Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 1
ÁREAS SUSCETÍVEIS A INUNDAÇÕES E ALAGAMENTOS NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO PROENÇA, CAMPINAS-SP
Rosiney dos Santos Ferreira (a), Gabriel da Silva Lima (b), Raul Reis Amorim (c)
(a) Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
E-mail: [email protected]
(b) Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
E-mail: [email protected]
(c) Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
E-mail: [email protected]
Eixo: RISCOS E DESASTRES NATURAIS
Resumo
O objetivo deste trabalho é caracterizar as áreas sujeitas às inundações na Bacia Hidrográfica do Córrego
Proença, situada na área urbana do município de Campinas. Para atender ao objetivo proposto, elaborou-se o mapa
de suscetibilidade às inundações na escala 1:2.000 e os mapas de densidade de edificações, densidade de bueiros
e o mapa de áreas verdes da área em estudo. Constatou-se que as principais ocorrências atingem ruas e avenidas
centrais da cidade causando danos materiais, de vida e interferem na mobilidade da população.
Palavras chave: inundações, área urbana, bacia hidrográfica, suscetibilidade.
1. Introdução
Desastres hidrometeorológicos é todo evento ocasionado por ação natural violenta que
envolva fenômenos atmosféricos, climáticos e hidrológicos. Dentre os diversos eventos,
podemos destacar as ocorrências de cheias ou enchentes, inundações e alagamentos, eventos
estes que costumam causar danos naturais, sociais e econômicos, dependendo da intensidade
com que afetam um determinado ponto.
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 2
As cheias, as inundações e os alagamentos estão ligados a um ponto comum – a água.
Esses eventos geralmente estão relacionados ao aumento da precipitação, cujas ocorrências se
dão em nosso território comumente no verão, podendo deixar rastros de destruição e danos que
periodicamente assolam aqueles que vivem em áreas de alta suscetibilidade a esses fenômenos
(AMARAL e RIBEIRO, 2009; BRASIL, 2008).
Cabe aqui dizer que, no decorrer da história humana, os cursos d’água (corpo hídrico)
sempre serviram de referência para as aglomerações humanas, pois, fixando residências
próximas dos leitos de rios, garantia-se assim a manutenção de necessidades básicas, como o
alimento e própria água. É justamente esta ideia a que sustenta uma afirmação de Costa (2001)
apud Reis, Amorim e Ferreira (2015) quando este diz que é por isso que a ocupação dos fundos
de vale é algo muito comum.
No entanto, com o desenvolvimento da urbanização e com o crescimento desenfreado das
cidades, os fundos de vales foram sendo ocupados das mais variadas formas, como, por
exemplo, para servir de moradia a muitos grupos humanos. Vale ressaltar, contudo, que tais
moradias pertencem, muitas vezes, a famílias de baixa renda – possivelmente influenciadas pelo
baixo valor atribuído a essas terras –, que, com o passar dos tempos, foram se espraiando ainda
mais pela planície de inundação. Essas famílias, ainda, são as que ficam em constante alerta
com as enchentes nos períodos de grande precipitação, aguardando, sem poder fazer muita
coisa, o exato momento de serem afetados por inundações e por alagamentos.
Em se tratando dos fenômenos destacados no parágrafo acima, chamamos a atenção para
as ocorrências que se dão no município de Campinas (SP), principalmente na área urbana. De
acordo com o mapa de pontos críticos de inundação e alagamento apresentado pelo Plano
Diretor do município de Campinas (2017), há vinte e oito pontos críticos de inundação e
quatorze, de alagamentos. A intensidade dos eventos é categorizada em uma escala que varia
entre baixa, média e alta. Considerando, por um lado, a quantidade significativa de áreas
mapeadas pela prefeitura, sendo estas majoritariamente de intensidade média e alta, e, por outro
o fato da existência de possíveis áreas ainda não catalogadas, julgamos pertinente produzir uma
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 3
compreensão sobre as áreas de ocorrências, bem como sobre os próprios eventos que se dão no
município. Tendo o exposto, o objetivo deste trabalho é caracterizar as áreas sujeitas às
inundações na Bacia Hidrográfica do Córrego Proença, situada na área urbana do município de
Campinas.
