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BRUNO BRANDINO ZUIM REAPROVEITAMENTO ENERGÉTICO DOS REFUGOS INDUSTRIAIS DO PROCESSO DE ROTOMOLDAGEM A PARTIR DA GASEIFICAÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo Curso de Engenharia Elétrica com ênfase em Sistemas de Energia e Automação ORIENTADOR: Prof. Dr. Valdir Schalch São Carlos 2013

REAPROVEITAMENTO ENERGÉTICO DOS REFUGOS … · produção de bens de consumo são alguns dos fatores que contribuem para a geração crescente e, por vezes, desordenada dos resíduos

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BRUNO BRANDINO ZUIM

REAPROVEITAMENTO ENERGÉTICO

DOS REFUGOS INDUSTRIAIS DO

PROCESSO DE ROTOMOLDAGEM A

PARTIR DA GASEIFICAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Escola de Engenharia de São Carlos, da

Universidade de São Paulo

Curso de Engenharia Elétrica com ênfase em

Sistemas de Energia e Automação

ORIENTADOR: Prof. Dr. Valdir Schalch

São Carlos

2013

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RESUMO ZUIM, B. B. Reaproveitamento energético dos refugos industriais do processo de rotomoldagem a partir da gaseificação. 2013. 140 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2013. O desenvolvimento do sistema capitalista, o crescimento populacional e o aumento da produção de bens de consumo são alguns dos fatores que contribuem para a geração crescente e, por vezes, desordenada dos resíduos sólidos no planeta. Contudo, em muitos casos não há a prática de destinação e disposição ambientalmente adequada para tais materiais. Possíveis tratamentos para os resíduos englobam processos termoquímicos de reaproveitamento energético, os quais convertem materiais de baixo valor agregado em produtos de interesse, tal como a eletricidade. Este trabalho consistiu, particularmente, na avaliação da instalação de um sistema de gaseificação em uma indústria de médio porte. A partir de um estudo de caso, foram obtidos os dados do processo de transformação de polímeros por seu processo produtivo de rotomoldagem, segundo os quais foi estimada a quantidade de energia possível de ser gerada a partir do poder calorífico da resina polimérica proveniente dos refugos industriais, sendo estes o combustível para o processo de gaseificação. A estratégia metodológica compreendeu a determinação das rotas produtivas e dos equipamentos constituintes do sistema gaseificador. Dessa forma, foram discutidas, primeiramente, as vantagens e as desvantagens da eventual utilização de tal sistema para a empresa do estudo de caso. Por fim, foi considerada tal hipótese para outros possíveis tipos de indústrias presentes no mercado, principalmente no que se refere às diferentes capacidades produtivas. Os resultados destacam, em relação à indústria alvo, que o sistema ainda não é viável, em razão de seu baixo consumo de resina polimérica. No entanto, a discussão aponta uma série de vantagens para esta aplicação em empresas de grande porte. Nestas, além de assegurarem-se demandas poliméricas satisfatórias para a geração de energia elétrica em escalas tangíveis, outros inconvenientes intrínsecos à aquisição do sistema gaseificador são também minimizados. A análise dos resultados permitiu concluir, ainda, que um processo de tratamento de resíduos, tal como a gaseificação, não propicia apenas o benefício energético, mas integra uma das possíveis medidas capazes de desenvolver plenamente um sistema de gestão ambiental empresarial. Este sistema, ao considerar a destinação correta dos resíduos em vez da simples disposição final, contemplaria aspectos econômicos e ambientais. Ao mesmo tempo, a organização fortificaria sua imagem e projetar-se-ia competitivamente no mercado, minimizando o risco de eventuais prejuízos financeiros. Palavras-chave: resíduos sólidos, reaproveitamento energético, gaseificação, refugos industriais, rotomoldagem.

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ABSTRACT ZUIM, B. B. Energy recovery of the industrial scrap from the rotational molding process through gasification. 2013. 140 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2013. The development of the capitalist system, the population growth and the rising production of consumer goods are some of the factors that contribute to the growing and, at times, disordered generation of solid waste on the planet. However, in some cases there is still no environmentally sound destination and disposal conducts for such materials. Possible treatments include energy recovery through thermo chemical processes, which convert low value-added products into ones of interest, such as electricity. The present study consisted, particularly, of the evaluation of installing a gasification system in a medium-sized industry. Based on a case study, data were obtained from the polymer transformation process of its productive process of rotational molding, through which allowed to estimate the achievable amount of energy that could be generated from the calorific value of the polymer resin derived from the industrial scrap, being this one the fuel for the gasification process. The methodological strategy involved the determination of the production routes and also the constituent equipment of the gasifier system. Thus, were discussed, first, the advantages and disadvantages of the eventual use of such a system for the targeted company. This hypothesis was considered for other existing sorts of industries, especially regarding to the different productive capacities. The results revealed, concerning to the targeted industry, that the system is not yet feasible, due to its low consumption of polymer resin. Nevertheless, the discussion suggests a range of advantages for this application in large-sized companies. In these ones, besides being ensured satisfactory polymer demands for generating electricity in tangible scales, other drawbacks inherent to the acquisition of the gasifier system are also minimized. The analysis of the results led to the conclusion, moreover, that a waste treatment process, such as gasification, not only provides the energy benefit, but integrates one of the suitable measures for developing a fully corporate environmental management system. This system, by addressing a proper waste management instead of its simple final disposal, would contemplate both economic and environmental aspects. At the same time, the organization would fortify its image and project itself competitively in the market, minimizing the risk of any financial losses. Keywords: solid waste, energy recovery, gasification, industrial scraps, rotational molding.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abreviatura/Sigla Descrição

A Cinzas

ABELPRE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos especiais

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABQUIM Associação Brasileira da Indústria Química

ABS Acrilonitrila butadieno estireno

ADN ou DNA Ácido Desoxirribonucléico

ANNEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ASTM American Society for Testing and Materials

BEN Balanço Energético Nacional

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BR Borracha de Polibutadieno

C Carbono

CD Compact Disc (Disco Laser)

CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem

CMM Crescimento Mensal Médio

CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNUMAD Conferência das Nações Unidas de Meio Ambiente e

Desenvolvimento

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CP Capacidade Produtiva

DPMM Demanda Polimérica Mensal Média

EG Eficiência do Gaseificador

EGM Eficiência Global do MACI

EIA Estudo de Impacto Ambiental

ET Energia Térmica

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ETA Estação de Tratamento de Água

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

ETS Eficiência Total do Sistema

EVA Espuma Vinílica Acetinada

FU Fator de Utilização

H Hidrogênio

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMNC Índice Médio de Não Conformidade

INC Índice de Não Conformidade

IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry

MACI Motor Alternativo de Combustão Interna

MCC Material Contendo Carbono

MP Massa Polimérica Mensal Média

N Nitrogênio

NBR Borracha Nitrilica

O Oxigênio

ONU Organização das Nações Unidas

PA Poliamida

PC Poder Calorífico

PCI Poder Calorífico Inferior

PCS Poder Calorífico Superior

PE Polietileno

PEAD Polietileno de Alta Densidade

PEBD Polietileno de Baixa Densidade

PELBD Polietileno Linear de Baixa Densidade

PET Poli (tereftalado de etileno)

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PEUAPM Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular

PEUBD Polietileno de Ultra Baixa Densidade

PI Potência Instalada

PIB Produto Interno Bruto

PMMA Polimetil Metacrilato

PNRS Política Nacional dos Resíduos Sólidos

POM Polióxidometileno (Poliacetal)

PP Polipropileno

ppm Partes por Milhão

PS Poliestireno

PT Potência Térmica

PTFE ou TEFLON Politetrafluoretileno

PVC Policloreto de Vinila

PVDC Policloreto de Vinilideno

PVF Polifluoreto de Vinila

QP Quantidade Processada

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

RS Resíduos Sólidos

RSS Resíduos de Serviço da Saúde

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

S Enxofre

SBR Borracha de Butadieno Estireno

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNVS Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

TG Turbinas ou Microturbinas a Gás

TU Tempo de Utilização

VM Vazão Mássica

W Umidade

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12

1.1. A problemática dos resíduos sólidos ....................................................................... 13

1.2. Desenvolvimento sustentável .................................................................................. 15

2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 18

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 19

3.1. Resíduos sólidos ..................................................................................................... 19

3.1.1. Definições ......................................................................................................... 20

3.1.2. Conceitos iniciais .............................................................................................. 21

3.1.3. Caracterização ................................................................................................. 22

3.1.3.1. Composição elementar .............................................................................. 23

3.1.3.2. Poder calorífico .......................................................................................... 24

3.1.4. Classificação .................................................................................................... 25

3.1.5. Acondicionamento e armazenamento ............................................................... 26

3.1.6. Coleta e transporte ........................................................................................... 27

3.1.7. Tratamento e destinação final ........................................................................... 29

3.1.7.1. Triagem ...................................................................................................... 30

3.1.7.2. Reciclagem ................................................................................................ 31

3.1.7.3. Compostagem ............................................................................................ 33

3.1.7.4. Digestão anaeróbia .................................................................................... 34

3.1.7.5. Incineração ................................................................................................ 35

3.1.8. Disposição final ................................................................................................ 36

3.2. Polímeros ................................................................................................................ 39

3.2.1. Nomenclatura ................................................................................................... 39

3.2.2. Histórico ........................................................................................................... 41

3.2.3. Origem e utilização ........................................................................................... 42

3.2.4. Classificação .................................................................................................... 44

3.2.5. Polietileno ......................................................................................................... 46

3.2.5.1. Polietileno linear de baixa densidade ......................................................... 48

3.2.6. Biodegradação e reciclagem ............................................................................ 50

3.3. Processos produtivos industriais de transformação de polímeros ........................... 52

3.3.1. Moldagem por injeção ...................................................................................... 53

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3.3.1.1. Histórico ..................................................................................................... 53

3.3.1.2. Etapas gerais do processo ......................................................................... 54

3.3.1.3. Tipos de injeção ......................................................................................... 55

3.3.1.4. Máquinas de injeção .................................................................................. 55

3.3.1.5. Parâmetros do processo ............................................................................ 57

2.3.2. Extrusão ........................................................................................................... 58

3.3.2.1. Histórico ..................................................................................................... 59

3.3.2.2. Etapas gerais do processo ......................................................................... 60

3.3.2.3. Tipos de extrusão ....................................................................................... 61

3.3.2.4. Máquinas de extrusão ................................................................................ 63

3.3.2.5. Parâmetros do processo ............................................................................ 64

2.3.3. Rotomoldagem ................................................................................................. 64

3.3.3.1. Histórico ..................................................................................................... 65

3.3.3.2. O processo ................................................................................................. 68

3.3.3.2.1. Dosagem do pó ................................................................................... 69

3.3.3.2.2. Aquecimento do molde ........................................................................ 69

3.3.3.2.3. Resfriamento e rotação ........................................................................ 72

3.3.3.2.4. Desmoldagem ..................................................................................... 73

3.3.3.3. Matéria-prima ............................................................................................. 73

2.3.3.3.1. Moagem .............................................................................................. 73

3.3.3.3.2. Pigmentação ........................................................................................ 75

3.3.3.4. Tipos de máquinas ..................................................................................... 76

3.3.3.4.1 Rock and Roll ....................................................................................... 76

3.3.3.4.2. Clamshell ............................................................................................. 76

3.3.3.4.3. Shuttle ................................................................................................. 77

3.3.3.4.4. Turret ................................................................................................... 78

3.3.3.5. Vantagens e limitações .............................................................................. 78

3.3.4 Outros processos .............................................................................................. 79

3.3.4.1. Moldagem por sopro .................................................................................. 79

3.3.4.2. Termoformagem ......................................................................................... 80

3.3.4.3. Calandragem ............................................................................................. 81

3.3.4.4. Moldagem por compressão ........................................................................ 82

3.4. Aproveitamento energético ..................................................................................... 83

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3.4.1. Pirólise .............................................................................................................. 85

3.4.2. Gaseificação ..................................................................................................... 87

3.4.2.1. Tipos de gaseificadores ............................................................................. 91

3.4.2.1.1. Gaseificadores de leito fixo .................................................................. 92

3.4.2.1.1.1. Gaseificador contracorrente .......................................................... 92

3.4.2.1.1.2. Gaseificador co-corrente ............................................................... 94

3.4.2.1.2. Gaseificadores de leito fluidizado ........................................................ 95

3.4.2.1.2.1. Gaseificador de leito fluidizado circulante ...................................... 95

3.4.2.1.2.2. Gaseificador de leito fluidizado borbulhante .................................. 96

2.4.2.2. Comparação entre gaseificadores .............................................................. 97

3.4.2.3. Limpeza do gás de síntese......................................................................... 98

3.4.2.4. Utilização do gás de síntese ..................................................................... 105

3.4.2.4.1. Aproveitamento térmico ..................................................................... 106

3.4.2.4.2. Geração de energia e elétrica ............................................................ 106

3.4.2.4.2.1. Motores alternativos de combustão interna ................................. 107

3.4.2.4.2.2. Motores stirling ............................................................................ 108

3.4.2.4.2.3. Turbinas a gás ............................................................................ 110

3.4.2.4.2.4. Células a combustível ................................................................. 111

4. ESTUDO DE CASO..................................................................................................... 113

4.1 Dados obtidos ........................................................................................................ 115

5. METODOLOGIA .......................................................................................................... 117

5.1. Considerações iniciais........................................................................................... 117

5.2. Taxa de geração de refugos ................................................................................. 118

5.3. Vazão mássica ...................................................................................................... 119

5.4. Potência térmica ................................................................................................... 120

5.5. Especificação do reator de gaseificação ............................................................... 121

5.6. Eficiência total do sistema ..................................................................................... 122

5.7. Capacidade produtiva ........................................................................................... 123

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 124

7. CONCLUSÕES ........................................................................................................... 129

8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 132

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1. INTRODUÇÃO

Pode-se definir industrialização como um processo de modernização pelo qual os

meios de produção de uma sociedade passam, trazendo como consequências diretas o

aumento da produtividade e a alteração da dinâmica das relações sociais.

Na Idade Média, técnicas avançadas de manufatura, agricultura e artesanato

iniciaram e conduziram os povos a um avanço na produção, sendo estes os primeiros

fomentos ao desenvolvimento industrial. O primeiro país do mundo a atravessar uma fase

de pleno desenvolvimento industrial foi a Inglaterra. No século XVIII, houve a chamada

Primeira Revolução Industrial, momento a partir do qual este país passou a basear seu

desenvolvimento econômico nas indústrias. Essa fase teve como principais características

desde a invenção da máquina a vapor à exploração dos trabalhadores, dentre outros

fatores, os quais impulsionaram o estabelecimento do sistema capitalista na economia.

A Segunda Revolução Industrial, ocorrida no século XIX, esteve inserida no

contexto do Imperialismo, em que os países partiam em busca de novas áreas e territórios

de influência por todo o mundo. Assim, poderiam vender seus produtos industrializados e

obter matérias-primas necessárias às suas indústrias. Pode-se dizer que essa Revolução

acabou por expandir os principais grupos de países detentores de tecnologias e produções

industriais, sendo um período caracterizado pela descoberta e utilização da energia elétrica

e o uso do petróleo como importante matéria-prima dos processos industriais.

Em um cenário mais contemporâneo, a Terceira Revolução Industrial, por sua vez,

pode ser caracterizada pelo uso da informática e da telemática, as quais atribuíram maior

velocidade às relações de trabalho e produção. Comparado a países como os Estados

Unidos ou Japão, o Brasil sem dúvida iniciou com certo atraso seu processo de

industrialização, experimentando um desenvolvimento industrial mais vigoroso e

representativo apenas no governo de Getúlio Vargas, a partir do qual se investiu

fortemente na industrialização de base. Em um segundo momento, no governo de

Juscelino Kubitscheck, houve outro significativo desenvolvimento das indústrias de

produção de bens de consumo, junto à proliferação das empresas multinacionais.

Nas décadas de 70, 80 e 90, a industrialização do Brasil continuou a se

desenvolver, embora o país tenha sofrido alguns períodos de estagnação e crises

econômicas. Mudanças de governos e moedas, criação de novas leis, dentre outros

acontecimentos, marcaram essa transformação no cenário brasileiro. Atualmente, o Brasil

desfruta de um extenso parque industrial, capaz de produzir e distribuir uma vasta gama de

produtos por seu território. Embora grande parcela da indústria nacional ainda seja voltada

às commodities, o que atribui ao país certa carência ou até mesmo dependência em

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alguns setores de tecnologia mais fina e elaborada, o parque industrial brasileiro vem

passando por uma intensa fase de transformação, buscando acompanhar as tendências da

crescente urbanização e do exacerbado aumento do consumo por grande parte da

população. Nesse contexto, o mundo corporativo indubitavelmente se reestrutura, na

incessante busca de sua parcela do mercado e da maximização de seus lucros, através da

competitividade comercial.

É de se esperar, porém, que essa dinâmica traga graves consequências ao meio

ambiente e ao próprio Homem, como a futura escassez dos recursos naturais, a

transformação do meio físico, a perspectiva da crise energética e do esgotamento da água

potável, o aumento do volume de resíduos produzidos e a problemática de sua disposição,

dentre outros problemas. A produção de resíduos, embora inerente a toda e qualquer

forma de vida ou atividade, vem se acelerando de forma exponencial em vista dessa

dinâmica.

Diante de possíveis entraves ao seu próprio desenvolvimento, não resta alternativa

ao Homem que não se preocupar em resolvê-los ou ao menos minimizá-los. Dessa forma,

aquela antiga visão, da Natureza como fonte inesgotável de recursos materiais e

energéticos e que possui capacidade infinita de deposição e depuração é aos poucos

substituída por um modelo com base no ciclo de vida e integração da gestão dos resíduos.

Segundo Zanin (2004), esse conceito requer a montagem de um sistema complexo de

procedimentos e ações em que a quantidade de resíduos a ser reaproveitada dentro de um

sistema produtivo ou de consumo seja cada vez maior e que a quantidade a ser disposta,

menor.

1.1. A problemática dos resíduos sólidos

No início do século XXI, com uma população estimada de 6,2 bilhões, eram

gerados mais de um bilhão de toneladas de resíduos sólidos por ano (ZANIN, 2004).

Segundo Borges (2000), em 2000, o Brasil produziu o dobro da quantidade de resíduos

que produzia 15 anos antes.

Sabe-se, por certo, que estes índices de produção de resíduos estão intimamente

ligados tanto ao crescimento populacional quanto às mudanças de comportamento da

sociedade. Como consequência inevitável deste processo, tem-se uma série de impactos

ambientais. O agravamento da situação ambiental iniciou-se após a Revolução Industrial,

já que as tecnologias desenvolvidas resultaram em uma melhora nas condições de vida da

sociedade e geraram significativo crescimento populacional. Nesse contexto, já se tornava

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irreversível o processo de desenvolvimento de técnicas de produção em massa, visando

atender a demanda crescente de consumo. Os processos industriais passaram a gerar

produtos em velocidade cada vez maior, contribuindo para o aumento da produção de

resíduos, seja durante o processo de fabricação, seja pelo estímulo ao consumo.

Entretanto, é sabido que a elevada geração de resíduos não caminha em parceria

com o descarte correto. Segundo a (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza

Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE, 2012), dos 64 milhões de toneladas de

resíduos produzidos pela população, 24 milhões (37,5%) foram enviados para destinos

inadequados. Assim, a adequada destinação desses resíduos representa um dos maiores

desafios para o Brasil e para a humanidade.

De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos produzido anualmente pela

Abrelpe, cerca de três mil cidades, 54% do total, incluindo as capitais Belém e Brasília,

ainda enviam resíduos para destinos inadequados. Além disso, o desconhecimento dos

brasileiros em relação ao destino dos resíduos também é preocupante. De acordo com o

estudo Consumo Sustentável da WWF-Brasil (2013), uma em cada três pessoas não faz

ideia para onde vão os próprios resíduos produzidos em sua casa.

É fato que faltam os investimentos necessários para avançar na coleta e destinação

correta dos resíduos sólidos, mas práticas sustentáveis na hora de consumir ainda são

deixadas de lado por grande parte dos brasileiros. É o que revela outros dados do estudo

Consumo Sustentável. O valor do produto, por exemplo, é considerado um aspecto

fundamental por 70% dos entrevistados. Características do produto ligadas à

sustentabilidade, no entanto, como os meios utilizados na produção, o tempo que o

produto leva para desaparecer na natureza e o fato de a embalagem ser reciclável, ficam

em segundo plano (WWF-Brasil, 2013).

Vive-se, pois, em meio à problemática dos resíduos sólidos. O sistema capitalista, o

crescimento populacional, o aumento da produção de bens de consumo, dentre outros

fatores, parecem não ceder de forma alguma, enquanto a geração massiva de resíduos

continuará sendo inerente a tais avanços. Contudo, não há como dispor eterna e

adequadamente todos esses resíduos, o que pode configurar, no futuro, uma situação de

calamidade.

Aprovada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi elaborada

para organizar e definir a forma como o país deve tratar seus resíduos, a partir de

definições e conceitos estabelecidos com rigor. Depois de sua aprovação foi criado, ainda,

o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que determina para 2014 o fechamento dos lixões

a céu aberto, dando lugar à construção de aterros sanitários apropriados. Como

penalidade, os municípios que não cumprirem a determinação serão enquadrados por

crimes ambientais.

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É perceptível, portanto, que embora a problemática da geração de resíduos e sua

disposição final ainda sejam alarmantes, algumas ações estão sendo colocadas em

prática, na tentativa de frear este processo. Ainda que não sejam suficientes para alterar

completamente o cenário ambiental, social e econômico do Brasil, no que se refere ao

manejo adequado dos resíduos sólidos, deixam claro por onde se deve começar.

1.2. Desenvolvimento sustentável

Segundo Agra Filho (2012), para atender às suas necessidades básicas, a

sociedade interfere no ambiente, provocando alterações sensíveis em suas condições

naturais. Desse modo, torna-se indispensável o entendimento do processo de geração dos

impactos ambientais como consequência dos processos dinâmicos e interativos que

ocorrem entre os diversos componentes do ambiente natural e social.

Em geral, os problemas ambientais emergem da inadequação ou insustentabilidade

dos próprios padrões de produção e de consumo da sociedade que, por sua vez,

constituem o seu modelo de desenvolvimento (MAIA e GUIMARÃES, 1997). Em meio a

esse paradoxo de desenvolvimento e à necessidade de práticas ambientalmente mais

corretas, surge o conceito de desenvolvimento sustentável.

Há muito anos já se considerava a ideia da necessidade de ao menos tentar impor

limites ao crescimento desordenado da sociedade. Diante dessa polêmica, a Organização

das Nações Unidas (ONU) decidiu realizar a primeira “Conferência Mundial sobre o

Ambiente Humano”, em 1972, na cidade de Estocolmo.

Apesar das controvérsias e da heterogeneidade de interesses envolvidos, os

princípios e recomendações resultantes dessa conferência representaram um marco no

enfoque conceitual do desenvolvimento. Proclama-se a falência do modelo de

desenvolvimento existente e preconiza-se a necessidade de alternativas à qualidade do

crescimento e que se reconheça o ambiente como dimensão fundamental e base de sua

sustentação.

As iniciativas e manifestações internacionais evoluíram para a criação da Comissão

Mundial sobre o Meio Ambiente, também instituída pela ONU, que resultou no relatório

“Nosso Futuro Comum”. Nesse documento propôs-se a seguinte definição para o

desenvolvimento sustentável: “é o desenvolvimento que atende às necessidades do

presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem a suas

próprias necessidades” (CMMAD, 1988).

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Através dos compromissos firmados na Conferência das Nações Unidas de Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD, 1997), os governos nacionais consolidaram a

perspectiva de se redirecionarem os processos de crescimento econômico vigentes para

um novo modelo de desenvolvimento regido pela integração e sustentabilidade nas suas

dimensões sociais, econômicas, ecológicas, geopolíticas e culturais (SACHS, 1993).

Esse desenvolvimento considera, como suas características fundamentais, a

equidade na distribuição dos bens econômicos e ecológicos, o consenso social dos seus

propósitos econômicos e a prudência na apropriação dos recursos ambientais

(ACSELRAD, 1997; SACHS, 1993). Ainda para este último autor, o planejamento do

desenvolvimento deve considerar as seguintes dimensões do ecodesenvolvimento:

Sustentabilidade social: prega a construção de uma civilização com maior

equidade na distribuição de rendas e bens, de modo a reduzir o abismo entre os

padrões de vida dos ricos e dos pobres.

Sustentabilidade cultural: inclui a procura de raízes endógenas de processos de

modernização e de sistemas agrícolas integrados; processos que busquem

mudanças dentro da continuidade cultural e que traduzam o conceito normativo

de ecodesenvolvimento em um conjunto de soluções específicas para o local, o

ecossistema, a cultura e a área.

Sustentabilidade econômica: deve ser viabilizada através da alocação e do

gerenciamento mais eficiente dos recursos e de um fluxo constante de

investimentos públicos e privados. A eficiência econômica deve ser avaliada em

termos macrossociais, e não apenas através do critério da rentabilidade

empresarial de caráter microeconômico.

Sustentabilidade espacial: deve ser dirigida para a obtenção de uma

configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial

de assentamentos urbanos e atividades econômicas, com ênfase no que segue:

Reduzir a concentração excessiva nas áreas metropolitanas;

Frear e reverter a destruição de ecossistemas frágeis, mas de

importância vital;

Promover a agricultura e a exploração agrícola das florestas através de

técnicas modernas e regenerativas altamente controladas;

Explorar o potencial da industrialização descentralizada, acoplada à

nova geração de tecnologias;

Criar uma rede de reservas naturais e de biosfera, para proteger a

biodiversidade.

Sustentabilidade ecológica: pode ser aperfeiçoada utilizando-se das seguintes

ferramentas:

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Ampliar a capacidade de carga do planeta Terra intensificando o uso do

potencial de recursos dos diversos ecossistemas, com um mínimo de

danos aos sistemas de sustentação da vida;

Limitar o consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e

produtos que são facilmente esgotáveis ou danosos ao meio ambiente,

substituindo-os por recursos ou produtos renováveis e/ou abundantes,

usados de forma não agressiva ao meio ambiente;

Reduzir o volume de resíduos e de poluição, através da conservação de

energia e de recursos e da reciclagem;

Promover a autolimitação no consumo de materiais;

Intensificar a pesquisa para a obtenção de tecnologias de baixo teor de

resíduos e eficientes no uso de recursos para o desenvolvimento

urbano, rural e industrial;

Definir normas para uma adequada proteção ambiental através de

instrumentos econômicos, legais e administrativos necessários para o

seu cumprimento.

A efetivação da sustentabilidade compreenderia, portanto, o atendimento e

aplicação de todas essas condições, o que representa, incontestavelmente, um dos

maiores desafios para a humanidade. Por fim, este trabalho se baseia, principalmente, nos

aspectos da sustentabilidade ecológica aliados aos da sustentabilidade econômica.

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2. OBJETIVOS

O objetivo principal deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) consistiu na

realização de um estudo de caso em uma indústria de transformação de polímeros pelo

processo de rotomoldagem. Foram obtidos, essencialmente, os dados de consumo de

matéria-prima desta indústria, bem como a geração de produtos não conformes pelo

processo produtivo.

A partir destes dados, estimou-se a quantidade de energia possível de ser gerada a

partir do poder calorífico da resina polimérica, ou seja, da utilização da matéria-prima

presente nos produtos não conformes como combustível para o processo de gaseificação.

Para isso, foram traçadas rotas produtivas e definidos os equipamentos constituintes do

sistema gaseificador.

De acordo com a análise da escala de grandeza da potência obtida, foram

estabelecidas comparações entre as vantagens e as desvantagens da eventual utilização

de um sistema de gaseificação para esse tipo de aplicação. Por fim, estendeu-se esta

análise a outros casos, englobando diferentes capacidades e características produtivas

das indústrias de transformação de polímeros existentes no mercado.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo visa a contextualizar a proposta deste trabalho, a partir da reunião de

conceitos, definições e diferentes opiniões de diversos autores com relação a todos os

assuntos pertinentes ao completo desenvolvimento dos objetivos e da metodologia

apresentada.

3.1. Resíduos sólidos

O desenvolvimento da sociedade é impossível sem a geração de resíduos, que

compreende desde sobras de alimentação e entulhos provenientes de construções, até

baterias e carcaças de eletroeletrônicos, cuja geração é acelerada pelo consumo cada vez

maior e mais diversificada da população. Diante desse cenário surge o problema de como

geri-los e gerenciá-los.

Felizmente, a sociedade atual tem visto o problema de maneira diferenciada, dando

importância que revela avanços significativos no que se refere à produção, tratamento e

disposição final de resíduos sólidos. Tem havido, gradativamente, uma maior abertura do

tema no âmbito político, sendo inúmeras vezes tema central de discussões e assuntos

abordados pela mídia.

Neste sentido, a palavra lixo, associada a qualquer coisa imprestável, nociva e que

não possui valor, passa a ser substituída por resíduo, passando a sugerir outra concepção,

segundo a qual se muda drasticamente a abordagem do assunto. Enquanto se define o

lixo, de forma simplista, como tudo aquilo que na realidade não tem mais função e pode

ser descartado, a nova perspectiva permite várias alternativas para os resíduos sólidos:

Evitar a produção de certos resíduos;

Diminuir sua produção ou a quantidade de materiais poliméricos utilizados nas

embalagens dos produtos;

Reutilizá-los antes de considerar uma alternativa mais complexa;

Submetê-los ao processo de reciclagem;

Aproveitá-los energeticamente, ou seja, utilizar a energia presente nos resíduos

através de processos químicos, físicos ou biológicos;

Inertizar e dispor os resíduos sem valor (rejeitos).

Cada uma dessas opções apresenta, sem dúvidas, certas dificuldades e não são

facilmente realizáveis. A opção de evitar a produção de certos resíduos, por exemplo, não

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é de simples execução no que diz respeito aos principais bens de consumo. Assim, deve-

se considerar a viabilidade das estratégias em cada situação.

Essencialmente, este capítulo visa a abordar os diversos aspectos dos resíduos

sólidos, desde sua definição e características até formas de disposição final. São tratados,

ainda, conceitos que dizem respeito à gestão e gerenciamento destes materiais.

3.1.1. Definições

A literatura de resíduos sólidos apresenta, sem dúvidas, diversos conceitos e

abordagens para o assunto. Segundo a (Associação Brasileira de Normas Técnicas -

ABNT, 2004), resíduos sólidos são

“resíduos nos estados sólido ou semissólido, que resultam de atividade da comunidade de origem: industrial, doméstica, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam, pra isso, soluções técnica e economicamente inviáveis face à melhor tecnologia prática disponível”.

