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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 18/77 - Versão 01 Redacção de trabalhos científicos (...) Alguns cuidados com a redacção Bibliografia, latus sensus 3 Analisámos anteriormente a procura de informação. Já sabemos que é impossível recolher toda a informação existente sobre um assunto, muito menos toda a que esteja directamente relacionada com ele. Já abordámos esse assunto ao definir um conjunto de critérios delimitativos da procura que realizámos, resultantes dos objectivos da investigação, do tempo disponível ou das nossas limitações. Perante essa impossibilidade temos que revelar muita argúcia na selecção das fontes de informação, na capacidade para tentarmos atingir uma situação limite: com uma determinada quantidade de fontes de informação obtermos o máximo de informação relevante; para obtermos toda a informação relevante utilizarmos o mínimo de fontes. Essas fontes de informação são muito variadas. Deve haver uma preocupação para que assim seja, quer porque o tipo de informação está, de alguma forma, associado ao 3 [nota temporária] Este ponto ocupa no livro em construção uma posição quase terminal, tendo-se adoptado pela sua elaboração porque é um dos pontos em que mais frequentemente sentimos fortes carências. Para perceber melhor o seu posicionamento indica-se os grandes pontos anteriores e o enquadramento específico deste: Introdução Oportunidade desta temática Considerações preliminares Gosto e eficácia no estudo Sobre a tese Aproximação à “realidade” que se pretende estudar Metodologia e técnicas de investigação científica A problemática, o modelo e a “verificação” Redacção de trabalhos científicos Condicionantes prévios Título e Plano provisório Plano definitivo Sequência de redacção “Estilo” da redacção Alguns cuidados com a redacção Bibliografia, latus sensus

Redacção de trabalhos científicos

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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 18/77 - Versão 01

RReeddaaccççããoo ddee ttrraabbaallhhooss cciieennttííffiiccooss (...)

AAllgguunnss ccuuiiddaaddooss ccoomm aa rreeddaaccççããoo

BBiibblliiooggrraaffiiaa,, llaattuuss sseennssuuss33 Analisámos anteriormente a procura de informação. Já sabemos que é impossível

recolher toda a informação existente sobre um assunto, muito menos toda a que esteja

directamente relacionada com ele. Já abordámos esse assunto ao definir um conjunto

de critérios delimitativos da procura que realizámos, resultantes dos objectivos da

investigação, do tempo disponível ou das nossas limitações. Perante essa

impossibilidade temos que revelar muita argúcia na selecção das fontes de

informação, na capacidade para tentarmos atingir uma situação limite: com uma

determinada quantidade de fontes de informação obtermos o máximo de informação

relevante; para obtermos toda a informação relevante utilizarmos o mínimo de fontes.

Essas fontes de informação são muito variadas. Deve haver uma preocupação para

que assim seja, quer porque o tipo de informação está, de alguma forma, associado ao

3 [nota temporária] Este ponto ocupa no livro em construção uma posição quase terminal, tendo-se adoptado pela sua elaboração porque é um dos pontos em que mais frequentemente sentimos fortes carências.

Para perceber melhor o seu posicionamento indica-se os grandes pontos anteriores e o enquadramento específico deste:

Introdução Oportunidade desta temática Considerações preliminares Gosto e eficácia no estudo Sobre a tese Aproximação à “realidade” que se pretende estudar Metodologia e técnicas de investigação científica A problemática, o modelo e a “verificação” Redacção de trabalhos científicos Condicionantes prévios Título e Plano provisório Plano definitivo Sequência de redacção “Estilo” da redacção Alguns cuidados com a redacção Bibliografia, latus sensus

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meio da sua divulgação4, quer porque há certeza de uma maior cobertura da

informação existente.

É a referência a esse conjunto de fontes de informação que, aqui e em quase todos os

locais, se designa por bibliografia. No entanto este termo comporta ambiguidades que

por vezes se transforma em problema para quem redige ou defende uma tese.

Originalmente “bibliografia” está muito associado aos documentos escritos,

essencialmente aos livros:

“bibliografia, s.f. descrição ou conhecimento dos livros quanto à edição, papel e tipo; notícia acerca das obras de determinado autor ou assunto; secção de um jornal ou revista destinada à recensão crítica das obras recentemente publicadas. (do gr. bibliographía, «transcrição de livros», pelo fr. bibliographie, «bibliografia»),” (COSTA and MELO 1994, p. 263)

“bibliografia (...) 1. Ciência da descrição e classificação detalhada dos textos publicados ou impressos e das respectivas edições. 2. Relação ou catálogo de livros ou obras publicadas sobre um assunto ou autor, geralmente com elementos descritivos dos documentos que permitem a sua identificação. Bibliografias internacionais, nacionais, regionais. Bibliografias especializadas, selectivas. Bibliografias analíticas, críticas. Consulta de +. 3. Secção de uma revista ou outra publicação onde se divulgam e se criticam as obras recentemente publicadas. 4. Referência das obras consultadas para a elaboração de um trabalho, geralmente colocado no fim do documento e ordenada alfabeticamente por autores ou títulos, com ou sem comentários acerca da obra ou do seu autor.” (Academia de Ciências de Lisboa 2001, p. 523)

“bib-lio-graphy, (...) 1 [C] listo f books or articles about a particular subject or by a particular author: There is a useful bibliography at the end of each chapter. 2 [U] study of the history of books and their production. (…)” (COWIE 1991, p. 104)

“BIBLIOGRAPHIE (...) n. f. 1633; du gr. biblion «livre» et graphein «écrire» 1. DIDACT Science des documents écrits (analyse, description,

4 Note-se:

“Enquanto suporte material da comunicação, o meio tende a ser definido como transparente, inócuo, incapaz de determinar positivamente os conteúdos comunicativos que veícula. A sua única incidência no processo comunicativo seria negativa, causa possível de ruído ou obstrução na veículação da mensagem. Pelo contrário, McLuhan chama a atenção para o facto de uma mensagem proferida oralmente ou por escrito, transmitida pela rádio ou pela televisão, pôr em jogo, em cada caso, diferentes estruturas perceptivas, desencadear diferentes mecanismos de compreensão, ganhar diferentes contornos e tonalidades, em limite, adquirir diferentes significados. Por outras palavras, para McLuhan, o meio, o canal, a tecnologia em que a comunicação se estabelece, não apenas constitui a forma comunicativa, mas determina o próprio conteúdo da comunicação.” (POMBO 1994, p. 40)

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classification, publication), et SPÉCIALT des livres. 2. Repertoire des écrits relatifs à un sujet donné. Une abondante bibliographie. => litérature (I, 2º). Consulter la bibliographie d’une thèse, la liste des ouvrages cités, des sources. Bibliographie d’un auteur. => biobibliographie. ABRÉV. FAM. (1943) BIBLIO. 3. Liste périodique d’ouvrages récement parus. «La Bibliographie de la France».” (ROBERT, REY-DEBOVE, and REY 1993, p. 217)

embora a utilização do termo “obra” possa dar-lhe um significado mais vasto.

As obras consultadas são cada vez mais diferentes entre si no suporte e na forma e não

há nenhuma razão, do ponto de vista da organização do trabalho e do processo de

registo da informação, para fazer classificações conducentes a incluir uns e a excluir

outros da “listagem das obras”. Ultrapassando a tradição o termo bibliografia tende a

englobar uma grande diversidade de fontes de informação. Isso mesmo reflectem as

normas sobre bibliografia, embora estas não se atrevam a redefinir este termo:

“A presente Norma destina-se a especificar os elementos das referências bibliográficas relativas a: monografias (na totalidade, em partes ou volumes e contribuições), publicações em série (na totalidade ou em parte), artigos de publicações em série, séries monográficas (como monografia ou como publicação em série), teses, actas de congressos, relatórios científicos e técnicos, documentos legislativos e judiciais, publicações religiosas, patentes, normas, música impressa e resumos.” (Instituto Português da Qualidade 1995, p. 5)

“A presente Norma destina-se a especificar os elementos das referências bibliográficas relativas aos seguintes documentos: documentos icónicos (cartazes, gravuras, postais e cartões estereográficos), filmes (filme em bobina e filme "loop"), microformas (microfichas e microfilmes), multimédia, registos vídeo (cassetes vídeo e discos vídeo), registos sonoros (discos compactos, discos sonoros e cassetes sonoras), objectos (brinquedos, modelos, etc.), projecções visuais (diapositivos e transparências) e partes componentes de alguns tipos destes documentos.

Esta Norma deverá ser sempre utilizada juntamente com a NP 405-1” (Instituto Português da Qualidade 1998, p. 2)

“A presente Norma destina-se a especificar os elementos das referências bibliográficas relativas aos seguintes documentos não publicados: documentos impressos de tipologia variada (monografias, publicações em série, cartas, ofícios, circulares), manuscritos, música manuscrita, materiais cartográficos e materiais não livro. Não são abrangidos documentos integrados em fundos de arquivos.

Esta Norma deverá ser sempre utilizada juntamente com a NP 405-1 e NP 405-2 nas quais são contemplados todos os aspectos gerais e comuns.” (Instituto Português da Qualidade 2000, p. 2)

“Tem aparecido em suporte electrónico um número crescente de documentos que são criados, armazenados e difundidos por um sistema informático.

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Um documento electrónico pode ser definitivo e imutável ou, aproveitando as vantagens do seu ambiente informático. modificado, quer no seu suporte, quer no seu conteúdo. Um documento electrónico pode ter ou não um equivalente em suporte papel ou outro. Dado que os utilizadores da informação têm necessidade de fazer as referências bibliográficas das fontes electrónicas com que se documentaram, esta Norma fornece urna orientação para a sua apresentação.

Embora um documento electrónico se possa assemelhar a uma publicação impressa (como urna monografia, uma publicação em série, um artigo ou um capítulo). as características físicas inerentes às publicações impressas podem não aparecer no suporte electrónico. Por exemplo, a existência de volumes, números e páginas é essencial para os formatos impressos, mas não para os electrónicos. As particularidades que permitem ao utilizador deslocar-se à vontade de um ponto de um documento electrónico para um outro ponto ou mesmo para um outro documento, adicionam uma complexidade que não se encontra na natureza linear tradicional dos formatos impressos.

Embora se possa estabelecer uma correspondência entre certas publicações impressas e certos documentos electrónicos. estes têm a sua própria identidade enquanto programas de computadores, bases de dados. ficheiros ou registos que existem num suporte electrónico, corno sistema em linha, CD-ROM banda magnética, disco ou qualquer outro meio de armazenamento. As referências bibliográficas destes documentos devem reflectir essa identidade e não a de substitutos do papel.

(...) O âmbito da parte 4 da NP 405 c a especificação dos elementos a mencionar nas referências bibliográficas (tos seguintes documentos electrónicos: monografias (livro electrónico ou qualquer outro documento monográfico), bases de dados, programas, partes e contribuições desses documentos. publicações em série, artigos e outras contribuições; BBS(s), news groups. listas de discussão e mensagens.

Esta norma deverá ser sempre utilizada com a NP 405-1, na qual são contemplados todos os aspectos gerais e comuns” (Instituto Português da Qualidade 2002, p. 2).

Um programa especializado de tratamento da bibliografia considera, na sua última

versão, os seguintes tipos de fontes de informação:

“has three unused and 34 pre-defined reference types: Artwork, Audiovisual Material, Bill, Book, Book Section, Case, Chart or Table, Classical Work, Computer Program, Conference Paper, Conference Proceeding, Edited Book, Electronic Book, Electronic Journal, Electronic Source, Equation, Figure, Film or Broadcast, Generic, Government Report or Document, Hearing, Journal Article, Legal Rule/Regulation, Magazine Article, Manuscript, Map, Newspaper Article, Online Database, Online Multimedia, Patent, Personal Communication, Report, Statute, Thesis, and Unpublished Work” (ResearchSoft 2004, help: reference types)

Deste modo, quando falamos em bibliografia a procurar, bibliografia a utilizar ou

bibliografia a apresentar estamos sempre a ter um entendimento amplo desse termo:

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listagem de fontes de informação de algumas forma utilizadas na investigação e na

redacção de um tema científico.

Obtido este entendimento, de alguma forma implícito no que tratamos sobre procura

de fontes de informação, e tendo-se já abordado a procura da bibliografia existente e a

sua selecção, tratemos pois das seguintes questões:

− Tipos de bibliografia

− Formas de apresentação da bibliografia

− Relação entre o texto e a bibliografia.

Estas questões nunca devem perder de vista o essencial:

“Come capite il problema cambia secondo il tipo di tesi, e la questione sta nell'organizzare una-bibliografia che permetta di distinguere o di individuare fonti primarie e fonti secondarie, studi rigorosi e materiale meno attendibile, eccetera.

In definitiva, e alla luce di quanto si è detto nei capitoli precedenti, i fini di una bibliografia sono: (a) rendere riconoscibile l'opera a cui ci si riferisce; (b) facilitarne la reperibilità e (c) connotare familiarità con gli usi della disciplina in cui ci si laurea.” (ECO 1998, p. 234/5)5

TTiippooss ddee BBiibblliiooggrraaffiiaa Designar a lista de fontes de informação apenas por Bibliografia é impreciso quanto

ao conteúdo e pode ser inadequado deontologicamente.

Com efeito pode haver diversos tipos de bibliografia, nomeadamente

− Bibliografia completa

− Bibliografia consultada

− Bibliografia citada

5 “Como se compreende, o problema varia com o tipo de tese, e a questão está em organizar uma bibliografia que permita distinguir e identificar fontes primárias e fontes secundárias, estudos rigorosos e material menos digno de crédito, etc.

Em definitivo, e à luz de tudo o que se disse nos capítulos anteriores, os objectivos de uma bibliografia são: (a) tornar reconhecível a obra a que nos .referimos; (b) facilitar a sua localização e (c) conotar familiaridade com os usos da disciplina em que se faz a tese.” (ECO 1980, p. 200/201)

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Se optamos pela bibliografia completa estamos a apresentar um inventário de tudo o

que foi produzido até ao momento de elaboração do trabalho sobre uma determinada

matéria. Certamente há muitas fontes de informação cuja existência foi identificada

por nós mas que não lemos, seja pelos critérios de selecção adoptados quer por

impossibilidade humana e temporal.

Se optamos pela bibliografia consultada apenas referimos as fontes de informação

que de alguma forma foram utilizadas por nós para a realização do trabalho. A

expressão utilizada “de alguma forma” é propositadamente ambígua, mas com ela

queremos designar que nela é legítimo incluir tanto o livro que lemos cuidadosamente

e que utilizámos permanentemente como referência obrigatória, como a gravação que

depois de escutada constatamos ser irrelevante para o nosso objectivo; tanto o livro

que mereceu os cuidados anteriormente referidos como o que foi “lido em diagonal”

porque rapidamente nos apercebemos que apenas reproduzia o que outros já tinham

dito. Mas a expressão é ambígua porque deixa sem resposta concludente várias

perguntas: (1) devemos englobar o artigo de que só lemos o resumo? (2) devemos

referir uma obra que consideramos aberrantemente anticientífica?

Aceitamos que podem existir diferentes respostas, embora devamos perceber que as

razões da diversidade são diferentes num caso e noutro.

Na nossa opinião, a primeira questão merece, na generalidade das situações, uma

resposta negativa. A leitura dos resumos é frequentemente uma fase importante do

trabalho, mas prévio ao estudo da bibliografia; faz parte da pré-selecção que é

inevitável fazer. Mas podem existir circunstâncias particulares que justifiquem a sua

inclusão como, por exemplo, se consideramos que o artigo era importante, utilizamos

algumas das suas ideias e, apesar dos esforços desenvolvidos, não conseguimos

encontrar o artigo. Inclusão que deve alertar para essa mesma situação e

especificidade.

