109
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS PROVENIENTES DO PROGRAMA MESA DA SOLIDARIEDADE DA CEASA/RN. Priscila Vanini Dantas de Medeiros Orientadora: Profa. Dra. Josette Lourdes de Sousa Melo Co-Orientadora: Dra. Fabíola Gomes de Carvalho Natal / RN Dezembro / 2005 Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Tecnologia Departamento de Engenharia Química Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química

REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

  • Upload
    vanhanh

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS PROVENIENTES DO PROGRAMA MESA DA SOLIDARIEDADE DA

CEASA/RN.

Priscila Vanini Dantas de Medeiros

Orientadora: Profa. Dra. Josette Lourdes de Sousa Melo Co-Orientadora: Dra. Fabíola Gomes de Carvalho

Natal / RN Dezembro / 2005

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Tecnologia

Departamento de Engenharia Química Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química

Page 2: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

i

MEDEIROS, P.V.D – Reaproveitamento e caracterização dos resíduos orgânicos provenientes do Programa MESA DA SOLIDARIEDADE da CEASA/RN. Dissertação de Mestrado, UFRN, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, Área de Concentração: Engenharia Ambiental e Tecnologia de alimentos, Natal – RN, Brasil.

Orientadora: Profª. Drª. Josette Lourdes de Sousa Melo (DEQ/UFRN) Co-Orientadora: Drª. Fabíola Gomes de Carvalho (Pesquisadora DCR/UFRN)

RESUMO

No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida da população, a CEASA/RN lançou há dois anos (agosto/03) o programa MESA DA SOLIDARIEDADE. Apesar dos resultados positivos deste programa, que já distribuiu em média 226 toneladas de alimentos, ainda existe o descarte de alimentos no lixo, pois entregá-los na sua forma natural seria um risco à saúde de quem os consumisse, e apenas o processamento correto dos mesmos poderia viabilizar o seu consumo. Neste sentido, esse trabalho tem por objetivo apresentar alternativas de reaproveitamento dos resíduos sólidos de origem vegetal gerados pela CEASA/RN, por meio do Programa MESA DA SOLIDARIEDADE associado à caracterização do produto obtido para que o mesmo sirva como complementação mineral na alimentação humana. Para a coleta das amostras (setembro a dezembro de 2004), desenvolveu-se uma metodologia tendo como referência a necessidade diária de sais minerais para crianças de sete a dez anos. A amostra, acondicionada em sacos plásticos e transportada, a temperatura ambiente, para o laboratório, foi selecionada, pesada, higienizada, fracionada e submetidas à secagem à 70ºC em estufa. A amostra seca foi triturada e armazenada em vidros previamente esterilizados. A amostra in natura

foi pesada, na mesma proporção da amostra inicial e foi triturada em um processador doméstico, obtendo-se uma massa uniforme. As análises físico-químicas foram realizadas, em triplicata, nas amostras in natura e no produto desidratado a base de vegetais, sendo analisados os seguintes parâmetros: pH, umidade, acidez e sólidos solúveis, conforme IAL (1985), teores de sais minerais (Ca, K, Na, Mg, P e Fe) determinados por espectrofotometria de Absorção Atômica, poder calorífico através de uma bomba calorimétrica e presença de coliformes fecais e E.coli através do método colilert conforme (APHA, 1995). No período estudado, o produto desidratado a base de vegetais apresentou, em média, 5,06% de umidade, 4,62 de pH, acidez de 2,73 mg de ácido cítrico/100g de amostra, 51,45ºBrix de sólidos solúveis. Cada 100g do produto desidratado apresentou 2.323,50 mg de K, 299,06 mg de Ca, 293,00mg de Na, 154,66 mg de Mg, 269,62 mg de P e 6,38mg de Fe. O produto desidratado a base de vegetais possui poder calorífico de 3,691Kcal/g (15,502KJ/g) e está livre da contaminação por coliformes fecais e E.coli. O produto farináceo desenvolvido nesta pesquisa apresentou características satisfatórias quanto à sua conservação, possuindo baixas calorias, constituindo-se de uma boa fonte de potássio, magnésio, sódio e ferro, podendo ser utilizado como complemento alimentar desses sais minerais.

Palavras-chaves: resíduos orgânicos, reaproveitamento, sais minerais, produto desidratado e complementação alimentar.

BANCA EXAMINADORA E DATA DA DEFESA: 14 de dezembro de 2005

Presidente: Profª. Drª. Josette Lourdes de Sousa Melo (DEQ/UFRN) Membros:

Dra. Fabíola Gomes de Carvalho (Pesquisadora DCR/UFRN) Profª. Drª. Marta Suely Madruga (Depto de Tecnologia Química e de Alimentos /UFPB) Profª. Drª. Maria de Fátima Dantas de Medeiros (DEQ/UFRN) Profª. Drª. Ana Vládia Bandeira Moreira (Depto de Nutrição/UFRN)

Page 3: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

ii

ABSTRACT

As an auxiliary tool to combat hunger by decreasing the waste of food and contributing for

improvement of life quality on the population, CEASA/RN has released from August/03 to

August/05 the program MESA DA SOLIDARIEDADE. Despite of the positive results of this

program, that has already distributed around 226 tons of food, there is still food being thrown

in the trash as the deliver of the same food in its natural form would be a health risk to those

who would consume it and only the correct processing of this food can make it edible. This

work has as a goal the reuse of solid residues of vegetal origin generated by the CEASA/RN,

through the Program MESA DA SOLIDARIEDADE and the characterization of the product

obtained so it might be used as a mineral complement in the human diet. To the collecting of

samples (from September until December /2004) it was developed a methodology having as a

reference the daily needs of mineral salts for infants at the age of seven to ten. The sample

was packed in plastic bags and transported in an ambient temperature to the laboratory where

it was selected, weighted, disinfected, fractionated and dried to 70ºC in greenhouse. The dry

sample was shredded and stored in bottles previously sterilized. The sample in nature was

weighted in the same proportion of the dry sample and it was obtained a uniform mass in a

domestic processor. The physical-chemical analyses were carried out in triplicate in the

samples in nature and in the dry product, being analyzed: pH, humidity, acidity and soluble

solids according to IAL (1985), mineral salts contents (Ca, K, Na, Mg, P and Fe) determined

by spectrophotometry of Atomic Absorption, caloric power through a calorimetric bomb and

presence of fecal traces and E. coli through the colilert method (APHA, 1995). During this

period the dry food a base of vegetables presented on average 5,06% of humidity, 4,62 of pH,

acidity of 2,73 mg of citric acid /100g of sample, 51,45ºBrix of soluble solids, 2.323,50mg of

K/100g, 299,06mg of Ca/100g, 293mg of Na/100g, 154,66mg of Mg/100g, 269,62mg of

P/100g, 6,38mg of Fe/100g, caloric power of 3,691Kcal/g (15,502KJ/g) and is free of

contamination by fecal traces and E..coli. The dry food developed in this research presented

satisfactory characteristics regarding to its conservation, possessing low calories, constituting

itself a good source of potassium, magnesium, sodium and iron that can be utilized as a food

complement of these minerals.

Keywords: solid residues, reuse, minerals, dry food

Page 4: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

iii

AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar presente em todos os momentos da minha vida protegendo meu caminho e

por possibilitar a realização deste trabalho, de suma importância para o meu aperfeiçoamento

profissional.

À minha família pelo incentivo, paciência, apoio e aconchego, compartilhando os momentos

de alegria e me ajudando a vencer e superar todos os momentos difíceis enfrentados durante a

realização deste trabalho.

Ao meu noivo, Waldésio Queiroga e Silva Junior, pelo amor, pela compreensão na minha

ausência e pelo incentivo constante a este trabalho sempre procurando me estimular tomando

para ele, nos momentos mais difíceis, toda a minha ansiedade e preocupação.

Ao meu amigo Bráulio André Dantas da Silva, pelo exemplo profissional, por despertar meu

interesse na pesquisa desta área e pelo carinho.

À amiga e professora Dra Josette Lourdes de Sousa Melo pela orientação deste trabalho, por

mais uma vez fazer parte de minha formação profissional, pelo apoio dedicado, ensinamentos

compartilhados, pela motivação constante, compreensão, pela amizade construída há anos e

principalmente pela confiança depositada em mim.

À amiga e Dra Fabíola Gomes de Carvalho pela amizade, paciência, valiosa co-orientação e

inúmeras sugestões as quais enriqueceram o conteúdo desta pesquisa.

À Central de Abastecimento do Rio Grande do Norte – CEASA/RN pela confiança em meu

trabalho, por permitir o uso de seus resíduos e liberar o acesso as suas instalações para

realização desta pesquisa e principalmente àqueles que fazem parte do PROGRAMA MESA

DA SOLIDARIEDADE pelo carinho, amizade, acolhimento e pela disponibilidade em

contribuir para o enriquecimento do trabalho.

As graduandas em engenharia química e amigas Julianna Karla Paiva Alves e Priscilla Mara

dos Santos Pereira pelo inestimável auxilio na realização da parte experimental desta pesquisa

mas principalmente pela valiosa amizade construída.

Page 5: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

iv

Aos integrantes do Laboratório de Engenharia Ambiental e Controle de Qualidade – LEACQ

pela amizade e carinho durante todo o desenvolvimento deste trabalho, em especial à Anita

Maria de Lima pela compreensão, paciência, por ser sempre prestativa e estar disposta a

contribuir para realização desta pesquisa.

A Profa Dra Margarida Maria dos Anjos Magalhães por liberar a estrutura do Laboratório de

Tecnologia de Alimentos para realização de parte dos experimentos desta pesquisa e por ter

participado da banca examinadora do projeto de Mestrado.

A Profa Dra5Maria de Fátima Dantas de Medeiros por participar de todas as bancas

examinadoras desta pesquisa desde o projeto de mestrado até a defesa, pelo carinho, amizade

e por estar sempre disposta a contribuir para o crescimento desta pesquisa.

A Profa Dra6HMárcia Pedrini por participar da banca examinadora da qualificação e por todas

as sugestões de melhoria desta pesquisa.

A Profa Dra Ana Vladia Bandeira Moreira e Profª. Drª. 7HMarta Suely Madruga por terem

aceito meu convite e participarem da banca examinadora da defesa desta Dissertação de

Mestrado.

Ao funcionário Msc. Thyrone Barbosa Domingos pelos ensinamentos, dedicação, paciência e

pela realização das analises experimentais para determinação do teor de sais minerais.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico - CNPq pela concessão

da bolsa de estudo.

As minhas amigas e sócias Ineuda Maria Alves Ferreira Lima e Kátia Regina Souza, pela

amizade e compreensão na minha ausência, quando não pude me dedicar a nossa empresa,

pela constante motivação e pela valiosa contribuição na interpretação dos resultados referente

a esta pesquisa.

Enfim, a todos que eu não tenha mencionado e que estiveram presentes nesta caminhada,

contribuindo para concretização deste sonho, o meu muito obrigada!

Page 6: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

v

SumárioResumo i Abstract ii Agradecimentos iii Sumário v Lista de figuras vii Lista de Tabelas ix

1.INTRODUÇÃO 10

2. HIPOTESE E OBJETIVOS 13

3. ASPECTOS TEORICOS 14

3.1. - Resíduos sólidos 14

3.1.1- Histórico 14

3.1.2.- Conceito 15

3.1.3- Classificação 17

3.2 – Resíduos sólidos orgânicos e desperdício de alimentos no Brasil 19

3.3.- Centrais de abastecimento. 21

3.3.1.- Condições históricas 21

3.3.2.- As centrais de abastecimento no Brasil 22

3.3.3.- As centrais de abastecimento do Rio Grande do Norte (CEASA/RN) 23

3.3.3.1 - Programa Mesa da Solidariedade 24

3.4 – Caracterização dos resíduos orgânicos 26

3.4.1 Aspectos gerais das análises físico-químicas 26

3.4.1.1 - Acidez e pH 26

3.4.1.2 - Umidade 27

3.4.1.3 - Sólidos solúveis (ºBrix) 27

3.4.2 - Determinação do poder calorífico 28

3.4.3 - Qualidade nutricional dos alimentos 29

3.4.4 - Análises microbiológicas 34

3.4.4.1 - Microrganismos indicadores 35

3.5 – Conservação de alimentos pelo controle de umidade 36

3.5.1 - Aspectos gerais sobre o processo de secagem 37

3.6 – Alimentação alternativa 39

3.6.1 - Multimistura 41

4. ESTADO DA ARTE 44

Page 7: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

vi

5. MATERIAIS E MÉTODOS 50

5.1. - Materiais 50

5.1.1 - Matéria-prima 50

5.2. - Métodos 51

5.2.1 - Procedimento experimental 51

5.2.2 – Amostragem (composição amostral) 52

5.2.3 - Preparo das amostras 58

5.2.4 - Métodos analíticos 60

5.2.4.1 - Análises físico-químicas e de sais minerais 60

5.2.4.2 - Poder calorífico 61

5.2.4.3 - Análises microbiológicas 63

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES 64

6.1 – Análises físico-químicas 65

6.2 – Analises de sais minerais 70

6.3 – Poder calorífico 84

6.4 – Composição do alimento, à base de vegetais, desidratado 85

6.5 – Análises microbiológicas 87

7. CONCLUSOES E SUGESTOES 88

7.1 – Conclusões 88

7.2 – Sugestões 89

8. REFERÊNCIAS 90

Page 8: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1: Fluxograma de processo do Programa MESA DA SOLIDARIEDADE. 25

Figura 3.2: Demonstrativo dos resultados do Programa MESA DA SOLIDARIEDADE no

período de janeiro a dezembro de 2004 (Coordenação do Programa/2004) 26

Figura 3.3: Desenho esquemático de um conjunto do calorímetro montado 28

Figura 3.4: Desenho esquemático da montagem de uma bomba calorimétrica 29

Figura 5.1: Fluxograma do procedimento experimental 51

Figura 5.2: Amostras coletadas no galpão do Programa Mesa da Solidariedade. 52

Figura 5.3: Amostras coletadas pesadas e recebidas no laboratório 52

Figura 5.4: a) Amostra definida a partir da amostragem desenvolvida para a pesquisa e b)

Higienização da amostra. 58

Figura 5.5: Amostra fracionada após a higienização 59

Figura 5.6. a) Processo de secagem da amostra “in natura” em estufa com circulação forçada de

ar e b) Aspecto das amostras após a secagem 59

Figura 5.7. Curva de secagem realizada em 05 de maio de 2004 para definir tempo de secagem

das amostras. 60

Figura 5.8: Produto final armazenado em vidro previamente esterilizado e rotulado. 60

Figura 5.9: Cartelas aluminizadas da IDDEX utilizadas nas análises microbiológicas 63

Figura 6.1: Resultados de umidade da amostra “in natura” e do alimento desidratado 66

Figura 6.2: Resultados de pH da amostra “in natura” e do alimento desidratado 67

Figura 6.3: Resultados de acidez da amostra “in natura” e do alimento desidratado 68

Figura 6.4: Resultados de sólidos solúveis da amostra “in natura” e do alimento desidratado 69

Figura 6.5: Teor de potássio presente no alimento desidratado 71

Figura 6.6: Comparativo do teor de potássio presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado. 72

Figura 6.7: Teor de cálcio presente no alimento desidratado 73

Figura 6.8: Comparativo do teor de cálcio presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado. 74

Figura 6.9: Teor de sódio presente no alimento desidratado 75

Page 9: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

vii

Figura 6.10: Comparativo do teor de sódio presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado. 76

Figura 6.11: Teor de magnésio presente no alimento desidratado 77

Figura 6.12: Comparativo do teor de magnésio presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado. 78

Figura 6.13: Teor de fósforo presente no alimento desidratado 79

Figura 6.14: Comparativo do teor de fósforo presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado. 80

Figura 6.15: Teor de ferro presente no alimento desidratado 81

Figura 6.16: Comparativo do teor de ferro presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado. 82

Figura 6.17: Comparação entre os sais minerais encontrados em 100 g de alimento desidratado

e a necessidade diária de sais minerais para crianças de sete a dez anos. 83

Page 10: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1: Classificação dos resíduos sólidos quanto à periculosidade. 18

Tabela 3.2: Classificação dos resíduos sólidos quanto à origem ou natureza. 19

Tabela 5.1: Necessidade diária de nutrientes para crianças com faixa etária de sete a dez anos. 53

Tabela 5.2: Contribuição nutricional dos alimentos. 53

Tabela 5.3: Contribuição total de cada mineral em 1000g de alimentos coletados no dia 16 de

dezembro de 2004. 54

Tabela 5.4: Quantidade necessária de cada alimento para se estimar a contribuição máxima de

cada nutriente possível em 1000g de alimentos, conforme dados da coleta do dia 16 de

dezembro de 2004.

55

Tabela 5.5: Quantidade necessária de cada alimento na amostra do dia 16 de dezembro de 2004. 56

Tabela 5.6: Amostragem realizada no dia 16 de dezembro de 2004. 56

Tabela 5.7: Composição das amostras utilizadas para elaboração do alimento desidratado 57

Tabela 6.1: Caracterização físico-química das amostras “in natura” e seca. 65

Tabela 6.2: Caracterização mineral do alimento desidratado. 70

Tabela 6.3: Resultados de poder calorífico das amostras (QA ) 84

Tabela 6.4: Avaliação da quantidade de coliformes totais e E.coli presentes no alimento desidratado.

87

Page 11: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Capítulo 1: INTRODUÇÃO

Page 12: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 10

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

1. Introdução

A problemática dos resíduos sólidos tem sido amplamente discutida dentro do

saneamento ambiental. Nos últimos tempos, observa-se que a grande geração de resíduos é

impulsionada principalmente pelo crescimento populacional contínuo e desordenado, aliado

ao modo consumista de viver da sociedade atual, bem como a falta de políticas de

investimento e fiscalização para a coleta, disposição e tratamento dos resíduos sólidos

urbanos. Todos esses fatores têm contribuído para tornar o acumulo dos resíduos um grave

problema social e ambiental (Luna et al, 2003)

A fome e o desperdício de alimentos são dois dos maiores problemas que o Brasil

enfrenta, além de se constituir um dos maiores paradoxos de nosso país, já que produzimos

140 milhões de toneladas de alimentos por ano. Chega a ser incompreensível o fato de sermos

um dos principais exportadores de produtos agrícolas e ao mesmo tempo termos que lidar

com um número tão absurdo de brasileiros que vivem na linha da miséria. (ONG BANCO DE

ALIMENTOS, 2004.)

O cidadão comum, o educador, o industrial, o comerciante e os representantes do

poder público, todos, são responsáveis pelos resíduos sólidos gerados. Cada um conforme a

função que ocupa na sociedade (Oliveira, 2003).

Em paralelo a esse cenário, alimentos eliminados indiscriminadamente poderiam

ser aproveitados como principal fonte de combate contra os efeitos da fome. As perdas na

cadeia produtiva de alimentos alimentariam 1/3 dos famintos brasileiros, o que significa

oferecer alimentação a 32 milhões de pessoas que passam fome no país (ONG BANCO DE

ALIMENTOS, 2004).

Nas últimas décadas, a população mundial vem aumentando de maneira acentuada,

exigindo um melhor aproveitamento dos recursos alimentícios disponíveis, para que essa

população possa manter um nível de alimentação com alto valor nutritivo. As deficiências

minero-vitamínicas, principalmente as de vitamina A, riboflavina, folatos e ferro, afetam os

grupos mais vulneráveis da população, acarretando problemas de saúde pública, com graves

conseqüências para o desenvolvimento do País (Flores et al., 1998).

Page 13: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 11

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Os resíduos de frutas e hortaliças são, geralmente, desprezados pela indústria e

poderiam ser utilizados como fontes alternativas de nutrientes, com o objetivo de aumentar o

valor nutritivo da dieta de populações carentes, bem como solucionar deficiências dietéticas

do excesso alimentar. Além dessa contribuição, sabe-se que várias “folhas”, geralmente não

incluídas na dieta habitual, são consideradas excelentes fontes de fibras (Pereira et al, 2003)

Em se tratando das Centrais Estaduais de Abastecimento (CEASA), sabe-se que

as mesmas geram um grande volume de resíduos, constituído principalmente por alimentos

que, apesar de não comercializáveis estão em bom estado de consumo. Logo, fica

caracterizado um grande desperdício de alimentos que poderia ser, convenientemente,

aproveitado para matar a fome de grande parte da população deste país. Diante disto, alguns

projetos têm sido desenvolvidos em âmbito nacional, junto a algumas Centrais Estaduais de

Abastecimento, no intuito de evitar este desperdício e conseqüentemente, combater a fome.

Na Central de Abastecimento do Rio Grande do Norte, CEASA/RN, o cenário não

é diferente, estima-se uma geração de 150 toneladas de resíduos por mês, sendo 90% deste

total, lixo orgânico proveniente dos alimentos comercializados. Consciente de sua

responsabilidade social, a CEASA/RN, lançou o programa MESA DA SOLIDARIEDADE

que está funcionando desde agosto de 2003, com o objetivo principal de auxiliar no combate à

fome, diminuir o desperdício e contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos seus

beneficiários. Através deste programa são arrecadados diariamente os alimentos sem valor

comercial e que se encontram em perfeitas condições nutricionais favoráveis ao consumo

humano, sendo esta arrecadação feita principalmente nos estabelecimentos dos

permissionários da CEASA/RN.

Os resultados do programa, em dois anos de funcionamento (agosto/2003 a

agosto/2005), mostram que o mesmo é efetivo no combate ao desperdício, pois conseguiu

distribuir cerca de 226 toneladas de alimentos, cujo destino anterior era o lixo. Apesar dos

resultados positivos, foi observado em um acompanhando preliminar, que muito resíduo ainda

é gerado, e no momento este desperdício não é quantificado pelo programa. Muitos alimentos

ainda são jogados no lixo, pois entregá-los na sua forma natural seria um risco à saúde

pública. Entretanto, se processados corretamente poderiam ser, perfeitamente, utilizados.

Logo a busca por soluções simples e de fácil acesso à população, como a que esta pesquisa se

propõe, constitui, quase que uma obrigação para aqueles que conseguem ter acesso a essas

questões.

Page 14: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 12

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Esta pesquisa representa um marco inicial em pesquisa à nível de CEASA/RN.

Atualmente, não existe qualquer informação com relação a esta quantidade de alimento

considerado “resíduo” que é descartada e que, uma vez caracterizada, poderá ser aproveitada

de maneira correta pela população carente, utilizando para este fim uma tecnologia de baixo

custo. Acredita-se que, à nível de Nordeste, apenas a CEAGEPE – Companhia de Entrepostos

e Armazéns Gerais de Pernambuco utiliza parte desses resíduos, através de um programa de

combate a fome, similar ao MESA DA SOLIDADRIEDADE, para confecção de sopa

concentrada.

Assim, a presente pesquisa pode ser justificada pela preemente necessidade de se

concretizar ações simples que promovam o reaproveitamento de resíduos com elevado valor

agregado.

Page 15: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Capítulo 2: HIPÓTESE e OBJETIVOS

Page 16: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 13

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

2. Hipótese e Objetivos

2.1 – Hipótese

O reaproveitamento dos resíduos sólidos de origem vegetal gerados pela Central

de Abastecimento do Rio Grande do Norte – CEASA/RN, através do Programa MESA DA

SOLIDARIEDADE, é útil para a formulação de um alimento desidratado, que possa servir

como complementação mineral na alimentação humana.

2.2 – Objetivos

2.2.1 – Objetivo geral

Desenvolver e determinar a composição padrão de um produto desidratado, a base

de vegetais, produzido a partir dos resíduos gerados pelo programa MESA DA

SOLIDARIEDADE.

2.2.2 – Objetivos específicos

1) Formular o produto desidratado a ser desenvolvido, a partir de resíduos gerados

pelo programa MESA DA SOLIDARIEDADE, constituídos basicamente de vegetais.

2) Determinar características inerentes à conservação do produto tais como: teor de

umidade, potencial hidrogeniônico (pH), acidez e sólidos solúveis.

3) Caracterizar o produto quanto ao seu potencial nutricional frente ao teor de sais

minerais (cálcio, potássio, sódio, magnésio, fósforo e ferro) e determinar o seu poder calorífico.

4) Analisar a qualidade microbiológica do produto farináceo obtido.