2. Materiais e Métodos
2.1. Área de Estudo
A Bacia Hidrográfica do Córrego Proença apresenta aproximadamente área de 35.86 km²,
e está totalmente inserida na área urbana do município de Campinas. Esta bacia hidrográfica é
afluente do ribeirão Anhumas, que deságua no rio Atibaia. Na área em estudo localiza-se a
região central da cidade, onde situam-se a sede da prefeitura municipal, zonas comerciais e
bairros residenciais consolidados (Figura 1).
Figura 1 – Localização da área de estudo: bacia hidrográfica do córrego Proença.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) / Prefeitura Municipal de Campinas.
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 4
2.2. Procedimentos Metodológicos
Para atender ao objetivo proposto, primeiramente foi necessário definir a escala de
mapeamento. A proposta do projeto é a adoção da escala 1:2.000. Para tal, utilizou-se a base
cartográfica disponibilizada pela prefeitura de Campinas. Para gerar o Modelo Digital de
Terreno (MDT) foi utilizado o software ArcGIS 10.6 no modulo ArcToolBox, na ferramenta
Interpolação de Raster, no comando Topo para Raster, e nele ocorreu a interpolação dos layers
“curvas de nível”, “pontos cotados” e “rede de drenagem”, “lagos e rios de margem dupla” e
“limite da bacia hidrográfica”.
Na sequência, foi necessário preencher as pequenas imperfeições do MDT e remover
todas as depressões presentes no arquivo raster. Para tal utilizou-se o comando Fill
(Preencher), no módulo ArcToolBox, na ferramenta Hidrology.
De posse do MDT, converteu-se o arquivo para um formato em 8 bits, compatível com o
software TerraViewHidro 4.2.2, com a ferramenta Hydrological Tools. Neste software se
definirão as áreas sujeitas às inundações a partir da adoção do algoritmo HAND (Height Above
the Nearest Drainage, ou Altura Acima da Drenagem mais próxima).
O Modelo HAND gera mapas de proximidades topográficas ou desníveis relativos a
cursos d’água. Estes desníveis relativos indicam a suscetibilidade às inundações de cada ponto
na paisagem, mostrando como a topografia da bacia hidrográfica pode se comportar em
períodos com maior entrada de água em excesso fluindo na superfície. Observou-se que para a
área de estudo, que os canais estão canalizados e aterrados, o modelo também demarcou áreas
com suscetibilidade aos alagamentos.
Para a criação do Modelo HAND, é necessário o processamento do MDT e elaboração de
três produtos: a direção de fluxo, a área de contribuição e a extração da rede de drenagem. Para
determinar no modelo HAND aplicado às áreas suscetíveis às inundações, é necessário na
ferramenta Editar Legenda do TerraViewHidro 4.2.2, indicar 3 fatias e atribuir como valor
mínimo 0 e valor máximo 10. Desta forma, o software determinará como classes de
suscetibilidade Alta (0 a 3,30); Média (3,31 a 6,60) e Baixa (6,61 a 10,0).
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 5
Afim de validar a veracidade do modelo HAND realizou-se trabalhos de campo na área
de estudo. As áreas visitadas foram selecionadas a partir do inventario dos episódios de
inundações ocorridos preteritamente na área em estudo, pois a ocorrência de episódios
anteriores é um indicativo da veracidade da aplicação do modelo. Para tal, foram consultados
os bancos de dados digital do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (SI2D) do
antigo Ministério da Integração Nacional e reportagens dos jornais que circulam na cidade de
Campinas. Para este trabalho, buscou-se os episódios que foram notificados/noticiados nos
últimos 3 anos
Além do mapa de suscetibilidade às inundações, elaborou-se o mapa de densidade de
edificações, a partir da base de dados da prefeitura de Campinas (escala 1:2.000) e o mapa de
densidade de bueiros, também obtido da mesma base de dados. Os mapas de densidade foram
elaborados a partir da proposta de Kernel, no software Arc GIS 6. Estes mapas foram inter-
relacionados com o mapa de suscetibilidade às inundações, para verificar a infraestrutura
afetada (edificações) e infraestrutura de drenagem (bueiros) e sua interface com às inundações.
