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Reconstruir a esperança Chico Alencar Deputado Federal | PSOL/RJ Brasília 2016

Reconstruir a esperança

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Este livreto contém a descrição dos fatos que se sucedem com grande rapidez no “condomínio do poder”, desde 2015, e nossa análise sobre os (des)caminhos de quem quer dirigir a sociedade brasileira. Também traz nossas propostas. Para nós, esperança se constrói, com povo consciente, organizado e batalhando por seus direitos. Boa leitura! Compartilhe e debata com o(a)s amigo(a)s. Mandato Chico Alencar, 2/2016

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Reconstruira esperança

Chico AlencarDeputado Federal | PSOL/RJ

Brasília 2016

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Brasília – DFCâmara dos DeputadosAnexo IV – Gabinete 848CEP: 70160-900Tel.: (61) 3215-3848/[email protected]

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Mandato Chico Alencar - Deputado Federal PSOL/RJ

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twitter.com/depchicoalencar

Capa : Jackson Anastácio | Diagramação: Thiago VilelaTiragem: 4.800 | Cota: 120.000

Como resgatar a política,superando a politicagem que a degenera.

Isto também é com você!

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Otimismo ou esperança?

Hoje não há razões para otimismo.Hoje só é possível ter esperança.

Esperança é o oposto do otimismo.

Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora,nasce a primavera do lado de dentro.

Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora,continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.

Camus sabia o que era esperança.São suas as palavras:

“E no meio do inverno eu descobri que dentro de mimhavia um verão invencível...”

Otimismo é alegria “por causa de”:coisa humana, natural.

Esperança é alegria “a despeito de”:coisa divina.

O otimismo tem suas raízes no tempo.A esperança tem suas raízes na eternidade.O otimismo se alimenta de grandes coisas.

Sem elas, ele morre.

A esperança se alimenta de pequenas coisas.Nas pequenas coisas ela floresce.

Basta-lhe um morango à beira do abismo.

Hoje, é tudo o que temos no século XXI:morangos à beira do abismo, alegria sem razões.

A possibilidade da esperança.

Rubem Alves1933-2014

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SOBRE O IMPEACHMENT

“Contra a hipocrisia que faz corruptos se tornarem arautos da morali-dade pública. Contra o condutor ilegítimo desta farsa, que está ali sen-

tado à presidência da Mesa da Câmara.

Por uma Reforma Política radical, com participação popular, que tire o po-der da grana do sistema degenerado. Pelos direitos da população, do povo que luta por terra [Cunha interrompe: Como vota, Deputado?], trabalho e dignidade. [Cunha pergunta, novamente: Como vota, Deputado?]

Contra esse processo de farsa. [Cunha insiste, outra vez: Como vota, De-putado?] Quero falar! Não à demagogia, à mentira e à escalada reacionária.

O nosso voto é não! ”

Declaração do Deputado Chico Alencar na sessão da votação pela admissibilidade do impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Brasília, DF, Câmara dos Deputados, 17/04/2016

Aroeira/Chargista

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A crise para além da superfície

Uma farsa em 6 atos

A República do Quiproquó

As negatividades do voto sim

Urgência de autocrítica

Dia do sai

É preciso arrancar alegrias ao futuro

Meu fio de esperança

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SUMÁRIO

O PSOL, como você verá nessas páginas, fez oposição programática ao governo Dilma. Nunca confundimos, porém, oposição com de-posição, crítica com conspiração.

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A CRISE PARA ALÉM DA SUPERFÍCIE

Para analisar a crise brasileira com alguma profundidade, na perspectiva de um futuro transformado, é preciso ir além da simplificação maniqueísta, que divi-

de o mundo entre linchadores e adoradores, ‘coxinhas’ e ‘petralhas’.

Marx escreveu, em carta a um amigo em 1843, cinco anos antes de um forte levante popular em Paris, algo aparentemente intrigante: “a situação desesperadora da época na qual vivo me enche de esperança”. Não chegamos a tanto, mas é sempre necessá-rio articular o agora com o depois, o imediato com um vir-a-ser. É preciso ter visão do processo histórico, conduzido pela disputa de grupos e classes, com maior ou menor protagonismo em função da correlação de forças.

LUTA PELO PODER

O intenso processo do impeachment de Dilma, no qual a paixão tem superado a racionalidade, não abriu espaço para uma questão fundamental: haviam mesmo dois projetos antagônicos de organização da sociedade brasileira em disputa? A prática dos governos de Lula e Dilma diferenciou-se decisivamente da era FHC?

Sem dúvida, os programas sociais e as iniciativas para ampliar o consumo interno desde 2003 foram mais significativos, mas há uma complementaridade entre as ges-tões. Em ambas as épocas, o setor rentista (sobretudo os grandes bancos) teve lucros

LINHA DOTEMPO

26/10/14 30/10/14

O segundo mandato de Dilma, a rigor, não come-çou. Confira na linha do tempo um resumo do pro-cesso de impeachment.

Momentos após o re-sultado das eleições, militantes do PSDB, que acompanhavam a apu-ração no Masp, começa-ram a gritar “Impeach-ment” a militantes do PT que também acompa-nhavam. Apesar das agressões verbais, não houve confronto.

Apenas quatro dias após as eleições, o PSDB entra com pedido de auditoria das eleições no TSE. Na petição, cita “denúncias e desconfianças na inter-net e nas redes sociais”. O PT acusa a oposição de querer criar um “ter-ceiro turno”.

“Achar a porta que esqueceram de fechar. O beco com saída.

A porta sem chave. A vida”.

Paulo Leminski

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extraordinários. Sequer uma reforma tributária que taxasse operações financeiras, patrimônio e herança dos mais ricos foi implementada.

No plano da política, não se fez nenhuma reforma profunda desde a promulgação da Constituição Cidadã. Tanto o PSDB, que nasceu de um questionamento ao fisio-logismo genético do PMDB, quanto o PT, que nasceu e cresceu buscando renovar os costumes políticos do Brasil, não mudaram o sistema: adaptaram-se a ele, inclusive à sua corrupção estrutural, endêmica.

É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!

A iniciativa política do impeachment não prosperaria se não tivéssemos inflação (10,5%), desemprego (9,5%), e redução de programas sociais. Um em cada cinco jovens brasileiros entre 18 e 24 anos está desempre-gado. Dados do PNAD/IBGE revelam que a histórica desigualdade social, que vinha sendo reduzida paulati-namente desde 2000, voltou a crescer. Vale lembrar que nossa economia liberal periférica é vulnerável às oscila-ções do mercado internacional, e a queda dos preços das commodities tem forte impacto na nossa economia.

