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REFLEXÕES SOBRE A ESCOLA PÚBLICA E SINDICALISMO Gisele Kemp Galdino Dantas Na trajetória de servidora pública vivenciei situações em que colegas de trabalho, em momentos de discussão sobre a participação nos sindicatos e questões de greve, posicionavam-se da seguinte forma: Eu não farei greve porque se eles ganharem alguma coisa, eu saio no lucro, pois não terei nenhum tipo de desconto e receberei os ganhos da mesma forma. Quanto de aumento o sindicato vai conseguir para nós? Eis o típico comportamento político do homem comum: reduzido senso de realidade que explica não apenas a existência de um reduzido senso de responsabilidade, mas também a ausência de uma vontade eficaz. São, pois, os alienados. Esses profissionais estão transferindo para outras pessoas o direito e o dever de lutar pela transformação da sociedade que vivem. Eis o que Freire denomina “aquele que perdeu seu endereço na História” Além desses comportamentos somam-se ainda aqueles que se sentem gradativamente irritados com os colegas apáticos, cansados e por fim, descrentes. No caso dos profissionais da educação isso pode ser explicado como um sentimento de insignificância e impotência vivenciada pelo indivíduo, ocasionada pela existência de uma massa passiva e pelo momento histórico de “malvadez neoliberal” dos últimos 16 anos no governo no Estado de São Paulo. Grosso modo, a política neoliberal prega o antiestatismo. O neoliberalismo, na voz dos políticos práticos e no discurso da mídia, aparece como um crítico dos privilégios, das desigualdades. No caso, da educação há o esforço de enfatizar que a questão central da crise de qualidade do ensino público está na falta de profissionais mais bem formados e capacitados e na má administração, entre outras coisas. Com tal discurso, temos a apologia do mercado e da empresa privada como espaços de eficiência. Essa é a retórica neoliberal e foi por essa via que chegamos a pauperização de nossa classe, a categoria O, ao

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REFLEXÕES SOBRE A ESCOLA PÚBLICA E SINDICALISMO

Gisele Kemp Galdino Dantas

Na trajetória de servidora pública vivenciei situações em que colegas de trabalho, em momentos de discussão sobre a participação nos sindicatos e questões de greve, posicionavam-se da seguinte forma:

Eu não farei greve porque se eles ganharem alguma coisa, eu saio no lucro, pois não terei nenhum tipo de desconto e receberei os ganhos da mesma forma.

Quanto de aumento o sindicato vai conseguir para nós?

Eis o típico comportamento político do homem comum: reduzido senso de realidade que explica não apenas a existência de um reduzido senso de responsabilidade, mas também a ausência de uma vontade eficaz. São, pois, os alienados. Esses profissionais estão transferindo para outras pessoas o direito e o dever de lutar pela transformação da sociedade que vivem. Eis o que Freire denomina “aquele que perdeu seu endereço na História”

Além desses comportamentos somam-se ainda aqueles que se sentem gradativamente irritados com os colegas apáticos, cansados e por fim, descrentes. No caso dos profissionais da educação isso pode ser explicado como um sentimento de insignificância e impotência vivenciada pelo indivíduo, ocasionada pela existência de uma massa passiva e pelo momento histórico de “malvadez neoliberal” dos últimos 16 anos no governo no Estado de São Paulo.

Grosso modo, a política neoliberal prega o antiestatismo. O neoliberalismo, na voz dos políticos práticos e no discurso da mídia, aparece como um crítico dos privilégios, das desigualdades. No caso, da educação há o esforço de enfatizar que a questão central da crise de qualidade do ensino público está na falta de profissionais mais bem formados e capacitados e na má administração, entre outras coisas. Com tal discurso, temos a apologia do mercado e da empresa privada como espaços de eficiência. Essa é a retórica neoliberal e foi por essa via que chegamos a pauperização de nossa classe, a categoria O, ao Artigo 5º ao Bônus Mérito, ao que hoje é a Categoria F, ao número limitado de faltas médicas, ao “congelamento salarial”, a Prova Mérito etc.

E diante disso, o trabalhador demonstra uma insegurança subjetiva e generalizada, pois vivencia a precariedade do mundo do trabalho. Há desestruturação da existência, medo de se tornar subproletariado. A dita política de valorização docente debilita a classe não apenas no aspecto objetivo, com a constituição de um novo e precário mundo do trabalho, mas principalmente no aspecto subjetivo. Imaginem a situação de um professor que não passou na prova do Processo Seletivo Simplificado. Imaginem como isso desestruturou a sua existência, quanto o aniquilou. Essa política é perversa, resultou na marginalização impiedosa desses profissionais. Isso é o Horror Econômico descrito por Viviane Forrester:

Esses profissionais se acusam daquilo que são vitimas. Julgam-se com o olhar daqueles que os julgam, olhar esse que adotam, que os vê como culpados, e o que os faz, em seguida, perguntar pela incapacidade (FORRESTER, 1997, p.12)

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Pensem o quanto é perverso também um profissional da educação esperar o bônus mérito. Lembra-me a música de Gonzaguinha:

Você deve aprender a baixar a cabeçaE dizer sempre muito obrigadoSão palavras que ainda te deixam dizer por ser homem bem disciplinadoDeve, pois, só fazer pelo bem do patrão tudo que foi ordenadoPra ganhar um fuscão no juízo final e diploma de bem comportado.