Outra definição relevante é a contida na Agenda 21, na qual consta que resíduos

sólidos

“compreendem todos os restos domésticos e resíduos não perigosos, tais como os resíduos comerciais e institucionais, o lixo da rua e os entulhos de construção. Em alguns países, o sistema de gestão dos resíduos sólidos também se ocupa dos resíduos humanos, tais como excrementos, cinzas de incineradores, sedimentos de fossas sépticas e de instalações de tratamento de esgoto. Se manifestarem características perigosas, esses resíduos devem ser tratados como resíduos perigosos” (CNUMAD, 1997).

Vale observar, ainda, a definição da Legislação norte-americana que define

resíduos sólidos como

“qualquer tipo de lixo, refugo, lodo de estação de tratamento de esgoto, de tratamento de água ou de equipamento de controle de poluição de ar e outros materiais descartados, incluindo sólidos, líquidos, semissólidos, gases em contêineres resultantes de operações industriais, comerciais, de mineração e agrícolas, e de atividades da comunidade, porém não inclui sólidos ou materiais dissolvidos e esgoto doméstico, sólidos ou materiais dissolvidos na água de fluxo de retorno em irrigação e descargas pontuais” (USA 1989).

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Por fim, a Lei nº 12.305, que constitui a PNRS, estabelece, em seu inciso XVI do

Artigo 3º, que são considerados resíduos sólidos três grandes grupos de materiais:

1. Material, substâncias, objetos ou bens descartados resultantes de atividades

humanas em sociedade, nos estados sólido ou semissólido;

2. Líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública

de esgotos ou em corpos de água, ou exijam, para isso, soluções técnica ou

economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;

3. Gases contidos em recipientes (BRASIL, 2010).

Outra definição importante com relação ao resíduo consiste na avaliação de sua

periculosidade. Esta característica é atribuída a um resíduo que, em função de suas

propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas, pode apresentar (ABNT, 2004):

a) Risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou

acentuando seus índices;

b) Risco ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada.

3.1.2. Conceitos iniciais

Embora criteriosamente definidos pela PNRS, vale reiterar que os resíduos sólidos

englobam os gases e líquidos, uma vez que, se o gás contido no recipiente não pudesse

ser considerado resíduo sólido, este deveria ser completamente removido do recipiente, o

que muitas vezes não é viável. Em outras palavras, se os gases não fossem assim

considerados, embalagens só poderiam ser descartadas caso se fizesse vácuo dentro

delas, o que é um contrassenso (SOUTO e POVINELLI, 2012).

Quanto aos líquidos, o fato de poder considerá-los como resíduos sólidos permite

que líquidos perigosos sejam acondicionados em tambores e dispostos em aterros de

resíduos industriais. Por fim, o termo “semissólido” permite que os lodos de estações de

tratamento de água (ETA) e de tratamento de esgoto (ETE) sejam gerenciados como

resíduos sólidos e, como tais, dispostos em aterros, desde que atendidos determinados

requisitos (SOUTO e POVINELLI, 2012).

A PNRS também formalizou os conceitos de “destinação final ambientalmente

adequada dos resíduos” e “disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”, duas

definições distintas, embora complementares (BRASIL, 2010).

Um resíduo passa a ser chamado de rejeito quando se esgotarem todas as

possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e

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economicamente viáveis, de modo que não haja alternativa que não seja a disposição final

ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).

Dessa forma, o que se entende por “destinação final ambientalmente adequada” é o

encaminhamento dos resíduos para reutilização, reciclagem, compostagem,

aproveitamento energético, dentre outras destinações admitidas pelo poder público, no

intuito de evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando, ainda, os

impactos ambientais negativos (BRASIL, 2010).

Já a “disposição final ambientalmente adequada” se refere exclusivamente aos

rejeitos, consistindo na sua disposição ordenada em aterros. Como a disposição final

também é um tipo de destinação final, ela também deve evitar os mesmos aspectos

negativos da “destinação final ambientalmente adequada”, segundo a Brasil (2010).

Por fim, vale ressaltar que esta política também instituiu a responsabilidade

compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Isto significa que, atualmente, os

fabricantes, distribuidores, comerciantes, titulares dos serviços públicos de limpeza urbana

e manejo de resíduos sólidos e os próprios consumidores são responsáveis pelos resíduos

em geral.

3.1.3. Caracterização

As características dos resíduos sólidos basicamente determinam a classificação

dos resíduos e, consequentemente, a forma de manuseio e operação. Algumas das

características importantes são (PHILLIPI JR., 2005):

Densidade aparente, medida em unidade de massa por unidade de volume;

Umidade, em porcentagem de massa;

Composição qualitativa, que corresponde à lista dos materiais e substâncias de

interesse presentes nos resíduos;

Composição quantitativa, que corresponde à quantidade percentual dos

materiais ou à quantidade massa/massa de substâncias de interesse;

Caracterização química, que corresponde à quantificação dos elementos

químicos presentes ou ao comportamento do resíduo submetido a testes

químicos específicos, como lixiviação, solubilização e combustão.

Neste trabalho, se faz necessária uma abordagem mais específica de dois

conceitos envolvidos na caracterização química dos resíduos sólidos: a composição

elementar e o poder calorífico destes materiais.

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3.1.3.1. Composição elementar

A análise química elementar corresponde à porcentagem em massa dos principais

componentes que constituem a biomassa e outros materiais contendo carbono. Os

elementos considerados são: carbono (C), hidrogênio (H), enxofre (S), oxigênio (O),

nitrogênio (N), cinzas (A) e umidade (W).

A composição elementar é característica fundamental e de extrema importância do

combustível e constitui a base para a análise de processos como a combustão e a

gaseificação. A quantidade de ar necessária para alimentar o processo, o volume de gases

de saída e sua composição e o poder calorífico são determinados e calculados a partir

desse conceito.

Nos cálculos de combustão ou gaseificação da biomassa, por exemplo, utiliza-se a

composição em base úmida. Nos manuais e publicações especializados, os valores da

composição elementar dos combustíveis são apresentados em base seca e em base

combustível, o que os torna independentes de eventuais variações nos teores de umidade

e cinzas. Cabe mencionar, porém, que em casos no quais o material já se encontre seco

antes de alimentar tais processos de recuperação energética, deve-se considerar a base

seca ou anular a umidade nos cálculos dos demais parâmetros.

Na Tabela 3.1 é mostrada uma comparação da composição elementar de alguns

materiais como madeira, plástico, papel e papelão.

Combustível

Elemento

%C %H %O %N %S %Cinzas %W PCS(MJ/kg)

Resto de Alimento 48 6,4 37,6 2,6 0,4 5 0 18,82

Papel e papelão 44 6 44 0,3 0,2 6,8 0 16,33

Têxteis 55 6,6 31,2 4,6 0,15 2,5 0 22,07

Madeira 49,5 6 42,7 0,2 0,1 1,5 0 18,32

Plástico 60 7,2 22,8 0 0 10 0 25,28

Tabela 3.1: Composição elementar e PCS de alguns combustíveis (SANNER et al., 1970).

Observa-se que o plástico, embora contenha a maior porcentagem de carbono

dentre os materiais apresentados, apresenta a mais alta porcentagem de cinzas. Por outro

lado, o papel e o papelão, quando comparados ao plástico, por exemplo, chegam a

apresentar o dobro de oxigênio, em porcentagem, em suas composições.

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3.1.3.2. Poder calorífico

O poder calorífico (PC) pode ser definido como a quantidade de energia liberada na

forma de calor durante a combustão completa de um determinado combustível. O valor

dessa propriedade pode variar muito de acordo com o teor de umidade do combustível.

O Poder Calorífico Superior (PCS) considera que a água presente no combustível

não evapora junto aos gases de combustão, enquanto o Poder Calorífico Inferior (PCI)

considera que a água presente no combustível seja toda vaporizada junto a tais gases. É

importante ressaltar que para vaporizar a água presente na biomassa necessita-se de

energia, o que justifica o PCS ser maior que o PCI.

O PC pode ser determinado através da combustão de uma amostra analisada em

uma bomba calorimétrica. Entretanto, se estes valores não estão disponíveis, é possível

determiná-los a partir de inúmeras relações matemáticas obtidas empiricamente, tendo

como referência a composição elementar do resíduo em análise. O cientista russo Dimitri

Mendeleiev descreveu a primeira fórmula para calcular o PCI de um combustível, como

mostrado na Equação 3.1:

W%12,25S%O%85,108H%95,1029C%13,339PCI (3.1)

A Equação 3.2 representa, por sua vez, uma fórmula para a determinação do PCS

de um combustível (YOUNG, 2010).

W11,2S51,10O34,10H83,111C91,34PCS (3.2)

Elucidativamente, na tabela 3.2 são relacionados, segundo Young (2010), os

poderes caloríficos de alguns resíduos sólidos que compõem o RSU. Neste caso, suas

respectivas umidades foram consideradas para efeito da obtenção daquela grandeza.

Tipo de resíduo sólido Poder Calorífico (kJ/kg) Umidade (%)

Resíduo de comida 4.600 70,0

Papel 16.700 6,0

Plástico 32.500 2,0

Têxtil 17.500 10,0

Borracha 23.300 2,0

Madeira 18.600 60,0

Tabela 3.2: Poder calorífico de alguns resíduos que compõe o RSU (YOUNG, 2010).

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3.1.4. Classificação

A classificação de resíduos sólidos envolve uma série de aspectos, tais como a

identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, suas características e seus

constituintes. Estes últimos ainda são comparados com listagens de resíduos e

substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente já é conhecido. A identificação dos

constituintes a serem avaliados na caracterização do resíduo deve ser criteriosa e

estabelecida de acordo com as matérias-primas, os insumos e o processo que lhe deu

origem (ABNT, 2004).

Ainda para efeitos da norma NBR 10004 (ABNT, 2004), os resíduos são

classificados em:

Resíduos classe I - Perigosos: aqueles que apresentam periculosidade,

conforme definido em 3.4.1 ou outra característica, como inflamabilidade,

corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, dentre outros atributos

também definidos pela norma;

Resíduos classe IIA – Não perigosos e não inertes: aqueles que não se

enquadram nas classificações de resíduos classe I ou de resíduos classe II B.

Os resíduos classificados na classe II A podem apresentar propriedades tais

como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água;

Resíduos classe II B – Resíduos não perigosos e inertes: são resíduos que,

quando amostrados de uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007,

e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada e deionizada,

à temperatura ambiente, conforme a ABNT NBR 10006, não tiverem nenhum de

seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de

potabilidade da água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. São

as rochas, tijolos, vidros e certos plásticos e borrachas que não são

decompostos facilmente.

Por outro lado, a Lei n° 12.305, que constitui a PNRS, estabelece, em seu artigo 13,

a classificação dos resíduos sólidos quanto à origem:

a) Resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências

urbanas;

b) Resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros

e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;

c) Resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas a e b;

d) Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os gerados

nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas b, e, g, h e j;

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e) Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas

atividades, excetuados os referidos na alínea c;

f) Resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações

industriais;

g) Resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme

definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama

e do SNVS;

h) Resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e

demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação

e escavação de terrenos para obras civis;

i) Resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e

silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades;

j) Resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos,

terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;

k) Resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou

beneficiamento de minérios.

3.1.5. Acondicionamento e armazenamento

A qualidade da operação de coleta e transporte dos RSU depende da forma

adequada do seu acondicionamento e armazenamento, segundo os locais, dias e horários

estabelecidos pelo órgão de limpeza urbana para a coleta. A população tem, portanto,

participação decisiva nesta operação.

Segundo Oliveira (1992), o acondicionamento correto dos resíduos sólidos é

importante à medida que contribui para evitar a proliferação de vetores, além de minimizar

problemas relacionados aos odores indesejáveis e à estética do ambiente, fatores estes

decisivos para garantir o bem-estar dos cidadãos.

Em resumo, a importância do acondicionamento e do armazenamento adequado

está em:

Evitar acidentes;

Evitar a proliferação de vetores;

Minimizar o impacto visual e olfativo;

Reduzir a heterogeneidade dos resíduos, no caso de haver coleta seletiva;

Facilitar a realização da etapa da coleta.

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Para isso, a forma de acondicionamento deve obedecer a normas específicas, as

quais são estabelecidas de modo a facilitar as etapas subsequentes de coleta e de

transporte dos RSU. Nos locais onde não é possível o acesso dos veículos de coleta, por

exemplo, devem ser instaladas lixeiras coletivas em pontos estratégicos. Estes, por outro

lado, devem ser acessíveis a aqueles veículos e objetivam essencialmente que a

população concentre o despejo dos resíduos produzidos.

Em alguns casos, ainda, é inevitável a necessidade de armazenar os resíduos

durante um determinado período no local de geração, até que sejam coletados. Isso exige,

contudo, instalações físicas prediais específicas para cada tipo de resíduo, em especial

nas indústrias, no comércio de grande porte e nos estabelecimentos de serviços de saúde.

3.1.6. Coleta e transporte

A coleta consiste em uma etapa fundamental no gerenciamento dos resíduos

sólidos, o qual será futuramente abordado. Trata-se do processo através do qual os

resíduos são reconhecidos junto ao gerador e encaminhados para a destinação final. A

coleta dos resíduos deve ser feita com frequência adequada, levando em conta que o

acúmulo excessivo de resíduos pode aumentar os riscos para o meio ambiente e para a

saúde pública, enquanto que a frequência excessiva eleva o custo operacional a níveis não

viáveis (PHILLIPI JR., 2005).

Segundo o Cempre (2000), a coleta dos RSU, feita pelo município ou empresa

concessionária, recebe o nome de Coleta Regular, enquanto a coleta dos outros tipos de

resíduos recebe o nome de Coleta Especial. A coleta regular normalmente é feita pelas

ruas, porta a porta, por caminhões compactadores. Os RSU podem ser acondicionados em

sacos plásticos, como ocorre no Brasil ou em contêineres, como acontece na Alemanha.

A coleta especial, por sua vez, envolve procedimentos mais complexos, uma vez

que há diversos resíduos que não podem ou não devem ser simplesmente misturados aos

RSU, devendo ser coletados separadamente. É o caso dos RSS, dos resíduos da

construção civil, entre outros assim definidos por lei. Há outros casos nos quais se aplica,

ainda, o que se chama de logística reversa.

Logística reversa é o nome que se dá ao processo de retornar um material do

consumidor para o fabricante, o oposto da logística convencional, que se refere ao

processo de levar um material do fabricante ao consumidor final. Formalmente, de acordo

com a PNRS, a logística reserva é

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“o conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”.

Os materiais hoje sujeitos a logística reversa são os agrotóxicos, seus resíduos e

embalagens, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, diversos tipos de lâmpadas,

produtos eletroeletrônicos e seus componentes e demais produtos cuja embalagem, após

o uso, constitua resíduo perigoso (BRASIL, 2010).

Os sistemas de logística reversa para esses produtos e suas embalagens devem

ser estruturados e implementados pelos fabricantes, importadores, distribuidores e

comerciantes, independentemente do serviço público de limpeza urbana e manejo de

resíduos sólidos. Neste contexto, os consumidores, por sua vez, são responsáveis por

devolver àqueles primeiros os produtos objeto desta ação.

A PNRS prevê, ainda, que a logística reversa pode ser estendida para outros

produtos, dependendo do grau e extensão do impacto de seus resíduos à saúde pública e

ao meio ambiente, bem com da viabilidade técnica e econômica do processo.

Quando existe, ainda, uma segregação prévia de acordo com a constituição ou

composição dos resíduos, tem-se a Coleta Seletiva (BRASIL, 2010), a qual costuma ser

associada a melhores desempenhos e resultados. Tanto o processo de triagem quanto o

de separação realizada por catadores não apresentam, em contrapartida, uma eficiência

muito alta. Segundo Schalch e Leite (2000), a triagem a posteriori não consegue recuperar

mais de 50% dos materiais recicláveis. Ademais, os catadores não conseguem separar

fragmentos de resíduos do restante da massa de lixo.

A segregação na fonte permite, portanto, otimizar os sistemas de tratamento e

disposição final, uma vez que aumenta a qualidade e a quantidade de matéria-prima

disponível. Porém, quando se permite que um resíduo perigoso seja misturado a outros

não perigosos, o resultado é que a massa total destes materiais acaba sendo classificada

como perigosa e deve ser tratada e disposta como tal. Sendo assim, deve se evitar ao

máximo essa mistura de resíduos.

De maneira geral, os resíduos, uma vez coletados, devem ser transportados até os

pontos de destinação final, sejam eles as indústrias de reciclagem, as centrais de

tratamento ou os aterros. Quando as distâncias e os volumes são pequenos, o transporte

dos resíduos pode ser feito pelos próprios veículos de coleta. De maneira geral, estes

veículos devem ser escolhidos de acordo com a quantidade de resíduos, do tipo de

resíduo transportado, das características topográficas e da malha viária da região a ser

atendida. Horários e itinerários devem ser selecionados de modo a minimizar o incômodo à

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população pelo ruído, além dos riscos decorrentes do excesso de tráfego em certas vias e

dos riscos de acidentes, principalmente no transporte de produtos perigosos.

Entretanto, em cidades grandes ou quando os aterros estão muito distantes, é

preciso lançar mão de estações de transbordo. Estas consistem em instalações nas quais

se faz o translado dos resíduos de um veículo coletor a outro veículo com capacidade de

carga maior. Este segundo veículo é o que transporta os resíduos até o seu destino final.

Estas instalações podem resumir-se a uma simples plataforma elevada, dotada de uma

rampa de acesso, ou a um edifício sofisticado e de grandes dimensões (SOUTO e

POVINELLI, 2012).

Phillipi Jr. (2005) destaca algumas das vantagens do emprego de estações de

transbordo:

Redução do tempo ocioso do serviço de coleta, uma vez que o veículo coletor e

a mão-de-obra são utilizados exclusivamente na coleta;

Possibilidade de redução do tempo necessário ao procedimento de coleta, de

maneira que o lixo permaneça tempo mais curto na via pública;

Maior flexibilidade na programação de coleta;

Menor quantidade de veículos circulando, o que diminui o custo do transporte,

composto pelo combustível, manutenção dos veículos e salários, além de

minimizarem os impactos ao meio ambiente e reduzirem o trânsito.

3.1.7. Tratamento e destinação final

Como os RSU são gerados em grande quantidade, torna-se imprescindível adotar

técnicas que minimizam o volume a ser disposto. O tratamento de resíduos sólidos

compreende a utilização dessas técnicas que visam pelo menos à estabilização do volume

destes materiais para aumentar a vida útil dos aterros sanitários e evitar uma série de

outros eventuais problemas.

Segundo Souto e Povinelli (2012), a escolha da alternativa de tratamento a ser

adotada deve enfocar, basicamente, os seguintes aspectos:

Custos de implantação e operação;

Disponibilidade financeira dos agentes envolvidos;

Capacidade de atender às exigências legais;

Quantidade e capacitação técnica dos recursos humanos.

Ainda de acordo com estes autores, o fato de uma alternativa apresentar um alto

custo em termos absolutos, como um incinerador, não é razão suficiente para que seja

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descartada, pois talvez seja a mais barata e eficaz para tratar um determinado resíduo

industrial ou de serviços da saúde quando comparada a outras.

A operação que precede qualquer processo específico de tratamento é a triagem,

enquanto a reciclagem, por sua vez, representa o reprocessamento de materiais,

permitindo novamente sua utilização (CALDERONI, 1997). A menos destes dois

processos, as demais tecnologias com foco na estabilização dos resíduos podem ser

divididas em processos biológicos e físico-químicos. Entre os primeiros estão a

compostagem, a vermicompostagem e a digestão anaeróbia. Entre os últimos, a

incineração, a pirólise, a gaseificação, a hidrólise térmica, entre outros processos.

Nos subitens seguintes, será abordada grande parte destas tecnologias no que diz

respeito às características, ao funcionamento, à viabilidade entre outros aspectos

importantes na eventual consideração de aderir a um determinado tratamento de resíduos.

Particularmente, os processos de gaseificação e pirólise ganham um destaque especial,

sendo abordados mais a diante, quando se define – de forma mais abrangente e não

apenas para os RSU – o conceito de aproveitamento energético. Esse tratamento especial

se deve ao fato da gaseificação integrar a proposta baseada no estudo de caso deste

trabalho e a pirólise constituir etapa fundamental do processo de gaseificação.

3.1.7.1. Triagem

O objetivo deste processo é separar os materiais que se deseja recuperar, ou

aqueles prejudiciais à qualidade do processamento ou à durabilidade dos equipamentos.

Pode ser executada manualmente em pátios, mesas ou esteiras rolantes. Métodos

mecânicos e automatizados, como equipamentos magnéticos, peneiras, separadores

balísticos entre outros também servem ao processo (PHILLIPI JR., 2005).

A operação de triagem pode ser realizada em usinas, nos aterros, nos lixões ou em

outros locais apropriados. Quando realizada nos sacos à espera de coleta, pelos

catadores, tem o inconveniente de causar sujidade local e outros problemas já

mencionados anteriormente.

Nos processos manuais, quanto maior o grau de separação desejado e menor a

quantidade de impurezas permitidas, maior será a mão de obra envolvida. No caso da

separação de materiais a recuperar, o grau de pureza e a limpeza do produto final

influenciam sobremaneira o valor de mercado. Após a triagem, os materiais podem ser

prensados a fim de baratear o transporte até os locais onde serão industrializados. Por fim,

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a eficiência da mão de obra de triagem pode ser avaliada pela quantidade de resíduos

triados por pessoa, por hora (PHILLIPI JR., 2005).

No Brasil, tem havido importantes investimentos nesse setor, dada a elevada

importância do processo de triagem. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES) informou, em junho deste ano, que vai destinar R$ 21,3 milhões para a

instalação de 12 centrais de triagem e a capacitação de 2.160 catadores do Distrito

Federal.

De acordo com o BNDES, 98% das 2,4 mil toneladas coletadas diariamente no

Distrito Federal são aterrados em lixões e os 2% restantes são encaminhados para a

reciclagem pelos catadores. No entanto, a maioria das 33 cooperativas desta região não

tem estrutura física para realizar a triagem dos resíduos coletados.

Além das 12 centrais de triagem que serão instaladas, cada uma receberá um

caminhão de seis toneladas para dar suporte logístico à operação. Os catadores serão

capacitados para realizar triagem, classificação, prensagem, comercialização e gestão de

empreendimentos coletivos.

O projeto prevê, ainda, a formação de um corpo técnico para apoiar as cooperativas

na gestão e desenvolver um programa de limpeza, manutenção de galpões de triagem,

construção e equipagem de uma central de comercialização, estruturação de uma escola

de formação para os catadores, bem como o fortalecimento das cooperativas que não

foram selecionadas para as centrais de triagem, de modo a inseri-las no modelo.

Os recursos são do Fundo Social do BNDES e correspondem a 50% do valor total a

ser investido. É a quarta operação do tipo aprovada pelo banco, que já contratou

operações semelhantes com os municípios do Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.

3.1.7.2. Reciclagem

A reciclagem é um processo que permite a reinserção de materiais descartados em

um ciclo produtivo, por meio de sua transformação. Em outras palavras, este processo

possibilita que materiais considerados resíduos para o gerador passem a configurar

matérias-primas secundárias para outro indivíduo e para a sociedade como um todo. A

reciclagem difere da reutilização ao passo que exige um maior grau de processamento,

excedendo a simples triagem e limpeza do material.

As técnicas para o processamento de resíduos com vista à reciclagem são

normalmente específicas para cada material. Costumam envolver algum grau de

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fragmentação de resíduo, trituração ou moagem, para facilitar o seu transporte,

armazenamento e processamento.

Segundo Phillipi Jr. (2005), as entidades empresariais promovem os chamados

bancos ou bolsas de resíduos. Neste sentido, as empresas apresentam os resíduos que

geram, com detalhes de quantidade e qualidade. Outras empresas, por sua vez, que

utilizam tais resíduos como matéria-prima em seus processos produtivos, podem se

informar sobre como obtê-los diretamente com o gerador.

É importante que se tenha em mente que a reciclagem só faz sentido do ponto de

vista econômico se o custo do produto reciclado for inferior ao custo do produto

confeccionado a partir de materiais virgens, ou se o custo da reciclagem for menor que o

custo de outras formas de tratamento e disposição final (ANDRADE, 2002). Caso nenhuma

dessas condições seja satisfeita, a reciclagem somente vai acontecer se for obrigatória por

lei.

A reciclagem de materiais pela indústria, por exemplo, depende muito desta

viabilidade econômica. Sobre esse processo pesa também a dificuldade de

desenvolvimento de mercado para os produtos reciclados, que muitas vezes são vistos

como produtos de qualidade inferior. Diversos fabricantes de produtos confeccionados a

partir de materiais reciclados ainda não se utilizam de argumentos adequados à otimização

desta informação, no intuito de motivar a aquisição destes produtos por parte dos

consumidores. Economia de energia, preservação de matérias-primas e recursos naturais

e redução da quantidade dos RSU que são destinados aos aterros sanitários, são alguns

dos argumentos positivos da prática da reciclagem.

No Brasil, nos últimos anos, foram desenvolvidas diversas iniciativas para colaborar

com a eficiência dos processos de triagem e coleta seletiva e, consequentemente, da

reciclagem. Exemplo disto são as auto declarações ambientais, que consistem em textos,

na simbologia e em gráficos presentes em produtos industrializados em geral,

consolidando-se como excelente interface com o consumidor. Os símbolos mais comuns

são apresentados na figura 3.1.

Figura 3.1: Principais símbolos das auto declarações ambientais (ABIQUIM, 2009).

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33

A norma NBR 13230 da ABNT padroniza os símbolos que identificam os diversos

tipos de resinas plásticas utilizadas. O principal objetivo é facilitar a etapa de triagem dos

diversos resíduos plásticos que serão encaminhados à reciclagem. Na tabela 3.3 são

relacionados os símbolos existentes aos seus respectivos termoplásticos e às suas

principais características, bem como a algumas das aplicações após a reciclagem de cada

material.

Termoplástico Simbologia Características Uso após reciclagem

Polietileno Tereftalato (PET)

Transparente e extremamente leve.

Tecido para bolsas, lonas e velas náuticas,

cordas e fios.

Polietileno de Alta Densidade (PEAD)

Leve, rígido e com boa

resistência química.

Sacaria industrial, garrafas de detergente,

tubos.

Policloreto de Vinila (PVC)

Transparente, leve e

resistente. Tubos e acessórios para

jardim, cercas.

Polietileno de Baixa Densidade (PEBD)

Flexível, leve, transparente e impermeável.

Reservatórios industriais e de resíduos, tubos,

filmes para uso agrícola.

Polipropileno (PP) Rígido, brilhante e

resistente a variações térmicas.

Caixas e recipientes para transporte, artigos

de decoração.

Poliestireno (PS) Impermeável, leve,

transparente, rígido e brilhante.

Lixeiras, material para isolamento térmico,

acessórios em geral.

Outros (ABS, EVA, PA, etc.)

- -

Tabela 3.3: Símbolos padronizados e principais atributos dos termoplásticos (ABIQUIM, 2009).

3.1.7.3. Compostagem

A compostagem, um processo biológico de decomposição controlada de matéria

orgânica contida em restos de origem animal ou vegetal, produz um composto, útil para

melhorar as propriedades físicas do solo, além de ter propriedades fertilizantes (NAUMOFF

e PERES, 2000).

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De acordo com Bidone e Povinelli (2010), este composto é estabilizado e também

chamado de húmus. Essa técnica pode ser utilizada para tratar a fração orgânica dos RSU.

Para Phillipi Jr. (2005), o processo promove a inativação da maioria dos agentes

patogênicos normalmente presentes nos resíduos sólidos, já que são expostos a

temperaturas da ordem de 65 a 70°C.

Há inúmeras alternativas de processos tecnológicos de compostagem, desde os

mais simples, como a compostagem em montes periodicamente revirados, até instalações

de grande porte com tambores rotativos. A compostagem pode ser realizada por meio de

processos aeróbios, anaeróbios ou mistos, mas é um processo lento que, dependendo da

tecnologia empregada, pode levar de 45 a 180 dias (PHILLIPI JR., 2005).

A vermicompostagem, por sua vez, é um processo complementar à compostagem

que visa a melhorar as características do composto, aumentando a disponibilização de

macro e micronutrientes, produzindo um material mais estável (BIDONI e POVINELLI,

2010).

Segundo estes autores, os agentes deste processo são as minhocas, as quais

dependem de algumas condições para sua sobrevivência. O composto não pode estar

encharcado, pois isso levaria à morte daqueles animais por afogamento. Por outro lado,

também não pode estar ressecado, uma vez que a umidade é essencial à realização do

processo.

3.1.7.4. Digestão anaeróbia

Esse método de tratamento baseia-se no rendimento da atividade microbiana,

principalmente dos microrganismos anaeróbios que, através de seu metabolismo,

transformam a matéria orgânica em produtos combustíveis, como gás metano e hidrogênio

e em um composto, potencialmente utilizável como condicionador do solo (SOUTO e

POVINELLI, 2012).

Mata-Alvarez (2000) afirma que a energia produzida pela digestão anaeróbia

ultrapassaria a necessária para a operação do sistema de tratamento, além de que este

processo causaria menores impactos ambientais por liberar menos gases estufa por

tonelada de resíduo tratado que qualquer outro sistema, inclusive a compostagem.

Os sistemas de digestão anaeróbia podem ser divididos em sistemas de fluxo

contínuo e sistemas em batelada. Os primeiros podem tratar quantidades muito maiores de

resíduo, porém sua implantação é mais custosa quanto comparada aos sistemas de

batelada. Estes, por sua vez, requerem áreas muito maiores.

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Os reatores anaeróbios também podem ser divididos em sistemas “a seco” e “a

úmido”, também conhecidos como sistemas com alta e baixa concentração de sólidos,

respectivamente. Os sistemas com alta concentração trabalham com os resíduos na sua

umidade natural, enquanto os de baixa concentração requerem adição de água, sendo que

o meio de reação tem a aparência de uma sopa (LISSENS et al., 2001).

Para Souto e Povinelli (2012), os reatores anaeróbios hoje disponíveis no mercado

não são capazes de estabilizar completamente a matéria orgânica. Sendo assim, faz-se

necessário que os resíduos que saem do reator sejam estabilizados de forma aeróbia, ou

seja, por compostagem. Cumpre ressaltar que os reatores conseguem trabalhar com

cargas orgânicas muito mais altas que os sistemas de compostagem, de modo que suas

vantagens residem tanto na possibilidade do aproveitamento do biogás quanto na

economia de área para a instalação do sistema.

3.1.7.5. Incineração

A incineração é uma técnica que pode ser usada para qualquer tipo de resíduo

orgânico. De acordo com Cempre (2000), esta tecnologia consiste na combustão dos

resíduos em temperaturas acima de 800°C, com injeção de ar para garantir a queima

completa, ou seja, a conversão total da matéria orgânica em gás carbônico e água.

Neste processo, não somente toda a matéria orgânica, mas também praticamente

toda a umidade é eliminada, enquanto os resíduos são convertidos em cinzas, devendo ser

classificadas de acordo com a NBR 10004 da ABNT e encaminhadas para a destinação

final correspondente. São gerados, ainda, alguns gases tóxicos que também devem sofrer

o tratamento adequado.

