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MARCOS - O EVANGELHO DO SERVIÇO | 122 | REFLEXÕES BÍBLICAS ESTUDO 34 A RELIGIÃO VITAL Leituras diárias Segunda Mc 7. 1-13 Terça Mc 7. 24-30 Quarta Mc 7. 31-37 Quinta Mc 8. 1-10 Sexta Mc 8. 14-21 Sábado Mc 8. 22-27 Domingo Tg 1. 22-27 Texto básico: Marcos 7.1-5, 9-15 Texto áureo: Marcos 7.6,7 Os representantes da religião morta, no texto que vamos estudar, são os fari- seus acompanhados de alguns escribas. Contra eles Jesus pronunciou os “ais” de Mateus 23. A religiosidade sem vida já existia nos tempos de Isaías, Amós e outros profetas (Is 1.11; Am 5.21,22). Em qualquer época é fácil encontrar cristãos nominais crian- do ritos de valor externo para compensar a falta de valor interno. É o aparato da superficialidade. QUE DIFICULTA A RELIGIÃO VITAL? (Mc 7.1-5) Quando os líderes não percebem a verdade, que se espera dos liderados? O texto registra fariseus e escribas “vindos de Jerusalém”. Talvez uma viagem exclu- sivamente para interpelar o Mestre acer- ca do procedimento religioso de seus discípulos. A ignorância é responsável por muitas atitudes e ações incorretas. O farisaísmo de Paulo motivou sua viagem a Damasco para perseguir os crentes (At 9.1,2). Que é que estava dificultando uma religiosidade que expressasse vida cristã? 1. Falsa autoridade religiosa (vs. 1,2). Os escribas copiavam e interpreta- vam a lei, apegando-se aos ensinos de Moisés, de sacerdotes e de juízes (Dt 4.14; 17.12), mas faltava-lhes a compreensão suficiente, resultando disso escolas e li- teraturas que orientavam mal o povo. A tal ponto chegou a fé nessas autoridades, que sua interpretação valia mais do que a própria lei. Daí o apelo à “tradição dos antigos”. A palavra tradição tem seu bom sentido, como quando usada por Paulo a respeito do ensino às igrejas (2 Ts 2.15; 3.6;1Co 11.12). Paulo também havia dei- xado a tradição de seus pais (Gl 1.14), e advertiu os colossenses contra as vãs filo- sofias baseadas na “tradição dos homens” (Cl 2.8) É o sentido mal. A tradição não é necessariamente um mal. Como batistas, podemos e devemos defender certas tra- dições doutrinárias e estruturais. O mal está em seguir tradições por imposição

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ESTUDO 34

A religião vitAl

Leituras diárias

Segunda Mc 7. 1-13Terça Mc 7. 24-30Quarta Mc 7. 31-37Quinta Mc 8. 1-10Sexta Mc 8. 14-21Sábado Mc 8. 22-27Domingo Tg 1. 22-27

Texto básico: Marcos 7.1-5, 9-15 Texto áureo: Marcos 7.6,7

Os representantes da religião morta, no texto que vamos estudar, são os fari-seus acompanhados de alguns escribas. Contra eles Jesus pronunciou os “ais” de Mateus 23.

A religiosidade sem vida já existia nos tempos de Isaías, Amós e outros profetas (Is 1.11; Am 5.21,22). Em qualquer época é fácil encontrar cristãos nominais crian-do ritos de valor externo para compensar a falta de valor interno. É o aparato da superficialidade.

QUE DIFICULTA A RELIGIÃO VITAL? (Mc 7.1-5)

Quando os líderes não percebem a verdade, que se espera dos liderados? O texto registra fariseus e escribas “vindos de Jerusalém”. Talvez uma viagem exclu-sivamente para interpelar o Mestre acer-ca do procedimento religioso de seus discípulos. A ignorância é responsável por muitas atitudes e ações incorretas. O farisaísmo de Paulo motivou sua viagem a Damasco para perseguir os crentes (At

9.1,2). Que é que estava dificultando uma religiosidade que expressasse vida cristã?

