Upload
eduardo-ewerton
View
32
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
bbcdee
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ADRIANA GUERRA DE CASTRO BORGES
PROCESSAMENTO SENSORIAL, FUNÇÃO MOTORA ORAL
E DESENVOLVIMENTO DA FALA EM LACTENTES
NASCIDOS PRÉ-TERMO E A TERMO
Recife 2012
ADRIANA GUERRA DE CASTRO BORGES
PROCESSAMENTO SENSORIAL, FUNÇÃO MOTORA ORAL E DESENVOLVIMENTO DA FALA EM LACTENTES
NASCIDOS PRÉ-TERMO E A TERMO
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco, para obtenção do título de Doutor em Saúde da Criança e do Adolescente.
Orientadora Profa. Dra. Sophie Helena Eickmann
Área de Concentração: Abordagens Quantitativa em Saúde
Linha de Pesquisa: Crescimento e Desenvolvimento
RECIFE 2012
Catalogação na fonte Bibliotecária Giseani Bezerra, CRB4-1738
B732p Borges, Adriana Guerra de Castro. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da
fala em lactantes nascidos pré-termo e a termo / Adriana Guerra de Castro Borges. – Recife: O autor, 2012.
129 folhas : il. ; 30 cm. Orientador: Sophie Helena Eickmann. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, CCS.
Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, 2012.
Inclui bibliografia, apêndices e anexos. 1. Desenvolvimento Infantil. 2. Transtornos de Deglutição. 3.
Transtornos das Sensações. 4. Desenvolvimento da Linguagem. 5. Lactente. I. Eickmann, Sophie Helena (Orientador). II. Título. 618.92 CDD (23.ed.) UFPE (CCS2012-154)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO REITOR
Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
VICE-REITOR Prof. Dr. Sílvio Romero Barros Marques
PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Dr. Francisco de Souza Ramos
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DIRETOR
Prof. Dr. Nicodemos Teles de Pontes Filho
COORDENADORA DA COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO CCS Profa. Dra. Gisélia Alves Pontes da Silva
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
COLEGIADO
Profa. Dra. Marília de Carvalho Lima (Coordenadora) Profa. Dra. Maria Eugênia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)
Prof. Dr. Alcides da Silva Diniz Profa. Dra. Ana Bernarda Ludermir
Profa. Dra. Ana Cláudia Vasconcelos Martins de Souza Lima Profa. Dra. Bianca Arruda Manchester de Queiroga
Profa. Dra. Cláudia Marina Tavares de Araújo Profa. Dra. Cleide Maria Pontes
Prof. Dr. Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho Profa. Dra. Luciane Soares de Lima
Profa. Dra. Gisélia Alves Pontes da Silva Profa Dra. Maria Gorete Lucena de Vasconcelos Profa. Dra. Mônica Maria Osório de Cerqueira
Prof. Dr. Paulo Sávio Angeira de Góes Prof. Dr. Pedro Israel Cabral de Lira
Profa. Rosemary de Jesus Machado Amorim Profa. Dra. Sílvia Regina Jamelli
Profa. Dra. Sílvia Wanick Sarinho Profa. Dra. Sônia Bechara Coutinho Profa. Dra. Sophie Helena Eickmann
Jackeline Maria Tavares Diniz (Representante discente - Mestrado) Fabiana Cristina Lima da Silva Pastich Gonçalves (Representante discente - Doutorado)
SECRETARIA
Paulo Sérgio Oliveira do Nascimento Juliene Gomes Brasileiro
Janaína Lima da Paz
Título:
Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo
Nome: Adriana Guerra de Castro Borges Tese aprovada em: 24 / 04 / 2012 Membros da Banca Examinadora:
Profa. Sophie Helena Eickmann
Prof. Dra. Bianca Arruda Manchester de Queiroga
Profa. Dra. Cláudia Marina Tavares de Araújo
Profa. Dra. Kátia Galeão Brandt
Profa. Dra. Taciana Duque de Almeida Braga
Recife
2012
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
À Marcello e Zélia por terem me ensinado a amar.
À Rolando, Natália e Felipe, pelo respeito, companheirismo
e amizade. Vocês cuidaram de mim e hoje eu sei que somos
uma família de verdade.
Agradecimentos
Agradeço muito a Dra. Sophie, minha amiga e orientadora, pois com
seu exemplo aprendi que para nos tornarmos grandes pesquisadores,
deveremos antes nos transformar em grandes pessoas.
À Profa Dra Marília de Carvalho Lima que com disponibilidade e
simplicidade oferecia sempre sugestões pertinentes que enriqueceram o meu
trabalho;
A todos os meus mestres que contribuíram para a “evidente construção
do meu conhecimento”;
À Paulo Sérgio, Juliene e Janaína pela forma tão eficiente que trabalham
na organização desta pós-graduação;
À Cláudia Marina, minha amiga de ontem, hoje e amanhã. Por ter
acompanhado as minhas conquistas sempre com orgulho e alegria.
Às amigas: Mara, Adélia, Ana Luiza, Rosana, Tatiana, Ana Cláudia,
Claudinha e Milu. Obrigada pelo carinho de todas vocês e desculpem pelos
momentos de ausência.
Aos bebês desta pesquisa e principalmente aos seus familiares que
com muito interesse traziam seus filhos para as avaliações;
A vocês meus pacientes que todos os dias me fazem entender que
realmente existe diferença entre o possível e o impossível e por isso, me
inspiraram durante todos os momentos desta pesquisa.
Ao meu querido grupo: Miriam, Flavinha, Camila, Carol, Roberta,
Juliana, Emilia, Germana, Sheva. Nós fomos durante um ano companheiras de
verdade, e sem vocês este trabalho não existiria;
Aos meus irmãos, Margarida, Luis Marcelo e Eduardo. Lembrem
sempre que “longe é um lugar que não existe” e que apesar de tudo
estaremos sempre juntos.
À Capes, que me proporcionou a bolsa para o desenvolvimento desta
pesquisa nos anos do curso.
À Nestlé pelo apoio na doação dos alimentos que avaliaram os
lactentes dessa pesquisa.
“Não sei... se a vida é curta ou longa demais
para nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
Se não tocamos o coração das pessoas
Feliz aquele que transfere o que sabe
E aprende o que ensina”.
Cora Coralina
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Resumo
Resumo
O avanço científico e tecnológico tem garantido a sobrevivência de lactentes com
idade gestacional e peso ao nascer cada vez mais reduzidos. Observa-se que, mesmo aqueles
lactentes que nasceram prematuros mais tardios e não sofreram muitas morbidades,
encontram-se mais vulneráveis a apresentar dificuldades no processamento sensorial,
disfunção motora oral e atraso no desenvolvimento da fala, quando comparados aos lactentes
nascidos a termo. Por isso, esta tese teve como objetivos: 1. Avaliar o desempenho das
funções motoras orais em lactentes nascidos pré-termo, comparando-os com os a termo e
verificar sua associação com disfunções do processamento sensorial. 2. Comparar a
frequência do atraso no desenvolvimento da fala entre lactentes nascidos pré-termo e a termo,
verificando sua associação com outros fatores biológicos e ambientais. Realizou-se um estudo
descritivo com componente analítico numa amostra de 242 lactentes (80 nascidos pré-termo e
162 a termo) com idade entre 08 e 15 meses, sendo que, para o grupo de lactentes nascidos
pré-termo calculou-se a idade cronológica através da correção da idade gestacional para 40
semanas. Os lactentes nascidos a termo foram recrutados no Ambulatório de Puericultura e os
nascidos pré-termo no Ambulatório de Recém-Nascido de Risco do Hospital das Clínicas, da
Universidade Federal de Pernambuco. As variáveis referentes às condições ao nascimento e
morbidades neonatais foram coletadas do prontuário e as condições socioeconômicas e
demográficas familiares foram obtidas através de entrevista aplicada aos pais ou cuidadores
dos lactentes. Os instrumentos utilizados foram: para avaliação da fala - subtestes da
comunicação expressiva, de comunicação receptiva e de cognição da Bayley Scales of Infant
and Toddler Development- 3a Edition (BayleyIII); para avaliação do processamento sensorial
o Test of Sensory Functions in Infants (TSFI); e, para o desempenho das funções motoras
orais o Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA). A análise de regressão logística
multivariada identificou os fatores associados ao atraso do desenvolvimento da fala
(comunicação expressiva). Os lactentes nascidos pré-termo apresentaram frequência
significantemente mais elevada de disfunção motora oral com alimentos nas consistências
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Resumo
semissólida (29,6% vs 15,7%, p=0,04) e sólida (34,2% vs 20,1%, p=0,04), no entanto, essas
disfunções não apresentaram associação com o processamento sensorial. Por outro lado, esses
lactentes obtiveram desempenho significantemente melhor na avaliação da comunicação
receptiva quando comparados aos lactentes nascidos a termo (média = 14,82 vs 13,84,
p=0,04), não sendo o mesmo observado em relação à comunicação expressiva (média =10,37
vs 10,75, p=0,36). As variáveis que apresentaram efeito independente no atraso do
desenvolvimento da fala (comunicação expressiva) foram: presença de hipóxia no período
neonatal (p=0,03), atraso na comunicação receptiva (p<0,001) e na cognição (p=0,03) e filhos
de mães com maior paridade (p=0,03). Conclui-se que a idade gestacional não se associou ao
atraso no desenvolvimento da fala, entretanto, os lactentes nascidos pré-termo tiveram
frequência mais elevada de disfunção motora oral. É possível que devido à falta de
especificidade de instrumento e à idade cronológica reduzida dos lactentes, não tenha sido
possível observar associação dos problemas motores orais com o processamento sensorial e
aos atrasos na fala.
Palavras-chave: desenvolvimento infantil, disfagia, transtornos das sensações,
desenvolvimento da linguagem, lactente.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Abstract
Abstract
Scientific and technological advances have ensured the survival of infants with an ever
decreasing gestational age and birth weight. Even premature infants that were born closer to
the full-term with little morbidity have been found to be more vulnerable than infants that are
born at term to the possibility of experiencing sensory processing difficulties, oral motor
dysfunction and delays in speech development. Therefore, the aim of the present study was to
assess the performance of oral motor functions in premature infants, to compare this
performance with that of full-term infants and to investigate associations with sensory
processing disorders, as well as to compare the frequency of delays in speech development
between premature and full-term infants and to investigate associations with biological and
environmental factors. An analytical descriptive study was conducted with a sample
containing 242 infants (80 premature and 162 full-term) aged between 8 and 15 months. The
chronological age of the premature infants was calculated by correcting the gestational age to
40 weeks. The full-term infants were recruited from the children’s clinic and the premature
infants from the high-risk newborn clinic at the Hospital das Clínicas, in the Universidade
Federal de Pernambuco. The variables related to the conditions of birth and neonatal
morbidities were collected from the relevant records whereas the socio-economic and
demographic conditions of the family were obtained by means of an interview with the
parents/guardians of the infant. The following tools were used in the present study: subtests of
expressive communication, receptive communication and cognition using the Bayley Scales of
Infant and Toddler Development- 3rd Edition (BayleyIII) for speech assessment; the Test of
Sensory Functions in Infants (TSFI) to assess sensory processing; and the Schedule for Oral
Motor Assessment (SOMA) to assess the performance of oral motor functions. Multivariate
logistic regression analysis identified the factors associated with delays in speech
development (expressive communication). Premature infants exhibited a significantly higher
frequency of oral motor dysfunction with semi-solid (29.6% vs. 15.7%, p = 0.04) and solid
food substances (34.2% vs. 20.1%, p = 0.04). However, these dysfunctions were not
associated with sensory processing. On the other hand, premature infants performed
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Abstract
significantly better in the assessment of receptive communication than full-term infants (mean
= 14.82 vs. 13.84, p = 0.04). The same was not true for expressive communication (mean =
10.37 vs. 10.75, p = 0.36). The variables that exhibited an independent affect in delays of
speech development (expressive communication) were as follows: hypoxia during the
neonatal period (p = 0.03); delays in receptive communication (p < 0.001) and in cognition (p
= 0.03); and children of mothers with higher parity (p = 0.03). In conclusion, gestational age
was not associated with delays in speech development. However, premature infants exhibited
a higher frequency of oral motor dysfunction. It is possible that the instruments lack of
specificity and the reduced chronological age of the infants did not favor the discovery of an
association between oral motor problems, sensory processing and delays in speech.
Keywords: infant development; dysphagia; sensory disorders; speech development; infant
BORGES, A. G. C. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Lista de Quadros e Tabelas
Lista de Quadros e Tabelas
Quadro 1 Modelo de Processamento Sensorial 30
Quadro 2 Descrição do número de itens e dos pontos de corte para disfunção motora oral segundo a SOMA3. 44
Quadro 3 Descrição das variáveis do estudo
45
Artigo 1 – Função motora oral e processamento sensorial em
lactentes nascidos pré-termo e a termo Tabela 1
Características biológicas, morbidades neonatais e avaliação auditiva de lactentes nascidos pré-termo e a termo 58
Tabela 2
Características socioeconômica e demográfica familiar de lactentes nascidos pré-termo e a termo 59
Tabela 3 Função motora oral avaliada pelo Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA) e recusa à alimentação em lactentes nascidos pré-termo e a termo.
60
Tabela 4 Processamento sensorial avaliado pelo Test of Sensory Functions in Infants (TSFI) em lactentes nascidos pré-termo e a termo 61
Tabela 5 Associação entre disfunção motora oral e comportamento de recusa com o processamento sensorial, para os grupos de lactentes nascidos pré-termo e a termo 62
BORGES, A. G. C. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Lista de Quadros e Tabelas
Artigo 2 – Fatores associados ao desenvolvimento da fala em
lactentes nascidos pré-termo e a termo Tabela 1
Características biológicas, morbidades neonatais e avaliação auditiva de lactentes nascidos pré-termo e a termo. 76
Tabela 2 Características socioeconômica e demográfica familiares de lactentes nascidos pré-termo e a termo 77
Tabela 3 Desenvolvimento e compreensão da fala, da cognição, do processamento sensorial e da função motora oral, de lactentes nascidos pré-termo e a termo. 78
Tabela 4 Associação entre as variáveis biológicas e condições demográficas familiares com o atraso no desenvolvimento da fala (comunicação expressiva) 79
Tabela 5 Regressão logística dos fatores determinantes do atraso no desenvolvimento da fala (comunicação expressiva) 80
BORGES, A. G. C. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Sumário
Sumário
1 APRESENTAÇÃO 14 1 REVISÃO DA LITERATURA 20 Artigo: Desenvolvimento da fala e fatores associados 3 MÉTODOS 393.1 Desenho do estudo, local e amostra 403.2 Estimativa do tamanho amostral 403.3 Aspectos éticos 413.4 Operacionalização 413.4.1 Recrutamento dos lactentes 413.4.2 Coleta de dados 413.4.2 Instrumentos de coletas 423.5 Variáveis do estudo 453.6 Fluxograma da pesquisa 473.7 Banco de dados 483.8 Análise estatística dos dados 48 4 RESULTADOS 49 Artigo original 1 50 Função motora oral e processamento sensorial em lactentes
nascidos pré-termo e a termo Artigo original 2 68 Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos
pré-termo e a termo 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 87
BORGES, A. G. C. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Sumário
6 REFERÊNCIAS 91 7 APÊNDICES 94
Apêndice A – Questionários e folha de pontuação Apêndice B - Folder explicativo Apêndice C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Apêndice D – Carta de submissão do Artigo de Revisão da Literatura 8 ANEXOS 103 Anexo A – Certidão de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Anexo B - Avaliação do desenvolvimento da fala – Bayley III Anexo C - Avaliação da comunicação receptiva – Bayley III Anexo D - Avaliação da cognição Bayley III Anexo E – Avaliação da função motora oral - SOMA Anexo F – Avaliação do processamento sensorial - TSFI Anexo G – Carta de recebimento do Artigo de Revisão da Literatura
BORGES, A. G. C. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Sumário
1- APRESENTAÇÃO
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apresentação
17
1 Apresentação
Assim como outros domínios, a fala é considerada um comportamento de evolução
contínua e previsível, dependente de interações recíprocas entre o ambiente e o indivíduo.
Nesta perspectiva, esta relação indivíduo-ambiente inclui fatores biológicos, genéticos, sociais
e culturais, que agem simultaneamente sobre o desenvolvimento infantil1.
O primeiro ano de vida é crucial para o surgimento das primeiras emissões orais na
criança. Desde o nascimento, ao realizar trocas de turnos comunicativos com o outro, ela
passa a observar os movimentos realizados na cavidade oral do falante e aos sons dele
decorrentes. Esta descoberta resultará na integração destas informações visuais com as
sonoras e quando o bebê evolui no domínio dos movimentos motores orais, passa a planejar
movimentos semelhantes e intencionalmente articulará os seus primeiros sons2.
Diversas circunstâncias adversas poderão prejudicar o surgimento destas habilidades
no lactente e dentre elas destacam-se a prematuridade e o baixo peso ao nascer. Nas décadas
de 70 e 80 os estudos na área da Fonoaudiologia, tanto os nacionais quanto aqueles
desenvolvidos em outros países, buscavam evidências que solucionassem os problemas
alimentares destes recém-nascidos no momento em que estavam hospitalizados. Nesta época
surgia a hipótese de que a evolução dos movimentos realizados pelas estruturas do complexo
orofacial durante a alimentação - lábios, língua, dentes, bochechas e palato mole -
influenciavam positivamente no desenvolvimento da fala3, 4, 5.
No Brasil, os trabalhos pioneiros das fonoaudiólogas Ana Maria Hernandes e
Maristela Proença6 se basearam em pressupostos que, até os dias de hoje, justificam a
necessidade desse profissional como integrante da equipe multidisciplinar especializada em
cuidados intensivos neonatais. Os recém-nascidos, que sofreram morbidades e necessitam de
cuidados especializados, apresentam dificuldades na manutenção dos reflexos orais de sucção,
deglutição e coordenação entre estes com a respiração. Tais problemas quando não
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apresentação
18
solucionados precocemente dificultam a autorregulação destes bebês, os quais ficarão mais
vulneráveis a desenvolver alterações nutricionais e de comunicação7.
A evolução tecnológica das pesquisas realizadas em seres humanos tem buscado
responder a diversos questionamentos originados da prática clínica. Atualmente, algumas
destas pesquisas têm discutido que muitos sintomas de disfunção motora oral tais como tosse,
engasgos e até mesmo vômitos, poderiam não estar apenas associados a sintomas puramente
motores, mas também à imaturidade do cérebro em receber, processar e integrar os estímulos
sensoriais orais fornecidos durante a alimentação e a esta dificuldade dá-se a denominação de
disfunção no processamento sensorial8, 9,10.
Alguns destes estudos buscaram associar a evolução do sistema sensório-motor oral ao
desenvolvimento de alguns níveis de análise linguística e avaliaram a comunicação oral de
crianças com passado de prematuridade após a alta hospitalar 8, 9,11. Entretanto, além de serem
escassos, estes estudos apresentam algumas limitações que se referem principalmente à falta
de instrumentos sensíveis que avaliem o desenvolvimento da fala e o processamento sensorial
em crianças que nasceram prematuras. É possível que a referida limitação seja a justificativa
para a escassez de estudos que comprovem a associação entre as dificuldades nas funções de
sucção, mastigação e deglutição e os atrasos no desenvolvimento da habilidade de fala12.
Este cenário clínico ora apresentado motivou a realização desta tese que se intitula
Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes
nascidos pré-termo e a termo e está inserida na linha de pesquisa de Crescimento e
Desenvolvimento da Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente sendo composta
por um artigo de revisão da literatura, um capítulo de método e de resultados no qual são
apresentados dois artigos originais.
A tese foi planejada e conduzida para responder as seguintes perguntas:
1. Os lactentes nascidos pré-termo apresentam uma frequência mais elevada de
disfunção motora oral quando comparados aos lactentes nascidos a termo?
2. Esta disfunção motora oral está associada aos problemas no processamento
sensorial?
3. Os lactentes nascidos pré-termo apresentam uma frequência mais elevada de atraso
no desenvolvimento da fala quando comparados aos lactentes nascidos a termo?
4. Além da prematuridade, que outros fatores estariam associados ao atraso no
desenvolvimento da fala?
As hipóteses formuladas foram: 1- A disfunção motora oral é mais frequente no grupo
de lactentes nascidos pré-termo do que no grupo dos a termo e está associada à disfunção no
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apresentação
19
processamento sensorial. 2- Os lactentes nascidos pré-termo apresentam uma frequência
maior de atraso no desenvolvimento da fala quando comparados com os lactentes nascidos a
termo e esses atrasos estão associados a outros fatores biológicos e ambientais.
O capítulo de revisão da literatura foi estruturado sob formato de artigo de acordo com
o periódico Temas Sobre Desenvolvimento para qual foi enviado e teve como objetivo revisar
os aspectos do desenvolvimento da fala de lactentes durante o primeiro ano de vida. Nesse,
estão também contemplados os fatores biológicos e ambientais, que são considerados
implicados no surgimento da fala, para possibilitar a discussão dos dados empíricos
encontrados nesta pesquisa.
O capítulo de método descreve o planejamento e operacionalização do estudo, assim
como o tratamento estatístico adotado na análise dos dados. Os dados empíricos compuseram
um banco que originou dois artigos ora apresentados.
