memorável e assustador dia, estava mesmo num dia de azar, pois, além destes acontecimentos estava mesmo num dia de azar, pois, além destes acontecimentos estava mesmo num dia de azar, pois, além destes acontecimentos estava mesmo num dia de azar, pois, além destes acontecimentos desagraddesagraddesagraddesagradáveis, ainda ficou sem receber o cachê combinado pelo show, áveis, ainda ficou sem receber o cachê combinado pelo show, áveis, ainda ficou sem receber o cachê combinado pelo show, áveis, ainda ficou sem receber o cachê combinado pelo show, foi enganado, ouro no meio do nada, só uma dor de barriga desgraçada. foi enganado, ouro no meio do nada, só uma dor de barriga desgraçada. foi enganado, ouro no meio do nada, só uma dor de barriga desgraçada. foi enganado, ouro no meio do nada, só uma dor de barriga desgraçada. Mas Raul sempre fora vítima dos caloteiros do showMas Raul sempre fora vítima dos caloteiros do showMas Raul sempre fora vítima dos caloteiros do showMas Raul sempre fora vítima dos caloteiros do show----bizz, mas sempre bizz, mas sempre bizz, mas sempre bizz, mas sempre dava o troco merecidodava o troco merecidodava o troco merecidodava o troco merecido, marcava muitos shows e não comparecia a , marcava muitos shows e não comparecia a , marcava muitos shows e não comparecia a , marcava muitos shows e não comparecia a nenhum, quando farejava um possível calote, não dava os ares de sua nenhum, quando farejava um possível calote, não dava os ares de sua nenhum, quando farejava um possível calote, não dava os ares de sua nenhum, quando farejava um possível calote, não dava os ares de sua graça e daí a sua fama de irresponsável e artista intratável.graça e daí a sua fama de irresponsável e artista intratável.graça e daí a sua fama de irresponsável e artista intratável.graça e daí a sua fama de irresponsável e artista intratável.

Numa apresentação realizada em Brasília, a capitNuma apresentação realizada em Brasília, a capitNuma apresentação realizada em Brasília, a capitNuma apresentação realizada em Brasília, a capital dos insanos e brutos, al dos insanos e brutos, al dos insanos e brutos, al dos insanos e brutos, mentirosos e corruptos, na década de 70, Raul foi detido por alguns mentirosos e corruptos, na década de 70, Raul foi detido por alguns mentirosos e corruptos, na década de 70, Raul foi detido por alguns mentirosos e corruptos, na década de 70, Raul foi detido por alguns dias, por desacato à autoridade. Ele havia sido contratado para se dias, por desacato à autoridade. Ele havia sido contratado para se dias, por desacato à autoridade. Ele havia sido contratado para se dias, por desacato à autoridade. Ele havia sido contratado para se apresentar reservada e exclusivamente para os generais, capitapresentar reservada e exclusivamente para os generais, capitapresentar reservada e exclusivamente para os generais, capitapresentar reservada e exclusivamente para os generais, capitães e toda ães e toda ães e toda ães e toda a horda fardada, asseclas de Satanás e seus familiares. Raul, ousado a horda fardada, asseclas de Satanás e seus familiares. Raul, ousado a horda fardada, asseclas de Satanás e seus familiares. Raul, ousado a horda fardada, asseclas de Satanás e seus familiares. Raul, ousado como ele só, adentrou o recinto infestado de abutres militares, como ele só, adentrou o recinto infestado de abutres militares, como ele só, adentrou o recinto infestado de abutres militares, como ele só, adentrou o recinto infestado de abutres militares, esfregando os olhos como se tivesse acordado naquele instante, escova esfregando os olhos como se tivesse acordado naquele instante, escova esfregando os olhos como se tivesse acordado naquele instante, escova esfregando os olhos como se tivesse acordado naquele instante, escova dental dental dental dental nos bolsos e de pijama denos bolsos e de pijama denos bolsos e de pijama denos bolsos e de pijama de bolinhas ebolinhas ebolinhas ebolinhas e perguntado em que lugar perguntado em que lugar perguntado em que lugar perguntado em que lugar estranho ele estava. Os donos do poder, indignados com tão ousada estranho ele estava. Os donos do poder, indignados com tão ousada estranho ele estava. Os donos do poder, indignados com tão ousada estranho ele estava. Os donos do poder, indignados com tão ousada indisciplina, ordenaram que Raul fosse detido por alguns dias no próprio indisciplina, ordenaram que Raul fosse detido por alguns dias no próprio indisciplina, ordenaram que Raul fosse detido por alguns dias no próprio indisciplina, ordenaram que Raul fosse detido por alguns dias no próprio

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501 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

hotel em que ele hotel em que ele hotel em que ele hotel em que ele se hospedava, por desacato às autoridades militares.se hospedava, por desacato às autoridades militares.se hospedava, por desacato às autoridades militares.se hospedava, por desacato às autoridades militares.

Em todas as suas músicas, Raul sempre fazia questão absoluta e Em todas as suas músicas, Raul sempre fazia questão absoluta e Em todas as suas músicas, Raul sempre fazia questão absoluta e Em todas as suas músicas, Raul sempre fazia questão absoluta e proposital, de impregnáproposital, de impregnáproposital, de impregnáproposital, de impregná----las do mais puro realismo, sempre falava de las do mais puro realismo, sempre falava de las do mais puro realismo, sempre falava de las do mais puro realismo, sempre falava de suas próprias agonias, lutas e certezassuas próprias agonias, lutas e certezassuas próprias agonias, lutas e certezassuas próprias agonias, lutas e certezas, retratava a vida e a época em , retratava a vida e a época em , retratava a vida e a época em , retratava a vida e a época em que viveu. Raul cantava suas próprias feridas, que são as mesmas que que viveu. Raul cantava suas próprias feridas, que são as mesmas que que viveu. Raul cantava suas próprias feridas, que são as mesmas que que viveu. Raul cantava suas próprias feridas, que são as mesmas que infestam a carne e alma de todo ser humano, ele cantava o que vivia. infestam a carne e alma de todo ser humano, ele cantava o que vivia. infestam a carne e alma de todo ser humano, ele cantava o que vivia. infestam a carne e alma de todo ser humano, ele cantava o que vivia. O Raulseixismo.O Raulseixismo.O Raulseixismo.O Raulseixismo.

Por isso, Raul santos Seixas Por isso, Raul santos Seixas Por isso, Raul santos Seixas Por isso, Raul santos Seixas foi um gênio e sempre será lembrado pelos foi um gênio e sempre será lembrado pelos foi um gênio e sempre será lembrado pelos foi um gênio e sempre será lembrado pelos séculos dos séculos, amém....séculos dos séculos, amém....séculos dos séculos, amém....séculos dos séculos, amém....

(LÁ VAI MEU SOL)

RAUL VARELLA SEIXAS

(AO MEU FILHO RAULZITO)

Lá vai meu sol em descida

Numa triste despedida

Como uma dor a sangrar

Tingindo de sangue o poente

Entoando um canto dolente

E nos fazendo chorar

E ele até mesmo parece

Um olho grande, vermelho

Quando de leve já desce

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502 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Se debruçando no espelho

Tristemente sobre o mar

Como derradeiro olhar

Adeus, bom amigo Sol

Quando de novo voltar

Entre as luzes do arrebol

Quando tornar a brilhar

Como poesia luzindo

Cheio de vida a pulsar

Ganhará você outro nome

Depois que você se some

Onde é que vai repousar?

E à noite por onde anda?

Será que é Deus que te manda,

Sonhar em outro lugar?

Ganhando mais um instante

Andando em terra distante

Preso ao destino traçado

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503 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Sem nunca ficar parado

Viverá sempre a brilhar!!!

(Esta poesia de autoria do pai de Raulzito, senhor Raul(Esta poesia de autoria do pai de Raulzito, senhor Raul(Esta poesia de autoria do pai de Raulzito, senhor Raul(Esta poesia de autoria do pai de Raulzito, senhor Raul Varella Seixas, Varella Seixas, Varella Seixas, Varella Seixas, acabou sendo musicada em duas versões diferentes e gravadas em acabou sendo musicada em duas versões diferentes e gravadas em acabou sendo musicada em duas versões diferentes e gravadas em acabou sendo musicada em duas versões diferentes e gravadas em

discos pelos cantores e fãs de Raul, THILDO GAMA e ROBERTO SEIXAS. discos pelos cantores e fãs de Raul, THILDO GAMA e ROBERTO SEIXAS. discos pelos cantores e fãs de Raul, THILDO GAMA e ROBERTO SEIXAS. discos pelos cantores e fãs de Raul, THILDO GAMA e ROBERTO SEIXAS. Este belo poema foi publicado no livro “VELA BRANCA, MAR AZUL”, Este belo poema foi publicado no livro “VELA BRANCA, MAR AZUL”, Este belo poema foi publicado no livro “VELA BRANCA, MAR AZUL”, Este belo poema foi publicado no livro “VELA BRANCA, MAR AZUL”, lançado lançado lançado lançado pelo pai de Raul em 1989. O senhor Raul Varella Seixas pelo pai de Raul em 1989. O senhor Raul Varella Seixas pelo pai de Raul em 1989. O senhor Raul Varella Seixas pelo pai de Raul em 1989. O senhor Raul Varella Seixas

faleceu pouco tempo depois da mortefaleceu pouco tempo depois da mortefaleceu pouco tempo depois da mortefaleceu pouco tempo depois da morte do filho, de câncer na medula óssea, era poeta e teve alguns poemas musicados e gravados por

Raul.)

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504 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(FOTO: PAULO VASCONCELOS - RAUL SEIXAS NA PRAIA DE COPACABANA)

“Meu nome é Raul santos Seixas,

sou baiano de Quenguenhém,

oito horas de mula e doze de trem

Mas que o mel é doce é coisa de que nego a afirmar

Mas, que parece doce, eu afirmo plenamente!

Deus é o que me falta para compreender

O que eu não compreendo

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505 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Eu disse:

Deus é o que me falta para compreender

O que eu não compreendo...”

(Raul Seixas, LP “KRIG(Raul Seixas, LP “KRIG(Raul Seixas, LP “KRIG(Raul Seixas, LP “KRIG----HÁ, BANDOLO!” HÁ, BANDOLO!” HÁ, BANDOLO!” HÁ, BANDOLO!” ---- Philips/1973Philips/1973Philips/1973Philips/1973

*RAUL SEIXAS FILOSOFANDO, BABY!**RAUL SEIXAS FILOSOFANDO, BABY!**RAUL SEIXAS FILOSOFANDO, BABY!**RAUL SEIXAS FILOSOFANDO, BABY!*

- Eu estou sempre rodeado de gente que mente. É

terrível, e é tão difícil encontrar alguém que não minta, não é?

Estou cansado de ficar ouvindo estórias de mentirosos, baixo nível, gente que tem uma pedra no lugar do coração. Gente, como deixaram que isso acontecesse a vocês? Porém, eu acredito no ser

gente. É chato se sentir sozinho; eu

gosto de pensar que ainda existe alguém parecido comigo.

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506 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Vou continuar procurando.

- Hei, por quê os bons ficam se escondendo?

Atenciosamente.

Raul Seixas.

Os.: Vamos formar uma terra própria.

Cultivar nosso solo desde o plantio da primeira semente. Nós podemos.

Será que a gente pode mesmo? Não, não eu tenho de crer!!! Senão, o que é que eu faço aqui sozinho? Ninguém tem coragem de vir comigo? A formiga é pequena, mas elas são um exército

quando juntas.-

*RAUL SEIXAS e MARCELO NOVA FALANDO À PLATÉIA DURANTE UM SHOW*

MARCELO NOVA: “Respeito com a maior figura do rock brasileiro, RAUL SEIXAS.

RAUL SEIXAS: “Existe um hino o qual nós fazemos há 12 anos, eu e vocês, nós fazemos. Nós, gente, povo, as pessoas cantam, pelo menos desde que comecei a divulgar a promulgação dessa lei, da Sociedade Alternativa, é o hino nacional onde o homem é o embaixador do próprio país, em que cada um é diferente um do outro, então a gente tem direito de ser o que é, a gente tem direito de fazer o que quer, de pensar o que quiser, da maneira e como e quando a gente quiser... é aquela coisa de malcriação,

de bater o pé no chão... Viva, Viva, Viva, Viva a Sociedade

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507 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Alternativa...”

(Show de Raul Seixas e Marcelo, em Salvador/1989)(Show de Raul Seixas e Marcelo, em Salvador/1989)(Show de Raul Seixas e Marcelo, em Salvador/1989)(Show de Raul Seixas e Marcelo, em Salvador/1989)

*DO ROCK AO SAMBA, TODO MUNDO MALUCO BELEZA*

Em fevereiro de 1995, a escola de paulista de samba MOCIDADE ALEGRE, num rasgo indivisível de coragem e ousadia, decidiu levar para o Sambódromo Paulista uma das mais gratas homenagens ao homem que fez o rock parar no dia 21 de agosto de 1989, apresentando o samba-enredo “DO ROCK AO SAMBA, TODO

MUNDO MALUCO BELEZA”. A letra do samba-enredo traduzia uma das características fundamentais de Raul: a mistura de ritmos.

Ao desviar sua rota do samba-enredo tradicional, a Mocidade Alegre adentrou a avenida com o ritmo contagiante do rock-samba e levou a multidão ao delírio. Vários compositores reuniram-se

para trabalhar o tema apresentado pela Mocidade Alegre, e assim decidido, foram gradativamente, apresentados vários sambas-enredo para a escolha do que seria o tema principal que a escola apresentaria no carnaval daquele ano. As letras dos

sambas-enredo apresentadas por diversos compositores da escola revelaram o quanto Raul

Seixas era popular e respeitado. Um rocker-man maldito e ao mesmo tempo cultuado até pela ala sambista. Mas, foi o próprio Raul, o primeiro a apresentar, musicalmente, uma mistura de ritmos e sua criatividade, antecipando movimentos musicais futuros e atuais, mesmo porque a música é universal, não

existem fronteiras capazes de estigmatizá-la, portanto, a música não pode ser segregada. Ela é universal. Do Rock ao samba, todo mundo maluco beleza colocou Raul Seixas em seu devido lugar de destaque, pois na mistura de ritmos ele foi um dos pioneiros.

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508 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(ILUSTRAÇÃO & MONTAGEM: ISAAC SOARES DE SOUZA)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(ILUSTRAÇÃO & MONTAGEM: ISAAC SOARES DE SOUZA)

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509 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*CAPIM - GUINÉ: PIRITIBA, UMA SAUDADE RETADA!*

WILSON ARAGÃO

(FOTO: WILSON ARAGÃO, cedida pelo próprio Wilson)

O criador único de Capim - Guiné, consagrada na voz de Raul Seixas, começou como cantador, poeta e artista plástico, que aos 16 anos de idade fundou o primeiro e único Salão de Artes Plásticas de Piritiba, sertão da Bahia, sua terra natal, reunindo artistas desconhecidos da área do desenho, pintura, escultura e colagem.

Mas, Wilson Aragão, esse ilustre desconhecido, teve seu momento de glória e reconhecimento, quando em 1983, Raul Seixas gravou sua composição “CAPIM- GUINÉ”, parceria que o projetou nacionalmente. Três anos depois da gravação de “Capim - Guiné”, Wilson Aragão lança seu primeiro LP, também intitulado “CAPIM- GUINÉ”, com uma tiragem de mais de 40 mil cópias em todo o País.

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510 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A partir de então sua carreira deslancha e Wilson Aragão realiza shows por todo o Brasil, sendo também descoberto por Tânia Alves, Falcão, Zé ramalho, Zé Geraldo, que interpretam suas composições.

Em 1996, lança o seu segundo CD “O FILÓSOFO E O JEGUE” e encanta o público já cativo com a canção “VOU-ME EMBORA PRA TAPIRAMUTA”. No ano seguinte reedita CAPIM - GUINÉ em CD. Nele dialoga com o grande poeta paraibano Zé Laurentino e surpreende novamente, como grande sucesso de vendas.

“CANÇÃO DO PESCADOR”, seu próximo disco, solidifica sua carreira como compositor, intérprete e o artista exímio que sempre foi. Em junho de 1999, o MAC (MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE FEIRA DE SANTANA-BA), editou o seu livro “CANCIONEIRO”, contendo as letras musicadas de seus três primeiros CD´s. “MEU BEIJA-FLOR” é dedicada aos meninos com Síndrome de Down.

*DEPOIMENTO DE WILSON ARAGÃO*

“Compus “Capim-Guiné” em 1979. A letra original era assim: - Comprei um sítio, plantei jaboticaba, dois pés de guabiraba... -, daí pra frente tudo igual. Estávamos em plena ditadura e nós compositores não tirávamos da nossa cabeça a preocupação com um nome: Dona Solange. Era uma censora de letras de músicas que ficava em Brasília, proibindo tudo que ia de encontro às orientações do golpe militar de 64. Eu preparei umas 15 a 20 letras falando em jararaca, cascavé, zabelê, jegue véi, jardelino satanás, etc. e lá escondidinha no meio a letra de “Capim-Guiné”. Entreguei junto com uma fita cassete, ali na Polícia Federal, próximo ao Mercado Modelo e dias depois recebi o pacote liberado total. Comecei a cantar entre colegas em 82 inscrevi no festival da canção de Piritiba e não deu outra: Primeiro lugar.

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Formei um grupo chamado CHAPADA DIAMANTINA e começamos a cantar em programas de TV. Mostrei a uns quatro cantores e cantoras que a elogiaram, mas não gravaram. Em 83, Beto Sodré, meu amigo, parente e grande amigo de Raul chegou aqui em casa e disse: “Me dá essa música aí que eu vou lhe mostrar que quem vai gravar é Raul e eu já dei um toque pra ele e ele quer ver”. Dias depois, Beto leva-me a uma central telefônica na Barra pra gente conversar com Raul.

- Diga aí, Raul, gostou da música?

- Pô, é linda, bicho; agora deixe eu mudar o início assim ó: “Plantei um sítio no sertão de Piritiba...”

- Mas pra rimar com Piritiba, Raul?

- Pode deixar, bicho, já achei uma planta, deixe comigo.

Em setembro de 83 ele veio lançar o disco no Esporte Clube de Periperi e passei o dia com Raul, Beto, os músicos e Kika, no Praimar Hotel, na Barra, na beira da piscina. Foi o dia que o conheci ao vivo. Apresentou-me ao maestro Miguel Cidras que me disse: - Nesse estilo ode me mandar todas que eu faço arranjo. Tiramos algumas fotos e restam-me poucas, pois “amigos” me pediram emprestadas e não devolveram.

À noite fui com minha mulher, meu sogro e uma porrada de amigos meus ao clube e no meio do show a multidão pediu “PIRITIBA”, “CAPIM-GUINÉ”! Ele respondeu: “Eu não ensaiei, não!!!” Ahhh!!!

Na verdade Raul nunca aprendeu a letra de “CAPIM-GUINÉ” e só cantou num programa de TV que eu nem vi, dublando. Em 1985 fui gravar Empório Brasileiro com Boldrin (ou foi em 87,

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quando gravei o Som Brasil com Lima Duarte), bem, foi quando ele estava lançando METRÔ LINHA 743, eu passei dois dias visitando Raul na Rua Pombeva (Butantã), comi uma feijoada gostosa com couve, preparada pelas empregadas que vieram da Bahia. Tomei boas cervejas ao lado de Raul no quarto de ouvir música. Lembro-me que ele gritou Lena Coutinho que me trouxe cervejas e pra Raul cinco litros de éter. Eu nunca tinha presenciado aquilo, fiquei meio pasmo. Ouvimos o novo disco e gravações inéditas antigas. Ele deu-me de presente aquele violão que depois entrou na capa de “UAH-BAP-LUH-LHA-BÉIN-BUM!”, e disse “toma, bicho, é um presente pra você; você é um cara legal”. Eu disse: “Não, Raul (olhei a coleção de guitarras ao lado) deixa para a sua coleção: é bonita a coleção”. Lena assinalou com o dedo que eu não aceitasse. Ele me disse: “pô, bicho, aquela gravação foi uma força pra você, não foi?” É que eu tinha falado a ele que ninguém me orientava sobre direitos autorais e eu fiquei com a grana dos direitos de vendagem do disco num banco em São Paulo, em uma conta corrente e eu nem sabia. Dava pra comprar dois carros e quando Regina Andrade Silva, (amiga, advogada e parceira) me disse: “Vá a São Paulo e se informe nesse órgão, que você tem dinheiro lá”. Olha, isso já tinha quase dois anos depois da gravação e era uma época de inflação altíssima. A agência bancária já não existia no local indicado, e enfim achei a agência, uma conta e meu dinheiro. Tava em conta corrente, sem correção nenhuma; a editora não me mandou aviso nenhum, a gravadora muito menos e Raul maluco do jeito que é...! Pra resumir: a inflação comeu tudo e grana de dois carros só deu pra fazer uma feira. Em casa Raul falava inglês 99% do tempo. Tinha ora que dizia: “vambora falar em português? Ah! Desculpe, Aragão”. Mais ou menos em 84 ele veio ao meu apartamento no Engenho Velho de Brotas com Lena Coutinho e Beto Sodré. Ao entrar ele foi logo dizendo: “Eu posso,

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bicho? Eu posso?”, eu não sabia o que era e disse: “Pode, Raul”. Ele pediu o pacote a Beto e tirou um vidro de lança perfume argentino e encharcou o lenço. Cheirou 06 tubos. Depois fomos a um apartamento vizinho, onde uma moça conhecida como titia Ide vendia cervejas e tira-gostos. Ele adorou e lá ele caiu de uma cadeira velha. Em São Paulo, algum tempo depois foi a única pessoa por quem ele perguntou e mandou abraços. Hoje titia Ide tem sérios problemas mentais e vive à base de remédios controlados. Sempre que Beto vinha passar um ou dois dias no nosso apartamento, aproveitávamos para bater papo com Raul por telefone.

Ele relembrou quando na caminhada pelas Diretas Já, Beto o apresentou no aeroporto de Salvador a Tancredo Neves. Ele achava que Tancredo Neves poderia ser um cara sério e uma saída para o Brasil. Aqui em casa ele pediu para que eu repetisse várias vezes a primeira faixa do meu primeiro disco “Guerra de Facão” e deu muitas risadas com a letra. Na época eu o visitei em São Paulo, eu estava começando a compor “Vou-me embora”. Ele gostou muito e disse: “Pô, Aragão, hoje não tou inspirado, não, termina essa música que o refrão é lindo, bicho”. Esqueci de um detalhe sobre “Capim-Guiné”. Raul, por telefone, quando me disse: “Já achei uma palavra (pra rimar com Piritiba), ele disse também: pode ficar tranqüilo, bicho, que não vai ter parceria, não”. Quando o disco saiu veio com parceria. Alguém preencheu o nome de Raul como co-autor no formulário. Deu muita fofoca na imprensa, pois a música já era conhecida na Bahia e o fã clube do Raul veio aqui em casa pedir que eu deixasse pra lá, pois rolou um papo que eu ia entrar com um processo e mandar recolher todos os discos que já estavam nas lojas de todo o Brasil. Tudo isso passou, e quando eu conheci Raul de perto, eu vi o coração de menino desajuizado que ele é.

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Um cara sensível, humano, brincalhão, satírico e com algumas tristezas no coração: quando ele me apresentou a Lena ele disse: “Aragão, eu me casei com a Lena e ela tem um filho, faz de conta que esse filho é meu”. Ele se queixava que um médico disse que ele só teria filhas mulheres, e que era de hormônio. “Eu que queria ter um filho, bicho, um herdeiro do rock”. Ele reclamou também que a sua família não o apoiava e “só Dona Eugênia, bicho, que me dá um colo quando eu preciso, o resto só me chama de irresponsável, maluco e só”. “E tem outra: o que eu tinha pra dizer já disse, e quem quis ouvir, ouviu. Eu já tou indo embora. Vou pro planeta (não lembro o nome do planeta) na constelação... e se lá tiver uma quentinha, vou chamar você pra tomar uma, que você foi muito legal comigo”. Em São Paulo, ele lançando Metrô Linha 743, tinha um show em Recife e chamou-me pra viajar consigo, pra juntos a gente cantar, pois eu precisava estar na Bahia. Lena acenou pra mim me agradecendo. Eu tinha dito: “Não, Raul; o público tá lá pra ver você e não a mim”. Ele disse: “Eu to te chamando, bicho, vambora”. Ficou nisso e agradeci, mas não fui, voltei pra Bahia. Em 1979, Raul esteve conhecendo minha terra e ficou por lá uns 08 dias, ele, Kika, Vivian e Beto Sodré. Eu trabalhava na Bahema Tratores e estava desenvolvendo um trabalho muito importante de recursos humanos e não fui a Piritiba, conforme Beto havia me chamado.

