RECURSOS HÍDRICOS, ESCOLA RURAL E EXTENSÃO: REFLEXÕES SOBRE UMA PRÁTICA

Daniela Martins Cunha, Centro Universitário de Caratinga- UNEC, Caratinga e Faculdade de F. C. L. Santa Marcelina- FAFISM, Muriaé. geodaniela@yahoo.com.br RESUMO Diante dos inúmeros problemas ambientais decorrentes da era desenvolvimentista, a má utilização dos recursos hídricos tem se tornado uma temática de alcance internacional. Dessa forma, pensar em água pressupõe pensar em pesquisas nas mais variadas escalas. Por estes e demais motivos realizou-se um projeto de extensão que visou contemplar como meta principal e de forma preliminar, o diagnóstico ambiental dos principais afluentes da Microbacia do Ribeirão Conceição, no município de Carangola, MG. E, posteriormente, desenvolver um trabalho de Educação Ambiental, com ênfase nos recursos hídricos nas escolas municipais locais do Ensino Fundamental, “Raimundo Lopes” e “Ouvidio Mendes”. O objetivo principal do trabalho foi elaborar e ministrar oficinas sobre a Microbacia Hidrográfica do Ribeirão Conceição baseadas em um diagnóstico ambiental que procurou identificar as características do ambiente físico e antrópico, bem como os principais impactos ocasionados pelo uso e ocupação do solo local. Utilizaram-se os seguintes passos na execução do trabalho: 1-Pesquisa bibliográfica; 2-Levantamentos de campo; 3-Realização de questionários com os estudantes e professores das escolas envolvidas; 4-Formação de um banco de dados; 5-Estruturação e implementação de oficinas; 6-Elaboração de um documento final. Na oportunidade foram levantados, dentre outros, os seguintes impactos ambientais: erosão, ausência de proteção das nascentes, assoreamento dos corpos d’água, destino inadequado das embalagens de agrotóxicos, ausência ou rarefação das matas ciliares e/ou de topo. Por meio do trabalho, os alunos das escolas municipais da Comunidade da Conceição, crianças e adolescentes, transmissores de informações aos pais e responsáveis, aprenderam sobre a necessidade da conservação de nascentes, do uso adequado do solo, do destino final do lixo, entre outras medidas, que visem a conservação dos recursos hídricos locais. Ou seja, eles e seus professores se tornaram importantes difusores de informações em suas famílias e em outras escolas.

PALAVRAS-CHAVE: Bacia Hidrográfica- Extensão- Educação Ambiental

ABSTRACT

Before the countless current environmental problems of the era of the development, the bad use of the water resources has if tornado a theme of international reach. In that way, to think in water presupposes to think in researches in the most varied scales. For these and other reasons he/she took place an extension project that sought to meditate as main goal and in a preliminary way, the environmental diagnosis of the main tributaries of Ribeirão Conceição's basin, in the municipal district of Carangola, MG. And, later, to develop a work of Environmental Education, with emphasis in the resources hídricos in the schools municipal places of the Fundamental Teaching, " Raimundo Lopes " and " Ouvidio Mendes ". THE main objective of the work was to elaborate and to supply workshops on the basin hidrographic of Ribeirão Conceição based in an environmental diagnosis that it tried to identify the characteristics of the physical and human environmental, as well as the main impacts caused by the use and occupation of the local soil. The following steps were used in the execution of the work: 1- research bibliographical research; 2- field risings; 3-accomplishment of questionnaires with the students and teachers of the involved schools; 4-formation of a database; 5-structuring and implementation of workshops; 6-elaboration of a final document. In the opportunity they were lifted up, among other, the following environmental impacts:

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erosion, absence of protection of the East, I accumulate of sand in the river, inadequate destiny of the packings of pesticides, absence or decrease of the ciliary forests and of top. Through the work, the students of the municipal schools of Conceição's Community, children and adolescents, transmitters of information to the parents and responsible, they learned about the need of the conservation of East, of the appropriate use of the soil, of the final destiny of the garbage, among another measured, that you/they seek the conservation of the water resources. In other words, them and their teachers accomplish diffusion of information in their families and in other schools.

