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REABILITAÇÃO DE RESTAURO DE EDIFÍCIOS ANTIGOS: A INTERVENÇÃO NO PALÁCIO UNIVERSITÁRIO Amanda de Araujo Assumpção Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Profº. Eduardo Linhares Qualharini RIO DE JANEIRO Março de 2018

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REABILITAÇÃO DE RESTAURO DE EDIFÍCIOS ANTIGOS: A INTERVENÇÃO

NO PALÁCIO UNIVERSITÁRIO

Amanda de Araujo Assumpção

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Profº. Eduardo Linhares Qualharini

RIO DE JANEIRO

Março de 2018

ii

REABILITAÇÃO DE RESTAURO DE EDIFÍCIOS ANTIGOS: A INTERVENÇÃO

NO PALÁCIO UNIVERSITÁRIO

Amanda de Araujo Assumpção

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

______________________________________________

Prof. Eduardo Linhares Qualharini (orientador).

______________________________________________

Profa. Elaine Garrido Vazquez.

______________________________________________

Profa. Carla Araújo Mota

RIO DE JANEIRO

Março de 2018

iii

Assumpção, Amanda de Araujo

Reabilitação de restauro de edifícios antigos: a intervenção no

Palácio Universitário / Amanda de Araujo Assumpção – Rio de

Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2018.

XII, 66 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Eduardo Linhares Qualharini

Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica / Curso

de Engenharia Civil, 2018.

Referências bibliográficas: p. 63-66.

1. Introdução 2. Reabilitação de Edifícios 3. Exemplo de

Aplicação: O Palácio Universitário 4. Considerações Finais

I. Eduardo Linhares Qualharini. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

Civil. III. Reabilitação de edifícios antigos: a intervenção no

Palácio Universitário.

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, aos meus pais, Marcello Assumpção e Claudia Assumpção, e

aos meus irmãos, Marcella Assumpção, Bruno Assumpção e Gabriel Assumpção, que

sempre me apoiaram e incentivaram com muito amor.

Agradeço ao meu orientador Eduardo Linhares Qualharini por todo o aprendizado e

oportunidades oferecidas. Agradeço também aos colegas e amigos do NPPG.

Agradeço às pessoas que ajudaram na elaboração deste trabalho, o engenheiro Jorge

Campana, a arquiteta Isabella Rocha e à equipe da Biapó Construtora pela atenção e

presteza.

Agradeço aos amigos que adquiri ao longo da minha vida acadêmica, tanto no curso de

Engenharia Civil quanto nos treinos e competições da Associação Atlética Acadêmica

Escola Politécnica, em especial a Amanda Guimarães, Anna Carolina Sermarini, Anna

Fagundes, Clarice Sipres.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Reabilitação de restauro de edifícios antigos: a intervenção no Palácio

Universitário

Amanda de Araujo Assumpção

Março/2018

Orientador: Eduardo Linhares Qualharini

Curso: Engenharia Civil

Resumo

Construído no século XIX, o Palácio Universitário testemunhou diversos eventos

históricos desde a sua inauguração. Localizado na Urca, já passou por diversas

intervenções, mas nunca foi totalmente recuperado. Esta pesquisa traz uma revisão

bibliográfica dos conceitos, características e fases da reabilitação. O processo de

restauração deve requalificar e beneficiar a edificação, sem deixar de considerar as

limitações e exigências presentes nas intervenções de edifícios históricos. O Palácio

Universitário é apresentado como exemplo de aplicação das práticas de reabilitação,

através da descrição das ações e técnicas utilizadas.

Palavras-chave: Reabilitação; Edifícios históricos; Palácio Universitário; Restauro.

vi

Abstract of Monograph present to Poli/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements

for degree of Civil Engineer.

Rehabilitation of restoration of Anciet Historic: Intervention in the University

Palace

Amanda de Araujo Assumpção

March/2018

Advisor: Eduardo Linhares Qualharini

Course: Civil Engineering

Abstract

Built in the 19th century, the University Palace has witnessed several historical events

since its inauguration. Located in Urca, it has undergone several interventions, but has

never been fully recovered. This research brings a bibliographic review of the concepts,

characteristics and phases of rehabilitation. The restoration process must requalify and

benefit the building, while taking into account the limitations and requirements present

in the interventions of historic buildings. The University Palace is presented as an

example of application of rehabilitation practices, through the description of the actions

and techniques used.

Keywords: Rehabilitation; Anciet Buildings; University Palace; Restoration.

vii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................. 1

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.................................................................... 1

1.2 OBJETIVO .................................................................................................. 2

1.3 METODOLOGIA ........................................................................................ 2

1.4 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ......................................................... 2

2 REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS ............................................... 3

2.1 CONCEITOS DE REABILITAÇÃO ........................................................... 3

2.1.1 Conservação E Restauração ..................................................................... 3

2.1.2 Alteração .................................................................................................... 5

2.1.3 Manutenção ............................................................................................... 5

2.1.4 Reforma...................................................................................................... 5

2.1.5 Reparo ........................................................................................................ 6

2.1.6 Retrofit ....................................................................................................... 6

2.2 TIPOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES............................................................. 7

2.2.1 Edificações Antigas E Degradadas ........................................................... 8

2.2.2 Edificações Inacabadas E Abandonadas.................................................. 9

2.2.3 Edificações Com Sistemas Prediais Ineficientes Ou Inadequados ....... 10

2.2.4 Edificações Com Mudança De Uso ......................................................... 10

2.3 NÍVEIS DE INTERVENÇÃO ................................................................... 11

2.4 FASES DO PROJETO DE REABILITAÇÃO ........................................... 16

2.4.1 Análise De Viabilidade ............................................................................ 17

2.4.2 Diagnóstico ............................................................................................... 18

2.4.3 Definição Da Estratégia .......................................................................... 23

2.4.4 Projeto De Execução ............................................................................... 24

2.4.5 Análise Técnico-Econômica De Propostas ............................................. 24

2.4.6 Execução Da Obra ................................................................................... 24

3 EXEMPLO DE APLICAÇÃO DE REABILITAÇÃO DE

RESTAURO: A INTERVENÇÃO NO PALÁCIO UNIVERSITÁRIO

26

3.1 FASE 2: DIAGNÓSTICO ......................................................................... 26

viii

3.1.1 Histórico ................................................................................................... 26

3.1.2 Materiais E Métodos Construtivos ......................................................... 31

3.1.3 Identificação De Patologias ..................................................................... 44

3.2 FASE 3: DEFINIÇÃO DAS SOLUÇÕES ................................................. 53

3.2.1 Fachadas Externas .................................................................................. 53

3.2.2 Forros ....................................................................................................... 56

3.2.3 Telhados ................................................................................................... 57

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................... 61

4.1 COMENTÁRIOS ...................................................................................... 61

4.2 SUGESTÕES ............................................................................................ 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................. 63

ANEXO I – PLANTAS COM IDENTIFICAÇÃO DAS

PATOLOGIAS .................................................................................. 67

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: A reabilitação de edificações no contexto da construção ................................. 6

Figura 2: Agentes envolvidos na reabilitação de um edifício .......................................... 7

Figura 3: Diferenças de valor de mercado de um edifício comercial ............................... 8

Figura 4: Obra inacabada e abandonada em Osasco, SP .................................................. 9

Figura 5: Edificio comercial que passou por retrofit ...................................................... 10

Figura 6: O prédio que abrigava um colégio transformado em hotel na Lapa, Rio de

Janeiro ............................................................................................................................. 11

Figura 7: Fatores que influenciam os níveis de intervenções. ........................................ 12

Figura 8: Fluxograma com as fases da reabilitação ........................................................ 17

Figura 9: Hospício de Pedro II em 1860......................................................................... 26

Figura 10: Planta do térreo. Construção de 1852 em amarelo e acréscimos de 1904 em

azul.................................................................................................................................. 27

Figura 11: Planta do 2° pavimento, Construção de 1852 em amarelo e acréscimos de 1904

em azul ............................................................................................................................ 27

Figura 12: Planta do 3° pavimento. Construção de 1852 em amarelo ........................... 27

Figura 13: Detalhe das portas-sacadas externas e patologias nas argamassas ............... 28

Figura 14: Cartaz de divulgação do show de Bossa Nova em 1968 ............................... 29

Figura 15: Incêndio atinge a capela em 2011 ................................................................. 30

Figura 16: Patologias presentes em 2015: a) infiltrações e mofo b) queda de reboco da

fachada ............................................................................................................................ 30

Figura 17: Elementos em cantaria: a) no 2° piso do pórtico b) base da coluna no térreo

........................................................................................................................................ 31

Figura 18: Parede em alvenaria de pedra, com arco em tijolos ...................................... 32

Figura 19: Fachada da ECO, junto à piscina .................................................................. 33

Figura 20: Sanitário do Instituto de Educação ................................................................ 33

Figura 21: Tetos do térreo .............................................................................................. 34

Figura 22: Tetos do 2° pavimento .................................................................................. 35

Figura 23: Tetos do 3° pavimento .................................................................................. 35

Figura 24: Sistema tabuado liso com mata-juntas .......................................................... 36

Figura 25: Sistema saia e camisa .................................................................................... 36

Figura 26: Forros de madeira: a) com cimalha com filetes b) saia e camisa na ECO .... 37

x

Figura 27: Forro em gesso decorado, salão Dourado. Foto: Bira Soares ....................... 38

Figura 28: Planta de cobertura ........................................................................................ 38

Figura 29: Telhado sobre antes da intervenção. ............................................................. 39

Figura 30: Duas últimas linhas de telhas planas e calha em fibrocimento ..................... 40

Figura 31: Elementos do sistema de drenagem: a) gárgulas em pátio interno b) delfim na

terminação do duto de águas pluviais ............................................................................. 40

Figura 32: Platibanda: a) estátuas e vasos na cobertura b) avanço de vegetação pela

platibanda........................................................................................................................ 41

Figura 33: Tesouras originais do Hospício Pedro II. ...................................................... 41

Figura 34: Tesoura 1: a) uma das tesouras em 2005 b) planta da tesoura. ..................... 42

Figura 35: Tesoura 2 do Palácio Universitário. .............................................................. 42

Figura 36: Tesoura 3 do Palácio Universitário ............................................................... 42

Figura 37: Estrutura com pontaletes do Palácio Universitário ....................................... 43

Figura 38: Indicações de regiões com características históricas diferentes em suas

estruturas.. ....................................................................................................................... 43

Figura 39: Cambotas e fasquias compondo a estrutura da claraboia .............................. 44

Figura 40: Detalhes construtivos de da estrutura da claraboia ....................................... 44

Figura 41: Patologias da fachada principal oeste ........................................................... 46

Figura 42: Patologias da fachada posterior oeste ........................................................... 46

Figura 43: Patologias da fachada oeste........................................................................... 47

Figura 44: Patologias da fachada leste. .......................................................................... 47

Figura 45: Localização do pátio 5. ................................................................................. 47

Figura 46: Patologias da fachada A do pátio 5. .............................................................. 48

Figura 47: Patologias da fachada B do pátio 5. .............................................................. 48

Figura 48: Patologias da fachada C do pátio 5. .............................................................. 49

Figura 49: Patologias da fachada D do pátio 5. .............................................................. 49

Figura 50: Localização do pátio 6. ................................................................................. 50

Figura 51: Patologias da fachada A do pátio 6. .............................................................. 50

Figura 52: Patologias da fachada B do pátio 6. .............................................................. 51

Figura 53: Patologias da fachada C do pátio 6. .............................................................. 51

Figura 54: Patologias da fachada D do pátio 6. .............................................................. 52

Figura 55: Modelo recriado com almofadas e telhas. ..................................................... 53

xi

Figura 56: Modelo recriado com aplicação de argamassa com diferentes tonalidades .. 54

Figura 57: Fachada sendo lixada. ................................................................................... 54

Figura 58: Fachadas em diferentes fases da restauração. ............................................... 55

Figura 59: Tampa de fibra de vidro para cachepot em processo de secagem. ............... 55

Figura 60: Molde para produção de cachepot. ............................................................... 56

Figura 61: Forros do segundo pavimento restaurados. ................................................... 56

Figura 62: Telhado recriado para estudar interface com calhas e platibanda. ................ 57

Figura 63: Estrutura do telhado recebendo tratamento contra microrganismo. ............. 58

Figura 64: Instalação da cobertura provisória. ............................................................... 58

Figura 65: Construção do telhado da nave da capela: a) fixação dos caibros b) bandejas

metálicas e ripas de madeira. .......................................................................................... 59

Figura 66: Telhado da rotunda da capela: a) estrutura metálica b) ripas de madeira sobre

estrutura metálica. ........................................................................................................... 59

Figura 67: Fixação de folhas de cobre no telhado da rotunda. ....................................... 60

Figura 68: Elementos de ferro degradados que não serão reutilizados. ......................... 60

xii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Síntese dos principais conceitos referente a cada tipo de tipologia. .............. 14

Quadro 2: Aplicações de reabilitação ligeira.. ................................................................ 15

Quadro 3: Aplicações de reabilitação média.. ................................................................ 15

Quadro 4: Aplicações de reabilitação profunda. ............................................................ 16

Quadro 5: Aplicações de reabilitação excepcional. ........................................................ 16

Quadro 6: Identificação de patologias nos azulejos das fachadas .................................. 45

Quadro 7: Identificação de patologias das argamassas das fachadas. ............................ 45

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As intervenções de reabilitação têm características diferentes da construção tradicional e, além

de recuperar o patrimônio construído, precisa atender a expectativas e solicitações específicas,

que surgem com os avanços da modernidade, sempre baseadas em três pilares principais: os

valores sociais, ambientais e econômicos. (SILVA, 2017)

Geralmente, o centro urbano das grandes cidades reúne a maior parte de seu patrimônio cultural.