Depois, fiquei sabendo das proezas: Montou cavalo cheio do pau e de vez em quando alguém tinha que segurá-lo. Saiu de cueca pra tomar umas nas bodegas. Em inúmeras casas em Piritiba é comum fotos da garotada e dos pais com Raul, Kika e Beto Sodré. Eu tenho uma foto que está emprestada, acho que a Beto: Raul e os amalucados de Piritiba. Tem Mário de Darinho (um super dotado) de quase 60 anos, que tem a memória para datas e medidas); ele Mário (falecido), um delegado amigo nosso

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que não prendia ninguém e era contra prisão; seu Marotinho do Cartório (falecido), pessoal com nomes estranhos, como: Um, Dois, Três, de Oliveira Quatro ou ABC, já que tem Aidê, etc. Raul ganhou um terreno no Alibabá (bairro dos políticos de Piritiba) e não tomou conhecimento. Hoje dona Eugênia reivindica o terreno à Prefeitura local. Raul ganhou o nome em uma das principais avenidas da minha terra. Ainda no dia em que Raul veio no meu apartamento, saímos do apartamento de titia Ide, descemos umas escadarias, Lena fotografou uma casinha e o gato angorá de Maninho e dona Fia e no pé da escada, Raul viu uma bodega e entrou. Leno e Beto fizeram aquela cara e eu pensei, agora eu vou ver. Ele disse: “Me dá aquele copo, bicho, aquele maior de todos, bota uma dose de vodka; pô, que marca! Bota uma de Drurys; conhaque Dreher, bota uma dose também, pô, vinho não; dá uma dor de cabeça retada. Pitu pode botar duas”. Eu sei que encheu um copo duplo e virou de vez e disse: “Quanto foi, meu nêgo?” O cara chutou um preço, ele pagou e fomos comer um acarajé da Dinha no Rio Vermelho e ele conversou com uma parente de uma senhora que lavava roupa para a mãe dele. Depois entramos num bar, tomamos uns drinks e ele observava ao lado um casal de namorados que gargalhava, provavelmente por assuntos banais. Ele continuava olhando, cismado, por cima dos óculos. Depois disse: “Que motivo têm esses dois pra darem tanta risada num mundo sacana desse, bicho?”, pagou a conta e disse: “Vambora sair daqui? Dali ele quis ir a Monte Serrat e Ribeira, onde viveu na adolescência e eu voltei para o Engenho Velho de Brotas. Em 1989 (campanha para Presidente, Prefeito e Vereador), Beto me convida para a gente passar um fim de semana em Barra do Rocha, no sul da Bahia, na fazenda de um amigo nosso, então candidato a prefeito (que foi eleito e hoje reeleito) Antônio Leal. Chegaram de manhã cedinho aqui em casa, Beto, Raul e Ricardo, um primo de Beto. Paramos numa

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borracharia, logo no início da Rodovia Salvador-Feira de Santana. Enquanto Beto via algum repao no carro, Raul chamou-me para o restaurante ao lado, num posto de gasolina. Eu disse: “Vou de cerveja e você Raul?” Ele disse: “Vodka, meu nego, vodka”. Pediu também uma Fanta e disse que queria dose dupla. A turma do reparo demorou e ele repetiu a dose. Seguimos e quando ele avistou outro posto pediu para parar de novo, outra dose. Daí eu passei a contar e chegando lá eu já tinha o resultado. Foram doze paradas. Em Ibirataia jogamos um pouco de sinuca e tomamos a saideira, pois já estávamos chegando à Fazenda Lua Nova. Eu já estava vomitando numa praça. Chegamos à Lua Nova e doutor Antônio Leal nos recebeu com seu sorriso sempre simpático: “Aragão já é de casa e eu já sei que ele gosta de cerveja, aí tem três frizzers cheios; e você Raul?” Raul responde: “Vodka, meu nego, vodka”. Doutor Antônio pediu para alguém ir à bodega da fazenda, ali ao lado e logo chegaram com dois litros de Natascha (única que tinha) aí começou o serviço: Vodka e Fanta, sem descanso. Meia hora depois, Raul meio chumbado, sentindo frio (lá é frio) disse que queria tirar um cochilo. Indicaram o seu quarto e uns quarenta minutos depois lá vem Raul com os braços cruzados morrendo de frio, dizendo que não conseguiu dormir à tarde. Que um cachorro fazia “rau-rau” no pé da janela dele. Ninguém viu cachorro nenhum. Tomou outras, voltou pro quarto e esse ritual foi até a noite. A noite fomos pra cidade de Barra do Rocha e lá entramos num clube para assistir o discurso de lançamento da candidatura de Antônio Leal, e dançar ao som da banda Embalo Quatro. A multidão quando viu Raul, parecia que ia esganar e alguns chegaram a arrancar os braços do rapaz. Sentindo frio, ele pediu-me o meu capote de lã e o trancamos num carro na frente do clube. Lembro-me que doutor Antônio Leal, gozador, botou seu Antônio, um velho aposentado da sua fazenda, para ser o guarda-costa de Raul. Raul

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encheu a cara do guarda-costa de whisky e cerveja e aí a gente teve que tomar conta do guarda-costa, que caía das pernas. Isso, antes de Raul ir dormir no carro. A banda quis que Raul cantasse e ele não veio para cantar e sim para passear e descansar. Nesse momento eu cantei “COWBOY FORA-DA-LEI”. No meio da festa vamos dormir. Em público foi dito que Aragão ia dormir na casa de Fernando (o candidato a vice) e Raul iria para a casa de Calango, um cabo eleitoral que mais tarde chegou a ser vereador. No meio do caminho decidiu-se que Raul não podia dormir na casa de Calango (que bebe direitinho). Senão os dois se acabariam na cachaça. Dormimos e bem cedinho tive que tomar café pela metade e deixar um bolo que Cleide servira e por sinal uma delícia; é que uma multidão estava à porta, pensando que Raul dormira na casa de Fernando, não sabiam da invasão. Um carro pára à minha frente, eu entrei rapidamente protegido por uns três seguranças e o carro cantou de volta à Fazenda Lua Nova. (Obs.: Barra do Rocha e doutor Antônio Leal inspiraram a novela Renascer e o personagem de Antônio Fagundes; a novela foi filmada naquela região). No domingo, tomamos umas duas na beira da piscina e brincamos com os netinhos de doutor Antônio, prosamos e me lembro de um detalhe: as meninas pegaram um disco de Raul, ao que ele ficou surpreso, pois aquela coletânea (o vigésimo segundo disco, parece), ele não tinha conhecimento ainda. De tardezinha, voltamos para Salvador por outro caminho: Nazaré das farinhas, Ilha de Itaparica, etc. perto das 22:00 horas nós sentados num banco de cimento, esperando o ferry-boat, quando Raul deu um pulo: “Pô, Betovsky (BETO), dona Eugênia?” Beto disse: “O que Raul? O que tem dona Eugênia?” “A caixa, bicho, tá lá no fundo do carro?” Beto, grosso com o seu Leopoldo, abrindo o fundo do carro, retruca: “Você vai ser irresponsável a vida toda Raul?”, o que é que a gente faz com esta caixa? Raul abre uma das latas (tinha abridor e tudo), mete

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a mão e se lambuza de doce de abacaxi dietético. Era uma caixa completa de alimentos bem adequados ao seu estado de saúde que Dona Eugênia tinha preparado e Raul esquecera. É que também, o carro ficou o tempo todo na mão de Ricardo, que quase não parou na fazenda. Foi tudo jogado no mar para evitar aborrecimentos com Dona Maria Eugênia. Um guarda se aproxima e diz: “Você é todo Raul Afonsina” (famoso na época o líder argentino), Raul gozador, fala: “É mesmo, bicho?” O guarda se anima: “Até a voz cara! Você canta alguma música de Raul Afonsina?”, “Canto, quer ver?”... Mamãe, não quero ser prefeito... O guarda: “Pô, cara, você devia ir para o Silvio Santos, que você ia ganhar dinheiro”. A gente deu risadas. O ferry-boat chegou e entramos, o mar estava violento e eu tive medo. Algumas pessoas se debatiam pra lá e pra cá e sentiam enjôo. A gente avistava Salvador que subia e descia no balanço do barco. Raul ficou na porta do prédio na Graça e eu vim pra Engenho Velho de Brotas. Foi a última vez que eu o vi. Uns dois meses depois eu acordo cedo, ligo a TV e vejo a notícia de sua morte. Fiquei chocado, fui ao cemitério, mas não vi seu rosto. Fiquei com amigos num boteco ao lado. De lá fui para a Fazenda do fotógrafo Fred Machado, em feira de Santana, com minha turma toda e a turma do meu amigo e produtor de discos Maurílio. Senti muito, pois Raul se foi quando traçávamos planos de boas parcerias. É isso aí. Um abraço do amigo, - WILSON ARAGÃO - 18/02/2000

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*PIRITIBA*

(FOTO: VISTA PARCIAL DA PRAÇA CENTRAL DE PIRITIBA-BA, FOTO CEDIDA POR WILSON ARAGÃO)

O município de Piritiba, imortalizado nos versos da canção “Capim-Guiné”, do mestre Wilson Aragão e na voz do imortal Raul Seixas, vem ao longo do tempo mantendo sua condição de cidade que organiza um dos mais belos e alegres festejos juninos do Brasil. Piritiba sempre teve espaço garantido na mídia, ao ponto de todos os anos as maiores redes de televisão reservarem espaços nos seus telejornais para destacar o São João em Piritiba. O povo piritibano destaca-se também, pela hospitalidade. A tranqüilidade da cidade leva os visitantes a uma descontração natural. Não era por acaso que Raul Seixas gostava de permanecer dias usufruindo da tranqüilidade piritibana, onde muitas casas mantêm fotos dele com alguém da família nas

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paredes. A mistura do clima de inverno, com o calor humano e das fogueiras, garante um São João perfeito e hipnotizante, pois quem vai a Piritiba durante os festejos juninos, certamente retornará outras vezes.

De 21 a 24 de junho, Piritiba vira uma festa só de muita alegria e forró e o Arraial do Capim Guiné, já virou uma tradição no município. Em Piritiba, de 21 a 24 de junho é só xote, forró e baião, no São João do Gonzagão e a concentração popular acontece no “ARRAIA DO CAPIM-GUINÉ”, no centro da cidade, na Praça Getúlio Vargas. O nome do Arraia, é uma homenagem a Wilson Aragão, que juntamente com Raul Seixas projetou o nome de Piritiba, além das fronteiras do Estado.

Distante de Salvador 318 quilômetros, fica na encosta da Chapada Diamantina. Depois de noitadas de forró no “ARRAIA CAPIM-GUINÉ”, os visitantes podem renovar as forças nas águas do POÇO FEIO, na verdade um lugar bucólico, paradisíaco, cercado de rios e serras encantadoras.

As festas juninas existem desde que o sítio dos Juncos passou a se chamar Piritiba. Para o povo piritibano o São João é só uma tradição e também um patrimônio cultural guardado com o calor das fogueiras e a alegria contagiante do forró. Hoje o São João em Piritiba, não tem outro espaço que não seja para o forró e dois palcos são armados estrategicamente para o revezamento das bandas que começam a tocar às 14:00hs E vai até o sol raiar, sem nenhum minutinho para intervalo, é a festa mais aguardada da Chapada Diamantina.

Desde 1952, quando o Coronel João Damasceno Sampaio viu suas terras transformadas em uma bela cidade, o que levou o então Povoado de Cinco Várzeas à emancipação, nasceu a

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cidade de Piritiba. Com a chegada da estrada de ferro, que se daria em 1913, o Povoado passou a chamar-se Povoado do Junco e começou a se desenvolver com muita rapidez e a atrair cada vez mais moradores para o novo Povoado. Desde 1925, que João damasceno Sampaio, olhando as terras de sua Fazenda Cinco Várzeas, daria início ao seu grande sonho de transformar aquelas terras em uma bela cidade.

Em 1938, foi reconhecido o Topônimo de Piritiba, que significa “Sítio do Junco”, o Juncal, denominação esta, originada da grande quantidade de junco existente na lagoa da Fazenda Cinco Várzeas.

Após vários entendimentos com a Assembléia Legislativa e com o então Governador Regis Pacheco, foi assinada, em 1952, a Lei Estadual Número 503 de 25 de novembro de 1952, emancipando Piritiba de Mundo Novo, ficando o Município formado pelos Distritos do Franca, Largo e os Povoados de Andaraí e Areia Branca. Nas eleições de 3 de outubro de 1954, foi eleito o primeiro prefeito de Piritiba, Dr. Carlos Ayres de Almeida, do PSD, que disputou com o Sr. Dionísio de Almeida, da UDN. O sonho somente não basta para a edificação de uma idéia. É necessário a ação contínua, o trabalho persistente e a luta heróica. Assim nasceu Piritiba e conseqüentemente, todo o histórico da sua luta tem de ser transferido para as novas gerações, porque somente essas poderão administrar a evolução no progresso de sua terra. “PIRITIBA”, uma saudade retada!!!

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*NEM A VIDA MUDOU*

RAUL SEIXAS/JERRY ADRIANI

Queria esquecer pra sempre, amor

O que aconteceu

Da mesma maneira

Que você esqueceu

Queria modificar

Encontrar um porque

Mas tudo o que faço

Na vida é gostar de você

Todo dia, mesma hora, amor

Antes do anoitecer eu saio

Sem rumo procuro esquecer

E as coisas que encontro

Me fazem lembrar

Que por mais que eu queira

Não posso deixar de te amar

Pois eu te amo

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Mais que tudo no mundo

Nem a vida mudou

Queria tanto reviver

Um segundo de tanto amor

Que passou

Queria de uma vez pra sempre, amor

Tirar do coração a mágoa sentida

Da separação

Queria modificar o meu jeito de ser

Mas tudo o que faço

Querida... é tentar te esquecer...

*DOCE, DOCE AMOR*

RAULZITO - GRAVAÇÃO: JERRY ADRIANI

Doce, doce amor

Onde tens andado, diga por favor

Doce, doce amor, doce, doce amor

Eu vou te encontrar, meu bem, seja onde for

Está fazendo uma semana

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Que nem mais nem menos

Eu perdi você

Mas não sei determinar ao certo

Qual foi a razão

Meu bem, vem me dizer...

Doce, doce amor

Onde tens andado, meu bem, diga por favor

Doce, doce amor, doce, doce amor

Onde tens andado, meu bem, diga por favor

Doce, doce amor, doce, doce amor

Eu vou te encontrar, meu bem, seja onde for

Já andei por todos os lugares

Que antigamente ia te encontrar

E nas ruas que passava

Só lembrava você

Que foi embora sem me avisar,

Doce, doce amor,

Doce, doce amor...

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*QUANDO ACABAR O*QUANDO ACABAR O*QUANDO ACABAR O*QUANDO ACABAR O MALUCO SOU EU*MALUCO SOU EU*MALUCO SOU EU*MALUCO SOU EU*

O primeiro livro bíblico, Gênesis, assim relata: “E disse também Deus (JEOVÁ) – Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, o qual terá poder absoluto sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais e a todos os répteis que se movem sobre a terra, e domine em toda a Terra.”

Ao proferir tais palavras, Deus, cujo nome também é (EU SOU) conferia ao homem uma responsabilidade tão enorme e única que, desde o início da criação humana, o homem não tem conseguido assegurar e cumprir. Dominar em toda a Terra e responsabilizar-se pela presidência da obra da criação, domínio sábio, amoroso, qualidade que raríssimas pessoas iluminadas possuíram no decorrer da história da humanidade.

Deus dotou o ser humano de sabedoria divina, concedeu ao mesmo o poder, porque à sua imagem e semelhança o criou. O homem, esse tapo de imundície e gusano, não soube até agora, agir sabiamente sobre a face da Terra e esta mesma Terra está a um passo de um irreversível colapso, por ignorância, ódio, egoísmo. Mas, a decadência humana até a presente era, não é o prenúncio do fim. Primeiro acontecerá o Armagedon, depois virá a Nova Era, o Novo Aeon. Pois, a mais alta perspectiva de um mundo melhor para a humanidade, está lapidada no limiar do terceiro milênio. A Nova Era que está despontando, reerguerá o ser humano ao seu mais elevado patamar histórico, a uma dimensão e evolução superiores. Uma grande evolução espiritual e mental unirá o verbo que é o homem à Deus.

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Jesus Cristo foi o precursor e anunciador da Nova Era, ao predicar que viera ao mundo para sarar suas dores e plantar no coração da humanidade, o amor infinito de Deus. O homem é seu próprio Deus, é o dono do planeta, o rei da criação, pois é imagem e semelhança de Deus, então, o poder que lhe foi conferido pelo Criador o capacitou para fazer desta Terra um verdadeiro éden de igualdade, liberdade e amor ao próximo.

Ao morrer crucificado, Cristo provou que o homem pode tudo, a ele é conferido todo o poder e amor, pois que prova maior de amor ao próximo alguém poderia dar do que deixar-se morrer à míngua, para provar que o amor e o que move o mundo e o homem? “O ódio não é o real, é a ausência do amor”.

Loucura? Fanatismo? Ninguém conseguirá jamais amar ao próximo sem primeiro amar-se a si mesmo. O filósofo Sócrates, inquiriu: “O homem que quiser mover o mundo, deve mover-se primeiro”. Exatamente o que Cristo fez durante sua curta permanência na Terra, como homem. Foi o que fez o próprio Sócrates, condenado à morte por defender seus pensamentos. Com o início da Nova Era, que já está ocorrendo e que é dado a poucos iluminados a visão de sua iminência, a humanidade atingirá a plenitude dos tempos, das eras, e alcançará o seu mais elevado grau e estágio espiritual. Então o homem descobrirá coisas fantásticas, virá à tona a existência de um poder e de uma sabedoria inesgotáveis na criatura humana, por meio das quais, cada indivíduo conseguirá realizar-se plenamente. O homem tudo pode, mas permanece manietado, anátema, sob rédeas, desde o início da criação, não reconhece as possibilidades que tem, enclausurado dentro de si mesmo, tétrico de medo e pavor de descobrir o novo, pois não sabe como acionar o poder que possui,

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preso pelas regras sociais e religiosas.

Todo homem e toda mulher é uma estrela! Jesus Cristo, não só revelou que o ser humano tudo pode, quando coloca à frente dos seus ideais o amor, assim como também o ensinou a usar esse poder invencível.

E o poder é acionado, simplesmente pela PALAVRA. Tudo é possível ao que crê, disse Jesus: “Em verdade, em verdade, vos digo: Quem tem fé em mim fará as obras que eu faço e fará obras maiores que estas.” (João, 14-12). Jesus Cristo não teve receio e nem titubeou ao fazer um pronuncionamento tão arriscado como este. Jesus Cristo foi o mais arrojado “maluco beleza” que já pisou na face da Terra. A força, o poder da palavra verdadeira. Nós somos a Palavra, o Verbo. Somos todos uns Verbalóides.

Cristo sabia que a humanidade não teria jamais condições para entender esta verdade absoluta, mas não se equivocou ao revelá-la e morreu crucificado por causa da Palavra.

Como ocorre ainda hoje com aqueles que são, fundamentalmente, corajosos e se fazem Palavra, Cristo foi chamado de louco, enganador, charlatão e etc., ainda assim, certo do risco que corria, continuou abrindo veredas que levariam a humanidade à sua dimensão maior: A PALAVRA.

A grande maioria das pessoas, quando ouve extasiada falar em poder mental e espiritual, é taxativa e obstinada em suas conclusões bestas e febris: “Isso é coisa de mago, de profeta ou endemoniado, de um fanático louco e destemperado”. Pobres coitados, escravos eternos de velhos preconceitos morais e religiosos, não estão aptos

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para entender a verdadeira missão humana na Terra, não sabem que o poder foi conferido a todos eles, sem exceção. Não sabem que todos nós somos verbos, portanto, somos a palavra. A Palavra é a verdade e a verdade nos libertará.

O que é um profeta, senão um homem conhecedor da palavra, a verdade que liberta? Um profeta ou um revolucionário, um pensador, simplesmente enxerga mais longe, tem o dom da palavra, porquanto, tem o poder, não prevê o futuro, apenas guia as pessoas em direção a um futuro mais digno e mais feliz, pois como dizia o mago baiano: “o hoje é apenas um furo no futuro por onde o passado começa a jorrar”. Suas dissertações, interpretações, previsões e predicações, são tão-somente, a soma do passado, do presente, que totalizam a equação correta e antecipada do futuro. É o poder da Palavra.

Albert Eistein, perplexo diante da complexidade do Universo, certa feita comentou extasiado: “Um pensamento que às vezes me perturba, o louco sou eu ou são os outros?”

Todo homem que vive há dez mil anos luz de sua era, assim como Raul Seixas viveu, é taxado, rotulado, carimbado e avaliado e chamado de louco e estranhamente dotado de poderes demoníacos, na verdade, tais figuras, são dotadas de autoconhecimento, são a própria e libertadora PALAVRA.

Raul Seixas dizia: “Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz. Coragem, eu sei que você pode mais.” “Meu sofrimento é fruto do que me ensinaram a ser, sendo obrigado a fazer tudo mesmo sem querer”. Raul foi tido e havido como louco, demoníaco e outros adjetivos mais idiotas foram conferidos a ele. As

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religiões e seitas afirmam categoricamente, que Raul Seixas pregava a Nova Era, o Novo Aeon, o Reino de Satanás. Pobres líderes religiosos, que conduzem as ovelhas inocentes rumo ao despenhadeiro da escravidão e da ignorância, eles mesmos são os verdadeiros asseclas de Satanás, e sabem, muito embora ocultem a verdade, que a Nova Era, há mais de 2000 anos, foi amplamente predicada por Jesus Cristo.

Como Raul pregava: “QUANDO ACABAR O MALUCO SOU EU”. “QUERO VER O DIA EM QUE O PAPA SE TOCAR E SAIR PELADO PELA ITÁLIA A CANTAR”.

As acirradas disputas pelo espólio de Raul, travadas desavergonhadamente entre seus herdeiros, dão um panorama nítido da ignomínia em que transformaram sua obra musical e sua memória. As filhas de Raul, que foram criadas no exterior, nunca tiveram muito contato com o pai, não falam português e na verdade, nunca realizaram nada para lembrar o pai e são hoje, as herdeiras que mais causam problemas no que tange à divulgação de sua obra. Em 1983, Raul me confidenciou que, nem mesmo sua família aprovava suas atitudes e o considerava irresponsável e meio desajuizado e que somente sua mãe parecia compreendê-lo, mesmo assim ele tinha um carinho especial pelo pai e que suas filhas americanas nunca deram muita atenção a ele, talvez envergonhadas por causa da vida desregrada que ele levava e do alcoolismo que o dominara. Talvez, por isso mesmo, o mais digno e honrado trabalho em prol de sua memória, é sem dúvida, o realizado há anos por Kika Seixas e por sua filha Vivian Seixas, com o apoio do atual marido, Arnaldo Brandão, uma verdadeira reverência à memória daquele que foi seu grande amor e pai de sua filha. Para concretizar o projeto Zé

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Ramalho canta Raul Seixas, o qual Zé já tinha em mente há muito tempo, desde que Raul faleceu e cujo carinho e respeito com o trabalho de Raul, é visível e admirável, partindo de um nome consagradíssimo como o seu, Zé jamais sequer cogitou a idéia dos problemas que enfrentaria com a recusa dos herdeiros e parceiros de Raul para liberar algumas canções. Cachorro-Urubu, Medo da Chuva e Há Dez Mil Anos Atrás, já estavam gravadas quando Paulo Coelho decidiu vetá-las, ocasionando um enorme prejuízo para Zé e para a BMG, que foram obrigados, pela força das circunstâncias, a quebrar milhares de discos. Mas, Zé ramalho, com muita raiva e magoado com o rumo das negociações decidiu inteligentemente, incluir no disco só canções compostas pelo próprio Raul Seixas e, assim, o projeto que dava indícios de sofrer aborto, renasceu das cinzas de uma disputa pelo dinheiro, pois as canções que Raul criou sem a parceria megalomaníaca de Paulo Coelho e de outros parceiros, são muito mais contundentes e messiânicas. Eu, particularmente, considero as canções de Raul sem o peso de parcerias às vezes duvidosas, muito mais geniais do que as que ele compôs com qualquer um de seus parceiros conhecidos.

O que não dá para entender é o fato de o senhor Paulo Coelho, que só chegou ao patamar da glória atribuída aos seus insossos livretos de auto-ajuda, impulsionado pela fama que adquiriu como parceiro musical de Raul, ter liberado a versão de Zé para Há Dez Mil Anos Atrás, para entrar na trilha da novela da Globo, mas vetá-la para a gravação em disco, que é o mais alto e genial tributo que Raul já recebeu. Ou seja, Paulo Coelho, o grande escritor (?) de abobrinhas esotéricas, o mago de araque, que faz chover dinheiro... em sua horta, tem mesmo o rabo preso com a Rede Globo e temendo ser

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vetado por ela em suas constantes aparições na TV, obedeceu à uma ordem expressa das Organizações Globo, é o que deixa transparecer esta sua inesperada atitude. Tudo isto demonstra que Paulo Coelho, na verdade é uma pessoa megalomaníaca, que acredita mesmo ser o maior escritor do mundo e eu não me espantaria nem um pouco, se amanhã ou depois, descobrissem que, Paulo conta com os serviços de uma gigantesca assessoria e alguns “GHOST-WRITERS” que escrevem por ele.