Embora seja muito criticada por essa geração de gases, a incineração é a técnica

de escolha de alguns países que dispõem de poucas áreas para aterros, como é o caso da

Suíça e do Japão (CEMPRE, 2000). Neste último país, mais de 70% dos resíduos sólidos

domésticos são incinerados (USHIMA e SANTOS, 2000). No Brasil, a incineração é muito

utilizada para o tratamento de RSS, com capacidade instalada para tratar 58.874 toneladas

por ano (ABRELPE, 2013). A larga utilização da incineração para o tratamento destes

últimos tipos de resíduos se deve ao fato dos agentes patogênicos serem destruídos, além

de eliminar uma série de compostos químicos tóxicos nele presentes.

Alguns incineradores são projetados de modo a permitir o aproveitamento do calor

da queima para a produção de energia elétrica. Uma das desvantagens desse processo

está no risco de produção e emissão de compostos tóxicos e cancerígenos, os quais

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podem depositar-se no solo e entrar na cadeia alimentar via vegetais e provocar danos

ambientais graves. Tecnicamente, existes, porém, algumas formas de minimizar essa

possibilidade, mediante resfriamento mais rápido dos gases e filtragem de materiais

particulados, entre outros métodos.

Leão e Tan (1998), a partir de um estudo a respeito de alternativas para os

resíduos sólidos do município de São Paulo, mostram que a incineração de alguns

componentes dos resíduos sólidos domésticos pode não ser economicamente mais

interessante que a coleta seletiva e reciclagem, embora investimentos mais expressivos

em educação ambiental possam inverter essa situação. No mesmo trabalho, os autores

concluem que, considerando mais especificamente o ponto de vista ambiental e tendo

como parâmetro o efeito estufa – a elevação da temperatura da superfície da terra devido

ao aumento da presença de certos gases na atmosfera -, a reciclagem se torna mais

vantajosa.

3.1.8. Disposição final

Os resíduos não tratados e os rejeitos dos diversos processos de tratamento

precisam ser finalmente dispostos no solo. A solução mais frequentemente indicada é o

aterro sanitário. Segundo Oliveira (1992), estes locais são obras de engenharia destinadas

a acomodar os resíduos sobre o solo, minimizando os impactos ambientais e os riscos à

saúde. Devem possuir drenos para os líquidos percolados que se formam na

decomposição natural da matéria orgânica e impermeabilização adequada para evitar a

contaminação de aquíferos. Ademais, precisam dispor de drenos também responsáveis

por escoar os gases que se formam no processo de fermentação da matéria orgânica.

A operação de aterros sanitários, por sua vez, deve incluir a compactação dos

resíduos e sua cobertura diária com terra, a qual tem por objetivo ajudar a evitar a

emanação de maus odores e a proliferação de vetores. Além disso, deve haver um sistema

de drenagem de águas pluviais e tratamento adequado para o chorume, bem como um

sistema de monitoramento de lençol freático.

De acordo com Phillipi Jr. (2005), entre as soluções sanitária e ambientalmente

adequadas, os aterros sanitários são considerados a forma mais barata, no curto prazo,

para solucionar a questão dos resíduos sólidos em cidades médias e grandes.

Quando a capacidade de um aterro se esgota, a área deve ser recuperada do ponto

de vista paisagístico e de utilização pela sociedade, respeitando-se as limitações técnicas

inerentes às características dos terrenos aterrados com resíduos.

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Um dos mais importantes aspectos de um projeto de aterro sanitário consiste na

determinação das áreas de sua localização. Do ponto de vista técnico, precisam favorecer

e facilitar as atividades ali realizadas, como transporte, manuseio e cobertura dos resíduos.

Já sob a ótica econômica, devem ser financeiramente acessíveis e próximas o suficiente

dos centros de geração, no intuito de não encarecer demasiadamente os custos de

transporte. Segundo os aspectos ambientais, o terreno deve possuir características

hidrogeológicas favoráveis, tais como solo de baixa permeabilidade e alta estabilidade

mecânica, ausência de movimentos naturais de terra e lençol freático suficientemente

distante. Por fim, no que diz respeito à perspectiva social, deve ser devidamente negociada

com a comunidade, uma vez que poucos tendem a aceitar impassivelmente a ideia de

serem vizinhos de um aterro sanitário (PHILLIPI JR., 2005).

Resumidamente, dentre as principais características que devem ser levadas em

consideração na definição das áreas potencias para instalação de aterros sanitários

destacam-se:

Dados populacionais;

Características dos resíduos;

Situação da coleta e transporte dos resíduos produzidos na região, inclusive

custos;

Dados geotécnicos, tipo de solo e relevo;

Águas subterrâneas, superficiais e regime de chuvas;

Legislação, incluindo o uso e ocupação do solo;

Investimento necessário à aquisição das terras;

Dados sociopolíticos das comunidades envolvidas (PHILLIPI JR., 2005).

Com o passar do tempo, entretanto, as áreas acessíveis para dispor os resíduos

sólidos tendem a se esgotar, provocando aumento de custo devido ao preço dos novos

terrenos ou às maiores distâncias em relação aos centros geradores. Vale ressaltar, ainda,

que no futuro existe a possibilidade de esgotarem-se totalmente as áreas factíveis para

instalação de aterros sanitários.

É a partir dessa realidade que se torna imperioso considerar cada vez mais as

tecnologias alternativas de tratamento e aproveitamento energético dos resíduos sólidos.

Porém, várias são as leis e resoluções já existentes no âmbito da disposição, as quais

objetivam alterar, para melhor, a dinâmica deste processo. Embora essa prática seja

inevitável, faz-se necessário garantir condições adequadas e ambientalmente corretas,

desde o projeto ao funcionamento correto dos aterros.

Neste sentido, a resolução CONAMA Nº 001/1986 prevê a necessidade de se

estabelecerem as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes

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gerais para uso e implementação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) como um dos

instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Para tal, faz-se necessária a

elaboração de um estudo de impacto ambiental e respectivo Relatório de Impacto

Ambiental (RIMA), a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente e do

IBAMA, para o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como os

aterros sanitários (CONAMA, 1986).

Em resumo, o EIA consiste em um documento técnico de avaliação do impacto

ambiental de qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades

humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

A saúde, a segurança e o bem-estar da população;

As atividades sociais e econômicas;

A biota, ou o conjunto de seres vivos de um ecossistema, o que inclui a flora, a

fauna, os fungos e outros grupos de organismos;

As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

A qualidade dos recursos ambientais.

Dentre os aspectos mais importantes da adesão à elaboração do EIA, destacam-se:

Visa a garantir que as medidas preventivas sejam compatíveis com o

desenvolvimento sustentável;

Proporciona um instrumento de tomada de decisão que integra variáveis

ambientais, econômicas, sociais e tecnológicas (instrumento de gestão);

Permite a elaboração de um respectivo RIMA, para que a sociedade possa ter

acesso e compreender o projeto.

O RIMA, por sua vez, reflete as conclusões do EIA, o qual deve ser apresentado de

forma objetiva e adequada a sua compreensão. Todas as informações desse documento

deverão ser traduzidas em linguagem acessível e ilustradas por mapas, quadros, gráficos

e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possa entender as vantagens e

desvantagens do projeto, bem como todas as consequências ambientais de sua

implementação (CONAMA, 1986).

Existem, entretanto, formas de disposição na quais não há quaisquer cuidados para

a redução de impactos, normalmente sendo chamadas de lixões. Não podem, a rigor,

constituírem formas de disposição final, já que dispor significa colocar de forma ordenada

(FERREIRA, 1993). Os lixões são inadequados do ponto de vista sanitário porque

propiciam a proliferação de vetores, os quais podem provocar o aparecimento de doenças.

Podem provocar também a poluição do solo, das águas, do ar e de diversos problemas

ambientais.

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Do ponto de vista social, acabam refletindo a miséria presente na região, já que são

fontes de sustento para os catadores. Infelizmente, os lixões são a forma mais numerosa

de locais de disposição final no Brasil (IBGE, 2000), sendo dispostos milhares de toneladas

de resíduos por dia em locais com essa classificação.

Para situações intermediárias entre os lixões e os aterros sanitários, é utilizada a

expressão aterros controlados. Segundo Phillipi Jr. (2005), esta última denominação

cumpriu durante algum tempo a função de diferenciar situações de descuido total daquelas

que já incorporavam alguns cuidados, mas é atualmente considerada imprópria por muitos

profissionais, já que passa a impressão de que os riscos ambientais estão todos

controlados dentro das normas estabelecidas, o que não é verdade. Tipicamente, esses

aterros recebem cobertura diária de terra, mas não possuem sistemas de

impermeabilização e de drenagem de líquidos e gases.

3.2. Polímeros

A palavra “plástico” tem origem no grego plastikós, que significa adequado à

moldagem. Plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares

chamadas polímeros e estes, por sua vez, são macromoléculas formadas a partir de

moléculas menores (monômeros) e caracterizadas por seu tamanho, sua estrutura química

e interações intra e intermoleculares. As unidades químicas fundamentais (meros) são

unidas por ligações covalentes, que se repetem ao longo da cadeia.

Os polímeros são capazes de adquirir condições plásticas por ação de calor e

pressão e podem ser obtidos através de reações poliméricas produzidas pelo Homem,

sendo considerados sintéticos. Por outro lado, existem os polímeros naturais, encontrados

e extraídos diretamente da natureza.

Na figura 3.2 são apresentados alguns exemplos de polímeros comuns, associados

às suas respectivas unidades repetitivas e aos monômeros que lhe dão origem.

3.2.1. Nomenclatura

Analogamente às substâncias orgânicas, os polímeros possuem um nome que se

relaciona diretamente com a sua fórmula química. De acordo com a IUPAC - International

Union of Pure and Applied Chemistry (2012), os polímeros são designados pelo prefixo

“poli” seguido do nome da unidade repetitiva colocado entre parêntesis. A título de

suposição, se se considerasse o nome da unidade repetitiva como “ABC”, o nome do

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Figura 3.2: Principais polímeros, associados às suas respectivas unidades repetitivas e ao monômero de origem (ABIQUIM, 2009).

polímero correspondente seria poli (ABC).

Muitos polímeros possuem nomes mais comuns e populares, pois foram

desenvolvidos antes da sistematização da nomenclatura das substâncias químicas. Por

exemplo, o polímero normalmente designado por “polipropileno”, de acordo com a

nomenclatura recomendada pela IUPAC, dever-se-ia designar-se por “poli (1-metiletileno)”.

No entanto, a IUPAC reconhece que esses nomes comuns se encontram

fortemente enraizados na linguagem popular e não seria sensato aboli-los definitivamente.

No entanto, recomenda-se que a comunidade científica recorra à classificação dos

polímeros de acordo com a nomenclatura sistemática.

No intuito de simplificar a designação de polímeros e materiais poliméricos é

frequente o uso de abreviações através de siglas. Os polímeros sintéticos são muitas

vezes designados por um nome comercial atribuído pela empresa que o sintetiza. Por

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41

exemplo, o poli (tetrafluoroetileno) é muito conhecido por um dos seus nomes comerciais –

o Teflon. Na figura 3.3 são apresentados alguns polímeros relacionados às suas

estruturas, nome comum e nome sistemático, bem como as siglas a eles atribuídas.

Figura 3.3: Polímeros relacionados às suas estruturas, nome comum e nome sistemático e suas siglas (ABIQUIM, 2009).

3.2.2. Histórico

Até a primeira metade do século XIX, acreditava-se que reações orgânicas eram

possíveis apenas no interior de seres vivos, conforme a Teoria da Força Vital, enunciada

por Jöns Jacob Berzelius. Em 1828, um discípulo de Berzelius, o alemão Friedrich Wohler,

descobriu a fórmula para sintetizar uréia a partir do isocianato de uréia inorgânico. Este se

configurou, então, como o ponto de partida para o desenvolvimento de materiais

poliméricos, a partir do qual houve um gradativo crescimento das pesquisas e estudos

voltados à química orgânica (ABIQUIM, 2009).

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Ainda segundo a Abiquim (2009), no ano de 1838, o francês Victor Regnault

polimeriza o PVC com auxílio de luz solar. No ano seguinte, o norte-americano Charles

Goodyear descobre a vulcanização da borracha natural, possibilitando o uso desse

material. Já no fim do século, em 1898, os químicos Einhor e Bischoff descobrem, por

acaso, o policarbonato, que seria desenvolvido apenas em 1950.

Logo no início do século 20, em 1907, o norte-americano Leo Hendrik Baekeland

sintetiza resinas de fenol-formaldeído, que ficariam conhecidas como baquelites. Também

chamado de fórmica, o baquelite foi o primeiro plástico totalmente sintético que surge em

escala comercial. No período de 1920 a 1950 são desenvolvidos os polímeros: PVC,

polimetacrilato de metila (PMMA), PS, nylon, polietileno, silicone, poliuretano, acrinolitrina

butadieno estireno (ABS) e poliéster, além de fibras sintéticas de poliéster e acrílico, entre

outros. Especificamente, em 1924, são criadas as fibras de acetato de celulose.

Em termos gerais, após a Segunda Guerra Mundial, a produção de polímeros

cresceu muito rapidamente, embora por volta de 1860 já houvesse a moldagem industrial

de plásticos naturais reforçados com fibras. Atualmente, a partir da engenharia de

macromoléculas, vários elastômeros termoplásticos estão presentes no nosso cotidiano,

como sacolas de supermercado em PEAD, lentes de contato flexíveis e garrafas de PET.

3.2.3. Origem e utilização

Segundo Matos (2009), os polímeros sintéticos são materiais produzidos

basicamente a partir do petróleo e constituem, hoje, a principal matéria-prima para a

fabricação de embalagens e recipientes plásticos, assim como os “plásticos de engenharia”

(usados em indústrias da construção civil, automobilísticas, entre outras). Ainda segundo

este autor, suas propriedades e características são variáveis e dependem da natureza

química e física das unidades repetitivas (mero).

Outros tantos são os segmentos nos quais esses materiais estão inseridos, desde

as indústrias até as áreas da medicina. Elucidativamente, os polímeros podem ser

substitutos do aço ou até mesmo uma válvula cardíaca. Segundo a ABIQUIM (2009), o

crescimento do mercado de materiais poliméricos tem sido superior a 10% ao ano ao longo

das últimas décadas, como por exemplo, os poliésteres. A crescente exigência por

materiais de melhor desempenho, mais resistentes a temperaturas elevadas, maior poder

de isolamento, dentre outros atributos, garantiram a estes materiais maior

representatividade no mercado.

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No que tange a construção civil, a aplicação de polímeros tem ganhado parcela

cada vez mais significativa. O PVC, por exemplo, começou a ser utilizado há décadas e

hoje integra boa parte dos itens de base das construções, a saber, canos, tubulações,

juntas de ligação, dentre outros itens. Não somente na base das obras, estão presentes

também no acabamento, como janelas e divisórias, portas, forros e coberturas, pisos e

decoração em geral. Por fim, a própria alvenaria de algumas residências já está sendo

construída a partir do PVC, graças às diversas características vantajosas desse material

em relação à madeira, por exemplo. O baixo custo, a resistência à umidade, imunidade a

fungos e corrosão e rapidez na montagem são alguns desses atributos.

Na tabela 3.4 são relacionados alguns dos principais polímeros às suas respectivas

aplicações:

Polímero Aplicações

Poliestireno

Polietileno

Polipropileno

Poliamida (nylon)

PVC

Plexiglass (Acrílico)

Teflon

Borracha natural

Amido

Celulose

Baquelite (fórmica)

Poliuretano

Copos, caixas, CDs, cassetes e outras

Baldes, sacos de lixo, sacos de embalagens

Cadeiras, poltronas, pára-choques de automóveis

Fibras, cordas, roupas

Tubos

Portas e janelas, lentes de óculos

Revestimento interno de panelas

Pneus, câmaras de ar, objetos de borracha

Alimentos, fabricação de etanol

Papel, algodão, explosivos

Revestimento de móveis, materiais elétricos

Espumas rígidas e flexíveis, isolantes

Tabela 3.4: Principais polímeros relacionados às suas aplicações mais comuns (CANEVAROLO JR., 2006).

De modo geral, a utilização dos materiais poliméricos está associada às suas

propriedades mecânicas que, por sua vez, dependem da constituição química: massa

molar, grau de interações intermoleculares, cristalinidade, entre outros quesitos. A

classificação dos polímeros é essencial para a especificação correta de uma resina

polimérica como matéria-prima de um processo industrial de transformação.

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44

3.2.4. Classificação

Tal como ilustrado na figura 3.4, os polímeros podem ser classificados em dois

grupos: naturais e sintéticos. Há, ainda, como subdividi-los em elastômeros, termoplásticos

e termofixos, de acordo com suas características.

Os polímeros sintéticos são produzidos industrialmente através de reações

químicas que dão origem aos plásticos, enquanto os polímeros naturais podem ser

encontrados em plantas e animais, como a madeira, o algodão, o látex, dentre outros. O

ácido desoxirribonucleico (ADN ou DNA), que contém o código genético que define as

características das pessoas e outros seres vivos, trata-se de outro polímero natural, assim

como as proteínas e o amido presente nos alimentos.

Figura 3.4: Subdivisões classificatórias dos polímeros (CANEVAROLO JR., 2006).

Embora haja muitas maneiras de classificar os polímeros sintéticos, existem

algumas mais comuns, as quais se referem a: Estrutura Química; Método de Preparação;

Comportamento termomecânico e Desempenho mecânico.

Segundo Canevarolo Jr. (2006), os polímeros podem ser classificados quanto à

estrutura química e ao método de preparação a partir da seguinte definição:

Estrutura Química – Considera a estrutura química do mero e apresenta duas

subdivisões:

Dotados de cadeira carbônica, sendo a principal constituída de carbono.

Neste subgrupo estão inseridos os polímeros de dienos (BR, NBR, etc.),

polímeros acrílicos, as poliolefinas (PEAD, PEBD, PP, etc.), polímeros

estirênicos (PS, SBR, etc.), polímeros clorados (PVC, PVDC, etc.),

polímeros fluorados (PVF, PTFE, etc.), entre outros;

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Polímeros de cadeia heterogênea, nos quais a cadeia principal possui,

além do carbono, outro átomo (heteroatomo), tendo como exemplo o

oxigênio, nitrogênio, enxofre, silício, entre outros. Nesta categoria

enquadram-se os poliéteres (POM), poliésteres (PET), policarbonato,

poliuretanos, entre outros.

Método de preparação – Esta classificação refere-se ao processo de formação

(reação dos monômeros) dos polímeros e são divididos em duas classes:

Polímeros de adição, cujo processo de formação ocorre sem perda de

massa na forma de compostos de baixo peso molecular, ou seja, pela

adição do monômero. Como exemplos desta classe tem-se o PE, o PP,

PVC, entre outros;

Polímeros de condensação, cujo processo de formação de polímeros

ocorre pela reação entre dois grupos funcionais reativos com a

eliminação de moléculas de baixo peso molecular (água, amônia, HCL,

etc.). Como exemplo desta classe tem-se o PET, entre outros.

As reações de polimerização por adição ocorrem quando o monômero apresenta

pelo menos uma insaturação. Além disto, na dupla ligação, a ligação π é rompida,

possibilitando que se formem grupos com duas valências livres, as quais se ligam entre si

numa reação de adição, fazendo com que haja o crescimento da cadeia carbônica.

Por outro lado, as reações de polimerização por condensação ocorrem quando o

polímero é formado a partir de dois ou mais monômeros diferentes, que apresentam

grupos reativos como hidroxilas, carbonilas, carboxilas, etc.

Quando à classificação referente ao comportamento mecânico, conforme Manrich

et al. (1997), os polímeros são classificados em três grupos: elastômeros, plásticos

termofixos e plásticos termoplásticos.

Chegando a assumir duas vezes o seu comprimento original, os elastômeros são

polímeros que se caracterizam por uma elevada elasticidade a temperatura ambiente e alta

absorção de impactos. As borrachas, em geral, são exemplos de aplicações desses

polímeros. Trata-se da classe intermediária entre os termoplásticos e os termorrígidos e

seu processo de reciclagem é complicado devido à incapacidade de fusão.

Os polímeros termofixos são rígidos e frágeis, sendo muito estáveis a variações de

temperatura. Possuem, ainda, um número elevado de ligações cruzadas entre suas

cadeias, conferindo-lhes a característica de não serrem remodelados pelo calor. O

poliéster insaturado é um exemplo de aplicação deste tipo de polímero, utilizado na

fabricação de barcos, concreto e argamassas poliméricas, entre outras aplicações. O

aquecimento do polímero acabado a altas temperaturas promove a decomposição do

material antes de sua fusão, o que torna sua reciclagem também complicada.

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Os termoplásticos são polímeros que, ao contrário dos termofixos, se caracterizam

por serem processados repetidas vezes pelo calor. Dependendo do tipo do termoplástico,

também podem dissolver-se em vários solventes, devido às ligações fracas que unem suas

moléculas. Logo, a sua reciclagem é possível, uma característica bastante desejável nos

dias de hoje.

Por fim, os polímeros termoplásticos, ou simplesmente plásticos, como são

popularmente conhecidos, apresentam uma subdivisão de classificação, a qual é feita com

base no critério de desempenho tecnológico e durabilidade, e, conforme Manrich et al.

(1997), podem ser de engenharia ou convencional.

Os termoplásticos de engenharia são polímeros que se caracterizam por possuir

melhores propriedades térmicas e mecânicas, ressaltando-se a tenacidade a altas e baixas

temperaturas, aliada à possibilidade de utilização em aplicações de longa duração. São

exemplos de aplicações: Poliamidas (náilon), usados em engrenagens e carcaça de

ferramentas; Policarbonatos, utilizados na fabricação de CDs, janelas de aeronaves,

ginásios esportivos, entre outros (MATOS, 2009).

Os termoplásticos convencionais, por sua vez, são polímeros largamente utilizados

para a fabricação de embalagens plásticas para produtos de setores como de limpeza,

alimentação e higiene pessoal, etc. Os principais polímeros utilizados são o PEAD e o

PEBD, PP, PVC, PS, entre outros.

Para Matos (2009), o PET, largamente utilizado em embalagens de bebidas

carbonatadas, água mineral com gás e de alimentos em geral, sempre foi utilizado em

aplicações de engenharia, considerando suas propriedades de alto desempenho. Desta

forma, pode ser considerado como um termoplástico de engenharia, embora seja um

polímero de grande uso, o qual compete com polímeros convencionais em diversas

aplicações.

Existem outros tipos de classificação para os polímeros, como por exemplo, em

relação à configuração molecular, grau de organização molecular, entre outros. Estes,

entretanto, não serão abordados em detalhes nesta seção.

3.2.5. Polietileno

Em função dos crescentes níveis de consumo, o mercado brasileiro de polietileno

ganhou, nos últimos anos, um novo perfil em volume e qualidade deste polímero. A

competitividade entre as indústrias de transformação acabou gerando maior oferta de

materiais poliméricos, com consequente aumento de sua qualidade e desempenho.

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As poliolefinas representam aproximadamente 60% da demanda mundial de

termoplásticos, na qual os polietilenos se encaixam no patamar dos 40%. No Brasil, as

poliolefinas representam cerca de 65%, dos quais 43% correspondem aos polietilenos. O

mercado brasileiro de polietileno cresce em um ritmo duas vezes superior ao do Produto

Interno Bruto (PIB). Entre 1999 e 2000, as vendas do polímero aumentaram em mais de

150 mil toneladas, ou seja, cerca de 10% da produção nacional (RETO, 2000).

O mercado de polietileno linear avança acentuadamente sobre a resina de baixa

densidade convencional, cujas vendas estão estagnadas e a sua produção apresenta

tendência de queda. Enquanto o volume de produção do polietileno linear de baixa

densidade cresceu 25% entre 1999 e 2000 e o de alta densidade aumentou 17%, o de

baixa densidade convencional caiu 2% (RETO, 2000).

Em geral, o polietileno é um polímero parcialmente cristalino, flexível, cujas

propriedades são acentuadamente influenciadas pela quantidade relativa das fases amorfa

e cristalina. As menores unidades cristalinas, chamadas lamelas, são planares e consistem

de cadeias perpendiculares ao plano da cadeia principal e dobradas em "zig-zag", para

cada 5 a 15 nm, embora haja defeitos que são pouco frequentes (DOAK, 1986).

Segundo Neves (1999), os polietilenos são inertes face à maioria dos produtos

químicos comuns, devido a sua natureza parafínica, seu alto peso molecular e sua

estrutura parcialmente cristalina. Em temperaturas abaixo de 60°C são parcialmente

solúveis em todos os solventes. Entretanto, dois fenômenos podem ser observados:

A interação com solventes pode provocar inchamento, dissolução parcial,

aparecimento de cor ou, com o tempo, completa degradação do material;

A Interação com agentes tensoativos pode resultar na redução da resistência

mecânica do material por efeito de tenso-fissuramento superficial.

Em condições normais, os polímeros etilênicos não são tóxicos, podendo inclusive

ser usados em contato com produtos alimentícios e farmacêuticos, a menos da utilização

de certos aditivos considerados nocivos.

No passado, o polietileno era classificado pela sua densidade e pelo tipo de

processo usado em sua fabricação. Atualmente, os polietilenos são mais apropriadamente

descritos como polietilenos ramificados e polietilenos lineares (NEVES; SILVA, 1999).

Dependendo das condições reacionais e do sistema catalítico empregado na

polimerização, cinco tipos diferentes de polietileno podem ser produzidos:

Polietileno de baixa densidade (PEBD ou LDPE);

Polietileno de alta densidade (PEAD ou HDPE);

Polietileno linear de baixa densidade (PELBD ou LLDPE);

Polietileno de ultra alto peso molecular (PEUAPM ou UHMWPE);

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Polietileno de ultra baixa densidade (PEUBD ou ULDPE).

Cada tipo de polietileno possui uma estrutura diferente, com influência direta sobre

a sua densidade, propriedades mecânicas, dentre outras características. Ramificações

longas, como as presentes no polietileno de alta densidade, por exemplo, aumentam a

resistência ao impacto, diminuem a densidade e facilitam o processamento, enquanto que

as ramificações curtas, mais presentes no polietileno linear de baixa densidade, aumentam

a cristalinidade e a resistência à tração.

Como este trabalho se baseia em um estudo de caso de um processo industrial

cuja matéria-prima é o polietileno, especificamente o linear de baixa densidade, o objetivo

principal desta seção é abordar as principais aplicações, propriedades físicas, assim como

o tipo de processamento e outras características importantes para este tipo de polietileno.

3.2.5.1. Polietileno linear de baixa densidade

Os polietilenos lineares de baixa densidade (PELBD) são copolímeros de etilenos

com α-olefinas (propeno, 1-buteno, 1-hexeno ou 1-octeno) que apresentam algumas

propriedades intermediárias em relação aos PEAD e aos PEBD. Considerado um polímero

termoplástico com elevada capacidade de selagem a quente, o PELBD tem sido utilizado

com sucesso nas últimas décadas, tanto acadêmica quanto comercialmente (MARTINS,

1999).

Embora sua maior aplicação consista na produção de filmes para embalagens

alimentícias, também são utilizados em filmes para uso industrial, fraldas descartáveis e

absorventes, lonas em geral, brinquedos, artigos farmacêuticos e hospitalares,

revestimento de fios e cabos, entre outras aplicações. Em alguns processos utilizam-se

misturas de PEAD e PEBD, como na fabricação de sacaria industrial, embalagens para

ração animal e filmes agrícolas (BAILEY, 1993).

Como pode ser verificado na figura 3.5, ao contrário do PEBD convencional, que

contém uma combinação aleatória de ramificações de cadeias curtas e longas, o PELBD

possui, essencialmente, ramificações de cadeias curtas e comprimento constante, embora

existam PELBD mais recentes que, além das ramificações de cadeias curtas, possuem

também pequenas quantidades controladas de ramificações de cadeias longas (INOUE,

1999; SCHOUTERDEN et al., 1987).

A microestrutura da cadeia dos copolímeros de etileno depende do tipo e da

distribuição do comonômero utilizado, do teor de ramificações e do peso molecular dos

polímeros. Esses parâmetros influenciam as propriedades físicas do produto final, pois

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49

Figura 3.5: Ramificações dos polímeros PELBD e PEBD (NEVES, 1999).

atuam diretamente na cristalinidade e outros aspectos da morfologia dos polímeros

(SCHOUTERDEN et al., 1987). Em geral, as propriedades das cadeias levam o PELBD a

ter alta cristalinidade, alto ponto de fusão e melhores propriedades mecânicas que o PEBD

(SILVA, 1999).

Na tabela 3.5 é estabelecida uma comparação entre polietilenos quanto a alguns de

seus principais parâmetros. Percebe-se, nitidamente, a superioridade da resistência à

tração do PELBD comparado ao PEBD. Sua temperatura de fusão cristalina (Tm) e

densidade são exemplos de propriedades intermediárias entre os demais polietilenos.

Propriedade PEBD PELBD PEAD

Tm (°C) 110 120 – 130 >130

Densidade (g/cm3) 0,92 0,92 – 0,94 0,94 – 0,97

Resistência à tração (Mpa) 24 37 43

Tabela 3.5: Comparação entre polietilenos e seus principais parâmetros (GUITIÁN, 1995).

Outro fator determinante na caracterização das qualidades de um polímero consiste

no tipo de catalisador utilizado em sua fabricação. Os catalisadores Ziegler Natta, por

exemplo, originam PELBD com ampla distribuição de massa molar e distribuição

heterogênea de comonômeros, os quais se concentram – principalmente - nas cadeias

poliméricas. Já os catalisadores denominados metalocênicos originam PELBD com

distribuição mais estreita de massa molar e distribuição mais homogênea de ramificação.

Neste sentido, os PELBD podem apresentar diferentes características físicas e

mecânicas entre si. Vale ressaltar que os efeitos da quantidade de ramificações e a da

massa molar nas características do material não são facilmente diferenciados, já que a

massa molar está inversamente relacionada à quantidade de ramificações curtas. Portanto,

o fracionamento deste termoplástico é essencial para o estudo da cinética de cristalização,

da morfologia da fase cristalina e do comportamento do fundido das frações (DOAK, 1996;

MILES e BRISTON, 1965).

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Por fim, a maior resistência ao cisalhamento e a maior susceptibilidade à fratura do

fundido conferem ao PELBD a necessidade de uma tecnologia mais refinada para seu

processamento. No entanto, segundo (SILVA, 1999; MILES e BRISTON, 1965), as ótimas

propriedades mecânicas deste tipo de polietileno, aliadas às suas boas características

ópticas, justificam seu uso em detrimento de outros tipos de resinas poliméricas.