Quanto à segunda questão responderíamos afirmativamente. Contudo deve-se estar

atento a uma questão: pode haver conveniência em este tipo de bibliografia ser

anotada, isto é, após cada fonte de informação fazer-se um pequeno texto sobre ela.

Utilizando em todas as obras o mesmo critério tanto se pode colocar um resumo muito

sintético da obra (permitindo ao leitor aperceber-se do que se trata) ou uma apreciação

crítica do autor.

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Se optamos pela bibliografia citada apenas indicamos as fontes de informação que

utilizamos ao longo da redacção do texto, ou fazendo transcrições ou chamando a

atenção que a ideia foi retirada de certa obra ou ainda que se trata de uma fonte de

referência sobre aquela matéria.

Por qual optar?

ECO é peremptório ao afirmar

“La risposta più ovvia è che la bibliografia di una tesi deve contener solo l’elenco delle opere consultate e ogni altra soluzione sarebbe disonesta” (ECO 1998, p. 235)6

mas logo de seguida introduz uma série de atenuantes.

Independentemente da opção que fizermos é decisivo que fique muito claro que tipo

de bibliografia é que utilizamos e quiçá a sua justificação7.

Poderemos ainda tomar alguns cuidados adicionais para que não haja qualquer

interpretação incorrecta. Exemplo, assinalar com um caracter explicado em nota de

fim de página, quais as obras consultadas (ECO 1980, p. 201)

Podem existir diversos critérios para optar por um ou outro tipo de bibliografia. Eles

têm de ser ponderados em conjunto e não existe nenhum manual que possa substituir-

se ao autor na tomada de decisão. Façamos, contudo, algumas referências indicativas,

começando pelos critérios científicos.

Se um tema é bastante delimitado, se não existem trabalhos anteriores de bibliografia

geral sobre esse tema, se a própria inventariação das fontes de informação pode ser

considerado um trabalho científico relevante, se a sua divulgação pode trazer um

contributo significativo a investigações posteriores, pode-se justificar optar por uma

bibliografia completa.

Justificar a opção pela bibliografia consultada é despiciendo pois é normalmente a

situação adoptada seja porque espelha o trabalho de investigação realizado seja

6 “A resposta mais óbvia é que a bibliografia de uma tese deve conter apenas a lista das obras consultadas e qualquer outra solução seria desonesta” (ECO 1980, p. 201) 7 Esta justificação pode ser feita ou no início da Bibliografia ou na Introdução do trabalho. Dum ponto de vista lógico seria ainda possível apresentar essa explicação noutros locais (ex. num ponto sobre a metodologia utilizada) mas correr-se-ia o risco de não ser lida com a devida atenção.

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porque fornece aos leitores todos os elementos para confirmar ou infirmar as

conclusões a que o autor chega.

Se a bibliografia consultada é muito vasta, quiçá de qualidade muito variada, se é

quase impossível fazer uma referência completa às fontes de informação consultadas,

se é pedagogicamente aconselhável reduzir a bibliografia ao mínimo, podemos optar

pela bibliografia citada.

Não tenhamos ilusões. Qualquer decisão por mais ponderada e sensata que seja tem

sempre contra-indicações8.

Seríamos, contudo, muito ingénuos se apenas considerássemos critérios científicos e

pedagógicos na nossa opção. As limitações intransponíveis ou optativas adoptadas na

pesquisa bibliográfica, assunto que já tratamos, o tempo disponível, a probabilidade

da bibliografia ser considerada pelo júri ou pelo leitor como o capítulo mais

importante da tese, até as manifestações simbólicas que acompanham todo o acto de

apreciação de um trabalho, podem justificar outras opções. A experiência do autor

também pode ser um elemento muito importante9.

Nos trabalhos de investigação interdisciplinar há uma forte possibilidade das fontes de

informação serem muito diversificadas em forma e conteúdo, pertencendo a diversas

disciplinas científicas. Este aspecto dever ser tido em conta na opção que estamos a

8 Alguns exemplos.

(1) O assunto do trabalho é “a vinha na poesia contemporânea”, numa primeira investigação não se encontrou nenhuma inventariação completa das fontes de informação existentes sobre o assunto, o conteúdo da tese aconselha um conhecimento vasto do tema (embora certamente o tema seja bastante mais limitado que o assunto referido) e decide-se optar por uma bibliografia completa. Há sempre a probabilidade que numa fase subsequente da investigação vir a constatar que essa inventariação já está feita e que, quando muito apenas se justificaria uma actualização.

(2) Para não enfastiar o leitor com longa bibliografia ou para apenas referir o essencial pode optar pela bibliografia citada. Contudo essas preocupações pedagógicas podem-se esvaziar porque em determinada fase do trabalho cita uma série de obras que considera erradas e que, por isso mesmo, foram citadas para serem combatidas. 9 Um autor com longos anos de investigação transporta para a obra em construção todos os conhecimentos anteriormente adquiridos, havendo uma forte probabilidade daqueles serem dos mais diversos campos do conhecimento (particularmente se o tema é vasto ou aberto, se o autor tem interesses diversificados ou se o trabalho é interdisciplinar). Uma frase lida em Nicolai Hartmann, apesar de estar inserida em outros contextos, um poema de Dionísio, o Sofista, um comentário do historiador Tayeb Chenntouf ou ainda uma frase jocosa de Albert Einstein podem ter repercussões directas ou indirectas sobre um ensaio que se está escrever sobre A lógica multivalente no tratamento da complexidade em Sociologia.

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tratar, assim como nas formas de apresentação, pois nunca se pode perder de vista a

quem se destina o trabalho que escrevemos.

Em qualquer das circunstâncias poderá optar-se por uma bibliografia anotada ou não.

Fica ainda um pequeno problema para resolver: como designar a bibliografia.

“Molte volte l'attendibilità di una bibliografia è data dal titolo che ha. Essa può intitoarsi Riferimenti Bibliogrrafici, Opere consultate, Bibliografia generale sull'argomento X, e capite benissimo come sulla base del titolo le verranno rivolte richieste che essa dovrà essere in grado di soddisfare o sarà autorizzata a non soddisfare. Non potrete intitolare Bibliografia sulla II guerra mondiale una magra raocolta di una trentina di titoli in italiano. Scrivete Opere consultate e sperate in Dio.” (ECO 1998, p. 236)10

A modéstia científica é o resultado do conhecimento da ignorância. É, por isso, um

bom prenuncio. Mas ela não deve ser excessiva, atribuindo um título que acaba por

ser inadequado.

»» Comece por verificar quais são as normas adoptadas pela instituição onde apresentará o documento que está a elaborar ou pela publicação para onde está a escrever. Se essas normas são explícitas siga-as. Se concorda com elas trabalha tranquilamente. Se não concorda por alguma razão (ex. obriga-o a colocar de lado o resultado de uma parte do seu labor de investigação) aplique-as na mesma, procurando alguns artifícios legítimos para minimizar o seu desagrado.

»» Se não existem normas estabelecidas, se as pessoas com quem trabalha ainda não fizeram opções definitivas ou deixam a si inteira liberdade, comece por ponderar os aspectos científicos e pedagógicos e fazer uma opção provisória.

»» Pondere sobre os restantes factores que podem influenciar a sua opção.

»» Decida “definitivamente” sobre o tipo de bibliografia que vai apresentar no trabalho e da necessidade, ou não, de em algum local justificar a opção.

10 “Muitas vezes a credibilidade de uma bibliografia é dada pelo seu titulo. Ela pode intitular-se Referências Bibliográficas, Obras Consultadas ou Bibliografia Geral sobre o Tema X, e vê-se muito bem como na base do titulo se lhe põem exigências que ela deverá estar em condições de satisfazer ou será autorizada a não satisfazer. Não se poderá intitular Bibliografia sobre a Segunda Guerra Mundial uma magra recolha de uma trintena de títulos em italiano. Escrevam Obras Consultadas e tenham confiança em Deus.” (ECO 1980, 202)

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»» Só como solução última adopte a apresentação de duas bibliografias e nesse caso veja qual a melhor forma de o fazer11.

»» Se não existem motivos muito fortes para optar por uma bibliografia anotada é preferível limitar-se a colocar adequadamente as referências à obra sem qualquer resumo ou comentário.

»» Escolha o título adequado. Se se trata de uma bibliografia completa pode ser adequado optar por Bibliografia sobre .... Se se trata de uma bibliografia consultada poderá ficar bem Referências bibliográficas. Se se trata da bibliografia citada ou põe-se isso mesmo, como diz ECO, ou Referências bibliográficas citadas.

»» Recorde-se que as decisões ainda não estão todas tomadas. Terá ainda que optar por diversas hipóteses de formas de apresentação e de citação.

FFoorrmmaass ddee AApprreesseennttaaççããoo ddaa BBiibblliiooggrraaffiiaa Precisamos o significado de “bibliografia”, Verificámos a existência de diversos tipos.

Independentemente destes há diversas formas de apresentação da bibliografia. É disso

que nos vamos ocupar agora, tratando em sequência três aspectos:

− Sistemas bibliográficos

− Localização da bibliografia na obra

− Estruturação da bibliografia

Concluiremos pela existência de diversas formas de apresentar a bibliografia e da

conveniência do autor manter alguma margem de manobra, mas é importante, como

instrumento auxiliar e como referência, conhecermos as normas existentes sobre a

matéria.

SSiisstteemmaass bbiibblliiooggrrááffiiccooss Os sistemas bibliográficos tem a ver com três aspectos:

1. Forma de no nosso texto indicar uma certa obra alheia

11 Admitamos por exemplo que se procedeu à inventariação completa da bibliografia do tema X, considerando-se que essa foi uma parte importante do trabalho de investigação e que esse produto deve ser disponibilizado aos leitores. Contudo, muita dessa bibliografia não foi consultada por nós. Poderá ser adequado apresentar a “bibliografia completa” como parte da investigação, colocando-a num anexo, e colocar como bibliografia propriamente dita a “bibliografia consultada”.

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2. Conteúdo e forma das informações sobre a obra alheia

3. Articulação entre os dois aspectos anteriores.

SERRANO faz uma boa síntese do que designa por sistemas mais usados, e que

exactamente o são, porque são protótipos da forma de solucionar determinadas

preocupações:

“Os sistemas de referenciar bibliografia actualmente mais usados são os sistemas nome e ano, numérico-alfabético, e por ordem de menção (...):

SISTEMA NOME E ANO

Consiste em, após a transcrição ou a paráfrase, apresentar, entre parêntesis curvos, uma notação de referência formada pelo nome (último nome) do autor e pela data de publicação do trabalho citado. Por exemplo: (Dermaches, 1988). A lista de referências não é numerada e é ordenada por ordem alfabética do último nome do autor.

SISTEMA NUMÉRICO-ALFABÉTICO

Consiste em numerar cada uma das citações do texto segundo uma lista de referências ordenada alfabeticamente pelo último nome do autor. A lista de referências é numerada sequencialmente de 1 a n e a essa numeração corresponde uma sequência alfabética segundo o último nome do autor. (...)

A cada autor citado, logo após a citação e entre parêntesis curvos, é atribuído o algarismo determinado pelo ordenamento alfabético da lista de referências (...)

SISTEMA POR ORDEM DE MENÇÃO

Segundo a ordem em que é mencionada a primeira vez no texto, cada transcrição ou paráfrase é identificada com um número (colocado entre parêntesis curvos), número que irá crescendo de 1 para n à medida que outros autores vão sendo citados e as páginas do relatório evoluem (...). A lista de referências é ordenada numericamente segundo o último nome do autor e não segue a ordem alfabética, uma vez que as Referências são ordenadas de acordo com a sua citação no texto.” (SERRANO 1996, p. 126/7)

Comecemos por apresentar mais em pormenor estes três sistemas, analisando as

eventuais vantagens e desvantagens de cada um. Porque há uma tendência para

apresentarmos em último lugar a opção que nos parece estar melhor posicionada na

comparação entre vantagens e desvantagens, seguimos a ordem inversa à do autor

anterior12.

12 Sugerimos que nesta fase da análise ainda não se preocupem com os detalhes do tipo: conteúdo de cada referência bibliográfica e sua forma, por que esses aspectos são de abordagem posterior.

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Se adoptarmos o sistema por ordem de menção o texto e a bibliografia têm a

seguinte apresentação:

tigos que ajudassem a ultrapassar o problema dos artigos médicos produzidos em França: apesar da sua qualidade científica, os artigos franceses não conseguiam facilmente ser publicados em revistas internacionais e, se o eram, ninguém os entendia (19). O problema foi rapidamente diagnosticado. Para além de alguns defeitos de estrutura, os artigos médicos franceses pecavam sobretudo pelo seu estilo caseiro (franceses pensando e escrevendo apenas para compatriotas), elíptico, pouco preciso e redundante. Até tarde, na segunda metade deste século, a França marcou fortemente a cultura portuguesa, nomeadamente através do idioma, da literatura, do cinema e da música. As escolas médicas portuguesas, umas mais outras menos, não escaparam ao fenómeno. Essa influência pode ser apreciada na nomenclatura anatómica adoptada por algumas faculdades, na bibliografia aconselhada aos , alunos de Medicina e, consequência de todo o processo, no estilo da redacção médica portuguesa, bouquet composto por pecadilhos semelhantes aos que ensombravam o discurso dos escritos médicos gauleses. E embora, à luz do valor intrínseco da pesquisa, tudo isto pareça secundário e apenas uma questão de estilo, o certo é que uma investigação que não se entende é uma investigação inviável, com a qual não vale a pena perder tempo, ou desperdiçar papel. Assim o consideram mais de 400 revistas da área biomédica, entre as quais as quatro revistas médicas mais lidas em todo o mundo: Lancet, Science, British Medical Journal e New England Journal of Medicine, que recusam sistematicamente a publicação de trabalhos que não observem as normas internacionais de redacção de artigos biomédicos (11)(12)(16)(20)(21). Exemplos portugueses de revistas que seguem as normas internacionais de redacção médica podem ser ilustrados pela Acta Médica Portuguesa e pela Revista Portuguesa de Clínica Geral. Essas normas exigem que a redacção médica obedeça a regras estruturais definidas e aos valores e princípios que caracterizam o estilo científico: simplicidade, clareza, precisão e brevidade.

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Resumo de Medicina Prática. Lisboa: Typografia Rollandiana, 1804.

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3. Sournia, Jean-Charles, e Jacques Ruffie. As Epidemias na História do Homem. Lisboa: Edições 70, 1986.

4. Dubos, René. Man Adapting. New Haven and London: Yale University Press, 1980.

5. Gehlbach, Stephen H. Interpreting the Medical Literature. 3rd ed. New York: McGraw-Hill, 1993.

6. Bailar III, John C; Louis, Thomas A.; Lavori, Philip W.; Polansky, Marcia. A classification for biomedical research reports. New England Journal of Medicine 1984; 311(23):1482-1487.

7. Popper, Karl. O Realismo e o Objectivo da Ciência. 2.a ed. Lisboa: Publicações D. Quixote, 1992.

8. Pallás, J. Argimón, e J. Jiménez Villa. Metodos de Investigacion: Aplicados a la Atención Primaria de Salud. Barcelona: Doyma, 1991.

9. Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Guia Para Preparação de Comunicações Científicas para Publicação. Lisboa: LNEC, 1990.

10. Farfor, J. A. Enseigner la rédaction médicale, II: La structure du compte rendu de recherche. Cah. méd. (Paris) 1976; (2)12.

