Reflexões Sobre Imputabilidade

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  • 7/23/2019 Reflexes Sobre Imputabilidade

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    CENTRO UNIVERSITRIO ANTNIO EUFRSIO DE TOLEDO

    FACULDADE DE DIREITO DE PRESIDENTE PRUDENTE

    SERIAL KILLER: REFLEXES SOBRE IMPUTABILIDADE

    Luciane Grigoletto Guarizi

    Presidente Prudente SP

    2014

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    CENTRO UNIVERSITRIO ANTNIO EUFRSIO DE TOLEDO

    FACULDADE DE DIREITO DE PRESIDENTE PRUDENTE

    SERIAL KILLER: REFLEXES SOBRE IMPUTABILIDADE

    Luciane Grigoletto Guarizi

    Monografia apresentada como requisito parcial

    de Concluso de Curso para obteno do Graude Bacharel em Direito, sob orientao doProfessor Antenor Ferreira Pavarina.

    Presidente Prudente - SP2014

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    SERIAL KILLER: REFLEXES SOBRE IMPUTABILIDADE

    Monografia/Trabalho de Curso aprovadocomo requisito parcial para obteno doGrau de Bacharel em Direito.

    _____________________________ANTENOR FERREIRA PAVARINA

    Orientador

    _____________________________FLORESTAN RODRIGO DO PRADO

    Examinador

    _____________________________RGIS BELO DA SILVAExaminador

    Presidente Prudente, 2014.

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    "Um legado e um bom exemplo de vida, so

    duas coisas que eternizam o ser humano,quando uma boa pessoa parte dessa vida."

    Vitorio Furusho

    Dedico este trabalho memria de minha me

    Snia, pelo exemplo de bondade, carter,

    humildade e tantas outras qualidades que me

    orgulham de ser sua filha. Minha saudade

    eterna!

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    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeo a Deus pelo dom da vida e pela fora e

    coragem que me foram concedidas durante essa longa caminhada.

    Agradeo meu pai, por me amar incondicionalmente e que com muita

    dedicao, no mediu esforos para que eu chegasse at o fim de mais uma etapa

    de minha vida, muitas vezes renunciando a si mesmo para que nunca me faltasse

    condies para a construo do meu carter e da minha vida profissional.

    Agradeo, tambm, a minha irm, que desde pequena teve que

    assumir o difcil papel de ser me, ajudando em minha criao e educao, para que

    eu pudesse chegar at onde cheguei. E mesmo estando longe, nunca deixou de me

    apoiar e acreditar em meu potencial. E tambm ao meu querido cunhado, que desde

    que entrou para famlia passou a ser mais do que cunhado e sim, o irmo que no

    tive, por sempre me escutar, me aconselhar e por nunca me julgar at quando estou

    errada. A vocs dois meu mais sincero amor e carinho.

    minha famlia, minha querida av e minhas tias, por sempre se

    preocuparem comigo, me apoiarem em qualquer deciso e, principalmente, por me

    incentivarem a nunca desistir, meu muito obrigado.

    Um agradecimento especial ao meu namorado, a pessoa com quem

    amo partilhar a vida, que participou desta caminhada desde o incio, que teve

    pacincia para aguentar todo o nervosismo, por estar sempre ao meu lado, me

    apoiando e, principalmente, por sempre acreditar em mim, at quando eu mesma

    no acreditei. Obrigada por me amar, por me cuidar e por ser esse homem

    maravilhoso que pretendo ter sempre ao meu lado. Pra voc todo o meu amor e

    admirao.

    Minha gratido a todas as minhas amigas, tanto aquelas que no esto

    presentes em meu convvio, como aquelas com as quais tenho a sorte de conviver

    todos os dias. Obrigada por sempre estarem ao meu lado, me apoiando em qualquer

    deciso e por se alegrarem em cada conquista minha. Sem vocs, essa vitria no

    seria a mesma.

    Minha gratido e admirao a todos os professores das FaculdadesIntegradas Antnio Eufrsio de Toledo, que foram extremamente importantes em

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    minha vida acadmica, que compartilharam comigo suas experincias e que

    puderam me proporcionar todo o ensinamento e contedo necessrio durante esta

    caminhada. Meu mais sincero agradecimento.

    Ao Professor Antenor Ferreira Pavarina, pela pacincia incentivo q

    tornaram possvel concluso desta monografia.Ao professor Florestan Rodrigo do

    Prado, cm quem partilhei q era broto daquilo q veio sr esse trabalho,

    que me apoiou, me dando dicas que foram fundamentais para finalizao deste.

    Desejei s participao n banca examinadora dst trabalho desde princpio.

    Ao Doutor Rgis Belo da Silva, pr seus ensinamentos, pacincia

    confiana longo ds supervises ds minhas atividades durante o estgio

    realizado na Advocacia Geral da Unio. m prazer t-lo n banca examinadora.Em suma, meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os

    que de alguma forma contriburam para a realizao deste trabalho. O apoio e troca

    de experincias com cada um foram cruciais para a concluso do mesmo.

    Chego a concluso que no passamos por esta vida sozinhos, a minha

    histria e o meu carter so frutos das experincias que compartilhei com pessoas

    que cruzaram o meu caminho. Cada pessoa que passou em minha vida deixou um

    pouco de si e levou um pouco de mim. Isso fez com que eu chegasse at ondecheguei, pois exatamente disso que a vida feita, de momentos, momentos que

    temos que passar sendo bons ou ruins, para o nosso prprio aprendizado. Por isso

    temos que nos preocupar em fazer a nossa parte da melhor forma possvel, para

    servir de exemplo a cada um que passar por nossas vidas.

    Meu principal e eterno agradecimento a todos que passaram por minha

    vida, que me fizeram perceber que no estou aqui sozinha e que tenho ao meu lado

    pessoas que se importam comigo. Muito obrigado aos que sonharam comigo e queagora esto colhendo os frutos desta vitria junto a mim. A vida perfeita naquilo

    que tem que ser! Obrigada.

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    RESUMO

    A presente monografia cuidou da abordagem acerca da imputabilidade penal dosassassinos em srie. Serial Killersso transgressores violentos que cometem umasrie de homicdios com um intervalo de tempo entre eles, suas vtimas possuem omesmo perfil, so escolhidas ao acaso e mortas sem nenhum motivo ou razoaparente, so consideradas objetos que os assassinos seriais utilizam parasatisfao de suas fantasias mrbidas. A partir de uma anlise sobre aimputabilidade penal, observaremos que os assassinos em srie no podem serclassificados como portadores de doenas mentais, j que a grande maioria possui,a poca da conduta, completo entendimento do carter ilcito do fato. Ademais, importante diferenciar o termo psicopata, do termo assassino em srie, j que nem

    todo psicopata se transforma em um assassino em srie, mas a maioria dosassassinos em srie possui personalidade psicoptica. Veremos que os Serial Killersso portadores de um Transtorno de Personalidade Psicoptica, que no considerada uma doena mental, pois no tem o condo de retirar ou diminuir acapacidade de entendimento do portador. De acordo com uma anlise do artigo 26,caput, do Cdigo Penal, chegamos a concluso que s considerado inimputvelaquele que, por doena mental ou desenvolvimento mental retardado ou incompletoera, ao tempo da conduta, incapaz de entender o carter ilcito do fato. Portanto,defendemos atravs do presente estudo, a imputabilidade penal do Serial Killer, jque o mesmo possui total conscincia da ilegalidade e imoralidade dos crimes quecomete, pois portador de um transtorno de personalidade psicoptica, que nopossui o condo de retirar ou diminuir a capacidade de entendimento do carterilcito do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento. Assim,conclumos que os elementos caracterizadores da imputabilidade penal, quaissejam: o volitivo e o intelectivo encontram-se presentes neste tipo de transgressor,fazendo com que o mesmo possa ser responsabilizado penalmente por seus atos.

    Palavras-chave: Serial Killer. Imputabilidade. Psicopatia. Transtorno dePersonalidade. Responsabilidade.

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    ABSTRACT

    This monograph cared about the approach of the criminal responsibility of serialkillers. Serial Killers are violent offenders who commit a series of murders with a timeinterval between them, their victims have the same profile, are chosen at random andkilled for no reason or apparent reason, are considered objects that serial killers useto satisfy their morbid fantasies. From an analysis of criminal responsibility, observethat serial killers cant be classified as having mental diseases, since most have thetime of the conduct, complete understanding of the illicit nature of the fact.Furthermore, it is important to differentiate the term psychopath, serial killer term,since not every psychopath turns into a serial killer, but most serial killers havepsychopathic personality. We will see that Serial Killers are carriers of a psychopathic

    personality disorder, which is not considered a mental diseases, it does not have thepower to remove or decrease the ability of understanding the carrier. According to ananalysis of Article 26, caput, of the Penal Code, came to the conclusion that only onewho considered untouchable by delayed or incomplete mental illness or mentaldevelopment was, at the time of conduct, unable to understand the illicit nature of thefact . Therefore, we argue in the present study, the criminal responsibility of theSerial Killer, since it has full awareness of the illegality and immorality of committingcrimes, it is bearer of a psychopathic personality disorder, which does not have thepower to remove or reduce the ability to understand the illicit nature of fact ordetermine in accordance with this understanding. Thus, we conclude that thecharacteristic elements of criminal responsibility, namely: the intellective andvolitional are present in this type of offender, causing the same can be held criminallyliable for their actions.

    Keywords: Serial Killer. Liability. Psychopathy. Disorder Personality. Responsibility.