3.2.6. Biodegradação e reciclagem

É inegável que o crescimento sustentado do setor de polímeros se deve, dentre

outros fatores, à enorme flexibilidade das aplicações e do relativo baixo custo desses

materiais. Novas tecnologias de produção de resinas poliméricas ainda vêm sendo

desenvolvidas e cada vez mais estes materiais substituirão outros materiais tradicionais,

como o vidro, os metais e a madeira (RABELLO, 2000). No entanto, devido à lenta

biodegradação dos materiais plásticos e aos crescentes níveis de produção aliados ao

descarte indevido, estes vêm se acumulando no meio ambiente, sobrecarregando os

aterros sanitários e causando a impressão de poluição descontrolada (ACHILIAS et

al.,2008).

Segundo Matos (2009), as taxas de reciclagem no Brasil apresentam crescimento a

cada ano, sendo que o PET representa mais de 50% em relação às demais resinas. Ainda

segundo o mesmo autor, certos países da União Europeia, que possuem taxas elevadas

de reciclagem de plástico, possuem legislações específicas, disciplinando a recuperação

dos resíduos plásticos, diferentemente do Brasil, onde a reciclagem acontece basicamente

em função do interesse de mercado.

O tempo de vida útil dos materiais poliméricos varia em função da sua utilização

final. Em cerca de 20% dos casos, o tempo previsto para uso e descarte é inferior a um

ano (MATOS, 2009). Embora haja uma forte pressão ambiental no intuito de reduzir a

utilização desses materiais, parece nada natural que o crescimento de seu consumo e

consequente produção venha a diminuir. Ao contrário, vê-se uma tendência nítida de

aumento desses índices, por razões já discutidas em no item 2.1. É fundamental, pois, que

também se desenvolvam técnicas eficientes de reciclagem, na tentativa de minimizar o

impacto ambiental.

A degradação de um material polimérico consiste na alteração irreversível de suas

propriedades, através de reações químicas propiciadas por determinados agentes físicos

ou químicos. Geralmente, a degradação de um material é indesejável, dado que se

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51

pretende alcançar elevada durabilidade. Esta característica é um dos principais

argumentos de venda por parte dos fabricantes em geral.

Vale ressaltar que a degradação pode ocorrer durante o processamento do

material, principalmente pela exposição a altas temperaturas e elevados esforços

mecânicos, caracterizando – respectivamente - a degradação térmica ou mecânica. Este

mesmo processo pode ocorrer durante a vida útil do produto, através, por exemplo, da

fotodegradação, que se dá a partir de sua exposição intensa à luz solar.

O processo de biodegradação, em contrapartida, consiste na alteração das

propriedades físicas e químicas do polímero por ação enzimática de microorganismos em

determinadas condições de temperatura, umidade, radiação, oxigênio e presença de

nutrientes orgânicos e minerais. Em outras palavras, consiste na exposição direta do

polímero ao meio ambiente.

Os plásticos são materiais muito resistentes à biodegradação, sendo necessário,

para muitos deles, mais de cem anos para completar este processo, dada a sua elevada

massa molecular e a sua hidrofobicidade, as quais dificultam a ação enzimática dos

microorganismos na superfície do polímero.

Segundo a ASTM - American Society For Testing and Materials (1999),órgão

estadunidense que desenvolve e publica normas técnicas para uma ampla gama de

materiais, a reciclagem dos polímeros pode ser classificada e dividida em quatro tipos:

Reciclagem Primária – É realizada por meio dos resíduos de origem industrial,

referentes às obras ou aparas, desde que não apresentem qualquer tipo de

contaminação. O processo compreende as etapas de seleção dos resíduos,

lavagem, moagem, secagem e reprocessamento. Este último é realizado, em

geral, por extrusoras ou injetoras. Na reciclagem de filmes plásticos pode ser

acrescentada a etapa de aglutinação, com a finalidade de aumentar a densidade

do material. O produto reciclado final possui, portanto, propriedades

semelhantes a da resina virgem;

Reciclagem Secundária – Pode ser definida como a recuperação dos produtos

plásticos pós-consumo presentes nos RSU. O processo é semelhante ao da

reciclagem primária, pois também compreende todas as etapas deste tipo de

reciclagem. Entretanto, este processo está sujeito a um maior risco de

contaminação da matéria-prima, seja pela presença de partículas de outros

polímeros, ou mesmo outros materiais, como adesivos, colas ou tintas aderidas

em sua superfície. Desta forma, o produto reciclado apresenta, invariavelmente,

propriedades inferiores ao de resina virgem;

Reciclagem Terciária – Consiste em submeter os resíduos poliméricos a uma

despolimerização, a qual é realizada por meio da decomposição química

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controlada do polímero, visando à obtenção de monômeros passíveis de serem

utilizados para uma nova polimerização. Neste caso, o polímero é considerado

de boa qualidade para novos processamentos;

Reciclagem Quaternária – Dá-se através da incineração dos resíduos

poliméricos, os quais são submetidos à combustão, obtendo-se como produto a

energia desprendida, sob forma de calor, e emissões gasosas. Este processo

apresenta seu melhor resultado com a combustão completa, ou seja, com

excesso de oxigênio presente na queima, com obtenção do dióxido de carbono

como principal produto. Configura-se, pois, a perda da matéria-prima

propriamente dita, pois a massa de polímeros é utilizada na combustão como

combustível e transformada, por conseguinte, em energia térmica e subprodutos

(cinzas).

Estes diversos tipos de reciclagem se dão a partir de três diferentes processos,

segundo os quais, Piva e Wiebeck (2004) apresentam outra classificação:

Reciclagem Mecânica – Tem por objetivo a obtenção de uma nova peça de

plástico por meio das etapas de seleção, moagem, lavagem, secagem,

aglutinação e reprocessamento, independentemente da origem do resíduo

polimérico;

Reciclagem Química – Objetiva a despolimerização controlada do plástico, com

a destruição da estrutura polimérica, obtendo-se produtos como monômeros e

substâncias de baixa massa molar, os quais se constituirão em matéria-prima

para um novo processo de polimerização;

Reciclagem energética – Visa à obtenção do conteúdo energético dos plásticos

por meio da combustão, conforme o processo descrito na reciclagem

quaternária.

3.3. Processos produtivos industriais de transformação de polímeros

Os produtos plásticos podem ser moldados a partir de diversos processos de

transformação de polímeros, através dos quais as diversas resinas poliméricas, em

formato de grânulos, pó ou líquidos, serão aquecidas ou catalisadas.

Este capítulo tem como principais objetivos detalhar minuciosamente o processo de

rotomoldagem, por tratar-se do processo envolvido no estudo de caso proposto e

caracterizar alguns dos processos mais utilizados pelas indústrias na fabricação de

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produtos plásticos, como a injeção e a extrusão. Por fim, a título de complemento, são

superficialmente abordados outros processos de transformação de resinas poliméricas.

3.3.1. Moldagem por injeção

O processo de moldagem por injeção consiste basicamente no aquecimento da

matéria-prima polimérica, passando-a do estado sólido, normalmente encontrado em pó,

granulado de formas geométricas diversas ou flocos (flakes) como nos materiais

reciclados, para um estado pastoso e plastificado. Tal alteração se dá por consequência do

aquecimento do cilindro da unidade de injeção, calor este transmitido por resistências

elétricas e por atrito da matéria-prima durante o processo de dosagem (BLASS, 1988).

Ainda segundo este autor, a moldagem por injeção não é um processo contínuo, mas sim

intermitente, seguindo um período de repetição denominado “ciclo de injeção”, o qual pode

conter eventos que se intercalam ou que se sucedem sequencial e indefinidamente.

Segundo Manrich (2005), um dos processos mais versáteis e modernos no campo

da transformação e processamento dos polímeros é, sem dúvida, o da moldagem por

injeção. Atualmente, trata-se de um dos processos mais comuns de fabricação de peças

de plástico, sendo a maioria das indústrias a este adepta.

Além da moldagem por injeção utilizar-se dos termoplásticos, termofixos e

elastômeros vulcanizados (borrachas e silicones), também pode ser utilizada para a

fabricação de peças cerâmicas, metálicas, de alumínio, dentre outras, a partir de

compostos que utilizam um material polimérico como vetor.

3.3.1.1. Histórico

O processo de moldagem por injeção foi patenteado em 1872 pelos irmãos Hyatt.

Desde então, começou a ser utilizado cada vez mais e, ao longo do século XX sofreu uma

grande evolução, marcada – principalmente - pela máquina hidráulica (anos 40), a

máquina de parafuso alternativo (1951) e a máquina elétrica (1988).

Inicialmente desenvolvido para a transformação de resinas termoendurecíveis,

como a ureia formaldeído ou baquelite, o processo teve um enorme desenvolvimento

frente ao advento dos materiais termoplásticos, consagrados após a Segunda Guerra

Mundial. Atualmente, a moldagem por injeção é um dos principais processos de

transformação de materiais de base polimérica, com enorme importância nos grandes

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mercados consumidores, tais como a construção civil e automobilística, indústrias de

embalagens e materiais elétricos e eletrônicos, dentre outros (HARADA, 2004).

O grande sucesso desta tecnologia deve-se ao efeito combinado de uma série de

vantagens comparativas, entre as quais se salientam: a elevada capacidade produtiva, a

grande reprodutibilidade e precisão dimensional, a flexibilidade em termos de geometria e

dimensões das moldagens, entre outros atributos. A gama de aplicações deste processo é

vasta, desde as micromoldagens, gerando peças inferiores a 1 mg, até as

macromoldagens, com peças de mais de 100 kg (MANRICH, 2005).

3.3.1.2. Etapas gerais do processo

Segundo Mano (2004), o ciclo de moldagem do processo de injeção de

termoplásticos obedece a um sequenciamento típico, envolvendo as seguintes etapas:

1. Dosagem do material termoplástico granulado ou em pó no cilindro de injeção;

2. Aquecimento com consequente fusão do material até a consistência adequada;

3. Injeção do material plástico fundido no molde fechado;

4. Resfriamento, com consequente solidificação e recuperação da rigidez do

material;

5. Extração do produto com o molde aberto.

Em resumo, o material plástico a transformar, originalmente no estado sólido e

normalmente sob a forma de grãos, é carregado no funil da máquina de injetar e

alimentado para o interior do cilindro de plastificação, onde é aquecido a fim de tornar-se

fluido e homogeneizado. O aquecimento do material provém do calor transmitido através

das paredes do cilindro por resistências elétricas e pelo calor gerado por efeito de

dissipação viscosa, em resultado do esforço mecânico da rotação do parafuso. Dessa

maneira, o fundido resultante é forçado a fluir para o interior de um molde, o qual irá

preencher a respectiva cavidade e resfriar devido às trocas de calor com as superfícies

moldantes.

Finalmente, o processo conclui-se com a extração da moldagem, que ocorre após o

período de resfriamento. Em outras palavras, o produto, depois de resfriado o suficiente

para manter sua estrutura e forma, é extraído do molde. No caso da moldagem de

termofixos ou de borrachas vulcanizadas o molde apresenta uma temperatura mais

elevada que a do cilindro, no intuito de garantir a reticulação do material após a injeção.

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3.3.1.3. Tipos de injeção

As máquinas injetoras são providas de sistemas de abertura e fechamento do

molde, os quais garantem o sequenciamento correto do processo de injeção do material

plástico na cavidade do molde. A unidade de fechamento promove o fechamento do molde

com força suficiente para suportar a pressão do material, no momento da injeção.

Uma das maneiras convencionais de diferenciar os tipos de injeção consiste em

classificar o processo de fechamento do molde, segundo as seguintes possibilidades de

sistema (SENA, 2003):

Mecânico: esse sistema funciona com alavancas ligadas em dois braços, os

quais recebem o acionamento manual, transmitindo a força para as alavancas,

que se deslocam de acordo com o movimento, abrindo ou fechando o molde. É

um sistema antigo, ainda utilizado para pequenas produções, nas quais todos os

movimentos dependem do operador;

Hidráulico de pistão: nesse sistema, a abertura e fechamento do molde são

feitos por um pistão hidráulico de grande área, ligado a um cilindro hidráulico. A

força de fechamento é dada pela pressão do óleo, de maneira que, quanto maior

a pressão, maior será a força aplicada no molde. Vazamentos internos ou

externos no sistema de fechamento implicam perda de pressão, a qual diminui a

força de fechamento, com possibilidade de deixar rebarbas no produto;

Hidráulico-mecânico: a maioria dos fabricantes de máquinas injetoras utiliza

esse sistema de fechamento. Um cilindro e um pistão hidráulico de área bem

reduzida em relação ao sistema com pistão ficam ligados a um sistema de

articulações, composto por tesouras ou joelhos, que irá movimentar a placa

móvel, fechando ou abrindo o molde. A pressão do óleo, ou a pressão de

fechamento, faz com que as articulações se travem, ocorrendo um “estiramento

das colunas” e gerando a força de fechamento necessária.

3.3.1.4. Máquinas de injeção

O processo utiliza dois equipamentos essenciais: a injetora e o molde. Contudo, a

moldagem de qualidade pode exigir um conjunto adicional de equipamentos: dispositivos

para transporte e alimentação de matéria-prima, robô manipulador para manuseio de

moldagens ou sistemas de alimentação, esteira transportadora, moinho granular e

dispositivo para controle da temperatura do molde.

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56

Em termos gerais, a máquina injetora, cujo esquema é apresentado na figura 3.6,

consiste no equipamento utilizado para fabricação descontínua de produtos moldados, pela

injeção de material plastificado no molde, que contém uma ou mais cavidades, na qual

ocorre a formação da peça. A máquina injetora consiste, essencialmente, da unidade de

fechamento, unidade de injeção, sistemas de acionamento e controle.

Figura 3.6: Esquema geral da máquina injetora (SENA, 2003).

A unidade de injeção ou sistema de injeção, por sua vez, recebe o material no

estado sólido, em forma de grânulos ou pó, e transporta-os nas quantidades

preestabelecidas, para o interior do molde. A unidade de injeção pode ser dividida em dois

tipos, o que praticamente define o tipo de máquina injetora: tipo pistão e tipo rosca.

As máquinas tipo rosca são as mais utilizadas atualmente. Sua unidade de injeção

trabalha com uma rosca que serve também de êmbolo de injeção. A rosca gira em um

cilindro aquecido, dotado de um funil superior, por onde se introduz o material

termoplástico. A unidade de injeção move-se, geralmente, sobre a base da máquina.

Algumas vezes faz-se necessária a substituição do cilindro, do parafuso e do bico de

injeção, de forma a se ajustarem a um novo material a ser processado ou a um diferente

volume de injeção solicitado (SENA, 2003).

Contudo, independentemente do tipo de sistema de injeção, o plástico é dosado,

fundido, homogeneizado, transportado e injetado no molde, ficando a unidade de injeção

responsável, basicamente, por dois grupos de funções, a saber, a plastificação do material

plástico e a injeção do material no molde.

Por fim, os sistemas de acionamento e controle, integrados a um painel eletrônico

na máquina de injeção, são responsáveis por garantir os parâmetros do processo, a partir

das características desejadas pelo fabricante. Constitui etapa fundamental para o sucesso

da moldagem quanto ao atendimento da demanda e capacidade produtiva. A velocidade

de abertura e fechamento, a velocidade de amortecimento (desaceleração), a pressão de

abertura e travamento são alguns dos diversos parâmetros intrínsecos ao processo de

moldagem por injeção.

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57

3.3.1.5. Parâmetros do processo

Segundo Cominatto (1997) e Engel e Huell (1996), os principais e mais influentes

parâmetros do processo de moldagem por injeção são:

Tempo de ciclo: é o tempo necessário para completar todas as etapas de um

ciclo de moldagem de uma máquina injetora;

Velocidade de Injeção: é a velocidade de avanço do pistão ou da rosca, no

momento em que o material é injetado;

Tempo de injeção: é o tempo estabelecido, no painel da máquina injetora, para

realizar a operação de injeção e eventualmente o recalque da peça injetada.

Possui controle independente e normalmente é contabilizado em segundos;

Tempo de Recalque: é o tempo estabelecido no painel da máquina injetora para

que a rosca continue fazendo pressão sobre os componentes injetados;

Tempo de resfriamento: fator que controla o tempo que o produto fica no molde.

Ao iniciar-se o tempo de resfriamento, geralmente se inicia a dosagem da

próxima fase de injeção;

Temperatura do molde: é determinada a partir do controle da temperatura da

água industrial ou líquido refrigerante que circula pelos moldes;

Temperatura da máquina: fator ajustado automaticamente pelo processo, dado

que influencia diretamente na temperatura do material;

Dosagem: é a quantidade de material utilizada para realizar o ciclo completo do

processo. O material é escoado através da rotação do parafuso (rosca) que fica

dentro do cilindro de aquecimento;

Pressão de injeção: é a pressão com que o material polimérico é injetado no

molde, controlada automaticamente pela máquina através de um sistema

presente em seu cilindro;

Pressão de recalque: é a pressão que atua dentro do tempo de recalque. Essa

operação é realizada no processo de moldagem para garantir que todas as

cavidades do molde sejam preenchidas, caso contrário, a peça apresentará

defeitos ou não uniformidades de espessura.

O equipamento utilizado, junto à estratégia de determinação dos parâmetros do

processo poderão desde otimizá-lo até mesmo prejudicar consideravelmente a qualidade

do produto final.

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58

2.3.2. Extrusão

Extrudar um material significa comprimi-lo acima de seu limite de elasticidade em

uma câmara e forçá-lo a escoar e adquirir a forma do orifício de saída da câmara. Uma

simples analogia do nosso dia-a-dia consiste na saída da pasta de dente de seu tubo

deformável. Neste caso, a pasta deixa o tubo com o formato do bocal de saída, assim

como na extrusão um metal é normalmente comprimido por um êmbolo ou pistão e pode

ser empurrado para frente ou para trás, resultando em um produto oco ou maciço

(BRESCIANI et al., 1997).

Em linguagem específica, a extrusão é um processo de conformação plástica que

consiste em passar um lingote ou tarugo de secção circular sob a pressão de um pistão

acionado pneumática ou hidraulicamente, através da abertura de uma matriz, formando um

produto alongado com o perfil da matriz.

Vale ressaltar que cada tarugo ou lingote é extrudado individualmente,

caracterizando a extrusão como um processo semi-contínuo, no qual se faz necessário

finalizar a confecção de uma peça para dar início à outra. Por vezes, a extrusão pode ser

combinada com operações de forjamento, sendo denominada extrusão fria ou a frio. A

ductilidade do material é uma das características que determina quais rotas de processo

poderão ser estabelecidas.

Quando o processo é realizado a quente, ou seja, acima da temperatura de

recristalização, a passagem do tarugo pela ferramenta, com furo da seção menor do que a

do tarugo, provoca a deformação plástica do metal. Obtêm-se, então, perfis metálicos com

propriedades mecânicas controladas e de comprimento limitado pelo volume do lingote

inicial. A extrusão a quente, porém, oferece emprego limitado, normalmente a aços, em

razão das condições de trabalho adversas caracterizadas por elevadas pressões e

temperaturas.

Como a estrutura metálica do produto da extrusão se encontra na condição

recristalizada, é possível aplicar ao metal extrudado intensos trabalhos de deformação a

frio adicionais, como, por exemplo, a trefilação. Este processo é análogo à extrusão,

também destinado à produção de barras de perfil constante. Na trefilação, porém, o

escoamento do material se dá através da aplicação de uma força de tração, enquanto que,

na extrusão, trata-se de uma força de compressão.

Segundo Abal (1990), as vantagens do processo de extrusão incluem a redução de

custos através da eliminação de operações posteriores de usinagem ou junção, bem como

a possibilidade de obtenção de seções mais resistentes através da adequada eliminação

de juntas frágeis e de uma melhor distribuição de metal. A extrusão permite, também, obter

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um produto mais homogêneo, estrutural e dimensionalmente, além de ser menos passível

de ataques por oxidação superficial.

Algumas eventuais desvantagens do processo de extrusão se comparado a outros

processos de transformação de polímeros são: custo maior de aquisição dos

equipamentos, limitação de comprimento do perfil de extrusão, menor velocidade de

trabalho e possíveis ausências de uniformidade de deformação ao final do processo.

Embora presente em uma vasta gama de aplicações, o uso mais comum da

extrusão se faz nos seguintes produtos (CHIAVERINI, 2000):

Quadros de janelas e portas;

Trilhos para portas deslizantes;

Tubos de várias seções transversais e formas arquitetônicas;

Maçanetas e trancas;

Engrenagens em geral;

Tijolos vazados de cerâmica;

Maquinário pesado;

Componentes para automóveis e motocicletas (combinada com o forjamento).

Por fim, nas operações combinadas com forjamento podem-se gerar componentes

para automóveis, bicicletas, motocicletas, maquinário pesado, equipamento de transporte,

estruturas aeroespaciais, dentre outras centenas de itens fabricados a partir de perfis

extrudados.

3.3.2.1. Histórico

A extrusão de metais surgiu na Inglaterra, em 1797, na fabricação de tubos de

chumbo. Porém, somente em meados de 1900 a extrusão tomou níveis industriais. O

primeiro grande incremento de utilização de perfis extrudados ocorreu durante a Segunda

Guerra Mundial, quando estas peças, fabricados em alumínio, foram produzidos em

grande quantidade para utilização em componentes aeronáuticos. A partir da introdução de

ligas intermediárias, tratáveis termicamente na própria prensa de extrusão com notável

eficiência, houve uma rápida expansão desta indústria no pós-guerra (YOSHIDA, 2001).

Atualmente, este processo é muito empregado para obter barras, tubos ou seções

de formas complexas, com tolerâncias dimensionais e acabamento de qualidade na

superfície das peças. O método tem sido útil para deformar ligas refratárias e aços

inoxidáveis, pois estes apresentam uma tensão média de compressão. Praticamente

qualquer forma de seção transversal vazada ou cheia pode ser produzida por extrusão.

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Como a geometria da matriz permanece inalterada, os produtos extrudados têm seção

transversal constante. Existe, ainda, a possibilidade de seccionar o perfil extrudado, de

maneira a obter produtos como maçanetas, trancas e engrenagens, entre outros objetos.

3.3.2.2. Etapas gerais do processo

Como mencionado anteriormente, os metais mais duros, como o aço, passam

normalmente pelo processo de extrusão a quente, o qual envolve as seguintes etapas

(ABAL, 1990):

1. Fabricação de lingote ou tarugo de seção circular;

2. Aquecimento uniforme do lingote ou tarugo;

3. Transporte do lingote ou tarugo aquecido para a câmara de extrusão. Essa

etapa deve ser executada o mais rapidamente possível para diminuir a oxidação

na superfície do metal aquecido;

4. Execução da extrusão: com o tarugo aquecido e apoiado diante da câmara de

extrusão, o pistão é acionado e o material é empurrado para o interior da

câmara, conforme a sequência de operações ilustradas na figura 3.7. Em geral,

esta etapa compreende, por sua vez, as seguintes ações: Alimentação da

prensa (a), Início da extrusão com avanço do pistão (b), Fim da extrusão (c) e

Retirada da ferramenta e do extrudado com o resíduo do tarugo (d).

Figura 3.7: Etapas da extrusão de um lingote ou tarugo (CHIAVERINI, 2000).

Após o fim da extrusão, na qual o pistão recua e a câmara se afasta para a retirada

do disco e da parte restante do tarugo, ainda há uma etapa adicional de remoção dos

resíduos de óxido decorrentes do processo, com o auxílio de um disco raspador acionado

pelo pistão.

Em outras palavras, deve-se remover o fundo ou resíduo do tarugo que não foi

extrudado. Caso esse resto de tarugo não seja removido, pode ocorrer um fluxo de metal

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irregular na próxima extrusão, o que reduzirá a qualidade do produto ou até provocará um

defeito, o qual usualmente se manifesta na forma de um furo interno na peça extrudada.

Mesmo para prensas relativamente grandes, com cerca de 2.000 toneladas, o

tempo para o ciclo completo de extrusão é normalmente reduzido, contabilizando cerca de

60 segundos.

3.3.2.3. Tipos de extrusão

O processo de extrusão pode ser classificado de diversas maneiras. A mais usual

delas é quanto ao tipo de movimento do material plástico, destacando-se a extrusão direta

e a indireta. Esta última também pode ser denominada inversa.

No processo de extrusão direta, o tarugo é colocado em uma câmara e impelido

através da matriz por ação de um êmbolo. Um disco de pressão é colocado no fim do

pistão ou êmbolo em contato com o tarugo. Esse tipo de extrusão pode ser utilizado em

mais aplicações, pois seu mecanismo oferece maior simplicidade, já que não possui um

pistão oco, cuja resistência seria limitada à flambagem do material que o compõe

(HELMAN et al., 1993).

Ainda na extrusão direta, a matriz fecha um lado da câmara e o pistão ou êmbolo

fecha o outro. Aplica-se, então, uma pressão no pistão, que por sua vez exerce força sobre

o lingote, fazendo-o mover-se para frente, com consequente extrusão do metal pelo orifício

da matriz. A câmara e a matriz são fixas e o tarugo move-se em relação à câmara. Na

figura 3.8 é possível observar uma representação esquemática da extrusão direta:

Figura 3.8: Representação esquemática da extrusão direta (HELMAN et al., 1993).

Essa movimentação do tarugo provoca atrito entre o mesmo e a superfície da

câmara, o que acarreta um acréscimo da força necessária para extrudar o metal através da

matriz. Esse atrito também retarda o fluxo do metal da região periférica do lingote, com

consequente aumento do fluxo de material.

Por outro lado, na extrusão indireta ocorre o inverso da extrusão direta, já que é a

matriz que se desloca em relação ao tarugo. O pistão ou êmbolo é furado e ligado à matriz,

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enquanto a outra extremidade da câmara é fechada. Frequentemente, o pistão e a matriz

são mantidos estacionários, e a câmara movimenta-se com o tarugo.

Na extrusão indireta, por não se ter movimento entre a câmara e o tarugo, as forças

de atrito são muito menores e as pressões requeridas para extrusão são bem inferiores em

comparação à extrusão direta. Contudo, existe uma limitação pelo fato da extrusão indireta

utilizar um pistão oco, o qual restringe o valor das cargas a serem aplicadas. A figura 3.9 é

uma ilustração do processo de extrusão indireta.

Figura 3.9: Representação esquemática da extrusão indireta.

Neste tipo de extrusão, a pressão de extrusão requerida é bem menor, pois não há

atrito entre as superfícies do lingote e do recipiente. Não havendo atrito, ocorre um fluxo

adicional de metal na secção transversal total do lingote durante a extrusão. Esse tipo de

fluxo diminui sensivelmente a formação de vazios centrais na parte posterior do produto

extrudado e também reduz a quantidade de descarte da extremidade. Uma desvantagem

da extrusão inversa, porém, consiste na má qualidade superficial do produto quando

comparada à outra variante do processo.

Embora o processo indireto exija menor esforço de deformação e permita a

obtenção de um produto mais homogêneo que na extrusão direta, esta apresenta uma

utilização maior devido à simplicidade do equipamento. Não se exige, dessa forma, o uso

de um pistão oco que possua uma resistência limitada à flambagem, principalmente para

extrusão de grandes componentes.

Por fim, como na extrusão inversa o pistão se mantém fixo, com a ferramenta

colocada na sua extremidade, e a câmara com o tarugo avança em sua direção, o atrito

torna-se inexistente entre o tarugo e a câmara. Entre o bloco e o metal a ser extrudado,

geralmente se interpõe um pedaço de material suplementar, como, por exemplo, o grafite.

Este material força, por sua vez, a passagem de todo o tarugo através da matriz.

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3.3.2.4. Máquinas de extrusão

Normalmente, a extrusão a quente é efetuada em prensas hidráulicas horizontais,

especialmente construídas para a esta finalidade. As prensas de extrusão comuns

costumam ter capacidade nominal entre 250 a 5.500 toneladas, mas – atualmente - alguns

projetos chegam a especificar até 25.000 toneladas de capacidade nominal.

Ademais, as prensas hidráulicas horizontais são utilizadas para produzir a maior

parte dos extrudados de alumínio presentes no mercado. Algumas delas chegam a ser

utilizadas para empurrar perfis de grande dimensão ou complexidade geométrica, bem

como perfis produzidos com ligas de alta resistência mecânica.

A prensa de extrusão é essencialmente um conjunto cilindro-pistão hidráulico, no

qual o cilindro necessita de constante alimentação de líquido sob pressão. A alimentação

deste componente pode se dar com auxílio de uma bomba hidráulica, que mantém a

velocidade do pistão necessária à extrusão, ou com o emprego de um acumulador de

pressão. No primeiro caso, a alimentação, e consequentemente o acionamento, são do

tipo oleodinâmico e, no segundo caso, do tipo hidropneumático (YOSHIDA, 2001).

A alimentação oleodinâmica consiste no fluido, no caso o óleo, ser mantido no

cilindro sob pressão constante, com auxílio de uma bomba de vazão regulável, em função

da velocidade de extrusão. As principais características a serem consideradas neste caso

são: a pressão máxima atingida e a velocidade de resposta ao comando de alimentação.

Já na alimentação hidropneumática, adota-se um acumulador de pressão variável,

que consiste em uma câmara sob pressão contendo um líquido, que pode ser água com

pequeno teor de óleo em emulsão. Este líquido reduz a ação corrosiva da água sobre a

câmara e é pressionado por um gás, normalmente o ar. A resposta que se obtém nesse

sistema de acionamento é de elevada velocidade.

A máquina que adota um sistema de acionamento e alimentação oleodinâmica com

vazão regulável é a mais adequada à extrusão de metais não ferrosos, que requerem uma

velocidade de extrusão com pequena variação para não surgir defeitos nas peças

extrudadas. A potência da bomba nesse sistema é substancialmente maior. Por outro lado,

nas máquinas com acionamento hidropneumático, devido ao sistema acumulador de

pressão, a bomba poderá ser de potência menor, já que a pressão máxima não é

necessária durante todo o ciclo de extrusão. Essas máquinas, no entanto, não podem ser

aplicadas aos metais mais sensíveis às variações de velocidade de extrusão, como o

alumínio e suas ligas (HELMAN, 1993).

Vale dizer que, além do conjunto pistão-cilindro hidráulico, e do sistema acoplado

de alimentação do fluido sob pressão, outros componentes básicos compõem as máquinas

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de extrusão: pistão de extrusão, câmara e camisa, conjunto suporte da ferramenta (fieira

ou matriz), dentre outros elementos.

O componente que concentra todo o esforço da máquina de extrusão é o êmbolo

de extrusão, que é solidário ao êmbolo do cilindro hidráulico. Por este motivo, deve ser

fabricado em aço-liga resiste ao calor. Esse êmbolo tem suas dimensões projetadas, em

particular o diâmetro, em função das características e especificações dos tarugos e das

peças extrudadas.

A câmara, por sua vez, recebe o tarugo aquecido que deve ser extrudado pela ação

do êmbolo de extrusão e pode ser constituída de duas partes coaxiais, sendo que a parte

interna, que entra em contato com o tarugo, denomina-se camisa interna da câmara.

Ademais, a camisa sofre a ação dos esforços de compressão e de atrito em temperaturas

elevadas, sendo submetida a uma ação de desgaste constante.