Para a área em estudo, também se identificou as áreas verdes com objetivo de identificar
áreas de permeabilidade.
3. Resuldados e Discussões
A bacia hidrográfica do córrego Proença drena os corpos hídricos da porção central da
cidade de Campinas, e apresenta-se densamente urbanizada. Ao observar a Figura 2, observa-
se que às principais vias de circulação da região central da cidade (Avenida Barão de Itapura,
Avenida Andrade Neves, Avenida Anchieta, Avenida Norte-Sul, Avenida Princesa D’oeste e
Rua Barão de Jaguara) estão em áreas sujeitas com suscetibilidade alta às inundações.
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 6
Figura 2 – Mapa de suscetibilidade às inundações da bacia hidrográfica do córrego Proença.
A grande densidade de edificações no entorno dos canais e rios na área em estudo, alterou
a dinâmica dos sistemas fluviais, substituindo a cobertura vegetal natural ao entorno dos canais
por superfícies impermeáveis, aumentando as taxas de escoamento e diminuindo o volume de
infiltração. Observando as Figuras 3 e 4, concluiu-se que a bacia hidrográfica do córrego
Proença é conforme Christofoletti (1979) considerada um sistema controlado, pois ocorreu
alterações na dinâmica dos fluxos de matéria e energia por conta da intervenção antrópica no
sistema. Ocorreu a canalização dos cursos d’água, substituição da zona permeável por
edificações, arruamentos, modificando assim, a dinâmica da água tanto nos processos de
infiltração como de escoamento superficial. O principal impacto da alteração dos sistemas é
percebida na área em episódios de chuvas torrenciais, pois ocorrem inundações e alagamentos.
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 7
Figura 3 – Mapa de densidade de edificações da bacia hidrográfica do córrego Proença.
Figura 4 – Imagens aéreas das principais vias suscetíveis às inundações na bacia hidrográfica do córrego Proença.
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 8
Entre os anos de 2017 e 2019 foram noticiados pelo portal de notícias G1 05 episódios de
inundações e alagamentos na área em estudo, o que mostra que os problemas relacionados a
drenagem na área são recorrentes. A tabela I apresenta um resumo das áreas afetadas e dos
impactos associados a cada episódio.
TABELA I – Episódios de inundações, áreas afetadas e impactos associados aos episódios de inundações na
bacia hidrográfica do córrego Proença.
Data Localidades Impactos
21/11/2017 Avenida Orosimbo Maia Uma morte
Obstrução das vias de acesso
Acúmulo de lixo Danos à infraestrutura e patrimônio
03/11/2018 Avenida Princesa D’Oeste
Avenida Orosimbo Maia
Avenida Norte-Sul
Obstrução das vias de acesso
Acúmulo de lixo Danos à infraestrutura e patrimônio
25/11/2018 Avenida Orosimbo Maia
Avenida Norte-Sul Obstrução das vias de acesso
Acúmulo de lixo Danos à infraestrutura e patrimônio
01/12/2018 Avenida Orosimbo Maia
Avenida Anchieta Obstrução das vias de acesso
Acúmulo de lixo Danos à infraestrutura e patrimônio
25/01/2019 Avenida Princesa D’Oeste
Avenida Orosimbo Maia
Avenida Norte-Sul
Uma morte
Obstrução das vias de acesso
Acúmulo de lixo Danos à infraestrutura e patrimônio
Fonte: Portal de notícias G1.
Considerando que os episódios de inundações na área em estudo são recorrentes, e que
entre os anos de 2003 e 2019 ocorreram sete óbitos, a adoção de medidas estruturais e não
estruturais na área em estudo é fundamental, para evitar danos. A Figura 5 mostra a densidade
de bueiros na bacia hidrográfica do córrego Proença. Observa-se que a densidade de bueiros é
muito alta em apenas alguns trechos com suscetibilidade alta às inundações e alagamentos. Uma
área que sofre periodicamente com inundações é o rio canalizado no entorno da Avenida
Princesa D’Oeste, e que apresenta densidade média de bueiros. É importante frisar que, não é
apenas a densidade de bueiros que podem auxiliar na drenagem da água pluvial: é necessário
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 9
que ocorra manutenção periódica desses sistemas de drenagem, através de ações não estruturais
de limpeza e substituição de tubulação danificada. Outra ação importante é o aumento de áreas
permeáveis nestas zonas, com a ampliação de áreas verdes.
