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REDAÇÃO O programa de Redação do Vestibular UFSC 2017 recomenda que o(a) candidato(a) examine criteriosamente as propostas apresentadas e defina a melhor perspectiva de abordagem de modo a mostrar sua competência comunicativa. A prova de Redação apresentou duas propostas diferentes, solicitando que o(a) candidato(a) escolhesse aquela sobre a qual se sentisse mais bem preparado(a) para redigir, o que levou a banca avaliadora a considerar que a escolha realizada tenha se dado em virtude do domínio seguro tanto de um dos gêneros solicitados (dissertação ou crônica), como da temática respectivamente correlacionada. Quatro critérios gerais, interligados em diferentes graus, foram observados na avaliação: (i) Adequação à proposta (tema e gênero) de redação; (ii) Adequação à modalidade escrita da variedade padrão da língua portuguesa; (iii) Coerência e coesão; (iv) Nível de informação e argumentação ou narratividade. As duas propostas de redação são descritas e comentadas a seguir. PROPOSTA 1 Considere os textos abaixo para escrever uma dissertação sobre a participação dos jovens na vida pública. Manifestação dos estudantes secundaristas de São Paulo a favor da educação pública e contra a precarização do ensino (Rovena Rosa/Agência Brasil).

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REDAÇÃO

O programa de Redação do Vestibular UFSC 2017 recomenda que o(a) candidato(a) examine criteriosamente as propostas apresentadas e defina a melhor perspectiva de abordagem de modo a mostrar sua competência comunicativa. A prova de Redação apresentou duas propostas diferentes, solicitando que o(a) candidato(a) escolhesse aquela sobre a qual se sentisse mais bem preparado(a) para redigir, o que levou a banca avaliadora a considerar que a escolha realizada tenha se dado em virtude do domínio seguro tanto de um dos gêneros solicitados (dissertação ou crônica), como da temática respectivamente correlacionada.

Quatro critérios gerais, interligados em diferentes graus, foram observados na avaliação: (i) Adequação à proposta (tema e gênero) de redação; (ii) Adequação à modalidade escrita da variedade padrão da língua portuguesa; (iii) Coerência e coesão; (iv) Nível de informação e argumentação ou narratividade.

As duas propostas de redação são descritas e comentadas a seguir.

PROPOSTA 1

Considere os textos abaixo para escrever uma dissertação sobre a participação dos jovens na vida pública.

Manifestação dos estudantes secundaristas de São Paulo a favor da educação pública e contra a precarização do ensino (Rovena Rosa/Agência Brasil).

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Duas imagens foram apresentadas: uma tirinha de autoria de Armandinho em que uma criança, segurando um vaso de planta, é questionada por um adulto se ela deseja mudar o mundo sozinha; a criança responde que não está sozinha, que todos estão espalhados, mas que já começaram a se reunir. A outra imagem (publicada inicialmente pela Agência Brasil) retrata uma manifestação de estudantes secundaristas de São Paulo a favor da educação pública e contra a precarização do ensino.

Esperava-se que o(a) candidato(a) compreendesse a proposta escolhida e escrevesse uma dissertação, considerando o conteúdo dos textos apresentados (ação isolada de um indivíduo vs. ação coletiva de indivíduos reunidos para promover mudanças; manifestação de rua a favor da educação pública e contra a precarização do ensino etc.). O(a) candidato(a) deveria expor e analisar fatos/situações/dados/pontos de vista acerca da temática proposta, articulando adequadamente a exposição e a análise de elementos. O texto deveria apresentar uma linha de argumentação que sustentasse o projeto de produção textual do(a) candidato(a), com uma clara tomada de posição diante do assunto, ancorada em argumentos consistentes e em um universo de referências concretas/verossímeis (sem clichês, noções generalizantes ou indeterminadas).