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 11

    2 SERIAL KILLER .................................................................................................... 13

    2.1 Origem do Conceito ............................................................................................ 13

    2.2 Elementos Influenciadores .................................................................................. 14

    2.3 Classificao ....................................................................................................... 16

    2.4 Organizados e Desorganizados .......................................................................... 16

    2.4.1 Organizados ..................................................................................................... 162.4.2 Desorganizados ............................................................................................... 17

    2.5 Conexo dos Crimes ........................................................................................... 18

    2.5.1 Modus Operand................................................................................................ 19

    2.5.2 Ritual ................................................................................................................ 19

    2.5.3 Assinatura ........................................................................................................ 20

    3 DA IMPUTABILIDADE........................................................................................... 21

    3.1 Introduo ........................................................................................................... 21

    3.2 Conceito .............................................................................................................. 22

    3.3 Elementos da Imputabilidade .............................................................................. 23

    3.3.1 Intelectivo ......................................................................................................... 23

    3.3.2 Volitivo .............................................................................................................. 23

    3.4 Momento ............................................................................................................. 24

    4 DA INIMPUTABILIDADE ....................................................................................... 25

    4.1 Conceito .............................................................................................................. 25

    4.2 Critrios de aferio ............................................................................................ 25

    4.3 Requisitos da Inimputabilidade ............................................................................ 26

    4.4 Causas de Inimputabilidade ................................................................................ 27

    4.4.1 Menoridade ...................................................................................................... 27

    4.4.2 Doena Mental ................................................................................................. 28

    4.4.3 Desenvolvimento mental incompleto ................................................................ 29

    4.4.4 Desenvolvimento mental retardado .................................................................. 30

    4.4.5 Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou fora maior .................. 31

    5 DA SEMI-IMPUTABILIDADE OU RESPONSABILIDADE DIMINUDA................. 33

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    5.1 Conceito .............................................................................................................. 33

    5.2 Natureza Jurdica ................................................................................................ 34

    5.3 Efeitos ................................................................................................................. 34

    6 PSICOPATIA ......................................................................................................... 36

    6.1 Introduo ........................................................................................................... 36

    6.2 Conceito .............................................................................................................. 37

    6.3 Caractersticas .................................................................................................... 37

    6.3.1 Impulsividade ................................................................................................... 38

    6.3.2 Autocontrole deficiente ..................................................................................... 38

    6.3.3 Necessidade de Excitao ............................................................................... 39

    6.3.4 Falta de Responsabilidade ............................................................................... 396.3.5 Problemas comportamentais precoces ............................................................ 40

    6.3.6 Comportamento transgressor no adulto ........................................................... 40

    6.4 Imputabilidade do psicopata ................................................................................ 41

    7 SERIAL KILLERS: CASOS ESPECFICOS .......................................................... 43

    7.1 Theodore Bundy .................................................................................................. 43

    7.2 Jeffrey Dahmer .................................................................................................... 45

    7.3 John Wayne Gacy ............................................................................................... 47

    7.4 Jos Augusto do Amaral ..................................................................................... 49

    8 CONCLUSO ........................................................................................................ 51

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 54

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    1 INTRODUO

    Dos crimes contra a vida, o homicdio , sem dvida, o mais

    preocupante de todos perante a sociedade. Diante dos inmeros casos de

    homicdios no mundo, destacamos aqueles que so cometidos por assassinos em

    srie, de forma cruel e violenta, apenas para satisfazer sexualmente aquele que

    pratica o crime.

    Podemos associar o Serial Killer como aquele que busca satisfao

    sexual antes ou depois de praticar o crime, impondo vtima a prtica sdica de

    perverses, agresses e tortura, que fazem com que o assassino tenha maior prazer

    em cometer o homicdio.

    Conceituados como transgressores que matam uma srie de pessoas,

    com um intervalo de tempo entre uma vitima e outra, cujo motivo para a pratica dos

    crimes o prazer de exercer controle e domnio sobre suas vtimas.

    A grande discusso a respeito do tema se este tipo de assassino

    pode ser considerado louco, psicopata ou psictico e se poder ser ou no

    responsabilizado pelos crimes cometidos.

    Portanto, o estudo a respeito destes transgressores encontra margem

    no que toca a sua imputabilidade penal, que a capacidade de ser responsabilizado

    penalmente pela conduta fraudulenta praticada. Para que este criminoso possa ser

    considerado imputvel mister a presena de dois elementos: o volitivo e o intelectivo,

    que consistem na capacidade do indivduo de entender o carter ilcito do fato ou de

    determinar-se de acordo com esse entendimento, e de possuir domnio sobre seusatos e vontades.

    O Estado, atravs de seu direito de punir, trata da inimputabilidade em

    nosso ordenamento jurdico, protegendo os indivduos considerados inimputveis

    por doena mental, que na poca da conduta, no possua capacidade de entender

    a ilicitude do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento.

    Porm, no caso dos Serial Killers, estes no podem ser considerados

    doentes mentais devido a sua elevada inteligncia e conscincia de suas condutas,alm de possuir a plena capacidade de autodeterminao e de controlar seus atos e

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    impulsos. O assassino em srie possuidor de um transtorno de personalidade

    psicoptica, que no possui o condo de retirar ou diminuir a capacidade de

    entendimento de seu agente, fazendo com que estes assassinos em srie possuam

    o pleno entendimento da ilicitude de suas atitudes.

    Assim, frente aos vrios aspectos que envolvem esses criminosos, a

    inteno do presente estudo de entender a ideia de quem seja um Serial Killer, o

    que leva uma pessoa a praticar atos to perversos e sdicos, e, a partir desta

    anlise, chegar concluso a respeito da imputabilidade penal e da

    responsabilizao que poder ser atribuda a esses criminosos.

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    2 SERIAL KILLER

    2.1 Origem do Conceito

    H algum tempo a figura do Serial Killer vem sendo amplamente

    observada na sociedade. Diante de diversos casos que se tornaram conhecidos,a

    Cincia Jurdica passou ento a tratar esse tipo de criminoso com uma ateno

    especial. Dessa forma, ficouclaro que o assassino em srie possui caractersticas

    particulares, no podendo, portanto, ser comparado ao assassino comum e muitomenos receber a mesma pena.

    O termo Serial Killer comeou a ser usado em meados dos anos 70,

    por Robert K. Ressler, agente do FBI1e grande estudioso sobre o assunto.

    Podemos conceituar Serial Killer como um assassino que comete uma

    srie de homicdios com certo perodo de tempo entre eles. Suas vtimas possuem,

    na maioria das vezes, o mesmo perfil, so escolhidas ao acaso e mortas sem

    nenhuma razo aparente.Ilana Casoy conceitua Serial Killer como (2004, p.14), [...] indivduos

    que cometem uma srie de homicdios durante algum perodo de tempo, com pelo

    menos alguns dias de intervalos entre eles.

    Devemos, no entanto, diferenciar o Serial Killer de outras espcies de

    assassinos.

    Assim, o critrio usado para a diferenciao so os elementos que

    conectam os crimes praticados pelo assassino em srie, quais sejam: o ModusOperandi, o ritual e sua assinatura. Tais elementos no so encontrados em crimes

    cometidos por outras espcies de assassinos.

    Alm do Serial Killer, podemos observar mais dois tipos diferentes de

    assassinos: o matador impulsivo, conhecido como Spree Killer, e o matador em

    massa, tambm conhecido como Mass Murder.

    1FederalBureau of Investigation: rgo americano responsvel por todas as investigaes criminaisfederais.CASOY, Ilana. Serial Killer: Louco ou Cruel? So Paulo: Madras, 2004, p. 15.

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    O matador em massa o indivduo que mata quatro ou mais pessoas

    em um s local, em um s acontecimento. Normalmente, sua vontade de matar

    ocorre devido a uma exploso de violncia, um ataque de fria e dirigida a um

    grupo de pessoas que supostamente o oprimiu, rejeitou ou ameaou. Geralmente

    so pessoas jovens, sem experincia, considerados sociopatas por natureza e

    diferentes do resto da sociedade. Por tal motivo, quando se sentem ameaados,

    ficam extremamente violentos, o que os leva a cometer os homicdios.

    J o matador impulsivo a espcie de assassino que mata vrias

    pessoas em um perodo de horas, dias ou semanas. Suas vtimas no so

    escolhidas e seus crimes tambm no so planejados.

    Normalmente, suas vtimas esto no lugar errado e na hora errada. 2

    2.2 Elementos Influenciadores

    A questo que surge : o que leva um indivduo a se tornar um Serial

    Killer?

    H vrios estudos acerca do assunto. Uma pesquisa feita por mdicos

    psiquiatras norte americanos, em 1984, revela que, na maioria dos casos, os Serial

    Killers so possuidores de uma doena chamada de Transtorno de Personalidade

    Antissocial.3

    De acordo com Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, p. 220), os Critrios

    Diagnsticos para Transtorno da Personalidade Antissocial so:

    A. Um padro global de desrespeito e violao dos direitos dos outros, queocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos trs dos seguintescritrios:(1) Incapacidade de adequar-se s normas sociais com relao a comrelao a comportamentos lcitos, indicada pela execuo repetida de atosque constituem motivo de deteno;(2) Propenso para enganar, indicada por mentir repetidamente, usarnomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ouprazer;(3) Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro;(4) Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporaisou agresses fsicas;

    2Serial Killer. Disponvel em:http://www.serialkiller.com.br.Acesso em 01 de maio. 2014.

    3CASOY, Ilana. Serial Killer: Louco ou Cruel? So Paulo: Madras, 2004, p. 17.

    http://www.serialkiller.com.br/http://www.serialkiller.com.br/http://www.serialkiller.com.br/http://www.serialkiller.com.br/
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    (5) Desrespeito irresponsvel pela segurana prpria ou alheia;(6) Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso emmanter comportamento laboral consistente ou de honrar obrigaesfinanceiras;(7) Ausncia de remorso, indicada por indiferena ou racionalizao por

    ter ferido, maltratado ou roubado algum.B. O indivduo tem no mnimo 18 anos de idade.C. Existem evidncias de Transtorno da Conduta com incio antes dos 15anos de idade.D. A ocorrncia do comportamento antissocial no se d exclusivamentedurante o curso de Esquizofrenia ou Episdio Manaco.

    No entanto, alguns fatores fazem com que o distrbio chegue ao

    patamar mais avanado, o que pode levar uma pessoa a se tornar um assassino

    em srie. Dentre tais fatores podemos destacar o caso de uma famlia mal

    estruturada, traumas de infncia como estupros ou mortes de pessoas queridas,pais alcolatras ou ausentes, dificuldade financeiras, entre outras.

    Geralmente o Serial Killer apresenta trs comportamentos durante a

    infncia, conhecidos como Trade de MacDonald, quais sejam: enurese noturna

    (urinar na cama), piromania (obsesso por fogo e incndios) e a crueldade com

    animais.