Page 17: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Capítulo 3: ASPECTOS TEÓRICOS

Page 18: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 14

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

3. Aspectos teóricos

3.1 – Resíduos sólidos

3.1.1 – Histórico

A natureza trabalha em ciclos – nada se perde, tudo se transforma, animais,

excrementos e todo tipo de material orgânico morto se decompõem com a ação de milhões de

microrganismos degradadores, como bactérias, fungos, vermes e outros, dando origem à

reciclagem de nutrientes que vão alimentar novas espécies de vida. Na natureza não existe

lixo (MMA/IDEC, 2002)

No início dos tempos, os primeiros homens eram nômades, moravam em

cavernas, sobreviviam da caça e pesca, vestiam-se de peles e formavam uma população

minoritária sobre a terra. Quando a comida começava a ficar escassa, eles se mudavam para

outra região e os seus "lixos", deixados sobre o meio ambiente, eram decompostos pela ação

do tempo. À medida que foi "civilizando-se" o homem passou a produzir peças para promover

seu conforto: vasilhames de cerâmica, instrumentos para o plantio, roupas mais apropriadas,

começando também a desenvolver hábitos como construção de moradias, criação de animais,

cultivo de alimentos, além de se fixar de forma permanente em um local. A produção de lixo

conseqüentemente foi aumentando, mas ainda não havia se constituído em um problema

ambiental (UFMG, 2004)

Até o início do século passado, os seres humanos viviam em harmonia com a

natureza. Todo o lixo que geravam – restos de comida, excrementos de animais e outros

materiais orgânicos – se reintegrava aos ciclos naturais e servia como adubo para a

agricultura, mas com a industrialização e a concentração da população nas grandes cidades, o

lixo foi se tornando um problema ambiental (MMA/IDEC, 2002). A partir da segunda metade

do século XX iniciou-se uma reviravolta mundial. A humanidade passou a preocupar-se com

o planeta onde vive, contudo, não foi por acaso: fatos como o buraco na camada de ozônio e o

aquecimento global da Terra despertaram a população mundial sobre o que estava

acontecendo com o meio ambiente. Nesse “despertar”, a questão de geração e destinação final

do lixo foi percebida, mas infelizmente, até hoje não vem sendo encarada com a urgência

necessária (UFMG, 2004)

Page 19: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 15

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

No Brasil a situação não foi muito diferente. Como registro de épocas pré-

históricas são encontrados sambaquis, que nada mais são do que monumentais montes de lixo

resultantes da ocupação do litoral muito antes do nosso país ser descoberto. As primeiras

cidades brasileiras mais populosas não primavam pela limpeza (Barciotte, 1994 apud Brollo

& Silva, 2001).

Em São Paulo, entre os anos de 1721 e 1737 muitos editais conclamavam à

limpeza, e indicavam locais para ‘botar os ciscos e os lixos de suas casas’. Muitas vezes os

resíduos das casas da região central da cidade, constituídos basicamente de restos de

alimentos, cascas de frutas, e alguns poucos objetos, eram recolhidos pelos chacareiros da

zona rural para alimentação de porcos ou adubação de hortas. Em 1869 a Câmara do

Município contratou um carroceiro para apanhar o lixo das casas, pois os chacareiros estavam

preferindo coletar apenas os lixos mais ricos dos restaurantes, hotéis e bares. (Barciotte, 1994

apud Brollo e Silva, 2001).

Um dos problemas mais sérios enfrentados nos centros urbanos é a questão do

lixo. Esse problema se relaciona diretamente com o crescimento da população, exigindo mais

produção de alimentos e industrialização de matérias-primas, transformando-as em produtos

industrializados, contribuindo, assim, para o aumento dos resíduos sólidos, com

conseqüências desastrosas para o meio ambiente e para a qualidade de vida da coletividade

(Fonseca, 1999).

Os princípios atuais que regem a estrutura da sociedade moderna são altamente

poluidores. Explora-se cada vez mais os recursos naturais sem a preocupação com seu limite

potencial, enquanto isso dejetos são gerados na mesma proporcionalidade e, como não há uma

adequação tecnológica a esse consumo insustentável, surge o confronto entre o uso de bens

cada vez maior e o imperativo de uma eliminação de dejetos compatível com o ambiente

(Silva et al., 2001).

Segundo a ABES (2004), a intensificação das atividades humanas, nas cidades

tem gerado um acelerado aumento na produção de resíduos sólidos, os quais se constituem em

um grande problema para as administrações públicas.

3.1.2 – Conceito

Para definir lixo, ou resíduos sólidos, encontra-se dificuldades, pois existem

diversas formas e pontos de vista. Em geral, as definições variam de acordo com a

conveniência e a preferência de cada um (PROSAB, 1999).

Page 20: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 16

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A noção de “resíduo” não existe na natureza. Essa afirmação é fundamentada pelos

grandes ciclos naturais em que, comumente, o papel do decompositor é transformar e/ou

incorporar completamente as matérias descartadas pelos outros componentes do sistema, sem

alterar o equilíbrio natural. Assim, a noção de resíduo como elemento negativo, causador de

degradação da qualidade ambiental, é de origem antrópica e, em geral, aparece quando a

capacidade de absorção natural pelo meio no qual está inserido é ultrapassada (PROSAB,

2001).

A pesquisa etimológica estabelece a palavra resíduo como originária do latim

residuum de residere, que significa ficar assentado no fundo de (Bueno, 1968).

Segundo Monteiro (2003), resíduo sólido é todo material sólido ou semi-sólido

indesejável e que necessita ser removido por ter sido considerado inútil por quem o descarta,

em qualquer recipiente destinado a este ato.

Sobre a ótica econômica que é a aceitação mais comum, resíduo, é definido como

uma matéria sem valor. Seus valores de uso e de troca são nulos ou negativos para seu

detentor ou proprietário, ou seja, uma matéria constitui um resíduo sempre que seu

responsável necessita pagar para se desfazer dela (PROSAB, 2001).

Por sua vez, a palavra lixo, em geral utilizada como sinônimo de resíduo sólido,

origina-se do latim lix, que significa cinza ou lixívia. Atualmente o lixo é identificado, por

exemplo, como basura, em espanhol, refuse, garbage, solid waste, na língua inglesa, e déchet,

em francês (PROSAB, 2001).

É comum definir lixo como “todo e qualquer resíduo resultante das atividades

diárias do homem na sociedade. Estes resíduos são, basicamente, sobras de alimentos, papéis,

papelões, plásticos, trapos, couros, madeiras, latas, vidros, lamas, gases, vapores, poeiras,

sabões, detergentes e outras substâncias descartadas de forma consciente” (PROSAB, 1999).

O termo popular “lixo” é o designativo daquilo que os técnicos, genericamente,

denominam “resíduos sólidos”, e se antes eram entendidos como meros subprodutos do

sistema produtivo, passam a serem encarados também como responsáveis por graves

problemas de degradação ambiental. Os “resíduos sólidos” diferenciam-se do termo “lixo”

porque, enquanto estes últimos se compõem de objetos que não possuem qualquer tipo de

valor ou utilidade, porções de materiais sem importância econômica, sobras de

processamentos industriais ou domésticos a serem descartados, enfim, qualquer coisa que se

deseje jogar fora, o resíduo sólido possui valor econômico agregado por possibilitar o

reaproveitamento no próprio processo produtivo (Darolt et al, 1996).

Page 21: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 17

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A definição de resíduo sólido no Brasil adotada pela norma brasileira NBR

10004/87- Resíduos sólidos: classificação (ABNT, 1987) é: “Aqueles resíduos em estado

sólido e semi-sólidos que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial,

doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição, ficam incluídos nesta

definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em

equipamento e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas

particularidades tornem inviáveis seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos de

água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor

tecnologia disponível”.

Esta definição, segundo Teixeira et al. (1997), é muito ampla e equivoca-se ao

incluir líquidos como resíduo sólido. A norma poderia incluir os líquidos juntamente com os

resíduos sólidos para efeito de tratamento e disposição, mas não simplesmente defini-los

como resíduos sólidos.

3.1.3 – Classificação

A classificação dos resíduos sólidos é bem diversificada, sendo comum classifica-

las quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente e quanto à natureza ou

origem (Monteiro, 2003).

D´Almeida et al (2000) classificam os resíduos sólidos de acordo com a natureza

física em seco e molhado; e por sua composição química: matéria orgânica e matéria

inorgânica.

Segundo a ABNT (1987), os resíduos sólidos, estão definidos de acordo com a

NBR 10004, que os classifica quanto a seus riscos ao meio ambiente e à saúde pública, com

exceção dos resíduos radioativos que são de competência exclusiva da Comissão Nacional de

Energia Nuclear: A NBR 10004 distingue três classes para os resíduos: Classe I – resíduos

perigosos, Classe II – não-inertes e classe III – inertes (Tabela 3.1).

Page 22: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 18

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Tabela 3.1: Classificação dos resíduos sólidos quanto à periculosidade

Categoria Característica

Classe I (Perigosos)

Apresentam risco à saúde pública ou ao meio ambiente, caracterizando-se por possuir uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade.

Classe II (Não-inertes)

Podem ter propriedades como: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, porém, não se enquadram como resíduo I ou III.

Classe III (Inertes)

Não têm constituinte algum solubilizado em concentração superior ao padrão de potabilidade de águas.

Fonte: ABNT (1987)

A origem é o principal elemento para a caracterização dos resíduos sólidos.

Segundo este critério, os diferentes tipos de lixo podem ser agrupados como apresentados na

Tabela 3.2.

Page 23: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 19

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Tabela 3.2: Classificação dos resíduos sólidos quanto à origem ou natureza

Categoria dos resíduos Característica Doméstico ou residencial São os resíduos gerados nas atividades diárias em casas,

apartamentos, condomínios e demais edificações residenciais.

Comercial São os resíduos gerados em estabelecimentos comerciais, cujas características dependem da atividade ali desenvolvida. Nas atividades de limpeza urbana, o tipo "doméstico" e "comercial" constituem o chamado "resíduo domiciliar", que, junto com o resíduo público, representam a maior parcela dos resíduos sólidos produzidos nas cidades.

Público São os resíduos presentes nos logradouros públicos, em geral resultantes da natureza, tais como folhas, galhadas, poeira, terra e areia, e também aqueles descartados irregular e indevidamente pela população, como entulho, bens considerados inservíveis, papéis, restos de embalagens e alimentos.

Domiciliar especial Grupo que compreende os entulhos de obras, pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes e pneus. Observe que os entulhos de obra, também conhecidos como resíduos da construção civil, só estão enquadrados nesta categoria por causa da grande quantidade de sua geração e pela importância que sua recuperação e reciclagem vem assumindo no cenário nacional.

Fontes especiais São resíduos que, em função de suas características peculiares, passam a merecer cuidados especiais em seu manuseio, acondicionamento, estocagem, transporte ou disposição final. Dentro da classe de resíduos de fontes especiais, merecem destaque: residuo industrial, radioativo, de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários, agrícola e resíduos de serviços de saúde.

Fonte: Monteiro (2003)

3.2 – Resíduos sólidos orgânicos e desperdício de alimentos no Brasil

Os resíduos sólidos orgânicos apresentam em sua constituição química um

percentual de nutrientes considerável. Esse fato os torna aptos a serem tratados através dos

processos biológicos sem que sejam causados maiores problemas (Luna et al, 2003)

O processo natural de decomposição e putrefação da matéria orgânica vegetal e

animal, torna-se um meio propício para o desenvolvimento de bactérias e fungos (Oliveira,

2003).

Page 24: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 20

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A utilização de restos de culturas no Brasil ocorre de acordo com a produção

existente em cada estado ou região (Klafke, 2002).

O percentual de matéria orgânica do lixo no Brasil é elevado, sendo grande parte

desse resíduo proveniente do desperdício de alimentos, resultante do péssimo hábito que as

pessoas têm de jogar comida fora, tanto em suas residências, como em restaurantes e

refeitórios (Vitorino et al, 2001).

O desperdício se dá em todas as fases da produção de alimentos, desde seu plantio

e colheita, até o consumidor final. Calcula-se que hoje, no Brasil, 20% de toda a sua produção

agrícola se perde durante a colheita e que outro tanto durante o transporte ou devido a

embalagens inadequadas. Do total de desperdício no Brasil, 10% ocorre durante a colheita;

50% no manuseio e transporte dos alimentos; 30% nas centrais de abastecimento e os últimos

10% ficam diluídos entre supermercados e consumidores (Dias, 2003).

Esses valores podem representar um descarte em torno de 7,5 a 10 milhões de

toneladas por ano. Estes dados são particularmente importantes quando se trata de alimentos,

pois envolve aspectos econômicos, sociais e até morais (SENAC/DN, 2004).

Segundo o SENAC/DN (2004), as principais causas de perdas dependem, em

geral, do produto considerado, mas as mais importantes ocorrem por conta da ação de agentes

externos como bactérias, fungos, vírus e agentes mecânicos (pequenas lesões como cortes,

rupturas ou amassamentos e atritos, superficiais ou profundos).

Segundo estimativa da Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Estado de

São Paulo (relatório de 1992) os alimentos não aproveitados, ao longo da cadeia produtiva,

representam 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB), o que ultrapassa a quantia de dezessete

bilhões de reais. Este representa quase vinte vezes a verba anual disponível para a merenda

escolar e daria para alimentar 30 milhões de pessoas carentes. (ONG BANCO DE

ALIMENTOS, 2004)

Segundo a Fundação Getúlio Vargas, das 83 milhões de toneladas de grãos

produzidas anualmente, algo entre 10% e 30% se perdem no caminho entre a lavoura e o

consumidor final. Na produção de frutas (30 milhões de toneladas por ano), o desperdício

varia de 20% a 35%, enquanto no segmento de hortaliças (27 milhões de toneladas por ano) as

perdas oscilam entre 20% e 50%, ou seja, o desperdício pode chegar a 48,9 milhões de

toneladas por ano. (ONG BANCO DE ALIMENTOS, 2004.)

Segundo o CEAGESP (2003), atualmente, das 10 mil toneladas de produtos que lá

entram diariamente, 1% vai para o lixo, isto significa 100.000 kg/dia, sendo que entre 30% e

50% do lixo é composto de alimento próprio para o consumo. Isto significa que entre 30 e 50

Page 25: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 21

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

toneladas poderiam alimentar grande parte da população carente, caso este excedente fosse

direcionado para Bancos de Alimentos.

Ao desperdiçar toneladas de alimentos diariamente, contribui-se para a degradação

econômica e social, prejudicando a saúde de milhões de pessoas, cidadãos que sofrem com a

irracionalidade do desperdício (ONG BANCO DE ALIMENTOS, 2004).

A primeira impressão, quando se fala em perdas, refere-se às perdas quantitativas,

porém, em todos os aspectos aqui abordados, deve-se levar em conta também à perda

qualitativa, representada pela perda de nutrientes (diminuição do valor nutritivo dos

alimentos).

O desperdício é uma grande causa do aumento da quantidade de lixo. A sociedade

moderna, capitalista, é também uma sociedade de grande consumo, sendo necessária uma

conscientização para a melhoria da qualidade de vida de todos e preservação do meio

ambiente (Numesmaia, 1997 apud Chaves, 2002)

3.3 – Centrais de abastecimento

3.3.1 – Considerações históricas

Com o crescimento dos centros urbanos do país, o processo de distribuição de

produtos hortifrutigranjeiros tornou-se mais complexo e oneroso, que, aliado à precariedade

dos mercados tradicionais, suscitou a necessidade de aperfeiçoamento das estruturas de

comercialização desses produtos (ABRACEN, 2003).

O Programa Estratégico de Desenvolvimento (1970) e o I Plano de

Desenvolvimento (1972/74) estabeleceram como prioridade à construção de Centrais

Estaduais de Abastecimento nas principais concentrações urbanas do país. A partir desta

decisão do Governo Federal, passaram a ser implantadas Centrais de Abastecimentos –

CEASAs, destinadas à comercialização de produtos hortifrutigranjeiros, pescados e outros

perecíveis, em todas as capitais brasileiras e nas principais cidades de cada Estado,

constituindo o chamado Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento - SINAC, cuja

gestão ficou por conta da COBAL - Companhia Brasileira de Alimentos (hoje CONAB –

Companhia Nacional de Abastecimento) (ABRACEN, 2003).

Page 26: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 22

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

3.3.2 – As centrais de abastecimento no Brasil

Com o crescimento dos centros urbanos do país, o processo de distribuição de

hortifrutigranjeiros tornou-se mais complexo e oneroso. Este fato, aliado à precariedade dos

mercados tradicionais, suscitou a necessidade de aperfeiçoamento das estruturas de

comercialização desses produtos (Rodrigues, 2004).

No final da década de sessenta, observava-se um grande estrangulamento no

sistema de comercialização de hortifrutigranjeiros no país. A venda era realizada nas ruas,

sem fiscalização, higiene, transparência de preços e embalagens adequadas. Além de o

produtor sentir-se desestimulado face às perdas, havia ainda o lixo produzido e o

engarrafamento no trânsito. Foi então que o Governo Federal buscou ajuda de organismos

internacionais, observou a experiência de outros países em técnicas de planejamento,

construção e operação de mercados atacadistas, e estabeleceu parcerias com governos

estaduais e municipais para que fossem construídas as CEASAs - Centrais Estaduais de

Abastecimento (Rodrigues, 2004).

O conjunto de empresas responsáveis pelo abastecimento alimentar do Brasil é

representado pela Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento – ABRACEN, que é

presidida atualmente pelo dirigente da CEAGEPE - Companhia de Abastecimentos e

Armazéns Gerais de Pernambuco (ABRACEN, 2003).

A ABRACEN há 15 anos funciona como um núcleo de representação de 32

centrais de abastecimento, pois vem procurando se consolidar como entidade representativa

desse conjunto. As CEASA´s circulam valores que superam a casa dos 7,5 bilhões e,

anualmente, movimentam mais de 15 milhões de toneladas de alimentos. Todas elas juntas

geram 100 mil empregos diretos por ano. Esses números revelam o poder da

representatividade da ABRACEN no contexto da economia nacional. Uma das metas para

uma reflexão sobre o futuro das Centrais Atacadistas de Hortifrutigranjeiros do Brasil é o

compromisso de uma ABRACEN consolidada, com filiadas participativas para que possa

estar presente em grandes fóruns nacionais e internacionais de discussão temática do

abastecimento alimentar (ABRACEN, 2003).

Em todo o Brasil existem estruturas ligadas ao abastecimento de produtos

agrícolas, denominadas Centrais Estaduais de Abastecimento, CEASA, que visam regular o

mercado de produtos hortifrutigranjeiros, das regiões metropolitanas. Nestas estruturas

concentram-se também uma grande geração de resíduos devido aos danos causados

principalmente no transporte (Campani, 2003).

Page 27: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 23

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Os resíduos das CEASAs, são compostos na sua maioria de material orgânico de

primeira qualidade e poderiam ser reutilizados de quatro formas diferentes: aqueles que não

apresentam condições de comercialização, podem ser destinados à alimentação humana, com

distribuição gratuita através dos bancos de alimentos; outros que apresentem estado de

maturação adiantada podem ser destinado ao seu beneficiamento como por exemplo, na

produção de doces e conservas, farinhas para complemento alimentar, etc, ainda visando a

alimentação humana; os que já apresentarem estado ainda mais adiantado de amadurecimento

pode ser destinado à alimentação animal, com devido pré-preparo, buscando o balanceamento

nutricional e a eliminação de elementos patógenos; e ainda aqueles que não possuem mais

condições para alimentação animal, devem ser destinados à compostagem, neste caso se

enquadram principalmente materiais que já tenham se contaminado com solo (Campani,

2003).

3.3.3 – A central de abastecimento do Rio Grande do Norte (CEASA/RN)

A Central de Abastecimento do Rio Grande do Norte S/A – CEASA/RN é uma

sociedade anônima de economia mista, constituída por força da transferência do controle

acionário do Governo Federal para o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, sendo esta

vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca.

Segundo CEASA/RN (2003) o Movimento médio mensal da Central de

Abastecimento do Rio Grande do Norte é:

3.000 veículos carregados (veículos que transportam os alimentos a serem

comercializados);

70.000 veículos de passeio;

120.000 pessoas;

14 mil toneladas de produtos alimentícios, representando um montante de

aproximadamente R$15 milhões (quinze milhões de reais);

300 toneladas de detritos descartados por mês.

Além de seu papel social, a CEASA/RN é responsável pela geração de empregos

diretos e indiretos que perfazem um total de aproximadamente 1000 empregos.

Page 28: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 24

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

3.3.3.1 – Programa Mesa da Solidariedade

A questão alimentar e nutricional, especialmente para a parcela da sociedade que

vive nos bolsões de pobreza, vem gerando preocupação e motivando iniciativas de

particulares e de instituições governamentais e não-governamentais, na busca de soluções

eficazes de alcance popular.

A CEASA/RN com o propósito de resgatar a função social da empresa,

formalizou o Projeto CEASA CIDADÃ, em parcerias com instituições Governamentais e

Não-governamentais, tais como: SEAS – Secretaria de Ação Social, MEIOS – Movimento de

Integração e Orientação Social, ATIVA – Associação de Atividades e valorização Social,

APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, ASSURN – Associação dos

Supermercados do RN, AIPAN – Associação das Indústrias de Panificação e Confeitaria e

ASSURCERN – Associação dos Usuários da CEASA/RN, para em conjunto executarem o

programa “MESA DA SOLIDARIEDADE”.

Este programa tem por objetivo auxiliar o combate à fome e diminuir o

desperdício, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos beneficiários, através da

arrecadação diária de alimentos sem valor comercial e que se encontram em perfeitas

condições nutricionais favoráveis ao consumo humano. Esta arrecadação é feita nos

estabelecimentos dos permissionários da CEASA/RN, supermercados filiados a ASSURN,

produtores rurais, dentre outros, envolvendo toda cadeia produtiva (CEASA/RN, 2003).

Para atingir seu objetivo, o programa MESA DA SOLIDARIEDADE exerce a

distribuição “in-natura” de hortifrutigranjeiros fora do padrão de comercialização, às famílias

de baixa renda (na maioria antigos catadores internos da própria CEASA-RN) bem como

entidades sociais previamente cadastradas (Rodrigues, 2004).

Para definir a clientela do presente projeto, foi realizado em conjunto com o

MEIOS, um levantamento sócio-econômico, visando caracterizar a população-alvo, sendo

realizado um estudo do perfil das famílias dos catadores da CEASA a serem beneficiadas,

como também das instituições executoras de serviços sociais à população comprovadamente

carente, as quais mediante critérios previamente estabelecidos, foram incorporadas ao

conjunto de parceiros.

O programa MESA DA SOLIDARIEDADE é coordenado pela Diretoria

Técnico Operacional, através da Gerência Comercial. Para sua operacionalização e execução,

conta com a orientação e supervisão de uma Nutricionista, que assume a responsabilidade

técnica do programa, uma Assistente Social, uma Secretária e ainda 20 (vinte) adolescentes

Page 29: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 25

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

aprendizes, oriundos e selecionados pelo MEIOS, ATIVA e APAE, que foram devidamente

capacitados.

A operacionalização do programa funciona da seguinte forma: os adolescentes

aprendizes percorrem as instalações da CEASA/RN recolhendo as doações feitas pelos

permissionários, além dos supermercados parceiros. Os alimentos arrecadados são levados

para o galpão do MESA DA SOLIDARIEDADE localizado dentro da CEASA/RN, onde são

selecionados, pesados e acondicionados, para poder serem distribuídos às instituições

cadastradas e aos ex-catadores da CEASA. A Figura 3.1 mostra um fluxograma para melhor

visualização do processo.

O programa MESA DA SOLIDARIEDADE foi lançado em 23 de julho de 2003 e

implantado, nas dependências da CEASA/RN em 07 de agosto de 2003. A Figura 3.2

apresenta os resultados do programa em relação à quantidade de alimentos doados no período

de janeiro a dezembro de 2004 que corresponde a um total de mais de 106 toneladas de

alimentos.

Figura 3.1. Fluxograma de processo do programa MESA DA SOLIDARIEDADE

Recepção

Seleção

Pesagem

Embalagem

Distribuição

Descarte de resíduos

Page 30: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 26

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

Qu

anti

dad

e d

e al

imen

tos

dis

trib

uíd

os (

Kg)

jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago /04 s e t/04 o ut/04 no v/04 dez/04

Figura 3.2. Demonstrativo dos resultados do Programa MESA DA SOLIDARIEDADE no período de janeiro a dezembro de 2004 (Coordenação do Programa/2004).