11. Day, Robert A. Cómo Escribir y Publicar Trabajos Científicos. Washington: Organización Panamericana de la Salud, 1990.

12. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. Br. Med. J. 1991; 302:338-41.

Página de texto Página de bibliografia

Retirado de (SERRANO 1996, p. 56 e 311)

Na página de bibliografia constatamos que a cada fonte de informação corresponde

um número (1, 2, 3, ..., 12, ...) que indica a ordenação em que essa referência

bibliográfica apareceu na versão final do texto (a 1ª referência foi a obra de

Farnscisco Roland, a 2ª a de Georges Vigarello, e assim sucessivamente).

No texto a identificação do autores das ideias ou de um textos transcritos é feita pela

colocação do número ou números das obras donde foram tiradas (a ideia contida no

primeiro parágrafo da página, sequência do anterior, foi retirada da obra 19,

identificada como um trabalho de J. A. Farfor; a informação de que há revistas “que

recusam sistematicamente a publicação de trabalhos que não observem as normas

internacionais de redacção de artigos biomédicos” está nos trabalhos (11), (12), ...).

Este procedimento tem as características essenciais exigidas a um sistema

bibliográfico: (1) clara identificação das fontes bibliográficas; (2) clara identificação

da autoria da ideia; (3) possibilidade do leitor localizar as obras utilizadas pelo autor;

(4) fácil articulação entre o texto e a bibliografia.

Page 13: Redacção de trabalhos científicos

Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 30/77 - Versão 01

No entanto apresenta alguns inconvenientes: (1) ao consultar-se autonomamente a

bibliografia não há um ordem, pois esta resulta exclusivamente do fluir do texto; (2)

quando se remete do texto para uma obra na bibliografia não há uma indicação precisa

de que parte da obra foi retirada a ideia ou a transcrição, o que dificulta a

reconstituição do percurso seguido pelo autor; (3) a sequência da bibliografia faz-se

na base da primeira referência a essa obra, pelo que a mesma numeração aparece

diversas vezes no texto, com uma ordem “aleatória”; (4) não é possível organizar a

bibliografia atendendo a outros critérios13.

Um sistema bibliográfico com estas características aconselha vivamente que na

redacção do texto e colocação das referências bibliográficas ao longo do texto se

utilize um sistema informático automático que articule o processamento de texto com

as referências bibliográficas14. Caso contrário a redacção de um texto – que quase

sempre é elaborado de forma modular, não sequencial – e a sua revisão levaria a

sucessivas renumerações, sempre fastidiosas.

Uma variante deste sistema é o que por vezes é designado por sistema francês

(TORRES 2000, p. 12): no texto remete-se para uma nota de fim de página e é nesta

que é colocada a referência bibliográfica, com explicitação do local exacto donde foi

retirada a transcrição ou a ideia. Tem a seguinte apresentação:

vineuse, acéteuse, aromatique, fétide, styptique, etc. ». L'abbé Poncelet ne manque pas de dénoncer par ailleurs (p. 103) « l'abus des termes (qui) a répandu d'étranges ténèbres sur les notions que l'on croit avoir des êtres abstraits ou métaphysiques » (comme le mouvement). C'est un trait assez curieux de l'esprit scientifique de ne pouvoir diriger ses critiques contre soi-même. L'esprit scientifique a une tout autre puissance d'auto-critique. Ainsi que nous en avons fait la remarque pour la coagulation, nous pouvons aussi donner des exemples où le concept trop général de fermentation reçoit une extension manifestement abusive. Pour Geoffroy1 : a La Végétation est une sorte de fermentation qui unit quelques-uns de ces mêmes principes dans les Plantes, tandis qu'elle en écarte les autres ». La fermentation est tel un processus si général qu'il totalise les contraires. Un auteur inconnu, écrivant comme Geoffroy en 1742, s'exprime ainsi2 : «Dans la grappe de raisin, le suc vineux ne

13 Este aspecto será melhor entendido num ponto seguinte. 14 Hoje é quase impensável não se possuir um qualquer programa informático para o tratamento da bibliografia. A questão está no que se entende por “tratamento”. Como vimos em ponto anterior, hoje não faz sentido utilizar fichas de diversos tipos para manusear o resultado das nossas leituras. Isso significa que necessitamos de uma base de dados para arquivar os resultados das nossas pesquisas bibliográficas e para guardar os nossos apontamentos de leitura. A generalização dos processadores de texto também fazem com que alguns aspectos da bibliografia possam ser trabalhados utilizado as ferramentas que aqueles disponibilizam. Um tratamento mais completo permitirá articular a existência da base de dados com o processamento de texto (transferindo da base de dados para o texto segundo determinadas regras) e o processamento de texto com a base de dados (transferindo do texto para a base de dados segundo certas instruções). Há vários programas disponíveis, tanto comerciais como gratuitos. procure o que se adapta ao seu processador de texto e às suas necessidades.

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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 31/77 - Versão 01

fermente pas autrement que dans le tonneau... Mêmes ferments, mêmes actions, fins égales ; auxquelles vous pouvez comparer généralement tout ce qui se passe dans l'histoire des végétaux. Ainsi la fermentation est établie sur un système général (qui ne fait) que varier dans les sujets». De cette généralisation excessive et sans preuve on peut rapprocher l'opinion de Boerhaave qui affirme que tous les végétaux, préparés par une fermentation convenable, donnent des Esprits vineux qui s'exhalent: a Ainsi on peut regarder l'Air comme une nuée d'Esprits de Vin3 » Naturellement, la notion de fermentation porte sa valeur d'explication dans le règne minéral. Pour Lémery4 a la fermentation, qui agit comme le feu, écarte dans la production du métal les parties terrestres et grossières... Il faut un degré de fermentation pour la production des métaux qui ne se trouve pas dans toutes les terres... Comme le métal est un ouvrage de la fermentation, il faut nécessairement que le Soleil ou la chaleur des feux souterrains y coopèrent ». n La fermentation fait souvent élever jusqu'au haut de la montagne... des filets de mine pesante ou quelque marcassite » (p. 76). Ici encore, comme nous l'avons 1. Histoire de l'Académie des Sciences, p. 43. 2. Sans nom d'auteur, Nouveau traité de Physique sur toute la nature ou méditations, et songes sur tous les corps dont la Médecine tire les plus grands avantages pour guérir le corps humain ; et où l'on verra plusieurs curiosités qui n'ont point paru, 2 vol., Paris, 1742, t. 1, p. 181. 3. Herman BOERHAAVE, Eléments de Chymie, traduits du latin par J. N. S. Allamand, membre de la Soc. Roy. de Londres, 2 vol., Leide, 1752, t. I, p. 494. 4. Nicolas LÉMERY, Cours de Chymie, 7• éd., Paris, 1680, p. 75. Página de texto com as respectivas notas. Não há no fim do livro uma listagem da bibliografia15.

A primeira vez que uma obra é referida a respectiva nota de fim de página (também

poderia ser uma nota de fim de capítulo ou de livro) dá uma informação completa

sobre a obra. Nas vezes seguintes apenas dá a informação necessária para associar a

referência a algo que já foi anteriormente citado. Ex. a próxima vez que foi feita uma

referência à obra citada na nota 3 do exemplo colocar-se-ia apenas “Ver

BOERHAAVE (H.), Éléments..., pag. 145” ou, tão somente, “BOERHAAVE, loc.

cit., p. 145” ou “BOERHAAVE, Ob.. cit., p. 145”. Se em duas notas seguidas o autor

é o mesmo, poderemos colocar em vez do nome do autor “Idem” e se o título da obra

é o mesmo “Ibidem”.

A colocação da referência bibliográfica em nota resolve alguns dos problemas

anteriormente referidos, mas coloca dois novos problemas: (1) A “lista da

bibliografia”, se assim se pode chamar, encontra-se dispersa por todas as páginas do

livro; (2) A referência a uma obra, quando a nota remete para uma outra nota anterior,

torna-se penosa.

Para obviar ao primeiro inconveniente podemos completar esta forma de anotação

com uma listagem, segundo um qualquer critério, normalmente por ordem alfabética

15 A exemplificação utilizou (BACHELARD 1999, p. 70)

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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 32/77 - Versão 01

do último nome dos autores, bibliográfica. Frequentemente este procedimento é

acompanhado por uma simplificação do conteúdo da nota.

Quanto ao segundo aspecto

“Há quem considere que a referência bibliográfica deve ser feita de forma quase completa (ou pelo menos só com o título) em qualquer nota onde ela surja. Dizem, em parte com razão, que poderemos citar uma obra na nota 10 e voltar a fazê-lo na nota 123; então, ao pormos "Ob. cit. ", teremos que percorrer todas as notas (ou ter de ir à Bibliografia) para ver a referência.” (SOUSA 2003, p. 70)

mas, se pretendermos ser rigorosos na aplicação das regras nada há a fazer.

Analisemos agora o sistema numérico-alfabético.

perfused cartridges) to study osteogenesis under controlled in vitro conditions. Isolated and culture-expanded cells were positive for MSC markers, and had a capacity for selective differentiation into either cartilage-or bone-forming cells. When cultured on highly porous protein scaffolds for up to 5 weeks, MSC formed mineralized bone matrix, and the density, structure, and orientation of bone matrix depended on scaffold degradation and hydrodynamic conditions of the in vitro cultivation. These results suggest that osteogenesis in cultured MSC can be modulated by scaffold properties and flow environment, and that the cell–scaffold–bioreactor systems which mimic some aspects of the native environment can be utilized in controlled studies of cell function and tissue development.

An ideal cell source for tissue engineering should have the capacity to first proliferate and then differentiate in vitro, in a manner that can be reproducibly controlled. The type or maturity of the cells may substantially influence the robustness and nature of the regenerative response. MSCs isolated from adult human bone marrow are an obvious choice for engineering autologous bone grafts, in vivo and in vitro, as these cells have a documented potential for osteogenic and

chondrogenic differentiation.4,8,28,40

The MSC nature of the cells used in this study was determined on the basis of the expression of CD105/endoglin (a putative marker of MSCs,

3,29), and CD71 (a

receptor expressed in proliferating cells20,25

) as well as the lack of expression of CD31 and CD34 (markers for cells that are of endothelial

7 or hematopoietic origin.

7,36,48) (Fig. 1(A) and 1(B), Table

2). Importantly, expanded cells could be induced to undergo either chondrogenic or osteogenic differentiation via medium supplementation with chondrogenic or osteogenic factors, respectively (Fig. 1(C) and 1(D)), without notable differences in cell differentiation capacity over three passages in culture (Fig. 1(E) and 1(F)). Taken together, the robust capacity of MSC for proliferation and differentiation establish bone-marrow-derived cells as a suitable cell source for bone tissue engineering.

The chemistry and the architecture of the two scaffolds clearly influenced the progression of bone formation. Collagen scaffolds used in our study had excellent biocompatibility and supported the attachment, chondrogenic and osteogenic differentiation of MSC (Fig. 4). Comparable extent of mineralization on collagen films and scaffolds, assessed by the amount of calcium per unit DNA (Fig. 2), was unexpected. High porosity, in conjunction with large interconnected pores, is the likely explanation for this result observed in static cultures.

Ideally, a biomaterial scaffold is gradually replaced by engineered tissue deposited by the cells. MSCs begin calcium deposition between weeks 2 and 3 of culture (Fig. 3). On collagen scaffolds cultured in spinner flasks, the deposition of mineralized matrix was accompanied by a substantial loss in the scaffold weight and in DNA content, both of which decreased to 25% of initial over 4 weeks of culture

REFERENCES 1Athanasiou, K. A., C. Zhu, D. R. Lanctot, C. M. Agrawal, and X.

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Zaia. The monoclonal antibody SH-2, raised against human mesenchymal stem cells, recognizes an epitope on endoglin (CD105). Biochem. Biophys. Res. Commun. 265:134–139, 1999. 4Caplan, A. I. The mesengenic process. Clin. Plast. Surg. 21:429– 435,

1994. 5Casser-Bette, M., A. B. Murray, E. I. Closs, V. Erfle, and J. Schmidt.

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Nat. Med. 1:1322–1324, 1995. 7DeLisser, H. M., P. J. Newman, and S. M. Albelda. Platelet endothelial

cell adhesion molecule (CD31). Curr. Top. Microbiol. Immunol. 184:37–45, 1993. 8Dennis, J. E., A. Merriam, A. Awadallah, J. U. Yoo, B. Johnstone, and

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Farndale, R. W., D. J. Buttle, and A. J. Barrett. Improved quantitation and discrimination of sulphated glycosaminoglycans by use of dimethylmethylene blue. Biochim. Biophys. Acta 883:173– 177, 1986. 11

Freed, L. E., A. P. Hollander, I. Martin, J. R. Barry, R. Langer, and G. Vunjak-Novakovic. Chondrogenesis in a cell–polymer– bioreactor system. Exp. Cell Res. 240:58–65, 1998. 12

Freed, L. E., and G. Vunjak-Novakovic. Tissue engineering bioreactors. In: Principles of Tissue Engineering, 2nd ed., edited by R. P. Lanza, R. Langer, and J. Vacanti. San Diego, CA: Academic Press, 2000, pp. 143–156. 13

Garcia, A. J., P. Ducheyne, and D. Boettiger. Effect of surface reaction stage on fibronectin-mediated adhesion of osteoblastlike cells to bioactive glass. J. Biomed. Mater. Res. 40:48–56, 1998.

Page 16: Redacção de trabalhos científicos

Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 33/77 - Versão 01

Texto16 Referências Bibliográficas

As referências bibliográficas foram ordenadas alfabeticamente tomando como

elemento o último nome do primeiro autor e foi-lhes atribuída uma numeração

sequencial. Quando no texto se pretende indicar que uma dada ideia ou uma certa

transcrição foi retirada de um certo autor indica-se o respectivo número.

Este sistema de referência bibliográfica é dos menos utilizados, mas diversas

publicações científicas o exigem (por exemplo, em fisiologia e a engenharia).

Os comentários são em parte comuns ao sistema anterior:

Tem os elementos essenciais: (1) clara identificação das fontes bibliográficas; (2)

clara identificação da autoria da ideia; (3) possibilidade do leitor localizar as obras

utilizadas pelo autor; (4) fácil articulação entre o texto e a bibliografia. Além disso é

um sistema adequado para quem pretenda introduzir, como veremos, diversos

critérios de classificação da lista das obras consultadas.

No entanto apresenta um inconveniente: quando se remete do texto para uma obra na

bibliografia não há uma indicação precisa de que parte da obra foi retirada a ideia ou a

transcrição, o que dificulta a reconstituição do percurso seguido pelo autor.

Um sistema bibliográfico com estas características aconselha vivamente que na

redacção do texto e colocação das referências bibliográficas ao longo do texto se

utilize um sistema informático automático que articule o processamento de texto com

as referências bibliográficas. Caso contrário a obtenção de uma nova referência

bibliográfica e sua utilização altera uma parte da numeração (nas referências

bibliográficas e no texto).

Analisemos, por último, o sistema nome e ano, certamente um dos mais utilizados,

quase sempre utilizado nas ciências da realidade humana, frequentemente designado –

de uma forma genérica e apesar das suas variantes – como sistema anglo-saxónico. É

um nome abusivo pois, como vimos, diversas revistas científicas de países anglo-

saxónicos exigem os sistemas anteriormente referidos. Pensamos que esta designação

16 Utilizado como exemplo (MEINEL, KARAGEORGIOU, and Others 2004, p. 120/1)

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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 34/77 - Versão 01

resulta da divulgação das normas de Chicago (15ª, versões A e B) nas publicações de

humanidades17.

