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-Introdução A responsabilidade civil um instituto altamente dinâmico e flexível, que vive em mudanças constantes, sempre se transformando para atender às necessidades sociais que surgem. Nos últimos tempos, a tendência na sociedade é no sentido de não deixar nenhuma vítima de dano sem reparação. Isso reflete diretamente no instituto da responsabilidade civil, uma vez que tem proporcionado um fenômeno de expansão dos danos suscetíveis de indenização. -Definição de Responsabilidade Civil A ideia de responsabilidade civil está relacionada à noção de não prejudicar outro. A responsabilidade pode ser definida como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar o dano causado a outrem em razão de sua ação ou omissão. Nas palavras de Rui Stoco: “A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém pelos seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois, como algo inarredável da natureza humana” (STOCO, 2007, p.114). -Distinção entre Obrigação e Responsabilidade Obrigação é sempre um direito jurídico originário. Responsabilidade é um dever jurídico sucessivo consequência

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-Introdução

A responsabilidade civil um instituto altamente dinâmico e flexível, que vive em mudanças constantes, sempre se transformando para atender às necessidades sociais que surgem.

Nos últimos tempos, a tendência na sociedade é no sentido de não deixar nenhuma vítima de dano sem reparação. Isso reflete diretamente no instituto da responsabilidade civil, uma vez que tem proporcionado um fenômeno de expansão dos danos suscetíveis de indenização.

-Definição de Responsabilidade Civil

A ideia de responsabilidade civil está relacionada à noção de não prejudicar outro. A responsabilidade pode ser definida como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar o dano causado a outrem em razão de sua ação ou omissão. Nas palavras de Rui Stoco:

“A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém pelos seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois, como algo inarredável da natureza humana” (STOCO, 2007, p.114).

-Distinção entre Obrigação e Responsabilidade

Obrigação é sempre um direito jurídico originário.

Responsabilidade é um dever jurídico sucessivo consequência da violação do primeiro.

Artigo 389 do CC:Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.Não cumprida a obrigação,...responde o devedor por perdas e danos.

O dever originário é a conduta.O sucessivo é o dever de reparar.

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-O Ato Ilícito

O ato ilícito é tratado nos artigos 186 a 188 do Código Civil, verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Ainda sobre os atos ilícitos o art. 927 do Código Civil estabelece que: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Nesse passo, o Código Civil, em seu artigo 402, estabelece os critérios para o ressarcimento do dano material.

Maria Helena Diniz,entende que:

(...) o ato ilícito tem duplo fundamento: a infração de um dever preexiste e a imputação do resultado à consciência do agente. Portanto, para sua caracterização, é necessário que haja uma ação ou omissão voluntária, que viole norma jurídica protetora de interesses alheios ou um direito subjetivo individual, e que o infrator tenha conhecimento da ilicitude de seu ato, agindo como dolo, se intencionalmente procura lesar outrem, ou culpa, se consciente dos prejuízos que advêm do seu ato, assume o risco de provocar o evento danoso. (...) dever-se-á, então, verificar se o agente é imputável, para efeitos de reponsabilidade civil e se, em face da situação, podia ou devia ter agido de outra maneira.

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a conduta ilícita implica no dever de indenizar, sendo que, apesar da legítima defesa, o exercício regular de um direito e o estado de necessidade não serem atos ilícitos (art. 188, CC) não afastam a responsabilidade do causador do dano pelo ressarcimento civil dos prejuízos causados a terceiro, resguardado, nesse caso, o direito de regresso contra aquele que deu causa a situação de perigo.

-Elementos essenciais da Responsabilidade Civil

São elementos necessários da responsabilidade civil:

1 – CONDUTA HUMANA

2 – NEXO DE CAUSALIDADE

3 – DANO OU PREJUÍZO

1. CONDUTA HUMANA

Atos voluntários: serão excluídos caso incidam em alguma das causas de exclusão de antijuridicidade (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular do direito) ou de exclusão de culpabilidade (inexigibilidade de conduta adversa); causas de exclusão de punibilidade. 

2. NEXO DE CAUSALIDADE

É o caminho que se percorre para se detectar a causa do dano. É a ponte entre a conduta e o dano, que vai nos levar à causa.A partir do momento em que identificamos a causa, verificamos se há obrigação de indenizar. Se a vítima é alertada previamente e mesmo assim executa uma ação que lhe causa dano: será culpa exclusiva da vítima, e não gera o dever de indenizar.

Teoria da Equivalência das Condições (Conditio Sine Qua Non)

A primeira teoria foi criada pelo alemão Von Buri no séc. XIX e

consagra como causa do evento danoso tudo o que houver concorrido

para o mesmo.

É a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro em seu art. 13,

a qual hoje é aperfeiçoada pela teoria da imputação objetiva.

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Teoria da Causalidade Adequada

Criada pelo também alemão Von Kries, determina que causa

não é “toda e qualquer condição que haja contribuído para a

efetivação do resultado”, mas sim apenas o fato antecedente

abstratamente idôneo à produção do efeito danoso.

Analisa-se, pela probabilidade, qual antecedente é

abstratamente apto a gerar o dano ocorrido.

Adotada por parte da doutrina.

Teoria da Causalidade Direta ou Imediata

Também chamada de Teoria da Interrupção do Nexo Causal, foi

criada pelo brasileiro Agostinho Alvim e determina que causa é

apenas o fato antecedente que “ligado por um vínculo de

necessariedade ao resultado danoso, determinasse este último como

uma consequência sua, direta e imediata.”

É de mais fácil aplicação e necessita de uma relação direta e

imediata entre o comportamento e o resultado.

3- Dano

O dano consiste na efetiva violação a um interesse jurídico

tutelado, o qual pode ser patrimonial (material) ou extrapatrimonial

(moral).

Para que haja dano indenizável necessário se faz que haja

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violação a interesse juridicamente tutelado e que o dano seja CERTO,

não hipotético.

A falta de dano torna sem objeto a pretensão a sua reparação.

Espécies de dano:

Dano Material - Lesão ao patrimônio de uma pessoa.

Danos emergentes/positivos - Diminuição do patrimônio

da vítima (o que ela perdeu/gastou)

Lucros cessantes (o que a vítima razoavelmente deixou

de auferir).

Dano Moral

Dano Estético

STJ aceita cumulação.