Raul Seixas, esteja agora onde estiver, tenho plena e absoluta certeza, está passando por uma desventura enorme, indignado diante de tamanha desfaçatez em relação à sua obra musical e memória, se revirando no túmulo de raiva e confirmando para si mesmo as palavras que ele me confidenciou em 1983: “Eu vivo cercado de parasitas e sanguessugas, a falsidade das pessoas dói em mim, mas eu finjo que gente tem sempre razão, por isso é que prefiro viver bêbado”. Pesquisadores de religião, escritores e líderes religiosos, afirmam categoricamente que o rock é mesmo diabólico e que é uma arma usada por Satanás a fim de degradar a juventude em todo o mundo. Dizem que o rock produz taquicardia e surdez e que os jovens roqueiros liberam em seus corpos uma substância que os torna insensíveis aos apelos da consciência, afirmam ainda que, este ritmo é o principal responsável por todo tipo de dano físico, moral e espiritual causado à juventude. Garantem os donos da verdade absoluta que, o rock é um ritmo diabólico e alucinante, de origem druida, povo bárbaro da antiga Bretanha. Esses pagãos cultuavam o anjo da morte (DIABO) através da música rock. Caem na cabeluda mentira ao afirmarem que os druidas ofereciam sacrifícios humanos aos demônios ao som do rock. O rock nasceu em 1941, foi criado por um cara

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chamado Arthur “Big Boy” Crudup. Se os druidas ofereciam sacrifícios humanos ao som de uma música repetida, hipnótica e perigosa, como dizem, com certeza, essa música não era o rock, além de que, qualquer ritmo musical pode ser usado para representar quaisquer tipos de manifestações populares, tribais e/ou religiosas. Aliás, algumas denominações religiosas ao se tornarem grandes empresas, proprietárias de redes de rádio e TV, complexo gráfico e fonográfico, responsáveis pelas publicações de seus livros e discos e programas, mantêm em seus quadros, grupos de rock e metal e até rap evangélicos e infestam os ouvidos da nação evangélica e de todo o País, com seus discos e cantores/compositores de todos os estilos musicais e que dantes eram considerados por eles próprios como música mundana. Então, senhores donos da verdade absoluta, antes de abrirem suas matracas para falarem mal de qualquer coisa mundana, como vocês denominam a tudo e qualquer coisa que não esteja afinada com o pensamento retrógrado e inquisidor evangélico, tirem primeiro a trave de seus olhos, porque seus hinos já não são mais hinos, são músicas comuns como as músicas populares, recheadas de ritmos mundanos para conquistar o interesse do jovem a arrastá-lo aos templos repletos de vendilhões do evangelho. Mas tudo isso não singulariza a heresia ou santidade do ritmo em questão. É fato notório que, quando uma pessoa se identifica com um ídolo ou ritmo, tende a imitá-los em sua trajetória, mas, esse fato só ocorre com aqueles que são fantoches, já nasceram com a propensão ao escravismo, são robôs teleguiados e não têm capacidade de pensar nem discernimento para separar o trigo do joio. Apesar de que hoje, realmente o rock e todos os ritmos musicais e populares, denigrem a moral humana e desviam muita gente com suas mensagens óbvias de sexo desenfreado, prostituição e homossexualismo, ode ao banditismo

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nas letras do rap, degradação total e absoluta da mulher, que já nasceu meio puta e suas letras pornográficas e imbecis. Quem não se recorda do suicídio de Kurt Cobain, líder do Nirvana? Quem não conhece a história de Courtney Love, que foi esposa de Kurt, despudorada e mais galinha que todas as galinhas de uma granja? Quem não se lembra da morte de Bom Scott, primeiro vocalista do AC/DC, afogado no próprio vômito, depois de beber um barril de álcool e das músicas do grupo australiano evocando o Diabo? O rock tem mesmo cara de bicho-papão, mas é, na verdade, a única estrada que conduz a juventude à liberdade, de pensamento e expressão e os berros de indignação da juventude, nada mais são do que uma cusparada na cara do Monstro Sist. Só que esta mesma juventude seguidora dos ritmos tribais, abestalhada e sem nenhum ideal, enveredou por trilhas tortuosas, interpretou mal as mensagens dos seus ídolos. O que os grandes líderes e astros do rock e do blues queriam, na realidade, era despertar o lado reivindicatório de todo homem anátema, principalmente do jovem sem voz e manietado, do rebelde sem causa.

Devido ao seu envolvimento com sociedades esotéricas e sua paixão devastadora pelo LÍBER OZ de Aleister Crowley, Raul Seixas foi chamado pela igreja de adorador do Diabo, sacrílego e arauto do demônio. No fundo, Raul não tinha nenhuma ligação apregoada erroneamente com qualquer seita secreta ou religião, o que o preocupava realmente era o ser humano caminhando para a destruição, prestes a afundar na areia movediça espargida pelo Monstro Sist, sem se dar conta do perigo mortal que é a vida sob rédeas. Ele apenas aproveitou-se do LÍBER OZ para pregar os direitos humanos. Raul Seixas foi, na verdade, um grande pensador, também

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preocupado com as correntes que manietavam a liberdade do homem, ele queria uma Nova Era, um novo mundo e não havia outra saída que não fosse a subversão, a quebra dos padrões, a reformulação das leis e de todos os valores, sem a separação do bem e do mal, o Novo Aeon. E ao agir de forma tão irreverente e ser diferente, o sujeito culmina em desgraça absoluta e granjeia contra si próprio todo o ódio do mundo. Lúcifer significa “aquele que traz a luz” e Diabo “opositor”. Partindo dessa premissa, eu quero ser, como Raul Seixas e Aleister Crowley, um Lúcifer, um Diabo, sem medo de criar rabo e chifres, sem medo de cuspir na estrutura, de cagar no meio da rua, numa noite de lua, quero a reformulação do jogo, porque sou peça fundamental dele, eu estou pronto para o NOVO AEON. Assim como Crowley e Raul me ensinaram, nós, homens, ou mudamos a regra do jogo planetário, ou desapareceremos daqui. Se o rock é do Diabo, estarei brevemente no inferno, aliás, longe desse inferno, porque o inferno é aqui.

*ROCK DO DIABO*

RAUL SEIXAS/PAULO COELHO

Me dê um porco vivo

Pra eu encher a minha pança

Dez quilos de alcatra

Com muqueca de esperança

Diabo

O Diabo usa capote

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535 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

É rock, é toque, é fuck, Diabo

Foi ele mesmo que me deu o toque

Enquanto Freud explica as coisas

O Diabo fica dando os toques

Existem dois Diabos

Só que um parou na pista

Um deles é o do toque

O outro, é aquele, o do Exorcista

O Diabo usa capote

É rock, é toque, é fuck, Diabo

Foi ele mesmo que me deu o toque

Mamãe disse a Zequinha

Nunca pule aquele muro

Zequinha respondeu:

Mamãe aqui tá mais escuro

O Diabo é o pai do rock!

O Diabo é o pai do rock!

Então, everybody rock

O Diabo é o pai do rock

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536 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Enquanto Freud explica

O Diabo dá os toques...

*JUDAS, O AMIGO FIEL DE JESUS!*

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*JUDAS*

RAUL SEIXAS/PAULO COELHO

- Ei, quem é você? Ei, quem é você?

- Vamos, responda, quem é você?

- Eu, eu sou Judas...

Parte de um plano secreto

Amigo fiel de Jesus

Eu fui escolhido por ele

Para pregá-lo na cruz

Cristo morreu como um homem

Um mártir da salvação

Deixando pra mim seu amigo

O sinal da traição

Mas é que lá em cima

Lá na beira da piscina

Olhando os simples mortais

Das alturas fazem escrituras

E não me perguntam

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538 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Se é pouco ou demais

Se eu não o tivesse traído

Morreria cercado de luz

E o mundo hoje então, não teria

A marca sagrada da cruz

E para provar que me amava

Pediu outro gesto de amor

Pediu que o traísse com um beijo

Que minha boca, então marcou...

Mas é que lá em cima

Lá na beira da piscina

Olhando os simples mortais

Das alturas fazem escrituras

E não me perguntam

Se é pouco ou demais...

Quando eu digo e repito vezes incontáveis que, Raul Seixas era mesmo um profeta e o maior pensador e estudioso que a música brasileira já pariu, não temo nenhuma contestação, mesmo porque, cada cabeça é um mundo e antes de ler o livro que o Guru me deu, eu tenho de escrever o meu. A letra desta profética canção, de autoria de Raul e Paulo Coelho, só não causou uma grande

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manifestação da Igreja, quando foi lançada em 1976, porque certamente passou despercebida da fúria inquisidora do catolicismo e do protestantismo, entretanto, com a polêmica recente ocasionada pela descoberta de evangelho apócrifo, que coloca em dúvida a traição perpetrada contra o Mestre Nazareno por Judas Iscariotes, esta canção da lavra raulseixista, poderia servir de pano de fundo para estas discussões entre estudiosos e religiosos, pois ela prova, mais uma vez, a genialidade do mago baiano em levantar polêmicas sobre as regras e dogmas pré-estabelecidos. Há mais de 30 anos passados Raul cantava sua dúvida sobre a verdadeira história de Judas e somente agora, mais de três décadas depois, este polêmico e já sepultado assunto vem à tona com a descoberta de um manuscrito com mais de 1700 anos, que levanta a hipótese de que Judas, ao contrário de um traidor, seria o discípulo preferido de Jesus e seu mais preferido amigo. E não é difícil acreditar nesta possibilidade, pois, quem tem o costume de ler o Evangelho, principalmente o Novo testamento, certamente tem conhecimento de que Judas era o tesoureiro do Mestre Jesus e sempre sentava à mesa para as refeições e ceias ao lado do Mestre, o que denota, sem sombra de dúvida, ser ele um dos mais fiéis amigos de Jesus, pois na verdade, traidor fora Pedro, que no ato da prisão do Mestre, o negou três vezes seguidas, antes do cantar do galo, como o Mestre predissera. Desde a morte de Cristo que a humanidade aprendeu a ver Judas Iscariotes como traidor, o maldito, que entregou Jesus nas mãos daqueles que o crucificaram sem piedade. No sábado de Aleluia o boneco que simboliza este apóstolo dedo-duro e traidor, recebe bordoadas e é estraçalhado por crianças, jovens e até mesmo adultos pela traição cometida contra o Mestre Nazareno. Recentemente, a descoberta, a tradução e análise de um manuscrito datado de mais

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de 1700 anos levanta a hipótese de que Judas, ao contrário de um traidor, seria o discípulo preferido de Jesus. Segundo sugestão do referido manuscrito considerado apócrifo, ao entregar Cristo às autoridades, estaria cumprindo os desejos do próprio Jesus. Tais e polêmicas revelações foram feitas em 2006 pela National Geographic Society, numa conferência à imprensa mundial, que deu a conhecer ao mundo extasiado, pela primeira vez, algumas páginas do famoso “Evangelho de Judas”, que se compõe de 13 papiros.

O manuscrito também chamado de códice, data dos séculos III e IV e constitui uma cópia conhecida, cujo original teria sido escrito em grego por um grupo de gnósticos (gnose significa: conhecimento especial da verdade espiritual) no ano de 180. Esta cópia é redigida em língua copta e tem 26 páginas, ou seja, 13 pranchas de papiros escritas em ambos os lados. A descoberta do manuscrito que traz o “Evangelho de Judas”, realmente vem desmistificar uma história complexa e que elevou ao patamar do ódio o discípulo Judas, transformando-o num dos homens mais odiados da História e vem mostrar à humanidade uma outra face daquele que, até então, era sinônimo do mal, da traição, do desamor. Judas, longe de ser um traidor, seria o discípulo que mais entendia as palavras do Mestre e, por isso foi privilegiado, pois teria a triste missão de entregar o Cristo, a fim de libertá-lo do corpo e liberar a divindade que o habitava. Tanto é verdade que Jesus o alertou que a humanidade o odiaria por séculos até conhecer a verdade. Segundo o manuscrito, Judas não teria ficado arrasado pelo remorso nem teria se enforcado. Teria ido para o deserto depois da ressurreição. O manuscrito, herético ou não, serve para acirrar as discussões sobre a verdade dos Evangelhos, nem sempre concisos em suas declarações. O que deixa

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qualquer estudioso em dúvida é o fato da traição de Cristo ser tão mal contada. Cristo foi mesmo traído? “Ele pregava todos os dias, como escreveu o escritor Deonísio da Silva, em seu artigo esclarecedor (JUDAS: A VEZ DOS TRAIDORES), inclusive aprontou feio na expulsão dos agiotas e mercadores do templo, de modo que era muito conhecido de todos, inclusive das autoridades romanas e judaicas”. Eu sempre, desde que li o Novo Testamento pela primeira vez, aos 7 ou 8 anos de idade, tive sérias dúvidas quanto a esta tão apregoada traição perpetrada por Judas, pois não via nenhum sentido nesta história, mas quando ouvi a música JUDAS, de Raul e Paulo, entendi tudo e passei a crer cegamente que Judas Iscariotes jamais traiu Jesus, ele sim, foi o bode expiatório de uma grande armação anti-semita. Para agradar e mostrar-se útil ao império romano, a Igreja fez questão de confundir a História, levando a uma trama no assassinato de Jesus, livrando assim, a cara de Pilatos, o grande responsável pelo triste desfecho do Mestre Nazareno, inocentando os romanos ao creditar a judeus a delação, tortura e crucificação de Cristo, pensamento que partilho também com Deonísio da Silva, de cujo artigo acima mencionado retirei parte do que aqui relato. Lembro-me de quando eu era ainda muito criança, quando chegava o Sábado de Aleluia e uma multidão acorria às ruas para malhar o Judas, dependurados em postes e árvores, bonecos feios feitos de panos e calças velhas e puídas, palha de milho e bananeira, aguardavam suas iminentes condenações, eu me recolhia à casa sem entender por qual motivo aquelas pessoas se travestiam de assassinos e despejavam sua fúria animalesca contra um homem imaginário, simplesmente porque ele era judeu, se faziam isso contra um simples boneco de pano e palha, o que seriam capazes de cometer contra um Judas de verdade?

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Todos nós somos traidores de nós mesmos, o que significa que somos piores do que Judas Iscariotes. Quando Raul, fazendo o papel de Judas canta em reposta à pergunta formulada por Paulo Coelho no início da aludida canção, que faz parte do disco “MATA VIRGEM”, “Se eu não o tivesse traído, morreria cercado de luz e o mundo hoje então, não teria a marca sagrada da Cruz. Cristo morreu como um homem, um mártir da salvação, deixando pra mim, seu amigo, o sinal da traição...”, ele simplesmente declarava à humanidade, as mesmas dúvidas agora trazidas à lume por este manuscrito apócrifo e isso há mais de 30 anos atrás. Mas, como dizia Jorge Mautner: “Ninguém é profeta em sua terra/Verdade triste esse ditado encerra/E é por isso que o Profeta vai embora/Pois ele sabe que chegou a sua hora (E o profeta vai embora bem na boca da aurora, exatamente e justamente nessa vigésima-quinta hora) -NEGROS BLUES- WEA.

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*GRILLO VERGUERO**GRILLO VERGUERO**GRILLO VERGUERO**GRILLO VERGUERO*

(FOTO: GRILLO VERGUERO/O MELHOR DE RAUL SEIXAS)

Raul Seixas, torno a repetir mais uma vez, era único, nunca um artista brasileiro ousou tanto. O que ele cantava era o que ele vivia, sem falsidade, pois sua ideologia era o raulseixismo, ou seja: a verdade absoluta. Ele foi uma metamorfose ambulante durante toda a sua breve vida. Foi a mosca na sopa do militarismo e da insossa sopa da MPB e o sapato apertado nos pés do moralismo. Foi o Ouro de Tolo encravado no chão deste País alugado e pagou caro por ter dado muito tapa na cara da hipocrisia vigente. Só pra variar, foi um gênio

chamado RAUL SEIXAS... Entre os malucos beleza que dão prosseguimento à sua obra filosófica e verborrágica, que ainda mina ácido e ironia por todos os poros e que mudou a história da Música Popular Brasileira, trafega na contramão, sem ter recebido ainda o devido e merecido valor e o reconhecimento da grande nação raulseixista, um cara que nunca pretendeu imitar Raul, mas levar adiante sua obra e não permitir que ela caia no esquecimento. Grillo Verguero, trata-se de uma pessoa extremamente dócil, solidária e

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talentosa. Conhecidíssimo em São Carlos, onde já realizou inúmeros shows e com enorme sucesso e cultuado em toda a região de Ribeirão Preto-SP, cidade onde reside. Um fator preponderante destaca este exímio cantor/compositor dos outros imitadores de Raul: GRILLO VERGUERO não imita Raul seixas, ele simplesmente interpreta e muito bem todo o repertório do maluco beleza. Neste fator, denominador comum de sua carreira, está a magnitude de seu trabalho, único e promissor. Compositor de profunda sensibilidade, cantor, baixista e violonista, Grillo Verguero trabalha nas noites de Ribeirão Preto e região desde o início da década de 80. Participou ativamente de shows e festivais musicais tendo como influências: Raul Seixas, Zé Geraldo, Zé Ramalho, Geraldo Vandré, Luiz Gonzaga, Bob Dylan, Rush, Pink Floyd, The Doors, Beatles, Jerry Lee Lewis, etc.

Devido à grande semelhança do timbre de voz e da aparência que lembra muito Raul Seixas, resolveu dedicar-se ao cover do mesmo, seu maior ídolo. Após passar por diversas bandas, em 1996 veio a formar sua Banda Vestígio, contando com músicos que têm afinidade com Raul Seixas. Grillo Verguero tem conquistado um público cativo e a aceitação de um público cada vez maior e sempre fiel em todas as apresentações. Foi indicado pelo fã clube de Raul Seixas (Sylvio Passos) para participar do Concurso de Melhor Cover de Raul Seixas, que seria realizado no programa Domingão do Faustão (Rede Globo), entretanto, não chegou a ser exibido por causa de problemas internos em sua produção. Grillo Verguero compõe desde meados de 80 e hoje soma mais de 100 músicas de sua autoria, entre elas uma canção chamada “STREPTOCOCUS VIRIDANS”, um blues que figura na minha galeria de parcerias inéditas, poema meu musicado por Grillo Verguero, em 2001. Todas as composições de

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Grillo trazem um estilo eclético que pode ser definido como m “Seixiniano”. Suas apresentações são uma verdadeira festa raulseixista, aplaudidas e aclamadas como poucas, pois todas elas trazem mensagens positivas, com toques de irreverência e misticismo e sobre a cultura pouco incentivada neste País fadado ao sabor macabro das hienas que infestam o poder, verdadeiros terroristas culturais. Revelando a realidade do nosso cotidiano na sociedade, Grillo tenta resgatar a consciência do povo sobre a miséria, tanto econômica, quanto cultural, à qual este mesmo povo sofrido vem sendo exposto há muito tempo e sem que se aperceba de tão lastimável enredo. Seu CD intitulado “DIVINA HERANÇA SOCIAL”, lançado independentemente, sem nenhum apoio das grandes gravadoras e cuja capa, que realmente uma comédia humana, desenhada por um irmão do cantor/compositor, falecido, infelizmente. Pois tratava-se de um grande artista, trata-se de um disco causticante porque as músicas que o compõem são o próprio título do Cd retratado em versos. Long live Grillo Verguero!!!

*STREPTOCOCUS VIRIDANS* (Blues)

ISAAC SOARES DE SOUZA & GRILLO VERGUERO

Paixão insana

Que corre em minhas veias

Como um vírus letal,

Infecção bacteriana,

Streptococus Viridans

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No afã dos meus delírios

O mel de tua boca

É o mais eficiente antídoto

Contra essa mortal letargia

Que tomou conta do meu corpo

Que reclama o cheiro do seu

Dentro de você, sou tão forte quanto Deus

Posso derramar-me em líquido

E dar continuidade a magnificência da vida

Esquizofrênica paixão

Por um só beijo teu, mando a moral para o beleléu

Faço como fez Jacó para desposar Raquel

Sirvo a qualquer Labão

Um século de escravidão

Mais que o vinho, inebriante

Sonho remoto, anjo torto, subida do érebo de Dante

Cheia de prenúncios

No meu âmago se alojou

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Moça da noite, “moecha”, açoite

Sentença dos dias mal vividos

Meu status quo!

Deus se esconde bem

No teu olhar de nefilim

Eu que tinha os olhos dos suicidas

Nos teus seios encontrei a fonte da vida

Os teus dois peitos são como dois filhos gêmeos da gazela

Que se apascentam entre os lírios

Rosa de Sarom, agora sei por que vivo

Você fez de mim um maníaco

O sol resplandeceu sobre mim!

Em Cantares de Salomão

O filho de Davi descreveu sua formosura

E tudo perde o senso

Teu corpo moreno é azul

Núbia curva, febre, riso e gemido

A pele, o peito, apenso

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Quero música,

Música profana, o blues

A música do olhar da mulher!

Lasciva, molhada, cheirando à jasmim

Nos quantos orgasmos eu quiser

Que você tenha

Prenha

De mim...

(NEM TODO OURO SEDUZ, PARA FAZER SEUS PROJETOS (NEM TODO OURO SEDUZ, PARA FAZER SEUS PROJETOS (NEM TODO OURO SEDUZ, PARA FAZER SEUS PROJETOS (NEM TODO OURO SEDUZ, PARA FAZER SEUS PROJETOS NA VIDA O CEGO NÃO CONTA COM A LUZ) NA VIDA O CEGO NÃO CONTA COM A LUZ) NA VIDA O CEGO NÃO CONTA COM A LUZ) NA VIDA O CEGO NÃO CONTA COM A LUZ) ---- Zé GeraldoZé GeraldoZé GeraldoZé Geraldo----

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*ZECA BALEIRO**ZECA BALEIRO**ZECA BALEIRO**ZECA BALEIRO*

(FOTO: FABRÍCIO DE SOUZA (FOTO: FABRÍCIO DE SOUZA (FOTO: FABRÍCIO DE SOUZA (FOTO: FABRÍCIO DE SOUZA ---- ZECA BALEIRO e ISAAC SOARES DE ZECA BALEIRO e ISAAC SOARES DE ZECA BALEIRO e ISAAC SOARES DE ZECA BALEIRO e ISAAC SOARES DE

SOUZA/SESC SÃO CARLOSSOUZA/SESC SÃO CARLOSSOUZA/SESC SÃO CARLOSSOUZA/SESC SÃO CARLOS----SP SP SP SP –––– 1998)1998)1998)1998)

A Música Popular Brasileira, embora tenha atravessado as últimas décadas rastejando de quatro, anêmica e chafurdada no mangue da falta de criatividade, contagiada pelo vírus letal da ignorância e manietada pelos tentáculos dos vis movimentos sertanejo, funk, pagode e axé e enfiando goela abaixo do povo nomes inexpressivos como Ivete Sangalo, Banda Calypso e outros ainda mais insuportáveis, tem conseguido, vez ou outra,

manifestar o surgimento de nomes que revigoram a esperança num estado melhor da nossa música popular, através de seus trabalhos inovadores, quer pela qualidade técnica de suas composições, quer pelo tratamento modificador dos vários ritmos que a compõe. O quadro atual da MPB tem se caracterizado pelo aparecimento de novos compositores e intérpretes, que praticamente a estão reinventando pela magnificência de suas

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*ZECA BALEIRO**ZECA BALEIRO**ZECA BALEIRO**ZECA BALEIRO*

ZECA BALEIRO e ISAAC SOARES DE ZECA BALEIRO e ISAAC SOARES DE ZECA BALEIRO e ISAAC SOARES DE ZECA BALEIRO e ISAAC SOARES DE

A Música Popular Brasileira, embora tenha atravessado as últimas décadas rastejando de quatro, anêmica e chafurdada no mangue da falta de criatividade, contagiada pelo vírus letal

ignorância e manietada pelos tentáculos dos vis movimentos sertanejo, funk, pagode e axé e enfiando goela abaixo do povo nomes inexpressivos como Ivete Sangalo, Banda Calypso e outros ainda mais insuportáveis, tem

o, vez ou outra, manifestar o surgimento de nomes que revigoram a esperança num estado melhor da nossa música popular, através de seus trabalhos inovadores, quer pela qualidade técnica de suas

ento modificador dos vários ritmos O quadro atual da MPB tem se caracterizado pelo

aparecimento de novos compositores e intérpretes, que praticamente a estão reinventando pela magnificência de suas

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obras e a reeleitura dessa música estagnada na mesmice. É o caso do aparecimento de Zeca Baleiro, Chico César e Lenine. Muitos dos que agora, neste exato momento estão lendo ou simplesmente folheando este livro, devem de estar inquirindo aos próprios botões: “Porra, o que é que tem a ver com Raul Seixas, esse tal de Zeca Baleiro e outros nomes da MPB inclusos neste livro?” Eu afirmo que esses nomes tem sim, uma forte ligação com a obra raulseixista, pois todos eles são admiradores confessos do maluco beleza e alguns já participaram de projetos ralacionados à obra do mago baiano. São nomes expressivos e que merecem destaque, ou os prezados leitores raulseixistas ou não, prefeririam ver estampados nestas páginas nomes que são um verdadeiro insulto à inteligência, tais como Zezé di Camargo & Luciano, Leonardo, Daniel, Amado Batista, Latino, Tati Quebra Barraco e por aí vai a enorme lista de terroristas musicais, que nem citação merecem? Mas, como é preciso dar nome aos bois, não me ative de citá-los, mesmo porque, não tenho nada contra a pessoa de nenhum deles como seres humanos comuns, mas como artistas, puta que pariu, são um pé no saco de qualquer cristão dotado de bom gosto e de bons ouvidos.