Figura 5 – Mapa de densidade de bueiros da bacia hidrográfica do córrego Proença.
Na bacia hidrográfica do córrego Proença, existem áreas verdes. Destacamos a área do
Parque Ecológico Emílio José Salim e o Bosque dos Jequitibás, que contribuem com o aumento
das taxas de infiltração em áreas com alta suscetibilidade às inundações (Figura 6). As áreas
verdes situam-se nas porções nordeste e sudeste da área em estudo, coincidindo com as áreas
de menor densidade de edificações (Figura 3) e menor densidade de bueiros (Figura 5).
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 10
Figura 6 – Mapa de Tipo de áreas verdes da bacia hidrográfica do córrego Proença.
Legenda: 1. Bosque do Guarani; 2. Bosque dos Alemães; 3. Bosque dos Italianos; 4. Bosque dos Jequitibás; 5. Bosque São José; 6. Campo de Várzea Campo da Concordia; 7. Campo de Várzea Córrego Invernada; 8. Campo
de Várzea fazenda Brandina; 9. Campo de Várzea FEAC; 10. Fragmento FES Córrego Invernada; 11. Fragmento
FES Mato Dentro; 12. Fragmento FES Córrego Vila Brandina; 13. Fragmento FES Fazenda Brandina; 14.
Fragmento FES Fazenda São Quirino – Nogueirópis. 15. Fragmento FES FEAC; 16. Fragmento Floresta Mista
Bairro das Palmeiras; 17. Fragmento Floresta Mista córrego do Mato Dentro; 18. Fragmento Floresta Mista
Córrego Invernada;19. Fragmento Floresta Mista Rodovia Roberto Magalhães Teixeira; 20. Fragmento Floresta
Mista Vila Guararapes; 21. Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim; 22. Recomposição Córrego Vila
Brandina.
4. Considerações Finais
A bacia hidrográfica do córrego Proença apresenta episódios recorrentes de inundações e
alagamentos, casos relacionados a precipitações torrenciais, de curta duração, com grande
volume de água acumulada, e que a área apresenta déficit de drenagem por conta do seu alto
índice de impermeabilização.
ISBN: 9 7 8 -8 5 - 7 2 8 2 - 7 7 8- 2 Página 11
As áreas afetadas são densamente ocupadas por edificações que apresentam diferentes
usos: moradia, serviços públicos e estabelecimentos comerciais. A cada evento de precipitação,
a população fica apreensiva, uma vez que o transbordamento dos corpos hídricos na área ocorre
num intervalo de tempo muito curto, e os episódios dos últimos 15 anos, além de prejuízos na
mobilidade da população e danos materiais, também ocasionaram óbitos.
5. Agradecimentos
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),
processo nº. 2018/09401-1 pelo auxílio à pesquisa.
3. Referências Bibliográficas
AMARAL, R.; RIBEIRO, R. R. Inundação e enchentes. In: TOMINAGA, L. K. et al. (Orgs).
Desastres Naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009.
BRASIL. Ministério do Planejamento e Orçamento. Glossário de defesa civil: estudos de
riscos e medicina de desastres. Coordenação: Antônio Luiz Coimbra de Castro. 2. ed. Brasília:
Departamento de Defesa Civil, 1998.
CAMPINAS. Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo. Plano Diretor 2017.
Campinas: Prefeitura Municipal, 2017.
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de Sistemas em Geografia. São Paulo: Hucitec, 1979. p. 01-
55.
REIS, C. H.; AMORIM, R. R. ; FERREIRA, C. Caracterização do uso e ocupação das terras
de áreas com risco à inundação em Cardoso Moreira e Italva, Rio de Janeiro. Caminhos de
Geografia, Uberlândia, v. 16, n. 55, p. 01-17, Set. 2015.