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    Recomendao

    Polticas PblicasdeEducao Especial

    Conselheira / Relatora:

    Anabela Grcio

    JUNHO 2014

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    Recomendao

    Polticas Pblicas de Educao Especial1

    1 Incluindo a utilizao do mtodo de Classificao Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Sade como base para a elaborao doPrograma Educativo Individual.O relatrio tcnico sobre esta temtica segue em anexo e encontra-se disponvel no stio do CNE (www.cnedu.pt).

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    Polticas Pblicas de Educao Especial

    Atravs da Deliberao n 2-PL/2014, a Assembleia da Repblica solicitou ao Conselho Nacional de Educao aelaborao de uma recomendao sobre as polticas pblicas de educao especial, incluindo a utilizao do mtodode Classificao Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Sade como base para a elaborao do programaeducativo individual, nos termos do Decreto-Lei n 3/2008, de 7 de janeiro.O Conselho Nacional de Educao iniciou um processo de anlise e sistematizao da evoluo das concees e das

    prticas existentes na rea da educao especial, quer a nvel nacional quer internacional, e caracterizao da situaoatual do atendimento a alunos/as com necessidades educativas especiais (NEE) no mbito do sistema educativonacional. Para tal foram tidos em conta os princpios fundamentais inscritos em Convenes e DeclaraesInternacionais de que Portugal subscritor, tendo sido realizada uma pesquisa bibliogrfica sobre o modo como serealiza a educao especial no espao europeu e coligida a legislao que enquadra a prestao de servios deeducao especial em Portugal. Adicionalmente, foi realizado um extenso leque de audies a entidades cominterveno em diferentes reas, desde a investigao, formao de professores e responsveis pela administrao, aassociaes de pais, agrupamentos de escolas e professores de educao especial, o que permitiu recolher informao

    pertinente, capaz de sustentar uma apreciao global sobre a poltica de educao especial no nosso pas (cf. Relatriotcnico elaborado pela assessoria do CNE). Desta anlise destaca-se o largo consenso em relao ideia de educaoinclusiva que , tambm, assumida em todas as grandes orientaes da poltica pblica de educao especial.

    O enquadramento legal

    As respostas a alunos/as com NEE so enquadradas pelo DL 3/2008, de 7 de janeiro, alterado pela Lei n 21/2008, de12 de maio, que considera educao inclusiva aquela que visa a equidade educativa, sendo que por esta se entende a

    garantia de igualdade, quer no acesso quer nos resultados. Neste diploma so definidos os apoios especializados a

    prestarvisando a criao de condies para a adequao do processo educativo s necessidades educativas especiaisdos alunos que manifestem dificuldades continuadas ao nvel da comunicao, de aprendizagem, da mobilidade, da

    autonomia, do relacionamento interpessoal e da participao social. Estabelece, igualmente, que nos casos em que oensino regular no consiga dar resposta adequada incluso de crianas e jovens, devido ao tipo e grau de deficincia,os/as intervenientes no processo de referenciao e de avaliao dos/as alunos/as com NEE de carter permanente

    podem propor a frequncia de uma instituio de ensino especial.A Portaria n. 275-A/2012, de 11 de setembro, apresenta a matriz do currculo especfico individual dos/as alunos/asque frequentam o ensino secundrio, que integra obrigatoriamente o Plano Individual de Transio (PIT), e pressupeo estabelecimento de parcerias com Centros de Recursos para a Incluso para a sua concretizao.O Decreto-Lei n 281/2009, de 6 de outubro, criou o Sistema Nacional de Interveno Precoce na Infncia (SNIPI)dirigido s crianas entre os 0 e os 6 anos com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento e

    respetivas famlias. Define-se Interveno Precoce como o conjunto de medidas de apoio integrado centrado nacriana e na famlia, incluindo aes de natureza preventiva e reabilitativa, designadamente no mbito da educao, dasade e da ao social.

    O Decreto Regulamentar n 19/98, de 14 de agosto, que alterou o Decreto Regulamentar 14/81, de 7 de abril,

    estabelece as disposies relativas atribuio de um subsdio de educao especial, o qual institudo pelo Decreto-Lei n170/80, de 29 de maio. Determina o referido normativo que esta compensao apenas tenha lugar quando o

    apoio no seja ministrado no estabelecimento de ensino frequentado pelo deficiente.