Alguns livros sobre metodologia continuam a referir-se à versão A (ex. (TORRES

2000)), mas é a seguinte, neste momento, que faz escola.

Comecemos por ilustrar a utilização da metodologia18:

lacks a common unit of account, and may contain elements that cannot be easily expressed according to any quantitative or qualitative scale.

The characteristics of cultural goods which give rise to their cultural value might include their aesthetic properties, their spiritual significance, their role as purveyors of symbolic meaning, their historic importance, their significance in influencing artistic trends, their authenticity, their integrity, their uniqueness, and so on. These are also the characteristics of such goods that we might identify as economists if we were to adopt a Lancastrian approach to depicting their demand. In other words the preferences of individuals for a cultural good are likely to be formed by many of the same attributes of the good as contribute to its cultural value, suggesting that the economic value of the good as defined above is likely to be closely related to its cultural value in many cases. But if, as we have argued, CVM and other weapons in the economist’s tool kit should fail to capture some sources or types of value in evaluating cultural goods, the relationship will not be perfect.

Although there are aspects of cultural value that cannot be expressed in monetary terms, this does not imply that the implicit cultural value assigned to a cultural good in an economic study is zero. Rather it is to say that we are talking about different metrics, and although there is likely to be a broad correlation between them across a range of cultural goods, it is quite possible in specific cases for low economic value to be associated with high cultural value and vice versa. Nevertheless, as the examples mentioned earlier make clear, even a state-of-the-art CVM study will tend systematically to undervalue a cultural good to the extent that there exist significant positive elements in the good’s value that are incapable of expression as individual WTP.

A disjunction between an economic approach to the value of art and a broader social or cultural approach has been recognised in recent writings in the cultural arena. Joseph and Lisbet Koerner, for example, suggest that current critical theories of the art object as a source of value are united in their attempt to account for the irrationalityof art value in opposition to the abstracting rationalismof the assessment of art within neoclassical economics (Koerner and Koerner, 1996, p. 300). Michael Benedikt distinguishes between aesthetic, moral and economic values, and argues that they have to be made commensurable, “if only because real life asks us so often to compare and choose amongst them in the name of some ‘larger’ value” (Benedikt, 1997, p. 54). Contributors to Avrami et al. (2000) speculate about economic and cultural values as contrasting imperatives in the assessment of cultural heritage projects. These and many other writings suggest that the standard neoclassical model, despite its considerable theoretical and empirical power, will be unable on its own to provide a fully satisfying account of the value of cultural goods.

In concluding this section, it is useful to ask how cultural value might be determined. This is a critical question for a number of

disciplines interested in art, culture and society.13

If we were to adopt the mind-set of the neoclassical economist, we might suggest that the cultural worth of an artistic good could

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Values and Heritage Conservation. Getty Conservation Institute, Los Angeles.

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Head, John G. (1990) "On Merit Wants: Reflections on the Evolution, Normative Status and Policy Relevance of a Controversial Public Finance Concept", in Geoffrey Brennan and Cliff Walsh (eds.), Rationality, Individualism and Public Policy. Centre for Research

17 Sinteticamente

Chicago 15th A ens.

This style requires both footnotes and bibliography. To add cited pages to your in-text citations and footnotes, include them in your in-text citation by adding an "@" symbol followed by the pages: [Waugh, 1945 #32@ 88]

Chicago 15th B ens.

This version of the Chicago style does not include footnotes. For footnotes, use Chicago 15th A. (ResearchSoft 2004)

18 Nesta exemplificação utilizamos (THROSBY 2003)

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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 35/77 - Versão 01

on Federal Financial Relations, Australian Nationa lUniversity, Canberra.

Texto19 com referências para a bibliografia Referências bibliográficas ordenadas por nome e data

A listagem das obras está ordenada pelo último nome do primeiro autor e dentro de

cada autor ou conjunto de autores está ordenado por data de edição da obra. No caso

de haver várias obras do mesmo autor editada no mesmo ano acrescenta-se à data a, b,

etc. (ex. 2003a 2003b etc.). Para tornar mais visível a ordenação destaca-se o nome do

autor, começando no início da linha. No texto a indicação de que a ideia ou a

transcrição foi retirada de uma determinada obra faz-se indicando à frente do nome do

autor o ano da edição (ex. Avrami et al. (2000)) ou indicando em conjunto autor e

ano (ex. (ThrosbyandWithers, 1984)). Se pretendemos precisar exactamente de onde

foi retirado acrescenta-se a página (ex. (Benedikt, 1997, p. 54)).

Para ilustrar mais em pormenor consideremos uma passagem do texto anterior.

“Michael Benedikt distinguishes between aesthetic, moral and economic values, and argues that they have to be made commensurable, “if only because real life asks us so often to compare and choose amongst them in the name of some ‘larger’ value” (Benedikt, 1997, p. 54).”

Esta última informação diz-nos que a transcrição anterior (if ...value) foi retirada da

obra editada por Benedikt em 1997. Observando as referências bibliográficas ficamos

a saber que

Benedikt, Michael (1997) "Value and Psychological Economics: An Outline", in Michael Benedikt et al. (eds.), Value: Center 10/Architecture and Design in America. University of Texas Press, Austin.

a transcrição foi retirada de um artigo (capítulo de livro ou comunicação) intitulado

Value and Psychological Economics: An Outline que foi editado num livro editado

pelo autor do artigo conjuntamente com outros autores e que se designa Value: Center

10/Architecture and Design in America. Sabemos ainda que a obra foi publicada em

1997 pela University of Texas Press, a qual se situa em Austin20.

19 Foi utilizado neste exemplo (THROSBY 2003) 20 Apresentamos aqui esta precisão de informação, mas ela podia perfeitamente ser retirada igualmente dos sistemas retirados anteriormente. As diferenças não se situam ao nível da informação que transmitem, pois aí há grande similitude.

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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 36/77 - Versão 01

Que dizer das vantagens e desvantagens em relação aos sistemas anteriormente

referidos? Tal como os anteriores este sistema apresenta, como não podia deixar de

ser os elementos essenciais de qualquer sistema bibliográfico: (1) clara identificação

das fontes bibliográficas; (2) clara identificação da autoria da ideia; (3) possibilidade

do leitor localizar as obras utilizadas pelo autor; (4) fácil articulação entre o texto e a

bibliografia.

Apesar de apresentar algumas vantagens em relação a um ou outro dos anteriores (ao

consultar-se autonomamente a bibliografia há uma ordem; quando se remete do texto

para uma obra na bibliografia há uma indicação precisa de que parte da obra foi

retirada a ideia ou a transcrição; é fácil acrescentar bibliografia e é indiferente a

sequência de produção do texto, não exigindo qualquer procedimento informático de

articulação texto-bibliografia) também apresenta alguns inconvenientes: (1) dificulta a

estruturação da bibliografia segundo procedimentos diversos, a que faremos alusão

oportunamente; no caso de uma mesma ideia estar em muitas das obras indicadas na

bibliografia, a sua indicação é mais enfadonha que nos sistemas anteriores21.

Um último apontamento: o que se disse não gosta as maneiras de indicar as fontes

bibliográficas e de articular o texto com o seu inventário. É possível encontrar formas

de combinação de sistemas diferentes e porque há sempre outras alternativas.

Além disso até agora não nos preocupámos com a informação que devemos colocar

para identificar adequadamente uma obra22. É deste aspecto que nos ocuparemos no

ponto seguinte.

IInnffoorrmmaaççõõeess ssoobbrree aa oobbrraa rreeffeerreenncciiaaddaa Quais os elementos identificadores de uma obra que devem ser referidos?

21 Em (POMBO 2004, p. 125/7) duas notas de com referências bibliográficas ocupam cerca de duas páginas do livro, o que resulta da aplicação criteriosa deste sistema bibliográfico. 22 Cada sistema de referência bibliográfica tem, nas suas diversas variantes, a especificação dessas informações, mas não foi sobre esse aspecto que concentrámos a atenção.

Page 20: Redacção de trabalhos científicos

Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 37/77 - Versão 01

A resposta genérica é simples:

− pelo menos os essenciais para uma correcta e fácil identificação

− apresentados de uma forma que chame a atenção do leitor para o essencial

− atendendo às especificidades de identificação cada tipo de obra.

Contudo os pormenores destas considerações podem ser concretizados de formas

muito diversas conforme as normas, as publicações, os autores23.

Porque seria pedagogicamente inadequado apresentar todas essas variantes e

perfeitamente inoportuno: seria enfadonho e susceptível de uma rápida

desactualização, limitar-nos-emos a referir o que consta das normas portuguesas sobre

bibliografia24.

Consideremos a obra sobre o qual temos a seguinte informação:

Tipo de obra: Livro Autor: Matt Ridley Ano de edição: 2001 Título: Genoma Subtítulo: Autobiografia de uma espécie em 23 capítulos Colecção: Ciência Aberta Número na colecção: 111 Local do Editor: Lisboa Editor: Gradiva Número de volumes: 1 Número de páginas: 352 Edição: 1ª Desenho da capa: Tom Lau Impressão e acabamento: Tipografia Guerra/Viseu Tradução: REGO, Carla (Tradução); ALMEIDA, José Soares (Revisão) ISBN: 972-662-772-9 Nome da Publicação original: Genome - The Autobiography of a Species in 23 Chapters Data da edição original: 1999 Editor original: ?25 Data da 1ª edição inglesa: ?

23 Como exemplo diga-se que o programa de tratamento informático da bibliografia que utilizamos neste momento identifica 1186 estilos tipo (ResearchSoft 2004), sendo um estilo uma combinação de sistema bibliográfico e diferentes pormenorizações na sua concretização. 24 Em termos de normas tenha-se em conta que cada país pode ter as suas normas e que além disso há as normas da International Organization for Standardization (ISO) (SERRANO 1996) 25 “?” indica que na edição que se possui não constam esses elementos.

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Sendo um livro a forma de o referenciar é a que é especificada para as Monografias.

É considerado essencial a indicação do autor ou autores, título, edição, publicação

(local, editor e ano) e ISBN.

No nome do autor podem ser utilizadas abreviaturas “desde que fiquem

inequivocamente identificados” (Instituto Português da Qualidade 1995, p. 31), o que

não se revela necessário neste caso. O apelido do autor deve ser em letras maiúsculas

“quando no início da referência bibliográfica”, o que acontece sempre porque “o

nome do autor deve aparecer como o primeiro elemento da referência bibliográfica”

(Instituto Português da Qualidade 1995, p. 33). Além disso

“O nome do autor deve ser dado como aparece na fonte, mas invertido de forma a referir em primeiro lugar o último apelido ou o penúltimo no caso dos apelidos compostos ou com relações familiares. Os nomes espanhóis devem ser referenciados pelo apelido que aparece a seguir ao nome próprio” (Instituto Português da Qualidade 1995, p. 33).

O título da obra está em caracteres romanos pelo que não carece de transliteração, a

qual deveria seguir normas internacionais. O título deve ser reproduzido como

aparece na fonte. Como “a pontuação e a apresentação tipográfica devem tornar os

pormenores das referências facilmente compreensíveis” e o título (e subtítulo) é um

elemento fundamental de identificação num livro, “deve recorrer-se à utilização de

sublinhados (...) ou relevos tipográficos” (Instituto Português da Qualidade 1995, p.

32)26.

Uma referência bibliográfica deve ser feita de forma que o leitor do trabalho

facilmente a encontre e possa certificar-se que o autor do documento a utilizou

adequadamente. Ora a localização de algo pode variar de edição para edição, pelo que

a sua indicação é um aspecto essencial. Convém que se forneça todas as indicações

sobre ela (é uma edição revista? por quem? foi ampliada? etc.) podendo-se utilizar

abreviaturas.

E sobre essa edição (muitas vezes não há indicação, seja porque é a primeira e o editor

considera irrelevante referir seja porque a sua não referência permite evitar

26 Quando se utilizava a máquina de escrever o mais habitual era o sublinhado. Com o computador utiliza-se habitualmente o itálico ou o carregado.

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pagamentos de direitos a autor ou editora original) deve-se fornecer os dados da

publicação. O local onde se situa a editora deve ser transcrito como se encontra na

obra (se não indicar colocar [S.I:] iniciais de “sem local” em latim. No caso presente é

irrelevante, mas é cada vez mais frequente tratar-se de uma editora multinacional e

indicar uma lista de locais; nesse caso coloca-se o que está mais evidência ou em

primeiro lugar acrescido de [etc.]. Uma outra situação muito habitual actualmente é a

obra ser editada por mais de uma editora; deve-se indicar as diversas editoras e

respectivos locais. No caso presente o local da editora é bem conhecido e não se

necessita de fornecer ao leitor qualquer informação adicional, mas nem sempre é

assim. Se o nome do local se presta a confusão ou pode não haver conhecimento

imediato por parte do leitor pode-se acrescentar entre [] (símbolo que é

sistematicamente utilizado quando se trata de dados adicionais fornecidos por nós)

outros aspectos referentes à localização: [região], [país], etc. A editora pode ser

colocada com informação completa (ex. Gradiva – Publicações Ldª) ou parcial desde

que inequívoca (ex. Gradiva). Se o editor for desconhecido, o que não é o caso,

coloca-se, utilizando mais uma vez abreviaturas do latim, [s.n.]. Para um livro a data

é apenas o ano ou o mês ano. Quando a data não existe ou se coloca a data de

impressão (imp. ano) ou a data dos direitos de autor (cop. ano) ou a data do depósito

legal (D.L. ano) ou a presumível ([ano?]).

O ISBN também é um elemento essencial embora para livros anteriores a uma certa

data não exista esta informação27.

27 Eis uma informação sobre o ISBN constante do seu site na Internet:

“O sistema ISBN (International Standard Book Number) é controlado pela Agência Internacional do ISBN, sediada em Berlim, na Alemanha, que supervisiona a sua utilização, aprova a definição e estrutura dos grupos (linguísticos ou geográficos), e delega poderes às Agências Nacionais designadas em cada país. A APEL é a Agência Portuguesa do ISBN desde 1988, sendo responsável, entre outras funções, pela atribuição de números de identificação a monografias, i.e., a publicações não periódicas editadas em Portugal, pela atribuição de prefixos de editores, pelo fornecimento do Manual ISBN aos editores e pela promoção da utilização do sistema a nível nacional. O princípio fundamental em que assenta o sistema é que cada ISBN identifica um livro numa determinada edição, com todas as vantagens que daí advêm, a nível económico e cultural, ao possibilitar uma mais fácil recuperação e transmissão de dados em sistemas automatizados, para fins públicos ou privados, ao facilitar a pesquisa e a actualização bibliográfica, bem como a interconexão de bibliotecas e arquivos. (...) - o ISBN é constituído por uma série de números separados por um hífen (-). Pegando no ISBN 972-9202-43-5 como exemplo: "972" é o identificador de grupo (grupo nacional, geográfico, linguístico ou outro similar; actualmente, os prefixos nacionais são "972" e "989");

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No exemplo anteriormente referido a referência bibliográfica deve, no mínimo,

apresentar-se da seguinte forma:

RIDLEY, Matt – Genoma. 1ª ed. Lisboa: Gradiva, 2001. ISBN 972-662-772-9. É, no entanto recomendável que se indique também o subtítulo (complemento de

título) e a descrição física, para dar ao leitor uma ideia mais precisa da obra.

O complemento de título segue no essencial o que se disse para o título. Quanto à

descrição física pretende-se dar uma informação sobre a dimensão da obra, o que

pode ser feito pela indicação do número de volumes que constitui a obra ou o seu

número de páginas.

