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Universidade de Brasília Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Disciplina: Metodologia de Pesquisa em Ciência da Informação Aluno Sérgio Peçanha da Silva Coletto, matrícula 12/0065771 Eduardo Tomanik tem uma frase bastante interessante sobre a postura transformadora que a pesquisa científica pode vir a ter: "a realidade é sempre mais complexa do que podemos perceber; por isso pesquisamos. Ela é sempre diferente do que gostaríamos que fosse; por isso tentamos modificá-la.”. E você, jovem pesquisador de Ciência da Informação, como se posiciona a respeito dessa questão? Como essa preocupação está evidenciada (se é que está) no seu projeto ou na formalização de sua pesquisa? “Em conjunto, os métodos científicos são uma conquista da pesquisa pelo menos tão considerável que não importa seu resultado: com efeito, é na compreensão do método que repousa o espírito científico [...].” (Nietzsche, 2000, p. 300) Como explicar o que é ciência? Tomanik (2004) relaciona a ciência à curiosidade inerente ao ser humano bem como à vontade de modificar a realidade que o cerca em prol de uma outra, a desejada. Ignorando as vontades pessoais do pesquisador, tomando uma visão global, humana, não é raro dizer que caminhamos (no passado) para uma utopia previamente constatada. “Utopia” vem da soma dos radicais gregos equivalentes a “não” e “lugar”, ou seja, o “não-lugar” ou o “lugar que não existe”. Thomas More (2005) cunhou este termo em sua obra homônima, em 1516. Constata- se que as interpretações na época a tiveram como um projeto praticável e impuseram- na um sentido estritamente econômico. Para viabilizar a construção da sociedade ideal se fazia necessária apenas uma coisa: riqueza. Este preço a pagar pela tentativa de perfeição fez com que vorazes decisões econômicas fossem tomadas e vistas como consequências necessárias que seriam compensadas pelos benefícios finais. As consequências disso na sociedade atual, segundo o sociólogo Zygmunt Bauman (2001), fizeram com que nos deparássemos com uma desordem na organização racional do mundo. Segundo ele, a evolução do pensamento do século XVI tornou tudo instável e hoje nossas vidas se resumem a tentativas de lidar com essa instabilidade. Este problema levou os pensadores contemporâneos a formular uma “Nova Utopia”, na qual ao invés de combatermos todo o sistema, combateríamos apenas suas consequências. Ou seja, tentaríamos melhorar as condições de vida atual de acordo com a realidade em que estamos inseridos, dentro de nossas possibilidades. É empiricamente notável o esforço da ciência atual em combater problemas gerados no passado. Econômicos, sociais e ambientais. Se voltarmos a Tomanik (2004), vemos uma exposição das ciências sociais como aquelas que discutem processos sociais e humanos para determinar novos rumos para os estudos que envolvem o homem.

Reflexão crítica: Ciência, Ciência da Informação e meu projeto de pesquisa

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Eduardo Tomanik tem uma frase bastante interessante sobre a postura transformadora que a pesquisa científica pode vir a ter: "a realidade é sempre mais complexa do que podemos perceber; por isso pesquisamos. Ela é sempre diferente do que gostaríamos que fosse; por isso tentamos modificá-la.”. E você, jovem pesquisador de Ciência da Informação, como se posiciona a respeito dessa questão? Como essa preocupação está evidenciada (se é que está) no seu projeto ou na formalização de sua pesquisa?

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Universidade de Brasília Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Disciplina: Metodologia de Pesquisa em Ciência da Informação Aluno Sérgio Peçanha da Silva Coletto, matrícula 12/0065771

Eduardo Tomanik tem uma frase bastante interessante sobre a postura transformadora que a pesquisa científica pode vir a ter: "a realidade é sempre mais complexa do que podemos perceber; por isso pesquisamos. Ela é sempre diferente do que gostaríamos que fosse; por isso tentamos modificá-la.”. E você, jovem pesquisador de Ciência da Informação, como se posiciona a respeito dessa questão? Como essa preocupação está evidenciada (se é que está) no seu projeto ou na formalização de sua pesquisa?

“Em conjunto, os métodos científicos são uma conquista da pesquisa pelo menos tão

considerável que não importa seu resultado: com efeito, é na compreensão do método

que repousa o espírito científico [...].” (Nietzsche, 2000, p. 300)

Como explicar o que é ciência? Tomanik (2004) relaciona a ciência à curiosidade

inerente ao ser humano bem como à vontade de modificar a realidade que o cerca em

prol de uma outra, a desejada. Ignorando as vontades pessoais do pesquisador,

tomando uma visão global, humana, não é raro dizer que caminhamos (no passado)

para uma utopia previamente constatada. “Utopia” vem da soma dos radicais gregos

equivalentes a “não” e “lugar”, ou seja, o “não-lugar” ou o “lugar que não existe”.

Thomas More (2005) cunhou este termo em sua obra homônima, em 1516. Constata-

se que as interpretações na época a tiveram como um projeto praticável e impuseram-

na um sentido estritamente econômico. Para viabilizar a construção da sociedade ideal

se fazia necessária apenas uma coisa: riqueza. Este preço a pagar pela tentativa de

perfeição fez com que vorazes decisões econômicas fossem tomadas e vistas como

consequências necessárias que seriam compensadas pelos benefícios finais.

As consequências disso na sociedade atual, segundo o sociólogo Zygmunt Bauman

(2001), fizeram com que nos deparássemos com uma desordem na organização

racional do mundo. Segundo ele, a evolução do pensamento do século XVI tornou tudo

instável e hoje nossas vidas se resumem a tentativas de lidar com essa instabilidade.

Este problema levou os pensadores contemporâneos a formular uma “Nova Utopia”, na qual ao invés de combatermos todo o sistema, combateríamos apenas suas consequências. Ou seja, tentaríamos melhorar as condições de vida atual de acordo com a realidade em que estamos inseridos, dentro de nossas possibilidades. É empiricamente notável o esforço da ciência atual em combater problemas gerados no passado. Econômicos, sociais e ambientais. Se voltarmos a Tomanik (2004), vemos uma exposição das ciências sociais como aquelas que discutem processos sociais e humanos para determinar novos rumos para os estudos que envolvem o homem.

Dentro do escopo defendido por Bauman, caminhamos, então, para uma realidade melhor: seja para “consertar” os erros do passado, seja para conhecer melhor o mundo. A Ciência da Informação, aí inclusa, abarca também a interação entre o homem e a informação, fenômeno pelo qual tenho particular interesse. É comum dizer que com o advento da internet, a forma com que o homem lida com a informação mudou. A segunda geração deste advento, tida como Web 2.0, otimizou a relação entre Instituições e usuário, permitindo uma via dupla de troca de informações em tempo real. Este fenômeno, tido como espontâneo, permitiu uma nova forma de recuperação das informações, partindo do âmbito pessoal de cada usuário, movido pelos seus interesses, mas passível de ser estudado em coletividade: a folksonomia. O acesso a informação e a divulgação dos interesses pessoais em escala global inserem o cidadão comum nos assuntos tratados pelos pesquisadores, detentores do método científico – se tomarmos o viés Nietzschiniano do início deste texto. Referências:

MORE, Thomas. A Utopia. São Paulo: Martin. Claret, 2005.

TOMANIK, Eduardo Augusto. O olhar no espelho: "conversas" sobre a pesquisa em

Ciências Sociais. 2ª ed. Maringá: Eduem, 2004.

NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. São Paulo: Companhia das Letras,

2000.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001