O primeiro artigo original será submetido para publicação à Revista Pró-Fono de
Atualização Científica, se intitula “Função motora oral e processamento sensorial em
lactentes nascidos pré-termo e a termo”, e teve como objetivo avaliar o desempenho das
funções motoras orais em lactentes nascidos pré-termo comparando-os com os a termo, e
verificar sua associação com o processamento sensorial.
O segundo artigo intitulado “Fatores associados ao desenvolvimento da fala em
lactentes nascidos pré-termo e a termo” pretendeu comparar a frequência do atraso no
desenvolvimento da fala entre lactentes nascidos pré-termo e a termo, e verificar outros
fatores biológicos e ambientais associados a este atraso.
Para concluir, o capítulo de considerações finais apresenta uma reflexão sobre os
principais achados deste estudo.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apresentação
17
2 – REVISÃO DA LITERATURA
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
21
2 Revisão da Literatura
Desenvolvimento da fala e fatores associados. Resumo
Esta revisão se refere ao desenvolvimento da fala de lactentes e seus fatores
associados, destacando-se o processamento sensorial e prematuridade. As evidências foram
obtidas por meio dos bancos de dados Medline / Pubmed e SciELO, abrangendo o período de
1998 a 2012, a partir dos descritores desenvolvimento infantil, disfagia, transtorno das
sensações, prematuro, fatores de risco e atrasos de fala, pesquisas de forma isolada e
combinada. Analisou-se nos estudos que alguns lactentes nascidos pré-termo, mesmo não
tendo sofrido muitas morbidades são imaturos e se encontram vulneráveis a apresentar mais
frequentemente dificuldades na compreensão da fala, na cognição, no desempenho das
funções motoras orais e, consequentemente, no desenvolvimento da fala, possivelmente
associados à dificuldade em processar os estímulos sensoriais oriundos do ambiente. Diante
dessa problemática, considera-se essencial a verificação dos fatores associados a esse atraso
de fala, bem como à realização do diagnóstico precoce das disfunções no processamento
sensorial. Neste sentido, o acompanhamento do desenvolvimento de lactentes nascidos pré-
termo após a alta hospitalar se torna a conduta mais adequada para prevenir problemas
emergentes, destacando-se o atraso de fala.
Palavras-chave: desenvolvimento infantil, prematuro, atraso de fala, disfagias, transtornos das
sensações, fatores de risco.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
22
Speech development and associated factors
Abstract
This review refers to speech development and its associated factors in infants, with a
particular focus on sensory processing and prematurity. The literature search was conducted
through Medline / Pubmed and SciELO databases, covering the period from 1998 to 2012,
using the following isolated or combined keywords: child development, dysphagia, disorders
of sensations, prematurity, risk factors and speech delays. These studies reported that some
premature babies, even in cases without many morbidities, are immature and as such more
vulnerable to the possibility of experiencing frequent difficulties in understanding speech,
cognition, oral-motor function performance, and consequently, speech development. These
problems are possibly associated with a difficulty in processing sensory stimuli from the
environment. An investigation into the factors associated with speech delay is considered
essential, as is an early diagnosis of sensory processing disorders. The most adequate method
of preventing this type of problem from emerging is to follow the development of premature
babies after they have been discharged from hospital. This is particularly true in the case of
speech delay issues.
Keywords: child development, premature, speech delay, dysphagia, disorders of sensations,
risk factors.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
23
Introdução
A linguagem é considerada uma função cortical superior formada por um sistema
complexo que envolve a integração de unidades sensoriais, motoras e linguísticas. Quando
esses elementos se desenvolvem harmonicamente e o contexto comunicativo oferecido pelo
ambiente é favorável, as crianças desde pequenas vão se tornando capazes de diferenciar os
sons produzidos pela fala humana, compreender o que lhe é comunicado e aprender a executar
os movimentos das estruturas do seu sistema fonoarticulatório: lábios, língua, bochechas,
mandíbula, palato e pregas vocais. Também aprendem a controlar o ritmo, velocidade e
intensidade sonora dos movimentos necessários para iniciar a fala 1, 2.
No primeiro ano de vida, o ambiente oferece ao lactente vivências sensoriais ricas em
informações auditivas, visuais, táteis, olfativas, gustativas, proprioceptivas e vestibulares.
Quando essas experiências são registradas como agradáveis, o bebê sentirá prazer em repeti-
las e o somatório destas distintas vivências resultará no aprendizado de várias habilidades
funcionais tais como: cognição, motricidades ampla e fina, as quais se associam ao
desenvolvimento da linguagem3.
Para realizar suas primeiras emissões, o bebê gradualmente deverá perceber que os
sons que ele produz para se comunicar são realizados por estruturas localizadas em sua
cavidade oral. Durante a fala, o contato estabelecido entre estas estruturas modifica a
passagem do ar que sai das vias aéreas, resultando em uma produção articulatória. Cada
fonema para ser articulado exige uma especificidade de contato entre as estruturas
fonoarticulatórias que também fazem parte dos sistemas digestório e respiratório 4,5.
É possível que a integração das experiências sensoriais oferecidas à criança durante a
alimentação, facilite, no primeiro ano de vida, o surgimento dessa habilidade funcional, pois
neste período existe muita semelhança entre os movimentos que a criança utiliza durante a
alimentação e a articulação dos fonemas4.
O desenvolvimento do controle postural, da cognição e da maturação psicossocial
associado à alimentação adequada também contribuem para a integração sensório motora e
para o crescimento adequado das estruturas orofaciais durante a sucção, deglutição, respiração
e mastigação e por isso, poderá facilitar posteriormente a articulação dos primeiros vocábulos
da criança4, 5, 6, 7, 8.
As alterações no desenvolvimento da fala poderão surgir em consequência de
diversos fatores e, dentre eles, destacam-se a prematuridade e o baixo peso ao nascer. Tais
alterações de fala podem ser observadas muito precocemente nos primeiros dias de vida
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
24
através da imaturidade na integração e processamento de estímulos sensoriais orais e da
dificuldade em se alimentar, intensificados pelo ambiente, muitas vezes hostil devido a
procedimentos necessários para garantir a sobrevida6, 9,10,11,12.
A permanência destas disfunções motoras orais limita a exploração da criança no
ambiente e diminui as possibilidades de novas experiências. Em decorrência disso, pode
comprometer a construção de novas habilidades e competências que são importantes para a
compreensão da linguagem, o planejamento motor e a produção que são processos
fundamentais para o desenvolvimento da fala 8,9.
Vários estudos empíricos têm descrito o desempenho motor oral de lactentes com
passado de prematuridade durante a fase de hospitalização12,13. Contudo, a literatura ainda é
escassa ao apresentar trabalhos que discutam o desenvolvimento da fala associado a outros
aspectos evolutivos, a exemplo da função motora oral durante a alimentação 6,9.
Este artigo tem por objetivo apresentar uma revisão a respeito das evidências que
explicam o desenvolvimento da fala em lactentes, durante o primeiro ano de vida e seus
determinantes, destacando entre eles a idade gestacional e o peso ao nascer.
O desenvolvimento da fala nos primeiros anos de vida
A fala refere-se ao conjunto de estratégias e ações que refletem o estado maturacional
em três aspectos: sensorial, motor e cognitivo. Sua evolução se inicia nos primeiros meses de
vida (período pré-linguístico) e resulta da interação entre as características individuais da
criança, dentre elas sua base genética, e particularidades do seu ambiente 2, 3, 5.
O uso de vocábulos pronunciados e o aumento do número de palavras funcionais se
ampliam com o controle dos movimentos orais. Mesmo ainda não sendo possível determinar
todos os domínios que interferem nessa evolução, defende-se que a capacidade de diferenciar
e reconhecer os sons da fala é uma habilidade comunicativa que se desenvolve mais
precocemente, a fim de possibilitar à criança a aquisição de novas emissões 14, 15,16.
Algumas pesquisas têm procurado entender a evolução do sistema motor associada às
unidades linguísticas responsáveis pelo desenvolvimento dos sons da fala e elas verificaram
que as unidades ativadas para a produção da fala nas crianças são diferentes das do adulto.
Apesar de as crianças serem capazes de pronunciar as primeiras palavras por volta do
primeiro ano de vida, nesse momento ainda não são capazes de associar os sistemas de
controle motor com as redes auditivas e de elaboração da linguagem, sendo necessários
alguns anos de aprendizagem para que isto ocorra plenamente 2, 5, 15, 17,18.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
25
A linguagem envolve três níveis de análise lingüística principais: semântica, fonologia
e sintaxe. Esses níveis se integram no planejamento e execução do discurso por meio da
compreensão (semântica), da compreensão da gramática da língua (sintaxe) e da produção dos
fonemas ou sons da fala (fonologia). A semântica se refere, portanto, à capacidade de
compreender o significado da função comunicativa, ou seja, das palavras e sentenças
utilizadas durante o discurso 1,2. Esta habilidade surge na criança antes da expressão verbal, a
partir do seu interesse em explorar estímulos sensoriais auditivos, visuais, táteis e de
movimento que são apresentados pelo seu ambiente 3. À medida que se sente motivada para
interagir com essas modalidades sensoriais, vai compreendendo as propriedades dos objetos
explorados nessas vivências, podendo posteriormente formar conceitos e expressá-los
verbalmente de forma adequada2, 3,5.
Durante o desenvolvimento da fala, inicialmente o bebê realiza movimentos
silenciosos e espontâneos na cavidade oral, executados tanto para propiciar a sua
sobrevivência, a exemplo da sincronia entre a sucção, deglutição e respiração, quanto para
favorecer a exploração sensório motora oral do ambiente. Afirmam, ainda, que no final do
sétimo mês de vida, com o surgimento do balbucio, se dá o início do desenvolvimento
fonológico infantil2, 16,17.
No lactente, as emissões formadas pela combinação de consoante e vogal do balbucio
são muito semelhantes àquelas da fala adulta. Inicialmente, são repetitivas, mas, aos poucos,
adquirem outros traços distintivos e, mesmo com pouca elaboração mental, estima-se que ao
final do primeiro ano de vida a criança irá pronunciar suas primeiras palavras 16, 17, 18,19.
A cognição e a linguagem receptiva são importantes para a apropriação dos sons da
fala, pois quando a criança aprimora sua compreensão é capaz de incorporar mais conceitos.
Esta evolução lhe permite enriquecer o vocabulário, sendo capaz de discriminar vários
fonemas5. Para conseguir articular novas palavras, as crianças também necessitarão planejar e
memorizar novos mapeamentos de movimento e processar sinais acústicos. Portanto, as
sequências motoras necessárias para articular os fonemas ocorrem também por intermédio da
cognição 2,5,17,18,19.
De acordo com o paradigma tradicional, o controle motor oral não seria considerado
uma operação fonológica. Entretanto, recentemente tem surgido o interesse em entender a
associação entre representação fonológica e funções motoras no controle da fala, ao se
constatar que, em fase precoce de aquisição da linguagem, quando determidadas desordens
alteram as funções sensório motoras, causam alterações no seu planejamento motor, podendo
restringir a evolução fonêmica, comprometendo o desenvolvimento fonológico e a fala 1,2,17.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
26
O ato motor da fala exige um trabalho coordenado de três sistemas: fonoarticulatório,
laríngeo e respiratório. Eles recrutam aproximadamente setenta músculos, cujas origens e
inserções se localizam nos lábios, língua, osso hioide, palato mole, mandíbula, faringe,
laringe, caixa torácica, diafragma e abdome, que ao se contraírem, realizam a produção vocal
e fonêmica 1, 2,18,20.
Os movimentos repetitivos destas estruturas em conjunto com a produção sonora
estimulam, no sistema nervoso, a formação de redes neuronais específicas que se localizam no
córtex e no tronco cerebral. Essas redes se adaptam a estas sensações auditivas e sinestésicas e
possibilitam ao lactente o planejamento e a produção de modelos de movimento responsáveis
pelo desenvolvimento do controle motor da alimentação e da fala 2, 17, 18.
A evolução de tais adaptações ocorre durante toda a infância e novos padrões de
movimento determinam simultaneamente o crescimento e o desenvolvimento de estruturas
envolvidas no aprendizado da fala, localizadas no crânio e no trato vocal 2,18. Essas
modificações podem ser constatadas após o início da vocalização, do balbucio e da produção
das primeiras palavras, cujo movimento promove o crescimento dos ossos da face, os quais
por sua vez, expandem a cavidade oral e o espaço aerodinâmico (faringe, laringe e pregas
vocais) 18.
O sistema nervoso do lactente possui a capacidade de receber, organizar e adaptar-se
aos sinais necessários a novas aquisições. No caso da articulação da fala, os sistemas neurais
acústicos e do controle motor captam a todo momento novos modelos de aprendizado motor
oral. Com o passar do tempo todas as informações táteis e proprioceptivas produzidas durante
a vocalização, balbucio e primeiras palavras serão armazenadas no cérebro 2, 17, 18,19. Por volta
dos doze meses de vida o arcabouço ósseo craniofacial da criança alcança 90% da dimensão
do adulto, tornando as suas estruturas competentes para melhorar seu repertório de
comportamentos motores, tais como mastigação, balbucio e fala 1, 2, 17,18.
Fatores associados ao desenvolvimento da fala
Assim como outros domínios, a fala é considerada um comportamento de evolução
contínua e previsível, dependente de interações recíprocas entre o ambiente e o indivíduo3.
Nesta perspectiva, esta relação indivíduo-ambiente inclui fatores biológicos (genéticos),
sociais e culturais, que agem simultaneamente sobre o desenvolvimento infantil, sendo alguns
destes fatores apresentados a seguir:
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
27
1. Controle motor oral durante a alimentação
O desenvolvimento da fala requer a evolução de padrões sensório motores orais que
iniciam seu desenvolvimento no período pré-natal, com a morfogênese das estruturas que
fazem parte dos sistemas digestório, respiratório e fonoarticulatório4. O conjunto de
estratégias que controla a produção da fala continua evoluindo juntamente com a mastigação,
até aproximadamente os cinco anos de vida 17,18,20,21.
Afirmar que as experiências sensoriais táteis e proprioceptivas vivenciadas na
alimentação no primeiro ano de vida contribuem para o controle motor da fala sempre foi um
forte argumento para justificar a necessidade da intervenção fonoaudiológica no
acompanhamento de crianças com dificuldades alimentares. Porém, até o presente momento
os estudos não conseguem compreender como se dá exatamente a relação entre alimentação e
fala, embora se reconheça que além da existência de estruturas comuns para estas funções,
tanto a fala como a alimentação são processos que exigem integridade neurológica, anatômica
e fisiológica, e para ambas, se faz necessário o aprendizado de movimentos sequenciados 2,4,17,18,20.
A alimentação porém, requer comportamentos motores mais primitivos. Contudo se os
alimentos oferecidos ao bebê forem variados, conduzirão informações sensoriais importantes
que levam a um bom mecanismo de adaptação motora 22, 23,24. Ou seja, se o bebê, em situações
anteriores, demonstrou satisfação em ingerir determinados alimentos, é esperado que ao
reconhecê-los em outros momentos, antecipe os movimentos necessários para esta função25.
Desta forma, o bebê adquire progressivamente a capacidade de regular a entrada
desses estímulos visuais, olfativos, gustativos, táteis e proprioceptivos até que atinja um
estado de alerta ideal para adquirir novos ganhos motores orais4,25,26. Com o passar do tempo,
a variabilidade dos movimentos realizados nesta exploração desenvolve nele a capacidade de
memorizar diversas estratégias de planejamento motor oral, além de manter a integridade das
estruturas necessárias para o desempenho de diversas outras funções orais, a exemplo da
fonoarticulação4, 8.
As variações nas posturas assumidas pelos lábios, língua, bochechas e véu palatino
durante a progressão das consistências dos alimentos modificam as suas formas e os seus
movimentos. Por volta do sexto mês de vida, quando os alimentos ingeridos são de
consistência pastosa, as estruturas orofaciais se movimentam ao mesmo tempo. Mas, a partir
do oitavo mês, com a introdução dos alimentos semissólidos e sólidos, estes padrões motores
passam a ser mais refinados e dissociados. Tais transformações são fundamentais para que
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
28
essas estruturas alcancem níveis mais elevados de precisão e coordenação articulatórias,
importantes para a efetividade da fala 4, 18, 21,22.
No primeiro ano de vida os lábios, a língua e a mandíbula realizam durante o balbucio
sequências de movimentos semelhantes àquelas verificadas nos comportamentos de
mastigação18, 20. A partir da emissão das primeiras palavras, para evoluir na aquisição dos
fonemas, a criança terá que aprender a planejar outros comportamentos motores das estruturas
orofaciais. Isto significa ter que controlar as forças de contração das fibras musculares dos
órgãos fonoarticulatórios a ponto de torná-las suficientes para estabelecer o contato entre estas
estruturas durante a fala2, 18, 22.
A fala é, portanto, uma habilidade complexa, que surge a partir do interesse do bebê
em interagir com o seu ambiente e de receber desse meio externo informações visuais,
auditivas, táteis e de movimento. Para a aquisição da comunicação oral, a criança necessita
de vivências constantes de movimento, que serão proporcionadas pelos diversos tipos de
alimentos oferecidos, que desencadearão movimentos variados de sucção, mastigação e
deglutição, e promoverão um bom desenvolvimento dos órgãos fonoarticulatórios22, 23,25,26.
2. Processamento sensorial e desenvolvimento da cognição
Além do desenvolvimento biomecânico proporcionado pela alimentação, a fala requer
outros tipos de habilidades que também conduzem o bebê a desenvolver seus mecanismos
motores orais de fala26. O aprendizado dos movimentos fonoarticulatórios só ocorrerá quando
o lactente conseguir integrar, perceber e planejar suas próprias sequências de movimento.
Isso, por sua vez, dependerá intrinsecamente da motivação, da capacidade de atenção e de
interação com o ambiente e, ainda, da forma como os movimentos sequenciados necessários à
fala serão registrados 10.
Para alguns autores, este conjunto de habilidades se denomina processamento
sensorial, o qual consiste em uma função neurológica responsável por organizar e modular as
informações recebidas pelos sentidos, ou seja, paladar, olfato, visão, audição, tato,
movimento, gravidade e posição do corpo. Seu desenvolvimento permite a constante
adaptação do indivíduo no ambiente e, por isso, contribui para a aquisição de várias
habilidades funcionais tais como cognição, linguagem, motricidade grossa e fina e interação
social 10,11,27, 28,29, 30.
A abordagem de integração sensorial teve seu surgimento na década de 50 com o
trabalho da Terapeuta Ocupacional Dra. Jean Ayres. Seu interesse partiu das observações
clínicas realizadas durante a reabilitação de crianças e adultos com dificuldades de
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
29
aprendizagem os quais, em sua maioria, apresentavam déficits na atenção e concentração 11,29,30. Dra Ayres construiu seu referencial teórico com base nos estudos de neurociência e
neuropsicologia, que explicavam como o sistema nervoso central se organiza e processa os
estímulos sensoriais vindos do ambiente 30.
Por ainda não existir consenso, diversos termos têm sido empregados para denominar
esta habilidade: processamento sensorial, modulação sensorial, regulação sensorial e ainda
integração sensorial. No entanto, todas essas denominações se basearam no mesmo cenário
clínico: a análise do comportamento dos indivíduos em resposta às informações auditivas,
visuais, vestibulares, táteis e de movimento, vindas do meio externo. Os trabalhos atuais
buscam comprovar a associação entre as alterações no desenvolvimento social, da linguagem,
da coordenação motora, da cognição e os problemas no processamento sensorial 28,29,30,31,32.
Os comportamentos de aversão ou lentidão de respostas frente às sensações oriundas
do ambiente e do próprio corpo podem surgir precocemente. Desde os primeiros meses de
vida, o bebê com disfunção no processamento sensorial poderá apresentar alterações no sono,
dificuldades na aceitação de alimentos, de se consolar e ainda de lidar com situações novas.
Quando essas dificuldades persistem até por volta do sexto mês de vida, deverão ser
diagnosticadas como Transtornos Regulatórios (TR), condição que poderá desencadear nos
lactentes alterações no desenvolvimento neuropsicomotor 33,34.
O TR se manifesta sob a forma de desequilíbrio do sistema nervoso diante da entrada
do estímulo sensorial, na ausência, portanto, da autorregulação.. A autorregulação, uma
habilidade do cérebro, permite ao indivíduo se manter atento, alerta e integrado ao ambiente
mesmo em situações de desequilíbrio ou estresse 33, 34,35.
Desde o período fetal até a primeira infância, se o ambiente impuser ao indivíduo
alguma experiência sensorial maior que a capacidade do seu cérebro de recebê-la e processá-
la, ele naturalmente se desestabiliza. Assim, diante de algum desequilíbrio na autorregulação,
o bebê poderá perder a capacidade de perceber o contexto funcional do ambiente,
desenvolvendo problemas na aprendizagem, na interação com as pessoas e no
desenvolvimento da coordenação motora e da linguagem. Entretanto, se a autorregulação
estiver preservada, ele será capaz de se reorganizar e se readaptar, adquirindo ganho funcional
por meio destas experiências 34.
A avaliação precoce dos TR mediante a aplicação de instrumentos padronizados dá
um apoio ao diagnóstico clínico, porém estes não se tornam suficientes diante de duas
restrições: a primeira relacionada à compreensão de comportamentos frequentemente
observados na clínica, que ainda são pouco examinados e não avaliados pelos testes motores
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
30
em uso e a segunda referente às dificuldades nos critérios de avaliação (padronização) que
precisa considerar os aspectos biopsicossociais da população investigada33.