Dano Reflexo ou Dano em Ricochete: Consiste no dano que

atinge pessoa indireta. Gera prejuízo a uma vítima indireta ligada à

vítima direta do ato ilícito. Teoria muito adotada pelo STJ em casos

de morte, indenizando a família.

-Responsabilidade Contratual e Extracontratual

A responsabilidade civil pode ser classificada, de acordo com a natureza do dever jurídico violado pelo causador do dano, em contratual ou extracontratual.

Na primeira, configura-se o dano em decorrência da celebração ou da execução de um contrato. O dever violado é oriundo ou de um contrato ou de um negócio jurídico unilateral. Se duas pessoas celebram um contrato, tornam-se responsáveis por cumprir as obrigações que convencionaram.

Já a responsabilidade propriamente dita, a extracontratual, que também é denominada de aquiliana, tem por fonte deveres jurídicos originados da lei ou

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do ordenamento jurídico considerado como um todo. O dever jurídico violado não está previsto em nenhum contrato e sem existir qualquer relação jurídica anterior entre o lesante e a vítima; o exemplo mais comum na doutrina é o clássico caso da obrigação de reparar os danos oriundos de acidente entre veículos.

Esta categoria de responsabilidade civil - que visa a reparar os danos decorrentes da violação de deveres gerais de respeito pela pessoa e bens alheios – costuma ser denominada de responsabilidade em sentido estrito ou técnico ou, ainda, responsabilidade civil geral.

Na prática, tanto a responsabilidade contratual como a extracontratual dão ensejo à mesma consequência jurídica: a obrigação de reparar o dano. Desta forma, aquele que, mediante conduta voluntária, transgredir um dever jurídico, existindo ou não negócio jurídico, causando dano a outrem, deverá repará-lo.

-Responsabilidade Objetiva ou Subjetiva

A responsabilidade civil subjetiva é aquela que tem por base a culpa do agente, que deve ser comprovada pela vitima para que surja o dever de indenizar. Segundo essa teoria não se pode responsabilizar alguém pelo dano ocorrido se não houver culpa. Não basta apenas que haja o comportamento humano causador de dano ou prejuízo.

Já a responsabilidade civil objetiva Consiste na reparação de determinadas situações sem a necessidade de análise de culpa.

Não carece da análise da culpa para se configurar, bastando

apenas a existência da conduta humana, do dano e do nexo de

causalidade. Embasa-se, dentre outras, na teoria do risco, pela qual toda

pessoa que exerce alguma atividade que gera risco de dano a

terceiros, se o dano for ocorrido, deve ser reparado, mesmo que não

haja concorrido com culpa.

-Responsabilidade do Fornecedor

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Pela Lei n. 8,078/90:

1-) O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi colocado em circulação.

§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Portanto, a responsabilidade do fabricante é objetiva, independentemente de averiguação de culpa. Assim, por exemplo, se alguém vier a adquirir um carro “0 km”, e acidentar-se em razão de defeito de fabricação, os prejuízos serão pagos pelo fabricante.

-Responsabilidade do Estado

Responsabilidade do Estado é a obrigação atribuída ao Poder Público para ressarcir os danos causados à terceiros pelos seus agentes, quando no exercício de suas atribuições.

A palavra responsabilidade traz em seu significado a obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros, o caráter ou estado do que é responsável, a obrigação de responder por certos atos ou factos.

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O poder emana do povo e é outorgado ao Estado para que busque o bem comum, isso é o que se sustenta há anos no regime democrático adotado pelo Brasil.

Quando o Estado, pessoa jurídica de direito público, desvirtua a lei com a sua conduta, a penalidade é aplicada nas três esferas do Poder Estatal: a administrativa, a jurisdicional e a legislativa. Esta responsabilidade é sempre civil, de ordem pecuniária.

Cabe ressaltar que o dano a que o Estado responde é causado por meio dos seus agentes, palavra que tem seu significado independente de servidor. O Estado sozinho não causa danos a ninguém. Agente é aquela pessoa que está a serviço do ente estatal, independente do pagamento de contraprestação por este.

Ademais, convém diferenciar os tipos de responsabilização estatal que se subdivide em contratual e extracontratual. A primeira trata das relações negociais, de direito privado, regida por princípios dos contratos administrativos e fundada nos casos de inadimplemento de uma obrigação em que viram a responder por ele todos os bens do devedor. A responsabilidade civil é um conceito vindouro do direito privado, elencado no direito civil e se manifesta com a ocorrência do descumprimento da obrigação, pelo não atendimento a uma regra contratual ou legal.

-Responsabilidade Jurídica e Responsabilidade Moral

A responsabilidade nasce da violação das normas jurídicas ou morais, de atos ou fatos pelos quais o agente adquire a obrigação de trazer o "status quo ante" de volta. Portanto, o ato praticado pode ser proibido pela lei moral, religiosa, de costumes ou pelo direito.

Os dois tipos de responsabilidades são interdependentes, mas o domínio da moral é muito mais amplo do que o do direito, por razões óbvias, posto que, ao direito são relevantes as normas morais de maior significado para a manutenção da harmonia social.

Não se cogita da responsabilidade jurídica enquanto não há um prejuízo. A responsabilidade moral – explicam Henri e Léon Mazeuaud - se confina no problema do pecado, da má ação; o homem se sente moralmente responsável perante Deus, perante sua consciência. Ele próprio se pune, quando se julga culpado pelos atos desastrosos cometidos. Puramente objetiva, portanto, é a sua noção.

A regra de direito careceria de fundamento, caso não se ativesse à ordem moral. O domínio desta é, sem dúvida, mais extenso do que o do direito. Mas, o direito também não deixa de ser expressão dos princípios definidos pela moral. A responsabilidade jurídica ao contrário da moral tem função

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essencialmente de fazer prevalecer a ordem e assegurar a liberdade individual e harmonia de relações entre os homens. O direito é um instrumento de pacificação criado pelos homens, para que estes possam viver sem que a barbárie seja instituída.

A responsabilidade jurídica exige sempre a imediata recomposição do equilíbrio atingido. O equilíbrio da situação social harmônica é fator essencial para que o direito atue de forma imperiosa e cogente. Envolve a responsabilidade jurídica, desse modo, a pessoa que infringe a norma, a pessoa atingida pela infração, o nexo causal entre o infrator e infração, o prejuízo ocasionado, a sanção aplicável e a reparação, consistente na volta ao "status quo ante" da produção do dano. São, assim, pressupostos de existência da responsabilidade jurídica.