O programa MESA DA SOLIDARIEDADE participa com parte da

complementação alimentar de inúmeras famílias que hoje são beneficiadas. No inicio do

programa o mesmo assistia cerca de 180 famílias por mês, após dois anos de funcionamento

do programa, este número subiu para 230 famílias beneficiadas ao mês.

3.4 – Caracterização dos resíduos orgânicos

3.4.1 – Aspectos gerais das análises físico-químicas

3.4.1.1 – Acidez e pH

A determinação de acidez pode fornecer um dado valioso na apreciação do estado

de conservação de um produto alimentício. Um processo de decomposição, seja por hidrólise,

oxidação ou fermentação, altera quase sempre a concentração dos íons hidrogênio (IAL,

1985).

Page 31: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 27

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

O pH determinado com o uso de um potenciômetro digital é um fator de

importância fundamental para controle dos microrganismos capazes de se desenvolver no

alimento (SENAI/DN, 2000).

De acordo com o pH, os alimentos são subdivididos em três grandes grupos: os

alimentos de baixa acidez, que têm o pH superior a 4,5; os alimentos ácidos, que têm pH entre

4,0 e 4,5, e os alimentos muito ácidos, que têm pH inferior a 4,0. Essa classificação está

baseada no pH mínimo para multiplicação e produção de toxina de Clostridium botulinum

(4,5) e no pH mínimo para multiplicação da grande maioria das bactérias (4,0). Dessa forma,

os alimentos de baixa acidez (pH>4,5) são os mais sujeitos a multiplicação microbiana, tanto

de espécies patogênicas quanto de espécies deteriorantes. Já nos alimentos ácidos (

4,0<pH<4,5), há predominância de crescimento de leveduras, de bolores e de algumas poucas

espécies bacterianas. Nos alimentos muito ácidos (pH<4,0), o desenvolvimento microbiano

fica restrito quase que exclusivamente a bolores e leveduras (Franco e Landgraf, 1996)

3.4.1.2 – Umidade

Segundo o IAL (1985), a umidade corresponde à perda em peso sofrida pelo

produto quando aquecido em condições nas quais a água é removida. Na realidade, a água é

removida juntamente com outras substâncias que volatilizam nessas condições.

A água é um dos componentes dos alimentos que os microrganismos mais

necessitam para o seu desenvolvimento. A redução de água livre do alimento eleva a pressão

osmótica do meio e conseqüentemente reduz as condições de desenvolvimento microbiano

(Silva, 2000).

Os métodos para determinação da umidade são classificados em diretos e

indiretos. Nos métodos diretos a água é retirada do produto, geralmente por processo de

aquecimento, e o teor de umidade é calculado pela diferença de peso das amostras no início e

ao final do processo. Esta diferença corresponde à quantidade de água retirada (Valentini et

al, 1998).

3.4.1.3 – Sólidos solúveis (ºBrix)

Os sólidos solúveis podem ser medido em graus Brix, sendo que nas frutas estes

sólidos são quase na sua totalidade açúcares. Por esse motivo quando se precisa de uma

medida rápida da concentração de açúcares para o acompanhamento do processamento se usa

esta medida (Gaspareto, 1999).

Page 32: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 28

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

O teor de sólidos solúveis é de grande importância nos alimentos, tanto para o

consumo “in natura” como para o processamento industrial, visto que elevados teores desses

constituintes na matéria-prima implicam menor adição de açúcares, menor tempo de

evaporação da água, menor gasto de energia e maior rendimento do produto, resultando em

maior economia no processamento (Silva et al., 2002).

3.4.2 – Determinação do poder calorífico

Poder calorífico é a quantidade de calor ou energia que pode ser liberada por

unidade de massa dos resíduos nas reações de combustão. É um dado da maior importância no

dimensionamento de sistemas térmicos de tratamento de resíduos (Andrade & Schalch, 1997).

Ao estudo experimental da absorção ou liberação de energia calorífica em uma

reação química, dá-se o nome de calorimetria. Esta energia pode ser medida em um aparelho

conhecido como calorímetro. O calorímetro é um dispositivo cuja função é isolar o sistema

em estudo, do ambiente, e permitir a determinação da variação de calor que ocorre em seu

interior. Um calorímetro típico é a bomba calorimétrica. Ela é utilizada para medidas

precisas do fluxo de calor, de reações envolvendo gases ou para reações onde os produtos

atinjam temperaturas elevadas. A bomba calorimétrica é usada para avaliar o calor de

combustão de compostos orgânicos e inorgânicos (Damasceno, 1992).

A Figura 3.3 mostra o conjunto do calorímetro montado e na Figura 3.4 está

representada, da esquerda para a direita, a montagem da bomba calorimétrica.

Figura 3.3. Desenho esquemático de um conjunto do calorímetro montado.

Page 33: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 29

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Figura 3.4. Desenho esquemático da montagem de uma bomba calorimétrica.

De acordo com o Sistema Internacional de Unidades de Calor, o poder calorífico

deve ser expresso em Joules (J). Emprega-se também a caloria (cal), que se relaciona com o

Joule da seguinte forma: 1 cal = 4,1855J (Damasceno, 1992).

A quantidade diária de energia que uma pessoa necessita é 2000Kcal/dia ou

8400KJ/dia (BRASIL, 2003).

3.4.3 – Qualidade nutricional dos alimentos

A grande maioria dos alimentos que fazem parte da dieta humana é de origem

animal e vegetal. A base de nossa alimentação é constituída de cereais, tubérculos, carne,

peixes, leite e ovos, além de frutas e verduras, dependendo dos usos e costumes de cada

região (Silva, 2000).

Em relação a sua composição química, os alimentos são constituídos basicamente

de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Outros elementos como ferro, fósforo, cálcio e

iodo, responsáveis por importantes funções de nosso organismo, também fazem parte da

composição dos alimentos, porém são encontrados em pequenas quantidades (Silva, 2000).

Geralmente os tecidos vegetais são ricos em carboidratos, enquanto que os

produtos de origem animal têm proteína como seu constituinte principal. As frutas e as

hortaliças caracterizam-se como sendo as principais fontes de vitaminas e sais minerais (Silva,

2000).

Page 34: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 30

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Ao se fazer referência ao valor nutritivo dos alimentos, não se invoca apenas a sua

composição química, mas também, os seus componentes que podem ser classificados como

nutrientes. (Silva, 2000).

Nutriente é qualquer substância química consumida normalmente como

componente de um alimento que proporciona energia; é necessária ou contribua para o

crescimento, desenvolvimento e a manutenção da saúde e da vida e ou cuja carência possa

ocasionar mudanças químicas ou fisiológicas características (BRASIL, 2003).

Dentre os nutrientes necessários à saúde, assim como existem as proteínas,

gorduras, carboidratos e vitaminas, há um grupo de elementos chamados minerais. Os

minerais, como também as vitaminas, não podem ser sintetizados pelo organismo e, por isso,

devem ser obtidos através da alimentação.

Segundo Waitzberg (2002) os minerais são elementos com funções orgânicas

essenciais que atuam tanto na forma iônica quanto como constituintes de compostos (enzimas,

hormônios, secreções e proteínas do tecido orgânico)

Segundo Andrade et al (2003) os minerais constituem um grupo de elementos

largamente distribuídos na natureza que exercem funções diversas no organismo. O corpo

humano é constituído por cerca de 99% de macronutrientes, moléculas compostas de C, H, O

e N representadas por água, glicídios, lipídios e proteínas. Cerca de 1% do corpo de um

homem adulto é composto de micronutrientes, entre esses estão os elementos traços que

correspondem a quantidade menores que 0,01% da composição corporal. Os elementos traços

considerados essenciais, como cobre e zinco, exercem funções relacionadas com a catálise

enzimática e/ou manutenção da integridade de moléculas.

Os minerais ocorrem no organismo e nos alimentos, principalmente na sua forma

iônica, representando de 4 a 5% do peso corpóreo. Desempenham muitas funções essenciais,

algumas como íons dissolvidos nos fluidos corpóreos e outras, como constituintes de

compostos essenciais. O equilíbrio de íons minerais nos fluidos corpóreos regulam a

atividade de muitas enzimas, produção de sucos digestivos, mantêm o equilíbrio ácido-básico

e facilitam o transporte de compostos essenciais nas membranas (Belitz e Grosch, 2000).

Os minerais atuam regulando o metabolismo enzimático; mantêm o equilíbrio

ácido-básico, a irritabilidade nervosa e muscular e a pressão osmótica; facilitam a

transferência de compostos pelas membranas celulares e compõem tecidos orgânicos. Têm

funções sinérgicas entre si, visto que o excesso ou deficiência de um interfere no

metabolismo do outro (Waitzberg, 2002).

Page 35: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 31

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Embora os elementos “minerais” constituam uma quantidade relativamente

pequena no total de tecidos do organismo, são essenciais a muitos processos vitais. Certos

elementos minerais, principalmente o sódio e o potássio, são importantes no controle

osmótico do metabolismo da água (Harper, 1973).

O estudo dos minerais em alimentos apresentou um grande avanço a partir da

década de 70, com o desenvolvimento de técnicas analíticas sensíveis e precisas, permitindo

a sua quantificação. Daquela época até os dias atuais, os pesquisadores têm se preocupado

em quantificar estes elementos nas dietas de grupos populacionais, visando avaliar a ingestão

dos mesmos e correlacionar estes achados com o estado nutricional dos indivíduos

(Cozzolino, 2005).

O cálcio é um dos elementos inorgânicos mais importantes do organismo. Sua

função principal é a de estruturar ossos e dentes, ativar algumas das reações da coagulação

sanguínea como co-fator enzimático, ou liberar energia necessária para a contração muscular

(Dutra de Oliveira e Marchini, 1998).

O cálcio ionizado tem grande importância na coagulação do sangue, na função do

coração, dos músculos e nervos e na permeabilidade das membranas. (Harper, 1973).

O consumo de quantidades adequadas de cálcio é fundamental para a obtenção de

uma massa óssea ótima durante as duas primeiras décadas de vida, auxiliando na prevenção

da osteoporose em adultos (Umbelino et al, 2001).

O fósforo está intimamente associado ao cálcio na nutrição humana, sendo

chamado de seu gêmeo metabólico. Desta forma, os fatores que favorecem ou dificultam a

absorção do fósforo são praticamente os mesmos do cálcio. Para ajudar a manter o equilíbrio

normal sérico cálcio-fósforo, suas quantidades na dieta devem ser equilibradas em 1:1. (Lobo

e Tramonte, 2004)

O fósforo totaliza 0,5% do corpo dos recém-nascidos e de 0,65 a 1,1% do corpo

adulto. 85% do fósforo se encontra nos ossos. O restante está distribuído em tecidos moles,

músculos, fígado e baço (Cozzolino, 2005).

O fósforo tem um papel estrutural ao nível da célula, notadamente nos

fosfolipídeos, constituintes das membranas celulares e participa de numerosas atividades

enzimáticas e sobretudo, tem um papel fundamental para a célula como fonte de energia sob a

forma de ATP (adenosina trifosfato). Graças ao fósforo que a célula pode dispor de reservas

de energia (Cozzolino, 2005).

O sódio é o principal cátion do fluido extracelular, sendo essencial à manutenção

da pressão osmótica do sangue, plasma e fluidos intercelulares. Este mineral é importante para

Page 36: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 32

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

manutenção do equilíbrio ácido-básico e essencial para distribuição orgânica de água e

volume sanguíneo (Waitzberg, 2002).

O sódio possui um papel fisiológico fundamental no metabolismo celular. É

encontrado no organismo, principalmente no setor extracelular e no líquido intersticial. De

fato, ele passa constantemente para o interior das células e é rejeitado por um mecanismo, a

bomba de sódio, que permite manter a pressão osmótica no setor extracelular. Através da

regularidade da excreção ou da retenção do sódio a nível dos rins que é regulado o teor de

água do corpo (Cozzolino, 2005).

Segundo Cozzolino (2005), o cálcio e sódio compartilham do mesmo sistema de

transporte no túbulo renal proximal. Alta ingestão de cloreto de sódio (NaCl) resulta em maior

absorção do sódio, com aumento de sódio urinário e obrigatoriamente maior perda de cálcio

urinário. Como a perda de cálcio urinário é responsável por 50% na variabilidade de retenção

de cálcio, a ingestão de sódio tem influência bastante considerável na perda óssea.

O potássio, em oposição ao sódio, é o principal cátion intracelular que contribui

para o seu metabolismo e para a síntese das proteínas e do glicogênio. Ele possui um papel

importante na excitabilidade neuromuscular e na regulação do teor de água do organismo. O

líquido intracelular contém mais de 90% do potássio do corpo. O potássio no plasma

sangüíneo representa uma parte ínfima do potássio total. No entanto, uma ausência total de

potássio sérico é um sinal bastante fiel de um déficit global deste cátion. As necessidades de

potássio são maiores em período de crescimento e fora dele são mínimas e cobertas pela

alimentação corrente (Cozzolino, 2005).

O potássio é um 8Heletrólito importante para a transmissão nervosa, contração

muscular e função renal. Sintomas de deficiência de potássio incluem fraqueza muscular,

desorientação e fadiga (Waitzberg, 2002).

O magnésio é o segundo cátion intracelular mais abundante. Ele é co-fator de

aproximadamente 300 reações enzimáticas, principalmente das que utilizam ligação fosfato de

alta energia. Dessa forma, o magnésio participa de inúmeros processos metabólicos, inclusive

daqueles ligados ao metabolismo de carboidratos envolvidos na regulação da secreção e ação

da insulina (Reis et al, 2002).

O magnésio controla ainda o metabolismo de gorduras, eletrólitos, síntese protéica,

integridade e transporte na membrana celular. Atua como mediador das contrações

musculares e transmissões de impulsos nervosos (Waitzberg, 2002).

Page 37: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 33

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

O ferro é um nutriente essencial para a vida e atua principalmente na síntese

(fabricação) das células vermelhas do sangue e no transporte do oxigênio para todas as células

do corpo.

O ferro é um micronutriente importante na nutrição humana e, devido aos altos

índices de anemias carenciais em nossa população, tem sido bastante utilizado em programas

de fortificação de alimentos. Devido a estas práticas, o conhecimento do teor original de ferro

nos alimentos torna-se indispensável (Pedrosa e Cozzolino, 2001).

A deficiência de ferro decorre, principalmente, da quantidade insuficiente de ferro

na dieta para satisfazer as necessidades nutricionais individuais. Como resultado da

deficiência de ferro prolongada ocorre à anemia, um dos fatores mais importantes

relacionados ao baixo peso ao nascer, à mortalidade materna e ao déficit cognitivo em

crianças (BRASIL, 2005).

O ferro do organismo tem dupla origem: ferro exógeno, ingerido com os alimentos

e ferro endógeno, proveniente da destruição das hemácias, que libera cerca de 27mg do metal,

sendo em seguida reutilizado. O ferro dos alimentos não é inteiramente aproveitado pelo

organismo, dependendo da forma sob a qual é ingerido, isto é, de sua separação das

combinações químicas sob as quais se apresenta, pois para sua absorção é necessário que seja

solúvel, ionizável e ultrafiltrável (Franco, 1995).

Poucos alimentos contêm ferro em quantidade considerável (Mangueira et al,

2002), mesmo assim ele é muito pouco absorvido pelo organismo. Assim, faz-se necessário o

enriquecimento de algum alimento para possibilitar que quantidades suficientes sejam

consumidas.

Trabalhos analíticos sobre os nutrientes em alimentos brasileiros foram bastante

desenvolvidos entre as décadas de quarenta e cinqüenta anos e início da década de sessenta.

Porém, após este período, esse tipo de pesquisa perdeu interesse no campo de investigação,

cedendo lugar para as pesquisas na área de toxicologia. O resultado foi que nos últimos anos

pouco se fez no Brasil para conhecer melhor nossos alimentos do ponto de vista nutricional.

Recentemente, em virtude de novos conceitos científicos surgidos em nutrição e ciências dos

alimentos, e do reconhecimento da importância do assunto, o interesse na analise de minerais

começou a renovar-se (Torres et al, 2000).

Assim, a obtenção de dados referentes à composição de alimentos brasileiros tem

sido estimulada com o objetivo de reunir informações atualizadas, confiáveis e adequadas à

realidade nacional. Dados sobre composição de alimentos são importantes para inúmeras

atividades dentre elas: avaliar o suprimento e o consumo alimentar de um país, verificar a

Page 38: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 34

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

adequação nutricional da dieta de indivíduos e de populações, planejamento agropecuário,

industrialização de alimentos, além de outras (Holden, 1997).

Apesar da importância evidente desta necessidade, pode-se dizer que não existem

no Brasil informações ou tabelas completas e atualizadas sobre a composição em nutrientes e

não nutrientes com ação fisiológica dos nossos alimentos. Das principais fontes de dados

utilizadas atualmente, apenas algumas são publicadas no país, mesmo assim com dados

compilados de tabelas estrangeiras (Torres et al, 2000).

A elaboração de um sistema de base de dados considerando essas informações tem

sido a aspiração dos profissionais ligados à alimentação e nutrição, onde destaca-se o projeto

TACO – Tabelas de Composição de Alimentos coordenado pelo NEPA – Núcleo de estudo e

pesquisa em alimentação – UNICAMP (ANVISA, 2005)

3.4.4 –Análises microbiológicas

Os microrganismos estão intimamente associados com a disponibilidade, a

abundância e a qualidade do alimento para o consumo humano. Alimentos são facilmente

contaminados com microrganismos na natureza, durante manipulação e processamento. Após

ter sido contaminado, o alimento serve como meio para o crescimento dos microrganismos.

Se estes microrganismos tiverem condições de crescer, podem mudar as características físicas

e químicas do alimento e podem causar sua deterioração. A presença de microrganismos no

alimento pode ser responsável por intoxicações e infecções transmitidas pela ingestão dos

alimentos. (Silva, 2002)

Os microrganismos contaminantes são os principais responsáveis pelos processos

de deterioração e eventualmente por surtos de doenças infecciosas, provocadas pela ingestão

de alimentos portadores de microrganismos patogênicos ou de toxinas, elaboradas por esses

microrganismos (Silva, 2000).

A presença de microrganismos em alimentos não significa necessariamente um

risco para o consumidor ou uma qualidade inferior destes produtos. Excetuando-se um

número reduzido de produtos submetidos à esterilização comercial, os alimentos podem

conter bolores, leveduras, bactérias e outros microrganismos. Muitos alimentos tornam-se

potencialmente perigosos ao consumidor somente quando os princípios de sanitização e

higiene são violados (Silva, 2002).

A análise microbiológica visando avaliar quantitativamente e qualitativamente a

presença de microrganismos é fundamental para se conhecer as condições de higiene em que

o alimento foi preparado, os riscos que o alimento pode oferecer à saúde do consumidor e se o

Page 39: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 35

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

alimento terá ou não a vida útil pretendida. Essa análise é indispensável também para verificar

se os padrões e especificações microbiológicos para alimentos, nacionais e internacionais,

estão sendo atendidos adequadamente (Silva, 2002).

.4.4.1 – Microrganismos Indicadores

Microrganismos indicadores são grupos ou espécies de microrganismos que,

quando presentes em um alimento, podem fornecer informações sobre a ocorrência de

contaminação de origem fecal, sobre a provável presença de patógenos ou sobre a

deterioração potencial do alimento, além de poderem indicar condições sanitárias inadequadas

durante o processamento, produção ou armazenamento (Franco e Landgraf, 1996).

Como exemplos de microrganismos indicadores podem ser citados aqueles que,

segundo a ICMSF (International Commission on Microbiological Specifications for Foods),

podem ser agrupados em: 1) Microrganismos que não oferecem um risco direto à saúde:

contagem padrão de mesófilos, contagem de psicrotróficos e termófilos, contagem de bolores

e leveduras e 2) Microrganismos que oferecem um risco baixo ou indireto à saúde: coliformes

totais, coliformes fecais, enterococos, enterobactérias totais, Escherichia coli (Silva, 2002)

Bolores e leveduras

Segundo Taiwaki (1996) os fungos importantes na deterioração dos alimentos,

incluem os bolores (fungos filamentosos) e as leveduras (fungos unicelulares). A contagem de

bolores e leveduras em alimentos é útil para avaliar a qualidade do alimento, o grau de

deterioração ou o potencial de produção de toxinas da microbiota, e tem se tornado um

componente essencial nos programas de garantia de qualidade microbiológica.

Coliformes totais

Este grupo é composto por bactérias da família Enterobacteriaceae, capazes de

fermentar a lactose com produção de gás, quando incubados a 35-37ºC, por 48 horas. São

bacilos gram-negativos e não formadores de esporos (Franco e Landgraf, 1996)

Fazem parte deste grupo predominantemente bactérias pertencentes aos gêneros

Escherichia, Enterobacter, Citrobacter e Klebsiella. Destes, apenas a Escherichia coli tem

como habitat primário o trato intestinal do homem e animais. Os demais - Enterobacter,

Citrobacter e Klebsiella - , além de serem encontrados nas fezes, também estão presentes em

Page 40: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 36

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

outros ambientes como vegetais e solo, onde persistem por tempo superior ao de bactérias

patogênicas de origem intestinal como Salmonella e Shigella (Franco e Landgraf, 1996).

Coliformes fecais e Escherichia coli

As bactérias pertencentes a esse grupo correspondem aos coliformes totais que

apresentam a capacidade de continuar fermentando lactose com produção de gás, quando

incubadas na faixa de temperatura de 44-44,5ºC. Nessas condições, ao redor de 90% das

culturas de E.coli são positivas, enquanto entre os demais gêneros, apenas algumas cepas de

Enterobacter e Klebsiella mantém essa característica (Franco e Landgraf, 1996).

A pesquisa de coliformes fecais ou de Escherichia coli nos alimentos fornece, com

maior segurança, informações sobre as condições higiênicas do produto e melhor indicação da

eventual presença de enteropatógenos (Franco e Landgraf, 1996).

Escherichia coli é um habitante normal do trato intestinal dos animais (incluindo o

homem) e exerce um efeito benéfico sobre o organismo, suprimindo a multiplicação de

bactérias prejudiciais e sintetizando uma considerável quantidade de vitaminas. Dentre as

cepas de E.coli, entretanto, há um grupo capaz de provocar doenças em indivíduos humanos

coletivamente chamadas de E.coli enteropatogenicas (EEC) (Silva et al, 2003).

Por ser uma enterobactéria, uma vez detectada no alimento, a E.coli indica que

esse alimento tem uma contaminação microbiana de origem fecal e, portanto, está em

condições higiênico-sanitárias insatisfatórias e o alimento passa a ser impróprio para o

consumo humano (SENAC/DN, 2004).

3.5 – Conservação de alimentos pelo controle da umidade

As técnicas utilizadas para preservar os alimentos, sejam eles processados ou in

natura, têm por objetivo mantê-los pelo maior período de tempo possível, sob condições

sanitárias e organolépticas satisfatórias (Silva, 2000).

Muitas vezes, o excedente de produção que se acumulava durante os períodos de

colheita mais abundante, acabava deteriorando-se por falta de conhecimento na arte de

preservar os alimentos. Graças a essa necessidade, o homem aprendeu a dominar as técnicas

da conservação dos alimentos, como a salga, a defumação, a desidratação, a fermentação, a

conservação pelo frio, pelo calor e por tantos outros métodos de preservação que são

utilizados até hoje (Silva, 2000).

Page 41: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 37

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

3.5.1 – Aspectos gerais sobre o processo de secagem

A secagem é uma das práticas mais antigas de conservação de alimentos

desenvolvida pelo homem. Alimentos de origem vegetal como cereais, feijão e ervilhas,

quando são colhidos suficientemente secos e adequadamente armazenados, permanecem em

condições de consumo e/ou industrialização por longos períodos de tempo. Todavia, a maioria

dos alimentos contém suficiente umidade para permitir a ação de suas próprias enzimas e de

microrganismos que nele se encontram, de modo que, para preserva-los, faz-se necessária a

remoção da maior quantidade de água possível (Silva, 2000).