Também no enfrentamento dessa crise as propostas econômicas de Dilma e Te-mer se assemelham: redução do gasto público, manutenção de altas taxas de juros (as maiores do mundo!), inclusive para o consumidor (o que multiplica no crediá-rio por 2,4 vezes o preço à vista), redução de direitos trabalhistas, com prioridade do negociado sobre o legislado, fim das vinculações constitucionais orçamentárias para Educação e Saúde e privatização de tudo o que ainda for possível.

Com Michel Temer/PMDB a ortodoxia liberal será ainda maior: violento “ajuste”, autonomia total do Banco Central e desvinculação dos benefícios previdenciários do

01/11/2014 14/11/2014Em São Paulo, três mil pessoas participam de ato contra o go-verno. Manifestantes pediam impeachment, anulação das eleições e até intervenção militar. Deputados de partidos da oposição declararam apoio aos atos.

Em evento da cúpula do PSDB, dirigentes foram unânimes no apoio às manifestações de rua, como forma de protesto contra a “roubalheira” do PT. Alguns se posi-cionaram contrários aos pedidos de impeach-ment.

Eduardo Anizelli/Folhapress

1 a cada 5 jovens brasileiros entre

18 e 24 anos está desempregado

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salário mínimo e deste em relação à variação do PIB. Bem do jeito que o alto patro-nato quer. É o governo ilegítimo do obscurantismo, do arrocho, do regressismo, do atraso. Da usurpação de direitos.

Importante reconhecer que, desde antes do impeachment, a economia dava sinais de vida: há projeções de superávit comercial de R$ 55 bilhões para este ano; nossa dívida pública de 65.5% do PIB é 4 vezes menor que a do Japão, por exemplo; a in-flação, em trajetória de queda, retornará a um dígito, menor que a de 2015, e temos reservas internacionais de U$ 370 bilhões. Nada disso indica a tão propalada quebra-deira generalizada. A economia tem uma dinâmica que não depende exclusivamente dos governos.

ESTELIONATOS ELEITORAIS

Reconheçamos: as duas forças que disputaram o segundo turno do pleito presiden-cial de 2014, o PT e o PSDB, praticaram estelionato eleitoral. Dilma por ter apresen-tado propostas, no primeiro ano de seu segundo governo, que negara na campanha, e muito aproximadas do ideário de seu adversário, o tucano Aécio Neves. Lembre-se que Joaquim Levy, seu poderoso Ministro da Fazenda, tinha sido consultor econô-mico do... PSDB. Por outro lado, os projetos que chegaram ao Congresso, rigorosa-mente dentro do arcabouço da contenção de gastos públicos e incidindo, de imediato, sobre os trabalhadores, enfrentaram forte resistência, entre outros, do... PSDB, que na campanha defendera exatamente essas medidas.

Outra semelhança, entre PT e PDSB, e que dá base a campanhas eleitorais enga-nosas (de ‘estelionato ideológico’), é o seu financiamento empresarial milionário, de que os ‘polos’ em disputa sempre desfrutaram. Campanha eleitoral, no Brasil, virou espaço de ilusão e propagação de mentiras, marquetagem. Esse dom de iludir tem eficácia.

15/11/2014 01/02/2015

Protestos acontecem em várias cidades brasilei-ras, pedindo desde o im-peachment da Presidente à anulação das eleições. Dirigentes do PSDB e diversos outros partidos compareceram às mani-festações e/ou divulga- ram mensagens de apoio.

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é eleito Presidente da Câmara dos Deputados. Até o momento haviam sido apresentadas 10 denúncias de crime de responsabilidade contra a Presidente - nenhuma recebida pela Câmara.

20/01/2015

Vice-Presidente do PSDB, Alberto Goldman, diz que “país não aguenta mais” e defende o afastamento de Dilma. Não mencio-na o termo “impeach-ment”, mas afirma que é necessário pensar numa maneira de fazer uma “transição democrática”.

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JATOS CERTEIROS

A Operação Lava Jato tem um enorme mérito: pela primeira vez o conluio histórico entre grandes empresas corruptoras e partidos e políticos corruptos está sendo des-nudado. Pela primeira vez os ‘colarinhos brancos’, tidos como intocáveis, foram para a cadeia. A famosa lista da Odebrecht, que o juiz Moro se apressou em colocar sob sigilo, atingiu praticamente todas as legendas partidárias. Como reconhece a Ode-brecht, em nota divulgada em 23/03/16, “a Operação Lava Jato revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário

-eleitoral do país”. O seu ‘Departamento de Operações Estruturadas’, isto é, setor de propinas, teve apreendido cópia de emails de funcionários pedindo ‘pagamento via bônus’ a políticos e partidos de nada menos que sete si-glas: PT, PMDB, PSDB, DEM, PPS, PDT E PTB. Isso só durante a campanha eleitoral municipal de 2012.

A grande novidade da Lava Jato é a de poderosos em-presários e doleiros, acusados, não quererem mais proteger os políticos cujas cam-panhas sustentavam. Alberto Youssef, quando foi preso na Lava Jato, justificou a delação: “Se eles que estão no poder não podem me proteger, por que eu que irei pro-tegê-los?”. É um dominó, que pode derrubar uma área imensa. Iniciou-se um processo que é interminável. As revelações são grandes e escandalosas, difíceis de serem contidas.

Dois perigos, entretanto, rondam a Lava Jato: a articulação dos poderosos atingi-dos para conter suas ações, na medida em que o principal alvo, o PT, já fora “atingi-do”, e o ‘estrelismo salvacionista’ e autoritário de alguns promotores e do juiz Moro, incensados pela mídia espetaculosa. A seletividade nas investigações e as “conduções coercitivas” abusivas também a fragilizam.

Pela primeira vez os‘colarinhos brancos’foram para a cadeia

26/02/2015 16/03/2015

Lula participa de encon-tro com Renan Calheiros, para discutir a relação entre PT e PMDB. “É preciso que o governo en-volva Michel Temer em todas as decisões porque ninguém melhor do que ele interpreta o partido”, disse Renan.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Eduardo Cunha afirma que: “Eu não pos-so querer dar curso (no impeach-ment) para resolver uma crise política. Achar que a gente vai virar uma republiqueta e vai ar-rancar o Presidente fora que foi legitimamente eleito. Nós não concordamos”, declarou.

