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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria-Geral da República RECLAMAÇÃO Nº 36.542 /PR RECLAMANTE: Guido Mantega RECLAMADO: Juiz Federal da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR PETIÇÃO GTLJ/Nº 369525/2019 Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, O Ministério Público Federal, por intermédio do Sub-Procurador-Geral da República, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem interpor AGRAVO REGIMENTAL contra a decisão monocrática datada de 03 de setembro de 2019, por meio da qual o Ministro Relator julgou procedente a Reclamação para, somente em relação ao reclamante, declarar a incompetência da 13ª Vara da Subseção Judiciária de Curitiba/PR e determinar a imediata remessa dos autos da Ação Penal n. 5033771- 51.2018.4.04.7000 para a Justiça Federal do Distrito Federal. I – Breve resumo Trata-se de reclamação ajuizada por Guido Mantega , com pedido de liminar, contra decisão proferida pelo juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR, nos autos do pedido de prisão preventiva n. 5039848-42.2019.4.04.7000/PR, instrumental à Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR, por suposta ofensa à Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Em: 22/11/2019 - 08:47:08

RECLAMAÇÃO Nº 36.542/PR PETIÇÃO GTLJ/Nº 369525/2019 … · 2019-11-22 · Requer, liminarmente, o sobrestamento do trâmite da Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR e

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALProcuradoria-Geral da República

RECLAMAÇÃO Nº 36.542/PRRECLAMANTE: Guido MantegaRECLAMADO: Juiz Federal da 13ª Vara Federal de Curitiba/PRPETIÇÃO GTLJ/Nº 369525/2019

Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes,

O Ministério Público Federal, por intermédio do Sub-Procurador-Geral da

República, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem interpor AGRAVO

REGIMENTAL contra a decisão monocrática datada de 03 de setembro de 2019, por

meio da qual o Ministro Relator julgou procedente a Reclamação para, somente em

relação ao reclamante, declarar a incompetência da 13ª Vara da Subseção Judiciária de

Curitiba/PR e determinar a imediata remessa dos autos da Ação Penal n. 5033771-

51.2018.4.04.7000 para a Justiça Federal do Distrito Federal.

I – Breve resumo

Trata-se de reclamação ajuizada por Guido Mantega, com pedido de

liminar, contra decisão proferida pelo juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR,

nos autos do pedido de prisão preventiva n. 5039848-42.2019.4.04.7000/PR,

instrumental à Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR, por suposta ofensa à

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autoridade do acórdão proferido pela Segunda Turma desse STF nos autos da Petição n.

7.075.

Na origem, o reclamante, junto a vários outros corréus, foi denunciado pela

prática dos crimes de corrupção ativa e passiva e de lavagem de dinheiro,

consubstanciados nas tratativas para a edição das Medidas Provisórias n. 470 e 472,

conjunto legislativo denominado “Refis da Crise” e relativas a parcelamentos tributários

de interesse da Braskem Petroquímica, com a contrapartida do pagamento de R$

50.000.000,00 ao Partido dos Trabalhadores.

Posteriormente, o juízo de primeiro grau decretou medidas cautelares

pessoais em desfavor do reclamante e pessoas associadas.

Segundo sustentado na presente Reclamação, a autoridade reclamada

fundamentou a imposição das medidas cautelares em transações bancárias no exterior

feitas por Victor Sandri, corréu de Guido Mantega em ação penal que tramita na Seção

Judiciária do Distrito Federal, no âmbito da “Operação Bullish”.

Ao assim agir, teria violado a autoridade do acórdão proferido pela Segunda

Turma desse STF na Pet. n. 7.075, na qual foi determinada a remessa dos Termos de

Depoimento n. 1, 2 e 9 de Joesley Mendonça Batista e n. 2 de Ricardo Saud para a

Justiça Federal do Distrito Federal, juízo aparente para processar e julgar os fatos

narrados, nos quais estão implicados o reclamante e Victor Sandri.

Aduz o reclamante, ainda, a incompetência do juízo de primeiro grau para a

causa, pois o STF, em outros julgados, tais como na Pet. n. 6.664 e no Inq. n. 4.325,

teria assentado que fatos de competência da Justiça Federal que não tenham relação

direta com a Petrobras devem ser processados perante o juízo territorialmente

competente – no caso da ação penal em trâmite perante o juízo reclamado, a Seção

Judiciária do Distrito Federal.

Requer, liminarmente, o sobrestamento do trâmite da Ação Penal n.

5033771-51.2018.4.04.7000/PR e do cumprimento das cautelares decretadas nos autos

n. 5039848-42.2019.4.04.7000/PR e, ao final, o reconhecimento da incompetência da

13ª Vara Federal de Curitiba/PR para processar e julgar a ação penal, com a remessa dos

autos para a Seção Judiciária do Distrito Federal.

Em 28 de agosto de 2019, o reclamante peticionou nos autos da Reclamação

em epígrafe, requerendo a suspensão da decisão reclamada até a apreciação do pedido

liminar, em vista do constrangimento a que seria submetido caso, após se deslocar de

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São Paulo/SP para Curitiba/PR para colocar a tornozeleira eletrônica, recebesse

pronunciamento favorável nestes autos.

O Ministro Relator acolheu esse pedido posterior, nos seguintes termos:

Em juízo de cognição sumária, configura-se a plausibilidade jurídica da tese apre-sentada na presente reclamação, uma vez que esta Suprema Corte possui preceden-tes, inclusive em decisões relativas ao reclamante, em que se afirma que acompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR cinge-se a “fraudes e desvios derecursos no âmbito da Petrobras” (Pet 7075, Redator p/ Acórdão: Min. GilmarMendes, Segunda Turma, julgado em 15/08/2017, Dje 06-10-2017).

Percebo ainda que, na hipótese de ser deferido o pedido de liminar apresentadonesta reclamação, a aplicação imediata das medidas cautelares decretadas na deci-são reclamada, sobretudo a colocação da tornozeleira eletrônica junto ao corpo,prevista para acontecer em 29 de agosto de 2019, poderia causar dano de difícil re -paração ao reclamante, consubstanciado nas restrições à liberdade que passaria asofrer.

Ademais, ressalta-se que a apreciação do pedido liminar nesta ação pende ainda daapresentação de informações pelo Juízo de Origem (eDOC 21), não podendo o re-clamante sofrer eventuais limitações indevidas às suas garantias individuais pelademora na instrução do feito.

Sendo assim, defiro a suspensão da decisão reclamada no ponto em que deter-minou a apresentação do reclamante em Juízo, em 29 de agosto de 2019, paracolocação da tornozeleira eletrônica, até a devida apreciação do pedido liminarna presente reclamação.

Na sequência, a defesa de Maurício Roberto de Carvalho Ferro requereu

a extensão dos efeitos dessa decisão, em síntese, por estar na mesma situação fática de

Guido Mantega.

Na sequência, o Relator julgou procedente a Reclamação, para, apenas em

relação a Guido Mantega, declarar a incompetência da 13ª Vara Federal Criminal de

Curitiba/PR para a Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000 e determinar a remessa

dos autos para a Justiça Federal do Distrito Federal, bem como suspender as medidas

cautelares impostas nos autos n. 5039848-42.2019.4.04.7000 até serem apreciadas pela

Justiça Federal do Distrito Federal.

Em face dessa decisão é que se interpõe o presente agravo regimental.

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II

II.1 Da improcedência do pedido deduzido na presente Reclamação.

Inicialmente, cabe destacar a improcedência prima facie da Reclamação.

Esse exercício será necessário para demonstrar a flagrante burla ao processo penal ora

engendrada, bem como a inviabilidade de extensão dos efeitos da liminar ao requerente

Maurício Ferro.

Os fatos narrados por Joesley Mendonça Batista, em seus Termos de Depoi-

mento n. 1, 2 e 7 e por Ricardo Saud, no Termo de Depoimento n. 2, são referentes ao

pagamento de vantagens indevidas aos ex-Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma

Rousseff, com a participação do reclamante como contrapartida a favorecimentos imple-

mentados no âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BN-

DES) e dos fundos de pensão Petros e Funcef, visando benefícios ao Grupo J&F, por

meio de transferências em contas no exterior na ordem de U$ 50.000.000,00 e U$

30.000.000,00, respectivamente.

Na Pet. n. 7.075, foi dado provimento a agravo regimental interposto pelo

reclamante de decisão monocrática proferida pelo Ministro Edson Fachin, que

determinou a remessa de cópias de tais termos de depoimento para as Seções Judiciárias

do Distrito Federal e do Paraná. O voto-condutor do acórdão, proferido pelo Ministro

Gilmar Mendes, entendeu ser devida a remessa apenas para o primeiro destino, pelas

seguintes razões:

No caso específico, parece-me, a mim, que tem razão o agravante. Porque, se osfatos não guardam relação, a partir de precedentes vários que temos - inclusive darelatoria de Vossa Excelência, em tempos mais recentes -, com a questão da "LavaJato", o tema não deveria ser encaminhado a Curitiba, mas sim às varas competen-tes do Distrito Federal. Então, essa é a questão que me parece estar posta. Não setrata de simplesmente fazer-se um desmembramento e se encaminhar cópias para2 varas - ou daqui a pouco 3 ou 4 -, para que os juízes definam quem será "compe -tente para", gerando, portanto, um conflito indesejado e provocando insegurançajurídica. Sei que o pedido do Ministério Público é nesse sentido, mas me pareceque isso amplia a perplexidade.

A decisão reclamada, por outro lado, decretou medidas cautelares pessoais

em desfavor do reclamante e a prisão preventiva do requerente em autos instrumentais à

Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR, cujo objeto, conforme já relatado, é o

pagamento de vantagens indevidas pelo grupo Odebrecht, mediante a

instrumentalização do patrimônio da Braskem, ao Partido dos Trabalhadores, por Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse

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intermédio de Guido Mantega e de Antônio Palocci, em razão da edição das

medidas provisórias n. 470/2010 e 472/2010. Parte da vantagem indevida, ainda, foi

entregue aos publicitários Mônica Moura e João Santana.