De acordo com os fatos históricos, as guerras modernas, com a necessidade de

transportar grandes volumes de alimentos a grandes distâncias, foram os elementos que

impulsionaram o desenvolvimento do processo de secagem. Na I Grande Guerra Mundial, a

prática da secagem se disseminou e o processo começou a ser estudada mais cientificamente,

atingindo o seu ápice durante a II Guerra Mundial (Lima, 2001).

Os processos de secagem podem ser enquadrados em dois grupos: secagem natural

ou ao sol e secagem artificial ou desidratação (Gaspareto, 1999)

No processo de secagem é necessário fornecer certa quantidade de energia ao

produto. A energia necessária depende das características do produto e dos conteúdos inicial e

final de água do mesmo. A utilização da secagem em produtos alimentícios é uma prática

bastante utilizada nos dias atuais (Honorato, 2002).

A secagem ou a desidratação geralmente é conseguida pela remoção da umidade,

mas qualquer método que reduza a quantidade de água disponível em um alimento é uma

forma de secagem A desidratação é a secagem pelo calor produzido artificialmente em

condições de temperatura, umidade e corrente de ar cuidadosamente controladas. O uso do

calor do fogo para secar os alimentos é de conhecimento bem antigo, porém, a câmara de

desidratação por ar quente é mais recente, só veio a ser reconhecido no final do século XVIII

(Silva, 2000).

O processo de secagem proporciona inúmeras vantagens: a)conserva o alimento;

b) concentra nutrientes no alimento; c) apresenta redução de peso e volume, facilitando o

armazenamento (Evangelista, 2000).

Em relação à secagem de frutas e hortaliças, o Estado da Califórnia, EUA foi

pioneiro na construção de desidratadores. A substituição da secagem natural por

desidratadores pode ser justificada pelas seguintes vantagens: melhores qualidades

organolépticas, redução da área de trabalho e a proteção do produto contra as intempéries.

Page 42: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 38

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Uma grande contribuição no projeto de secadores com circulação forçada foi dada pelos

pesquisadores da Universidade da Califórnia, entre eles Cruess (1973).

A secagem pode ser natural, pela exposição do material a ser desidratado ao sol ou

artificial, pela utilização de calor ou outros meios capazes de retirar a umidade. O sistema a

ser utilizado vai depender de diversos fatores, entre os quais podemos salientar as condições

climáticas da região, a natureza da matéria-prima, as exigências do mercado, custos de

produção e mão-de-obra especializada (Silva, 2000).

O custo de produção é um dos fatores de maior relevância a ser considerado na

escolha do método de desidratação. A secagem natural, utilizando-se das condições do meio

ambiente, tem custos inferiores ao da desidratação artificial. Na desidratação artificial, tem-se

também o controle das condições sanitárias do produto, enquanto que, a céu aberto, a poeira,

os insetos, os pássaros e os roedores poderão transformar-se em um grande problema (Silva,

2000).

Diversos são os métodos de secagem artificial existente hoje em todo o mundo.

Alguns são muito sofisticados e caros, sendo usados somente por indústrias de grande porte.

Outros são mais acessíveis a pequenas indústrias e pequenos produtores. A escolha do método

de secagem apropriado deve ser orientada pela natureza do material a ser tratado, pelo tipo do

produto final a ser obtido, pelos aspectos econômicos e pelas condições operacionais

(Gaspareto, 1999).

A maioria dos métodos de secagem artificial envolve a passagem de ar aquecido,

com umidade relativamente controlada, sobre o alimento a ser desidratado, que pode estar

parado ou em movimento. A circulação de ar quente, bem como a temperatura, a umidade, a

velocidade do ar, são controladas e variadas de acordo com o produto e grau de secagem

desejado (Gaspareto, 1999).

O aproveitamento de matérias-primas e, principalmente, sua utilização faz surgir

novas técnicas, que possibilitam uma maior elaboração e distribuição dos produtos, em

mercados onde antes eram inexistentes. Dentro deste contexto, situa-se o aproveitamento de

alimentos através de processo de secagem. A competição entre fornecedores pela preferência

de seus produtos, ajuda a desenvolver, dentro da tecnologia de alimentos, processos

alternativos, visando favorecer a melhoria de sua qualidade, diminuição do tempo de preparo

(pré-digeridos, desidratados, instantâneos, etc) e acondicionamento em embalagens atraentes

e protetoras (Evangelista, 2000)

Direcionados sob esta ótica, cientistas e técnicos em alimentos vem buscando

novas formas de oferecer ao consumidor produtos desidratados de melhor qualidade. O

Page 43: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 39

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

desafio consiste então, em identificar técnicas de secagem que levem a atingir estes objetivos,

preservando as características do produto in natura (Da Mata e Lima, 1999).

3.6 – Alimentação alternativa

A alimentação enriquecida é aquela que combina vários alimentos, principalmente

as partes mais nutritivas fazendo um aproveitamento integral deles. Pressupõe um acesso à

informação sobre qualidade, valor nutritivo de cada alimento, forma de preparar e de

consumir, de modo que se preserve esta qualidade, além de uma forma de preparar o alimento

adequado para qualquer ser humano.

Para combater a desnutrição, diversas alternativas de intervenções vem sendo

colocadas em prática, variando desde os mais tradicionais programas de suplementação

alimentar, até alternativas simplificadas e de baixo custo, como o uso de subprodutos não

convencionais.

No Brasil, a alimentação alternativa se constitui numa proposta de um conjunto de

práticas alimentares que compreende principalmente a valorização de determinados alimentos

já amplamente consumidos e o uso de alimentos não convencionais. A partir de 1986, a

prática da alimentação alternativa foi incorporada à rotina de trabalho de algumas entidades

governamentais e não governamentais, tais como a Pastoral da Criança (CNBB) e Fundação

Nacional de Saúde (UNICEF, 1994 apud Santos et al, 2004).

Têm-se sugerido diferentes maneiras de combater a desnutrição. A mais conhecida

é a distribuição do leite, que recebe apoio governamental, através de subsídios. Mas outras

iniciativas disseminam-se pelo Brasil todo e constituem o elemento central da controvérsia

entre vários profissionais. São as formas alternativas, simplificadas e de baixo custo de

alimentação, que se caracterizam pelo uso de partes não convencionais dos alimentos, com

destaque para os farelos de arroz ou trigo, as sobras de vegetais, a folha de mandioca e a casca

de ovo (Velho e Velho, 2002).

Denominadas de modo genérico como alimentação alternativa, essas iniciativas,

segundo Beausset (1992), devem preencher vários requisitos: o maior número possível de

alimentos deve ser usado em cada refeição; todas as partes possíveis do alimento devem ser

aproveitadas, sem desperdício; deve-se dar preferência a alimentos disponíveis segundo

região e época e aos de menor custo; o alto conteúdo de micronutrientes nesses alimentos

deve prover um suplemento importante para a saúde; toda pessoa, para preservar sua

dignidade, deve prover, por si própria, sua alimentação e deve tomar decisões informada

sobre o alimento que vai consumir.

Page 44: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 40

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

No princípio, o conceito de alimentação alternativa era utilizado para grupos de

maior risco de deficiências nutricionais, como desnutrição energético-protéica, anemia e

hipovitaminosas. Embora, ainda hoje, a população alvo ainda se constitua de indivíduos com

as características já descritas, essa alimentação tem sido promovida também como dieta

saudável para toda população, no sentido de prevenir deficiências de fibras, minerais e

vitaminas (Velho e Velho, 2002).

O enriquecimento de alimentos ou o oferecimento de alimentação enriquecida

constitui-se num procedimento usualmente associado ao combate à desnutrição infantil

severa, sobretudo por sua característica de ser um instrumento de resposta rápida. No entanto,

o campo de aplicação deste procedimento pode ser bem mais amplo e envolver diversos

aspectos das práticas alimentares habituais das famílias e dos programas de alimentação e

nutrição encaminhados pelo poder público.

A alimentação alternativa tem sido definida como “a proposta de promover na

dieta brasileira o uso de alimentos tradicionais e não tradicionais, ricos em vitaminas e

minerais, que são acessíveis a toda população”. Entre os alimentos que são promovidos

encontram-se: farelos (especialmente os de trigo e arroz), folhas verdes (de beterraba, taioba,

caruru, bredo, batata-doce, cenoura), pó de folhas (que formam a chamada multimistura),

cascas (de verduras e frutas como banana, abóbora e ainda casca de ovo) e sementes

(gergelim, melancia, abóbora) (Beausset, 1992).

Segundo Bittencourt (1998), a promoção do uso da alimentação alternativa foi

desenvolvida pelos médicos Clara e Rubens Brandão há 25 anos. Contudo, a sua eficácia em

relação à desnutrição tem sido discutida em todo o país.

Baseado no princípio de que a qualidade na alimentação é dada pela variedade e

não pela quantidade, desenvolveu-se ao longo das duas últimas décadas, toda uma tecnologia

simplificada em nutrição que estimula o uso de produtos regionais e, principalmente de partes

não convencionais dos alimentos. O acesso é facilitado pelo fato de que essa qualidade é

encontrada nos fundos de quintais, em folhas de hortaliças antes desprezadas, sementes pouco

conhecidas, entre outros.

Com o crescente aumento da população mundial, torna-se necessária à busca por

alimentos alternativos, para aumentar e suprir a demanda. Essas fontes alternativas de

alimentos devem ser nutritivas, possuir boas características sensoriais e ser de baixo custo

para atingir grande parte da população (Romanelli e Schmidt, 2003).

Page 45: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 41

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Os alimentos alternativos não substituem os alimentos básicos convencionais da

dieta do brasileiro. Representam uma alternativa de enriquecimento das refeições tradicionais,

caracterizadas na maioria das famílias pela monotonia e o insuficiente aporte de nutrientes.

Portanto, o desenvolvimento de uma alternativa tecnológica, para o

aproveitamento de resíduos orgânicos, obtendo-se um produto rico em sais minerais e que

seja aceito quanto ao aspecto sensorial, permitirá uma variedade maior de alimentos a serem

incluídos na dieta habitual das populações podendo servir para prevenção no desenvolvimento

de várias doenças.

3.6.1 – Multimistura

Brandão & Brandão (1996) apud Madruga et al (2004) definiram a multimistura

como sendo uma mistura de alimentos não convencionais que enriquecem a alimentação

habitual em minerais e vitaminas, para se obter uma dieta balanceada, sem alteração dos

hábitos alimentares.

A RDC Nº 53 de 15 de Junho de 2000 dispõe sobre o Regulamento Técnico para

Fixação de Identidade e Qualidade de Mistura à Base de Farelo de Cereais - multimistura

(BRASIL, 2000)

O enriquecimento consiste em aumentar o nível nutricional já existente no

produto. É feito com a finalidade de contornar deficiências nutricionais das populações ou

quando um alimento está sendo utilizado para substituir outro (Silva Nascimento, 2000).

Nenhum alimento é completo. Um alimento pode ser rico em uma das vitaminas e

pobre em outras, ou rico em cálcio e pobre em ferro. Por isso, nossa alimentação deve conter

uma variedade de alimentos, pois uns completam os outros.

O uso das farinhas múltiplas ou multimisturas começou no Brasil, há alguns anos,

na região de Santarém, no Pará. Devido à falta de recursos alimentares, houve a necessidade

de se encontrar na produção local alternativas, que tivessem alto valor nutritivo, embora não

fossem tradicionalmente consumidos pela população. Desta maneira, utilizou-se o farelo de

arroz e folhas verdes e, pouco a pouco, foram sendo incorporados outros alimentos, como as

sementes trituradas e o pó de casca de ovo (Brandão & Brandão,1996 apud Boaventura et al,

2000)

Segundo Beausset (1992) a multimistura começou a ser difundida em todo país

com o apoio da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e, há alguns anos, vem

sendo usada, oficiosamente, em alguns serviços da rede governamental de saúde.

Page 46: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 42

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A formulação desses produtos tem como princípio básico a utilização de alimentos

não convencionais, mas que apresentam um alto valor protéico e calórico, e ainda boa

disponibilidade de minerais. No entanto, a multimistura não apresenta uma composição

padronizada, podendo variar tanto na proporção dos ingredientes, quanto na variedade dos

componentes (Silva Nascimento, 2000).

Torin et al. (1996) apud Boaventura et al, 2000) destaca a urgência em estabelecer

a composição química da multimistura, bem como a realização de estudos bioquímicos e

nutricionais acerca dos efeitos resultantes das interações dos seus constituintes.

O Programa de Orientação Alimentar para a Saúde foi instalado no Inan em

setembro de 1994 e integralmente implantado a partir de 1995, tendo como coordenadora a

dra. Clara Brandão. No entanto, para alguns pesquisadores da área de nutrição, os resultados

favoráveis da multimistura na recuperação de subnutridos não eram suficientes nem

convincentes. Em vista disso, eles propuseram-se a determinar, com rigorosa investigação

científica e amplo debate com a comunidade interessada, o real valor das fontes de nutrientes

utilizadas na multimistura, e mais especificamente sua eficiência como provedores de

minerais (Velho e Velho, 2002).

A utilização da multimistura vem sendo sistematicamente debatida em foros

científicos, institucionais e informais, no que se refere a sua relevância e propriedades

nutricionais, fatores tóxicos e antinutricionais (CFN, 2004).

Entre as instituições que têm se posicionado enfaticamente contra a utilização da

multimistura está o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN, 2004). Em setembro de 1990, o

CFN já havia elaborado parecer sobre uma publicação de autoria de Clara Brandão (1989),

intitulada “Alimentação alternativa”, e questionava com particular ênfase as “observações

empíricas” feitas pela autora sobre a utilização do farelo de arroz ou de trigo incorporados à

dieta habitual de crianças desnutridas “com excelentes resultados”. O CFN ressaltava que os

resultados relatados por Brandão deveriam ser comprovados por pesquisas científicas que

validassem o emprego do mencionado farelo para prevenir ou tratar as patologias citadas na

publicação.

Finalmente, o documento do CFN, com o objetivo tão-somente de impedir a

difusão de informações incorretas sobre alimentação e nutrição e evitar possíveis danos à

população, solicitava providências ao ministro da Saúde, no sentido de que seja sustada a

divulgação do folheto “Alimentação alternativa” para as indispensáveis correções (Velho e

Velho, 2002).

Page 47: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 43

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Em momento algum o documento questionava o caráter das ações propostas.

Também não se referia a dois pontos específicos que viriam mais tarde constituir o eixo das

críticas aos programas de alimentação alternativa. O primeiro deles é o conceito de

biodisponibilidade de nutrientes, e o segundo, as questões relativas aos princípios básicos da

Declaração de Helsinki de 1964, que estariam sendo desrespeitados, quando se submetia um

imenso contingente de crianças a uma experimentação com alimentos de eficiência não

comprovada sem antes testá-lo em modelos biológicos ou sem respeitar os protocolos de

experimentação científica com humanos (Velho e Velho, 2002).

Apesar da popularização alcançada pela multimistura, ainda há necessidade da

realização de estudos mais aprofundados sobre a composição química, a presença de fatores

antinutricionais, presença de microrganismos patogênicos esporulados ou toxinas

microbianas, resíduos de defensivos agrícolas e outros componentes que ainda não foram

identificados neste produto, mas que a longo prazo podem apresentar conseqüências

indesejáveis. Outro fator que ainda carece de investigação é o valor biológico dos nutrientes

encontrados nesses produtos. Portanto, só após um estudo sistemático na investigação de

todos esses fatores é que se pode aconselhar consumo da multimistura, para qualquer grupo de

consumidores (Silva Nascimento, 2000).

Se o valor nutricional das misturas é maior do que o dos componentes

isoladamente, o homem precisa aprender a consumi-las (Silva Nascimento, 2000).

Page 48: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Capítulo 4: ESTADO DA ARTE

Page 49: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 44

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

4. Estado da arte

A situação dos resíduos sólidos no Brasil estudada por Campos (1991) apud

Chaves (2002) alerta para a situação agravante em que se encontram os cerca de 4.000 lixões

espalhados por todo o País, causando uma série de prejuízos, ambientais, sociais e para a

saúde pública.

Considerando o uso extensivo de lixões a céu-aberto no Brasil e os riscos de

contaminação de corpos d'água que os resíduos orgânicos podem causar através do chorume,

Viana (1999) buscou reciclar os resíduos alimentícios do lixo domiciliar em um ingrediente

para frangos de corte. Com base na caracterização nutricional, o componente obtido

(ingrediente de lixo) foi experimentado em frangos de corte sendo acrescentado na

composição da ração, em associação com o farelo de milho e o farelo de soja. O desempenho

das aves, averiguado através dos índices de consumo de ração, ganho de peso e conversão

alimentar, indicaram que o ingrediente de lixo não prejudicou o desempenho das aves,

comprovando a viabilidade desse componente na alimentação de frangos de corte. Essa

conclusão é fortalecida pela análise de caracterização química e microbiológica do ingrediente

de lixo, na medida em que se evidenciou a ausência de micotoxinas, pesticidas, metais

pesados e uma boa composição de nutrientes importantes na avicultura como proteína, cálcio,

fósforo e energia metabolizável.

Pesquisas realizadas na Universidade Federal de Viçosa - MG apontam para o

desenvolvimento de tecnologias de aproveitamento de resíduos sólidos com ênfase na coleta

seletiva, na reciclagem e na compostagem de resíduos sólidos urbanos. Dentre as principais

pesquisas são citadas: a caracterização de resíduos, monitoramento de sistemas de

compostagem, aproveitamento de lixo orgânico e agrícola, avaliação da aeração em leiras

estáticas, sobrevivência de espécies patógenas no húmus produzido a partir da compostagem,

projetos e construção de unidades de triagem, além dos programas de assistência técnica no

âmbito da área de resíduos sólidos (Chaves, 2002).

Na cidade de São Carlos, onde cerca de 60% dos resíduos sólidos domiciliares são

constituídos por matéria orgânica, Kondogeorgos (2000) realizou uma pesquisa para

elaboração de uma ração alternativa produzida a partir destes resíduos. Neste trabalho as

etapas de reciclagem dos restos alimentares em ração animal envolveram a coleta seletiva, a

trituração do material coletado e a autoclavagem. Para que fosse possível atestar a esterilidade

comercial do produto às análises microbiológicas foram indispensáveis. Os resultados obtidos

não comprometeram a utilização de resíduos sólidos domiciliares para a elaboração de uma

Page 50: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 45

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

ração alternativa do ponto de vista microbiológico, quando submetidos ao processo de

esterilização.

Visando diminuir o desperdício de alimentos, vários autores desenvolveram

pesquisas na linha de reaproveitamento desses resíduos alimentares, porém a maioria dos

trabalhos envolvem os resíduos isoladamente.

Os teores de constituintes nutricionais e antinutricionais presentes no resíduo

industrial de laranja cv. Hamlim foram determinados por Conceição (1998). Os resíduos,

matéria fresca ou seca, apresentaram teores representativos de vitamina C total e -caroteno,

superando a necessidade diária recomendada, destacando-se como excelente fonte de

magnésio, potássio, ferro, cálcio, fósforo e cobre, apresentando ainda teores moderados de

manganês e zinco, além de constituírem-se como excelente fonte de fibras naturais, ricas em

pectinas.

Sartorelli (1998) caracterizou quimicamente a parte aérea (folha + caule) de

cenoura (Daucus carota) e beterraba (Beta vulgaris), Foram determinados a composição

centesimal e energia bruta, vitamina C total e -caroteno, fibras dietéticas, açucares totais e

amido, minerais (P, Ca, Fe, K, Mg, Mn, Zn e Cu) e fatores antinutricionais (compostos

fenólicos, nitrato, ácido oxálico e inibidores de tripsina), na parte aérea destes produtos.

No intuito de utilizar as partes vegetativas de hortaliças tradicionais, Pereira et al

(2003) desenvolveram uma pesquisa, onde objetivaram caracterizar quimicamente a folha de

cenoura. As folhas de cenoura foram submetidas à secagem em estufa a 60 °C por 72 horas.

Em seguida, o material seco foi triturado e homogeneizado para posterior análise. Foram

determinados a composição centesimal, vitamina C total e -caroteno, fibras dietéticas (FDN

e FDA), pH, acidez total titulável, teores de minerais (Na, P, K, Ca, Mg, Mn, Zn e Fe) e

nitrato. Os resultados foram baseados em matéria-seca, e concluiu-se que as folhas de cenoura

apresentaram teores significativos de vitamina C total e -caroteno, podendo ser considerada

como fonte de fibras dietéticas e minerais, destacando-se o cálcio e o ferro. O teor de nitrato

presente encontrou-se dentro do aceitável pela Organização Mundial de Saúde e as folhas de

cenoura, segundo os autores, podem ser aproveitadas na alimentação humana, sem riscos à

saúde.

Vitorino et al (2001) quantificaram e caracterizaram os resíduos sólidos gerados

por um refeitório, contribuindo para promover o reaproveitamento, a reciclagem e a redução

da quantidade de lixo a ser adequadamente disposta.

Com a finalidade de aproveitar o bagaço de frutas tropicais (manga, caju e

abacaxi), resíduo da indústria de polpas Lima (2001) realizou um estudo para obtenção de

Page 51: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 46

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

fibras. Estes bagaços foram submetidos aos processos de secagem em leito de jorro e leito

fixo, sendo possível fazer uma avaliação do desempenho de cada processo. A partir da

caracterização físico-química dos bagaços secos em leito de jorro, concluiu-se que os teores

de fibras destes bagaços foram superiores aos encontrados para o farelo de trigo e farelo de

cereais. Os bagaços apresentaram teores de cinzas compatíveis com os encontrados nos

alimentos ricos em minerais, como aveia, feijão, avelã e lentilha. A análise microbiológica

realizada após a secagem não indicou a presença de coliformes fecais. Para se verificar a

aplicação das fibras obtidas, estas foram adicionadas a biscoitos em proporções de 5% e 8%

para o caju e abacaxi e 3% e 5% para manga. Através da análise sensorial verificou-se que os

biscoitos adicionados com fibras foram aceitos, embora o produto sem fibras tenha sido maior

aceitação.

Garcia (2002) desenvolveu uma alternativa tecnológica para o aproveitamento de

subprodutos de vegetais industriais e a obtenção de sopas creme com alto teor de fibra

insolúvel. Os subprodutos utilizados da indústria de vegetais minimamente processados foram

os talos de acelga (Beta vulgaris), brócolis (Brassica oleracea), couve (Brassica oleracea),

couve-flor (Brassica oleracea) e espinafre (Spinacia oleracea, L). As farinhas à base dos talos

foram utilizadas para a formulação das sopas creme, desenvolvidas tendo como base à

formulação padrão das sopas desidratadas disponíveis no mercado. O produto ofereceu

recomendações mínimas diárias superior a 30 %, em relação à fibra alimentar total, superior a

60% , em relação à celulose em todas as sopas formuladas. As sopas creme obtiveram uma

aceitação, a partir da analise sensorial realizada, que variaram de 51,62% a 67,33% e possuem

teores significativamente mais elevados de fibra alimentar, do que o produto similar

disponível no mercado.

O aproveitamento de resíduos de frutas, especificamente da laranja, do abacaxi e

do maracujá, que apresentam potencial benéfico para a alimentação humana foi estudado por

França et al (2004). Os resultados apontaram que os três tipos de farinha desenvolvida

apresentaram coloração amarela, sendo a de abacaxi de cor mais intensa. A farinha do abacaxi

mostrou-se bastante adocicada, enquanto a do maracujá apresentou suave odor da fruta. A

farinha do albedo do maracujá apresentou teor de pectina de 17,48%, enquanto a da laranja foi

de 21,98%, entretanto a farinha da laranja apresentou um sabor residual amargo, atribuído a

naringina, flavonóide encontrado nas cascas, sementes e albedos de frutas cítricas. O teor de

fibra foi superior na farinha do maracujá. Os pesquisadores concluíram que as farinhas da

laranja e do maracujá mostraram-se ricas em fibras e pectinas.

Page 52: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 47

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Uma outra linha de pesquisa já desenvolvida dentro da área de reaproveitamento

de alimentos é o estudo da multimistura – mistura à base de farelo de cereais, porém faz-se

necessário o desenvolvimento de estudos sistemáticos para investigação de vários fatores,

antinutricionais inclusive, para que se possa aconselhar o consumo da multimistura.