13/03/2015

Cunha entrega ao aliado Cleber Verde (PRB-MA) a chefia dos veículos de comunicação da TV Câmara.

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CORRUPÇÃO HISTÓRICA

Na nossa sociedade de classes, a corrupção não é um acidente. Muito menos, como quer o propalado ‘moralismo udenista’, derivada da ‘má índole’ do gestor público. Não por acaso, um mote popular no Império já versejava “quem rouba pouco é la-drão/ quem rouba muito é barão”. O capitalismo, que tem como êmulos o lucro do negócio e a competição, também abriga corrupção. O socialismo real, com seus po-litburos (comitês executivos dos Partidos Comunistas do Leste Europeu) e dachas (“casas de campo” utilizados pelos dirigentes do partido único) dos dirigentes do par-tido, igualmente se degradou.

Na nossa história mais recente, as delações do senador Delcídio do Amaral (que transitou do PSDB para o PT, ao longo de sua vida pública) e do ex-deputado e ex-Presidente do PP, Pedro Correa, são reveladoras da amplitude da corrupção: nefastas parcerias público-privadas que vão do governo Sarney ao atual. Emenda da reeleição (FHC), Furnas, Belo Monte, Petrobras, contas em paraísos fiscais. As privatizações da era tucana também mereceriam uma Operação Carbono 14.

Algo resta claro, desde já: o partido dos grandes grupos econômicos e dos consór-cios das empreiteiras é sempre o... do governo. Nacional, estaduais, das grandes ci-dades. É ali que os propinodutos são implantados, com a leniência dos partidos que chegam ao poder. E que precisam de dinheiro grande para ali se perpetuar. Por maior que seja o desgaste das forças tradicionais, a capacidade de sobrevivência delas conti-nua grande. Apostam na despolitização das maiorias.

DEMOCRACIA COMO VALOR RELATIVO?

Nossa construção democrática ainda é insipiente e frágil. A democracia represen-tativa, com o pluripartidarismo assegurado após a superação do período trevoso da

31/05/2015 27/06 a 01/07/2015 15/05/2015“Governo não enganou a população nas eleições”, afirma Temer referindo-se às denúncias de este- lionato eleitoral. “No fi-nal do governo, começou a haver problemas de na-tureza econômica. Não significa que houve falsi-dade nas eleições.”

Após derrotas em plenário nas votações do financiamento de cam-panha e na redução da maioridade penal, Cunha recoloca as iniciativas em votação, com pequenas “alterações”. PSOL acusa o Presidente de praticar “pedaladas regimentais”.

Ao contrário do que fez com outros partidos, foi cancelada transmissão da sessão solene pelos 10 anos do PSOL. A presidência da Câmara afirmou que não haveria mais transmissões par-tidárias - tal decisão nun-ca foi comunicada.

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Ditadura (1964-1985), está em crise. Ela tem muita dificuldade de incorporar outras expressões, como as da participação popular em conselhos ou da “representação direta”. Compete com eles, apesar de cada vez mais desgastada. Os partidos tradi-cionais, mesmo de esquerda, temem perder seu centralismo. Isso se dá também no mundo sindical: o ‘aparelho’ questionado por formas mais horizontais e democráticas.

O clamor anticorrupção, carregado de justa indignação, alimenta a antipolítica. E os partidos que são escritórios de negócios, barganhas e busca de espaços de poder também operam, com sua reiterada politicagem, pela negação da política. As mas-sivas movimentações de 2013, contestando todos os poderes – inclusive o da mídia hegemônica – continuam reverberando e carecendo de melhor entendimento. Legaram às movimen-tações atuais a importância da ocupação das ruas: até a direita aprendeu isso, ainda que para vocalizar seu discurso discrimi-natório e de ódio.

Um novo mundo de significados segue em gestação, mas o velho mundo de mando ainda não pereceu: fim de ciclo, interregno. Os desmandos de juízes, que em nome da legalidade praticam atos ilegais, e de parlamentares ou governantes inescrupulosos e demagogos, são manifestação da cultura autoritária que ainda predomina entre nós, herança de cinco séculos de coronelismo, mandonismo e machismo aristocrático.

A conquista do voto popular para o preenchimento de todos os cargos da Repúbli-ca, nos Executivos e Legislativos, foi muito importante. Mas pressupõe a compreen-são que o ‘batismo do voto’ não é tudo. Diz bem Ayres Britto, ex-Presidente do Supre-mo: “a investidura é a voz das urnas, mas ela não é suficiente. Há também o exercício. Os eleitos precisam se legitimar o tempo todo. Se se deslegitimam, podem perder o cargo, nos casos dos artigos 85 e 86 da Constituição”.

A democraciarepresentativaestá em crise

17/09/2015 24/09/2015 25/09/2015Os juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr. assi-nam juntos pedido de im-peachment. Justificaram o crime de responsabili-dade por causa do atraso em repasses aos ban-cos públicos (que teriagerado uma maquiagem no déficit).

Cunha leu em plenário o rito ao qual submeteria todos os pedidos de im-peachment contra Dilma. Três liminares do STF im-pediram o cumprimento do rito, que havia sido combinado entre Cunha e a oposição.

O lobista João Henriques, preso durante a 19ª fase da Operação Lava Jato, admitiu à Polícia Federal ter feito pagamentos de propina em uma conta na Suíça, que teria como um dos beneficiários o Presi-dente da Câmara, Eduar-do Cunha (PMDB-RJ).

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IMPEACHMENT E DISTOPIA

Impeachment tem previsão constitucional. É o ato mais grave do nosso or-denamento político, por isso deve ser utilizado com muito critério. Este, de Dil-ma, tem vários defeitos congênitos: foi acatado por um Presidente da Câmara ilegítimo, réu no Supremo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro (por enquanto).

Cunha deu continuidade ao pedido de advogados ligados aos derrotados de 2014 por mero espírito de vingança, por retaliação ao PT, que não o defendeu no Conselho de Ética da Casa, que analisava representação do PSOL e da Rede contra ele. Também não há fato objetivo doloso que incrimine a Presidente, que, até aqui, não é investigada na Justiça. Mesmo nesse canhestro pedido de impea-chment não há menção a corrupção, com a qual parte significativa do Congres-so que a julgará tem intimidade.