O reclamante afirma que o ato reclamado fundamentou a aplicação de

medidas cautelares em elementos de convicção que apontam a prática de crimes já

objeto de denúncia perante a Seção Judiciária do Distrito Federal. Tal procedimento

evidenciaria o desrespeito à determinação desse STF, ao implicar invasão de

competência alheia.

A insurgência, como se vê, é absolutamente despropositada.

Não há confusão alguma entre o objeto da Ação Penal n. 5033771-

51.2018.4.04.7000/PR, que é claro e delimitado, e a mera referência, no ato

reclamado (decisão de decretação de prisão preventiva), a elementos de prova

extra-processuais que servem para demonstrar a presença dos requisitos

autorizadores da aplicação de medidas cautelares, nos termos dos arts. 282, I e II,

e 319 do CPP.

A referência a inquéritos policiais e ações penais em andamento distintas do

processo principal para fundamentar o decreto de prisão preventiva para a garantia da

ordem pública, ou para a aplicação de medidas cautelares alternativas, não destoa da

jurisprudência desse STF. Nesse sentido:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.PRISÃO EM FLAGRANTE. TENTATIVA DE FURTO QUALIFICADO. ROM-PIMENTO DE OBSTÁCULO E MEDIANTE FRAUDE, ESCALADA OU DES-TREZA. ART. 155, §4º, I E II, C/C ART. 14, II, AMBOS DO CP. PRISÃOPREVENTIVA. DECISÃO CALCADA EM ELEMENTOS CONCRETOS. RE-GISTROS DE INQUÉRITOS POLICIAIS E AÇÕES PENAIS EM ANDA-MENTO. NECESSIDADE DA CUSTÓDIA PREVENTIVA. COMPROVAÇÃO.AVERIGAÇÃO DE ANOTAÇÕES CRIMINAIS PELO JUIZ DA CAUSA. ATU-AÇÃO EX OFFICIO DENTRO DOS LIMITES JURISDICIONAIS. ART. 156DO CPP. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT.

1. Não se admite habeas corpus substitutivo de recurso extraordinário, sob pena deofensa ao regramento do sistema recursal previsto na Constituição Federal.

2. A periculosidade do agente pode ser aferida por intermédio de diversos ele-mentos concretos, tal como o registro de inquéritos policiais e ações penaisem andamento que, embora não possam ser fonte desfavorável da constata-ção de maus antecedentes, podem servir de respaldo da necessidade da impo-sição de custódia preventiva.

3. Diante do disposto no art. 156 do CPP, não se reveste de ilegalidade a atuaçãode ofício do Magistrado que, em pesquisa a banco de dados virtuais, verifica a pre-sença de registros criminais em face do paciente. 4. Writ não conhecido, com revo-gação da liminar anteriormente deferida.

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(HC 126501, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 14/06/2016, PROCESSO ELE-TRÔNICO DJe-211 DIVULG 03-10-2016 PUBLIC 04-10-2016) – Original semgrifo

Com efeito, a referência, no ato reclamado, às contas de titularidade do

reclamante mantidas no exterior não se deu em decorrência da aduzida investigação

clandestina em inobservância ao paradigma invocado, mas sim porque os órgãos

persecutórios obtiveram tais elementos de prova de modo independente ao longo da

investigação criminal. O juízo reclamado bem ilustrou o ponto nas informações

prestadas nos autos:

Para fundamentar o cabimento das medidas cautelares, foram utilizados, dentrevários outros elementos probatórios vinculados à ação penal 5033771-51.2018.4.04.7000, informações transmitidas espontaneamente pelas autoridadesda Suíça a respeito de duas contas mantidas no exterior por Guido Mantega.

Guido Mantega teria uma conta em nome próprio, de n.º 89419. Outra conta esta-ria no nome da off-shore Papillon Company. Ambas teriam sido abertas no Ban-que Pictet & Cie S/A.

Uma delas teria recebido valores provenientes de conta controlada por Victor San-dri.

Transcreve-se:

"Descoberto, ainda, que Guido Mantega é titular e benefíciário final de pelomenos duas contas bancária na Suíça, com ativos milionários.

Tais informações vieram ao Brasil por meio de transmissão espontânea dasautoridades suíças (evento 1, anexo112).

O procedimento de transmissão espontânea de informação, que consiste ba-sicamente na transmissão da prova colhida na Suíça para o Brasil sem soli-citação prévia, encontra apoio expresso no art. 29 do Tratado de CooperaçãoJurídica em Matéria Penal entre Brasil e Suíça promulgado pelo Decreto nº6.974, de 07/10/2009.

No processo 5014724-91.2018.4.04.7000, autorizou-se, a pedido do MPF, oenvio de pedido de cooperação jurídica internacional para obter informaçõesmais detalhadas sobre as contas e Guido Mantega teria uma conta em nomepróprio, de n.º 89419. Outra conta estaria no nome da off-shore PapillonCompany. Ambas teriam sido abertas no Banque Pictet & Cie S/A (evento1, anexo46).

As investigações iniciadas na Suiça em 14/07/2017 levaram ao bloqueioprovisório dos saldos das contas pelas autoridades suíças.

A conta em nome próprio teria um saldo de USD 143.608,00 e estaria blo-queada provisoriamente pelas autoridades suíças.

A conta em nome da off-shore Papillon Company teria um saldo de USD1.777.213,00 e também estaria bloqueada provisoriamente pelas autoridadessuíças.

Embora as informações não estejam completas, é informado que a conta emnome da off-shore Papillon recebeu em 08/01/2007 um crédito de USD645.532,00 proveniente de conta em nome da off-shore Jasmin International

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(anteriormente Orquidea Limited), no Credit Suisse, e que teria por contro-lador a pessoa de Victor Garcia Sandri.

Guido Mantega, mesmo tendo exercido o cargo de Ministro da Fazenda en-tre 27/03/2006 a 01/01/2015, não declarou a titularidade dessas contas edestes ativos no exterior, como se verifica nas declarações de rendimentojuntadas no evento 20 do processo 5055732-52.2015.4.04.7000 e no qualfoi decretada a quebra de sigilo bancário e fiscal dele.

Apenas em 29/05/2017, Guido Mantega, representado por seu advogado,apresentou petição a este Juízo, admitindo que teria conta no exterior emnome de off-shore (evento 235 do processo 5035133-59.2016.4.04.7000).

Isso só ocorreu quase um ano depois de ter sofrido diligência de busca eapreensão domiciliar autorizada pelo Juízo nestes mesmos autos (diligênciaem 22/09/2016).

As informações prestadas na petição não eram verdadeiras. Consta na peti -ção a informação de que a conta estrangeira teria recebido "um único de-pósito no valor de USD 600 mil dólares como parte de pagamento pelavenda de imóvel herdado de seu pai".

Ocorre que as próprias autoridades suíças informam que Guido Mantegatem USD 1.777.213,00 somente na conta Papillon e mais USD 143.608,00em conta pessoal.

Posteriormente, em 04/06/2018, a Defesa de Guido Mantega peticionou no-vamente no processo 5035133-59.2016.4.04.7000, com novas informaçõessobre a conta (eventos 254 e 256).

Desta feita, foi informado que seriam dois depósitos de cerca de USD 650mil cada um. Os depósitos teriam por origem um negócio imobiliário reali-zado com Victor Garcia Sandri. Informou ainda a Defesa que, em21/07/2017, Guido Mantega aderiu ao programa de regularização cambial etributária aprovado pela Lei nº 13.254/2016, tendo declarado, ainda que ex-temporaneamente, os ativos no exterior à Receita Federal (evento 254,anexo3, do processo 5035133-59.2016.4.04.7000).

Releva destacar que Victor Garcia Sandri foi denunciado juntamente comGuido Mantega na assim denominada Operação Zelotes perante a 10ª VaraFederal de Brasília (Inquérito policial 0684/2015). É possível que esses de-pósitos estejam relacionados ao crimes em apuração perante a 10ª Vara Fe -deral de Brasília".

Visível, portanto, que a fonte probatória, informações transmitidas espontanea-mente por cooperação jurídica internacional, é absolutamente independente aostermos de depoimento de Joesley Mendonça Batista e Ricardo Saud.

Este Julgador não se declarou competente para processo e julgamento de fatos re-lacionados a pagamentos realizados por Victor Sandri a Guido Mantega no exte-rior, relacionados à eventuais benesses indevidas concedidas pelo BNDES aoGrupo J&F.

Inclusive, na decisão de medidas cautelares, consignei que seria possível que osdepósitos fossem relacionados a crimes em apuração perante a 10ª Vara Federal deBrasília, não havendo pretensão alguma de usurpação de competência nem agora enem em fase ulterior do processo.

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Não há plausibilidade alguma no argumento de desrespeito à autoridade da

decisão proferida por esse STF na Pet. n. 7.075, razão pela qual esta Reclamação é ma-

nifestamente improcedente.

II.2 Da burla às regras de competência para apreciar Habeas Corpus e àprevenção do Ministro Edson Fachin para os feitos pertinentes à “OperaçãoLava Jato”

Como demonstrado, a presente Reclamação é manifestamente improcedente.

Independentemente da controvérsia relativa à amplitude da competência da

13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR – fundamento para a decisão proferida pelo

Ministro Gilmar Mendes –, é fato que o pedido deduzido é flagrantemente

improcedente, por não haver qualquer simetria entre o ato reclamado e o paradigma.

Evidenciado que a decisão reclamada não representa qualquer ofensa à deci-

são paradigma, percebe-se que a pretensão do reclamante, na verdade, é submeter a

análise da legalidade do seu decreto de prisão diretamente ao STF, mais precisamente ao

Ministro Gilmar Mendes, num típico Habeas Corpus travestido de Reclamação.

Noutras palavras, busca-se nesta Reclamação um atalho ao STF, inclu-

sive com a escolha do Ministro julgador.

Tanto é assim que, na fundamentação da reclamação, Guido Mantega de-

fende a prevenção do Ministro Gilmar Mendes para a causa por ser a Pet. n. 7.075 “a

mais recente decisão desrespeitada pelo juízo reclamado, referente especificamente

aos termos de colaboração da JBS”.

Como já demonstrado, não há simetria entre o ato reclamado e o paradigma.