    Outras caractersticas tambm so comuns na infncia desses

    assassinos como masturbao compulsiva, devaneios diurnos, isolamento social,pesadelos constantes, baixa autoestima, ataques de fria, agressividade exagerada,

    fobias, problemas com sono, entre outras. Eles apresentam quadros de delrios que

    impedem o reconhecimento da ilicitude do ato.

    O comportamento criminoso desses transgressores apresentado

    como um fenmeno complexo, envolvendo mltiplas causas. Dentre elas, podemos

    destacar trs elementos influenciadores na formao de um Serial Killer:

    a) Aspecto Biolgico: so fatores hereditrios e genticos, leses

    no sistema nervoso central, principalmente traumatismos no crebro.

    b) Aspecto Psicolgico: so doenas mentais que interferem na

    capacidade do indivduo em identificar que sua conduta incorreta.

    acreditam que esto agindo corretamente.

    c) Aspecto Social: so as atitudes praticadas pela sociedade que

    levam o indivduo a ter comportamentos agressivos e violentos, como o

    abuso sexual, a desigualdade social, violncia domstica, racismo,

    preconceito, entre outras.

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    2.3 Classif icao

    Os Serial Killers podem ser divididos em quatro tipos:

    a) Visionrio: aquele indivduo completamente insano, psictico.

    Sofre alucinaes, ouve supostas vozes dentro de sua cabea que o

    ordena a praticar condutas fraudulentas.

    b) Missionrio: aquele que se comporta perfeitamente dentro da

    sociedade, no aparenta qualquer sinal de psicopatia ou doena

    mental, sendo socialmente normal, porm, internamente, julga o mundo

    em vive indigno ou imoral. Este tipo de assassino em srie escolhe umgrupo especfico de pessoas para descontar suas angstias.

    c) Emotivos: aquele indivduo que mata por pura diverso, que

    realmente sente prazer e excitao em matar e em utilizar

    procedimentos sdicos e cruis.

    Libertinos: so os chamados assassinos sexuais, matam para sentir

    prazer, que proporcional aosofrimento da vtima sob tortura. Mutilar e

    matar lhe trazem prazer sexual.

    2.4 Organizados e Desorganizados

    Alm das quatro espcies nas quais os assassinos seriais podem ser

    classificados, a principal diviso estabelecida entre eles caracteriz-los como

    transgressores organizados ou desorganizados.

    2.4.1 Organizados

    Na maioria das vezes, os transgressores organizados so pessoas

    solitrias, pois se sentem superiores as outras, pensam que ningum

    suficientemente bom para eles.

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    So socialmente competentes, comumente so casados, e possuem

    bons empregos, pois parecem confiveis e aparentam ser extremamente

    inteligentes.

    Aps seus crimes, os organizados sempre retornam ao lugar onde

    praticaram o homicdio para acompanhar o desempenho da polcia e da percia, bem

    como os noticirios sobre o ocorrido. Nunca so taxados como suspeitos por serem

    carismticos e charmosos, e, no aparentarem, em tese, risco sociedade.

    Seus crimes so planejados minuciosamente. Sempre carregam

    consigo os instrumentos necessrios para pratica do crime e, antes de comet-lo,

    interagem com as vtimas. Durante a prtica do crime, sentem enorme prazer com o

    estupro e a tortura.Praticamente no deixam evidncias no local do crime. Costumam

    esconder ou incendiar o corpo da vtima, para no deixar rastros, e levam sempre

    consigo um pertence da vtima, como uma lembrana ou at mesmo como um

    trofu.

    Algumas caractersticas dos transgressores organizados so:

    inteligncia alta; socialmente competente, mas antissocial e de personalidade

    psicopata; sexualmente competente; nascido em famlia de classe mdia-alta; acena do crime planejada e controlada por cordas, algemas e mordaas; as torturas

    impostas s vtimas so exaustivamente fantasiadas; seu temperamento

    controlado durante o crime; sempre andam com seus instrumentos e armas, e, aps

    o crime, as levam embora; suas vtimas so pessoas desconhecidas, geralmente

    mulheres; suas vtimas so torturadas, estupradas e tem morte dolorosa e lenta; o

    corpo escondido, queimado ou esquartejado para dificultar a identificao pela

    polcia, entre outras caractersticas.

    2.4.2 Desorganizados

    Os assassinos seriais desorganizados tambm so solitrios, mas no

    por se sentirem superiores, e sim por serem estranhos e esquisitos perante o padro

    da sociedade.So literalmente desorganizados, tanto com seus crimes, quanto com

    suas vidas particulares, sua aparncia, sua casa, seu carro, o trabalho e estilode

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    vida. So incapazes de planejar um crime com eficincia, na maioria das vezes

    agem por impulso e praticam os crimes sempre perto do local onde moram. No

    levam consigo os materiais necessrios para execuo do crime, portanto, usam

    qualquer instrumento ou arma que encontrarem no local.

    raro manterem contato com a vtima antes de cometerem o crime.

    Sempre agem de forma violenta e sentem prazer com mutilaes aps a morte e

    necrofilia. No possuem interesse nenhum nas investigaes policiais. A cena do

    crime totalmente desorganizada, deixam o corpo da vtima em qualquer lugar,

    alm de deixarem vrias evidncias no local, como as armas utilizadas para praticar

    o crime.

    Outras caractersticas dos transgressores desorganizados so:inteligncia abaixo da mdia; distrbios psiquitricos graves; socialmente

    inadequados, relacionam-se apenas com a famlia; sexualmente incompetente ou

    virgem; nascidos em famlia de classe baixa; cena do crime completamente

    desorganizada, no h premeditao para a prtica do crime, agem por impulso;

    temperamento ansioso durante o crime; utiliza a arma que encontrar no local e

    sempre a deixa na cena do crime; no seleciona suas vtimas, so selecionadas ao

    acaso, rapidamente dominadas e mortas; seus crimes so brutais, com extremaviolncia, os rostos das vtimas so severamente espancados; praticam necrofilia;

    moram ou trabalham perto da cena do crime, entre outras.

    2.5 Conexo dos Crimes

    Os crimes cometidos pelos Serial Killers possuem trs elementos

    comuns que os conectam e permitem a identificao do indivduo e sua distino de

    outros tipos de homicidas. So eles: o modus operandi, ritual e a assinatura.

    O reconhecimento dos padres de comportamentos em cenas de

    crimes possibilita aos investigadores descobrirem caractersticas sobre os

    assassinos seriais, alm de permitir a distino entre agressores diferentes

    cometendo o mesmo tipo de crime.

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    2.5.1 Modus Operand

    Nada mais do que o modo que o assassino utilizou para praticar o

    crime. O modus operandi estabelecido observando a arma utilizada no crime, as

    caractersticas das vtimas e o lugar escolhido para a prtica do crime.

    O modo em que o transgressor age assegura o sucesso em sua

    empreitada, protegendo sua identidade e facilitando a fuga. Isso ocorre porque o

    modus operandi dinmico e malevel, pois o infrator vai ganhando experincia e

    confiana com o decorrer dos crimes cometidos. A cada crime o transgressor

    observa as condutas que possam facilitar o outro homicdio que possavir a cometer,ou seja, a cada crime cometido o transgressor vai aprimorando suas tcnicas e

    ganhando mais experincia.

    A respeito do assunto, Ilana Casoy (2004, p. 22) prescreve que, [...] o

    modo de agir dinmico e vai se sofisticando conforme o aprendizado do criminoso

    e a experincia adquirida com os crimes anteriores.

    2.5.2 Ritual

    O ritual, tambm conhecido como encenao, de acordo com Ilana

    Casoy (2004, p. 22):

    o comportamento que excede o necessrio para a execuo do crime.Baseia-se nas necessidades psicossexuais e crtico para satisfaoemocional do criminoso. Rituais so enraizados na fantasia efrequentemente envolvem parafilias, como cativeiro, escravido,posicionamento do corpo e overkill, entre outras.[...]

    Extramos desse entendimento que o ritual toda artimanha utilizada

    pra realizao do crime, portanto, o que faz o assassino sentir prazer em matar,

    no pela simples conduta tpica de matar algum, mas sim, pelo procedimento

    realizado, pela tortura imposta a vtima, pela verdadeira encenao do crime.

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    O criminoso tem a necessidade de expressar suas fantasias mais

    violentas e, quando ataca, cada crime cometido possui sua expresso pessoal ou

    ritual particular, baseados em suas prprias fantasias.

    2.5.3 Assinatura

    O Serial Killer tem uma importante caracterstica comportamental em

    seus crimes: ele sempre os assina, para deixar claro que foi ele quem os praticou.

    A assinatura um conjunto de comportamentos, combinando o modus

    operandi e o ritual. como uma digital, sempre nica e ligada necessidade do

    transgressor em cometer o crime. O Serial precisa demonstrar e deixar claro que

    aquele crime foi cometido por ele.

    De acordo com Ilana Casoy (2004, p. 62):

    So consideradas assinaturas quando o criminoso:- Mantm a atividade sexual em uma ordem especfica.- Usa repetidamente um especfico tipo de amarrao na vtima.- Inflige a diferentes vtimas o mesmo tipo de ferimentos.- Dispe o corpo de certa maneira peculiar e chocante.- Tortura e/ou mutila suas vtimas e/ou mantm outra forma decomportamento ritual.

    A partir dessa analise, fica evidente que o assassino em srie tem a

    necessidade de mostrar para todos que foi ele quem cometeu o crime, tanto atravs

    do ritual, como atravs de sua assinatura.

    A partir do momento em que forem identificados os trs elementos

    supramencionados em uma srie de homicdios cometidos com algum intervalo detempo entre eles, estamos diante de um Serial Killer.

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    3 DA IMPUTABILIDADE

    3.1 Introduo

    Antes de analisarmos a responsabilizao criminal de um Serial Killer,

    devemos compreender corretamente o conceito de imputabilidade penal e, para

    entendermos este instituto, devemos fazer uma anlise, ainda que breve, sobre

    culpabilidade.Assim, podemos dizer que a culpabilidade elemento do crime. Logo,

    no sistema finalista, o crime pode ser definido como: fato tpico, ilcito, praticado por

    agente culpvel, sendo a culpabilidade elemento do crime.4

    Portanto, culpabilidade a possibilidade de considerar algum culpvel

    pela prtica de uma infrao penal.