    Problemas identificados

    No que concerne ao DL 3/2008, de 7 de janeiro, alterado pela Lei n 21/2008, de 12 de maio, embora tenha sidoconsiderado na generalidade como um quadro legal que significa um salto qualitativo em relao ao anterior quadronormativo, parece ser necessrio que se proceda a uma reformulao em alguns aspetos onde se identificamdisfunes, nomeadamente no critrio de elegibilidadede alunos/as para medidas que respondam a NEE. Este foi umdos aspetos mais referidos nas audies realizadas a propsito da elaborao da presente recomendao, e um dosque mais divide a comunidade profissional, acadmica e cientfica. Considera-se que a atual legislao deixa

    desamparado um conjunto considervel de alunos e alunas que manifestam necessidades educativas especiais e paraos/as quais no possvel construir respostas educativas ajustadas, pela limitao imposta pelo quadro legal. Por outrolado, a nfase na dimenso de permanncia das necessidades educativas especiais poder significar que a ausnciade resposta a alunos/as conduza acumulao de necessidades transitrias, que, carecendo comprovadamentede uma

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    interveno especializada, se converta em dificuldades crnicas e, portanto, permanentes. No se enquadram nestescasos os/os alunos/as que manifestam dificuldades de aprendizagem superveis atravs de mtodos de ensinodiferenciados.Considera-se, ainda, que h situaes de alunos/as com NEE, cujo perfil de funcionalidade no se enquadra numa

    medida to restritiva como a prevista no artigo 21currculo especfico individual -, mas que tambm no permite tersucesso com a aplicao das restantes medidas educativas previstas no Decreto-Lei 3/2008.Por outro lado, a existncia de avaliao externa das aprendizagens, tendo como referncia os curricula e as metas deaprendizagem, sem a adaptao s condies especiais de alunos/as que usufruram de medidas de educao especial,nomeadamente as adequaes curriculares, poder pr em causa a qualidade e a equidade na possibilidade de obtenode sucesso.Finalmente, a transio de alunos/as com currculo especfico individual para a vida ativa com a operacionalizao doseu PIT parece no permitir a sua plena integrao social e laboral depois de concluda a escolaridade obrigatria, aque acresce a necessidade de repensar a certificao decorrente deste percurso escolar.De facto, a Portaria 275-A/2012, de 11 de setembro, que teve como objetivo obviar as dificuldades decorrentes doalargamento da escolaridade obrigatria para 12 anos e da situao especfica das/os alunas/os com currculoespecfico individual que integram o ensino secundrio, apresenta dificuldades de implementao quer para as escolas,quer para os Centros de Recursos para a Incluso por apresentar uma matriz prescritiva e obrigatria, nomeadamente

    no que se refere s reas disciplinares, respetivas cargas horrias e responsabilidades das entidades formadoras,verificando-se, generalizadamente, que no est a ser cumprida.Quanto ao enquadramento legal e a operacionalizao do Sistema Nacional de Interveno Precoce, estes soconsiderados adequados, de uma forma geral. No entanto, verifica-se que, em algumas zonas do pas, este sistema noest implementado, o que pe em causa a garantia da equidade. Verificam-se, igualmente, constrangimentos natransio entre este programa e o incio da escolaridade obrigatria, incluindo o caso de crianas com adiamento deentrada no 1 ciclo do ensino bsico.A existncia de um subsdio especial, previsto pelo Decreto-Lei 170/80, de 29 de maio, e regulado pelos DecretosRegulamentares n14/81, de 7 de abril, e n 19/98, de 14 de agosto, veio permitir o acesso individual, por parte dasfamlias, a modalidades de apoio individual, designadamente de carter teraputico, desenvolvidas em paralelo com otrabalho levado a cabo nas escolas, algumas vezes sem articulao com estas, o que dificulta a sua eficcia nahabilitao para a aprendizagem e impede a potenciao dos benefcios que esta medida poderia significar se fossedesenvolvida em meio escolar ou atravs das instituies parceiras.

    Da adoo da Classificao Internacional de Funcionalidade (CIF) como base de construo dos

    Programas Educativos Individuais.