Ocorre que o reclamante, além de procurar demonstrar uma (inexistente) violação à au-

toridade da decisão proferida por esse STF na Pet. n. 7.075, argumenta ainda que o juízo

reclamado teria um “histórico de insubordinação às decisões deste e. STF”, citando,

para tanto, além do paradigma, a Pet. n. 6.664 (julgada em 14/08/2018) e a Pet. 6.986

(julgada em 10/04/2018).

Segundo essa tese, a tramitação da Ação Penal n. 5033771-

51.2018.4.04.7000/PR perante o juízo de primeiro grau implica violação a todas essas

decisões, pois “os fatos que formam a ação penal em curso em Curitiba são parte de

um grande todo, tanto no caso da denúncia por organização criminosa que tramita no

DF (malsinado “Quadrilhão”), como no caso da Operação BULLISH (especificamente

falando dos depósitos recebidos no exterior de VICTOR SANDRI).” Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse

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Além disso, “no julgamento do agravo na Pet. 6.664, examinando especifi-

camente a delação da ODEBRECHT, inclusive a compra das Medidas Provisórias 470 e

472/09 – ponto central da denúncia de Curitiba – este e. STF voltou, como já assinalado,

a reafirmar a competência da Justiça Federal do Distrito Federal”.

Como se vê, a pretensão de se ver reconhecida a incompetência do juízo e,

consequentemente, a ilegalidade das cautelares deflagradas na 63ª fase da “Operação

Lava Jato” – e não, propriamente, o desrespeito ao acórdão proferido na Pet. n. 7.075 –

é flagrante. O próprio teor da decisão do Ministro Relator que suspendeu os efeitos do

ato reclamado, por outro lado, evidencia ser esse o ponto fulcral da controvérsia.

O quadro exposto, delimitado pela própria defesa e chancelado pelo Relator,

não autoriza a conclusão de que o Ministro Gilmar Mendes é prevento para a presente

causa. Afinal, se a atuação do juízo de primeiro grau implica violação a todas as deci-

sões referidas acima, não é lícito ao reclamante pinçar apenas uma delas, por qualquer

critério que seja, para eleger o Ministro julgador.

Apontar o acórdão proferido na Pet. n. 7.075 teve o claro propósito de, a um

só tempo, permitir ao reclamante trazer sua pretensão – de Habeas Corpus travestida de

Reclamação, cujas hipóteses de cabimento são estritas – diretamente ao conhecimento

desse STF e eleger o Ministro Relator dos presentes autos, em violação às normas de

distribuição previstas no Regimento Interno desse STF e à prevenção do Ministro Edson

Fachin, a quem, sabidamente, cabe relatar os feitos inseridos no âmbito da “Operação

Lava Jato”.

Ademais, não se está diante de hipótese em que cabível a impetração de Ha-

beas Corpus diretamente ao STF.

Com efeito, apesar de a Reclamação ser manifestamente improcedente, poder-

se-ia imaginar ser juridicamente viável ao STF, ainda assim, conceder Habeas Corpus de

ofício em favor de Guido Mantega e estender os efeitos de tal decisão a Maurício Ferro,

uma vez que esse órgão jurisdicional, ao se deparar com situação que reputa ilegal envol-

vendo investigado ou réu, sempre pode – e deve – agir para fazer cessá-la.

Essa premissa é válida apenas na aparência, sendo inválida ao ser examinada

mais de perto. E isso por que, embora seja certo que ao STF – estando no topo do Poder

Judiciário - é dado conceder Habeas Corpus de ofício quando se deparar com situação de

ilegalidade, é igualmente certo, por outro lado, que isso não pode se dar em flagrante des-

respeito às regras de competência.

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Seguindo esse raciocínio, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar a

Reclamação n. 25.509 em 15 de fevereiro de 2017, concluiu que, embora a Suprema Corte

esteja no ápice do Poder Judiciário nacional, ela apenas pode conceder Habeas Corpus ex

oficio nas ocasiões em que também é competente para deferir a ordem a pedido, nos termos

do art. 102, I, ‘i’, da CF/88, segundo a qual compete ao STF processar e julgar originaria-

mente “o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o

paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdi-

ção do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em

uma única instância”.

Confira-se a ementa do acórdão proferido no recente julgamento da Reclama-

ção n. 25.509, que retrata situação idêntica à subjacente aos presentes autos:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. PROCESSO PENAL. DECI-SÃO MONOCRÁTICA. INEXISTÊNCIA DE ARGUMENTAÇÃO APTA A MO-DIFICÁ-LA. MANUTENÇÃO DA NEGATIVA DE SEGUIMENTO. OFENSA APRONUNCIAMENTO DA CORTE. INOCORRÊNCIA. PEDIDO DE CONCES-SÃO DE HABEAS CORPUS DE OFÍCIO. DESCABIMENTO. AGRAVO RE-GIMENTAL DESPROVIDO.

1. A inexistência de argumentação apta a infirmar o julgamento monocrático con-duz à manutenção da decisão recorrida.

2. Diante da ausência de pronunciamento desta Corte nas Ações Cautelares 4.070e 4.175 quanto aos requisitos autorizadores da prisão preventiva do ora recla-mante, a imposição da aludida medida gravosa pelo Juízo singular não configurausurpação da competência ou desrespeito à autoridade deste Tribunal.

3. Afigura-se inviável o recebimento de reclamação como habeas corpus,ainda que a pretexto de analisar a possibilidade de concessão da ordem deofício, se a suposta ilegalidade não é atribuída a autoridade diretamente su-jeita à jurisdição desta Corte. Inconformismo que deve ser solucionado pelasvias próprias, sem que se reconheça ao interessado o direito subjetivo de, persaltum, socorrer-se da via reclamatória a fim de alcançar a submissão imedi-ata da matéria ao crivo da Suprema Corte.

4. Agravo regimental desprovido (Rcl 25509 AgR/ PR, Relator Min. Edson Fa-chin, Tribunal Pleno, publicado em 18-08-2017). - Original sem grifo

Do entendimento firmado no recente julgamento acima mencionado, profe-

rido pelo órgão colegiado máximo do STF, extrai-se claramente a orientação de que não

se reconhece “ao interessado o direito subjetivo de, per saltum, socorrer-se da via re-

clamatória a fim de alcançar a submissão imediata da matéria ao crivo da Suprema

Corte”, exatamente tal como fez Guido Mantega nos presentes autos, em pretensão que

acabou, por ora, sendo acolhida pela decisão agravada.

Em decisão posterior ao julgamento acima referido, a 1a Turma do STF tam-

bém entendeu que a concessão de Habeas Corpus de ofício pela Suprema Corte so-

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mente é possível se essa mesma medida puder, a luz do art. 102, I, “i”, da CF/88, ser

concedida a pedido, ou seja, se a suposta ilegalidade é atribuída a autoridade diretamente

sujeita à jurisdição do STF, sob pena de indevida supressão de instância. Confira-se:

AGRAVO INTERNO. RECLAMAÇÃO.ALEGADA OFENSA À SÚMULAVINCULANTE 24. INEXISTÊNCIA NO CASO CONCRETO. 1. A instauraçãode inquérito policial para apurar outros crimes, além do previsto no art. 1º da Lei8.137/1990, não ofende o estabelecido no que enunciado pela Súmula Vinculante24. 2. Reclamação, cuja finalidade tem previsão constitucional taxativa, não ad-mite o aprofundamento sobre matérias fáticas. 3. A concessão de habeas corpusex officio pelo STF somente é cabível nas hipóteses em que ele poderia con-cedê-lo a pedido (art. 102, I, ‘i’, da Constituição Federal), sob pena de su-pressão de instância. 4. Agravo interno a que se nega provimento. (Rcl 24768AgR/SP, Relator Min. ALEXANDRE DE MORAES, Julgamento: 21/08/2017,Órgão Julgador: Primeira Turma). - Original sem grifo

No caso dos autos, a autoridade reclamada, a saber, o juízo da 13a Vara Fe-

deral Criminal de Curitiba/PR, não faz parte do rol elencado no art. 102, I, ‘i’, da Consti-

tuição Federal. Daí que a concessão de HC de ofício para, nos autos da presente

reclamação, favorecer Guido Mantega e os demais investigados representa flagrante burla

às normas procedimentais previstas na Constituição e nas leis (rectius, ao devido pro-

cesso legal), e à distribuição de competências, consistindo, acima de tudo, em indevida

supressão de instâncias.

Por fim, ainda que se considere que o STF possui competência para, em sede

de Reclamação, apreciar Habeas Corpus em favor de Guido Mantega ou de Maurício

Ferro, voltado a afastar a ilegalidade de decisão proferida por Juízo de 1º Grau – o que se

admite apenas a título de argumentação -, é certo que não é dado ao Reclamante simples-

mente escolher o Ministro que apreciará sua pretensão, como ocorreu no presente caso.

Ora, como não é caso de Reclamação, esta deveria ter sido recebida como Ha-

beas Corpus e distribuída ao Relator prevento para as causas conexas à “Operação Lava

Jato”, que é o Ministro Edson Fachin.

Assim, na prática, Guido Mantega, sob o pretexto de que a sua prisão desres-

peitou decisão proferida pelo STF, de relatoria do ministro Gilmar Mendes, submeteu dire-

tamente e especificamente a este pretensão típica de Habeas Corpus, em supressão de

instâncias e ofensa ao princípio constitucional do Juiz Natural.

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III- Mérito

III.1 Decisões do STF sobre o âmbito de abrangência da competência da 13a VaraFederal da SJ/PR

Caso tais argumentos sejam rejeitados por essa Segunda Turma, ou, julgada

improcedente a ação, o colegiado vislumbre ser cabível na hipótese a concessão de ordem

de Habeas Corpus de ofício, cabe adentrar na análise do mérito da Reclamação, relativa ao

quão abrangente é a competência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR para os fei-

tos relacionados à “Operação Lava Jato”.

Sobre o ponto, sabe-se que o Plenário desse STF fixou, no julgamento da

Questão de Ordem no Inq. n. 4.130, que os fatos a serem reputados conexos com feitos da

Operação Lava Jato são os relativos a fraudes e desvios de recursos no âmbito da Petro-

bras.