Ainda assim, utilizar instrumentos que avaliem o processamento sensorial e detectem
precocemente os TR é de fundamental importância para os profissionais que atuam na atenção
à saúde da criança. Atualmente alguns dos instrumentos de avaliação utilizados nos casos de
lactentes e crianças com suspeita de TR são: o Perfil Sensorial para Infância, o Test of Sensory
Functions in Infants (TSFI) e mais recentemente Sinais Comportamentais do Bebê – SICOBE 29,33, 34.
Uma contribuição para compreender estas alterações no comportamento, identificando
o limiar do sistema nervoso central diante das diversas modalidades de estímulos, foi dada
pelo modelo de Dunn (Quadro 1)10,36.
Quadro 1. Modelo de Processamento Sensorial
Respostas comportamentais / autorregulação
Limiar Neurológico Reage de acordo com seu
limiar-passiva
Reage contra seu limiar
ativa
Limiar alto - habituação
Baixo registro
Perda da sensação
Limiar baixo -
hipersensibilidade
Sensível
Evita a sensação
As experiências sensoriais são armazenadas no cérebro se um ou mais grupos de
neurônios forem recrutados para conduzi-las até as suas respectivas áreas de processamento10,
27,28. O que determina a quantidade de estímulos necessários para que os neurônios
transmitam estas sensações é o limiar neurológico, o qual poderá variar de indivíduo para
indivíduo. Algumas pessoas possuem um limiar neurológico baixo e não necessitam de um
grande recrutamento de neurônios para reagirem ao ambiente. São pessoas mais sensíveis,
diferentes das que têm limiar alto, que são mais passivas e por isso precisam ativar mais
neurônios, caso contrário, não atingirão um estado de alerta ideal para adquirir ganhos
funcionais 10,36.
Geralmente, as disfunções no processamento sensorial são identificadas em crianças
cujas respostas às sensações são comportamentos divergentes dos seus limiares neurológicos.
Bebês que possuem um limiar alto tendem a passar mais tempo explorando o ambiente e este
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
31
tempo é fundamental para o seu aprendizado funcional. Caso eles tenham disfunção no
processamento sensorial, as suas atitudes exploratórias divergem deste limiar neurológico.
Estas crianças são, portanto, extremamente agitadas e desconcentradas e por isso não captam
as propriedades dos objetos explorados, nem tampouco registram no cérebro as experiências
oferecidas pelo ambiente 10,29,36.
As crianças de limiar neurológico baixo, por serem mais sensíveis e também mais
responsivas, se sentem gratificadas ao repetirem várias vezes as experiências que lhes foram
significativas. No entanto, caso tenham disfunção no processamento sensorial, seus
comportamentos divergem desse limiar e por isso observa-se que frequentemente evitam as
sensações e na permanência desses comportamentos, há o risco de terem dificuldades na
aquisição de algumas habilidades a exemplo da cognição, linguagem e interação social 10, 29,36.
Assim como o limiar neurológico, outra propriedade do processamento sensorial
denominada de modulação sensorial é importante para o desenvolvimento destas referidas
habilidades. Esta propriedade consiste na capacidade de organizar a entrada das sensações
táteis, proprioceptivas, visuais, auditivas e vestibulares no cérebro. Desde o nascimento, o
ambiente expõe a criança, a todo o momento, uma grande quantidade de estímulos. Modular
significa selecionar quais destes estímulos são prioritários para a função que este bebê está
motivado a desempenhar31,34,35,36.
Para o desenvolvimento da fala, a criança deverá receber, organizar e registrar as
sensações auditivas, visuais, táteis e proprioceptivas. No início, para perceber uma
determinada palavra, o sistema nervoso da criança deverá recrutar uma quantidade suficiente
de neurônios especializados em modular estes estímulos e, aos poucos, esta quantidade vai
sendo reduzida à medida que a criança se habitua a esta palavra 37. Observa-se então, que o
aprendizado dos movimentos da fala também é influenciado pela modulação de alguns
processos cognitivos, tais como memória e abstração.
São os estímulos sensoriais ofertados pelo ambiente que conduzirão o lactente a uma
exploração motora nos dois primeiros anos de vida. Esta interação desenvolverá a cognição,
que neste momento é denominada de inteligência sensório motora32. A cognição poderá ser
avaliada através da observação do desempenho de outras habilidades funcionais alcançadas
pelo lactente, como o desenvolvimento da linguagem. Neste contexto, ela é considerada um
processo sensório-motor e seu aprendizado consiste na preparação e no planejamento dos
movimentos de estruturas orofaciais que, por sua vez, dependem da cognição e da modulação
sensorial 5,32, 34,35 36, 37.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
32
Em situações adversas, as crianças com processamento sensorial alterado devido às
dificuldades na modulação apresentam comportamentos inadequados frente aos estímulos.
Por evitá-los, muitas vezes não aprendem a elaborar sequências de movimentos necessárias
para o bom desempenho dos órgãos fonoarticulatórios na alimentação. Em outras atividades
funcionais que interferem na fala, caso essas dificuldades permaneçam, possivelmente
ocorrerão prejuízos do desenvolvimento da comunicação 37,38.
Quando ultrapassam o período sensório-motor esses problemas no processamento e
integração da informação sensorial passam a ter características de comportamentos
intencionais nas áreas de alimentação, comunicação, motricidade grossa e fina e do brincar.
Por conseguinte, alterações na aprendizagem também se tornam frequentes nesta população
32,33. Por isso, é importante que os sinais de risco para disfunções no processamento sensorial
sejam identificados precocemente, uma vez que interagem com problemas no
desenvolvimento global 34, 35, 36, 37,38.
3. Prematuridade e Baixo Peso ao Nascer
Muitas circunstâncias biológicas podem prejudicar o desenvolvimento da criança, mas
atualmente, consideram-se a prematuridade e o baixo peso ao nascer as mais prevalentes 6, 8, 9,
12,39. Classificam-se como pré-termo aqueles recém-nascido com idade gestacional inferior a
37 semanas e de baixo peso, os que apresentam ao nascer peso inferior a 2500 gramas.
Quanto ao baixo peso ao nascer, estes poderão ser ainda estratificados em mais dois grupos:
peso inferior a 1500 gramas (recém-nascidos de muito baixo peso) e peso inferior a 1000
gramas (recém-nascidos de extremo baixo peso)40.
A prematuridade pode ser fator de risco para alterações neurológicas na infância, uma
vez que o nascimento prematuro altera o crescimento cerebral, a migração neuronal, a
sinaptogênese e a mielinização do encéfalo 41,42, 43.
No Brasil, como em outros países, o avanço no cuidado intensivo neonatal tem
garantido a sobrevida de recém-nascidos com idade gestacional e peso cada vez mais
reduzidos. No período após o nascimento, esses recém-nascidos poderão apresentar
intercorrências clínicas, sendo as mais comuns pneumopatias, hipóxia neonatal, hemorragia
intracraniana, icterícia, distúrbios na motilidade gástrica e disfunções motoras orais. Por
colocarem em risco a sobrevivência destes recém-nascidos, durante a tomada de decisão
clínica, a equipe médica geralmente necessita indicar condutas invasivas, tais como venóclise,
alimentação por gavagem, oxigenioterapia através de intubação ou Pressão Positiva Contínua
Nasal (CPAP) 6,12, 44, 45.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
33
Observa-se que, desde o nascimento, os prematuros apresentam comportamentos
motores que parecem ser alterados, entretanto, são compatíveis com sua imaturidade. Estas
alterações são possivelmente decorrentes da imaturidade do seu sistema nervoso, sendo
também influenciadas por situações ambientais adversas. A exposição a estes cuidados
intensivos neonatais exige do recém-nascido competências ainda não desenvolvidas, que
interferem no seu processo interacional com o ambiente. Por este motivo, podem surgir
comportamentos motores inadequados que causam problemas no seu repertório funcional,
precocemente constatados pelas dificuldades na sucção e deglutição dos alimentos 6,9,12,13,44.
Estudos recentes discutem que, mesmo após a alta hospitalar, os problemas no
comportamento motor oral continuam comprometendo a funcionalidade das estruturas do
complexo orofacial 6,9,13,44. Os lactentes nascidos pré-termo, por terem se submetido à
alimentação por meio de sonda, apresentam mais frequentemente lesões na mucosa da base da
língua, nas paredes da faringe e no esôfago distal. Estas lesões poderão alterar
prolongadamente a sensibilidade e os movimentos sequenciados das estruturas orofaciais
durante a mastigação e a deglutição dos alimentos de consistências semissólida e sólida 6, 9,
45,46.
Em alguns estudos discute-se que, em fase precoce, estas alterações sensoriais tornam
estes prematuros bastante hiporresponsivos, deixando-os mais vulneráveis a apresentar
episódios de broncoaspiração durante a alimentação. Devido à presença dessas disfunções
motoras orais, suas famílias não conseguem introduzir novas consistências dos alimentos 6, 35,
37, 45,46, 47. A falta de intervenção adequada faz com que os lactentes permaneçam com
padrões de movimento inadequados, que poderão comprometer no futuro suas estruturas do
complexo orofacial responsáveis pela articulação da fala 9, 44,47.
Até pouco tempo, os estudos buscavam evidências que solucionassem os problemas
alimentares comuns à prematuridade durante o período em que os recém-nascidos
permaneciam hospitalizados, sendo considerados os problemas mais relevantes as disfunções
na sucção e na deglutição, além da incoordenação dessas funções com a respiração. De forma
geral, estes estudos tiveram como objetivo identificar técnicas mais eficazes para o
restabelecimento das funções de alimentação, buscando melhor organização oromotora do
neonato para possibilitar sua alta hospitalar 6,9,13.
Atualmente, os estudos que avaliam em longo prazo o desenvolvimento de crianças
com passado de prematuridade têm comprovado que, mesmo aqueles prematuros que tiveram
comorbidades mais brandas e no momento da alta hospitalar encontravam-se estáveis do
ponto de vista clínico e neurológico, necessitaram de acompanhamento especial. Isto é
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
34
explicado pelo fato de que, do final do primeiro ano de vida até aproximadamente os sete
anos, poderão apresentar, na aquisição do seu repertório funcional, dificuldades no
desenvolvimento do aprendizado motor oral, da linguagem e da interação social 6, 8,9,44,48,49.
Considera-se que lactentes nascidos pré-termo e com muito baixo peso poderão
apresentar uma frequência mais elevada de atraso no desenvolvimento da cognição e da
linguagem quando comparados aos nascidos a termo. Supõe-se que estes bebês sofreram mais
morbidades ao nascer e, por isso, têm mais riscos de desenvolverem alterações no
desempenho motor, fato que compromete a exploração sensório motora do ambiente e,
consequentemente, a cognição5,48.
Esta realidade tem alertado profissionais que se dedicam a estudar esta população, pois
atrasos no desenvolvimento da linguagem podem interferir negativamente no aprendizado
acadêmico14, 15, 48,49. Também vem reforçar a necessidade de acompanhamento
fonoaudiológico dos recém nascidos pré-termo e de baixo peso após a alta hospitalar, a fim de
minimizar os riscos de atraso no desenvolvimento da fala.
Considerações Finais
Este artigo destacou que o aprendizado da fala, sua percepção e execução dependem
da organização de estratégias sensoriais e motoras, possibilitadas a partir da integração das
habilidades visuais, auditivas, táteis e proprioceptivas. Alguns estudos apontam que a fala
surge durante o primeiro ano de vida a partir do balbucio que, neste momento, é influenciado
pelo desenvolvimento da comunicação receptiva, do sistema sensório motor oral, do
processamento sensorial e da cognição.
A literatura científica tem apresentado evidências de que a prematuridade e o baixo
peso ao nascer são potenciais fatores de risco para o atraso no desenvolvimento da fala.
Embora a maior parte dos recém-nascidos pré-termo não desenvolva alterações neurológicas
graves como paralisia cerebral, deficiência mental ou epilepsia, outros distúrbios mais leves
do desenvolvimento são bastante prevalentes nesta população, destacando-se neste artigo, o
atraso no desenvolvimento da fala.
Estes déficits de fala tornam-se mais evidentes com o avançar da idade, especialmente
a partir do segundo ano de vida, quando os familiares e cuidadores dos lactentes passam a
identificar estes comportamentos alterados e só então buscam ajuda especializada. Verifica-se
a necessidade da realização de pesquisas que identifiquem e disponibilizem instrumentos
suficientemente sensíveis para avaliar tanto o desenvolvimento da fala como o processamento
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
35
sensorial de lactentes nascidos pré-termo já nos primeiros meses de vida. Caso estes
problemas fossem identificados mais precocemente, a condição transitória destes atrasos não
se transformaria em déficits funcionais posteriores permanentes.
Referências
1. Kent RD. Research on speech motor control and its disorders: a review and prospective. J
Commun Disord 2000;33:391-428.
2. Smith A. Speech motor development: integrating muscles, movements and linguistics units. J
Commun Disord 2006; 39: 331-49.
3. Cachapuz R, Halpern R. A influência das variáveis ambientais no desenvolvimento da linguagem
em uma amostra de crianças. Revista da AMRIGS 2006;50(4):292-301.
4. Morris SE, Klein MD. Pre-feeding skills: a comprehensive resource for mealtime development.
San Antonio: Therapy Skill Builders, 2000.
5. Nip SB, Green JR, Marx DB. Early speech motor development: cognitive and linguistic
considerations. J Commun Disord 2009;42(4):286-98.
6. Dodrill P, Mc Mahon S, Ward E et al. Long-term oral sensitivity and feeding skills of low-risk pre-
term infants. Early Hum Dev 2004;76:23-37.
7. Alves CRJ, Tudella E. Comportamento motor oral: bases anatômicas e fisiológicas para a
intervenção. Temas desenvolv 2001;10(56):34-40.
8. Castro AG, Lima M, Aquino RR, Eickmann SH. Desenvolvimento do sistema sensório motor oral
e motor global em lactentes nascidos pré-termo. Pró-Fono 2007; 19(1):29-38.
9. Buswell PL, Embleton N, Drinnan MJ. Oral-motor dysfunction at 10 months corrected gestational
age in infants born less than 37 weeks preterm. Dysphagia 2009;24:20-5.
10. Dunn W. The impact of sensory processing abilities on the daily lives of young children and
families: a conceptual model. Infants Young Child 1997;91(4):23-5.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
36
11. Magalhães LC, Lambertucci MCF. In: Lima CLA, Fonseca LF. Paralisia cerebral: neurologia,
ortopedia, reabilitação. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan; 2004.
12. Waugh J, Loughran J, Carr V. The pathway of neuro-behavioural and sensory development in
premature infants: A guide for parents. J Neonatal Nurs 2008; 14:129-30.
13. Cooper BM, Ratcliffe S. Development of preterm infants. Feeding behaviors and Brazelton
Neonatal Behavioral Assessment Scale at 40 and 44 weeks postconceptional age. Adv Nurs Sci
2005; 4:356-63.
14. Schirmer CR, Fontoura DR, Nunes ML. Distúrbios de aquisição da linguagem e da aprendizagem.
J Pediatr (Rio J) 2004;80(Supl 2):S95-S103.
15. Schirmer CR, Portuguez MW, Nunes ML. Avaliação da evolução dos aspectos linguísticos em
crianças que nasceram prematuras aos 3 anos de idade. Arq Neuropsiquiatr 2006;64(4):926-31.
16. Tristão RM, Feitosa MAG. Percepção da fala em bebês no primeiro ano de vida. Estudos de
Psicologia 2003;8(3):459-67.
17. Barros FC, Felício CM, Ferreira CLP. Controle motor da fala: teoria e provas de avaliação. Rev.
Soc. Bras. Fonoaudiol 2006;11(3):163-69.
18. Green RJ, Moore AC, Reilly KJ. The sequential development of jaw and lips control of speech.
J Speech Lang Hear Res 2002; 45:66-79.
19. Carlino FC, Lamônica DAC, Alvarenga KF. Avaliação da função auditiva receptiva, expressiva e
visual em crianças prematuras. Pró-Fono 2010; 22(1):19-24.
20. Wilson EM, Green JR. The development of jaw motion for mastication. Early Hum Dev
2009;85(5):303-11.
21. Reilly KJ, Moore CA. Respiratory movement patterns during vocalizations at 7 and 11 months of
age. J Speech Lang Hear Res 2009; 52:223-39.
22. Hiiemae KM, Palmer JB. Tongue movements in feeding and speech. Crit Rev Oral Biol Med
2003;4(6):413-29.
23. Duff, V.B. Variation in oral sensation. Curr Opin Gastroenterol 2007;23:171-77.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
37
24. Levy Y, Levy A. Zangen T et al. Diagnostic clues for identification of nonorganic vs organic
causes of food refusal and poor feeding. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2009; 48: 355-62.
25. Beauchamp GK, Mennella JA. Early flavor learning and its impact on later feeding behavior. J
Pediatr Gastroenterol Nutr 2009; 48: 25-30.
26. Oetter P, Richter EW. M.O.R.E. Integrating the mouth with sensory and postural functions.
Minnesota: PDP PRESS;1998.
27. Kandel ER, Schwartz JH, Jessell TM. Principles of neural science. New York: McGraw-Hill;
2000.
28. Lent R. Cem bilhões de neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Editora
Atheneu; 2010.
29. Dunn W. The infant toddler sensory profile. San Antonio: Psychological Corporation; 2000.
30. Ayres J. Sensory integration and the child. Los Angeles: Western Psychological Services; 2008.
31. Schaaf RC, Davies PL. Evolution of the sensory integration frame of reference. OTJR
2010;64(3):363-65.
32. Cavalcanti FRR. Processamento sensorial e desenvolvimento cognitivo de lactentes [dissertação].
Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2011.
33. Habib ES, Magalhães LC. Criação de um questionário para detecção de comportamentos atípicos
no bebê. Rev Bras Fisioter 2007; 11(3):177-83.
34. De Gangi G. Pediatric disorders of regulation in affect and behavior. A therapist’s guide to
assessment and treatment. San Diego: Academic Press; 2000.
35. Davies PL, Tucker R. Evidence review to investigate the support for subtypes of children with
difficulty processing and integrating sensory information. OTJR 2010; 64(3):391-402.
36. Dunn W. The sensations of everyday life: empirical, theoretical, and pragmatic considerations.
OTJR 2001;55(6):608-20.
37. Rechetnikov RP, Maitra K. Motor impairments in children associated with impairments of speech
or language: a meta-analytic review of research literature. OTJR 2009;63(3): 255-63.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
38
38. Ben-Sasson A, Hen L, Fluss R, Cermak SA, Engel-Yeger B, Gal E. A meta-analysis of sensory
modulation symptoms in individuals with autism spectrum disorders. J Autism Dev Disord 2009;
39(1):1-11.
39. Rodrigues OMPR, Bolsoni-Silva AT. Efeitos da prematuridade sobre o desenvolvimento de
lactentes. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2011; 21(1):111-21.
40. Souza AMH, Souza MT. Acompanhamento do desenvolvimento. In: Lima EJF, Souza MFTS,
Brito RCCMB Pediatria ambulatorial. Rio de Janeiro: Medbook; 2008.
41. Inder TE, Warfield SK, Wang H, Hüppi PS, Volpe JJ. Abnormal cerebral structure is present at
term in premature infants. Pediatrics 2005; 115(2):286-94.
42. Vandenberg KA. Individualized developmental care for high risk newborns in the NICU: A
practice guideline. Early Hum Dev 2007;83:433-42.
43. Als H, Frank H. Duffy, MD et al. Early experience alters brain function and structure. Pediatrics
2004;13(4):846–57.
44. Freitas M, Kernkraut AM, Guerreiro SMA et al. Follow-up of premature children with high risk for
growth and development delay: a multiprofessional assessment. Einstein 2010;8(2):180-86.
45. Barlow, SM. Oral and respiratory control of preterm feeding. Curr Opin
Otolaryngol Head Neck Surg 2009;17(3):179-86.
46. Petersen MC, Rogers B. Introduction: feeding and swallowing and developmental disabilities. Dev
Disabil Res Rev 2008;14(2):75-6.
47. Arverdson JC. Assessment of pediatric dysphagia and feeding disorders: clinical and instrumental
approaches. Dev Disabil Res Rev 2008;14:118 – 27.
48. Buhler KEB, Limongi SCO, Diniz EMA. Language and cognition in very-low-birth-weight
preterm infants with PELCDO application. Arq Neuropsiquiatr 2009; 67(2):242-49.
49. Isotani SM, Azevedo MF, Chiari BM, Perissinoto J. Linguagem expressiva de crianças nascidas
pré-termo e a termo. Pró-Fono 2009; 21(2):155-60.
BORGES, A. G. C.. Desenvolvimento da fala e fatores associados Revisão da Literatura
21
3 - MÉTODOS
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
40
3 MÉTODO
3.1 Desenho do estudo, local e amostra
Este é um estudo descritivo com componente analítico, realizado nos Ambulatórios de
Recém-Nascido de Risco e de Puericultura do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). O primeiro admite crianças nascidas na maternidade deste hospital,
que é uma unidade de referência para gravidez de alto risco.
A amostra do estudo foi composta por 242 crianças, 80 lactentes nascidos pré-termo
(idade gestacional <37 semanas), que no momento da coleta estavam com idade cronológica
corrigida (para 40 semanas gestacionais) entre oito e quinze meses, e um grupo de 162
lactentes nascidos a termo, na mesma faixa etária.