Nas últimas décadas, estes centros sofreram processos de esvaziamento devido a investimentos

para expansão das cidades e oferta de estruturas mais modernas em outros espaços, o que

contribuiu para a degradação destas áreas.

Nos últimos anos, o Estado buscou implantar projetos e políticas para renovar as construções

dos centros urbanos, pois há uma infraestrutura instalada subutilização, quanto a sistema viário,

linhas de metrô, sistemas de abastecimento de água, esgoto e energia elétrica. Além disso, sua

influência é essencial para a revitalização econômica, social e cultural destas áreas. (CEF, 2005

apud Jesus, 2008).

Outros fatores também justificam o investimento em ações de reabilitação, são eles:

(CROITOR, 2008)

a) Aproveitamento da infraestrutura existente no entorno e da sua localização

b) Impacto na paisagem urbana

c) Preservação do patrimônio histórico e cultural

d) Déficit habitacional e a sustentabilidade ambiental

O Palácio Universitário, que foi tombado pelo IPHAN em 1972, está localizado na Urca e

hospeda comunidades acadêmicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Representa um caso de reabilitação predial para preservação do patrimônio histórico e cultural

para recuperar seu desempenho e para atender a novas demandas.

O projeto foi elaborado pelo Escritório Técnico da Universidade (ETU), que é o órgão da

Universidade responsável pela elaboração e acompanhamento de projetos, fiscalização de obras

e levantamento de patologias das edificações da Universidade. Devido às dificuldades de

financiamento, a intervenção foi divindade em fases e a primeira começou em 2015, com o

objetivo de restaurar seus telhados e fachadas.

2

1.2 OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura disponível acerca da

reabilitação de edifícios, apresentar a definição de seus conceitos, seus campos de aplicação,

caracterizar os níveis e fases de um processo de reabilitação predial. O Palácio Universitário é

apresentado como um exemplo de aplicação deste tipo de intervenção predial, onde será feito

um descritivo das ações realizadas e análise de suas principais características.

1.3 METODOLOGIA

A fim de alcançar os objetivos propostos foi realizada uma pesquisa documental, onde foram

consultados livros, revistas, artigos, monografias, dissertações, teses e sites referentes ao tema

abordado, sendo realizada uma pesquisa bibliográfica. Houve ainda pesquisa nos principais

meios de veiculação de notícias a respeito da reabilitação Palácio. Ainda fez parte deste trabalho

uma visita ao canteiro de obras e entrevista com o engenheiro responsável, que disponibilizou

documentos e registros fotográficos do desenvolvimento.

A partir da abordagem descrita, foi possível chegar ao resultado, organizado neste documento

e em uma apresentação para divulgação da pesquisa realizada.

1.4 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho é composto de quatro capítulos desenvolvidos de forma a atender aos objetivos

propostos, conforme explicitado a seguir.

O primeiro capítulo trata da introdução do tema, onde são feitas as considerações iniciais, o

objetivo da escolha do tema, metodologia de pesquisa e estruturação do trabalho.

O segundo capítulo tem como objetivo conceituar a reabilitação tanto no nível urbano e quanto

no nível do edifício, e definir quais os campos de aplicação de intervenção predial existentes.

Além disso, define os níveis de intervenção existentes, as principais fases do processo e

apresenta recomendações de técnicas e de gestão das operações.

O terceiro capítulo apresenta o exemplo de aplicação, trazendo um breve histórico da

construção do Palácio Universitário e de intervenções anteriores. Também expõe as motivações

para as obras, as principais intervenções realizadas, as estratégias utilizadas e o

acompanhamento físico e financeiro da obra.

O quarto e último capítulo trata das considerações finais do trabalho, com uma análise final do

atendimento aos objetivos do trabalho e apresentação, em seguida, das suas referências

bibliográficas e um anexo.

3

2 REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS

2.1 CONCEITOS DE REABILITAÇÃO

Quando aplicado nas áreas de arquitetura e engenharia, o termo reabilitação pode ser analisado

a partir de dois pontos de vista: como uma reestruturação urbana da região onde o edifício está

inserido ou como uma intervenção no próprio edifício (OLIVEIRA et. al., 2016). Segundo

Cóias (2004), a reabilitação pode ser entendida em vários âmbitos, sendo os mais correntes o

da cidade e o do edifício.

A reabilitação, sob o ponto de vista da cidade, é definida no Manual de Reabilitação de Áreas

Urbanas Centrais (2008) como:

(...) um processo de gestão de ações integradas, públicas e privadas, de recuperação e

reutilização do acervo edificado em áreas já consolidadas da cidade, que compreende

os espaços e edificações ociosas, vazias, abandonadas, subutilizadas e insalubres; além

da melhoria dos espaços de uso coletivo, dos serviços públicos, dos equipamentos

comunitários e da acessibilidade, na direção do repovoamento e da utilização pelas

diferentes classes sociais. (...)

Freitas (2012) entende que a reabilitação de edifícios pode ser definida como “ações de

intervenção necessárias e suficientes para os dotar de condições de segurança, funcionalidade

e conforto, respeitando a sua arquitetura, tipologia e sistema construtivo.” Já Barrientos (2004)

define a reabilitação como ações com o objetivo de recuperar e beneficiar edificações,

utilizando mecanismos para fazer uma atualização tecnológica.

Este trabalho tem como objetivo a análise da reabilitação no nível de edifícios e, para que seja

clara a compreensão da pesquisa realizada, é importante definir os principais termos inseridos

neste contexto.

2.1.1 CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO

De acordo com Paiva et. al. (2006), há muitos séculos existe a preocupação de conservar o

patrimônio arquitetônico, mas apenas monumentos que apresentavam valores históricos eram

alvo de ações. Até ao século XVIII, entendia‑se por “restauro” qualquer intervenção visando a

reutilização de construções disponíveis, utilizando os conceitos arquitetônicos, os

conhecimentos e as normas vigentes na época da intervenção. No século XIX se ampliam os

conceitos de patrimônio e da sua conservação, com a discussão de quais metodologias se deve

aplicar na conservação e/ou no restauro.

4

O patrimônio histórico e artístico nacional é definido, no decreto-lei n° 25, de 30 de novembro

de 1937, como “o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação

seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer

por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.”

O II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos aprovou,

em 1964, o texto que ficou conhecido como Carta de Veneza e que definiu os termos

conservação e restauração como ações para salvaguardar monumentos históricos.

Segundo a Carta de Veneza, um monumento histórico pode ser tanto uma criação arquitetônica

isolada, quanto um sítio – urbano ou rural – que apresente evidências de uma civilização

particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Inclui grandes

obras e, também, as modestas que tenham adquirido significado cultural.

Ainda segundo a Carta de Veneza, conservação é a manutenção permanente de monumentos,

sendo proibidas toda construção nova, toda destruição e toda modificação que altere as relações

de volumes e de cores. Também, não é tolerado deslocamento de todo o monumento ou de parte

dele, e nem a retirada de elementos de escultura, pintura ou decoração.

Para Jesus (2008), a conservação está relacionada à preservação da edificação devido a sua

importância cultural e histórica. Pode-se acrescentar que envolve um conjunto de processos,

dentre eles a restauração.

A restauração é definida, na Carta de Veneza, como uma operação de caráter excepcional que

tem como objetivo conservar os aspectos históricos e estéticos do monumento, respeitando os

materiais e documentos originais, sendo sempre precedida de um estudo arqueológico e

histórico do monumento. Serão tolerados acréscimos de partes faltantes desde que os novos

elementos se integrem harmoniosamente ao conjunto, mas de maneira que seja possível

distingui-los do original para não haver falsificação da sua história.

Segundo Tavares (2011), restauração é a execução de ações em edifícios degradados com o

objetivo de recuperar a aparência de uma data específica. Pretende-se restituir sua arquitetura,

devendo existir profundo conhecimento de suas técnicas construtivas e um estudo documentado

para seleção das soluções mais adequadas. Já para Jesus (2008), restauração está relacionada a

atividades de conservação do patrimônio com elevado grau de complexidade e que exigem

conhecimentos técnicos específicos.

5

Barrientos (2004) define a restauração como um conjunto de ações que tem como objetivo

recuperar a concepção original ou momento áureo da história da edificação, se referindo a

intervenções em obras de arte.

2.1.2 ALTERAÇÃO

De acordo com Tavares (2011), alteração aplicada na reabilitação de edifícios refere-se a ações

que não tem como objetivo proporcionar a manutenção ou reparação de elementos, mas sim

alterar sua aparência ou seu funcionamento.

Assim, como Jesus (2008) apresenta, as atividades de alterações podem ser classificadas em

três níveis: alteração nível 1 (remoção, reutilização ou aplicação de novos materiais aos

elementos do edifício), alteração nível 2 (alterações que reconfiguram espaços ou subsistemas)

e alteração nível 3 (ocorrem em mais de 50% da área total do edifício).

2.1.3 MANUTENÇÃO

Segundo a NBR 5674:2012 – Manutenção de edificações: requisitos para o sistema de gestão

de manutenção, manutenção de edificações é o “conjunto de atividades a serem realizadas para

conservar ou recuperar a capacidade funcional da edificação e de suas partes constituintes de

atender as necessidades e segurança dos seus usuários.” Além disso, esta mesma norma

classifica as ações de manutenção em três categorias:

a) manutenção rotineira: serviços simples e padronizados, que podem ser executados

por equipe própria.

b) manutenção planejada: serviços agendados previamente por pedido dos usuários,

por relatórios de inspeções ou por estimativa de durabilidade dos subsistemas;

c) manutenção não planejada: serviços não previstos que exigem intervenção imediata,

incluindo a manutenção de emergência.

Para Flores e Brito (2002), a manutenção também pode ser analisada sob três perspectivas:

manutenção preventiva (ações planejadas e periódicas, provoca menos interferência na

utilização dos espaços), manutenção corretiva (ações executadas de acordo com o resultado de

vistorias) e manutenção de melhoramento (ações que modificam elementos para melhorar suas

características iniciais).

2.1.4 REFORMA

Segundo Barrientos (2004), reforma é a intervenção que busca o retorno a forma original.

Gieseler (2009) caracteriza a reforma como a execução de pequenos reparos em instalações e

6

equipamentos já existentes, tais como limpeza de coberturas, melhoria de instalações elétricas

ou reparo em revestimentos.

2.1.5 REPARO

Segundo Barrientos (2004), reparos são intervenções pontuais em anomalias localizadas. Já

Jesus (2008) caracteriza reparo como recuperação de materiais, elementos ou equipamentos da

edificação.

2.1.6 RETROFIT

O termo Retrofit significa atualização tecnológica de edifícios antigos, ou seja, utilização de

materiais de última geração e incorporação de novas técnicas com a finalidade de prolongar a

vida útil, o conforto e a funcionalidade de edifícios antigos. O retrofit não se aplica unicamente

a edifícios de valor arquitetônico ou tombados pelo patrimônio histórico, qualquer edifício

decadente pode renovar sua fachada e agregar modernas instalações sem precisar,

necessariamente, substituir componentes da edificação. (BARRIENTOS, 2004)

Ainda segundo Barrientos (2004), há quatro graus de intervenção em um retrofit: rápido

(recuperação de instalações e revestimentos internos), médio (além dos serviços anteriores,

inclui intervenções em fachadas e mudanças nos sistemas de instalações), profundo (inclui os

serviços anteriores e mudanças de layout) e excepcional (realizada em edificações históricas ou

localizadas em áreas protegidas).