O conteúdo da denúncia para destituir a Presidente – decretos de suplemen-tação orçamentária e ‘pedaladas’ fiscais – não caracterizou objetivamente crime de responsabilidade. Há insuficiência jurídica, portanto.

Janaína Pascoal, uma das autoras do pedido de impeachment, disse que “as manobras fiscais criaram um ambiente ilusório que favoreceu a Presidente na sua reeleição”. Ora, em sendo assim o correto seria pedir igualmente a destitui-ção do vice Michel Temer, beneficiário na chapa dessa “maquiagem enganosa”. Como já aconteceu, aliás, e Cunha engavetou. O ministro Marco Aurélio, do STF, determinou que a Câmara, por isonomia, examine este pedido.

07/10/2015 13/10/2015 15/10/2015O TCU rejeitou as contas de Dilma, apontando in-dícios de irregularidades nas contas de 2014, como as já famosas “pedaladas fiscais”.

A PGR, após consulta do PSOL, confirma que Cunha possui contas bancárias na Suíça.

PSOL e Rede acionam Conselho de Ética contra Cunha, por ter mentido em depoimento à CPI da Petrobras, quando negou que tivesse contas no ex-terior. A peça é composta por documentos enviados pela PGR que confirmam contas na Suíça de Cunha.

PSOL denuncia acordo entre Governo, Cunha e oposição conservadora e a blindagem de Cunha na CPI da Petrobras. Nos bastidores, diz-se que Cunha contaria com o apoio do governo no Con-selho de Ética, em troca de não acolher os pedidos de impeachment.

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O Conselho de Ética iria decidir o relator da representação do PSOL contra Cunha - mas o relator só é definido dois dias depois. O escolhido foi o Dep. Fausto Pinato (PRB-SP). Esta demo-ra é apenas o primeiro capítulo de uma grande novela de manobras.

Hélio Bicudo, Miguel Re-ale Jr. e Janaína Paschoal entregam novo pedido de impeachment, dessa vez incluindo “pedala-das fiscais” realizadas no próprio ano de 2015, mostrando que a prática continuava sendo utiliza-da pelo governo.

Deputado Paulinho da Força (SD/SP) protoco-lou, junto ao Conselho de Ética, Representação contra Chico Alencar. A iniciativa do parla-mentar - que é réu no Su-premo Tribunal Federal - baseia-se em denúncias falsas e tem como obje-tivo intimidar o PSOL e seu líder na luta contraEduardo Cunha.

PSDB decide apoiar a cassação de Cunha... se ele não propuser o im-peachment da Dilma.

Em cima da hora, Cunha muda a sessão que iria debater o impeachment para o mesmo horário em que seria discutido seu processo no Conselho de Ética. Mais uma manobra. O prazo de “10 dias” para votação já chega a mais de um mês.

Cunha lê em plenário sua de-cisão. É a medida oficial que deflagra o impeachment.

Michel Temer (PMDB) envia uma carta à pre-sidente Dilma na qual apontou episódios que demonstrariam a “desconfiança” que o governo tem em relação a ele e ao PMDB.

Quando o relator consegue ler o parecer pela admissibilidade da representação contra Cunha no Conselho de Ética, o processo é interrompido por um pedido de vistas dos aliados de Cunha.

Mais atrasos: uma sessão do Congresso Nacional encerrou precocemente a reunião do Conselho de Ética. O Presidente José Carlos Araújo (PSD-BA) teve que remarcar a reunião.

Sibá Machado (PT) anunciou que o partido votaria con-tra Cunha no Conselho de Ética. Cunha diz que o gover-no tentou barganhar para garantir CPMF - desde que de-putados do PT ajudassem a barrar seu processo no Conse-lho; Jaques Wagner (PT) afirmou que jamais tratou disso, nesses termos, com Cunha ou qualquer deputado da ‘tropa’ dele. Como em toda ‘guerra’, a primeira vítima é a verdade.

Começa sessão do Conselho de Ética que iria analisar parecer so-bre a cassação de Cunha. “Iria” porque após alguns poucos minu-tos Cunha iniciou a ordem do dia no plenário, interrompendo a sessão! PSOL e diversos partidos começam a obstruir todas as votações e boicotar reuniões do Colégio de Líderes.

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10/11/2015 19/12/2015 24/02/2016

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16/12/2015

23/12/2015A reunião do Conselho de Ética dura até a noite, mas não consegue votar a ad-missibilidade do processo contra Cunha. “Questões de ordem” e requerimen-tos com o único objetivo de protelar são realizados pela “Tropa de Choque” do Presidente.

O Conselho de Ética colo-cou em votação o proces-so contra Cunha. Por 11 a 9 a representação foi admitida. Parlamentares do PSOL, PT, Rede, PSB, PPS, PCdoB, PR, PROS e PMDB protocolam uma Carta Aberta aos minis-tros do STF. O documen-to enumera, em 6 itens, fatos e decisões de Cunha que afrontam os princípi-os institucionais da lega-lidade, impessoalidade, moralidade e eficiência.

Cunha pediu para ser recebido pelo Presidente do STF, para ‘esclarecer dúvidas’ sobre o rito do impeachment. Lewandowski abriu a reunião à imprensa, e disse que não tinha nada a ser es-clarecido. Cunha, em represália, organiza uma ‘greve’ para não es-colher as comissões permanentes e paralisar o trabalho na Câmara.

A Câmara elegeu, por voto secreto, uma chapa para a comissão do im-peachment. Fachin, do STF, decidiu sus-pender a formação e a instalação da comissão. A votação secreta não está pre-vista no regimento interno da Câma-ra e Constituição. Assim, o ministro suspendeu todo o processo.

Na iminência de ter o relatório de Faus-to Pinato aprovado, o vice-Presidente da mesa, Waldir Ma-ranhão (PP/MA), destituiu o relator. O processo contra Cunha voltou à es-taca zero.

Conselho de Ética decide arquivar pro-cesso contra Chico Alencar, por 16 a zero. O relator expli-cou que não encon-trou provas e justa causa que justificas-sem a continuidade do processo.

O Supremo entra em re-cesso. o STF só decidirá sobre Cunha no ano que vem.

A reunião do Conselho de Éti-ca para analisar a cassação de Cunha foi suspensa, em razão do início da ordem do dia. No dia anterior os depu-tados iniciaram a discussão, mas aliados apresentaram diversas questões de ordem, prolongando a sessão, que foi encerrada sem a votação.

