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Redação Acadêmica Descomplicada Esta série de artigos começou em uma página do Facebook do mesmo nome, com algumas dicas sobre os problemas mais frequentes que tenho encontrado como orientador de monografias de final de cursos de graduação e pós-graduação (presenciais e on-line), em universidades públicas e particulares. A abordagem é bastante peculiar, informal, o que não é comum em textos acadêmicos. Acho que assim o texto fica mais fluido e menos "sério", mas sei também que tal estilo pode não agradar a todos. Por isto, peço desculpas antecipadas, mas espero que o conteúdo, bem como a clareza e a exatidão das informações, sejam avaliados antes do estilo. A página ainda está disponível. Continuo alimentando a página com algumas dicas de tempos a tempos, mas, devido a particularidades das postagens no Facebook, não é possível colocar formatação no texto, o que não me permite ilustrar muitas situações como eu gostaria. Sendo assim, resolvi compilar os posts de lá em um documento único, este que aqui está. Sempre que eu colocar novo post na página, vou atualizar este arquivo com a nova inclusão. Ao final da última página deste arquivo, estará indicada a data de atualização. Se você baixar o arquivo, basta ver se a data é a mesma da última versão baixada ou mais recente. A data de atualização também estará indicada aqui no site. Além disso, avisarei na página do Facebook quando houver nova atualização deste arquivo, o que também ficará óbvio com uma nova postagem lá. A página do Facebook é esta: https://www.facebook.com/Reda%C3%A7%C3%A3o-Acad%C3%AAmica-Descomplicada-Dicas-do-Z%C3%A9-212292342477598/?ref=aymt_homepage_panel Se alguém tiver comentários, se detectarem erros, ou se tiverem dúvidas ou sugestões, utilizem o endereço de e-mail a seguir (por favor, coloquem no assunto do e-mail REDAÇÃO ACADÊMICA DESCOMPLICADA, para me facilitar): [email protected] Espero que gostem e que os temas aqui abordados sejam úteis. Divulguem, caso achem interessante. José Manuel da Silva Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4791522D9 Atualizado em 19 de janeiro de 2018.

Redação Acadêmica Descomplicada · disso [1] Bem, se você escreve assim no zap, no chat, tudo bem. Pra mim isso é um troço meio descerebrado, mas nessas mídias é esperado

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Redação Acadêmica Descomplicada

Esta série de artigos começou em uma página do Facebook do mesmo nome, com algumas dicas sobre os problemas

mais frequentes que tenho encontrado como orientador de monografias de final de cursos de graduação e pós-graduação

(presenciais e on-line), em universidades públicas e particulares.

A abordagem é bastante peculiar, informal, o que não é comum em textos acadêmicos. Acho que assim o texto fica

mais fluido e menos "sério", mas sei também que tal estilo pode não agradar a todos. Por isto, peço desculpas antecipadas,

mas espero que o conteúdo, bem como a clareza e a exatidão das informações, sejam avaliados antes do estilo.

A página ainda está disponível. Continuo alimentando a página com algumas dicas de tempos a tempos, mas, devido

a particularidades das postagens no Facebook, não é possível colocar formatação no texto, o que não me permite ilustrar

muitas situações como eu gostaria. Sendo assim, resolvi compilar os posts de lá em um documento único, este que aqui está.

Sempre que eu colocar novo post na página, vou atualizar este arquivo com a nova inclusão. Ao final da última página

deste arquivo, estará indicada a data de atualização. Se você baixar o arquivo, basta ver se a data é a mesma da última

versão baixada ou mais recente. A data de atualização também estará indicada aqui no site. Além disso, avisarei na página do

Facebook quando houver nova atualização deste arquivo, o que também ficará óbvio com uma nova postagem lá.

A página do Facebook é esta:

https://www.facebook.com/Reda%C3%A7%C3%A3o-Acad%C3%AAmica-Descomplicada-Dicas-do-Z%C3%A9-212292342477598/?ref=aymt_homepage_panel

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a seguir (por favor, coloquem no assunto do e-mail REDAÇÃO ACADÊMICA DESCOMPLICADA, para me facilitar):

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Espero que gostem e que os temas aqui abordados sejam úteis.

Divulguem, caso achem interessante.

José Manuel da Silva Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4791522D9 Atualizado em 19 de janeiro de 2018.

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Penduricalhos Oracionais Meninos e meninas, vamos começar com um problema que não tem nome oficial (pelo menos eu desconheço), e que pode ser chamado de "fragmentos", ou, como eu prefiro chamar, "penduricalhos oracionais". Mas comecemos do começo. Num zap da vida, a gente pode escrever assim: isto se encontra na primeira publicação do autor que nasceu no rio de janeiro embora poucos saibam disso [1] Bem, se você escreve assim no zap, no chat, tudo bem. Pra mim isso é um troço meio descerebrado, mas nessas mídias é esperado. [Na verdade, é assim que se digita em muitos locais da Web. Para quem quiser se aprofundar nisso, recomendo leituras sobre "gêneros textuais".] Agora, num trabalho acadêmico, provavelmente muita gente escreveria assim: Isto se encontra na primeira publicação do autor. Que nasceu no Rio de Janeiro. Embora poucos saibam disso. [2] Dá pra notar que "Que nasceu no Rio de Janeiro." e "Embora poucos saibam disso." estão soltos? Pois é... isso não é bem visto em trabalhos acadêmicos. É isso que eu chamo de penduricalhos oracionais... Em trabalhos acadêmicos a gente usa uma coisa chamada "frase", ou "sentença"; é a mesma coisa. Deem uma googlada nisso. E vejam também o termo "oração". Eu sei que o tempo de pesquisa no Google daria pra enviar uns dez nudes, dar like em 10 canais do Youtube e stalkear uns dez crushes, mas vamos fazer um esforço, tá? Tem um outro negócio chamado de "gramática da língua portuguesa", que é um livro grosso e chato, mas que – acreditem – pode ser ultra mega blaster útil. Pesquisem lá. Enfim, essa parada alienígena chamada frase, para efeitos de redação acadêmica, tem sujeito, verbo e predicado. Há variações, mas por enquanto vamos fingir que não há. Voltando: em textos acadêmicos a gente vai usar sempre o conceito de frase, tá? No exemplo acima, a gente teria diversas possibilidades: ou a gente transforma tudo numa só frase; ou a gente junta os dois primeiros trechos e cria uma frase para o terceiro; ou algo semelhante. Só não pode é ficar essa festa de fragmentos sem sujeito, verbo e predicado. [Existe um caso em que esse tipo de construção pode ser usado, mas não vou falar disso agora.] Possíveis soluções para o exemplo: Isto se encontra na primeira publicação do autor, que nasceu no Rio de Janeiro. Entretanto, poucos sabem disso. [3] Isto se encontra na primeira publicação do autor. Ele nasceu no Rio de Janeiro, embora poucos saibam disso. [4] Isto se encontra na primeira publicação do autor, que nasceu no Rio de Janeiro, embora poucos saibam disso. [5] Isto se encontra na primeira publicação do autor. Ele nasceu no Rio de Janeiro. Poucos sabem disso. [6] Existem fragmentos começados por outras palavras, o que também deve ser evitado. Vejamos alguns exemplos: É o que afirma o autor. Respondendo aos críticos. [7] É o que afirma o autor. Ainda que seja questionado por outros. [8] É o que afirma o autor. Porque isso está em seus livros. [9] Está claro que a segunda parte está sempre solta, certo? Então tentem juntar, nos exemplos acima, cada dois pares em um. Para fazer isso, às vezes será preciso modificar a sintaxe da primeira parte, da segunda, ou das duas. Ah, não lembram o que é sintaxe? Hmmm isso fica pra outra vez, mas vão googlando aí, procurando nas gramáticas... Lembrando: em textos acadêmicos, em geral a gente usa a norma culta, embora isso esteja sendo questionado por alguns pesquisadores. Até que haja nova orientação, vamos funcionar assim, tá? [Não fui eu quem fez as regras!] De qualquer forma, vale uma regra geral: sempre consulte seu/sua orientador/a. Fui por agora.

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Mas tem que ser tão rígido assim pra escrever?

Me perguntaram [ihhhh já começou mal... pronome oblíquo antes do verbo em início de período... sei não... será que esse cara é confiável?!], bem, dizia eu antes de ser rudemente interrompido pelo meu outro eu, o crítico mala, me perguntaram se para escrever textos acadêmicos a gente tem que ser tão rígido assim, seguir a norma culta ao pé da letra. Esse é um assunto complicado e dá muita discussão. Existem pessoas estudando isso, e já há um consenso segundo o qual a coisa está sendo flexibilizada. Recomendo os trabalhos do professor Marcos Bagno (e outros) nesta área. Para se ter uma ideia do que está sendo discutido por aí, recomendo esta entrevista dele – O português brasileiro precisa ser reconhecido como uma nova língua. E isso é uma decisão política (Disponível em: <http://www.jornalopcao.com.br/entrevistas/o-portugues-brasileiro-precisa-ser-reconhecido-como-uma-nova-lingua-e-isso-e-uma-decisao-politica-37991/>. Acesso em: 14 fev. 2017.). É um texto longo, mas muuuuuuuito necessário. Leiam com a cabeça aberta, sem preconceitos, sempre lembrando que a língua é dinâmica... Na prática, isso vai depender muito do que se escreve, para quem/onde se escreve e se há supervisão/orientação ou não. Vejamos dois casos possíveis e o que eu recomendo. Vejam bem: é o que EU recomendo; outras pessoas igualmente experientes podem recomendar outra coisa.

1. Há supervisão/orientação direta Neste caso, tudo fica mais fácil e se resume ao seguinte: pergunte ao orientador / à orientadora. Simples. Ele/Ela vai dizer o que fazer, uma vez que conhece os caminhos por onde passará o texto depois de pronto e como ele será julgado. Isso vai depender – e muito – da instituição, do departamento, da publicação, do/a orientador/a...

2. Publicações em geral, sem supervisão/orientação direta Primeiramente, veja se há normas de redação para os textos a serem publicados. Se houver, veja se as normas tocam nesse ponto. Dificilmente isso será abordado nas normas de publicação, mas não custa verificar. Se não houver normas ou se elas não falarem nisso, tente dar uma olhada nos textos já publicados pela revista, anais do congresso, monografias da mesma instituição, ou seja o que for. Analise o tipo de texto destas publicações e você já terá uma ideia do grau de formalidade ou informalidade ou neutralidade a ser utilizado.

Mas afinal o que você recomenda, Zé? Vai ficar em cima do muro? Vô não. Olha só, tipo assim, então... Se não for o caso de haver supervisão/orientação direta, recomendo SEMPRE utilizar a norma culta, e pronto. Não se trata daquele texto rebuscado – em português castiço, como diriam os antigos –, mas um texto com registro neutro/formal, sem coloquialismos, sem o que alguns chamam de vícios de linguagem, e respeitando as regras mais comuns do português culto. Minha lógica é a seguinte: nunca se sabe quem vai ler teu texto – pode ser alguém mais liberal linguisticamente ou alguém mais conservador. Vão te julgar a partir do teu texto; isso é inevitável. Por isso, em minha opinião, é melhor ser julgado como alguém que escreve mais formalmente do que alguém que "não sabe escrever". Sempre recomendo a meus orientandos que utilizem a norma culta; assim a gente cobre todo o espectro de julgamentos possíveis. Repetindo: não precisa ser aquele texto formalíssimo, altamente sofisticado, mas um texto neutro/formal, bem estruturado, coeso, coerente e que possa ser lido por qualquer pessoa da área. Não acho que aqui seja o local para rebeldias linguísticas, especialmente quem está começando; deixa para quando vocês forem celebridades como eu. #sqn :-) Em termos práticos, atenção à concordância, pontuação, acentuação (conhecer a fundo o novo Acordo Ortográfico é um must) e à digitação já faz uma grande diferença. Coloquialismos, gírias e vulgaridades devem ficar de fora. Manter contato com um bom professor ou professora de língua portuguesa é aconselhável para as horas de desespero. E ter uma boa gramática à mão é imprescindível, além de publicações específicas sobre língua portuguesa e redação acadêmica. Cuidado com a web: tenha certeza de que o site é confiável em termos de informação linguística. Não recomendo resuminhos, listinhas, manuais e que tais. Recomendo ir direto à fonte. "Ah, mas consultar gramática toma tempo, é um saco, tem muita informação... tem muita coisa mais rápida na internet." Se você pensa assim, recomendo sinceramente trocar de profissão. Escrever e pesquisar não são a sua praia. Simples assim. Boa sorte em sua nova vida. Para quem não está acostumado a redigir este tipo de texto, recomendo que peça a alguém mais experiente para ler e dar sua opinião. Aos poucos, assimilam-se as informações e o texto vai ficando melhor. A humildade é necessária aqui. Anote tudo que for descobrindo, para não fazer as mesmas perguntas duas vezes à mesma pessoa. Isso enche o saco e demonstra que o interesse em aprender é zero. Dia desses coloco aqui uma lista de referências. Muitos professores, orientadores e linguistas terão opinião diferente da minha, e isso faz parte do mundo acadêmico. Por isso eu disse acima: perguntem, indaguem, vejam as normas de publicação, conversem, pesquisem. No fundo, cada caso é um caso (eita clichê!). Eu funciono assim, e até agora vem dando certo; pode ser que eu tenha que utilizar outra abordagem no futuro. Sem problemas. Mas o que apontei aqui não é a única possibilidade. Cada orientador/a tem sua visão da redação acadêmica, e cada instituição/publicação tem suas particularidades. Se não houver orientação em algum caso específico, minha recomendação é a norma culta. Sempre. Bons escritos pra vocês!