Figura 1: A reabilitação de edificações no contexto da construção (adaptado de Jesus, 2008)

Reabilitaçao Urbana

Construção Civil

Reabilitação de edificações

- Conservação

- Restauração

- Manutenção

- Alteração

- Retrofit

- Reparo

- Reforma

7

2.2 TIPOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES

Os bens edificados suscetíveis a passar por um processo de reabilitação estão localizados,

geralmente em maior número, nas cidades mais antigas. Este processo envolve diversos

agentes, cada um motivado por seus próprios interesses, de tal modo que a reabilitação não se

aplica apenas aos edifícios antigos e degradados. (CROITOR, 2008)

Figura 2: Agentes envolvidos na reabilitação de um edifício (adaptado de Croitor, 2008)

As intervenções urbanas realizadas no passado na cidade do Rio de Janeiro incentivavam a

remoção de habitações do centro da cidade, mas tal política provocou a desocupação e

abandono de edificações. Hoje, a habitação é encarada como uma forma de recuperar regiões

degradadas, pois garante presença de pessoas durante todo o dia. Assim, a existência de

edifícios degradados em áreas valorizadas e o interesse na ocupação dessas áreas transformam

a reabilitação em uma nova oportunidade para o setor da construção civil. (CROITOR, 2008)

O mercado de reabilitações pode ser aplicado a edificações em quatro condições diferentes:

edificações antigas e degradadas; edificações inacabadas e abandonadas; edificações com

sistemas prediais ineficientes ou inadequados; reabilitação com mudança do uso. (CROITOR,

2008)

Reabilitação de edifícios

Empresas instaladoras

Fabricantes de

elevadores

Vizinhança do prédio

Prefeituras

Indústrias de base

Sociedade civil

Fabricantes de materiais

Empresas projetistas

Empresas de construção

8

2.2.1 Edificações antigas e degradadas

Edifícios antigos são aqueles que foram construídos antes da invenção do cimento Portland e

das estruturas de concreto armado, através da utilização das técnicas edificantes herdadas da

tradição romana e da aplicação de materiais tradicionais. (APPLETON, 2003)

Os edifícios classificados como patrimônio humanidade ou tombados por instituições de

governo de nível municipal, estadual ou federal, quando têm a madeira, a pedra, o vidro e a cal

como seus principais de construção, também são considerados antigos. Nestes casos, as

intervenções seguem as regras impostas pelas entidades que as regulam. (FREITAS, 2012)

As edificações sofrem um processo de degradação natural devido à ação de agentes climáticos

e ao uso da edificação. A deterioração natural de benfeitorias pode ser retardada através de

ações de manutenção preventiva, mas não pode ser interrompida. Portanto, eventualmente toda

e qualquer construção precisará de passar por ações de reabilitação. (CROITOR, 2008)

Em geral, as operações de manutenção em edifícios antigos são insuficientes ou até mesmo

inexistentes porque os proprietários não sabem avaliar o impacto que uma manutenção

adequada proporcionará no valor do imóvel. Além disso, em muitos casos as taxas

condominiais não abrangem os custos de uma manutenção apropriada. Edifícios que investem

na manutenção preventiva, geralmente administrados por pessoas ou empresas especializadas,

conseguem retardar sua degradação natural. (CROITOR, 2008)

Figura 3: Diferenças de valor de mercado de um edifício comercial. Fonte: Croitor, 2008

A desocupação de imóveis favorece a redução de ações de manutenção e consequente

degradação de imóveis. Em São Paulo, as obras de infraestrutura executadas pelo poder público

9

em regiões não centrais atraíram o interesse para estas áreas e provocaram a desvalorização e a

desocupação de áreas centrais. (CROITOR, 2008)

A reabilitação de edificações degradadas pode ter diversas motivações: (CROITOR, 2008)

a) necessidade de adequação da edificação às normas e legislações atuais;

b) necessidade de se flexibilizar o layout dos andares para tornar o imóvel mais atraente

comercialmente;

c) intenção de se reduzir o custo de operação e manutenção dos edifícios;

d) necessidade de adequação das instalações para uma nova demanda de energia do

edifício;

e) necessidade de serem realizados serviços de recuperação estrutural e/ou de fachadas;

f) necessidade de adaptação do imóvel para acessibilidade universal;

g) interesse na adaptação das áreas comuns às demandas contemporâneas;

h) necessidade de recuperação dos sistemas de impermeabilização; e

i) interesse na revalorização de preço de mercado do imóvel etc.

2.2.2 Edificações inacabadas e abandonadas

Nas principais cidades do país, podemos encontrar vários edifícios abandonados antes do

termino da sua execução, tanto empreendimentos públicos quanto privados. Vários fatores

podem levar ao abandono de uma obra: falta de recursos financeiros, problemas técnicos

durante a execução, mudança da política de investimento do investidor, falência da

incorporadora, interdição judicial, etc. (CROITOR, 2008)

Figura 4: Obra inacabada e abandonada em Osasco, SP. Fonte: Croitor, 2008

O abandono destas edificações provoca a degradação tanto do prédio em si, como das áreas de

entorno. Quando o projeto original admite alterações e adaptações a técnicas mais modernas,

10

quando a localização do empreendimento está em uma região valorizada, e se os proprietários

ou investidores se interessarem, o processo de reabilitação pode agregar valor a estes edifícios.

Nestes casos, a reabilitação apresenta particularidades no estudo de viabilidade e no

desenvolvimento dos projetos. Além disto, o volume de recursos necessários está ligado à

dimensão das degradações e, muitas vezes, é o motivo do abandono destes edifícios.

(CROITOR, 2008)

2.2.3 Edificações com sistemas prediais ineficientes ou inadequados

A reabilitação pode ser feita com intuito de atualizar os sistemas prediais porque perderam sua

eficiência devido ao uso, por existiram tecnologias mais eficientes ou para atender novas

necessidades. A edificação passa pelo processo do retrofit quando o maior objetivo é a

modernização dos seus sistemas prediais. (CROITOR, 2008)

Figura 5: Edificio comercial que passou por retrofit. Fonte: Qualharini, 2004

O retrofit é mais empregado em edifícios comerciais por empresas que buscam readequar

espaços e diminuir os custos com operação e manutenção através da modernização de

instalações. Então, sistemas elétricos que não atendem à demanda, sistemas de refrigeração

ineficientes e sistemas hidrossanitários que não reutilizam as águas pluviais são substituídos

por projetos mais modernos e eficientes. (CROITOR, 2008)

2.2.4 Edificações com mudança de uso

Os projetos originais são desenvolvidos para atender a uma demanda específica. No entanto, ao

longo do tempo as atividades se diversificam e podem alterar o cenário de uma região. Esse

tipo de reabilitação possibilita que novas demandas sejam atendidas através da alteração do uso

dos espaços. (CROITOR, 2008)

11

A mudança de uso pode ocorrer entre tipos de utilização diferentes (residencial e comercial, por

exemplo), no adensamento de unidades habitacionais e nos padrões das edificações (médio

padrão para HIS, por exemplo). Como exemplo de mudança no uso, temos: transformação de

edifício residencial em escritórios, adaptação de antigas fábricas em supermercados, hotéis

transformados em edifícios residenciais. (CROITOR, 2008)

Figura 6: O prédio que abrigava um colégio transformado em hotel na Lapa, Rio de Janeiro. Fonte: Raitzik, 2018

As mudanças de uso são impulsionadas pela localização da edificação e pelo modelo de

expansão urbanística da cidade. Atualmente, empresas buscando menores custos de locação e

infraestrutura pública migram para região central. Para atender esta demanda, edifícios

residenciais podem ser transformados em comerciais e as remodelações de layout são essenciais

para adaptar os ambientes a novos usos. Entretanto, deve-se levar em consideração que as

possibilidades de alterações são limitadas pela sua utilização original. (CROITOR, 2008)

2.3 NÍVEIS DE INTERVENÇÃO

A ações de reabilitação dependerão dos reparos necessários e da adequação do imóvel aos níveis

de adequação exigidos, podendo ser pequenos reparos ou grandes obras. Estas ações são

motivadas, em geral, por deficiências em três fatores: (PAIVA et. al., 2006).

a) Desempenho do envelope (fachadas e coberturas): as soluções atuais podem adotar

diferentes sistemas e materiais, tais como as fachadas ventiladas e as telhas metálicas

com preenchimento de poliuretano, podendo influenciar diretamente nas condições de

habitabilidade.

b) Condições de habitabilidade e conforto: corresponde a atender as necessidades de bem-

estar dos usuários. Os equipamentos e técnicas devem ser empregados para melhorar o

desempenho dos sistemas.

12

c) Comportamento estrutural: equivale à garantia de segurança dos usuários e de bens.

Apesar de ser o fator mais crítico, é o que recebe menos atenção porque as intervenções

atrapalham a utilização do edifício, são consideradas caras e não apresentam benefícios

palpáveis.

As reabilitações podem contemplar ações de reparação (com intuito de solucionar anomalias)

e, também, de beneficiação (para melhorar o seu desempenho). As possibilidades de

intervenções físicas e a suas respectivas classificações em níveis são condicionadas por diversos

fatores. (PAIVA et. al., 2006).

Figura 7: Fatores que influenciam os níveis de intervenções (Adaptado de Paiva et. al., 2006).

As intervenções de beneficiação procuram aumentar o desempenho dos sistemas existentes ou

adicionar novas características para atender as necessidades dos usuários, sempre centrados nas

condições de habitabilidade (conforto e higiene), de segurança (estrutural, de incêndio e contra

invasões) e da organização de espaços (funcionalidade e acessibilidade). (PAIVA et. al., 2006).

As intervenções de reparação podem ser classificadas em diferentes níveis, de acordo com as

anomalias que se apresentam. Estas anomalias são avaliadas em dois critérios: (PAIVA et. al.,

2006).

a) Critérios gerais:

i. Consequência da anomalia;

ii. Tipo de correção da anomalia;

b) Critério de local de manifestação:

i. Elementos primários (paredes externas e internas, pavimentos e coberturas);

ii. Elementos secundários (esquadrias);

iii. Revestimentos e acabamentos dos elementos primários e secundários;

iv. Instalações.

Níveis de intervenção

Objetivos e critérios técnicos

Edifício tombado ou

em área protegida

Tipologia arquitetônica e construtiva

Escala de intervenção

Avaliação de patologias

Necessidades dos usuários

13

A partir destes critérios, as anomalias são classificadas em quatro categorias: (Paiva et. al., 2006).

a) Anomalias pequenas: têm como consequência apresentar um aspecto prejudicial para o

edifício e sua correção é simples, geralmente solucionado com uma limpeza,

substituição ou pequenas correções. Quando presentes em elementos primários, são

patologias pontuais ou superficiais. Nos elementos secundários têm caráter estético. Nos

revestimentos e acabamentos equivalem a desgaste, pequenas rachaduras e sujidade

destes elementos. Nas instalações também são de caráter estético.

b) Anomalias médias: sua consequência é afetar o uso e conforto das pessoas, sendo sua

correção feita através de intervenções pontuais. Nos elementos primários são facilmente

notadas, podendo afetar profundamente mais de um elemento. Nos elementos

secundários são identificados problemas mecânicos, funcionais ou reduzem sua

durabilidade, mas se manifestam poucas vezes e não oferecem riscos a segurança. Nos

revestimentos provocam deterioração dos materiais. Nas instalações, são detectadas

deteriorações pontuais e deficiência de funcionamento, corrigidas através da

substituição de elementos.

c) Anomalias grandes: acidentes sem gravidade podem ser sua consequência, de modo que

a saúde e segurança dos usuários está em risco. As correções são feitas através da

substituição ou reparação ampla dos elementos. Nos elementos primários e secundários,

as anomalias são facilmente notadas e seus efeitos são grandes. Os revestimentos

apresentam degradação em grandes áreas e pode haver risco de queda de placas de

alturas reduzidas. Nas instalações, a degradação é grande a ponto de provocar

funcionamento deficiente.

d) Anomalias muito grandes: as consequências são acidente graves, colocando em risco a

saúde e segurança dos usuários. Para correção das patologias são necessárias

substituições ou reparações totais. Nos elementos primários há ausência de elementos e

deterioração avançada, as condições de segurança e habitabilidade estão em risco. A

solução só é feita com substituição total de elementos. Elementos secundários

apresentam grande deterioração ou estão ausentes, havendo risco quanto a segurança e

invasões. Revestimentos estão ausentes em grandes áreas e há risco de queda de placas

de grandes alturas. Nas instalações, a deterioração é grande a ponto de impedir o

funcionamento do sistema.

O Quadro 1 resume as características e consequências das anomalias apresentadas.