-Responsabilidade Civil e Responsabilidade Penal

Como já foi falado, a responsabilidade civil consiste na obrigação de indenizar o prejuízo feito por violação de norma legal ou contratual, que o agente causou a outrem, podendo recair sobre algum terceiro, como na situação de pagamento de aluguéis pelo fiador (terceiro), caso o locatário não os possa pagar ou não os pague. Limita-se o Direito Civil a garantir o equilíbrio patrimonial e interessa ao Direito Penal a vontade íntima do agente e o porquê de seu ato.

Responsabilidade Penal ou Criminal é aquela resultante de um fato criminoso, seja praticado na forma comissiva ou omissiva. Traz uma sanção ou um castigo, como consequência para o agente do fato criminoso ou da omissão criminosa. Essa responsabilidade surge no caso dos delitos previstos pela lei penal, que são suscetíveis ou não de serem apreciados no âmbito civil. As normas penais têm um caráter subjetivista, pois visam assegurar a defesa da sociedade pela aplicação da pena entendida extracontratual, seja como fator intimidativo ou repressivo, seja como meio de readaptar o infrator à vida social. Assim, temos ilícitos penais que não são civis e vice-versa. Em muitos casos, porém, o ilícito penal é também civil, todavia, conforme estabelece o art. 1.525 do C.C., a responsabilidade civil independe da penal. No entanto, não se pode mais discutir no juízo cível a existência do fato ou autoria do mesmo, quando já decididas no juízo criminal (art. 65 do C.P.P.), ou seja, o indivíduo quando condenado no âmbito penal, automaticamente estará condenado na esfera cível, se demandado em ambos os juízos.

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-Princípios Fundamentais da Responsabilidade Civil

Existem nove princípios base para as normas do Direito Civil (sete no manual):

1º. Personificação jurídica do Homem;

2º. Reconhecimento do Direitos de personalidade;

3º. Igualdade dos Homens perante a lei;

4º. Reconhecimento da família como instrumento fundamental;

5º. Personalidade colectiva;

6º. Autonomia privada;

7º. Responsabilidade civil;

8º. Propriedade privada;

9º. Reconhecimento do fenómeno sucessório.

7.             Princípio da personificação jurídica do homem

O Homem é a figura central de todo o direito. No Direito Civil há uma tendência humanista e aí o Homem e os seus direitos constituem o ponto mais importante do tratamento dos conflitos de interesse que são regidos pelo Direito Civil Português.

Todos os Homens são iguais perante a lei. A Personalidade Jurídica do Homem é imposta ao Direito como um conjunto de fundamentos de vária ordem, como sendo um valor irrecusável. O art. 1º da CRP é quem reconhece este princípio. No art. 12º CRP é também frisado. Este princípio ganha mais importância quando no art. 16º/2 CRP diz que os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais devem ser interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem. O art. 66º CC diz que, a personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida. A própria Personalidade Jurídica é indispensável. No art. 69º, ninguém pode renunciar, no todo ou em parte, à sua Capacidade Jurídica. A Personalidade Jurídica é uma qualidade imposta ao Direito e que encontra projecção na dignidade humana.

8.             Princípio do reconhecimento dos direitos de personalidade

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Reconhecimento de um círculo fundamental de direitos de personalidade. Têm um conteúdo útil e de total protecção para o Homem.

Personificar o Homem envolve um conjunto máximo de direitos de conteúdo não patrimonial.

9.             Princípio da igualdade dos homens perante a lei

O Princípio da Igualdade dos Homens Perante a Lei encontra-se na Constituição no seu art. 13º. Não se deixa de referir na Constituição o princípio de tratar desigual aquilo que é desigual.

A Lei Constitucional proíbe todas as formas de discriminação.

10.         Princípio do reconhecimento da família como instrumento fundamental

A Constituição reconhece a família como elemento fundamental da sociedade. Esta qualidade é pressuposto da protecção que a sociedade e o Estado devem à família. O art. 67º/1 CRP diz que “a Família, como elemento fundamental da sociedade, tem direito à protecção da sociedade e do Estado e à efectivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros”.

Esta tutela é assegurada à família pela Constituição, assente num conjunto de linhas fundamentais:

1.      Reconhecimento da família como elemento fundamental da sociedade com a inerente consagração do direito de todos os cidadãos a contraírem casamento e a constituírem família, conforme o art. 36º/1 CRP;

2.      Afirmação da liberdade de constituir família sem dependência do casamento. Princípio da igualdade de tratamento da família constituída deste modo ou por via do casamento;

3.      A afirmação do carácter essencialmente laico do casamento e a possibilidade de dissolução do mesmo por divórcio, independentemente da forma de celebração (art. 36º/2 CRP);

4.      A maternidade e paternidade constituem valores sociais imanentes, art. 68º/2 CRP;

5.      Reconhecimento do carácter insubstituível dos progenitores em relação à pessoa dos seus filhos no que toca à sua integral realização como homens, arts. 68º/2, 36º/5/6 CRP.

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11.         Princípio da personalidade colectiva

As Pessoas Colectivas jurídicas criadas pelo efeito do Direito demarcam-se das pessoas jurídicas singulares, embora funcionem também com centros autónomos de imputação de direitos e deveres, art. 12º/2 CRP, as Pessoas Colectivas gozam de direitos e estão sujeitas aos deveres compatíveis com a sua natureza. Este artigo reconhece uma individualidade própria às Pessoas Colectivas quando afirma que elas gozam de direitos que são compatíveis à sua natureza.

12.         Princípio da autonomia privada

Os efeitos só se produzem na medida em que o Direito os admite ou prevê. Isto porque são fenómenos criados pelo Direito.

Este princípio está directamente ligado ao princípio da liberdade contratual, segundo o qual, é lícito tudo o que não é proibido. A este princípio contrapõe-se o princípio da competência. Segundo este, só é lícito aquilo que é permitido.

13.         Princípio da responsabilidade civil

Encontra fundamento no princípio da liberdade do Homem. Esta ideia assentava na imputação psicológica do acto do agente.

Com a evolução das relações comerciais passou a surgir um conceito de responsabilidade objectiva. Já não tem a ver com o dolo do agente mas sim com o risco que acompanha toda a actividade humana.

14.         Princípio da propriedade privada

A tutela constitucional da propriedade privada está expressamente consagrada no art. 62º/1 CRP, segundo o qual “a todos é garantido o direito à propriedade privada e à sua transmissão em vida ou em morte, nos termos da constituição”, bem como nos arts. 61º e 88º CRP, relativos à tutela da iniciativa e da propriedade privadas.