Zeca Baleiro gravou o primeiro CD “POR ANDARÁ STEPHEN FRY”, cuja faixa que dá título ao disco de estréia conta uma história real, sobre o ator inglês Stephen Fry, que devido ao peso maldoso da crítica em relação ao seu trabalho cinematográfico fraco, desapareceu de casa sem deixar vestígios de seu paradeiro. Ao ler a notícia no jornal, Zeca Baleiro resolveu fazer uma canção sobre o lamentável episódio e não é que depois da música gravada o tal de Stephen Fry reapareceu e retornou ao cinema? Zeca conquistou a crítica e seu primeiro CD recebeu elogios rasgados e prêmios. Gal Costa se encantou com a singela homenagem que Zeca Baleiro prestou à “VAPOR BARATO” e

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convidou o moço maranhense para participar de seu disco ao vivo “GAL COSTA ACÚSTICO”, no qual cantaram juntos “À FLOR DA PELE”, que se transformou num dos grandes e clássicos sucessos dele. Zeca Baleiro é um vitorioso, além de ser um amigo de longa data, pessoa carismática e muito aberta, não conhece os ataques de estrelismo tão peculiares a alguns nomes da música, é um cidadão comum, mais um personagem “belchioriano”, cidadão latino-americano, são raros os compositores que chegaram ao pódio da MPB tão inesperadamente, logo no primeiro vôo discográfico e se mantiveram com os pés no chão. Ao lado de Chico César, o xodozinho lá de Catolé do Rocha e da ótima Rita Ribeiro, outra grande cantora da nova safra, que incluiu em seu primeiro disco várias composições do conterrâneo e já desenvolveram juntos belíssimos trabalhos. Zeca não veio para integrar o coro dos contentes, ele surgiu para botar lenha na fogueira da MPB, não faz parte desta corja de oportunistas que infesta a música brasileira. Zeca é eterno, veio e fincou raízes, cuja árvore de criatividade cresce a cada novo disco e dá frutos aos borbotões. Acompanhado sempre por músicos tarimbados e muito bons, durante suas apresentações ao vivo, Baleiro expele energia por todos os poros, de repente ele pode saltar do palco para o meio da platéia e incentivar todo mundo a cantar com ele, brinca com o público. Um artista completo, integrado à música e ao público, Zeca faz tudo isso com uma naturalidade espantosa, pois ele acredita que o artista não seria nada sem o assédio do público. Em todas as suas composições, Zeca imprime todos os elementos da música e do folclore nordestino, do rock, blues e jazz, sua música é uma gostosa mistura de ritmos e cores. Zeca Baleiro cresceu ouvindo todas as manifestações populares, o encanto das missas, os repentistas, quermesses, maracatu, reisado, bumba-meu-boi, candomblé, cultos afros, aboiadores, cordel e cantadores, Luiz Gonzaga, Jackson do

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Pandeiro, Genival Lacerda, Zé Ramalho e Raul Seixas e o Rei Roberto Carlos, são alguns de seus nomes prediletos, em cujas fontes ele saciava a sede de aprendizado musical. Roberto Carlos, Zeca confidenciou a mim certa feita, quando esteve pela primeira vez em São Carlos, cidade onde ele já se apresentou inúmeras vezes e fez amigos eternos, é seu ídolo maior, ele sabe o repertório do Rei “de cor e salteado” e seu grande sonho é cantar ao lado de Roberto e ter uma música sua gravada pelo ídolo. Com mais de 400 composições inéditas na bagagem e mais de uma década e meia de carreira, em 1998, ao gravar seu primeiro disco, de cara sentiu o gosto doce da glória e naquele mesmo ano foi uma das maiores revelações no Prêmio Sharp 98, abocanhando três troféus: Revelação, Melhor Disco e Melhor Música. Gravou um disco inédito ao lado do cearense Raimundo Fagner, cantou junto com Zé Ramalho, em seu segundo CD “VÔ IMBOLÁ”, a engraçada e ferina música “BIENAL”. Admirador confesso da obra musical e filosófica de Raul Seixas e Sérgio Sampaio, Zeca esteve presente ao lançamento do disco “RAUL SEIXAS – DOCUMENTO” e participou do projeto “O BALAIO DO SAMPAIO”, também realizado pela mesma gravadora MZA MUSIC. Agora, Zeca Baleiro envereda também, pela trilha da produção musical e para poder realizar a contento alguns de seus projetos musicais, ele montou um selo chamado Sarava Discos (www.saravadiscos.com.br) e já produziu discos históricos, provando que é mesmo um cara sacudido em todos os projetos que abraça. Zeca Baleiro produziu há pouco tempo e lançou pela gravadora Saravá Discos, dois projetos musicais da mais alta qualidade, cujos projetos engrandecem a historiografia da nossa música popular brasileira. Os discos “ODE DESCONTÍNUA e REMOTA para FLAUTA e OBOÉ – de Ariana para Dionísio”, uma verdadeira ode a falecida e genial poetisa Hilda Hilst, que deixou a literatura órfã no dia 4 de fevereiro de 2004, aos 73 anos. O

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epitáfio que Hilda Hilst escreveu e mandou colocar na lápide de seu pai, Apolônio Hilst, morto em 1968, em Jaú-SP, também poderia ser colocado agora em seu túmulo: “AINDA QUE A JANELA SE FECHE, HILDA HILST, É CERTO QUE AMANHECE”. Sabiamente, Zeca musicou 10 poemas de Hilda, do livro “Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão” e convidou as cantoras Rita Ribeiro, Verônica Sabino, Maria Bethânia, Jussara Silveira, Ângela Ro Ro, Na Ozzetti, Zélia Duncan, Olívia Byngton, Mônica Salmaso e Ângela Maria para gravarem magistralmente cada um dos dez poemas musicados por ele, e o resultado desta ode a Hilda é um dos melhores conseguidos em disco, um documento histórico da poetisa e escritora, aliás da poeta e escritora, pois Hilda não gostava de ser chamada de poetisa, preferia simplesmente poeta. O segundo disco editado por Zeca Baleiro através de seu selo, trata-se do espetacular e reencarnatório disco “CRUEL” de Sérgio Sampaio, inédito, feito a partir das gravações originais com voz e violão, que Sérgio deixou praticamente inacabado pouco antes de falecer e que Zeca produziu com uma maestria de fã apaixonado pela obra do cachoeirense. Agora, a esta altura do final deste livro, espero que os leitores, raulseixistas ou neófitos curiosos, entendam por qual motivo coloquei nestas páginas tantos nomes da MPB, que muitos pensarão ou pensam não ter a menor ligação com o raulseixismo, ledo engano, todos eles são malucos beleza e semideuses do Kaos, porque como dizia o Mestre Raul Santos Seixas: “Você pode não estar dentro da Sociedade Alternativa, mas a Sociedade Alternativa sempre esteve dentro de você!” Sobre este digno e respeitável disco de Sérgio Sampaio, o próprio Zeca Baleiro discorre em texto incluído no encarte do mesmo disco, intitulado “CRUEL, A MISSÃO”:

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*No início de 94, Sérgio Sampaio se preparava para gravar “CRUEL”, seu primeiro CD. Com três LPs lançados, o último deles em 82, estava desde então sem gravar, e mostrava grande vontade de ver sua produção mais recente registrada nesses novos tempos, em suporte digital.

O disco seria gravado pela Baratos Afins, legendária gravadora paulista dos independentes, responsável por obras fundamentais da discografia brazuca. Para isso foi gravada uma demo de voz e violão pelo engenheiro de som Milton Dória, em Salvador, onde Sérgio morava na época. Fotos para o projeto foram realizadas pelo fotógrafo baiano Márcio Lima, e tudo parecia pronto para que as gravações se iniciassem quando Sérgio morreu, em maio daquele ano.

Em 97, fui convidado pelo poeta e compositor Sérgio Natureza, amigo e parceiro de Sampaio, para participar do CD/tributo “BALAIO DO SAMPAIO”. Na altura, recebi um cassete com oito canções inéditas pra que eu escolhesse a faixa que cantaria, mas acabei optando por “TEM QUE ACONTECER”, canção antiga com a qual eu já namorava havia algum tempo e que batizou seu segundo LP.

A partir de então, tornei-me grande amigo da Ângela e do João (ex-mulher e filho do Sampaio). Tempos após a gravação do disco, Ângela me entregou a fita original, um dat com as tais oito canções, e me autorizou a usar aquele material da forma que eu achasse melhor. De cara, pensei em fazer um disco, mas precisaríamos de mais matéria-prima.

Sabia-se de outras tantas canções certamente gravadas em outra sessão (ou mesmo em outro estúdio) com a mesma finalidade de demo para o CD, cuja matriz se perdeu. Ângela começou então a vasculhar no seu arquivo pessoal, e lá descobrimos algumas pérolas perdidas em cassetes mastigados e quase comprometidos pelo tempo. Lá estavam canções como “PAVIO DO DESTINO”, “QUEM É DO AMOR” e “QUERO ENCONTRAR UM

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AMOR”. Começamos uma intensa busca atrás dos originais, em Salvador, em Natal, em todas as cidades por onde Sérgio perambulou nos últimos anos, mas nada foi achado.

Ainda que extraídas de cassetes gastos, essas canções haviam sido copiadas de uma gravação feita em estúdio, tinham portanto uma qualidade razoável. Contávamos já com quase 20 músicas para iniciar o trabalho. Faltava, porém, uma canção essencial ao projeto, justamente a que daria nome ao CD, previamente escolhido por ele. Dela achamos apenas uma gravação caseira, feita num gravador portátil, cheia de ruídos.

Outra música chamada “MAIÚSCULO”, um belo e moderno samba-canção, havia sido gravada por Sérgio num cassete em 89, na casa de sua mãe em Cachoeiro do Itapemirim e estava desde então em meu poder. Eu explico: nesse ano, eu e mais quatro amigos criamos, em São Luis do Maranhão, a revista cultural “UMDEGRAU”, e pensamos no nome do Sampaio para a entrevista do número inaugural.

De passagem pelo Rio, fui certa noite a um show no Circo Voador. Pra minha surpresa, lá encontrei, em carne, osso e colete, ninguém menos que Sérgio Sampaio. Convidado a dar uma canja. Sérgio subiu ao palco e eletrizou a platéia, cantando alguns sucessos e mandando improvisos de toda sorte. Depois, fui a ele apresentado, e entre um e outro gole de cerveja, falei da revista e fiz-lhe o convite, que ele aceitou sem pestanejar. Enviamos-lhe as perguntas, mas como ele demorou demais a nos enviar as respostas, acabamos sendo obrigados a lançar a revista sem a sua participação. Como era de se esperar de uma revista cultural, a nossa não passou do primeiro número, e a entrevista permaneceu inédita por todo esse tempo.

Pois “MAIÚSCULO” estava lá, generosamente gravada ao final da entrevista. Ainda bem, pois ao que parece, era o seu único registro. Ruídos de ônibus passando na rua, buzinas e portas batendo podem ser ouvidos ao

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fundo, assim como a voz de Sérgio se despedindo ao final.

A idéia original do projeto era vestir as canções com delicadeza, sem excessos, apenas realçando as sugestões de arranjo contidas no violão do Sampaio. Tínhamos o desafio de contornar as dificuldades de andamento e afinação das gravações, em parte displicentes, já que não haviam sido feitas como versões definitivas para o disco. Isso só foi possível graças ao envolvimento dos músicos convidados, alguns dos quais se confessaram verdadeiramente emocionados por participarem da empreitada. Caso do guitarrista Tuco Marcondes, que contou, durante a gravação, ter resolvido tornar-se músico profissional depois de assistir ao primeiro show de sua vida, exatamente um show do Sampaio, acompanhado do guitarrista Renato Piau, em São Paulo, nos idos anos 70.

Feitos todos os esforços possíveis de restauração dos áudios, chegamos enfim ao número de 14 canções, algumas das quais aqui estão mais pelo seu valor documental, uma vez que são tecnicamente precárias. Fundamentais em todo o processo foram Walter Costa, Damien Seth e Carlos Freitas, engenheiros de som milagreiros que “salvaram” algumas gravações que pareciam perdidas para sempre, condenadas que estavam ao mofo do esquecimento.

Realizar este disco, entre outros significados, teve para mim um sentido de retribuição. Digo isso porque, se me tornei compositor, devo esse destino a alguns espantos que experimentei pela vida afora, como por exemplo, o que tive ao ouvir Sérgio Sampaio pela primeira vez no velho rádio valvulado do meu pai, mágica da infância que ainda hoje ressoa na minha memória.

Sérgio deixou uma obra dispersa e em grande parte inédita, e um escasso registro fonográfico. Espero que, de algum modo, este disco possa contribuir para a confirmação do talento de Sampaio, e que novas e velhas gerações ainda possam ser contaminadas pela música e a poesia do cara,

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sua verve, seus sambas e seus “blues de brasileiro”.

Aqui vive Sérgio Sampaio, compositor popular maiúsculo.*

ZECA BALEIRO

SÃO PAULO, MAIO DE 2005

(a entrevista de Sérgio Sampaio e outras canções inéditas podem ser acessadas no site www.uol.com.br/sergiosampaio-www.zecabaleiro.com.br-

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Zeca Baleiro: Bala na Agulha, Trilhas e Concerto.

Bala na Agulha é o primeiro livro de Zeca Baleiro, lançado recentemente, 13 anos depois de seu primeiro disco. Entre Trilhas e Concerto, viagens musicais de extrema grandeza, José Ribamar, através de seu selo Saravá Discos e de sua editora Ponto de Bala, prova, sem dever nada a ninguém que, ainda tem muita bala na agulha e que é possível sobreviver sem se prostrar aos pés da indústria cultural. Sou suspeito para falar e/ou escrever sobre a trajetória desse maranhense bom de música e agora de literatura, mesmo porque sou amigo de Zeca desde o início de sua carreira. Nos conhecemos aqui na cidade de São Carlos, aonde resido, durante uma apresentação dele no SESC, nos idos de 1996. Recentemente, Zeca esteve pela quarta ou quinta vez na cidade, em Noite de Autógrafos e lançamento de seu primeiro livro. Casa superlotada, cuja platéia, extasiada ouviu as elocubrações desse moço e trocou idéias com ele. Zeca cantou apenas três ou quatro músicas para satisfazer a ânsia musical do público ali presente. Noite fria vergastando a cidade, mas que

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foi esquentada pela presença de Zeca. Neste dia pude trocar idéias com meu amigo Zeca, exigir que ele autografasse um exemplar de seu livro, cujas páginas li e reli admirado. Bala na Agulha não se trata de nenhum fenômeno literário, mas com certeza é um excelente livro, cujos textos reproduzidos de seu site, comprovam que Zeca sabe o que fala e o que pensa. Viajei no tempo através das páginas de Bala na Agulha, mesmo porque o pensamento e a forma de escrever que Zeca tão bem dispôs neste livro, evocam a minha forma de pensar e também de escrever. Ambos não tememos falar o que pensamos. Mas o mais interessante de tudo, é que Bala na Agulha realmente me fez viajar de volta ao passado, pois evoca em suas páginas nomes da música cafona, hoje relegados ao esquecimento e que outrora fizeram a minha cabeça e ainda hoje nutro um enorme respeito a tais nomes, gênios da música brega e que por sorte alguns ainda continuam cantando e encantando a todos nós, seus admiradores. Muitos desses nomes da dita música cafona, se comparados aos artistas de hoje, compenetrados em conseguir sucesso a qualquer custo, com suas “musiquinhas” imberbes e sem nenhum sentido, escrotas e burras, inaudíveis e sem nenhuma qualidade, dariam de 1000x0, porque sempre foram geniais e eternos, embora relegados ao ostracismo. Zeca fala em seu livro de nomes que talvez, atualmente, diante da fatal falta de inteligência que paira sobre a mídia, nenhum “jornalistinha” metido à culto e sabedor das coisas, jamais ouviu falar: Raimundo Soldado, Lizito Gema, Cláudia Barroso, o Rei dos puteiros e dos amores traídos, Waldick Soriano, Fernando Mendes, Ronaldo Adriano, Odair José, (O Terror das Empregadas Domésticas nos anos 70), qual é o “intelectual do jornalismo” burro que se faz hoje já ouviu falar apenas num único nome dos listados aqui??? E ainda querem e ousam criticar e escrever sobre música? Por falar em Odair José, que já gravou até composições bregas de Raul Seixas, Zeca Baleiro está produzindo o novo disco do gênio da música cafona.

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Enfim, Bala na Agulha, trata-se de um excelente livro de estréia de José de Ribamar, capaz de dar um show nos insossos livros de um certo mago, que só escreve obviedades e é considerado um Best-seller mundial, a quem eu chamo de “BOSTA-SELLER” universal.

Zeca Baleiro celebra 13 anos de carreira e anuncia o lançamento de cds, livros e musical infanto-juvenil. Em 1997 era lançado o primeiro disco de Zeca Baleiro, “Por Onde Andará Stephen Fry”. Apesar de pouco dado a comemorações de aniversários, o compositor resolveu, no entanto, celebrar seus 13 anos de carreira discográfica. E já havia anuciado à imprensa, desde meados do corrente ano, o lançamento de livros, discos e do programa de rádio “Vocês vão ter que me engolir”, (já no ar), e musical infanto-juvenil, entre outras novidades. O pacote foi aberto em abril, com a estreia na rádio UOL do programa “Biotônico”, que Baleiro criou e apresenta ao lado dos amigos Otávio Rodrigues e Celso Borges, e segue com o lançamento de dois livros e dois cds – “Trilhas” e “Concerto”. O primeiro, uma coletânea das trilhas que compôs para cinema e dança (e que terá participação especial da atriz Rosi Campos), e o segundo, chamado “Concerto”, gravação de show apresentado no teatro Fecap em março deste ano, em que, acompanhado por apenas dois músicos, Swami Jr. e Tuco Marcondes, Baleiro desfila repertório que vai de Cartola a Camisa de Vênus, e de Assis Valente a Foo Fighters. “Concerto” traz ainda algumas canções inéditas, como “A Depender de Mim” e “Canção pra Ninar um Neguim”, esta última composta em 1993 para Michael Jackson, e só agora gravada pelo autor. Os dois serão os primeiros discos do artista a serem lançados por seu próprio selo, o Saravá Discos, fato que inaugura uma nova fase na carreira de Zeca. Na sequência, lança dois livros, “Bala na Agulha (reflexões de boteco, pastéis de memória e outras frituras)”, com impressões críticas e bem-humoradas sobre música, literatura, futebol e

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assuntos diversos; e “Vida é um Souvenir Made in Hong Kong – Livro de Canções”, um cancioneiro com uma seleção de suas letras, numa edição com belo tratamento gráfico, de tiragem limitada, a ser publicada pela Editora da Universidade Federal de Goiás. Em agosto, estreou o musical infanto-juvenil de sua autoria, “Quem tem Medo de Curupira?”, no Teatro do Sesi, em São Paulo, que ficará em temporada até o fim do ano, com direção de Débora Dubois e cenografia de Duda Arruk.

Baleiro ainda promete para os próximos meses, “caso sobre tempo e saúde”, explica, a produção de mais três cds – um infantil, com participações de vários artistas amigos; um álbum pop, com a nova safra de composições; e um cd de samba, que pretende realizar “assim que o samba sair de moda”, enfatiza o artista. Ao longo do ano, Baleiro também pretende dispor para download gratuitos músicas e clipes inéditos, “evento” que será devidamente anunciado no site do artista (www.zecabaleiro.com.br). Biotônico: programa de almanaque na Rádio UOL

No dia 11 de abril estreou o programa de rádio virtual “Biotônico”, que Zeca Baleiro criou e apresenta ao lado dos amigos Otávio Rodrigues (jornalista e DJ), e Celso Borges (poeta e jornalista). Postado na rádio UOL (http://www.radio.uol.com.br/#/programa/biotonico) e também em seu site quinzenalmente, “Biotônico é uma declaração de amor ao rádio. Um programa tipo almanaque, com cheiro de AM, caloroso e divertido. Um jeito de informar as pessoas com graça, sem pretensão nem formalidades”, comenta Zeca.

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2000, Back Door Man

Nascido em 25 de janeiro de 1945, em Indianápolis, Indiana, Ron sentiu o soco duro da vida em sua cara pela primeira vez quando seu pai veio a falecer e sua mãe o rejeitou junto de seu irmão, (Hacker tinha apenas 4 anos). Passando a viver hora com suas tias e hora com pessoas da igreja, esse estilo de vida favoreceu a se tornar um pequeno "burrinho" ou "marginal", como ele mesmo diz. Toda essa má sorte só poderia resultar em algo, e nesse caso, Hacker encontrou o Blues, ou para alguns foi o Blues que o encontrou.

Com 11 anos de idade, foi encaminhado para um centro juvenil por vandalismo e lá descobriu um ritmo que não tocava em sua vizinhança branca: era o inovador Blues. Porém, a vida reservou outras descobertas para Ron: no inicio dos anos 60, após se mudar com seu irmão, descobriu as drogas, sexo, mulheres e Elmore James.

Graças a James, Ron comprou um violão a 5 dólares e resolveu tocar como o mesmo. Mas tocar “Slide Guitar” e ser branco não faz de ninguém um

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grande “Bluesman”, foi a sorte ou o acaso que fez Ron retornar a Indianápolis nos anos 70. Foi quando um Dj veio a cruzar o caminho de Ron com o do James “Yank” Rachell. Ron não conhecia Yank Rachell, mas ele tinha um grande segredo para mostrar. Rachell ensinou a Ron o segredo do Delta Blues, os macetes, as jogadas, os tons e tudo que era possível ensinar e Ron captou muito bem, para nosso deleite. O resultado veio a incidir em ótimos discos de Blues e Ron deixou de ser um moleque e se transformou em um dos melhores tocadores de “Slide Guitar”.

Após ótimos discos chega aos nossos ouvidos o 4° álbum de Hacker, “Back Door Man”,(A expresão "back door man", no contexto original, significa o amante, quem entra e sai pela porta dos fundos da casa, e é um tema recorrente ao blues.) esse se tornou um disco matador, apoiado por Artis Joyce e Shad Harris esse disco traz um Power trio de dar inveja a qualquer Bluesman do mundo.

Destaque para as seguintes faixas, I got Tattooed uma bela musica que já foi regravada em uma nova versão pela banda “Cracker Blues” já postado aqui no blog.Come Om in my Kitchen, essa versão traz uma roupagem nova para esse clássico de Robert Johnson. Set List Musicos: Ron Hacker (guitar/vocals), Artis Joyce (bass), Shad Harris (drums)

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RON HACKER & THE HACKSAWUS – (BLUES/ROCK)

O blues nasceu logo depois da Guerra Civil Americana, destilado da música africana que os escravos trouxeram para o Sul dos Estados Unidos. Embora a vida que levavam nas lavouras de algodão fosse um inferno os negros ainda encontravam tempo para cantar suas tristezas (BLUES) e fazer disso uma arte. O blues primitivo era irregular e seguia a cadência da fala, como pode ser observado nas gravações feitas nos anos 20 e 30 por Blind Lemon Jefferson, Robert Johnson e

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Lightnin´Hopkins, entre outros. A história do blues traça uma intensa estrada de almas solitárias, que sai do Delta do Mississippi e vai atravessando os Estados Unidos, até chegar em Chicago, Illinois. Em sua andança para o Norte, o blues foi fazendo a cabeça de todo mundo que encontrava em seu caminho de lamentações. Elvis Presley, em sua adolescência ouvia B. B. King em Memphis; ChucK Berry foi cria de Muddy Waters; Jimi Hendrix cresceu ouvindo os dois. Na Inglaterra, não só estes dois avatares do blues, mas também Albert King, John Lee Hooker e Robert Johnson eram objetos de culto para Mick Jagger, Keith Richards, Jeff Beck, Jimy Page e Eric Clapton. A epidemia do blues, como verdadeiro sopro suave dos algodoais do Mississippi, foi abrandando a alma do do bluesman por onde ele passava, numa leve melancolia negra, se alastrou até a terra dos cangurus e dos aborígenes, deixando Angus Young, o endiabrado líder e guitarrista do excelente AC/DC doente, contaminado pelo ritmo etílico e negro. Ninguém escapou ileso: do rockabilly ao metal pesado, de Elvis a Led Leppelin, a influência do blues foi arrasadora. Os Beatles amavam tanto o blues, que Ringo Starr quis se mudar para Houston, Texas, só porque seu ídolo, o genial Lightnin´Hopkins, nasceu lá. O maior pensador que o rock nanico nacional já conheceu, o mago RAUL SEIXAS e seu discípulo Marcelo Nova, eram admiradores do virtuose Lightnin´ Hopkins e de Arthur Big Boy Crudup. Foi um verso de Muddy Waters, , que deu nome ao grupo Rolling Stones. Tantas fez o blues que gerou um filho bastardo e diabólico, que causou estardalhaço em todo o planeta, quando de seu nascimento: O ROCK!!! O blues, já ancião, mas ainda veementemente, maduro e imortal, também aportou em plagas são-carlenses e aqui gerou uma das mais excelentes bandas de blues do Brasil: BLUES THE VILLE. Comandada pelos meus queridos amigos David Tanganelli, Netto, Coxa

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e Danilo, Blues The Ville tem levado o blues/rock com pitadas de MPB para todo o país e não demora a se apresentar por vários países do mundo. Mas foi em San Francisco que o blues gerou um dos seus maiores intérpretes e bluesman da história, ainda pouco conhecido no Brasil e muito pouco divulgado entre nós, este monstro sagrado, que além de ser meu mais recente amigo e cuja obra musical admiro, chamado RON HACKER, um dos maiores representantes do ritmo negro. Ron Hacker , (nascido em 25 de janeiro de 1945, Indianapolis, Indiana) é um guitarrista de blues norte-americano. Hacker cresceu sem uma família desde os quatro anos de idade, quando seu pai morreu e sua mãe o rejeitou. Com pouco mais de dez anos, ele foi enviado para um centro juvenil por quebrar parquímetros. Em 1960 mudou-se para a área da baía e comprou sua primeira guitarra por cinco dólares. Voltando à sua cidade natal de Indianapolis na década de 1970 ele conheceu o veterano bluesman Yank Rachell de quem aprendeu muitos truques de tocar guitarra. Ao voltar a Bay Area, Hacker começou a tocar solo, mas no final da década de 1970 ele formou a sua banda "The Hacksawus", (OS SERROTES), um nome que ele tem mantido desde então. Hackers do primeiro álbum no Pretty Songs foi gravado em 1988. Em 2005, Ron Hacker torna –se amigo de Tom Waits e foi convidado para participar de seu CD "ÓRFÃOS", Ron também lançou um livro intitulado White Trash Bluesman (ISBN 1598990330), publicado em 2007.