Esse entendimento foi reafirmado, não sem alguma resistência do MPF, em

outros julgados da Corte, dos quais se destaca o julgamento de agravos regimentais no Inq.

n. 4.327, em que o Plenário determinou a remessa de cópia dos autos à Seção Judiciária do

Distrito Federal1, para o processamento dos investigados que não detinham, àquela altura,

foro por prerrogativa de função, precisamente em razão da imputação feita naquele pro-

cesso (de pertinência a organização criminosa) não se inserir no conjunto de fatos de com-

petência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR.

O Ministro Relator anotou, na decisão ora agravada, que os fatos objeto de im-

putação na origem não têm relação com a Petrobras, como o seguinte trecho elucida:

Conforme se depreende, é incontroverso que os fatos apurados na Ação Penal5033771-51.2018.4.04.7000 limitam-se a denúncias de corrupção relacionadasà aprovação do Governo Federal dos parcelamentos especiais previstos nasMedidas Provisórias 449/2008 e 470/2009, e depois na Lei 12.249, de11.6.2010, de conversão da Medida Provisória 472/2009, no que foi, à época,denominado de “Refis da Crise”.

O objeto da apuração penal pelo Juízo reclamado, portanto, cinge-se a umasuposta relação de corrupção entre o Governo Federal, do qual o reclamanteera membro, e a construtora Odebrecht, tendo sido mencionada a questão dochamado Refis da Crise, que estaria maculado e teria beneficiado, principal-mente, a empresa Braskem Petroquímica. (eDOC 5, p. 13).

Verifica-se que tais fatos não possuem nenhuma relação com o parâmetro dedefinição da competência da Justiça Federal de Curitiba sobre a OperaçãoLava Jato, qual seja “ a apuração de fraudes e desvios de recursos no âmbito

1Entendimento aplicado, posteriormente, a todos os desmembramentos de inquéritos relativos ao núcleopolítico da organização criminosa – especificamente no tocante à imputação do crime previsto no art. 2ºda Lei n. 12.850/2013. D

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da Petrobras ”. (PET 7.075, Redator para o acórdão Ministro Gilmar Men-des, Segunda Turma, DJe 6.10.2017).

Além de os fatos imputados não dizerem respeito aos escândalos investigados noâmbito daquela empresa estatal, não se verifica qualquer relação de conexão (art.76, CPP) ou continência (art. 77, CPP) que pudesse atrair a apuração para a SeçãoJudiciária de Curitiba, “ainda que os esquemas fraudulentos investigados possameventualmente ter um operador comum e destinação semelhante (repasse de recur-sos a partido político ou candidato a cargo eletivo” (INQ 4.130 QO, Rel. Min.Dias Toffoli, Tribunal Pleno, Dje 3.2.2016).

A empresa Braskem Petroquímica – e não a Petrobras – teria sido a figuracentral dos fatos imputados ao reclamante na Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000, e aquela empresa seria “a principal beneficiada peloacerto de corrupção e que também teriam provindo dela, segundo a denún-cia, os recursos que geraram o crédito de cinquenta milhões de reais paraGuido Mantega, o que sugere o conhecimento e a participação ativa deles nocrime”. (eDOC 5, p. 11).

A única relação que pode se cogitar entre as duas empresas reside no fato de a Pe -trobras possuir participação acionária na Braskem, sem qualquer relação de con-trole societário. Tal circunstância, no entanto, não tem o condão de estabelecer umliame entre os fatos investigados na Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000 eaqueles objeto de apuração nas ações da Operação Lava Jato.

Em uma apreciação atenta da denúncia, fica claro que, na realidade, a questão daPetrobras é mencionada muito mais no sentido de uma reconstrução geral dos pri-meiros fatos e processos da Operação Lava Jato do que em um contexto ligado aosdesdobramentos específicos que ensejaram o oferecimento da denúncia em desfa-vor do reclamante. (eDOC 4, p. 5 e ss)

Além disso, vislumbrou haver violação a julgados dessa Segunda Turma em

que foi reputada a incompetência do juízo de primeiro grau para a causa, quais sejam, os

relativos ao Inq. n. 4.325 e à Pet. n. 6.664. Confira-se:

Além de não possuir qualquer relação com as fraudes no âmbito do Sistema Petro-bras, verifica-se ainda que os fatos apurados na Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000 pelo juízo reclamado – suposta compra de Medidas Provisóriasenvolvendo a ODEBRECHT e suposto pagamento da propina por meio dos mar-queteiros JOÃO SANTANA e MÔNICA MOURA – parecem coincidir, ainda queparcialmente, com fatos que também estão sendo apurados na Ação Penal1007965-02.2018.4.01.3400, a qual tramita na 10ª Vara Federal do Distrito Fede-ral.

Esta ação penal foi processada a partir do recebimento de denúncia de lavra daProcuradoria-Geral da República (PGR) originalmente apresentada ao STF no âm-bito do INQ 4.325 (o chamado “Quadrilhão do PT”). Especificamente em relaçãoao reclamante, a exordial imputara a prática de corrupção por fatos também relaci -onados à suposta compra de medidas provisórias de refinanciamento de créditostributários com o alegado fito de beneficiar a empresa Braskem.

[…]

Percebe-se, portanto, que os fatos apurados pelo Juízo reclamado de Curi -tiba no bojo da Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000 possuem relação di-reta com os fatos hoje apurados na Ação Penal 1007965- 02.2018.4.01.3400,que tramita na 10ª Vara Federal do Distrito Federal.

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A definição da competência da 10ª Vara Federal do Distrito Federal para processara denúncia apresentada em face de Guido Mantega pelos mesmos fatos investiga-dos pelo Juízo reclamado foi expressamente fixada por decisão do STF, o quemais uma vez configura o desrespeito à autoridade de decisão desta Corte.

[…]

A decisão do relator fixando a competência da Justiça Federal do DF para apuraros fatos descritos na denúncia do INQ 4.325, dentre eles a compra de medidas pro-visórias envolvendo Guido Mantega, data de 6 de março de 2018. É, portanto, an-terior à decisão do então Juiz Federal Titular da 13ª Vara Federal de Curitiba,Sérgio Fernando Moro, que recebeu a denúncia em relação ao reclamante e aos de-mais corréus nos autos da Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000, ora em trâmiteem Curitiba.

Com base nesse mesmo precedente, a Segunda Turma do Supremo, no julgamentoda PET 6.664 – a qual também tinha como como requerente o próprio reclamantee como objeto fatos intimamente ligados àqueles apurados na Ação Penal5033771-51.2018.4.04.7000 –, mais uma vez, reafirmou que ilícitos não relacio-nados à apuração de fraudes na Petrobras não atraem a competência para Curitiba.

Na PET 6.664, o ora reclamante pleiteava, em suma, o reconhecimento de inde-vido bis in idem com relação aos fatos narrados nos termos da delação premiadada empresa Odebrecht, especialmente no tocante à planilha denominada Pós Itália,uma vez que já seriam objeto dos INQ 4.437 e 4.430, em trâmite nesta SupremaCorte.

Em tal ação, o reclamante sustentava a conexão com esses fatos e requeria subsidi -ariamente a remessa dos termos da delação premiada da empresa Odebrecht paraBrasília ou São Paulo, locais onde os crimes teriam supostamente ocorrido, e nãopara a Justiça Federal de Curitiba, como intentava a Procuradoria-Geral da Repú-blica, já que o objeto das delações, principalmente a planilha denominada Pós Itá-lia, não guardaria nenhuma relação direta com a questão central da Petrobras.

Em que pese a tese do indevido bis in idem não ter sido acolhida pela SegundaTurma do Supremo, o julgado afirmou mais uma vez o restrito espectro de atraçãode competência para Curitiba em casos da Operação Lava Jato, tendo sido dadoprovimento ao agravo regimental para determinar a imediata remessa dos termosda delação premiada da Odebrecht para a Seção Judiciária de Brasília, acolhendo-se, portanto, o pleito subsidiário do reclamante. A razão determinante para taldecisão foi justamente a comprovação de que os fatos em análise não teriamuma ligação explícita e direta com a Petrobras.

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A despeito do MPF entender ser a competência do juízo de primeiro grau para

os feitos conexos à “Operação Lava Jato” mais ampla do que o STF tem enunciado23, a

controvérsia não se faz presente no caso sob análise, como ficará demonstrado a seguir.

Para tanto, argumentar-se-á que (i) os fatos denunciados na Ação Penal n.

5033771-51.2018.4.04.7000/PR têm relação direta com “as fraudes e desvios de recur-

sos no âmbito da Petrobras”, bem como que (ii) o recebimento da denúncia não impor-

tou violação aos julgados dessa Segunda Turma referenciados na decisão agravada.

III.2 A Braskem é integrante do grupo econômico de fato “Sistema Petrobras”

O Ministro Relator, na decisão agravada, destacou que a “única relação que

pode se cogitar entre as duas empresas reside no fato de a Petrobras possuir participação

acionária na Braskem, sem qualquer relação de controle societário”.

Depura-se da afirmação que, no entender do Relator, a relação de controle so-

cietário estabelecida entre uma dada sociedade empresária e a Petróleo Brasileiro S/A, em-

presa matriz do grupo “Sistema Petrobras”, seria fator relevante para se considerar

eventuais crimes praticados no âmbito dessa dada sociedade empresária no espectro da

competência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR para os feitos relacionados à

“Operação Lava Jato”.

Nesse sentido, essa competência não estaria limitada unicamente à pessoa ju-

rídica Petrobras, mas incluiria outras pessoas jurídicas que guardem um determinado tipo

de relação com a sociedade de economia mista. No entender do Relator, um dos fatores –

ou o único fator, dado o caráter restritivo do decisum – para se aferir a existência dessa re-

lação seria o controle societário exercido pela Petrobras sobre a dada pessoa jurídica.