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É muita regrinha! Essa ABNT é uma frescura só! Não sei pra que tanta regra! Palhaçada! PoiZé... [sic] Também já pensei assim... E em parte é verdade: é muita regrinha, muito detalhe, parece tudo desnecessário – e absurdo. Muita coisa talvez seja mesmo, mas o fato é que o meio acadêmico tem seu "código de comportamento", e uma das regras é seguir à risca as normas de redação. Mas se a gente parar para analisar a coisa racionalmente, ela até que faz sentido. Vejamos. Em princípio, quando se escreve um trabalho acadêmico (artigo, monografia, dissertação, tese, entre outros), ele se destina a uma comunidade de pessoas daquela área, à chamada "comunidade científica" ou "comunidade acadêmica". Só que essa comunidade de especialistas, ainda mais depois da tal globalização, não se resume à cidade onde se publicou aquele artiguinho naquela revistinha daquela universidadezinha. Em tese, qualquer especialista de qualquer parte do mundo, interessado naquele tema, pode vir a ter contato com o tal artiguinho. E olha: isso não é raro não! Principalmente se a publicação ficar disponível on-line. Sua monografia defendida em uma faculdade do Rio de Janeiro pode ser lida por universitários de outra cidade, outro estado e outro país. Acreditem: isso acontece mais frequentemente do que supõe nossa vã filosofia [sempre fico revoltado com isso: no original de Shakespeare não tem nada de "vã"!]. Agora vamos pensar o seguinte. Eu, que me acho O cara, resolvo publicar meu artigo sobre Machado de Assis com uma linguagem coloquial, cheia de gírias, regionalismos, do jeito que eu converso com meus colegas da academia na hora do café, ignorando as normas da ABNT, apresentando as referências do jeito que eu achar que deve ser, e por aí vai. Ora, vamos supor que eu me torne um cara conhecido na área e que vá apresentar meu trabalho no Japão, para um grupo de pesquisadores da obra do Machado. Eles aprenderam português lá no Japão; provavelmente eles terão alguns problemas para entender meu artigo, pois estão acostumados com o português padrão, com as normas internacionais de redação acadêmica (muita coisa muda de país para país, mas o grosso da coisa é bem semelhante). Não vai ser tranquilo nem favorável pra minha reputação. O mesmo vai acontecer aqui no Brasil, pois minhas publicações serão bem diferentes do padrão utilizado pelos pesquisadores da área. Pode ser que eu não tenha problema com isso, mas agora imaginem que todos fazem a mesma coisa. Pensa uma quantidade infinita de textos acadêmicos, cada um diferente do outro, alguns até difíceis de entender... Uma zona! Daí a necessidade de padronização. Faz todo sentido. E a padronização se refere ao modo como se escreve (a língua propriamente dita, em tese a norma culta desta língua), à formatação (margens, fontes, espaçamento, etc.), e às normas específicas de apresentação (as famigeradas normas da ABNT para citações, referências, e outros quesitos mais). A lógica é: se todos apresentarem seus trabalhos da mesma maneira (ou o mais próximo disso possível), ficará mais fácil para que a comunidade acadêmica do mundo inteiro interaja. Fica mais tranquilo e mais favorável para todos. Por isso as normas da ABNT e a necessidade de segui-las, bem como as regras da redação acadêmica. Faz sentido, né? Fazer, faz, mas a vida não é simples. Vejamos. Seria esperado que as normas da ABNT fossem seguidas por todas as universidades e publicações do país. Só que isso não acontece. Algumas instituições (e publicações) têm suas próprias normas de redação. Só com isso, já foi pro ralo metade da tal padronização. Não é tão grave assim para quem escreve; basta seguir as normas da instituição. E neste caso, as diferenças estarão mais nos detalhes da formatação e apresentação; as normas do uso da língua em geral permanecem as mesmas. Menos mal. Particularmente, acho um absurdo as normas da ABNT serem pagas (vejam lá no site – Disponível em: < http://www.abntcatalogo.com.br/ >. Acesso em: 14 fev. 2017.), mas muitas universidades têm estas normas em sua Biblioteca. Procurem lá. De um modo ou de outro, elas podem ser encontradas. Sempre tem alguém que as possui. Mas o problema maior, a meu ver, é que as normas da ABNT não são completas. Muita coisa não está lá, e a gente acaba tendo que "deduzir". Por exemplo, eu nunca consegui encontrar nas normas da ABNT uma decisão final sobre usar ou não o itálico em termos latinos que aparecem em textos acadêmicos (et al., sic, op. cit., apud). Pode ser que esteja lá, mas eu ainda não encontrei. No entanto, percorrendo as normas, observei que estes termos sempre aparecem sem itálico nos exemplos e no texto. Dedução ultrainteligente de minha parte – não se usa itálico! Um gênio, eu. E esse tipo de incoerência é recorrente. Aí a gente consulta quem tem mais experiência, o/a orientador/a, documentos, livros, artigos, websites confiáveis, os espíritos, as divindades da redação acadêmica, os orixás, a mãe (mãe é pra essas coisas) e, caso não se encontre nada, a gente faz do nosso jeito. Mas fiquem tranquilos: são poucos os casos em que teremos que improvisar. São muitos os casos em que não encontraremos a solução de pronto, mas na grande maioria deles, alguém já teve essa dúvida e já sabe como resolvê-la. É preciso correr atrás. Resumindo: é importante SIM seguir as normas, pois, afinal de contas, fazemos parte de uma comunidade acadêmica. Ou seja, não se trata de algo ilógico ou esdrúxulo ou esotérico ou paranormal ou desvairado. Tem sua razão de ser. [Aqui entre nós, poderia haver mais flexibilidade, mas já que não há, vamos aceitar que dói menos.] Espero ter ajudado, mas a melhor dica vem agora: se não souberem, perguntem ao/à orientador/a. Ele/Ela que se vire. :-( Se não houver orientador/a, aí desejo boa sorte. Muito boa sorte. Muito boa sorte mesmo! Vocês vão precisar... :-)

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Pode usar o/a/os/as mesmo/a/os/as pra não repetir o que já foi mencionado? Pode. De boa. Vejamos as seguintes frases: Os alunos conseguiram adiar a prova, o que vai ser muito bom para os mesmos. [1] Os alunos conseguiram adiar a prova, o que vai dar mais tempo para os mesmos estudarem. [2] A professora abaixo assinada reitera que não participou do processo; a mesma, portanto, não pode ser responsabilizada pelas consequências do mesmo. [3] Em termos de norma culta, não há problema com o uso dos pronomes demonstrativos. Vejamos o que o mestre Bechara diz, quando fala de pronomes demonstrativos [BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 17. ed. Atualizada pelo novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira / Lucerna, 2009. p. 168.]:

Alguns estudiosos, por mera escolha pessoal, têm-se insurgido contra o emprego anafórico do demonstrativo "mesmo", substantivado pelo artigo, precedido ou não de preposição, para referir-se a palavra ou declaração expressa anteriormente. Não apresentam, entretanto, as razões da crítica:

"Os diretores presos tiveram habeas corpus. Apareceu um relatório contra os mesmos, e contra outros..." [MA apud MMc. 1, 274]. "Costuma-se escrever dentro dos livros, na folha de guarda, palavras alusivas aos mesmos" [E. Frieiro apud MMc. 1].

Para estes críticos, "o mesmo", etc., deve ser substituído por "ele", etc. Talvez por isso E. Frieiro, na 2ª edição, alterou seu texto para: "Costuma-se escrever dentro dos livros, na folha de guarda, palavras a eles alusivas".

Ou seja, pode-se utilizar a expressão sem problema em textos acadêmicos, com o aval do Bechara (precisa dizer mais?). O que acontece aqui é uma questão estilística. Algumas pessoas acham "feio", ou dizem que "soa mal" usar esse tipo de expressão (eu já fui assim!). Respeita-se, mas somente enquanto opinião pessoal. Agora, dizer que está errado, que a norma culta condena, que isso e aquilo – não procede. Meça suas palavras, parça! Não gostar é uma coisa; dizer que está errado é outra. Pessoalmente, acho mais econômico substituir esse tipo de expressão por um pronome do tipo "ele/a", "eles/as", ou repetir o que já foi expresso anteriormente, não por achar feio ou indevido ou incorreto, mas por mera clareza, especialmente em períodos longos. Mas isso é problema meu. É o meu estilo. Posso até comentar sobre o assunto com um/a orientando/a, mas se ele/a gostar da forma, isso é um problema estilístico dele/a. Se não gosta, idem. Sem crise. "Mas peraí, Zé: você postou numa página do Facebook um meme com a Bela Gil dizendo que a gente pode substituir 'o mesmo' por 'ele'. Não é uma contradição com o que você acabou de dizer?" Não exatamente. Vejamos. Em primeiro lugar, o meme diz que a gente "pode" substituir, não que a gente "deve" ou "tem que" substituir (além do que não deve ter sido ela que falou isso...). Mas eu postei esse troço por outra razão: para mostrar que POUQUÍSSIMA coisa que é veiculada na internet é CONFIÁVEL. Como já disse em outro post, quer saber o que fazer? Vá até a fonte. Pergunte a quem sabe. Consulte textos de referência e confiabilidade comprovada. Especialmente para redigir textos acadêmicos. Mais especialmente no tocante à norma culta. Confiar no que aparece na internet, em redes sociais, em resuminhos, em listinhas, em conselhos às vezes assinados por celebridades ou especialistas (dificilmente a autoria é deles mesmos – olha o mesmo aí de novo, gente! mas aqui tem outro valor; vão lá ao Bechara pra ver isso melhor...), em frases de efeito, em blogs, em websites (no caso destes dois últimos, depende)... não recomendo. Jamais. Espero que tenham gostado do texto; o mesmo teve o intuito de ajudar. :-)

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Este, esse, etc. Uma aluna me pergunta a respeito do uso de "este" e "esse". Vamos lá, sempre lembrando que minha abordagem aqui é a da norma culta, pois na grande maioria dos casos ainda é a versão da língua mais exigida em trabalhos acadêmicos. Vamos primeiro de gramáticas tradicionais. Bechara (2009) fala disso no item "Pronomes demonstrativos" (p. 167), que "são os que indicam a posição dos seres em relação às três pessoas do discurso". Sua localização pode ser no tempo, no espaço ou no discurso. Seus exemplos:

1ª pessoa: este, esta, isto 2ª pessoa: esse, essa, isso 3ª pessoa: aquele, aquela, aquilo

"Este livro" é o livro que está perto da pessoa que fala; "esse livro" é o que está longe da pessoa que fala ou perto da pessoa com quem se fala; "aquele livro" é o que se acha distante da 1ª e da 2ª pessoa.