14

Quadro 1: Síntese dos principais conceitos referente a cada tipo de tipologia. Fonte: Adaptado de Marinho, 2011

Anomalias

Pequenas Médias Grandes Muito Grandes

Cri

téri

os

ger

ais

Conse

quên

cia

Prejudicam o

aspecto visual

Prejudicam o

uso e o

conforto

Risco para a

saúde e

segurança;

Acidentes sem

gravidade

Risco para a saúde e

segurança; Acidentes

graves ou muito graves

Tip

o d

e

corr

eção

Limpeza,

substituição

ou reparações

pequenas

Substituição ou

reparação

parcial

Substituição ou

reparação

ampla

Substituição ou

reparação total

Cri

téri

o d

e lo

cal

de

man

ifes

taçã

o

Ele

men

tos

pri

már

ios

Pontuais ou

superficiais Notórias

Notórias;

podem motivar

acidentes

graves

Deterioração acentuada

ou ausência; colocam

em risco a segurança

estrutural e condições

de habitabilidade

Ele

men

tos

secu

ndár

ios

Caráter

estético

Mecânicas,

funcionais ou

põem em risco

a durabilidade

Notórias;

podem motivar

acidentes

Deterioração acentuada

ou ausência; colocam

em risco a segurança na

utilização ou contra

intrusões

Rev

esti

men

tos

e

acab

amen

tos

Desgaste,

pequenas

rachaduras ou

sujidade

Deterioração

em áreas

limitadas

Degradação em

grandes áreas;

Risco de queda

Ausência em grandes

áreas; Risco de queda

Inst

alaç

ões

Caráter

estético

Deterioração

pontual

Degradação extensiva;

Funcionamento

deficiente

Degradação extensiva;

não funcionamento

15

Assim, as intervenções de reabilitação podem ser classificadas em quatro níveis: (Paiva et. al.,

2006).

a) Nível 1 – Reabilitação ligeira: os edifícios se apresentam em bom estado de

conservação, as intervenções correspondem a pequenas reparos e melhoria das

instalações existentes. Não há grandes impedimentos ao uso da benfeitoria nem

realojamento provisório.

Quadro 2: Aplicações de reabilitação ligeira. Fonte: Adaptado de Paiva et. al., 2006.

Criação de vãos para melhorar a iluminação natural e ventilação;

Instalação de exautores para melhorar a exaustão de ambientes;

Limpeza do telhado e substituição pontual de telhas quebradas ou rachadas;

Reparação de pequenas anomalias nos rebocos e pintura das fachadas internas e externas;

Reparos da caixilharia;

Recuperação dos sistemas prediais (elétrico, telefônico, gás e hidráulico);

Reaplicação do revestimento.

Nível 2 – Reabilitação média: além das ações anteriores, a edificação passa por reforma

total ou parcial com possível mudança de layout, mas sem alterar o uso original do

imóvel. Não há necessidade de realojar provisoriamente os residentes, exceto em casos

pontuais.

Quadro 3: Aplicações de reabilitação média. Fonte: Adaptado de Paiva et. al., 2006.

Reparo ou troca parcial de elementos de madeira;

Reparo ou reforço de elementos estruturais;

Beneficiação das áreas comuns do edifício;

Pequenas alterações no layout;

Melhoria dos equipamentos existentes e instalações sanitárias;

Troca parcial dos sistemas prediais;

Alteração de fachadas ou esquadrias.

16

b) Nível 3 – Reabilitação profunda: em adição aos casos anteriores, as alterações são

significativas, pode haver demolições e reconstruções de pavimentos e paredes, solução

de problemas estruturais, substituição de muitos elementos de carpintaria e aplicação de

novos revestimentos. São utilizados novos materiais e técnicas construtivas. Neste caso,

há necessidade de realojar os moradores por grandes intervalos de tempo.

Quadro 4: Aplicações de reabilitação profunda. Fonte: Adaptado de Paiva et. al., 2006.

Grandes modificações no layout, com possível alteração do número de habitações;

Reparo de elementos danificados que ofereçam risco a segurança dos usuários (escadas,

paredes divisórias, elementos da cobertura, etc.);

Introdução de instalações e equipamentos em falta.

c) Nível 4 – Reabilitação excepcional: intervenção de grau profundo, de natureza

excepcional. Estas intervenções representam altos custos, podendo equivaler ou

ultrapassar o custo de construção de uma nova edificação semelhante. Assim, deve ser

analisada a partir do valor patrimonial e do uso potencial do edifício para decidir entre

a reabilitação ou demolição e substituição por uma edificação nova.

Quadro 5: Aplicações de reabilitação excepcional. Fonte: Adaptado de Paiva et. al., 2006.

Utilização de técnicas de restauro para recuperar fachadas;

Substituição e/ou reforço dos elementos estruturais;

Elevação dos padrões elevados existentes.

2.4 FASES DO PROJETO DE REABILITAÇÃO

Freitas (2012) divide o processo de reabilitação em seis fases: análise de viabilidade,

diagnóstico, definição da estratégia, projeto de execução, análise técnico-econômica de

propostas e execução da obra.

17

Figura 8: Fluxograma com as fases da reabilitação. Fonte: Autora, 2018

2.4.1 Análise de viabilidade

Um projeto de reabilitação é condicionado, desde o seu início, por um conjunto de fatores como

o valor patrimonial do imóvel, seu estado de conservação e diferentes restrições de operações

em função da localização do imóvel em zonas urbanas e de sua vizinhança. (FREITAS, 2012)

A primeira fase de um projeto de reabilitação deve ser a análise de sua viabilidade e a definição

do programa de intervenções. Em edifícios antigos, há de se atentar que o programa deve ser

desenvolvido em função do edifício e não o contrário. (FREITAS, 2012)

Antes da decisão de se promover uma reabilitação, deve-se avaliar a viabilidade de execução

segundo os aspectos de tempo, espaço, financeiro e técnico. Para isso, é fundamental ter

conhecimento aprofundado do imóvel em questão e da sua envoltória. Vale ressaltar que as

ações de pesquisa documental, levantamento, reconhecimentos, ensaios e todas as demais

tarefas necessárias a um adequado diagnóstico, consomem tempo e tem custos associados,

ficando sempre um conjunto de incertezas, que por vezes só a intervenção física poderá

esclarecer. (FREITAS, 2012)

A viabilidade econômica de uma reabilitação dependerá do nível das intervenções e, em muitos

casos, estão muito próximas de se tornarem inviáveis economicamente. A margem de incerteza

associada a uma intervenção de reabilitação será proporcional à qualidade do estudo de

diagnóstico e do projeto de execução. Estudos incompletos ou com falhas resultarão em

trabalhos não previstos, custos maiores e interferência na gestão da obra. (FREITAS, 2012)

FASE 1

Análise de viabilidade

FASE 2

Diagnóstico

FASE 3

Definição da estratégia

FASE 4

Projeto de execução

FASE 5

Análise técnico-econômica de

propostas

FASE 6

Execução da obra

18

Quando tratamos de intervenções de edifícios antigos, além da valorização tangível do imóvel,

temos uma valorização intangível por preservação de valores de ordem artística, cultural ou

histórica. Na reabilitação dos edifícios antigos é maior a dificuldade em assegurar algumas das

exigências atuais, sendo mesmo em algumas situações impossível, ou apenas possível a custos

proibitivos. Por outro lado, a reabilitação é fundamental para um desenvolvimento sustentável,

reutilizando o construído na perspectiva de poupar recursos e energia. (FREITAS, 2012)

2.4.2 Diagnóstico

Avalia-se a intervenção em um edifício para recuperar seu desempenho original ou para

melhorar duas condições, de forma que consiga atender às exigências de conforto e qualidade.

O estudo de diagnóstico é complexo e precisa ser realizado por uma equipe multidisciplinar de

técnicos experientes e qualificados em reabilitação, que conheçam os diversos materiais e

técnicas de construção para que o diagnóstico do escopo da intervenção seja claro e detalhado.

Além de analisar o estado de conservação do edifício, nesta fase também deve-se elaborar a

estratégia de atuação na reabilitação. (FREITAS, 2012)

Apesar de cada caso ser particular, alguns processos se repetem e a seguinte metodologia pode

ser aplicada, com as adaptações necessárias: (FREITAS, 2012)

1. Pesquisa histórica: objetiva identificar a funcionalidade presente e passada da

construção. Os dados sobre a data de construção, os critérios de projeto inicial (quando

disponíveis) e registros de eventuais intervenções ou alterações anteriores, além das

técnicas e características dos materiais usados podem ajudar a entender o

comportamento da envolvente e na definição de pesquisas adicionais necessárias.

2. Recolhimento e análise de informações escritas e plantas disponíveis. Os proprietários

de edifícios antigos nem sempre dispõem das plantas ou manuais das edificações, sendo

necessário procurar arquivos e órgãos licenciadores. Em muitos casos, é necessário

fazer o levantamento da edificação, além de levantamentos topográficos e fotográficos;

3. Vistorias internas para registrar o estado de degradação, sendo a primeira forma de

registro fotográfica;

4. Vistorias externas ao edifício para caracterizar o estado de degradação e condições da

envolvente;

5. Avaliar a necessidade de implementação de um plano de monitorização do edifício que

permita, por exemplo, quantificar a existência de movimentos ativos na estrutura.

6. Definição da realização de sondagens, ensaios ou medições para caracterizar os

materiais e os elementos construtivos, incluindo as fundações, e para a avaliar as

19

condições de conforto e qualidade do ar dos ambientes internos. Podem ser feitos

ensaios ou medidas em laboratório com amostras recolhidas, “in situ” mediante a

utilização de técnicas não destrutivas, ensaios estáticos ou dinâmicos envolvendo a

construção no seu todo.

Estas inspeções devem ser suficientes para elaboração de um diagnóstico para guiar as

intervenções, que poderão ser ações de reabilitação, de restauro ou, em último caso, de

substituição ou demolição de elementos, ou podem indicar a necessidade de tomar novas

medidas de apoio ao diagnóstico. (FREITAS, 2012)

As informações obtidas através das investigações, apesar de variarem de acordo com o grau de

intervenção no edifício, deverão ser organizadas de forma clara para facilitar a consulta, em um

documento com a seguinte estrutura: (FREITAS, 2012)

1. Introdução

2. Localização e descrição do edifício

3. Descrição dos elementos construtivos em análise

4. Sondagens, medições e ensaios

5. Caracterização do estado de degradação e identificação das anomalias

6. Causas prováveis das anomalias

7. Metodologia proposta para os trabalhos de reabilitação

8. Estimativas de custos

9. Conclusão

A qualidade das soluções propostas e uma estimativa orçamental global são decisivas no auxílio

à definição da estratégia a adotar. (FREITAS, 2012)

2.4.2.1 Identificação de patologias

As anomalias podem se manifestar devido ao desgaste natural dos materiais e à ação dos agentes

atmosféricos ou podem ser provocadas pela ação humana, através de alterações nos edifícios

sem os projetos e estudos apropriados ou do uso inapropriado. (PAVÃO, 2016)

2.4.2.1.1 Fachadas

As patologias mais comuns em paredes de alvenaria de edifícios antigos são a desagregação, o

esmagamento e a fendilhação (rachaduras), provocadas por problemas estruturais ou por

infiltrações.

20

A fendilhação, que pode surgir em aberturas de vãos ou na ligação entre paredes, tem como

uma das causas principais os recalques diferenciais das fundações. Também, podem aparecer

devido a erros construtivos, à baixa qualidade dos materiais utilizados ou um isolamento

térmico ineficiente da cobertura pode provocar variações nas dimensões da estrutura e o

surgimento de rachaduras. (PAVÃO, 2016)

A desagregação é outra patologia recorrente em edifícios antigos, podendo ser provocada pelo

agravamento das rachaduras, pela ação de agentes climáticos, pela ação de água de chuva ou

pela umidade ascendente. A infiltração de água é a principal responsável pela desagregação,

pois se locomove pelos pontos mais fracos, geralmente nas juntas de argamassas. Esta patologia

é comum a rebocos com baixa resistência mecânica, como os à base de cal. (PAVÃO, 2016)

O esmagamento geralmente ocorre em pontos de concentração de cargas, como no local de

descarga de vigas nas paredes. É usual que apareça em paredes de níveis inferiores e que surjam

após novas construções (PAVÃO, 2016)

Os rebocos podem sofrer fissuras provocadas pela fendilhação das paredes, pela absorção de

água, pela retração da argamassa, pela espessura inadequada de revestimento ou pela

incompatibilidade entre o material de suporte e o reboco. (PAVÃO, 2016)

As eflorescências, de cor branca ou bege, se manifestam devido a cristalização na superfície da

parede dos sais transportados pela água. As manchas de umidade estão diretamente relacionadas

com a presença de água ou inexistência de elementos impermeabilizantes, podendo também ser

provocadas por ascensão da água por capilaridade. (PAVÃO, 2016)

É comum a mudança de cores e tons devido ao acúmulo de sujeira nas superfícies, provocado

pela ação do vento, por elementos químicos derivados da poluição atmosférica e pela ação dos

raios solares. (PAVÃO, 2016)

A utilização de pedras de cantaria sempre foi um recurso muito utilizado na construção de

edifícios devido a sua resistência e, também, pelo seu valor estético. Resistem muito bem a

ações de agentes atmosféricos e, geralmente, estão em melhor estado de conservação que

rebocos de argamassas ou caixilharias de madeira. (PAVÃO, 2016)

Entretanto, algumas anomalias são observadas sendo estas as mais frequentes: (PAVÃO, 2016)

a) desgaste da pedra, provocado pela ação da água da chuva, tornando-a rugosa e afetando

sua aparência.

b) sujidade, provocada pela poluição atmosférica e cada vez mais comum na atualidade,

além da ação de aves (pombos e gaivotas).

