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ROMANOS - A GRAÇA CUMPRE A LEI | REFLEXÕES BÍBLICAS | 183 O AMOR CONSIDERA O PRÓXIMO ESTUDO 51 Texto bíblico: Romanos 14.1-23 Texto básico: Romanos 14.6-8, 13-23 Texto áureo: Romanos 14.8 Na Grécia antiga havia inúmeros deu- ses e muita carne sacrificada a eles. Essa carne costumava aparecer depois nos mercados, a venda. Era lícito comprá-la para alimento? A questão é levantada em I Co 8.7-13. Qual o problema em Roma? Envol- via alimentos e dias de guarda. Não se fala em carne sacrificada a ídolos (que transbordavam o panteão romano), mas podia incluir essa forma de paganismo, como também velhos ritos da lei mosai- ca; a influência judaica com seus escrú- pulos culinários e seu zelo pelo sábado; a distinção entre carnes puras e impuras (vv. 14 e 20). Seriam alguns deles vegeta- rianos? (14.1). Estariam outros insistindo com os crentes na observância do sába- do? (14.5). O choque de culturas pode determi- nar desajustamentos e rejeição; conflitos e discussões tolas. A presença de gen- tios e judeus na mesma igreja seria boa ocasião para esses desajustes e conflitos. Eram costumes diferentes que se encon- travam e desencontravam. Os reflexos Leituras diárias Segunda Rm 15.8-10 Terça Rm 15.8-13 Quarta Rm 15.14-16 Quinta Rm 15.17-19 Sexta Rm 15.20-24 Sábado Rm 15.25-32 Domingo 2 Co 5.19 disso apareciam no tipo de culto e de convivência. E Paulo se preocupa com a falta de suficiente afeto entre aqueles crentes. Em lugar do egoísmo exclusivis- ta, ele propõe o altruísmo, que permite a inclusão. A BASE: Aspecto Devocional (vv. 6-8) Devemos impor ao próximo nossas convicções doutrinárias? Devemos andar segundo as convicções do próximo? Até que ponto é possível ceder posições sem prejuízo da fé? Aí estão perguntas rele- vantes para a idoneidade cristã. Se possuímos uma convicção religio- sa amadurecida, somos dotados de equi- líbrio em nossa devoção e o culto que prestamos liga-se vitalmente ao Senhor, fazendo predominar o essencial e evitan- do a perda total de pormenores que nos sejam caros, ainda que pareçam insignifi- cantes. As atitudes cristãs com que o meu próximo e eu nos apresentamos a Deus são aceitas por Ele, que conhece nossas

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O AMOR CONSIDERA O PRÓXIMO

ESTUDO 51

Texto bíblico: Romanos 14.1-23Texto básico: Romanos 14.6-8, 13-23Texto áureo: Romanos 14.8

Na Grécia antiga havia inúmeros deu-ses e muita carne sacrificada a eles. Essa carne costumava aparecer depois nos mercados, a venda. Era lícito comprá-la para alimento? A questão é levantada em I Co 8.7-13.

Qual o problema em Roma? Envol-via alimentos e dias de guarda. Não se fala em carne sacrificada a ídolos (que transbordavam o panteão romano), mas podia incluir essa forma de paganismo, como também velhos ritos da lei mosai-ca; a influência judaica com seus escrú-pulos culinários e seu zelo pelo sábado; a distinção entre carnes puras e impuras (vv. 14 e 20). Seriam alguns deles vegeta-rianos? (14.1). Estariam outros insistindo com os crentes na observância do sába-do? (14.5).

O choque de culturas pode determi-nar desajustamentos e rejeição; conflitos e discussões tolas. A presença de gen-tios e judeus na mesma igreja seria boa ocasião para esses desajustes e conflitos. Eram costumes diferentes que se encon-travam e desencontravam. Os reflexos

Leituras diárias

Segunda Rm 15.8-10Terça Rm 15.8-13Quarta Rm 15.14-16Quinta Rm 15.17-19Sexta Rm 15.20-24Sábado Rm 15.25-32Domingo 2 Co 5.19

disso apareciam no tipo de culto e de convivência. E Paulo se preocupa com a falta de suficiente afeto entre aqueles crentes. Em lugar do egoísmo exclusivis-ta, ele propõe o altruísmo, que permite a inclusão.