Câmara (1996) determinou a composição química, fatores tóxicos e/ou

antinutricionais de uma multimistura utilizada como suplemento alimentar em programas

institucionais no combate de desnutrição através de Secretaria de Ação e Bem Estar Social de

cidade de Natal-RN. Os resultados obtidos a partir das análises realizadas demonstraram que a

multimistura apresentou teores consideráveis de carboidratos e proteínas. O valor Calórico

Total (VCT) correspondeu a 351,9 Kcal. As análises dos minerais revelaram ser o produto

uma fonte potencial de cálcio, como também uma boa fonte de fósforo, magnésio, ferro e

zinco. A multimistura apresentou um conteúdo significativo de -caroteno o que favorece a

atividade de vitamina A. As análises dos principais componentes tóxicos e/ou antinutricionais

demonstraram ausência de aflatoxinas e ácido cianídrico, concentração irrelevantes de fiatos e

taninos.

Com o objetivo de avaliar a influência de uma multimistura no combate à

desnutrição, Santos (2000) realizou um estudo utilizando 60 ratos machos, da raça Wistar,

recém-desmamados, no intuito de analisar a biodisponibilidade mineral. Após a desnutrição

de 14 dias, selecionaram-se 12 ratos para formar o Grupo 0 ou Aprotéico; o restante foi

dividido em 4 grupos: I - dieta controle de caseína; II – dieta creche; III – dieta creche

enriquecida com 1,2g de multimistura e IV – dieta creche enriquecida com 2,4g de

multimistura. A análise de composição centesimal demonstrou que a multimistura continha

teores consideráveis de carboidratos (69,79%) e proteínas (11,05%), apresentando-se bastante

rica em fibras (5,75%). com baixa concentração de lipídios (4,90%) e um valor Calórico Total

(VCT) de 390,46kcal/100g. Na composição mineral a multimistura apresentou-se como uma

excelente fonte de ferro (7,59mg), cálcio (336,00mg), magnésio (221,00mg) e potássio

(637,00mg), com concentrações razoáveis de fósforo (536,00mg) e possuindo baixas

concentrações de sódio (6,60mg). As análises microbiológicas mostraram que a multimistura

estava própria ao consumo humano.

Visando conhecer perfil da multimistura como complemento nutricional de

minerais, para crianças menores de cinco anos de idade, Vizeu et al (2005) avaliaram a

composição mineral em se tratando do teor de cálcio, cobre, ferro, potássio, magnésio,

manganês, fósforo e zinco de diferentes formulações de multimistura, sendo coletadas

amostras representativas de multimisturas em cinco diferentes localidades no Rio de Janeiro.

Page 53: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 48

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Os resultados obtidos mostraram que apesar das multimisturas estudadas possuírem alto teor

mineral, elas não atingem a Ingestão Diária Recomendada (IDR) tendo como referência

crianças menores de cinco anos, na dose recomendada, com exceção do manganês para

algumas amostras. As multimisturas estudadas, portanto, se mostraram incapazes de servirem

como complemento nutricional para os minerais quantificados nesse estudo.

Em se tratando dos resíduos das Centrais de Abastecimento, poucos trabalhos já

foram desenvolvidos, e somente alguns relacionam a questão de reaproveitamento dos

resíduos para alimentação, mesmo assim, direcionados para alimentação animal.

Azevedo & Bohnenberger (1999) apresentaram metodologias para reciclagem

empregadas na CEASA/MG. Os principais levantamentos realizados foram: 1) a

caracterização dos resíduos sólidos, com a determinação de suas características físicas

(composição gravimétrica, quantidade/ volume de lixo gerado diariamente e peso específico);

2) levantamento do sistema de coleta praticado; 3) avaliação do sistema de disposição final

dos resíduos; 4) relacionamento dos tipos de atividades comerciais desenvolvidas no

entreposto com a geração de resíduos, a fim de identificar os setores que geram resíduos

preponderantemente orgânicos ou inorgânicos; 5) avaliação do grau de percepção e satisfação

dos comerciantes e atacadistas da CEASA-MG em relação à questão dos resíduos sólidos e ao

sistema praticado e 6) avaliação da atividade de catação desenvolvida na área do entreposto e

no local de disposição final do lixo. Os resultados obtidos serviram de base para elaboração

de um diagnóstico dos sistemas de coleta e disposição de resíduos sólidos, bem como as

diretrizes de gestão para os resíduos sólidos gerados na área do entreposto da Grande Belo

Horizonte.

Tendo em vista a crescente necessidade de se buscar formas alternativas de

reciclagem energética e orgânica do lixo de CEASA, com conseqüente redução de seu poder

poluente, Benincasa & Lucas Jr (2000) caracterizaram este lixo como substrato para

biodigestão anaeróbia através do estudo do potencial de produção de biogás do mesmo o

tempo de fermentação e a redução de sólidos, além da composição química do efluente.

Com o intuito de modificar uma realidade existente no método de descarte dos

resíduos sólidos gerados na CEASA-Porto Alegre, Klafke (2002) validou um projeto piloto,

objetivando diminuir o desperdício de alimentos, que em sua maioria são resíduos de alta

qualidade, reduzindo a poluição ambiental. A alternativa apresentada foi o processamento dos

resíduos sólidos gerados na CEASA - Porto Alegre-RS, em uma planta piloto, com a

finalidade de se obter um complemento para ser ofertado na alimentação de animais. Foi

realizado um estudo prévio com o mapeamento de toda CEASA, que consistiu na localização,

Page 54: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 49

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

quantificação e qualificação de todos os resíduos sólidos gerados na mesma. Os valores foram

obtidos ao longo de quatro meses, com a geração média de 30 toneladas de resíduos

hortifrutigranjeiros por dia. De posse das informações levantadas, foi proposto um projeto

piloto para beneficiar uma pequena parte dos resíduos gerados onde o método utilizado para

obtenção da ração, foi o processo de desidratação via evaporação térmica, obtendo-se um

complemento alimentar, com teor de proteína bruta média na ordem de 10,3% e excelente

aceitação pelos bovinos e suínos.

Resíduos sólidos orgânicos tipicamente vegetais, advindos de centrais de

abastecimento, feiras livres e lodo de esgoto sanitário, foram utilizados em um trabalho

desenvolvido por Leite et al (2003). O sistema experimental utilizado foi constituído

basicamente por um reator anaeróbio de batelada, com capacidade unitária de 2200 litros,

além de outros dispositivos complementares. O sistema experimental foi instalado e

monitorado na Estação Experimental de Tratamento Biológico de Esgoto Sanitário, situada na

cidade de Campina Grande - PB, no período de janeiro a setembro de 2001. No processo de

monitoração foram realizadas caracterizações sistemáticas das frações sólidas, líquidas e

gasosas. Após análise dos dados, ficou evidenciada a viabilidade desta alternativa de

tratamento, restando ser investigada ainda a viabilidade econômica, quando comparada com

outras alternativas tecnológicas de tratamento de resíduos sólidos orgânicos.

Campani (2003) verificou a viabilidade técnica de submeter resíduos sólidos,

oriundos da limpeza de uma Central de Abastecimento, composto de materiais folhosos, à

fermentação láctica, comprovando a possibilidade de conformar-se como uma forma de

tratamento para tais resíduos, permitindo ainda o armazenamento, para suplementação nos

períodos de entressafra de alimento para rebanhos ruminantes.

Diante do exposto, esta pesquisa torna-se pioneira em se tratando de

reaproveitamento de resíduos das Centrais de Abastecimento para alimentação,

principalmente para o Estado do Rio Grande do Norte, onde se propõe a desenvolver um

produto desidratado a base de vegetais, fonte de minerais, para ser investigado como um

possível alimento complementar em programas de alimentação após cumprir premissas

básicas de segurança alimentar e bioética.

Page 55: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Capítulo 5: MATERIAIS e MÉTODOS

Page 56: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 50

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

5. Materiais e Métodos

5.1 – Materiais

5.1.1 – Matéria-prima

A matéria-prima utilizada como amostra nesta pesquisa consistiu-se de resíduos

orgânicos, compostos basicamente de frutas, legumes e hortaliças, oriundos do descarte do

programa MESA DA SOLIDARIEDADE da Central de Abastecimento do Rio Grande do

Norte - CEASA/RN, conforme apresentado na Figura 3.1. Estes resíduos orgânicos estão

enquadrados na classe II – resíduos não-inertes (Tabela 3.1) conforme a classificação da

ABNT (1987).

A partir de um levantamento realizado junto à coordenação do programa,

analisou-se quais os alimentos que possuíam maiores índices de doação e a partir dos

resultados obtidos, determinou-se quais as classes de alimentos que seriam utilizados como

matéria-prima, no desenvolvimento desta pesquisa, visto que o programa MESA DA

SOLIDARIEDADE não quantifica o montante de resíduos gerados e sim a quantidade de

alimentos doados. Os alimentos selecionados foram: acelga (Beta vulgaris), alface (Lactuca

sativa L), batata (Solanum tuberosum L.), cenoura (Daucus carota L.), chuchu (Sechium

edule swartz), coentro (Coriandrum sativum L.), couve (Brassica oleraceae), jerimum

(Cucurbita pepo L.) laranja azeda (Citrus aurantium L.), laranja doce (Citrus sinesis), limão

siciliano (Citrus limon L), limão tahiti (Citrus latulalia), macaxeira (Manihat esculenta

crantz), mamão (Carica papaya L.), melancia (Citrullus lanatus Thunb, Mansf.), melão

(Cucumis melo L.), pimentão (Capsicum annuum L.), repolho (Brassica oleracea) e tomate

(Lycopersum esculentum).

As coletas foram realizadas semanalmente no mês de setembro de 2004 e

quinzenalmente no período de outubro a dezembro de 2004, totalizando 10 amostras para

caracterização. A melancia (Citrullus lanatus Thunb, Mansf.) não integrou a matéria-prima

utilizada visto que durante todo o período estudado, não fez parte da amostra coletada no

programa MESA DA SOLIDARIEDADE.

Page 57: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 51

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

5.2 – Métodos

5.2.1 – Procedimento experimental

O procedimento experimental utilizado nesta pesquisa consistiu de etapas de

coleta, amostragem, preparo e caracterização das amostras, conforme observa-se na Figura

5.1.

Figura 5.1. Fluxograma do procedimento experimental

Amostra In Natura

Secagem

Trituração

Armazenamento

Amostra Seca

(produto desidratado)

Trituração

Caracterização: pHAcidezUmidade Sais Minerais (Ca, K, Na, Mg, P, Fe) Poder calorífico Sólidos solúveis Coliformes totais Escherichia coli

Coleta dos resíduos naCEASA/RN

Amostragem

Higienização

Fracionamento

Pesagem da coleta

Retirada das partes estragadas

Page 58: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 52

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

5.2.2 – Amostragem (composição amostral)

O material coletado foi acondicionado em sacos plásticos e transportado, a

temperatura ambiente, até o Laboratório de Engenharia Ambiental e Controle de Qualidade,

da UFRN (Figura 5.2), sendo separado, pesado e retirado uma amostra para análise (Figura

5.3).

Figura 5.2: Amostras coletadas no galpão do Programa Mesa da Solidariedade

Figura 5.3: Amostras coletadas pesadas e recebidas no laboratório

A metodologia de amostragem desenvolvida para esta pesquisa, foi baseada nos

dados apresentados na Tabela 5.2, onde se realizou um balanço de massa para se obter uma

amostra cuja quantidade de nutrientes presentes pudesse suprir, em média, a necessidade

diária de crianças de sete a dez anos, provável público-alvo para consumo do alimento

desidratado a base de vegetais a ser desenvolvido.

Page 59: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 53

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

As necessidades diárias, referentes a sais minerais para crianças de sete a dez

anos de idade estão apresentadas na Tabela 5.1.

Tabela 5.1: Necessidade diária de nutrientes para crianças com faixa etária de sete a dez anos.

Nutriente mg/dia

Sódio* 400Potássio* 1.600 Cálcio 700 Magnésio 100 Fósforo 1.250 Ferro 9

Fonte: BRASIL (2005) *WAITZBERG (2002)

A tabela 5.2 mostra a contribuição nutricional e calórica dos alimentos utilizados

na amostragem.

Tabela 5.2. Contribuição nutricional dos alimentos

mg nutriente e calorias/100g de alimento FONTE Cálcio

(mg)Potássio

(mg)Sódio(mg)

Magnésio(mg)

Fósforo(mg)

Ferro(mg)

Calorias(Kcal)

Acelga 2 51 379 213 81 46 1,80 19 Alface 2 32 257 5 13 23 1,24 13 Batata 3 13 437 7 23 55 0,78 77 Cenoura 3 27 323 35 15 44 0,30 41 Chuchu 3 12 --- 0 --- 30 0,60 31 Coentro 2 67 521 46 26 48 1,77 23 Couve 2 145 169 20 9 10 0,19 30 Jerimum 12 12 191,1 32,1 --- 27 0,20 14 Laranja3 70 196 2 14 22 0,80 63 Limão3 61 145 3 12 15 0,70 20 Macaxeira 12 28 343,7 40,6 --- 37 0,30 151 Mamão 13 21 212,1 31,8 --- 26 0,20 45 Melancia 3 8 116 2 11 9 0,24 30 Melão 3 6 271 10 7 10 0,17 36 Pimentão 2 9 177 2 10 19 0,43 20 Repolho 2 47 246 18 15 23 0,59 24 Tomate 3 5 222 9 11 24 0,27 18

FONTES: USDA Nutrient Database for Standard Reference (2004) 1 SBD (2004) 2 alimentos crus 3 alimentos crus e com casca/pele

Page 60: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 54

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A partir da Tabela 5.2 tem-se a contribuição mineral e calórica para cada 100g

dos dezessete alimentos escolhidos como matéria-prima para esta pesquisa. A cada coleta

eram selecionados os alimentos recebidos pelo programa Mesa da Solidariedade para

análise, com isso tinha-se a contribuição teórica destes alimentos.

Por exemplo, no dia 16 de dezembro de 2004 foram recebidos do programa para

análise uma amostra composta por mamão, pimentão, laranja, batata, cenoura, tomate,

chuchu, repolho, limão e couve, totalizando 8,165Kg de resíduos.

Na planilha elaborada a partir da Tabela 5.2, para este caso, tinha-se a

contribuição teórica de nutrientes para 1000g de alimentos, já que foram coletados 10

alimentos neste dia e cada alimento possui X mg do mineral em 100g de alimento.

Feito isto era possível calcular a contribuição teórica destes alimentos

selecionados para cada mineral a ser analisado. A Tabela 5.3 mostra a quantidade de sais

minerais obtidas no dia 16 de dezembro de 2004 a partir da coleta de 10 tipos de resíduos

diferentes.

Tabela 5.3: Contribuição total de cada mineral em 1000g de alimentos coletados no dia 16 de dezembro de 2004.

Mineral mg/1000 g

Sódio 127,8Potássio 2.127,1 Cálcio 410

Magnésio 109 Fósforo 268 Ferro 6,4

Em seguida, calculou-se para cada alimento a quantidade necessária para garantir

contribuição máxima de cada mineral (Tabela 5.3) possível em 1000g de alimentos, a partir

da equação 5.1:

mgQMM

gQTAC*CNgQCA A mg

onde:

QCA = quantidade de cada alimento necessário para compor a amostragem.

CNA= contribuição nutricional de cada mineral em 100g de cada alimento coletado.

QTAC = Quantidade total de alimentos coletados

QMM = Quantidade máxima de mineral em QTAC.

Page 61: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Rea

pro

veit

am

ento

e C

ara

cter

iza

ção

do

s R

esíd

uo

s O

rgâ

nic

os

pro

ven

ien

tes

do

PM

S d

a C

EA

SA

/RN

55

Pri

scil

a V

anin

i D

anta

s de

Med

eiro

s

Dis

sert

açã

o d

e M

estr

ado/P

PG

EQ

/UF

RN

A T

abel

a 5.

4 ex

empl

ific

a um

cál

culo

da

quan

tidad

e ne

cess

ária

de

cada

alim

ento

par

a se

obt

er a

qua

ntid

ade

máx

ima

de c

ada

nutr

ient

e

(Tab

ela

5.3)

pos

síve

l em

100

0g d

e al

imen

tos,

con

form

e da

dos

da c

olet

a do

dia

16

de d

ezem

bro

de 2

004.

Tab

ela

5.4:

Qua

ntid

ade

nece

ssár

ia d

e ca

da a

limen

to p

ara

se e

stim

ar a

con

trib

uiçã

o m

áxim

a de

cad

a nu

trie

nte

poss

ível

em

100

0g d

e al

imen

tos,

co

nfor

me

dado

s da

col

eta

do d

ia 1

6 de

dez

embr

o de

200

4.

Alim

ento

co

leta

doC

a (m

g)Q

te d

e al

imen

top/

Ca

(g)

K(m

g)Q

te d

e al

imen

top/

K (

g)

Na

(mg)

Qte

de

alim

ento

p/ N

a (g

)

Mg

(mg)

Qte

de

alim

ento

p/ M

g (g

)

P(m

g)Q

te d

e al

imen

top/

P (

g)

Fe

(mg)

Q

te d

e al

imen

top/

Fe

(g)

Mam

ão

21

51,2

2 21

2,1

99,7

1 31

,8

248,

82

0 0

26

97,0

1 0,

8 12

5,00

Pim

entã

o 9

21,9

5 17

7 83

,21

2 15

,64

10

91,7

4 19

70

,89

0 0

Lar

anja

70

17

0,73

19

6 92

,14

2 15

,64

14

128,

44

22

82,0

8 1

156,

25

Bat

ata

13

31,7

0 43

7 20

5,44

7

54,7

7 23

21

1,00

55

20

5,22

1

156,

25

Cen

oura

27

65

,85

323

151,

84

35

273,

86

15

137,

61

44

164,

17

1 15

6,25

Tom

ate

5 12

,19

222

104,

36

9 70

,42

11

100,

91

24

89,5

5 0

0

Chu

chu

12

29,2

6 0

0 0

0 0

0 30

11

1,94

0,

6 93

,75

Rep

olho

47

11

4,63

24

6 11

5,65

18

14

0,84

15

13

7,61

23

85

,82

1 15

6,25

Lim

ão

61

148,

78

145

68,1

6 3

23,4

7 12

11

0,09

15

55

,97

1 15

6,25

Cou

ve

145

353,

65

169

79,4

5 20

15

6,49

9

82,5

6 10

37

,31

0 0

TO

TA

L41

01.

000

2127

1.00

012

7,8

1.00

010

91.

000

268

1.00

06,

41.

000

Page 62: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 56

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A partir da Tabela 5.4, tomou-se a maior quantidade calculada para cada alimento

podendo garantir, assim, que esta quantidade contribuiria como fonte de todos os minerais

(cálcio, potássio, sódio, magnésio, fósforo e ferro).

A Tabela 5.5 mostra a quantidade necessária de cada alimento para atender a

quantidade máxima de minerais possíveis na coleta do dia 16 de dezembro de 2004.

Tabela 5.5: Quantidade necessária de cada alimento na amostra do dia 16 de dezembro de 2004.

Alimento coletado Quantidade necessária (g) Mamão 248,82

Pimentão 91,74 Laranja 170,73 Batata 211,00

Cenoura 273,86 Tomate 104,36 Chuchu 111,94 Repolho 140,84 Limão 148,78 Mamão 353,65 TOTAL 1.855,70

Em seguida, foi analisado se a quantidade máxima de minerais conseguida nessa

amostra atendia as necessidades diárias de cada mineral para o provável público-alvo da

pesquisa. De uma forma geral verificou-se que se tivéssemos o dobro da amostra se

conseguiria atingir a necessidade diária da maioria dos minerais para crianças de sete a dez

anos. Diante disto, trabalhou-se sempre com o dobro da amostra calculada.

A Tabela 5.6 apresenta a amostragem definida para a coleta do dia 16 de

dezembro de 2004.

Tabela 5.6: Amostragem realizada no dia 16 de dezembro de 2004.

Alimento coletado Quantidade necessária (g) Mamão 497,64

Pimentão 183,48 Laranja 341,46 Batata 422

Cenoura 547,72 Tomate 208,72 Chuchu 223,88 Repolho 281,68 Limão 297,56 Mamão 707,30 TOTAL 3.711,44

Page 63: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 57

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Todas as amostras foram definidas conforme a amostragem exemplificada

anteriormente. A Tabela 5.7 mostra a composição de todas as amostras utilizadas nesta

pesquisa.

Tabela 5.7: Composição das amostras utilizadas para elaboração do alimento desidratado

AMOSTRA AMOSTRA 01 AMOSTRA 02 AMOSTRA 03 AMOSTRA 04 AMOSTRA 05 Data de coleta 08/09/04 14/09/04 21/09/04 28/09/04 14/10/04

Alimento Kg % Kg % Kg % Kg % Kg % acelga 0,320 8,52 alface 0,041 1,13 0,185 5,50 0,245 12,73 0,100 2,57 batata 0,180 9,35 0,475 12,23

cenoura 0,240 6,44 0,340 10,10 0,550 14,16 0,505 17,15chuchu 0,630 16,85 0,305 9,06 0,290 7,46 0,290 9,85 coentro 0,190 9,87 couve 0,495 14,71 0,400 10,30

jerimum 0,400 10,30 laranja 0,670 18,06 0,510 15,16 0,200 5,15 0,475 16,13limão 0,090 2,67 0,265 13,77

macaxeira mamão 0,660 19,61 0,495 25,71 0,485 16,47melão 1,020 27,45 0,405 12,04 0,200 10,39 0,290 7,46 0,285 9,68

pimentão 0,370 9,93 0,080 2,38 0,170 8,83 0,520 13,38 0,230 7,81 repolho 0415 10,68 0,380 12,90tomate 0,430 11,61 0,295 8,77 0,180 9,35 0,245 6,31 0,295 10,02

TOTAL 3,724 100 3,365 100 1,925 100 3,885 100 2,945 100

AMOSTRA AMOSTRA 06 AMOSTRA 07 AMOSTRA 08 AMOSTRA 09 AMOSTRA 10 Data de coleta 20/10/04 4/11/04 18/11/04 9/12/04 16/12/04

Alimento Kg % Kg % Kg % Kg % Kg % acelgaalface 0,095 3,18 0,165 5,65 0,120 5,77 batata 0,545 0,210 10,10 0,370 12,19

cenoura 0,455 15,24 0,450 15,36 0,180 16,44 0,305 14,66 0,380 12,52chuchu 0,290 9,90 0,215 7,36 0,255 12,26 0,235 7,74 coentro 0,180 6,16 couve 0,150 4,94

jerimum laranja 18,26 0,660 22,53 0,440 15,07 0,200 9,62 0,290 9,56 limão 0,435 14,57 0,080 2,74 0,325 10,71

macaxeira 0,210 7,04 mamão 0,440 14,74 0,470 16,04 0,450 15,41 0,610 29,33 0,500 16,47melão 0,305 10,22 0,270 9,22 0,230 7,88

pimentão 0,240 8,04 0,175 5,97 0,180 6,16 0,180 8,65 0,195 6,43 repolho 0,380 12,97 0,300 10,27 0,340 11,20tomate 0,260 8,71 0,235 8,02 0,200 6,85 0,200 9,62 0,250 8,24

TOTAL 2,985 100 2,930 100 2,920 100 2,080 100 3,035 100

Page 64: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 58

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

5.2.3 – Preparo das amostras

Realizado os cálculos de amostragem, as partes estragadas foram retiradas e a

amostra foi montada. A higienização da amostra consistia de uma pré-lavagem com água

potável seguida de desinfecção por imersão em solução clorada de 200ppm (preparada a

partir de um produto comercial contendo um teor de cloro ativo de 2,0 a 2,5%) por um

período de 15 minutos, sendo posteriormente enxaguada em água potável, conforme

recomendado pela Portaria CVS - 6/99 (BRASIL, 1999). A Figura 5.4 ilustra a amostra

definida, sem partes estragadas e a higienização da mesma.