1. Falsa autoridade religiosa (vs. 1,2). Os escribas copiavam e interpreta-vam a lei, apegando-se aos ensinos de Moisés, de sacerdotes e de juízes (Dt 4.14; 17.12), mas faltava-lhes a compreensão suficiente, resultando disso escolas e li-teraturas que orientavam mal o povo. A tal ponto chegou a fé nessas autoridades, que sua interpretação valia mais do que a própria lei. Daí o apelo à “tradição dos antigos”. A palavra tradição tem seu bom sentido, como quando usada por Paulo a respeito do ensino às igrejas (2 Ts 2.15; 3.6;1Co 11.12). Paulo também havia dei-xado a tradição de seus pais (Gl 1.14), e advertiu os colossenses contra as vãs filo-sofias baseadas na “tradição dos homens” (Cl 2.8) É o sentido mal. A tradição não é necessariamente um mal. Como batistas, podemos e devemos defender certas tra-dições doutrinárias e estruturais. O mal está em seguir tradições por imposição

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ou medo de discordar, nunca revendo posições, nunca admitindo mudanças. Acrescente-se que fazer a derrubada sem propor uma substituição melhor é atitu-de irracional e anticristã.

Um grave erro dos fariseus consistia em pretender que os discípulos obser-vassem cerimônias estranhas à lei de Deus, pois era uma proposta inferior. Não dava para fazer a troca.

2. Falso conceito de pureza (vs. 3-5). Voltando das compras, de algum negócio, ou de qualquer contato com os romanos, poderia um judeu tornar-se contaminado. Exigia-se, então, o cerimo-nial da limpeza. Uma versão em espanhol tem o v. 4 assim: “E ao voltar da praça, se não se batizam, não comem; e outras mui-tas coisas têm recebido para guardar afer-radamente, como batismos de copos, e de jarros, e de vasos de cobre, e de leitos”. Ha-via fartura de água, mas se purificavam apenas por fora. E o interior? Recorde Mt 23.25. Alguns escribas afirmavam que negligenciar essa limpeza era tão grave quanto qualquer pecado de licenciosida-de (indisciplina, desregramento). Não era uma questão de higiene, mas de fé. Que tipo de fé? Nem percebiam a alma infec-cionada pelo vírus do fanatismo e da hi-pocrisia. Contaminação bem pior, não é?

3. Falso padrão de vida cristã (v.5). Os fariseus queriam ser o modelo para os discípulos de Jesus. Mereciam essa hon-ra? Lucas caracteriza-os como ganancio-sos, zombadores e arrogantes (16.14,15). O fariseu de Lc 18 se apresentou como padrão, mas foi reprovado. Que péssimos figurinos! Quais sãos os nossos padrões? A quem seguimos?

Certa autoridade visitou uma cadeia. Interrogando os presos sobre os motivos da prisão, cada um procurava provar sua inocência. Depois de entrevistar vários deles, encontrou um que lhe declarou humildemente: “Estou aqui porque errei”. O visitante, então, numa ironia didáti-ca, sugeriu ao responsável pelos presos: “Solte este homem, pois ele não é digno de estar aqui no meio de tanta gente boa”.

Aplicação a sua vida. Neste tempo de tanta vulgarização da fé, como cultivar uma fé autêntica? Com que qualidades?

QUE FAVORECE A RELIGIÃO VITAL? (Mc 7.9-13)

Cabe aqui a palavra vivenciar, diferen-te de professar, porque exige “viver, sentir ou captar em profundidade” (Dicionário de Aurélio). Como vivenciar a religiosi-dade bíblica? Que faltava aos fariseus e escribas? Qual o ensino do texto?

1. Obediência com discernimento (vs.9,10). Este é o ponto de partida. Jesus enfrentou serenamente a pergunta dos fariseus, mencionando uma incoerência deles. Leia o v.8 também. Tinham eles como certo o que a liderança lhes passa-va. Faz-se diferença entre obediência im-posta e obediência consentida. A primeira elimina o espaço para qualquer reflexão e questionamento. É aceita sem discus-são. Em conversa com um fervoroso ca-tólico ouvi isto: “Dogma não se discute”. A segunda (obediência consentida) prati-ca-se conscientemente, e até com prazer, reconhecendo-se um valor no ensino ou nas ordens dadas. Os filhos devem seguir a religião dos pais simplesmente por ser

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dos pais? E se estiver errada? Onde fica o livre exame e a escolha responsável?

Pensando-se em religião vital, vale acrescentar que obediência é vida, pois transgredir certas leis favorece a morte. Isso é inquestionável com relação a leis que preservam o corpo, mas se aplica perfeitamente a padrões morais e espi-rituais. Obedecer aos escribas era discer-nir mal e ficar sem a verdade, resultando em religiosidade morta, visto que suas ordens se opunham às leis de Deus que ensinam a viver. Em 1 Pe 1.22 aprende-se que a obediência à verdade purifica a alma e leva ao amor fraternal não fingido. É o aspecto seguinte.