    De acordo com Cleber Masson (2013, p. 454):

    Culpabilidade o juzo de censura, o juzo de reprovabilidade que incidesobre a formao e a exteriozao da vontade do responsvel por um fatotpico e ilcito, com o propsito de aferir a necessidade de imposio depena.

    Assim, a imputabilidade nada mais que um dos elementos da

    culpabilidade penal, pois para o agente ser considerado culpvel, ele deve ser

    imputvel, ou seja, ele s poder ser responsabilizado criminalmente pelo fato tpico

    cometido, se for considerado imputvel.

    Esse o entendimento de Jos Geraldo da Silva (2010, p.107):

    O crime, analiticamente, apresenta dois elementos genricos: o fato tpico ea antijuridicidade. Mas no basta que o fato seja tpico e antijurdico. mister a presena da culpabilidade. Se o agente incapaz, por exemplo,por doena mental, falta-lhe a culpabilidade, que pressuposto daimposio da pena. De fato, no h pena sem culpabilidade. Trata-se, deum princpio de imperiosa exigncia da conscincia jurdica.A culpabilidade composta de trs elementos: imputabilidade, potencialconscincia da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.

    4MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado Parte Geral vol.1. So Paulo: Mtodo, 2013, p.

    453.

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    3.2 Conceito

    Passaremos agora a analisar o conceito de imputabilidade.

    Na viso de Fernando Capez (2012, p. 332):

    a capacidade de entender o carter ilcito do fato e de determinar-se deacordo com esse entendimento. O agente deve ter condies fsicas,psicolgicas, morais e mentais de saber que est realizando um ilcitopenal. Mas no s. Alm dessa capacidade plena de entendimento, deveter totais condies de controle sobre sua vontade. Em outras palavras,imputvel no apenas aquele que tem capacidade de inteleco sobre osignificado de sua conduta, mas tambm de comando da prpria vontade,

    de acordo com esse entendimento.[...]A imputabilidade apresenta, assim, um aspecto intelectivo, consistente nacapacidade de entendimento, e outro volitivo, que a faculdade de controlare comandar e comandar a prpria vontade.Faltando um desses elementos, o agente no ser considerado responsvelpelos seus atos.

    Antonio Carlos da Ponte (2001, p. 26) entende que:

    [...] a imputabilidade pode ser definida como a aptido do indivduo para

    praticar determinados atos com discernimento, que tem como equivalente acapacidade penal. Em suma, a condio pessoal de maturidade esanidade mental que confere ao agente a capacidade de entender o carterilcito do fato e de determinar-se segundo este entendimento.

    Por fim, de acordo com o entendimento de Cleber Masson (2013, p.

    468):

    [...] a capacidade mental, inerente ao ser humano de, ao tempo da aoou omisso, entender o carter ilcito do fato e de determinar-se de acordo

    com esse entendimento.Dessa forma, a imputabilidade penal depende de dois elementos: (1)intelectivo: a integridade biopsquica, consistente na perfeita sademental, que permite ao indivduo o entendimento do carter ilcito do fato; e(2) volitivo: o domnio da vontade, dizer que o agente controla ecomanda seus impulsos relativos compreenso do carter ilcito do fato,determinando-se de acordo com esse entendimento.Esses elementos devem estar simultaneamente presentes, pois, na falta deum deles, o sujeito ser tratado como inimputvel.

    Em resumo, imputabilidade o conjunto de condies que do ao

    agente capacidade para ser responsabilizado pela prtica de um ato punvel.

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    Assim, no devemos confundir imputabilidade com responsabilidade,

    pois a imputabilidade o precedente necessrio da culpabilidade, j a

    responsabilidade a possibilidade e aptido do indivduo ser punido por suas

    condutas, o dever jurdico que incumbe ao agente de responder pelo cometimento

    de um fato punvel, assim a responsabilidade uma decorrncia da imputabilidade.

    Portanto para que o indivduo seja responsabilizado pelo ato infracional

    praticado, ele deve, a poca da conduta, possuir perfeita sade mental para

    entender o carter ilcito do fato e domnio da sua vontade, com o fim de controlar e

    comandar seus prprios impulsos, pois na falta de um desses elementos, o agente

    no poder ser responsabilizado pela conduta praticada.

    3.3 Elementos da Imputabil idade

    Para ser caracterizada a imputabilidade, devem estar presentes dois

    elementos, quais sejam: o intelectivo e o volitivo.

    3.3.1 Intelectivo

    O elemento intelectivo nada mais que a capacidade de entendimento

    do indivduo, saber que a conduta que esta sendo praticada punvel, ter o total

    entendimento do carter ilcito do fato.

    3.3.2 Voli tivo

    O elemento volitivo a possibilidade de controlar e conduzir os seus

    prprios atos, ter o domnio da vontade, dizer que o agente possui controle de

    todos seus impulsos relativos a compreenso da ilicitude do fato.

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    3.4 Momento

    O momento para constatao da imputabilidade, de acordo com o

    artigo 26, caput, do Cdigo Penal, o tempo da ao ou omisso, ou seja, no

    momento da prtica da conduta.

    Art. 26: isento de pena o agente que, por doena mental oudesenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ao ouomisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou dedeterminar-se de acordo com esse entendimento.

    Dessa forma, dever ser analisado a poca da conduta se o agente era

    ou no imputvel, qualquer fato superveniente que venha ocorrer, no interferir na

    imputabilidade, s produzir efeitos processuais.

    o que entende Cleber Masson (2013, p. 468):

    O art. 26, caput, do Cdigo Penal claro: a imputabilidade deve seranalisada ao tempo da ao ou da omisso. Considera-se, portanto, aprtica da conduta. Qualquer alterao posterior nela no interfere,

    produzindo apenas efeitos processuais.Consequentemente, se ao tempo da conduta o ru era imputvel, asupervenincia de doena mental no altera esse quadro. O ru deve sertratado como imputvel, limitando-se a nova causa a suspender o processo,at o seu restabelecimento. o que dispe o art. 152, caput, do Cdigo deProcesso Penal.

    Art. 152: Se verificar que a doena mental sobreveio infrao o processocontinuar suspenso at que o acusado se restabelea. [...]

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    4 DA INIMPUTABILIDADE

    4.1 Conceito

    considerado inimputvel aquele que no possui condio de

    autodeterminao no momento da prtica da conduta ou que seja inteiramente

    incapaz de entender o carter ilcito do fato.

    O indivduo considerado inimputvel isento de pena e no poder ser

    responsabilizado criminalmente pelos atos praticados.

    Estabelece o artigo 26, caput,do Cdigo Penal que isento de pena

    aquele que por doena mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado,

    no era, ao tempo da ao ou omisso, capaz de entender o carter ilcito do fato.

    Portanto, podemos extrair do texto legal que aquele que na data da

    conduta praticada, no era capaz de entender que o fato era ilcito e culpvel, no

    poder ser responsabilizado por seus atos, sendo assim considerado inimputvel.

    4.2 Critrios de aferio

    O Brasil adotou o critrio cronolgico para constatao da

    inimputabilidade5, assim, todo indivduo ao completar 18 (dezoito) anos de idade,

    presume-se imputvel.

    Todavia, essa presuno relativa, pois admitido prova em contrrio.

    Assim, existem trs critrios para aferio da inimputabilidade, de

    acordo com Cleber Masson (2013, p. 469):

    1) Biolgico: basta, para a inimputabilidade, a presena de um problemamental, representado por uma doena mental, ou ento pordesenvolvimento mental incompleto ou retardado. irrelevante tenha osujeito, no caso concreto, se mostrado lcido ao tempo da prtica dainfrao penal para entender o carter ilcito do fato e determinar-se de

    5MASSON, Cleber. Op. cit. p. 468.

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    acordo com esse entendimento. O decisivo o fator biolgico, a formao eo desenvolvimento mental do ser humano. Esse sistema atribui demasiadovalor ao laudo pericial, pois se o auxiliar da Justia apontasse um problemamental, o magistrado nada poderia fazer. Seria presumida ainimputabilidade, de forma absoluta.

    2) Psicolgico: para esse sistema pouco importa se o indivduo apresentaou no alguma deficincia mental. Ser inimputvel ao se mostrarincapacitado de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se deacordo com esse entendimento. Seu inconveniente abrir espao para odesmedido arbtrio do julgador, pois competiria exclusivamente aomagistrado decidir sobre a imputabilidade do ru.3) Biopsicolgico: resulta da fuso dos dois anteriores: inimputvel quem,ao tempo da conduta, apresenta um problema mental, e, em razo disso,no possui capacidade para entender o carter ilcito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento. Esse sistema conjuga as atuaesdo magistrado e do perito. Este (perito) trata da questo biolgica, aquele(juiz) da psicolgica. A presuno de imputabilidade relativa (iuris tantum):aps os 18 anos, todos so imputveis, salvo prova pericial em sentido

    contrrio revelando a presena de causa mental deficiente, bem como oreconhecimento de que, por tal motivo, o agente no tinha ao tempo daconduta capacidade para entender o carter ilcito do fato ou determinar-sede acordo com esse entendimento.

    Em suma, o Cdigo Penal, em seu artigo 26, supramencionado, adota

    como regra o sistema biopsicolgico, portanto, no nosso ordenamento, todo

    indivduo considerado imputvel ao completar 18 anos de idade, salvo se provado

    mediante percia a presena de deficincia mental ou se o agente ao tempo da

    conduta no possua capacidade para entender a ilicitude do fato.

    4.3 Requisi tos da Inimputabilidade

    Para ser reconhecida a inimputabilidade do agente, mister necessrio a

    presena de trs requisitos, quais sejam:

    a) Causal: a existncia de doena mental ou desenvolvimento mental

    incompleto ou retardado.

    b) Cronolgico: a atuao do agente ao tempo da ao ou omisso

    delituosa.

    c) Consequencial: a inteira capacidade de entender o carter ilcito do

    fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.6

    Portanto, a inimputabilidade s poder ser identificada quando

    presente os trs requisitos descritos acima. Exceto no caso da menoridade, como j

    6CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral vol. 1. So Paulo: Saraiva, 2012.

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    foi mencionado anteriormente, pois todo indivduo menor de 18 anos de idade

    tambm considerado inimputvel, de acordo com o critrio cronolgico adotado

    pelo ordenamento jurdico brasileiro.