Com efeito, não parece adequado considerar-se que o Plenário desse STF, no

julgamento do Inq. n. 4.130-QO, tenha pretendido restringir a competência do juízo de pri-2Ao modo de ver do MPF, a competência do juízo de piso para os feitos conexos à “Operação Lava Jato”abarca, além daqueles relativos à Petrobras, pelo menos os que envolvem o Setor de OperaçõesEstruturadas da Odebrecht e aqueles cujos fatos em apuração tenham ocorrido na Seção Judiciária doParaná.3Não é rígida a tese de que apenas os crimes relativos a “fraudes e desvios ocorridos no âmbito daPetrobras” inserem-se na competência do juízo de piso para os feitos conexos à “Operação Lava Jato”.Com efeito, todos os inquéritos e ações penais que tramitaram perante o juízo de piso ou perante esseSTF cujo objeto era a prática de crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro no contexto das diversasComissões Parlamentares de Inquérito ou Comissões Mistas Parlamentares de Inquérito instauradas paraapurar os ilícitos cometidos em desfavor da Petrobras foram reputados conexos à “Operação Lava Jato”.O fato da relação de tais crimes com aqueles ocorridos em desfavor da Petrobras não ser patrimonial, masapenas teleológica, não foi impeditivo para tanto. E nem deveria servir, na medida em que as hipóteseseram (ou são, no caso dos inquéritos e/ou ações penais ainda em tramitação) as previstas no art. 76,II, doCPP. Todavia, o exemplo contribui para demonstrar que o critério eleito por esse STF para configurar acompetência do juízo de piso admite exceções, desde que se verifique que tais exceções atendam àsregras de conexão ou continência previstas na legislação processual penal. D

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meiro grau apenas aos crimes praticados em desfavor da matriz do “Sistema Petrobras”. Se

assim o fosse, nenhum dos crimes praticados em detrimento das subsidiárias da estatal ou

das demais sociedades integrantes do grupo econômico “Sistema Petrobras” seriam de

competência do juízo de primeiro grau ou, por simetria, sujeitas à prevenção do Ministro

Edson Fachin.

Veja-se que, apenas no âmbito desse STF, o Ministro Edson Fachin foi repu-

tado prevento para investigações relativas a crimes praticados em prejuízo de subsidiárias

da Petrobras nos Inqs. n. 4.215 (Transpetro), 3.883 e 4.112 (BR Distribuidora) – que origi-

naram a AP n. 1.025 –, 3.990 (BR Distribuidora) – que originou a AP n. 1.019 –, bem

como de controlada em conjunto, no Inq. n. 4.118 (Petrocoque) – que originou a AP n.

1.032.

O alcance normativo de “Petrobras” na tese firmada por esse STF para delimi-

tar a competência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR, portanto, não se limita à

pessoa jurídica Petróleo Brasileiro S/A, mas deve abarcar, pelo menos, todas as demais

pessoas jurídicas que integram o denominado “Sistema Petrobras”.

Por essa razão, não apenas os processos relativos a crimes praticados no âm-

bito da matriz da petrolífera são entendidos enquanto integrantes da “Operação Lava Jato”,

mas também aqueles em que se apura delitos ocorridos no âmbito das demais integrantes

do grupo econômico, como a Petrobras Transporte S/A (Transpetro), a Petrobras Distribui-

dora S/A (Br Distribuidora), a Petróleo Gás S/A (Gaspetro), dentre outras4.

Como se pode perceber, não há perfeita congruência entre a decisão recorrida e

o entendimento desse STF acerca da extensão da competência do juízo de primeiro grau.

Isso porque o poder de controle e o grupo societário são categorias jurídicas distintas,

conquanto inter-relacionadas.

O poder de controle é definido de modo reflexo pelo art. 116 da Lei n.

6.404/1976, o qual dispõe acerca do acionista controlador, nos seguintes termos:

Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou ogrupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:

a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioriados votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dosadministradores da companhia; e

b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar ofuncionamento dos órgãos da companhia.

4http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/principais-subsidiarias-e-controladas/outras-empresas-controladas-do-sistema-petrobras/. Acesso em 14/10/2019. D

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Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer acompanhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres eresponsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nelatrabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses develealmente respeitar e atender.

A despeito da existência de definição da categoria jurídica feita pelo legislador,

há profunda controvérsia doutrinária acerca da extensão desse conceito. Enquanto certos

autores entendem só se configurar o poder de controle quando há acionista (ou grupo de

acionistas vinculados por acordo de voto) majoritário, para outros a questão é menos for-

mal que casuística, e a identificação do acionista controlador depende do exame efetivo da

direção das atividades sociais.

Por outro lado, grupo de sociedades é a concentração empresarial que se via-

biliza mediante a aquisição de participações acionárias por uma pessoa jurídica em outras

sem que haja a completa integração de patrimônios e personalidades jurídicas.

Essa categoria é gênero composto de duas espécies distintas, os grupos de fato

e os de direito.

O grupo de fato é aquele constituído por um conjunto de sociedades coligadas,

controladoras e controladas, cujo tratamento legal se encontra no Capítulo XX da Lei das

S/A, fundamentalmente preocupado com a publicidade da situação de fato, a atribuição de

responsabilidade aos administradores e à sociedade controlada e a disciplina de operações

societárias entre partes relacionadas.

Já o grupo de sociedades de direito, regulado pelo Capítulo XXI da Lei das S/

A, é aquele constituído mediante negócio jurídico convencional celebrado pela sociedade

controladora e suas controladas.

Assim, os grupos de sociedades de direito e de fato diferenciam-se pela exis-

tência de negócio jurídico formal que qualifica o primeiro, bem como pela natureza das re-

lações societárias estabelecidas entre as pessoas jurídicas integrantes dos grupos.

Com efeito, a existência de relação de controle societário entre duas ou mais

sociedades empresárias implica a configuração de grupo de fato, mas a recíproca não é ver-

dadeira, ou seja, é possível o pertencimento a grupo de fato independentemente de haver

poder de controle, na forma de sociedades coligadas, caracterizadas como aquelas na qual a

investidora detenha influência significativa (art. 243, § 1º). O grupo de sociedades de di-

reito, por outro lado, só comporta em seu âmbito sociedades interligadas mediante a rela-

ção de controle.

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Feita a distinção entre as duas espécies de grupos de sociedades existentes no

direito brasileiro, é preciso determinar em qual delas o “Sistema Petrobras” se insere.

Em primeiro lugar, enquanto anotação mais geral relativa à realidade da orga-

nização empresarial brasileira, o grupo de sociedades de fato deve ser tomado com prima-

zia para o exercício de identificação de relações entre sociedades empresárias, para o fim

de atribuição de responsabilidade.

Isso porque esse é o modelo organizativo dominante na prática societária brasi-

leira. Sobre o ponto, cabe citar o magistério de Modesto Carvalhosa5:

O nosso legislador de 1976, traduzindo o sonho, à época, de aceleração exponencialde nossa microeconomia, visando à criação da Grande Empresa (como explicita-mente previa o II PND, 1973-1975), descurou-se de um princípio fundamental, queé o da antecedência do fato que o direito quer regular. E, em 1975, não existia o fato,não preexistia o Zaibatsu brasileiro, o Konzern brasileiro. Não podendo, portanto,institucionalizar o que não havia, o legislador, cioso dos planos de política econô-mica em voga (II PND), resolveu fazer com que a lei criasse entre nós o Zaibatsucom roupagem de Konzern.

E por se tratar de direito sem fato, o “instituto de sociedades” tratado no presenteCapítulo XXI, pela sua notória artificialidade, não logrou instalar-se no mundo ju-rídico-empresarial brasileiro.

Interessante notar, ainda, que alguns grupos empresariais, à época, quiseram experi-mentar a novidade importada de um contexto histórico totalmente diverso. Desdelogo, desistiram e regressaram ao sistema de grupo de fato (art. 243).

Não fosse tal observação suficiente, cabe salientar que não existe convenção de

grupo de sociedades relativa ao “Sistema Petrobras”, precisamente em razão de sua impres-

tabilidade.

O que existe é autorização legal para que a Petrobras constitua subsidiárias, as

quais podem associar-se, majoritária ou minoritariamente, a outras empresas (art. 64 da Lei

n. 9.478/1997).

Essa breve digressão serve para demonstrar que o critério da decisão re-

corrida para qualificar que tipo de relação societária entre uma dada pessoa jurídica

e a Petrobras enseja a competência do juízo de primeiro grau para a causa é mais

restritivo que o eleito pelo Pleno desse STF, no julgamento do Inq. n. 4.130-QO.

Afinal, não é necessário que exista relação de controle societário para a carac-

terização de um grupo econômico de fato.

Nesses termos, a leitura adequada da tese firmada por esse STF no julgamento

do Inq. n. 4.130-QO exige reconhecer que, independentemente da configuração de relação

5CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas. 4º volume: tomo II. 4ª ed. rev. eatual. São Paulo: Saraiva, 2011, pp. 358/359. D

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de controle societário estrito, uma empresa na qual a Petrobras detenha participação acioná-

ria significativa é integrante do grupo econômico de fato “Sistema Petrobras”. Nesses ter-

mos, eventuais crimes praticados pela organização criminosa desbaratada pela “Operação

Lava Jato” em desfavor dessa empresa são de competência do juízo da 13ª Vara Federal

Criminal de Curitiba/PR.

Com efeito, a Braskem é reconhecida pela própria Petrobras como sua coli-

gada. A estatal também consolida em suas informações financeiras anuais os dados da

Braskem, nos termos dos arts. 247 e 248 da Lei das S/A.

Por essas razões, entende-se ser a decisão recorrida dissonante do entendi-

mento desse STF sobre a matéria, razão suficiente para ensejar sua reforma e manter a tra-

mitação da Ação Penal relativamente ao réu Guido Mantega no juízo de primeiro grau

Não obstante, ainda que se entenda ser adequado o tratamento dado pelo Mi-

nistro Relator à matéria, no que concerne à configuração da competência do juízo de pri-

meiro grau, ainda assim a conclusão da decisão agravada deve ser revista.

III.3.b A Braskem é conjuntamente controlada pela Petrobras e pela Odebrecht

Independentemente de como a Braskem e a Petrobras nomeiam a relação soci-

etária existente entre ambas, sabe-se que a Braskem é sociedade empresária controlada

conjuntamente pela Petrobras e pela Odebrecht, desde o tempo dos primeiros fatos crimi-

nosos até os dias atuais.