A BASE: Aspecto Devocional (vv. 6-8)

Devemos impor ao próximo nossas convicções doutrinárias? Devemos andar segundo as convicções do próximo? Até que ponto é possível ceder posições sem prejuízo da fé? Aí estão perguntas rele-vantes para a idoneidade cristã.

Se possuímos uma convicção religio-sa amadurecida, somos dotados de equi-líbrio em nossa devoção e o culto que prestamos liga-se vitalmente ao Senhor, fazendo predominar o essencial e evitan-do a perda total de pormenores que nos sejam caros, ainda que pareçam insignifi-cantes. As atitudes cristãs com que o meu próximo e eu nos apresentamos a Deus são aceitas por Ele, que conhece nossas

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fragilidades e sabe valorizar as intenções de agir com acerto.

É fundamental à nossa fé a certeza de que fazemos as coisas ou deixamos de fa-zê-las “para o Senhor” (v.6). Podemos dar graças a Deus por tudo quanto comemos e bebemos? E pelo que recusamos comer ou beber? E quanto ao dia de guarda? E pelos “dias santos”? Nossa vida só se re-aliza em função de um relacionamento correto com o Senhor, conforme o texto ensina. Não somente a vida, também a morte, pois a ele pertencemos, vivos ou mortos (v.8). Leia ainda II Co 5.8; Fp 1.21-23; 2.17,18. Note como o apóstolo aceita o senhorio de Jesus em sua vida e em sua morte. Mesmo com a morte ele é capaz de servir ao Senhor. O v. 7 tem instrução neste aspecto, pois declara que nossa relação básica é com Deus, e não com o próximo. Essa relação com Deus, no en-tanto, vai orientar as relações com o pró-ximo. Vejamos então.

Aplicação a sua vida. O ideal bíblico é fazer tudo para o Senhor (Rm 14.6). Como você aplica esse conselho a suas ações?

AS IMPLICAÇÕES: Aspecto Comuni-tário (vv. 13-23)

Fora da igreja ou dentro dela? Onde o apóstolo requer toda essa consideração ao próximo? Qual o espaço do testemu-nho ? Quem é o “irmão fraco”? Em que lugar se acha ele? Apenas na igreja? Não o encontramos numa comunidade mais ampla? No lar, na vizinhança, na escola, no ambiente profissional, nos contatos sociais. E até nas ruas por onde passamos pode ele estar acompanhando nossos passos. Quem é o irmão fraco? Aquele que se escandaliza com nosso proceder, ainda que estejamos certos, por não ter

condições de suportar ou entender nos-sos motivos? Esta é uma de suas carac-terísticas. A parte final dos versos 14 e 20 lança luz sobre isso. O verso 16 também.

Temos no texto um justificado apelo aos que se consideram fortes, para que se tornem sensíveis aos escrúpulos dos fracos. Como proceder?

1. Usando a liberdade sem prejuízo do próximo.

O livre-arbítrio significa liberdade to-tal? Nem antes da queda no Éden!

Como fica a liberdade cristã, visto que somos livres em Cristo? Na satisfação de um gosto muito pessoal ofendemos a consciência de um irmão. A liberda-de cristã nos confere esse direito? Dar uma de livre para praticar isto ou aquilo, porque a consciência está em paz, mas sabendo que tal procedimento vai ser tropeço a um irmão “por quem Cristo morreu”, será uso correto da liberdade? É faltar com o respeito aos sentimentos do irmão fraco, é fraqueza do “irmão forte”. Incoerência. Veja os versos 13,15,20,21. A liberdade cristã é um bem que deve estar isento de censura (v.16). Observe ainda I Co 8.9 e a colocação de Cristo em Mt 19.6.

Além do tropeço, Paulo teme a des-truição. Destruir aquele que Cristo salvou da destruição? Absurdo. O tropeço é, às vezes, o primeiro passo para a queda fatal, não é mesmo? Fica o irmão fraco ameaçado de destruição, e a Causa sofre também (vv. 15,20). Não se trata de per-der a salvação, mas de profundo abati-mento, com imprevisíveis consequências para a obra de Deus.