    4.4 Causas de Inimputabi lidade

    O Cdigo Penal brasileiro estabelece como causas de inimputabilidade:

    1) a menoridade:

    Art. 27: Os menores de 18 (dezoito) anos so penalmente inimputveis,ficando sujeitos s normas estabelecidas na legislao especial.

    2) doena Mental:

    Art. 26: isento de pena o agente que, por doena mental oudesenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ao ouomisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou dedeterminar-se de acordo com esse entendimento.

    3) desenvolvimento mental incompleto: Art. 26 caput c/c Art. 27.

    4) desenvolvimento mental retardado: Art. 26 caput.

    5) embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou fora maior:

    Art. 28: [...]Pargrafo 1: isento de pena o agente que, por embriaguez completa,proveniente de caso fortuito ou fora maior, era, ao tempo da ao ouomisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou dedeterminar-se de acordo com esse entendimento.

    4.4.1 Menoridade

    De acordo com o artigo 27 do Cdigo Penal, no qual foi adotado o

    critrio cronolgico, a menoridade causa de inimputabilidade penal, assim, todo

    indivduo menor de 18 anos de idade, no poder ser responsabilizado

    criminalmente pelos atos praticados, eles ficaro sujeitos s normas estabelecidas

    na legislao especial, no caso, no Estatuto da Criana e do Adolescente.

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    Dessa forma, independentemente da presena de doena ou

    desenvolvimento mental retardado, o indivduo menor de 18 considerado

    inimputvel.

    Tal presuno absoluta, no admitindo prova ao contrrio, de acordo

    com os artigos 228 da Constituio Federal e 27 do Cdigo de Processo Penal,

    supramencionado, eis o texto legal:

    Art. 228: So penalmente inimputveis os menores de dezoito anos, sujeitoss normas da legislao especial.

    Este critrio foi adotado pelo ordenamento jurdico brasileiro em razo

    da incapacidade do menor, que ainda no possui o desenvolvimento mentalcompleto, impossibilitando assim, a capacidade de discernimento em diferenciar o

    certo e o errado.

    Marques (1956) apud Silva (2010, p. 227), ensina:

    O menor, pelo desenvolvimento mental ainda incompleto, no possui amaturidade suficiente para dirigir sua conduta com o poder deautodeterminao em que se descubram, em pleno desenvolvimento, osfatores intelectuais e volitivos que devem nortear o comportamento humano.

    Da entender-se que o menor no deve considerar-se um imputvel.

    Em suma, a inimputabilidade do menor de 18 anos absoluta, se este

    vier a praticar algum ato infracional, responder mediante a legislao especial.

    4.4.2 Doena Mental

    Devemos interpretar a expresso doena mental como todas as

    enfermidades mentais propriamente ditas e as que afetam as funes intelectuais e

    volitivas. Devem ser observadas todas as alteraes psquicas ou mentais capazes

    de eliminar ou suprimir do agente a capacidade de entender a ilicitude do fato ou de

    comandar sua vontade de acordo com esse entendimento.

    Nesse sentido, preceitua Leiria (1980) apud Da Ponte (2002, p. 35):

    A doena mental, para os efeitos da norma jurdica, apresenta-se como umestado morboso da psiqu, capaz de produzir profundas inibies nainteligncia ou na vontade, no momento da ao ou omisso. Por outro

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    ngulo, de se ter presente que o conceito psiquitrico de doena mental,embora sirva de base para a formulao do conceito jurdico, nem semprecoincide exatamente com este. Igualmente, no de se confundir aperturbao da sade mental, com a doena mental propriamente dita. Nasenfermidades psquicas, h sempre uma perturbao da sade mental, mas

    tais perturbaes nem sempre decorrem de uma doena mental, naconcepo cientfica do termo.

    Em resumo, a doena mental, na esfera penal, engloba todas as

    alteraes da sade mental, independente da causa, que dificultam ou impedem o

    agente de entender, na data da conduta, o carter ilcito do fato.

    Insta salientar que a inimputabilidade s recair sobre o indivduo se,

    em decorrncia desse estado o agente seja inteiramente incapaz de entender a

    ilicitude do fato, no bastando somente a constatao da doena.

    4.4.3 Desenvolvimento mental incompleto

    Devemos interpretar o desenvolvimento mental incompleto como

    aquele que ainda no se concluiu, seja pela idade do agente ou pela falta de

    convivncia em sociedade, ocasionando falta de maturidade mental e emocional.

    A menoridade j foi abordada anteriormente, quanto ao silvcolas7, a

    imputabilidade depender do grau de assimilao dos valores sociais8, que ser

    revelado pelo exame pericial.

    Pelo entendimento de Jos Geraldo da Silva (2010, p. 224), a respeito

    dos silvcolas, entenderemos que, se ele no se ajustou ao nvel cultural da vida

    civilizada, dever ser considerado inimputvel.

    Em suma, dependendo da concluso do exame pericial, o silvculapoder ser: imputvel, se integrado a vida em sociedade; semi-imputvel, se

    conviver com a tribo e a sociedade e inimputvel, quando for completamente

    incapaz de conviver em sociedade.

    7Quem vive nas florestas, selvagem, indgena. Disponvel em Dicionrio Online de Portugus:http://www.dicio.com.br/silvicola/. Acesso em 05 de outubro. 2014.8MASSON, Cleber. Op. cit. p. 472.

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    4.4.4 Desenvolvimento mental retardado

    Desenvolvimento mental retardado aquele que no de compatibiliza

    com o estgio de vida em que se encontra o indivduo, estando, portanto, de forma

    inferior em relao ao desenvolvimento mental normal para a idade cronolgica do

    agente.

    Na viso de Fernando Capez (2012, p. 335):

    Ao contrrio do desenvolvimento incompleto, no qual no h maturidadepsquica em razo da ainda precoce fase de vida do agente ou da falta de

    conhecimento emprico, no desenvolvimento retardado a capacidade nocorresponde s expectativas para aquele momento da vida, o que significaque a plena potencialidade jamais ser atingida.

    o caso dos surdos-mudos e oligofrnicos. A respeito da oligofrenia,

    discorre Gomes (1987) apud Silva (2010, p. 224), so distrbios da evoluo

    cerebral durante a gestao, nos primeiros anos de vida, acompanhados de

    numerosas anomalias e com acentuado dficitintelectual.

    As oligofrenias devem ser compreendidas em suas mais variadas

    manifestaes, como: idiotice, imbecilidade e a debilidade mental. Os oligofrnicos

    so inimputveis por fora do artigo 26 do Cdigo Penal, porm, estaro sujeitos

    medida de segurana, como preceitua o artigo 97 do mesmo cdex:

    Art. 97 - Se o agente for inimputvel, o juiz determinar sua internao (art.26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punvel com deteno,poder o juiz submet-lo a tratamento ambulatorial.

    Entretanto, no caso do surdo-mudo, ele no consideradoautomaticamente inimputvel, competir ao exame pericial demonstrar o grau de

    prejuzo a ele causado pela falha biolgica9. Portanto, poder ocorrer trs situaes

    distintas: se ao tempo da ao ou omisso, o agente era capaz de entender a

    ilicitude do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, ser

    considerado imputvel para fins legais; se no era inteiramente capaz de entender a

    ilicitude do fato, ser considerado semi-imputvel e, se era completamente incapaz

    9MASSON, Cleber. Op. cit. p. 473.

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    de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

    entendimento, ser considerado inimputvel.

    4.4.5 Embriaguez completa proveniente de caso fortu ito ou fora maior

    Cleber Masson (2013, p. 481), conceitua embriaguez como:

    a intoxicao aguda produzida no corpo humano pelo lcool ou porsubstncia de efeitos anlogos, apta a provocar a excluso da capacidadede entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esseentendimento.

    Na viso de Marques (1956) apud Silva (2010, p. 233):

    A embriagues uma intoxicao aguda e transitria causada pelo lcool,cujos efeitos podem progredir de uma ligeira excitao inicial at ao estadode paralisia e coma.

    Por fim, Fernando Capez (2012, p. 338), entende que:

    Causa capaz de levar excluso da capacidade de entendimento e vontadedo agente, em virtude de uma intoxicao aguda e transitria causada porlcool ou qualquer substncia e efeitos psicotrpicos, sejam elesentorpecentes (morfina, pio, etc.), estimulantes (cocana) ou alucingenos(cido lisrgico).

    Entretanto, a embriaguez dividida em espcies e ela s

    considerada causa de inimputabilidade penal quando for completa e proveniente de

    caso fortuito ou fora maior.A embriaguez completa aquela que retira totalmente a capacidade de

    entendimento do agente, que perde, de forma integral, a noo de suas atitudes e

    do que esta acontecendo ao seu redor.

    A embriaguez decorrente de caso fortuito ocorre quando o indivduo

    ingere a substncia na ignorncia do contedo alcolico ou dos efeitos psicotrpicos

    que esta possa vir a causar. Nesta hiptese, o agente no se embriagou de forma

    voluntria, mas sim, porque agiu com culpa.

    J a embriaguez decorrente de fora maior, deriva de fora externa ao

    indivduo, que obrigado a consumir a substncia. Pelo entendimento de Marques

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    (1997) apud Capez (2012, p. 342), na embriaguez fortuita, a alcoolizao decorre

    de fatores imprevistos, enquanto na derivada de fora maior a intoxicao provem

    de fora externa que opera contra a vontade de uma pessoa, compelindo-a a ingerir

    a bebida.

    Portanto, a embriaguez, decorrente de caso fortuito ou fora maior, se

    completa, capaz de ao tempo da conduta retirar integralmente a capacidade de

    entendimento do agente, exclui a imputabilidade penal, tornando o agente isento de

    pena.

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    5 DA SEMI-IMPUTABILIDADE OU RESPONSABILIDADE DIMINUDA

    5.1 Conceito

    De acordo com os ensinamentos de Fernando Capez (2012, p. 347):

    a perda de parte da capacidade de entendimento e autodeterminao, emrazo de doena mental ou de desenvolvimento incompleto ou retardado.Alcana os indivduos em que as perturbaes psquicas tornam menor opoder de autodeterminao e mais fraca a resistncia interior em relao

    prtica do crime. Na verdade, o agente imputvel e responsvel por teralguma noo do que faz, mas sua responsabilidade reduzida em virtudede ter agido com culpabilidade diminuda em consequncia das suascondies pessoais.