O autor alerta para o fato de nem sempre se utilizarem tais pronomes com "este rigor gramatical", muitas vezes interferindo "situações especiais que escapam à disciplina da gramática", mas não apresenta exemplos para estas situações especiais. Cunha e Cintra (1985) começam na mesma linha de Bechara, apontando a "função dêitica", ou seja, "a capacidade de mostrar um objeto sem nomeá-lo". Vão além, abordando a "função anafórica", ou seja, "para lembrar ao ouvinte ou ao leitor o que já foi mencionado ou o que se vai mencionar". (p. 319). Apresentam os exemplos:

A ternura não embarga a discrição nem esta diminui aquela. [1] O mal foi este: criar os filhos como dois príncipes. [2]

Em [1] temos uma anáfora, por se referirem "esta" e "aquela" ao que já foi dito; em [2] temos uma catáfora, por se referir "este" ao que ainda vai ser dito. A exemplo de Bechara, os autores também lembram que essas regras não são "rigorosamente obedecidas na prática". É possível utilizar "este, esta, isto" onde seria de esperar "esse" ou "aquele". Para eles, este caso é mais comum na "linguagem animada" [linguagem figurada]. (p. 322). Vejamos alguns dos principais casos particulares apontados pelos autores. 1. "Este (esta, isto)" é a forma de chamar a atenção para o que dissemos ou vamos dizer (é o que foi apontado em [1] e [2]) (p. 323): "Está na minha hora." Dizendo isto, despediu-se e saiu. [3] Minha dúvida é exatamente esta: como resumir o problema. [4]

2. "Para aludirmos ao que por nós foi antes mencionado, costumamos usar também o demonstrativo 'esse' ('essa, 'isso')". (p. 323).

O sujeito ficava imitando o pai. A isso eu chamava doença. [5]

Aqui as coisas aparentemente se complicam. Os itens 1 e 2 acima parecem estar em contradição. E estão mesmo. Concluímos o óbvio: podemos usar "este ou isto" ou "esse, isso" para designar o que foi dito antes, ou seja, para indicar uma anáfora. Pelo menos, é o que se deduz do que dizem os autores, significando que a norma culta abona tanto um quanto o outro uso. Minha recomendação, apenas por uniformidade, é utilizar uma só forma em todo o texto, para o mesmo caso. Em outras palavras, se você começar por se referir a algo já dito ou a ser dito com "este, esta, isto", vá assim até o final, sem alternar com "esse, essa, isso". 3. "Esse" ("essa, isso") é empregado para nos referirmos ao que disse nosso interlocutor.

A: Tudo que você diz é complicado. B: Com isso sou obrigado a concordar. [5] A: É melhor parar de estudar agora e ir dormir. B: Vou fazer isso mesmo. [6]

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7 Este caso (poderia ter dito aqui "esse caso") é diferente do item 2, pois aqui se trata do que alguém disse. É como se fosse um resumo do que o interlocutor falou. 4. "Em certas expressões o uso fixou determinada forma do demonstrativo, nem sempre de acordo com o seu sentido básico. É o caso das locuções: 'além disso', 'isto é', [...] 'por isso' (raramente 'por isto'), 'nem por isso'." (p. 324). Isto (ou isso) é muito importante: trata-se aqui de expressões consagradas; em princípio, em termos de norma culta, não podemos mexer nelas. 5. "Esse" é usado para determinar o aposto, em geral quando este salienta uma característica marcante da pessoa ou do objeto. (p. 325).

José, esse professor admirável, em sua infinita modéstia, sempre tem algo fantástico a dizer. [7]

6. "Observe-se também a ocorrência de dois demonstrativos em construções nas quais o predicativo introduzido por 'aquele' melhor esclarece o sujeito, expresso por um substantivo determinado por 'este' ou 'esse'." (p. 326).

Este homem foi aquele que me disse para não chegar perto do acidente. [8] Esses atos são aqueles que os psiquiatras designam como sociopatia. [9]

Podem-se usar "o, a, os, as" em lugar de "aquele, aquela, aqueles, aquelas" nestes casos. Os autores abonam o uso e apresentam diversos exemplos. (p. 331-332). 7. Quando se quer aludir a mais de um termo já mencionado, o mais próximo é referido como "este", e o mais distante como "aquele". Caso haja um termo intermediário, ele será referido como "esse". (p. 325-326).

Recordo-me da casa, do pátio e da vizinhança. Esta me traz boas recordações, esse me faz lembrar das brincadeiras, e aquela era onde ficava minha mãe. [10]

Recomendo a leitura atenta do capítulo referente aos demonstrativos (p. 319-333) para uma relação completa de casos particulares e seus exemplos. Aqui só apresentei um resumo dos que considerei mais importantes. Resumindo a bagaça: a. Se a ideia for de proximidade, "este" vai indicar o mais próximo, "esse" o que está em posição intermediária, e "aquele" o mais distante. Isto se aplica tanto ao caso de proximidade em relação ao falante (este livro, esse livro, aquele livro) quanto a termos do discurso (exemplo [10] acima). b. Se a ideia for de anáfora ou catáfora, em geral usa-se "este, esta, isto", mas também se pode usar "esse, essa, isso". A recomendação aqui é de uniformidade ao longo do texto. c. Se a ideia for resumir ou aludir ao que alguém disse, usa-se "esse, essa, isso" (item 3 acima). d. Em expressões consagradas é melhor não mexer (item 4 acima). ATENÇÃO Em relação aos itens 1 e 2 acima (e consequentemente ao item b), alguns autores divergem. Araújo (2009), por exemplo, recomenda o uso de "esse, essa, isso" para anáforas e de "este, esta, isto" para catáforas.

Os demonstrativos "este", "esta" e "isto" podem ocorrer, também, em referência a algo que se pretende mostrar ou dizer, e os demonstrativos "esse", "essa" e "isso", em relação a algo já apresentado ou dito (função cognoscitiva). (p. 76).

Esta sentença é verdadeira: A vida é efêmera. [11]

Isso que você disse não está certo. [12]

Esses foram os assuntos tratados naquele congresso. [13]

Estes foram os assuntos tratados no congresso: harmonização espiritual e dinâmica cósmica. [14]

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8 O que fazer então quando há divergência entre autores? Se houver orientação, pergunte ao/à orientador/a; ele/ela vai determinar qual abordagem deve ser seguida. Se houver normas de redação, siga as normas. Se não houver nem uma nem outra, escolha um autor e vá em frente; utilize o que diz este autor do início ao fim do trabalho (não misture abordagens). Em qualquer dos casos, é bem provável que um só autor não cubra todas as situações encontradas; aí, recorre-se a mais de um autor, evidentemente. Concursos públicos em geral apresentam no edital as referências a serem seguidas. Esses (ou estes) são os casos principais, os (ou aqueles) que mais aparecem para atazanar nossa vida de escreventes acadêmicos (ou de revisores, ou de tradutores). Como apontei acima, há outros casos, que exigem consulta a uma boa gramática, se for exigida a norma culta. Se o texto for de um gênero que permita menor grau de sofisticação, aí cada um usa o que quiser. Ou seja, é cada um por si. E os deuses da Academia por todos. Ou não. Referências ARAÚJO, Paulino Flores de. Língua portuguesa em foco. Rio de Janeiro: PoD Editora, 2009. p. 76. BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 17. ed. Atualizada pelo novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira / Lucerna, 2009. p. 167. CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 319-333.

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Direito Autoral, Plágio, Fontes e por que isso é importante Sim, isso é importante. Mas antes de qualquer coisa, vamos a uma frase que muita gente já deve ter ouvido/lido: "Plágio é crime". Se você acha que isso é exagero, dá uma olhadinha nisso aqui: - Professora da UFPA é exonerada após plágio Disponível em: <http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-357914-.html>. Acesso em: 26 maio 2016. - USP demite professor por plágio em pesquisa Disponível em: <http://www.usp.br/imprensa/?p=7567>. Acesso em: 26 maio 2016. - Relembre casos famosos de plágios acadêmicos Disponível em: <http://www.diarioonline.com.br/noticias/mundo/noticia-349182-relembre-casos-famosos-de-plagios-academicos.html>. Acesso em: 26 maio 2016. - Plágio virou "praga" no meio acadêmico, diz especialista Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/educacao/plagio-virou-praga-no-meio-academico-diz-especialista,b463cc957020d310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html>. Acesso em: 26 maio 2016. Leu tudo? Está convencido/a? Pois é. Não sei se alguém vai pra cadeia ou vai pagar indenização por plágio, mas muita coisa desagradável pode ocorrer, inclusive demissão (exoneração, no serviço público) e perda do título acadêmico (mestre, doutor, pós-doutor, dentre outros). No caso que nos interessa mais de perto, trabalhos acadêmicos, você pode ter seu trabalho de final de curso, dissertação e tese anulados, sem falar que em alguns casos o curso todo fica invalidado e você precisará fazer tudo de novo. As universidades estão começando a pegar pesado em relação a isso, e eu recomendo extremo cuidado. É verdade que em alguns casos a coisa acontece por ingenuidade do autor do trabalho; por falta de aviso, de orientação ou de leituras, a pessoa não sabe o que pode e o que não pode. Então vejamos algumas coisas importantes: 1. "Se está na net é público; qualquer um pode ver. Então eu posso usar." - Não, não e não! O fato de estar na web significa que você pode acessar e ler/ouvir/assistir. Em alguns países, até para assistir e/ou baixar é preciso pagar. Aí a pessoa diz o seguinte: 2. "Bom, se eu colocar a fonte, eu estou coberto." - Não, não e não! Colocar a fonte não é mais do que a sua obrigação. E pode até, na eventualidade de um processo, diminuir sua culpa e não demonstrar tanta má-fé (se o seu advogado for bom...). Para usar qualquer coisa – repetindo: qualquer coisa – seja da web, seja de jornal, de revista, de CD, de DVD, de livro, ou de qualquer outro veículo (texto, imagem, vídeo, etc.), é preciso autorização do autor. Sempre. Aí então vem a pergunta: 3. "Então eu não posso usar nada sem autorização?!" - Em princípio não, mas há exceções. Até certo ponto. É bom conversar com o/a orientador/a sobre isso. Vai usar uma imagem, gráfico, tabela, foto, desenho ou texto? Investigue antes de usar. Mas olha só, diria você... 4. "E a parada da 'evidência de pesquisa'? Disseram que eu tenho que usar citações pra justificar o que eu digo no meu trabalho. Como fica isso?" - Exato: evidência de pesquisa, em geral na forma de citações (diretas e indiretas), é essencial; na verdade, obrigatória. Qual o segredo? Use pouco. Use o bom-senso. Consulte o/a orientador/a. Por exemplo, num artigo de dez páginas que você encontrou na web, você não vai usar quatro no seu trabalho, vai? Bem, se você não vê problema nisso, você precisa rever seus conceitos com a máxima urgência, até para se resguardar. Uma regrinha – não oficial! – que muitos usam é a "regra dos 5%", ou seja, não se usa mais de 5%, ou algo assim, de um texto. No exemplo do artigo de dez páginas, usar até 5% disso (meia página) não deve ter problema. Eu disse "não deve". Lembre-se de que essa não é uma regra geral. Neste caso, em geral não é necessário autorização do autor. Com imagens a coisa é mais séria: em princípio, sempre é necessário autorização. Verifique antes de usar. O mesmo vale para letras de música e vídeos. De qualquer modo, converse com o/a orientador/a. Eu disse acima que em alguns casos a coisa acontece por ingenuidade do autor do trabalho. Isso normalmente é resolvido durante a própria orientação, e se passar, conseguindo-se provar que foi ingenuidade, não deve dar problema. O problema é provar; depois de terminado, pode ser difícil tentar provar que berimbau não é flauta... Agora, em algumas situações a coisa é de caso pensado mesmo, canalhice mesmo, falta de vergonha na cara mesmo, falta de ética mesmo. Aí

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10 não tem jeito: o plágio é caracterizado e o autor certamente vai ser punido. Nada justifica o plágio, especialmente sabendo que é preciso – e autorizado! – citar trabalhos de outros pesquisadores. 5. "E como eu vou saber o que pode e o que não pode?" - Simples: já ouviu falar de internet? Já ouviu falar de Google? Já ouviu falar de YouTube? Então... Fuça lá que você vai encontrar o que precisa, mas fuça em locais confiáveis, em material criado/postado por especialistas. Conversar com o/a orientador/a também é um caminho, como eu já disse. Agora, baixar e ler a Lei do Direito Autoral é uma grande ideia. Procure a Lei Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998; essa é a lei original. Ela sofreu alterações; para isso, procure a Lei Nº 12.853, de 14 de agosto de 2013. A Lei Nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, aborda a propriedade intelectual de programa de computador. Há outras leis sobre o assunto. Atenção: há movimentos no Congresso para mudar trechos da lei de direitos autorais; é preciso estar sempre atualizado. Converse com um/a bom/boa advogado/a; ele/ela certamente saberá indicar onde procurar material atualizado nesta área. Recomendo a leitura de artigos sobre a questão do plágio da internet e dos trabalhos acadêmicos. Comece por estes aqui: FILHO, Plínio Martins. Direitos autorais na Internet. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19651998000200011>. Acesso em: 26 maio 2016. SILVA, Obdália Santana Ferraz. Entre o plágio e a autoria: qual o papel da universidade? Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 38 maio/ago. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v13n38/12.pdf>. Acesso em: 26 maio 2016. UFF − Universidade Federal Fluminense. Nem tudo que parece é: Entenda o que é plágio. Disponível em: <http://www.noticias.uff.br/arquivos/cartilha-sobre-plagio-academico.pdf>. Acesso em: 26 maio 2016. Bem, de agora em diante, se você plagiar alguma coisa, não terá sido por falta de aviso. E lembre-se de que é sempre complicado convencer alguém de que a coisa foi involuntária. Principalmente se acontecer em muitos trechos de um mesmo trabalho. Uma ou duas ocorrências, vá lá; mais do que isso, fala sério, né?... O caminho está aí em cima. Depois não reclama se o lance embaçar e a chapa esquentar pro teu lado, valeu?