Entrando com as informações essenciais e recomendadas a referência bibliográfica

assumiria a seguinte forma

RIDLEY, Matt – Genoma: Autobiografia de uma espécie em 23 capítulos. 1ª ed.

Lisboa: Gradiva, 2001. 352 p. ISBN 972-662-772-9.

Na maior parte das situações esta informação é suficiente. Contudo se algumas obras

têm uma grande importância para a tese que estamos a elaborar justifica-se a

apresentação de informações complementares28.

Nos casos apontados devem figurar na referência bibliográfica alguns ou todos os

elementos facultativos: “responsabilidade secundária”, “série” e “notas”.

"9202" corresponde ao prefixo de Editor (identifica um Editor em concreto); "43" é o identificador do título (identifica um título específico ou a edição de uma obra publicada por um Editor em concreto); "5" é o dígito de controlo (permite a verificação automática de que o ISBN está correcto); (...) - em livros editados em co-edição, recomenda-se a atribuição de um número ISBN para cada Editor; - edições de um mesmo livro em vários idiomas, implicam um número ISBN para cada edição; “ (APEL, "Sistema ISBN". [em linha]. [consult. 25 Dez 2004]. Disponível na Internet: <URL: http://www.apel.pt/default.asp?s=12204>)

28 Alguns exemplos: se a nossa tese é uma comparação sobre a concepção inicial e actual da relatividade restrita, a informação bibliográfica sobre as obras dos autores principais deve conter o máximo de elementos; se estamos a fazer uma tese sobre Tolstoi e não sabemos russo justifica-se que nas obras consultadas de Tolstoi forneçamos outras informações que permitam aquilatar da obra a partir da qual se fez a tradução e da qualidade desta; se o nosso trabalho é sobre um romance de Eça de Queiroz convém que todas as edições consultadas sejam referidas com o máximo de dados.

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Continuemos a seguir de perto das normas portuguesas.

Para além do autor de um livro outras pessoas podem ter uma responsabilidade

secundária sobre o seu conteúdo: o eventual autor do prefácio ou da introdução; o

revisor do texto na língua em que foi escrito; o tradutor; o revisor da tradução,

eventualmente qualquer comentador do conteúdo em algumas notas. Estes elementos

podem ter interesse em muitas circunstâncias.

“Os editores literários, compiladores, anotadores e directores literários podem ser tratados como autores, desde que apareçam destacados na página do título. Neste caso devem acrescentar-se ao nome as abreviaturas correspondentes à função antecedidas de vírgula (...) Os nomes das pessoas ou colectividades com responsabilidade secundária no documento e as suas funções (editores literários, tradutores, ilustradores, inventores, organismos responsáveis, etc.) podem figurar depois do título ou do complemento do título” (Instituto Português da Qualidade 1995, p. 36/7)

A informação sobre a série é, no essencial, a colecção em que se integra o livro e,

eventualmente, o seu número. Há colecções com tal prestígio que esta informação

quase que seria suficiente para procurar a obra em qualquer livreiro.

Em notas podem ser dadas outras informações consideradas relevantes.

Entrando em conta com todos os elementos teríamos, no nosso exemplo:

RIDLEY, Matt – Genoma: Autobiografia de uma espécie em 23 capítulos. Trad. Carla

Rego; rev. trad. José Soares Almeida. 1ª ed. Lisboa: Gradiva, 2001. 352 p. (Ciência

Aberta; nº 111). Tradução de: Genome - The Autobiography of a Species in 23

Chapters; 1999. ISBN 972-662-772-9.

Outros aspectos de que temos informação (ex. tipografia) é suficientemente

irrelevante para se colocar, por muito pormenorizada que seja a informação.

Neste nosso exemplo referimo-nos à situação mais habitual e simples: o livro.

Contudo a diversidade de documentos informativos é grande e cada um apresenta

especificidades.

A utilização exaustiva das normas estabelecidas pode ser enfadonho e exigir

demasiado tempo. Enfadonho porque exige considerar um grande conjunto de

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pormenores; porque as redes informáticas internacionais obriga-nos a assumirmos

decisões sobre situações que ainda não estão normalizadas ou que estando não cobre

todas as situações; porque a excessiva preocupação pelas questões formais e de

apresentação pode enfraquecer a nossa atenção sobre o conteúdo. Exigir demasiado

tempo porque há que conhecer muito em pormenor as normas e consultá-las

frequentemente; porque quase sempre umas normas remetem para outras normas;

porque exige em diversas situações investigações complementares sobre os

documentos actualizados para obter algumas referências que a norma considera

essenciais ou recomendáveis, porque cada vez menos é aconselhável seguir apenas as

normas de um país, havendo que estabelecer comparações entre países ou destes com

as normas internacionais. Contudo, apesar destes inconvenientes, as normas devem

ser tidas em conta porque nos ensinam procedimentos, porque nos introduzem na

lógica de apresentação das fontes, porque nos pode salvar de críticas desnecessárias.

Utilizemo-las com conta, peso e medida, como diz o bom senso popular.

Vejamos, então, essas normas mais em pormenor, identificando as situações,

resumindo o que elas dizem29.

(Instituto Português da Qualidade 1995) refere-se a documentos impressos:

(A) As monografias são a situação mais geral

“Monografia – publicação contendo texto e/ou ilustrações apresentados em suportes destinados à leitura visual, completa num único volume, ou a ser completada num número determinado de volumes” (8)

e as fronteiras com outro tipo de documentos são por vezes difusas. Nuns casos a

nossa referência bibliográfica aplica-se à monografia no seu conjunto, como no

exemplo que apresentámos (A1)30, noutros a partes ou volumes de monografias (A21)

ou a contribuições em monografias (A22).

29 Quem pretenda conhecê-las em pormenor deve fazer a sua leitura e tê-las à mão quando surgem dificuldades., 30 Esta simbologia e outras seguintes serão utilizadas nos quadros de síntese das normas para os diversos tipos de documentos.

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(B) As publicações em série são uma das fontes mais utilizadas na investigação

científica, pois as revistas da especialidade são muito frequentemente, o primeiro local

de divulgação das descobertas científicas.

“Publicação em série – publicação, impressa ou não, editada em fascículos ou volumes sucessivos, ordenados geralmente numérica ou cronologicamente, com duração não delimitada à partida e independentemente da sua periodicidade. As publicações em série incluem os periódicos (revistas, jornais, boletins, anuários), as séries de actas e relatórios de instituições e congressos, bem como as série monográficas” (8)

Podem surgir situações em que pretendemos fazer referência bibliográfica para a

totalidade da publicação em série (B1), embora frequentemente consideremos apenas

uma parte da publicação (B2) ou apenas um artigo (B3).

As série monográficas são referidas como publicação em série, mas podem ser

tratadas ou como monografias (B41) ou como publicação em série (B42).

(C) As teses, dissertações e outras provas académicas não se enquadram em nenhuma

das situações anteriores.

“Tese (dissertação) – documento que apresenta uma investigação e os seus resultados, proposto para apreciação, pelo seu autor, em princípio destinado à obtenção de um grau académico ou de uma qualificação profissional” (8)

(D) As actas de congressos (“com ou sem título próprio”, com ou sem “editor

literário”) têm um tratamento similar às monografias. Os “relatórios científicos e

técnicos” também se podem configurar como algumas das situações anteriores.

(E) Os documentos legislativos e judiciais têm um tratamento similar a algumas das

situações anteriores:

“A ordem dos elementos da referência bibliográfica das publicações de carácter legislativo e judicial é a mesma das monografias, partes ou volumes e contribuições em monografias, capítulos e páginas de monografias, publicações em série e artigos de publicações em série” (8)

Se assim ´+e, o que se deve colocar como autor de um Decreto-Lei, por exemplo? É

frequente considerar como autor a instituição que foi responsável pela sua criação (ex.

Assembleia da República para uma Lei, Governo para um Decreto-Lei, etc.) e

considerar que ela é parte do Estado (pelo que o referido Decreto-Lei teria como autor

PORTUGAL. Governo). Contudo os exemplos constantes da norma não referem

autor.

Em muitas publicações religiosas também não há referência ao autor.

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(F) Também as patentes se encontram entre os documentos impressos fornecedores de

informações para a investigação.

“Patente – Descrição de uma invenção destinada a obter ou a justificar os direitos de propriedade industrial” (8)

(G) As normas poderiam ter um tratamento similar aos documentos legislativos, mas a

norma que temos estado a analisar autonomiza este tipo de documento.

(H) A música impressa é ainda outro tipo de referência bibliográfica.

Num ponto anterior colocámos a questão: devemos englobar o artigo de que só lemos

o resumo? Não devemos englobar o artigo mas podemos colocar o resumo (I) e ao

fazê-lo devemos seguir as normas estabelecidas para os documentos anteriores tendo-

se o cuidado em nota colocar “a indicação de resumo, a fonte de onde foi extraído e o

número de resumo” (30).

Designando com E o que é essencial, R o que é recomendável e F o que é facultativo

temos:

A1 A21 A22 B1 B2 B3 B41 B42 C F G H Autor(es) E R R R E E E R E Entidade Responsável R Título E R R E E R E R E R R E Sigla e Nº da Norma E Complemento do Título R R R R R F R Responsabilidade F F F Responsabilidade Secundária F F F F F R Autor(es) da totalidade E E Título da totalidade31 E E E Edição E E E E E E E E Numeração F Publicação E E E E E E Local R R R R F Editor F F F F R Data E E E E País E Descrição Física R R R R F R Designação tipo documento E E Série F F F R F Notas F F F F F E ISBN/ISSN F E E E E E E E Localização na totalidade E E E Volume E

31 Neste quadro sintético designamos por “totalidade” a obra em que se insere uma certa parte considerada (o artigo tem como totalidade a revista, o capítulo tem como totalidade o livro, etc.).

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Número E E Ano E Código de Classificação F Área R Placa de matrícula E

Grande parte dos elementos considerados já foram abordados quando do exemplo

inicial com base num livro. Explicitemos apenas que

a Área da norma serve para indicar a que aquela se aplica;

a Placa de Matrícula na música impressa é “o número de série atribuído pelo editor a

cada publicação musical para o seu registo e identificação” (8).

(Instituto Português da Qualidade 1998) refere-se a materiais não livro

(J) O documento icónico – “Documento cuja principal característica é a

representação de imagens a duas ou, aparentemente, a três dimensões.” (4) – cartaz é

o primeiro tipo de documento a ser considerado.

(K) O filme, entenda-se “fita de filme fotográfico”, em bobina (K1) ou em «loop»

(K2) são considerados separadamente embora tenham, aparentemente, o mesmo

tratamento bibliográfico.

(L) A microficha – "documento que necessita de ampliação para ser utilizado", “em

folha transparente, na qual as microimagens são apresentadas em grelha” – é o único

tipo de documento que necessita de ampliação apresentado nesta norma. Caso se

tenha utilizado outro tipo destes documentos há que estabelecer as semelhanças e

diferenças para a sua referência.

(M) Os registos de som e imagem, combinados ou isolados ocupam as referências

seguintes. A norma trata da multimédia (M1) – “Item composto por duas ou mais

categorias diferentes de material, em que nenhuma é considerada de primordial

importância e que,em geral, se destinam a ser usadas como um todo unitário” (5) – do

registo vídeo: cassete (M2), do registo vídeo: disco (M3), do registo sonoro: disco

compacto (M4), disco sonoro (M5) e cassete sonora (M6), embora só trate

explicitamente de alguns, admitindo-se que os restantes são situações similares.

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(N) A referência seguinte é para o objecto, cuja imprecisão de significado aconselha

que comecemos por explicitar o que a norma designa por tal:

“Artefacto de três dimensões. O termo pode ser usado para designar um objecto ou um conjunto de partes separadas.” (5).

(O) O diapositivo (O1) e a transparência (O2) são os dois tipos de projecção visual

considerados, sendo de admitir que o segundo segue as regras constantes do primeiro.

(P) Em todas as considerações anteriores considerou-se a totalidade da componente,

mas muitas vezes o que é utilizado é apenas uma parte (a banda sonora de um filme, o

vídeo de um multimédia, etc.) É esse aspecto que é tratado na parte final desta norma,

referindo explicitamente o registo sonoro (P1) e dando exemplos de documento

icónico (P2) e de projecção visual (P3).

Utilizando a terminologia e simbologia já nossa conhecida, temos a seguinte situação

síntese:

J K1 L M1 M2 M4 N O1 P1 Autor(es) E E E E E E E E R Título E E E E E E E E R Complemento do Título R R R R R R R R R Responsabilidade Secundária R R R R R R R F Autor(es) da totalidade E Título da (totalidade) E Responsabilidade secundária da totalidade F Localizana na totalidade E Edição E E E E Publicação (Local, Editor, Data) E E E E E E E E E Descrição Física Designação específica E E E E E E E E E Outras indicações físicas R R R R R R R R R Dimensões F R F F F F F F F Material acompanhante F F F F F F F F F Designação tipo documento F F F F F F F F F Série F F F F F F F F F Notas F F F F F F F F F Número normalizado F F F F F F F F F

(Instituto Português da Qualidade 2000) refere-se a documentos não publicados.

Os documentos expressamente considerados neste documento foram (Q1)

Documentos Impressos: Monografias e Publicações em série; (Q2) Cartas, ofícios,

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circulares, etc.; (R) Manuscritos; (S) Música manuscrita; (T) Materiais cartográficos;

(U) Materiais não livro: Diapositivos.

Eis um conjunto de documentos particularmente importantes em teses em que a

História seja uma disciplina relevante. Certamente que outros haverão, mas estes

funcionam como uma referência importante.

Mais uma vez podemos de uma forma muito sintética apresentar as recomendações

através do seguinte quadro:

Q1 Q2 R S T UAutor(es) E E E E E E Título E E E E E Complemento do Título R Responsabilidade Secundária R Numeração R Referência E Data E E E E E E Acessibilidade E E E E E E Descrição Física R R R Designação específica E E Outras indicações físicas F R Dimensões F F Material acompanhante F F Designação tipo documento E E E F F Assunto R Série F Escala E Informação adicional da escala F Notas F F E E F F Identificador do documento E E E

Justificam-se alguns comentários adicionais:

− Tratando-se de documentos não publicados a “acessibilidade” – “Local onde

se pode consultar um determinado documento.” (3) – assume uma importância

essencial.

− A “numeração” em Q1 apenas se aplica às publicações em série.

− Se existir um elemento identificador daquele este “Deverá transcrever-se tal

como se apresenta no documento.”

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(Instituto Português da Qualidade 2002) é o último documento actualmente existente e

trata dos documentos electrónico.

A relevância que os documentos electrónicos assumem, as confusões que por vezes fazemos na sua utilização, a tendência para transpor mecanicamente o que sabemos das “publicações tradicionais” para este novo tipo de documento, justifica a releitura do prâmbulo desta norma, apresentado quando discutimos o significado de bibliografia.

Registe-se que:

− a fonte de informação não é o suporte electrónico mas um certo documento,

uma certa informação, que está nesse suporte magnético;

− o acesso à informação nos documentos electrónicos é modular (não

dominantemente sequencial), onde as redes e os cruzamentos de saberes e

informações, onde os entrelaçamentos de disciplinas e de paradigmas, são

intensos;

− os documentos em suporte magnético têm muitas especificidades formais.

Registe-se ainda que a grande quantidade de documentos electrónicos, sobretudo em

páginas web, têm frequentemente referências bastante mais difusas que os

documentos que estivemos a analisar até agora.