    O conceito de semi-imputabilidade tambm pode ser extrado do

    pargrafo nico, do artigo 26 do Cdigo Penal, que dispe:

    Art. 26 [...]Pargrafo nico - A pena pode ser reduzida de um a dois teros, se oagente, em virtude de perturbao de sade mental ou por desenvolvimentomental incompleto ou retardado no era inteiramente capaz de entender ocarter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esseentendimento.

    De acordo com o texto legal, a perturbao da sade mental tambm

    uma doena, porm, mais branda em relao as doenas que implicam na

    inimputabilidade penal. Aqui, a doena no elimina totalmente a capacidade de

    entendimento do carter ilcito do fato, mas reduz, por parte, essa capacidade.

    Portanto, ao tempo da ao ou omisso, o indivduo tem diminuda a

    sua capacidade de entendimento e de autodeterminao, que continuam presentes,

    porm, de forma reduzida. Por tal motivo a imputabilidade no excluda e o agente

    no isento de pena, entretanto, o indivduo esta em posio biolgica e psicolgica

    inferior ao imputvel, a reprovabilidade da conduta praticada menor, portanto o

    agente no isento de pena, mas sim, tem ela reduzida de 1/3 (um tero) a 2/3 (dois

    teros).

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    5.2 Natureza Jurdica

    A responsabilidade diminuda ou semi-imputabilidade nada mais do

    que causa obrigatria de diminuio de pena. Assim, se ficar demonstrado nos autos

    que o agente, como ensina Cleber Masson (2013, p. 476) [...] fronteirio, isto ,

    limtrofe entre a imputabilidade e a inimputabilidade, o magistrado dever

    obrigatoriamente reduzir a pena de 1 (um) a 2/3 (dois teros).

    Ademais, a diminuio de pena obrigatria para o juiz, o nico critrio

    a ser analisado por este, a quantidade a ser reduzida, observando os limites

    legais. Assim entende o Superior Tribunal de Justia que o montante da reduo,maior ou menor, deve levar em conta o grau de diminuio da capacidade de

    entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

    entendimento.10

    Portanto, se for demonstrado pericialmente que o agente, ao tempo da

    ao ou omisso, estava mais perto de ser considerado imputvel, a reduo a ser

    aplicada ser menor, mas se estava mais perto de ser considerado inimputvel, a

    reduo poder ser aplicada em seu patamar mximo.

    5.3 Efeitos

    Como foi visto anteriormente, o agente considerado inimputvel, ao

    cometer um fato tpico e ilcito, ser absolvido em razo da ausncia de

    culpabilidade, no entanto, a absolvio ser imprpria, pois dever ser aplicada a

    medida de segurana em face da presuno de periculosidade.

    J na responsabilidade diminuda ou semi-imputabilidade, a

    culpabilidade esta presente, portanto, o sujeito dever ser condenado, mas, por

    possuir menor grau de censurabilidade, a pena ser obrigatoriamente reduzida de 1

    (um) a 2/3 (dois teros).

    Por outro lado, se o exame pericial recomendar que o semi-imputvel

    necessita de tratamento curativo, por ser dotado de periculosidade, a pena a ser

    10HC 50.210/SP, rel. Min. Gilson Dipp, 5 Turma, j. 17/08/2006.

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    aplicada poder ser substituda por medida de segurana, de acordo com o artigo 98

    do Cdigo Penal:

    Art. 98 - Na hiptese do pargrafo nico do art. 26 deste Cdigo enecessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativade liberdade pode ser substituda pela internao, ou tratamentoambulatorial, pelo prazo mnimo de 1 (um) a 3 (trs) anos, nos termos doartigo anterior e respectivos 1 a 4.

    Em suma, o semi-imputvel ter sua pena diminuda ou substituda por

    medida de segurana. Com a reforma do Cdigo Penal, em sua Parte Geral, no ano

    de 1984, foi adotado o sistema vicariante ou unitrio11, pelo qual aplicada a pena

    ou a medida de segurana, alternativamente, ou seja, o ru cumpre apenas uma dassanes impostas, as quais no so cumulveis.

    11SILVA, Jos Geraldo da. Teoria do Crime. 4 Ed. Campinas: Millennium Editora, 2010.

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    6 PSICOPATIA

    6.1 Introduo

    Psicopata e Serial Killer so termos completamente diferentes, um

    Serial Killer no obrigatoriamente um psicopata, porm, importante ainda frisar,

    dentro do presente estudo, o conceito e caractersticas de um psicopata, pois, como

    nos ensina Fernndez (2002) apud Bonfim (2004, p. 92) psicopata e assassino emsrie so termos que inicialmente soam distintos, mas que em casos extremos

    podem confluir em um mesmo sujeito.

    Em sua maioria, o Serial Killer apresenta um transtorno de

    personalidade psicoptica, porm, no significa dizer que todos so assim. Tambm

    no podemos dizer que todo psicopata um Serial Killer ou que este, um dia, se

    tornar um, j que a psicopatia aborda diferentes nveis que podem levar a pratica

    de diversos delitos.

    Portanto, poucos so os psicopatas que se tornam um assassino em

    srie, mas so muitos os Serial Killers que apresentam, de certa forma, o transtorno

    de personalidade psicoptica.

    Ademais, devemos diferenciar o termo psicopata do termo psictico,

    pois o psicopata no possui uma doena mental, mas sim um transtorno de

    personalidade, j os psicticos so doentes mentais, portanto, podemos ter tanto

    Serial Killer que apresente um transtorno de personalidade psicoptica como um

    Serial Killer psictico.

    Insta salientar que, ao analisar as caractersticas presentes em um

    psicopata, chegamos concluso que grandes so as possibilidades do mesmo se

    tornar um assassino em srie, pois podem deixar de praticar pequenos delitos ou

    atos de sadismo e passarem a cometer homicdios, em busca de uma maior

    excitao, porm, como vimos anteriormente, no uma regra e no significa que

    todos sero assim.

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    6.2 Conceito

    De acordo com o entendimento de Odon Ramos Maranho (1995, p.

    95):

    O psicopata antissocial. Sua conduta frequentemente o leva a conflitoscom a sociedade. Ele impelido por impulsos primitivos e por ardentesdesejos de excitao. Na sua busca autocentrada de prazeres, ignora asrestries de sua cultura. O psicopata altamente impulsivo. um homempara quem o momento que passa um segmento de tempo separado dosdemais. Suas aes no so planejadas e ele guiado pelos seusimpulsos. O psicopata agressivo. Ele aprendeu poucos meios socializados

    de lutar contra frustraes. Tem pequeno ou nenhum sentimento de culpa.Pode cometer os mais apavorantes atos e ainda rememor-los semqualquer remorso. Tem uma capacidade pervertida para o amor. Suasrelaes emocionais, quando existem, so estreis, passageiras e intentamapenas satisfazer seus prprios desejos. Estes dois ltimos traos:ausncia de amor e de sentimento de culpa marcam visivelmente opsicopata, como diferente dos demais homens.

    Na viso de Ana Beatriz Barbosa Silva (2010, p. 40):

    Os psicopatas em geral so indivduos frios, calculistas, inescrupulosos,

    dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o prpriobenefcio. Eles so incapazes de estabelecer vnculos afetivos ou de secolocar no lugar do outro. So desprovidos de culpa ou remorso e, muitasvezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor nvel degravidade e com formas diferentes de manifestarem os seus atostransgressores, os psicopatas so verdadeiros predadores sociais, emcujas veias e aterias corre um sangue glido.

    Em suma, psicopata o indivduo que comete crimes que so

    caracterizados por sua forma de execuo, onde percebida a deficincia de

    personalidade, que demonstrada pela violncia, crueldade e falta desensibilidade.Sua caracterstica marcante o comportamento violento perante a sociedade, que

    causado por um desvio de carter.

    6.3 Caractersticas

    importante ressaltar, segundo Silva (2010, p. 40) que [...] o termopsicopata pode dar a falsa impresso de que se trata de indivduos loucos ou

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    doentes mentais, mas no isso, mesmo que a palavra psicopata signifique

    doena da mente12, a psicopatia no se encaixa nas doenas mentais, de acordo

    com a viso tradicional.

    Os psicopatas no so considerados loucos ou doentes mentais e no

    apresentam nenhum tipo de desorientao, tambm no sofrem alucinaes ou

    delrios e tampouco possuem intenso sofrimento mental.

    Pelo contrrio, suas condutas criminosas no decorrem de mentes

    adoecidas, mas sim de um raciocnio calculista e frio, combinado com a

    incapacidade de sentir emoes e, principalmente, remorso com algum mal que

    tenha praticado.

    6.3.1 Impulsiv idade

    Impulsividade agir inconscientemente. A impulsividade apresentada

    por estes indivduos sempre visa alcanar o prazer, alvio imediato ou satisfao

    sexual em certas situaes, sem possurem qualquer vestgio de arrependimento ou

    culpa.

    6.3.2 Autocontrole defic iente

    Pessoas normas possuem controle arbitrrio sobre seus

    comportamentos, j os psicopatas, apresentam autocontrole extremamentereduzido, pois tem tendncia a responder s crticas e frustraes com violncia

    exagerada, desaforos e ameaas.

    Se ofendem facilmente e se tornam violentos e agressivos por motivos

    irrelevantes e banais, porm, apesar dessa exploso de agressividade ser intensa,

    ela ocorre em um curto perodo de tempo, e, logo aps, eles voltam a se comportam

    como se no tivesse acontecido nada. So os chamadosataques de fria.

    12Do grego, psyche= mente; e pathos= doena.SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas: o Psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro: Objetiva,2010.

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    No entanto, um psicopata ao ter uma exploso de agressividade, chega

    a transparecer um ataque de loucura e da a impresso de estar louco, porm, eles

    sabem exatamente o que esto fazendo e aonde querem ir, no sentido de

    amedrontar, magoar ou machucar alguma pessoa.

    6.3.3 Necessidade de Excitao

    Os psicopatas no suportam o tdio e muito menos situaes

    rotineiras, eles procuram situaes que os mantm em um estado permanente de

    extrema excitao.