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Revisão e Respeito e Falta de Ética e Futuro Antes de mais nada, vamos a uma lei universal (que ninguém respeita, infelizmente) dos trabalhos acadêmicos: JAMAIS – repetindo: JAMAIS! – entregue qualquer trabalho a seu/sua professor/a ou orientador/a sem revisão. Mais uma vez, para ficar bem claro: JAMAIS.

Pra começar, isso é um puta desrespeito, pois ele/a é professor/a ou orientador/a, e não revisor/a. Pra secundar, como se trata de um trabalho acadêmico (ainda que seja aquele trabalhinho curtinho que não vale nota, que é pra entregar pro/a professor/a de uma dada disciplina), pois se está tratando aqui de uma universidade (mas isso deveria valer também para as escolas), entregar trabalho sem revisar é falta de ética, e se a gente não for ético na faculdade, como podemos esperar sê-lo nas demais instâncias da vida, na vida profissional, inclusive? Sim, é chato e dá trabalho e consome tempo que você estaria empregando pra fazer outra coisa, mas pensa comigo: você muito provavelmente passa um tempão na internet, no celular, no tablet, na balada, na praia, certo? Então: faça um favor a você mesmo/a e use uma parte desse tempo pra revisar seu trabalho antes de entregar. Sei, você já é adulto, pai/mãe de família, tem filho(s), trabalha em dois lugares... Bem, lamento, mas não fui eu que fiz as regras: trabalho acadêmico tem que ser revisado. E fim. E você sabia disso antes de entrar na faculdade. Não sabia? Então está sabendo agora. A vida é injusta, meu/minha caro/a. Dê seu jeito.

Bem, falei em revisão, mas na verdade, trata-se de revisões. Isso mesmo, no plural. Vejamos.

1 Revisão “técnica” Esta revisão diz respeito à área de especialidade que você estuda em seu trabalho. Se o seu trabalho abordar as ideias de Saussure, o erotismo na literatura medieval, as influências da recessão econômica na política do Zoaquistão ou a icterícia nas crianças do interior, é preciso ler todo o trabalho para ver se você não deixou nenhum mico solto por lá, tipo dizer que Saussure foi um grande "linguístico" do século 21, ou que os metaplasmos são estudados pela "filosofia" romântica. Aqui você verifica tudo que tem a ver diretamente com o(s) tema(s) desenvolvido(s) no trabalho. 2 Revisão linguística Nesta fase, você lê o texto um milhão de vezes para ver se não há erro de língua portuguesa (concordância, pontuação, capitalização, ortografia, acentuação, coesão, coerência e outros bichos). Lembre-se de algumas coisas importantes: (a) Em princípio (a não ser que seu/sua orientador/a determine o contrário), em qualquer trabalho acadêmico, espera-se a norma culta da língua. Pode até não ser aquela coisa congelada, artificial, rebuscada, mas tem que ser a norma culta. Embora isso venha gerando grandes discussões na academia, em princípio, utiliza-se a norma culta, e fim de conversa; (b) Agora não tem mais desculpa: é preciso utilizar as regras do novo Acordo Ortográfico (recomendo baixar o texto original do Acordo e comprar um livro confiável para destrinchar as regras; não confie em listinhas e resuminhos de jornaleiro ou da internet); (c) Inclua nesta revisão a digitação: seu/sua orientador/a não vai saber se houve somente um erro de digitação, ou se você realmente não sabe escrever... (d) E pedir ajuda a quem sabe ou tem disponibilidade para ajudar não é vergonha nenhuma. Tem sempre aquele/a conhecido/a que é melhor em língua portuguesa, que sabe das manhas do novo Acordo Ortográfico... Pedir ajuda não envergonha nem diminui ninguém; não pedir quando se precisa, aí sim: é burrice. 3 Revisão de formatação É preciso revisar o texto com relação a todas aquelas regrinhas (chatas bagarai, é verdade, mas absolutamente necessárias) da ABNT e/ou da instituição/publicação. Tem que ver se deixou espaço depois dos sinais de pontuação, se o autor dentro dos parênteses nas citações está em caixa alta, se o espaçamento e o tamanho da fonte estão corretos, se as margens estão de acordo com o exigido, se o texto está justificado, se o que é negrito está negritado, se o que é itálico está italicizado... enfim, todas essas frescuras acadêmico-formatacionais. 4 Revisar muitas vezes Isso mesmo, você leu direito: cada uma dessas revisões deve ser feita no mínimo duas vezes. Sim, eu sei, é muito chato. Mas se é chato para você ler várias vezes antes de entregar, imagine como é chato para mim, com tanta coisa mais importante para fazer na vida, ficar lendo coisas mal escritas, sem revisão, que mais parecem textos egressos do ensino fundamental ou da pré-escola. Ninguém merece, né? Tem mais: se o texto está muito ruim, fica difícil para o/a orientador/a se concentrar no conteúdo; com isso, muita coisa importante – realmente importante! – pode passar despercebida, o que vai dar mais trabalho para todo mundo mais à frente. Ou seja, não dê mole; revise e revise e revise. Sim, ainda tem mais: em determinadas instituições, em algumas publicações, em determinadas etapas de processos seletivos para o que for, a punição para a falta de revisão pode ser a rejeição do trabalho, a não aceitação de um projeto, ou a negação de um emprego. Portanto, é melhor se acostumar a revisar. SEMPRE. 5 Revisão do que já foi revisado Muitas vezes o/a orientador/a fez observações, comentários ininteligíveis, marcações, riscos, garranchos, setas pra lá e pra cá, em suma, ele/a apontou onde é preciso fazer alterações e/ou inclusões. A tendência (eu acho que é preguiça mesmo,

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12 mas vamos deixar tendência, que é mais sutil) é se concentrar no que foi marcado, alterar, incluir, editar, retirar e depois entregar a nova versão. Não faça isso. Depois de tudo "consertado", releia TUDO. Isso mesmo, tudo. Inclusive o que não foi objeto de nenhuma anotação por parte do/a orientador/a. Vai que ele/a passou por cima de algo importante e não assinalou para você modificar; orientadores também erram, se esquecem, não veem tudo... Além disso, vamos dizer, por exemplo, que você cometeu um erro de pontuação em relação ao uso da vírgula; está implícito que o/a orientador/a não precisa marcar todos os erros da mesma espécie. Cabe a você passar um pente-fino no texto para ver se há mais erros daquele tipo. Eu sei, ele/a não marcou. Não precisa. Está implícito, já falei. Cabe a você mostrar serviço. Revisão corre por sua conta. Sempre. 6 Revisão de citações e referências Pouca gente se preocupa em verificar se as fontes estão bem identificadas no texto e na seção de referências. Em primeiro lugar, é preciso verificar se ABSOLUTAMENTE TUDO que não é seu está com a autoria identificada. Lembre-se: plágio é crime. Seja citação direta, indireta ou paráfrase, é preciso identificar o autor da ideia ou do trecho em questão. Se está tudo identificado, o próximo passo é ver se está corretamente identificado. As normas da ABNT ou da instituição indicam como fazer isso; é só seguir as normas. Agora vem uma parte de extrema importância: ABSOLUTAMENTE TUDO que está referenciado no texto precisa estar na lista de referências no final do trabalho (a não ser que esteja em nota de rodapé ou no próprio texto). Minha recomendação é esta: colocou uma citação no texto? Identifique-a segundo as normas; agora, para tudo, e imediatamente coloque-a na lista de referências (para isso, siga também as normas da ABNT ou da instituição). A bem da verdade, o caminho deveria ser o oposto. Primeiro deve-se colocar a referência completa na lista de referências ao final do trabalho; a partir daí é que se extrai a forma como este item de referência vai ser identificado no texto. Por exemplo, se eu vou citar um trecho do livro A orientação, do José M. da Silva, da Editora Blá-blá-blá, situada no Rio de Janeiro, obra publicada no ano 3000, em tese eu primeiro já apronto a referência final, ou seja, SILVA, José M. da. A orientação. Rio de Janeiro: Editora Blá-blá-blá, 3000. A partir daí, eu sei que qualquer citação deste texto deverá aparecer como Silva (3000, p. x) ou (SILVA, 3000, p. x). Fica bem mais fácil. 7 Revisão no papel É comum receber trabalhos em papel amassados ou mal impressos (tinta fraca) ou com a área de impressão torta ou cortada ou truncada, às vezes faltando página, e – isso é simplesmente o cúmulo! – com aquela vogalzinha ou consoantezinha remendada a caneta preta. Claro que há exceções, felizmente muitas, mas de modo geral, parece que a cartilha do/a orientando/a tem uma seção que diz assim: imprime e entrega; deixa que o/a orientador/a corrige. NÃO FAÇAM ISSO!!!!! É desrespeitoso. É antiético. E irritante. É vergonhoso. Pois é, não deu tempo de terminar, né? Acabou a tinta da impressora ou o papel, né? A impressora deu pau, né? Então, programe-se melhor. Se é para entregar no dia dez, finja que é para entregar no dia cinco. Simples assim. Você consegue. É só querer. O que não pode é mandar imprimir, pegar a papelada toda e entregar. Ou terminar de digitar, colocar num e-mail e enviar. NÃO! NÃO! E NÃO! Leia, releia, releia mais uma vez e depois sim, entregue. 7.1 Computador e Editor de Texto pra quê? Ouço muito coisas do tipo “não sei mexer muito bem com computador” ou “tenho a maior dificuldade para usar o Word” ou “não tenho computador em casa”. Bem, meu comentário curto e grosso e sincero e claro e direto para isso tudo é: lamento, mas não é problema meu. E realmente não é. Primeiro porque quando se entra numa universidade, sabe-se das exigências que um curso desse tipo oferece; segundo porque problemas, dificuldades e limitações diversas todo mundo tem. O que interessa é o que se faz a respeito delas. Hoje em dia é meio difícil de acreditar que esse tipo de problema não tem solução. Não sabe mexer com computador? Aprenda. Como dizia minha mãe, ninguém nasce sabendo. É difícil para aprender? Você não tem tempo? Peça ajuda a alguém que saiba e/ou que tenha tempo. Sempre tem alguém que pode ajudar (ainda que se pague por isso). Sempre. Tem dificuldade com o Word? Aprenda. É o mesmo caso de não saber usar o computador. Não tem computador em casa? Peça ajuda. É o mesmo caso de não saber usar o computador e o editor de texto. A mensagem é: sempre tem um jeito. E seu/sua orientador/a sabe disso; só você que acha que ele/ela não sabe... A verdade é: você não fez (direito) porque não quis mesmo. [É claro que há exceções a esta regra, mas são as tais emergências e casos especiais, que todo mundo resolve transformar em algo corriqueiro. Nestes casos especiais, certamente seu/sua orientador/a saberá o que fazer para ajudar você.] E olha só: já pensou em ver isso tudo com antecedência? Ajuda muuuuuuito. Não dá para engolir que só ontem você foi descobrir que não tem traquejo com a informática, né? E aqui vale um alerta: veja com seu/sua orientador/a qual tipo de arquivo ele/ela deseja. Há editores de texto e editores de texto, e eles não se falam muito bem, além do que alguns têm funções diferentes dos outros, apresentam resultados diferentes no documento final... Enfim, não dá pra usar a desculpa de que “é que eu uso um editor x e ele sempre dá problema”. Se ele sempre dá problema, passe a usar outro. Simples assim. Lembrando: estamos no século 21; quase tudo tem jeito. É só querer e correr atrás. E não deixar pra última hora. E, de novo, pedir ajuda a quem sabe ou tem disponibilidade para ajudar não é vergonha nenhuma.