Os materiais que constituem a câmara e a camisa também são aços resistentes ao

calor, pois tais componentes são mantidos constantemente a temperaturas elevadas,

atingidas por meio de um sistema de aquecimento elétrico, necessário à operação de

extrusão a quente do tarugo.

3.3.2.5. Parâmetros do processo

Vários são os parâmetros intrínsecos ao processo de extrusão, como por exemplo,

a pressão de extrusão, a área da seção transversal e temperatura do tarugo, a velocidade

de deslocamento do pistão, o tipo de lubrificante utilizado, dentre outros aspectos.

De maneira geral, o conjunto de parâmetros geométricos e físicos influenciará

diretamente no andamento e resultado final do processo, determinando a qualidade e as

propriedades mecânicas das peças obtidas. Elucidativamente, na tabela 3.6 são

relacionados alguns metais às suas respectivas temperaturas de extrusão.

2.3.3. Rotomoldagem

A rotomoldagem, também conhecida como fundição rotacional ou moldagem

rotacional, é um processo de transformação de materiais poliméricos voltado para a

produção de peças ocas ou abertas, geralmente de grandes dimensões. A tecnologia de

moldagem rotacional, como a maioria dos métodos de manufatura, evoluiu a partir de

outras tecnologias. Como o nome já diz, o processo consiste na produção de peças por

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Metal e/ou liga Temperatura (°C)

Chumbo 200 – 250

Alumínio Puro 535

Alumínio – Cobre 480

Alumínio – Manganês 575 – 625

Alumínio – Silício 450 – 550

Alumínio – Magnésio 535

Alumínio – Magnésio – Manganês 535

Alumínio – Magnésio – Silício 550 – 590

Alumínio – Zinco – Magnésio – Cobre 420 – 470

Cobre e suas ligas 650 – 950

Magnésio e suas ligas 345 – 425

Aço e suas ligas 875 – 1300

Ligas refratárias 975 – 2200

Tabela 3.6: Faixa de temperatura de extrusão de alguns materiais (YOSHIDA, 2001).

meio de rotação de moldes abastecidos por certo polímero.

Existe uma vasta gama de produtos fabricados por esse processo, desde pequenos

objetos como uma bola de tênis de mesa, até um grande reservatório com capacidade

superior a 30 mil litros. Outros produtos abrangem a área da saúde, indústria química e

agrícola, construção civil, instrumentos domésticos, móveis e artigos de decoração,

brinquedos, lixeiras, tanques, dentre muitos outros (MARQUES e OLIVEIRA, 1998).

Mais de 80% dos materiais poliméricos utilizados atualmente como matéria-prima

para a rotomoldagem são os polietilenos, embora existam outros materiais rotomoldáveis,

como os plastisóis, nylons, polipropilenos, poliacetais, policarbonatos, ABS entre outros

(TRM, 2007).

3.3.3.1. Histórico

Relatos indicam que a rotomoldagem fora utilizada inicialmente pelos egípcios e

gregos para a fabricação de peças cerâmicas através do processo atualmente conhecido

como “slipcasting”.

Embora haja indícios de que, em meados de 1600, os suíços tenham utilizado pela

primeira vez a moldagem rotacional para confeccionar ovos de chocolate ocos, o primeiro

registro de patente de máquina para a moldagem rotacional aconteceu em 1855, ou seja,

antes da existência do plástico (TRM, 2007). Essa patente foi concedida ao britânico R.

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Peters, registrando o uso de uma máquina térmica biaxial utilizada para criar peças

bélicas, confeccionadas em material metálico e embarcações ocas.

Nos Estados Unidos, em 1905, um mecanismo semelhante foi utilizado por F.A.

Voelke para a confecção de objetos ocos de cera. Cinco anos depois, G.S. Baker's e G.W.

Perks também teriam utilizado este processo para a criação de ovos ocos de chocolate.

Tendo sido utilizada para variados fins, as máquinas de rotomoldagem foram

exploradas em vários países da Europa, até que, no ano de 1920, em Paris, R.J. Powell

submeteu gesso à rotomoldagem e foi a partir deste e de semelhantes métodos que se

desenvolveu a rotomoldagem de polímeros, como se conhece atualmente (WARD, 1997).

Os polímeros foram introduzidos oficialmente à rotomoldagem em 1950, tendo sua

primeira aplicação em cabeças de bonecas de brinquedo em uma máquina movida por um

motor elétrico externo e aquecimento a gás. O molde foi construído de uma liga de cobre e

níquel e o polímero utilizado foi o PVC (TRM, 2007).

Ainda na década de 50, ocorreram dois grandes desenvolvimentos: a introdução de

polímeros pulverizados especialmente produzidos para moldagem rotacional e o forno com

aquecimento através de circulação de ar quente.

A partir da década de 70, surgiram as outras evoluções consideráveis dentro da

rotomoldagem, com o início, nos EUA e Europa, de novos polímeros aplicáveis ao

processo. O polietileno linear micronizado passou a ser utilizado na fabricação de novos

produtos com tamanhos consideravelmente grandes.

Na década de 1980, o processo de rotomoldagem ficou ainda mais conhecido

devido ao aumento das indústrias fornecedoras de matéria-prima ao redor do mundo.

Ademais, em resposta à demanda crescente de consumo de produtos rotomoldados,

novos materiais se tornaram disponíveis para o processo, incluindo policarbonatos,

poliésteres, PP, PEBD, nylon e ABS e PEAD.

Por fim, a partir dos anos 80, houve um crescimento significativo da utilização do

processo de rotomoldagem e já no ano de 2006 alcançava a marca de 40.000 toneladas

por ano (HARPER, 2006). Porém, se comparada a processos como injeção, extrusão e

sopro, a rotomoldagem ainda é pouco utilizada, representando apenas 2% do mercado de

plásticos, como ilustrado no gráfico 3.1.

Dentro desses 2%, o segmento que detém a maior representatividade deste

mercado é o da construção civil, com 40% de participação, como é demonstrado no gráfico

3.2. Essa elevada participação se deve, basicamente, a um produto em especial: as caixas

d’ água. Devido à grande tendência mundial de eliminar o uso desse produto fabricado

com fibrocimento que contém fibras de amianto, cuja inalação acredita-se poder provocar

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Gráfico 3.1: Segmentação da produção de artigos em plástico por processo produtivo (UEKI e

PISANU, 2007).

doenças graves, há uma forte migração para o produto confeccionado a partir da

rotomoldagem.

Gráfico 3.2: Representatividade da rotomoldagem por segmentos de produto

(UEKI e PISANU, 2007).

Cerca de 50 países já aderiram a um processo de banimento das caixas d’água

com fibras de amianto e, no Brasil, a rotomoldagem desse produto também se tornou um

negócio lucrativo, já que passaram a substituir com inúmeras vantagens as tecnologias de

então (NICOLETTE, 2011).

O processo de rotomoldagem tem evoluído significativamente nos últimos anos e já

permite a produção de peças técnicas complexas com baixo custo. Apesar de configurar-

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se como um processo lento, apresenta diversas vantagens, como a possibilidade de

moldar peças de grandes dimensões.

3.3.3.2. O processo

A rotomoldagem configura-se a partir de um molde oco, abastecido com resina em

pó ou líquida, colocado em uma câmara de aquecimento. Durante o processo, o molde gira

em dois movimentos, com rotações baixas e distintas. É tido como um processo

econômico, no qual a ausência de aplicação de esforço proporciona peças sem tensões

residuais.

A matéria-prima, quando em pó, deve ser micronizada, ou seja, deve passar por

moagem ultrafina, no intuito de facilitar o escoamento no molde, reduzindo assim o

aprisionamento de ar (bolhas) e acelerando a plastificação do material. Como vantagens

da micronização têm-se, ainda, a redução do ciclo e a prevenção da degradação das

peças. Esta etapa é usualmente realizada em moinhos especiais de disco e o pó separado

por peneiras adequadas, até atingir a granulometria ideal.

Em seguida, a matéria-prima é dosada e já pode abastecer os moldes, para dar

início à etapa a de aquecimento, durante a qual a resina deverá preencher suas

cavidades, dando formato à peça desejada. Finda esta etapa, decorre o resfriamento do

molde, para que a peça possa ser enfim desmoldada. Na figura 3.10 ilustra-se o processo

de rotomoldagem.

Figura 3.10: Principais etapas do processo de rotomoldagem (UEKI e PISANU, 2007).

Resumidamente, a produção da rotomoldagem se divide em quatro etapas

distintas: dosagem do pó, aquecimento do molde, resfriamento do molde e a

desmoldagem.

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3.3.3.2.1. Dosagem do pó

Uma quantidade conhecida de material micronizado é adicionada ao molde de

rotomoldagem. Geralmente a pesagem do pó e a alimentação ocorrem manualmente,

sendo a primeira realizada em balanças digitais. Após a alimentação, o molde é finalmente

fechado com auxílio de grampos ou parafusos, seguindo-se para próxima etapa. Na figura

3.11 tem-se a representação de um molde sendo abastecido.

Figura 3.11: Abastecimento do molde com resina polimérica (UEKI e PISANU, 2007).

3.3.3.2.2. Aquecimento do molde

Após o carregamento e o fechamento do molde, este é submetido ao aquecimento

dentro de um forno, iniciando o movimento de rotação biaxial. A temperatura de

aquecimento pode variar de 200 a 400°C, dependendo do polímero a ser moldado

(CRAWFORD et al., 2002).

O efeito sinérgico entre calor recebido do forno e a movimentação biaxial resulta em

um aquecimento uniforme do material no interior do molde. No início do processo, o

material, em forma de pó, não está aderido à superfície do molde, mas quando é atingida a

temperatura de amolecimento do polímero, este começa a aderir à superfície do molde.

Com a continuidade do aquecimento, objetiva-se, então, a fusão completa do

material. Vale ressaltar que, em um determinado momento, a temperatura entra em

colapso e ocorre, invariavelmente, o aprisionamento do ar misturado às partículas de pó,

resultando na formação de bolhas, com consequente fusão incompleta da resina

polimérica.

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Quando estas bolhas permanecem na peça, ocasionam perdas ou alterações nas

propriedades mecânicas, principalmente quanto à resistência ao impacto. Para eliminá-las,

faz-se necessária a continuidade do aquecimento após a fusão, o qual implicará a

diminuição da viscosidade do polímero, tornando mais fácil o processo de dissolução do ar

pela matriz. Dessa forma, elimina-se a maioria das bolhas e a fusão é completada.

Se o aquecimento adicional do material for excessivo, a peça resultante, embora

não apresente bolhas, poderá sofrer da degradação termo-oxidativa, ou seja, uma

degradação sob efeito de calor que ocorre em materiais poliméricos no seu

processamento. Como resultado disto, a superfície interna pode apresentar acentuada

perda de resistência mecânica. Elucidativamente, o comportamento da resina polimérica

durante o processo de aquecimento pode ser verificado segundo a figura 3.12:

Figura 3.12: Comportamento da resina polimérica durante o processo de aquecimento (UEKI e

PISANU, 2007).

A condição ideal de moldagem é atingida quando a peça apresentar algumas

bolhas próximas à superfície interna, sem apresentar degradação termo-oxidativa. Esta

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condição de moldagem é determinada, na prática, por tentativa e erro. O movimento do pó

em um sistema em revolvimento pode ser categorizado em três tipos (BEALL, 1998):

Fluxo de circulação estável (tombamento);

Fluxo de circulação instável (avalanche);

Fluxo de leito estático (escorregamento).

A figura 3.13 consiste na ilustração dos movimentos da matéria-prima já fundida no

interior do molde, enquanto na tabela 3.7 é apresentada a classificação de cada tipo de

fluxo acompanhado de suas características.

Figura 3.13: Movimentação a fundida no interior do molde (UEKI e PISANU, 2007).

Características Circulação estável Circulação instável Escorregamento

Atrito do molde Alto Mais alto Baixíssimo

Transmissão de calor Melhor Razoável Ruim

Mistura Melhor Razoável Nenhuma

Avaliação Ideal Razoável Inadequado

Tabela 3.7: Classificação dos tipos de fluxo acompanhados de suas características (UEKI e

PISANU, 2007).

Na maioria das máquinas com forno fechado, ocorre a circulação de ar quente

proporcionado por um ventilador, sendo este ar geralmente aquecido por um queimador a

gás. O processo não expõe o molde à chama direta como é o caso de máquinas de forno

aberto. Na figura 3.14 é possível verificar um esquema de aquecimento típico do forno.

Figura 3.14: Esquema de circulação de ar quente dentro do forno (UEKI e PISANU, 2007).

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72

3.3.3.2.3. Resfriamento e rotação

Ainda em movimento, o molde é retirado da câmara e inicia-se o processo de

resfriamento, que pode ocorrer, basicamente, de três formas (CRAWFORD e THRONE,

2002):

Em temperatura ambiente;

Aplicação de fluxos de ar forçado e/ou pulverização de água nos moldes;

Sistemas mais complexos, como camisas de refrigeração envoltas no molde.

O processo de resfriamento também possui grande influência sobre as

propriedades mecânicas da peça moldada. Se esta for lenta para materiais semicristalinos

como o polietileno, haverá tempo suficiente para o crescimento de cristais, resultando em

peças de alta rigidez, porém com baixa resistência ao impacto.

Por outro lado, o resfriamento rápido pode provocar diferenças bruscas de

temperatura na parede da peça, gerando variações na estrutura do material com diferentes

níveis de contração do polímero, com possibilidade de haver o empenamento da peça.

Segundo Crawford et al. (1998), o tempo de resfriamento depende essencialmente

dos seguintes fatores:

Temperatura ambiente;

Espessura da peça;

Material, espessura e características superficiais do molde;

Volume e velocidade do ar;

Temperatura e vazão da água;

Taxa de retirada do ar e da água da estação de resfriamento.

O ciclo térmico do processo de rotomoldagem, da entrada do molde no forno até a

desmoldagem está representado conforme a figura 3.15. A linha laranja representa a

temperatura no forno e a linha amarela indica a temperatura no interior do molde.

Figura 3.15: Ciclo térmico do processo de rotomoldagem (UEKI e PISANU, 2007).

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3.3.3.2.4. Desmoldagem

Após o resfriamento, tanto do molde quanto da peça, o movimento de rotação

biaxial é cessado e o molde conduzido para uma estação de desmoldagem. Para

polietilenos, este processo pode se iniciar, geralmente, a uma temperatura de 60ºC. A

abertura do molde e a extração da peça são feitas manualmente. Depois da extração da

peça, o molde é novamente carregado com material e o ciclo recomeça (WARD, 1997).

Nesta etapa as peças geralmente se encontram com temperatura próxima a 50ºC

e, dependendo do seu tipo e formato, devem ser mantidas em uma mesa ou plataforma

específica para resfriá-las e permitir a estabilização total de sua estrutura e dimensões.

3.3.3.3. Matéria-prima

A matéria-prima polimérica para a rotomoldagem é geralmente utilizada na forma

de pó, de modo que as principais características que devem ser controladas são: fluidez a

seco, tamanho médio, distribuição de tamanho das partículas e densidade aparente.

Dentre os polímeros existentes, o polietileno linear, na forma de pó, é o mais

utilizado na rotomoldagem devido à sua versatilidade e economia. Com densidade entre

0,92 e 0,96 g/cm³, seu tipo específico é selecionado de acordo com o produto a ser

confeccionado (MARINHO, 2005).

Segundo a ASTM (1999), as aplicações em rotomoldagem requerem que o índice

de fluidez do polietileno linear esteja entre 2 e 8 g/10min. Um valor acima de 10 indica que

o material tem reduzida resistência ao impacto a baixas temperaturas e ao stress cracking.

Este fenômeno consiste no aparecimento de rachaduras na superfície da peça. Porém,

para valores inferiores a 2 g/10min a viscosidade é alta, dificultando a produção de peças

com detalhes na superfície. Em geral, a matéria-prima para a rotomoldagem passa por

duas etapas antes de abastecer os moldes: moagem e pigmentação.

2.3.3.3.1. Moagem

A moagem ou micronização da matéria-prima geralmente é mecânica, podendo ser

realizada através de moinhos de discos, no qual um permanece estacionário enquanto

outro gira em alta velocidade. O pó é alimentado pelo centro do disco e quando atinge a

extremidade é insuflado para peneiras vibratórias para seleção do tamanho das partículas.

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As partículas acima do tamanho retornam para o moinho. Na figura 3.16 é apresentado um

típico moinho micronizador de discos.

Figura 3.16: Moinho micronizador de discos (UEKI e PISANU, 2007).

A distribuição do tamanho de partículas do pó deve ser uniforme, já que a presença

de partículas muito pequenas com outras relativamente grandes traz como consequência a

absorção de calor não homogênea, com possibilidade de recobrimento desigual das

paredes do molde. Além disto, pós muito finos podem fundir muito rapidamente, não

permitindo a saída completa das bolhas de ar, provocando a formação de defeitos ou

vazios internos nas peças. Pós muito grosseiros, por outro lado, dificultam o

preenchimento completo de todos os detalhes presentes na estrutura do molde.

O formato das partículas, por sua vez, afeta diretamente a fluidez a seco do pó e

sua densidade aparente. Quanto mais regular a partícula, melhor a fluidez e maior a

densidade aparente do pó. As seleções adequadas da matéria-prima junto às condições de

moagem também influenciam tais características (NICOLETTE, 2011).

Ainda com respeito ao processo de moagem da matéria-prima, quanto maior a

temperatura melhor é o formato das partículas, maior é a densidade aparente e melhor a

escoabilidade da resina polimérica. Temperaturas baixas proporcionam o aparecimento de

partículas fibriladas, como demonstrado na figura 3.17. Este problema pode causar má

dispersão do material polimérico e favorecer o aparecimento de bolhas nas peças.

Outros fatores que podem influenciar no escoamento do pó durante a moldagem

são (HARPER, 2006):

Rugosidade do molde;

Velocidade de rotação do molde;

Quantidade de material no molde;

Presença de aditivos no material polimérico;

Umidade ou temperatura inadequada no forno.

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Figura 3.17: Matérias-primas micronizadas, vistas por microscópio ótico, sob a influenciação de

altas e baixas temperaturas (UEKI e PISANU, 2007).

3.3.3.3.2. Pigmentação

Crawford e Throne (2002) relatam duas formas de pigmentação para resinas

poliméricas:

Dry Blender: processo a seco através de misturadores conhecidos como Turbo

Blender ou tipo Henschel. Apesar de ser mais econômico, possui a desvantagem

de o pigmento não incorporar-se completamente ao polímero, ficando ancorado

na superfície externa do micronizado;

Extrusão: consiste no molhamento do polímero com o pigmento, resultando em

uma cor mais homogênea, com consequente melhora do brilho e da resistência

da peça. Entretanto, possui a desvantagem de expor o polímero a trabalho

mecânico na extrusora, o qual proporciona um histórico térmico que favorece o

consumo de aditivos do polímero, como os antioxidantes.

Na figura 3.18 é estabelecida uma comparação entre os tipos mais comuns de

pigmentação. Observa-se como ocorre uma dispersão mais homogênea quando a mistura

é realizada com o auxílio de uma extrusora.

Figura 3.18: Comparação entre a pigmentação a seco e por extrusão (UEKI e PISANU, 2007).

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3.3.3.4. Tipos de máquinas

Para especificar uma máquina de rotomoldagem são considerados, basicamente,

os seguintes parâmetros (CRAWFORD et al., 2002):

Capacidade de aquecimento;

Tamanho do forno;

Tempo médio por ciclo;

Velocidade de rotação do molde.

A partir da combinação destas variáveis, existem diferentes classes de

equipamentos. Cada um destes é relacionado, é claro, a diferentes tipos de peças

passíveis de serem produzidas.

3.3.3.4.1 Rock and Roll

Nestas máquinas, o molde gira 360º no eixo secundário e, no eixo principal,

intercaladamente 45º para um lado e para outro. O sistema de aquecimento geralmente é

a gás com chama direta. Estas máquinas são utilizadas principalmente para a produção de

peças de grandes dimensões. A partir da figura 3.19 é possível estabelecer uma

comparação do tamanho deste equipamento em relação a um homem.

Figura 3.19: Máquina tipo Rock and Roll (UEKI e PISANU, 2007).

3.3.3.4.2. Clamshell

Também denominadas máquinas tipo cofre, estas apresentam a particularidade de

todo o processo ocorrer na mesma câmara, que serve como forno de aquecimento e como

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componente de resfriamento, a partir da circulação de ar frio e com aspersores de água. A

figura 3.20 consiste em uma representação deste tipo de máquina.

De maneira geral, requerem baixo nível de investimento inicial, pouco espaço e

mão de obra mínima, permitindo a fabricação de produtos de boa qualidade. Todavia,

exigem um tempo de ciclo mais alto, maiores gastos com energia elétrica e com serviços

industriais, pois acondicionam, no mesmo espaço, a área de aquecimento e resfriamento.

São úteis para fabricar produtos que necessitem de controle de processo mais rigoroso e

para produções em pequena escala como, por exemplo, o desenvolvimento de protótipos.

Figura 3.20: Máquina tipo Clamshell (UEKI e PISANU, 2007).

3.3.3.4.3. Shuttle

Nestas, também chamadas de máquinas tipo lançadeira, o deslocamento do molde

nas duas zonas ou estágios ocorre por meio de guias, o que diminui diretamente os

investimentos em mão de obra. São simples de construir e manusear, além de oferecer

baixo custo de manutenção. Permitem, de forma econômica, fabricar peças de pequeno e

grande porte. Na figura 3.21 é apresentado um desenho esquemático deste tipo de

máquina.

Figura 3.21: Máquina do tipo Shuttle de dois estágios (UEKI e PISANU, 2007).

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3.3.3.4.4. Turret

Introduzidas na segunda metade do século XX, são constituídas de três estações

fisicamente separadas. Para a seleção desta máquina é imprescindível que a duração dos

ciclos de aquecimento e resfriamento de cada braço seja similar e que a disponibilidade de

espaço não seja crítica.

Embora não sejam indicadas para altos níveis de produção, são máquinas muito

eficientes, de alto rendimento e de baixo custo de manutenção. Na figura 3.22 encontra-se

uma representação esquemática de uma máquina Turret ou tipo carrossel.

Figura 3.22: Máquina do tipo Turret (HARPER, 2006).

3.3.3.5. Vantagens e limitações

Todos os processos produtivos industriais apresentam vantagens e desvantagens

intrínsecas ao tipo de tecnologia empregada. Para a rotomoldagem, algumas das

vantagens do processo estão em (CRAWFORD et al., 2002):

Grande variedade de formas possíveis de modelar;

Facilidade em substituir materiais e cores;

Não exigência de ângulos de saída para a desmoldagem da peça;

Como não há aplicação de pressão sobre o material durante a moldagem, as

tensões residuais nas peças são mínimas;

Os moldes costumam ser mais baratos se comparados aos de outros processos;

São necessárias simples operações posteriores de acabamento;

As sobras de material são poucas, pois o peso programado para a peça é

controlado a partir da pesagem da matéria-prima;

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Oferece boa distribuição de espessura da parede da peça em relação a

processos como sopro e termoformagem;

Peças de materiais e tamanhos diferentes podem ser moldadas

simultaneamente na mesma máquina e inclusive no mesmo braço;

No entanto, como desvantagens deste processo, pode-se citar;

Não comporta grandes tiragens se comparada às moldagens por injeção ou

sopro, tanto pelo fato do abastecimento e da desmoldagem serem manuais

quanto por apresentar um tempo de ciclo maior;

Risco de degradação térmica pelo excesso de exposição do material a altas

temperaturas;

As peças têm menor precisão dimensional quando comparadas ao processo de

injeção;

Não é adequada para a produção de peças de tamanho reduzido.

3.3.4 Outros processos

Há, indubitavelmente, uma vasta gama de outros processos de transformação de

polímeros, os quais, segundo suas peculiaridades, determinam a escolha do polímero e do

tipo de peça passível de ser produzida. Ademais, o comportamento e os diferentes

parâmetros de cada processo são fatores importantíssimos na elaboração do projeto de

quaisquer produtos que se deseje fabricar e inserir no mercado.

Além da moldagem por injeção, da extrusão e da rotomoldagem, já detalhados,

alguns outros processos de transformação de materiais poliméricos merecem destaque.

Nesse intuito, seguem breves descrições de alguns destes processos nos itens seguintes.

3.3.4.1. Moldagem por sopro

Este processo é frequentemente utilizado para fabricação de peças plásticas ocas,

tais como frascos, bonecas, carrinhos de brinquedo, reservatórios de água para

automóveis e até tanques de gasolina.

O processo de sopro ocorre através da insuflação ou enchimento de ar no interior

do molde, de forma a permitir a expansão da massa plástica até a obtenção da forma

desejada. A unidade de produção exclusiva para o processo de sopro é composta pelos

seguintes componentes (WHELAN, 1999):

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1. Máquina sopradora;

2. Molde de sopro;

3. Dispositivos e sistema de acabamento.

No entanto, o processo de moldagem por sopro é considerado dependente de

outros processos, como a injeção e a extrusão, já que a matéria-prima deve ser amolecida,

por exemplo, no canhão de uma extrusora. Ademais, no caso de artigos relativamente

grandes, como as garrafas PET 2 litros, a seção do tubo polimérico pode ser previamente

moldada pelo processo de injeção e orientada para fornecer uma força adicional para o

produto final soprado (BILLMEYER, 1984).

Em geral, o primeiro passo do processo consiste na formação de uma mangueira

de material termoplástico amolecido, chamada de pré-forma, parison ou trafila, a qual é

depositada e prensada dentro do molde de sopro. Em seguida, o parison é forçado contra

as paredes do molde e adquire a forma da peça, a qual será refrigerada para então ser

extraída.

Na maioria dos casos, o produto necessita passar por um processo de acabamento

posterior, como por exemplo: rebarbação, furação, etiquetagem, entre outros.

Resumidamente, todos os processos de moldagem por sopro consistem de três fases

(OTTERBACH, 2011):

1. Plastificação do granulado de resina termoplástica, normalmente através de uma

extrusora;

2. Produção de uma pré-forma fundida ou um tubo extrudado, no caso da chamada

moldagem por extrusão-sopro, ou uma pré-forma moldada por injeção, no caso

da chamada moldagem por injeção-sopro;

3. O sopro da pré-forma, normalmente com ar, no molde, seguido da extração e da

operação de rebarbação da peça.

Quanto aos polímeros comumente utilizados no processo de moldagem por sobro,

destacam-se: PET, policarbonato, PEAD e PEBD, PP, ABS e alguns tipos de PVC.

3.3.4.2. Termoformagem

A termoformagem ou vacuumforming é um processo que consiste em moldar

chapas plásticas dando forma ao produto através da utilização de calor e pressão, tanto

positivas como a vácuo. Resumidamente, uma lâmina seca é aquecida a uma temperatura

pré-determinada na qual o material plástico amolece. A mesma é esticada para cobrir o

contorno do molde e logo é refrigerada na temperatura na qual o termoplástico passa a ser

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rígido, retendo assim a forma do molde. A peça termoformada pode ser cortada para

eliminar bordas desnecessárias, decorada ou convertida em produto para diferentes

aplicações (THRONE, 1999).

De acordo com Walsh (2002), o processo alia a precisão técnica ao baixo custo na

confecção dos moldes e na própria moldagem das peças. O perfeito equilíbrio entre calor e

poder de sucção durante o processo de moldagem é o principal responsável por atribuir às

peças termoformadas precisão nas dimensões e ótima qualidade no acabamento, quer

sejam peças de alto ou baixo relevo. As peças são moldadas nas mais variadas cores e

textura em resinas como PS, PEAD, PP, ABS e PET.

Os moldes são desenvolvidos de acordo com as necessidades e incorporam

soluções como: cantos com ângulos retos, inclinados ou arredondados, encaixes para

empilhamento, aletas para ventilação, sistemas de encaixe e travamento para peças,

aplicação de logotipos, dentre outras possibilidades. De maneira geral, as etapas do

processo podem ser divididas da seguinte em fixação da chapa, aquecimento, moldagem,

resfriamento e extração.

3.3.4.3. Calandragem

A calandragem é utilizada para a produção de filmes planos, chapas e laminados,

que são posteriormente confeccionados dando origem a produtos para as indústrias

alimentícia, farmacêutica, automobilística, calçadista, entre outras. A principal vantagem é

obter um material com espessura constante e com um excelente acabamento. Dentre os

processos de deformação, é o mais amplamente utilizado (GRIFFIN, 1971).

Na calandragem de metais, por exemplo, uma peça metálica passa entre dois

cilindros, havendo uma redução de sua espessura. As tensões de compressão exercidas

pelos cilindros garantem a formação de uma lâmina metálica, a qual assumirá as

características do produto final. Esta passagem do material entre rolos confere uma

espessura constante à peça e um acabamento de qualidade. A calandragem pode ser feita

também a partir de polímeros (termoplásticos, borrachas, entre outros) ou até mesmo

vidros (laminação a quente). É bastante comum denominar o processo por laminação, ao

invés do termo calandragem (CALLISTER, 2012).

A calandragem de polímeros, especificamente, consiste em um processo contínuo,

que se inicia através do abastecimento dos cilindros pré-aquecidos de uma calandra com o

material polimérico já plastificado, ou seja, fundido e homogeneizado. Em outras palavras,

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ocorre a extrusão do polímero, formando um cordão ou uma fita que será depositada em

um sistema de cilindros aquecidos, que formam a calandra.

Titow (1984) relata que o número de cilindros pode variar conforme o polímero, o

acabamento superficial desejado, a tecnologia aplicada, entre outros fatores. Para o PVC,

o polímero de maior produção por calandragem, a calandra possui normalmente quatro

cilindros que giram a velocidades ligeiramente diferentes para formar lâminas ou filmes.

Outros polímeros são calandrados em menor quantidade, como algumas borrachas, alguns

tipos de poliuretano, polipropileno reforçado com talco, ABS, dentre outros.

As mais importantes vantagens do processo de calandragem são (GRIFFIN, 1971):

Possibilidade de obterem-se materiais planos com ou sem brilho, rígidos ou

flexíveis;

Peças passíveis de receber os mais diversos tipos de acabamento e gravação;

Peças transparentes, translúcidas, opacas ou coloridas;

Baixa permeabilidade ao vapor d'água;

Possibilidade de obtenção de produtos atóxicos;

Espessura das peças relativamente constante.

3.3.4.4. Moldagem por compressão

O processo de moldagem por compressão consiste em colocar, nas cavidades do

molde, certa quantidade de resina polimérica, em pó ou em pastilha, correspondente ao

volume do produto que se deseja fabricar. O molde é composto por duas partes, uma

superior e outra inferior, denominadas, respectivamente, macho e fêmea (TODD et al.,

1993).