    Nessas buscas, muitas vezes, acabam se envolvendo em situaes

    ilegais, como agresses fsicas, direo perigosa, uso de drogas, promiscuidade

    sexual, etc.

    Em razo disso, raramente encontramos psicopatas exercendo

    atividades que necessitam de estabilidade e alta concentrao por longos perodos

    de tempo. Como preceitua Silva (2010, p. 96), muitos psicopatas procuram nos atos

    perigosos, proibidos ou ilegais que praticam o suspense e a excitao que estes

    atos provocam. Para eles, tudo isso no passa de mero prazer e diverso imediatos,

    sem qualquer outra conotao.

    6.3.4 Falta de Responsabilidade

    Esses indivduos no se preocupam com obrigaes e muito menos

    com compromissos. So incapazes de serem responsveis e confiveis em todas as

    reas de suas vidas.

    No trabalho, possuem desempenho insuficiente, so indisciplinados,

    faltando frequentemente e at praticam o uso indevido dos recursos que so

    oferecidos pela empresa ou violam a poltica da companhia.

    Nas relaes familiares, seguem o mesmo padro de

    irresponsabilidade e indiferena, em geral, afirmam que se importam com suas

    famlias, mas seu comportamento e atitudes contradizem suas palavras.

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    Costumam tratar as pessoas como objetos e, quando no servem

    mais, so descartadas da mesma forma que fazemos com utenslios usados.

    6.3.5 Problemas comportamentais precoces

    Os psicopatas costumam exibir problemas comportamentais graves

    desde crianas, como mentiras, vandalismo, violncia perante os colegas ou

    animais. Costumam intimidar outras crianas, no ambiente escolar, ameaandode

    agresses e os envergonhando com brincadeiras ofensivas.

    importante ressaltar que um indivduo no vira um psicopata, ele

    nasce assim e permanece assim por toda sua vida.

    6.3.6 Comportamento transgressor no adulto

    A sociedade estabelecida mediante a utilizao de regras e normasque determinam o comportamento dos integrantes. Isso existe para assegurar uma

    sociedade justa em que todos os membros tendem a cumprir s normas e regras

    com o objetivo de conviver em um ambiente socivel e agradvel.

    Assim, assegurado a todas as pessoas os direitos e deveres

    inerentes sociedade, para ser obtido o mnimo de respeito e harmonia na

    convivncia em grupo.

    Os psicopatas alm de transgredirem as normas sociais, tambm asignoram e consideram simples obstculos, que precisam ser superados para atingir

    o pice de sua excitao. Eles sentem prazer ao infringirem normas e praticarem

    atos ilcitos.

    As leis e regras sociais no causam a mesma inibio nos psicopatas,

    que produzem no resto da sociedade, em razo disso, observamos que no decorrer

    da vida desses indivduos, o comportamento antissocial, transgressor e violento

    uma constante.

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    6.4 Imputabilidade do psicopata

    A psicopatia no uma enfermidade psquica, mas sim, um transtorno

    de personalidade. A Organizao Mundial da Sade (OMS), o termo Transtorno de

    Personalidade Dissocial, que esta registrado sob o cdigo F60.2, no CID 10

    (Classificao Internacional de Doenas e Problemas Relacionados a Sade)13:

    Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigaessociais, falta de empatia para com os outros. H um desvio considervelentre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. Ocomportamento no facilmente modificado pelas experincias adversas,inclusive pelas punies. Existe uma baixa tolerncia frustrao e umbaixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violncia. Existeuma tendncia a culpar os outros ou a fornecer racionalizaes plausveispara explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito coma sociedade.

    Dessa forma resta claro que a psicopatia no pode ser classificada

    como uma doena mental e sim, como um transtorno de personalidade. Essa

    concluso decorre do prprio comportamento dos portadores, pois a psicopatia no

    se manifesta por meio de sintomas, mas de comportamento e condutas antissociais.No tocante a imputabilidade dos psicopatas, existe uma divergncia

    doutrinria, pois o entendimento da capacidade de culpabilidade desses indivduos,

    no assunto pacfico dentre os doutrinadores.

    Apesar do Cdigo Penal no disciplinar especificadamente tal matria,

    o mesmo nos apresenta subsdios claros para soluo desse problema.

    De acordo com o caput, do artigo 26, do Cdigo Penal, apenas so

    considerados inimputveis, aqueles que por doena mental ou desenvolvimento

    mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ao ou da omisso, inteiramente

    incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

    entendimento.

    Portanto, podemos extrair do texto legal que, para que a

    inimputabilidade seja reconhecida necessrio que a psicopatia seja considerada

    13LISTA CID-10 - A Classificao Internacional de Doenas e Problemas Relacionados Sade (tambmconhecida como Classificao Internacional de Doenas CID 10) publicada pela Organizao Mundial de

    Sade (OMS) e visa padronizar a codificao de doenas e outros problemas relacionados sade. A CID 10fornece cdigos relativos classificao de doenas e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectosanormais, queixas, circunstncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenas. A cada estado desade atribuda uma categoria nica qual corresponde um cdigo CID 10. Disponvel emhttp://www.medicinanet.com.br/cid10.htm.Acesso em 12 de outubro de 2014.

    http://www.medicinanet.com.br/cid10.htmhttp://www.medicinanet.com.br/cid10.htmhttp://www.medicinanet.com.br/cid10.htm
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    uma doena mental ou causa de desenvolvimento mental retardado ou incompleto.

    Se caso uma dessas anomalias for verificada, seria preciso analisar se ao tempo da

    ao ou omisso, tal circunstncia seria capaz de retirar totalmente a capacidade do

    agente de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

    entendimento.

    Por outro lado, no tocante a responsabilidade diminuda ou semi-

    imputabilidade, o psicopata no deve ser avaliado como portador de uma

    perturbao da sade mental. Como j mencionado anteriormente, a psicopatia no

    causa nenhuma alterao na sade mental de quem a possui, pois o fato do

    indivduo manifestar o comportamento antissocial, no implica, necessariamente, no

    desempenho de sua sade mental. E, ainda que a psicopatia fosse avaliada comouma perturbao da sade mental, tal hiptese no seria capaz de diminuir a

    capacidade de entendimento do agente.

    Ademais, entendemos que a psicopatia no tem aptido de, por si s,

    retirar ou diminuir a capacidade de entendimento de seu portador, pois o psicopata

    no portador de doena mental, nem sequer desenvolvimento mental incompleto e

    tambm no possui nenhuma causa de perturbao da sade mental.

    Diante do exposto e observando os requisitos legais impostos peloartigo 26, capute pargrafo nico do Cdigo Penal, e aos ensinamentos a respeito

    da definio da psicopatia, no verificado nenhuma relao da mesma com as

    hipteses de afastamento da imputabilidade do indivduo.

    Portanto, conclumos que o psicopata considerado imputvel, pois

    no esta acometido de nenhum distrbio que possa provocar qualquer alterao em

    sua sade psquica.

    Ademais, os psicopatas possuem total conscincia da ilegalidade,imoralidade e leviandade das condutas que praticam e autocontrole suficiente para

    impedir a prtica de qualquer ato que refrutarem menos benfico, assim, resta claro

    a presena dos elementos intelectivo e volitivo, que caracterizam a imputabilidade

    do agente.

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    7 SERIAL KILLERS: CASOS ESPECFICOS

    7.1 Theodore Bundy

    Theodore Robert Bundy, mais conhecido como Ted Bundy, sempre foi

    um bom aluno, um homem charmoso e muito educado, era casado e tinha uma boa

    convivncia com a vizinhana do local onde morava, era um homem comum, que

    no aparentava perigo a ningum.Sua me era uma jovem mulher solteira, que parecia mais ser sua irm

    mais velha, em razo disso, Ted sempre considerou seus avs, como os verdadeiros

    pais, pois eles o haviam adotado desde pequeno, para proteger a reputao da filha,

    que havia engravidado muito jovem.

    Seu av era um homem extremamente agressivo e espancava

    frequentemente sua esposa. Ted e sua irm, sempre presenciavam a cena.

    Quando tinha 4 (quatro) anos de idade, Ted e sua irm mudaram de

    cidade, ela havia casado com Johnnie C. Bundy, sobrenome que foi adotado por

    Ted. O casal teve mais 4 (quatro) filhos, que foram criados por Ted e, apesar do

    padrasto tratar Ted como se fosse seu prprio filho, este nunca o aceitou como pai.

    Para Ted, seu pai era o av e ele no se conformava em ter se separado dele.

    Quando adolescente Ted era solitrio, tmido e passava a maior parte

    do tempo mutilando e torturando pequenos animais. Porm, nunca deixou de ser um

    aluno brilhante, extremamente inteligente e educado, um exemplo para os outros

    alunos e muito querido pelos professores.

    Fez faculdade na Universidade de Washington, onde estudou chins.

    Para garantir seu sustento, teve vrios empregos, mas nunca conseguiu ficar por

    muito tempo em algum, pois diziam que no era digno de confiana.

    Em 1987, Ted comeou a relacionar-se com sua primeira namorada,

    formavam um belo par e se davam muito bem, com o tempo Ted ficou

    completamente apaixonado pela moa, mas esse sentimento no era recproco,

    ento aps descobrir algumas mentiras, a moa terminou o relacionamento com

    Ted, que nunca aceitou a rejeio.

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    Arrasado com o trmino da relao, Ted retornou aos estudos e

    formou-se em psicologia, como o melhor aluno do curso, tinha necessidade de

    mostrar para os outros que era o melhor. Aps algum tempo, Ted conheceu Meg

    Anders, com quem se casou.

    Seu primeiro crime foi cometido em novembro de 1973, Ted espancou

    at a morte uma menina de 15 (quinze) anos, cortou sua garganta e sodomizou o

    cadver. Os restos mortais da menina foram encontrados apenas em 1976, em

    estgio de decomposio avanado.

    Aps esse homicdio, Ted no parou mais de matar, suas vtimas eram

    normalmente mulheres magras, morenas, na faixa etria de 12 a 25 anos. Ao todo,

    calcula-se que Ted cometeu mais de 28 homicdios e todos praticamente com omesmo modus operandi.