O Código Civil, não define o direito de propriedade, mas o art. 1305º caracteriza-o, dizendo que “o proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela impostas”.

·        Sector Público: bens e unidades de produção pertencentes ao Estado ou a outras entidades públicas, art. 82º/2 CRP;

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·        Sector Privado: pertencem os meios de produção da propriedade e gestão privada que não se enquadre no sector público nem no cooperativo, art. 82º/3 CRP;

·        Sector Cooperativo: o sector cooperativo refere-se aos meios de produção possuídos e geridos pelas cooperativas, em obediência aos princípios cooperativos; aos meios de produção comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais; aos meios de produção objecto de exploração colectiva por trabalhadores, art. 82º/4 CRP.

15.         O princípio sucessório

A ordem jurídica portuguesa reconhece o fenómeno da sucessão mortis causa. No nosso sistema jurídico, este princípio decorre do corolário lógico do reconhecimento da propriedade privada, art. 62º/1 CRP.

Princípio da transmissibilidade da generalidade dos bens patrimoniais, ex. vi legis: arts. 2024º, 2025º, 2156º (quota indisponível).

Quota indisponível, o titular dos bens tem uma ampla liberdade para testar. Por este efeito pode afastar da sucessão um conjunto de familiares que não estejam incluídos no conceito de pequena família. A sucessão legitimária, funciona sempre a favor dos herdeiros legitimários: cônjuge, descendentes ascendentes.

-Dano

Dano é toda lesão a um bem juridicamente protegido, causando prejuízo de ordem patrimonial ou extrapatrimonial. Sem que tenha ocorrido dano a alguém, não há que se cogitar em responsabilidade civil. Ao contrário do que ocorre na esfera penal, aqui o dano sempre será elemento essencial na configuração da responsabilidade civil; não há responsabilidade civil por ‘tentativa’, ainda que a conduta tenha sido dolosa.

-Dano Patrimonial

O dano patrimonial é a lesão concreta que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deteriorização, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável. Abrangem os danos emergentes (o que o lesado efetivamente perdeu) e o lucros cessantes (o aumento que seu patrimônio teria, mas deixou de ter, em razão do evento danoso).

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Dano Moral

O dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo. Qualquer lesão que alguém sofra no objeto de seu direito repercutirá, necessariamente, em seu interesse; por isso, quando se distingue o dano patrimonial do moral, o critério da distinção não poderá ater-se à natureza ou índole do direito subjetivo atingindo, mas ao interesse, que é pressuposto desse direito, ou ao efeito da lesão jurídica, isto é, ao caráter de sua repercussão sobre o lesado, pois somente desse modo se poderia falar em dano moral, oriundo de uma ofensa a um bem material, ou em dano patrimonial indireto, que decorre de evento que lesa direito extrapatrimonial, como por exemplo, direito à vida, à saúde, provocando também um prejuízo patrimonial, como incapacidade para o trabalho, despesas com tratamento. Portanto o dano poderá lesar interesse patrimonial ou extrapatrimonial. Deverás, o caráter patrimonial ou moral do dano não advém da natureza do direito subjetivo danificado, mas dos efeitos da lesão jurídica. Pois o prejuízo causado a um bem jurídico extrapatrimonial pode originar dano material. Realmente, poderá até mesmo suceder que, da violação de determinado direito, resultem ao mesmo tempo lesões de natureza moral e patrimonial. Eis por que o dano moral suscita o problema de sua identificação, uma vez que, em regra, se entrelaça a um prejuízo material, decorrente do mesmo evento lesivo.

Culpa e Risco

Conceito de Culpa

Não basta apenas a imputabilidade do agente para gerar o ato ilícito, necessário se faz que tenha agido com culpa. Sua conduta deve ser reprovável, sendo este o segundo pressuposto. 

No estudo da responsabilidade civil, a culpa assume duas concepções. A primeira se desdobra em dolo e culpa, chamada de lato sensu. A segunda, stricto sensu, tem fundamento numa determinada posição ou situação psicológica do agente para com o fato. 

Quanto à concepção lato sensu, o dolo surge como tipo mais grave da culpa, definindo-se como a infração consciente do dever preexistente, ou o propósito de causar dano a outrem. Assevera-se a existência de outros tipos de dolo, como o dolo direto, que ocorre quando o agente atua para atingir o fim ilícito; o dolo necessário, quando o agente tem a pretensão de atingir o fim lícito, mas tem conhecimento de que sua ação inevitavelmente terá um resultado ilícito; e

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o dolo eventual, que ocorre quando o agente visa um fim lícito, mas conscientemente sabe que pode eventualmente advir do seu ato um resultado ilícito, e quer que este se produza. 

Quanto à concepção stricto sensu - culpa em sentido estrito - se refere à vontade do agente, que é dirigida ao fato causador da lesão. O agente não queria o resultado, mas este ocorre pela falta de diligência na observância da lei ou norma de conduta. Não tinha o objetivo, mas este era previsível. É a omissão da diligência exigível do agente. 

A mera culpa ocorre pela violação de um dever jurídico por negligência, imprudência ou imperícia, podendo consistir numa ação ou numa omissão. 

A negligência se relaciona com a desídia, ou seja, a falta de cuidado por conduta omissiva. A imprudência está ligada à temeridade, ou seja, é o atrevimento no agir, faltando a cautela por conduta comissiva. A imperícia é decorrente da falta de habilidade no exercício de atividade técnica.

Conceito de Risco

A palavra risco é um conceito polivalente. Várias são as acepções em que se emprega, umas

relativamente próximas, outras bem diferenciadas.

Em termos de responsabilidade civil, risco tem sentido especial, e sobre ele a doutrina civilista,

desde o século passado vem-se projetando, com o objetivo de erigi-lo em fundamento do dever de reparar,

com visos de exclusividade, ou como extremação da teoria própria, oposta à culpa.

Segundo Caio Mário da Silva Pereira, o conceito de risco que melhor se adapta às condições de

vida social "é o que se fixa no fato de que, se alguém põe em funcionamento uma qualquer atividade,

responde pelos eventos danosos que esta atividade gera para os indivíduos, independentemente de

determinar se em cada caso, isoladamente, o dano é devido à imprudência, à negligência ou a um erro de

conduta".