José Carlos Araújo (PSD-BA), entra com um man-dado de segurança no STF contra a decisão de Mara-nhão de retardar o anda-mento do processo de cas-sação de Cunha.

Janot (PGR) pede afasta-mento de Cunha da presidência da Câmara. Ele afirma que é preciso evitar o uso do cargo para “destruir provas, pressio-nar testemunhas, intimi-dar vítimas ou obstruir as investigações”.

Maranhão (PP-MA) anulou o parecer do relator do Conselho de Ética pela continuidade do processo contra Cunha. Após manobra, processo retrocede até a fase de debate do parecer e concede o direito de vista.

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Bruna Menezes/Liderança PSOL

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UMA FARSA

Chegou ao final, na Câmara dos Deputados, o começo de mais uma transição intransitiva na nossa História. Na tradição de “mudar

para continuar tudo como está”, troca-se o síndico do condomínio do poder, sem ânimo de mudança real. A farsa, liderada pelos mesmos atores de sempre (raposas políticas, reacionários de diferentes mati-

zes, fisiológicos e fundamentalistas) pode ser resumida em 6 atos:

O primeiro: um pedido de impeachment sem sustentação fática, de crime, baseado em decretos de suplementação orçamentária e nas tais “pedaladas” fiscais (termo recente), que desde FHC são praticadas. Nasceu um zelo orçamentário inédito de de-

putados - até então apenas preocupados com o pagamento de suas emendas individuais, visando fidelizar currais eleitorais.

O segundo: o Presidente-réu da Câmara, Eduardo Cunha, faz barganha com esse pedido de impeachment, tanto com o governo – para que o PT não apoiasse nossa Represen-

tação contra ele, no Conselho de Ética – quanto com a oposição de direita. E, afinal, o acolhe horas depois de os petistas terem votado, no Conselho, pela admissibi-

lidade do processo. O próprio Miguel Reale Jr, um dos autores do pedido de impeachment, reconheceu:

“foi uma chantagem explícita, mas Cunha escreveu certo por linhas tortas”.

O terceiro: as razões da “pedalada” jurídico-legislativa do impe-achment são imprestáveis. O que está em curso é uma articulação do alto empresariado industrial, financeiro e rural, de parte da mídia comercial e de setores ultraconservadores para destituir uma Presidente a quem antes apoiavam. Seu governo não é mais funcional. O pano de fundo é a crise econômica: sem ela, não haveria o caldo de cultura da insatisfação popular e nenhum impeachment prosperaria.

O quarto: a Lava Jato já cumpriu sua função, incomodando a casta até além da conta. Com o PT com o carimbo de corrupto, que fez por merecer, e Dilma

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“fora do jogo”, convém parar. O governo interino de Temer tem uma mí-dia apoiadora que não dará mais tanto destaque às investigações, e um ambiente de “repactuação do país” que não pode prescindir dos parti-dos atingidos, para os quais se induzirá muito mais tolerância com os “atos isolados” de alguns de seus filiados. Cunha também pretende se safar nessa reversão de prioridades da percepção nacional ma-nipulada. Nossa “Mãos Limpas” corre o risco de ficar de mãos atadas. Os caciques do PMDB bem que tentaram...

O quinto: o protagonista principal da deposição foi a Câmara dos Deputados, com seus 148 componentes investigados e sua sessão plenária permanente de cinismo: o grito pela demo-cracia entoado por defensores da ditadura, agressores do meio ambiente vociferando pela limpeza e pureza do país, bancada da bala e da pena de morte defendendo a “vida digna” raivo-sos, desatentos quanto ao fim da Guerra Fria, esbravejando o ‘fora comunistas canalhas’ e preconizando a criminalização dos movimentos sociais.

O sexto: o engodo de que trocar Dilma por Temer representa uma “mudança” no país. O sistema partidário-eleitoral, que esse Con-gresso (“o melhor que poderíamos ter com-prado”, disse um empreiteiro no final de 2014) não quis reformar, continuará reproduzindo corrupção, no conluio entre empresas e políticos, com vistas a fraudar licitações e favorecer contratos em troca de pagamento de propinas.

Farsa movida a traição, hipocrisia e ódio. Carente de utopia. Desesperança-da. Será reforçado o capitalismo de compadrio em que chafurdamos. A eco-nomia seguirá colonizando a política. O PMDB de Temer, Jucá e Cunha não é solução, mas parte pesada do problema.

EM 6 ATOS

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02/03/201617/03/2016O Conselho de Ética aprovou, já na

madrugada, o parecer prévio pela continuidade do processo por que-bra de decoro parlamentar contra o Presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O relatório do deputado Marcos Rogério foi aprovado por 11 votos a 10. O voto de desempate veio do Presidente do Conselho, José Car-los Araújo (PSD-BA).

Dois aliados de Cunha são es-colhidos como Presidente e rela-tor do impeach-ment: Rogério Rosso (PSD-DF) e Jovair Arantes (PTB-GO).

17/03/2016

Em votação aberta, Câ-mara elege nova comissão para o impeachment, des-sa vez formada por quem foi indicado pelos líderes das bancadas. Dilma foi oficialmente notificada sobre o processo.

A REPÚBLICA DO QUIPROQUÓ

O 17 de abril na Câmara dos Deputados revelou bem que a mudança palaciana do inquilino do Jaburu para o Planalto não resolverá nossos problemas. O pa-

drão da política brasileira continua muito degenerado. A romaria do ‘quid pro quo’, isto é, do ‘uma coisa pela outra’, ou seja, do ‘toma lá dá cá’, foi intensa, com Lula capi-taneando promessas de cargos em troca de votos de um lado, e Romero Jucá de outro.

O deputado Zé Augusto Tampinha (PSD/MT), saindo de encontro com Michel Temer, revelou seus objetivos: “ele disse que no segundo e terceiro escalões não vai mudar nada. Isso acalma muitos companheiros, que estavam preocupados com sua base eleitoral”.

O relator do impeachment, deputado Jovair Arantes (PTB/GO), ganhou de Temer a garantia de que terá seus cargos no governo mantidos, a começar por uma diretoria na Casa da Moeda. Os deputados do PR teriam 142 cargos comissionados se votas-sem “sim” ao impeachment. O governo não fez por menos, e as nomeações no Diário Oficial às vésperas da votação abundaram. Pequena política.