A pressão aplicada no molde durante o fechamento faz com que o material

polimérico flua ao longo da cavidade de modo que, depois de determinado tempo, ocorra a

cura deste material. Em geral, a moldagem por compressão pode ser dividia nas seguintes

fases (ASM, 2001):

1. Carregamento do material plástico na cavidade do molde;

2. Pré-compressão;

3. Desgaseificação;

4. Compressão e fechamento completo do molde;

5. Policondensação ou cura do material polimérico;

6. Abertura do molde;

7. Extração da peça moldada.

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Por fim, as condições de moldagem para o processo de compressão se baseiam,

primordialmente, em três parâmetros: a temperatura de aquecimento, a pressão aplicada

no molde e o tempo de cura do material polimérico.

Vale mencionar, por fim, alguns outros processos de transformação de polímeros,

tais como a espalmagem, a moldagem por transferência, a fundição ou casting. Embora

estes processos sejam menos utilizados, também produzem diversos produtos para

atender às necessidades dos mais variados setores.

3.4. Aproveitamento energético

Face à própria ameaça à qualidade de vida do homem, é inegável a tendência

mundial de minimizar a produção de resíduos sólidos, a começar pela introdução gradativa

de produtos ecologicamente corretos no mercado, aliada ao reuso de embalagens e ao

incentivo à reciclagem. Além disso, absorvem-se aos poucos os conceitos de gestão e

gerenciamento dos resíduos sólidos. Contudo, ainda sob a ótica da problemática da

modernidade, presencia-se o aumento da produção de bens de consumo pelas indústrias

em geral.

Ademais, não é apenas a produção indiscriminada de resíduos sólidos que torna o

cenário mundial alarmante. A expansão acentuada do consumo de energia, embora possa

refletir o aquecimento econômico e a melhoria da qualidade de vida, oferece alguns

aspectos negativos. Um deles é a possibilidade do esgotamento dos recursos utilizados

para a produção de energia, e outro consiste no impacto ao meio ambiente produzido por

essa atividade (ANEEL, 2008).

Nesse sentido, torna-se imprescindível utilizar-se de outros meios para reaproveitar

quaisquer tipos de materiais potencialmente úteis do ponto de vista energético. Uma

alternativa para isto consiste nas tecnologias de conversão de materiais contendo carbono

(MCC), as quais convertem materiais de valor agregado baixo ou negativo em produtos

energéticos, ecologicamente limpos e de alto valor agregado, como eletricidade,

combustíveis, produtos químicos (fertilizantes, plásticos), materiais reciclados (metais,

silicatos), entre outros (MAROTTA, 2009).

Em resumo, além de ajudar a minimizar a quantidade de rejeitos produzidos pela

sociedade de forma geral, estes processos de aproveitamento energético, como o próprio

nome diz, contribuem na geração de energia. RSU, RSS, biomassa, carvão, coque de

petróleo, xisto e plásticos são alguns exemplos de MCC. As tecnologias de conversão

destes materiais podem, então, ser divididas em duas classes (MAROTTA, 2009):

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Conversão termoquímica: consiste nos processos físico-químicos de combustão,

gasificação, pirólise, transesterificação, entre outros, os quais podem agregar

uma gama mais ampla de MCC (RSU, RSS, plástico, biomassa, carvão, lamas,

etc.) que a conversão bioquímica (específica para biomassa);

Conversão bioquímica: engloba os processos biológicos de digestão anaeróbica,

fermentação e tratamento enzimático, os quais podem ser considerados restritos

do ponto de vista da matéria-prima, já que são específicos para a biomassa.

Do ponto de vista energético, para fim de outorga de empreendimentos do setor

elétrico, biomassa é todo recurso renovável oriundo de matéria orgânica (de origem animal

ou vegetal) que pode ser utilizada na produção de energia. Assim como a energia

hidráulica e outras fontes renováveis, a biomassa é uma forma indireta de energia solar. A

energia solar é convertida em energia química, através da fotossíntese, base dos

processos biológicos de todos os seres vivos (ANEEL, 2008).

Embora grande parte do planeta esteja desprovida de florestas, a quantidade de

biomassa existente na terra é da ordem de dois trilhões de toneladas; o que totaliza cerca

de 400 toneladas per capita. Em termos energéticos, isso corresponde a aproximadamente

3.000 EJ por ano, ou seja, oito vezes o consumo mundial de energia primária (RAMAGE e

SCURLOCK, 1996).

Alongo prazo, a exaustão das fontes não renováveis e as pressões ambientalistas

poderão acarretar maior aproveitamento energético da biomassa. Atualmente, este

combustível vem sendo cada vez mais utilizado na geração de eletricidade, principalmente

em sistemas de cogeração e no suprimento de eletricidade para demandas isoladas da

rede elétrica (ANEEL, 2008). As principais tecnologias de aproveitamento energético da

biomassa podem ser visualizadas no diagrama da figura 3.23.

Embora ainda muito restrito, o uso de biomassa para a geração de eletricidade tem

sido objeto de vários estudos e aplicações, tanto em países desenvolvidos como em

desenvolvimento. Entre outras razões, estão em busca de fontes mais competitivas de

geração de energia, além de objetivarem a redução das emissões de dióxido de carbono.

Do ponto de vista técnico-econômico, os principais entraves ao maior uso da

biomassa na geração de energia elétrica são a baixa eficiência termodinâmica das plantas

e os custos relativamente altos de produção e transporte. De um modo genérico, incluindo

aspectos socioambientais, verifica-se a necessidade de maior gerenciamento do uso e

ocupação do solo, devido à falta de regularidade no suprimento, criação de monoculturas,

perda de biodiversidade, uso intensivo de defensivos agrícolas, entre outros aspectos.

Contudo, esses entraves tendem a ser contornados pelo desenvolvimento,

aplicação e aprimoramento de novas e mais eficientes tecnologias de conversão

energética da biomassa, fomentados, dentre outros motivos, por meio dos incentivos

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85

Figura 3.23: Diagrama esquemático dos processos de conversão energética da biomassa (BEN, 1982).

instituídos pelas políticas do setor elétrico. Vale lembrar que uma vantagem da utilização

da biomassa consiste na possibilidade de poder aproveitá-la diretamente, por intermédio

da combustão em fornos, caldeiras, entre outros equipamentos (CORTEZ et al., 1999).

Além de ambientalmente favorável, o aproveitamento energético da biomassa tende

a promover o desenvolvimento de regiões economicamente menos favorecidas, por meio

da criação de empregos e da geração de receita, reduzindo o problema do êxodo rural e a

dependência externa de energia, em função da sua disponibilidade local (ANEEL, 2008).

3.4.1. Pirólise

O processo de pirólise pode ser definido como uma reação de degradação ou

decomposição de quaisquer materiais orgânicos ou que contém carbono, que ocorre pela

ação de altas temperaturas, as quais provocam rupturas na estrutura molecular original

daqueles materiais. A ação do calor ocorre em um ambiente característico, na ausência

parcial ou total de um agente oxidante, ou até mesmo, em um ambiente com uma

concentração de oxigênio capaz de evitar a gaseificação intensiva do material orgânico. A

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pirólise geralmente ocorre a uma temperatura que varia, desde os 400°C, até o início do

regime de gaseificação (PEDROZA et al., 2010).

É um processo que tem como principal aplicação o tratamento e a destinação final

dos resíduos sólidos, sendo energeticamente auto-sustentável. Pelo motivo de não

necessitar de energias externas, acaba despertando muito interesse do ponto de vista

prático e científico. Ademais, a pirólise possui muitas vantagens quando comparadas a

outras alternativas, pelo fato de gerar produtos tais como óleo, gases e carvão, os quais

podem ser utilizados como fonte de combustível ou em outras aplicações relacionadas à

indústria petroquímica (KARAYILDIRIM; YANIK; YUKSEL , 2006).

Em outras palavras, o processo de pirólise pode ser genericamente definido como

sendo o de decomposição química por calor na ausência de oxigênio, apresentando,

ainda, um balanço energético positivo, ou seja, produz mais energia do que consome.

Este sistema é bastante utilizado pela indústria petroquímica e na fabricação

de fibra de carbono. Outra aplicação bastante comum é a carbonização da madeira, cujo

principal propósito consiste na produção de carvão vegetal, item essencial para o

fornecimento de energia em diversas indústrias.

Uma das razões que explica a tendência ao uso desse processo é o aumento do

uso de biomassa como combustível, fomentado por grandes investimentos em pesquisas

para a produção do bio-óleo. A pirólise constitui, ainda, uma opção ecologicamente correta,

além de possibilitar uma diminuição considerável do número de aterros sanitários.

Existem dois tipos de pirólise, o convencional (lenta) e a rápida. Os termos “pirólise

lenta” e “pirólise rápida” se diferenciam entre si através de variáveis de processos tais

como: taxa de aquecimento, temperatura, tempo de residência das fases sólida e gasosa e

produtos obtidos. Segundo Gómez (2002), de acordo com essas variáveis de processo, os

tipos de pirólise podem ser subdivididos em nove variantes, conforme a tabela 3.8:

Variantes do

processo

Tempo de

residência Temperatura (°C) Produtos obtidos

Carbonização Horas/dia 400 – 450 Carvão vegetal

Convencional 5 – 30 min Até 600 Bio-óleo, carvão e gás

Rápida 0,5 – 5 s 500 – 550 Bio-óleo

Flash-líquido < 1 s < 650 Bio-óleo

Flash-gás < 1 s > i650 Gás combustível

Vácuo 2 – 30 s 400 Bio-óleo

Metano-pirólise < 10 s >i700 Produtos químicos

Hidro-pirólise < 10 s < 500 Bio-óleo e produtos químicos

Tabela 3.8: Variantes do processo de pirólise (Adaptado de Gómez, 2002).

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Enquanto o processo de pirólise convencional é dirigido especificamente para a

produção de carvão, a pirólise rápida é considerada um processo avançado, no qual,

controlando-se os parâmetros de processo, podem ser obtidas quantidades consideráveis

de bio-óleo (VIEIRA, 2000).

Segundo Gómez (2002), o processo de pirólise rápida, conduzido no sentido de

obter elevados rendimentos de bio-óleo, caracteriza-se por:

Taxas muito elevadas de aquecimento, variando de 600 a 1200°C/min;

Temperatura de reação em torno de 500°C;

Tempo de residência dos vapores menor que 2 segundos;

Rápida transferência de massa do interior da partícula para a superfície e rápido

resfriamento de vapores;

Biomassa com diâmetro de partícula de até 2 mm e umidade em torno de 10%.

Os resíduos que alimentam o reator pirolítico podem ser provenientes do lixo

doméstico, do processamento de plásticos industriais, entre outros materiais que contém

carbono. O processo consiste da trituração destes resíduos que deverão ser previamente

selecionados, para então serem destinados ao reator. Neste último se dá a reação

endotérmica propriamente dita, com consequente separação dos subprodutos em cada

etapa do processo.

No Brasil, a Petrobrás utiliza a pirólise em uma usina de reprocessamento de xisto

e pneus, tendo como principal objetivo a produção de óleo e gases utilizados como

combustíveis. De maneira simples, os pneus são triturados e levados ao reator juntamente

com o xisto, os quais, sofrendo o processo de pirólise, geram alguns subprodutos, como

óleos e gases.

3.4.2. Gaseificação

A gaseificação pode ser definida como o processo de conversão termoquímica de

um material sólido ou líquido, que contém carbono em sua composição, em um

combustível gasoso, através da oxidação parcial a temperaturas elevadas, na faixa de 800

a 1100°C, e em pressões atmosféricas ou maiores, limitadas a 33 bar. Para tal processo,

utiliza-se um agente de gaseificação que pode ser o ar, vapor de água, oxigênio ou uma

mistura destes, em quantidades inferiores à estequiométrica, ou seja, o mínimo teórico

para a combustão (BRIDGWATER, 1995).

Segundo Warnecke (2012), este processo está localizado em uma região

paramétrica entre a combustão e a pirólise. Neste sentido, este processo pode ser

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entendido como um tratamento termoquímico que, diferentemente da combustão, não

permite a oxidação completa do carbono e do hidrogênio presentes no combustível em

CO2 e H2O, respectivamente, dando origem a compostos combustíveis, tais como CO, H2

e CH4. Além destes, o gás produzido também inclui produtos típicos da combustão: CO2,

H2O, O2(em quantidades mínimas) e N2 (quando o agente gaseificador é o ar), assim

como teores menores de hidrocarbonetos, tais como o eteno (C2C CH4), o etano (C2H6),

dentre outros (MORRIS e WALDHEIM, 1998).

A gaseificação de resíduos ocorre em uma sequência de reações endotérmicas e

exotérmicas, denominadas secagem, pirólise, combustão e a gaseificação propriamente

dita. Tipicamente, estas etapas são essenciais à formação do gás produto da gaseificação,

o qual será denominado, daqui em diante, de gás de síntese.

Na gaseificação de biomassa, por exemplo, a umidade do combustível pode variar

desde 30-60% até valores superiores a 90%, antes de se iniciar o processo de secagem.

Cada unidade de massa do material requer, em média, 2.260 kJ de energia do gaseificador

para vaporizara água. Portanto, é necessário eliminar a umidade da biomassa, de 10 a

20%, antes de alimentar o reator para a produção de um gás de poder calorífico aceitável.

A secagem final, por fim, é realizada já no interior do reator, a uma temperatura média de

100°C. Em casos nos quais o combustível para o processo de gaseificação já se encontra

completamente seco, tal como plásticos, não é necessária a etapa de secagem como um

pré-estágio para a alimentação do reator (MALKOW, 2004).

A pirólise, já abordada em detalhes no item 3.4.1, configura uma etapa de reação

endotérmica da gaseificação. As características dos produtos desta etapa, em termos de

qualidade e quantidade, dependem das condições de operação do processo. A

temperatura, a granulometria do material, a velocidade e a taxa de aquecimento, o tempo

de residência, o fluxo do fluido de trabalho e as características próprias dos possíveis

combustíveis a serem utilizados são algumas variáveis de influência no desempenho do

processo. Segundo Zabaniotou et al. (2008), a temperatura é a variável que possui o maior

efeito sobre o processo de pirólise.

Em sequência, se dá o processo de oxidação ou combustão, que consiste na

reação do carbono do combustível com o oxigênio do ar, com consequente produção de

CO2, CO e vapor d’água. A temperatura de combustão pode variar de 700 a 1200°C,

sendo o principal objetivo desta etapa a produção de energia necessária às reações de

gaseificação (BASU, 2010).

Finalmente, a etapa de gaseificação, também denominada redução, consiste na

reação endotérmica que ocorre a uma temperatura de 800 a 1100°C. Nesta fase, o carvão,

proveniente da pirólise, é convertido essencialmente em CO, C CH4, H2 e H2O

(WAGLAND, 2011).

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Elucidativamente, a figura 3.24 consiste nas principais etapas do processo de

gaseificação. Neste caso, o combustível utilizado é a biomassa.

Figura 3.24: Principais etapas da gaseificação (KNOEF, 2002).

A gaseificação pode ser classificada, ainda, em função do tipo de agente de

gaseificação, destacando-se (ARENA, 2012):

Oxidação parcial com ar, com ar enriquecido com oxigênio ou puro oxigênio;

Gaseificação com vapor;

Gaseificação por plasma.

Quando se emprega ar como agente de gaseificação, o PCI do gás de síntese

resultante fica entre 3 e 6 MJ/Nm3, devido à diluição pelo nitrogênio do ar. Quando se

utiliza, porém, oxigênio puro para esta mesma finalidade é possível obter um PCI na faixa

de 10 a 19 MJ/Nm3. Entretanto, o elevado custo de produção do oxigênio puro pode

inviabilizar essa escolha para plantas de gaseificação. O investimento nesse tipo de

processo é bastante dispendioso e acaba se justificando apenas em instalações em

grande escala (BASU, 2010).

Por sua vez, o processo de oxidação parcial com ar produz um gás diluído em

nitrogênio acima de 60%, com poder calorífico entre 4 e 7 MJ/Nm3. Este valor é

considerado muito baixo para ser utilizado em uma turbina a gás, que geralmente trabalha

com gás natural. Este último apresenta um PCI que varia em torno de 38 MJ/Nm3.

Contudo, nos últimos anos, muitas pesquisas têm sido desenvolvidas com o intuito de

adaptar essas turbinas ao funcionamento com gases de baixo poder calorífico

(BRIDGWATER, 1995).

Na utilização de ar enriquecido com oxigênio como agente de gaseificação, é

garantido um teor de gás combustível no processo de 21 a 50%. De qualquer forma, o

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90

objetivo é aumentar o PCI, como consequência da redução da quantidade de nitrogênio

nas reações e aumento da temperatura do processo (MALKOW, 2004).

Quanto à gaseificação a partir do vapor, pode–se ressaltar a produção de um gás

com alto teor de hidrogênio e um poder calorífico médio entre 15 e 20 MJ/Nm3. Como

neste caso o vapor é o único agente gaseificante, o processo não inclui reações

exotérmicas, sendo desnecessário o fornecimento de energia externa para as reações

endotérmicas (MORRIS e WALDHEIM, 1998).

Por fim, na gaseificação com plasma, a fonte de calor do reator configura-se

através de tochas de plasma, as quais criam um arco elétrico com consequente produção

de gases a altas temperaturas. O principal inconveniente dessa tecnologia consiste no

elevado consumo energético necessário para alimentar o plasma, o que não confere

competitividade em relação às demais alternativas de gaseificação.

Vale mencionar, porém, que este tipo de gaseificação permite a utilização de

combustíveis com grandes variações nos parâmetros do combustível, como teor de

umidade, composição elementar, tamanho das partículas, dentre outros aspectos.

Ademais, esta tecnologia pode ser utilizada para gaseificar combustíveis com densidade

energética superior e ainda pode ser associada, por exemplo, à pirólise, no intuito de

garantir uma eficiente gaseificação do combustível líquido e, consequentemente, do gás de

síntese.

Além do tipo de agente gaseificador, existem outros fatores que afetam o

desempenho do sistema de gaseificação, dentre os quais se destacam (LORA e

VENTURINI, 2012):

A razão de equivalência, ou seja, a fração da quantidade estequiométrica de ar

aplicado;

O tempo de residência, o qual é limitado pela velocidade de fluidização quando o

processo é realizado em reatores de leito fluidizado, e pelo projeto e operação

da grelha, para reatores de leito fixo;

As características do combustível em termos físico-químicos e energéticos;

A utilização ou não de catalisadores.

O estudo teórico da gaseificação pode ser realizado de acordo com duas

abordagens: termodinâmica, a partir do conceito de equilíbrio químico, ou da cinética

química, segundo a taxa das reações envolvidas. A primeira abordagem envolve o estudo

de parâmetros como a concentração do gás produzido pela gaseificação e outras variáveis

como, por exemplo, poder calorífico, potência, eficiência, entre outros aspectos, os quais

podem ser determinados através da composição do combustível utilizado no processo e do

agente de gaseificação escolhido. Por outro lado, a segunda abordagem permite o cálculo

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da velocidade das reações químicas envolvidas, bem como a determinação das taxas de

formação dos produtos.

Por fim, o gás de síntese pode ser utilizado para acionar uma série de sistemas que

utilizam de energia elétrica para seu funcionamento, tais como Motores Alternativos de

Combustão Interna (MACI), Turbinas ou Microturbinas a Gás (TG), células a combustível,

fornos, caldeiras e outras máquinas envolvidas em processos produtivos industriais

diversos. A maioria destes equipamentos e aplicações será devidamente abordada a

diante.

3.4.2.1. Tipos de gaseificadores

A gaseificação pode ser classificada de duas formas: direta, quando ocorre na

presença de um agente oxidante ou indireta, na ausência deste componente. Existem dois

grupos de tecnologias de gaseificação direta: a partir de reatores de leito fixo ou leito

fluidizado. Estes possuem, ainda, subdivisões segundo suas características e

peculiaridades.

O vapor de água é o agente gaseificante indireto mais comum, devido à facilidade

de produção e por aumentar consideravelmente o teor de hidrogênio no gás combustível

gerado. Vale lembrar que o PCI do gás de síntese é significativamente afetado pela

presença de nitrogênio. Logo, devido à ausência de nitrogênio no agente de gaseificação,

a gaseificação indireta é capaz de aumentar a eficiência volumétrica e produzir um gás de

PCI maior.

Apesar de reduzir o custo de recuperação de energia e de limpeza do gás produto,

a gaseificação indireta permanece um processo muito complexo e de altos custos de

investimento (BELGIORNO et al., 2003). Neste sentido, este mesmo autor afirma, ainda,

que embora a gaseificação indireta apresente as mesmas vantagens em relação à direta

com oxigênio puro, o custo da produção deste último elemento é estimado em mais de 20

% do custo total da eletricidade produzida.

Por esse motivo, serão abordados, em detalhes, apenas os reatores envolvidos na

gaseificação direta. Apenas a título elucidativo, na figura 3.25 é possível averiguar o

funcionamento dos dois tipos de gaseificação, ressaltando suas principais diferenças.

Observa-se que na gaseificação direta o gás resultante é diluído, enquanto que no

processo indireto isto não ocorre. É possível ressaltar, ainda, a reação de formação de

metano presente na gaseificação indireta.

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92

Figura 3.25: Funcionamento da gaseificação direta e indireta (BELGIORNO et al., 2003).

3.4.2.1.1. Gaseificadores de leito fixo

Na literatura, o termo leito fixo é utilizado para descrever o leito móvel descendente,

dado que normalmente o topo do leito é mantido a um nível razoavelmente constante

(REDDY et al., 1995). Os reatores verticais são os mais competitivos entre esses tipos de

reatores. Em gaseificadores de leito fixo, o combustível é gaseificado em camadas de leito,

de modo a englobar as diferentes zonas de reação: secagem, pirólise, redução e oxidação.

Os gaseificadores de leito fixo operam em temperaturas na faixa de 1000ºC e são

subclassificados como contracorrente e co-corrente, baseado no contato com o

combustível e o agente gaseificador, como ar, oxigênio ou vapor (MC KENDRY, 2002;

QUAAK et al., 1999).

3.4.2.1.1.1. Gaseificador contracorrente

Gaseificadores contracorrentes, como o próprio nome diz, são gaseificadores nos

quais a carga alimentada e o fluxo de ar estão em sentidos contrários. Em outras palavras,

o agente gaseificador é insuflado para o leito fixo de combustível em direção oposta ao

sentido do movimento do combustível. O combustível se move por gravidade, através das

zonas de gaseificação.

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93

Os materiais combustíveis, depois de secos na zona de secagem, são

decompostos em gases voláteis e carvão na zona de pirólise. Na zona de redução,

diversas reações ocorrem, tais como o carbono que reage com vapor d’água para produzir

monóxido de carbono e hidrogênio. Na zona de oxidação, por fim, o carvão é queimado

para produzir calor, dióxido de carbono e vapor d’água (QUAAK et al., 1999).

Vale ressaltar que nesta última zona do processo, temperaturas superiores a

1200°C podem ser alcançadas. Como consequência desta configuração, o alcatrão

formado na fona de pirólise é carregado para cima pelos gases quentes, resultando em um

produto gasoso com alto teor de alcatrão. Tipicamente, o calor sensível dos gases é

recuperado através da troca de calor direta com a carga alimentada (MC KENDRY, 2002).

Na figura 3.26 é possível observar a configuração e o funcionamento de um

gaseificador contracorrente.

Figura 3.26: Gaseificador de leito fixo contracorrente (BELGIORNO et al., 2003).

Por fim, os gaseificadores contracorrente oferecem as seguintes vantagens de

utilização:

Alta eficiência gasosa;

Baixa produção de carvão;

Capacidade de gaseificar materiais com altos teores de umidade.

Como principal desvantagem, entretanto, apresenta-se a alta produção de alcatrão

no gás bruto.

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3.4.2.1.1.2. Gaseificador co-corrente

Os gaseificadores co-corrente, representados na figura 3.27, são semelhantes aos

contracorrentes, exceto pelo fato de o agente gaseificador fluir no mesmo sentido do

combustível, o qual é alimentado no topo, enquanto o ar é introduzido, nas laterais, acima

da grelha. O gás combustível, por sua vez, é retirado sob a grelha. Sua configuração

permite que os gases produzidos na zona de pirólise sofram o craqueamento térmico

adequado do alcatrão (QUAAK et al., 1999).

Figura 3.27: Gaseificador de leito fixo co-corrente (BELGIORNO et al., 2003).

Verificada a similaridade dos gaseificadores contracorrentes em relação aos co-

correntes, seus processos resultam em uma eficiência energética também similar (MC

KENDRY, 2002).

A principal vantagem do gaseificador co-corrente é a produção de um gás com

pouco alcatrão, já que todo o alcatrão passa pelo leito quente de carvão. Por outro lado,

entre as desvantagens destacam-se a baixa eficiência geral, as dificuldades em lidar com

altos índices de umidade e cinzas, além de servirem apenas em unidades de pequeno

porte (BELGIORNO et al., 2003).

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3.4.2.1.2. Gaseificadores de leito fluidizado

Os gaseificadores de leito fluidizado não apresentam zonas distintas de reação.

Operam em temperaturas relativamente baixas, da ordem de 700 a 900ºC, com exceção

dos gaseificadores de carreamento, os quais trabalham em torno de 1600ºC e são capazes

de operar com altas capacidades.

Segundo Quaak et al. (1999) e Mc Kendry (2002), dentre as vantagens da utilização

destes gaseificadores, podem-se destacar s seguintes fatores:

Construção compacta, que facilita altas taxas de transferência de calor através

da intensiva mistura que ocorre no leito;

Flexibilidade para lidar com variações de umidade, cinzas e outras

características do combustível;

Capacidade de lidar com materiais finamente granulados que apresentam alto

conteúdo de cinzas, baixa densidade ou ambos;

Poucos pontos onde ocorre a fusão das cinzas.

Alto conteúdo de poeira e alcatrão, porém, configuram algumas das desvantagens

destes gaseificadores. Subclassificados em leito fluidizado circulante e leito borbulhante

constituem grande parte dos gaseificadores comercialmente utilizados.

3.4.2.1.2.1. Gaseificador de leito fluidizado circulante

Estes gaseificadores, representados pela figura 3.28, operam com uma velocidade

de gás acima da velocidade de fluidização, o que resulta num arraste de partículas pelo

gás. As partículas arrastadas saem pelo topo do reator e as cinzas são então removidas,

ao passo que o material do leito retorna ao recipiente no qual ocorrem as reações

(BELGIORNO et al., 2003).

De acordo com Quaak et al. (1999), estes gaseificadores são adequados às

reações rápidas e podem operar a pressões elevadas. Oferecem, ainda, a vantagem de

possuir altas taxas de transporte de calor e de conversão (acima de 98%), com baixo teor

de alcatrão e de carbono não convertido.

As desvantagens incluem o fato do tamanho das partículas do combustível

determinar a velocidade mínima de transporte e as eventuais ocorrências de erosão do

equipamento, devido às altas velocidades (FAO, 1986).

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Figura 3.28: Gaseificador de leito fluidizado circulante (BELGIORNO et al., 2003).

3.4.2.1.2.2. Gaseificador de leito fluidizado borbulhante

Um gaseificador de leito borbulhante consiste de finas partículas de areia e alumina

num recipiente com uma grelha no fundo, a partir do qual o ar, oxigênio ou vapor são

introduzidos. Os materiais combustíveis, por sua vez, são introduzidos acima da grelha

num leito móvel de material granulado.

Neste gaseificador, representado pela figura 3.29, a temperatura é mantida na faixa

de 700 a 900ºC, através do controle da razão ar/combustível. O combustível sofre o

processo de pirólise no leito quente para formar um carvão com componentes gasosos. O

gás produzido contém pouco alcatrão devido ao contato com o material quente do leito.

O gaseificadores de leito borbulhante, embora apresentem desvantagens como a

presença de bolhas que se formam devido à passagem de gás por caminhos preferenciais

no leito, possuem diversas vantagens, como (CIFERNO, 2002; MC KENDRY, 2002):

Produção de um gás uniforme;

Distribuição de temperatura uniforme no reator;

Capacidade de lidar com vários tamanhos de combustível, incluindo os finos;

Altas taxas de transferência de calor entre os materiais inertes, combustível e

gás;

Boa taxa de conversão (70%), com baixa quantidade de alcatrão e carbono não

convertidos.

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Figura 3.29: Gaseificador de leito fluidizado borbulhante (BELGIORNO et al., 2003).

2.4.2.2. Comparação entre gaseificadores

Tanto em gaseificados com baixa ou alta capacidade, a seleção da configuração

em particular do reator influencia diretamente nas características do produto gasoso cru,

incluindo sua temperatura e quantidade de alcatrão e particulados presentes. Isto é

importante para a seleção cuidadosa de um gaseificador que seja compatível com as

características do produto para uso final (REZAIYAN e CHEREMISINOFF, 2005). Na

tabela 3.9 são comparadas as configurações de gaseificadores mencionadas,

apresentando um resumo de suas principais vantagens e desvantagens.

Por fim, outro fator imprescindível na escolha da tecnologia de gaseificação quanto

ao tipo de gaseificador, trata-se da escala de capacidade de produção de energia elétrica.

Na figura 3.30 são enquadrados os diversos tipos de gaseificadores nesta faixa de

aplicabilidade. Notam-se as altas capacidades de geração para os gaseificadores de leito

fluidizado em comparação aos de leito fixo. Isso de deve, essencialmente, ao alto tempo

de residência dos sólidos e sua mistura intensa, razões que levam esta configuração de

reatores a alcançarem altas taxas de gaseificação.

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Tabela 3.9: Comparativo entre as configurações de gaseificadores (RAJVANSHI, 1986).

Figura 3.30: Escala de aplicação de tecnologias de gaseificação de biomassa (LARSON, 1998).

3.4.2.3. Limpeza do gás de síntese

O gás produzido por um sistema de gaseificação contém uma determinada

quantidade de contaminantes, como os particulados, as cinzas, o alcatrão, dentre outros

materiais indesejáveis. Embora em algumas aplicações seja possível utilizar esse gás sem

antes submetê-lo a uma limpeza, outros sistemas de geração de potência exigem a

remoção destas impurezas. Segundo Devi et al. (2003), o alcatrão e os particulados são

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99

definidos como uma mistura complexa de hidrocarbonetos condensáveis, que por suas

características químicas e físicas, não são admissíveis em aplicações em máquinas

térmicas como, por exemplo, os MACI e as TG.

Nas turbinas, a exigência quanto à limpeza do gás se deve à erosão que pode

ocorrer nas pás em razão dos choques com os particulados. Esse efeito é causado devido

às altas rotações as quais as turbinas são submetidas. Nos MACI, por outro lado, o

alcatrão pode obstruir as válvulas de injeção do motor, assim como erodir e corroer as

paredes do pistão. Dessa forma, além de prejudicar o rendimento dos equipamentos,

acaba por incrementar a frequência de manutenção.

Contudo, a tolerância à presença desses componentes depende, em geral, da

utilização posterior do gás. De acordo com Fernandes (2004), quando a produção de gás

tem como único objetivo a geração de calor por combustão direta, a limpeza não é

necessária. Ainda neste sentido, a tabela 3.10 consiste na comparação da qualidade de

gás requerida para o uso de dois tipos de geradores de potência, a partir do abastecimento

com gás de síntese.