    A CIF como instrumento de classificao e de organizao da informao relativamente s necessidades educativasespeciais referida por alguns especialistas como um elemento redutor nas sinalizaes - ou uma armaduraconcetual por ser nica e obrigatria, originando a construo de programas educativos individuais (PEI) idnticos

    para problemticas diversas. No entanto, esta considerada, genericamente, como um bom instrumento organizador ede classificao, permitindo a utilizao de uma linguagem universal entre os/as diversos/as tcnicos/as sade,educao e interveno social e uma abordagem ecolgica da criana ou jovem, uma vez que nela se relacionam asfunes e estruturas do corpo, as atividades e tarefas que desenvolvem, e as diferentes reas da vida nas quais

    participam, bem como os fatores do meio ambiente que influenciam as suas experincias.Constata-se, no entanto, que h tcnicos/as, docentes, mdicos/as, que ainda no dominam a linguagem e os conceitosdeste instrumento de classificao, o que dificulta o seu entendimento e aplicao, bem como se verifica a inexistnciade documentos de avaliao que apoiem a construo dos PEI.

    Condies para as escolas inclusivas

    Embora as polticas pblicas de educao especial e respetiva moldura legal adotem o princpio da educao inclusivae sejam at objeto de reconhecimento internacional pela sua qualidade, da anlise das realidades escolares verifica-seuma descoincidncia entre os princpios e a sua concretizao. Este desfasamento reflete-se na clara desadequao doquadro normativo real disponibilizao de recursos, quer em quantidade quer em qualidade, os quais sodisponibilizados s escolas e demais instituies parceiras. A atitude voluntarista do legislador no encontra respaldona capacidade de mobilizao equitativa de recursos.A primeira constatao a de que, na sequncia da publicao do DL 3/2008, de 7 de janeiro, alterado pela Lei n

    21/2008, de 12 de maio, a quase totalidade de crianas e jovens com NEE que frequentavam Escolas e Centros deEnsino Especial ingressaram nas escolas regulares, estando previsto que o conjunto de dispositivos/medidas de apoioexistentes na legislao pudessem dar resposta s suas necessidades educativas e promover uma efetiva educao

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    inclusiva. Verifica-se, no entanto, que existem escolas que tm na sua populao escolar alunos/as com NEE e notm, em tempo til, os recursos e profissionais que permitam dar resposta apropriada a essas crianas e jovens.So vrios os testemunhos de situaes de escolas que s contam com tcnicos/as muito depois do incio do anoletivo, e cuja precaridade profissional impede a continuidade da prestao de apoio, com evidentes prejuzos para a

    sua eficcia, de unidades de multideficincia apenas com docentes de educao especial, sem qualquer tcnico/a paraapoio, de escolas de referncia para alunos/as cegos/as e de baixa viso que apenas tm acesso aos manuais em Brailleno final do ano letivo ou de tecnologias de apoio que chegam aos alunos/as quando j no so adequadas. Estassituaes representam um desperdcio de recursos, mas sobretudo detempo,essencial e irrecupervel num processo deaprendizagem, nomeadamente para alunos/as que requerem a existncia de recursos e profissionais especializados. Aexistncia destas respostas, nomeadamente no que concerne aos meios e profissionais que servem na e com a escola,em toda a extenso do ano letivo, condio fundamental, sem a qual o princpio da incluso no passa de meraretrica.Da mesma forma, dever ser respeitada a situao de jovens que, pela natureza e gravidade da sua problemtica,encontram uma resposta mais adequada em escolas e centros de Ensino Especial, conforme j preconizado nalegislao em vigor.A segunda constatao a de que existem zonas do Pas sem respostas para alunos/as com NEE, nomeadamenteequipas de interveno precoce, unidades de ensino estruturado ou de multideficincia e inexistncia de parcerias com

    Centros de Recursos para a Incluso. Esta assimetria de respostas no permite afirmar que esteja garantida a equidadeno atendimento s/os alunas/os com NEE.Nestas circunstncias, apesar da poltica pblica de educao especial, nas suas grandes linhas de orientao, sercoerente com os princpios da incluso educativa, as condies em que se realiza a educao de alunos/as com NEEcarecem de melhorias significativas.

    As respostas construdas nas escolas

    A assuno da centralidade da escola na construo de respostas s necessidades educativas especiais outro princpioque rene um amplo consenso. Espera-se, portanto, que sejam desenvolvidos na escola e com a escola os mecanismose estratgias de resposta educativa, atravs dos seus recursos e dos seus profissionais ou recorrendo aoestabelecimento de parcerias com instituies da comunidade ou ainda contratao de tcnicos/as que permitamhabilitar as crianas e jovens para a aprendizagem.