Esperava-se também que o(a) candidato(a) desenvolvesse a proposta escolhida, mantendo a unidade e a progressão temática, sem circularidade; organizasse os elementos linguísticos visando à maior legibilidade e precisão, com encadeamento de ideias em uma sequência adequada à linha argumentativa; utilizasse adequadamente elementos coesivos, atentando para a referenciação (léxico variado) e a articulação entre as partes do texto; utilizasse tempos e modos verbais segundo as necessidades de legibilidade e precisão e/ou expressividade; estabelecesse relações semânticas entre palavras, frases e parágrafos, sem contradições, utilizando operadores argumentativos adequados; apresentasse um título expressivo e articulado ao texto.

Além disso, esperava-se que o(a) candidato(a) demonstrasse domínio dos aspectos formais relativos à dissertação (título; paragrafação; introdução, desenvolvimento e conclusão) e que utilizasse estilo condizente com a proposta escolhida (escolhas lexicais, nível de formalidade etc.), não se dirigindo a um interlocutor específico, mas, com certa impessoalidade, a um ‘leitor universal’. O(a) candidato(a) deveria demonstrar domínio das convenções ortográficas; de regras de concordância, regência, indicação de crase e colocação pronominal; de estruturação sintática dos períodos; do significado e uso de vocábulos e expressões; dos sinais de pontuação; de escolhas lexicais, gramaticais e estilísticas para o desenvolvimento expressivo da proposta escolhida (tema e gênero).

Essa proposta, de caráter mais objetivo que a segunda, foi a que apresentou maior percentual de escolha pelos candidatos. Os textos produzidos versaram sobre o envolvimento dos jovens a partir de diferentes perspectivas, enfocando tanto a precariedade do ensino, como formas de participação e mobilização juvenil na vida pública. Houve textos que apresentaram exemplos tanto pontuais (enfocando casos específicos), como genéricos (contextos mais amplos). Embora a imagem 2 enfocasse uma situação específica, os candidatos tomaram a liberdade de recortar o tema a partir de variadas óticas, mas sem se desviarem da temática proposta.

Percebeu-se que os candidatos, em geral, não tiveram dificuldades para compreender o comando da redação e, tampouco, de acessar conhecimentos compartilhados sobre o tema, uma vez que o assunto dialoga diretamente com suas vidas e com acontecimentos recentes na sociedade. Isso, contudo, não impediu de aparecerem textos com reduzido teor informacional, com fragilidade argumentativa e relativamente desviantes em relação aos demais critérios enumerados anteriormente. Embora se trate de um tema relativamente simples – conforme avaliação feita por vários candidatos em redes sociais após a realização da prova –, a proposta objetivou criar um espaço de reflexão sobre temas sociais cotidianos, o que exigiu dos candidatos um esforço de construção de argumentos para além do senso comum e de apreciações genéricas e superficiais. Avalia-se que o gênero e o tema foram bem acolhidos pelos candidatos, que demonstraram, de forma geral e em diferentes graus, algum posicionamento crítico acerca do papel dos jovens na cena pública. No entanto, sublinha-se que o gênero dissertação, mesmo que supostamente corriqueiro na prática dos alunos, ainda precisa ser bastante trabalhado no âmbito escolar.

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PROPOSTA 2

Considere os textos abaixo para escrever uma crônica que tematize a amizade em uma sociedade consumista e imediatista.

O primeiro texto apresentado compreendia um excerto da obra Ética a Nicômaco, de Aristóteles. O segundo texto compreendia uma tirinha do cartunista Armandinho, em que uma criança diz para uma interlocutora adulta que o melhor amigo dela é o sapo; a interlocutora, que está acompanhada de seu cachorro, responde que o cão cuida da casa e é companheiro nos passeios, alegrias e tristezas, questionando a criança sobre o que o sapo faria, ao que esta responde que não tem amigos por interesse.