    Para capturar suas vtimas, Ted engessava seu brao ou perna e fingia

    estar machucado, dessa forma, pedia a vtima escolhida, para o ajudar a carregar

    algum objeto at o carro, nesta hora, Ted espancava a cabea da vtima e a

    colocava dentro do carro, desacordada, isso facilitava que Ted a algemasse para

    que no fugisse. Alguns homicdios foram cometidos dentro de fraternidades de

    universidade, Ted entrava de madrugada e espancava a vtima ainda dormindo.Aps desacordar todas as vtimas, Ted espancava brutalmente o rosto,

    que ficava completamente desfigurado, a violncia era tanta que era difcil o

    reconhecimento de suas vtimas aps o ataque. Aps a sesso de espancamento,

    Ted estuprava as vtimas e as sodomizava introduzindo algum objeto dentro da

    vagina, alm disso, vrias vtimas foram encontradas com marcas de mordidas pelo

    corpo. Depois Ted mutilava o cadver e espalhava os pedaos por diversos locais.

    Ted Bundy foi preso em 1978, quando tentou fugir de um policial queconstatou que o carro que ele dirigia era roubado. Depois de incansveis

    investigaes e com Ted preso, os investigadores recolherem as poucas provas que

    haviam contra ele e em julho do mesmo ano, Ted foi finalmente acusado do

    assassinato de 3 (trs) garotas.

    Durante o julgamento, Bundy quis defender-se sozinho, pois confiava

    fielmente em seu potencial de convencer o jri de sua inocncia, porm, as

    testemunhas o reconheceram e a percia realizada por um dentista, identificou as

    marcas das mordidas na pele das vtimas como sendo de Bundy, essas provas

    destruram sua defesa.

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    Assim, Ted Bundy foi considerado culpado por todas as mortes das

    quais fora acusado e em 1979 foi condenado morte na cadeira eltrica. Mesmo

    tendo recorrido vrias vezes de sua sentena de morte, em janeiro de 1989, aos 42

    anos de idade, Theodore foi eletrocutado.

    Antes de ser executado, Ted confessou aos policias que odiava as

    mulheres por causa de sua me, que tinha a mesma aparncia das mulheres que

    assassinou, quando era jovem.

    Ted ficou conhecido por sua famosa frase, de acordo com Ilana Casoy

    (2004, p. 136):

    Ns, serial killers, somos seus filhos, ns somos seus maridos, ns estamosem toda a parte. E haver mais de suas crianas mortas no dia de amanh.Voc sentir o ltimo suspiro deixando seus corpos. Voc estar olhandodentro de seus olhos. Uma pessoa nesta situao Deus!

    7.2 Jeffrey Dahmer

    Mais conhecido como canibal americano, Jeffrey nasceu no ano de

    1960, em Milwalkee, mas quando tinha 6 anos de idade, mudou-se para Ohio.

    Aparentava ser uma criana normal, at que na adolescncia comeou

    a apresentar sinais de timidez, isso fez com que ele se tornasse muito solitrio e

    isolado das outras pessoas.

    Como vivia sozinho, Jeffrey passou a fazer experimentos mrbidos

    com pequenos animais, como decapitar roedores, utilizar cidos para derreter ossos

    de galinhas, empalhar cabeas de cachorros, etc.

    Quando adolescente passou a ter problemas com alcoolismo, at que

    ao completar 18 (dezoito) anos, conheceu um rapaz em um bar gay e o convidou

    para ir at sua casa, quando o rapaz decidiu ir embora, Jeffrey no se conformou

    com a rejeio e acabou o matando por estrangulamento. Aps a morte, Jeffrey

    amassou o crnio e desmembrou o corpo, colocando seus pedaos em sacos e

    espalhando pela cidade.

    No ano de 1981, Jeffrey acabou sendo preso por embriaguez, o que

    levou seu pai a fazer com que ele mudasse para Wisconsin, com a av. Quando

    passou a morar com a av, Jeffrey pareceu se acalmar por um tempo.

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    Porm, em 1986, foi preso por praticar masturbao na frente de dois

    meninos, mas a pena foi modificada por aconselhamento. At que em 1987, Jeffrey

    fez sua segunda vtima, que tambm tinha conhecido em um bar gay, levou o rapaz

    para um hotel, os dois fizeram sexo e logo aps a vtima foi estrangulada. Guardou o

    corpo e uma mala e o levou para o poro da casa da av, onde fez sexo com o

    cadver e depois o desmembrou, jogando as partes no lixo.

    Aps o segundo homicdio, Jeffrey no parou mais de matar, utilizando

    o mesmo modus operandi com todas as vtimas. Jeffrey escolhia suas vtimas em

    bares ou saunas gays, atraa-as para seu apartamento, s vezes oferecia dinheiro

    como recompensa para tirar fotos ou simplesmente os convidava para tomar uma

    bebida. Durante o encontro, Jeffrey drogava a vtima e a estrangulava e depoismasturbava-se sobre o cadver ou fazia sexo com ele. Jeffrey ainda tirava fotos de

    todos os momentos de seus terrveis assassinatos, pois gostava de guardar

    recordaes das vtimas.

    Mas no parava por a, Jeffrey ainda abria o corpo de suas vtimas,

    comia as tripas e o corao e utilizava a carne dos msculos para fazer iguarias

    culinrias. O corpo de algumas vtimas era mantido em seu apartamento durante

    certo tempo, para que ele pudesse fazer sexo com o cadver a hora que quisesse.Para livrar-se dos corpos, Jeffrey utilizava produtos qumicos e cidos,

    para reduzir a carne e derreter os ossos, formando um lquido que podia escorrer

    pelos ralos. Porm, sempre guardava as genitlias e os crnios como lembrana.

    Em julho de 1992, aps anos cometendo inmeros homicdios, Jeffrey

    foi acusado e foi a julgamento. Em seu julgamento, o advogado de defesa alegou

    insanidade e doena mental e a acusao sustentou a tese de que Jeffrey era um

    perigoso psicopata que atraia suas vtimas e as matava sem nenhum remorso e quetinha total conscincia e controle sobre seus atos. A deliberao do jri durou 5

    (cinco) horas, mas ao final, Jeffrey foi condenado a 15 (quinze) prises perptuas

    consecutivas ou 957 (novecentos e cinquenta e sete) anos de recluso.

    No dia 28 de novembro de 1994, aps 13 anos cometendo homicdios,

    Jeffrey foi assassinado dentro da priso, por um colega de cela.

  • 7/23/2019 Reflexes Sobre Imputabilidade

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    7.3 John Wayne Gacy

    Tambm conhecido como o palhao assassino, Gacy nasceu em

    1942. Seu pai era alcolatra e possua deficincia de percepo, o que fazia com

    que ele achasse que todos ao redor eram melhores do que ele, inclusive na vida

    profissional e, ainda, detestava homossexuais. Era um homem extremamente

    violento, sempre punia Gacy quando o garoto fazia qualquer coisa que ele julgasse

    errada.

    Apesar do mau relacionamento com o pai, Gacy teve uma infncia

    normal, tinha uma boa relao com a me e as duas irms e sempre consolava ame quando apanhava do marido. Mesmo seu pai sendo uma pessoa totalmente

    desagradvel, Gacy o idolatrava e fazia de tudo para conseguir sua aprovao, o

    que nunca aconteceu, pois seu pai o acusava de ser homossexual e ainda no

    escondia seu desprezo pelo filho.

    Cometeu seu primeiro crime em 1978, em Chicago, Gacy seduziu um

    rapaz que andava pela rua e o convidou para tomar uma bebida, com a vtima

    dentro do carro, Gacy imobilizou a vtima, aplicando sobre seu nariz um pano comclorofrmio, que fez com que o rapaz desmaiasse. Com a vtima desfalecida, Gacy o

    estuprou e o torturou, mas no chegou a matar o rapaz, o abandonou em uma rua

    na cidade, ainda desacordado.

    O primeiro homicdio foi cometido no mesmo ano, Gacy abordou um

    garoto de 15 (quinze) anos oferecendo para ele um emprego em sua empresa, o

    inocente garoto aceitou acompanha-lo e no demorou para que o garoto fosse

    estrangulado e estuprado por Gacy.Com vrios depoimentos de testemunhas que afirmaram ter visto o

    garoto na companhia de Gacy, a polcia resolveu investigar o seu passado, mas

    desacreditavam que Gacy poderia ter feito algum mal para o garoto, j que era um

    homem muito prestigiado na cidade, membro de conselhos e sociedades, j havia

    sido nomeado o homem do ano, alm de ser extremamente caridoso, pois aos finais

    de semana usava uma fantasia de palhao e animava crianas em festas e

    hospitais.

    Porm, com muitas evidncias contra Gacy, o mesmo foi chamado

    para depor, e depois de ser pressionado pelos policiais, confessou que havia

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    matado uma pessoa, mas que teria sido em legtima defesa, ainda afirmou que havia

    enterrado o corpo e fez um mapa para os policiais encontrarem o cadver.

    O local apontado por Gacy era na garagem de sua casa, mas antes de

    comearem a escavar, os policias sentiram um forte cheiro que vinha debaixo da laje

    do cho da casa da Gacy e descobriram que embaixo da casa do assassino, havia

    mais de 30 (trinta) corpos enterrados, alm de mais 2 (dois) encontrados enterrados

    em sua garagem e outros que foram encontrados no rio perto de sua casa.

    No total, Gacy era responsvel por mais de 33 (trinta e trs)

    homicdios, que foram cometidos utilizando o mesmo modus operandi.

    Primeiramente Gacy atraa as vtimas at sua casa oferecendo dinheiro em troca de

    sexo ou oportunidade de emprego, j dentro de sua casa, Gacy pedia para algemara vtima, afirmando que isso faria parte de um truque que ele gostaria de mostrar.

    Com a vtima algemada, Gacy a torturava, estuprava e estrangulava com uma corda,

    alm de introduzir a pea ntima de cada vtima em sua garganta, com o objetivo de

    abafar os gritos. Enquanto torturava suas vtimas, Gacy gostava de ler passagens

    bblicas e usar sua fantasia de palhao, que era utilizada em festas infantis.

    Gacy chegou a afirmar para os policiais que possua dupla

    personalidade e que seus crimes eram cometidos por sua outra identidade,chamado de Jack Hanson. Apesar da alegao, Gacy foi consultado por diversos

    psiquiatras e nenhum deles o diagnosticou como poss