Gerador de

potência

Particulados

[mg/Nm3]

Dimensão do

particulado [µm]

Alcatrão

[mg/Nm3]

Metais pesados

[mg/Nm3]

MACI < 50 < 10 < 100 --

TG < 30 < 5 -- 0,24

Tabela 3.10: Qualidade do gás requerida para geradores de potência (HASLER e

NUSSBAUMER, 1999).

Diferentemente das tecnologias que exigem um maior critério quanto à limpeza do

gás, os motores Stirling, por exemplo, podem utilizar diretamente o gás sem um prévio

tratamento. Por outro lado, em aplicações nas quais se utilizam caldeiras para geração de

vapor que, por sua vez, pode ser utilizado para gerar potência em uma turbina, é exigido

um baixo grau de limpeza do gás.

Antes de abordar as diversas maneiras de realizar a limpeza do gás de síntese, é

importante considerar quais são os fatores que influenciam a produção das impurezas.

Segundo Hasler e Nussbaumer (1999), a natureza e o teor das impurezas presentes no

gás produto dependem, essencialmente, das características do processo de gaseificação –

principalmente o tipo de gaseificador – e, não menos importante, do tipo de combustível

que irá abastecer o sistema, já que alguns materiais podem favorecer uma maior formação

de impurezas no decorrer da produção do gás de síntese.

Como em boa parte dos casos nos quais se deseja fazer uso de um sistema de

gaseificação já existe um determinado tipo de combustível à disposição, resta definir o tipo

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100

de reator de gaseificação, ou seja, é importante considerar as características de cada

gaseificador no que diz respeito à qualidade do gás de síntese produzido.

O alcatrão é um dos principais produtos indesejáveis da gaseificação de biomassa

e o seu percentual presente no gás gerado é muito diferente para cada tipo de tecnologia

de gaseificação. Na tabela 3.11 relacionam-se os tipos de gaseificadores mais comuns à

qualidade do gás por eles fornecida, no que diz respeito às quantidades comumente

produzidas de particulados e alcatrão.

Tipo de Particulados [g/Nm3] Alcatrão [g/Nm

3]

Gaseificador Mín. Máx.

Faixa representativa

Mín. Máx. Faixa

representativa

Leito fixo

Co-corrente 0,01 10 0,1 – 0,2 0,04 6 0,1 – 0,2

Contracorrente 0,1 3 0,1 – 1,0 1 150 20 – 15

Leito fluidizado

Borbulhante 1 100 2 - 20 < 0,1 23 1 – 15

Circulante 8 100 10 - 35 < 1 30 1 – 15

Tabela 3.11: Qualidade do gás em função do tipo de gaseificador (STEVENS, 2001).

É possível perceber que os gaseificadores do tipo co-corrente produzem um gás

com menor teor de alcatrão quando comparado aos do tipo contracorrente e aos de leito

fluidizado. Ademais, é notável a grande diferença entre as quantidades de particulados

fornecidos pelos reatores de gaseificação de leito fixo quando comparados aos de leito

fluidizado.

A escolha do sistema de limpeza dos gases, por sua vez, depende de diversos

fatores, tais como a eficiência de remoção requerida, o custo operacional e de

investimento, o espaço disponível, as características do gás produzido, como temperatura

e pressão, entre outros.

Na tabela 3.12 são fornecidas as principais impurezas a remover durante o

processo de limpeza, associando-as a alguns problemas intrínsecos as tecnologias de

remoção, bem como os mecanismos de controle aplicáveis a cada situação.

É possível notar as inúmeras possibilidades de limpeza do gás de síntese. Em

resumo, este processo pode ser realizado através de dois grandes grupos de rotas

tecnológicas: limpeza úmida à baixa temperatura e limpeza a seco à alta temperatura.

Antes de detalhá-las, porém, faz-se necessária a abordagem de alguns conceitos e

definições no que diz respeito às tecnologias de limpeza do gás de síntese, as quais, em

conjunto, determinarão o sequenciamento completo do processo de limpeza.

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101

Impurezas Fonte Possíveis

problemas

Mecanismos de controle

e/ou mitigação

Particulados Cinzas, carbono,

material do leito

Erosão,

incrustações e

poluição ambiental

Filtragem e lavagem do gás

Metais alcalinos Cinzas Corrosão

Resfriamento,

condensação, filtragem,

adsorção

Compostos

nitrogenados

Reação do

nitrogênio do ar e

do combustível

Corrosão e

poluição ambiental

Tratamento com

substâncias básicas,

utilização de oxigênio puro

Compostos de

enxofre e cloro

Reação do enxofre

e do cloro presente

no combustível

Corrosão e

poluição ambiental

Lavagem, captura com

CaCO3, MgCO3

Alcatrão

Baixa temperatura,

voláteis no

combustível

Corrosão,

incrustações,

efeitos sobre a

saúde

Remoção e craqueamento

Tabela 3.12: Presença de impurezas no gás produzido, problemas decorrentes e mecanismos de controle (STEVENS, 2001).

Dentre as principais tecnologias pertinentes à remoção dos materiais particulados,

destacam-se:

Ciclones: estes equipamentos são muito utilizados como primeira etapa do

processo de limpeza do gás, devido, basicamente, ao seu baixo custo e alta

eficiência na remoção de partículas mais grosseiras. Essa tecnologia permite a

remoção de 90% do material particulado com partículas de até 5 µm de diâmetro

(STEVENS, 2001);

Filtros: os filtros são constituídos de elementos porosos, tais como leitos

granulares, materiais cerâmicos ou placas metálicas, as quais permitem a

passagem dos gases, mas impedem a passagem do material particulado. Os

filtros são usualmente instalados logo após os ciclones a fim de reduzir a

saturação das partículas grosseiras e garantir melhores condições de operação.

Ademais, alguns sistemas de gaseificação utilizam os chamados filtros de

manga, os quais exigem o controle da temperatura do gás na entrada do

dispositivo;

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102

Precipitador eletrostático: tecnologia amplamente utilizada em vários sistemas

de limpeza de gases que exigem alta pureza em termos de particulados. Os

precipitados eletrostáticos operam de acordo como princípio da força

eletrostática, produzida pela geração de cargas elétricas opostas entre as

partículas e a superfície dos eletrodos. Além disso, trata-se de um equipamento

de alto custo, sendo recomendado, em geral, para plantas de grande

capacidade;

Lavador de gases (scrubber): a limpeza através destes equipamentos se dá,

geralmente, pelo uso da água, de maneira que o material particulado é removido

principalmente pelo mecanismo de colisão das partículas com as gotas do

líquido. Suas maiores limitações estão na necessidade de tratamento da água

utilizada na lavagem e consideráveis requerimentos de potência, em razão das

perdas de carga no interior do equipamento. Por fim, o lavador mais comum em

aplicações de alta eficiência é o do tipo Venturi, no qual a eficiência da remoção

dos particulados é proporcional à queda da pressão.

No que tange as tecnologias específicas para a remoção do alcatrão, é possível

destacar:

Craqueamento catalítico: em geral, o processo consiste na quebra do alcatrão

em pequenas moléculas, quando em contato com a superfície do catalisador.

Embora a destruição catalítica do alcatrão ocorra a temperaturas em torno de

900°C, os métodos catalíticos operam a temperaturas menores que os

processos térmicos, de maneira a evitar o uso de materiais de alto custo

essenciais à construção de reatores de craqueamento. Os catalisadores podem,

em princípio, estar localizados nos mesmos reatores nos quais é realizada a

gaseificação ou em reatores secundários. Dependendo do tipo de catalisador, é

possível eliminar a necessidade de aquecimento ou resfriamento do gás

produzido na gaseificação (ZHANG et al., 2004);

Craqueamento térmico: embora seja possível realizar a decomposição do

alcatrão sem utilizar catalisadores, este método pode ser aplicado apenas em

reatores com zonas de alta temperatura. Também denominada destruição

térmica, a faixa de temperatura adequada a este processo está relacionada ao

peso molecular do alcatrão formado nos sistemas de gaseificação, podendo

variar entre 900 e 1300°C. Por motivos econômicos e operacionais, o

craqueamento térmico não é atrativo para sistemas de gaseificação em grande

escala (CIFERNO, 2002).

Enfim, um esquema geral do processo de limpeza úmida do gás de síntese é

apresentado na figura 3.31.

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103

Figura 3.31: Limpeza úmida de gases à baixa temperatura (HAMELINCK e FAAIJ, 2002).

Este processo pode ser iniciado através da etapa opcional de craqueamento do

alcatrão, ou simplesmente submeter o gás diretamente a um ciclone. Após a remoção das

impurezas sólidas neste último, o gás de síntese é resfriado até o ponto de orvalho, antes

de passar por um filtro de mangas, a fim de condensar os componentes mais pesados do

alcatrão. A temperatura de operação do gás no filtro é da ordem de 260°C, na qual os

particulados podem ser removidos com a eficiência requerida (TIJMENSEN, 2000).

Após deixar o filtro de mangas, o gás de síntese é lavado com água para retirar as

partículas residuais, como as cinzas e alguns compostos alcalinos, espécies químicas em

fase de vapor, tais como alcatrão não reagido e condensado orgânico, gases halogênios e

alguns compostos nitrogenados.

Por fim, leitos de ZnO, de calcário (CaCO3) ou também de dolomita (CaMg(CO3)2)

podem mostrar excelentes resultados na remoção dos compostos de enxofre presentes no

gás produzido. Um leito de ZnO é suficiente para diminuir a concentração de enxofre até

valores inferiores a 0,1 ppm (RAMIREZ, 1999).

Segundo Tijmensen (2000), caso a remoção do CO2 também se faça necessária, é

possível aplicar um processo de absorção com solvente, tais como Rectisol ou Sulfinol.

Dessa maneira, o H2S e o COS (sulfeto de carbonila) são reduzidos até concentrações

menores que 0,1 ppm e todo ou parte do CO2 é separado.

O tratamento catalítico também pode ser realizado internamente ao reator, sendo

os de leito fluidizado os mais indicados para esse tipo de tratamento. Os catalisadores

mais estudados são a dolomita (minério de magnésio) e a olivina, os quais oferecem

resultados significativos na redução do alcatrão. Em geral, catalisadores como a dolomita

podem ser utilizados para reduzir a temperatura de operação do leito para o craqueamento

do alcatrão, obtendo-se eficiências de 90 a 95% para temperaturas entre 800 e 900°C.

Esse método de tratamento é chamado de craqueamento catalítico e demanda

aproximadamente 0,03 kg/Nm³ de gás (BELGIORNO et al., 2003).

A limpeza úmida pode remover até 50% do alcatrão presente no gás, e, quando

seguida por um lavador Venturi, a eficiência de remoção do alcatrão pode atingir até 97%.

Os resíduos do processo de lavagem do gás requerem tratamento através de um sistema

composto por uma câmera de sedimentação e um filtro de areia, na presença de carvão

ativado (TIJMENSEN, 2000).

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104

Para Cardenas (2006), embora o método de limpeza úmida à baixa pressão

apresente um consumo alto de energia e necessite de tratamento dos efluentes gerados,

costuma ser mais eficiente que a limpeza a seco de gases à alta temperatura.

O processo de limpeza a seco, por sua vez, consegue remover o material

particulado presente na mistura gasosa com alta eficiência. O alcatrão pode ser também

removido por meio de reatores secundários, através dos quais são desenvolvidas as

reações de catálise. Alcatrão e óleos não são removidos durante a passagem pela unidade

de limpeza seca de gases, já que estes não condensam em altas temperaturas

(TIJMENSEN, 2000).

Segundo Verschoor e Melman (1999), a remoção das partículas de cinzas é feita

em lavadores de gases, filtros cerâmicos de alta temperatura ou ciclones. Estes últimos

podem ser utilizados para o controle primário das partículas, mas são – geralmente –

incapazes de satisfazer as especificações de qualidade do gás para aplicações como

MACI ou TG. Em contrapartida, o sistema cerâmico de filtragem à alta temperatura pode

ser utilizado para remover partículas em níveis aceitáveis para estas aplicações. Os filtros

cerâmicos, por sua vez, podem suportar temperaturas da ordem de 800°C. Seu uso

permite reduzir consideravelmente as perdas de calor relacionas ao resfriamento, limpeza

do gás e posterior compressão até a pressão requerida pelo acionador primário. Um

esquema geral do processo é apresentado na figura 3.32.

Figura 3.32: Limpeza a seco à alta temperatura (HAMELINCK e FAAIJ, 2002).

Catalisadores base níquel têm demonstrado alta eficiência para a decomposição do

alcatrão a temperaturas em torno de 900°C. Porém, o enxofre pode danificar esses

catalisadores (TIJMENSEN, 2000). Elucidativamente, na Tabela 3.13 é mostrado um

resumo das vantagens e desvantagens de alguns dos métodos apresentados, utilizados no

tratamento do gás de síntese. Dificuldade de controle, perdas no PCI e custos de

investimento são alguns dos fatores considerados, já que constituem as principais

considerações para a escolha de um sistema de limpeza.

Um dos grandes problemas relacionados à utilização de equipamentos que usam

água para a limpeza do gás é a sua disposição, pois a mesma, após ser utilizada, estará

sem condições de ser descartada sem um prévio tratamento.

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105

Sistema Vantagens Desvantagens

Craqueamento

térmico Controle simples e baixo custo

Perdas no PCI e baixa

eficiência

Craqueamento

catalítico

Não altera o PCI e não há

resfriamento do gás Alto custo e difícil controle

Lavadores Fácil controle da poluição do ar Perdas no PCI, resfriamento do

gás e produção de efluentes

Tabela 3.13: Resumo comparativo entre sistemas de limpeza de gases de biomassa

(BELGIORNO et al., 2003).

3.4.2.4. Utilização do gás de síntese

Embora todas consistam em processos de geração alternativa, o gás produto da

gaseificação pode ser utilizado, basicamente, para três diferentes finalidades, a saber: o

aproveitamento térmico, a geração de energia elétrica e a síntese de combustíveis.

A energia térmica pode ser aproveitada através da queima direta do gás em

queimadores de secadores ou em caldeiras para geração de vapor de processo. Para

tanto, o gás não necessita de tratamento, podendo ser utilizado diretamente da maneira

como deixa do gaseificador.

Por outro lado, os MACI e as TG, quando utilizados como acionadores primários,

constituem algumas opções de equipamentos para a geração de energia elétrica. Porém, o

gás necessita de tratamento para adequar os percentuais de alcatrão e particulado aos

padrões de aceitabilidade do equipamento.

Combustíveis como o hidrogênio e o metanol podem ser processados a partir do

gás de síntese através, principalmente, do processo denominado reforma a vapor. A figura

3.33 consiste em um esquema de alguns dos métodos utilizados para limpeza deste gás,

bem como algumas das tecnologias que podem ser usadas nas gerações alternativas

mencionadas. Novamente o combustível considerado é a biomassa, mas não há

diferenças significativas caso o combustível fosse trocado por RSU, por exemplo.

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106

Figura 3.33: Processo de tratamento e utilização do gás de biomassa (BELGIORNO et al., 2003).

3.4.2.4.1. Aproveitamento térmico

A combustão, já mencionada anteriormente, consiste na queima direta do gás

produto para geração de calor e é considerada a forma mais simples de aproveitamento.

Pode ser aplicada, em geral, para geração de vapor de processo em ciclos de potência e

para processos de secagem.

A co-combustão é uma alternativa interessante da utilização do gás produto para a

geração de calor, no qual este seria utilizado em conjunto com outro combustível, a fim de

complementar a energia necessária ao processo. Essa aplicação possibilita a diminuição

da emissão de poluentes atmosféricos se comparada à queima exclusiva de um

combustível fóssil.

Um exemplo desse tipo de aplicação pode ser visto na figura 3.34, a qual

representa a planta de Lahti, na Filândia. Neste caso, a queima do gás produto ocorre

conjuntamente com carvão e gás natural, em uma caldeira que fornece vapor para o

funcionamento de um ciclo de potência e para aquecimento distrital. Para essa planta

houve uma redução em 10% dos índices de emissões de CO2 devido à implantação da

queima do gás produto (BELGIORNO et al., 2003).

3.4.2.4.2. Geração de energia e elétrica

A utilização do gás de síntese para a geração de energia elétrica pode ser feita

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107

Figura 3.34: Planta de co-combustão do gás de biomassa de Lahti na Filândia (BELGIORNO et al.,

2003).

através de diferentes tipos de acionadores primários, também denominados, por alguns

autores, como motor-geradores. Todavia, algumas alternativas podem ser mais atrativas

que outras, devido aos diferentes tratamentos de limpeza exigidos por cada uma delas.

Algumas das principais e mais utilizadas alternativas são tratadas a seguir.

3.4.2.4.2.1. Motores alternativos de combustão interna

A maioria dos projetos envolvendo geração de energia elétrica a partir de materiais

gaseificados utiliza motores alternativos de combustão interna (MACI) para a geração de

potência de eixo. Esta será então transformada em energia elétrica através de um gerador,

sendo que os projetos envolvem motores a gasolina, a gás e a diesel.

Os gaseificadores normalmente empregados para esse fim são os de leito fixo co-

corrente, por apresentarem, em sua configuração, características que fazem com que o

gás gerado tenha menor concentração de alcatrão que outros gaseificadores. Segundo

Devi et al. (2003), um dos maiores problemas relacionados à utilização de gás de síntese

em motores de combustão interna é a remoção destas impurezas presentes no gás.

A utilização do gás de síntese nos MACI foi difundida principalmente no período da

segunda guerra mundial, embora tenha gradativamente perdido tal representatividade. Isso

se deve à versatilidade dos motores a gasolina que surgiram no mercado. No entanto, em

razão da atual alta do preço do petróleo e da busca pela utilização de fontes renováveis de

energia, tem-se percebido uma retomada do antigo cenário.

A eficiência obtida nos motores quando são operados com gás de síntese é menor

se comparada aos combustíveis para os quais foram projetados. Isso se deve ao seu baixo

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108

poder calorífico, ainda que os índices de emissão de poluentes sejam menores devido à

biomassa, por exemplo, possuir valores baixos ou nulos de enxofre em sua composição.

Na figura 3.35 é apresentada a variação da eficiência em função da potência de um

motor diesel, funcionado com diesel e com a mistura de diesel e gás de síntese. A máxima

eficiência obtida com a mistura foi de 14,71% e com diesel puro de 22,41%. Esses dados

se referem a um motor Perkins de 49 HP (BHATTACHARYA et al., 2001).

Figura 3.35: Eficiência do motor para utilização de diesel e mistura diesel + gás produto como

combustível, com relação à variação de sua potência (Adaptado de BHATTACHARYA et al., 2001).

Em motores a gasolina carburados, a mistura utilizada geralmente é na proporção

de 1:1, podendo-se introduzi-la diretamente no local do carburador. A figura 3.36

representa um modelo de misturador que pode empregado para esse fim. Vale mencionar

que o rotâmetro é um dispositivo utilizado para medir a vazão de um líquido ou gás num

tubo e pertence à classe de medidores de área variável. O volume de gás de síntese que

será consumido é de fundamental importância para o dimensionamento do gaseificador.

3.4.2.4.2.2. Motores stirling

O motor Stirling é considerado uma máquina de combustão externa que não requer

um gás extremamente limpo, necessitando apenas que tenha a energia adequada para

seu funcionamento. Os maiores motores deste tipo operam na faixa de 10 a 40 kW.

Estes necessitam, ainda, que gases de combustão para o seu acionamento estejam

a elevadas temperaturas, em torno de 900 a 1200°C. Estes gases, por conseguinte,

deixam o motor a uma temperatura da ordem de 600°C.

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109

Figura 3.36: Sistema de mistura para utilização de gás de biomassa em MACI (MENDIS et al.,

1989).

Jensen et al. (2006) desenvolveu um estudo sobre esses motores, cujo esquema

do conjunto gaseificador e motor é representado na figura 3.37. Neste projeto, um

gaseificador do tipo contracorrente fornece gás para o queimador, localizado na parte

superior do motor Stirling. O gás é então queimado, com consequente fornecimento de

energia para o motor.

Figura 3.37: Esquema de gaseificador em motor Stirling (JENSEN et al., 2006).

O ar utilizado para a combustão no queimador é pré-aquecido à temperatura de

aproximadamente 600°C. Parte do gás de exaustão resultante da queima é utilizada

conjuntamente com ar como agente de gaseificação (MENDIS, 1989).

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110

3.4.2.4.2.3. Turbinas a gás

As TG são disponibilizadas no mercado em potências que variam entre 30 e 250

kW e têm eficiência, geralmente, entre 26 e 28%, sendo que a potência sofre a influência

da pressão e temperatura ambiente. Dentre as diversas aplicações para essas turbinas,

destacam-se pequenos sistemas de cogeração no setor comercial (hotéis, pequenos

hospitais, centros de esportes e residenciais), mas também em pequenas indústrias,

especialmente nas quais o suprimento energético contínuo é necessário.

Estes equipamentos são eficientes em relação à recuperação do calor, pois os

gases de exaustão ainda contêm um bom potencial energético, podendo ser utilizado, por

exemplo, para aquecer a água a temperaturas da ordem de 90°C (BAILEY et al., 2002).

A qualidade do gás é um fator importante quando utilizado como combustível em

TG e células a combustível, já que a presença de alcatrão e particulado pode significar

uma redução considerável na vida útil desses acionadores. Como mencionado no item

3.4.2.3, isso se deve à ação corrosiva e abrasiva que estes exercem sobre o equipamento,

diante das altas rotações e temperaturas atingidas durante o seu funcionamento.

A gaseificação, aplicada conjuntamente com turbinas a gás é, geralmente, utilizada

em ciclos combinados, no qual o gás produto é queimado em uma turbina a gás e os

gases de escape são recuperados em uma caldeira que, por sua vez, irá gerar vapor para

um ciclo de potência. A planta de gaseificação de Värnamo, na Suíça, é um exemplo de

aplicação que utiliza esse tipo de arranjo, cuja representação é mostrada na figura 3.38.

Figura 3.38: Diagrama do processo de gaseificação Värnamo (JENSEN et al., 2006).

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111

3.4.2.4.2.4. Células a combustível

Dentre as tecnologias de geração alternativa de energia, a célula a combustível

pode ser considerada a mais ambientalmente correta, já que opera com baixo nível de

ruído e reduzida emissão de poluentes, principalmente quando se utiliza o hidrogênio puro

como combustível, pois haverá água como único subproduto (SILVEIRA, 1999).

Segundo Bailey et al. (2002), a célula combustível opera, em geral, na faixa de 40 a

60% de eficiência, sendo que em regime de cogeração, pode chegar a valores em torno de

85%. Os gases quentes produzidos durante o processo de geração de energia são

liberados a temperaturas entre 200 e 1000°C, dependendo do tipo de célula a combustível.

Os projetos de células a combustível são normalmente classificados de acordo com

seus eletrólitos. Estes podem ser escolhidos de acordo com a eficiência desejada para a

aplicação, o combustível disponível para abastecê-las, dentre outros critérios importantes

para o processo. Na tabela 3.14 são apresentadas algumas das características desse tipo

de equipamento, estabelecendo uma comparação entre tais classificações.

Alcalina

(AFC)

Ácido

Fosfórico

(PAFC)

Carbonato

fundido

(MCFC)

Óxido de

sólido

(SOFC)

Eletrólito

Solução

alcalina de

KOH

Ácido

fosfórico

estabilizado

Solução

carbonato

fundido

Eletrólito

sólido de

cerâmica

Potência (kW) << 100 5 – 200 800 – 2000 2.5 - 100000

Eficiência Elétrica

Até 70% 40 – 45% 50 – 57% 45 – 50%

Combustível H2 H2 reformado H2 e CO

reformados

H2 e CO

reformados

Aplicações Espacial e

militar

Geração de

energia

Geração de

energia

Geração de

energia

Tabela 3.14: Características das células a combustível (JENSEN et al., 2006).

O gás produto da gaseificação não pode ser usado diretamente em células a

combustível, havendo a necessidade de um processo de tratamento para converter,

primeiramente, o metano em monóxido do carbono na presença de vapor. Por fim, através

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112

de um processo de reforma, o monóxido de carbono é convertido em hidrogênio através da

chamada reação de “shift”, com consequente remoção do CO2.

Geralmente, os esquemas dos modelos envolvem ciclos com turbinas a gás e a

vapor, nos quais se aplicam o conceito de cogeração, como vistos na figura 3.39. A sigla

ASU se refere à unidade de separação de ar ou, em inglês, Air Separation Unit.

Figura 3.39: Esquema de sistema integrado gaseificador célula a combustível (JENSEN et al.,

2006).

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113

4. ESTUDO DE CASO

No intuito de evitar a divulgação de informações sigilosas, o nome e algumas

características da empresa alvo do presente estudo de caso não podem ser revelados.

Não há, contudo, perdas significativas quanto à análise dos dados nela coletados.

Situada no estado de São Paulo, trata-se de uma empresa de médio porte voltada à

importação e fabricação de produtos através do processo de rotomoldagem. Atendendo o

mercado nacional e exportando boa parte desses produtos, seus investimentos têm sido

direcionados à intensificação da produção própria em detrimento da importação de

produtos em geral.

O presente estudo de caso consiste na análise de viabilidade de gerar energia

elétrica a partir dos refugos gerados pelo referido processo de rotomoldagem, através da

tecnologia de conversão termoquímica de gaseificação.

Também chamados de produtos não conformes, entende-se por refugo um produto

cujas especificações não estão dentro dos parâmetros admissíveis segundo as normas de

qualidade, o que pode ser verificado segundo as seguintes razões:

Deformação da peça ou da borda: este defeito pode ocorrer em consequência

de uma série de fatores, dentre os quais se destacam:

Tempo de ciclo incorreto, ocasionando fundição excessiva ou

incompleta da peça;

Pré-aplicação incorreta do produto desmoldante ou limpeza deficiente

das cavidades do molde, incorrendo no desprendimento parcial do

produto;

Erro de operação na etapa de desmoldagem.

Peças cruas ou queimadas: decorrente de alguma alteração no tempo de ciclo

ou na temperatura de operação da máquina. Pode ocorrer sem causar

deformação na peça;

Peso incorreto: decorrente, principalmente, da má dosagem da resina

polimérica. Este defeito pode ser averiguado na pesagem da peça após a

desmoldagem;

Presença de bolhas: deve-se à entrada de ar nos moldes durante a fundição da

peça, em função, principalmente, de algum erro de operação;

Mancha de desmoldante: pode ocorrer quando não é retirado o excesso deste

produto das paredes do molde;

Desalinhamento: ainda que em pequena escala, ocorre quando, por algum

motivo, a máquina não desenvolve perfeitamente seu ciclo.

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114

Vale mencionar que quando algum teste é realizado, em consequência da tentativa

de criar um novo modelo de produto ou de alterar algum parâmetro do processo, a peça

pode ser classificada como refugo. Isso ocorre quando aquela, por alguma razão, não é

colocada em linha ou é alvo de um teste falido.

Dessa maneira, são duas as principais motivações para a realização desta análise.

A primeira delas consiste no fato de, embora nesta empresa boa parte dos refugos

gerados seja reutilizada como matéria-prima para o próprio processo de rotomoldagem,

esta não é uma realidade generalizada, já que outras indústrias não conseguem aproveitar

totalmente seus produtos não conformes. Isso se deve à diferença entre processos, aos

tipos de máquinas utilizadas, bem como às características de projeto de cada produto.

Nestes casos de aproveitamento parcial dos refugos, ocorrerá, indubitavelmente, o

descarte desses materiais, contribuindo para a geração de resíduos sólidos em geral. É

quando se substitui o conceito de refugo pelo de rejeito, ao qual restará apenas a opção de

disposição final, tal como discutido no item 3.1.7.6. Em outras palavras, o refugo não foi

tratado como resíduo, ou seja, um material passível de tecnologias de tratamento.

Ademais, tal processo de reutilização não consiste simplesmente em reabastecer

as máquinas de rotomoldagem com os refugos da forma como foram retirados dos moldes.

Vale lembrar que estes últimos devem ser abastecidos pela resina polimérica em pó. Para

tal, as peças não conformes devem passar pelos seguintes processos de retrabalho antes

de se caracterizarem, novamente, como matéria-prima:

1. Limpeza, no intuito de remover poeiras e outros resíduos presentes;

2. Secagem;

3. Separação, por cores e tipo de pigmento;

4. Moagem, sendo esta mais complexa se comparada à convencional do processo.

Por fim, após a moagem, a resina, já em pó, deve ser estocada em local distinto da

resina virgem correspondente, uma vez que o material reprocessado é reutilizado em certa

proporção, após mistura rigorosa com o material virgem.

A impossibilidade de produzir peças utilizando-se apenas resinas reprocessadas,

ou seja, a necessidade de respeitar determinada proporção em sua dosagem tem como

razão o segundo e não menos importante fomento deste estudo de caso. Essa limitação

explica-se em razão de alguns aspectos do reprocessamento mecânico dos refugos para a

obtenção de resinas poliméricas, o qual apresenta alguns inconvenientes, a saber:

Eventual incompatibilidade entre os diferentes polímeros, sendo necessária a

adição de compatibilizantes;

Presença de impurezas agregadas à resina durante as etapas do

reprocessamento;

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115

Após um determinado número de reprocessamentos, as propriedades do

material podem tornar-se muito inferiores às do material virgem. Isso ocorre

devido à degradação induzida pelas elevadas taxas de cisalhamento e

temperaturas de reprocessamento.

Em resumo, a resina termoplástica reprocessada, seja ela qual for, apresenta,

invariavelmente, propriedades inferiores à da resina virgem.

Diante de todos esses inconvenientes e ao fato dos refugos serem inerentes a

quaisquer processos de transformação de polímeros, faz-se necessário o estudo de

alternativas para o reaproveitamento das perdas por não conformidade.

4.1 Dados obtidos

Foram coletados dois tipos de dados do processo de transformação de polímeros

da indústria alvo do estudo de caso: a quantidade mensal total, em massa, da resina

polimérica de PELBD utilizada como matéria-prima para o processo de rotomoldagem e o

índice de não conformidade, ou seja, a ocorrência de refugo sem relação à produção total.

O período de coleta dos dados foi do mês de março ao mês de agosto de 2013,

totalizando dados globais do processo, ou seja, são consideradas as produções de todas

as máquinas em operação, computando todos os turnos praticados pela indústria. No

gráfico 4.1 é apresentada, então, a quantidade mensal total de PELBD utilizada na

alimentação das máquinas de rotomoldagem nos meses considerados.

Gráfico 4.1: Matéria-prima consumida (PELBD).

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116

Por sua vez, o Índice de Não Conformidade (INC) do processo produtivo é

apresentado no gráfico 4.2. Este índice consiste na porcentagem mensal total de refugos

gerados pelo processo.

Gráfico 4.2: Índice de não conformidade (INC).