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Para Sérgio Cavalieri Filho, risco "é perigo, é probabilidade de dano, importando, isso, dizer que

aquele que exerce uma atividade perigosa deve-lhe assumir os riscos e reparar o dano dela decorrente".

A doutrina do risco pode, então, assim ser resumida: todo prejuízo deve ser atribuído e reparado por

quem o causou, independentemente de ter ou não agido com culpa. Resolve-se o problema na relação de

causalidade, dispensável qualquer juízo de valor sobre a culpa do responsável, que é aquele que

materialmente causou do dano.

Abuso de poder

O abuso de direito advém do predomínio da vontade do titular de um direito como condutor absoluto de seu exercício, dessa forma, na literatura moderna tem servido para demonstrar a funcionalização de uma cadeia de direitos, tais como os contratos e a propriedade.

A conceituação do abuso de direito pela doutrina é ampla, no entanto, pode-se dizer que o abuso do direito é o exercício do direito de modo a contrariar/contradizer o valor que o mesmo procura tutelar. Destarte, representaria uma violação a limites que não estão colocados na existência de direitos de terceiros, e sim em elementos típicos emanados do próprio direito, exemplificado como o seu valor ou sua função. 

Para Arnaldo Rizzardo, “o abuso de direito envolve excessos ou desmandos no exercício do direito. A pessoa extrapola os limites necessários na sua defesa, ou na satisfação dos direitos que lhe são legítimos”.

Inicialmente, não existia no Código de Processo Civil um dispositivo que legitimasse a aplicação da teoria para os casos de abuso de direito de ação ou abuso na defesa realizada em processo. Assim, os processualistas utilizaram o artigo 160 do Código Civil de 1916 para aplicar o abuso de direito.

Nos dizeres de San Tiago Dantas, no caso do abuso do direito que “está sendo exercida com um fim que não é aquele que a norma jurídica tinha em vista quando protegeu aquela atividade”.

O Código Civil de 2002 inovou o instituto do abuso de direito na medida em que trouxe à baila a tutela do abuso de direito como tratamento da matéria em um

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dispositivo autônomo, no artigo 187. Tal artigo afirma que comete também ato ilícito “o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Para Pontes de Miranda, o “abuso de direito é ato ilícito, porque é exercício irregular”. Uma crítica a essa afirmação é que a ilicitude reside no fato de uma violação de limites formais impostos pelo ordenamento. Já no abuso de direito, não existe essa afirmação prévia de limites que poderão ser rompidos, caracterizando a abusividade. 

Nesse sentido, vale mencionar as palavras de Heloisa Carpena: ”por esse mesmo motivo pode-se afirmar que o abuso supõe um direito subjetivo lícito atribuído ao seu titular, que, ao exercê-lo, o torna antijurídico. Já o ilícito, por ser contrário à disposição legal, mostra-se previamente reprovado pelo ordenamento, não comportando controle de abusividade”.

O abuso de direito acaba por agregar os demais institutos provenientes, inicialmente, do princípio da boa-fé, fazendo com que os mesmos sejam habitualmente coligados à análise de regularidade ou abusividade de determinado comportamento. Conforme salientado pelo Menezes Cordeiro, “abuso de direito, é, por definição, um espaço aberto, apto à expansão para novas áreas”.

Excludentes da Responsabilidade Civil.

O artigo aborda as hipóteses em que não haverá a necessária obrigação de indenizar ainda que sobreviva o dano.

A figura do estado de necessidade foi delineada nos arts. 160, II, 1.519 e 1.520 do Código Civil e são literalmente repetidos no art. 188 e seus incisos, art. 929 e 930 caput do Novo Código Civil Brasileiro, estes descrevem atos lesivos, porém não ilícitos que não acarretam o dever de indenizar, porque a própria norma jurídica lhe subtrai a qualificação de ilícito.

Segundo Maria Helena Diniz o estado de necessidade consiste na ofensa do direito alheio para remover perigo iminente, quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário e quando não exceder os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Será legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário. Não libera de quem o pratica de reparar o prejuízo que causou. Não podemos, aceitar, que o prejuízo recaia sobre a vítima inocente, e que esta permaneça irressarcida.

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Todavia, o agressor causador do perigo se sofrer prejuízo, restará não indenizado. Desta forma, se a vítima for inocente do perigo que gerou o estado de necessidade terá que ser ressarcida, ainda que quem esteja obrigado a reparar tenha ação regressiva contra o verdadeiro causador do perigo original.

O Código Penal define o estado de necessidade e exclui a ilicitude quando em situação de conflito ou colisão, ocorre sacrifício do bem de menor valor.

-Da Responsabilidade Civil Objetiva

É a responsabilidade sem culpa. Caso em que há a obrigação de indenizar sem que tenha havido culpa do agente.É o caso do patrão que paga os prejuízos de acidente de trânsito, no qual seu empregado dirigia o veículo.

A chamada responsabilidade objetiva foi consignada no parágrafo único do artigo 927 do atual Código Civil, que possui a seguinte redação: "Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

-Teoria dos Riscos

Os juristas, em busca da fundamentação para o estudo da responsabilidade objetiva, criaram a teoria do risco, que compreende que, se alguém exerce uma atividade criadora de perigos especiais, deve responder pelos danos que ocasionar a outrem. 

No estudo da teoria do risco, encontramos algumas modalidades trazidas pela doutrina, uma vez que o Código Civil, em seu art. 927, não faz qualquer distinção, como: 

Risco proveito: responsabiliza aquele que busca tirar proveito da atividade danosa, baseando-se no preceito de quem aufere o bônus, deve suportar o ônus (Ubi emolumentum, ibi et onus esse debet). 

Risco profissional: onde o dever de indenizar ocorre sempre que o fato prejudicial decorre da atividade ou profissão do lesado. Justifica a reparação dos acidentes de trabalho.

-Pricipio DA LIQUIDAÇÃO DO DANO

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Torna-se necessária a fixação da indenização devida ao ofendido, apurada e definida a responsabilidade civil, o que é feito por meio da liquidação do dano, procedimento necessário para estabelecer o valor da indenização destinada a recompor o patrimônio do ofendido.

Nos termos do artigo 944 do Código Civil, que consagra o princípio darestitutio in integrum, a indenização mede-se pela extensão do dano. A reparação deve dar-se de forma integral, abrangendo, nas lesões patrimoniais, os danos emergente e os lucros cessantes.