Os critérios de exclusão foram: lactentes portadores de disfunções motoras, perda
auditiva, visão subnormal, infecções congênitas, malformações múltiplas ou síndromes
genéticas, já que essas morbidades são potenciais fatores de confundimento para os desfechos
estudados. Todos os lactentes nascidos pré-termo registrados no Ambulatório de Recém-
Nascido de Risco durante o período do estudo e que atendessem os critérios de inclusão foram
recrutados. Para a seleção das crianças do grupo controle adotou-se o seguinte critério: após o
recrutamento de cada prematuro as próximas duas crianças nascidas a termo e atendidas no
Ambulatório de Puericultura eram incluídas no estudo
3.2 Estimativa do tamanho amostral
Para a definição do tamanho da amostra utilizou-se o programa Statcalc do Epi Info
versão 6.04. Este cálculo baseou-se no estudo de Cachapuz e Halpern1 e assumiu-se uma
frequência de atraso no desenvolvimento da fala entre os lactentes nascidos pré-termo de 25%
e de 10% nos nascidos a termo. Adotando-se um nível de confiança de 95%, poder de estudo
de 80% e uma razão exposto/não exposto de 1:2, estimou-se um tamanho amostral de 240
lactentes, sendo 80 nascidos pré-termo e 160 nascidos a termo.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
41
3.3 Aspectos éticos
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do
Centro de Ciências da Saúde da UFPE (protocolo no 221/09; CAAE no 02170.000.172-09). Os
responsáveis pelos lactentes selecionados foram informados quanto aos objetivos e
procedimentos da pesquisa e, ao concordarem em participar da mesma, foram solicitados a
assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), elaborado de acordo com a
Resolução 196/96 (APÊNDICE C).
3.4 Operacionalização
3.4.1 Recrutamento dos lactentes
No dia anterior à consulta dos lactentes agendados para o atendimento de rotina, os
prontuários eram analisados pela pesquisadora principal e caso os bebês preenchessem os
critérios de inclusão, os pais ou responsáveis eram contatados por telefone sendo convidados
a participar da pesquisa. Então, as avaliações eram agendadas de acordo com o horário das
consultas nos referidos ambulatórios.
3.4.2 Coleta de Dados
A equipe de coleta foi composta pela pesquisadora principal (fonoaudióloga), duas
terapeutas ocupacionais e duas alunas do Curso de Terapia Ocupacional, bolsistas do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do CNPq. A fonoaudióloga
era responsável pela aplicação da escala que avaliou a função motora oral, Schedule for Oral
Motor Assessment (SOMA), enquanto que o processamento sensorial avaliado pelo Test of
Sensory Functions in Infants (TSFI) foi realizado por duas terapeutas ocupacionais. A
aplicação da Bayley Scales of Infant and Toddler Development- 3aEdition (Bayley III) ficou
sob a responsabilidade da fonoaudióloga e das duas terapeutas ocupacionais. As alunas do
Curso de Terapia Ocupacional além de preencherem os formulários referentes aos dados do
nascimento, questionavam os pais ou cuidadores quanto aos dados socioeconômicos e
demográficos familiares.
A coleta dos dados ocorreu entre novembro de 2009 e fevereiro de 2011. Inicialmente,
foi realizado um estudo piloto com dez lactentes, tendo como finalidade testar os formulários
da pesquisa e padronizar as avaliações. Todas as avaliações foram realizadas no Setor de
Fonoaudiologia em uma sala com boa iluminação e ventilação e poucos estímulos distrativos.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
42
3.4.2.1 Instrumentos de Coleta
• Avaliação do desenvolvimento da fala
O desenvolvimento da comunicação expressiva (fala) foi avaliado através do subteste
de comunicação expressiva da Escala de Linguagem da Bayley III 2. Este subteste consta de
48 itens (ANEXO B) e é iniciado no item correspondente à faixa etária do lactente avaliado,
porém se o mesmo errar algum dos três primeiros itens, retorna-se para o item correspondente
à idade anterior. A avaliação foi encerrada quando a criança cometeu cinco erros
consecutivos, como explicitado no manual. A aplicação do subteste foi individual, utilizando
o material padronizado original.
Para obtenção dos resultados do subteste de comunicação expressiva da Bayley III,
somam-se os acertos da criança obtendo-se o escore bruto. Este escore foi transformado em
escore balanceado, verificado a partir das tabelas de conversão normativa para a faixa etária
da criança. Como o valor normativo do teste possui uma média de 10 e desvio padrão de 3, o
desenvolvimento do aprendizado da fala foi considerado adequado quando os resultados dos
escores balanceados variavam entre 7 e 13 pontos.
• Avaliação da compreensão da linguagem
A avaliação da compreensão da linguagem foi realizada através do subteste de
comunicação receptiva da Bayley III2. Este é composto por 49 itens (ANEXO C) e os
procedimentos para utilização e pontuação seguem as mesmas diretrizes do subteste de
comunicação expressiva.
• Avaliação do desenvolvimento cognitivo
O desenvolvimento cognitivo foi avaliado através da Escala de Cognição da Bayley
III2 que consta de 91 itens (ANEXO D). O início da avaliação assim como o seu término
seguem a mesma norma dos subtestes de linguagem.
Para a interpretação dos resultados, o total de pontos (escore bruto) obtido pela criança
foi convertido em um escore balanceado para as faixas etárias. Os escores balanceados foram
posteriormente convertidos em escore composto, que tem média de 100 pontos e desvio
padrão de 15 pontos, sendo o desenvolvimento cognitivo considerado normal quando os
resultados do escore composto variar entre 85 e 115 pontos.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
43
• Avaliação do processamento sensorial
Para a avaliação do processamento sensorial foi utilizado o Test of Sensory Functions
in Infants (TSFI)3. Trata-se de um instrumento de avaliação que fornece uma medida geral do
processamento sensorial e reatividade de lactentes dos quatro aos 18 meses. O teste contém
cinco subdomínios: reação à pressão tátil profunda, funções motoras adaptativas, integração
entre o tato e a visão, controle óculo-motor e reação à estimulação vestibular. É indicado para
avaliar o risco de transtornos regulatórios e de disfunções no processamento sensorial. Pode
ser utilizado em conjunto com outros instrumentos, com o objetivo de traçar um perfil do
desenvolvimento funcional do lactente.
A realização do teste tem uma duração estimada de 20 minutos e possui 24 itens que
são administrados individualmente, sendo sua sequência elaborada para facilitar a observação
das reações frente à estimulação sensorial. Foram utilizados materiais padronizados
adquiridos juntamente com o manual. Durante o teste o lactente ficava descalço, sem camisa,
sendo posicionado no colo da mãe ou cuidador, e os que tinham autonomia para sentar sem
apoio, eram colocados em um tablado alcochoado.
No formulário do teste a examinadora registrou os pontos de acordo com o que foi
estabelecido para as reações dos lactentes frente aos estímulos sensoriais. Esses pontos
possuem sucessivos intervalos de valores que variam entre 0-1, 0-2 e 0-3, sendo as reações
apropriadas aquelas que receberam maiores pontuações.
Ao final da avaliação somavam-se os valores dos comportamentos para cada subitem
de cada domínio, no espaço denominado subescore. O resultado dessa soma foi registrado no
último campo do formulário de avaliação. Na folha de rosto, no campo que correspondia à
faixa etária dos lactentes - 4 a 6 meses; 7 a 9 meses; 10 a 12 meses e 13 a 18 meses - a
examinadora marcava um “x” no intervalo que continha a pontuação obtida na avaliação dos
lactentes. Os resultados eram interpretados como normal, de risco e deficiente (ANEXO F).
• Avaliação da função motora oral
A função motora oral foi avaliada através do Schedule for Oral Motor Assessment
(SOMA) 4. Este instrumento foi validado para verificar os comportamentos motores orais
disfuncionais e as dificuldades alimentares em lactentes dos oito aos 24 meses (ANEXO E).
A função motora oral foi avaliada com alimentos nas consistências pastosa,
semissólida e sólida. No formulário de pontos para cada uma destas consistências com seus
respectivos itens, se caracterizam os comportamentos motores das estruturas do complexo
orofacial como normais ou disfuncionais.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
44
A alimentação do lactente se deu com este no colo da examinadora ou do responsável
sendo todas as avaliações filmadas para posterior análise, como orienta o manual da escala.
Em situações de choro ou outros sinais de estresse, os pais ou cuidadores foram solicitados a
alimentar o lactente. Se ainda assim ele continuasse recusando o alimento, a avaliadora
interrompia o exame, pontuando na folha do teste “recusou”.
Todas as avaliações foram realizadas utilizando os alimentos abaixo descritos e para
cada categoria de consistência foram oferecidas três porções.
− Consistência pastosa: purê de frutas indicado para crianças de 6 aos 12 meses,
nos sabores frutas sortidas ou pêra. Foram oferecidos utilizando uma colher
pequena descartável;
− Consistência semissólida: também oferecida na colher, utilizou-se alimento
industrializado próprio para crianças de 8 aos 18 meses de sabores sopa de
carne com arroz e caldo de feijão ou sopa de carne, macarrão e legumes;
− Consistência sólida: os lactentes receberam pequenos pedaços de biscoito, tipo
maisena (sem lactose), colocado em suas mãos ou dentro da sua cavidade oral.
As avaliações foram filmadas numa câmera digital da Marca Sony (DSC – W120) e
gravadas em um DVD para posterior análise das avaliações.
Ao assistir os filmes, de acordo com o desempenho dos lactentes, a avaliadora
fonoaudióloga marcava na folha de pontuação os itens “sim” ou “não” ao lado dos
comportamentos motores orais observados. Os quadrados sombreados nesta folha indicavam
os sinais de risco para as disfunções motoras orais. A soma total dos itens sombreados
marcados resultou no índice de disfunção motora oral. Considerou-se disfunção motora oral
quando estes somatórios se encontravam acima dos pontos de corte estabelecidos no manual,
apresentados nas folhas de pontuação em cada categoria avaliada (quadro 2).
Quadro 2. Descrição número de itens e dos pontos de corte para disfunção motora oral
segundo a SOMA4.
Consistências Número de itens Número de itens do ponto de corte para disfunção
motora oral Pastosa 9 3
Semissólida 8 4
Sólida 22 9
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
45
• Análise do prontuário hospitalar
A idade corrigida dos prematuros foi calculada pela fórmula:
Idade corrigida (semanas) = Idade cronológica (semanas) – 40 - [idade gestacional
(semanas)].
As informações sobre as condições ao nascimento, morbidades neonatais, tempo de
permanência na unidade neonatal e no alojamento conjunto, perfil alimentar no hospital,
intervenção fonoaudiológica durante o internamento e avaliação auditiva foram obtidas
através da análise do prontuário hospitalar e transcritas para formulário próprio (APENDICE A).
• Questionário aplicado aos pais ou responsáveis pelos lactentes
Dados sobre as condições socioeconômicas e demográficas familiares foram coletados
através de uma entrevista com perguntas fechadas e pré-codificadas, aplicadas aos pais ou
cuidadores dos lactentes que acompanhavam os mesmos no dia da coleta de dados.
(APENDICE A)
3.5 Variáveis do estudo
As variáveis do estudo foram classificadas como: de caracterização da amostra e
variáveis de análise. A lista de variáveis está descrita no quadro 3:
Quadro 3. Descrição das variáveis do estudo
Co-variáveis Definição Sexo auto-explicativa
Idade gestacional Verificada pelo Método de Capurro
Idade Idade cronológica em meses para os lactentes nascidos a termo e corrigida para 40 semanas para os pré-termo.
Peso ao nascer Peso no momento do nascimento em gramas.
Hipóxia Resultados do Apgar no 5o minuto < 7
Hemorragia intracraniana Presença de alteração na ultrassonografia transfontanela (graus I,II ou III)
Síndrome do desconforto respiratório
Presença de desconforto respiratório no momento do nascimento ou durante o internamento.
Ventilação mecânica assistida Necessidade de reposição de oxigênio através de um tubo endotraqueal.
Uso de cpap Necessidade de reposição de oxigênio por pressão positiva contínua nasal (CPAP).
Uso de hallo Necessidade de reposição de oxigênio por HALLO.
Gavagem Alimentação através de sonda nasogástrica ou nasoenteral.
Continua
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
46
Co-variáveis Definição
Icterícia Aumento dos níveis de bilirrubina.
Triagem auditiva neonatal Se as crianças se submetam à triagem auditiva neonatal.
Falha na primeira triagem auditiva Primeira triagem auditiva neonatal aterada.
Renda familiar per capita Soma total da renda no mês anterior de todos aqueles membros da família que residem no domicílio, dividida pelo número de seus integrantes.
Idade materna Idade da mãe no momento da avaliação.
Escolaridade materna Nível de escolaridade da mãe no momento da avaliação do lactente.
Paridade Números de filhos
Variáveis Definição Desenvolvimento da Fala
Subteste de comunicação expressiva da Bayley III.
Compreensão da Fala Subteste de comunicação receptiva da Bayley III.
Cognição Subteste de cognição da Bayley III.
Processamento Sensorial Test of Sensory Functions in Infants (TSFI) • Pontuação geral;
• Subitens: − Reação à pressão profunda;
− Função motora adaptativa; − Integração entre o tato e a visão;
− Controle óculo-motor; − Reação à estimulação vestibular.
Função motora oral Consistência dos alimentos:
1. pastosa
Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA)
2. semissólida
3. sólida
Recusa aos alimentos com consistência:
1. pastosa
Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA)
2. semissólida
3. sólida
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
47
3.6 Fluxograma da pesquisa
Ambulatório da Puericultura
Lactentes nascidos a termo Lactentes nascidos pré-termo
Ambulatório do Recém-Nascidos de Risco
Checagem dos prontuários quanto aos critérios de inclusão / exclusão
Formulário 01. Dados e complicações neonatais
Questionário 01. Nível socioeconômico, Prática alimentar atual, hábitos parafuncionais.
Test of Sensory Functions in Infants - TSFI
Bayley Scales of Infant and Toddler Development – Bayley III
Schedule for Oral Motor Assessment - SOMA
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
48
3.7 Banco de dados
Os dados foram armazenados no banco de dados do pacote estatístico Epi Info, versão
6.04. A digitação dos dados foi feita pela pesquisadora principal, com dupla entrada e a
consistência da digitação foi checada pelo programa VALIDATE do Epi Info.
3.8 Análise estatística dos dados
Para a análise estatística foi utilizado o pacote Epi Info, versão 6.04 e o programa
Statistical Package for The Social Sciences (SPSS), versão 12.0. As variáveis contínuas foram
expressas em média e mediana, quando a sua distribuição era assimétrica. Os testes
estatísticos empregados para verificar as diferenças entre as médias e medianas entre os
grupos (pré-termo e a termo) foram os testes t de Student e Kruskal Wallis, respectivamente.
As variáveis categóricas foram expressas por frequência e percentuais e para verificar
associação entre estas, utilizou-se o Teste do Qui-quadrado e Exato de Fisher, quando
indicado. Os resultados foram considerados estatisticamente significantes quando os valores
de p foram inferiores a 0,05. Para verificar os fatores independentes associados ao atraso de
fala, utilizou-se a análise de regressão logística multivariada. As variáveis selecionadas para
ingressar no modelo foram as que apresentaram um valor de p inferior a 0,20.
Controle de qualidade
Para verificar a confiabilidade da avaliação do desenvolvimento cognitivo e do processamento
sensorial utilizaram-se o coeficiente de correlação interclasse (ICC) para a escala de Bayley III e o índice
de Kappa para o TSFI. A concordância entre estes instrumentos foi verificada em aproximadamente
10% da amostra, quando duas avaliadoras examinaram a mesma criança. A escala Bayley III apresentou
o nível de concordância de 0,88 (IC 95% 0,70–0,95; p < 0,001), sendo considerado excelente.
Para a avaliação do processamento sensorial, os resultados do índice de Kappa demonstraram:
TSFI subtestes Kappa** DP* Reação à pressão profunda 0,25 0,15 Função motora adaptativa 0,60 0,19 Integração entre o tato e a visão 0,52 0,23 Controle óculo motor 0,62 0,26 Reação à estimulação vestibular 0,76 0,21 TSFI Total 0,40 0,18
*DP = Desvio Padrão; ** p ≤ 0,05 O índice de Kappa para os cinco subtestes variou de 0,25 a 0,76, sendo de 0,40 o índice para o
TSFI total. O fraco resultado e a variação dos resultados entre os subtestes, mostram a subjetividade
do teste, que depende da interpretação do examinador diante da reação demonstrada pela criança ao
estímulo sensorial aplicado. Apesar desse achado, o resultado geral do teste mostra uma concordância
considerada de regular a boa.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Método
40
4 – RESULTADOS
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
50
ARTIGO ORIGINAL 1
FUNÇÃO MOTORA ORAL E PROCESSAMENTO SENSORIAL EM LACTENTES
NASCIDOS PRÉ-TERMO E A TERMO
RESUMO
Objetivo: avaliar o desempenho das funções motoras orais em lactentes nascidos pré-termo
comparando-os com os a termo e verificar sua associação com o processamento sensorial.
Métodos: estudo descritivo com componente analítico avaliou 242 lactentes (80 nascidos pré-
termo e 162 a termo) com oito a quinze meses de vida (idade cronológica corrigida para os
pré-termos), nascidos no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco e
acompanhados nos Ambulatórios de Puericultura e de Recém-Nascido de Risco, no período
de novembro de 2009 a fevereiro de 2011. A avaliação da função motora oral foi realizada
através da Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA) e do processamento sensorial pelo
Test of Sensory Functions in Infants (TSFI).
Resultados: os lactentes nascidos prematuros quando comparados com os a termo
apresentaram frequência mais elevada de disfunção motora oral para as consistências
semissólida (29,6% vs 15,7%, p=0,04) e sólida (34,2% vs 20,1%, p=0,04). Estas alterações
não apresentaram associação com a disfunção no processamento sensorial. Os
comportamentos de recusa foram mais observados no grupo de lactentes nascidos a termo
quanto aos alimentos nas consistências semissólida (21,6% vs 11,3%, p=0,07) e sólida (8,0%
vs 1,3%, p=0,04), havendo uma associação significante para a disfunção no processamento
sensorial neste grupo (p=0,001; p=0,02).
Conclusão: as alterações na função motora oral presentes nos lactentes pré-termo não se
associaram à disfunção no processamento sensorial. O instrumento utilizado para diagnóstico
desta disfunção pode não ter sido suficientemente sensível para detectar tais alterações.
Palavras-chave: desenvolvimento infantil, sistema estomatognático, prematuro, disfagias,
transtornos das sensações.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
51
Oral-motor function and sensory processing in preterm and full-term infants
ABSTRACT
Objective: the aim of the present study was to assess the development of oral motor functions
in premature infants and compare it to that of full-term infants, as well as to investigate
associations with sensory processing.
Methods: this is an analytical descriptive study that assessed 242 infants (80 premature and
162 full-term) aged between eight and 15 months (chronological age was corrected for
premature infants). All of the children were born in the Hospital das Clínicas of the Federal
University of Pernambuco (UFPE) and cared for in the child care and high-risk newborn
clinics between November 2009 and February 2011. The oral motor assessment was
performed using the Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA) whereas sensory
processing was assessed with the Test of Sensory Functions in Infants (TSFI).
Results: premature infants exhibited a greater frequency of oral motor dysfunction in relation
to semi-solid (29,6% vs 15,7%, p=0,04) and solid (34,2% vs 20,1%, p=0,04) consistencies
than full-term infants. No association was found with sensory processing disorder. The
behavior of refusing food (solid and semi-solid) was more common among full-term infants,
and this group revealed a significant association with sensory processing disorder (p=0,02;
p=0,001).
Conclusion: modifications in oral motor function among premature infants were not
associated with sensory processing disorder. The instrument used to diagnose this disorder
may not have been sufficiently sensitive to detect such modifications.
Keywords: child development, stomatognathic system, premature, dysphagia, disorders of
sensations.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
52
Introdução
O interesse em pesquisar o desenvolvimento do controle motor oral no lactente
nascido pré-termo não é recente. Entretanto, até há pouco tempo, muitos estudos buscavam
evidências que solucionassem os problemas alimentares comuns à prematuridade durante o
período em que os bebês permaneceram hospitalizados, sendo considerados como mais
relevantes as disfunções na sucção e na deglutição e a incoordenação dessas funções com a
respiração 1, 2. De forma geral, estes estudos tiveram como objetivo identificar técnicas mais
eficazes para o restabelecimento das funções de alimentação, buscando a melhor organização
oromotora do neonato para possibilitar a sua alta hospitalar 3, 4,5.
Atualmente, os estudos que avaliam em longo prazo o desenvolvimento de crianças
com passado de prematuridade têm comprovado que mesmo aqueles prematuros que tiveram
comorbidades mais brandas e, no momento da alta hospitalar, encontravam-se estáveis do
ponto de vista clínico e neurológico, necessitam de um acompanhamento especial. Isto é
explicado pelo fato de que, ao final do primeiro ano de vida até aproximadamente os sete
anos eles poderão apresentar, na aquisição do seu repertório funcional, dificuldades no
desenvolvimento do aprendizado motor oral, da linguagem e da interação social 6, 7,8.
Algumas horas após o nascimento, diante da dinâmica das unidades neonatais, já se
observam sinais de alterações no comportamento do recém-nascido pré-termo (RNPT),
podendo variar de irritabilidade a uma total passividade frente aos manuseios 9, 10. O sistema
nervoso central dos bebês nascidos prematuros pode não receber e não processar
adequadamente as informações sensoriais vindas do ambiente externo e do próprio corpo.