Esta norma refere-se primeiramente às “monografias, bases de dados e programas”

considerando estes como documentos completos (V1), sejam partes de documento

(V2) , sejam ainda contribuições em documentos (V3). Em cada uma destas situações

as monografias, as bases de dados – “Conjunto de dados estruturados armazenados

sob forma electrónica e acessíveis por computador” (4) – e os programas – “Conjunto

de instruções para a execução em computador de determinadas tarefas” (5) – têm

algumas especificidades.

As publicações em série constituem o segundo conjunto, enquanto documento

completos (W1) ou como “artigos e outras contribuições” (W2).

BBS(s) – “sistema de computadores no qual a informação emensagens respeitantes a

um determinado tema ou temas são disponibilizadas para visualização por utilizadores

remotos” (4) –, news groups – “serviço na Internet no qual a informação e mensagens

respeitantes a um determinado tema ou temas são disponibilizadas para visualização

por utilizadores remotos” (5) –, listas de discussão – “grupo de discussão sobre

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determinado tema ou temas através de uma rede informática entre os assinantes de

uma lista de correio electrónico, no qual as contribuições dos participantes individuais

são enviadas automaticamente por correio electrónico a todos os subscritores” (4) – e

mensagens constituem o terceiro conjunto, seja enquanto “sistemas completos de

mensagens” (X1) seja enquanto “mensagens electrónicas” (X2).

A norma pode ser especificada de forma resumida por

V1 V2 V3 W1 W2 X1 X2 Autor(es) E E E E E Título E E E E E E E Responsabilidade Secundária F F F Autor(es) da totalidade E E Título da (totalidade) E E E Responsabilidade secundária da totalidade F Edição E E E E Tipo de suporte E E E E E E E Publicação (Local, Editor, Data) E E E E E E Data de actualização ou revisão E E E E Data de consulta E/F E/F E/F E/F E/F E E Disponibilidade e Acesso E/F E/F E/F E/F E/F E E Série F F Notas F F F F F F F Número normalizado E E E E E Numeração no documento F F Capítulo ou designação equivalente F Localização na totalidade E E E Numeração no interior do sistema F Localização no sistema de mensagens E

Quanto ao tipo de suporte recomenda-se que “o tipo de suporte electrónico deve ser

indicado entre parênteses rectos depois do título. Recomenda-se a utilização das

seguintes palavras ou equivalentes: [CD-ROM] [Disco] [Disquete] [Em linha]. Se se

desejar pode também precisar-se o tipo de documento: monografia, publicação em

série, programa, base de dados, mensagem, etc. Ex.: [Base de dados em linha]

[Monografia em CD-ROM] [Jornal em linha] [Programa em disco] [BBS em linha]

[Mensagem em linha] [Lista em linha] [Programa em disquete] [Resumo em CD-

ROM] [Revista em linha]” (21/2).

“Disponível em :WWW <URL:http://listas.sdum.uminho.pt>" ou “Também

disponível em versão Postscript em: <URL:

http://www.thomson.com/itcp/WebExtras>” são exemplos de informação sobre

disponibilidade e acesso.

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Quanto à data de consulta a norma indica “no caso de documentos susceptíveis de

utilização frequente ou naqueles em que não tenha sido possível encontrar a data de

publicação deve ser referida a data em que o documento foi consultado precedida da

abreviatura consult. e entre parênteses rectos.” (19), mas na nossa opinião existe outra

razão importante para a referir: muitos dos documentos electrónicos estão em

frequente mudança e nada garante que o mesmo endereço electrónico tenha o mesmo

conteúdo (exista) quando foi consultado por quem elaborou a tese e quando foi

acedido pelo seu leitor. A referência da data de consulta funciona como garantia da

veracidade da informação constante na referência bibliográfica.

LLooccaalliizzaaççããoo ddaa bbiibblliiooggrraaffiiaa nnaa tteessee Conforme o sistema de referência bibliográfica utilizada assim o local onde podemos

encontrar o conjunto das obras utilizadas para a realização do trabalho. É possível que

seja necessário, enquanto leitores, percorrermos as notas (colocadas no fim de página,

no fim do trabalho ou em qualquer outro local) para conhecer quais foram essas obras.

É possível que exista, para além doutros aspectos anteriormente referidos, uma

listagem bibliográfica. É dessa situação que trataremos muito singelamente neste

ponto.

Se o objectivo é facilitar a leitura das obras utilizadas a lista das referências

bibliográficas devem estar concentradas num único local do trabalho. Seria

desaconselhável, por exemplo, espalhar num livro a bibliografia pelos diversos

capítulos, mesmo que se pretenda referenciar os trabalhos utilizados em cada um

deles. E o local mais indicado para a colocar é o fim do texto. Tratando-se de uma

tese, situação que nos ocupa particularmente, no fim da tese. Se somos responsáveis

pela edição de uma obra que tem a contribuição autónoma de vários autores as

bibliografias devem estar no fim de cada um desses textos autónomos (artigos,

comunicações, por exemplo).

E o que se deve entender por fim do texto? Temos encontrado dois entendimentos:

(a) fim do corpo do trabalho, o que faz com que os anexos venham depois da

bibliografia:

“A apresentação de notas ao longo do trabalho não prescinde o registo sistemático das referências bibliográficas consultadas ao longo do mesmo, ou

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ainda, e caso tenham sido consultadas, de fontes manuscritas, impressas, computorizadas, ou outras. Vem sequencialmente, após a conclusão” (SOUSA 2003, p. 65)

(b) fim da do trabalho, colocando-se a bibliografia depois de todos os anexos. Se for

hábito colocar no fim os índices, só estes iriam depois da lista bibliográfica.

Porque os anexos também podem remeter para bibliografia e porque é de mais fácil

localização pelo leitor esta parece-nos ser a solução mais adequada.

EEssttrruuttuurraaççããoo ddaa BBiibblliiooggrraaffiiaa Já fizemos alusão ao facto de ECO sugerir que se distinga as fontes primárias das

fontes secundária, o que exemplifica:

“Non ci resta che aggiungere alcune istruzioni su come pub strutturarsi una bibliografia. ?so.. ciamo l'esempio di una tesi su Bertrand Russell, La bibliografia si suddividerà in Opere di Bertrand Russell e Opere su Bertrand Russell (potrà ovviamente avere anche una sezione più generale di Opere sulla storia della filosofia del secolo XX). Le opere di Bertrand Russell saranno elenoate in ordine cronologico mentre le opere su Bertrand Russell saranno in ordine alfabetico. A meno che il soggetto della tesi fosse Gli studi _su Russell dal 1950 al 1960 in Inghilterra, nel qual caso, allora, anche la bibliografia su Russell potrebbe giovarsi di un ordine cronologico.

Se invece si facesse una tesi su I cattolici e l'Aventino la bibliografia potrebbe avere una divisione del genere; documenti e.atti parlamen tari, articoli di giornali e riviste della stam pa cattolica, articoli s riviste della stampa fascista, articoli e riviste di altra parte politica, opere sull'avvenimento (e magari una sezione di opere generali sulla storia italiana del periodo).” (ECO 1998, p.233/4)32

32 Tanto no original como na tradução portuguesa, que se apresenta de seguida” utiliza o sublinhado e não o itálico pois essas páginas são reproduzidas directamente de texto escrito em velha máquina de escrever:

“Só nos resta acrescentar algumas instruções sobre como se deve estruturar uma bibliografia. Ponhamos como exemplo uma tese sobre Bertrand Russell. A bibliografia subdividir-se-á em Obras de Bertrand Russell e Obras sobre Bertrand Russell (poderá evidentemente também haver uma secção mais geral de Obras sobre a história da filosofia do século XX). As obras de Bertrand Russell serão enumeradas por ordem cronológica, enquanto as obras sobre Bertrand Russell estarão por ordem alfabética. A menos que o assunto da tese fosse Os estudos sobre Russell de 1950 a 1960 em Inglaterra, caso em que, então, tambem a bibliografia sobre Russell poderia beneficiar com a utilização de uma ordem cronológica.

Se, pelo contrário, se fizesse uma tese sobre Os católicos e o Aventino, a bibliografia poderia ter uma divisao do género: documentos e actas parlamentares, artigos de jornais e revistas da imprensa cató1ica, artigos e revistas da imprensa fascista, artigos e revistas de outros sectores políticos, obras sobre o acontecimento (e talvez uma secçáo de obras geraís sobre a história italiana da epoca).” (ECO 1980, p. 200/1)

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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 52/77 - Versão 01

Outros autores também admitem essa possibilidade:

“Em termos genéricos, todas as fontes, obras monográficas e publicações em série consultadas, referidas ou não nas notas, devem ser agrupadas num item designado por "Fontes e Bibliografia", ou só `Bibliografia", se não tiver havido consulta de outras fontes.

Vejamos a seguinte sequência de apresentação, que recomendamos:

- Fontes manuscritas;

- Fontes impressas;

- Fontes iconográficas;

- Fontes computorizadas;

- Bibliografia (esta pode eventualmente ser dividida);

- Monografias;

- Periódicos.

Recentemente, os investigadores tiveram acesso a uma nova fonte de informação que importa saber localizar: as fontes computorizadas, ou seja, aquelas que podem ser obtidas através dos computadores. Vamos incluir neste conceito os CD Roms, mas também, e sobretudo, os dados extraídos da INTERNET. Em ambas as realidades, tal como nas restantes indicações das fontes e bibliografia, impera o critério de ordenação alfabética.

Há quem complexifique este item, estabelecendo várias bibliografias de acordo com os temas tratados. Se bem que prefiramos um agrupamento unitário, tal subdivisão não é metodologicamente incorrecta, e tem até sido utilizada por prestigiados investigadores. É uma questão de opção metodológica. Há quem também inclua, o que sucede neste trabalho, uma bibliografia temática, ou seja, uma bibliografia que inclui obras consultadas, podendo igualmente dela constar estudos que não foram utilizados pelo autor na feitura do trabalho, mas que se incluem na temática do mesmo.

Devia ainda ser observada, neste item, a sequência alfabética da ordenação, seja, nas fontes manuscritas, dos diversos arquivos ou colecções onde se encontram, e, nestes, por agrupamentos (ex.: no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, poder-se-ia colocar 1.º Chancelaria de D. José I; 2.º ; 3.º Habilitações para a Ordem de Cristo; 4.º Habilitações para o Santo Ofício, etc.). Na bibliografia, o critério alfabético é aplicado à primeira palavra ou conjunto de palavras mencionadas (seja de autor ou título). No que diz respeito aos artigos em publicações em série, devem ser incluídos os limites extremos do mesmo (p. ex.: p. 5-29).” (SOUSA 2003, p. 65/6).

Todos esses critérios de decomposição da lista bibliográfica podem ser aplicados com

rigor, mas temos de ter consciência que

− classificar não é fácil, e se por vezes o parece talvez seja porque não

reflectimos suficientemente sobre o problema e porque há hábitos adquiridos,

quiçá nem sempre correctos, sobre a matéria;

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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar

Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 53/77 - Versão 01

− não se deve introduzir critérios secundários no processo de decomposição; por

exemplo, uma monografia tem sempre as mesmas características seja editado

em papel ou electronicamente, e seria um erro sobrevalorizar, no conjunto das

suas características, o suporte em que se encontra;

− muito frequentemente a distinção entre “obra do autor” ou “obras sobre o

autor”, entre “fontes manuscritas” e “fontes impressas”, entre “livros” e não

livros” é naturalmente feita seguindo em pormenor as recomendações

constantes das normas.

RReeccoommeennddaaççããoo

»» Analise cuidadosamente se a instituição para que está a redigir o trabalho científico tem normas para as citações e referências bibliográficas. Se tem, estude-as, analise a melhor forma de as aplicar e faça-o de forma cuidada.

»» Se não está vinculado a nenhum procedimento específico como condição de publicação do seu texto preocupe-se em analisar quais são as práticas habituais, o que certamente corresponde ao que as pessoas esperam de si. Frequentemente esses hábitos reflectem o domínio de certos procedimentos em certas áreas científicas. Atendendo aos “hábitos da instituição”, ao tipo de obra que está a escrever e ainda aos seus gostos pessoais, faça uma opção. Feita esta, deve segui-la escrupulosamente durante a primeira redacção do trabalho.

»» Na revisão do trabalho estará em condições, se considerar oportuno, de introduzir algumas “inovações” que considere adequadas. Contudo só o deve fazer se for fortemente aconselhável e será bom que dedique algumas linhas a justificá-lo.

»» Em todo esse processo tenha em conta as normas nacionais e internacionais existentes, as quais podem ajudar a esclarecer o que é essencial e secundário, a resolver situações de dúvidas. Se a obra é decisiva no seu trabalho considere todos os elementos da norma, incluindo os facultativos. Se não é decisivo considere o que é essencial e recomendável. Esta diferença entre uma e outras exige acautelar para não se pôr em causa a uniformidade de procedimentos.

»» Quando lhe surgirem dúvidas sobre qual o texto que deve ser destacado numa referência bibliográfica pergunte a si próprio: qual o elemento que servirá para o leitor encontrar este documento? Se for uma monografia será essencialmente pelo título e autor que ele o encontrará na livraria. Logo o título deve ser destacado. Se for um artigo de uma revista é essencialmente

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pelo nome da revista que o poderá encontrar numa livraria ou numa base de dados bibliográfica, pelo que será aquele que deve ser destacado33.

»» Sempre que seja possível – tão somente porque o sistema bibliográfico o exige, ou porque não contraria essa possibilidade – apresente uma listagem bibliográfica, dando-lhe o título adequado (já vimos esse assunto).

»» Se nada estiver esclarecido em contrário coloque as “referências bibliográficas” no fim do texto, depois de todos os anexos.

»» Sempre que possível construa as referências bibliográficas sem qualquer decomposição, lista única. Tal facto exige uma aplicação mais rigorosa das normas.

»» Se algum conjunto de obras exige uma pormenorização de informação maior (por exemplo, as “obras do autor” normalmente exigem que se recorra às versões originais e que se indique tanto o que é essencial ou recomendável como o que é facultativo) que as restantes alinhe pelas de maior exigência.

RReellaaççõõeess eennttrree oo TTeexxttoo ee aa BBiibblliiooggrraaffiiaa Ao longo dos assuntos anteriores já analisámos com bastante minúcia os aspectos

formais de articulação entre a referência a um autor ou obra no texto e a indicação

bibliográfica. Pelos menos concluímos que é um assunto bastante estudado, que há

um conjunto de regras que combinam diversas cambiantes: epistemológicas

(explicitar o rigor da investigação), éticas (“o seu ao seu dono”), pedagógicas

(facilidade de acompanhamento pelo leitor), estéticas (sequências, tipos de letras,

etc.), institucionais (hábitos consolidados em determinados grupos), disciplinares (o

tipo de referências depende da disciplina) e até políticas (há normas homologadas

pelo Estado, por exemplo).

Não nos parece necessário voltar ao assunto, embora nunca fique tudo dito e, muito

menos, definitivamente. O que agora nos ocupa é mais uma preocupação de conteúdo:

em que circunstâncias é que se deve remeter para um autor ou uma obra? Que

cuidados deve haver com as transcrições ou as paráfrases? Como proceder se

conhecemos um autor através de outro autor? Merecerá ainda a pena falar um pouco

33 Tem que se reconhecer que a evolução dos motores de busca na Internet tornam as respostas menos lineares.

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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 55/77 - Versão 01

do plágio, temática que é frequentemente abordada nos meios académicos e que tem

assumido internacionalmente uma crescente importância.