Figura 5.4. a) Amostra definida a partir da amostragem desenvolvida para a pesquisa b) Higienização da amostra

Amostra “in natura”

Logo após a higienização, a amostra foi fracionada separadamente, por tipo de

alimento (Figura 5.5), sendo pesado aproximadamente 200g de amostra a ser analisada. Esta

pesagem foi baseada na porcentagem em peso de cada alimento contido na amostragem,

conforme a Tabela 5.7. A amostra “in natura” foi processada em um processador doméstico,

transformando-se em uma massa uniforme de consistência pastosa.

a) b)

Page 65: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 59

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Figura 5.5. Amostra fracionada após a higienização

Amostra seca

Após a pesagem da amostra “in natura”, o restante da amostragem, em média

2,700Kg, era distribuída em camadas simples em bandejas de alumínio perfuradas e levada à

secagem em estufa de circulação forçada de ar (Figura 5.6a) à temperatura de 70ºC, por um

período aproximado de 12 horas, estipulado a partir da curva de secagem obtida ilustrada na

Figura 5.7. Após a secagem (Figura 5.6b), a amostra era triturada, sendo armazenada em

vidros rotulados previamente esterilizados (Figura 5.8). Observou-se perdas de material

durante a trituração.

Figura 5.6. a) Processo de secagem da amostra “in natura” em estufa com circulação forçada de ar e b) Aspecto das amostras após a secagem

a) b)

Page 66: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 60

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

tempo (h)

Um

idad

e (

%)

Bandeja 1 Bandeja 2 Bandeja 3

Figura 5.7. Curva de secagem realizada em 05 de maio de 2004 para definir tempo de secagem das amostras.

Figura 5.8. Produto final armazenado em vidro previamente esterilizado e rotulado.

5.2.4 – Métodos Analíticos

5.2.4.1 – Análises físico-químicas e de sais minerais

A caracterização foi feita tanto na amostra “in natura” quanto no produto

desidratado, exceto as análises de sais minerais que foram realizadas somente no produto

desidratado. Todas as análises foram feitas em triplicata para melhor representação dos

resultados.

As análises realizadas foram:

pH: determinado em água na proporção de 1:10, através de um potenciômetro

digital, conforme IAL (1985) com a finalidade de verificar se as amostras encontram-se na

Page 67: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 61

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

faixa de pH limitante (pH > 4,5) onde os microrganismos patogênicos são capazes de se

desenvolver no alimento.

Umidade: determinada pelo método do aquecimento direto segundo IAL

(1985), em uma estufa a 70ºC. A umidade constitui um fator importante para armazenamento

e conservação do produto.

Acidez: determinada pelo método titulométrico de acordo com IAL (1985),

que apresenta a quantidade de ácido nas amostras, expressa como ácido cítrico.

Sólidos Solúveis Totais (ºBrix): determinado através de IAL (1985), mede o

índice dos açúcares totais no produto.

Sais Minerais: Foram realizadas análises para determinação do teor de sais

minerais (cálcio, potássio, sódio, magnésio, fósforo e ferro). Inicialmente a amostra seca

(produto farináceo) foi digerida transformando-se em um extrato vegetal para determinar o

teor dos sais minerais pertinentes. O “produto farináceo” foi digerido através de uma

digestão seca (calcinação) e diluição em HCl 2N conforme método proposto por Neto et al

(1994). As amostras para determinação de cálcio, magnésio e fósforo foram preparadas

seguindo a metodologia recomendada por Malavolta et al (1989) apud Silva (1999) e os

teores de cálcio e magnésio foram medidos através de um espectrofotômetro de absorção

atômica com chama de ar acetileno, com comprimento de onda de 239,9 nm e 202,6 nm,

respectivamente. A concentração de fósforo foi medida em um espectrofotômetro DR-2000

da Hach, com comprimento de onda 420nm. Em se tratando dos teores de potássio, sódio e

ferro, as amostras foram preparadas conforme a recomendação de Neto et al (1994) e seus

teores foram medidos através de um espectrofotômetro de absorção atômica com chama de ar

acetileno, com comprimento de onda de 404,4 nm, 330,2 nm e 248,3 nm, respectivamente.

5.2.4.2 – Poder calorífico

A determinação do valor energético do “produto farináceo” foi realizada pelo

método de calorimetria direta, estimada a partir da formação de uma pastilha com

aproximadamente 1g da amostra e medida sua capacidade calorífica através de uma bomba

calorimétrica.

Inicialmente montou-se o calorímetro, em seguida, após a estabilização térmica do

aparelho, anotou-se a temperatura inicial do experimento. Fez-se a ignição, determinou-se a

variação de temperatura do calorímetro e calculou-se a capacidade calorífica do calorímetro.

Page 68: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 62

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Para determinação do poder calorífico das amostras, fez-se uma pastilha de cada

amostra, colocou-a em contato com o fio metálico (10cm), nos eletrodos da bomba

calorimétrica, garantindo um bom contato elétrico. Montou-se a bomba calorimétrica,

inserindo os anéis de vedação e girando o anel superior de modo que a bomba fique fechada.

Injetou-se oxigênio no interior da bomba calorimétrica em quantidade suficiente para que seja

possível a combustão da amostra, procedendo da seguinte forma: (1) conectou-se a entrada de

gás da bomba ao tubo de oxigênio; (2) abriu-se a válvula de saída da bomba; (3) abriu-se,

lentamente, a válvula de saída do tubo de oxigênio e fez-se circular o gás pela bomba por

alguns segundos; (4) fechou-se a válvula de saída da bomba e observou-se até que a pressão

atinja o valor de 30 atm, fechando em seguida a válvula de saída do tubo de oxigênio.

Desconectou-se a bomba calorimétrica do tubo de oxigênio, fechando a válvula de entrada.

Foi colocado aproximadamente 2L de água no compartimento do calorímetro reservado para

esse fim e mergulhou-se a bomba calorimétrica na água. Fez-se o contato elétrico da bomba

com o dispositivo de ignição, colocou-se o agitador, o termômetro e a tampa.

Por meio dos dados obtidos realizou-se o cálculo da constante da bomba

calorimétrica, tomando-se a massa inicial do fio metálico (m1), massa final do fio metálico

(m2), massa do ácido benzóico (mAC), temperatura inicial do ensaio (T1) e a temperatura final

do ensaio (T2).

Cálculo do calor relativo à queima do ácido benzóico

Utilizou-se o ácido benzóico como padrão para determinação da constante da

bomba calorimétrica, pois o mesmo tem o poder calorífico conhecido. Tomou-se mAC =

0,9949g ácido benzóico. Temos que 1g de ácido benzóico equivale a 6.318 cal, logo 0,9949g

corresponde a 6.285,778 cal (QAC).

Cálculo do calor relativo à queima do fio metálico (QF)

Em seguida calculou-se o calor relativo à queima do fio metálico, onde se utilizou

10 cm de fio, correspondendo a 23 cal e pesando 0,0167g (m1). Após a queima do fio, obteve-

se uma massa final do fio queimado de 0,049g (m2.). 0,0167 g de fio possui 23 cal, logo

0,0118g que corresponde a quantidade de fio queimado (m2.- m1), possui 16,2515 cal.

Cálculo da constante da bomba calorimétrica

Com estes dados calculou-se a constante da bomba calorimétrica, expressa em

cal/ºC, a partir da equação (5.2): 12 TT

QQK FAC , tendo como resultado K = 2.387,132 cal/ºC.

Page 69: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 63

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Cálculo do poder calorífico das amostras (QA)

O poder calorífico das amostras (QA) foi calculado a partir da equação 5.3

FA QTKQ (5.3)

5.2.4.3 – Análises Microbiológicas ,

Para investigar a presença de coliformes totais e Escherichia coli nos produtos

farináceos elaborados foram realizadas análises microbiológicas, através do método de

colilert conforme (APHA, 1995).

Na metodologia de análise utilizada, esterilizou-se a água peptonada 0,1%

utilizada na diluição das amostras e toda vidraria a ser utilizada neste ensaio.

As diluições da amostra foram realizadas em condições assépticas e preparadas

tomando-se 1g da amostra e 130ml de água peptonada (0,1%). Em seguida, a amostra diluída

foi filtrada para remoção dos resíduos obtendo-se deste modo cerca de 100ml de volume

filtrado a partir do qual foram elaboradas as diluições.

Após a obtenção do filtrado, foi adicionado a cada amostra o meio de cultura

(substrato cromogênico) específico para coliformes totais e Escherichia coli. O método

colilert representa uma simplificação da contagem em tubos múltiplos, porém sem perder a

precisão da análise. As amostras foram colocadas em cartelas aluminizadas fornecidas pela

IDDEX e incubadas em uma estufa bacteriológica à 37ºC por 24 horas (Figura 5.9). Após a

incubação foi feita a leitura das amostras para determinação da presença de coliformes totais,

onde os resultados positivos são visualizados a partir da coloração amarela das células e os

negativos a partir da coloração incolor. Em seguida, em presença de lâmpada ultravioleta com

comprimento de onda de 366nm, determinou-se a presença de Escherichia coli visualizada a

partir das células fluorescentes.

Figura 5.9. Cartelas aluminizadas da IDDEX utilizadas nas análises microbiológicas.

Page 70: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Capítulo 6: RESULTADOS e DISCUSSÕES

Page 71: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 64

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

6. Resultados e Discussões

O produto desidratado, a base de vegetais, desenvolvido, não pode ser definido

como uma “multimistura” pois segundo a RDC Nº 53 de 15 de Junho de 2000 que dispõe

sobre o Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de Mistura à Base de

Farelo de Cereais, uma multimistura deve ter farelos torrados de trigo ou de arroz ou de milho

e ou aveia, em quantidade mínima de 70% (g/100g) e pó de folha de mandioca, batata doce,

abóbora e ou chuchu como ingredientes obrigatórios (BRASIL, 2000).

Por se tratar de uma proposta como alternativa para reaproveitamento de resíduos

orgânicos, elaborando um “novo produto” composto por uma mistura de vários alimentos de

origem vegetal, não foi encontrado na literatura nenhuma legislação a qual possa enquadrá-lo.

Apesar do exposto, os resultados obtidos para o produto desidratado foram

comparados com os disponíveis na literatura para a multimistura, pois esta é o alimento, do

ponto de vista da origem e concepção de utilização – reaproveitamento de resíduos, que mais

se assemelha ao novo produto elaborado.

Page 72: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 65

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

6.1 – Análises físico-químicas

Os resultados obtidos para as análises de umidade, pH, acidez e sólidos solúveis,

na amostra “in natura” e no produto “farináceo”, estão apresentados na Tabela 6.1.

Tabela 6.1. Caracterização físico-química das amostras “in natura” e seca.

ANÁLISE UMIDADE pH ACIDEZ S. SOLUVEIS

AMOSTRA DATA DE

COLETA

In

natura

Seca In

natura

Seca In

natura

Seca In

natura

Seca

01 08/09/2004 91,08 5,47 5,28 5,16 0,31 2,68 5,00 29,40

02 14/09/2004 89,34 5,87 5,09 4,57 0,36 2,79 2,47 50,40

03 21/09/2004 90,40 3,48 4,66 4,48 0,64 5,59 4,50 42,00

04 28/09/2004 89,76 5,90 5,29 5,25 0,20 2,09 4,84 42,00

05 14/10/2004 89,48 4,33 5,50 4,66 0,19 2,88 7,50 63,00

06 20/10/2004 85,72 2,97 3,97 3,84 0,63 4,64 7,50 52,50

07 04/11/2004 87,38 6,24 4,84 4,68 0,25 2,20 8,00 59,50

08 18/11/2004 89,00 6,44 4,75 4,49 0,29 2,56 8,00 58,00

09 09/12/2004 88,12 3,77 5,08 4,79 0,21 1,75 7,83 52,50

10 16/12/2004 88,33 4,64 4,00 4,41 0,55 2,90 7,67 42,00

MÉDIA 89,17 5,06 4,96 4,62 0,30 2,73 7,50 51,45

Unidades de medida: Umidade (%) pH (adimensional) Acidez (mg ácido cítrico/100g de amostra) Sólidos solúveis (ºBrix)

Page 73: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 66

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.1 mostra os resultados obtidos para umidade da amostra “in natura” e

do alimento desidratado.

0102030

405060708090

100

Um

idad

e (%

)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

In natura Alimento desidratado

Figura 6.1. Resultados de umidade da amostra “in natura” e do alimento desidratado.

Os resultados dos teores de umidade obtidos para a amostra in natura e para

amostra seca tornam evidente a redução deste parâmetro após o processo de secagem (Figura

6.1). A umidade do produto “farináceo” produzido foi, em média, de 5,06%, estando dentro

do valor recomendado pela legislação para uma mistura a base de farelos, onde, para estar

apta ao consumo deve possuir umidade abaixo de 6,0% (BRASIL, 2000). O alimento

desidratado apresentou melhor resultado referente a umidade que a multimistura

convencional, que segundo Queiroga (1996) é de 7,17%.

Na amostra “in natura” o maior valor obtido para a umidade foi 91,08%, referente

à amostra 01 cuja maior composição era de alimentos que possuem alto teor de umidade.

Foram utilizados 27,45% de melão, 18,06% de laranja, 16,85% de chuchu e 11,61% de

tomate (Tabela 5.7). A amostra “in natura” 06 foi a que apresentou menor valor de umidade,

tendo quantidades equilibradas dos alimentos em sua composição (18,26% de laranja, 14,74%

de mamão, 15,24% de cenoura, 14,57% de limão e 10,22% de melão), além disso, a

macaxeira esteve presente na amostra (7,04%), alimento este com baixo teor de umidade

(Tabela 5.7).

Para o produto desidratado desenvolvido, o maior valor encontrado para a umidade

foi 6,44%, referente à amostra 08, estando um pouco acima da umidade permitida pela

legislação, em se tratando de multimistura, que para estar apta ao consumo humano deve

possuir, no máximo, umidade - 6,0% (BRASIL, 2000).

Page 74: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 67

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

O menor valor obtido referente à umidade do alimento desidratado foi 2,47%

correspondendo, assim como na amostra “in natura”, a amostra 06.

A Figura 6.2 apresenta os resultados obtidos para o pH da amostra “in natura” e

do alimento desidratado.

0

1

2

3

4

5

6

pH

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

In natura Alimento desidratado

Figura 6.2. Resultados de pH da amostra “in natura” e do alimento desidratado.

Analisando-se os valores de pH obtidos para a amostra in natura e para o produto

farináceo observa-se que a secagem pouco influenciou nos resultados, visto que os valores

permaneceram praticamente os mesmos (Figura 6.2). Segundo a literatura (Franco e Landgraf,

1996), em alimentos com valores de pH entre 4,0 e 4,5 há predominância de crescimento de

leveduras, de bolores e de algumas poucas espécies bacterianas, porém a grande maioria dos

patógenos não se multiplica, ao passo que os alimentos com pH>4,5 são os mais sujeitos a

multiplicação microbiana, tanto de espécies patogênicas quanto de espécies deteriorantes..

Diante do exposto, para o produto obtido, necessita-se de cuidados especiais quanto a sua

conservação e manuseio, visto que apresentou um pH, em média, de 4,62.

O maior valor de pH encontrado na amostra “in natura” foi 5,29 referente à

amostra 04. Este resultado foi influenciado pelo pouco uso de frutas cítricas na amostra, sendo

utilizada apenas 5,15% de laranja (Tabela 5.7). O menor valor encontrado na amostra “in

natura” foi 3,97 correspondente à amostra 06, amostra esta que, entre todas as outras,

apresentou a maior quantidade de limão em sua composição (14,57%), utilizando ainda

18,26% de laranja (Tabela 5.7).

Page 75: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 68

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Para o alimento desidratado, os resultados encontrados praticamente não sofreram

alterações, apresentando o maior valor de 5,29 (amostra 04) e o menor de 3,84 (amostra 06),

comprovando, assim, a influencia do uso das frutas cítricas nos resultados de pH.

A Figura 6.3 mostra os resultados obtidos para a acidez da amostra “in natura” e

do alimento desidratado.

0

1

2

3

4

5

6

Acid

ez (

mg

ác

cít

rico

/100g

am

ostr

a)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

In natura Alimento desidratado

Figura 6.3. Resultados de acidez da amostra “in natura” e do alimento desidratado.

Em se tratando de acidez, o alimento desidratado apresentou valores maiores que a

amostra in natura caracterizando-se uma concentração, relacionado à quantidade de ácido

cítrico, após a etapa de secagem. A acidez do produto “farináceo” produzido foi, em média,

2,73 mg de ácido cítrico/100g de amostra.

Na amostra “in natura” o maior valor encontrado para a acidez foi correspondente

à amostra 03 (0,64 mg de ácido cítrico/100g de amostra) e à amostra 06 (0,63 mg de ácido

cítrico/100g de amostra). Verifica-se que a relação entre pH e acidez é inversamente

proporcional, ou seja, quanto menor o pH maior a acidez. As amostras cujos maiores valores

para acidez foram identificados sofreram, novamente, influência do uso de frutas cítricas,

sendo estas as amostras, dentre todas, com maior percentual de limão em sua composição -

amostra 03 (13,77% de limão) e a amostra 06 (14,57% de limão), conforme mostra a Tabela

5.7. O menor valor encontrado para acidez foi 0,19 mg de ácido cítrico/100g de amostra

referente à amostra 05. Este resultado foi influenciado pelo uso de poucas frutas cítricas na

amostra, sendo utilizada apenas 16,13% de laranja. A maior parte da amostra 05 foi composta

por alimentos pouco ácidos tais como: mamão (16,47%), cenoura (17,15%), tomate (10,02%)

e repolho (12,90%), como apresenta a Tabela 5.7.

Page 76: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 69

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

No produto desidratado elaborado o maior valor para a acidez foi encontrado na

amostra 03, cuja composição continha 13,77% de limão (Tabela 5.7), apresentando 5,59 mg

de ácido cítrico/100g de amostra o que demonstrou uma excelente concentração após a

secagem. A amostra 09 apresentou a menor acidez (1,75 mg de ácido cítrico/100g de

amostra), onde em sua composição estavam presentes poucas frutas cítricas, apenas 9,62% de

laranja (Tabela 5.7).

A Figura 6.4 apresenta os resultados obtidos para os sólidos solúveis, da amostra

“in natura” e do alimento desidratado.

0

10

20

30

40

50

60

70

lid

os s

olú

veis

(ºB

rix)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

In natura Alimento desidratado

Figura 6.4. Resultados de sólidos solúveis da amostra “in natura” e do alimento desidratado.

Analisando os sólidos solúveis, o produto desidratado apresentou valores maiores

que a amostra in natura caracterizando-se uma concentração, relacionado à quantidade de

açúcar, após a etapa de secagem. Os sólidos solúveis encontrados no produto “farináceo”

produzido foram, em média, 51,45ºBrix.

Na amostra “in natura” o maior valor correspondente aos sólidos solúveis foi 8,00

ºBrix encontrado nas amostras 07 e 08, ambas obtidas no mês de novembro. As amostras

apresentaram maiores quantidades de mamão, cenoura e laranja em sua composição,

alimentos estes que entre os demais alimentos escolhidos na pesquisa, possuem maior

quantidade de açúcar. A amostra 07 possuía 16,04% de mamão, 22,53% de laranja e 15,36%

de cenoura e a amostra 08 possuía 15,41% de mamão, 15,07% de laranja e 16,44% de cenoura

(Tabela 5.7). A amostra 02 apresentou a menor quantidade de sólidos solúveis, 2,47ºBrix,

devido à utilização equilibrada de alimentos, na composição da amostra o que balanceou a

quantidade de açúcar presente. A amostra 02 foi composta por 19,61% de mamão, 15,16% de

Page 77: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 70

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

laranja, 10,10% de cenoura, 12,04% de melão, 14,71% de couve, 9,06% de chuchu, entre

outras (Tabela 5.7).

No produto desidratado desenvolvido, o maior valor para os sólidos solúveis foi

encontrado na amostra 05 (63,00 ºBrix) o que aponta uma excelente concentração após a

secagem, haja vista que a mesma amostra na forma “in natura” possuía 7,5ºBrix. Utilizou-se

nessa amostra alimentos em quantidades equilibradas de alimentos que possuíam teores mais

elevados de açúcar. Compuseram a amostra 05 o mamão (16,47%), a laranja (16,13%), a

cenoura (17,15%), entre outros (Tabela 5.7). A amostra 01 apresentou a menor quantidade de

sólidos solúveis (29,40ºBrix). Na composição desta amostra não se utilizou mamão, apenas

pequenas quantidades de cenoura (6,44%). A amostra 01 foi composta por pimentão (9,93%),

laranja (18,06%), cenoura (6,44%), tomate (11,61%), chuchu (16,85%), alface (1,13%),

melão (27,45%) e acelga (8,52%), conforme mostra a Tabela 5.7.

6.2 – Análises de Sais Minerais

Os resultados obtidos para os teores de sais minerais no alimento, a base de

vegetais, desidratado estão apresentados na Tabela 6.2.

Tabela 6.2. Caracterização mineral do alimento desidratado.

ANALISE

AMOSTRA DATA DE COLETA

CÁLCIOmg/100g

POTÁSSIOmg/100g

FERROmg/100g

SÓDIOmg/100g

MAGNÉSIOmg/100g

FÓSFOROmg/100g

01 08/09/2004 279,40 2.474,80 7,40 185,30 133,90 289,00

02 14/09/2004 653,90 2.093,90 9,65 282,90 179,4 301,45

03 21/09/2004 280,40 3.527,80 10,65 232,80 273,90 382,50

04 28/09/2004 396,30 2.018,80 6,05 287,05 170,20 239,75

05 14/10/2004 189,55 2.090,00 8,55 462,00 143,75 299,95

06 20/10/2004 222,30 2.097,10 2,75 177,15 127,45 174,40

07 04/11/2004 204,00 1.978,10 5,75 323,25 94,05 240,10

08 18/11/2004 251,40 2.307,55 5,90 379,00 138,65 240,25

09 09/12/2004 170,50 --- 4,00 140,65 165,85 233,40

10 16/12/2004 342,90 --- 3,10 459,80 119,50 295,45

MÉDIA 299,06 2.323,50 6,38 293,00 154,66 269,62

Page 78: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 71

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.5 apresenta os resultados obtidos para o teor de potássio no alimento

desidratado.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

Teo

r d

e P

otá

ssio

(mg

/100g

)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

Figura 6.5. Teor de potássio presente no alimento desidratado.

De acordo com Waitzberg (2002), a necessidade diária de potássio para crianças

de sete a dez anos de idade é de 1.600 mg. No alimento desidratado elaborado, o teor de

potássio encontrado foi, em média, de 2.323,50 mg de potássio/100g de alimento desidratado,

superando em 45,21% a necessidade diária. As amostras 9 e 10, referentes ao mês de

dezembro, apresentaram valores muito maiores do que o esperado, fugindo a realidade do

conjunto de amostras e por isso não foram consideradas para o teor de potássio.

No “produto farináceo” obtido, o maior teor de potássio encontrado foi 3.527,80

mg/100g correspondente à amostra 03. Este resultado foi influenciado pela utilização do

coentro (9,87%) e da batata (9,35%) na composição da amostra (Tabela 5.7), sendo estes os

alimentos que mais contribuem como fonte de potássio dentre todos os escolhidos nesta

pesquisa. Cada 100g de coentro possui 521 mg de potássio e cada 100g de batata possui

437mg de potássio (Tabela 5.2). Esta amostra apresentou um pó produzido com alto teor de

potássio. O menor teor de potássio encontrado foi 1.978,10 mg/100g referente à amostra 07,

cuja composição não apresenta batata nem coentro em sua composição (Tabela 5.7).

Page 79: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 72

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.6 mostra os valores do teor de potássio para multimisturas

convencionais, segundo a literatura, e para o produto desidratado obtido na pesquisa.

637

460,3

7

496,4

547,4

4

2323,5

0

500

1000

1500

2000

2500T

eor

de P

otá

ssio

(m

g/1

00g)

MM1 MM2 MM3 MM4 A.Desidratado

FONTES: MM1 - Multimistura 1 (Santos et al, 2004)

MM2 - Multimistura 2 (ITAL, 1995 apud Santos et al, 2004)

MM3 - Multimistura 3 (Queiroga, 1996)

MM4 - Multimistura 4 (Vizeu et al, 2005)

Figura 6.6. Comparativo do teor de potássio presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado.

Comparando com os dados da literatura (Figura 6.6), verifica-se que o alimento

desidratado apresenta teores de potássio bem mais elevados que as multimisturas

convencionais. A presença de potássio neste alimento beneficiará o seu consumidor visto que

o potássio é um elemento importante que constitui cerca de 5% do conteúdo total de minerais

no organismo. Está envolvido no balanço e distribuição de água, no equilíbrio osmótico, no

equilíbrio ácido-base e na regulação da atividade neuromuscular. Ajuda no armazenamento de

proteínas musculares, na função renal, na contração do músculo do coração e na tonicidade

muscular, promove também o crescimento celular.