Com efeito, ao tempo das tratativas narradas na denúncia para a edição das

Medidas Provisórias n. 470 e 472, a dinâmica da relação societária existente entre a estatal

e a construtora no capital social com direito a voto da Braskem era regulada por Acordo de

Acionistas firmado em 30 de maio de 20086, posteriormente substituído por novo acordo

em 08 de fevereiro de 20107, ainda vigente.

Na nomenclatura desse primeiro Acordo de Acionistas, a Odebrecht e sua sub-

sidiária Nordeste Química S/A – Norquisa – eram as “Acionistas Controladoras”, pela cir-

cunstância de deterem, conjuntamente, 60,34% do capital social da Braskem8. O

“Controle”, por sua vez, era definido como “deter, direta ou indiretamente, 50% (cinquenta

por cento) mais uma ação do capital votante de determinada sociedade”9.

6DOC. 01.7DOC. 02.8Cláusula 1.4.9Cláusula 1.2: (xii). D

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Não obstante, o Acordo de Acionistas vigente ao tempo dos fatos narrados na

denúncia continha diversas disposições que evidenciavam o controle conjunto da Braskem

pelas partes.

As principais delas eram as dispostas nas Cláusula 2, 3 e 5, relativas ao direito

de voto, à administração da Companhia e a reuniões prévias, respectivamente.

A Cláusula 2, relativa ao direito de voto, prescrevia, além de diretrizes gerais

acerca do seu exercício contidas na Cláusula 2.1, 24 matérias sujeitas à convenção prévia

de voto (Cláusula 2.2), a serem deliberadas nas Reuniões Prévias objeto da Cláusula 5. Em

razão desse mecanismo, tais matérias deveriam ser objeto de decisão por consenso entre as

Partes Acordantes, e esse conjunto abrangia a deliberação relativa a toda sorte de temas

sensíveis aos rumos da Braskem, incluindo o regime das ações preferenciais, a emissão de

debêntures conversíveis em ações ordinárias, a criação ou outorga de opções de compra e

de venda de ações da Braskem, redução do dividendo mínimo obrigatório, participação da

Braskem em sociedades diversas ou em grupo de sociedades, aumento ou redução do nú-

mero de membros do Conselho de Administração, aumento do capital social, transforma-

ção, fusão, cisão ou incorporação da Braskem ou de suas ações em outras sociedades,

fechamento de capital, aquisição ou alienação, cessão ou transferência de bens do ativo

permanente relevantes para as operações da Companhia, requerimento de falência e recupe-

ração judicial ou extrajudicial, celebração de contratos de grande monta, revisão ou altera-

ção da Política de Gestão Financeira da Braskem, escolha ou substituição dos auditores

independentes e exercício do direito de voto pela Braskem em suas Controladas, dentre ou-

tras.

Além disso, a Cláusula 2.4 estabelecia, em hipótese de diluição acionária da

Petrobras e da Petroquisa, a obrigação da Odebrecht e da Norquisa (“Acionistas Controla-

doras”, na terminologia desse primeiro Acordo de Acionistas) garantirem-nas o direito de

manter a participação no capital social da Braskem, mediante diversos mecanismos.

A Cláusula 3, como já destacado, era relativa à administração da Braskem.

Previa, além de disposições gerais sobre governança, regras para a eleição dos membros da

Diretoria e do Conselho de Administração, observada a proporcionalidade entre as partici-

pações da Odebrecht e da Norquisa, de um lado, e da Petrobras e da Petroquisa, de outro.

Finalmente, a Cláusula 5 regulava a sistemática das Reuniões Prévias, cujo

propósito era o acordo entre as partes para o exercício do direito de voto nas matérias pre-

vistas na Cláusula 2.2.

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Conforme disposto na Cláusula 5.1, as reuniões seriam realizadas com a pre-

sença de no máximo três e no mínimo um representante de cada uma das Partes Acordan-

tes. Além disso – e aqui tem-se talvez a disposição mais representativa do controle

compartilhado da Braskem disciplinado no Acordo –, dispunha que cabia nas reuniões pré-

vias um voto para cada uma das Partes, as “Acionistas Controladoras”, conjuntamente, e a

Petrobras e a Petroquisa, também conjuntamente.

Como se vê, o Acordo de Acionistas estabelecia que as matérias mais funda-

mentais para o desenvolvimento do objeto social da Braskem seriam decididas pelo grupo

Odebrecht e pela Petrobras, conjuntamente. Era efetivamente um acordo de controle, meca-

nismo disciplinado no art. 118 da Lei n. 6.404/1976, e cuja eficácia fazia recair sobre as

acordantes as regras dos arts. 116 e 117 da mesma Lei.

Ressalta mais ainda o controle compartilhado como objeto desse Acordo de

Acionistas a já examinada Cláusula 5.1. A reunião prévia é a expressão máxima do exercí-

cio do controle comum, pois ela substitui a Assembleia Geral como o ambiente em que são

decididas as questões mais fundamentais atinentes às funções sociais da companhia.

Assim sendo, é de supor-se que o exercício do direito de voto nessas reuniões

prévias observaria a proporção da participação acionária de cada uma das acordantes. Não

obstante, no caso do Acordo de Acionistas da Braskem, tanto a Odebrecht quanto a Petro-

bras tinham um voto cada uma. Essa circunstância evidencia o alinhamento de interesses

entre as duas acordantes.

Importante anotar que a terminologia desse primeiro Acordo de Acionistas, no

qual constam como controladoras apenas as sociedades vinculadas ao grupo Odebrecht, em

nada afasta tais conclusões.

O poder de controle deve ser aferido a partir da titularidade de direitos de só-

cio, individualmente ou mediante acordo de voto, que assegurem ao acionista, de modo

permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembléia-geral e o poder de eleger

a maioria dos administradores da companhia, bem como no uso efetivo desse poder para

dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.

Essa era exatamente a situação observada com relação à Petrobras no primeiro

Acordo de Acionistas celebrado com a Odebrecht e a Norquisa. Tanto é assim que no se-

gundo Acordo de Acionistas, vigente ao tempo do segundo conjunto de fatos narrados na

denúncia e relativos ao pagamento de R$ 15.100.000,00 aos réus João Santana e Mônica

Moura, já não há o emprego dessa terminologia, e é evidente no texto o exercício conjunto

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do controle da Braskem por ambas as partes, ainda que as disposições desse segundo

acordo fossem fundamentalmente semelhantes às do primeiro10.

Diante de tais fatos, tem-se que a Petrobras era, ao menos desde a celebração

do primeiro Acordo de Acionistas com a Odebrecht, em 30 de maio de 2008, controladora

da Braskem, tivesse ou não essa denominação no Acordo ou nos balanços registrados na

CVM e no mercado de balcão em que seus valores mobiliários estão sujeitos à negociação.

Essa circunstância é suficiente para caracterizar a relação direta entre a Petro-

bras (junto à Odebrecht) e a Braskem, apta a configurar a conexão da Ação Penal que tra-

mita na origem à “Operação Lava Jato”.

III.3.c Da conexão intersubjetiva e instrumental da Ação Penal n. 033771-51.2018.4.04.7000/PR com os feitos conexos à “Operação Lava jato”

A denúncia narra que, da vantagem indevida acordada entre os réus em razão

das tratativas para a edição das MPs n. 460, 470 e 472, foi acordado com Guido Mantega o

pagamento de R$ 50.000.000,00 em benefício do Partido dos Trabalhadores, descontados

do caixa da Braskem; desse montante, R$ 15.150.000,00 foram destinados ao casal de pu-

blicitários Mônica Moura e João Santana.

Os mecanismos pelos quais recursos financeiros da Braskem – aos quais a Pe-

trobras tinha direito, na proporção de sua participação acionária à época – serviram ao pa-

gamento de vantagens indevidas, operacionalizado pelo Setor de Operações Estruturadas

da Odebrecht, foi assim descrito na denúncia11:

O Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht formava um caixa geral de pro-pina da ODEBRECHT. Todos os pagamentos ilícitos realizados pelo Grupo ODE-BRECHT, entre estes os realizados pela BRASKEM, eram feitos exclusivamentepor meio de tal setor, valendo-se da complexa estrutura financeira constituída dediversas “camadas”como forma de dissimular os pagamentos.

De um modo geral, para a operação deste esquema, em um primeiro momento,eram realizados diversos depósitos financeiros a partir de contas relacionadas àsempresas do Grupo Odebrecht, tais como as contas da CONSTRUTORA NOR-BERTO ODEBRECHT, da ODEBRECHT SERVICOS NO EXTERIOR, daBRASKEM, da OSEL ANGOLA DS ODEBRECHT SERVICOS NO EXTE-RIOR em contas controladas pela Odebrecht, mas mantidas no exterior em nomede offshores e não declaradas às autoridades brasileiras, tais como as já conhecidascontas SMITH & NASH ENGINNERING COMPANY INC., GOLAC PRO-JECTS AND CONSTRUCTION CORP. e ARCADEX CORP., contas essas das

10As únicas diferenças significativas, dentre as disposições relativas ao controle da sociedade, estavam naCláusula 3, da administração, pois nesse segundo Acordo a Petrobras, em geral, tinha a prerrogativa deindicar quantidade singelamente maior de membros do Conselho de Administração e da Diretoria.11Fls. 104/108 da denúncia. D

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quais a CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT figura como beneficiáriaeconômica.

Em operações de lavagem subsequentes, depois de as empresas do Grupo ODE-BRECHT já terem depositado os valores sujos nas contas bancárias situadas nachamada primeira camada da lavagem, em nome de offshores nas quais a empre-sas do Grupo Odebrecht figuravam como beneficiárias econômicas, os valores, viade regra, eram transferidos para outras contas bancárias no exterior, também emnome de pessoas jurídicas interpostas (offshores), estabelecendo-se uma terceiracamada de lavagem de dinheiro, para que, a partir dessa terceira camada, fossemfeitas novas transferências71 às contas dos beneficiários dos valores ilícitos oudos doleiros que eram utilizados para efetuar a entrega de valores em Reais noBrasil, para pagamentos ilícitos também determinados pelo Setor de OperaçõesEstruturdas. Dessa forma, distanciava-se ainda mais a origem ilícita dos recursos,em uma engrenagem extremamente complexa de lavagem de ativos.

