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Se interessou pelo projeto e quer participar? Envia email para [email protected] apresentando como você pode contribuir. Reflexões sobre a Participação Política da Juventude Brasileira Há no Brasil uma crença sobre participação política de juventude ainda bastante limitada, inclusive porque reforça a manutenção dos projetos políticos de grupos de interesse pelo poder. Três visões são bastante comuns: 1) A juventude que lutou pela democratização do país contra a ditadura tinha mais valores, ideologia, princípios e causas que as de hoje, 2) Devem-se permitir a participação dos jovens nos partidos e campanhas porque a juventude dá voto e consome 3) A juventude proveniente de partidos políticos deve ser majoritária nas esferas como conselhos e fóruns para se garantir o controle a favor ou contra quem está no poder, para a feita e não admitida politicagem do “toma lá, dá cá”. A tríade de visões nocivas mencionadas fazem com que os jovens tenham cada vez mais, apatia pelos espaços clássicos de participação política. Além disso, a juventude não se vê representada na esfera pública, nem nos conselhos e fóruns da sociedade civil, vistos cegamente como espaços de obtenção de ganhos individualistas e de grupos de interesse de grandes empresas, de partidos ou de sindicatos com foco na manutenção, obtenção ou controle do poder, isto é, o “despotismo dos contínuos democratas”. Outra questão importante destacar é que na medida em que, a maioria da diversidade juvenil, não participa dos espaços institucionalizados de participação política, há um descompasso entre a legitimidade e adesão às ações e programas desenvolvidos pelos gestores públicos e as reais demandas dos distintos segmentos da juventude. Isto é, crise política que mantém uma chamada “governança participativa” para “inglês ver” que pouco constrói com os jovens, enxergando-os como sujeito de direitos e deveres. Por outro lado, temos uma atuação no Brasil dos jovens mais em redes sociais presenciais e virtuais de associativismo e novas iniciativas, com foco em: empreendedorismo, cultura, tecnologia, causas humanitárias, temáticas (meio ambiente, igualdade de gênero, Hip Hop e etc), ciberativismo, assistencialismo e em pequena escala, no voluntariado. Uma parcela da juventude brasileira por não conseguir ter voz e decisão em espaços institucionais de participação política, e querer de fato, sua fala atendida tem criado novas formas de se associar com pessoas, que têm objetivos comuns e têm se organizado com vontade de desenvolver ações coletivas em diversas áreas que correspondam aos anseios dos jovens.

Reflexões sobre a Participação Política da Juventude Brasileira

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Texto que aborda reflexões sobre participação da Juventude.

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Reflexões sobre a Participação Política da Juventude Brasileira

Há no Brasil uma crença sobre participação política de juventude ainda bastante limitada, inclusive porque reforça a manutenção dos projetos políticos de grupos de interesse pelo poder. Três visões são bastante comuns: 1) A juventude que lutou pela democratização do país contra a ditadura tinha mais valores, ideologia, princípios e causas que as de hoje, 2) Devem-se permitir a participação dos jovens nos partidos e campanhas porque a juventude dá voto e consome 3) A juventude proveniente de partidos políticos deve ser majoritária nas esferas como conselhos e fóruns para se garantir o controle a favor ou contra quem está no poder, para a feita e não admitida politicagem do “toma lá, dá cá”.

A tríade de visões nocivas mencionadas fazem com que os jovens

tenham cada vez mais, apatia pelos espaços clássicos de participação política. Além disso, a juventude não se vê representada na esfera pública, nem nos conselhos e fóruns da sociedade civil, vistos cegamente como espaços de obtenção de ganhos individualistas e de grupos de interesse de grandes empresas, de partidos ou de sindicatos com foco na manutenção, obtenção ou controle do poder, isto é, o “despotismo dos contínuos democratas”.

Outra questão importante destacar é que na medida em que, a maioria

da diversidade juvenil, não participa dos espaços institucionalizados de participação política, há um descompasso entre a legitimidade e adesão às ações e programas desenvolvidos pelos gestores públicos e as reais demandas dos distintos segmentos da juventude. Isto é, crise política que mantém uma chamada “governança participativa” para “inglês ver” que pouco constrói com os jovens, enxergando-os como sujeito de direitos e deveres.

Por outro lado, temos uma atuação no Brasil dos jovens mais em redes

sociais presenciais e virtuais de associativismo e novas iniciativas, com foco em: empreendedorismo, cultura, tecnologia, causas humanitárias, temáticas (meio ambiente, igualdade de gênero, Hip Hop e etc), ciberativismo, assistencialismo e em pequena escala, no voluntariado.

Uma parcela da juventude brasileira por não conseguir ter voz e decisão em espaços institucionais de participação política, e querer de fato, sua fala atendida tem criado novas formas de se associar com pessoas, que têm objetivos comuns e têm se organizado com vontade de desenvolver ações coletivas em diversas áreas que correspondam aos anseios dos jovens.