KEY-WORD: Basin Hidrographic - Extension - Environmental Education

1. Introdução

A abordagem do tema desenvolvimento há muito vem sendo utilizada e relacionada a um modelo

de sociedade capitalista baseado na tecnificação e na sofisticação dos padrões sócio-culturais, objetivando,

de forma centralizada, o crescimento econômico, de acordo com um contexto histórico e econômico. É

notável, todavia, que foi após a II Guerra Mundial que o termo recebeu uma conotação mais simplista,

sendo entendido como “crescimento econômico”. Essa interpretação promoveu a corrida dos países ditos

“subdesenvolvidos” rumo ao aumento do seu Produto Nacional Bruto em prol do desenvolvimento, o que

resultou, em todo o mundo, no uso intenso dos recursos e na degradação do ambiente natural.

O modelo de desenvolvimento fortalecido e divulgado no pós-guerra como universal e pressuposto

para o crescimento e o progresso, gerou diversos danos às populações de todo o mundo. Conforme Sachs: “O resultado foi uma perda tremenda de diversidade (...) O mercado, o Estado e a ciência foram as grandes forças universalizantes: publicitários, especialistas e educadores expandiram seus domínios inexoravelmente. (...) Eliminaram as inúmeras variedades de ser humano e transformaram o mundo em um lugar carente de aventuras e de surpresas; o ‘Outro’ desapareceu com o desenvolvimento” (SACHS, 1992, p.15).

A era desenvolvimentista proclamada por Truman, além de minimizar as diferenças culturais,

eliminando as individualidades, não conseguiu reduzir as diferenças econômicas existentes entre diversas

regiões e entre as áreas urbanas e rurais (MCMICHAEL, 2000). Paralelo aos crescentes sintomas de

exclusão social imposto pela busca incessante do crescimento econômico, ocorreu uma pressão e um uso

inesgotável dos recursos naturais em prol do desenvolvimento, os limites ecológicos do mundo se fizeram

visíveis. Assim, a insatisfação com os resultados presentes na promessa desenvolvimentista ocasionou a

mobilização de agências estatais de meio ambiente e de grupos sociais, conforme destaca Viola: “A consciência de alguns problemas ambientais começa a ser fazer sentir nas décadas de 50 e 60, quando agências estatais de meio ambiente de países do primeiro mundo passam a apontar algumas questões ligadas à degradação do meio ambiente, mas de forma ainda localizada. Nos anos 60 é que surgem as primeiras manifestações de ecologistas e pacifistas, expressando, principalmente, a critica da Ética utilitarista” (VIOLA, 1987, p. 69).

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Desta forma, diante dos inúmeros problemas ambientais decorrentes da era desenvolvimentista, a

má utilização dos recursos hídricos tem se tornado uma temática de alcance internacional. E pensar em

água pressupõe-se pensar em pesquisas nas mais variadas escalas. Por estes e demais motivos realizou-se

um projeto de extensão que visou contemplar como meta principal e de forma preliminar, o diagnóstico

ambiental dos principais afluentes da Microbacia do Ribeirão Conceição, no município de Carangola, MG

e, posteriormente o trabalho de Educação Ambiental, com ênfase nos recursos hídricos nas escolas

municipais locais.

O objetivo geral do trabalho foi elaborar e ministrar oficinas sobre a microbacia hidrográfica do

Ribeirão Conceição baseadas em um diagnóstico ambiental que procurou identificar as características do

ambiente físico e antrópico local e, ao mesmo tempo, buscou a conscientização por meio da educação

ambiental e da participação dos estudantes. Sendo destacados os seguintes objetivos específicos:

-Descrever e localizar os principais problemas ambientais observados na microbacia do Ribeirão

Conceição, no município de Carangola, MG;

-Constatar, através de questionários entregue aos estudantes locais, se há ou não um trabalho de educação

ambiental nas escolas;

-Constituir um documento síntese que possa oferecer subsídios para uma estratégia de instrução aos

professores e alunos da área pesquisada;

-Realizar oficinas sobre a temática recursos hídricos, as quais possam ser incorporadas pelo aluno em seu

cotidiano;

-Criar condições por meio das oficinas para que o aluno sinta-se parte da natureza e um agente

conservador e consciente da mesma;

-Informar o aluno sobre a importância da atividade agrícola sustentável.

Portanto, de acordo com os objetivos e procedimentos metodológicos propostos, apresenta-se neste

trabalho uma síntese do diagnóstico e projeto de extensão realizados, respectivamente, na microbacia

hidrográfica do Ribeirão Conceição, nas Escolas Municipais de 1º grau “Raimundo Lopes” e “Ouvidio

Mendes”. Sendo que, este projeto de extensão foi realizado no ano 2007 com os alunos do 5º período do

curso de Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Carangola, MG e financiado pela

Universidade do Estado de Minas Gerais.