Page 80: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 73

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.7 apresenta os resultados obtidos para o teor de cálcio do alimento

desidratado.

0

100

200

300

400

500

600

700

Teo

r d

e C

álc

io (

mg

/100g

)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

Figura 6.7. Teor de cálcio presente no alimento desidratado

A necessidade diária de cálcio para o provável público-alvo desta pesquisa é de

700mg de cálcio (BRASIL, 2005). No alimento desidratado, à base de vegetais, elaborado o

teor de cálcio encontrado foi, em média, de 299,06mg de cálcio/100g de alimento desidratado,

o que equivale a 42,72% da necessidade diária requerida.

No alimento desidratado elaborado, o maior teor de cálcio encontrado foi

653,90mg/100g correspondente à amostra 02, o que equivale a 93,41% da necessidade diária

requerida. A composição dessa amostra inclui a utilização de couve (14,71%) – maior fonte

de cálcio dentre todos os alimentos selecionados para uso, como matéria-prima, desta

pesquisa (Cada 100g de couve contribui com 145mg de cálcio), cenoura (10,10%) e laranja

(15,16%), conforme mostra a Tabela 5.7. Cada 100g de laranja contribui com 70 mg de

cálcio, sendo a segunda melhor fonte de cálcio na pesquisa (Tabela 5.2). O menor teor de

cálcio encontrado foi 170,50 mg/100g referente à amostra 09, onde a maior fonte de cálcio

está representada na utilização de 14,66% de cenoura, cuja cada 100g contribui com 27mg de

cálcio (Tabela 5.2).

Page 81: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 74

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.8 mostra os valores do teor de cálcio para multimisturas convencionais,

encontrados na literatura, e para o produto desidratado obtido na pesquisa.

336

487,4

3

133,2

3

299,0

6

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

Teor

de C

álc

io (

mg/1

00g)

MM1 MM2 MM3 MM4 A.Desidratado

FONTES: MM1 - Multimistura 1 (Santos et al, 2004)

MM2 - Multimistura 2 (ITAL, 1995 apud Santos et al, 2004)

MM3 - Multimistura 3 (Queiroga, 1996)

MM4 - Multimistura 4 (Vizeu et al, 2005)

Figura 6.8. Comparativo do teor de cálcio presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado.

Comparando-se o teor do alimento desidratado elaborado, com os da literatura, a

multimistura convencional é mais rica em cálcio que o produto desidratado, apresentando

teores que variam de 133,23mg a 487,43mg (Figura 6.8). A presença de cálcio nos alimentos

é necessária visto que o mesmo atua na construção de ossos e dentes e na coagulação

sanguínea, além disso, tem também papel fundamental na contração muscular, sendo

necessário para transmissão nervosa e regulação dos batimentos cardíacos. Sua carência no

organismo causa deformidades ósseas como a osteoporose, osteomalácia e raquitismo, além

de convulsões, paralisia muscular e hipertensão.

Page 82: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 75

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.9 apresenta os resultados obtidos para o teor de sódio do alimento

desidratado.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

Teo

r d

e S

ód

io (

mg

/100g

)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

Figura 6.9. Teor de sódio presente no alimento desidratado

De acordo com Waitzberg (2002), a necessidade diária de sódio para crianças de

sete a dez anos de idade é de 400mg e no alimento desidratado elaborado o teor de sódio

encontrado foi, em média, de 293mg/100g, atendendo 73,25% desta necessidade diária.

No alimento desidratado elaborado, o maior teor de sódio encontrado foi

462mg/100g correspondente à amostra 05. A composição dessa amostra inclui o uso de

16,47% de mamão, 17,15% de cenoura e 12,90% de repolho (Tabela 5.7). Cada 100g de

mamão, cenoura e repolho possuem, respectivamente, 31,8mg, 35 mg e 18mg de sódio

(Tabela 5.2). O menor teor de sódio encontrado no alimento desidratado foi 140,65mg/100g

referente à amostra 09. A maior parte da amostra 09 foi composta por mamão (29,33%)

porém utilizou-se ainda 14,66% de cenoura, 12,26% de chuchu, 10,10% de batata e 9,62% de

laranja. Estes últimos contribuem com uma quantidade pequena de sódio, onde cada 100g de

batata possui 7 mg de sódio, o chuchu não influi na quantidade de sódio da amostra e cada

100g de laranja possui apenas 2 mg de sódio (Tabela 5.2).

Page 83: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 76

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.10 apresenta os valores do teor de sódio para multimisturas

convencionais, segundo a literatura, e para o produto desidratado obtido na pesquisa.

6,6 7,4

293

0

50

100

150

200

250

300T

eor

de S

ódio

(m

g/1

00g)

MM1 MM2 MM3 MM4 A.Desidratado

FONTES: MM1 - Multimistura 1 (Santos et al, 2004)

MM2 - Multimistura 2 (ITAL, 1995 apud Santos et al, 2004)

MM3 - Multimistura 3 (Queiroga, 1996)

MM4 - Multimistura 4 (Vizeu et al, 2005)

Figura 6.10. Comparativo do teor de sódio presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado.

Comparando-se o resultado obtido para o alimento desidratado em relação à

quantidade de sódio presente e os dados disponíveis na literatura, para a multimistura

convencional, observou-se que o produto desenvolvido apresentou teores bem mais elevados

(Figura 6.10). O alto teor de sódio encontrado no produto obtido aponta um fator negativo

visto que em se tratando de biodisponibilidade de minerais o cálcio compete com o sódio e no

alimento desidratado elaborado estes minerais apresentaram teores similares.

Page 84: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 77

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.11 mostra os resultados obtidos para o teor de magnésio do alimento

desidratado.

0

50

100

150

200

250

300

Teo

r d

e M

ag

nésio

(m

g/1

00g

)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

Figura 6.11. Teor de magnésio presente no alimento desidratado.

Em se tratando de magnésio, o produto desidratado elaborado apresentou teor de

magnésio, em média, de 154,66mg/ 100g. Avaliando o teor obtido em relação à necessidade

diária, verificou-se que o produto é rico em magnésio, pois supera em 54,66% a necessidade

diária do público-alvo estabelecido que é de 100mg/dia (BRASIL, 2005).

No alimento desidratado elaborado, o maior teor de magnésio encontrado foi

273,90 mg/100g correspondente à amostra 03. Esta amostra apresentou 9,35% de batata,

9,87% de coentro e 12,73% de alface em sua composição (Tabela 5.7). A amostra 03

apresentou o maior teor de magnésio influenciado pelo uso de batata, coentro e alface que

contribuem, entre os alimentos escolhidos, com a maior quantidade de magnésio, sendo

inferior apenas para a acelga. Cada 100g de batata, coentro e alface possuem,

respectivamente, 23mg, 26mg e 13mg de magnésio (Tabela 5.2). O menor teor de magnésio

encontrado foi 94,05 mg/100g referente à amostra 07. Não foi utilizado batata nem coentro na

amostra 07; a maior parte da amostra foi composta por laranja (22,53%), cenoura (15,36%) e

mamão (16,04%). Entre estes alimentos o mamão não é fonte de magnésio e em se tratando

de laranja e cenoura a contribuição é pequena onde cada 100g de laranja e cenoura possuem

14mg e 15mg, respectivamente (Tabela 5.2).

Page 85: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 78

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.12 apresenta os valores do teor de magnésio para multimisturas

convencionais, encontrados na literatura, e para o produto desidratado obtido na pesquisa.

221

130,6

7

177,6

168,2

3

154,6

6

0

50

100

150

200

250T

eor

de M

agnésio

(m

g/1

00g)

MM1 MM2 MM3 MM4 A.Desidratado

FONTES: MM1 - Multimistura 1 (Santos et al, 2004)

MM2 - Multimistura 2 (ITAL, 1995 apud Santos et al, 2004)

MM3 - Multimistura 3 (Queiroga, 1996)

MM4 - Multimistura 4 (Vizeu et al, 2005)

Figura 6.12. Comparativo do teor de magnésio presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado.

Comparando-se o teor de magnésio obtido para o produto “farináceo” com o da

literatura (Figura 6.12), a multimistura convencional é um pouco mais rica em magnésio,

apresentando teores que variam de 130,67mg a 221,00mg.

Um alimento rico em magnésio será beneficiado partindo-se do princípio que o

magnésio intervém para regular a atividade de mais de 300 reações enzimáticas, está

envolvido na formação de ossos e dentes, no funcionamento do sistema nervoso e dos

músculos, na síntese dos ácidos graxos e proteínas, entre outras. A ausência de magnésio no

organismo humano provoca perda de apetite, náusea, vômitos, sonolência, tremores,

taquicardia, arritmia, anormalidade na função nervosa, etc.

Page 86: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 79

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.13 apresenta os resultados obtidos para o teor de fósforo do alimento

desidratado.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Te

or

de

sfo

ro (

mg

/10

0g

)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

Figura 6.13. Teor de fósforo presente no alimento desidratado.

Segundo a legislação, a necessidade diária de fósforo para crianças de sete a dez

anos de idade é de 1.250mg (BRASIL, 2005). No alimento desidratado elaborado o teor de

fósforo encontrado foi, em média, de 269,62 mg de fósforo/100g de alimento, equivalendo a

21,56% da quantidade diária requerida.

No alimento desidratado elaborado, o maior teor de fósforo foi 382,50 mg de

fósforo/100g de alimento, correspondente à amostra 03. Este resultado foi influenciado pela

presença da batata (9,35%) e do coentro (9,87%) na composição da amostra 03 (Tabela 5.7),

sendo estes os alimentos que mais contribuem como fonte de fósforo dentre todos os

escolhidos nesta pesquisa. Cada 100g de batata possui 55mg de fósforo e cada 100g de

coentro possui 48mg de fósforo (Tabela 5.2). O menor teor de fósforo encontrado foi 174,40

mg de fósforo/100g de alimento, referente à amostra 06. Nesta amostra, não se utilizou batata

nem coentro. A maior parte da amostra foi composta de laranja (18,26%) onde cada 100g

desta fruta possui, apenas, 22mg de fósforo (Tabela 5.2).

Page 87: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 80

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.14 apresenta os valores do teor de fósforo para multimisturas

convencionais, segundo a literatura, e para o produto desidratado obtido na pesquisa.

536

396,4

2

475

412,3

6

269,6

2

0

100

200

300

400

500

600T

eor

de F

ósfo

ro (

mg/1

00g)

MM1 MM2 MM3 MM4 A.Desidratado

FONTES: MM1 - Multimistura 1 (Santos et al, 2004)

MM2 - Multimistura 2 (ITAL, 1995 apud Santos et al, 2004)

MM3 - Multimistura 3 (Queiroga, 1996)

MM4 - Multimistura 4 (Vizeu et al, 2005)

Figura 6.14. Comparativo do teor de fósforo presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado.

O teor de fósforo presente no alimento, a base de vegetais, desidratado encontra-se

abaixo do teor apresentado na literatura para a multimistura convencional que chega a 536mg

de fósforo (Figura 6.14). A presença de fósforo neste novo produto beneficiará o seu

consumidor haja vista que o fósforo integra a estrutura dos ossos e dentes dos seres humanos,

atua na contração muscular e participa ativamente no metabolismo dos carboidratos. A

deficiência de fósforo no organismo dos seres humanos provoca dor óssea, osteomalácia,

hipoparatireoidismo, resistência à insulina, acidose metabólica, delírio, perda de memória,

taquicardia, dores musculares, entre outros.

Page 88: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 81

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.15 mostra os resultados obtidos para o teor de ferro do alimento

desidratado.

0

2

4

6

8

10

12

Teo

r d

e F

err

o (

mg

/100g

)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M

Amostras

Figura 6.15. Teor de ferro presente no alimento desidratado.

O produto desidratado elaborado apresentou teor de ferro, em média, de 6,38mg de

ferro/100g, correspondendo a 70,88% da necessidade diária do público-alvo estabelecido que

é de 9 mg de ferro (BRASIL, 2005). Este resultado é de grande importância visto que a

maioria das fontes de ferro são de origem animal equivalendo a um custo maior para

aquisição, e com o desenvolvimento desta pesquisa conseguiu-se obter um produto

desidratado, de origem vegetal rico em ferro.

No alimento desidratado elaborado, o maior teor de ferro encontrado foi 10,65 mg

de ferro/100g do alimento, correspondente à amostra 03. A composição dessa amostra inclui o

uso de 9,87% de coentro e 12,73% de alface (Tabela 5.7), maiores fontes de ferro entre os

alimentos escolhidos, onde cada 100g de coentro possui 1,77mg de ferro e cada 100g de

alface possui 1,24mg de ferro conforme mostra a Tabela 5.2. O menor teor de ferro

encontrado foi 2,75 mg de ferro/100g de alimento, referente à amostra 06. A maior parte da

amostra foi composta por laranja (18,26%), utilizando-se ainda 3,18% de alface (Tabela 5.7).

Cada 100g de laranja contribui com 0,80mg de ferro (Tabela 5.2).

Page 89: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 82

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

A Figura 6.16 apresenta os valores do teor de ferro para multimisturas

convencionais, encontrados na literatura, e para o produto desidratado obtido na pesquisa.

7,5

9

4,2

3

4,5

3,7

8

6,3

8

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Teor

de F

err

o (

mg/1

00g)

MM1 MM2 MM3 MM4 A.Desidratado

FONTES: MM1 - Multimistura 1 (Santos et al, 2004)

MM2 - Multimistura 2 (ITAL, 1995 apud Santos et al, 2004)

MM3 - Multimistura 3 (Queiroga, 1996)

MM4 - Multimistura 4 (Vizeu et al, 2005)

Figura 6.16. Comparativo do teor de ferro presente em multimisturas convencionais e no

alimento desidratado elaborado.

O teor de ferro presente no alimento, a base de vegetais, desidratado está acima do

teor de ferro da maioria das multimisturas convencionais encontradas na literatura, que é de

4,5mg (Figura 6.16). Um alimento rico em ferro é importante visto que este mineral está

envolvido na função imunológica e é essencial para formação e transporte da hemoglobina,

tendo um papel fundamental no transporte respiratório de oxigênio e gás carbônico. A

carência de ferro causa anemia, dor de cabeça, fadiga, baixa resistência a infecções, entre

outros. Além disso, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 2 milhões e

150 mil crianças na idade pré-escolar estão em risco de deficiência de ferro, com reflexos no

desenvolvimento mental, incluindo apatia, irritabilidade, redução de capacidade de

concentração e do aprendizado (Cozzolino, 2005).

Page 90: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 83

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

Por fim, a figura 6.17 mostra um resumo do comportamento dos sais minerais

presentes no alimento desidratado, à base de vegetais, desenvolvido em relação à necessidade

diária requerida para crianças de sete a dez anos (Tabela 5.1), provável público-alvo desta

pesquisa.

2323,5

0

1600

269,6

2

1250

299,0

6

700 2

93,0

0

400

154,6

6

100

6,3

8

9

0,00

500,00

1000,00

1500,00

2000,00

2500,00

(mg

/100g

) e (

mg

/dia

)

Potássio Fósforo Calcio Sódio Magnesio Ferro

Alimento Desidratado Necessidade diaria

Figura 6.17. Comparação entre os sais minerais encontrados em 100 g de alimento desidratado e a necessidade diária de sais minerais para crianças de sete a dez anos.

Page 91: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Rea

pro

veit

am

ento

e C

ara

cter

iza

ção

do

s R

esíd

uo

s O

rgâ

nic

os

pro

ven

ien

tes

do

PM

S d

a C

EA

SA

/RN

84

Pri

scil

a V

anin

i D

anta

s de

Med

eiro

s

D

isse

rtaçã

o d

e M

estr

ado/P

PG

EQ

/UF

RN

6.3

– P

oder

cal

oríf

ico

Os

resu

ltado

s do

pod

er c

alor

ífic

o do

alim

ento

alte

rnat

ivo

dese

nvol

vido

est

ão a

pres

enta

dos

na T

abel

a 6.

3.

Tab

ela

6.3

– R

esul

tado

s de

pod

er c

alor

ífic

o da

s am

ostr

as (

QA)

AM

OST

RA

mA (

g)

m1

(g)

m2

(g)

T1

(ºC

) T

2 (º

C)

QF (

cal)

Q

A (

cal)

Q

A (

cal/g

) Q

A (

Kca

l/g)

QA (

KJ/

g)

08/0

9/20

04

0,99

90

0,01

67

0,00

21

28,8

0 30

,36

20,1

077

3.70

3,81

3.

707,

52

3,70

7 15

,569

14/0

9/20

04

0,82

33

0,01

67

0,00

45

30,1

2 31

,40

16,8

023

3.03

8,72

3.

690,

91

3,69

0 15

,498

21/0

9/20

04

0,85

68

0,01

67

0,00

42

30,3

5 31

,50

17,2

155

2.72

9,13

3.

185,

26

3,18

5 13

,377

28/0

9/20

04

0,90

19

0,01

67

0,00

24

30,2

7 31

,70

16,6

946

3.39

3,90

3.

763,

06

3,76

3 15

,804

14/1

0/20

04

0,99

20

0,01

67

0,00

81

29,7

0 31

,20

11,8

443

3.56

8,85

3.

597,

63

3,59

7 15

,107

20/1

0/20

04

0,81

38

0,01

67

0,00

25

30,2

0 31

,42

19,5

568

2.89

2,74

3.

554,

61

3,55

4 14

,926

04/1

1/20

04

0,98

36

0,01

67

0,00

29

30,2

0 31

,68

19,0

059

3.51

3,94

3.

572,

53

3,57

2 15

,002

18/1

1/20

04

0,94

56

0,01

67

0,00

27

29,6

8 31

,10

19,2

814

3.37

0,44

3.

564,

34

3,56

4 14

,968

09/1

2/20

04

0,91

18

0,01

67

0,00

22

30,3

4 31

,72

19,9

700

3.27

4,27

3.

590,

99

3,59

0 15

,078

16/1

2/20

04

0,92

35

0,01

67

0,00

25

29,8

5 31

,40

19,5

568

3.68

0,49

3.

985,

37

3,98

5 16

,737

M

ED

IA

3.69

1,22

3,

691

15,5

02

Page 92: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 85

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

De acordo com a literatura (BRASIL, 2003), a quantidade média de energia que

uma pessoa necessita em sua dieta é de 2000Kcal/dia ou 8400KJ/dia. O alimento desidratado

desenvolvido nesta pesquisa apresentou, em média, 3,691Kcal/g (15,502KJ/g),

correspondendo a 0,18% da necessidade energética diária e estando com seu valor calórico

bem abaixo da multimistura convencional que, segundo Queiroga (1996) é 351,9 Kcal/g

(1477,98KJ/g).

A amostra 10 obteve o maior valor calórico correspondendo a 3,985Kcal/g

(16,737KJ/g) e sendo composta por 16,47% de mamão, 12,19% de batata, 12,52% de

cenoura, 10,71% de limão e 11,20% de repolho (Tabela 5.7). Este resultado foi influenciado

pela presença da batata cujo 100g do alimento possui 77 calorias. No mamão, cenoura, limão

e repolho, cada 100g possui 45, 41, 20 e 24 calorias, respectivamente (Tabela 5.2).

A quantidade mais baixa de calorias encontrada foi de 3,185Kcal/g (15,498KJ/g)

referente à amostra 03 cuja composição foi 25,71% de mamão, 9,35% de batata, 9,87% de

coentro, 9,35% de tomate e 12,73% de alface (Tabela 5.7). No coentro, tomate e alface, cada

100g possui 23, 18 e 13 calorias, respectivamente (Tabela 5.2). Apesar desta amostra também

conter batata, que possui o maior valor calórico, a maioria da amostra foi composta por

alimentos que contém poucas calorias.

6.4 – Composição do alimento, à base de vegetais, desidratado

Durante a realização da pesquisa, processou-se em média 2,970 Kg de amostra “in

natura” resultando em 202,4g de alimento desidratado, em cada coleta realizada.

Analisando-se as amostras coletadas individualmente, verifica-se o destaque para

duas delas: a) A amostra 06, coletada no dia 20 de outubro de 2004, composta por 14,74% de

mamão, 8,04% de pimentão, 18,26% de laranja, 15,24% de cenoura, 8,71% de tomate, 3,18%

de alface, 10,22% de melão, 7,04% de macaxeira e 14,57% de limão cujo alimento

desidratado apresentou os melhores aspectos quanto à sua conservação, pois apresentou

menor umidade, menor pH e a segunda maior acidez entre todas as amostras, o que dificulta o

crescimento dos microrganismos e b) a amostra 03, coletada no dia 21 de setembro de 2004,

composta por 25,71% de mamão, 8,83% de pimentão, 9,35% de batata, 9,87% de coentro,

9,35% de tomate, 12,73% de alface, 10,39% de melão e 13,77% de limão cujo alimento

Page 93: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 86

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

desidratado produzido apresentou maiores teores de magnésio, fósforo e ferro (Tabela 6.2) e a

menor quantidade de calorias (Tabela 6.3).

Em se tratando de recomendação de ingestão diária do alimento desidratado como

complemento mineral, nada se pode afirmar, pois existem poucos dados e trabalhos

científicos sobre o assunto na literatura. Além disso, faz-se necessário a realização de outros

estudos, inclusive bioensaios, para avaliar a eficácia do novo produto. Para multimistura, os

idealizadores da mesma (Dra. Clara Takaki Brandão e Dr. Rubens Franco Brandão)

recomendam a ingestão de uma porção de 5 gramas por dia para crianças de até 5 anos (Vizeu

et al, 2005).

Faz-se necessário um estudo mais aprofundado para que seja definida uma amostra

padrão para composição do alimento à base de vegetais desidratado, visto que o mesmo é

proveniente de resíduos orgânicos do Programa Mesa da Solidariedade da CEASA/RN, que

por sua vez possui uma grande diversidade de resíduos, dependendo do grau de maturação das

frutas e hortaliças, safra, sazonalidade, doação dos permissionários, etc.

O mais relevante neste trabalho foi poder observar que alimentos que atualmente

são desperdiçados podem ser transformados em um produto desidratado, a base de vegetais,

que se comprovado a sua eficácia quanto a biodisponibilidade dos minerais presentes, dentre

outros fatores, possa ser utilizado como complemento mineral e auxiliar no combate a

desnutrição.

Page 94: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 87

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

6.5 – Análises microbiológicas

A possibilidade de desenvolvimento de um novo produto, nesta pesquisa, torna a

avaliação microbiológica de grande importância, uma vez que a presença de contaminantes

interfere na qualidade do produto final, na sua vida útil e no risco a saúde o consumidor.

Tabela 6.4. Avaliação da quantidade de coliformes totais e E.coli presentes no alimento desidratado.

AMOSTRA Coliformes totais Escherichia coli

08/09/2004 Ausente Ausente

14/09/2004 Ausente Ausente

21/09/2004 Ausente Ausente

28/09/2004 Ausente Ausente

14/10/2004 Ausente Ausente

20/10/2004 Ausente Ausente

04/11/2004 Ausente Ausente

18/11/2004 Ausente Ausente

09/12/2004 Ausente Ausente

16/12/2004 Ausente Ausente

Nas análises microbiológicas realizadas nas amostras do alimento desidratado

elaborado, não se verificou a presença de coliformes totais e Escherichia coli, comprovando

que houve uma manipulação correta durante o processamento do produto.

Outro fator que favorece a ausência de contaminantes no produto elaborado foi à

tecnologia utilizada para desidratação do alimento a base de vegetais, a secagem, que tem

como outros objetivos, eliminar microrganismos.

Page 95: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Capítulo 7: CONCLUSÕES e SUGESTÕES

Page 96: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 88

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

7. Conclusões e Sugestões

7.1 – Conclusões

Os resultados encontrados nesta pesquisa apontam para o reaproveitamento dos

resíduos sólidos de origem vegetal gerados pela Central de Abastecimento do Rio Grande do

Norte – CEASA/RN, através do Programa MESA DA SOLIDARIEDADE, sendo possível e

útil para a formulação de um alimento desidratado, à base de vegetais, que possa vir a servir

como complementação mineral na alimentação humana.