Quando as disfunções no processamento sensorial ocorrem, muitas destas sensações deixam
de ser registradas no cérebro, comprometendo o desenvolvimento da percepção necessária
para o uso funcional dos objetos 10, 11,12.
Observa-se que, desde o nascimento, os prematuros possuem dificuldades para o
desenvolvimento de algumas habilidades, as quais são compatíveis com a sua imaturidade.
Estes atrasos são possivelmente decorrentes da imaturidade do sistema nervoso, sendo
também influenciados por situações ambientais adversas. A exposição aos cuidados
intensivos neonatais exige do recém-nascido competências ainda não desenvolvidas, que
interferem no seu processo interacional com o ambiente. Por este motivo podem surgir
comportamentos motores inadequados que causam problemas no seu repertório funcional,
precocemente constatados pelas dificuldades na sucção e deglutição dos alimentos13, 14,15.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
53
Sabe-se que o aprendizado da função motora oral ocorre mediante planejamento,
programação e execução de estratégias que dependem das informações visuais, táteis e
proprioceptivas fornecidas inicialmente pela alimentação, por meio das funções de sucção,
respiração, mastigação e deglutição. Geralmente, os alimentos oferecidos ao lactente, pela sua
diversidade, além de promover a integração de estímulos sensoriais importantes, facilitam o
desenvolvimento biomecânico do complexo orofacial, possibilitando um bom mecanismo de
adaptação motora dos lábios, língua, bochechas, palato mole, osso hioide, mandíbula, dentes,
faringe e laringe16, 17,18.
As respostas adequadas de movimento dessas estruturas orofaciais são desencadeadas
a partir das informações captadas pelos receptores sensoriais localizados na cavidade oral e
face, informações essas que são conduzidas para o sistema nervoso onde serão processadas e
armazenadas. No decorrer do seu desenvolvimento, o lactente irá recorrer a estas informações
sempre que se deparar com experiências semelhantes. Para isso, ele necessitará integrar os
sistemas tátil e proprioceptivo. Desta forma, desenvolverá a capacidade de memorizar
diversas estratégias de planejamento motor oral, além de manter a integridade das estruturas
necessárias para o desempenho de outras funções orais, a exemplo da fala 19, 20,21.
As alterações no desempenho das estruturas orais são frequentes nos lactentes
nascidos pré-termo e possivelmente se associam a problemas no processamento das
informações sensoriais 20, 21,22. Por isso, é possível que as disfunções motoras orais
evidenciadas nestes lactentes tenham uma base sensorial, apesar dos seus sintomas serem
motores 1, 2, 23, 24,25.
Existem na literatura poucos estudos que descrevem os problemas no
desenvolvimento da função motora oral de lactentes nascidos pré-termo a partir do segundo
semestre de vida1, 2. Duas pesquisas que estudaram os fatores associados à recusa aos
alimentos e a disfunção motora oral em prematuros encontraram uma grande frequência
destes problemas 1,2. Entretanto, estes autores não verificaram a associação destas alterações
com outras disfunções, tais como a disfunção no processamento sensorial. Baseado nestes
pressupostos, este estudo teve como objetivo avaliar a função motora oral na população de
lactentes nascidos pré-termo, comparando-a com a de lactentes nascidos a termo, verificando
uma possível associação com o processamento sensorial.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
54
Métodos
• Desenho do estudo, local e amostra
Este é um estudo descritivo com componente analítico, realizado nos Ambulatórios de
Recém-Nascido de Risco e de Puericultura do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). O primeiro admite crianças nascidas na maternidade deste hospital,
que é uma unidade de referência para gravidez de alto risco.
A amostra do estudo foi composta por 242 crianças, 80 lactentes nascidos pré-termo
(idade gestacional <37 semanas), que no momento da coleta estavam com idade cronológica
corrigida entre oito e quinze meses, e um grupo de 162 lactentes nascidos a termo, na mesma
faixa etária.
Os critérios de exclusão foram: lactentes portadores de disfunções motoras, perda
auditiva, visão subnormal, infecções congênitas, malformações múltiplas ou síndromes
genéticas, já que essas morbidades são potenciais fatores de confundimento para os desfechos
estudados. Todos os lactentes nascidos pré-termo registrados no Ambulatório de Recém-
Nascido de Risco durante o período do estudo e que atendessem os critérios de inclusão foram
recrutados. Para a seleção das crianças do grupo controle adotou-se o seguinte critério: após o
recrutamento de cada prematuro as próximas duas crianças nascidas a termo e atendidas no
Ambulatório de Puericultura eram incluídas no estudo.
• Coleta de dados
− Recrutamento dos lactentes
A coleta de dados teve a duração de dezesseis meses e sua equipe foi composta por
uma fonoaudióloga (pesquisadora responsável), duas terapeutas ocupacionais e duas alunas do
Curso de Terapia Ocupacional, bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC). A fonoaudióloga era responsável pela aplicação da escala que avaliou a
função motora oral, Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA), enquanto que o
processamento sensorial avaliado pelo Test of Sensory Functions in Infants (TSFI) foi
realizado por duas terapeutas ocupacionais. As alunas do Curso de Terapia Ocupacional, além
de preencherem os formulários referentes aos dados do nascimento, entrevistavam os pais ou
cuidadores sobre os dados socioeconômicos e demográficos familiares.
− Instrumentos de Coleta
Para todos os lactentes foram realizados os seguintes procedimentos:
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
55
Avaliação da função motora oral
Realizada através do Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA)26, instrumento
validado para verificar os comportamentos motores orais disfuncionais e as dificuldades
alimentares de lactentes de 08 aos 24 meses de vida.
A função motora oral foi avaliada com alimentos de consistências pastosa, semissólida
e sólida. Na folha de pontos para cada uma destas consistências com seus respectivos itens, se
caracterizam como normais ou disfuncionais os comportamentos motores das estruturas do
complexo orofacial. A projeção de língua, excursão exagerada de mandíbula e engasgos são
exemplos destes comportamentos alterados.
A alimentação do lactente se deu com o mesmo sentado no colo da examinadora ou do
responsável, sendo todas as avaliações filmadas para posterior análise, como orienta o manual
da escala. Em situações de choro ou outros sinais de estresse, os pais ou cuidadores foram
solicitados a alimentar o lactente. Se ainda assim ele continuasse recusando o alimento, a
avaliadora interrompia o exame, pontuando na folha do teste “recusou”.
As avaliações foram realizadas utilizando os alimentos abaixo descritos e para todas as
categorias de consistências foram oferecidas três porções.
− Consistência pastosa: purê de frutas indicado para crianças de seis aos doze
meses, nos sabores frutas sortidas ou pêra. Foram oferecidos utilizando uma
colher pequena descartável;
− Consistência semissólida: também oferecida na colher, utilizou-se alimento
industrializado próprio para crianças de oito aos dezoito meses de sabores sopa
de carne com arroz e caldo de feijão ou sopa de carne, macarrão e legumes;
− Consistência sólida: os lactentes receberam pequenos pedaços de biscoito, tipo
maisena (sem lactose), colocado em suas mãos ou dentro da sua cavidade oral.
As avaliações foram filmadas em uma câmera digital da Marca Sony (DSC – W120) e
gravadas em DVD para posterior análise.
Avaliação do processamento sensorial
Para a avaliação do processamento sensorial foi utilizado Test of Sensory Functions in
Infants – TSFI 28. Trata-se de um instrumento que fornece uma medida geral do
processamento sensorial e reatividade de lactentes dos quatro aos dezoito meses de vida. O
teste contém cinco subdomínios: reação à pressão tátil profunda, funções motoras adaptativas,
integração entre o tato e a visão, controle óculo-motor e reação à estimulação vestibular. É
indicado para avaliar o risco de transtornos regulatórios e de disfunções no processamento
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
56
sensorial. Poderá ser utilizado em conjunto com outros instrumentos, com o objetivo de traçar
um perfil do desenvolvimento funcional do lactente.
A realização do teste tem uma duração estimada de 20 minutos e possui 24 itens que
são administrados individualmente, sendo sua sequência elaborada para facilitar a observação
das reações frente à estimulação sensorial. Foram utilizados materiais padronizados
adquiridos juntamente com o manual. Durante o teste, o lactente ficava descalço, sem camisa,
sendo posicionado no colo da mãe ou cuidador, e aqueles que tinham autonomia para sentar
sem apoio, eram colocados em um tablado alcochoado.
No formulário do teste a examinadora registrou os pontos de acordo com o que foi
estabelecido para as reações dos lactentes frente aos estímulos sensoriais. Esses pontos
possuem sucessivos intervalos de valores que variam entre 0-1, 0-2 e 0-3, sendo as reações
apropriadas aquelas que receberam maiores pontuações.
Ao final da avaliação, somavam-se os valores dos comportamentos para cada subitem
de cada domínio, no espaço denominado subescore. O resultado dessa soma foi registrado no
último campo do formulário de avaliação. Na folha de rosto, no campo que correspondia à
faixa etária dos lactentes - 4 a 6 meses; 7 a 9 meses; 10 a 12 meses e 13 a 18 meses - a
examinadora marcava um “x” no intervalo que continha a pontuação obtida na avaliação dos
lactentes. Os resultados eram interpretados como normal, de risco e deficiente.
Análise do prontuário hospitalar
As informações sobre as condições ao nascimento, morbidades neonatais, tempo de
permanência na unidade neonatal e no alojamento conjunto, perfil alimentar no hospital,
intervenção fonoaudiológica durante o internamento e avaliação auditiva foram obtidas
através da análise do prontuário hospitalar e transcritas para formulário próprio.
Questionário aplicado aos pais ou responsáveis pelos lactentes
Dados sobre as condições socioeconômicas e demográficas familiares foram
coletados através de uma entrevista com perguntas fechadas e pré-codificadas aplicadas aos
pais ou cuidadores dos lactentes que acompanhavam os mesmos no dia da coleta de dados.
• Aspectos éticos
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do
Centro de Ciências da Saúde da UFPE (protocolo no 221/09; CAAE no 02170.000.172-09). Os
responsáveis pelos lactentes selecionados foram informados quanto aos objetivos e
procedimentos da pesquisa e, ao concordarem participar da mesma, foram solicitados a
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
57
assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) elaborado de acordo com a
Resolução 196/96.
• Processamento dos dados e análise estatística
Os dados foram armazenados no banco de dados do pacote estatístico Epi Info, versão
6.04. A digitação dos dados foi feita pela pesquisadora principal, com dupla entrada e a
consistência da digitação foi checada pelo programa VALIDATE do Epi Info.
Para a análise estatística foi utilizado o pacote estatístico Epi Info versão 6.04. As
variáveis contínuas foram expressas em média, quando a sua distribuição era assimétrica em
mediana. Os testes estatísticos empregados para verificar as diferenças entre as médias e
medianas dos grupos (pré-termo e a termo) foram os testes t de Student e Kruskal Wallis,
respectivamente. As variáveis categóricas foram expressas por frequência e percentuais e para
verificar associação entre estas, utilizou-se o Teste do Qui-quadrado e Exato de Fisher,
quando indicado. O nível de significância estatística adotado em todos os testes foi de 5%.
Resultados
A caracterização da amostra quanto à idade atual, dados do nascimento, morbidades
neonatais e avaliação auditiva estão apresentados na Tabela 1. No momento da avaliação, para
os lactentes nascidos pré-termo (LNPT) foi calculada a idade gestacional corrigida e
verificou-se que aproximadamente 25% delas tinha a idade gestacional inferior a 31 semanas
e sua maioria não nasceu com muito baixo peso. Mesmo assim, quando comparados com os
lactentes nascidos a termo (LNAT), os pré-termo apresentaram mais morbidades neonatais.
Chama atenção que 60% dos LNPT ainda não havia realizado a triagem auditiva neonatal e
dos 32 avaliados, 75% não passaram na triagem.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
58
Tabela 1. Características biológicas, morbidades neonatais e avaliação auditiva de lactentes
nascidos pré-termo e a termo
Variáveis Pré-Termo (n=80)
A Termo (n=162)
p
Média (DP) Média (DP) Peso ao nascer (g) 1337 (584) 3225 (535) <0,001 Mediana (Q 25; 75) Mediana (Q 25; 75) Idade Gestacional (semanas) 33 (31; 36) 39 (38; 39) <0,001 Idade Atual (meses) 9 (8; 10) 9 (8; 11) 0,24
n % n % Sexo
Masculino 37 (46,3) 86 (53,3) Feminino 43 (53,8) 76 (46,9) 0,38
Hipoxia
Sim 12 (15,0) 12 (7,4) Não 68 (85,0) 150 (92,6) 0,10
Hemorragia intracraniana
Sim 10 (12,5) 02 (1,2) Não 70 (87,5) 160 (98,8) < 0,001
SDR
Sim 65 (81,3) 14 (8,6) Não 15 (18,8) 148 (91,4) <0,001
Gavagem*
Sim 62 (83,8) 07 (4,4) Não 12 (16,2) 152 (95,6) <0,001
Icterícia**
Sim 63 (84,0) 37 (23,1) Não 12 (16,0) 123 (76,9) <0,001
Triagem auditiva neonatal***
Não realizou 48 (60,0) 123 (79,0) Realizou 32 (40,0) 34 (21,0) 0,003
Falha no primeiro exame (n=66)
Sim 08 (25,0) 04 (11,8) Não 24 (75,0) 30 (88,2) 0,28
* 9 casos sem informação; ** 7 casos sem informação; *** 5 casos sem informação
A tabela 2 apresenta dados referentes aos níveis socioeconômicos e demográficos
familiares. Das famílias estudadas, 3/4 encontravam-se abaixo da linha de pobreza (1/2 salário
mínimo per capita), sendo que nem a renda familiar nem as outras variáveis demográficas
diferiram significativamente entre os grupos.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
59
Tabela 2. Características socioeconômica e demográfica familiar de lactentes nascidos pré-
termo e a termo
Variáveis Pré-Termo (n=80)
A Termo (n=162)
p
n % n % Renda familiar per capita (salário mínimo)*
≤ 0,25 25 (31,3) 36 (22,2) 0,26 – 0,50 35 (43,7) 68 (42,0) 0,15 > 0,50 20 (25,0) 58 (35,8)
Idade materna (anos) ≤ 20 12 (15,0) 33 (21,4) 21-29 38 (47,5) 75 (46,3) 0,57 ≥ 30 30 (37,5) 54 (33,3)
Escolaridade materna (incompleta + completa)*
Nível Fundamental 17 (21,2) 41 (25,6) 0,62 Nível Médio 57 (71,3) 104 (65,0) Nível Superior 06 (7,5) 15 (9,4)
Paridade
< 1 41 (51,3) 102 (63,0) 0,10 ≥ 2 39 (48,7) 60 (37,0)
* 2 casos sem informação
Na tabela 3 observa-se que o grupo de LNPT apresentou uma frequência
significantemente maior de disfunção motora oral para os alimentos com consistências
semissólida e sólida em relação ao grupo de comparação. Entretanto, os LNAT apresentaram
mais comportamentos de recusa para todas as consistências, sendo esses resultados
estatisticamente significantes para os alimentos pastosos e sólidos.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
60
Tabela 3. Função motora oral avaliada pelo Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA) e
recusa à alimentação em lactentes nascidos pré-termo e a termo.
Função Motora Oral
Pré-Termo A Termo p
Tipo de Aleitamento n % n % Pastoso
Disfuncional 48 (67,6) 75 (60,5) 0,40 Normal 23 (32,4) 49 (39,5)
Semissólido Disfuncional 21 (29,6) 20 (15,7) 0,04 Normal 50 (70,4) 107 (84,3)
Sólido Disfuncional 27 (34,2) 30 (20,1) 0,04 Normal 52 (65,8) 119 (79,9)
Recusa ao alimento Pastoso
Sim 09 (11,3) 38 (23,5) 0,04 Não 71 (88,8) 124 (76,5)
Semissólido Sim Não 09 (11,3) 35 (21,6) 0,07 71 (88,8) 127 (78,4)
Sólido Sim 01 (1,3) 13 (8,0) 0,04* Não 79 (98,7) 149 (92,0)
* Teste exato de Fisher
A tabela 4 descreve os resultados da avaliação do processamento sensorial,
demonstrando que não houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
61
Tabela 4. Processamento sensorial avaliado pelo Test of Sensory Functions in Infants (TSFI)
em lactentes nascidos pré-termo e a termo
Pré-Termo
(n=80) A Termo (n=162)
p Processamento Sensorial
Normal Em risco/ Deficiente
Normal Em risco/ Deficiente
n (%) n (%) n (%) n (%) p
Pontuação Geral 53 (66,2) 27 (33,8) 114 (70,4) 48 (29,6) 0,61
Subitens Reação ao toque profundo
60 (75,0) 20 (25,0) 119 (73,5) 43 (26,5) 0,92
Função motora adaptativa
57 (71,2) 23 (28,0) 115 (71,0) 47 (29,0) 0,91
Integração entre o tato e a visão
55
(68,8)
25
(31,2)
107
(66,0)
55
(34,0)
0,78
Controle óculo-motor 75 (93,8) 05 (6,2) 157 (96,9) 05 (3,1) 0,30*
Reação à estimulação vestibular
68
(85,0)
12
(15,0)
127
(78,4)
35
(21,6)
0,29*
* Teste exato de Fisher
A tabela 5 descreve a associação entre as crianças com disfunção motora oral e com
comportamentos de recusa a alimentos avaliados pelo SOMA, com o processamento
sensorial, segundo a idade gestacional. Foi observado que os lactentes nascidos pré-termo
com disfunção motora oral na consistência semissólida, demonstraram ter mais alterações no
processamento sensorial, no entanto, essa diferença não foi significante. Em contrapartida, os
lactentes nascidos a termo com alteração no processamento sensorial apresentaram
significantemente maior recusa aos alimentos de consistência semissólida e sólida.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
62
Tabela 5. Associação entre disfunção motora oral e o comportamento de recusa com o
processamento sensorial, para os grupos de lactentes nascidos pré-termo e a termo
LACTENTES NASCIDOS PRÉ-TERMO (n=80)
Disfunção motora oral / categorias
Pastosa n = 48
Semissólida n = 21
Sólida n = 27
Processamento Sensorial n % p n % p n % p Em risco/Deficiente 14 (63,6) 12 (24,5) 08 (29,6) Normal 34 (69,4) 0,84 09 (40,9) 0,26 19 (36,5) 0,71
Comportamentos de recusa/categorias
Pastosa n = 09
Semissólida n = 09
Sólida n = 01
Processamento Sensorial n % p n % p n % p Em risco/Deficiente 5 (18,5) 5 (18,5) 1 (1,9) Normal 4 (7,5) 0,15* 4 (7,5) 0,15* 0 0 1,0*
LACTENTES NASCIDOS A TERMO (n=162)
Disfunção motora oral / categorias
Pastosa n = 75
Semissólida n = 20
Sólida n = 30
Processamento Sensorial n % p n % p n % p Em risco/Deficiente 25 (73,5) 6 (20,0) 22 (20,2) Normal 50 (55,6) 0,10* 14 (14,4) 0,56* 8 (20,0) 0,84
Comportamentos de recusa/categorias
Pastosa n = 38
Semissólida n = 35
Sólida n = 13
Processamento Sensorial n % p n % p n % p Em risco/Deficiente 14 (29,2) 18 (37,5) 8 (16,7) Normal 24 (21,1) 0,36 17 (14,9) 0,001 5 (4,4) 0,02*
* Teste exato de Fisher
Discussão
Neste estudo avaliou-se a função motora oral de LNPT e seus resultados foram
comparados com a população de LNAT, associando este desfecho com o processamento
sensorial. É importante observar que a população de LNPT estudada não apresentou idade
gestacional e peso muito reduzidos, demonstrando ser um grupo de menor risco para
alterações neurológicas. Porém, assim como verificaram Dodrill 1 e Bruswell 2 em suas
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
63
pesquisas, os LNPT deste estudo também apresentaram uma frequência mais elevada de
hipóxia, hemorragia intracraniana e icterícia, e se submeteram mais à alimentação por sonda
durante a fase de hospitalização, comparando com os LNAT.
No momento da avaliação, os LNPT apresentavam mais disfunções motoras orais para
as consistências semissólida e sólida do que os LNAT. Estudos com resultados semelhantes
discutem que os problemas encontrados na sincronia e coordenação das estruturas do sistema
sensório-motor oral, que alteram a deglutição, continuam sendo frequentes mesmo após a alta
hospitalar 2, 11, 12, 17,25.
Segundo Barlow7, por terem sido submetidos à alimentação por meio de gavagem, os
LNPT apresentam mais frequentemente lesões na mucosa da base da língua, nas paredes da
faringe e no esôfago distal. Estas lesões poderão alterar os movimentos sequenciados das
estruturas orofaciais durante a mastigação, amassamento e deglutição dos alimentos de
consistência semissólida e sólida 3, 6, 7, 29,30.
Chama atenção que, mesmo apresentando estas dificuldades motoras, grande parte
destes bebês aceitou ingerir estes alimentos durante a avaliação, diferente dos LNAT que
tiveram uma frequência maior de comportamento de recusa. O estudo de Davies e Tucker31
discute que, em fase precoce, os prematuros podem ser bastante hiporreativos e só com o
passar do tempo, alguns evoluem para comportamentos de recusa aos estímulos sensoriais,
demonstrando posteriormente mais claramente os sintomas de transtornos no processamento
sensorial.