Discografia * 1988 Pretty Songs

* 1990 Blues Barstool * 1995 I Got Tattooed * 2000 Back Door Man

* 2003 Burnin '

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* 2007 O serrote Live in Holland, XXL Bluesclub, Wageningen * 2008 Mr. Bad Boy (solo, ao vivo no Famous Dave's, de Minneapolis,

12/31/06) * 2008 My Songs

*2010 foi um ano de vitórias e sucesso para Ron, além de ter um de seus discos nas paradas de sucesso nas rádios que tocam blues raiz, Ron teve sua

vida filmada em um Documentário.)

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www.ronhacker.com

Bem, o inferno é sobre o tempo, eu estava começando a pensar que o pacote nunca chegar lá.

Eu tive uma notícia muito boa da minha gravadora, o meu CD

"Burnin" é o número 19 na tabela Blues Roots e rádio. As estações de rádio em toda a América estão jogando o meu CD.

A imagem do cartaz e a the-shirt foram desenhadas por um artista famoso, Mark Bullwinkle. Ele e eu assinamos o cartaz para você. O artista trabalha com o metal, o homem selvagem slide foi impressa a

partir de um pedaço de chapa de metal que ele cortou com um maçarico, o pedaço de metal é de 3 metros por 5 metros, eu tenho

ele pendurado na minha parede no meu escritório.

Bem, meu amigo feliz que você tem o material que enviei e espero conseguir ir ao Brasil pois é uma vontade

muito antiga.

Tome cuidado

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Ron

www.ronhacker.com

(Fac-simile de um e-mail que Ron Hacker me enviou)

(BONSAIS)

Isaac Soares de Souza & Joara Ledoux

Nesta minha passagem pelo tempo matéria

Em que a vida é quimera e os sonhos pura voragem

Neste deserto de mim mesmo Prossigo solitário à esmo

Sem vislumbrar nenhum horizonte Triste de quem é feliz Feliz de quem é triste

Pois quem conhece a tristeza É um maluco beleza

E pensa e é uma fortaleza Toda a felicidade que dantes eu esmolara

Se transformou em glória plena diante de JOARA A Bruxa Furacão

Que me resgatou do fosso da mais vil e cruel inação

Quando encontrei Joara Meu coração repleto de escaras se renovou tamanha a lassidão com que esta santa sem véu,

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degredada do céu me contaminou

O seu canto que é rock, é xote, aboio e baião Foi como uma adaga

decepando a minha solidão Foi Joara, meu amor, mandou embora o meu torpor

Quando eu, tímido e sedento, despetalava a flor de suas vestes, Afobado como um cabra da peste,

Como quem despe As pétalas de uma flor...

(JOARA LEDOUX, A ROQUEIRA URBANA RURAL)

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A VISITA DE RAUL SEIXAS À PUNK/ROQUEIRA URBANA RURAL

Dos sertões de Remanso, árido onde nasceu, a compositora e cantora Joara Ledoux, veio para Salvador ainda menina para estudar na capital baiana. Quando iniciou seu trajeto artístico, a preocupação dessa excelente cantora era tão-somente não granjear rótulos ao seu trabalho musical e poético, mesmo porque, Joara trafegou por todos os ritmos imagiunáveis. Na década de 70 ela foi considerada a rainha punk da Bahia e fincou os pés e o talento na música raiz, de Luiz Gonzaga ao rock foi um passo, já que ambos são frutos da mesma árvore, baião e rock são irmãos gêmeos, como dizia Raul Seixas. Poeta de grande sensibilidade, Joara já externou seus pensamentos em várias coletâneas poéticas, a poesia e a música correm nas artérias da sua família, seus irmãos são poetas e ela tem antepassados que foram verdadeiros gênios da poesia popular. Não foi por nada que ela deixou marcadas para sempre estas sábias palavras: “Quando eu não estiver mais aqui, alguém há de ouvir e sentir a minha voz gritar, lamentar, implorar, porque deixarei nesse mundo essa prova de mim.” Do baião ao ao jazz, do punk ao blues, Joara sempre se destacou com extrema capacidade. Talvez a única coisa fora de tom que essa baiana retada cometeu em sua vida, foi não ter gravado a música “Cowboy Fora da Lei”, que Raul deu de bandeja para ela, em 1986. Nesta mesma época Joara conheceu Raul em Salvador e a amizade dos dois se tornou fortemente alicerçada em encontros e visitas e telefonemas de Raul. Quem apresentou Joara a Raul foi o genial BIG BEM, um dos grandes avatares do rock nacional e que hoje se encontra esquecido e abandonado, muito doente e precisando de cuidados e muita ajuda. Raul passa a chamá-la carinhosamente de “roqueirinha”. Joara se recusou a gravar “COWBOY FORA DA LEI” porque na época ela estava em processo de gravação de um compacto. Tinha firmado um compromisso de gravar uma versão em portugês da clássica “London, London” de Caetano Veloso e não

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poderia voltar atrás. A música “Cowboy Fora da Lei” poderia ter projetado a carreira de Joara e hoje, ela reconhece que se arrependeu amargamente por ter deixado passar em branco tamanha oportunidade. Raul na época, segundo relatou-me Joara, ficou furioso e desceu o pau em Caetano, pois ele sabia que “Cowboy Fora da Lei” seria um sucesso nacional. Logo depois o próprio Raulzito estourou nas paradas de sucesso e ganhou até disco de ouro com a gravação da música recusada por Joara. Quando conheceu Raul, Joara afirma que foi uma época “braba” na vida do mago baiano, ele estava meio depressivo, bebendo muito e ainda casado com Lena Coutinho, que foi um verdadeiro tormento na vida de Raul, extremamente ciumenta e possessiva. Um belo dia Raul decide visitar Joara em sua casa. Parecia estar “tomado” à l da tarde, pensou o pai de Joara quando o atendeu. Raul bateu à porta. Quem acorreu para atender o inesperado visitante foi o pai da baiana, promotor de Justiça, que estranhava certas amizades da filha. Ao abrir a porta e dar de cara com aquele sujeito magricela, estranho e esquisito, o pai de Joara chamou-a e anunciou a presença de um tipo estranho que queria vê-la e se dizia seu amigo. Joara se encontrava em seu quarto, toda descabelada saindo de um sono profundo. Morrendo de vergonha ela disse ao pai que aquele tipo esquisito tratava-se nada mais nada menos do que RAUL SEIXAS e que era para o pai atendê-lo imediatamente e mandá-lo entrar e esperar na sala até que ela se arrumasse. Qual não foi o espanto de Joara, quando ao vir para a sala flagrou Raul Seixas e seu pai envolvidos num diálogo filosófico de arrepiar, cuja conversa a deixava deslocada e completamente embasbacada. Raul e o pai conversavam animadamente sobre MONTESQUIEU e problemas metafísicos. Joara praticamente permaneceu isolada do bate-papo e seu pai, à partir desse histórico dia passou a ser um dos mais ferrenhos admiradores da obra musical e poética de Raul. Antes de conhecer Raul pessoalmente, o pai de Joara era um

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grande admirador do baiano Morais Moreira, mas a inteligência de Raul conquistou definitivamente pai e filha.

A cantora e compositora baiana, Joara Ledoux, chamada por Raul Seixas de “roqueira urbana rural” e grande admiradora da obra poética, filosófica e musical do mago baiano, desembarcou no mês de agosto de 2010, em São Paulo, para viabilizar a gravação de seu mais recente disco, cujo título “NA LUZ DE LUAR”, trata-se de uma homenagem ao maluco beleza conterrâneo. Quando Raul Seixas cantou em sua obra-prima “LUA-CHEIA”, gravada em 1983... “Meu nome é LUAR aos avessos...” - LUAR (RAUL), o místico soteropolitano, que se tornou um mito, e que tinha cravado no âmago o saber de brincar com as palavras, parece que já previa esta homenagem a ele, que a nossa Bruxa Furacão, espiritualmente interligada, xamã que é, lhe pretaria futuramente. A Direção Musical e Produção do álbum, que ficará na história da MPB, é de Sylvio Passos, fundador e presidente do Raul Rock Club. Sylvio acompanhou Raul até o fim de sua vida, como amigo pessoal e divulgador de sua obra. Joara Ledoux está jogando todas as cartas neste trabalho musical. Neste CD que deverá estar pronto até o final do ano, Joara gravará composições de Isaac Soares de Souza: POR QUEM OS SINOS DOBRAM, e uma composição de Eliezer Soares de Souza, (irmão de Isaac), intitulada “CANÇÃO DA MORTE”, além de parcerias com os irmãos Soares, Joara gravará ainda parcerias com Sylvio Passos e Maycol Zorgete (Fundador e Presidente do Fã Clube Raul Seixas/Catanduva-SP). O CD NA LUZ DE LUAR, conta, majestosamente com a participação e e cumplicidade do músico e compositor baiano, Gustavo Caldas, que já vem compondo maravilhas musicais com a Bruxa Furacão, que é também título de uma das músicas do novo CD de Joara Ledoux, há

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3 anos. Em um dos versos desta citada canção, Joara, provocante e inconformada com os desmandos da Igreja Católica, uma das responsáveis, no decorrer da história da humanidade pela opressão ao sexo feminino, denegrindo a inteligência da mulher e colocando-a no mais baixo pedestal escravista, canta, leve, lírica e solta, sem temer a polêmica que possa causar e evocando uma era que poucos tem a consciência que existiu, quando a mulher era a rainha absoluta da vida e fazia o que atualmente os homens fazem, que é só mandar e denegrir a imagem dessa deusa chamada mulher, cuja era foi chamada de era do matriarcalismo, demanchada e mudada à partir de quando o homem descobriu que para gerar uma outra vida a função do esperma era também fundamental, vocifera: “Sou Madalena na Santa Ceia... Santa sem véu...” Joara é compositora e cantora de talento ímpar. Já lá se vai um longo tempo em que Joara gravou uma versão, feita especialmente para ela, da clássica “LONDON, LONDON”, que Caetano Veloso transformou em “LONGE EM LONDRES”, em parceria com Rogério Duarte só para Joara gravar. Joara já fez um relativo sucesso na Bahia cantando samba reggae, mas samba reggae de qualidade indiscutível, sem nenhuma ligação com o samba reggae atual, desprovido de qualidade e de poesia, que nos anos 90 se transformou no hino do carnaval baiano, composição dos consagrados compositores José de Olisan e Domingos, mas o canto uterino desta baiana, bruxa Furacão, cantadora de trovas, rock, blues e baião, livre, lírica e solta como ela só, camaleoa, não se adequou aos moldes do sistema fonográfico, cuja indústria saprófaga e capitalista, pretendia transformá-la em uma rival de uma cantora de axé que fora lançada na época, ousadia que Joara rejeitou de pronto, porque ela é dona de seu nariz e não aceita imposição em seu trabalho musical, de extrema leveza e qualidade. Este CD “NA LUZ DE LUAR”, de Joara

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Ledoux, ficará nos anais da historiografia da MPB e, tomara que o Brasil finalmente, reconheça o talento desta baiana roqueira urbana rural. Ave canora de canto uterino, Joara é jóia rara. Confira abaixo as letras das músicas, parcerias de Joara Ledoux com Isaac Soares de Souza e Eliezer Soares de Souza: POR QUEM OS SINOS DOBRAM e CANÇÃO DA MORTE.

_________

POR QUEM OS SINOPOR QUEM OS SINOPOR QUEM OS SINOPOR QUEM OS SINOS DOBRAM?S DOBRAM?S DOBRAM?S DOBRAM?

Isaac Soares de Souza & Joara Ledoux

Nenhum homem é uma ilha,

Completo em si mesmo;

Cada homem é um pedaço do continente,

Nenhum homem é um elo perdido neste ermo

Ninguém é inteiro, ninguém é metade

Cada homem é um torrão, parte da terra,

chama que arde

A morte de qualquer ser vivo me diminui

Porque sou parte da humanidade,

É como se na verdade

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574 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Arrancasse parte de mim

Se um torrão é levado pelo mar

A Europa fica menor

A vida de cada um tem um preço,

a morte é que vem nos cobrar

“Tu és pó e só ao pó tornarás”

Portanto não procure saber

Por quem os sinos dobram:

Se é o homem que o faz badalar,

Você é sua pátria, você é seu país

Assim o sino que dobra para um sermão

Não está chamando apenas o pregador

Mas toda a congregação!

- O miserável, o abastado, o homicida, o bastardo

A cróia, o afeminado, o ditador, o comunista, o terrorista

O detento, o louco e o lazarento,

o beato e o pecador

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(CANÇÃO DA MORTE)

ELIEZER SOARES DE SOUZA & JOARA LEDOUX

Ao correr dos dias

Vejo mais claros seus contornos

Sua presença mais sombria,

Mais reluzentes seus adornos

Dona de todos os horizontes,

Figura velha e inflexível,

Ditas, das cidades e dos montes,

Tua lei velha e temível

Ao soprar o teu hálito gelado

Sobre tudo que perpassa e que seduz

Torna cadáver triste e incinerado

E toda vida em pó, tudo reduz

Pronta sempre pra caçada

Como ave de rapina impiedosa,

Com tua foice inclemente, afiada,

Paira tranqüila, suprema, desdenhosa

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576 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Ao se abater sobre a vida indefesa

Traz nos olhos a certeza da vitória

Decreta o fim da alegria e da beleza,

Somente nisto consiste a tua glória

Mas sei o que procuras há algum tempo,

Por mim, que insurpreso e sem pasmo

Posso fazer disso um juramento:

Me estremecer contigo num orgasmo

Até que o tempo resolva esta batalha,

Até que tu, com couraças e tridentes,

Tenha aniquilado tudo, em todo ventre,

Sem que percebas nisto a tua falha

Te sentarás também mendiga

E faminta num canto, solitária

Recordarás chorando a ceifa antiga

E ao infinito volverás, já também morta e sedentária.

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577 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*EDNARDO *EDNARDO *EDNARDO *EDNARDO ---- PAVÃO MYSTERIOZO*PAVÃO MYSTERIOZO*PAVÃO MYSTERIOZO*PAVÃO MYSTERIOZO*

(EDNARDO – PAVÃO MYSTERIOZO: Ilustração: Isaac Soares de Souza/1997)

Foram 10 anos de absoluto silencio fonográfico, só

quebrado em 2001, quando Ednardo retornou à cena musical brasileira

lançando naquele ano, o Cd “ÚNICA

PESSOA”, pelo selo GPA Music, distribuído

pela Over Records. Após o lançamento deste magnífico e resgatador disco,

Ednardo teve relançados e de volta

às prateleiras os históricos discos

“BERRO”, de 1976 e “O AZUL E O ENCARNADO”, de 1977. Depois destes dois discos, outro

relançamento fundamental no resgate da obra musical desse cearense jogado ao mofo do esquecimento por uma indústria fonográfica dada

a desrespeitar aqueles que a ajudaram a empanturrar os cofres de dinheiro e de reconhecimento, simplesmente porque seus futuros

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trabalhos já não renderiam o montante esperado, foi a trilha sonora da novela Saramandaia, de 1976, que contém a pérola “PAVÃO

MYSTERIOZO”, sua mais conhecida música. (Nota: com essa grafia mesmo, “Y” e “Z”). José Ednardo Soares Costa Sousa, nasceu em

Fortaleza-CE, celebrizou-se nacionalmente em 1976, com a inclusão de “PAVÃO MYSTERIOZO” na trilha da novela acima citada. Há mais de

três décadas, Ednardo foi um dos responsáveis pela revelação de artistas cearenses, cuja nata ficou conhecida como “PESSOAL DO

CEARÁ”. Ao lado de Fagner e Belchior, ednardo formou a tríade de cantores/compositores de maior expressividade do Ceará. Em seu disco

de 2001, “ÚNICA PESSOA”, nota-se um resgate de sua aventura nos anos 70, que era a tentativa de desenvolver uma espécie de folk à brasileira, com letras bem pessoais e poéticas, segundo palavras de

Silvio Essinger para o site Clique Music: www.cliquemusic.com.br. Mas se engana redondamente quem pensa que ele parou de fazer shows

pelo país inteiro só porque ficou dez anos sem gravar um disco inédito. Foi uma década de reciclagem a que o próprio Ednardo se propôs, para reavaliar valores e tendências. O próprio artista fez a

opção de permanecer tanto tempo afastado dos estúdios. Com mais de 80 canções inéditas, material suficiente para gravar vários discos neste longo período afastado do cenário musical, Ednardo preferiu

continuar se apresentando por todo o País. Durante esse tempo longe da mídia, ele escreveu três trilhas sonoras que permanecem fora de

catálogo. Somando mais de 30 anos de carreira, mais de 300 músicas e letras que são verdadeiros poemas, gravadas e distribuídas em mais

de 15 discos originais, 9 discos de compilações, 2 Trilhas Musicais para Teatro, 4 Trilhas Musicais de Cinema, 2 Vídeos em Especiais de

TV e o reconhecimento de um público que o acompanha desde o início e da crítica especializada, Ednardo é um dos mais importantes

artistas e poetas da música brasileira. Sua obra abrangente toca e

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579 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

repercute em várias gerações com vigor criativo e comunicativo, próprio de quem realiza arte com integridade. Com uma formação

musical clássica, mesmo assim Ednardo sempre considerou, desde o começo da carreira, esse papo de divisão de águas na música

brasileira uma grande besteira e sempre tentou desmistificar essa divisão territorial, essa coisa de dizer que a música é do Ceará ou do

Rio Grande do Sul. “É chato essa coisa de embalar a música em determinados escaninhos de classificação. Quando chegamos a São

Paulo, as pessoas não sabiam como nos identificar e nos chamavam de o Pessoal do Ceará (os artistas Rodger, Tétty, Fagner, Belchior,

fausto Nilo, Amelinha e outros)”, recorda. “O importante é que naquele momento a nossa criação foi muito espontânea, assim como a aproximação do público e da mídia. O período estava muito fértil

musicalmente, tanto que apareceram os Novos Baianos, Alceu Valença, Geraldo Azevedo”. Durante este hiato sem gravar um disco inédito e promovendo shows, Ednardo fez trilhas para alguns filmes, entre eles:

“LUZIA HOMEM”, de Fábio Barreto, “TIGIPIÓ” e “CALOR DA PELE”, ambos de Pedro Jorge de Castro. “Estar sumido é uma questão de mídia, tenho trabalhado o tempo todo. Não deixei de fazer música

para virar empresário ou me aliar a políticos”.

Consagrado em todo o País, suas músicas tocam em vários países: Portugal, Espanha, França, Japão, Israel, Alemanha, Itália, Holanda, Argentina, Uruguai, Cuba, México e comunidades latino-americanas de Miami, Orlando, Nova Jersey, Nova Iorque. Os sucessos populares cantados por Ednardo e outros intérpretes de suas músicas, tais como “TERRAL”, “PAVÃO MYSTERIOZO”, “ARTIGO 26”, “FLORA”, “A MANGA ROSA”, “BEIRAMAR”, “CARNEIRO”, “ENQUANTO ENGOMO A CALÇA”, “IMÔ, “RUBI”, “LONGARINAS”, “PASTORA DO TEMPO”, “LAGOA DE ALUÁ”, “INGAZEIRAS” e outros de seu extenso e

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580 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

importante repertório musical, um dos mais ricos e prolíficos da história da MPB, têm o poder de arrebatar o público, conquistar diversos segmentos sociais, faixas etárias, permanecendo através dos tempos, com a mesma importância artística e poética.

No filme “LUZIA HOMEM”, de 1987, além de fazer a trilha sonora, Ednardo também participa como ator: interpreta o personagem Poeta de Cordel. O filme, recorde de bilheteria no Brasil, sucesso na Europa, foi exibido nos festivais de Hueva (Espanha) e Cannes (França). Também foi exibido nos Estados Unidos, em rede “coast to coast” de TV. Em “TIGIPIÓ”, a trilha musical foi ponto de destaque nos festivais de Karlov Vary, da Checoslováquia e de Verona (Itália). O filme foi ao ar em rede de TV Iugoslávia. O filme “CALOR DA PELE” teve grande aceitação pública nas estréias em Fortaleza e Brasília e no Festival Internacional de Cinema da Argentina. A AURA EDIÇÕES MUSICAIS, produtora de Ednardo produziu especiais de TV, transmitidos em rede nacional, TV Manchete e Tv Educativa: “EDNARDO – CEARÁ QUATRO ESTAÇÕES” e “EDNARDO ESPECIAL”. O Vídeo “CEARÁ QUATRO ESTAÇÕES” foi escolhido o melhor vídeo artístico-musical pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado do ceará. Ednardo ainda compôs as trilhas do filme “CAUIM” (dele próprio), e da novela “TOCAIA GRANDE”, da TV Manchete, na qual fez a música e o clip de encerramento.

Em 2002, a gravadora WEA/CONTINENTAL lançou o CD “PESSOAL DO CEARÁ”, com Ednardo, Amelinha e Belchior. O trio cearense interpreta sucessos intercambiados e músicas inéditas, tais como: “TERRAL”, “COMO NOSSOS PAIS”, “NA HORA DO ALMOÇO”, “MUCURIPE”, “PAVÃO MYSTERIOZO”, “MEDO DE AVIÃO”, “ENQUANTO ENGOMA A CALÇA”, “A PALO SECO”, “PASTORIL”, “ALUCINAÇÃO”,

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581 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

“LAGOA DE ALUÁ”, “BOSSA EM PALAVRÕES”, “MOTE”, “TOM E RADAR” e “ARTIGO 26”. Este estupendo disco provou mais uma vez, o quanto os meios rediofônicos e televisivos brasileiros são um desastre para a cultura do País, pois pouquíssima gente tomou conhecimento da existência deste que é, sem nenhuma dúvida, um dos mais bonitos e inteligentes discos de toda a historiografia da música popular brasileira, um disco que é uma fonte de poesia, de clássicos da música cearense e que merecia figurar em todas as paradas musicais do país, não vivêssemos num Brasil inculto em que o povo prefere eleger como grandes clássicos populares músicas indecentes como as que hoje ouvimos mesmo sem querer ouvi-las. Ednardo também é o autor de músicas que retratam fielmente a Guerrilha do Araguaia, local onde a ditadura militar assassinou e enterrou muitos corpos, e cuja história escabrosa só veio à lume quase que recentemente. A poética e sensível “ARAGUAIA”, é capaz de transportar o ouvinte ao local dos fatos.

*ARAGUAIA**ARAGUAIA**ARAGUAIA**ARAGUAIA*

EDNARDO

Quando eu me banho no meu Araguaia

E bebo da sua água sangue e fria

Bichos caçados na noite e no dia

Bebem e se banham

Eles são comigo

Triste guerrilha, companheiro morto

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582 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Suor e sangue, brilho do corpo, medo só

Mas se o corpo desse é pó

Um círio da luz dessa dor

Violento amor há de voar

*VEIO JOÃO* (Eu vi a face da Morte)

Isaac Soares de Souza/1997

Eu vi a face da Morte

A Morte era silenciosa e provocava ais

Era a noite feita para os arrependimentos

A Morte não impingiu-me nenhum medo

Nem crispar de dedos

Alagava o coração e os olhos

Dos que viam nela o segredo da vida

Em gestos estranhos adentrou à casa

E se alojou no corpo de meu velho pai

Foi quando tive ímpetos de indignação

Não se via violência em seus imperceptíveis movimentos

Nem dor havia no rosto do meu pai

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583 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A Morte parecia um prêmio, um galardão

Pelo qual meu pai esperava há 72 anos

A Morte era quase bondade

Ao redimir um herói

Na ceifa em que colheu meu pai

Eis-me inteiro em tristeza

Conspurcado e vazio...

Meu pai antecipara que não queria ouvir nenhum choro

Pois desejava partir em paz para outro logradouro

Pai, divide comigo esta paz

Deixa-me pousar a cabeça

Em teu peito inerte,

Já que jamais pude sentir teu calor em vida

Na plenitude da graça dos que viram a luz

Meu pai foi um homem de Deus

João apocalíptico na Ilha de Patmos

De antemão previa os fatos

Varava as madrugadas orando pela salvação dos seus,

Incrédulos e ateus,

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584 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Que nunca aceitaram os desígnios desse Deus

Que mata os que lhe são fiéis

Legando aos seus a desolação

O meu pai tinha enormes indignações

Não se conformava com os conformados

Os acovardados, os déspotas, os corruptos,

Os medíocres e nem com os vendidos desse mundo

Não se conformava com a miséria, a dominação,

O ateísmo, a idolatria, a falta de fé do homem,

Meu pai ministrava o Evangelho como quem ministra e impõe uma ordem

Acreditava cegamente na existência desse Deus que o matou

E tinha convicção de que era morrendo que se viveria para a vida eterna

Por isso morreu sorrindo e em estado de graça

Meu pai estava lindo no caixão

Tive ímpetos de pegar carona neste mesmo avião

Quando não o entendiam, abria-se em seu peito enorme ferida

Corria as mãos calejadas pelo trabalho massacrante pelo cabelo grisalho

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585 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

E ardia como um mancebo de dezoito anos na sua ira

Meu pai tinha um furor de justo

Era um Moisés do século XXI

Com o seu cajado imaginário

Separou em dois o mar vermelho de aflição da vida

Para que nós passássemos, um por um,

De encontro ao seu grande Deus

E as orações de meu pai surtiam milagres impossíveis

E eu tinha proteção enquanto ele viveu

Embora não acreditasse em seu Deus

De acordo com esse Deus que é amor e não mente

“Os próprios justos herdarão a terra e residirão sobre ela para todo sempre”,

“O próprio Deus estará com eles. E enxugará dos seus olhos toda a lágrima, e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto,

nem dor, nem clamor. As coisas anteriores já passaram”.