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2. Material e Método

A metodologia a ser utilizada terá como referencial a abordagem ecossistêmica, quando será

observada e identificada a dinâmica e as inter-relações entre os aspectos naturais (físico e biótico) e

humanos, de uma maneira totalizadora, delimitando-se a ação antrópica no restante do sistema e em seu

equilíbrio natural.

A educação ambiental será inserida e trabalhada de forma lúdica nas escolas da comunidade, como

um instrumento para garantir a mudança da consciência dos alunos, levando-os a buscar uma qualidade de

vida adequada por intermédio de melhores relações com o meio físico e natural.

Sendo, contudo, destacados os seguintes procedimentos metodológicos:

Pesquisa bibliográfica, como forma de produzir conhecimentos e constatar a realidade sócio-

demográfica e agroeconômica da área de abrangência da bacia do Rio Carangola no município de

Carangola, MG;

Levantamentos de campo para checagem das informações e produção de material fotográfico;

Realização de questionários com os estudantes das escolas envolvidas;

Formação de um banco de dados;

Estruturação e implementação de oficinas sobre a educação ambiental, com ênfase nos recursos

hídricos nas escolas municipais da Comunidade da Conceição;

Elaboração de um documento final constando, dentre muitas informações: o diagnóstico ambiental

da microbacia; o resultado e comentário dos questionários, as oficinas aplicadas, a avaliação dos

bolsistas, dos estudantes e professores atendidos.

A escolha do público alvo e da área de pesquisa/extensão decorreu dos seguintes atributos:

1- Os alunos das Escolas Municipais da Comunidade da Conceição são crianças e adolescentes que

residem na região onde se insere a Microbacia do Ribeirão Conceição. Desse fato decorre a importância

de se trabalhar com os mesmos a necessidade da conservação de nascentes, do uso adequado do solo, do

destino final do lixo, entre outras medidas, que visem a conservação dos recursos hídricos locais. Pois,

estas crianças são importantes difusoras de informações em suas famílias e, futuramente se constituirão

em cidadãos ambientalmente mais conscientes.

2- Além disso, a importância da Microbacia em questão aumenta ainda mais quando se observa que a

mesma é a fonte de água que, depois de tratada é consumida pela população urbana do município de

Carangola. Assim, os cuidados com a água da Microbacia do Ribeirão Conceição, representam também a

melhoria na qualidade da água consumida.

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3- Resultados e Discussão

3.1- Área de Estudo

A microbacia hidrográfica do ribeirão Conceição localiza-se no Município de Carangola, na Zona

da Mata de Minas Gerais. Seus Limites territoriais estão compreendidos entre as seguintes coordenadas

geográficas: latitudes 20º 35’ 00’’e 20º 43’ 00’’ e longitudes 42º 02’ 00’’ e 42º 16’ 00’’. De acordo com a

Carta Topográfica do IBGE, 1979, os principais afluentes do Ribeirão Conceição são o Córrego dos

Tavares, o Córrego São José, o Córrego do Gabeta, entre outros (Figura 1).

A área ocupada pela microbacia hidrográfica do ribeirão Conceição, faz parte da sub-bacia

hidrográfica do rio Carangola. Esta, por sua vez, compõe a bacia hidrográfica do rio Muriaé que formará,

juntamente com outras microbacias, a grande bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, cuja extensão total

é 21.300 Km².

Os cursos de água que drenam a microbacia hidrográfica do ribeirão Conceição distribuem-se, em

sua grande maioria, em leitos permanentes e alguns temporários. Os últimos apenas possuem água em seu

leito nas épocas chuvosas ou em altas precipitações, por um curto intervalo de tempo. Os cursos d’água

originados na Serra do Alto da Conceição apresentam grande desnível entre as nascentes e a foz (1390 –

600m) (Figura 1). É comum observar em campo corredeiras nas encostas das serras e meandros nas

baixadas próximas a foz.

O relevo da região é dominantemente forte ondulado e montanhoso (Mares de Morros), embasado

em rochas gnássicas do pré-cambiano, com encostas de perfil côncavo-convexo embutidas em vales de

fundo chato formados por terraços e leitos maiores. Possui uma generosa malha de pequenos cursos

d’água, que drenam satisfatoriamente toda a região. Estes cursos d’água têm origem predominantemente

em nascentes de encosta.