    Constata-se, no entanto, que nem sempre so observados nas escolas os princpios da pertinncia e urgncia nareferenciao e estabelecimento de medidas de apoio, essenciais para processos bem-sucedidos. O desenvolvimento

    prvio de estratgias de ensino diversificadas que permitam confirmar a necessidade de avaliao especializada eaplicao de medidas de interveno, bem como a compreenso da urgncia nos processos de referenciao, avaliaoe interveno, so condies fundamentais para a eficcia de respostas para crianas e jovens com NEE.Por outro lado, as escolas nem sempre promovem o efetivo envolvimento das famlias de crianas e jovens com NEEao longo do seu percurso educativo, nomeadamente nos processos de referenciao, avaliao e determinao demedidas educativas. A participao das famlias condio fundamental para o sucesso educativo e a plena inclusodestas crianas e jovens.O prolongamento da escolaridade obrigatria para 12 anos veio aumentar o perodo de permanncia de alunos com

    NEE nas escolas, alargando a sua frequncia s escolas secundrias, as quais, na sua maioria, se debatem comdificuldades, ao nvel da prtica e das condies necessrias, para responder a este novo desafio. Esta situao ainda

    mais premente nas escolas profissionais para as quais no existe resposta no mbito das necessidades educativasespeciais.Verifica-se, ainda, alguma desarticulao da ao por parte dos organismos centrais que tutelam a Educao Especial,situao que causa constrangimentos no desenvolvimento de respostas educativas atempadas, nomeadamente porausncia de critrios claros de atribuio de recursos e financiamento s escolas e entidades parceiras das escolas, bemcomo de afetao de docentes de educao especial.

    A formao de profissionais

    Uma escola que tem como misso a promoo do sucesso educativo de todos os/as seus/suas alunos/as, garantindoequidade educativa, quer no acesso quer nos resultados, pressupe o estabelecimento de princpios orientadores, emtorno dos quais esta e os seus profissionais se organizam. O conhecimento e apropriao desses princpios, por parte

    de todos os seus atores (dirigentes, docentes, membros do pessoal no docente), a organizao dos recursos e meios ea qualidade da interveno junto dos/as alunos/as so condies fundamentais para que as escolas se constituam comoverdadeiros espaos de incluso para todos/as.

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    A formao e o perfil dos/as docentes em educao especial tem sido, desde sempre, uma questo largamentediscutida, sendo consensual a sua importncia fundamental para o desenvolvimento de respostas educativas que

    promovam aprendizagens em todos/as os/as alunos/as. Igualmente relevante a necessidade de garantir que o pessoalno docente, nomeadamente os/as assistentes operacionais, que acompanham as crianas e jovens com NEE,

    detenham o perfil e a formao adequados sua funo.

    Docentes de educao especial

    No caso especfico da formao dos/as docentes de educao especial, a qualidade da formao especializada, jreferida em anteriores pareceres e recomendaes do CNE como uma fragilidade, no tem registado melhoriassignificativas e indicia, na atualidade, riscos de degradao e de maior ineficincia. A profuso de cursos de educaoespecial, com qualidade diversa e, por vezes, duvidosa e sem qualquer regulao por parte da tutela, tem permitido oacesso ao sistema educativo de docentes que no esto preparados/as para intervir junto de crianas e jovens com NEEe que no dispem do perfil necessrio para esta misso.Em alguns casos, a apresentao a concurso em educao especial no decorre da escolha intencional de um percurso

    profissional, mas antes da possibilidade de obteno de emprego ou de aproximao residncia, uma vez que os

    grupos de recrutamento de educao especial possibilitam maior facilidade na colocao de docentes.Esta questo ainda mais relevante no presente momento, uma vez que a quase totalidade de crianas e jovens comNEE frequenta a escola. No entanto, mantm-se a carncia de uma interveno especializada de docentes e outrosprofissionais que renam competncias e conhecimentos adequados, nomeadamente para a conceo edesenvolvimento de estratgias, metodologias e a mobilizao de instrumentos de apoio educativo.