Eu vi a face da Morte

Ela passou ao meu lado zombeteira e incólume

Como se me alertasse da proximidade do meu dia

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586 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Era a noite de sexta-feira feita para a grande morte da continuação

De um herói chamado João

Meu pai, meu véio pai, João

Acho que eu venci a Morte

E sua prepotência

Porque você vive em meu coração

Eu sinto a sua permanência

Forte em minha vida

Me guiando os passos

Porque você, meu véio pai

Continuará presente em mim

E nos meus filhos e nos filhos dos meus filhos, de geração em geração

Até a consumação dos séculos, o Armagedon!!!!

(Para meu pai, João Soares de Souza, falecido aos 06 de junho de 1997, de parada cardíaca. Aos 72 anos de idade, meu pai não resistiu a uma delicada cirurgia no coração e a morte sorrateira o carregou para junto dela, feito um pacote no seu manto de cetim, encomendado por Deus (?), rasgando o meu peito e abrindo uma gigantesca feriada que remédio nenhum jamais conseguirá cicatrizar e cuja perda cobrarei de Deus quando me encontrar cara a cara com Ele.) - POEMA BASEADO NOS VERSOS DA POETISA LIA LUFT -.

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587 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*SENHORA INTEMPORAL* - (Para Fátima - 21/01/84)

ISAAC SOARES DE SOUZA

14 de setembro de 1983,

Entre 20,30 e 21 horas

De uma quarta-feira coberta de espanto,

Era véspera de dia santo,

Automóveis, pessoas anátemas

Se aglomeravam no meio-fio,

Ao longe sirenes anunciavam

Meus medos e calafrios,

Estendida no asfalto manchado de sangue:

Jazia Fátima, a rainha louca do mais baixo mangue

Santa Fátima de Bariri

Arrebatada na véspera do seu solene dia

Levando no ventre sua cria,

Que não chegou a ver a luz do dia,

Canonizada pela própria mãe

Sangue de minha prole corria em suas veias

Pois era fruto gerado por meu irmão

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588 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Numa noite de tórrida paixão

Meu irmão copulou com Santa Fátima

E os céus cobraram a herética bravata

A praça estourava com fogos de artifícios

E caía uma chuva fria

Enquanto ela era enterrada para sempre

Chorarei sobre o convés

Enquanto meu próprio barco não aderna

Pois a morte traiçoeira vem como procela

Saprófaga, vomitando o poderio do Seol

Eclipsando o fulgor do Sol

Que não mais brilhará sobre vós

A morte cumpriu seu ofício

E agora me quedo solitário em minha alcova

Mas eu sei que o Senhor vestiu-a de bela roupa das noivas

E como versejava o poeta:

Quem sonha o eterno gera eternidade

Deuses sintamo-nos portanto

Fátima eterna,

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589 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

O tempo há de deixar a marca dos teus dedos

Impressa na nossa insanidade

De não compreendê-la desvairada em sua loucura

Morrer é fácil

Pois para a morte vivemos

O difícil é continuar eterno

Certos de que morreremos!

Moça bonita, Senhora intemporal

Como dizer tua lembrança

Se vives a bailar em minhas adjacências

Mais viva do que viva,

Com seus sinais de poderio e permanência!!!

*SONOITE* - (Impressões da prisão)

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Pelo céu vasto do meu ser escuro

Rola do dia a desventura amarga

De prisioneiro rente ao muro

Imaginando a casa, grande e larga

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590 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Mas vem a tarde erma como os ciprestais

A pontilhar o pano os astros surgem e tecem,

Pensamentos, peças, teias teatrais

Por todos os pontos os fantasmas descem

Devagar maculando infinito

Um anjo cavalgando a vida vai

Levando o sono, as coisas, claro

E quieto feito a morte, e o grito

Dos desvalidos não se ouve mais;

A dor é um suspiro entre um abalo.

*IRONIA* - (A memória de Fátima)

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Associada beleza,

Como uma fita vermelha

Na boca, feita de cetim

Pelos faróis dos carros,

À suicida tristeza

A hora descia lúbrica

E vazia me envolveu,

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591 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

No tempo consumado

No beijo frio da cena

*CANÇÃO DA MORTE II*

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Ao correr dos dias

Vejo mais claros seus contornos

Sua presença mais sombria

Mais reluzentes seus adornos

Dona de todos os horizontes

Figura velha e inflexível

Ditas nas cidades e nos montes

Tua lei velha e temível

Ao soprar teu hálito gelado

Sobre tudo que perpassa e que seduz

Torna cadáver triste e incinerado

E toda vida em pó tudo reduz

Pronta sempre pra caçada

Como ave de rapina impiedosa

Com tua foice inclemente e afiada

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592 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Paira tranqüila, suprema e desdenhosa

Ao se abater sobre a vida indefesa

Traz nos olhos a certeza da vitória

Decreta o fim da alegria e da beleza

Somente nisto consiste tua glória

Mas sei o que procuras há muito tempo

Por mim, que insurpreso e sem pasmo,

Posso fazer disso um juramento,

Me estremecer contigo num orgasmo

Até que o tempo resolva essa batalha

Até que tu com couraças e tridentes

Sem que percebas nisso a tua falha,

Tenha aniquilado tudo, em todo ventre

Te sentarás também mendiga

E faminta num canto solitária

Recordarás chorando a ceifa antiga

E ao infinito volverás, já também morta e sedentária

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593 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*DEUS* - (QUILOMBO EM REBELDIA)

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Deus estuprou todas as palavras

Fez o que bem quis de suas lavras

E dormiu ermo, no seu céu tão confortável

Diminuindo a gente em massa detestável

Carregando a sua messe nas costas do cansado

Para um mundo que lhe desse mais regaço

Para que solene e justo castigasse

E nos escravos pecadores se lanhasse

A humanidade eternamente flagelada

Pelas cinzas do inferno condenada

Há de esquecer o gozo merecido

Até que surja o homem arrependido

Disso dúvidas não tenho e se safado

Me convertesse em escravo conformado

Vejo em sonho um quilombo em rebeldia

Que a noite temerosa com a lua se lambia

Inda que brilhasse um pensamento muito estranho

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594 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Nem por isso me tornaria seu rebanho

Que de passagem seus pastores prepotentes

Exerceriam as funções mais indecentes

Inventando a legião de anjos rebeldes

Constituindo então zelo inconteste

Permaneceria a reinar por séculos perduráveis

E a humanidade se fervesse em chamas indomáveis

Não deixou nenhuma chance de defesa

Para que o homem cheio de ciência e de beleza

Pudesse desenhar tranqüilo o seu destino

Sem a dor inventada por Deus, do desatino

*ANGÚSTIA* - (À memória de Graciliano Ramos)

ISAAC SOARES DE SOUZA - (Para Meu filho)

A construção da angústia

Como pústula

A impregnar a alma

Se manifesta em mim,

Nesta enxovia, preso entre paredes e grades

Como metástase

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595 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A me roer os ossos

E a esperança na justiça dos homens

Como escravo nos porões dos Navios Negreiros

Como prisioneiro acorrentado nas Galés,

Como um judeu sem desígnio nos Campos de Concentração de Auschwitz

Sem direitos, sem rumo

Desoladoramente triste

Meu nome não é mais ELIEZER

Aqui sou apenas mais um número

Não há um só justo sobre a face da Terra,

Triste verdade esse ditado encerra

A cela infestada de baratas e ratos

No espaço contrito que comporta monturos humanos

A mijarem a minha vida,

Meus livros, meus sonhos, meus poemas

Aqui a vida é deveras, pequena

Cheiro insuportável

De merda e urina

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596 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Exalado pela podre latrina

Aqui parece que os condenados

Em seu desespero pela liberdade

Defecam além de degetos alimentares,

Angústia e dor

Pelo ânus...

Descobri que a angústia e a dor fedem

Depois do galopar dos anos

Mas, aqui os animais peçonhentos

E insetos fedorentos

E o cheiro nauseabundo

Tornam-se nossos aliados

E partilham nossos segredos e medos

Mais dignos e humanos do que os humanos fardados

Que nos mantém como a animais enjaulados

É como se todos estivéssemos enterrados vivos

E despertos do estado de catalepsia

Mergulhássemos na angustia de cada dia

A vida engolida pela antropofagia da monotonia

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597 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Impropérios, arrependimentos,

Choros e lamentos,

Risos e homossexualidade,

Tramas, tortura, traições

Morte, morte, morte

Funesta sorte

Esguares de vingança

Aqui o mal fixou moradia

O Diabo instalou aqui uma filial do érebo

E investe sua fúria contra párocos e pastores

Ofertadores do perdão inexistente

Aos degenerados arrependidos

E a falsa promessa de perdão e do paraíso

Às vezes transforma mesmo água em vinho

Aqui nenhum santo faz milagre

Aliás, na prisão existem mais santos

Que apregoados homens santos

Negociadores do Evangelho

Aqui o Cristo crucificado

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598 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Não atende súplicas e nem perdoa pecados

Porque Ele sabe quem foi Pilatos

E quem concede o perdão é a pena do magistrado

Quase sempre um injusto togado

Nem a Virgem Maria atende nenhuma prece

Aqui o Diabo é mandatário maior

E nenhuma mãe pode amamentar seu rebento

Neste fosso de loucos e lazarentos

Até o néctar gozozo de uma vagina

É fel em qualquer língua

Talvez, por isso, Santa Teresa de Ávila

Ávida em seus desejos carnais

Tornou-se a musa dos desejos sensuais

De alguns dentre os prisioneiros pobres mortais

Pois, se Santa Teresa,

Doutora da Igreja

Cedia aos ímpetos sexuais de tarados celibatários

Por que não servir à uma casta malfazeja

De pecadores sem moral e condenados?

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599 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Facinorosos que se odeiam entre si

Mas, forçosamente se respeitam

Por conta dos códigos invioláveis do crime

Pedófilos e estupradores, aqui nenhum perdão os redime

E a morte iminente é a vingança que os elimine

Erigidos sob o signo da morte

Qualquer raio de sol que invade a cela

É um raio de esperança de uma longa espera

Onde a liberdade é só quimera

E demora uma era a chegar

E galgar muralhas e sentinelas

A angústia que de todos se apodera

Transforma meses de calabouço

Em prisão perpétua

Pois não há esperança que sobrepuje a angústia da espera

Aqui a esperança é a última que morre

Somente a coragem permanece incólume

Pois, a covardia neste antro humano

Conduz qualquer homem ao postigo e à morte

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600 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

O sistema penitenciário

É uma abissal indústria do crime

O mais degradante e perverso castigo humano

Mesmo porque o ser humano é maior que seu próprio erro

E nem mesmo o mais cruel dos homens merece o desterro

Antes a pena capital do que o exílio forçado de si mesmo...

*AMBIVALÊNCIA**AMBIVALÊNCIA**AMBIVALÊNCIA**AMBIVALÊNCIA*

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Se fiz de mim um engenho

Que fosse lírico e dividido,

Restou o consolo do empenho,

De tê-lo na verdade mais fingido

De todas as gotículas esparsas,

De tudo o que foi nobre ou espúrio

De nuvens brancas como farsas,

Um engenho mais sutil do que luxúrico

Inda que me acabasse por fazer,

De tanta coisa como a lua fria,

Que sabe à tempo esconder,

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601 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Do brilho envolvente da agonia

Inda que essa nuvem etílica

Desse empenho que é dois versos,

Essa fumaça constante de exílio,

À contrapor meus universos.

Por mais empenhado que eu esteja

No fluir desse engenho construído

Não chora minh´alma que festeja

Sobre os escombros, dele destruído

Para que o amor não seja uma ilusão,

Tão fácil e à mercê de linha reta

Para que a morte seja uma canção

Curva, impossível e incorreta

Um engenho que tão fútil,

Me faça um deus tirano e louco,

Para que todo bem eu ache útil

E todo mal eu ache pouco

Contradição de tanto sentimento

Um Deus que se esquecesse porque quer

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602 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Sem medo e sem ressentimento,

Pudesse se entender como quiser

Entre ódio e ternura tenham ambos

E ter-me sempre entre a vida e a morte

Corajoso, cruel e noctâmbulo,

Perdido de sonho entre o sul e o norte

Para que em cada grau de divisão,

Inteiro me fizesse repartido,

Um conchave traidor, de união

E vencendo me esquecesse do vencido.

Já que o tempo se esconde embora exista

Não pude na verdade tê-lo à mão,

Não quero no deságüe tê-lo à vista

Quando sem tempo de pecar ou de perdão

Que não me fizesse bêbado esse engenho,

Um sóbrio refúgio da realidade

O mistério embutido nesse empenho,

É aceitá-lo, como fingimento da verdade.

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603 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(O MAR É GRANDE. MAIOR É O HOMEM QUE FAZ DIQUES! O MAR (O MAR É GRANDE. MAIOR É O HOMEM QUE FAZ DIQUES! O MAR (O MAR É GRANDE. MAIOR É O HOMEM QUE FAZ DIQUES! O MAR (O MAR É GRANDE. MAIOR É O HOMEM QUE FAZ DIQUES! O MAR VAI NO EMBALO, O HOMEM O NAVEGA!!!) VAI NO EMBALO, O HOMEM O NAVEGA!!!) VAI NO EMBALO, O HOMEM O NAVEGA!!!) VAI NO EMBALO, O HOMEM O NAVEGA!!!)

---- Eliezer Soares de Souza Eliezer Soares de Souza Eliezer Soares de Souza Eliezer Soares de Souza ----

*SUA SANTIDADE MORREU*

ISAAC SOARES DE SOUZA - (04/04/2005)

Morreu o Papa

O Papa morreu

Antes ele do que eu

Morreu o Papa

Assim como morrerá ALI AGCA

Como morrem os sátrapas

Como morreram os santos

Que nunca foram santos

E outros tantos e quantos

Que ainda morrerão

Morreu Sua Santidade

Pereceu o santo Padre

Assim é a frágil vida

Ao pé da qual tudo se finda

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604 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Morreu o contemporâneo de Pedro

Que também morreu esquartejado e quedo

Assim como morreu crucificado numa Cruz

O Cristo que nos mostrou a luz!

Mas eu ainda permaneço aqui

Com a alma podrida

Morreu Wojtyla

Mas eu ainda não morri

A vida é um ledo e Ivo engano

O tempo que a toda forma de vida devora, soberano,

Se abateu saprófago sobre o Vaticano

A Morte: É este o nosso lote, dote e reino

A única certeza que desde o berço no dorso carrego

“Num fiapo de tempo, bem menor do que aquele

em que um estilhaço de estrela

resvala no céu escuro e cego, toda forma de vida conhecerá a morte”

os sinos da Basílica

dobram consternados pelo triste fim de Wojtyla

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605 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

chega ao término o pontificado de João Paulo!

Comovidos choram fiéis e infiéis

Em toda a extensão do mundo

O Papa peregrino da Paz, jaz

Sobre a mais fria laje

Até que um sucessor seja eleito

Em secreto e desconfiável pleito

Por um partidário conclave...

O Papa morreu

Num fiapo de tempo, morrerei eu

A genealogia cósmica da morte

É o orgasmo do desejo de Deus!

A morte matou o Papa,

O homem Karol Wojtyla morreu

Assim como morre o índio em sua taba,

O mendigo maltrapilho na calçada,

Crianças esfomeadas

E a fé no peito das almas escravizada,

Negros forros e proscritos

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606 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Tudo na vida perece

Só a morte permanece

Pusilânime e traiçoeira

Pois este é o nosso único e maldito

E fantasmagórico quinhão

Assim como morreram milhões de judeus

Nos dantescos Campos de Concentração

Sob os olhos justiceiros de Deus

Bruxos e sibilas queimados nas fogueiras

E a todo instante morre gente por falta de pão,

Morreu o Papa no berço sórdido da Inquisição!!!

*BABY BLUES**BABY BLUES**BABY BLUES**BABY BLUES* (Homenagem a Raul Seixas, Muddy Waters e

Elvis Presley)

ISAAC SOARES DE SOUZA & DOUGLAS “DODI” CARNEIRO - (HANGAR XVIII) - CD “ORIGINAL”/2007 - GRAVADORA NADYR CALVI RECORDS

E se eu vociferar que te amo, assim,

Baby, de cara e coração

Prostrado a teus pés,

Em óbvia confissão?

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607 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Sem você eu não vejo razão!

Quando você se foi trocando os papéis

Acusando os blueseiros de infiéis

Me dizendo não

Em toda a ilusão

Me deixando sozinho

Na escuridão...

Posso imitar o homem de Memphis,

Love me Tender, Muddy ou soul

Vou cantar pra você “A Hora do Trem Passar”

E você vai sofrer se pra mim não voltar

Vai juntar os meus cacos

Vai pegar minha mão

Vai dizer que me ama

Vai pedir meu perdão

Vou cantar pra você

“A Hora do Trem Passar”

E você vai sofrer se pra mim não voltar...

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608 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*IMPOTÊNCIA*

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Meu cão estava morto

Morto estava meu cão

Estupidamente morto

Pouco antes disso,

Viu-me com ver indecifrável

Sorriu para um sol frígido

E ganiu da nossa dor, ou do meu medo

Riscou num espasmo último,

Convulso, com unhas rígidas

Nosso atestado de impotência;

No chão.

*SE A VIDA FOSSE*

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Se a vida se resumisse em por de sóis

Só em canto de pássaros

E música divina de harpa eólia

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609 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Ou fosse como num supermercado

Toda entregue, pronta, engarrafada.

Pluricolorada.

Essa poesia seria liríssima,

Resplendente,

Macia, primaveril,

Tal vale matizado de luzes e pétalas.

*LUA DE MELANCOLIA*

ELIEZER SOARES DE SOUZA

A lua nua valsa

No fundo denso

Da música desolada

E silenciosa da amplidão

O mundo e a solidão

Que são tão grandes

Torna audível o teu adágio

Teu facho vara a boca

E rima a soledade

Da hora sem tristeza

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610 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Sem Deus

Sem nada.

*PSICODÉLICA DA PRISÃO*

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Compro num guichê de ferro

Uma passagem de esquecimento

Goteiras de vidro se repartem,

Uma boca come na televisão

Estilhaços duros e lentos de sonhos

À dez quilômetros de sábado

Alguém recolhe marmitas

Restos de passatempo mascável

Exercício sem sal de maxilares;

Cores menosprezam a dureza dos dentes,

Uma moça caminha num terminal rodoviário

E a cidade se abre sozinha

Não sou divino, nem sou eu

Levemente vejo, ou nem sei, é secundário

Marijuana me sorria fascícula

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611 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Enciclopédica ilustrada, exemplarmente

Quieta, recostada à uma banca de jornais

_____________________________________________________________

Ao ser convidado pelo amigo e companheiro Isaac, para participar desse novo trabalho literário em homenagem ao nosso grande mestre Raul Seixas, me senti muito lisonjeado, e assim resolvi deixar um texto em homenagem ao autor deste importante trabalho e claro, ao eterno Raul.

Raul Seixas é o Pai do Rock no Brasil, mesmo que alguns roqueiros como Frejat, do Barão Vermelho insistam em negar essa verdade, talvez por preconceito pelo nosso baiano Raulzito ou por algum outro motivo que desconhecemos, não interferem na obra e no trabalho que esse baiano de Salvador, diferente de seus conterrâneos, desenvolveu ao longo de sua caminhada como cantor e compositor, músico e produtor musical, entre tantas outras coisas que fez nosso eterno Maluco Beleza. É indiscutível o amor de Raul pelas filhas, sem distinção, mas a convivência com Vivian, filha de Raul e Ângela (que ficou conhecida como Kika Seixas, eterna esposa de Raul), a fez amar e idolatrar o paizão, que sempre a acompanhava e brincava com muito humor e alegria característicos de um homem sensível e bondoso. Esse gênio esboçado, essa criança louca, esse filho da dor, nos proporcionou um conhecimento muito abrangente da música brasileira e de nossas próprias vidas,, pois

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612 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

através do som de Raul Seixas, viajamos sem sair do lugar, conhecendo muitas coisas que alguns, assim como eu, jamais pensariam em conhecer se não fosse através de Raul Seixas e sua música.

Confesso que fui pego de surpresa com o convite do Isaac, aliás, outra grande fonte de inspiração desse que aqui escreve, pois ao conhecê-lo vi nesse raulseixista louco, um maluco beleza, que supera as dificuldades que a vida nos impõe e continua a escrever sobre Raul e pesquisar mais e mais para nos apresentar uma obra completa. Descobri no amigo Isaac um verdadeiro pai, um pai que entende o que eu sinto e o que quero e não um pai que me compra Sapato 36 enquanto eu calço 37 e sim um pai que segura a minha mão para eu não fraquejar. Meu pai verdadeiro é também um grande amigo, mas somos diferentes e com o Isaac me identifico como raulseixista, como amante da boa música, como irmãos.

Digo, para finalizar, a todos os raulseixistas do universo, pois Raul é interplanetário: Curtam a vida, curtam a música, sejam eternamente assim como são, sejam vocês mesmos, independente de todo o resto.

Viva a Sociedade Alternativa! Viva a Liberdade! Abaixo o Capitalismo Selvagem, que consome nossos artistas! Salve eternamente Raul Santos Seixas!!!!!!!!!!

(LANDERSON APARECIDO BATISTA (Landerson Batata)

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613 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

“OS OLHOS DE QUEM AMA ENXERGAM ALÉM DA SIMPPLES VISÃO, VÃO AO FUNDO DO CORAÇÃO E REFLETEM A PAIXÃO E O TESÃO DOS CORPOS QUE SE ENTRELAÇAM NAS MADRUGADAS FRIAS E INTERMINÁVEIS, ATÉ QUE SE ENCONTREM. SER FELIZ É MAIS QUE UM DIREITO, É UMA OBRIGAÇÃO!”

*TRIBUTO A RAUL SEIXAS**TRIBUTO A RAUL SEIXAS**TRIBUTO A RAUL SEIXAS**TRIBUTO A RAUL SEIXAS*

Landerson Batata

Existem várias canções

Existem várias poesias

Existem várias profecias

Nem mesmo a mais bela canção do mundo

Compara-se à sua mais pobre

Nenhuma poesia se compara à das suas canções

Nenhuma profecia se compara à GERAÇÃO DA LUZ

Nenhum maluco é tão beleza

Existem muitos mitos

Existem muitos cantores e compositores

Existem várias vozes

Existem vários olhares

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614 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Nenhum mito é digno de ocupar o seu lugar

Nenhum cantor é tão compositor como você

Nenhuma voz se compara à sua tão renitente

Nenhum olhar é mais puro do que seus óculos escuro

Existem várias mensagens

Existem muitas ideologias

Existem muitas opiniões sobre o país

Existem muitos homens

Existem inúmeros com o seu nome

Nenhuma mensagem marcou mais que a de:

POR QUEM OS SINOS DOBRAM e TENTE OUTRA VEZ

Nenhuma ideologia é mais sincera que a tua

Nenhuma das opiniões sobre o país se compara à:

SE NÃO FOSSE O CABRAL

Nenhum homem se compara com Raul

Nenhum Raul nunca será tão louco e lúcido ao mesmo tempo,

O Presente Representa a sua Imortalidade!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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615 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Isaac Soares de Souza e Landerson Batata

Sou um combatente implacável, Um kão vadiu sem pedigree

Mercenário, rockabilly, que ama a guerra,

mas que faz tudo para a evitar Só deseja a reconciliação depois

de terminado o conflito, Depois das mortes das dores e dos gritos

é que eu paro e reflito: Será que a violência faz parte do rito

da vida podrida, Será que a morte

é irmã gêmea da vida? Ninguém ama ninguém,

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Isaac Soares de Souza e Landerson Batata)

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616 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

ninguém respeita ninguém Todos moldados a ferro e fogo,

porque assim convém A religião é um manicômio de almas

Por isso só o rock me acalma e me dá voz pra falar

tenho a minha tribuna, quero mais é cantar e uivar

No meu kanil nenhum pitibul vai mandar...

_____________________________

(O DIABO VIROU ERMITÃO)

Isaac Soares de Souza & Alvaro Moreyra

Espalharam que o Diabo,

Depois de velho, se fez ermitão.

Foi morar nas montanhas do Afeganistão

Deus ditou os Dez Mandamentos a Moisés

Então foi o Diabo que ditou o Alcorão

Mas quem mantém a Besta viva é a religião

O reino dos céus é do chato, do otário e do cagão, do cagão

Dizia o poeta Cazuza num rasgo de inspiração

Se tudo é verdade,

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617 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Por que continua a podre humanidade

A pôr a culpa de todos os males no Diabo?