De fato, os LNPT e os LNAT parecem ter problemas na função motora oral, entretanto
as formas de manifestação dessa disfunção são diferentes. O LNAT, por ter uma forma
distinta de processamento sensorial, recusa o estímulo, enquanto o prematuro parece não
apresentar esta capacidade de recusa, mostrando sua disfunção com sintomas mais motores, a
exemplo da protusão de língua, instabilidade da mandíbula, sialorreia e engasgos,
evidenciados na SOMA 17,18.
A recusa aos alimentos é um comportamento mais preocupante para pais e pediatras
do que a passividade e a disfunção do prematuro. Muitas vezes, os sinais de alteração do
comportamento motor oral da criança com passado de prematuridade são mais sutis e não
valorizados, fazendo com que eles não sejam encaminhados para intervenção
fonoaudiológica após a alta hospitalar, contribuindo para a instalação de problemas neste
domínio funcional 1,2.
Neste estudo constatou-se que a disfunção motora oral não se associou à disfunção no
processamento sensorial. As bases de dados disponibilizam poucas pesquisas que
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
64
conseguiram comprovar a associação do processamento sensorial com outras dificuldades no
desenvolvimento neuropsicomotor. Cavalcanti31 estudou o processamento sensorial de
lactentes nascidos pré-termo e a termo, utilizando como instrumento de avaliação o TSFI e,
assim como Magalhães et al32 constataram que esse instrumento pode não ser preciso para
diagnosticar esta disfunção em todo lactente.
A avaliação precoce dos lactentes com risco no desenvolvimento, mediante a
aplicação de instrumentos padronizados, é uma importante ferramenta de apoio ao diagnóstico
clínico, embora estes não sejam suficientes diante de duas limitações, ou seja, a compreensão
de comportamentos frequentemente observados na clínica são ainda pouco examinados e
avaliados pelos testes de processamento sensorial em uso; e existem dificuldades quanto aos
critérios de avaliação (padronização) que precisam considerar os aspectos biopsicossociais da
população investigada13.
Essas limitações parecem pertinentes e podem se aplicar aos resultados encontrados
neste estudo, pois normalmente, espera-se diagnosticar a disfunção motora oral por
intermédio de comportamentos motores orais que demonstrem hiperresponsividade tais como,
excursão exagerada de mandíbula, reflexo de vômito e tosse17, 18. Por outro lado, problemas
disfuncionais também ocorrem devido à lentidão ou ausência de respostas a estímulos, e na
prática clínica, considera-se que esses são os mais graves, uma vez que são assintomáticos e
com o passar do tempo, causam grandes prejuízos à saúde geral destas crianças 1, 7, 17,18.
Pelo exposto considera-se importante a detecção precoce de problemas no
processamento sensorial nos lactentes com passado de prematuridade, pois caso tais
transtornos permaneçam, estes lactentes poderão não evoluir adequadamente na aceitação
progressiva das consistências dos alimentos, ou seja, a partir do sexto mês de vida passar a
ingerir alimentos de consistência semissólida e sólida. Sem a ajuda especializada, suas mães
provavelmente optarão por oferecer alimentos liquidificados, aumentando os riscos de
prejuízos progressivos na evolução da mastigação, respiração, deglutição e fonoarticulação.
Conclusão
Neste estudo, verificou-se que os lactentes nascidos pré-termo apresentaram uma
frequência mais elevada de disfunção motora oral, a qual não se associou à disfunção no
processamento sensorial, como ocorreu com os lactentes nascidos a termo, que
frequentemente recusaram os alimentos durante a avaliação da função motora oral.
Em virtude de não terem sido verificadas alterações no processamento sensorial
associadas a problemas motores, pôde-se concluir que possivelmente o instrumento utilizado
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
65
não é sensível o suficiente para identificar este tipo de sintomas, os quais são frequentes nesta
população de prematuros.
Referências
1. Dodrill P, McMahon S, Ward E et al. Long-term oral sensitivity and feeding skills of low-
risk pre-term infants. Early Human Development. 2004;76:23-37.
2. Buswell PL, Emblenton N, Drinnan M J. Oral-motor dysfunction at 10 months corrected
gestational age in infants born less than 37 weeks preterm. Dysphagia. 2009;24:20-25.
3. Hwang YS, Lin CH, Coster WJ, Bigsby R, Vergara E. Effectiveness of cheek and jaw
support to improve feeding performance of preterm infants. The American Journal of
Occupational Therapy.2010;64(6):886-894.
4. Thoyre SM, Shaker CS. The early feeding skills assessment for preterm infants. Neonatal
Netw.2005;24(3):7-16.
5. Bauer MA, Yamamoto RCC, Weinmann ARM, Keske-Soares M. Avaliação da
estimulação sensório motora oral na transição da alimentação enteral para a via oral plena
em recém-nascidos pré-termo. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil.
2009;9(4):429-424.
6. Pridham K, Steward D, Thoyre S, Brown R, Brown L. Feeding skill performance in
premature infants during the first year. Early Human Development. 2007;83(5):293-305.
7. Barlow SM. Oral and respiratory control of preterm feeding. Current Opinion in
Otolaryngology & Head and Neck Surgery. 2009;17(3):179-186.
8. Hawdon JM, Beauregard N, Kennedy G. Identification of neonates at risck of developing
feeding problems in infancy. Developmental Medicine & Child Neurology. 2000;42:235-239.
9. Inder TE, Warfield SK, Wang, H, Hüppi PS, Volpe JJ. Abnormal cerebral structure is
present at term in premature infants. Pediatrics. 2005;115(2):286-294.
10. Vandenberg KA. Individualized developmental care for high risk newborns in the NICU:
A practice guideline. Early Human Development. 2007;83:433-442.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
66
11. Waugh J, Loughran J, Carr V. The pathway of neuro-behavioural and sensory
development in premature infants: A guide for parents. Journal of Neonatal Nursing.
2008;14:129-130.
12. Cooper BM, Ratcliffe S. Development of preterm infants. Feeding behaviors and Brazelton
Neonatal Behavioral Assessment Scale at 40 and 44 weeks postconceptional age. Advances in
Nursing Science. 2005;4:356-363.
13. Habib ES, Magalhães LC. Criação de um questionário para detecção de comportamentos atípicos
no bebê. Revista Brasileira de Fisioterapia. 2007;11(3):177-183.
14. Schaaf RC, Davies, PL. Evolution of the sensory integration frame of reference. The American
Journal of Occupational Therapy. 2010;64(3):363-365.
15. De Gangi G. Pediatric disorders of regulation in affect and behavior. A therapist’s guide to
assessment and treatment. San Diego: Academic Press; 2000.371p.
16. Castro AG, Lima M, Aquino RR, Eickmann SH. Desenvolvimento do sistema sensório motor oral
e motor global em lactentes nascidos pré-termo. Pró-Fono Revista de Atualização Científica.
2007;19(1):29-38.
17. Petersen MC, Rogers B. Introduction: feeding and swallowing and developmental disabilities.
Developmental Disabilities Research Reviews. 2008;14(2):75-76.
18. Morris SE, Klein MD. Pré-feeding skills: a comprehensive resource for mealtime development.
San Antonio: Therapy Skill Builders, 2000.798p.
19. Duff VB. Variation in oral sensation. Current Opinion in Gastroenterology. 2007;23:171-177.
20. Levy Y, Levy A, Zangen T et al. Diagnostic clues for identification of nonorganic vs organic
causes of food refusal and poor feeding. Journal of Pediatric Gastroenterology and
Nutrition.2009;48:355-362.
21. Beauchamp GK, Mennella JA. Early flavor learning and its impact on later feeding behavior.
Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition. 2009;48:25-30.
22. Dunn W. The impact of sensory processing abilities on the daily lives of young children and
families: a conceptual model. Infants & Young Children. 1997;91(4):23-25.
BORGES, A. G. C. Função motora oral e processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 1
67
23. Graven SN, N, Browne JV. Sensory development in the fetus, neonate, and infant: introduction and
overview. Newborn & Infant Nursing Reviews. 2008;8(4):169-172.
24. Arvedson JC. Assessment of pediatric dysphagia and feeding disorders: clinical and instrumental
approaches. Developmental Disabilities Research Reviews. 2008;14:118–127.
25. Levine A, Bachar L, Tsangen Z et al. Screening criteria for diagnosis of infantile feeding disorders
as a cause of poor feeding or food refusal. Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition.
2011;52(5):563-568.
26. Reilly S, Skuse D, Wolke D. The schedule for oral motor assessment. Administration Manual.
London: Whurr Publishers, 2000.22p
27. De Gangi GA, Geenspan S. Test of sensory functions in infants. Los Angeles: Western
Psychological Services, 1989.
28. Freitas M, Kernkraut AM, Guerreiro SMA et al. Follow-up of premature children with risk for
growth and development delay: a multiprofessional assessment. Einstein. 2010;8(2 pt 1):180-188.
29. Telles MS, Macedo CS. Relação entre desenvolvimento motor corporal e aquisição de habilidades
orais. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008;20(2):1-6.
30. Davies PL, Tucker R. Evidence review to investigate the support for subtypes of children with
difficulty processing and integrating sensory information. The American Journal of Occupational
Therapy. 2010;64(3):391-402.
31. Cavalcanti FRR. Processamento sensorial e desenvolvimento cognitivo de lactentes. (dissertação
de mestrado). Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2011.
32. Magalhães LC, Fonseca KL, Lins LDTB, Dornelas LT. Desenvolvimento de crianças pré-termo
de muito baixo peso e de extremo baixo peso segundo o teste Denver II. Revista Brasileira de
Saúde Materno Infantil. 2011;11(4):445-453.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
68
ARTIGO ORIGINAL 2
FATORES ASSOCIADOS AO DESENVOLVIMENTO DA FALA EM LACTENTES
NASCIDOS PRÉ-TERMO E A TERMO
RESUMO
Objetivo: verificar a influência da prematuridade sobre o desenvolvimento da fala e de outros
fatores biológicos e ambientais.
Métodos: estudo descritivo com componente analítico que avaliou a comunicação expressiva
de 80 lactentes nascidos pré-termo e 162 nascidos a termo, dos oito aos quinze meses (idade
cronológica corrigida). As variáveis estudadas consistiram de: morbidades neonatais, fatores
demográficos maternos, comunicação receptiva, cognição, função motora oral e
processamento sensorial. Os instrumentos utilizados foram: Bayley Scales of Infant and
Toddler Development (Bayley III), Test of Sensory Functions in Infants (TSFI) e o Schedule
for Oral Motor Assessment (SOMA).
Resultados: a idade gestacional não esteve associada ao desenvolvimento da fala
(comunicação expressiva). Entretanto, os lactentes nascidos pré-termo apresentaram uma
frequência mais elevada de disfunção motora oral nas consistências semissólida (29,6% vs
15,7%, p=0,04) e sólida (34,2% x 20,1%, p=0,04). Por outro lado, eles obtiveram melhor
desempenho na avaliação da comunicação receptiva quando comparados aos nascidos a termo
(média = 14,82 vs 13,84, p=0,04). As variáveis que apresentaram uma chance
significantemente maior de se associarem ao atraso no desenvolvimento da fala foram
presença de hipóxia neonatal (p=0,03), atraso na comunicação receptiva (p<0,001) e na
cognição (p=0,03) e filhos de mães com paridade maior ou igual a dois filhos (p=0,03).
Conclusão: lactentes nascidos pré-termo tiveram, em média, o mesmo desempenho de fala
dos lactentes nascidos a termo, parecendo estar em desvantagem apenas os com idade
gestacional inferior a 32 semanas. Recomenda-se que o desenvolvimento da fala, seus
componentes e seus determinantes sejam investigados em outros estudos empíricos, que
possam observar de forma sistemática e longitudinal lactentes até idades mais avançadas.
Palavras-chave: desenvolvimento infantil, desenvolvimento da linguagem, prematuro,
lactente.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
69
Determinants of speech development in preterm and full-term infants
ABSTRACT
Objective: the aim of the present study was to investigate the influence of prematurity on
speech development as well as the influence of biological and environmental factors.
Methods: this is a descriptive analytical study that assessed the expressive communication
ability of 80 premature and 162 full-term infants aged between eight and 15 months
(chronological age corrected). The variables studied were as follows: neonatal morbidities;
maternal demographic factors; receptive communication; cognition; oral motor function and
sensory processing. The instruments used were as follows: Bayley Scales for Infant and
Toddler Development (Bayley III), Test of Sensory Functions in Infants (TSFI) and the
Schedule for Oral Motor Assessment (SOMA).
Results: gestational age was not associated with speech development (expressive
communication). However, premature infants exhibited a greater frequency of oral motor
dysfunction in relation to semi-solid (29,6% vs 15,7%, p=0,04) and solid (34,2% vs 20,1%,
p=0,04) consistencies. Premature infants performed better than full-term infants in the
receptive communication assessment (mean 14,82 vs 13,84, p=0,04). The variables that were
associated with speech delay were as follows: hypoxia during the neonatal period (p=0,03);
delay in receptive communication and cognition (p=0,03); children of mothers with a parity
greater than or equal to two children (p=0,03).
Conclusion: premature infants, on average, exhibited similar speech development to full-term
infants. It seems to only create a disadvantage when the gestational age is lower than 32
weeks. Further empirical studies of speech development and its components and determinants
are recommended, focusing on a systematic and longitudinal investigation of infants at more
advanced ages.
Keywords: child development, language development, premature, infant.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
70
Introdução
A fala é considerada uma das habilidades mais complexas a ser adquirida durante a
infância. Embora a criança possua uma capacidade inata de compreender e produzir a
comunicação verbal serão necessários alguns anos para a aquisição de todos os aspectos que
a compõem - pragmáticos, linguísticos e de percepção do movimento1. De uma forma geral,
a evolução da fala ocorre desde o momento em que o lactente adquire a capacidade de
controlar os movimentos dos órgãos responsáveis pela articulação dos fonemas (mandíbula,
língua, lábios e bochechas) e registrar as sensações sonoras, visuais, táteis e proprioceptivas
obtidas através do contato estabelecido entre essas estruturas 2,3.
O primeiro ano de vida consiste em uma etapa de aquisição de várias habilidades que
interagem entre si e são dependentes das características biológicas da criança e da qualidade
da estimulação do seu ambiente4. Nesse período, a criança deverá vivenciar experiências
ricas em informações sonoras, visuais, táteis, olfativas, gustativas e de movimento. Quando
essas experiências são registradas como agradáveis, o bebê sentirá prazer em repeti-las e o
somatório destas distintas vivências será a base do seu aprendizado funcional. Possivelmente,
o desenvolvimento da cognição, da motricidade ampla e fina e da fala está relacionado à
forma como o lactente processa e integra os estímulos sensoriais vindos do ambiente5.
Portanto, assim como outras habilidades, a fala é um processo sensório-motor e seu
aprendizado inclui a preparação e o planejamento dos movimentos das estruturas orofaciais
também pertencentes aos sistemas digestório e respiratório. Neste contexto, ela é considerada
uma função estomatognática, assim como a sucção, a mastigação, a respiração e a deglutição 3, 5. O trabalho das estruturas orofaciais inicia-se em fase precoce, por intermédio das funções
de alimentação. Os diversos alimentos oferecidos ao lactente promovem a integração de
estímulos sensoriais importantes e, por isso, facilitam o desenvolvimento biomecânico dos
lábios, língua, bochechas, palato mole, osso hioide, mandíbula, dentes, faringe e laringe 3, 6.
Muitas circunstâncias biológicas podem atrasar a evolução das primeiras emissões na
criança, mas atualmente, consideram-se como as mais prevalentes a prematuridade e o baixo
peso ao nascer 7,8, 9,10. Verifica-se que, quando comparados com os lactentes nascidos a termo,
alguns prematuros perduram por mais tempo no período de vocalização ou apresentam uma
lentidão na fase de transição entre o balbucio e as primeiras palavras. Estas características têm
preocupado os profissionais que se dedicam a estudar esta população, pois os atrasos no
desenvolvimento da fala podem interferir negativamente no processo de aprendizagem
acadêmica dessas crianças 10, 11, 12.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
71
Após o nascimento, verifica-se que os recém-nascidos prematuros apresentam
dificuldades próprias da sua imaturidade, fazendo com que estes bebês sejam inevitavelmente
expostos a procedimentos realizados durante a fase de hospitalização, que são invasivos, mas
que garantirão a sua sobrevida 8,10,13,14. Também em decorrência desta imaturidade,
precocemente se podem observar dificuldades na interação, no controle postural e no
desempenho das funções motoras orais. Alguns autores entendem estes comportamentos
como respostas adaptativas inadequadas, decorrentes de uma imaturidade do cérebro em
receber e organizar as sensações vindas do ambiente e do próprio corpo. 15,16, 17, 18, 19,20.
Esses problemas, apesar de parecer ter base biológica, podem se agravar em um
ambiente desfavorável. Devido à presença das disfunções motoras orais, estes bebês podem
apresentar várias intercorrências durante a alimentação, que fazem com que suas famílias não
consigam progredir com mudanças nas consistências dos alimentos, 13, 17,18. A falta de
intervenção adequada faz com que eles permaneçam com padrões de movimento
inadequados, os quais poderão comprometer as estruturas do complexo orofacial
responsáveis pela articulação da fala 11, 13, 19,20.
Considerando que o primeiro ano de vida é um período crítico da plasticidade cerebral
e visando que situações de risco sejam modificadas, é de grande importância que o
acompanhamento do desenvolvimento dessas crianças seja realizado periodicamente após a
alta hospitalar. O atraso na fala, quando acomete os lactentes com passado de prematuridade,
pode estar associado aos problemas maturacionais, a exemplo da disfunção motora oral, sendo
agravados pelas dificuldades do ambiente em lidar com tal imaturidade. Neste sentido, este
trabalho teve como objetivo avaliar o desenvolvimento da fala durante o primeiro ano de vida
de lactentes nascidos pré-termo, comparando-o com os a termo, e verificar outros fatores
biológicos e ambientais associados ao seu atraso.
Métodos
• Desenho do estudo, local e amostra
Este estudo descritivo com componente analítico foi realizado nos Ambulatórios de
Recém-Nascido de Risco e de Puericultura do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). O primeiro admite crianças nascidas na maternidade deste hospital,
que é uma unidade de referência para gravidez de alto risco.
A amostra do estudo foi composta por 242 crianças, 80 lactentes nascidos pré-termo
(idade gestacional <37 semanas), que no momento da coleta estavam com idade cronológica
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
72
corrigida entre oito e quinze meses, e um grupo de 162 lactentes nascidos a termo, na mesma
faixa etária.
Os critérios de exclusão foram: lactentes portadores de disfunções motoras, perda
auditiva, visão subnormal, infecções congênitas, malformações múltiplas ou síndromes
genéticas, já que essas morbidades são potenciais fatores de confundimento para os desfechos
estudados. Todos os lactentes nascidos pré-termo registrados no Ambulatório de Recém-
Nascido de Risco durante o período do estudo e que atendessem os critérios de inclusão foram
recrutados. Para a seleção das crianças do grupo controle adotou-se o seguinte critério: após o
recrutamento de cada prematuro as próximas duas crianças nascidas a termo e atendidas no
Ambulatório de Puericultura eram incluídas no estudo.
• Estimativa do tamanho amostral
Para a definição do tamanho da amostra utilizou-se o programa Statcalc do Epi Info
versão 6.04. Este cálculo baseou-se no estudo de Cachapuz e Halpern4 e assumiu uma
frequência de atraso no desenvolvimento da fala entre os lactentes nascidos pré-termo de 25%
e de 10% nos nascidos a termo. Adotando-se um nível de confiança de 95%, poder de estudo
de 80% e uma razão exposto/não exposto de 1:2, estimou-se um tamanho amostral de 240
lactentes, sendo 80 nascidos pré-termo e 160 nascidos a termo.
• Coleta de dados
As avaliações foram realizadas durante dezesseis meses, no Setor de Fonoaudiologia
do HC-UFPE. Inicialmente foi realizado um estudo piloto com dez lactentes, tendo como
finalidade testar os formulários da pesquisa e padronizar as avaliações.
− Recrutamento dos lactentes
No dia anterior à consulta médica rotineira previamente agendada, os prontuários dos
lactentes eram analisados pela pesquisadora principal e caso os bebês preenchessem os
critérios de inclusão, os pais ou responsáveis eram contatados por telefone sendo convidados
a participar da pesquisa. Então, as avaliações eram agendadas de acordo com o horário das
consultas nos referidos ambulatórios.
A equipe foi composta pela pesquisadora principal (fonoaudióloga), duas terapeutas
ocupacionais e duas alunas do Curso de Terapia Ocupacional, bolsistas do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do CNPq. A fonoaudióloga era
responsável pela aplicação da escala de função motora oral Schedule for Oral Motor
Assessment (SOMA), e os subtestes de comunicação expressiva e receptiva da Bayley Scales
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
73
of Infant and Toddler Development – 3aEdition (Bayley III), enquanto que o processamento
sensorial avaliado através do Test of Sensory Functions in Infants (TSFI) foi realizado por
duas terapeutas ocupacionais. A aplicação da escala de cognição da Bayley III ficou sob a
responsabilidade da fonoaudióloga e das duas terapeutas ocupacionais. As alunas do Curso de
Terapia Ocupacional além de preencherem os formulários referentes aos dados do
nascimento, questionavam os pais ou cuidadores quanto aos dados socioeconômicos e
demográficos familiares.