    No estando claramente definido o perfil de competncias das/os docentes de educao especial, o seu desempenhonas diversas escolas varia consoante a interpretao individual ou o entendimento das estruturas educativas, no sendo

    possvel determinar um conjunto de procedimentos de base comum a todos os/as docentes de educao especial.

    Formao inicial de docentes

    A incluso de alunos com NEE implica uma preparao ao nvel da organizao e da gesto da escola, bem como aonvel das atitudes e da prtica pedaggica dos professores em contexto de sala de aula. Adicionalmente, encontra-se

    previsto legalmente que os/as coordenadores dos programas educativos individuais sejam, obrigatoriamente, os/asdocentes titulares de turmas e as/os diretoras/es de turma. Assim, pressupe-se que os/as docentes sejam detentores/asdos conhecimentos especficos que lhes permitam desenvolver processos educativos promotores de aprendizagens emtodos os seus alunos e alunas. No entanto, a par da implementao da poltica de incluso no tm sido desenvolvidos

    processos de formao inicial nem contnua dirigidos a docentes do ensino regular que ajudem a responder diversidade com que os professores se veem confrontados na sala de aula. A formao inicial dos/as docentes no

    prev a existncia de mdulos obrigatrios e especficos para conceo e implementao de estratgias, metodologiase instrumentos de gesto curricular no mbito das disciplinas/ reas disciplinares, nem de enquadramento dos

    procedimentos legais de resposta, o que provoca nos docentes, em geral, uma enorme dificuldade na construo deestratgias educativas para crianas e jovens com NEE.Em face dos constrangimentos e dificuldades identificados ao nvel dos aspetos que impedem o pleno cumprimentodas grandes orientaes das polticas pblicas em educao especial e a assuno das escolas como verdadeirosespaos de incluso, entende o Conselho Nacional de Educao emitir as seguintes recomendaes:

    A- No mbito do enquadramento legal:

    1. Que seja acautelada a situao das crianas a quem autorizado o adiamento do ingresso na escolaridade, deforma a garantir as medidas de apoio atravs da interveno precoce no(s) ano(s) de permanncia adicionalna educao pr-escolar e o cumprimento de 12 anos de escolaridade;

    2. Que se considere a possibilidade de alterar o atual Decreto-lei 3/2008, nomeadamente no que se refere aodesenvolvimento de:a) medidas educativas temporrias que permitam responder s necessidades educativas especiais de carter

    transitrio, comprovadamente impeditivas do desenvolvimento de aprendizagens;b) medidas de resposta a situaes de alunos/as com dificuldades de aprendizagem especficas que,

    comprovadamente, impeam a sua qualidade e desenvolvimento;c) uma medida educativa adicional que permita a adaptao do currculo s necessidades educativas dos/asalunos/as, mais flexvel do que a medida adequaes curriculares individuais (prevista n o artigo 18) masmenos restritiva do que o estabelecimento de um currculo especfico individual (previsto no artigo 21);

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    3. Que seja acautelada a situao de crianas e jovens com NEE em momentos de avaliao externa dasaprendizagens, permitindo a sua adequao s medidas educativas contempladas no PEI;

    4. Que seja garantida a certificao pedaggica do percurso escolar realizado pelos/as alunos/as com PEI e CEIe revista a Portaria 275-A/2012, de 11 de setembro.

    B- No mbito das escolas:

    5. Que se promova o desenvolvimento de estratgias diferenciadas de ensino previamente sinalizao dasituao de alunas/os com NEE;

    6. Que sejam acauteladas as situaes de transio de alunos/as com NEE entre os diversos sistemas/ciclos deescolaridade, nomeadamente entre a interveno precoce e a entrada na escolaridade obrigatria, oacompanhamento e finalizao da escolaridade no ensino secundrio s/aos alunas/os com CEI/PIT e a suatransio para a vida ativa no final da escolaridade;

    7. Que seja dado carter de urgncia identificao de respostas para os/as alunos/as com NEE, diminuindo otempo que medeia entre a referenciao e a adoo de medidas educativas especiais;

    8. Que sejam as escolas dotadas dos recursos necessrios para responder s necessidades educativas especiais detodos os seus alunos e alunas, nomeadamente o apetrechamento das instalaes e as tecnologias de apoio,

    bem como a afetao de profissionais (docentes e tcnicos/as), recorrendo a parcerias com instituies ou aorecrutamento de tcnicos/as por parte das escolas, que lhes permitam responder, no inciode cada ano letivo,s situaes identificadas;