O Diabo sempre foi um anjo mal julgado

Como viverá agora o antigo revolucionário

Em algum lugar do mundo,

Do jardim da casa de campo onde se refugiou

Com sua guitarra imaginária toca blues e rock´n´roll,

Vive o Diabo, simples e tranqüilo,

Com todos os sentimentos de paz,

De ter feito pelo mundo

O que nenhum homem faz:

Se rebelar contra qualquer poder massacrante

Ter o pensamento livre de qualquer mandante

Poucos livros na estante:

Horácio, Epicuro, Heine, Francis Jammes,

A Bíblia, o Alcorão, a Divina Comédia, Dom Quixote...

O Diabo é das vésperas da inauguração do mundo

Esse eterno e odiado giramundo

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618 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

É o pai da revolução humana

O Diabo é o pai do rock

Quem sabe se o levante que o baniu do céu

Não levou Deus a criar a Morte,

Que nos faz esquecer de viver

Há uma grande melancolia no verbo Voltar,

Que na verdade ninguém consegue conjugar...

Ninguém volta da Morte, que é eterna como o Diabo

Eis aí o seu único pecado

A inteligência humana é estreita

Ninguém sacou que a palavra “DIABO” quer dizer

Liberdade, nunca poder...

Quem sacou o lance foi o baiano Raul Seixas

O Diabo é o pai do rock

Enquanto Freud explica

O Diabo dá os toques

Então, é everybody e rock...

______________________________

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619 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

GANGSTER

Isaac soares de Souza/2010

Eu quero morrer como um gangster,

Assim como morreu o rei do rock, Raul Seixas,

Assim como haverá de morrer o discípulo maluco beleza,

Marcelo Nova

Dane-se em que cova

Meu corpo será enterrado,

Qualquer esquife barato comportará meus restos,

Não quero choro nem velas

Longe de mim as exéquias

Porque gente não presta

Não quero mediocridade nem na hora da morte

Nem missa de sétimo dia

Não quero padre e nem pastor

Encomendando minha alma aos braços do Senhor

Pertenço à escória

E a morte vai me levar embora

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620 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Com destino ao inferno,

Não quero o marasmo do paraíso

Lá não tem rock e os anjos não trepam,

Todos louvam a Deus

E mais um mundo de mediocridade

É coisa de que não preciso

O meu juízo eu mesmo decretei

Ao abraçar a morte me desliguei

De toda e qualquer falsa esperança

A vida é o dom mais precioso

Tem de ser vivida em contraste com a morte

Bem ou mal

Pois o cemitério é o seu legado,

Ali, cadavérico e enterrado,

Banquete de vermes

Mais nenhuma esperança restará

Nem Deus e nem o Diabo,

Nenhuma força maior te resgatará

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621 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

E isso é só o fim

Do sonho da continuação

Não se desespere, não, não seja um cagão

Um homem morre como um gangster

Quando ele morre com a certeza

De que em vida não foi um vendilhão do templo

Nunca se prostrou de quatro, nunca deu o rabo

Pro falo do poder...

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622 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Luiza Maria - Eu Queria Ser um Anjo (1975)

Compositora e poeta carioca foi uma das primeiras a gravarem música inédita de Raul Seixas e Paulo Coelho. A gravadora Phonogram tinha planos de transformá-la na

Janis Joplin brasileira.

(foto: Conceição Almeida)

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623 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(O PRÍNCIPE VALENTE)

Raul Seixas e Paulo Coelho

Gravação inédita e original: LUÍZA MARIA

Cansei do amor preto e branco da vida real

Entrei pelas cores do livro medieval

As nuvens douradas do espaço A minha armadura de aço A minha espada de ouro Um par de luvas de couro

E sete montanhas pra conquistar

O som de trombetas e o reino ficou lá pra trás

Montado na calda de um vento que leva e não traz

Vivendo por dentro e por fora um bom cavaleiro não chora não tem saudade de nada só pensa mesmo na estrada

e sete montanhas pra conquistar.

Cantando amor por mim mesmo eu posso te amar

Nas velhas lembranças do vento nas ondas do mar

Derrubo as sete montanhas Percorro os doze caminhos

Me perco no sonho e na selva pra te conquistar

Meu amor

Entrando nos contos de fadas pra te procurar

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624 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Na década de 70, tão logo Rita Lee deixou de

pertencer à Phonogram, que a gravadora desesperadamente procurava uma alternativa para

substituir a lacuna deixada pela roqueira paulistana. Foi então, que, Jim Capaldi, baterista do TRAFIC apareceu no escdritório da gravadora e indicou o nome de Luíza Maria. O baterista do TRAFIC, na época manteve um namoro com a garota que tinha então, 21 anos, era fã de rock, muito linda e filha de família classe média alta. Luíza era dona de um vozeirão e estava à altura para substituir Rita Lee. Para o seu disco de estréia a

Phonogram contou com a participação de grandes músicos e Paulo Coelho entregou uma letra a musa, que ela musicou com extrema habilidade e a canção

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625 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

NA CASCA DO OVO, transformou-se numa das canções preferidas de Paulo Coelho. Raul Seixas e Paulo Coelho deram para Luíza Maria a música inédita O PRÍNCIPE VALENTE, para contribuírem com o sucesso do disco, pois os dois amigos era uma dupla de compositores cultuada na época. O disco “EU QUERIA SER UM

ANJO”, não obteve o sucesso esperado, porque Luíza Maria era uma garota muito louca, esnobe e mimada e a pretensão da Phonogram, de transformá-la na nova Janis Joplin brasileira deu com os burros n´água,

mesmo porque, Luíza Maria se recusava a participar de qualquer programa de rádio, TV e não se apresentava em shows. O projeto foi abortado imediatamente e o

nome de Luíza Maria foi esquecido, mas o seu primeiro disco transformou-se num dos discos mais cults da história da MPB, uma raridade que contêm uma canção inédita de Raul Seixas e Paulo Coelho. Atualmente, Luíza Maria se apresenta em casas de shows no Rio de Janeiro e tornou-se uma grande poeta. Recentemente publicou através da Editora 7 Letras, o livro SAVE AS, com poemas excelentes.

Gravado em 1975, o LP "Eu queria ser um anjo" foi o disco de estréia da cantora carioca Luiza Maria. Produzido por Sérgio de Carvalho, contou com a participação de Jim

Capaldi, Lulu Santos, Rick Ferreira, Antonio Adolfo, Chico Batera, Arnaldo Brandão, Gustavo Schroeter, Dadi Carvalho e Mú Carvalho, que atuaram sob produção musical de Sérgio

Carvalho e coordenação musical de Rick Ferreira. O repertório é composto, além de músicas próprias, de uma

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626 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

parceria com Paulo Coelho e Rick Ferreira ("Na casca do ovo") e uma composição de Raul Seixas e Paulo Coelho ("O

príncipe valente").

Ainda na década de 1970, Luiza Maria participa como vocalista de shows de Tim Maia (1977) e Ivan Lins (1978), em São Paulo, e da gravação de duas faixas do LP Chão de

giz (1976).

Participou, como cantora e compositora, da trilha sonora da novela Elas por elas (Rede Globo), em 1982, com a música "Música e letra" (c/ Sérgio Natureza), da trilha sonora do filme Fulaninha (1985), de David Neves, com "Linda Star"

(c/ Sérgio Natureza), e da trilha sonora da minissérie Contos de verão (Rede Globo), em 1993, com "Água e

choro" (c/ Sérgio Natureza).

Em 1993, lançou o CD Tarântula (Leblon Records), contendo uma cover dos Beatles ("Can’t buy me love") e uma regravação de Noel Rosa ("Último desejo"). O disco

teve arranjos assinados por Marcio Montarroyos e Raymundo Nicioli, além da própria cantora, responsável também pela

produção.

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627 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Save as Luiza Maria Xavier

Simultaneamente delicado e arrojado, “Save as” é uma janela para o trabalho poético da cantora e compositora carioca Luiza Maria. Mesclando línguas como o português, inglês e francês, brincando com o jargão informático e unindo as linguagens da bossa, tecno e do samba, Luiza tece uma poesia ao mesmo tempo reflexiva e lírica, fluida e ágil, hipnótica. O livro, com design de Victor Burton e ilustrações de Anibal Mancini, inclui um cd com os poemas musicados e cantados pela autora. Editora 7 Letras-RJ

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628 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:

Páginas 10, 13, 16, 20 e 21, Páginas 10, 13, 16, 20 e 21, Páginas 10, 13, 16, 20 e 21, Páginas 10, 13, 16, 20 e 21, todas as fotos foram reproduzidas todas as fotos foram reproduzidas todas as fotos foram reproduzidas todas as fotos foram reproduzidas da extinta Revista “SÉTIMO CÉU”. São fotos inéditas de Raul da extinta Revista “SÉTIMO CÉU”. São fotos inéditas de Raul da extinta Revista “SÉTIMO CÉU”. São fotos inéditas de Raul da extinta Revista “SÉTIMO CÉU”. São fotos inéditas de Raul Seixas, feitas Seixas, feitas Seixas, feitas Seixas, feitas pelas mãos hábeis do fotógrafo Gaston Guglielmi.pelas mãos hábeis do fotógrafo Gaston Guglielmi.pelas mãos hábeis do fotógrafo Gaston Guglielmi.pelas mãos hábeis do fotógrafo Gaston Guglielmi.

Página 10Página 10Página 10Página 10, foto reproduzida da Revista “AMIGA”, década de 1970., foto reproduzida da Revista “AMIGA”, década de 1970., foto reproduzida da Revista “AMIGA”, década de 1970., foto reproduzida da Revista “AMIGA”, década de 1970.

Página 15Página 15Página 15Página 15, desenho de Isaac Soares de Souza, desenho de Isaac Soares de Souza, desenho de Isaac Soares de Souza, desenho de Isaac Soares de Souza

Página 17Página 17Página 17Página 17, foto inédita de Raul Seixas, de Carlos Bigode (Caieiras, foto inédita de Raul Seixas, de Carlos Bigode (Caieiras, foto inédita de Raul Seixas, de Carlos Bigode (Caieiras, foto inédita de Raul Seixas, de Carlos Bigode (Caieiras----SP)SP)SP)SP)

Página 18Página 18Página 18Página 18, foto doada pelo próprio Raul, em 1983, foto doada pelo próprio Raul, em 1983, foto doada pelo próprio Raul, em 1983, foto doada pelo próprio Raul, em 1983

Página 38Página 38Página 38Página 38, foto inédita de Raul Seixas, de Carlos Bigode (Caieiras, foto inédita de Raul Seixas, de Carlos Bigode (Caieiras, foto inédita de Raul Seixas, de Carlos Bigode (Caieiras, foto inédita de Raul Seixas, de Carlos Bigode (Caieiras----SP)SP)SP)SP)

Página 45Página 45Página 45Página 45, foto do fotógrafo Jeann Luiz Guerra e doada por Kika , foto do fotógrafo Jeann Luiz Guerra e doada por Kika , foto do fotógrafo Jeann Luiz Guerra e doada por Kika , foto do fotógrafo Jeann Luiz Guerra e doada por Kika Seixas.Seixas.Seixas.Seixas.

Página 46Página 46Página 46Página 46, fotos de Elvis , fotos de Elvis , fotos de Elvis , fotos de Elvis Presley usadas para divulgação de seus Presley usadas para divulgação de seus Presley usadas para divulgação de seus Presley usadas para divulgação de seus filmes, reproduzidas.filmes, reproduzidas.filmes, reproduzidas.filmes, reproduzidas.

Página 47Página 47Página 47Página 47, desenho intitulado ELVIS THE PÉLVIS, ilustração: Isaac , desenho intitulado ELVIS THE PÉLVIS, ilustração: Isaac , desenho intitulado ELVIS THE PÉLVIS, ilustração: Isaac , desenho intitulado ELVIS THE PÉLVIS, ilustração: Isaac Soares de Souza/1995.Soares de Souza/1995.Soares de Souza/1995.Soares de Souza/1995.

Página 49Página 49Página 49Página 49, do fotógrafo Ruy de Campos (Raul Seixas, O , do fotógrafo Ruy de Campos (Raul Seixas, O , do fotógrafo Ruy de Campos (Raul Seixas, O , do fotógrafo Ruy de Campos (Raul Seixas, O Carpinteiro do UniversCarpinteiro do UniversCarpinteiro do UniversCarpinteiro do Universo), em sua última foto. Reprodução: Revista o), em sua última foto. Reprodução: Revista o), em sua última foto. Reprodução: Revista o), em sua última foto. Reprodução: Revista Manchete/1989.Manchete/1989.Manchete/1989.Manchete/1989.

Página 55Página 55Página 55Página 55, Raul Seixas em 1973. Reprodução., Raul Seixas em 1973. Reprodução., Raul Seixas em 1973. Reprodução., Raul Seixas em 1973. Reprodução.

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629 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Página 71Página 71Página 71Página 71, O BAÚ DO RAUL, foto de capa do livro homônimo, , O BAÚ DO RAUL, foto de capa do livro homônimo, , O BAÚ DO RAUL, foto de capa do livro homônimo, , O BAÚ DO RAUL, foto de capa do livro homônimo, publicado pela Editora Ediouro. Reprodução.publicado pela Editora Ediouro. Reprodução.publicado pela Editora Ediouro. Reprodução.publicado pela Editora Ediouro. Reprodução.

Página 102Página 102Página 102Página 102, Lília, Lília, Lília, Lílian Knapp/2003. Foto doada pela própria Lílian. n Knapp/2003. Foto doada pela própria Lílian. n Knapp/2003. Foto doada pela própria Lílian. n Knapp/2003. Foto doada pela própria Lílian. Divulgação.Divulgação.Divulgação.Divulgação.

Página 104Página 104Página 104Página 104, Celly Campello, a primeira rainha do rock nacional. , Celly Campello, a primeira rainha do rock nacional. , Celly Campello, a primeira rainha do rock nacional. , Celly Campello, a primeira rainha do rock nacional. Reproduzida da Revista Bizz.Reproduzida da Revista Bizz.Reproduzida da Revista Bizz.Reproduzida da Revista Bizz.

Página 115Página 115Página 115Página 115, fotos de Bob Dylan, reproduzidas., fotos de Bob Dylan, reproduzidas., fotos de Bob Dylan, reproduzidas., fotos de Bob Dylan, reproduzidas.

Página 120Página 120Página 120Página 120, Nostradamus, cujas, Nostradamus, cujas, Nostradamus, cujas, Nostradamus, cujas sinistras profecias ainda causam sinistras profecias ainda causam sinistras profecias ainda causam sinistras profecias ainda causam muita discussão e inspira muitos compositores. Reprodução.muita discussão e inspira muitos compositores. Reprodução.muita discussão e inspira muitos compositores. Reprodução.muita discussão e inspira muitos compositores. Reprodução.

Página 128Página 128Página 128Página 128, Foto inédita de Roberto Seixas, doada por ele próprio , Foto inédita de Roberto Seixas, doada por ele próprio , Foto inédita de Roberto Seixas, doada por ele próprio , Foto inédita de Roberto Seixas, doada por ele próprio para este livro.para este livro.para este livro.para este livro.

Página 141Página 141Página 141Página 141, Caricatura de Falcão e capa de seu , Caricatura de Falcão e capa de seu , Caricatura de Falcão e capa de seu , Caricatura de Falcão e capa de seu livro “FALCÃO E livro “FALCÃO E livro “FALCÃO E livro “FALCÃO E HETERÔNIMOS HETERÔNIMOS HETERÔNIMOS HETERÔNIMOS –––– LERUAITE”, criação de Klévisson Viana.LERUAITE”, criação de Klévisson Viana.LERUAITE”, criação de Klévisson Viana.LERUAITE”, criação de Klévisson Viana.

Página 143Página 143Página 143Página 143, Raul Seixas em pleno show, foto de Carlos Bigode , Raul Seixas em pleno show, foto de Carlos Bigode , Raul Seixas em pleno show, foto de Carlos Bigode , Raul Seixas em pleno show, foto de Carlos Bigode (Caieiras(Caieiras(Caieiras(Caieiras----SP)SP)SP)SP)

Página 150Página 150Página 150Página 150, Raul e Marcelo Nova, soltando os cachorros em show , Raul e Marcelo Nova, soltando os cachorros em show , Raul e Marcelo Nova, soltando os cachorros em show , Raul e Marcelo Nova, soltando os cachorros em show inédito. Foto de inédito. Foto de inédito. Foto de inédito. Foto de Carlos Bigode (CaieirasCarlos Bigode (CaieirasCarlos Bigode (CaieirasCarlos Bigode (Caieiras----SP)SP)SP)SP)

Página 151Página 151Página 151Página 151, foto inédita de Raul Seixas no Programa do , foto inédita de Raul Seixas no Programa do , foto inédita de Raul Seixas no Programa do , foto inédita de Raul Seixas no Programa do BOLINHA, doada por Paulo Rodrigues, presidente do Fã Clube BOLINHA, doada por Paulo Rodrigues, presidente do Fã Clube BOLINHA, doada por Paulo Rodrigues, presidente do Fã Clube BOLINHA, doada por Paulo Rodrigues, presidente do Fã Clube Grafitti Sociedade AlternativaGrafitti Sociedade AlternativaGrafitti Sociedade AlternativaGrafitti Sociedade Alternativa----SP.SP.SP.SP.

Página 158Página 158Página 158Página 158, Foto inédita de Elis Regina, , Foto inédita de Elis Regina, , Foto inédita de Elis Regina, , Foto inédita de Elis Regina, reproduzida da extinta reproduzida da extinta reproduzida da extinta reproduzida da extinta Revista Intervalo.Revista Intervalo.Revista Intervalo.Revista Intervalo.

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630 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Página 163Página 163Página 163Página 163, desenho inédito de Belchior. Ilustração de Isaac , desenho inédito de Belchior. Ilustração de Isaac , desenho inédito de Belchior. Ilustração de Isaac , desenho inédito de Belchior. Ilustração de Isaac Soares de Souza.Soares de Souza.Soares de Souza.Soares de Souza.

Página 233Página 233Página 233Página 233, foto inédita de Kika Seixas e Vivian Seixas, doada , foto inédita de Kika Seixas e Vivian Seixas, doada , foto inédita de Kika Seixas e Vivian Seixas, doada , foto inédita de Kika Seixas e Vivian Seixas, doada pela própria Kika, exclusiva para este pela própria Kika, exclusiva para este pela própria Kika, exclusiva para este pela própria Kika, exclusiva para este livro. Foto de Cláudio livro. Foto de Cláudio livro. Foto de Cláudio livro. Foto de Cláudio Thompson.Thompson.Thompson.Thompson.

Aos nomes maiores da fotografia artística, que deixei de citar Aos nomes maiores da fotografia artística, que deixei de citar Aos nomes maiores da fotografia artística, que deixei de citar Aos nomes maiores da fotografia artística, que deixei de citar neste espaço, peço extremadas escusas, pois não me foi possível neste espaço, peço extremadas escusas, pois não me foi possível neste espaço, peço extremadas escusas, pois não me foi possível neste espaço, peço extremadas escusas, pois não me foi possível localizálocalizálocalizálocalizá----los e espero que alguns dos fotógrafos neste livro los e espero que alguns dos fotógrafos neste livro los e espero que alguns dos fotógrafos neste livro los e espero que alguns dos fotógrafos neste livro rrrreproduzidos, entrem em contato comigo, mesmo porque, numa eproduzidos, entrem em contato comigo, mesmo porque, numa eproduzidos, entrem em contato comigo, mesmo porque, numa eproduzidos, entrem em contato comigo, mesmo porque, numa próxima edição quero dar crédito a todos e excluir algum que não próxima edição quero dar crédito a todos e excluir algum que não próxima edição quero dar crédito a todos e excluir algum que não próxima edição quero dar crédito a todos e excluir algum que não me permita divulgar seu trabalho fotográfico e/ou que se sinta me permita divulgar seu trabalho fotográfico e/ou que se sinta me permita divulgar seu trabalho fotográfico e/ou que se sinta me permita divulgar seu trabalho fotográfico e/ou que se sinta lesado em seus direitos. A todos olesado em seus direitos. A todos olesado em seus direitos. A todos olesado em seus direitos. A todos o meu muito obrigado.meu muito obrigado.meu muito obrigado.meu muito obrigado.

RAUL SEIXAS - BIBLIOGRAFIA

*JORNAL “O DIA” (Domingo)

*JORNAL “INTERNATIONAL MAGAZINE” – RJ

*REVISTA POP – 1973

*JORNAL DE MÚSICA

*REVISTA BIZZ/SHOW BIZZ

*REVISTA AMIGA

*REVISTA MANCHETE

*REVISTA SÉTIMO CÉU

*REVISTA CONTIGO

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631 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*REVISTA IN FOCO

*REVISTA VISÃO

*REVISTA VEJA

*REVISTA SOM TRÊS

*FANZINE NUIT (Novo Aeon Fã Clube/Raul Rock Seixas-1987)

*JORNAL FONOGRAMA

*JORNAL O GLOBO – RJ

*JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO

*JORNAL DO BRASIL – RJ

*JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO

*JORNAL NOTÍCIAS POPULARES

*JORNAL FOLHA DE LONDRINA – PR

*JORNAL PRIMEIRA PÁGINA – (São Carlos-SP)

*JORNAL A FOLHA – (São Carlos-SP)

*JORNAL A TRIBUNA – (São Carlos-SP)

*JORNAL MUNDO MÍDIA – (São Carlos-SP), editado pelo Novo Aeon Fã Clube/Raul Rock Seixas.

Page 632: Raul Seixas o Verbaloide.pdf

632 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*ARQUIVO RAUL SEIXAS – (Novo Aeon Fã Clube/Raul Rock Seixas)

*ARQUIVO FOTOGRÁFICO RAUL SEIXAS – (Carlos Bigode)

*ZÉ RAMALHO OFICIAL FÃ CLUBE – Brasília-DF

*RAUL ROCK CLUB – (Sylvio Passos – São Paulo-SP)

*THILDO GAMA

*JORNAL FOLHA FERREIRENSE – (Porto Ferreira-SP)

*JORNAL PORTOBLUES – (Porto Alegre-RS)

*REVISTAS “A SENTINELA e DESPERTAI” – (Testemunhas de Jeová – publicações da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Textos referentes à II GUERRA MUNDIAL.)

*O SOBREVIVENTE – Memórias de um brasileiro que escapou de Auschwitz – (Editora Record) – Aleksander Henryk Laks e Tova Sender.

*MANUAL DO IDIOTA BEM-SUCEDIDO – (Editora Soco na Cara) - (Agradecimentos especiais ao escritor AL SÁDIC, de cujo livro retirei alguns trechos para complementar os meus escritos sobre a falência moral da humanidade. Manual de um idiota bem-sucedido, realmente é um “soco na cara” dos idiotas.)

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633 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS:AGRADECIMENTOS ESPECIAIS:AGRADECIMENTOS ESPECIAIS:AGRADECIMENTOS ESPECIAIS:

Às amigas de trabalho BETE e ANDRÉIA (Aluada).Às amigas de trabalho BETE e ANDRÉIA (Aluada).Às amigas de trabalho BETE e ANDRÉIA (Aluada).Às amigas de trabalho BETE e ANDRÉIA (Aluada).

Ao grande amigo Nelson Prado, Carlos Bigode, que Ao grande amigo Nelson Prado, Carlos Bigode, que Ao grande amigo Nelson Prado, Carlos Bigode, que Ao grande amigo Nelson Prado, Carlos Bigode, que

recentemente produziu o magnífico CD “FILHOS DE recentemente produziu o magnífico CD “FILHOS DE recentemente produziu o magnífico CD “FILHOS DE recentemente produziu o magnífico CD “FILHOS DE

RAUL” e ao amigo LAMPIÃO.RAUL” e ao amigo LAMPIÃO.RAUL” e ao amigo LAMPIÃO.RAUL” e ao amigo LAMPIÃO.

*A todos os raulseixistas dignos, que não fazem uso da obra musical e filosófica de Raulzito para se promoverem e com isso tirar uma lasquinha do Ouro... de tolo...

*Elomar

*Dona Lucinha Araújo

*Williams – (Fã Clube ZÉ Ramalho)

*Dona Maria Eugênia Seixas – (In memoriam)

*Raul Varella Seixas – (In memoriam)

*Costa Senna – (poeta e repentista)

*Roberto Seixas

*Cássio – (Cassião)

*Rita Lee

*Gal Costa

*Zeca Baleiro

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634 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*Chico César

*Lenine

*Falcão

*Simone

*Ana Maria Bahiana

*Edvaldo Santana

*Wilson Aragão

*Toninho Buda

*Grillo Verguero

*Eliezer Pires Junqueira de Souza – (meu sobrinho e raulseixista)

*Pepe Escobar

*Belchior

*Zé Geraldo

*BIGA – (Abigail da Silva Brussolo)

*Rosemari Maba – (O Anjo Torto de Blumenau-SC)

*Flávio Grigoleto

*Jorge Mautner – (O Profeta do Kaos)

*Valdeci Martins

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635 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

*Afonsina C. Nobre

*Eliseu Soares de Souza (Meu irmão)

*Eliezer Soares de Souza (Meu irmão, escritor, poeta e raulseixista-mor)

*Milca Soares de Souza (Minha filha)

*Isac Leite do Nascimento (Meu filho, desenhista responsável por algumas ilustrações presentes neste livro, baterista e DJ)

*ELIEZER SOARES DE SOUZA - (Meu filho, também poeta e a quem devo a minha iluminação, pois me ensinou a enxergar a vida com olhos de lince e a moderar meu senso crítico em relação às pessoas. Te amo, filho!)