O verso 14 parece favorecer uma li-nha de conduta conforme a consciência individual. Nossa consciência é tribunal infalível? Paulo reconhece os limites da sua para julgá-lo (I Co 4.4). É melhor acei-tar que o v. 14 fala de questões cerimo-

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niais que perderam a vigência em Cristo, diante de quem desaparece a impureza deste ou daquele alimento, embora ain-da hoje haja crentes que preferem não comer sangue, e citam o próprio Paulo (At 15.20). Na verdade Paulo estava pra-ticando a prudência que ensinou aos co-ríntios e aos romanos. Os crentes gentios deviam ter cuidado para não ofender os crentes judeus, ou dificultar a conversão dos judeus. Ocorria ainda que os pagãos costumavam beber sangue misturado com vinho em seus sacrifícios “espiritu-ais”. Descubra-se a lição de At 15.20 num contexto de separação entre cristianismo e judaísmo. Separação que não podia ser brusca, repentina, intempestiva, mas sua-ve, lenta e no tempo oportuno.

2. Discernindo o reino de Deus.

O destaque agora é ao verso 17. É preciso perceber o que vale mais, o que não é transitório, que não perde sua uni-versalidade ou aplicação em cada época. Ritos formalistas são rasos, sem profundi-dade espiritual. Preceitos que pertencem a uma fase da Revelação ficam limitados a seu tempo. Costumes de um povo não têm que ser generalizados. Uma discipli-na provisória serve apenas aos seus obje-tivos passageiros.

A lei de Moisés havia posto acentuada atenção à observância de dias especiais e alimentos. Isso deu assunto a escritores do Novo Testamento, principalmente a Paulo. Colossenses 2.16 diz: “Ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados”. Os essênios (grupo religioso dos tempos de Jesus) recomen-davam a abstinência de todas as carnes. Os pitagóricos (comunidade filosófico-religiosa dos séculos VI a IV antes de Cris-to) já praticavam assim, sob alegação de que os animais participavam da natureza humana.

Como Paulo enfrenta a questão à luz do v. 17? Procura centralizar o pensa-mento de seus leitores no reino de Deus. Ao mesmo tempo em que ele corrige o conceito materializado sobre o reino, desloca a ênfase errada, apontando um valor maior e supremo que deve ocupar a mente e o coração deles. Estaria o es-critor sacro recordando o ensino de Jesus em Mt 6.33? É provável.

O reino de Deus bem interpretado e posto em primeiro lugar, elimina cer-tas exterioridades aparatosas e pobres de mensagem. O problema não é o que está no estômago, mas o que o coração contém. Jesus ensina assim em Mc 7.1-7. Proibir carnes ou permitir legumes não é matéria decisiva na ética cristã. Não mani-festa justiça, nem paz, nem alegria como produtos da vida no Espírito. Alguém, por exemplo, exageradamente atento ao dia de guarda, poderá não perceber a espi-ritualidade do evangelho. Assim é a ên-fase ao jejum, que retorna ao ambiente de algumas igrejas. Retorna e transtorna. Será útil rever a posição do Mestre, em Mt 9.14-17, sem perder a lição de Lc 5.39, onde Jesus informa que a preferência pelo sabor do “velho” resulta na rejeição do “novo”. Quer dizer: o apego ao jejum dificulta a passagem da Lei para a Graça. Um tipo de saudosismo judaico imitado por muitos cristãos hoje.

Romanos 14.18 afirma que a vida cris-tã em harmonia com os ideais do Reino é agradável a Deus e aceita pelos homens. Um serviço a Cristo.

3 Guardando a fé sem ostentação.

Leia o verso 22 e acompanhe o racio-cínio. Pode haver maior luz em um cren-te que não deva ser comunicada a um irmão na fé? Creio que sim, pelo menos até que esse irmão seja capaz de benefi-ciar-se com semelhante luz. Do contrário a luz será treva. Assuntos teológicos mais

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profundos dificilmente serão assimilados por iniciantes na aprendizagem da Bíblia.