− Instrumentos de Coleta
Para todos os lactentes foram realizados os seguintes procedimentos:
Avaliação do desenvolvimento da fala
O desenvolvimento da fala foi avaliado através do subteste de comunicação expressiva
da Escala de Linguagem da Bayley III21. Este subteste consta de 48 itens (anexo 2) e é
iniciado no item correspondente à faixa etária do lactente avaliado, porém se este errar algum
dos três primeiros itens, retorna-se para o item correspondente à idade anterior. A avaliação
era encerrada quando a criança cometia cinco erros consecutivos, como explicitado no
manual. A aplicação do subteste foi individual, utilizando o material padronizado original.
Para obtenção dos resultados do subteste de comunicação expressiva da Bayley III21,
somavam-se os acertos da criança obtendo-se o escore bruto. Este escore foi transformado em
escore balanceado, verificado a partir das tabelas de conversão normativa para a faixa etária
da criança. Como o valor normativo do teste possui uma média de 10 e desvio padrão de 3, o
desenvolvimento do aprendizado da fala foi considerado adequado quando os resultados dos
escores balanceados variavam entre 7 e 13 pontos.
Avaliação da compreensão da fala
A avaliação da compreensão da fala foi realizada através do subteste de comunicação
receptiva da Bayley III21. Este é composto por 49 itens e os procedimentos para utilização e
pontuação seguem as mesmas diretrizes do subteste de comunicação expressiva.
Avaliação do desenvolvimento cognitivo
O desenvolvimento cognitivo foi avaliado através da Escala de Cognição da Bayley
III21, que consta de 91 itens. O início da avaliação assim como o seu término, segue a mesma
norma dos subtestes de linguagem.
Para a interpretação dos resultados, o total de pontos (escore bruto) obtido pela criança
foi convertido em um escore balanceado para as faixas etárias. Os escores balanceados foram
posteriormente convertidos em escore composto, que tem média de 100 pontos e desvio
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
74
padrão de 15 pontos, sendo o desenvolvimento cognitivo considerado normal quando os
resultados do escore composto variarem entre 85 e 115 pontos.
A avaliação da confiabilidade dessa escala foi verificada em aproximadamente 10%
das crianças com o objetivo de verificar a sua reprodutibilidade desta escala. O coeficiente de
correlação intraclasse (ICC) resultou em um nível de concordância de 0,88 (IC 95% 0,70–0,95; p
< 0,001), demonstrando a excelente reprodutibilidade do teste.
Avaliação do processamento sensorial
Para a avaliação do processamento sensorial foi utilizado Test of Sensory Functions in
Infants – TSFI22. Trata-se de um instrumento que fornece uma medida geral do processamento
sensorial e reatividade de lactentes dos quatro aos dezoito meses. O teste contém cinco
subdomínios: reação à pressão tátil profunda, funções motoras adaptativas, integração entre o
tato e a visão, controle óculo-motor e reação à estimulação vestibular. É indicado para avaliar
o risco de transtornos regulatórios e de disfunções no processamento sensorial. Poderá ser
utilizado em conjunto com outros instrumentos, com o objetivo de traçar um perfil do
desenvolvimento funcional do lactente.
Avaliação da função motora oral
Realizada utilizando o Schedule for Oral Motor Assessment-2aEdition (SOMA)23,
instrumento validado para verificar os comportamentos motores orais disfuncionais e as
dificuldades alimentares em lactentes de 08 aos 24 meses.
A função motora oral foi avaliada com alimentos de consistências pastosa, semissólida
e sólida. Na folha de pontos para cada uma destas consistências com seus respectivos itens, se
caracterizaram os comportamentos motores das estruturas do complexo orofacial como
normais ou disfuncionais.
A alimentação do lactente se deu no colo da examinadora ou do responsável e todas as
avaliações foram filmadas para posterior análise, como orienta o manual da escala. Em
situações de choro ou outros sinais de estresse, os pais ou cuidadores foram solicitados a
alimentar o lactente. Se ainda assim ele continuasse recusando o alimento, a avaliadora
interrompia o exame, pontuando na folha do teste “recusou”.
As avaliações foram filmadas em uma câmera digital da Marca Sony (DSC – W120) e
gravadas em DVD para posterior análise dos resultados.
Análise do prontuário hospitalar
As informações sobre as condições ao nascimento, as morbidades neonatais, tempo
de permanência na unidade neonatal e no alojamento conjunto, perfil alimentar no hospital e
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
75
intervenção fonoaudiológica na unidade neonatal foram obtidas mediante análise do
prontuário hospitalar e transcritas em formulário próprio.
Questionário aplicado aos pais ou responsáveis pelos lactentes
Dados sobre as condições socioeconômicas e demográficas familiares foram
coletados através de uma entrevista com perguntas fechadas e pré-codificadas aplicadas aos
pais ou cuidadores dos lactentes que acompanhavam os mesmos no dia da coleta de dados.
• Aspectos éticos
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de ética em Pesquisa em Seres Humanos do
Centro de Ciências da Saúde da UFPE (protocolo no 221/09; CAAE no 02170.000.172-09). Os
responsáveis pelos lactentes selecionados foram informados quanto aos objetivos e
procedimentos da pesquisa e, ao concordarem em participar foram solicitados a assinar o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), elaborado de acordo com a Resolução
196/96. • Análise Estatística
Para a análise estatística foi utilizado o pacote Epi Info, versão 6.04 e o programa
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 12.0. As variáveis contínuas foram
expressas em média e mediana e para verificar as diferenças entre os grupos (pré-termo e a
termo) utilizaram-se os Testes t de Student e Kruskal Wallis, respectivamente. As variáveis
categóricas foram expressas por frequência e percentuais e para verificar associação entre as
mesmas foram aplicados o Teste Qui-quadrado e o Teste Exato de Fisher, quando indicado.
Os resultados foram considerados estatisticamente significantes quando os valores de p foram
inferiores a 0,05. Para verificar o efeito independente dos fatores associados aos atrasos de
fala, utilizou-se a análise de regressão logística multivariada. As variáveis selecionadas para
ingressar no modelo foram as que apresentaram um valor de p inferior a 0,20.
Resultados
A caracterização da amostra quanto à idade atual, dados do nascimento, morbidades neonatais e
avaliação auditiva estão apresentados na Tabela 1. No momento da avaliação, para os lactentes nascidos
pré-termo (LNPT) foi calculada a idade cronológica corrigida e verificou-se que aproximadamente 25%
dos lactentes tinha ao nascer idade gestacional inferior a 31 semanas e sua maioria não nasceu de muito
baixo peso. Mesmo assim, quando comparados com os lactentes nascidos a termo (LNAT), os pré-
termo apresentaram mais morbidades neonatais. Chama atenção que 60% dos LNPT ainda não havia
realizado a triagem auditiva neonatal e dos 32 avaliados, 75% não passaram na primeira triagem.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
76
Tabela 1. Características biológicas, morbidades neonatais e avaliação auditiva de lactentes
nascidos pré-termo e a termo.
Variáveis Pré-Termo (n=80)
A Termo (n=162)
p
Média (DP) Média (DP) Peso ao nascer (g) 1337 (584) 3225 (535) <0,001 Mediana (Q 25; 75) Mediana (Q 25; 75) Idade Gestacional (semanas) 33 (31; 36) 39 (38; 39) <0,001
Idade Atual (meses) 9 (8; 10) 9 (8; 11) 0,24
N % n % Sexo
Masculino 37 (46,3) 86 (53,3) Feminino 43 (53,8) 76 (46,9) 0,38
Hipoxia
Sim 12 (15,0) 12 (7,4) Não 68 (85,0) 150 (92,6) 0,10
Hemorragia intracraniana
Sim 10 (12,5) 02 (1,2) Não 70 (87,5) 160 (98,8) <
0,001
SDR Sim 65 (81,3) 14 (8,6) Não 15 (18,8) 148 (91,4) <0,001
Gavagem*
Sim 62 (83,8) 07 (4,4) Não 12 (16,2) 152 (95,6) <0,001
Icterícia**
Sim 63 (84,0) 37 (23,1) Não 12 (16,0) 123 (76,9) <0,001
Triagem auditiva neonatal***
Não realizou 48 (60,0) 123 (79,0) Realizou 32 (40,0) 34 (21,0) 0,003
Falha no primeiro exame (n=66)
Sim Não
08 24
(25,0) (75,0)
04 30
(11,8) (88,2)
0,28
* 9 casos sem informação; ** 7 casos sem informação; *** 5 casos sem informação
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
77
A tabela 2 apresenta dados referentes aos níveis socioeconômicos e demográficos
familiares. Das famílias estudadas, 3/4 encontravam-se abaixo da linha de pobreza (1/2 salário
mínimo per capita), sendo que nem a renda familiar nem as outras variáveis demográficas
diferiram entre os grupos de LNPT e LNAT.
Tabela 2. Características socioeconômica e demográfica familiares de lactentes nascidos pré-
termo e a termo
Variáveis Pré-Termo (n=80)
A Termo (n=162)
p
N % n % Renda familiar per capita (salário mínimo)*
≤ 0,25 25 (31,3) 36 (22,2) 0,26 – 0,50 35 (43,7) 68 (42,0) 0,15 > 0,50 20 (25,0) 58 (35,8)
Idade Materna (anos) ≤ 20 12 (15,0) 33 (21,4) 21-29 38 (47,5) 75 (46,3) 0,57 ≥ 30 30 (37,5) 54 (33,3)
Escolaridade Materna (incompleta + completa)*
Nível Fundamental 17 (21,2) 41 (25,6) 0,62 Nível Médio 57 (71,3) 104 (65,0) Nível Superior 06 (7,5) 15 (9,4)
Paridade
< 1 41 (51,3) 102 (63,0) 0,10 ≥ 2 39 (48,7) 60 (37,0)
* 2 casos sem informação
Os resultados das avaliações da linguagem (comunicação receptiva e expressiva),
cognição, processamento sensorial e função motora oral, de acordo com a idade gestacional
estão apresentados na tabela 3. Verifica-se que os dois grupos de lactentes tiveram uma média
satisfatória quanto aos domínios da fala e cognição. Os LNPT apresentaram melhores
resultados na avaliação da comunicação receptiva que os LNAT.
Observou-se que muitos lactentes a termo e alguns pré-termos se recusaram a ingerir
os alimentos selecionados para avaliar a função motora oral. Estes bebês não foram avaliados
porque a escala orienta que ao surgir comportamentos de recusa, o examinador deverá
interromper a avaliação e prosseguir para as outras consistências. Os LNPT apresentaram uma
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
78
proporção maior de disfunções motoras orais para as consistências semissólida e sólida e estes
resultados foram estatisticamente significantes.
Tabela 3. Desenvolvimento e compreensão da fala, da cognição, do processamento sensorial e
da função motora oral, de lactentes nascidos pré-termo e a termo.
Variáveis
Pré-Termo A Termo p
Escala de desenvolvimento (Bayley III) Média DP Média DP Desenvolvimento da fala 10,37 2,94 10,75 3,03 0,36
(Escore balanceado da comunicação expressiva)
Compreensão da fala 14,82 3,49 13,84 3,65 0,04
(Escore balanceado da comunicação receptiva)
Cognição
(Escore composto da cognição) 105,34 13,11 106,78 12,41 0,40
Processamento sensorial (TSFI) n=80 (%) n=162 (%)
Em Risco/Deficiente 27 (33,8) 48 (29,6) Normal 53 (66,2) 114 (70,4) 0,61
Função motora oral (SOMA) Alimento pastoso n=71 (%) n=124 (%) Disfuncional 48 (67,6) 75 (60,5) Normal 23 (32,4) 49 (39,5) 0,40 Alimento semissólido n=71 (%) n=127 (%) Disfuncional 21 (29,6) 20 (15,7) Normal 50 (70,4) 107 (84,3) 0,04 Alimento sólido n=79 (%) n=149 (%) Disfuncional 27 (34,2) 30 (20,1) Normal 52 (65,8) 119 (79,9) 0,04
A tabela 4 descreve as variáveis biológicas e ambientais associadas ao atraso no
desenvolvimento da fala. Observou-se que os lactentes que nasceram com idade gestacional e
peso mais reduzidos tiveram uma proporção maior de atraso no desenvolvimento da fala, mas
a diferença não foi estatisticamente significante. O atraso no desenvolvimento da cognição e
da comunicação receptiva e a ocorrência de hipóxia no período neonatal estiveram
sigficantemente associados a alterações da comunicação expressiva.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
79
Tabela 4. Associação entre as variáveis biológicas e condições demográficas familiares com o atraso no desenvolvimento da fala (comunicação expressiva)
Variáveis
Desenvolvimento da fala (comunicação expressiva)
Atraso (<7) Normal (≥7) n (%) p Escala de desenvolvimento (Bayley III) Cognição (escore composto)
Atraso (< 85) 06 (42,9) 08 (57,1) 0,002* Normal (≥85) 22 (9,6) 206 (90,4)
Comunicação Receptiva (escore balanceado) Atraso (< 85) 07 (58,3) 05 (41,7) <0,001* Normal (≥85) 21 (9,1) 209 (90,9)
Função motora oral (SOMA) Alimento pastoso N = 195
Disfuncional 15 (12,2) 108 (87,8) 0,87 Normal 09 (12,5) 63 (87,5)
Alimento semissólido N = 198 Disfuncional 04 (9,8) 37 (90,2) 0,78* Normal 20 (12,7) 137 (87,3)
Alimento sólido N = 228 Disfuncional 04 (7,0) 53 (93,0) 0,28 Normal 23 (13,5) 148 (86,5)
Idade gestacional (semanas) 23-32 06 (19,4) 25 (80,6) 33-36 05 (10,2) 44 (89,8) 0,34 37-42 17 (10,5) 145 (89,5)
Peso ao nascer (g)** < 1500 06 (18,2) 27 (81,8) 1500 – 2500 04 (8,5) 43 (91,5) 0,39 > 2500 18 (11,2) 143 (88,8)
Hipóxia Sim 06 (25,0) 18 (75,0) 0,04* Não 22 (10,1) 196 (89,9)
Hemorragia intracraniana Sim 03 (25,0) 09 (75,0) 0,14* Não 25 (10,9) 205 (89,1)
Gavagem*** Sim 09 (13,0) 60 (87,0) 0,71 Não 17 (10,4) 147 (89,6)
Paridade ≥ 2 18 (18,2) 81 (81,8) 0,01 1 10 (7,0) 133 (93,0)
Idade materna (anos) < 20 04 (8,9) 41 (91,1) 20 – 30 10 (8,8) 103 (91,2) 0,19 > 30 14 (16,7) 70 (83,3)
* Teste exato de Fisher; ** 1 caso sem informação; *** 9 casos sem informação
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
80
Na tabela 5 a análise de regressão logística multivariada demonstrou que entre as
variáveis biológicas, o atraso na compreensão da fala, atraso cognitivo e a hipóxia neonatal
permaneceram associados ao atraso no desenvolvimento da fala. Destaca-se que a chance de
ocorrer atraso nas primeiras emissões foi 11,7 vezes maior nos lactentes com dificuldades na
compreensão da fala e 4,6 vezes maior com atraso cognitivo. Quanto às variáveis
demográficas maternas, apenas a paridade com dois ou mais filhos contribuiu
significantemente com uma chance 3 vezes maior para atraso neste desfecho.
Tabela 5. Regressão logística dos fatores determinantes do atraso no desenvolvimento da fala
(comunicação expressiva)
Atraso no desenvolvimento da fala (comunicação expressiva) Variáveis
OR bruto p OR ajustado IC 95% p Comunicação receptiva
Atraso (<7) 13,9 < 0,001 11,7 2,9; 46,2 <0,001 Normal (≥7) 1,0 1,0
Cognição Atraso (<85) 7,0 0,001 4,6 1,1; 11,6 0,03 Normal (≥85) 1,0 1,0
Hipóxia Sim 3,0 0,04 3,6 1,1; 11,6 0,03 Não 1,0 1,0
Hemorragia intracraniana Sim 2,7 0,15 2,1 0,3; 12,9 0,42 Não 1,0 1,0
Idade materna (anos) > 30 2,1 0,07 1,1 0,4; 3,0 0,78 < 20 - 30 1,0 1,0
Paridade ≥ 2 3,0 0,01 2,9 1,1; 7,7 0,03 1 1,0 1,0
Discussão
O objetivo deste estudo foi avaliar o desenvolvimento da fala em lactentes nascidos
pré-termo comparando-os com os a termo, na faixa etária entre oito e quinze meses e verificar
outros fatores associados. O desempenho da fala avaliado pela Bayley III demonstrou que a
população dos prematuros obteve melhor desempenho no subteste de comunicação receptiva e
não houve diferença em relação à comunicação expressiva entre os grupos, pré-termo e a
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
81
termo. É possível que este resultado positivo da comunicação receptiva explique o bom
desempenho destes lactentes na avaliação da comunicação expressiva. Nip, Green e Marx 5
afirmam que no primeiro ano de vida, a comunicação receptiva é considerada uma das
precursoras da fala, pois possibilita o reconhecimento e memorização das várias palavras
utilizadas durante as trocas de turnos comunicativos estabelecidos entre o bebê e as pessoas
do seu ambiente.
Magalhães et al11, utilizando o teste Denver II, avaliaram o desenvolvimento da fala de
uma amostra de 177 crianças prematuras de muito baixo peso e verificaram que somente a
partir dos doze meses elas apresentaram desempenho inferior de linguagem, quando
comparados à amostra normativa do Denver II. No presente estudo, 19% dos lactentes que
nasceram com idade gestacional inferior a 32 semanas, tiveram mais atrasos no
desenvolvimento da fala, comparado com 10% dos lactentes nascidos a termo ou pré-termo
com idade gestacional maior ou igual a 32 semanas. Entretanto, diferente do observado por
Magalhães et al11, neste estudo este resultado não foi estatisticamente significante. Isso
ocorreu talvez devido ao pequeno tamanho da amostra ou pela baixa idade em que os
lactentes foram avaliados, pois apenas 25 crianças tinham mais de doze meses de idade (dado
não apresentado).
Os lactentes nascidos pré-termo permaneceram com um percentual significantemente
maior de disfunção motora oral para as consistências semissólida e sólida que o seu grupo de
comparação. Outras pesquisas que avaliaram as alterações na sensibilidade e no planejamento
motor oral em prematuros após a alta hospitalar também verificaram que alguns bebês
permaneciam com sintomas de disfunção motora oral e discutem se a permanência destes
problemas poderia prejudicar a progressão na mudança da consistência dos alimentos e
consequentemente o planejamento motor da fala 15, 18, 20, 24, 25, 26,27.
Para Wilson e Green 31 a dificuldade de apreender e manter os alimentos na cavidade
oral e engasgos precoces são comportamentos que poderiam dificultar o desenvolvimento
posterior da fala. Essas dificuldades também foram verificadas na presente amostra durante a
realização do SOMA, entretanto, por este estudo ser de natureza transversal, não se pôde
constatar desfechos tardios, recomendando-se a utilização de desenhos longitudinais para
tanto.
O atraso no desenvolvimento da fala ocorreu mais frequentemente em crianças com
hipóxia neonatal e mostrou tendência à associação com a hemorragia intracraniana. Por serem
morbidades que alteram a mielinização e o funcionamento cerebral, o lactente se torna
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
82
vulnerável a apresentar vários sintomas de alterações neurológicas, inclusive de disfunção
neuromotora28, 29.
A fala que é inicialmente considerada uma habilidade sensório-motora, para se
desenvolver, necessita de constante integração de estímulos visuais, auditivos, táteis e
proprioceptivos. Ao registrar essas vivências, o lactente além de perceber o significado das
palavras escutadas, aprende comportamentos motores importantes para pronunciá-las, quando
necessário. Por isso, o atraso na cognição e, principalmente, na comunicação receptiva
aumentaram exponencialmente as chances de lactentes avaliados apresentarem problemas no
desenvolvimento da fala, resultado observado em outros estudos2, 5.
Constatou-se também que a maior parte das crianças com atraso na fala pertencia a
famílias cujas mães tiveram dois ou mais filhos. Em princípio, essas mães seriam mais
experientes e deveriam saber estimular melhor o desenvolvimento neuropsicomotor de suas
crianças. Por outro lado, quando as mães têm mais filhos e pertencem a famílias relativamente
pobres, o risco de haver crianças com atraso na função comunicativa e/ou na aquisição dos
sons da fala parece aumentar, possivelmente pela diminuição dos momentos de atenção
compartilhada e de interação 12, 30,31.
Assim como outros domínios, o desenvolvimento da fala é influenciado pela interação
entre as características biológicas individuais da criança e o seu ambiente 5,12,32. Crianças que
sofreram morbidades ao nascer, mesmo tendo estes riscos biológicos, poderiam ter mais
oportunidades de desenvolver a habilidade comunicativa se a qualidade da estimulação do
domicílio fosse favorável. Neste contexto, se tornariam aos poucos capazes de compreender o
que lhe é comunicado e, então começariam a executar os movimentos das estruturas do seu
sistema fonoarticulatório necessários à fala.
Os resultados aqui apresentados reforçam a necessidade de acompanhamento após a
alta hospitalar de recém- nascidos pré-termo e de baixo peso, a fim de garantir a avaliação da
fala com todos os seus componentes. Para atingir tal proposta, seriam necessárias
investigações que acontecessem através de estudos longitudinais, as quais observariam o
surgimento da fala desses lactentes até, pelo menos, os 24 meses de vida.