O alimento desidratado desenvolvido a partir dos resíduos do descarte do

programa MESA DA SOLIDARIEDADE apresentou características satisfatórias quanto à sua

conservação.

O alimento desidratado possui baixas calorias, constitui-se de uma excelente fonte

de potássio, magnésio, sódio e ferro e uma fonte considerável de cálcio, podendo vir a ser

utilizado como complemento alimentar desses sais minerais.

O processo de desinfecção e secagem dos alimentos foram eficientes pois não foi

detectado nenhum contaminante de origem fecal no produto final.

A composição definida para elaboração do alimento alternativo é feita a partir de

alimentos simples, constituídos basicamente de frutas e verduras, algumas delas bastante

perecíveis e que podem ser encontradas facilmente no mercado local.

Esta pesquisa constitui-se de um marco inicial e importante para as áreas de

tecnologia de alimentos e engenharia ambiental, pois congrega ações que podem levar a

elaboração de um “novo produto” rico em minerais, reduzindo assim, o desperdício de

alimentos, evitando que todo o “resíduo orgânico” gerado atualmente continue sendo

destinado a “lixões” ou aterros sanitários e contribuindo para uma melhor qualidade de vida

de seus futuros consumidores.

Page 97: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 89

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

7.2 – Sugestões

Como sugestão para aprimoramento da pesquisa desenvolvida apontamos os

seguintes tópicos:

Estudo e otimização do processo de secagem, modificando-se as condições

operacionais de forma a se obter a máxima eficiência de produção, com preservação da

qualidade do produto.

Estudo sobre o tipo de embalagem a ser utilizada.

Realização do estudo de vida de prateleira e avaliação sensorial do alimento

desidratado, à base de vegetais.

Análises para determinação da quantidade de fibras, proteínas, lipídios,

carboidratos e vitaminas do alimento desidratado desenvolvido.

Controle microbiológico completo para melhor controle de conservação,

condições higiênico-sanitárias e aptidão para consumo humano do produto.

Estudo sobre a viabilidade econômica para elaboração deste novo produto.

Estudo da biodisponibilidade dos sais minerais.

Análise dos fatores antinutricionais que possam existir no alimento

desidratado.

Definição de uma composição padrão para elaboração do alimento

desidratado, à base de vegetais.

Realização de bioensaios e a partir dos resultados obtidos realizar uma análise

e aplicação do produto “in loco”, em creches e escolas, para acompanhamento da eficiência

do alimento desidratado como complemento mineral para o público-alvo estabelecido.

Page 98: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Capítulo 8: REFERÊNCIAS

Page 99: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 90

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

8. Referências

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Disponível em: <<

9Hhttp://www.abes-dn.org.br>>. Acesso em: 27/06/2004

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Resíduos sólidos:

classificação. NBR – 10004. Rio de Janeiro: 1987.

ABRACEN – Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento. Disponível em:

<<http://www.abracen.org.br>>. Acesso em 10/10/2003.

ANDRADE, E.C.B.; BARROS, A.M.; TAKASE, I. Avaliação da solubilidade de cobre e

zinco em caldos de leguminosas. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.23, n.3,

p. 386-388, 2003.

ANDRADE, J.B.L. de; SCHALCH, V. Características físicas e químicas dos resíduos de

serviços de saúde gerados em um estabelecimento hospitalar de grande porte. In:

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 19º,

1997, Foz de Iguaçu. Rio de Janeiro: ABES, 1997.

ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em:

<<http://www.anvisa.gov.br>>. Acesso em 09/11/2005.

APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard Methods for the

Examination of Water and Wastewater. 19ª ed. Washington: APHA, 1995. 1155p.

AZEVEDO, M.de A; BOHNENBERGER, J.C. Diretrizes para a gestão de resíduos sólidos

gerados nas centrais de abastecimento de Minas Gerais – CEASA/MG. In: CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 20º, 1999, Rio de

Janeiro. Rio de Janeiro: ABES, 1999.

BEAUSSET, I. Estudio de las bases cientificas para el uso de alimentos alternativos en la

nutrición humana. Brasília :INAN, 1992. 92p.

Page 100: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 91

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

BELITZ, H. D.; GROSCH, W. Química de los alimentos. 2ed. Zaragoza: Acribia, 2000,

1087p.

BENINCASA, M; LUCAS JR, J. de. Caracterização do lixo da CEASA como substrato para

biodigestão anaeróbia. Energia na agricultura, Botucatu, v.15, n.1,p-27-36, 2000.

BITTENCOURT, S.A. Uma alternativa para política nutricional brasileira? Cadernos de

Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.14, n.13, p.629-636, 1998.

BOAVENTURA, G.T.; CHIAPINNI, C.C.J.; ASSIS FERNANDES, N.R.; OLIVEIRA, B.M.

Avaliação da qualidade protéica de uma dieta estabelecida em Quissamã, Rio de Janeiro,

adicionada ou não de multimistura e de pó de folha de mandioca. Revista de Nutrição,

Campinas, v.13, n.3, p. 201-209, 2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Atenção

Básica. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Manual Operacional Programa Nacional de

Suplementação de Ferro. Brasília-DF. 2005.

BRASIL. Portaria CVS – 6/99, de 10 de março 1999. Regulamento Técnico sobre os

Parâmetros e Critérios para o Controle Higiênico-Sanitário em Estabelecimentos de

Alimentos.

BRASIL. Resolução RDC – Nº 269, de 22 de setembro de 2005. Regulamento Técnico sobre

a Ingestão Diária Recomendada (IDR) de proteína, vitaminas e minerais. ANVISA -

Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de 23 de setembro de 2005.

BRASIL. Resolução ANVISA/MS – Nº 53, de 15 de junho de 2000. Regulamento Técnico

para Fixação de Identidade e Qualidade de Mistura à Base de Farelo de Cereais. Diário

Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 14 de junho de 2000. Seção 1, pt.1.

Page 101: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 92

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

BRASIL. Resolução RDC – Nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento Técnico sobre

Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados. ANVISA - Agência Nacional de

Vigilância Sanitária, de 26 de dezembro de 2003.

BROLLO, M.J; SILVA, M.M. Política e gestão ambiental em resíduos sólidos. Revisão e

análise sobre a atual situação no Brasil. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE

ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 21º, 2001, João Pessoa. Rio de Janeiro:

ABES, 2001.

BUENO, F.S. Grande dicionário etimológico – prosódico da língua portuguesa. São Paulo,

editora Lisa S/A, v.5. 1968. 184p.

CAMARA, F.S. Multimistura: composição química, fatores tóxicos e/ou antinutricionais.

1996. 64f. Dissertação (Mestrado em Ciências e Tecnologia de Alimentos) – Centro de

Tecnologia. Universidade Federal da Paraíba.

CAMPANI, D.B. Estudo da viabilidade de tratamento por fermentação láctica de resíduos

folhosos da CEASA-RS de Porto Alegre. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE

ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 22º, 2003, Joinvile. Rio de Janeiro:

ABES, 2003.

CEAGESP – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo. Disponível em:

<<10Hhttp://www.ceagesp.com.br/>>. Acesso em: 01/10/2003.

CEASA/RN – Central de Abastecimento do Rio Grande do Norte. Disponível em:

<<11Hhttp://www.ceasa.rn.gov.br>>. Acesso em: 01/10/2003.

CFN – Conselho Federal de Nutrição. Disponível em:

<<12H13Hhttp://www.cfn.org.br/revista/revista6/nutricao.htm>>. Acesso em: 11/08/2004.

CHAVES, T.R. Desenvolvimento de um sistema especialista para utilização no

gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos. 2002. 115f. Tese (Doutorado em

Engenharia Química) – Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia Química.

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Universidade Federal do Rio

Grande do Norte.

Page 102: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 93

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

CONCEIÇÃO, A.da. Caracterização de constituintes nutricionais e antinutricionais do

resíduo industrial de laranja (Citrus sinensis L.Osbeck) cv. Hamlim submetido a

diferentes tipos de secagens. 1998. 136f. Dissertação (Mestrado em Ciências dos

Alimentos). Universidade Federal de Lavras.

COZZOLINO, S.M.F. Biodisponibilidade de nutrientes. São Paulo: Manole. 2005. 878p.

CRUESS, W.V. Produtos industriais de frutas e hortaliças. Vol1. São Paulo: Edgar Blucher

Ltda. São Paulo, 1973. 320p

DA MATA, A.L.M.L., LIMA, M.F.M. Produção de alimentos desidratados utilizando

secagem em leito de jorro. – Relatório de pesquisa, Natal, 1999.

D´ALMEIDA, M.L.O. VILHENA, A. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado.

2ªed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000. – (publicações IPT 2622), 363p.

DAMASCENO, G.M.G. Desenvolvimento de um calorímetro de combustão com registro

gráfico e sua aplicação em produtos de interesse regional. 1992. 83f. Dissertação

(Mestrado em Engenharia Química) – Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia

Química. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Universidade Federal do

Rio Grande do Norte.

DAROLT, M.R.; DAVANSO, S.M.; LUZ, G.O.F.; MIRANDA, T.L.G.; PENTEADO, P.;

PUCCI, A.; RAMINA, R.H.; TREVISAN, E. Percepções sociológicas de rotas do lixo

reciclado em Curitiba – PR. In: JORNADAS CIENTÍFICAS SOBRE MEIO AMBIENTE,

II. Resumos. Curitiba: UFPR-NIMAD/Grupo Montevideo/UNESCO, 1996.

DIAS, M.C. Comida jogada fora – matéria publicada no Correio Brasiliense em 31 de agosto

de 2003. Disponível em: <<14Hhttp://www.consciencia.net/2003/09/06/comida.html>>

DUTRA DE OLIVEIRA, J.E; MARCHINI, J.S. Ciências nutricionais. São Paulo: Sarvier,

1998. 403 p.

EVANGELISTA, J.Tecnologia de alimentos. 2ªed. Rio de Janeiro: Ed.Atheneu. 2000. 652p.

Page 103: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 94

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

FLORES, H., CAMPOS, F.A.C.S., SILVA, M.B.M., LINS, M.H.C.B. Enriquecimento de

alimentos: presente e futuro. Boletim da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de

Alimentos, Campinas, v. 30, n. 1, p. 49 - 55, 1998.

FONSECA, E. Iniciação ao Estudo dos Resíduos Sólidos e da Limpeza Urbana: A União.

1999. 122p.

FRANÇA, V.C., CUNHA, P.H., SANTIAGO, A.M. Caracterização da farinha de resíduos de

frutas (abacaxi, laranja e maracujá). In: XIX Congresso Brasileiro de Tecnologia e

Ciência de Alimentos - CBTCA, 2004, Recife-PE. Anais do CBCTA. Recife: CBCTA,

2004

FRANCO, G. Tabela de composição química dos alimentos. 9 ed. Rio de Janeiro: Atheneu,

1995. 307p.

FRANCO, B.D.G.M, LANDGRAF, M. Microbiologia de alimentos. São Paulo: Ed.Atheneu.

1996. 182p.

GARCIA, S.R.M.C. Utilização tecnológica de subprodutos da industria de vegetais. 2002.

80f. Dissertação (Mestrado em Ciência e tecnologia dos alimentos) – Departamento de

Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

GASPARETO, O.C.P.. Manga espada: produção de geléia a partir da polpa e

aproveitamento do bagaço para o enriquecimento de farinhas. 1999. 76f. Dissertação

(Mestrado em Engenharia Química) – Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia

Química. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Universidade Federal do

Rio Grande do Norte.

HARPER, H.A. Manual de química fisiológica. 3ªed., São Paulo: Ed.Atheneu, cap 19, 424-

446. 1973.

HOLDEN, J.M. Assement of the quality of data in nutritional databases. Boletim da

Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 31, n. 2, p. 105-

108, 1997.

Page 104: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 95

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

HONORATO, G.C. Secagem de cefalotórax do camarão (Peneaus vannamei) para a

produção de concentrado protéico. 2002. 95f. Dissertação (Mestrado em Engenharia

Química) – Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia Química. Programa de

Pós-Graduação em Engenharia Química. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

IAL - INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz – Métodos

Químicos e Físicos para Análise de Alimentos. São Paulo: O Instituto, v.1, 1985, 316p.

KLAFKE, G.J. Projeto piloto de beneficiamento industrial de resíduos sólidos gerados na

CEASA/POA. 2002. 79f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) Escola de

Engenharia Mecânica. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

KONDOGEORGOS, D.E. Análise microbiológica de ração alternativa produzida a partir de

resíduos alimentícios domiciliares. 2000. 86f. Dissertação (Mestrado em Engenharia

Hidráulica e Saneamento) – Departamento de Hidráulica e Saneamento. Escola de

Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo.

LEITE, V.D., SOUSA, J.T. de., PRASAD, S., LOPES, W.S., ATHAYDE JUNIOR, G.B.,

DANTAS, A.M.M. Tratamento de resíduos sólidos de centrais de abastecimento e feiras

livres em reator anaeróbio de batelada. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e

Ambiental, Campina Grande, v.7, n.2, p. 318-322, 2003.

LIMA, L.M.O. Estudo do aproveitamento de bagaço de frutas tropicais, visando à extração

de fibras. 2001. 108f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) – Centro de

Tecnologia, Departamento de Engenharia Química. Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Química. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

LOBO, A.S, TRAMONTE, V.L.C. Efeitos da suplementação e da fortificação de alimentos

sobre a biodisponibilidade de minerais. Revista de nutrição, Campinas, v.17, n.1, p. 107-

113, 2004.

Page 105: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 96

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

LUNA, M.L.D. de.; LEITE, V.D.; PRASAD, S.; LOPES, W.S.; SILVA, J.V.N.S.

Comportamento de macronutrientes em reator anaeróbio compartimentado tratando

resíduos sólidos orgânicos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA

SANITÁRIA E AMBIENTAL, 22º, 2003, Joinvile. Rio de Janeiro: ABES, 2003.

MADRUGA, M.S.; SANTOS, H.B.; BION, F.M.; ANTUNES, N.L.M. Avaliação nutricional

de uma dieta suplementada com multimistura: estudo em ratos. Ciência e Tecnologia de

Alimentos, Campinas, v.24, n.1, p. 129-133, 2004.

MANGUEIRA, T.F.B; TRAVASSOS, A.E.R.; FLOREZE, R.; MEDEIROS, R.S. Adição de

ferro ao leite e sua retenção na coalhada dessorada. Ciência e Tecnologia de Alimentos,

Campinas, v.22, n.3, p. 305-307, 2002.

MMA – Ministério do Meio Ambiente/ IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

Consumo sustentável: manual de educação. Brasília:

Consumers/International/MMA/IDEC, 2002, 144p.

MONTEIRO, J.H.P. Manual de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Rio de

Janeiro.IBAM, 2001. Disponível em: <<15Hhttp://www.resol.com.br/cartilha4/manual.pdf >>.

Acesso em: 10/05/2003.

NETO, E.B.; ANDRADE, A.G de; BARRETO, L.P. Análise química de tecidos e produtos

vegetais. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 1994. 80p.

OLIVEIRA, J.F.de. Guia Pedagógico do Lixo. Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria

de Planejamento Ambiental Estratégico E Educação Ambiental. São Paulo: SMA.

Reimpressão revista e atualizada – 2003. 100p.

Organização Não Governamental BANCO DE ALIMENTOS. Disponível em:

<< 16Hhttp://www.bancodealimentos.org.br/porque/dados_fome.htm>> Acesso em:

13/08/2004.

Page 106: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 97

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

PEDROSA, L.F.C.; COZZOLINO, S.M.F. Composição centesimal e de minerais de mariscos

crus e cozidos da cidade de Natal/RN. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas,

v.21, n.2, p. 154-157, 2001.

PEREIRA, G.I.S.; PEREIRA, R.G.F.A; BARCELOS, M. de. F.P; MORAIS, A.R. de.

Avaliação química da folha da cenoura visando ao seu aproveitamento na alimentação

humana. Ciências agrotécnicas, Lavras, v.27, n.4, p. 852-857, 2003.

PROSAB - Programa de Pesquisa em Saneamento Básico. Metodologias e Técnicas de

Minimização, Reciclagem e Reutilização de Resíduos Sólidos Urbanos. – Rio de Janeiro;

ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1999. 65p. il.

PROSAB - Programa de Pesquisa em Saneamento Básico. Resíduos sólidos provenientes de

coletas especiais: reciclagem e disposição final. – Rio de Janeiro: RiMa, ABES –

Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2001. 240p.: il. Projeto

PROSAB.

QUEIROGA, M.J.B de. Práticas Alimentares. 1ª ed, Natal: ATIVA, 1996. 110p

REIS, M.A.B., VELLOSO, L.A., REYES, F.G.R. Alterações do metabolismo da glicose na

deficiência de magnésio. Revista de nutrição, Campinas, v.15, n.3, p. 333-340, 2002.

RODRIGUES, B.A. Os órfãos da revolução – cidadania e doação de alimentos na

CEASA/RN. 2004. 63f. Trabalho de Conclusão de Curso (Nutrição) – Centro de Ciências

da Saúde. Departamento de Nutrição. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

ROMANELLI, P.F; SCHMIDT, J. Estudo do aproveitamento das vísceras do jacaré do

pantanal (Caiman Crocodilus Yacare ) em farinha de Carne. Ciência e Tecnologia de

Alimentos, Campinas, v.23, Supl, p. 131-139, 2003.

SANTOS, H.B. Biodisponibilidade de minerais em uma dieta enriquecida com multimistura:

estudos pré-clinicos. 2000. 80f. Dissertação (Mestrado em Ciências e Tecnologia de

Alimentos) – Centro de Tecnologia. Universidade Federal da Paraíba.

Page 107: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 98

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

SANTOS, H.B.; MADRUGA, M.S; BION, F.M.; ANTUNES, N.L.M; MENDES, K.;

ÁGUIDA, R. Estudos bioquímicos e hematológicos em ratos sobre biodisponibilidade de

minerais numa dieta enriquecida com multimistura. Revista de Ciência e Tecnologia de

Alimentos, Campinas, v.24, n.4, p. 613-618, 2004.

SARTORELLI, C.S.do.C. Caracterização química da parte aérea da cenoura (Daucus

carota) e beterraba (Beta vulgaris) visando o aproveitamento na alimentação humana.

1998. 98f. Dissertação (Mestrado em Ciências dos Alimentos). Universidade Federal de

Lavras.

SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes. Disponível em:

<<17Hhttp://www.diabetes.org.br/diabetes/dicionario>>. Acesso em: 13/09/2004.

SENAC/DN – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial/ Departamento Nacional.

Elementos de apoio para as Boas Praticas e Sistema APPCC no setor distribuição. Série

qualidade e segurança dos alimentos. PAS Distribuição. Convênio SENAI/ SEBRAE/

SESI/ SESC/ SENAC. Rio de Janeiro: SENAC/DN, 2004. 275p.

__________. Manual de Segurança e Qualidade na Distribuição de Alimentos –

Hortifrutigranjeiros (FLV e Ovos). Série qualidade e segurança dos alimentos. PAS

Distribuição. Convênio SENAI/ SEBRAE/ SESI/ SESC/ SENAC. Rio de Janeiro:

SENAC/DN, 2004. 73p.

SENAI/DN – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial/ Departamento Nacional.

Elementos de apoio para o sistema APPCC – 2ª ed. Série qualidade e segurança

alimentar. Projeto APPCC/Indústria. Convênio CNI/ SENAI/ SEBRAE. Brasília:

SENAI/DN, 2000.

SILVA, E. da C. e., PRASAD, S., LEITE, V.D. Lixo x sobrevivência: uma análise

socioeconômica e ambiental do “forno do lixo” da cidade de Natal/RN. IN: CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 21º, 2001, João

Pessoa. Rio de Janeiro: ABES, 2001.

SILVA, F.C. da. Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes. Série Embrapa

solos/ Embrapa Informática Agropecuária. Brasília: Embrapa Comunicação para

Transferência de Tecnologia, 1999. 370p.

Page 108: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 99

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

SILVA, J.A. Tópicos da tecnologia dos alimentos. São Paulo: Livraria Varela, 2000. 227p.

SILVA, J.; SILVA, E.S.; SILVA, P.S.L. Determinação da qualidade e do teor de sólidos

solúveis nas diferentes partes do fruto da pinheira (Annona Squamosa L.). Revista

Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.24, n.2, p. 562-564, 2002.

SILVA, M.C.da. Avaliação da qualidade microbiológica de alimentos com a utilização de

metodologias convencionais e do sistema simplate. 2002. 75f. Dissertação (Mestrado) –

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo.

SILVA, N., SILVEIRA, N.F.de A. YOKOYA, F., OKAZAKI, M.M. Ocorrência de

Escherichia coli O157/:H7 em vegetais e resistência aos agentes de desinfecção de

verduras. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.23, n.2, p. 167-173, 2003.

SILVA NASCIMENTO, C.B. Avaliação da multimistura como suplemento alimentar e fonte

de vitaminas e minerais em ratos Wistar. 2000. 68f. Dissertação (Mestrado em

Bioquímica) – Centro de Biociências, Departamento de Bioquímica. Universidade Federal

do Rio Grande do Norte.

TAIWAKI, M.H. M Meios de cultura para contagem de fungos em alimentos. Boletim da

Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.30, n.2, p. 132-141, 1996.

TEIXEIRA, E.N, FASSINA, L.T.C.V.S., CASTRO, V.L.F.L. Potencial de minimização de

resíduos sólidos domésticos em termos de matéria orgância e embalagens. Congresso

Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 19º Foz do Iguaçu: ABES, 14 a 19 de set.

1997. Anais em CD-Rom.

TORRES, E.A.F.S.; CAMPOS, N.C.; DUARTE, M.; GARBELOTTI, M.L.; PHILIPPI, S.T.;

RODRIGUES, R.S.M. Composição centesimal e valor calórico de alimentos de origem

animal. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.20, n.2, p. 151-153, 2000.

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: <<

18Hhttp://www.ufmg.br/proex/geresol/lixohistoria.htm>>. Acesso em: 30/04/2004.

Page 109: REAPROVEITAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS … · No intuito de auxiliar no combate à fome, diminuindo o desperdício de alimentos e contribuindo para melhoria da qualidade de vida

Reaproveitamento e Caracterização dos Resíduos Orgânicos provenientes do PMS da CEASA/RN 100

Priscila Vanini Dantas de Medeiros Dissertação de Mestrado/PPGEQ/UFRN

UMBELINO, D.C.; ROSSI, E.A.; CARDELLO, H.M.A.B.; LEPERA, J.S. Aspectos

tecnológicos e sensoriais do “iogurte de soja enriquecido com cálcio”. Ciência e

Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.21, n.3, p. 276-280, 2001.

USDA Nutrient Database for Standard Reference – National Agricultural Librarian.

Disponível em: Nutrient Data Laboratory/ Agricultural Research Service <<:

19Hhttp://www.nal.usda.gov/fnic/>> Palavra-chave: composição nutricional. Acesso em:

11/09/2004.

VALENTINI, S.R.T.; CASTRO, M.F.P.M.; ALMEIDA, F.H. Determinação do teor de

umidade de milho utilizando aparelho de microondas. Ciência e Tecnologia de Alimentos,

Campinas, v.18, n.2, 1998.

VELHO, L. e VELHO, P. A controvérsia sobre o uso da alimentação ‘alternativa’ no combate

à subnutrição no Brasil. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v.9, n.1,

p. 125-157, 2002.

VIANA, E. Resíduos alimentícios do lixo domiciliar: coleta, processamento, caracterização e

avaliação da viabilidade nutricional como um ingrediente para ração de frangos de corte.

1999. 164f. Tese (Doutorado em Engenharia Hidráulica e Saneamento) – Departamento

de Hidráulica e Saneamento. Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São

Paulo.

VITORINO, K.M.N; SOBRINHO, P.P; SOUZA, C.V.A. de. Resíduos sólidos gerados em

refeitórios. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E

AMBIENTAL, 21º, 2001, João Pessoa. Rio de Janeiro: ABES, 2001.

VIZEU, V.E., FEIJO, M.B.S., CAMPOS, R.C.de. Determinação da composição mineral de

diferentes formulações de multimistura. Revista de Ciência e Tecnologia de Alimentos,

Campinas, v.25, n.2, p. 254-258, 2005.

WAITZBERG, D.L. Nutrição oral, enteral e parenteral na pratica clínica. 3ªed. São Paulo:

Ed.Atheneu. 2002. 928p.