21

c) fendilhação, provocada por movimentos das estruturas ou das fundações, ou por não

suportar a carga aplicada.

d) eflorescências, provocadas pela migração de sais através da pedra, de argamassas ou da

ação de águas infiltradas.

2.4.2.1.2 Forros

Nos tetos de madeira era comum a aplicação de tintas a óleo, e as patologias mais comuns são

empolamentos, fissurações, destacamentos, manchas, falta de aderência e alteração de cor.

Como este material exige renovações a, no máximo, cada dez anos, não são encontradas as

pinturas originais, a menos que estejam cobertas por camadas posteriores. (APPLETON, 2003)

Uma das anomalias, a falta de aderência, pode ser provocada pela incompatibilidade entre a

pintura e a base de madeira ou pela preparação inadequada da madeira e aplicação das camadas

de tinta. (APPLETON, 2003)

Nos tetos de madeira, surgem patologias relacionadas ao envelhecimento do material, como

empenamentos e fendas. Entretanto, as mais preocupantes são as relacionadas a umidade e

infiltrações, que criam condições para o desenvolvimento de fungos e de agentes biológicos, e

levam a destruição dos elementos. (PAVÃO, 2016)

Nos tetos de gesso, as patologias usuais são fendilhações e deformações excessivas, provocadas

por deformações das estruturas dos pavimentos, vibrações ou retração das argamassas de gesso.

(PAVÃO, 2003)

2.4.2.1.3 Telhados

As principais patologias identificadas nos revestimentos de coberturas estão associadas a

necessidade de estanqueidade quanto à água das chuvas. As patologias diferem de acordo com

o tipo de cobertura (terraço ou coberturas inclinadas) e dos materiais de revestimento.

(APPLETON, 2003)

Nas coberturas inclinadas com revestimentos à base de telha cerâmica destacam-se as seguintes

anomalias: (APPLETON, 2003)

a) telhas quebradas, por circulação de pessoas ou deformações das estruturas de madeira

das coberturas;

b) telhas mal colocadas ou deslocada;

c) inexistência ou danificação de telhas de ventilação, passadeiras ou remates.

d) danificações de sistemas de drenagem de águas pluviais.

22

A estrutura de madeira pode sofrer com a umidade proveniente da infiltração de água da chuva,

resultando na sua degradação, perda de seção e capacidade de resistência.

2.4.2.1.4 Recomendações para reabilitação de patologias

Apesar de a reabilitação de edifícios não seguir o mesmo processo que uma obra tradicional,

algumas técnicas utilizadas em obras novas podem ser adaptadas para a realidade das

intervenções em bens já edificados. (SILVA, 2017)

Assim, algumas recomendações e técnicas retiradas do Caderno de Síntese Tecnológica –

Reabilitação de Edifícios (2015) e do projeto REABILITA (2007) podem ser utilizadas na

reabilitação, sendo estas: (SILVA, 2017)

a) Reforço Estrutural: recomenda-se a elaboração de um laudo estrutural da edificação

para verificar suas condições. Deve-se optar por materiais e técnicas similares ou

compatíveis com os da estrutura original e por soluções que não tragam acréscimos

significativos de carga. Deve-se priorizar o reparo de elementos vulneráveis,

principalmente os verticais, tais como paredes e pilares. Procurar tratar a edificação de

maneira global, melhorando as ligações pavimentos/paredes e paredes/paredes.

b) Coberturas: a estrutura de madeira com cobertura inclinada é muito comum em edifícios

antigos. Os edifícios mais recentes costumam ter coberturas de concreto ou metálicas,

com revestimento em telhas de cerâmica ou concreto. Em lajes, há impermeabilização

com aplicação de manta asfáltica e concreto vassourado. (REABILITA, 2007 e

CADERNO DE SÍNTESE TECNOLÓGICA – REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS,

2015 apud SILVA, 2017).

c) Paredes: em edifícios antigos costumam possuir função estrutural, apresentar

irregularidades geométricas e cavidades/vazios interiores. São muito heterogêneas,

apresentando diversidade de materiais e técnicas construtivas. Dentre as principais

técnicas utilizadas, pode-se o fechamento de juntas, rebocos armados, confinamento

transversal com uso de conectores ou pregos, injeção de caldas, desmonte e reconstrução

ou soluções mistas (REABILITA, 2007 e CADERNO DE SÍNTESE TECNOLÓGICA

– REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS, 2015 apud SILVA, 2017).

d) Fundações: após análise do laudo estrutural, fazer reforço e manutenção das fundações

existentes, através de técnicas apropriadas para os espaços e acessos disponíveis.

e) Pisos: o diagnóstico deve ser feito através de inspeção visual e da utilização de

equipamentos auxiliares. Quando possível, é indicado o reaproveitamento de peças e,

caso contrário, sua retirada e substituição.

23

f) Instalações elétricas e de telecomunicações: as instalações elétricas podem não atender

a demanda ou oferecer riscos para segurança dos usuários. As tubulações em PVC e

fiações novas são utilizadas para substituir as existentes. As instalações de

telecomunicação não existem ou estão obsoletas em muitos edifícios, necessitando de

atualização.

g) Instalações hidráulicas e de esgoto: quando há intervenções, é necessário comprovar a

eficiência das instalações. Usualmente, há a reabilitação total dos sistemas através da

instalação de tubulações em PVC completamente novas no lugar das já existentes.

h) Instalações mecânicas: elevadores existentes podem ser recuperados ou substituídos.

Telhados que apresentam avançado estado de degradação dos seus elementos de cobertura ou

estrutura costumam receber uma sobrecobertura provisória, que possibilita a remoção, limpeza,

tratamento e remontagem da cobertura sem que haja danos causados pelas águas pluviais.

(SILVA, 2017)

2.4.3 Definição da estratégia

Através do estudo do diagnóstico, as necessidades de intervenção global no edifício são

conhecidas, além das possibilidades de soluções e de suas respectivas estimativas de custo, que

são os dados essenciais para definir uma estratégia de intervenção. Vale lembrar que diferentes

soluções têm custo e durabilidade diferentes, sendo imprescindível fazer avaliações técnicas e

econômicas. (FREITAS, 2012)

Alguns edifícios exigem padrões mínimos de qualidade, em especial os que apresentam grande

valor patrimonial. Essa qualidade terá de passar: (FREITAS, 2012)

a) pela garantia de autenticidade;

b) pela necessidade de durabilidade, pois se espera que o tempo de vida de uma construção

antiga seja muito maior do que o de uma construção corrente;

c) pela exigência de compatibilidade e reversibilidade, na perspectiva de que a não

compatibilidade material trará degradação e danos a curto prazo e que a reversibilidade

deixará aberta a possibilidade de no futuro se alterar a solução implementada;

d) pela análise econômica que deverá em certos casos ter em atenção o valor patrimonial

intangível do(s) imóvel(eis), parcela dificilmente quantificável, mas que deverá ser

contabilizada na análise econômica do mesmo. Um edifício vale pelo que representa

para um povo ou para uma cultura, e não só pelo somatório de parcelas atribuídas ao

terreno, ao imóvel, ao tipo de ocupação, etc.

24

2.4.4 Projeto de execução

Após a definição da estratégia de intervenção, inicia-se a elaboração do Projeto de Execução.

Em projetos muito complexos, pode ser necessário elaborar um projeto básico, cuja revisão não

deve ser descarta. (FREITAS, 2012)

O projeto deverá ter plantas e memoriais descritivos detalhando todos os trabalhos necessários

à reabilitação. O sucesso da reabilitação dependerá da qualidade e nível de detalhamentos dos

projetos, além da integração entre os diferentes projetos menores. Os memoriais descritivos

devem fundamentar as opções do projeto (através dos resultados de simulações, ensaios e

sondagens). (FREITAS, 2012)

2.4.5 Análise técnico-econômica de propostas

Para que a intervenção tenha sucesso, é essencial que a empresa executora seja especializada

em reabilitação. Usualmente, encontra-se grande variabilidade de custos para realizar o mesmo

trabalho e, por isso, torna-se indispensável obter propostas de várias empresas. As variações de

preço podem ser muito significativas devido a deficiências na especificação dos trabalhos,

desconhecimento da tecnologia proposta por parte do empreiteiro ou devido ao mercado ser

relativamente pequeno. (FREITAS, 2012)

O projetista ou gestor/coordenador do projeto analisam as propostas técnica e economicamente,

com o objetivo de: (FREITAS, 2012)

a) avaliar a metodologia proposta pelo empreiteiro;

b) analisar detalhadamente os preços unitários e detectar preços abusivos;

c) estudar as alternativas apresentadas, dos diferentes concorrentes em igualdade de

circunstancias;

d) avaliar a experiência em trabalhos semelhantes das diferentes empresas;

e) comparar as propostas de execução das empresas para reparação;

f) fazer uma análise com múltiplos critérios (preço, experiência, prazos, garantias, etc.)

que permita classificar (técnica e financeiramente) as propostas.

2.4.6 Execução da obra

A execução da obra é o ponto crítico do processo e exige acompanhamento constante do

projetista, pois ainda que o diagnóstico e o projeto de execução sejam muito bem elaborados,

sempre haverá imprecisões e ajustes necessários. O acompanhamento constante diminuirá

erros, que representam custos e retrabalho, e a definição de uma equipe de fiscalização ajudará

no sucesso da obra. (FREITAS, 2012)

25

Após o fim da intervenção, deve ser feita a vistoria completa dos trabalhos realizados e

elaborado um termo de entrega de chaves, com entrega das plantas com as modificações feitas

durante a obra (as built) e termos de garantia dos diferentes fabricantes e fornecedores. A partir

da entrega das chaves, inicia-se o prazo de garantia. (FREITAS, 2012)

26

3 EXEMPLO DE APLICAÇÃO DE REABILITAÇÃO DE

RESTAURO: A INTERVENÇÃO NO PALÁCIO

UNIVERSITÁRIO

As intervenções para restauração do Palácio Universitário, desenvolvidas pelo Escritório

Técnico da Universidade (ETU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram

divididas em etapas devido à dificuldade de disponibilizar recursos. Na primeira etapa, serão

restaurados telhados e fachadas. Na segunda etapa acontecerá a restauração das mais de mil

esquadrias e a pintura será feita com silicato – Ibratin. As etapas seguintes objetivam dotar o

edifício de novas instalações - elétrica, hidráulica, lógica, segurança, acessibilidade, iluminação

monumental, gradis, agenciamento paisagístico e o restauro interno de todos os ambientes, com

a previsão da recuperação dos espaços internos originais. (PALÁCIO, 2018)

3.1 FASE 2: DIAGNÓSTICO

3.1.1 HISTÓRICO

O primeiro ato do imperador Pedro II ocorreu no dia de sua coroação, 18 de julho de 1841, e

foi a assinatura do decreto que fundou o Hospício de Pedro II, que ficaria sob jurisdição da

Santa Casa da Misericórdia e que foi construído na atual Av. Pasteur, 250, no bairro da Urca,

na cidade do Rio de Janeiro. (PROJETO, s.d.)

Com estilo neoclássico, a edificação foi construída entre 1842 e 1852 por três dos mais

destacados arquitetos do século XIX: Domingos Monteiro, Joaquim Cândido Guillobel e José

Maria Jacintho Rebello. (HOIRISCH, 2007)

Figura 9: Hospício de Pedro II em 1860. Fonte: Projeto, s.d.

27

A construção original tinha quatro pátios internos, desenvolvendo-se em alas em torno destes,

com galerias amplas, bem ventiladas e iluminadas. Devido ao aumento do número de

internados, fez-se necessária uma expansão do prédio e foram acrescentadas duas áreas em U

em 1904, com consequente criação de mais dois pátios internos, levando a configuração atual

com seus 11.000m² de área construída. (HOIRISCH, 2007)

Figura 10: Planta do térreo. Construção de 1852 em amarelo e acréscimos de 1904 em azul. Fonte: Hoirisch,

2007

Figura 11: Planta do 2° pavimento, Construção de 1852 em amarelo e acréscimos de 1904 em azul. Fonte:

Hoirisch, 2007

Figura 12: Planta do 3° pavimento. Construção de 1852 em amarelo. Fonte: Hoirisch, 2007

Ao longo do tempo, o espaço arquitetônico tornou-se obsoleto para o tratamento de alienados

e, após a criação de espaços considerados ideais em Jacarepaguá e em Engenho de Dentro, em

28

1944 todos os pacientes haviam sido transferidos. Neste momento, a edificação estava

abandonada e apresentava muitos sinais de degradação. (PROJETO, s.d.)