Conclusão
Conclui-se que lactentes nascidos pré-termo tiveram em média o mesmo desempenho
de fala dos lactentes nascidos a termo, parecendo estar em desvantagem apenas os com idade
gestacional inferior a 32 semanas. Recomenda-se que o desenvolvimento da fala, seus
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
83
componentes e seus determinantes sejam investigados em outros estudos empíricos, que
possam observar de forma sistemática e longitudinal os lactentes até idades mais avançadas.
Referências
1. Terband H, Maassen B. Speech motor development in childhood apraxia of speech;
generating testable hypotheses by neurocomputacional modeling.Folia Phoniatrica et
Logopaedica. 2010;62:134-142.
2. Smith A. Speech motor development: integrating muscles, movements and linguistics
units. Journal of Communication Disorders. 2006;39:331-349.
3. Morris SE, Klein MD. Pre-feeding skills: a comprehensive resource for mealtime development.
San Antonio: Therapy Skill Builders, 2000.798p
4. Cachapuz R, Halpern R. A influência das variáveis ambientais no desenvolvimento da
linguagem em uma amostra de crianças. Revista da AMRIGS. 2006;50(4):292-301.
5. Nip SB, Green JR, Marx DB. Early speech motor development: cognitive and linguistic
considerations. Journal of Communication Disorders. 2009;42(4):286-298.
6. Duff VB. Variation in oral sensation. Current Opinion in Gastroenterology.2007;23:171-177.
7. Cooper BM, Ratcliffe S. Development of preterm infants. Feeding behaviors and Brazelton
Neonatal Behavioral Assessment Scale at 40 and 44 weeks postconceptional age. Advances in
Nursing Science. 2005; 4:356-363.
8. Buhler KEB, Limongi SCO, Diniz EMA. Language and cognition in very-low-birth-weight
preterm infants with PELCDO application. Arquivos de Neuro-Psiquiatria.2009;67(2):242-249.
9. Isotani SM, Azevedo MF, Chiari BM, Perissinoto J. Linguagem expressiva de crianças nascidas
pré-termo e a termo. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009;21(2):155-160.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
84
10. Freitas M, Kernkraut AM, Guerreiro SMA et al. Follow-up of premature children with risk for
growth and development delay: a multiprofessional assessment. Einstein. 2010;8(2):180-188.
11. Magalhães LC, Fonseca KL, Lins LDTB, Dornelas LT. Desenvolvimento de crianças pré-termo
de muito baixo peso e de extremo baixo peso segundo o teste Denver II. Revista Brasileira de
Saúde Materno Infantil. 2011;11(4):445-453.
12. Rechetnikov RP, Maitra K. Motor impairments in children associated with impairments of speech
or language: a meta-analytic review of research literature. The American Journal of Occupational
Therapy. 2009;63(3):255-263.
13. Dodrill P, McMahon S, Ward E et al. Long-term oral sensitivity and feeding skills of low-risk pre-
term infants. Early Human Development, 2004;76:23-37.
14. Waugh J, Loughran J, Carr V. The pathway of neuro-behavioural and sensory development in
premature infants: A guide for parents. Journal of Neonatal Nursing. 2008;14:129-130.
15. Marston L, Calvert SA, Greenough A, Marlow N. Factors affecting vocabulary acquisition at age 2
in children born between 23 and 28 week’s gestation. Develpmental Medicine & Child
Neurology.2007;42:235-239.
16. Vandenberg K A. Individualized developmental care for high risk newborns in the NICU: A
practice guideline. Early Human Development. 2007;83:433-442.
17. Buswell PL, Emblenton N, Drinnan MJ. Oral-motor dysfunction at 10 months corrected
gestational age in infants born less than 37 weeks preterm. Dysphagia. 2009;24:20-25.
18. Levy Y, Levy A, Zangen T et al. Diagnostic Clues for Identification of nonorganic vs Organic
causes of food refusal and poor feeding. Journal of Pediatric Gastroenterology and
Nutrition.2009;48:355-362.
19. Petersen MC, Rogers B. Introduction: feeding and swallowing and developmental disabilities.
Developmental Disabilities Research Reviews. 2008;14(2):75-76.
20. Habib ES, Magalhães LC. Criação de um questionário para detecção de comportamentos atípicos
no bebê. Revista Brasileira de Fisioterapia. 2007;11(3):177-83.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
85
21. Bayley N. Bayley Scales of Infant and Toddler Development- Third edition, Administration
Manual. San Antônio, TX: The Psychological Corporation, 2006.
22. De Gangi GA, Geenspan S. Test of sensory functions in infants. Los Angeles: Western
Psychological Services, 1989.
23. Reilly S, Skuse D, Wolke D. The schedule for oral motor assessment. Administration Manual.
London: Whurr Publishers, 2000.22p.
24. Arvedson JC. Assessment of pediatric dysphagia and feeding disorders: clinical and instrumental
approaches. Developmental Disabilities Research Reviews. 2008;14:118–127.
25. Delaney A, Arvedson JC. Development of swallowing and feeding prenatal throught first year of
life. Developmental disabilities research reviews. 2008;14:105-117
26. Hwang YS, Lin CH, Coster WJ, Bigsby R, Vergara E. Effectiveness of cheek and jaw support to
improve feeding performance of preterm infants. The American Journal of Occupational
Therapy.2010;64(6):886-894.
27. Wilson EM, Green JR. The development of jaw motion for mastication. Early Human
Development. 2009;85(5):303-311.
28. Inder, TE, Warfield SK, Wang, H, Hüppi PS, Volpe JJ. Abnormal cerebral structure is present at
term in premature infants. Pediatrics. 2005;115(2):286-294.
29. Graven SN, N, Browne JV. Sensory development in the fetus, neonate, and infant: introduction and
overview. Newborn & Infant Nursing Reviews. 2008;8(4):169-172.
30. Veleda AA, Soares MCF, César-Vaz MR. Fatores associados ao atraso no desenvolvimento em
crianças, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Gaúcha de Enfermagem. 2011;32(1):79-
85.
31. Rodrigues OMPR, Bolsoni-Silva AT. Efeitos da prematuridade sobre o desenvolvimento de
lactentes. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. 2011;21(1):111-121.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
86
32. Murta AMG, Lessa AC, Santos AC, Murta MNG, Cambraia RP. Cognição, motricidade,
autocuidados, linguagem e socialização no desenvolvimento de crianças em creche. Revista
Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. 2011;21(2):220-229.
BORGES, A. G. C. Fatores associados ao desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo Resultados: Artigo original 2
68
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Considerações finais e Recomendações
88
6 Considerações finais e Recomendações
A execução desta pesquisa buscaram responder a questões relacionadas ao atraso no
desenvolvimento da fala em lactentes no primeiro ano de vida. Para cumprir este objetivo
foram estudados aspectos específicos do desenvolvimento da fala, destacando as disfunções
motoras orais e problemas no processamento sensorial, considerados na prática clínica, fatores
que se associam aos problemas no desempenho da linguagem oral.
O primeiro artigo original desta tese teve como objetivo avaliar as funções motoras
orais em lactentes nascidos pré-termo, comparando-os com os a termo e verificar sua
associação com o processamento sensorial. Evidenciaram-se os seguintes dados:
• Os lactentes nascidos pré-termo apresentaram frequência mais elevada de
disfunção motora oral para os alimentos de consistência semissólida e sólida quando
comparados aos lactentes nascidos a termo;
• A disfunção motora oral verificada no grupo de lactentes nascidos pré-termo não
esteve associada à disfunção no processamento sensorial;
• Os lactentes nascidos a termo que se recusaram a se alimentar durante a avaliação
da função motora oral apresentaram frequência mais elevada de disfunção no processamento
sensorial.
O segundo artigo avaliou o desenvolvimento da fala de lactentes que tinham em sua
maioria oito meses vida. Nesta faixa etária, pensa-se que, além da função motora oral e do
processamento sensorial, outras habilidades ascendem a partir da exploração sensório-motora
do lactente no ambiente. Os lactentes avaliados neste estudo apresentaram em média
resultados satisfatórios na avaliação da comunicação expressiva e seus atrasos estiveram
significantemente associados a problemas na cognição e na comunicação receptiva,
habilidades que estão diretamente relacionadas a estas condutas sensório-motoras.
Portanto, pode-se inferir que, nesta faixa etária, a comunicação receptiva e a cognição
que se desenvolvem na faixa etária dos lactentes deste estudo são importantes precursoras do
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Considerações finais e Recomendações
89
desenvolvimento da fala e, possivelmente nesta faixa etária, estão mais associadas ao atraso
de fala que à disfunção motora oral e ao processamento sensorial.
Algumas limitações aconteceram durante a realização desta pesquisa e podem refletir
em seus achados. Dentre as que foram percebidas, devem ser destacadas:
1. Instrumentos para avaliação de lactentes utilizados neste estudo:
• O TSFI parece não se constituir um instrumento sensível para avaliar o
processamento sensorial em lactentes com passado de prematuridade. Esta ferramenta de
avaliação exige que para o diagnóstico dos problemas sensoriais orais serem identificados é
necessária a presença de comportamentos exacerbados após o manuseio na região perioral da
criança. É fato que os problemas funcionais de lactentes prematuros são caracterizados
inicialmente por respostas lentas ou até mesmo ausentes perante o estímulo. Isto é coerente ao
resultado deste estudo, na medida em que o teste não conseguiu detectar anormalidades e,
portanto, a maior parte dos bebês avaliados não apresentou disfunção no processamento
sensorial como esperado em um grupo de risco.
• A idade gestacional e peso ao nascer dos lactentes estudados
A média da idade gestacional dos lactentes nascidos pré-termo foi de 32
semanas e do peso ao nascer foi de 1.331 gramas. Estes dados permitem inferir que a maior
parte destes lactentes teve morbidades peri e neonatais mais leves e, por isso, não constituiu
um grupo de alto risco para alterações neurológicas com possível comprometimento do
desenvolvimento da fala;
• Embora a proporção de lactentes com atraso no desenvolvimento da fala
tenha sido maior entre os que nasceram com idade gestacional inferior a 32 semanas, não foi
possível comprovar que a idade gestacional é um determinante deste atraso, possivelmente
pelo pequeno tamanho da amostra de lactentes com idade gestacional mais reduzida;
2. A idade cronológica dos lactentes no momento da avaliação da comunicação
expressiva
• Pelo fato de ter sido de natureza transversal, a comunicação expressiva dos
lactentes foi avaliada em um único momento. Durante o período da coleta de dados não se
conseguiu um número razoável de crianças em idades mais avançadas e este fato pode ter
contribuído para o bom desempenho de fala destes lactentes durante a coleta.
Existe na literatura, grande interesse em compreender melhor a influência do
nascimento prematuro sobre o desenvolvimento da linguagem. Porém, até o presente
momento, as pesquisas não apresentam consenso quanto à definição do instrumento mais
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Considerações finais e Recomendações
90
preciso para diagnosticar alterações no desenvolvimento neuropsicomotor de crianças com
passado de prematuridade nem são concordantes quantos aos principais fatores de risco para
seu atraso. Os resultados encontrados neste estudo trazem à tona esta questão e, por isso,
recomenda-se ao fonoaudiólogo que, no acompanhamento do desenvolvimento da fala de
lactentes de risco, deverão levar em consideração tanto os aspectos biológicos envolvidos,
quanto os ambientais e, principalmente, a interação entre eles, tentando identificar a influência
destes no desenvolvimento da habilidade comunicativa.
Recomendações
Os resultados desse estudo revelaram que existem dificuldades em diagnosticar as
disfunções no processamento sensorial em lactentes nascidos pré-termo, assim como
identificar os aspectos que se associam ao atraso no desenvolvimento da fala em lactentes
jovens. Neste contexto, recomendamos que:
1. Para a avaliação do processamento sensorial de lactentes nascidos pré-termo
sejam criados instrumentos mais específicos e sensíveis;
2. O desenvolvimento da fala seja acompanhado através de estudos prospectivos,
que permitam observar a evolução desta habilidade até pelo menos os 24 meses de idade
cronológica corrigida.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Considerações finais e Recomendações
88
6 - REFERÊNCIAS
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Referências
92
6 Referências
Apresentação
1. RODRIGUES, O.M.P.R., BOLSONI-SILVA, A.T. Efeitos da prematuridade sobre o
desenvolvimento de lactentes. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento
Humano, São Paulo, v.21, n. 1, p. 111-121, 2011.
2. SOUZA-VIDOR, et al. O desenvolvimento da consciência fonoarticulatória e a relação
entre a percepção e a produção do gesto fonoarticulatório. Revista da Sociedade
Brasileira de Fonoaudiologia, São Paulo, v. 23, n. 3, p. 252-257, 2011.
3. NEIVA, F.C.B.; LEONE, C.R. Sucção em recém-nascidos pré-termo e estimulação da
sucção. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri (SP), v. 18, n. 2, p. 141-
150, maio-ago. 2006.
4. COOPER, B.M., GENNARO, S. The correlation of sucking behaviors and Bayley
Scales of infant development at six months of age in VLBW infants. Nursing Research,
New York, v. 45, n.5, p. 291-296, 1996.
5. COSTA, et al. Efetividade da intervenção fonoaudiológica no tempo de alta hospitalar
no recém-nascido pré-termo. Revista CEFAC, São Paulo, v.9, n.1, p.72-79, jan – mar. 2007.
6. HERNANDES, A.M. Atuação fonoaudiológica em neonatologia: uma proposta de
intervenção. In: ANDRADE, C.R.F. Fonoaudiologia em berçário normal e de risco.
São Paulo, Editora Lovise, 1996, p. 43-98.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Referências
93
7. MORRIS, S.E., KLEIN, M.D. Pre-feeding skills: a comprehensive resource for
mealtime development. San Antonio: Therapy Skill Builders, 2000. 798p
8. DODRILL, et al. Long-term oral sensitivity and feeding skills of low-risk pre-term
infants. Early Human Development, London, v. 76, p. 23-37, 2004.
9. BUSWELL, P.L, EMBLENTON, N., DRINNAN. M.J. Oral-motor dysfunction at 10
months corrected gestational age in infants born less than 37 weeks preterm. Dysphagia,
New York, v. 24, p. 20-25, 2009.
10. LAMÔNICA, D.A.C., CARLINO, F.C., ALVARENGA K.F. Avaliação da função
auditiva receptiva, expressiva e visual em crianças prematuras. Pró-Fono Revista de
Atualização Científica, Barueri (SP), v.22, n.1, p.19-24, 2010.
11. SMITH, A. Speech motor development: integrating muscles, movements and linguistics
units. Journal of Communication Disorders, New York, v. 39, p. 331-349, 2006.
12. GUEDES, Z.C.F.G. A prematuridade e o desenvolvimento da linguagem. Revista da
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, São Paulo, v. 13, n.1, p. 97-98, 2008.
Métodos
1. CACHAPUZ, R.E., HALPERN, R. A influência das variáveis ambientais no
desenvolvimento da linguagem em uma amostra de crianças. Revista da AMRIGS, Porto
Alegre, v.50, n.4, p. 292-301,2006
2. BAYLEY, N. Bayley scales for infant and toddler development–Third edition. New
York: Psychological Corporation, 2006.
3. DEGANGI, G.A., GEENSPAN, S. Test of sensory functions in infants. Los Angeles:
Western Psychological Services, 1989.
4. REILLY, S., SKUSE, D., WOLKE, D. Schedule for oral motor assessment. London:
Whurr Publishers, 2000.
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Referências
92
7 - APÊNDICES
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice A
95
Apêndice A – Questionários e folha de pontuação
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice A
96
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice A
97
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice A
98
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice A
99
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice B
100
Apêndice B – Folder explicativo
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice C
101
Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PESQUISA ENVOLVENDO
SERES HUMANOS
PESQUISA: Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-termo e a termo. Pesquisador responsável: Fga. Adriana Guerra de Castro. Endereço: Rua Conselheiro Portela 130 Bloco B apto 1402, Graças, Recife-PE. Fones: (81)34262606 (residência) (81) 91132614 (celular) E-mail: [email protected] Instituição: Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco. Endereço do Comitê de Ética: Av. Prof. Moraes Rego, s/n Cid. Universitária CEP: 50670-901 Recife-PE. Tel/fax: 81 22168588; [email protected] Este Termo de Consentimento pode conter palavras que você não entenda. Peça ao pesquisador que explique as palavras ou informações não compreendidas completamente. I. Dados de identificação do sujeito da pesquisa e responsável legal: Nome do paciente: ______________________________________________ Data de nascimento: ___/___/____ Nome do responsável____________________________________________ Natureza (grau de parentesco)_____________________________________ Telefone(s): ___________________________________________________ II. Informações sobre a pesquisa: Você está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa que será realizada em crianças que nasceram prematuras e a termo (crianças que nasceram com nove meses de gestação). Esse estudo poderá ajudar o diagnóstico dos problemas no desenvolvimento das crianças, pois durante a pesquisa serão realizadas avaliações da fala, da inteligência, do processamento dos estímulos sensoriais (maneira como a criança percebe os sons, sabores, cheiro, etc) e, do controle dos órgãos da alimentação.
A qualquer momento, você pode desistir de participar. A sua recusa não trará nenhum prejuízo na sua relação com o pesquisador e com esta instituição e, no caso de você decidir não participar mais deste estudo deverá comunicar ao pesquisador.
Se aceitar fazer parte desta pesquisa, saiba que todas as avaliações serão realizadas pelo pesquisador. Será necessário que você responda a um questionário com perguntas diretas e que seu filho realize a quatro avaliações. As duas primeiras do desenvolvimento da fala e da inteligência, a terceira do processamento sensorial (maneira como a criança percebe os sons, sabores, cheiro, etc) e ainda uma avaliação durante a alimentação.
Os alimentos escolhidos para avaliar seu (sua) filho (a) serão do mesmo tipo e consistência que você usa em casa. Serão oferecidos sucos de uva no copo, potinhos Nestlé com pedaços de legumes e de papinhas de fruta na colher e biscoitos. As crianças que apresentarem alterações nesses exames serão estimuladas e o pesquisador se compromete a esclarecer quaisquer dúvidas com relação ao desenvolvimento da fala e do processamento dos estímulos sensoriais. Você também receberá um folheto educativo e explicativo sobre a importância da alimentação para o desenvolvimento da fala.
A sua participação no estudo é inteiramente voluntária e não existirá nenhuma taxa, nem recompensa financeira para os participantes e suas famílias. As avaliações deverão ser filmadas em uma câmera digital, e estas gravações serão guardadas nos arquivos da pesquisa no Ambulatório da Puericultura para a análise dos resultados. Saiba que todas as informações obtidas serão mantidas em segredo, e que a divulgação de qualquer informação que permita identificá-lo, um de seus familiares, ou pessoas que moram em sua casa, pode implicar em processo judicial contra nós.
Apêndice C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice C
102
III. Riscos e desconfortos O estudo consta de atividades que não colocam em risco a sua saúde nem da sua criança. Porém, as perguntas realizadas na entrevista poderão trazer algum desconforto além do tempo que você dedicará para responder todas as perguntas. Durante as avaliações poderá ser constatado que sua criança apresenta alguma dificuldade no desenvolvimento da fala. Estes riscos serão contornados pela elaboração de um folder explicativo que esclarecerá os responsáveis sobre a importância da alimentação para o desenvolvimento do aprendizado da fala (apêndice 2), Caso sua criança apresente alguma alteração no desenvolvimento da fala, vocês receberão todo apoio da pesquisadora que realizará os encaminhamentos para os serviços necessários. IV. Benefícios Você receberá um folheto educativo e explicativo sobre a importância da alimentação para o desenvolvimento do aprendizado da fala. A participação na pesquisa não acarretará gasto para você, sendo totalmente gratuita. A pesquisadora se compromete a lhe esclarecer quaisquer dúvidas com relação ao desenvolvimento da fala e alimentação. As informações obtidas por meio do estudo poderão ser importantes para a descoberta de características de problemas de fala e alimentação nas crianças no início do desenvolvimento. V.Consentimento da participação do sujeito Eu, ___________________________________________________, portador do
RG_____________________, responsável pelo (a) menor_______________________________
____________________________________________, declaro que fui devidamente informado (a)
sobre a pesquisa “Fatores determinantes do desenvolvimento da fala em lactentes nascidos pré-
termo e a termo”. Entendi as explicações descritas no item anterior e concordo com a minha
participação.
Recife, _____ de ___________ de 2______. _____________________________________ Assinatura do Responsável ____________________________________ Assinatura do Pesquisador ___________________________________ Assinatura da Testemunha ____________________________________ Assinatura da Testemunha
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Apêndice C
101
8 - ANEXOS
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo A
104
Anexo A – Certidão de Aprovação do Comitê de Ética
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo B
105
Anexo B – Avaliação do desenvolvimento da fala – Bayley III
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo B
106
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo B
107
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo B
108
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo C
109
Anexo C – Avaliação da comunicação receptiva – Bayley III
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo C
110
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo C
111
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo C
112
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo C
113
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
114
Anexo D – Avaliação da cognição Bayley III
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
115
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
116
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
117
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
118
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
119
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
120
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
121
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo D
122
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo E
123
Anexo E – Avaliação da função motora oral
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo E
124
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo E
125
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo E
126
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo F
127
Anexo F – Avaliação do processamento sensorial
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo F
128
BORGES, A. G. C.. Processamento sensorial, função motora oral e desenvolvimento da fala em lactentes . . . Anexo G – Carta de recebimento do artigo
129
Anexo G – Carta de recebimento do Artigo de Revisão da Literatura