As duas primeiras situações que exigem uma referência para o autor do texto ou da

ideia são nossas bem conhecidas:

“Durante a redacção do texto (...) teve de referir trabalhos de outros autores, que o ajudaram a fundamentar (teórica e empiricamente) os seus enquadramentos, argumentos e comparações.

Essas menções podem ser feitas de duas maneiras: citando directamente as linhas que lhe interessam desses autores (transcrição), ou integrando as ideias ou afirmações dos autores no seu próprio discurso e, se este for o caso, terá cometido uma paráfrase.

Ambos os métodos são legítimos para inserir no texto material de outros autores, mas a paráfrase é mais difícil de praticar do que a transcrição, pois implica uma fusão das afirmações de outros autores no nosso próprio discurso, procedimento que exige uma subordinação do nosso pensamento ao que outros escreveram. (...).

Em qualquer um dos casos deverá assinalar, no espaço imediatamente a seguir à transcrição ou à paráfrase, que aquele pedaço não é seu.” (SERRANO 1996, p. 114/5)

Em muitas outras situações pode ser aconselhar, mesmo exigível, remeter-se para um

autor: a utilização de uma terminologia própria de um determinado autor; o estar-se a

tratar de uma problemática, de um modelo ou de uma teoria que foi particularmente

tratada por alguns autores; a condução do leitor para obras que lhe permitirão

aprofundar um assunto.

TORRES coloca, a este propósito, uma questão interessante, a que não dá resposta:

“Lendo um autor, acontece por vezes que, ao virar de página, um conceito, ideia ou imagem despertam uma intuição que podemos desenvolver. Não fora a centelha desencadeada por essa leitura talvez não tivéssemos tido "intuição" alguma...

Será excessivo "pagar" essa dívida com uma simples menção?” (TORRES 2000, p. 116)

Atrever-me-ia a responder negativamente: não, não é excessivo.

Optar pela transcrição ou pela paráfrase depende do estilo do autor, dos hábitos

institucionais, da combinação entre a fase de investigar e a de escrever. A paráfrase é

frequentemente mais agradável para o autor, mas há maior probabilidade de não se

assumir plenamente o que o autor disse. Em qualquer dos casos é necessário rigor e

correcto entendimento.

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Em ciência todos os argumentos só são válidos enquanto não forem reconhecidos

como falsos, todos os argumentos estão sujeitos à crítica, à verificação experimental, à

confrontação com os modelos construídos. O argumento de autoridade (X disse, logo

há que aceitar como verdadeiro) é irrelevante. A história das ideias revela com

facilidade a importância da crítica metódica, tão magistralmente apresentada por

Descartes.

Mas há, na produção e difusão científica o reverso da medalha. Em muitas situações a

validade de um modelo ou experiência depende da aceitação pela comunidade

científica. A verdade não resulta do confronto com o objecto que se pretende

descrever e interpretar. O poder social e institucional de um paradigma em relação a

outros pode não resultar de uma superioridade epistemológica – provavelmente nem

se poderá por assim o problema –. mas antes ser a expressão da correlação de forças

social e da forma como esta é validada pela “comunidade científica”, em que os

“colégios invisíveis” têm, por vezes, uma função decisiva34.

Contrabalançamos entre a ausência de validade ou o seu reconhecimento no caso dos

argumentos de autoridade. É nesta oscilação que as transcrições de autores

reconhecidos numa tese assume a função de “escudo invisível” contra as críticas. É

mais frequente nas teses de literatura e ciências da realidade humana, menos nas

ciências da realidade física, menos ainda das ciências lógico-matemáticas.

34 Recorde-se as palavras contundentes de DEMO, ao tratar exactamente “O Argumento de Autoridade”:

Embora autoridade não seja, por ela mesma, argumento algum, não se pode desconhecer o fenômeno constante de que a evocação de certas autoridades desperta imensa respeitabilidade. Para muitos, uma análise científica repleta de citações de Marx, Weber, Platão e Fernando Henrique será considerada especialmente científica, em vista do apelo a tais autoridades. A mesma análise, elaborada de próprio punho exclusivamente, poderá ser tachada de diletantismo de principiante. Escrevem-se obras para justificar alguma atitude dúbia de um mestre - por exemplo, problema da anomia em Durkheim, da neutralidade em Weber, do determinismo científico em Marx, do isomorfismo em Parsons -, que se pode passar por um, momento de rara profundidade intelectual, deslocando-se então a dubiedade do mestre para o intérprete; neste, porém, se não for célebre, a dubiedade será declarada simplesmente de dubiedade. Talvez seja um dos pontos mais infantis da produção científica o apego exagerado à crendice na autoridade, o substituto moderno e elegante da justificação dogmática, típica da abordagem teológica. As ciências sociais estão repletas de monstros sagrados que estereotipam o trabalho científico preconceitualmente. (DEMO 1981, p. 29)

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ECO (ECO 1998, p. 170/7; 1980, p. 152/9) enuncia dez princípios orientadoras das

citações que podem ser tomados como ponto de partida para algumas recomendações

sobre a matéria, tendo também em conta a contribuição de outros autores e a nossa

experiência35.

1ª) As transcrições podem ser curtas ou longas, tendo cada um destes tipos as

suas formas próprias.

Que podem ser curtas ou longas não é surpresa para ninguém. A questão coloca-se no

estabelecimento das fronteiras. Há diversas opiniões entre 3 e 10 linhas, sem

pormenores de especificação da sua dimensão em palavras ou caracteres. Uma

referência frequentemente aceite e tão válida ou inválida quanto qualquer outra: três

ou menos linhas é uma citação curta, mais do que três é uma citação longa. O que está

em jogo é apenas a apresentação a dar à transcrição, de forma a corresponder à

preocupação de separar claramente o que é de nossa autoria e o que é dos outros. Se

for uma citação curta é integrada na sequência do texto, havendo o cuidado de a

colocar entre aspas (“”) e citando autor. Se é uma citação longa deve destacar-se do

restante texto, aumentado a margem do lado esquerdo.

Nunca podemos perder de vista que “la tolerancia es un valor perteneciente a la ética

de la convivencia” (VINUESA, 2000: 225) pelo que deve ser analisado nos contextos

sociológico, da convivência entre os homens, e da moral, valores de conduta humana.

Esta é uma citação curta, integrado no texto que estamos a escrever.

Contrariamente ao que se poderia admitir o funcionamento da democracia faz apelo a

outros aspectos diferentes da tolerância:

“Por otra parte, libertad e igualdad, en una sociedad democrática, implican el derecho del otro a tener sus propias opiniones, a expresarlas abiertamente y a actuar de acuerdo con ellas, siempre que nada de ellas interfiera en el

35 Não seguimos a ordem de ECO. Agregamos recomendações diferentes.

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derecho de los demás. Pero esos derechos y libertades no equivalen a la tolerancia; son ajenos a ella. El ejercicio de los derechos efectivos del otro no motiva ni requiere mi tolerancia, sino mi propia subordinación o sujeción al ordenamiento jurídico. Nadie tolera los derechos y libertades de los demás.” (VINUESA, 2000: 265)

Creio que desta forma fica mais claro ...

Esta é uma citação longa, que mereceu o devido destaque.

Se todos os autores estão de acordo com a forma de apresentar as citações curtas, o

mesmo não se passa com as longas. No caso anterior não só de aumentou a margem

esquerda como se reduziu o espaçamento entre as linhas, mas segundo alguns autores

não deveria haver essa diferença entre o que é nosso e o que é dos outros. No caso

anterior, colocámos aspas no início e no fim, mas outros autores consideram que tal

não é necessário (o que concordamos, apesar de usarmos) e outros ainda consideram

categoricamente que não se deve usar aspas, pois já basta a diferente apresentação.

Para além do procedimento aqui adoptado poderíamos ter utilizado outros

expedientes, já que o essencial é garantir uma clara diferença entre o nosso texto e o

dos outros: aumentar também a margem do lado direito; ter um maior espaçamento

entre o nosso texto e a transcrição no início e no fim ou só no fim; utilizar o mesmo

tipo de letra mas com caracteres mais pequenos; ou usar outro tipo de letra.

Se não existem normas estabelecidas na instituição onde está a elaborar a tese ou na

revista para onde está a enviar o artigo – o que é pouco provável – faça como melhor

entender, procurando sempre soluções simples e de formatação habitual. A surpresa

do leitor por qualquer forma de apresentar mais extravagante não é um elogio mas

uma crítica.

SERRANO (SERRANO 1996, p. 119) recorda que há outros aspectos a que se deve

atender:

“Embora a distinção entre transcrições curtas e transcrições longas se baseie fundamentalmente na sua extensão, este não deve ser o único critério usado na opção entre umas ou outras. Outros factores merecem ser considerados:

* Homogeneidade: Se, por exemplo, decidiu que vai considerar transcrição longa todas aquelas que ocupam mais do que quatro linhas de texto, mantenha o critério uniformemente ao longo de todo o trabalho e não apresente citações de três linhas destacadas do texto;

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* Finalidade: Se as transcrições possuem uma relativa autonomia em relação ao texto do autor ou se destinam a ser analisadas comparativamente, apresente-as todas entalhadas, incluindo aquelas que possuem apenas uma ou duas linhas de extensão;

* Atenção do leitor: Um número demasiado grande de transcrições longas distraem o leitor e, quase inevitavelmente, levam-no a saltar essas partes do texto (33). De igual modo, um trabalho repleto de transcrições de tamanho desigual (curtas e em texto; longas e destacadas) levará à dispersão do leitor e neste caso o melhor é apresentar todas as transcrições incluídas no correr natural do texto, mesmo que tenham mais do que dez linhas (25).”

2ª) “As citações devem ser fiéis”

Parece uma afirmação tão facilmente compreensível que pareceria desnecessário

estarmos a referir. E no entanto não é tão simples quanto aparenta e é um princípio

multifacetado.

Em primeiro lugar coloca-se o problema da língua em que devem ser feitas. Se as

citações devem ser fiéis, se uma tradução é sempre uma adaptação ou recriação, as

transcrições devem ser feitas, em princípio, na língua em que estão escritas.

Colocámos “em princípio” porque a aplicação desta regra tem graus da aplicabilidade

diferente conforme as circunstâncias e têm que ser adaptadas a diversos aspectos.

Quando se estuda a obra (literária, filosófica) de um autor estrangeiro é quase

imprescindível lê-lo na língua original e as transcrições devem ser na língua original.

Como seria possível alguém estudar a obra de Pablo Neruda sem o ler em espanhol?

Mas surgem muitas outras situações similares. Será possível alguém estudar a

sociedade chinesa (independentemente da disciplina que se utilize) numa determinada

época histórica sem saber chinês? Se assim fosse apenas seria capaz de conhecer o

que os outros dizem sobre a China e nunca seria capaz de trabalhar a opinião dos

próprios chineses (mesmo que em épocas mais recentes comecem a surgir textos de

autores chineses escritos em inglês). Em síntese em diversas situações é

imprescindível ler textos em línguas estrangeiras (originais ou traduções que

consideramos fidedignas) e se elas são importantes, como nos exemplos anteriores,

para a investigação a tese deve reproduzi-los na língua original. Admitindo que

existem leitores que não conhecem suficientemente essas línguas há toda a

conveniência de em nota apresentar a tradução para a língua em que está escrita a

tese.

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Citar na língua original em que está escrita o texto que transcrevemos e apresentar em

nota a sua tradução parece ser o princípio que mais razoavelmente se deve aplicar em

todas as situações.

Contudo não podemos nunca perder de vista a quem se destina o documento que

redigimos. Se numa tese, de mestrado ou de outro tipo, esse princípio pode ser

aplicado em absoluto, num livro para o grande público tal procedimento surgiria

enfadonho e tenderia a afastar muitos leitores. Então pode-se justificar apresentar a

citação na nossa língua e colocar o texto original em nota ou anexo ou tão somente

apresentarmos apenas a tradução. A referência bibliográfica, que mostra claramente

que se tomou como referência uma obra estrangeira, indica implicitamente que

procedemos à tradução do texto original.

Na nossa opinião tudo o que dissemos anteriormente se aplica a variantes da mesma

língua, apenas com a especificidade de nunca se justificar a “tradução”. Quando muito

pode justificar-se uma qualquer referência à nacionalidade do autor se, e só se, tal não

ressaltar claramente da referência bibliográfica36. Se se deve respeitar ao máximo a

obra de onde estamos a fazer as citações é necessário que:

− assinalemos a supressão de uma qualquer parte do texto colocando (...) ou

[...] em sua substituição.

− assinalemos eventuais alterações introduzidas; por exemplo, se

consideramos que uma determinada frase deve ser assinalada porque é

importante para o nosso trabalho, podemos coloca-la em itálico mas colocando

logo de seguida [itálico nosso].

− os comentários nossos no meio de uma citação devem ser reduzidos ao

mínimo indispensável e devem ser sempre feitos entre [ ].

E se o texto que estamos a transcrever tem um erro (factual, lógico ou

ortográfico)? Na grande maioria das situações basta colocar logo a seguir ao erro

[sic], que significa «deste modo», o que transmite ao leitor que estamos a seguir

estritamente o que estava escrito, que nos apercebemos do erro e que alertamos disso

36 Se, por exemplo, estamos a transcrever um autor brasileiro devemos fazê-lo com o grafismo brasileiro utilizado pelo autor.

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o leitor. Se se trata de um erro ortográfico pode-se a seguir à palavra errada colocar

[palavra certa].

Permitam-me ainda que, a este propósito, retomemos um assunto já abordado. Se eu

estou a fazer a citação de um texto que está numa certa página (chamemo-lhe X) do

livro que tenho na mão, é este livro que tenho que referenciar na bibliografia.

Provavelmente a mesma obra publicadas por outros editores ou por este noutras

edições, tem essa mesma citação noutra página. Assim o rigor da informação obriga-

nos a colocar na referência bibliográfica este livro que temos na mão, incluindo a sua

data de edição. É assim que está certo: depois da citação colocamos uma referência

para a obra que está indicada na bibliografia. Se o sistema utilizado implica colocar

(AUTOR, data, página) podemos ter situações como (ARISTÓTELES, 1987, 23),

(GALILEU, 2004, 15) ou (RICARDO, 1963, 231). Se o leitor perceber claramente

que se trata da data de edição tudo é claro, mas se associar erradamente a data à

eventual criação da ideia, as confusões podem ser muitas. Se receamos estes

equívocos, ou utilizamos um dos outros sistemas bibliográficos atrás analisados ou na

referência bibliográfica no fim do trabalho acrescentamos alguma informação sobre a

data em que essa obra foi inicialmente escrita37.

3ª) “De todas as citações devem ser claramente reconhecíveis o autor e a fonte” e

a “referência ao autor e à obra deve ser clara”

Tudo o que dissemos sobre os sistemas de referência bibliográfica tem por objectivo a

resposta a esta regra e já verificámos há diversas soluções possíveis e, todas elas,

inteiramente satisfatórias.

Implicitamente verificámos igualmente que é incorrecto começarmos por referir que

em determinado assunto seguimos de perto um autor e depois utilizarmos frases e

ideias dele sem uma referência explícita à sua autoria e localização.

37 Um apontamento final. Se utiliza o scanner e algum programa de OCR (programa de reconhecimento dos caracteres ortográficos) para fazer as transcrições não confie demasiado na técnica e não deixe de fazer a revisão dos textos obtidos.

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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 62/77 - Versão 01

Refiramos apenas uma situação que é frequente ponto de confusão: faz-se uma citação

de Y porque no livro de X está essa citação que consideramos interessante para os

nossos propósitos. No fim da citação indico o autor Y ou X?