    9. Que sejam as escolas, em parceria com outros servios, as entidades que determinam as respostas educativasnecessrias, garantindo que a afetao de recursos/profissionais e o respetivo financiamento seja feito atravsdessas escolas ou de instituies parceiras, evitando respostas avulsas e paralelas ao trabalho desenvolvidonaqueles estabelecimentos;

    10. Que se desenvolvam modelos de superviso e monitorizao do trabalho dos docentes de educao especial,nomeadamente nas estratgias e instrumentos implementados com vista promoo de aprendizagens dealunos e alunas com NEE;

    11. Que sejam desenvolvidos processos e respetivos documentos de avaliao para apoio construo dosProgramas Educativos Individuais adequados especificidade de cada aluno/a;

    12. Que seja garantida a efetiva participao dos pais e encarregados de educao nos processos de referenciaoe avaliao das/os alunas/os com NEE, bem como na construo dos seus PEI/CEI.

    C- No mbito das estruturas e servios centrais:13. Que se garanta a convergncia e articulao das medidas polticas definidas e desenvolvidas pelas direes

    gerais com competncia no domnio da EE e o acompanhamento pela IGE, de modo a proporcionar ascondies indispensveis para o cumprimento integral do Decreto-Lei 3/2008, designadamente:a) promoo do princpio da equidade de respostas em todo o pas, eliminando as assimetrias regionais;

    b) clarificao e adequao de critrios de atribuio de recursos e profissionais s necessidadesidentificadas pelas escolas com crianas e jovens com NEE;

    c) atribuio de condies, nomeadamente financeiras, s instituies que desenvolvem um trabalho deparceria com as escolas que permitam assegurar a continuidade do trabalho dos/as tcnicos/as,garantindo que as intervenes se realizem desde o incio do ano letivo, designadamente atravs da

    possibilidade de desenvolvimento de planos de interveno plurianuais;

    d) definio clara do perfil e competncias de docentes de educao especial;e) definio de critrios rigorosos de recrutamento de docentes de educao especial com o perfil e

    conhecimentos adequados sua funo, nomeadamente atravs da constituio de equipas especializadasque procedam afetao destes/as docentes;

    f) desenvolvimento de mecanismos legais que permitam a estabilidade de tcnicos/as e docentes naresposta aos casos de alunos/as com NEE, atravs da sua fixao ou reconduo.

    D- No mbito da formao e qualificao de docentes:

    Formao especializada em educao especial14. Que sejam desenvolvidos processos urgentes e rigorosos de regulao dos cursos de formao especializada

    que relevam para o recrutamento de docentes de educao especial, com particular incidncia na sua

    qualidade cientfica e na componente de prtica pedaggica dessa formao;15. Que os cursos de especializao em educao especial englobem unidades especficas que permitam dotar osdocentes de estratgias e instrumentos de interveno junto de alunos/as com NEE, bem como a supervisoda sua interveno educativa;

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    Formao inicial16. Que, na formao inicial para a docncia, sejam desenvolvidas unidades curriculares que permitam o

    desenvolvimento dos programas de cada rea disciplinar, tendo em conta a sua adaptao a alunos com NEE;

    Formao contnua17. Que seja desenvolvido, com urgncia, um plano de formao contnua para os/as diversos intervenientes no

    processo de ensino e de aprendizagem de crianas e jovens com necessidades educativas especiais (docentes,dirigentes, pessoal no docente), no mbito da sensibilizao aos princpios de uma escola inclusiva, daClassificao Internacional de Funcionalidade e de outras estratgias e instrumentos avaliativos;

    18. Que sejam realizadas aes de formao contnua, dirigidas a docentes em geral, e de educao especial emparticular, que visem o desenvolvimento de estratgias e instrumentos para promoo das aprendizagensjunto dos alunos e alunas com necessidades educativas especiais, nas suas diversas problemticas;

    E- No mbito da aplicao:

    19. Que a implementao das medidas propostas seja feita de forma planificada e participada, tendo em vistauma gesto mais eficiente, com uma melhor afetao e organizao de recursos e profissionais, garantindo aqualidade na resposta s necessidades das crianas e jovens com NEE.

    CONSELHO NACIONAL DE EDUCAO

    5 de junho de 2014

    O Presidente, Jos David Gomes Justino

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