O disposto no parágrafo único do Código Civil do referido dispositivo legal não tem aplicação em se tratando de dano patrimonial. A redução equitativa da indenização de acordo com a gravidade da culpa, somente pode ter aplicação em se cuidando de dano moral.

Em se tratando de dano material decorrente de injúria, difamação ou calúnia, a indenização consistirá na reparação do dano que delas resulte para o ofendido. Se não se verificar dano material ou não se puder prová-lo, o juiz fixará indenização equitativa, na conformidade das circunstâncias do caso.

Em se tratando de danos morais, a compensação não decorre de eventual repercussão no patrimônio do ofendido, devendo ser estipulada de forma exemplar, de forma a inibir o ofensor quanto a novas investidas, recompor a consideração social ou a dignidade pessoal ofendida e servir como lenitivo par aplacar a dor íntima do ofendido. Deve levar ainda em consideração a condição pessoal das partes, a intensidade da culpa e a extensão do dano.

Devendo ser procurada, para a compensação do dano moral, uma situação material que importe em atitude capaz de obstaculizar ou minimizar os efeitos da lesão, podendo assim a reparação ser fixada, conforme o tipo de dano e feitos causados, pela retratação pública ou pela divulgação da sentença a expensas do ofensor nas ofensas à reputação, por cirurgia plástica custeada pelo ofensor, no caso de dano estético; em dinheiro, quando funcionar como lenitivo à dor íntima do ofendido; em prestação de serviços, quando o agente não tenha bens.

São garantias de indenização a hipoteca legal sobre os bens do ofensor e seguro obrigatório da responsabilidade civil, sendo exemplos, o seguro contra acidentes de trabalho e o seguro obrigatório de veículo.

Responsabilidade Civil por Homicídio

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Art. 948. No caso de HOMICÍDIO, a indenização consiste, SEM EXCLUIR OUTRAS REPARAÇÕES: I - no pagamento das DESPESAS com o TRATAMENTO da vítima, seu FUNERAL e o LUTO da família;II - na prestação de ALIMENTOS às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a DURAÇÃO PROVÁVEL DA VIDA DA VÍTIMA.

É possível pleitear o dano:- moral e- material,além das peculiaridades declaradas pela lei:- tratamento da vítima (quando o óbito não vem imediatamente);- despesas com o funeral (caixão, flores, enterro);- o luto – e os lucros cessantes, durante o período de consternação;- alimentos – baseados no que recebia a vítima de homicídio.

Suponhamos um casal mais dois filhos.O valor dos alimentos será de 75% do que o falecido ganhava.Porque ¼ o finado gastaria com ele.

Se a família é constituída pelo casal mais um filho.A indenização é de 2/3 do que ele ganhava.Porque 1/3 seria consumido pelo que morreu.

Se quem morreu é a mulher, e ela não trabalhava?Segundo a jurisprudência, os alimentos serão o que se gastaria contratando alguém para trabalhar na casa.

É o filho quem morreu:Presume-se que a partir dos 25 anos, ajudaria a família. E que até aí, a família o ajudaria.

Mas cada caso é um caso.Pode-se demonstrar que o filho de 18 anos era arrimo de família.Que a mãe era a única que trabalhava em casa.

EXPECTATIVA DE VIDAA expectativa de vida média, por lei, é de 65 anos.Se a vítima tinha 63?Somam-se CINCO anos.

A indenização pode ser cobrada de uma vez só ou mês a mês.

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A jurisprudência consolidada não autoriza a prisão.

BENEFÍCIO COM A LESÃOA pessoa pode ter um BENEFÍCIO com a lesão corporal. Pode receber uma renda – do INSS ou do seguro. Maior do que a que a que o falecido recebia.Esquece.O valor que o autor do dano vai pagar é o que o lesionado ganhava.

Perdeu o braço.Passa a ser pintor.Fica famoso.Ganha muito mais.Não importa.Teve sorte com a lesão.O benefício patrimonial pode acontecer, mas não importa para quem vai pagar.

A REGRA GERAL É: RESTITUIÇÃO INTEGRAL.

- Acidentes de trânsito

A responsabilidade civil no campo dos acidentes automobilísticos teve sua importância ampliada,

tendo em vista o crescimento dos setores da indústria

automotiva, associada à demanda urgente por meios

de transporte cada vez mais seguros, eficientes e de

baixo custo.

São carros de passeio, vans, ônibus, motocicletas,

que abarrotam as avenidas das cidades e circulam

em meio a pedestres, motociclistas, sinaleiros,

obstáculos. Não bastasse a quantidade de informações

a serem coordenadas pelo motorista ao conduzir seu

veículo num trânsito intenso, este ainda se vale de

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vias precárias, sem um planejamento de tráfego

viário adequado, o que gera situações jurídicas das

mais variadas e complexas.

Por essas razões, o número de acidentes de

trânsito, tanto nas rodovias, quanto nas cidades de

médio e grande porte é assustador.

Wilson Melo da Silva (1983, p. 11) relaciona

as causas principais dos acidentes de trânsito de

maneira singular:

[...] a falta de ajuste psicológico para a condução

do veículo e a desobediência costumeira às regras e

disposições regulamentares. E aduz que tais causas,

na generalidade com a que são expostas, comportam

desdobramentos: a embriaguez, a fadiga, o sono, o

nervosismo, os estados de depressão e angústia, a

emulação, o uso de drogas, o exibicionismo etc.

Todas essas causas e desdobramentos evidenciam

uma conduta culposa do motorista e demonstram a

necessidade de serem cominadas penas mais severas

aos causadores de acidentes.

Como a utilidade dos automóveis ultrapassou

a necessidade de locomoção, sua perda ou

deterioração gera prejuízo econômico representativo

no patrimônio do proprietário, já que estes bens

duráveis hoje se revestem de um caráter comercial

patente, por vezes sentimental e, muitas vezes, são

símbolo de status.

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Além da representatividade material do bem,

outros valores estão em jogo, tais como a vida, a

integridade moral, corporal, estética do acidentado,

também a produtividade e capacidade laboral da

pessoa, que implica a sustentabilidade familiar.

Quando se tem um acidente automobilístico,

podem estar presentes algumas figuras: empregador

e empregado, pai e filho, proprietário e condutor,

terceiros interessados ou não, seguradora e segurado,

locador e locatário, etc., que se ligam pelo condão

da culpa, no mais freqüente dos casos.

Muitas vezes, ignora-se a comprovação da culpa,

bastando o nexo causal entre a pessoa e o dano

para então surgir à responsabilidade de indenizar.