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13 8 Revisão no e-mail Vai mandar por e-mail? Bacana. Então confira 20 vezes o endereço de e-mail do/a orientador/a e verifique 30 vezes se o documento está anexado. E aqui vão algumas dicas preciosas. Dê um nome inteligível e de fácil identificação a seu arquivo, de preferência que tenha seu nome e sobrenome e o assunto do texto. Tipo assim: JoseMdaSilvaMonografiaCapitulo122Versao316847.docx. Algo assim. Alguns especialistas em tecnologia ainda recomendam não utilizar caracteres especiais, sinais de pontuação, sinais de acentuação e outras marcas no nome do arquivo, só por segurança. No texto do e-mail, coloque uma mensagem clara (e educada, sem gírias, simples e direta), explicando a seu/sua orientador/a o que está no anexo. Lembre-se: ele/ela não tem só você para orientar, e ele/a vai agradecer se puder identificar quem enviou o quê. Última dica preciosa: coloque uma indicação clara no assunto do e-mail, tipo, o mesmo do nome do arquivo, ou similar, mas aqui pode ser escrito normalmente: Jose M da Silva Monografia Capítulo 122 Versão 316847. E vai na fé. Pode enviar. Ah, depois verifica nos itens enviados se ele partiu mesmo! 9 Pensando no futuro Tudo isso parece frescura. No fundo, muita coisa é mesmo, mas é assim que a academia funciona. Melhor aceitar que dói menos. Por outro lado, é uma maneira de facilitar sua vida no futuro. Em diversas situações. Acostumando-se a revisar tudo que você escreve, isso vira hábito; só aí já facilita tudo no futuro, pois a revisão será uma parte do processo, você já estará acostumado, não precisará se policiar tanto para lembrar e vai fazer isso naturalmente. Além disso, com a prática, você vai internalizar muita coisa, desde as etapas da revisão (ou as diversas revisões, como apresentei acima) até as malditas normas da ABNT. Em termos de um trabalho acadêmico (artigo, monografia, dissertação, tese, por exemplo), se você sempre fizer uma boa revisão em todas as partes que vão compondo o texto final (ninguém produz um texto completo que vai direto para revisão do/a orientador/a), as coisas vão ficando mais fáceis ao longo do trabalho, e quando chegar ao final, vai ter pouca coisa para acertar. Melhor para você e melhor para quem orienta. Sem falar nos prazos, que sempre ficam apertados mais para o final, e assim vai ser mais fácil cumpri-los. Mas não é só isso. Quando você se acostuma a entregar sempre um texto apresentável, revisado, bem redigido, enxuto, você estará angariando simpatia por parte de quem lê seu texto. Isso facilita a leitura e a concentração no conteúdo, o que se traduz em melhor orientação. Agora, texto é como pessoas: não adianta nada ter boa aparência, estar bem escrito e ter um conteúdo fraco e inconsistente. Não rola. Tudo isso também se aplica a artigos enviados para publicação, a textos produzidos para concursos e/ou ingresso em algum curso específico, e ao trabalho que você desenvolva seja onde for, ainda que fora da academia, por exemplo, no meio corporativo. Ou seja, se por um lado escrever bem e da maneira correta não é mais do que a obrigação de quem escreve (além de ser ético e respeitoso para com quem lê o texto), por outro é uma forma de se posicionar bem no meio em que se vive e trabalha. Quer abrir portas? Redija um bom texto. Em todos os sentidos. OBS.: Eu revisei este texto algumas vezes, mas se alguém encontrar algum erro, por favor, avise ([email protected]). É assim que funciona: sempre passa alguma coisa, alguém vê, a gente corrige com humildade, e bola pra frente. Resumindo: revisar é preciso; viver não é preciso. Tá claro ou precisa desenhar? :-)

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Que ou Qual?

Na função de pronome relativo, a palavra que suscita dificuldades quanto a sua possível substituição por qual (neste

caso sempre precedido de artigo: o qual, a qual, os quais, as quais). Na verdade, a regra é simples, como bem explicita

Napoleão Mendes de Almeida:

Que (conversível em "o qual") – Quando necessário à clareza, a forma o qual (os quais, a qual, as quais) deve vir em lugar do relativo que: "Uma herança honrada de avós, a qual era preciso salvar". Se nessa criação o autor tivesse empregado que (uma herança de avós, que era preciso salvar), o sentido teria ficado prejudicado, pois não saberíamos se o pronome que estaria substituindo o antecedente herança ou avós; o emprego de o qual esclarece o antecedente. Eis, pois, um cuidado: não empregar o pronome que quando houver mais de um antecedente a que possa referir-se; assim, o período "Estivemos na escola da cidade que foi fundada em 1856" – não tem sentido claro, pois não sabemos se a escola ou a cidade foi fundada em 1856; impõe-se um torneio à construção, de acordo com o sentido que se quer dar: "Naquela cidade, estivemos na escola que foi fundada em 1856". (ALMEIDA, 1996, p. 455).

Em resumo, exceto em casos de ambiguidade, pode-se muito bem substituir que pelas construções com qual.

No entanto, faz-se necessário um alerta: embora a escolha estilística seja do escritor, é preciso antes verificar a

regência do verbo. Vejamos alguns exemplos comentados.

(1) Aquela é a mulher que gritou.

Na frase (1), o verbo gritar é intransitivo; por isso, não exigirá preposição. Neste caso, somente que é possível.

(2) Aquela é a casa de que falei.

Na frase (2), o verbo falar é transitivo e exige a preposição de (falar de algo). O emprego de qual também é possível

aqui, mantendo-se, obviamente, a preposição: "Aquela é a casa da qual falei."

Alguns autores apontam regras complementares para o uso de que e qual. Vejamos algumas delas, de acordo com

Paulino Flores de Araújo.

► Deve-se preferir que quando se tratar de preposição monossilábica (a, com, de, em, por), embora também se

possa usar qual. Para as demais preposições, recomenda-se qual. Exemplos:

(3) Aquele é o livro a que me refiro.

(4) Aqui está o material de que disponho.

(5) Onde está o livro sobre o qual falei ontem?

Assim, a frase (3) poderia se tornar "Aquele é o livro ao qual me refiro", a frase (4) poderia ter a redação "Aqui está o

material do qual disponho", mas a frase (5) não poderia ser alterada (sobre tem duas sílabas).

Evanildo Bechara é da mesma opinião em relação ao número de sílabas da preposição:

Em geral substitui-se que por o (a) qual depois de preposição ou locução prepositiva de mais de duas sílabas. Empregamos sem que ou sem o qual, a que ou ao qual, de que ou do qual, mas dizemos com mais frequência apesar do qual, conforme o qual, perante o qual, etc. O movimento rítmico da frase e a necessidade expressiva exigem, nestes casos, um vocábulo tônico (como o qual) em lugar de um átono (como que). (BECHARA, 2009, p. 200).

É ainda Bechara (2009, p. 200) quem nos alerta para o fato de que "a tradição tem evitado o emprego de sem quem,

substituindo-o por sem o qual, sem a qual, sem os quais, sem as quais, para evitar o eco". O alerta nos mostra que, em alguns

casos, a eufonia (ou a tradição da língua) sobrepõe-se à regra gramatical, em prol da elocução.

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15 ► Para pessoas, deve-se preferir quem e para lugares, onde.

(6) Aqui está a pessoa de quem falei.

(7) Não encontro a escola de onde sou ex-aluno.

► a quem vs. aquele que

O relativo quem pode ser objeto indireto do verbo antecedente e sujeito do verbo seguinte: "Deus perdoa a quem ajuda seus semelhantes"; mas deve ser desdobrado em aquele que quando for objeto direto do verbo antecedente e objeto indireto do verbo consequente, a fim de que cada elemento atenda à regência do respectivo verbo. Exemplo: "Gratificaremos aquele a que couber a melhor frase" (aquele: objeto direto do verbo anterior; que: objeto indireto do verbo seguinte). (ARAÚJO, 2009, p. 79).

Referências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de questões vernáculas. São Paulo: Editora Ática, 1996. ARAÚJO, Paulino Flores. Língua portuguesa em foco. Rio de Janeiro: PoD Editora, 2009. p. 78-80. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

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Citações e Referências: Quando a ABNT não explica direito Particularmente, acho essa a pior parte de qualquer trabalho acadêmico. É tanta filigrana, tanto detalhe, tanta perfumaria que chega a ser irritante. Bem, mas como não tem jeito, a gente tenta ajeitar tudo da melhor forma possível. Não adianta estrebuchar, reclamar... Tem que fazer, então a gente faz. Em tese, você conseguiria as normas da ABNT e as seguiria, certo? Certo, só que não. Primeiro, porque essas normas são compradas; então é bom ver em alguma biblioteca se elas estão lá para não ter que comprar. Segundo, porque as normas da ABNT não abordam tudo; deveriam, mas não abordam. Muita coisa está no próprio texto da ABNT, mas não é objeto de um item em separado; ao ler o texto completo das normas, acabamos encontrando respostas para algumas dúvidas, que não são respondidas em itens específicos das normas. Aí você precisa pesquisar em sites confiáveis para preencher as lacunas deixadas pela ABNT. Se você utilizar as normas da ABNT, saiba que há uma norma para cada caso; por exemplo, há uma norma para "referências", uma para "sumário", outra para "resumo", uma para "citações" e até mesmo uma para "lombada". Toda norma da ABNT é indicada por NBR XXXX YYYY – TÍTULO (onde XXXX é o número da norma, YYYY é o ano em que foi publicada/atualizada e TÍTULO, obviamente, é o assunto a que se refere a norma); por exemplo, NBR 6023 2002 – Referências. Atenção: quando de posse de uma NBR, é preciso verificar se o ano indicado é aquele da última atualização; é preciso procurar por alguma modificação, nova edição da NBR ou qualquer alteração. Boa sorte googlando... No caso de manual de redação (ou nome equivalente) de uma universidade, em geral eles dizem que seguem as normas da ABNT, mas isso nem sempre é verdade; o que há muitas vezes é um pastiche das normas da ABNT e de outras normas saídas da cabeça de sabe-se lá quem... Enfim, tem que seguir o tal manual; para o que não estiver lá, recomendo usar as normas da ABNT. No caso de alguma outra instituição/publicação, também não tem jeito: é preciso seguir o manual que estiver disponível; para as lacunas, recomendo igualmente usar a ABNT. Quando não se diz nada a respeito de normas, recomendo usar tudo da ABNT. Regra geral: pergunte sempre se há e onde estão as normas ou o manual de redação. O primeiro passo é consultar as normas da ABNT e/ou as normas da instituição/publicação. Caso nada tenha sido fornecido, é sempre bom perguntar ao/à orientador/a onde está o manual de redação, as normas, ou seja lá que nome tiver o conjunto de normas a serem seguidas. Em geral, muita coisa poderá ser resolvida com esse material, mas vai faltar muito detalhe. É aqui que eu entro. Vamos lá. O mais importante a lembrar quando se passa à seção de referências de um trabalho acadêmico é (1) incluir todos os campos de cada entrada e (2) seguir a formatação exigida. Para os campos, é preciso ter em mente um/a leitor/a do trabalho que se interessou por algum outro texto citado ao longo do trabalho. Esse/a leitor/a leu o trecho citado (em citação direta ou indireta), leu a indicação que aparece na citação e sabe que encontrará mais informações sobre o trabalho citado nas referências. É por isso que citações e referências precisam ser redigidas de maneira coerente, uma remetendo à outra. Vamos ver um exemplo? Considere o seguinte trecho de um possível trabalho acadêmico: A literatura sobre educação a distância mediada por computador é unânime quanto à necessidade da

criação de uma comunidade de aprendizagem coesa e colaborativa, pois “a comunidade é o veículo através do qual ocorre a aprendizagem on-line. Os participantes dependem um dos outros para alcançar os resultados exigidos pelo curso”. (Rena M. Palloff e Keith Pratt, 2002, p. 53).