“Onde eles veem momento histórico, nós só enxergamos horas histéricas.Onde eles invocam Deus (o deus dinheiro?), dizemos Justiça.

Onde eles exaltam torturadores assassinos, evocamos os que deram sua vida pela liberdade. Onde eles, cínicos, condenam a corrupção da qual usufruem, nós denunciamos a hipocrisia.

Onde eles gritam pela “pátria”, nós lutamos por igualdade.

Onde eles anunciam a marca “família”, nós, movidos pelo amor ao próximo, praticamos a solidariedade.

Onde eles, raivosos, berram impeachment, nós, serenos, damos testemunho de vida pela democracia”.

Chico Alencar

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29 e 30/03/2016 04/04/2016 06/04/2016Em reunião da Mesa Diretora, Cunha aprova proposta que altera a com-posição das comissões, incluindo o Conselho de Ética. Depois de forte repercussão negativa na imprensa e pressão dos deputados, o 1º secretário da Mesa informou que foi incluído no projeto um dispositivo para deixar claro que o cálculo da proporcionali-dade não valerá para o Conselho, pois o colegiado possui regras próprias.

Cardozo, advogado-geral da União, entregou de-fesa da Presidente e falou aos membros da comissão que analisa o impeach-ment. Ele sustentou que a Presidente não cometeu crime de responsabilidade e denunciou que o proces-so foi feito por “vingança” de Cunha.

Relator do processo lê parecer favorável ao impeachment. Ele diz que os atos de Dilma (a quem apoiou até pouco tempo, com cargos no governo) “revelam in-dícios de gravíssimos atentados à Constitu-ição e má gestão dos dinheiros públicos”.

As competentes jornalistas Isabel Braga e Maria Lima, de O Globo, ao cobrirem os festejos pela avassaladora vitória na madrugada de 2ª feira, destacaram um aspecto do que Lênin definiu como “cretinismo parlamentar”: “também chamou atenção nas festas o fato de alguns deputados, que enalteceram a família durante a votação, terem compartilhado, em grupos de WhasApp, nudes de suas amantes, feitos com imagens de votação na Câmara em segundo plano” (O Globo, 19/4//2106, “Entre coxinhas e piadas”).

Cena chocante da República do Quiproquó foi a fala do deputado Bolsonaro, exal-tando o réu Eduardo Cunha, seu líder, e o general torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Para torná-la ainda mais abominável, ele, com requintes de sadismo, “qualifi-cou” seu herói militar como “o pavor de Dilma”. Tamanha apologia da sevícia e da eli-minação física do adversário não devia ser tolerada em uma democracia. Politicalha. Na semana seguinte o PSOL entrou com uma representação na Procuradoria Geral da República (PGR) contra as declarações do Deputado, e espera que a PGR e o STF investiguem as suas atitudes. Não se pode naturalizar nenhum tipo de violência.

As referências a pai, mãe, filhos, sobrinhos e netos testemunharam a priva-tização da política: o interesse e vínculo pessoal prevalecendo sobre o público. Deus, com seu nome usado e abusado em vão, foi invocado como meio de fidelização da clientela. As eleições municipais estão próximas e vereadores e prefeitos são cabos eleitorais de luxo para 2018. Politicagem.

O caminho de esperança não é nem o regresso do que aí estava nem o retorno pleno dos que sempre estiveram! Urge lutar por mudanças estruturais, com novos protago-nistas a serem escolhidos diretamente pela população.

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11/04/2016

13/04/2016 26/04/2016

17/04/2016Por 38 a 27 votos contrári-os, a Comissão Especial aprovou o relatório que pede o impeachment de Dilma.

O deputado Fausto Pinato - ex-relator do caso Cunha - renunciou ao seu mandato no Con-selho de Ética. A preocupação é que o PRB in-dique alguém que seja ‘fiel’ a Cunha, com isso consolidando a maioria no colegiado.

Senado elege Comissão para analisar o processo contra Dilma. Cada partido pode indicar um número pré-determinado de nomes.

“Por Deus, pela família e pelos meus filhos”, é aprovado no plenário da Câmara a continuidade do processo de im-peachment. O placar final foi 367 votos favoráveis, 137 contrários, 7 abstenções e 2 deputados faltaram.

AS NEGATIVIDADES DO SIMAO IMPEACHMENT

1. Defendido por corruptos que, agora, clamam contra a corrupção (um sim à hipocrisia);2. Conduzido pelo primeiro deputado-réu da Lava Jato, Eduardo Cunha, denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro (um sim ao cinismo);3. Louvado por fundamentalistas e homofóbicos que não têm pudor de usar o nome de Deus em vão, e jogam sobre quem diverge sua “maldição” (um sim à intolerância);4. Representou, também pelo apoio entusiástico de saudosistas da dita-dura, desprezo ao voto popular direto dado há um ano e meio (um sim aos valores antidemocráticos);5. Embandeirado por patriotas de ocasião, que se julgam donos da Nação, mas querem entregar, por exemplo, nosso pré-sal, biomas e recursos mi-nerais (um sim ao embuste);6. Dado por todos os que querem destruir culturas e terras indígenas e quilombolas, direitos de minorias e trabalhistas, desvincular receitas da Saúde e Educação e criminalizar os movimentos sociais (um sim ao rea-cionarismo);7. Reuniu grande número de investigados por diversos crimes e irregula-ridades que, vitoriosos, buscam modos e meios de controlar a Lava Jato (um sim à impunidade);

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26/04/201626/04/2016

Fernando “Baiano” Soares revela que entregou R$ 4 mi-lhões em propina para Cunha, no escritório deste; quis entregar a propina na própria casa de Cunha, já que eram vizinhos na Barra de Tijuca, mas este determinou que só em seu gabinete; Cunha lhe revelou que fez Requerimen-tos de Informação para achacar o empresário Júlio Camar-go; ele, Baiano, trocava constantemente de celular, mas tinha um especial para tratar de “vantagens ilícitas” com determinadas figuras políticas, entre elas, Eduardo Cunha; movimentava contas no exterior e fez repasses para vários outros parlamentares, mas não quis dar os nomes.

No Conselho de Ética, re-presentantes do Avaaz entre-garam mais de 1,3 milhão de assinaturas pela cassação do mandato de Cunha. O Dep. Laerte Bessa (PSC) arrancou um dos cartazes da mão de Diego Casaes, coordenador de campanhas do site, e xingou o ativista de “palhaço, babaca, vagabundo”.