Duas unidades da paisagem se destacam na região, as elevações com encostas íngremes ou suaves,

e as baixadas. Nas elevações predominam os latossolos vermelho-amarelos (seções convexas) e as

cambissolos (seções côncovas) e nas baixadas os podzólicos e os aluviais. Os solos que predominam na

área são os Latossolos Vermelho-Amarelos Distróficos (50%) e os Podzólicos (25%), ocorrendo em

menor extensão os Aluviais (10%), os Coluviais (10%) e os Litólicos com afloramentos rochosos (5%).

Segundo a classificação de Koopen, o clima característico da região é o Cwa Mesotérmico úmido,

caracterizando-se no período de verão quente e úmido, bem como no período de inverno frio e seco. A

precipitação média anual gira em tomo de 900 a 1200 mm, sendo que nos meses mais quentes as chuvas

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são mais freqüentes. O período de estiagem se estende de maio a setembro, sendo que o mês mais seco

mostra apenas 7,5 mm de precipitação (AYOADE, 2003).

Figura 1- Mapa da Microbacia Hidrográfica do Ribeirão Conceição

Fonte: Carta Topográfica do IBGE, 1979.

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Segundo o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), chove aproximadamente 180 a 210 dias

por ano e o período anual de insolação é aproximado de 2.100 a 2.400 horas. A umidade relativa do ar tem

uma média anual de 70 a 80% e a média anual de evaporação configura em torno de 800 a 1200 mm. A

temperatura máxima anual varia de 24 a 27º C, a temperatura média anual nos patamares de 18 a 24º C e a

temperatura mínima anual figura-se entre 15 a 18º C.

Pelo observado em campo, muitos dos remanescentes florestais, na microbacia hidrográfica do

ribeirão Conceição, estão associados a cursos d’água, sendo que estes são diversos quanto à suas

dimensões e o seu grau de preservação, estando em evidente estado de recuperação e existindo um grande

potencial de conectividade destes fragmentos.

3.2- Diagnóstico Ambiental

Evidências têm mostrado que, no Estado de Minas Gerais, o meio natural apresenta-se degradado,

em função da expansão histórica das atividades agropecuárias, do extrativismo vegetal, da atividade

mineradora, assim como, pela expansão urbana e crescimento industrial. A expansão dessas atividades

tem ocorrido em diversos graus, com base na apropriação do ecossistema natural, com suas implicações

na própria sociedade.

Dados empíricos da FEAM, citados por RIBEIRO (1998), evidenciam que tem ocorrido um

processo de “desinvestimento” do capital natural, que significa o esgotamento dos recursos naturais não-

renováveis, o uso inadequado daqueles recursos renováveis e impactos ambientais negativos de todo o

tipo, tais como: desmatamento, elevados índices de queimadas, práticas agrícolas e pecuárias inadequadas,

com o desenvolvimento de incisões erosivas (ravinas e voçorocas), rios assoreados, contaminação de água

e solos com produtos químicos, dejetos humanos e lixos, desaparecimento de nascentes, devastação das

matas ciliares e enchentes.

Um exemplo especifico desses expressivos acontecimentos, na relação homem-natureza, tem

ocorrido em varia microbacias dos principais afluentes do Rio Carangola, as quais são o objeto do

presente projeto. Segundo BARROSO e MARCHIORO (1999), o estudo de bacias hidrográficas é uma

importante ferramenta na elaboração de propostas de planejamento das atividades humanas, tendo em

vista que, em sua abordagem ecossistêmica, constituem sistemas abertos de fluxos, controlados tanto por

fatores internos (topografia, geologia, cobertura vegetal e uso do solo) como externos (ex.: pluviosidade e

vento), cuja magnitude pode ser alterada pela intensidade da ocupação humana, causando problemas de

eutrofização, assoreamento e disponibilidade hídrica.

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Na microbacia hidrográfica do ribeirão Conceição ocorre um modelo de produção agrícola

predominante em toda a Zona da Mata, a qual apresenta três características principais: ocupação da terra

antiga, pequena produção e práticas agrícolas tradicionais. A substituição de porções de floresta Atlântica

Estacional Semidecidual por culturas como o café quebrou a eficiente ciclagem de nutrientes do

ecossistema florestal e reduziu drasticamente a fertilidade destes solos em algumas décadas .