Pois bem, o bônus mérito e a prova mérito resumem-se a isso: um diploma de bem comportado.

Diante dessa realidade há dificuldades do sindicalismo em preservar o horizonte da classe diante da nova etapa de acumulação flexível, em levantar obstáculos a desconstrução do trabalho dos profissionais de educação, pois a educação é uma área promissora para a acumulação de capital e está esterilizada pelo controle do Estado. Por isso, mais do que nunca temos que lutar, pois os posicionamentos que citei anteriormente geram paralisação da capacidade de pensar criticamente, isto é, há perigo dessas pessoas se tornarem autômatos, homens de cabeça de papelão.

É importante ressaltar a necessidade de conscientização de tais profissionais de que não há neutralidade, pois ela reforça o poder do opressor.

Ou seja, há na sociedade atual e entre nós o perigo da acomodação. Freire explica da seguinte forma a questão:

A integração resulta na capacidade de ajustar-se à realidade, acrescida a de transformá-la a que se junta a de optar, cuja nota fundamental é a criticidade. Na medida que o homem perde a capacidade de optar e vai sendo submetido a prescrições alheias que o minimizam e as suas decisões já não são suas, porque resultados de comandos estranhos, já não se integra. Acomoda-se. Ajusta-se. O homem integrado é o homem sujeito . A acomodação é um conceito passivo. Este aspecto passivo se revela no fato de que não seria o homem capaz de alterar a realidade, pelo contrário, altera-se a si para adaptar-se. Daí que os homens indóceis, com ânimo revolucionário, se chame de subversivos. De inadaptados (FREIRE, 1992, p. 50).

Enfim, a nossa grande luta deve ser superar os fatos que nos fazem acomodados ou ajustados. É a luta pela humanização. Temos que ter em mente que cabe a nós sermos esclarecidos, rompendo o que Kant denomina a nossa auto-incupável menoridade. Nós é que temos que buscar o esclarecimento.

Disso resulta ainda a constatação de que a descrença na possibilidade de mudança e na ação do sindicalismo é um problema a ser enfrentado por todos nós. Há, pois, imperando um determinismo sem precedentes, a descrença na possibilidade de construção de uma outra realidade, isto é, existe uma incapacidade de se colocar como agente histórico, capaz de participar ativamente da construção da história. Ou seja, os profissionais da educação ao analisarem a situação da escola pública demonstram criticidade, mas subsiste um afastamento em relação à participação política, sindical e social, o que revela “falta de consciência para si”. O profissional da educação não se reconhece como sujeito histórico, como agente e criador da realidade na qual vive. Ele se encontra num estágio em que revela conhecer a sua situação real, mas não atua para modificá-la, aceita passivamente o que vivencia. Nesse sentido, não atingiu o

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conhecimento para si, que significa o estágio de consciência em que o indivíduo se junta aos outros da mesma condição, organizando-se, mobilizando-se em torno de um projeto de emancipação.

Por outro lado, sabemos que historicamente a grande maioria das pessoas não foi posta numa relação de reflexão diante da sociedade, mas sim de reprodução. Desse modo, se pensarmos em uma ação de emancipação dos profissionais da educação deveremos lutar pela superação da neutralidade política, pois caso contrário, estaremos contribuindo para a manutenção da culpabilização dos profissionais da educação pelas mazelas educacionais, pela educação desqualificada ofertada às camadas populares, e como conseqüência disso, o descaso que levou-nos a proletarização e a pauperização.

Outro problema a ser enfrentado é o tipo de democracia a que somos expostos. É inegável o autoritarismo, a falta de participação dos profissionais da educação no direcionamento das questões relativas à educação. Mais do que isso, as pseudo-participações que estão inseridas no que chamamos de “simulação democrática”. Os “atores sociais” são convidados para um jogo fraudulento. Tais categorias ficaram muito visíveis na minha Dissertação de Mestrado, na qual eu estudei o Fórum “A escola dos nossos sonhos”, pois houve toda uma encenação da participação dos professores, supervisores, alunos e comunidade escolar para pensarem a escola que todos almejavam. Na realidade, todo o fórum serviu para legitimar a versão do PEE do governo paulista, portanto, um simulacro. Eis uma recorrente estratégia política utilizada para a sustentação da ideologia dominante.