De cara, vemos que a citação não está redigida da maneira correta: os parênteses não deveriam conter o nome completo dos autores e sim somente os sobrenomes; para unir autores não se usa "e" e sim o ponto e vírgula ";", mas isso a gente vê depois. O que importa é que o/a leitor/a gostou do trecho em citação longa e quer ler mais sobre isso. Provavelmente, ele/ela vai à lista de referências na letra "R" (procurando por Rena M. Palloff e Keith Pratt) e não vai encontrar nada. Um/a leitor/a safo/a vai deduzir que Palloff e Pratt são os sobrenomes dos autores e vai direto à letra "P" na lista de referências; se fizer isso, vai encontrar este item:

PALLOFF, Rena M.; PRATT, Keith. Construindo comunidades de aprendizagem no ciberespaço. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Neste caso é fácil localizar o trabalho original – se o/a leitor/a for safo/a. Se não for, ou se houver muita discrepância entre a citação e a referência, a coisa complica bastante. Neste caso específico, obviamente o correto seria ter redigido a citação desta forma:

(PALLOFF; PRATT, 2002, p. 53)

Agora, vejam este exemplo:

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Nesta LDB, a educação a distância é tratada no artigo 80: “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”. (LDB nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996).

O/A leitor/a interessado/a vai feliz da vida às referências na letra "L" e não vai encontrar nada, porque não há item "LDB" (bem, se houver, as referências também não estarão apresentadas segundo as normas, e aí o problema fica mais grave). A LDB é uma lei, e leis são promulgadas por um município, por um estado ou pelo governo federal. No caso da LDB, ela é publicada pelo governo federal; neste caso, nas referências, o item tem que ser apresentado desta forma:

BRASIL. Ministério da Educação. Lei Federal nº 9.394, de 20.12.1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acesso em: 27 ago. 2016.

Traduzindo: a LDB foi promulgada pelo MEC (Ministério da Educação), que é um órgão federal; com isso, a entrada da referência começará por BRASIL. Consequentemente, a citação deveria ter sido apresentada da seguinte maneira:

(BRASIL, 1996).

Viram a importância de citação e referência estarem coerentes? Então vamos em frente. Em relação à formatação exigida por citações e referências, como já foi assinalado, é importante consultar as normas da ABNT, da instituição ou da publicação, conforme o caso. Voltem aos exemplos acima e observem os sinais de pontuação, os espaços, o destaque (negrito) e outros detalhes. TEM QUE SER ASSIM; NÃO PODE SER DIFERENTE. Onde tem dois-pontos não pode ter vírgula. Espaços a mais ou a menos constituem erros. Simples assim. Agora vejamos alguns exemplos específicos. 1 Referências Prefiro começar pelas referências, pois, nas citações ao longo do texto, a fonte tem que estar de acordo com o que é apresentado na lista de referências. Em outras palavras, nas referências aparece a "versão longa" da fonte; no texto vai aparecer a "versão curta". Vamos começar com alguns detalhes mais fáceis de gravar, mas são detalhes importantes e que não podemos ignorar. Vejamos um exemplo simples e vamos assinalar alguns pontos que precisam ser respeitados sempre em todos os itens das referências. O exemplo a seguir apresenta um livro impresso de um só autor. ROJO, R. H. R. (Org.). A prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCNs. Campinas, SP: Mercado de Letras/Educ, 2000.

- Em geral, para Rio de Janeiro e São Paulo (capitais), não é necessário utilizar a sigla do estado. Quando se trata de outra cidade qualquer, seu nome aparece com a primeira letra maiúscula e as demais em minúscula, seguido de vírgula e espaço, após o qual se utiliza a sigla do estado, somente as duas iniciais, sem ponto entre elas. - Dois-pontos e espaço ao final da sigla do estado.

- Note que o sobrenome do/a autor/a está todo em caixa alta, seguido de vírgula e espaço. - Aqui aparecem as iniciais dos outros nomes do/a autor/a, evidentemente em caixa alta, separadas por ponto e espaço. - Se você souber os nomes do/a autor/a, coloque; neste caso, a inicial é maiúscula e as demais letras em minúscula, com um ponto no final (colocar ou não o/s nome/s completo/s é opcional; o/s sobrenome/s é/são obrigatório/s):

ROJO, Roxane Helena Rodrigues.

- Note que há um espaço – OBRIGATÓRIO – após cada sinal de pontuação (vírgula e pontos). - Neste caso, a autora é a organizadora do livro. Isso está representado pela abreviatura Org. dentro dos parênteses. Observe que o "O" é maiúsculo, e que há um ponto dentro dos parênteses e outro fora deles.

- Este livro tem título e subtítulo. Nestes casos, SOMENTE o título leva o destaque, que é sempre NEGRITO. O subtítulo não leva destaque. Evidentemente, se não houver subtítulo, o título completo vem em negrito. - Não se esqueça dos espaços. Sempre têm que estar presentes. - Ponto ao final de título e subtítulo.

- Após a sigla do estado aparece a editora, em maiúsculas e minúsculas. conforme o caso, seguida de vírgula e espaço. - Por fim, o ano de publicação, seguido de ponto.

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18 Bem, esta foi o que poderíamos chamar de uma referência típica. E a mais fácil. Um trabalho impresso (no caso, um livro), um só autor, todos os itens disponíveis, molinho de fazer. O problema aparece principalmente quando o item das referências contém mais campos, ou quando um ou mais destes campos não são informados no texto original. Vou apresentar a seguir um resumo dos tipos mais comuns de trabalhos que causam mais dificuldade na hora de se prepararem as referências. É impossível apresentar uma lista completa, mas espero que esta ajude. Muita atenção à forma como os itens são apresentados: maiúsculas e minúsculas, sinais de pontuação, espaços, destaque (negrito), etc. ● Trabalho impresso com mais de um autor (livro, artigo, tese, ou qualquer outro) OBS. 1: Até três autores, todos aparecem mencionados. Com mais de três, usa-se a expressão et al sem destaque (sem itálico, negrito, sem nada). OBS. 2. O título do trabalho sempre vem destacado em negrito.

ERES FERNANDEZ, G.; RINALDI, S. Formac a o de professores de espanhol para crianc as no Brasil: alguns caminhos possíveis. Trabalhos em Linguística Aplicada. Campinas, v. 48, n. 2, p. 353-365, dez. 2009. Disponi vel em: <http://www.scielo.br/pdf/tla/v48n2/11.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2012, xx:xx:xx. DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA. M. A. (Orgs.). Gêneros textuais e ensino. 5. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

● Uso do et al. A expressão latina et alli, abreviadamente et al., significa "e outros". Sendo assim, é utilizada para o caso de trabalho com mais de três autores. Tanto faz utilizar et alli quanto et al. (atenção ao número de letras "l" e à pontuação – há ponto após et al., ainda que o período continue). Tenho visto et al. com mais frequência. a) Nas Referências: URANI, A. et al. Constituição de uma matriz de contabilidade social para o Brasil. Brasília, DF: IPEA, 1994. FRANÇA, Júnia Lessa et al. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 3. ed. rev. e aum. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 1996. Ou seja: - Se houver uma inicial com ponto (A.), o et al. entra direto. - Se houver um nome por extenso (Lessa), o et al. entra diretamente após o nome, sem o ponto antes (após o nome). b) Nas Citações: - Dentro de parênteses: (URANI et al., 1994) / (FRANÇA et al., 1996) - Fora de parênteses: [...] segundo Urani (et al., 1994) / [...] segundo França (et al., 1996) ● Termos latinos A ABNT não trata diretamente disso, mas em seus exemplos não utiliza itálico/negrito em termos latinos, como apud, op. cit., et al., et alii e outros. ● Publicação em meio eletrônico REIS, Hiliana. Modelos de tutoria no ensino a distância. 2008. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/reis-hiliana-modelos-tutoria-no-ensino-distancia.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2016.

- espaço simples

entre linhas de um mesmo item

- espaço duplo separando duas entradas

- atenção à pontuação e aos espaços [sim, há ponto e espaço depois do numeral, e ed começa com minúscula]

atenção à pontuação e aos espaços os sinais < e > não podem faltar; não há espaço após < nem antes de > há ponto depois de >

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19 ● Apresentação da data de acesso Os meses são apresentados somente com as três primeiras letras, sem maiúscula, com ponto. A exceção é maio, escrito com todas as letras. O dia, no caso de um só algarismo (1 a 9), não leva o zero à frente. Vejam os exemplos a seguir (atenção à pontuação e aos espaços – tem que ter ponto final): Acesso em: 6 maio 2016. Acesso em: 2 jun. 2016. Acesso em: 13 dez. 2016.

● O uso do In Segundo a ABNT, na seção de referências, livros, enciclopédias e dicionários (e alguns outros documentos) levam o In; artigos em revistas (impressos ou on-line) não levam o In. O In aparece sem destaque (sem negrito ou itálico), com o "I" maiúsculo e seguido por dois-pontos.

MOITA LOPES, L. P. da. Uma lingu i stica aplicada mestic a e ideolo gica: interrogando o campo como lingu ista aplicado. In: MOITA LOPES, L. P. da. (Org.). Por uma lingui stica aplicada indisciplinar. Sa o Paulo: Para bola Editorial, 2006. PARAQUETT, M. Em defesa de uma abordagem pro pria a realidade brasileira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISPNISTAS, 5, 2008, Belo Horizonte. Anais eletrônicos... Belo Horizonte: Faculdade de letras da UFMG, 2009. 1 CD, p. 2502-3078. AFFONSO, Suselei Aparecida Bedin; GOMES, Ligiane Raimundo. Conhecendo as Estratégias de Aprendizagem adotadas pelos alunos dos Cursos de graduação modalidade EAD: reflexões iniciais. Revista EAD & Tecnologias Digitais na Educação. Dourados, MS, vol. 1, N 2, jul/dez. 2013. Disponível em: <http://ojs.ws.ufgd.edu.br/index.php?journal=ead&page=article&op=view&path%5B%5D=3257&path%5B%5D=1770>. Acesso em: 6 maio 2016.

A seguir apresento alguns casos particulares que normalmente trazem dúvidas a respeito da maneira correta de como devem ser referenciados.

● publicação periódica como um todo:

SÃO PAULO MEDICAL JOURNAL. São Paulo: Associação Paulista de Medicina, 1941-. Bimensal. ISSN 0035-0362. ● partes de revista, boletim, etc.:

DINHEIRO: revista semanal de negócios. São Paulo: Ed. Três, n. 148, 28 jun. 2000. 98 p. 12. ● artigo ou matéria de revista, boletim, etc.:

- Sem autoria:

AS 500 maiores empresas do Brasil. Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, v. 38, n. 9, set. 1984. Edição especial.

- Com autoria:

TOURINHO NETO, F. C. Dano ambiental. Consulex, Brasília, DF, ano 1, n. 1, p. 18-23, fev. 1997.

observe que o negrito aparece somente no trabalho original em que está o artigo/capítulo referenciado o In aparece por se tratar de um livro

o In aparece por se tratar dos anais de um

congresso; isto não configura uma revista observe que o negrito aparece somente no trabalho original em que está o

artigo/capítulo referenciado

observe que o negrito aparece no trabalho original em que está o artigo/capítulo referenciado, mas, por ser

uma revista (ainda que eletrônica), não leva o In

Uso do In – parte 1 ►In: XXXXXX ►sem itálico/negrito, com dois pontos e espaço antes do restante.

Uso do In – parte 2 ►Segundo a ABNT, nas referências, livros, enciclopédias e dicionários (e alguns outros documentos) levam o In; artigos

em revistas (impressos ou on-line) não levam o In.