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Cabe destacar que participação se aprende participando e democracia é algo que precisa ser praticado, incorporado, vivenciado, experienciado. Para tanto, os níveis ou os passos da participação que descrevemos contribuem para construir e para afirmar a participação com os jovens. Na medida em que isso está claro, pode-se então constituir certa processualidade, na qual os jovens, gradativamente, se vão envolvendo, de forma que, numa organização juvenil, podemos ter jovens em distintos estágios de maturidade participativa.

De acordo com Paulo Freire:

[…] o que pode e deve variar, em função das condições históricas, em função do nível de percepção da realidade que tenham os oprimidos, é o conteúdo do diálogo. Substituí-lo pelo antidiálogo, pela sloganização, pela verticalidade, pelos comunicados é pretender a libertação dos oprimidos com instrumentos da “domesticação”. Pretender a libertação deles sem a sua reflexão no ato desta libertação é transformá-los em objeto que se devesse salvar de um incêndio. É fazê-los cair no engodo populista e transformá-los em massa de manobra. (FREIRE, 1987, p. 52).

Ou, destacado de outra maneira, só se aprende uns com os outros, mediados pelo mundo, e só assim é possível ser totalmente humano. “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” (FREIRE, 1987, p. 52), ou seja, se libertam participando.

As novas formas de expressão dos jovens, sobretudo as culturais e

digitais têm sido instrumentos de mudança social no mundo como a primavera árabe, o movimento anônimos, e em PE, por exemplo, a juventude produtora de cultura e audiovisual em rede da Zona da Mata Norte, NPED e Mostra Cinecanavial têm conseguido adensamento massivo dos jovens, os quais estão ajudando a resignificar a política pública cultural dessa região.

São exemplos de projetos, como esse em rede, que apresentam

características específicas de dialogo com a juventude das “gerações Y e Z” de representatividade majoritária no Brasil. As redes emanam alicerces de novas formas de se relacionar em ambientes não hierárquicos, com modelos descentralizados de poder, gerando mutilideranças, com mais autonomia e liberdade de ação. São grandes desafios que precisam ser enfrentados. Como aponta MOARES:

Toda organização, e não seria diferente com as redes, delineia planejamentos e ações a partir de alguns princípios. Segundo MARTINHO (2004) para que uma rede seja efetiva, é importante considerar: 1) Participação Voluntária: participantes decidem, voluntariamente, participar de ações em rede. 2) Autonomia e Diversidade: as pessoas e instituições que compõem a rede têm autonomia de ação, decisão e opinião, considerando os diversos atores e as diferentes configurações institucionais. 3) Isonomia: todos são iguais politicamente. 4) Insubordinação: não há ninguém superior

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hierarquicamente a outro. 5) Desconcentração de poder: o poder é de todos, não há alguém que concentre poder numa rede. 6) Multilideranças: não existe liderança em uma única pessoa, mas a articulação de diversas lideranças. 7) Coordenação e Democracia: aqui está intrínseco o sentido de comunidade, sendo a rede ume espaço de relacionamento. 8) Coesão: os objetivos e valores são comuns, havendo uma verdadeira comunhão de propósitos.

Para o trabalho de participação em formato de rede, é fundamental respeitar e dialogar com os distintos segmentos juvenis, para que possamos fortalecer a autoconfiança das organizações lideradas por jovens a trabalharem para uma participação cada vez mais em formato de rede e ter resultados positivos na ação política. Apoiados em Freire, vimos que esse processo deve ser com os jovens e não para os jovens, deve fazer com que os jovens se sintam desafiados, comprometidos, solidários, responsáveis e protagonistas.

Uma alternativa possível para aumento da participação de jovens de 15

a 29 anos na política seria a criação de: 1) uma Consulta Pública Temática (via internet e telefone) com divulgação nos diversos meios de comunicação sobre as temáticas que influenciam a vida do jovem, numa espécie de portal interativo e com conteúdo mutável e diversificado, e não gerenciado apenas por governos; 2) Programa de Liderança Social e Empreendedora (com foco na participação de organizações lideradas por jovens) e de 3) Fundo Juvenil (que após concurso de projetos priorizaria ações e temáticas escolhidas para execução de organizações juvenis).

REFERÊNCIAS FREIRE, P. 1987: Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. MOARES, Ana Karina e COSTA, Maria Aparecida Craveiro. Redes Sociais: Desafios, Limites e Possibilidades. In: MORAES, Ana Karina (Org.) Os múltiplos retratos das organizações. Recife: Ed. dos Organizadores, 2009. 221p. Texto produzido por Jenifer Pinheiro, pitaqueira do Juventude Arretada.