Também os costumes podem escan-dalizar. Em meu tempo de seminarista, fazendo trabalho de férias, conheci uma igreja escandalizada com a visita de uma líder que carregava bem na maquiagem. Uma irmã dedicada e digna de respeito, mas as irmãs daquela igreja não usa-vam esses adornos, que lhes pareciam incompatíveis com os padrões bíblicos. Faz anos, várias igrejas e pastores repro-vavam a calça-esporte para as mulheres. Como deveria agir uma crente de linha menos dura, tendo que visitar uma des-sas igrejas, conhecendo seus costumes? É o caso de ouvir Paulo: “A fé que tens, guarda-a contigo mesmo diante de Deus” (v. 22). O Novo Testamento Vivo traduz assim: “Não faça ostentação de sua fé na presença de outros que poderiam sentir-se feridos com isso”. Expor-se ao ridículo por causa das coisas que aprova, eis um sinal do crente imaturo. Qual o exemplo de Paulo? Fez-se como fraco para os fracos, para ganhar os fracos (I Co 9.22).

4. Renunciando em caso de dúvida.

A consciência pesada representa uma insatisfação, ainda quando não se com-prove haver culpa no proceder. Basta a dúvida para gerar intranquilidade. A con-denação prevista no v. 23 parte do tribu-nal da consciência, e fundamenta-se na dúvida. Por que praticar o que causa sen-timento de culpa? Se é por ignorar o que é certo, o melhor caminho é o da pesquisa, da reflexão. Buscar o ensino, na tentativa de afastar a dúvida. Não o conseguindo, por que não renunciar? Em muitos casos a dúvida significa sensibilidade, desejo de acertar, de não escandalizar. Um bom

sintoma, não? O esforço para acomodar a consciência pode ser um risco.

O verso 23 contém uma expressão um tanto obscura: “tudo que não provém da fé é pecado”. Qual será o sentido? À luz do contexto, parece razoável que a fé aí referida não tem uma dimensão ob-jetiva, mas subjetiva. Noutras palavras: não se refere ao conjunto de doutrinas que aceitamos, mas ao comportamento que assumimos aprovado pelo “homem interior”; a certeza de que nosso modo de agir está acima da crítica. Em caso de dúvida, a prudência manda deixar de agir assim, pois o comportamento se torna pecaminoso.

Aplicação a sua vida. Vivemos em comunidade, na igreja e fora dela. Quem é o irmão fraco? Como você pode ajudá-lo?

A FINALIDADE: Aspecto Eclesiástico.

Separamos o verso 19 para um enfo-que particular. Em todo esse ensino que é que se pretende obter? Qual o valor bem prático de tudo isso?

Temos visto que está em jogo o cui-dado especial com o irmão fraco, assim como a obra de Deus, que merece con-sideração. O verso 19 valoriza a igreja como centro de encontro daqueles cris-tãos, que deveriam promover o Reino por meio de atividades produtivas e harmô-nicas. Como alcançarem tão alto ideal, se os conflitos e tropeços causavam desin-tegração em vez de unidade? O desafio consistia em “seguir as coisas que servem para a paz e as que contribuem para a edi-ficação mútua”. Uma igreja em paz pela

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comunhão de todos e fortalecida pela participação de cada um. Efésios 4.15,16 merece lembrança: “Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo au-xílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu cres-cimento para edificação de si mesmo em amor”.

Temos cooperado para que essas bênçãos sejam constantes realidades em nossas igrejas?

Aplicação a sua vida. Temos ten-dência para julgar. Em que circunstân-cias você tem em esse direito?

PARA SUA REFLEXÃO

1. Qual o problema hoje?

Dois problemas perturbavam aqueles crentes: 1) Alimentos puros e impuros;

2) Dias especiais de guarda. E hoje? Roupa, sexo, diversões, tipo de música, vícios, anedotas, loteria, baú da felicida-de?

2. Qual a razão para o problema hoje?

Duas razões motivavam o julgamento entre aqueles irmãos de Roma: 1) Falta de discernimento; 2) Falta de amor. E hoje? Não há semelhança? Por falta de discernimento, o irmão fraco lança cen- suras ao forte. Por sua vez, o irmão forte despreza o irmão fraco. Afinal, quem é o forte? Não são fracos os dois?

3. O julgamento entre irmãos é sempre um mal? (v.13)

Cristo desaconselha o juízo feito por quem não tenha autoridade moral para fazê-lo (Mt 7.1-5), mas dá a sua igreja o direito de julgar ações conhecidas e condenáveis (Mt 18.15-17). Julgar faltas não estabelecidas nem comprovadas é temerário e anticristão.