Chegamos, portanto, ao simulacro baudrillardiano, em que há simulação: finge-se ter o que não se tem, no caso, finge-se estar a construir a escola pública de qualidade para todos, mas há falsificação, a realidade se tornou, paulatinamente, menos importante, tenta-se fazer coincidir o real com o modelo de simulação. Assim está sendo a educação pública paulista!

Neste ponto, penso atingir a dimensão do que vivemos, tal como 1984, de George Orwell, em que os três lemas do Partido do grande Irmão eram:

Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força,

Transmutados para a nossa realidade:

Proletarizar e pauperizar o profissional da educação é valorizá-lo. A ditadura imposta é democracia.A educação desqualificada que temos depois de 16 anos da “revolução educacional” é educação de qualidade, a educação no estado de São Paulo melhorou.

Esse é outro motivo pelo qual temos que desmascarar as estratégias de coerção colocadas em prática na atualidade. Quando um candidato ao ser questionado sobre a permanência de um mesmo partido tanto tempo no governo estadual e a sua resposta é que foram escolhidos pelo povo, mostra-nos exatamente a real dimensão da realidade: a manipulação do povo, via mídia. Para que o povo pudesse optar verdadeiramente, ele teria que saber de maneira definida o que deseja defender. Essa vontade clara teria de ser completada pela capacidade de observar e interpretar corretamente os fatos. É nesse ponto que a versão deturpada dos fatos é colocada em prática pela mídia.

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É por meio da imprensa que se inculcam idéias, tais como a reportagem da Revista Veja, edição 2176, publicada em 4 de agosto deste ano, intitulada: “Na educação a esquerda é elitista”, contendo, entre outras coisas, a idéia de que os candidatos ou governantes, ao tratarem do tema educacional, se defrontam com duas opções: se comprar a briga e quiser mexer a fundo nas práticas educacionais que nos levam ao atraso, vai suscitar uma violenta oposição aos trabalhadores da educação e seus sindicatos, com greves, protestos” [...].

Assim, o discurso ao afirmar que os profissionais da educação convencem o populacho e a intelligentsia de esquerda atua na verdade, via inculcação, das idéias proporcionalmente contrárias. Esse discurso é na realidade o discurso dos que apenas alimentam, alteram e atualizam o estoque de imagens reiterando o senso comum que permeia a sociedade.

Por isso, outro motivo pelo qual devemos nos unir: a luta pela desconstrução de representações do senso comum referentes aos profissionais da educação. Aliás, a primeira vez que ouvi tal idéia foi lendo Adorno, especificamente,“Tabus acerca do magistério”. Nesse ensaio o autor afirma ser seu desejo tornar visíveis algumas dimensões da aversão em relação à profissão de professor. Em síntese é possível compreender quais as representações sedimentadas sobre o professor a partir do seguinte trecho: “O professor se converte lenta, mas inexoravelmente, em vendedor de conhecimento, despertando até compaixão por não conseguir aproveitar melhor seus conhecimentos em benefício de sua situação material ( ADORNO, 1995, p. 104).

No Brasil há livros recentes que mostram as sedimentações coletivas de representações que destroem a figura do professor, tais como “Adoro odiar o meu professor”, de Antonio A.S Zuin, que trata da hostilidade existente aos mestres no orkut; ou então, “Como se tornar o pior aluno da escola”, de Danilo Gentili , que defende as seguintes idéias:

In: GENTILI, D., 2009, p.

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In: GENTILI, D, 2009, p.

Destaque-se ainda a pesquisa que realizamos com alunos da rede pública estadual sobre a representação da figura do professor. A imagem é negativa: de louco, diabo, bobo ou monstro.

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Por fim, se nós não nos mobilizarmos e personificarmos o sindicato, o maior mal possível se concretizará: a morte da escola pública. Notem como as palavras de Florestan Fernandes são pertinentes e nos mostram o papel que nos cabe:

Sinto que é preciso dar um grito de alarma. O tempo caminha contra aqueles que se preocupam com a qualidade, a segurança e o enriquecimento da escola pública brasileira. Isto é, ele caminha contra nós. Se não nos movimentarmos de outra forma, dando novos conteúdos e novos alvos à nossa ação, tomando também uma orientação mais corajosa, agressiva e congruente, teremos nos convertido em espectadores do drama da escola pública no Brasil. Ajudaremos aqueles que ambicionam ou maiores lucros ou o monopólio indevido da política educacional. Contudo, não ajudaremos ao progresso intelectual da Nação, que depende da escola gratuita em todos os níveis do ensino da democratização da cultura. Este é, em linguagem chã, crua e simples, o dilema em que se acha, atualmente, o intelectual brasileiro. Diante dele, só há uma opção e uma linha de ação realmente consistente com as obrigações morais, implícitas em sua condição de intelectual: a defesa intransigente da escola pública e dos meios que poderão levar à sua expansão, aperfeiçoamento e distribuição eqüitativa nas diversas regiões do País (Florestan Fernandes. In: Educação e sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus, 1966).