Ao amigo HULKABILLY, comandante do genial grupo KÃES VADIUS e meu parceiro musical, que acabou de sair do kovil para uivar nos guetos brasileiros. Cuja alcatéia de kães vadius ladra o mais puro rockabilly nacional.

Ao genial parceiro SPM RIPPER, comandante do site www.casaderock.com.br, um dos mais completos sites de rock´n´roll já criados. SPM postou em seu site, meu livro RAUL SEIXAS: O HOMEM QUE DEIXOU A VIDA PARA ENTRAR NA HISTÓRIA para download gratuito. No site www.casaderock.com.br você pode e tem a liberdade de escolher entre os únicos caminhos existentes: Highway to hell ou a vereda que conduz a todas as vertentes do rock nacional e internacional. SPM RIPPER ainda é o criador do meu site: www.isaac.casaderock.com.br

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636 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

A minha amiga, pintora e escritora Viviane Fair, que criou a saga vampiresca mais brasileira que se tem conhecimento e que não tem nada a ver com Bento Carneiro, o Vampiro brasileiro, mas contêm a mesma sagacidade e humor do personagem criado por Chico Anísio. Viviane Fair conseguiu ultrapassar a saga internacional CREPÚSCULO, em sagacidade e enredo.

Ao amigo editor, poeta e escritor e filósofo MPR (Marcelo Pereira Rodrigues)

A amiga raulseixista Wanderléa Dumba, a morena mais deliciosa que meus olhos já vislumbraram extasiados.

A minha querida amiga ADRIANA RUIVA LINDA

*Este livro é dedicado à memória de:

RAUL SANTOS SEIXAS

RAUL VARELLA SEIXAS

MARIA EUGÊNIA SEIXAS

CAZUZA

CÁSSIA ELLER

SÉRGIO SAMPAIO

JACKSON DO PANDEIRO

LUIZ GONZAGA

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637 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

JOÃO SOARES DE SOUZA - (Meu pai, de quem não me esqueço um segundo sequer e ao lado de quem espero estar brevemente,

pois, eis que a vida passa célere...)

FÁTIMA - (Louca e lírica, rainha da liberdade, não morreu no sábado, mas atrapalhou o trânsito do meu coração congestionado)

JOHN LEE HOOKER

JAMES BROWNJAMES BROWNJAMES BROWNJAMES BROWN - (Semanas após sua morte, James Brown não havia sido enterrado, nem depois de falecido a ganância acirrada numa disputa judicial pela divisão da herança deixada pelo rei do soul, não permitiu que o corpo de James achasse finalmente o verdadeiro descanso, já que sua vida fora um emaranhado de escândalos e prisões constantes. Seus herdeiros demonstraram com esta atitude inaceitável e saprófaga, que o ser humano não enxerga um palmo diante do nariz e que só se preocupa com o lado material, o resto que se foda. As pessoas são prostituídas, qualquer quantia elevada de dinheiro compra a dignidade de qualquer ser humano. Uma vergonha o que fizeram com o rei do soul. Indigno até mesmo de ser comentado. Que o deixem descansar em paz, já que paz absoluta é uma coisa que ele nunca conheceu nesta Terra de ninguém. Embora a Justiça norte-americana seja estadual, pois funciona de maneira diversa em cada Estado, pois alguns Estados são defensores e praticantes da pena de morte, outros tantos não aderiram à pena mais desumana existente para a punição de um criminoso, mesmo porque, todos nós somos criminosos em potencial, deveria ter tomado imediatas e enérgicas medidas para que se coibisse essa violação desumana dos direitos de um homem com a fama e a importância de James Brown ser enterrado dignamente. Este é um direito inviolável e a família de James não teve a mínima

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638 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

consideração e respeito em relação àquele que lhes deixou fortuna enorme. Os Estados Unidos da América é o único Estado que tem poder político inigualável na ordem interna, superior na ordem externa, o único Estado verdadeiramente soberano sobre a face da Terra, constituem também uma sociedade materialista, egoísta, hedonista, de desperdício, de degradação da natureza, progressivo desrespeito pelos mais fracos, dentro da “teoria dos descartáveis”, que anima a sociedade de consumo em que tudo se pode atirar no lixo, desde os animais domésticos incômodos e os nascituros indesejáveis aos doentes terminais, ascendentes e parentes velhos ou muito velhos “que teimam em não morrer”, além do inaceitável preconceito contra a raça negra, que construiu àquele país e tantos outros, à custa da escravidão, cuja ferida jamais cicatrizará, sempre deixando à mostra a indecência humana. E tais palavras proferidas pela boca do sábio cientista político, o português Antônio de Sousa Lara, salientadas em Discurso pronunciado pelo Prof. Dr. Luiz Alberto Moniz Bandeira, por ocasião do recebimento do Prêmio Intelectual do Ano de 2005 (Troféu Juca Pato), em 3 de agosto de 2006, são um enorme retrato deste Estado soberano capitalista, ditatorial e indecente, pois deveria ter tomado enérgicas medidas para que tão revoltante caso não ocorresse. Que enterrassem primeiro ao corpo de James Brown e em seguida cuidassem da divisão de sua fortuna entre sua gananciosa e desavergonhada família. O que o maldito vil metal faz com os seres humanos, me deixa estarrecido e não aceito o fato de fazer parte desta casta de assassinos e egoístas que empestam a Terra. Todo homem tem seu preço e a dignidade humana é comprada à preço de banana, pois nenhum montante, por mais abissal que possa parecer, pode se equiparar à honra de um ser humano, porque quem gosta de dinheiro e faz tudo por ele e se vende desavergonhadamente, não passa de pessoa egoísta e prostituída. Deixem e permitam que o

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639 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Rei do Soul descanse em paz, abutres!!!

Mais de dois meses depois de sua morte, aos 73 anos, o corpo do cantor James Brown foi finalmente colocado em uma cripta em Beech Island, terra natal do “padrinho do soul”. Eu já havia escrito a crítica acima, quando 15 dias depois, sepultaram James Brown. Para o sepultamento foi realizada uma cerimônia para a família e alguns amigos. Estavam presentes sua companheira, Tomi Era Hynie e seu filho mais novo, que não foram incluídos em seu testamento, feito cinco anos antes de seu falecimento. A cripta na qual sepultaram o corpo de James não será o destino final para seu descanso. Um mausoléu está sendo construído para que o público possa visitar os restos mortais do cantor. Entretanto, seus filhos prosseguem com a desavergonhada disputa sobre a herança deixada pelo rei do soul.

+ JESSICA AP. DE OLIVEIR+ JESSICA AP. DE OLIVEIR+ JESSICA AP. DE OLIVEIR+ JESSICA AP. DE OLIVEIRA DA COSTA A DA COSTA A DA COSTA A DA COSTA –––– (*12/10/1991 (*12/10/1991 (*12/10/1991 (*12/10/1991 ---- +19/10/2010)+19/10/2010)+19/10/2010)+19/10/2010)

(PASSA FÉRETRO: E A SITUAÇÃO N(PASSA FÉRETRO: E A SITUAÇÃO N(PASSA FÉRETRO: E A SITUAÇÃO N(PASSA FÉRETRO: E A SITUAÇÃO NÃO SE INVERTE, É SEMPRE OS ÃO SE INVERTE, É SEMPRE OS ÃO SE INVERTE, É SEMPRE OS ÃO SE INVERTE, É SEMPRE OS INFELIZES CARREGANDO OS FELIZES) INFELIZES CARREGANDO OS FELIZES) INFELIZES CARREGANDO OS FELIZES) INFELIZES CARREGANDO OS FELIZES)

---- Eliezer Soares de Souza Eliezer Soares de Souza Eliezer Soares de Souza Eliezer Soares de Souza ----

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Dedico este livro também para os meus inimigos e aos “amigos da onça”. Um falso amigo é mais perigoso do que um feroz inimigo, pois contra o inimigo se pode armar-se e defender-se de seus ataques, mas de um falso amigo, nem Jesus

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640 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Cristo se livrou. Traidores e invejosos, os “amigos da onça” tramam na calada da noite, a derrubada de quem sempre lhes foi fiel e desse fel da traição, me foi dado provar goles homéricos. Traído por quem eu considerava meu melhor e mais honrado amigo e traído por gente da minha própria família, invejosos, egoístas e indecentes, aos quais não desejo mal, mas desejo que a vida lhes cobre em dobro e agonia tudo o que arquitetaram para me destruir, e não vai aqui nestas palavras, nenhum resquício de vingança, apenas e tão-somente, a cobrança do que me devem esses insensatos, embora não exista sobre a face da Terra, sabor mais agradável do que o sabor da vingança, não a vingança eivada de violência como poderiam pensar muitos, mas a prazerosa visão da queda do inimigo. Pois, se até Jesus deu porradas nos vendilhões do templo, quem sou eu, reles ser humano, para não desejar a derrocada de cada um deles? Quem perdoa ao inimigo e aos seus traidores, sem antes dar-lhes a merecida paga, não é um homem justo, antes, não passa de um sonhador e covarde.

Mesmo assim, aos que me traíram, aos invejosos, aos falsos amigos, como consolo para suas indecências e trairagens, deixo a mensagem do seguinte salmo de Davi:

*SALMO 27**SALMO 27**SALMO 27**SALMO 27*

O Senhor é a minha luz; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?

Quando os malvados, meus adversários e meus inimigos, se chegaram contra mim, para comerem as minhas carnes,

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641 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

tropeçara e caíram.

Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria.

Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e inquirir no seu templo.

Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; pôr-me-á sobre uma rocha.

Também agora a minha cabeça será exaltada sobre os meus inimigos que estão em redor de mim, por isso oferecerei sacrifício de júbilo no seu tabernáculo; cantarei, sim, cantarei louvores ao Senhor.

Ouve, Senhor, a minha voz quando clamo; tem também piedade de mim, e responde-me.

Quando tu disseste: Buscai o meu rosto; o meu coração disse a ti: O teu rosto, Senhor, buscarei.

Não escondas de mim a tua face, não rejeites ao teu servo com ira; tu foste a minha ajuda, não me deixes nem me desampares, ó Deus da minha salvação.

Porque, quando o meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá.

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642 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Ensina-me, Senhor, o teu caminho, e guia-me pela vereda direita, por causa dos meus inimigos.

Não me entregues à vontade dos meus adversários; pois se levantaram falsas testemunhas contra mim, e os que respiram crueldade.

Pereceria sem dúvida, se não cresse que veria a bondade do Senhor na terra dos viventes.

Espera no Senhor, anima-te, e Ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor.

*Que meus inimigos e traidores sejam felizes, pois, comiserativo é, que brilhe a lua também sobre os idiotas, como sempre considerou meu irmão, Eliezer Soares de Souza, mas que, primeiramente paguem com juros e correção tudo o que ficaram me devendo, mesmo porque, vocês fazem parte daquela casta que o povo indígena brasileiro batizou de “ANHANGÁ” (Espírito do Mal)*.

*BÊBADO**BÊBADO**BÊBADO**BÊBADO*

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Na porta de um cinema,

Diariamente dorme um bêbado

Puru-lento lazarento.

Ele não é somente um bêbado,

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643 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

É nossa própria pústula

Pusilânime amor humano

Nosso espelho acomodado.

Não dói a loucura indiferente,

Dói o medo de ser vivo,

Desse bêbado humano

De qualquer um ser!!!

*APENAS UMA GUERRA É PERMITIDA À *APENAS UMA GUERRA É PERMITIDA À *APENAS UMA GUERRA É PERMITIDA À *APENAS UMA GUERRA É PERMITIDA À

ESPÉCIE HUMANA: A GUERRA CONTRA ESPÉCIE HUMANA: A GUERRA CONTRA ESPÉCIE HUMANA: A GUERRA CONTRA ESPÉCIE HUMANA: A GUERRA CONTRA

A EXTINÇÃO.*A EXTINÇÃO.*A EXTINÇÃO.*A EXTINÇÃO.*

(ISAAC ASIMOV - *1920 +1992)

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644 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Isac Leite Nascimento (DJ YAISAK MANDALA) e o amigo Glauco (DJ), Isac é

filho

do autor deste livro e criador de vários desenhos

que ilustram este livro. Baterista, violonista

e compositor, criador de Histórias em Quadrinhos)

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645 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Isaac Soares de Souza, Joara Ledoux e Lampião/Aeroporto (Isaac Soares de Souza, Joara Ledoux e Lampião/Aeroporto (Isaac Soares de Souza, Joara Ledoux e Lampião/Aeroporto (Isaac Soares de Souza, Joara Ledoux e Lampião/Aeroporto

de Congonhasde Congonhasde Congonhasde Congonhas----SP)SP)SP)SP)

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646 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Milca Soares de Souza, Isaac Soares de Souza e Isac

Leite do Nascimento)

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Milca Soares de Souza, Isaac Soares de Souza e Isac

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647 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

CONTATO COM O AUTOR:CONTATO COM O AUTOR:CONTATO COM O AUTOR:CONTATO COM O AUTOR:

NOVO AEON FÃ NOVO AEON FÃ NOVO AEON FÃ NOVO AEON FÃ CLUBE/RAUL ROCK SEIXASCLUBE/RAUL ROCK SEIXASCLUBE/RAUL ROCK SEIXASCLUBE/RAUL ROCK SEIXAS

Rua Nações Unidas, 1016Rua Nações Unidas, 1016Rua Nações Unidas, 1016Rua Nações Unidas, 1016

Jardim Cruzeiro do SulJardim Cruzeiro do SulJardim Cruzeiro do SulJardim Cruzeiro do Sul

SÃO CARLOS SÃO CARLOS SÃO CARLOS SÃO CARLOS –––– SP SP SP SP ---- CEP. 1CEP. 1CEP. 1CEP. 13.5723.5723.5723.572----)82)82)82)82

e-mail: [email protected]

Cel.: (16) 97745573/3366-3084/9154-4287

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648 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Dona Maria Eugênia Seixas e o filho Raul Seixas)

(SE ACEITARES A VERDADE DE OUTREM (SE ACEITARES A VERDADE DE OUTREM (SE ACEITARES A VERDADE DE OUTREM (SE ACEITARES A VERDADE DE OUTREM

NNNNÃO SERÁ A SUA RESPOSTA.) ÃO SERÁ A SUA RESPOSTA.) ÃO SERÁ A SUA RESPOSTA.) ÃO SERÁ A SUA RESPOSTA.)

*Raul Seixas*

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649 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

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650 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(MR. ROCK´N´ROLL)(MR. ROCK´N´ROLL)(MR. ROCK´N´ROLL)(MR. ROCK´N´ROLL)

ELIEZER SOARES DE SOUZA

Num acorde infinito

Habitas um mundo

De estrelas e discos

Acordar noutro espaço

No fremir de outro tempo

Seus sons voadores

Ria da dor que se acaba

Por-se pelos olhos

Como delírio de Deus

A boca, essa ria

Da noite grandiloqüente

Seu moço

Em círculos hás de ser

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651 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

E tudo sem A nem Z

Só uma estrada,

MR. ROCK´N´ROLL!!!!!!!!!!!!!!

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652 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Raul Seixas – ilustração: Isaac Soares de Souza)

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653 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(O VERBALÓIDE)

ISAAC S. DE SOUZA

Já me borrei de tanto rir ouvindo

O infinito sendo explicado

Se sendo é um verbo

Prefiro ficar sendo calado

A Justiça que você procura é sua força de achá-la

Por isso eu prefiro ser essa metamorfose ambulante

sou o que sou e só acredito na minha verdade

sem tentar impô-la a ninguém

escarro nesta estrutura com desdém

eu sei que a desobediência é uma virtude

necessária à criatividade

a desgraça da humanidade é a vil religião

os escravos sempre servirão

a minha guitarra e a palavra são mais forte que o canhão

a cada passo sorrateiro da vida o meu rock explode

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654 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

os muros da segregação

os miseráveis não têm outro remédio a não ser a esperança

assim dizia Shakespeare

somos humanos, demasiadamente humanos,

por isso mesmo somos verbalóides

mas pra todo pecado existe um perdão...

não deixe com que a distância apague momentos tão bons

que um dia passamos juntos

a vida passa célere e amanhã seremos todos defuntos

e só restará lembranças

e a lembrança é a cobrança do que fizemos por nós mesmos,

do que poderíamos ter feito de bom ou de ruim

e a lembrança é uma ferida

mas o homem verbalóide é o único ser

que tem o poder de modificar as coisas,

“NINGUÉM MORRE, AS PESSOAS

DESPERTAM DO SONHO DA VIDA”

(Letra que faz uma junção de alguns pensamentos de Raul Seixas, William Shakespeare e meus.)

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655 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(KAYSA LORRAINE, minha netinha, que ao nascer me trouxe a sensação de ser pai novamente)

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656 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Ilustração de : Isac Leite do Nascimento e Isaac Soares de Souza/1995)(Ilustração de : Isac Leite do Nascimento e Isaac Soares de Souza/1995)(Ilustração de : Isac Leite do Nascimento e Isaac Soares de Souza/1995)(Ilustração de : Isac Leite do Nascimento e Isaac Soares de Souza/1995)

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657 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Ilustração de Isaac Soares de Souza/1995)(Ilustração de Isaac Soares de Souza/1995)(Ilustração de Isaac Soares de Souza/1995)(Ilustração de Isaac Soares de Souza/1995)

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658 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Montagem da chave da Sociedade Alternativa com fotos da capa de um disco (Montagem da chave da Sociedade Alternativa com fotos da capa de um disco (Montagem da chave da Sociedade Alternativa com fotos da capa de um disco (Montagem da chave da Sociedade Alternativa com fotos da capa de um disco de sucessos de de sucessos de de sucessos de de sucessos de Raul, feita pelo autor deste livro)Raul, feita pelo autor deste livro)Raul, feita pelo autor deste livro)Raul, feita pelo autor deste livro)

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659 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Isaac Soares de Souza, Tiago, Eliseu Soares de Souza e o poeta Eliezer Soares (Isaac Soares de Souza, Tiago, Eliseu Soares de Souza e o poeta Eliezer Soares (Isaac Soares de Souza, Tiago, Eliseu Soares de Souza e o poeta Eliezer Soares (Isaac Soares de Souza, Tiago, Eliseu Soares de Souza e o poeta Eliezer Soares de Souza e Dona Maria José de Souza, mãe dos irmãos Soares e uma luz de Souza e Dona Maria José de Souza, mãe dos irmãos Soares e uma luz de Souza e Dona Maria José de Souza, mãe dos irmãos Soares e uma luz de Souza e Dona Maria José de Souza, mãe dos irmãos Soares e uma luz

divina na vida da família)divina na vida da família)divina na vida da família)divina na vida da família)

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660 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(MAYCOL ZORGETE CESAR (MAYCOL ZORGETE CESAR (MAYCOL ZORGETE CESAR (MAYCOL ZORGETE CESAR –––– PRESIDENTE)PRESIDENTE)PRESIDENTE)PRESIDENTE)

________________________________ RAUL MESTRE SEIXAS CLUB - Fã Clube Raul Seixas Caixa Postal: 101 - Catanduva/SP - CEP: 15.800-970

Para contato: [email protected] Loja Virtual do Fã Clube:

http://lojavirtualrmsclub.blogspot.com Comunidade do fã clube no orkut:

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661 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

http://www.orkut.com/community.aspx?cmm=35408596

Canal no Youtube: http://www.youtube.com/mestreraulseixas

(Milca Soares de Souza, minha filha querida)(Milca Soares de Souza, minha filha querida)(Milca Soares de Souza, minha filha querida)(Milca Soares de Souza, minha filha querida)

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662 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

(Isaac Soares de Souza, o amigo Nelson Prado e a cantora e parceira musical Joara Ledoux, na Passeata Raul Seixas

2010 – SP)

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663 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

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664 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

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665 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

Lucille Lucille

Lucille, you won't do your sisters will, Lucille, you won't do your sisters will,

You ran off and married, but I love you still.

Lucille, please come back where you belong, Lucille, please come back where you belong,

I've been good to you baby, please don't lead me along.

I woke up this mornin', Lucille was not in sight, I asked my friends about her but all their lips was tight,

Lucille, please come back where you belong, I've been good to you baby, please don't lead me along.

Lucille, baby, satisfy my heart, Lucille, baby, satisfy my heart,

I played love with you baby, and gave you such a wonderful start.

Lucille (Tradução) Lucille, você não pode fazer o quê suas irmãs querem Você deu o fora e casou-se, mas eu ainda te amo Lucille, por favor volte à onde você pertence Lucille, por favor volte à onde você pertence Eu fui bom a você baby, por favor não me deixe ao longo Eu acordei essa manhã, lucille não estava a vista Eu perguntei aos meus amigos sobre ela, Mas seus lábios estavam apertados Lucille, por favor volte À onde você pertence

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666 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide Eu fui bom a você baby, Por favor não me deixe ao longo Lucille, baby, satisfaça meu coração Lucille, baby, satisfaça meu coração Eu joguei o amor com você baby E te dei um começo tão maravilhoso

Anarkilópolis (Cowboy Fora Da Lei, Pt. 2) Raul Seixas Composição: Raul Seixas / Sylvio Passos Eu estava na cidade comprando milho pras galinhas Quando um garoto chegou correndo para me avisar Que a diligência do correio tinha deixado uma carta pra mim Uma carta? De quem seria essa merda? ...é, pois é... , mas... ah...não é que era da prefeitura de Anarkilópolis Me convidando para uma festa da sua emancipação Ok boy. whisky de montão eu vou beber E fazer tudo que eu quero fazer Cada um manda no seu nariz Por isso que o povo lá é feliz É isso aí! Meu filho, é isso aí... Agora Montei no meu "silver-jegue" E parti com o firme propósito de unir o útil ao agradável Pois Anarkilópolis era também O berço da minha amada A bela Josefina Lee Filha única do meu amigo Xerife James Adean Enquanto o jegue seguia rinchando Eu seguia pela estrada cantando: Eu não sou besta pra tirar onda de herói Sou vacinado, eu sou cowboy Cowboy fora da lei Durango Kid só existe no gibi

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667 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide E quem quiser que fique aqui Entrar pra história é com vocês Quando eu e meu jegue chegamos em Anarkilópolis Pensei que tinha me enganado até de cidade Tinha uns caras mal encarados armados até os dentes Percebi logo a situação Os bandidos haviam dominado o lugar E mantinham todos como reféns James Adean não era mais o Xerife E só se via a cara das pessoas com tristeza e medo Deus me livre, quase que eu dancei Dedo no gatilho era da lei Sozinho e desarmado estava ali Pra o diabo, os que me chamaram aqui Foi então... "Tá dominado cowboy!" Eu não sou besta pra tirar onda de herói Sou vacinado, eu sou cowboy Cowboy fora da lei Durango Kid só existe no gibi E quem quiser que fique aqui Entrar pra história é com vocês Meu filho, é isso aí...

Rock Around the Clock Raul Seixas One, Two three o´clock, four o´clock rock Five, six, seven o´clock, eight o´clock rock Nine, ten, eleven o´clock , twelve o´clock rock We´re gonna rock around the clock tonight Put your glad rags on, join me , Hon We´ll have some fun when the clock strikes one We´re gonna rock around the clock tonight We´re gonna rock, rock, rock, ´till broad daylight Gonna rock, gonna rock around the clock tonight When the clock strikes two, three and four If the band slows down we´ll yell for more We´re gonna rock around the clock tonight We´re gonna rock, rock, roc, til broad daylight Gonna rock, gonna rock aroun the clock tonight When the chimes ring strikes five, six and seven We´ll be right in seventh heaven

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668 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide We´re gonna rock around the clock tonight We´re gonna rock, rock, roc, til broad daylight Gonna rock, gonna rock aroun the clock tonight When it´s eight, nine, ten, eleven too I´ll be goin´ strong and so will you We´re gonna rock around the clock tonight We´re gonna rock, rock, roc, til broad daylight Gonna rock, gonna rock aroun the clock tonight When the clock strikes twelve, we´ll cool off then Start a rockin´ round the clock againg We´re gonna rock around the clock tonight We´re gonna rock, rock, roc, til broad daylight Gonna rock, gonna rock aroun the clock tonight

Roll Over Beethoven Raul Seixas Composição: Chuck Berry We're gonna write a little letter Gonna mail it to my local D.J. It's a rockin' little record I want my jockey to play Roll over Beethoven I gotta hear it again today You know my temperature's risin' and the jukebox's blowin' a fuse My heart's beatin' rhythm and my soul keeps singing the blues Roll over Beethoven and tell Tchaikovsky the news I got a rockin' pneumonia I need a shot of rhythm and blues I think I got it off the writer sittin' down by the rhythm review Roll over Beethoven we're rockin' in two by two Well if you fell you like it Well get your lover and reel and rock it roll it over and move on up just jump around and reel and rock it roll it over

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669 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide Roll over Beethoven a rockin' in two by two, oh Well early in the mornin' I'm a givin' you the warnin' Don't you step on my blue suede shoes Hey little little gonna play my fiddle Ain't got nothing to loose Roll over Beethoven and tell Tchaikovsky the news You know she winks like a glow worm Dance like a spinnin' top She got a crazy partner oughta see 'em reel and rock Long as she's got a dime the music will never stop Roll over Beethoven Roll over Beethoven Roll over Beethoven Roll over Beethoven Roll over Beethoven and dig these rhythm and blues

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670 Isaac Soares de Souza Raul Seixas, O Verbalóide

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