Figura 13: Detalhe das portas-sacadas externas e patologias nas argamassas. Fonte: (PROJETO, s.d.)

Após a transferência dos pacientes, discutiu-se o seu uso e considerou-se até a sua demolição.

Entretanto, foi concedido à Universidade do Brasil para instalação da Reitoria e as

Universidades de Arquitetura, Farmácia e Educação Física. Em 1948 iniciaram-se obras de

remodelação e a inauguração ocorreu em 1949, na gestão do reitor Pedro Calmon, mas as

intervenções só terminaram em 1953. (PROJETO, s.d.)

“…O belo edifico do Palácio Universitário da Praia Vermelha, herdado pela

Universidade do Brasil e cujo sesquicentenário foi comemorado em 2002, é um dos

mais significativos emblemas do projeto civilizatório que o Império pretendeu

construir. A Universidade, no final dos anos quarenta do século vinte, sob a direção

do Reitor Pedro Calmon, salvou o prédio da destruição e do abandono a que fora

relegada a sede do antigo Hospício Pedro II. À sua primeira restauração, concluída

em 1952, o reitor e historiador Calmon acrescentou um valioso mobiliário de época,

peças decorativas e obras de arte que passaram a integrar o seu patrimônio.

Transferida a sede da reitoria da UFRJ para a Cidade Universitária na Ilha do

Fundão, o palácio continuou a abrigar provisoriamente algumas unidades e teve a

sua parte nobre destinada ao Fórum de Ciência e Cultura. A Capela de São Pedro de

Alcântara, o Salão Dourado (Salão de Honra da Universidade do Brasil), o Salão

Vermelho, o Salão Moniz de Aragão e o Salão Pedro Calmon, espaços de grande

expressão simbólica, passaram a ser geridos pelo Fórum estando integrados à sua

programação, abrigando eventos de alta significação acadêmica e cultural…”

SANTOS, Afonso Carlos Marques dos. Fórum em Revista, Rio de Janeiro, Fórum de

Ciência e Cultura da UFRJ, out.1998/jun. 2002, p.4-5.

29

Em 1960, seu teatro recebeu aquele que é considerado o primeiro show da Bossa Nova, a “Noite

do amor, do sorriso e da flor”, com a participação de João Gilberto, Tom Jobim, Elza Soares,

Rosana, Dorival Caymmi, entre outros. Em 1968, o Palácio foi cercado por canhões da ditadura

militar. A Reitoria se transferiu para a Cidade Universitária no início dos anos 70, e o Palácio

passa a abrigar o Fórum de Ciência e Cultura (FCC/UFRJ). O prédio foi tombado pelo IPHAN

em 1972. Hoje, sedia os cursos de Comunicação Social, Educação, Economia, Administração

e Ciências Contábeis. (CUNHA, 2018)

Figura 14: Cartaz de divulgação do show de Bossa Nova em 1968. Fonte: Rio e Cultura, 2018

Em março de 2011, enquanto passava por uma obra de restauração dos telhados, um incêndio

se iniciou na capela devido ao uso de maçarico em um processo de soldagem. A Capela São

Pedro de Alcântara, no terceiro andar do prédio, e o Auditório Anísio Teixeira, no primeiro,

foram praticamente destruídos.

No segundo andar, a sala de multimídia e gabinetes do Fórum de Ciência e Cultura foram

atingidos. No terceiro andar, os danos chegaram ao Laboratório de Economia Política da Saúde

(LEPS), que funcionava ao lado da Capela desde 2004. O acervo da Faculdade de Educação,

com pelo menos cinquenta anos de produção acadêmica, e documentos da antiga Faculdade de

Medicina da década de 1920 foram molhados durante o combate ao incêndio. Além disso, o

telhado da capela desabou devido aos extensos danos. (ADUFRJ, s.d.)

30

Figura 15: Incêndio atinge a capela em 2011. Fonte: Incêndio, 2018

Em 2015, as condições das instalações do prédio estavam péssimas, apresentando patologias

como infiltrações, rachaduras, teto caindo, janelas quebradas e mofo. Por isso, as aulas

chegaram a ser suspensas até que fossem realocadas para containers e outras áreas. Um laudo

de engenheiros de segurança do trabalho da própria universidade comprovava os riscos e

recomendava a desocupação do edifício. (RAMALHO, 2018)

a) b)

Figura 16: Patologias presentes em 2015: a) infiltrações e mofo b) queda de reboco da fachada. Fonte:

Ramalho, 2018

Após licitação, em junho de 2015 a construtora Biapó foi contratada para executar a restauração

dos telhados e fachadas do Palácio. A obra se iniciou em julho do mesmo, com prazo de

execução de três anos.

31

3.1.2 MATERIAIS E MÉTODOS CONSTRUTIVOS

Esta seção tem como objetivo registrar os materiais e as metodologias empregados no Palácio

Universitário durante a sua construção, para nortear as decisões quanto às soluções de

reabilitação.

3.1.2.1 FACHADAS EXTERNAS

As fachadas externas são revestidas com cantaria, argamassas de revestimento e pintura. O

serviço de pintura não será executado nesta reabilitação, e não serão abordados neste trabalho.

3.1.2.1.1 Cantaria

O Palácio Universitário apresenta revestimentos decorativos em cataria em abundância. O

pórtico principal, os embasamentos, óculos, vergas, soleiras peitoris e escadas externas são em

gnaisse bege. As bases das estátuas, os plintos das estátuas da Ciência e da Caridade, os vasos

e as estátuas da platibanda também são do mesmo material. Além da cantaria utilizada nos

revestimentos, os fustes das colunas cilíndricas merecem destaque por terem sido modelados

de um único bloco. (HOIRISCH, 2007)

a)

b)

Figura 17: Elementos em cantaria: a) no 2° piso do pórtico b) base da coluna no térreo. Fonte: Hoirisch, 2007.

3.1.2.1.2 Argamassa de revestimento

As argamassas de revestimentos protegem as alvenarias de pedras irregulares da ação da água,

de agentes climáticos, de ações químicas e choque mecânicos, além de regularizarem sua

superfície. Os revestimentos externos foram feitos com emboços de cal e areia e rebocos de cal

em pasta.

32

As áreas originais do Palácio Universitário foram construídas com paredes que exercem funções

estruturais, ou seja, sustentam toda a carga das paredes, forros e pavimentos superiores. As

vedações externas têm espessura média de 1,00 m, as internas têm aproximadamente 0,70 m e

ambas são formadas por pedras irregulares, arcos de tijolos maciços nos vãos e preenchidas

com argamassa de cal e areia. As platibandas foram construídas com tijolos maciços.

(HOIRISCH, 2007)

As vedações se mantiveram bem conservadas por muitos anos por estarem protegidas por

rebocos e desempenharam as funções estrutural e de vedação com eficiência. Entretanto, devido

às ações de agentes de deterioração e a infiltrações provocadas por falhas no telhado, os rebocos

sofreram desagregação e, como nem sempre foram substituídos, em alguns locais os elementos

constituintes das paredes ficaram expostos. As paredes expostas foram envernizadas para

impermeabiliza-las, o que dificulta a evaporação da umidade e facilita o surgimento de fungos.

Também, estão mais suscetíveis a degradações por estarem desprotegidas. (HOIRISCH, 2007)

Figura 18: Parede em alvenaria de pedra, com arco em tijolos. Fonte: Hoirisch, 2007.

As áreas construídas em 1904 para ampliação do hospital seguiram o padrão construtivo

original, utilizando pedra e argamassa de cal e areia nas alvenarias externas, além de tijolos

maciços nos arcos dos vãos. Já as paredes internas foram construídas com tijolos maciços, mas

não se sabe qual é a composição da argamassa de fixação. (HOIRISCH, 2007)

33

Figura 19: Fachada da ECO, junto à piscina. Fonte: Hoirisch, 2007.

Quando da execução de uma reforma das tubulações do sanitário do segundo piso, em 1998,

descobriu-se que esta parede divisória havia sido executada em estuque. Esta técnica pode ter

sido adotada porque esta divisória não apresenta função estrutural e por ser um material mais

leve, e é possível que outras paredes tenham a mesma composição. Para a execução desta parede

“tábuas são entremeadas por fasquias de madeira, para melhor sustentar o reboco. No caso

específico desta parede o contraventamento foi feito com ripas dispostas em X.” (HOIRISCH,

2007)

Figura 20: Sanitário do Instituto de Educação. Fonte: Hoirisch, 2007.

O revestimento das alvenarias é, na maior parte das áreas, argamassa com pintura a base de cal,

mas também encontramos cantarias, madeira e azulejos. Ao longo do tempo, pinturas com tintas

PVA ou acrílicas substituíram a pintura original. O uso de cimento para vedação de cavidades

após a instalação dos sistemas prediais provocou o descolamento da camada de pintura devido

a incompatibilidade entre os materiais. (HOIRISCH, 2007)

34

3.1.2.2 FORROS

Os forros têm a função de bloquear a entrada de poeiras e pequenos animais nos cômodos,

melhorar o desempenho acústico e térmico da benfeitoria e exercer função decorativa. Os forros

empregados nesta edificação foram executados com madeira, estuque e gesso. Além destes, há

lajes de concreto revestidas por reboco e pintura. (HOIRISCH, 2007)

Indícios mostram que na construção original foram utilizados forros de madeira e estuque. O

gesso pode ter substituído os materiais degradados em intervenções ou em áreas acrescidas. Os

forros de todos os cômodos foram mapeados. (HOIRISCH, 2007)

No térreo, as áreas construídas em 1852 têm, em sua maioria, forrações em tábuas de madeira,

enquanto a maioridade do teto da área acrescida não é forrado, apenas recebeu reboco e pintura.

Neste andar o teto de estuque só aparece na claraboia e no vestíbulo. O pé direito difere de

acordo com a sala ou circulação, variando de 4,70m a 5,50m. (HOIRISCH, 2007)

Figura 21: Tetos do térreo. Fonte: Hoirisch, 2007.

Todas as áreas do segundo andar são forradas, em sua maioria com tábuas de madeira, mas

também foram encontrados revestimentos em gesso e estuque. O pé direito é no segundo

pavimento é de cerca de 5,00m. (HOIRISCH, 2007)

35

Figura 22: Tetos do 2° pavimento. Fonte: Hoirisch, 2007.

No terceiro pavimento há gesso no teto curvo da nave, altar e coro da capela, porém nas tribunas

os forros planos são de madeira. Na capela o pé direito é duplo. (HOIRISCH, 2007)

Figura 23: Tetos do 3° pavimento. Fonte: Hoirisch, 2007.

36

3.1.2.2.1 Forros de madeira

Todos os forros de madeira encontrados são horizontais, mas existem dois tipos de fixações:

(HOIRISCH, 2007)

a) Térreo: fixados a estruturas de barrotes, que em alguns casos são independentes e em

outros integram o sistema de piso do pavimento superior.

b) Segundo andar: fixação direta em frechais ou linhas de paredes que correm sobre as

paredes.

Além do tipo de fixação, as tábuas de madeira que revestem compartimentos e corredores foram

construídas com duas técnicas diferentes para posicionar as madeiras: (HOIRISCH, 2007)

a) Sistema tabuado liso: as tábuas situam-se no mesmo plano. O forro com mata-juntas é

uma variante deste sistema, cordões delgados feitos com mesmo material são fixados

para evitar o surgimento de fendas.

Figura 24: Sistema tabuado liso com mata-juntas. Fonte: Brooks, 2018

b) Sistema saia e camisa: as madeiras são sobrepostas. Esse tipo de forro foi muito

utilizado porque as madeiras não estavam suficientemente secas na época da construção

e sofriam variações de largura ao longo das estações, provocando o surgimento de

fendas. Neste sistema, tábuas de vigamento são pregadas no vigamento, sendo que a de

baixo transpassa as tábuas de cima em 1” a 2”.

Figura 25: Sistema saia e camisa. Fonte: Brooks, 2018

A Figura 26a mostra um forro tabuado liso com molduras compostas por cimalhas com filetes.

Já a Figura 26b mostra uma sala de aula, localizada no térreo, com sistema saia e camisa, onde

abas e cimalhas de madeira fazem o acabamento entre o teto e paredes. Todos os forros e

arremates de madeira do Palácio Universitário foram pintados com tinta a óleo. Em alguns

locais os arremates são da mesma cor do teto, em outros são destacados com cores diferentes.

(HOIRISCH, 2007)

37

a)

b)

Figura 26: Forros de madeira: a) com cimalha com filetes b) saia e camisa na ECO. Fonte: Hoirisch, 2007.