A história da educação nos mostra o quanto ainda não avançamos na luta pela escola pública laica, gratuita e de qualidade, o quanto ela tem sido sucateada. Lendo o Manifesto dos Educadores: mais uma vez convocados, redigido por Fernando Azevedo, em 1959, é lastimável reconhecer os problemas crônicos da educação:

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Raio x do quadro sombrio da educação no país nessa época:

- a má-arcaica, antiquada e deficiente organização do ensino;- os problemas de edificações e instalações escolares;- a má preparação cultural e pedagógica do professorado;- Salários não condizentes com a alta responsabilidade do papel social;- proliferação de escolas superiores de maneira desordenada, sem planejamento e sem critério algum;- rebaixamento de nível do ensino em todos os graus.

Ao raio x da atualidade somam-se ainda: o aviltamento aos profissionais da educação via desconstrução da carreira (Quem quer ser professor contratado?), via prova mérito que conduz 80% dos professores paulistas a não-promoção salarial, via invisibilização, digo, exclusão dos aposentados a quaisquer possibilidades de recomposição salarial etc.

Contudo, penso ser proposital tal desmonte na educação, pois temos indícios que o ápice do projeto neoliberal é transformar a escola num serviço público não-estatal, seguindo o receituário americano. Vide o livro “A Reforma Educacional de Nova York possibilidades para o Brasil”, que é uma apologia a tal idéia. Eis um trecho elucidativo:“[...] as instituições que recebem apoio da iniciativa privada, recebem dinheiro público, mas são administradas pelo setor privado. Elas têm papel estratégico, já que são catalisadoras de iniciativas pioneiras na Educação da cidade”, ou então,

Em abril de 2007, a Secretaria de Educação de Nova York anunciou planos de levar o princípio da autonomia a um novo patamar, eliminando as dez diretorias regionais de ensino. Aboliu-se o modelo tradicional em que diretores eram obrigados a receber supervisão e assistência técnica de funcionários de uma diretoria ou superintendência localizada em sua região geográfica. As próprias escolas passaram a escolher e comprar os serviços de assessoria que julgam necessários para atingir as metas exigidas pela secretaria (GALL & GUEDES, 2009, p. 30).

Na realidade, o que vislumbramos com tal proposta é uma ameaça a escola pública, é a mercadorização da educação.

Conclusão: Precisamos enfrentar, com paciência e firmeza, os obstáculos que temos pelo caminho. Para isso, necessitamos nos conscientizar que somos sujeitos na luta e não objetos, temos que disseminar a realidade da escola pública e de seus profissionais e, principalmente temos que arregaçar as mangas, pois a organização da nossa luta foi, é e será por meio do sindicato. O sindicato é uma força social ativa.

Por fim, como tática de resistência, eu sugiro o que Pierre Bourdieu propôs como tática para enfrentar o neoliberalismo: atear o contrafogo, fogo de encontro.

Que não abdiquemos, portanto, da nossa profissão, da escola pública e da nossa possibilidade de contestação, pois o futuro é problemático, não inexorável.

REFERÊNCIAS

ADORNO, T. W. Tabus acerca do magistério. In: Educação e emancipação.

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2. ed. São Pailo: Paz e terra, 2000. ALVES, G. Reestruturação produtiva e crise do sindicalismo no Brasil. 417 f.

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Brasiliense, 2004. BORDIEU, P. Contrafogos: táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar, 1998. BOITO JR, A. Política neoliberal e sindicalismo no Brasil. São Paulo: Xamã,

1999. CHAUI, M. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Fundação

Perseu Abramo, 2006. DANTAS, G.K.G. Representações sociais sobre a escola pública paulista: do

Fórum”A escola dos nossos sonhos” ao pesadelo do Plano estadual de Educação( Dissertação de Mestrado) – Faculdade de Filosofia e Ciências – Universidade Estadual Paulista, Marília, 2008.

FORRESTER, V. O horror econômico. São Paulo: Unesp, 1997. FREIRE, P. A educação como prática da liberdade. 21 ed. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, 1992. GALL, N; GUEDES, P.M. A reforma educacional de Nova York:

possibilidades para o Brasil. São Paulo: Instituto Fernando Braudel & Fundação Itáu Social, 2009 (Coleção excelência em gestão educacional).

GENTILI, P. A falsificação do consenso: simulacro e imposição na reforma educacional no Neoliberalismo. Petrópolis, Rio de janeiro: Vozes, 1998.