8. Teve a adesão entusiasta de políticos fisiológicos e clientelistas, que não querem mudar absolutamente nada no sistema político do qual se benefi-ciam (um sim ao oportunismo);9. Sustentou-se em “pedaladas jurídico-legislativas”, baseadas em mano-bras contábeis usadas por todos os governantes (um sim às chicanas);10. Emoldurado pelo discurso enganoso da “mudança”, quando não há a mínima proposta de revisão do modelo econômico e de reforma do siste-ma político. É um sim à continuidade do abismo entre Estado e sociedade. Mais do mesmo. Um sim destituído de esperança, carente de utopia (um sim à mentira).

A História julgará.

Reprodução/Internet

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28/04/2016

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05/05/2016

04/05/2016Comissão Especial do Senado ouve o depoimen-to dos juristas autores do pedido de impeachment.

Comissão Especial do Senado ouve depoi-mento de José Eduardo Cardozo, advoga-do-geral da União.

Teori Zavascki (STF) afasta Cunha do mandato. No mesmo dia o plenário do Su-premo, por unanimidade, decidiu manter a suspensão do mandato e o afastamento por tempo indeterminado da presidência.

O sen. Anastasia (PSDB-MG), relator da comissão especial do Senado que analisa o impeachment da Presidente Dilma Rousseff, apresenta parecer favorável ao impeachment.

URGÊNCIA DE AUTOCRÍTICA

Por mais manipulados que os processos eleitorais sejam, face aos recorrentes abusos do poder econômico nas eleições, nós participamos desses pleitos,

e, assim, de alguma maneira os legitimamos. Impeachment e mesmo os motes de ‘Fora fulano!’ não deviam ser tão banalizados.

Entre nós, falta autocrítica, sobra autoengano. A corrupção que um pratica só é vista no outro. E a sanha punitivista busca um foco, um personagem expiatório que possa aplacar, inclusive, o vigor da Lava Jato. Bruno Torturra foi fundo: “o que se quer é liberar a culpa de todo um organismo político e social pela imolação de um corpo em praça pública. Uma sociedade afogada em contradições, uma imprensa majoritariamente cínica e um congresso encalacrado em escândalos querem assar a pizza da Lava Jato usando a Presidente como lenha” (coluna de Eliane Brum, El País, 28/03/2016).

Por fim, mas não por último, as declarações do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, no dia 31/3/2016, em conversa informal com estudantes, são um forte libelo contra o estado atual:

“A política, numa sociedade democrática, é um gênero de primeira necessi-dade. A política morreu! Quando o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei: meu Deus do céu, essa é a nossa alternativa de poder! Não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando. (...). É preciso mudar! ”

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Na nossa história, teve o Dia do Fico. Foi o 9 de janeiro de 1822, quando o prínci-pe-regente D. Pedro aceitou permanecer no Brasil e à frente do governo, desa-

fiando as Cortes Portuguesas. Já o 5 de maio de 2016, no plano parlamentar, foi o Dia do Sai. O STF, em votação unânime, disse: “como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, decidimos que Cunha - réu por corrupção - saia”.

O deputado Cunha devia se sentir, até ser afastado do exercício do mandato pelo voto UNÂNIME dos ministros do STF, um Luis XIV, aquele que proclamava que “o sol nunca se poria” nos seus domínios. E os processos contra ele - sete, até aqui - vão avançar. A cadeia é um futuro provável.

Essa pequena-grande vitória é, em primeiro lugar, da cidadania, que sempre ques-tionou os métodos de Cunha e sua ação como político de negócios escusos. A resistên-cia de uma parte do Parlamento também contou, embora ainda haja uma maioria que sempre foi aliada de Cunha ou omissa em relação aos seus desmandos.

O PSOL, todos reconhecem, foi pioneiro e partícipe ativo nesse combate. Não por acaso, o ministro Teori transcreveu, em sua decisão, 30 linhas das denúncias que apre-sentamos no Ministério Público contra Cunha, muito bem fundamentadas. Por isso sentimo-nos recompensados: vale a pena lutar!

Mas o que Cunha representa - a pequena política, as manobras, o patrimonialismo, o toma lá dá cá, os dutos da corrupção - não acaba com o início de seu fim político. Essa prática degenerada tem largo curso nas instituições brasileiras, e continua a existir no próprio Congresso Nacional. É preciso prosseguir.

Que a própria Câmara faça o que é de seu dever, como o Supremo já fez.

DIA DO SAI

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É PRECISO ARRANCAR ALEGRIASAO FUTURO

Derrubar uma Presidente questionada através de um Congresso desacreditado para que seu vice assuma não significa nenhuma alteração substantiva. Aliás, representará retrocesso. Trata-se de uma repactuação das elites econômicas e políticas, para quem Dilma deixou de ser funcional.

Não basta dizer ‘não’ a essa armação e seus condutores. É preciso denunciar o sis-tema que a produz e operar por mudanças de fato. Certamente elas não virão tão já, pelo que indica a atual correlação de forças. Mas precisam ser anunciadas, sob pena de se consolidar o embuste. Os que, com compreensível indignação, clamam contra a corrupção, não podem ser enganados mais uma vez.

Daniel Aarão Reis repete a pergunta que não quer calar: vai dar para sair do buraco? E pondera, com sabedoria: “Alguns, à direita do espectro político, na ofensiva, imagi-nam como saída cortar algumas cabeças, entre as quais as de Lula e de Dilma Rous-seff. De quebra, expulsar o PT do proscênio. E já começam a bater e a agredir pessoas nas ruas. A luta contra a corrupção o exigiria. Mas um tal programa só seduz mentes simplórias. Basta ver quem substituiria os eliminados – os Cunhas, os Renans, os Te-mers, os Aécios, os Alckmins.... Basta comparar as listas dos doadores das campanhas eleitorais. A da Odebrecht e as demais que circulam entre segredos mostram bem o ‘mar de cumplicidades’ que contamina todas as praias” (O GLOBO, 29/03/2016).

É dever de um partido como o PSOL fazer aquilo que os velhos Marx e Engels já propunham em seu Manifesto Comunista de 1848: combater “pelos interesses obje-tivos e imediatos da classe operária, mas, ao mesmo tempo defender e representar, no momento atual, o futuro do movimento”. Não podemos interditar nenhum debate so-bre alternativas futuras. Nosso “não” ao impeachment precisa estar grávido de ‘sins’, de perspectivas mudancistas.