Esperava-se que o(a) candidato(a) compreendesse a proposta escolhida e escrevesse uma crônica que tematizasse a amizade em uma sociedade consumista e imediatista, considerando o conteúdo dos textos apresentados (transitoriedade da amizade por interesse; o caráter utilitário da amizade etc.). O texto deveria ser desenvolvido em torno de um único núcleo, apresentar título expressivo, focalizando acontecimentos cotidianos de modo peculiar, incluindo elementos como ficção, fantasia, crítica, ironia e humor, numa espécie de interface entre escrita jornalística e literária, como é próprio do gênero crônica. O(a) candidato(a) deveria selecionar, a partir dos textos oferecidos, de fatos do cotidiano e de suas vivências, elementos condizentes para a elaboração de sua crônica, trazendo experiências pessoais ou de outrem que exemplificassem ou fossem um ponto de partida para elaborar uma reflexão subjetiva sobre a amizade numa sociedade consumista e imediatista.

Esperava-se também que o(a) candidato(a) desenvolvesse a proposta escolhida mantendo a unidade e a progressão temática; organizasse os elementos linguísticos, visando à maior legibilidade e expressividade, em uma sequência adequada a seu projeto de produção textual (no caso, uma crônica acerca de comportamentos ou acontecimentos, rememorados a partir de experiências pessoais ou de terceiros, que contemplasse a amizade numa sociedade consumista e imediatista); utilizasse adequadamente elementos coesivos, atentando para a referenciação e a articulação entre as partes do texto; utilizasse tempos e modos verbais, segundo as necessidades de legibilidade e expressividade, em conformidade com a produção de uma crônica; estabelecesse relações semânticas entre palavras, frases e parágrafos sem contradições; apresentasse um título expressivo e articulado ao texto; empregasse vocabulário apropriado a seu projeto de produção textual, utilizando o léxico como elemento informativo, de expressividade e de progressão textual.

Aqueles que fundamentam sua amizade no interesse amam-se por causa de sua utilidade, por causa de algum bem que recebem um do outro, mas não amam um ao outro por si mesmos [...] Acresce que o útil não é permanente, mas está constantemente mudando. Dessa forma, quando desaparece o motivo da amizade, esta se desfaz, pois existia apenas como um meio para chegar a um fim.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2008, p. 175.

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Além disso, esperava-se que o(a) candidato(a) demonstrasse domínio dos aspectos formais relativos à crônica (escolhas lexicais, nível de formalidade etc.), apresentando uma escrita que singularizasse seu projeto de produção do texto, considerando-se: o tom (humorístico, satírico, crítico, irônico etc.), a eventual elaboração de personagens (aspectos físicos, de personalidade, feições), o apelo à memória (vivências, depoimento pessoal ou de outrem), e, particularmente,o jogo verbal (figuras de linguagem, variações linguísticas). O(a) candidato(a) deveria demonstrar domínio das convenções ortográficas, de regras de concordância, regência, indicação de crase e colocação pronominal; de estruturação sintática dos períodos; do significado e uso de vocábulos e expressões; dos sinais de pontuação; de escolhas lexicais, gramaticais e estilísticas para o desenvolvimento expressivo da proposta escolhida (tema e gênero).

Percebeu-se que essa proposta apresentou um percentual menor de escolhas pelos candidatos, talvez pela subjetividade que a caracteriza. A temática, embora diga respeito à vida cotidiana dos sujeitos, exigia um exercício de reflexão em torno de questões existenciais, o que não foi contemplado em bom número dos textos produzidos. A crônica deveria estar articulada com os textos motivadores, colocando em tela a ideia de amizade por interesse no âmbito de uma sociedade consumista e imediatista. No entanto, foi significativa a quantidade de textos que tangenciaram, em diferentes níveis, a temática proposta.

Um dos desafios enfrentados pelos candidatos foi referente ao domínio do gênero discursivo: algumas redações misturavam, aleatoriamente, elementos dissertativos com narrativos ou, então, apresentavam apenas elementos dissertativos, ou ainda se restringiam a simples relatos superficiais. Avalia-se, de forma geral, que, a despeito de a UFSC ter proposto o gênero crônica em alguns de seus últimos vestibulares, muitos candidatos ainda confundem esse gênero com a dissertação escolar, ou simplesmente com relato pessoal.