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● artigo e/ou matéria em jornal impresso: - Sem autoria: COSTURA x P.U.R. Aldus, São Paulo, ano 1, n. 1, nov. 1997. Encarte técnico, p. 8. - Com autoria: NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de S. Paulo, São Paulo, 28 jun. 1999. Folha Turismo, Caderno 8, p. 13. ● artigo e/ou matéria em jornal em meio eletrônico: - Sem autoria: ARRANJO tributário. Diário do Nordeste Online, Fortaleza, 27 nov. 1998. Disponível em: <http://www.diariodonordeste.com.br>. Acesso em: 28 nov. 1998. - Com autoria: KELLY, R. Electronic publishing at APS: its not just online journalism. APS News Online, Los Angeles, Nov. 1996. Disponível em: <http://www.aps.org/apsnews/1196/11965.html>. Acesso em: 25 nov. 1998. ● legislação: BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. BRASIL. Medida provisória no 1.569-9, de 11 de dezembro de 1997. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p. 29514. SÃO PAULO (Estado). Decreto no 42.822, de 20 de janeiro de 1998. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, São Paulo, v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.

● imagem em movimento (filmes, CD, DVD, videocassete): ALCIONE. Ouro e cobre. Direção artística: Miguel Propschi. São Paulo: RCA Victor, p1988. 1 disco sonoro (45 min), 33 1/3 rpm, estereo., 12 pol. BLADE Runner. Direção: Ridley Scott. Produção: Michael Deeley. Intérpretes: Harrison Ford; Rutger Hauer; Sean Young; Edward James Olmos e outros. Roteiro: Hampton Fancher e David Peoples. Música: Vangelis. Los Angeles: Warner Brothers, c1991. 1 DVD (117 min), widescreen, color. Produzido por Warner Video Home. Baseado na novela “Do androids dream of electric sheep?” de Philip K. Dick. CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles Júnior. Produção: Martire de Clermont-Tonnerre e Arthur Cohn. Intérpretes: Fernanda Montenegro; Marilia Pera; Vinicius de Oliveira; Sônia Lira; Othon Bastos; Matheus Nachtergaele e outros. Roteiro: Marcos Bernstein, João Emanuel Carneiro e Walter Salles Júnior. [S.l.]: Le Studio Canal; Riofilme; MACT Productions, 1998. 1 bobina cinematográfica (106 min), son., color., 35 mm. OS PERIGOS do uso de tóxicos. Produção de Jorge Ramos de Andrade. Coordenação de Maria Izabel Azevedo. São Paulo: CERAVI, 1983. 1 videocassete (30 min), VHS, son., color. SILVA, Luiz Inácio Lula da. Luiz Inácio Lula da Silva: depoimento [abr. 1991]. Entrevistadores: V. Tremel e M. Garcia. São Paulo: SENAI-SP, 1991. 2 cassetes sonoros. Entrevista concedida ao Projeto Memória do SENAI-SP.

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● documento iconográfico: DATUM CONSULTORIA E PROJETOS. Hotel Porto do Sol São Paulo: ar condicionado e ventilação mecânica: fluxograma hidráulico, central de água gelada. 15 jul. 1996. Projeto final. Desenhista: Pedro. N. da obra: 1744/96/Folha 10. ESTAÇÃO da Cia. Paulista com locomotiva elétrica e linhas de bitola larga. 1 fotografia, p&b. In: LOPES, Eduardo Luiz Veiga. Memória fotográfica de Araraquara. Araraquara: Prefeitura do Município de Araraquara, 1999. 1 CD-ROM. FRAIPONT, E. Amilcar II. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 30 nov. 1998. Caderno 2, Visuais. p. D2. 1 fotografia, p&b. Foto apresentada no Projeto ABRA/Coca-cola. KOBAYASHI, K. Doença dos xavantes. 1980. 1 fotografia, color., 16 cm x 56 cm. MATTOS, M. D. Paisagem-Quatro Barras. 1987. 1 original de arte, óleo sobre tela, 40 cm x 50 cm. Coleção particular. O QUE acreditar em relação à maconha. São Paulo: CERAVI, 1985. 22 transparências, color., 25 cm x 20 cm. VASO. TIFF. 1999. Altura: 1083 pixels. Largura: 827 pixels. 300 dpi. 32 BIT CMYK. 3.5 Mb. Formato TIFF bitmap. Compactado. Disponível em: <C:\Carol\VASO.TIFF>. Acesso em: 28 out. 1999. ● documento cartográfico: ATLAS Mirador Internacional. Rio de Janeiro: Enciclopédia Britânica do Brasil, 1981. 1 atlas. Escalas variam. BRASIL e parte da América do Sul. São Paulo: Michalany, 1981. 1 mapa. Escala 1:600.000. INSTITUTO GEOGRÁFICO E CARTOGRÁFICO (São Paulo, SP). Regiões de governo do Estado de São Paulo. São Paulo, 1994. 1 atlas. Escala 1:2.000. ● websites: ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância. Website da sociedade científica para educadores interessados em novas tecnologias de aprendizagem. Disponível em: <http://www.abed.org.br/site/pt/>. Acesso em: 8 mar. 2016. GALERIA virtual de arte do Vale do Paraíba. São José dos Campos: Fundação Cultural Cassiano Ricardo, 1998. Apresenta reproduções virtuais de obras de artistas plásticos do Vale do Paraíba. Disponível em: <http://www.virtualvale.com.br/galeria>. Acesso em: 27 nov. 1998. GOOGLE Analytics. Portal Educação. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/informatica/artigos/48358/google-analytics>. Acesso em: 3 jul. 2103. WINDOWS 98: o melhor caminho para atualização. PC World, São Paulo, n. 75, set. 1998. Disponível em: <http://www.idg.com.br/abre.htm>. Acesso em: 10 set. 1998.

Observe-se que tiff é a extensão do arquivo referenciado.

Para websites (mas nem todos), é indicado colocar uma breve (muito breve!) descrição do site (que tipo de website, criado por quem, destinado a quem).

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● vídeos na web: FALCÃO no Programa do Jô. Entrevista concedida em 8 dez. 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TKIlUdFhFEg>. Acesso em: 17 out. 2016. PORTA DOS FUNDOS. Canal de humor do YouTube. Episódio: Chapeuzinho. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mk0uPRSWRN0>. Acesso em: 17 out. 2016. BOB DYLAN. Canção: Not Dark Yet. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RZgBhyU4IvQ>. Acesso em: 17 out. 2016. ● trabalhos completos ou parte deles: DICIONÁRIO Prático Ilustrado. Direção de Jaime de Séguier. Edição atualizada e aumentada por José Lello e Edgar Lello. Porto: Lello, 1957. ETNOLOGIA. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. rev. e aum., 35.ª impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 733. KOOGAN, André; HOUAISS, Antonio (Ed.). Enciclopédia e dicionário digital 98. Direção geral de André Koogan Breikmam. São Paulo: Delta: Estadão, 1998. 5 CD-ROM. HOUAISS, Antonio (Ed.). Novo dicionário Folha Webster’s: inglês/português, português/inglês. Co-editor Ismael Cardim. São Paulo: Folha da Manhã, 1996. Edição exclusiva para o assinante da Folha de S. Paulo. MORFOLOGIA dos artrópodes. In: ENCICLOPÉDIA multimídia dos seres vivos. [S.l.]: Planeta DeAgostini, c1998. CD-ROM 9. POLÍTICA. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, 1998. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlDLPO>. Acesso em: 8 mar. 1999. ● trabalhos acadêmicos: ARAUJO, U. A. M. Máscaras inteiriças Tukúna: possibilidades de estudo de artefatos de museu para o conhecimento do universo indígena. 1985. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 1986. ALENTEJO, Eduardo. Catalogação de postais. 1999. Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovação na Disciplina Catalogação III, Escola de Biblioteconomia, Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.

Nos dois últimos casos, em vez de colocar nas Referências todos os verbetes pesquisados, é melhor colocar os verbetes como citação no texto, ou, não muito aconselhável, em nota de rodapé ao longo do texto. Nas Referências, deveriam aparecer a Enciclopédia multimídia e o Dicionário da língua portuguesa como um todo. Por exemplo, no texto, numa dada página, para identificar a fonte de "morfologia dos artrópodes", apareceria normalmente a fonte: (ENCICLOPÉDIA, 1998). Nas Referências apareceria: ENCICLOPÉDIA multimídia dos seres vivos. [S.l.]: Planeta DeAgostini, c1998. CD-ROM 9. O mesmo para o Dicionário Priberam. No texto: (DICIONÁRIO, 1998) Nas Referências: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Política. Lisboa: Priberam Informática, 1998. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlDLPO>. Acesso em: 8 mar. 1999.

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MORGADO, M. L. C. Reimplante dentário. 1990. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) – Faculdade de Odontologia, Universidade Camilo Castelo Branco, São Paulo, 1990.

2 Citações Não vou falar sobre os tipos de citação nem como se faz uma citação; se você ainda não sabe fazer isso, bem, já deveria saber. Converse com seu/sua orientador/a ou procure em outro lugar. Talvez eu fale disso em outra ocasião. O que me interessa agora é como colocar as fontes das citações no texto. Já falei disso brevemente no início deste texto. Alertei também para o fato de que a citação precisa estar inteiramente de acordo com o item das Referências, para pronta identificação por parte do leitor. Antes de prosseguir, deem uma olhada no que eu disse sobre isso nas duas páginas iniciais. Prontos? Então prossigamos. Para todos os exemplos a seguir, vamos considerar a seguinte entrada de Referência:

BRITTO, Paulo Henriques. A tradução literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. ● Citações curtas Neste caso, o trecho citado aparece, com ou sem aspas, inserido no texto. Se o trecho citado vier como paráfrase, dentro do texto do autor do trabalho, ela vem sem aspas, mas a fonte precisa aparecer, seja no meio do texto, seja ao final. Vejamos alguns exemplos (atenção para os parênteses, bem como para as maiúsculas e minúsculas): 1 Evidentemente, por se tratar de um campo de estudos bastante vasto, há divergências quanto a essa questão de

fidelidade e de original. É Britto (2012, p. 37) quem esclarece que a fidelidade absoluta é uma meta válida, embora não possa

ser atingida.

2 Evidentemente, por se tratar de um campo de estudos bastante vasto, há divergências quanto a essa questão de

fidelidade e de original. A fidelidade absoluta é uma meta válida, embora não possa ser atingida. (BRITTO, 2012, p. 37).

Se o trecho citado vier reproduzido fielmente em relação ao original, ele aparece entre aspas. A fonte precisa aparecer aqui também. Exemplos: 3 Evidentemente, por se tratar de um campo de estudos bastante vasto, há divergências quanto a essa questão de

fidelidade e de original. É Britto (2012, p. 37) quem esclarece: "A fidelidade absoluta é uma meta perfeitamente válida, ainda

que saibamos muito bem que, como todos os absolutos, ela jamais pode ser atingida."

4 Evidentemente, por se tratar de um campo de estudos bastante vasto, há divergências quanto a essa questão de

fidelidade e de original. "A fidelidade absoluta é uma meta perfeitamente válida, ainda que saibamos muito bem que, como

todos os absolutos, ela jamais pode ser atingida." (BRITTO, 2012, p. 37).

OBS.: Note o ponto final (exemplo 4) após o fechamento dos parênteses, ainda que haja ponto ao final do trecho citado. ● Citações longas Neste caso, o trecho citado é mais longo e aparece separado do texto (em geral quando ultrapassa três linhas), com fonte e espaçamento menores, além de recuo maior do que o recuo de parágrafo. O bloco que contém a citação longa não vem em itálico/negrito nem entre aspas. Exemplos:

5 Evidentemente, por se tratar de um campo de estudos bastante vasto, há divergências quanto a essa questão de

fidelidade e de original. É Britto (2012, p. 37) quem esclarece:

A fidelidade absoluta é uma meta perfeitamente válida, ainda que saibamos muito bem que, como todos os absolutos, ela jamais pode ser atingida. O tradutor responsável é aquele que, com os recursos de que dispõe e com as limitações a que não pode escapar, produz um texto que corresponda de modo razoável ao texto original.

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24 6 Evidentemente, por se tratar de um campo de estudos bastante vasto, há divergências quanto a essa questão de

fidelidade e de original.