[…]

Conforme certificado em controles financeiros que estavam de posse de FER-NANDO MIGLIACCIO, a BRASKEM destinou altas somas de recursos para ascontas mantidas e utilizadas pelo Setor de Operações Estruturadas, contas essasque, como já referido, eram utilizadas para o pagamento de propinas e para os bô-nus não contabilizados dos altos executivos do grupo empresarial.

No ponto, cabe salientar que essas remessas ilegais foram admitidas pelaBRASKEM em seu Acordo de Leniência, estando devidamente demonstradas do-cumentalmente, tendo a empresa, em razão desta conduta, realizado as comunica-ções necessárias à Receita Federal e se submetido às imputações decorrentes.

A fim de que não reste dúvidas, reproduz-se o teor da planilha de controle finan-ceiro intitulada “Controle Conta Corrente BRK – Base 30 de Junho 2014 emUS$”, identificada dentre o material apreendido com FERNANDO MIGLIAC-CIO:

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Conforme demonstra a Planilha “Controle Conta Corrente BRK”, a empresaBRASKEM (referida pelas letras BRK) remeteu, entre os anos de 2008 e 2014,certamente a quantia de, pelo menos, USD 175.282.354,73 para o Setor de Opera-ções Esturutradas (gerido por FERNANDO MIGLIACCIO), contribuindo efetiva-mente para os pagamentos de propina concretizados por meio do Setor deOperações Estruturadas.

A respeito da Planilha “CONTA CORRENTE BRK”, FERNANDO MIGLIAC-CIO esclareceu que tal planilha efetivamente se referia ao controle de contabili-dade de geração de “caixa 2” realizado pela BRASKEM para o Setor de OperaçõesEstruturadas, sendo que, na rubrica “Remessa”, eram anotados os valores que aBRASKEM aportava no Setor de Operações Estruturadas.

Nesse sentido, os valores aportados pela BRASKEM para o caixa geral de pro-pina, além de se misturarem com os demais recursos ilícitos para subsidiar os pa-gamentos ilícitos de todo o grupo, iria, obviamente, também custear o repassedissimulado de valores de propina pagos no interesse dos negócios da Braskem,como é o caso dos valores de propina objeto da presente ação penal.

Como se vê, o prejuízo causado à Petrobras em razão das práticas crimi-

nosas que envolveram a Braskem é evidente.

Houve, ao longo dos anos de 2008 e 2014, a remessa para o exterior de, pelo

menos, US$ 175.282.354,73 para contas administradas pelo Setor de Operações Estrutura-

das, os quais foram utilizados para o pagamento de vantagens indevidas não apenas no

caso sob análise, mas também em diversas outras circunstâncias, devidamente relatadas no

acordo de leniência firmado pela Companhia e também nos acordos de colaboração premi-

ada firmados pelos executivos ligados ao grupo Odebrecht cuja atuação se dava na petro-

química.

Esses crimes praticados no âmbito da Braskem, por outro lado, davam-se com

a plena anuência dos integrantes da Diretoria e do Conselho de Administração indicados

pela Petrobras.

Desses, destaca-se o colaborador e ex-Diretor de Abastecimento da Petrobras,

Paulo Roberto Costa, que foi Vice-Presidente do Conselho de Administração da Braskem

nesse período. Sobre seu efetivo engajamento no direcionamento de recursos da Braskem

para o pagamento de vantagens indevidas, é ilustrativo o relato do colaborador e ex-Presi-

dente da Braskem, Carlos Fadigas12:

COMPROMISSO COM O PARTIDO PROGRESSISTA

Após minha nomeação para diretor presidente da Braskem, em dezembro de 2010,fui informado por Alexandrino Alencar e Marcelo Odebrecht sobre a existência depromessas de pagamentos, feitas por meus antecessores, a políticos ligados aoPartido Progressista. Fui também informado que esses pagamentos estavam emsua fase final e as últimas remessas seriam feitas nos meses seguintes. Nesse con-

12Anexo Temático n. 3 da Colaboração Premiada, DOC. 03. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse

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texto, a empresa deveria continuar a disponibilizar recursos para o Partido Pro-gressista, que seriam repassados a políticos da agremiação.

Assim, eu teria que sinalizar a Paulo Roberto Costa que a substituição de Ber-nardo Gradin na presidência da Braskem por mim não afetaria os pagamentos,nem significaria mudança quanto aos compromissos assumidos.

Para isso enviei e-mail no dia 12 de dezembro de 2010, propondo uma conversacom Paulo Roberto Costa, no Hotel Deville na Bahia, para o dia 14 de dezembro,algumas horas antes do jantar de fim de ano do Conselho de Administração daBraskem. Naquela oportunidade, discutimos temas técnicos relativos às operaçõesda Braskem e, ao final, garanti a ele que os compromissos “de toda natureza” as -sumidos anteriormente seriam honrados.

Durante todo o ano de 2011 e até abril de 2012, tive várias reuniões de trabalhocom Paulo Roberto Costa no edifício sede da Petrobras no Rio de Janeiro e nasede da Braskem em São Paulo, afinal, além de diretor da Petrobras ele era o Vice-Presidente do Conselho de Administração da Braskem, ao qual eu me reportava.Nas primeiras reuniões de trabalho Paulo Roberto Costa não tratou comigo docompromisso financeiro.

Entendo que os pagamentos a Paulo Roberto Costa/Partido Progressista funciona-vam da seguinte forma. O presidente da Companhia, em alinhamento com Alexan-drino Alencar, acionava Hilberto Silva e sua equipe, que providenciavam opagamento por meio de empresas de fachada no exterior. Essa sistemática já exis -tia antes de que eu assumisse a Presidência da Braskem. A partir das informaçõesque possuo hoje, acredito que esses pagamentos eram a contrapartida para a obten-ção de preços mais favoráveis no contrato de nafta assinado em 2009.

No início de 2011, foram realizados, por essa sistemática, repasses de cerca de 2,3milhões de dólares para contas no exterior, registradas no Drousys. Entendo queesses repasses já haviam sido autorizados anteriormente e, como minha chegadana presidência era recente, a programação financeira foi cumprida sem minha in-terferência. Fiquei sabendo dos detalhes desses repasses recentemente, dentro doprocesso de pesquisa de informações para o processo de colaboração.

Por volta de maio de 2011, em uma sala de reunião do andar da diretoria no edifí -cio sede da Petrobras no Rio de Janeiro, Paulo Roberto Costa me cobrou o que se -ria o último pagamento pendente do compromisso previamente assumido, novalor de 10 milhões de reais. Naquele momento estavam em curso importantesquestões comerciais entre a Braskem e a Petrobras (envolvendo por exemplo pro-peno, etano, propano e gasolina, entre outros) e imaginei que o descumprimentodo acordo preexistente poderia trazer prejuízos relevantes à Braskem. Posterior-mente conversei com Alexadrino Alencar, na sede da Braskem no Eldorado Busi-ness Tower em São Paulo para me certificar do valor. De posse dessa informação,liguei para Hilberto Silva o autorizando a realizar o pagamento, sendo que aequipe liderada por Hilberto já tinha as informações referentes às contas para essespagamentos, visto que eles já vinham ocorrendo anteriormente. Esse último paga-mento foi programado pela área liderada por Hilberto Silva em julho de 2011 e de-sembolsado de forma parcelada nos dois meses seguintes, para contas no exteriorregistradas no Drousys.

Paulo Roberto permaneceu como Diretor de Abastecimento da Petrobrás e comoVice-Presidente do Conselho de Administração da Braskem até abril do ano se-guinte, quando deixou a Petrobras. Nesse período, nenhum tema relacionado aesse apoio político voltou a ser tratado e também não ocorreram outros pagamen-tos.

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Veja-se que a imbrincada relação entre a Petrobras e a Braskem se dá não ape-

nas na relação formal de controle societário e na instrumentalização de ambas, pelos mes-

mos atores, para a prática de crimes, mas também em suas próprias atividades

operacionais, sendo a sociedade de economia mista a principal fornecedora dos insumos

que a petroquímica utiliza em suas atividades.

Exatamente por essa razão, a prática de crimes no âmbito da Petrobras foi fun-

damental para a consolidação do setor petroquímico brasileiro na figura da Braskem, con-

forme relatado pelos colaboradores Emílio Odebrecht, Alexandrino Alencar e Carlos

Fadigas13.

Como se vê, os atos ilícitos praticados pelos réus na Ação Penal n. 033771-

51.2018.4.04.7000/PR estão umbilicalmente ligados às fraudes e desvios ocorridas na

Petrobras.

Diversos elementos de prova colhidos perante o juízo da 13ª Vara Federal

de Curitiba/PR serão úteis na elucidação dos fatos de que cuida o processo que tramita

na origem, como aqueles que permitem compreender melhor a influência exercida por

agentes da Petrobras na Braskem e como essa influência foi determinante para permitir o

uso da petroquímica no pagamento de vantagens indevidas. Dentre esses agentes, além

do já citado Paulo Roberto Costa, destaca-se o próprio Guido Mantega, membro do

Conselho de Administração da Petrobras ao tempo dos fatos narrados na denúncia.

Não há, portanto, apenas a evidente conexão intersubjetiva entre o processo de

origem e a “Operação Lava Jato”, tampouco mera identidade de operadores financeiros e

destinação semelhante (repasse de recursos a partido político ou candidato a cargo eletivo).

Existe efetiva conexão probatória na hipótese, dado que as relações entre os agentes envol-

vidos e as pessoas jurídicas lesadas era intensamente imbrincada.

A reunião das causas perante um mesmo juízo, como se vê, terá no caso efeti-

vamente o potencial de maximizar a eficácia da instrução processual e evitar a prolação de

sentenças contraditórias, escopos máximos das normas de concentração de competência.