2. Amor não fingido (vs. 10-13). Se a obediência com discernimento é a teoria, o amor não fingido é a prática. Jesus apa-nha os adversários em lamentável trans-gressão da lei — uma irregularidade dos judeus em família. Os mestres fariseus ensinavam que um filho podia livrar-se de qualquer obrigação econômica para com os pais alegando ser corbã (oferta ao Senhor) aquilo que os pais desejas-sem dele em forma de ajuda. Uma oferta dedicada ao templo, por exemplo. O fi-lho podia nem estar planejando ofertar, mas lhe era permitido dar essa “desculpa esfarrapada”. Em lugar de um gesto de sincera consagração ou generosidade, uma escusa para satisfazer a avareza. Até o pagamento de uma dívida ficava para depois ou para nunca, desde que a palavra corbã fosse pronunciada no mo-mento adequado. Essas hipócritas e des-caridosas atitudes os filhos aprendiam no Talmude, que reunia uma coletânea de várias tradições judaicas (Mishna) acres-centada de comentários (Gemara). Uma literatura indispensável para eles, valen-

do mais do que o ensino de Deus por meio de Moisés (v.10): “Honra a teu pai e a tua mãe”.

Pobre educação religiosa! A Bíblia mal interpretada pode conduzir a comporta-mentos condenáveis. A religião vital tem gestos elevados, e não atitudes mesqui-nhas. Justifica-se mais uma vez Tg 2.17 classificando de morta a fé sem as obras. Obras que não salvam, mas são cobradas por Deus aos salvos, correspondendo ao fruto do Espírito (Gl 5.22).

Aplicação a sua vida. Cremos e prega-mos que a salvação não é pelas obras. Que obras você deve praticar por ser crente?

QUAL O APELO DA RELIGIÃO VITAL? (Mc 7.14,15)

Aproveitando a presença da multi-dão, o Senhor Jesus lança o apelo do v. 15. Deve-se não só ouvir, mas atender. A fé que ele ensina é para a mente e o co-ração, e não simplesmente para os lábios: “Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim” (Mc 7.6). Nem é também para o estômago (v.15). É conveniente entender que o v. 15 não aprova qualquer coisa que entre no estômago: bebida alcoólica, alimento prejudicial à saúde, veneno etc. O con-texto precisa ser percebido. O assunto é o alimento tomado com as mãos sem lavar. Para nós, o risco de contaminação física; para eles, uma impureza de ordem religiosa. Resguardar o corpo como ga-rantia de limpeza do espírito é formalis-mo. Uma das marcas no ensino do Mestre é sua constante preocupação com a vida

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interior. A religião vital já constava na mensagem do profeta Ezequiel, falando ao coração do povo (Ez 11.19; 36.26).

Que o corpo merece cuidados espe-ciais, não há dúvida, pois tem o privilé-gio de ser “o santuário do Espírito Santo” (1 Co 6.19). Com ele cultuamos e servi-mos a Deus. Mas a religião sem vida é como corpo sem alma, que precisa de sepultura.

Aplicação a sua vida. Corremos risco de honrar a Deus apenas com os lábios. Como você deve honrar a Deus à luz de ensinos bíblicos?

REFLITA UM POUCO MAIS

1. A religião deve ser uma disposição de dentro, não uma imposição de fora. Que adianta uma cega obediência a líde-

res sem a consciência esclarecida? Qual é sua experiência?

2. O desacordo entre a boca e o co-ração tem sido um ponto fraco no ser humano. Os fariseus diziam, mas não fa-ziam. Temos essa sensibilidade cristã?

3. A fé cristã tem exigências. Jesus condenou a figueira infrutífera, o sal insí-pido, a luz escondida, o servo inútil. Você tem sido útil à Causa?

4. Não há compensação para a falta de vida interior. De que valem as vestes, os enfeites, os discursos, os cânticos, os jejuns, as orações, os dízimos, as ofertas? Se estiver longe o coração, nada mais será tudo isso do que ritualismo frio com cheiro de morte. Recorde o recado de Deus pelo profeta: “Afasta de mim o estré-pito (ruído forte) dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras”. Veja Am 5.21-23. É assim que Deus fica surdo, de nada valendo qualquer barulho ou gritaria. “Não ouvirei...”, diz ele.