Retomar o trabalho de base, o estímulo à organização popular e à articulação dos milhares de movimentos sociais que vivificam o Brasil é essencial! Nossa luta é pela democratização radical de todas as instâncias da vida social.

Tudo o mais, inclusive eleições gerais, demanda alterações constitucionais que o atual Congresso não fará, já que não estamos em situação insurrecional. Depende também dos eleitos em 2014, inclusive os congressistas, abrirem mão de seus manda-tos, o que, convenhamos, não é nada provável. Mas, como proposta política, clamor por “eleições gerais” tem o mérito de instigar, provocar, cutucar os “estabelecidos”.

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Não podemos abrir mão de ousar. Sem esquecer que paciência às vezes é virtude revolucionária: “não se afobe não, que nada é pra já...” (Chico Buarque).

Recuperemos o Plebiscito Popular por uma Constituinte exclusiva para a Refor-ma Política, que mobilizou mais de sete milhões de pessoas na Semana da Pátria de 2014. O Senador Paulo Paim propõe “o estudo de uma Proposta de Emenda à Constituição para criação de uma assembleia temática e exclusiva para realizar uma reforma política, partidária e eleitoral. Os integrantes seriam eleitos pelo voto direto popular, admitidas candidaturas avulsas. Esses integrantes não poderiam concorrer nas próximas eleições. Outro pré-requisito é ser Ficha Limpa. Findados os trabalhos do novo modelo político, partidário e eleitoral, o Brasil realizaria elei-ções gerais em todos os níveis. Um Plebiscito validaria a proposta ora sugerida”.

É preciso reiterar a importância decisiva, numa perspectiva de futuro mais igua-litário, justo e democrático para o país, de uma reforma tributária progressiva, de uma reforma política democratizante de fato e da construção de um novo modelo econômico que nos livre da situação liberal-periférica em que nos encontramos. Tudo isso precisa ser construído em fóruns abertos à presença popular, sem ‘espíri-to condominial’ e ‘trincheiras de dogmas’ (velho vício das esquerdas), reunindo as forças progressistas e as organizações cidadãs com novas pautas, dispostas a virar essa página final de um processo exaurido.

Trata-se, ao fim e ao cabo, de ressignificar o próprio ideário socialista, que hoje precisa incorporar, com centralidade, o cuidado ambiental e a democratização ra-dical de todas as relações na sociedade, para o que os espaços virtuais tanto contri-buem. Urge a construção de um novo modo de se relacionar com a natureza, vale dizer, de produzir, consumir e reaproveitar.

De imediato, é preciso repetir que as saídas da crise não podem prescindir do protagonismo popular. Este é o único antídoto eficaz contra o velho arranjo das elites, que visa mais uma transição intransitiva em nossa história. Vladimir Safat-le indica essa imprescindível esperança que se constrói: “em situações de crise, o poder instituinte deve ser convocado como única condição possível para reabrir as possibilidades políticas. Seria a melhor maneira de começar uma instauração democrática no país” (FSP, 25/3/2016).

As forças que reagiram ao impeachment de Dilma, em defesa não de seu péssi-mo governo, mas da democracia, precisam se manter articuladas, como ensaiam a Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular. Mudar de governo, por si só, não muda a realidade. A luta é longa: comecemos já!

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Para um sonho se tornar realidade são necessárias mediações. Busquei-as na Ação Católica. Os bispos, pressionados pela dita-

dura, a desmantelaram. Apoiei organizações revolucionárias contra a ditadura. A repressão as derrotou. Tornei-me eleitor do PT. O partido se deixou contaminar pelo elitismo e a corrupção, em treze anos de go-verno não promoveu nenhuma reforma estrutural, e calou-se quanto ao socialismo. Hoje, voto PSOL.

Meu fio de esperança se prende aos movimentos sociais. Não são perfeitos. Neles há também oportunistas e corruptos. Mas estes são exceções. Porque a base da maioria dos movimentos é a gente pobre que luta com dificuldade para sobreviver. Essa gente costuma ser visce-ralmente ética. Não acumula, partilha. Não se entrega, resiste. Não se deixa derrotar, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Não sei o que será do nosso Brasil nos anos vindouros. Sei apenas que fora dos movimentos sociais a nação não tem salvação. O PT ten-tou e se deu mal. Em uma sociedade tão marcadamente dividida em classes sociais, somente o vínculo orgânico com os pobres nos mantém com os pés no chão, a alma repleta de fome de justiça e a cabeça fiel à utopia socialista.

Frei Betto é escritor, frade dominicano e teólogo. Publicado originalmente no Correio da Cidadania, 30 de maio de 2016.

MEU FIO DE ESPERANÇAPor Frei Betto*

“Loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual”

(Einstein, 1879-1955).

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Bruna Menezes/Liderança PSOL

Bancada do PSOL: mandatos a serviço da transformação social.

A bancada do PSOL está entre os 100 melhores parlamentares do Congresso Na-cional. A conclusão é do ATLAS POLÍTICO, uma plataforma de transparência cria-da por dois pesquisadores brasileiros da Universidade de Harvard (EUA).

O ATLAS não leva em conta critérios ideológicos, de posições políticas A, B ou C: avalia a competência, a intensidade e a coerência da atuação do(a) parlamentar, de acordo com critérios objetivos, como “ativismo legislativo”, “debate parlamentar” e “campanha responsável”. Chico Alencar ficou em primeiro lugar geral. Acesse o site e confira: http://www.atlaspolitico.com.br/ranking-deputados

Liderança do Partido Socialismo e Liberdade - PSOLPalácio do Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Anexo II – Bloco das Lideranças Partidárias – Sala T-13 - Brasília, Distrito Federal | CEP 70160-900

Tel: +55 (61) 3215-9835 | [email protected]

facebook.com/psolnacamara/ psolnacamara.org.br/lidpsol/

camara.leg.br

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Reconstruira esperança

Chico AlencarDeputado Federal | PSOL/RJ

Brasília 2016

Este livreto contém a descrição dos fatos

que se sucedem com grande rapidez no “condomínio do poder”, desde 2015, e nossa análise sobre os (des)cami-nhos de quem quer dirigir a sociedade brasileira. Tam-bém traz nossas propostas.

Para nós, esperança se constrói, com povo cons-ciente, organizado e bata-lhando por seus direitos.

Boa leitura! Compartilhe e debata com o(a)s amigo(a)s.