3.1.2.2.2 Forros de estuque

“Estuque é toda argamassa que depois de seca adquire grande dureza e resistência ao tempo,

sendo usada para revestir paredes e tetos.” Há apenas dois locais no Palácio Universitário com

este material, que estima-se ter utilizado gesso e areia finíssima, de uso comum no Brasil no

período de sua construção. (HOIRISCH, 2007)

O estuque foi encontrado no vestíbulo, onde há decoração com florões, e na claraboia da capela.

Devido à existência de técnicas compatíveis com as utilizadas no prédio, acredita-se que o forro

destas duas áreas sejam os originais. Prospecções estratigráficas feitas na claraboia encontraram

pinturas artísticas, possivelmente o afresco. Por não ser uma técnica muito empregada no Brasil,

há duas suposições quanto a essa pintura: foi executada durante a construção do prédio de forma

inovadora ou foi inserida posteriormente. (HOIRISCH, 2007)

3.1.2.2.3 Forros em gesso

Os forros em gesso estão presentes em muitas áreas do Palácio Universitário e o salão Dourado

exibe requintada ornamentação em branco e dourado. Após levantamento do telhado do Palácio

Universitário, foram encontrados resquícios de fasquiado e pregos, que indicam que o forro

original em estuque foi substituído pelo forro em gesso. (HOIRISCH, 2007)

A falta de registros das modificações em forros não permite determinar quando novos

elementos foram inseridos. O gesso foi utilizado para tentar reproduzir a decoração original de

estuque com técnicas mais modernas. (HOIRISCH, 2007)

38

Figura 27: Forro em gesso decorado, salão Dourado. Foto: Bira Soares. Fonte: Hoirisch, 2007.

3.1.2.3 TELHADOS

O Palácio Universitário tem uma área coberta de cerca de 6.800m², e a Figura 28 apresenta sua

planta de cobertura.

Figura 28: Planta de cobertura. Fonte: Hoirisch, 2007

3.1.2.3.1 Cobertura

A planta de cobertura do Palácio apresenta trinta e nove águas, interceptadas por calhas, rincões,

espigões e cumeeiras. As telhas de barro da cobertura são do tipo francesas e, como ainda não

39

havia fabricação deste material no Brasil, provavelmente foram importadas da França. As telhas

planas não eram utilizadas em construções brasileiras na época da construção e representaram

uma inovação tecnológica, mas há indícios de que as telhas originais fossem coloniais e,

portanto, foram substituídas posteriormente. (HOIRISCH, 2007)

Figura 29: Telhado sobre antes da intervenção. Fonte: Hoirisch, 2007.

Em 1990, as calhas que recolhiam as águas pluviais eram feitas de cobre e tinham 23 cm de

largura, sendo posicionadas junto às platibandas em todo perímetro da edificação. Levavam a

água para caixas coletoras, sendo direcionadas em seguida para tubos de descida, nas fachadas

externas, ou para buzinotes, nas fachadas internas. (HOIRISCH, 2007)

A UFRJ realizou uma reforma em 1994 para resolver problemas de infiltrações nos telhados,

que consistiam nas seguintes ações: (HOIRISCH, 2007)

a) Substituição das calhas de cobre originais da edificação por outras em fibrocimento,

com 0,305 m de largura, com a preservação apenas das calhas da capela e dos telhados

sobre as áreas com um só pavimento.

b) Troca das peças que compõem o frechal de 0,15m x 0,15m, por outras de 0,075m x

0,15m.

c) Recuo das peças de madeira em bom estado para comportar a nova calha.

As novas calhas, mais largas que as originais, tinham o objetivo de captar um volume maior de

água, mas foram instaladas em um nível mais alto e provocaram a perda da inclinação das duas

últimas fiadas do telhado. Em alguns pontos, as telhas apresentavam inclinação invertida, as

águas não escoavam para as calhas e infiltravam para o interior do prédio. (HOIRISCH, 2007)

40

Figura 30: Duas últimas linhas de telhas planas e calha em fibrocimento. Fonte: Hoirisch, 2007.

As águas pluviais eram lançadas para o exterior do prédio através de gárgulas nos pátios

internos, buzinotes em forma de trombetas sob as sacadas e tubos de quedas nas fachadas

externas. Os condutores verticais são feitos em ferro fundido e seus terminais são em forma de

cabeças estilizadas de delfins. (HOIRISCH, 2007)

a)

b)

Figura 31: Elementos do sistema de drenagem: a) gárgulas em pátio interno b) delfim na terminação do duto

de águas pluviais. Fonte: Hoirisch, 2007.

As paredes são arrematadas por platibandas em todo o perímetro, com estátuas e vasos em

mármore branco esculpidos sobre elas. Apenas as platibandas nos telhados de um único

pavimento não têm os vasos e as estátuas. (HOIRISCH, 2007)

41

a)

b)

Figura 32: Platibanda: a) estátuas e vasos na cobertura b) avanço de vegetação pela platibanda. Fonte:

Hoirisch, 2007.

3.1.2.3.2 Estrutura do telhado

A estrutura comum de um telhado construído no século XIX é composta por tesouras com

espaçamento variando entre 2,40m e 4,80m. Em geral, os vãos do Palácio Universitário tem

8,50 m e a estrutura é composta por tesouras romanas simples de madeira maciça, apoiadas

sobre frechais. (HOIRISCH, 2007)

Segundo o Caetano (1993), existiam dois tipos de tesouras no projeto original do Hospício

Pedro II, um para sustentar as cargas e outro para reforçar a cumeeira, conforme o esquema

abaixo. Em épocas posteriores, foram substituídas por tesouras mais sofisticadas.

Figura 33: Tesouras originais do Hospício Pedro II. Fonte: Caetano, 1993.

42

Apenas algumas das tesouras atuais seriam originais, posicionadas sobre os salões Vermelho e

Dourado. A tesoura original, representada na Figura 1b e denominada de tesoura 1, é

“constituída por duas pernas reforçadas por contrapernas, uma linha baixa, uma alta e sob a

cumeeira, até encontrar a linha alta, um pontalete”. (HOIRISCH, 2007)

a)

b)

Figura 34: Tesoura 1: a) uma das tesouras em 2005 b) planta da tesoura. Fonte: Levantamento do Telhado,

2005 apud Hoirisch, 2007.

Outros três modelos, representados nas figuras Figura 35, Figura 36 e Figura 37, foram

encontrados e podem ter sido instaladas para substituir os originais na reforma dos anos 1940.

(HOIRISCH, 2007)

Figura 35: Tesoura 2 do Palácio Universitário. Fonte: Levantamento do Telhado, 2005 apud Hoirisch, 2007.

Figura 36: Tesoura 3 do Palácio Universitário. Fonte: Levantamento do Telhado, 2005 apud Hoirisch, 2007.

43

Figura 37: Estrutura com pontaletes do Palácio Universitário. Fonte: Levantamento do Telhado, 2005 apud

Hoirisch, 2007.

A Figura 38 mostra a localização de cada uma destas tesouras.

Figura 38: Indicações de regiões com características históricas diferentes em suas estruturas. Fonte:

Levantamento do Telhado, 2005 apud Hoirisch, 2007.

3.1.2.3.3 Claraboia

A claraboia, que é frequentemente utilizada em construções com arquitetura Neoclássica,

objetiva permitir a iluminação natural de cômodos que não têm janelas. A deste edifício situa-

se na caixa da escadaria interna e liga o vestíbulo do térreo à Capela e salões do segundo

pavimento. Entre 1991 e 1994 passou por uma restauração que substituiu sua estrutura em ferro

e os vidros. É sustentada por uma estrutura de cambotas de madeira, interrompidas para

instalação dos vidros. O teto interior é abobadado com revestimento em estuque. (HOIRISCH,

2007)

44

Figura 39: Cambotas e fasquias compondo a estrutura da claraboia. Fonte: Hoirisch, 2007

Em 1996, uma prospecção estratigráfica mostrou que camadas de pinturas decorativas estavam

escondidas sob a tinta branca. Infelizmente, no mesmo ano uma parte do teto ruiu devido a

infiltrações e infestação de cupins. Um tapume foi instalado para impedir o desmoronamento e,

devido à falta de verba, a claraboia ficou coberta por muitos anos. (HOIRISCH, 2007)

Figura 40: Detalhes construtivos de da estrutura da claraboia. Fonte: Hoirisch, 2007

3.1.3 IDENTIFICAÇÃO DE PATOLOGIAS

3.1.3.1 FACHADAS EXTERNAS

Um mapeamento de danos da fachada, através de vistorias, foi feito em 2008 e resultou na

elaboração das plantas com todas as patologias encontradas. As patologias encontradas estão

identificadas nos Quadro 6 e 7.

45

Quadro 6: Identificação de patologias nos azulejos das fachadas. Fonte: Relatório, 2018

Patologias encontradas em azulejos das fachadas

Manchas no vidrado

Diferença de tonalidade

Quebrado, lascado ou furado

Lacuna

Trecho irregular

Trecho com estufamento

O Quadro 7 relaciona as patologias encontradas em argamassas.

Quadro 7: Identificação de patologias das argamassas das fachadas. Fonte: Relatório, 2018

Patologias encontradas nas argamassas das fachadas

Desplacamento do reboco

Deslocamento da camada pictórica

(umidade)

Alvenaria aparente pelo

desplacamento do reboco e emboço

Sujidades

Esfoliação da pedra

Elementos quebrados

Prótese de cimento

Desagregação

Prótese de pedra

Fissuras

Pichação

Infiltração (presença de bolhas e/ou

manchas)

Ferrugem

Alteração cromática

Degradação biológica

Argamassa de cimento

Crosta negra

Elemento faltante

46

Lacuna

Preenchimento com alvenaria

Elementos espúrios

Todas as plantas de identificação das patologias da fachada podem ser encontradas no anexo I.

Na fachada principal oeste, as principais patologias encontradas foram: sujidades nas

platibandas, cachepots, elementos decorativos e abaixo de esquadrias; vãos preenchidos com

alvenaria; descolamento de camada pictória; crosta negra.

Figura 41: Patologias da fachada principal oeste. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada posterior oeste, as patologias encontradas foram: sujidades nas platibandas e abaixo

de esquadrias; elementos faltantes; descolamento de camada pictória; crosta negra; elementos

espúrios; desplacamento do reboco; degradação biológica.

Figura 42: Patologias da fachada posterior oeste. Fonte: Relatório, 2018

47

Na fachada oeste, as patologias encontradas foram: crosta negra; desplacamento do reboco;

descolamento da camada pictória; degradação biológica; elementos espúrios.

Figura 43: Patologias da fachada oeste. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada leste, as patologias encontradas foram: crosta negra; alvenaria aparente pelo

desplacamento do reboco e emboço; alteração cromática; descolamento da camada pictória;

degradação biológica; elementos espúrios, ferrugem.

Figura 44: Patologias da fachada leste. Fonte: Relatório, 2018

O pátio 5 está localizado na Figura 45.

Figura 45: Localização do pátio 5. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada A do pátio 5, as patologias encontradas foram: alvenaria aparente pelo

desplacamento do reboco e emboço; descolamento do reboco; elementos quebrados;

descolamento da camada pictória; sujidades; degradação biológica.

48

Figura 46: Patologias da fachada A do pátio 5. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada B do pátio 5, as patologias encontradas foram: sujidades; desplacamento do reboco;

descolamento da camada pictória; elementos espúrios, alteração cromática; pixação.

Figura 47: Patologias da fachada B do pátio 5. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada C do pátio 5, as patologias encontradas foram: sujidades; degradação biológica;

descolamento da camada pictória; elementos espúrios; desplacamento do reboco; alvenaria

aparente pelo desplacamento do reboco e emboço; prótese de cimento; pichação, elemento

faltante.

49

Figura 48: Patologias da fachada C do pátio 5. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada D do pátio 5, as patologias encontradas foram: sujidades; descolamento da camada

pictória; elementos espúrios; desplacamento do reboco; alvenaria aparente pelo desplacamento

do reboco e emboço.

Figura 49: Patologias da fachada D do pátio 5. Fonte: Relatório, 2018

O pátio 6 está localizado na Figura 50.

50

Figura 50: Localização do pátio 6. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada A do pátio 6, as patologias encontradas foram: sujidades; infiltração; descolamento

da camada pictória; elementos espúrios; elementos quebrados; desplacamento do reboco;

alvenaria aparente pelo desplacamento do reboco e emboço; argamassa de cimento; elementos

quebrados.

Figura 51: Patologias da fachada A do pátio 6. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada B do pátio 6, as patologias encontradas foram: infiltração; descolamento da camada

pictória; elementos espúrios; elementos quebrados; desplacamento do reboco; alvenaria

aparente pelo desplacamento do reboco e emboço; argamassa de cimento; elementos quebrados.