Há várias modalidades ou formas diferentes de se

atribuir a alguém o dever de pagar, seja por meio

do cometimento de um ilícito (responsabilidade

delitual: art. 186, do Código Civil), por um contrato

que vinculam as partes (responsabilidade contratual),

pelo poder de mando ou representação (art. 115 do

Código Civil), ou ainda pelo poder familiar, curatela

ou tutela (art. 932, I e II do Código Civil).

- Danos no Direito de Família.

O Direito de Família não contempla regra específica para reparação dos danos ocasionados na esfera familiar, sendo que a Doutrina e a Jurisprudência vêm

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disciplinando o assunto, mediante aplicação da regra inserta no artigo 186 do Código Civil.

No campo da responsabilidade civil, a família nunca recebeu tratamento específico, uma vez que a lei infraconstitucional responsável pela normatização do Direito de Família não avançou no tema, permanecendo arcaica em diversos pontos, englobando princípios abarcados pelo antigo Código Civil. Resultado: a Lei Civil vigente não evoluiu positivamente no que concerne ao Direito de Família, principalmente no que diz respeito à aplicação do Dano Moral no âmbito familiar.

O Direito de Família no que se refere às relações conjugais sempre foi analisado sob o aspecto da culpa na ruptura da relação conjugal, atribuindo-se ao cônjuge faltoso punições de natureza material, como o dever de prestar alimentos ao cônjuge inocente, e ainda, sanções relativas à perda da guarda dos filhos, ou no caso da esposa, interessada ao direito do uso do nome do marido.

Entrementes, é notório que aludidas sanções impostas por ocasião da violação dos deveres conjugais não são e nunca foram suficientes para inibirem novas práticas que importem em violação aos deveres matrimoniais, ou seja, as sanções preconizadas pela legislação vigente  não representam formas efetivas de punição que inibiam a prática de condutas desonrosas, de forma que mesmo antes do novo Código Civil, a Jurisprudência e Doutrina  já preocupavam-se com o assunto.

Entretanto, sob outro enfoque, uma vez que no século XXI a concepção da ordem jurídica vigente nos reporta a uma revolução de antigos conceitos retrógrados e patriarcais, eis que o novo ordenamento constitucional consagra princípios fundamentais, tais como da igualdade e da dignidade humana, elevando a importância dos direitos inerentes ao ser humano, denominados direitos personalíssimos.

Inexecução das Obrigações.

A regra é o cumprimento das obrigações na exata forma que foi acordada, assistindo ao credor o direito de exigir o seu cumprimento na forma convencionada, pois o inadimplemento fere a paz e ordem social, devendo ser uma exceção._ (Diniz) - Ter-se-á o inadimplemento da obrigação quando faltar a prestação devida, isto é, quando o devedor não a cumprir, voluntária ou involuntariamente. Se o descumprimento da obrigação resultar de fato imputável ao devedor, haverá inexecução voluntária, pois o obrigado deixa de cumprir a prestação devida sem a dirimente do caso fortuito ou força maior. A infração do dever de cumprir a obrigação pode ser intencional, caso em que se terá dolo, ou resultar de negligência, imprudência ou imperícia do devedor.

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hipótese em que se terá culpa. Se o descumprimento decorrer de evento estranho à vontade do devedor, será involuntário, por configurar-se caso fortuito ou força maior, não originando, em regra, a sua responsabilidade.

Responsabilidade Civil do Advogado.

à responsabilidade civil do advogado, não pairam dúvidas sobre o seu caráter contratual, decorrente de mandato. Acatando essa tese, Doni Júnior, com base em Maria Helena Diniz (2003, p.51), entende que: “todavia, que, apesar de ser um munus público, o mandato judicial apresenta uma feição contratual, por decorrer de uma obrigação de meio, exceto, nos casos em que presta assistência judiciária.”

De fato, o parágrafo 2º, da Lei 8906, de 04.07.1994 (Estatuto da Advocacia e da OAB) deixa claro que “no processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.”

Orlando Gomes, citado por Doni Júnior (2003, p.53) afirma que “Mandato é o contrato pelo qual alguém se obriga a praticar atos jurídicos ou administrar interesses por conta de outra pessoa.”

A natureza jurídica do mandato é contratual, consensual, bilateral, não solene, personalíssimo e, em regra gratuito.

A pessoa que recebe os poderes estabelecidos no mandato é o mandatário ou procurador, quem delega é o mandante.

As obrigações principais do mandatário, oriundas do próprio contrato, são de agir em nome do mandante com cautela e atenção, repassando-lhe as vantagens que obtiver em seu nome e, no final de sua gestão, prestar contas dos atos praticados. Com efeito, o advogado tem a obrigação de utilizar todos os meios de defesa e os recursos, previstos em lei, que sejam cabíveis e convenientes aos interesses do cliente.

Ruy Sodré citado por Antônio Laért Vieira Júnior alerta:

“Nossa profissão é liberal, sem dúvida, mas não se pode confundir liberdade com licenciosidade. Somos livres, mas nossa liberdade está condicionada, limitada pelo serviço público que prestamos como elemento indispensável à administração da justiça.” (2003, p.71).

A convenção entre o cliente e o profissional do direito implica obrigação de meio e não de fim ou resultado, no qual o procurador se compromete a dedicar-se com afinco à causa contratada, se esforçando com a finalidade de alcançar a vitória desejada, sem, no entanto, se vincular efetivamente com o resultado.

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A obrigação de meio é aquela que requer apenas prudência e diligência na prestação do serviço para atingir um resultado, no entanto, não pode o advogado prevê-lo.

Se tais pressupostos forem devidamente cumpridos e a obrigação for bem executada, não há que se imputar nenhuma responsabilidade em eventual insucesso na causa.

A responsabilidade civil do advogado decorre da culpa e tem fundamento na responsabilidade civil subjetiva. A responsabilidade civil do advogado exige que se comprove a efetiva culpa, quando no exercício da profissão, para que se pretenda qualquer tipo de ressarcimento originado de sua conduta. Em razão da sua obrigação ser de meio e não de resultado, deve ter ele a garantia de estar isento de responsabilidade no caso de ter procedido com todo o cuidado, diligência e competência.