As pastagens e as culturas de subsistência principais como milho, feijão e cana-de-açúcar

substituíram lavouras de café antigas e depauperadas. Apesar disto, a agricultura familiar mantém sua

importância vital para a região, principalmente na produção de culturas de subsistência. A erosão tem sido

um dos principais fatores responsáveis pela degradação ambiental na região, sendo apontada pelos

agricultores como uma das causas das baixas produtividades das culturas agrícolas, em trabalhos de

diagnóstico já realizados.

De modo geral, foram detectados por meio de observações de campo e entrevista realizadas com

moradores rurais da região, os seguintes problemas ambientais: Assoreamento dos corpos d’água; Focos

de erosão; Ausência de proteção das nascentes; Destino inadequado das embalagens utilizadas de

agrotóxicos; Drenagem inadequada nas estradas; Lançamento de afluentes nos corpos d’água; Pastagens

degradadas.

Além disso, por meio de entrevista realizada com os moradores mais antigos que vivem na

microbacia, evidencia-se a afirmação de que a vazão atual ao longo do ano é visivelmente menor que

aquela verificada em décadas passadas, no período entre as décadas de 1970 e meados de 1980. Tal

período coincide com o último grande desflorestamento da região, o qual foi motivado pela instalação da

tividade carvoeira e pela demanda de lenha par substituir o óleo combustível nas indústrias da região,

durante a crise do petróleo.

Diante do observado em campo conclui-se que a microbacia do Ribeirão Conceição possui duas

posições importantíssimas: uma preservacionista, a qual irá manter a continuidade dos recursos hídricos e

conseqüentemente a preservação ambiental e, outra, geoeconômica. A posição geoeconômica da bacia

influência a qualidade de vida de grupamentos populacionais, rurais e urbanos, que a habitam ou a

circundam.

Ambas as posições expressam a relevância sócio-ambiental que a preservação dessa microbacia

possui para a comunidade e o município componente da mesma; justificando-se, assim, a necessidade de

um trabalho de extensão dessa natureza, onde foram privilegiados os pilares principais: educação

ambiental- recursos hídricos.

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3.3- A Educação Ambiental

A Educação Ambiental prepara o cidadão para reivindicar justiça social, cidadania nacional e ética

no trato com as questões ambientais (REIGOTA, 2004). Os parâmetros curriculares nacionais objetivam

uma educação participativa e pautada no cotidiano da criança. Dentre outros objetivos prevê que o aluno

deve: "Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus

elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente."

Desta forma, parte-se do pressuposto que a Educação Ambiental nas escolas rurais deva orientar a

criança a compreensão das questões ambientais que estão inseridas em seu meio, afim de promover a

formação futura de um cidadão participativo e consciente. O professor deve levar o aluno a reflexão de

que: 1- Ele é um ser humano integrante do meio ambiente, o qual é determinante para a sua sobrevivência.

Cabendo a nós observar como temos contribuído para o empobrecimento do solo com uso de queimadas;

o aquecimento da terra com a destruição da camada de ozônio; a escassez de água com o desmatamento,

dentre outros; 2- Somos responsáveis pela manutenção/melhora da qualidade do meio em que vivemos.

Para isto torna-se necessário conhecer nosso meio: Qual a nossa cultura? Como dançamos? O que

falamos? Que bichos interagem conosco? Qual o nosso relevo? Como é nossa flora? E por aí vai. Então é

preciso lembrar que vivemos em sociedade, que é preciso trabalhar em grupos.

Trabalhar a Educação Ambiental com as crianças do meio rural é uma prioridade a medida que, se

observa que tal trabalho poderá conduzir essa criança a uma relação mais harmoniosa, não apenas com a

flora e a fauna que o cerca, mas também em suas relações familiares e sociais, como transmissora de

informação. O planejamento e desenvolvimento das oficinas fundamentaram-se nos seguintes conteúdos

programáticos: - Conceito, fundamentos e práticas da Educação Ambiental; - Atividades lúdicas sobre

Educação Ambiental; - Importância da conservação dos Recursos Hídricos; - A ação antrópica e seus

impactos nos Recursos Hídricos;- Produção agrícola/uso do solo sustentável.

Para que os bolsistas do projeto pudessem elaborar oficinas ambientais que estivessem diretamente

relacionadas ao cotidiano daquela comunidade escolar foi necessário, antes de tudo um trabalho de

pesquisa, ou seja, um diagnóstico dos problemas ambientais daquela comunidade, os quais foram obtidos

por meio da pesquisa de campo, incluindo observação dos problemas e entrevista-diagnóstico. Por meio

desta, pode-se elaborar atividades de ensino que estavam diretamente relacionadas ao cotidiano daquelas

crianças e, consequentemente de suas famílias. Este fato fez com que os resultados de uma pesquisa se

convertessem em objeto de ação extensionista por meio da comunicação/difusão de informações no

processo de ensino/aprendizagem.