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117

5. METODOLOGIA

Para avaliar a quantidade de energia elétrica passível de ser gerada pela instalação

de um sistema de gaseificação na indústria alvo, contabilizou-se primeiramente a taxa de

geração do material polimérico a partir da confecção de produtos não conformes.

Será calculada, então, a energia térmica presente nos refugos, com consequente

especificação do tipo de gaseificador a ser utilizado. Por fim, será apresentada a

possibilidade de aproveitamento do gás produto da gaseificação para a geração alternativa

de energia elétrica, a partir de um MACI.

5.1. Considerações iniciais

Observa-se nitidamente, a partir do gráfico 4.1, uma tendência de crescimento da

utilização da resina polimérica ao longo dos meses. Para estimar o futuro consumo de

matéria-prima pela indústria, será utilizada uma projeção que leva em conta a média dos

crescimentos mensais no período considerado.

Na tabela 5.1 são apresentados os crescimento do consumo de matéria-prima de

cada mês em relação ao anterior. Os dados, em porcentagem, foram arredondados na

segunda casa decimal.

Mês Crescimento (%)

Abril 10,8

Maio 4,57

Junho 6,2

Julho 8,28

Agosto 5,95

Tabela 5.1: Crescimento do consumo de matéria prima.

Logo, a Crescimento Mensal Médio (CMM) é de 7,16% no período considerado, ou

seja, pode-se atribuir um crescimento médio deste valor à produtividade da empresa e, por

conseguinte, ao consumo de PELBD.

No intuito de considerar esse crescimento produtivo até a eventual instalação do

sistema de gaseificação, propõe-se um cronograma, o qual servirá de base para a

estrutura dos cálculos posteriores. As etapas do cronograma e as respectivas estimativas

de suas durações são listadas segundo a tabela 5.2.

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118

Etapas Duração

(dias)

Avaliação da proposta pela diretoria da empresa 20

Cotações dos equipamentos (gaseificador e unidade motor-gerador) 30

Adaptação do espaço e infra-estrutura para instalação do sistema 20

Reavaliação da proposta com investimentos e retorno já calculados 20

Compra e instalação dos equipamentos 15

Treinamento e inicialização do sistema 15

Tabela 5.2: Etapas do cronograma e as respectivas estimativas de suas durações.

Dessa maneira, seriam necessários quatro meses para a execução de todas essas

etapas. Considerando, ainda, que a proposta fosse apresentada à diretoria da empresa em

janeiro de 2014, o cronograma seria cumprido em abril deste mesmo ano.

No que tange a utilização do INC nos cálculos posteriores, também será

considerada uma média dos valores mensais, porém, com referência apenas ao período

de março a agosto, tal como apresentados no gráfico 4.2. Neste caso, essa consideração é

plausível uma vez que, apesar de variar de mês a mês, o índice de refugos não apresenta

um padrão de crescimento, como observado na utilização da matéria-prima, em

decorrência do crescimento produtivo.

Logo, o Índice Médio de Não Conformidade (IMNC) do processo de transformação

polimérica será considerado como a média aritmética dos INC apresentados no gráfico 4.2,

resultando em 5,97%, ou seja, IMNC = 0,06, aproximadamente.

5.2. Taxa de geração de refugos

Para realizar os cálculos do aproveitamento energético a partir da eventual

aquisição do sistema de gaseificação, não é razoável considerar a projeção do consumo

mensal de matéria-prima apenas do mês de abril, data de inicialização do uso do sistema

de gaseificação. Isso porque se obteria um resultado pouco fidedigno em razão de tal

consumo não estar estabilizado.

Portanto, será considerada a média das projeções de demanda mensal de polímero

de um ano após a conclusão das etapas do cronograma, ou seja, de abril de 2014 a abril

de 2015. Estes valores, apresentados na tabela 5.3, são estimados segundo o CMM

calculado no item 3.1.

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119

IMNCDPMMMP

Mês Consumo de PELBD (kg)

abr/14 128309,6

mai/14 137496,6

jun/14 147341,3

jul/14 157891

ago/14 169196

set/14 181310,4

out/14 194292,2

nov/14 208203,5

dez/14 223110,9

jan/15 239085,6

fev/15 256204,2

mar/15 274548,4

abr/15 294206,1

Tabela 5.3: Média das projeções de consumo mensal de PELBD de um ano após a

conclusão das etapas do cronograma.

Logo, pode-se estabelecer a Demanda Polimérica Mensal Média (DPMM) de

PELBD para o processo, também a partir da média aritmética dos valores apresentados na

tabela 5.1. Esse cálculo resulta em uma massa de 200861,2 kg de resina polimérica, ou

seja, DPMM = 200861,2 kg.

Para determinar a Massa Polimérica Mensal Média (MP) de PELBD destinada ao

abastecimento do sistema de gaseificação, basta multiplicar a DPMM pelo IMNC, como

indicado na equação 5.1:

(5.1)

Obtém-se, assim, o valor de MP de 12051,67 kg.

5.3. Vazão mássica

Embora ambos os conceitos de vazão convencional e de Vazão Mássica (VM)

refiram-se a um escoamento por unidade de tempo, a primeira considera um fluxo

volumétrico, enquanto a segunda um fluxo de massa. Neste caso, a VM consiste na

quantidade de massa que alimentará o gaseificador por segundo e pode ser calculada a

partir da equação 5.2:

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120

TU

MPVM (5.2)

Este cálculo se baseia na MP e considera um Tempo de Utilização (TU) segundo a

média de 25 dias de produção contínua por mês, ou seja, com 24 horas diárias de

funcionamento, sendo que cada hora possui 3600 segundos. Chega-se, portanto, a uma

VM de aproximadamente 0,00558 kg/s.

5.4. Potência térmica

A Potência Térmica (PT), expressa em Watts [W], pode ser definida como a

quantidade de energia fornecida pelo reator de gaseificação por unidade de tempo e pode

ser dada pela multiplicação da VM pelo PCI, conforme a equação 5.3:

PCIVMPT (5.3)

Como visto no item 3.1.3.2, o PCI pode ser calculado através de diversas equações

propostas empiricamente por diferentes pesquisadores e cientistas. Neste trabalho, será

considerada a fórmula proposta pelo cientista russo Dimitri Mendeleiev, de acordo com a

equação 3.1.

Substituídas as porcentagens de cada elemento químico da composição elementar

do plástico, extraídas da tabela 3.1, chega-se a um PCI de 25280,86 kJ/kg. Vale ressaltar

que não seria pertinente extrair este valor, por exemplo, da tabela 3.2, já que neste caso foi

computada a umidade do plástico, proveniente dos RSU.

Por fim, da equação 5.3 resulta uma PT = 141,05 kW, aproximadamente. Este valor

leva em consideração um funcionamento contínuo do reator de gaseificação, ou seja, parte

de uma alimentação constante ao longo dos 25 dias efetivos de produção considerados.

A título de complementar o estudo e fornecer outra possibilidade para o

funcionamento do sistema de gaseificação, é possível considerar um regime de

funcionamento intermitente para o sistema, ou seja, apenas em alguns intervalos de tempo

durante cada mês.

Para determinar uma nova PT, considerando um TU de cinco dias ou de 120 horas

do sistema de gaseificação por mês, basta utilizar novamente a equação 5.2, referente ao

cálculo da VM. Neste caso, seria obtida uma VM de 0,0279 kg/s, o que resultaria em uma

PT = 705,27 kW, aproximadamente, de acordo com a equação 5.3.

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MPPCIET

TU

ETPT

Vale ressaltar que a Potência Térmica (PT) poderia ser calculada de outra maneira,

a partir da Energia Térmica (ET), dada em Joules [J]. Esta grandeza consiste na

quantidade de energia disponível em uma determinada quantidade de massa de certo

material. Neste caso, desejar-se-ia obter a Energia Térmica Mensal (ETM), dada na

mesma unidade, contida nos produtos não conformes, a qual poderia ser calculada através

da equação 5.4:

(5.4)

Substituindo-se os valores de PCI e MP, ter-se-ia, enfim, ET = 304676, 58 MJ,

aproximadamente. A PT, por conseguinte, seria determinada de outra forma, através da

equação 5.5, que relaciona a ET e o TU do sistema de gaseificação, da seguinte forma:

(5.5)

Por fim, seriam obtidos os mesmos valores de PT obtidos através da equação 5.3:

141,05 kW e 705,27 kW, respectivamente, para o uso contínuo e intermitente do reator de

gaseificação.

5.5. Especificação do reator de gaseificação

A especificação do tipo de gaseificador adequado aos parâmetros obtidos pode ser

realizada com base em diversos critérios, dentre os quais se destacam:

A escala de aplicação de tecnologias de gaseificação de biomassa e outros

materiais combustíveis;

O rendimento usual de cada tipo de gaseificador;

O sistema de funcionamento mais adequado ao espaço físico de aplicação;

A diferença entre os sistemas admissíveis de limpeza do gás de síntese.

Embora os dados da figura 3.30 se refiram à gaseificação de biomassa, reitera-se

que não há diferenças significativas apenas pelo fato da gaseificação proposta a partir do

estudo de caso utilizar plástico como material combustível. Tal como explicado no item 3.4,

a gaseificação necessita apenas de um MCC como combustível, que pode ser biomassa,

plástico, dentre outros materiais também mencionados.

Considerando-se, pois, as escalas de aplicação das diferentes tecnologias de

reatores de gaseificação, apresentadas na figura 3.30, ambas as PT obtidas no item 5.4 –

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122

EGMEGETS

relativas ao uso contínuo e intermitente do sistema – condizem com os gaseificadores de

leito fixo co-corrente.

Segundo Martínez et al. (2009), esse tipo de gaseificador apresenta, em média,

uma eficiência de 50 a 80%. Logo, para efeito deste estudo de caso, será considerada a

média destes valores, sendo a Eficiência do Gaseificador (EG) de 65%, ou seja, EG =

0,65.

Vale ressaltar que o gaseificador de leito fixo co-corrente possui alto potencial de

conversão de carbono, elemento que integra boa parte do material plástico. Além disso,

esta matéria-prima não possui umidade em sua composição, o que satisfaz a desvantagem

deste gaseificador em relação à necessidade de utilização de um combustível de baixa

umidade.

Ademais, os gaseificadores de leito fixo co-corrente produzem baixos teores de

alcatrão quando comparados a outras configurações, o que permite a implantação de um

sistema mais simples para a limpeza do gás de síntese.

5.6. Eficiência total do sistema

Como tratado no item 3.4.2.4.2, existem várias possibilidades para a escolha do

sistema motor-gerador, o qual será instalado junto ao reator de gaseificação para

transformar efetivamente o gás de síntese em energia elétrica.

Neste caso, foi escolhido um MACI, devido ao fato de este tipo de acionador

primário ser o mais utilizado junto ao gaseificador co-corrente. Vale lembrar que isso

ocorre principalmente em função da satisfatória compatibilidade entre esses equipamentos

no que se refere à qualidade da limpeza do gás de síntese.

Segundo Alanne (2004), a eficiência elétrica de um MACI se encontra na faixa de

25 a 45%, enquanto que a Eficiência Global do MACI (EGM) permanece entre 75 e 85%.

Esta última é denominada global ou total por já considerar a recuperação energética a

partir dos gases de exaustão e do sistema de resfriamento do bloco do motor, ou seja, ela

contabiliza os rendimentos elétrico e térmico.

Considerando-se, para este caso, uma EGM de 80%, já é possível calcular a

Eficiência Total do Sistema (ETS), composto pelo gaseificador de leito fixo co-corrente e

pelo MACI como sistema motor-gerador. Esta eficiência se da a partir da multiplicação das

eficiências de cada componente, como elucidado na equação 5.6:

(5.6)

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123

ETSPTCP

CP

QPFU

Obtém-se, então, um valor de ETS de 0,52.

5.7. Capacidade produtiva

A Capacidade Produtiva (CP) de geração de energia elétrica, expressa em Watts

[W], obtida a partir do sistema completo de gaseificação por ser obtida pela equação 5.7:

(5.7)

Considerando os dois valores de PT obtidos no item 5.4, obtém-se CP = 73,35 kW

e 366,75 kW, respectivamente, para o uso contínuo e intermitente do reator de

gaseificação. Estes valores também foram arredondados na segunda casa decimal.

Por fim, a CP é o parâmetro que determina a Potência Instalada (PI) para o

acionador primário a ser escolhido, sendo esta grandeza a capacidade total de geração da

unidade motor-gerador, ou seja, é a potência elétrica nominal especificada pelo fabricante

do equipamento.

Em aplicações nas quais a quantidade de combustível envolvida na gaseificação

não apresenta crescimentos significativos, a CP corresponde e indica claramente o

parâmetro PI requerido para a máquina geradora. Caso contrário, torna-se necessária uma

análise da relação entre a ociosidade do sistema gaseificador e a disponibilidade para

aumento da capacidade produtiva. Em outras palavras, é preciso avaliar por quanto tempo

uma determinada PI será capaz de processar todo o gás de síntese produzido pelo reator

de gaseificação, levando em conta os eventuais aumentos da quantidade de combustível

de alimentação.

Neste sentido, utiliza-se o Fator de Utilização (FU) de um sistema, o qual

corresponde à fração de utilização do equipamento. Em outras palavras, é a quantidade

processada (QP) de combustível no equipamento dividida pela CP, conforme a equação

5.8:

(5.8)

Se FU for maior que um, o equipamento está com capacidade menor que a

demanda de funcionamento, ao passo que se o valor for menor que um, o equipamento

está ocioso, ou seja, a capacidade é maior que a demanda.

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124

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma potência instalada de 1 kW é suficiente para alimentar alguns aparelhos de

uso doméstico, tais como refrigeradores, computadores, aparelhos de som, máquinas de

lavar roupa, televisões, entre outros equipamentos de consumo relativamente baixo.

Microgeradores e minigeradores solares fotovoltaicos (FV) são sistemas de geração

elétrica de pequena potência, normalmente instalados para produzir energia

suficiente para alimentar uma casa ou até mesmo um edifício de pequeno porte. Segundo

a Resolução Normativa 482/2012 da ANEEL, enquanto os microgeradores são sistemas

com potência de até 100 kW, os minigeradores integram os acima de 100 kW e até 1 MW

(ANEEL, 2012).

Com relação à indústria alvo deste estudo de caso, é possível observar que mesmo

para o caso de implementação do sistema de gaseificação em regime intermitente, este

não seria viável, ao passo que a geração de potência elétrica seria relativamente baixa.

Não há como comparar o consumo de uma residência ao consumo de uma indústria, ainda

que de médio porte. Esta classe de indústrias já costuma comportar extensos galpões com

uma série de máquinas e equipamentos, consumindo uma potência elevada.

No entanto, quando é levado em consideração o porte e o respectivo consumo de

matéria prima da indústria de estudo de caso é possível mensurar a partir de que

condições se tornaria viável a instalação de um sistema de gaseificação. Existem, sem

dúvidas, diversas outras indústrias de transformação de polímeros, as quais, devido ao

maior tempo de mercado e eventuais parcerias com grandes empresas multinacionais,

apresentam um consumo de resinas poliméricas muito mais elevado. Nesta realidade,

outras escalas de capacidades produtivas seriam obtidas, ainda que a geração de refugos

fosse mais reduzida.

Ademais, tal como mencionado na proposta de estudo de caso, a produção de

refugos é inerente a quaisquer processos produtivos e alguns destes possuem como

característica, ainda, um maior índice de não conformidade, tornando os processos de

recuperação energética mais atraentes. Por fim, ainda existe a possibilidade de

encontrarem-se grandes indústrias com elevados índices de não conformidade. Estas

seriam as melhores candidatas à adoção de um processo de recuperação energética como

a gaseificação.

Cabe lembrar que os processos de transformação de polímeros permitem a

utilização de material reprocessado junto à matéria-prima virgem, mas, muitas vezes, não

equivalente à quantidade, em volume, de refugos gerados. Assim, em casos de altos

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125

índices de não conformidade, têm-se maiores chances de viabilizar sistemas de

recuperação energética.

Referindo-se novamente à indústria de estudo de caso, seria possível defender a

ideia de que mesmo sendo insuficientes para alimentar um grande número de máquinas,

as potências obtidas já justificariam a instalação de um sistema gaseificador, levando-se

em conta os aspectos ambientais. A partir dos conceitos abordados no item 3.1.7.6, sabe-

se a importância de tentar reduzir, ao máximo, a quantidade de resíduos a serem

dispostos. Há de se considerar, porém, uma série de entraves com relação à aquisição

desses sistemas por parte de empresas de pequeno e médio porte.

A partir do uso não contínuo do sistema de gaseificação, seria pertinente computar

a ociosidade como um aspecto negativo para a viabilização da proposta de geração

alternativa de energia elétrica. Sendo assim, reforça-se o fato da maior viabilidade deste

tipo de estratégia em grandes indústrias. Nestas, a quantidade de combustível para a

gaseificação é suficientemente grande a ponto de garantir o abastecimento de um sistema

gaseificador em regime contínuo, eliminando aspectos negativos como a ociosidade.

Outro fator que poderia desmotivar a aquisição de um sistema de gaseificação por

uma indústria consiste na necessidade de manutenção preventiva e corretiva dos

equipamentos envolvidos no processo. Embora se respeite os níveis de limpeza do gás de

síntese exigidos pela unidade motor-gerador, qualquer equipamento requer manutenções

periódicas, em maior ou menor frequência.

No entanto, ainda do ponto de vista econômico, vale ressaltar que para encaminhar

os rejeitos dos processos de transformação termoplástica para a devida disposição final,

as indústrias são compelidas a contratar empresas terceirizadas, incumbidas de levá-los

até os aterros sanitários apropriados. Este serviço não costuma apresentar um custo

irrisório e, embora não seja comum, em casos nos quais a indústria esteja localizada longe

dos grandes centros geradores e dos principais pólos industriais, o transporte para

disposição final pode representar um investimento muito mais alto.

Além disso, também é minimizado o inconveniente das operações de manutenção

quando se considera a instalação de um sistema de gaseificação em indústrias de grande

porte, as quais já possuem – invariavelmente - determinada infra-estrutura interna de

manutenção, de modo a evitar a contratação de mão-de-obra terceirizada, a qual

configuraria gastos adicionais à empresa.

Ainda neste sentido, o armazenamento dos refugos deve ser computado como

gasto, já que se ocupa, efetivamente, um local da indústria que poderia ser utilizado para

outra finalidade mais útil e rentável. Quanto maior a geração de peças não conformes,

maior o local exigido para armazená-las ou mais alta e recorrente a necessidade de

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126

encaminhá-las para a disposição final. De qualquer maneira, o investimento financeiro é

diretamente proporcional à geração desses produtos.

Não haveria como desconsiderar, de fato, os aspectos ambientais que dizem

respeito ao assunto. Sabe-se que os aterros sanitários possuem, como mencionado no

item 3.1.7.6, uma determinada vida útil, de maneira que se hoje existem áreas

suficientemente capazes de receber todos os rejeitos produzidos pelas indústrias e pela

população, no futuro isso pode deixar de ser uma realidade. Pesquisadores e estudiosos

do assunto defendem que a escassez de áreas factíveis à construção de aterros é

inevitável, podendo ocorrer inclusive em um futuro próximo.

Além disto, cabe recordar que não é nada simples o processo de determinação de

uma área propícia à construção de um aterro sanitário e que são inúmeras e

rigorosamente criteriosas as etapas a serem cumpridas, perante as leis e os aspectos

econômicos, no intuito de assegurar um bom projeto. Portanto, quando se tornar muito

difícil a instauração de um novo aterro sanitário ou até mesmo não houver áreas

disponíveis para tal, as empresas que já tiverem aderido a procedimentos de tratamento e

recuperação de seus resíduos estarão não totalmente despreocupadas, pois poder-se-á

enfrentar a escassez de água e outros recursos, mas talvez terão eliminado um intricado

inconveniente.

Antes do surgimento das leis ambientais, o meio físico (ar, água e solo) era

encarado como sendo livremente disponível para receber os resíduos advindos das

atividades antrópicas, o que para a época não era tão problemático quanto hoje, uma vez

que a população era esparsa e havia bem menos produtos industrializados em

comparação com os dias atuais (BULCHHOLZ, 1998). Nesse contexto, o comportamento

das empresas associava-se a uma estratégia passiva, uma vez que elas se limitavam a

diluir e dispersar os poluentes gerados.

Essas ações não traziam retorno econômico à empresa, somente custos, pois o

gasto era relacionado aos resíduos, emissões e efluentes, e não se caracterizavam como

um investimento no processo produtivo ou no próprio produto. A empresa somente

realizava tais ações porque era obrigada pela legislação. Contudo, a postura empresarial

com relação à área ambiental começou a mudar, visto que

“os gastos com proteção ambiental começaram a ser vistos pelas empresas líderes não primordialmente como custos, mas sim como investimentos no futuro e, paradoxalmente, como vantagem competitiva. A atitude passou de defensiva e reativa para ativa e criativa” (CALLENBACH et al., 1993).

Essa mudança de atitude deveu-se, em grande parte, à constatação dos reais

custos associados ao tradicional gerenciamento de resíduos, uma vez que, além dos

custos contabilizados com o tratamento e disposição final, havia outros custos

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127

relacionados e que, usualmente, não eram levados em consideração como, por exemplo, a

perda de matérias primas, os gastos com água e energia, as não conformidades legais e

normativas e aqueles relacionados à imagem da empresa. Estes últimos são considerados

custos intangíveis e não podem ser estimados a partir de relações matemáticas.

Foi nesse contexto que algumas indústrias passaram a adotar estratégias que

visavam a reduzir a quantidade de resíduos gerados por meio de técnicas de reutilização,

reciclagem (interna ou externa ao processo) e recuperação de materiais.

Segundo Pereira e Toschetto (2004), as práticas de tratamento de resíduos geram

como consequências, além da redução dos impactos ambientais, a economia de recursos

e ganhos econômicos à empresa. Quando são levados em consideração tanto os aspectos

econômicos quanto os ambientais e há uma tentativa de equilibrá-los, configura-se um

sistema de gestão ambiental empresarial, o qual, ainda segundo os autores, é

extremamente interessante para um setor que objetiva o lucro. Assim, na visão

empresarial, a inclusão da questão ambiental no negócio deve ser vista como uma

oportunidade competitiva e um diferencial estratégico, podendo se tornar um fator

determinante para o sucesso ou fracasso das organizações, a fim de buscar não apenas a

satisfação imediata do cliente, mas sim da sociedade atual e das gerações futuras. Ainda

neste contexto, não somente o produto seria associado às práticas exemplares, mas a

própria empresa será vinculada a uma imagem positiva, refletindo a satisfação dos

consumidores.

Para isso, a gestão ambiental e empresarial deve ser organizada de modo a incluir

as questões ambientais nas principais decisões estratégicas e operacionais de

responsabilidade da empresa, de acordo com as premissas da sustentabilidade. Este

último conceito tem sido muito utilizado como fator de diferenciação entre as empresas e

indústrias de ponta, as quais se adequam a práticas sustentáveis e ganham,

inevitavelmente, um destaque na mídia, além de posicionar sua imagem em outro patamar:

o das organizações que não visam simplesmente ao lucro, mas buscam-no de maneira

sensata e ambientalmente correta.

Dependendo da estrutura organizacional da empresa, a gestão ambiental pode

proporcionar soluções integradas às diversas áreas funcionais (produção, comercial,

recursos humanos, financeira, contabilística, marketing, etc.) ou junto aos principais

processos de negócios (planejamento estratégico, desenvolvimento de tecnologia,

desenvolvimento de produto, entrega do produto, entre outros), com o objetivo de evitar

que impactos ambientais ocorram.

Ainda que se considere essa preocupação com o meio ambiente a partir de ações

sustentáveis como simples fator de promoção mercadológica ou pura estratégia de

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marketing, esta postura ainda é vantajosa se comparada aos métodos tradicionais de

desenvolvimento empresarial.

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129

7. CONCLUSÕES

Inicialmente, cabe afirmar que a proposta de estudo de caso e o principal objetivo

deste trabalho foram plenamente desenvolvidos. A proposta para o estudo de caso

consistia, basicamente, na coleta dos dados de consumo de matéria-prima da indústria

alvo e de sua geração de produtos não conformes pelo processo da rotomoldagem, os

quais foram obtidos e apresentados em detalhes. O principal objetivo, por sua vez,

compreendia, primeiramente, a mensuração da quantidade de energia possível de ser

gerada a partir do poder calorífico da resina polimérica, ou seja, da utilização da matéria-

prima presente nos produtos não conformes como combustível para o processo de

gaseificação.

A partir deste resultado, foi considerado um MACI como o responsável por

efetivamente gerar a potência elétrica desejada, a partir da utilização do gás de síntese

proveniente do reator de gaseificação. Desse modo, a partir da análise da escala de

grandeza da potência obtida, estabeleceu-se a devida comparação entre as vantagens e

as desvantagens da eventual utilização de um sistema de gaseificação para esse tipo de

aplicação. Finalmente, estendeu-se esta análise a outros casos, englobando diferentes

capacidades e características produtivas das possíveis indústrias de transformação de

polímeros existentes no mercado.

Especificamente com relação ao estudo de caso, este poderia ser tratado como um

fator desmotivador quanto ao uso de um gaseificador para o aproveitamento energético.

No entanto, a baixa capacidade produtiva obtida decorre do baixo consumo de matéria-

prima desta indústria, representante do setor industrial de médio porte.

É inegável a presença de empresas de grande porte no mercado, as quais

consomem quantidades elevadíssimas de matéria-prima. Nestas indústrias, além de

lograrem-se capacidades produtivas eminentemente expressivas, não há a necessidade de

armazenar os produtos não conformes por longos períodos de tempo, já que seu volume

justificaria uma alimentação contínua do gaseificador. Especialmente em casos cujo índice

de não conformidade seja elevado, atingindo valores superiores a 10%, tem-se mais um

forte argumento a favor da instalação do sistema gaseificador.

Em resumo, todos os argumentos contra ou a favor da utilização de um sistema de

recuperação energética são proporcionais, em maior escala, à estrutura da indústria, ou

seja, à sua escala de produção, a qual determina o consumo de matéria-prima para o

processo de transformação polimérica. Em menor escala, tem-se a consideração dos

índices de não conformidade. De nada adianta haver elevados consumos de matéria-prima

com ínfimos índices de não conformidade ou apresentar altas gerações de refugos quando

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a produtividade é insignificante. Parte-se do princípio, entretanto, que nenhuma dessas

situações é plausível. Tal como mencionado anteriormente, refugos são inerentes aos

processos de transformação polimérica, anulando a possibilidade da primeira situação,

enquanto que a segunda poderia ser apenas transitória ou adaptativa, caso contrário,

provocaria a falência da empresa. Dessa forma, parte considerável dos possíveis

empecilhos relacionados à aquisição de tal sistema seria sanada ou pelo menos

minimizada quando se considera empresas de grande porte.

No que diz respeito à efetiva análise das vantagens e desvantagens da aquisição

de um sistema de gaseificação, dois aspectos foram considerados como fundamentais: o

econômico e o ambiental. Enquanto o primeiro contempla, essencialmente, eventuais

reduções ou aumentos dos gastos da empresa, o segundo compreende uma abordagem

mais subjetiva do assunto. Embora os impactos ambientais já sejam bem difundidos, estes

não costumam ser considerados no plano de desenvolvimento de boa parte das empresas,

mesmo dentre as relativamente mais desenvolvidas. Estas podem ainda realizar, por

vezes, uma análise puramente financeira acerca de quaisquer mudanças, ponderando

apenas cálculos e estimativas dos investimentos monetários exigidos. Desconsideram-se,

em contrapartida, os aspectos menos palpáveis, embora sejam de extrema relevância.

O ponto de vista ambiental, ainda que defendido isoladamente, já deveria

representar uma motivação suficiente para a efetiva consideração da adoção de sistemas

de tratamento e recuperação energética de resíduos. A problemática da geração de

resíduos sólidos e o consequente esgotamento das áreas destinadas aos aterros sanitários

configuram uma realidade incontestável, da qual ninguém se encontra totalmente livre de

suas consequências.

Não obstante a análise de viabilidade da recuperação energética esteja alicerçada

apenas nos aspectos econômicos, é inegável que as indústrias que se adaptarem à

redução da geração de resíduos estarão melhor guarnecidas para o futuro, inclusive

financeiramente, evitando situações de colapso produtivo ou de outra espécie. Ademais, é

certo que as indústrias despendem mensalmente uma quantia razoável para se livrar de

seus resíduos. O volume de geração e, consequentemente, os gastos com o transporte

costumam ser proporcionais ao tamanho da organização.

Por fim, um forte fator de motivação foi apresentado a partir da associação dos

aspectos econômicos aos ambientais, expondo o conceito de sistema de gestão ambiental

empresarial, o qual levaria em conta ambos os aspectos. Neste sentido, obter-se-ia um

equilíbrio não prejudicial à lucratividade da empresa. Pelo contrário, a adesão aos

princípios da sustentabilidade poderia incrementar sensivelmente a imagem da empresa

perante a sociedade, de modo a conduzi-la a um crescimento mais sólido e estruturado.

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Porém, para que a gestão ambiental empresarial seja efetiva, ela não pode ser

realizada de modo paralelo às principais áreas funcionais da empresa e aos seus

principais processos de negócios operacionais e estratégicos. Em outras palavras, não

deve se organizar somente para reparar os danos ambientais cometidos por decisões

técnicas e gerenciais que não contemplaram, no momento adequado, essa área do

conhecimento. Pelo seu caráter preventivo, ela precisa ser estruturada de modo a

participar efetivamente nas principais decisões dessas áreas ou processos.

Percebe-se, portanto, que há ganhos econômicos, ambientais e sociais com a

adoção de sistemas de tratamento de resíduos, não como uma área ou processo isolado,

mas por meio de uma gestão integrada com as decisões empresariais. Isso pode gerar

possibilidades de melhorias da sustentabilidade da empresa, incluindo produtos, com

benefícios também para a sociedade em geral.

Os processos de tratamento e recuperação, embora contribuam para a minimização

da geração de resíduos, não se constituem em soluções definitivas, pois partem do

pressuposto de que o resíduo existe e também porque geram subprodutos e envolvem

gastos de energia e outros custos operacionais. No entanto, é sensato considerar que

essas iniciativas poderiam prover uma forma mais equilibrada e sustentável de ciclo de

vida para as indústrias a elas adeptas.

Portanto, embora pareça um pouco distante da realidade da empresa de estudo de

caso a implantação de um sistema de gaseificação, este estudo e consequente resultado

servem de fomento às indústrias já consolidadas no mercado, as quais são inegavelmente

capazes de viabilizá-lo sem deixar de lado os ideais capitalistas, mas aderindo, ainda que

aos poucos, ao conceito de gestão ambiental empresarial. Poder-se-á, desta maneira,

prolongar ou até mesmo evitar calamidades, como o esgotamento de áreas propícias à

instalação de aterros sanitários.

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