Esta é uma questão frequentemente colocada. Contudo antes de formularem esta

pergunta haveria uma outra, mais importante, que deveriam formular e à qual deviam

responder: é legítimo tomar em consideração, utilizar, citar um autor que não

consultamos, de que só conhecemos os seus textos através de outro?

A resposta pode ser diferente conforme as circunstâncias: (1) se a posição de Y é

importante para o nosso trabalho devemos consultar directamente a obra de Y; (2) se a

posição de Y não é importante para o nosso trabalho pode ser suficiente conhecê-la

através da obra de terceiros, mas não teremos necessidade em citá-la. Contudo há

algumas situações que não apresentam esta clareza e que exige encontrar soluções

hábeis: se é importante, mas não conseguimos ter acesso ao original38? Então pode ser

legítimo ou conveniente utiliza-lo, apesar de só o conhecermos através de terceiros.

Mas ao fazermos devemos sempre explicitar que a nossa fonte é outro autor, é outra

obra:

Segundo SIMÕES “...” (ALCIBIADES, 1974: 37)

Tenha-se sempre em atenção que “...” (SIMÕES, in ALCIBIADES, 1974: 37)

Tenha-se sempre em atenção que “...” [6]39

Tenha-se sempre em atenção que “...”k

________________

k Afirmação se SIMÕES em A lenda do cavaleiro maldito citada por ALCIBIADES, Lendas

Maléficas, (... restantes informações)

Devemos fazê-lo por honestidade intelectual (“o seu a seu dono”) e para nossa própria

defesa: quem nos garante que a transcrição está correcta? quem nos garante que

38 Esta dificuldade de acesso pode ter diversas razões. A obra citada pode ser um livro que é relativamente raro e difícil de encontrar, pode ser um manuscrito que se encontra geograficamente longe, não está digitalizado e a instituição que o possui não fornece fotocópias, pode ser um disco em vinil que há muito está fora do mercado, etc. 39 [6] refere a obra de ALCIBIADES.

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aquele autor disse efectivamente aquilo? Certamente ficaria espantado com as

desonestidades que existem nestas matérias!

Sublinhemos o que é essencial: Deve-se utilizar os autores importantes em primeira

mão. Mais, “As citações de fontes primárias são feitas, na medida do possível,

com referência à edição crítica ou à edição mais reputada [carregado da nossa

responsabilidade]” (ECO 1980, p. 154)

4ª) Citar apenas trabalhos relevantes

Mais uma afirmação de simples bom senso. Se estamos a citar um autor é

provavelmente porque

1. a(s) sua(s) obra(s), as suas formas de comunicação, são nosso objecto de

estudo e consideramos útil fornecer ao leitor as posições que vamos apreciar

para que ele possa acompanhar-nos mais fácil ou criticamente;

2. é o autor de uma ideia que é relevante para o nosso trabalho e consideramos

por alguma razão (por uma “questão de justiça”, porque “melhor que ninguém

o autor soube apresentar a ideia”, porque temos receio de não interpretarmos

fielmente o que nos deixou, etc.) que é conveniente reproduzi-lo;

3. pretendemos mostrar ao júri, aos leitores, que não estamos sozinhos num

determinado tipo de posições e que outros autores corroboram as nossas

ideias;

4. admitimos que num trabalho interdisciplinar recorramos a diversas áreas do

saber que serão desconhecidas de uma parte dos leitores40.

40 Se estou a escrever um trabalho de linguística admito que os meus leitores têm alguma formação em linguística e que, portanto têm por adquirido, por exemplo, a diferença entre “língua” e “linguagem”. Contudo se a temática ou a forma de a abordar é interdisciplinar poderei ter leitores que têm uma formação disciplinar muito diversa (Física, Biologia, Economia, Filosofia) e que desconhecem aquela “pequena” diferença essencial. Então eu posso sentir a necessidade de elucidar um pouco mais o leitor, tendo o cuidado de não escrever um livro dentro de outro livro. Como proceder? Há diversas formas, frequentemente complementares:

− inclusão de um glossário em anexo;

− alertar para o problema numa nota e remeter o autor que desconhece a diferença para algumas obras fundamentais;

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Não se excluem outras situações, mas certamente se exclui fazer uma citação para

nela colocar o que todos sabem, o que é já do conhecimento corrente, o que é banal.

Um amigo dizia, com razão, que várias citações em teses são do tipo “como disse X o

dia tem 24 horas” ou “como refere L. Testut ‘o corpo humano divide-se em cabeça

tronco e membros’.” (SERRANO 1996, p. 115). Se na maior parte dos trabalhos esta

“citacidite” não surge, nos trabalhos académicos e sobretudo em teses, esta “doença”

ataca frequentemente, atingindo até investigadores que pareciam de boa saúde.

5ª) “Os trechos objecto de análise interpretativa são citados com uma extensão

razoável”

Este é corolário de alguns aspectos já anteriormente referidos. Se estamos a trabalhar

sobre um poema, sobre um romance, sobre uma partitura, sobre um filme41, sobre uma

obra específica; se admitimos que pode haver dúvidas sobre o que o autor estudado

efectivamente realizou; se é aconselhável fornecer ao leitor o essencial das fontes

primárias estudadas, então devemos citá-lo, obviamente de forma clara.

Frequentemente a clareza pressupõe apresentar o texto e (uma parte d) o contexto.

Estas situações conduzem ao que se afirma em epígrafe.

Contudo, se a afirmação é demasiado longo, e não consideramos conveniente fugir a

essa situação, devemos remeter a citação para um anexo e no corpo do texto manter o

mínimo indispensável.

6ª) “A citação pressupõe que se partilha da ideia do autor citado, a menos que o

trecho seja precedido e seguido de expressões críticas”

Mais uma afirmação óbvia.

− colocar em anexo alguns extractos de obras que permitam o leitor obter uma primeira informação correcta sobre o assunto

− etc. 41 Neste caso poderíamos estar a falar de uma tese que em vez de assumir a forma escrita tradicional assumisse a forma multimédia (se a lei o permitir!)

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Faz sentido citarmos um autor que tem as mesmas posições que nós sobre um assunto,

ou semelhantes, apesar dos perigos do argumento de autoridade.

Não faz sentido, por exemplo, estar a defender a tese que o Senhor X é o melhor

treinador de futebol mundial e sem mais colocar a citação de uma obra que defende

que o melhor treinador é, indubitavelmente, o Senhor Y. A apresentação desta posição

divergente, só se justifica se eu a utilizar para a criticar, se a utilizar para reforçar as

minhas posições.

Muitas vezes a referência a autores que têm posições diferentes das nossas faz parte

de uma estratégia de autodefesa ou de convencimento do leitor. Por exemplo, se

sabemos que há forte probabilidade de um certo académico estar no júri da prova de

doutoramento e conhecemos que existem fortes divergências entre nós e ele, porque

não “fazer uma jogada de antecipação” e tecer a crítica a autores que lhe são

queridos? Se sabemos que a nossa interpretação de uma dado fenómeno social não é o

apresentado habitualmente pelos meios de informação e que a opinião pública é

diversa, porque não, aqui e além, partir dessas posições generalizadamente aceites

para mostrar a sua inconsistência?

Em algumas circunstâncias a forma do documento em elaboração pode ser bastante

ajustada a este tipo de preocupações.42

7ª) Uma citação pressupõe a nossa capacidade de demonstrar que os autores

referidos são dignos de crédito e que as citações também.

Um “intelectual da nossa praça” dizia-me que em polémicas em que começa a ser

difícil defender as suas posições afirma com ar sério e convicto “Como disse Senhor

K, ...”. O truque resultava apesar do Senhor K não existir, ter sido inventado por ele

na ocasião. E acrescentava: “nunca ninguém se atreveu a perguntar quem era o senhor

K; as pessoas têm receio de mostrar ignorância”. Aqui está uma atitude altamente

repreensível em todos os aspectos mas que mostra a importância deste princípio.

42 Recordem-se os diálogo de Platão e como eles são particularmente ajustados para “esgrimir argumentos”, para partir de posições contrárias às nossas e mostrarmos a maior correcção destas. Não serão alguns romances magistrais obras sociológicas, conseguindo conduzir o leitor para posições que dificilmente alcançariam de outro modo?

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Não só as citações devem ser de autores existentes, como de autores que merecem

toda a credibilidade. Por outras palavras, o autor citado foi seleccionado entre vários

em resultado de um processo de investigação; não foi o acaso que levou a

encontrarmos uma determinada obra que utilizámos. Sabemos que as nossas

capacidades de leitura e a razoabilidade de referências bibliográficas e de citações faz

com que ao optarmos por alguns autores estamos a colocar outros de lado: não basta

sabermos o que ganhamos com esses autores, mas também o que perdemos em não

utilizar outros (o que os economistas chamam “custo de oportunidade”).

Também devemos estar em condições de defender a nossa escolha entre as diversas

versões, revisões e edições de uma determinada obra. Porque escolhemos a gravação

da Nona Sinfonia de Bethoven dirigida por um determinado maestro, gravada por uma

determinada editora num determinado ano? Porque escolhemos uma determinada

publicação e edição da Critica da Razão Pura de Kant?

Nada deve acontecer por acaso. Tudo deve ser o resultado criterioso das opções que

mais se ajustam à investigação que pretendemos realizar.

Se as regras anteriores forem seguidas escrupulosamente há menor probabilidade de

plágio, mal ele pode continuar a existir, até porque tanto pode surgir na citação como

na paráfrase como ainda no texto original que escrevemos.

Este tema exige algumas considerações adicionais, até porque

“Os critérios que separam uma utilização legítima e frutuosa do trabalho de outrem de um plágio infame são ligeiramente (só ligeiramente) diferentes de época para época, de sector para sector. Os professores de literatura ensinam-nos que em épocas passadas era frequente, e era considerado normal, reelaborar assuntos e temas já desenvolvidos por outros autores (a famosa contaminatio). Hoje pensa-se de maneira diferente. O que está agora consolidado é o princípio de que também existe uma propriedade intelectual e de que não é lícito desfrutar o trabalho resultante do engenho de outro sem se pedir a autorização do autor e sem se dividir com ele (ou com os seus herdeiros) os benefícios morais (e materiais). Nem sempre aquilo que é estritamente legal é também moralmente lícito.” (PALMARINI 1992, p. 273/4)

A interpretação do que é plágio alterou-se ao longo dos anos, mas o que conta para

nós é a situação actual. E o seu significado é claro. Plágio é “roubo literário ou

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científico”, “acto ou efeito de plagiar”; plagiar é “apresentar como seu aquilo que

copiou ou imitou de obras alheias” (COSTA and MELO 1994, p. 1407).

Se por vezes os dicionários não são suficientemente adequados para determinadas

abordagens, estas explicitações são bastantes ajustadas e precisas. Partindo delas

começaríamos por referir dois aspectos:

− Não há qualquer referência à intencionalidade.

− Trata-se do roubo de uma ideia, que pertence aos campos literário ou

científico, e não de um texto.

A ausência de referência à intencionalidade nas definições é importante, porque o

argumento mais habitual utilizado pelo plagiador é “não era minha intenção”, “foi um

descuido involuntário”, “não me apercebi que estava a fazer plágio”. Já encontrámos

argumentos mais descarados (“como poderia fazer a tese se não recorresse às ideias

dos outros?”; “nunca admiti que percebesse que esse texto não era meu”, etc.) e até

construções maquiavelicamente montadas (onde o plágio era bastante mais difícil de

detectar), mas na maioria das situações o plágio resulta de improvidências, que podem

ser de diversos tipos:

(1) Atreveu-se a fazer uma tese, a elaborar um trabalho científico, sem nunca se ter

preocupado em ler algum trabalho sobre metodologia da investigação e técnicas de

redacção, orgulhosamente ignorantes da sua ignorância, admitindo que um tal

trabalho é um simples prolongamento dos trabalhos que realiza no seu local de

trabalho (onde frequentemente também há plágio, mas que não tem sanção). No

extremo desta situação o pretenso investigador nem sequer sabe o que é plágio, que

ele existe e que evitá-lo deve ser uma das suas grandes preocupações.

(2) Pensam que o plágio refere-se exclusivamente às citações. Então substituem

espontaneamente esta pela paráfrase e julgam que estão libertos da obrigação de

referir o autor da ideia. Não se apercebem de duas coisas importantes: (a) o plágio

refere-se à ideia; (b) as referências bibliográficas não reduzem a importância do seu

trabalho (“afinal, as ideias que apresentam não são dele”), mas, antes pelo contrário,

aumentam-na (“fez uma boa investigação”, “soube aproveitar o que já tinha sido

descoberto”, “teve honestidade intelectual”, “comportou-se com modéstia”)

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Se tivesse copiado

“Já no que respeita à poesia o discurso é muito diferente, estando hoje tão posta de parte na vida quotidiana que se tornou um «objecto de consumo» quase exclusivamente escolástico.”

talvez se sentisse na obrigação de citar o seu autor, mas se optou por escrever

no que se refere à poesia a situação é bastante diferente, pois ela não faz parte da nossa vida quotidiana, pelo que se tornou um bem de consumo, usufruído escolasticamente

considera que o texto já é seu.

(3) Foi um estudioso criterioso e atento e fez fichas de leitura das obras lidas. Nessas

fichas de leitura colocou, sem uma ordem pré-estabelecida, um resumo da obra,

algumas das citações que considerou mais relevantes – colocando a indicação da

página de onde as tirou – e comentários seus. Contudo não foi suficientemente

minucioso e houve uma citação em que não colocou o número da página. Porque esse

era o único elemento diferenciador entre as citações e os seus comentários, quando

passados anos ou meses repegou na ficha de leitura admitiu que era uma apreciação

sua.

(4) Teve consciência que a ideia utilizada era de outro, mas como essa ideia foi obtida

por um processo diferente da leitura (opinião de um especialista, entrevista na rádio,

etc.) teve dificuldade em explicitar quem lhe transmitiu. Perante a dificuldade, perante

esse entendimento restrito de bibliografia, quiçá admitindo que a ausência de escrita

diminuiria os seus riscos, “deixou cair”.

Eis algumas situações de plágio que não são “inteiramente intencionais”, mas que

objectivamente são tão graves como as intencionais. Assim como a ignorância da lei

não justifica o seu incumprimento, também a ausência de intencionalidade não

justifica o seu perdão. Quando muito poderá permitir um comportamento diferente da

parte do orientador na fase de investigação e redacção.

Temos de ter clara consciência da gravidade que hoje representa o plágio:

“Nos meios académicos, o plágio é uma ofensa muito séria; só a invenção de dados é considerada mais grave. Quando o plágio é comprovado numa universidade de prestígio, a sanção é única: professores são demitidos, graduados perdem seus diplomas, e estudantes são expulsos (...). Fora da academia, o plagiário arrisca-se a cair no descrédito e a ser levado perante o

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tribunal face a exigências para compensar o autor legítimo pelos danos sofridos” (COUGHLIN and LANGA 1997, p. 220)

Acrescente-se ainda – na medida em que o aumento da probabilidade de o ladrão ser

apanhado aumenta o seu receio em roubar – que é bastante fácil detectar que estamos

perante um plágio (pelo estilo da escrita, pela terminologia, pelo assunto tratado e seu

enquadramento, por transmitir uma informação que não pode resultar da investigação,

etc.), embora seja por vezes mais difícil detectar donde foi feito (uma ideia não

apresenta o princípio da exclusão: a utilização por um não impede a utilização por

outro, antes pelo contrário!). Contudo também a sua detecção é quase sempre possível

e hoje há alguns meios bastante eficientes para o conseguirmos.

Fujam, pois, do plágio como “o diabo da cruz”.

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