A fidelidade absoluta é uma meta perfeitamente válida, ainda que saibamos muito bem que, como todos os absolutos, ela jamais pode ser atingida. O tradutor responsável é aquele que, com os recursos de que dispõe e com as limitações a que não pode escapar, produz um texto que corresponda de modo razoável ao texto original. (BRITTO, 2012, p. 37).

7 Evidentemente, por se tratar de um campo de estudos bastante vasto, há divergências quanto a essa questão de

fidelidade e de original. Segundo Britto (2012):

A fidelidade absoluta é uma meta perfeitamente válida, ainda que saibamos muito bem que, como todos os absolutos, ela jamais pode ser atingida. O tradutor responsável é aquele que, com os recursos de que dispõe e com as limitações a que não pode escapar, produz um texto que corresponda de modo razoável ao texto original. (p. 37).

OBS.: Tanto em citações curtas quanto em citações longas, caso um trecho seja omitido (não importa se no início, no meio ou no fim da citação), deve-se utilizar o sinal [...], que pode ser utilizado mais de uma vez na mesma citação. Veja o exemplo 8 a seguir: 8 A fidelidade absoluta é uma meta perfeitamente válida, [...] O tradutor responsável [...] produz um texto que corresponda de modo razoável ao texto original. (p. 37). ● Uso do apud Utiliza-se a expressão "apud" (sem itálico/negrito) quando se deseja citar a fonte de uma citação que aparece em outro trabalho. Por isso se fala, neste caso, em "citação de citação". Um exemplo: Para se verificar problemas de sentido no trabalho, “é altamente recomendada a revisão do texto final por um leitor de outra

área”. (SILVA, 2009, p. 45 apud SOUZA, 2011, p. 87)

OBS.: É de extrema importância observar a ordem em que aparecem os dois trabalhos citados. O primeiro (mais próximo do texto) é onde se encontra a citação que acaba de ser apresentada; o segundo é o trabalho onde o primeiro se encontra. No exemplo acima, SILVA, 2009, p. 45 é o trabalho que contém a citação apresentada; este trabalho está citado em SOUZA, 2011, p. 87. Em outras palavras, o primeiro trabalho é o conteúdo; o segundo, o continente. Ou seja, o primeiro está dentro do segundo. OBS.: Observe-se a ausência de pontuação: não há pontuação nem antes nem depois da expressão "apud". OBS.: Tanto o primeiro trabalho (antes do "apud") quanto o segundo trabalho (após o "apud") aparecem em caixa alta. 3 Outros detalhes Este assunto (citações e referências) evidentemente não se esgota aqui. É preciso, como já disse algumas vezes, consultar o manual de redação da instituição ou publicação, as normas da ABNT e o/a orientador/a. Os exemplos apresentados acima nem de longe ilustram toda a gama de situações que podemos encontrar pela frente. Por isso, é preciso estar atento e ao mesmo tempo dispor das ferramentas adequadas para pesquisar a respeito de como proceder. Antes de terminar, coloco a seguir algumas últimas dicas. ● Vale consultar as normas do trabalho específico que está sendo redigido antes de se tomar a decisão, mas já se admite que as referências sejam alinhadas à esquerda. Isso evita espaços longos quando se indicam websites nas fontes. Um exemplo: Com alinhamento justificado: PORTA DOS FUNDOS. Canal de humor do YouTube. Episódio: Chapeuzinho. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mk0uPRSWRN0>. Acesso em: 17 out. 2016.

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25 Com alinhamento à esquerda: PORTA DOS FUNDOS. Canal de humor do YouTube. Episódio: Chapeuzinho. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mk0uPRSWRN0>. Acesso em: 17 out. 2016. Observe-se que no segundo caso, não há espaços longos na primeira linha. Mas um alerta: ou se colocam TODOS os itens das referências alinhados à esquerda, ou TODOS com alinhamento justificado. O alinhamento, seja ele qual for, vale para todo o bloco das referências. Converse com o/a orientador/a sobre isso. ● Estrangeirismos não recebem itálico nos itens de referência (títulos dos trabalhos ou qualquer outra parte). Na verdade, é bom adotar a seguinte norma: nas referências não utilize os destaques dos títulos originais dos trabalhos mencionados. Vejamos um exemplo com o item a seguir nas referências de um trabalho:

SALOMÃO, Waly. Gigolô de Bibelôs. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983. No livro original, o título do livro aparece com uma formatação bem diferente, qual seja:

GIGOLÔ de BIBELÔS ● Assume-se que todo e qualquer trabalho acadêmico já deve estar redigido segundo as normas do novo Acordo Ortográfico. Recomendo que seja lido o texto oficial do Acordo, bem como algum livro/manual confiável e completo que analise e exemplifique em profundidade as regras do novo Acordo. Não recomendo listinhas e resuminhos obtidos na Web ou em livrarias ou em bancas de jornais. ● As regras do novo Acordo Ortográfico não se aplicam aos itens de referência. Por exemplo, um possível Manual de Lingüística será grafado assim mesmo, com o trema, se for este o título do livro referenciado (certamente uma edição anterior a 2007). ● TUDO que possui autoria que não aquela de quem redige o trabalho em questão precisa apresentar a fonte; caso contrário, configura plágio. Simples assim. E plágio é crime. Não façamos como certos ministros que plagiam seus trabalhos acadêmicos... Com eles pode não acontecer nada, mas conosco certamente pode – e vai – acontecer algo. Sejamos éticos, para dizer o mínimo. O reconhecimento da autoria vem (1) no próprio texto, com nota de rodapé, ou (2) com a fonte da citação no texto e a correspondente entrada completa nas Referências. ● Para indicar a página (ou páginas) em citações e nas referências, usa-se SOMENTE um "p", seguido de ponto e espaço antes do numeral (ainda que se trate de mais de uma página). Não se usa pp. Exemplos: (p. 3) / (p. 58) / (p. 210-211); (SILVA, p. 3) / (SILVA, p. 58) / (SILVA, p. 210-211) Como visto no primeiro exemplo, não se usa zero antes de um único algarismo, ou seja, não se redige (p. 04) e sim (p. 4). Outro problema é o uso de hífen ou de vírgula, quando se aponta mais de uma página consultada. Exemplos: (p. 56-57) – isto indica que um trecho contínuo foi retirado das páginas 56 e 57 (p. 56,57) – insto indica que uma parte foi retirada da página 56 e outra da página 57 Quando se trata de apenas duas páginas, o problema não é tão sério, mas, pelo que foi dito acima, jamais teríamos esta situação: (p. 89-200) – isto indicaria um texto contínuo que vai desde a página 89 até a página 200 Num caso como este, provavelmente o que se fez foi retirar um trecho da página 89 e outro da página 200, o que nos daria esta notação: (p. 89,200)

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26 Por fim, numa paráfrase, é possível colocar um resumo de diversos trechos de diversas páginas, o que nos fornece algo como: (p. 403, 479, 502, 610) Observe-se que não existe a conjunção "e" em qualquer dos casos com multiplicidade de páginas na fonte. ● Elementos gráficos Todo elemento gráfico (figura, desenho, gráfico, diagrama ou tabela) precisa ter número e título e/ou legenda. Vejamos o que dizem a NBR 6022 de maio de 2003 e as Normas de Apresentação Tabular 1993 do IBGE. - Ilustrações – Qualquer que seja seu tipo (desenhos, esquemas, fluxogramas, fotografias, gráficos, mapas, organogramas, plantas, quadros, retratos e outros), sua identificação aparece na parte inferior, precedida da palavra designativa, seguida de seu número de ordem de ocorrência no texto, em algarismos arábicos, do respectivo título e/ou legenda explicativa de forma breve e clara, dispensando consulta ao texto, e da fonte. A ilustração deve ser inserida o mais próximo possível do trecho a que se refere, conforme o projeto gráfico. - Tabelas – As tabelas apresentam informações tratadas estatisticamente, conforme o IBGE (1993). - Título – Toda tabela deve ter título, inscrito no topo (centralizado, de preferência), para indicar a natureza e as abrangências geográfica e temporal dos dados numéricos. - No espaço inferior de uma tabela deve estar a fonte, a nota geral e a nota específica, se for o caso. - Segundo o IBGE, as tabelas se diferenciam dos quadros porque nos quadros os dados vêm limitados por linhas em todas as margens e nas tabelas as linhas de delimitação só aparecem nas partes superior e inferior. - Os documentos não falam em fonte, o que nos permite decidir qual tipo e tamanho de fonte utilizar. O importante é que isso seja padronizado em todo o trabalho, ou seja, se uma tabela tiver fonte Arial 12, todas devem seguir este padrão. Recomendo utilizar os títulos em negrito e centralizados (se acima, fonte igual à do texto em tipo e tamanho; se abaixo, idem, incluindo fontes e observações, com a mesma fonte do texto em tipo e tamanho) e, se em mais de uma linha, espaço simples entre as linhas. A fonte do que está dentro da tabela também não é objeto de menção nos documentos. Recomendo fonte igual à do texto (tipo e tamanho). Esta regra vale para os demais elementos gráficos mencionados acima. Estas recomendações podem ser alteradas de acordo com o/a orientador/a. OBS.: As tabelas devem conter um ti tulo objetivo e expressivo e sua numeraça o deve ser sequencial, em algarismos ara bicos, para facilitar a consulta, sempre que necessa ria.

OBS.: Os elementos gráficos são numerados em ordem sequencial crescente; ainda que mude o capítulo, a sequência da numeração não é interrompida. Seja qual for o elemento gráfico, além de sua identificação, o elemento precisa ser referenciado no texto e explicado; não pode ficar "solto" no texto, sem ser mencionado. Vejamos um exemplo.

Tabela 1 – Critérios de Avaliação da Tradução das Histórias em Quadrinhos Aspectos Linguísticos Aspectos Mitológicos Aspectos Culturais

Exemplo Avaliação Exemplo Avaliação Exemplo Avaliação

1 não atende 8 atende 12 atende

2 atende 9 atende 13 atende

3 não atende 10 não atende 14 não atende

4 não atende 11 não atende 15 atende

5 não atende

6 não atende

7 não atende

SILVA, 2015.

Percebe-se pela Tabela 1 que o critério linguístico foi o menos satisfatório em termos majoritários. Os aspectos

mitológicos foram parcialmente satisfatórios e os aspectos culturais foram satisfatórios em sua maioria. Ainda que fossem

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27 necessários mais dados, conforme já mencionado, pela experiência do autor deste trabalho, este é um resultado bastante

coerente com as histórias em quadrinhos disponíveis no mercado, seja em qual formato aparecerem: tirinhas de jornal, revistas

em quadrinhos ou romances gráficos.

● Apêndices e Anexos É importante diferenciar entre Apêndice e Anexo. Segundo a NBR 6022 de maio de 2003? Apêndice: Texto ou documento elaborado pelo autor, a fim de complementar sua argumentação, sem prejuízo da unidade nuclear do trabalho. Anexo: Texto ou documento não elaborado pelo autor, que serve de fundamentação, comprovação e ilustração. OBS.: Como o Apêndice é elaborado pelo autor, ele deve aparecer antes do Anexo. ● Siglas Quando aparece pela primeira vez no texto, uma sigla deve ser precedida pela forma completa e colocada entre parênteses. Após esta primeira vez, não é necessário repetir a forma completa; basta utilizar a sigla diretamente no texto, obviamente sem os parênteses. Vejamos um exemplo: - Primeira menção no texto: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). - Novas menções no texto: UFRJ OBS.: Todas as siglas devem aparecer, com as devidas formas completas, em uma lista no início do trabalho. O mesmo se aplica aos elementos gráficos, que são divididos em listas por tipo (uma lista para tabelas, outra para gráficos, e assim por diante), cada lista com a indicação das páginas em que aparecem no texto (no estilo Sumário) e apresentadas no início do trabalho. 4 Referências para consulta Este assunto é vasto e é tratado em diversos trabalhos. Vale a consulta a artigos disponíveis na Web, a livros e manuais impressos ou em formato digital, a publicações disponíveis em sites de universidades (dê preferência às mais respeitadas), enfim a qualquer documento CONFIÁVEL oriundo de fonte CONFIÁVEL. Converse com seu/sua orientador/a para saber se as normas de que dispõe são adequadas.