Doni júnior comentando Maria Helena Diniz ensina que o advogado será responsabilizado civilmente:

“a) pelo erro de direito;

b) pelo erro de fato;

c) pelas omissões de providências necessárias para ressalvar direitos do seu constituinte;

d) pela perda de prazo;

e) pela desobediência às instruções do constituinte;

f) pelos pareceres que der contrário à lei, à jurisprudência e à doutrina;

g) pela omissão de conselho;

h) pela violação de segredo profissional;

i) pelo dano causado a terceiro;

j) pelo fato de não representar o constituinte, para evitar-lhe, durante os dez dias seguintes à notificação de sua renúncia ao mandato judicial (CPC, art. 45);

k) pela circunstância de ter feito publicações desnecessárias sobre alegações forenses ou relativas a causas pendentes;

l) por ter servido de testemunha nos casos arrolados no art. 7º, XIX, da Lei 8.906/94;

m) por reter ou extraviar autos que se encontravam em seu poder;

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n) pela violação ao disposto no art. 34, XV, XX, XXI, da Lei 8.906/94.” (2003, p.57).

Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo.

A relação de consumo, como é entendida atualmente, foi estruturada no decorrer do século XX (VENOSA, 2012, p. 235). Consoante à lição de Rizzatto Nunes (2012, p. 40), os primeiros documentos legais utilizados em defesa do consumidor foram produzidos em solo estadunidense e datam do ano de 1890.

Não obstante a juventude desse ramo jurídico, nota-se que, desde de sua individualização, o direito do consumidor tem progredido exponencialmente. As causas deste rápido progresso são várias. No século passado o planeta observou a expansão capitalista dominar o ocidente, reconstruindo a maneira como as pessoas compram e vendem produtos.Os avanços tecnológicos e científicos proliferaram, dando forças à sociedade de consumo. O aumento demográfico exigiu novos meios de produção em massa para satisfazer as necessidades crescentes no planeta.

Com isso, houve uma verdadeira revolução no modus vivendi dos habitantes do globo. Diversos foram os confortos e as comodidades proporcionadas pelo desenvolvimento da sociedade de consumo. Contudo, nem só benesses vieram com esta revolução consumerista. Como bem destaca Sérgio Cavalieri Filho (2012, p. 512):

o desenvolvimento tecnológico e científico, a par dos incontáveis benefícios que trouxe a todos nós e à sociedade em geral, aumentou ao infinito os riscos do consumidor, por mais paradoxal que isso possa parecer. E assim é porque na produção em série um único defeito de concepção ou de fabricação pode gerar riscos e danos efetivos para um número indeterminado de consumidores. São os riscos do consumo, riscos em série, riscos coletivos.

A vulnerabilidade do consumidor foi acentuada. Antes,

fornecedor e consumidor encontravam-se em uma situação de relativo equilíbrio de poder de barganha (até porque se conheciam), agora é o fornecedor [...] que, inegavelmente, assume a posição de força na relação de consumo e que, por isso mesmo, “dita as regras” (GRINOVER, 2011, p. 4).

O advento da sociedade de consumo reduziu consideravelmente as situações em que fornecedor e consumidor sentam à mesa para discutir o complexo de cláusulas que irá reger a relação entre ambos. Segundo Anthony Giddens, agora o consumidor tem que acreditar em sistemas peritos, ou seja, em “sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam

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grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje” (GUARAGNI, 2011, p. 7).

O princípio da confiança tornou-se o baluarte que sustenta a relação de consumo. Aliás, como bem lembrado por Sérgio Cavalieri Filho (2012, p. 512), consumir converteu-se em aventura, porque o consumidor está à mercê da idoneidade do fornecedor.

A relação de consumo passou a ser pós-personalizada (MARQUES, 2006, p. 403-405), isto é, despersonalizada. Abandonou-se o hábito milenar de lidar diretamente com o dono do produto, para depositar as esperanças na força de símbolos e marcas.

Tais fatores exigiram que a teoria contratual clássica tivesse suas bases revisitadas e reeditadas (MARQUES, 2006, p. 163-167). O modelo contratual criado seguiu a ideia da própria sociedade de consumo, um contrato planejado unilateralmente em que, como destaca Cláudia Lima Marques (2006), de um lado está o autor do contrato, do outro, o aderente. A doutrina denominou esta espécie contratual de contrato de adesão.

Entretanto, este novo paradigma contratual deixava o consumidor de mãos atadas, porque, ao mesmo tempo em que, com a produção em massa, disponibilizava-se um vasto campo de produtos ao consumidor, sua autonomia da vontade ficava contratualmente limitada. Ao consumidor restava simplesmente dizer “sim” ou “não”.

Atento a esta disparidade entre consumidor e fornecedor, o Constituinte de 1988 outorgou status constitucional ao direito do consumidor, exigindo a confecção de um código para regulamentar a matéria (artigo 48, ADCT). Foi assim que surgiu o Código de Defesa do Consumidor.

Inspirado nos modelos europeus e norte-americanos, o Código acrescentou um tom brasileiro à sua redação, inovando em vários dispositivos. Estruturado de maneira didática e ampla, permitiu/permite o fácil manuseio e aplicação dos institutos contidos em seu bojo.

O Código edificou o vínculo consumerista sobre três pilares: fornecedor, consumidor e produto.A relação de consumo tornou-se toda

relação jurídica contratual ou extracontratual, que tem num polo o fornecedor de produtos e serviços e no outro o consumidor; é aquela realizada entre fornecedor e o consumidor tendo por objeto a circulação de produtos e serviços (CAVALIERI, FILHO, 2012, p. 517).

Com o intuito de ampliar o espectro de incidência de suas normas, a Lei 8.078/90 utilizou conceitos abrangentes para definir os componentes da relação de consumo. Aliás, nas palavras dos relatores do anteprojeto, Ada

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Pellegrini Grinover e Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin (2011, p. 8), é esta uma das principais novidades do Codex: a “formulação de um conceito amplo de fornecedor, incluindo, a um só tempo, todos os agentes econômicos que atuam, direta ou indiretamente, no mercado de consumo, abrangendo inclusive as operações de crédito e securitárias”.

Destarte, hoje, toda e qualquer relação jurídica que se adeque aos parâmetros fixados pelo Código (artigos 2º e 3º) estará albergado pela égide protecionista do direito do consumidor.

Bibliografia

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/24338/responsabilidade-civil-nas-relacoes-de-consumo#ixzz2fGWAwbhD

Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 1000 cursos online com certificado http://www.portaleducacao.com.br/direito/artigos/37846/culpa-responsabilidade-civil#ixzz2fGKERn3L