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As oficinas e o projeto foram de extensão foram apresentados aos representantes das escolas nas

quais elas seriam realizadas. Os supervisores escolares aceitaram e participaram do projeto de forma

muito amistosa. Os professores e estudantes não foram diferentes. Os primeiros, por vezes,

complementavam e ajudavam nas explicações que eram transmitidas pelos estagiários. Já os segundos,

ficaram muito envolvidos, seja através da atenção, ou por meio da participação nas atividades propostas

(Figura 2). No entanto, algumas dificuldades também foram encontradas, como o acesso às escolas no que

diz respeito a distancia e a meio de locomoção, e a não participação/apoio de alguns professores.

Por meio do projeto, observou-se que os alunos das Escolas Municipais da Comunidade da

Conceição, crianças e adolescentes, perceberam a necessidade da conservação de nascentes, do uso

adequado do solo, do destino final do lixo, entre outras medidas, que visem a conservação dos recursos

hídricos locais. Ou seja, eles e seus professores se tornaram importantes difusores de informações em suas

famílias e em outras escolas, sendo que, futuramente poderão se tornar cidadãos ambientalmente mais

conscientes.

Figura 2- Fotos demonstrando a execução das oficinas e participação dos estudantes do Ensino

Fundamental e Médio, Bolsistas do Projeto e Supervisor Escolar.

Fonte: Autora, 2007.

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A avaliação deste Projeto de Extensão foi realizada mediante um questionário distribuído aos

alunos das escolas municipais participantes das oficinas e aos professores que as acompanharam, nos

quais foram avaliados, dentre outros: relevância das oficinas e da temática tratada, opinião do aluno sobre

a dinâmica e a capacidade de exposição do bolsista, qualidade dos recursos didáticos utilizados. De um

modo geral a avaliação das oficinas e do projeto, realizada por todos os participantes, professores,

estudantes e supervisores das escolas e bolsistas, foi muito satisfatória.

4- Conclusões

Este projeto de extensão representou mais uma alternativa para que o aluno/criança das Escolas

Municipais do Ensino Fundamental, “Raimundo Lopes” e “Ouvidio Mendes”, do meio rural da

Comunidade da Conceição, no município de Carangola, MG incorporasse a Educação Ambiental e a

conservação dos recursos hídricos em seu cotidiano.

O processo educativo ambiental dos estudantes, assim como a participação de bolsistas

universitários e professores que atuam nas escolas das comunidades no projeto, contribuiu com instruções

para que estes possam buscar o melhoramento da qualidade de vida e da água dentro da comunidade. Tal

fato funcionará como um processo multiplicador da importância de se preservar os recursos hídricos.

É importante e necessário que tal projeto possa ser aplicado a outras comunidades da Bacia

Hidrográfica do Rio Carangola, pois será por meio deste que conseguiremos formar cidadãos

ambientalmente mais conscientes no futuro.

Enfim, a preservação de uma bacia significa a preservação da vida animal e vegetal, saúde e

qualidade de vida para todos que a circundam. Sendo que, no caso das bacias hidrográficas, a preservação

ou não preservação, pode acarretar a continuidade ou destruição não apenas de uma bacia, mas de outra na

qual ela será tributária.

5- Referências bibliográficas

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Carta Topográfica. Carangola, 1979. MCMICHAEL, P. "Colonialism". Development and Social Change. 2.ed. Thousand Oaks, Califórnia: Pine Forge Press, 2000. REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2004. RIBEIRO, M. A. Município e meio ambiente. Belo Horizonte, FEAM, 1998. SACHS, W. Introdução. In: SACHS, W. Dicionário do desenvolvimento. Petropólis: Editora Vozes, 1992, p. 59 - 83. SOUZA, M. J. L. de. A teoria sobre o desenvolvimento em uma época de fadiga teórica, ou: sobre a necessidade de uma “teoria aberta” do desenvolvimento sócio-espacial. Território/ LAGET, UFRJ. v.1, n.1 (Jul./Dez. 1996) Rio de Janeiro: Relume- Dumará, 1996. VIOLA, E. O movimento ecológico no Brasil. In: PÁDUA, José Augusto (org.). Ecologia e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1987.