Por fim, registre-se que esta não é a primeira oportunidade em que o juízo de

primeiro grau julgou ação penal na qual desvios praticados em sociedade empresária na

qual a Petrobras era detentora de participação acionária e poder de controle e cujas ativida-

des eram diretamente imbrincadas às da petrolífera terminaram por importar em prejuízo à

sociedade de economia mista.

13Cujos respectivos depoimentos foram declinados, por meio da Pet. n. 6.743, à Seção Judiciária doParaná. D

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Esquema semelhante foi praticado no âmbito da empresa Sete Brasil, objeto

das Ações Penais n. 501340559.2016.404.7000 e 5050568-73.2016.404.7000.

Na Ação Penal n. 501340559.2016.404.7000, já sentenciada, e que também ti-

nha João Santana e Mônica Moura no polo passivo, desvios praticados no âmbito da Sete

Brasil serviram para, em último grau, permitir o pagamento de vantagens indevidas em de-

trimento da Petrobras. Da denúncia que originou aquele processo colhe-se o seguinte tre-

cho:

A respeito da sistemática de pagamento de propina implementada a partir da criaçãoda SETE BRASIL, PEDRO BARUSCO esclareceu que havia um acerto firmadoentre os Estaleiros, o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (JOÃO VACCARI),os Diretores da SETE BRASIL e o então Diretor de Serviços da Petrobras, RE-NATO DUQUE, para que 0,9% do valor de contratação das sondas pela PETRO-BRAS fosse destinado ao pagamento de propina, sendo que, deste montante, adistribuição das vantagens indevidas, conforme determinação de JOÃO VAC-CARI14, ocorria da seguinte forma: a) 2/3 do valor global da propina seriam repas-sados ao Partido dos Trabalhadores, conforme determinação e orientação de JOÃOVACCARI NETO, então Tesoureiro do Partido dos Trabalhadores; b) 1/3 seria divi-dido entre: b.1) os altos funcionários da Diretoria de Serviços da Petrobras, referidosnos controles de pagamento de propina como “Casa 1” - correspondente a RENATODUQUE e ROBERTO GONÇALVES, aquele Diretor de Serviços e este GerenteExecutivo de Engenharia - e b.2) a Diretoria da SETE BRASIL, referida como“Casa 2” - JOÃO CARLOS DE MEDEIROS FERRAZ, então Presidente da em-presa, EDUARDO MUSA, Diretor de Participações, e PEDRO BARUSCO15 .

Conforme será melhor explicitado, a utilização da SETE BRASIL como empresa in-termediadora da contratação dos Estaleiros com a PETROBRAS terminou por seconstituir em uma verdadeira extensão do sistema de corrupção que já estava imple-mentado e arraigado na Petrobras, em especial no que se refere à contratação de son-das. A formação da SETE BRASIL permitiu a continuidade do recebimento devantagens ilícitas pelos funcionários corruptos e também assegurou continuidade dasimulação de efetiva concorrência por parte das empreiteiras, sempre em prejuízo àPetrobras.

Em vista de todas essas considerações, tem-se por demonstrada a relação di-

reta dos fatos denunciados na Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR com “as

fraudes e desvios de recursos no âmbito da Petrobras”.

III.3.d Da inocorrência de violação aos julgados dessa Segunda Turma

Como demonstrado acima, não é correta a conclusão no sentido da incompe-

tência do juízo de primeiro grau para a causa em razão de, no ver do Ministro Relator, não

haver relação entre os fatos narrados na denúncia e os desvios e fraudes ocorridos na Pe-

trobras.

Além disso, como relatado, a decisão agravada também anota que a tramitação

da Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR perante o juízo de primeiro grau im-

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plica o descumprimento das decisões tomadas por esse STF no Inq. n. 4.325 e na Pet. n.

6.664, fator que também conduziria à incompetência da 13ª Vara Federal Criminal de Curi-

tiba/PR para a causa. Ocorre que, também quanto a esses argumentos, a decisão mono-

crática deve ser reformada.

Quanto à vislumbrada coincidência parcial da imputação deduzida na denúncia

ofertada perante o juízo de primeiro grau e aquela oferecida pela Procuradoria-Geral da Re-

pública no Inq. n. 4.325, cabe destacar a amplamente reconhecida autonomia entre o crime

de pertinência à organização criminosa e os crimes em espécie praticados pelos integrantes

do grupo.

A referência aos fatos objeto da Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/

PR na denúncia de organização criminosa dos membros do Partido dos Trabalhadores

deu-se apenas para ilustrar o modus operandi do grupo. Não há confusão entre as impu-

tações.

Nesse sentido é o entendimento desse STF, conforme recentemente assen-

tado por essa Segunda Turma no julgamento de admissibilidade da denúncia ofertada

nos autos do Inq. 3.989:

2. O Plenário deste Supremo Tribunal Federal assentou a inexistência de conexãonecessária entre o delito de organização criminosa e os demais eventualmente pra-ticados no seu contexto, permitindo a tramitação concomitante das respectivaspropostas acusatórias perante juízos distintos e atestando a não ocorrência, emtais hipóteses, do vedado bis in idem.

[…] (Inq 3989, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em11/06/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-184 DIVULG 22-08-2019 PU-BLIC 23-08-2019)

Também não houve inobservância da decisão proferida na Pet. n. 6.664.

Na oportunidade referenciada na decisão agravada, a Segunda Turma do STF

manifestou-se unicamente acerca do juízo aparente para a remessa de termos de depoi-

mento de colaboradores premiados do grupo Odebrecht, sem que houvesse fixação de

competência.

Naquele julgado, também não havia elementos que permitissem a análise da

imbrincada relação entre a Petrobras e a Braskem, como feito nesta oportunidade.

De todo modo, não há de se falar em descumprimento do decisum, na medida

em que ficou registrado na própria ementa do acórdão não haver fixação de competência

no caso:

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Agravo regimental no agravo regimental na petição. Impugnação da decisão emque se determinou a remessa à Seção Judiciária do Paraná de cópia de termos dedepoimento colhidos no âmbito de acordo de colaboração premiada celebrado en-tre o Ministério Público Federal e integrantes do Grupo Odebrecht. Aventado bisin idem. Alegação de que os fatos relatados coincidiriam com o objeto do Inq nº4.437 e do Inq. 4.430, em trâmite no Supremo Tribunal Federal. Não ocorrência.Pretendida fixação da competência da Seção Judiciária de São Paulo ou do Dis -trito Federal para conhecer de supostos ilícitos penais noticiados nos termos decolaboração. Plausibilidade jurídica da tese defensiva. Narrativa que faz referên-cia a fatos supostamente ocorridos em São Paulo e em Brasília que, a princípio,não se relacionam com os ilícitos ocorridos no âmbito da Petrobras, alvo de apu-ração na Operação Lava a Jato, não se justificando, portanto, a competência doJuízo de Curitiba/PR. Núcleo político que deverá ser processado na Capital Fede-ral, na linha de precedentes. Agravo regimental ao qual se dá provimento tão so-mente para determinar a remessa dos termos de colaboração premiada à SeçãoJudiciária do Distrito Federal. Determinação que não firma, em definitivo, acompetência do juízo indicado. Investigação em fase embrionária. Impossi-bilidade, em sede de cognição sumária, de se verticalizar a análise de todosos aspectos concernentes à declinação de competência. Precedentes.(Pet 6664 AgR-AgR, Rel. Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min.DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 14/08/2018, ACÓRDÃO ELE-TRÔNICO DJe-259 DIVULG 03-12-2018 PUBLIC 04-12-2018) – Original semgrifo

Diante de tais considerações, defende-se que, também quanto a esse ponto, a

decisão agravada comporta reforma.

II.4 Da inexistência de similitude fática entre as situações de Guido Mantega e deMaurício Ferro

Finalmente, ainda que todos os argumentos expostos acima sejam considera-

dos insuficientes para que seja dado provimento ao agravo regimental e a Reclamação

seja julgada improcedente, ainda assim não é possível estender a Maurício Ferro a de-

cisão que suspendeu os efeitos do ato reclamado com relação a Guido Mantega.

Isso porque as situações de ambos não guardam similitude fática.

Com efeito, o ato ora apontado como paradigma é o acórdão proferido pelo

STF na Pet. n. 7.075, que tinha por objeto os Termos de Depoimento n. 1, 2 e 9 de Joes-

ley Mendonça Batista e n. 2 de Ricardo Saud, nos quais narraram o pagamento de van-

tagens indevidas aos ex-Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, com a

participação do reclamante como contrapartida a favorecimentos implementados no âm-

bito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos fun-

dos de pensão Petros e Funcef, visando benefícios ao Grupo J&F, por meio de

transferências em contas no exterior na ordem de U$ 50.000.000,00 e U$

30.000.000,00, respectivamente.

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A alegação central do reclamante é de que o ato reclamado, por ter feito

menção a contas de titularidade de Guido Mantega sediadas no exterior, nas quais rece-

beu depósitos de Victor Sandri, teria violado a autoridade da decisão proferida por esse

STF na Pet. n. 7.075, em que determinada a remessa dos termos de depoimento para a

Seção Judiciária do Distrito Federal, para que lá os fatos narrados fossem processados.

Maurício Ferro, ex-Diretor da Braskem, não tem relação alguma com

tais fatos.

Para a aplicação do disposto no art. 580 do CPP na espécie, não importa a

sustentada bilateralidade dos crimes de corrupção ativa e passiva, na medida em que o

fato ensejador da presente Reclamação diz respeito unicamente a Guido Mantega.

III

Ante o exposto, o Ministério Público Federal requer que seja conhecido e

provido o agravo regimental, com o reconhecimento da inexistência de prevenção do

Ministro Relator para o feito e sua redistribuição para o Ministro Edson Fachin.

Subsidiariamente, requer:

a) a reforma da decisão agravada, para que a Reclamação seja julgada

improcedente, com a revogação da decisão que suspendeu os efeitos do ato reclamado

com relação a Guido Mantega; e

b) o indeferimento do pedido de extensão formulado por Maurício Ferro.

Brasília, 18 de novembro de 2019.

José Adonis Callou de Araújo SáSubprocurador-Geral da República

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