51

Figura 52: Patologias da fachada B do pátio 6. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada C do pátio 6, as patologias encontradas foram: sujidades; descolamento da camada

pictória; elementos espúrios; elementos faltantes; crosta negra; degradação biológica.

Figura 53: Patologias da fachada C do pátio 6. Fonte: Relatório, 2018

Na fachada D do pátio 6, as patologias encontradas foram: sujidades; descolamento da camada

pictória; elementos espúrios; elementos faltantes; alvenaria aparente pelo desplacamento do

reboco e emboço; argamassa de cimento.

52

Figura 54: Patologias da fachada D do pátio 6. Fonte: Relatório, 2018

3.1.3.2 FORROS

As tábuas dos forros do segundo pavimento encontravam-se danificadas por infiltrações do

telhado, ataques xilógrafos, ruptura de elementos e danos nas pinturas. O diagnóstico foi feito

através de vistorias e durante a execução das obras do telhado.

3.1.3.3 TELHADOS

Ao longo do tempo, as coberturas sofreram degradações por intervenções inadequadas no

telhado que provocaram infiltrações e, consequentemente, danificaram peças estruturais e

estimularam a infestação de microrganismos e insetos. (HOIRISCH, 2007)

A falta de um sistema de passarelas no telhado colocava em risco a segurança de funcionários

que faziam serviços de manutenção tais como substituição de telhas quebradas, limpeza de

calhas e ralos. As principais patologias identificadas na cobertura do telhado e na sua estrutura

de madeira foram: (HOIRISCH, 2007)

a) Telhas rachadas, quebradas ou deslocadas.

b) Falta uma passarela para o transito de servidores durante as ações de manutenção da

cobertura.

c) Inclinação inadequada das últimas fiadas de telhas e consequente problemas de

escoamento de águas.

d) Entupimento de elementos de drenagem tais como canais, calhas, rincões e condutores.

53

e) Entupimento de dutos de águas pluviais por plantas, cacos de telhas e dejetos.

f) Peças da estrutura do telhado deterioradas devido à umidade.

g) Argamassas de fixação de telhas cumeeiras apresentam rachaduras.

3.2 FASE 3: DEFINIÇÃO DAS SOLUÇÕES

3.2.1 FACHADAS EXTERNAS

A técnica de difração de raios X é utilizada para obter informações sobre a sua estrutura atômica

e composição química de amostras. O procedimento consiste em incidir um feixe de raios X

sobre a amostra, que é difratado por seus átomos. A partir das direções que os raios X tomam,

pode-se fazer a completa caracterização do material. (CAJADO, 2016)

Neste projeto, esta técnica foi utilizada para estudar a composição da argamassa de revestimento

das fachadas do Palácio Universitário. Através da análise das amostras, descobriu-se que é uma

argamasse de cal e areia, com traço 1:3 e que a cor original era ocre.

A parte mais crítica a ser executada das fachadas seria a platibanda devido à dificuldade de

acesso e à quantidade de detalhes e ornamentos existentes. Para analisar as soluções, decidiu-

se construir um modelo em escala real da platibanda. O modelo reproduzia uma das quinas das

fachadas dos pátios internos.

Figura 55: Modelo recriado com almofadas e telhas. Fonte: Autora, 2018

Com o modelo, foi possível analisar argamassas com diferentes quantidades de pigmentos, até

encontrar a tonalidade original, além de fazer testes de aplicação de impermeabilizantes.

Também auxiliou a mostrar as soluções adotadas para os órgãos fiscalizadores, a fim de prová-

las.

54

Figura 56: Modelo recriado com aplicação de argamassa com diferentes tonalidades. Fonte: Autora, 2018

O processo de recuperação das argamassas das fachadas consistiu em lixar a superfície para

remover as camadas de tinta e de argamassas degradadas, limpar a superfície e aplicar de uma

nova camada da argamassa pigmentada.

Figura 57: Fachada sendo lixada. Fonte: Relatório, 2018

Como a fachada é a em argamassa de cal, ela absorve mais água do que a convencional em

argamassa e demora para secar. Na Figura 58, tirada em fevereiro de 2018, é possível comparar

três fases das fachadas. A fachada da esquerda, com restauro finalizado no final de 2017, ainda

não está completamente seca. A fachada do meio, finalizada em 2015, já está com a argamassa

seca. E a fachada da direita ainda não passou pela restauração.

55

Figura 58: Fachadas em diferentes fases da restauração. Fonte: Autora, 2018

Os cachepots posicionados nas platibandas acumulavam detritos, água e sofriam deterioração.

Para aumentar sua durabilidade, foram criadas tampas de fibra de vidro, que foram produzidas

no canteiro de obras com molde elaborado sob medida.

Figura 59: Tampa de fibra de vidro para cachepot em processo de secagem. Fonte: Autora, 2018

Para recuperação de elementos estéticos, há um ateliê de ornatos no canteiro de obras. As peças

degradadas (cachepots e estátuas) são removidas para serem restauradas. Quando as peças estão

muito danificadas ou ausentes, novos elementos são produzidos com argamassa através da

utilização de moldes.

56

Figura 60: Molde para produção de cachepot. Fonte: Autora, 2018

3.2.2 FORROS

O restauro dos forros de madeira consiste em trocar peças que estejam danificadas por ataques

de microrganismos, pela ação da umidade ou por ações mecânicas. Também, há o lixamento

das peças, limpeza e pintura.

Figura 61: Forros do segundo pavimento restaurados. Fonte: Relatório, 2018

57

3.2.3 TELHADOS

O telhado também foi reproduzido com sua real inclinação para analisar a interação entre as

telhas, as calhas e a platibanda, além de testar a impermeabilização. As calhas de fibrocimento

foram substituídas por novas de cobre, assim como na construção original. Também foi

elaborado um passadiço de cimento fundido juntamente com as telhas para evitar fissuras e

rupturas.

Figura 62: Telhado recriado para estudar interface com calhas e platibanda. Fonte: Autora, 2018

Para melhorar o escoamento das águas pluviais, todos os tubos de queda passaram a ser de 150

mm. Os tubos que eram de 75 mm foram substituídos e alguns tubos foram adicionados nas

quinas da edificação.

A recuperação da estrutura do telhado consiste na remoção de todas as telhas e análise das

condições das tesouras. As pontas das tesouras estão enclausuradas na alvenaria, por isso é

necessário quebrar o concreto e verificar o estado da madeira. Quando estão em bom estado,

recebem tratamento e são novamente fixadas. Se estiverem degradas, são utilizados parafusos

e chapas para garantir sua estabilidade ou, em último caso, são substituídas por peças novas.

Todas as vigas, terças e caibros foram substituídos por um novo madeiramento, além de

receberem tratamento químico contra ação de microrganismos.

58

Figura 63: Estrutura do telhado recebendo tratamento contra microrganismo. Fonte: Relatório, 2018

Para que fosse possível realizar a obra sem provocar danos às estruturas internas,

principalmente por infiltração de águas pluviais, definiu-se que uma estrutura de andaimes seria

montada nas fachadas que passariam pela intervenção. Sobre estes andaimes, seria instaladas

uma estrutura metálica e uma cobertura provisória de acrílico.

Figura 64: Instalação da cobertura provisória. Fonte: Relatório, 2018

Além de suportar a cobertura provisória, os andaimes também davam acesso para as ações nas

fachadas. A cobertura provisória era instalada antes do início dos reparos do bloco e só era

desmontada após a finalização de todos os serviços.

A solução adotada para restaurar o telhado da capela, totalmente destruído pelo incêndio em

2011, foi a utilização de estruturas metálicas, com caibros de madeira, bandejamento metálico,

ripas de madeira e telhas francesas.

59

a)

b)

Figura 65: Construção do telhado da nave da capela: a) fixação dos caibros b) bandejas metálicas e ripas de

madeira. Fonte: Relatório, 2018

Para construção da rotunda da capela, também foi utilizada estrutura metálica, detalhada pela

equipe de engenheiros da Biapó. Devido às particularidades de acesso e por se tratar de uma

estrutura leve, esta estrutura foi montada no canteiro de obras e, depois de pronta, içada para

ser fixada na sua posição final. Após a fixação da estrutura, um piso de tábuas foi construído,

assim como na construção original, para formar o aspecto circular.

a)

b)

Figura 66: Telhado da rotunda da capela: a) estrutura metálica b) ripas de madeira sobre estrutura metálica.

Fonte: Biapó, 2018

Para finalizar a restauração da rotunda, folhas de cobre foram fixadas na cobertura de madeira,

cada uma com dimensões 4 m x 8 m.

60

Figura 67: Fixação de folhas de cobre no telhado da rotunda. Fonte: Relatório, 2018

O ateliê de fundição funciona como uma oficina de ornatos e recupera buzinas, tubos de queda,

gárgulas e gradis de ferro e de cobre. Mais uma vez, quando há elementos muito degradados ou

ausentes, novas peças são forjadas.

Figura 68: Elementos de ferro degradados que não serão reutilizados. Fonte: Autora, 2018

61

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1 COMENTÁRIOS

Este trabalho procurou, através de revisão bibliográfica, mostrar os benefícios que a reabilitação

pode trazer para edifícios antigos ou inadequados, sendo estes a recuperação do seu

desempenho, a adaptação às necessidades atuais e a valorização da benfeitoria. No caso de

edifícios antigos e monumentos históricos, as intervenções são restringidas por exigências de

órgãos de preservação do patrimônio, sendo o processo é mais minucioso.

Na reabilitação, as etapas de viabilidade e diagnóstico são as mais importantes para o sucesso

do empreendimento, pois identificarão limitações e guiarão a escolha dos métodos e o

planejamento da intervenção. Assim, os profissionais do diagnóstico devem ter conhecimento

acerca dos diferentes materiais e métodos construtivos, experiência em vistorias, ensaios e

outros métodos investigativo, pois as informações coletadas terão impacto direto no resultado

final.

Na fase de execução, as atividades podem ser mais especializadas. O ideal é a contratação de

equipe com experiencia em obras de restauro, em especial de edifícios históricos, e treinamento

dos funcionários novos.

Através do exemplo de aplicação, é possível comparar a teoria com a prática. O levantamento

das patologias guiou as etapas de planejamento e a definição das soluções. As práticas

recomendadas foram adotadas nesta intervenção: na fase de diagnóstico foi utilizado ensaio em

laboratório para determinar a composição da argamassa e as patologias foram identificadas

através de vistoria e registros fotográficos; na escolha das soluções, para o telhado foi utilizada

uma cobertura provisória e foi instalado um passadiço para facilitar sua manutenção; para as

fachadas a argamassa utilizada tem a mesma composição e a mesma coloração original.

Assim, apesar de ainda não ter sido concluída, a intervenção para recuperação dos telhados e

fachadas do Palácio Universitário representa um caso de restauração bem-sucedido até aqui.

4.2 SUGESTÕES

Muitos são os edifícios históricos no Brasil que necessitam de ações de reabilitação. O próprio

objeto deste estudo está ainda na primeira fase de sua reabilitação, ainda sendo necessários

muitas ações até sua revitalização completa. Ainda no âmbito dos prédios históricos

62

pertencentes à UFRJ, os edifícios da Faculdade Nacional de Direito (FND), do Hospital-Escola

São Francisco de Assis (HESFA) e o Museu Nacional necessitam de reabilitações.

Assim, as como sugestão para trabalhos futuros pode-se fazer o levantamento das patologias e

das condições de usos de dessas edificações ou de outras similares, elaborar propostas de

intervenções ou acompanhar as futuras fases da reabilitação do Palácio Universitário.

63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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intervenção. Amadora: Orion, 2003.

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edificações – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1999.

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Manual de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais/ Coordenação Geral de Renato Balbim

– Brasília: Ministério das Cidades; Agencia Espanhola de Cooperação Internacional – AECI,

2008.

CAETANO, Lucinda Oliveira. Manual e normas de conservação para o Palácio

Universitário. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fórum de Ciência e

Cultura, 1993. 107 p.

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orçamentos discriminados. UFRGS. Porto Alegre, RS. 2009.

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em Engenharia Civil - 2010/2011 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de

Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2011.

64

PAIVA, J.; AGUIAR, J.; PINHO, A. Guia técnico de reabilitação habitacional. 1ª Edição.

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PAVÃO, R. Catálogo de técnicas de diagnóstico em edifícios antigos. Dissertação de M.Sc.,

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TAVARES, Alice; COSTA, Aníbal; VARUM, Humberto. Manual de reabilitação e

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constatada negligência por parte da empresa que restaura o prédio, a universidade

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unidade-da-ufrj-suspende-aulas-18260483 > Acesso em 10/01/2018.

67

ANEXO I – PLANTAS COM IDENTIFICAÇÃO DAS PATOLOGIAS